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DANIEL VALLE VASCONCELOS SANTOS
Dissertação apresentada à Coordenação
do Curso de Pós-Graduação em
Neurociências e Biologia Celular, da
Universidade Federal do Pará, como
requisito parcial para a obtenção do grau
de Mestre em Neurociências.
Orientador: Prof. Dr. Manoel da Silva Filho
BELÉM - PARÁ
2005
PROPRIEDADES ELETROFISIOLÓGICAS PASSIVAS E
ATIVAS DE NEURÔNIOS DA CAMADA I NO CÓRTEX VISUAL
DO RATO
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DANIEL VALLE VASCONCELOS SANTOS
Dissertação aprovada com louvor como requisito parcial para a obtenção do
grau de Mestre em Neurociências, pelo Curso de Pós-Graduação em
Neurociências e Biologia Celular da Universidade Federal do Pará, pela
comissão constituída pelos professores:
Orientador: Prof. Dr. Manoel da Silva Filho
Prof. Dr. Luiz Carlos de Lima Silveira
Prof. Dr. Luiz Carlos Santana da Silva
Prof. Dr. Antônio Pereira Júnior
BELÉM - PARÁ
2006
PROPRIEDADES ELETROFISIOLÓGICAS PASSIVAS E
ATIVAS DE NEURÔNIOS DA CAMADA I NO CÓRTEX VISUAL
DO RATO
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i
“A ciência não é apenas compatível com a espiritualidade; ela é uma profunda
fonte de espiritualidade. Quando reconhecemos nosso lugar na imensidão de
anos-luz e no transcorrer das eras, quando compreendemos a complexidade, a
beleza e a sutileza da vida, então esse sentimento sublime, misto de júbilo e
humildade, é certamente espiritual.
A noção de que a ciência e a espiritualidade são de alguma maneira
mutuamente exclusivas presta um desserviço a ambas.”
Carl Sagan
ii
AGRADECIMENTOS
Ao fim de mais uma etapa de minha vida profissional não poderia
deixar, mais uma vez, de agradecer àqueles que sempre me apoiaram
incondicionalmente em todos os momentos de minha vida, minha família,
Marco Antonio, Ana Sarah e Eduardo.
Minha especial gratidão ao Prof. Dr. Manoel da Silva Filho pela
orientação, aprendizado e amizade que marcaram nossa convivência nestes
últimos 4 anos.
Muito obrigado ao Instituto Evandro Chagas pela vital
colaboração em ceder os animais utilizados durante os experimentos deste
trabalho.
Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES), à Coordenação de Pós-Graduação em Neurociências
e Biologia Celular e à Universidade Federal do Pará (UFPA), em especial aos
professores, pelo incentivo dado a todos aqueles que desejam investir em seu
futuro próprio e ao futuro da pesquisa científica brasileira.
A todos os meus amigos e colegas de trabalho, pelos momentos
de descontração fundamentais em nossas vidas. Ricardo Neves, Hivana Melo,
Andréa Luciana, Luciana Barberino, Jairo Castro, Bruna Tamegão, Bruno
Gomes, Givago Souza, André Cabral, Monica Lima, Eliza Lacerda, Cézar Saito,
Natáli Valim, Lane Coelho e muitos outros.
A Julianne, minha pretinha, por sempre deixar minha vida mais
policromática =).
iii
ÍNDICE
RESUMO............................................................................................................ix
ABSTRACT.........................................................................................................x
1.0 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1
1.1 CÉLULAS CORTICAIS DO RATO...................................................... 1
1.2 ELETROFISIOLOGIA ......................................................................... 3
1.2.1 Propriedades de disparo........................................................... 5
1.2.2 Células regular-spiking (RS)..................................................... 6
1.2.3 Células fast-spiking (FS) ........................................................... 7
1.2.4 Células bursting......................................................................... 8
1.3 FORMAÇÃO DO CÓRTEX CEREBRAL NO RATO.......................... 10
1.4 O CÓRTEX VISUAL DO RATO........................................................ 11
1.5 CAMADA I......................................................................................... 14
1.5.1 A eletrofisiologia da camada I ................................................ 16
1.5.2 A função cortical da camada I ................................................ 18
1.5.3 A importância clínica da camada I ......................................... 20
1.5.4 Populações celulares em estudo ........................................... 22
2.0 OBJETIVOS......................................................................................... 26
2.1 OBJETIVO GERAL........................................................................... 26
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................. 27
3.0 MATERIAL E MÉTODOS..................................................................... 28
3.1 A TÉCNICA DE PATCH-CLAMP ......................................................28
3.2 O REGISTRO EM WHOLE-CELL..................................................... 28
3.3 FABRICAÇÃO DAS MICROPIPETAS .............................................. 29
iv
3.4 PREPARAÇÃO DAS FATIAS...........................................................30
3.5 IDENTIFICAÇÃO CELULAR............................................................. 30
3.6 SOLUÇÕES......................................................................................31
3.7 POSICIONAMENTO DA MICROPIPETA.......................................... 31
3.8 MEDIDA DA RESISTÊNCIA ELÉTRICA DA MICROPIPETA........... 32
3.9 FORMAÇÃO DO GIGASELAMENTO............................................... 32
3.10 ENTRADA NO MODO WHOLE-CELL.............................................. 33
3.11 AQUISIÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE ............................................ 34
3.12 MEDIDA DA RESISTÊNCIA DE ENTRADA DA CÉLULA (RN) ........34
3.13 MEDIDA DA CONSTANTE DE TEMPO DA MEMBRANA CELULAR ..
............................................................................................................36
3.14 MEDIDA DO LIMIAR DE DISPARO DO POTENCIAL DE AÇÃO..... 37
3.15 MEDIDAS TEMPORAIS DE MEMBRANA........................................ 37
4.0 RESULTADOS..................................................................................... 38
4.1 PROPRIEDADES PASSIVAS DAS CÉLULAS DA CAMADA I......... 38
4.2 FORMA DOS DISPAROS DAS CÉLULAS DA CAMADA I............... 39
4.3 PROPRIEDADES DE DISPARO DAS CÉLULAS DA CAMADA I.....42
4.4 PADRÕES DE DISPARO DAS CÉLULAS DA CAMADA I................ 47
4.5 EFEITO DO POTENCIAL DE MEMBRANA SOBRE AS
PROPRIEDADES DE DISPARO.................................................................. 56
4.6 EFEITO DA REMOÇÃO DE Ca
+2
EXTRACELULAR SOBRE AS
PROPRIEDADES DE DISPARO.................................................................. 60
4.7 PROPRIEDADES DAS CÉLULAS DA ZONA INFERIOR (ZI) NA
CAMADA I.................................................................................................... 66
4.7.1 Propriedades passivas das células da ZI na camada I......... 66
v
4.7.2 Forma dos disparos das células da ZI na camada I.............. 67
4.8 PROPRIEDADES DAS CÉLULAS DA ZONA MÉDIA (ZM) NA
CAMADA I.................................................................................................... 68
4.8.1 Propriedades passivas das células da ZM na camada I....... 68
4.8.2 Forma dos disparos das células da ZM na camada I............ 68
4.9 PROPRIEDADES DAS CÉLULAS DA ZONA SUPERIOR (ZS) NA
CAMADA I.................................................................................................... 69
4.9.1 Propriedades passivas das células da ZS na camada I ....... 70
4.9.2 Forma dos disparos das células da ZS na camada I ............ 70
4.10 RELAÇÕES ENTRE AS REGIÕES ESTUDADAS............................ 72
5.0 DISCUSSÃO ........................................................................................ 74
5.1 DIFERENTES PROPRIEDADES DE DISPARO NA CAMADA I....... 74
5.2 DIFERENTES POPULAÇÕES DENTRO DA CAMADA I ................. 78
5.3 EFEITOS DA MANIPULAÇÃO DO POTENCIAL DE MEMBRANA... 80
5.4 EFEITOS DA REMOÇÃO DO Ca
+2
...................................................81
5.5 PAPEL FUNCIONAL DAS CÉLULAS DA CAMADA I....................... 83
6.0 CONCLUSÃO ...................................................................................... 86
7.0 REFERÊNCIAS.................................................................................... 87
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema simplificado das áreas visuais e suas respectivas
interações..........................................................................................................14
Figura 2 - Desenho de uma célula neurogliaforme da substância branca........25
Figura 3 - Exemplo do posicionamento das células - alvo de nosso estudo.....27
Figura 4 - Exemplo de como a resistência de entrada foi calculada para cada
célula.................................................................................................................35
Figura 5 - Padrão dos pós - potenciais (PP) nas células da camada I..............44
Figura 6 - Correlações entre algumas medidas temporais e amplitude dos
PPHr..................................................................................................................45
Figura 7 - Célula mostrando fraca adaptação de freqüência.............................46
Figura 8 - Exemplo de uma célula mostrando PPHr amplos em todos os
PAs....................................................................................................................48
Figura 9 - Célula apresentando período quiescente entre seqüências de
disparos.............................................................................................................50
Figura 10 - Padrão de disparo demonstrando uma célula com PPD após PAs
(seta), principalmente sob baixas correntes......................................................52
Figura 11 - Exemplo de uma célula mostrando um disparo atrasado...............53
Figura 12 - Célula com características de células imaturas..............................54
Figura 13 - Célula classificada como low-threshold spiking..............................55
Figura 14 - Exemplo do efeito do potencial de membrana sobre a duração do
disparo...............................................................................................................58
Figura 15 - Exemplo do efeito do potencial de membrana sobre a freqüência de
disparo em uma célula da camada I..................................................................59
vii
Figura 16 - Gráfico mostrando aumento na duração nas medidas temporais dos
PAs quando a [Ca
+2
] extracelular é diminuída...................................................61
Figura 17 - Experimento demonstrando o efeito da [Ca
+2
] extracelular sobre a
forma dos PAs em uma célula da camada I......................................................62
Figura 18 - Exemplo do efeito da remoção de Ca
+2
extracelular sobre as
propriedades de disparo em uma célula da camada I.......................................63
Figura 19 - Relação entre a amplitude dos PPHr e a duração dos disparos.....65
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Principais tipos de disparo em células corticais ................................ 9
Tabela 2 - Resumo das propriedades passivas e ativas dos neurônios da
camada I........................................................................................................... 41
Tabela 3 - Resumo dos efeitos do potencial de membrana sobre os PAs em
células da camada I. ........................................................................................ 57
Tabela 4 - Resumos das propriedades eletrofisiológicas de cada uma das
regiões estudadas............................................................................................ 71
Tabela 5 - Diferenças estatísticas foram encontradas em alguns parâmetros
eletrofisiológicos entre as zonas estudadas na camada I.................................73
ix
RESUMO
A camada I é a mais externa de todas as minas neocorticais.
Suas principais características são a escassez neuronal quando comparadas
com as outras camadas e a presença de neurônios GABAérgicas que, em
última análise, ajudam a inibir e regular a complexa rede neural composta pelos
buquês apicais de todos os neurônios piramidais que chegam de camadas
mais profundas. Sua má formação está associada ao aparecimento de diversas
patologias neurológicas e psiquiátricas em seres humanos. Neste estudo,
procuramos descrever as propriedades passivas e ativas de membrana dos
neurônios presentes nesta camada, assim como, analisar o efeito do potencial
de membrana e da concentração de Ca
+2
extracelular sobre as propriedades
de disparo. Utilizamos a técnica de patch clamp em modo whole cell para
registrar os disparos de 244 células estimuladas por pulsos de corrente
despolarizantes e hiperpolarizantes em fatias cerebrais da área 17 de ratos
Wistar com idades entre 14 e 21 dias. Nossos resultados indicam haver, pelo
menos, seis padrões de disparos próprios de interneurônios. Três deles, até
então, não haviam sido descritos na camada I. São eles: lulas fast-spiking
não acomodantes (fast-spiking clássicas); células regular-spiking non
pyramidals; lulas apresentando períodos quiescentes (stuttering); células
late-spiking; lulas low-threshold spiking e células com disparos
característicos de células imaturas. Concluímos que as correntes de
repolarização dos PAs das células da camada I são dependentes tanto da
tensão de membrana quanto da disponibilidade de Ca
+2
extracelular, porém
esta última parece não ser tão essencial sobre a geração dos PPHr,
característicos de interneurônios corticais.
x
ABSTRACT
Layer I is the more external of all of the neocortical sheets. His
main features is the low neuronal density when compared with the other layers
and the presence of GABAergic neurons that, in last analysis, help to inhibit and
to regulate the complex neural net composed by the apical tufts of all pyramidal
neurons that arrive from deeper layers. During the development, play crucial
role in the migration, positioning and origin of the neurons of the cortical plate
and his impairment is associated to the emergence of several neurological and
psychiatric pathologies. In this study, we tried to describe the passive and active
membrane properties of neurons in this layer, as well, analyze the effect of the
membrane potential and external Ca
+2
concentration in his repetitive properties.
We used whole cell patch clamp technique to record 244 cells stimulated by
depolarizing and hyperpolaryzing current pulses in brain slices of Wistar rats
with ages between 14 and 21 days. Our results indicate, at least, six
interneurons firing patterns. Three of them, had not been described in the layer I
until now. They are: classic no accommodating fast-spiking cells; regular-
spiking non pyramidals cells; cells presenting quiescent periods (stuttering);
late-spiking cells; low-threshold spiking cells and cells with characteristic spikes
of immature cells. We concluded that the repolarization currents of layer I
neurons are dependent as much of the tension as of the readiness of Ca
+2
,
however this last one seems to be not essential for generation of fAHP,
characteristic of cortical interneurons.
1
1.0 INTRODUÇÃO
O sistema visual provavelmente é a mais avançada maneira de
como os animais interagem com o espaço a sua volta. Desde pequenos insetos
até os grandes primatas utilizam a energia eletromagnética para o
reconhecimento de formas, movimentos e cores. Características estas,
importantes para a relação presa/predador, por exemplo.
Hoje, compreendemos boa parte da fisiologia da transdução de
sinal desencadeada pela chegada da luz até os fotorreceptores da retina.
Sabemos como estes fótons podem gerar sinais que se propagam até o córtex
visual. Mas, como essa informação é utilizada, comparada, reunida e
equacionada ainda estamos longe de sua compreensão. Então, para
começarmos a entender como essa extraordinária máquina - o cérebro -
consegue manipular volumes de informação com tantas variáveis, é necessário
entender primeiro sua unidade morfofuncional, o neurônio. No nosso caso,
mais especificamente, os neurônios do córtex visual, que através de complexas
associações nos permitem saber se o que estamos vendo é azul ou amarelo,
quadrado ou redondo.
1.1 CÉLULAS CORTICAIS DO RATO
Podemos classificar os neurônios corticais em dois tipos
morfológicos: células piramidais e células não-piramidais, levando-se em
consideração a trajetória axonal, a geometria dendrítica e a presença ou não
de espinhas (Parnavelas et al., 1977).
