Download PDF
ads:
EDNA MAGALHÃES DE ALENCAR BARBOSA
BOLETIM INFORMATIVO EM UTI: PERCEPÇÃO DE
FAMILIARES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE
G
OIÂNIA
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
EDNA MAGALHÃES DE ALENCAR BARBOSA
BOLETIM INFORMATIVO EM UTI: PERCEPÇÃO DE
FAMILIARES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE
DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO, DA FACULDADE
DE
ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, PARA
OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ENFERMAGEM.
Á
REA DE CONCENTRAÇÃO: CUIDADO EM ENFERMAGEM
L
INHA DE PESQUISA: PROCESSO DE CUIDAR EM SDE E
ENFERMAGEM
O
RIENTADORA: PROFª DVIRGINIA VISCONDE BRASIL
GOIÂNIA
2006
ads:
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO
, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,
DESDE QUE CITADA A FONTE
.
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(GPT/BC/UFG)
Barbosa, Edna Magalhães de Alencar.
B239b Boletim informativo em UTI: percepção de familiares
e profissionais de saúde / Edna Magalhães de Alencar
Barbosa. – Goiânia, 2006.
129 f.
Orientadora: Virginia Visconde Brasil.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de
Goiás, Faculdade de Enfermagem, 2006.
Bibliografia: f.116-123.
Inclui anexo e apêndices.
1. Cuidados em Enfermagem 2. Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) – Boletim informativo – Percepção –
Família 3.Terapia intensiva – Relação profissional -
Família I. Brasil, Virgínia Visconde I.Universidade
Federal de Goiás. Faculdade de Enfermagem
III.Título.
CDU: 616-085-083
DEDICATÓRIA
A Deus, pela proteção e direção em todos os momentos de minha
vida. Foi meu orientador, por excelência.
Ao meu querido pai Edmundo, (in memoriam), pela herança de sua
sabedoria e inteligência que, com certeza, contribuíram para as
minhas conquistas.
A minha mãe Terezinha, mulher simples e sábia, minha principal
motivadora, jamais mediu esforços para que eu estudasse.
Ao meu esposo e amado Ribamar, pelo amor incondicional e
verdadeiro. Companheiro fiel, que nos momentos mais diceis soube
me acolher.
Aos meus filhos, motivos da minha luta, Michele, Lucas e Amanda,
pela compreensão dos longos períodos de ausência e pelo amor,
carinho e apoio, nos momentos de cansaço e estresse.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
À Prof
a
Dr
a
Virginia Visconde Brasil
Pela pessoa que é – iluminada, competente, carinhosa,
compreensiva, dedicada e disponível. Obrigada por aceitar essa
orientação e pela confiança em mim depositada. Seus
ensinamentos e a sua maneira em me conduzir na busca dos
meus próprios caminhos, contribuíram para o meu crescimento
pessoal e profissional que, certamente, me acompanharão por toda
vida. Você é um exemplo de ser humano a ser seguido.
AGRADECIMENTOS
À Prof
a
Dr
a
Maria Júlia Paes da Silva, pela oportunidade de
expressar a minha admiração e por compartilhar conosco seus
conhecimentos.
À Prof
a
Dr
a
Elizabeth Esperidião Cardoso, pelas sugestões
enriquecedoras para a construção deste trabalho.
À Prof
a
Dr
a
Denize Bouttelet Munari, pelas valiosas considerações
e pela competência em conduzir este Programa de Pós-Graduação.
À Prof
a
Dr
a
Vanessa da Silva Carvalho Vila, amiga e companheira,
que nos momentos de angústia, suas palavras carinhosas sempre me
transmitiram algo de muito positivo e pelas importantes contribuições
durante todo esse processo.
Á Prof
a
Dr
a
Lizete Malagoni A. C. Oliveira, pela disponibilidade e
carinho em contribuir com importantes sugestões.
Aos familiares dos pacientes internados na Unidade de Terapia
Intensiva pelo compartilhar dos seus sofrimentos, dúvidas e
esperanças, na construção de uma realidade mais humana.
Aos profissionais de saúde das UTI, informantes do estudo, pela
receptividade e pela contribuição para o alcance dos meus objetivos.
À Diretoria de Enfermagem do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Goiás, pelo estímulo para a realização desse
estudo.
Aos Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem e demais
profissionais da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das
Clínicas, colegas de trabalho, pela torcida para conclusão desse
trabalho.
À Superintendência de Políticas de Atenção Integral à
Saúde/SES/GO, pelo incentivo e compreensão nos momentos de
ausência no trabalho.
Á May Socorro, minha amiga, por ter me incentivado a buscar o
Mestrado e participado dos primeiros passos.
Aos colegas da Pós-Graduação, pela oportunidade de conviver,
aprender e compartilhar os momentos alegres e difíceis.
Aos colegas docentes da disciplina “Enfermagem em Terapia
Intensiva,” da Universidade Católica de Goiás, Nilde, Sandra, Sílvio
e Vanessa, pela compreensão e colaboração nas ocasiões em que
deixei de participar das atividades.
A todos que, de alguma maneira, contribuíram para a realizão
deste trabalho.
RESUMO
BARBOSA, E.M.A. Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e
profissionais de saúde. 2006. 129 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) -
Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2006.
No cotidiano da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) a família mostra-se ansiosa,
tem medo da perda, do desconhecido e se vê desamparada. Essa situação é
mais crítica quando se depara com uma unidade de acesso limitado por horários
rígidos, curto tempo de visita e restrito número de visitas, por paciente. Dentre as
normas e rotinas da maioria das Unidades de Terapia Intensiva (UTI), encontra-se
aquela relativa às informações clínicas sobre os pacientes internados, que
geralmente são fornecidas por meio de um Boletim Informativo (BI), contendo
termos como: grave, estável, regular, que não esclarecem satisfatoriamente o
estado do familiar internado. É muito comum que a família tenha acesso ao
Informativo e busque informações adicionais por meio de telefonemas ou
pessoalmente na UTI. Trata-se de estudo descritivo, exploratório com objetivo de
identificar semelhanças e diferenças entre os Boletins Informativos das UTI e
entre as rotinas de transmissão de informações aos familiares de pacientes
internados em UTI; descrever a percepção de profissionais enfermeiros, médicos
e familiares sobre o Boletim Informativo, como instrumento de comunicação do
estado clínico do paciente internado em UTI; identificar os aspectos da
comunicação envolvidos na compreensão dos Boletins Informativos das UTI pelos
familiares e profissionais de saúde; identificar sugestões dos profissionais
enfermeiros, médicos e familiares, que possibilitem a elaboração de um
informativo adequado às necessidades de informação dos familiares. O estudo foi
realizado em quatro UTI de hospitais públicos de ensino e grande porte, da cidade
de Goiânia-GO. Os participantes do estudo foram: 18 familiares de pacientes
internados nas UTI e 23 enfermeiros e médicos que atuam nestes serviços. Os
dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e analisados
considerando as orientações de Bardin (2004), para análise do conteúdo das
respostas. A comparação entre as rotinas de informação de cada UTI e os
diversos boletins indicou que eles são semelhantes tanto na forma quanto no
conteúdo, incluindo itens referentes ao estado geral, nível de consciência,
respiração, pressão arterial, febre e diurese dos pacientes internados. Da análise
dos resultados emergiram quatro categorias nomeadas “Boletim Informativo:
linguagem técnica, simplificada e não individualizada”; “Boletim Informativo: a falta
de critérios para elaboração”; “Boletim Informativo: satisfatório na medida do
possível”; “Boletim Informativo: a compreensão mediada pelo processo
comunicativo”. A maioria dos informantes caracterizou o Boletim Informativo como
pouco compreensível e cuja linguagem técnica não esclarece a situação do
paciente, gerando confusão e dúvidas sobre a confiabilidade das informações.
Consideraram-no também subjetivo e controverso pela falta de critérios de
consenso sobre os termos usados na sua elaboração. O BI pode ainda ser
gerador de angústia e desesperança por apresentar dados pouco relevantes e por
vezes desencontrados. Contudo, alguns informantes mencionaram que o BI é
uma forma eficaz de transmitir informações e capaz de atingir a percepção do
familiar por ser simples e porque existem aspectos éticos que limitam sua
elaboração. Ressaltaram a importância de receber as informações de maneira
mais descritiva e interativa, com a inclusão de itens menos técnicos e um
glossário anexo, que permitam ao familiar acompanhar a evolução do seu
parente, sendo transmitido por profissional capacitado. Identificou-se similaridade
nos discursos dos profissionais e familiares, e uma prática profissional não
condizente com o exposto. Isso nos leva a refletir que são fundamentais as
mudanças na forma e conteúdo dos BI, bem como a revisão de alguns modos
cotidianos de pensar e agir. Pressupõe ainda a compreensão de que a excelência
da qualidade da assistência, baseada na comunicação efetiva, envolve
reorganização do processo de trabalho em dimensões teóricas, práticas, políticas,
organizacionais e interpessoais. Porém, este processo de mudança está mais na
dependência de mudanças pessoais do que externas, pois a qualidade da tarefa
assistencial envolve não apenas o agir técnico, mas, sobretudo a dimensão
humana, que certamente decorre da interação, do diálogo efetivo, do respeito à
diversidade de percepções, enfim, da mudança de comportamentos. Significa
transformar em ações o discurso do “atender com qualidade”.
Descritores: Enfermagem, Unidade de Terapia Intensiva, Comunicação.
ABSTRACT
BARBOSA, E. M. A. Informative Bulletin in the ICU: perception of family
members and health professionals. 2006. 129 p. Dissertation (Masters Program in
Nursing) School of Nursing, Federal University of Goiás, Goiânia, 2006.
In the daily routine of the intensive therapy, the patient’s family is anxious, afraid of
their loss, of the unknown, and feels desolate. This situation is more critical when
they have to face a health unit with limited access due to strict schedule, short
time for visits, and restricted number of visitors per patient. Among the guidelines
of most Intensive Care Units (ICU), there is the clinical information about the
patients, generally provided to the family through an Informative Bulletin (IB)
containing terms such as severe, stable, regular, which do not satisfactorily
enlighten them as to the condition of their relative. It is very common for the family
to receive the IB and still search for additional information by telephone or
personally in the ICU. The present dissertation is a descriptive exploratory study
with the purpose of to identify similarities and differences among various IBs of
ICU and the routine of information to the family members in the ICUs; to describe
the family members and health professionals’ perception about the IB as an
instrument to communicate the clinical state of the ICU patient; to identify the
communication aspects involved in the comprehension of the ICU Informative
Bulletin by the professionals and family members; to identify suggestions given by
the professionals and family members in order to create suitable IBs to the family
members’ needs. The study was carried out in four ICUs of public hospital
schools, located in Goiânia-GO, a capital city in the midwestern region of Brazil.
The participants were 18 people with a family member under treatment in an ICU
and 23 nurses and doctors that work there. Data were collected through semi
structured interviews followed by answer content analysis in accordance with
Bardin (2004). Comparison between information routine of each ICU and the
various IBs indicated that they are similar both in form and content, including items
about the patient’s general state, consciousness, breathing, blood pressure, fever
and diuresis. Analyzing the results, four categories were observed and named
“Informative Bulletin: technical, simplified and not individualized terms”,
“Informative Bulletin: there is a lack of criteria on its elaboration”, “Informative
Bulletin: as satisfactory as it can be”, “Informative Bulletin: comprehension
mediated by the communicative process”. Most participants characterized the IB
as not clear and containing technical terms, not elucidative about the condition of
the patient, generating confusion and doubts about the information reliability. They
also considered it subjective and controversial due to lack of consensus criteria on
the terms used. The IB may also generate anguish and hopelessness because it
presents information that is not relevant or even contradictory. However, some
participants mentioned that the IB is an effective way to transmit information and
reach the family member perception because it is simple and there are ethical
aspects that limit its content. They also emphasized the importance of receiving
the information they would like in a more descriptive and interactive way, as well
as the inclusion of other items. It was possible to identify similarities in the
discourses of the professionals and family members and a professional practice
that did not correspond to the discourse. This leads to the reflection that a change
is vital both in form and content used in the IBs, and that it is necessary to revise
some routine ways of thinking and acting. This presumes the understanding that
the assistance service excellence, based on effective communication, involves
reorganizing the process of work in the theoretical, practical, political,
organizational, and interpersonal dimensions. Nevertheless, this process of
change is more dependent on personal changes than on external ones, because
the quality of the assistance involves not only the technical act, but mainly the
human dimension, which certainly derives from the interaction, the effective
dialogue, the respect to the diversity of perceptions, the changes in behavior. It
means to transform the discourse of “attention with quality” into action.
Keywords: Nursing, Intensive Care Unity, Communication.
FOLHA DE APROVAÇÃO
EDNA MAGALHÃES DE ALENCAR BARBOSA
BOLETIM INFORMATIVO EM UTI: PERCEPÇÃO DE FAMILIARES E
PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem – Mestrado, da Faculdade de
Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, para
Obtenção do Título de Mestre em enfermagem.
Área de Concentração: Cuidado em Enfermagem
Linha de Pesquisa: Processo de Cuidar em Saúde e
Enfermagem
Aprovada em 22 de dezembro de 2006.
BANCA EXAMINADORA
Prof
a
Dr
a
Virginia Visconde Brasil
- FEN/UFG
(Orientadora e Presidente da Banca)
Prof
a
Dr
a
Maria Júlia Paes da Silva – USP/SP (Membro Efetivo)
Prof
a
Dr
a
Elizabeth Esperidião Cardoso – FEN/UFG (Membro Efetivo)
Prof
a
Dr
a
Vanessa da Silva Carvalho Vila – UCG/GO (Membro Suplente)
Prof
a
Dr
a
Denize Bouttelet Munari – FEN/UFG (Membro Suplente)
SUMÁRIO
1.0 INTRODUÇÃO
01
2.0 OBJETIVOS
10
3.0 REVISÃO DA LITERATURA
12
3.1 O BOLETIM INFORMATIVO COMO FONTE DE INFORMAÇÃO AO FAMILIAR
DO
PACIENTE INTERNADO NA UTI
14
3.2 NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO DOS FAMILIARES DE PACIENTES EM
UTI
20
4.0 M
ETODOLOGIA
45
4.1 CENÁRIO DO ESTUDO 47
4.2 TRABALHO DE CAMPO 48
4.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS 51
4.4 ASPECTOS ÉTICOS 52
5.0 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
53
5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DO ESTUDO 54
5.2 COMPARAÇÃO ENTRE OS BOLETINS INFORMATIVOS DAS UTI 56
5.3 COMPARAÇÃO ENTRE AS ROTINAS DE TRANSMISSÃO DE INFORMAÇÕES 58
5.4
BOLETIM INFORMATIVO EM UTI: PERCEPÇÃO DE FAMILIARES E
PROFISSIONAIS DE SAÚDE
62
5.4.1 BOLETIM INFORMATIVO: LINGUAGEM TÉCNICA, SIMPLIFICADA E NÃO
INDIVIDUALIZADA
64
5.4.2 BOLETIM INFORMATIVO: A FALTA DE CRITÉRIOS PARA A
ELABORAÇÃO
73
5.4.3 BOLETIM INFORMATIVO: SATISFATÓRIO À MEDIDA DO POSSÍVEL 82
5.4.4
BOLETIM INFORMATIVO: A COMPREENSÃO MEDIADA PELO
PROCESSO COMUNICATIVO
94
6.0 CONCLUSÕES
109
7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
112
REFERÊNCIAS
115
A
PÊNDICES
123
A
NEXO
128
1.0 - Introdução
Introdão
_____________________________________________________________________________________________________________
2
O interesse pelo estudo advém da minha vivência profissional no
ambiente de cuidados intensivos e dos conhecimentos adquiridos, durante o
Curso de Especialização em Terapia Intensiva, quando a partir de discussões
acerca do cuidado humano, percebi no meu trabalho um aspecto que, até então,
pouco me chamara a atenção: a família do paciente crítico.
Minha prática profissional sempre esteve centrada nos cuidados ao
paciente, com ênfase no atendimento de necessidades que representassem risco
imediato à sua vida. A satisfação de necessidades psico-emocionais, afetivas e
ou espirituais era considerada uma atividade extra ou complementar, realizada de
forma casual e assistemática. Assim, a competência técnica, a busca por
atualização científica contínua e as habilidades em manusear os sofisticados
aparatos tecnológicos pareciam ser os requisitos profissionais mais importantes
para garantir um atendimento de alta qualidade nas UTI (Unidade de Terapia
Intensiva).
Até então, a família do paciente não era tida como parte integrante de
minhas responsabilidades como profissional de saúde que atua em UTI. Foi
depois da experiência como aluna da disciplina “Humanização em UTI”, durante
minha especialização, que comecei a perceber que os familiares dos pacientes
também apresentavam importantes necessidades que precisavam receber
atendimento profissional para que não se constituíssem em risco para sua saúde
psicológica e mesmo física. Assim, comecei a me aproximar da família dos
pacientes, procurando conhecer melhor sua experiência para inseri-la no plano de
assistência.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Introdão
_____________________________________________________________________________________________________________
3
Esse contato mais próximo com os familiares possibilitou-me perceber
que essa tarefa se constituía em grande desafio. A realidade da terapia intensiva
é permeada por circunstâncias que envolvem sentimentos e emoções, quase
sempre difíceis de lidar.
A dificuldade em lidar com a família levou-me a investigar, juntamente
com um grupo de colegas enfermeiras, os fatores que interferiam no
relacionamento enfermeiro-família, tema do trabalho desenvolvido ao final do
curso de especialização (BARBOSA et al., 2002). Além dos objetivos propostos,
tive a oportunidade de constatar várias necessidades dos familiares de pacientes
hospitalizados na terapia intensiva. Dentre estas, uma que me incomodou
bastante se relacionava à maneira como os familiares obtinham informações
sobre as condições clínicas dos pacientes internados na Unidade de Terapia
Intensiva.
De maneira geral, na admissão do cliente, os profissionais das UTI
costumam fornecer orientações aos familiares sobre normas e rotinas da unidade.
As informações sobre o quadro clínico do paciente freqüentemente são fornecidas
pelo médico da unidade durante e/ou após o horário de visitas ou transmitidas por
meio de informações escritas que, em geral, constituem-se de um impresso
preenchido pelo médico.
No dia-a-dia do meu trabalho em UTI, tem sido possível observar que o
primeiro contato com os familiares é feito pelo enfermeiro no momento da
admissão do paciente, quando eles são informados sobre as regras para visitas,
recebem os pertences do paciente e fornecem um número de telefone para
contato eventual. Nesse encontro o familiar recebe um impresso contendo
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Introdão
_____________________________________________________________________________________________________________
4
esclarecimentos gerais sobre a UTI.
As orientações do enfermeiro, bem como o conteúdo do folheto, são
predominantemente pontuais e objetivas, caracterizando o afastamento afetivo-
relacional entre esse profissional e o familiar, prática comum nas UTI.
No momento da visita, os familiares são orientados a vestir um capote e
acompanhados até à pia dentro da unidade, para proceder a lavagem das mãos.
Rotineiramente, ao final da visita vespertina o médico plantonista conversa com a
família sobre o quadro clínico do paciente.
Fora do horário da visita, os familiares podem obter essas informações
por telefone, com o serviço de recepção do hospital, as quais são lidas em um
relatório elaborado pelo médico plantonista da UTI, denominado “Boletim Médico”.
Esse boletim é atualizado pela manhã e à noite informando o estado do paciente,
utilizando termos como “estável”, “regular” e “grave”, dentre outros.
O que mais me inquietou foi perceber que mesmo tendo acesso ao
informativo, freqüentemente, os familiares buscam mais detalhes com os
profissionais da UTI, pessoalmente ou por telefone, procurando esclarecimentos
acerca do que foi transmitido. A maioria deles desconhece o significado dos
termos técnicos empregados, sugerindo que as expressões contidas no
informativo, além de dificultar o entendimento, podem gerar momentos
estressantes e angustiantes.
Essa situação também foi registrada no estudo realizado por Correa et
al. (2002), que relatam que os familiares de pacientes com freqüência
experienciam ansiedade, insegurança, medo, e para amenizar estes sentimentos,
buscam informações sobre o estado de saúde de seu parente, abordando vários
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Introdão
_____________________________________________________________________________________________________________
5
profissionais, na tentativa de checarem as informações e se sentirem mais
seguros.
Outra situação a ser considerada é a maneira como o informativo é
transmitido. A pessoa designada para tal função desconhece o significado das
expressões contidas, restringindo-se em ler o que está escrito. Muitas vezes o
familiar não entende a linguagem técnica empregada, podendo fazer
interpretações e conclusões equivocadas.
Refletindo sobre a utilidade do informativo para manter a família a par
das reais condições de saúde do seu parente, observei que o mesmo não
contemplava a finalidade, pois era constituído de mensagens sem significado para
a maioria dos familiares.
Na realidade, parece haver falha no processo de comunicação,
especialmente na compreensão da mensagem recebida, isto é, o boletim não
informa o suficiente.
Para Silva (2003), comunicação adequada é aquela apropriada a uma
determinada situação, pessoa, tempo e que atinge um objetivo definido, ou seja,
para que ocorra, é necessário que existam resposta e validação das mensagens
enviadas. Está intimamente associada à capacidade de percepção do receptor e
depende da habilidade e da técnica utilizada pelo emissor.
Portanto, a interação eficaz entre o profissional de saúde e o familiar
deverá ser baseada em percepções congruentes, isto é, acontecerá quando a
mensagem for interpretada adequadamente. Logo, é importante que o
profissional, ao oferecer uma informação certifique-se que ela tenha sido
compreendida corretamente, esclarecendo as dúvidas e corrigindo os erros de
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Introdão
_____________________________________________________________________________________________________________
6
interpretação com a certeza de que a não-captação de uma mensagem não
significa a sua inexistência, mas a sua incompreensão. Nesta situação, o objetivo
da comunicação, cujo significado no latim é “por em comum” (comunicare), não
está sendo atingido (SILVA, 2002; SILVA, 2003).
Diante dessas inquietações surgiram as seguintes questões: o boletim
informativo atende às necessidades de informação dos familiares? Que tipo de
informação, eu, enquanto familiar de alguém internado na terapia intensiva
gostaria de receber? Os profissionais da UTI consideram o informativo um veículo
de informação satisfatório e compreensível para o familiar? Como são os boletins
das outras UTI?
Revisando a literatura, observei poucos estudos abordando sobre esse
informativo. E ainda, que não há denominação específica para ele (boletim,
folheto ou outro nome), embora a maioria das UTI tenha esse veículo de
comunicação escrita para informar sobre o estado clínico dos pacientes.
Assim, no presente estudo, esse meio de comunicação escrita das UTI
será doravante denominado “Boletim Informativo”.
É útil destacar que no Brasil há estudos como os de Oliveira (1991);
Santos (1998); Vila (2001); Nascimento & Trentini (2004), que se referem a um
informativo como uma maneira de cientificar o familiar sobre o quadro clínico do
paciente crítico.
Os demais estudos encontrados (Stephen et al., 2005; Henneman &
Cardin, 2003; Azoulay et al., 2002a) fazem referência ao informativo como um
instrumento destinado a fornecer informações sobre normas e rotinas da UTI,
equipamentos utilizados e, por vezes, apresentam vocabulário contendo termos
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Introdão
_____________________________________________________________________________________________________________
7
comumente usados nestes serviços. No entanto, quando se trata de informações
relacionadas ao diagnóstico, tratamento e prognóstico do paciente, há uma
tendência em priorizar o contato pessoal e a presença do profissional médico para
transmitir as informações.
O estudo de Vila (2001), embora não tenha aprofundado a discussão
sobre o Boletim Informativo, mencionou que este é repleto de informações
genéricas tais como “grave”, “estável”, “regular” que não traduzem as
particularidades de um estado ou da evolução dos pacientes.
Nascimento & Trentini (2004) apontam que as informações sobre o
quadro clínico dos pacientes críticos costumam ser fornecidas num determinado
horário, freqüentemente pelos médicos, dificilmente pelos enfermeiros e, em
alguns serviços, por meio de boletins, contendo dados como, paciente “muito
grave”, “estável”, “melhorando”.
Santos (1998, p. 57) investigou as necessidades de familiares em UTI
e evidenciou falhas no processo de comunicação, relacionadas ao Boletim
Informativo, ao observar o seguinte relato de um familiar:
“[...] pois é. Lá dão informação na hora da visita (...) dão aquela na portaria
também, aquela assim - o doente está bem, o doente está regular (...) a
gente lá sabe o que é regular? Não sou médica, não somos do hospital,
penso que nem aqui muita gente não sabe o que é regular ou é bem”.
