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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
Avaliação hidrológica preliminar para subsidiar a
construção de cenários sobre o futuro da ocupação
humana na Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e
do Córrego Cabeça de Veado - Distrito Federal.
Maria Rita Souza Fonseca
Orientador: Professor Doutor Mário Diniz de Araújo Neto
Dissertação de Mestrado
Brasília-DF: Outubro / 2008
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
Avaliação hidrológica preliminar para subsidiar a
construção de cenários sobre o futuro da ocupação
humana na Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e
do Córrego Cabeça de Veado - Distrito Federal.
Maria Rita Souza Fonseca
Dissertação de Mestrado submetida ao Departamento de Geografia da
Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do Grau de Mestre em Geografia, área de concentração Gestão
Ambiental e Territorial, opção Acadêmica.
Aprovado por:
__________________________________________________________
Mário Diniz de Araújo Neto, Doutor (Universidade de Brasília, UnB)
Orientador
_________________________________________________________
Ercília Steinke, Doutora em Ecologia (Universidade de Brasília)
(Examinador Interno)
_________________________________________________________
Antônio José Andrade Rocha, Doutor
(Aposentado da Universidade de Brasília, UnB)
(Examinador Externo)
Brasília-DF, 24 de Outubro de 2008
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FICHA CATALOGRÁFICA
FONSECA, MARIA RITA SOUZA
Avaliação hidrológica preliminar para subsidiar a construção de cenários sobre o futuro da
ocupação humana na Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de Veado
- Distrito Federal. 106 p, (UnB-GEA, Mestre, Gestão Ambiental e Territorial, 2008)
Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília. Departamento de Geografia.
1. Gestão Ambiental 2. Urbanização
3. Balanço Hídrico 4. Recursos Hídricos
5. Cenário Ambiental
I. UnB-GEA II. Título (série)
É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta
dissertação e emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos
acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e
nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem a
autorização por escrito do autor.
______________________________
Maria Rita Souza Fonseca
REFLEXÃO
ÁGUA
O poder desse elemento da natureza está ligado diretamente ao fluxo das emoções.
Quando um homem ama a natureza está no caminho da evolução, mas, quando
mergulha na essência da natureza (e a água faz parte dessa essência), trilha um
caminho doloroso, porque busca a própria evolução, estando sempre diante de si
mesmo. Neste caminho o homem sofrerá decepções e dificuldades e os fortes
superam e, quando isso acontecer, as águas os levarão ao bom lugar.
Leonardo Morelli
Participe do movimento pela natureza !!!. Com a participação e comprometimento,
novos valores surgem, a inteligência se desenvolve, o sentimento se fortifica e a alma
cresce.
Agradeço à luz Divina, e na mesma intensidade agradeço em essência à pequena
Maíra, à minha mãe e meu pai, irmãos João Jorge, Pedro Celso, Ana Carolina e Luiz
Gustavo, amigas para sempre Naiara e Inaê, e ao coração que bate junto com meu,
Paulo Lacerda.
Agradeço a dedicação da professora Ercília Steinke e ao Gustavo D’Angiolella, por
suas inspirações, especialmente ao meu orientador pela paciência e responsabilidade,
e Instituto Nacional de Meteorologia pela disponibilidade de informações
climatológicas.
RESUMO
Um dos maiores problemas ambientais é a redução dos recursos naturais. A principal causa
para a ocorrência dessa redução é a forma como se a ocupação humana em decorrência
dos usos múltiplos da terra. Neste sentido, é observada uma desconexão entre padrão de
ocupação e ambiente físico.
Esta pesquisa tem como foco a Bacia do Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de Veado,
situa-se na Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá, parte central do Distrito Federal. Encontram-
se inseridas nesta bacia: - ocupação urbana Park Way, quadras 15, 16, 18, 19, 20, 21 e 23; a
Agrovila Vargem Bonita; a Reserva Ecológica e Científica da Fazenda Água Limpa
Universidade de Brasília; a Estação Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE; e a Reserva Biológica do Jardim Botânico.
No contexto em que é necessário usar os recursos hídricos de maneira sustentável, esta
dissertação tem como objetivo geral construir cenários descritivos: exploratório extrapolativo e
exploratório alternativo e, normativo ou desejado. O caminho escolhido para a construção
destes cenários fundamentou-se na análise das alterações ambientais, interpretadas a partir
das imagens de satélites, dos eventos pluviométricos, da variação da vazão e balanço hídrico
nos anos de 1994, 1998, 2001 e 2005 da referida bacia.
Ao se avaliar os valores pluviométricos, de vazão e o balanço hídrico ficaram nítidos como os
dados de vazão e balanço hídrico acompanham a tendência dos valores de precipitação. No
período das chuvas os valores se elevam, enquanto que no período de seca uma
diminuição da quantidade de água no ciclo hidrológico. Mas uma leitura que se faz, a priori, é
que a diminuição dos picos de vazão é muito mais intensa em proporção que a diminuição das
médias de precipitações anuais, nos anos analisados (1994, 1998, 2001 e 2005), e as mesmas
também apresentam bastante irregularidade quanto à freqüência e a intensidade apontando
para um quadro de alerta.
Como síntese, a pesquisa realizada indica que a ão antrópica sem planejamento sustentável
pode ocasionar degradação ambiental nesta bacia. Assim, com o objetivo de elaborar possíveis
cenários optou-se pelo uso das informações Socioambientais da bacia hidrográfica buscando
identificar os elementos exógenos que podem influenciar os processos endógenos.
Diante dos resultados parece ser possível encontrar caminhos que aproximem as aspirações
do decisor em relação ao futuro e, o apenas a representação de uma vontade ou de uma
esperança (utopia) no sentido de construir um cenário normativo ou desejado. Assim, alguns
seguimentos de recomendação podem ser apontados para a bacia em estudo, com a finalidade
de aprimorar o sistema de planejamento territorial existente para o fortalecimento de uma
gestão democrática e participativa.
Palavras – chave: Gestão Ambiental, Bacia Hidrográfica, Recursos Hídricos, Uso do Solo,
Pluviometria, Balanço Hídrico e Cenários.
ABSTRACT
The scarcity of natural resources is one of the most acute environmental problems. Its major
cause lies in the mode of human occupation resultant from multiple uses of soil. In this context,
one may observe a discrepancy between the occupational model and the environment.
The present study focuses on the Ribeirão do Gama and Córrego Cabeça de Veado small
catchment area, situated in Lago Paranoá Basin, central area of Federal District. That area
includes: Park Way urban area, blocks 15, 16, 18, 20, 21 and 23; Rural Zone Vargem Bonita,
Água Limpa Ecological and a Scientific Reserve (University of Brasília) Ecological Station of
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) and Jardim Botânico Biological Reserve.
In such a situation in which water resourses must be used in a sustainable way, this dissertation
aims to propose different scenarios, such as exploratory extrapolative and exploratory
alternative, and a normative or a desirable one. The method chosen has been based on an
analysis of environmental changes by means of interpreting satellite images, rainfall data, and
the variation of rainfall in the years 1994, 1998, 2001, and 2005.
An analysis of the rainfall data reveals a clear relationship between water balance and rainfall
variations. The initial interpretation points to the fact that the decrease of the rainfall peaks has
been proportionally far higher than the decrease of the average annual precipitation rates in the
years 1994, 1998, 2001, and 2005. Moreover, the former have also shown an alerting
irregularity in terms of frequency and intensity.
On the scope a of synthesis, the research shows that the human action devoided of sustainable
planning has resulted in a degradation of environment in the small catchment area. Thus, we
have opted for the use environmental informations, as a means of identifying exogenous
elements which may influence physical processes in the study area.
Considering the results of the research, it appears feasible to envisage ways of bringing closer
the decision-maker’s aspirations in relation the future, rather than a representation of a desire or
a hope (utopia) to create a normative or desirable scenario. Thus, certain recommended actions
for the study small catchment area can be highlighted in order to improve the existing territorial
planning and to reinforce a democratic and participative model of governance.
Key words: environmental governance, catchment area, hydric resources, soil usage,
pluviometry, rainfall scenarios.
SUMÁRIO
Lista de Figuras
Lista de Fotos
Lista de Tabelas
Lista de Mapas
Lista de Gráficos
Lista de Siglas
Apêndice
Anexo
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................................ 1
I. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................................................................ 6
1.1. Recursos Hídricos no Contexto Ambiental ........................................................................................ 6
1.2. Bacias Hidrográficas como Unidade de Planejamento .................................................................... 9
1.3. Urbanização e Recursos Hídricos. ................................................................................................... 11
1.4. Influência da Urbanização no Ambiente Natural. ............................................................................ 17
1.4.1. Balanço Hídrico .................................................................................................................................... 17
1.5. Evolução dos Estudos de Cenários ................................................................................................. 20
II. ASPECTOS FÍSICOS E BIÓTICOS DO DISTRITO FEDERAL EM FOCO A BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIBEIRÃO DO GAMA E DO CÓRREGO CABEÇA DE VEADO .......................................................................23
2.1. Caracterização da Rede Hidrográfica do Distrito Federal .............................................................. 23
2.2. Relevo.................................................................................................................................................. 24
2.3. Unidades Geológicas e Hidrogeológicas ......................................................................................... 25
2.4. Pedologia ............................................................................................................................................ 28
2.5. Cobertura Vegetal .............................................................................................................................. 30
2.6. A Bacia Hidrográfica Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de Veado .................................. 33
2.6.1. Localização e Características........................................................................................................... 33
III. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................................................................39
3.1. Material ................................................................................................................................................ 40
3.2. Procedimento Metodológico.............................................................................................................. 41
IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO .....................................................................................................................................44
4.1. Avaliação Temporal do Uso e Ocupação da Terra ........................................................................ 44
4.2. Avaliação da Variação da Precipitação, Vazão Hídrica.................................................................. 51
4.2.1. Caracterizão da distribuição temporal da chuva no Distrito Federal ............................... 51
4.2.2. Caracterização da variação temporal da chuva no período de 1994 a 2005 .................................... 52
4.2.3. Avaliação preliminar da variação da vazão hídrica na Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama
e do Córrego Cabeça de Veado no período de 1994 a 2005. ....................................................................... 54
4.3. Avaliação Temporal da Variação do Balanço Hídrico na Bacia Hidrográfica do Ribeirão do
Gama e do Córrego Cabeça de Veado no período de 1994 a 2005. .................................................. 57
V. CAMINHOS PARA A ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS DA BACIA EM ESTUDO ...........................................61
5.1. Cenário Exploratório Extrapolativo, Exploratório Alternativo e Normativo ou Desejado ................. 62
VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................................67
6.1. Recomendações e Conclusões ....................................................................................................... 69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................................................71
Lista de Figuras
Figura 1 - Representação esquemática dos processos hidrológicos qualitativos em uma bacia hidrográfica florestada
(modificado de Lima, 1996. 215p.) ................................................................................................................................. 8
Figura 2 – Área de Sensibilidade Ambiental (MELO, 1999). ....................................................................................... 14
Figura 3 – Características do Balanço Hídrico em uma Bacia Urbana (OECD, 1986). ............................................... 18
Figura 4 – Fluxograma Metodológico – Adaptado de LIBAULT (1994) ....................................................................... 39
Lista de Fotos
Foto 1 – Campo de Murundus. Fonte: Maria Rita 2007 ............................................................................................... 29
Foto 2 – Cerrado sensu stricto. Fonte: Maria Rita 2007. ............................................................................................. 30
Foto 3 – Área de Solo Exposto. Fonte: Maria Rita, 2007. ............................................................................................ 31
Foto 4 – Zona Ripária. Fonte: Maria Rita 2007. ........................................................................................................... 32
Foto 5 – Estrada de Ferro e Impactos na Cabeceira do Córrego Mato Seco. Fonte: Maria Rita 2007. ...................... 36
Foto 6 – Buritizal e Vereda. Fonte: Maria Rita 2007 .................................................................................................... 46
Foto 7 - Chácaras Existentes nas Bordas do Córrego Mato Seco. Fonte: Maria Rita, 2007. ...................................... 67
Lista de Tabelas
Tabela 1– Uso do Solo, segundo área total e tipo de ocupação, em 1994, 1998, 2001 e 2005. ................................ 44
Tabela 2 Descrição dos Tipos de Ocupação do Solo na Bacia do Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de Veado .................................... 46
Tabela 3 - Avaliação Socioambiental da Bacia Hidrográfica do Córrego do Gama e Ribeirão Cabeça de Veado. .... 63
Lista de Mapas
Mapa 1 – Geomorfológico – Bacias Hidrográficas do Distrito Federal ........................................................................ 24
Mapa 2 – Compartimentação Geomorfológica do Distrito Federal. ............................................................................. 26
Mapa 3 – Geológico Simplificado do Distrito Federal .................................................................................................. 27
Mapa 4 – Síntese das Coberturas de Solos do Distrito Federal .................................................................................. 28
Mapa 5 - Localização da área de estudo - Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de Veado.
..................................................................................................................................................................................... 35
Mapa 6 - Imagem de Satélite Landsat TM 1994 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de
Veado. .......................................................................................................................................................................... 47
Mapa 7 - Imagem de Satélite Landsat TM 1998 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de
Veado. .......................................................................................................................................................................... 48
Mapa 8 - Imagem de Satélite Landsat TM 2001 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de
Veado. .......................................................................................................................................................................... 49
Mapa 9 - Imagem de Satélite Landsat TM 2005 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de
Veado. .......................................................................................................................................................................... 50
Lista de Gráficos
Gráfico 1 – Distribuição Anual dos Totais Mensais, - Estação Brasília – Período: 1961–1990 ................................... 51
Gráfico 2 – Total anual de precipitação para Brasília, no período de 1994 a 2005. .................................................... 52
Gráfico 3 – Precipitação Pluviométrica Mensal, em mm, 1994. ................................................................................... 55
Gráfico 4 – Precipitação Pluviométrica Mensal, em mm, 1998. ................................................................................... 53
Gráfico 5 – Precipitação Pluviométrica Mensal, em mm, 2001. ................................................................................... 55
Gráfico 6 – Precipitação Pluviométrica Mensal, em mm, 2005. ................................................................................... 53
Gráfico 7 Totais de precipitação com a vazão hídrica da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e do Córrego
Cabeça de Veado, DF. ................................................................................................................................................. 55
Gráfico 8 – Vazão, em m³/s, 1994 ............................................................................................................................... 58
Gráfico 9– Vazão, em m³/s, 1998. ............................................................................................................................... 56
Gráfico 10 – Vazão, em m³/s, 2001. ............................................................................................................................ 58
Gráfico 11 – Vazão, em m³/s, 2005. ............................................................................................................................ 56
Gráfico 12 – Balanço hídrico climatológico da região de Brasília, DF. Normal Climatológica 1961 – 1990. ............... 57
Gráfico 13 – Balanço Hídrico Climático da bacia hidrográfica, 1994. .......................................................................... 61
Gráfico 14 - Balanço Hídrico Climático da bacia hidrográfica, 1998. ........................................................................... 60
Gráfico 15 - Balanço Hídrico Climático da bacia hidrográfica, 2001. ........................................................................... 61
Gráfico 16 - Balanço Hídrico Climático da bacia hidrográfica, 2005 ............................................................................ 60
Lista de Siglas
ACPW – Associação Comunitária do Park Way
APA – Área de Preservação Ambiental
APP – Área de Preservação Permanente
CODEPLAN – Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
DF – Distrito Federal
DNPM – Departamento Nacional de Prospecção Mineral
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INMET - Instituto Nacional de Meteorologia
OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
PDOT – Plano Diretor de Ordenamento Territorial
PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
SICAD – Sistema Cartográfico do Distrito Federal
SMPW – Setor de Mansões Park Way
SNUC – Sistema Nacional de Unidade de Conservação
UNESCO – United Nations Educational Scientific and Cultural Organization
UNPIN – United Nations Population Information Network
1
O espaço geográfico nada mais é do que um suporte de um
sistema de relações derivado da dinâmica do meio físico e da
ação das sociedades que o utiliza em conformidade com seu
grau de desenvolvimento econômico e social [...]. É, em síntese,
o tecido que reflete a espessura histórica de uma civilização.
(DOLFUSS, 1970)
INTRODUÇÃO
Os recursos hídricos são ativos ambientais sensíveis no contexto do
funcionamento dos ecossistemas porque é o primeiro dos bens naturais a
sofrer deteriorações provocadas pelas atividades humanas. (Fórum
Internacional Ambiental, 2002). De maneira ativa ou passiva, direta ou
indiretamente, a água é necessária para a realização de quase todos os
processos em que o homem está envolvido, inclusive, e principalmente, o
próprio processo vital. A amplitude das alterações fruto dessas atividades dá a
medida de tal vulnerabilidade.
