75
que o animal ainda não havia conseguido estabelecer a conexão
correta entre caixa e alimento. Algumas vezes ele deslocava a caixa
do lugar, mas o fazia a esmo, isto é, tanto para perto como para longe
da comida. Somente depois de inúmeras observações do
comportamento dos seus companheiros é que ele aprendeu a resolver
o problema(...). Observando o comportamento de um companheiro
que sabe resolver o problema, um chimpanzé inteligente percebe logo
que, por exemplo, mover a caixa significa deslocá-la para debaixo da
comida. O movimento é percebido como um deslocamento com essa
orientação essencial. Por outro lado, um animal estúpido vê o
movimento da caixa como algo isolado, isto é, não o relaciona
imediatamente com o local da comida. Ele verá fases isoladas do
desempenho todo, não as percebendo como partes relacionadas com
a estrutura essencial da situação, como partes da solução. É claro que
essa organização correta não é simplesmente transmitida na
seqüência de imagens retinianas que ação do animal-modelo produz.
Com o imitar acontece o mesmo que o ensinar. Ao ensinarmos as
crianças, apenas podemos propiciar a elas condições ou “sinais”
favoráveis para as novas coisas que a criança tem de “apreender”; é
sempre necessário que a criança também contribua com algo, algo
esse que poderíamos chamar de “entendimento”, e que, às vezes,
surge de repente. Não podemos simplesmente despejá-lo dentro da
criança.
77
O experimento de Köhler indica muito claramente, nesse caso, que não
parece ser mais possível sustentar a idéia central do associacionismo de que a
aprendizagem se dá como realização, como “visão” pontual de habilidades e de
coisas isoladas que, quando adequadamente associadas, fornecem objetivamente
uma resposta a uma situação-problema específica. A aprendizagem, também, não
pode ser considerada como resultado de uma simples repetição ou, mesmo, da
imitação. Esses processos, como o experimento de Köhler destaca, para serem
bem sucedidos, dependem de operações mais complexas e, ainda, da percepção
não linear de todos os elementos envolvidos na situação. Repetir e imitar um
determinado comportamento pressupõe, antes de tudo, apreender a situação.
Então, nesse caso, não é a imitação que leva à aprendizagem, mas a imitação já
supõe a aprendizagem. Mais corretamente, podemos dizer com Köhler, que a
77
KÖHLER. Psicologia, p.53.