Esse contexto me intriga e estimula buscar uma proposta que minimize
esta situação e atenda às necessidades dos familiares. Acredito que exista
grande diversidade de rotinas, entre as diferentes instituições de saúde, e que em
alguns serviços o informativo pode ser mais completo e ou mais compreensível. É
válido lembrar que, quando uma pessoa pública encontra-se internada em uma
UTI e o seu quadro clínico é divulgado pela imprensa, as informações são
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Introdão
_____________________________________________________________________________________________________________
8
oferecidas com maior clareza presteza e objetividade, sendo inteligíveis para
quem as ouve, o que demonstra que há possibilidade de mudança.
Torna-se imprescindível, portanto, que os profissionais tomem
consciência da importância de uma comunicação efetiva e empática. O processo
de humanização envolve comunicação e deve ser construído com interação,
diálogo, capacidade de perceber o ponto de vista do outro e tornar-se humano.
Isso implica redimensionar o poder da equipe de saúde e repensar a atenção à
família, passando a considerá-la como um importante elo do cuidado. Enfim,
transformar em ações competentes o discurso do “atender com qualidade”.
Assim, minha vivência como enfermeira em UTI e docente em um
Curso de Graduação em Enfermagem, ministrando a disciplina “Enfermagem em
Terapia Intensiva”, preocupada em proporcionar uma assistência humanizadora e
de qualidade ao paciente e sua família, considerando todas as indagações
relacionadas à informação transmitida ao familiar, por meio do Boletim
Informativo, desenvolvi esse estudo, partindo da perspectiva dos familiares e dos
profissionais, a fim de analisar a satisfação e a compreensão do familiar em
relação às informações escritas recebidas. Além disso, busquei sugestões para a
elaboração de um instrumento que permita atender, de maneira mais adequada, à
necessidade de informação dos familiares sobre o quadro clínico dos seus
parentes internados.
Este estudo pretende fornecer subsídios para reflexão dos profissionais
que atuam em UTI sobre o conteúdo do Boletim Informativo e a maneira mais
adequada de se transmitir informações aos familiares, “colocando em comum”, os
fatos.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Introdão
_____________________________________________________________________________________________________________
9
O impacto de pesquisas que exploram e elucidam a realidade tende a
favorecer mudanças de comportamentos arraigados na rotina do “fazer sem
reflexão”, principalmente no que se refere ao resultado de cada uma das ações
profissionais. É necessário, como afirma Turrini (2004), que se busque uma
“cultura de qualidade”, que não esteja centrada nos resultados imediatos. O
conjunto de indicadores de resultados é que permitirá inferir a qualidade do
atendimento prestado, qualidade que cada um de nós reconhece, respeita e que é
direito de todo ser humano.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
2.0 - OBJETIVOS
Objetivos
_____________________________________________________________________________________________________________
11
Diante do exposto os objetivos estabelecidos para a pesquisa foram:
9 identificar semelhanças e diferenças entre os Boletins Informativos das UTI e
entre as rotinas de transmissão de informações aos familiares de pacientes
internados em UTI;
9 descrever a percepção de profissionais enfermeiros, médicos e familiares
sobre o Boletim Informativo como instrumento de comunicação do estado
clínico do paciente internado em UTI;
9 identificar os aspectos da comunicação envolvidos na compreensão do
Boletins Informativos das UTI pelos familiares e profissionais de saúde;
9 identificar sugestões dos profissionais enfermeiros, médicos e familiares, que
possibilitem a elaboração de um informativo adequado às necessidades de
informação dos familiares
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
3.0 - REVISÃO DE LITERATURA
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
13
Diferentes trabalhos têm se preocupado em considerar a família como
cliente dos profissionais de saúde (OLIVEIRA, 1991; SANTOS, 1998; AVELINO,
1999; HENNEMAN & CARDIN, 2003; MOULT et al. 2004; HUGHES et al. 2004;
URIZZI, 2005; GOTARDO & SILVA, 2005; OLIVEIRA et al. 2005).
Parece claro, a todos, que a informação sobre o estado do paciente
internado na terapia intensiva constitui um dos fatores que contribuem para a
humanização destas unidades, à medida que apontam o acesso às informações
como uma das principais necessidades dos familiares.
Esse capítulo discorrerá inicialmente sobre o Boletim Informativo como
fonte de informação ao familiar do paciente internado na UTI e, a seguir, serão
apresentados estudos que abordam as necessidades de informações dos
familiares. Serão explanados ainda, alguns aspectos legais e bioéticos
relacionados à informação e outros referentes ao processo comunicacional,
considerados de total relevância para a fundamentação teórica desse estudo.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
14
3.1 - O BOLETIM INFORMATIVO COMO FONTE DE INFORMAÇÃO AO
FAMILIAR DO PACIENTE INTERNADO NA UTI
¾ CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DO BOLETIM INFORMATIVO
Dentre as normas e rotinas que refletem a dinâmica e continuidade do
modelo de atendimento, na maioria das UTI, encontra-se aquela relativa ao
fornecimento de informações sobre os pacientes internados. Uma das maneiras
utilizadas é a escrita, geralmente, fornecida por meio de um Boletim Informativo
(OLIVEIRA, 1991; NASCIMENTO & TRENTINI, 2004).
O Boletim Informativo é um instrumento destinado a fornecer
informações sobre o quadro clínico do paciente, apresentado em impresso
preenchido pelo médico e transmitido por telefone ou pessoalmente na recepção
do hospital. Em geral, é composto de dados que incluem a avaliação do nível de
consciência e estado geral, bem como informações mais objetivas, incluindo
condições respiratórias, pressão arterial, temperatura e volume urinário
(OLIVEIRA, 1991; VILA, 2001; NASCIMENTO & TRENTINI, 2004).
Esses autores o consideram como um importante veículo de
comunicação entre os profissionais de saúde da UTI e os familiares, pois se
constitui em oportunidade para oferecer informações à família sobre a evolução
do quadro clínico do paciente internado e conseqüentemente contribuir para a
satisfação do familiar sobre a assistência prestada.
Trata-se de um instrumento sucinto que apresenta linguagem e
terminologia técnica. Por essa razão, estudos apontam que apesar de ser uma
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
15
fonte de informação sobre o paciente, na maioria das vezes, não atende à
finalidade de prover a família com dados que lhe permitam uma noção geral sobre
as condições do paciente (OLIVEIRA, 1991; SCARELLI, 1993; VILA, 2001;
NASCIMENTO & TRENTINI, 2004).
Rotineiramente é possível observar que existem várias formas de se
avaliar a evolução e o prognóstico do paciente, destacando-se os Índices
Prognósticos APACHE II (Acute Physiology And Chronic Health Evaluation) e o
SOFA (Sequential Organ Failure Assessment). Ambos objetivam avaliar as
condições dos sistemas neurológico, respiratório, cardiovascular, gastrintestinal,
renal e metabólico (Knaus, 1985; Vincent, 1996), ou seja, permitem uma
avaliação biológica voltada para o órgão doente e para a patologia. São
informações atualizadas, imprescindíveis para o processo decisório de
intervenções, porém os parâmetros de avaliação são formulados com termos
técnicos, que geralmente não constam dos Boletins Informativos e não são
repassados aos familiares.
Gomes (1998) afirma que o cuidado intensivo pode ser dispensado a
três tipos de pacientes: àqueles que especificamente necessitam de cuidados de
enfermagem rigorosos, aos que requerem contínua e freqüente observação ou
investigação e àqueles que dependem de tratamentos complexos e de
equipamentos de apoio (respiradores mecânicos, monitorização invasiva etc.). O
Boletim Informativo geralmente não aborda essas informações com maiores
detalhes. Contudo, isso não significa que a família não espere ansiosamente por
elas (OLIVEIRA, 1991).
Além dos fatores relacionados ao diagnóstico, prognóstico e
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
16
tratamento, os familiares também valorizam aspectos concernentes ao bem-estar
geral dos pacientes, incluindo sinais vitais, nível de conforto, padrões do sono,
alimentação, resposta aos estímulos sensoriais e álgicos como itens a serem
incluídos nas informações fornecidas (HENNEMAN & CARDIN, 2003).
Assim, embora não tenha encontrado na literatura um conceito de
Boletim Informativo e nem um modelo ideal para transmitir aos familiares
informações escritas sobre as condições do paciente na UTI, acredito na
possibilidade de um instrumento que contenha conteúdo compreensível, sem o
uso de jargões próprios ou linguajar científico, que permita resposta e validação
das mensagens enviadas e que, principalmente atenda à necessidade daquele
que busca a informação escrita (GARDNER & STEWART, 1978; OLIVEIRA,
1991; SILVA, 2003; STEFANELLI, 2005).
¾ INFORMAÇÃO ESCRITA
Uma informação envolve comunicação, cuja finalidade básica é
entender o mundo, relacionar-se com os outros e transformar a si mesmo e a
realidade. Denomina-se verbal quando as palavras são expressas por meio da
fala ou da escrita, e não-verbal quando é demonstrada por meio de gestos,
silêncio, expressão facial, postura corporal, entre outros (SILVA, 2003).
Sendo assim, a essência do processo comunicativo depende das
relações entre as pessoas, e a comunicação escrita é um dos instrumentos
fundamentais, pois permite a emissão de mensagens que serão identificadas e
interpretadas por um receptor (CARVALHO, 2005).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
17
Para que a comunicação escrita seja eficaz, o pensamento deve ser
comum, ou seja, a mensagem deve ter o mesmo significado para o emissor e
receptor, além de produzir uma resposta que tenha capacidade de persuasão,
que em outros termos significa resultados finais positivos e satisfatórios na
percepção de quem recebe a informação (SILVA, 2003; BLIKSTEIN, 2005;
STEFANELLI, 2006).
Silva (2003) aponta ainda que, no cotidiano profissional, a transmissão
de mensagem é realizada de maneira informal e formal, sendo informal aquela
que acontece entre as pessoas no dia-a-dia, relacionada ou não às atividades
profissionais. A comunicação formal é estabelecida de maneira consciente e
liberal e a mais utilizada é a escrita. Os exemplos mais comuns, nos serviços de
saúde, são os prontuários dos pacientes, os relatórios, as normas, dentre outros.
O Boletim Informativo é um documento de informação escrita
encontrado na maioria das UTI, cuja finalidade é comunicar o estado geral dos
pacientes internados.
Sendo a comunicação escrita uma maneira de registrar pensamentos,
informações, dúvidas e sentimentos, e capaz de transmitir emoções (Silva, 2003),
a informação oferecida por meio do Boletim merece uma atenção especial,
principalmente por ser fornecida, na maioria das vezes, por telefone, por
profissional não-capacitado e destinada a familiares que vivenciam o sofrimento
de ter um ente querido em uma unidade crítica. Entretanto, estudos apontam que
o modo como as informações são fornecidas nas UTI, inclusive a escrita, são
pontos falhos que merecem discussão (LEMOS, 2001; VICTOR et al. 2003; LEITE
& VILA, 2005).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
18
O estudo de Moult et al. (2004) buscou debater essa questão. Afirmam
que apesar da recente preocupação em melhorar a qualidade da informação
escrita nos serviços de saúde, não há nenhum método eficaz para fazê-lo. Nesse
sentido, realizaram uma pesquisa cujo objetivo foi desenvolver uma medida
prática de avaliação da informação escrita que fosse aplicável e, principalmente,
que indicasse intervenções a serem realizadas após o resultado da avaliação.
Desenvolveram um instrumento usando vários tipos de informações de
profissionais de saúde como: folhetos sobre serviços, condições dos pacientes,
procedimentos e planejamentos de alta, visando avaliar a apresentação da
informação escrita oferecida (EQIP – Informação Segura e de Qualidade dos
Pacientes). Foi aplicado em um hospital infantil e o instrumento demonstrou ser
confiável, válido, e a maneira como a informação escrita foi elaborada e
transmitida, melhorou consideravelmente naquela instituição.
Dentre os critérios utilizados destacaram aspectos importantes da
informação escrita: especificar claramente os objetivos a serem alcançados, usar
linguagem cotidiana e orações curtas, evitar abreviaturas ou jargões, conter
ilustrações, diagramas ou fotografias pertinentes ao assunto da informação, ter
apresentação em ordem lógica e com espaço para anotações, conter data e nome
da pessoa que registrou a informação.
Silva (2003) ressalta que numa inter-relação a fala consiste em apenas
um terço do que é comunicado. Victor et al. (2003) destacam também a
importância da comunicação escrita, que além de induzir à maior
responsabilidade pelas informações, permite revisão e melhoria do conteúdo a
qualquer momento.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
19
Johnson* (1999) citado por Moult et al. (2004) afirma que os clientes
durante uma consulta médica podem esquecer metade do que lhes foi falado
dentro de cinco minutos e somente 20% serão retidos. Porém, a retenção da
informação pode ser melhorada em até 50% se for acrescentada a informação
escrita.
Há uma série de estudos de Silva (2001; 2002; 2003) que alertam os
profissionais para a importância da comunicação não-verbal ao interagir, do poder
do toque, tato, contato e da atenção. Contudo, parece que, para os profissionais
em geral, o fato da informação ser transmitida por meio impresso, torna-se
dispensável o cuidado relativo à forma que ela é escrita.
*Jonson, A. Do parents value and use written information? Neonatal, Paediatric and Child Health
Nursing. n. 2, p. 3-7, 1999.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
20
3.2 - NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO DOS FAMILIARES DE
PACIENTES EM UTI
¾ ASPECTOS GERAIS
Estudos mostram que o processo saúde-doença tem significado
diferente para o médico, para o doente e sua família. Sua definição não inclui
somente a experiência pessoal do problema de saúde, mas também o significado
que tem para o indivíduo (HELMAN, 2003).
A doença não é um simples processo patológico, mas integrante de um
amplo contexto sociocultural em que crenças, normas e valores, individuais ou
coletivos, estão envolvidos. Faz-se necessário, portanto, construção de uma
assistência integral, pois segundo Lima (1998) e Rizzoto (2002), os fatores que
levam o homem a adoecer e morrer estão relacionados a dimensões que
ultrapassam o eixo biológico, envolvendo também as questões emocionais,
psicológicas e de relacionamento humano.
Para Travelbee (1982) o ser humano está exposto a todas as
contingências em sua existência, incluindo tudo aquilo que escapa ao seu
controle, e a partir do momento em que se torna vulnerável a um universo
independente, sofre e adoece. O sofrimento é uma experiência encontrada em
algum momento da vida, particularmente em relação à doença, cujo significado o
profissional de saúde pode ajudar a esclarecer.
Diante da vulnerabilidade do ser humano, o profissional tem de
potencializar ao máximo a solidariedade do cuidado, aliando competência
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
21
tecnocientífica e ternura. O sofrimento humano somente é considerado intolerável
quando ninguém cuida dele (PESSINI, 2006).
O cuidado representa para Boff (2004, p. 33) “uma atitude de
ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o
outro”. Qualquer outro comportamento indica um “des-cuidado” com o sofrimento
do indivíduo.
Em geral a experiência da doença gera ansiedade, insegurança e
medo, principalmente quando há necessidade de internação hospitalar. Tende a
piorar se, por motivo de agravamento do quadro clínico, a pessoa é encaminhada
à Unidade de Terapia Intensiva. A internação nesse ambiente hospitalar, que é
culturalmente associado ao risco de morte, pode acarretar desajuste para a
estrutura familiar (OLIVEIRA, 1991; AVELINO, 1999; LEMOS, 2001).
A gravidade do quadro clínico associado à separação do contexto
domiciliar são aspectos que, na opinião de Oliveira et al. (2005), causam
ansiedade, angústia e muitas expectativas quanto ao tratamento, gerando
momentos de dor e conflito aos familiares.
Na opinião de Beck (1995) a internação de um parente numa UTI tem
significados diferentes para a família, desde a gravidade da doença, incluindo a
possibilidade de morte ou de melhora frente ao atendimento especializado. Isso,
muitas vezes acontece pelo entendimento de que a UTI ainda está associada ao
fim da vida e não à recuperação da saúde. São mitos que podem ser eliminados
ao informar aos pacientes e familiares quais são os verdadeiros objetivos do
cuidado intensivo (GOTARDO & SILVA, 2005).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
22
As UTI surgiram a partir da década de 1960, nos Estados Unidos, mas
em 1876, durante a Guerra da Criméia, Florence Nightingale, a precursora da
“enfermagem profissional”, já se preocupava em concentrar os pacientes mais
graves em um local que favorecesse assistência imediata e observação
constante.
A assistência às doenças coronarianas e a pacientes em pós-
operatório de cirurgias cardíacas, cuja gravidade do quadro exigia o
aprimoramento técnico de recursos humanos e dos equipamentos, motivou o
surgimento das UTI. Começaram a aparecer, no Brasil, na década de 1970, com
a finalidade de concentrar recursos humanos e materiais em um local preparado
para receber pacientes graves, que fossem recuperáveis e que necessitassem de
observação constante e cuidados especializados (IDE, 1989).
Na atualidade, a UTI é uma área hospitalar destinada ao atendimento
de pacientes críticos, potencialmente recuperáveis. Concentra recursos humanos
e materiais para assistência permanente e qualificada, exigindo agilidade e
habilidade. Utiliza tecnologia avançada para a observação e monitorização
contínuas das condições vitais do paciente e para rápida intervenção em
situações de piora clínica. É um ambiente que propicia maior vigilância e
observação clínica das funções do paciente, necessitando ou não de aparelhos
especiais para um atendimento eficiente e seguro (GRUTNER, 1982; GOMES,
1998; VILA, 2001; LEITE & VILA, 2005).
No cotidiano, é possível perceber a terapia intensiva como um
ambiente de tecnologia avançada onde há equipamentos que, embora auxiliem
na assistência aos pacientes graves e sejam necessários para salvar vidas,
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
23
costuma ser encarado pelo indivíduo e pela família como algo ameaçador.
Caracterizam essa unidade a convivência diária de profissionais e pacientes em
situações de risco; a ênfase no cuidado técnico e operacional; a constante
presença de morte; a ansiedade dos pacientes, familiares e equipe de saúde; a
necessidade de rapidez de ação no atendimento e as múltiplas rotinas que são,
muitas vezes, rígidas e inflexíveis (BARBOSA et al. 2002; NASCIMENTO &
TRENTINI, 2004).
Ressalta-se que esses serviços atendem pacientes críticos que
necessitam de atendimento complexo e especializado. Mas, esse cuidado ainda é
orientado pelo modelo médico, biologicista, cuja atenção é voltada para os
aspectos físicos, em detrimento dos sentimentos, dos receios do sujeito doente e
de seus familiares e da forma como vivenciam a situação saúde-doença
(NASCIMENTO & TRENTINI, 2004).
¾ FAMÍLIA - CLIENTE DA ENFERMAGEM
Considerando a Enfermagem como a arte e a ciência do cuidar e que
contempla além do indivíduo, sua família e comunidade, o enfermeiro deve incluir
a família em seu plano de assistência. Historicamente, a família é alvo do seu
cuidado. No século XIX, além de selecionar os pacientes mais graves para o
cuidado, Florence Nightingale já se preocupava em escrever cartas aos
familiares, informando o estado de saúde dos soldados feridos na guerra
(NIGHTINGALE, 1989).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
24
Há várias definições para o tema família. Santos (1998) considera
membro da família qualquer pessoa que tenha papel significativo no estilo de vida
normal do indivíduo. O referencial adotado, neste estudo, será o conceito de
Wright & Leahey (2002) por considerarem como determinantes da composição
familiar os atributos de afeição, os fortes vínculos emocionais, que ultrapassam as
barreiras de consangüinidade, adoção e matrimônio. O indivíduo define quem é
sua família.
A família é percebida como uma extensão do paciente e cuidar dele
requer cuidar também das pessoas envolvidas no seu cotidiano. Dessa forma, no
dia-a-dia do trabalho em terapia intensiva, observa-se que a família ocupa
importante papel na recuperação do paciente, mas, freqüentemente, mostra-se
ansiosa, temerosa e sentindo-se desamparada, sem perceber sua capacidade
para intervir e ajudar o seu parente (HUDAK & GALLO, 1997).
Lemos (2001) lembra que a família sofre com a internação de um
parente na UTI e tem a necessidade de informações relacionadas ao quadro
clínico, às rotinas, ao ambiente e ao risco de vida. Autores como Takahashi
(1986); Souza (1994) e Craig et al. (2003) consideram que tais necessidades
tendem a ser minimizadas se estratégias como o fornecimento de informações
adequadas, o envolvimento da família nas decisões acerca do tratamento e no
plano de cuidados forem elaboradas e implementadas pelos profissionais de
saúde.
O enfermeiro que atua na UTI deve considerar a família como cliente e
para que isso seja viável é preciso que haja um processo de interação entre quem
cuida e quem é cuidado, ou seja, é necessária troca de informações entre essas
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
25
pessoas (BECK, 1995; SANTOS et al. 1999; ZINN et al. 2003). Esse profissional,
além de interagir com o paciente, tem o propósito de ajudar a família e a
comunidade a enfrentarem a experiência da enfermidade e o sofrimento
(TRAVELBEE, 1982).
É fundamental ainda a atenção às necessidades psicoespirituais, parte
integrante da personalidade humana. Todavia, tanto o enfermo quanto seus
familiares trazem consigo uma profunda carência dessa necessidade, cuja
atenção, segundo Carvalho (2005), não é devidamente valorizada na prática.
Na maioria das vezes, para a família, o conhecimento científico não se
constitui na única fonte de informações sobre o que está acontecendo com o seu
ente. Por isso, buscam outras formas de apoio como a fé, a esperança e até
mesmo a aceitação da condição imposta pela patologia do seu parente
(SIMPIONATO, 2005).
Logo, o profissional de enfermagem precisa reconhecer que o processo
de interação envolve comunicação e que esta envolve arte, criatividade,
conhecimento e responsabilidade. A responsabilidade deve ser principalmente
voltada para a identificação e modificação de situações que contribuam para o
sofrimento do paciente e sua família. É sua obrigação intervir no sentido de
buscar um atendimento humanizado, sob pena de colocar em risco a integridade
e o bem-estar daqueles que estão sob seus cuidados.
O Ministério da Saúde propôs, em 2004, a Política Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que objetiva ampliar a visão
restrita de doença relacionada ao corpo anátomo-biológico para um modelo de
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
26
atenção integral, em que o processo de adoecer vai além do diagnóstico de sinais
e sintomas (BRASIL, 2004).
Nesse sentido, é válido considerar que essa política está
fundamentada em princípios norteadores, que buscam englobar todas as
dimensões do ser humano sadio e doente, incluindo entre outros: a valorização da
dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão; o
fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a
transdisciplinaridade e a grupalidade; a utilização da informação, da comunicação,
da educação permanente e dos espaços de gestão na construção de autonomia e
protagonismo de sujeitos e coletivos (BRASIL, 2004).
O PNHAH define ainda diretrizes específicas para os diferentes níveis
de atenção. No que se refere à atenção hospitalar, dentre os critérios
estabelecidos, encontram-se a garantia de visita aberta por meio da presença do
acompanhante e de sua rede social; mecanismos de recepção com acolhimento
aos usuários; equipe multiprofissional de atenção à saúde para seguimento dos
pacientes internados e com horário pactuado, para atendimento à família e/ou à
sua rede social (BRASIL, 2004).
Dessa forma, considera-se necessário analisar criticamente como está
acontecendo a assistência prestada à família, no nível terciário, principalmente
em setores altamente especializados, cuja gravidade do quadro clínico do ser
humano o reduz à condição de objeto do saber profissional (URIZZI, 2005).
No cotidiano do trabalho, na UTI, é possível observar que quando
ocorre a internação, principalmente se for uma emergência, parece ser um dos
acontecimentos mais difíceis e significativos na dinâmica familiar (NASCIMENTO
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
27
& TRENTINI, 2004), gerando a desestabilização e o desequilíbrio emocional,
evidenciados pelo sofrimento, dor, medo da perda e do desconhecido (LEMOS,
2001).
Essa situação se torna ainda mais crítica quando o familiar se depara
com um serviço em que normas são impostas com acesso limitado por horários
rígidos, curto tempo de visita e restrito número de visitantes por paciente. Assim,
diante de um ambiente cheio de mitos, estigmas e limitações, a família encontra-
se insegura, solicita visitar o seu parente com mais freqüência e pede
informações a todo instante (BARBOSA et al., 2002). Pinho & Kantorski (2004)
apontam que cada família reage diferentemente perante a internação de seu
parente, o que muitas vezes, dificulta o manejo por parte dos profissionais de
saúde. Cada membro familiar tem sua singularidade, que não pode ser ignorada
ou até mesmo excluída durante o processo terapêutico.
