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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY
RIBEIRO
VAGNER RICARDO DA SILVA FIUZA
CRIPTOSPORIDIOSE EM SUÍNOS (Sus scrofa domesticus) NAS
REGIÕES NORTE E NOROESTE FLUMINENSE: DIAGNÓSTICO E
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO SISTEMA DE CRIAÇÃO
Campos dos Goytacazes
2008
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VAGNER RICARDO DA SILVA FIUZA
CRIPTOSPORIDIOSE EM SUÍNOS (Sus scrofa domesticus) NAS
REGIÕES NORTE E NOROESTE FLUMINENSE: DIAGNÓSTICO E
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO SISTEMA DE CRIAÇÃO
Orientador: Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira
Campos dos Goytacazes
2008
Dissertação apresentada ao
Centro de Ciências e Tecnologias
Agropecuárias da Universidade
Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro, como requisito
parcial para obtenção do grau de
Mestre em Produção Animal, na
Área de Concentração de
Sanidade Animal.
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FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca do CCTA / UENF 017/2008
Fiuza, Vagner Ricardo da Silva
Criptosporidiose em suínos (Sus scrofa domesticus) nas regiões
Norte e Noroeste Fluminense: diagnóstico e fatores de risco
associados ao sistema de criação / Vagner Ricardo da Silva Fiuza.
2008.
65 f. : il.
Orientador: Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira
Dissertação (Mestrado em Produção Animal) Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências e
Tecnologias Agropecuárias. Campos dos Goytacazes, RJ, 2008.
Bibliografia: f. 55 63.
1. Cryptosporidium 2. Suíno 3. Morfometria 4. Fatores de risco I.
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de
Ciências e Tecnologias Agropecuárias. II. Título.
CDD 636.40896
Aos meus pais,
por todo amor e carinho
DEDICO
AGRADECIMENTOS
A Deus, por toda a luz que ilumina meus caminhos;
Aos meus pais, JORGE PESSANHA FIUZA e ANA MARIA RICARDO DA
SILVA, por serem o meu porto-seguro;
À minha namorada, LUCIANA SALLES VASCONCELOS HENRIQUES por
todo o amor, carinho e amizade que me completam, em todos os sentidos de minha
vida;
Ao técnico de nível superior Dr. RIO GAMA SALES, por todo o auxílio
prestado nas coletas de material;
À amiga RACHEL INGRID JULIBONI COSENDEY, pela grande amizade
nestes últimos anos;
A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), pelas
oportunidades oferecidas;
Aos meus amigos e familiares;
Aos colegas da Graduação em Medicina Veterinária e da Pós-Graduação em
Produção Animal da UENF;
Aos estagiários e funcionários da UENF;
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pela bolsa de estudo concedida;
À Banca Examinadora, pelas sugestões, conselhos e atenção dispensada;
Ao orientador Prof. Dr. FRANCISCO CARLOS RODRIGUES DE OLIVEIRA
pelos ensinamentos e amizade, dentro e fora da vida acadêmica.
“All you need is Love”
(Lennon / McCartney, 1967)
RESUMO
FIUZA, Vagner Ricardo da Silva, M. S., Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro. Fevereiro de 2008. Criptosporidiose em suínos (Sus scrofa
domesticus) nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense: diagnóstico e fatores de
risco associados ao sistema de criação. Professor orientador: Prof. Francisco Carlos
Rodrigues de Oliveira.
