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Os guaranis nunca vão plantar florestas, como o branco destruiu e nós vamos plantar
de novo. Os projetos devem ser discutidos dentro das comunidades (cacique,
lideranças e índios guaranis), entre os próprios índios deve haver a discussão dos
seus problemas, os índios não sabem, o estatuto, os programas estão sendo feitos por
outras pessoas que não os índios.
Os quilombolas usam do mesmo rio, o mesmo peixe, a madeira da mata, que fazia a
casa pau a pique, é a mesma. Índios e quilombolas usam o mesmo sistema, a mesma
natureza, então eles também devem ser consultados, o homem que trabalha de
verdade, que dá o verdadeiro valor da mata nativa. Estes projetos devem ser
repassados e discutidos pelas comunidades que de fato são os maiores interessados.
Os índios guaranis também não estão sendo consultados na solução dos seus
problemas.
Que este espaço sirva não só para marcar posições mais que sirva efetivamente para
a construção de uma proposta conjunta de sustentabilidade e desenvolvimento (fala
de Ivonete Carvalho, presidente do CODENE, segundo Ata do Seminário
Sustentabilidade e Diversidade Sócio-Cultural, 2002).
Ivonete é negra, representava ali as comunidades quilombolas, mas falava sobre todos
os grupos ali representados, falava, antes de tudo, dos “diferentes”. Veio em seguida o
pronunciamento (incisivo) de um representante Mbyá-Guarani, liderança da aldeia de
Riozinho, Felipe Brizuela:
(...) Oportunidade de nós indígenas pedir o que nós queremos, muitos me
conhecem, mas o que eu vejo nas reuniões, muitas coisas que não mudam, por mais
que dizem que hoje o povo está conseguindo, mas eu não vejo isto.
Quem vai resolver o que precisamos não é só o líder, que sou eu, mas as
comunidades, as famílias. Muitos povos foram destruídos, de formas diferentes, mas
todas com as doenças, com sofrimento. Kaingang, Guarani – um rapidamente, outro
lentamente, mas a mesma dor, e não tem solução. Muito trabalham vocês,
Universidade, estado etc. Muitos se comprometem com os povos, mas não ajudam, e
não ajudaram, não tem forma de trabalho, não tem possibilidade de trabalhar.
“Nós queremos dar ajuda, mas os índios não sabem aproveitar”, mas eu não acho
que seja isto, na verdade vocês se aproveitam de nós. Deixar espaço para o povo se
organizar, para poder deixar o povo se falar, se entender e se organizar. Aí você tem
um trabalho perdido. (...) Não existem mais comunidades, mas acampamentos.
“Vocês têm que se organizar”, isto é certo, mas como vamos nos organizar sem
condições? Precisamos de recursos, de apoio.
Até hoje, vocês não chegaram a entender a necessidade do povo, ainda não
conseguimos trabalhar juntos, porque vocês não foram até lá, só ficaram na cidade!
Tem que caminhar para conhecer a realidade, tem que ir até lá.
Se não é esta oportunidade hoje, nós não nos falaríamos, encontrei muitos amigos
aqui. Antigamente, a terra não tinha divisões, não precisava contornar as divisas de
terra, a terra era nossa, caminhávamos livremente.
Vocês são estudiosos, mas pelo papel, não pela consciência e pela realidade.
Se meu filho está doente, não serve mais eu saber das ervas, tem que levar no
médico. Não vejo solução. Temos que nos enxergar, possibilidade de nos
enxergarmos, aí saberemos o que a comunidade necessita – representatividade
correta, verdadeira.