Muitas vezes, os profissionais reagem à atitude da família com
impaciência e certo grau de autoritarismo. Avelino (1999) confirma este
comportamento quando a relação equipe de saúde e família nem sempre é
harmoniosa, visto que em algumas ocasiões, a família vê o profissional de saúde
como o detentor do saber, o que impede sua aproximação. Por outro lado, o
profissional encara aquele familiar sequioso de informação como intruso, que
abusa e ultrapassa os limites por ele estabelecidos (OLIVEIRA et al., 2005).
Ressalta-se que, famílias ansiosas, em função da gravidade da
situação do paciente ou por falta de informação, por vezes, provocam reações
negativas da equipe de saúde, assim como existem profissionais que buscam
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
28
manter relações de dominação sobre os clientes e familiares (AVELINO, 1999;
WALDOW, 2001).
Para Simpionato (2005, p.77) os “profissionais de saúde tendem a
manter comunicação com a família de maneira controladora leve e pesada”. O
diálogo cuja finalidade é direcionar, advertir, elogiar, instruir, é avaliado como
leve. Tons agressivos como ordenar, acusar, queixar, rotular, são considerados
pesados.
Neste aspecto, é válido destacar as afirmações de Barbosa &
Rodrigues (2004) de que a humanização do processo de cuidar envolve
convivência com a família, podendo ser construída por meio da interação, do
tornar-se humano, do diálogo e da paciência, aspectos inerentes ao atendimento
humanizado. No mesmo sentido, Silva (2003) reforça a necessidade de tentar
compreender o outro e eliminar o preconceito de que os clientes não possuem
capacidade de percepção sobre as questões de saúde e doença.
¾ NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO DA FAMÍLIA
Vários estudos se preocuparam com temas relacionados às
necessidades de informações a familiares. Nascimento & Trentini (2004)
investigaram o cuidado de enfermagem, na UTI, à luz da Teoria Humanística de
Paterson e Zderard, que é sustentada pelo cuidado baseado no diálogo, que se
traduz no encontro entre profissionais, pacientes e familiares. Os autores tecem
importantes reflexões acerca do cuidar em terapia intensiva e, entre outros
aspectos, defendem que no encontro dos profissionais com a família do paciente,
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
29
um diálogo com uso de termos claros, compreensíveis, com disponibilidade para
ouvir preocupações e partilhar informações, poderá contribuir para melhora do
estado emocional da família.
O estudo de Morgon & Guirardello (2004) concluiu que os familiares de
pacientes internados em UTI atribuem alto grau de importância para as
necessidades de “saber quem pode dar informações” e “se as perguntas são
respondidas com franqueza”. Branco et al. (1988) afirmam que, quando não há
identificação do elemento informante, há um aumento da tensão vivida pelo
familiar, pois, além da necessidade de receber informação clara e satisfatória,
precisa confiar que a fonte dessa informação é segura.
Avelino (1999, p. 54) investigou sobre necessidades de familiares e
comenta que um dos pontos que requer mais atenção é a maneira como são
fornecidas as informações e que as mesmas parecem ser incompletas, como
confirma um dos participantes no seu estudo:
“[...] a gente necessita assim, de mais informações, as informações são
muito vagas, precisa a gente ficar procurando na cabeça o que
perguntar.”
Na opinião de Travelbee (1982), numa relação de ajuda é
imprescindível infundir no outro o sentimento de confiança, para que ele consiga
expor-se e ter esperança de sair beneficiado. Segundo a autora, o interesse e a
sensibilidade do profissional em saber quando, como e o que falar, possibilita a
abertura de novas vias de comunicação. Por outro lado, problemas que o tornem
incapaz de conduzir a comunicação com a devida tranqüilidade, podem levar a
rupturas, na seqüência, por falhas na interpretação da mensagem e o cliente
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
30
entender que o profissional não tem a competência necessária para fazê-la (IVO
& FUREGATO, 1999).
Problemas que resultam em falha da comunicação foram evidenciados
na pesquisa realizada por Leite & Vila (2005), com profissionais de UTI, revelando
que lidar com a família requer, dentre outras ações importantes, o fornecimento
de informações adequadas e condizentes com o nível de entendimento dos
familiares. No entanto, os profissionais expressaram dificuldades em lidar com a
família, principalmente quando precisam informar.
Corrêa et al. (2002) estudaram sobre a percepção de enfermeiros
relacionada à família e relataram que esse profissional tem dificuldade em lidar
com a família devido ao tempo escasso e ao trabalho pesado. Ao pesquisarem
sobre o relacionamento enfermeiro-família, Barbosa et al. (2002) evidenciaram
que isto ocorre pela insegurança individual em relação ao conhecimento
profissional, à priorização do cuidado técnico em detrimento do humanizado e
pelo receio do envolvimento emocional causar reflexos na vida pessoal. Esse
temor em envolver-se também foi relatado por Martins (s/d, s/p) ao lembrar que o
“contato direto com seres humanos coloca o profissional diante de sua própria
vida, saúde ou doença, dos próprios conflitos e frustrações”. E, se essa situação
não for bem conduzida pode favorecer o desenvolvimento de mecanismos de
defesa, que podem prejudicá-lo, tanto pessoal quanto profissionalmente.
Ainda nesse sentido, outros estudos apontam que o cuidado atual está
orientado pelo modelo biomédico, voltado para os aspectos orgânicos em
detrimento dos fatores humanísticos da assistência. O modelo biomédico orienta
praticamente todas as etapas da terapêutica do paciente: antibióticos que
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
31
combatem infecções, máquinas que respiram por pacientes, tudo objetivando
preservar a vida. O individualismo no atendimento faz com que os profissionais
exilem o familiar do paciente, esquecendo-se que este também é formado de
emoções, vínculos e motivações (NASCIMENTO & TRENTINI, 2004; PINHO &
KANTORSKI, 2004).
Por outro lado, Carvalho (2005) ressalta que o enfermeiro é o
profissional que dispõe da vantagem de poder verificar e registrar de forma
contínua os vários aspectos apresentados pelos pacientes e familiares. Isso lhe
garante uma posição estratégica de poder decidir acerca do “porquê”, do “como” e
do “quando”, relacionados aos problemas de enfermagem, podendo aproveitar e
investir mais em ações que venham contribuir para a comunicação entre a equipe
multiprofissional e seu cliente (paciente e família).
Merece destaque o trabalho de Inaba et al. (2005) sobre comunicação
da equipe de enfermagem na percepção do familiar do paciente crítico.
Concluíram que comunicação adequada é aquela realizada por meio de
informações claras e objetivas, com esclarecimentos de dúvidas e orientações,
dentre outros.
No entanto, ao discorrer sobre o cuidado dispensado aos familiares, na
UTI, Gotardo & Silva (2005) evidenciaram que os familiares consideram as
informações satisfatórias, porém revelam que existe falta de diálogo e pouca
valorização, por parte dos profissionais, principalmente no que se refere às
necessidades de acolhimento, atenção e afeto.
Muitas vezes, não são as informações objetivas, sobre o quadro clínico
e evolução, o que predominantemente interessam ao familiar, mas o desejo de
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
32
ser essencialmente acolhido, que seja considerado o seu sofrimento, atendendo
suas necessidades específicas - saber alguma informação, estar presente, ser
escutado e confortado (URIZZI, 2005).
Na opinião de Daniel (1981, p.15), prestar atenção à pessoa significa
[...] escutar interessadamente, olhar a pessoa nos olhos, ficar
parado, quieto ao seu lado (nem que seja por cinco minutos) em
sinal de atenção, deixar a pessoa falar sem interrompê-la, e, se
necessário, limitar as explicações delongadas em tática, ajudando
a resumi-las.
É importante ressaltar que, esta questão é também discutida
internacionalmente. Segundo Henneman & Cardin (2003), apesar de vários
estudos afirmarem que os anseios de familiares de pacientes críticos, são
estabelecidos basicamente em necessidades de informação, de confiança, apoio
e proximidade do paciente, pouco se encontra sobre estratégias para um cuidado
que atenda a esses interesses. Diante dessa perspectiva, visando a
implementação de um cuidado centrado na família do paciente crítico, os autores
discutem algumas sugestões práticas, a saber: conhecer o significado de cuidado
centrado na família; conhecer as reais necessidades dos familiares; integrar as
ações de cuidado centrado na família às normas e políticas da instituição; utilizar
recursos do hospital e criar estratégias que visem o cuidado centrado na família;
listar orientações sobre normas e rotinas; empenho da equipe multidisciplinar;
reconhecer as necessidades de atenção contínua e apoio e ser paciente.
Fins & Solomon (2001) também identificaram necessidades de
intervenções no ambiente da terapia intensiva relacionada à dificuldade de
comunicação dos profissionais com familiares, principalmente quando o assunto
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
33
se refere ao prolongamento da vida, ordem de não ressuscitar e a opção por
cuidados paliativos.
Sugerem como estratégia de intervenção a adoção de instrumentos de
avaliação do cuidado e citam como exemplo o GCAT (Instrumento de Avaliação
do Cuidado). O instrumento contém dados sobre o quadro clínico e o tipo de
intervenção para a situação, estimula o clínico a calcular o prognóstico do
paciente e ao mesmo tempo identifica se o cliente ou sua família conhecem o
diagnóstico ou prognóstico do paciente. Além disso, permite identificar quando o
prolongamento da vida é inútil, bem como a opção pelos cuidados paliativos. De
posse desses dados, e de comum acordo com a família, os profissionais
formulam metas e realizam as intervenções necessárias para o alcance dos
objetivos.
Recomendam ainda que as instituições de saúde utilizem estratégias
educacionais que estimulem os profissionais a refletirem criticamente sobre essas
questões. Reuniões multidisciplinares e o uso de casos clínicos fictícios criam
oportunidades para os profissionais resolverem situações complicadas e são
fundamentais para minimizar problemas subseqüentes.
Para Azoulay et al. (2000) a maioria dos familiares de pacientes críticos
apresenta pouca compreensão sobre as informações relacionadas ao diagnóstico,
prognóstico e tratamento e, os profissionais, em especial os médicos e
enfermeiros da UTI, têm plena consciência disso, o que pode ser reflexo do pouco
tempo destinado aos familiares e de fatores psicológicos associados, ou seja, os
profissionais ao tentarem protegê-los da angústia vivenciada, muitas vezes, adiam
a revelação de notícias ruins, e com isso prejudicam a comunicação.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
34
Porém, Craig et al. (2000, 2003) investigaram os efeitos do processo
de comunicação intensiva, entre a equipe multidisciplinar de uma UTI e os
familiares dos pacientes, envolvendo os benefícios da tecnologia avançada,
quando necessária, e a sua limitação quando o paciente se encontra fora de
possibilidades terapêuticas. Os resultados demonstraram que a comunicação
adequada permitiu aos familiares compreender que existem momentos em que a
tecnologia avançada deixa de ser eficaz, expressarem suas visões e valores, o
que contribuiu na tomada de decisão quando a opção foi o cuidado paliativo. A
redução do tempo de permanência na UTI, a redução da taxa de mortalidade e a
maior disponibilidade de leitos também são resultantes das intervenções
utilizadas.
Ainda com relação à necessidade de informação, em estudo realizado
na França, Azoulay et al. (2002a) concluíram que a compreensão e a satisfação
são critérios importantes para avaliação da efetividade da informação fornecida
aos familiares sobre o paciente crítico. Utilizaram em sua pesquisa a elaboração
de um “Folheto Informativo” contendo informações gerais sobre a UTI, um
desenho explicativo contendo equipamentos e um vocabulário com termos
comumente usados nessas unidades. Os resultados foram sensivelmente
satisfatórios e efetivos, assim como houve maior compreensão e aprovação dos
familiares.
A falta de informação sobre os pacientes, a ausência de explicações
sobre os equipamentos usados e a falta de uma sala de espera confortável
também foram apontados por Stephen et al. (2005) como fatores responsáveis
pela insatisfação do familiar.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
35
Uma pesquisa em dez UTI de Londres, Hughes et al. (2004)
analisaram o tipo de informação disponível aos familiares e concluíram que
apenas duas das unidades ofereciam informações por telefone, respondiam de
acordo com o que era perguntado e que os profissionais eram agradáveis,
corteses e acessíveis.
Por outro lado, Myhren et al. (2004) compararam a satisfação de
familiares em relação à informação, apoio e instalações na unidade de cuidados
intensivos com as expectativas de profissionais sobre este assunto, e concluíram
que nem sempre os familiares estão insatisfeitos, o que causou surpresa aos
profissionais.
Existem também iniciativas como a de Craig et al. (2003), que buscaram
desenvolver um processo de comunicação intensivo em uma UTI, realizando
reuniões multidisciplinares com médicos, enfermeiros, assistentes sociais,
psicólogos, religiosos e familiares. Verificaram que os familiares de pacientes
sobreviventes e de não-sobreviventes se mostraram altamente satisfeitos com a
comunicação dos médicos e da enfermagem.
Assim, embora o foco desses estudos não fosse a informação por meio
de Boletim Informativo, de maneira geral, buscaram identificar problemas
relevantes sobre as necessidades de informações dos familiares, possibilitando a
elaboração de intervenções as quais, se incorporadas à prática, podem contribuir
para a melhoria da qualidade da assistência prestada.
É certo enfim, que pequenos detalhes transformam a qualidade das
relações humanas. As informações aos familiares podem parecer apenas um
detalhe no meio de inúmeras ações realizadas, com extrema perícia, pelos
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
36
profissionais intensivistas, mas fazem uma enorme diferença para quem as
recebe.
¾ ASPECTOS ÉTICO-LEGAIS - O DIREITO À INFORMAÇÃO
Tem havido certa preocupação com os direitos da família do paciente
crítico, observada de algum modo, em dispositivos legais e sociedades de terapia
intensiva.
A garantia de visitas diárias dos familiares à beira do leito e de
informações sobre a evolução dos pacientes aos familiares por meio de, pelo
menos três boletins diários e um momento com o médico, é assegurada pela
Portaria do Ministério da Saúde nº 1071, de 04 de julho de 2005, que estabelece
critérios de Classificação para as Unidades de Tratamento Intensivo, dentre
outros referentes à humanização, que são relacionados à climatização,
iluminação natural e divisória entre leitos (BRASIL, 2005).
Da mesma forma, a qualidade da informação oferecida aos familiares
está dentro dos critérios de acreditação para as UTI se filiarem à Society of
Critical Care Medicine (AZOULAY, 2002b).
Além de ser direito constitucional da família ser acolhida de forma
digna, receber informação clara e verdadeira, Malta et al. (2000) lembram que a
prática do acolhimento tem configurado um momento tecnológico, com
potencialidade para imprimir qualidade na atenção e nos serviços de saúde.
A obtenção de informações adequadas sobre suas condições e a
terapia instituída, recusar tratamentos desde que informado das conseqüências
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
37
de suas decisões, receber visitas, ser tratado com respeito e dignidade pela
equipe de cuidados intensivos, são direitos do paciente crítico estabelecidos pela
Federação Mundial de Sociedades de Medicina Intensiva e Cuidados Críticos
(DECLARATION OF THE COUNCIL OF THE WORLD OF SOCIETIES OF
INTENSIVE AND CRITICAL CARE MEDICINE, 1992).
Segundo Orlando (2001), a Federação Pan-Americana e Ibérica de
Medicina Crítica e Terapia Intensiva publicou, em 1993, a Declaração de Ética
estabelecendo Direitos do Paciente Crítico que, dentre outros, inclui: o direito ao
paciente de que toda informação relacionada aos cuidados de sua doença seja
tratada como confidencial, bem como de obterem informações a respeito de sua
condição. Porém, quando não for recomendável oferecer toda a informação ou
parte dela, seus responsáveis devem ser esclarecidos.
É importante lembrar que consta do Código de Ética Médica que
quando não for recomendável oferecer ao paciente toda a informação ou parte
dela relacionada ao diagnóstico, prognóstico, riscos e objetivos do tratamento,
salvo quando a comunicação possa provocar-lhe dano, a comunicação deverá ser
feita ao seu responsável legal / família (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA,
1988).
No ano 2000, na Inglaterra, foi publicado o documento Comprehensive
Critical Care: a review of adult critical care services que, dentre suas principais
diretrizes, destaca a informação sobre os pacientes críticos aos familiares.
Recomenda que cada instituição elabore um manual impresso, contemplando
informações sobre normas e rotinas, equipamentos, descrição do tratamento, da
equipe de saúde envolvida, entre outras (HUGHES et al., 2004).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
38
No Brasil destacam-se os Artigos 56 e 59 do Código de Ética Médica
que reforçam o direito do paciente decidir livremente sobre a execução de
práticas diagnósticas e terapêuticas, assim como o seu direito à informação sobre
o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e o objetivo do tratamento. O Artigo 105
garante a preservação da informação (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA,
1988).
No que se refere ao Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem,
consta do Artigo 30 que é dever do profissional colaborar com a equipe de saúde
no esclarecimento ao cliente e à família sobre o estado de saúde e tratamento,
possíveis benefícios, riscos e conseqüências que possam ocorrer (CONSELHO
FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2000).
Para Knobel (1998) a manutenção e a preservação da dignidade do
cliente como, ser humano, se constitui em respeitar todos os princípios da moral e
da ética profissional.
As reflexões sobre o cotidiano assistencial conduzem à preocupação
com as conseqüências que qualquer conduta tem sobre o outro. Ou seja, é
preciso ver (perceber) o outro, e isso significa ser ético. A assistência humanizada
também pressupõe perceber o outro, o que indica que a “assistência humanizada
e ética caminham juntas” (MARTINS, s/d, s/p).
E assim, no momento atual de construção da cidadania, da valorização
dos aspectos humanos da assistência, a relevância da temática, em questão, é
também discutida no âmbito da bioética.
O movimento bioético surgido, na década de 1970, contribuiu para a
reflexão desse assunto, à medida que buscou a humanização da assistência à
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
39
saúde, a conscientização sobre os direitos do paciente e o respeito à dignidade
da pessoa humana frente ao avanço tecnológico (PADILHA & KIMURA, 2000).
A literatura específica sobre bioética aponta quatro princípios éticos
fundamentais que deveriam guiar o profissional de saúde na sua relação com o
paciente, família e sociedade: a autonomia, a beneficência, a não maleficência e a
justiça.
A autonomia se refere ao respeito devido aos direitos fundamentais do
homem, inclusive o de autodeterminação. A beneficência significa fazer o bem,
prevenindo e recuperando danos. A não maleficência preocupa-se em não causar
danos e a justiça se baseia na igualdade entre todos os homens (PADILHA &
KIMURA, 2000; SGRECCIA, 2002).
Para Muñoz & Fortes (1998), a informação é um direito do cliente e a
base de suas decisões autônomas, podendo assim, consentir ou recusar os
procedimentos de saúde que lhe forem propostos.
Todavia, ao se referirem à autonomia individual, Oliveira & Fortes
(1999) lembram que esse princípio bioético, muitas vezes, se revela de maneira
bastante complexa, à medida que qualquer desordem emocional ou até mesmo
uma alteração física pode contribuir para a redução da autonomia do cliente e,
conseqüentemente dificultar sua capacidade individual de compreensão e
satisfação, influenciando inclusive em suas deliberações e escolhas racionais,
como a participação no processo terapêutico.
Segundo Boemer & Sampaio (1997), os novos paradigmas,
particularmente na área de saúde, têm contribuído para o surgimento de reflexões
éticas, por parte dos profissionais, no que diz respeito às condutas frente a
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
40
situações-dilema. Nas UTI, em especial, ao lado de uma sincronia de trabalho sob
a ótica tecnológica emergem situações conflitivas, quando se consideram
perspectivas contrárias das várias pessoas envolvidas: profissionais, pacientes e
famílias. Sempre que houver conflitos de valores, haverá conflitos éticos, e a
preocupação da bioética é analisar os dilemas e encontrar formas de minimizar a
situação.
Portanto, considerando que o indivíduo em situações de estado de
coma, efeitos de drogas, dentre outros, pode de forma transitória ou permanente
ter sua autonomia reduzida, cabe aos familiares e até mesmo a terceiros
decidirem pela pessoa. (MUÑOZ & FORTES, 1998).
Há que se pensar, então, em uma maneira de informar adequadamente
a família do paciente internado em terapia intensiva, observando os princípios da
bioética.
Isso pressupõe uma forma de comunicação que contenha dados
personalizados, individuais sobre cada paciente, e que contemple expectativas,
interesses e valores de cada familiar. A utilização deste modelo requer do
profissional de saúde o conhecimento dos princípios éticos, das condições
biológicas e emocionais do paciente e sua família, dos fatores sócio-culturais a
eles relacionados e, ainda, o que cada indivíduo gostaria de saber.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
41
¾ ASPECTOS DA COMUNICAÇÃO
A comunicação é fundamental na vida das pessoas, especialmente,
quando envolve os profissionais de saúde, paciente e seus familiares (SILVA,
2003).
Para Carvalho & Bachion (2005), não existe uma teoria global de
comunicação que explique suas origens, seu desenvolvimento nos indivíduos, na
sociedade ou mesmo suas funções ou papéis. Contudo, o alcance desse
processo é perfeitamente possível, à medida que existem inúmeras possibilidades
de identificar, compreender e analisar a comunicação, o que permite sua
utilização no desenvolvimento das ações.
Para maior entendimento do processo comunicacional, e com a
perspectiva de que este possa contribuir para a compreensão do contexto desta
pesquisa, foram buscados nos estudos de Silva (2003); Stefanelli (2005) e
Blikstein (2005), o conceito, variáveis, finalidade, funções, tipos e falhas da
comunicação.
Stefanelli (2005, p. 29) define a comunicação como
[...] enviadas e recebidas, sendo que as próprias mensagens e o
modo como se dá seu intercâmbio exerce influência no
comportamento das pessoas nele envolvidas, a curto, médio ou
longo prazo; esta mudança pode ocorrer no ambiente em que a
comunicação é efetuada ou quando as pessoas se encontram
isoladas, distantes umas das outras ou do contexto.
A mesma autora afirma que uma das funções da comunicação é a de
informar, que dependendo de cada situação envolve o envio de mensagens novas
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
42
do emissor ao receptor, de acordo com a necessidade. Destaca algumas
variáveis que podem influenciar, prejudicando ou facilitando a comunicação:
- a pessoa do enfermeiro - tem vital importância no relacionamento com o
paciente e a família, pois a sua conduta comunica algo que pode influenciar o
comportamento deles;
- o linguajar - deve ter significação comum tanto para o emissor como para o
receptor, sendo fundamental que o profissional de saúde conheça o repertório
do cliente, para que possa utilizar vocabulário adequado às suas condições de
compreensão;
- o ambiente - influencia o comportamento do indivíduo, à medida que se sente
mais seguro e confiante em lugares conhecidos, e temerosos em situações
desconhecidas;
- a disponibilidade - tanto do profissional quanto do cliente são fundamentais para
a eficácia do processo comunicacional;
- o senso de oportunidade - perceber o momento adequado para que o cliente
receba informações e possa compreender o que o profissional está querendo
comunicar.
A esse respeito Fins & Solomon (2001) corroboram que a comunicação
efetiva é desafiadora no ambiente de cuidado intensivo, pois além de requerer
prática do uso de linguagem eficaz e do diálogo com familiares em lugares e
momentos oportunos, requer ainda autoconsciência, perspicácia psicológica, por
parte dos profissionais, e uma cultura institucional que promova uma boa
comunicação entre a equipe multiprofissional e os familiares.
Para Silva (2003) entre as falhas de comunicação mais comuns
encontra-se a linguagem, que se refere à palavras que sugerem preconceitos,
impaciência, mensagem incompleta e uso de termos técnicos. Gardner & Stewart
(1978) sinalizam que os enfermeiros e os médicos devem comunicar as
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
43
informações e orientações em termos que a família compreenda, ao invés de usar
jargões. Recomendam, ainda, que após discutir um tópico e responder às
perguntas, eles devem certificar-se de que os familiares assimilaram as
explicações.
Silva (2003) lembra que as diferenças educacionais referentes à
formação profissional ou cultural, barreiras organizacionais relacionadas ao status
das pessoas em uma determinada organização, também são aspectos
responsáveis pelas falhas de comunicação.
Para Albístur et al. (2000), no encontro entre família e profissional, a
comunicação envolve dois aspectos: a capacidade intelectual e o impacto dessa
informação. A forma como cada indivíduo ouve e capta a notícia se relaciona com
o afeto e a razão de cada um.
É muito comum conflitos nas instituições pela diversidade de
experiências e diferentes percepções das situações. Para que haja obtenção de
saldos positivos na comunicação é fundamental que as formas contraditórias e
ambíguas, utilizadas com muita freqüência pelos profissionais, sejam evitadas.