A crescente produção de carne suína no Brasil exige maiores cuidados com a saúde
destes animais, principalmente relacionados a parasitoses intestinais, pois são
responsáveis diretos por queda de produtividade. O presente trabalho teve como
objetivo diagnosticar a presença de oocistos do gênero Cryptosporidium nas fezes
de suínos criados em granjas com sistema de criação dos tipos familiar e tecnificada,
localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense, realizar análise morfométrica
destes oocistos e estudar os principais fatores de risco associados à presença do
parasito. Foram coletadas, por conveniência, 103 amostras em 10 propriedades (5
familiares e 5 tecnificadas), utilizando para diagnóstico as técnicas de Ziehl-Neelsen
modificada (ZN-M) e de centrífugo-flutuação em microscopia de Contraste de Fase
(CF). Foram encontrados 31,1% de animais positivos por ZN-M e 62,1% por CF, que
diferiram significativamente. O maior percentual em CF é explicado, entre outros
fatores, pela maior concentração de oocistos obtida pela técnica de centrífugo-
flutuação. Não houve diferença significativa quanto à presença de animais positivos
entre as propriedades familiares e tecnificadas, apesar das grandes diferenças de
manejo encontradas. Pela Técnica de ZN-M foi observado 3,70±0,48 µm para o
diâmetro maior (DM) e 3,51±0,46 µm para o diâmetro menor (dm) e 1,06±0,04 de
índice morfométrico (IM), com correlação positiva, r = 0,9547. Pelo CF, observou-se
5,36±0,81 µm para o DM, 4,72±0,75 µm para o dm com IM de 1,14±0,11, com
correlação positiva, r = 0,8151. A morfometria entre estas duas técnicas foi
considerada estatisticamente diferente. Foram considerados para o estudo dos
fatores de risco o piso das instalações, o número de animais na propriedade, a
presença nas granjas de outras espécies de animais e de pessoas alheias à criação
e o destino dos dejetos. Após análise dos resultados encontrados, observou-se que
a deposição das fezes no ambiente, tais como lavoura e rios, após limpeza das
instalações, foi o principal fator de risco associado à presença de oocistos de
Cryptosporidium spp.
Palavras-chave: Cryptosporidium spp.; suínos; oocisto; coccídio.
ABSTRACT
FIUZA, Vagner Ricardo da Silva, MSc., Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro. February; 2008. Criptosporidiosis in pigs (Sus scrofa domesticus) in
the North and Northwest regions of the Rio de Janeiro State: diagnostic and risk
factors associated with the production systems. Prof. Advisor: Prof. Francisco Carlos
Rodrigues de Oliveira.
The increasing production of swine meat in Brazil demands greater care with the
health of these animals, mainly related with the intestinal parasitism, therefore they
are responsible for productivity fall. The purpose of this study was to verify the
presence of Cryptosporidium sp. oocysts in swine farms of familiar and technical
production systems, located in the North and Northwest Regions of the Rio de
Janeiro State, realize the morphometric analysis of these oocysts and study the main
risk factors associated with the presence of the parasite. One-hundred and three
fecal samples of 10 properties were collected, of which five were familiar and five
technical, using for diagnosis the modified Ziehl-Neelsen technique (ZN-M) and
centrifugal-flotation in phase contrast optic microscopy (CF). Thirty-one point one
percent of positive animals for ZN-M and 62.1% for CF were found, and they were
statistically different. The greater percentage in CF is explained, among other factors,
due the biggest concentration of oocysts obtained by the centrifugal-flotation
technique. The presence of positive animals between familiar and technical farms did
not have significant difference, despite the differences of handling. By the technique
of ZN-M, 3.70±0.48 µm of larger diameter (DM), 3.51±0.46 µm of smaller diameter
(dm) and 1.06±0.04 of index shape (IS) were observed, with positive correlation, r =
0.9547. For the CF, 5.36±0.81 µm of DM, 4.72±0.75 µm of dm and 1.14±0.11 of IS
were observed, with positive correlation, r = 0.8151. The morphometric results
between these two techniques were significantly different. The following risk factors
were observed: the floor of the installations, the number of animals in the property,
the presence of other species of animals and other people in the farms and the
destination of the manure. After analysis of the observed results, it was observed that
the deposition of the manure in the environment, such as farming and rivers, after
cleaning of the installations, was considered the main risk factor associated with the
occurrence of Cryptosporidium spp. oocysts.
Key words: Cryptosporidium spp.; swines; oocysts; coccidian.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Oocisto de Cryptosporidium spp., de acordo com LINDSAY et
al. (2000).......................................................................................