Convém ressaltar que a sustentabilidade de um ecossistema não
consiste na mera relação entre recursos disponíveis e seus usos chamados
racionais. Trata-se de considerar uma “sustentabilidade difusa” na qual a
economia leve em conta a ecologia porque, em última análise, não se trata de
produzir e acumular riquezas descartáveis, mas, acima de tudo, o objetivo é
atender às necessidades dos sistemas vivos, entre os quais se inclui a espécie
humana, com perspectiva de sobrevivência e bem-estar de toda a Terra.
1
A água é o recurso natural mais intensamente utilizado pelo homem, na
atualidade, estima-se que o seu consumo decorrente das atividades humanas
tenha ultrapassado 5.000 Km³/ano em 1999 (UNPIN United Nations
Population Information Network). Para a sociedade humana, a água está
diretamente associada à saúde e ao conforto das populações, que as
1
Fórum Internacional Ambiental, 2002.
2
propriedades deste recurso permitem usos e funções múltiplas, essenciais ao
modelo de desenvolvimento atual.
Em geral, no Distrito Federal, o intenso processo de ocupação do
território, decorrente dos fluxos migratórios, do crescimento populacional e do
desenvolvimento sócio-econômico têm engendrado alterações na paisagem
natural, como o desmatamento e o desenvolvimento dos processos erosivos,
acarretando redução das reservas de água do solo e conseqüente diminuição
da oferta hídrica.
Esta dissertação é desenvolvida em VI capítulos. No capitulo I aborda-se
os recursos dricos no contexto ambiental apresentando o ciclo hidrológico;
considera-se a bacia hidrográfica como unidade de planejamento, associando-
se as preocupações ambientais às estratégias de desenvolvimento sustentável
com possibilidades de se construir um meio viável de aplicação de uma política
preventiva.
Em seguida apresenta-se o estudo da urbanização e os recursos
hídricos, que constituem um universo amplo de possibilidades de pesquisa,
pois a urbanização sem planejamento acaba por trazer uma série de impactos
negativos de natureza física, social e cultural.
No capítulo II procurou-se conhecer, em uma escala local, a bacia
hidrográfica, tendo-se como referência os aspectos físicos e bióticos do Distrito
Federal, destacando-se a sua importância por estar localizada na parte central
do Distrito Federal e por ser Zona Núcleo da Biosfera do Cerrado – Fase 1.
A partir da espacialização da bacia (mapa 5), fica nítida a importância
da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de e Veado, por
estar localizada em uma Área de Proteção Ambiental – APA.
Utilizando a metodologia desenvolvida por André LIBAULT (1994),
apresenta-se no capítulo III o fluxograma que evidencia as seguintes etapas:
compilação, correlação e semântica. Inicialmente, apresentam-se os materiais
referentes aos “dados espaciais” tabulados e mensurados e os “não-espaciais”
coletados, os quais serão avaliados e cruzados.
3
No capítulo IV serão avaliados o uso e ocupação da terra a partir das
imagens de satélites dos anos de 1994, 1998, 2001 e 2005, a variação da
precipitação e vazão hídrica e o balanço hídrico da bacia no mesmo período
com o objetivo de cruzar estas informações para posterior mensuração das
mudanças ocorridas, que irão subsidiar a elaboração de cenários futuros.
No capítulo V, utiliza-se o estudo da semântica fase interpretativa, na
qual se chega aos resultados das mudanças e/ou transformações ocorridas no
tempo e no espaço, apropriando-se do saber teórico, da interpretação das
imagens, e dos dados selecionados e correlacionados. Corresponde à etapa de
estudo integrado (síntese). Em seqüência serão elaborados os cenários
descritivos: exploratório extrapolativo, exploratório alternativo e normativo ou
desejado.
Nas considerações finais, como síntese da pesquisa realizada e
segundo a interpretação das imagens de satélites, conclui-se que a ação
antrópica sem planejamento sustentável pode ocasionar degradação ambiental
na Bacia do Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de Veado. A leitura que se
faz, a priori é que os valores da vazão acompanham a diminuição das médias
de precipitações anuais, nos anos analisados, e as mesmas apresentam
bastante irregularidade quanto à freqüência e a intensidade.
Finalmente serão apresentadas algumas recomendações para a bacia
em estudo, com a finalidade de aprimorar o sistema de planejamento territorial
existente, visando o fortalecimento de uma gestão democrática e participativa,
fundamentando as aspirações do decisor em relação ao futuro e não apenas a
representação de uma vontade ou de uma esperança (utopia).
4
JUSTIFICATIVA
O bioma “cerrado”, que ocupa a maior parte do Planalto Central do
Brasil, constitui o berço dispersor das águas, tornando-se uma região
estratégica, para onde devem ser direcionados todos os esforços no sentido da
conservação e recuperação dos seus sítios naturais formadores de bacias
hidrográficas importantes. É neste bioma que se localiza o Distrito Federal,
onde o intenso processo de ocupação, decorrente dos fluxos migratórios, do
crescimento populacional e do desenvolvimento socioeconômico têm feito com
que inúmeros impactos desencadeados ao longo do tempo, degradem os
recursos hídricos superficiais locais.
Em escala geográfica mais detalhada, um exemplo emblemático ocorre
em algumas bacias hidrográficas, onde se supõe que suas vertentes, quando
ocupadas de forma desordenada, podem comprometer a quantidade de suas
águas, como é o caso da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Gama e do Córrego
Cabeça de Veado.
A bacia a ser estudada foi escolhida por estar contida no bioma cerrado,
localizada na APA Gama e Cabeça de Veado - Distrito Federal, e engloba o
maior número de áreas de preservação, ou proteção dentro do seu território,
pertencentes a diversas instituições federais e distritais. Além disso,
ocupação urbana e rural, constituindo-se em uma unidade de estudo singular, e
de grande importância, por ser formada de nascentes que contribuem para a
formação do Lago Paranoá. Outro argumento é por estar inserida em na Zona
Núcleo da Biosfera do Cerrado Fase 1 (UNESCO, 2000), e por estar
localizada em uma área de APA, onde as ocupações humanas devem ser
prioritárias nas análises socioambientais.
Com algumas observações realizadas na Bacia Hidrográfica Ribeirão do
Gama e do Córrego Cabeça de Veado, durante a disciplina Urbanização e
Meio Ambiente, em relação ao atual uso da terra na Bacia Hidrográfica,
percebeu-se que as ocupações se dão em áreas próximas aos córregos, dessa
forma, futuramente, a quantidade dos recursos hídricos sofrerá influências.
5
OBJETIVOS
No contexto em que é necessário usar os recursos hídricos de maneira
sustentável, pressupõe-se entre outras ações, o entendimento do
comportamento hídrico, a partir da interface terra-água, levando em
consideração a bacia hidrográfica como unidade de planejamento. Partindo
dessa premissa, este estudo tem como objetivo geral construir cenários
descritivos: exploratório extrapolativo, exploratório alternativo e, normativo ou
desejado, uma vez que a área em estudo está sob constante pressão por
instituições públicas vinculadas ao planejamento territorial.
No escopo da pesquisa também está previsto como objetivo específico a
avaliação temporal da ocupação da terra; caracterização da distribuição
temporal da chuva no Distrito Federal; avaliação preliminar da variação na
vazão hídrica e avaliação temporal do balanço hídrico nos anos de 1994, 1998,
2001 e 2005 da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de
Veado, - DF.
Espera-se, a partir dos resultados, oferecer aos atores públicos e privados
envolvidos na gestão dos recursos hídricos, os meios para melhor avaliarem as
conseqüências de suas ações prevendo a ocorrência de possíveis problemas
de escassez de água, assoreamento dos corpos hídricos. Essa situação
apresenta graves conseqüências para o sistema hídrico, que atualmente se
apresenta com viés de alerta, em virtude da expansão urbana.
Paralelamente, aos cenários, e para garantir a quantidade apropriada dos
recursos hídricos, é indispensável o planejamento de ações eficientes que
permitam o gerenciamento de bacias hidrográficas, como um todo. E para tal,
se faz necessário considerar a variedade dos usos e ocupações, avaliando os
mais variados tipos de dados espaciais (exemplos: características da rede
hidrográfica, relevo, unidades geológicas e hidrogeológicas, uso do solo e
cobertura vegetal, pedologia e geomorfologia) e não espaciais (exemplos:
valores pluviométricos, vazão e balanço hídrico) que justifiquem e embasem
uma tomada de decisões para um manejo sustentável.
6
I. REVISÃO DA LITERATURA
Nesta dissertação são apresentados os seguintes conceitos: gestão de
bacias hidrográficas, ciclo hidrológico, vazão hídrica e balanço hídrico.
Apresentam-se também considerações sobre o tema central do trabalho: a
urbanização (elementos naturais modificados) em relação à vazão e a
pluviometria na área em estudo, como caminhos para a elaboração de
cenários.
1.1. Recursos Hídricos no Contexto Ambiental
O grande acontecimento natural responsável pela renovação das águas
é o ciclo hidrológico, ativado pela energia solar, pelo qual as águas são
evaporadas e precipitadas sobre mares e continentes, em um ciclo
interminável, que provoca a circulação e purificação da água. Todos os anos,
aproximadamente 110.000 km³ de água são precipitados sobre os continentes,
dos quais cerca de 70.000 km³ evaporam, retornando à atmosfera, e 40.000
km³ se dividem em escoamento superficial e subterrâneo, de modo que esses
40.0000 km³ são, em média, o limite máximo renovável em um ano, no mundo.
A quantidade que vai para os aqüíferos subterrâneos irá alimentar os cursos
d’águas superficiais na estiagem (REBOUÇAS, 1997).
A distribuição dos recursos hídricos varia, tanto espacialmente, quanto
temporalmente. A sua variabilidade dentro do ano e ao longo do tempo,
conforme a condição climática promove eventos naturais de situações
extremas de enchentes e secas, que podem ser agravadas ou mitigadas
artificialmente pela ação antrópica (por um lado, prejudiciais, em virtude da
impermeabilização do solo, desflorestamentos e outras ações deletérias, e, por
outro, mitigadoras por meio de diques de proteção, reflorestamento, irrigação e
outras ações) (LEAL, 1998).
Os fenômenos do ciclo hidrológico, em suas fases terrestre e fluvial são
intimamente relacionados aos componentes do meio ambiente, como cobertura
vegetal, declividade e características geológicas. Alterações em qualquer um
desses componentes, conseqüentemente, influenciarão no ciclo hidrológico e
vice-versa.
7
Uma característica importante da água, fundamental em qualquer
abordagem que se faça desse recurso, diz respeito ao seu deslocamento
espacial nos cursos d’água. Assim, a mesma água pode ser usada por diversos
usuários em seu trajeto e é influenciada pelas características e atividades das
várias reges por onde passa. Ademais, serve de transporte para as
substâncias despejadas nos leitos dos rios. Tal propriedade cria relações de
interdependência entre os trechos de montante e jusante, tanto do ponto de
vista dos fenômenos físicos quanto de relações entre usuários. Ou seja,
qualquer ocorrência em um trecho da bacia, natural ou não (enchentes,
desmatamentos, captações, despejos, etc.) pode influenciar nas características
da água em outros trechos. Os resultados, em alguns casos, podem ser
percebidos somente a jusante da ocorrência como normalmente se no caso
de despejos de efluentes, enquanto determinadas interferências também
podem ser sentidas a montante (remansos provocados por barramentos,
instalação de pontes, etc.) (LEAL, 1998). Figura 1.
O desmatamento de uma área da bacia, por exemplo, pode alterar o
ciclo hidrológico, modificando tanto as proporções de água infiltrada ou
escoada quanto velocidade desse escoamento, induzindo mudanças no regime
e diminuindo a recarga dos aqüíferos subterrâneos. Esses fenômenos, por sua
vez, podem intensificar processos erosivos no solo, com carreamento de
sedimentos para os cursos d’água, além de possível alteração da capacidade
de absorção de poluentes, em decorrência das alterações do regime. Os
fenômenos estão interligados e estão em geral em frágil equilíbrio.
Existe grande interação e interdependência dos recursos hídricos com
os demais componentes do meio ambiente, especialmente no que se refere à
ocupação do solo: uso urbano, com lançamentos de esgotos, deposição do
lixo, captações para abastecimento, impermeabilização do solo; uso industrial,
com lançamentos de poluentes e captações; uso rural, com irrigação,
carreamento de fertilizantes, agrotóxicos, matéria orgânica e contaminação do
lençol freático; desflorestamentos,que provocam carreamento de sedimentos,
erosão de encostas e assoreamentos de cursos d’água; aproveitamentos
minerais, com despejos de refugos e metais pesados e modificação do leito
dos rios.
8
Figura 1 - Representação esquemática dos processos hidrológicos qualitativos em uma bacia hidrográfica
florestada (modificado de Lima, 1996. 215p.)
Quando se consideram todas essas relações, as condições da água podem ser
vistas como um bom indicador da situação de toda a bacia, sendo uma espécie
de sintetizador dos diversos componentes do meio ambiente. Práticas
deletérias ao meio ambiente e a ocupação inadequada do solo de, alguma
maneira, acabam em geral por se refletir nas condições da água.
9
1.2. Bacias Hidrográficas como Unidade de Planejamento
A bacia hidrográfica, tida como o palco principal onde acontecem as
interações ambientais, é considerada a unidade territorial mais adequada por
alguns especialistas para a gestão não somente dos recursos hídricos, mas
também, para uma gestão ambiental integrada que busque adotar práticas
sustentáveis, sob aspectos físicos e econômicos. Isto porque a água participa
da maioria das intenções ambientais, seja fazendo parte dos organismos, seja
como receptora de substâncias nos corpos d’água. (FERNANDES; SILVA,
1994)
Pode também ser considerada como integralizadora das condições do
meio ambiente. A divisão de uma bacia em sub-bacias permite a pontualização
de problemas difusos, tornando mais fácil identificação de problemas de
degradação de recursos naturais, e processos de degradação ambiental
instalados e o grau de comprometimento da produção sustentada existente.
(FERNANDES; SILVA, 1994)
Segundo ARAÚJO NETO (1995), as bacias hidrográficas são áreas da
superfície terrestre onde ocorre a drenagem da água, transporte de sedimentos
e material dissolvido para um ponto comum do rio chamado foz ou
embocadura. (...) Uma definição mais precisa considera as bacias hidrográficas
vistas como sistemas abertos, em termos de entrada (de chuvas e radiação
solar) e saídas (representadas pelas descargas dos rios e evaporação).
A Bacia Hidrográfica refere-se a uma compartimentação geográfica
natural delimitada por divisores de água (SOUZA; FERNANDES, 2000),
drenada superficialmente por um curso d’água principal e seus afluentes. Cada
bacia hidrográfica interliga-se com outra de ordem hierárquica superior,
constituindo, em relação à última, uma sub-bacia. A bacia hidrográfica, como
unidade hidrográfica
2
de intervenção, é uma das alternativas de
estabelecimento do sistema a ser gerenciado.
2
Utiliza-se o termo Unidade Hidrográfica conforme empregado o Sistema de Informação Cartográfica do Distrito
Federal
10
A Lei 9.433/97 estabelece que “a gestão dos recursos hídricos deve ser
descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e
das comunidades”. A gestão compartilhada é um pilar fundamental da gestão
ambiental sustentável, chegando a ser referida “como a única maneira provável
de ultrapassar os limites da gestão blica estática e da privatização”
(MAGALHÃES JÚNIOR, 2007)
3
- Importância da Mata Ciliar
Levando em conta a integridade da sub-bacia hidrográfica, a mata ou
floresta ciliar é um componente de fundamental importância para sua
manutenção, devido às diversas funções e por sua ação direta em uma série
de processos importantes para a estabilidade da sub-bacia. Estas matas
ocupam as áreas mais dinâmicas da paisagem, tanto em termos hidrológicos,
como ecológicos e geomorfológicos. Estas áreas têm sido chamadas de Zona
Ripária. (MORING et al., 1985)
A zona ripária está ligada ao curso d’água, mas seus limites não são
facilmente demarcados, devido à planície de inundação. Os processos físicos
que moldam continuamente os leitos dos cursos d’água, que vão desde
intervalos de recorrência curtos das cheias anuais até fenômenos mais
intensos de enchentes decenais e seculares, impõem, também, a
necessidades de se considerar um padrão temporal de variação da zona
ripária. (MORING et al., 1985)
Devido à elevada freqüência de alterações que ocorrem na zona ripária,
a vegetação que ocupa normalmente esta zona (mata ciliar) deve, em geral,
apresentar uma alta variação em termos de estrutura, composição e
distribuição espacial. Esta variação deve ocorrer ao longo do curso d’água,
refletindo variações de microssítios resultantes da dinâmica dos processos
fluviomórficos, que resultam em trechos característicos de deposição de
sedimentos, assim como trechos característicos de erosão fluvial.