Um exemplo seria procurar compreender por que determinada pessoa pensa e
age de forma diferente. Entender os “indicadores de uma situação é importante
para saber o que levou aquele indivíduo a ter determinada percepção” (SILVA,
2003, p. 36).
Essa autora alerta também sobre a importância do preparo do
profissional que transmite a mensagem, pois a não-validação interfere
inadequadamente nos sentimentos, atitudes e emoções de quem está recebendo.
Às vezes, o cliente, por tristeza, receio ou até mesmo raiva, pode não revelar
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Revisão da Literatura
_____________________________________________________________________________________________________________
44
seus reais sentimentos, neutralizando ou disfarçando, atrapalhando a eficácia da
interação.
Enquanto profissionais de saúde e “comunicadores” por excelência, é
essencial a atenção a todas essas nuances da comunicação, de maneira a “por
em comum” a mensagem que nos propomos dignamente – informar sobre o
indivíduo sob nossos cuidados – independente do seu estado de saúde e da
possibilidade de cura.
É interessante observar que nenhum dos autores identificados aponta
para a necessidade de atributos especiais, nas UTI, para comunicar informações,
exceto aqueles relativos à disponibilidade, intenção, competência, sensibilidade e
responsabilização do profissional de saúde, para com os que estão sob seus
cuidados.
Assim, é fundamental que o enfermeiro perceba a comunicação como
um instrumento básico para a assistência de qualidade e, principalmente, que
existem barreiras que podem afetar tal processo. Portanto, o seu papel é
imprescindível na equipe multiprofissional, no sentido de detectar tais dificuldades
e intervir nos elementos que estão dificultando o processo interativo. É importante
perceber que sua tarefa assistencial depende tanto da qualidade técnica como do
grau de suas interações.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
4.0 - METODOLOGIA
Metodologia
_____________________________________________________________________________________________________________
46
Esse estudo caracteriza-se como descritivo exploratório, com
abordagem qualitativa. A abordagem qualitativa constituiu o caminho
metodológico mais apropriado para o alcance dos objetivos propostos, no
presente estudo, pois segundo Polit, Beck e Hungler (2004), esse método enfatiza
a compreensão da experiência humana tal como é vivida. Significa que, por meio
da coleta e da análise de materiais subjetivos e narrativos, é possível alcançar
resultados que possibilitem o conhecimento das variadas dimensões de um
determinado fenômeno.
A investigação descritiva tem como finalidade descrever
características, variações, importância e significado de uma realidade da qual se
tem pouca informação, além de desvendar outros fatores com os quais está
relacionada; a exploratória objetiva desenvolver e modificar conceitos e idéias,
visando a formulação de problemas pesquisáveis para estudos posteriores, além
de oferecer visão aproximativa do problema pesquisado (GIL, 2006).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Metodologia
_____________________________________________________________________________________________________________
47
4.1 - CENÁRIO DO ESTUDO
O estudo foi realizado em quatro Unidades de Terapia Intensiva de
hospitais de ensino, de grande porte, da rede pública da cidade de Goiânia-GO,
destinadas ao atendimento de pacientes adultos, encaminhados principalmente
pelo Sistema Único de Saúde. A opção por essas UTI justifica-se pelo fato de
serem unidades localizadas em hospitais que, por serem caracterizados como de
ensino, espera-se de sua equipe profissional a busca permanente pela melhoria
da qualidade da assistência oferecida.
As unidades estudadas possuem entre 09 e15 leitos, atendendo ao
critério de que todo hospital de nível terciário, com capacidade instalada igual ou
superior a 100 leitos, deve dispor de leitos de tratamento intensivo
correspondente no mínimo a 6% dos leitos totais (BRASIL, 2005).
A equipe multiprofissional das UTI é constituída pelas equipes de
enfermagem, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes
sociais e auxiliares administrativos.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Metodologia
_____________________________________________________________________________________________________________
48
4.2 - TRABALHO DE CAMPO
¾ PARTICIPANTES DO ESTUDO
Foram incluídos na pesquisa os profissionais (enfermeiros e médicos)
com mais de seis meses de atuação na UTI e familiares dos pacientes com pelo
menos 48 horas de internação na UTI, que tenham solicitado informações por
meio do Boletim Informativo, no mínimo uma vez, com idade acima de 18 anos,
de ambos os sexos, e que demonstraram disponibilidade, receptividade e desejo
de participar.
Os integrantes do estudo foram convidados a participarem sem que
houvesse uma previsão relativa ao número. Foi estabelecido o critério de
saturação das informações (BARDIN, 2004).
Constituiu-se, portanto, de 41 pessoas, sendo 18 familiares de
pacientes internados nas UTI pesquisadas, 13 enfermeiros e 10 médicos que
atuam, nestes serviços, e estavam trabalhando nos dias da coleta de dados.
¾ COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados no período de fevereiro a abril de 2006. Para
que o informante discorresse sobre o assunto proposto, sem prender-se a
respostas ou condições pré-fixadas pela pesquisadora, a coleta de dados foi
realizada por meio de entrevista semi-estruturada norteada por questões que
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Metodologia
_____________________________________________________________________________________________________________
49
abordavam a opinião dos familiares e profissionais a respeito do Boletim
Informativo da UTI, bem como solicitavam sugestões para elaboração de um
Boletim Informativo (Apêndices I e II).
As respostas foram registradas em gravador, com o consentimento
prévio dos informantes e posteriormente transcritas pela pesquisadora.
A opção pela entrevista semi-estruturada foi devido o sujeito, a partir de
suas experiências e de seu pensamento, contribuir para reunião de dados e para
a elaboração do conteúdo, visando o alcance dos objetivos propostos (BARDIN,
2004).
A entrada no campo pela pesquisadora transcorreu de maneira natural,
com aceitação tranqüila em todas as unidades em estudo. Em primeiro lugar,
estabeleceu-se contato com os enfermeiros coordenadores para conhecimento da
rotina relacionada às informações disponibilizadas aos familiares dos pacientes
internados (Apêndice III). Nessa ocasião, solicitou-se um exemplar do Boletim
Informativo utilizado, no serviço, para comparação entre eles.
A seguir, iniciou-se efetivamente o trabalho de campo. Buscou-se uma
aproximação com os cenários do estudo, especificamente no horário de visitas,
visando acompanhar as ligações que envolviam a equipe multiprofissional, a
família e o paciente e, principalmente, observar a rotina relacionada às
informações. Na ocasião, consultava-se o censo diário das unidades, para
identificar os pacientes com tempo de internação superior a 48 horas.
A abordagem dos familiares se constituiu inicialmente de um breve
contato com os visitantes, ainda no hall de entrada das UTI, buscando construir
vínculos de confiança e a percepção do momento mais propício para a entrevista.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Metodologia
_____________________________________________________________________________________________________________
50
A seguir, os objetivos da pesquisa eram apresentados e era solicitada
sua participação. Mediante o consentimento verbal, este era orientado a se dirigir,
após a visita, a uma sala para a efetivação da entrevista, que se concretizava
após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Apêndice IV), conforme preconiza a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de
Saúde, que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996).
As entrevistas foram realizadas, portanto, individualmente e em local privativo.
Vale ressaltar que nenhum dos familiares abordados se recusou a participar.
As entrevistas foram realizadas antes da conversa do médico
plantonista com os familiares, sobre o quadro clínico do paciente, visto que o
estudo trata das informações contidas do Boletim Informativo. Esse cuidado
evitou que as respostas fossem confundidas pelo contato recente com o médico.
A entrevista com os profissionais ocorreu no seu horário de trabalho,
seguindo-se os mesmos critérios de abordagem utilizados com os familiares.
Nenhum dos profissionais abordados se recusou a participar. Alguns
manifestaram satisfação ao conhecer os objetivos do estudo e se prontificaram a
colaborar.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Metodologia
_____________________________________________________________________________________________________________
51
4.3 - ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para a análise utilizou-se a Análise de Conteúdo das respostas
proposta por Bardin (2004), que a considera como um conjunto de técnicas de
análises das comunicações, que utiliza procedimentos técnicos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens. Possibilita estudar motivações, valores,
crenças e encontrar respostas para as questões formuladas. Favorece a
descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, permitindo que se vá
além das aparências do que está sendo comunicado.
A autora propõe, após a transcrição das respostas dos sujeitos, três
etapas cronológicas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos
resultados, utilizando-se a inferência e a interpretação.
A análise preliminar compreendeu a organização do material e a leitura
“flutuante”, que consistiu no estabelecimento do contato com o material e do
conhecimento do texto a ser analisado. Nessa etapa, o pesquisador se deixa
invadir por impressões e orientações e, aos poucos, o alvo da leitura vai
ganhando clareza para sua consciência (BARDIN, 2004).
Em seguida à leitura de assimilação de todo o material, procederam-se
as etapas de codificação e categorização recomendadas pela mesma autora
(análise categorial). A codificação compreendeu o desmembramento do texto em
unidades de significados, seguidas de reagrupamentos analógicos, que
resultaram em categorias. Para facilitar a identificação visual das unidades de
significados, foram utilizadas cores variadas para cada unidade, que foram
posteriormente agrupadas.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Metodologia
_____________________________________________________________________________________________________________
52
A partir do processo de análise dos relatos dos familiares e
profissionais, emergiram categorias. Posteriormente, buscou-se detectar pontos
coincidentes, divergências e conflitos nas afirmações dos entrevistados, o que
permitiu na última etapa fazer inferências e realizar interpretações previstas no
referencial teórico-metodológico.
Nesta fase, buscou-se significados que ultrapassassem o nível
espontâneo das mensagens, pistas em torno de dimensões teóricas sugeridas
pelo material (BARDIN, 2004).
Os relatos dos profissionais e familiares foram numerados e
caracterizados com letras P e F, respectivamente, garantindo assim o seu
anonimato.
4.4 - ASPECTOS ÉTICOS
O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação e aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas
da Universidade Federal de Goiás, Protocolo CEPMHA/HC/UFG Nº 097/05 e, em
seguida, aos respectivos comitês dos outros hospitais (Anexo I).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
5.0 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS
RESULTADOS
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
54
_______________________________________________________________________________________
Nesse capítulo será descrita inicialmente a caracterização dos
entrevistados e, a seguir, serão apresentadas as comparações entre os Boletins
Informativos das UTI estudadas e entre as rotinas de cada uma delas, relativas ao
fornecimento de informações aos familiares dos pacientes internados.
Na seqüência serão apresentadas as categorias que emergiram da
análise dos depoimentos, e permitiram descrever a percepção dos entrevistados
sobre o Boletim Informativo como instrumento de comunicação do estado clínico
do paciente internado na UTI, identificar os aspectos da comunicação envolvidos
na compreensão do conteúdo dos Boletins Informativos, bem como identificar as
sugestões para a elaboração de um Boletim Informativo.
5.1
- CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DO ESTUDO
Os familiares eram, na maioria, (83%) do sexo feminino e a faixa etária
entre 30 e 55 anos. Os visitantes do sexo masculino, apesar de comparecerem às
visitas, quando eram abordados para a entrevista, referiam não ter buscado a
informação por meio do Boletim (critério de inclusão), atribuindo esse cuidado a
outro familiar, em geral, do sexo feminino.
No que se refere ao grau de parentesco, a maioria dos familiares que
solicitaram a informação pelo Boletim foram mãe, irmã, filho e cônjuge. Percebe-
se que na experiência de ter um parente grave, internado na UTI, o conceito de
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
55
família caracterizou-se por grupos de indivíduos predominantemente ligados por
laços de sangue.
Os profissionais entrevistados também eram, na maioria, (61%) do
sexo feminino, e a faixa etária variou entre 28 e 46 anos, com um tempo de
graduação entre 3 e 26 anos. O período de atuação em UTI variou entre 08
meses e 26 anos (média de atuação de 10 anos) e (83%) trabalhava em mais de
uma instituição de saúde.
Em relação à composição mínima da equipe estabelecida pela Portaria
nº. 1.071 de 04 de julho de 2005 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), três das
unidades estudadas obedeciam aos itens preconizados:
um responsável técnico com título de especialista em medicina intensiva;
um médico diarista com título de especialista em medicina intensiva; um
médico plantonista exclusivo para até dez pacientes ou fração;
um enfermeiro coordenador, exclusivo da unidade;
um enfermeiro, exclusivo da unidade, para cada dez leitos ou fração, por
turno de trabalho;
um técnico de enfermagem, para cada dois leitos ou fração, por turno de
trabalho;
um funcionário exclusivo responsável pelo serviço de limpeza.
Nenhuma das unidades atendia a outros componentes estabelecidos
pela mesma Portaria:
um fisioterapeuta para cada 10 leitos ou fração, por turno de trabalho;
um fonoaudiólogo e/ou terapeuta ocupacional disponível para a unidade;
um psicólogo disponível para a unidade.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
56
5.2 - COMPARAÇÃO ENTRE OS BOLETINS INFORMATIVOS DAS
UTI
O Quadro 1 apresenta os itens contemplados nos Boletins Informativos
de cada uma das UTI, para informar o quadro clínico dos pacientes.
Q
UADRO 1 - Itens contemplados nos Boletins Informativos das UTI A, B, C e D.
Goiânia, 2006.
ITENS UTI A UTI B UTI C UTI D
Estável
Regular
Grave
Estado Geral
Gravíssimo
Consciente
Sedado
Sonolento
Confuso
Coma leve
Coma moderado
Nível de Consciência
Coma profundo
Normal
Com dificuldade
Respiração
Por aparelho
Normal
Alta
Baixa
Pressão Arterial
Muito baixa
Presente
Febre
Ausente
Normal
Diminuída
Aumentada
Ausente
Diurese
Diálise
- Item consta do Boletim - Item não consta do Boletim
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
57
A análise dos impressos dos Boletins Informativos das UTI evidenciou
que eles são semelhantes tanto na forma quanto no conteúdo. Foi possível
verificar que todos os Boletins possuem os itens referentes ao estado geral, nível
de consciência, respiração, pressão arterial, febre e diurese, subdividindo-se
(como um check-list) em outros itens. As UTI são unânimes quanto à elaboração
do informativo, referente à linguagem utilizada, e todos os Boletins são
apresentados em impressos com espaços para que os itens correspondentes à
situação clínica de cada paciente sejam marcados com X. Nenhum dos Boletins
possui glossário que explique aos familiares o significado dos termos utilizados.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
58
5.3 - COMPARAÇÃO ENTRE AS ROTINAS DE TRANSMISSÃO DE
INFORMAÇÕES DAS UTI
Após a entrevista com os enfermeiros coordenadores das UTI
observou-se que quanto à rotina de transmissão das informações à família, as
unidades estudadas seguem o mesmo padrão:
- o impresso é preenchido pelo médico, duas vezes ao dia, pela manhã e à
noite e é transmitido pelo recepcionista, via telefone ou pessoalmente na
recepção do hospital;
- o profissional que transmite as informações contidas no Boletim não possui
qualquer tipo de preparo, limitando-se a ler o que está escrito;
- as UTI estudadas possuem rígida regulamentação quanto ao horário e
período de fornecimento das informações, bem como para as normas de visitas.
No entanto, quando é necessário, os enfermeiros flexibilizam essa rotina;
- não foram observados programas sistematizados e específicos para
atendimento aos familiares;
- além das informações por meio do Boletim, os familiares recebem
orientações dos enfermeiros sobre rotinas habituais, no momento da admissão do
paciente, e informações pelo médico plantonista, após um dos horários de visitas.
Existem algumas diferenças entre as Unidades estudadas quanto à
forma de transmissão das informações que merecem destaque. Estão
intimamente ligadas à facilidade de compreensão e à satisfação da família:
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
59
- com exceção da Unidade B, que oferece apenas um horário para visitas, as
demais disponibilizam diariamente dois horários, permitindo a entrada de dois
visitantes, um de cada vez;
- na unidade A, no momento da admissão, além das orientações verbais
fornecidas pelo enfermeiro, é entregue ao familiar um manual com orientações
sobre as rotinas e serviços da unidade. Azoulay et al. (2002a) apontam que nas
UTI em que existe um folheto, contendo informações aos familiares, a
compreensão aumenta de forma significativa.
- na unidade C, no período vespertino, enquanto os familiares aguardam o
início da visita, uma psicóloga mostra um painel explicativo, contendo fotografias
do ambiente interno da UTI, dos equipamentos (respiradores, oxímetro, monitores
e outros), desenvolve uma técnica grupal, solicitando que cada familiar fale de
suas ansiedades, dúvidas mais freqüentes, informando como uma família pode
ajudar a outra;
- na unidade D, semanalmente acontece uma reunião multidisciplinar,
envolvendo os familiares. Nesse encontro, os profissionais da UTI (enfermeiro,
médico, psicólogo, fisioterapeuta, assistente social e técnico de enfermagem) se
reúnem e, juntos com os familiares, procuram esclarecer dúvidas.
Assim, observou-se que em todas as unidades os familiares recebem
informações tanto verbais quanto escritas. Porém, cada uma apresenta
características peculiares, sobretudo em relação às rotinas estabelecidas, que
podem gerar necessidades específicas aos familiares. Por exemplo, percebeu-se
que em duas instituições a orientação sobre a existência do Boletim Informativo
não é muito enfatizada, pois alguns familiares referiram desconhecer a existência
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
60
desse tipo de informação. Acredita-se que esse fato aconteça em razão dos
profissionais valorizarem mais o contato pessoal no horário de visitas.
De igual forma, verificou-se que a maioria dos familiares prefere a
informação fornecida pessoalmente, no horário de visitas. Percebeu-se ainda, que
nos serviços em que existe uma rotina de dois horários diários de visitas, os
familiares têm maior contato com a equipe e buscam menos a informação pelo
telefone, preferindo a informação verbal fornecida pelos profissionais.
Nas unidades em que as informações são mais acessíveis e fornecidas
pelo médico, psicólogo e enfermeiro, os familiares ficam mais satisfeitos,
procuram menos a informação por meio do Boletim Informativo e quando o fazem,
demonstram maior compreensão dos termos, e até mencionam controvérsias
entre as informações. Isso foi claramente constatado, pois no serviço em que as
informações se restringem basicamente ao Boletim Informativo e a apenas um
horário, por dia, de visitas, há maior insatisfação com o conteúdo informado e
menor entendimento dos termos.
Constatou-se também que aquele familiar, que por motivo de trabalho
ou residência longe do hospital / outro município não pode visitar seu parente
todos os dias ou visita em horário em que não conversa com a equipe, demonstra
incompreensão dos termos e insatisfação com o conteúdo do Boletim Informativo.
Em algumas unidades houve certa dificuldade em encontrar familiares
que tivessem buscado a informação pelo contato telefônico, ou seja, pelo Boletim
Informativo. No momento da primeira abordagem, perguntava-se se já tinham
procurado a informação, utilizando o Boletim Informativo, e alguns afirmavam que
nunca haviam procurado, ora pelo desconhecimento dessa rotina, ora porque
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
61
essa prática era realizada por outro familiar. Alguns mencionaram dar pouca
importância a esse tipo de informação.
É possível inferir que o Boletim, por si só, não é suficiente. O contato
pessoal tem superado as possíveis dúvidas de quem tem acesso ao profissional,
reforçando a idéia de que é necessário rever a maneira como está sendo feita a
comunicação escrita das UTI, principalmente para atender às necessidades
daquele familiar que busca e valoriza a informação por telefone, por ser talvez a
única oportunidade de obtê-la.
É preciso ter em mente que o Boletim Informativo é uma comunicação
formal, que apresenta o pensamento de maneira intencional e mais elaborada, e
que também transmite emoções, tanto pela pontuação quanto pelas próprias
palavras (SILVA, 2003). Mesmo o uso impessoal do X também comunica.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
62
5.4 - BOLETIM INFORMATIVO EM UTI: PERCEPÇÃO DE
FAMILIARES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Por meio da análise das respostas dos entrevistados, foram
identificados os sentidos atribuídos ao Boletim Informativo como instrumento de
comunicação do estado clínico do paciente internado na UTI.
Os participantes mencionaram que o Boletim Informativo é um
instrumento construído ainda de modo não-sistemático e sem critérios para sua
elaboração, que utiliza uma linguagem técnica, simplificada e não individualizada.
A maioria dos entrevistados (78% dos profissionais e 71% dos familiares)
considerou que os familiares estão insatisfeitos com o Boletim Informativo.
Entretanto, para outros (22% dos profissionais e 29% dos familiares), o
Boletim Informativo é um instrumento satisfatório na medida do possível, pois
atende à necessidade de informação, por ser simples, pela hegemonia da equipe
e pelos aspectos éticos (confidencialidade, privacidade) que limitam sua
elaboração.
Essa divergência de opiniões encontrada em um mesmo ambiente e
em um mesmo grupo social, resulta, de acordo com Araújo et al. (2005), da
percepção que cada indivíduo tem da realidade que o cerca, da sua singularidade
e da cultura adquirida, ao longo de sua existência.
Isso leva a pensar que o Boletim da forma como é elaborado e
disponibilizado, tem aspectos tanto positivos quanto negativos. A facilidade
proporcionada pelo X do check-list, muitas vezes, pode se constituir em limitação.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
63
Ainda, para a maioria, o Boletim Informativo é um instrumento que
precisa ser revisto e adequado para que efetivamente seja compreendido de
modo apropriado, e isso implica em estabelecer um processo comunicativo
empático, condizente com o nível intelectual e cultural dos familiares.
Essa percepção foi identificada a partir dos depoimentos dos
entrevistados e, estão agrupados em quatro categorias descritas a seguir, e que
foram assim denominadas:
Boletim Informativo: linguagem técnica, simplificada e não individualizada;
Boletim Informativo: a falta de critérios para elaboração;
Boletim Informativo: satisfatório na medida do possível;
Boletim Informativo: a compreensão mediada pelo processo comunicativo.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
64
5.4.1 - BOLETIM INFORMATIVO: LINGUAGEM TÉCNICA, SIMPLIFICADA E
NÃO INDIVIDUALIZADA
Nesta categoria foram agrupados depoimentos cujos entrevistados
revelam que a linguagem técnica e simplificada utilizada nos Boletins Informativos
não satisfaz às necessidades de informações dos familiares e que, na maioria das
vezes, gera sentimentos de dúvidas, confusão e angústia, como podem ser vistos
nos relatos:
“[...] Na verdade, os boletins são feitos numa linguagem ainda
muito médica, muitas vezes, insensível à compreensão dos
familiares e servem mais para confundir ou deixá-los insatisfeito
sobre as reais condições do paciente” (P2).
“[...] As informações são vagas, às vezes com termos que a
família não entende” (P3).
“[...] A linguagem tinha que ser mais adequada aos leigos, pois
somente as pessoas que têm um pouquinho de conhecimento
técnico é que vai entender o que significam aqueles dados, lá.
Teria que ser uma linguagem mais simples” (P10).
“[...] Fica muita dúvida para o familiar, porque muitas vezes o
familiar não tem conhecimento da aparelhagem, de muitos
termos que os médicos e a equipe usam” (F7).
A comunicação de maneira clara, honesta e freqüente é apontada por
Knobel (1998), Stephen et al. (2005) e Gotardo & Silva (2005) como a
necessidade mais importante dos clientes e familiares nas UTI. No entanto, na
opinião de Scarelli (1993), as informações contidas nos “boletins médicos” não
atendem à finalidade de informação à família com dados que permitam visualizar,
de maneira geral, as condições do paciente.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
65
Observa-se uma preocupação dos entrevistados sobre a clareza e
objetividade da informação. Para o familiar que vivencia o estresse e o sofrimento
por ter um parente em estado crítico, essa situação tende a ser potencializada
pela não-compreensão dos termos técnicos utilizados pelo profissional e pela
ausência de detalhes sobre o estado geral do paciente.
Os estudos de Lemos (2001) e Victor et al. (2003) apontam que nas
UTI, no âmbito do atendimento médico, principalmente, em relação à informação
escrita, não é freqüente a abordagem holística permeada pela comunicação
individual, em especial com a família. Destacam as informações dos profissionais
médicos como um ponto falho, que merece discussão.
Os entrevistados consideram que o Boletim Informativo deve ser um
instrumento de comunicação escrita adequada, com um texto descritivo, contendo
informações detalhadas e individualizadas. Nesse sentido, apresentam as
seguintes sugestões:
“[...] Não apenas o preenchimento de itens. Seja elaborado um
texto para cada paciente e um texto com palavras de fácil
entendimento aos familiares” (P1).
“[...] “Um informativo maior, com mais espaço e com linhas pra
uma conclusão final pelo médico” (P3).
“[...] Detalhar mais um pouquinho como está o estado do paciente
[...] uma forma mais discursiva” (P2).
“[...] Devia aprofundar mais. Existem casos mais graves e os que
são menos graves. A informação é sempre igual para todos os
doentes. Acho que poderia ser melhor” (F14).