17
Figura 2
Esporozoíto de Cryptosporidium spp., adaptado de SMITH et al.
(2005)............................................................................................
18
Figura 3
Ciclos de transmissão da criptosporidiose entre humanos e
animais, de acordo com CACCIO et al., 2005. A seta tracejada
representa as transmissões menos comuns.................................
24
Figura 4
Oocistos de Cryptosporidium spp. isolados de fezes de suínos.
Em A e B, diagnóstico pela Técnica de Ziehl-Neelsen
modificada com setas indicando a parede do oocisto marcado
pela fuccina. Em C e D, diagnóstico em Microscopia de
Contraste de Fase com setas evidenciando os núcleos dos
esporozoítas..................................................................................
32
Figura 5
Granjas visitadas para pesquisa de oocistos de Cryptosporidium
sp. em fezes de suínos nas Regiões Norte e Noroeste
Fluminense, com destaque para parte do município de Campos
dos Goytacazes-RJ. Em A, B, C, D e E, propriedades com
sistema de produção do tipo Familiar; e em F, G, H, I e J,
propriedades do tipo Tecnificada..................................................
34
Figura 6
Correlação dos diâmetros maior e menor para 87 medidas de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense,
diagnosticado pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada, onde
P <0,0001, r = 0,9547 com intervalo de confiança de 95%
(0,9311 a 0,9701) e R
2
= 0,9112...................................................
40
Figura 7
Correlação dos diâmetros maior e menor para 248 medidas de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense,
diagnosticado por Microscopia de Contraste de Fase, onde P
<0,0001, r = 0,8151 com intervalo de confiança de 95% (0,7685
a 0,8530) e R
2
= 0,6643................................................................
40
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Caracterização de espécies de Cryptosporidium..........................
19
Tabela 2
Diagnóstico da presença de oocistos de Cryptosporidium spp.
em fezes de suínos das Regiões Norte e Noroeste
Fluminense....................................................................................
33
Tabela 3
Diagnóstico da presença de oocisto de Cryptosporidium spp. em
fezes de suínos em propriedades das Regiões Norte e Noroeste
Fluminense....................................................................................
35
Tabela 4
Participação do sistema de criação na presença de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnóstico feito pela
Técnica de Ziehl-Neelsen modificada...........................................
38
Tabela 5
Participação do sistema de criação na presença de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnóstico feito por
centrifugo-flutuação em solução saturada de sacarose e
microscopia de Contraste de Fase................................................
38
Tabela 6
Medidas de oocistos de Cryptosporidium sp. em fezes de suínos
de criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste
Fluminense, observadas através de microscópio óptico pela
Técnica de Ziehl-Neelsen modificada e por microscopia de
Contraste de Fase.........................................................................
39
Tabela 7
Medidas de oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de
suínos de criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste
Fluminense, corados pela cnica de Ziehl-Neelsen modificada
e observadas em microscópio óptico............................................
41
Tabela 8
Medidas de oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de
suínos de criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste
Fluminense, observados em microscopia de Contraste de
Fase...............................................................................................
42
Tabela 9
Participação do tipo de piso das instalações na presença de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada................
43
Tabela 10
Participação do tipo de piso das instalações na presença de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico por centrífugo-flutuação em solução saturada de
sacarose e microscopia de Contraste de Fase.............................
43
Tabela 11
Participação do número de animais nas propriedades
relacionado à presença de oocistos de Cryptosporidium spp. em
fezes de suínos de criações localizadas nas Regiões Norte e
Noroeste Fluminense. Diagnostico pela Técnica de Ziehl-
Neelsen modificada.......................................................................
44
Tabela 12
Participação do número de animais nas propriedades
relacionado à presença de oocistos de Cryptosporidium spp. em
fezes de suínos de criações localizadas nas Regiões Norte e
Noroeste Fluminense. Diagnostico por centrífugo-flutuação em
solução saturada de sacarose e microscopia de Contraste de
Fase...............................................................................................
44
Tabela 13
Participação de outras espécies de animais na presença de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada................