3
Gestão descentralizada é aqui compreendida como a que não se limita ao poder político central de um país ou região, mas se
distribui entre diferentes organismos e instâncias decisórias de diferentes unidades espaciais, incluindo os níveis locais mais
próximos do cidadão (município, bairro, bacia hidrográfica etc.)
11
Do ponto de vista ecológico, as zonas ripárias têm sido consideradas
como corredores extremamente importantes para o movimento da fauna ao
longo da paisagem, assim como para a dispersão vegetal. Além das espécies
tipicamente ripárias, nelas ocorrem também espécies típicas de terra firme, e
as zonas ripárias, desta forma, são também consideradas como fontes
importantes de sementes para o processo de regeneração natural (TRIQUET et
al., 1990), (GREGORY et al., 1992).
Esta função ecológica é, sem dúvida, razão suficiente para justificar a
necessidade de conservação das zonas ripárias. A isto, deve-se somar a
função hidrológica das zonas ripárias na manutenção da integridade da
unidade hidrográfica, representada por sua ação direta em uma rie de
processos importantes para a estabilidade hidrológica da microbacia, para a
manutenção da qualidade e da quantidade de água, assim como para a
manutenção do próprio ecossistema aquático.
1.3. Urbanização e Recursos Hídricos.
Um aspecto diferencial que marca a criação do Distrito Federal diz
respeito à propriedade das terras por parte do poder público. Na implantação
das principais ações estratégicas de planejamento urbano havia a primazia do
agente estatal. Os planos públicos se sucederam em momentos distintos
4
e se
tornaram meios para a retomada da ordenação territorial pelo Estado, visto que
a imensa migração moldou o espaço à sua própria dinâmica.
A ocupação territorial do Distrito Federal, desde o seu nascedouro,
apresentou conflitos e contradições, que sempre serão um desafio à
investigação da pesquisa urbana atual. Compreende um aglomerado urbano
em processo de metropolização que, fora das suas peculiaridades de ser
Distrito Federal, segue o padrão de metropolização corrente nas cidades latino-
americanas. (SILVEIRA, 1999)
4
O Plano Piloto de Lúcio Costa vencedor do concurso público em 1957, o Plano Estrutural de Organização Territorial do DF (PEOT 1977), o
Plano do Ordenamento Territorial (POT 1985), o o projeto Brasília Revisitada (1987) que define o Plano Piloto de Brasília com Patrimônio
Cultural da Humanidade” pela UNESCO, o Plano de Ocupação e Uso do Solo do DF POUSO (1989) e o Plano Diretor dr Ordenamento
Territorial do DF (PDOT – 1992) e sua revisão em 1996.
12
Nesse aglomerado urbano, uma concentração de atividades,
população e investimento público. A maior parte dos problemas urbanos
decorrentes dessa aglomeração foi atendida por meio de políticas públicas
elaboradas, no âmbito de uma tecnocracia centralizada altamente
compartimentalizada, praticada pelo Governo do Distrito Federal – GDF.
A realidade que se apresenta é de uma metrópole em formação, com
ocupação urbana dispersa em todo o território do Distrito Federal, que
extrapola seus limites políticos/administrativos e abriga uma população de mais
de dois milhões de habitantes, segundo Miragaya e Cordeiro
5
.
Brasília, cidade concebida nos moldes do urbanismo moderno, capital
nacional, centro político e de decisões, pólo indutor de crescimento, imprimiu,
inicialmente, uma dinâmica própria na ocupação do quadrilátero do Distrito
Federal. Além desses atributos, a Capital Federal possui um elenco de
particularidades que são exclusivamente relacionadas a seguir: o papel do
Estado na concepção, na construção e no controle do seu território; a condição
política e administrativa do Distrito Estado e município; a propriedade das
terras e controle imobiliário pelo Estado; o tombamento como Patrimônio
Cultural da Humanidade estabelecido pela Unesco, condição única pelos
seus 37 anos no cenário mundial da urbanização mundial; reserva da
biosfera; capital da Agenda XXI.
- Conflitos, Contradições e Degradação Ambiental
A propriedade pública das terras não garantiu, no entanto, a ocupação
democrática do território; quando as conseqüências das migrações começaram
a ameaçar o projeto da “cidade mãe”, o Estado reagiu criando espaços para
alocar os migrantes.
Nesse sentido a preocupação maior foi a elaboração de um
planejamento integrado/compreensivo dentro desse território, por ser esta
região um centro dispersor de águas onde ocorre um número elevado de
nascentes de diferentes bacias hidrográficas (MELLO, 1999).
5
Júlio Miragaya e Luiz Cordeiro, Delimitação do espaço metropolitano de Brasília, p. 44.
13
As conseqüências sociais e ambientais desta dinâmica populacional
estão, majoritariamente, relacionadas à falta ou à insuficiência de infra-
estrutura e serviços urbanos, contribuem para a redução da qualidade de vida
das comunidades de baixa renda, em especial. Os impactos resultam em
transtornos de natureza urbana e de saúde pública, em especial para as
populações dos assentamentos. Assim, no início dos anos 70, a degradação
ambiental é uma preocupação, embora, nesse momento, ainda, era
direcionada ao abastecimento de água potável e a conservação do Lago do
Paranoá.
Atualmente a dinâmica populacional, que vem se expressando a uma
velocidade muito maior do que a própria capacidade de implementação dos
planos é agravada pela existência de outros processos de não-regulação, pelo
Estado e das ações da própria comunidade. Desde os anos 90 ocorre
acelerada transformação de áreas rurais em chácaras de uso urbano, aumento
do déficit de infra-estrutura e de serviços urbanos, redução das condições de
habitabilidade, aparecimento de grandes extensões de solo exposto que
reforçam a ocorrência de assoreamento dos ribeirões e córregos pelo impacto
gerado por alguns vetores urbanos como o parcelamento dos lotes no Park
Way.
Dados divulgados pelo extinto Instituto de Ecologia e Meio Ambiente do
Distrito Federal (IEMA, 1995) confirmam que “Cerca de 10% do território local
destina-se à ocupação urbana. Característica muito comum é a localização de
manchas urbanas em Áreas de Sensibilidade Ambiental que apresentam
condições naturais impróprias para densa ocupação. São áreas de alto risco à
erosão advinda das condições geológicas e geomorfológicas e também a
impermeabilização das cabeceiras de drenagem, processos esses agravados
pela perda contínua da área de vegetação natural. A Estação Ecológica de
Águas Emendadas, Parque Nacional de Brasília e a APA Gama e Cabeça de
Veado compõem as Áreas de Sensibilidade Ambiental. A figura 2 identifica as
Áreas de Sensibilidade Ambiental
O Plano Diretor (PDOT/92) “determinou estratégias de reorganização
espacial, definiu as diretrizes de uso e ocupação do solo e um sistema de
14
planejamento ancorado em Planos Diretores Locais e em Conselhos Locais
que deveriam exercer o controle social do uso do espaço”. Entre 1996/97, o
governo local revisa o PDOT e “fundamenta as modificações propostas em
princípios de autonomia e na maior integração das cidades, com o objetivo de
possibilitar a participação das comunidades e o exercício da cidadania”.
Figura 2 – Área de Sensibilidade Ambiental (MELO, 1999).
Na visão de (MELO, 1999) todo esse processo guarda uma semelhança
com o que ocorre em outras grandes cidades brasileiras e de pouca valia tem
sido a estrutura jurídica e institucional consolidada pelo Estado. leis que
regulam o uso dos ecossistemas locais, dos recursos naturais e do solo urbano
e rural, suficientes para garantir a qualidade ambiental nesses espaços. Mas, o
próprio Estado age de maneira omissa e muitas vezes como o principal agente
degradador. As leis dão ao Executivo o poder de polícia, mas, este não o
exerce não fiscaliza, não monitora os padrões exigidos, as instituições
governamentais não seguem as indicações técnicas e recomendações dos
15
estudos de impactos no meio ambiente e seus respectivos relatórios
(EIA/RIMAs).
Apesar de todo esse processo, conflituoso e contraditório, e do debate
público, as cidades, os assentamentos e os parcelamentos irregulares
continuam o seu caminho de consolidação. Cabe ao Estado, em seus vários
papéis, consolidar ou reprimir tendências e estímulos. Diante desta
complexidade é preciso ser criativo na solução dos problemas ambientais. Faz-
se necessário o uso de instrumentos técnicos e metodologias urbano-
ambientais, que levadas ao conhecimento das populações, induzirá o debate, a
participação efetiva e o comprometimento da comunidade local e regional, ao
possibilitar a busca de alternativas para a conservação e o desenvolvimento
sustentável, praticando ações para minimizar os impactos sociais,
especialmente no que diz respeito aos recursos hídricos.
Nos últimos anos, tornou-se de conhecimento público a adoção da bacia
hidrográfica como unidade de gerenciamento ambiental. Os princípios gerais e
os mecanismos de gestão de bacias hidrográficas constituem a Declaração de
Morélia (1996, Morélia, México, Rede Internacional dos Organismos de Bacia
RIOB) e da Agenda 21 demonstrando a importância mundial do tema. Em
substituição ao Código das Águas, em vigor desde 1934, o Brasil
acompanhando essa tendência mundial sanciona, em 08/01/97, a Lei 9433, lei
das Águas e estabelece um sistema de gerenciamento, cria os comitês de
bacias hidrográficas e suas agências de águas, adequando o instrumento legal
ao conceito de que a água é um recurso natural finito e estratégico.
No Distrito Federal, a Lei 353/92 instituiu a bacia hidrográfica como
unidade básica do planejamento territorial. Em 1993, a lei 512, instituída pelo
Sistema de Gerenciamento Integrado dos Recursos Hídricos e a Política de
Recursos Hídricos visam ao controle do uso da água, por meio da promoção de
ações integradas nas bacias hidrográficas, para o tratamento de efluentes, de
esgotos urbanos industriais e outros, antes do lançamento nos corpos d’água.
No entanto, apesar desses avanços jurídicos, entre 96 e 97, optou-se
por tornar como unidade de planejamento as divisões administrativas. Isto foi
16
um retrocesso em termos de gestão ambiental urbana, pois desconsidera,
principalmente, o fator que fundamenta a necessidade de um planejamento
integrado/compreensivo no que diz respeito à gestão dos recursos hídricos no
DF - a localização deste território em uma região caracterizada como um centro
dispersor de drenagem radial, - onde ocorre um número elevado de nascentes
de pequeno porte de diferentes bacias hidrográficas brasileiras.
Mais recentemente a política do Ministério do Meio Ambiente instituiu o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, que estabelece
critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de
conservação (SNUC, 2002). A área da pesquisa constitui o grupo das Unidades
de Uso Sustentável – Área de Proteção Ambiental – APA.
A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,
estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o
bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais, sendo constituída por terras
públicas e privadas (SNUC, 2002).
O planejamento governamental (que inclui, portanto, o planejamento
microrregional) é o processo de construção de um projeto coletivo capaz de
implementar as transformações que levam ao futuro desejado, como uma
proposta convergente dos atores e agentes que organizam as ações na
perspectiva do desenvolvimento sustentável. Por isso, o planejamento é
sempre um processo político. No entanto, ele é também um processo ordenado
e sistemático de decisão, o que lhe confere uma conotação técnica e racional
de formulação e suporte para as escolhas da sociedade. Dessa forma, o
planejamento incorpora e combina uma dimensão política e uma dimensão
técnica, constituindo, portanto, uma síntese técnico - política.
Tal concepção de planejamento demanda a utilização de metodologias
de participação e de mobilização da sociedade na tomada de decisões, embora
sempre orientadas por uma reflexão técnica. Dessa maneira, o processo de
17
planejamento e a definição de futuros alternativos e desejados contribuem
para a construção de um projeto coletivo reconhecido pela sociedade, em torno
do qual os atores sociais e os agentes públicos estejam efetivamente
comprometidos. Assim, tanto o planejamento quanto à elaboração de cenários
implementam um processo estratégico de reflexão na sociedade a partir do
qual o projeto de futuro é estruturado.
Por outro lado, segundo VAN DER HEIJDEN (1996), o poder da
metodologia de cenários decorre da habilidade e da capacidade para a
organização lógica (causal) de um grande volume de informações e de dados
relevantes e diferenciados. Isso é possível se os técnicos responsáveis pelo
exercício da construção do futuro contarem com uma base conceitual e
analítica capaz de identificar incertezas, classificar os eventos, analisar as
relações causais e lógicas de grande massa de informações e processos.
1.4. Influência da Urbanização no Ambiente Natural.
Segundo PEPLAU (2004), a urbanização intensifica as transformações
do uso e ocupação da terra, causando efeitos diretos sobre os recursos
hídricos no meio ambiente antrópico, alterando o ciclo hidrológico.
Para a avaliação da interferência da urbanização no ambiente natural,
mais especificamente da quantidade de água disponível no solo, será utilizado
o balanço hídrico como método de análise.
1.4.1. Balanço Hídrico
As alterações no comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica
em área urbana podem ser analisadas sob os seguintes aspectos: segundo o
balanço hídrico, nas enchentes ou nas estiagens.
O balanço hídrico na bacia urbana altera-se com o aumento do volume
do escoamento superficial, a redução da recarga natural dos aqüíferos e da
evapotranspiração. O balanço hídrico de uma área urbana, considerando-se
18
apenas a entrada da água da precipitação, pode ser observado na Figura 3
(VEN, 1990 apud TUCCI, 1995).
Além da precipitação e da correspondente recarga, o aqüífero recebe
partes da água da rede de abastecimento de água. Essa rede sofre perdas de
10% a 50% do volume transportado. Esse volume abastece o aqüífero com
volume que pode estar na faixa entre 100 e 300 mm/ano (LERNER, 1990),
podendo chegar a 3.000 mm/ano, de acordo com a densidade populacional e a
rede de abastecimento. Por exemplo, na cidade de o Paulo, considerando-
se uma vazão média de 54m³/ano de abastecimento, 35% de perdas e a área
de atendimento de 700 km², obtêm-se uma recarga de 851 mm anuais.
Figura 3 – Características do Balanço Hídrico em uma Bacia Urbana (OECD, 1986).
Fonte: Oganization for Economic Cooperation and Development, 1986.
19
Além da recarga da rede de abastecimento, existem as perdas da rede
de esgotos cloacal e pluvial, quando separadas, ou da rede combinada.
Quando não existe rede cloacal, todo o volume abastecido descarrega nos
aqüíferos através das fossas sépticas. Esse volume apresenta o agravante de
contaminar o aqüífero, criando condições ambientais indesejáveis.
As perdas por evapotranspiração alteram-se de acordo com o clima e a
época do ano. Em períodos com alta temperatura, a perda por evaporação da
superfície impermeável pode ser alta, devido ao calor armazenado em asfaltos,
telhados ou pavimentos.
Para a determinação dos parâmetros deficiência hídrica e excesso
hídrico, variáveis de suma importância para o planejamento quando definidas
as tendências de seus comportamentos, foi utilizado o balanço hídrico segundo
a metodologia de THORNTHWAITE e MATHER (1955), com a estimativa da
evapotranspiração potencial pelo método THORNTHWAITE (1948), através do
programa computacional para cálculo de Balanço Hídrico Climatológico,
utilizando a planilha eletrônica Excel e elaborado por D’ANGIOLELLA e
VASCONCELLOS (2003).
Segundo (AYOADE, 1996) apud STEINKE, 2004), o termo “balanço
hídrico” refere-se a uma expressão quantitativa do clima hidrológico e seus
vários componentes, sobre uma área específica, em determinado período de
tempo. Sua determinação serve, principalmente, para oferecer uma visão geral
das condições hídricas sobre uma área e conhecer o impacto do homem sobre
o ambiente hidrológico.
