1
50
modernos, inicialmente, os pavilhões comportavam quinhentos doentes e, as antigas
habitações, reformadas, serviam para abrigar outros trezentos doentes de hanseníases.
Seriam construídos mais três pavilhões que, somados às novas casas, abrigariam dois mil
internos, número que se acreditava suficiente para as demandas do estado do Pará.
Separadamente estavam as edificações destinadas aos funcionários sãos. Criava-se uma
estrutura administrativa, exclusiva aos doentes, subordinada à regência da diretoria médica,
que seria responsável pela ordem e policiamento na colônia e também pela intermediação
entre sãos e doentes. Souza- Araújo proferiu o seguinte discurso de inauguração:
“Feliz daquele que póde dizer: realizei o maior ideal da minha vida...Logo
que me formei em medicina, em 1915, creei-me um ideal, o maior ideal da
minha vida profissional. Idealizei uma vasta colônia agrícola de leprosos,
uma leprosaria que fosse uma cidade livre, onde os doentes vivessem
trabalhando, unidos, alegres e felizes. Um estabelecimento de assistência
médica, de assistência moral e material aos infelizes morféticos. Sou um
homem feliz porque vejo realizado, hoje. Esse meu grande ideal médico. A
Lazaropolis do Prata é a materialização de um plano que eu vinha
arquitetando há oito anos...Realizado hoje o meu primeiro grande ideal,
ambiciosos como todo homem que tem o desejo de ser útil à sociedade,
creci-me, já, outro grande ideal – a cura da lepra. Vou dedicar o resto das
minhas energias e talvez o resto da minha vida, na realização desse
segundo ideal...Vós, queridos leprosos, não percais nunca a esperança na
vossa cura! São centenas os beneméritos da ciência que não pensam
senão em vosso bem. Aguardae confiantes no progresso da ciência, dias
de mais alegrias e de maior felicidade. Deixando-vos aqui segregados e
confiados a amigos e colegas meus, cheios de bôa vontade e de
sentimentos humanitários elevados, parto contente, certo de que nada
sofrereis. Em vosso beneficio já fiz um apêlo ao govêrno e ao povo.
Concito-vos agora a viverdes unidos pelo sincero afecto e solidariedade
humana, e a cumprirdes as ordens disciplinares do vosso director e do
administrador, que são homens de caracter e homens de coração. Sêde
felizes...” (Souza-Araújo, 1956, p. 546-7).
Para o funcionamento da Lazarópolis do Prata fora criado um
rigoroso regimento interno que definia, entre seus 58 artigos, a admissão do doente, a
corporação administrativa, a regulamentação da secretaria, a criação do laboratório
bacteriológico, o hospital e a farmácia, a enfermaria, os serviços agrícolas, a uniformização
dos funcionários e dos internos, as relações entre doentes e entre estes e os sãos e as
medidas disciplinares. Instituía uma moeda de circulação restrita à colônia, que serviria para
evitar contato dos sãos com os objetos dos doentes e teria como base de valor a moeda
corrente do Brasil. Em 1924, Souza-Araújo pedira exoneração do cargo de chefia no Pará
para se vincular à Fundação Rockefeller e desenvolver pesquisas importantes para a
hanseníase por todo o mundo. Posteriormente, em 1942, visando ampliar o atendimento aos
doentes de hanseníases do estado do Pará, o Governo Federal investiu na construção do
Hospital Colônia de Marituba, distante 22km de Belém (Serviço Nacional da Lepra, 1950;
Souza- Araújo, 1956).