2
As lulas piramidais clássicas são células de projeção, ou seja,
seus axônios são capazes de atingir as lulas alvo percorrendo longas
distâncias, são espinhosas e possuem um grande dendrito apical que se
ramifica na camada I e dendritos basais cujos ramos, em alguns casos, podem
ser encontrados nesta camada. As lulas piramidais estão presentes em
todas as camadas corticais com exceção da camada marginal (Marin-Padilla,
1992). São células excitatórias e usam glutamato como seu principal
neurotransmissor (Conti et al., 1994; Giuffrida e Rustioni, 1989). Os axônios
dessas células se projetam diretamente para a substância branca emitindo
ramificações colaterais, geralmente em ângulos retos percorrendo longas
distâncias que podem ascender até a camada I (Martin, 1984; Kawagushi,
1993; Cowan e Wilson, 1994).
As lulas não-piramidais ocorrem em todas as seis camadas
corticais (DeFelipe e Farinas, 1992; Peters e Jones, 1984). Estas células fazem
parte de circuitos neurais locais, ou seja, tanto os dendritos como o axônio e
suas ramificações são restritos a uma pequena área. Em alguns casos, ramos
do axônio podem ser encontrados se projetando para várias camadas corticais
ou até mesmo na substância branca. Outra caractestica importante desse
grupo celular é seu caráter inibitório, utilizando como neurotransmissor o ácido
γ-amino-butírico (GABA) (Buhl et al., 1994; Connors e Gutnick, 1990;
McCormick et al., 1985).
3
1.2 ELETROFISIOLOGIA
A verdadeira compreensão dos processos nervosos mediados por
fenômenos elétricos foi possível com o entendimento dos fenômenos
elétricos em si. A natureza precisa do mecanismo de contração muscular e
transmissão nervosa tornou-se mais clara com o advento de novas técnicas por
um grupo de cientistas europeus, entre eles, Luigi Galvani, Emil Du Bois-
Reymond, Carlo Matteucci, e Hermann von Helmholtz. Estas técnicas
demonstraram que a geração dos movimentos corporais, assim como, todos os
processos cerebrais são mediados pelo fluxo de eletricidade ao longo de fibras
nervosas.
Porém, naquela época, ainda não estava claro como a
eletricidade era gerada, transportada ou controlada. Com o avanço das
técnicas eletrofisiológicas, a atividade elétrica registrada de nervos revelou que
a condução da informação ao longo do axônio era mediada por uma variação
repentina do potencial elétrico da célula, conhecida como potencial de ação
(PA).
As propriedades dos potenciais de ação (PAs) são fundamentais
para a função neuronal e podem ser utilizadas para diferenciar neurônios
corticais piramidais e não-piramidais (McCormick et al., 1985). Esta é a
principal maneira pela qual a informação flui e, é codificada em função de sua
freqüência e intensidade. Os diversos padrões de disparo apresentados pelos
neurônios no sistema nervoso central (SNC) podem estar relacionados com
sua função cerebral, desta maneira é importante compreender os mecanismos
iônicos que estão por traz dessa diversidade de padrões.
4
Os axônios com grande calibre (> 0,5 mm) estão presentes em
muitos invertebrados. Pelo calibre apresentado, tais axônios podem conduzir
PAs em grande velocidade e por isso, freqüentemente estão associados ao
comportamento de escape diante de possíveis predadores. Alan Hodgkin e
Andrew Huxley em 1939 observaram que o axônio gigante da lula era
eletricamente polarizado, exibindo um potencial de membrana de
aproximadamente -60 mV em relação ao meio extracelular e que esse
potencial negativo era decorrente da seletividade da membrana celular a
determinados tipos de íons e sua manutenção se dava graças a fosforilação e
desfosforilação de uma enzima, a ATPase Na
+
/K
+
, chamada de bomba de
Na
+
/K
+
.
Foram eles também que demonstraram pela primeira vez o
mecanismo responsável pela geração dos PAs. Eles encontraram basicamente
duas correntes iônicas: uma intensa e fugaz corrente de Na
+
(INa
(T)
) que
entrava na célula e mediava a fase ascendente do PA e uma corrente de K
+
,
mais lenta, menos intensa e preferencialmente para fora da lula mais tarde
chamada IK
(DR)
, responsável pela fase descendente dos PAs. No SNC de
mamíferos, os mecanismos envolvidos nesta última fase ainda não são bem
compreendidos. Mesmo sabendo que as correntes de saída de K
+
são
responsáveis pelo pico de repolarização, ainda permanecem incertos quais os
tipos de canais que estão envolvidos.
Estudos anteriores demonstraram, em neurônios piramidais no
hipocampo de ratos, que a repolarização do PA é mediada através de uma
corrente de K
+
, transitória que sai da célula, dependente de Ca
+2
chamada I
(C)
5
(Lancaster e Nicoll,1987; Storm, 1987). Esta última corrente é considerada
como sendo um dos principais componentes da fase repolarizante e também
importante na geração dos pós-potenciais hiperpolarizantes rápidos (PPHr)
freqüentemente encontradas após cada PA. Estudos usando a técnica de
patch-clamp em correntes de K
+
em CA1 mostraram que correntes de K
+
dependentes de voltagem podem ser as correntes de saída dominantes nos
neurônios maduros (Spigelman et al., 1992).
Devido principalmente às dificuldades técnicas no registro de
células corticais da classe fast-spiking (Connors e Gutnick, 1990), os
mecanismos iônicos subjacentes aos seus padrões de disparo ainda não foram
completamente esclarecidos apesar da função desempenhada pelos neurônios
inibitórios no SNC, sendo esta uma das razões que nos motivou a realizar este
trabalho.
1.2.1 Propriedades de disparo
Os neurônios no neocórtex foram classificados de acordo com
vários critérios tais como localização, morfologia (tamanho, soma, formato e
padrões dendríticos) relações sinápticas locais e propriedades bioquímicas.
Contudo, para tentar compreender o papel funcional de um neurônio não é
suficiente conhecer apenas estas características. Os seus padrões de disparo
determinados por suas propriedades de membrana também são importantes.
Os padrões de disparo neuronais diferem baseado nos tipos e
nas distribuições de tipos específicos de canais iônicos no soma e nos
dendritos. Estas diferenças intrínsecas de membrana são manifestadas como
6
diferenças no formato individual de cada potencial de ação. Eles também levam
a padrões temporais distintos de disparo repetitivo, e assim determinam a
maneira como regiões individuais neuronais transformam entradas sinápticas
em disparos de saída.
As características de disparo não são fisiologicamente
homogêneas. Três tipos básicos de disparo foram caracterizados: células
regular-spiking (RS), fast-spiking (FS) e bursting
1
. Para cada tipo, a
classificação é baseada em três variáveis gerais as características de
potenciais de ação individuais, a resposta a pulsos de corrente no limiar de
disparo, e a resposta repetitiva a estímulos intracelulares prolongados (Tabela
1).
1.2.2 Células regular-spiking (RS)
São os neurônios mais comumente encontrados em estudos
eletrofisiológicos. Foi inicialmente nomeado de células regular-spiking por
Mountcastle devido sua longa duração nos disparos, principalmente por causa
de sua baixa taxa de repolarização. Cada disparo é geralmente acompanhado
de pós-potenciais hiper ou despolarizantes. Quando estimulados no limiar,
geram somente um único disparo e, à medida que a amplitude do estimulo
aumenta, o primeiro intervalo entre-picos decai em função da intensidade de
corrente. Quando expostos a estímulos prolongados de amplitude constante,
os neurônios RS exibem grande adaptação na freqüência de disparo.
1
Utilizaremos a nomenclatura em língua inglesa por ser a mais aceita e utilizada na literatura
científica nacional e mundial.
7
1.2.3 Células fast-spiking (FS)
Mountcastle também descreveu neurônios “raros”, com disparos
de curta duração no córtex de macacos. Nove anos depois, Simons fez
observações similares no neocórtex de ratos e chamou estes disparos de
fast”, ou seja, rápidos. Em ambas as situações, era notável a dificuldade em
registrar estas células com eletrodos extracelulares. Desde o desenvolvimento
de preparações in vitro , tem sido possível estudar os neurônios FS usando
registros intracelulares. Contudo, os registros continuam a ser infreqüentes e
tecnicamente desafiadores.
Embora os disparos dos três tipos celulares tenham taxas de
despolarização similares, as células FS são mais rápidas devido a uma taxa de
repolarização mais rápida e cada disparo é seguido por um grande e curto s-
potencial hiperpolarizante (PPH). Os s-potenciais hiper e despolarizantes
mais prolongados que caracterizam as células RS e Bursting não são
proeminentes nas células FS.
Os neurônios FS são característicos por seus padrões repetitivos
de disparo; eles desenvolvem pouca ou nenhuma adaptação durante pulsos de
corrente prolongados. Quando fortemente estimulados, podem sustentar
freqüências altas de disparo durante muitos milissegundos. As células FS são,
assim, capazes de realizar uma conversão relativa de sinais de entrada e de
saída dentro um amplo espectro dinâmico, em contraste com as células RS e
Bursting.
8
1.2.4 Células bursting
Os neurônios bursting são distinguíveis pela tendência de seus
disparos surgirem em padrões esterotipados de rajadas agrupadas ou, do
inglês, burst”. Os bursts são geralmente a resposta mínima a um estímulo
intracelular no limiar de disparo. Os disparos individuais das células bursting
são muito similares aqueles das células RS, embora eles sejam geralmente
seguidos por s-potenciais despolarizantes (PPDs) mais proeminentes, os
quais podem somar-se para formar uma lenta onda despolarizante de baixa
amplitude durante um burst. Dentro de uma rajada, cada disparo sucessivo
geralmente declina em amplitude, presumivelmente devido às despolarizações
sustentadas inativarem condutâncias ao sódio.
Quando estimulados com pulsos intracelulares, podem responder
com um complexo e periódico padrão de rajadas e disparos simples (células
não-burst, sob as mesmas condições, respondem com padrões de freqüência
monotônicos). Os primeiros neurônios burst descritos foram encontrados tanto
na camada IV quanto na parte superior da camada V do lobo parietal e giro
cingulado do neocórtex do guinea-pig. Estas lulas geralmente respondiam a
um pulso de corrente prolongado com uma rajada seguida de disparos
repetitivos simples. Muitas destas células podem gerar rajadas rítmicas da
ordem de 5-15 Hz.
9
Tabela 1 - Principais tipos de disparo em células corticais
Característica Classe fisiológica
Regular-spiking
(RS)
Bursting Fast-spiking
(FS)
Taxa de
despolarização
++ ++ ++
Taxa de repolarização + + ++
Pós-potencial após
disparo simples
Complexo, PPH
e PPD
Complexo,
PPHs e PPD
variável
Simples,
somente PPH
Adaptação de
freqüência
++ Variável -
Reforço de disparo
durante injeção de
corrente (burst)
- ++ -
Localização laminar
do soma
II até VI IV ou V I até VI
Morfologia
Piramidais e
espinhosas
Piramidais e
espinhosas
Não-espinhosas
e não-
piramidais
Função sináptica
Excitatória
(glutamato e
aspartato)
Excitatória
(glutamato e
aspartato)
Inibitória
(GABA)
10
1.3 FORMAÇÃO DO CÓRTEX CEREBRAL NO RATO
Para podermos contextualizar nosso estudo dentro da camada I é
necessário tecer alguns comentários sobre uma das principais funções em que
a camada marginal está inserida, a corticogênese.
A estrutura ectodermal na qual o sistema nervoso do rato origina-
se é a placa neural. De E10 até E11 (considerando-se E0 o dia do
acasalamento) a placa neural começa a fundir-se para formar o tubo neural, o
qual se fecha em E12 (Witschi, 1962). Também nesta época, três vesículas
encefálicas são distinguíveis: o prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo. Em
E12 até E13 estas vesículas transformam-se em cinco subdivisões: duas
vesículas telencefálicas, o diencéfalo, o mesencéfalo (que não se diferencia), o
metencéfalo e o mielencéfalo.
O córtex cerebral origina-se a partir da parede do tubo neural
como uma extensão das duas vesículas telencefálicas. Durante os primeiros
estágios de desenvolvimento do telencéfalo, a parede do tubo neural mostra
uma aparência homogênea e o fuso mitótico das células germinativas em
divisão é visível apenas perto do ventrículo ou na membrana interna (Sauer,
1935).
A partir de E13 a parede neural do telencéfalo perde a sua
aparência homogênea e o processo de laminação evolui. Em E13 o primórdio
plexiforme (PP) começa a se formar na parte mais lateral da parede neural do
telencéfalo. Nesta zona, fibras tangenciais entram curtamente antes da
chegada dos primeiros neurônios corticais (Marin-Padilla, 1971; Raedler e
Raedler, 1978). Entre as células de PP estão as células Cajal-Retzius (CR) e
11
células polimórficas, sendo que as primeiras o geradas na zona ventricular
entre E11 e E15, com pico em E13 (König et al., 1977; Raedler e Raedler,
1978).
A PP, algumas vezes chamada de pré-placa, é dividida em três
zonas pela formação da placa cortical (PC) em E15 a E17 que formará as
camadas II/VI (Kostovic e Molliver, 1974); a zona marginal (ZM) que dará
origem à camada I, e a sub-placa (SP) que formará a substância branca. As
células da PC começam a se formar em E13, com o pico da gênese em E16 ou
E17 (Berry e Rogers,1965; Raedler et al.,1980; Miller,1988).
1.4 O CÓRTEX VISUAL DO RATO
A área visual primária do rato ou área 17 ocupa grande parte de
todo o encéfalo do animal e está localizada na região occipital da caixa
craniana.
Lashley em 1929, realizou trabalhos pioneiros no sentido de
mapear áreas funcionais no córtex do rato utilizando lesões para relacioná-las
com suas respectivas funções encefálicas. Hoje, classifica-se o córtex visual do
rato em três principais áreas baseando-se também na classificação feita por
Broadmann para os humanos: área 17 (área estriada) e áreas 18a e 18b (áreas
extra-estriadas) (Figura 1).
A localização da área 17, a qual também é chamada de córtex
visual primário ou área estriada, foi estabelecida utilizando uma variedade de
técnicas anatômicas, metabólicas e eletrofisiológicas (Montero, 1981; Sefton e
Dreher, 1985). Sua parte lateral recebe aferências de ambos os olhos e contém
12
células responsivas a estímulos na parte central do campo visual
(aproximadamente 40° a partir do meridiano vertical), enquanto que o
segmento medial recebe somente do olho contralateral e contém células
responsivas a estímulos na periferia do campo visual. A principal fonte de
aferências para o córtex visual vem do núcleo geniculado lateral (NGL) e do
tálamo (Zilles et al., 1984; Sefton e Dreher, 1985).
Adjacente a ambos os limites laterais e parte do limite rostral da
área 17 está a área 18a. A primeira projeta-se para a segunda e, segundo
Montero et al. (1981), estas projeções são “retalhadas”, sugerindo a
possibilidade de múltiplas áreas visuais dentro da área 18a. Estudos
anatômicos e eletrofisiológicos subseqüentes confirmaram esta hipótese e,
acredita-se agora, que existam pelo menos 4 mapas na região da área 18a
adjacente à área 17 (Olavarria e Montero, 1984; Thomas e Espinoza, 1987).