O balanço hídrico desenvolvido por (THORNTHWAITE & MATTER, 1955
apud STEINKE, 2004) é uma das várias maneiras de se monitorar a variação
do armazenamento de água no solo. Partindo-se do suprimento natural de
água ao solo, da demanda atmosférica, e da capacidade de água disponível, o
balanço hídrico fornece estimativas da evapotranspiração
6
real (ETR), da
6
O termo evapotranspiração diz respeito ao processo simultâneo de transferência de água para a atmosfera por
evaporação da água do solo e por transpiração das plantas. A evapotranspiração potencial (ETP) é a quantidade de
água que seria utilizada por uma superfície vegetada sem restrição hídrica. a evapotranspiração real (ETR) é a
quantidade de água realmente utilizada por uma superfície vegetada, com ou sem restrição hídrica. (PEREIRA et al.,
2002).
20
deficiência (DEF), do excedente hídrico (EXC) e do armazenamento de água
no solo (ARM). O balanço hídrico assim calculado torna-se um indicador
climatológico da disponibilidade hídrica em uma região (PEREIRA et al., 1997
apud STEINKE, 2004), o que é fundamental no planejamento.
1.5. Evolução dos Estudos de Cenários
Nos tempos modernos, com a descoberta do risco e com a menor
sujeição da humanidade aos caprichos da natureza, a expectativa em relação
ao futuro assume um papel importante como referência para as decisões e
escolhas, tanto as individuais quanto as coletivas (famílias, empresas ou
nações). Por conta disso, era inevitável que o futuro se constituísse na própria
essência do planejamento e das escolhas coletivas das sociedades ou das
organizações, perscrutando as alternativas para definir e calibrar suas ações,
introduzindo um componente de racionalidade e análise técnica para tratar a
incerteza.
Enquanto as transformações na realidade se davam de forma mais lenta
e relativamente previsível e, principalmente, quando se tratava de formulações
de curto e de médio prazo, o planejamento podia contentar-se com simples
definições gerais, intuitivas e voluntaristas do futuro. À medida que a realidade
se complica, que as mudanças se aceleram e as incertezas em relação ao
futuro aumentam cresce a necessidade de maior rigor e de sistematização na
antecipação de futuro, o que leva ao desenvolvimento de metodologias e de
técnicas, bem como a uma ampliação do uso do recurso de construção de
cenários.
Segundo estudos de BUARQUE (2003), as condições de incertezas e de
mudanças do fim do século XX criaram, por outro lado, um campo fértil também
para muitos ensaios, individual e coletivo, de prospecção e de especulação do
futuro, os quais surtiram diversos impactos no mundo acadêmico e político.
O ano 2000 ano de referência para os primeiros exercícios de
futurologia da ficção científica e também das experiências sérias de estudos
21
prospectivos chegou sem grandes surpresas, mas com a consagração das
técnicas de cenários como importante ferramenta de planejamento.
No terreno estritamente acadêmico, o Brasil apresenta as primeiras
referências às técnicas de antecipação de futuro na década de 1970 e realiza,
na segunda metade da década de 1980, alguma investida na produção de
cenários futuros, entre os quais o trabalho de Hélio JAGUARIBE (1989),
intitulado Brasil 2000, que procura desenhar um cenário desejado para o Brasil
com base em alguns parâmetros gerais de desenvolvimento. Contudo a
utilidade dos diversos estudos para o planejamento e a efetiva tomada de
decisões tem sido limitada, por um lado, em razão das descontinuidades de
orientação das instituições patrocinadoras do trabalho e, por outro, em virtude
da excessiva instabilidade político-institucional do Brasil.
A construção de cenários lida, normalmente, com sistemas altamente
complexos sistemas não-lineares e dinâmicos, que convivem com
contínuas mudanças. Normalmente esses cenários devem lidar com as
realidades nas quais os resultados de uma mudança original não são
proporcionais às causas, também múltiplas e diversificadas. Os sistemas
complexos caracterizam-se por processos de retroalimentação que
estabelecem condições de auto-organização e de mudança. Como salienta
(CAPRA 1996 apud BUARQUE 2003), os “... processos de retroalimentação
não-lineares constituem a base das instabilidades e da súbita emergência de
novas formas de ordem, tão típicas da auto-organização”.
Dessa forma, mesmo em sistemas complexos e caóticos, a antecipação
do futuro é possível dentro dos espaços de imponderabilidade, pelo menos no
que diz respeito às características qualitativas gerais do comportamento do
sistema (exceto os valores precisos e suas variáveis em um determinado
instante) (CAPRA, 1996 apud BUARQUE, 2003). Por último, é o padrão de
organização dos sistemas que define os espaços de comportamentos
aleatórios ao condicionar o curso das interações e, por assim dizer, ao delimitar
as imponderabilidades futuras.
22
Desse ponto de vista, para os estudos de cenários, é necessário
considerar a inevitabilidade de lidar e de aceitar a incerteza, tentando, portanto,
apenas limitar seus espaços de possibilidades. A incerteza constitui uma
característica do mundo real, principalmente nos sistemas complexos, e não
um “desvio ocasional e temporário de algo razoavelmente previsível” (WACK,
1998 apud BUARQUE, 2003). Apesar de incertezas, o comportamento de
qualquer objeto tende a expressar determinados padrões logicamente
interpretados e analisados, que decorrem das circunstâncias históricas e da
lógica de funcionamento e interação.
Assim, tenta-se combinar uma reflexão conceitual sobre a incerteza e o
planejamento com a demonstração de técnicas auxiliares na organização e
sistematização das informações. Isto é possível quando os técnicos
responsáveis pelo exercício de construção do futuro contarem com uma base
conceitual e analítica capaz de identificar incertezas, classificar os eventos,
analisar as relações causais e lógicas da grande massa de informações e
processos.
Para delimitar o objeto e compreender a sua forma de funcionamento e
as leis gerais de seu comportamento e definir as variáveis relevantes e o jogo
de causa e efeito entre elas responsável pelo seu movimento e pelo seu
padrão de mudança –, é necessário contar com o modelo mental de
interpretação (teoria). Essa definição do marco teórico demanda uma interação
entre as visões de mundo e os modelos mentais dos técnicos envolvidos no
trabalho, articulando diferentes disciplinas de conhecimento especialmente
das ciências humanas –, algumas das quais ainda convivem com a disputa de
paradigmas científicos, o que dificulta a formulação do marco teórico de estudo.
23
II. ASPECTOS FÍSICOS E BIÓTICOS DO DISTRITO FEDERAL EM FOCO A
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO GAMA E DO CÓRREGO CABEÇA
DE VEADO
Considerando a localização da bacia em estudo, na área central do
Distrito Federal, optou-se por trabalhar os aspectos sicos e bióticos de forma
mais ampla, uma vez que, para o acompanhamento da dinâmica da Bacia do
Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de Veado, é necessário conhecer de
forma integrada a área na qual a bacia está inserida.
2.1. Caracterização da Rede Hidrográfica do Distrito Federal
O sistema hidrológico do Distrito Federal é caracterizado por cursos
d’água que apresentam características típicas de drenagem de área de
planalto, onde são freqüentes os desníveis e os vales encaixados. Segundo
(NOVAES PINTO, 1986b), o quadrilátero do Distrito Federal foi dividido em três
macros unidades geomorfológicas correspondentes às áreas de Chapada, de
Dissecação Intermediária e Dissecada de Vale (Mapa 1). No caso, a bacia em
estudo ocupa uma área de dissecação intermediária e outra de região de
chapada.
As bacias de drenagem do Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de
Veado encontram-se inseridas em dois compartimentos geomorfológicos
distintos, assim designadas por NOVAES PINTO (1988): Encostas das
Chapadas da Contagem e de Brasília e Depressão do Paranoá. Suas
embocaduras encontram-se localizadas no Lago Paranoá.
Em relação aos tipos de drenagens, existem dois padrões: o anelar,
superimposto, com vales côncavos adaptados a linhas estruturais, localizados
na porção da Depressão do Paranoá; e o radial, com vales adaptados a linhas
estruturais, na unidade das encostas das Chapadas da Contagem e de
Brasília.
A exceção das áreas de cabeceiras dos cursos d’água dentro da bacia,
todos os cursos constituem vales rasos e relativamente entulhados de
24
sedimentos aluviais, sem expressarem qualquer tipo de controle estrutural
(CODEPLAN, 1987).
Mapa 1 – Geomorfológico – Bacias Hidrográficas do Distrito Federal
Fonte: Base Cartográfica do Distrito Federal (SICAD), escala 1:10.000 – CODEPLAN/1991
2.2. Relevo
Em estudo, mais recente de compartimentação geomorfológica do DF,
(MARTINS; BAPTISTA 1998), consideram uma divisão da área em 5
compartimentos: Chapadas Elevadas ou Planaltos (20,41% do DF), Rebordos
(11,72%), Escarpas (3,91%), Planos Intermediários (43,31%) e Planícies
(19,24%), baseada nas características descritivas do relevo (Mapa 2). Convém
ressaltar que todos os compartimentos estão relacionados com diferentes
processos de erosão, deposição e pedogênese. Segundo os autores acima a
área da Bacia Hidrográfica Ribeirão Gama e Cabeça de Veado
25
geomorfologicamente está inserida no compartimento denominado de Planos
Intermediários.
Entre os componentes geomorfológicos do Distrito Federal, destacam-se
as formas de relevo caracterizadas pelos veis aplainados situados acima da
cota de 1.000 m de altitude – as chapadas –, pelos níveis inclinados dos
pediplanos e pedimentos que se estendem da base das chapadas e dos
relevos residuais em direção aos vales e pelas encostas retilíneas das
chapadas, convexas–côncavas e côncavas dos vales fluviais dissecados. O
entalhamento da drenagem nos pediplanos e nas chapadas constitui um curso
d’água alongado a vereda onde predomina o buriti Mauritia flexuosa. A
área da bacia em estudo apresenta quatro tipos de forma de relevo
característica: os níveis aplainados, as encostas, as planícies aluviais e os
campos de murundus.
2.3. Unidades Geológicas e Hidrogeológicas
Com base na classificação empírica por formas (HOWARD, 1967;
NOVAES PINTO, 1990), a área do DF apresenta-se como um centro dispersor
de drenagem radial, enquanto que algumas bacias possuem padrões de
drenagem anelar, entre as quais se encontram os rios formadores da Bacia do
Paranoá, onde se localiza a bacia em estudo, retangular controlado pela
estrutura quartizítica das chapadas (rio Pipiripau e rio Sobradinho), e
subdendrítico, cujo controle estrutural secundário ocorre em densidades
variadas (rios: Descoberto, São Bartolomeu, Preto e ribeirão Ponte Alta).
Geologicamente, o Distrito Federal (Mapa 2) é formado por litologias
proterozóicas representadas pelos grupos: Paranoá, cujas rochas ocupam 65%
da área total do DF; Canastra, unidade distribuída nas porções central e norte
do Distrito Federal, ocupando cerca de 15% da sua área, cujas principais
rochas são filitos e quartzitos; Grupo Araxá, de rochas xistosas cuja área de
ocorrência destas localiza-se no extremo sudoeste do Distrito Federal,
ocupando cerca de 5% da área total; e o Grupo Bambuí, que ocupa,
longitudinalmente, toda a borda da porção externa da Faixa Brasília e recobre
26
parte do Cráton do São Francisco, representando 15% da área total sendo
composto essencialmente por rochas metassedimentares.
Mapa 2 – Compartimentação Geomorfológica do Distrito Federal.
Fonte: MARTINS & BAPTISTA, 1998
A geologia é a base para a determinação da vocação hidrogeológica de
uma região. Condiciona a infiltração, a circulação, o armazenamento e a
explotação da água nos horizontes superficiais da crosta terrestre. No Distrito
Federal predominam as rochas metamórficas e os aqüíferos que são,
principalmente, do tipo fissural onde percolam anualmente cerca de 1,2 bilhão
de m³ de água, funcionam como grandes caixas d’água, limitadas e estanques,
com características próprias. No manto de cobertura ou de superfície estão
contidas as águas superficiais. Este corresponde ao período Cenozóico; é
areno-argiloso e argilo-arenoso, com diferentes intensidades de laterização
com espessura média de 20 m, sendo normalmente poroso e permeável.
Na bacia hidrográfica Ribeirão do Gama e Cabeça de Veado, em termos
litológicos, o solo é formado de detritos argilo-arenosos, normalmente oxidados
e fracamente consolidados e, algumas vezes, formam pequenas áreas de
concreção ferruginosa (lateritas).
27
Nas áreas mais movimentadas do relevo, aparecem as ardósias e, na
porção sudoeste da APA onde está localizada a bacia em estudo, nas
cabeceiras de drenagem, ocorrem os metassiltitos, meta-argilitos e quartzitos.
Os estratos variam de espessura de centímetros até metros (CODEPLAN,
1987).
Mapa 3 – Geológico Simplificado do Distrito Federal
Fonte: FREITAS-SILVA & CAMPOS, 1998
As encostas da APA Gama e Cabeça de Veado apresentam classes de
declividade variadas, entre 5% a maiores que 20%. A Depressão do Paranoá
possui valores topográficos suaves, entre 5 e 10%. As encostas retilíneas com
menos de 8% de declividade associam-se a encostas de perfil côncavo. A área
da encosta das Chapadas possui declividades maiores, entre 10 e 20% e
maiores que 20%. Nesses casos, as encostas aparecem íngremes (UNESCO,
2003).
Grupo Bambuí
(
Neo proterozóico)
Grupo Araxá
(
Neo proterozoóico)
Grupo Canastra
(Meso proterozóico)
Unidade pelito-carbonatada
Lentes de carbonatos
Metarritmitos argilosos
U
NIDADE
A
RDOSIASS
Unidade Quartzito
Unidade Metassiltito
Metarritmitos Arenosos
-48 12’
o
-15 30’
o
-47 19’
o
-167 03’
o
5 50 10Km
Escala Gráfica
Área Urbana
Estradas
28
Os aluviões formam depósitos de areia e argilas, com pequenas
espessuras e normalmente impregnados de matéria orgânica. A principal área
de afloramento rochoso na bacia é na porção das cabeceiras do ribeirão do
Gama.
2.4. Pedologia
Os latossolos são os solos de maior importância para explicar a
evolução geomorfológica da região do Cerrado, no DF, pois esses solos
parecem estar mineralogicamente relacionado à rocha matriz; ácidos e pobres
em minerais, possivelmente têm sua origem relacionada aos processos de
intemperismo químico, corrosão e lixiviação intensos.
Os solos espessos, denominados latossolos, predominam na bacia
Gama e Cabeça de Veado. Eles ocorrem principalmente na Depressão do
Paranoá. Na área do relevo mais movimentado, aparecem os solos mais rasos,
denominados cambissolos. Os solos litólicos aparecem nas áreas de
afloramento rochoso, na porção das cabeceiras dos cursos d’água.
Mapa 4 – Síntese das Coberturas de Solos do Distrito Federal
Fonte: Base Cartográfica do Distrito Federal (SICAD), escala 1:10.000 – CODEPLAN / 1991
29
Os solos hidromórficos aparecem nas áreas planas, nas áreas dos
vales, onde aparecem as matas de galeria e veredas. Uma das áreas de maior
ocorrência do solo hidromórfico é na porção onde se encontra a Agrovila
Vargem Bonita. Através das fotos aéreas, no Relatório Belcher (1956),
observa-se que nessa área rural ocorria uma extensa vereda, com largas áreas
de matas de galeria (UNESCO, 2000).
Na área onde se estabeleceu Vargem Bonita, existiam extensas veredas
paralelas às matas de galeria ou cabeceiras de drenagem. A presença de
murundus (Foto 1) associada às veredas nas cabeceiras denota que existia
uma umidade maior na área, com a ocorrência de afloramentos d’água que
não são encontrados. Atualmente, devido aos aterros e a ocupação intensa
pela atividade de horticultura em Vargem Bonita, praticamente não existem
vestígios das veredas e ocasionando possível redução da oferta hídrica para a
bacia do Paranoá.
Foto 1 – Campo de Murundus. Fonte: Maria Rita 2007
30
2.5. Cobertura Vegetal
A vegetação predominante no Distrito Federal é o Cerrado, cobrindo
cerca de 90% de sua área; segundo RIBEIRO (2001) destacam-se as
formações savânicas e florestais. As fisionomias savânicas diferenciam-se
dentre as principais fitofisionomias associadas às regiões de interflúvio, além
do cerradão. São também encontradas matas mesofíticas em solos com
fertilidade mais elevada e formações associadas a cursos d’água. A fisionomia
predominante, o cerrado sensu stricto (Foto 2), é uma vegetação de interflúvio,
ocorrendo tipicamente sobre solos profundos e bem drenados. As principais
classes de solo onde ocorre são latossolos vermelhos e vermelho-amarelos,
com diferentes conteúdos de argila, que são os solos predominantes da região.
