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BETHÂNIA CAMPOS GUIMARÃES ALVES
A METÁFORA DO EVENTO COMO MOVIMENTO:
CONSTRUÇÕES DO ASPECTO NO PORTUGUÊS DO BRASIL
CONTEMPORÂNEO
JUIZ DE FORA
2007
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BETHÂNIA CAMPOS GUIMARÃES ALVES
A METÁFORA DO EVENTO COMO MOVIMENTO:
CONSTRUÇÕES DO ASPECTO NO PORTUGUÊS DO BRASIL
CONTEMPORÂNEO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Lingüística da Faculdade de Letras
da Universidade Federal de Juiz de Fora, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Lingüística.
Orientadora: Prof
a
. Dr
a
. Maria Margarida Martins
Salomão.
Juiz de Fora
2007
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BETHÂNIA CAMPOS GUIMARÃES ALVES
A METÁFORA DO EVENTO COMO MOVIMENTO:
CONSTRUÇÕES DO ASPECTO NO PORTUGUÊS DO BRASIL
CONTEMPORÂNEO
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa
de Pós-Graduação em Lingüística da Faculdade de
Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora e
aprovada como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Lingüística pela seguinte
banca examinadora:
Prof
a
. Dr
a
. Maria Margarida Martins Salomão - UFJF - Orientadora
Prof. Dr. Luiz Fernando Matos Rocha - UFJF – Membro Interno
Prof
a
. Dr
a
. Mariângela Rios de Oliveira - UFF - Membro Externo
Juiz de Fora
2007
4
Dedico, acima de tudo, a Deus, pela alegria de
poder viver a cada instante a dádiva da vida e a
ela poder conferir amor e empenho.
Dedico, aos meus filhos, para que fique o exemplo
de persistência.
Dedico ao meu esposo, na feliz constatação de que
os sonhos realmente não envelhecem.
Dedico ao meu pai, Seu Vicente, que embora não
esteja mais aqui, é chama sublime em minha
essência.
Dedico à minha mãe, Dona Terezinha, espelho de
incansável luta, fé e dever cumprido.
Dedico aos meus irmãos e sobrinhos, como
incentivo para se batalhar pelas próprias
aspirações.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por iluminar meus passos e honrar meus esforços.
Aos meus primeiros e eternos educadores: minha mãe e meu pai, pelos sábios ensinamentos e
pela condução dedicada, consciente e amorosa de minha formação como pessoa.
Aos meus mais novos mestres: meus filhos Klaus e Elise, que têm me ensinado não apenas a
ser mãe, mas a amadurecer feliz.
Ao meu marido Jeosaffá, companheiro de lutas e renúncias, meu grande incentivador, por
compreender e suprir minhas ausências.
Aos meus irmãos e sobrinhos, por todo afeto compartilhado.
À Orientadora deste trabalho, Margarida Salomão, que apesar do pouco convívio, me
proporcionou um aprendizado para a vida.
Aos professores do Programa de Pós-graduação, por contribuírem decisivamente para a minha
formação como lingüista.
Agradeço também ao Professor e colega, Júlio César de Souza, pelos seus incentivos desde a
graduação.
À Mauricéia, por resgatar minha vontade de enveredar novos caminhos.
À Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais pelo incentivo em minha formação
continuada.
Aos incentivadores do Instituto Estadual de Educação de Juiz de Fora, colegas no trabalho e
na vida.
Aos colegas do mestrado, especialmente Luciana Martins Arruda e Mônica Monken Velloso:
preciosas amizades.
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a viabilização desta pesquisa.
6
“Felizes os visionários:
Deles é o reino infinito da visão”.
(Murilo Mendes. In Poliedro, 1972.p. 88)
7
RESUMO
Tradicionalmente, o estudo das perífrases aspectuais restringe-se às formações canônicas nas
gramáticas do português. O presente estudo propõe investigar as construções metaforicamente
convencionalizadas (Lakoff & Johnson 1980; 1999) do EVENTO COMO MOVIMENTO,
constatadas em várias perífrases aspectuais do Português Brasileiro Contemporâneo a partir
de um corpus no qual a Internet teve relevante contribuição.
A partir de uma abordagem sociocognitivista, propomos que a realização do aspecto (Comrie
1976; Salomão 1990; Castilho 2003), em termos de movimento físico, parte de nossa
experiência cotidiana no mundo através de nossa corporalidade. Além disso, sustentamos a
hipótese de que, nesse fenômeno, a gramática instancia-se como uma rede de Construções
(Goldberg 1995), na qual a metáfora é assumida como fator motivacional.
Palavras-chave: Aspecto, Construção, gramática, metáfora, perífrase.
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ABSTRACT
Traditionally, the study of aspectual periphrases is constrained to canonical formations in
Portuguese grammars. This study proposes to investigate metaphorically conventionalized
constructions (Lakoff & Johnson 1980; 1999) of the EVENT AS MOVEMENT, recognized
in some aspectual periphrases of contemporary Brazilian Portuguese (BP) from a corpus in
which the Internet had a relevant contribution.
From a sociocognitive approach, we propose that the realization of Aspect ( Comrie 1976;
Salomão 1990; Castilho 2003), in terms of physical movements, leaves from our daily
experience in the world throught our embodiment.
Furthermore the hypothesis we support is that in this phenomenon the grammar instantiates as
a network of Constructions (Goldberg 1995) in which methapor is assumed as motivation
factor.
Keywords: Aspect, Construction, grammar, metaphor, periphrasis.
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11
2.
SOBRE A GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES E METÁFORAS CONCEPTUAIS ... 13
2.1.
A gramática como rede de construções ............................................................................. 13
2.2 Um olhar cognitivista: a teoria da metáfora conceptual ..................................................... 16
3. A EXPRESSÃO DO ASPECTO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO ............................. 20
3.1. Significações aspectuais .................................................................................................... 21
3.2. Realização gramatical do Aspecto ..................................................................................... 25
3.3. Perífrases metafóricas ....................................................................................................... 26
3.4.O EVENTO COMO MOVIMENTO: análise textual ......................................................... 29
4. AS EXPRESSÕES PERIFRÁSTICAS DO ASPECTO COMO MOVIMENTO EM
PORTUGUÊS .......................................................................................................................... 34
4.1. Quadro hipotético .............................................................................................................. 35
4.1.1. Hipóteses gerais .............................................................................................................. 35
4.1.2. Hipóteses específicas ...................................................................................................... 35
4.2. Metodologia ....................................................................................................................... 36
4.3. As Construções de Incepção .............................................................................................. 38
4.3.1 As Construções Inceptivas com Verbos-Suporte ............................................................. 41
4.4. As Construções de Progressividade ................................................................................... 44
4.4.1. As Construções Progressivas com Verbos-Suporte ........................................................ 46
4.4.2. As Construções Progressivas com Verbos Copulares .................................................... 47
4.4.3. As Construções Progressivas com Verbos Auxiliares .................................................... 48
4.5. As Construções de Terminação ......................................................................................... 51
4.6. Quadro Síntese ................................................................................................................... 55
10
5. CONCLUSÕES .................................................................................................................. 58
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 59
REFERÊNCIAS DA INTERNET ......................................................................................... 61
ANEXO .................................................................................................................................... 65
11
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objeto o sistema de perífrases aspectuais no Português
Brasileiro estruturadas pela metáfora conceptual MUDANÇA É MOVIMENTO. Tais
perífrases concernem à estrutura interna dos eventos, sejam estados, ações ou atividades.
Cada uma destas perífrases constitui uma construção (nos termos de Goldberg 1995) e
são instanciadas a partir de metáforas convencionalizadas do EVENTO COMO
MOVIMENTO, amplamente abordadas em Lakoff & Johnson (1980, 1999).
Postulamos que essas construções são fundadas na projeção entre os domínios da
experiência cotidiana de movimento físico do deslocamento no eixo horizontal. Além disso,
elas se instanciam a partir de uma rede de construções gramaticais diversificadas
sintaticamente: as expressões de movimento figuram com verbo auxiliar, verbo-suporte e
como cópula, introduzindo predicações realizadas, respectivamente, por verbos, nomes e
adjetivos.
No primeiro capítulo, abordamos duas teorias básicas para o nosso tratamento
sociocognitivista do fenômeno: a noção de Construção, a partir da visão goldbergiana e o
olhar sobre a metáfora a partir de Lakoff & Johnson (1980;1999).
No capítulo dois, tratamos do aspecto das predicações, principalmente quanto a sua
semântica. Abordamos desde o clássico tratado de Comrie 1976 até os estudos mais recentes
no âmbito do Português Falado sob o olhar funcionalista de Castilho 2003.
No capítulo três, propomos uma análise do fenômeno do EVENTO COMO
MOVIMENTO, na qual destacamos os aspectos da incepção, progressividade e terminação.
Embora a maioria dos exemplos mencionados seja proveniente da observação do
nosso cotidiano lingüístico, do ambiente natural do uso do Português Brasileiro, ou intuitivos,
12
baseados na noção de gramaticalidade e coerência lingüística, destacamos em nossa análise os
dados colhidos através da ferramenta de busca na Internet.
O sistema que identificamos não tem sido objeto de descrição nas análises gramaticais
do Português. É, pois, um espaço de investigação de língua falada no Brasil.
Além disso, a explicação do sistema em termos de sua motivação por uma metáfora
conceptual de grande relevância na organização das línguas do mundo constitui uma
evidência favorável a hipóteses básicas na área da Lingüística Cognitiva.
13
2. SOBRE A GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES E METÁFORAS CONCEPTUAIS
2.1 A gramática como rede de construções
Procederemos, neste capítulo, a uma recensão sobre uma noção de gramática bem
distinta das abordagens tradicionais. Trataremos de uma abordagem que considera a
gramática como uma rede de construções, e que também representa, além das estruturas
canônicas, as estruturas lingüísticas não-canônicas, mas, por outro lado, não totalmente
arbitrárias. Nosso objeto, as construções do EVENTO COMO MOVIMENTO, já mencionado
no capitulo introdutório, é fenômeno não tratado nas gramáticas tradicionais do português.
Contudo, encontramos subsídios para descrevê –lo, a partir de um enfoque sociocognitivista.
Dentro da perspectiva cognitivista (especialmente, de acordo com Fillmore 1985b,
1987, 1988, 1990; Fillmore & Kay 1993; Lakoff 1987; Fillmore, Kay & O’Connor 1988,
Fillmore & Kay 1998; Brugman 1988; Kay 1990; Lambrecht 1990, 1994; Goldberg 1991a,
1992a; Michaelis 1993; Koening 1993; Filip 1993 apud Goldberg 1995:04) é publicada em
meados dos anos 90 a tese de Adele Goldberg, Constructions: a construction grammar
approach to argument structure, cujo enfoque é a abordagem da estrutura argumental mais
especificamente, a variação das valências - de sentenças básicas em língua inglesa.
Constatando que uma abordagem baseada inteiramente no léxico é falha para dar conta
do amplo conjunto de dados do inglês, a autora afirma a necessidade de uma descrição de
gramática que leve em conta o pareamento forma-sentido dos esquemas sintáticos em que os
lexemas se inserem, sem desconsiderar o postulado fillmoreano de que os significados são
relativizados às cenas” (Fillmore 1977a apud Goldberg 1995:25).