Esta área também recebe aferências dos núcleos látero-posteriores do tálamo,
o qual por sua vez recebe aferências das camadas retinorecipientes
superficiais do colículo superior (Montero, 1981; Sefton e Dreher, 1985). A área
18a recebe, assim, entradas visuais de ambas as principais vias de saída da
retina, e aferências vindas diretamente do NGL para a área 18a são
controversas.
A área 18b recebe projeções da área 17 e parece conter no
mínimo 2 mapas visuais (Olavarria e Montero, 1984; Thomas e Espinoza,
1987). Ele também recebe uma projeção do cleo posterior lateral, através de
uma parte mais rostral do que aquela da área 18a.
13
Tálamo
Núcleo Geniculado
Lateral
Núcleo
Lateral
Posterior
Colículo
Superior
Retina
Córtex Estriado
17
Córtex extra-estriado
18a e 18b
Embora haja discordâncias com relação ao número preciso e
localização das áreas visuais, está claro que o córtex visual do rato é muito
heterogêneo e, como em outras espécies, contém várias representações do
espaço visual.
.
Figura 1 - Esq
uema simplificado das áreas visuais e suas respectivas
interações. (Modificado de Kolb e Tees, 1990).
14
1.5 CAMADA I
Inicialmente descrita por Magini em 1888 no rebro fetal
humano, a camada I é a mais externa de todas as minas que constituem o
neocórtex e tem papel crítico no desenvolvimento cortical além de possuir
estrutura e características únicas. Contudo, ela é muito pouco estudada ou
mencionada em trabalhos sobre o neocórtex de mamíferos, principalmente
devido à sua escassez neuronal.
Em roedores, uma coluna cortical de 0,3 mm de diâmetro contém
aproximadamente 7.500 neurônios (Ren et al., 1992; Beaulieu, 1993). Dessa
forma a camada I conteria apenas 100 neurônios, enquanto que a camada II/III
teria 2.150; 1.500 na IV; 1.250 na V e a camada VI teria 2.500 neurônios.
É composta por 6 elementos: dois tipos de neurônios (os
neurônios Cajal-Retzius e neurônios menores); três tipos de fibras (as
aferentes específicas, terminais axonais dos neurônios de Martinotti e terminais
de sistemas aferentes de camadas mais baixas); e uma extensa superfície
receptiva formada pelos buquês de dendritos apicais de todos os neurônios
piramidais do córtex cerebral.
Segundo a teoria da “origem dual” de Marin-Padilla, a camada I
possui função crucial (através das células Cajal-Retzius) na migração,
posicionamento e ascendência da estratificação dos neurônios da PC. Além
disso, os neurônios da camada I e subplaca são co-gerados antes dos
neurônios da PC servindo, assim, como camadas gerenciadoras do
desenvolvimento cortical neuronal. Comandando essa função, estão as células
Cajal-Retzius (CR) as quais secretam a glicoproteína Relina que é necessária
15
para a migração normal e correto posicionamento das camadas dos neurônios
da placa cortical (D´Arcangelo et al., 1995,1997; Ogawa et al., 1995; Del Rio et
al., 1997) e parece provável que existam várias classes de neurônios CR com
diferentes origens (Zecevic e Rakie, 2001). Essas células tornam-se raras
geralmente após o 18º dia de vida pós-natal do rato. Existem basicamente
duas teorias sobre este fato. As células CR sofrem declínio de sua população
devido à degeneração e/ou transformação (Nobock e Púrpura, 1961; Bradford
et al., 1978; Edmunds e Parnavelas, 1982; Parnavelas e Edmunds, 1983; Derer
e Derer, 1990) ou são “diluídas” devido ao grande aumento do volume cerebral
com estagnação do número de células CR (Marin-Padilla, 1984, 1988, 1990)
fato este reforçado pelo achado de algumas destas células em adultos (Conde
et al., 1994; Martinez-Garcia et al., 1994).
Ela possui a mais alta concentração de terminais dendríticos de
todo o neocórtex, e assim representa uma de suas mais extensas neurópilas
sinápticas (Marin-Padilla, 1978, 1990,1992). Os terminais dendríticos de 1/3 de
todos os neurônios corticais estão representados na camada I, além disso, a
maioria destes terminais dendríticos está presente desde o inicio do
desenvolvimento neocortical. Recebe axônios tálamo-corticais de núcleos
talâmicos espeficos e o-específicos (Mitchell e Cauller, 2001; Llinas et al.,
2002) e integra entradas corticais e talâmicas (Cauller e Kulics, 1991; Mitchell e
Cauller, 2001; Llinas et al., 2002) o que nos leva a crer que um considerável
processamento de informação deve ocorrer nessa região.
Esta camada possui uma das mais ricas concentrações de
terminais GABAérgicos no neocórtex (Prieto et al., 1994) e possui um tipo
16
especial de astrócito chamado comet cell que possui um papel significativo na
manutenção e reparo na delimitação glial externa do neocórtex (Ramon y Cajal,
1911; Marin-Padilla, 1995; Retzius, 1894). Os axônios horizontais das células
Cajal-Retzius (CR) estão entre as primeiras fibras do neocórtex a sofrer
mielinização (Brody et al., 1987). Ainda cedo no desenvolvimento, a camada I
recebe fibras catecolaminérgicas (Zecevic, 1993; Zecevic et al., 1995); na
metade do desenvolvimento, ela recebe tipos especiais de fibras talâmicas que
se ramificam e espalham-se horizontalmente por longas distâncias dentro de
seu território (Marin-Padilla et al., 1982); e, posteriormente, recebe terminações
de muitas, talvez todas, as fibras aferentes que alcançam o neocórtex (Marin-
Padilla, 1984).
1.5.1 A eletrofisiologia da camada I
Do ponto de vista eletrofisiológico, a literatura é extremamente
rarefeita quando se fala da camada I. Este aspecto foi abordado
detalhadamente por Zhou e Hablitz (1996a, b, c) e por Hestrin e Armstrong
(1996) analisando suas propriedades passivas e ativas de membrana.
Os trabalhos de Zhou e Hablitz foram feitos em córtex frontal e
parietal do rato. No primeiro deles, estudaram o desenvolvimento do neocórtex
durante as três primeiras semanas de vida pós-natal, utilizando a técnica de
patch-clamp “whole-cell”. Suas conclusões sugerem que todos os neurônios da
camada I possuem propriedades de membrana imaturas durante os primeiros
dias após o nascimento (alguns deles incapazes de gerar PAs) e o
amadurecimento das propriedades da membrana se faz rapidamente nas duas
17
primeiras semanas de vida pós-natal. Analisando suas propriedades passivas
de membrana, encontraram potenciais de repouso progressivamente mais
negativos com o avanço da idade (P0 até P21). A resistência de entrada caiu
incrivelmente em idades mais avançadas, partindo de 5000 MΩem P0 até 700
MΩem P13. Nas medidas da constante de tempo da membrana encontrou-se
valores de 50 ms em células P14 com resistência específica de membrana com
50 kΩ.cm
2
. Com relação à forma dos PAs e comportamento dos disparos
repetitivos notou-se aumento da amplitude e decréscimo da duração dos
disparos em decorrência da maturação celular além de um proeminente PPHr
característico das células da camada I os quais, segundo eles, podem ser
usados para distinguí-las das células piramidais (Zhou e Hablitz, 1994).
Injeções crescentes de corrente resultaram em aumento da freqüência de
disparo sem nenhuma adaptação aparente. Estas diferenças notórias durante o
desenvolvimento pós-natal dos neurônios da camada I podem ser explicadas
pelo progressivo decremento da resistência específica de membrana associado
ao aumento da área de membrana com conseqüente queda da resistência de
entrada. Esta queda pode refletir um aumento na expressão funcional de
canais iônicos à medida que a célula amadurece.
Em outro trabalho, Zhou e Hablitz estudaram a propriedades
passivas e ativas de membrana em células maduras (P14-P21) da camada I no
córtex frontal de ratos e concluíram que uma corrente de potássio transitória de
saída regula o tempo na metade da amplitude dos disparos e os disparos
repetitivos na camada I. As propriedades elétricas de membrana foram
similares aos resultados encontrados em células P14 do trabalho anterior.
18
Hestrin e Armstrong verificaram propriedades passivas e ativas
de membrana em classes de células restritas à camada I além de marcar
histologicamente as células com biocitina para estudo morfológico. Segundo
eles, as células da camada I possuem uma heterogeneidade morfológica.
Foram estudados três tipos celulares: células Cajal-Retzius, células
neurogliaformes e células com axônio descendente na porção inferior da
camada. Estas células puderam ser diferenciadas segundo seus perfis
eletrofisiológicos e apresentam características quanto à forma de seus PAs
únicas dentre estes grupos celulares.
1.5.2 A função cortical da camada I
Embora existam muito mais perguntas do que respostas para o
papel cortical da camada I é possível traçar algumas suposições baseado em
estudos estruturais, fisiológicos e neuroquímicos. Vogt (1994) reuniu diversas
informações acerca do que se sabe sobre a função da camada marginal em
mamíferos. Segundo esta revisão, a hipótese predominante é que a camada I
poderia atuar como uma espécie de “agregadora de eventos”. Esta função
forneceria meios pelos quais, um evento sensorial é amostrado no córtex
sensorial e então rapidamente levado para integração cortical com outros
eventos em outras áreas corticais. Sugere-se que a “agregação de eventos”
começa com a ativação sensorial talâmica, cortical e projeções colinérgicas
para os buquês dendríticos de neurônios piramidais na camada I. Uma matriz
de lulas piramidais poderia fornecer a base para a percepção sensorial, o
qual poderia ser levado até outras áreas corticais para serem comparados. A
19
“agregação de eventos” prosseguiria até que o evento sensorial fosse
armazenado na memória de curta duração, uma resposta motora fosse iniciada
e/ou um novo estímulo ocorresse. Para exemplificar, usaremos o córtex visual,
nossa área de estudo neste trabalho. O espaço visual é decomposto através de
vias distintas no córtex cerebral para movimento, cor, estereopsia e orientação
os quais podem ser verificados através de experimentos psicológicos,
psicofísicos e eletrofisiológicos. Uma experiência visual unificada poderia
resultar de uma “agregação de eventos” sensoriais em cada um desses
sistemas e processados em paralelo.
Nos córtices sensoriais, aferências vindas de núcleos talâmicos
iniciam atividade no soma e dendritos proximais nas camadas II-V. Se o
estímulo é breve e pouco intenso, as descargas neurais retornam a valores
basais. Contudo, se o estímulo é intenso, cobre uma grande área de campo
receptivo e/ou possui longa duração, projeções intralaminares talâmicas,
intrínsecas e corticocorticais o ativadas e suas terminações na camada I
levam à atividade nos compartimentos dos buquês apicais. Esta última
ocorrência pode estender o evento sensorial inicial e assim resultar na
“agregação de eventos” Em adição, estímulos recentes durante estados de
atenção comportamental também podem disparar aferentes colinérgicos os
quais terminam tanto nos compartimentos somáticos quanto nos buquês
apicais. A ação da acetilcolina, em ambos os compartimentos, pode estender
as descargas neurais ainda mais longe.
Assim, a “agregação de eventos” ocorre somente após um
estímulo sensorial intenso, grande, recente e/ou de longa duração e, termina
20
uma vez que a memória de curta duração seja estabelecida ou que um evento
motor ocorra.
Tais suposições encontram amparo em algumas experiências
com ratos. Levey e Jane (1975), demonstraram que ratos com lesões
unilaterais do córtex visual podem discriminar entre triângulos eretos e
invertidos, e também quando ambos são colocados dentro de círculos.
Contudo, animais com ablação cortical unilateral e profunda associada com
uma lesão contralateral limitada somente à camada I não puderam discriminar
triângulos dentro de círculos, embora eles ainda fossem capazes de discriminar
triângulos isolados. Dessa forma, deduz-se que animais sem a camada I são
incapazes de extrair discriminações apropriadas. Neste contexto, se a
“agregação de eventos” é o processo que medeia essas interações, isto reflete
um processo de armazenagem temporário ou de muito-curta duração para
atividades perceptuais e associativas. Esta visão prediz que a retirada das
conexões da camada I poderia interferir na formação da memória. Fato este,
confirmado por observações clínicas.
1.5.3 A importância clínica da camada I
Olhando-se para o córtex cerebral do homem nota-se também
que o desenvolvimento normal da camada I pode ter considerável importância
clínica, uma vez que interneurônios possuem papel crucial na função do córtex
cerebral.
Sabe-se que as células CR possuem papel de facilitadoras da
migração radial normal para a placa cortical, coordenadoras da arquitetura da
21
laminação cortical e no estabelecimento das primeiras conexões corticais
intrínsecas. Conjuntamente, os neurônios da subplaca iniciam tanto as
conexões aferentes (talamocorticais) quanto as eferentes (cápsula interna)
para integrar o córtex com estruturas subcorticais. Sem esses neurônios, o
córtex cerebral não pode se desenvolver. Por esse motivo, a degeneração da
camada I está relacionada com o desenvolvimento de anomalias do rtex
cerebral humano com migração neuronal incorreta resultando em lisencefalia e
retardo mental (Kakic e Coviness, 1995; Clarck et al., 1997; Hong et al., 2000).
Além da Relina, as células CR expressam produtos da família
gênica LIS que é decisiva na instalação dos quadros de lisencefalia do tipo 1
(Síndrome de Miller-Dieker), uma desordem humana da migração de
neuroblastos e na laminação cortical.
No córtex occiptal, as células CR o essenciais na formação das
colunas de dominância oculares. A deleção de neurônios da subplaca leva a
um aumento na expressão do fator neurotrófico derivado de neurotrofina
(BDNF) em regiões precisas do córtex estriado aonde as colunas de
dominância falham em se formar.
A deficiência de β-1 (classe de integrinas que regulam a
ancoragem glial) na camada I de camundongos promove uma desordem
semelhante à displasia cortical humana, sugerindo que sinais mediados por
integrinas corrompidas podem levar a má formação cortical.
Recentes evidências têm implicado as células CR e a Relina em
um número de desordens neurológicas tais como epilepsias e autismo.
Expressões diminuídas de Relina, tanto em nível gênico quanto em nível
22
protéico, têm sido consistentemente observados nos cérebros de pacientes
afetados por esquizofrenias e distúrbios bipolares (Fatemi, 2001; Impagnatiello
et al. 1998).
Posteriormente, a expressão diminuída de Relina também foi
implicada nas epilepsias do lobo temporal. Foi demonstrada uma correlação
entre níveis de expressão de Relina e a epileptogênese, assim como a
dispersão e desarrumação de lulas granulares no giro denteado (Hass et al.,
2002). Finalmente, foi encontrado uma redução de 50% nos níveis de Relina e
mRNA em amostras cerebrais de pacientes com psicose crônica. (Tremolizzo,
L. et al., 2002; Chen, M.L. et al., 2002).
Síndromes associando degenerações da camada I com demência
e falta de atenção devem-se a rupturas dos buquês de dendritos apicais e seus
aferentes na camada I. A hipertrofia astrocítica (também associada com estes
sintomas) poderia interferir com a função de “agregação de eventos”.