Nos solos mais superficiais ou com baixa capacidade de drenagem
predominam as fisionomias campestres.
Foto 2 – Cerrado sensu stricto. Fonte: Maria Rita 2007.
Atualmente, a vegetação natural típica do cerrado tem sido bastante
afetada, seja pela substituição da vegetação do cerrado por projetos agrícolas,
seja pela expansão urbana, como é o caso da bacia em estudo. Essa dinâmica
31
econômica tem afetado o equilíbrio ecológico deste ecossistema, provocando o
aumento das áreas erosionadas e mudanças no sistema hidrológico da região.
(Foto 3)
Um exemplo é o provável aumento da velocidade das enxurradas e de
sua carga de sedimentos e material tóxico dissolvido e em suspensão,
ocasionando assoreamento dos rios e poluição de suas águas, o que ocorre
principalmente no período com elevada taxa de precipitação.
Foto 3 – Área de Solo Exposto. Fonte: Maria Rita, 2007.
Esta situação ocorre com o Córrego do Cedro, tributário do Ribeirão do
Gama. (FELFILI, 19 de maio de 2008)
7
O córrego Cedro atravessa os trechos 26 a 29 do Park Way onde estão as suas
nascentes, passa pela estrada de ferro na Q. 15 na altura da torre da Telebrasília
e então perde o seu leito e torna-se uma vereda, aparentemente um campo úmido
com alguns buritis ao longe na Q. 16. No ponto onde é cortado pelo asfalto na Q.
16, o terreno encharcado foi aterrado e drenado com manilhas, por isso forma a
conhecida Lagoa do Cedro. Na realidade temos nas Q. 16, 18, 19 um fenômeno:
um córrego subterrâneo, o Cedro se dilui em um charco e só retoma o leito já nos
limites com a segunda pista do aeroporto. Ele é um dos tributários do Ribeirão do
Gama, no qual deságua na altura das quadras 24 e 25. O Gama por sua vez
deságua no Lago Paranoá já no Lago Sul.
Por essa razão, as obras viárias e de construção civil em geral devem ser muito
bem feitas e planejadas. Não se trata de aterrar uma poça d’ água e nem de
construir calçadas, estradas, balões sobre o leito de um córrego que é dinâmico.
Obras de engenharia apressadas, sem licença ambiental criteriosa além de exaurir
as fontes de água doce que se tornam escassas, contribui para assorear e
poluir o combalido Lago, ainda coloca em risco a vida dos moradores do Park
Way e visitantes na área. Haja vista estrada que recentemente se abriu em um
7
FELFILI, J. O córrego do Cedro (curso de água subterrâneo) x restrições ambientais para obras de
calçadas e balões no trecho do SMPW Q. 16 a 24. Mensagem recebida por: mar[email protected]
em 19 de maio de 2008.
32
grande fosso em Goiás e causou mortes de pessoas que trafegavam no
momento da catástrofe.
O licenciamento ambiental na nossa região úmida e frágil é pré-requisito para a
segurança das famílias que vivem e trafegam pelo Park Way.
A Associação Comunitária espera uma completa revisão das obras que estão
sendo executadas com o orçamento pelo qual tanto lutamos na região do Córrego
Cedro, considerando a passagem de um córrego subterrâneo pelo terreno com
várias nascentes e não apenas uma poça d água cil de aterrar, a água tem uma
força tremenda, rompe barragens.
Tem sido demonstrado que a recuperação da vegetação ciliar contribui
para com o aumento da capacidade de armazenamento da água na bacia ao
longo da zona ripária, o que contribui para o aumento da vazão na estação
seca do ano (ELMORE; BESCHTA, 1987) (Foto 4). Esta verificação permite,
talvez, concluir a respeito do reverso. Ou seja: a destruição da mata ciliar pode,
a médio e longo prazo, pela degradação da mata ripária, diminuir a capacidade
de armazenamento da microbacia e conseqüentemente a vazão na estação
seca.
Foto 4 – Zona Ripária. Fonte: Maria Rita 2007.
A partir dessa leitura, em escala regional, focaliza-se em escala local a
bacia em estudo, iniciando-se com o mapa detalhado. (Mapa 5)
33
2.6. A Bacia Hidrográfica Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de Veado
Para uma melhor compreensão, foi definido neste trabalho que a bacia
hidrográfica será o limite espacial em análise.
A bacia a ser estudada foi escolhida por estar contida no bioma cerrado,
localizada na APA Gama e Cabeça de Veado - Distrito Federal, e engloba o
maior número de áreas de preservação, ou proteção dentro do seu território,
pertencentes a diversas instituições federais e distritais. Além disso,
ocupação urbana e rural, constituindo-se em uma unidade de estudo singular, e
de grande importância, por ser formada de nascentes que contribuem para a
formação do Lago Paranoá.
2.6.1. Localização e Características
A Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de Veado
(Mapa 5) situam-se na Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá, parte central do
Distrito Federal. Encontram-se inseridas nesta bacia: - ocupação urbana Park
Way, quadras 15, 16, 18, 19, 20, 21 e 23; a agrovila Vargem Bonita; a Reserva
Ecológica e Científica da Fazenda Água Limpa Universidade de Brasília; a
Estação Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE; e a
Reserva Biológica do Jardim Botânico.
A bacia hidrográfica em estudo, por sua vez, está inserida na Área de
Proteção Ambiental Gama e Cabeça de Veado, criada pelo Decreto 9.417
de abril de 1986, e, juntamente com as áreas do Parque Nacional de Brasília e
a Estação Ecológica de Águas Emendadas, compõe a Zona Núcleo da
Reserva da Biosfera do Cerrado Fase 1 (UNESCO, 2000). O decreto de
criação desta APA estabelece, entre seus objetivos, a proteção dos
mananciais, a preservação da quantidade e qualidade de seus recursos
hídricos, do habitat e biota aquáticos, de forma a contribuir para a redução do
assoreamento e poluição do Lago Paranoá.
34
Como se observa esta bacia hidrográfica é singular, sendo composta por
áreas naturais protegidas, zona rural e zona urbana de uso controlado I (PDOT,
2007). As áreas totais urbanas ocupam 46.367 km² da Área de Proteção
Ambiental Gama e Cabeça de Veado. Deste total, 4.915 ha são representadas
pelo Setor de Mansões Park Way, seguido do Lago Sul e Candangolândia.
Esta bacia se caracteriza por estar encaixada entre dois compartimentos
geomorfológicos distintos designados por (NOVAES PINTO, 1988): encostas
das Chapadas da Contagem e de Brasília e Depressão do Paranoá e suas
embocaduras encontram-se localizadas no Lago Paranoá.
As bacias do Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de Veado estão
praticamente contidas na APA. O Ribeirão do Gama possui uma extensão de
20,76 km e sua bacia ocupa uma área de 14.472,4 ha, com perímetro de 58,2
km. Os tributários de sua margem direita possuem água pura e rica em fauna,
que compõem as áreas contíguas de preservação. Encontram-se nessas
condições as nascentes do Ribeirão do Gama (APM Catetinho), os Córregos
Capetinga e Taquara (ARIE Capetinga-Taquara, Reserva Ecológica do IBGE e
Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília), bem como pequenos
contribuintes, como os Córregos Macacos, Grito e Cacherê.
Em contrapartida, a margem esquerda da bacia de drenagem do
Ribeirão do Gama encontra-se sob forte pressão antrópica, face à urbanização
e à agricultura (Núcleo Hortícula Vargem Bonita e Fazenda Água Limpa - UnB),
além de outras atividades tais como: áreas de lazer (Country Club de Brasília e
Clubes da Base Aérea); parte do Aeroporto e Base Aérea; e estrada de ferro.
35
36
As nascentes do Ribeirão do Gama são ainda utilizadas para o abastecimento
público do Núcleo Bandeirante, SMPW e Lago Sul, a partir de três barragens de
nível (Captações do Catetinho I, II e III). O Córrego Mato Seco sofre impactos tanto
pela estrada de ferro (foto5) e ocupações urbanas, em sua cabeceira, como por área
agrícola, em seu curso médio-inferior; já o Córrego Cedro sofre influências
basicamente urbanas e do clube da Base Aérea. O Córrego Capão da Onça, apesar
de localizado na margem direita do canal principal, sofre interferências diretas de
ocupação agro-urbana em sua cabeceira, além de ser cortado pela estrada de ferro
em seu curso médio.
Foto 5 – Estrada de Ferro e Impactos na Cabeceira do Córrego Mato Seco. Fonte: Maria Rita 2007.
O segundo tributário em extensão que compõe essa bacia Córrego Cabeça
de Veado possui uma extensão de 6,91 km, cobre uma área de 3.135,1 ha e um
perímetro de 24,2 km. Seu curso superior e médio encontra-se protegidos pela
Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, todavia, a CAESB utiliza as
nascentes desse córrego para abastecimento público, sendo a água captada a partir
de quatro barragens de nível (captações Cabeça de Veado I, II, III, IV). (GOEPFERT,
2000).
37
Segundo dados da UNESCO (2000) em termos percentuais, as áreas que
constituem o sistema urbano correspondem cerca de 20% da área total da APA e
inclui a Região Administrativa do Park Way, que representa 68% desse total,
seguido do Lago Sul, com 29%, e Candangolândia com 3%.
É importante ressaltar que as ocupações humanas devem ser prioritárias nas
análises dos indicadores ambientais da APA, porque a fragmentação da vegetação,
dentro e fora da unidade de conservação, é um alerta para que se tomem medidas
para estabelecer as zonas de amortecimento e corredores ecológicos
No caso dos sistemas hídricos, a espacialização da densidade urbana é
importante, pois permite planejar com mais critério o grau de ocupação humana no
interior da bacia hidrográfica. Por conseguinte, é possível reduzir os impactos, uma
vez que se passa a trabalhar a capacidade de suporte dos sistemas hídricos a partir
dos usos atuais e desejados.
Ressalta-se que a população residente é de 19.252 habitantes e o número de
domicílios na área do Park Way é de 4.813, correspondendo a 4 habitantes por
domicílio (CODEPLAN, 2004). A densidade populacional do Park Way reflete a
pressão antrópica das atividades humanas sobre o ambiente natural e estes índices,
apesar de considerados satisfatórios, apresentam, um viés de alerta para uma área
de APA.
O nível de escolaridade da população residente é bastante elevado: dos
19.252 habitantes, 7.515 têm nível superior completo e apenas 476 moradores não
sabem ler e escrever. Dentre as atividades exercidas pelos moradores maiores de
10 anos de idade, destaca-se o funcionário público federal e do governo do Distrito
Federal, totalizando 2.792 habitantes. Outros 1.216 moradores envolvem-se em
atividades de saúde, educação, comunicação e transporte, 1300 no comércio e
2.616 em outras atividades. Uma grande parcela da população (6.470) exerce
ocupação não remunerada. O nível salarial é marcado por dois extremos: 1.917
pessoas ganham apenas 1 salário mínimo enquanto que 1.077 ganham mais de 20
salários mínimos (CODEPLAN, 2004).
Para compreender melhor a dinâmica de ocupação da bacia em estudo, serão
analisados a seguir os tipos de uso da terra e a delimitação das áreas naturais e
38
antrópicas, urbanas e rurais. Para tal, foram pesquisados os tipos de usos e
ocupações do solo na bacia hidrográfica, em quatro anos distintos: 1994, 1998, 2001
e 2005.
Este capítulo será seguido do Capítulo III Materiais e Métodos, que fará a
correlação quantitativa dos elementos não-espaciais com a interpretação dos
elementos espaciais da paisagem, a partir da tabulação e da mensuração das
informações avaliadas nas imagens de satélites da bacia hidrográfica em estudo.
III
. MATERIAIS E MÉTODOS
P
ara compreender a dinâmica da bacia
metodologia desenvolvida por A
fluxog
rama que evidencia as etapas de
foram trabalhadas e constituíram o escopo da estrutura desta dissertação.
Figura 4
Fluxograma Metodológico
. MATERIAIS E MÉTODOS
ara compreender a dinâmica da bacia
hidrográfica
em estudo utilizou
metodologia desenvolvida por A
ndré
LIBAULT (1994), apresentada a partir
rama que evidencia as etapas de
compilação, correlação e semântica, que
foram trabalhadas e constituíram o escopo da estrutura desta dissertação.
Fluxograma Metodológico
– Adaptado de LIBAULT (1994)
em estudo utilizou
-se a
LIBAULT (1994), apresentada a partir
do
compilação, correlação e semântica, que
foram trabalhadas e constituíram o escopo da estrutura desta dissertação.
40
A pesquisa foi dividida em três etapas distintas, porém, complementares,
conforme descritas e, apresentadas no fluxograma metodológico (figura 4).
A primeira etapa da pesquisa corresponde ao nível compilatório, em que foi
determinada a área de estudo regional e da bacia a ser pesquisada. Foram
realizados levantamentos bibliográficos e cartográficos onde foi possível caracterizar
a área. Em seguida, procedeu-se a uma seleção prévia de conceitos, dados e
informações técnicas que foram adequadas, para a fundamentação e o respaldo
teórico e técnico necessário ao objetivo da pesquisa. Isto corresponde à etapa de
concepção, levantamentos e estudos básicos.
No nível correlativo, fase da correlação de dados para posterior interpretação,
procurou-se compreender as relações entre a fundamentação teórica e os dados
não-espaciais: a pluviometria, vazão drica e temperatura em períodos distintos e a
visualização dos elementos da paisagem observados nas imagens de satélite,
correspondentes ao mesmo período.
Na última etapa utilizou-se o estudo da semântica fase interpretativa na
qual se chegou a resultados das mudanças e ou transformações ocorridas no tempo
e no espaço, apropriando-se do saber teórico, da interpretação das imagens e dos
dados selecionados que serão correlacionados na etapa a seguir. Corresponde a
etapa de estudos integrados síntese. É a etapa em que atividades de
fundamentação teórica, correlação dos dados com as imagens são de extrema
importância para a elaboração dos cenários.
3.1. Material
a) Imagem de Satélite Landsat TM, para 1994, 1998, 2001 e 2005, disponível pela
empresa Greentec Tecnologia Ambiental;
b) Mapas Temáticos:
- mapa geológico simplificado do Distrito Federal, escala 1:100.000, fonte: MARTINS
& BATISTA, 1998;
- mapa geomorfológico do Distrito Federal, escala 1:100.000, fonte: Base
Cartográfica do Distrito Federal (SICAD), CODEPLAN/1991;
41
- mapa geomorfológico simplificado do Distrito Federal, escala 1:100.000, fonte:
MARTINS & BATISTA, 1998;
- mapa ntese das coberturas de solos do Distrito Federal, escala 1:100.000, fonte:
Base Cartográfica do Distrito Federal (SICAD), CODEPLAN/1991;
- fotografias da área em estudo, 2007, fonte: Maria Rita Souza Fonseca
c) Coleta de informações fluviométricas referentes à vazão extraídas do software
Hidroweb, disponível no site da ANA. A estação fluviométrica pesquisada localiza-se
na Base Aérea do Distrito Federal identificada com o número 60478500. Os dados
obtidos referem-se aos anos de 1994, 1998, 2001 e 2005, correspondentes aos
anos das imagens de satélite analisadas.
d) Coleta de informações pluviométricas e de temperatura média obtidas no Instituto
Nacional de Meteorologia do Distrito Federal - INMET, referentes aos anos de 1994,
1998, 2001 e 2005.
3.2. Procedimento Metodológico
Para a entrada, organização, manipulação, processamento e saída das
informações dos resultados da presente pesquisa, utilizou-se à versão ArcGIS, 9.0
da ESRI (Environmental Systems Research Institute, Inc.), que conjuga funções
próprias do programa, para a análise espacial e consulta a banco de dados
espaciais.
A base de dados necessita ser bem documentada e organizada, pois cada
tipo de dado tem maneira própria de armazenamento que o identifica e o separa em
arquivos de dados espaciais (mapas, figuras em geral). Os produtos gerados pelo
SIG, e arquivos de atributos (tabelas) são organizados pelo SGBD (Sistema
Gerenciador de Banco de Dados).
As informações relativas aos diferentes elementos da paisagem (rochas e
estruturas, elementos do relevo, solos, cobertura vegetal e uso do solo) foram
pesquisadas a partir de mapas temáticos na escala 1:100.000. Para os elementos
não-espaciais, como a precipitação, temperatura e vazão, foram coletadas na
estação climatológica principal de Brasília/DF do INMET e Estação
42
Agroclimatológica FAL/UnB, e pelo Sistema de Informações Hidrológicas -
software Hidroweb da ANA, respectivamente.