14
Na vertente da Gramática das Construções, não há uma divisão estrita entre o léxico e
a sintaxe. Pois, embora as construções lexicais e sintáticas sejam diferentes em suas
complexidades internas e também na extensão para a qual a forma fonológica é especificada,
tanto estas quanto aquelas são essencialmente o mesmo tipo de estrutura de dados
declarativamente representados: ambas são pareamento forma-sentido.
O tratado de Goldberg além de lidar com as construções DITRANSITIVAS (Ela nos
serviu lasanha) - discutindo primeiramente sua natureza polissêmica e sua produtividade
parcial e, posteriormente, em capítulo específico, suas restrições semânticas e extensões
metafóricas trata com ênfase também de outros tipos de construções, tais como:
MOVIMENTO CAUSADO (He sneezed the tissue off the table
1
/João chutou a bola sobre a
cerca.) e RESULTATIVAS (Bati as claras em neve).
A seguir, reproduzimos a Construção do Movimento Causado, para detalharmos a
noção de Construção:
Construção do Movimento Causado
(Fig. 01)
Maria empurrou os convidados pro salão.
Na parte superior do diagrama, temos a representação semântica da predicação, através
dos papéis temáticos, tais como agente, paciente, alvo, tema, meta. Já na parte inferior,
1
Temos aqui um verbo canonicamente intransitivo e que instancia uma configuração triargumental: Ele espirrou o lenço para
fora da mesa.
Sem CAUSAR-MOVER
causa alvo tema
PRED
Sx V SUJ OBL SP OBJ
15
configura-se a representação sintática da construção. Na zona intermediária, além da
identificação do predicador da sentença, como por exemplo, o verbo empurrar na sentença
referida (que requer três argumentos: sujeito, objeto direto e objeto indireto), temos também
as correspondências, ou pareamentos forma-sentido, que podem pertencer à predicação
lexical, representando-se pela linha contínua, ou pertencer à valência construcional,
representando-se pela linha tracejada.
O que vemos em Constructions, entre outras coisas, é uma descrição da gramática que
apesar de “semantocêntrica”, pois o cerne da pesquisa é a semântica das predicações, possui
um grande potencial teórico-descritivo. Tanto que abarca não a representação das
construções que envolvem os verbos de movimento pesquisados quanto a relação entre elas.
Na referida obra, admite-se também que as cenas conceptuais correspondem aos
elementos básicos da experiência humana. Além disso, postula-se que as construções formam
uma rede e que são ligadas por uma relação de herança que motiva várias propriedades de
construções particulares. Motivação esta, que nos termos das gramáticas cognitivas, reside
sempre entre a previsibilidade e a arbitrariedade das expressões lingüísticas. De fato,
Goldberg alinha-se ao pensamento lakoffiano adiante abordado ao postular que a
motivação metafórica realiza importantes ligações na rede construcional.
Acreditamos que a organização do pensamento lingüístico, especificamente no que
tange à capacidade de se realizar o aspecto (em todas as nuances de sua composição
gramatical e motivação conceptual) não se dissocia de outras experiências cognitivas, como
por exemplo, a capacidade física do ser humano de se deslocar entre dois eixos espaciais
(verticalmente ou horizontalmente). Tal entendimento é amplamente abordado nos estudos de
Lakoff & Johnson 1980,1999; e também na tese de Narayanan (1997a apud Lakoff & Johnson
1999), e, de fato, consubstancia nossa definição de gramática como capacidade cognitiva
geral e não-modular.
16
2.2 Um olhar cognitivista: a teoria da metáfora conceptual
Mais de duas décadas depois de seu lançamento, a obra Metaphors we live by (em
português, intitulada “Metáforas da vida cotidiana”) de George Lakoff e Mark Johnson, ainda
ecoa como um grande marco dos estudos semânticos da teoria da metáfora. Após essa
importante publicação, passamos a enxergar as metáforas como projeções entre domínios
conceptuais estruturados. Ou seja, as relações figurativas são tratadas como conexões entre
domínios cognitivos, partindo de um domínio-fonte, o da experiência concreta e projetando-se
para um domínio-alvo, o domínio mais abstrato. Então, as metáforas, antes diretamente
associadas à retórica e a linguagem figurativa, passam a ser estudadas não apenas como
estruturas lingüísticas, mas também como parte do sistema cognitivo geral do ser humano,
convencionalizando-se no inconsciente cognitivo, a partir da nossa interação com o mundo e
das semioses que as instanciam.
Na verdade, o que se estabelece é um novo olhar sobre o mesmo fenômeno, graças à
interação entre a lingüística e as ciências cognitivas, a partir da qual a experiência
corporificada do homem define e projeta as relações figurativas, como, por exemplo, a
metáfora de recipientes ou zonas territoriais. Vejamos o excerto: “Nós somos seres sicos,
demarcados e separados do resto do mundo pela superfície de nossas peles; experienciamos
o resto do mundo como algo fora de nós. Cada um de nós é um recipiente com uma superfície
demarcadora e uma orientação dentro-fora” (Lakoff & Johnson 1980:81).
A relevância dessa observação, principalmente para o estudo que delineamos nessa
dissertação, é a postulação de que projetamos a nossa própria experiência de orientação
dentro-fora sobre os outros objetos físicos, e, daí, também projetarmos metaforicamente este
esquema conceptual para situações inteiramente abstratas.
17
Tanto a Teoria da Metáfora Conceptual (1980), quanto a Teoria do Realismo
Corporificado (1999) são essenciais para a investigação de uma gramática que leve em
consideração fenômenos marginalizados nas gramáticas tradicionais: as expressões
figurativas, de categorias conceptuais centrais, que estruturam nossa vida cotidiana (como o
TEMPO, as CAUSAS, as MUDANÇAS no mundo e na vida).
É interessante notar que Lakoff & Johnson 1999 postulam a existência de metáforas
primárias, em consonância com as nossas experiências básicas corporais. Por exemplo, a
metáfora primária Estados são locações é obtida a partir da experiência primária de associar
um estado subjetivo a uma certa locação. A experiência primária pode ser, por exemplo, a de
sentir frio sob uma árvore ou a de sentir-se seguro na cama. Daí surgirem expressões do tipo:
Eles nos fizeram uma calorosa recepção./ Ela estava no limite da sua paciência, por isso
estava tão nervosa.
Este tipo de metáfora é essencial para a conceptualização do EVENTO COMO
MOVIMENTO, pois a partir deste tipo de experiência subjetiva, podemos legitimar
expressões do tipo: “Ela entrou em depressão”, Meu amigo passou por um sufoco”, “Eu saí
do sério”. Além disso, os estados são conceptualizados como contêineres, como regiões
delimitadas num espaço, e, a partir disso, as mudanças são conceptualizadas como
movimentos de um lugar para outro.
Portanto, a mudança de estado pode ser entendida, via concepção metafórica, como
movimento em zonas territoriais. Tal situação acarreta, lingüisticamente, uma polissemia
envolvendo verbos de locomoção, e algumas preposições espaciais, constituindo-se uma
característica essencial para a lexicalização de movimento para mudança de estado.
Do ponto de vista conceptual, as metáforas primárias são formuladas como
mapeamentos entre domínios, relacionando um domínio fonte (o domínio sensório-motor) e
atingindo um domínio alvo (o domínio da experiência conceptualizada), preservadas as
18
inferências do domínio-fonte que não entrem em colisão com o domínio-alvo
conceptualizado. Assim é que, quando se uma rasteira em alguém, o infeliz destinatário
desta atitude, física ou correspondente ao ato de enganar, não se torna proprietário da rasteira
(não pode vendê-la, por exemplo).
Nós temos um sistema de metáforas primárias simplesmente por conta da estrutura de
nossos corpos e da interação que estes estabelecem com o mundo, no qual intimidade, de fato,
tende a se correlacionar com proximidade
, afeição com calor e propósitos com destinos.
Na metáfora básica da estrutura dos eventos, identificada em Lakoff & Johnson 1999
consideramos que:
ESTADOS SÃO LOCAÇÕES (interiores de regiões delimitadas em um espaço)
MUDANÇAS SÃO MOVIMENTOS (para dentro ou para fora destas regiões)
A partir dessa metáfora básica, dois submapeamentos relacionados a estados e
locações são obtidos. Ambos são exemplificados a partir de expressões lingüísticas
convencionalizadas a partir do EVENTO COMO MOVIMENTO. São eles:
(i) Submapeamento: Estados São Locações
Locações →
2
Estados
Ilustram (i), os seguintes exemplos: Ela está fora da depressão./Ele está à beira da
loucura./Ele está em depressão profunda./Ela está próxima da insanidade.
É interessante notar que as regiões podem também variar em tamanho e dimensão.
Considere uma “depressão profunda”. Aqui, o estado de estar deprimido deve ser
conceptualizado como uma região delimitada que possui uma dimensão vertical. Imposta pela
metáfora conceptual FELIZ É PARA CIMA (logo, TRISTE É PARA BAIXO).
5 É necessário esclarecer que o sinal é uma notação alternativa para as metáforas, equivalente a “é” ou
“são”.
19
(ii) Submapeamento: Mudanças
Movimentos → Mudanças
Para (ii), podemos citar como exemplos: Eu saí da minha depressão./Ela entrou em
estado de euforia.
É importante ressaltar que certos verbos e preposições envolvidos na evidência
polissêmica acerca das estruturas de movimento, dentre os quais podemos citar os verbos ir
,
vir
, entrar, cair e as preposições de, para, através. A metaforização pode ser percebida a partir
do momento em que estruturas de movimento físico são entendidas como movimento
abstrato, que por sua vez relacionam-se não propriamente a lugares, mas a estados subjetivos,
proporcionando um novo entendimento das estruturas relacionadas a movimento.
Aqui devemos acrescentar que os verbos de movimento forçado, tais como: trazer
,
conduzir
, levar, empurrar, puxar, mover participam deste sistema expressivo, porque além
dos seus respectivos significados relacionados a contexto físico, concreto, causam a mudança
de um estado a outro e, portanto, passam a ter um novo sentido em construções abstratas.
Alguns exemplos são: Sua teimosia me levou à loucura/As drogas o empurraram para o
abismo, dentre outros.
A partir dos submapeamentos supracitados, constatamos a emergência de um grande
potencial de natureza aspectual das construções metafóricas. Ao identificarmos o movimento
abstrato nessas construções, reconhecemos também que elas contribuem (como mostraremos)
para caracterizar a estrutura temporal interna do evento.
20
3. A EXPRESSÃO DO ASPECTO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Segundo Comrie 1976, o aspecto é a característica da predicação que é constituída a
partir de diferentes formas de visualizar a constituição temporal interna de uma situação, que
por sua vez, engloba estados, eventos e processo.
O aspecto tem sido um estudo periférico da gramática nas abordagens tradicionais,
seja pela superficialidade com que o tema é tratado ou pela imprecisão de sua definição, pois
muitas vezes ele é confundido com o tempo verbal.
3
Em nosso estudo, tratamos das perífrases aspectuais, ou seja, das predicações
complexas, nas quais consideramos a interação entre verbo auxiliar, verbo-suporte
4
, verbo
principal no particípio e gerúndio, e elementos deverbais, adjetivais, nominais. Portanto,
tratamos do aspecto considerando a interação de vários elementos formais, o que quanto ao
nosso objeto de investigação, falaremos de Construções Aspectuais.