Desta maneira, a camada I não parece tão simples como
geralmente ela é descrita, pelo contrário, é uma lâmina complexa cuja
importância funcional ainda não está bem esclarecida.
1.5.4 Populações celulares em estudo
Ramon y Cajal chegou a alterar a classificação dos neurônios da
camada I diversas vezes e certa vez sugeriu que havia 10 tipos celulares nesta
camada (DeFelipe e Jones, 1988). O tempo passou e aparentemente a
camada marginal parece realmente ser bastante heterogênea, pois é
interessante notar como esta região parece conter tipos celulares inesperados.
23
Durante nossos experimentos, ficamos intrigados com uma população de
células literalmente presas a pia-mater visualizadas com óptica de Normarski.
Chamaremos esse grupo de células da zona superior (ZS) (próximas a pia-
mater). Para nosso conhecimento, há apenas um trabalho na literatura que
descreve algo semelhante: “células verticais com sua base direcionada em
direção à superfície cortical” (Bradford et al., 1977), porém não maiores
detalhes morfológicos tampouco eletrofisiológicos. Em nossas observações,
tais células estão dispostas lado a lado, presas ao topo da camada I em
aglomerados organizados e de tamanhos constantes. Seu corpo celular é
pequeno mas podem ocorrer células piriformes de tamanho considerável.
Quando marcadas com biocitina, mostram ramificações curtas expandindo-se
lateralmente e em direção à camada II/III (Bradford et al., 1977). Tais células
não podem ser confundidas com células Cajal-Retzius (CR), pois não possuem
sua orientação horizontal característica além de serem encontradas com
facilidade em ratos com mais de 18 dias de vida pós-natal, época nas quais as
células CR estão praticamente extintas ou altamente "diluídas” dentro do
aglomerado celular.
Na zona média (ZM) da camada I (meio da camada) também
estamos interessados em outros tipos celulares um pouco mais conhecidos,
porém seus perfis eletrofisiológicos ainda permanecem obscuros, uma destas
células é a chamada célula neurogliaforme (Figura 2). Descritas inicialmente
por Ramon y Cajal (1911), estas células possuem uma árvore axonal muito
densa contida quase que totalmente na camada I. Além disso, possuem de
cinco a seis dendritos lisos e curtos que surgem de um pequeno corpo celular
24
ligeiramente arredondado também restrito a esta camada (Hestrin & Armstrong,
1996). As neurogliaformes podem ser encontradas na porção média superior e
sua árvore axonal podendo chegar a preencher completamente toda a
espessura da camada com uma extensão anteroposterior de 200 a 300 µm.
Devido a esta intensa arborização, a distinção entre axônio e dendritos pode se
tornar difícil. As neurogliaformes também estão presentes na substância branca
realizando contato sináptico principalmente com alvos dentro desta região
(Silva-Filho, 1999).
Segundo Hestrin e Armstrong, quando estimuladas com injeções
de corrente supralimiares respondem com rajadas de PAs interrompidas por
períodos quiescentes enquanto que injeções de intensidades ainda maiores
aboliram tal característica. Além disso, os mesmos autores encontraram
alguma adaptação de freqüência nestas células, um achado incomum para
células da camada I. Curiosamente, após rajadas de PAs foi detectado um pós-
potencial despolarizante lento (PPDL) nas células neurogliaformes, o qual não
esteve dependente de seu potencial de repouso.
25
A terceira e última população de nosso interesse dentro da
camada I são aquelas descobertas por Schaffer (1897) e posteriormente
Ramon y Cajal (1911), Bradford et al. (1977) e Marin-Padilla (1984) chamaram
de “células com axônio descendente” posicionadas no limite com a camada
II/III. Nós as chamamos de células da zona inferior (ZI) da camada I. Como
as neurogliaformes, possuem soma pequeno com cinco ou seis ramificações
dendríticas esparsas. Seu fino axônio pode alcançar as camadas IV e V com
poucas ramificações colaterais.
Suas propriedades de membrana o similares às das
neurogliaformes, respondendo com disparos simples a injeções de corrente no
limiar de disparo e com rajadas sustentadas em resposta a injeções
supralimiares. Como todas as células da camada I, possuem um PPHr após
Figura 2 - Desenho de uma célula Neurogliaforme da substância branca.
dentro de uma camada. A barra d
e escala equivale a 40 µm (Modificado de
Silva-Filho, 1999).
26
disparos simples. Após rajadas de disparos nota-se um PPH além de certa
adaptação de freqüência assim com broadening em disparos repetitivos.
Nós excluímos de nossa análise as células CR por que
gostaríamos de focar nosso trabalho unicamente no segundo grupo de células
presentes na camada I, por entendermos que ainda existe considerável
polêmica acerca de seus perfis de disparo além do que, nas idades estudadas
aqui (14 a 21 dias), se torna difícil encontrar células CR no neocórtex de
mamíferos.
Baseado nestas informações nossos objetivos neste trabalho são:
2.0 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Traçar o perfil eletrofisiológico baseado nas propriedades
passivas e ativas de membrana de três populações de células da camada I
(excetuando-se as células CR) do córtex visual do rato, muito pouco estudadas
na literatura: células da zona superior (ZS), células da zona média (ZM) da
camada I e células da zona inferior (ZI), limítrofes com camada II/III (Figura
3).
27
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Medir e analisar o potencial de repouso, limiar de disparo,
resistência de entrada, resistência específica, amplitude e freqüência de
disparo, constante de tempo da membrana, tempo na metade da amplitude,
tempo da fase de subida e tempo de repolarização dos potenciais de ação das
células supracitadas da camada I no córtex visual do rato.
Analisar o efeito do potencial de membrana sobre as medidas
temporais dos PAs, assim como o comportamento de disparo repetitivos
nessas condições.
Analisar o efeito da remoção de Ca
+2
externo sobre as correntes
responsáveis pelos pós-potenciais e de repolarização.
Figura 3 - Exemplo do posicionamento das células-alvo de nosso estudo.
Os
triângulos representam as células da ZS; os círculos representam as células da
ZM e os quadrados representam as células da ZI.
28
3.0 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 A TÉCNICA DE PATCH-CLAMP
O método do patch-clamp (Hamill et al., 1981), ou traduzindo,
“fixação em retalho da membrana foi desenvolvido pelos alemães Erwin Neher
e Bert Sakmann na metade da década de 70, pelo qual receberam o Prêmio
Nobel de Fisiologia em 1991. A fixação de membrana permite que sejam
registrados correntes iônicas atravessando um único canal. Primeiramente,
usa-se um eletrodo de vidro para o registro (Ling e Gerard, 1949), o qual possui
uma ponta polida com 1 a 5 µm de diâmetro. Esta ponta é suavemente
colocada sobre a membrana de um neurônio e então se aplica uma suave
sucção através da ponta do eletrodo. A borda entre as paredes do eletrodo e a
porção da membrana adjacente fica selada. Este selamento, chamado
“gigaselamento” (devido à altíssima resistência elétrica que se forma > 10
9
),
faz com que os íons no eletrodo tenham apenas um caminho a tomar, ou seja,
através dos canais da membrana adjacente. Descrições mais detalhadas da
técnica serão abordadas mais adiante.
3.2 O REGISTRO EM WHOLE-CELL
Após a formação do selo inicial, é possível romper
deliberadamente o pedaço de membrana (patch) capturado dentro da
micropipeta pela aplicação de uma forte sucção ou um pulso de voltagem de
muitos milivolts. Esta quebra resulta em uma continuidade difusional e elétrica
entre a pipeta e o citoplasma, geralmente sem alterar a resistência do selo
entre o vidro e a membrana. Assim pode-se ter acesso a uma outra faceta da
29
técnica que é estudar as propriedades elétricas da célula como um todo, daí
seu nome whole-cell.
3.3 FABRICAÇÃO DAS MICROPIPETAS
Os registros foram realizados usando-se micropipetas feitas de
tubos capilares de silicato de boro (TW 150-4, WPI).
Os passos que antecederam a fabricação das micropipetas
foram: 1) Lavagem dos tubos em acetona por um peodo de pelo menos 30
minutos, em seguida, levados até uma estufa para secagem a seco em 100 C.
2) Para evitar a entrada de poeira no interior dos tubos durante o processo de
secagem, os tubos foram colocados em recipiente adequado com tampa. 3)
Uma vez secos, os tubos foram transferidos com auxílio de uma pinça para
outro recipiente, evitando qualquer contato com as mãos que possa contaminar
com gordura a parede externa do tubo. Este procedimento assegura o
processo de puxamento do tubo, mantendo a geometria da ponta da
micropipeta resultante dentro dos padrões previamente estabelecidos.
Os tubos foram levados para um puxador horizontal de
micropipetas com ltiplos estágios (P-97, SUTTER INTRUMENTS) para a
fabricação de micropipetas com diâmetro de ponta de aproximadamente 1 m.
A medida do diâmetro da ponta das micropipetas foi feita com
auxílio de um microscópio (CH30, OLYMPUS) contendo em uma das oculares
uma escala com resolução de 10 m. Este procedimento visa excluir as
micropipetas que por ventura tiverem diâmetro de ponta fora da faixa
especificada, como também, verificar possíveis irregularidades nas bordas.
30
3.4 PREPARAÇÃO DAS FATIAS
Finas fatias do córtex visual primário do rato foram preparadas
usando procedimentos previamente descritos (Andreasen e Hablitz, 1994;
Edwards et al., 1989). Inicialmente, ratos Wistar com idades de 14 a 21 dias
foram anestesiados e decapitados para a rápida remoção do rebro. Os
cérebros foram imediatamente submersos em solução fisiológica oxigenada
com uma mistura gasosa de 95% de O
2
e 5% de CO
2
a 4°C. Fatias de 250 µm
de espessura foram obtidas através de um vibrátomo (PELCO 101) e
armazenadas em temperatura ambiente (~23 °C) por 1 hora antes do registro.
Logo após, foram transferidas para uma cuba fixada ao microscópio (Zeiss
Axioskop FS2) onde eram perfundidas com solução fisiológica em uma taxa de
aproximadamente 4 ml/min.
3.5 IDENTIFICAÇÃO CELULAR
A identificação celular foi feita usando uma objetiva 40x para
imersão em água com distância de trabalho de 3,3 mm e óptica para contraste
por interferência diferencial (óptica de Normarski). Os neurônios da camada I
foram identificados como todos aqueles que estavam entre a superfície pial e a
borda superior da camada II/III. Na solução de enchimento da micropipeta
acrescentou-se biocitina a 0,6% (SIGMA) para marcação intracelular (Horikawa
e Armstrong, 1988).
31
3.6 SOLUÇÕES
A solução de banho (líquido cérebro espinhal artificial LCEA)
continha (em mM) 125 NaCL; 3,5 KCl; 2 CaCl
2
; 1,3 MgCl
2
; 26 NaHCO
3
e 10 D-
Glicose. A solução foi continuamente borbulhada com 95%O
2
e 5% CO
2
para
manutenção do pH em 7,4. As micropipetas foram cheias com a seguinte
solução (em mM): 125 Gluconato de Potássio, 10 Cloreto de Potássio, 10 N-
Hidroxietil-piperazina-N’-2-ácido Etanosulfônico (HEPES), 2 Mg-ATP, 0,2 Na-
GTP, 0,5 ou 0,2 Etileno Glicol-bis (-aminoetil éter)-N, N, N’- Ácido Tetraacético
(EGTA) e o pH ajustado para 7,3 com KOH. A osmolaridade da solução de
enchimento ficou entre 280 e 300 mOsm.
3.7 POSICIONAMENTO DA MICROPIPETA
O amplificador de primeiro estágio (Pré-amplificador CV-4, AXON
INSTRUMENTS, INC, USA) foi posicionado em uma inclinação de 30em
relação ao horizonte, permitindo que a micropipeta operasse na máxima
distância de trabalho da objetiva do microscópio. O pré-amplificador estava
fixado a um sistema de micromanipulação com avanço micrométrico (0-150
m) dotado de três eixos de movimentos X, Y, Z (PCS 5000, BURLEIGH).
Através do microscópio, a ponta da micropipeta era observada e
situada no centro do campo deste. Em seguida, o foco do microscópio era
deslocado para um plano inferior ao da ponta, novamente, abaixava-se o micro
manipulador para que a ponta voltasse a ser observada. Esses passos foram
executados até que a superfície de corte da fatia era vista. Com a micropipeta
estacionada a uma altura necessária para o deslocamento da cuba sem tocá-
32
la, escolhíamos a célula a ser registrada.
Sob controle visual através do monitor de vídeo prosseguia-se o
avanço da micropipeta com o auxílio do micro manipulador. Usamos uma
seringa de 10 ml para injetar pressão no interior do segurador da micropipeta,
criando-se um jato de solução com a função de evitar o depósito de partículas
na ponta, afastando os elementos intersticiais, além de limpar a superfície da
membrana celular para facilitar a formação do gigaselamento.
3.8 MEDIDA DA RESISTÊNCIA ELÉTRICA DA MICROPIPETA
A medida da resistência da micropipeta foi feita em relação ao
potencial elétrico do LCEA. Com o auxílio do programa de computador pClamp
8.2
®
(AXON INSTRUMENTS) foi criado um pulso elétrico com formato
retangular com duração de 10 ms, amplitude de -1 mV e freqüência de 5 Hz,
aplicado através da micropipeta. A corrente elétrica (em pA) resultante deste
pulso, foi medida e a resistência da micropipeta, calculada pela aplicação direta
da Lei de Ohm. Neste estudo foram utilizadas pipetas com resistência, em
média, de 5,47 ± 0,76 com mínimo de 3,33 e máximo de 8,33 M.
3.9 FORMAÇÃO DO GIGASELAMENTO
O potencial da micropipeta era ajustado para um valor próximo de
zero, através de um controle no próprio amplificador. Em seguida, foi feita a
liberação da pressão na seringa, pela retirada do tubo de plástico que liga esta
ao segurador da micropipeta. Após, aplicava-se uma suave sucção através do
tubo forçando a membrana celular a penetrar no interior da micropipeta, se o
33
gigaselamento se formava, notava-se um abrupto aumento na resistência da
micropipeta, assinalada pela queda na corrente que fluía através da pipeta. Em
seguida, mudava-se o protocolo no programa do computador para que este
gerasse um pulso com a duração de 10 ms, fixado em -70 mV e amplitude de -
5 mV. Este procedimento visava verificar a qualidade do selamento diante de
um potencial elétrico maior e fixado à lula próximo do potencial de repouso.
Nos casos em que os níveis de ruído médio da corrente não chegavam aos
valores pré-estabelecidos, a célula era desprezada dando-se início a outra
tentativa seguindo os passos anteriormente descritos. Foram considerados
bons selamentos aqueles que estiveram acima de 5 G.
3.10 ENTRADA NO MODO WHOLE-CELL
Uma vez formado o gigaselamento foram feitos os ajustes para
compensar a capacitância da micropipeta, até que esta ficasse com o menor
nível possível. Em seguida, era feita uma forte sucção através do tubo de
plástico ligado ao segurador da micropipeta, para romper a membrana celular.
