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SÍLVIA SUELY DE SOUZA MAIA
A DETECÇÃO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOLÊNCIA NA FASE
DIAGNÓSTICA DA PSICOTERAPIA BREVE
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
2007
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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
A DETECÇÃO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOLÊNCIA NA FASE
DIAGNÓSTICA DA PSICOTERAPIA BREVE
SÍLVIA SUELY DE SOUZA MAIA
ORIENTADOR: PROF. DR JOSÉ TOLENTINO ROSA
Dissertação apresentada como exigência
parcial para obtenção do título de Mestre do
curso de Pós-Graduação em Psicologia da
Saúde, à Comissão Examinadora da
Universidade Metodista de São Paulo.
São Paulo
2007
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COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________
______________________________
______________________________
À minha mãe, pela lição de vida e pela força
desmedida com que sempre enfrentou e venceu os
obstáculos.
Ao meu pai, amigo tão especial, que nunca se deixou
abater pela desesperança e sempre teve uma palavra
de apoio nos momentos mais difíceis.
AGRADECIMENTOS
Para a realização de um trabalho como este necessitamos, antes de tudo, do
carinho das pessoas que nos querem bem. Deste modo, quero registrar a minha mais
profunda gratidão por todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para que este
trabalho pudesse ser realizado.
Aos meus filhos, Juliana, Fernando e Guilherme que puderam, com carinho e
paciência, compreender meus longos períodos de ausência.
Ao meu marido, pelo constante apoio, compreensão e incentivo, tanto em
minha vida pessoal quanto profissional.
Aos meus irmãos, amigos tão leais, pelo carinho, união, pelo apoio
incondicional, pela confiança que sempre em mim depositaram e pelo amor que sempre
me dedicaram.
Ao meu orientador, Professor Doutor José Tolentino Rosa, pela orientação
segura, pela disponibilidade constante e pela inegável riqueza de conhecimentos, que
me conduziram à realização deste trabalho.
Aos professores e amigos Armando Rocha Júnior e Paulo Francisco de
Castro, que na convivência acadêmica e amizade sincera, sempre me incentivaram
para a concretização deste estudo. À Professora Doutora Jumara Sílvia Van de Velde
Vieira, pelo incentivo para realização deste trabalho e pelo apoio profissional a mim
concedido.
Às professoras e amigas Eliana Ferrante Pires, Regina Célia Duarte e
Solange Rodrigues Martins Camargo Santos, pela companhia sempre prazerosa,
amizade e apoio constantes no período da realização do Mestrado.
À funcionária e estagiária de Psicologia da Universidade Guarulhos,
Christiane Ribeiro Rodrigues pelo carinho, amizade e por compreender este momento
de minha vida.
Aos pacientes atendidos em Psicoterapia Breve Infantil, durante o ano de
2006, na clínica-escola de Psicologia da Universidade Guarulhos, que possibilitaram,
através de seus tratamentos, a realização do presente estudo.
RESUMO
Investiga as interferências da violência doméstica na fase diagnóstica, que antecede a
Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico apresentado pelo paciente, se a
violência foi verbalizada pelo paciente e a forma como ela foi captada pelo terapeuta e
levada em consideração na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil. Foram
investigados sinais e sintomas de 29 pacientes de Psicoterapia Breve Infantil. A
avaliação das entrevistas iniciais que compõem a fase diagnóstica da Psicoterapia
Breve, foi realizada por dois juizes independentes, com índice de concordância igual a
0,87. Foram detectados sinais e sintomas de violência doméstica em 24 dos 29 casos
analisados, o que corresponde a 83% do total de pacientes. A violência doméstica foi
considerada significativa para uma situação-problema a ser trabalhada em análise em
54% dos casos, o que mostra que é uma situação de limiar, em que 50% das
percepções são verdadeiras e a outra metade são falsas. Dos 13 casos em que a
violência doméstica foi significativa pelos juízes, apenas 54% estavam incluídas na
compreensão psicodinâmica da queixa, pelo terapeuta. A inclusão da violência
doméstica no foco da Psicoterapia Breve foi observada somente em 2 casos, o que
corresponde a 07% da amostra geral, muito perto da incidência de mecanismos
psicóticos que prejudicam a socialização (08%). Os resultados obtidos foram discutidos
segundo a literatura psicanalítica, que considera a violência como a parte agressiva do
self que ainda não está integrada ao self, permanecendo dissociada do conluio da
família e às vezes do próprio psicoterapeuta. Tais resistências em lidar com a violência
não permitem que a agressividade seja usada de forma construtiva pelo self,
promovendo a socialização da criança pelo fortalecimento dos sentimentos de amizade
e favorecendo o desenvolvimento de vínculos emocionais saudáveis na dupla criança e
psioterapeuta.
Descritores: Psicoterapia Breve Infantil, viol
ência doméstica, fase diagnóstica.
ABSTRACT
The present work seeks to investigate, the interferences of domestic violence in the
diagnostic phase that precedes the brief psychotherapy, and her importance in the
clinical image showed for the patient, if the violence was verbalize by the patient and the
conditions how it was captivate for therapist and to lead in consideration in the
diagnostic diagnostic phase of Childish Brief Psychotherapy.
The sample of the present investigation to consist of 29 patient of Childish Brief
Psychotherapy. The work consist from one Analysis of 03 or 04 initials interviews with
constitute the diagnostic phase of the Brief Psychotherapy, accomplished for two
judges. It was prove the presence of domestic violence into 24 of the 29 cases
analyzed, that corresponds at 83% of the whole of patient. The domestic violence was
considered significant into 13, of the 24 cases that was to evidence occurrence of
domestic violence, that correspond to 54% of the whole cases of domestic violence. Of
the 13 cases that the domestic violence was significant, about 54% it was include in the
psychodynamic comprehension of the protest, by the therapist. The insert og domestic
violence in the focus was observed in only 2 cases, that correspond to 15% of the cases
that the domestic violence was significant. The results obtained were debate on the
shine of the biography and was related with the question of the collusion of the family
and the proper therapist. This collusion dificult the inclusion of violence in the protest by
family, and otherwise, her investigation in the comprehension of the psychodynsmic of
the protest, from the therapist. Such resistences to struggle with violence have hers
refex in the evolution of the process psychotherapeutic.
Descriptors: Childish Brief Psychotherapy, domestic violence, diagnostic phase.
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................. 11
Capítulo I Entrevista Psicológica.................................................. 17
Capítulo II Considerações sobre Psicoterapia Breve ........... 22
1.1. Escorço histórico................................................................... 22
1.2. Princípios e conceitos básicos .......................................... 29
1.3. Critérios de indicação e contra-indicação para Psicoterapia
Breve................................................................
39
Capítulo III Psicoterapia Breve Infantil........................................ 41
Capítulo IV Violência: problemas relativos ao seu conceito e à sua
abrangência
55
Capítulo V Violência Doméstica....................................................... 63
5.1. Conceito e abrangência de violência doméstica ....... 63
5.2. Raízes da violência doméstica ............................................ 71
5.3. Classificação da violência doméstica ............................ 79
5.4. Repercussões para a criança: efeitos do pacto do
silêncio sobre a violência na família ..............................
86
5.5. Uma proposta de classificação para os tipos de
violência doméstica................................................................
89
Problema e objetivos da presente pesquisa 92
Problema 92
Objetivos 92
Capítulo VI A clínica-escola onde foi realizada a pesquisa 93
6.1. Linha de trabalho ..................................................................... 93
6.2. Variáveis sócio demográficas dos participantes...... 94
6.3. Os atendimentos em psicoterapia breve infantil
realizados em 2006 ................................................................... 95
Capítulo VII Método............................................................................. 96
7.1. Características demográficas dos participantes... 96
7.2. Critérios utilizados na análise da ocorrência da violência e da
forma como ela foi abordada no tratamento
clínico.................................................................
98
7.3 Protocolo para a classificação da violência doméstica 100
7.4. Providencias éticas................................................................. 102
Capítulo VIII Apresentação e analise dos dados........................ 103
Capitulo IX Discussão dos resultados.......................................... 113
Capítulo X Considerações finais e Conclusões............................................. 118
Referências Bibliográficas ................................................................. 123
Apêndices............................................................................................................
135
Introdução
Quando assumi a Coordenação da Clínica-escola de Psicologia da
Universidade Guarulhos, em 1982, deparei-me com a utilização da técnica de
Psicoterapia Breve que, com características bem definidas, incluindo o tempo limitado,
a delimitação do foco e planejamento estratégico, atendia as necessidades de um
trabalho de clínica-escola em curso de graduação. Por essa técnica pretendia-se
atender um número maior de pessoas, num menor espaço de tempo. Criar uma técnica
menos elitista, mais condizente com a realidade brasileira era prioridade do trabalho
proposto, o que possibilitaria a formação de profissionais que utilizariam recursos para
comungar suas experiências com a necessidade da comunidade. Meu interesse pela
técnica intensificava-se.
O trabalho parecia inovador, ao menos a realidade de que dispúnhamos, de
como eram realizados os atendimentos em clínicas-escola. Nessa mesma época tomei
conhecimento do trabalho instituído pelo Dr Ryad Simon, junto à Sociedade de
Psicologia Clínica Preventiva. Durante dois anos, no intuito de adquirir conhecimentos
teórico-práticos acerca da técnica de Psicoterapia Breve, realizei o curso proposto nesta
Sociedade, que tinha a Psicoterapia Breve como linha de atuação, num trabalho
realizado no próprio domicílio do paciente. Tive a oportunidade de conciliar a teoria com
a atividade prática de atendimento, conduzindo-me, cada vez mais, para o
aprimoramento e reconhecimento da técnica como instrumento sólido daquilo que se
propunha e pretendia desenvolver. Anos mais tarde, ainda na Universidade Guarulhos,
assumi a função de supervisora de estágio em Psicologia Clínica, estando cada vez
mais envolvida, imbuída e certa de que a técnica atendia, com adequação, as
necessidades da clientela e do alunado. Deparei-me com resultados satisfatórios,
desde que os casos concluídos fossem passíveis de serem atendidos em Psicoterapia
Breve, já que se tratava de técnica muito específica, com restrições e contra-indicações
que precisavam ser consideradas.
A partir de 1982 venho realizando entrevistas de triagem na Cl
ínica
Psicológica da Universidade Guarulhos. Em média, cerca de sessenta entrevistas são
por mim realizadas mensalmente. Este mesmo serviço também comecei desenvolver
na Clínica Psicológica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a partir de 1993, além
de supervisionar, nesta instituição, entrevistas de triagem no Estágio Eletivo de
Técnicas de Triagem em Psicologia Clínica.
Ao longo desta experiência, nestes últimos anos, embora sem nenhum
levantamento sistemático, venho observando rápidas e intensas transformações, com
mudanças significativas nas funções e relações dentro da família, especialmente sinais
de violência, nem sempre pontuados como queixa central, nem tampouco trazidos de
forma manifesta pelo entrevistado (a figura materna, no geral). Através da realização
das entrevistas de triagem pude perceber que, embora as queixas não estivessem
diretamente relacionadas a situações de violência, estas estiveram presentes nas
relações familiares, ainda que, muitas vezes, não fossem claramente mencionadas.
Constatei que os membros da família detectavam que algo impossibilitava o
bom funcionamento da organização familiar, o que provavelmente os conduzia a
realizar inscrição para atendimento psicológico, para um dos elementos daquela família,
tornando-o responsável pelo desequilíbrio e desordem emocional da mesma, quando,
na verdade, não conseguiam enxergar, nem lidar com a violência, inerente no
contexto familiar.
Tive também a oportunidade de realizar, em 1996, um estudo sobre o Perfil
de Dez Famílias atendidas em Psicoterapia Breve Infantil. Neste estudo verificou-se que
indícios de violência surgiam com relativa freqüência nos relatos efetuados pelos
pacientes no trabalho de acompanhamento psicológico, embora os referidos pacientes
não se queixavam da violência propriamente dita.
A violência doméstica é um dos mais graves problemas a serem enfrentados
pela sociedade contemporânea. É uma forma de violência que não obedece fronteiras,
princípios ou leis. Ocorre diariamente no Brasil e em outros países apesar de existirem
inúmeros mecanismos constitucionais de proteção aos direitos humanos.
Por essa razão, em 17 de junho de 2004, foi sancionada a lei n. 10.886/04,
acrescentando um novo tipo ao artigo 129 do Código Penal, a violência doméstica,
como meio de conter o avanço dessa manifestação de violência na família.
A situação de violência doméstica demonstra estar mascarada pelo complô
familiar. Ninguém evidencia o conflito. O silêncio se faz presente e necessário, deixando
evidente a existência da relação de poder que está sendo instituída. (Guerra e
Azevedo, 1993).
Quando o agressor é um membro da família, a criança fica mais
desamparada do que se fosse uma pessoa desconhecida à unidade familiar. Quando a
criança, de alguma forma, é agredida por uma pessoa que não faz parte do meio no
qual está inserida, pode contar com a proteção e o apoio dos familiares, que buscam
todo tipo de ajuda necessária, incluindo a psicoterapia, para fazer com que a situação
traumática possa ser ao menos minimizada. Quando o agressor é um membro da
família, ou alguém bem próximo, de inteira confiança do grupo familiar, a criança não
tem a quem recorrer, além de se sentir muito confusa, posto que aquele que deveria
constituir um porto seguro é o que acaba por direcioná-la à insegurança e instabilidade
nas relações. (Guerra e Azevedo, 1993).
Quando atacada por desconhecido, a criança tem melhores condições de
superar o trauma, o que dificilmente ocorre quando atacada em casa. No caso de ser
atacada pelo membro da família a criança acaba sendo envolvida pelo agressor e,
enquanto vítima, nunca mais será a mesma pessoa. (Guerra e Azevedo, 1993).
Estes dados podem ser mais facilmente entendidos diante do que postulam
os terapeutas familiares que garantem que a violência doméstica contra as crianças
tem como objetivo manter as famílias unidas enquanto um meio de solução de seus
problemas emocionais, já que a rotina da violência contra a criança tem sido a forma
mais efetiva encontrada pela sociedade em termos de manter a sua homeostase
emocional coletiva. (Guerra e Azevedo, 1993).
As pessoas sofrem constantes atos de violência e estão expostas a
diferentes formas e ações da mesma, o que os conduz à frustração. As humilhações a
que se submetem pelas desigualdades sociais, as relações patrãoempregado, o temor
de não poderem suprir as necessidades básicas de seus familiares, etc., fazem com
que dificilmente consigam externalizar fidedignamente o que se instituiu de maneira
inadequada dentro de si, de forma a não propiciarlhes plena adaptabilidade em termos
das respostas que um organismo vivo apresentaria, se pudesse agir com maior
autenticidade. De algum modo, o que foi incorporado pelo indivíduo que antes sofrera
pressão pela forma da violência, surgirá. Na maioria das vezes deslocadas para
situações ou pessoas que não partilharam do movimento violento. (Azevedo e Guerra,
1995).
Em geral, o único lugar em que este indivíduo é detentor de algum poder é
dentro da dinâmica de sua própria família, e é aqui que ele começa agir, numa relação
de abuso de poder, de domínio pela força, onde as relações do agressor com os filhos
vítimas, caracteriza-se por ser uma relação sujeitoobjeto, sendo que os filhos devem
satisfazer as necessidades dos pais. (Azevedo e Guerra, 1995).
Estes filhos, vítimas das mais variadas formas de violência, aprendem que
são responsáveis por estes quadros de violência, ou seja, as causas dos problemas
são individuais e jamais as questões são remetidas de forma que se interliguem a
problemas familiares, ou seja, as crianças buscam os erros em si mesmas. O trabalho
do psicólogo deveria se constituir de maneira profilática, discutindo e orientando os pais
acerca da importância de serem estabelecidos limites para os filhos, de forma a levá-los
à conscientização e à cidadania, e não à violência. Ao espancar os filhos os pais
ensinam a reproduzir a violência. (Azevedo e Guerra, 1995).
A violência é, segundo Guerra e Azevedo (1993), um tabu, um dos temas
malditos, porque se tenta desvendar uma questão que a família tem todo interesse de
manter oculta, na lutas pela preservação do mito, de que ela representa um lugar de
proteção para a criança, mito este que não a família como a sociedade tem-se
esforçado em perpetuar.
Vivemos em uma sociedade que aceita, com naturalidade, imagens de
violência. Estamos acostumados a ver pessoas serem humilhadas, a ouvir gritos
abafados através das paredes, sem dizer nada. (Azevedo e Guerra, 1995).
As camadas mais pobres da população parecem não ter perdido totalmente
o contato com alguns dos valores fundamentais da vida; a compaixão e a solidariedade,
por exemplo. Portanto, a grande maioria de registros de denúncias de espancamentos
ou outros maustratos com crianças é constituída por pessoas das classes sociais
econômicas mais baixas. Isso cria a falsa impressão de que, especialmente, o pobre
maltrata seu filho. (Guerra e Azevedo, 1993).
As mudanças nas funções e relações familiares, a meu ver, sofreram
influência das transformações sócio-econômicas e culturais, que vêm colaborando para
uma maior incidência da violência na dinâmica familiar. Além disso, provocam, entre
outras coisas, uma crescente incorporação da mulher no mercado de trabalho que
decorre, fundamentalmente, da necessidade da mulher contribuir para o sustento
financeiro da família. A mulher, então, passa a fazer parte integrante do orçamento
familiar, fora os cuidados com a casa, filhos, educação e saúde. (Azevedo e Guerra,
1995).
Neste contexto, torna-se inevitável à ocorrência das referidas transformações
sócio-econômicas, que certamente alteram a estrutura familiar, com diminuição no
número de seus elementos, um maior distanciamento físico e psicológico entre os
membros da família. Estas transformações fazem com que a família busque alternativas
para conciliar a formação e educação de suas crianças, nem sempre gerando
adequação nas formas das pessoas de um mesmo grupo familiar lidarem entre si,
possibilitando com isso o surgimento de sinais de violência na dinâmica familiar.
(Azevedo e Guerra, 1995).
Diante do contexto da realidade sócio-econômica e cultural brasileira, para
Azevedo e Guerra (1995), não consideram viável um processo de atendimento de
duração indeterminada. Estabelece-se uma situação muito complexa. De um lado, a
necessidade de ajuda psíquica, de outro, uma realidade que impede que a população
se beneficie com o acompanhamento psicológico. Há de se pensar em conciliar a
necessidade da população e a carência de recursos econômicos e sociais. Não
podemos buscar uma formação de terapeutas para uma realidade distante da nossa.
O treinamento oferecido ao psicólogo clínico deve estar voltado às condições
atuais reais da sociedade. BENKÖ (1970) faz uma crítica severa ao se referir a um
preparo inadequado do profissional psicólogo, contestando ironicamente o modo como
este profissional lida com sua atuação. Afirma ele que:
pelo menos no Rio de Janeiro começa a fixar-se uma imagem
esteriotipada do psicólogo clínico que, sem muita ironia, pode ser
descrita como a de uma senhorita (ou senhora, raramente um senhor),
doutora, à espera dos clientes com o Rorschach debaixo do braço, ou
com um sofá para fazer sessão de Psicoterapia duas ou três vezes por
semana. E, se por acaso, (mas um acaso que ocorre talvez em 50 ou
95% dos casos), aquele grupo de adolescentes desajustados que
moram na encosta do morro não têm recursos, nem tempo, nem
estrutura mental para vir três vezes por semana ao consultório, quem irá
atende-los? Ela não sabe responder! (p.29).
Somente queremos que ele (o futuro psicólogo clínico) não fique preso
a uma concepção já bastante ultrapassada das atribuições da Psicologia
Clínica. Desejamos que ele receba uma formação correspondente à
nossa realidade social, às necessidades verdadeiras das pessoas.
(Benko, p.30).
Estamos diante da interligação entre a cnica de Psicoterapia Breve e a
Violência Doméstica, o que parece ser o ponto culminante dentro da proposta deste
trabalho. É possível dizer que com o objetivo de aumentar a eficiência das psicoterapias
e ainda o de se atingir um número maior de pacientes em processo psicoterápico, nota-
se que há um movimento crescente ao redor da utilização e da eficácia do trabalho de
Psicoterapia Breve, que surge como uma forma segura de prestar ajuda a quem
procura um psicólogo.
Face aos dados acima referidos, que vêm sendo constatados, passei a me
interessar em investigar como a violência que ocorre na dinâmica familiar, é trazida pelo
paciente na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve e como ela é trabalhada. A violência
está presente na queixa? De que forma ela é observada e incluída na psicodinâmica
da queixa? A violência foi incluída no foco? Como foi trabalhada no processo
psicoterápico? À medida que não foi incluída no processo, a violência cria um obstáculo
para o bom encaminhamento da Psicoterapia Breve?
Com base nos questionamentos descritos acima, o problema desta pesquisa
refere-se às interferências da violência doméstica na fase diagnóstica que antecede a
Psicoterapia Breve. O objetivo geral da pesquisa visa investigar a presença de dados
inferidos sobre a violência doméstica na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil.
Além do objetivo geral, a pesquisa tem objetivos específicos, apresentados no capítulo
VI.
Capítulo I
A ENTREVISTA PSICOLÓGICA
Com o propósito de investigar a presença de dados inferidos sobre a
Violência Doméstica na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil, para a
realização do presente estudo, faz-se necessário conhecer os aspectos essenciais
desta fase e sua importância para a compreensão do quadro clínico da criança e do
funcionamento da dinâmica familiar, na qual está inserida.
Segundo Mito e Oliveira (1997), duas fases complementam a Psicoterapia
Breve: a fase inicial, denominada diagnóstica, e a fase terapêutica. A fase diagnóstica é
constituída por algumas entrevistas com os pais e contato com a criança, (de dois a três
encontros) através das horas lúdicas e, se necessário, com a utilização de material
lúdico ou de testes psicológicos específicos.
Antes de abordar os aspectos específicos da entrevista, na fase diagnóstica
da Psicoterapia Breve, torna-se imprescindível que se apresente uma compreensão
sobre entrevista psicológica, que é o recurso técnico mais utilizado nesta importante
etapa da Psicoterapia Breve Infantil.
Para Nahoum (1978), a entrevista psicológica pode ser compreendida em
dois sentidos diferentes; entrevista conduzida psicologicamente, que visa resolver um
problema de ordem emocional ; a entrevista é psicológica pelo seu objeto, é uma
técnica de estudo e de observação do comportamento humano com o fim de solucionar
problemas que se prendem à psicologia, à sociologia ou à higiene mental.
Segundo Ocampo (1981), a entrevista inicial é caracterizada como
semidirigida e nela o entrevistador intervêm, a fim de: assinalar alguns vetores quando
o entrevistado não sabe como começar ou continuar; assinalar situações de bloqueio
ou paralisação por incremento da angústia para assegurar o cumprimento dos objetivos
da entrevista; indagar acerca de aspecto da conduta do entrevistado, aos quais este
não se referiu espontaneamente, acerca de lacunas na informação do paciente e que
são consideradas de especial importância, ou acerca de contradições, ambigüidades e
verbalizações obscuras (Ocampo, 1981, p.23).
Ainda para esta autora a entrevista clínica é insubstituível no cumprimento de
objetivos do processo psicodiagnóstico. Durante a entrevista psicológica, por necessitar
de mais informações, o entrevistador mobiliza o paciente e inclui s critérios gerais para
interpretar a entrevista clínica, a saber: avaliar as primeiras impressões que o paciente
desperta e verificar se são mantidas ou se alteram; considerar e avaliar as
características de sua linguagem; esclarecer o grau de coerência e discrepância entre
tudo que foi verbalizado e o que foi captado através de sua linguagem; estabelecer um
bom rapport com o paciente para reduzir a possibilidade de bloqueios; captar o que o
paciente nos transfere e o que isto nos provoca; detectar qual é o vínculo que une os
pais, entre eles e o filho, o de cada um com o filho, o deste último com cada um deles e
com o casal, o do casal com o entrevistador. Por fim, é importante avaliar a capacidade
dos pais de elaboração da situação diagnóstica atual e potencial. (Ocampo, 1981).
Na entrevista psicológica é necessário avaliar o motivo da consulta e deve-se
discriminar entre o motivo manifesto e o motivo latente. O motivo manifesto, no geral, é
o mais fácil e o mais inócuo de ser dito ao psicólogo e o motivo latente é aquele
considerado mais subjacente e mais profundo da consulta. (Ocampo, 1981). Para
Aberastury (1986), na entrevista inicial com os pais é importante a presença de ambos,
embora, muitas vezes, a mãe é quem comparece. Os aspectos básicos considerados
por Aberastury (1986), para realização da entrevista com os pais são: o motivo da
consulta; a história da criança; como transcorre um dia de sua vida atual; como é a
relação dos pais entre si, com os filhos e com o meio familiar imediato.
Para Aberastury (1986), é necessário que a entrevista seja dirigida e limitada
de acordo com um plano previamente estabelecido. A entrevista tem como objetivo que
os pais falem sobre a criança e sua relação com ela, critério que não deve ser
abandonado durante todo o tratamento.
Cabe aqui sinalizar a importância do contato que o psicólogo estabelece com
a criança, que mantém e estabelece a relação por meio da hora do jogo diagnóstica.
Trata-se de um recurso técnico, utilizado no processo psicodiagnóstico com a
finalidade de conhecer a realidade da criança que foi trazida à consulta. A atividade
lúdica é sua forma de expressão própria. A hora de jogo diagnóstica é um processo que
tem começo, desenvolvimento e fim em si mesma, opera como unidade e deve ser
interpretada como tal. (Ocampo, 1981, p. 169).
Na atividade lúdica o mediador é, predominantemente, o brinquedo
oferecido, que expressa o que a criança está vivenciando no momento. A hora de jogo
diagnóstica é precedida das entrevistas realizadas com os pais e significa o
estabelecimento de um vínculo transferencial breve, cujo objetivo é o conhecimento e a
compreensão da criança (Ocampo, 1981, p. 170). Todos os aspectos da hora de jogo
diagnóstica são importantes como facilitadores da empatia e do estabelecimento do
vínculo, na relação terapeuta/cliente.
Com base nas informações acima apresentadas, é possível avaliar a
relevância da entrevista psicológica na fase diagnóstica, que precede a Psicoterapia
Breve Infantil. Igualmente relevante é a formação do psicoterapeuta como entrevistador,
já que compreende-se que a psicoterapia psicanalítica, que fundamenta a Psicoterapia
Breve, requer a realização de uma ou duas entrevistas iniciais, para obter os conteúdos
mais latentes do paciente, que esclarecem o funcionamento de seu dinamismo mais
inconsciente. (Simon, 2005).
A entrevista em Psicoterapia Breve, para Simon (2005), é concebida para ter
curta duração e busca detectar as situações-problema por setor de adaptação: Afetivo-
Relacional (A-R), Produtividade (PR), Sócio-Cultural (S-C) e Orgânico (Or).
Assim como na entrevista clínica habitual, o primeiro passo na entrevista em
Psicoterapia Breve é o conhecimento da queixa, seguido da anamnese que permite
conhecer as situações-problema. Segue-se à proposta de Simon (2005), conhecer
aspectos sobre a história de vida do cliente para verificar possíveis interferências na
sua vida atual.
Por se tratar de situação angustiante, é importante que o cliente tenha
conhecimento de que sua privacidade está resguardada sob o sigilo e ética
profissionais, aspectos estes considerados relevantes para Simon (1989, 2005).
Por motivos alheios ao manejo do entrevistador, por vezes, aspectos
significativos da entrevista não são colhidos, sendo necessário que o entrevistador
conduza a entrevista, para garantir a obtenção de informações sobre o conjunto da
adaptação (Simon, 2005).
Caso tal medida tenha que ser adotada, é importante que se conduza a
entrevista partindo dos aspectos menos ansiogênicos para os mais angustiantes, dos
periféricos para os centrais. Nesta ordem, caso o entrevistador tenha que conduzir a
entrevista, é recomendável que se inicie pelo Setor da Produtividade, em seguida o
Sócio-Cultural, Orgânico e, por fim, o Afetivo-Relacional, considerado o mais difícil, não
de indagar, mas devido às suas implicações emocionais (Simon, 1989).
Havendo um bom rapport, segundo Simon, da metade para o final da
entrevista a probabilidade de obter conteúdos mais significativos é maior.
Estas entrevistas compõem o alicerce do processo psicoterápico e o
imprescindíveis na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve.
O objetivo da fase diagnóstica é investigar a queixa de forma mais completa
e conhecer a história, tanto da criança quanto de seus pais, sempre buscando uma
compreensão do funcionamento psíquico do paciente. A etapa diagnóstica,
dependendo das condições dos pacientes e dos recursos disponíveis, permite definir a
possibilidade do atendimento em psicoterapia psicodinâmica breve, através do
estabelecimento do foco, objetivos e estratégias para este caso (Segre, 1997).
É na fase diagnóstica que se encontram todos os dados necessários para o
planejamento terapêutico. Portanto, trata-se de um momento de vital significado na
compreensão da sintomatologia do quadro clínico do paciente. Nesta fase o
delineados os objetivos do atendimento, bem como quais serão as estratégias mais
adequadas para se chegar aos objetivos propostos. (Oliveira, I. T., 2006).
Nesta fase o paciente ou seus pais, tendo, finalmente, dado início ao
atendimento, acaba trazendo queixas variadas. Especificamente no caso do
atendimento infantil, a queixa, na maioria das vezes, está diretamente relacionada à
defasagem escolar.
Após a fase diagnóstica, que visa principalmente avaliar a queixa e entender
a dinâmica da criança e de seus pais (história), para que se tenha uma compreensão
mais integrada do quadro clínico do paciente, delimita-se o foco, que permite e
possibilita a proposta de um objetivo a ser atingido, o terapeuta prossegue na avaliação
de seu trabalho, dando início à segunda etapa, designada fase terapêutica, sempre
baseada no que foi definido como foco, que permite o redirecionamento do trabalho,
através de intervenções que possibilitam a compreensão dos dinamismos mais
inconscientes dos pacientes (Segre, 1997).
No capítulo III, que versa sobre a Psicoterapia Breve Infantil, a fase inicial,
denominada diagnóstica, será abordada com maior profundidade.
Capítulo II
CONSIDERAÇÕES SOBRE PSICOTERAPIA BREVE
1.1. ESCORÇO HISTÓRICO
A Psicoterapia que pode ser entendida como um processo de interação
verbal entre um terapeuta e um paciente, remonta a muitos séculos. Durante muitos
anos o psicólogo trabalhou com um modelo similar ao do médico clínico, que toma a
maior distância possível do paciente com a finalidade de não estabelecer um vínculo
afetivo que lhe impeça de trabalhar com a tranqüilidade e objetividade necessárias.
Em vista da extensão e complexidade frente a um pleno desenvolvimento do
conhecimento e da técnica dica, acrescida de um aumento de especialidades
clínicas, pouco a pouco, constituiu -se uma ideologia que sustenta uma identidade
médica comprometida com um tecnicismo, que propõe o predomínio da técnica sobre a
totalidade da ação médica e seus efeitos no paciente, caracterizando a já conhecida
distância entre médico e paciente.
O psicólogo por carecer de uma identidade profissional sólida assumiu
passivamente o modelo médico. Os diagnósticos psicológicos, a princípio pouco
diferiam dos psiquiátricos. Gradualmente a Psicologia começou a diferenciar-se,
formando uma identidade própria, apoiando-se nas diferentes linhas de pensamento e
atuação no campo da Psicologia Clínica. Sofreu significativa influência da Psicanálise,
haja visto o fato de alguns psicanalistas, dentre eles destaca-se Michael Balint, se
empenharem na tentativa de consolidar uma nova forma de relação dos médicos com o
saber médico e com a prática derivada desse saber.
Neste sentido, a Psicanálise difundiu-se de forma crescente, sendo adotada
como quadro de referência nos meios universitários, aceita pelos psicólogos como
modelo de trabalho, diante da necessidade de encontrar uma imagem de identificação
que lhes permitisse crescer. Esta aquisição, sem dúvida, significou um grande
progresso. A Psicanálise surgiu da necessidade de se lidar com as neuroses e seus
sintomas, dando um sentido que a medicina e a psicologia não alcançavam. Para Freud
os sintomas estão ligados a problemas inconscientes ocorridos durante seu
desenvolvimento, principalmente na infância, no evoluir da sexualidade- complicações
no desenrolar do que ele chamou de Complexo de Édipo.
Em seu trabalho o psicólogo supervalorizou a cnica de entrevista livre,
condicionando sua atitude frente ao paciente ao modelo analítico, permitindo que a
conduta surgisse espontaneamente a cada sessão, interpretando com base em tal
conduta, contando com um tempo prolongado para alcançar seu objetivo. Passou-se,
então, a se considerar os aspectos dinâmicos da personalidade, valorizando a técnica
de entrevista livre e a continência do psicólogo a certas condutas do paciente.
Como marco de referência, este foi um passo fundamental na diferenciação
em relação ao modelo médico. Tratava-se de um período de adaptação, de
reconstrução da identidade do psicólogo.
Sem dúvida, a teoria e a técnica psicanalíticas ofereceram ao psicólogo um
quadro de referência imprescindível que o ajudou a entender corretamente o que
acontecia em seu contato com o paciente. No entanto, sentiu-se necessidade de
encontrar formas de lidar com os conflitos dos pacientes, que buscavam ajuda
psicológica para problemas específicos, de modo que possibilitasse uma melhor
utilização do tempo, visto que a demanda dos pacientes, muitas vezes, não estava
voltada, geralmente por dificuldades financeiras ou até por falta de tempo, a um
processo de longa duração.
No período pós-guerra esta necessidade aparece de forma mais incisiva,
surgindo, assim, a Psicoterapia Breve, oriunda da tentativa de alguns psicanalistas que
questionavam a Psicanálise como única técnica utilizada para diferentes tipos de
pacientes.
As seguras contribuições da Psicanálise deram retaguarda às Psicoterapias
Breves e sua qualificação psicodinâmica ocorreu porque as intervenções derivavam
dessa abordagem, que conduziam os pacientes a ter insights sobre as causas
inconscientes de seus sintomas. (Malan, 1979, 1983).
Os primeiros trabalhos das Psicoterapias Psicodinâmicas Breves
caracterizam-se pela defesa de maior atividade do terapeuta buscando o atendimento
de pessoas em crise, mas também respeitam e se baseiam nos princípios psicanalíticos
de associação livre, neutralidade e reconstrução genética do sintoma subjacente ao
foco, mesmo em trabalhos de curta duração (Gilliéron, 1986, 1993).
A Psicoterapia Breve, segundo Lemgruber (1984), surge como o único
tratamento novo adequado às necessidades da guerra, com objetivos específicos
ligados à remoção ou melhoria dos sintomas podendo atender mais prontamente à
demanda da população gerada pelo aumento da necessidade de serviços
psicoterápicos.
Embora esta técnica tivesse obtido impulso no período pós-guerra é sabido
que a partir do início da segunda década deste século alguns psicanalistas
despontavam com sua utilização, como Sandor Ferenczi (1926), que é visto como um
dos precursores da Psicoterapia Breve, mas inegavelmente vimos em Freud o grande
precursor da técnica ativa quando, mesmo buscando a compreensão da natureza do
inconsciente e da personalidade, não deixou de tratar pacientes com queixas
específicas, onde buscava a remissão dos sintomas, em tempo expressivamente curto.
(Yoshida, 1990).
É sabido que Sigmund Freud (1920), inicialmente não estendia os
tratamentos de seus pacientes por um período muito longo, chegando a casos de
pacientes cujos atendimentos variavam de uma única sessão a, no máximo, um ano de
tratamento. (Yoshida, 1990).
Partindo das contribuições de Freud, a teoria psicodinâmica entende que a
pessoa tem seu funcionamento regido por aspectos psíquicos inconscientes, pré-
conscientes e conscientes. Os desejos, sentimentos que são ameaçadores ou
inaceitáveis para o indivíduo, são reprimidos no inconsciente gerando conflitos.
Dessa forma, o indivíduo utiliza mecanismos de defesa inconscientes para
lidar com as ansiedades resultantes das reprimidas de um lado e as proibições
impostas pelos aspectos conscientes de outro. (Yoshida, 1990).
No entanto, apesar de apresentar uma postura ativa, Freud não levou este
trabalho adiante, aprofundando-se na busca e compreensão do inconsciente, o que
certamente conduziu ao método mais prolongado de tratamento. (Yoshida, 1990).
Apesar disto, cada vez mais tornavase evidente e necessária a utilização de uma
técnica ativa, havendo expressivo interesse em buscar novas formas de trabalho que
melhor atendessem a demanda dos pacientes que necessitavam dos serviços
psicológicos, expostas que estavam a pressões sociais e econômicas.
A credibilidade aplicada a esta teoria foi dando à técnica corpo e
consistência, ampliando pesquisas, aprofundando conhecimentos, intensificando
estudos, surgindo novas propostas, tendo em alguns de seus principais representantes
os nomes de Otto Rank, Franz Alexander, Thomas M. French, Hector Fiorini, tidos
como precursores da referida proposta. (Yoshida, 1990).
A contribuição mais conhecida de Rank, segundo Yoshida (1990), refere-se
ao trauma do nascimento, fator determinante para toda e qualquer relação conflitiva
que o indivíduo venha experenciar, podendo constituir-se numa situação traumática.
Posteriormente abordou com ênfase, a mobilização do paciente para o trabalho
terapêutico como tentativa de acelerá-lo. Na proporção do envolvimento do paciente
com o processo psicoterápico, lidamos diretamente com sua motivação, sendo
atualmente reconhecida como condição essencial para o trabalho em Psicoterapia
Breve.
Alguns especialistas consideram que a Psicoterapia Breve teve realmente
seu início registrado pelas contribuições de French e Alexander, que resultaram no livro
Terapêutica Psicoanalítica (1946, 1956). Abordaram a Experiência Emocional Corretiva,
vista como a maior contribuição fornecida à Psicoterapia Breve por estes autores.
Consiste em possibilitar ao paciente ser reconduzido a situações conflitivas, de modo
mais favorável, havendo sempre uma relação envolvida, representa, assim, a
possibilidade do paciente reviver situações traumáticas do passado penosamente
reprimidas, reexperimentando-as na relação com o terapeuta, num contexto relacional
de segurança, aceitação e ausência de censura. (Lemgruber, 1984).
Neste sentido intencionava-se uma maior integração do ego, visto que,
exposto a novas experiências emocionais, objetivando maior equilíbrio das relações, o
paciente estaria mais próximo de atingir sucesso em seu processo psicoterápico.
Parece evidenciar-se que pessoas que encontram dificuldades em se
depararem com situações conflitivas, não enfrentam seus problemas, afastam-se de um
posicionamento mais efetivo, evitam tomar decisões e iniciativas, delegando aos outros
a responsabilidade sobre seus atos. Estes aspectos certamente estão mais
relacionados à psicodinâmica atual do paciente, do que simplesmente afirmar que
rememorização de traumas infantis causam profundo desconforto e sofrimento.
Estes autores ousaram ainda avaliar pressupostos da Psicanálise jamais
questionados por outros estudiosos, ao menos de forma tão incisiva, referindo-se à
duração e freqüência das sessões como sinônimo de profundidade de tratamento e à
noção de que em Psicoterapia Breve somente os aspectos superficiais da
psicodinâmica do paciente possam ser verdadeiramente atingidos. (Yoshida, 1993).
Assim como a maioria dos estudiosos que se destacaram com propostas
dentro do enfoque psicodinâmico breve de tratamento, Hector Fiorini (1982), também
defendia a necessidade da utilização de uma técnica com características próprias que
possibilitasse um papel ativo para o terapeuta.
A Psicoterapia Breve foi se garantindo como uma técnica com características
e objetivos terapêuticos satisfatórios. Estudos ingleses e argentinos também
impulsionaram esta técnica. (Lemgruber, 1984).
Segundo Lemgruber (1984), os ingleses com formação psicanalítica
consideram haver êxito no trabalho quando a psicoterapia estiver baseada nas
interpretações transferenciais. Ainda segundo esta autora, os argentinos denominam a
Psicoterapia Breve de terapias não regressivas, caracterizando a técnica como
possuidora de uma identidade própria, não a relacionando ao fator tempo.
Recebem profundas críticas na medida em que propõem maior ênfase em
aspectos intelectuais e cognitivos. A crítica contrapõe o fato de que ter conhecimento
intelectualizado acerca de situações traumáticas não é suficiente para resolver ou
minimizar os conflitos emocionais. Por outro lado, as dificuldades emocionais impedem
a formação simbólica e o desempenho.
Os termos Psicoterapia Breve ou Psicoterapia de Tempo Curto são termos
usualmente empregados, apesar de não serem hoje os mais adequados para designar
a técnica de Psicoterapia Breve, em referência a um tipo de tratamento psicoterapêutico
que tenha uma abordagem psicodinâmica com orientação de base psicanalítica.
(Lemgruber, 1984).
Os estudos referentes à técnica de Psicoterapia Breve seguem seu curso na
busca de um aprimoramento. Dentro de uma visão mais contemporânea, inúmeros são
os estudiosos que reconhecem a Psicoterapia Breve como uma técnica que melhor
possibilita o acesso das pessoas ao trabalho de atendimento clínico, sendo possível
referirmo-nos a alguns nomes.
