Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Escola de Administração
Núcleo de Pós Graduação em Administração - NPGA
CELINA MARIA FERNANDES DA CUNHA BASTO
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Salvador
2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
CELINA MARIA FERNANDES DA CUNHA BASTO
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E
PEQUENAS EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Tese apresentada ao Programa de Doutorado em
Administração da Escola de Administração da
Universidade Federal da Bahia como requisito
parcial para obtenção do Título de Doutor em
Administração.
Professor Orientador: Prof. Dr. Amílcar Baiardi
Salvador
2007
ads:
TERMO DE APROVAÇÃO
CELINA MARIA FERNANDES DA CUNHA BASTO
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E
PEQUENAS EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Prof. Dr. Amílcar Baiardi (Orientador) _____________________________________
Doutor em Ciências Humanas UNICAMP
Universidade Federal do Recôncavo
Prof. Dr. Abraham Benzaquen Sicsú _____________________________________
Doutor em Economia - UNICAMP.
Fundação Joaquim Nabuco
.
Profa. Dra. Eva Stal __________________________________________________
Doutora em Administração. - Universidade de São Paulo USP
Universidade Nove de Julho - UNINOVE
Profa. Dra. Mônica de Aguiar Mac-Allister da Silva ___________________________
Doutora em Administração, Universidade Federal da Bahia UFBA
Universidade Salvador - UNIFACS
Prof. Doutor Rossine Cerqueira da Cruz
Doutor em Ciências Econômicas - UNICAMP
Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
Às figuras femininas,
fontes de inspiração de vida e trabalho, em simples ordem
alfabética:
Angélica Moraes Cunha (in memoriam), ou simplesmente
Yazinha, avó paterna que conheci, pela generosidade e longa
vida laboriosa de uma “generala de campo”;
Celina (Salma Gibran) Habib (in memoriam), pelo carinho de
avó materna e vontade de acertar;
Lita Habib Fernandes da Cunha, querida mãe, primeira
professora, a mais aplicada em transmitir conhecimentos aos
filhos e que continua tentando acertar ou simplesmente
aprender.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Álvaro e Lita, pela vida, pelo incentivo constante e até
sacrifícios para a educação dos filhos; acompanha-me desde a infância o lema
“morrendo e aprendendo”, fruto de história (ou estória?) contada pelo meu pai.
Agradeço a Osvaldo, companheiro de uma vida, pelo Amor, silêncio calmante,
compreensão, cuidados com a minha saúde e carinhos que me lembravam que a
vida existe além da tese. Meus filhos Daniel, Flávio e Marcelo alegraram essa
trajetória com minhas noras Renata, Patrícia e Juliana, com suas realizações,
celebrações e especialmente com Rafael e Matheus, netos queridos que provaram a
existência da vida além da tese.
É difícil expressar a alegria e a segurança de obter a aquiescência do Prof. Amílcar
Baiardi como orientador. Ele havia sido meu professor no Mestrado e me
impressionado pala sua cultura e riqueza das exposições. Confesso que desejava
discutir mais em suas aulas, mas só lembrava do fato quando o tempo da aula já se
esgotara... Sua aceitação e incentivo me fortaleceram durante o processo seletivo e
ao longo do trabalho com lições de uma vida produtiva. A sua generosidade em
partilhar tempo e conhecimentos é surpreendente. Isso sem falar no seu talento em
escolher o melhor blend para um chá reconfortante, devidamente acompanhado de
poções comestíveis saudáveis. Em determinada época da nossa convivência o Prof.
Baiardi passou a se apresentar como meu “des - orientador”, não sei se por
modéstia ou talvez por desalento com os progressos da tese. Esta condição jamais
foi verdadeira. Se ele imaginava-se “des orientador” talvez por manter um
respeitoso distanciamento da argumentação e do texto, cujas falhas são
inteiramente minhas, ele me orientava a cada instante em aspectos sutis da vida e
do incrível processo de conhecer a si, aos outros e ao próprio conhecimento. Muito
obrigada por tudo, Mestre Amilcar.
Voltando às tensões do processo seletivo, devo agradecer à boa Equipe do NPGA,
especialmente Dacy, Anaélia e Ernani, que me acolheu com simpatia e cordialidade
e que durante a trajetória do doutorado demonstrou cuidados e competência na
prestação de serviços para todos nós, marcando pontos que merecem ser
computados com a qualidade do NPGA. Agradeço e destaco o trabalho dos
membros da banca examinadora na seleção Professores Reginaldo Souza Santos e
Rogério Quintella e dos Coordenadores Francisco Teixeira e Rogério Quintella.
Agradeço aos professores e meus colegas de doutorado, que alegraram a jornada
em diversas ocasiões e sempre contribuíram com valiosos insights e discussões
produtivas, destacando o trabalho exemplar de Gildásio Santana Jr. na revisão do
projeto de tese, de Janice Janissek de Souza e Antônio Ricardo de Souza, nessa
ocasião, de Alexandre Mendes Nicolini, que me ajudou a ultrapassar barreiras e de
Sandro Cabral, que nos deu um exemplo de competência ao concluir em primeiro
lugar a tese e investir em networking. Entre os professores devo agradecer ao Prof.
Antônio Virgílio Bittencourt Bastos, que sugeriu a mudança no objeto inicialmente
proposto para a tese, aproximando-me de um novo objeto que estava ao meu
alcance, mas que eu ainda não havia enxergado como tal. Além disso, o Prof.
Virgílio me proporcionou novos ângulos de visão das redes sociais e das
possibilidades de aplicação da Social Network Analysis na psicologia organizacional,
inclusive como membro da banca de qualificação. Muito obrigada, Mestre Virgílio;
você é personagem central na minha formação acadêmica.
O Prof. Virgílio foi também responsável pelo meu encontro com Marcos Marinho da
Silva, seu orientando, que adquiriu farta literatura sobre a Social Network Analysis no
exterior, gentilmente compartilhou comigo e me ensinou os primeiros passos no uso
do software UCINET. Obrigada, Marcos; sua cooperação e apuro acadêmico são
inesquecíveis.
Devo agradecer ainda a Miriam Souza, que me proporcionou generosamente a
viagem ao exterior através do Programa Companheiros das Américas (Partners of
the Americas, POA). O apoio do POA aconteceu através de Doug Stauffer e Tom
O’Rourke, que organizaram a viagem, viabilizando entrevistas com os Professores
David Krackhardt, de Carnegie Mellon, Martin Kilduff, da Penn State University e
Emilio J. Castilla, de Wharton, que havia trabalhado com Mark Granovetter, em
Stanford. Doug e Sandy foram também gentis hospedeiros e amigos,
proporcionando-me uma divertidíssima viagem à Convenção Anual do POA e um
inesquecível Thanksgiving em 2003. O simpático apoio dos Partners aconteceu
também através de Chester M. Berschling, John W. Eichleay, Jr., Diana Larisgoitia,
Jô Ann DeArmas Wallace e Steve Wallace. Muito obrigada a todos!
Graças à rede de relacionamentos do Prof. Amilcar Baiardi foi possível convidar o
Prof. Abraham Benzaquen Sicsú para a banca do exame de qualificação. O Prof.
Sicsú nos proporcionou oportunidades valiosas de ampliar nosso conhecimento
sobre novas redes, enriquecendo nosso trabalho e nos confortando com a sua
Amizade. Obrigada, Mestre Sicsú.
O Consórcio Doutoral promovido pela ANPAD merece nosso agradecimento pela
sua propriedade e qualidade da organização. Agradeço aos examinadores, Prof.
José Vitor Bomtempo, da UFRJ e do Prof. Luiz Paulo Bignetti, da UNISINOS.
As oportunidades de observar redes me foram proporcionadas por várias pessoas a
quem agradeço, destacando as contribuições de Emmanuel Lacerda e André Balbi
para acesso às informações, das Equipes do Instituto Euvaldo Lodi, IEL e da
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Informação, SECTI e de empresários do APL de
Confecções e de Rosemma Maluf.
Na reta final contei com o competente apoio da Profª. Mônica Mac-Allister, cuja
disciplina e organização foram muito oportunas, e da Profª Izolda Falcão, sempre
generosa e competente nas suas colocações. Obrigada, Mestras.
Por fim quero agradecer aos meus familiares, irmãos, aderentes e amigos que me
“aturaram” enquanto eu buscava a reclusão e participava minimamente das nossas
vidas em comum. Comecei a nomeá-los, mas a lista começou a crescer além das
proporções deste trabalho. Espero que todos se sintam homenageados, na
proporção do Amor que partilhamos como irmãos de sangue, irmãos na vida
(cunhados e amigos de fé), afilhados, sobrinhos, tios, sobrinhos netos, enfim, uma
grande família tipicamente latina.
Que Deus abençoe a todos vocês, mesmo àqueles que se recusam a crer.
O conhecimento do conhecimento obriga.
Obriga-nos a assumir uma atitude de permanente vigília contra a tentação
da certeza, a reconhecer que nossas certezas não são provas da verdade,
como se o mundo que cada um vê fosse o mundo e não um mundo que
construímos juntamente com os outros.
(Maturana e Varela)
RESUMO
A tese centra-se na discussão das redes inter e intra-organizacionais e suas
contribuições para as inovações tecnológicas e gerenciais, em primeiro plano, e
subsidiariamente para o desenvolvimento institucional e a auto-organização,
considerando a formação de redes entre micro e pequenas empresas e tomando por
objeto empírico a análise do caso de uma rede empresarial, em Salvador, Bahia, que
catalisou a origem do APL de Confecções. As questões que orientaram o trabalho
foram: i) Como as redes sociais, inter e intra-organizacionais, envolvendo micro e
pequenas empresas criam uma ambiência propícia às inovações gerenciais e
tecnológicas? ii) A base da teoria de redes é ampla, includente e com possibilidade
de aplicação a micro e pequenas empresas? iii) Por que os estudos de rede não têm
dado atenção suficiente às pequenas empresas? iv) Por fim, mas não menos
importante, como as redes contribuem para o desenvolvimento institucional? Para
discutir essas questões foi feita uma pesquisa teórica e outra empírica privilegiando
a pesquisa ação com participação observante para a elaboração do estudo de caso.
A pesquisa teórica identificou a Social Network Analysis, SNA ou Análise das Redes
Sociais, ARS como campo próprio de estudo para o qual autores já sugerem a
condição de ciência; por conta disso aprofundou a pesquisa nas origens desse
campo e das suas aplicações; a análise das redes utilizou o software UCINET. As
principais conclusões são: i) a SNA ou ARS constitui-se base teórica ampla,
includente com possibilidade de aplicação a micro e pequenas empresas; apesar
disso e das intenções governamentais ou empresariais de constituí-las nem sempre
elas se estabelecem ou podem ser identificadas; embora a sociometria, uma das
origens da SNA, tenha sido aplicada a pequenos grupos, este trabalho não
identificou as razões dos estudos de rede recentes não terem dado atenção
suficiente às pequenas empresas; ii) as redes criam uma ambiência própria às
inovações gerenciais e tecnológicas através do learning by doing e learning by
interacting; iii) as redes contribuem para o desenvolvimento institucional, na medida
em que a interação dos atores mudam “regras do jogo” vigentes, permitem a
emergência da auto-organização ou criam tendências para essas alterações a longo
prazo.
Palavras chave: análise das redes sociais, arranjos produtivos locais, auto-
organização, inovações, desenvolvimento institucional, redes inter e intra-
organizacionais.
ABSTRACT
The dissertation is centered on the discussion of inter and intra-organizational
networks and their contribution to the technological and managerial innovations, in
the first place, and, subsidiarily, to institutional development and self-organization,
considering the formation of small and micro businesses’ networks, adopting as
empirical object the case study of an entrepreneurial network which contributes to the
start of the “APL de Confecções” (Garment Cluster) in Salvador, Bahia. The work
was oriented by the following questions: i) How do social networks, inter and intra-
organizational ones, involving micro and small businesses, create an adequate
environment for technical and managerial innovations? ii) Is the network theory
broad, inclusive, and does it offer possibilities of applications to micro and small
businesses? iii) Why did not the network studies pay enough attention to small
businesses? iv) At last but not less important, how do networks contribute to
institutional development? In order to discuss such questions, two researches,
theoretical and empirical, were conducted, privileging action research with a
participatory observer, in order to elaborate the case study. The theoretical research
identified the Social Network Analysis, SNA or “Análise das Redes Sociais”, ARS, in
Brazil, as a field of study to which authors already attribute a status of science. For
this reason, the research focused on the origins of the SNA and its applications. The
network analysis was carried out with the software UCINET. Its main conclusions are:
i) SNA or ARS is a broad theoretical basis, inclusive, and it offers possibilities of
applications to small and micro businesses. In spite of this, and also the
governmental or entrepreneurial intentions to create networks, these networks are
not always established or can not be identified; in spite of the use of sociometry to
small groups, this work did not identify the reasons why the recent network studies
have not paid enough attention to small businesses; ii) networks foster an adequate
environment for managerial and technical innovations via “learning by doing” and
“learning by interacting”; iii) networks contribute to institutional development, as the
interaction among actors changes the current “rules of the game”, and allows the
emergence of self-organization or generates tendencies for such changes in the long
run.
Key Words: social network analysis, clusters, self-organization, innovation,
institutional development, inter and intra-organizational networks.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Principais contribuições teóricas para a tese 41
Figura 2 - A Cadeia Causal do Capitalismo segundo Weber 45
Figura 3 - A solução do problema de tráfego nas pontes de Königsberg
que marca o início da Teoria dos Grafos
48
Figura 4 - A força dos laços fracos 50
Figura 5 - A linhagem da SNA, segundo Scott 54
Figura 6 - Correntes que resultaram na moderna SNA 56
Figura 7 - Número de artigos sobre redes sociais listados em Social
Abstracts, de 1974 a 1999
60
Figura 8 - Padrão ordenado do organograma, à semelhança da
pirâmide
68
Figura 9 - Exemplo de uma estrutura em rede 69
Figura 10 - A emergência da auto-organização, considerando as redes
como estrutura
81
Figura 11 - Modelo de desenvolvimento proposto pelo SEBRAE Nacional 89
Figura 12 - Abordagens possíveis para análise de redes sociais. 97
Figura 13 - Proposição: “Quem é o integrante da rede que você mais
admira?”
105
Figura 14 - Proposição: “Supondo que você precise encaminhar uma
reivindicação ao governo, quem você escolheria para
representar a rede?”
106
Figura 15 -
Proposição: “Supondo que a rede seja convidada para
participar de uma concorrência pública, quem você escolheria
para elaborar a proposta?”
106
Figura 16 -
Proposição: Quais os integrantes da RETEX que você
considera mais competentes?
109
Figura 17 - Proposição: Em quem você confiaria caso estivesse
precisando se aconselhar para resolver uma situação difícil
na sua empresa?
110
Figura 18 - Organização da Rede de Apoio aos APLs do Estado da
Bahia.
119
Figura 19 - Redes Interorganizacionais relacionadas ao APL de
Confecções.
128
Figura 20 - Ações para introdução de inovações 130
Figura 21 -
ATIVA: Rede (completa) de confiança 134
Figura 22 -
ATIVA: Rede de confiança que suporta os proprietários 135
Figura 23 -
ATIVA: Vazios estruturais na rede de confiança 136
Figura 24 -
Vazios estruturais na rede de comunicação da ATIVA 137
Figura 25 -
Rede de Confiança na CAMPEÃ (rede total) 139
Figura 26 -
Rede de Confiança Mútua na CAMPEÃ 140
Figura 27 -
Rede de Amizade na CAMPEÃ 141
Figura 28 -
Rede de Comunicação Mútua na CAMPEÃ 142
Figura 29 -
Vazios Estruturais na Rede de Confiança 144
Figura 30 -
Rede composta sem as entidades de apoio 147
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Síntese da Metodologia 102
Quadro 2 Síntese das Reuniões da Rede de Apoio 123
Quadro 3 Proposta para Núcleos Setoriais no APL do Uruguai 125
Quadro 4 Componentes do Programa de Fortalecimento da Atividade
Empresarial
126
Quadro 5 Ações Propostas para o APL em 2005 127
Quadro 6 Redes ou Consórcios Previstos para Operar no APL 127
SUMÁRIO
1
1.1
1.1.1
1.1.2
1.1.3
1.1.4
1.2
1.2.1
1.2.2
1.2.3
1.3
1.4
INTRODUÇÃO
O TEMA
Justificativa
Problemas
Objetivos
A Opção pela Social Network Analysis para Investigar o Papel das
Redes Sociais
MARCO REFERENCIAL
Conceitos Adotados: Rede, Formato Rede e Arranjos Produtivos
Locais
Conceitos Adotados: Inovação, Auto-Organização e
Desenvolvimento Institucional
Investigações da Atuação das Redes
OBJETO DE ANÁLISE: A RETEX, GÊNESE DO APL DE
CONFECÇÕES EM SALVADOR, BAHIA.
ESTRUTURA DO TRABALHO
18
19
20
22
23
24
25
28
31
33
37
38
2
2.1
2.1.1
2.1.2
2.1.3
2.1.4
2.2
2.2.1
2.2.2
2.2.3
2.3
2.4
2.5
REFERENCIAL TEÓRICO
A TEORIA DE REDES: DE PITÁGORAS, ARISTÓTELES, EULER E
COMTE AOS DISCÍPULOS DE WHITE, UMA ABORDAGEM
FLORESCENTE EM TODAS AS CIÊNCIAS.
Contemporaneidade, Abrangência e Longevidade da Teoria das
Redes
Um Pouco de História da Teoria de Redes
A Transdisciplinaridade na Formação da Teoria de Redes
A Consolidação da Social Network Analysis: Uma Nova Ciência?
O FORMATO REDE E OS INSIGHTS PARA ANÁLISE E AÇÃO
PROPORCIONADOS PELOS ESTUDOS DA IMPREGNAÇÃO, DOS
VAZIOS ESTRUTURAIS E DOS MAPAS MENTAIS.
A Impregnação (Embeddedness)
Os Vazios Estruturais (Structural Holes)
Os Mapas Mentais
A AMBIÊNCIA INSTITUCIONAL DE INOVAÇÃO OU O HABITAT DE
INOVAÇÃO NA FORMA DE REDE
A EMERGÊNCIA DA AUTO-ORGANIZAÇÃO
SÍNTESE E AMOSTRA DE TRABALHOS RECENTES
40
41
42
47
54
57
61
62
64
66
71
78
83
3
3.1
3.2
3.3
3.4
3.4.1
3.4.2
METODOLOGIA
A REVISÃO DE LITERATURA / PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
O ESTUDO DE CASO COM A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE E
ENTREVISTAS
A SOCIAL NETWORK ANALYSIS COMO INSTRUMENTAL
LIMITAÇÕES DA METODOLOGIA E DA PESQUISA
Limitações do Método e da SNA
Dificuldades Encontradas na Realização da Pesquisa
91
92
93
95
98
99
100
4
4.1
4.1.1
4.1.2
4.2
4.2.1
4.2.2
4.3
4.3.1
4.3.2
4.3.3
4.4
4.4.1
4.4.2
4.5
O CASO DA RETEX QUE SE TRANSFORMOU NO APL DE
CONFECÇÕES: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
O HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DA RETEX
As Primeiras Redes Interorganizacionais e seus Resultados
Ouvindo a RETEX e o Discurso dos seus Integrantes
A FORMAÇÃO DO APL
O Contexto de Itapagipe e o Bairro do Uruguai em Salvador, Bahia.
Histórico do APL de Confecções
AS REDES INTERORGANIZACIONAIS NO APL, INOVAÇÕES,
MUDANÇAS INSTITUCIONAIS E AUTO-ORGANIZAÇÃO.
A Rede de Apoio
O APL de Confecções
Inovações, Mudanças Institucionais e Auto-Organização.
AS REDES INTRA-ORGANIZACIONAIS
O Caso da Ativa
O Caso da Campeã
ANÁLISE DA IMPREGNAÇÃO E VAZIOS ESTRUTURAIS NAS REDES
INTERORGANIZACIONAIS
103
103
104
110
114
114
118
122
122
124
129
132
132
138
144
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
148
REFERÊNCIAS 163
APÊNDICES 173
ANEXOS 182
APRESENTAÇÃO
Esta é uma retrospectiva sobre diferentes tempos e o tempo de sempre: da
aprendizagem e das surpresas em busca do doutoramento e do novo, no caso, da
abordagem Social Network Analysis (SNA), consolidada no exterior, porém recente
no Brasil.
Pertenço a uma geração que muito cedo foi absorvida por um mercado de trabalho
sedutor. Naquela época - segunda metade da década de 1960 e até na década de
1970 - o mestrado e o doutorado eram opções para “cientistas”. Ainda assim
arrisquei fazer o mestrado nos EUA logo em seguida à graduação; os cursos
oferecidos naquele país tiveram um sabor de dejà vu, o que era perfeitamente
compreensível, pois a graduação foi implantada no Brasil baseada em cursos de
Administração oferecidos na pós-graduação nos EUA. Retornei sem concluir o
mestrado. Mesmo com uma experiência mínima na pós-graduação comecei a
lecionar no terceiro grau em 1972.
Durante anos, a ocupação de ensino na graduação foi uma atividade secundária na
minha carreira; as escolas privilegiavam professores com experiência prática em
Administração. Em plena “crise dos 40 anos” refleti sobre o tempo que eu já havia
dedicado ao ensino - embora o fizesse apenas em tempo parcial eu vinha ensinando
desde os 13 anos de idade, quando comecei a “dar banca” - e da importância que as
relações de ensino-aprendizagem tinham em minha vida. Desejando aliviar o ritmo
das atividades empresariais e executivas, redirecionei minhas prioridades
profissionais para o ensino, imaginando que o professor era como o bom vinho:
quanto mais velho melhor. Para acompanhar as exigências da academia investi na
conclusão do mestrado e ingresso no doutorado.
Logo que ingressei para o doutorado, tão tardiamente na vida, mas com uma imensa
vontade de contribuir significativamente para a geração e difusão de conhecimento,
fui chamada para uma entrevista com o meu empregador na universidade privada
onde ensinava desde a sua fundação e os professores se dedicavam com afinco à
titulação; a condição de universidade privada era recente. Otimista, imaginei que
novas oportunidades se abriam a partir do meu ingresso no doutorado. Compareci
com alegria à entrevista. Para a minha surpresa, logo após receber os parabéns do
empregador pelo ingresso no doutorado fui sumariamente dispensada. Naquele ano
vários colegas foram dispensados, até mesmo na primeira semana de aulas, com a
caderneta em mãos. As dispensas intempestivas confirmavam a piora das condições
de trabalho do professor nas Instituições de Ensino Superior (IESs), da rede privada;
os incentivos para realizar o doutorado ficavam cada vez mais distantes. Um
verdadeiro contra-senso em um país carente de educação. Surpresa! Apesar dessa
tendência, para mim prevaleceu a estrofe de Gonzaguinha que me acompanha
desde que a ouvi pela primeira vez: “a beleza de ser um eterno aprendiz...”
De nada adianta relatar as vicissitudes para chegar ao fim da tese; creio que a
conclusão deve-se apenas à vocação do eterno aprendiz que foi mais forte, mesmo
com as surpresas ao longo dessa aprendizagem, surpresas que para mim
traduziram o próprio trajeto das inovações.
A primeira surpresa veio através do Prof. Antônio Virgílio, que reconheceu na rede
empresarial que eu observara para sua disciplina um objeto da pesquisa. O Prof.
Amilcar Baiardi concordou com a escolha e ampliou o insight sobre o problema,
percebendo a rede como fonte de inovação, incentivando-me a prosseguir uma
observação que era apenas ocasional até aquele instante. A oportunidade de
observar a formação de redes empresariais e interorganizacionais, envolvendo
pequenas empresas e organizações de fomento, aconteceu por conta de iniciativas
empresariais que identificaram recursos públicos para a sua formação, com uma
pequena contrapartida das empresas. No momento em que minha observação
participante tornou-se sistemática e as redes estavam prontas para deslanchar,
investindo em projetos maiores, como o portal para comercialização e a central de
compras, os recursos governamentais para a continuidade das ações estancaram.
Os órgãos de fomento alegavam comodismo e dependência dos empresários; estes
acusavam o governo de descontinuidade das políticas públicas. Para mim o objeto
de pesquisa deixava de existir naquele instante e implicava em mudanças radicais
no plano de trabalho, quase ao fim de um ano de observação. Surpresa! O que
fazer? Continuei mantendo os contatos com as organizações de fomento na
expectativa de retomar as observações a qualquer momento.
Enquanto isso e graças ao Prof. Amilcar Baiardi senti o raro privilégio de observar e
teorizar; juntos transformamos o material empírico até então coletado em artigos e
discussões em eventos, permitindo que nos familiarizássemos com uma abordagem
das redes completamente nova: a Social Network Analysis (SNA), que mais
recentemente vem sendo traduzida como Análise das Redes Sociais (ARS).
A descoberta da SNA aconteceu inicialmente pela internet. Este estudo à distância
prosseguiu primeiro com a aquisição da licença para uso do software UCINET, e
posteriormente através da participação na rede SOCNET, criada com o apoio da
International Network for Social Network Analysis (INSNA), após entrevistas nas
universidades norte americanas de Carnegie Mellon, Penn State e Wharton, onde
pude verificar o estado da arte e possibilidades de uso da abordagem SNA. Embora
fascinada com tais possibilidades de aplicação na sociedade e na economia
globalizada, limitei sua aplicação no estudo das organizações, como instrumento de
diagnóstico, previsão e organização. Para a minha surpresa, obras recém lançadas
sobre a Teoria de Redes discutiam a SNA como “ciência normal” na concepção de
Kuhn.
O alongamento da pesquisa de campo provocado pela interrupção do programa de
incentivo permitiu a continuidade das articulações informais, em outro ritmo e em
outros espaços, e junto ao sindicato patronal (SINDVEST), gerando um rico material
empírico para estudo. A rede originalmente observada deu origem ao projeto de um
Arranjo Produtivo Local (APL), que, por sua vez, inspirou todo um programa
governamental, apoiado por várias instituições de fomento, inclusive o Banco
Mundial, para a dinamização e fortalecimento de redes empresariais. Nesse ínterim
constituiu-se a REDE NÓS, uma comunidade de prática no seio do Banco Mundial,
para discutir redes similares e o combate à pobreza; este fórum permitiu a troca de
informações entre várias experiências similares com a atuação em rede no nordeste
do país. O cenário constituído entre 2005 e 2006 afinal ampliou-se e ofereceu
maiores desafios para a abordagem das redes. Enfim, o contrato para a retomada do
programa de redes empresariais com apoio do BID foi assinado em 05 de julho de
2006, dois anos após a interrupção dos trabalhos. A fragilidade das nossas
instituições revelou-se por completo nesse período. Nenhuma surpresa...
18
1 INTRODUÇÃO
Nossas sociedades estão cada vez mais estruturadas em uma
oposição bipolar entre a Rede e o Ser.
(CASTELLS, 1999, p.23)
Este é um trabalho sobre redes sociais em suas manifestações como
redes intra e interorganizacionais, especialmente no mundo das empresas
consideradas pequenas e micro (PMEs)
1
.
O mundo das pequenas e micro cresce em número superior às empresas
consideradas médias e grandes, tanto no Brasil
2
como nos Estados Unidos da
América do Norte
3
, apenas para considerar dois exemplos.
Apesar desse crescimento a mortalidade do gênero continua em alta.
Pesquisa publicada pelo Jornal da Unicamp (2006) revelou que 75% das empresas
industriais cadastradas em 1976 desapareceram na região de Campinas, região
reconhecida pelo seu dinamismo econômico. Entre as sobreviventes, 86 % eram, em
1976, empresas de pequeno porte. Na atualidade essas empresas que participaram
da pesquisa têm cerca de 46 anos de vida e empregam uma média de 210 pessoas
1
Critérios de classificação das PME´s no Anexo A.
2
No Brasil, segundo o SEBRAE, o número de microempresas evoluiu de 2.956.749 para 4.605.607,
entre 1996 e 2002, com crescimento acumulado de 55,8%, passando a participação percentual no
total de empresas de 93,2%, em 1996, para 93,6%, em 2002. O número de pequenas empresas em
atividade entre os dois anos elevou-se de 181.115 para 274.009, com crescimento de 51,3%.
(SEBRAE, 2006).
3
Nos Estados Unidos da América, segundo o Small Business Administration, de aproximadamente
26 milhões de empresas, 97,5% de firmas empregadoras e não empregadoras tinham menos que 20
pessoas em 2005.
19
cada, revelando sua importância para a região. O IBGE (2003) revela que, apesar
das dificuldades para acompanhar a demografia das PME´s, foi possível verificar
que a natalidade foi sempre superior à mortalidade no período de 1998 a 2000
4
,
entre as micro e pequenas empresas atuando nos setores de comércio e serviços.
Daí os esforços para promover a viabilidade, longevidade ou sustentabilidade das
chamadas PMEs são intensificados, ora com iniciativas regionais, ora com o apoio
de organismos internacionais, muitas vezes de forma descontínua, por espasmos.
Nesse processo, cresce a disponibilidade de evidências empíricas para questões
como viabilidade, longevidade ou sustentabilidade dessas organizações. No bojo
desses esforços encontram-se programas para promover redes envolvendo micro e
pequenas empresas, programas para implantação de APLs e programas correlatos.
Estas iniciativas geram redes sociais, que são conjuntos de atores conectados que
podem ser denominadas
5
redes empresariais ou redes interorganizacionais, quando
envolvem as organizações promotoras e outras organizações da sociedade como
agentes financeiros, instituições de ensino, governo e outras. Na perspectiva de
conjunto de atores interconectados, cada ator coletivo de per si forma uma rede
intra-organizacional. Ambos os tipos de redes são, na verdade, redes sociais.
1.1 O TEMA
Admitindo-se que a existência de redes sociais no mundo atual é um fato
inquestionável e que os programas para desenvolvê-las se multiplicam, cabe
aprofundar o conhecimento sobre o assunto. Observando-se correlações entre a
atuação dessas redes, a inovação tecnológica e gerencial, a auto-organização e as
instituições (regras do jogo), é imprescindível compreender esse conjunto de
fenômenos e avaliar como essas redes podem contribuir (ou não) para o
desenvolvimento, especialmente considerando a formação de redes entre pequenas
empresas. Considerando-se as possibilidades de aprendizado, inovação, melhoria
do desempenho empresarial e conjuntural através da atuação em rede(s), vale
4
Ver Anexo B.
5
Denominações alternativas como cadeias, clusters, distritos serão discutidas adiante.
20
observar em que medida tais estudos estão sendo desenvolvidos, mormente quando
a urbis pode ser o locus privilegiado das redes e estas podem constituir habitats
preferenciais da inovação (BAIARDI e BASTO, 2004).
No cenário de proliferação das pequenas e micro empresas, as redes
surgem: i) como fragmentação de mega empresas, como a IBM, a Philips e a GM,
pela necessidade de imprimir dinamismo às suas estruturas, formando
confederações de empresas pequenas, autônomas e empreendedoras (NAISBITT,
1994), em formato rede do tipo top down ; ii) espontaneamente, quando micro e
pequenos empresários passam a sentir a necessidade de cooperar para sobreviver,
crescer e prosperar; iii) como resposta às políticas de indução ao crescimento
econômico.
Este trabalho aborda as duas últimas emergências, ou seja, redes
empresariais espontâneas e redes interorganizacionais induzidas, tratando ainda de
redes intra-organizacionais para discutir as aplicações da abordagem SNA para a
análise das redes.
1.1.1 Justificativa
A tese justifica-se essencialmente pela atualidade do tema e porque o
objeto do estudo está acessível e merecendo atenção privilegiada nos programas de
fomento dos governos em todo o país, com um caso pioneiro de formação de APL
na Bahia. Isso permite à autora e outros pesquisadores mergulharem no problema e
contribuir para a evolução das pequenas e micro empresas na medida em que elas
se proliferam e buscam arranjos organizacionais, inovações e ambiência institucional
propícia para seu desenvolvimento.
A escolha do tema orientou-se pela possibilidade de contribuir para o
desenvolvimento empresarial e institucional, considerando a experiência profissional
da autora. Transformar erros e fracassos em acertos e sucesso desafia sempre o
eterno aprendiz. Enriquecer as instituições (regras do jogo) brasileiras, regionais ou
locais é desafio partilhado pela geração da autora que discutiu ideais, talvez utopias,
21
não importa; importa que gerações interessaram-se e até lutaram pelos destinos da
nação e seu povo e continuam se mobilizando na disseminação de conhecimentos.
Examinando sua vida e trabalho, erros e acertos, a autora observou que
sua atuação privilegia um papel de “conectora” ou liason em redes de
relacionamento. Apesar dos erros, esta atuação vem se revelando construtiva e
gratificante. Assim, a tese justifica-se também pela própria curiosidade de conhecer
as redes, sua importância e impactos, bem como ampliar a competência
(conhecimentos, habilidades e atitudes) para lidar com as redes, contribuir para
promover inovações e mudanças institucionais. Justifica-se pelo interesse em
partilhar e disseminar o conhecimento e a formação de competências de pessoas,
considerando-se que, o professor lida diretamente com cerca de 500 estudantes por
ano, além de eventuais clientes em consultoria ou projetos. Justifica-se por contribuir
para ampliar o conhecimento da Social Network Analysis, SNA, ou Análise de Redes
Sociais, ARS, no país e a aplicação da abordagem na Administração/Gestão,
enriquecendo uma “teoria brasileira” da gestão se a mesma existe e se isso é
possível. Nesta trajetória vislumbra-se explorar novas abordagens em outros
campos de conhecimento, inclusive a Biologia da Cognição e a Sociologia da
Comunicação (ver item 2.1.3. no capítulo 2), para aprofundar aportes teóricos
interdisciplinares para a Administração / Gestão.
Por fim, lembrando que todos sabem, apenas não sabem que sabem, a
autora observa na atuação em rede a alegria e realização das pessoas quando seus
conhecimentos são valorizados e complementados nos processos interacionais
entre pares. Quando isso acontece, superam-se características pessoais como baixa
auto-estima, insegurança e traços culturais como o conservadorismo e aversão ao
risco, muito comuns entre pequenos empresários, mormente aqueles engajados no
empreendedorismo de sobrevivência.
22
1.1.2 Problemas
[...] as inquietações que nos levam ao desenvolvimento de uma
pesquisa nascem do universo do cotidiano (CRUZ NETO, 2001,
p.64).
Esta tese nasceu com as inquietações
6
da autora quanto aos esforços de
agências de fomento para induzir formação de redes empresariais e criar arranjos
produtivos locais, como solução ao problema maior da sobrevivência e ao
desenvolvimento das micro e pequenas empresas (PMEs). Esses esforços seriam
fruto do isomorfismo ou resposta a recomendações de organismos internacionais?
Quais as bases teóricas que justificariam induzir a formação de redes? Caso a
formação de redes se efetivasse, que contribuições trariam essas redes para
problemas das PMEs como a inovação e questões da sociedade, como o
desenvolvimento institucional?
Constatada a existência do objeto empírico uma rede empresarial de
PMEs induzida - o problema central definido é avaliar a contribuição das redes
sociais, inter e intra-organizacionais, para as inovações tecnológicas e gerenciais e
para o desenvolvimento institucional, especialmente considerando a formação de
redes entre micro e pequenas empresas.
Considerando a recente ênfase no estudo das redes sociais, inter e intra-
organizacionais, quatro perguntas se fazem oportunas e pertinentes: i) Como as
redes sociais, inter e intra-organizacionais de micro e pequenas empresas criam
uma ambiência propícia às inovações gerenciais e tecnológicas? ii) A base da teoria
de redes é ampla, includente e com possibilidade de aplicação a micro e pequenas
empresas? iii) Por que os estudos sobre rede sociais da corrente principal do campo
de estudo (mainstream)
7
não têm dado atenção suficiente às micro e pequenas
empresas? iv) Por fim, mas não menos importante, como as redes contribuem para
o desenvolvimento institucional?
6
Este nascimento retrata “a intuição” apontada por Freeman (2004, p. 3) como primeiro requisito para
definir um paradigma organizado para pesquisa: “Social network analysis is motivated by a structural
intuition based on ties linking social actors”.
7
Os estudos sobre PME´s têm crescido, com diversos enfoques. No entanto, a bibliografia consultada
revelou que poucos estudos adotaram a abordagem da SNA para tratar do assunto. Numa tentativa
de compreender melhor a questão, a autora fez uma consulta à SOCNET que reúne expoentes do
mainstream da SNA, obtendo apenas a referência a três estudos sobre o assunto.
23
1.1.3 Objetivos
Os principais objetivos da tese são:
i) Identificar como as redes sociais / inter e intra-organizacionais criam
uma ambiência propícia às inovações gerenciais e tecnológicas e o
desenvolvimento institucional;
ii) Avaliar se a base da Teoria de Redes Sociais é ampla, includente e
com possibilidades de aplicação a micro e pequenas empresas
8
.
Os objetivos específicos são:
i) Identificar os principais atores em redes inter e intra-organizacionais,
suas relações e mapear e analisar graficamente a relação entre esses
atores, para discutir o papel das estruturas nas organizações ou entre
as organizações;
ii) Analisar a impregnação de determinados atores, os vazios estruturais e
os mapas mentais; (ver conceitos no item 1.2);
iii) Compreender a geração de inovações nas estruturas em rede;
iv) Compreender o desenvolvimento institucional proporcionado pelas
formações reticulares;
v) Observar a emergência da auto-organização nas formações reticulares;
vi) Contemplar o papel das redes para o empoderamento de um setor
empresarial;
vii) Verificar por que os estudos sobre redes da corrente principal do
campo de estudo (mainstream)
9
não têm dado atenção suficiente às
micro e pequenas empresas;
8
Adotou-se aqui o critério vigente no SEBRAE em 2003 para aceitação das empresas no seu
programa de apoio.
9
Os estudos sobre PME´s têm crescido, com diversos enfoques. No entanto, a bibliografia consultada
revelou que poucos estudos adotaram a abordagem da SNA para tratar do assunto. Numa tentativa
de compreender melhor a questão, a autora fez uma consulta à SOCNET que reúne expoentes do
mainstream da SNA, obtendo apenas a referência a três estudos sobre o assunto.
24
viii) Por fim, mas não menos importante, contribuir para a consolidação de
uma metodologia para o desenvolvimento de redes empresariais
formadas por micro e pequenas empresas, atuando inclusive em
aglomerações como APL´s.
1.1.4 A Opção pela Social Network Analysis para Investigar o Papel das Redes
Sociais
Compreender a organização é um desafio estimulante e renovado na
medida em que cresce a sua complexidade. A configuração reticular é mais um
aspecto desta complexidade. A proliferação de estudos sobre redes (networks)
estimulados pela própria difusão da rede eletrônica vem contribuindo para
enriquecer a análise da organização sob a perspectiva das redes, exigindo
abordagens e métodos próprios.
Quando Scott publicou a primeira edição de um manual (handbook) sobre
análise das redes sociais, em 1991, assumiu a SNA como “uma orientação para o
mundo social que tem como característica um conjunto de métodos e não um corpo
específico de teoria formal ou substantiva” (SCOTT, 2000, p.37). Na mesma direção,
Kilduff e Tsai discutem em seu livro sobre SNA e organizações a possibilidade do
campo reunir um corpo teórico próprio (KILDUFF e TSAI, 2003). Fato é que a SNA
vem se constituindo em uma robusta ferramenta para identificar redes, evidenciar
sua funcionalidade, áreas de interação, áreas de atrito, etc. e analisar aspectos tais
como a propensão a cooperar dos atores, entre outros. Uma melhor apreensão do
seu significado pode ser dada pelos depoimentos de Borgatti, da Universidade de
Boston, e Molina, da Universidade de Barcelona:
Social network analysis is increasing rapidly in popularity, both in
academic research and in management consulting. The concept of
network has become the metaphor for understanding organizations.
Academics see the network paradigm as a way to escape from the
atomism of traditional social science in which individual behavior
such as adoption of an innovation is analyzed solely in terms of the
attributes of the individual (e.g. openness to change, stake in the
25
outcome, etc.) and not in terms of interpersonal transmission,
influence processes, and other relational variables. Management
practitioners are interested in network methodology because it
provides a way to make the invisible visible and the intangible
tangible (Cross, Parker, & Borgatti; 2002). That is, they can use it to
quantify and map such “soft” phenomena as knowledge flows and
communication. (BORGATTI; MOLINA, 2003, p.337/338)
Esta perspectiva tem uma sólida fundamentação interdisciplinar,
aplicações práticas amplamente discutidas e, nos últimos anos, vem ganhando
impulso com as tecnologias da informação e comunicação (TICs), e despertando o
interesse da academia e consultores brasileiros. Borgatti e Molina sugerem que a
SNA está vivendo seus dias de glória em termos de popularidade na condução de
trabalhos, tanto acadêmicos como de consultoria (BORGATTI; MOLINA; 2003). Por
este motivo, e considerando o poder de explicação da abordagem para experiências
observadas em organizações optou-se pela SNA para a realização deste trabalho.
1.2 MARCO REFERENCIAL
Voltando o olhar para a história observa-se que redes são expressões
antigas de trabalho colaborativo. O formato “rede” da organização social precede
historicamente a rede eletrônica, considerando que as primeiras redes científicas
foram organizadas há cerca de 200 anos (STOCKINGER, 2002). Os “colégios
invisíveis
10
” (BASTOS, 2001), através da troca de cartas e encontros periódicos,
alimentavam redes científicas para a produção de conhecimentos. Segundo Bastos,
(Ibid.), reconhecendo o papel da Internet para agregar pesquisadores em todo o
mundo, atualmente estas comunidades assumem a forma de "colégios invisíveis
eletrônicos".