O conjunto de informações hidrológicas pesquisadas para a Bacia
Hidrográfica Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça Veado visa caracterizar a
distribuição temporal da chuva; avaliar preliminarmente a variação da vazão hídrica;
e avaliar o balanço hídrico nos anos de 1994, 1998, 2001 e 2005. Para esta análise
serão utilizadas as informações de chuva e temperatura da Estação Brasília, INMET
e para a vazão, as informações coletadas na estação fluviométrica da Base Aérea
do Distrito Federal, correspondentes aos anos de 1994, 1998, 2001 e 2005 (datas
das imagens de satélite a serem analisadas), relativas a um período de dez anos. A
estação fluviométrica, na qual foram coletados os dados, abrange uma área de
drenagem de 136 km², e localiza-se na latitude - 15°52’18’’ e longitude 47°53’46’’,
em uma altitude de 1.011m acima do nível do mar.
Para a elaboração dos gráficos do balanço hídrico foi utilizado um programa
em planilha eletrônica para cálculo do Balanço drico Normal, de acordo com a
metodologia de THORNTHWAITE & MATHER (1995). O procedimento de cálculo foi
desenvolvido em Excel
TM
, de forma a facilitar sua utilização, confecção de gráficos,
criação e manipulação de dados. Os dados de entrada são temperatura média e
precipitação. (D’ANGIOLELLA; VASCONCELLOS, 2003)
Paralelamente à análise das chuvas, de vazão hídrica e do balanço hídrico,
informações relativas aos anos de 1994, 1998, 2001 e 2005, os recortes temporais
de imagens de satélite correspondentes aos mesmos anos serão utilizados para a
análise do estado de conservação das matas ciliares e a dinâmica de ocupação da
terra por uso antrópico.
A análise temporal foi realizada utilizando-se técnicas de geoprocessamento,
o que possibilitou o desenvolvimento de uma base de dados geográficos de várias
épocas do Distrito Federal. Todos os mapeamentos utilizaram como referência o
Sistema Cartográfico do Distrito Federal SICAD, adotado pela CODEPLAN
(Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central). A legenda unificada, a fim de
possibilitar uma maior interação entre os mapeamentos, ou seja, áreas naturais:
corpos d’água, mata, cerrado, campo e uso antrópico: ocupação urbana, área
agrícola, reflorestamento e solo exposto.
43
A série de mapeamentos realizados nos anos de 1994, 1998, 2001 e 2005 foi
obtida por meio de processamento digital de imagens do satélite Landsat, sensor
TM. As imagens foram processadas em um sistema de tratamento digital de
imagens, com o objetivo de georreferenciá-las e realçar as informações a serem
interpretadas. Em seguida, iniciou-se o processo de classificação automática
supervisionada utilizando-se o algoritmo de máxima verossimilhança, mediante a
escolha de alvos semelhantes às feições terrestres estabelecidas de acordo com a
legenda adotada. De posse de todas as informações, avaliou-se a coerência entre
os mapeamentos e a dinâmica de ocupação do uso da terra no DF.
Através de um Sistema de Informações Geográficas (SIG), foram realizados
cruzamentos entre os mapas no formato digital onde as possíveis incongruências
formam detectadas e editadas, possibilitando a avaliação das transformações
territoriais.
Com o objetivo geral de elaborar os diferentes cenários, foram utilizados
materiais bibliográficos e cartográficos preexistentes para as análises dos atributos
do meio físico (litologia, geomorfologia, pedologia, densidade de drenagens,
pluviometria, usos e ocupação do solo) e biótico, que foram posteriormente cruzados
e comparados.
Como os cenários são descrições do futuro com base em jogos coerentes de
hipóteses sobre comportamentos plausíveis e prováveis das incertezas, a essência
da metodologia reside na delimitação e no tratamento dos processos e dos eventos
incertos. Desse modo, simplificando o processo, pode-se dizer que o grande
segredo da metodologia de cenários reside no reconhecimento e na classificação
dos eventos em graus diferentes de incerteza (VAN DER HEIJDEN, 1996). Seja qual
for a abordagem ou o caminho escolhido para a elaboração de cenários,
organização e tratamento das incertezas são pontos centrais de todas as
metodologias.
O caminho escolhido para a elaboração dos cenários baseou-se na Tabela
Socioambiental (apresentado na página 63) para a Bacia Hidrográfica do Ribeirão do
Gama e do Córrego Cabeça de Veado.
44
IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Avaliação Temporal do Uso e Ocupação da Terra
Na área da bacia hidrográfica, segundo o Relatório Belcher Relatório
Técnico sobre a Nova Capital da República (1956), o uso da terra era
predominantemente natural, com uma pequena porcentagem de ocupação
antrópica. As áreas das veredas e matas apareciam com uma largura significativa.
As áreas de vereda, onde ocorrem afloramentos de água (nascentes), apareciam em
várias áreas de cabeceira de drenagem, nas partes planas da unidade. Isso
representa um indício de que havia mais afloramentos de água do que atualmente.
Nesta pesquisa realizou-se a tabulação e a mensuração das informações
geradas pela interpretação das imagens de satélite dos anos 1994, 1998, 2001 e
2005, usando o software ArcGis, onde foram selecionadas as áreas naturais e
antrópicas evidenciando os diversos tipos de uso e ocupação da bacia em estudo.
Tabela 1– Uso da Terra, segundo área total e tipo de ocupação, em 1994, 1998, 2001 e 2005.
1994
1998
2001
2005
Tipo de Uso
Área Total
(ha)
Ocupação
%
Área Total
(ha)
Ocupação
%
Área Total
(ha)
Ocupação
%
Área Total
(ha)
Ocupação
%
Área Natural
11.891
82,0
10.420
71,94
10.423
71,96
9.552
66,0
Área Antrópica
2.649
18,0
4.066
28,06
4.063
28,04
4.915
34,0
Fonte: Maria Rita, 2008 – Análise Imagens de Satélite, Landsat TM, usando funções do ArcGIS.
Com o passar dos anos, esta paisagem modificou-se devido ao intenso
processo de ocupação. Em 1994, 18% da área da bacia era ocupada com atividades
antrópicas e este processo progrediu, totalizando, em 2005, 34% da área em uso
pela ocupação humana, com a presença de atividade agrícola, de ocupação urbana,
de reflorestamento e de solo exposto. Tabela 1
Acompanhando o processo de uso e ocupação do terra no período de 1994 a
2005, fica bastante evidenciada, na mesma tabela, a transformação da área em
estudo. A área natural sofreu uma perda gradativa, passando de 11.891 ha em 1994
para 9.552 ha em 2005. Na área antrópica, houve um aumento em proporção bem
mais acelerado, passando de 2.649 ha em 1994 para 4.915 ha, em 2005.
A partir da análise temporal das imagens de satélite referentes aos anos de
1994, 1998, 2001 e 2005 (tabela 2), foram tabulados os tipos de ocupação e uso da
45
terra e observou-se que ocorreram sensíveis alterações nas fitofissionomias cerrado,
mata e campo, possivelmente em decorrência do aumento considerável da
ocupação urbana. Em 1994 a área de cerrado, ocupava 7.113 ha enquanto que, em
2005, foi reduzida para 5.381 ha, a ocupação urbana, que era de 1.056 ha em
1994, aumentou aceleradamente para 4.231 ha em 2005, ficando próximo da área
total de cerrado.
Infere-se que este processo foi motivado, a partir de 1998, com o decreto nº
18.910 de 15 de dezembro de 1997 que permitiu, dentro do Park Way, o
parcelamento de cada lote de 20.000 em 6 lotes de 3.333 ou em até 8 lotes
de 2.500 m², sendo que a área mínima de lote deve ser de 1.875 m². Em uma
estimava da Associação de Proprietários do Park Way, existem cerca de 790 lotes
dentro da APA, sendo mais de 350 transformados em condomínio. Isso significa
que, em quatro anos, 44% dos lotes se transformaram em condomínios
(UNESCO, 2000).
Focando a imagem de satélite de 2005, percebe-se nitidamente o aumento do
desmatamento da área de cerrado, que diminuiu, passando de 5.554 ha, em 1998,
para 5.381 ha, no período correspondente à expansão do Aeroporto Internacional de
Brasília, comprovando os dados tabulados, anteriormente. É importante ressaltar
que esta obra foi precedida de avaliação e acompanhamento de uma proposta de
compensação ambiental.
A análise temporal, realizada ao se comparar às imagens dos anos 1994 e
1998, permite visualizar o intenso processo de ocupação da bacia hidrográfica por
área urbana. A imagem de satélite (1998) mostra a diminuição das áreas de matas
de galeria, passando de 1.317 ha, em 1994, para 996 ha, em 1998, permanecendo
estável em 2001, havendo um ganho real indicando um tímido processo de
recuperação da área natural.
No mapa 9, a área anteriormente ocupada por uso agrícola aparece em
processo de ocupação urbana, confirmando a perda de área agrícola, passando de
627 ha, em 2001 para 601 ha (2005). Esses empreendimentos além da expansão
urbana na área do Park Way, justificam a considerável mudança da ocupação
46
urbana, quando esta área passou de 3.343 ha (2001) para 4.231 ha (2005) em
apenas cinco anos (Tabela 2).
Tabela 2 Descrição dos Tipos de Ocupação do Solo na Bacia do Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de Veado
Tipo de Uso e
Ocupação do Solo
1994
1998
2001
2005
Área
Total
(ha)
Ocupação
(%)
Área Total
(ha)
Ocupação
(%)
Área
Total
(ha)
Ocupação
(%)
Área Total
(ha)
Ocupação
(%)
Área agrícola
1347
9,29
589
4,06
627
4,32
601
4,14
Ocupação
urbana
1056
7,28
3343
23,07
3343
23,07
4231
29,20
Campo
3393
23,41
3861
26,64
3869
26,7
2853
19,69
Cerrado
7113
49,09
5554
38,33
5554
38,3
5381
37,13
Mata
de galeria
1317
9,08
996
6,87
991
6,8
1301
8,97
Curso d’água
14
0,09
9
0,06
9
0,06
17
0,11
Reflorestamento
121
0,83
134
0,92
93
0,64
_______
_______
Solo exposto
125
0,86
_______
_______
_______
_______
83
0,57
Fonte: Maria Rita, 2008 – Análise Imagens de Satélite, Landsat TM, usando funções do ArcGIS.
Complementando as análises realizadas a partir da interpretação das
imagens de satélite, houve a preocupação em registrar in loco algumas
peculiaridades na ocupação urbana da referida bacia hidrográfica. Como, exemplo:
um trecho da área de vereda, próximo ao Córrego do Cedro, atualmente ocupada
por condomínios que, por ocasião das chuvas, sofrem com o processo de
alagamento. Foto 6
Foto 6 – Buritizal e Vereda. Fonte: Maria Rita 2007
Em seqüência a estas observações, com objetivos de cruzar os dados
espacializados, passou-se a trabalhar em períodos correspondentes os valores de
precipitação, vazão e o balanço hídrico da bacia em estudo.
47
48
49
50
4.2.
Avaliação da Variação da Precipitação, Vazão Hídrica
4.2.1.
Caracterização da distribuição temporal da chuva no Distrito Federal
No ecossistema
cerrado” na região do Distrito Federal,
precipitação alcançam valores médios totais entre 1.400 e 1.450 mm. O regime das
chuvas caracteriza a forte sazonalidade e apresenta duas estações bem definidas,
um verão chuvoso e inverno seco. Durante
janeiro, em média 47% do volume total das chuvas são precipitados. No mês de
novembro, quando as chuvas se iniciam, é comum a instalação de chuvas
torrenciais com eventos superiores a 90 mm, acompanhados de ventos fortes e
descargas elétricas. O mesmo tipo de fenômeno é observado no mês de março,
quando as ch
amadas chuvas de final do verão
torrencial.
Durante estes meses os processos erosivos são amplificados e o maior
volume dos solos é transportado em direção aos corpos hídricos, por outro lado a
pluviosidade concentrada possibilita a infiltração das águas ao longo da camada dos
solos e das fissuras d
as rochas e nos bordos das chapadas
afloram
e formam os cursos d’água superficiais. No período mais seco, ocorrem
meses com até 30
mm de chuva em média, podendo chegar a zero em
determinados anos,
o que ocasiona o estresse hídrico
Gráfico 1 – Distribu
ição Anual dos Totais Mensais,
Fonte: http://www.inmet.gov.br
Estação 83377
As médias mensais de precipitações registradas nos meses de fevereiro,
correspondentes ao período de 1961 a 1990 (Gráfico 1) foram superiores a 200 mm,
0
50
100
150
200
250
Jan Fev Mar Abr Mai
Jun
Avaliação da Variação da Precipitação, Vazão Hídrica
.
Caracterização da distribuição temporal da chuva no Distrito Federal
cerrado” na região do Distrito Federal,
precipitação alcançam valores médios totais entre 1.400 e 1.450 mm. O regime das
chuvas caracteriza a forte sazonalidade e apresenta duas estações bem definidas,
um verão chuvoso e inverno seco. Durante
os meses de novembro, dezembro e
janeiro, em média 47% do volume total das chuvas são precipitados. No mês de
novembro, quando as chuvas se iniciam, é comum a instalação de chuvas
torrenciais com eventos superiores a 90 mm, acompanhados de ventos fortes e
descargas elétricas. O mesmo tipo de fenômeno é observado no mês de março,
amadas chuvas de final do verão
apresentam
um forte componente
Durante estes meses os processos erosivos são amplificados e o maior
volume dos solos é transportado em direção aos corpos hídricos, por outro lado a
pluviosidade concentrada possibilita a infiltração das águas ao longo da camada dos
as rochas e nos bordos das chapadas
os lençóis subterrâneos
e formam os cursos d’água superficiais. No período mais seco, ocorrem
mm de chuva em média, podendo chegar a zero em
o que ocasiona o estresse hídrico
. (INMET, 2007
)
ição Anual dos Totais Mensais,
- Estação Brasília – Período:
1961
Estação 83377
– Brasília.
As médias mensais de precipitações registradas nos meses de fevereiro,
correspondentes ao período de 1961 a 1990 (Gráfico 1) foram superiores a 200 mm,
Jun
Jul Ago Set Out Nov Dez
Caracterização da distribuição temporal da chuva no Distrito Federal
cerrado” na região do Distrito Federal,
os valores de
precipitação alcançam valores médios totais entre 1.400 e 1.450 mm. O regime das
chuvas caracteriza a forte sazonalidade e apresenta duas estações bem definidas,
os meses de novembro, dezembro e
janeiro, em média 47% do volume total das chuvas são precipitados. No mês de
novembro, quando as chuvas se iniciam, é comum a instalação de chuvas
torrenciais com eventos superiores a 90 mm, acompanhados de ventos fortes e
descargas elétricas. O mesmo tipo de fenômeno é observado no mês de março,
um forte componente
Durante estes meses os processos erosivos são amplificados e o maior
volume dos solos é transportado em direção aos corpos hídricos, por outro lado a
pluviosidade concentrada possibilita a infiltração das águas ao longo da camada dos
os lençóis subterrâneos
e formam os cursos d’água superficiais. No período mais seco, ocorrem
mm de chuva em média, podendo chegar a zero em
)
1961
–1990
As médias mensais de precipitações registradas nos meses de fevereiro,
correspondentes ao período de 1961 a 1990 (Gráfico 1) foram superiores a 200 mm,
52
situação inversa ocorre com as precipitações no mês de março, quando a média
registrada no mesmo período correspondia a 180 mm (Gráfico 1).
4.2.2. Caracterização da variação temporal da chuva no período de 1994 a 2005
A média anual das precipitações no Distrito Federal fica em torno de
1447mm, como mostra o Gráfico 2, entretanto, no período em análise o
comportamento pluviométrico em relação à média, tem apresentado pouco abaixo
de 1447mm nos anos de 1994, 1998 e 2001, ocorrendo em 2005 aumento dos
valores de chuva. (INMET, 2007)
Gráfico 2 – Total anual de precipitação para Brasília, no período de 1994 a 2005.
Fonte: http://www.inmet.gov.br – Estação 83377 – Brasília.