Nesta ordem, podemos dizer que foi a partir da década de 70, que os
trabalhos de Malan (1963) e Wolberg (1965), foram introduzidos no plano de saúde
mental da Coordenadoria de Saúde Mental, da Secretaria do Estado de São Paulo, sob
o comando do Dr Walter Leser.
No Brasil, a técnica teve repercussão muito favorável, principalmente em se
tratando de clínicas-escola de Psicologia e de Psiquiatria, pois surge para minimizar o
grave problema da interrupção dos atendimentos, haja visto tratar-se de um trabalho
que segue um calendário escolar, que envolve o ano letivo, havendo portanto trocas
constantes de terapeutas, o que não configura atender as necessidades de um trabalho
de atendimento clínico.
A maior utilidade da técnica de Psicoterapia Breve parece residir na
contribuição da formação de terapeutas, na medida em que oferece um planejamento
que possibilita uma descrição precisa dos procedimentos técnicos adotados. (Yoshida,
1997).
O trabalho prossegue e ganha impulso significativo com as publicações das
últimas três décadas: Fiorini (1982), Lemgruber (1984), Malan (1979), Knobel (1986),
Simon (1989), Yoshida (1990), Gilliéron (1993), entre outros.
Para Wolberg (1965; 1979), o processo de Psicoterapia Breve baseado no
modelo psicodinâmico consiste em:
utilizar a situação de relação com o terapeuta como meio para ajudar o
paciente a adquirir uma compreensão de si próprio, fazendo-lhe ver
como suas reações correntes e envolvimentos interpessoais estão
relacionados com as experiências formativas de seu passado (p.148 -
149).
Contribuições preciosas também são encontradas nos estudos de D. Malan
(1976; 1979), referindo-se à cnica da Psicoterapia Breve como sendo indicada para
pacientes com conflitos atuais agudos, sendo que a elaboração de tais conflitos pode
levar a uma mudança permanente, possibilitando um crescimento psíquico constante,
podendo ser denominado como conflito focal.
Segundo Ferraz, Dewelk e Hegenberg (1993), para Gilliéron as indicações
de Psicoterapia Breve são fundadas nas organizações da personalidade do sujeito. As
Psicoterapias Breves, segundo Gilliéron, oferecem a possibilidade de refletir sobre o
funcionamento psíquico, considerando-as como um método experimental que pode ser
comparado à psicanálise ou a outras formas de tratamento (Ferraz et al, 1993, p.71).
A eficácia da técnica de Psicoterapia Breve vem sendo instrumentalizada e
prossegue defendendo a flexibilidade do terapeuta, bem como sua rapidez de ação.
Segundo Lemgruber (1995), um grande avanço e êxito da técnica de Psicoterapia
Breve se deve ao uso da Experiência Emocional Corretiva, já definida neste capítulo.
Estudos valorosos possibilitam o aprimoramento e a utilização adequada da
técnica de Psicoterapia Breve, atribuindo à abordagem o reconhecimento e a
importância do alcance nos processos terapêuticos.
Lemgruber ainda propõe o Efeito Carambola como meio de provocar
mudanças mais amplas na personalidade do paciente. O efeito Carambola representa
o mecanismo de potencialização dos ganhos terapêuticos obtidos pela técnica focal,
que se baseia na possibilidade do paciente vivenciar EECs intra e extraterapêuticas
num mecanismo de feedback positivo (Lemgruber, 1995, p.81).
Em 1995, Vera Lemgruber é convidada a dirigir o Setor de Psicoterapia no
Serviço de Psiquiatria do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de
Janeiro, a fim de desenvolver a abordagem psicoterapêutica focal (in Enéas; Yoshida,
2004), trabalho que apresenta em seu livro Psicoterapia Breve Integrada, publicado em
1997, onde viabiliza a integração de técnica focal com a psicofarmacologia, bem como
com outras técnicas, que não só a psicodinâmica. (Lemgruber, 1997).
Estes estudos que engendram e fundamentam o trabalho da Psicoterapia
Focal Breve permitem integrá-la com a neurociências e com a Teoria das Emoções, que
é resultante das características individuais do ser humano com o seu meio ambiente.
(Lemgruber, 2000).
Como sabemos o modelo de psicoterapia para este 3º milênio deve ser
integrativo e a Psicoterapia Psicodinâmica Breve Integrada alcança esta abordagem
teórico-clínica. Trata-se de uma técnica ativa, com foco definido, com planejamento
terapêutico, que tem como estratégias a avaliação diagnóstica e psicodinâmica do
indivíduo. (Lemgruber & Junqueira, 2002).
Enéas e Yoshida afirmam que:
as emoções são processos relacionais inatos de tendência à saúde
com a função de orientar as negociações das pessoas com seu meio
ambiente, potencializando o desenvolvimento de capacidades que
facilitam a adaptação indispensável à nossa sobrevivência. (2004,
p.176).
Estudos e pesquisas prosseguem e aprimoram a técnica de Psicoterapia
Breve, revelando outros nomes, profissionais igualmente comprometidos como os que
já aqui foram citados.
1.2 PRINCÍPIOS E CONCEITOS BÁSICOS
A maioria dos autores que faz suas propostas em Psicoterapia Breve
percorreu um caminho que teve início com a formação em Psicanálise e a propõe como
uma forma mais segura de obter um bom conhecimento do funcionamento psíquico do
paciente, o que permite uma rápida compreensão e intervenção. A Psicoterapia
Psicodinâmica Breve baseia-se no modelo psicanalítico, e leva em conta conceitos tais
como; ego, pulsão, objetos, self.
Para Fiorini (1978), uma avaliação dinâmica continuamente atualizada leva
a efetuar reajustamentos, por tentativas e erros, até obter o rendimento máximo do
arsenal terapêutico disponível (p.32). Este autor acrescenta que a iniciativa pessoal do
terapeuta, individualização, planificação, focalização, flexibilidade definem parâmetros
específicos da Psicoterapia Breve (p.32) e conferem a esta técnica uma estrutura
própria, diferente da técnica psicanalítica.
A Psicoterapia Breve adquiriu particularidades que passaram a identificá-la.
São essas características específicas que tornam possível o atingimento dos objetivos
terapêuticos em prazo bem mais curto, pois não é nem o número pequeno de sessões,
nem a duração mais curta do tratamento que define a técnica da Psicoterapia Breve. O
que distingue esta técnica são, portanto, os seus conceitos fundamentais como foco,
objetivos limitados, tempo, flexibilidade, atividade do terapeuta, que vão se
configurando como parte da técnica de Psicoterapia Breve. (Lemgruber, 1984).
ATIVIDADE
Quando se trata de Psicoterapia Breve um ponto de concordância entre os
autores é a necessidade de um papel mais ativo por parte do terapeuta. O terapeuta, ao
atuar em Psicoterapia Breve estará optando por maior atividade utilizando, segundo
Lemgruber (1984), atitudes como: avaliar e diagnosticar as condições internas do
paciente, estabelecer um foco a ser trabalhado durante o processo terapêutico,
combinar com o paciente um contrato terapêutico discutindo o foco estabelecido,
planejar a estratégia básica a ser seguida durante o processo terapêutico, estabelecer
metas e objetivos terapêuticos a serem atingidos ao término do processo de
Psicoterapia Breve.
Sandor Ferenczi (1926), foi considerado um transgressor porque já propunha
uma técnica ativa que se opunha à atitude de passividade terapêutica. Este autor
buscava em seu trabalho não a fala do paciente, mas também a linguagem não
verbalizada, referindo-se à entonação de voz, respiração alterada, ruborização, tontura,
etc. Diante do que acreditava este autor, esta atitude por parte do terapeuta facilitava a
percepção de qualquer mudança de expressão ou qualquer sinal de ansiedade, seja
verbal ou postural, do paciente.
Hector Fiorini (1978), defendia a utilização de uma técnica que possibilitasse
um papel ativo para o terapeuta, que consiste numa seqüência de ação, a saber:
depois de avaliar a situação total do paciente, compreendendo a estrutura dinâmica
essencial de sua problemática, o terapeuta elabora um plano de abordagem
individualizado (p.31).
Alexander e French (1946), consideravam imprescindível a atitude ativa por
parte do terapeuta. Nesta técnica, também para Malan (1981), evidencia-se a
necessidade de maior atividade, que consiste em orientar o paciente durante o
processo, através de interpretações, atenção e negligência seletivas. Neste trabalho o
terapeuta deve estar atento e redobrar esforços para manter o tratamento direcionado
para a área que foi focalizada, devendo utilizar o material relacionado ao foco.
Na abordagem terapêutica focal o psicoterapeuta sempre atento às
manifestações verbais, à postura e reações do paciente, tem um papel eminentemente
ativo que acaba por constituir um dos aspectos essenciais da técnica de Psicoterapia
Breve. O terapeuta não se limita apenas às informações trazidas pelo paciente, embora
tenha como base a queixa, o conflito ou a dificuldade específica que levou o paciente a
procurar ajuda psicoterápica. (Lemgruber, 1984).
Na Psicoterapia Breve não lugar para uma atitude passiva por parte do
terapeuta. O terapeuta deverá ter em mente o foco, manter este foco como objetivo
central do trabalho, evitando atenção flutuante.
Nesta técnica o terapeuta não deverá ser diretivo, mas deverá evitar
trabalhar com material que não esteja diretamente relacionado ao objetivo da terapia,
visto que, muitas vezes, a utilização de material feita pelo paciente pode estar
relacionada a defesas, na tentativa de evitar o contato com conflitos mais difíceis. Para
Davanloo (1994), as defesas devem ser gentilmente, mas inflexivelmente,
confrontadas, possibilitando reações por parte do paciente.
A técnica de Psicoterapia Breve, por ser mais ativa, segundo Lemgruber
(1984), é vista como uma posição de poder do terapeuta frente ao paciente por muitos
autores. No entanto, para Lemgruber este poder mencionado por muitos estudiosos
parece maior na linha psicanalítica clássica, onde o paciente é levado a uma postura de
regressão e dependência.
Como o terapeuta tem um papel ativo, tem um objetivo a atingir e um tempo
limitado para desenvolver o processo de atendimento, é preciso que esteja
adequadamente preparado do ponto de vista do conhecimento da técnica utilizada e em
condições pessoais satisfatórias, como enfatiza Yoshida (1990) quando cita que os
critérios psicodiagnósticos incluem, além das características do paciente, as do
terapeuta, referindo-se particularmente à sua formação, experiência profissional e
características de personalidade.
FLEXIBILIDADE
Outro conceito básico da Psicoterapia Breve refere-se à flexibilidade por
parte do terapeuta. Alexander e French propuseram dois princípios modificadores da
técnica: o princípio da flexibilidade e o princípio da experiência emocional corretiva.
Neste sentido a técnica torna-se mais dinâmica, o terapeuta torna-se mais ativo.
Alexander e French (1946), defendiam a idéia de que a Psicoterapia Breve e
a Psicanálise seguiam os mesmos princípios, levando-se em conta que as maneiras de
lidar do terapeuta deveriam ser compatíveis às necessidades do paciente, ou seja, a
adaptabilidade não seria exclusividade do paciente, mas haveria um esforço do
profissional para buscar um procedimento mais adequado para cada caso clínico, o que
se configuraria no princípio da flexibilidade.
Estes autores não se preocuparam em apontar a Psicoterapia Breve como
uma técnica independente, mas insistiam em interrelacioná-la com a Psicanálise,
dificultaram uma visualização mais clara e mais aceitável das Psicoterapias Breves,
retardando seu reconhecimento.
Assim como Franz Alexander e Thomas French (1946), Fiorini (1978), propôs
a utilização do princípio da flexibilidade, afirmando que pacientes diferentes requerem
tratamentos diferentes (p.32), com também na remodelação periódica da estratégia e
das táticas, em função da evolução do tratamento.
Com base nos princípios propostos por F. Alexander, de dinamização do
processo através de uma flexibilidade e maior atividade por parte do terapeuta e do
planejamento do tratamento, principalmente com o auxílio dos triângulos de
interpretação, que permitem ao terapeuta uma melhor compreensão dos conflitos
psicodinâmicos do paciente e, com isso, a possibilidade de planejar o processo
terapêutico de forma a aumentar a probabilidade de ocorrerem Experiências
Emocionais Corretivas (Lemgruber, 1984).
A flexibilidade do terapeuta tem relevante significado no encaminhamento
adequado e imediato do paciente. É de expressiva importância acolher o paciente e
mobilizá-lo para um tratamento que melhor atende suas necessidades. A simples
sugestão pode não garantir a procura. Auxilia-lo a identificar sua situação e a perceber
a utilidade de uma intervenção que se adeque ao seu quadro clínico, poderá ajudá-lo a
ter uma percepção mais adequada a respeito de si. Este apoio, bem como alguma
informação, poderá representar uma melhora mais abrangente para o indivíduo.
(Enéas, 1999a)
A flexibilidade exige rigor, do ponto de vista teórico, técnico e ético, é preciso,
portanto, que o terapeuta tenha bastante conhecimento das estratégias pelas quais um
processo terapêutico possa ser útil (Enéas, 1999c).
DURAÇÃO
Dentre os autores que utilizam a técnica da Psicoterapia Breve os que
estabelecem o número de sessões e a data do término do tratamento, os que
demarcam uma data para o término, mas o estabelecem o número de sessões e
ainda aqueles que, embora admitam que a duração do atendimento deva ser breve,
não fixam o número de sessões.
Tem importância significativa estabelecer a duração do processo terapêutico,
pois além de dar limites aos pacientes, permite facilitar sua participação mais madura,
na medida em que tem uma percepção mais consciente de seu tempo real. (Mann,
1973).
Segundo Sifneos (1979, 1989), pode-se deixar a duração do atendimento em
aberto, até que os objetivos estejam próximos de serem atingidos, ou estabelecer o
término desde o início do processo, em termos do número de sessões ou de uma data
para o término do atendimento. As duas propostas podem ser utilizadas, cabe analisar
qual a mais recomendável, de acordo em função da situação.
Mann (1973), associava a questão da alta a um limite de doze sessões e
dava a entender ao paciente que a alta tem um caráter definitivo.
Malan (1981), mantinha em seu trabalho a proposta de um limite máximo de
quarenta sessões. Com o passar do tempo passou a utilizar um critério de vinte
sessões em se tratando de terapeutas experientes e trinta para terapeutas em
treinamento. Para este autor um limite de duração fixado no início do tratamento é mais
benéfico, principalmente porque a questão da alta é salientada desde o início.
Segundo Ferraz, Dewelk e Hegenberg (1993), para Gilliéron:
os princípios de base da psicoterapia breve são: a limitação da duração
que varia de três meses a um ano, a disposição face-a-face, a regra da
associação livre para o paciente, e a análise das resistências e dos
conteúdos das associações, levando-se em consideração as interações
paciente/terapeuta (p.70).
De acordo com Yoshida (1990), não um consenso nem unanimidade
sobre o tempo proposto para a terapia para a maioria dos estudiosos.
PLANEJAMENTO
Dentre as exigências mínimas para o êxito em um trabalho de atendimento
em Psicoterapia Breve está o planejamento terapêutico. A possibilidade de planejar e
estabelecer antecipadamente os objetivos que se pretende atingir é condição para que
se obtenha resultados mais satisfatórios na utilização desta abordagem.
Um planejamento terapêutico deve ser, segundo Lemgruber (1984),
necessariamente flexível. A correta avaliação do paciente é um elemento básico no
planejamento terapêutico. Após esta avaliação, ainda segundo Lemgruber (1984), o
terapeuta deverá estabelecer projeto de trabalho, seguido de uma devolução
diagnóstica, onde será discutida a elaboração do foco para a terapia.
Alexander e French (1946), tinham uma proposta que se constituía no
planejamento do trabalho terapêutico em Psicoterapia Breve. O terapeuta a partir da
queixa faz um levantamento minucioso da história de vida do paciente. Nesta
comunhão de dados avalia-se a situação do paciente, obtendo-se assim uma
compreensão clínica mais ampla e completa de sua problemática, uma compreensão
psicodinâmica da queixa, o que possibilita a delimitação do foco, através da elaboração
de um plano de trabalho individual.
Partindo do planejamento terapêutico, é possível obter uma compreensão
psicodinâmica da queixa e sua importância para o êxito do trabalho. Esta compreensão
por parte do terapeuta deverá ser acrescida do entendimento, pelo paciente, de suas
atitudes e conflitos. Há de se ater a um aspecto que comumente ocorre, o da queixa
latente. No início de todo trabalho de atendimento psicológico, partimos da queixa
manifesta, tendo como determinação que é a partir da situação-problema trazida pelo
paciente que se inicia o trabalho com o mesmo. (Enéas & Yoshida, 2004).
No planejamento é importante a escolha da estratégia terapêutica, que
permite saber qual a melhor forma e mais produtiva de se chegar ao objetivo pretendido
(Enéas e Yoshida, 2004).
Mantendo o problema principal como foco central do processo, o tratamento
é desenvolvido de forma a levar o próprio paciente a identificar e correlacionar suas
dificuldades com situações de sua vida cotidiana. Dentre os conceitos peculiares à
técnica da Psicoterapia Breve destacamos alguns que são básicos: Experiências
Emocionais Corretivas (E.E.C.), Aliança Terapêutica, Foco, Atividade e Planejamento.
(Enéas e Yoshida, 2004).
De acordo com Bloom (1992), o planejamento descreve o tratamento breve
que tem a intenção de realizar um conjunto de objetivos terapêuticos dentro de um
limite circunscrito de tempo.
O planejamento em Psicoterapia Breve permite a obtenção de objetivos
mínimos, dependendo das condições do paciente ou mesmo do terapeuta, bem como
das expectativas que são trazidas para o atendimento, demanda, outrossim, a
hierarquização dos objetivos (Enéas, 1999b).
FOCALIDADE E MOTIVAÇÃO
A Psicoterapia Breve é designada Técnica Focal, que se considera que o
cerne dela é o trabalho em cima de um foco circunscrito, que pode levar a mudanças
em várias áreas da personalidade do paciente.
Foco, então, pode ser entendido como ponto central do trabalho em que é
utilizada a técnica de Psicoterapia Breve, intencionalmente a priorização dos aspectos
diretamente relacionados com o objetivo do trabalho. (Lemgruber, 1984).
Nesta técnica, o foco é o objetivo central do terapeuta, é o que
sustentação a todo processo de tratamento psicoterápico. Qualquer material que se
distancie do objeto central do processo foco deverá ser desprezado, ainda que
sinalize a focalização da terapia breve é sua condição essencial de eficácia. Via de
regra, quando um paciente recorre a um trabalho de acompanhamento psicoterápico, é
presumível que tenha uma queixa, o motivo da consulta, que muitas vezes se
transforma no eixo do trabalho. (Enéas e Yoshida, 2004).
O próprio paciente é um facilitador na busca do delineamento do foco a ser
utilizado como eixo no processo psicoterápico, posto que, desde que preservadas as
funções do ego, o indivíduo é capaz de organizar seu discurso, de seguir uma linha de
pensamento lógico, que certamente determinará a ação básica.
Segundo Fiorini (1978):
a focalização parece expressar necessidades de delimitar a busca, de
modo a concentrar nela atenção, percepção, memória, todo um conjunto
de funções egóicas, levando a trabalhar sobre associações
intencionalmente guiadas (p.90).
O terapeuta vai atuar tendo sempre em mente o foco que precisa ser
trabalhado. Todo o trabalho é norteado por este foco, cabendo ao profissional
discernimento para não se deixar envolver por colocações por parte do paciente que
não estejam vinculadas ao foco, que esta é a condição para que o trabalho seja
eficaz.
Para Castro (1997), o estabelecimento do foco faz parte do contato
terapêutico e quanto mais delimitado o foco, maior é a chance de sucesso da terapia.
Segundo Malan (1981), a escolha do foco, que está relacionada à cnica,
dependerá tanto da seleção (tipo de paciente ou problema considerado adequado) e o
tipo de resultado considerado desejado ou revisto como possível (p.46).
Este autor prossegue dentro da classificação da Psicoterapia Breve,
referindo-se ao fato de que a profundidade do foco dependerá tanto da profundidade
do conflito nuclear quanto da possibilidade do próprio conflito nuclear (ou de somente
partes ou derivados deste) ser considerado como foco (p.46).
Por fim Malan (1981, 1976), propõe que seja realizado um diagnóstico, onde
são incluídas entrevistas e testes psicológicos, com a finalidade de estabelecer uma
hipótese psicodinâmica de base, onde é realizado o planejamento sobre o trabalho
terapêutico, que ocorre através de interpretação, com tempo e objetivos delimitado. A
hipótese psicodinâmica de base tem como idéia identificar o conflito primário, reeditado
na problemática atual do paciente.
A terapia focal, da forma como é compreendida por Castro (1997), é aquela
que delineia uma área específica. Esse é um dos aspectos que mais diferenciam a
psicoterapia psicodinâmica breve da psicanálise.
O foco é o conflito psicodinâmico relacionado à queixa. O
entrevistador, por meio das informações obtidas na avaliação, tenta
correlacionar o conflito atual com o conflito nuclear que está subjacente
às dificuldades psicológicas. A partir disto, o entrevistador tem
possibilidade de delimitar a direção do processo terapêutico. O paciente
participa dessa escolha à medida que o avaliador evoca sua
concordância com o trabalho proposto. Quando o paciente mostra mais
de uma possibilidade de trabalho pede-se que opte por um tema, e esse
será o foco da terapia (in Segre, p.87).
Sifneos (1989), afirma que a questão da focalização em Terapia Breve é
crucial para o desenvolvimento do processo, cita também que um consenso geral
de que conflitos edipianos não resolvidos, reações de luto e separação são em si focos
que, quando bem trabalhados, dão origem aos melhores resultados terapêuticos. Nota-
se que a técnica de Sifneos dirige-se essencialmente a conflitos edipianos.
Knobel (1986), faz uma boa referência ao conceito de foco:
Foco ou conflito focal refere-se ao conflito da situação atual do
paciente, subjacente ao qual existe o conflito nuclear exacerbado. Então,
o que traz o paciente à consulta é o choque entre as dificuldades
inerentes a uma tarefa vital específica que ele deve enfrentar e o conflito
infantil não resolvido. (p. 39).
Cabe, então, ao terapeuta estabelecer o foco, e, após isto, a duração
presumível do tratamento e/ou os objetivos do processo terapêutico e trabalhar de
forma ativa para atingi-los. Enfatiza-se a tríade da Psicoterapia Breve, qual seja, maior
atividade do terapeuta, a focalização e o planejamento do tratamento, através do uso
dos Triângulos de Interpretação e do Conceito da E.E.C. (Lemgruber, 1884).
O estabelecimento do foco faz parte do contrato terapêutico. Quanto mais
delimitado o foco, maior a chance de sucesso na terapia. Foco, portanto, pode ser
entendido como a área a ser trabalhada no processo terapêutico através de avaliação e
planejamento prévios. (Lemgruber, 1884).
Para Ferraz, Dewelb e Hegenberg (1993), Gilliéron afirma que:
além da limitação temporal, acrescentava às psicoterapias breves a
focalização, tratando-se de uma maneira de escolher um problema
psicológico central e ater-se apenas a ele. Para ele a Psicoterapia Breve
permite simplificar o tratamento e possibilita abreviá-lo. Considera que a
Psicoterapia Breve aplica-se a formas específicas de psicopatologia
(p.70)
Gillierón prossegue propondo uma técnica que está muito próxima da
Psicanálise clássica, ou seja, o paciente faz associações livres, tal como na psicanálise,
e escolhe-se como foco as motivações que o trouxeram à consulta, o que implica em
dizer que o foco é escolhido inconscientemente pelo próprio paciente.
Segundo os autores,
a primeira tarefa é determinar a influência de um dado contexto
relacional sobre a crise que mobiliza o paciente a buscar tratamento, e a
segunda, é de clarificar a maneira pela qual as mudanças psíquicas
podem ocorrer em uma relação psicoterapêutica, e é isto que diz
respeito à questão da interpretação (p.70).
Gilliéron (1994), é o idealizador da Técnica das Quatro Sessões que,
segundo ele, é uma inversão total na postura tradicional, tratando-se de uma
investigação com finalidade terapêutica (p.08). Para Gilliéron nas quatro sessões
procura-se adaptar as possibilidades do terapeuta e do paciente. Marca-se a sessão a
cada vez, esta é a técnica (p.10).
Wolberg (1979), o menos teórico, porém o mais prático entre os autores, ao
definir foco menciona que compete mais ou menos ao paciente escolher a área
particular de seu problema que deve ser abordada. Freqüentemente, isto envolve a
situação precipitadora de tensão, cuja exploração pode aliviar a tensão e servir para
que o indivíduo recupere equilíbrio adaptativo. Neste ponto, procede-se a uma tentativa
para identificar a origem do distúrbio imediato e relaciona-la com o conflito subjetivo do
paciente.
Ainda segundo Wolberg (1979),
desenvolve-se um esforço para penetrar, pelo menos parcialmente, nos
conflitos desencadeados pela situação de tensão, tratando-os como
fontes autônomas de ansiedade, ainda que derivem e se correlacionem
com certos conflitos nucleares subjacentes e fixos. O material histórico
só é levado em conta quando se relaciona com os problemas correntes
(p.153).
1.3 CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO E CONTRA-INDICAÇÃO PARA PSICOTERAPIA
BREVE
Os critérios de indicação de pacientes para uma psicoterapia de curta
duração variam de acordo com os autores. Sifneos (1977), atém-se a critérios
rigorosamente psicanalíticos e aceita apenas pacientes cujos problemas são edipianos.
Trata-se de pacientes evoluídos, com ego estruturado.
Os critérios adotados por Malan (1976), baseiam-se, sobretudo, na demanda
do paciente e na possibilidade de focalizar o tratamento em uma hipótese
psicodinâmica básica, passível de explicar a maior parte das dificuldades.
As indicações para Psicoterapia Breve, segundo Gilliéron (1994), são
relativas, no sentido de dependerem do desejo do paciente e da técnica do terapeuta.
As contra-indicações são vistas por este autor como absolutas, por estarem
estreitamente ligadas à questão da motivação dos pacientes. Refere-se à distinção
entre dois tipos de pacientes: aqueles cujas motivações o progressivas, eu buscam
uma verdadeira mudança; e aqueles que apresentam motivações regressivas, que
buscam uma compensação para suas dificuldades.
Para Braier (1981), todas as pessoas podem se beneficiar com a proposta de
atendimento em Psicoterapia Breve. Para este autor, a psicoterapia de tempo e
objetivos limitados, em alguns casos, satisfaz, ao menos, a necessidade assistencial.
Recomenda, no entanto, que os casos indicados para Psicoterapia Breve apresentem
condições de ter insight e ego estruturado.
Segundo Braier (1981), a contra-indicação para Psicoterapia Breve destina-
se aos casos crônicos de psicose, enfermidades psicossomáticas, psicopatias,
perversões toxicomanias e os estados fronteiriços.
Para Enéas e Yoshida (2004), os critérios de indicação e contra-indicação,
vinculam-se à utilização variável de cnicas suportivas e expressivas. Para Luborsky &
Mark (1991), as técnicas suportivas são utilizadas para pacientes mais comprometidos
e as expressivas são utilizadas mais continuamente para pacientes que apresentam
organização egóica.
Estes autores contra-indicam a Psicoterapia Breve para pacientes psicóticos
e com organização de personalidade de tipo borderline, assim como para pacientes
com dificuldade para tolerar a dependência e separação, principalmente quando esta
dificuldade aparece como tendência ao suicídio.
Para Szajnbok (1997), no caso da Psicoterapia Breve, as contra-indicações
delinearam-se antes das indicações, que nem todos os pacientes que demandam
psicoterapia podem se beneficiar da técnica da psicoterapia focal. Para esta autora são
contra-indicados os quadros psicóticos, distúrbios graves de personalidade, baixa
capacidade de abstração e risco de suicídio.
Neste contexto, a autora indica um grupo bastante amplo para Psicoterapia
Breve, sobretudo os casos de estrutura neurótica. Uma proposta mais minuciosa destes
quadros inclui pacientes com potencial de tolerância à angústia, boa capacidade de
abstração e capacidade para auto-reflexão em termos psicológicos, capacidade de
estabelecer aliança terapêutica em curto prazo, motivação para mudança e com
razoável estrutura egóica.
CAPÍTULO III
PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL
Uma área bastante expressiva em Psicoterapia Breve é a que envolve o
trabalho realizado com crianças. Esta área está carente de estudos e é oportuna para a
elaboração deste trabalho, principalmente pela ligação direta com o tema da violência
doméstica, propondo-se a obter maior compreensão da dinâmica da família e do
processo terapêutico com crianças.
No que se refere à pesquisa sobre a Psicoterapia Breve Infantil algumas
limitações foram sentidas, mais particularmente quanto à literatura, especialmente a
brasileira.
Um aumento na literatura foi visivelmente sentido a partir das décadas de 70
e 80 quanto ao número de estudos visando as intervenções a pais e crianças, a
exemplo dos trabalhos de Cramer, 1974; 1993, 1997; Cramer e Palacio-Espasa (1993).
Na década de 70, Aberastury (1972) e Knobel (1977) propuseram um
trabalho de tempo e objetivos limitados e desenvolveram uma técnica que considerou
os componentes familiares e ambientais como objeto de tratamento.
Mais especificamente no Brasil, os trabalhos de Simon (1981), trouxeram
contribuições expressivas, propondo que terapeutas inexperientes, também podem
ajudar no trabalho psicoterapêutico com crianças, se não pretenderem assumir o papel
de psicanalistas infantis.
No início do capítulo sobre Psicoterapia Breve, fez-se referência à intensa
influência que a Psicologia sofreu da Psicanálise. A Psicoterapia Breve, neste caso,
especificamente a Psicoterapia Breve Infantil, também sofreu inegável influência da
Psicanálise Infantil. Melanie Klein (Hinshelwwot, 1992) em 1952, buscou inovar técnicas
dirigidas ao grupo familiar, resultando em estudos que evidenciam as psicoterapias
breves.
É importante ressaltar que na década de 80, profissionais da área da
Psicologia deixaram seus consultórios e iniciaram um trabalho voltado ao atendimento
clínico em instituições. Houve, portanto, uma transposição do modelo tradicional de
duração prolongada para o atendimento institucional.
Nesta ocasião, a demanda por atendimento psicológico era
consideravelmente maior que os serviços de acompanhamento oferecidos à população
mais carente, o que resultou em filas intermináveis de espera e no alto índice de
desistência. (Santiago e Jubelini, 1986).
Os atendimentos eram prestados à população, mas não houve uma
preocupação com a qualidade, nem mesmo com a adequação do que estava sendo
oferecido. Não se obteve uma caracterização sistemática da clientela, não sendo
garantido um trabalho que se ajustasse às suas necessidades. (Ancona-Lopez, 1981).
O trabalho de alguns teóricos, nesta ocasião, que se propuseram encontrar
novas alternativas de atendimento foram de grande relevância e registram o movimento
de passagem: as descobertas e novas propostas na área de atendimento infantil, em
contraposição às insatisfações vividas anteriormente (Macedo, 1986).
Estudiosos como Ryad Simon, que organizou a Sociedade de Psicologia
Clínica Preventiva, possibilitaram atendimento psicológico à comunidade, por meio das
arrojadas modificações técnicas feitas à Psicanálise (Simon, 1989), apoiados em
teóricos igualmente comprometidos com o momento histórico e único pelo qual os
processos psicoterápicos vivenciavam. (Wolberg,1965/1979; Malan, 1976/1981; Fiorini,
1978,1982).
A Psicoterapia Breve, por meio do enfoque preventivo de atendimento
institucional e domiciliar alcançou resultados significativos como aponta Yamamoto
(1990) em estudos realizados.
Todas as etapas do processo de atendimento psicológico tiveram que ser
repensadas, como é o caso das entrevistas iniciais de triagem, que registra o momento
de entrada do paciente, onde muitas instituições passaram a oferecer ajuda imediata a
partir do primeiro contato do paciente com os serviços prestados (Ancona-Lopez & Mito,
1997; Mito, Lee, Albertini e Provedel, 1999).
O psicodiagnóstico foi notoriamente reformulado e passou a integrar a
avaliação da criança e a intervenção feita com os pais (Ancona-Lopez, 1995;
Yehia,1995).
Na Psicoterapia Breve Infantil, como técnica no trabalho de tempo limitado,
Allen (1942), considera imprescindível a orientação de pais, num trabalho paralelo ao
da criança. Este autor concentra seu trabalho na produção presente da criança e a
respeita como ser individualizado. Para Knobel (1968), se os pais não participam de
alguma maneira do processo, é muito difícil que a psicoterapia breve seja eficaz na
infância.
No atendimento de crianças é comum a procura pela ajuda psicológica partir
dos pais, que não conseguem lidar adequadamente com as dificuldades apresentadas
pelos filhos, buscando, muitas vezes, o atendimento por já terem sido encaminhados
por outros profissionais (professores, médicos, etc) e, na maioria das vezes, entregam o
filho para o trabalho psicoterápico e não se perguntam se eles têm algo a ver com o
sintoma apresentado pelo filho. (Segre, 1997).
A busca de ajuda psicológica, que via de regra, advém dos pais, se dá,
segundo Catafesta (1992), por três razões básicas: algum sintoma apresentado pela
criança; um momento crítico vivenciado pelos pais ou pela família; e pela presença de
angústia acentuada por um dos pais, ou ambos, no vínculo com um dos filhos ou com
os filhos em geral.
É unânime entre os autores a posição de que é fundamental a participação
dos pais, sendo esta a base para uma intervenção com crianças (Mito, 1996). A área do
funcionamento psíquico relativo tanto aos pais quanto à criança é denominada de foco,
e chamada por Cramer (1974), de área de conflito mútuo, que é resultante de
identificações entre os pais e a criança. Este autor considera que o sintoma da criança
expressa um conflito familiar (Cramer, 1974).
Para Cramer (1974) os sintomas apresentados pela criança refletem
dificuldades não resolvidas dos pais, principalmente da mãe. Este autor refere-se a uma
área de conflito comum aos pais e à criança (em geral à mãe e à criança) que se
manifesta através de um sintoma na criança e é chamada de área de mutualidade
psíquica.
Palacio-Espasa (1984), também adota a área de conflito mútuo, e
considera que é preciso que se leve em conta o funcionamento dinâmico da criança e a
conjunção deste com a organização psíquica dos pais, sendo necessário avaliar as
condições psíquicas da própria criança para se tentar uma psicoterapia breve
focalizada numa área conflitiva responsável pelo sintoma.
Pode-se concluir, portanto que, no caso da criança, o foco é a área de
intersecção, uma área de conflito pertencente aos pais e à criança, manifestada como
um sintoma na criança a partir da relação que se estabelece nesta díade. (Cramer &
PalácioEspasa; 1993).
Quanto aos objetivos do trabalho em Psicoterapia Breve Infantil, devem ser
estabelecidos de acordo com os resultados disponíveis para cada caso e com as
condições dos pacientes. Podem visar modificações mais profundas ou mais
periféricas, mudanças de atitudes ou ambientais que levem à minimização do
sofrimento. Dependendo dos objetivos, as estratégias serão definidas quanto ao
número e freqüência das sessões: se forem realizadas em conjunto com os pais e a
criança ou separadamente; aos tipos principais de intervenções que serão utilizadas: se
interpretações, esclarecimentos, orientações, etc. (Segre, 1997).
O objetivo da intervenção breve é devolver aos pais os aspectos projetados
sobre a criança e liberá-la desta carga para que retome o processo de
desenvolvimento, possibilitando discriminar o que é conteúdo da criança e o que é de
seus pais. Logo, tem-se que é de primordial relevância o acompanhamento dos pais, no
processo de atendimento do filho. (Segre, 1997).
Em função da ligação do trabalho realizado com criança e com seus pais,
alguns autores, como Mito e Oliveira (in Segre, 1997), passaram a denominar a
Psicoterapia Breve Infantil, de Psicoterapia Breve com crianças e pais, tendo como
contribuições mais significativas: critérios de indicação, objetivos e estratégia.
Para Mito (1996) Psicoterapia Breve com crianças e pais pode ser definida
como:
Um processo psicoterápico realizado com crianças e seus pais,
indicados para Psicoterapia Breve através de critérios definidos de
seleção, que transcorre em um tempo delimitado, tem um foco definido
em conjunto com os pais; é planejado de forma a atingir determinados
objetivos, através de estratégias flexíveis, pensadas pelo terapeuta
como adequadas ao caso, e que é passível de avaliação (p.20).
Segundo Oliveira (2006), a Psicoterapia Breve Infantil (P.B.I.), pode ser
compreendida como uma modalidade de intervenção terapêutica com duração limitada
e objetivos circunscritos, dirigida a crianças e pais. Tem sido adotada como método de
trabalho psicoterápico. Apesar disso, e de seu potencial preventivo, tem sido alvo de
um número restrito de estudos.
No caso de crianças, o atendimento em Psicoterapia Breve necessita que
uma adaptação da proposta de trabalho às características individuais leve em conta o
referencial do desenvolvimento infantil. Nesta direção, a Psicoterapia Breve Infantil
Psicodinâmica, possibilita elaborar parâmetros que auxiliem na organização do
raciocínio clínico para a compreensão diagnóstica dos casos e para o planejamento do
processo psicoterápico. (Oliveira, 2006).
A organização e integração da Psicoterapia Breve Infantil, mostra-se
possível e efetiva, facilitando a identificação de conflitos centrais e possibilita a
organização do planejamento terapêutico, em especial no que diz respeito à construção
do foco e das estratégias de intervenção, e ao papel do terapeuta. (Lemgruber &
Junqueira, 2002).
A Psicoterapia Breve Infantil apresenta credibilidade no campo atuação
profissional, e vem sendo adotada por um número significativo de instituições que
prestam atendimento à comunidade, principalmente nos centros de formação de
psicólogo (Oliveira, 2001).
A herança psíquica e os valores familiares, que possibilitam o
desenvolvimento da criança, são transmitidos a ela por seus pais. O desenvolvimento
psíquico da criança depende das relações estabelecidas com seus pais. O
desenvolvimento psíquico se realiza por meio do interjogo de projeções, introjeções e
identificações entre mãe e criança. (Cramer & Palácio-Espasa, 1993).
Segundo Mito e Oliveira (1997), duas fases complementam o trabalho de
atendimento em Psicoterapia Breve. A fase inicial, denominada diagnóstica, é
constituída, por algumas entrevistas com os pais e contato com a criança, (de dois a
três encontros) através das horas lúdicas e, se necessário, com a utilização de material
lúdico ou de testes psicológicos específicos, conforme apresentado no capítulo I.
O objetivo da fase diagnóstica é investigar a queixa de forma mais completa
e conhecer a história, tanto da criança quanto de seus pais, sempre buscando uma
compreensão do funcionamento psíquico do paciente. A etapa diagnóstica,
dependendo das condições dos pacientes e dos recursos disponíveis, permite definir a
possibilidade do atendimento em psicoterapia psicodinâmica breve, através do
estabelecimento do foco, objetivos e estratégias para este caso. (Mito e Oliveira,1997).
É na fase diagnóstica que se encontram todos os dados necessários para o
planejamento terapêutico. Portanto, trata-se de um momento de vital significado na
compreensão da sintomatologia do quadro clínico do paciente.
Nesta fase são delineados os objetivos do atendimento, bem como quais
serão as estratégias mais adequadas para se chegar aos objetivos propostos. (Mito e
Oliveira, 1997).
Nesta fase, segundo Mito e Oliveira (1997), o paciente ou seus pais, tendo,
finalmente, dado início ao atendimento, acaba trazendo queixas variadas.
Especificamente no caso do atendimento infantil, a queixa, na maioria das vezes, está
diretamente relacionada à defasagem escolar.
Após a fase diagnóstica, que visa principalmente avaliar a queixa e entender
a dinâmica da criança e de seus pais (história), para que se tenha uma compreensão
mais integrada do quadro clínico do paciente, delimita-se o foco, que permite e
possibilita a proposta de um objetivo a ser atingido, o terapeuta prossegue na avaliação
de seu trabalho, dando início à segunda etapa, designada fase terapêutica, sempre
baseada no que foi definido como foco, que permite o redirecionamento do trabalho,
através de intervenções que possibilitam a compreensão dos dinamismos mais
inconscientes dos pacientes. (Mito e Oliveira, 1997).
É notoriamente significativa a contribuição de Ackerman (1958) dentro deste
enfoque, pois já propunha que se retirasse o foco de atenção do indivíduo para colocá-
lo no grupo familiar, para que o funcionamento deste grupo pudesse ser entendido e
avaliado na plenitude de sua dinâmica. É sabido que a família é a unidade básica,
através da qual a pessoa organiza e estrutura sua personalidade. Portanto, sempre que
uma criança for conduzida a um processo psicoterápico, seus pais deverão ser
orientados, já que precisamos levar em conta que os conflitos com as crianças
certamente evidenciam dificuldades na dinâmica familiar.
Para Ackerman (1958) os conflitos entre o casal, nem sempre considerados
graves, muitas vezes são deslocados para a criança. A organização familiar, depois de
instalado o conflito na criança, é difícil de ser atingida, principalmente porque os
membros de uma família acabam por eleger um elemento do grupo para ser o detentor
dos sintomas e, assim, não necessitarem lidar, nem se aprofundar nos conflitos daquela
unidade.
