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RESUMO
O objetivo deste trabalho é analisar o poder prescritivo da Behavioral
Finance (Shleifer, 2000) para a gestão de ativos financeiros no mercado de
capitais, contrastando-a com as implicações da Hipótese dos Mercados
Eficientes (FAMA, 1970). A meta específica é identificar quais conjuntos de
técnicas são apropriados para a precificação de títulos ou ações levando-se em
conta a interação dos respectivos modelos teóricos com a evidência empírica
do comportamento dos investidores. A presente análise será feita através do
mapeamento dos processos decisórios dos investidores segundo a Hipótese
dos Mercados Eficientes (HME) e a Behavioral Finance (BF), identificando os
pressupostos dos aludidos modelos e suas implicações e confrontando-os com
a evidência obtida através de experimentos em laboratório que testem
determinadas hipóteses sobre o comportamento de investidores.
Discute-se a contribuição positiva de uma linha de pesquisa, a BF, que
explora a racionalidade limitada dos agentes individuais em suas escolhas e os
efeitos que os investidores experimentam ao tomarem decisões de
investimentos. Metodologicamente, a BF absorve as conclusões sobre o
mundo real obtidas a partir da observação experimental (DAVIS & HOLT, 1993;
SMITH, 1987, 1994; MILLER, 2002) para daí elaborar modelos descritivos,
contrapondo-se assim ao método econômico dedutivista lógico (POPPER,
1959). Há uma tensão não resolvida acerca da gestão de ativos que envolve a
escolha entre dois métodos: a gestão ativa ou a gestão passiva; e isto depende
diretamente da possibilidade (ou não) de assegurarmos a HME como base
fidedigna e única para a construção das técnicas apropriadas.
Além da introdução, o trabalho conta com mais três capítulos. No
capítulo 2, abordamos a gestão científica dos investimentos e as proposições
do CAPM dentro do paradigma da eficiência de mercado e da precificação de
ações e títulos mobiliários. Também se aborda as implicações da BF para a
administração de ativos no mercado de capitais. O capítulo 3 apresenta a
metodologia experimental que capta a influência da análise técnica (grafista)
sobre a avaliação de ativos financeiros. Para isto, replica-se um dos
tratamentos experimentais de Mussweiler e Schneller (2003) com uma amostra
de estudantes de economia com baixo nível de experiência em investimentos.
Também, como forma de analisar a aplicabilidade da análise fundamentalista,
utiliza-se os resultados experimentais obtidos por Haruvy, Lahav e Noussair
(2007) e do referencial teórico de Camerer e Fehr (2006) e Lo (2004, 2005).
O poder prescritivo da teoria financeira é refinado ao incorporar os
fenômenos explicados pela pesquisa comportamental na precificação e gestão
de ativos. A análise técnica é descrita através dos efeitos dos vieses cognitivos
presentes na natureza comparativa humana (KAHNEMAN & MILLER, 1983;
MUSSWEILLER, 2003). A análise fundamentalista é justificada pela existência
dos graus de antecipação da hierarquia cognitiva (CAMERER, HO & CHONG,
2004). O fenômeno da existência de uma ampla prática de gestão ativa é
explicado pela observação de um processo adaptativo de convergência dos
preços de mercado aos valores fundamentais dos ativos. A Hipótese dos
Mercados Adaptativos proposta por Lo (2004, 2005) concilia a HME com o
poder prescritivo da BF estabelecendo a primeira como um caso extremo que
serve de referencial para a mensuração da eficiência relativa de determinado
mercado. Além disso, a BF permite que a teoria financeira explique um maior
número de fenômenos com poucos pressupostos adicionais e sem necessitar a
auto-exclusão e a independência dos programas de pesquisa.
Palavras-chave: Finanças Comportamentais, Economia Comportamental,
Economia Experimental, Precificação de Ativos, Mercado de Capitais.