Trata-se de uma abordagem que considera o aspecto da predicação no sentido lato, ou
seja, na forma mais abrangente possível, dependente de todo contexto que envolva a
predicação, o que Castilho (2003) considera como aspectualidade. Tanto que, em nosso
estudo, focalizamos perífrases, cujas construções são formadas por verbo-suporte, verbos
auxiliares e copulares mais outros elementos como outros tipos de verbo, nomes, adjetivos,
perífrases estas que devem ser interpretadas gestalticamente, ou seja, considerando que um
conjunto formado pela combinação dos elementos supracitados define algum aspecto em
particular. Por esse motivo, essas construções foram nomeadas como perífrases aspectuais.
3 Daí termos, por exemplo, a nomenclatura do tempo na Gramática Tradicional do português camuflando o
aspecto verbal, estabelecendo, por exemplo, pretérito “perfeito”, pretérito “imperfeito”.
4 Segundo Neves 1999, o Verbo-suporte caracteriza-se por apresentar um significado bastante esvaziado, e,
junto com o seu complemento, forma um significado global, geralmente correspondente ao que tem um outro
verbo da língua. É o caso do verbo fazer, em fazer um aceno, por exemplo, parafraseando acenar. Segundo a
autora, as diferentes configurações de uma mesma ação produzem distintos efeitos sintáticos, semânticos,
pragmáticos no uso da língua.
21
3.1 – Significações aspectuais
A semântica aspectual é captada não apenas a partir da inflexão verbal, mas também
através de outros elementos, tais como as perífrases, as preposições, as propriedades dos
objetos, os adjuntos. Então, o aspecto pode ser expresso:
(i) pela Aktionsart
5
do verbo, ou seja, através da semântica aspectual captada a partir
do próprio verbo, tanto através do seu radical quanto a partir das desinências a ele associadas.
Por conseguinte, temos o delineamento semântico de duas classes: os verbos imperfectivos e
os verbos perfectivos (conf. terminologia de Diez apud Castilho, 2003) ou télicos e atélicos
(conf. terminologia de Garey idem, ibidem).
(ii) pela composição da Aktionsart com outros elementos da predicação (adjuntos,
verbos auxiliares) que possam contribuir para o seu perfil semântico-sintático. A partir daí, se
avança da Aktionsart para o Aspekt: a aspectualidade da predicação, considerando todo o
contexto que envolve a predicação. Por exemplo, em expressões do tipo Saiu do sério, temos
que reconhecer a saída do estado a partir da perífrase completa.
A noção de enquadramento é essencial para a conceptualização do Aspecto
focalizado, uma vez que escolher uma acepção aspectual implica em adotar uma perspectiva
sobre um evento, ou seja, o mesmo evento pode ser visto como seriado, com foco na sua
estrutura interna e sua duratividade (daí ser considerado imperfectivo) ou como evento único,
pontual, cujo início e fim coincidam (chamado, então, de perfectivo).
Consoante Comrie 1976, a Imperfectividade pode ser ocasionada pela
Habitualidade: a ocorrência de uma situação apresentada repetidamente no eixo do TEMPO é
5 Podemos ilustrar essa definição através de verbos como cair e morrer, cujas Aktionsarten, captadas a partir
dos seus respectivos radicais são télicas. Ou ainda, através da desinência modo-temporal ava, que denota o
aspecto imperfectivo. Contudo, advertimos que esses são pontos de partida para a definição de aspecto, que, sob
a nossa ótica, é uma classe em que todos os elementos associados à predicação devem ser considerados para a
sua interpretação.
22
apresentada como Habitual. Além disso, exemplo como Bruno costumava estar escrevendo
cartas ou Todas as tardes, quando o pai chegava (habitual) em casa, as crianças estavam
dormindo (progressivo) mostram que a progressividade não é incompatível com a
habitualidade.
É possível também mesclar (Fauconnier & Turner 2002) características aspectuais,
quando se usa o progressivo com função enfática, seja no gerúndio ou a partir da reduplicação
do verbo no presente. Um exemplo disso pode ser constatado na sentença: Ela está sempre
comprando/ compra e compra mais verduras do que os filhos podem consumir. Vale lembrar
que toda a predicação deve ser levada em conta para a sua interpretação.
as noções de telicidade e atelicidade são importantes para que se reconheça se
um evento possui um ponto final sem o qual a ação não se completa (telicidade) ou se ele
pode ser interrompido a qualquer momento do seu decurso, sem que a ação seja cancelada
(atelicidade). Constatamos a oposição dessas noções em exemplos como A criança fez
um
barquinho de papel / Ele caiu
do sofá (télicos) e Eles estavam dançando bem, (mas pararam
porque se cansaram) / O professor começou a fazer a chamada
,( e logo foi interrompido)
(atélicos).
Nas diversas abordagens sobre o aspecto, constata-se que elementos adverbiais podem
modificar a natureza télica de um verbo como calar-se, que em O menino calou-se por um
momento codifica uma ação durativa, não acabada.
Também temos perífrases que se iniciam por verbos aspectualizadores como começar,
continuar, viver, mais verbos de Aktionsart télica (lembrar, ouvir, dizer), do tipo começar a
lembrar, continuar ouvindo, viver dizendo, dispensando o seu desfecho e instanciando o
aspecto imperfectivo, expresso geralmente por verbos de natureza atélica.
Além da distinção perfectivo/imperfectivo, codificada morfologicamente em
Português, o usuário da língua portuguesa combina vários outros recursos lingüísticos para a
23
conceptualização aspectual, tais como semântica do radical verbal, a partir da qual são
identificadas as classes semântico-aspectuais ou Aktionsarten
6
, a composição aspectual
gerada pela Aktionsart do verbo com a flexão e os verbos auxiliares, bem como os
argumentos do verbo e os adjuntos adverbiais.
Castilho 2003, a partir de seus estudos na vertente funcionalista, especialmente no
âmbito da Gramática do Português Falado, também assume um estudo composicional da
semântica do aspecto.
Tradicionalmente, tem-se o hábito de se direcionar o estudo do aspecto mais pelo lado
excludente da suas classes que pela confluência de diferentes classes em uma só predicação.
Numa posição mediadora entre pontos aspectuais comuns e divergentes das
predicações situam-se os estudos do referido autor. Nesse âmbito, é interessante notar o
quadro tipológico do aspecto por ele estabelecido, no qual várias propriedades aspectuais não
se excluem, mas se complementam. Vejamos:
Face qualitativa
Imperfectivo Perfectivo
Inceptivo,cursivo,
terminativo
Pontual, resultativo
Face quantitativa
Semelfactivo, iterativo
Notamos, no quadro, que a face qualitativa
do aspecto é configurada pelo Perfectivo e
pelo Imperfectivo. Mas, por outro lado, no aspecto também uma face quantitativa,
a partir
do reconhecimento elementar da fronteira entre a ocorrência singular (aspecto semelfactivo) e
a ocorrência múltipla, habitual ou reiterada (aspecto iterativo) verificada em ações que
ocorrem mais de uma vez.
6 Plural de Aktionsart.
24
Sobre a composição do imperfectivo, o que nos chama a atenção é o reconhecimento
das diferentes fases de processamento do imperfectivo: uma fase inicial
, como em Ele pôs-se
a citar o poema (Imperfectivo Inceptivo); uma fase medial
, retratada em pleno curso de seu
desenvolvimento, exemplificado por Eles vivem dizendo mentiras (Imperfectivo Cursivo) ou
Eles dizem mentiras a todo instante (Imperfectivo Iterativo), e ainda em Bruno calou-se por
um momento (Imperfectivo Cursivo
7
); e uma fase final, representada por, por exemplo, Maria
acabou de sair do coma. (Imperfectivo Terminativo). Essas fases são básicas para o
entendimento das construções de aspecto da metáfora dos verbos de movimento, objeto desta
pesquisa.
Mas, o que nos salta aos olhos na tipologia do estudioso é o reconhecimento de que,
no aspecto perfectivo, há, além da ação pontual, a ação Resultativa
8
. Assim, em sentenças
como “Felizmente, a dissertação está digitada”, pressupõe-se que alguém digitou a
dissertação. Esse aspecto configura uma predicação que vai da situação ao seu resultado,
representando-se, consoante o autor, foneticamente, somente este último.
Por outro lado, em várias sentenças que compõem o nosso corpus, constatamos
ocorrer justamente o contrário. Por exemplo, em “Joana entrou em desespero”, somos
remetidos à idéia de que ela ficou desesperada, representando-se somente a ação, no nível da
proposição, e não o resultado, que se configura a partir de um novo estado para o qual
conceptualmente “se adentrou”.
7
Concordamos com o autor, no sentido de que “um momento” embora seja único, constitui um intervalo de
tempo, portanto, possui duratividade intrínseca, apesar do fato de que argumentos no singular favorecem o
aspecto semelfactivo. Conforme o autor ressalta, há muito desentendimento no que tange ao aspecto expresso em
uma sentença, porque difrentes níveis conceptuais da proposição são considerados por diferentes analistas. O
mesmo atém-se aos significados proposicionais, desconsiderando as outras camadas do que chama de “língua-
cebola”.
8 Como o Resultativo implica uma predicação acabada, concluída, Castilho o dispõe como um subtipo do
Perfectivo.
25
3.2 – Realização gramatical do Aspecto
Consideramos que a realização do aspecto em português se dá, no mínimo, de quatro
maneiras:
(i) A partir da inflexão verbal, conforme abordado anteriormente, ou seja, a partir de
uma desinência verbal que possa, por si, designar uma característica aspectual. Como no caso
da desinência –ava, em cantava, amava, etc,que delineia o aspecto imperfectivo;
(ii) como resultado da interação da Aktionsart com a flexão do tempo ou com o
auxiliar, nas perífrases; Como se nos dizeres de um outdoor aqui em Juiz de Fora Aqui
está
nascendo um sonho: Independência Shopping. Constata-se que a telicidade do verbo
nascer fica comprometida em sua configuração perifrástica gerundiva e metafórica,
instituindo o caráter cursivo, no qual o ponto terminal ainda não fora atingido;
(iii) na interação do complexo constituído a partir dos argumentos verbais
9
e/ou
adjuntos adverbiais aspectualizadores. Já os adjuntos aspectualizadores, como o próprio termo
anuncia, instanciam a aspectualidade de uma predicação. O que pode ser conferido na criativa
sentença Esse elevador desce picadinho
10
, em uma situação em que o referido elevador pára
em vários andares antes de chegar ao térreo do prédio. Ou ainda em uma gíria, que no
primeiro momento soa redundante, como Chegar chegando, mas que corresponde a uma
maneira de dizer que se deve começar um evento com imponência;
9 Vimos na teoria da Gramática das Construções que a diversidade de configurações argumentais denotam
diferentes predicações nas construções a partir de um dado verbo.
10 Exemplo creditado à Professora Margarida Salomão, proferido em aula da disciplina Tópicos Especiais em
Cognição do Mestrado em Lingüística da UFJF, em 2005.