A evidência de que a membrana realmente estava rompida era notada pelo
aumento brusco nas correntes capacitivas transitórias do registro. Feito isso, a
medida da intensidade da corrente elétrica (em pA) resultante com auxílio do
computador, estimava a resistência em série (R
s
) entre a célula e a
micropipeta.
Aplicando-se a Lei de Ohm, dividindo-se a amplitude do pulso de
-5 mV pela corrente medida, encontramos a R
s
. A seguir, o amplificador era
posicionado no modo corrente zero (I=0) para corrigir os potenciais elétricos ao
34
longo da via de medida. Este procedimento permitia que o potencial de repouso
da célula fosse medido sem qualquer interferência de correntes elétricas
contaminantes que poderiam alterar o resultado. Imediatamente após a entrada
no modo I = 0 o potencial de repouso da membrana (PRM) era medido.
3.11 AQUISIÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE
Os dados foram adquiridos on-line usando o software pClamp
8.2
®
(AXON INSTRUMENTS). As relações corrente-tensão e propriedades
repetitivas de disparo foram estudadas usando comandos gerados no
computador e analisados usando o pClamp 8.2
®
. As amplitudes dos pós-
potenciais hiperpolarizantes (PPH) foram medidas como a diferença entre a
linha base extrapolada e o pico do PPH. Os resultados foram expressos em
média ± desvio padrão.
As comparações estatísticas foram feitas utilizando teste t de
Student (considerando-se a significância das variâncias amostrais), teste de
variância (ANOVA) associada ao teste de Tukey, e o teste de correlação de
Pearson com um nível de significância de 0,05. Todas as análises estatísticas
foram feitas utilizando o programa BioEstat 4.0 (SOCIEDADE CIVIL
MAMIRAUÁ/MCT-CNPq/CONSERVATION INTERNATIONAL).
3.12 MEDIDA DA RESISTÊNCIA DE ENTRADA DA CÉLULA (RN)
A resistência de entrada foi quantificada pelo cálculo do ângulo da
curva descrita pelos pontos de voltagem plotados em um plano cartesiano.
35
Os valores de tensão em resposta a pulsos de corrente de -10 a -
100 pA foram subtraídos da primeira deflexão de voltagem, de modo que a
origem da curva partisse do valor zero. Isto foi feito, pois nos interessa apenas
o ângulo de inclinação dos pontos interpolados os quais serviram de fonte para
o cálculo da resistência de entrada. Isto foi feito da seguinte forma:
No plano cartesiano, os primeiros pontos da curva descrevem o
componente ôhmico da célula em estudo (linha preta). Os demais pontos
descrevem o comportamento celular quando demais condutâncias
dependentes de voltagem começam a ser ativadas (linha vermelha). Para
calcular a resistência de entrada real da célula precisamos encontrar o ângulo
de inclinação da reta preta, pois assim não teremos eventuais contaminações
x
α
y
Figura 4 -
Exemplo de como a resistência de entrada foi calculada para cada
célula, onde x e y representam os catetos. O ângulo
αrepresenta o coeficiente
angular da função.
-50
-40
-30
-20
-10
0
-120 -100 -80 -60 -40 -20
0
I (pA)
V (mV)
36
decorrentes da ativação dos canais dependentes de voltagem.
Chamando-se o ângulo de inclinação da reta de α; o cateto
adjacente de x e o cateto oposto de y, temos os elementos necessários para
calcular a tangente do ângulo α, onde xy /tan
.
A equação da reta é determinada por baxy
. Como a reta
parte da origem, o valor de 0
b . Logo, aplicando-se na equação da reta,
temos que
ax
y
, que também pode ser definida como xya /
. Assim
observamos que a tangente de αé o próprio valor de a, ou seja, a é o valor de
resistência de entrada da célula.
Através dos valores de R
N
pode-se inferir qual o comportamento
condutivo da membrana plasmática, medir sua capacitância, objetivando
descrever possíveis fenômenos relacionados à liberação ou captação de
substâncias pela célula.
3.13 MEDIDA DA CONSTANTE DE TEMPO DA MEMBRANA
CELULAR
A constante de tempo da membrana celular é definida como o
tempo necessário para que a tensão alcance 63% de seu valor máximo. É um
parâmetro importante para avaliar, entre outras coisas, o tamanho celular, sua
capacitância, assim como, o grau de excitabilidade da célula.
Neste estudo utilizamos pulsos hiperpolarizantes de -10 e -20 pA
para realizar essas medidas. Os pulsos hiperpolarizantes são utilizados com o
objetivo de evitar certas condutâncias o que, de outra forma, poderiam
contaminar o real comportamento passivo da célula.
37
Através do programa pClamp 8.2
®
utilizamos a seguinte equação
exponencial de primeira ordem para realizar o cálculo da constante de tempo:
CeAtf
i
t
n
i
i
/
1
)(
Onde
representa a constante de tempo somática da membrana
celular.
3.14 MEDIDA DO LIMIAR DE DISPARO DO POTENCIAL DE AÇÃO
Com a célula no modo whole-cell foi possível aplicar pulsos de
correntes elétricas no interior da lula e provocar a gênese de potenciais de
ação. O limiar de disparo foi determinado extrapolando a linha-base de pré-
disparo e medindo até o ponto onde o PA é conseguido. Os pulsos foram
criados em passos crescentes de 10 ou 20 pA de amplitude com uma duração
de 300 ms. Os potenciais gerados foram armazenados e posteriormente
analisados com o cursor do programa pClamp 8.2
®
posicionado sobre a região
de início do potencial de ação.
3.15 MEDIDAS TEMPORAIS DE MEMBRANA
Estas foram feitas utilizando o recurso de análise automática do
programa pClamp 8.2
®
. Os dois cursores de seleção eram colocados no início
e no fim dos maiores potenciais de ação presentes em cada célula analisada.
38
4.0 RESULTADOS
Foram registradas 244 células distribuídas ao longo de 3 regiões
definidas por nós: células da ZI (limite com a camada II/III), células da ZM da
camada I (meio da camada) e células da ZS (próximas a pia-mater). A razão
pela qual dividimos nosso estudo em áreas de localização celular vem do fato
de que na literatura existe uma considerável discussão acerca dos tipos
celulares e a homo/heterogeneidade elétrica sobre as células presentes nesta
camada. Os trabalhos mais importantes não citam em que área da camada I
ocorreu os registros e, quando as informações são confrontadas, encontramos
alguma contradição entre os resultados.
Dividindo em zonas de análise temos uma visão mais detalhada e
objetiva do perfil elétrico destas células assim como podemos discutir prováveis
populações distintas e vias de origem baseado nos seus padrões de disparo.
Para assegurar a qualidade de nossos dados, foram retiradas das
análises as células que possuíam PRM inferior a -50 mV e amplitude de PAs
menores que 70 mV, parâmetros considerados vitais para a saúde celular.
4.1 PROPRIEDADES PASSIVAS DAS CÉLULAS DA CAMADA I
Levando-se em consideração a camada inteira, o potencial de
repouso encontrado foi de -57,98 ± 5,4 mV, com mínimo de -75 e máximo de -
50 mV. Resistência de entrada de 500,25 ± 197,61 M com mínimo de 139,62
e ximo de 1.443,75 M. A constante de tempo da membrana celular de
43,66 ± 20,42 ms com mínimo de 10,81 e máximo de 126,15 ms.
39
De acordo com a relação
mm
RC
, onde C
m
e R
m
são a
capacitância específica de membrana e a resistência específica de membrana,
respectivamente, nós obtemos o valor de R
m
, para as células da camada I,
igual a 43,66 ± 20,42 k.cm
2
. O cálculo foi realizado considerando-se que a
capacitância específica de membrana é igual e constante para todas as células
nervosas, ou seja, vale 1 µF/cm
2
.
4.2 FORMA DOS DISPAROS DAS CÉLULAS DA CAMADA I
As medidas temporais, que determinam a velocidade dos
disparos celulares, foram separadas em tempo de subida, tempo de
repolarização, tempo na metade da amplitude e duração dos PAs (medido na
base de cada disparo). A fase ascendente dos disparos destas células foi
calculada em 0,372 ± 0,085 ms com mínimo de 0,183 e máximo de 0,659 ms. A
fase descendente dos PAs foi de 0,631 ± 0,160 ms com mínimo de 0,298 e
máximo de 1,22 ms. O tempo na metade da amplitude, foi de 0,943 ± 0,200 ms
com mínimo de 0,483 e ximo de 1,524 ms. A duração dos PAs, medida na
base do disparo, foi 2,84 ± 0,84 ms com mínimo de 1,4 e máximo de 5,7 ms.
O limiar de tensão para que disparos fossem conseguidos foi de -
39,19 ± 3,74 mV com mínimo de -52,8 e máximo de -27,9 mV. A amplitude dos
PAs foi medida em relação ao limiar de disparo. Este foi subtraído do pico
máximo de tensão alcançado pelo PA. Neste caso, os valores são 96,96 ±
10,15 mV com mínimo de 70,43 e máximo de 121,99 mV.
De uma maneira geral, as células da camada I apresentaram-se
bastante excitáveis, com comportamentos de disparos repetitivos próximos do
40
que se espera de células da classe fast-spiking , porém, ainda assim, foi
possível notar grupos de células que apresentam “assinaturas” próprias. PAs
espontâneos foram vistos raramente e não foram investigados.
O resumo das propriedades elétricas da camada I pode ser
encontrado na tabela abaixo.
41
Tabela 2 - Resumo das propriedades passivas e ativas dos neurônios da
camada I.
Parâmetro Média
Desvio
Padrão
Resistência das pipetas (M) 5,47 ± 0,76
Potencial de repouso (mV) -57,98 ± 5,40
Limiar de disparo (mV) -39,19 ± 3,74
Amplitude dos PAs (mV) 96,96 ± 10,15
Tempo de subida dos PAs (ms) 0,372 ± 0,085
Tempo de descida dos PAs (ms) 0,631 ± 0,160
Tempo na metade da amplitude (ms) 0,943 ± 0,200
Duração do PA (ms) 2,84 ± 0,84
Resistência de entrada (M) 500,25 ± 197,61
Constante de tempo da membrana (ms) 43,66 ± 20,42
Amplitude dos PPHr (mV) 16,35 ± 6,63
Freqüência máxima (Hz) 30,98 ± 14,02
42
4.3 PROPRIEDADES DE DISPARO DAS CÉLULAS DA CAMADA I
Em todos os neurônios testados foi possível encontrar padrões de
disparos que nos permitiram concluir que a camada I possui populações
neuronais eletrofisiológicamente distintas. Essas populações não apresentaram
localização preferencial ao longo da espessura da camada, porém
apresentaram diferenças quantitativas em suas propriedades passivas e de
disparo. Tais diferenças serão abordadas adiante.
Nessas células, após PAs, foi notada a presença de pós-
potenciais hiperpolarizantes rápidos (PPHr) em todos os registros (Figura 5).
Em alguns tipos celulares, esses PPHr eram muito rápidos (< 5 ms) em
outros duravam algumas dezenas de milisegundos. A amplitude média dos
PPHr nos neurônios da camada I foi de 16,35 ± 6,63 mV com mínimo de 0,5 e
máximo de 39,5 mV. Sob baixas injeções de corrente (10 a 50 pA) todas as
células da camada I apresentaram PPH médios após PAs ou após trens de
disparos consecutivos. Devido à sobreposição dos PPHr com os PPH médios,
não foi possível quantificar confiavelmente a amplitude destes últimos. PPH
lentos foram vistos somente em alguns neurônios ao final do pulso de
despolarização. Pós-potenciais despolarizantes (PPD) foram vistos raramente,
geralmente após hiperpolarizações e em um padrão de disparo que
mostraremos adiante.
A freqüência máxima instantânea de disparo destas células teve
valor dio de 30,98 ± 14,02 Hz com mínimo de 6,76 e máximo de 97,08 Hz.
Essa medida foi realizada utilizando-se a recíproca da duração do intervalo
43
entre os dois primeiros disparos sob injeção de 100 pA com duração de 1000
ms.
A
B
44
Figura 5 - Padrão dos pós-
potenciais (PP) nas células da camada I. Em A:
Disparos em resposta a injeção de 10 pA. Presença de três tipos de PP (escala
temporal expandida). Em B: Mesm
a célula, agora em resposta a injeção de 100
pA. Note que os PPHm e PPD sumiram enquanto que os PPHr continuam
presentes. Ausência de PPHL. PRM=-58 mV; RN=317 M.
45
Como se pode ver na figura 6, a amplitude dos PPHr estiveram
inversamente relacionadas com a duração dos PAs assim como o tempo de
repolarização (p < 0,001).
R
2
= 0,3649
r = 0,6
p < 0,001
0
1
2
3
4
5
6
0 10 20 30 40 50
Amplitude dos PPHr (mV)
Tempo de duração do PA
(ms)
R
2
= 0,2141
r = 0,46
p < 0,001
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
0 10 20 30 40 50
Amplitude dos PPHr (mV)
Tempo de repolarização (ms)
A
B
Figura 6 -
Correlações entre algumas medidas temporais e amplitude dos
PPHr. A: Gráfico do tempo de repolarização dos PAs em função da amplitude
dos PPHr em neurônios da camada I. B: Gráfico da duração dos PAs em
função da amplitude dos
PPHr. A linha pontilhada representa a regressão
linear.
46
Todas as lulas testadas foram capazes de disparos repetitivos.
A freqüência de disparo variou de célula para lula. Não foram identificadas
adaptação de freqüência significativa nos neurônios da camada I (Figura 7)
(exceto nos identificados como células regular-spiking non-pyramidals). Na
maioria das vezes esta foi considerada como ausente ou fraca. Para avaliar
essa característica foram injetadas correntes despolarizantes crescentes com
duração de 1000 ms. A adaptação de freqüência foi mensurada através da
razão entre o período no e no disparo. Dos 244 neurônios testados 230
mostraram adaptação de freqüência compatível com a classe fast-spiking.
Figura 7 -
Célula mostrando fraca adaptação de freqüência. Comportamento
semelhante foi comum em quase todas as células da camada I. Corrente
injetada=100 pA; Duração=1000 ms; PRM=-50 mV; R
N
=1100 M.
47
4.4 PADRÕES DE DISPARO DAS CÉLULAS DA CAMADA I
Dentre os 244 neurônios registrados foi possível encontrar seis
tipos de disparos nitidamente discerníveis. Esses tipos não apresentaram
localização específica, portanto foram encontrados igualmente em todas as
zonas estudadas por nós.
Começaremos falando sobre o padrão de disparo que se
caracterizou pela presença de PPHr de grande amplitude e presente em todos
os PAs provocados por correntes despolarizantes mesmo sob baixas injeções
de corrente (Figura 8). Este tipo de célula não apresentou adaptação de
freqüência aparente e, após o termino do pulso, apresentava PPHm. Tais
características são comuns nas células fast-spiking clássicas comuns em todas
as camadas neocorticais.