Antes do advento da rede eletrônica a expressão “redes” raramente era
utilizada, mesmo quando se descrevia a organização do trabalho sob este formato.
10
Segundo Crane (1972, apud BASTOS, 2001), a expressão foi criada por Bacon ou Boyle para se
referir a grupos de pesquisadores que mantinham contatos entre si, embora estivessem em cidades e
instituições diferentes.
26
O trabalho de Georg Simmel, de 1964, é um dos primeiros que utiliza a metáfora da
teia (The web of group affiliations). Com o advento da rede eletrônica, Castells
(2000, p. 19) afirma que The internet is as real as life itself.
Na suposição de que a expressão “redes” poderia constar de publicações
de impacto, buscou-se analisar um estudo de cenários, trabalho que assumiu
impulso significativo entre empresas e governos após a II Guerra Mundial, que
poderia caracterizar “redes” como uma tendência. Escolheu-se a obra, “O Ano
2000”, de Herman Kahn e Anthony J. Wiener, publicada em 1967, que reúne
aproximadamente 60 monografias de membros da Comissão para o Ano 2000,
colegiado criado pela Academia Americana de Artes e Ciências. Neste trabalho, os
autores tratam de avanços em ciência e tecnologia, incluindo um capítulo intitulado
“sinergismo e serendipitia”, que usa como exemplo o sistema de mísseis Polaris (em
submarinos) que foi produzido com êxito no espaço de um decênio, prazo
considerado desafiador, graças à conjugação de pelo menos seis descobertas e
inovações tecnológicas, a coordenação de onze mil fornecedores, o
desenvolvimento do sistema PERT de programação, o desenvolvimento de um
sistema resistente aos ataques inimigos de comunicações, o desenvolvimento de
sistemas adequados de subsistência para o submarino permanecer submerso por 60
dias e o recrutamento de homens capazes e dispostos a submeter-se às
experiências sem perda do moral, da eficiência e da confiança. Constata-se
claramente a existência e a atuação de redes intra e interorganizacionais nesse
sistema, sem que a denominação “rede” ou network seja utilizada.
Em vésperas no ano 2000 as redes econômico-sociais e eletrônicas
receberam um destaque definitivo quando Manuel Castells publicou The rise of the
network society, que na versão em português exclui “a ascendência” (the rise) e foi
lançado como “A sociedade em rede”. A obra de Castells, fruto de 12 anos de
pesquisa, lança um olhar abrangente para o mundo, sob a ótica das redes, iniciando
com um prólogo sobre “A Rede e o Ser”, com maiúsculas nos sujeitos para frisar sua
importância, evidenciando que “a busca pela identidade é tão poderosa quanto a
transformação econômica e tecnológica no registro da nova história”. (CASTELLS,
27
1999, p. 24)
11
Uma vez enunciados os principais protagonistas da sua obra o autor
segue justificando como a Rede e o Ser estão imbricados. Para Castells,
[...] o grande progresso tecnológico que se deu no início dos anos 70
pode, de certa forma, ser relacionado à cultura da liberdade,
inovação individual (grifo da autora) e iniciativa empreendedora
oriunda da cultura dos campi norte americanos da década de 60.
(CASTELLS, 1999, p. 25).
Na Sociedade esta idéia da inovação individual através da rede se
populariza com obras e ações de filósofos ativistas como Fritjof Capra (1996, p. 230)
ao enfatizar que “Para recuperar nossa plena humanidade, temos que recuperar
nossa experiência de conexidade com toda a teia da vida”.
Na indústria, a associação funcional entre empresas e agentes produtivos
nos primórdios da revolução industrial, na passagem do artesanato para a
manufatura e antes da indústria plenamente constituída, que ficou conhecida como o
putting in, putting out system, era um tipo de produção em rede top down no qual o
empresário fornecia matéria prima para o artesão e recolhia o produto acabado
(SICSÚ; DIAS, 2005, p.42). Piore e Sabel (1984) exploram este arranjo quando
discutem a produção flexível na obra The Second Industrial Divide. No entanto, por
uma coincidência histórica improvável, mas real, empurrado por necessidades de
comunicação igualmente improváveis, mas reais, o desenvolvimento da organização
social em rede (de grupos, organizações e interatividades) vem tomando impulso
apenas nos últimos 30 anos, tendo encontrado na rede eletrônica um ambiente
propício para sua macro e micro difusão capilar. O sistema do putting in, putting out
system, por exemplo, renasce através de empresas como a Benetton e a Nike que
se dedicam às funções mais “nobres” de design e marketing assim consideradas
por serem mais valorizadas pelo mercado -, delegando a função de fabricação às
redes de pequenos produtores em diversos locais do mundo, onde a combinação de
fatores de produção torna seus produtos mais competitivos; o sistema popularizou-
se no Brasil como “terceirização”. Castells (1999) dedica um longo capítulo da sua
obra para discutir a empresa em rede, aprofundando a descontrução das estruturas
11
Esta visão do autor é explorada no segundo volume da sua obra intitulado “O Poder da Identidade”.
O aparente paradoxo entre o movimento de expansão para a globalização e as identidades locais já
havia sido explorado por Naisbitt (1994), que inicia o “Paradoxo Global” descrevendo o referendo pela
soberania do povo de Andorra (47 mil pessoas) em 14 de março de 1993. Para Naisbitt, “quanto
maior a economia mundial, mais poderosos são os seus protagonistas menores: nações, empresas e
indivíduos”, justificando assim o subtítulo da obra.
28
verticais ou burocráticas, retomando a longeva obra de Max Weber e dialogando
com autores como Piore e Sabel (1984) que recuperam a história da indústria,
especialmente entre pequenas empresas, relatando arranjos horizontalizados
antigos.
Esta revisão teórica tem como eixo condutor a Teoria de Redes com a
abordagem da SNA, e como eixos subjacentes a inovação, o desenvolvimento
institucional e a auto-organização; o eixo condutor é, essencialmente, uma
abordagem estrutural e os demais agregam as dimensões social e psicológica ao
trabalho, como ilustrado na Figura1 no capítulo seguinte.
1.2.1 Conceitos Adotados: Rede, Formato Rede e Arranjos Produtivos Locais
Segundo Ferreira (1975), o vocábulo “rede” deriva do latim rete, que
significa "entrelaçamento de fios, cordas, cordéis, arames, com aberturas regulares
fixadas por malhas, formando uma espécie de tecido. Os fios e os nós dão a forma
básica da rede. Moura (1997, p.66) sugere que:
De imediato, os fios podem corresponder às relações entre atores e
organizações, os quais representariam as malhas ou os nós. Além
dessas, duas outras características podem ser destacadas no
movimento de aproximação entre os significados etimológico e
científico: a regularidade e interligação que se depreendem da
formação do tecido.
A mesma autora prossegue lembrando que o termo rede denota no plano
técnico-operacional, comumente, a idéia de fluxo, de circulação. São as redes de
comunicação, de transportes, de água e esgoto e de telecomunicações, por
exemplo. Deste conceito vislumbram-se dois tipos de rede: i) o primeiro e mais
comum, caracterizado pelo fluxo unidirecional, com pontos de origem e de destino
bem definidos (i.e. rede de energia elétrica, transmissão de rádio ou TV) e ii) o
segundo e mais contemporâneo, formado pela interconexão entre os
pontos/elementos que singularizam redes multidirecionais onde os fluxos (fios)
acontecem sem que haja, necessariamente, um centro propulsor e percorrem as
unidades (malhas ou nós) (i.e.Internet). Castells (1997) explora esta noção de fluxo
29
em sua obra para demonstrar como o espaço de lugares na organização da nossa
vida cotidiana está se transformando em espaço de fluxos onde se inserem as
redes.
A presença de um ponto central, uma fonte geradora ou propulsora, não
acontece na rede multidirecional que privilegia a igualdade e complementaridade
entre as partes que são reforçadas pela regularidade entre as malhas. Moura (1997,
p. 67) descreve este tipo de rede salientando a importância de cada nó, de cada
linha e como as relações igualitárias permitem a expansão:
Cada nó do tecido é estratégico, é fundamental para o todo, mas
eles só formam o tecido quando ligados entre si pelas linhas. Não há,
portanto, diferença nem entre os nós nem entre as linhas. Além
disso, como encarnam em si as idéias de origem e de destino, os
nós limitam e, ao mesmo tempo, são pontos a partir dos quais a rede
se expande. A transformação da rede dá-se, apenas, pela expansão.
Por isso, não há, também, diferenças hierárquicas entre linhas e nós.
Só há diferenças de função entre eles - ligação e sustentação,
respectivamente - para formar o tecido.
Entre as abordagens mais recentes de redes, nota-se que o conceito é
empregado como uma metáfora para fenômenos nos campos da ação pública, da
economia, dos movimentos sociais, entre outros, seja como um indicativo de novas
formas de interação entre organizações, seja como um instrumento de análise,
(LOIOLA; MOURA, 1996).
Castells (1999, p. 498) define redes, na era da informação, simplesmente
como um conjunto de nós interconectados. Prosseguindo na conceituação:
Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma
ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se
dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos
códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de
desempenho) Uma estrutura social com base em redes é um sistema
aberto altamente dinâmico suscetível de inovação sem ameaças ao
seu equilíbrio.
Como um indicativo de novas formas de interação identifica-se a
combinação de duas definições de Whitaker (2002 e 2005), que considera redes
como sistemas organizacionais de nós e elos capazes de reunir indivíduos e
organizações numa estrutura horizontal, sem hierarquia. O mérito desse conceito é
a abordagem da rede como sistema, que lhe confere abrangência, e o destaque à
estrutura resultante, que é horizontal, sem hierarquia, em contraste marcante com as
30
estruturas autoritárias verticais; daí seu caráter inovador. Esta estrutura é formada
por uma combinação simples de dois elementos, o que facilita a análise: a) os nós,
também denominados nodos ou pontos, são os atores, individuais ou coletivos; e b)
os elos, arcos ou fios são as relações que ligam os atores. Esse conceito presta-se
tanto a abordagens sistêmicas das redes quanto a abordagens estruturalistas.
As redes sociais referidas correspondem à tecnologia fundante da Internet
que incorpora como características:a) ausência de nodo central; b) flexibilidade
arquitetural; c) redundância de conexões e funções; d) capacidade de re-
configuração dinâmica, entre outras (TAKAHASHI, 2000, p.133). São redes com
interligação horizontal (sem hierarquia) de pessoas ou organizações em uma
estrutura na qual os integrantes comunicam-se diretamente ou através dos que os
cercam. Whitaker (2002 e 2005) observa que a estrutura em rede, além de ser uma
alternativa à estrutura piramidal das organizações em geral, encontra sua
legitimidade na própria natureza, o que a torna mais adequada ao ser humano. Além
da tendência à horizontalidade, as redes apresentam como características: a
maleabilidade e capacidade de se re-configurar rapidamente, ter liderança baseada
na competência e na personalidade, ou multilideranças, e renovar o poder com
freqüência.
Tanto na definição de Whitaker quanto na ênfase de Moura observa-se a
valoração da estrutura horizontal, sem hierarquia, que interessa primordialmente ao
presente trabalho e poderia receber a denominação de verdadeiras redes. Este tipo
de estrutura, na realidade, está ausente de um grande número de arranjos
denominados redes empresariais, onde se identifica o modelo de rede topdown ou
modelo japonês (CASAROTO; PIRES, 2001, p. 36), como acontece na indústria
automobilística e no sistema de integração das agroindústrias. Esta interação que
compreende uma hierarquia ou dependência entre os participantes e que vem sendo
denominada livremente de rede, pode ser denominada de “formato rede” ou cadeias.
A rede formada por iniciativa de empresários, em diversos formatos, surge
como um tipo de estrutura que revela coesão, capacidade de articulação e eloqüente
demonstração da existência de dotação de capital social (BAIARDI; BASTO, 2006).
Sobre a sua constituição, Baiardi e Basto (2006, p. 3) afirmam que,
A rede normalmente se constitui a partir do imperativo de
complementaridades necessárias, identificadas ao longo de cadeias -
31
sejam elas de produção de conhecimento, produtivas stricto sensu,
ou de prestação de serviços - ou de estruturas horizontais,
sugerindo, em ambas situações, um leque de objetivos comuns.
Vale salientar a observação dos autores de que as redes são, sobretudo,
produto da ação humana, com gênese nas relações primárias (família, vizinhança,
amizade). A utilização do conceito de rede oferece a vantagem de possibilitar a idéia
de integração entre seus elementos constituintes, ao mesmo tempo em que preserva
sua diversidade.
Quanto aos arranjos produtivos locais (APLs), Rossine e Passos (2006)
reportam que o termo tem sido adotado por autores e pelo SEBRAE para definir
sistemas de produção local. Os autores adotam como conceito amplo de APL
aquelas aglomerações territoriais que apresentam interdependência, articulação e
vínculos resultantes da interação, cooperação e aprendizagem de empresas
produtoras com os demais atores de dada configuração institucional (ROSSINE;
PASSOS, 2006, p. 8)
Em trabalho realizado para justificar a criação do APL de Confecções do
Uruguai o sistema de produção local foi assim definido:
Arranjos Produtivos Locais são aglomerações de agentes
econômicos, políticos e sociais, com foco em um conjunto específico
de atividades econômicas, que apresentam vínculos e regime de
estreita cooperação, onde cada uma das empresas executa uma
parte do processo de uma cadeia produtiva. (BALBI, 2003, p.40)
1.2.2 Conceitos Adotados: Inovação, Auto-Organização e Desenvolvimento
Institucional
Para Baiardi e Basto (2006), a rede surge na atualidade como um
conceito cardinal decorrente do prestígio assumido pelo papel das instituições na
economia.
A rede veio, dentro do amplo campo das instituições (convenções ou
“regras do jogo”), permitir superar a divergência macro / micro, a
dicotomia individualismo metodológico / holismo e a ultrapassar a
dependência da racionalidade otimizadora. Permitiu também a
afirmação da abordagem interativa sobre a abordagem mecanicista,
32
na medida em que tornou claras as vantagens da presença de vários
atores, da racionalidade interativa e da redução das incertezas por
meio de uma dinâmica de rearranjos institucionais. (BAIARDI;
BASTO, 2006, p. 3)
Neste contexto observa-se a rede como fonte de inovações, mormente
inovações gerenciais (BAIARDI; BASTO, 2004) que impactam o desenvolvimento
institucional, compreendido como um processo por meio do qual as instituições de
um determinado território, no seu sentido mais amplo (ver adiante), evoluem,
tornando-se mais contemporâneas e mais adaptadas à dinâmica econômica e social.
Uma vez que não se pode compreender inovação tecnológica e gerencial
como um processo lógico e linear - que vá da pesquisa básica para a pesquisa
aplicada e daí para o desenvolvimento e incorporação, na forma de processo ou
produto, à produção - mas sim como um processo complexo e dinâmico que envolve
diversas instituições, entende-se que a organização empresarial em rede
proporciona condições vantajosas para interação com o sistema local de inovações
visando gerar e difundir inovações de processo, de produto e organizacionais.
Para fins desta tese a inovação é compreendida com base na definição
de Dosi:
In an essential sense, innovation concerns the search for, and the
discovery, experimentation, development, imitation, and adoption of
new products, new production processes and new organizational set-
ups (DOSI, 1988, p. 222).
A idéia é observar a inovação como um processo interativo que envolve
diferentes atores articulados em redes intra ou interorganizacionais, criando ou não
habitats de inovação, modificando ou não a ambiência institucional. Para fins da tese
as instituições são utilizadas no sentido definido por Douglass North como “as regras
do jogo”, ou a maneira como as pessoas se conduzem na economia ao fazer
negócios ou simplesmente nas interações sociais. Para North a confiança que
permeia essas interações é uma variável econômica. Quanto maior o nível de
confiança expresso em instituições criadas menor a necessidade de leis, regulação,
contratos, etc. (NORTH, 2002).
Como brota essa confiança? Além da inovação e mudanças nas regras do
jogo, no âmago dos processos interativos envolvendo atores articulados em rede é
possível discutir-se outros processos igualmente inovadores? Sugere-se discutir
33
ainda a auto-organização, que se conceitua como a livre articulação entre os atores
que resulta em ações inteligentes de aprendizagem; a metáfora que melhor
descreve a auto-organização é a do cérebro humano, na qual a comunicação
equivale à sinapse entre os neurônios estruturados em rede. Morgan (1996) utiliza-
se desta metáfora para reunir o pensamento sobre a teoria da auto-organização
aplicada às organizações sociais de autores como March e Simon, Galbraith,
Wiener, Argyris, Schon, Peters e Waterman, a caminho de inovações como a
organização holográfica e sua capacidade de aprender a aprender. Para tal recorre
à cibernética, como ciência inter / multidisciplinar e à autopoiesis
12
, conceito da
Biologia da Cognição cunhado por Maturana e Varela (2002). Fuchs, Hofkirchener e
Klauninger (2002), abordando a Sociologia da Comunicação, igualmente explicam o
comportamento social utilizando a abordagem da auto-organização aplicada à
evolução da ciência. Nessa mesma linha Castells (1999) se debruça sobre as
estruturas sociais emergentes, discutindo como a nova morfologia social e a difusão
da lógica de redes, acopladas, modificam de forma substancial a operação e os
resultados dos processos produtivos. Enfim, Barabási (2003, p.221) contribui para
relacionar a teoria da auto-organização com a teoria de redes ao afirmar que,
Real networks are self-organized. They offer a vivid example of how
the independent actions of millions of nodes and links lead to
spectacular emergent behavior. Their spiderless scale-free topology
is an unavoidable consequence of their evolution. Each time nature
is ready to spin a new web, unable to escape its own laws, it creates
a network whose fundamental structural features are those of
dozens of other webs spun before.
1.2.3 Investigações da Atuação das Redes
A história da moderna investigação das redes sociais vem sendo contada
a partir de fins do século XX através de autores como Alain Degenne e Michel Forsé
(1994), Maurizio Gribaudi (1998), Stanley Wasserman e Katherine Faust (1999),
John Scott (2000), Albert-László Barabási (2003), Martin Kilduff e Wenpin Tsai
12
Auto=prefixo indicativo de próprio (por si próprio, por si mesmo). Poiein = produzir, ação de fazer,
criar algo, criar pela imaginação. Sistema dotado de organização própria que são auto-reprodutores.
(NT in MORGAN, 1996, p. 246) A organização autopoiética propõe que os seres vivos reproduzem
continuamente a si próprios (MATURANA; VARELA, 2002, p. 52)
34
(2003), Marcus César Marinho da Silva (2003) e mais recentemente Linton C.
Freeman (2004).
Enquanto esta tese estava sendo pensada, Silva (2003), também no
NPGA da UFBA, relatava que sua dissertação havia sido inspirada no artigo “Redes
Informais: a Empresa atrás do Organograma” na edição de julho/agosto de 1993 da
Harvard Business Review, da autoria de David Krackhardt e Jeffrey Hanson. Como
leitor assíduo da publicação, Silva verificou que o tema redes informais só voltou a
ser abordado nove anos mais tarde, em seu número de junho de 2002 com um novo
artigo, escrito por Rob Cross e Laurence Prusak. Considerando a importância da
revista para a Administração, o episódio ilustra quão lentamente o tema vinha sendo
abordado no campo até fins do século passado.
Os estudos sobre redes, no entanto, podem retroceder ao século XVII
como será visto no próximo capítulo.
Para Scott três vertentes deram origem à atual teoria de redes sociais:
1) os analistas sociométricos, que nos anos 1930 trabalharam em
pequenos grupos e produziram muitos avanços técnicos com
métodos da teoria dos grafos; (2) os pesquisadores de Harvard, que
também nos anos 1930 exploraram padrões de relações
interpessoais informais e a formação de subgrupos; e (3) os
antropólogos de Manchester, que usaram os conceitos das duas
primeiras vertentes para investigar a estrutura de relações
comunitárias em sociedades tribais e pequenas vilas. Estas três
correntes foram reunidas novamente em Harvard nas décadas de
1960 e 1970 quando se forjaram as bases da moderna teoria de
análise de redes sociais. (SCOTT, 2000, p. 22)
Esta moderna teoria (ver defesa do status de ciência no Cap. 2 da tese)
tem sido denominada Social Network Analysis, SNA, ou Análise das Redes Sociais,
ARS. Kackhardt (2003), Kilduff e Tsai (2003) e Freeman (2004) atribuem a origem da
SNA aos trabalhos de Harrison White em Harvard e sua posterior disseminação
pelos seus discípulos, inicialmente na América do Norte e posteriormente na Europa.
Lazega (1998) concorda em atribuir a origem da SNA principalmente a Harrison
White, na década de 1960 e 1970, e seus discípulos François Lorrain, Scott
Boorman e Ronald Breiger. Para o autor, o desenvolvimento do campo nos últimos
30 anos, transformou a denominação sociometria em sinônimo de analyse de
réseaux ou network analysis (LAZEGA, 1998, p. 4).
35
No bojo das investigações sobre as redes, uma abordagem arrojada cabe
à Sociologia da Comunicação, que assume o desafio de contribuir para o
desenvolvimento de modelos científicos que explicam a condução e regulação de
sistemas sociais, nomeadamente organizações e instituições que vivem um período
de mudanças aceleradas enquanto sistemas auto-organizados (STOCKINGER,
2001a, p.105). Nesta ótica, compreende-se a rede como sujeito próprio de
comunicação, com uma estrutura assemelhada a tecidos, formados por nós e fios,
com diferentes texturas.
Na academia, a menção e o estudo das redes vão crescendo em paralelo
com o desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, TICs.
Diversos autores (SCOTT, 2000; LAZEGA, 1998; KILDUFF e TSAI, 2003;
FREEMAN, 2004, MIZRUCHI, 2006) confirmam a disseminação contínua dos
estudos sobre redes a partir da década de 1970 com os trabalhos de Harrison White
em Harvard e seus discípulos, entre os quais destacamos Barry Wellman e Mark
Granovetter, na Sociologia e estudos inter ou transdisciplinares. Na década de 90,
tanto a expressão “redes” quanto o seu estudo estavam plenamente estabelecidos
nas Ciências Sociais onde o conceito pode ser encontrado em várias disciplinas e no
estudo de fenômenos diversos: i) na Antropologia estudam-se as redes primárias
para indicar formas específicas de interação entre indivíduos de um agrupamento; ii)
na Sociologia as redes sociais denominam as múltiplas relações tecidas a partir das
ações coletivas; iii) na Geografia as redes urbanas indicam níveis de
interdependência e de fluxos entre cidades (MOURA, 1997).
Na Administração o tema surgiu nas décadas de 1930 e 1940 com a
sociometria, esteve implícito na abordagem dos sistemas na década de 1950 e vem
crescendo de importância a partir da década de 1970 com autores que trabalham
com a teoria das organizações e transversalmente, entre os quais Nohria e Eccles
(1992), estudando as conexões em rede (network ties), Burt (1995), com os vazios
estruturais, Granovetter (1985), com busca de emprego, Krackhardt e Brass (1994),
Krackhardt e Hansen (1993) e Raider e Krackhardt (2002), sobre as redes
intraorganizacionais, Mizruchi (1982, 1992, 2006). Mizruchi e Galaskiewicz (!993),
Borgatti (1999) entre outros.. Para a Administração, mais precisamente para a Teoria
das Organizações, o tema assume abordagens descritivas ou explicativas como
também abordagens prescritivas, como acontecem em Baker (2000), autor
36
considerado um practitioner (praticante) pelos seus pares. No Brasil, as redes se
estabelecem paulatinamente como campo de estudo; iniciativas, como a da
REDESIST da UFRJ, em 1997, provocam pesquisadores na medida em que a
práticas se propagam. No estudo crítico da teoria das organizações, Motta (2001, p.
84) evidencia a presença do estudo de redes, mais especificamente da SNA em
1980, como “uma nova vertente da análise funcionalista [que] se impôs nos Estados
Unidos.
Em 2006 a Revista de Administração de Empresas (RAE) publicou no seu
n° 3, vol. 46, de julho a setembro de 2006 o primeiro fórum dedicado exclusivamente
a redes. O XXIV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, na sua primeira
edição junto à Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Administração ANPAD adotou como tema central “Inovação em Redes & Redes de
Inovação”. Cassiolato e Lastres (1999) discutem a inovação em redes locais em
trabalhos patrocinados pelo governo federal e organismos internacionais e nacionais
interessados no desenvolvimento econômico e social. Autores baianos publicam
trabalhos sobre redes no âmbito da Administração (TEIXEIRA, 2005; BAIARDI e
BASTO, 2004, 2005 e 2006). Estudos atuais no Brasil também assumem o caráter
prescritivo como acontecem com aqueles conduzidos por Hastenreiter F° (2005) e
Fialho (2005).
O mainstream do estudo sobre redes é compreendido como uma
perspectiva estrutural, ou seja, aquela abordagem que se interessa pelas ligações
entre os objetos de estudo, entre eles o fenômeno social. A tese reporta-se a
revisões de literatura elaboradas por Scott (2000, sendo a primeira edição de 1991),
Mizruchi (2006, publicado inicialmente em 1994), Lazega (1998), Kilduff e Tsai
(2003) e Freeman (2004). Este último procura demonstrar que o campo reúne todos
os requisitos para ser considerado “ciência normal” na concepção kuniana, enquanto
Kilduff e Tsai propõem o reconhecimento do campo a partir do exame do corpo de
contribuições próprias advindas da SNA e também lançam o desafio de ampliar a
natureza da abordagem a partir de uma visão pós-estruturalista.
37
1.3 OBJETO DE ANÁLISE: A RETEX, GÊNESE DO APL DE CONFECÇÕES EM
SALVADOR, BAHIA.
[...] networks become an essential building block in the creation of
boundaryless organizations. (Ram Charan, 1991, p.115)
O objeto desta tese é a avaliação dinâmica de uma rede empresarial que
evoluiu para a formação de um arranjo produtivo local, APL.
Esta rede teve seu início em abril de 2003, quando um grupo de
empresários iniciou junto ao IEL/RETEC, com o apoio do SEBRAE, um projeto
intitulado “Melhoria da competitividade do Setor de Confecções e Vestuário do
Estado da Bahia”, sob a forma de um arranjo para cooperação. Alguns integrantes
que vinham trabalhando lado a lado
13
viram nesse projeto uma oportunidade para o
fortalecimento das suas empresas e do setor. Esta rede foi denominada RETEX
pelos seus integrantes em homenagem à Rede de Tecnologia da Bahia (RETEC),
unidade do Instituto Euvaldo Lodi, IEL, que deu o apoio à iniciativa e viabilizou a
realização do projeto.
A tese descreve o caso da RETEX como experiência que veio a permitir o
desenvolvimento de um projeto maior, desenvolvido a partir de 2004, que é o Arranjo
Produtivo Local APL de Confecções, também conhecido como APL da Rua do
Uruguai, ou da Rua Direta do Uruguai, buscando examinar as redes
interorganizacionais que se formaram até julho de 2006, quando foi assinado
contrato com o Banco Mundial para o programa de APLs no Estado da Bahia. Nesse
trajeto a tese examina redes intraorganizacionais em duas empresas que se
destacaram no grupo inicial e prossegue observando as redes interorganizacionais e
suas interfaces com a auto-organização e com o desenvolvimento institucional,
expresso em mudanças das ”regras do jogo” da atividade empresarial, privilegiando
a cultura da ação coletiva como alternativa, vis à vis modelos centralizadores ou
verticais de gestão.
13
Trabalho colaborativo no sindicato patronal (SINDVEST), no Condomínio Bahia Têxtil - um tipo de
distrito industrial urbano - e no Consórcio Bahia Beach - empreendimento voltado para exportação.
38
Observada sob a lente de uma grande angular, poder-se-ia dizer que as
redes interorganizacionais vêm assumindo dimensões de organizações sem
fronteiras ou limites (boundaryless organizations).
As organizações em rede abrem espaço também para o aparecimento do
indivíduo.
Organizações e sociedades altamente hierarquizadas tendem a ser
homogeneizadoras, eliminando as diferenças. A rede enquanto organização da
heterogeneidade privilegia a diversidade. Neste caso, o indivíduo é também produtor
do meio, também autor da auto-organização, desenvolvimento do capital social e
das instituições.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
O trabalho desenvolve-se em cinco capítulos. Este capítulo 1, Introdução,
uma idéia panorâmica da tese, definindo o tema e os problemas, justificando a
escolha do tema e os objetivos do trabalho. Em seguida define o marco referencial
da tese, elege um conceito de redes, do formato rede, inovação, desenvolvimento
institucional e auto-organização; comenta as investigações da atuação das redes
sociais, inter e intra-organizacionais em geral e principais pesquisadores. Além
disso, explica a opção pela abordagem da Social Network Analysis (SNA) ou Análise
das Redes Sociais (ARS) para melhor investigar o papel das redes e trata do foco na
atuação das redes em micro e pequenas empresas que geram inovações, mormente
inovações gerenciais, e ações cooperadas que impactam o desenvolvimento
institucional local. Após levantar os problemas a tratar, indica-se o objeto adotado
para análise.
O capítulo 2 trata do referencial teórico em cinco subtítulos. O primeiro
discute o formato rede, as redes sociais, as redes empresariais, as redes inter e
intra-organizacionais. O segundo aborda a ambiência institucional de inovação ou o
habitat de inovação na forma de rede. Em seguida o referencial destaca a questão
das instituições e do seu desenvolvimento, imbricado com as redes. Prossegue com
39
a abordagem da Social Network Analysis desde as suas origens até o seu possível
status de ciência emergente e se encerra com uma síntese das teorias aplicadas à
análise organizacional e gestão.
O capítulo 3 descreve a metodologia adotada para a realização do
trabalho. O capítulo 4 relata e discute o caso da formação de uma rede empresarial
constituída de pequenas empresas atuando no ramo de confecções que deu origem
a um arranjo produtivo local (APL) que foi pioneiro no enquadramento de um
programa de governo voltado para a constituição de um aglomerado e mapeia as
redes identificadas.
No capítulo das considerações finais estão resumidas as lições
aprendidas com o desenvolvimento do trabalho ou o “conhecimento intermediário”,
ou provisório que se buscou produzir, com sugestões para as possibilidades de
aplicação da aprendizagem na teoria e na prática da Administração / Gestão bem
como oportunidades para investigações futuras.
40
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo tem por objetivos: i) discutir o estudo das redes como campo
contemporâneo de estudos, recuperando as suas origens, sua história recente e
evidenciando a discussão do seu status como objeto de interesse científico; ii)
comentar o desdobramento do formato redes, o conceito das “verdadeiras redes”
como arquitetura organizacional, evidenciando as possibilidades de análise da
impregnação (embeddedness), dos vazios estruturais (structural holes) e dos mapas
mentais; iii) evidenciar como as redes criam uma ambiência institucional de inovação
ou habitat de inovação; iv) abordar a emergência de um possível círculo virtuoso que
se sucederia com a auto-organização e contribuições à ambiência institucional; e por
fim, v) sintetizar as teorias analisadas e reunir uma amostra de trabalhos recentes
voltados para objetos empíricos similares.
A idéia preponderante é articular argumentos a partir da Teoria de Redes
na tentativa de criar uma combinação virtuosa de princípios organizativos “para
explicar como o mundo [das relações sociais] realmente funciona e como arquitetura
fundamental para os arranjos tecnológicos, sociais e institucionais produzidos pela
ação humana” (ALMEIDA FILHO, 2005). Nesta trajetória evidencia-se como eixo
condutor do trabalho um campo que se expande sob a denominação de Social
Network Analysis, SNA, ou Análise de Redes Sociais, ARS, ainda pouco
reconhecido no país, e como eixos subjacentes, a ambiência institucional de
inovação e a auto-organização.
41
REDES
(Social Network Analysis)
Ambiência Institucional
de Inovação
Auto-organização
Objeto: REDES DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
Eixo condutor: Abordagem estrutural
Eixos subjacentes: social e psicológico
Figura 1 Principais contribuições teóricas para a tese. (Fonte: elaboração própria)
2.1 A TEORIA DE REDES: DE PITÁGORAS, ARISTÓTELES, EULER E COMTE
AOS DISCÍPULOS DE WHITE, UMA ABORDAGEM FLORESCENTE EM
TODAS AS CIÊNCIAS.
Para evidenciar a contemporaneidade e abrangência da Teoria de Redes
buscou-se o aporte de Naomar de Almeida Filho (2005) e Mark Granovetter (2006)
seguido das obras de Manuel Castells (1999), Collins (1980) retomando a obra de
Max Weber, e Fritjof Capra (1996), que ilustram o poder de explicação contido na
teoria. Em seguida relata-se a evolução do estudo de redes em diversas áreas do
conhecimento, destacando-se as obras de Albert-Lasló Barabási (2003) e Linton C.
Freeman (2004), na área de Sociologia da Ciência embora o primeiro tenha sido
escrito para o grande público - e de Martin Kilduff e Wenpin Tsai (2003), voltada para
a Teoria das Organizações. O entrelaçamento das contribuições para a Teoria de
Redes de outros campos do conhecimento culmina no campo florescente da Social
Network Analysis, SNA, abordagem transdisciplinar.
42
2.1.1 Contemporaneidade, Abrangência e Longevidade da Teoria das Redes.
A publicação mais recente do Núcleo de Pós Graduação em
Administração (NPGA) sobre redes traz a seguinte apresentação de Almeida Filho
(2005):
Na ciência contemporânea, a noção de rede tem chamado
enormemente a atenção, em dois sentidos: como princípio
organizativo dominante para explicar como o mundo realmente
funciona e como arquitetura fundamental para os arranjos
tecnológicos, sociais e institucionais produzidos pela ação humana.
De fato, a rede, como modelo, é uma representação extremamente
poderosa de sistemas complexos. Há pesquisadores mapeando
redes em uma grande variedade de disciplinas científicas,
oferecendo novas e importantes revelações sobre o mundo
interligado que nos rodeia, assumindo que as células, os órgãos, os
ecossistemas, as corporações e as redes sociais têm mais
semelhanças que diferenças. Isto pressupõe uma visão holística da
natureza, da sociedade e da tecnologia, que oferece uma estrutura
unificada que nos permite melhor compreender questões
fundamentais, desde a vulnerabilidade do sistema econômico
internacional [vulnerabilidade ou solidez?] à disseminação de
doenças, ao efeito estufa aos fenômenos da cultura de massa. Esses
trabalhos têm resultado em um marco conceitual chamado Teoria de
Redes, com muitas aplicações em muitos campos do conhecimento,
incluindo a biologia, a informática, a engenharia, as ciências sociais,
a administração [destaque da autora] as ciências políticas, assim
como várias áreas práticas, incluindo a proteção ambiental, a ação
legal, a economia, o trabalho social e as políticas públicas.
(ALMEIDA FILHO, 2005, sem paginação)
Granovetter (1992, apud. BAIARDI, 2006, p.1) ocupa-se em compreender
as redes a partir da sua emergência, o que interessa sobremaneira em tempos de
redes induzidas e das suas possibilidades de contribuição:
[...] as redes não emergem automaticamente por pressões, são
socialmente construídas. Por este motivo, as redes são
determinantes não somente na ação coletiva, mas também exercem
um feedback em relação às instituições ajudando a redefini-las. [...]
as redes são efetivas na difusão e internalização de certas normas,
no uso de símbolos e na cristalização de valores culturais. Na
taxonomia recente dos arranjos institucionais, as redes figuram como
elementos de interface no plano horizontal e vertical entre os
mercados, o Estado e a comunidade, assumindo hierarquias
diversas.
A “ubiqüidade das redes do cérebro ao corpo, da economia à
organização social, do meio ambiente à cultura humana “ (ALMEIDA FILHO, 2005,
43
sem paginação) retoma e amplia a perspectiva sistêmica levando “à conclusão de
que vivemos num mundo definido pela interconectividade radical” (Id.). Isso acontece
porque as redes têm uma ordem subjacente baseada em leis simples cujo princípio
fundamental é a idéia de que há um padrão oculto que permite “entender como as
redes interagem e intercambiam informações” (Id.). Concluindo sua argumentação,
Almeida Filho afirma que “As idéias, as informações, os conhecimentos, a riqueza, o
entretenimento, os bens e praticamente tudo o que é produzido pelo homem pode
ser disseminado através de cadeias complexas de redes.” Em conseqüência, “cada
vez mais, indivíduos e instituições tornam-se inextricavelmente imbricados em
estruturas de rede que se reproduzem em todas as esferas da vida biológica,
econômica e social.” E a economia global transforma-se em “redes de economias
nacionais, que por sua vez são redes de mercados” [...]. Com essa abrangência,
cresce o interesse pelo campo. “Há [...] quem afirme que estamos na alvorada de
uma nova revolução científica: a nova ciência das redes” (Id.).
Dessa ubiqüidade decorre a amplitude de um “marco conceitual chamado
Teoria de Redes” com a sua natureza de uma perspectiva estrutural ou “estrutura
unificada que nos permite melhor compreender questões fundamentais” (Id.). A
perspectiva estrutural é aquela abordagem que se interessa pelas ligações entre os
objetos de estudo, entre eles o fenômeno social (FREEMAN, 2004). Essa
perspectiva tem sido utilizada em diversas áreas de conhecimento, como na
medicina, para o mapeamento do DNA, como nas comunicações e informática para
o desenvolvimento da internet. Kilduff e Tsai (2003) lançam o desafio para que o
campo adote uma perspectiva pós-estruturalista, como será visto nos itens 2.1.3. e
2.1.4. As possibilidades de aplicação da Teoria de Redes podem ser apreciadas em
duas obras tão distintas como as de Castells, um cientista político, e de Capra,
atualmente um cientista - ativista do movimento ecológico, comentadas a seguir.
Castells (1999) aproveita-se da ubiqüidade das redes para sintetizar, na
obra “A Era da Informação”, as recentes mudanças na economia, organização social
e na cultura. Ele explica a abrangência da rede a partir da tecnologia, evidenciando
que a “tecnologia é a sociedade, e que sociedade não pode ser entendida ou
representada sem as suas ferramentas tecnológicas” (1999, p. 25). Para o autor,
com o novo paradigma tecnológico que se instala durante a década de 1970,
organizado com base na tecnologia da informação, acontece a “[...] implementação
44
de um importante processo de reestruturação do sistema capitalista a partir da
década de 80 [...]” (Ibid., p. 31) que culmina em “uma nova estrutura social
associada ao surgimento de um novo modo de desenvolvimento, o
informacionalismo” (Ibid., p. 33). Para explicar o informacionalismo Castells utiliza a
perspectiva teórica que postula a organização das sociedades em processos
estruturados (destaque da autora) por “relações historicamente determinadas de
produção, experiência e poder”, sendo: a produção “a ação da humanidade sobre a
matéria para transformá-la em seu benefício”, a experiência “a ação dos sujeitos
humanos sobre si mesmos, determinada pela interação entre as identidades
biológicas e culturais desses sujeitos em relação a seus ambientes sociais e
naturais”; e o poder aquela “relação entre os sujeitos humanos que, com base na
produção e na experiência, impõe a vontade de alguns sobre os outros pelo
emprego potencial ou real de violência física ou simbólica” (Ibid., p. 33). No modo
informacional de desenvolvimento, ou informacionalismo, “a fonte de produtividade
acha-se na tecnologia de geração de conhecimentos, de processamento da
informação e de comunicação de símbolos”, ou seja, “na ação de conhecimentos
sobre os próprios conhecimentos” (Ibid., p.35). Ora, isso só se torna possível através
das redes globais de instrumentalidade geradas pelas novas tecnologias da
informação e da comunicação; redes que Castells vai desvendando ao longo da
obra, partindo do impacto da tecnologia e das próprias redes de informação para o
Ser (um nó no grande tecido da rede), prosseguindo com os impactos do
informacionalismo a para a Sociedade (um tecido) e culmina com a análise de
transformações na economia e governos (nós e tecidos sobre tecidos).
Essa abordagem de Castells retoma a compreensão de Max Weber do
capitalismo, segundo Collins (1980). Para o autor, Weber estava trabalhando na
explicação da “cadeia causal” do capitalismo pouco antes da sua morte, mas já é
possível encontrar a sua “teoria madura do desenvolvimento do capitalismo”
(COLLINS, 1980, p. 379) no seu último trabalho publicado, “História Econômica
Geral”. Segundo o autor, para Weber a tecnologia é essencialmente uma variável
dependente (p.383) e Weber estava buscando “as formas organizacionais que
fizeram do capitalismo uma força transformadora no Ocidente, mas não em outras
localidades” (p. 384). As condições que Weber considera únicas no Ocidente
poderiam ser descritas na “cadeia causal” representada na Figura 2, a seguir.
45
c) Christian
proselytization
d) Reformation sects
methodical,
non-dualistic
economic ethic
unrestricted
markets
self supplied
disciplined army
a) Greek civiccults
b) Judaic prophecy
citizenshipfree labor
church law
and
bureaucracy
writing and record
keeping implements
coinage
centrally supplied
weapons
calculable law
rationalized
technology
literate
administrators
favorable
transportation and
communication
bureaucratic
state
entrepreneurial
organization of
capital
ultimate conditionsbackgroud
conditions
intermediate
conditions
components of
rationalized
capitalism
Figura 2 - A Cadeia Causal do Capitalismo segundo Weber (Fonte: COLLINS, 1980,
p. 385)
Vale observar que a obra de Weber é quase que onipresente na obra de
Castells (1999), enquanto teoria explicativa de cunho estrutural. Para Castells (1999,
p. 243) o ensaio clássico de Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo,
originalmente publicado em 1904, “continua sendo o marco de qualquer tentativa
teórica para entender a essência das transformações culturais / institucionais que
introduzem um novo paradigma de organização econômica na história”.