É preciso ter muita cautela e maturidade profissional para possibilitar e
conscientizar a família da necessidade de um trabalho com o grupo, a fim de que, em
face da resistência, não interrompa o processo. Pode-se, portanto, considerar que a
inserção da família no tratamento da criança, é essencial, haja visto o papel primordial
dos pais na dinâmica do filho, especialmente pela dependência emocional deste.
(Ackerman, 1958).
Dentro da proposta de atendimento em Psicoterapia Breve Infantil torna-se
imprescindível que a focalização do trabalho também incorpore o conflito do casal.
Entende-se, a partir das contribuições de Mito (1996), que a focalização sobre o
problema dos pais serve para libertar a criança para que ela possa retomar o processo
normal do crescimento. A compreensão da existência de problemas através das
entrevistas familiares é relatada como um fator que desperta nos pais a prontidão para
aceitar ajuda.
A dificuldade dos pais em assumirem seu papel, de se inserirem nesta
problemática, constitui um obstáculo de se atingir resultados favoráveis em
Psicoterapia Breve. O problema se agrava em Psicoterapia Breve Infantil e ainda mais a
Psicoterapia Breve Infantil desenvolvida em clínica-escola, sujeita a um regime
semestral. Se o reconhecimento da violência e a consciência sobre suas implicações
são difíceis por parte da família, nesta situação, de Psicoterapia Breve Infantil
desenvolvida em clínica-escola, as dificuldades se tornam ainda maiores.
Com a possibilidade da ocorrência do pacto do silêncio (de que se tratará no
capítulo V, item 5.4), o paciente poderá não fazer referência à violência na queixa.
Quando a violência não é trazida na queixa, o será captada na compreensão
psicodinâmica da queixa e, conseqüentemente, não será incluída no foco, portanto, não
será trabalhada, o que pode caracterizar no fracasso da Psicoterapia Breve. Entende-
se que o fracasso se dê não em função da técnica, mas em virtude deste pacto de
silêncio, que incorpora o processo psicoterápico.
Antes de encerrarmos o presente capítulo, faz-se necessário uma ressalva.
Trata-se de constituir uma distinção entre a proposta de Psicoterapia Breve Infantil e o
trabalho de atendimento familiar. Em Psicoterapia Breve Infantil, a raiz do problema
está na relação mãe-criança, pai-criança. Nesta abordagem, as dificuldades do casal
podem ser traduzidas em sintomas na criança. Há de se estar atento, em se tratando de
Psicoterapia Breve Infantil, se os pais podem tolerar as modificações pelas quais,
certamente, a criança passará, o que pode significar que eles retomarão para si
aspectos que haviam sido projetados na criança, ocasionando mudanças na dinâmica
familiar. (Segre, 1997).
O atendimento familiar determina o envolvimento de outros membros na
relação (como avós, tios, etc), refere-se aos objetivos do trabalho e não
necessariamente ao foco. Neste caso, cada paciente precisa reagir a um determinado
número de pessoas, não apenas ao terapeuta, como ocorre no tratamento individual,
onde o terapeuta é um confidente seguro e o paciente espera que ele seja
compreensivo e receptivo. (Satir, 1964).
Assim como a Psicoterapia Breve, a Psicoterapia Familiar, através de alguns
psicanalistas, questionava a Psicanálise como única técnica utilizada para diferentes
tipos de pacientes. Surgem, assim, os dissidentes do movimento psicanalítico, tendo
Satir como uma de seus representantes. Reconhecida mundialmente, apesar da
tradição psicanalítica, esta autora, por avaliar que a psicanálise não estava sendo
suficiente, começa fazer uma leitura do trabalho com famílias sem tanta ênfase na visão
ortodoxa. Faz uso da terapia sistêmica, que é focada nos papéis familiares.
Satir (1964) desempenhou um papel importante no desenvolvimento da
terapia familiar. Esta autora via os membros perturbados da família como confinados
em papéis familiares estreitos como vítima, conciliador, desafiador e salvador. Seu
principal enfoque era sempre o indivíduo. Tinha como preocupação, identificar os
papéis familiares que constringem a vida e libertar os membros da família de seu
domínio.
Satir (1972) descreveu os papéis familiares como o de conciliador ou o de
desagradável. O indivíduo poderá conseguir reconhecer que desempenhou um papel
bastante previsível, crescendo em sua família. A dificuldade consistia em que, uma vez
aprendidos, os papéis familiares são difíceis de serem descartados.
Satir (1980), procurava liberar cada elemento do grupo familiar do papel
instituído pela família. Era uma força humanizadora, mesmo nos primórdios da terapia
familiar. Em seu trabalho com famílias procurava concentrar-se em melhorar a
comunicação, expressar os sentimentos, e em estimular um clima de aceitação mútua e
cordialidade. Satir ajudou a popularizar o movimento da terapia familiar.
A proposta desta autora parece convergir, em alguns aspectos, com o
trabalho desenvolvido em Psicoterapia Breve Infantil. Tanto na Psicoterapia Familiar,
como na Psicoterapia Breve Infantil, há a preocupação em possibilitar à criança a
descaracterização de sua responsabilidade sobre os conflitos que afligem a dinâmica
familiar, permitindo que os papéis familiares sejam revistos e reavaliados, conduzindo a
criança à retomada de um processo natural de crescimento.
3.1 O ATENDIMENTO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL REALIZADO NA
CLÍNICA-ESCOLA DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE GUARULHOS.
PROTOCOLO DOS ATENDIMENTOS
Na clínica-escola da Universidade Guarulhos o atendimento psicoterápico faz
parte das atividades obrigatórias para a formação de psicólogos no curso de graduação
em Psicologia. Temse como preocupação básica a formação profissional dos
estagiários, no que diz respeito à postura ética e à sua orientação teóricoprática. O
atendimento a pacientes tratase da primeira experiência vivenciada pelo aluno.
Na clínica de Psicologia da Universidade Guarulhos, onde foi realizado todo
o levantamento que direcionou este trabalho, a modalidade de estágio utilizada é a
técnica da Psicoterapia Psicodinâmica Breve. o se pretende, porém, formar
profissionais especialistas em Psicoterapia Breve, mas procurar adequar a técnica à
realidade vivenciada pela população.
Os centros de formação dos cursos de psicologia têm adotado a Psicoterapia
Breve Infantil (PBI) como modalidade de intervenção terapêutica, uma vez que ela se
mostra compatível com as possibilidades desse tipo de serviço e atinge resultados
satisfatórios. Esta utilização na prática tem sido acompanhada de um número
significativo de pesquisas, no entanto, o que se percebe é uma grande variedade de
formas de atuação nomeadas como psicoterapias breves, nem sempre respaldadas por
um referencial teórico coerente.
A Psicoterapia Breve Infantil psicodinâmica pressupõe o atendimento tanto
dos pais quanto da criança e fundamenta-se na idéia de que eles compartilham uma
área de conflito definida pela qualidade da relação entre eles e que contribui para o
aparecimento de perturbações no desenvolvimento infantil. Diversamente do trabalho
com adultos, lida com uma trama mais complexa de relações e exige uma abordagem
mais flexível que possa ser ajustada às diversas faixas etárias, bem como aos tipos de
dificuldades apresentadas pela criança e pelos pais. Pretende-se apresentar as
especificidades do atendimento breve infantil, verificadas em estudo que abrangeu três
diferentes situações, e tecer considerações sobre cada uma delas, além de ilustrá-los
com casos clínicos.
O objetivo do trabalho realizado na clínica-escola de Psicologia da
Universidade Guarulhos é oferecer aos pacientes um atendimento que conta, desde o
princípio, com objetivos bem definidos, que possa garantir-lhes uma maior
adaptabilidade e adequação para lidar com os conflitos que os aflige.
Quanto à modalidade terapêutica mais usualmente desenvolvida pelos
estagiários, insere-se na definição de Fiorini (1981) de Psicoterapia de Esclarecimento.
Incluemse entre seus objetivos o alívio de sintomas, além de acrescentar e
desenvolver no paciente uma atitude de autoobservação e um modo de compreender
suas dificuldades mais próximo do nível de suas motivações e de seus conflitos.
A Psicoterapia de Esclarecimento supõe uma atitude ativa por parte do
estagiário, a partir das hipóteses psicodinâmicas levantadas em supervisão.
Nesta ordem supõem-se êxito no processo de atendimento, as expectativas
positivas, por parte do paciente, bem como o entusiasmo e a vontade de ajudar o
paciente, por parte do estagiário.
Por se tratar de curso de formação, desenvolvido em clínica-escola, a técnica
da Psicoterapia Breve precisa se adequar ao período letivo, tempo tido como disponível
para a realização do estágio e, conseqüentemente, para o atendimento dos pacientes.
Um dos fatores que confere a esta técnica a especificidade é a limitação do tempo. A
Psicoterapia Breve poderá permitir que o pouco tempo de que o terapeuta dispõe, por
se tratar de estágio de duração limitada, possa ser bastante adequado e plenamente
satisfatório para o atendimento, visto tratar-se de um trabalho com objetivos definidos.
Neste sentido pode-se atender um número maior de pessoas num menor
espaço de tempo. O próprio estagiário atinge um crescimento profissional mais seguro,
haja visto poder realizar um trabalho mais completo, dando a ele algum sentido em tudo
que fez.
Para a realização de um trabalho em clínica-escola conta-se com
profissionais em formação, que necessitam do auxílio do trabalho de supervisão, em
geral semanal, tendo uma compreensão clínica mais restrita dos quadros dos pacientes
em atendimento.
As supervisões, devido à inexperiência dos alunos, têm um papel
fundamental no atendimento das Psicoterapias, mas no geral, apesar do despreparo
dos alunos, muitas vezes prevalece o movimento empático, que acaba por tornar
produtivos muitos processos psicoterapêuticos realizados nas clínicas-escola de
Psicologia.
Na prática profissional, vinculados a instituições do tipo clínicas-escola de
Psicologia, detectam-se casos de atendimento clínico, com queixas variadas, as quais
permitem buscar uma orientação, que esteja calcada em procedimentos previamente
conhecidos, que se ajustam na busca do estabelecimento do foco, dos objetivos e das
estratégias para cada caso.
Quando o paciente procura uma clínica-escola e realiza inscrição, que pode
ser feita por telefone ou pessoalmente, para um trabalho de atendimento psicológico é
marcada, e posteriormente realizada, uma entrevista de triagem. Na entrevista de
triagem, em se tratando de atendimento de crianças, somente os pais são convocados.
Algumas destas entrevistas de triagem são realizadas pelo profissional em formação,
são estes os estagiários do quarto ano do curso de Psicologia, como parte das
atividades obrigatórias da disciplina de Psicodiagnóstico.
A entrevista psicológica de triagem tem o objetivo de avaliar se os serviços
prestados pela clínica vêm de encontro com as necessidades sofridas e detectadas nos
quadros clínicos dos pacientes.
Durante o atendimento em Psicoterapia Breve Infantil, e muitas vezes, ainda
na entrevista de triagem, surgem conteúdos que configuram uma desorganização
familiar, mesmo que a queixa central não esteja diretamente relacionada a dificuldades
dessa ordem. Muitas discussões, desentendimentos, ameaças e agressões o
percebidas no mundo em que estas pessoas estão inseridas no mundo familiar. Sinais
evidentes de violência doméstica têm sido vivenciados pelas famílias. (Azevedo e
Guerra, 1995). Esta violência que ocorre na dinâmica familiar, nas dificuldades das
crianças, nas queixas encontra-se, muitas vezes, mascarada, pois, de certo modo,
todos estão diretamente envolvidos com ela.
Freqüentemente a violência doméstica não é detectada durante o tratamento
em Psicoterapia Breve Infantil. Isto não ocorre em função da técnica utilizada, mas pela
dificuldade que todos, em geral, têm em lidar com situações de violência. A família o
considera a violência como conflito central que aflige a dinâmica. A violência é
silenciada pela família como um segredo e, no atendimento psicológico, acaba por
constituir um pacto do terapeuta com os pais, para que o psicólogo não se conscientize
desta violência.
Direta ou indiretamente as pessoas vivem situações de violência doméstica,
seja ela física, verbal ou psicológica e nem sempre estão preparadas para lidarem com
situações que envolvam uma sobrecarga emocional intensa, deslocando, nesta ordem,
os conflitos para conteúdos que melhor possam organizar.
Nem sempre tais aspectos são trazidos como queixas, priorizando-se, por
exemplo, o declínio no rendimento escolar, originariamente apresentado como queixa
pelos pais. Os dados que configuram uma desorganização familiar nem sempre são
facilmente detectados, visto que incluem situações onde a violência doméstica está
presente.
Invariavelmente, as situações vistas como inadequadas, em certa ordem, são
relevadas. As queixas mais continentes nem sempre são pontuadas, tanto com relação
ao paciente, trazendo uma queixa não direcionada para o conflito central; quanto no
que se refere ao terapeuta, nem sempre capaz de relacionar a queixa com conflitos
mais profundos. Ambos, paciente e terapeuta, circundam a dinâmica do paciente e
lidam, muitas vezes, apenas com aspectos periféricos.
Redobram-se aqui, os cuidados com os pais, pois não é raro desistirem do
atendimento, uma vez que buscaram um atendimento psicológico tendo eleito um
membro doente na dinâmica familiar. Nem sempre os pais estão preparados para se
depararem com seus próprios conflitos, com suas dificuldades, deslocadas para a
criança.
Na entrevista de triagem, que precede a fase diagnóstica da Psicoterapia
Breve verifica-se se a queixa manifesta trazida pelo paciente é passível de ser
abordada num trabalho como o que é proposto em Psicoterapia Breve, dentro e sob o
enfoque de critérios de aceitação ou exclusão do quadro que se apresenta.
O critério de inclusão ou de exclusão do paciente, no atendimento na clínica-
escola de Psicologia da Universidade Guarulhos, está vinculado à verificação se o
quadro clínico do paciente é indicado ou contra-indicado para Psicoterapia Breve,
conforme descrito na página 38, capítulo II deste trabalho. Se indicado para
Psicoterapia Breve, o paciente aguarda sua convocação numa fila da espera, para dar
início ao processo, na própria clínica.
Estas entrevistas, em sua maioria, são realizadas pela autora da presente
pesquisa, que tenta avaliar se o paciente é indicado ou contra-indicado para um
processo de Psicoterapia Breve. Em caso de contra-indicação o paciente, em se
tratando de adulto, ou os pais, em se tratando de criança, é reconvocado. Procede-se,
então, seu encaminhamento externo para uma instituição que possa prestar o tipo de
acompanhamento mais condizente ao quadro clínico do paciente.
Nos casos em que os pacientes permanecem na Clínica-escola de
Psicologia, após a entrevista de triagem, são conduzidos para uma das três áreas que
dão corpo à clínica;- Psicoterapia Breve de Adulto, Psicoterapia Breve Infantil e
Psicodiagnóstico, dependendo da necessidade do paciente. Por se tratar de clínica-
escola, portanto regida por um calendário escolar, as convocações dos pacientes
ocorrem sempre no início de cada semestre e, no decorrer de quatro meses, ou
dezesseis sessões, aproximadamente, é desenvolvido o trabalho de atendimento
psicológico.
Após a inscrição para atendimento, muitas vezes o paciente, dependendo da
época do ano, aguarda um período razoável na fila de espera, em qualquer uma das
três áreas mencionadas. Em se tratando da presente pesquisa, por abordar
especificamente casos de atendimentos realizados em Psicoterapia Breve Infantil,
doravante serão mencionados aspectos mais diretamente relacionados a esta
modalidade de atendimento.
Em Psicoterapia Breve Infantil há situações em que os pais desistem do
atendimento alegando a demora, ou até comparecem no atendimento apesar da
demora, mas desistem em seguida, utilizando qualquer argumentação, quando na
verdade parece claro a dificuldade em lidarem com seus próprios conteúdos.
Dá-se, assim, início ao atendimento em Psicoterapia. Os atendimentos são
realizados individualmente por estagiários do quinto ano do curso de Psicologia, os
quais atendem as crianças e acompanham seus pais em Orientação de Pais.
Tanto as entrevistas iniciais quanto as sessões psicoterápicas o
registradas semanalmente, pelos estagiários quintanistas do curso de Psicologia, em
folhas de registro de processo, que irão compor o prontuário do paciente, acrescido das
fichas de inscrição e de atendimento, do relatório final e da folha de encerramento.
Findo o processo, o paciente tem seu prontuário arquivado, no caso de ter
tido seu atendimento concluído, e, no caso do paciente ter sido reconduzido, retornará
à fila de espera para ser reconvocado no semestre seguinte, tendo prioridade sobre os
demais pacientes, por já ter recebido algum tipo de atendimento.
Tais aspectos conduzem ao pensamento de que, de
maneira geral, o ser humano tem muita dificuldade de lidar com questões e situações
em que a violência esteja atuando.
Capítulo IV
VIOLÊNCIA: PROBLEMAS RELATIVOS
AO SEU CONCEITO E À SUA ABRANGÊNCIA.
Com o propósito de criar um alicerce teórico conceitual sobre o qual será
possível desenvolver alguns argumentos a respeito da violência pretende-se,
inicialmente, fazer uma breve revisão dos postulados da Psicanálise, que impliquem, de
alguma forma, relativa compreensão acerca deste tema.
Para Damergian (in Steiner, 1986), a violência humana pode ser
compreendida através de alguns conceitos da Psicanálise, sobretudo a violência
praticada contra crianças.
Para Freud (1920),
a violência, referida por muitos adultos e que, na maioria das vezes é
vivida só na fantasia, tem origem em desvios e transformações da libido
para ocultar desejos e prazeres libidinosos que são considerados
proibidos. Poderíamos dizer que, para Freud, violência e civilização têm
o mesmo berço. O destino de cada indivíduo depende de como ele pode
usar, ou interpretar, a sua herança, seus aspectos constitucionais e as
características do ambiente (p.259).
Hinshelwoot (1992), afirma que entre outros psicanalistas, Melanie Klein
tende a dar uma maior ênfase à conjunção pessoa x ambiente, como fonte de vida e
desenvolvimento. Assim, a violência do ódio, da inveja e da onipotência pode ser
matizada por um ambiente amoroso, protetor e cooperador, verdadeiro e real.
É muito difícil definir violência. Muitos autores procuram defini-la e aqui serão
pontuados alguns dos dados encontrados na literatura. No entanto, as referidas
definições, mesmo que clarifiquem nossa compreensão, não complementam
plenamente o conceito de violência.
Num primeiro momento, tudo parece constituir uma grande incoerência. A
violência é definida como uma manifestação da agressividade, como instrumento de
que se servem os homens para implantarem a ordem da lei e do direito e, segundo
Freud (1920), a existência de uma espécie de instinto de paz. O instinto agressivo
pode perfeitamente coexistir com a possibilidade do homem desejar a paz e com a
possibilidade do homem empregar a violência.
Para Costa (1986), as definições dadas à violência são provisórias e
operacionais. Este autor questiona a dificuldade em sistematizar a violência, atribuindo
à teoria psicanalítica parte da responsabilidade sobre este aspecto. Parece não querer
apenas filiar-se a uma já conhecida corrente de idéias sobre violência, procurando
conduzir o leitor a um processo reflexivo e não a definições sintéticas e prontas. As
contribuições de Costa são vistas como importantes para um melhor entendimento da
violência à luz da teoria psicanalítica.
Segundo Costa (1986), pode-se dizer que na concepção da Psicanálise, a
violência é associada à agressividade instintiva, ou seja, a violência nasce da
agressividade do homem, da possibilidade de matar ou de fazer sofrer os seus
semelhantes. A partir desta concepção, a violência surge como uma conseqüência do
conflito de interesses. Tornar-se um instrumento utilizado pelo homem para
organizarem os conflitos. Por fim, a violência articula-se em meio à paz.
Pesquisadores que estudam a relação violência-saúde têm definido a
violência como um fenômeno gerado nos processos sociais, levando as pessoas,
grupo, instituições e sociedades a se agredirem mutuamente, a se dominarem, a
tomarem à força a vida, o psiquismo, os bens e/ou patrimônio alheio. (Gelles, 1979).
Dessa forma e, para efeito de maior compreensão, podese dizer que existe
uma violência estrutural, que se apóia sócio-econômica e politicamente nas
desigualdades, apropriações e expropriações das classes e grupos sociais; uma
violência cultural que se expressa a partir da violência estrutural, mas a transcende e se
manifesta nas relações de dominação raciais, étnicas, dos grupos etários e familiares;
uma violência da delinqüência, que se manifesta naquilo que a sociedade considera
crime, e que tem que ser articulada, para ser entendida, à violência da resistência que
marca a reação das pessoas e grupos submetidos e subjugados por outros, de alguma
forma (Minayo e Assis, 1993).
Para Bergeret (1990), diante da necessidade de sobreviver, a criança
pequena apresenta espontaneamente uma tendência de projetar sua violência sobre o
adulto, que, por sua vez, desperta como um eco, as partes forçosamente mal
integradas de sua própria violência primitiva.
As contribuições de Bergeret (1990), sobre violência parecem bastante
expressivas. O autor classifica a violência como violência fundamental porque se refere
aos fundamentos de toda estrutura da personalidade. Enfatiza que embora atualmente
se fale muito sobre violência, ela ocorre em todos os ambientes, em todas as épocas e
em todas as relações, surgem dos registros latentes e das angústias criadas pelas
lacunas, pelos fracassos, pelas carências e pelas impossibilidades de elaboração
mental. Refere-se à preocupação maior dos estudiosos estar voltada para os aspectos
quantitativos da violência, intensificada pelo fato da violência estar interligada ao meio
externo, mais essencialmente ao aumento dos meios de repressão.
Na verdade, esse autor propõe a todos que querem se ocupar da violência,
que o façam através de processos reflexivos, de intercâmbio de conhecimentos e de
diálogos sobre a natureza de uma parte importante da violência primitiva que não
consegue encontrar vias espontâneas e positivas de integração. Para este autor a
violência humana fundamental deve realizar-se dentro de um processo integrador.
Muito se tem falado acerca da violência, mas poucos são os que a definem
ou que tratam deste tema de forma explícita. A violência pode ser considerada um
fenômeno muito difícil de se conceituar, muito polêmico, tornou-se um dos problemas
mais debatidos atualmente, sendo um tema essencialmente vasto, como bem
argumenta Sá, (1999).
Este autor aborda a violência sob os mais diferentes enfoques e baseado
numa literatura vasta e expressiva conclui que:
trata-se de um impulso, de um movimento cuja força é dotada de
intensidade e irresistibilidade que, embora variem de caso para caso,
garantirão a esta força uma capacidade mínima de coerção, de
penetração, de vencimento de barreias e de destruição, como condição
para que se concretize o ato violento.( p. 55).
Para Sá (1999), o ato violento tem como objetivo final causar danos a outros.
Estes danos estão interligados a um núcleo central, que pode ser entendido como:
privação. Neste sentido e do ponto de vista do autor a violência será mais ou menos
grave dependendo da natureza das privações impostas.
Ainda segundo Sá (1999),
a violência tem uma face explícita, manifesta, por todos reconhecida por
seu caráter de estarrecedora dramaticidade. A violência tem também
uma face oculta, que penetra subrepticiamente as relações humanas e
pode estar presente às vezes até nas nossas relações com as pessoas
que nos são mais próximas. (p. 56).
Dentro da proposta deste trabalho a face oculta da violência te um
significado expressivo. A face oculta refere-se a tudo que supostamente está
interferindo no crescimento psíquico dos membros de uma família, que impede que as
relações sejam autênticas entre seus membros, que mina e impossibilita que se
fortaleçam os vínculos afetivos, mas que não é passível de ser caracterizado, de ser
percebido claramente. É oculto, mas extirpa e empobrece as relações impossibilitando
a ocorrência de unidades familiares constituídas de indivíduos plenamente integrados.
Para Winnicott (1983), de todas as tendências humanas, a agressividade, em
especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos e quando se
manifesta é sempre uma tarefa difícil de identificar suas origens.
Segundo Winnicott, todo o bem e o mal encontrados no mundo das relações
humanas serão encontrados no âmago do ser humano.
Reconhece-se, pois, que a natureza ativa e determinante dos seres humanos
estrutura a personalidade e seu papel potencial em explicar a variedade e expressões
comportamentais. (Oliveira, 2006).
O ser humano dispõe de mecanismos que permitem a compreensão de sua
história de vida, construída por meio de imagens mentais, formando sistemas
dinâmicos, que ao manter uma troca constante com o meio, possibilita que o homem
desenvolva a interatividade, que lhe permitirá melhor acomodação e equilíbrio de suas
reações impulsivas. (Oliveira, 2006).
Assim, mesmo no bebê, admite-se a existência de uma inibição dos impulsos
agressivos, facilitando a proteção do que é amado e que pode estar em perigo. É
verdade que a criança tem uma grande capacidade para a destruição, mas também é
verdadeiro que tem capacidade para proteger o que ama de sua própria destrutividade,
e a principal destruição existe, necessariamente, em sua fantasia. (Winnicott, 1987).
Para Winnicott (1987), a agressão tem dois significados: por uma lado,
constitui direta ou indiretamente uma reação à frustração e, por outro, é uma das muitas
fontes de energia de um indivíduo.
Além das contribuições dos pressupostos da Psicanálise, encontra-se na
Sociologia, estudiosos que se dedicaram à compreensão do fenômeno da violência,
alguns dos quais aqui serão mencionados.
O sociólogo Nieburg (1963), define a violência como uma ação direta ou
indireta, destinada a limitar, ferir ou destruir as pessoas ou bens. Graham e Gurr
(1969), afirmam que a violência se define, no sentido estrito, como um comportamento
que visa causar ferimentos a pessoas ou prejuízos aos bens.
Para Michaud (1989)
violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores
agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos
a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade
física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas
participações simbólicas e culturais (p.11).
Ainda segundo este autor a violência é assimilada ao imprevisível, à
ausência de forma, ao desregramento absoluto. o é de se espantar se não se pode
defini-la. Ela, com efeito, envolve a idéia de uma distância em relação às normas e às
regras que governam as situações ditas naturais, normais ou legais.
Segundo Michaud (1989),
embora subsistam explosões de raiva cega e de revolta desesperada, a
violência, como muitos aspectos da vida social e política, está submetida
à racionalização e ao cálculo. Por isso, é preciso entender que ela entra
na perspectiva de uma ação instrumental onde é um meio racional entre
outros, com vistas a finalidades colocadas por outra via. Por princípio
não é recomendada nem excluída, tudo depende de sua eficiência, bem
pensada. (p.55).
Michaud (1989), entende que a violência designa fatos e ações, mas
também se constitui numa maneira de ser da força, do sentimento, ou de um elemento
natural (p.07), e prossegue A violência pode ser definida como o fato de agir sobre
alguém ou de fa-lo agir contra sua vontade empregando a força ou a intimidação
(p.07). Encontra-se no âmago da noção de violência, a idéia de uma força, de uma
potência natural cujo exercício contra alguma coisa ou contra alguém torna o caráter
violento.
Segundo Maffesoli (1987), a violência deve ser considerada o apenas em
seu aspecto de transgressão de normas e preceitos, mas também em seu caráter
polivalente de resistência e confronto. Em lugar de tomar a violência como violação e
transgressão das normas, regras e leis, Chauí (1985), prefere considera-la como uma
realização determinada das relações de força, tanto em termos de classes sociais,
quanto em termos interpessoais.
Para Maffesoli (1987), a violência é reveladora de uma desestruturação
social relativamente manifesta, que ela invoca numa nova construção, embora
apresente duplo movimento: construção e destruição.
Essa construção monopolizada, que pretende ser a negação da violência
julgada demasiadamente natural, conduz a uma existência pacificada e satisfeita que
fundamenta a ideologia da tranquilização da vida social. Maffesoli (1987), afirma:
Dentro deste contexto a violência o deve ser concebida como fator de desequilíbrio
na sociedade, mas como elemento estruturador do fato social, estrutura constante do
fenômeno humano, presente em toda e qualquer civilização (p.50).
Ainda segundo Maffesoli (1987),
a violência como força, potência construtiva, permite uma simbiose de
forças possibilitando a criação e a renovação da estrutura social,
expressão da fundação social. Monopolizada pelo Estado, perde seu
caráter construtivo e passa a ser legalmente exercida por algumas
pessoas, grupos ou instituições, objetivando o exercício da obediência
em função da garantia do poder (p.53).
Outras concepções sobre violência podem ser vistas como significativas.
Para Adorno (1989), a violência não é um fenômeno estranho à sociedade.
O senso comum tem uma idéia sobre violência que algumas vezes é vista no
chamado senso crítico ou científico, de que a violência é alguma coisa externa aos
homens de que ela existe como se fosse algo estranho a todos nós, quase uma
anomalia, uma patologia que, como tal tem que ser tratada. (Maffesoli, 1987).
Segundo Maffesoli (1987), Weber analisou a questão da violência não como
um fato anacrônico, uma sobrevivência de períodos bárbaros ou pré-civilizados, mas
sim como a manifestação maior do antagonismo existente entre vontade e
necessidade (p.14). Este autor concebia a existência da violência estreitamente
vinculada a uma articulação estabelecida em momento de grande confronto de valor.
Coser (1956),
considera as funções do conflito e da violência na mudança social: a
violência pode operar como realização de si e do indivíduo que entra
num grupo. Ela pode atuar como sinal de perigo e, sobretudo, é
regularmente um meio de resolver bem conflitos e problemas, os motins
violentos e até mesmo o terrorismo são meios de obrigar a levar em
conta as reivindicações de grupos marginais e de conseguir ganhos
significativos (p.93).
Estudando o emprego da violência nas sociedades contemporâneas,
detecta-se que até um certo ponto, a violência pode ser considerada como um
instrumento legítimo de gestão pragmática dos conflitos. As análises de Parsons,
(Roure, 1996), sobre o lugar da força no processo social vão no mesmo sentido.
Parsons considera a força como uma modalidade de interação social que visa a
dissuasão, a punição ou a demonstração da dominação. Ela é o último instrumento da
coerção e da obrigação, o último recurso do poder.
A concepção de Roure (1996), sobre a questão da violência contrapõese
aos conceitos que a concebem apenas como transgressão de princípios e normas, cuja
finalidade é destruir e ofender. Para esta autora a violência é considerada como
elemento estrutural do fato social, como um fenômeno constante da história humana.
Em relação à própria história de crianças e adolescentes na sociedade
brasileira, segundo Roure (1996), pode-se verificar que ela foi sempre permeada por
diferentes práticas de violência e morte, culminando na maioria das vezes no
silenciamento e extermínio destas crianças e adolescentes (p. 48). A violência está
para esta autora, no princípio da vida e da evolução concebida como luta pela vida e
seleção dos mais capazes.
Com base nas citações dos autores aqui descritos, a violência pode ser
entendida como sendo inerente a todo ser humano, de importância vital desde o
nascimento e deve ser integrada no ser.
É verdade que o homem evoluiu através do processo civilizatório, que influiu
no sentido de um controle dos impulsos destrutivos. Também é verdade que quando
esse processo atravessa momentos de intensa crise e stress, há um desnudamento do
homem civilizado, emergindo sob a sua pele o homem primitivo, com seus modelos
primitivos de existência, incapaz de controlar seus impulsos, seus medos, seus
rancores, seu desejo de destruir o inimigo oculto que o persegue. (Maffesoli, 1987).
Tendo em vista a precisão metodológica, a violência pode ser conceituada a
partir de seu papel no sistema social. Este deve ser concebido como uma unidade
funcional que permite diversos graus de integração; nele as formas sociais e culturais
têm conseqüências funcionais ou disfuncionais, e existem equivalentes e substitutos
funcionais capazes de satisfazer uma dada exigência funcional. (Roure, 1996).
A violência existe tanto no mundo interno como no meio social. A violência,
então, além de fazer parte do ser humano, é necessária para a sua sobrevivência, uma
vez que lhe permitiu e permite defender-se e manter-se vivo, além de ser
impulsionadora da ação, da iniciativa construtiva. Importa saber quais as condições que
favorecem o seu controle e seu uso construtivo e quais as que se conjugam no sentido
de produzirem aumento ou atuação descontrolada dessa violência. (Michaud, 1989).
Estamos cercados pela violência. Ela não é privilégio dos grandes centros
urbanos, mas nestes aparece com muito mais intensidade medida que aumenta a
concentração demográfica, a composição heterogênea da população serviria para
explicar que nos grandes centros a violência é maior, principalmente contra as crianças.
Esta característica da vida urbana, que muitas vezes priva o indivíduo da oportunidade
da auto-afirmação agressiva, pode levá-lo a reviver os antigos sentimentos de
desamparo e fraqueza que tinha como criança. (Michaud, 1989).
Como agravante dessa situação entra em cena a permissividade social.
Nossa sociedade é permissiva para com a violência, incorpora-a a seu cotidiano de
forma a que não nos espantemos mais com as notícias de assassinatos e brutalidades
cometidos indiscriminadamente contra adultos, velhos e crianças que inundam os
jornais e noticiários cotidianos. Nós somos permissivos para com a violência.
Complacentes. Acomodados. Às vezes, cúmplices. Nós nos esquecemos: vemos,
ouvimos, lemos e esquecemos. Nossa memória, defensivamente, perde a sua
capacidade de reter fatos que nos incomodam. Temos que nos defender da angústia,
mas não a ponto de negá-las assim. Tornamo-nos cúmplices passivos de fatos que são
aceitos como fazendo parte do destino trágico da humanidade.
Capítulo V
Violência Doméstica
5.1 CONCEITO E ABRANGÊNCIA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Atualmente a grande incidência dos fatos violentos fazem parte do cotidiano
da sociedade. Diariamente se tem notícia de algum tipo de violência sofrido por alguém
em algum lugar. No momento em que recebem a notícia de alguma situação onde a
violência foi empregada, as pessoas, no geral, ficam chocadas. No entanto, em pouco
tempo, as pessoas assimilam o problema e voltam à vida normal, muito embora aqueles
que sofrem violência freqüentemente, presenciando diariamente atos hostis em seu
ambiente doméstico, não conseguem esquecer-se tão rapidamente da violência.
(Gabarino e col., 1992).
A violência doméstica abrange as relações dos pais com os filhos, dos filhos
com os pais, dos maridos com as esposas, enfim abrange todas as relações familiares.
Quando do levantamento da referência bibliográfica para a realização deste trabalho
verificou-se que, em se tratando de violência doméstica, a grande preocupação da
maioria dos autores é com relação à violência dos pais contra os filhos. Por este motivo,
na confecção deste capítulo, embora buscando uma compreensão mais ampla acerca
da violência doméstica, a violência dos pais contra os filhos será, inevitavelmente,
abordada com maior ênfase. (Gabarino e col., 1992).
A violência doméstica nem sempre é tão facilmente identificada. Farinatti,
Biazus e Leite (1993) apontam para a necessidade de um cuidadoso processo de
avaliação para o diagnóstico. Garbarino e colaboradores (1992), enfatizam a
necessidade de se avaliarem os indicadores da violência dentro do contexto de uma
família, sugerindo que esta avaliação pode ser feita através de um trabalho ético
minucioso.
A dinâmica familiar não raras vezes é permeada por situações de violência
que se manifestam de diferentes formas, tais como o modo de ser da família ou
meramente ocasionais. Na medida em que surgem como caracterização familiar,
podem causar danos, muitas vezes irreparáveis, a todos os membros de uma mesma
família. (Farinatti, Biazus e Leite, 1993).
Cada pessoa vai lidar com a violência de um modo muito pessoal, sendo via
de regra, necessário que cada indivíduo busque sua própria organização interna, que
poderá possibilitar um equilíbrio geral. É este equilíbrio que dará aos elementos
diretamente envolvidos em situações de violência, condições mais adequadas de
conviverem e até de se adaptarem a estas situações. (Farinatti, Biazus e Leite, 1993).
Diante da violência, especialmente a doméstica, muitas vezes as pessoas se
omitem, não evidenciando seus sentimentos, não se julgando no direito ou em
condições de expressar seu pensamento. Nesta ordem, acaba por ocorrer um
afastamento natural entre os elementos de uma mesma unidade familiar. Com este
afastamento os vínculos afetivos poderão ficar mais estremecidos, permeados por
mágoas, ressentimentos, medo, revolta, podendo gerar novas situações de violência.
(Adorno, 1991).
A violência doméstica está, segundo Adorno (1989), relacionada com a
violência estrutural (violência entre classes sociais, inerentes ao modo de produção das
sociedades desiguais). É um tipo de violência que permeia todas as classes sociais
(interclasses sociais) como violência de natureza interpessoal.
Como violência intersubjetiva, a violência doméstica consiste, ainda segundo
Adorno (1989):
a) Numa transgressão do poder disciplinador do adulto, convertendo a diferença de
idade, adulto-criança/adolescente, numa desigualdade de poder intergeracional;
b) Numa negação do valor liberdade: ela exige que a criança ou adolescente sejam
cúmplices do adulto, num pacto de silêncio;
c) Num processo de vitimização como forma de aprisionar a vontade e o desejo da
criança ou do adolescente, de submetêla ao poder do adulto a fim de coagi-la a
satisfazer os interesses, as expectativas e as paixões deste.
Hoje em dia, a violência estrutural tem sido, considerada como
desencadeante de outras violências mais específicas, como a delinqüência, o crime, a
institucionalização de menores, a existência de meninos vivendo nas ruas. (Adorno,
1989).
A violência estrutural, característica de sociedade como a brasileira, é
marcada por profundas desigualdades na distribuição da riqueza social, como a
violação dos direitos humanos mais elementares: direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, à segurança, ao lazer, entre outros. (Adorno, 1989).
A violência doméstica pode ser compreendida como a manifestação da
distribuição desigual do poder. Poder físico, econômico, psicológico, social e, sobretudo
emocional do homem. (Adorno, 1989).
No Brasil, segundo o levantamento da Sociedade Mundial de Vitimologia,
sediada na Holanda, 23% das mulheres estão sujeitas à violência doméstica.
Especificamente no Rio de Janeiro, segundo o Conselho Estadual dos Direitos da
Mulher (CEDIM, 1999), a cada hora sete mulheres encontram-se envolvidas em
situações de violência doméstica.
Segundo dados mundiais (CEDIM, 1999), o risco de uma mulher ser
agredida em sua própria casa é nove vezes maior do que o de sofrer uma agressão na
rua, fora do ambiente familiar. A mulher é vítima de violência física do pai de seus filhos,
do ex-marido ou atual companheiro. O homem agressor também sofre por não
conseguir se controlar. Não consegue atuar de uma maneira socialmente aceita.
Dificilmente suporta frustrações.
Os homens que espancam suas parceiras, no geral, também são violentos
com as crianças da casa. Segundo o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher
(CEDIM, 1999), um terço das crianças que sofrem violência doméstica pelo pai ou
padrasto tende a perpetuar a agressividade quando crescer.
Como já foi mencionado no início deste capítulo, haverá uma tendência de
se abordar aspectos que estejam mais diretamente relacionados com a violência que os
pais exercem sobre seus filhos, pois além de todos os autores pesquisados estarem
mais familiarizados com este tipo de violência, o fato deste trabalho estar mais
direcionado para a detecção da violência na fase diagnóstica dos pacientes atendidos
em Psicoterapia Breve Infantil, conduz a autora a desenvolver sua pesquisa dentro de
um enfoque mais específico.
A violência praticada contra a infância e, principalmente, aquela que é
exercida pelos próprios pais contra os seus filhos: filicídio, presente em todos os
momentos da história da humanidade, não é um fato novo e nem privilégio dos povos
civilizados. Rascovsky (1974) nos mostra que as agressões e destruições, físicas ou
mentais, parciais ou totais, dirigidas pelos pais aos seus próprios filhos são universais.
A Constituição Federal (art. 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente,
criado pela Lei n° 8.069 de 13 de julho de 1990, garantem o direito à vida, saúde,
liberdade, respeito, dignidade, convivência familiar e comunitária, educação, cultura,
esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho para todas as crianças e
adolescentes. Foi a partir daí, que esses passaram no Brasil a ser juridicamente
considerados sujeitos de direitos, e não mais menores incapazes, objetos de tutela, de
obediência e de submissão. A construção de novas relações adultos-jovens, baseada
em relações afetivas, de proteção e de socialização, implica em denúncia e
responsabilização dos violadores desses direitos.
Para Azevedo (1990),
as sociedades têm submetido crianças e adolescentes a inúmeros tipos
de violência, sendo a de cunho doméstico uma das mais comuns. Trata-
se de violência intraclasses sociais e que permeia todas as classes
sociais (p.11).
Ainda segundo a autora (1990; 1992), a violência doméstica contra crianças
e adolescentes:
- É uma violência interpessoal e intersubjetiva;
- É um abuso do poder disciplinar e coercitivo dos pais ou
responsáveis;
- É um processo de vitimização que pode se prolongar por meses e até
anos;
- É um processo de completa objetalização e sujeição da vítima,
reduzindoa a condição de objeto de maustratos;
- É uma forma de violação dos direitos essenciais da criança e do
adolescente enquanto pessoas e, portanto, uma negação de valores
humanos fundamentais como a vida, a liberdade, a segurança;
- Tem na família sua ecologia privilegiada. Como esta pertence à esfera
do privado, a violência doméstica acaba se revestindo da tradicional
característica de sigilo ( p.11; 74).