45
Tabela 14
Participação de outras espécies de animais na presença de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico por centrífugo-flutuação em solução saturada de
sacarose e microscopia de Contraste de Fase.............................
45
Tabela 15
Participação de pessoas alheias às criações na presença de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada................
46
Tabela 16
Participação de pessoas alheias às criações na presença de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico por centrífugo-flutuação em solução saturada de
sacarose e microscopia de Contraste de Fase.............................
46
Tabela 17
Participação do destino dado às fezes na presença de oocistos
de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações
localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada................
47
Tabela 18
Participação do destino dado às fezes na presença de oocistos
de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações
localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico por centrífugo-flutuação em solução saturada de
sacarose e microscopia de Contraste de Fase.............................
47
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO…………..……………………………................………… 14
2 REVISÃO DE LITERATURA………………………………….................. 15
2.1 HISTÓRICO…………..…………………………………………................. 15
2.2
GÊNERO Cryptosporidium…...………………………………..................
17
2.3 CICLO BIOLÓGICO……………………………………………..................
20
2.4 CRIPTOSPORIDIOSE…………………………………………................. 21
2.4.1 Criptosporidiose suína……………………………………….................. 22
2.4.2 Criptosporidiose humana……………………………………................. 23
2.5 EPIDEMIOLOGIA………………………………………………..................
24
2.6 DIAGNÓSTICO…………………………………………………................. 26
2.7 TRATAMENTO E CONTROLE………………………………...................
26
3 MATERIAL E MÉTODOS………………………………………................
28
3.1 LOCAIS DE EXECUÇÃO……………………………………….................
28
3.1.1 Coleta do material fecal…………………………………….................
28
3.1.2 Processamento do material fecal…………………………...................
28
3.2 ENTREVISTAS…………………………………………………..................
29
3.3 DIAGNÓSTICO…………………………………………………................. 29
3.3.1 Técnica de Ziehl-Neelsen modificada................................................ 29
3.3.2 Concentração dos oocistos................................................................ 30
3.4 MORFOMETRIA.................................................................................... 31
3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA........................................................................
31
4 RESULTADOS...................................................................................... 32
4.1 DIAGNÓSTICO...................................................................................... 32
4.2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO................................................................. 33
4.2.1 Familiar................................................................................................. 36
4.2.2 Tecnificada........................................................................................... 37
4.2.3 Familiar x Tecnificada......................................................................... 37
4.3 MORFOMETRIA.................................................................................... 38
4.4 FATORES DE RISCO............................................................................
42
4.4.1 Piso das instalações............................................................................
43
4.4.2 Número de animais na propriedade...................................................
44
4.4.3 Presença de outros animais............................................................... 45
4.4.4 Presença de outras pessoas na criação............................................
46
4.4.5 Destino das fezes.................................................................................
47
5 DISCUSSÃO..........................................................................................
48
5.1 DIAGNÓSTICO...................................................................................... 48
5.2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO................................................................. 49
5.3 MORFOMETRIA.................................................................................... 50
5.4 FATORES DE RISCO............................................................................
52
6 CONCLUSÕES......................................................................................
54
7 REFERÊNCIAS..................................................................................... 55
APÊNDICE............................................................................................ 64
14
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, o Brasil está entre os dez maiores produtores de carne suína do
mundo, com o rebanho nacional estimado em cerca 35 milhões de suínos. As
principais criações industriais brasileiras se encontram nas regiões sul e sudeste,
onde são obtidos bons níveis de produtividade através dos avanços nos
conhecimentos de genética, nutrição, reprodução, manejo e sanidade. No entanto,
esta crescente substituição do sistema extensivo pelo industrial de confinamento
propicia a proliferação e permanência de agentes patogênicos, caso sejam
empregadas técnicas inadequadas de criação. Entre estes agentes patogênicos,
destacam-se os parasitas intestinais que causam, entre outros fatores, diarréias e
retardo no crescimento, principalmente em leitões em desenvolvimento, resultando
em queda na produtividade.