48
Figura 8 -
Exemplo de uma lula mostrando PPHr amplos em todos os PAs.
Na foto de cima temos a resposta da célula a um pulso de 20 pA com duração
de 1000 ms. Na foto de baixo temos a resposta a um pulso
de 100 pA com a
mesma duração. Esse tipo de resposta não foi freqüente. PRM=-
50 mV;
RN=497 M. O primeiro PPHr tem amplitude de 33 mV.
49
Outro tipo de disparo encontrado foi a chamada “célula
apresentando período quiescente (Hestrin e Armstrong, 1996). Esta célula
caracterizou-se por apresentar intervalos entre seqüências de disparo dentro
de um mesmo pulso de corrente despolarizante (Figura 9). Esse intervalo
aparece principalmente sob injeções de correntes entre 30 e 70 pA. Quando
uma corrente máxima (90 ou 100 pA) é aplicada, os intervalos desaparecem.
Apresentam também PPHr grandes no primeiro PA e fraca adaptação de
freqüência.
50
Figura 9 -
Célula apresentando período quiescente entre seqüências de
disparo. Na foto de cima
temos a resposta a uma injeção de corrente de 60 pA
com duração de 1000 ms. Na foto de baixo temos a resposta a uma injeção de
corrente de 100 pA de mesma duração. Note que o período quiescente
desaparece. PRM=-60 mV; R
N
=555 M.
51
O terceiro tipo de disparo encontrado na camada I apresentava
PPD sob baixas injeções de corrente sempre seguidos por proeminentes
PPHm (10 a 50 pA) (Figura 10). Além disso, apresentou uma adaptação de
freqüência mais acentuada do que as demais células pertencentes a essa
camada. Esse tipo de lula foi enquadrada por s como células regular-
spiking non-pyramidals por ser muito semelhante aos disparos das células RS.
52
Figura 10 -
Padrão de disparo demonstrando uma célula com PPD após PAs
(seta), principalmente sob baixas correntes. Na foto de cima temos a resposta a
injeção de corrente de 10 pA. No meio a resposta a 40 pA. Embaixo a resposta
a injeção de 100 pA (note qu
e o PPD desaparece). Note também a adaptação
de freqüência mais forte tal como as células regular-spiking. PRM=-
56 mV;
R
N
=881 M
.
53
Outros dois tipos de disparos foram bem mais raros. Um deles foi
marcado pela presença de disparos atrasados tal como citado por Chu et al.
(2003) e Kawagushi (1993) o qual a denominou de células late-spiking (Figura
11). Estas células disparavam com um considerável atraso após o início do
pulso despolarizante. O trabalho de 2005 cita a presença de uma “rampa de
despolarização” anterior ao disparo. Essa resposta esteve, geralmente,
associada ao padrão de períodos quiescentes. Este tipo celular, geralmente é
encontrado na camada II/III e alguns foram identificados como células
neurogliaformes.
O quinto tipo de disparo, que não pôde ser claramente
classificado, possuía respostas semelhantes a lulas imaturas, embora estas
fossem encontradas em ratos com mais de 20 dias pós-natal (Figura 12).
Figura 11 -
Exemplo de célula mostrando um disparo atrasado. Note o único PA
ao fim do pulso de 500 ms. Injeção de 70 pA. PRM=-65 mV; R
N
=325 M.
54
Apresentavam PA de baixa amplitude, baixa freqüência de disparo e duração
mais longa do que a média da população de células da camada I.
O sexto tipo de disparo foi reconhecido como sendo do tipo low-
threshold-spiking (LTS), também conhecidos como burst-spiking non-pyramidal
(BSNP) (Kawagushi e Kubota, 1997; Kawagushi, 1993; Kawagushi e Kubota,
1993). Estes demonstram descargas muito parecidas com bursts após um
pulso hiperpolarizante. Alguns destes neurônios foram classificados, por outros
autores, anatomicamente na camada II/III como células de Martinotti e células
em buquê (Figura 13)
Figura 12 -
Célula com características de lulas imaturas. PA de longa
duração (5,3 ms) e baixa freqüência de disparo (17,6 Hz). Este tipo de célula foi
encontrado raramente. PRM=-64 mV; R
N
= 443 M; animal com 19 dias.
55
Figura 13 - Célula classificada como low-threshold spiking
. Note o baixo limiar
nos primeiros disparos. Os disparos semelhantes a bursts aparecem
geralmente após hip
erpolarizações. Em A: corrente de 70 pA. Em B: corrente
de 130 pA. Em C: corrente de 180 pA. Note a onda de despolarização
sustentada na figura A. Na figura B ainda é possível ver o grupo de disparo
semelhante a burst. PRM=-56 mV; R
N
=607 M.
A
B
C
56
4.5 EFEITO DO POTENCIAL DE MEMBRANA SOBRE AS
PROPRIEDADES DE DISPARO.
Avaliamos o possível efeito do potencial de membrana nas
propriedades de disparo de acordo com Jahnsen e Llinas (1984a,b). Utilizamos
pulsos crescentes de corrente despolarizante para provocar PAs enquanto o
potencial de repouso da célula foi fixado em -100 mV.
A duração dos disparos foi significativamente afetada na
população estudada (Figura 14). Ambas as componentes de polarização
quanto de repolarização foram alteradas. O tempo de subida tornou-se mais
lento (0,372 ms para 0,390 ms; p < 0,05) o tempo de repolarização tornou-se
mais rápido (0,631 ms para 0,594 ms; p < 0,01). A duração dos disparos teve
uma forte queda (2,84 ms para 2,59 ms; p < 0,001) enquanto que o tempo na
metade da amplitude tornou-se discretamente mais lento, porém sem
significância estatística. Estas relações temporais estão resumidas na tabela 3.
A amplitude dos PPHr foi altamente comprometida. Em
circunstâncias normais encontramos o valor médio de 16,35 mV. Quando o
potencial de repouso foi fixado em -100 mV seguido de pulsos despolarizantes,
os PPHr aumentaram em amplitude chegando ao valor médio de 19,16 mV (p <
0,0001)
A freqüência de disparo também foi altamente afetada pelo
potencial de membrana. No potencial de repouso, possuía valor médio de
30,99 Hz. Após uma hiperpolarização em -100 mV a freqüência máxima
alcançada aumentou para 37,73 Hz (p < 0,001) (Figura 15).
57
Tabela 3 - Resumo dos efeitos do potencial de membrana sobre os PAs em
células da camada I.
Medida
temporal (ms)
Situação de
repouso
PRM fixo
em -100 mV
Valor de p % média
Tempo de
subida
0,372 0,390 p < 0,05 + 6
Tempo de
descida
0,631 0,594 p < 0,01
- 4
Tempo na
metade da
amplitude
0,943 0,953 p > 0,05
+ 2
Duração do
disparo
2,84 2,59 p < 0,001 - 6
58
Figura 14 -
Exemplo do efeito do potencial de membrana sobre a duração do
disparo. Dois PAs de uma mesma célula são mostrados sobrepostos e com base
temporal expandida para fim de comparação. Em A: Primeiro PA sob injeção de
100 pA com duração de 500 ms, Vm=-
52 mV. Em B: Primeiro PA sob injeção de
180 pA com duração de 500 ms. Vm=-
100 mV. Note a queda na duração do
disparo e aumento da amplitude do PPHr. Estas foram as diferenças mais
marcantes observadas. R
N
=633 M.
A
B
59
Figura 15 -
Exemplo do efeito do potencial de membrana sobre a freqüência de
disparo em uma lula da camada I. Na foto de cima resposta da célula a
injeção de 100 pA com duração de 1000 ms em PRM=-
69 mV. Na foto de baixo
a resposta a injeção de corrente de 180 pA com duração de 500 ms com PRM
fixado em -
100 mV. Note o aumento na freqüência de disparo na segunda
situação
60
4.6 EFEITO DA REMOÇÃO DE Ca
+2
EXTRACELULAR SOBRE AS
PROPRIEDADES DE DISPARO
Também avaliamos o possível papel das condutâncias de K
+
dependentes de Ca
+2
, particularmente as responsáveis pela geração dos PPHr
mediados, em parte, pelas correntes I
C
(Lancaster e Nicoll, 1987; Storm, 1987)
sobre a propriedades de disparo das células da camada I. Se essas
condutâncias são as principais forças subjacentes à repolarização dos PAs, a
remoção do Ca
+2
deve resultar em alargamento dos mesmos.
Para realizar esses experimentos utilizamos as mesmas
concentrações de íons da solução de banho, com exceção de que, o cálcio foi
totalmente retirado e, para manter uma base equimolar, substituímos o mesmo
por Mg
+2
. o utilizamos bloqueadores de canais de cálcio tais como Cd
+2
,
Co
+2
e Mn
+2
porque esses íons poderiam modular ou bloquear uma variedade
de correntes de K
+
dependentes de voltagem (Andreasen e Hablitz, 1992;
Lynch e Barry, 1991; Mayer e Sugiyama, 1988; Numann et al., 1987; Spain et
al., 1991).
Sob essas condições foram registradas 11 células. O experimento
se baseava em 3 protocolos de estimulação. Utilizamos pulsos crescentes de
corrente despolarizante com variação de 10 pA com duração de 1000 ms.
Pulsos crescentes de corrente hiperpolarizante com duração de 500 ms. E
finalmente, o potencial de membrana era colocado em -100 mV seguido de
pulsos crescentes de corrente despolarizante com variação de 10 pA. Essas
três situações foram realizadas em solução de banho com concentração
normal de cálcio (2 mM), em solução de banho sem cálcio (0 mM) e novamente
61
em solução com cálcio (2 mM). Entre cada uma das fases foi feito um intervalo
de 5-10 minutos para completa lavagem do meio.
A remoção do cálcio extracelular teve diversos efeitos sobre as
propriedades de disparo das lulas da camada I sendo, os mais marcantes, o
aumento na duração dos PAs e no tempo na metade da amplitude (p < 0,05)
(Tabela 4). Apesar deste aumento, o tempo de repolarização não foi
significativamente afetado, porém o tempo de subida dos PAs o foi (p < 0,05).
Encontramos também uma discreta redução na amplitude dos PPHr (Figura 17
e 18), sem significância estatística embora a relação inversa entre a amplitude
dos PPHr e a duração dos PAs fosse mantida (Figura 19). A amplitude dos PAs
e a freqüência dos disparos obtiveram leves reduções não significativas.
Tabela 4 - Tabela mostrando aumento na duração das medidas temporais dos
PAs quando a [Ca
+2
] extracelular é diminuída.
Medida Temporal (ms) Concentração de Ca
+2
2 mM 0 mM
Tempo de despolarização do PA. 0,39 ± 0,06 0,46 ± 0,1
Tempo de repolarização do PA. 0,76 ± 0,17 0,83 ± 0,22
Tempo na metade da amplitude do PA. 1,05 ± 0,12 1,22 ± 0,26
62
0 mM Ca
+2
2 mM Ca
+2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
Duração (ms)
Tempo de despolarizão Tempo de repolarização
Tempo na metade da amplitude
Figura 17 - Experimento demonstrando o efeito da [Ca
+2
] extracelular sobre a
forma dos PAs e na duração dos mesmos em uma célula da camada I.
Na foto
de b
aixo, PAs provocados por injeção de corrente de 100 pA em ambos os
casos. Os disparos foram sobrepostos para fim de comparação. Escala
temporal expandida. Em A: solução de banho normal. Em B: quando o Ca
+2
foi
retirado. Note o alargamento dos PAs e diminui
ção da amplitude do PPHr. A
redução na amplitude do PA foi discreta.
Na foto de cima, gráfico comparando
a duração dos disparos em ambas as concentrações de Ca
+2
. PRM=-
54 mV ;
R
N
=424 M
A
B
63
Figura 18 - Exemplo do efeito da remoção do Ca
+2
extracelular sobre as
propriedades de disparo em uma lula da camada I. Na foto de cima temos a
resposta da célula a um pulso de 100 pA com duração de 1000 ms em soluçã
o
de banho contendo 2 mM de Ca
+2
. Na foto de baixo temos a mesma célula em
resposta a uma corrente de mesma magnitude e duração em solução de banho
sem Ca
+2
. Note a diminuição na freqüência de disparo assim a diminuição na
amplitude dos PPHr. A linha tracejada representa
o PRM. Mesma célula da
figura 17.
64
2 mM Ca
+2
r = 0,7149
p < 0,02
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10 15 20 25
Amplitude dos PPHr (mV)
Duração do disparo
(ms)
0 mM Ca
+2
r = 0,1769
0
2
4
6
8
10
12
0 5 10 15 20 25
Amplitude dos PPHr (mV)
Duração do disparo
(ms)
2 mM Ca
+2
(Recolocado)
r = 0,6147
0
2
4
6
8
10
0 5 10 15 20 25
Amplitude dos PPHr (mV)
Duração do disparo
(ms)
65
Figura 19 -
Relação entre a amplitude dos PPHr e a duração dos disparos. Em
A: forte relação inversa entre as variáveis. Em B: quando o Ca
+2
é retirado da
solução de banho esta relação cai para um valor de correlação fraco
. Em C:
quando o Ca
+2
é recolocado a correlação retorna a valores próximos ao original.
Todas as etapas foram realizadas na mesma célula.
Este exemplo demonstra o
grau de dependência das correntes I
c
em relação à concentra
ção de cálcio
extracelular.
66
4.7 PROPRIEDADES DAS CÉLULAS DA ZONA INFERIOR (ZI) NA
CAMADA I
Como dito anteriormente, as células da ZI representam aquelas
que estavam localizadas na região limítrofe com a camada II/III. Cuidados
especiais para que células piramidais não fossem registradas por engano
foram tomados, tais como manter uma distância padrão mínima da camada
II/III, assim como procurar células que não possuíam dendritos apicais
aparentes.
Nesta região foram registradas 106 células. Elas demonstraram
comportamentos variados e perfis de disparos como os que descrevemos no
item 4.4. Algumas diferenças quantitativas foram encontradas entre as três
regiões estudadas, as quais discutiremos adiante. A tabela 4 resume as
propriedades eletrofisiológicas de todas as regiões estudadas.
4.7.1 Propriedades passivas das células da ZI na camada I
Utilizando micropipetas com resistência média de 5,29 ± 0,79 M,
o PRM dio encontrado para as células da ZI foi de -58,39 ± 5,90 mV com
mínimo de -75 e máximo de -50 mV. A resistência de entrada medida na curva
I-V em resposta a pulsos hiperpolarizantes crescentes foi de 472, 51 ± 173,82
M com nimo de 139,62 e máximo de 1237,5 MΩ. A constante de tempo da
membrana medida nas deflexões de tensão desencadeadas por injeções de
corrente hiperpolarizantes de 10 ou 20 pA foi de 42,18 ± 20,22 ms com mínimo
de 10,81 e máximo de 126,15. A resistência específica de membrana (levando-
67
se em consideração que a capacitância específica de membrana possui valor
igual a 1 µF/cm
2
) foi igual a 42,18 ± 20,22 K.cm
2
.