Uma segunda obra que também utiliza uma perspectiva estrutural e que
ilustra a abrangência e contemporaneidade da Teoria das Redes é a Teia da Vida,
de Capra (1996); na obra o autor esposa um novo paradigma que denomina de
“ecologia profunda”, no sentido de despertar uma nova compreensão científica dos
sistemas vivos. Capra toma como ponto de partida uma “crise de percepção”; para
ele o Ser Humano tem ignorado a interconexão dos problemas no mundo, da
superpopulação à pobreza, da mortandade de espécies à vida no planeta. No
entanto, a percepção do todo integrado (holos) é discutida desde Aristóteles, que
46
criou um conjunto de “concepções unificadoras” (CAPRA, 1996, p. 34) e às aplicou
às disciplinas da sua época biologia, física, metafísica, ética e política. Segundo o
autor, Aristóteles distingue a matéria e a forma, mas ligava ambas por meio de um
processo de desenvolvimento que denominou enteléquia (“autocompletude”) para
explicar, “um impulso em direção à auto-realização plena”. Na mesma linha o autor
recorre à pergunta de Pitágoras; quando lhe perguntavam de que é feita a terra,
fogo, água, etc. ele replicava: “Qual é o padrão?” (BATESON apud. CAPRA, 1996, p.
34). Com isso o autor desvenda a Teoria dos Sistemas ao tempo em que demonstra
o comportamento de redes nos ecossistemas, ilustrando a ubiqüidade das redes e
as possibilidades de uma perspectiva estrutural.
A disseminação do conhecimento sobre as redes logicamente tem
levantado o interesse pela aplicação da teoria. Almeida Filho (2005) constata que
“[...] a ligação em redes é sem dúvida a forma mais eficiente de organizar o tempo, a
energia, os recursos e as decisões de colaboração a favor de qualquer causa” (Ibid.,
sem paginação), obviamente quando existe cooperação. Apesar disso, o autor
reconhece as limitações no uso prático da abordagem “devido ao desconhecimento
ou ao mau uso dos conhecimentos científicos, tais como são desenvolvidos pelo
florescente campo da pesquisa sobre redes.” (Ibid., sem paginação)
Daí a necessidade de compreender como a teoria e a prática de redes
vem se desenvolvendo ao longo da história e sendo absorvida na Administração e
outros campos de conhecimento e ação, destacando-se aqui os Estudos
Organizacionais. Castells (1999), por exemplo, no percurso para uma meta-teoria,
explica a “empresa em rede” como expressão da cultura, instituições e organizações
da economia informacional. Para o autor (1999, p.173),
“[...] cultura, nessa estrutura analítica, não deve ser considerada
como um conjunto de valores e crenças ligadas a uma determinada
sociedade. O que caracteriza o desenvolvimento da economia
informacional global é exatamente o seu surgimento em contextos
culturais / nacionais muito diferentes: na América do Norte, Europa
Ocidental, Japão, ‘círculo da China’, Rússia, América Latina e outros
locais do planeta, exercendo influência em todos os países e levando
a um estrutura de referências multiculturais.”
Apesar da diversidade de contextos culturais, Castells (Ibid.) identifica a
“existência de uma matriz comum de formas de organização nos processos
produtivos e de consumo e distribuição”, definindo como organizações “os sistemas
47
específicos de meios voltados para a execução de objetivos específicos”. O autor
prossegue reconhecendo o trabalho pioneiro de Piore e Sabel (Id., p. 175), sobre a
transição da produção em massa para a produção flexível, analisa a empresa de
pequeno porte face a mitos e realidades da empresa de grande porte, recorre ao
toyotismo, tanto na experiência japonesa como na experiência sueca de cooperação
entre gerentes e trabalhadores, mão de obra multifuncional, qualidade total e
redução de incertezas na Volvo, culminando com a revelação de suas conversas
particulares (p. 181) com Ikujiro Nonaka sobre o que este autor denomina “empresa
criadora de conhecimento” (p. 180). Castells (Id., p. 181) concorda com Nonaka que
“a comunicação on line e a capacidade de armazenamento computadorizado
tornaram-se ferramentas poderosas no desenvolvimento da complexidade dos elos
organizacionais entre conhecimentos tácitos e explícitos”. Nessas circunstâncias,
Castells (Id., p. 187-188) observa a crise do modelo de empresas verticais e a
tendência para o desenvolvimento de relações horizontais. Por fim, após análise
comparativa de redes de empresas em vários países, conclui que pelas evidências
reunidas em seu trabalho “são, antes de tudo, redes de empresas sob diferentes
formas, em diferentes contextos e a partir de expressões culturais diversas” os
primeiros elementos da realidade histórica associados ao “novo paradigma
organizacional” (CASTELLS, 1999, p. 214).
A conclusão de Castells culmina com outras evidências, como reunidas
no trabalho de Alter e Hage (1993), Organizations Working Together, no qual as
redes interorganizacionais são tratadas como uma nova instituição.
2.1.2 Um Pouco de História da Teoria de Redes
Relata-se um pouco da história da Teoria de Redes tomando por base os
trabalhos de Barabási (2003) e Freeman (2004), este sugerindo uma tensão entre
duas linhas de pesquisa (Ibid., p.166), o que instiga a comparação entre ambos.
Barabási, professor de física na Universidade de Notre Dame, EUA, dirige
pesquisas sobre redes complexas. A referência mais remota que ele faz à Teoria de
Redes remonta aos trabalhos de Leonhard Euler, matemático suíço, para relatar um
48
trabalho que inaugura a Teoria dos Grafos em 1783: a solução das rotas entre as
pontes de Königsberg, na Prússia oriental (BARABÁSI, 2003). Usando quatro nós
(ou nodos) e sete conexões (links), o matemático demonstrou graficamente que não
existia uma rota que pudesse passar pelas conexões apenas uma vez. A prova
simples e elegante de um problema de tráfego foi facilmente compreendida mesmo
por aqueles que não tinham qualquer conhecimento de matemática (BARABÁSI,
2003, p. 11). O importante para a ciência foi a demonstração matemática de que a
rota era uma propriedade do grafo, um padrão dentro de uma estrutura. No caso,
uma rota sem repetição entre dois ou mais pontos (nós) não poderia existir com um
número ímpar de conexões.
Figura 3 - A solução do problema de tráfego nas pontes de Königsberg que marca o
início da Teoria dos Grafos (Fonte: BARABÁSI, 2003, p.11)
Desde então, a Teoria dos Grafos desvendou problemas complexos
envolvendo grafos ordenados, desde a forma de distribuição de átomos em um
cristal até a textura hexagonal das colméias. A Teoria dos Grafos foi revolucionada
na década de 1950, com dois matemáticos húngaros, Paul Erdós e Alfréd Rényi que,
pela primeira vez na história abordaram a questão mais fundamental para o
entendimento do universo interconectado: como se formam as redes? A solução que
ambos deram ao problema estabeleceu um novo paradigma: as redes aleatórias
49
(random networks), que prevalece desde 1959 na ciência e que associa a
complexidade com a aleatoriedade (BARABÀSI, 2003).
Mas a retrospectiva de Barabási ultrapassa a matemática. Para fins desta
tese vale salientar o histórico que o autor faz da evolução do pensamento sobre
redes nas ciências sociais. Primeiro ele aponta uma obra de ficção de um autor
húngaro, Frigyes Karinthy, de 1929, intitulada “Láncszemek” que significa “cadeias”.
Nesta estória o membro de um grupo se propõe a demonstrar que as pessoas na
terra estão mais próximas do que parecem; para isso ele diz ser possível que ele
tenha conexão com qualquer pessoa entre um bilhão e meio de habitantes da terra
através de ligações com cerca de cinco conhecidos. O personagem liga um
ganhador do prêmio Nobel ao rei Gustavo, que faz a entrega do prêmio e que, por
sua vez, jogava tênis com um amigo do personagem e assim por diante (ibid., p.26).
Em 1967, Stanley Milgram, professor de Harvard, usa esta mesma idéia para
encontrar a “distância” entre duas pessoas nos EUA, através de uma pesquisa
controlada. Ele enviou cartões postais para pessoas escolhidas aleatoriamente em
cidades do oeste do país com instruções para que os cartões alcançassem
determinadas pessoas alvo em Boston através de pessoas realmente conhecidas do
remetente que pudessem conhecer o destinatário final (alvo). Esta pesquisa resultou
na medida de 5,5 pessoas de distância entre dois completos desconhecidos (Ibid., p.
28). Em 1991 John Guare lançou uma peça na Broadway que fez enorme sucesso
usando a idéia de seis graus de separação (six degrees of separation) (BARABÀSI,
2003), conceito que acabou se tornando popular, instigando uma linha de pesquisa
das distâncias na internet e evoluindo para a idéia dos pequenos mundos (small
worlds). A referida linha de pesquisa já estabeleceu inúmeras medidas científicas,
permitindo na prática a capacidade de previsão de alcance de informações,
publicidade, etc. Para Barabási (2003), a idéia dos pequenos mundos firma-se a
partir de 1973, quando Mark Granovetter, discípulo de Harrison White em Harvard,
conseguiu publicar “The Strenght of Weak Ties”, um dos trabalhos sociológicos mais
influentes e mais citados. Conta Barabási que, durante a realização da pesquisa em
fins da década de 1960 o autor ficou surpreendido em verificar que dezenas de
pessoas entrevistadas lhe respondiam que haviam conseguido aquele trabalho /
emprego graças à indicação de um “conhecido” e não um parente ou amigo. Nas
palavras do autor:
50
This reminded Granovetter of the classic chemistry lesson
demonstrating how weak hydrogen bonds huge water molecules
together, and that image, stuck in his mind since his freshman year,
inspired his first research paper, a long revealing manuscript on the
importance of the weak social ties in our lives. (Ibid., p. 41)
O trabalho de Granovetter desvenda estruturas peculiares da sociedade,
como uma coleção de gráficos completos, com clusters de diversos tamanhos
constituídos por amigos ou familiares, unidos por laços fortes, .que se interligam por
laços fracos com pessoas conhecidas (acquaintances). A intuição do pesquisador ao
correlacionar o padrão de redes de relacionamento social à química encontra eco
em autores (CAPRA,1996; KIDLDUFF e TSAI, 2003; MATURANA e VARELA, 2002)
que sugerem que o poder da abordagem das redes reside no fato destas
corresponderem aos padrões da natureza.
Figura 4 - A força dos laços fracos (Fonte: BARABÁSI, 2003, p. 43)
No mundo social pesquisado por Mark Granovetter, os amigos próximos são frequentemente amigos
entre si também. A rede decorrente desta sociedade consiste de pequenos círculos de amigos
completamente conectados por laços fortes, mostrados pelas linhas em negritos. Os laços fracos,
mostrados pelas linhas finas, conectam os membros desses círculos de amizades aos conhecidos
(acquaintances), que têm laços fortes com seus próprios amigos. Os laços fracos desempenham um
importante papel em inúmeras atividades sociais, desde a “fofoca” até a obtenção de um emprego /
trabalho.
Como o interesse maior de Barabási está na física, sua obra prossegue
com relato de experiências na rede eletrônica e busca de padrões nas estruturas
das redes na atualidade. Já o trabalho de Linton Freeman (2004) concentra-se nas
ciências sociais. O autor desenvolve a pesquisa mais minuciosa encontrada durante
o levantamento do referencial teórico sobre o desenvolvimento da área denominada
51
Social Network Analysis, SNA ou Análise das Redes Sociais, ARS, como um estudo
da Sociologia da Ciência. Deste estudo destacam-se argumentos inéditos, as
contribuições de primazia histórica e outros argumentos que mais interessam à tese,
sem esgotar o assunto, como pretende o autor.
O trabalho do autor está distribuído em fases, desde a primeira, que ele
denomina “pré-história” até a atualidade, destacando em cada uma delas quatro
aspectos que definem o campo: i) intuição estrutural; ii) dados empíricos
sistemáticos; imagens gráficas e iv) modelos matemáticos ou computacionais. No
aspecto intuição, seu primeiro argumento inédito encontra-se na fase de pré-história
das idéias e práticas das redes sociais. Nesta fase o autor atribui a Isidore Auguste
Marie François Xavier Comte, mais conhecido como Augusto Comte, as primeiras
intuições sobre as redes em uma perspectiva estrutural, crédito que até então jamais
fora atribuído nas revisões de literatura sobre o assunto. Para Freeman, as idéias de
Comte, embora publicadas entre 1830 e 1842, são contemporâneas. Ao cunhar o
termo Sociologia e assumir o compromisso de desenvolvê-la como ciência, Comte
adota o objetivo de “desvendar as leis da sociedade” (Ibid, p. 13), através de
aspectos estáticos e dinâmicos para investigar as leis das interconexões sociais. Ao
demonstrar como as famílias se transformam em tribos e as tribos em nações,
Comte descreve a sociedade usando a mesma terminologia que hoje se aplica aos
estudos estruturais das redes, caracterizando-se para Freeman como o primeiro
cientista que propôs estudar a sociedade a partir das inter-relações dos seus atores.
Ainda quanto à intuição na “pré-história”, na fase que corresponde ao
início do século XX, Freeman destaca Georg Simmel (1908-1971) como o pensador
que adotou mais explicitamente a perspectiva estrutural, compartilhando o crédito
com Scott (2000) e Gribaudi (1998).
Quanto aos dados empíricos sistemáticos, Freeman os encontra no início
do século XIX nos trabalhos do entomologista suíço Pierre Huber, que foi
reconhecido por Charles Darwin como um grande observador de seres não humanos
(Ibid., p. 17). Os primeiros estudos da mesma natureza com humanos foram
realizados meio século depois com o advogado e antropólogo Lewis Henry Morgan
que estudou os índios norte-americanos. John Atkinson Hobson (1894/1954), autor
freqüentemente citado por Lênin, segundo Freeman (Ibid., p.18), foi o primeiro a
reunir informações empíricas sistemáticas sobre corporações, revelando “the small
52
inner ring of South African finance” (Ibid., p.18) através de matrizes que demonstram
a presença de determinados diretores em mais de uma empresa, tecendo inter
relações que afetam o sistema capitalista. A inovação de Hobson é igualmente
reconhecida por Scott (1985).
Quanto às imagens gráficas, Freeman revela que Christine Klapish-Zuber
identificou recentemente o uso de gráficos na representação de árvores
genealógicas nos séculos IX e XIII e aos próprios trabalhos de Morgan - padrão da
descendência na Roma antiga e Hobson que por meio de um hipergráfico
ilustrando as interligações de empresas e setores econômicos na África do Sul -
assemelha-se aos gráficos atualmente utilizados pela SNA. Contrariando Barabási,
Freeman omite o trabalho de Euler como uma contribuição ao campo, tanto nas
imagens gráficas quanto na matemática.
Na matemática e modelos computacionais o autor destaca as
contribuições algébricas do canadense Alexander Macfarlane e Sir Francis Galton
(Ibid., p. 25), ambos analisando questões ligadas à descendência e parentesco,
especialmente após a publicação da Origem das Espécies em 1859, uma vez que
Sir. Galton era primo de Charles Darwin.
Freeman constrói uma linha do tempo da SNA em várias etapas: seu
nascimento, na Sociometria, a idade das trevas (dark ages) [ou hibernação], seu
renascimento e a atualidade, quando o campo se organiza.
No nascimento do campo Freeman argumenta que o próprio pai da
Sociometria, Jacob Levy Moreno é responsável pela hibernação do campo (Ibid.,
p.31). O autor descreve Moreno como uma figura enigmática: inteligente brilhante,
até- “selvagemente” criativo (wildly creative), divertido, abençoado com uma energia
ilimitada, de presença marcante e estilo, como muitos vienenses da época, porém
dotado de um lado sombrio. Moreno era ego-centrado, servia a si próprio (self-
serving) e também se descrevia como megalomaníaco, admitindo que ouvia vozes,
pensando algumas vezes que era Deus e convencido de que algumas pessoas
estavam roubando as suas idéias. Com isso Moreno criou ambigüidades em torno
da sua personalidade e trabalho. Freeman conjectura que a importância do trabalho
de Moreno deve-se realmente a Helen Hall Jennings, estudante de pós-graduação
em Psicologia. Quando o encontrou, Jennings era especializada em métodos e
estatística e o ajudou a desenhar e conduzir estudos sociométricos que levaram o
53
autor a consolidar a abordagem. A autoria de Jennings só foi atribuída aos trabalhos
em um suplemento de 1934, mas o próprio Moreno em sua autobiografia atribui a
Jennings uma força motriz (guiding force). Freeman diz que é impossível subestimar
as contribuições de Jennings à sistematização dos estudos sociométricos. No
entanto apenas Moreno foi elevado à condição de celebridade e sua abordagem
adotada por todos os nomes da Sociologia e Psicologia norte americana na época
14
.
Em 1938, o trabalho de Moreno, com o apoio de Jennings e de Paul Lazarfeld,
eminente sociólogo matemático da Universidade de Columbia, já reunia todos os
quatro aspectos que caracterizam a SNA. Apesar disso o campo foi marginalizado
[ou estigmatizado] por conta da própria personalidade de Moreno. O próprio
Freeman encontrou-se com Moreno na década de 1950 e classificou suas
apresentações como divertidas, bombásticas porém carentes de consistência (Ibid.,
42).
O campo renasce e se estabelece definitivamente na década de 1970,
com o trabalho de Harrison Colyer White, em Harvard e seus discípulos, entre os
quais Granovetter e Barry Wellman.
Kackhardt
15
também atribui a origem da SNA aos trabalhos de Harrison
White em Harvard e sua posterior disseminação pelos seus discípulos, inicialmente
na América do Norte e posteriormente na Europa. Lazega (1998) concorda em
atribuir a origem da SNA principalmente a Harrison White, nas décadas de 1960 e
1970 e seus discípulos. Para o autor, o desenvolvimento do campo nos últimos 30
anos transformou a denominação sociometria em sinônimo de analyse de réseaux
ou network analysis (LAZEGA, 1998, p. 4).
Apesar da longevidade e consolidação do campo a SNA é pouco
conhecida ou utilizada no Brasil, enquanto parece estar crescendo em popularidade
nos EUA e Europa.
14
Franz Alexander, Gordon W. Allport, Read Bain, Howard Becker, Franz Boas, Emory S. Bogardus,
Jerome S. Bruner, Hadley Cantril, F. Stuart Chapin, Leonard S. Cottrell, Stuart C. Dodd, Paul
Lazarsfeld, Kurt Lewin, Charles P. Loomis, George A. Lundberg, Robert S. Lynd, Margaret Mead, Karl
Menninger, George Peter Murdock, Gardner Murphy, Theodore M. Newcomb, William H. Sewell,
Pitirim Sorokin and Samuel Stouffer.
15
Entrevista concedida à autora em Carnegie Mellon, Pittsburg, 17 de novembro de 2003.
54
2.1.3. A Transdisciplinaridade na Formação da Teoria de Redes.
A forest is the triumph of the organization of mutually dependent
species
(WHITEHEAD, apud. FREEMAN, 2004, p.2)
Neste item propõe-se evidenciar a linhagem multifacetada da SNA,
agregando a revisão do campo efetuada por Scott (2000), Lazega (1998) e Mizruchi
(2006) e construir uma linha do tempo com as contribuições dos diversos autores
pesquisados.
A linhagem da SNA vem sendo estudada desde 1991, por John Scott
(2000), que representa a origem do campo através da Figura 5 evidenciando o
entrelaçamento inicial da Gestalt com a Antropologia estrutural funcionalista que
resultou na Teoria de Campo / Sociometria, evoluindo para a dinâmica de grupo e
posteriormente enriquecida com a Teoria dos Grafos pelos estruturalistas de
Harvard.
Teoria Gestalt Antropologia Estrutural / Funcional
Teoria dos Campos
Warner, Mayo
Gluckman
Sociometria
Dinâmica de Grupo
Homans
Barnes, Bott, Nadel
Teoria dos Grafos Estruturalistas em Harvard
Mitchell
Social Network Analysis
Figura 5 - A linhagem da SNA, segundo Scott (2000, p. 8)
55
A leitura de Barabási (2003) e Freeman (2004), associada à revisão de
Lazega (1998) e Mizruchi (2006), amplia o entrelaçamento evidenciado por Scott, no
espaço tempo, geográfico e disciplinar.
Mizruchi (2006, p.73) aceita as raízes da análise de redes tanto no
trabalho de Moreno, como dos antropólogos britânicos John Barnes, Elizabeth Bott e
J. Clyde Mitchel e também como um apêndice do estruturalismo francês de Lévi-
Strauss. Esse autor aponta os trabalhos independentes desenvolvidos em cinco
diferentes países França, Grã-Bretanha, Netherlands (que incluem as províncias
Holanda), Suécia e Estados Unidos, em diversas áreas de conhecimento e
universidades Antropologia, Psicologia Social Geografia, Biologia, Matemática,
Sociologia, Ciência Política e Psicologia Experimental no período de 1940 a 1970.
56
Ano ou Período
Matemática Filosofia
Psicologia
Antropologia Estrutural /
Funcionalista
Sociologia Economia
Ciências
Naturais
571(?) - 497(?)
a.C. Pitágoras Pitágoras
384–322 a.C
Aristóteles
1736
Euler: Teoria dos
Grafos
Cerca de 1800
Pierre Huber:
dados empíricos
sistemáticos
1830-1842
Auguste Comte
1850
Lewis Henry Morgan
1875
Galton e Watson
Estudos sobre
genealogia (kinship)
1883
Macfarlane Kinship
Cerca de 1900
John Atkinson Hobson:
Inner Ring South
African Finance
1908-1971
Georg Simmel
1912 1920
Teoria Gestalt
Radcliffe-Brown Radcliffe-Brown
1930
Kurt Weil: Teoria
dos Campos
Escola de Harvard:
Warner, Elton Mayo
Escola de
Manchester:
Gluckman
Almack, Wellman,
Bott e Hagman
Jacob Moreno e
Helen Jennings
Paul Lazarfeld Sociometria
Homans Barnes, Botte
Nadel
Sociometria
Dinâmica de grupo
1959
Erdós e Rényi:
Teoria das Redes
Randômicas
Estruturalistas em
Harvard Mitchell
1960 1970
Harrison White
Lorrain e White
White, Boorman e
Breiger
Barry Wellman.
Granovetter
Figura 6: Correntes que resultaram na moderna SNA (Adaptada de Scott, 2000, p.8, Silva; 2003, p.22 e Freeman, 2004)
57
O resultado da conjunção das revisões do campo SNA pelos cinco
autores revela interações multiculturais e interdisciplinares, que permite ao
pesquisador perspectivas enriquecedoras de análise.
Devido à complexidade das interações em rede e ao fato de as
diversas noções a seu respeito serem originárias de campos de
saber diversos e se referirem a fenômenos diferentes, é possível
encontrarmos noções opostas que estejam associadas ao conceito
de rede, tais como: formalidade-informalidade; cooperação-
competição; efemeridade-permanência; solidariedade-conflito,
igualdade-diversidade e racionalidade instrumental-racionalidade
comunicativa. (FLEURY, 2002 apud LOIOLA; MOURA, 1996)
Freeman alega que a literatura sobre a Sociologia da Ciência
(KUHN,1994; McCANN, 1978; MULLINS; MULLINS, 1973) sugere que o resultado
de uma competição pela primazia de iniciativas deságüe em rancor. No entanto este
conflito não aconteceu no campo da SNA; ao contrário, diversos atores se reuniram
para formar uma única coletividade organizada (FREEMAN, 2004, p. 128), com
apenas uma tensão entre duas linhas de pesquisa que será citada no item seguinte.
2.1.4. A Consolidação da Social Network Analysis: Uma Nova Ciência?
[…] a way to make the invisible visible and the intangible tangible
(CROSS; PARKER; BORGATTI, 2002)
Este item reúne argumentos favoráveis ao tratamento do campo SNA
como nova ciência, tomando por base as defesas de Kilduff e Tsai e Freeman
acrescidas das recomendações de Borgatti e Molina (2003) por uma ética própria,
consolidando a idéia de identidade sugerida pelos primeiros autores. Não se
pretende assumir qualquer defesa, mas apenas demonstrar uma linha de
pensamento e ação identificada durante a pesquisa teórica.
Kilduff e Tsai (2003) propõem que o campo seja reconhecido como
“ciência normal”, no sentido kuhniano, em apoio a Degenne e Forse (1994, p. 12
apud KILDUFF; TSAI, p. 35) que alegam haver detectado na abordagem “uma teoria
58
das estruturas sociais”. Sem aprofundar a discussão do que é ciência, os autores
tomam como ponto de partida a expressão “theories of the middle range” e se
apóiam nas contribuições próprias para as ciências sociais desenvolvidas no seio da
SNA. Os autores encontram três grandes categorias de pesquisa e linhas de
pensamento na SNA. Inicialmente as teorias importadas, como aquelas da
matemática e psicologia social, entre outras, já comentadas neste trabalho. Em
seguida as teorias endógenas ou teorias desenvolvidas “em casa” (home grown or
indigenous social network theories). Entre essas, duas contribuições são
indiscutíveis, quais sejam: i) heterophily theory, que trata do conceito da força dos
laços fracos e vazios estruturais (structural holes), permitindo a previsão sobre o
acesso a conhecimento e outros recursos de atores fora do seu círculo social mais
próximo; ii) a teoria dos papéis estruturais, que inclui os conceitos de equivalência
estrutural, coesão estrutural e equivalência de papéis, permitindo a previsão quanto
à influência dos atores sobre atitudes e comportamentos de outros atores em uma
rede. A última categoria é a exportação de idéias da SNA para a teoria
organizacional, permitindo contribuições inovadoras e híbridas em pesquisas
organizacionais, das quais os autores destacam os trabalhos de Baker, Burt, Uzzi,
Hansen, Granovetter, DiMaggio e Powell, Cyert e March, Pfeffer e Salancik, entre
outros. A defesa de Kilduff e Tsai do status de ciência normal da SNA apóia-se no
impacto do ecletismo das abordagens das teorias endógenas uma vez exportadas
para a teoria organizacional.
The eclecticism of social network approaches militates against unified
programmatic theory of organizational networks. The challenge for
research is to retain its distinctiveness of social network emphases on
patterns of relations, multiple levels of analysis, and the integration of
graphical and quantitative data. (KILDUFF; TSAI, 2003, p. 64)
Na trajetória de desenvolvimento do campo, Kilduff e Tsai (2003)
demonstram: i) as possibilidades de superar a separação entre as abordagens
individualistas e estruturalistas, explorando os campos da comunicação e da
cognição, nos quais discutem como os conceitos de cognitive balance, cognitive
accuracy, mapas cognitivos e self-monitoring help explicam as conexões em rede e
a diferenciação das redes em organizações; ii) duas condições básicas na trajetória
de redes e organizações ao longo do tempo, que denominam goal-directedness e
serendipity, ambas correspondendo a tipos ideais de trajetórias; a primeira relativa a
59
redes e organizações orientadas por objetivos e a segunda orientada pelas próprias
relações entre os atores, identidades e outros elementos comuns, caso em que os
objetivos podem ou não surgir ao longo do tempo, mas não são elementos
definidores da trajetória da organização.
Em defesa similar do mesmo campo, Freeman (2004, Ibid., p.3)
demonstra que a SNA na atualidade reúne todos os requisitos para ser considerado
“ciência normal” na concepção kuhniana, porque está definida como um paradigma
organizado para pesquisa, assim caracterizado:
1. Social network analysis is motivated by a structural intuition based
on ties linking social actors,
2. It is grounded in systematic empirical data,
3. It draws heavily on graphic imagery, and
4. It relies on the use of mathematical and / or computational models.
Recapitulando, o autor demonstra como as pesquisas estão sendo
articuladas dentro desse paradigma; ou seja, i) são iniciadas com a motivação por
uma intuição estrutural baseada em conexões entre atores sociais; ii) fundamentam-
se em dados empíricos sistemáticos; iii) utilizam, sobretudo, imagens gráficas; e iv)
estão apoiadas no uso de modelos matemáticos ou computacionais. Além disso,
Freeman (Id.,Ibid.) registra o desenvolvimento da comunidade de pesquisadores no
mundo, com publicações em diversos idiomas, creditando o sucesso da organização
dos pesquisadores e practitioners à “imaginação e energia de Barry Wellman” (Id.
Ibid., p. 164), da Universidade de Toronto, que promoveu os primeiros encontros,
fundou a International Network for Social Network Analysis, INSNA, iniciou e editou o
periódico Connections, coordenou a comunidade virtual EIES (Eletronic Information
Exchange System) e participa ativamente da rede virtual SOCNET
16
. Este esforço de
organização remete à colocação de Bruno Latour (1982, apud. BURRELL, 1997, p.
440):
[...] para o campo da ciência ser bem-sucedido, uma rede tem que
ser desenvolvida, e se a área desenvolve ou não seu pleno gozo, na
prática isso depende do trabalho árduo e do consenso político entre
seus líderes referenciais.
16
A autora, que também participa da rede, confirma a animação e coordenação que Wellman
promove.
60
Freeman registra criteriosamente o trabalho árduo dos líderes referenciais
da área e até o consenso, identificando apenas uma tensão entre as comunidades
de cientistas sociais e de físicos que estudam o fenômeno do “mundo pequeno”.
Outro argumento contundente da identidade do campo é o crescimento
das publicações regulares sobre o assunto, ilustrado na figura a seguir.
Figura 7 - Número de artigos sobre redes sociais listados em Social Abstracts, de
1974 a 1999 (Fonte: FREEMAN, 2004, p. 167; gráfico cedido pelo autor)
A popularidade do campo confirma-se com Borgatti e Molina (2003) que,
tratando da crescente popularidade da SNA entre pesquisadores acadêmicos e
consultores defendem o desenvolvimento de uma ética própria para o campo,
argumentando que o poder de análise e previsão da abordagem cria condições de
vulnerabilidade para os atores envolvidos. A natureza estratégica dessa defesa para
o desenvolvimento da SNA, sugere a identidade do campo como prática; se não
atesta, pelo menos sugere um adensamento do campo, como área de conhecimento
específico e com status de reconhecimento.
61
2.2 O FORMATO REDE E OS INSIGHTS PARA ANÁLISE E AÇÃO
PROPORCIONADOS PELOS ESTUDOS DA IMPREGNAÇÃO, DOS VAZIOS
ESTRUTURAIS E DOS MAPAS MENTAIS.
Este item tem por objetivos retomar a discussão sobre o formato rede e os
insights para análise e ação que o princípio organizativo oferece, especialmente
através dos estudos sobre impregnação (embeddedness), os vazios estruturais
(structural holes) e os mapas mentais.
Na introdução ficou evidenciado que o trabalho colaborativo envolvendo
conexões é antigo, mas a referência à metáfora da teia surge em 1964 com o
trabalho de Georg Simmel; a expressão “redes” se populariza com as redes
eletrônicas e se consagra com a idéia da network society descortinada por Castells.
Nesse percurso foram evidenciados diversos formatos rede com base em fluxos ou
hierarquias: cadeias, redes top down , redes unidirecionais, redes multidirecionais e
observado que “a rede surge na atualidade como um conceito cardinal decorrente do
prestígio assumido pelo papel das instituições na economia” (BAIARDI; BASTO,
2006, p.3) e que, quando formada por iniciativa de empresários é um “um tipo de
estrutura que revela coesão, capacidade de articulação e eloqüente demonstração
da existência de dotação de capital social” (Id., Ibid.), na qual se observa uma fonte
de inovações, mormente inovações gerenciais.
Essas redes empresariais valoram a estrutura horizontal, sem hierarquia e
poderiam receber a denominação de verdadeiras redes. Destas, dois tipos são
examinados nesta tese: redes interorganizacionais e intra-organizacionais dentro de
uma mesma região e contexto. As primeiras formadas por empresários com o apoio
de agentes de fomento do governo, e as segundas evidenciadas internamente em
empresas participantes da rede maior. Os aspectos da chamada dependência
estrutural de elementos interligados, ou seja, efeitos de ligação em rede (ALMEIDA
FILHO, 2005) utilizados na análise dessas redes são: impregnação
17
(embeddedness) e vazios estruturais (structural holes), tangenciando as questões
correlatas da centralidade e do capital social. O conceito de impregnação leva a
17
Tradução da autora. A tradução como “pertencimento” poderia confundir o significado do conceito
original com o conceito da psicologia social.
62
compreender como as transações econômicas e mudanças institucionais se
sobrepõem às redes sociais. Pesquisas têm demonstrado como as pessoas
preferem fazer negócios, permutas e outras transações com pessoas do seu
relacionamento, tanto em ambientes de empresas familiares como em negócios
multimilionários, como demonstram Kilduff e Tsai numa pesquisa sobre transferência
de conhecimento entre múltiplas unidades de uma corporação de alimentos (2003,
p. 27). O conceito de capital social deriva do entendimento de impregnação. A
definição de centralidade é auto-explicativa. Já o conceito de vazios estruturais
refere-se às lacunas (gaps) no mundo social sobre os quais não existem conexões,
mas constituem oportunidades para empreendedores que podem promover o fluxo
de informações e conseqüentemente adquirir controle da situação. Segundo os
autores o mundo das organizações é rico em vazios estruturais; essas lacunas são
eventualmente preenchidas virtualmente. Uma linha de pesquisa interessante sobre
o assunto aborda o acesso ao capital de risco (venture capital) por empresas de
tecnologia de ponta (CASTILLA, 2003), tentando desvendar como se dá sua
aproximação com os detentores de capital.
2.2.1 A Impregnação (Embeddedness)
Quatro tendências principais destacam-se na teoria social: i) um crescente
interesse pelas relações ao invés de interesse por coisas; ii) um crescente interesse
nos processos em detrimento da forma; iii) uma busca de fenômenos elementares
ao invés de instituições; e iv) a construção de modelos regenerativos ao invés de
modelos funcionais (WOLFE, 1978). Nessa trajetória surgem novos conceitos e
conceitos clássicos são re-elaborados.
O conceito de impregnação (embeddedness) refere-se tanto à
superposição das relações sociais com as relações econômicas quanto à
combinação de relações sociais (KILDUFF e TSAI, 2003, p.134). Em PMEs é fácil
imaginar parentes que trabalham juntos, ou seja superpõem a relação de parentesco
com a relação de trabalho; ou o empresário que escolhe o amigo como fornecedor,
superpondo a relação de amizade com a relação comercial. Este conceito nasceu
63
com o trabalho seminal de Mark Granovetter, intitulado Economic Action and Social
Structure: The Problem of Embeddedness (1985).
Segundo o argumento da impregnação, as relações sociais e profissionais
se superpõem de tal forma que os padrões de transações entre organizações
tendem a obedecer outras lógicas além daquela prevista na relação econômica.
Segundo Uzzi (1996, apud KILDUFF e TSAI, 2003, p. 26) as pessoas tendem a fazer
negócios com amigos e conhecidos mais do que tentar buscar parceiros de negócios
no mercado desconhecido. As inovações são transmitidas através de relações; as
relações “impregnadas” seriam condutoras mais ágeis da difusão das inovações?
Tsai e Kilduff (2002 apud KILDUFF e TSAI, 2003, p. 26-27), pesquisando
a transferência de conhecimento entre 36 unidades de negócios multibilionários no
setor de alimentação, verificaram que essa transferência se dava mais intensamente
entre 14 unidades dirigidas por membros da família fundadora do negócio. Ou seja,
a transferência de tecnologia estava mais relacionada à afinidade (kinship) do que à
lógica econômica. Borgatti e outros (2002, p.25) afirmam que,
People rely very heavily on their network of relationships to find
information and solve problemsone of the most consistent findings
in the social science literature is that who you know often has a great
deal to do with what you come to know.
O conceito de impregnação cunhado por Granovetter (1985) retoma e re-
elabora conceitos weberianos da estrutura social, incluindo o problema da
colaboração, que foram ofuscados pela obsessão pela eficiência alocativa da teoria
econômica em algumas escolas do pensamento, e se insere na tendência de
considerar subjetividade nas relações econômicas, ressaltando aspectos como a
confiança e a colaboração, tanto explicitamente como faz Lundvall (1997) e outros
autores, como implicitamente, como Douglass North (1981). Ressalta-se que o
trabalho de Granovetter (1985) que resulta no conceito da impregnação nasce no
programa de pesquisa revisionista de Oliver Williamson, na linha de discussão de
“mercado e hierarquia”.
Pesquisando a existência da impregnação, Granovetter inicia um
programa na Stanford University intitulado Social Networks in Silicon Valley
(CASTILLA, 2003) no qual sua equipe de pesquisadores toma como ponto de
partida o levantamento da história da região. Os primeiros resultados da pesquisa
64
mostram a impregnação da universidade no desenvolvimento local bem como a
impregnação dos pesquisadores que, mantendo-se fiéis à sua linha de pesquisa
mesmo na mobilidade entre empresas, acabavam criando conexões estratégicas
entre diversos negócios emergentes. Alguns desdobramentos da linha de pesquisa
já estão sendo publicados, como o faz Castilla (2003), que atribui o sucesso do
Silicon Valley, na Califórnia, ao papel da academia e do capital de risco na
articulação em redes sociais, em contrapartida ao aglomerado da Route 128, em
Massachussets, considerado mais conservador e menos dotado de articulações em
rede.
Em trajetória similar, Teigland e outros (2004) buscaram analisar a
gênese do cluster UppsalaBIO e verificaram que suas origens remontam aos
pesquisadores e às pesquisas realizadas na Uppsala University durante as décadas
de 1920 e 1930 associados à decisão da empresa Pharmacia, na década de 1950,
em relocalizar seu principal negócio (core business) de Stockholm para Uppsala. O
trabalho demonstrou como a universidade estava impregnada na atividade industrial
na região.
Dois outros conceitos são associados à impregnação: o de conectores e a
força dos laços fracos. Os conectores são aqueles atores que transitam entre
diversas redes e promovem a “construção de pontes” entre redes distintas, ou seja,
concentra-se nesse ator a superposição de relações; em uma rede ele pode ter
relações de amizade, enquanto na outra mantém relações comerciais. O segundo
conceito a força dos laços fracos foi cunhado por Granovetter (1973). Ao
pesquisar como as pessoas conseguiam emprego o autor observou que as
indicações de “conhecidos” para uma vaga pesavam muito mais que as indicações
de parentes na obtenção de empregos.
2.2.2. Os Vazios Estruturais (Structural Holes)
O conceito de vazios estruturais é diametralmente oposto ao da
impregnação; enquanto no último há uma superposição de relações, no primeiro a
relação entre dois atores, grupos ou organizações, é inexistente. Burt (1995) cunha
65
este conceito do ponto de vista dialético: em lugar de considerar o vazio estrutural
como “elemento ausente” ele vê o vazio como oportunidade para estabelecer
conexões. Pessoas, setores, organizações podem desempenhar o papel de liaison
ou conector estabelecendo a relação onde a mesma se faz necessária e ampliando
conseqüentemente seu capital social.
Kilduff e Tsai (2003) elaboram um inventário dos estudos e situações
onde o conceito tem sido explorado, inclusive pelo próprio Burt. i) Pessoas que
desempenham o papel de liaison ou conectores preferiam estabelecer a conexão
com apenas um membro de outro grupo, maximizando seu capital social com um
mínimo de esforço; ii) redes gerenciais se apresentaram sob três tipos mais comuns:
redes empreendedoras, cliques
18
e redes hierárquicas; pela sua própria definição os
cliques restringem suas relações ao grupo imediato; as redes hierárquicas
acabavam apresentando relações tão restritas quanto os cliques; surpreendente foi
verificar que as redes empreendedoras, apesar da contar com o maior número de
relações, demonstraram abundância de vazios estruturais; iii) por fim, mas não
menos freqüentes, os estudos sobre promoções / mobilidade no emprego, cujos
resultados fogem ao propósito desta tese.
Burt (1985) aborda os vazios estruturais sob a perspectiva da estrutura
social da competição. Para Burt cada ator leva três tipos de capital à arena da
competição. Primeiro o ator leva o capital financeiro: dinheiro, crédito, reservas
bancárias, investimentos, etc. Em seguida o ator contribui com o capital humano:
suas qualidades pessoais saúde, charme, inteligência, aparência, etc.
combinadas com suas competências. Por fim, o ator leva seu capital social: relações
com outros atores, amigos, colegas, familiares e conhecidos, através dos quais ele
pode usar o seu capital financeiro e pessoal. O capital social de cada ator aumenta o
capital social da organização à qual ele pertence.
Segundo Burt, capital social é bem diferente dos demais. Primeiro porque
corresponde a uma posse conjunta, algo que pertence às partes envolvidas na
relação. Nenhum ator tem propriedade exclusiva sobre o capital social. Se uma
empresa trata mal um cluster de fornecedores ela corre o risco de perder todo o
fornecimento. Segundo, o capital social corresponde à taxa de retorno na equação
18
Um subgrupo no qual todos os atores se escolhem mutuamente, equivalente ao conceito popular
de “panelinha”.
66
da produção de mercado. Através de relações com colegas, amigos e clientes
acontecem oportunidades de transformar capital financeiro e humano em lucros.
Enfim, o capital social é o árbitro final no sucesso competitivo no âmbito de uma
comunidade.
Quando a competição é imperfeita, existem empecilhos na re-alocação do
capital humano, tanto em termos de mudar pessoas com as quais se mantém um
compromisso quanto em substituí-las por novas pessoas. A taxa de retorno depende
da relação com a qual o capital é investido. E o capital social torna-se uma variável
crítica. Os problemas societários envolvendo empresas de determinado ramo que
investem conjuntamente para competir ilustram perfeitamente a questão. Convém
relembrar que diferentemente das outras modalidades de capital, o social é o único
que se expande com o uso, não se desgasta, estabelece sinergias com capital
humano e intelectual e uma vez construído dificilmente é desconstruído; pelo
contrário pode até ser expandido como network capital (WELLMAN, 2002a).