A criptosporidiose é uma doença causada por um protozoário intestinal do
gênero Cryptosporidium, que pode acometer os seres humanos e diversas espécies
de animais. Parasitam preferencialmente as células epiteliais dos intestinos delgado
e grosso, causando disenterias tanto em hospedeiros imunocompetentes como nos
imunodeficientes.
Atualmente são descritas 17 espécies de Cryptosporidium, diferenciados
geneticamente, morfologicamente e quanto ao seu local de infecção. Possui um ciclo
de vida monoxeno e eurixeno, onde os oocistos infectantes são liberados juntamente
com as fezes do hospedeiro, possuindo dessa forma, uma grande capacidade de
contaminação ambiental.
Como a criptosporidiose suína geralmente ocorre de forma assintomática, a
sua presença pode passar despercebida nas criações, provocando graves perdas
econômicas, além de representar uma importante fonte de infecção para humanos e
animais que tenham contato com suas fezes, direta ou indiretamente.
O presente trabalho teve como objetivo diagnosticar a presença de oocistos
do gênero Cryptosporidium nas fezes de suínos criados em granjas com sistema de
criação dos tipos familiar e tecnificada, localizadas nas Regiões Norte e Noroeste
Fluminense, realizar análise morfométrica destes oocistos e estudar os principais
fatores de risco associados à presença do parasito.
15
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 HISTÓRICO
Os protozoários do gênero Cryptosporidium foram observados pela primeira
vez no ano de 1907 pelo pesquisador Ernest Edward Tyzzer, em células das
glândulas gástricas de camundongos, cujo nome Cryptosporidium muris foi sugerido
para este novo protozoário, de apenas 7 e 5 µm de diâmetro maior (DM) e menor
(dm), respectivamente (TYZZER, 1907, apud SMITH et al., 2005). Três anos depois,
o ciclo do C. muris foi descrito pelo mesmo pesquisador e, em 1912, Tyzzer
encontrou um protozoário semelhante ao C. muris em células das vilosidades do
intestino delgado de camundongos de laboratório. No entanto, devido à sua diferente
localização e pelos oocistos serem um pouco menores, com cerca de 4 a 5 µm de
DM, ele sugeriu o nome de uma nova espécie para o gênero Cryptosporidium: C.
parvum (TYZZER, 1912, apud por XIAO et al., 2004). Porém, somente em 1955 este
gênero foi reconhecido como uma potencial causa de enfermidades, quando Slavin
(1995) associou sua presença a frangos com casos de diarréia.
O primeiro relato de caso em humanos foi descrito por Nime et al. (1976), nos
Estados Unidos da América (EUA) em uma criança de três anos de idade que
apresentava um quadro de enterocolite aguda e severa, na qual o protozoário foi
encontrado após a realização de uma biópsia retal. Os pesquisadores sugeriram que
Cryptosporidium spp. foi o provável causador da enfermidade, baseados nas
alterações patológicas do reto, associadas aos graves sinais clínicos.
Poucos casos foram relatados a partir de então até a década de 80
(SUNNOTEL et al., 2006). Nesta década os estudos sobre a criptosporidiose
ganharam um grande impulso, resultado da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(SIDA), uma emergente doença infecciosa que acometia os seres humanos
(CASEMORE et al., 1985). Em virtude do enfraquecimento do sistema imunológico
do indivíduo soropositivo, o protozoário se mostrou oportunista e causou casos
graves de diarréia profusa e morbidade (LAURENT et al., 1999). Inúmeros surtos
foram relatados em vários países ao redor do mundo nas cadas de 80 e 90
(FAYER et al., 2000), sendo que os três maiores surtos ocorreram nos EUA, todos
16
associados à ingestão de água contaminada. Em 1986, cerca de 12.960 pessoas
entraram em contato com o protozoário na cidade de Carrollton, Geórgia (HAYES et
al., 1989); outras 15.000 pessoas desenvolveram a enfermidade em Jackson
County, Oregon, no ano de 1992 (FROST et al., 1998); e o mais grave surto
registrado até hoje, que ocorreu em 1993 na cidade de Milwaukee, Wisconsin, onde
cerca de 403.000 pessoas (aproximadamente 25% do total de habitantes) foram
contaminadas pelo protozoário, das quais mais de 100 vieram a óbito,
principalmente idosos e pacientes soropositivos para o vírus HIV (MacKENZIE et al.,
1994). Na ocasião, foram gastos 31,7 milhões de dólares apenas em custos
médicos, sendo que o prejuízo total ao país chegou aos 96,2 milhões (CORSO et al.,
2003). A causa deste surto foi atribuída à contaminação de uma, das duas centrais
de abastecimento de água, que era responsável pela distribuição a
aproximadamente 800.000 habitantes da cidade (MacKENZIE et al., 1994).