“[...] Mais detalhado e não simplesmente um quadradinho
marcado com um X” (F1).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
66
Os depoimentos revelam que as informações fornecidas, por meio do
Boletim, não correspondem ao esperado pelos familiares. Portanto, ações simples
como um boletim mais interativo, com um texto que descreva o quadro clínico do
paciente e sem itens marcados com X, que alcance a compreensão do familiar,
podem contribuir de forma significativa para amenizar essa expectativa. É
importante considerar sempre como afirma Silva (2003), que a comunicação é
mais do que simples emissão e recepção de mensagens, pois envolve a relação,
o contexto e a percepção.
Consideram importante que o informativo seja escrito em linguagem
direta, evitando considerações irrelevantes para o entendimento do familiar:
“[...] Termos mais claros, numa linguagem que o familiar leigo
compreenda” (P9).
“[...] Termos mais apropriados, para que eles possam
compreender” (P5).
“[...] Procurar informar de acordo com o grau de instrução, falar
em linguagem acessível a todas as pessoas” (P4).
“[...] Um tipo assim, que ele explicasse e a gente entendesse”
(F17).
Os conteúdos dos relatos corroboram o que já foi comentado nesse
estudo sobre comunicação, a qual não se efetiva se não houver o conhecimento
da linguagem do outro, seu grau de escolaridade, vocabulário, expectativas,
crenças e valores.
Stefanelli (2005) destaca que dentre as variáveis que podem prejudicar
ou facilitar a comunicação está o linguajar, cujo processo de comunicação só
ocorrerá se tiver o mesmo significado para os participantes.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
67
As expressões contidas no informativo devem ser claras e objetivas.
Contudo, pelos relatos de familiares observa-se falhas na comunicação, levando a
crer que informações imprecisas e insuficientes estão contribuindo para o seu
descrédito:
“[...] Gostaria de saber tudo. Mas, por telefone eles já não falam.
Eles só falam assim: tá regular, tá assim, tá assado” (F13).
“[...] Quando a gente liga pra saber, eles ficam só enchendo a
cabeça da gente. Ele tá isso, tá aquilo. Eu nem tô ligando mais”
(F5).
Silva (2003) considera a clareza fundamental na comunicação. E que
numa interação, busca-se basicamente expressar-se (transmitir), clarificar um fato
(entender um raciocínio, uma idéia, uma postura, um gesto, um comportamento)
ou validar a compreensão de algo (verificar se a compreensão está correta e se a
pessoa se fez entender).
Dessa forma, depreende-se que a pressuposição de que houve
entendimento por parte da família, ao se transmitir a informação, por meio do
Boletim, e a falta de feedback da compreensão da mensagem oferecida,
certamente são os fatores responsáveis por essa falha no processo
comunicacional, resultando nas freqüentes distorções e mal entendidos entre a
equipe multiprofissional da UTI e os familiares.
Essa reflexão tem ressonância com a opinião de Blikstein (2005), de
que a comunicação escrita somente é eficaz quando torna o pensamento comum,
produz uma resposta e apresenta capacidade de persuadir, isto é, quando a
mensagem tem o mesmo significado para o emissor e receptor, o que
provavelmente, não ocorre quando se utiliza jargões ou linguajar científico
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
68
(STEFANELLI, 2005). Silva (2003) complementa que a linguagem inacessível, o
uso de jargões e termos técnicos, são muito comuns nas instituições e
compreensíveis somente para determinado grupo.
É consensual o ponto de vista desses autores com os depoimentos dos
entrevistados, relacionando a insatisfação do familiar à falta de diálogo, de
autonomia e de oportunidade para esclarecimento de determinado termo técnico:
“[...] São parâmetros objetivos, que na verdade, são fáceis para a
equipe médica e de enfermagem falar, mas muito difíceis de
serem entendidos pelos familiares. A quantidade de diurese,
respiração por aparelho mecânico, consciente ou inconsciente,
sedado, são coisas que na verdade quando colocadas na letra
fria e dado com o xizinho como o que a gente faz aqui, não passa
muita coisa para a família (P2)”.
“[...] O que será que eles querem dizer com grave, gravíssimo,
estável, instável? São termos que deixam um ponto de
interrogação na cabeça. [...] às vezes falam: está respirando por
aparelho e a família pergunta do outro lado: que aparelho? (F7)”.
Para Graças (1996), durante a internação, a falta de informações sobre
o quadro clínico e sobre os procedimentos relacionados à terapêutica
demonstram a vulnerabilidade do cliente, exposto às decisões assumidas por
outras pessoas em relação às questões que lhe dizem respeito. Em geral, o
profissional é quem determina o que informar e qual linguagem a ser utilizada, em
detrimento da satisfação e compreensão das pessoas:
“[...] Não é totalmente aquilo que o familiar espera, é só um
resumo do que eles gostariam e do que a gente verifica como
essencial” (P11).
O relato demonstra uma postura autoritária e inadequada, visto que
frente às discussões bioéticas, o princípio da autonomia diz respeito aos direitos
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
69
do cliente na participação em seu processo de tratamento e na capacidade de
tomar suas próprias decisões.
Ao pesquisar sobre o cuidado dispensado a familiares de pacientes
críticos, Gotardo & Silva (2005) evidenciaram grande dissonância entre as
necessidades dos familiares e a prioridade da equipe da UTI. Para Wernet (2000),
somente quando os profissionais deixarem de lado o “achar” o que é melhor para
o outro, é que será possível exercer intervenções que apóiem a vivência familiar.
Isto significa compreender o outro, respeitar o que ele tem a dizer e
reconhecer que ele tem um saber. Esses são aspectos favoráveis ao cuidado
humanizado.
Muñoz & Fortes (1998) apontam a informação como base das decisões
autônomas do cliente e mencionam três padrões como definidores da prática dos
profissionais de saúde:
- o padrão da “prática profissional” em que a revelação das informações é
determinada por regras habituais e práticas tradicionais de cada profissional;
- o padrão da “pessoa razoável”, onde o profissional utiliza formulários
padronizados que não são suficientes para garantir adequada informação;
- o “padrão subjetivo” em que o profissional procura passar uma informação
personalizada, contemplando expectativas, interesses e valores de cada
cliente.
Apesar de se considerar o “padrão subjetivo” como o ideal para a
prática diária, observa-se que alguns profissionais não percebem alternativas para
a prática atual:
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
70
“[...] Paciente gravíssimo é o paciente com instabilidade
hemodinâmica de difícil controle ou instabilidade ventilatória de
difícil controle. E como passar essas informações por boletim?
[...] Tem que ser xizinho mesmo” (P6).
Outro aspecto a ser ponderado na padronização de formulários, é o
fato do familiar considerar o boletim repetitivo, sem individualidade:
“[...] Pouco se entende do que é realmente o quadro do doente. É
muito repetitivo. Todos os dias que eu ligo e todas as semanas é
o mesmo quadro, não há alterações e nem explicações, sendo a
mesma rotina. Fica parecendo até que não houve troca de
boletim” (F12).
“[...] Cada caso é um caso. Existem casos mais graves e os que
são menos graves... Meu irmão tem hidrocefalia, o outro tem
pneumonia. Mas pra cada um é a mesma coisa: regular, grave,
gravíssimo. A informação é sempre igual para todos os doentes”
(F14).
Essas afirmações denotam insegurança e desconfiança das
mensagens, e em que pese os direitos da família, poderiam ser sanadas a partir
do fornecimento adequado e individualizado de informações, condizentes com
seu grau de compreensão. Isto influenciaria sensivelmente na qualidade do
atendimento.
Albístur et al. (2000) também identificaram que os familiares esperam
receber informações que tragam esperança, sinceridade e honestidade.
Entende-se que o holismo pressupõe a ampliação do significado de
comunicação, por parte do profissional que atua na UTI, sendo possível quando
se busca a interação, o envolvimento, o conhecimento do outro e, ao mesmo
tempo, quando o apoio e a confiança são oferecidos, visando amenizar dúvidas e
ansiedade.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
71
Silva (2003) considera que a comunicação contribui para a excelência
da prática de enfermagem e cria oportunidades de aprendizagem para o cliente,
podendo despertar o sentimento de confiança entre cliente e profissional,
permitindo que ele experimente as sensações de segurança e satisfação.
O enfermeiro é um importante elo no relacionamento com a família, e o
fortalecimento desse contato depende da consciência do seu papel de cuidador,
inclusive em tentar intervir na maneira como a comunicação está acontecendo.
Stefanelli (2005) adverte que, dentre as variáveis que podem prejudicar
ou facilitar a comunicação encontra-se a “pessoa” do enfermeiro, pois o que ele
diz ou faz pode afetar sobremaneira o comportamento do cliente. No entanto, é
preciso considerar as condições nas quais ele se encontra, sua maneira de ser e
se influências (emocionais, físicas, intelectuais, culturais e sociais) não estão
interferindo no relacionamento com o cliente (paciente e família).
Na vivência profissional, em UTI, tem sido possível constatar a
existência dessas influências, contribuindo para que o enfermeiro se afaste do
familiar. Esse comportamento também foi identificado por Domingues et al.
(1999), Nascimento & Trentini (2004), Oliveira et al. (2005); Toffoletto et al. (2005)
e Batista & Bianchi (2006). Eles citam a sobrecarga de trabalho (fator físico), o
cuidado atual orientado pelo modelo biomédico (fator cultural), o medo de lidar
com família angustiada e ansiosa (emocional), o despreparo e a insegurança
técnico-científica (fator intelectual) e a falta de poder para resolver determinadas
situações (fator ético), como principais influências no relacionamento profissional /
família.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
72
A busca do autoconhecimento e a consciência de que as limitações
humanas e profissionais podem afetar o relacionamento com o outro, são
medidas práticas que podem direcionar a busca de intervenções específicas para
minimizar esse problema.
Sobre esse aspecto, Fins & Solomon (2001) recomendam a formação
de pequenos grupos multidisciplinares e a construção de casos fictícios para
discussão e aprendizagem, visando analisar situações nas quais os profissionais
não foram envolvidos e que tenham dificuldades em fazê-lo. Da mesma forma,
Toffoletto et al. (2005) acrescentam que a criação de grupos interdisciplinares e o
envolvimento de familiares auxiliam na discussão e tomada de decisões
conjuntas.
Contudo, é importante refletir que o ser humano vive um processo
contínuo de autoconhecimento, que deve reformular suas metas, usar reforço
positivo e, principalmente, se perdoar pelas falhas cometidas (SILVA, 2003). Para
tanto, é essencial o hábito da avaliação do resultado do fazer profissional, como
indicador imediato da qualidade da assistência prestada.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
73
5.4.2 - BOLETIM INFORMATIVO: A FALTA DE CRITÉRIOS PARA A
ELABORAÇÃO
Os depoimentos dos profissionais e familiares expressam insatisfações
com a ausência de critérios relacionados à maneira de elaborar e registrar as
informações no Boletim.
Os profissionais consideram os boletins como algo subjetivo e
controverso, elaborados e fundamentados a partir de percepções próprias, nas
quais cada profissional tem a sua maneira de avaliar o paciente crítico e,
conseqüentemente, a sua forma de registrar a informação. Essa situação significa
muitas vezes, transtornos para o serviço, além de concorrer para confundir o
familiar:
“[...] Fica muito a desejar, Nem sempre os familiares entendem o
conteúdo do boletim. O estado geral regular, grave, gravíssimo é
muito subjetivo, quer dizer, o que é grave para uma pessoa não é
grave para outro. Às vezes, eles questionam: mas o médico falou
que tava do mesmo jeito, mas ligo aqui... ele coloca gravíssimo e
de manhã tava grave. Então, às vezes não houve uma mudança
significativa, e isso é contemplado no boletim, confundindo o
familiar” (P4).
“[...] Não há um consenso entre os profissionais sobre os termos
utilizados” (P8).
“[...] Os dados são muito subjetivos e dependem da percepção do
médico no momento que emite o boletim” (P6).
“[...] Em relação ao nível de consciência, aos sinais vitais, muitos
familiares não entendem o que é uma pressão baixa, muito baixa
ou normal. O que significa em relação ao contexto clínico do
paciente. Então, são dados que ficam muito subjetivos, não fica
muito explicado” (P4).
A esse respeito Lemos (2001) comenta que, muitas vezes, a
informação é fornecida a partir da compreensão que o profissional tem do
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
74
processo da doença. Porém, nem sempre é adequadamente entendida por
pacientes e familiares, contribuindo para a manutenção do medo do
desconhecido.
Oliveira (1991) verificou em seu estudo, que não há um consenso entre
os profissionais responsáveis pela elaboração do boletim, quanto aos critérios de
classificação do estado geral dos pacientes. A autora afirma que estes geralmente
são descritos com base em conceitos pessoais, e que essa prática pode conduzir
a informações desencontradas sobre um mesmo paciente, causando confusão
entre os familiares e dúvidas sobre a confiabilidade das informações.
No cotidiano da prática, é possível constatar que a discordância nas
informações e a falta de padronização da linguagem utilizada abrem espaço para
a subjetividade, reforçando a idéia de que, o que é individual, tende a ser
controverso. Segundo Bastos (2002), o domínio do saber confere ao intensivista o
poder de decidir, de ser membro do grupo procurado, solicitado e necessário,
gerando conflito e competitividade entre os intensivistas.
Para que o intercâmbio das mensagens seja efetivo, Silva (2004)
considera que seu significado deve ser compreendido por todos os que
compartilham a informação, levando-se em conta fatores essenciais para uma
boa comunicação: evitar vieses e distorções no envio da mensagem, adequar o
vocabulário ao repertório do ouvinte e buscar concordância entre as mensagens,
de modo que não se contradigam.
Hughes et al. (2004) identificaram, em estudo na Inglaterra, que
existem grandes diferenças na forma de apresentação dos folhetos informativos e
que essa variação relacionada à quantidade e à qualidade das informações
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
75
oferecidas nos serviços, embora possa parecer normal, interfere na subjetividade
de quem as elabora as e, principalmente, na interpretação de quem as recebe.
Observa-se, portanto, que a ambigüidade do conteúdo do Boletim, ao
permitir interpretações variadas dos itens, contribui para diferentes percepções e
para emissão de um julgamento próprio do familiar sobre aquilo que lhe foi
informado:
“[...] Quando a gente liga, ele diz o quadro estável... aí a gente já
fica perturbada, e eu compreendo assim: que não está bom o
quadro dele. Aí ele não tá bom de jeito nenhum Quando eu ligo,
fico mais perturbada ainda” (F5).
“[...] Outro dia liguei e disseram que ele tava em coma. Aí eu falei:
é engano com certeza. Liguei aqui na UTI e esclareceram que ele
estava sedado, em coma induzido” (F7).
Conceição et al. (2001) lembram que o medo e a ansiedade
comumente vivenciados pelos familiares, podem dificultar a compreensão das
informações e contribuir para interpretação distorcida do que lhes foi transmitido.
O estudo de Inaba et al. (2005) também verificou que os familiares
desejam esclarecimentos sobre os significados dos termos, como identificado
nesse relato de seu estudo: “ele está regular; para mim, regular pode ser tanta
coisa...”.
A comunicação, portanto, não deve se restringir apenas à transmissão
da mensagem, pois
[...] as palavras por si só são neutras e insuficientes para
caracterizar a interação humana. É necessário qualificá-las, dar a
elas emoções, sentimentos, adjetivos, enfim, um contexto que
permita ao homem perceber e compreender não só o que
significam as palavras, mas também o que o emissor da
mensagem sente (ARAÚJO, 2004, p.171).
Outro aspecto que merece destaque, no relato anterior do familiar (F7),
é a importância dada à palavra “coma”, quando na realidade seria “sedado”. É
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
76
preciso certo cuidado no uso de termos, tradicionalmente vinculados à gravidade
do quadro. Se não houvesse disponibilidade do esclarecimento, via telefone, esse
familiar estaria muito angustiado.
Os relatos dos familiares evidenciam também que as informações
contidas no informativo, muitas vezes, diferem do que é dito pelo médico após o
horário de visitas, e que a linguagem, por vezes, é contraditória, gerando dúvidas
sobre a confiabilidade das informações:
“[...] Acho que o que fala no boletim é diferente do que o médico
fala na visita” (F5).
“[...] Só que existem algumas confusões sobre a informação. Às
vezes um fala que teve febre, outro fala que nunca teve febre” [...]
nem todos falam a mesma língua. Em um boletim está regular e
mais tarde está grave. É onde deixa a gente muito angustiada”
(F9).
“[...] Eu já observei algumas informações do boletim que não
condizem muito com o que o médico fala aqui, na conversa
depois da visita” (F12).
Esse desencontro também é percebido pelos profissionais:
“[...] Talvez as informações não sejam passadas de maneira
exatamente igual” (P6).
“[...] Uma informação totalmente desencontrada da informação da
visita da tarde, totalmente desencontrada do boletim da noite,
isso é complicadíssimo para a família, vai gerar é... insatisfação,
vai gerar confusão e pode gerar até problemas legais” (P2).
“[...] Informações passadas por boletim são passadas de uma
forma geral, simples. Às vezes dá problema porque o familiar
compreende o ponto de vista de um médico em um boletim e
mais tarde vê outro ponto de vista de outro médico, levando a
problemas por isso” (P10).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
77
Conceição et al. (2001) recomendam que não se deve despertar no
familiar a idéia de que existe algo a esconder dentro de uma UTI e que quanto
mais clara for a comunicação, melhor será o vínculo profissional-família.
Detalhe importante é esclarecer aos familiares que há intercorrências
inesperadas, com mudanças repentinas no quadro clínico de um paciente. Esses
mesmos autores alertam ainda que, para evitar situações de incongruências em
relação a avaliações feitas por diferentes médicos da UTI, é mais prudente
procurar saber quais informações foram transmitidas por outros colegas até
àquele momento.
Esse cuidado não foi observado nas UTI em estudo. Não são
arquivadas cópias dos boletins emitidos que permitam essa observação.
Coelho et al. (2001) confirmam essa reflexão ao comentar que nessas
unidades, se trabalha constantemente numa estreita margem entre a estabilidade
e a rápida piora clínica do paciente, produzindo, conseqüentemente alterações
nas informações do Boletim Médico. Daí a importância de, além dos
esclarecimentos aos familiares sobre essa possibilidade, dos Boletins conterem
dados suficientes, que permitam ao familiar perceber que houve evolução no
quadro clínico do paciente, minimizando falhas e interpretações errôneas.
Os familiares preferem que as informações sejam verdadeiras, pois
valorizam as notícias sem mentiras e consideram uma oportunidade para
“prepararem-se” para todas as situações que possam advir (SANTOS, 1998;
INABA et al. 2005).
Isso significa, inclusive, buscar refúgio e cultivar sentimentos como a
força do pensamento positivo, espiritualidade, religiosidade e até, quando for o
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
78
caso, participar da decisão junto à equipe de saúde no processo de “interrupção
do sofrimento” (FINS & SOLOMON, 2001). Situações de dificuldades,
principalmente na doença grave, tornam o ser humano bem mais vulnerável e, a
busca por Deus proporciona alívio para o seu sofrimento.
Na opinião de Craig et al. (2003) um processo comunicacional intenso
satisfaz melhor as necessidades de pacientes e famílias na terapia intensiva,
apóia o uso da tecnologia avançada quando é efetiva para os objetivos do
paciente, e facilita o quanto antes a aceitação de um plano de cuidados paliativos
para pacientes sem perspectivas de cura.
O familiar confia na mensagem cuja linguagem seja sem divergência
entre os profissionais que emitem o Boletim. Informar não se resume em fornecer
as notícias por meio de um folheto com termos que o familiar compreenda.
Mesmo que seja de caráter complementar, não pode ser algo que confunda e
gere insegurança. É fundamental sua veracidade.
A verdade deve permear todas as informações fornecidas, sob pena e
risco de infringir o Código de Ética dos Profissionais e o direito assegurado
constitucionalmente aos clientes. Isto significa assistir com qualidade não apenas
na perspectiva individual, mas também coletiva.
Sugestões apresentadas pelos profissionais reforçam a necessidade
de se adotar critérios para a elaboração do Boletim, com conceitos apresentados
sem ambigüidade a fim de evitar interpretações diversas. Isso significa que a
forma unânime de interpretar e escrever a informação no Boletim é importante
para a compreensão, além de contribuir para dirimir dúvidas dos familiares.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
79
Sugerem a criação de um protocolo interno, com os significados de
cada parâmetro, de cada conceito e que sejam do conhecimento de todos os
profissionais que elaboram o boletim. O significado de regular, por exemplo, para
um profissional, não tem o mesmo significado para todos. Além disso, se o
familiar perguntar, o profissional responsável pode esclarecer melhor:
“[...] O que tem que ser melhorado não é o boletim. É a maneira de
interpretar e colocar essa informação no boletim. Deve se elaborar
um protocolo com os significados de cada parâmetro, de cada
conceito e que todos os médicos conheçam esse protocolo. O que
significar regular para um profissional, terá o mesmo significado
para todos. Deve-se chegar a um consenso” (P6).
“[...] É preciso que sejam definidos critérios, protocolos para a
elaboração do boletim. Colocar uma linguagem universal, onde
todos os profissionais falariam a mesma língua. Ex: a concepção
de grave seria a mesma para todos os profissionais (P14).
“[...] Um boletim informativo com uma explicação melhor dos
significados dessas palavras. Olha, regular é assim, quando a
gente diz que está gravíssimo, ele está assim. Especificar melhor,
usar palavras mais populares, compreensíveis e mais acessíveis”
(P9).
“[...] e de preferência que fosse colocado um complemento nesse
boletim explicando ao familiar o que é um paciente regular. É
necessário codificar os termos contidos no boletim” (P14).
Não adianta um profissional elaborar o melhor boletim informativo, se o
colega que irá substituí-lo não tiver a mesma preocupação. Como afirma Silva
(2003), resultados satisfatórios dependem essencialmente da sincronia e da
comunhão dos objetivos.
Experiência similar foi utilizada no estudo de Azoulay et al. (2002), e os
resultados indicaram que a rotina de um boletim informativo com um glossário,
para os termos comumente usados em UTI, melhora a efetividade da informação.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
80
Além da elaboração dos protocolos, pode-se criar um instrumento de
avaliação e validação, visando um feedback das sugestões. O estudo de Moult et
al. (2004) concluiu que a utilização de um instrumento que avalie a qualidade da
informação escrita é importante para a manutenção dessa qualidade. Os autores
lembram que a informação oferecida pelos profissionais de saúde é dinâmica e
um programa de avaliação contínua é essencial para assegurar bons padrões de
qualidade das informações escritas.
Os entrevistados sugeriram também acrescentar itens que não
constam dos boletins atuais, valorizando aspectos menos técnicos, mas que
permitam o familiar acompanhar a evolução do seu parente.
Os depoimentos refletem a ansiedade vivenciada pelo familiar à
medida que, ao buscarem informações, percebem que o Boletim não contempla o
que esperam. Necessitam de dados não apenas sobre o quadro clínico, mas os
que envolvem respostas de todos os profissionais atuantes na UTI:
“[...] Os dados clínicos devem permanecer: pressão respiração,
febre, nível de consciência. Deveriam ser acrescentados itens
que também são significativos pra eles, não apenas em relação
ao quadro clínico, mas, ao bem estar do paciente. Eles querem
saber se estão se alimentando, se estão com frio, se não estão
com sede, se queixam dor” (P4).
“[...] Elaborar o boletim com itens que fossem mais completos. Às
vezes, o que eles querem saber é simplesmente se a pessoa
está acordada, sentindo dor, se te compreende, se ele sabe o
que está se passando e... isso eu acredito, que é o que o familiar
quer saber, na verdade. Talvez para ela nem interesse se tem
febre, se está urinando ou não, às vezes ela quer saber,
simplesmente a evolução, como foi de ontem pra hoje” (P3).
“[...] O paciente em coma, em coma leve, o familiar quer saber, se
aquele paciente teve uma resposta, se mexeu um braço, se abriu
um olho, e isso não é contemplado. E se é significativo pra nós
que avaliamos diariamente, para o familiar é também importante
saber que ele mexeu a mão” (P4).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
81
“[...] Passar para as pessoas que vão informar pra gente,
informações mais completas: tratamento, exames etc” (F4).
Kurcgant (1991) orienta que além das informações sobre o estado do
paciente, diagnóstico, o familiar necessita de esclarecimentos relativos ao seu
parente, incluindo o ambiente e equipamentos.