Portanto, segundo Azevedo (1990),
as violências domésticas contra crianças e adolescentes representam
todo ato ou omissão praticada por pais, parentes ou responsáveis contra
crianças e/ou adolescentes que, sendo capaz de causar dano físico,
sexual e/ou psicológico à vítima, implica, de um lado, uma transgressão
do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da
infância, isto é, uma negação do direito que crianças e adolescentes têm
de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de
desenvolvimento.(p.63).
A violência contra a criança vem sendo abordada de forma mais incisiva e
sistemática, além de estar despertando o interesse de pesquisadores, principalmente a
partir das duas últimas décadas. Tem revelado, entre outros dados, que é no âmbito
familiar que a violência ocorre com maior freqüência. (Azevedo, 1990).
A criança, desde o nascimento, está sujeita a determinações sociais e
necessita que sejam supridas não suas necessidades básicas, como também as
afetivas. (Azevedo, 1990).
A compreensão adequada da violência contra crianças exige que se dê
visibilidade ao contexto familiar, visto que, na maioria das vezes, é no seio familiar que
a violência ocorre, demonstrando o seu caráter social e desnudando as relações sociais
que lhe dão sentido. (Adorno, 1989).
Segundo Ruiz (1981), a família é o agente socializador primário onde a
criança aprende a viver; aprende a defender-se e a lutar; a competir e a sobreviver; e
mais que nada, aprende a tolerar a frustração e a amar (p.41).
Quando dizemos família, nos referimos àquele conjunto de pessoas que
interrelacionam por um tempo prolongado com o indivíduo e formam um sistema psico-
social constante; não somente a família nuclear. Ruiz (1981), classifica a família na qual
se verifica um ou vários casos de abuso e maltrato aos filhos, como uma família
disfuncional.
A influência da família no psicodinamismo da criança ocorre em todo seu
desenvolvimento, atuando como elemento facilitador ou inibidor de seu
desenvolvimento normal, sendo vista como um elemento de força a que as crianças
estão sujeitas, num âmbito mais particular, assim como a escola e a própria natureza da
criança, e a sociedade, num âmbito mais amplo. A sociedade estaria, de certo modo,
estimulando a violência, talvez como resposta à frustração, omitindo referências de
negociação em conflitos, de estímulo ao diálogo, promovendo o consumo desenfreado
e restringindo a cada dia possibilidades de usufruir dele. (Ruiz , 1981).
Para Ruiz (1981), quando faltam referências próximas de modelos de
diálogo, cooperação e negociação, as crianças buscam estas referências em objetos
inadequados, que podem gerar mais violência e impedi-las de um crescimento saudável
e adequado, reforçando a experiência negativa e propondo ações ainda mais
delinqüências. Qualquer ameaça ao desejo, um limite, uma frustração em qualquer
empreendimento, uma contrariedade... E a resposta é a violência. Violência contra os
outros, contra si mesmos (como a droga, o suicídio ou sua tentativa), um triste caminho
de desesperança em relação à qualidade melhor e mais gratificante.
O que há de comum às crianças de todo o mundo que lhes rouba as
brincadeiras de infância, a alegria de viver, a possibilidade de elaborar a dor e a
rejeição através de jogos, de leitura ou da conversa? Que lhes tira a capacidade de
pensar o novo, de ousar, de se relacionar com amigos, de refazer a auto-estima quando
abalada? (Jornal do C.F.P., 1997).
É preciso ver o contexto:- desestrutura familiar acirrada pelo desemprego,
reações violentas no lar, alcoolismo, etc. E uma cultura de massa que se apóia no
estímulo ao consumo e na solução violenta de conflitos.
Emprego, diálogo familiar, escola de qualidade, centros da juventude,
programas sociais, de cultura, esporte e lazer, prevenção ao uso de drogas ilícitas,
combate explícito ao uso de armas e aos modelos violentos de solução de conflitos,
diminuição do apelo ao consumo, TV de qualidade, que a televisão vem se
solidificando como orientadora e companheira das crianças, invadindo seu espaço com
estímulos sexuais, face aos quais essas crianças ainda não tem condições próprias de
se defender, influenciando, certamente, o desenvolvimento infanto - juvenil, na
formação das mentalidades... Um quadro a reconstruir. Distante da realidade em que
vivemos. (C.F.P., 1997).
A família é a principal responsável pela segurança física e emocional da
criança, cabendo a ela, inclusive em termos legais, a maioria dos direitos e deveres
sobre a criança. Os pais são, praticamente, proprietários de seus filhos. (Scott et al,
1991).
A violência doméstica, bem como o mau relacionamento familiar, influem de
maneira acentuada na formação da personalidade da criança. Scott et al (1991)
consideram que o autoconceito da criança depende muito do modo como é tratada
pelos outros, acrescentando que a rebeldia do adolescente está associada à
infelicidade conjugal dos pais.
O fenômeno da Violência Doméstica engloba toda forma de violência física e
psicológica (Guerra e Azevedo, 1993), praticada contra crianças e mostra que isso não
é uma questão de classe econômica ou social, acontece de forma generalizada. A
violência contra a criança praticada pela família é hoje considerada patologia.
Um dos aspectos mais dolorosos é que as atrocidades praticadas pelos pais
contra seus próprios filhos têm muitas vezes como testemunhas mudas e passivas
apenas a quatro paredes que encerram a vida familiar. Além de indefesa e
desprotegida, a criança é também condenada a sofrer em silêncio, temendo a
represálias por parte de seus próprios pais. (Guerra e Azevedo, 1993).
Quantos casos não se conhecem de crianças que, necessitando de
atendimento médico, são obrigadas (ou pelos pais ou pelo medo) a dizer que caíram e
se machucaram. A agressão então dói duplamente, fora e dentro, no psiquismo infantil,
no incremento do medo, na insegurança, no sentimento cada vez mais agudo de
desamparo e desamor. (Guerra e Azevedo, 1993).
Segundo Caminha (1998), o comportamento da criança vítima de violência
doméstica é muito fácil de se diagnosticar, desde que estejamos atentos para percebê-
lo. São crianças que resistem ao contato físico com o adulto, resistem para tirar a roupa
diante da necessidade de um exame físico, apresentam retardo no desenvolvimento por
carência psico-social, medo dos pais ou adultos de um modo geral. (Caminha, 1998).
Segundo Caminha (1998), trata-se de criança isolada do ambiente, triste,
ansiosa, com baixa auto-estima, com comportamentos extremos de agressividade ou
timidez. Está freqüentemente ausente da escola e, quando presente mostra sinais
claros de maus-tratos.
A criança está cercada pela violência. Sofre dentro de casa, calada e
passivamente, toda sorte de sevícias físicas, mentais e muitas vezes também sexuais,
por parte de seus pais que permanecem impunes e anônimos em sua destrutividade.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância chama a atenção para as
graves repercussões da violência doméstica nas crianças que são expostas a ela.
Baseado em dados mundiais do estudo do Secretário Geral das Nações Unidas sobre a
violência contra crianças e adolescentes, o informe calcula, de maneira conservadora,
que até 275 milhões de crianças estão expostas, atualmente, à violência doméstica.
O estudo mundial, publicado pelo UNICEF e The Body Shop International, destaca o
devastador e duradouro impacto da violência doméstica nas crianças.
Ao definir a violência doméstica como a agressão física, sexual ou mental por
parte de um progenitor ou de uma pessoa que dispensa cuidados, a Unicef conclui que
observar ou escutar episódios de violência doméstica ou, de algum modo, estar
consciente da ocorrência desse tipo de experiências, pode deixar lacunas no
desenvolvimento físico, emocional e social das crianças, tanto durante a infância, como
mais tarde na vida.
As mulheres continuam sendo as principais vítimas da violência doméstica.
Esta violência pode ter efeitos negativos duradouros, segundo afirma Ann M. Veneman,
diretora executiva do UNICEF.
Segundo o informe, as crianças, em cujos lares ou famílias violência,
não apenas sofrem com a angústia de viver nessas circunstâncias, mas têm uma
probabilidade mais alta de se converter em vítimas de abuso. Calcula-se que 40% das
vítimas de maltrato infantil também sofreram violência doméstica no lar.
Ainda que as crianças não sejam submetidas diretamente a maltrato físico,
estar expostas a episódios de violência doméstica pode ter efeitos graves e duradouros.
As repercussões começam a se manifestar cedo na vida. De fato, as investigações
mostram que as crianças menores estão mais expostas a este tipo de violência do que
as crianças maiores, e que essas experiências podem alterar seu crescimento mental e
emocional numa etapa crítica do seu desenvolvimento.
O informe também revela que o fator que melhor permite pré-dizer se as
crianças perpetuarão o ciclo da violência doméstica, como perpetradores ou como
vítimas, é ter crescido, ou o, num lar marcado pelo abuso. As investigações indicam
que as mulheres mais maltratadas são aquelas cujos cônjuges sofreram maltrato
quando pequenos ou presenciaram atos de violência contra suas mães. Muitos estudos
também descobriram que as crianças de lares violentos exibem comportamentos mais
agressivos e têm uma probabilidade de se envolver em brigas até três vezes mais
elevada.
O Brasil é campeão da violência doméstica num ranking de 54 países
(Sociedade Mundial de Vitimologia, ONU). A ActionAid é uma ONG que atua mais
de 34 anos e está presente em 47 países. Incentiva a luta pela eliminação da violência
contra a mulher. Debates sobre a implementação e o cumprimento da Lei Maria da
Penha (Lei 11.340), são realizados, buscando compreender e minimizar as relações de
violência instituída contra a mulher.
Segundo o "Relatório Mundial sobre Violência e Saúde" (Organização
Mundial da Saúde - OMS, Genebra, 2002), estudos mostram que, das mulheres vítimas
de assassinato, de 40 a 70% foram mortas por seus maridos ou namorados,
normalmente no contexto de um relacionamento de abusos constantes". Esse fato
contrasta totalmente com a situação dos homens vítimas de assassinato. Nos Estados
Unidos, por exemplo, apenas 4% dos homens assassinados entre 1976 e 1996, foram
mortos por suas esposas, ex-esposas ou namoradas.
5.2 RAÍZES DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
De acordo com o enfoque psicanalítico, constatados na teoria de Freud, cada
ser humano carrega, na vida adulta, os padrões determinantes de seu comportamento
afetivo instituídos nos primeiros anos de vida. Pressupõe -se que, ao nascer, o
indivíduo dispõe de um passado na história familiar, do qual sofre conseqüências, que
certamente terá influência na formação de sua personalidade.
O que impulsiona o indivíduo no sentido da integração de sua personalidade,
sob o enfoque da Psicanálise, é o conflito e a inter-relação entre o instinto de vida e o
instinto de morte (Freud, 1920). Ao abrigo deste instinto estão as tendências tanáticas
ou agressivas do homem, coexistindo com um instinto de vida, que abriga as
tendências eróticas, amorosas e construtivas.
A manutenção da vida tem como condição essencial essa inter-relação entre
as duas forças opostas, das quais derivam todas as sensações, emoções, desejos e
atividades. Eros e Tânatos são indispensáveis à sobrevivência do homem.
À medida que o indivíduo se desenvolve espera-se que as tendências
destrutivas que caracterizam o instinto da morte evoluam para as atividades não
destrutivas, que possam ser orientadas socialmente. Tânatos pode ser colocado a
serviço da vida e não da destruição. Freud (1920), nos mostra o homem em conflito
com estes dois instintos básicos: o instinto da vida e o instinto da morte.
Segundo Freud (1920), o homem tem dificuldades em aceitar que tem
pulsões agressivas, capaz, portanto, de praticar ações agressivas contra outros seres
humanos, mais difícil ainda se faz aceitar o fato de que essa agressividade seja voltada
contra a infância. Seres absolutamente indefesos, que se voltam para nós, adultos, em
busca de proteção e amor pode ter como resposta o abandono, o ódio, a destruição.
Para Guerra e Azevedo (1993), essa agressividade natural, que foi
evolucionariamente útil ao homem, perdeu sua utilidade evolucionaria e se transformou,
conjugada com uma série de fatores, em arma muitas vezes mortiferamente usada
contra outros homens. A história tem nos mostrado o homem sucumbindo a toda sorte
de crueldades e massacres, indicando ai um fracasso no desenvolvimento de
comportamentos que possam controlar a destrutividade. Nos momentos de crise social
há um incremento dessa destrutividade. Nessas circunstâncias, condições sociais
adversas, caracterizadas pela miséria, desemprego, fome, falta de perspectivas, etc...
combinam-se, numa alquimia mortífera, com as naturais pulsões agressivas do homem.
O resultado é um aumento da agressividade.
Uma sociedade profundamente em crise, como a nossa, acaba por gerar as
formas mais intensas de violência. O ser humano, com suas pulsões agressivas, com
sua sede de poder, está incrustado nesta crise, está na base dela. A sua capacidade
empática diante do outro diminui, as relações humanas se coisificam e tornam-se cada
vez menos humanas.
Segundo Guerra e Azevedo (1993), uma outra inquietação bastante
freqüente ao se lidar com a violência, reside na forma pela qual se pode explicar a sua
ocorrência. Não existe uma explicação unívoca para o fenômeno, sendo que a
abundante literatura sobre ele registra basicamente o surgimento de três teorias
explicativas: as psicodinâmicas, as de aprendizagem social e as sócias-psicológicas.
As teorias de aprendizagem sociais resgatam a idéia fundamental de que o
comportamento violento pode ser aprendido. Há trabalhos que descrevem os maus
tratos em três gerações de crianças da mesma família. Nesta teoria, podese identificar
o estudo de Steele e Pollock (1968), psiquiatras americanos, que durante pouco mais
de cinco anos acompanharam 60 (sessenta) famílias de classes sociais diversas nas
quais haviam ocorrido agressões significativas em bebês e em crianças pequenas.
Os autores discordam do perfil geralmente formulado dos pais agressores,
no sentido de que sejam considerados como imaturos, levados por impulso,
dependentes, sadomasoquistas, egocêntricos narcisistas. Eles colocam que tais
objetivos são aplicados a agressores de crianças, mas que podem prevalecer e para
todas as pessoas de modo geral, acrescentando pouco a uma compreensão específica
do problema.
A violência doméstica pode ter diversos fatores, das mais diferentes ordens,
dependendo do tipo de hipótese que se estabelece. Estes fatores podem ser de ordem
psicodinâmica, sócio-econômico-cultural. A seguir vai se discorrer sobre cada uma
destas ordens.
O ENFOQUE PSICODINÂMICO DA VIOLÊNCIA E COMPAIXÃO NA FAMÍLIA
As teorias psicodinâmicas são aquelas que presumem que o
comportamento deve ser primariamente o resultado da interação de forças
intrapsíquicas. Estas forças são descritas em termos de traços de personalidade e
estados, medidas através de testes psicológicos ou identificadas por julgamento clínico.
Observa-se que, na literatura de maus-tratos contra a criança, há uma
preocupação excessiva de alguns autores quanto à descrição dos pais agressores em
termos de tipos de personalidade e de traços. Segundo ainda estes autores, as
descrições de personalidade dos perpetradores de violência auxiliariam na prevenção
do problema, identificando-se com antecedência os agressores em potencial.
Ao se familiarizar com este tipo de literatura, onde são abundantes as
descrições da patologia dos pais, tem-se a impressão de que todas as pessoas que
maltratam crianças são portadoras de doenças mentais. Entretanto o ponto de vista
atual é que talvez apenas 10% dos pais que maltratam crianças mostrem desordens
severas de personalidade ou psicoses.
Cabe ao ser humano, no decurso de seu desenvolvimento, passar por
estágios ou fases, que configurariam formas diferentes de organização da libido e que
determinariam as condições de contato com o mundo interno e externo. Duas formas
principais presidem essa organização: na primeira, ou na do princípio primário, a
supremacia do princípio do prazer sobre o da realidade. Na segunda, ou na do princípio
secundário, ocorre o contrário. (Freud, 1920).
Klein explicita que, uma mente só pode funcionar segundo o princípio do
prazer, a mente vive intensos sentimentos e fantasias de medo e aniquilação, porque o
mundo externo é vivido como se tivesse ficado tão perseguidor quanto às fantasias que
para ele foram expelidas.
Por causa dessa situação, a mente imatura não consegue estabelecer
contato com a realidade externa (porque também não o faz com a interna), não
estabelece uma relação de troca satisfatória; apenas é possível uma relação de
domínio x submissão. Tanto Freud (1920), quanto Melanie Klein (Hinshelwoot, 1992),
mostram que as vivências emocionais nessas formas de organização mental são
violentas. Por isso, para a Psicanálise uma das formas de se pensar a violência é
ligando-a àqueles estados primitivos da mente, nos quais a forma de organização
mental promove as vivências acima descritas. A violência passa a ser vista de dois
ângulos diferentes: o do ataque e o da defesa.
Vários autores acreditam que as condições nas quais ocorre o
desenvolvimento do ser humano determinam uma intricada série de relações
intersubjetivas, estruturando redes de fantasias e de significados que só podem ser
corretamente avaliados se incluídos em uma psicodinâmica familiar.
Costa (1986), refere-se a três tópicos da teoria freudiana na legitimação do
papel da violência (1913, 1920), a saber: a teoria do trauma infantil, a teoria da pulsão
de morte e o estudo sobre totem e tabu. Torna-se evidente que o problema da
violência, em Freud, não se esgota, nestes três tópicos, mas eles contêm o essencial
da teoria psicodinâmica sobre violência.
O primeiro suporte da noção de violência na teoria freudiana é o trauma
infantil, já que para Freud a sexualidade infantil é resultado de três fatores: o estímulo
biológico, o estímulo ligado ao exercício das funções vitais e o estímulo exógeno,
determinado pela excitação da criança pelos pais. Nesta ordem, pode-se qualificar de
violenta a ação do ambiente ou do mundo externo sobre o psiquismo infantil.
A teoria psicanalítica, aos poucos, deixou a concepção da natureza
traumática da sexualidade para uma concepção da natureza violenta deste
traumatismo.
É sabido que em 1920, Freud escreve Além do princípio do prazer, onde
cria a noção de pulsão e de morte, que constitui o segundo suporte da noção da
destrutividade na abordagem freudiana. A pulsão de morte coloca no primeiro plano da
vida psíquica, a tendência à destruição do sujeito e do objeto. Ao lado da sexualidade a
destruição passa a ser considerada um dos elementos primordiais no destino da vida
psíquica e social do homem.
O terceiro suporte da noção de violência para Freud, apresentado no estudo
sobre totem e tabu (1913), onde insere a violência como uma conseqüência do conflito
de interesses.
Para Freud, a violência é um instrumento de que se servem os homens para
arbitrarem os conflitos de interesse e diz: É, pois, um princípio geral que o conflito de
interesses entre os homens são resolvidos pelo uso da violência.
Segundo Freud (1933), as guerras serão evitadas, com certeza, se a
humanidade se unir para estabelecer uma autoridade central a que será conferido o
direito de arbitrar todos os conflitos de interesses. (p.253).
O reconhecimento de uma identidade de interesses possibilita o surgimento
de vínculos emocionais entre os membros de um grupo de pessoas unidas com
sentimentos comuns, que são a verdadeira fonte de sua força.
Para Freud (1913), a comunidade dos homens se mantém unida por duas
coisas: a força coercitiva da destrutividade e os vínculos emocionais entre seus
membros (Totem e tabu e Psicologia das massas e análise do eu).
INFLUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-CULTURAL
Os meios da violência também dependem do nível de desenvolvimento
econômico e cultural. Assim como é quase inegável que as interações sociais são
profundamente antagônicas e que nelas a violência circula senão abertamente, ao
menos de modo fiduciário. Considera-se que a violência nasça dos desequilíbrios ou
dos esforços de adaptação dos sistemas, sendo vista como o efeito da marcha
irresistível das forças econômicas.
O grupo representado pelas teorias sóciopsicológicas encontra no sociólogo
Richard Gelles (1979), um grande defensor. Ele propõe uma multiplicidade de fatores
para explicar a violência contra a criança. Analisa basicamente as características
sociais dos agressores, as da vítima e a situação contextual do próprio ato violento.
Gelles (1979), explica que dentre estes fatores podem ser destacados a
posição social dos pais (idade, sexo, situação econômica), seus valores e normas, sua
socialização anterior (principalmente em termos de um aprendizado de violência no
próprio lar), seus traços de personalidade, problemas de ordem neurológica, eventuais
situações de stress que estejam vivendo (tanto ao nível do próprio matrimônio quanto
em termos sócioeconômico como desemprego, isolamento social, problemas
financeiros, etc.).
Estas teorias resgatam fundamentalmente a contribuição da criança para o
ato agressivo. Muitas vezes ela apresenta problemas de saúde (retardo mental, motor,
mau formações, prematuridade, enurese, encoprese, distúrbios neurológicos, etc.), que
demandam cuidados intensivos dos pais ou, até mesmo pode ser uma criança com
sérios problemas disciplinares, que a família tenta resolver através da imposição de
violência. (Gelles, 1979).
Mais de dois milhões de crianças brasileiras vivem na miséria absoluta e se
confrontam, dia a dia com um mundo de tragédias pessoais e familiares. O abuso e o
maltrato das crianças é um efeito de fatores sócio-econômicos como: o desemprego (já
citado), a marginalidade e a delinqüência. A delinqüência fala do coletivo, dos modos de
organização da sociedade, e também da singularidade do autor do ato infracional, sua
história pessoal, as violências que o vitimaram, a ruptura com o pacto interno com a lei,
seu sofrimento. (C.F.P., 1997).
Outras, mais aquinhoadas, podem estudar, comer e até se verem cheias de
cursos e atividades no dia a dia, com acesso a tecnologia que as pode beneficiar, mas
também confrontar com tudo o que no mundo, onde sobressaem o consumismo
estimulado, a precariedade de opções no futuro e a dificuldade de relações
interpessoais prazerosas e harmoniosas. Baixa tolerância aos conflitos e frustrações.
(C.F.P., 1997).
Em cinco séculos de história, o Brasil evoluiu econômica e tecnologicamente,
mas perpetua um quadro inaceitável de desigualdade social. É um fenômeno histórico
em nosso país, que se torna transversal na sociedade, isto é, atravessa todas as
classes sociais. (C.F.P., 1997).
Com uma crise econômica acentuada, com elevados índices de
desemprego, a criança e o adolescente pobres são chamados a desempenhar o papel
de contribuidores da renda familiar. O papel da infância e da adolescência dos filhos do
trabalhador pobre continua sendo diferente ao dos pertencentes aos grupos
dominantes. O pobre tem pouca participação futura no desenvolvimento da sociedade.
O pobre está mais no aqui e no agora. A contribuição do pobre está na sobrevivência
imediata dos seus, e não na construção da amanhã, de uma vida melhor, que pertence
aos elementos de uma classe dominante. (Gelles, 1979).
O problema da violência contra a infância não pode ser pensado sem que se
leve em conta à problemática econômico-social, principalmente nos grandes centros
urbanos. Nestes, como já foi dito, a luta pelo poder, a estimulação constante para o
consumo, as explorações do homem convivem com o desemprego, com a fome, com o
aviltamento do trabalho, o anonimato, a sensação de desamparo, com os grandes
contingentes de migrantes marginalizados da estrutura social e ocupacional. (Gelles,
1979).
A combinação destes fatores, mais a presença de estímulos como o álcool e
as drogas produzem as condições estimuladoras que despertam a violência, levando o
homem a comportar-se de forma regredida e primitiva. (Cordeiro, 1986).
O equilíbrio entre as tendências amorosas e construtivas do homem e suas
tendências destrutivas é, às vezes, extremamente frágil e fácil de ser rompido. As
condições econômicassociais que presidem a vida nos grandes centros urbanos
facilitam este rompimento. O social e o psicológico interagem neste cenário de violência
que presenciamos cotidianamente. (Cordeiro, 1986).
Segundo Cordeiro (1986), temos que o agressor seja ele pobre, rico, homem,
mulher, alcoólatra, culto, ignorante, etc., vive no limiar de explosões de violência. Sem
estar preparado para os riscos que implicam em se ter um filho, sente-se acuado diante
das múltiplas exigências que essa criança faz e representa para ele. Exigências que,
além da criança, podem surgir de várias fontes: das expectativas da família, da relação
com o companheiro, da divisão inevitável de tempo e espaço, da energia despendida
na manutenção dos limites mínimos de sobrevivência, das suas próprias expectativas a
respeito de seu desempenho como pessoa e como pai, etc.
A criança acaba se transformando no símbolo das pressões que o agressor
vive e no único objeto sobre o qual ainda pode exercer seu poder. Sua impotência é
descarregada sobre a criança que, no momento, representa seu oponente, alguém que
deve ser vencido, o que, em geral, acontece. (Cordeiro, 1986).
Ainda segundo Cordeiro (1986), o tipo de cultura que nós vivemos contribui
enormemente para isso. Não só por ser geradora de tensões para o indivíduo, como
por conceder aos pais o poder absoluto sobre seus filhos. Aí surge outra fonte profunda
de conflito: esse poder também significa dever. O pai podedeve educar seu filho.
Esse dever pode transformarse em outra fonte de tensão, aumentando o sentimento
de impotência. Esta é uma contradição trágica: o agressor encontra significação
destruindo aquilo que pode gerar.
Num passado, não muito longínquo, cabia ao homem o sustento da família e
o papel profissional, sendo função da mulher o cuidado dos filhos. Hoje, a mulher se
diante de uma sobrecarga de funções, acumulando os cuidados com família e a
atividade profissional, pois ela já constitui uma das fontes de renda da família, atuando
como provedora emocional desta, o que acarreta, sem dúvida, a sua indisponibilidade
para a função materna. A mãe insatisfeita e em conflito em virtude das exigências
sociais e pessoais, além dos problemas de ordem sócio-econômica, talvez o consiga
desenvolver sua função materna. (Guerra, 1993).
Essa condição sócio-cultural é reveladora de um processo destrutivo que
impossibilita a organização do núcleo familiar e debilita relações, impedindo que o
desenvolvimento individual de seus membros seja satisfatório. Pode decorrer daí, por
exemplo, o delito que o adolescente comete diante de muitas situações.
O delito do adolescente revela múltiplas determinações: a distribuição
desigual de rendas e de direitos de cidadania, a precariedade das políticas assistenciais
para a criança, a comunidade de convivência, que não se responsabiliza pelas suas
crianças, a escola expulsiva, os meios de comunicação que banalizam a violência, a
família, que inscrita na mesma base material e cultural da sociedade não é um lugar de
cuidados e fracassa no controle da conduta dos filhos. Muitas vezes o ato infracional do
adolescente pode estar revelando histórias de abandono, de trabalho precoce, de
violência doméstica, de fracasso escolar, de erotização da infância, do uso de drogas,
de ausência de perspectivas para o futuro... Revela a ruptura do pacto social, o
rompimento de valores da coletividade, a existência de uma cultura de violência que
produz esse adolescente também agente de violência. (Gelles, 1979).
5.3 CLASSIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A violência contra a criança que varia da psicológica, que não deixa marcas
no corpo, à agressão física, que pode levar à morte, não é um fato recente, criado no
nosso século. No entanto, apenas alguns anos ela tem sido vista com mais realismo
e merecido as atenções da ciência.
Para Guerra e Azevedo (1993), a violência perpetrada pelos pais contra os
filhos, com fins pretensamente disciplinadores, no exercício de sua função
socializadora, ou com outros objetivos, assume três facetas principais: física, sexual e
psicológica.
A estas, Koller (1998), acrescenta a negligência, que Azevedo acaba por
incluir na violência física. Ao procurar absorver a essência do que estas duas
especialistas tratam acerca dos tipos de violência tem-se:
FÍSICA
O fenômeno da Violência Física Doméstica foi melhor definido
cientificamente em 1962, a partir de um trabalho publicado por F. Silverman e pelo
neuro-pediatra Henry Kemp, da Sociedade de Pediatria dos EUA, no qual apresentam
749 casos (com 78 mortes) de crianças vitimas do que eles batizam, segundo Ruiz
(1981), de Síndrome da Criança Espancada (The Battered Child Syndrome), que
passou a ser referência e fazer parte do CID - Código Internacional da Doença, da
Organização Mundial de Saúde (p.71).
A partir de 1974, passou-se a registrar com freqüência casos de violência
física em que a maior responsável era a família. Falava-se em fome, em miséria, mas,
quando se analisava profundamente os casos, ficava claro que a violência começava
em casa. Cerca de 90 % dos casos de violência contra a criança são praticados por
cidadãos considerados normais pela medicina. (Koller, 1998).
A violência dentro da sociedade brasileira vem atingindo principalmente
crianças e adolescentes pobres de forma cruel e infame. Os assassinatos, torturas e
maus-tratos a que estes são violentamente submetidos têm-se apresentado com um
certo caráter de normalidade. Tais ações não são cometidas de forma individual,
permitindo que a violência seja concebida como um elemento estruturador e
organizador das relações sociais e da suspensão dos conflitos sociais. (Koller, 1998).
Na violência, surgem dois aspectos, um elemento de força física identificável
com seus efeitos, e um outro, mais imaterial, de transgressão vinculada ao dano a uma
ordem normativa. Como dano físico a violência é facilmente identificável; como violação
de normas, quase qualquer coisa pode ser considerada violência. (Koller, 1998).
A intervenção física de um indivíduo ou grupo contra outro grupo (ou também
contra si mesmo) é um sinal de violência. Para que haja violência é preciso que a
intervenção física seja voluntária. Além disso, a intervenção física tem por finalidade
destruir, ofender, e coagir. (Koller, 1998).
Para Koller (1998), a violência física é a forma mais fácil e mais comum de
diagnosticar, visto que está associada a uma forma de punição ou disciplina. Para esta
especialista a punição física pode ser extremamente danosa para a criança do ponto de
vista emocional. Pesquisas nesta área demonstram que esta forma de disciplina conduz
a criança a um estado de extrema confusão, principalmente entre amor e dor, ódio com
submissão. Outras pesquisas, segundo Koller, m enfatizado que agressão gera
agressão.
Torna-se evidente que crianças submetidas à violência física acabam por
agir de igual forma, ou seja, reproduzem com outras crianças e mesmo com adultos o
que foi aplicado a elas. Aprendem que a violência é uma verdade e que o seu uso é
natural. Esta situação é muito complexa, pois estas pessoas poderão se tornar adultos
anti-sociais, além de reproduzirem a mesma violência em seus relacionamentos
afetivos, incluindo a forma de lidar com seus cônjuges e com seus filhos. (Azevedo e
Guerra, 1993).
Segundo Azevedo e Guerra (1993), é violência física quando a coação se
processa através de maustratos corporais (espancamentos, queimaduras, etc.), ou
negligência em termos de cuidados básicos (alimentação, vestuário, segurança, etc.).
Corresponde ao uso de força física no relacionamento com a criança ou o adolescente
por parte de seus pais ou por quem exerce de autoridade no âmbito familiar. Esta
relação de força baseia-se no poder disciplinador do adulto e na desigualdade adulto
criança.
Pode-se acrescentar o que Gelles (1979) define por violência física, que é
considerada como um ato executado com intenção, ou intenção percebida, de causar
dano físico à outra pessoa. O dano físico pode ir desde a imposição de uma leve dor,
passando por um tapa até o assassinato. A motivação para este ato pode ir desde uma
preocupação com a segurança da criança até uma hostilidade tão intensa que a morte
da criança é desejada.
O ABUSO SEXUAL
Segundo Azevedo (1988; 1989; 1993), configura-se como
todo ato ou jogo sexual, relação hétero ou homossexual, entre um ou
mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade
estimular sexualmente esta criança ou adolescente ou utilizálos para
obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa
(p.75).
Para Koller (1998), o abuso sexual é definido como qualquer interação
contato ou envolvimento da criança ou adolescente em atividades sexuais que ela não
compreende, não consente, violando assim as regras sociais e legais da sociedade.
Segundo esta especialista as investidas contra criança começam na mais
tenra idade com um contato físico superficial até, por fim, chegar à penetração total.
Neste tipo de violência as meninas costumam ser as vítimas mais freqüentes
e, via de regra, sofrem violência sexual por pessoas bastante conhecidas, incluindo
entre elas a figura paterna. (Koller, 1998).
A VIOLÊNCIA MORAL E EMOCIONAL: REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS NA
CRIANÇA
Para Azevedo (1993),
a violência é psicológica quando a coação é feita através de ameaças,
humilhações, privação emocional. Apresenta - se sob variadas formas.
Também designada como tortura psicológica, evidencia -se como a
interferência negativa do adulto sobre a criança e sua competência
social, conformando um padrão de comportamento destrutivo (p.13)
Como quando um adulto deprecia uma criança, bloqueia seus esforços de
auto-aceitação, causando-lhe grande sofrimento mental.
Para Koller (1998), este tipo de violência está presente em todas as demais,
podendo variar desde a desatenção até a rejeição total. Por não ser visível é muito
difícil de ser detectada, o sendo comumente localizada nos levantamentos de que se
tem informação.
Garbarino (1992), refere-se ao abuso emocional como uma corrupção que
leva a criança a modelos de conduta não aceitáveis pela sociedade, rejeição,
degradação, exploração, isolamento, terrorismo e indisponibilidade emocional (p.67).
Esta forma de violência psicológica é prejudicial à criança, posto que pode conduzi-las
a conseqüências drásticas como baixa auto-estima, introspecção e depressão.
A violência psicológica apresenta-se associada a outros tipos de violência.
Seis são as formas mais constantemente estudadas (Garbarino e cols.,1992;
Ruiz,1981):
1) Rejeição:- quando o adulto não reconhece o valor da criança nem a legitimidade de
suas necessidades;
2) Isolamento:- o adulto afasta a criança de experiências sociais normais, impede-a de
ter amigos e a faz crer que está só no mundo;
3) Terror:- agressões verbais à criança, onde o agressor instaura clima de medo,
atemoriza e a faz crer que o mundo é hostil a ela;
4) Abandono:- o adulto não estimula o crescimento emocional e intelectual da criança;
5) Cobrança:- expectativas irreais ou extremadas exigências sobre o rendimento
(escolar, intelectual, esportivo), que têm sido mais relacionados com crianças
oriundas de classe média ou alta;
6) Corrupção:- ato de o adulto corromper a criança à prostituição, ao crime ao uso de
drogas.
Como já foi dito o abandono pode ser considerado uma violência psicológica
e pode estar dentro de casa. Para a maioria das pessoas o abandono é sinônimo de
crianças largadas nas ruas ou criadas em entidades assistenciais. No nosso entender o
abandono mais preocupante é o emocional, no qual toda e qualquer criança pode ser
esquecida. Os vínculos afetivos são muito importantes e possibilitam o referencial para
o adulto do futuro. O ser humano precisa de vínculos anteriores para determinar sua
própria vida. (Garbarino e cols.,1992; Ruiz,1981):
Dentro de uma proposta de vida moderna e tendo condições de possibilitar
um equilíbrio financeiro mais satisfatório, muitos pais esquecem seus filhos em
escolas, cursos e outras atividades, impossibilitando a formação de vínculos afetivos de
qualidade. Muitas vezes os pais acreditam que a educação é o bastante para a criação
dos filhos. Estes dados não deixam de constituir uma violência psicológica. (Garbarino e
cols.,1992).
A exploração do trabalho infantil não deixa de ser uma violência psicológica,
muitas vezes inevitável, tendo em vista a complexidade das causas do trabalho infantil,
que podem incluir a pobreza, exploração econômica, valores sociais e circunstâncias
culturais. Sabe-se que o correto seria a garantia da educação gratuita e obrigatória,
além da proteção legal mais ampla. No entanto, o fato da família, na maioria dos casos,
necessitar do trabalho de seus filhos para complementar a renda familiar, faz com que
muito pouco seja feito para reverter este processo. (Floriani, 1998).
Floriani (1998), que também é psicanalista, chama atenção para o fato da
utilização prematura dessa mão de obra trazer conseqüências muito sérias para o
desenvolvimento de garotos. Se esses meninos perdem o direito de brincar,
certamente tornarão adultos com menos capacidades cognitivas e afetivas, argumenta.
Este movimento ainda pretende proteger e promover os direitos de todas as crianças,
principalmente no que diz respeito à educação gratuita e de qualidade e ao
compromisso de libertá-las da exploração econômica.
Fala-se que a exploração do trabalho infantil constitui-se em violência contra
criança, porém, cabe-nos ressaltar que, dependendo do tipo de violência, o
desenvolvimento infantil pode ser prejudicado de forma irreparável. Em muitos casos, a
saúde é afetada de modo geral. As conseqüências podem ser detectadas de diferentes
maneiras, podendo afetar a coordenação resistência física, a visão e a audição. A
dificuldade no aprendizado, por exemplo, a alfabetização, indica a dificuldade do
desenvolvimento cognitivo. (Floriani, 1998).
Para este autor, emocionalmente, a criança pode chegar a perder a auto-
estima e os sentimentos de amor e de aceitação. Perder ou ter reduzido os sentimentos
de identidade de grupo, a habilidade de cooperar com outros e a capacidade de
distinguir entre o certo e o errado, são alguns exemplos de dificuldade do
desenvolvimento social e moral. A sociedade, como estrutura estruturante não pode
mais admitir este tipo de situação, onde crianças são expostas e submetidas às mais
diversas formas de exploração e violência.
Não podemos nos esquecer da pobreza que pode ser entendida como um
tipo de violência. O impacto e as conseqüências psicológicas que a pobreza e a
miséria, como sua forma limite, podem causar na população infanto - juvenil, não
podem ser desprezados, considerando todas as formas de violação de direito que
sofrem as crianças pobres e os que vivem em condições que ultrapassam a linha da
pobreza e os conduzem à miséria. A pobreza e a miséria podem conduzir ao
desentendimento e afastamento natural das pessoas, havendo um distanciamento da
afetividade, tão necessário ara a interação e integração dos membros de uma família.
(Rojas, 1991).
Rojas (1991), define uma forma de violência na família que é, antes de tudo,
violência de um discurso. Designa como discurso familiar os intercâmbios da linguagem
produzidos como circuito grupal. Discurso predominantemente verbal, mas ao mesmo
tempo composto dos elementos não verbais. Assinala como discurso violento àquela
que tem como efeito à anulação do outro como sujeito diferenciado. Define violência
como um exercício absoluto do poder de um ou mais sujeitos sobre outro, não
reconhecido como sujeito do desejo e reduzido, em sua forma externa, a puro objeto.
Ocupou-se de um dos tipos de discurso-violento familiar, ao qual chamou de
sagrado, tratando-se de uns discursos inquestionáveis, caracterizados por certezas
compartilhadas, que impedem as diferenças e a singularidade. É transmitido através
das gerações, tendendo a manter-se tão sólido e estável como os dogmas religiosos e
a perpetuar-se por via de repetição. Carrega assim a marca da irracionalidade e
apodera-se dos sujeitos, restringindo sua liberdade, até a do pensamento. Desta forma,
a família se formula como uma organização estável que tende a preservar seus
integrantes da dor vinculada à consciência da finitude colocando-se como unidade
fusional, fonte de todo amparo e saber. (Rojas, 1991).
A Psicanálise do discurso sagrado tende à remoção da suposta verdade,
penumbra contraposta a todo descobrimento. Trata-se de possibilitar que aquilo que se
repete perca sua univocidade quer dizer, possua pelo menos dois significados
diferentes.
O discurso sagrado apresenta a palavra não no lugar do ato violento, mas,
sim, ela mesma, em função violenta, separando o sujeito do seu desejo e empurrando
cada integrante da família para um lugar fixo e imutável. Esta palavra configura um ato
de violência psicológica.
NEGLIGÊNCIA FAMILIAR
Azevedo (1993), inclui esta forma de violência na condição de violência
física, já mencionada anteriormente. Para Koller (1998), a negligência constitui-se
numa falha dos pais nos cuidados com seus filhos seja na assistência ou no suprimento
das necessidades básicas da criança, como saúde, alimentação, respeito, afeto e
educação.
Compreende-se por negligência o fato da família se omitir em prover as
necessidades físicas e emocionais de uma criança ou adolescente. Configura-se no
comportamento dos pais ou responsáveis quando falham em alimentar, vestir
adequadamente seus filhos, medicar, educar e evitar acidentes. Tais falhas só podem
ser consideradas como abusivas quando não são devidas à carência de recursos sócio-
econômicos (Azevedo e Guerra, 1988).
A negligência acaba por ser responsável por mais de 50% dos casos em que
a violência é notificada. Koller (1998), ainda se refere à negligência como um grave
problema de saúde pública, que deve ser acompanhado de perto por uma equipe
multiprofissional, acreditando que os efeitos deste tipo de violência, a longo prazo, pode
ser mais nocivo à criança.
5.4 REPERCUSSÕES PARA A CRIANÇA: EFEITOS DO PACTO DO SILÊNCIO
SOBRE A VIOLÊNCIA NA FAMÍLIA
No que se refere ao âmbito familiar, a Psicologia Social vem questionando os
esteriótipos a respeito da família, principalmente no que tange às famílias de classes
populares tidas como desorganizadas, com pais pouco afetivos, violentos,
desinteressados por seus filhos.
Pesquisas apontam o contrário a esse respeito; a luta pela sobrevivência, a
ajuda da vizinhança, a luta pela escolarização de seus filhos dentre outras questões
(Mello, 1998). Tem-se detectado que os pais de crianças pobres têm procurado a ajuda
de especialistas na tentativa de resolução de suas dificuldades, enfrentando, no geral,
dias, semanas, meses, aguardando em longas filas de espera ou passando por
diversos encaminhamentos até conseguir um atendimento em um serviço escola ou
público da saúde mental. Parece tratar-se de preocupação com as crianças e de busca
de melhores condições de vida e de saúde nas classes populares.
Krestan e Bepko (1994) referem-se aos segredos e silêncio que ocorrem na
dinâmica familiar. Afirmam que as crianças podem manter segredos letais relacionados
a incesto ou abuso sexual, que configuram a violência praticada contra seres indefesos,
fazendo com que cada vez mais a família avance para níveis mais profundos de
disfunção, fazendo com que a necessidade de manter o segredo torne-se mais
vigorosa, já que a ameaça de desabar torna-se demasiadamente forte. Os membros da
família sabem que jamais devem revelar o segredo do problema a qualquer um de fora
ou mesmo a cada um de dentro da família.
A manutenção desses segredos alimenta a negação: o que está escondido
não existe realmente e não precisa ser discutido.
O silêncio impera na vida familiar. O segredo emocional entre e dentro dos
membros da família torna-se a norma. Black (1981), comenta sobre esta dinâmica ao
referir-se pela primeira vez às mensagens do não falar, confiar ou sentir que
predominam na família adictiva. O segredo ou a negação é mantido pelo silêncio.
Todos os membros da família retraem-se emocionalmente uns dos outros. No processo,
a capacidade para a mútua satisfação das necessidades e para o crescimento tem seu
desenvolvimento paralisado. A família oscila entre extremos de profundo silêncio e falta
de engajamento e períodos de extrema reatividade que mascaram a emoção autêntica.
Uma emoção é expressa como algo mais: a raiva torna-se violência, a
tristeza torna-se cólera, o medo torna-se fúria, o desespero torna-se uma profunda
necessidade de controlar, a dependência torna-se vergonha. Os sentimentos reais
tornam-se escondidos e nãomanifestados.
As famílias desenvolvem o processo de negação tanto interna como
interacionalmente e o segredo é mantido em muitos locais e por muitas dinâmicas
diferentes. A violência pode ser negada por um ou mais membros da família. (Krestan e
Bepko, 1994).
À medida que a família luta para manter o problema em segredo, ocorre o
aumento no isolamento social. A autoestima na família é corroída, e uma atmosfera
crescente de vergonha e medo contribui para um maior silêncio. Eventualmente
tentativas para controlar os problemas são abandonadas, e o cônjuge e os filhos
reorganizam-se como uma unidade, da qual o agressor é excluído. O problema jamais é
discutido, ou é reconhecido apenas entre certas díades na família, com o resultado da
formação de intensos triângulos, abalando ainda mais a estabilidade familiar. (Krestan e
Bepko, 1994).
Krestan e Bepko, (1994), afirmam que os membros da famíliaassumem um
posicionamento de Não falar sobre o comportamento problemático, o que dificulta os
recursos de relacionamento e mantém os segredos. O segredo priva a família de
informações que lhe permitiria assumir uma ação. Em algumas famílias, a exigência por
segredo é uma extensão de regras ou padrões entre as gerações e pode ser afetada
pelas normas étnicas ou culturais.
As pessoas escondem informações porque sentem que seria desleal ou uma
traição expô-las. Em famílias em ascenção social, a emotividade frequentemente é
altamente contida, a presença de um segredo vergonhoso apenas intensifica o silêncio.
As pessoas estão sendo seriamente privadas de seu próprio senso de self. (Krestan e
Bepko, 1994).
Dentro de um trabalho de atendimento psicológico, a situação não é
diferente, nem menos grave. No caso específico de atendimento infantil, os pais
buscam atendimento na firme intenção de encontrar ajuda para alguma queixa que
julgam significativa e, muitas vezes, sentem-se incapazes de lidar com a situação de
crise, já instalada.
Quando uma criança é conduzida a um trabalho de atendimento psicológico,
em geral, carrega uma queixa específica. Algo incomoda seus pais, que realizaram sua
inscrição para atendimento psicológico. No relato, a queixa surge espontaneamente.
Os pais acreditam que o que apresentam como queixa é realmente o motivo pelo qual
se dirigem ao processo de tratamento. Não estão preparados para se depararem com
seus próprios conflitos, deslocados para as pessoas de seus filhos. (Segre, 1997).
É freqüente ocorrerem desistências por parte dos pais, encontrando muitas
justificativas para poderem encobrir a realidade dos fatos, ou seja, não se sentem
preparados para romperem ou para se depararem com os segredos da família. (Krestan
e Bepko, 1994).
É fato que muitas situações, ao longo do atendimento, não são
mencionadas. As situações de violência também são tidas como inatingíveis. Ninguém
fala a respeito. O paciente, seus pais, o estagiário que efetua o atendimento, o
supervisor tecnicamente responsável pelo caso, ninguém parece detectar a violência
propriamente dita.
De forma consciente todos demonstram muito interesse em lidar com os
conteúdos mais profundos dos pacientes, porém poucos são os que conseguem
transpor a regra já instituída. A família parece estar protegida por uma imensa couraça,
que permite que algo seja feito, desde que o que está previamente estabelecido não
sofra qualquer condição de ameaça.
Como há um pacto de silêncio a violência pode não estar implícita na queixa
que vem trazendo a criança para a clínica. O pacto do silêncio acaba sendo um
problema da sociedade. O terapeuta faz parte da sociedade. Nesta ordem, O próprio
terapeuta pode, inconscientemente, não captar a violência. A violência não captada é
expurgada do foco, o que, certamente, trará influência na psicoterapia.
5.5 UMA PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO PARA OS TIPOS DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA
Quando é possível avaliar a ocorrência da violência doméstica, pode-se ater-
se ao seu modo de funcionamento e à intensidade de sua interferência na dinâmica
familiar. Para tanto, avalia-se a freqüência e o grau de conflitividade da ocorrência da
violência doméstica, levando-se em conta seus tipos, com o propósito de sua
caracterização.
A violência física, designada como um dos tipos de violência, ocorre com
maior freqüência e é mais facilmente identificada, face aos danos que pode causar às
pessoas, embora nem sempre possa ser percebida claramente. A violência física é vista
por Koller (1998), como o tipo mais fácil e mais comum de ser diagnosticada, estando
associado a uma forma de punição ou disciplina.
Segundo Azevedo (1993), ocorre violência física quando a coação se
processa através de maus-tratos corporais (espancamentos, queimaduras, etc.), ou
negligência em termos de cuidados básicos (alimentação, vestuário, segurança, etc.).
Corresponde ao uso de força física no relacionamento com a criança ou o adolescente
por parte de seus pais ou por quem exerce autoridade no âmbito familiar.
A violência física é considerada, segundo Gelles (1979), como um ato
executado com intenção real, ou intenção percebida pelo outro, de causar dano físico à
outra pessoa. O dano físico pode ir desde a imposição de uma leve dor, passando por
um tapa até o assassinato.
Outro tipo de violência é a sexual que, segundo Azevedo (1993), configura-
se como:
todo ato ou jogo sexual, relação hétero ou homossexual, entre um
ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por
finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente ou
utilizálos para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de
outra pessoa (p.75).
Para Koller (1998), o abuso sexual é definido como qualquer interação,
contato ou envolvimento da criança ou adolescente em atividades sexuais que ela não
compreende, com as quais ela não consente, violando assim as regras sociais e legais
da sociedade.
O terceiro tipo de violência é a psicológica, que pode apresentar-se sob
variadas formas. Segundo Azevedo (1993), a violência é psicológica quando a coação
é feita através de ameaças, humilhações, privação emocional. Também designada
como tortura psicológica, evidencia -se como a interferência negativa do adulto sobre
a criança. A violência psicológica também pode ser demarcada quando um adulto
deprecia uma criança, bloqueia seus esforços de auto - aceitação, causando-lhe grande
sofrimento mental.
Para Koller (1998), este tipo de violência está presente em todas as demais,
podendo variar desde a desatenção até a rejeição. Segundo Garbarino, (1988), são
seis as formas mais constantemente estudadas: Rejeição, Isolamento, Terror,
Abandono, Cobrança, Corrupção.
Por fim, tem-se a negligência que, para Koller (1998), constitui-se numa falha
dos pais nos cuidados com seus filhos, seja na assistência ou no suprimento das
necessidades básicas da criança, como saúde, alimentação, respeito, afeto e
educação. Compreende-se por negligência o fato da família se omitir em prover as
necessidades físicas e emocionais de uma criança ou adolescente.
Os capítulos sobre Entrevista Psicológica, Violência Doméstica e
Psicoterapia Breve foram escritos para dar sustentação teórica ao trabalho. Os temas
centrais abordados, Violência Doméstica e Psicoterapia Breve, a princípio parecem
constituir pólos antagônicos. No entanto, podem, em um dado momento, compartilhar
um mesmo processo, já que a especificidade da técnica de Psicoterapia Psicodinâmica
Breve supõe dispor de recursos específicos bastante adequados para lidar com
situações onde são evidenciados sinais de violência, sobretudo violência doméstica.
PROBLEMA E OBJETIVOS DA PRESENTE PESQUISA
PROBLEMA
O problema do presente estudo refere-se às interferências da violência
doméstica na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil. O atendimento em
Psicoterapia Breve exige que o terapeuta estabeleça um papel ativo, que avalie a
situação do paciente, compreenda a essência de sua problemática, elabore um plano
de abordagem, sempre levando em conta a duração do trabalho, dentro de uma
flexibilidade que permita se adequar à necessidade de cada quadro clínico. O terapeuta
deverá estar alerta aos sinais de violência doméstica apresentados pela criança, na
fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil.
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Investigar a presença de dados inferidos sobre violência doméstica na fase diagnóstica
da Psicoterapia Breve.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Investigar, nos casos em que se observa a violência doméstica num grau de
intensidade significativo, em quantos deles ela se mostra relevante para a
compreensão do quadro clínico apresentado pelo paciente, na fase
diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil.
b) Investigar com que freqüência observa-se a violência doméstica na dinâmica
familiar, na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil, através das
seguintes formas de manifestação: física, sexual, psicológica e negligência.
c) Investigar, nos casos em que se observa a violência doméstica, em quantos
deles ela foi incluída, pelo terapeuta, na queixa, bem como na compreensão
psicodinâmica da mesma e no foco.
CAPÍTULO VI
A CLÍNICA ESCOLA ONDE FOI REALIZADA A PESQUISA
6.1. LINHA DE TRABALHO
Na Clínica Psicológica onde foi realizada a pesquisa os estágios se norteiam
por uma concepção básica sobre a forma de atuação do psicólogo, ou que seja, até
mesmo à luz de uma filosofia sica de ação, inclusive quanto ao tipo de profissional
que se pretende formar, conforme vem explicitado nos seguintes aspectos:
1) Em relação ao estagiário
a) Proporcionar ao aluno condições de ter reais e efetivas experiências profissionais,
devidamente refletidas.
b) Embora não se despreze o fator intensidade e/ou profundidade da experiência, o
que se pretende não é, em primeiro lugar, levar o aluno a se centralizar numa
única experiência, mas a vivenciar uma diversidade maior de situações. Trata-se
de curso de formação e não de especialização.
c) Dar ao aluno uma visão de Psicologia Clínica menos elitista, talvez até menos
pretensiosa, e mais condizente com a realidade de nossa comunidade.
d) Desenvolver no aluno uma atitude favorável e um preparo técnico adequado ao
atendimento de pessoas que, por condições culturais e sócio - econômicas, ficam
à margem da assistência psicológica.
e) Desenvolver no aluno uma atitude preventivista.
2) Em relação à comunidade
a) Em termos dos estágios a serem oferecidos e dos serviços a serem prestados, a
clínica tem como preocupação básica o atendimento às necessidades da
comunidade.
b) Sem desconsiderar a qualidade do trabalho e, inclusive, dentro do enfoque
preventivista, estender tais serviços a um maior número possível de clientes.
6.2. VARIÁVEIS SÓCIO DEMOGRÁFICAS DOS PARTICIPANTES
A referência feita ao trabalho realizado em uma clínica-escola possibilita um
esclarecimento acerca dos procedimentos que conduzem um paciente, a partir do
momento da inscrição, aos serviços psicológicos.
Messer e Warren (1995), sugerem uma atenção cuidadosa na seleção de
pacientes que possam se beneficiar do trabalho em Psicoterapia Breve. Estes
pacientes necessitam de uma organização egóica e, segundo Oliveira (1999), Messer e
Warren dão ênfase à importância da experiência real do paciente na relação
terapêutica (p.11), de modo a possibilitar ao paciente lidar adequadamente com as
intervenções feitas pelos terapeutas, já que estes têm um papel bastante ativo.Da
mesma forma deverá proceder uma seleção de terapeutas com condições pessoais e
técnicas, e com motivação para o trabalho.
Szajnbok (1997), refere-se ao paciente ideal para a Psicoterapia Breve
como sendo um neurótico, inteligente e auto-reflexivo, no qual a
demanda (discurso explícito, consciente, expresso na chamada
motivação para mudança) se articule ao desejo (inconsciente, referente
à situação edípica, expresso na transferência), de modo que ambos se
refiram a um ponto específico de estrutura (foco), passível de ser
trabalhado dentro das limitações de tempo e dos demais aspectos
conjunturais a que estamos submetidos (p.51).
O paciente que busca atendimento psicológico em uma clínica-escola, em
geral, é desprovido de recursos financeiros que possibilitem subsidiar seu tratamento.
As condições sócio-econômicas a que estão expostos geralmente são
precárias, constituindo uma realidade própria, distante do que se supõe necessário para
a organização e integração de um indivíduo no contexto social.
A realidade da clínica-escola da Universidade Guarulhos não é diferente. Via
de regra, são pessoas que residem em bairros periféricos, com baixa renda, com nível
mínimo de instrução, apresentando precárias condições de subsistência. Muitas vezes,
são jogadas de instituição em instituição, na busca de uma vaga, difícil de ser
conseguida.
Sem nenhum esclarecimento, mal sabem dizer o que os trouxe à clínica, ou
por que alguém os teriam encaminhado. Tratam-se de pessoas carentes, que buscam
na orientação psicológica uma forma de melhor direcionar suas vidas.
6.3. OS ATENDIMENTOS EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL REALIZADOS
EM 2006
Ao longo do ano de 2006, na Clínica-escola de Psicologia da Universidade
Guarulhos, 67 crianças foram atendidas em Psicoterapia Breve Infantil, assim como
seus pais foram trabalhados em um processo de Orientação de Pais. Deste total, 30
tiveram seus atendimentos concluídos, 25 foram reconduzidas à Psicoterapia Breve
Infantil, a maioria com proposta de um novo foco a ser trabalhado e 12 pacientes foram
encaminhados a outras instituições, para um trabalho de duração prolongada.
CAPÍTULO VII
MÉTODO
7.1. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DOS PARTICIPANTES
A amostra da presente pesquisa constituiu-se a partir das 67 crianças que
foram atendidas em Psicoterapia Breve Infantil (P.B.I.) durante o ano de 2006, na
Clínica-escola de Psicologia da Universidade Guarulhos. Foram sujeitos da amostra
todos os pacientes que tiveram seus atendimentos considerados concluídos por alta,
num total de 30. Das 37 crianças que não concluíram o atendimento e que, portanto,
não foram incluídas na amostra, 25 foram reconduzidas para atendimento em
Psicoterapia Breve Infantil, com proposta de delimitação de um novo foco, e 12 foram
encaminhadas para outras instituições com proposta de atendimento a longo prazo.
Dos 30 pacientes que integram a amostra, 16 são do sexo feminino e 14 são
do sexo masculino. Os 16 sujeitos do sexo feminino estão com idades que variam de 05
a 12 anos, partindo de crianças sem escolaridade até as que cursavam o ano do
Ensino Fundamental. Os 14 sujeitos do sexo masculino têm idades que variam de 05 a
10 anos, com escolaridade que corresponde da Educação Infantil até o ano do
Ensino Fundamental.
Quanto à idade dos sujeitos da amostra, considerou-se a idade completa da
criança até cinco meses, arredondando-se para um ano acima, para as crianças com
idade igual ou superior a seis meses, por exemplo: uma criança de sete anos, é
considerada entre 6,6 a 7,5 anos, uma criança de oito anos, entre 7,6 a 8,5
anos.
Quanto à escolaridade, os sujeitos da amostra encontram-se numa faixa que
vai do nível da Educação infantil ao ano do Ensino Fundamental, estando
distribuídas da seguinte forma: 02 na Educação Infantil, 06 no ano, 02 no ano, 09
no 4º ano, 03 no ano, 05 no ano, 01 no ano, estando duas crianças sem
escolaridade.
No quadro I, a seguir, pode se verificar a constituição da amostra de acordo
com a idade, escolaridade e o sexo.
Quadro I
Distribuição da Amostra quanto ao sexo, idade e escolaridade
Idade Escolaridade Feminino
Masculino
TOTAL
05 S/escolaridade.
02 00 02
05 Ed. Infantil 01 01 02
06 2º ano 00 01 01
07 2º ano 01 04 05
08-09 3º ano 00 02 02
08-10 4º ano 05 04 09
10-12 5º ano 02 01 03
10-11 6º ano 04 01 05
12 8º ano 01 00 01
T O T A L 16 14 30
Quanto à queixa, quando um paciente recorre a um trabalho de
acompanhamento psicoterápico, é presumível que tenha uma ou várias, que se refere
ao motivo da consulta, que muitas vezes se transforma no eixo do trabalho.
Quanto à compreensão psicodinâmica da queixa, vimos como significativo
investigar a queixa de forma mais completa e conhecer a história, tanto da criança
quanto de seus pais, sempre buscando uma compreensão do funcionamento psíquico
do paciente. Esta etapa visa avaliar a queixa e entender a dinâmica da criança e de
seus pais (história), para que se tenha uma compreensão mais integrada do quadro
clínico do paciente. Trata-se de um momento de vital significado na compreensão da
sintomatologia do quadro clínico do paciente.
Quanto ao foco, considerou-se como o ponto central a ser trabalhado, o
objetivo central do terapeuta, é o que sustentação a todo processo de tratamento
psicoterápico e quanto mais delimitado o foco, maior é a chance de sucesso da terapia.
No caso do atendimento em Psicoterapia Breve Infantil, o foco é a área de
intersecção, uma área de conflito pertencente aos pais e à criança, manifestada como
um sintoma na criança a partir da relação que se estabelece com os pais.
O tempo médio da terapia (P.B.I.) a que foram submetidos os sujeitos da
pesquisa, foi de 03 meses, o que corresponde, aproximadamente a 12 sessões, tendo
sido o atendimento realizado semanalmente.
7.2. CRITÉRIOS UTILIZADOS NA ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DA VIOLÊNCIA
E DA FORMA COMO ELA FOI ABORDADA NO TRATAMENTO CLÍNICO.
Para a definição dos critérios de análise da violência doméstica, tomou-se
por base a sua compreensão e caracterização para fins da presente pesquisa,
conforme consta do capítulo V, item 5.5, página 89. A análise foi feita a partir de uma
leitura criteriosa dos relatórios dos atendimentos realizados na fase diagnóstica da
Psicoterapia Breve Infantil, orientando-se por um roteiro, que contém as seguintes
questões e na seguinte ordem:
1ª) A violência está presente na dinâmica familiar? Se estiver, assinale a sua categoria:
F (física), P (psicológica), S (sexual), N (negligência). Em caso negativo, ficaram
prejudicadas as questões seguintes. Em caso afirmativo, deu-se prosseguimento à
análise, nos seguintes termos:
2ª) A violência doméstica foi significativa para o quadro clínico do paciente?
3ª) A violência doméstica foi incluída na queixa?
4ª) A violência doméstica foi incluída na compreensão psicodinâmica da queixa?
5ª) A violência doméstica foi incluída no foco?
Para a análise da ocorrência da violência doméstica, de acordo com as
questões definidas acima, utilizaram-se dois juízes. No caso de discordância entre os
dois, recorreu-se a um terceiro, mantendo-se a opinião sobre a qual houve acordo entre
dois juízes. A escolha dos juízes se deu mediante a qualificação profissional específica
de cada um que, antes de mais nada, está vinculada à técnica de Psicoterapia Breve
Infantil. Um dos juízes (Juiz A) atua como supervisor de estágio em Psicoterapia Breve
Infantil em clínicas-escola. O segundo juiz (juiz B) é supervisor de estágio na disciplina
de Exploração e Diagnose em Psicologia Clínica, etapa que antecede a Psicoterapia
Breve, que pode corresponder à fase diagnóstica, mencionada e utilizada na realização
dentro deste trabalho. O terceiro juiz (Juiz C), convidado a intervir somente nos casos
de discordância entre os juizes A e B, é supervisor de Estágio em Psicoterapia Breve
Infantil em Clínicas-escola.
Os juízes receberão instruções quanto ao preenchimento de uma planilha,
para lançamentos dos dados da análise. Na primeira coluna da planilha, serão lançados
os dados da ocorrência da violência doméstica, na segunda coluna, os dados
computarão se a violência doméstica na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil
detectada foi significativa, na terceira coluna, serão lançados os dados da violência
doméstica que foi incluída na queixa, na seqüência, na quarta coluna, lançar-se-ão os
dados da violência doméstica que foi incluída na compreensão psicodinâmica da queixa
e, por fim, na quinta coluna, serão lançados os dados da violência doméstica que foi
incluída no foco trabalhado no processo terapêutico.
Procurou-se detalhar aos juizes o conceito de violência, bem como o
conceito e abrangência da violência doméstica. A explanação foi feita oralmente em dia
e horário previamente agendados com os juízes.
Explicitou-se aos juízes que a violência é associada à agressividade
instintiva, que nasce da agressividade do homem, surge como uma conseqüência do
conflito de interesses. Torna-se um instrumento utilizado pelo homem para organizarem
os conflitos. Pesquisadores que estudam a relação violência-saúde têm definido a
violência como um fenômeno gerado nos processos sociais, levando as pessoas a se
agredirem mutuamente, a se dominarem, a tomarem à força a vida, o psiquismo, os
bens e/ou patrimônio alheio. Existe uma violência estrutural, que se apóia cio-
econômica e politicamente nas desigualdades, apropriações das classes e grupos
sociais; uma violência cultural que se expressa a partir da violência estrutural, mas a
transcende e se manifesta nas relações de dominação raciais, étnicas, dos grupos
etários e familiares; uma violência da delinqüência, que se manifesta naquilo que a
sociedade considera crime, e que tem que ser articulada, para ser entendida, à
violência da resistência que marca a reação das pessoas e grupos submetidos e
subjugados por outros, de alguma forma.
A violência se manifesta como violência fundamental porque se refere aos
fundamentos de toda estrutura da personalidade. A violência ocorre em todos os
ambientes, em todas as épocas e em todas as relações, surgem dos registros latentes
e das angústias criadas pelas lacunas, pelos fracassos, pelas carências e pelas
impossibilidades de elaboração mental.
Neste estudo, a violência se ateve a um roteiro de critério de análise, o qual
obedece aos objetivos específicos definidos no capítulo VI, página 80, bem como as
questões acima formuladas. Vem a seguir o roteiro de critério de análise.
7.3 PROTOCOLO PARA CLASSIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Pacientes que apresentaram Violência Doméstica Considerar que houve violência
doméstica quando se observa com relativa persistência ou, ainda que poucas vezes,
mas com intensidade significativa, a ocorrência de condutas violentas, entre marido e
mulher, ou entre pais e filhos, que impliquem alguma forma de ação intencional de
causar dano à outra pessoa. Estas condutas devem ser classificadas numa das
seguintes modalidades: Física, Sexual, Psicológica e Negligência. Somente as iniciais
do tipo de violência doméstica deverão ser incluídas na planilha para lançamento dos
dados da análise da referida violência, ou seja, F, S, P, N.
Violência Corporal: Corresponde ao uso da força física no relacionamento entre pais,
dos pais com a criança ou adolescente. Maus-tratos corporais
(espancamentos, queimaduras, etc).
Violência por Conduta
Sexual Impulsiva: Todo ato ou jogo sexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou
adolescente, com o propósito de estimular sexualmente esta
criança ou o adolescente ou utilizá-los para obter estimulação sobre
sua pessoa ou de outra pessoa.
Violência por assédio
psicológico e moral: Varia desde a desatenção até a rejeição total.Isolamento,
abandono, terror, cobrança, corrupção. Coação feita através de
ameaças, humilhações, privação emocional.
Negligência: Falha dos pais nos cuidados com os filhos seja na assistência ou no
suprimento das necessidades básicas da criança: saúde, alimentação,
vestuário, segurança, respeito, afeto e educação.
Ocorrência da Violência Doméstica significativa: Considera-se a violência doméstica
significativa para o quadro clínico quando, independentemente do paciente -la
explicitado ou não,-la incluído na queixa ou não, verifica-se que a violência doméstica
teve reflexo no quadro clínico apresentado pelo paciente no atendimento que está
sendo objeto de análise.
Inclusão da Violência Doméstica na queixa: Considera-se a violência doméstica
incluída na queixa quando o paciente explicita esta violência na sua queixa, como
fazendo parte dela ou como sendo objeto da queixa ou estando associada ao núcleo da
sua queixa. A análise é feita a partir das primeiras entrevistas realizadas pelo estagiário
e não a partir da folha de encerramento.
Inclusão da Violência Doméstica na compreensão psicodinâmica da queixa:
Considera-se que houve inclusão da violência doméstica na compreensão
psicodinâmica da queixa quando esta violência fizer parte integrante da compreensão
que o estagiário e o supervisor tiveram da queixa, conforme consta da folha de
encerramento.
Inclusão da Violência Doméstica no foco: Considera-se que houve inclusão da
violência dostica no foco, quando esta violência doméstica que se pretendeu
trabalhar, foi explicitamente incluída no foco, conforme consta da folha de
encerramento, nos termos em que o foco se encontra definido.
Tendo sido prestados todos os esclarecimentos necessários, um dos juizes
(juiz A) recebeu a remessa de 30 prontuários a serem analisados, constando, em cada
um deles, a ficha de inscrição do paciente, a entrevista de triagem, as entrevistas que
compõem a fase diagnóstica e a folha de encerramento. Assim que o juiz A entregou a
análise dos 30 prontuários, procedeu-se a entrega da remessa ao juiz B. Constatadas
as divergências entre os juizes A e B, o juiz C foi convidado a dar seu parecer sobre os
prontuários em que foram pontuadas as discordâncias.
7.3. PROVIDÊNCIAS ÉTICAS
Para a realização desta pesquisa as providências éticas estão diretamente
relacionadas ao sigilo profissional em que impliquem garantir e preservar a identidade
dos trinta pacientes que constituíram a amostra.
Os pacientes foram identificados por números.
CAPÍTULO VIII
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Conforme previsto no capítulo sobre Método, todos os sujeitos tiveram seu
material (entrevistas diagnósticas) analisado pelos juízes A e B. Nos casos em que
houve discordância entre esses dois juízes, ainda que em uma questão, o material
também foi analisado por um terceiro juiz, (juiz C). Considerou-se nesses casos, para
fins de tabulação dos resultados, o julgamento em cada uma das questões propostas
sobre o qual houve acordo entre dois juízes.
Os resultados gerais de todas as análises feitas pelos juízes podem ser
vistos no quadro II, página 104. O quadro é apresentado em 05 colunas, referentes aos
dados levantados na análise feita pelos juízes.
Os lançamentos dos resultados gerais no Quadro II, se fez de acordo com os
seguintes critérios:
1) Na primeira coluna, foram lançados os dados de violência doméstica analisados
pelos juizes A e B (em casos de discordância, foram incluídas as análises do juiz
C). Para estes dados, utilizaram-se as siglas: F,P,N,S, para os tipos de violência
doméstica detectados, a saber, respectivamente: física, psicológica, negligência
e sexual.
2) Na segunda coluna, foram lançadas as letras S ou N, conforme o juiz tenha
considerado a violência doméstica como significativa (S) ou não (N).
3) Na terceira coluna, foram lançadas as letras S ou N, para os casos em que se
considerou que houve ou não inclusão da violência doméstica na queixa.
4) Na quarta coluna, foram lançadas as letras S ou N, para os casos em que se
considerou que houve ou não inclusão da violência doméstica na compreensão
psicodinâmica da queixa.
5) Na quinta coluna, foram lançadas as letras S ou N, para os casos em que se
considerou que houve ou não inclusão da violência doméstica no foco.
QUADRO II: RESULTADOS GERAIS DE TODAS AS ANÁLISES FEITAS PELOS
JUÍZES A, B e C .
CASO
VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA
VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA
SIGNIFICATIVA
INCLUSÃO
NA QUEIXA
INCLUSÃO NA
C.P.Q.
INCLUSÃO
NO FOCO
A B C
A B C
A B C
A B C A B C
01
F F S S S S N N N N
02
P,N P,N P,N
S S S N N N N N N S N S
03
F,P,N F,P,N S S N N N N N N
04
F,P,N F,P,N S S N N S S N N
05
- - - - - - - - - -
06
P,N P,N N N N N N N N N
07
P P N N N N N N N N
08
P,S,N P,S,N S S N N N N N N
09
P,N P,N F,P,N N N S N N N S N N N N N
10
P P N N N N N N N N
11
P P N N N N N N N N
12
- - - - - - - - - -
13
P,N P,N
N N N N N N N N
14
P,N P,N S S N N S S N N
15
P,N P,N S S N N S S N N
16
P,N P,N N N N N N N N N
17
P,F P,F N N N N N N N N
18
P,N P,N F,P S N S N N N N S N N N N
19
P,N P,N F,P,N S S S S N S S S S N N N
20
- - - - - - - - - -
21
- - - - - - - - - -
22
P,N P,N S S N N N N N N
23
P P N N N N N N N N
24
- - - - - - - - - -
25
P P N N N N N N N N
26
P P N N N N N N N N
27
P - P N - S N - N N - N N - S
28
F,P F,P S S S S S S N N
29
P P S S S S S S S S
30
F,P,N F,P,N S S S S S S N N
Legenda da coluna Violência Doméstica:
F: violência física; P: violência psicológica; S: violência sexual; N: negligência.
Obs: onde não consta nenhum tipo de violência é porque na análise feita pelos juízes,
não foi detectada a ocorrência de violência doméstica).
Legenda das demais colunas: S: sim; N: não.
Pode-se considerar que houve boa consistência entre as análises dos dois
juízes, havendo concordância em 25 dos 30 casos analisados. As discordâncias entre
os 05 sujeitos ocorreram da seguinte forma: uma, na inclusão da violência doméstica no
foco; duas, na inclusão da violência doméstica na compreensão psicodinâmica da
queixa; uma, ao se constatar se a violência doméstica foi significativa; uma, na inclusão
da violência doméstica na queixa e uma, ao se verificar se houve violência doméstica,
totalizando 06 discordâncias, em 05 casos analisados. Observa-se, portanto, que foi
baixo o índice de discordância, além do que, não houve nenhuma tendência, maior ou
menor, em termos de predomínio de discordância em nenhum dos dados analisados.
Quanto à presença do tipo de violência doméstica, houve discordância em
apenas um caso, no que se refere à inclusão da violência doméstica do tipo psicológico
no caso de número 27. Cabe agora uma observação especial quanto a este caso.
Enquanto o Juiz A entendeu haver violência doméstica do tipo psicológico, o Juiz B não
detectou haver violência dostica. Recorreu-se ao Juiz C que julgou haver violência
doméstica psicológica, portanto o julgamento a ser computado é o de violência
doméstica do tipo psicológico, conseqüentemente, a partir daí, teríamos dois
julgamentos (os dos juízes A e C). O julgamento do Juiz B não pode mais ser levado
em conta em termos de concordância ou o, ou seja, as demais questões estão
prejudicadas para este juiz, uma vez que, na primeira, ele não reconheceu a existência
da violência doméstica. Ocorre que, entre os juizes A e C houve discordância quanto a
dois dos outros quatro aspectos analisados. Frente a esta situação, julgou-se
necessário desconsiderar o sujeito de número 27,que se inviabiliza aplicar-se a ele o
critério de se adotar para o cômputo o julgamento, em cada uma das questões, sobre a
qual houve acordo entre dois juízes.
A partir do Quadro II, os resultados foram tabulados e estão lançados nas
Tabelas I e II (p. 106). De se lembrar que, face à exclusão do sujeito de número 27,
pelos motivos acima apresentados, a amostra passou a se compor de 29 sujeitos. Os
resultados das Tabelas I e II também podem ser visualmente observados no Gráfico I
Distribuição dos dados conforme itens analisados (p. 107).
TABELA I: TABULAÇÃO PARCIAL DOS RESULTADOS
S (sim) N (não) %
Presença de Violência Doméstica 24 05 83
Presença de Violência Doméstica
Significativa
13 16 45
54
Violência Doméstica incluída na queixa 05 24 17
21
Violência Doméstica incluída na com- 07 22 24
preensão psicodinâmica da queixa 29
Violência Doméstica incluída no foco 02 27 07
08
TABELA II: TABULAÇÃO GERAL DOS RESULTADOS
Porcentagem
Freqüências
Questões Analisadas
(Vari
áveis estudadas)
Freq.
Bruta
Em rel. ao
total de
pacientes
(N=29)
Em rel. aos
casos de
presença de
V.D.*¹
(24 casos)
Em rel. aos
casos de
pres. de
V.D.S.*²
(13 casos)
Presença de Violência Doméstica 24 83% - -
Presença de Violência Doméstica
13 45% 54% -
Significativa
Violência Doméstica incluída na queixa
(pelo paciente)
05 17% 21% 38%
Violência Doméstica incluída na com
-
preensão psicodinâmica da queixa
(pelo terapeuta)
07 24% 29% 54%
Violência Doméstica incluída no foco
(pelo terapeuta)
02 07% 08% 15%
*¹ V.D. Violência Doméstica
*² V.D. S. Violência Doméstica Significativa
Gráfico I
Distribuição dos dados conforme itens
analisados
29 (100%)
24 (83%)
13 (54%)
Inclusão da
violência
na queixa
(pelo
paciente).
Inclusão da vio-
lência na com-
preensão/queix
a (pelo
terapeuta).
Inclusão da
violência
no foco
(pelo
terapeuta).
Tendo como base a análise realizada pelos dois juizes e a partir da
tabulação geral dos resultados apresentada na Tabela II, observa-se que a ocorrência
da violência doméstica esteve fortemente presente na maioria dos casos dos pacientes
que tiveram seus atendimentos em Psicoterapia Breve Infantil concluídos, durante o
ano de 2006, na Clínica-escola de Psicologia da Universidade Guarulhos. Foi
observada sua ocorrência em 24, dos 29 sujeitos considerados na amostra. Ou seja,
83% dos casos analisados apresentaram violência doméstica.
Considera-se que houve violência doméstica quando se observa com relativa
persistência ou, ainda que poucas vezes, mas com intensidade significativa, a
ocorrência de condutas violentas, entre marido e mulher, ou entre pais e filhos, que
impliquem alguma forma de ação intencional de causar dano à outra pessoa. Estas
condutas devem ser classificadas numa das seguintes modalidades: Física, Sexual,
Psicológica e Negligência. Somente as iniciais do tipo de violência doméstica deverão
ser incluídas na planilha para lançamento dos dados da análise da referida violência, ou
seja, F, S, P, N.
Dos 24 casos em que foi constatada a presença de violência doméstica, em
13 ela foi considerada significativa, o que corresponde a 45% do total de casos
atendidos, e a 54% se considerarmos os 24 casos onde constatou-se a presença de
violência doméstica. Portanto, em 54% dos casos que apresentaram violência
doméstica, esta teve interferência no caso clínico apresentado pelo paciente no
Total de pacientes atendidos.
Número de pacientes que apresentaram violência doméstica.
Número de pacientes que apresentaram violência doméstica significativa.
atendimento que está sendo objeto de análise, independentemente do paciente -la
explicitado ou não na queixa.
Considera-se a violência doméstica significativa para o quadro clínico
quando, independentemente do paciente tê-la explicitado ou não, tê-la incluído na
queixa ou não, verifica-se que a violência doméstica teve reflexo no quadro clínico
apresentado pelo paciente na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil que está
sendo objeto de análise.
Em outros estudos consultados por esta autora, como os de Azevedo (1998,
1997, 1995, 1990, 1988); Guerra (1998, 1997, 1995, 1988), Roure (1996), Koller (1998),
Caminha (1998), Pires (1998), não foram encontrados dados que indicassem um
percentual de ocorrência da violência doméstica. No entanto, a psicóloga e educadora
Maria Amélia Azevedo, em 1998, fez um estudo que abrangeu o período de 1936 a
1993, em que constatou que, em mais de meio século, somente 0,16% dos estudos se
referem à violência doméstica, sendo que apenas um terço destes se ocupa da
violência como tema principal.
Sabe-se ainda, através de pesquisas realizadas pela referida educadora, que
o número de denúncias sobre violência doméstica, em outros países, não ultrapassa a
marca de 05% a 10% do total real de casos em que houve o emprego da violência. Este
percentual, segundo Azevedo (1990), é ainda menor no Brasil, onde menos de 05% dos
casos submetidos à violência doméstica são denunciados.
Por conseguinte, considera-se que o índice de violência doméstica
encontrado neste estudo é considerado alto, o que implica em dizer que a dinâmica
interna das famílias que se submeteram a esta análise está permeada por intensos
sinais de violência. Esta violência acaba por interferir no quadro clínico dos pacientes
que buscam um trabalho de acompanhamento psicoterápico.
Dando prosseguimento à análise, verficou-se que, dos 13 casos em que a
violência doméstica foi considerada significativa, 05 tiveram a violência doméstica
incluída na queixa, por parte do paciente, o que corresponde a 17% do total da amostra
e a 21% quando comparado ao número de casos em que presença da violência
doméstica foi constatada.
Considera-se a violência doméstica incluída na queixa quando o paciente
explicita esta violência na sua queixa, como fazendo parte dela ou como sendo objeto
da queixa ou estando associada ao núcleo da sua queixa. A análise é feita a partir das
primeiras entrevistas realizadas pelo estagiário e não a partir da folha de encerramento.
Observa-se ainda que dos 13 casos em que a violência doméstica foi
considerada significativa, em sete ela foi incluída na compreensão psicodinâmica da
queixa. Ou seja, 24% com relação ao número total da amostra e a 29% em relação aos
24 casos em que a presença de violência doméstica foi observada. Destes sete casos,
somente em quatro a violência doméstica foi incluída na queixa apresentada pelo
paciente, e, embora em três casos a violência não tenha sido apresentada como queixa
pelos pacientes, foram incluídos na compreensão psicodinâmica da queixa, o que pode
caracterizar uma compreensão mais profunda por parte do estagiário/terapeuta. Dito de
outra forma, em 43% dos casos o terapeuta não incluiu a violência doméstica na
compreensão psicodinâmica da queixa.
Considera-se que houve inclusão da violência doméstica na
compreensão psicodinâmica da queixa quando esta violência fizer parte integrante da
compreensão que o estagiário e o supervisor tiveram da queixa, conforme consta da
folha de encerramento.
Do total de casos que compõem este estudo, somente dois tiveram a
violência doméstica incluída no foco, o que significa 07% em relação ao total geral e a
08% em relação ao número de casos de violência doméstica, ou seja, somente em 08%
em que a violência doméstica interferiu no quadro clínico do paciente, o terapeuta
incluiu-a no seu planejamento terapêutico, como elemento ingrediente do foco.
Considera-se que houve inclusão da violência doméstica no foco, quando
esta violência doméstica que se pretendeu trabalhar, foi explicitamente incluída no foco,
conforme consta da folha de encerramento, nos termos em que o foco se encontra
definido.
O foco deve ser formulado como o eixo da psicoterapia e o paciente deve ser
conduzido ao foco através de intervenções parciais. O foco refere-se ao conflito da
situação atual do paciente. Pode-se afirmar que a focalização é acondição essencial de
eficácia da Psicoterapia Breve.
É importante notar que somente 01, dos 29 casos analisados, atingiu todos
os níveis que compõem este estudo. Ou seja, o caso foi considerado como tendo a
presença de violência doméstica, esta violência foi considerada significativa, o paciente
a incluiu na queixa, o terapeuta fez referência a ela na compreensão psicodinâmica da
queixa e a incluiu no foco. Todos os demais casos foram incluídos num ou noutro item,
sem que todos os aspectos da violência doméstica fossem compreendidos.
Há, portanto, uma considerável discrepância entre o número de casos onde
foi detectada a ocorrência da violência doméstica (24), da violência doméstica
significativa (13) e o número de casos em que a violência doméstica foi incluída no foco
(dois).
Mostrou-se também de interesse fazer uma tabela e uma análise dos tipos
de violência doméstica observados, ou seja, P, N, F, S, cruzando-os com as demais
variáveis, ou seja, violência doméstica significativa, inclusão na queixa, inclusão na
compreensão psicodinâmica da queixa e inclusão no foco, embora esta questão não
esteja diretamente relacionada com os objetivos do trabalho. Os dados referentes aos
cruzamentos acima estão descritos no Quadro III.
QUADRO III
TIPOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: SUA FREQUÊNCIA E SUA DISTRIBUIÇÃO DE
ACORDO COM AS VARIÁVEIS ESTUDADAS
Tipo de
violência
Nº de
casos de
violência
doméstica
Violência
Doméstica
Significat.
Inclusão
na
Queixa
Inclusão na
Comp.
Psicod.
Queixa
Inclusão
no
Foco
Psicológica 24 12 04 07 02
Física 06 05 03 03 -
Negligência 14 10 02 05 01
Sexual 01 01 - - -
Quanto ao tipo de violência doméstica foi registrada a presença de 24 casos
de violência do tipo psicológico, 14 por negligência, 06 do tipo físico, e em um caso
ocorreu violência doméstica do tipo sexual. Dos 04 tipos de violência propostos neste
estudo (psicológica, física, negligência, sexual), observou-se que, dentre os 24
prontuários onde a violência doméstica esteve presente, em 08, ocorreu uma única
forma de violência, em 12 casos ocorreram 02 tipos de violência e em 04 casos
ocorreram 03 tipos de violência doméstica.
Ainda quanto ao tipo de violência doméstica que foi observado, de se
ressaltar que o psicológico esteve presente em todos os casos em que se constatou a
ocorrência da violência doméstica, seguido de violência doméstica do tipo negligência,
encontrada em 14 casos.
É interessante notar que a violência doméstica do tipo psicológico, que
ocorre nos 24 casos em que foram registrados sinais de violência, não deixa marcas no
corpo, sendo, portanto, difícil de identificar. Assim como a negligência e embora mais
difícil de ser detectada, a violência doméstica do tipo psicológico aparece com mais
freqüência neste estudo.
Os abusos intrafamiliares do tipo psicológico ou por negligência, geralmente
ferem a integridade e violam os direitos básicos da criança. Estas situações abalam a
auto-estima das crianças, as quais poderão ter seus desempenhos, nas mais diversas
atividades a que se propuserem realizar, prejudicados.
CAPÍTULO IX
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A Violência Doméstica e a Psicoterapia Breve que constituem pólos
antagônicos podem, em um dado momento, compartilhar um mesmo processo, já que a
especificidade da técnica de Psicoterapia Breve supõe dispor de recursos para lidar
com situações onde são evidenciados sinais de violência.
No presente estudo, a violência doméstica foi constatada em 24 dos 29
casos analisados. Ou seja, 83% dos casos analisados apresentaram violência
doméstica. Dos 24 casos, 13 acusaram violência doméstica significativa a, que
corresponde a 45% do total dos casos atendidos, e a 54% dos casos em que se
constatava presença da violência doméstica. Na maioria dos casos, o paciente não
incluiu a violência em sua queixa, tendo sido incluída em somente 05 dos 13 casos em
que foi considerada significativa.
A violência doméstica, que é um fenômeno que nasce da agressividade do
homem e perpassa as relações familiares, manteve-se freqüente, tendo sido expressiva
e significativa em grande porcentagem dos casos que constituíram o presente estudo.
Cabe, portanto, ressaltar a necessidade de se estar atento á ocorrência da
violência doméstica, à importância de sua interferência no desenvolvimento de uma
criança que busca atendimento psicológico, independentemente de ter sido verbalizada,
de ter ficado explícita na queixa do paciente.
As situações de violência doméstica não foram apresentadas pelos pacientes
como queixa central, não se constituindo como motivo que os conduziu à busca de
atendimento psicológico. Muitos dos pacientes não conseguem enxergar os evidentes
sinais de violência doméstica nas relações familiares nas quais estão envolvidos, não a
incluindo na queixa.
Numa clínica voltada para um trabalho de assistência à saúde publica, para
um atendimento comunitário e preventivo, é muito importante estar atento ao fenômeno
da violência doméstica, avaliando a sua freqüência, a sua ocorrência, à constatação de
sua manifestação, sob os mais diferentes tipos, sobretudo no atendimento clínico, mais
especificamente num trabalho de promoção de saúde mental.
Dentre as barreiras encontradas para se detectar a ocorrência da violência
doméstica verifica-se, que a existência de silêncios e segredos existentes na dinâmica
familiar comprometem o satisfatório funcionamento da família. Na maioria das vezes os
segredos mantidos entre os membros da família jamais são revelados a outras pessoas
ou até mesmo entre a própria família.
A manutenção dos segredos e do silêncio na dinâmica familiar pode impedir
que a família tenha uma relação de equilíbrio, uma relação segura, que possibilite o
desenvolvimento e o crescimento adequado de seus membros.
Estes segredos e silêncios sobre a violência parecem poder contar com uma
força intensa, uma vez que não a família está atrelada a eles, o terapeuta
(estagiário) e o supervisor, além do grupo de supervisão, também podem fazer com que
a necessidade de manter o segredo impere na relação terapêutica, que o que não se
tem conhecimento não precisa ser avaliado ou discutido.
O psicólogo acaba por não captar a relação de violência doméstica, o que o
impossibilita de ter uma compreensão psicodinâmica mais profunda do quadro clínico
do paciente. Esta violência certamente não se incluída no foco, portanto, não será
trabalhada no processo psicoterápico. Observa-se que a eficácia da Psicoterapia Breve
pode estar ameaçada. Saber diferenciar as reais causas de um fracasso de um
acompanhamento psicoterápico deve ser cuidadosamente avaliado e não apenas
vincula-lo à utilização de uma técnica específica.
Quanto ao tipo de violência doméstica, foi observado no preente estudo, que
o psicológico esteve presente nos 24 casos em que se constatou a ocorrência da
violência doméstica, seguido de violência doméstica por negligência, encontrada em 14
casos. A violência doméstica do tipo psicológico, assim como a negligência, não deixam
marcas no corpo, não sendo facilmente percebidas, portanto, difíceis de se
identificarem e de se diagnosticarem, por não deixarem nenhum sinal visível.
A violência doméstica do tipo psicológico age intensamente, gera conflitos
intrapsíquicos, mas nem sempre permite identificar seus agressores, nem mesmo
avaliar as conseqüências ou intensidade dos danos causados. Este tipo de violência é
encontrado em todas as demais formas de violência e varia desde uma simples
desatenção até uma total rejeição. É uma forma de abuso que acaba por gerar
conseqüências severas para as crianças, como a baixa-estima, o retraimento, entre
outras. Estes dados vêm sendo mais freqüentemente observados e fazem parte da
experiência clínica desta autora, bem como vêm sendo mencionados por outros
autores, como Caminha (1988).
Embora com profundas implicações no comportamento humano, a violência
doméstica não foi freqüentemente detectada pelos profissionais, uma vez que, neste
estudo, poucos foram os casos de inclusão da violência doméstica, seja na queixa, na
compreensão psicodinâmica da queixa ou no foco.
No presente trabalho, verificou-se que, entre os 13 casos em que se
constatou a presença de violência doméstica significativa, ela não foi incluída pelo
terapeuta na compreensão psicodinâmica da queixa em 46% deles. Tal constatação é
compreensível, uma vez que, em muitos casos, a violência doméstica não ficou
explícita na queixa. A violência doméstica significativa não foi incluída, pelo terapeuta,
no foco em 85% dos casos, logo, não foi incluída no planejamento terapêutico.
A presença da violência doméstica detectada neste estudo não foi, na
maioria dos casos, constatada pelo profissional durante o atendimento psicoterápico ao
qual as crianças foram submetidas. Freqüentemente, os sinais de violência doméstica
apresentados no quadro clínico dos pacientes não são incluídos pelo terapeuta na
compreensão psicodinâmica da queixa, nem tampouco são por ele incluídos no foco.
Para Azevedo (1993), as universidades formam profissionais do silêncio, que
são considerados pela educadora como cúmplices que vitima diariamente crianças e
adolescentes no lar.
Como já foi ressaltado neste capítulo, a violência não foi incluída na queixa
pela maioria dos pacientes que integraram a presente pesquisa. Estas famílias que,
apesar de conviverem diretamente com a violência, não a evidenciaram, demonstram
encontrar dificuldades, na maioria das vezes, para constatarem a violência. O fato de a
violência doméstica estar entrelaçada a um conluio parece constituir uma forte razão
para se perpetuarem as dificuldades que as pessoas apresentam em lidar com
situações de violência, com as quais estão envolvidas. A família, devido a este conluio,
não verbaliza a violência, não lhe sendo permitido que entre em contato com a mesma,
havendo, pois uma normalização da violência. O conluio acaba por se estender ao
terapeuta que, talvez por resistência ou por outras razões não detecta a violência.
Os membros de uma família lidam com situações de violência como se
houvesse sido estabelecido um contrato, um acordo entre eles. Deste modo, as
pessoas de uma mesma família estariam, de alguma forma, impedidas de falar a
respeito. Estes segredos que são determinados e mantidos entre os membros de uma
família impedem que a violência, que é praticada contra seres indefesos, se configure,
impelindo a família para um avanço mais profundo de disfunção.
A manutenção desses segredos torna-se demasiadamente forte e o silêncio
impera na dinâmica familiar. Neste processo, ocorre a paralisação para a capacidade
de satisfação das necessidades e para o crescimento e organização da dinâmica
familiar, havendo um aumento no isolamento social.
A compreensão da violência doméstica, bem como a inegável necessidade
de se encontrarem formas mais atuantes de combate-la tornam-se cada vez mais
imprescindíveis na busca do equilíbrio das relações familiares, que os segredos
privam os membros da família de informações que lhes permitiriam assumir uma ação.
Aliados a esta notória preocupação com a violência doméstica, evidencia-se,
por parte da autora, um grande interesse pela técnica de Psicoterapia Breve. É possível
que esta técnica, por conta de sua especificidade, possa atingir objetivos
psicoterapêuticos em prazos bem mais curtos, podendo, na fase do diagnóstico breve,
identificar a ocorrência da violência doméstica de forma mais imediata.
No entanto, mesmo diante de uma técnica com objetivos definidos, que vem
operando modificações eficazes nas formas de intervenção do psicoterapeuta, a
ocorrência de casos em que a violência doméstica esteve presente, neste estudo, é
altamente expressiva, na marca de 83% dos casos estudados.
A técnica de Psicoterapia Breve pode não se apresentar suficientemente
satisfatória para lidar com quadros clínicos onde impera a violência doméstica, não por
se tratar de um procedimento ineficaz, mas, por necessitar que a violência doméstica
seja detectada em tempo hábil. Caso se constate que a Psicoterapia Breve que se
sucedeu ao diagnóstico se mostre ineficaz, não seria permitido concluir que a técnica
da Psicoterapia Breve é inadequada para casos como estes. Os terapeutas e
profissionais que se dedicam à saúde pública devem ter todo cuidado e atenção em
detectar a tempo a violência e sua interferência no quadro clínico. Tal atenção e
cuidado se devem ao fato do conluio da família em não verbalizara violência, bem como
à resistência do terapeuta em lidar com os evidentes sinais de violência doméstica.
De certa forma, um grande número de pessoas está envolvido com a
violência doméstica, especialmente com as formas veladas de violência. Muitas vezes
estes conteúdos não são conscientes e os conflitos, certamente, estão deslocados para
outras situações que envolvem as pessoas, de maneira geral. Com os estagiários-
terapeutas e os supervisores, a situação não seria diferente. Estas pessoas podem
encontrar dificuldades para detectar a ocorrência da violência doméstica durante os
atendimentos que realizaram ou que supervisionaram, por não conseguirem lidar com
situações de violência com as quais estão diretamente envolvidas.
Em se tratando de Psicoterapia Breve, a não inclusão da violência doméstica
na compreensão psicodinâmica da queixa é bastante grave, já que o tempo que
demanda o processo psicoterápico não será suficiente para que a violência doméstica
seja captada posteriormente. A Psicoterapia Breve supõe uma postura mais ativa do
psicólogo frente a uma demanda de ajuda, a uma demanda específica. (Lemgruber,
1984). De tal sorte que, caso a Psicoterapia Breve não tenha sido avaliada como eficaz,
não se deve debitar o fracasso à técnica. A violência doméstica não incluída na queixa
pelo paciente corre um risco maior de não ser incluída na compreensão psicodinâmica
da queixa pelo terapeuta, que certamente criará obstáculos para sua inclusão no foco,
fosse este o caso. Conseqüentemente, não se trabalhada na Psicoterapia Breve,
estando a psicoterapia, com maior probabilidade, fadada ao fracasso, não devido à
técnica, mas a uma desatenção ao fenômeno da violência doméstica. Realça-se, por
conseguinte, a importância da atenção que se deve ter para a questão da violência
doméstica.
CAPÍTULO X
CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES
A violência é um tema bastante polêmico e essencialmente complexo. Vasto
por excelência, é proposto como um dos assuntos mais debatidos atualmente. Tem-se
registro de situações de violência em todas as épocas, ambientes, relações entre
pessoas e nações. A violência integra a própria estrutura da personalidade do indivíduo
sendo, portanto, inerente a todo ser humano. Ela até pode ser entendida como
necessária para a sobrevivência do ser humano, impulsionando-o para uma ação que
pode caracterizar uma iniciativa construtiva. O seu controle e seu uso construtivo é que
devem ser avaliados.
A violência doméstica que abrange todas as relações familiares também faz
parte de um contexto de ordem social. Não raramente a dinâmica familiar é permeada
por relações de violência, a qual pode causar danos, muitas vezes, irreversíveis, que
comprometem o equilíbrio geral da família, bem como a organização interna de cada
um de seus membros. Freqüentemente oculta, penetra de forma devastadora e, muitas
vezes, silenciosa nas relações humanas, mais especificamente na dinâmica familiar, de
forma a dificultar que ela seja devidamente detectada, diagnosticada e avaliada.
Quando este estudo ainda constituía uma etapa embrionária,
questionávamo-nos sobre a realização de um trabalho que tivesse, em seu cerne, um
tema tão absolutamente doloroso e complexo, como é o da violência, sobretudo, a
violência doméstica.
Embora polêmica e difícil de ser estudada, por tudo quanto está
interelacionada, a violência tem implicações profundas no comportamento humano e na
forma de agir de uma comunidade social. Trata-se de um tema atual, que merece todo
nosso respeito e preocupação, que vem apresentando um crescimento avassalador,
especialmente nos grandes centros urbanos, e que seu controle ou alguma forma de
atuação preventiva, parece estar longe de ser atingido ou de ser o alvo de ação de uma
política de promoção de saúde.
Preocupadas com as estatísticas alarmantes da ocorrência dos delitos
domésticos, instituições públicas e organizações não-governamentais discutem o
problema e tentam contribuir para a minimização dos efeitos avassaladores que a
violência na família acarreta aos seres humanos, especialmente mulheres e crianças.
Os números alarmantes relativos à violência doméstica levaram a
Organização Mundial de Saúde a reconhecer a gravidade que o fenômeno representa
para a saúde pública e recomendar a necessidade de efetivação de campanhas
nacionais de alerta e prevenção.
A violência contra crianças e adolescentes é um fenômeno mundial. Visível
ou invisível, suas causas são múltiplas e de difíceis definições. As suas conseqüências
são devastadoras para as crianças e adolescentes, vítimas diretas de seus agressores.
Ao contrário do que se pensa, as desigualdades sociais não são fatores
determinantes da violência doméstica, pois esta se encontra dividida em todas as
classes sociais.
Debates, palestras, encontros e congressos sobre Psicoterapia Breve estão
sendo realizados no Brasil e no mundo, como é o caso do Primeiro Simpósio
Internacional de Pesquisas em Psicoterapia Breve, promovido pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas, realizado em 2006, que abrigou, entre seus focos,
a Psicoterapia Breve Infantil. O primeiro Congresso latino americano, realizado em São
Paulo, em abril de 2005, tratou, entre seus eixos temáticos, das Estratégias de
Intervenção em Psicoterapia Breve Infantil.
Nesta modalidade psicoterápica é possível abordar o fenômeno da violência
praticada contra crianças e adolescentes, que pode ser definido como sendo todo ato
ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e/ou
adolescentes que, sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima,
implica de um lado, numa transgressão do direito que crianças e adolescentes têm de
serem tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
A situação torna-se mais agravante quando se trata de violência doméstica,
posto que abrange todas as relações humanas e nem sempre é tão facilmente
identificada, especialmente quando está relacionada com maus-tratos dirigidos à
criança. A violência contra a criança seria menos danosa se não houvesse tanta
cumplicidade. Os especialistas em saúde, seja física ou mental, parecem estarem mais
distantes da possibilidade de denúncias.
Nos Estados Unidos da América, onde o espancamento é a maior causa de
morte de criança, foram acordados, através de determinações legais, a obrigatoriedade
de denunciar, por parte dos profissionais da saúde, quando julgam ou desconfiam que
uma criança está sendo agredida por seus pais ou responsáveis.
As crianças que são submetidas a situações de violência doméstica
certamente vão chamar a atenção, seja dos familiares ou de outras pessoas da
comunidade, sempre procurando, por comportamentos radicais e extremos, a condição
que elas precisaram no começo da vida e que não tiveram dos pais, que é a
compreensão, com justiça, a firmeza, a segurança, com confiança e afeto.
A violência doméstica parece estar entrelaçada a um conluio, como se
houvesse sido estabelecido um contrato, um acordo, onde os membros de uma mesma
família estariam, de alguma forma, impedidos de falar a respeito. Estes segredos que
são determinados e mantidos entre os membros de uma mesma família, impedem que
a violência, que é praticada contra seres indefesos, se configure, impelindo-os para um
avanço mais profundo da disfunção, não promovendo a caracterização e identificação
do papel familiar.
A manutenção desses segredos torna-se demasiadamente forte e o silêncio
impera na dinâmica familiar. Neste processo, ocorre a paralisação para a capacidade
de satisfação das necessidades e para o crescimento e organização da dinâmica
familiar, havendo um aumento no isolamento social.
A compreensão da violência doméstica, bem como a inegável necessidade
de se encontrar formas mais atuantes de combatê-la, tornam-se cada vez mais
imprescindíveis na busca do equilíbrio das relações familiares, que os segredos
privam os membros da família de informações que lhes permitiriam assumir uma ação.
Aliado a esta notória preocupação com a violência doméstica, evidencia-se,
por parte da autora, um interesse profundo sobre a utilização da técnica de Psicoterapia
Breve. É possível que a especificidade desta técnica, que tem como conceitos
fundamentais, estabelecer um foco de trabalho terapêutico, com objetivos limitados, um
tempo determinado, maior flexibilidade e atividade do terapeuta, possa atingir objetivos
psicoterapêuticos em prazos bem mais curtos, podendo identificar a ocorrência da
violência doméstica de forma mais imediata.
No entanto, mesmo diante de uma técnica com objetivos definidos, que vem
operando modificações eficazes nas formas de intervenção do psicoterapeuta, a
ocorrência de casos em que a violência doméstica esteve presente, neste estudo, é
altamente expressiva, na marca de 83% dos casos estudados.
Afirmar que a técnica de Psicoterapia Breve não é suficientemente
satisfatória para lidar com quadros clínicos onde impera a violência doméstica, além de
constituir uma avaliação precipitada, demonstra uma consciência profissional precária e
um desconhecimento quanto ao caráter científico que este estudo apresenta.
De certa forma um grande número de pessoas está envolvido com a
violência doméstica, especialmente com as formas veladas de violência. Muitas vezes
estes conteúdos não são conscientes e os conflitos, certamente, estão deslocados para
outras situações que envolvem as pessoas, de maneira geral. Com os estagiários-
terapeutas e os supervisores a situação não seria diferente. Estas pessoas acabam por
não detectar a ocorrência da violência doméstica durante os atendimentos que
realizaram ou que supervisionaram, por encontrarem dificuldades em lidar com
situações de violência com as quais estão diretamente envolvidas.
Com base na explanação do referencial teórico que deu sustentação ao
conceito de violência e à abrangência da violência doméstica no presente trabalho,
pode-se concluir que, estando freqüentemente presente nas relações familiares, a
violência doméstica, muitas vezes, apresenta-se de forma manifesta, atuante, sendo,
em determinadas situações, percebida e dificilmente esquecida por aqueles que lidam
com ela e que a enfrentam diretamente. Há, no entanto, situações em que a violência
doméstica é oculta, mantendo-se em torno dela segredos intransponíveis.
O segredo mantido na base da família acaba por tomar uma amplitude que
perpassa a unidade familiar. Além de constituir uma marca inabalável, impede, de
alguma forma, que outras pessoas, alheias a esta dinâmica, mas envolvidas por alguma
razão, permeiem a relação e tomem conhecimento sobre a maneira de lidar da família.
Para concluir o presente item e o capítulo, pode-se dizer que dentro de uma
visão de síntese, violência doméstica caracteriza-se por uma conduta hostil, que pode
causar danos a todos os membros de uma família. Esta conduta, em algumas
situações, chega ao plano da verbalização, torna-se manifesta, facilmente detectada,
em todos os seus tipos; violência física, psicológica, sexual e negligência. A violência
doméstica, no entanto, pode não ser facilmente percebida, ela mantém certos segredos
que não são transpostos, que dificultam o acesso às necessidades da família, a
violência torna-se oculta, mas avassaladora, destrói as relações humanas, não
propiciando o crescimento e o envolvimento afetivo dos membros de uma família.
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Apêndices
Apêndice 01
CLÍNICA-ESCOLA DE PSICOLOGIA
Planilha de Atendimento de P.B.I
Nome do Cliente:______________________________________ N.ºdo pront:_______
Nome do(s) pai(s) que recebeu (receberam) atendimento:
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
FASE DIAGNÓSTICA
01. Sumário da
Queixa:________________________________________________________________
____________________________________________________________
02. N.º de entrevistas diagnosticas realizadas:
a) com a criança: _________ Data da 1ª: _____/_____/_____
b) com os pais: ___________ Data da 1ª: _____/_____/_____
03. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:
a) referente à dinâmica familiar:____________________________________________
______________________________________________________________________
b) referente à criança: ____________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
04. Foco para a terapia:
a) da P.B.I.: ____________________________________________________________
______________________________________________________________________
b) da O. de Pais: ________________________________________________________
______________________________________________________________________
05. Objetivo para a criança: _______________________________________________
______________________________________________________________________
Objetivo para os pais:_____________________________________________________
______________________________________________________________________
6.Motivação (predisposição para a realização do trabalho terapêutico):
Por parte da criança:
______________________________________________________________________
_______________________________________________________________
Por parte dos pais:_______________________________________________________
_____________________________________________________________________
FASE TERAPÊUTICA
07. N.º de sessões:
a) em P.B.I.:
- Previstas: _______ ; - Realizadas: _______ ;
(Data da 1ª:_____/_____/_____; da última: _____/_____/_____ )
b) Em O.P.:
- Previstas: _______ ; - Realizadas: _______ ;
(Data da 1ª:_____/_____/_____; da última: _____/_____/_____ )
08. Motivação (envolvimento durante o trabalho terapêutico):
Por parte da criança:_____________________________________________________
______________________________________________________________________
Por parte dos pais:_______________________________________________________
______________________________________________________________________
09. Conclusão do Trabalho e a questão do encaminhamento:
( ) a)o atendimento chegou ao término e não houve reencaminhamento interno e nem
encaminhahamento externo.
( ) b) o atendimento chegou ao término e o cliente foi reencaminhado
para:_______________
Obs.: neste caso, o estagiário deverá preencher a ficha de encaminhamento interno,
entregar a 1ª via à secretaria, e a 2ª via ao paciente, ambas assinadas por ele
(estagiário) e pelo supervisor, a fim de que providências para a nova convocação
possam ser tomadas).
( ) c) o atendimento chegou ao término e foi realizado encaminhamento externo
para:__________________________________________________________________
(dizer a modalidade do novo atendimento proposto). (Obs.: neste caso, se for preferível
ou necessário formalizar o encaminhamento, deverá ser feita uma carta ao Diretor da
Clínica, com a proposta do novo atendimento e, se possível, com sugestões de locais).
( ) d) o atendimento foi interrompido por motivo de:_____________________________
_____________________________________________________________________.
Obs.: Caso os pais venham a ter algum tipo de encaminhamento interno ou externo,
que independa do reencaminhamento ou encaminhamento externo da criança,
especificar no espaço acima das alíneas "b" ou "c", adotando então os mesmos
procedimentos ai definidos.
10. Evolução do Atendimento e avaliação do trabalho (Avaliar em função do foco: se os
objetivos foram ou não atingidos, como e porque; no caso de desistência, apreciar o
fato, etc).
a) com a criança (Avaliar em função do foco: se os objetivos foram ou não atingidos,
como e porque: no caso de desistência, apreciar o fato, relação paciente-terapeuta,
motivação, etc.)
Quando Concluído:______________________________________________________
______________________________________________________________________
Quando Interrompido:____________________________________________________
______________________________________________________________________
b) com os pais (Avaliar em função do foco: se os objetivos foram ou não atingidos,
como e porque; no caso de desistência, apreciar o fato, relação paciente-terapeuta,
motivação, etc.)
Quando Concluído:_____________________________________________________
______________________________________________________________________
Quando Interrompido:____________________________________________________
11.O cliente aceita ser reconvocado futuramente para uma avaliação do trabalho?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não foi perguntado
Nome do(a) Estagiário(a): _________________________________ R.A. Nº
_______________________________________________________R.A. Nº _________
Nome do(a)
Supervisor(a):______________________________________________________
Guarulhos, ______ de ________________________de 20____.
______________________ ___________________________________
Assinatura do(a) Estagiário(a) Assinatura do(a) Supervisor(a)
______________________________________________________________________
Breve Relato da Entrevista de Follow Up : ___________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_________________________
Data: _____/______/______
______________________________ _______________________________
Assinatura do(a) Estagiário(a) Assinatura do(a) Supervisor(a)
Apêndice 02
Síntese dos Registros dos
Prontuários
dos Pacientes atendidos em P.B.I em
2006, na Clínica-escola de
Psicologia da
Universidade Guarulhos
Paciente nº 01:- (Prontuário - 674 1)
Idade:- 07 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
A inscrição do paciente para atendimento psicológico deve-se a uma solicitação
da escola. A queixa trazida pelos pais refere-se a problemas de aprendizagem, não
realiza as atividades propostas pela professora, apresentando comportamento
comprometido, dispersando-se facilmente em sala de aula. A queixa ainda abrange
atitudes agressivas do paciente, geralmente direcionada aos pais, incluindo a agressão
física e verbal. Trata se de uma criança adotada. O pai não pode ter filhos. Ae tem
uma filha mais velha, filha de sua primeira união, tendo resolvido adotar o paciente para
agradar o marido. Não tiveram qualquer contato com a mãe biológica, que tivera 05
filhos e que dera todos para adoção. O paciente é mais próximo da figura materna e
sente muito ciúmes desta com a irmã mais velha. Dorme no quarto dos pais, por não
aceitar ficar com a irmã, em seu quarto e pelo fato do pai trabalhar durante a noite,
como motorista. O contato do paciente com a irmã é restrito e, no geral, conflitivo.
Agridem-se verbal e fisicamente. Os pais demonstram ser superprotetores e
apresentam dificuldades em estabelecer limites quanto ao comportamento do paciente.
Por ser filho adotivo tem tratamento diferenciado. Queixa-se de que em casa ninguém
brinca com ele, tendo necessidade de estar na rua com seus colegas. A dinâmica
familiar não é totalmente favorecida. O pai não tem paciência com o paciente e o agride
fisicamente, aplicando-lhe corretivos (cintadas) quase diariamente, além de colocá-lo
de castigo, diante de comportamentos de birra. Por duas vezes o menino agrediu
fisicamente a mãe. Apresenta dificuldades em estabelecer limites em seu
comportamento. A criança solicita carinho e a participação de seus pais em sua vida.
Os pais suprem a falta de carinho e paciência com coisas materiais.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa que consta da folha de encerramento:-
a) referente à dinâmica familiar:
Pais superprotetores. Dificuldades em estabelecer limites em seu comportamento,
tratamento diferenciado por motivo da adoção, suprem a falta de carinho e paciência
com coisas materiais (brinquedos, doces...).
b) referente à criança:
Está em fase de adaptação ao uso dos óculos, tendo momentos de dores de
cabeça, que podem estar prejudicando a aprendizagem. Necessidade de chamar
atenção das pessoas com comportamentos inadequados ( Não fazer a lição,
agressivo). Torna-se agressivo diante de situações que lhe causam frustração
(perda).
Foco:-
a) da P.B.I.
Mostrar e fazer com que a criança perceba seu potencial e que é capaz de
aprender como qualquer outra criança, não existindo diferença entre elas.
b) da Orientação de pais
Sensibilizar os pais no sentido de estabelecer uma conduta mais adequada, quanto
a limites e regras. Sensibilizar os pais quanto aos problemas de aprendizagem do
filho; sensibilizar os pais quanto a própria realidade da adoção da criança.
Relação com sintomas psicopatológicos:-
A criança demonstra vivenciar sentimentos de rejeição e impotência diante da
indiferença de seus pais.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A dinâmica familiar não é favorecida. O pai não tem paciência com o paciente e o
agride fisicamente, além de colocá-lo de castigo, diante de comportamentos de birra. O
paciente manifesta desejos de fazer seus deveres escolares com o pai, que não tem
paciência e acaba por lhe aplicar corretivos (cintadas) quase diariamente. Por duas
vezes o paciente agrediu fisicamente sua mãe. Apresenta dificuldades em estabelecer
limites, especialmente no que se refere ao comportamento. A criança solicita carinho e
a participação dos pais em sua vida. Os pais suprem a falta de carinho e paciência com
coisas materiais.
Tipo de violência Violência Física.
Paciente nº 02:- (Prontuário 1188 1)
Idade:- 10 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental.
Súmula do Caso
A mãe traz como queixa a preocupação com relação aos filhos, por acreditar que a
separação dos pais possa estar afetando emocionalmente as crianças. A família
apresenta intensos conflitos e necessita de maior entrosamento, para que a dinâmica
familiar possa se organizar favoravelmente. Por dificuldades de relacionamento com o
marido, a mãe deixou o lar e levou os filhos consigo. A dinâmica familiar pode ser
entendida como bastante comprometida.O casal, por fim, optou pela separação. Antes
da separação, as discussões eram freqüentes, permeadas por agressões verbais e
físicas, tendo o pai chegado a utilizar objetos cortantes, como facas, ou armas para
ameaçar a e, sempre na presença dos filhos, que nunca foram poupados ou
respeitados. Logo após a separação, mãe e filho mudaram-se para Presidente
Prudente, para a casa de um tio materno do paciente. Pouco tempo depois, dirigiram-se
para Coxim, em Mato Grosso, para a casa de uns amigos. Seguiram viagem para
Rondônia, onde residem os avós maternos, além de familiares do paciente. A família
retornou para são Paulo por ocasião da oficialização do desquite e aqui fixaram
residência. A cada 15 dias, o paciente vai à casa do pai, de onde retorna muito rebelde.
O paciente procura omitir e, por vezes, negar as agressões que sofria (ou que ainda
sofre), por parte do pai. A mãe casou-se novamente, apresentando-se como satisfatória
a relação do paciente com o padrasto, visto por ele como o pai do coração. A
dinâmica familiar se constitui de forma comprometida, havendo forte tensão emocional.
Ocorrem constantes ameaças de agressões físicas e psicológicas, principalmente por
parte do pai contra a mãe, o que é assistido pelos filhos. Esta situação sempre gerou
muitas discussões. Durante o ano de 1995 optaram pela separação. Vários problemas
ocorreram durante este período, devido ao fato do pai não aceitar a separação. O pai
passou ameaçar a mãe de morte (amolava facas e procurava revólver durante a
madrugada).
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
Apesar da mãe manter um diálogo aberto com seus filhos, orientando-os a respeito
de drogas e sexo, este meio familiar carece de afeto, portanto as crianças são
independentes e passam a maior parte do tempo com os seus coleguinhas, sem
importar-se com a presença de seus pais.
b) referente à criança:
A paciente apesar de ter dez anos de idade, age com certa naturalidade no que diz
respeito aos problemas que lhe são trazidos através do meio familiar, respeitando as
opiniões de seus pais e também no meio escolar. Prefere estar na maioria das
vezes na companhia de seus amiguinhos.
Foco:-
a) da P.B.I.
A paciente é uma criança que carece de afeto familiar, busca suprir esta ausência
através de seus amiguinhos, solucionando os problemas dos mesmos, para sentir-se
útil e reconhecida.
b) da Orientação de Pais
Nada consta da folha de encerramento.
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Abandono, solidão, medo.
Súmula/Núcleo de Violência;-
A dinâmica familiar se constitui de forma comprometida, havendo forte tensão
emocional. Ocorrem constantes ameaças de agressões físicas e psicológicas,
especialmente por parte do pai contra a mãe, o que é assistido pelos filhos. Esta
situação sempre gerou muitas discussões. Durante o ano de 1995 os pais optaram pela
separação. Vários problemas ocorreram durante este período, devido ao fato do pai não
aceitar a separação. O pai passou a ameaçar a mãe de morte (amolava facas e
procurava revólver durante as madrugadas).
Tipo de violência Violência Física e Psicológica.
Paciente nº 03:- (Prontuário 1188 2)
Idade:- 05 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- Educação Infantil.
Súmula do Caso
Tendo em vista a separação conjugal e diante de um novo relacionamento amoroso, a
mãe manifestou preocupação em estar atingindo o lado emocional e desenvolvimento
escolar e social do seu filho.Teme os danos que poderão ser causados no paciente em
virtude da falta da figura masculina. Por dificuldades de relacionamento conjugal, a mãe
deixou o lar e levou os filhos consigo. A dinâmica familiar pode ser entendida como
comprometida, havendo forte tensão emocional. O casal encontra-se separado
atualmente. Antes de concretizarem a separação, ocorrida durante o ano de 1995, as
discussões eram freqüentes e presenciadas pelos filhos. Várias agressões físicas,
verbais, além de ameaças constantes foram vivenciadas pelo paciente. O pai parece
não aceitar a separação e utilizava objetos cortantes (como facas) ou armas, para
ameaçar a esposa. Logo após a separação, mãe e filhos mudaram-se para Presidente
Prudente, para a casa de um tio materno do paciente. Pouco tempo depois, dirigiu-se
para Coxim, em Mato Grosso, para a casa de uns amigos e, por fim, seguiram viagem
para Rondônia, onde residem os avós maternos, além de familiares do paciente. A
família retornou para São Paulo por ocasião da oficialização do desquite e aqui fixaram
residência. A cada 15 dias, o paciente vai à casa do pai, de onde retorna muito rebelde.
O paciente procura omitir e, por vezes, negar as agressões que sofria (ou que ainda
sofre), por parte do pai. A mãe casou-se novamente, apresentando-se como satisfatória
a relação do paciente com o padrasto, visto por ele como o pai do coração.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A crian
ça demonstrou estar bem interagida com a situação da dinâmica familiar,
aceitando os fatos com boa compreensão.
b) referente à criança:
É uma criança dinâmica, ativa, dispondo de boa criatividade, com boa comunicação
e participação geral de todas as atividades desenvolvidas, tanto lúdica como verbal.
Foco:- O foco não foi delimitado durante o período de terapia.
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Abandono, solidão, desamparo.
Súmula/Núcleo de Violência:-
A dinâmica familiar se constitui de forma comprometida, havendo forte tensão
emocional. Ocorrem constantes ameaças de agressões físicas e psicológicas,
principalmente por parte do pai contra a mãe, o que é assistido pelos filhos. Esta
situação sempre gerou muitas discussões. O casal optou pela separação, que ocorreu
durante o ano de 1995.
Tipo de violência:- Violência física e psicológica
Paciente nº 04 (Prontuário:- 1345 1)
Idade:- 05 anos Sexo:- Feminino
Escolaridade:- Educação Infantil.
Súmula do Caso
A queixa apresentada pelos pais refere-se à masturbação, desobediência, teimosia,
falta de limites. Os pais não possibilitam a organização da dinâmica familiar, nem
favorecem o crescimento e amadurecimento da paciente. São omissos na relação com
a paciente e no que se refere ao atendimento de suas necessidades. O casamento
ocorreu há 09 anos, e o casal considera satisfatória e sem conflitos a relação que se
estabelece entre ambos. A família é constituída pelo casal, a paciente, de 05 anos, e a
filha caçula, de 08 meses. Os pais encontram dificuldade em lidarem com a paciente,
gritam com a mesma e não têm tempo para brincar ou conversar com a criança, que
acaba por receber pouca atenção ou cuidado.Parece difícil estabelecer relacionamento
satisfatório entre a paciente e sua mãe. Ambas discutem com freqüência, tendo, tal
atitude, intensificado-se com o nascimento da irmã caçula. A mãe informa que irritava-
se e sentia-se incomodada ao amamentar a paciente. Mãe sente-se desafiada pela
filha, julgando-na teimosa. O pai quando está com a caçula no colo, empurra e chuta a
paciente para que ela não se aproxime. A criança aceita a indiferença da mãe, mas
sofre com o destrato do pai. A insatisfação no casamento recai sobre a paciente que
acaba excluída da relação familiar. Não sobra afetividade para ela, apenas a tensão
desse ambiente que sobrecarrega seu relacionamento com a família, como se ela fosse
o pára -raios do casamento.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
Durante a fase diagnóstica, pode-se notar que a família da paciente colabora para
que a criança sinta - se rejeitada e manifeste, como defesa, comportamentos
inadequados que desagradam os pais e foram trazidos como queixa (masturbação,
desobediência). Pode-se perceber que os pais contribuem para que essa situação
não se organize, na medida em que são omissos em relação à criança e procuram
transferir para outras pessoas relacionadas à criança, como terapeuta e professora,
a responsabilidade de compreender e resolver sua problemática, isentando-se, eles
próprios, de tomar uma atitude, que negam ter problemas no relacionamento
conjugal. Essa insatisfação no casamento recaí sobre a paciente que acaba
excluída da relação familiar. Não sobra afetividade para ela, apenas a tensão desse
ambiente que sobrecarrega seu relacionamento com a família, como se ela fosse o
pára-raios do casamento.
b) referente à criança:
Quanto à paciente percebe-se que é uma criança inteligente, sensível, carinhosa,
mas autoritária, não sabe negociar.Tem sentimentos de agressividade, raiva,
revelados através dos testes e mesmo pelas atitudes manifestas nas sessões.
Possui ainda uma ansiedade e sentimento de rejeição, trazidos de uma fase ainda
primitiva do desenvolvimento (a da alimentação), mas que têm se confirmado para
ela, diante de seu relacionamento com os pais. Através dos desenhos detectou-se
que a paciente não encontrou um lugar nessa família em que possa aterrizar com
segurança. A chegada da irmã mais nova à ameaça e faz com que sinta-se cada
vez mais preterida. Diante a rejeição dos pais, a criança, ansiosa, utiliza-se, ainda,
da onipotência como mecanismo de defesa e a masturbação, foi o modo que
encontrou para sentir-se presente, sentir-se sua existência. Atualmente, passa por
conflitos edipianos que estão difíceis de serem superados, que o relacionamento
e afetividade com os pais estão prejudicados.
Foco:-
a) da P.B.I.
Trabalhar para que a criança entre em contato com seus sentimentos, a fim de
baixar sua ansiedade.
b) da Orientação de Pais
Tentar leva-los a perceber que são omissos em relação à criança, a qual necessita
de uma maior aproximação com eles. Levar a família a refletir sobre suas atitudes
para com a criança, tentando conscientiza-los da necessidade de atenção que a
criança tem.
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Rivalidade, hostilidade, medo e angústia.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Parece difícil estabelecer relacionamento satisfatório entre a paciente e sua mãe.
Ambas discutem com freqüência, tendo, tal atitude, intensificado-se com o nascimento
da irmã caçula. A mãe informa que irritava-se e sentia-se incomodada ao amamentar a
paciente. Mãe sente-se desafiada pela filha, julgando-na teimosa. O pai quando está
com a caçula no colo, empurra e chuta a paciente para que ela não se aproxime. A
criança aceita a indiferença da mãe, mas sofre com o destrato do pai. A insatisfação no
casamento recai sobre a paciente que acaba excluída da relação familiar. Não sobra
afetividade para ela, apenas a tensão desse ambiente que sobrecarrega seu
relacionamento com a família, como se ela fosse o pára -raios do casamento.
Tipo de violência:- Violência física e psicológica
Paciente nº 05 (Prontuário :- 1375 1)
Idade:- 10 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 4ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
Os pais trazem como queixa o fato da paciente não gostar da matéria de Educação
Artística. Apresenta enurese noturna, enxaqueca, brigas com a irmã, muito nervosa. A
família é constituída pelo casal, a paciente e uma filha caçula, de 06 anos. A mãe não a
repreende com freqüência, principalmente quanto à queixa central, enurese noturna. A
dinâmica familiar é tida como favorável, o havendo discussões. O pai não se
apresenta como uma pessoa exigente e rígida, ao contrário, é bastante afetivo com a
família, demonstrando muito carinho e respeito pela paciente. A mãe relata que durante
02 anos fez tratamento para engravidar, tendo a paciente sido uma filha desejada. O
casal vive em harmonia. A criança apresenta bom comportamento e rendimento
escolar de maneira geral, apesar dos resultados não serem satisfatórios na disciplina
de Educação Artística., preferindo estabelecer contato com crianças mais velhas.
Apresenta dificuldades em externalizar os seus sentimentos e de interagir mais
adequadamente. É obediente com seus pais. É percebida como uma criança amorosa e
procura obedecer os pais.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A criança apresentava inibição, sendo que todas as coisas que a criança faziam
irritavam sua mãe, recebendo elogios do pai.
b) referente à criança:
A criança informa ter muito sono devido ao medicamento que toma e não consegue
acordar durante a noite. É bastante autocrítica e acaba sendo muito exigente com
as demais pessoas. Tem conflitos com crianças da mesma idade com dificuldades
de externalizar os conflitos e interagir melhor.
Foco:-
a) da P.B.I.
Em função de não conseguir externalizar os conflitos internos que é o mesmo motivo
que a leva a ter dor de cabeça. Medo de ser abandonada com vivências traumáticas.
b) da Orientação de Pais
Teriam que aproveitar a meninice da paciente senão iriam desperdiçar esse tempo
com estes ciúmes e porque esta fase não volta mais; serem mais solidários,
compreensivos e não competitivos (principalmente por parte da mãe e da irmã).
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Ambivalência de sentimentos: amor e ódio.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Não foram detectados registros de sinais de violência.
Tipo de violência:- Não foram registrados indícios de violência
Paciente nº 06 (Prontuário 1408 1)
Idade:- 09 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
A queixa apresentada pela mãe é de indisciplina, desatentação, nervosismo,
agressividade. A figura materna apresenta sentimentos ambivalentes com relação ao
futuro do paciente, incluindo sua opção profissional e vocação religiosa. As atitudes
instáveis da mãe comprometem a organização interna do paciente, apresentando-se
confuso diante das situações a que é exposto, acabando por manifestar desejo de ter
acesso às suas raízes. A dinâmica familiar não é percebida como facilitadora de uma
ação adequada de seus membros. A mãe apresenta-se de forma confusa e
ambivalente, ora querendo que seu filho seja padre, afastando-o dos amigos e de todos
os interesses de uma criança, ora dizendo que não deseja que ele se torne um padre. A
mãe nunca se casou e resolveu adotar o paciente, o qual sempre teve muito temor de
perder. A mãe sempre se percebeu muito vigiada, submetendo-se às vontades de sua
mãe. Percebe se que o paciente é muito importante para sua mãe, que acaba por não
saber como orientá-lo, tornando-se confusa e ambivalente, apresentando uma dinâmica
instável e insatisfatória.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
Nesta família a mãe mostra-se ambivalente e confusa. Há ocasiões em que a figura
materna protege o paciente em demasia. Em determinadas situações cobra-lhe uma
postura adulta e amadurecida, expressando dificuldade em aceitar a idade real de
seu filho. A mãe não oferece oportunidades para que a criança estabeleça
relacionamento com meninos de sua faixa etária. Em alguns momentos a mãe
dificulta tal contato, não permitindo aproximação e diversão com seus amigos,
conduzindo seu filho a freqüentar a igreja e com os adultos que o rodeiam,
afastando-o de seu mundo infantil. Porém uma ambivalência por parte da mãe
que demonstra não querer que seu filho seja padre.
b) referente à criança:
Demonstra agitação, falta de atenção, certa ansiedade e confusão. Ao tratar do
desenho que se refere a uma família desejada insere a figura paterna, expressando
a falta de tal presença para ele. Ao tratar do desenho de uma família qualquer o
paciente fornece dados ao futuro, colocando-se como o pai. Ao relatar uma história
sua demonstra desejos de ter amigos, conhecer os pais biológicos tornando o seu
relato confuso. Tenta elaborar tal curiosidade estabelecendo um contato maior com a
igreja não se deixando envolver emocionalmente com outras pessoas, colocando-se
em uma posição de defesa. Busca elaborar o desejo de conhecer os pais,
estabelecendo um contato maior com a igreja. Não consegue relacionar-se com o
sexo oposto, demonstrando possuir conflitos, encontra dificuldades para internalizar
seu papel, especialmente no que se refere à sua dinâmica social.
Foco:-
a) da P.B.I.
Trabalhar com a criança o objetivo de levar a tomar consciência do momento de
sua explosão.
b) da Orientação de Pais
Levar a mãe à compreender a importância de sua dinâmica familiar e os temores de
perda do seu filho.
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Sentimentos de ambivalência, medo, angústia, desapontamento.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A dinâmica familiar o é percebida como facilitadora de uma ação adequada de seus
membros. A mãe apresenta-se de forma confusa e ambivalente, ora querendo que seu
filho seja padre, afastando-o dos amigos e de todos os interesses de uma criança, ora
dizendo que não deseja que ele se torne um padre. A mãe nunca se casou e resolveu
adotar o paciente, o qual sempre teve muito temor de perder. A mãe sempre se
percebeu muito vigiada, submetendo-se às vontades de sua mãe. Percebe se que o
paciente é muito importante para sua mãe, que acaba por não saber como orientá-lo,
tornando-se confusa e ambivalente, apresentando uma dinâmica instável e
insatisfatória.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 07 (Prontuário 1430-1)
Idade; - 07 anos.
Sexo; - masculino.
Escolaridade; - 1ª série do Ensino Fundamental.
Súmula do Caso
A queixa apresentada pelos pais é a de que o paciente não associa letras, é
desobediente, desatento, com constantes reclamações dirigidas aos pais pela escola.
Dificuldades mais acentuadas em Matemática, denotando significativa dificuldade em
expressar seus sentimentos, não atendendo às orientações de seus pais e professores.
Os pais reclamam que o paciente é muito agitado, não pára quieto e briga muito com o
irmão. O paciente é visto por todos os membros da família como uma criança que não
coopera. Os pais queixam-se principalmente da desobediência e esclarecem que, após
o trabalho realizado em Psicoterapia Breve, no semestre anterior, o paciente passou a
expressar com espontaneidade tudo o que sente. A mãe acrescenta que sempre se
preocupou muito com seu filho, com receio de perdê-lo, como ocorrera com a primeira
filha , preocupação esta agravada pelos problemas de otite e sinusite que o paciente
apresentava até os três anos de idade. Durante o trabalho de acompanhamento
psicológico com o menor e de Orientação realizado com seus pais foi detectado não se
tratar de uma dinâmica familiar com sérios comprometimentos. A família parece
constituir uma dinâmica parcialmente organizada. O casal se preocupa com o bem-
estar e o pleno desenvolvimento de seus filhos. Devido a morte da filha mais velha,
foram muitos os cuidados e a preocupação dos pais com o paciente, ao nascimento
do irmão caçula, quando então deslocaram plena atenção para o menor, o que
acarretou muito medo, insegurança e ciúmes, com os quais o paciente não conseguia
lidar de forma adequada. O pai parece ser uma pessoa compreensiva, não
apresentando maiores conflitos no contato com seus filhos. A mãe, no entanto, articula
com maior dificuldade o relacionamento com os membros da família. A figura materna
surge como uma pessoa mais insatisfeita, insegura, que não consegue lidar mais
adequadamente com seus filhos, o que impossibilita a organização interna da dinâmica
familiar. Admite que retoma a atividade de sua vida produtiva para se desobrigar da
responsabilidade dos cuidados direto com os filhos, pois irrita-se constantemente com
os mesmos, o que provavelmente caracteriza a necessidade que o paciente apresenta
em manter-se dependente, não efetivando conquistas, com provável objetivo e
necessidade de obter uma atenção diferenciada, provavelmente dos pais.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A família é composta pelos pais e dois filhos, sendo o paciente o filho mais velho.
Antes do nascimento do paciente existe o fato da mãe perder uma filha após o
nascimento que associa a um assalto ocorrido nas vésperas do parto. O irmão
caçula está com três anos. Os pais trabalham fora, na residência do casal mora
uma tia materna que toam conta das crianças. Na entrevista realizada com a mãe
percebi que a mesma não sabe lidar muito bem com as crianças, mostra-se uma
pessoa ansiosa. Ela própria menciona que logo após o nascimento do caçula tinha
parado de trabalhar pois ele teve alguns problemas de saúde, inclusive fez uma
cirurgia, ficou internado quase dois meses. Passado algum tempo precisou
trabalhar pois não tinha muita paciência, ficava nervosa, foi quando sua irmã veio
para auxiliá-la. O pai mostra-se mais tranqüilo, fala de maneira pausada. De modo
geral, dentro de suas condições esses pais propiciam às crianças passeios nos fins
de semana. Há certa preocupações por parte dos pais em dar atenção em
igualdade às crianças, um aspecto a ser trabalhado durante o processo.
b) referente à criança:-
O paciente está com 07 anos, está cursando a 1ª série, mostra-se educado e
sensível. Durante as sessões, exames de seus cadernos, jogo de palavras, não
evidências de que tenha problemas de aprendizagem, mostra-se um tanto
dependente, solicitando auxílio para abrir vidros de guache, no manuseio de objetos
percebi não ter muita habilidade, que pode estar relacionada a dificuldades de
coordenação motora. O paciente é canhoto. Tem ansiedade e agitação como
defesas, mostra-se capaz de se conter, é contido, mas vive como se não fosse
capaz, nas primeiras sessões em determinados momentos morde os lábios, esfrega
os olhos, muda de idéia quanto a uma atividade e outra. Pude perceber certa
angústia relacionada à morte, na primeira sessão em que se propôs a fazer um
desenho livre toda a temática versava sobre fantasmas, monstros e casas mal
assombradas com história muito confusa, demonstrando ainda dificuldades em
elaborar, sintetizar e organizar seus pensamentos e sentimentos, que estariam
relacionados a fatores emocionais. Portanto podemos levantar a hipótese de que o
paciente tenha necessidade de se manter dependente e não efetiva conquistas que
já poderia ter alcançado dentro de sua faixa etária. Podemos supor que o paciente
mantêm-se numa posição de excessiva dependência, com o objetivo de obter uma
atenção especial.
Foco:-
a) da P.B.I.
Trabalhar com a crian
ça suas dificuldades em fazer sínteses, organização de
pensamentos e sentimentos.
b) da Orientação de Pais
Trabalhar com os pais a questão da atenção que o paciente precisa como forma de
alívio da ansiedade, o que possibilitará um melhor modo de orientação e organização
psíquica.
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Incapacidade, inadequação, Medo.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Durante o trabalho de acompanhamento psicológico com o menor e de Orientação
realizado com seus pais foi detectado não tratar-se de uma dinâmica familiar com sérios
comprometimentos. A família parece constituir uma dinâmica parcialmente organizada.
O casal se preocupa com o bem-estar e o pleno desenvolvimento de seus filhos.
Devido a morte da filha mais velha, foram muitos os cuidados e a preocupação dos pais
com o paciente, até o nascimento do irmão caçula, quando então deslocaram plena
atenção para o menor, o que acarretou muito medo, insegurança e ciúmes, com os
quais o paciente não conseguia lidar de forma adequada. O pai parece ser uma pessoa
tranquila, não apresentando maiores conflitos no contato com seus filhos. A mãe, no
entanto, articula com maior dificuldade o relacionamento com os membros da família.
Surge como uma pessoa mais insatisfeita, insegura, que não consegue lidar mais
adequadamente com seus filhos, o que impossibilita a organização interna da dinâmica
familiar. Admite que retoma a atividade de sua vida produtiva para se desobrigar da
responsabilidade dos cuidados direto com os filhos, pois irrita-se constantemente com
os mesmos, o que provavelmente caracteriza a necessidade que o paciente apresenta
em manter-se dependente, não efetivando conquistas, com provável objetivo e
necessidade de obter uma atenção especial.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 08 (Prontuário:- 1448 1)
Idade:- 09 anos Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
A inscrição para atendimento psicológico ocorreu mediante um encaminhamento do
Juiz de Direito da 5ª Vara Cível da Comarca de Guarulhos.A queixa deve-se ao medo
excessivo que a paciente sente. Trata-se de criança agressiva, reservada, que não
expõe o que sente, sendo muito apegada à mãe.A dinâmica familiar sempre foi muito
conturbada, não propiciando à paciente a organização interna de seus conteúdos.Os
pais optaram pela separação quando a paciente estava com 04 anos. As discussões
eram freqüentes e na presença da criança. Inconformado com a separação, o pai
passou agir de forma mais agressiva, chegando a jogar pedras contra a casa em que a
paciente residia com sua mãe. Cinco meses após a separação, a paciente passou
apresentar graves distúrbios emocionais, tendo como uma das causas o fato do pai
fazer com que a paciente o masturbasse, além de levar a paciente a locais pouco
recomendáveis, trazendo-a, no retorno das visitas, sempre suja e faminta. Este dado
impeliu a mãe a entrar com recurso junto à Vara da Infância do Juizado de Menores de
Guarulhos, que restringiu a visita do pai à casa em que a paciente residia e na
presença da figura materna. Apesar da separação, antes da paciente receber as visitas
de seu pai, seu comportamento mantinha,-se inalterado, alegre e fluído, em todos os
setores quais sejam individuais, sociais, escolares, familiares, amistosos, higiênicos,
motores, emocionais, etc, tendo sido avaliado que os conflitos da paciente decorriam a
partir da retirada freqüente da paciente da companhia da mãe. A paciente é vista pela
mãe como uma criança muito retraída em relação aos seus sentimentos, não fala sobre
eles. Apresenta muita restrição ao falar sobre o pai. Durante o atendimento verificou-se
que a queixa não procede. A criança tem um comportamento normal para sua idade.
Sua agressividade é percebida dentro do limite tolerável, pois agride quando é
insultada e de forma não exagerada emocionais. Os próprios argumentos e fatos
vividos pela paciente desde a decisão de seus pais em separarem-se, até o curso final
de tal vontade, parecem constituir elementos imperativos contra o seu equilíbrio
psíquico, mas as causas estão em aspectos bem mais sombrios, sólidos e penosos. A
partir do momento em que a criança teve que se afastar da companhia da mãe e de seu
lar para acompanhar o pai nas visitas, a situação de violência pôde ser registrada de
forma mais clara, tendo, a paciente, mostrado-se calada, medrosa, rebelde, angustiada,
chorona e apática.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A queixa não teve fundamento, a criança tem um comportamento normal para sua
idade. Sua agressividade é normal pois agride quando é insultada e de forma não
exagerada.
b) referente à criança:
Tranqüila, fala com naturalidade o que lembra do pai, uma vez que os pais se
separaram há vários anos e ela não teve mais contato com o pai.
Foco:-
a) da P.B.I.
Foi constatado que a criança não demonstra mais ter medo, ou agressividade além
do normal.
b) da Orientação de Pais
Lidar com a relação com os pais e com sua própria figura feminina. Precisa trabalhar
sua idéia de inferioridade e o complexo de sai mesma em relação à obesidade.
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Medo, insegurança, angústia.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Os pais se separaram quando a paciente estava com 04 anos. Cinco meses após a
separação a paciente passou a apresentar graves distúrbios emocionais. Os próprios
argumentos e fatos vividos pela paciente desde a decisão de seus pais em separarem-
se, até o curso final de tal vontade, parecem constituírem elementos imperativos contra
o seu equilíbrio psíquico, mas as causas estão em aspectos bem mais sombrios,
sólidos e penosos. A partir do momento em que a criança teve que afastar-se da
companhia da mãe e de seu lar para acompanhar o pai nas visitas, a situação de
violência pôde ser registrada de forma mais clara, tendo, a paciente, mostrado-se
calada, medrosa, rebelde, angustiada, chorona e apática.
Tipo de violência:- Violência psicológica e sexual
Paciente nº 09 (Prontuário:- 1450 1)
Idade:- 09 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 2ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
A inscrição para atendimento psicológico ocorreu por solicitação da escola. O paciente
apresenta dificuldade de memorização, pois não consegue reter informações acerca
das matérias dadas em sala de aula, denotando falta de interesse. Os pais atualmente
estão separados. A separação ocorreu devido ao fato do pai beber em demasia e em
decorrência da bebida, terem surgido muitas brigas. Na época o paciente tinha 04 anos.
A criança sempre presenciou várias discussões. Após a separação, durante 01 ano e
04 meses, o paciente viveu com a mãe. O paciente vivia com a mãe e 03 irmãs,
adultas. Todas trabalhavam e o paciente ficava sempre muito só, aproveitando para
fugir de casa. Desde então e, a seu pedido, passou a viver com o pai. A princípio a mãe
foi contrária a esta idéia. O pai relata que, às vezes, o paciente sente saudades da
mãe, mas a visita sempre que deseja vê-la. A dinâmica familiar não possibilita a
organização da criança. Reside com pai e madrasta, a qual é muito rígida com o
paciente, não demonstrando afetividade, sendo hostil e distante. A criança não se
percebe aceita e amada em seu lar. Sente-se confusa, não conseguindo lidar e
reconhecer o próprio espaço nesta família.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
Os pais verdadeiros do paciente são separados. Atualmente o paciente mora com
seu pai e sua madrasta. Essa, por sua vez, mantém uma conduta rígida com relação
ao paciente, impossibilitando uma relação familiar mais adequada.
b) referente à criança:
Diante desse contexto familiar o paciente sente-se confuso de modo que
impossibilita sua adequação no contexto escolar.
Foco:-
a) da P.B.I.
Trabalhar o emocional ajudando o paciente a lidar com o seu espaço na atual
família, com isso melhorar seu desempenho escolar.
b) da Orientação de Pais
Sensibilizar os pais a uma maior flexibilidade principalmente na conduta rígida de
sua madrasta, viabilizando uma maior adequação ao contexto familiar com relação
ao paciente e conseqüentemente maior adequação no seu desempenho escolar
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Instabilidade, defensivo, impotência.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A dinâmica familiar o possibilita a organização da criança. Reside com pai e
madrasta, a qual é muito rígida com o paciente, não demonstrando afetividade, sendo
hostil e distante. A criança não se percebe aceita e amada em seu lar. Sente-se
confusa, não conseguindo lidar e reconhecer o próprio espaço nesta família.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 10 (Prontuário:- 1504 1)
Idade:- 09 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental
Súmula da Caso
A criança apresenta dificuldades no processo de aprendizagem, sendo aprovada todo
ano após intensa recuperação. Apresenta problemas quanto à memorização, a não
acompanhar o ritmo dos colegas de classe e desleixo com seu material.A família é
constituída pelo casal e três filhas: a mais velha com 13 anos e duas com 09 anos,
sendo a paciente filha adotiva. Casados há 19 anos, sempre desejaram ter um filho
adotivo, mas com muitas dificuldades a mãe conseguiu engravidar. A mãe apresenta
problemas uterinos, tendo permanecido em repouso durante as duas gestações. A mãe
informa que estava no 6º mês de gestação de sua segunda filha quando optaram pela
adoção. No início, com 03 crianças pequenas e com um acúmulo de atribuições,
sofreram uma certa desorganização na dinâmica familiar, embora considerem
satisfatório o relacionamento atual entre os membros da família. A mãe informa que a
queixa teve início quando uma professora de Educação Física contou à paciente que
ela é adotiva, sem qualquer intenção de ajuda, prejudicando seu rendimento escolar.
Desde então, vem enfrentando dificuldades para lidar com a filha, que alega que a mãe
lhe mentiu. Os pais não a recebem como adotiva e procuram atender às suas
expectativas.
A criança apresenta dificuldades no processo de aprendizagem. Seu rendimento
escolar é precário, o conseguindo memorizar os conteúdos programáticos
desenvolvidos em sala de aula, além de desperdiçar seus materiais escolares. Segundo
a mãe, a paciente nunca manifestou interesse por atividades escolares, sendo
promovida anualmente após intensa recuperação. As dificuldades escolares coincidem
com a época da descoberta da adoção. Trata-se de criança carinhosa, que apresenta
sinais de agressividade em determinadas situações, não conseguindo manter um
relacionamento muito próximo, com elogios e troca de afetos, com as pessoas. Os pais
demonstram uma exigência muito intensa com relação às atividades exercidas pela
paciente, não permitindo que a criança tenha um ritmo próprio. A paciente foi
surpreendida com a informação, dada por uma professora na escola, de que é adotiva.
A partir desta informação, o relacionamento, da paciente com a família, especialmente
com a mãe, tem se tornado hostil, não havendo confiança. A mãe mantém
comportamento inadequado, em desenvolver atitudes de comparação entre suas filhas.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A mãe da criança associa todos os problemas ao fato de ser adotiva e ter descoberto
na escola, os pais demonstram uma exigência muito grande, não permitindo que a
criança tenha um ritmo próprio.
b) referente à criança:
Tem conhecimento da queixa, embora durante os atendimentos traga conteúdos que
diferem da mesma. Encontra-se sem estimulação positiva e motivação quanto aos
estudos.
Foco:-
a) da P.B.I.
Problemas de aprendizagem relacionados à dinâmica familiar e conteúdos internos
da criança.
b) da Orientação de Pais
Sensibilização referente à conduta familiar, especialmente materna, que indica
comportamento inadequado na elaboração de atitudes relacionados ao foco e em
desenvolver sentimentos de comparatividade ente seus filhos.
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Rivalidade, depreciação.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Os pais demonstram uma exigência muito intensa com relação às atividades exercidas
pela paciente, não permitindo que a criança tenha um ritmo próprio. A paciente foi
surpreendida com a informação, dada por uma professora na escola, de que é adotiva.
A partir desta informação, o relacionamento, da paciente com a família, especialmente
com a mãe, tem se tornado hostil, não havendo confiança. A mãe mantém
comportamento inadequado, em desenvolver atitudes de comparação entre suas filhas.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 11 (Prontuário:- 1534 1)
Idade:- 08 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
Os pais realizaram inscrição do paciente para acompanhamento psicológico por
indicação da escola. A queixa refere-se às dificuldades de aprendizado, que repercute
em déficit no rendimento escolar. Apresenta dificuldades para reter informações,
dispersa-se facilmente, é preguiçoso e lento na execução das atividades de maneira
geral. O casamento ocorreu há 09 anos. No relacionamento há poucos atritos, evitam
discussões, especialmente na presença da criança. O paciente é filho único, sua mãe
não pretende ter mais filhos, diz que não tem paciência com crianças. O pai diz que
está difícil para ter mais um filho e ambos afirmam que o paciente é muito arteiro. O pai
refere-se ao paciente como sendo uma criança que reage com naturalidade às
situações a que é exposto, enfrentando a necessidade de tomar injeção, por exemplo,
sem esboçar qualquer reação contrária. Os pais informaram que, em virtude de
processos alérgicos desenvolvidos pelo paciente, a família fez uma série de adaptações
em casa, (exclusão do uso de cortinas, carpetes, cobertores, bichos de pelúcia, etc.) na
tentativa de propiciarem melhores condições de vida para a criança. Apesar da tentativa
de ajuste ao convívio familiar, os pais apresentam atitudes de intensa cobrança com
relação ao comportamento do paciente.
O paciente sente-se muito sozinho, diz que gostaria muito de ter um irmão e que por
isso faz artes. Não é compreendido pelos pais, que procuram limitar suas ações. No
contato com crianças menores ou com pessoas indefesas (uma tia materna, com
problemas de rebaixamento mental), o paciente acaba por agredi-las ou provoca-las,
instituindo uma relação de poder.
Apesar de reconhecer no paciente uma crian
ça que não lhes desobedece, que é bom,
os pais queixam-se do fato do paciente ser preguiçoso e lento, especialmente nas
atividades escolares, julgam-no teimoso. Os pais nunca estão disponíveis para as
necessidades do paciente. Nunca estão ao seu lado. Sempre ocupados e sem
paciência, acabam por serem responsáveis pelas atitudes inadequadas do paciente.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A família demonstra ter uma certa harmonia no relacionamento, porém há uma
atenção e cobrança dirigida ao comportamento do filho (único). O pai também não
trabalha atualmente, assumindo as prendas domésticas e a inversão de papéis.
b) referente à criança:
Apesar de sentir algumas dificuldades em algumas matérias, o paciente está na
série adequada para sua idade ( 09 anos 4 série).
Foco:-
a) da P.B.I.
Baixo rendimento escolar
b) da Orientação de Pais
Diminuir a ansiedade com relação ao comportamento do filho criticar menos e
motivar, quando necessário. Solicitação de alguns documentos: Relatório Escolar e
Médico do paciente.
Relação com sintomas psicopatológicos:-
Medo, angústia, solidão, impotência.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Apesar de reconhecer no paciente uma criança que não lhes desobedece, que é bom,
os pais queixam-se do fato do paciente ser preguiçoso e lento, especialmente nas
atividades escolares, julgam-no teimoso. Os pais nunca estão disponíveis para as
necessidades do paciente. Nunca estão ao seu lado. Sempre ocupados e sem
paciência, acabam por serem responsáveis pelas atitudes inadequadas do paciente.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 12 (Prontuário:- 1571 1)
Idade:- 11 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
Os pais queixam-se que a paciente mente bastante, principalmente em relação a
situações na escola, no que diz respeito a bilhetes que têm que ser entregues aos pais
e a mesma os esconde. Apresenta bom comportamento na escola. Não expressa seus
sentimentos. É bastante reservada. É sociável, contactua facilmente com as pessoas,
mantendo constantes suas amizades, conseguindo estreitar com o pai uma relação de
muito afeto e compreensão. É carinhosa, obediente, prestativa, preocupada e
demonstra sentir muito medo diante de situações trágicas. A família convive15 anos
e é constituída pelo casal, a paciente e uma filha de 09 anos, com a qual a paciente
mantém bom contato. Por ter tido 02 abortos espontâneos, a mãe fez um tratamento
rigoroso e acabou engravidando da paciente. A família demonstra viver em harmonia,
procurando constituir uma unidade. Procuram dialogar sempre que se deparam com
situações que constituem em impasse. Não estão conseguindo lidar com o fato da
paciente mentir e estão encontrando dificuldade em aceitar que a mesma é uma pré-
adolescente e que os limites são necessários. Denota um ajuste na dinâmica familiar,
sendo que aparentemente vivem dentro de um clima positivo, embora não consigam
aceitar que a paciente cresceu e que precisam instituir limites. Apesar do bom contato
atual do casal, já passaram por situações conflitivas, discutindo na presença das filhas.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A família da paciente mostra-se um tanto quanto ajustada, sendo que
aparentemente vivem dentro de um clima positivo, apenas ainda não conseguem
aceitar que a paciente já é uma adolescente e assim precisam colocar limites.
b) referente à criança:
A criança traz seu problema com muita naturalidade e espontaneidade referindo-se
aos pais como pessoas que não exigem assim não estabelecem limites.
Foco:-
a) da P.B.I.
Trabalhar o mentir que faz com que a paciente esconda situações que a
comprometam.
b) da Orientação de Pais
Mostrar aos pais que é necessário a colocação de limites para que a paciente
comece a mudar determinados comportamentos.
Relação com sintomas psicopatológicos: Dependência, angústia.
Súmula/Núcleo de Violência:-
Não foram detectados sinais de violência na dinâmica familiar.
Tipo de violência:-Não foram registrados indícios de violência
Paciente nº 13 (Prontuário:- 1578 1)
Idade:- 10 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 4ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
Os pais trouxeram como queixa tarefas escolares inacabadas, por ser lento, disperso e
distante. Sente-se só por não ter irmãos, apresenta momentos de agressividade verbal.
A dinâmica familiar apresenta-se comprometida por não haver união, a valorização dos
papéis e por não funcionar de forma que não prejudique as relações emocionais. A mãe
é dominadora e sufoca o relacionamento familiar, propiciando e facilitando o
distanciamento entre pai e filho, fazendo prevalecer o que julga estar correto. O
trabalho da mãe exige um tempo extenso, impedindo um convívio mais próximo e diário
com a família. O paciente sente dificuldade em lidar com esta situação, propiciando a
ocorrência de conflitos.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
Através de dados obtidos com os pais, percebe-se que a dinâmica familiar
apresenta-se dispersa. A família necessita de mais união, um maior contato diário
entre seus membros. A mãe nesta família é dominadora, acabando por sufocar o
relacionamento entre todos, pois não permite que a criança passe a semana em
casa com o pai. A mãe possui uma ligação afetiva excessiva com o filho, tem um
grande medo de perdê-lo, acabando por distanciar o pai do relacionamento com o
filho. O pai pouco se posiciona na família, deixando a resolução das dificuldades nas
mãos da mãe. A família encontra dificuldades pelo fato da mãe trabalhar demais e
dedicar a maior parte do seu tempo aos afazeres do emprego, existindo uma
cobrança para que a mãe permaneça mais tempo em casa, convivendo com o pai e
o filho. Dentro de uma estrutura familiar falta a união de todos para que não se
sintam distantes e possam conviver mais tempo unidos.
b) referente à criança:
Lento, disperso e agressivo quando colocado em contato com situações onde sentia-
se pressionado pelas atividades a serem realizadas, não tolerando a frustração. A
criança exige muito de si mesma e acaba não aceitando o fato de que possa cometer
erros. Sente-se confuso pelo fato de conviver com duas famílias de dinâmicas
diferenciadas. Sente falta do convívio com a figura paterna, sentindo que não
união familiar. Sente ódio ao ser colocado em situações onde existem limites.
Necessita mostrar sua superioridade nas atividades realizadas, não estabelecendo
um equilíbrio entre o ganhar e o perder. A criança sente-se muito só, pois não
convive na companhia de outras crianças e pouco sae com os amigos do colégio.
Com relação às fases do seu desenvolvimento, atravessou mal pelas fases e sua
fase edípica não foi suficientemente elaborada.
Foco:-
a) da P.B.I.
Trabalhar para que a criança possa diminuir seu sadismo, por sentir-se ora frágil, ora
superior, possibilitando encontrar o equilíbrio nas relações, estabelecendo-se
condições de lidar com o poder e os limites.
b) da Orientação de Pais
Trabalhar e levar a família a compreender que a união é importante na dinâmica
familiar, a valorização dos papéis e a funcionar de forma que não prejudique as
relações emocionais da família.
Relação com sintomas psicopatológicos
Impotência, hostilidade, fragilidade.
Súmula / Núcleo de Violência:- A dinâmica familiar apresenta-se comprometida por
não haver união, a valorização dos papéis e por não funcionar de forma que o
prejudique as relações emocionais. A mãe é dominadora e sufoca o relacionamento
familiar. O trabalho da mãe exige um tempo extenso, impedindo um convívio mais
próximo e diário com a família. O paciente sente dificuldade em lidar com esta situação,
propiciando a ocorrência de conflitos.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 14 (Prontuário:- 1579 1)
Idade:- 10 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
A inscrição para atendimento psicológico ocorreu por solicitação da professora, por
afirmar ser a paciente uma criança desligada, desinteressada, calada, não interage com
as pessoas e na escola muito desatenta, apresentando caligrafia irregular e ilegível. O
paciente é filho de mãe solteira, tendo residido com a mãe, na casa da avó materna, a
os 07 anos de idade. Ainda solteira a mãe teve 02 filhos; uma menina de 12 anos, e o
paciente, com 10 anos, ambos de pais diferentes. O paciente não conhece seu pai
biológico. Passou a residir com a mãe após seu casamento. Deste casamento a mãe
teve mais 02 filhos; um menino de 04 anos e uma menina de 03 anos. Duas foram às
tentativas, infrutíferas, de viver com a mãe, retornando à casa da avó. Atualmente a
criança reside com 09 pessoas: os avós maternos, um casal de tios maternos e 05
primos. A criança sempre se queixou de desatenção e falta de afeto por parte da mãe.
A avó o julga como uma pessoa irresponsável, especialmente no que se refere às
atribuições da escola. A aé manipuladora e tudo é feito do jeito e por determinação
dela, constituindo-se em uma família dominada pelas imposições da avó. Apresenta-se
tímido e reservado, não expressando seus sentimentos. Procura manter um contato
superficial com as pessoas. A criança apresenta sinais intensos da carência de afeto,
sofre pela indiferença da mãe, não se sentindo parte integrante de sua vida, não tendo
encontrado lugar seu lugar nesta família. A avó é dominadora e acredita que esta é a
forma correta de educar o paciente, que não se sente compreendido e, por vezes,
apresenta-se de forma hostil diante das situações a que se submete.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A m
ãe da criança não se submete às ordens da avó materna e por isto existe um
clima de rivalidade. Também percebemos que a avó é manipuladora, tudo tem que
ser do jeito dela. É uma família dominada pelos gostos e imposições da avó.
b) referente à criança:
A criança é carente de afeto, de carinho, sente-se diferente, pois só ela é que não
mora com a mãe. Por essa ausência da mãe, a criança apresenta tais
comportamentos, como uma forma de chamar a atenção.
Foco:-
a) da P.B.I.
Dificuldade de expressar alguns de seus sentimentos, dificultando assim seu
relacionamento. A ausência da mãe faz com que ele se comporte diferente para
chamar atenção.
b) da Orientação de Pais
Orientar a avó quanto a dificuldade que tem de se relacionar com a filha e a sua
maneira de dominar as pessoas e situações.
Relação com sintomas psicopatológicos
Incapacidade, hostilidade, desamparo, solidão, impotência.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A criança apresenta sinais intensos da carência de afeto, sofre pela indiferença da mãe,
não se sentindo parte integrante de sua vida, não tendo encontrado lugar seu lugar
nesta família. A aé dominadora e acredita que esta é a forma correta de educar o
paciente, que não se sente compreendido e, por vezes, apresenta-se de forma hostil
diante das situações a que se submete.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 15 (Prontuário:- 1587 1)
Idade:- 12 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 4ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
A criança está apresentando problemas de aprendizagem por não se dedicar aos
estudos, não demonstrando interesse, estando sempre alheia às orientações fornecidas
em sala de aula. É muito desligada. Foi retida na 1ª e 4ª séries.
A dinâmica familiar sempre foi prejudicada pelos constantes desentendimentos
ocorridos entre o casal. A paciente é a filha mais nova de três irmãos, estando os
demais com 20 anos (sexo feminino) e 17 anos (sexo masculino), com os quais
estabelece um relacionamento satisfatório. A gravidez da paciente foi indesejada,
devido ao fato do pai ser um alcoólatra. A separação vista como inevitável, ocorreu
aproximadamente 12 anos. Na ocasião a paciente estava com 03 meses de vida. A
criança nunca queixou-se da ausência do pai. Esporadicamente o pai os visita e,
quando o faz, geralmente está embriagado, faz escândalo e todos acabam sendo
expostos a um profundo constrangimento. É possível que a criança apresente o
comportamento de ser desligada para não entrar em contato com a dificuldade em
estabelecer uma relação mais efetiva com o pai. A figura paterna apresenta-se bastante
comprometida. O problema central de aprendizagem está relacionado a aspectos
emocionais. A criança lida muito com a realidade, mostrando - se melancólica e
depressiva. Difícil contato com o pai, que coloca em dúvida a paternidade da paciente.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
Entrevista com a mãe:
A mãe traz como queixa que a criança é aérea, distraída, sem interesse escolar e
este comportamento está lhe trazendo problemas de aprendizagem. Existe a
preocupação da mãe com o futuro da criança e também com o sustento dela, pelo
fato dela (mãe) ser sozinha, mas a mãe não percebe que o problema não é de
aprendizagem, e sim emocional relacionado à família e no relacionamento com o pai.
Entrevista com o pai:
Pai separado da mãe, alcoólatra, que se apresenta mal, cheira mal, veio à entrevista
em estado de embriaguez e apresenta dúvidas da criança ser sua filha ou não.
b) referente a criança:
A criança tem dificuldade de entrar em contato com o mundo imaginativo, questão
que aparece quando a criança tem que escrever, colocar para fora o seu interior,
dificuldades essas ligadas ao relacionamento que a criança tem com o pai. Criança
que lida muito com a realidade mostrando-se melancólica, depressiva. Traz como
uma queixa a questão do roubo, onde somem coisas em sua casa e depois aparece
em suas gavetas e não sabe como isso acontece.Pelo estilo da paciente se colocar
na sessão, revela que tem todos os requisitos para ir bem na aprendizagem, mas
devido aos seus problemas emocionais está encontrando dificuldades.
Foco:-
a) da P.B.I.
Levar a criança a compreender que é necessário entrar em contato com sua
imaginação, e com suas fantasias a fim de que possa lidar melhor com sua própria
realidade. Proporcionar espaço onde ela se sinta à vontade para estar falando deste
mundo interno.
b) da Orientação de Pais
Levar a mãe a refletir sobre as dificuldades emocionais vividas pela criança em
função da problemática familiar e do seu difícil relacionamento com o pai. Ajudar a
mãe a buscar um contato mais próximo com a criança, a fim de a mesma sinta-se
mais confiante para estar falando de suas dificuldades.
Relação com sintomas psicopatológicos
Depreciação, desvalorização, auto-estima rebaixada.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Pais separados. Difícil contato com o pai, que coloca em dúvida a paternidade da
paciente. É alcoólatra. É provável que a criança apresente-se distante para não entrar
em contato com a dificuldade de relacionamento com o pai. Problemas de
aprendizagem ligados a problemas emocionais. Criança apresenta-se melancólica e
depressiva.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 16 (Prontuário:- 1589 1)
Idade:- 07 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso
A inscrição para atendimento psicológico deve-se ao fato de ter sido encaminhada pela
pedagoga da escola. A queixa refere-se a problemas escolares de fixação de atenção e
comportamento rebelde. A dispersão e o fato de estar distante em sala de aula podem
estar relacionados às perguntas que a paciente faz sobre o falecimento de sua mãe. A
paciente sempre viveu com o pai e uma irmã mais velha, que a criou como se fosse sua
filha, em virtude de sua mãe ter falecido em função de complicações em seu parto.
Passou a residir com o pai, quando este, dois anos antes de dar início ao atendimento
psicológico, contraiu matrimônio. No entanto, em virtude da separação de seu pai,
ocorrida há cinco meses, a paciente passou a residir com a irmã, hoje casada e com 23
anos de idade. Era impedida pela irmã de ir à casa de seu pai, devido ao fato de
acreditar que a madrasta influenciava negativamente a paciente com relação aos
familiares. A paciente sempre demonstrou um sofrimento intenso, visto que sentia muito
a falta do pai. Tem noção que os problemas são mais de ordem psicológica do que de
inteligência. Demonstra sentir muito ciúme
s das pessoas com quem tem contato.
A paciente tem informações e solicita detalhes acerca da morte da mãe, tendo
conhecimento que a mãe morreu por ocasião de seu nascimento. A irmã diz ter
sacrificado sua adolescência para cuidar da paciente. Pai casa-se novamente,
rompendo a união após seis meses do casamento. A paciente permanece confusa e
passa a falar mais constantemente acerca da morte da mãe.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:-
Têm noção que os problemas são mais de ordem psicológica do que de inteligência.
A paciente tem noção que os problemas começaram com a separação da paciente
com seu pai, enquanto estava casado.
b) referente a criança:
Compreende que tem problemas, mas ainda n
ão percebe porque ocorrem e o que
pode ser feito para a melhora dos mesmos.
Foco:-
a) da P.B.I.
Tolerância à frustração, problemas com ciúmes.
b) da Orientação de Pais
Problemas com ciúmes com referência relação à irmã (papel de mãe), pois a
paciente é criada por ela e portanto convive a maior parte do tempo com ela e o
marido e não com o pai verdadeiro ( que veio na entrevista inicial com os pais), e
também tolerância à frustração, chantagem emocional
Relação com sintomas psicopatológicos
Sofrimento, desamparo, angústia.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A paciente tem informações e solicita detalhes acerca da morte da mãe, tendo
conhecimento que a mãe morreu por ocasião de seu nascimento. A irmã diz ter
sacrificado sua adolescência para cuidar da paciente. Pai casa-se novamente,
rompendo a união após seis meses do casamento. A paciente permanece confusa e
passa a falar mais constantemente acerca da morte da mãe.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 17 (Prontuário:- 1606 1)
Idade:- 08 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 2ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
Por indicação da escola foi realizada inscrição do paciente para um trabalho de
acompanhamento psicológico. O paciente não é alfabetizado e apresenta assimilação
lenta do conteúdo dado. Não consegue bom desempenho em Leitura e Gramática,
apresentando dificuldades na junção de letras para a formação das palavras e em
interpretação de textos, embora apresente rendimento favorável em Matemática.
Disperso, desatento, desobediente, despreocupado, agressivo, não realiza as tarefas
propostas. O casal iniciou um compromisso de namoro há 18 anos. Na ocasião a mãe
contava 13 anos e o pai 19 anos. Três anos mais tarde a mãe engravidou, o que
acabou por antecipar o casamento. No início do casamento, o casal passou por
dificuldades financeiras com os filhos pequenos, por crises de desemprego do marido, o
que provocou um período de turbulências na relação familiar. Atualmente procuram
manter bom nível de relacionamento. No entanto, ambos trabalham, têm pouco tempo
para os filhos, os quais nem sempre podem ser assistidos no que necessitam. Apesar
das dificuldades a mãe garante que a família vive em harmonia e que o relacionamento
entre o casal é muito satisfatório. O casal tem 03 filhos, uma menina de 13 anos e dois
meninos, um de 08 e outro de 07 anos. O paciente agride fisicamente seu irmão. As
brigas entre os irmãos ocorrem por ciúmes, provavelmente por terem idades o
próximas. Por estas atitudes, via de regra, o paciente é repreendido pela irmã e, por
vezes, punido fisicamente por ela, que acaba por ter a responsabilidade de manter a
ordem e o controle da dinâmica interna familiar. O compromisso da casa parece ficar ao
encargo da filha mais velha. A família busca uma melhor organização interna, mas
enfrentam dificuldades em muitos aspectos, até mesmo para tirar um período anual de
férias, por exemplo, onde casal nunca conseguiu tirar na mesma época do ano, o que
nunca lhes possibilitou ter alguma atividade em que toda a família pudesse estar
envolvida. Apresenta ciúmes do irmão, rivalidade natural, mas que deve ser amenizado
pelos pais no dia-a-dia. Pais comprometidos com o crescimento saudável do paciente.
Diante de uma dinâmica familiar comprometida percebe-se que a forma que o paciente
encontrou de enfrentar suas dificuldades foi tornando-se passivo, não tomando
iniciativa e não emitindo opiniões. Tem uma mãe autoritária, o pai é mais flexível, mas
permanecem pouco tempo juntos. A figura materna acaba por determinar como a
dinâmica geral da família deve funcionar. Como o paciente percebe-se impotente diante
desta situação, acaba por deslocar para que os pais tragam como queixa;
principalmente a dispersão e desatenção.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A queixa não precede, pelo contrário, a criança não toma iniciativas, sem muitas
opiniões, um pouco passiva. A mãe é uma pessoa um pouco autoritária, e acredito
que possa ser decorrente disso a passividade. O pai, por sua vez, é mais maleável.
A família fica pouco tempo junta, e a criança expressou isso no atendimento.
b) referente a criança:
A criança não apresentou, em nenhum momento, características com relação a
queixa dos pais. Em todos as sessões mostrou-se tranqüila, obedecendo os
limites e principalmente sem nenhum traço de agressividade.
Foco:-
a) da P.B.I.
O foco proposto foi o de trabalhar a questão da sua passividade.
b) da Orientação de Pais
Foi colocado aos pais que os motivos pelos quais a criança estava em atendimento
era provavelmente para que o outro irmão não ficasse sozinho.
Relação com sintomas psicopatológicos
Agressividade, rivalidade, abandono
Súmula / Núcleo de Violência:-
Diante de uma dinâmica familiar comprometida percebe-se que a forma que o paciente
encontrou de enfrentar suas dificuldades foi tornando-se passivo, não tomando
iniciativa e não emitindo opiniões. Tem uma mãe autoritária, o pai é mais flexível, mas
permanecem pouco tempo juntos. A figura materna acaba por determinar como a
dinâmica geral da família deve funcionar. Como o paciente percebe-se impotente diante
desta situação, acaba por deslocar para que os pais tragam como queixa;
principalmente a dispersão e desatenção.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 18 (Prontuário:- 1613 1)
Idade:- 11 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
Por sugestão da professora, os pais realizaram inscrição da paciente para atendimento
psicológico. A criança apresenta atitudes inadequadas, como rasgar cadernos e livros
de colegas. A criança mente, pega dinheiro escondido de outros colegas, briga com a
irmã e responde para a mãe, faz muitas travessuras e na escola tem estado mais
distraída e desinteressada. Esquece-se facilmente do que lhe é explicado.Tem se
tornado bastante agressiva, malcriada, nem sempre atendendo às solicitações da mãe.
Após 05 anos de namoro, casaram-se, há 13 anos, numa cidade do interior de Minas
Gerais. A paciente nasceu 01 ano e 04 meses após o casamento. Em determinadas
ocasiões o pai chegava alcoolizado em casa e acabava por provocar discussões e
desentendimentos. Estas atitudes do pai incomodavam a todos. A paciente não
aceitava a situação imposta ao convívio familiar e, muitas de suas atitudes, vistas como
mais inadequadas, especialmente na escola, ocorreram em decorrência do
comportamento questionável de seu pai. Segundo o pai trata-se de criança inteligente.
Quando pequena obedecia seus pais, tendo atitudes favoráveis que possibilitava o
relacionamento com as pessoas de maneira geral. Dentro da dinâmica familiar existem
formas distintas de lidar com os filhos. A paciente sente-se incompreendida pelos pais,
que valorizam as ações da filha mais nova. Não tem conseguido lidar com esta
indiferença e acaba por apresentar comportamento infantilizado, nervosismo, mal
humor e as demais queixas apresentadas pelos pais. Sem que de dessem conta, os
pais acabavam, por suas ações, contribuindo para a conduta anti-social apresentada
pela paciente, intensificando o ciúmes que sentia da irmã.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
Os pais valorizam a filha mais nova e a paciente sente-se rejeitada e tem muitas
atitudes infantilizadas, propiciando o comportamento de reclamações, reforçando a
queixa e condutas anti-sociais associadas mais a ciúmes.
b) referente à criança:
A criança irrita-se facilmente, briga com a irmã mais nova, apresenta conduta
infantilizada, provavelmente ocasionado pela falta de atenção dos pais e ciúmes da
irmã menor.
Foco:-
a) da P.B.I.
O relacionamento com os pais e a irmã.
b) da Orientação dos Pais
Orientação aos pais quanto a forma adequada e inadequada de agirem com a
paciente.
Relação com sintomas psicopatológicos
Agressividade, indiferença, hostilidade, angústia.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Dentro da dinâmica familiar existem formas distintas de lidar com os filhos. A paciente
sente-se incompreendida pelos pais, que valorizam as ações da filha mais nova. Não
tem conseguido lidar com esta indiferença e acaba por apresentar comportamento
infantilizado, nervosismo, mal humor e as demais queixas apresentadas pelos pais.
Sem que de dessem conta, os pais acabavam, por suas ações, contribuindo para a
conduta anti-social apresentada pela paciente, intensificando o ciúmes que sentia da
irmã.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 19 (Prontuário:- 1666 0)
Idade:- 10 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
Por solicitação e exigência do Diretor da escola em que o paciente estuda foi realizada
sua inscrição para um trabalho de atendimento psicológico. A queixa central é a de que
o paciente apresenta comportamentos agressivos com os colegas e professores. As
agressões são verbais e físicas e vêm comprometendo o trabalho dos educadores.
Trata-se de família sem estrutura. A criança reside com a avó paterna. Sua mãe faleceu
quando o paciente tinha 01 ano e 05 meses de vida. A mãe faleceu no parto do 4º filho,
juntamente com a criança. O paciente nunca pergunta pela mãe. O pai casou-se
novamente. O paciente visita seu pai, mas não aceita residir com ele. O paciente tem
duas irmãs: uma de 17 anos, casada, que reside numa cidade do interior nordestino,
a outra, de 15 anos, reside com uma tia, nas imediações da casa em que o paciente
mora, o que possibilita um contato mais constante entre eles. A avó teme pelo futuro do
paciente, principalmente por residirem em uma favela. Segundo informações da
professora, trata-se de criança impulsiva, que apresenta grande dificuldade em
controlar-se. Seu comportamento prejudica seu processo de aprendizagem e
compromete o rendimento geral da sala, dificultando o trabalho dos educadores. Não
apresenta restrições quanto ao seu potencial intelectual, tendo sido verificado que
apresenta condições satisfatórias para o aprendizado. Não é tolerante com os colegas
de classe, solicitando constante atenção dos adultos. Ressente-se e magoa-se
facilmente com as pessoas. A criança não dispõe de uma orientação necessária para
sua formação. A família não tem estrutura e não consegue organizar e controlar a vida
do paciente. Apresenta sérias dificuldades de ajuste social, com comportamentos
agressivos. Não pergunta pela mãe, falecida durante o parto do filho, mas aponta
para ela em todas as fotografias. Parece sofrer a dor desta perda, recolhida e
deslocada para comportamento violentos e agressivos. Age de forma violenta,
chegando a agredir fisicamente a avó paterna, com quem reside.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
É uma família sem estrutura, onde a criança mora com a avó. Sua mãe faleceu e o
pai e irmão moram em outras casas. A avó não possui nenhum controle sobre o
comportamento da criança.
b) referente à criança:
É uma criança agressiva, carente e com grande dificuldade em estabelecer vínculos
com as pessoas devido a desestrutura da família onde vive.
Foco:-
a) da P.B.I.
Mostrar à criança o motivo de sua agressividade e carência e estabelecer
vínculo com a mesma.
b) da Orientação de Pais
Orientar e mostrar ao pai e avó da criança o motivo da agressividade.
Relação com sintomas psicopatológicos
Agressividade, abandono, solidão, impulsividade.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A criança não dispõe de uma orientação necessária para sua formação. A família não
tem estrutura e não consegue organizar e controlar a vida do paciente. Apresenta
sérias dificuldades de ajuste social, com comportamentos agressivos. Não pergunta
pela mãe, falecida durante o parto do 4º filho, mas aponta para ela em todas as
fotografias. Parece sofrer a dor desta perda, recolhida e deslocada para comportamento
violentos e agressivos. Age de forma violenta, chegando a agredir fisicamente a avó
paterna, com quem reside.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 20 (Prontuário:- 1679 1)
Idade:- 05 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- sem escolaridade
Súmula do Caso:-
A queixa refere-se ao medo de tudo que está diretamente relacionado à paciente: medo
de shopping, chuva, de estar só de animais e morte. À medida que a paciente está se
desenvolvendo, o medo vem se intensificando. A dinâmica familiar é tida como
favorável. O casal raramente discute. Eles procuram organizar suas vidas e a de seus
filhos.. A mãe tem um pequeno comércio e a criança a acompanha diariamente.
Relatam que a criança possui um medo excessivo de tudo o que está ao seu redor.
Este medo, que a acompanha desde pequena, os impede lidar mais espontaneamente
com a criança. Com seu crescimento julgaram que o medo diminuiria, no entanto vem
ocorrendo o contrário, com o passar do tempo seu temor se intensifica. Julga que todos
que envelhecem correm risco de morrer, teme pela vida dos avós, não quer que os pais
envelheçam, não quer crescer para não correr o risco de morrer. Na escola é vista
como uma criança afetiva, alegre e independente. Brinca com todas as crianças de
maneira geral, sendo bem aceita no grupo. Realiza todas as atividades propostas pela
professora e tem rendimento escolar satisfatório. No entanto, não conseguem impor
limites e acabam permitindo que a paciente manifesta seus medos, sem se sentir
segura e protegida pelos pais.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
Relatam que a criança possui um medo excessivo, o qual atrapalha seu
desenvolvimento.
b) referente à criança:
A criança traz como queixa o medo da chuva, de ficar sozinha e do escuro.
Foco:-
a) da P.B.I.
Aceitar os limites impostos.
b) da Orientação de Pais
Aprender a impor limites para a criança aceitar os limites impostos.
Relação com sintomas psicopatológicos
Medo, angústia, dependência.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Não detectamos grandes conflitos no que tange à dinâmica da família. O casal
demonstra viver em harmonia, procuram organizar suas vidas e a de seus filhos. No
entanto, não conseguem impor limites e acabam permitindo que a paciente manifesta
seus medos, sem se sentir segura e protegida pelos pais.
Tipo de violência:-Não foram registrados indícios de violência
Paciente 21 (Prontuário:- 1692 1)
Idade:- 06 anos
Sexo:- masculino
Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
Os pais trazem como queixa a dificuldade de memorização detectadas pela escola,
além de não conseguir assimilar, com facilidade, os conteúdos desenvolvidos na
escola, o que o impede de acompanhar outras crianças da mesma série escolar.
Segundo a professora, consegue aprender o que lhe é ensinado, mas não retém as
informações recebidas. A relação que permeia a dinâmica familiar na qual o paciente
está inserido parece estruturada. A família é constituída pelos pais e três filhos. A filha
mais velha tem 18 anos, um rapaz de 16 anos e o paciente, caçula, com 06 anos. O
pai, provedor, demonstra necessitar muito da participação da mãe em suas atividades
em geral, incluindo a profissional. Denotou muito compromisso e seriedade no trato com
seus familiares, mas pouco confiante na sua atual condição como pessoa. Este dado
torna-se mais claro, quando, em uma das sessões em que o pai esteve ausente, a mãe
menciona um problema de saúde do marido, que incluiu tratamento psiquiátrico e
psicológico, mas que seu marido não gosta que se mencione nada a este respeito. Por
este motivo, a mãe precisa se ausentar muito do lar, deixando os cuidados com o
paciente, muitas vezes, ao encargo da filha mais velha, vista pela mãe como uma filha
mais rebelde. É provável que o paciente sinta esta ausência da e, não consiga lidar
com ela e esteja fazendo um desdobramento para as dificuldades que vem
apresentando na escola. Em dados momentos, a mãe menciona que o paciente
também tem um gênio difícil, assim como a irmã. O paciente é percebido como uma
criança muito amável e educada, raramente briga com outras crianças, ao contrário,
está sempre protegendo as crianças menores. Segundo os pais, o paciente sempre foi
uma criança esperta e atenciosa, aprende tudo com muita facilidade, sendo comparado
muitas vezes com um adulto, no que se refere à sua postura. Os especialistas que
lidam com saúde pública devem ficar atentos às queixas trazidas como pedido de
ajuda, porque nem sempre a violência surge como motivo da consulta. No entanto,
quando detectada, quando a sociedade reconhecer que o problema é dela,
provavelmente estará muito mais próximo de minimizar estas questões.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:-
Estável, não trouxeram nada diferente do normal, afetivamente não uma ligação
afetiva muito intensa entre os familiares.
b) referente à criança:-
Não sabia o motivo do encaminhamento, a queixa o ficou clara, o foi
confirmada. Os pais foram orientados a prestar atenção no comportamento da
criança, voltando ao atendimento se houver algo de diferente nesse comportamento.
Foco:-
Não foi delimitado, em função de não ter sido caracterizada a queixa que os conduziu à
procura de atendimento psicológico.
Relação com sintomas psicopatológicos
Dependência, medo, angústia, desamparo.
Súmula/ Núcleo de Violência:-
Durante o processo de atendimento psicológico não foi detectado sinais de violência
nesta dinâmica familiar, muito embora, em função de problemas de saúde da figura
paterna, houve necessidade de relativa ausência da figura materna, que passa boa
parte do tempo acompanhando o pai, para facilitar seu acesso (pai), principalmente, ao
trabalho. É provável que o paciente sinta esta ausência da mãe, não consiga lidar com
ela e esteja fazendo um desdobramento para as dificuldades que vem apresentando na
escola.
Tipo de violência:- Não foram registrados indícios de violência
Paciente nº 22 (Prontuário:- 1713 1)
Idade:- 08 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
Os pais queixam-se da imaturidade emocional da paciente. Apresenta dificuldades
escolares ligadas à dispersão e desorganização, causando irritabilidade na e. A
família apresenta uma dinâmica conturbada. Esta desarmonia, segundo a mãe, é
proveniente do fato de seu marido beber com relativa freqüência, fato que lhe causa
muito incômodo. A mãe ainda alega que a paciente demonstra dificuldades em lidar
com seu crescimento, salientando que a própria criança menciona o fato de que vai
continuar sendo o bebezinho dos pais, insistindo e, por vezes, dormindo entre o casal.
Procura estar sempre entre os pais quando estes se aproximam fisicamente.A
inconstância e a desarmonia da dinâmica familiar conduzem à inabilidade do casal em
organizar e resolver suas dificuldades conjugais. O ambiente familiar conturbado causa
desorganização geral e inadequação quanto as atitudes da paciente. Confusa, não
consegue lidar com o ciúmes que a mãe sente de si, principalmente pelas dificuldades
do casal serem direcionados para a paciente, ocasionando-lhe baixa auto- estima.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
O casal apresenta desarmonia na dinâmica familiar e demonstra inabilidade em lidar
com as dificuldades em geral. A mãe sente ciúmes da filha e manipula a mesma para
tentar solucionar suas dificuldades conjugais.
b) referente à criança:
Possui boa compreensão quanto aos conteúdos escolares sendo que em alguns
momentos dispersa-se, pois está com interesse em adquirir outros conhecimentos e
novas descobertas. Denota certa desorganização causada pelo ambiente familiar
em relação a seus materiais e vestimentas.
Foco:-
a) da P.B.I.
Trabalhar baixa auto-estima e auxiliar na organização da mesma em relação às
atividades e coisas.
b) da Orientação de Pais
Procurar propiciar orientações para que os mesmos saibam descentralizar suas
dificuldades conjugais direcionadas para a filha.
Relação com sintomas psicopatológicos
Dependência, impotência, desestrutura, desorganização.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A inconstância e a desarmonia da dinâmica familiar conduzem à inabilidade do casal
em organizar e resolver suas dificuldades conjugais. O ambiente familiar conturbado
causa desorganização geral e inadequação quanto as atitudes da paciente. Confusa,
não consegue lidar com o ciúmes que a mãe sente de si, principalmente pelas
dificuldades do casal serem direcionados para a paciente, ocasionando-lhe baixa auto-
estima.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 23 (Prontuário:- 1741 1)
Idade:- 10 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
Os pais buscam atendimento psicológico queixando-se de dispersão, desobediência e
demonstração de preguiça para fazer as lições de casa. É dependente e imatura, não
tem nenhum pudor, comporta-se como criança em relação ao corpo. Às vezes, tem
dificuldades em manter constantes suas amizades na escola, não sendo raro ter que
fazer trabalhos sozinha por não ser aceita nos grupos. A inconstância e a desarmonia
da dinâmica familiar conduzem à inabilidade do casal em organizar e resolver suas
dificuldades conjugais. O ambiente familiar conturbado causa desorganização geral e
inadequação quanto as atitudes da paciente. Confusa, não consegue lidar com o
ciúmes que a mãe sente de si, principalmente pelas dificuldades do casal serem
direcionados para a paciente, ocasionando-lhe baixa auto- estima, subestimando tudo
que faz e supervalorizando o que os outros fazem, incluindo o que é realizado pela
figura materna.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A paciente é filha única e é bastante protegida pelos pais. Por um lado os pais
exigem comportamentos mais maduros e, em outros momentos, a superprotegem,
como se não quisessem que ela realmente cresça. Observamos que o pai fica
afastado da educação da paciente, deixando à mãe a incumbência de tomar
decisões sozinha, com relação à criança. A mãe é bastante ativa e ansiosa e três
parou de trabalhar, ficando em casa para cuidar da paciente, o que faz com que exija
mais da paciente e ao mesmo tempo tenha uma atitude ambivalente de
superproteção para com a filha.
b) referente
à criança:
A paciente apresenta-se bem dentro de seu desenvolvimento, conseguindo vir para
as sessões sozinha iniciando conversas com a terapeuta. Apresenta mecanismos de
defesa obsessivos preocupando-se em não sujar, não estragar nada, como se
sentisse incomodando, sendo um peso para as pessoas. Apresenta dificuldades em
lidar com seus impulsos de agressividade, já que tem que exibir sempre
comportamentos certinhos e adequados. A paciente sente falta da figura do pai e
de uma participação mais ativa de sua parte. A paciente gostava da escola e agora
não gosta mais, devido a não poder brincar mais na escola, sendo as matérias de
escrever (sic), muitas lições de casa. Na verdade a paciente vive uma contradição
de sentimentos, ora quer crescer, gosta da escola, sente-se bem com as mudanças
que estão ocorrendo em seu corpo; ora tem medo de crescer, apresentando
comportamentos infantis, como de birra, sem pudor com relação ao seu corpo,
ficando, às vezes, nua ou trocando roupas na frente de outras pessoas, como se não
tivesse um corpo já desenvolvido. Existem sentimentos de baixa auto-estima,
achando que tudo o que faz não é bonito e o que as suas colegas fazem é melhor.
Existe uma competição com a figura materna, a paciente pensa que tudo que sua
mãe faz é bonito e melhor do que ela pode fazer.
Foco:-
a) da P.B.I.
Trabalhar com a criança os seguintes aspectos: sua agressividade e impulsos que
não consegue controlar, seus sentimentos contraditórios de ora querer ora não
querer crescer. a baixa auto-estima e auxiliar na organização da mesma em relação
às atitudes e coisas.
b) da Orientação de Pais
Maior participação do pai na dinâmica familiar,sentimentos contraditórios dos pais de
quererem ou não que a paciente cresça, ansiedade da mãe para com os resultados
da paciente na escola.
Relação com sintomas psicopatológicos
Imaturidade, dependência, inadequação, desvalorização, angústia.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A inconstância e a desarmonia da dinâmica familiar conduzem à inabilidade do casal
em organizar e resolver suas dificuldades conjugais. O ambiente familiar conturbado
causa desorganização geral e inadequação quanto as atitudes da paciente. Confusa,
não consegue lidar com o ciúmes que a mãe sente de si, principalmente pelas
dificuldades do casal serem direcionados para a paciente, ocasionando-lhe baixa auto-
estima.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 24 (Prontuário :- 1771 1)
Idade:- 07 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
A inscrição para atendimento psicológico ocorreu por solicitação da escola. A criança
apresenta dificuldades em relacionar-se, resistência em freqüentar a escola, não tem
elaboração e consciência sobre sua adoção e por isso não consegue separar-se da
mãe. A família é constituída pelo casal, o paciente, que está com 07 anos e uma filha,
de 05 anos. O paciente é uma criança adotiva. O casal sempre quis ter filhos. A mãe
tinha dificuldades para engravidar. Antes do paciente ser adotado, a mãe chegou a
engravidar, mas acabou por abortar, no 3º mês de gestação. Optaram pela adoção e
sempre mantiveram com o paciente uma relação de profundo afeto e respeito. Na
presença da mãe, o paciente mantém atitudes inadequadas, chora em demasia,
principalmente para não ficar na escola, onde teria que conviver com a ausência da
mãe. Os pais precisam propiciar condições adequadas para que o paciente não lide de
maneira insegura diante de suas necessidades e dificuldades. Com o pai o vínculo
também se constitui solidamente, apresentando forte ligação afetiva com o mesmo,
sendo tratado por este com muito carinho.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A mãe tem dificuldades em estar falando sobre a adoção do paciente e o pai reforça
essa dificuldade, não deixando a mãe falar com a criança sobre esse assunto.
b) referente à criança:
O paciente não consegue elaborar a questão de sua adoção, busca na mãe
segurança e resposta sobre isso, e ainda apresenta dificuldades em estar separando
- se dela e, conseqüentemente, por medo de perder essa mãe, apresenta
dificuldades em relacionar-se com outras pessoas.
Foco:-
a) da P.B.I.
Fazer com que a criança supere as dificuldades ao nível de relacionamento,
conseguindo elaborar de maneira adequada suas trocas afetivas e emocionais.
b) da Orientação de Pais
Fazer com que os pais proporcionem condições adequadas e se sensibilizem perante
as necessidades e dificuldades que fazem com que o paciente mostre-se inseguro.
Relação com sintomas psicopatológicos
Dependência, inadequação, solidão, impotência.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Não foram registrados sinais de violência quanto à dinâmica familiar.
Tipo de violência:-Não foram registrados indícios de violência
Paciente nº 25 (Prontuário :- 1773 1)
Idade:- 07 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
Os pais trazem como queixa o fato do paciente ser desligado, fala bobagens, referindo-
se ao medo que a criança sente dos pais morrerem. Sente medo do escuro. Os pais se
casaram há 07 anos. Vivem em harmonia, raramente ocorrem discussões. O paciente é
filho adotivo, tendo sido adotado 30 horas após seu nascimento. O casal sempre quis
ter filhos, porém o pai é estéril. O paciente soube que era adotivo aos 03 anos de idade.
Na pré-escola apresentava rendimento satisfatório, estabelecendo uma relação
adequada com a professora, além de conseguir juntar algumas letras e formar palavras.
Nesta época seu caderno manteve-se sempre impecável. Por ser dedicado e
inteligente, seu pai resolveu matriculá-lo no Sesi, por ser considerada uma escola mais
forte. No entanto, ao ingressar na 1ª série, passou a apresentar dificuldades,
especialmente por não conseguir passar da letra de forma para a cursiva. Quando
passou a ser assistido por professora particular, seu rendimento melhorou
sensivelmente, mas nunca dentro do Instituto Sesi, o que fez com que os pais o
transferisse de escola. Nesta família encontramos pais muito rígidos e exigentes,
especialmente se nos voltarmos para a figura materna, muito dominadora, procurando
fazer com que suas idéias e vontades prevaleçam sobre todos os membros da família.
Os pais percebem a criança como sendo muito inteligente e dedicada, sempre
organizado com seus pertences, materiais e atividades escolares impecáveis,
garantindo e recebendo elogios de seus pais. Tais aspectos contribuíram para os
dados discorridos como queixa, ou seja, ser desligado e falar bobagem, significa não
receber total influência de seus pais, ter ou poder encontrar seu próprio espaço, que lhe
garanta e possibilite seu crescimento.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) refere à dinâmica familiar:
Os pais são muito fechados, podam o paciente de muitas coisas. A mãe mostra-se
mais dominadora e o pai mais flexível, sendo bem discutida essa questão e uma
promessa de melhorar esse comportamento.
b) referente a criança:
O paciente é bastante distraído e desligado. No decorrer da terapia mostrou-se
comprometido. Foi ao neurologista e com a terapia melhorou sensivelmente,
manifestando somente curiosidade sexual, que é um aspecto difícil para a família.
Foco:
a) da P.B.I.-
Lidar com sua agitação e não falar coisas sem sentido.
b) da Orientação de Pais
Serem mais abertos e dialogar mais com o paciente.
Relação com sintomas psicopatológicos
Medo, insegurança, angústia, impotência.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Nesta família encontramos pais muito rígidos e exigentes, especialmente se nos
voltarmos para a figura materna, muito dominadora, procurando fazer com que suas
idéias e vontades prevaleçam sobre todos os membros da família. Os pais percebem a
criança como sendo muito inteligente e dedicada, sempre organizado com seus
pertences, materiais e atividades escolares impecáveis, garantindo e recebendo elogios
de seus pais. Tais aspectos contribuíram para os dados discorridos como queixa, ou
seja, ser desligado e falar bobagem, significa não receber total influência de seus pais,
ter ou poder encontrar seu próprio espaço, que lhe garanta e possibilite seu
crescimento.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 26 (Prontuário:- 1776 1)
Idade:- 09 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
Os pais apresentam a queixa de lentidão em todas as atividades que a paciente realiza:
comer, escola... A paciente é filha adotiva, tendo três irmãos, duas do sexo feminino: 23
e 20 e um do sexo masculino: 22 anos, que são filhos do primeiro casamento da mãe,
que atualmente é separada. A paciente não conhece sua mãe biológica. A mãe adotiva
da paciente viveu um segundo relacionamento afetivo com o pai biológico da criança.
Por ser alcoólatra, optou por separar-se do segundo companheiro. Algum tempo depois
da separação, foi procurada pelo companheiro que havia se envolvido com uma mulher
e, desta relação, a paciente havia nascido. Durante algum tempo reataram o
relacionamento, tendo sido nesta época que resolveram adotar a criança, a qual foi
registrada como filha legítima da mãe adotiva. Em vista do relacionamento ter
prosseguido de forma insatisfatória, a separação definitiva fez-se inevitável. Desde
então, o pai passou a visitar a criança mensalmente. Durante o período em que viveram
juntos ocorreram discussões freqüentes, tendo sido enfatizado, como motivo central, o
alcoolismo do companheiro. Resolveu adotar a criança. A paciente soube que era
adotiva aos 04 anos. Demonstra ser insegura quanto à realização das tarefas a que se
propõe fazer, não demonstrando convicção quando abordada sobre o tema estudado. A
família não dispõe de uma unidade sólida que possa conferir uma dinâmica familiar
organizada e satisfatória. A mãe procura fazer pela paciente, o que dispõe em termos
de recursos pessoais e condições, embora reconheça não ter muita paciência com sua
filha. A menina nada questiona, mas sente-se confusa diante de sua história pessoal,
além de ter que lidar com a incompreensão de sua mãe quanto ao seu ritmo próprio.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A paciente é filha de um homem que foi namorado de sua mãe. Esta que é mãe é
adotiva e registrou a paciente como filha legítima. A paciente tem três irmãos que
são do primeiro casamento da mãe, que agora é separada. A paciente não conhece
sua mãe legítima.
b) referente a criança:
A paciente é muito calma, faz tudo que lhe é solicitado, mas muito devagar. Na
escola apresenta algumas dificuldades, apesar de ter notas razoáveis. Com relação
a mãe biológica a paciente demonstra ter curiosidades.
Foco:-
a) da P.B.I.
A figura paterna é algo confuso para a paciente.
b) da Orientação de Pais
Motivar a mãe a compreender a criança com seu ritmo próprio.
Relação com sintomas psicopatológicos
Insegurança, desorganização, dependência.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A família não dispõe de uma unidade sólida que possa conferir uma dinâmica familiar
organizada e satisfatória. A mãe procura fazer pela paciente, o que dispõe em termos
de recursos pessoais e condições, embora reconheça não ter muita paciência com sua
filha. A menina nada questiona, mas sente-se confusa diante de sua história pessoal,
além de ter que lidar com a incompreensão de sua mãe quanto ao seu ritmo próprio.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 27 (Prontuário:- 1782 1). ESTE CASO FOI EXCLUÍDO DA AMOSTRA
Idade:- 09 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
A queixa apresentada refere-se a comportamentos infantis da paciente como chupar
chupeta, fala de forma inadequada (como uma criança com faixa etária inferior à sua),
enurese noturna, além de solicitar atenção constante de sua mãe. Antes do nascimento
da paciente, a família perdeu outro filho. A mãe estava fazendo tratamento
quimioterápico, não sabia que estava grávida e perdeu o bebê. A mãe desenvolveu o
Mal de Rodkegrin no sangue. Por ter sido acometida por um câncer, a família acabou
por sofrer forte tensão emocional, porém, com o passar do tempo, conseguiram
adaptar-se à nova condição de vida e, atualmente, a família vem conseguindo viver em
harmonia. A paciente é vista pelos pais como alguém que estaria substituindo o filho
que perderam. Este medo de perdê-la, intensificava as atitudes infantis da paciente. É
uma boa aluna, apresentando rendimento satisfatório na escola. Mantém bom contato
com as demais crianças. Provoca brigas constantes com os irmãos. Apresenta-se
infantilizada. Este comportamento é mantido e reforçado pelos pais, o qual acabava por
prejudicar e inibir seu crescimento, por medo de perdê-la.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A mãe procurou atendimento por estar preocupada com os comportamentos infantis
da paciente, com 09 anos usava fraldas, chupava chupeta e, às vezes, falava como
criança e o pai, no início, não concordava dizendo que era da idade.
b) referente a criança:
A criança não sabia o motivo da queixa, mas depois de esclarecida ela concordou e
ajudou muito nas sessões.
Foco:-
a) da P.B.I.
Comportamentos infantis (xixi na cama, chupar chupeta e fala infantil).
b) da Orientação de Pais
Poder perceber que estavam substituindo o filho que perderam pela paciente e com
o medo de perdê-la estavam reforçando o comportamento da criança e estavam
inibindo e prejudicando seu crescimento.
Relação com sintomas psicopatológicos: Imaturidade, dependência, medo.
Súmula / Núcleo de Violência:-
No geral não foram detectados sinais de violência na dinâmica familiar, somente a
manutenção do comportamento infantilizado assumido pela paciente, por temerem
perde-la como, no passado, aconteceu com um filho.
Tipo de violência Não foram registrados indícios de violência.
Paciente nº 28 (Prontuário:- 1791 1)
Idade:- 12 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- 7ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
A queixa refere-se às brigas constantes e a agressividade que a paciente tem com o
irmão. A família é constituída pelo casal, dois filhos (um menino de 15 anos e uma
menina de 12 anos) e a avó materna, que está com 80 anos e apresenta um quadro de
esclerose, ocupando boa parte do tempo e da paciência da figura materna. Durante o
dia, além dos cuidados com a casa, filhos, avó materna, a mãe ainda tem uma atividade
produtiva, referindo-se a um bazar de sua propriedade. Nesta ordem, o tempo que pode
dedicar a cada um dos elementos da família é restrito. O filho, de 15 anos, é visto como
mais maduro e compreensivo o que, inevitavelmente, faz com que haja maior
proximidade entre ele e a mãe. O pai, mais distante e omisso, faz valer sua autoridade
de forma objetiva, muitas vezes, com um simples olhar, o que também não garante
um relacionamento mais próximo entre ele e os filhos. A paciente ressente-se desta
situação, e agride a todos verbalmente, incluindo agressões físicas direcionadas à mãe
e ao irmão. Com freqüência a paciente agride verbal e fisicamente o irmão e algumas
vezes já agrediu a mãe. A paciente percebe-se só e incompreendida, não conseguindo
se fortalecer diante de uma dinâmica pouco afetiva. A família não apresenta
organização satisfatória que constitui a unidade para integração de seus membros. Os
pais estão separados, embora vivam na mesma casa. Divergem em opiniões e atitudes.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A criança usa o irmão e a escola para provocar a mãe, que ressalta o bom
comportamento do filho diante das dificuldades da paciente. O pai, frente a toda e
qualquer situação, mantém-se ausente, além de estar separado da esposa, apesar
de viverem na mesma casa.
b) referente à criança:
A criança sente-se presa pela mãe que não demonstra confiança e a poda de,
principalmente sair, sente-se inferior ao irmão e ressalta que ele é protegido da mãe.
Foco:-
a) da P.B.I.
Conflito com a mãe, dificuldade escolar.
b) da Orientação de Pais
Conflito com a filha, não aceita o crescimento da filha, não vê qualidades na filha.
Relação com sintomas psicopatológicos
Agressividade, violência, impulsividade, abandono.
Sumula / Núcleo de Violência:-
A família não apresenta organização satisfatória que constitui a unidade para
integração de seus membros. Detecta-se dificuldades no relacionamento da paciente
com sua mãe e irmão, havendo agressões físicas e verbais entre os três. O pai
apresenta-se sempre omisso. Estão separados, embora vivam na mesma casa.
Divergem em opiniões e atitudes. A paciente percebe-se só e incompreendida, o
conseguindo se fortalecer diante de uma dinâmica pouco afetiva.
Tipo de violência:- Violência física e psicológica
Paciente nº 29 (Prontuário:- 1804 1)
Idade:- 10 anos
Sexo:- Masculino
Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental
Súmula do Caso:-
O paciente tem comportamento agressivo com os irmãos, principalmente com a mãe,
apresentando mau comportamento e aproveitamento escolar. A mãe relata que vem
encontrando sérias dificuldades para lidar com o paciente, que vem apresentando
intensos sinais de violência contra seus dois irmãos: uma menina de 08 anos e um
menino de 04 anos. A mãe é o alvo central das manifestações de violência do paciente,
o que vem .prejudicando o estabelecimento de um vínculo que possa proporcionar a
estabilidade afetiva entre mãe e filho, o que vem dificultando intensamente o
relacionamento entre ambos.Trata-se de uma família que vive uma dinâmica pouco
estruturada. Os pais são separados, tendo o pai constituído nova família. O paciente
não aceita esta situação, que limitou a vida dos membros da família, em todos os
aspectos; quais sejam financeiro, social, psicológico, etc. A criança não tem, nem pode
fazer tudo o que fazia antes. Julga a mãe como responsável pela separação e pela
atual situação da família. Distanciou-se da mesma que tenta conduzir o relacionamento,
de modo a propiciar mais união. O paciente passou a apresentar dificuldade de se
comunicar, além de sinais de agressividade, aumentando a distância entre as pessoas
e prejudicando seu relacionamento afetivo de maneira geral.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
Os pais são separados e o comportamento do paciente mudou após a separação. A
criança acusa a mãe de ser a responsável pela separação, embora o pai tenha
constituído outra família. A vida econômica da família mudou muito devido à
separação, e o paciente não aceita não poder ter tudo o que tinha antes, pois no
momento a família passa por privações.
b) referente a criança:
É uma criança inteligente, carinhosa, mas não consegue elaborar seus sentimentos,
atuando de forma hostil com o meio. Manifesta sinais de muita revolta e rebeldia,
responsabilizando sua mãe por seu pai ter ido embora de casa. Não entende porque
não pode ter tudo o que quer e por isso torna-se agressivo.
Foco:-
a) da P.B.I.
Levar a criança a perceber que sua situação de filho de pais separados é vivida por
outras crianças e que mesmo sendo separados não deixarão de ser seus pais e que
seu relacionamento com sua mãe deve ser de maior respeito e afetividade, pois
acima de todas as dificuldades, eles estão juntos, e têm que se posicionar como mãe
e filho para um melhor relacionamento.
b) da Orientação de Pais
A mãe, apesar de estar em constante depressão, não se afasta dos filhos, e se
preocupa muito com o paciente. Quer melhorar o relacionamento entre eles, pois
teme que seu filho resolva ir morar com o pai. Percebe sua dificuldade em se
comunicar com o paciente e, por esse motivo, acaba sendo agressiva, o que
aumenta ainda mais a distância entre na sua afetividade e dificulta o relacionamento
entre ambos.
Relação com sintomas psicopatológicos
Agressividade, violência, desestrutura, impulsividade.
Súmula / Núcleo de Violência:-
Trata-se de uma família que vive uma dinâmica pouco estruturada. Os pais são
separados, tendo o pai constituído nova família. O paciente não aceita esta situação,
que limitou a vida dos membros da família, em todos os aspectos; quais sejam
financeiro, social, psicológico, etc. A criança não tem, nem pode fazer tudo o que fazia
antes. Julga a mãe como responsável pela separação e pela atual situação da família.
Distanciou-se da mesma que tenta conduzir o relacionamento, de modo a propiciar
mais união. O paciente passou a apresentar dificuldade de se comunicar, além de
sinais de agressividade, aumentando a distância entre as pessoas e prejudicando seu
relacionamento afetivo de maneira geral.
Tipo de violência:- Violência psicológica
Paciente nº 30 (Prontuário:- 1822 1)
Idade:- 05 anos
Sexo:- Feminino
Escolaridade:- sem escolaridade
Súmula do Caso:-
A queixa trazida pelos pais é de que trata-se de uma criança deprimida, dividida entre o
pai e a mãe que são separados. Presenciou várias brigas dos pais, inclusive com
agressões físicas. Ainda chupa chupeta e apresenta tamanho de uma criança de 03
anos.A paciente tinha 03 anos quando os pais optaram pela separação. Ambos
refizeram suas vidas e encontraram, cada um, com um novo companheiro, muito
embora não tenha ficado claro se residem com seus novos parceiros. A família de
origem dos pais apresenta severos comprometimentos quanto à estabilidade do núcleo
familiar. A mãe freqüentou casas de prostituição, apresentando-se de maneira
irresponsável diante de todas as situações às quais é exposta.O pai agrediu
fisicamente a mãe, na presença da criança. As discussões sempre foram muito
freqüentes e a paciente nunca foi poupada ou respeitada quando das intercorrências
entre o casal. Demonstrava excessivo sofrimento diante do impasse criado pelos
desentendimentos de seus pais, externalizando toda sua angústia e insegurança
através de desenhos e da recusa de falar dos assuntos que envolvem a discórdia e
desestrutura da dinâmica familiar. A criança chegou a presenciar e ser testemunha da
traição da mãe com relação ao pai, visto que era levada pela mãe, que a utilizava para
evitar suspeitas a respeito de sua improvável fidelidade. Após a separação a criança
adoecera e mantinha evidente desejo de estar na companhia da avó paterna. Sentindo-
se ameaçadas, a mãe e a avó materna criaram uma situação que acabou por proibir a
visita do pai e da avó paterna. O quadro clínico da paciente se agravou havendo
suspeita de apendicite, que acabou por levar a paciente ao Centro de Terapia Intensiva
e quase a óbito. Nesta ocasião as visitas do pai e da avó paterna foram liberadas e, ao
menos organicamente, a paciente encontra-se em condições adequadas. A dinâmica
familiar apresenta-se bastante desestruturada. A paciente sempre presenciou intensas
e dolorosas discussões entre pais, hoje separados, inclusive agressões físicas. Os pais
vivem com novos companheiros. As relações afetivas nesta família sempre foram
conflituosas, denotando muita instabilidade emocional, o que fazia com que a paciente
encontrasse maior dificuldade para aceitar a separação de seus pais.
Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-
a) referente à dinâmica familiar:
A família é desestruturada, pais separados, cada qual com seu novo companheiro.
Os dois já vêm de famílias desestruturadas. A mãe teve pai e avô alcoólatras,
mantendo pouco contato com ambos. O pai vive com a avó paterna e com uma
irmã, que se intromete bastante na vida pessoal do mesmo.
a) referente à criança:
A paciente apresenta-se bastante confusa, sendo considerada uma criança
inteligente e pareça ter potencial. Está a par das brigas e relacionamentos dos pais,
sofre com tudo isso, externalizando toda a sua angústia e insegurança através dos
desenhos e da recusa de falar dos assuntos problemáticos durante as sessões.
Foco:-
a) da P.B.I.
Aceitação da separação dos pais.
b) da Orientação de Pais.
Relações afetivas conflituosas, imaturidade emocional.
Relação com sintomas psicopatológicos
Agressividade, depressão, violência, sofrimento, solidão, desorganização psíquica.
Súmula / Núcleo de Violência:-
A dinâmica familiar apresenta-se bastante desestruturada. A paciente sempre
presenciou intensas e dolorosas discussões entre pais, hoje separados, inclusive
agressões físicas. Os pais vivem com novos companheiros. As relações afetivas nesta
família sempre foram conflituosas, denotando muita instabilidade emocional, o que fazia
com que a paciente encontrasse maior dificuldade para aceitar a separação de seus
pais.
Tipo de violência: Violência física e psicológica
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