Em 1977, Bergeland et al., apud de Graaf et al. (1999), e Kennedy et al.
(1977) relataram os primeiros casos de criptosporidiose suína. Estes últimos
observaram a presença do protozoário nas células epiteliais do intestino grosso de
três suínos durante uma necropsia. Além disso, relatou-se uma inflamação
moderada associada à infecção, porém sem sinais de enterite (KENNEDY et al.,
1977). Após estes primeiros relatos, a enfermidade passou a ser diagnosticada em
todo o mundo e, durante vários anos, a causa foi atribuída apenas ao C. parvum
(VITOVEC et al., 2006).
Somente em 1999 foi realizada a primeira caracterização molecular de
Cryptosporidium encontrados em suínos (MORGAN et al., 1999), identificando assim
dois tipos distintos de C. parvum, que diferiam tanto biologicamente quanto
geneticamente: um deles possuía o “genótipo suíno”, aparentemente espécie-
hospedeiro e que não produzia infecção em camundongos de laboratório, e um outro
que possuía o “genótipo bovino” que, por sua vez, produzia infecções nos
camundongos. Esta demonstração de infecção sugeria que os ratos poderiam atuar
como reservatórios e fontes de infecção para os suínos. Além disso, ficou provado
que os suínos também albergam o “genótipo bovino” de conhecido potencial
zoonótico, representando uma potencial fonte de infecção para humanos e animais
(MORGAN et al., 1999).
Em pesquisa posterior foram isolados dois tipos distintos do “genótipo suíno”
(RYAN et al., 2003): um deles era idêntico àquele identificado anteriormente por
17
Morgan et al. (1999), agora conhecido como Crypotosporidium genótipo suíno tipo I,
e um novo “genótipo suíno” que passou a ser chamado de Cryptosporidium genótipo
suíno tipo II. Das 28 amostras que puderam ser seqüenciadas neste estudo, os
genótipos suínos dos tipos I e II estavam presentes em números iguais (14 de cada).
No ano seguinte, Ryan et al. (2004) apresentaram justificativas de que o
Cryptosporidium genótipo suíno tipo I poderia ser considerado como uma nova
espécie. Este foi reconhecido, e passou então a ser uma espécie válida, conhecida
agora como C. suis.
2.2 GÊNERO Cryptosporidium
Cryptosporidium é um protozoário desprovido de flagelos e pseudópodes,
com oocistos de forma esferoidal a elipsóide, com diâmetros variando em média de
3,3 a 8,4 µm, pertencente ao Filo Apicomplexa, Classe Sporozoa, SubClasse
Coccidia e Família Cryptosporidiidae (ICZN, 2007). São parasitas intracelulares
obrigatórios, cujo desenvolvimento culmina na produção de um oocisto infectante
(Figura 1), que é eliminado juntamente com as fezes do hospedeiro. Estes oocistos
têm parede dupla, não possuem esporocistos, e apenas quatro esporozoítos livres
são observados em seu interior.
Figura 1: Oocisto de Cryptosporidium spp., de acordo com LINDSAY et al. (2000).