Além disso, a equipe não deve somente responder perguntas dos
familiares, mas deve ficar atenta para detectar indícios de insegurança e medo, e
estar apta para orientar o paciente e sua família.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
82
5.4.3 - BOLETIM INFORMATIVO: SATISFATÓRIO NA MEDIDA DO
POSSÍVEL
Alguns participantes consideram as informações contidas no Boletim
como satisfatórias, na medida do possível, pois ele contém informações básicas e
sucintas. As manifestações dos profissionais indicam que eles acreditam ser essa
uma forma eficaz de transmitir informações e capaz de atingir a percepção do
familiar:
“[...] Informações básicas, sem muitos termos técnicos e de fácil
entendimento não cria nenhum transtorno, nenhuma ansiedade
na família” (P5).
“[...] Melhor maneira de passar para um maior número de
pessoas, a qualquer hora, as informações pertinentes ao
paciente. [...] quanto mais simplificado, maior a compreensão” [...]
o boletim não tem segredo” (P6).
“[...] É o método mais adequado para se transmitir informações
rápidas” (P8).
Silva et al. (2001) orientam aos serviços que têm a prática de fornecer
informações, por meio de boletins telefônicos, que as façam de forma bastante
resumida e sejam destinadas aos familiares que se encontram inteirados da
evolução, durante as visitas.
Essa recomendação difere da realidade vivenciada. Em razão da
dificuldade de acesso à UTI, pelas rígidas rotinas existentes, é possível observar
que nem todos os familiares comparecem às visitas, muitas vezes, por motivo de
trabalho ou residência longe do hospital. Contudo, não significa que os mesmos
não estejam ansiosos por notícias concretas. São esses familiares que procuram
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
83
com maior freqüência os Boletins. Portanto, informações menos simplificadas,
certamente atenderiam os anseios desse familiar.
É importante diferenciar uma informação considerada “rápida” (P8), de
uma incompleta ou incompreendida. Ela pode ser rápida se transmitida por
escrito, porém precisa ser compreendida ou perderá sua função de informar.
É opinião de um profissional que o Boletim não deve ser modificado,
porque considera que a objetividade do informativo, além de facilitar a
compreensão, não cria qualquer transtorno entre o serviço e os familiares.
Justifica que, uma informação resumida afasta a possibilidade de subjetividade
por quem está emitindo e a possível má interpretação por quem está recebendo:
“[...] Não adianta ter muita coisa, se enrolar e acabar se perdendo
num excesso de informações que a maioria dos familiares não
terão acesso. Não é toda informação que o familiar procura,
porém é uma informação com menos possibilidade de estar
errada e menor possibilidade de má interpretação. Quem é mais
íntimo, normalmente não dá tanta importância ao boletim, talvez
porque ele esteja ali diariamente vendo o paciente e se
informando verbalmente. Ao passo que quem está à distância é
que terá o boletim como único meio de informação e aí você
percebe que na verdade, se tá à distância, não precisa ter um
grau de informação muito grande” (P6).
Alguns familiares mencionam que nem sempre eles se interessam por
todas as notícias, não compreendem os termos e que, talvez, o excesso de
informações signifique maior preocupação:
“[...] Às vezes tem pessoas que preferem não saber” (F3).
“[...] Vai do paciente que está aqui. Quanto mais fala, mais
problema leva para casa” (F2).
“[...] Outros detalhes, às vezes, não alcançam muito a percepção
de quem ouve a informação, principalmente as pessoas que não
estão acompanhando essa terminologia médica” (F12).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
84
Nem sempre o que é percebido pelo profissional como necessário para
a satisfação do familiar é percebido da mesma forma por ele. É fundamental,
portanto, conhecer as expectativas da família, permitindo que ela se manifeste
sobre o que deseja saber.
Alguns entrevistados profissionais referem que o Boletim não deve ser
modificado, pois a pessoa que transmite as informações é leiga e desconhece
tanto os termos utilizados como o quadro clínico do paciente:
“[...] Não dá pra ser mais descritivo. Tem que ser bem simples
mesmo. A pessoa da portaria não compreende o que a gente
escreve. Para ser passado por uma terceira pessoa tem de ser
de marcar” (P9).
“[...] É meio complicado porque não somos nós quem passamos
as informações, é uma recepcionista, ela não explica,
simplesmente lê o que está escrito” (P8).
“[...] Imagino que não tem como aumentar o boletim, acrescentar
muita coisa, porque é passado por telefone e por pessoa leiga,
que é o porteiro” (P12).
Os relatos centralizam o problema no profissional que transmite as
informações. A busca de estratégias para solução do impasse deve ser coletiva
envolvendo inclusive investimento institucional em recursos tecnológicos e
humanos.
Foi identificada também uma satisfação “na medida do possível”,
vinculada à existência de um saber maior por um lado (dos profissionais) e menor
por outro (dos familiares). Esse poder conferido pelo status quo, às vezes, faz
com que o profissional não perceba o outro, e as pessoas ao seu redor se
“conformem” com a situação, a despeito de suas próprias necessidades:
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
85
“[...] Eles sempre falam que está regular e a gente fica
conformada” (F10).
Parece que diante da condição em que a família é obrigada a
“entregar” seu ente querido a outros que detêm um saber específico, para atuar
naquele momento, sente-se impotente e aceita a situação de forma passiva:
“[...] Acho que seja uma coisa dentro do normal. Sei que estando
aqui está melhor do que comigo. Porque não está no meu
alcance. Desde julho que ela está aqui e eu não tenho nada do
que reclamar” (F8).
“[...] Tô satisfeita. Desde que ele veio para UTI é grave, então o
que eles têm tentado passar pra gente, tá bem entendido [...]”
(F2).
Para Urizzi (2005) e Armelin (2000), diante da situação inesperada,
dolorosa e difícil com a qual se depara a família, além do desconhecimento de
seus próprios direitos, os familiares não expõem suas dúvidas e queixas. Por
alienação, respeito ou receio à equipe multiprofissional, os clientes se tornam
passivos, destituídos de autonomia e responsabilidade.
O estudo de Oliveira & Fortes (1999) indicou que os clientes não
possuem a consciência de seu direito à informação e que normalmente se
mantêm em posição passiva. Os autores identificaram que os clientes fazem
poucas perguntas ao médico e o enfermeiro não dá informação, nem conversa
com eles.
Em algumas ocasiões a família não se aproxima do profissional de
saúde porque o enxerga como o detentor do saber, e não é raro o servidor
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
86
encarar o familiar como intruso, dificultando o relacionamento, como pode ser
visto no depoimento abaixo:
“[...] o familiar sempre pede uma informação a mais” (P11).
Corrêa (1998) destaca que o profissional, por se considerar detentor do
saber técnico-científico, estabelece com o cliente, objeto desse saber, uma
relação de domínio, impondo ordens, receitas, cuidados e conselhos.
Talvez não seja de maneira consciente, mas comportamentos que
levam a equipe a sobrepor seus conhecimentos aos do paciente e sua família são
atitudes puramente técnicas, que apontam para a ausência de percepção em
reconhecer como necessidades humanas básicas a atenção, o carinho e a
solidariedade.
Assistir a família do paciente crítico não é tarefa simples e se constitui
em importante desafio para a equipe de saúde, uma vez que as respostas de
cada indivíduo serão sempre singulares.
É importante destacar também que pode haver certo descompromisso
profissional em identificar se o familiar está satisfeito com o que ouve e lê como
indicam os relatos de alguns profissionais:
“Olha, na verdade eu não sei qual é o grau de satisfação, pois
nunca tive a curiosidade de perguntar para nenhum familiar, mas
eu creio que o básico dá pra entender bem” (P5).
“Nunca perguntamos ao familiar se ele está satisfeito. Não temos
contato com o familiar” (P8).
“[...] Eu não tinha maliciado a importância do tal boletim” (P13).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
87
O conjunto de depoimentos indica claramente a precariedade da
qualidade no atendimento à família, revelando o contraste entre humanização e
desumanização. Os relatos mostram a necessidade de se reavaliar a assistência
prestada nas unidades onde foi realizado o estudo..
Humanizar pressupõe cuidar integralmente, englobando o contexto
familiar e social do cliente, incorporando e respeitando os seus valores,
esperanças, aspectos culturais e preocupações. Deixar de garantir a qualidade da
comunicação entre cliente, família e equipe se constitui em desumanização do
cuidado (ALMEIDA et al, 2006).
Peel (2003) adverte que a falta de análise individual e efetiva das
necessidades dos familiares impede o cuidado holístico, e sugere a elaboração de
um instrumento que possa identificar e avaliar tais necessidades.
Alguns familiares descrevem a maneira como foram informados do
estado clínico de seu parente, reforçando a importância da comunicação
paraverbal. Sentiram-se respeitados e acolhidos pelos profissionais.
Por vezes é necessário lembrar que a fragilidade do familiar faz com
que atitudes simples acentuem a percepção do bom atendimento e das relações,
como podem ser vistos nos relatos:
“[...] as informação são muito boas porque eles falam direitinho.
Eles falam assim prá gente, com educação, com carinho:
aconteceu isso, isso e isso durante a noite” (F3).
“[...] Do jeito que ele fala que está escrito no boletim pela manhã,
quando eu chego na parte da tarde, eu vejo a mesma coisa que
ele falou. Quando ele vai melhorando, eu vou vendo que as
palavras ficam diferentes em cada recado que ele dá. Porque é
um recado, não é?” (F6).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
88
“Eu acho que tá muito bom. Já começando da portaria, eles
conversam com as pessoas para que não fiquem desesperadas e
os enfermeiros também são muito bons. O tratamento aqui é
excelente” (F13).
Waidman & Elsen (2004) afirmam que, muitas vezes, o que deixa a
família mais tranqüila e aliviada são pequenos detalhes que podem ser resolvidos
com simples orientações.
Silva (2002, p. 84) lembra que “um sorriso, um meneio positivo da
cabeça, o contato dos ombros, o toque no lugar certo [...] o uso adequado do
silêncio e da voz suave são sinais que auxiliam nos relacionamentos
interpessoais e na comunicação efetiva”. São particularidades que fazem
diferença na qualidade interacional.
Não existe caminho generalizável para se promover uma interação
efetiva com a família do paciente na UTI. Isto envolve treino, consciência, vontade
e o conhecimento do processo de comunicação, suas fases e dificuldades, seus
desafios e dimensões, pois sem comunicação não há humanização da
assistência, e o processo de humanização é singular, ou seja, envolve cada
profissional, cada equipe, cada instituição (MARTINS, s/d; SILVA, 2004;
OLIVEIRA et al. 2006; ROLIM & CARDOSO, 2006).
Apesar do cuidado que os familiares mantiveram em evitar críticas aos
profissionais e às instituições, em algumas entrevistas demonstraram certo receio
em responder às perguntas, às vezes reticentes, emitindo respostas evasivas.
Afirmaram inicialmente que o boletim é satisfatório. Contudo, no decorrer da
conversa, verbalizaram sentimentos diferentes, como abaixo enunciado:
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
89
“[...] Na questão das informações, estou satisfeita. Ah! Tem um
negócio que eles falam que eu não entendo. Quando eles falam
instável, como é? Os outros pedaços eu já entendo, mas esse aí
eu não entendo” (F17).
Houve momentos em que a comunicação não verbal dos familiares foi
significativa. Durante o relato um familiar levantou os ombros.
“[...] Eles atendem bem... na medida do possível” (F16).
Para Silva (2003), nesse caso, o profissional de saúde pode identificar
sentimentos de dúvidas e dificuldades referentes à verbalização.
Sobre essa perspectiva, Pinho & Kantorski (2004) lembram que cada
família reage de uma forma diferente perante a internação de seu parente. Talvez
estes informantes sintam-se seguros em relação aos cuidados com seu familiar
ou preferem não se envolver.
Essa inibição pode estar associada ao receio em criticar o serviço e se
constituir em represálias contra seu parente, como foi identificado no estudo de
Oliveira (1991). Isso valoriza a necessidade do vínculo com a família, usando a
comunicação aberta e facilitadora, a qual permite compartilhar problemas e
dificuldades vivenciadas, tornando-se possível traçar caminhos alternativos,
específicos e condizentes com a realidade daquele familiar.
Alguns depoimentos consideram o boletim satisfatório pela
impossibilidade de ser diferente devido à questão ética e sigilosa das
informações. Além disso, expressam a possibilidade do conteúdo divulgado
comprometer o paciente e ou sua família.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
90
Francisconi & Goldim (1998) também alertam que o uso de linhas
telefônicas convencionais pode facilitar o uso indevido de informações sobre o
paciente.
Considerando a confidencialidade das informações como fundamental
numa relação profissional-cliente, observa-se que os depoimentos revelam a
expressão dos ideais da Medicina, alicerçados na postura ética do profissional
que emite o boletim. É possível perceber ainda uma incipiente preocupação dos
profissionais relacionada à autonomia do cliente:
“[...] Não poderia ser de outra forma pela questão ética e sigilosa
das informações. As informações que constam do boletim são
públicas” (P9).
“[...] E se for uma pessoa conhecida publicamente que não
gostaria de ter seu quadro clínico divulgado? Às vezes é um
político, um artista de TV, que não quer ver o nome divulgado”.
Muitas vezes o paciente não quer revelar o que ele tem a
pessoas que não são familiares próximos. Talvez as informações
ao
invés de ajudar podem comprometer a pessoa. São aspectos
que necessitam ser limitados” (P6).
“[...] É a maneira mais simplificada possível para informar a
qualquer pessoa que busque a informação escrita. Não fica uma
coisa fechada, somente para a família” (P13).
Segundo Orlando (2001), em casos de interesse público o Boletim
Médico deve ser feito por escrito e entregue à família, cabendo a ela a decisão de
entregar ou não à imprensa. Pacientes famosos, na qual a internação na UTI é
motivo de repercussão, na mídia, a divulgação dos boletins escritos deve ser feita
pelo coordenador da UTI ou pelo diretor clínico da instituição. Destaca ainda que,
entregar ao público ou à imprensa informações sem a anuência dos familiares ou
responsáveis caracteriza infração ao Código de Ética Médica.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
91
A quebra de privacidade consiste no acesso desnecessário ou uso de
informações sem a devida autorização do paciente, e a quebra de
confidencialidade se constitui em revelar ou deixar de revelar informações
fornecidas em confiança (FRANCISCONI & GOLDIM, 1998).
No entanto, cabe ressaltar que, nos locais estudados, não se observou
uma rotina estabelecida em que a autonomia do paciente ou família relacionada à
divulgação das informações, fosse priorizada. Na prática, as informações que
constam dos boletins se configuram em um resumo do que a família gostaria de
obter e do que o profissional verifica como necessário. Para Pessini &
Barchifontaine (1997), quando não há alternativa de escolha, e não existe
liberdade de agir, a ação empreendida não pode ser julgada autônoma.
A garantia de preservação da informação é uma obrigação legal de
todos os profissionais e de todas as instituições, e está contida no Código de
Ética Médica (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1988). Sobre esse aspecto,
entende-se que existem situações claras que necessitam de preservação de
informações. No entanto, o profissional deverá considerar os riscos e os
benefícios envolvidos, discutindo claramente com a família ou com o paciente,
aspectos concernentes à confidencialidade e à privacidade.
Assim, é necessário apenas que estratégias sejam elaboradas, visando
evitar que informações sejam utilizadas de forma inadequada e que pessoas sem
qualquer envolvimento com o paciente venham a ter informações sobre o mesmo.
Embora não seja a proposta deste estudo, os resultados encontrados
indicam a necessidade de uma discussão mais ampliada sobre os conflitos éticos
envolvidos. Para Guido (1995) toda proposta de assistência pressupõe um
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
92
compromisso com o ser, com a humanização, respeito aos valores, sentimentos e
crenças e que os profissionais de saúde também têm sentimentos e, muitas
vezes, preocupam-se em agir com ética, buscando solucionar ou minimizar o
sofrimento do cliente.
Backes et al. (2006) complementam que um programa de humanização
não se concretiza se estiver unicamente centrado no usuário. É necessário um
processo de construção participativa que requer respeito e valorização de quem
cuida, possibilitando a flexibilidade e a compreensão de suas inquietações e
condutas ético-profissionais.
É essencial, portanto, o respeito aos princípios e valores que norteiam
a prática dos profissionais. Afinal, os familiares participantes do estudo, não
mencionam qualquer dificuldade com relação a estas questões. Desejam uma
informação que atenda suas necessidades e esteja eticamente correta, pois
querem apenas os dados acessíveis à compreensão do quadro clínico do seu
ente, conforme os relatos seguintes:
“[...] Gostaria de saber tudo. Se o intestino voltou a funcionar, se
o pulmão está melhor que ontem” (F9).
“[...] Na verdade, a gente que é leiga, quer saber mesmo é se a
pessoa tá bem, conversando, urinando bem, se tá respirando”
(F12).
Inaba et al. (2005) reforçam essa questão ao afirmar que os familiares
definiram comunicação adequada como a recepção de informações daquilo que o
indivíduo quer saber, receber notícias, fazer perguntas e obter respostas. É
fundamental atendê-los de maneira ordenada e justa, com respeito e cuidado.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
93
Tolerância à ética e às diversas percepções profissionais e pessoais
também são essenciais. Muñoz & Fortes (1998) afirmam que a avaliação da livre
manifestação decisória do cliente é uma das mais complexas questões éticas
impostas aos profissionais de saúde.
Silva (2003) propõe que uma das finalidades básicas da comunicação
é entender o mundo, relacionar-se com os outros e transformar a si mesmo e a
realidade. A interação adequada implica em análise e interpretação do contexto
dessa realidade.
Ainda nesse sentido, Backes et al. (2006) consideram que o processo
de construção de uma proposta humanizadora da assistência pressupõe estimular
o profissional a participar do processo de mudança, e auxiliá-lo a tomar
consciência da realidade vivenciada e de sua própria capacidade para transformá-
la.
A abordagem desses aspectos inserida na prática assistencial da UTI,
o compromisso educativo da instituição no processo de humanização, incluindo
necessariamente a manutenção das informações, seja pessoalmente ou por meio
de boletins escritos, bem como a preocupação do profissional em valorizar as
necessidades de cada cliente, se configuram em fatores de transformação da
realidade e possibilidades para a busca de um atendimento integral.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
94
5.4.4 - BOLETIM INFORMATIVO: A COMPREENSÃO MEDIADA PELO
PROCESSO COMUNICATIVO
Nessa categoria estão reunidos os depoimentos que revelam que os
familiares compreendem parcialmente o conteúdo informado, atribuindo a
situação a fatores que resultam de falhas do processo de comunicação tais como,
nível intelectual e cultural do familiar que recebe as informações e da pessoa que
transmite o Boletim. Referem também que o Boletim é algo complementar, e a
compreensão depende da conversa com o profissional após a visita.
Stefanelli (2005) afirma que no processo comunicacional é comum o
não-entendimento de uma palavra ou frase, acarretando o bloqueio da
compreensão. Na opinião de Carvalho & Bachion (2005) é importante para a
compreensão do processo de comunicação, tentar identificar quais os fatores que
interferem ou o direcionam.
Silva (2003) aponta que uma das variáveis necessárias para facilitar ou
prejudicar a comunicação é o conhecimento do profissional de saúde quanto ao
repertório do cliente, para que possa utilizar um vocabulário adequado às suas
condições de compreensão.
Waidman & Elsen (2004) lembram que muitas das atitudes de cada ser
humano/ família estão embasadas em suas crenças e sua cultura, que contribuem
para as diferentes necessidades entre as pessoas.
Os relatos demonstram que, às vezes, a compreensão da informação é
prejudicada pela inexistência de um vocabulário condizente com o nível intelectual
do familiar:
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
95
“[...] Depende muito do nível cultural. Mas, acho que de forma
geral, nessa UTI, entendem parcialmente” (P7).
“[...] Acredito que compreendem em parte. Eles não têm
capacidade de detectar o nível de gravidade” (P1).
“[...] O boletim deveria ser dado de uma forma mais discursiva e
mais na linguagem da família. Cada família tem uma linguagem,
cada família tem um nível cultural, sócio-econômico, a gente
deveria conhecer melhor a família” (P2)
É interessante lembrar que além do direito de ser informado é
essencial que a informação seja compreendida. Do ponto de vista ético,
comentado por Oliveira & Fortes (1999), os parâmetros legais referentes a
condições sócio-educacionais desfavorecidas não devem significar ausência ou
presença de competência individual em decidir. Qualquer ser humano que
consiga apreciar a natureza e as conseqüências de um ato ou proposta de
assistência à saúde, deve ter oportunidade de tomar conhecimento e decidir
sobre as questões relacionadas a sua saúde e de seu familiar.
Como foi dito anteriormente, uma das propostas do PNHAH visando a
melhoria da qualidade da atenção prestada é o aprimoramento das relações entre
profissionais de saúde e clientes. Caracteriza, inclusive, como violência a falta de
interação nos hospitais, queixa freqüente dos usuários (BRASIL, 2004).
Entretanto, os depoimentos dos familiares retratam a necessidade de
se resgatar o reconhecimento das necessidades emocionais e culturais, ao se
revelarem vítimas de uma violência psicológica expressada pela dor de não ter a
compreensão e a satisfação de suas demandas e expectativas (DESLANDES,
2004).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
96
Portanto, basta que as informações sejam simples, aproximativas,
inteligíveis e fornecidas dentro de padrões acessíveis à compreensão intelectual e
cultural do usuário.
Moult et al. (2004) recomendam que a informação seja produzida com a
ajuda de usuários do serviço, pois suas necessidades podem diferir das de quem
a está elaborando.
Cada realidade cultural tem sua lógica, e ao ser conhecida, possibilita a
compreensão de práticas, costumes, concepções e as transformações pelas
quais as pessoas passam (SANTOS, 1998; FORTES & MARTINS, 2000).
No estudo de Inaba et al. (2005), os familiares consideraram que a
comunicação adequada é aquela em que as informações, sobre o estado do
paciente, são transmitidas de maneira simples, clara e objetiva, cuja compreensão
alcance as pessoas com menos escolaridade. Isso certamente resulta em
satisfação do familiar e reconhecimento da qualidade do cuidado prestado.
“[...] Eu acho assim: a forma que é esse hospital, de gente de
todos os níveis, eu acho que poderiam usar palavras mais
adequadas às pessoas de menos escolaridade” (F15).
Nesse contexto, compreende-se que a má compreensão das
informações cede espaço às conseqüências difíceis de serem solucionadas visto
que além dos fatores biológicos se encontrarem afetados, as dimensões cultural,
psíquica, social e espiritual também serão atingidas.
Cabe aos profissionais que assistem aos clientes, elaboram e emitem o
Boletim, a responsabilidade e o comprometimento com a qualidade da
informação. E o enfermeiro, elemento nuclear da equipe de saúde, presente em
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
97
todos os momentos da assistência ao paciente, pode encontrar na comunicação o
instrumento fundamental para o desenvolvimento do seu trabalho, assim como
utiliza-la para investir, juntamente com a equipe multiprofissional, em estratégias
que viabilizem mudanças.
Nessa perspectiva, uma medida importante seria a descaracterização
do Boletim Médico atual para um instrumento em que não só o médico, mas
também os enfermeiros participassem da sua elaboração. Azoulay et al. (2000b)
estimulam o pessoal de enfermagem a fornecer informações baseadas nas
próprias percepções de compreensão dos familiares, bem como informar aos
médicos que os mesmos carecem de maiores esclarecimentos.
O conhecimento da capacidade intelectual e cultural do cliente
(paciente/família) só se concretiza por meio do diálogo e da comunicação
adequada, pelo respeito ao seu comportamento, crenças e valores, permitindo
assim, estratégia essencial para a construção da assistência multidimensional ao
ser humano, alvo de inesgotáveis discussões e reflexões, especialmente em
terapias intensivas.
Outro ponto identificado nos depoimentos é que a maneira utilizada
para a transmissão do Boletim parece não alcançar a compreensão do familiar,
pelo fato de ser transmitido por pessoas leigas. Consideram importante que a
pessoa designada para essa função seja capacitada:
“[...] Quem transmite as informações não é o médico. É o porteiro,
o atendente, que se entrar em detalhes, vai se perder. Se ele
disser ao familiar que o paciente está hemodinamicamente
instável, ele vai estar falando grego” (P6).
“Acho que no geral compreendem... o profissional que passa as
informações é leigo, não compreende os termos” (P13).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
98
0s profissionais entrevistados sugerem pessoas capacitadas para
transmitir o Boletim visando a compreensão e satisfação do familiar. Indicam que
devem ser membros da equipe que assiste o paciente, preocupando-se em
fornecer informações evolutivas que traduzam confiança e segurança para quem
ouve:
“[...] Ter uma pessoa treinada para passar essas informações.
Poderia ser um médico, uma assistente social, um psicólogo, em
que o familiar ligasse e ele dissesse: olha, ele melhorou hoje à
tarde. Ainda tá grave. É melhor do que falar paciente grave,
pressão baixa e sob ventilação mecânica. Acho que fica
parecendo que você tá ligando pra uma máquina, pois uma
máquina falaria esses tópicos. (P7)”.
“[...] O preparo da pessoa que fosse passar este boletim” (P6)
“[...] Poderia ser passada pelo enfermeiro mesmo na unidade de
tratamento” (P3).
“[...] Talvez a pessoa que passasse o boletim fosse uma pessoa
mais paciente, que falasse de maneira mais humana, que
compreendesse os termos técnicos que está passando, que não
fosse leigo” (P13.)
Stephen et al. (2005) avaliaram a satisfação dos familiares de pacientes
críticos sobre o atendimento das necessidades e identificaram que a maneira pela
qual a informação é transmitida, a confiança e o relacionamento mutuamente
respeitoso entre familiares e profissionais, são fatores cruciais para ajudar essas
famílias a suportarem situações de crises.
_______________________________________________________________________________________
A prática utilizada, por uma das unidades estudadas, constitui-se em
experiência bem sucedida que pode ser reproduzida por outras UTI. Nela ocorre
semanalmente uma reunião multidisciplinar com familiares de pacientes
internados, onde se discutem não apenas assuntos relacionados à patologia e ao
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
99
tratamento, mas esclarecimentos de todas as dúvidas, além de oportunizar a
troca de experiências.
Os familiares se queixam não apenas da maneira como a informação
escrita é transmitida, mas principalmente, da dificuldade de suas dúvidas serem
esclarecidas:
“[...] Quem está passando o boletim nunca sabe. Ele sempre fala
assim: Não sei te explicar minha senhora, eu só estou lendo o
que está escrito. Ele não sabe
passar porque na verdade não
conhece. Deveriam instruir esse profissional que tem essa função
de dar o boletim à família, de explicar, porque muitas vezes a
família tá ansiosa” (F7).
“[...] Por telefone eles não esticam muito e... quando a gente
pergunta, eles dizem: - isso aí é só com o médico mesmo” (F13).
“[...] Instruir quem está passando o boletim. Saber esclarecer a
dúvida” (F8).
Inaba et al. (2005) identificaram a necessidade de uma central de
informações, onde uma pessoa conheça cada caso, para poder transmitir aos
familiares. Leite & Vila (2005) acrescentam ainda que a informação na UTI tem
sido falha, pois quando o familiar liga para saber notícia o funcionário responde
que não pode dar informação, solicitando que ligue mais tarde.
O estudo de Freitas (2005) sobre necessidades de familiares em UTI,
identificou um baixo grau de satisfação relacionado à informação, mencionando a
importância de se “ter uma pessoa que possa dar informações por telefone”.
Nesse sentido, considera-se que a interação com a família depende
essencialmente de reflexões e discussões acerca das rotinas estabelecidas que
contemplem as necessidades do cliente. A proximidade do enfermeiro com a
família favorece a formação de vínculos que facilitam essa percepção, a reflexão
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
sobre mudança de condutas adotadas pela equipe de saúde e até de rotinas
institucionais.
Silva (2004) lembra, entretanto, que no cotidiano o enfermeiro até
reconhece que a assistência adequada depende de uma linha aberta de
comunicação com a família. Mas, ao tentar administrar o tempo na execução
daquilo que julga prioritário, geralmente opta pelo cuidado técnico.
Por isso, torna-se essencial a união da competência com a
sensibilidade na percepção fundamental da necessidade de mudanças.
Os participantes sugerem que para que a comunicação seja adequada
e o familiar a compreenda melhor, é necessário investir em medidas que
favoreçam a transmissão da informação pessoalmente:
“[...] Acho que a melhor informação é a que é dada
pessoalmente. Acho que tem que melhorar o contato [...] Uma
reunião onde todos os familiares questionam e tiram dúvidas. Só
assim a gente consegue saber se está satisfatório, se o que eles
ouvem é o que realmente querem ouvir” (P8).
“[...] Teria que ser na visita mesmo, passado à beira do leito.
Acho que eles ficam mais satisfeitos” (P5).
Sobre esse aspecto, Conceição et al. (2001) recomendam que em
razão da ansiedade dos familiares em conhecer todos os detalhes da evolução do
paciente, bem como de sua recuperação, o ideal é que as informações telefônicas
sejam evitadas e que sejam transmitidas pessoalmente pelo médico intensivista
ou outro membro da equipe multiprofissional, no horário de visita.
Silva et al. (2001) também compartilham do pensamento de que se
deve insistir para que o familiar obtenha as informações, pessoalmente, de “viva
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
101
voz”, pois frases mal compreendidas por telefone podem levar a interpretações
distorcidas sobre o real estado do paciente.
Alguns entrevistados ressaltam também a importância da equipe
multidisciplinar na transmissão das informações:
“[...] A informação mais adequada seria a informação fornecida
pessoalmente, pelo médico ou enfermeira, onde as informações
seriam mais detalhadas, com esclarecimentos de dúvidas do
familiar, com respostas ao que ele gostaria de saber” (P9).
A prática de orientação prévia do familiar em uma sala apropriada,
antes de entrar na UTI, em que um profissional apresenta a caracterização física
da unidade, equipamentos, procedimentos utilizados dentre outros, é realizada
por uma das unidades estudadas. Essa estratégia foi citada por autores como
Scarelli (1993), Domingues et al. (1999), Azoulay et al. (2002), Leite & Vila (2005)
como alternativa para melhorar a efetividade da informação, além de diminuir
tensões e ansiedades.
A interação profissional-cliente é fundamental para uma comunicação
eficaz É inegável que o diálogo facilita a compreensão da mensagem, pois
proporciona oportunidades de perguntas e respostas, inclusive permite a
validação da mesma. No entanto, não se pode perder de vista atender as
necessidades de informação dos familiares que buscam a informação por telefone
e que não têm a oportunidade de participar desses encontros. O investimento na
capacitação do profissional que transmite o Boletim amenizaria essa questão
A compreensão do Boletim também foi associada à conversa com o
profissional médico após a visita. Os relatos dos profissionais indicam a
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
valorização desse contato em detrimento do Boletim, sendo considerado algo
complementar:
“[...] O boletim informativo é apenas um complemento, não é uma
coisa isolada. Depois à tarde, o familiar complementa as
informações. Porque naquele momento é mais ·uma coisa de
complemento mesmo até o momento da visita, período em que
ele conversa com o médico, a pessoa tem pelo menos algum tipo
de informação” (P11).
“[...] Eu acredito que eles compreendem melhor o boletim a partir
das conversas com o médico durante as visitas. Mas, o familiar
que não participa das visitas, eu acredito que não ficam
satisfeitos e nem vão ter suas necessidades de informações
atendidas pelo boletim” (P7).
“[...] Geralmente não compreendem. Pode compreender o nível
de consciência, se a pressão está alta ou baixa, mas não
compreendem a gravidade da doença, que é uma situação
importante. Porque só pessoalmente, só com o médico. Por isso
a importância da entrevista com o médico” (P10).
[...]“ Acho que não é suficiente, acho que não compreendem.
Quando falo que a família não entende é porque todos os dias
eles estão fazendo as mesmas perguntas pra gente, sobre o
paciente. Perguntas que não são respondidas no boletim” (P7).
Alguns familiares também preferem o contato pessoal após a visita.
Julgam as informações mais completas:
“[...] Eu nem estou ligando mais. Estou vindo e conversando com
o médico. Só quando venho aqui é que eu sei” (F5).
“[...] O boletim é menos completo que a informação dada depois
da visita” (F2).
“[...] Eu não ligo muito não, porque não é completo. Eu quero
saber mais outras coisas que no boletim não fala” (F9).
“[...] Uma pessoa passando essa informação pessoalmente,
individualmente” (P7).
“[...] Uma informação como a do horário de visitas” (F1).
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Victor et al. (2003) verificaram, em seu estudo, que os familiares
desejam ter informações detalhadas sobre o estado geral do paciente e de seu
prognóstico, assim como querem sentir-se à vontade para realizar perguntas ao
médico. Freitas (2005) afirma que o “encontro com o ente querido” e a “conversa
com o médico responsável pelo doente” representam os momentos mais
esperados pelo familiar.
Silva (2003) lembra que a eficácia do processo comunicacional
depende de variáveis como o ambiente (o indivíduo se sente mais seguro e
confiante em lugares conhecidos e temeroso em situações desconhecidas) e o
senso de oportunidade (quando o cliente perceber o momento adequado e se
sentir em ambiente seguro, fará perguntas e compreenderá o que o profissional
está querendo comunicar).
O contato pessoal com o médico intensivista em todas as unidades
pesquisadas reforça o que o familiar pensa, isto é, ser este profissional capaz de
atender a sua necessidade. Parece haver uma “cultura” perpetuada pela equipe e
população, em geral, de que o único profissional que pode informar com clareza e
segurança é o médico. O enfermeiro também deve colaborar no esclarecimento
do quadro clínico do paciente. Iniciativa e aproximação constituem o caminho
para mudar esses conceitos.
A visão fragmentada do ser humano e do processo saúde-doença
influenciada pelo modelo biomédico, e a divisão do trabalho são aspectos que
determinam e ainda favorecem uma prática de enfermagem voltada para um
cuidado dicotomizado e distante do cliente, o que é constatado pelos familiares e
equipe de saúde.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Ao compararem a compreensão dos familiares sobre informações de
pacientes críticos oferecidas por médicos residentes e médicos profissionais,
Moreau et al. (2004) observaram que a maioria dos familiares fica mais satisfeita
quando as informações são transmitidas pelos médicos profissionais.
Henneman & Cardin (2003) descrevem que o tipo de informação que
os familiares valorizam, no enfermeiro, está relacionado ao bem-estar geral dos
pacientes, incluindo sinais vitais, nível de conforto, padrões do sono e que não os
consideram aptos para informar sobre prognóstico, diagnóstico e tratamento.
O estudo de Stephen et al. (2005) sobre necessidades de familiares,
concluiu que a clareza da informação sobre o diagnóstico e o tratamento
oferecido pela equipe médica, os deixavam muito satisfeitos. No entanto, o
médico foi avaliado pelos familiares como controlador e dominante e o enfermeiro
como uma pessoa mais amiga e menos hostil, resultante do cuidado ininterrupto e
dedicado do enfermeiro.
Para que a informação seja bem compreendida Peel (2003) lembra que
deve ser transmitida por um servidor educado e que tenha habilidades de
comunicação, e nem sempre é o médico a pessoa mais indicada para este papel,
pois existem situações que são mais bem conduzidas pelo enfermeiro, por ser o
profissional mais próximo do paciente.
Contudo, ainda houve relatos, que não reconhecem o enfermeiro como
um profissional que deva participar desse momento, tanto na opinião de familiares
quanto de profissionais. As razões apontadas foram que quem examina o
paciente é o médico; que a família confia nas informações do médico e que é
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
papel do psicólogo “preparar” a família antes da visita para que posteriormente o
médico esclareça as dúvidas:
“[...] Quando entrei para visitar minha filha, vi uma enfermeira
examinando a barriga dela. Perguntei por que ela estava fazendo
aquilo e ela disse que era preciso. Não gostei, pois ela não é
médica para examinar” (F9).
“[...] Não acho que seja o enfermeiro a pessoa mais indicada para
passar as informações para a família, sabe por quê? Até poderia
ser, porque nós sabemos mais do paciente do que qualquer outro
profissional. Porém, em nossa prática, lidamos com um familiar
que não quer informação do enfermeiro, ele quer a informação do
médico. Ele não vê o enfermeiro como uma peça importante na
equipe, que quem cuida do paciente é a enfermagem. Muitas
vezes, aqui no horário de visitas, eles perguntam e o enfermeiro
explica tudo sobre o paciente, nos mínimos detalhes, só que vão
ao médico e perguntam a mesma coisa” (P12).
“[...] Acho que seria importante ter o acompanhamento do
psicólogo na hora da visita, por que já tem muitas UTI assim. O
psicólogo prepara a família. Ele deverá chegar antes da visita, vê
o estado geral dos pacientes, perguntar ao médico sobre alguma
alteração, se piorou, se melhorou, pra ele preparar o visitante
antes da entrada para visitar. E depois, juntar-se ao médico e
esclarecer as dúvidas dos familiares” (P10).
“[...] E a informação sobre a gravidade, o estado geral, tem que
ser passado pessoalmente, não tem jeito. E tem que ser o próprio
médico e não outro profissional” (P9).
Esses entrevistados excluem o enfermeiro dessas ações. Na medida
em que os enfermeiros não se tornam visíveis para a família nem para os demais
membros da equipe é natural que isso ocorra. É preciso indagar e refletir sobre
que papel os enfermeiros têm desempenhado ou que funções têm assumido para
contribuir com essa percepção. Os relatos reforçam a indicação de que existem
enfermeiros que não percebem a família como cliente e não consideram parte
integrante de sua tarefa assistencial.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
106
O estudo de Batista & Bianchi (2006) identificou que os enfermeiros
consideram o relacionamento com familiares como fator estressante nas unidades
de emergência e que é resultante da falta de respaldos institucional e profissional,
da indefinição do seu papel, da falta de comunicação e incompreensão, por parte
dos supervisores.
Convém, entretanto, destacar que nas unidades em que o enfermeiro
tem como rotina acompanhar o familiar durante a visita ou pelo menos
permanecer com sua equipe dentro da UTI respondendo a possíveis dúvidas, há
um sentido de validação da informação, por parte dos entrevistados, que
reconhecem e destacam o valor do enfermeiro:
“[...] As informações dadas pelas enfermeiras na beira da cama
são mais completas, batem realmente com o que o médico fala
depois da visita” (F12).
“[...] As pessoas que são mais restritas, que não podem vir, que
moram longe, acho que às vezes poderiam falar com o médico ou
a enfermeira-chefe por telefone, aí ela ficaria mais tranqüila a
respeito do paciente” (F16).
“[...] A informação mais adequada seria a informação fornecida
pessoalmente, pelo médico ou enfermeira, onde as informações
seriam mais detalhadas, com esclarecimentos de dúvidas” (P9).
No cotidiano profissional é possível perceber que as dúvidas dos
familiares se referem, em geral, a aspectos que fazem parte do conhecimento do
enfermeiro, não havendo, portanto, dificuldades em atendê-las. Estudos como os
de Freitas (2005), Garcia & Faro (2004) revelam como necessidades dos
familiares serem informados a respeito de tudo que se relacione à evolução do
paciente; saber que tratamento médico está sendo dado; ter informações a
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apresentação e Análise dos Resultados
_____________________________________________________________________________________________________________
107
respeito do estado geral e dos cuidados prestados ao paciente, o que também foi
encontrado no presente estudo, como mostram os relatos:
“[...] Eu queria saber se ela está evacuando, se o intestino voltou
a funcionar. Ela teve uma pneumonia e eu queria saber se o
pulmão dela está melhor do que ontem” (F9).
“[...] Muitas vezes a gente liga pra saber e a gente gostaria de
saber mais, mas não tem essa informação. Meu irmão fez uma
cirurgia e a gente quer saber como é que foi a cirurgia. Aí a gente
sabe que ele tá regular, estável. Muitas vezes isso não fala pra
gente e... eu queria que fosse assim... mais profundo” (F14).
“[...] Outra preocupação grande dos familiares é em relação não
ao quadro clínico, mas ao bem-estar do paciente. Eles querem
saber se o paciente está se alimentando, se está com frio, se não
estão com sede, se queixa dor” (P4).
Bunch (2000) identificou, em seu estudo que os enfermeiros oferecem
informações claras e detalhadas aos familiares, transmitem verbalmente e por
meio de relatórios diários, dados relevantes aos outros profissionais. Porém são
ações realizadas quase que inconscientemente, e que se fossem usadas como
estratégias de intervenções melhorariam a qualidade da assistência.
Cita como estratégia fundamental a presença de um enfermeiro
durante as explicações fornecidas por outros profissionais, pois é o momento
oportuno para verificar e se inteirar do que está sendo explanado. O consenso
das informações entre os profissionais favorece o esclarecimento do quadro
clínico.
Conhecer o real valor atribuído pelos familiares às necessidades,
independente de qual é o membro da equipe multiprofissional, constitui-se
subsídio para planejar e implementar ações reconhecendo que o atendimento à
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
família é tarefa de todos os integrantes da equipe que atua em uma UTI. Cada
profissional tem informações pertinentes à sua área e são complementares entre
si. Ou seja, o ideal é que todos participem assegurando a qualidade da
informação transmitida.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
6.0 - CONCLUSÕES
Os impressos dos Boletins Informativos das UTI que participaram da
pesquisa são semelhantes, tanto na forma quanto no conteúdo, incluindo itens
referentes ao estado geral, nível de consciência, respiração, pressão arterial,
febre e diurese dos pacientes internados.
As rotinas de transmissão de informações aos familiares, nessas UTI,
são similares no que se referem à existência de pelo menos um horário para
visitas, do preenchimento do Boletim duas vezes ao dia pelo médico, sendo
transmitido pelo recepcionista, via telefone ou pessoalmente, na recepção do
hospital.
A análise das respostas dos familiares e dos profissionais nos permite
concluir que os modelos atuais do Boletim Informativo das UTI estudadas foram
considerados, de modo geral, como insatisfatórios, por apresentarem uma
linguagem técnica e simplificada, não individualizada e sem critérios de
elaboração. Estes fatores contribuíram para evidenciar sentimentos de
insegurança, medo e ansiedade por parte dos familiares relacionados ao quadro
clínico do paciente.
Isso indica que há necessidade de revisão e adequação dos termos
utilizados nos Boletins Informativos, a fim de serem elaborados com uma
linguagem que alcance o entendimento do familiar, e onde o processo
comunicacional utilizado não se restrinja apenas à emissão e à recepção parcial
de mensagens, mas, que haja uma interação entre equipe de saúde e família.
Apesar da maioria dos entrevistados estarem insatisfeitos, não se pode
negligenciar a opinião dos que julgam o Boletim Informativo satisfatório, capaz de
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Conclusões
_____________________________________________________________________________________________________________
111
atingir a percepção do familiar, principalmente, considerando que quem transmite
a informação, atualmente, em todas as UTI, é uma pessoa leiga e que existem
aspectos éticos que limitam sua elaboração.
Foi possível concluir também que o familiar compreende parcialmente
o conteúdo do Boletim Informativo, e isso é resultado da capacidade intelectual e
cultural de quem recebe a informação, de quem a transmite e do diálogo com os
profissionais.
Identificou-se que este instrumento também é visto por alguns
entrevistados apenas como mais uma maneira de informar ou até mesmo um
complemento sobre o quadro clínico dos pacientes, dentro de uma UTI.
Foi sugerido um informativo cujos termos alcancem a percepção
intelectual de quem busca este instrumento, com um glossário anexo, que seja
transmitido por profissional capacitado, dando ênfase ao contato pessoal.
Sugeriram ainda que sejam acrescentadas informações valorizando aspectos
menos técnicos, que permitam ao familiar acompanhar a evolução do seu
parente.
Enfim, para o atendimento das necessidades dos familiares quanto ao
estado geral do seu parente, na UTI, é de fundamental importância as mudanças
tanto na forma de se elaborar o Boletim Informativo quanto no seu conteúdo. Isso
exige que haja linguagem comum entre quem emite e quem recebe, descritiva e
detalhada, e que o familiar tenha acesso não só por telefone, mas que tenha
oportunidade de fazer perguntas, cujas respostas sejam validadas pela equipe
multiprofissional.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
7.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos questionamentos que suscitaram a realização da pesquisa
e do que foi revelado pelos entrevistados, percebe-se que não se trata de algo
simples e que nem tudo pode ser explicado.
No entanto, os aspectos que contribuíram para evidenciar a
insatisfação e a compreensão parcial dos familiares são fatores passíveis de
serem minimizados, desde que o objetivo da equipe multiprofissional implique o
desenvolvimento de uma assistência de qualidade - uma prática humanizadora.
Um Boletim satisfatório e compreensível é objeto de desejo de grande
parte dos entrevistados. Contudo, é evidente uma dicotomia entre a prática e o
discurso dos profissionais.
Os aspectos evidenciados impõem a busca de soluções criativas. É
preciso entender que a excelência do cuidar depende da aplicação de novas
práticas. É importante considerar que a questão não é fácil, e que um processo
comunicacional adequado não se resume em fornecer informações por meio de
um Boletim satisfatório. É necessária a compreensão de que a construção da
excelência da qualidade da assistência, baseada na comunicação efetiva, envolve
retomada do processo de trabalho em dimensões teóricas e práticas.
O caminho a ser percorrido perpassa por um grande desafio - passar
do discurso à prática, transformar idéias em ações. O envolvimento de questões
políticas, organizacionais e interpessoais devem ser articuladas, porém,
compreende-se que o processo de transformação está mais na dependência de
mudanças pessoais do que externas, e que a valorização das ações envolve não
apenas o agir técnico, mas, sobretudo a dimensão humana, que certamente
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
decorre da interação, do diálogo efetivo, do respeito à diversidade de percepções,
enfim, da mudança de comportamentos.
Falar de humanização da assistência implica no resgate de todas as
dimensões que envolvem a comunicação, ou seja, no entendimento de que a
habilidade de comunicar-se passa pela verdade das pessoas serem capazes de
se relacionarem com quem existe a sua volta, e que melhorar a comunicação
significa conquistar o melhor de si mesmo, colocando a atenção em dimensões
que, normalmente, não se põe (SILVA, 2002).
A família é parte integrante da vida do paciente e, portanto, é
imprescindível sua colaboração. A assistência direta à família, sem dúvida
contribui para desmitificar julgamentos próprios relacionados à UTI, além de
aumentar a confiança e a segurança quanto à internação e o tratamento do
familiar, minimizando o sofrimento.
Para o desenvolvimento de um trabalho que contemple a humanização
da assistência na UTI, incluindo o Boletim Informativo como um instrumento que
atenda as necessidades de quem o busca e o valoriza, faz-se necessária a
abertura dos profissionais que ali atuam para mudança, o que implica entre outras
coisas, na revisão de alguns modos cotidianos de pensar e agir. Uma assistência
mais ampla do que a simples habilidade técnica. Um cuidado aprimorado,
baseado exclusivamente na necessidade do outro.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
- REFERÊNCIAS
Referências
_____________________________________________________________________________________________________________
116
ALBÍSTUR, M. C. de et al.. La familia del paciente internado en la unidad de cuidados
intensivos. Rev. Med. Uruguay. v. 16, n. 3, p. 243-256, dec. 2000.
ALMEIDA, F. P. et al. Humanização em UTI. In: KNOBEL, E.; LASELVA, C. R.; MOURA
JÚNIOR, D. F. Terapia Intensiva: Enfermagem. São Paulo, Atheneu, 2006. Cap 4, p.
39-47.
ARAÚJO, A. D. et al. Trabalho no Centro de Terapia Intensiva: perspectivas da equipe
de enfermagem. REME – Rev. Min. Enf. v. 9, n.1, p. 20-28, 2005.
ARAÚJO, M. M. T. Você tem tempo para se feliz? Reflexões sobre comunicação
interpessoal e tempo sob a ótica humanista de Rogers. In: SILVA, M. J. P. Qual o
tempo do cuidado? Humanizando os cuidados de enfermagem. São Paulo. Centro
Universitário São Camilo. Loyola, 2004. p. 169-180.
ARMELIN, M. V. A. L. Apoio emocional às pessoas hospitalizadas. 2000. 131 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, 2000.
AVELINO, F. V. S. D. A enfermagem e os familiares de clientes na UTI: a busca de
parceria através de uma relação solidária. 1999. 89 f. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem) - Escola de enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 1999.
AZOULAY, E. et al. Half the families of intensive care unit patients experience
inadequate communication with physicians. Crit Care Med. v. 28, n. 8, p. 3044-3049,
2000.
______, Impact of a family information leaflet on effectiveness of information provided to
family members of intensive care unit patients: a multicenter, prospective, randomized,
controlled trial. Am J Respir Crit Care Med. v.165, p 438-442, 2002a.
______,. Informing family members of critically ill patients. Clin Pulm Med. v. 9, n. 6, p.
330–334, November. 2002b.
BACKES, D. S.; LUNARDI FILHO, W. D.; LUNARDI, V. L. O processo de humanização
do ambiente hospitalar centrado no trabalhador. Rev. Esc. Enfermagem USP. São
Paulo, v. 40, n. 2, p. 221-227, 2006.
BARBOSA, E. C. V.; RODRIGUES, B. M. R. D. Humanização nas relações com a
família: um desafio para a enfermagem em UTI pediátrica. Health Sciences, Maringá,
v. 26, n. 1 p. 205-212, 2004.