4.7.2 Forma dos disparos das células da ZI na camada I
A amplitude média de disparos para estas células foi de 100, 41 ±
11,33 mV com mínimo de 74, 38 e máximo de 121,99 mV. O limiar de teno
para que disparos fossem provocados foi -40,43 ± 3,40 mV com mínimo de -
49,7 e -29,2 mV. O tempo médio de subida dos PAs foi de 0,364 ± 0,086 ms
com mínimo de 0,215 e máximo de 0,659 ms. O tempo médio de repolarização
dos PAs foi de 0,621 ± 0,158 ms com mínimo de 0,398 e máximo de 1,102 ms.
O tempo na metade da amplitude dos PAs foi de 0,919 ± 0,2 ms com mínimo
de 0,581 e máximo de 1,524. A duração média dos disparos, medida na base
do primeiro PA de cada seqüência de disparo, foi de 2,79 ± 0,877 ms com
mínimo de 1,8 e máximo de 5,7 ms.
Os PPHr também foram onipresentes nas lulas da ZI. A
amplitude média foi de 15,57 ± 6,85 mV com mínimo de 0,5 e máximo de 39,5
mV. A freqüência média alcançada foi de 28,26 ± 12,75 Hz com mínimo de
6,76 e máximo de 78,74 Hz.
68
4.8 PROPRIEDADES DAS CÉLULAS DA ZONA MÉDIA (ZM) NA
CAMADA I
As lulas da ZM são aquelas localizadas no meio da camada I.
Sua posição era determinada baseada na distância abaixo da pia-mater e
acima da região da ZI. Geralmente apresentaram soma de forma redonda e
pequena. Dentre as três regiões estudadas foi a que apresentou características
mais homogêneas.
4.8.1 Propriedades passivas das células da ZM na camada I
Para esses neurônios nós utilizamos micropipetas com
resistência média de 5,61 ± 0,75 M. A dia do PRM foi de -54,61 ± 6,11 mV
com mínimo de -69 e ximo de -50 mV. A resistência de entrada foi de
509,46 ± 215,99 M com mínimo de 180 e ximo de 1.443,75 M. A dia
da constante de tempo da membrana plasmática foi de 44,52 ± 21,04 ms com
mínimo de 11,05 e máximo de 111,41 ms. Consequentemente, a resistência
específica de membrana teve valor igual a 44,52 ± 21,04 K.cm
2
.
4.8.2 Forma dos disparos das células da ZM na camada I
A injeção crescente de corrente despolarizante gerou PAs com
amplitude média de 92,76 ± 8,80 mV com mínimo de -73,97 e máximo de
108,78 mV. O limiar de tensão mínimo para que esses PAs fossem gerados foi
de -38,31 ± 3,3 mV com mínimo de -46,2 e máximo de 29,9 mV. O tempo
médio de subida dos disparos foi de 0,370 ± 0,084 ms com mínimo de 0,183 e
máximo de 0,604 ms. O tempo médio de repolarização foi de 0,638 ± 0,171 ms
69
com mínimo de 0,298 e máximo de 1,22 ms. O tempo na metade da amplitude
dos disparos foi de 0,948 ± 0,207 ms com mínimo de 0,483 e máximo de 1,51
ms. A duração dos disparos, medida na base dos PAs, foi de 2,86 ± 0,85 ms
com mínimo de 1,4 e máximo de 5,7 ms.
Os PPHr presentes em todas as células estudadas, tiveram
amplitude média de 16,42 ± 6,32 mV com mínimo de 1,2 e máximo de 35,8 mV.
A freqüência média de disparo para essas células foi de 33,36 ± 14,88 Hz com
mínimo de 9,04 e máximo de 97,08 Hz.
4.9 PROPRIEDADES DAS CÉLULAS DA ZONA SUPERIOR (ZS) NA
CAMADA I
Estas células são aquelas que estão imediatamente abaixo da
pia-mater. A grande quantidade de vasos sangüíneos descendo
perpendicularmente à superfície da fatia; a grande quantidade de fibras de
terminais dendticos de células piramidais chegando a esta região e a baixa
quantidade de células viáveis tornaram os registros eletrofisiológicos
particularmente desafiadores. Por essas razões, na região da ZS foram
registradas apenas 25 células, número bem menor do que as outras regiões
estudadas.
70
4.9.1 Propriedades passivas das células da ZS na camada I
Utilizamos micropipetas com resistência média de 5,67 ± 0,57
M. O PRM médio para essas células foi de -56,29 ± 7,00 mV com mínimo de -
70 e máximo de -51 mV. A resistência de entrada foi de 581,70 ± 195,45 M
com mínimo de 227,14 e máximo de 1.012,5 M. A constante de tempo da
membrana plasmática foi de 46,71 ± 19,09 ms com mínimo de 19,53 e máximo
de 97,3 ms. Logo, a resistência específica de membrana teve o valor de 46,71
± 19,09 K.cm
2
.
4.9.2 Forma dos disparos das células da ZS na camada I
As células próximas a pia-mater, em resposta a correntes
despolarizantes, obtiveram amplitudes de disparo da ordem de 94,58 ± 9,4 mV
com mínimo de 78 e ximo de 110 mV. A dia do limiar de disparo obtido
foi de -37,42 ± 5,08 mV com mínimo de -52,8 e máximo de -27,9 mV. As
medidas temporais tiveram os seguintes valores: tempo de subida dos PAs de
0,417 ± 0,070 ms com mínimo de 0,275 e máximo de 0,589 ms; tempo de
repolarização dos PAs de 0,649 ± 0,123 ms com mínimo de 0,440 e máximo de
0,917 ms; tempo na metade da amplitude dos disparos de 1,022 ± 0,150 ms
com mínimo de 0,735 e máximo de 1,391 ms; duração dos disparos de 3,05 ±
0,617 ms com mínimo de 2,2 e máximo de 4,5 ms.
Os PPHr tiveram amplitude média de 19,53 ± 6,17 com mínimo
de 10,7 e máximo de 36,36 mV. A freqüência dos disparos foi de 32,87 ± 14,06
Hz com mínimo de 13,10 e máximo de 81,30 Hz.
71
Tabela 5 - Resumo das propriedades eletrofisiológicas de cada uma das
regiões estudadas
Células da ZI
(n = 106)
Células da
ZM
(n = 102)
Células da ZS
(n = 25)
Resistência das
pipetas (M)
5,29 ± 0,79 (106) 5,61 ± 0,75 (102) 5,67 ± 0,57 (25)
Potencial de
repouso (mV)
- 58,4 ± 5,91
(106)
- 54,61 ± 6,11
(102)
- 56,29 ± 7,00
(24)
Limiar de
disparo (mV)
- 40,43 ± 3,4
(106)
- 38,31 ± 3,3
(101)
- 37,42 ± 5,08
(24)
Amplitude dos
PAs (mV)
100,42 ± 11,33
(106)
92,76 ± 8,8
(101)
94,58 ± 9,40
(24)
Tempo de
subida dos PAs
(ms)
0,364 ± 0,086
(106)
0,370 ± 0,084
(101)
0,417 ± 0,07
(24)
Tempo de
descida dos PAs
(ms)
0,621 ± 0,159
(106)
0,638 ± 0,171
(101)
0,649 ± 0,123
(24)
Tempo na
metade da
amplitude dos
PAs (ms)
0,920 ± 0,201
(106)
0,948 ± 0,207
(101)
1,022 ± 0,150
(24)
Resistência de
entrada (M)
472,51 ± 173,82
(104)
509,46 ± 215,99
(101)
581,70 ± 195,45
(24)
Constante de
tempo da
membrana (ms)
42,18 ± 20,22
(104)
44,52 ± 21,04
(94)
46,71 ± 19,09
(24)
Amplitude dos
PPH rápidos
(mV)
15,57 ± 6,85
(106)
16,42 ± 6,32
(101)
19,53 ± 6,17
(24)
Freq. Máxima
(Hz)
28,26 ± 12,75
(105)
33,36 ± 14,88
(101)
32,87 ± 14,06
(24)
Duração do PA
(ms)
2,79 ± 0,87 (106) 2,86 ± 0,85 (101) 3,05 ± 0,61 (24)
72
4.10 RELAÇÕES ENTRE AS REGIÕES ESTUDADAS
Com o objetivo de comparar os diversos parâmetros
eletrofisiológicos estudados entre as três zonas estudadas, nós utilizamos a
análise de variância (ANOVA) associada ao teste de Tukey.
Encontramos diferenças significativas em 7 deles: PRM,
amplitude do PA, limiar de disparo, resistência de entrada, tempo de subida
dos PAs, amplitude dos PPHr e freqüência de disparo. Porém, nota-se uma
clara separação dos resultados quando analisamos as células da ZI
individualmente. Em muitos parâmetros analisados, os valores
correspondentes a ZM e ZS não diferem substancialmente.
Estes resultados pressupõem que, de fato, existem diferentes
populações celulares dentro da camada I, particularmente as células da ZI
constituindo uma população distinta ou bastante heterogênea. Estas diferenças
podem refletir diversas maneiras de como as populações lidam com suas
condutâncias iônicas além de diferentes configurações e distribuições de
canais iônicos e, em última análise, podem indicar origens diferentes. Estas
informações estão reunidas na tabela 5.
73
Tabela 6 - Diferenças estatísticas foram encontradas em alguns parâmetros
eletrofisiológicos entre as zonas estudadas na camada I. O F
c
equivale a 3,00
em todos os parâmetros avaliados (GL=2/228). Os valores sublinhados para
uma mesma variável não diferem significativamente entre si.
Parâmetro
avaliado
Média
(ZI)
Média
(ZM)
Média
(ZS)
Valor de p
calculado
Diferença
PRM (mV) -58,4 -54,61 -56,29 0,0002 +
Amplitude dos
PAs (mV)
100,41 92,77 93,06 < 0,0001 +
Limiar de
disparo (mV)
-40,43 -38,31 -37,43 < 0,0001 +
Resistência de
entrada (M)
472,51 509,46 581,7 0,039 +
Tempo de
subida dos PAs
(ms)
0,364 0,370 0,417 0,02 +
Tempo de
repolarização
(ms)
0,621 0,639 0,649 0,64 -
Tempo na
metade da
amplitude (ms)
0,920 0,948 1,023 0,07 -
Duração dos
PAs (ms)
3,79 2,86 3,05 0,61 -
Const. Tempo
(ms)
42,18 44,52 46,72 0,54 -
Amplitude dos
PPHr
15,57 16,42 19,54 0,02 +
Freqüência de
disparo
28,26 33,37 32,87 0,02 +
74
5.0 DISCUSSÃO
Os principais achados deste trabalho referem-se ao fato de que,
dentro da camada I, existem diferentes subtipos de disparo próprios de
interneurônios inibitórios e, baseado nos valores de algumas propriedades
ativas e passivas, as células em diferentes zonas da camada I constituem
populações distintas. Até então, estas diferentes respostas a pulsos
despolarizantes haviam sido caracterizados somente nas camadas II-VI.
Também encontramos que o potencial de membrana e a concentração externa
de Ca
+2
contribuem em diferentes graus de importância para a repolarização
dos PAs e ativação dos canais B
K
.
Virtualmente todos os neurônios da camada I são inibitórios
(Marin-Padilla, 1984; Hestrin e Armstrong, 1996) e eles recaem em duas
categorias, os quais podem refletir diferentes origens. O primeiro grupo o as
células Cajal-Retzius. A segunda categoria (nosso alvo neste trabalho) é o
heterogêneo grupo de pequenos interneurônios multipolares com diferentes
arborizações axonais e, como visto aqui, apresentam diferentes tipos de
respostas que discutiremos agora.
5.1 DIFERENTES PROPRIEDADES DE DISPARO NA CAMADA I
Neurônios neocorticais possuem várias propriedades ativas e
passivas, assim eles respondem diferentemente quando excitados com pulsos
de corrente despolarizante. Com os neurônios da camada I isso não é
diferente. Originalmente, todos os interneurônios inibitórios foram descritos
como fast-spiking (McCormick et al., 1985; Connors e Gutnick, 1990), mas
75
subseqüentes registros revelaram outros padrões de disparos mais refinados
(Kawagushi e Kubota, 1997; Kawagushi, 1993).
Em nosso estudo, pela primeira vez, conseguimos identificar
várias destas variantes de fast-spiking tais como as células LTS (Figura 13).
Este tipo de célula mostra disparos semelhantes à bursts com caractesticos
limiares de disparos mais baixos nos primeiros PAs (daí seu nome) após pré-
pulsos hiperpolarizantes. Estas células foram originalmente encontradas na
camada V e, mais tarde, foram identificadas em células não-piramidais na
camada II/III (Kawagushi, 1995). As células late-spikings (LS), cujos disparos
somente surgem após um apreciável atraso após o início do pulso
despolarizante também estiveram presentes em nossos registros da camada I
(Figura 11). Este tipo celular havia sido descrito previamente por Chu et al.
(2003) também na camada marginal e por Kawagushi e Kubota (1993).
Segundo eles, que também realizaram análises morfológicas, elas realmente
se encaixam dentro do perfil das células neurogliaformes embora nem todas as
células com essa configuração morfológica apresentem disparos atrasados.
Porém, Hestrin e Armstrong (1996) registraram lulas neurogliaformes e não
encontraram o padrão de disparos atrasados em neurônios da camada I, o que
pode refletir diferentes condições experimentais.
Este tipo de célula com disparo atrasado foi demonstrada como
sendo fornecedora de entradas inibitórias em células piramidais e tamm em
outros neurônios da camada I e que elas estão altamente interconectadas por
pareamento elétrico. Chu et al. (2003), também demonstraram que as células
LS recebem entradas excitatórias dos neurônios piramidais da camada II/III.
76
Outro neurônio encontrado com freqüência em nossos registros,
são as células que apresentam períodos quiescentes, ou como alguns chamam
de irregular-spiking (IS). Elas disparam uma rajada inicial de PAs seguidos por
outros PAs irregularmente espaçados. As lulas IS foram posteriormente
divididas, de acordo com a duração das rajadas iniciais em IS1 e IS2, porém
não encontramos tal divisão em nosso trabalho (Figura 9). Elas também fazem
parte de um grupo conhecido por stuttering (algo como “gaguejando”). Cuja
principal característica é essa seqüência de rajadas interrompidas por
imprevisíveis períodos de silêncio como se fossem descargas em “código-
morse”. Estes PAs em grupos de rajadas geralmente não mostram
acomodação, e o período de silêncio entre os grupos variam imprevisivelmente
em duração.
Os demais tipos de células descritas aqui (células com grandes
PPHr e células com PPD) encaixam-se dentro do perfil clássico de células fast-
spiking particularmente os tipos non-accommodating e regular-spiking non-
pyramidal, respectivamente. As primeiras são representativas do que se
costuma chamar de células não-acomodantes (NAC, do inglês non-
accommodating) representativas das células fast-spiking clássicas que
disparam repetitivamente sem adaptação de freqüência aparente em resposta
a uma ampla faixa de injeções de corrente sustentadas. Os intervalos entre -
picos de PAs consecutivos praticamente não mudam e a freqüência de disparo
aumenta a medida que a amplitude de corrente também aumenta. Seus PAs
isolados são muito rápidos e caracteristicamente possuem um profundo PPHr
(Figura 8). o segundo tipo lembra muito o perfil de resposta das células
77
piramidais, apresentando adaptação de freqüência, o que limita sua freqüência
de disparo.