26
(iv) através de um contexto mais amplo ainda, que além de englobar as perífrases
aspectuais e todos os elementos aspectualizadores envolvidos na predicação, também
reconhece que o vínculo com outras predicações que compõem a situação é fundamental para
a codificação do aspecto. É o que constatamos em Ele estava morrendo, mas descobriram a
tempo um novo medicamento. Nele, para fazermos uma leitura precisa da aspectualidade,
além de considerarmos a perífrase gerundiva - assim como em (ii), embora, neste caso, não se
trate de uma predicação de natureza metafórica temos que considerar a especificidade do
contexto de um dispositivo que bloqueia a conclusão da ação de morrer, fazendo com que
esse verbo, que é inicialmente perfectivo, possa ser usado em um contexto bem específico,
com formas imperfectivas.
Observamos que a evolução do estudo do aspecto se deu porque cada vez mais se
procurou investigar os recursos lingüísticos que o usuário da língua combina para codificar os
significados aspectuais. Daí, ser possível analisar o aspecto com precisão a partir dos
diversos elementos sintáticos e discursivos que constituem a predicação.
Assim, a aspectualidade de um evento tem a Aktionsart do verbo como ponto de
partida para a codificação aspectual, e a sua compreensão, muitas vezes, se prende a uma
visão global da predicação, que por sua vez, pode recategorizar a aspecto de um dado verbo,
evidenciando que o estudo as classes aspectuais não deve se prender uma rigidez categorial
pré-determinada.
3.3 – Perífrases metafóricas
A tese de doutorado defendida por SALOMÃO em 1990, com o verbo dar no
Português Brasileiro (PB), intitulada Polysemy, aspect and modality in Brazilian
Portuguese: the case for a cognitive explanation of grammar: estuda uma gama de
27
metáforas e metonímias convencionalizadas, bem como a tipologia dos diversos sentidos do
verbo dar.
A questão da aspectualidade analisada na tese supracitada, de modo amplo e
inovador, delineia outras dimensões da aspectualidade. Estabelece, entre outras coisas, o
estudo de expressões perifrásticas de aspecto de situações que, no PB, não se lexicalizam
como verbos. É o caso de frio
11
, fome, dor de cabeça, ciúme e muitos outros, conforme
observa a autora. Cabe, então a um conjunto de expressões perifrásticas, a função de
introduzir as expressões dessa categoria, como por exemplo: Me deu ciúme; Eu fiquei com
frio; Eu estou com dor de cabeça; Eu tenho fome, ou ainda, as metáforas do EVENTO
COMO MOVIMENTO, como: Passei frio; Saí da depressão; Entrei numa fria.
Abordaremos o estudo das fases em questão sob a égide cognitivista, a partir tanto da
tese de SALOMÃO (1990), quanto do Modelo Dinâmico da Composição Aspectual
(demonstrado por CHANG, GILDEA & NARAYANAN, 1998).
Posto que estamos tratando do aspecto a partir de perífrases do EVENTO COMO
MOVIMENTO, procedemos agora à identificação das fases aspectuais dinâmicas
e suas
respectivas perífrases abordadas em nosso estudo:
(i) Inceptiva - a fase de iniciação de uma situação.
Márcia entrou em depressão
.
Ele acabou de entrar em coma
.
(ii) Progressiva – a fase em que a situação progride no tempo.
Pense bem antes de sair fazendo besteira
.
Pedro estava passando dificuldades
naquele lugar.
11 Até mesmo o verbo esfriar, derivado de frio, não dá conta sozinho de todas as significações relacionadas às
ações que o frio pode impor, pois, esfriar evoca uma cena bem distinta da cena evocada pela expressão
perifrástica sentir frio, se contrapormos, por exemplo, Esfriei a pele com o ar condicionado e Senti frio com o ar
condicionado.
28
João andou preocupado
com o vestibular.
(iii) Terminativa - a fase de finalização de uma situação.
Ele acabou de sair do coma
.
Os grevistas saíram do sério
com aquela contraproposta.
Quanto à organização conceptual das fases mencionadas, em alinhamento com
SALOMÃO (1990), consideramos que esta é estruturada pelas metáforas: AÇÃO É
MOVIMENTO e ESTADOS SÃO ZONAS TERRITORIAIS. As configurações imagéticas
das metáforas envolvidas poderão ser conferidas no capítulo analítico.
Além disso, através de um sistema metafórico próprio, no qual se presume o
movimento em zonas territoriais, bem como o enquadramento de uma fase específica, as
perífrases aspectuais servem para delinear a estruturação interna do processo de uma
atividade, como em: O país entrou em choque
com a notícia, como também de uma ação: No
segundo tempo, o time do Brasil passou a dominar
o jogo.
As fases aspectuais do EVENTO COMO MOVIMENTO (doravante ECM)
inceptiva, progressiva e terminativa podem ser adaptadas ao Modelo Dinâmico da
Composição Aspectual. Aqui, uma característica saliente: o arranjo seqüencial da trajetória
das fases que compõem o aspecto, em termos de representação espacial. Notemos a figura 02:
ASPECTO Inceptivo Progressivo Terminativo
Começo Decurso Finalização Conclusão
ECM
Fig. 02
Fases da dinâmica do EVENTO COMO MOVIMENTO
29
No modelo original, outras fases aspectuais são consideradas, tais como a fase
prospectiva e a iterativa. Porém, nesta abordagem, focalizaremos apenas as três fases da que
estão contidas na dinâmica ECM. O movimento “parte” do aspecto inceptivo, “passa” pelo
progressivo e “sai” do terminativo.
Vários elementos contextuais, gramaticais e discursivos serem levados em
consideração para a decodificação do aspecto. Em nossa análise, o ECM é majoritariamente
codificado através de perífrases aspectuais, a partir da interação de verbos auxiliares, cópulas
e, principalmente, verbos-suporte, juntamente com nomes, adjetivos, verbos no gerúndio ou
no particípio. Trata-se de diferentes arranjos aspectuais, nos quais o aspecto é tratado como
uma categoria da proposição e não exclusivamente do verbo. Haja vista a grande quantidade
de predicações nominais do ECM, tais como: Entrar em depressão, Ficar doente, Sair dessa,
Andar chateado.
Vale notar que, além da característica metafórica do ECM, também o fato de
que esta pode se configurar a partir de metonímias, como em Entrou em euforia por Entrou
em estado de euforia.
3.4 – O EVENTO COMO MOVIMENTO: análise textual
Para ilustrarmos um pouco o quanto a nossa experiência de movimento físico
constitui-se numa grande inferência na organização cognitiva da linguagem, e que reflete
muito mais do que palavras, selecionamos dois gêneros textuais distintos: um artigo on-line e
uma entrevista.
30
A partir do artigo, podemos constatar o quanto a concepção metafórica de
movimento dá conta de descrever vários eventos de nosso cotidiano e até de uma vida inteira,
com ênfase à carreira profissional (grifos meus). Vejamos:
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
A arte de
sair de cena
com classe
(Escrito por Luiz Marins)
Embora poucos gostem de falar nisso, nós não somos imortais. Da mesma
forma, nosso tempo como líderes é limitado. Uma saída de cena
com classe
enquanto estivermos no topo
– é preferível a uma rápida derrocada montanha abaixo.
Por outro lado, alguns líderes empresariais têm o bom senso de partir com
classe, às vezes, sem o fazer na realidade. Sam Walton, da Wal-Mart, por exemplo,
passou seus anos de aposentadoria entusiasmando aqueles que ele havia deixado como
encarregados de seu império. Pelé é outro exemplo universal de quem soube sair de
cena com uma invejável classe e continua ativo no mundo dos esportes. Teria ele sido
eleito o atleta do século se tivesse continuado a jogar
até que uma artrose senil o
impedisse?
Infelizmente, alguns líderes não apenas deixam de partir
com classe como
ainda fazem tudo para sabotar seus sucessores. Eles fazem isso ao não se retirar no
momento certo ou não passar a seus sucessores informações relevantes para que tenham
sucesso. Aqueles que deixam a empresa enquanto ainda detém o controle, têm muito
maior chance de deixar um legado duradouro do que aqueles que têm que ser
carregados para fora.
E saber sair de cena
com classe é importante em todas as circunstâncias. Se
você está muito exposto à mídia ou assediado demais por pessoas "interesseiras" como
diria minha avó, talvez seja hora de sair de cena
, aparecer menos, aprender os
benefícios de uma maior privacidade. O mundo dos holofotes e a fogueira das
vaidades tomam suas vítimas nos incautos que não têm a sabedoria de sair de cena
na
hora certa. Você mesmo deve conhecer alguns exemplos típicos dessa triste realidade.
Sabendo sair de cena na hora certa, você podeaté voltar ao mesmo"palco"
mais tarde ou a outros palcos
se desejar,mas não perca o timing de sair de cena, até para
que sua volta
seja desejada e aplaudida.
Analise bem e decida quando
você deve sair de cena ou aposentar-se e,
quando o tempo chegar
, faça-o com classe.
31
Notamos, claramente, como a carreira profissional é metaforizada em termos de um
lugar, especificamente um palco, palco este que além do limite espacial, possui um limite
temporal, sendo que ambos os limites se fundem: o palco é concebido como um lugar
determinado para se estabelecer a duração de uma carreira de sucesso, ou pelo menos, os
momentos em que se deve estar em evidência, mesmo após o fim da carreira (havendo a
possibilidade de retorno ao palco, com atribuições distintas às da carreira em si).
A proposta inicial do texto de se comprovar a tese da efemeridade do sucesso de uma
carreira (“... nós não somos imortais”. e de que “... nosso tempo como líderes é limitado”) é
construída a partir da premissa de que sair de cena ou partir no momento certo (“... não perca
o timing de sair de cena”, “...quando o tempo chegar...”) de uma carreira de sucesso
(estendendo essa metáfora aos sentidos de aparecer menos, desfrutar de uma maior
privacidade, ou até mesmo se aposentar) é condição para que essa saída tenha classe, para que
o movimento para fora desse “espaço” não seja forçado (ser carregados para fora
) e que até a
volta ao palco
possa acontecer. Pois, é preferível “Uma saída de cena com classe enquanto
estivermos no topo
–a uma rápida derrocada montanha abaixo”.
No domínio contrafactual, temos a situação hipotética, que reforça a argumentação
central do texto de que há o momento certo para “se tirar o time de campo” e que questiona se
“Teria ele sido eleito o atleta do século se tivesse continuado a jogar
até que uma artrose senil
o impedisse?A reflexão proveniente dessa questão, que por sua vez, inverte a situação, de
fato, reforça o ponto central do texto.
Quanto à maneira de se mensurar o sucesso de uma carreira, podemos captá-la em
termos da metáfora orientacional da verticalidade, a partir da qual MAIS É PARA CIMA e
MENOS É PARA BAIXO (conf. Lakoff, 1987): a partir dela se legitima estar no topo como
algo positivo, contrariamente a uma rápida derrocada montanha abaixo.
Por conseguinte,
32
entendemos que a verticalidade serve como domínio fonte para se entender a quantidade,
como em um termômetro, por exemplo, mas, no caso especifico do objeto analisado, pode-se
instanciar também que MELHOR É PARA CIMA E PIOR É PARA BAIXO, ao
considerarmos os períodos de mais qualidade e menos qualidade de um evento.
Essa relação entre verticalidade e quantidade parte de nossa experiência corporificada,
contribuindo para uma descrição de gramática que considera as estruturas simbólicas,
motivadas pela experiência e inerentes à capacidade lingüística e também as outras
experiências nos diferentes domínios (cultural, social, político, religiosos) como
fundamentadoras de nossa capacidade lingüística. Esse postulado sociocognitivo, no qual se
estabelece o continuum percepção/concepção
é bastante distinto da clássica visão de que os
conceitos são abstratos e separados das experiências humanas.
Percebemos, pois, que a aspectualidade do texto é constituída a partir de movimentos
metafóricos - de entrada (incepção), permanência (duratividade) e saída (terminação) – em/de
lugares distintos. Temos também a confluência de várias metáforas: além das básicas
relacionadas à nossa corporalidade, também A VIDA COMO VIAGEM (instanciada pelas
expressões que denotam partida), A VIDA COMO UMA ENCENAÇÃO (ao nos
confrontarmos com as expressões como palco, aplauso, sair de cena, timing de sair de cena),
A CARREIRA COMO UMA ESCALADA (bastante recorrente e encontrada no texto a partir
da simbologia de se estar ou no topo da montanha ou caindo dele, e também em expressões
do nosso dia-a-dia como “escalada para o sucesso”, “topo da carreira”, “ascensão para a
fama”, etc.).
Outro exemplo da nossa capacidade de conceptualização dos eventos, principalmente
os eventos como experiências de vida, em termos de movimentos espaciais é uma
33
reportagem
12
com o jogador brasileiro Adriano. A seguir, destacamos alguns trechos que
ilustram esse postulado.
(i) Adriano: “Passei pela pior fase da minha vida
(ii) O Imperador... espera que o título com o Inter marque a sua volta por cima.
(iii) Próximo passo é recuperar espaço na seleção.
(iv) Adriano espera recuperar seu espaço também com a amarelinha.
(v) “Se outros jogadores estiveram na reserva no início, eu também posso passar
por isso”.
É interessante notar a inferência de que maior espaço é maior importância (iii) e
(iv) e como movimentar-se pode ser conceptualizado como progredir (i), (ii) e (iii).
Esse imenso emaranhado imagético e conceptual que constrói a criatividade
lingüística dos gêneros textuais selecionados artigo de opinião e reportagem,
respectivamente, bem como a sua argumentatividade, é invisível até para o leitor mais atento,
pois as inferências metafóricas que nele se apresentam são calculáveis apesar de
majoritariamente inconscientes (conf. Lakoff & Johnson 1999), nada arbitrárias, recorrentes
em seu cotidiano lingüístico, o que acarreta uma automaticidade na recepção de suas
informações em termos desta projeção entre domínios (do mais concreto para o mais
abstrato). Na verdade, a sua interpretação vai além da capacidade de decodificação
estritamente lingüística: ela depende, fundamentalmente, da capacidade de conceptualização
inconsciente das metáforas envolvidas, fundamentadas também no compartilhamento social
de experiências lingüísticas e corporais.
12
Disponível
em: <http://oglobo.globo.com/esportes/mat/2007/o4/25/295502164.asp>. Acesso em: 25.04.2007.
34
4. AS EXPRESSÕES PERIFRÁSTICAS DO ASPECTO COMO MOVIMENTO EM
PORTUGUÊS
O objetivo deste capítulo é explicar a realização lingüística da metáfora conceptual
EVENTO COMO MOVIMENTO na gramática do Português.
Como foi dito no capítulo anterior, a categoria gramatical de aspecto em
Português, e em muitas outras línguas, é estruturada por esta metáfora e se expressa através de
um coeso sistema de perífrases com verbos auxiliares, verbos-suporte e cópulas.
Alguns problemas surgem no estabelecimento da natureza aspectual da construção
do EVENTO COMO MOVIMENTO, dada a sua complexidade. É importante fazer a
distinção entre usos aspectuais e usos plenos do verbo, mesmo com distribuição sintática
semelhante:
(i) Ele entrou em depressão. (Movimento Abstrato) – Incepção Metafórica.
(ii) Ele entrou em casa sem limpar os pés. - Movimento Concreto.
É importante salientar que os verbos cuja interpretação é de Movimento Concreto,
não foram considerados nesta pesquisa.
Para entender este fenômeno, procedemos ao estudo de um corpus constituído de
diversos gêneros, com relevo para textos veiculados eletronicamente através da Internet.
35
4.1- Quadro hipotético
4.1.1 - Hipóteses gerais
Esta abordagem sobre o EVENTO COMO MOVIMENTO tem como
fundamentação geral:
(i) A noção de que a gramática instancia-se como uma rede de construções
(GOLDBERG, 1996); na qual a metáfora é assumida como fator motivacional (LAKOFF &
JOHNSON, 1980,1999).
(ii) Na linguagem, estabelece-se uma projeção entre domínios de experiências
distintas do ser humano, reconhecida no fenômeno da metáfora conceptual (LAKOFF &
JOHNSON, 1980; 1999).
4.1.2 - Hipóteses específicas
Assumimos as seguintes hipóteses especificas:
(i) A dinâmica do evento estudado apresenta uma estruturação metafórica da
categoria gramatical de aspecto (LAKOFF & JOHNSON, 1999);
(ii) Uma das expressões gramaticais de aspecto em Português ocorre via
expressões perifrásticas, correspondentes a Construções com verbos auxiliares,
com verbos-suporte e com cópulas.
(iii) A motivação conceptual destas construções é a metáfora MUDANÇA É
MOVIMENTO.
36
4.2– Metodologia
Além dos exemplos citados introspectivamente (a maioria dos dados),
consideramos um corpus constituído de sentenças selecionadas a partir de diferentes gêneros
textuais, principalmente da mídia eletrônica, na qual uma parte dos corpora fora coletado
através da ferramenta de busca. O fenômeno apresentou-se com mais freqüência nas
manchetes dos textos
13
, principalmente em notícias on-line. Eventualmente, coletamos dados
também de outras fontes, tais como: revistas, letra de música e material publicitário.
A coleta de dados na Internet foi feita a partir de duas ferramentas de busca
mundialmente conhecidas - Google® e Yahoo!®, nas quais procurávamos as expressões que
se enquadrassem na descrição do EVENTO COMO MOVIMENTO (entrada, passagem e
saída em relação a um evento).Portanto, coletamos perífrases aspectuais diversas em língua
portuguesa e a partir dos milhares de resultados, selecionávamos aqueles que se instanciavam
metaforicamente.
A metodologia desta pesquisa pautou-se em uma abordagem qualitativa
dos dados
(Canen 2003) - dando ênfase à interpretação e à compreensão das motivações e
generalizações que passam a constituir o cotidiano lingüístico sociocultural dos sujeitos .
É importante destacar que com os 53 exemplos selecionados para esta pesquisa,
fizemos um teste com aqueles que se estruturavam com verbos- suporte: verificamos se havia
ou não a paráfrase verbal. Também verificamos o número de construções com verbos plenos.
Somente no caso das construções terminativas houve uma relação bem assimétrica a partir do
ponto de vista selecionado para a organização desta tabela: as construções com verbo-suporte
nas terminativas, em sua maioria, não fazem paráfrase verbal. Aparentemente, trata-se de uma
13
Realmente, tal fato nos pareceu bem saliente, o que se justifica talvez pelo fato da necessidade comunicativa de uma
manchete, que por excelência visa a chamar a atenção dos leitores, e, por isso, lança mão de recursos lingüísticos criativos e
elaborados, além de impregnar certa coloquialidade às expressões lingüísticas. Por isso, consideramos que a mesma
estabelece um continuum entre as modalidades escrita e falada, característica também encontrada em nosso objeto.
37
acepção aspectual com grandes dificuldades para se lexicalizar exclusivamente através de
verbos plenos em PB.
Tipo de verbo Construções
Inceptivas
Construções
Progressivas
Construções
Terminativas
Total
PLENO 06 08 02 16
SUPORTE (com
paráfrase verbal)
14 -- 01 15
SUPORTE ( sem
paráfrase verbal)
06 10 06 22
Total 26 18 09 53
Tabela (01)
Verificamos que um número considerável de Construções Inceptivas podem se
lexicalizar a partir de paráfrases verbais, tais como: entrar em depressão/ deprimir-se, entrar
em desespero/ desesperar-se, etc. Por outro lado, as progressivas estudadas não permitem a
paráfrase verbal, pela dificuldade de se lexicalizar a progressividade sem o apoio de verbos
aspectualizadores.
Além disso, é interessante notar que, quanto às Construções da Terminação, a maioria
que é constituída a partir de um verbo-suporte não faz paráfrase verbal. A exceção, com
ressalva, é Sair de si, que pode, em uma situação muito específica, corresponder a desfalecer,
desmaiar. Só em conformidade com as informações contextuais é que a expressão pode
aceitar ou não a correspondência a esses verbos plenos. Porém, muitas vezes, a mesma não
pode ser substituída por tais verbos
Passamos, a seguir, a identificar o sistema das Construções expressivas destas
acepções aspectuais, distinguindo a variedade de suas realizações sintáticas.
38
4.3 - As construções de Incepção
A inceptividade, ou incepção, que descreve a fase inicial de um evento, pode ser
instanciada não apenas por expressões do tipo iniciou /começou a/ pô-se a/
, como em: O
professor iniciou
a aula/ O prefeito começou o seu mandato hoje/ Maria pôs-se a chorar;
mas, também a partir de verbos herdeiros de movimento concreto, como entrar
, passar e sair,
em expressões metafóricas do EVENTO COMO MOVIMENTO, nas seguintes categorias de
experiências:
(i) Atividades: entrar em coma/ entrar em depressão/ entrar em desespero/ entrar em
apuros/ entrar em alfa.
(ii) Ações: passar a dominar o jogo/ sair fazendo bobagem
.
Vale notar que, além de expressar o começo de uma atividade ou ação, essas
construções denotam começo de um estado subjacente à estrutura lingüística.
Esse estado é o resultado do movimento abstrato de um estado para outro. Daí,
considerarmos também que estamos tratando de construções incoativas, porque presumem
uma mudança de estado, isto é, passa-se de X para Y.
Os exemplos abaixo ilustram essa situação:
(i) Alguém entra em depressão/ desespero/estado de euforia. (incepção metafórica)
(ii) Portanto, torna-se
14
deprimido/ desesperado/ eufórico. (resultativo)
(iii) Conseqüentemente, fica
15
deprimido/ desesperado/ eufórico.(estativo/resultativo)
14
Tornar-se instancia a metáfora corporificada de girar no próprio eixo para uma direção oposta.
15
Ficar também corresponde ao resultado do movimento metafórico, e é conceptualizado como o destino ou o ato de cessar o
movimento em algum ponto da trajetória. Ex: Eu ia até o Rio, mas fiquei em Petrópolis.
39
O traço de dinamicidade identificado em construções do EVENTO COMO
MOVIMENTO deve ser reconhecido como o deflagrador do movimento em direção a/ para
dentro de estados como eventualidades que se realizam em um eixo horizontal. A partir dessa
dinâmica, o evento passa a ser concebido em etapas, que podem ser licenciadas por
expressões perifrásticas de aspecto, constituindo-se num processo cuja expansão é
figurativamente motivada.
Sobre a fase da Incepção, suas construções presumem os seguintes esquemas
imagéticos (baseados nas inferências metafóricas supracitadas):
(i) ORIGEM-TRAJETO-DESTINO. Consubstanciado pela metáfora do LUGAR
DA ESTRUTURA DO EVENTO, na qual as inferências (a) e (b) estão
circunscritas.
__ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
ORIGEM Trajetor DESTINO
TRAJETO (Fig. 03)
(ii) CONTÊINER. No qual, identificamos uma região delimitada, correspondente
ao estado. Ele se constitui de uma parte interior (X), uma externa (Y) e um
portal que liga uma à outra (Z).
Y
(Fig. 04)
TR
X
Z
40
Da junção dos esquemas imagéticos (i) e (ii), temos então a seguinte figura representativa
da incepção (trajetor passando pelo portal do contêiner):
Y
(Fig. 05)
A figura 05 insere-se na METÁFORA CONCEPTUAL DO MOVIMENTO
METAFÓRICO, nela, o experienciador (representado pelo trajetor) faz o movimento
metafórico, seja a entrada representada (incepção), a passagem (progressão) ou a saída
(terminação).
Ressaltamos que o sentido de entrar em um estado subjetivo é extremamente
produtivo no PB. Basicamente, é a composição de ATIVIDADES como entrar em/ cair em /
passar a ficar + estado subjetivo, ou AÇÕES como passar a + verbo de ação.
Observemos os exemplos e a divisão entre estados positivos e negativos.
Salientamos também que os estados negativos foram os mais recorrentes:
Positivos
(04) Entrar em alfa.(nível de sublimação do equilíbrio entre mente e corpo)
(05) Entrar em estado de euforia.
(06) Passou a ficar alegre.
Negativos
(07) Entrar em desespero/ angústia/ depressão/ óbito/ pânico.
X
Z
TR
41
(08) Cair em desespero/depressão/ em desilusão
16
.
(09) Passar a ficar triste/ chateado.
Além da incepção com os verbos entrar e cair, analisaremos a seguir também esse
aspecto com passar e sair.
Nas 26 Construções de Incepção analisadas, o verbo mais recorrente para as
perífrases inceptivas é entrar, porém também os verbos passar e sair são relevantes para essa
construção, além de serem compartilhados, respectivamente, pelas construções de
progressividade e terminação.
Verbos com projeção nos dois eixos espaciais (horizontal e vertical), como cair e
afundar, são minoria em nossos dados, em função do escopo do fenômeno ser licenciado
também pela metáfora do CAMINHO, e, portanto, interessou-nos mais os verbos que
denotavam a unidirecionalidade no eixo horizontal.
4.3.1 Construções Inceptivas com Verbos-Suporte
Retornemos a (i), que se configura a partir de um verbo-suporte (entrar):
(i) Ele entrou em depressão.
A contribuição de entrar é importante na Construção, pois veicula as suas marcas
gramaticais (tempo/modo/pessoa e aspecto inceptivo). Porém, ele é tematicamente dependente
do Nome que o segue na construção: depressão.
A partir desse postulado, notamos que a grade temática é expandida a partir da
contribuição da preposição que está associada ao verbo de movimento. A preposição,
16
Cair corresponde a metáfora BOM É PARA CIMA, RUIM É PARA BAIXO, também instanciada a partir de nossa
corporalidade (nos termos de LAKOFF & JOHNSON; 1980,1999)
42
tradicionalmente, não é considerada uma classe licenciadora de argumentos, porém, nessa
construção, desempenha tal papel de maneira decisiva, contribuindo para a junção do verbo-
suporte ao núcleo temático da construção: o nome depressão, sem o qual não há a informação
lexical básica do evento de deprimir-se.
A partir dessa premissa, todas as categorias verbais dessa Construção são instanciadas
por entrar (verbo-suporte), e o núcleo da ação se configura no nome, que por sua vez
representa metonimicamente um estado. Notemos a Construção Inceptiva com verbo-suporte:
(10) Julgamento de Saddam faz Iraque entrar em alerta máximo. (Internet)
(Atividade)
Em (10), temos uma expansão da Construção a partir do predicador fazer, que passa a
sustentar a marca de tempo e modo, restando ao verbo entrar aspecto, número e pessoa. Mas,
ainda assim o núcleo temático é um nome: alerta.
Ainda com Verbos-Suporte, mas agora com passar, podemos ter outras perífrases para
a Incepção:
Como em:
(11) “O consumo consciente passou a fazer parte do imaginário das pessoas. Essa é
uma mudança cultural que não pode ser desprezada", diz Hélio Mattar. (Internet) (Atividade)
Ou ainda:
Exemplos:
(i)
Ve
rbo
-
suporte
entrar
+ Preposição + Nome
(núcleo temático e metonímico).
(ii) Verbo aspectualizador
passar
+Preposição
a
+ Verbo
-
suporte+ Nome
(núcleo
temático).
(iii) Verbo
-
suporte
passar
+ Preposição
a
+ Verbo principal + Nome
(complemento
verbal).
43
(12) Windows XP passou a pedir senha do nada! (Internet) (Ação)
(13) Yahoo! passou a disponibilizar letras de músicas. (Internet) (Ação)
(14) Roth diz que Vasco passou a dominar o jogo após expulsão de jogador do
Galo. (Internet) (Ação)
É interessante notar que passar como Incepção de um evento significa também que
ele é um novo evento ou estado. Por isso, em passar a dominar, a situação antes não estava
dominada e em passar a ficar desesperado não havia antes o estado de desespero.
Uma outra construção de incepção com verbo-suporte é a seguinte:
(15) Ele saiu fazendo uso do remédio sem ler a bula. (Ação)
(16) O perito saiu fazendo a vistoria do automóvel sem esperar pela polícia.
(Ação)
Cabem, então, duas observações sobre a expressão sair + gerúndio. A primeira diz
respeito a sua semântica: trata-se de uma expressão já cristalizada em nossa língua, cujo efeito
pragmático corresponde a começar a fazer algo repentinamente e sem precauções. A segunda
relaciona-se ao fato de que, nem sempre o conjunto sair + gerúndio será sustentado por um
verbo-suporte: a rigor, qualquer verbo pode participar da construção. Atestamos isso nas
construções a seguir e os seus respectivos exemplos:
(
iv) Verbo aspectualizador
sair
+ Verbo
-
suporte no gerúndio + Nome
(núcleo
temático)
(v) Verbo aspectualizador sair + Verbo principal no gerúndio + Nome
44
(17) Ele saiu tomando o remédio sem ler a bula, felizmente fora apenas um
comprimido . (Ação)
(18) Siga essas dicas antes de "sair fazendo" o teu web site
. (Internet) (Ação)
(19) No baile, o solteirão saiu atirando prá tudo quanto é lado. (Ação)
Vale ressaltar como configurações tão semelhantes podem denotar aspectos
distintos: em (15) e (17), as expressões destacadas referem-se ao começo da ação,
equivalendo-se a usou ou tomou o remédio. em (16) e (19), além da incepção, graças ao
verbo sair, que pode aqui ser considerado o marco de um início repentino do evento
, podemos
identificar a progressividade - em (16) visto que o evento vistoria presume uma
duratividade, e, em (19) iteratividade (aspecto não focalizado neste estudo), posto que o
solteirão repetiu, durante o baile, ou a ação de “dar de cima” de todo mundo, ou,
concretamente, ter disparado arma de fogo. Vale ainda acrescentar que, a expressão No baile,
além de se constituir como o espaço da ação, pode ser interpretada como o referencial de
duração temporal, e, portanto, sustenta a noção de progressividade da ação.
4.4 - As Construções de Progressividade
Conforme abordado no capítulo anterior, a progressividade diz respeito ao
decurso do evento em um determinado intervalo no tempo, mesmo que implícito na
predicação. Imageticamente, ao representarmos esse aspecto, não consideramos a posição do
(vi) Verbo aspectualizador sair + Verbo principal no gerúndio
45
trajetor em um dado momento dentro do evento, mas toda a extensão que ele metaforicamente
percorre. Extensão esta delimitada não apenas no espaço, mas também no tempo, e,
gramaticalmente, representada pelo gerúndio.
Os movimentos denotados pelas expressões perifrásticas de progressividade
empreendem uma unidirecionalidade espácio-temporal que é presumidamente metafórica, e
por isso também podem ser englobados na metáfora do EVENTO COMO MOVIMENTO.
Sendo assim, o experienciador do evento (representado como trajetor - TR) tem o
seu movimento contínuo identificado através de uma linha pontilhada, considerando um dado
intervalo do tempo (T), dentro do espaço de um contêiner (X):
Y
(Fig. 06)
Reconhecemos assim, na progressividade, uma importante interação entre tempo e
movimento no espaço, uma vez que a nossa percepção temporal envolve este conceito (como
o movimento dos astros, por exemplo); estabelecendo, então, um continuum percepção-
concepção, nos termos de Narayanan, em detrimento de uma visão dicotômica destas
capacidades cognitivas.
Nas construções de progressividade, a variedade de verbos utilizados é bem maior
em relação às outras construções. Porém, o verbo andar, pela sua versatilidade, por poder se
configurar com adjetivos, particípio e formas no gerúndio, foi o mais recorrente em nosso
_ _ _T _ _ _ _
_ _ _ _ _ _
X
T
46
corpus. Destacamos também passar e vir, que em Construções Gerundivas proporciona o
estabelecimento de várias perífrases progressivas.
4.4.1 – Construções Progressivas com Verbos-Suporte
As construções progressivas com verbos-suporte podem identificadas em sentenças
como Roberta estava passando um sufoco
com o carro enguiçado. Daí, identificamos a
seguinte configuração:
verificada em exemplos de Atividades como:
(20) Ele está passando um grande sufoco.
(21) João ia passando (por) um grande desespero/ por uma terrível provação.
(22) O Agenor vinha passando (por) maus bocados.
Identificamos também um verbo-suporte com sentido semelhante a passar: atravessar,
que também pode ser categorizado como estrutura do EVENTO COMO MOVIMENTO. O
exemplo que se segue foi retirado de um “sítio” (site) de Portugal, para mostrar que esse tipo
de inferência metafórica não possui fronteiras, pois é constituída a partir de uma inferência
conceptual - e não meramente lingüística.
(vii) Verbo auxiliar
(estar, ir, vir)
+ Verbo
-
suporte no Gerúndio + Nome
(núcleo
temático),
47
(23) Atravessar uma crise sem qualquer tipo de apoio é, sem dúvida, demasiado
arriscado. (Internet)
Em termos construcionais, não podemos postular uma ligação com o sentido
Resultativo, pois temos o processo em andamento. Além disso, as expressões mais recorrentes
com o verbo passar e atravessar, geralmente, apresentam uma leitura concluída do evento, a
partir de sua configuração perfectiva, como em: passou um aperto/ passaram um sufoco/
atravessaram uma barra. Daí focalizarmos o seu aspecto terminativo.
4.4.2 -Construções Progressivas com Verbos Copulares
Os verbos copulares distinguem-se dos verbos auxiliares porque não introduzem
uma predicação principal via verbo e distinguem-se dos verbos-suporte porque não
introduzem predicação principal via nome. Os verbos copulares introduzem uma predicação
principal via adjetivo ou particípio. Vejamos os exemplos:
(24)
Queria alguém para tirar fotos minhas, mas nem vou pedir ao meu irmão
porque ele sempre anda ocupado. (Internet)
(25) Antônio anda alegre/cansado/sufocado ultimamente.
(26) “Eu ando tão down”. (CAZUZA)
Construções desse tipo apresentam a seguinte configuração:
(viii) Verbo andar lexicalizado como cópula + Adjetivo ou particípio
48
Sendo assim, constatamos que andar perde o seu sentido pleno, e se lexicaliza
como verbo-suporte, contribuindo para a codificação das categorias verbais da perífrase, com
relevo para o aspecto.
Importante notar que construções copulares equivalentes às já citadas, pois
podemos dizer que andar cansado assemelha-se a estar cansado ultimamente, andar alegre a
estar alegre ultimamente.
4.4.3 - Construções Progressivas com Verbos Auxiliares
As Construções Progressivas constituídas por verbos auxiliares identificadas em nosso
corpus apresentam-se acompanhadas de verbo principal no gerúndio.
Nessas Construções, destacamos que cabe aos verbos de movimento vir, ir e andar o
papel de Auxiliar na perífrase. Vejamos a sua notação:
verificada em exemplos de Atividades como:
(27) Ela vinha apresentando os sintomas há pouco tempo.
(28) O quadro vinha progredindo cerca de quatro meses. Ao exame físico havia
sinais de lesão no trato piramidal. (Internet)
(29) A Continental vem recebendo freqüentemente solicitações de reembolso para
bilhetes com combinações de bases tarifárias. (Internet)
(ix)Verbo auxiliar (vir/ir/andar) + Verbo principal no gerúndio + Nome
1
49
(30) Você tem que ir percebendo o valor das coisas com simplicidade”. (REVISTA
O GLOBO: 2007) (modalização
e progressividade)
É interessante notar como verbos de movimento concreto e plenos como vir e ir,
lexicaliza-se como verbo auxiliar e de movimento metafórico em sua configuração
perifrástica gerundiva.
Andar e vir são exemplos de verbos plenos que funcionam como auxiliares de
progressividade, e denotam também um movimento unidirecional no tempo, em termos de
espaço abstrato.
Notemos os exemplos que ilustram as observações sobre as perífrases de
progressividade com andar, vir, ir e também outros componentes da predicação que
corroboram uma leitura progressiva, estes em itálico:
(31) Maria andou lendo filosofia nas últimas semanas. (predicação interpretada
como uma só leitura que progride no tempo).
(32) Pouco a pouco, ele vem reconquistando a confiança dos pais.
(33) Ele foi estudando até virar juiz.
A marcação temporal das estruturas, através dos elementos adverbiais nas últimas
semanas, pouco a pouco e até virar juiz, contribui para a codificação aspectual de
progressividade porque propicia informação temporal sobre o evento. Porém, isso não é sine
50
qua non nas construções progressivas, lembremos que o gerúndio é prototipicamente
progressivo.
Percebemos a seguinte restrição sobre as perífrases aspectuais com andar e vir: a
presença de elementos adverbiais de freqüência denotará o aspecto iterativo (29;24;34), não
mais o progressivo, indo além do nosso escopo. Na ausência desses elementos, podemos
considerá-las progressivas:
(29) A Continental vem recebendo (freqüentemente) solicitações de reembolso para
bilhetes com combinações de bases tarifárias. (Internet)
(24)
Queria alguém para tirar fotos minhas, mas nem vou pedir ao meu irmão porque
ele (sempre) anda ocupado. (Internet)
(34)
Esse garoto vem (anda) cheirando cola (ultimamente). (Internet)
Uma característica interessantíssima sobre perífrases progressivas em geral é a
instituição do processo da metaforização a partir da mesclagem de verbos télicos com
progressividade. O que pode ser notado nos seguintes dizeres de um outdoor exposto,
recentemente, aqui em Juiz de Fora (exemplo mencionado no capítulo anterior):
(33) Aqui está nascendo um sonho: Independência Shopping. (PUBLICIDADE)
Notamos que, embora nascer seja canonicamente télico, ao se configurar
metaforicamente, ele pode aparecer em uma configuração progressiva, uma vez que herda a
atelicidade do sentido que se busca interpretar: o verbo construir, por exemplo. Portanto, na
projeção metafórica, pode ser preservado o aspecto do domínio-fonte (em termos lakoffianos).
51
4.5 - As construções de Terminação
Para finalizarmos esse estudo, abordaremos, então, o aspecto no qual o evento é
focalizado em sua fase final, em sua conclusão: o Terminativo ou Cessativo.
Ao categorizarmos as expressões perifrásticas de terminação como instanciadoras da
metáfora do EVENTO COMO MOVIMENTO, devemos reconhecer um movimento de
oposição, de afastamento em relação a um evento: seja a saída de um estado, o cessar de uma
ação (concluída ou não).
Daí que o esquema imagético da Terminação pressupõe que o trajetor (TR) – o
experienciador - não esteja mais nos limites do contêiner (X), que simboliza o âmbito da ação
(interrompida ou concluída) ou do estado em que o experienciador se encontrava e do qual
metaforicamente se afastou, saiu.
Lembramos que o portal (Z) agora se configura como saída, e (Y) pode ser
considerado não apenas o espaço externo ao contêiner, mas também um novo evento. Esse
movimento de saída pode ser encontrado em expressões que são projetadas a partir de um
verbo de movimento
17
mais concreto para um mais abstrato, como em Sair do sufoco
(Atividade). A saída também ocorre indiretamente, quando antes do ato de cessar uma Ação,
também se implicava um movimento metafórico, pois, por exemplo, SE X parou de fumar,
então X andava fumando.
. Y
(Fig. 07)
17
Identificamos também o verbo passar, mas desta vez lexicalizado como terminar, como em A febre passou,
mas, configurando-se metonimicamente, pois é alguém que passa pela experiência de se ter febre, uma idéia que
também nos remete à descrição figurativa do contêiner.
X
Z
TR
52
Mais escassas, as construções de terminação, majoritariamente aparecem em
construções com o verbo-suporte sair, conceptualizando a Terminação de um evento ou
estado.
Interessante notar como nem todos os verbos lexicalizam a saída de um estado e como
uma regra lexical para alguns verbos, através do prefixo des , termos o surgimento de
expressão inédita, e até certo ponto estranha, constituindo uma contrafactualidade do evento
gripar. Vejamos este exemplo sobre a fase terminativa, extraído a partir de
uma propaganda de
medicamento de venda livre, veiculada em canal de televisão aberto
:
(34)
__
Toma esse “tar”(tal) de Fluviral® que você “desgripa
18
!(PUBLICIDADE)
Notamos também o paralelismo que se estabelece entre o evento como movimento
terminativo e o prefixo aspectualizador notado anteriormente:
(35) Sai dessa, desencana!
Apesar de citarmos exemplos de estruturas de terminação a partir do prefixo des –,
consideramos que apenas uma construção metafórica de terminação em PB, justamente
com o verbo sair.
A saída de um estado é o que caracteriza o aspecto da terminação do EVENTO
COMO MOVIMENTO. A construção terminativa metafórica constitui-se a partir dos
seguintes elementos:
7 Interessante notar que, embora no reclame em questão, o aconselhamento é dado por um personagem
caracterizado pejorativamente como um caipira (identificado através de pistas contextuais, como o r retroflexo e
o vestuário), o que notamos é que tal fato é circundado por grande sensibilidade lingüística, um neologismo,
assim como a “dangerosíssima viagem” de Drummond, embora esta constitua um hibridismo lexical, e,
portanto, seja mais elaborada.
(x) Verbo-suporte (sair) + Preposição de + Nome.
53
Ilustram essa Construção, exemplos do tipo:
(36) Sai dessa
19
, abre uma Skol. (PUBLICIDADE)
(37) Ele saiu de si.
Notamos um esvaziamento temático do verbo sair, que passa a configurar como verbo
-suporte, ao tempo que expressa as categorias verbais de tempo, modo e pessoa, e introduz o
aspecto terminativo. o nome atua como cleo do predicado. Atestamos isso em exemplos
do tipo: saiu do sufoco/ saiu do sério/ saiu da depressão/ saiu do desespero.
Encontramos em fóruns de discussão da Internet, expressões do EVENTO COMO
MOVIMENTO, constatadas anteriormente, mas, vale registrar o contexto da expressão
“sair da fossa” e do verbo passar (em termos de acabar) retirados de uma lista de discussão
sobre samba e choro, e que ilustram a construção terminativa (destaques meus):
Constatamos também que a perífrase de saída de um estado negativo é recorrente, talvez
se justificando por não haver uma alta produtividade
20
na lexicalização do término de um
estado desagradável. Notemos:
19
Pode não haver a especificação de parte do segundo argumento das construções metafóricas, se relacionando
mais comumente a experiências desagradáveis, o que acreditamos, ocorrer somente com o determinante
feminino indefinido, como preenchimento da lacuna do neutro em português. Portanto, * Ele saiu da/do/dum!
(38)
Estava discutindo com um amigo qual samba é bom para
> > se ouvir no intuito de sair da fossa. Sugeri Ataulfo
> > Alves, tipo "...e agora, vocë passa eu acho graça,
> > nesta vida tudo passa e vocë também passou, entre as
> > flores vocë era a mais bela, minha rosa amarela, que
> > desfolhou perdeu a cor...~ Tomou papuda! Alguém
> > conhece mais algum samba bom pra sair da fossa?
(Internet)
54
(39) Como sair da solidão? (Internet)
(40) Sair da depressão, ato de coragem
.(Internet)
(41) Sair do sufoco (* dessufocar-se) : não estar mais sufocado.
(42) Sair do sério (* desseriarizar-se): perder o controle sobre o seu estado normal.
Os exemplos (39) e (40) servem para mostrar que as perífrases constituídas a partir do
verbo sair metafórico também se lexicalizaram como estado também por preencherem uma
lacuna deixada pela ausência de um determinado verbo que, ao mesmo tempo codifique o
aspecto terminativo e também a transição de um estado para outro.
20
Apesar disso, constatamos a gíria “desencanar”, o que corresponde a não ficar mais “encanado”, neurótico ou preocupado.
Com sentido semelhante, “desencasquetar” ou “desencrespar”. A partir de uma verificação lexicográfica, encontramos alguns
verbos desse tipo: desacordar, desacostumar, desacreditar, desafeiçoar, desagradar (irônico, por sinal, uma vez que sequer
houve o agrado), desalgemar, desconfiar (também se pode desconfiar sem jamais se ter confiado), descontentar-se,
descontrolar, desemburrar.
55
4.6 – Quadro síntese
Apresentamos nas seções anteriores dez diferentes construções perifrásticas a partir
da metáfora do EVENTO COMO MOVIMENTO, dando ênfase a três fases aspectuais:
Incepção, Progressividade e Terminação.
Verificamos que essas diferentes perífrases têm diferentes distribuições quanto ao
estatuto dos verbos e nomes envolvidos:
INCEPÇÃO
(i) Verbo-suporte entrar + Preposição + Nome
(núcleo temático e metonímico).
(Ex.:X entrou em Y)
(ii) Verbo aspectualizador passar + Preposição a + Verbo-suporte+ Nome
(núcleo temático).(Ex.:X passou a fazer parte de Y)
(iii) Verbo-suporte passar + Preposição a
+ Verbo principal + Nome
(complemento verbal).(Ex.: X passou a dominar Y)
(iv) Verbo aspectualizador sair + Verbo- suporte no gerúndio + Nome
(núcleo
temático).