Enfim, a arena competitiva apresenta estrutura social: atores que têm ou
não confiança uns nos outros, obrigações de suportar outros, dependência ou
troca uns com outros, e assim por diante. Neste cenário cada ator tem uma rede de
contatos: aqueles que ele conhece, aqueles que sempre conheceu, aqueles que o
conhecem embora ele não os conheça. Essas rotas de conhecimento determinam as
relações ou vazios (structural holes).
2.2.3. Os Mapas Mentais
Considerando a importância da cognição para processos organizacionais
de motivação, liderança, poder, (BASTOS, 2002) entre outros, obviamente a
abordagem da SNA permite tanto ao pesquisador quanto aos atores envolvidos em
uma rede real, ou em potencial, ampliar o seu conhecimento daquela estrutura em
suas mais diversas configurações, observando especificamente as relações
desenvolvidas entre os atores, que afinal realmente determinam os processos
organizacionais vigentes e, para fins de gestão, muitas vezes previsíveis.
67
Supõe-se que, para o empresário, o sentido da organização está na
estrutura hierárquica, com definição clara de poderes e papéis. Este ator, cioso de
controle, compreende na maioria das vezes a organização como uma estrutura
hierarquizada e bem definida quanto à autoridade, lembrando a “burocracia” como
modelo ideal de organização formal concebido por Weber, que inspirou diversas
definições da organização, como esta de Schein (1965. p. 8 apud WEICK, 1969, p.2)
que traduz o duradouro paradigma burocrático do conceito, largamente impregnado
na mente do empresário.
Uma organização é a coordenação racional de atividades de
algumas pessoas que procuram chegar a algum objetivo comum e
explícito, através da divisão de trabalho e função, bem como através
de hierarquia de autoridade e responsabilidade.
Por longas décadas durante o século XX as estruturas organizacionais
foram representadas por meio de organogramas. Nestes grafos as estruturas se
configuram em forma de pirâmide, evidenciando especialmente a organização de
topo onde se concentra e distribui o poder; as linhas que interligam os diversos
órgãos correspondem à comunicação formal entre diferentes níveis de autoridade. A
imagem da organização como uma estrutura piramidal representada pelos
organogramas é familiar, popular, uma imagem mental clara para os atores nas
organizações em geral. Em outras palavras, organogramas são mapas mentais ou
mapas cognitivos das estruturas organizacionais. Os mapas mentais ou mapas
cognitivos, segundo Swan (1997 apud. BASTOS, 2002, p.8),
[...] são representações, schemas ou modelos mentais construídos
pelos indivíduos, a partir das suas interações e aprendizagens em
um domínio específico do seu ambiente, e que cumprem a função de
dar sentido à realidade e permitir-lhes lidar com os problemas e
desafios que esta lhe coloca.
A Figura 8 a seguir ilustra a semelhança dos organogramas com a
estrutura piramidal, que confere à organização a rigidez da hierarquia, francamente
popularizada pelas organizações militares e religiosas.
68
Figura 8 - Padrão ordenado do organograma, à semelhança da pirâmide. (Fonte:
elaboração própria)
Cardoso, Alvarez e Caulliraux (2002) comentam que a recente tendência
das empresas de buscar outras formas de estrutura organizacional, entre elas a
organização em rede, traz um nexo comum que é a procura de formas mais flexíveis
e ao mesmo tempo efetivas na obtenção de melhores resultados globais, ou
resultados para um conjunto de organizações e não resultados apenas individuais. A
organização em rede assume uma configuração flexível, processual e até virtual em
alguns aspectos. Adotando princípios de organização distintos daqueles que
prevalecem na estrutura burocrática, a atuação em rede é um desafio porque
envolve processos organizacionais construídos a partir de estruturas
horizontalizadas e não da hierarquia de autoridade, valores e princípios. Como
recente tendência, será que esta nova forma de organização também exigirá a
interiorização, por parte dos atores centrais, de novos conceitos sob a forma do que
poderíamos denominar “um novo mapa mental?” Observa-se que o “desenho” ou
grafo da estrutura em rede, Figura 9 é completamente distinto daquele na figura 8,
aparentemente sem um ordenamento, o que exige maior esforço para sua
apreensão.
69
Figura 9 - Exemplo de uma estrutura em rede. (Fonte: elaboração própria)
Como a organização em rede difere do modele piramidal, existe um
desafio que é configurar novos mapas cognitivos que permitam aos empresários e
demais atores usufruírem as possibilidades desse novo arranjo organizacional. Isso
porque, um schema é uma estrutura cognitiva que facilita a conduta do indivíduo,
cuja tendência é “poupar” esforços na adoção de novos comportamentos. O
conhecimento de schema ou mapa cognitivo pode fornecer hipóteses para a atuação
dos indivíduos ou grupos em determinadas circunstâncias. Para Bastos (2002, p.7)
“Os mapas não são representações estáticas do ambiente, sendo sempre
atualizados a partir das experiências do sujeito”. A necessidade de um contínuo
ajustamento às mudanças do contexto impõe a necessidade de incorporação de
novas informações e, portanto, os mapas vão sendo reconstruídos pelo processo de
aprendizagem.
Como as redes são “mapas de identidade” (FIOL e HUFF, apud BASTOS
2002) por identificarem os principais atores e processos do ‘terreno’, resta questionar
como agem os atores a partir do conhecimento que têm das diversas configurações
de suas relações ou papéis em uma rede em potencial quando estas são ilustradas
70
em grafos ou sociogramas e lhes apresentadas. Será que tais ilustrações
contribuiriam para formar mapas mentais que conduziriam a textura de uma rede ou
favoreceriam a legitimação de multilideranças ou facilitariam a assunção de outros
papéis pelos atores envolvidos?
Weick (1969) colabora para solucionar esse problema quando desvenda
os elementos fundantes da organização e traz à tona discussões sobre grupos e
organizações que são um “pano de fundo” para a compreensão das mudanças
envolvidas entre a organização hierárquica e a organização em rede. O autor parte
de conceitos psicológicos significativos para a formação de grupos tais como os
“pontos de ligação” ou “pessoas que participam em dois ou mais grupos superpostos
e que facilitam a cooperação entre grupos separados” (1969, p.8), explorando então
a idéia do processo de facilitação social que embasa a formação de grupos. Nessa
trajetória o autor destaca quatro aspectos úteis para a compreensão das redes:
a) os grupos variam menos do que os indivíduos;
b) os grupos se formam em torno de problemas primitivos;
c) a significação de semelhança e dessemelhança entre indivíduos e
grupos;
d) os grupos são predominantemente emotivos.
Voltando o olhar para os grupos, Nicolini (apud BASTOS; 2002, p.23-24)
esclarece um aspecto coletivo dos mapas mentais quando afirma:
[...] as representações e os mapas não são puros processos de
pensamento individuais, mas sim práticas discursivas que se
relacionam ao contexto material, simbólico e social em que ocorrem.
Assim, a construção de sentido dos atores envolve aquilo que eles
dizem, assim como o que eles fazem ou não fazem e os artefatos
que utilizam.
A compreensão plena das redes exige que se reconheça o papel da
cognição nas estruturas organizacionais ou sociais. Kilduff e Tsai (2003, p. 75), por
exemplo, denominam organização como uma “rede de cognições”. Na prática, a
alternativa da organização em rede constitui-se tanto em estratégia de crescimento
para empresas de qualquer porte quanto arranjo produtivo para otimização dos
processos de trabalho. Whithaker (2002; 2005, sem paginação) afirma que nas
últimas duas décadas o conceito de rede transformou-se, em uma alternativa
71
prática de organização, possibilitando processos capazes de responder às
demandas de flexibilidade, conectividade e descentralização das esferas
contemporâneas de atuação e articulação social”. Obviamente as pesquisas sociais
acontecem a reboque dos fenômenos. Kilduff e Tsai (2003, p. 77-78) revelam que os
estudos envolvendo redes e cognição, mais precisamente mapas mentais foram
desenvolvidos por Krackhardt desde 1987, ressaltando aqueles realizados por
Krackhardt e Kilduff em 1994 e 1999. Assim, os autores (KILDUFF; TSAI, 2003, p. 4)
clamam: Cognitions concerning organizational networks matter”. Por fim,
questionam o papel dos mapas mentais para os administradores / gerentes (p.79)
abrindo novas linhas de investigação:
It seems to be generally believed that managers should have
accurate perceptions of social networks so that they can delegate
and coordinate effectively. But this belief has never been tested in
organizational settings What are the predictors and outcomes of
accuracy in managerial perception of networks?
2.3 A AMBIÊNCIA INSTITUCIONAL DE INOVAÇÃO OU O HABITAT DE
INOVAÇÃO NA FORMA DE REDE
Utilizar as redes como arquitetura fundamental para os arranjos
tecnológicos, sociais e institucionais produzidos pela ação humana exige a
compreensão dessas redes como princípio organizativo dominante que explica como
o mundo realmente funciona. Daí decorre a necessidade de conjugar o
conhecimento das redes com outros princípios organizativos, tanto nas ciências
econômicas e sociais, quanto nas físicas e biológicas. Nesse sentido o objetivo
deste item é discutir a possível interação entre a Teoria de Redes com a Nova
Teoria Institucional, especificamente quanto às instituições como abordadas por
Douglass North (1981, 2002) e com as abordagens sobre a inovação. Busca-se
evidenciar a ambiência institucional de inovação que reside no habitat de inovação
na forma de rede.
A metáfora das instituições adotada por North (2002), como as “regras do
jogo”, retoma a questão teórica da cooperação que sublinha a obra clássica de Max
72
Weber. Voltando sua atenção para as relações pessoais, North (2002) faz uma
descrição clássica da transação de compra e venda de laranjas com Morris o
vendedor na feira - para ilustrar alternativas ao comportamento oportunista que são
oriundas das instituições e concorrem para evitar os custos de transação proibitivos.
Nessa descrição pormenorizada das interações envolvidas na compra semanal de
laranjas que North faz no mercado público, a confiança entre os atores permeia
claramente as relações em determinado aparato institucional. Ou seja, para North a
confiança é uma variável econômica e social imbricada no crescimento,
desenvolvimento e nas organizações. Para o autor, as instituições constituem uma
ambiência ou o resultado da ação social adotada, legalmente ou não pela
sociedade. Assim as instituições diferem das organizações porque estas são
arquitetadas, deliberadas, adotando instituições como valores ou práticas.
Vinculando-se às profundas mudanças decorrentes das Novas
Tecnologias da Informação e Telecomunicações, NTITs, pela primeira vez na
história, a unidade básica da organização econômica não é um sujeito individual
(como o empresário ou a família empresarial) nem coletivo (como a classe
capitalista, a empresa, o Estado), mas sim as redes. Como Castells tenta mostrar
“[...] as unidades da rede, formadas de vários sujeitos e organizações, modificam-se
continuamente conforme as redes adaptam-se aos ambientes de apoio e às
estruturas do mercado” (1999, p. 216). O desafio é responder às questões propostas
pelo próprio autor: “O que une essas redes? Há alianças apenas úteis e eventuais?”
(1999, p. 216). Castells infere que “[...] a forma de organização em redes deve ter
uma dimensão cultural própria” (1999, p. 216) - pois a atividade econômica não é
desempenhada em um vácuo social e cultural sugerindo que o código comum é
“[...] a cultura do efêmero, uma cultura de cada decisão estratégica, uma colcha de
retalhos de experiências e interesses, em vez de carta de direitos e de obrigações”
(1999, p. 217). Nessas circunstâncias, como desenvolver uma ambiência permeada
de confiança, uma ambiência de inovação?
Outra contribuição contundente sobre a ambiência institucional pode ser
encontrada em Ostrom (1997) com seus estudos sobre governança efetiva e gestão
dos common-pool resources (CPRs) que podem ser traduzidos como “recursos em
comum”, que no caso são recursos naturais como água, cardumes, pastagens, etc.
A autora observa que em todo o mundo, nem o estado nem o mercado têm sido
73
uniformemente bem sucedidos em habilitar indivíduos a sustentar o uso produtivo de
sistemas de recursos naturais no longo prazo. Nessa tarefa busca apoio no trabalho
desenvolvido por Mancur Olson em 1965 sobre a “lógica da ação coletiva”,
acreditando que os indivíduos agem para o bem comum se acreditarem que serão
beneficiados individualmente. A autora adverte para as dificuldades oriundas de
políticas baseadas em pressupostos errôneos e conclui que o desafio dos cientistas
políticos é desenvolver teorias da organização humana baseadas na avaliação
realista das capacidades e limitações humanas ao lidar com uma variedade de
situações que inicialmente têm alguns ou todos os aspectos da tragédia dos
commons”. Sua expectativa é contribuir para o desenvolvimento de uma teoria de
formas de ação coletiva auto-organizadas e auto-governadas, combinando a
abordagem no “novo institucionalismo” com a estratégia usada pelos biólogos para a
compreensão do mundo. Para a autora (OSTROM, 1997, p. 25),
“[...] all organizational arrangements are subject to stress, weakness,
and failure. Without an adequate theory of self organized collective
action, one cannot predict or explain when individuals will be unable
to solve a common problem through self-organization alone, nor can
one begin to ascertain which of many intervention strategies might be
effective in helping to solve particular problems.”
Como institucionalista estudando o empírico a autora conclui que as
pessoas tentam solucionar seus problemas da melhor forma possível e que
infelizmente, até que se possa explicar teoricamente e obter aceitação dessa teoria
as políticas continuarão sendo elaboradas com o pressuposto de que as pessoas
são incapazes de se auto-organizar e sempre precisarão ser organizadas por uma
autoridade externa.
Retomando a subjetividade nas relações econômicas, ressaltando
aspectos como a confiança e a colaboração, observa-se que a mesma situa-se no
mainstream das análises teóricas. Lundvall (1997), por exemplo, descrevendo a
segunda revolução econômica, enfatiza o intercâmbio intelectual entre cientistas e
inventores durante a Revolução Industrial, que veio a contribuir para a
conscientização da taxa de retorno sobre o aumento dos investimentos no
conhecimento básico, comportamento que resultou no aumento de despesa com a
pesquisa básica.
74
Dosi (1988) apóia o trabalho de Lundvall (1997) ; a partir da confiança o
autor examina os fluxos de informação envolvidos em estruturas organizacionais - no
caso estruturas produtivas, com foco na verticalização - e faz comparações entre as
estruturas produtivas da Inglaterra, França e países da Escandinávia. Nessa
trajetória Lundvall enfatiza que o processo de learning by interacting típico acontece
entre atores ligados pelo fluxo de bens e serviços originário da produção e é pré-
requisito para as relações usuário-produtor tornarem-se duradouras e seletivas
(1997). Identifica a resistência à mudança nas redes estabelecidas, tanto na
produção quanto entre usuários e produtores, e culmina seu trabalho com a
indicação da inovação social como a base da inovação técnica.
Retomando o papel das instituições, Baiardi e Laniado (2003) ressaltam
que as instituições “imprimem condicionamentos a todas as importantes atividades
sociais e provêem os elementos de sustentabilidade das atividades básicas e os
seus mecanismos de aprimoramento” (Id, p. 321). Lembram que as “instituições não
têm um pensar próprio externo aos atores” (Id, p. 321). Os autores concluem que “as
instituições são a ‘chave’ que molda e condiciona o crescimento das organizações
econômicas (as empresas stricto sensu), tanto do ponto de vista microeconômico
como setorial, regional, nacional e transnacional” (BAIARDI; LANIADO, 2003, p.
321).
Considerando-se o papel das instituições para criar uma ambiência de
inovação e a existência de redes no bojo das grandes transformações atuais, como
compreender (e empreender) mudanças institucionais e na arquitetura das redes
que favoreçam o desenvolvimento, em especial o local endógeno?
Inicialmente identificam-se duas contribuições para compreender (e
empreender) o impacto social de redes e mudanças institucionais: a noção de capital
social e o network capital. Para Putnam o “capital social diz respeito a características
da organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuam para
aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas” (2002, p.
177). Confiança, normas e sistemas integram a matriz institucional no modelo de
North. Esta matriz é examinada por Putnam (2002) na Terceira Itália
19
, que, por sua
vez busca em Tocqueville (1987) uma explicação semelhante para o que ele divisa
naquela região como capital social, permitindo constatar que o conceito já era
19
Denominação atribuída à região desenvolvida ao norte da Itália.
75
pressentido anteriormente como modelo explicativo para o desenvolvimento. Ou
seja, a elevada propensão a cooperar, tento na colonização dos Estados Unidos da
América quanto no norte da Itália, determinaram uma ambiência propícia para o
desenvolvimento de redes sociais e redes empresariais, elevando o capital social da
região. Da perspectiva estrutural as redes seriam então fundações do capital social.
A segunda contribuição network capital é um conceito complementar ao do
capital social ao nível do indivíduo, uma vez que o estoque de capital pertence a
uma pessoa e não a uma comunidade, como avaliado por Barry Wellman (2005).
Propõe-se aqui conjugar esses conceitos com a idéia da inovação tecnológica e
organizacional.
Baiardi e Basto (2004) compreendem a inovação tecnológica e organizacional
como [...] um processo complexo e dinâmico que envolve diversas instituições. Esta linha de
abordagem coincide com aquela de Lundvall (1997) que considera a inovação como um
processo interativo e o observa desde a interação usuário produtor até o sistema nacional
de inovação, adotando uma perspectiva sistêmica envolvendo diversos atores. Estes
autores buscam no processo de aprendizagem a base microeconômica para chegar à
interdependência sistêmica entre sujeitos econômicos independentes considerando a
inovação não como um evento único, mas sim como um processo, diferindo assim do
tratamento convencional dado ao assunto abordado separadamente em descoberta,
invenção, inovação e difusão. Examinando a interação Lundvall levanta questões relativas à
cooperação direta e confiança (trust) nas relações. Para o autor,
Trust is a multidimensional and complex concept. It refers to mutual
expectations regarding consistency in behaviour and full, truthful
revelation of relevant information and to loyalty in difficult times. Trust
can be very local or it can be extended to a wider set of actors. These
dimensions of trust are crucial for interactive learning and innovation.
The strength, the extension and the kind of trust embedding markets
will affect transaction costs and it will determine to what degree
interactive learning can take place in connection with the market
relationship. Formal and legal arrangements around the market will
reflect this tacit social dimension. To a certain degree sophisticated
(and costly) legal institutions can overcome a lack of trust. At the level
of the whole economy trust is easier to undermine than to build anew.
This is illustrated by the current state of the Russian economy where
the historical development and the recent transformation to a ‘market
economy’ have combined m wiping out any kind of socially rooted trust
in economic affairs (LUNDVALL, 1997, p. 55).
Dosi (1988) igualmente refere-se ao processo de inovação (innovative
process) ao tentar explicar a atenção crescente dada aos fenômenos relacionados à
76
cooperação, usando como referências na própria dinâmica interna da disciplina da
Economia associada à percepção empírica dos fatores tecnológicos na
competitividade e crescimento. A partir do conceito de inovação como “a busca e a
descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação, e adoção de novos
produtos, processos e arranjos organizacionais” (DOSI, 1988, p. 222) o autor
seleciona cinco fatos (stylised facts) para abordar a inovação contemporânea: o
elemento incerteza, a dependência crescente das mais importantes oportunidades
tecnológicas nos avanços do conhecimento científico, a natureza das atividades de
investigação, o reconhecimento da importância do learning by doing e learning by
using e por fim a natureza cumulativa da mudança tecnológica. Para fins deste
trabalho vale ressaltar o reconhecimento da importância do learning by doing e
learning by using, conceitos tratados por Rosenberg aos quais Lundvall vai
acrescentar o learning by interactnig. Em todas essas atividades estão reconhecidas
as atividades informais, a inventividade e criatividade de pessoas e de organizações,
que são difíceis de mensurar, mas que podem ser constatadas facilmente na prática.
A abordagem de Dosi (1988) destaca ao final cinco linhas de análise
teórica que conduzem à compreensão contemporânea do processo de inovação
entre as quais:
a) a distinção entre informação e conhecimento; a atividade de resolução
de problema envolvida na investigação e descoberta é baseada em competências,
visões e heurísticas que são as precondições lógicas para o processamento de
informações;
b) a variedade de fontes de conhecimento que levam ao acúmulo de
competências, incluindo instituições públicas, experiências específicas em firmas e
outras;
c) a análise institucional explicando como as estruturas organizacionais
afetam a acumulação de competências e a apropriação de ativos;
d) uma representação da economia em mudança como um ambiente
evolucionário (evolutionary environment) onde os agentes econômicos tentam
continuamente coisas novas, pagam por, mas também aprendem com os seus erros
e erros de terceiros, ganham quasi-rents e market shares do seu sucesso e por fim
contribuem para a evolução endógena do seu ambiente (DOSI, 1988, p. 235)
77
Teece (1988), analisando a atividade de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D), ressalta a necessidade de colaboração entre firmas, entrantes e
estabelecidas no mercado, bem como a colaboração entre empresas e
universidades. O autor afirma que, pela sua ubiqüidade, a colaboração não pode ser
inserida em qualquer cláusula contratual. Em vertente similar de análise Nelson
(1988, p. 326) aposta que em uma década os EUA estarão adotando qualidades do
SNI japonês, sistema esse caracterizado pela colaboração, especialmente entre as
empresas. Isso porque o autor já observa experiências norte americanas em novas
estruturas de colaboração. Embora o autor não cite especificamente as redes de
colaboração, sua existência é sugerida quando Nelson explora o papel de
associações de classe ou empresas que financiam pesquisa básica em parcerias
tais como patent pools e cross licensing. Para o autor: New institutions and
institutional assignments are created pluralistically, and the structure itself changes
through an evolutionary process” (NELSON, 1988, p. 325).
Um ponto importante a ser ressaltado é que o processo de inovação
ocorre diferentemente em setores distintos. Dessa distinção elaborada por Pavitt
destaca-se o primeiro grupo onde está inserido o setor de vestuário também
denominado setor de confecções, que se caracteriza pelo domínio do fornecedor.
‘Supplier-dominated’ sectors (which include textile, clothing, leather,
printing and publishing, wood products). Innovations are mainly
process-innovation: innovative opportunities are generally embodied
in new varieties of capital equipment and intermediate inputs,
originated by firms whose principal activity is outside these sectors
themselves. Thus the process of innovation is primarily a process of
diffusion of best-practice capital-goods and of innovative ‘intermediate
inputs (such as synthetic fibers, etc.). The knowledge base of
innovation in these sectors mainly relates to incremental
improvements in the equipment produced elsewhere, to its efficient
use and to organizational innovations. Appropriability of firm-specific
technological capabilities is rather low and firms are typically not very
big (with some exceptions in those activities which present
economies; of scale in production or marketing such as textiles and
clothing). (PAVITT, apud DOSI, 1988, p. 231)
Seguindo a abordagem das redes, sugere-se examinar os atores e suas
relações, duas variáveis, portanto, no sentido de compreender melhor a dinâmica do
funcionamento de uma rede em APL, observando as seguintes premissas básicas
desse arranjo, na abordagem de Teigland e outros (2004):
78
i) na atual economia baseada no conhecimento a habilidade de inovar é
mais importante que a eficiência de custos na determinação da
capacidade da organização de prosperar no longo prazo;
ii) as inovações ocorrem predominantemente como resultado da
interação entre vários atores e não como resultado de um gênio
isolado;
iii) existem numerosas razões que apontam a aprendizagem interativa e
processos de inovação associados à “geografia”, como o potencial
para intensificar as relações face a face, distâncias cognitivas menores,
linguagem comum relações de confiança, possibilidade de observação
e comparação imediata;
i) por fim, as estruturas de conhecimento de um dado território são
determinantes do seu crescimento e prosperidade, características mais
importantes do que a existência de matérias primas, custos de
produção, etc.
2.4 A EMERGÊNCIA DA AUTO-ORGANIZAÇÃO
A auto-organização é uma propriedade típica dos sistemas que se aplica
às redes e encontra nas verdadeiras redes condições propícias para vicejar. O seu
conceito faz um contraponto ao dirigismo implícito em funções da Administração
como o planejamento, o controle e a própria função de organizar. A dialética convida
a explorar o conceito como oportunidade para apreciar possibilidades de inovar na
própria gestão e nas intervenções do Governo ou organizações de fomento, através
de idéias consolidadas na Biologia da Cognição e Sociologia da Comunicação.
Embora não existam tendências “pré-fabricadas” nessa área, novas
perspectivas de análise concorrem para a compreensão do problema. A idéia da
“rede sem uma aranha” (web without a spider) ou rede excêntrica tem sido objeto de
linhas de pesquisa conduzida por físicos e cientistas da área de tecnologia da
comunicação e da informação e, obviamente, inspirado cientistas sociais que vêem
nesse tipo de estrutura a proliferação de redes como a Al Quaeda (BARABÁSI,
2003), organizações criminosas como a máfia ou máfia russa (CASTELLS, 1999) ou
redes de cooperação voluntárias. Cabe aos cientistas sociais desvendar os
79
princípios organizativos desses grupos e discutir sua aplicação em outros contextos,
como o trabalho regular e ação cooperada em geral.
Discute-se a seguir a origem do conceito de sistemas auto-organizadores,
as contribuições do grupo de pesquisa da Vienna University of Technology, de
Maturana e Varela (2002), da metáfora do cérebro cunhada por Morgan e de Glegg
(1997) para reunir inúmeras abordagens que se apropriam do conceito da auto-
organização e sua interface com a abordagem da cognição no estudo de mapas
mentais.
A gênese do conceito ocorreu com a descrição detalhada de estruturas
dissipativas feitas por Ilya Prigogine, prêmio Nobel, no campo da físico-química
(CAPRA, 1996; FUCHS; HOFKIRCHNER; KLAUNINGER, 2002). O cientista
intrigava-se com o fato de organismos vivos serem capazes de manter seus
processos de vida em condições de não equilíbrio. No início da década de 1960 ele
conseguiu descrever esses sistemas através de equações não lineares, abrindo uma
ampla linha de pesquisa que culminou com a sua teoria de auto-organização na
década de 1970, usando o clássico fenômeno da convecção do calor conhecido
como “instabilidade de Bénard”, hoje conhecido como um caso clássico de auto-
organização (CAPRA, 1996, p. 81)
20
.
Pesquisadores da Vienna University of Technology tem como ponto de
partida a filosofia da ciência adotando a premissa que Science itself is a self-
organising knowledge system” (FUCHS, 2007, p.2). Assim conseguem identificar
mudanças (shifts) de pensamento na última década, essencialmente do
determinismo mecânico para os estudos de complexidade, pensamento
evolucionário e processual
21
(FUCHS, 2007, p.38) O conjunto dessas mudanças tem
influenciado o pensamento e a ação, de indivíduos de organizações como é possível
20
O físico francês Henri Bénard, no início do século XX demonstrou que o aquecimento de uma fina
camada de líquido, resultava em estruturas estranhamente ordenadas que, a partir de um estado
com temperatura uniforme ao longo de todo o líquido atinge um ponto crítico de instabilidade no qual
emerge o padrão hexagonal ordenado ou padrão de células hexagonais (favo de mel).
21
Tradução da autora. No original: This is a shift from mechanistic determinism to complexity studies,
evolutionary and process thinking from structures and states to processes and functions;• from self-
correcting to self-organising systems;• from hierarchical steering to participation;• from conditions of
equilibrium to dynamic balances of non equilibrium;• from single trajectories to bundles of
trajectories;• from linear causality to circular causality;• from predictability to relative chance;• from
order and stability to instability, chaos and dynamics;• from certainty and determination to a larger
degree of risk, ambiguity and uncertainty;• from reductionism to emergentism;• from being to
becoming;• from decomposable units to connection and networks (FUCHS, 2007,p.38).
80
observar no prognóstico recomendação de Carvalho e Oliveira, (2003, p. 1) a
seguir:
[...] os profissionais que percebem as organizações, o ambiente e a
si próprios como sistemas auto-organizantes, ou seja, que
articularem à imagem da auto-organização outros campos da
realidade, terão subsídios importantes para a construção de
organizações mais flexíveis e, ainda, de uma práxis administrativa
comprometida com a evolução e a inovação.
Christian Fuchs, Wolfgang Hofkirchner e Bert Klauninger (2002), da
Vienna University of Technology, afirmam que da interação dos atores podem
emergir novas qualidades individuais e estruturas que não podem ser reduzidas ao
nível individual, descrevendo este processo denominado de “agência” (agency)
como a emergência “da base para o topo” (bottom up emergence). Neste contexto a
emergência significa o surgimento de, pelo menos, uma nova qualidade sistemática
que não pode ser reduzida aos elementos do sistema. Então esta qualidade é
irredutível e, em certo sentido imprevisível; i.e. o tempo, forma e resultado do
processo de emergência não podem ser inteiramente previstos pelo olhar para os
elementos e suas interações. As estruturas também influenciam as ações e o
pensamento individual. Este é um processo de emergência “do topo para a base”
(top-down emergence) no qual podem emergir novas propriedades individuais e
grupais. O ciclo é o processo básico da auto-organização social que também pode
ser denominada re-criação, porque pelos processos permanentes de agência e de
restrição / habilitação um sistema pode manter e se auto-reproduzir (ver Figura 10).
Repetidamente a unidade é criada e mantida. Estruturas sociais habilitam e
restringem as ações assim como a individualidade.
81
AUTO
ORGANIZAÇÃO
SOCIAL
AGENTES
Indivíduos
ESTRUTURA
Redes inter e intra-organizacionais e
outras organizações
Agindo
Possibilitando
e limitando
Figura 10: A emergência da auto-organização, considerando as redes como estrutura.
(Fonte: adaptado de Hofkirchner, 2003)
22
Segundo Fuchs e outros (200-), a re-criação denota que os indivíduos,
como partes de um sistema, permanentemente alteram o seu ambiente em comum.
Isto habilita o sistema a mudar, manter-se, adaptar-se e se auto-reproduzir. O termo
re-criação também se refere à habilidade dos seres humanos a modelar e criar
sistemas e estruturas, uma habilidade que é baseada na autoconsciência ou,
usando a terminologia de Anthony Giddens (1984, apud. FUCHS, 2007), a
“monitoração reflexiva da ação”. Os sistemas sociais são re-criadores porque podem
criar nova realidade; o ser sócio cultural tem a habilidade de criar por si próprio as
condições para sua evolução. A criatividade significa a habilidade para criar algo
novo que parece desejável a ajuda a atingir objetivos definidos.
Em Giddens (1984, apud. FUCHS, 2007) a re-criação é o elemento
central da ação comunicativa. O processo produtivo mútuo de re-criação descreve a
natureza reflexiva e auto-referente da sociedade, na qual as estruturas são meio e
resultado das ações sociais.
22
Este modelo de auto-organização social foi inicialmente introduzido por Hofkirchner (1998) e
elaborado em vários trabalhos subsequentes como Fuchs (2002a, b; 2003a-h; Fuchs/Hofkirchner
2003a, b, 2004; Fuchs/Hofkirchner/Klauninger 2002; Fuchs/Schlemm 2004)
82
Em consonância com essas abordagens, Maturana e Varela (2002)
cunharam o conceito de autopoiesis
23
na Biologia para descrever uma propriedade
dos seres vivos. Os sistemas vivos são capazes de se manter ao reproduzir suas
partes, garantindo a unidade do sistema. Ousaram em seguida demonstrar que a
organização social também é autopoiética. Morgan (1996) revela que Maturana e
Varela buscaram propositadamente um termo completamente novo para instigar a
sua compreensão em paradigma vigente contrário. Para Maturana e Varela (2002),
na organização social a comunicação não é uma transmissão de informações, mas,
em vez disso, é uma coordenação de comportamento entre os organismos vivos.
Esta coordenação permite a sobrevivência do organismo, sua aprendizagem e
evolução; daí sua denominação de autopoiético; o sistema se autoproduz, se auto-
regula. Este ângulo do comportamento comunicativo é também explorado pelo
trabalho igualmente original de Luhmann que aponta os sistemas sociais como
organismos vivos, cujo dispositivo fundamental da dinâmica evolutiva é a
comunicação (LUHMANN, 1992, p. 22).
Niklas Luhmann (1990) argumenta que o conhecimento não é um aspecto
do ser humano e não pode ser atribuído a ele porque é um atributo da comunicação,
um componente de uma operação autopoiética. Não haveria uma consciência do
conhecimento; o conhecimento não pode ser armazenado no cérebro; não pode ser
alguma coisa que alguém poderia ter ou manter. O conhecimento seria a
condensação da observação (LUHMANN, 1990, p. 123).
A comunicação permanentemente atualizaria o conhecimento. O
conhecimento seria o sedimento da comunicação, marcaria as expectativas
cognitivas (p. 139). O conhecimento tentaria orientar as observações dos outros
estabelecendo expectativas e experiências (p. 146) e estaria sempre conectado ao
acoplamento estrutural
24
dos sistemas que produzem reações às irritações em um
sistema (LUHMANN, apud. FUCHS, 2007)
23
Auto=prefixo indicativo de próprio (por si próprio, por si mesmo). Poiein = produzir, ação de fazer,
criar algo, criar pela imaginação. Sistema dotado de organização própria que são auto-
reprodutores.
24
Para Maturana e Varela, acoplamento estrutural é processo continuado de interação entre a
estrutura do meio e da unidade atuando como fonte de perturbações mútua.
83
2.5 SINTESE E AMOSTRA DE TRABALHOS RECENTES
[...] a melhor maneira de comunicar o que tínhamos em mente, de
forma geral, era produzir alguns exemplos específicos”.
(Michael Polányi)
O item propõe sintetizar os elementos do referencial teórico que
auxiliaram a pesquisadora com o objeto pesquisado (práxis) bem como reunir alguns
trabalhos recentes sobre objetos similares. Com isso deseja-se demonstrar como os
elementos do referencial teórico estão sendo aplicados na prática, contemplando um
ou dois elementos isoladamente. Para a autora a combinação desses elementos,
perseguida como uma combinação virtuosa permitiu aprofundar o relacionamento
com as redes inter e intra-organizacionais envolvendo pequenas e micro empresas.
O estudo de redes de pequenas empresas (small-firm networks, SFNs)
não é exatamente uma novidade na economia e nos estudos organizacionais.
Ocupam-se essencialmente de explicar e justificar um fenômeno da década de 1980
que se consolida nos anos posteriores e que evidenciam as cadeias produtivas e as
possibilidades de independências das empresas na formação dessas cadeias,
aliviando as estruturas das grandes empresas e aproximando proprietários da
atividade fim. Entre esses estudos uma influência marcante é o trabalho de Piore e
Sabel (1984) que tomaram a perspectiva histórica da atuação de pequenas
empresas e redes para analisar a longevidade da produção flexível. A constatação
definitiva da existência dessas redes veio com autores como Perrow (1992), que
descreveu as redes de pequenas empresas (small-firm networks, SFNs)
evidenciando essencialmente as cadeias hierárquicas que se formam na economia e
Alter e Hage (1993) que propuseram às redes interorganizacionais a condição de
uma nova instituição. Para a autora a influência definitiva aconteceu com as obras
de Castells (1999), que foi apreendida com as leituras de Capra (1996) e de
Maturana e Varela (2002) que demonstravam a presença das redes na natureza,
justificando assim a sua proliferação como estrutura organizacional mais compatível
com os seres humanos. O interesse pelas redes como princípio organizativo para
explicar como o mundo funciona e como arquitetura fundamental para os arranjos
tecnológicos, sociais e institucionais produzidos pela ação humana levou a autora à
descoberta da SNA, estudo da sua história e da sua consolidação como um campo
84
próprio de conhecimento inter e multidisciplinar com francas possibilidades de
aplicação à Administração e instrumental gráfico para diagnósticos e que permitem a
formação de mapas mentais. Antônio Virgílio Bittencourt Bastos foi seguramente
uma influência definitiva para associar elementos como a cognição e as estruturas
organizacionais, enquanto Amílcar Baiardi influenciava a autora para relacionar as
redes com a inovação e o desenvolvimento institucional. Nesse percurso aconteceu
a aproximação pessoal e com os trabalhos dos professores Barry Welmann
(Universidade de Toronto), David Krackhardt (Carnegie Mellon), Emilio Castilla
(Wharton), Martin Kilduff (Penn State) e Steve Borgatti (Boston University). Esses
pesquisadores evidenciaram a multiplicidade de linhas de pesquisas envolvendo a
SNA e aos debates sobre o assunto que estão revelando a evolução do campo e da
sua natureza inicialmente estruturalista. Para a compreensão do campo os trabalhos
mais influentes foram os de Kilduff e Tsai (2003) e Freeman (2004), que, por sua vez
retomaram os clássicos como Max Weber. A compreensão do desenvolvimento
institucional veio através de Douglass North (2002).
Observou-se que os estudos empíricos utilizam parte do referencial
teórico. Estudos recorrentes aplicam-se aos clusters, parques tecnológicos, distritos
industriais, e outras aglomerações. Não que a base territorial seja a mais importante;
acontece que a defesa da base territorial na economia precedeu as idéias vigentes
sobre redes.
Alan Barrel (2004) descreve o cluster de Cambrigde como Innovation
Champions Network. Obviamente há uma longa história relacionada com o
desenvolvimento regional. Como diz North, history matters (2003, p. vii). O que se
destaca no caso é o ambiente institucional propício para inovações continuadas que,
pela descrição do autor, decorre das redes que foram desenvolvidas aos longos dos
anos.
A sub-região de Cambrigde tornou-se uma das mais dinâmicas da Europa
nos últimos quarenta anos baseada no desenvolvimento de clusters, que vem se
acelerando desde 1980. Os índices econômicos então disponíveis para Barrel
(2004) indicam um crescimento PIB per capita na região de 6,5% enquanto a
economia britânica crescia a 3% e a norte americana a 3,8%. Nesse mesmo período
a taxa de emprego na região cresceu 80% enquanto na Grã-Bretanha crescia 16%,
com empregos hi-tech envolvendo 50 000 pessoas em um grupo de 360 000
85
pessoas empregadas. Para Barrel (2004) a Universidade de Cambridge
desempenhou um papel de pivô central na transformação da região, de um local
medieval de aprendizagem para um centro educacional e de negócios baseados em
conhecimentos para a geração de riquezas. A universidade orgulha-se de ser aquela
que abriga o maior número de cientistas agraciados com o prêmio Nobel, totalizando
80 láureas. Sua ação, no entanto, tem sido extensivamente bottom up, ou seja,
construindo comunidades com um objetivo comum (“common purpose” communities)
e combinando aspirações com realizações e não top down através de políticas
governamentais, intervenções ou financiamentos. Este senso de objetivo comum,
revelado pela integração e coerência das mudanças culturais evidenciadas, tem sido
tão importante quanto a base científica soberba disponível na universidade, o capital
intelectual de acadêmicos e empresários e o desenvolvimento de estruturas de
suporte que permitem a formação e sustentação de muitas empresas novas. Para o
autor o desenvolvimento dessa crença em um objetivo comum explica o crescimento
do cluster porquanto provocou a mudança cultural em termos da geração de mais
espírito empreendedor.
Mudanças top down poderiam ocorrer a partir da ação governamental. No
caso, o autor afirma que o suporte do governo pode ser considerado moral e
inspirador muito mais do que financeiro, com algumas exceções como o Cambridge
Entrepreneurship Centre, em 1999 e o Cambridge MIT Institute, em 2001. De
qualquer forma, o suporte do governo tem estimulado as mudanças institucionais.
O cluster é multifacetado e multiconectado, por abrigar uma combinação
virtuosa de tecnologia da informação, biotecnologia e tecnologia de
materiais/nanotecnologia e inúmeras organizações
25
, além da universidade e
diversos órgãos governamentais, incluindo 17 fundos de investimento, organizações
virtuais e a Cambridge Network, organização fundada por empresas e a
universidade em 1998 que se constitui um portal de conexão com o mundo e outros
25
Judge Institute of Management Studies, Centre for Entrepreneurial Learning, Cambridge Enterprise,
Institute for Manufacturing, Cambridge-MIT Institute, Cambridge University Entrepreneurs (CUE),
Business Links and Chamber of Commerce, Technology Provider Cluster - contract R&D, The
Cambridge Network, ERBI - Eastern Region Biotechnology Initiative, CHASE - Small Business
Network, Cambridge and Europe Technology Club, Greater Cambridge Partnership, The Library
House (investor organisation), Local venture capital cluster, Great Eastern Investment Forum and
other business angel networks, Cambridge Angels and Cambridge Capital group, Government
Office in the East of England, UK Trade Invest, East of England Development Agency (EEDA) and
Invest East.
86
clusters especialmente o de Munique. Como conseqüência das múltiplas conexões
Barrel (2004) observa uma mudança cultural que qualifica como “imensa” para
permitir a expressão e busca do objetivo comum.
Voltando a atenção para o Brasil é possível identificar a publicação de
estudos recentes abordando o tema e contemplando em parte o referencial teórico,
embora trazendo outras contribuições que não foram contempladas nesta tese,
como a competitividade, a cognição, a aprendizagem e outras. Casarotto Filho e
Pires (2001) escrevem “Redes de Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento
Local”. Sbragia e Stal (2002) editam “Tecnologia e Inovação: Experiências de gestão
na micro e pequena empresa”, no seio do Programa de Gestão Tecnológica, PGT,
da USP. Dall’Acqua (2003) escreve: Competitividade e Participação: Cadeias
produtivas e a definição dos espaços geoeconômico, global e local”. Farah Jr. (2004)
escreve “Pequena Empresa & Competitividade: Desafios e Oportunidades”.
Rosenthal e Sicsú (2005) organizam a publicação da “Gestão do Conhecimento
Empresarial: concepção e casos práticos”. Teixeira (2005) organiza “Gestão de
Redes de Cooperação Interempresariais.