As precipitações pluviométricas registradas para os anos de 1994, 1998,
2001 e 2005 apresentam semelhanças quanto ao período de ocorrência das chuvas,
com distribuição nos meses de novembro a março. Quanto ao volume de chuvas,
registra-se certa regularidade, com médias mensais entre 200 e 250 mm, com
exceção do ano de 2005, quando os índices foram superiores, alcançando uma
média de 400 mm em dezembro e março. (INMET, 2007)
800
1100
1400
1700
2000
2300
Total Anual Média do Período
1998
2001
20051994
53
Gráfico 3 – Precipitação Pluviométrica Mensal, em mm, 1994. Gráfico 4 – Precipitação Pluviométrica Mensal, em mm, 1998.
Fonte: http://www.inmet.gov.br – Estação 83377 – Brasília. Acesso: out, 2007 Fonte: http://www.inmet.gov.br – Estação 83377 – Brasília. Acesso: out, 2007
Gráfico 5 – Precipitação Pluviométrica Mensal, em mm, 2001. Gráfico 6 – Precipitação Pluviométrica Mensal, em mm, 2005.
Fonte: http://www.inmet.gov.br – Estação 83377 – Brasília. Acesso: out, 2007 Fonte: http://www.inmet.gov.br – Estação 83377 – Brasília. Acesso: out, 2007
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
mm
Precipitação Pluviométrica - 1994
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
mm
Precipitação Pluviométrica - 1998
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
mm
Precipitação Pluviométrica - 2001
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
mm
Precipitação Pluviométrica - 2005
54
Os valores de chuva para o ano de 1994 mostram que no mês de março
ocorreu um maior valor de precipitação (320 mm), com uma diminuição ao longo da
estação seca, chegando ao seu mínimo em outubro, atingindo um valor de apenas
50 mm (Gráfico 3). A distribuição das precipitações em 1998 foi semelhante à
distribuição de 1994. Com relação ao volume de chuvas, no mês de novembro, a
maior média de precipitação de 300 mm (Gráfico 4).
O ano de 2001 apresentou os menores valores de chuva em relação aos anos
de 1994 e 1998, alcançando valores inferiores a 200 mm no período chuvoso. Com
relação ao volume de chuvas, a maior média mensal ocorreu no mês de novembro
(200 mm) (Gráfico 5).
O volume de chuvas em 2005 se apresentou maior, em relação aos anos
anteriormente estudados: a média de precipitação anual ficou em torno de 1.700
mm. As médias mensais de precipitação apresentaram picos de até 400 mm nos
meses de março e dezembro (Gráfico 6).
4.2.3. Avaliação preliminar da variação da vazão hídrica na Bacia Hidrográfica do Ribeirão do
Gama e do Córrego Cabeça de Veado no período de 1994 a 2005.
O comportamento da precipitação determina a curva de vazão hídrica, com
um pequeno deslocamento no tempo, devido à dinâmica de infiltração das águas
superficiais no solo até serem incorporadas aos cursos d’águas, como demonstrado
no Gráfico 7. O mais importante é observar a relação expressiva entre precipitação e
vazão em todo o período analisado.
No gráfico 7, pode se observar que a vazão hídrica acompanha a
sazonalidade das chuvas e apresenta o que deverá ser o limite de consumo para
fins domésticos, comércio, agricultura e outros usos. O limite inferior expressa o
ponto crítico onde a demanda deverá ser controlada para que não haja um colapso
nos sistemas de abastecimento. (SILVA; D’ANGIOLELLA, 2000)
55
Gráfico 7 Totais de precipitação com a vazão hídrica da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama e
do Córrego Cabeça de Veado, DF.
Fonte: http://www.inmet.gov.br Estação 83377 Brasília; Hidroweb ANA Estação Fluviométrica Base Aérea do Gama.
Acesso: out, 2007
O cruzamento dos valores pluviométricos com a vazão para o ano de 1994
mostra que, no mês de março, ocorreu uma máxima de vazão igual a 7,00 m³/s
(Gráfico 7) correspondente ao maior índice de chuva (320 mm). A tendência de
diminuição da vazão acompanha nitidamente a diminuição das precipitações
chegando ao seu mínimo em outubro, atingindo a menor vazão (1,00m³/s) quando a
precipitação era de apenas 50 mm (Gráfico 7).
Em 1998, o maior nível da vazão ocorreu no mês de fevereiro, com 5,00 m³/s,
correspondendo ao período de maior freqüência de chuvas, mas mesmo assim
permaneceu inferior ao ano de 1994 (7,00m³/s). Infere-se que, nesse momento, pela
análise das imagens de satélite, ocorreram as maiores perdas de área de cerrado
em função das ocupações urbanas, que possivelmente contribuíram para uma maior
evapotranspiração e um rápido escoamento superficial, carreando sedimentos do
solo desnudo, provavelmente assoreando os corpos hídricos.
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
fev mai ago fev mai ago fev mai ago fev mai ago
Precipitação (mm)
Vazão Média (m³/s)
1994 1998 2001 2005
vazão precipitação
56
Gráfico 8 – Vazão, em m³/s, 1994 Gráfico 9– Vazão, em m³/s, 1998.
Fonte: http://www.inmet.gov.br – Estação 83377 – Brasília; Hidroweb – ANA – Estação Fluviométrica Base Aérea do Gama.
Gráfico 10 – Vazão, em m³/s, 2001. Gráfico 11 – Vazão, em m³/s, 2005.
Fonte: http://www.inmet.gov.br – Estação 83377 – Brasília; Hidroweb – ANA – Estação Fluviométrica Base Aérea do Gama.
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Precipitação (mm)
Vazão Média (m³/s)
1994
vazão média
precipitação
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Precipitação (mm)
Vazão Média (m³/s)
1998
vazão média
precipitação
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Precipitação (mm)
Vazão Média (m³/s)
2001
vazão média
precipitação
-50,0
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Precipitação (mm)
Vazão Média (m³/s)
2005
vazão média precipitação
57
A vazão média mais alta no ano de 2001 foi alcançada no mês de março,
atingindo apenas 4,00 m³/s, sendo a mais baixa de todo o período analisado. De
acordo com o Gráfico 10, os níveis permaneceram baixos até o mês de dezembro,
quando a vazão era 2,00 m³/s. Em 2005 o comportamento da vazão acompanhou os
valores de chuva, apresentou dois picos nítidos e elevados nos meses
correspondentes, ficando entre 5,00 m³/s e 7,00 m³/s (Gráfico 11).
4.3. Avaliação Temporal da Variação do Balanço Hídrico na Bacia Hidrográfica do
Ribeirão do Gama e do Córrego Cabeça de Veado no período de 1994 a 2005.
O processo de contabilidade hídrica no solo mais utilizado para fins
climatológicos é o THORNTHWAITE & MATHER (1995), e este processo, o balanço
hídrico, revela com bastante precisão as condições hídricas do solo representativas
de determinada região. (SILVA; D’ANGIOLELLA, 2000)
Gráfico 12 Balao hídrico climatológico da região de Brasília, DF. Normal Climatológica 1961 1990.
Fonte: BHídrico GD 4.0 – 2004
-100
-50
0
50
100
150
200
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
mm
Balanço Hídrico Climatológico
Reposição Retirada Excesso Déficit
58
O Gráfico 12 apresenta o curso anual do balanço hídrico com ocorrência de
excesso de água no solo de novembro a abril e déficit de maio a setembro. A água
que constitui o excedente hídrico (área azul) pode ser armazenada no solo (área
verde) e utilizada à medida que as chuvas cessam (área laranja). Desta forma, as
áreas em verde, azul e laranja, demonstram que existe umidade no solo. O período
de deficiência (área vermelha) tem início em maio com término em setembro, se
caracterizando como um período de estiagem prolongada. Nesse período, o estoque
de água do solo é rapidamente esgotado, além de corresponder ao período de
vazante dos rios, cessando totalmente alguns cursos d’água. (D’ANGIOLELLA,
2003)
O Gráfico 13 - balanço hídrico climático para 1994, aponta excedente hídrico
se estendendo de novembro a maio, correspondendo ao período de chuva para o
mesmo ano. Neste período a água infiltra no solo para recarregar o lençol freático e
os aqüíferos profundos e o excedente pode escoar superficialmente. O período de
deficiência (área vermelha) inicia-se em junho até início de novembro,
correspondendo ao período de estiagem. O período de chuva, neste mesmo ano
teve início em outubro atingindo, no mês de março o seu maior valor mensal
(320mm) totalizando 1352,3 mm anuais. Comparando-se com a normal climatológica
neste ano (1994) o período de estiagem prolongou-se por mais um mês.
No balanço hídrico climático para 1998 (Gráfico 14) observa-se um excesso
de água no solo de outubro a abril, ocorrendo um “veranico” (diminuição da chuva
dentro do período chuvoso) no mês de fevereiro. O déficit de água no solo se inicia
em abril e se estende até outubro. As chuvas apontam pequenos valores em
setembro, correspondendo ao início da reposição de água no solo (área verde).
Para 2001 o balanço hídrico climático acompanhou os valores da chuva,
apresentando excesso de água no solo, abaixo de 100mm, correspondendo ao
período de outubro a maio. Houve também ocorrência de veranico em fevereiro.
Nesse ano o período de deficiência não foi tão prolongado quanto os anos
anteriores, correspondendo ao mesmo período de estiagem da normal climatológica.
O Gráfico 16 - balanço hídrico climático para 2005 aponta excedente hídrico
de início de novembro a abril, o período de chuva iniciou em meados de outubro,
59
ocorrendo, até novembro a reposição (área verde). Neste ano os volumes
precipitados foram extremamente elevados chegando a atingir cerca de 350mm nos
meses de dezembro e março, sem ocorrência de veranico, porém com um longo
período de deficiência hídrica (área vermelha) que se estendeu de abril a outubro.
No capítulo V, a seguir, se fará uso da fase interpretativa – nível da semântica
–, na qual se chegará aos resultados das mudanças e ou das transformações
ocorridas no tempo e no espaço, apropriando-se do saber teórico, da interpretação
das imagens e dos valores de precipitação, vazão e balanço hídrico analisado e
correlacionados. Corresponde à etapa de estudos integrados (síntese). Elaboração
dos Cenários: extrapolativo exploratório, extrapolativo alternativo e normativo ou
desejado.
60
Gráfico 13 – Balanço Hídrico Climático da bacia hidrográfica, 1994 . Gráfico 14 - Balanço Hídrico Climático da bacia hidrográfica, 1998.
Fonte: BHídrico GD 4.0 – 2004 Fonte: BHídrico GD 4.0 – 2004
Gráfico 15 - Balanço Hídrico Climático da bacia hidrográfica, 2001. Gráfico 16 - Balanço Hídrico Climático da bacia hidrográfica, 2005.
Fonte: BHídrico GD 4.0 – 2004 Fonte: BHídrico GD 4.0 – 2004
-100
-50
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
mm
Balanço Hídrico Climatológico
Reposição Retirada Excesso Déficit
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150
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250
300
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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
mm
Balanço Hídrico Climatológico
Reposição Retirada Excesso Déficit
-100
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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
mm
Balanço Hídrico Climatológico
Reposição Retirada Excesso Déficit
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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
mm
Balanço Hídrico Climatológico
Reposição Retirada Excesso Déficit
61
V. CAMINHOS PARA A ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS DA BACIA EM ESTUDO
Segundo GODET (1985), cenários são configurações de imagens de futuro
condicionadas e fundamentadas em jogos coerentes de hipóteses sobre os
prováveis comportamentos das variáveis determinantes do objeto de planejamento.
Para organizar essa “arte da previsão”, têm sido desenvolvidos, nas últimas
décadas, vários recursos analíticos que auxiliam no processo de elaboração de
cenários, pois promovem e estimulam a criatividade e, ao mesmo tempo, estruturam
a reflexão e a análise. No entanto, como se trata de uma “criação” (invenção), a
elaboração de cenários não pode ficar presa a um rigoroso roteiro de trabalho e
técnicas, embora tenha de se basear em uma estrutura lógica convincente e aceita
pelo paradigma dominante.
Assim, com o objetivo de elaborar possíveis cenários para a Bacia do Córrego
do Gama e Ribeirão Cabeça de Veado avaliou-se anteriormente o tipo de ocupação
e de usos múltiplos. A falta de um planejamento prévio e adequado poderá implicar
na bacia em estudo, processos de erosão superficial, acompanhado do
assoreamento dos corpos d’água receptores, em particular do sistema de macro
drenagem de terrenos aluvionares de baixa declividade. Exemplo apresentado nas
fotos 2 e 3, ocorre próximo ao Córrego do Cedro, área de vereda.
O processo poderá ser acelerado em decorrência de ocupações inadequadas
na bacia, sem os devidos cuidados conservacionistas, com o conseqüente
incremento no aporte sólido. O assoreamento, em corpos d’água, poderá ocorrer
dentro de um processo natural de redução de capacidade de transporte sólido,
associado, de maneira geral, à redução dos níveis de energia de escoamento.
Complementando as informações observadas a partir da interpretação das
imagens de satélite nos anos 1994, 1998, 2001 e 2005, os dados da CODEPLAN,
2004, apontam, que a população residente é de 19.252 habitantes e o número de
domicílios na área do Park Way é de 4.813, correspondendo a 4 habitantes por
domicílio (CODEPLAN, 2004). Estes indicadores considerados satisfatórios, mas
com viés de alerta para uma área de APA, que faz parte da Zona Núcleo da Biosfera
62
do Cerrado Fase 1 (UNESCO, 2000), onde é importante ressaltar que as
ocupações humanas devem ser prioritárias nas análises ambientais.
Nesse sentido, para a avaliação socioambiental da bacia em estudo, com o
objetivo de elaborar novos cenários, optou-se pelo elaboração de uma tabela,
buscando identificar os elementos exógenos que podem influenciar os processos e
os eventos endógenos (Tabela 3).
5.1. Cenário Exploratório Extrapolativo, Exploratório Alternativo e Normativo ou Desejado
Os cenários tratam, portanto, da descrição de um futuro possível,
imaginável ou desejável para um sistema e seu contexto, bem como do caminho
ou da trajetória que o conecta com a situação inicial do objeto de estudo, como
histórias sobre a maneira como o mundo (ou uma parte dele) poderá se mover e se
comportar no futuro.
Na caracterização dos cenários, é possível distinguir dois grandes conjuntos
diferenciados segundo sua qualidade, particularmente quanto à isenção ou presença
do desejo dos formuladores do futuro: cenário exploratório e cenário normativo ou
desejado.
Os cenários exploratórios podem ter várias formas de acordo com o grau de
importância que for conferido às latências e aos fatores de mudança que
amadurecem na realidade, indicando maior ou menor abertura para as inflexões e
descontinuidades futuras. Assim, podem ser diferenciados dois grandes tipos
diferentes de cenários exploratórios: i) extrapolativos, os quais reproduzem no
futuro os comportamentos dominantes no passado; ii) alternativos, os quais
exploram os fatores de mudança que podem levar a realidades completamente
diferentes das do passado e do presente.
O cenário exploratório extrapolativo irá corresponder a um maior
comprometimento da Bacia Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de Veado, se
persistirem as mesmas ações do momento sistema hidrológico pressionado pela
ocupação urbana, como visto anteriormente.
63
Tabela 3 - Avaliação Socioambiental da Bacia Hidrográfica do Córrego do Gama e Ribeirão Cabeça de Veado.