BARBOSA, E. M. A. et al. Interação enfermeiro-familiares de pacientes em Unidade de
Terapia Intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. São Paulo, Sup I, p. 69,
2002.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa, Edições 70, 2004. 223 p.
BASTOS, M. A. R. O Saber e a tecnologia: mitos de um centro tratamento intensivo.
Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 10, n. 2, p. 131-136, mar/abr. 2002.
BATISTA, C. M.; BIANCHI, E. R. F. Estresse do enfermeiro em unidade de emergência.
Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 14, n. 4, p. 534-539, 2006.
BECK, C. L. C. O processo de viver, adoecer e morrer: reflexões com familiares de
pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva, 1995, 132 f. Dissertação
(Mestrado em Enfermagem) - Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis,1995.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Referências
_____________________________________________________________________________________________________________
117
BLIKSTEIN, I. Técnicas de comunicação escrita. 21 ed. São Paulo, Editora Ática,
2005. 103 p.
BOEMER, M. R.; SAMPAIO, M. A. O exercício da enfermagem em sua dimensão
bioética. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.5, n. 2, p.33-38, abr.1997.
BOFF, L.
Saber cuidar: a ética do cuidado humano, compaixão pela terra. 10 ed. Rio
de Janeiro. Editora Vozes, 2004. 200 p.
BRANCO, D. S. et al. Familiares em sala de espera de unidade de bloco cirúrgico
(UBC): percepção sobre informações recebidas. Rev. Gaúcha Enf., Porto Alegre, v. 9,
n. 2, p. 99-104, dez. 1988.
BRASIL, Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196 de 10
de outubro de 1996. Brasília. 1996. Disponível em:
<http://conselho.saude.gov.br/docs/Resolucoes/Reso196.doc> Acesso em: 15 nov.
2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS - Política Nacional de Humanização: a
humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as
instâncias do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Núcleo Técnico da
Política Nacional de Humanização. Brasília Ministério da Saúde, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.071 de 04 de julho de 2005. Dispõe sobre a
Política Nacional de Atenção ao Paciente Crítico. Diário Oficial da União, nº 130 de 08
de julho de 2005.
BUNCH, E. H. Delayed clarification: information, clarification and ethical decisions in
critical care in Norway. Journal of Advanced Nursing. v. 32, n. 6, p. 1485-1491, 2000.
CARVALHO, C. J. A. Análise dos registros de enfermagem em uma unidade
cirúrgica de um hospital escola. 2005, 114 f. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem). Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo; 2005.
CARVALHO, E. C.; BACHION, M. M. Abordagens teóricas da comunicação humana e
sua aplicação na enfermagem. In: STEFANELLI, M. C.; CARVALHO, E. C (orgs). A
comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. Barueri, SP. Manole, 2005.
p. 9-27. (Capítulo 2).
COELHO, C. et al. Intensivista, Médico Assistente e Familiares: em conexão 24 horas.
In ORLANDO, JOSÉ MARIA da COSTA. UTI: muito além da técnica... a humanização e
a arte do intensivismo. São Paulo. Editora Atheneu, 2001. Cap. 3 – Aspectos do
Relacionamento Interpessoal, p. 79-81.
CONCEIÇÃO A. N. et al.. Boletim Médico... em mediques? In ORLANDO, J. M. C. UTI:
muito além da técnica... a humanização e a arte do intensivismo. São Paulo. Editora
Atheneu, 2001. p. 97-100. (Aspectos do Relacionamento Interpessoal)
CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Código de ética dos profissionais de
enfermagem. Resolução COFEN nº 240 de 30 de agosto de 2000, Art. 30.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Código de ética médica. Resolução CFM nº
1.246 de 08 de janeiro de 1988, Art. 56, 59 e 105.
CORRÊA, A. K. O paciente em centro de terapia intensiva: reflexão bioética. Rev. Esc.
Enferm. USP, São Paulo, v. 32 n. 4, p. 297-301, dez. 1998.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Referências
_____________________________________________________________________________________________________________
118
CORRÊA, A. K.; SALES.C. A.; SOARES, L. A família do paciente internado em terapia
intensiva: concepções do enfermeiro. Acta Scientiarum, Maringá, v. 24, n. 3 p. 811-
818, 2002.
CRAIG, M. L. et al. An Intensive Communication Intervention for the Critically ill. The
American Journal of Medicine. v. 109, p. 469-475, 2000.
______, Intensive communication: four-year follow-up from a clinical practice study. Crit
Care Med, v. 31, n. 5 (Suppl), p. 394-399, 2003.
DANIEL, L. F. A enfermagem planejada. 3. ed. São Paulo. EPU, 1981.135 p.
DECLARATION OF THE COUNCIL OF THE WORLD FEDERATION OF SOCIETIES
OF INTENSIVE AND CRITICAL CARE MEDICINE. Ethical Guidelines, May 8, 1991.
Intensive & Critical Care Digest, v.11, n.3, p. 41, 1992.
DESLANDES, S. F. Análise do discurso oficial sobre a humanização da assistência
hospitalar. Ciência & Saúde Coletiva, v. 9, n. 1, p. 7-14, 2004.
DOMINGUES, C. I. et al. Orientações aos familiares em UTI: dificuldades ou falta de
sistematização? Rev. Esc. Enf. USP, v. 33, n.1, p.39-48, mar. 1999.
FINS, J. J. & SOLOMON, M. Z. Communication in intensive care settings: the challenge
of futility disputes. Crit Care Med, v. 29, n. 2, (Suppl.), p. 10-15, 2001.
FORTES, P. A. C.; MARTINS, C. L. A ética, a humanização e a saúde da família. Rev.
Bras. Enfermagem, Brasília, v. 53, n. especial, p.31-33, dez, 2000.
FRANCISCONI, C. F.; GOLDIM, J. R. Aspectos bioéticos da confidencialidade e
privacidade. In: COSTA, S. I. F.; OSELKA, G.; GARRAFA, V (Coordenadores).
Iniciação a bioética. Brasília, Conselho Federal de Medicina. 1998. Parte II –
Conceitos Básicos, p. 269-284.
FREITAS, K. S. Necessidades de familiares em Unidades de Terapia Intensiva:
análise comparativa entre hospital público e privado. 2005, 109 f. Dissertação
(Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo. São
Paulo, 2005.
GARCIA, P. C.; FARO, A. C. M. Necessidades e expectativas de familiares de
pacientes em Unidade de Terapia Intensiva de Ortopedia. Rev Paul Enferm. v. 23, n.1,
p. 57-64, 2004.
GARDNER, D.; STEWART, N. Staff involvement with families of patients in critical-care
units. Heart & Lung, S. Louis, v.7, n.1, 105 -110, jan/feb. 1978.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, 5 ed. Atlas, 2006.
206p.
GOMES, A. M.. Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva. São Paulo, EPU,
1998. 217 p.
GOTARDO, G. I. B.; SILVA, C. A. O cuidado dispensado aos familiares na Unidade de
Terapia Intensiva. Rev Enferm UERJ, v. 13, p. 223-228, 2005.
GRAÇAS, E. M. A experiência da hospitalização: uma abordagem fenomenológica.
São Paulo, 1996, 316 p Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem,
Universidade de São Paulo. 1996.
GRUTNER, D. I. Manual de enfermagem da UTI. Florianópolis, 1982.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Referências
_____________________________________________________________________________________________________________
119
GUIDO, L. A. Aspectos éticos de enfermagem ao cliente cirúrgico ambulatorial no
centro cirúrgico e na sala de recuperação anestésica – reflexões. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ENFERMAGEM EM CENTRO CIRÚRGICO, II, 1995, Anais, Julho,
1995.
HELMAN, C. G. Cultura saúde e doença. Trad. Claudia Buchweitz e Pedro M. Garcez,
4 ed. Porto Alegre. Artmed, 2003. 408 p.
HENNEMAN, E. A.; CARDIN, S. Family-centered critical care: a approach to making it
happen. Critical Care Nurse. v. 22, n. 6, p. 12-19, Dec., 2003.
HUDAK C.; GALLO, B. Cuidados intensivos de enfermagem: uma abordagem
holística. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. 1013 p.
HUGHES, F.; ROBBINS, I.; BRYAN, K. An analysis of information available to relatives
in intensive care. Intensive and Critical Care Nursing. v. 20, p. 200 - 205, 2004.
IDE, C. A. C. Prática de enfermagem em UTI e contexto de saúde. Rev Esc
Enfermagem USP, v. 23, n.1, p. 91-98, abr., 1989.
INABA, L. C.; SILVA, M. J. P.; TELLES, S. C. R. Paciente crítico e comunicação: visão
de familiares sobre sua adequação pela equipe de enfermagem. Rev Esc Enfermagem
USP, v. 39, n.4, p. 423-429, 2005.
IVO, M. L.; FUREGATO, A.R. F. Relacionamento interpessoal analisado à luz do
referencial de Travelbee. Nursing. mar.1999.
KNAUS, W. A. APACHE II: A Seventy of disease classifications system. Crit Care Med.
v.13, p. 818-829, 1985.
KNOBEL, E. Condutas no paciente grave. 2. ed. São Paulo, Atheneu, 1998. 919 p.
KURCGANT, P. Formação e competência do enfermeiro de terapia intensiva. Enfoque,
v. 19, n. 1, p. 4-6, 1991.
LEITE, M. A.; VILA, V. S. C. Dificuldades vivenciadas pela equipe multiprofissional na
unidade de terapia intensiva. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 13, n.2, p.145-150,
mar/abr, 2005.
LEMOS, R. C. A. O significado cultural atribuído ao centro de terapia intensiva por
clientes e seus familiares: um elo entre a beira do abismo e a liberdade. 2001.131 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto –
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. 2001.
LIMA, M. A. D. S. O trabalho de enfermagem na produção de cuidados de saúde
no modelo clínico. 1998. 216 p. Tese (Doutorado em Enfermagem). Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998.
MALTA, D. C. et al. Mudando o processo de trabalho na rede pública: alguns resultados
de experiência em Belo Horizonte. Saúde em Debate v. 24, p. 21-34. 2000.
MARTINS, M. C. F. N. Humanização na Saúde. (s/d) Disponível em:
<
http://www.portalhumaniza.org.br/ph/texto.asp?id=57&Texto=Martins>. Acesso
em: 09 nov. 2006.
MOREAU, D. et al. Junior versus senior physicians for informing families of intensive
care unit patients. Am J Resp Crit Care Med. v 169, p 512-517, 2004.
MORGON, F. H.; GUIRARDELLO, E. B. Validação da escala de razão das
necessidades de familiares em Unidade de Terapia Intensiva. Rev. Latino-Am.
Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 12, n. 2, p.198 -203, mar/abr. 2004.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Referências
_____________________________________________________________________________________________________________
120
MOULT, B.; FRANCK, L. S.; BRADY, H. Ensuring quality information for patients:
development and preliminary validation of a new instrument to improve the quality of
written health care information. Blackwell Publishing. Health Expectations. n.7, p. 165-
175, 2004.
MUNOZ, D. R.; FORTES P. A. O princípio da autonomia e o consentimento livre e
esclarecido. In: COSTA, S. I. F.; OSELKA, G.;GARRAFA, V (Coordenadores). Iniciação
à bioética. Brasília. Conselho Federal de Medicina. 1998. Parte II – Conceitos Básicos,
p. 53-70.
MYHREN, H. et al. Emotional strain, communication and satisfaction of family members
in the intensive care unit compared with expectations of the medical staff: experiences
from a Norwegian University Hospital. Intensive Care Med. v. 30, p.1791-1798, Jul.
2004.
NASCIMENTO, E. R. P.; TRENTINI, M. O cuidado de enfermagem na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI): teoria humanística de Peterson e Zderard. Rev. Latino-Am.
Enfermagem, Ribeirão Preto, vol 12, n. 2, p. 250 -257, mar/abr. 2004.
NIGHTINGALE, F. Notas sobre enfermagem: o que é e o que não é. Tradução Amália
Correa de Carvalho São Paulo: Cortez Editora, 1989, 174 p.
OLIVEIRA, A. C.; FORTES, P. A. C. O direito à informação e a manifestação da
autonomia de idosos hospitalizados. Rev. Esc. Enf. USP, v.33, n.1, p.59-65, mar. 1999.
OLIVEIRA, B. R. G.; COLLET, N.; VIEIRA, C. S. A Humanização na assistência à
saúde. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.14, n. 2, p. 277-284, mar/abr.,
2006.
OLIVEIRA, L. M. A. C. Assistência de enfermagem à família na UTI: uma abordagem
sobre o atendimento de suas necessidades. 1991. 162 f. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem) – Escola de Enfermagem Ana Néri, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, RJ, 1991.
OLIVEIRA, L. M. A. C. et al. Análise da produção científica brasileira sobre intervenções
de enfermagem com a família de pacientes. Acta Scientiarum, Maringá, v. 27, n. 2 p.
93-102, 2005.
OLIVEIRA, M. M. C. et al.. Aplicação do processo de relação interpessoal de Travelbee
com mãe de recém-nascido internado em uma unidade neonatal. Rev Esc Enferm
USP, São Paulo, v. 39, n.4, p.430-436, 2005.
ORLANDO, J. M. C. UTI: muito além da técnica... a humanização e a arte do
intensivismo. São Paulo. Editora Atheneu, 2001. 585 p.
PADILHA, K. G.; KIMURA, M. Aspectos éticos da prática de enfermagem em Unidade
de Terapia Intensiva. SOBETI, v.1 n.1 p. 8 -11, mar. 2000.
PEEL, N. The role of critical care nurse in the delivery of bad news. British Journal of
Nursing. v.12 n.16, 2003.
PESSINI, L. Bioética: um grito por dignidade de viver. São Paulo. Paulinas, 2006.
p.183.
PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE P. Problemas atuais de bioética. 7 ed. São Paulo.
Editora Loyola, 2002.414 p.
PINHO, L. B.; KANTORSKI, L. P. Refletindo sobre o contexto psicossocial de famílias
de pacientes internados na unidade de emergência. Ciencia y Enfermeria v..X, n. 1, p.
67-77, 2004.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Referências
_____________________________________________________________________________________________________________
121
POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em
enfermagem: métodos, avaliação e utilização. Porto Alegre, 5 ed. Artmed, 2004. 488 p.
RIZZOTO, M. L. F. As políticas de saúde e a humanização da assistência. Rev. Bras.
Enfermagem, Brasília, v. 55, n. 2, p.196-189, mar/abr. 2002.
ROLIM, K. M. C.; CARDOSO, M. V. L. M. L. O discurso e a prática do cuidado ao
recém-nascido de risco: refletindo sobre a atenção humanizada. Rev. Latino-Am.
Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 14, n. 1, p. 85-92, jan/fev. 2006.
SANTOS, C. R.; TOLEDO, N. N.; SILVA, S. C. Humanização em Unidade de
Terapia Intensiva: paciente – equipe de enfermagem – família. Nursing. Out,
1999.
SANTOS, L. C. G. Necessidades de familiares da pessoa internada em Unidade de
Terapia Intensiva: uma perspectiva compreensiva para a humanização do cuidar.
1998, 116 f.. Dissertação (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem Ana
Néri, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1998.
SCARELLI, E. M. Orientação à família do paciente internado em UTI. 1993. 96 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto.
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.
SGRECCIA, E. Manual de bioética I - Fundamentos e Ética Biomédica. São Paulo. 2
ed. Edições Loyola,. 2002. 686 p.
SILVA, M. J. P. (Org.) Qual o tempo do cuidado?: Humanizando os cuidados de
enfermagem. São Paulo. Centro Universitário São Camilo. Loyola, 2004. 180p.
______, Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em
saúde. 2. Ed. Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 2003. 133 p.
______, O papel da comunicação na humanização da atenção à saúde. Bioética, v. 10,
n.2, p. 73-88, 2002.
______, Percebendo o ser humano além da doença – o não verbal detectado pelo
enfermeiro. Nursing, v. 41, n. 4, p. 14-20, 2001.
______, Humanização em Unidade de Terapia Intensiva. In: CINTRA, E. A.; NISHIDE,
V. M.; NUNES, W. A. Assistência de enfermagem ao paciente crítico. São Paulo,
Atheneu, 2000. Cap. 1, p. 1-11.
SILVA, O. B. et al.. Informações Telefônicas: nem sempre, nem nunca. In ORLANDO,
JOSÉ MARIA da COSTA. UTI: muito além da técnica... a humanização e a arte do
intensivismo. São Paulo. Editora Atheneu, 2001. p. 103-104. (Aspectos do
Relacionamento Interpessoal).
SIMPIONATO, E. A enfermagem na promoção da saúde de famílias de crianças
com insuficiência renal crônica. 2005, 137f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)
Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo; 2005.
SOUZA, M. F. Unidade de Terapia Intensiva: opinião de familiares. 1994, 60 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem da Universidade
Federal da Bahia – Salvador BA. 1994.
STEFANELLI, M. C. Conceitos teóricos sobre comunicação. In: STEFANELLI, M. C.;
CARVALHO, E. C (orgs). A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem.
Barueri, SP. Manole, 2005. 159 p.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Referências
_____________________________________________________________________________________________________________
122
STEPHEN, M. et al. Optimism, satisfaction with needs met, interpersonal perceptions of
the healthcare team, and emotional distress in patient’s family members during critical
care hospitalization. American Association of Critical Care Nurses. Am J Crit Care, v.3,
n 14, p 202-210, 2005.
TAKAHASHI, E. I. U. Visitas em Unidade de Terapia Intensiva. Rev Paul. Enferm, v. 6,
n. 3, jul/set, 1986.
TOFFOLETTO, M. C. et al. A distanásia como geradora de dilemas éticos nas
Unidades de Terapia Intensiva: considerações sobre a participação dos enfermeiros.
Acta Paul. Enferm. v. 18 n.3, p. 307-321, 2005.
TRAVELBEE, J. Intervencion em enfermeria psiquiátrica. 2. ed. Cali: Organizacion
Panamericana de la Salud. 1982.282 p.
TURRINI, R. T. N. Qualidade da assistência em enfermagem. Editorial.
Rev Paul Enf,
v. 23 n. 2, p. 95, 2004.
URIZZI, F. Vivências de familiares de pacientes internados em terapia intensiva: o
outro lado da internação. 2005. 136 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola
de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. 2005.
VICTOR, A. C. S. et al.. Comunicação verbal de uma equipe médica: percepções e
necessidade de visitantes de uma UTI. Acta Scientiarum, Maringá, v. 25, n. 2, p.199-
206, 2003.
VILA, V. S. C. O significado cultural do cuidado humanizado em Unidade de
Terapia Intensiva: muito falado e pouco vivido. 2001. 115 f. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São
Paulo, Ribeirão Preto. 2001.
VINCENT, J. L. The SOFA (Sepsis related Organ Failure Assessment) score to describe
organ dysfunction / failure. Intensive Care Med. v. 22, p. 707-710, 1996.
WAIDMAN M. A. P; ELSEN, I. Famílias e necessidades... revendo estudos. Acta
Scientiarum, Maringá, v. 26, n. 1, p. 147-57, 2004.
WALDOW, Vera Regina. Cuidado humano: o resgate necessário. Sagra Luzzato 3. ed.
Porto Alegre, 2001. 202 p.
WERNET, M. Enfermagem e família: investindo no primeiro passo. Rev. Bras.
Enfermagem, Brasília, v. 53, n. especial, p. 87-89, dez. 2000.
WRIGHT, L. M.; LEAHEY, M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliação e
intervenção na família. Tradução de Silvia M. Spada. 3. ed. São Paulo: Roca, 2002.
327p.
ZINN, G. R; SILVA, M. J. P. TELLES, S. C. R. Comunicar-se com o paciente sedado:
vivência de quem cuida. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 11, n. 3, p.
326 -332, mai/jun. 2003.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
- APÊNDICES
Apêndices
_____________________________________________________________________________________________________________
124
APÊNDICE I
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM FAMILIARES
Dados de identificação do sujeito:
Sexo: fem ( ) masc ( ) Idade: _____ anos
Grau de parentesco com quem está internado: ___________
Opinião do sujeito:
1 – Fale sobre sua satisfação com as informações fornecidas sobre o seu parente
no Boletim Informativo do hospital.
2 – Descreva sua compreensão sobre os termos utilizados no Boletim Informativo.
3 – Comente sobre o que você considera importante ter no Boletim Informativo
para informação sobre o seu parente.
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apêndices
_____________________________________________________________________________________________________________
125
APÊNDICE II
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS PROFISSIONAIS
Dados de identificação:
Sexo: fem ( ) masc ( ) Idade: _____ anos
Profissão:___________ Tempo de formado: ___ ano(s)
Instituição onde se graduou: _________________
Tempo de trabalho em UTI: ______ ano (s)
Trabalha apenas nesta instituição? Sim ( ) Não ( )
Questões:
1 – Comente sobre a satisfação e a compreensão dos familiares relacionadas às
informações que constam do Boletim Informativo.
2 – Você considera que o atual Boletim deve ser melhorado? Que sugestões você
daria para a elaboração de um novo informativo?
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apêndices
_____________________________________________________________________________________________________________
126
APÊNDICE III
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM A CHEFIA DE ENFERMAGEM
1 – Qual a rotina estabelecida para o fornecimento de informações sobre os
pacientes internados na UTI?
2 – Como essas informações são transmitidas?
3 – Se existe Boletim Informativo, quem preenche?
4 – Quantas vezes ao dia e em que horários são transmitidas as informações?
5 – Quem transmite as informações?
6 – De que maneira essa prática ocorre? Por telefone ou verbalmente?
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Apêndices
_____________________________________________________________________________________________________________
127
APÊNDICE IV
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser
esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo,
assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é a sua e a outra é do
pesquisador responsável. Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em
contato com a pesquisadora responsável, Enfermeira Edna Magalhães de Alencar Barbosa,
do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Goiás, fone 62 32743717. Em caso de dúvida sobre os seus direitos
como participante nesta pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. Goiânia-Goiás, Fone:
32698249.
A pesquisa a ser realizada é intitulada “Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares
e profissionais de saúde” e tem como objetivos: identificar semelhanças e diferenças entre os
Boletins Informativos das UTI e entre as rotinas de transmissão de informações aos familiares
de pacientes internados em UTI; descrever a percepção de enfermeiros, médicos e familiares
de pacientes internados em UTI sobre o Boletim Informativo como instrumento de
comunicação do estado clínico do paciente internado em UTI; identificar os aspectos da
comunicação envolvidos na compreensão do Boletim Informativo da UTI pelos familiares e
profissionais de saúde; identificar sugestões dos profissionais enfermeiros, médicos e
familiares, que possibilitem a elaboração de um informativo adequado às necessidades de
informação dos familiares.
A sua participação nesta pesquisa é voluntária e não sofrerá riscos relevantes. Poderá
surgir algum desconforto emocional durante a entrevista. O benefício esperado será a
mudança na forma e conteúdo dos Boletins Informativos das UTI e a maneira mais adequada
de informar os familiares sobre o estado dos pacientes internados. Informo que o senhor (a)
tem a garantia de acesso em qualquer etapa do estudo, sobre qualquer esclarecimento de
eventuais dúvidas. Também é garantida a liberdade de retirada de consentimento a qualquer
momento que quiser deixar de participar do estudo, bem como o direito de ser informado
sobre os resultados da pesquisa. É garantido ainda, o direito de pleitear indenização em caso
de danos decorrentes de sua participação. Não existirão despesas ou compensações
financeiras em qualquer fase do estudo relacionada à sua participação. Qualquer despesa
adicional será de responsabilidade exclusiva da pesquisadora. A pesquisadora se
compromete em utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os resultados serão
veiculados por meio de artigos científicos em revistas especializadas e/ou em encontros
científicos, sem nunca tornar possível sua identificação.
Consentimento da Participação da Pesquisa como Sujeito
Eu,___________________________RG,________, CPF,________, abaixo assinado,
concordo em participar do estudo “Boletim Informativo na UTI: percepção de familiares e
profissionais de saúde”. Fui devidamente informado e esclarecido pela pesquisadora Edna
Magalhães de Alencar Barbosa sobre os propósitos do estudo, os procedimentos nela
envolvidos e a garantia de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.
Ficou claro também que a minha participação é isenta de despesas, que tenho a garantia
do acesso aos resultados e de esclarecer minhas dúvidas a qualquer tempo. Estou ciente que
poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem
penalidade, prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.
Goiânia, ___/___/______
Assinatura do sujeito responsável _________________________________
Assinatura do pesquisador responsável _____________________________
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
- ANEXO
Anexo
_____________________________________________________________________________________________________________
129
_______________________________________________________________________________________
Boletim Informativo em UTI: percepção de familiares e profissionais de saúde
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo