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RESUMO
O gênero Lonchocarpus é bastante conhecido e amplamente estudado, porém não
há registros na literatura científica dos usos farmacológicos da espécie
Lonchocarpus sericeus (Poir.) Kunth, (Leguminosae Papilionaceae). Estudos
químicos demonstraram que a fração hexânica das cascas das raízes de L. sericeus
(FLS) é rica nas chalconas: lonchocarpina (LCC) e derricina (DRC). O objetivo
deste trabalho foi investigar os efeitos tóxicos e as ações farmacológicas da FLS e
de sua chalconas LCC e DRC. A DL
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para FLS em camundongos foi de 781,5
mg/kg por v.o. e 446,2 mg/kg, por via i.p. A FLS e a DRC mostraram efeito
inibitório concentração-dependente sobre o desenvolvimento embrionário de ovos
de ouriço-do-mar Lytechinus variegatus. A FLS, LCC e DRC apresentaram ainda
atividade citotóxica sobre células de leucemia linfocítica de origem humana. A FLS,
administrada por via sistêmica, apresentou atividade antiedematogênica nos
modelos de edema de pata induzidos por carragenina (Cg) e levedura de cerveja,
mas não sobre aqueles induzidos por dextrano ou bradicinina. O efeito da FLS no
edema por Cg não foi modificado pela associação com a indometacina ou L-
NAME, mostrando que a mesma parece não interferir com a via da COX ou do
sistema NO. Entretanto, este efeito da FLS foi potencializado pela pentoxifilina
(PTX) evidenciando uma possível inibição da FDE e/ou da síntese de citocinas
inflamatórias como o TNF-. Apesar de ter inibido significativamente a migração
de neutrófilos na cavidade peritoneal de ratos induzida por Cg, a FLS apresentou
um efeito inibitório bem maior sobre àquela induzida por fMLP, demonstrando que
a mesma além de bloquear a síntese e/ou liberação de mediadores inflamatórios
como PGs, LTs e citocinas, pode também bloquear uma das etapas da migração ou
ainda, inibir alguma das molécula de adesão envolvidas neste processo. A FLS
também reduziu o dano tissular induzido por ácido acético em ratos, evidenciado
através de seu efeito inibitório sobre a atividade da MPO. Entretanto, a mesma não
foi capaz de suprimir a formação do tecido de granulação, induzida por pellet de
algodão, onde as PGs desempenham um papel essencial. A atividade antinociceptiva
da FLS também foi observada em modelos experimentais de dor como teste das
contorções abdominais induzidas pelo ácido acético e teste da formalina, em
camundongos. Todavia, a FLS não modificou a resposta nociceptiva ao estímulo
térmico no teste da placa quente. Este efeito antinociceptivo da FLS independe do
sistema opióide e da via do NO, e também não envolve a participação do
componente adrénergico, porém além de outros mecanismos, a inibição da FDE
e/ou da síntese de citocinas como TNF- parecem exercer um papel importante na
antinocicepção da FLS. A atividade antiagregante plaquetára da FLS, LCC e DRC
também foi estudada e os resultados demonstraram que as mesmas possuem efeito
inibitório da agregação in vitro em plasma humano rico em plaquetas, frente aos
agonistas ADP, colágeno, trombina, ácido araquidônico e adrenalina. O efeito
antiagregante plaquetário da FLS, LCC e DRC foi potencializado pela PTX, um
inibidor da fosfodiesterase de AMPc, mas não pela L-arginina ou pelo ácido
acetilsalicílico. Desta forma, a FLS possui atividade citotóxica, antiinflamatória,
analgésica e antiagregante plaquetária. Estes efeitos parecem ser mediados pelas
chalconas LCC e DRC, presentes na FLS.