Nesses estudos observa-se certa incidência daqueles voltados para o
setor de confecções, um setor tradicional, sem barreiras à entrada e por isso mesmo
acessível ao empreendedorismo de sobrevivência e ao pesquisador e também
cliente das entidades de apoio, porque é intensivo em mão de obra. Por exemplo,
Lins (2002) estuda o caso do pólo de confecções da região de Florianópolis, Santa
Catarina, partindo do lugar-comum (denominação usada pelo próprio autor), entre os
que se ocupam da economia industrial e da economia da tecnologia, de considerar a
inovação essencial para a competitividade e para o desempenho econômico perante
os desafios da globalização. Argumenta Lins que nesse tipo de abordagem a de
capacidade de aprender é central, mas tem sido tratada com relação a indivíduos ou
empresas, quando a problemática da inovação transcende a órbita individual,
principalmente nos clusters e “distritos industriais”, implicando em conjuntos de
agentes econômicos, o que torna a capacidade de aprender um tema relevante em
escala de sistema produtivo regional. O autor propõe que os enfoques sobre
competitividade e correlatos se inspirem na intensidade das interações locais
voltadas às inovações, figurando as instituições e suas formas de funcionamento no
centro da análise. Nesse percurso o autor citado recorre à expressão economia de
87
aprendizagem (learning economy), de Lundvall e Borras (1997, apud LINS, 2002),
para realçar que a capacidade de aprender, manifestada na escala de pessoas,
empresas, regiões ou até países.
Conforme realçado nas pesquisas sobre inovação, dentro da perspectiva
neo-schumpeteriana, o conhecimento possui um forte caráter tácito. Numa palavra, a
região é importante para a aprendizagem, sobretudo quando ela abriga arranjos na
forma de clusters ou de “distritos industriais”. Lins (2002) ressalta que é nesse tipo
de espaço que se destaca a importância de convenções: regras formais e informais
que “mobilizam recursos e os mantêm em situação de engajamento mútuo” (p. 62),
idéia que remete, talvez antes de tudo, às “transações entre firmas, entre firmas e
seus mercados de trabalho e entre produtores e usuários” (ibid.). Tal terreno é fértil
para a aprendizagem porque esta geralmente se revela como um processo coletivo
e interativo e, a proximidade entre os atores potencializa contatos e vínculos de
diferentes tipos (horizontais, verticais e multilaterais), em nível de sistema. Esse
potencial, inerente à região, a configura como o meio por excelência para favorecer
a inovação pois é no plano regional que se concentram os principais estímulos ao
surgimento e à consolidação de redes de inovação, cujos integrantes tendem a “se
organizar de forma mais cooperativa que hierárquica, com laços permeados pelos
sentidos de confiança mútua e segurança.” (SWEENEY, 1995, apud. LINS, 2002,
p.5).
Ocorre que, com freqüência, a inovação é um processo escorado no
funcionamento de instituições. A cooperação interfirmas e público-privada, vetor da
aprendizagem que é a base da inovação - tende a ser sustentada pela estrutura
institucional. Dessa maneira, a região constitui espaço mais favorável à inovação na
medida em que se apresenta como região de aprendizagem (learning region), onde
a organização institucionalizada do processo, aprendizagem interativa, etc. acusam
importante inserção (embeddedness). Lins recorre então a Cooke, Uranga e
Etxebarria (1997, apud. LINS, p.5) para descrever,
Um cluster regional inovativo tende a abrigar firmas com [...] acesso
a outras firmas na condição de clientes,.fornecedores ou parceiras,
em meio a redes formais ou informais; possui centros de
conhecimento como universidades, institutos de pesquisa,
organizações de pesquisa contratada e agências de transferência de
tecnologia importantes para os setores em questão; e ostenta uma
estrutura de governança com associações privadas de negócios,
88
câmaras de comércio e agências públicas de desenvolvimento
econômico, treinamento e promoção, e departamentos
governamentais.
Daí o autor passa a descrever o pólo confeccionista da região de
Florianópolis, abordando a história do incentivo à implantação do mesmo, a crise
com a abertura das exportações e a articulação entre a Associação das Indústrias do
Vestuário da Grande Florianópolis (ASSINVEST), SEBRAE-SC, SENAI, UFSC,
Escola Técnica Federal de Santa Catarina (ETEFESC), Universidade do Estado de
Santa Catarina (UDESC) e Prefeitura Municipal de Florianópolis como principais
integrantes do tecido institucional.
Lins (2002) conclui que Florianópolis e sua área de influência não se
constituem uma região de aprendizagem e que o pólo poderia ser dinamizado
através de intervenções adequadamente concebidas e programadas, especialmente
quanto ao diálogo das instituições com a indústria, exigindo aprendizagem, até o
nível institucional, para atuar.
Organizações de apoio ao desenvolvimento, como o SEBRAE, buscam se
ocupar dessa aprendizagem, trabalhando com modelos como o reproduzido na
Figura 11, como círculos virtuosos. No modelo as redes representam uma pequena
parcela do conjunto.
89
Figura 11 - Modelo de desenvolvimento proposto pelo SEBRAE Nacional. (Fonte:
Seminário Políticas Públicas e Experiências de Dinamização de APLs. Promovido pelo
Governo do Estado da Bahia e Escola de Administração da UFBA em 23 e 24 de março
de 2005)
O modelo acima se configura como um modelo complexo e virtuoso.
Fialho (2005) revela que o modelo é apenas orientador e se ocupa em sugerir uma
metodologia para construção e gestão de redes de cooperação interorganizacionais,
no qual é possível se depreender que a compreensão antecede a prescrição e que
não existem modelos pre-formatados. As redes induzidas podem realmente conduzir
ao desenvolvimento? Os modelos utilizados pelas instituições de apoio privilegiam o
desenvolvimento ou o mero crescimento?
Hastenreiter Filho (2005, p. 121) pesquisou os acertos e desacertos
[maiores] dos principais programas de redes de cooperação interempresariais
brasileiros concluindo:
É premente [...] que, além da tolerância necessária para a maturação
e o desenvolvimento do processo de networking, reconheça-se a
premência de algumas reformulações nos formatos atuais dos
Desenvolvimento
Capital Humano
Empreendedorismo
Capital social
Cooperação
Redes Democracia
90
programas nacionais. A maioria das redes é pouco focada em
inovação e concede à aprendizagem um status menor. [...] Para que
os programas de rede possam viabilizar-se como instrumentos
efetivos de desenvolvimento econômico e competitividade
empresarial, é indispensável que as OS [Organizações de Suporte],
no seu papel de indução e coordenação, reconheçam nos programas
atuais não mais que atalhos para uma via principal de cooperação,
baseada no aprendizado mútuo e na capacidade inovativa das
empresas.
Apenas como exemplo da extrema desconexão nos programas do
governo cita-se que o Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte, com a finalidade de “orientar e assessorar na formulação e
coordenação da política nacional de desenvolvimento das microempresas e
empresas de pequeno porte" (2007), foi criado pelo Decreto nº 3.474, de 19 de maio
de 2000, que regulamenta a Lei nº 9.841, de 5 de outubro de 1999, mas o Estatuto
Nacional da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, sancionado apenas em
dezembro de 2006, ou seja sete anos depois. Quando se consulta o site do
Ministério da Indústria e Comércio, as únicas datas disponíveis são relativas às
agendas dos ministros e seus imediatos e não são identificados conteúdos
compatíveis com um Fórum. Que vínculos podem ser desenvolvidos nessas
circunstâncias?
A qualidade dos vínculos, mormente aqueles vínculos espontâneos, frutos
da auto-organização, a presença de sinergia local, do capital social, criados pela
cooperação, inclusive entre governo e sociedade, são elementos-chave para o
desenvolvimento de redes inter e intra-organizacionais, da ambiência de inovação e
desenvolvimento institucional.
91
3 METODOLOGIA
Este trabalho caracterizou-se inicialmente como um estudo exploratório, a
partir de intuições
26
sobre as redes sociais e das suas manifestações como redes
inter e intraorganizacionais, assumindo a forma de pesquisa bibliográfica associada
a um estudo de caso (GIL, 2002; YIN, 2001).
A tese desenvolveu-se em etapas distintas, porém articuladas e
superpostas, que tiveram inicio com a revisão da literatura ou pesquisa bibliográfica
para discutir: 1) as redes sociais, sua importância na contemporaneidade, no
desenvolvimento de pequenas e micro empresas e na construção de arranjos
produtivos locais; 2) o desenvolvimento da Teoria de Redes; 3) o processo de
geração e difusão de inovações, considerado como processo não linear, virtuoso (ou
vicioso) da colaboração (ou não), observando as inovações gerenciais do ponto de
vista da auto-organização (ou não) dos atores entre empresas operando em rede e
formando (ou não) mapas mentais; e, por fim, mas não menos importante, 3) a
ambiência institucional.
Em seguida definiu-se a forma de obter as informações relevantes e
fontes de coleta, adotando como estratégia o estudo de caso (YIN, 2001) e levando-
se em conta a possibilidade de observação participante do pesquisador interessado
em reuniões programadas das comunidades integrantes das redes estudadas, ou
seja, compartilhando a vida e a atividade do objeto observado (MUCHIELLI, 2001).
Definiu-se: a) a utilização de métodos da Social Network Analysis (SNA) para análise
das redes significativas (análise ego centrada, para identificação de lideranças,
26
Quanto à definição de um paradigma organizado para pesquisa sobre as conexões entre atores
sociais e suas resultantes, segundo Freeman (2004).
92
embeddedness ou impregnação e structural holes ou vazios estruturais); b) sua
associação à etnografia constitutiva, aqui representada pelo estudo de caso,
observação participante, entrevistas e interpretação dos discursos dos atores. Este
procedimento será descrito no item 3.3, adiante, por conta da sua especificidade.
Etapa indispensável foi a definição dos procedimentos: a) organização
das informações e b) hierarquização das variáveis quanto ao poder de explicação. A
organização envolveu a representação do objeto pesquisado através de grafos para
análise e visualização das redes utilizando o software UCINET (BORGATTI;
EVERETT; FREEMAN, 2002), como descrito adiante.
Desenvolveu-se uma análise transversal descendente, de forma
intercalada e não seqüenciada, do nível macro (sociedade e instituições),
perpassando pelo nível médio ou meso (a rede de pequenas empresas,
fornecedores locais e prestadores de serviços mais próximos) até o nível micro (a
empresa propriamente dita), cuja representatividade mais freqüente é a do próprio
micro ou pequeno empresário.
O campo de estudo foi delimitado temporalmente pelos anos de 2002 a
2007, e territorialmente pela cidade de Salvador, na Bahia, onde foi selecionada uma
amostra, não probabilística e de conveniência, constituída de empresas do ramo de
confecções que atuavam junto ao sindicato patronal, SINDVEST, e, posteriormente,
aquelas organizações com as quais as mesmas se relacionavam, como agentes de
políticas públicas, organizações de crédito e de ensino. Observou-se, no entanto,
uma ação conjunta entre empresários de Salvador e Feira de Santana.
3.1 A REVISÃO DA LITERATURA / PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Enquanto processo, esta etapa aconteceu entre 2002 até 2007.
Considerando que o campo de estudo está em franca ebulição no hemisfério norte,
o grande desafio na revisão de literatura foi estabelecer um marco temporal para sua
conclusão.
93
Enquanto texto, a revisão de literatura procurou observar a ordem
cronológica das obras mais antigas até as mais recentes, observando-se nestas o
esforço da sociologia da ciência para mapear o campo da Teoria das Redes.
3.2 O ESTUDO DE CASO COM A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE E
ENTREVISTAS
O estudo de caso é um método consagrado nas Ciências Sociais. Para
Yin (2001, p. 32) “é uma investigação empírica que [aborda] um fenômeno
contemporâneo dentro do seu contexto da vida real”, adequando-se, portanto, ao
problema das redes sociais que foram investigadas.
Neste trabalho o estudo de caso tem início com a observação participante
da pesquisadora de duas formas distintas: i) em uma primeira etapa, de forma
sistemática entre 2003 e 2004, com a constituição da rede empresarial; ii) de 2005 a
junho de 2007, com a démarche do APL, através da participação em diversas
reuniões, algumas regulares, outras esporádicas, teleconferências, fóruns
presenciais e on line e como docente na sensibilização de empresários, entre outros
eventos. Com base em Yin (2001) o trabalho comporta características do estudo de
caso descritivo e exploratório.
Thiollent (1994) argumenta favoravelmente ao desenvolvimento do estudo
de caso com a pesquisa-ação enquanto estratégia de conhecimento e método de
investigação concreta e de atuação. O autor chama a atenção para o fato das
expressões pesquisa participante e pesquisa ação serem freqüentemente dadas
como sinônimos, do que discorda porque afirma que o segundo caso supõe uma
forma de ação planejada de caráter social. No entanto concorda que ambos os tipos
de pesquisa procedem de uma mesma busca de alternativas ao padrão de
pesquisa convencional” (THIOLLENT, 1994, p.7), e que toda a pesquisa-ação é
participativa, embora tudo o que é chamado pesquisa participante não seja pesquisa
ação (1994, p. 15), uma vez que esta implica na resolução de um problema coletivo
94
e no qual estão envolvidos pesquisadores e participantes da situação. A participação
espontânea do pesquisador em um problema coletivo é considerada observação
participante (1994, p.16). Neste caso o pesquisador participa ativamente de ações
desenvolvidas na resolução de um problema com ou sem um plano prévio de
pesquisa. Cardoso (1988, p. 101) refere-se à observação participante como um
velho modelo de pesquisa que ela deseja recuperar para entender a sua
transformação em participação observante, ou seja, de adjetiva a participação
passou a substantiva.
Esta transformação aconteceu nesta tese na medida em que a autora
participou como protagonista na resolução de problemas coletivos na rede
empresarial e no APL e se deu conta da sua condição privilegiada de observadora,
na medida em que prosseguia a reflexão sobre o problema com a elaboração da
tese. A emergência desse novo papel pode ser pautada em vários princípios que
orientam a pesquisa-ação. A observação social adquire um aspecto de
questionamento” (THIOLLENT, 1994, p. 98). Por que a ação daqueles atores se dá
desta ou daquela forma? O que a explica? Que resultados podem ser previstos?
A noção de objetividade estática é substituída pela noção de
relatividade observacional segundo a qual a realidade não é fixa e o
observador e seus instrumentos desempenham um papel ativo na
captação da informação e nas decorrentes representações.
(THIOLLENT, 1994, p. 98).
O observador participante no papel de pesquisador produz ao longo da
sua participação o conhecimento intermediário que Thiollent (1994, p.102) entende
como diferente do simples bom senso:
É um conhecimento que não se dá imediatamente na prática e é
mister produzi-lo e adapta-lo dentro de um processo participativo no
qual estão envolvidos um grande número de pesquisadores (e
outros profissionais) e os interlocutores representativos dos
problemas a serem abordados. A resolução de problemas efetivos
se encontra na coletividade e só pode ser levada adiante com a
participação dos seus membros (THIOLLENT, 1994, p.102).
A observação participante adequa-se à produção e difusão de
conhecimentos intermediários relacionados com os problemas concretos
encontrados na área da Administração envolvendo a cooperação, inovações,
cognição, mudanças institucionais, entre outros, permitindo a particularização de
95
conhecimentos que posteriormente podem ser sistematizados e eventualmente
generalizados ou não.
As entrevistas realizadas foram estruturadas e não estruturadas
envolveram inicialmente os empresários e, ao longo da constituição do APL também
os técnicos do governo, envolvidos na Rede de Apoio e das agências financeiras,
totalizando dezoito pessoas, conforme o Apêndice A. Os empresários foram
selecionados entre aqueles que integravam a RETEX e que se destacavam como
líderes. As entrevistas estruturadas foram baseadas nos questionários que se
encontram nos Apêndices B e C. O questionário no Apêndice D foi aplicado às
pessoas indicadas pelos empresários, e, no caso da Campeã, pelo empresário e
uma pessoa da sua confiança que também foi entrevistada. Os técnicos do governo
foram escolhidos pela facilidade de acesso.
3.3 A SOCIAL NETWORK ANALYSIS COMO INSTRUMENTAL
A abordagem qualitativa da SNA é uma abordagem estruturalista, que
conta com o suporte “quantitativo” dos métodos utilizados, especialmente os
sociogramas, grafos ou gráficos. Permite ao pesquisador capturar a relação do ator,
grupo ou organização com o conjunto a que ele pertence. Uma vez capturada e até
ilustrada essa relação associa-se a análise estrutural a análises qualitativas
pertinentes.
Silva (2003) propõe dois passos para compreender a abordagem: a
matemática das redes e os conceitos de análise. Na matemática das redes é
necessário compreender os critérios de representação, mensuração, tratamento e
visualização dos dados, uma tarefa que excede ao limite deste trabalho. Nesta etapa
ainda é necessário considerar o caráter dos dados coletados, como lembra Scott
(2000). Dentre os conceitos de análise o autor destaca para fins de aprendizado
inicial:
96
O ator, que pode ser uma pessoa, um grupo ou uma organização, a
depender do nível de análise adotado. Na rede interorganizacional de
pequenas e micro empresas o ator é o (a) líder empresarial. Lazega
(1998) lembra que a rede é considerada um ator coletivo.
Ligações conectam os atores. Silva (2003) recorre a Wasserman e
Faust (1999, p.18) para listar alguns exemplos de ligações estudadas
em análise de redes:
o Avaliação de uma pessoa por outra (por exemplo, expressa em
amizade, gostar de, ou respeito);
o Transferências de recursos materiais (por exemplo, transações
comerciais, emprestar ou tomar bens emprestados);
o Associação ou filiação (participar juntamente de um evento social,
ou pertencer ao mesmo clube social);
o Interações comportamentais (conversar, mandar mensagens);
o Movimentação entre lugares e status (mobilidade física e social);
o Conexão física (estrada, rio, ponte conectando 2 pontos ou local
de trabalho);
o Relações formais (autoridade, hierarquia);
o Relacionamentos biológicos (parentesco ou descendência).
Subgrupos são subconjuntos de atores, juntamente com suas ligações,
entre as quais se destacam as díades (dois atores) e as tríades (três
atores).
Grupo, que é o conjunto de atores.
Relação, que é o conjunto de ligações entre os atores.
Do ponto de vista da análise, Lazega (1998, p. 6) propõe que o método
estrutural e a SNA sejam utilizados como sinônimos. Silva (2003) sugere a metáfora
da fotografia para analisar as redes e, em seguida, detalhar a análise:
As redes sociais podem ser analisadas sob o ponto de vista de suas
características estruturais ou morfológicas. Há duas abordagens
possíveis para a análise estrutural de uma rede social. A primeira
examina a estrutura da rede como um todo. A segunda desce ao
nível dos atores e de suas ligações. Se for feita uma analogia com
as lentes de uma câmara fotográfica, a primeira abordagem seria
uma grande angular e a segunda, um zoom (SILVA; 2003, p. 54).
97
Redes Sociais
Nível Metafórico Nível Analítico/Formal
Redes como um todo
(lente grande angular)
Redes centradas em egos
(lente zoom)
Posicional Estrutural Relacional Centralidade
Equivalência
s Estruturais
Teoria
dos Grafos
Coesão
Figura 12 - Abordagens possíveis para análise de redes sociais (Adaptado de
Silva; 2003, p. 54).
Lazega (1998), no entanto, propõe a análise das redes sob três pontos de
vista; usando a mesma metáfora da câmara fotográfica, o fotógrafo passa a mudar o
ângulo de posicionamento da câmera, além de ajustar a lente:
Da morfologia: com os procedimentos de construção / reconstrução da
estrutura ou morfologia do sistema de ação e de trocas;
Do posicionamento: com os procedimentos de posicionamento dos
atores na estrutura no sistema social;
Da associação entre posições e comportamento dos atores.
A escolha da SNA para a realização deste trabalho ocorreu na medida em
que se descortinava a consistência do instrumental disponível para analisar a
complexidade da organização de uma rede empresarial e suas relações
interorganizacionais. Inicialmente houve a intuição do problema estrutural;
mapeadas as relações observou-se o valor dos grafos para interpretar o
posicionamento, associação e comportamento dos atores nas estruturas resultantes
e, sobretudo, para intervir no grupo e promover a criação ou mudança de mapas
mentais quanto às possibilidades de multilideranças entre os atores envolvidos na
rede.
Este procedimento foi realizado em dois momentos distintos, o primeiro
em maio de 2003, no início dos encontros para elaboração do planejamento
estratégico (PE), e o segundo em agosto de 2003, na conclusão do PE.
98
Para a coleta de dados e posterior análise foram elaborados questionários
do tipo “votação simulada”
27
, sendo que no primeiro foi solicitado dos respondentes
apenas um voto para cada situação. Cada votação resultou em matrizes que foram
transformadas em gráficos/ sociogramas. O questionário inicial aplicado continha
seis situações distintas voltadas para evidenciar lideranças em áreas específicas de
atuação, tais como representação política, concorrência pública, transmissão de
conhecimentos, exportação e certificação de qualidade, de modo a conduzir os
futuros projetos da rede, antecipando uma organização processual em lugar de uma
nova entidade.
Os questionários específicos para a elaboração das redes foram
construídos com base na proposição de Krackhardt e Hanson (1993) para
identificação das redes informais e foram: i) Apêndices B e C respondidos por vinte e
cinco integrantes, representando treze empresas distintas. Na ocasião dezoito
empresas estavam inscritas para participação no projeto e havia a perspectiva de
mais cinco inscrições. ii) Apêndice D, respondidos por aqueles integrantes das
empresas, denominadas Ativa e Campeã. As respostas obtidas foram analisadas
através da SNA, utilizando o software UCINET (BORGATTI; EVERETT; FREEMAN,
2002), que dispõe da ferramenta Netdraw onde os dados lançados em matrizes são
transformados em gráficos que podem ser trabalhados para fins de análise e
interpretação, que foram enriquecidas com as observações dos consultores e de
alguns integrantes das redes.
3.4. LIMITAÇÕES DA METODOLOGIA E DA PESQUISA
O desenvolvimento da tese não se prende a qualquer sistema de idéias,
mas, considerando-se a neutralidade axiológica absoluta como impossível, reflete
crenças da autora quanto a políticas públicas para as PMEs e possibilidades de
desenvolvimento local. A autora concorda com Cardoso (1988, p. 99) que alerta para
27
Ver modelo de questionário no Apêndice B.
99
o fato de que “o conhecimento não pode se libertar de uma certa dose de ideologia”.
Esta é, possivelmente, a primeira limitação de todo o trabalho.
Trata-se a seguir das limitações do método estrutural que a SNA procura
contornar, das limitações encontradas na aplicação da SNA para a pesquisa e das
dificuldades encontradas na sua elaboração.
3.4.1. Limitações do Método e da SNA
Cardoso (1988, p. 100) salientou que O estruturalismo contribuiu para uma
maior sofisticação da análise de discursos, que não foi acompanhada por uma renovação no
campo da observação das práticas sociais. A SNA como instrumental contorna, em parte,
esta limitação na medida em que permite mapear discursos ou relações, sob a forma de
sociograma gráfico ou grafo - onde os tecidos das redes são identificados nas suas
diversas nuances: nós, fios, densidade, textura. Cabe lembrar aqui a sabedoria popular:
“uma imagem vale mais do que mil palavras”. Revendo os componentes de um conceito de
organização Weick (1969, p.37) já apontava que eram as relações e não as pessoas que
impunham controle numa organização.
Kilduff e Tsai (2003) concordam no poder de explicação dos grafos, mas
discutem a ênfase dos métodos quantitativos no campo, sugerindo a associação da SNA
com a etnografia qualitativa para o enriquecimento da abordagem estrutural. Ora, a
etnografia para Barros, Silva e Pereira (2005) “se caracteriza por uma viagem ao mundo do
outro, à procura dateia de significados (Geertz, 1978) inscrita em toda ação social. Isso
exige a imersão no mundo do ‘outro’, comportando a observação participante, em atitude de
aprofundamento, pois,
[...] o olhar etnográfico define uma postura e não somente uma
técnica. Mas esta postura pressupõe, ela própria, uma concepção
da realidade tal como a apresenta o interacionismo simbólico. O real
não se encontra aí pré-definido. Através da noção de definição da
situação, impõe-se a idéia de que são os próprios atores que
definem a situação na qual se encontram (destaque da autora), e
ao fazerem-na, estão a construí-la. Os papéis dos atores que
parecem estar prescritos pela sociedade [...] são de fato construídos
em relação ao sentido que eles conferem às diferentes situações
100
para cuja elaboração contribuem. (BARROS; SILVA; PEREIRA,
2005, p.5)
A pesquisa buscou associar o mapeamento das redes com as
observações e as entrevistas, conforme orientação pessoal de Martin Kilduff
28
. Esta
recomendação, no entanto, não foi acatada na fase do mapeamento das redes com
a criação do APL, quando a autora tentou mapear as redes através da pesquisa
documental, por uma limitação de tempo. Imaginava-se então que as atas
sistemáticas das reuniões pudessem suprir as informações sobre a presença e
participação dos atores nas novas estruturas de redes. Como as atas dos encontros
empresariais estavam incompletas e desorganizadas, não foi possível identificar as
redes e, sem as entrevista ou possibilidade de observação sistemática, como
aconteceu com a RETEX, também não foi possível compreender melhor o papel das
lideranças antigas e a emergência das novas lideranças.
Por fim, vale recorrer a Deslandes (2001, p. 36) lembrando que a
pesquisa científica engloba sempre uma instância coletiva de reflexão” e esta é uma
proposta da tese. A Administração lida com a (in) capacidade de prever e determinar
a ação humana, antecipando a prescrição à compreensão. Compreender o
cooperar para competir” ou “cooperar para inovar” em um mundo competitivo é pura
dialética; a individualização nas redes sociais também.
3.4.2 Dificuldades Encontradas na Realização da Pesquisa
Além da dificuldade de encerrar a pesquisa da literatura, já abordada, a
grande dificuldade enfrentada foi a mudança de política, do apoio à formação de
redes empresariais para a prioridade no movimento de aglomeração espacial /
econômico/empresarial que se consubstanciou no conceito dos APLs. Esta mudança
resultou na descontinuidade das ações em curso na rede empresarial, criou muitas
expectativas entre os empresários, grandes dificuldades na condução do programa
pelo governo e choques entre novas e antigas lideranças nas novas redes
28
Em entrevista pessoal concedida à autora em 25 de novembro de 2003 na Penn State University.
101
empresariais em potencial. Enquanto era definido o Programa de APLs a pesquisa
foi feita através da observação participante esporádica e não da observação
sistemática como aconteceu inicialmente.
Nesse processo de mudança foi possível observar divergências
conceituais quanto ao novo programa e vaidades pessoais que dificultaram a
escolha de entrevistados.
Por fim, enquanto esta pesquisa era realizada, duas outras estavam em
curso, no mesmo Núcleo de Pós Graduação em Administração, sem que houvesse
qualquer esforço de integração das pesquisas ou simples conversação entre os
pesquisadores.
102
Itens da
Metodologia
Questões
de Pesquisa
População /
Amostra
Estudo de
caso
Instrumentos
Procedimentos
1. Como acontece a
capacidade de
articulação no setor de
vestuário? Quais os
principais atores desse
processo e relações
que podem fomentar a
sinergia
para criar um
habitat de inovação?
2. a) A base da teoria
de redes é ampla,
includente e com
possibilidade de
aplicação a pequenas
empresas de setores
tradicionais? b) Por que
os estudos de rede não
têm dado atenção
suficiente às pequenas
e micro empresas?
3. Como as redes inter
e intra-organizacionais
de pequenas empresas
criam uma ambiência
propícia às inovações
gerenciais e
tecnológicas?
4. C
omo as redes
contribuem para o
desenvolvimento
institucional?
1.1. Empresas do
setor de vestuário
em Salvador / 13
empresas
1.2. Empresas do
setor de vestuário,
instituições de
ensino e fomento e
bancos /. 13
empresas,
SEBRAE, IEL,
BANCO MUNDIAL,
BID, DESENBAHIA
e UFBA.
2.1 Instituições de
ensino e de
fomento / SEBRAE,
IEL, BANCO
MUNDIAL, BID e
DESENBAHIA
2.2. IASNA,
SOCNET e
RedeNÓS
3.Empresas do
setor de vestuário
em Salvador / 13
empresas
4. Empresas do
setor de vestuário,
instituições de
ensino e fomento e
bancos /. 13
empresas,
SEBRAE, IEL,
BANCO MUNDIAL,
BID, DESENBAHIA
e UFBA.
1. Empresas
participantes da
RETEX e da
APL do
Uruguai, em
Salvador
2. Idem, mais
SEBRAE, IEL e
3 ou 4 dos
bancos mais
demandados
pelas empresas
1.1. SNA
1.2. Roteiro de
entrevista
1.3. Análise dos
e-mails no grupo
RETEX
1.4. Interpretação
do discurso
2. Revisão da
literatura /
pesquisa
bibliográfica
3.1. SNA
3.2. Roteiro de
entrevista
3.3. Interpretação
do discurso
4. Pesquisa
documental em
atas de reuniões
e publicações,
1.1. Aplicação de
questionários.
1.2.
Transferência
do
s dados para o
UCINET.
1.3. Uso da
ferramenta
NETDRAW do
UCINET.
1.4. Organização
das demais
informações.
2. Organização
das informações
Hierarquização
das variáveis
quanto ao poder
de explicação
3.Organização
das informações
Hierarquização
das variáveis
quanto ao poder
de explicação
4..Organização
das informações
Hierarquização
das variáveis
quanto ao poder
de explicação
Quadro 1: Síntese da Metodologia. (Fonte: Elaboração própria)
103
4 O CASO DA RETEX QUE SE TRANSFORMOU NO APL DE CONFECÇÕES:
DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS
Este capítulo relata o caso da formação de uma rede empresarial no setor
de vestuário, pari passu com as ações governamentais de apoio à formação de
redes, posteriormente voltadas ao desenvolvimento de APLs, bem como apresenta
os resultados da pesquisa para o reconhecimento das redes inter e intra-
organizacionais formadas nesse contexto. A análise dos resultados é feita ao longo
do relato e por fim sintetizadas de modo a responder aos problemas colocados pela
tese e objetivos do trabalho.
4.1 O HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DA RETEX
O histórico da constituição desta rede cobre o período de abril de 2003 a
janeiro de 2004, baseado na observação participante da autora, entrevistas,
compulsão de arquivos, artigos publicados, pesquisa documental e entrevistas.
Em abril de 2003 um grupo de pequenos empresários iniciou um projeto
intitulado “Melhoria da competitividade do Setor de Confecções e Vestuário do
Estado da Bahia” com apoio do Instituto Euvaldo Lodi (IEL/RETEC) e do SEBRAE
no âmbito do PROCOMPI Programa de Apoio à Competitividade das Micro e
Pequenas Indústrias. O objetivo era formar uma rede de cooperação, dentro da
104
política vigente entre as instituições patrocinadoras de “cooperar para competir”. A
rede formou-se a partir da iniciativa de alguns integrantes que vinham trabalhando
lado a lado no sindicato patronal SINDVEST-, no Condomínio Bahia Têxtil - um
tipo de distrito industrial urbano - e no Consórcio Bahia Beach - empreendimento
voltado para exportação de moda praia. O programa desenvolvido pelo IEL para a
constituição da rede envolvia: i) um diagnóstico inicial em cada empresa; ii) uma fase
de sensibilização dos integrantes do grupo para o trabalho cooperado orientado por
uma psicóloga; iii) o planejamento estratégico (PE) para a rede conduzido por
consultoria em gestão, e iv) pelo menos duas intervenções diretas em áreas
específicas das empresas integrantes da rede através de consultores
especializados, de acordo com as demandas coletivas identificadas.
Vale salientar que o Condomínio Bahia Têxtil era, até então, o
empreendimento mais avançado desses empresários, reunindo cerca de 20
integrantes para a construção de instalações fabris compartilhadas, com incentivos
governamentais. Em 2003 o Condomínio havia concluído as suas fundações, após
cinco anos do seu início e estava lutando por recursos para construção dos galpões.
4.1.1 As Primeiras Redes Interorganizacionais e seus Resultados
Considerando que construção da rede era o objetivo da consultoria,
durante a terceira fase do processo buscou-se mapear as relações entre os
integrantes dos grupos, identificar as lideranças e obter outros subsídios por meio do
método Social Network Analysis, SNA. Destacam-se nas Figuras 13, 14 e 15, a
seguir, aquelas proposições que resultaram em redes de configuração bem distintas,
possibilitando por meio da análise ego centrada a identificação de lideranças que
pudessem contribuir com as ações envolvidas no processo de formação da rede de
cooperação. Em outras palavras, o levantamento tinha por objetivo inicial identificar
lideranças que pudessem facilitar a estruturação da rede, daí a análise ego
centrada.
105
Figura 13 - Proposição: “Quem é o integrante da rede que você mais admira?”
29
O mapeamento original das redes foi feito com o nome dos seus
participantes; em seguida obteve-se a permissão para divulgar as redes com cada
ator devidamente identificado aos demais, o que foi muito útil para a consolidação da
rede interorganizacional
30
. Para fins de divulgação externa cada ator recebeu um
codinome.
Em resposta à primeira questão surgiram três blocos de relações
revelando a fragmentação do grupo no estágio inicial da formação da rede; estava
claro á esta altura que os integrantes da rede pouco se conheciam. Por outro lado
este mapeamento já permitiu identificar desde então lideranças - que é o objetivo da
análise ego centrada - em Ativo, com cinco votos e Lisa e Ponto, com quatro votos
cada. Considerando a representação de várias pequenas empresas, uma
configuração dessa natureza sugere também a existência de vazios estruturais
(structural holes) (BURT, 1995) que proporcionam oportunidades para a construção
de relações, como parcerias, joint ventures, alianças, etc.
Com a questão seguinte, buscou-se a confirmação das lideranças formais,
conceituadas aqui como aquelas reconhecidas para a representação política.
29
Permitiu-se votar em integrantes do grupo que estavam ausentes; assim há pelo menos um
integrante que recebeu votos, mas não votou.
30
Lembra-se aqui que cada ator representava uma empresa.
106
Figura 14 - Proposição: “Supondo que você precise encaminhar uma reivindicação ao
governo, quem você escolheria para representar a rede?”
A resposta à questão, ilustrada na Figura 14, confirmou as lideranças
conhecidas na representação política, de Ativo e de Rico. É interessante notar que
os dois líderes escolhem-se mutuamente. Trata-se de uma situação experimentada
no sindicato patronal, SINDVEST e vivenciada pela maioria dos integrantes. O
sociograma confirma a legitimidade das lideranças que se apóiam. A liderança de
Lisa, que foi evidenciada na rede anterior, seria considerada então uma liderança
informal.
A proposição seguinte buscou identificar uma situação não experimentada
pelo grupo na sua totalidade.
Figura 15 - Proposição: “Supondo que a rede seja convidada para participar de uma
concorrência pública, quem você escolheria para elaborar a proposta?”
107
Nessa situação nova para o grupo participação em concorrências
públicas -, o sociograma sugere a formação de “correntes” entre seus integrantes; o
encadeamento contínuo pode significar possibilidade de atuação de multilideranças.
Em outras palavras, os integrantes do grupo enxergam nos seus pares a
possibilidade de exercer um novo papel ou liderança para atuar em uma nova
área
31
.
As demais proposições pesquisadas não ilustradas no caso - trataram
de exportação e programas de qualidade. Em ambas situações, as redes revelam
como líderes aqueles integrantes de reconhecida competência / experiência em
cada área, confirmando que o critério de seleção das lideranças era o bom
desempenho empresarial.
A rede afinal constituiu-se com dezessete empresas e uma cooperativa de
costureiras. Foi elaborado um primeiro planejamento estratégico para a rede com o
apoio de consultoria externa. O plano de ação resultante teve como iniciativa mais
destacada a Central de Compras, uma central virtual para realizar compras
cooperadas dos vários insumos e equipamentos de reposição.
A proposta de melhorar a competitividade do Setor de Confecções e
Vestuário do Estado da Bahia, fomentando a formação de uma rede, encontrou um
terreno fértil entre os integrantes do grupo. Isso porque na primeira quinzena da sua
atuação para formação da rede, quando foi aplicado o questionário para o estudo, os
integrantes já identificavam suas competências distintas e também legitimavam as
lideranças “aparentes” através dos votos “formais”. A observação qualitativa da
atuação do grupo, desde o preenchimento do questionário até o final da elaboração
do planejamento estratégico, confirmou algumas previsões sobre o comportamento
do grupo e até as extrapolou na medida em que vários negócios já estavam sendo
feitos de forma cooperada. Quanto às previsões, verificou-se que:
1) O grupo escolheu denominar seus integrantes de “sócios”, traduzindo
nessa designação a idéia de coesão;
31
Para o segmento fardamento, grande parte das vendas é feita através de concorrência.
108
2) Os cinco objetivos escolhidos no planejamento estratégico objetivos
operacionais ligados às várias áreas de atuação das empresas -
tiveram lideranças e engajamento de sócios que aparecem claramente
nos sociogramas estudados e outros que despontaram no processo e
foram consolidando a liderança ao longo do tempo.
Em paralelo observou-se o desenvolvimento de novos negócios, sob a
forma de integração horizontal (complementaridade) produtiva ou comercial. Uma
fábrica deixou de produzir camisa pólo, que é especialidade de uma “sócia”; em
contrapartida passou a vender a camisa pólo que a “sócia” fabricava, eliminando um
problema de produção da primeira e ampliando o canal de vendas da segunda
inclusive através da venda on line.
Em agosto de 2003 a rede reuniu-se para finalizar o PE 2003 / 2004. Na
ocasião foi feita nova votação simulada na tentativa de identificar as redes informais
com base na proposição de Krackhardt e Hanson (1993): a) a rede “afetiva”; b) a
rede de confiança; c) a rede de aprendizagem e d) a rede de troca de informações.
Permitiu-se que cada sócio votasse em uma ou mais pessoas.
Diferentemente do estágio inicial, quando tanto os integrantes quanto os
consultores estavam em fase de reconhecimento mútuo e cada voto representava,
sobretudo, uma posição pessoal e não a posição de uma empresa
32
, neste momento
as respostas já refletiam o pensamento dominante dos empresários e ajudavam a
construir os mapas mentais. Esta construção possivelmente ocorreu com a
divulgação dos grafos entre os participantes da rede e ajudaram a legitimar as
lideranças, que por sua vez eram necessárias para conduzir os diferentes projetos
ou processos que a rede necessitava. Ou seja, rede previa fortalecer a estrutura de
cada uma das empresas com a realização de atividades cooperadas por integrantes
de outras empresas, dando oportunidade àqueles que mais se destacavam com
determinadas competências. No entanto havia certa hesitação ou resistência para
assumir esses projetos ou processos entre os líderes ou aqueles mais competentes.
Associa-se a redução dessa resistência à divulgação dos grafos.
32
Os primeiros questionários foram respondidos por empresários e participantes dos trabalhos que
não faziam parte da direção
109
A seguir destacam-se as redes de aprendizagem (Figura 16) e a rede de
confiança na ocasião (Figura 17).
Figura 16 - Proposição: Quais os integrantes da RETEX que você considera mais
competentes?
A proposição procurou investigar os atores com os quais os empresários
aprendem, através das referências (benchmark) quanto à competência. Nessa
primeira circunstância observa-se que a rede já se configurava como uma totalidade;
não existiam mais os subgrupos como na configuração da proposição na Figura 13.
Atores que polarizaram determinados votos nas configurações anteriores estão
efetivamente fora do grupo (auto-exclusão). O ator Rico, considerado um líder para a
representação política (Figura 14), obteve apenas dois votos como ator competente
após a fase de amadurecimento do grupo, quando os atores puderam conhecer
melhor uns aos outros e respectivas empresas. Este resultado pode ter decorrido da
participação limitada de Rico nos trabalhos realizados no período
33
. Confirmaram-se
duas lideranças Ativo e Lisa -, outras duas lideranças foram fortalecidas Fala e
Ponto - e duas novas lideranças emergiram ML e EQ.
33
Mais tarde verificou-se que Rico abandonou a representação política também, para cuidar da sua
empresa, compensando o tempo anterior dedicado à representação dos empresários.
110
Figura 17 - Proposição: Em quem você confiaria caso estivesse precisando se
aconselhar para resolver uma situação difícil na sua empresa?
Mais uma vez observa-se a tendência para a formação de uma rede mais
integrada em relação à Figura 13. Os diversos sociogramas foram discutidos com as
principais lideranças identificadas e entre os consultores. Todos concordaram que as
representações das relações nos diversos sociogramas correspondiam à realidade,
fortalecendo a legitimidade das lideranças emergentes.
4.1.2. Ouvindo a RETEX e o Discurso dos seus Integrantes
A primeira reunião da RETEX em janeiro de 2004, após a conclusão do
PE, teve como objetivo avaliar as mudanças proporcionadas pela rede. A análise a
seguir baseia-se em 14 depoimentos escritos pelos empresários na ocasião e em
dois depoimentos verbais, agregando as observações dos consultores sobre o
comportamento dos depoentes. Os exemplos utilizados foram reproduzidos na
íntegra, respeitando a formulação original.
Algumas mudanças são relatadas em depoimentos genéricos que
comparam o “antes” e o “depois” da RETEX. Sobre o “antes” existem queixas
111
pessoais e críticas a terceiros ou ao próprio processo grupal: "Eu ficava agoniado
com a confusão das reuniões”; “Todo mundo falando ao mesmo tempo”; “Havia uma
dificuldade de aproximação com alguns colegas do grupo”.
Tratando da formação da rede certos depoimentos abordam
especificamente o processo de comunicação adotado, que inicialmente foi feito pela
troca de correspondência eletrônica (e-mails) e depois pelo uso de sistema de
comunicação gerenciado pelo IEL. Uma das primeiras inovações da rede foi a
adoção de novas tecnologias da informação e telecomunicações. Os integrantes que
não usavam o computador aprenderam a fazê-lo. Por fim foi iniciada a construção de
um banco de dados integrado de fornecedores para dar início à Central de Compras.
Os resultados dessa inovação são registrados em depoimentos como: “Em 2003
todos os contatos, consultas eram feitos via fone. A empresa não dispunha de
conexão banda larga ou de um sistema informatizado capaz de gerar relatórios”;
“Central de compras, vendas, portal eram só sonho”.
Abordando o “depois da RETEX”, os depoimentos concentram-se no
aprendizado pessoal: “Pude observar e aprender com as outras confecções
parceiras como estas trabalhavam, estratégias usadas e muitas dicas envolvendo
produção/vendas”; “Pude visitar algumas empresas dos parceiros onde verifiquei os
melhores processos de trabalho e entendi a estrutura administrativa / comercial”. Do
aprendizado destaca-se o aprender pela convivência (learn by interacting), o
aprender a conviver e a trabalhar em rede de cooperação: “Não conhecia as
vantagens de se compartilhar fornecedores, soluções diversas, compras em comum,
experiências com funcionários, etc.”; “No início das reuniões as pessoas tinham
dificuldades de ouvir as outras; hoje esta questão melhorou”; “Aprendemos a
respeitar-nos em idéias e opiniões”.
O aprendizado elevou a competência de muitos integrantes da rede,
especialmente quanto ao desenvolvimento de competências gerenciais como a
participação em discussões, iniciativa para assumir responsabilidade e inovação de
estilo gerencial com a prática da delegação: “Abri espaços para meus funcionários
assumirem seus papéis e serem responsáveis pelas suas tarefas. Deixei de fazer e
estou aprendendo a deixar que façam”.
A adoção do planejamento estratégico é a inovação gerencial que emerge
com mais intensidade no discurso dos sócios da RETEX. Nas próprias palavras dos
112
seus integrantes: “Nunca sonhava em fazer um planejamento estratégico”. “Queria
ter visão, missão e código de ética dentro da minha empresa”. Enfim a “nossa visão
para 2008” estava clara nas falas das pessoas. O PE, elaborado para a RETEX
enquanto rede de cooperação foi adotado pela gestão de várias empresas; um
depoimento revela que uma empresa com dificuldades para definir linhas de
produtos e processo de vendas no começo de 2003, em janeiro de 2004, declarava-
se bem planejada e dirigida.
Similarmente um determinado empresário comentou que estava
procurando “uma atividade alternativa, que fosse paralela aquela de produzir
uniformes”. Salientou que o preço de vendas de uniformes é “achatado” pela
clientela que “compra uniforme de má vontade, porque é obrigada a comprar”. Nesse
período surgiu a idéia de fazer bancos de couro para automóveis, produto
diferenciado pelo qual o consumidor está sempre disposto a pagar mais. No caso o
empresário criou uma nova razão social para a atividade para permanecer como
pequena empresa segundo critérios de tributação.
A formação da rede foi direcionada para o “cooperar para competir”, ou
seja, uma atuação que fortalecesse cada integrante da RETEX -uma corrente forte
depende da força de cada elo- e proporcionasse à rede um posicionamento mais
competitivo no mercado através das parcerias, alianças estratégicas e outras formas
de cooperação que pudessem emergir. As parcerias efetivamente aconteceram. Os
depoimentos revelam “parcerias com integrantes do grupo em termos comerciais”,
“interação com novas empresas” e “melhor interação entre as empresas e
empresários participantes”. Essa nova ambiência gerou (e está gerando) resultados
como a indicação de clientes entre os integrantes do grupo e o surgimento de novos
negócios entre eles. Gerou também posturas pro ativas; os empresários passaram a
viabilizar novos negócios entre si e também a questionar antigas práticas gerenciais
e organizacionais. Gerou sentimentos que favorecem a cultura da cooperação e que
foram expressos como: “mais confiança”, “solidariedade”, “andarmos juntos e não
isolados” e “envolvimento”. Gerou o orgulho de pertencer a uma nova organização
com perspectivas de crescimento: “Achei que era um grupo forte e percebi que é
mais forte do que imaginava”; “Hoje podemos ter a base da APL do Uruguai”. Esse
orgulho foi também associado a um produto comentado gratuitamente em cadeia
nacional de televisão; em determinado programa de auditório o apresentador
comentou a qualidade e inovação que esse produto representava, sem qualquer
113
ação de merchandising, o que é mais usual nesses casos. Outro sentimento
favorável que transpareceu foi o da confiança nos resultados do trabalho de
constituição da rede e seus desdobramentos.
Essa percepção de sentimentos que favorecem a cultura da cooperação
foi compartilhada pelo consultor que estava apoiando a implantação do
Planejamento e Controle da Produção, PCP, nas empresas. Comparando o trabalho
em curso com o trabalho realizado a quatro anos na Bahia, ele realçou o
comprometimento do grupo atual em relação ao primeiro grupo, do qual alguns
integrantes do RETEX faziam parte. Nessa linha ocorreu um depoimento verbal que
sensibilizou aos presentes. Falava-se da solidão do pequeno empresário. Um dos
líderes do grupo, o único sócio de uma empresa familiar da segunda geração, foi
obrigado a adquirir as cotas dos irmãos para viabilizar a continuidade dos negócios.
Na ocasião ele confessou que até a formação da rede ele estava à procura de um
sócio e com a formação da rede ele podia dispor não de um, mas de 16 sócios.
Os sentimentos favoráveis à rede foram revelados até pela proprietária de
uma micro empresa enfrentando dificuldades para crescer, quando ela teve o
cuidado em dobrar seu depoimento escrito e em alertar o facilitador da reunião sobre
o perigo da divulgação do conteúdo, em que ela confessava que a sua empresa não
conseguira adotar as novas práticas. Com isso ela procurou evitar que o grupo fosse
contaminado pelo seu próprio sentimento de derrota.
Ao longo do período avaliado ocorreram dificuldades, como o crescimento
de pedidos e a falta de planejamento para atendê-los. Para enfrentar as dificuldades
e buscar incremento de produtividade, foram adotados novos processos,
principalmente em relação a compras, seleção de fornecedores, capacitação de
pessoal, controle de desperdícios, controle de estoques, dentre outros. Duas
práticas largamente adotadas foram permutas e empréstimos. Em síntese a análise
revela que mudanças favoráveis ocorreram e foram reconhecidas por 14 dos 15
depoimentos escritos.
114
4.2 A FORMAÇÃO DO APL
Enquanto a RETEX se constituía, os esforços dos Governos Federal e
Estadual, com o estimulo agências multilateriais, voltavam-se para a constituição de
Arranjos Produtivos Locais, APLs. No terceiro setor, entre outras iniciativas, criava-
se o Projeto de Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local, que pretende
“sistematizar uma avaliação abrangente dessas iniciativas e identificar medidas
capazes de remover os entraves para multiplicação virtuosa de mais experiências”
(INSTITUTO CIDADANIA, 2005, apud SILVA et ai)
Relembra-se aqui que a RETEX formou-se a partir da iniciativa de alguns
integrantes que vinham trabalhando lado a lado no sindicato patronal SINDVEST-,
no Condomínio Bahia Têxtil - um tipo de distrito industrial urbano - e no Consórcio
Bahia Beach - empreendimento voltado para exportação de moda praia. O
Condomínio situa-se na Rua Direta (também denominada Direita) do Uruguai no
bairro de Itapagipe, em frente ao Outlet Center, empreendimento que se iniciou
como um shopping center para vender confecções no atacado e posteriormente foi
sendo adaptado para operar como um shopping convencional. A maioria dos
integrantes da RETEX já estava instalada ou pretendia se instalar no bairro.
4.2.1. O Contexto de Itapagipe e o Bairro do Uruguai em Salvador, Bahia.
History matters (NORTH, 2002, p. vii)
Itapagipe é a denominação indígena de uma grande península na Baía de
Todos os Santos, descrita no idioma tupi-guarani como “pedra que avança para o
mar”. Segundo Balbi (2004?), em sua primeira fase econômica, durante os ciclos da
pesca e da baleia, o local abrigou aldeias de pescadores e artesãos, como também
casas de veraneio das famílias nobres de Salvador. Na segunda fase econômica
local, marcada pelo ciclo da indústria em Salvador, no fim do século XIX e início do
século XX, foi responsável pela implantação de importantes fábricas de
115
processamento de produtos agrícolas e têxteis, isso resultou também uma mudança
de perfil da população local, com aumento da população de baixa renda e
surgimento das vilas operárias. Nesta fase foi criado o primeiro Ciclo Operário do
Brasil.
Castellucci (2004, p. 62) evidencia que a Bahia foi centro por excelência
da indústria têxtil no país até a década de 1860. Em 1866, cinco (56%) das nove
fábricas têxteis brasileiras estavam na Bahia; quando o número de fábricas têxteis
subiu para 42 em todo o país, no período de 1866 a 1885, na Bahia este número
mais do que dobrou, passando para 12 fábricas. A maior dessas fábricas, a Empório
Industrial do Norte situava-se na Boa Viagem, em Itapagipe. Segundo o historiador,
a península de Itapagipe foi o primeiro centro industrial da Bahia, formado a partir
de meados do século XIX (p. 83).
Rômulo Almeida (1975?, p. 3)
34
, usando uma expressão popular, afirma
que o processo histórico da industrialização brasileira pôs de escanteio a Bahia.
Segundo o autor, a industrialização espontânea encontrou condições relativamente
melhores na Bahia, considerando ser esta a província mais populosa, de economia
mais diversificada, além de contar com a vantagem da comunicação marítima.
Deste processo de industrialização o autor destaca como exemplos mais
expressivos duas iniciativas da indústria têxtil: Valença Industrial e Empório. No
entanto, na medida em que se desenvolveu no país a industrialização induzida, as
condições do Estado já não se comparavam com as do Rio, São Paulo, Minas,
Pernambuco ou Rio Grande do Sul, gerando uma atitude de desencanto e de
descrença nas possibilidades industriais da Bahia (ALMEIDA, 1975 ?, p. 3) que nos
primórdios dos anos 50 imprimia à Bahia a pecha da terra do já teve (p.7).
A pecha de certa forma aplica-se para a indústria têxtil na Bahia e a
indústria de confecções em Itapagipe. No centro industrial representado pela
península instalaram-se várias fábricas de confecções nas décadas 1960 e 1970
com os incentivos fiscais entre elas duas grandes unidades: a Alfred e a Toster,
ambas do Rio Grande do Sul. O SENAI montou cursos para a formação de
costureiras. Hoje essas fábricas grandes de confecções estão fechadas. Da indústria
têxtil na península resta apenas a FAGIP, no Largo do Papagaio, que produz fios de
algodão com aplicação exclusiva em gazes medicinais.
34
Data provável, conforme ABNT NBR 6023 de agosto de 2002.
116
Devido ao aumento da população e da pressão dos moradores contra a
poluição das fábricas, e pelo surgimento dos pólos industriais de Camaçari e Simões
Filho, outras indústrias locais fecharam ou transferiram-se para outros locais,
deixando estruturas abandonadas e uma população de baixa renda desempregada.
No fechamento das fábricas de confecção várias rescisões trabalhistas foram pagas
com equipamentos; na falência da Alfred tentou-se por algum tempo manter a
operação da fábrica nas mãos de uma cooperativa formada pelos antigos
empregados.
A indústria de confecções não tem barreiras à entrada. Assim, é uma das
atividades mais procuradas no empreendedorismo de sobrevivência. Muitas pessoas
que saibam apenas cortar e costurar, ou vender bem peças de vestuário
enveredaram por este caminho. Algumas saíram da informalidade para constituir
empresas com a ajuda de parentes. Considerando a disponibilidade de mão de obra,
bem como de instalações para indústrias urbanas não poluentes, muitas empresas
de confecção se instalaram em Itapagipe. Daí a oportunidade para a instalação do
Outlet Center, em 1997 como um centro de distribuição por atacado, re-qualificando
a área e um galpão de depósito da Chadler, indústria de processamento de cacau
que deixou de operar na península por força de problemas ambientais.
Em frente ao Outlet Center operava a Serraria Bonfim. Quando a serraria
foi desativada criou-se a oportunidade de transformar o local em um centro produtor
de confecções, dando continuidade ao movimento de re-qualificação do bairro, tendo
como epicentro a Federação de Indústrias da Bahia, FIEB, da qual participa o
proprietário do Outlet e onde opera o sindicato patronal, o SINDVEST. O terreno
então ocupado pela serraria foi então destinado ao Condomínio Bahia Têxtil,
constituído em 1998 por 20 indústrias proponentes da cooperação empresarial.
Em 2003 já existia no local a Comissão de Articulação e Mobilização dos
Moradores da Península de Itapagipe (CAMMPI), cuja missão é “impulsionar o
processo de desenvolvimento local através da mobilização e articulação dos
moradores de Itapagipe” (CAMMPI, 2000, apud SILVA; MAGALHÃES; SANTOS,
2006). A CAMPPI é fruto de uma intervenção - Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Econômico Local -, iniciada em outubro de 1997, pelo Banco do
Nordeste/PNUD, em parceria com a Secretaria de Trabalho e Ação Social
SETRAS, contando com a cooperação de técnicos de diversas entidades. O
117
programa tinha como finalidade estimular os atores locais a participarem do
processo de desenvolvimento local de Itapagipe, definindo suas estratégias. No
âmbito do processo de capacitação desenvolvido no Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Econômico Local do Banco do Nordeste/PNUD foi criado o Fórum
de Desenvolvimento Sustentável de Itapagipe que promove um encontro anual como
evento que se insere na estratégia de desenvolvimento local da Península de
Itapagipe. Em 2005 a CAMMPI reunia 50 organizações da região de Itapagipe
(CAMMPI, 2005 apud SILVA; MAGALHÃES; SANTOS, 2006) com o objetivo de
expor, discutir e encontrar soluções para problemas da comunidade local. (SILVA;
MAGALHÃES; SANTOS, 2006)
Segundo Silva, Magalhães e Santos (2006), o impacto ambiental ocorrido
em Itapagipe durante o período industrial na década de 40 proporcionou um legado
danoso para a região, observando-se na ocasião que:
[...] o desemprego, a degradação ambiental, o abandono e o descaso
do patrimônio histórico local, a péssima qualidade dos serviços
turísticos, a ocupação desordenada, e os altos índices de violência e
pobreza constituem verdadeiras restrições para o desenvolvimento
desta localidade. Apesar - e, talvez, em função - desses fatores, essa
localidade registra forte mobilização social, constatada pelo grande
número de iniciativas populares, a saber, associações, cooperativas
e movimentos culturais. (SILVA; MAGALHÃES; SANTOS, 2006, p.
7).
A mobilização social citada acontecia (e deveria acontecer) no âmbito do
Fórum de Desenvolvimento Sustentável da Península de Itapagipe, promovido pelo
CAMMPI. Dagnino (2002, apud SILVA; MAGALHÃES; SANTOS, 2006) alerta que,
das mais de 100 organizações existentes na comunidade, somente 50 participam da
Rede CAMMPI; ainda assim, a CAMMPI assume no Fórum o papel de legítima
representante dessas organizações, o que não corresponde exatamente à realidade.
Empresários se queixam da atuação meramente voltada à política “eleitoreira” e
acabam tentando procurar outras instâncias para atender a demandas coletivas.
Essas circunstâncias no entorno criaram o contexto para o nascimento do
APL do Uruguai, com preocupações que extrapolavam a funcionalidade de uma rede
empresarial.
118
4.2.2. Histórico do APL de Confecções
Os APLs destacam-se como ferramentas importantes na elaboração de
estratégias da política industrial, pelo reconhecimento da dinamização
desencadeada por estas formações empresariais, sendo na sua grande maioria,
compostas por pequenas empresas. Trilhando a linha do fomento às pequenas e
médias empresas, PMEs, o Governo Federal contemplou o conceito de APLs como
estratégia de desenvolvimento no Plano Plurianual de Ações do Governo Federal,
PPA, referente ao período de 2004 a 2007. Na Bahia, a oportunidade foi esposada
pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação SECTI em conjunto com o
SEBRAE e o próprio IEL.
Em 2003 a recém criada Secretaria de Ciência, Tecnologia e Informação,
SECTI assumiu a liderança do programa de APLs tratando de identificar os arranjos
em potencial no Estado da Bahia, com a consultoria de Cruz e Passos (2006);
discute-se se o programa atendia ao movimento de aglomeração espacial,
econômico / empresarial ou vontade política de alguns atores do governo. Este caso
não discute a pertinência do programa; apenas constata a sua criação, que aguçou
o interesse da participação de muitos atores faculdades e universidades, inclusive
e que atiçou as empresas na busca de possíveis benefícios advindos do governo.
Uma providência dentro do programa foi constituir a Rede de Apoio aos Arranjos
Produtivos Locais do Estado da Bahia, com a concepção organizacional ilustrada na
Figura 18.
119
Figura 18 - Organização da Rede de Apoio aos APLs do Estado da Bahia. (Fonte:
SECTI, 2007)
A SECTI também contratou junto ao Núcleo de Política e Administração
em Ciência e Tecnologia, NACIT, da Escola de Administração da UFBA um curso de
especialização lato sensu com aproximadamente um ano de duração para formar
agentes de desenvolvimento dos APLs, de modo a capacitar os diversos
coordenadores dos arranjos. Segundo documentação disponível na SECTI a Rede
de Apoio operou entre outubro de 2004 até dezembro de 2006, no Programa de
Fortalecimento da Atividade Empresarial, para o qual previa a captação de um
empréstimo do BID no valor de US$ 10 milhões com a contrapartida de US$ 6
milhões, entre recursos do SEBRAE Nacional e do governo do Estado. O contrato
com o BID foi assinado em julho de 2006. Com a mudança do governo estadual em
janeiro de 2007 iniciou-se a discussão da mudança da Rede de Apoio para a
Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração, que até junho do mesmo ano não
estava definida. O site da Rede, que primou pela divulgação das informações, está
parcialmente inativo desde novembro de 2006, com algumas atualizações em março
de 2007.
O projeto APL de Confecções da Rua Direta do Uruguai, ou simplesmente
APL de Confecções, surgiu em paralelo ao andamento dos trabalhos finais da
RETEX. Esse projeto abraçou vários problemas que vinham sendo discutidos no
120
âmbito do Fórum de Desenvolvimento Sustentável, que tem uma área de
Fortalecimento dos Setores Produtivos para Geração de Trabalho e Renda. O
projeto compreendeu a realização de uma pesquisa para identificar a indústria de
confecções na península de Itapagipe, incluindo a atividade informal e o artesanato.
Os líderes da RETEX que optaram em participar do programa de APL acreditavam
que o mesmo proporcionaria a entrada de novos atores na rede, dinamizando a sua
ação. A Central de Compras, por exemplo, era uma iniciativa que necessitava de um
número maior de empresas associadas para aumentar o poder de barganha. Por
outro lado, havia pressões para a formalização da governança da RETEX, até então
exercida pela liderança de projetos determinados pelo Plano de Ação do
Planejamento Estratégico.
A formação da RETEX foi uma oportunidade para emergência de novas
lideranças empresariais e de candidatos para re-localizar sua indústria no
Condomínio Bahia Têxtil, na Rua Direta do Uruguai, em frente ao Outlet Center. Na
região firmava-se uma liderança feminina no Outlet Center, que apoiou um estudo
baseado em um modelo para caracterização de Arranjos Produtivos Locais,
divulgado pelo MCT/FINEP, permitindo-se adaptações para o enfoque específico e
particularidades da região do bairro do Uruguai.
Sob a inspiração daquela liderança, o APL da Rua do Uruguai foi o
primeiro arranjo da Bahia a ser aprovado, por conta de uma liderança forte,
esclarecida e bem articulada e também pela experiência empresarial exitosa com a
formação da RETEX. O programa de APLs foi concebido para fortalecer a rede
nascente com novos atores cuja ação articulada poderia beneficiar o cluster de
vestuário / confecções na cidade. Foram convidados a participar: a Prefeitura
Municipal, maior interessada no movimento de renovação urbana que já se fazia
sentir através de associações de moradores e outras organizações; o SENAI, com
amplas instalações na proximidade e cursos tradicionais voltados para formação de
mão de obra para o setor; faculdades e universidades; bancos de fomento e
comerciais, o governo federal através de dois ministérios, a Confederação Nacional
das Indústrias, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional,
USAID, entre outras. O programa foi formalizado com a assinatura do Protocolo de
Intenções para a Parceria Institucional que constituiu o APL de Confecções em abril
de 2004. (ver Anexo C)
121
O programa cadastrou cerca de 80 organizações do setor
35
entre
pequenas e micro empresas, PMEs, cooperativas e “empreendedores de
sobrevivência” atuando na informalidade. Em seguida realizou um trabalho de
divulgação do APL, sensibilização das empresas para obter novas adesões,
treinamento e desenvolvimento empresarial e formação de grupos de trabalho para
estabelecer a governança e identificar um projeto estruturante para o APL, que afinal
foi a Central de Design.
Na opinião da autora o maior pecado do programa foi permitir o
descompasso no ritmo das atividades da RETEX que estava à mercê da “animação”
e do apoio financeiro
36
dos patrocinadores para dar andamento a vários itens do seu
Plano de Ação, entre os quais o desenvolvimento do software para a Central de
Compras. Na constituição do APL previa-se que: i) cada participante da RETEX
estaria facilitando a “impregnação” de novos atores para a constituição do APL; ii)
em contrapartida o programa de desenvolvimento e intervenções nas respectivas
empresas, voltado para os antigos atores, integrantes da RETEX, avançaria, de
modo que os “sócios” se constituíssem uma referência de capacitação no arranjo.
Esta segunda ação ficou no plano das intenções.
A RETEX morreu de “morte natural”, mas deixou o APL de Confecções
como herdeiro. Um herdeiro com preocupações mais amplas e perseverança como
salientam Silva, Magalhães e Santos (2006, p. 10), analisando o desempenho do
Fórum de Desenvolvimento Sustentável da Península de Itapagipe.
A área de Fortalecimento dos setores produtivos para geração de
Trabalho e Renda é uma das que permanece ativa durante todas as
edições do Fórum, inclusive com avanços e desenvolvimento de
suas metas. A exemplo disso, em relação à formação de grupos
produtivos, a meta “elaboração e negociação de projetos”,
estabelecida em 2002, parece ser sobreposta pela meta
“fortalecimento de projetos”, em 2004. Podemos ainda citar que a
consolidação da APL de Confecções da Rua Direta Uruguai é um
grande avanço nesta área, devido ao aproveitamento de uma
vocação local, que desde o Plano Referencial, era visualizada como
uma potencialidade de algumas áreas da Península.
35
Discutiu-se inicialmente se a participação de empresas de fora (outros bairros) poderia ocorrer; se
tal não ocorresse, vários integrantes da RETEX seriam excluídos. Hoje integram o APL empresas
dos mais diversos bairros de Salvador e cogita-se a participação de empresas da cidade vizinha
(Feira de Santana, a 108 km de distância) para compor a cadeia produtiva que na prática já existia.
36
Cada empresa contribuía também com uma cota de custeio para participar do programa.
122
Em contrapartida às ações do Fórum a então gestora do APL, em carta de
28 de janeiro de 2005, convocava uma reunião do APL referindo-se ao Programa de
Re-qualificação da Península de Itapagipe, do qual pretendia que os empresários
participassem.
Em junho de 2007 a governança do APL estava indefinida: a liderança
feminina havia renunciado à posição de Coordenadora do APL por conta da ação do
SINDVEST que não considerava legítima a direção de uma comerciante em um APL
que deveria se caracterizar primordialmente pela participação de indústrias.
4.3 AS REDES INTERORGANIZACIONAIS NO APL, INOVAÇÕES, MUDANÇAS
INSTITUCIONAIS E AUTO-ORGANIZAÇÃO.
Formaram-se realmente redes interorganizacionais no seio do APL do
Uruguai? Examina-se aqui esta questão, tomando como referência a Rede de Apoio
aos APLs no Estado da Bahia e o próprio APL do Uruguai ou APL de Confecções,
observado sob a ótica da autora e pela pesquisa de Freitas (2006).
4.3.1 A Rede de Apoio
A Rede de Apoio aos APLs do Estado da Bahia, no seio da SECTI, previa
a participação de oito atores, todos participantes do governo; nunca previu a
participação dos empresários ou instituições de ensino e pesquisa. Com base nas
atas de reuniões publicadas no site da Rede de Apoio (ver Apêndice E), elaborou-se
a síntese das reuniões com pauta genérica na Quadro 2, ou seja, tratando dos
assuntos referentes a todos os APLs e tratando especificamente do APL de
Confecções. A SEPLANTEC jamais participou das reuniões da Rede de Apoio e a
SEAGRI participou apenas da primeira reunião com pauta de caráter geral.
123
Ano N° de Reuniões Reuniões com pauta
genérica
Reuniões para
APL de
Confecções
Reuniões para
Demais APLs
2005
14 (entre
novembro e
dezembro)
1 1 12
2006
22 (sendo 21 de
janeiro a agosto)
2 1 19
Quadro 2 - Síntese das Reuniões da Rede de Apoio (Fonte: elaboração própria)
Observa-se que houve um esforço nos dois primeiros meses da criação
da Rede com 14 reuniões para discutir dez diferentes APLs que foram priorizadas
para entrar no programa junto ao BID. Entre janeiro a agosto do ano subseqüente as
reuniões aconteceram no ritmo de 2,6 reuniões ao mês e simplesmente cessaram
nos últimos quatro meses do ano, após a assinatura do contrato com o BID em julho
e com a perspectiva de um novo governo estadual.
A participação das entidades de ensino, não prevista pelo modelo
organizacional concebido, aconteceu na primeira reunião com a presença de dois
representantes da UNIFACS e a autora, representando informalmente a UFBA. Esta
representação prosseguiu por mais duas reuniões. Embora houvesse a informação
verbal que o Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social, CIAGS, da
UFBA estaria participando dos trabalhos, nunca foi registrada a presença de
qualquer representante do mesmo nas reuniões da Rede.
Desde a primeira reunião do APL de Confecções menciona-se a tentativa
de construir o APL com a participação das indústrias de Feira de Santana, distante
108 km de Salvador, com as quais os empresários de Salvador mantêm negócios,
especialmente de facção (contratação parcial ou total para fabricação de
determinados produtos). Verificou-se que na reunião de 14 de março de 2006
mudou-se a denominação original para APL da Moda. Promoveu-se um encontro
para a sensibilização dos empresários de Feira de Santana e registrou-se a
aquisição de um software de gestão no início de 2007 para várias empresas a partir
de iniciativas dos empresários feirenses.
A ata da primeira reunião também registra que a então Coordenadora do
APL, líder feminina, fez restrições ao modelo de governança que estava sendo
124
concebido para o APL de Confecções, argumentando as peculiaridades do arranjo.
A segunda reunião do APL menciona estágio de desenvolvimento do Portal da Moda
pela SECTI, que nunca chegou a ser lançado.
Se o APL de Confecções era o “carro chefe” do programa, por que teria
sido objeto de apenas duas reuniões da Rede de Apoio? A SECTI confiava na
governança que se desenvolvia entre os empresários? As entrevistas e a
documentação reunida diretamente no lócus da coordenação e discutidas adiante
revelam que havia vida própria no APL.
4.3.2. O APL de Confecções
O Protocolo de Intenções para a Parceria Institucional que constituiu o
APL de Confecções foi assinado em abril de 2004.
A concepção de APLs, tanto da SECTI como do SEBRAE, prevê a
questão de governança. No APL de Confecções a governança, tacitamente, foi
assumida por uma liderança feminina, que já havia apoiado os estudos para a
constituição do mesmo, dispunha das instalações do SEBRAE no Outlet Center para
reuniões na comunidade e, como empresária esclarecida, competente e
comprometida com outras iniciativas de cooperação, voltava seu olhar para um
território ampliado. Pessoalmente uma jovem carismática, bem relacionada. Enfim,
uma liderança natural que emergia no setor e no território.
Na página principal do site do Outlet Center (2006/2007) existe um ícone
que direciona para a página de “responsabilidade social” que apresenta o
PROGRAMA DE REQUALIFICAÇÃO DA PENÍNSULA DE ITAPAGIPE, do qual
fazem parte os seguintes atores:
Bahia Outlet Center, Condomínio Bahia Têxtil, Sebrae, Sindvest,
Senai, IEL/FIEB, PROMO, Secretaria da Indústria Comércio e
Mineração - SICM, SENAC, UNIFACS, UCSAL, Associação
Comercial da Bahia, Desenbahia, UFBA/NEPOL, UCSAL, SEPLAN,
Banco do Nordeste, Secretaria de Trabalho e Ação Social
SETRAS, Secretaria Extraordinária de Ciência, Tecnologia e
125
Inovação - SECTI e Rede de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais
do Estado da Bahia.
Naquela página, após a apresentação do Programa, está o selo do Pólo
de Confecções Rua do Uruguai, o direcionamento para o “Arranjo Produtivo de
Confecções da Rua do Uruguai” e uma lista de informes, publicados entre março de
2005 e março de 2006. Na página do Arranjo encontra-se o “Programa de
Desenvolvimento do APL de Confecções, Rua do Uruguai e Entorno”, sem data de
publicação.
No Outlet Center foram localizadas 16 atas / memórias de reuniões no
período de setembro de 2004 (anterior à Rede de Apoio) a novembro de 2005
(quando começa a operar a Rede de Apoio). A primeira ata de reunião, em 2 de
setembro de 2004 tem como pauta “planejar ações de apoio à comercialização no
APL”; a última, em 17 de novembro de 2005, mais de um ano depois, trata do “!°
encontro para estruturação da Central de Negócios do APL de Confecções”. Isso dá
uma idéia do ritmo das ações entre os empresários, bem como da tendência para
formalizar uma parte da governança.
A estruturação no APL foi assunto pautado em oito (50%) das reuniões.
Na primeira delas, em 27 de setembro de 2004, acontece como uma oficina para
discussão dos núcleos setoriais, dos quais foram identificados aqueles no quadro 3:
Núcleo Setorial
Uniformes / Acessórios
Street Wear/ Sport Wear/ Esporte Fino / Clássico
Moda Praia e Ìntima
Quadro 3 - Proposta para Núcleos Setoriais no APL do Uruguai (Fonte: elaboração
própria)
Esta estruturação responde a um anseio observado entre os participantes
da RETEX, que era o de constituir grupos mais uniformes dentro do setor, como já
ocorria com o grupo de moda praia, criado antes da própria RETEX, e que havia
resultado em um consórcio para exportação, o Bahia Beach. A idéia dos núcleos
resultou no desdobramento do APL em várias redes como será visto a seguir, nas
ações do governo para organização do APL, com ênfase na questão de governança.
126
A reunião de 1° de março de 2005, no SEBRAE do Pelourinho, trata da
apresentação do Programa de Fortalecimento da Atividade Empresarial pela SECTI,
a ser executado em parceria entre o FIEB / IEL, SEBRAE e FAPESB, com os
seguintes componentes indicados no Quadro 4.
Componente N° Tema Sub-Componente
1
Mobilização e Articulação da
Governança e dos Núcleos
Setoriais
Articulação e Fortalecimento
da Governança
Desenvolvimento das Redes
Associativas Empresariais
Construção e
Compartilhamento da Visão
Estratégica dos APLs
Planejamento Estratégico
2
Implementação de Ações
Sistêmicas para Fortalecimento
da Capacidade Competitiva e
Inovadora dos Sistemas Locais
Elaboração de Estudos Pré-
operacionais
Integração Demanda Oferta
3
Ações Diretas para
Fortalecimento da
Competitividade dos APLs
Implementação de Plataforma
de Projetos
Formação Empresarial e
Profissional
Acesso a Mercado
Operacionalização dos
Fundos
4
Gestão do Programa,
Acompanhamento de Progresso,
Monitoramento, Avaliação e
Disseminação.
Quadro 4 - Componentes do Programa de Fortalecimento da Atividade Empresarial
(Fonte: elaboração própria)
Nessa mesma reunião a Coordenadora do APL propôs para 2005 as
ações e departamentalização resumidas no Quadro 5, a seguir.
127
Ação N°
1 Fortalecimento da Governança do Projeto
2 Desenvolvimento e Fortalecimento das Redes Empresariais (Núcleos
Setoriais).
3 Desenvolvimento e Fortalecimento de sete Grupos Técnicos, a saber:
GT1. Urbanização e Infra-Estrutura
GT2. Crédito e Financiamento
GT3. Marketing / Acesso a Mercado
GT4. Capacitação Tecnológica
GT5. Capacitação Empresarial
GT6. Qualificação Profissional
GT7. Políticas Públicas e Fortalecimento do Capital Social.
Quadro 5 - Ações Propostas para o APL em 2005 (Fonte: elaboração própria)
O APL previa a operação das Redes ou Consórcios relacionadas no
Quadro 6, mesmo sem identificar algumas das lideranças:
Redes ou Consórcios Coordenação
Rede Moda Bahia Eunice, Célia e Yeda
Rede Márcia Ganem Márcia Ganem e Lurdes Imbassahy
Rede Goya Lopes Goya Lopes
Rede de Uniformes Não Identificada
Rede de Designers Erick Oliveira
Consórcio Ybá Não Identificada
Consórcio Texbahia Loyola
Consórcio Sol Bahia Não Identificada
Consórcio Ponto e Nós Maristella Lordello e Rosemma Maluf
Quadro 6 - Redes ou Consórcios Previstos para Operar no APL (Fonte: elaboração
própria)
Entre os Quadros 5 e 6 observa-se dois critérios de departamentalização,
envolvendo um número relativamente reduzido de participantes, conforme atas das
reuniões. Os Grupos Técnicos foram formados por função e as redes ou consórcios
por produtos.
Ainda quanto à estruturação o APL previa um Conselho Empresarial;
apenas uma ata de reunião deste Conselho foi identificada, o que não permitiu
verificar a sua formação ou acompanhar sua atuação.
128
As atas e documentação do APL de Confecções estão desorganizadas,
algumas sem datas, elaboradas em padrões diferentes umas das outras. Dessa
documentação é possível apreender que havia um esforço para encontros regulares,
conceituação da SECTI para o programa, tentativas de estruturação e participação
de um número razoável de empresas no total de reuniões; contudo, no 1° Encontro
para a Estruturação da Central de Negócios em 28 de novembro de 2005,
compareceram apenas 11 das 17 empresas inscritas no projeto, número similar
àquele dos integrantes da RETEX que representavam 35% dos integrantes nessa
nova iniciativa.
As observações e entrevistas indicaram que no APL houve o
estreitamento das relações de alguns empresários que já participavam da RETEX, a
inclusão de novos empresários e o afastamento de outros e a participação mais ativa
dos agentes financeiros, notadamente a DESENBAHIA, o Banco do Brasil, o Banco
do Nordeste e a Caixa Econômica Federal. A Figura 19 demonstra a participação
desses atores em três redes distintas e no SINDVEST.
Figura 19 - Redes Interorganizacionais relacionadas ao APL de Confecções. (Fonte:
Elaboração própria)
129
Dos integrantes da RETEX, onze empresas passaram a integrar a direção
do SINDVEST, promovendo uma renovação no sindicato. Oito dessas empresas
passaram a integrar o APL. O SEBRAE e o IEL, que já haviam apoiado a RETEX
continuam participando. Oito organizações participaram tanto da Rede de Apoio
quanto do APL: SECTI, SICM, PROMO, SENAI, BNB, DESENBAHIA, BB e UFBA.
Quatro organizações não se integraram ao APL através da Rede de Apoio:
SETRAS, SEAGRI, SECOMP e FAPESB.
4.3.3. Inovações, Mudanças Institucionais e Auto-Organização.
Analisando a atuação da Rede de Apoio observa-se uma inovação
gerencial: a publicação sistemática dos principais documentos da rede no site, com
acesso público. Isso gera transparência na ação e permite uma avaliação do projeto,
como está sendo feita neste trabalho. A Rede de Apoio tentou inovar identificando
uma Central de Design como projeto estruturante para o APL; infelizmente esta ação
continuava no papel. Segundo os técnicos da SECTI existiam ainda recursos do BID
para aplicação no APL, mas isso só seria feito com a ação dos empresários,
considerada “tímida”
37
pelos entrevistados. Em outras palavras, os técnicos do
governo alegavam que não havia organização empresarial e sim organização
voltada quase que exclusivamente para o uso de recursos do governo, sem
continuidade quando os recursos se extinguiam.
Entre os empresários foram percebidas poucas inovações além daquelas
observadas na RETEX, exceto a tentativa de operar em pequenas redes, consórcios
ou parcerias com o governo. Uma das pequenas redes formadas foi a Rede
Empresarial Goya Lopes, tendo como líder a designer Goya e como integrantes a
sua empresa, a Didara e duas cooperativas de costureiras no sentido de expandir o
mercado; as criações voltadas até então para o vestiário feminino, com as
cooperativas aliadas está desenvolvendo produtos para a hotelaria: cortinas,
37
A expressão usada tenta minorar o impacto dos adjetivos “ineficiente” ou “ineficaz”.
130
colchas, toalhas de mesa, jogos americanos, redes, etc. Uma parceria formada com
o governo municipal foi a Central do Carnaval, a operação conjunta de algumas
empresas, num grande espaço de propriedade da Prefeitura, para a produção
conjunta de algumas pequenas empresas que sozinhas não conseguem atender
grandes pedidos para festas, como acontece com os abadás. Uma última inovação
foi verificada a partir da liderança dos empresários de confecções de Feira de
Santana que selecionaram um programa informatizado de gestão integrada; com o
apoio do SINDVEST; com esta iniciativa, alguns empresários do setor em Salvador e
Feira adquiriram e implantaram o programa no início de 2007.
A pesquisa realizada por Freitas (2006) envolvendo 36 empresas do APL
de Confecções revelou as seguintes percepções dos empresários sobre aquelas
ações que deveriam ser tomadas para promover inovações:
30
16
5
11
18
9
13
12
25
15
32
22
6
20
31
25
18
27
23
24
11
21
4
14
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
IMPLEMENTAÇÃO DE
CERTIFICAÇÕES
IMPLEMENTAÇÃO DE
TÉCNICAS DE GESTÃO
INOVAÇÕES DE DESENHO
MELHORIA DA EMBALAGEM
MUDANÇAS NA ESTRUTURA
ORGANIZACIONAL
MUDANÇAS NAS PRÁTICAS DE
COMERCIALIZAÇÃO
MUDANÇAS NAS PRÁTICAS DE
MARKETING
PROCESSOS TECNOLOGICOS
NOVOS PARA A EMPRESA
PROCESSOS TECNOLOGICOS
NOVOS PARA O SETOR
PRODUTO NOVO PARA A
EMPRESA
PRODUTO NOVO PARA O
MERCADO INTERNACIONAL
PRODUTO NOVO PARA O
MERCADO NACIONAL
FALSO
VERDADEIRO
Figura 20 - Ações para introdução de inovações (Fonte: FREITAS, 2006, p. 108)
Observou-se nesta pesquisa a preferência da “inovação de desenho” (31
empresas ou 86%) seguida das “mudanças nas práticas de comercialização” (27
empresas ou 75%). As “mudanças na estrutura da organização”, que poderiam ser
observadas como inovação gerencial, divide exatamente ao meio as percepções dos
empresários.
131
Se as inovações são poucas ou apenas incrementais, por outro lado, o
comportamento dos empresários que se capacitaram para trabalhar em regime de
cooperação é notadamente diferenciado do comportamento daqueles que não
passaram pelo processo de sensibilização e desenvolvimento para operar em rede.
A autora teve a oportunidade de observar uma reunião com a presença de uma
dupla “desenvolvida” de empresários, uma empresária “verde” (que não havia
experimentado o processo para operar em rede) e dois consultores; a diferença de
comportamento entre os empresários é flagrante; os primeiros conseguem ouvir,
argumentar e negociar e a segunda nem ao menos consegue ouvir.
Três mudanças institucionais importantes ocorreram no plano dos
governos. A primeira, mais diretamente ligada à ação empresarial, foi a criação da
linha de crédito denominada CrediAPL, destinada exclusivamente ao APL de
Confecções. A criação dessa linha de crédito desafiou as normas vigentes para
garantias reais, excessivamente burocráticas. Alguma confiança no trabalho
cooperado do APL passou a ser considerada uma variável econômica. A segunda
voltada para um território além de Itapagipe, foi a redução de dois pontos
percentuais do Imposto sobre Serviços, ISS, devido pelas empresas localizadas na
Cidade Baixa. A terceira possivelmente a mais importante, foi a aproximação entre
técnicos do governo e a classe empresarial, mesmo em um setor tradicional, de
pequena relevância para a economia estadual.
No plano da auto-organização observou-se a emergência de uma
liderança empresarial que assumiu tacitamente a coordenação do APL e os
problemas entre a evolução natural de uma organização versus as tentativas de
implantar um modelo pré-concebido teoricamente na governança do APL.
A pesquisa realizada por Freitas (2006) revelou uma série de micro-redes
(ver Anexo D) em determinadas ações que envolvem empresas de um APL, como
vendas, compras, produção conjunta, etc.
132
4.4 AS REDES INTRA-ORGANIZACIONAIS
Ao longo da implantação e consolidação do APL a autora colhia informações
aleatórias acerca do desempenho de algumas empresas e de alguns empresários,
na medida em que experiências eram discutidas e analisadas. Na aprovação do
Programa Empresa Competitiva Bahia, com recursos do BID para os APLs na Bahia,
surgiu a oportunidade de analisar as redes intra-organizacionais de duas empresas
que já participavam da rede empresarial desde a constituição da RETEX. A análise
foi feita com dois objetivos: i) verificar a estrutura real dessas empresas
considerando que “uma rede é tão forte quanto cada um dos seus nós”; ii) avaliar a
propriedade da metodologia para as redes intra-organizacionais.
A primeira empresa foi denominada ATIVA e a segunda CAMPEÃ; no período
2003 2004 ambas eram consideradas empresas bem sucedidas no ramo de
indústria de vestuário e se situavam no mesmo bairro, onde há razoável oferta de
mão de obra, tradição da cadeia têxtil e ação do SENAI. Nessas empresas foram
mapeadas: i) a rede de confiança; ii) a rede de amizade; e a rede de comunicação,
envolvendo os principais líderes dessas empresas, adotando como referência a
proposição de Krackhardt e Hanson (1993) de que são estas redes informais que
efetivamente estruturam a organização e utilizando como instrumento o questionário
no Apêndice D.
4.4.1. O Caso da Ativa
A ATIVA estava em plena adolescência em 2006, com 15 anos de idade e
problemas típicos desta fase de vida. Foi uma criança prodígio e iniciou a
adolescência como tal, recebendo prêmios, certificação ISO, crédito fácil para
financiamentos e constituindo-se uma referência (benchmark) para seus pares. A
posição de Ativo nas redes interorganizacionais da RETEX sempre foi de liderança,
bem como da sua esposa e sócia. Ambos têm nível superior. Em 2005 a ATIVA tinha
90 pessoas trabalhando e em fins de 2006 apenas com 50; nesse período a
133
empresa enfrentou vários problemas financeiros e organizacionais, desestruturando
sua organização. A pesquisa na ATIVA foi realizada em janeiro de 2007, quando a
empresa estava tentando recompor sua equipe de direção e coordenação. Os 12
atores selecionados pela direção (homens e mulheres inclusive os proprietários)
ocupam a direção, gerência ou coordenam as principais atividades; receberam
codinomes de partes de uma orquestra; foram admitidos os votos para atores não
votantes.
Na ATIVA foram levantadas as redes de confiança, amizade e de
comunicação na mesma época, em plena crise organizacional e de gestão da
empresa. Os grafos mais representativos estão no próprio texto enquanto os demais
se encontram nos Apêndice F.
A rede de confiança foi analisada em três situações; i) a primeira, Figura
21, representa todos os atores votantes e votados; ii) a segunda, Figura 22 é uma
rede centrada nos sócios, a rede de confiança que suporta / sustenta os
proprietários; iii) a terceira rede, Figura 23, revela os vazios estruturais quando são
removidos os votos de confiança dados pelos proprietários.
134
Figura 21- ATIVA: Rede (completa) de confiança
Legendas:
Votantes Votados
Votados recém admitidos Proprietários da empresa votados
Dos 12 votantes, 11 disseram confiar nos proprietários, sendo que sete
confiam em Maestro e quatro em Batuta, contrariando por completo a expectativa do
líder, do sexo masculino, reconhecido e respeitado nas redes interorganizacionais.
Na primeira entrevista com Batuta ele havia confessado: “Eu não me sinto bem
aqui.” Talvez por isso ele aja com agressividade quando frustrado, contrariado ou
desobedecido, o que justifica parcialmente a dificuldade que a empresa vem
experimentando em formar e manter equipes. Observa-se que a posição de
confiança que Batuta tem equivale à de Baixo, Violoncelo e Bateria que não fazem
parte da sociedade, nem da coordenação. No entanto desempenham papéis de
ligação (pontes ou liason) para a comunicação na estrutura organizacional; ou seja,
é importante que sejam pessoas “de confiança” porque transitam muito dentro da
empresa. Sax e Violino não recebem votos, o que é preocupante considerando as
135
funções que exercem na produção; ocupam posições de chefia, mas não são
pessoas consideradas confiáveis nem pelos proprietários, que deram a maioria dos
votos, nem dos seus pares.
Figura 22 - ATIVA: Rede de confiança que suporta os proprietários
Legendas:
Votantes Votados
Votados recém admitidos Proprietários da empresa votados
A análise ego centrada nos proprietários e ilustrada na Figura 22 revela
que a rede de confiança que os suporta é formada por apenas seis
38
, ou 60% dos
votantes que são empregados, que depositam votos em Maestro. Batuta elege oito
pessoas como “de confiança”, mas recebe apenas três votos dos empregados,
sendo apenas dois recíprocos.
38
Não considerado o voto de Batuta, por ser sócio.
136
Observou-se que a admissão do Oboé se deu exclusivamente pelo critério
de confiança e procedência da mesma região onde os sócios nasceram; esta
pessoa, no entanto, não permaneceu ao menos um mês na empresa. Pratos,
também recém admitido na empresa por critérios de seleção profissionais (testes
psicológicos, entrevistas e referências) ainda não recebe o voto de confiança dos
proprietários.
Figura 23 - ATIVA: Vazios estruturais na rede de confiança.
Na Figura 23. é possível observar os vazios estruturais que surgem na
rede de confiança uma vez que se eliminam as ligações promovidas pelos
proprietários; ou seja, na ausência dos mesmos não existe confiança entre vários
colegas de trabalho. Do ponto de vista dialético, os vazios são também
oportunidades para estabelecer ligações. O maior problema encontrado nesta rede é
o isolamento de Sax do qual depende todo o pessoal de produção.
137
A rede de amizade (ver Apêndice F) levantada na ocasião na ATIVA era
uma rede fraca, com um mínimo de reciprocidade, isolamento de vários atores e até
dos próprios sócios, amigos entre si. As amizades estão impregnadas em Flauta,
responsável pelas finanças e pessoa que efetua diretamente os pagamentos e
Sinos, responsável pelo transporte externo de pessoas e materiais; em seguida
aparece Clarim, pessoa responsável pela gestão de pessoal que está sendo
dispensada da empresa por incompetência profissional, segundo alegação dos
proprietários.
A rede de comunicação, Figura 24, foi analisada exclusivamente quanto
aos vazios estruturais ou a dependência da comunicação exercida pelos sócios.
Figura 24 - Vazios estruturais na rede de comunicação da ATIVA
A rede revela uma estrutura de comunicação centrada exclusivamente
nos sócios, sem qualquer comunicação dos demais integrantes da empresa entre si.
Ou seja, na ausência dos sócios, ninguém se fala, ninguém troca informações,
instruções. Como os sócios estavam frequentemente ausentes da empresa porque
eram diretamente responsáveis pelas vendas e pelas articulações com o ambiente,
138
esta é uma situação grave. A centralização é um ônus para os proprietários e uma
barreira ao desenvolvimento do seu pessoal.
Obviamente o desempenho empresarial não pode ser atribuído
exclusivamente à estrutura, mas esta sustenta a organização. O desempenho da
ATIVA em 2006 foi fraco, inclusive por estrutura organizacional inadequada e o
mapeamento das redes comprova a fragilidade da estrutura informal. Seria a ARS
(SNA) apenas comprobatória de outras evidências? No caso específico a aplicação
da ARS (SNA) facilitou o diagnóstico para uma consultoria em andamento na ATIVA
e foi útil na reorganização, permitindo a revisão do posicionamento de atores. A
chefia exercida por Sax, por exemplo, estava sendo questionada; enquanto Maestro
a apoiava, até porque foi responsável pela sua promoção de operadora para chefe
de produção; Batuta não estava satisfeito com a promoção; a consultoria solicitou a
avaliação psicológica de Sax, que a revelou como uma pessoa competente, porém
com ambição de trabalhar na área de saúde e não na área de confecções. A ARS
(SNA) facilitou portanto o prognóstico para o desempenho de uma estrutura informal
na ATIVA que conduzisse à reorganização da empresa.
4.4.2 O Caso da Campeã
A CAMPEÃ iniciou suas atividades como empreendedorismo de
sobrevivência, profissionalizou-se na segunda geração e no início de 2007, com 18
anos de vida está começando a preparar a terceira geração. Seu principal dirigente
começou a trabalhar cedo ajudando os pais e por isso interrompeu os estudos. Há
alguns anos ele fez vestibular, ingressou em universidade privada e desde então,
tem buscado consultoria para realizar o planejamento estratégico e dar apoio ao
marketing da empresa. Uma das ações estratégicas foi separar os negócios entre os
parentes, passando o negócio inicial para mãe e filha e ficando um filho no negócio
da CAMPEÃ que é objeto desta análise; neste passaram a trabalhar posteriormente
dois netos, filhos do principal dirigente. Nesse processo de desconcentração Motor
(codinome atribuído ao principal dirigente) admitiu o seu chefe de produção como
sócio. Esta parceria permitiu que Motor se ausentasse da fábrica para dirigir a
139
expansão das vendas e negócios em geral, como a participação em uma central de
compras em São Paulo para negociar com o principal fornecedor de tecidos.
Na CAMPEÃ, foram também mapeadas as redes de confiança, de
amizade e de comunicação. A empresa contava então com 308 pessoas. A direção
indicou 42 pessoas que deveriam responder aos questionários estruturados; o neto
mais velho que participou ativamente da pesquisa, pediu que os atores recebessem
codinomes de partes de um carro. Permitiu-se que os atores votassem em pessoas
fora do grupo que estava respondendo o questionário.
A rede de confiança envolvendo todos os atores na Figura 25 revelou-se
densa.
Figura 25 - Rede de Confiança na CAMPEÃ (rede total)
Legendas:
Votantes Votados
140
Na coluna à esquerda estão as pessoas que não responderam ao
questionário, ou seja, foram votados mas não votantes. Mesmo em grafo
aparentemente confuso já se pode distinguir a liderança de Motor, o principal
proprietário seguida da liderança do seu sócio Transmissão, da sua gerente de
vendas, Acelerador, de Buzina, gerente de produção, Tambor de Freio, encarregado
de compras, Burrinho, encarregado do setor financeiro e Chassis, herdeiro de
Transmissão. Para facilitar a análise, o primeiro passo foi verificar as relações
mútuas de confiança, eliminando-se as pessoas que não faziam parte do grupo
destacado para responder ao questionário, formado pela administração de topo e
por mais algumas pessoas que se relacionam com todos os demais e têm fácil
acesso a todos os setores e informações, como é o caso de Embreagem e que, por
hipótese, poderia ter influência na rede de comunicação; este ator afinal ficou
isolado dos demais, possivelmente por características pessoais e pela distância do
poder, pois exerce uma função subalterna. A rede resultante, Figura 26, foi
denominada de rede de confiança mútua.
Figura 26 - Rede de Confiança Mútua na CAMPEÃ.
141
O mapeamento na Figura 26 permitiu confirmar as lideranças
consagradas e identificar as lideranças emergentes que se encontram nos mais
diversos departamentos produção, administração, finanças e vendas com os
atores Buzina, Caixa de Marcha, Tambor de Freio, Chassis e Bloco do Motor.
A rede seguinte na Figura 27 demonstrou uma maior dispersão entre os
laços de amizade, mesmo reforçando a posição de Motor. Seu filho Volante é bem
votado; contudo Chassis, filho de transmissão mostra-se mais popular, o que sugere
que a terceira geração merece atenções para cuidar das relações entre os sócios
majoritários em capital econômico-financeiro e capital “social”. Novos atores se
destacam como é o caso de Satélite, Radiador, Junta Homocinética e Bico Injetor. É
interessante observar que Buzina, gerente de produção, vota em apenas três
pessoas, mas recebe apenas dois votos; ela é considerada uma pessoa “de
confiança”, respeitada pelos seus pares mas não uma pessoa
“amiga”.
Figura 27 - Rede de Amizade na CAMPEÃ
Legendas:
Sócios da primeira geração Segunda geração
142
A análise da rede de comunicação, Figura 28, revelou que a empresa é
vendedora, pois a comunicação está centrada em Motor, que atua como vendedor
para todo o país negociando contratos com grandes empresas e nas suas gerentes
de venda Acelerador, para o segmento de vestuário e Volante do Motor, para o
segmento couro, uma nova vertente para o crescimento dos negócios. A seguir
observa-se a concentração de comunicações em Burrinho e Radiador, ambos do
setor financeiro e para a surpresa da direção surgiu a figura de Combustível.
Figura 28 - Rede de Comunicação Mútua na CAMPEÃ
Explica-se a surpresa. O segmento couro era novo e merecia muitos
investimentos da direção, inclusive investimentos na formação da equipe. Primeiro
porque o negócio tem mercado promissor e segundo porque a produção é feita por
encomenda o que exige trabalho coordenado entre as equipes de venda, com o
143
detalhamento de modelos componíveis em cores e formas, modelagem, corte,
costura e acabamento. O destaque de Combustível surgia como fruto dos esforços
da direção para coordenar os trabalhos da equipe no departamento de couro,
privilegiando mais os processos interativos do que a estrutura; não havia, por
exemplo, um organograma para o departamento e a coordenação era mais tácita do
que delegada formalmente, segundo depoimento da entrevistada responsável por
RH em 04 de julho de 2007. Daí surgiu a demanda para que se realizasse uma
análise das redes exclusivamente entre os atores desse departamento. Motor não
participou desta etapa do trabalho como votante porque estava ausente. De
qualquer forma desejava-se levantar elementos para verificar seu papel no
departamento que pretendia ter maior autonomia. A análise gráfica das três redes
(ver Apêndice G) confirmaram: i) o caráter “vendedor” da empresa, com uma rede de
confiança ancorada em Motor, Caixa de Marcha e Direção Hidráulica, ou seja o
proprietário-vendedor e os atores responsáveis por vendas, no estado e fora do
estado; ii) uma rede de amizade densa que praticamente excluía Motor; estava claro
que ele não era considerado “amigo” no grupo; iii) uma rede de comunicação que
confirmava a descoberta da posição estratégica assumida por Combustível nas
comunicações, o que agradava a direção de RH que estava apostando na
organização processual e, na mesma rede o posicionamento de Freio de Arrumação,
codinome eleito pela responsável por RH e Freio de Mão, responsável pela
produção do departamento de couro, ao lado de Combustível.
Na CAMPEÂ os atores estão em geral “impregnados” (embedded) na
estrutura organizacional, ou seja, se repetem nas diversas redes, revelando a
redundância no sistema. Buscou-se analisar os vazios estruturais na rede de
confiança eliminando-se as figuras de Motor e de Transmissão. O grafo resultante,
Figura 29 revelou que, embora alguns atores Carter, Colar e Embreagem- ficassem
isolados nessa situação a estrutura resultante tem possibilidades de se sustentar,
pois existem outras ligações entre os atores.
144
Figura 29 - Vazios Estruturais na Rede de Confiança
4.5 ANÁLISE DA IMPREGNAÇÃO E VAZIOS ESTRUTURAIS NAS REDES
INTERORGANIZACIONAIS
Esta análise foi feita em momentos distintos em níveis distintos dentro da
RETEX e, posteriormente, do APL, a partir da Rede de Apoio, utilizando também as
contribuições oriundas da pesquisa de Freitas (2006).
Na RETEX foram observados no momento inicial três grupos distintos e
ao final dos trabalhos determinada coesão: vários integrantes da rede passaram a
fazer parte do corpo diretivo do SINDVEST e determinadas empresas estavam
fazendo negócios em parceria, em especial o grupo de empresas fabricantes de
fardamento. A avaliação qualitativa da impregnação (embeddedness) foi observada
na superposição de determinadas relações: parceiros de negócio, amigos e até
145
vizinhos, em dois casos. Não foram observadas relações de parentesco nas redes
interorganizacionais, mas apenas nas redes intra-organizacionais; as empresas mais
sólidas eram familiares e dirigidas pela segunda geração, sendo que uma delas já
procurava preparar sucessores na terceira geração. Novos laços de amizade foram
estabelecidos; os novos amigos tornaram-se parceiros em negócios. Algumas
queixas quanto à baixa participação de algumas empresas foram registradas; os
desejos expressos com mais veemência eram: i) atração de novos “sócios” da rede
que aportassem maiores contribuições; ii) continuidade do apoio do Governo para os
projetos em pauta; e iii) eventual envolvimento de novos atores para o fortalecimento
da rede, como fornecedores, bancos de fomento, agentes de exportação e entidades
de ensino.
Na realização das primeiras entrevistas, patrocinadores e gestores do
programa revelaram que as universidades participaram de um diagnóstico inicial,
porém não conseguiram se engajar adequadamente ao programa. Antes da criação
do APL uma universidade já havia implantado um curso seqüencial de Gestão e
Design de Moda; este curso se manteve; não se tem conhecimento de novos cursos
ou atividades criadas especificamente para atender as demandas do APL. A
participação do SENAI era notória - grande parte dos encontros e treinamentos
aconteciam em suas instalações bem como a do SEBRAE, que também patrocina
o programa de APLs.
A pesquisa realizada por Freitas (2006) revelou a forte impregnação de
uma organização governamental como principal “fonte de informação preferencial”
para os empresários, situação que tanto pode ser promotora como inibidora para as
inovações. Analisando as relações em geral a pesquisa revelou entre as 36
empresas respondentes da pesquisa uma rede “desconexa”, atribuindo como uma
das causas o número excessivo de atores participantes do APL.
Um vazio estrutural que começou a ser preenchido foi o da relação entre
os atores com os bancos. Representantes da agência de desenvolvimento estadual,
DESENBAHIA, do Banco do Nordeste, da Caixa Econômica Federal, do Banco do
Brasil e até de bancos comerciais foram convidados a participar de eventos
promovidos pelo APL. Isso favoreceu a aproximação entre os representantes dessas
organizações e os empresários; aqueles inexperientes com os bancos passaram a
se apresentar como “amigos do seu cliente fulano de tal”. Nesta fase da pesquisa os
146
autores analisaram a atuação da DESENBAHIA que se destacou entre os demais
atores do segmento e que buscou sistematizar e divulgar a sua experiência.
Em 2003 a DESENBAHIA
39
promoveu um curso de longa duração na
própria agência, com participantes dos diversos setores da organização, no sentido
de formar seis equipes capacitadas para lidar com os seis APLs previstos para o
Estado: confecções, fruticultura irrigada, flores tropicais, turismo, plástico e
automotivo
40
. Após cerca de um ano de trabalho, a DESENBAHIA lançou o
Programa de Apoio Creditício aos Arranjos Produtivos Locais do Estado da Bahia -
CrediAPL em novembro de 2004, direcionado ao APL do Uruguai como piloto do
Programa. Lima e outros (2005) relatam com propriedade todo o processo de
concepção de políticas, aprendizagem sobre o setor e transformações do crédito que
foram necessárias para a implantação do Programa, dentro do conceito de “finanças
de proximidade”. Os autores revelam que “[...] a criação do CrediAPL foi precedida
por 19 operações [...] que proporcionaram o desenvolvimento de relações entre a
Agência e algumas das principais empresas do APL” (2005, p. 27). Ressalta-se aqui
o papel da “impregnação” nas relações entre agente financeiro e empresas para a
concessão do crédito.
Entre os principais méritos do CrediAPL estão a preocupação com a
eliminação de barreiras que dificultam o acesso ao crédito,
principalmente por se tratar de empresas de micro e pequeno porte,
e o conseqüente fortalecimento do capital social que o Programa
caba por incitar, ao estimular o adensamento das relações
produtivas em torno das empresas-núcleo (LIMA e outros, 2005, p.
43).
Outro destaque do programa de APL observado diretamente foi a criação
da RedeNÓS - Rede Norte/Nordeste de Inclusão Social e Redução da Pobreza -
pelo Banco Mundial em parceria com o Banco do Nordeste, governos estaduais e
instituições da sociedade civil no Norte e Nordeste, cuja missão declarada é
“funcionar como uma teia de pessoas e instituições voltada para gerar e disseminar
conhecimento sobre pobreza e desigualdade, e aumentar a interação e a
capacidade de diálogo entre pesquisadores e instituições nessa área” (RedeNÓS,
2005). A Rede constituiu um fórum sobre a temática dos APLs. Primeiro, por meio de
seminários temáticos realizados em diversas capitais do Nordeste sob a forma de
39
A autora agradece a Maria Gabriela Seixas e João Paulo R. Matta pelas informações
disponibilizadas.
40
A SECTI havia definido trabalhar com dez arranjos produtivos.
147
uma combinação de eventos transmitidos por videoconferências, discussões on line
e atividades presenciais. Dessa forma a RedeNÓS recuperou e difundiu
conhecimentos sobre clusters / aglomerações, redes, políticas públicas e assuntos
correlatos, constituindo, através do seu site, uma memória das exposições, debates
e trabalhos publicados sobre o tema, catalisando a criação de comunidades de
prática até 2005 quando lançou um prêmio para incentivar trabalhos sobre APL. Em
2006 não foram registradas participações na RedeNÓS e a última notícias veiculada
no site foi em maio de 2007, sugerindo assim, mais uma descontinuidade nas
políticas públicas. Nesse caso a descontinuidade de uma animação oportuna para a
discussão dos APLs e da sistematização do conhecimento sobre o assunto.
Por fim vale salientar que a dependência das organizações
governamentais de apoio é grande. A rede composta das empresas pesquisada por
Freitas (2006), com a retirada das organizações de apoio ilustrada na Figura 30
revelou grandes vazios estruturais, ou oportunidades para construir novas relações,
tanto para o governo como para os próprios empresários na trilha da auto-
organização.
Figura 30 - Rede composta sem as entidades de apoio (Fonte: FREITAS, 2006, p. 130)
148
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
[...] o produto final da análise de uma pesquisa, por mais brilhante
que seja, deve ser sempre encarado de forma provisória e
aproximativa (GOMES, 1993, p.79)
A tese tomou como ponto de partida o crescimento do número das micro
e pequenas empresas e a criação de programas governamentais que induzem a
formação de redes ou de APLs para fortalecer essas empresas e contribuir para a
solução das altas taxas de mortalidade observadas no setor. Pressupõe-se que essa
política pública adote como conceito norteador a “empresa em rede” (Castells,
1999), forma característica da economia informacional pela sua flexibilidade, que lhe
permite competir ao tempo em que favorece a inovação.
A tese foi construída para discutir as redes sociais e suas contribuições
para as inovações tecnológicas e gerenciais, em primeiro plano, e, subsidiariamente,
para o desenvolvimento institucional e a auto-organização, centrando-se nas redes
inter e intra-organizacionais, especialmente considerando a formação de redes entre
micro e pequenas empresas e tomando por objeto empírico de análise o caso de
uma rede empresarial que se transformou, formalmente no APL de Confecções no
bairro do Uruguai em Salvador, Bahia.
As questões que orientaram o trabalho foram detalhadas nos objetivos e
são retomados a seguir para conduzir as conclusões, a partir dos objetivos gerais.
i) Identificar como as redes sociais / inter e intra-organizacionais criam
uma ambiência propícia às inovações gerenciais e tecnológicas e o
desenvolvimento institucional;
149
ii) Avaliar se a base da Teoria de Redes é ampla, includente e com
possibilidades de aplicação às micro e pequenas empresas.
Para cumprir com esses objetivos o trabalho conduziu pari passu o
aprofundamento teórico e a pesquisa empírica ao longo de três anos e meio.
Inicialmente verificou-se pela pesquisa que as redes sociais / inter e intra-
organizacionais criam efetivamente uma ambiência propícia às inovações gerenciais
e tecnológicas nos processos reconhecidos como learning by doing e learning by
interacting. A confiança criada entre os integrantes das redes os fortalece e lhes
permite inovar. A rede cria também um clima de empoderamento que favorece as
contribuições coletivas para o desenvolvimento institucional. Estas conclusões são
detalhadas adiante.
O aprofundamento teórico sobre as redes assumiu uma dimensão
inusitada para a autora que descobriu na Social Network Analysis, SNA, um campo
de estudo próprio, bem enraizado, com origens na Matemática e na Sociologia, que
assumiu personalidade distinta na década de 1970 e em franca expansão na
atualidade, sugerindo contribuições de caráter multi ou transdisciplinar de
consistência crescente para o campo dos estudos organizacionais na Administração.
A descoberta mais contundente nessa trajetória foi a discussão da SNA como
ciência, na concepção kuhniana. Quando o trabalho teve início em 2003 a
divulgação da SNA era incipiente no Brasil. Em 2004 autores pioneiros, como
Antônio Virgílio Bastos (2007), já utilizavam a SNA como instrumental de análise;
submetido a editores, esse trabalho exemplificado só seria publicado três anos
depois. Assim, os trabalhos apresentados em eventos nacionais e internacionais
pela autora em co-autoria durante os anos de 2004, 2005 e 2006 tiveram o sabor do
ineditismo. O primeiro fórum sobre redes sociais e interorganizacionais na principal
revista de administração de empresas do país só foi publicado na edição de julho /
setembro de 2006. Nesse período, 2003 a meados de 2007, a SNA passou a ser
apresentada também como Análise das Redes Sociais, ARS, enquanto nos fóruns
on line os teóricos pioneiros do campo no hemisfério norte já sugeriam a eliminação
do termo “analysis” pela conotação restritiva. Assim, primeira conclusão geral é que
a base da Teoria de Redes é ampla; é também includente, pois foram identificadas
diversas aplicações em campos completamente distintos como na Medicina e na
150
Administração, embora se perceba forte concentração dos estudos na Sociologia,
com uma vertente para a Sociologia Econômica. O mapeamento das redes através
do Netdraw, ferramenta inclusa no Ucinet (2002) comprova que “uma imagem vale
mais do que mil palavras”; além disso, aplicando-se a redes complexas ainda seria
possível utilizar as métricas disponíveis para análise quantitativas.
Refletindo sobre a inserção da Teoria das Redes nos estudos
organizacionais vale retomar a seguinte consideração de Bastos e Borges-Andrade
(2004, p. 69):
A natureza interdisciplinar e os distintos níveis de análise envolvidos
nos estudos organizacionais conduzem a uma riqueza de conceitos,
à pulverização de microteorias e à existência de esquemas
interpretativos ancorados em diferentes valores sociais que geram
tensões e uma intensa competição entre distintas perspectivas de
compreender e lidar com os processos que constituem esse objeto.
A Teoria de Redes amplia os conceitos utilizados nos estudos
organizacionais e pode aliviar algumas das tensões referidas pelos autores na
medida da sua natureza multi ou transdisciplinar. A SNA permite a investigação em
níveis distintos, do micro ao macro, do ator para a organização, ou de grupos de
atores ou grupos de interesses para comunidades e nações. Situa-se no campo da
meta-teoria, ou seja, daquelas teorias que buscam dar uma explicação geral para os
fenômenos.
Quanto às possibilidades de aplicação às micro e pequenas empresas, a
SNA foi testada em redes interorganizacionais de empresas desses portes, em uma
rede intra-organizacional de pequeno porte e outra em fase de expansão de
pequeno a médio porte. Observou-se que os estudos sociométricos nas raízes da
SNA tratavam essencialmente de pequenos grupos e de grupos informais; dessa
forma a pergunta inicial era redundante. Buscou-se então observar a sua utilidade
prática no contexto das empresas e das relações interorganizacionais envolvendo as
mesmas, concluindo-se que:
1) Para as primeiras redes interorganizacionais envolvendo micro e
pequenas empresas, tratadas no caso da RETEX, onde predominavam
motivações dos empresários de crescer, cooperar para competir e se
desenvolver e nas quais cada nó da rede era devidamente
representado por um empresário, a SNA foi útil como instrumento de
151
compreensão, intervenção e prognóstico para a ação, sendo inclusive
aprovada pelos atores envolvidos na pesquisa-ação.
2) A tarefa de mapear redes interorganizacionais com atores
diferenciados empresários, governo, agentes financeiros, ONGs -
não foi viável com o método adotado análise da documentação -
considerando a fragilidade da estrutura para o APL de Confecções que
se identificou na Rede de Apoio e a dificuldade em localizar uma
documentação mais consistente para análise das redes no APL
propriamente dito. Ou seja, embora a documentação sobre a Rede de
Apoio estivesse disponível e sistematizada, as evidências de redes
constituídas no plano do governo para apoio ao APL de Confecções
nela contida foram mínimas. No APL propriamente dito, onde as ações
estavam em curso, a documentação foi insuficiente para elaborar redes
mais significativas e úteis. O embasamento teórico, no entanto,
permitiu que fossem observados: a) a formação de novas micro-redes
empresariais em projetos afins; b) a impregnação (embeddedness) de
uma agência de financiamento na Rede de Apoio e no próprio APL,
resultando na inovação de uma linha de crédito
O mapeamento das novas redes interorganizacionais com o surgimento
do APL foi viável através aplicação de questionários entre os atores, como ocorreu
na pesquisa de Freitas (2006), que revela a falta de conexão entre os atores do APL
para cooperar, para competir, para defender interesses e também para buscar fontes
de informações para promover inovações, ratificando matemática e graficamente as
conclusões desta tese.
3) O mapeamento das redes intra-organizacionais foi um instrumental útil
para a análise da estrutura real de uma organização, compreensão dos
laços de relacionamento entre os seus atores, especialmente pela
formação de mapas mentais que podem conduzir a multilideranças e
para a realização de prognósticos.
Retomando os objetivos específicos da tese é possível observar que a
maioria deles foi atingida, merecendo, porém, alguns comentários a seguir.
152
Objetivo: Identificar os principais atores em redes inter e intra-
organizacionais, suas relações e mapear e analisar graficamente a relação entre
esses atores, para discutir o papel das estruturas nas organizações ou entre as
organizações;
A identificação dos atores nas redes intra-organizacionais foi bem mais
simples que nas redes interorganizacionais. Ainda assim, existiram problemas
metodológicos que devem ser considerados. Os atores nomeados pela direção
foram relevantes segundo a percepção da direção e não necessariamente dentro da
organização informal que se pretendia estudar, onde lideranças informais passaram
despercebidas pela direção.
Nas redes interorganizacionais o problema foi definir quem representava
efetivamente cada organização. A maior dificuldade para identificar esses atores em
órgãos do governo, por exemplo, foi a descontinuidade entre diversos
“representantes” no trabalho colegiado que acontecia nas reuniões. Fato
interessante foi a decisão dos líderes da RETEX em manter os seus nomes e não
codinomes nas redes, possibilitando a formação de mapas mentais das
multilideranças.
2° Objetivo: Analisar a impregnação (embeddedness) de determinados
atores, os vazios estruturais e os mapas mentais;
A impregnação foi identificada qualitativamente entre os empresários e
dois atores-chave do governo, gerando o empoderamento do setor que foi
contemplado com o primeiro financiamento para a formação de um APL (ver 6°
objetivo). Com a formação do APL e a tentativa de inclusão de novos atores,
envolvendo um número excessivo de atores, apenas três atores-chave do governo
estavam impregnados na rede (ou micro-redes) enquanto a impregnação das
lideranças empresariais pioneiras ficava “esmaecida” ou até desafiada, em
determinados casos. A falta da impregnação (embeddedness) entre os atores que
deveriam compor um APL, propriedade equivalente à redundância nos sistemas,
pode se constituir uma das causas para a lentidão na formação do arranjo
observado.
A identificação dos vazios estruturais foi feita graficamente para uma rede
intra-organizacional, demonstrando a utilidade do conceito para a organização. Entre
os atores que deveriam compor o APL tudo indica a existência de um “vazio natural”,
153
uma vez que as redes se configuravam como rarefeitas. Dialeticamente existiriam
então inúmeras oportunidades para preencher vazios, dinamizando
consequentemente o APL. Esses vazios se confirmaram na pesquisa de Freitas
(2006) nas ações mais primárias em um arranjo dessa natureza, quais sejam
comprar, vender, defender interesses, produzir conjuntamente, buscar capacitação.
Não foram elaborados mapas mentais para o trabalho. Contudo o
conceito foi oportuno para a criação desses mapas entre as lideranças na RETEX.
Quando foram levantadas as primeiras redes os atores envolvidos demonstraram o
interesse em manter os seus nomes verdadeiros no mapeamento. Quando os grafos
foram submetidos às lideranças para comentários espontâneos, gerou admiração de
alguns líderes que não tinham consciência do seu próprio posicionamento nas
redes. Todos os consultados, inclusive o consultor da rede, consideraram que o
mapeamento correspondia à realidade e que seria útil na definição de lideranças
para os projetos que estavam sendo delineados. Vale salientar que a validação
dessas multilideranças efetivou-se com a iniciativa dos líderes para assumir os
projetos selecionados no planejamento estratégico e a aclamação desses líderes
pelos demais “sócios”.
3° Objetivo: Compreender a geração de inovações nas estruturas em
rede;
Observaram-se inovações gerenciais, pequenas inovações tecnológicas e
tentativas de inovações tecnológicas estruturantes por conta das ações
governamentais.
As inovações gerenciais ocorreram na RETEX como fruto da interação
dos seus atores ao longo do processo de capacitação e desenvolvimento para
cooperar e trabalhar em rede. A capacitação também permitiu aos integrantes da
RETEX o acesso às novas tecnologias da comunicação ampliando o processo de
interação entre os atores. Compreendeu-se que a ambiência do trabalho em rede é
adequada e, mormente estimulante para a geração de pequenas inovações, que
cumulativamente empoderam (empowered) empresários e podem contribuir para
tornar competitivo um setor tradicional. As inovações tecnológicas no setor de
confecções acontecem essencialmente no início da cadeia produtiva, entre os
produtores de matéria prima i.e. algodão colorido -, indústria têxtil e fabricantes de
equipamentos i.e. corte laser. No entanto existe entre os empresários mais
154
maduros do APL a consciência da importância da inovação “na ponta da cadeia” por
conta da moda, o que, aliás, justifica o sucesso de duas novas líderes nas redes que
são designers. Assim, o projeto eleito como estruturante para o APL foi a Central de
Design, facilitando o acesso das empresas maiores ao uso do Computer Aided
Design, CAD. A maior inovação tecnológica nas comunicações e informações
prevista pela SECTI foi o portal para o APL que acabou não sendo desenvolvido,
assim como o banco de dados, indispensável para o cadastro de fornecedores da
Central de Compras, cuja lentidão de desenvolvimento desestimulou os usuários em
potencial. No entanto, sob a liderança dos empresários de confecções de Feira de
Santana foi selecionado um programa informatizado de gestão integrada que, com o
apoio do SINDVEST foi adquirido e implantado em um grupo de empresas no início
de 2007. Resta avaliar se a inovação está sendo devidamente utilizada, pois, as
entrevistas revelaram que programas congêneres introduzidos há cerca de três
anos, apesar do seu alto custo, não foram absorvidos pelos proprietários na gestão
do negócio e acabaram sendo colocados à margem com a saída das empresas dos
“funcionários” - denominação ainda comum na classe empresarial observada - que
foram treinados para utilizá-los.
4°Objetivo: Compreender o desenvolvimento institucional proporcionado
pelas formações reticulares;
A formação de redes tem sido recomendada como solução para diversas
situações nas quais se persegue o desenvolvimento institucional, bem como na
formação induzida de redes empresariais ou APLs. Difícil seria compreender tal
desenvolvimento ou mudanças nas “regras do jogo” sem esforços articulados entre
os atores, pessoas ou organizações, interessadas. O estudo permitiu a observação
de:
a) uma tendência “conceitual” da necessidade de cooperar para competir,
ainda que em estado incipiente, mas revelando o amadurecimento de
senso crítico dos atores que, entre 2003 a 2007 buscaram a
desenvolver relações com empresários inovadores em substituição às
relações com os antigos líderes “políticos”, mudando, portanto, as
“regras do jogo” vigentes;
155
b) a introdução de uma nova linha de crédito, desafiando de certa forma
as normas para a obtenção de garantias reais do sistema bancário
vigente para a concessão de empréstimos;
c) a redução da alíquota do ISS para o território que, em tese, centraliza
as ações do APL; embora esta mudança seja associada à decadência
da cidade baixa de Salvador, como um todo, é possível associar a
medida aos esforços coordenados para re-qualificação da península de
Itapagipe, que envolve a implantação de indústrias urbanas limpas.
No setor de confecções ou moda observa-se uma predominância do
trabalho feminino, inclusive no design, impulsionando as inovações no setor. Na
atuação dos empresários em rede, nas tentativas de consolidação do APL e na
própria organização interna das empresas foi observada a emergência de várias
lideranças femininas, inovadoras ou não, ao tempo em que surgiam também os
conflitos para o reconhecimento formal dessas lideranças e até mesmo disputas
quando a liderança informal tornou-se bem evidente. Sugere-se que o tema seja
aprofundado em trabalhos futuros, considerando-se que o equilibro entre as
lideranças masculinas e femininas é importante para as mudanças institucionais,
associado inclusive ao objetivo seguinte.
5°Objetivo: Observar a emergência da auto-organização nas formações
reticulares;
Observou-se que a grande maioria dos atores identificados não
demonstrou qualquer interesse ou confiança na auto-organização enquanto
conceito, preferindo a idéia de governança. No entanto, durante a pesquisa foi
possível observar que a auto organização ocorreu comprovadamente com a criação
das micro redes por produtos. Antes da criação da RETEX já existia o Consórcio
Bahia Beach, voltado para a exportação. No processo de criação e desenvolvimento
da RETEX as empresas dedicadas ao fardamento fortaleceram suas relações e as
demais passaram a perseguir uma organização similar.
No governo observou-se uma compulsão para a definição de forma da
governança, precedendo até o arranjo produtivo. Uma provocação, enfim, como se o
APL pudesse ser formado pela vontade de alguns “governantes”. Quando aconteceu
a emergência das lideranças femininas no APL, que poderia ser uma solução para o
156
governo, este se deixou influenciar pelos conflitos entre os empresários que
discutiam a legitimidade dessas lideranças, dificultando os rumos da formação do
APL.
Entre os empresários que estavam viabilizando o Plano de ação da
RETEX algumas ações foram executadas em sistema de rodízio usando as próprias
instalações de cada empresa por algum tempo; logo em seguida, no entanto, foram
iniciadas discussões para definir “um espaço definitivo”, “a contratação ou definição
de um responsável”, “um estatuto ou regimento”, enfim, havia uma premência para
tornar tangível e concreta uma organização dedicada a cada ação, como a Central
de Compras, por exemplo.
Como os APL possibilitam a convivência de agentes de diversos portes,
as interações informais nas relações baseadas na sub-contratação, nos esquemas
de colaboração e competência interorganizacional, nas transferências de
conhecimentos sobre a atividade econômica, nas ações coletivas e estratégicas,
visando à inserção na economia global, surgem naturalmente (FREITAS, 2006). Na
estruturas informais a auto-organização acontece como um processo sutil, mas
muito eficaz. Justamente por reconhecer o papel das estruturas informais, o cluster
de biotecnologia, em Upsalla, Suécia (TEIGLAND, 2004), monitora as relações
informais nas estruturas organizacionais através do SNA.
No caso estudado, observou-se pouca ou nenhuma reflexão ou confiança
na auto-organização, tanto por parte dos empresários, como por parte do governo. A
“vida própria” nas redes, independente da animação governamental, é fruto da auto-
organização. O reconhecimento e respeito a esta auto-organização pode contribuir
para elevar a auto-estima dos micro e pequenos empresários.
6°Objetivo: Contemplar o papel das redes para o empoderamento
(empowerment) de um setor empresarial;
A aprovação do primeiro financiamento do BID para o APL de Confecções
da Rua do Uruguai representou de certa forma, um empoderamento (empowerment)
para um setor empresarial atuando em um segmento convencional vestuário ou
confecções - e de pequena expressão econômica para o Estado. Esta aprovação
deu-se inicialmente pelos resultados positivos com a experiência da RETEX e,
principalmente, pela continuidade da articulação em rede entre empresários e
157
técnicos do governo comprometidos com o sucesso do programa. O
empoderamento (empowerment) se deu, portanto, em decorrência da impregnação
dos atores interessados no processo.
7°Objetivo: Verificar por que os estudos sobre redes não têm dado
atenção suficiente às pequenas empresas;
Os estudos sociométricos, que estão na origem da SNA, aplicavam-se
essencialmente a pequenos grupos, o que atesta a propriedade dos estudos sobre
redes às micro e pequenas empresas. Desejava-se, no entanto, verificar a atenção
dos estudos recentes ao problema. No entanto, não foi traçada uma metodologia
para dar conta deste objetivo nos estudos recentes, o que explica o seu não
cumprimento. As observações ao longo do trabalho sinalizaram para a aplicação da
SNA para temas talvez mais empolgantes, como o mapeamento do genoma, o poder
das redes de grandes empresas ou grupos investidores e até as redes terroristas ou
criminosas.
As pequenas e micro empresas têm maior significado social do que
econômico. O próprio APL de Confecções é pouco representativo na economia
baiana. Ainda assim tem sido tema de outros trabalhos acadêmicos, como a recente
dissertação de Mestrado de Mário Cezar Freitas (2006).
A polaridade global - local e a produção flexível tem sido objeto de
inúmeros estudos, com evidências de forças e de fraquezas do localismo, onde
grupos “relativamente capazes de se organizar no local são incapazes quando se
trata de se organizar no espaço” (KUMAR, 1997, p. 197). O estudo que Piore e
Sabel denominam The Second Industrial Divide (1984) foi a obra mais detalhada
sobre as micro e pequenas empresas na pesquisa teórica. Para Kumar (1997) o
“renascimento do artesanato”, defendido por Piore e Sabel, parece ser até agora
uma miragem. Talvez essa noção de “miragem” explique o distanciamento dos
pesquisadores das redes de pequenas empresas.
8° Objetivo: Por fim, mas não menos importante, contribuir na
consolidação de uma metodologia para o desenvolvimento de redes empresariais
formadas por micro e pequenas empresas, atuando inclusive em aglomerações
como APL´s.
158
Segundo informação de um entrevistado, o SEBRAE contratou a
elaboração de metodologia para o desenvolvimento de redes empresariais e investiu
na formação das mesmas entre 2002 e 2003 antes de adotar o programa de APLs.
A diretriz de privilegiar o território resultou na descontinuidade da formação de redes
que estava em processo. Na experiência baiana, o conceito de arranjo produtivo
adotado pela metodologia mostrou-se restritivo, pois na RETEX cooperavam
empresários situados em bairros distintos como Itapagipe, Vasco da Gama, Brotas,
Stella Mares, etc. A formação do APL em Salvador desafiou, portanto o conceito de
APL vigente, pois as redes de relacionamento foram mais importantes que o
território, permitindo inclusive que se considerasse a inclusão de empresas de uma
outra cidade Feira de Santana no arranjo. Para Freitas essa dispersão concorreu
para a desconexão observada entre os atores empresários.
Com o apoio do material do SEBRAE, a SECTI fez o seu “dever de casa”
elaborando também conceitos, regras e recomendações para o APL. Enfim, existem
prescrições tanto para a formação de redes como para o desenvolvimento de APLs.
O assunto também foi objeto do trabalho de Fialho (2005, p. 125), que se propôs a
elaborar:
“[...] uma metametodologia que renuncie às prescrições de detalhes
e à linearidade de etapas, para preservar a especificidade dos
contextos, acolher a diversidade de interesses e encaminhar o difícil
e promissor processo de localização e gestão dos pontos de
convergência e de sinergia entre os atores envolvidos”.
O que a tese oferece é mais uma contribuição às metodologias existentes,
mormente uma metodologia como proposta acima, para o aprofundamento da
compreensão de cada problema que se apresenta com a formação de uma rede,
compreensão que deveria anteceder a prescrição, provocando “alto percentual de
distúrbios digestivos” (FIALHO, 2005, p. 123) com receitas para “garantir o sucesso
do bolo” (Id., Ibid). A contribuição da tese para a metodologia está nas evidências
empíricas reunidas que permitem a discussão do assunto, dando oportunidade de
reflexão sobre o sucesso e o insucesso de determinadas prescrições, como, por
exemplo, modelos impostos de governança X a emergência da auto-organização
nas redes.
O APL ou a rede empresarial - é um ator coletivo em busca das
relações que lhe permitam melhor posicionamento competitivo no mercado e papel
159
contributivo na sociedade. Tal posicionamento dependerá de múltiplos fatores,
desde a mais simples cooperação entre pares até mudanças institucionais
significativas. Talvez a mudança mais significativa mais demandada no contexto em
estudo formação de redes empresariais ou APLs - seja a continuidade das
políticas públicas. Freitas recorre a Amato Neto (2000, apud. FREITAS, 2005, p.21)
para comentar a “atuação do Estado na promoção ou inibição do desenvolvimento
de determinadas trajetórias” bem com as conclusões de Sicsú e Lima (2002, apud.
FREITAS, 2006, p. 22), analisando as cadeias produtivas do nordeste brasileiro para
a adequação da base técnico-científica, quando o autor constata que:
[...] há um fluxo crescente de investimentos produtivos sem a
correspondente consolidação de cadeias do conhecimento
estratégicas para a estruturação competitiva, a largo prazo, dos
principais segmentos em que vêm se dando esses investimentos.
As inovações são cruciais para a competitividade do APL ou da rede
empresarial, especialmente aquele (a) formado (a) em um setor tradicional. O
sucesso desse ator coletivo dependerá também da impregnação das relações e da
capacidade dos seus atores de transformar os vazios estruturais em oportunidades
de construir novas relações, ampliando o capital social próprio e da comunidade. Por
fim, dependerá das redes intra-organizacionais, pois a força das redes encontra-se
em cada nó e das redes interorganizacionais que se formarem e permitirem o
desenvolvimento do capital social.
Finalmente,
i) A tese buscou abrir um debate sobre essas redes e reunir pressupostos
que permitam prever/orientar o sucesso de arranjos organizacionais
criando também oportunidades para ampliar contribuições para avanços
em intervenções e estudos futuros, para a eficácia e para a governança
de grupos de atores. Buscou, sobretudo, ampliar a compreensão que
deve anteceder a prescrição, tão facilmente feita na Administração.
Charan (1991, p.105) afirma que as redes começam a ter significado
quando mudam o comportamento a freqüência, intensidade e honestidade do
diálogo entre os participantes. Afirma, também: By forging a strong set of
relationships and values, networks reinforce managers´ best instincts and unleash
160
emotional energy and the joy of work” (Id., Ibid., p.115). As redes constituem suporte
essencial para as mudanças culturais, como é o caso da difusão tecnológica,
essencial às pequenas e micro empresas, pois permitem que se aprofundem valores
como a colaboração, a solidariedade, a ajuda mútua, a transparência e a co-
responsabilidade.
Talvez a compreensão da nova cultura das redes ou matriz institucional
não possa ser desvendada no momento e sim no futuro, com a perspectiva da
história. Vários autores se debruçam para compreender as transformações dessa
cultura, especialmente considerando o movimento intelectual fin-de-siècle. O
resultado dessas análises, no entanto, é como uma pintura impressionista vista de
muito perto: múltiplos traços (ou evidências) justapostos (as) tentam definir uma
vasta paisagem imprecisa. Para distinguir melhor essa paisagem nada melhor do
que o distanciamento histórico e o trabalho de “eternos aprendizes”.
ii) Em síntese, a tese permitiu uma aprendizagem através das seguintes
conclusões:
ü A rede interorganizacional ou rede empresarial inicialmente constituída
foi decisiva para: a) a aprendizagem da cooperação e desenvolvimento
da confiança; b) a geração de inovações, principalmente inovações
gerenciais com a absorção das Novas Tecnologias da Comunicação e
da Informação entre os empresários; c) a formação de novos mapas
mentais, contribuindo para o posicionamento de multilideranças
emergentes.
ü As redes interorganizacionais essencialmente induzidas na criação do
APL foram desconexas em geral, não cumprindo com os objetivos para
os quais foram criadas; no seio dessas redes distinguiram-se micro-
redes empresariais que desenvolviam algumas ações articuladas,
configurando a emergência da auto-organização; a liderança feminina
que emergiu espontaneamente foi contestada, ato que dificultou a
consolidação de uma governança, demonstrando uma dificuldade na
aceitação da auto-organização; apenas alguns atores do governo e
161
agentes financeiros aderiram à rede, com participação limitada no
tempo; essas redes também geraram inovações, algumas viabilizadas,
outras não, por descontinuidade de políticas ou investimentos públicos.
ü A rede interorganizacional contribuiu para o desenvolvimento
institucional, mudando efetivamente algumas “regras do jogo”, no
sentido northniano: a) inaugurando o conceito de “cooperar para
competir” e aproximando atores de setores diferentes, como setor
privado, governo, agentes financeiros; a aproximação com entidades
de ensino foi tímida e desconexa; b) permitindo a criação de uma nova
linha de crédito e a redução da alíquota de um imposto.
ü As redes intra-organizacionais demonstraram: a) a auto-
organização/organização informal em torno de relações relevantes
como a confiança, a amizade e a comunicação; b) que essas relações
revelavam estruturas parcialmente conhecidas pelos técnicos ou
proprietários nas empresas; c) que um proprietário superestimava o
seu papel como líder nas redes informais; d) que a emergência de
lideranças nas redes despertou a curiosidade de gerentes para o
reconhecimento das estruturas “na prática” ou além dos organogramas.
ü A SNA provou ser adequada para o estudo das redes, tanto pela sua
consistência como campo de conhecimento quanto pela disponibilidade
de métodos qualitativos e quantitativos para conduzir análises e
representações gráficas. Pesquisas no Brasil começam a utilizar a
SNA, adotando inclusive a sigla ARS.
ü Os conceitos de impregnação (embeddedness) e vazios estruturais
(structural holes) introduziram a perspectiva da dialética na análise das
redes permitindo aprofundamento da compreensão do posicionamento
e papel dos atores bem como da tessitura das redes.
ü O conceito de auto-organização foi minimamente compreendido ou
aceito entre os entrevistados.
iii) Tanto as redes quanto os APLs, como arranjos espontâneos ou
induzidos, constituem excelentes espaços para a aprendizagem. Os
162
resultados das pesquisas, discutidos com os entrevistados, revelaram
que havia “vida própria” nas redes, especialmente nas micro-redes
espontâneas e no APL e não apenas “vida com a animação
governamental”.
iv) Ao fim deste trabalho sugere-se o desdobramento de estudos nesse
espaço. O que faltou (ou falta) às redes interorganizacionais para que
elas realizem o seu potencial? Seria uma impregnação (embeddedness)
adequada dos atores chave? Este é um assunto que merece
aprofundamento porque ao longo do tempo surgiram novas lideranças
no APL, conflitos entre lideranças, conflitos entre gêneros, alterando por
completo o panorama para a análise que se pretendia realizar da
impregnação (embeddedness). O APL de Confecções como “carro
chefe”, ou o APL em processo de formação há mais tempo dentro de um
programa do governo teria recebido atenção adequada da Rede de
Apoio? A SECTI confiava na governança que se auto-organizava entre
os empresários ou imaginava impor um modelo de governança? As
inovações que efetivamente ocorreram foram devidamente computadas?
Qual o papel atribuído às inovações nos programas de indução de redes
empresariais ou redes interorganizacionais? Enfim, o terreno é fértil;
mãos, cabeças e corações à obra.
163
REFERÊNCIAS
ALMEIDA FILHO, Naomar. Sobre Redes. In TEIXEIRA, Francisco (org). Gestão de
Redes de Cooperação Interempresariais. Salvador, BA. Casa da Qualidade, 2005.
ALMEIDA, Rômulo. O Processo de Desenvolvimento Industrial na RMS. Paper que
integra a Revisão e Atualização do Plano Diretor do CIA. Salvador:
CLAN/FIGUEIREDO FERRAZ. [1975?], 27 p.
ALTER, C.; HAGE, J. Interorganizational Networks: A New Institution. In
Organizations Working Together. Londres: Sage, 1993, p.1-43.
AUGOUSTINOS, Martha e WALKER, Iain. Social Cognition An Integrated
Introduction. London: SAGE, 1995.
BAIARDI, A. A ação social extra firma do empresariado baiano. In: FISCHER, T.
(Org). Gestão do desenvolvimento e poderes locais: marcos teóricos e
avaliação, Salvador: Casa da Qualidade, 2002. 344p.
BAIARDI, A.; BASTO, Celina. A Rede como Habitat Preferencial da Inovação e
Gênese do APL: o Caso da Retex na Bahia. Anais do XXIII Simpósio da Inovação
Tecnológica: Curitiba, out. 2004.
______. Análise Comparativa de Habitats de inovação: A rede Retex e o
Tecnopuc, Anais do XI Seminário de Gestión Tecnologica, Salvador, out. 2005.
_______; O Protagonismo das Redes nos Parques Tecnológicos, Anais do XXIV
Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, Gramado, out. 2006.
_______. Possibilidades Estruturais para Habitats da Inovação, Anais do XI
Seminário de Gestión Tecnologica, Salvador, out. 2005.
BAIARDI, A.; LANIADO, R. N. A Contribuição das Redes na Formação da
Cooperação Empresarial: Um Estudo de Caso. O&S. Organizações & Sociedade,
Salvador, n. V. 10, 2003, p. 23-48
______. Redes, Associativismo e Cultura Política em Uma Sociedade Globalizada.
Cadernos do CRH (UFBA), Salvador, v. 19, n. 47, p. 111-122, 2006.
BAIARDI, A.; Mendes, J.. OS APL S COMO HABITATS DA INOVAÇÃO:
POTENCIAL E POSSIBILIDADES NO CASO DA BAHIA. In: IX Seminário de
Modernização Tecnológica e Periferia, 2005, Recife. Anais do IX Seminário de
Modernização Tecnológica e Periferia. Recife : Fundação Joaquim Nabuco, 2005. v.
1. p. 79-98.
BAKER, Wayne. Achieving success through social capital. San Francisco,
Jossey-Bass, 2000, 238 p.
164
BALBI, André Luiz de Lacerda. Arranjo Produtivo Local de Confecções da Rua do
Uruguai. Salvador: SEBRAE, 2003. Documento cedido pelo autor.
BARABÁSI, Albert-László. Linked. New York, Plume, 2003, 294 p.
BARREL, Alan. Innovation Champions Network: The Cambridge Cluster
Description. Disponível em < www.innovation-champions-network.org>. Acesso em
11.02.2007.
BASTO, CMFC. Franchising. Praticando e aprendendo: aspectos técnicos e
psicossociais de uma franquia de ensino em crescimento. 1996. 145 f.
(Dissertação) Mestrado em Administração - Escola de Administração, Universidade
Federal da Bahia, Salvador.
BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. “Mapas Cognitivos: Ferramentas de pesquisa
e intervenção em processos organizacionais”. In Comportamento Organizacional e
Gestão, 2002, vol.8, n°2, 191-209.
______. Cognição nas organizações de trabalho. In BASTOS, A.V.B; ZANELLI,
J.C.;ANDRADE, J.E.B.(org). Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto
Alegre: Artmed, 2004, p. 256-292.
______. Mapas Cognitivos: Ferramentas de pesquisa e intervenção em processos
organizacionais. In Comportamento Organizacional e Gestão, 2002, vol.8, n°2, 191-
209.
BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt; SANTOS, Mariana Viana. Redes Sociais
Informais e Compartilhamento de Significados sobre Mudanças Organizacionais.
RAE, vol 47,n° 3, jul/set 2007
BASTOS, A.V.B.; BORGES-ANDRADE, Jairo Eduardo. Nota Técnica: Cognição e
Ação: o Ator Ocupa a Cena nos Estudos Organizacionais. In: CLEGG, S. A.;
HARDY, C.; NORD, W. Handbook de Estudos Organizacionais. São Paulo: Atlas,
2004.
BASTOS, Bartira Brandão. O Desenvolvimento de Documentos Técnico-
Científicos Através do Cibersespaço: um estudo de caso. Salvador: Dissertação
de Mestrado no Curso de Pós-Graduação em Informação Estratégica, 2001.
BORGATTI, S. P., EVERETT, M.G. e FREEMAN, L.C. Ucinet for Windows:
Software for Social Network Analysis. Harvard: Analytic Technologies, 2002.
BORGATTI, S. P.; MOLINA, J.L. “Ethical and Strategic Issues in Organizational
Social Network Analysis”. In The Journal of Applied Behavioral Science, vol. 39,
N° 3, September, 2003 337-349
BURRELL, Gibson. Ciência Normal, Paradigmas, Metáforas, Discursos e Genealogia
da Análise. In: CLEGG, S.R.; HARDY, C.; NORD, W. Handbook de Estudos
Organizacionais, vol.3. São Paulo: Atlas, 1999, p. 439- 462.
165
BURT, Ronald S. Structural holes: the social structure of competition.
Cambridge, EUA: Harvard University Press, 1995. 313 p.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix, 1996, 256 p.
CARDOSO, Ruth C.L. Aventuras de antropólogos em campo ou como escapar das
armadilhas do método. In CARDOSO, Ruth (org.) A Aventura Antropológica:
Teoria e Pesquisa. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 1988.
CARDOSO,Vinícius Carvalho, ALVAREZ, Roberto dos Reis e CAULLIRAUX, Heitor
Mansur. Gestão de Competências em Redes de Organizações: Discussões teóricas
e metodológicas acerca da problemática envolvida em projetos de implantação. In
ENCONTRO ANUAL DA ANPAD. Anais em CD_ROM. 2002
CASAROTO FILHO, Nelson; PIRES, Luis Henrique. Redes de Pequenas e Médias
Empresas e Desenvolvimento Local, 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.
CASSIOLATO, J. E.; LASTRES, H. M. M. et. Alii. Globalização e Inovação
Tecnológica. Brasília: MCT/ OEA / IEL CNI, 1999.
CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura: a
sociedade em rede. 2. ed. São Paulo: Paz a Terra, 1999. v. 1, 617 p.
______. A Sociedade em Rede, 2ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
______. Grassrooting the Space of Flows. In WHEELER, James O. et al. Cities in
the telecommunications Age. New York: Routlege, 2000, p.19-27.
CASTELLUCCI, Aldrin A. S. Industriais e operários baianos numa conjuntura de
crise (1914-1921), Salvador: FIEB, 2004, 329 p.
CASTILLA, E. J. “Network of venture capital firms in Sillicon Valley”. In Int. J.
Technology Management, Vol. 25, Nos. 1/2, 2003 113-135.
CHARAN, Ram. How Networks Reshape Organizations For Results. In Harvard
Business Review, September-October 1991, p.104 a 115.
COLLINS, Randall. Weber’s Last Theory of Capitalism: A Systematization. In:
GRANOVETTER, Mark: SWEDBERG, Richard (ed). The Sociology of Economic Life.
[S.l.]: Westview. [198-?]. p. 379-400.
CROSS, Rob; PRUSAK, Laurence. The people who make organizations go or stop.
Harvard Business Review, Boston, EUA, vol. 8, n° 6, p. 104-112, jun. 2002.
CRUZ NETO, Otávio. O Trabalho de Campo como Descoberta e Criação. In
MINAYO, M. C. S. (org). Pesquisa Social, 19ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2001.
166
CRUZ, Rossine ; PASSOS, Francisco Uchoa . Experiências e Potencialidades em
Arranjos Produtivos Locais na Bahia: Assimetrias, Precariedades e
Constrangimentos Estruturais. In: VIDAL, Francisco Baqueiro. (Org.).
Desenvolvimento Regional: análises do Nordeste e da Bahia. 1 ed. Salvador:
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia - SEI, 2006, v. 1, p.
141-166.
DEGENNE, Alain; FORSÉ, Michel. Les réseaux sociaux: une analyse structurale
en sociologie. Primeira Edição. Paris, França: Armand Colin Éditeurs, 1994. 288 p.
DESLANDES, Suely Ferreira. A Construção do Projeto de Pesquisa. In MINAYO, M.
C. S. (org). Pesquisa Social, 19ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2001.
DOSI, G. “The Nature of the innovative process”. In DOSI, G. et alli (org.)Technical
Change and Economic Theory. Printer Publisher, London / New York, 1988, 646 p
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa,
1ª ed. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1975
FIALHO, Sergio. Metodologia para Construção e Gestão de Redes de Cooperação
Interorganizacionais. In TEIXEIRA, Francisco (org). Gestão de Redes de
Cooperação Interempresariais: Em busca de novos espaços para o
aprendizado e a inovação. Salvador, Ba. Casa da Qualidade, 2005, p. 123 a 151.
FREEMAN, Linton C. The Development of Social Network Analysis. Vancouver,
BC, Canada. Empirical Press, 2004
FREITAS, Mario Cezar. Fluxos de Informações e Conhecimentos para
Inovações no Arranjo Produtivo Local de Confecções em Salvador/Ba.
Dissertação de Mestrado: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, INSTITUTO DE
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação, 2006, p. 123-151.
FUCHS, C.; HOFKIRCHENER, W.; KLAUNINGER, B. “The dialectic of bottom-up
and top-down emergenge in social systems”. In: Problems of individual
emergence). [S.l]: Austrian Federal Ministry of Education, Science and Culture, 1999
Elaborado no projeto Human strategies in complexity: philosophical foundations for a
theory of evolutionary systems. Disponível em:
<www.facom.ufba.br/cibercultura/hofkirchner>. Acesso em 10 out. 2002
FUCHS, Christian. Science as a Self-Organizing Meta-Information System. Austria.
S/d. Disponível em < http://en.scientificcommons.org/1574385>. Acesso em 15.04.2007.
GARTON, Laura, HAYTHORNWAITE, Caroline e WELLMAN, Barry. Studying online
Social Networks. Disponível em www.chass.utoronto.ca/~wellman> Acessos de 2002
a 2005.
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa, 4ª ed. São Paulo: Editora Atlas,
2002.
167
GOMES, Romeu. Análise de Dados em Pesquisa Qualitativa. In MINAYO, M.C.S.
Pesquisa Social, 19ª ed. Petrópolis, R.J.: Vozes, 1993.
GRANOVETTER, Mark. Economic Action and Social Structure: The Problem of
Embeddedness. AIS, vol. 91, n° 3, nov. 1985, p. 481-510.
GRIBAUDI, Maurizio. Espaces, Temporalités, Stratifications. Paris, École de
Hautes Études em Sciences Sociales, 1998
HAKANSON, L. Epistemic Communities and Cluster Dynamics on the role of
knowledge in industrial districts. Disponível em:
http://www.druid.dk/conferences/summer2003. Acesso em: 25 jun. 2006.
HASTENREITER FILHO, Horácio Nelson. Acertos e Desacertos dos principais
Programas de Redes de Cooperação Interempresariais Brasileiros. In TEIXEIRA,
Francisco (org). Gestão de Redes de Cooperação Interempresariais: Em busca
de novos espaços para o aprendizado e a inovação. Salvador, Ba. Casa da
Qualidade, 2005, p. 97 a 121.
IBGE. As Micro e Pequens Empresas Comerciais e de Serviços no Brasil 2001.
Rio de Janeiro: IBGE, 2003.
JORNAL DA UNICAMP. A Longevidade Empresarial e os Avanços de um
Programa de Extensão Pioneiro. Campinas, S.P.:UNICAMP, 20 a 26 de novembro
de 2006, p.11.
KILDUFF, Martin e TSAI, Wenpin. Social networks and organizations. Londres,
SAGE Publications, 2003, 172 p.
KRACKHARDT, David e HANSON, Jeffrey R. Informal Networks: The Company
behind the Chart. In Harvard Business Review, July-August 1993, p. 104 a 111.
KRACKHARDT, David; BRASS, Daniel J. Intraorganizacional Networks: the micro
side. In: WASSERMAN, Stanley; GALASKIEWICZ, Joseph. Advances in social
network analysis: research in the social and behavioral sciences. Primeira
Edição. Thousand Oaks, EUA: Sage Publications, 1994. p. 207-229.
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 3. ed.. São Paulo:
Perspectiva, 1994. 257 p.
KUMAR, Krishan. Da Sociedade Pós- Industrial à Pós-Moderna: Novas teorias
sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor, 1997, 258p.
LAZEGA, Emmanuel. Réseaux sociaux et structures relationnelles. Primeira
Edição. Paris, França: Presses Universitaires de France, 1998. 127 p.
168
LIMA, Adelaide Motta; LIMA, Carmen Lúcia Costa; MATTA, João Paulo. Políticas de
Crédito para Arranjos Produtivos Locais: o desenvolvimento do CrediAPL.
Revista Desenbahia. Salvador, Desenbahia, 2005, p. 25 a 48.
LINS, Hoyêdo Nunes. “Aprendizagem e Inovação em uma Área de Produção
Confeccionista no Sul do Brasil”. In SBRAGIA, Roberto e STAL, Eva (editores).
Tecnologia e Inovação: Experiências de Gestão na Micro e Pequena Empresa. São
Paulo: PGT/USP, 2002, 304 p.
LOIOLA, Elizabeth e MOURA, Suzana. “Análise de redes: uma contribuição aos
estudos organizacionais”. In: FISCHER, Tânia (Org).Gestão contemporânea,
unidades estratégicas e organizações locais. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1996. 208p.
LUHMANN, Niklas. A improbabilidade da comunicação. Lisboa: Vega; Passagens,
Lisboa, 1992, 155 p.
LUNDVAL, B. “National Systems and National Styles of Innovation”, trabalho
apresentado em The Fourth International ASEAT Conference “Differences in Styles
of Technological Innovation”, Manchester, September 2-4,1997.
MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento: as
bases biológicas da compreensão humana. 2. ed. São Paulo: Palas Athena,
2002. 283 p.
MIZRUCHI, Mark S. Análise das Redes Sociais: Avanços Recentes e Controvérsias
Atuais. Revista de Administração de Empresas. São Paulo: Fundação Getúlio
Vargas, v. 46-n.3-jul-set 2006, p. 72-86
MIZRUCHI, Mark S.; GALASKIEWICZ, Joseph. Networks of interorganizational
relations. In: WASSERMAN, Stanley; GALASKIEWICZ, Joseph. Advances in social
network analysis: research in the social and behavioral sciences. Primeira
Edição. Thousand Oaks, EUA: Sage Publications, 1994. p. 207-229.
MORGAN, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. 422 p.
MOTTA, Fernando Prestes C. Teoria das Organizações: Evolução e Crítica, 2ª
ed. São Paulo: Pioneira / Thompson Learning, 2001.
MOURA, Maria Suzana de Souza. Cidades Empreendedoras, democráticas e
redes públicas: Tendências à renovação na gestão local. Salvador: NPGA /
UFBA, Tese de doutorado, 1997.
MUCHIELLI, A. Diccionario de métodos cualitativos en ciencias humanas y
sociales. Madrid: Editorial Síntesis, 2001.
169
NAISBITT, John. Paradoxo Global, 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1994
NELSON, R. R. “National systems of innovation”. In DOSI, G. et alli (org.)Technical
Change and Economic Theory. Printer Publisher, London / New York, 1988, 646 p.
NÓBREGA, C. A Ciência da Gestão. SENAC RIO Editora e RM Sistemas, Ed.
Especial, Rio de Janeiro, 2004, 183 p.
NOHRIA, Nitin; ECCLES, Robert G. (ed.). Networks and Organizations, structure,
form and action. Boston, Mass.: Harvard Business School Press, 1992.
NORTH, D. C. Institutions, Institutional Change and Economic Performance.
Cambridge University Press, Cambridge, 2002.
_______. Structure and Change in Economic History, W.M.Norton & Co., N York,
1981.
OSTROM, Elinor. Governing the Commons:The Evolution of Institutions for
Collective Action. USA. Cambridge University Press, 1997. 280 p.
PINHEIRO & FRAGA Consultoria. Estudo Diagnóstico: Cadeia Produtiva de
Confecções, Salvador, Ba. 2002, 74 pp e anexos.
PIORE, M. J.; SABEL, C. F. The Second Industrial Divide. New York: Basic Books,
1984.
PUTNAM, R.D. Comunidade e Democracia a experiência da Itália moderna.
Fundação Getúlio Vargas, 3ª ed. Rio de Janeiro, RJ, 2002, 260p.
RAIDER, H; KRACKHARDT, D. Intraorganizational Networks. In BAUM, J.A.C. (ed.).
The Blackwell Companion to Organizations. Oxford: Blackwell, 2002, p. 58-74.
RedeNÓS. Disponível em www.
obancomundial.org/index.php/content/view_folder/1986.html, acesso em 27 de maio
de 2005, diversos acessos em 2006 e 2007.
SECTI. Disponível em www.secti.ba.gov.br, diversos acessos em 2007.
SCOTT, John. Social network analysis: a handbook. Segunda Edição. Londres,
Reino Unido: Sage Publications, 2000. 208p.
SEBRAE. Disponível em
http://www.sebrae.com.br/br/mpe%5Fnumeros/sub_principais_est.asp, acesso em
12.11.2006.
1
70
SICSÚ, Abraham Benzaquen; DIAS, Adriano B. Competitividade e condicionantes
das políticas de gestão do conhecimento em tempos de estabelecimento do
paradigma eletrônico. In SICSÚ, Abraham B. e ROSENTHAL, David. Gestão do
conhecimento empresarial: concepção e casos práticos. Recife: UNICAP, 2005,
192 p.
SICSÚ, Abraham Benzaquen; LIMA, João Policarpo R. Cadeias produtivas,
cadeias do conhecimento e demandas tecnológicas no Nordeste: análise de
potencialidades e de estrangulamentos. Rio de Janeiro: UFRJ. Disponível em:
http://race.nuca.ie.ufrj.br/Busca/SiteRace.asp. Acesso em: 24 jun. 2006
SILVA, Manuela Ramos da; MAGALHÃES, Osia Alexandrina V.; SANTOS, José
Carlos Sales dos. Fórum de Desenvolvimento Local: uma reflexão sobre as ações do
Fórum de Desenvolvimento Sustentável da Península de Itapagipe, Salvador, Ba.
Anais do X Colóquio Internacional sobre Poder Local. Salvador: NPGA / UFBA,
2006.
SILVA, Marcus Cesar Marinho. Redes sociais intraorganizacionais informais e
gestão: um estudo nas áreas de manutenção e operação da Planta HYCO-8,
Camaçari, Ba. Salvador: NPGA / UFBA, dissertação de Mestrado, 2003, 213 p.
SMA. Disponível em http://www.sba.gov/advo/research/sb_econ2006.pdf, acesso em
20.02.2007.
STOCKINGER, G. A interação em ciberambientes e sistemas sociais. In: LEMOS, A;
PALÁCIOS, M. (Orgs). Janelas do ciberespaço: comunicação e cibercultura.
Porto Alegre: Sulina, 2001. 277 p.
______. Para uma teoria sociológica da comunicação. Salvador: FACOM, 2001.
220 p. Disponível em: <www.facom.ufba.br>. Acesso em: 10 out. 2002. Livro
eletrônico disponibilizado por meio de link.
_______. A dinâmica da comunicação mediatizada em organizações: projeto de
pesquisa. [S.l.: s.n.], 2002.
TAKAHASHI, Tadao (Org). Sociedade da informação no Brasil: livro verde.
Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. 203 p.
TEECE, D. J. Technological change and the nature of the firm. In: DOSI, G. et al.
(org.) Technical Change and Economic Theory. Printer Publisher, London / New
York, 1988, 646 p.
TEIGLAND, R, LINDQVIST, G., MALMBERG, A. E WAXELL, A. Investigating the
Uppsala Biotech Cluster. Research paper do CIND Center for Research on
Innovation and Industrial Dynamics: Suécia, 2004.
171
TEIXEIRA, Francisco (org). Gestão de Redes de Cooperação Interempresariais:
Em busca de novos espaços para o aprendizado e a inovação. Salvador, Ba:
Casa da Qualidade, 2005.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa Ação. São Paulo, Cortez Editora,
1994.
TOCQUEVILLE, A. (1987) A Democracia na América, São Paulo, Ed. da USP.
WASSERMAN, Stanley; FAUST, Katherine. Social Network Analysis: Methods
and Applications. New York, Cambridge University Press, 1994.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin
Claret, 2003, 230 p.
WEICK, Karl E. A Psicologia Social da Organização. Ed. Edgard Blucher, São
Paulo,1969.
WELMANN, Barry. Obra do autor disponível em <www.chass.utoronto.ca/~wellman>
Acessos de 2002 a 2005.
WHITAKER, Francisco. O que são Redes? Disponível em
www.rits.org.br/redes_teste/rd_oqredes.cfm , acessos em 2002 e 24.02.2005.
WOLFE, Alvin W. “The rise of network thinking in anthropology”. Social Networks,
Amsterdam, Holanda, v. 1, n. 1, p. 53-64, 1978.
WOOD JR., Thomaz . “Tipos ideais em estudos organizacionais: da burocracia à
empresa dramática, in CALDAS, Miguel P. e WOOD JR., Thomaz, Transformação e
realidade organizacional: uma perspectiva brasileira. São Paulo, editora ATLAS,
1999 , p.275 a 288.
www.desenvolvimento.gov.br/sitio/sdp/proAcao/micEmpPequeno/forPer_apresentac
ao.php#cont, diversos acessos em 2007.
www.outletcenter.com.br/responsabilidade.html, diversos acessos em 2006 / 2007
www.redesist. ufrj.br. Diversos acessos em 2005.
172
APÊNDICE A: Relação de Entrevistados
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Nome Organização
Adalberto Cantalino SECTI
Ana Paula Bárbara W WORK
André Balbi SECTI
Antonio Natal Kerche VIK Confecções
Arthur Borba Regis AFRO BAHIA
Elizete Magalhães Neves Cardoso SL ROUPAS PROFISSIONAIS
Emanuel Lacerda IEL / SECTI
Felipe Junquilho Araújo W WORK
Hari Hartmann Onda Sport
Hebert Emílio Carrera Castro CONFECÇÕES HEBERT LTDA
Imelda Hartman Onda Sport
Jarbas Ferreira COOPERCONFEC
João Paulo Rodrigues Matta DESENBAHIA
José Loyola Andrade Neto Loygus Camisetas
Luis André Xavier IEL
Rosemma Maluf Outlet Center
Waldomiro Araujo W WORK
William Moura LEME ARTIGOS MILITARES
173
APÊNDICE B: Primeiro Questionário Aplicado à RETEX
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Proposição 1: “Quem é o integrante da rede que você mais admira?”.
_______________________________________________________________
Proposição 2: “Supondo que você precise encaminhar uma reivindicação ao
governo, quem você escolheria para representar a rede?”.
_______________________________________________________________
Proposição 3: “Supondo que a rede seja convidada para participar de uma
concorrência pública, quem você escolheria para elaborar a proposta?”.
_______________________________________________________________
Proposição 4: Supondo que a rede tenha recebido um convite para visitar um centro
de excelência no sul do país, que você escolheria para representar o grupo nessa
visita e repassar conhecimentos?”.
_______________________________________________________________
Proposição 5: “Supondo que a rede seja convidada para participar de conferência
sobre negociações para exportação, quem você elegeria para negociar em nome do
grupo?”.
_______________________________________________________________
Proposição 6: “Supondo a necessidade de fazer a certificação de todas as empresas
da rede, quem você escolheria para liderar o projeto de certificação?”
___________________________________________________________________
Participante_____________________________________Data_____________
174
APÊNDICE C: Segundo Questionário Aplicado à RETEX
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Projeto: Formação de Rede entre Empresários do Setor de Vestuário e Confecções
Assunto: 2ª VOTAÇÃO SIMULADA
Nome do “eleitor”________________________________________________-___
Apelido
41
(se desejado na análise das redes)_____________________________
1) Quais os integrantes da RETEX que você considera mais competentes?
______________________________________________________________________
2) Em quem você confiaria caso estivesse precisando se aconselhar para resolver
uma situação difícil na sua empresa?
___________________________________________________________________
3) Suponha que dois representantes da RETEX devem seguir para um centro de
excelência empresarial em São Paulo com o compromisso de repassar as
informações obtidas e ensinar no retorno aos demais integrantes da rede. Quem
você indicaria?
___________________________________________________________________
4) Suponha que você tem excelentes notícias para a RETEX. Para quem você
divulgaria as notícias?
___________________________________________________________________________
_
41
Para eventual análise da rede com não integrantes da RETEX. Pressupomos que TODOS
concordam com a divulgação INTERNA dos seus nomes no acompanhamento da formação da rede.
175
Indicar as pessoas que você conhecia ANTES da formação da RETEX na relação a
seguir:
Nomes votantes
Conhecidos antes
RETEX
OBS:
1.Elias Alves
2.Taís Marques
3.Vitória Castro
4.Áurea Marques
5.Hebert
6.Américo
7.Hari Hartmann
8.Felipe J. Araujo
9.Arthur Regis
10.Grace Terra
11.Antônio Karche
12.Jarbas Ferreira
13.Alexandre Da Rós
14.Lúcia
15.Adão Silva
16.Imelda Hartmann
17Suzy Manuela
18.Marilea Loria
19.William Moura
20.Elizete
21.Hélio Filho
22.Loyola
23.Edna Jesus
24.Miralva
25.Esdras Hoche
176
APÊNDICE D: Questionário Aplicado às Redes Intra-Organizacionais
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Empresa:____________________________________Cód:________________
Entrevistado (a):_______________________________Cód:_______________
Setor:__________________________Ano de admissão:__________________
Pessoas em que mais confia na empresa:
(Em outras palavras, pessoas que lhe inspiram segurança, crédito, firmeza)
Nome Cod Setor
Pessoas mais amigas na empresa:
(Em outras palavras, pessoas com quem se relaciona mais profissionalmente por amizade)
Nome Cod Setor
Pessoas com quem mais se comunica na empresa:
(Em outras palavras, pessoas com quem trabalha e conversa com maior freqüência)
Nome Cod Setor
Entrevistador:_________________________________Data:____
177
APÊNDICE E: PRESENÇAS NAS REUNIÕES DESTACADAS
42
REDE DE APOIO
AOS APLs
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Organização Representante Datas das Reuniões
1
com Respectivas Presenças
21.11.2005
(*)
23.11
(**)
13.02.2006
(*)
14.03
(**)
24.04
(*)
FAPESB
Alzir Mahl
X - X X
DESENBAHIA
Adelaide Motta
X - X
DESENBAHIA
João Paulo Matta
X X X X
UFBA
Celina Basto
X X X
PROMO
Júlia González
X X X X
SICM Camilla
Vazquezz
X X X
UNIFACS
Jair Nascimento
X -
UNIFACS
Euclerio Ornelas
X -
SECTI
Leila Vita
X X X X X
SECTI
Horácio
Hastenreiter
X - X
SECTI
Adalberto
Cantalino
X X X X X
SEBRAE
André Gustavo
Barboza
X -
SEAGRI
Carlos Fernando
Brito
X -
BNB
Fábio Lúcio
Cardoso
X -
IEL
Evandro Mazo
X - X
SEBRAE
Maria Gordilho
Sobral
X
SEBRAE
Sylvia Marilia
Oliveira
X
SEBRAE
Cristiane Mota
X
SECTI
Liliane Regis de
Almeida
X X
SECTI
Maria Carolina
Paranhos
X
SENAI
Marcelo Luiz
Bervian
X
BB
Humberto Britto
X X
42
Reuniões de caráter geral (*) e reuniões específicas do APL de Confecções (**), também
denominado APL de Moda.
1
178
GESTORA APL DE
CONFECÇÕES
Rosemma Maluf
X
SICM
Adriana Campelo
X
SICM
Milena França
X
SICM
Laelson Ribeiro
X
SEBRAE
Sami Melo
X
SEBRAE
Elane Fróes
X
SECTI
Perisvalter Diniz
X
SECTI
Emmanuel
Lacerda
X X
SECTI
Cláudio Lôpo
X
SECTI
Marcone Botelho
X
SETRAS
Jéferson Moura
X
BNB
Natanael Almeida
X X
SEBRAE José Sérgio
Nogueira
X
IEL Mauricio Penna
X
IEL Cristina
Siquara
X
IEL Luiz Cláudio
Silva
X
SENAI Sandro Dial
X
SECOMP Milton Coelho
X
179
APÊNDICE F: Rede de Amizade na ATIVA
180
Apêndice G - Redes Solicitadas na CAMPEÃ
G.1: Rede de Confiança
181
G.2. Rede de Amizades Mútuas.
G.3. Rede de Comunicação.
182
ANEXO A: Critérios Adotados para Classificação das Micro e Pequenas
Empresas
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
1.Critério do SEBRAE
Tamanho N° de Pessoas
Ocupadas
Micro Até 9 pessoas
Pequena De 10 a 49 pessoas
2. Critério Legal
Lei nº 9.841 de 05/10/1999
Microempresas
Valor da receita anual: Até 244 mil reais
Empresas de pequeno porte
Valor da receita anual: De 244 mil reais a 1,2 milhões de reais
3. BNDES (critério dos países do Mercosul para fins crédito)
Microempresas
Valor da receita anual: Até 400 mil dólares (cerca de 940 mil reais)
Empresas de pequeno porte
Valor da receita anual: De 400 mil dólares a 3,5 milhões de dólares
(cerca de 8,2 milhões de reais)
183
ANEXO B: Natalidade e Mortalidade de Micro e Pequenas entre 1998 e 2000
segundo o IBGE
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Ano / Taxas Empresas Comerciais Empresas de Serviços
Pessoas Pessoas
05 a 9 06 a 19 20 e + 05 a 9 06 a 19 20 e +
1998
Taxa de natalidade 20,4 8,4 6,5 26,7 10,6 7,3
Taxa de mortalidade 18,1 6,8 5,8 20,1 8,4 10,7
1999
Taxa de natalidade 24,0 10,2 6,0 29,4 12,3 8,5
Taxa de mortalidade 16,6 6,5 7,3 19,3 8,4 7,2
2000
Taxa de natalidade 22,7 11,3 6,6 27,1 12,7 9,0
Taxa de mortalidade 15,8 7,1 6,2 19,0 9,7 6,8
184
ANEXO C: Parceria Institucional que constituiu o APL de Confecções em abril
de 2004 / Relação dos Signatários
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Governo do Estado da Bahia
Prefeitura Municipal de Salvador
Ministério do Desenvolvimento, Indústria o Comércio Exterior, MDIC
Ministério do Trabalho e Emprego-Consórcio Social da Juventude
Confederação Nacional das Indústrias
Agência de Promoção de Exportações do Brasil, APEX
Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecções, ABIT
Agência de Fomentos do Estado da Bahia S/A, DESENBAHIA
Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, USAID/Projeto Cresce
Associação Comercial da Bahia, ACB
Bahia Outlet Center
Banco do Brasil
Banco do Nordeste
Caixa Econômica Federal
Centro de Design da Bahia
Companhia de Desenvolvimento do Estado da Bahia, CONDER
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos-CORREIOS
Federação das Indústrias do Estado da Bahia, FIEB
Instituto Euvaldo Lodi, IEL
Centro de Internacionalização de Negócios da FIEB(CIN)
Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia, FAPESB
Programa de Apoio a Competitividade das Micros e Pequenas Indústrias, PROCOMPI
Centro Internacional de Negócios da Bahia, PROMO
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, SEBRAE / BA
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, SENAC
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, SENAI
Serviço Social da Indústria, SESI
Sindicato da Indústria do Vestuário, SINDVEST
Universidade Federal da Bahia, UFBA
Universidade Salvador, UNIFACS
Universidade Católica de Salvador, UCSAL
Rede de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais do Estado na Bahia
185
ANEXO D: Extrato da Pesquisa de Freitas (2006) No APL de Confecções
CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS
PARA AS INOVAÇÕES NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:
Um Caso na Indústria do Vestuário
Figura 31: Rede das fontes de informações preferenciais (Fonte: FREITAS, 2006)
186
Figura 32: Rede para aquisição conjunta (Fonte: FREITAS, 2006)
187
Figura 33: Rede para defender interesses (Fonte: FREITAS, 2006)
Figura 34: Rede para compra conjunta (Fonte: FREITAS, 2006)
188
Figura 35: Rede para venda conjunta (Fonte: FREITAS, 2006)
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo