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A diarréia induzida por quimioterápicos é um dos problemas mais comuns
encontrados em pacientes com câncer avançado e submetidos a tratamento quimioterápico.
Tal problema tornou-se de interesse científico no final dos anos oitenta, quando episódios de
diarréia severa, de forma inesperada, foram observados em pacientes em tratamento com 5-
fluorouracil e com doses variáveis de leucovorin® (Ácido folínico) (GREM et al., 1987).
De acordo com revisão especial sobre antineoplásicos e diarréia, publicada pela revista
“Oncology” de maio de 2002, a morbidade e mortalidade associada à síndrome da diarréia
induzida por quimioterápicos, representam, hoje, um grave problema clínico e constituem-se
em uma das principais causas de interrupção ou redução da dose durante o tratamento. Além
disso, a qualidade de vida dos pacientes, quer apresentem diarréia leve ou moderada, pode
sofrer um decréscimo importante ao exigir uma reestruturação de atividades, impedindo o
trabalho, viagens ou recreação. Ademais, pode-se estar diante de um sério problema de saúde
pública quando se pensam os gastos excessivos com hospitalização ou no preço dos esquemas
terapêuticos utilizados fora do hospital (PRUDDEN, 2000).
Doentes com diarréia severa e prolongada são tratados com “descanso” do tubo
digestivo, uso de alimentação total parenteral, antibióticos em presença de febre neutropênica,
hidratação e terapêutica sintomática com antidiarréicos, incluindo difenoxilato, loperamida
(imodium) e, em casos refratários, um agente análogo da somatostatina (octreotide). Vale
salientar que estes doentes têm um marcado déficit de leucócitos, são incapazes de montar
uma eficiente resposta inflamatória e, portanto, os sinais clínicos de infecção intra-abdominal
(e.g., peritonite) podem estar ausentes. É, pois, necessário um alto índice de suspeição no
diagnóstico de infecções nestes doentes. Exames como um Rx abdominal simples, uma
tomografia axial computorizada - TAC, ou uma ultrasonografia abdominal são importantes
neste contexto. Se possível, devem-se evitar exames invasivos (e.g., endoscopias, clister
opaco, etc) (KEEFE et al., 1997)
As conseqüências fisiológicas da diarréia em pacientes com câncer têm sido estudadas
e relatadas: a) fraqueza muscular e letargia, causada pela perda de fluidos e eletrólitos. A
desidratação pode levar a complicações clínicas importantes como a perda de peso,
hipotensão ortostática, anorexia e aversão ao alimento, boca seca, redução do turgor da pele e
falência renal, caso não seja corrigido o balanço eletrolítico; b) hipocalemia, acidose
metabólica, hipercalcemia e desnutrição geral; c) aumento da freqüência dos movimentos
intestinais com relato de dor; d) comprometimento cardiovascular ocasionado pela
irregularidade no volume de fluidos circulantes; e) leucocitose com ulceração de mucosas e