INDICADOR PRESSÃO IMPACTO ESTADO RESPOSTA
Uso da terra
Áreas protegidas afetadas
Especulação imobiliária
Compactação do solo
Diminuição da área recarga hídrica
Ampliação do Aeroporto
Comprometimento das nascentes
Assoreamento dos mananciais
Aparecimento de voçorocas
Enxurradas
Desmatamento
Áreas com solo exposto
Alargamento do leito dos rios
Processos erosivos
Diminuição da área verde
Diminuição da vazão
Empobrecimento da fauna
- Contenção das áreas do Jardim Botânico com
replantio de árvores
- Compensação ambiental dentro da APA
- Construção de bacias de contenção na área do
aeroporto
Aumento
populacional
Futuro projeto de construção da Cidade
do Catetinho para abrigar mais 40.000
moradores
Futura construção de Terminal
Rodoviário de Integração na Quadra 14
Comprometimento da segurança e das vias
de trânsito com abertura de novas vias
Água pluvial do Catetinho irá desaguar na
bacia em estudo
Urbanização mais acelerada
Perda de cobertura natural
Desvalorização patrimonial
- Atuação mais efetiva da Associação
Comunitária do Park Way em defesa das áreas
naturais
- Atuação do Instituto Vida Verde com
participação no Conselho Gestor da APA Gama e
Cabeça de Veado
Aumento da
ocupação
urbana
Parcelamento de lotes de 20.000 m² em
até 8 de 2.500 m²
Pressão por construção de novos
condomínios
Pressão populacional por serviços
básicos
Maior demanda por recursos hídricos
Maior demanda por perfuração de poços
artesianos
Aumento de resíduo domiciliar
Aumento do risco de poluição dos
mananciais pelo resíduo domiciliar
Descaracterização da paisagem
natural
Aumento da qualidade de vida
Aumento do fluxo de automóveis e
abertura de novas vias de trânsito
- Maior participação na discussão da Associação
Comunitária do Park Way com a SEDUMA sobre
o PDL e PDOT, em defesa da proteção das
nascentes e para manter as condicionantes
ambientais de ocupação do Park Way
Acesso ao
esgotamento
sanitário
Destinação final aumento de uso de
fossa séptica
Contaminação do solo com perigo para o
lençol freático
Perda de qualidade da água pouca preocupação com relação a este
indicador
Coleta seletiva
do resíduo
sólido
Pressão por maior dinamismo da coleta
do resíduo sólido em decorrência do
volume produzido
Aumento de resíduo domiciliar
Aumento do risco de poluição dos
mananciais
Por ser uma área de APA e de
alto poder aquisitivo uma
freqüência regular na coleta do
resíduo sólido
Diminuição dos problemas de
saúde pública
- Cooperativa de Catadores Sem Dimensão e a
Fazenda Água Limpa - UnB, estimulam a coleta
seletiva e a reciclagem dos resíduos sólidos
Limpeza e revegetação nos cursos d’água e
nascentes com maior participação da comunidade
Queimadas
Ações individuais e isoladas de pessoas
não esclarecidas
Emissão de CO
2
Ressecamento do solo
Perturbação da biota terrestre Maior articulação entre as instituições: Jardim
Botânico, FAL-UnB, Estação Ecológica do IBGE
64
Como avaliação preliminar a vazão hídrica tende a acompanhar os
valores de chuva, mas quando se observa os valores do balanço hídrico
percebe-se que a retirada de água do solo, em 1994 iniciou em maio -
ocupação urbana representava 1056 ha, em 1998 a retirada de água do solo
iniciou em abril - quando a ocupação urbana representava 3343 ha. E nos anos
de 2001 e 2005 o quadro de retirada de água do solo iniciou também em abril.
A resposta, às alterações morfológicas de um curso d’água natural, quer
seja, por um processo erosivo, ou por um assoreamento, podem ser
avaliadas a partir de um conhecimento adequado de todas as variáveis que
regem o fenômeno, o que não é muito simples. Um complicador dos problemas
dessa natureza ocorre em áreas urbanas, onde há alterações importantes, quer
nas características hidrológicas de uma bacia, o que já é perceptível na bacia
em estudo com a diminuição da vazão, aumento do déficit de água no solo e o
assoreamento dos corpos hídricos.
O cenário exploratório alternativo, ao contrário, amplia as possibilidades
de futuro e as incertezas das hipóteses. Correspondem à velocidade e à
profundidade das mudanças contemporâneas. O cenário alternativo, ao
considerar, descontinuades e inflexões de tendências, contemplam a
possibilidade e a probabilidade de o futuro ser completamente diferente do
passado recente. Embora, tais cenários tenham o passado como uma
referência, a base deles reside nos processos em maturação e nas
perspectivas efetivas de descontinuidades no desenho do futuro: o importante
é considerar o que está amadurecendo, na realidade atual, que poderá definir
alternativa e desdobramentos futuros.
Na bacia em estudo o cenário exploratório alternativo poderá acontecer
de forma sustentável, face à atuação da Associação Comunitária do Park Way
em defesa das áreas naturais, do Instituto Vida Verde, com participação no
Conselho Gestor da APA Gama e Cabeça de Veado, no sentido de discutir o
projeto de construção da Cidade do Catetinho. Como exemplo incorporar as
fases de coleta e tratamento da água na etapa de infra-estrutura do projeto.
65
O cenário normativo ou desejado, por sua vez, deve aproximar-se das
aspirações do decisor em relação ao futuro, refletindo a melhor previsão
possível. Embora se trate de ajustar o futuro aos desejos, para ser um cenário,
a descrição deve ser plausível e viável e não apenas a representação de uma
vontade ou de uma esperança. Desse ponto de vista, pode-se dizer que o
cenário normativo ou desejado é uma utopia plausível, capaz de ser
efetivamente construída e, portanto, demonstrada técnica e logicamente
como viável.
Normalmente, utilizado para o planejamento governamental, o cenário
normativo (desejado) tem uma conotação política e deve ser ao mesmo tempo,
tecnicamente plausível e politicamente sustentável. Tal cenário procura
administrar o destino com base no desejo, ajustando-o às probabilidades e às
circunstâncias. Dessa forma, pode exercer um papel importante na orientação
da ão dos atores para intervir e transformar o futuro provável no desejado,
expressando o espaço da construção da liberdade dentro das circunstâncias.
O cenário desejado é a síntese do contraponto entre o presente
(antítese) e as idéias e as utopias de uma sociedade em relação ao seu futuro,
o que resulta em um futuro tão próximo das aspirações quanto possível nas
circunstâncias históricas determinadas. Desse modo, consiste em um
tratamento técnico e racional dos desejos, o qual recusa a simples
probabilidade dos eventos futuros, mas também evita o voluntarismo descolado
do mundo real.
No caso da Bacia do Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de Veado,
considerando as circunstâncias históricas, o cenário desejado deverá
contemplar de maneira técnica e politicamente sustentável, as diretrizes de
uma Área de Preservação Ambiental e do Plano Diretor de Ordenamento
Territorial que possam nortear as aspirações e as ações dos agentes
interessados, com a finalidade de aprimorar o sistema de planejamento
territorial existente para o fortalecimento de uma gestão democrática e
participativa.
66
Para tal, ocorreu, em vinte de maio de 2005, a Audiência Pública para a
Revisão do PDOT, em que estiveram presentes a direção e técnicos da
SEDUH, técnicos do IBAMA, os administradores do Park Way e Lago Sul, com
suas equipes e as comunidades do Park Way e Lago Sul.
Mais recentemente, Julho/2008, em encontro na Universidade de
Brasília, foi debatida a questão da construção do Setor Habitacional do
Catetinho, constituindo-se em um exemplo emblemático, pois a área a ser
ocupada por este mega empreendimento está localizada em uma altitude mais
elevada, o que provavelmente poderá ocasionar a impermeabilização da área
de recarga do aqüífero da Bacia do Ribeirão do Gama e Córrego Cabeça de
Veado. Como alerta e, com base em estudos realizados por um pesquisador
presente ao evento, foi observado que, em conseqüência da construção desse
setor, ocorreria um lançamento, devido a enchentes, de 5,6 /s de água no
Ribeirão do Gama.
Diante deste quadro, parece ser possível encontrar caminhos que
aproximem as aspirações do decisor em relação ao futuro e, o apenas a
representação de uma vontade ou de uma esperança (utopia). Assim
existem algumas propostas discutidas e apontadas que darão suporte às
formulações das considerações finais e recomendações deste trabalho.
67
VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ocupação urbana do Park Way está inserida na bacia do Lago
Paranoá e configura um sistema ambiental-paisagístico composto por unidades
de conservação e por espaços livres públicos e privados. Do ponto de vista
ambiental, é uma área sensível especialmente no que tange os recursos
hídricos. Sendo bem drenada por pequenos córregos que desembocam no
Lago Paranoá, sua ocupação tem reflexo direto no Lago: tanto na qualidade de
suas águas, como na manutenção de seu espelho. (PDOT, 2007)
Apesar da manutenção da integridade ambiental existem chácaras ao
longo dos Córregos Gama, Mato Seco e Cedro, considerados como Áreas
Rurais Remanescentes do PDOT (foto 7), que ferem também o Código
Florestal, pois as chácaras existentes estão nas bordas do córrego e na sua
maioria, não executam atividades rurais como meio de subsistência, pois
funcionam como moradias urbanas.
Foto 7 - Chácaras Existentes nas Bordas do Córrego Mato Seco. Fonte: Maria Rita, 2007.
68
Ao se cruzarem os valores pluviométricos com a vazão correspondente
aos anos das imagens de satélites que foram analisadas (1994, 1998, 2001 e
2005) observou-se decréscimo dos valores de chuva, sem mostrar tendência,
tendo em vista que as vazões decresceram, chegando a níveis de 7,00 m³/s
em 1994, 5,00 m³/s em 1998, e apenas 4,00 m³/s em 2001, voltando aos níveis
7,00 m³/s em 2005, no mês de março, e no mês de dezembro, outro pico de
vazão (5,00m m³/s), quando foi registrada uma média de precipitação de 400
mm.
A leitura que se faz, a priori é que os valores da vazão acompanham a
diminuição das médias de precipitações anuais, nos anos analisados, e as
mesmas apresentam bastante irregularidade quanto à freqüência e a
intensidade.
Quanto ao balanço hídrico, este, segue o ciclo dos períodos de chuva e
estiagem, com detalhes em 1994, onde se observa que a retirada de água do
solo iniciou em maio, enquanto em 1998 iniciou no final de março; em 2001 os
valores de água no solo chegaram a 100 mm e em 2005 a quantidade de água
no solo aumentou atingindo 330 mm, mas o déficit de água estendeu-se de
abril a meados de novembro.
Como já ressaltado a retirada de água do solo, em 1994 iniciou em maio,
quando a ocupação urbana representava 1056 ha, e em 1998 a retirada de
água do solo iniciou em abril, quando a ocupação urbana representava 3343
ha. Infere-se que a ocupação urbana pode interferir no armazenamento de
água no solo.
Essas variações dos valores de chuva e de vazão somadas à leitura da
tabela 3 Avaliação Socioambiental da Bacia aponta para um quadro de alerta
com relação a empreendimentos de grande porte, pois existem ameaças, que
devem ser controladas com a aplicação de ações preventivas quanto à
ocupação da bacia em estudo, como a fiscalização e a aplicação mais vigorosa
de instrumentos legais – PDOT.
Quanto ao sistema de recursos hídricos, algumas zonas do zoneamento
do PDOT e as propostas de ampliação das vias públicas na Bacia do Ribeirão
do Gama e Córrego Cabeça de Veado, caso sejam efetivadas, podem provocar
69
impactos irreversíveis aos ecossistemas terrestres e aquáticos da unidade,
além de comprometerem as áreas de captações da CAESB. Parte da
expansão do Núcleo Rural Córrego da Onça, por exemplo, prevista em lei, está
dentro do Polígono de proteção da CAESB. Outro ponto relevante é a
comprovação de retirada da água, pela CAESB, dentro da Reserva Biológica
do Jardim Botânico, acima da vazão ecológica
6.1. Recomendações e Conclusões
Algumas recomendações podem ser apontadas para a bacia em estudo,
com a finalidade de aprimorar o sistema de planejamento territorial existente
visando o fortalecimento de uma gestão democrática e participativa,
fundamentando as aspirações do decisor em relação ao futuro e não apenas a
representação de uma vontade ou de uma esperança (utopia).
As recomendações para direcionar um zoneamento da bacia em estudo,
com o objetivo de consolidar o cenário normativo ou desejado visam a:
- manter a baixa densidade populacional dos setores suburbanos inseridos na
zona urbana de uso controlado I
8
;
- coibir a ocupação de bordas dos córregos nascentes e preservar as áreas de
manancial do Catetinho;
- garantir as ligações de corredores ecológicos entre a Reserva Ecológica e
Científica da Fazenda Água Limpa, a Reserva Biológica do Jardim Botânico, a
Estação Ecológica do IBGE;
- preservar toda a zona de vida silvestre ao longo dos córregos Cedro, Mato
Seco e Ribeirão do Gama;
- estimular as atividades econômicas adequadas aos condicionantes locais;
- aperfeiçoar e ampliar os instrumentos de monitoramento e fiscalização do uso
e ocupação do solo; e
8
O quadro atual de ocupação na Zona Urbana de Uso Controlado I denota o uso predominante habitacional com baixa densidade, que favorece
a manutenção de áreas verdes. Há, no entanto, alguns enclaves de maior densidade, como a Vila Varjão, o Paranoá e a Agrovila da Vargem
Bonita. O perfil socioeconômico da população se distingue da seguinte forma: nas áreas menos densas a população é de média-alta e alta renda;
e nas áreas de maior densidade a população é de média para baixa renda. Nesta zona, a ocupação urbana não está plenamente consolidada.
70
- maior participação da população local para a conservação das águas,
estimulando a elaboração de programas de educação ambiental.
A avaliação preliminar hidrológica indica a necessidade de estudos
mais específicos em relação à vazão desta bacia hidrográfica, para verificar
com maior precisão a influência da urbanização na variação das descargas na
área de drenagem objeto do estudo.
71
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77
APÊNDICES
78
Apêndice 1: Foto representativa do solo na margem da Lagoa do Cedro. Agosto, 2007
Maria Rita.
Apêndice 2: Foto representativa da ocupação urbana próxima à Lagoa do Cedro.
Agosto, 2007
Maria Rita.
79
Apêndice 3: Fotos representativas da fitofissionomia Vereda, próximo a Lagoa do
Cedro. Agosto, 2007
Maria Rita.
Maria Rita.
80
Apêndice 4: Fotos representativas do curso d’água do Córrego do Cedro. Agosto,
2007
Maria Rita.
Maria Rita.
81
Apêndice 5: Fotos representativas das galerias para o Córrego do Cedro atravessar a
pista. Agosto, 2007
Maria Rita.
Maria Rita.
82
Maria Rita.
Maria Rita.
83
Apêndice 6: Foto representativa da fitofissionomia Campo de Murundus, lado oposto
da Lagoa do Cedro. Agosto, 2007
Maria Rita.
Apêndice 7: Fotos representativas das placas informativas da Área de Proteção
Ambiental Gama Cabeça de Veado. Agosto, 2007
Maria Rita.
84
Maria Rita.
Maria Rita.
85
Apêndice 8: Fotos representativas da fitofisionomia mata de galeria do Córrego Mato
Seco. Outubro, 2007
Maria Rita.
Maria Rita.
86
Apêndice 9: Fotos representativas dos usos e ocupações da terra na área rural.
Outubro, 2007
Maria Rita.
Maria Rita.
87
Apêndice 10: Fotos representativas dos usos e ocupações da terra na ocupação
urbana e a fundo a mata de galeria do Córrego Capetinga. Outubro, 2007
Maria Rita.
Maria Rita.
88
Maria Rita.
Maria Rita.
ANEXOS
Anexo 1
Informativos da Associação Comunitária do Park Way
Anexo 2
Precipitação Média Mensal para os anos de 1994, 1998, 2001 e 2005,
Instituto Nacional de Meteorologia - INMET
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO-MAPA
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA - INMET
ESTAÇÃO CLIMATOLÓGICA PRINCIPAL DE BRASÍLIA/DF
Lat : 15°47'00'' S Long : 047°56'00'' W Alt :1159,54 m
PRECIPITAÇÃO MEDIA , MENSAL (°C)
Ano JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
1994 166,5 134,6 324,4 143,1 69,4 14,6 4 0 0 49,7 278,9 167,1
1998 246,3 128,1 263,1 67 38,8 7,4 0 9,7 20,7 125,8 300,5 167,8
2001 197,4 105,9 191,5 145,4 36,2 0 14,6 38,5 50,5 132,5 199,6 191,4
2005 245,2 264,7 398,6 28,0 17,0 5,4 0,2 39,1 55,9 57,3 226,5 422,2
Anexo 3
Temperatura Média Mensal para os anos de 1994, 1998, 2001 e 2005,
Instituto Nacional de Meteorologia - INMET
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO-MAPA
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA - INMET
ESTAÇÃO CLIMATOLÓGICA PRINCIPAL DE BRASÍLIA/DF
Lat : 15°47'00'' S Long : 047°56'00'' W Alt :1159,54 m
TEMPERATURA MEDIA , MENSAL (°C)
Ano JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
1994 21 21,9 26,9 21,2 20,5 18,1 18,3 20,3 23,2 23,7 22,2 21,4
1998 23,2 23,3 23,5 23,8 21,1 19,9 20 22,8 23,4 23,5 22,2 22,5
2001 22,5 23,3 22 22,5 21,4 19,9 20,2 20 22,4 21,6 22 22,1
2005 21,9 22,5 21,7 22,2 19,8 19,2 19,1 21,1 23,2 24,8 21,6 21,0
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