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São vias facilitadas de uma vez por todas, que nunca caem em desuso e que
sempre que uma excitação inconsciente as reinveste estão prontas a conduzir
o processo de excitação à descarga. (FREUD, 1987f, p.546, grifo nosso).
Freud, após marcar as semelhanças de suas concepções com as de Lipps, se dedica a
pontuar o que torna seu conceito de inconsciente único diante dessa e de outras concepções
que lhes são contemporâneas
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. A produção desse conceito no interior de um aparelho
clinicamente correlacionado é segundo Freud, a grande novidade de sua elaboração.
O novo que nos ensina a análise das formações psicopatológicas e do
primeiro membro dessa série, o sonho, consiste em que o inconsciente – o
psíquico – ocorre como função de dois sistemas separados e isso sucede
dentro da vida normal. (FREUD, 1987f, p.602, grifo nosso).
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O que escapa a psicologia, prossegue Freud, é que o inconsciente freqüentemente
tomado de forma única existe de dois modos distintos: o primeiro deles é denominado
Inconsciente, e se caracteriza por ser insusceptível de consciência, e o segundo, é o Pré-
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A demarcação dessa diferença é fundamental para Freud, traz mesmo a marca de sua originalidade.
Por outro lado trata-se de uma necessidade que se impôs desde o encontro com o texto de LIPPS, em
carta a Fliess de 31 de agosto de 1898, por exemplo, diz: “A correspondência entre nossas idéias é
estreita também no que concerne aos detalhes; talvez a bifurcação de onde poderão partir minhas
próprias idéias novas surja mais adiante.” (MASSON, 1986, p.326). Para um exame das semelhanças
em questão que vão além das mencionadas por Freud em seu exame comparativo, ver LIPPS (2001
[1897]).
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Como bem observou LOPARIC (2001, p.321, grifo do autor), “o que diferencia o inconsciente
Freudiano do de Lipps é, primeiro, o fato de ele ser algo reprimido e, segundo, de ele ser representado
como algo espacial.” O erro está em concluir que o inconsciente freudiano espacialmente
representado é tão somente um “inconsciente metafórico, artificial, colorido fisicamente” (2001,
p.322). (Sobre a originalidade do ponto de vista freudiano da espacialização do psíquico remetemos o
leitor às notas nº128 e 129 nesta mesma seção). De acordo com os desenvolvimentos anteriores, as
principais fontes desse equívoco estão: 1º. No desconhecimento da importância do “Ensaio sobre as
afasias” (1891) em razão das inovações trazidas pelo conceito freudiano de representação, entre elas: o
ponto de vista funcional e a adoção unicamente metodológica do paralelismo. (Cf. Parte I, cap.2, Parte
II, seção 1.2). 2º. Por não considerar a continuidade de base existente entre os problemas e conceitos
elaborados no “Ensaio sobre as afasias” e o “Projeto de uma psicologia” (1895). 3º. O autor parte do
pressuposto, compartilhado por GARCIA-ROZA (2001, p.77), do abandono por parte de Freud das
teses elaboradas no “Projeto...” (1895). Fato amplamente refutado pela presença constante e central
que as teses em questão desempenham ao longo dos desdobramentos clínicos, conceituais e
metodológicos na “Interpretação dos sonhos” (1900). (Cf. Parte IV, seção, 1.1, 2.4, 4.1, 4.4, 5.1, 5.2,
5.4, 5.5).