(Ex.: X saiu fazendo uso de Y)
(v) Verbo aspectualizador sair
+ Verbo principal no gerúndio + Nome
(Ex.: X saiu fazendo Y)
(vi) Verbo aspectualizador sair
+ Verbo principal no gerúndio
(Ex.: X saiu atirando em direção a Z)
56
Dentre as várias generalizações que podem ser feitas, verificamos que tanto a Incepção
quanto a Progressividade apresentaram uma maior variedade de Construções, enquanto que a
Terminação revelou apenas um tipo de Construção perifrástica.
Além disso, os Nomes foram elementos obrigatórios em quase todas as perífrases,
apresentando-se, na maioria das vezes, como núcleo do predicado e estabelecendo uma
Construção gestáltica com um verbo-suporte.
A metaforização do EVENTO COMO MOVIMENTO, pode se configurar de três
maneiras: a primeira a partir de um verbo pleno de movimento concreto como entrar, passar
PROGRESSIVIDADE
(vii) Verbo auxiliar (estar, ir, vir) + Verbo-suporte (passar)
no Gerúndio +
Nome (núcleo temático). (Ex.: X está passando (por) Y)
(viii) Verbo andar lexicalizado como cópula + Adjetivo ou particípio
( Ex.: x anda alegre/cansado/sufocado)
(ix) Verbo auxiliar (vir/ir/andar) + Verbo principal no Gerúndio + [Nome
opcional] ( Ex.: X vinha recebendo Y)
TERMINAÇÃO
(x) Verbo-suporte (sair) + Preposição de + Nome.
(Ex.: X sair de Y)
57
ou sair, gramaticalizado como verbo-suporte aspectualizador para a conceptualização de
estados resultantes a partir de uma composição nucleada por nomes. A segunda a partir de
instanciações nas quais o movimento é interpretado como um evento se aproximando ou
distanciando de um dado ponto no tempo, a partir de perífrases gerundivas e com verbos
como ir e vir.
Portanto, como vimos ao longo da pesquisa, as perífrases do EVENTO COMO
MOVIMENTO são, em sua maioria, altamente produtivas, e são instanciadas por Construções
com verbos entrar, passar e sair, e também com os verbos andar e vir, independentemente de
introduzirem predicação principal verbal, nominal ou adjetiva.
As configurações acima demonstradas partem do princípio de que nossos
movimentos elementares de deslocamento, principalmente no eixo horizontal
21
, tais como,
entrar/passar/sair/vir, dentre outros, relativamente a algum espaço abstrato, resultarão,
necessariamente, via conceptualização metafórica, em algum tipo de estado resultante mais
aspecto.
Essas expressões, por sua vez, denotam, majoritariamente, alguma experiência
negativa, apesar de atenuada (eufemismo), e, concomitantemente, a sua respectiva fase
aspectual, seja a entrada (Incepção), a passagem (Progressividade), a Terminação (a partida
do estado).
Acreditamos que esta pesquisa, que faz a correlação entre aspectualidade e
metáfora de movimento em expressões perifrásticas sob a ótica cognitivista possa contribuir
com a pesquisa lingüística, especialmente do PB, ao investigar algumas nuances de um
fenômeno que ainda não tem sido sistematicamente estudado, especialmente no âmbito da
Gramática Tradicional.
21
Também constatamos, embora em menor proporção, movimentos metafóricos no eixo vertical, a partir de verbos como cair
e afundar, por exemplo.
58
5. CONCLUSÕES
Nosso trabalho mostra que os esquemas imagéticos da TRAJETÓRIA e do
CONTÊINER são a fundação do sistema perifrástico de expressão do aspecto em Português.
Como vimos, este sistema expressivo não é exclusivo: é possível usar outras
perífrases, ou mesmo a codificação morfossintática (via sufixos verbais) das distinções do
aspecto.
No entanto, uma gama de situações (notadamente EXPERIÊNCIAS SUBJETIVAS
físicas, emotivas ou mentais) que, por serem lexicalizadas como Nomes em Português
requerem expressões de Suporte para a sua caracterização dinâmica. Daí, os usuários da
linguagem recorrerem a uma experiência básica (a de ingressarem, percorrerem e saírem de
espaços físicos) para conceptualizar a noção muito abstrata de organização em fases destas
experiências.
Estudos anteriores (por exemplo, a Modelagem Computacional realizada por
Narayanan) ilustram em outras línguas a usabilidade desta metáfora para a configuração de
cronologia interna das situações.
As descobertas que apresentamos contribuem para a descrição gramatical do
Português e oferecem evidências confirmatórias a hipóteses fundantes da lingüística cognitiva
a saber, a instabilidade do dualismo como princípio explicativo da experiência humana. Em
outras palavras, a vinculação visceral entre percepção, movimento e expressão simbólica.
59
BIBLIOGRAFIA
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60
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VERKUYL, Henk J. A Theory of Aspectuality: the interaction between temporal and
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61
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Disponível em:
<http://www.anthropos.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=232&Itemid
=53>.
(ii) Sair da depressão, ato de coragem
. Disponível em:
<http://karinpsicologa.wordpress.com/2007/01/09/sair-da-depressao-ato-de-coragem/
>.
(iii) Como sair da solidão?
Disponível em:
<http://www.cancaonova.com/cnova/ministerio/temp/mensagem.php?id=8341
>.
(iv) Sair da fossa.
Disponível em:
<http://www.samba-choro.com.br/s-c/tribuna/samba-choro.0103/0525.html
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(v) Atravessar uma crise sem qualquer tipo de apoio é, sem dúvida, demasiado
arriscado. Disponível em:
<http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=99E28381D10E495C861328
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Acesso em 26.06.07
(vi) Vou incluir no mesmo caso, as expressões formadas por "vir" + -ndo, tal como nas frases
abaixo:. 138- Esse garoto vem cheirando cola ultimamente.
Disponível em:
<www.senna.pro.br/biblioteca/CLASS/sen9452.htm
>.
(vii) A Continental vem recebendo freqüentemente solicitações de reembolso para
bilhetes com combinações de bases tarifárias. Disponível em:
<www.yonder.com.br/tarint/continental.htm>
62
(viii) Essa semana está sendo meio tranqüila, queria alguém para tirar fotos minhas, mas
nem vou pedir ao meu irmão porque ele sempre anda ocupado, sabe? Disponível em:
<www.nothing-else.org/intoxique/arquivos/2005_11_01_pammachado_archive.html
>.
Acesso em 30.07.07
(ix) Siga essas dicas antes de "sair fazendo" o teu web site
. Disponível em:
<ikedarevolution.typepad.com/ikeda/2006/11/antes_de_sair_f.html>.
(x) "O consumo consciente passou a fazer parte do imaginário das pessoas
. Essa é uma
mudança cultural que não pode ser desprezada", diz Helio Mattar. Disponível em:
<akatu.org/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1347&sid=21&tpl=view_tipo4.htm>.
(xi) Windows XP passou a pedir senha do nada!
Segurança em Desktop.Disponível em:
<www.istf.com.br/vb/showthread.php?t=6968> .
(xii) Yahoo! passou a disponibilizar letras de músicas. Disponível em:
<
www.infodesktop.com/infonews/net/noticia/4027>.
(xiii) Roth diz que Vasco passou a dominar o jogo após expulsão de jogador do Galo.
Disponível em<:www.supervasco.com/noticias.asp?n=25345
>.
63
ANEXO
TEXTO CUJOS EXCERTOS FORAM UTILIZADOS COMO EXEMPLO
(I) GÊNERO: LETRA DE MÚSICA
Down em mim (Cazuza)
Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
À versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar, sorrindo, que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Down... down
Disponível em: <
http://cazuza.musicas.mus.br/letras/935913/>. Acesso em: 08.08.2007.
64
(II) GÊNERO: REPORTAGEM
Adriano: 'Passei pela pior fase da minha carreira' (grifos meus)
Plantão | Publicada em 25/04/2007 às 11h48m/ Allan Caldas - O Globo Online
RIO - Suspenso, Adriano não pôde estar em campo no jogo que deu o bicampeonato
italiano ao Inter de Milão, a vitória de domingo sobre o Siena. Mas o contratempo não
tirou o ânimo do atacante brasileiro, que torceu pela TV e depois se juntou aos
companheiros na festa de reecontro com a torcida ( veja a fotogaleria da comemoração ).
E ele tinha mesmo muitos motivos para comemorar. O Imperador reconhece que viveu
uma fase difícil
após o fracasso do Brasil na Copa do Mundo, mas espera que o título com
o Inter marque a sua volta por cima
.
- É claro que fiquei muito triste em ter perdido o título na Alemanha. Ao mesmo tempo,
passei pela pior fase da minha carreira até hoje.
Infelizmente essas coisas acontecem,
outros jogadores já viveram o mesmo. Sou uma pessoa como qualquer outra, que também
tem problemas. Esses problemas atrapalharam mas hoje estão superados - garante
Adriano, aos 25 anos.
Antes do Mundial, Adriano era titular absoluto do Inter de Milão e um dos pilares do
quadrado mágico da seleção de Carlos Alberto Parreira. Mas o hexa não veio, e ele acusou
o golpe. Caiu de rendimento: em 22 partidas pelo Italiano, fez apenas cinco gols (na
temporada anterior, foram 13 gols em 28 jogos). Ficou na reserva algumas vezes e
marcou seu primeiro gol na 18ª rodada.
Próximo passo é recuperar espaço na seleção
Os jornais esportivos italianos viram a fase de Adriano como um reflexo do seu
apreço pela noite de Milão. Ele não nega que gosta de festas e nem pretende deixar de
freqüentá-las. Mas garante que a vida pessoal não atrapalha seu futebol e acusa a imprensa
do país de exagerar as notícias a seu respeito.
- A Itália é um país conhecido por ter uma imprensa que busca sempre o sensacionalismo,
principalmente com jogadores de futebol. Acaba sempre aumentando os fatos. Já nem ligo
mais. Saio quando posso, quando tenho folga. Sei das minhas obrigações e
responsabilidades, mas sei também que tenho o direito de me divertir. Sou um jovem de
25 anos, solteiro - desabafa.
" Servir a seleção é sempre um prazer. Se outros jogadores já
estiveram na reserva no início, eu também posso passar por isso
"
Novamente titular do Inter, e agora bicampeão italiano, Adriano espera recuperar seu
espaço também com a amarelinha. Desde que o técnico Dunga assumiu a seleção
brasileira, ele jogou 45 minutos na derrota para Portugal, em fevereiro. Às vésperas da
convocação para o amistoso contra a Inglaterra, dia primeiro de junho, em Wembley, e
faltando dois meses para a Copa América, o ex-atacante do Flamengo torce para ser
lembrado novamente pelo treinador. E nem se importa se tiver de sentar no banco mais
uma vez.
65
- Tenho sempre a esperança de voltar
a jogar pela seleção. Para isso tenho feito o meu
trabalho por aqui. O Dunga teve um início de trabalho muito bom e os resultados mostram
isso. Servir a seleção é sempre um prazer. Se outros jogadores estiveram na reserva no
início, eu também posso passar por isso
. fui reserva em outros tempos, no Flamengo e
na seleção. Se acontecer de novo continuarei a trabalhar duro para ganhar a confiança do
treinador e passar a titular
.
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/esportes/mat/2007/04/25/295502164.asp>.
Acesso em: 25.04.2007.
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