Com relação às células com perfis de disparo semelhantes a
células imaturas, provavelmente podem estar enquadradas dentro de umas das
categorias listadas acima. Torna-se difícil analisá-las, uma vez que, devido a
baixa freqüência com que foram encontradas o nos permite identificar se
esse é um padrão natural ou algum artefato inserido durante os registros
Originalmente, achava-se que um determinado padrão de disparo
refletia certo tipo anatômico de interneurônio. Contudo, exames detalhados de
muitos interneurônios corticais mostraram que um determinado neurônio
identificado morfologicamente pode ter muitos comportamentos de disparo
(Toledo-Rodriguez et al., 2003; Kawagushi e Kubota, 1993; Gubta et al., 2000).
Isso resulta da diversidade eletrofisiológica fornecida pela atividade combinada
de diferentes combinações de canais iônicos na membrana de um neurônio
(propriedades ativas) (Llinas, 1988) e de sua morfologia (propriedades
passivas) (Mainen e Sejnowski 1996). Levando-se em consideração os poucos
tipos morfológicos descritos na literatura da camada I e os seis tipos de
disparos encontrados aqui, essa variedade pode ser maior do que se imagina.
A classificação atual em células CR e neurônios pequenos nos
fornecem , segundo nossos resultados, pistas de uma ampla gama de tipos de
respostas que este último grupo de células é capaz de realizar e podemos
imaginar os diversos graus de inibição que a camada I é capaz de exercer
sobre outras camadas corticais que praticamente todos os terminais
dendríticos de células piramidais estão representados nesta camada.
78
Levando-se a teoria da “agregação de eventos” em consideração,
isso representaria um considerável processamento de informação e
versatilidade em resposta a eventos sensoriais. Sabendo-se que a estimulação
sensorial resulta em um aumento coordenado nas condutâncias excitatórias e
inibitórias (Borg-Graham et al., 1998; Monier et al., 2003) a diversidade de tipos
de respostas inibitórias na camada I pode ser crucial em fornecer suficiente
sensibilidade, complexidade e faixa dinâmica para o sistema inibitório
contrabalancear a excitação independente da intensidade e complexidade do
estímulo.
5.2 DIFERENTES POPULAÇÕES DENTRO DA CAMADA I
Outro fato interessante presente em nossos resultados refere-se
à presença de diferentes populações na camada I baseado em suas
propriedades passivas e ativas, assim como Hestrin e Armstrong (1996)
também encontraram nesta mesma camada. Uma delas, é a diferença
significativa no PRM. Em células próximas a pia-mater obtivemos PRM com
valor de -56,29 mV, na ZM tivemos PRM com -54,61 mV e na ZI -58,4 mV. Tal
característica pode refletir diferentes maneiras de como tais células lidam com
condutâncias ao potássio refletindo pequenas diferenças regionais dentro da
camada. Embora a R
m
tenha valores equivalentes entre as três populações a
R
N
diferente entre elas poderia denotar volumes celulares diferentes ou
distribuições diferentes de canais iônicos entre as populações estudadas, o que
fornece apoio à presença de diversos padrões de disparo.
79
Nosso estudo também mostra que o comportamento fast-spiking
dos neurônios da camada I não se deve a R
N
mais altas (células piramidais na
camada II/III possuem R
N
=320 M, segundo Zhou e Hablitz, 1996). Algumas
de nossas lulas obtiveram comportamentos de disparos rápidos mesmo
tendo resistências de 300 M, as quais estão na faixa de resistência das
células piramidais. Estes resultados sugerem que a R
N
pode ser altamente
determinada pelo tamanho celular em células da camada I, mas não suas
propriedades de disparo. As células da ZS apresentaram os valores mais altos
de R
N,
no entanto, sua freqüência de disparo esteve muito próxima dos valores
encontrados para as células de ZM. As constantes de tempo semelhantes entre
as populações podem refletir que elas respondem a inputs de formas parecidas
mas seus outputs não.
A forma como essas células lidam com condutâncias ao sódio
dependentes de voltagem também podem apresentar diferenças
principalmente devido as amplitudes dos PAs. Isto também está relacionado
com os tempos de subida dos PAs. As células da ZI que apresentam os
maiores PAs também apresentam os tempos de polarização mais velozes. No
entanto, as condutâncias de potássio dependentes de voltagem parecem ser
homogêneas (particularmente I
DR
), mas não todas as correntes, que a
amplitude dos PPHr são bastante diferentes entre as populações estudadas o
que pode refletir sobre diferentes freqüências de disparo.
Embora as lulas não-piramidais neocorticais com diferentes
características morfológicas mostrem vários padrões distintos de disparo, ainda
resta ser investigado como essas características de disparo contribuem para a
80
geração de respostas fisiológicas dentro do neocórtex. Para compreender o
papel funcional destes padrões de disparo, as conexões neurais e as
interações sinápticas de cada subgrupo no neocórtex devem ser esclarecidas.
5.3 EFEITOS DA MANIPULAÇÃO DO POTENCIAL DE MEMBRANA
Sabe-se que as correntes de K
+
possuem papel crucial na forma
dos PAs e conseqüentemente na fisiologia celular. Estas correntes são
controladas por uma incrível variedade de canais seletivos a K
+
.
Usando-se uma terminologia antiga, os canais de K
+
abertos
“estabilizam” o potencial de membrana: eles o levam a valores próximos ao
potencial de equilíbrio do potássio e para longe do limiar de disparo. Nas
células excitáveis, a função para todos os tipos de canais de K
+
está
relacionada com estabilização. Eles ajustam o potencial de repouso, aumentam
a velocidade dos PAs, terminam períodos de atividade intensa, regulam a
duração dos períodos entre disparos entre outras coisas. Dentre estes canais,
alguns deles se sobressaem na regulação do padrão de disparo de um
determinado tipo celular. Um deles é ativado transientemente e abaixo do limiar
de disparo. A corrente gerada pela ativação destes canais possui diversos
nomes, mas a chamaremos pelo mais conhecido, ou seja, I
A
.
Os canais K
A
(que medeiam I
A
) podem ser ativados quando a
células é despolarizada após um período de hiperpolarização. Se um neurônio
possui um PRM de -40 mV, um pulso de despolarização para -5 mV ativará
correntes de K
+
nos canais retificadores atrasados e nos canais dependentes
81
de Ca
+2
mas não nos canais K
A
. Porém, se o potencial de membrana for fixado
em -80 mV, a despolarização ativará as correntes transientes I
A
.
Desta forma, o potencial de membrana pode afetar as
propriedades de ativação e inativação de canais iônicos dependentes de
voltagem resultando em diferentes padrões à medida que o potencial de
membrana é alterado.
Em nossos resultados as propriedades repetitivas e de disparo
foram significativamente alteradas por grandes mudanças no potencial de
membrana, provavelmente devido a ativação de I
A
. As durações dos PAs foram
bastante afetadas, assim como suas freqüências de disparo e vimos um
aumento na amplitude dos PPHr. Estas informações sugerem que as correntes
I
A
estão sendo ativadas em potenciais mais hiperpolarizados juntamente com
as correntes I
c
responsáveis pela geração dos PPHr. Este resultado também
sugere que canais do tipo S
k
que medeiam correntes do tipo I
AHC
podem estar
sendo inativados em potenciais mais hiperpolarizados principalmente devido ao
aumento na freqüência de disparo resultante da supressão dos PPH médios
conhecidos em modular e limitar a freqüência de disparo em interneurônios.
5.4 EFEITOS DA REMOÇÃO DO Ca
+2
Com relação à dependência de cálcio, três grandes famílias de
canais de K
+
dependentes de Ca
+2
foram identificadas, as quais podem ser
separadas biofísica e farmacologicamente. Estes canais foram batizados de
famílias B
K
, S
K
e I
K
(Sah, 1996; Vegara et al., 1998). Em nosso estudo estamos
particularmente interessados na corrente I
C
geradas pela ativação de B
K
a qual
82
é responsável pelos PPHr e é a principal corrente repolarizante em neurônios
do sistema nervoso central de mamíferos (Lancaster e Nicoll, 1987; Storm,
1987). Esta conclusão se baseou no uso de bloqueadores de canais de Ca
+2
tais como Cd
+2
, Co
+2
e Mn
+2
e/ou bloqueadores de canais de K
+
tais como TEA
e Caribdotoxina (CTX). Subsequentemente, os primeiros agentes mostraram-
se incapazes de bloquear ou modular I
(A)
(Andreasen e Hablitz, 1992; Lynch e
Barry, 1991; Spain et al. 1991) enquanto que o CTX poderia inibir canais de K+
dependentes de voltagem. (Goldstein e Miller, 1993). Embora alguns estudos
recentes tenham demonstrado um papel para I
c
na repolarização, alguns
parâmetros podem não ser fisiológicos.
Os canais B
k
são altamente seletivos a potássio, possuem grande
condutância iônica de 200 a 400 pS e requerem tanto Ca
+2
quanto
despolarização de membrana para sua ativação. Interessantemente, estes
canais podem abrir-se na ausência de Ca
+2
e suspeita-se que o efeito do cálcio
e do potencial de membrana são processos independentes.
Aqui procuramos analisar o papel das correntes I
c
geradas pela
ativação dos canais B
K
através do estudo das propriedades de disparos dos
PAs e sua repolarização em neurônios da camada I através da comparação de
comportamentos de disparo na presença e na ausência de Ca
+2
extracelular.
A remoção do Ca
+2
extracelular promoveu alguns efeitos na
duração dos PAs nos neurônios da camada I argumentando a favor de um
mecanismo de repolarização, em parte, dependente de Ca
+2
. Encontramos um
aumento significativo na duração dos PAs e no tempo na metade da amplitude
dos PAs quando a solução de banho estava livre de cálcio. O tempo de
83
repolarização esteve levemente aumentado. Também encontramos uma leve
redução na amplitude dos PPHr, no entanto, quando o potencial de membrana
foi alterado na presença de cálcio, o aumento na amplitude dos PPHr foi
altamente significativo, o que nos leva a supor que ambos afetam a ativação de
I
c
, mas a dependência de voltagem parece ser mais importante do que a
disponibilidade de Ca
+2
. Nossos resultados corroboram com outros achados na
literatura de que as condutâncias de K
+
dependentes de Ca
+2
constituem
apenas uma das contribuições para a repolarização do PA em neurônios
complexos de mamíferos.
Se compararmos os resultados do efeito do potencial de
membrana sobre os PAs e o efeito da remoção do Ca
+2
sobre as correntes de
repolarização notamos que as correntes de K
+
dependentes de Ca
+2
são uma
das principais forças de repolarização dos PAs na camada I. Particularmente, I
c
que gera os PPHr, e a duração dos PAs, estão altamente correlacionados e
dependentes do Ca
+2
visto a violenta queda no índice de correlação entre as
duas variáveis que se observa quando o Ca
+2
é retirado do meio. Sendo assim,
é razoável supor que as mesmas correntes que medeiam o tempo de
repolarização e os PPHr estão relacionadas.
5.5 PAPEL FUNCIONAL DAS CÉLULAS DA CAMADA I
Embora a camada I seja descrita algumas vezes como uma
camada acelular, foi demonstrado por Ramon y Cajal, que esta camada possui
interneurônios (DeFelipe e Jones, 1988). Posteriormente, Cajal reconheceu
que os neurônios da camada I são heterogêneos. Estudos mais recentes
84
revelaram que estes neurônios expressam marcadores GABAérgicos e que a
densidade destes neurônios GABAérgicos é ~50% do total encontrado nas
camadas II-VI (Gabbott e Somogyi, 1986; Winer e Larue, 1989; Li e Schwark,
1994).
As entradas excitatórias na camada I incluem axônios originando-
se a partir de núcleos talâmicos específicos e o-específicos, a partir de
outras áreas corticais, e também de neurônios piramidais das camadas II-VI.
Os principais alvos das fibras excitatórias na camada I são os buquês de
dendritos apicais piramidais de camadas mais baixas. foi demonstrado que
a ativação de axônios excitatórios na camada I pode ser bastante efetivo na
produção de PAs dendríticos que propagam-se anterogradamente e
influenciam a atividade de células piramidais em todas as camadas corticais
(Kim e Connors, 1993; Cauller e Connors, 1994; Zhu, 2000). Uma vez que os
buquês apicais de neurônios piramidais na camada I podem atuar como uma
zona de iniciação de disparo, a inibição local na camada I poderia ter um papel
importante em governar a geração e propagação de PAs nesta zona. Os
axônios de alguns neurônios inibitórios nas camadas II-VI, incluindo neurônios
de Martinotti, ascendem para a camada I, e assim, a inibição na camada I é
provavelmente dependente de vários tipos de células inibitórias além daquelas
presentes na própria camada I.
Chu et al. (2003) demonstraram que as células LS recebem
inputs excitatórios a partir de células piramidais locais, mas ainda resta a ser
determinado em que momento as lulas LS recebem imputs a partir de outros
axônios excitatórios na camada I. O alto grau de pareamento elétrico
85
demonstrado entre as células LS sugere que estas células podem estar aptas a
sincronizar suas atividades e assim exercer um poderoso controle sobre seus
alvos pós-sinápticos. Recentemente, experimentos in vivo mostraram que a
ativação de fibras da camada I leva a excitação, seguida por uma resposta
inibitória (Helmchen et al., 1999; Larkum e Zhu, 2002). Estas informações
sugerem que as lulas LS na camada I podem contribuir para a inibição
observada sob condições fisiológicas.
86
6.0 CONCLUSÃO
Baseado em resultados de experimentos utilizando pulsos de
corrente despolarizante e hiperpolarizante com diferentes durações em três
zonas de estudo dentro da camada I concluímos termos encontrado seis
diferentes tipos de disparo nesta camada marginal. Estes tipos são conhecidos
na literatura científica como sendo subtipos refinados e representativos da
classe dos interneurônios fast-spiking. São eles: células non-accommodating
(NAC) ou células fast-spiking clássicas, lulas regular-spiking non-pyramidals
(RSNP), células low-threshold spiking (LTS), células late-spiking (LS), células
stuttering e células com perfil eletrofisiológico imaturo. Encontramos que, entre
as três regiões estudadas, existem diferenças quantitativas quanto a alguns
parâmetros ativos e passivos principalmente nas células localizadas na região
mais inferior da camada I. O que poderia representar diferentes maneiras de
como determinados grupos dentro da camada I lidam com condutâncias
iônicas, assim como integram sinais de entrada e saída de forma a modular
sua função cortical.
Através da manipulação do potencial de membrana e da
concentração de Ca
+2
extracelular, concluímos que as correntes de
repolarização dos PAs das células da camada I são dependentes tanto da
tensão quanto da disponibilidade de Ca
+2
, porém este último parece não ser
tão essencial sobre a geração dos PPHr característicos de interneurônios
corticais.
87
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