18
Os esporozoítos (Figura 2) têm em média 3,8 - 5,2 x 0,6 - 1,2 µm de
comprimento e largura, respectivamente, e possuem um formato de vírgula com
duas extremidades claramente distintas, nas quais a apical é estreita e a posterior é
arredondada. Possuem um único núcleo oval em sua porção posterior e vários
microtúbulos que percorrem o corpo do esporozoíto longitudinalmente, presos aos
anéis polares localizados na porção apical. Estes microtúbulos têm fundamental
importância na excistação e no âncoramento e invasão da célula alvo (SMITH et al.,
2005).
Figura 2: Esporozoíto de Cryptosporidium spp., adaptado de SMITH et al. (2005).
Até o presente momento são descritas 17 espécies de Cryptosporidium
(SUNNOTEL et al., 2006), cujos hospedeiros, locais de infecção e respectivos
tamanhos estão apresentados na Tabela 1.
19
Tabela 1: Caracterização de espécies de Cryptosporidium
1
.
Criptosporidium
spp.
Hospedeiro
Órgão / Tecido
Parasitado
Tamanho dos
oocistos (µm)
2
C. andersoni
Bovinos Abomaso 5,5 x 7,4
C. baileyi
Aves domésticas Bursa de Fabricius 4,8 x 6,4
C. bovis
Bovinos Intestino 4,6 x 4,9
C. canis
Cães Intestino 4,7 x 4,9
C. felis
Gatos Intestino 4,0 x 4,6
C. galli
Aves Proventrículo 6,3 x 8,5
C. hominis
Humanos Intestino 4,9 x 5,2
C. meleagridis
Aves silvestres Intestino 4,4 x 5,0
C. molnari
Peixes Estômago 4,5 x 4,7
C. muris
Roedores Estômago 4,6 x 8,4
C. nasorum
Peixes Intestino 4,5 x 4,7
C. parvum
Bovinos, Homem Intestino 4,5 x 5,0
C. saurophilum
Lagartos Intestino 4,7 x 5,0
C. scophithalmi
Peixes Intestino 3,0 x 5,0
C. serpentis
Serpentes Estômago 5,3 x 6,2
C. suis
Suínos Intestino 4,4 x 5,1
C. wrairi
Cobaio Intestino 4,6 x 5,4
1
segundo SUNNOTEL et al. (2006)
2
em média, dos diâmetros menor e maior respectivamente.
Os oocistos do gênero Cryptosporidium estão entre os menores estágios
exógenos do filo apicomplexa, cujo tamanho torna inviável a distinção entre espécies
baseando-se apenas em suas características morfológicas (FALL et al., 2003). Além
disso, a diferença entre tamanhos dos oocistos de espécies diferentes é muito
pequena ou nenhuma (FAYER et al., 2000).
Para o estabelecimento de uma nova espécie, pelo menos quatro condições
devem ser satisfeitas (RYAN et al., 2004): 1) devem ser realizados estudos
morfométricos; 2) o protozoário deve ser caracterizado geneticamente; 3) deve
haver uma demonstração de uma especificidade com um hospedeiro, natural ou
experimentalmente; e 4) estar de acordo com o Código Internacional de
Nomenclatura Zoológica.
20
2.3 CICLO BIOLÓGICO
O gênero Cryptosporidium possui um ciclo de vida monoxeno e eurixeno, que
inclui estágios de multiplicação assexual e de reprodução sexual (LAURENT et al.,
1999). A fase endógena é iniciada após a ingestão do oocisto e do rompimento de
sua parede devido às ações da temperatura e dos compostos gástricos, liberando os
esporozoítos que migram para as células do trato gastrintestinal (MULLER, 1999).
Este é englobado pela membrana celular, formando um vacúolo intracelular, porém
extracitoplasmático, no qual os esporozoítos se diferenciam em trofozoítos. Esta
peculiaridade de infecção confere grande proteção aos agentes antimicrobianos, ao
mesmo tempo em que é suprido de energia e nutrientes da célula hospedeira
(TZIPORI e WARD, 2002). No entanto, os mecanismos de penetração celular ainda
não estão completamente elucidados (ELLIOT et al., 2001).
Os trofozoítos se multiplicam por divisão do núcleo (esquizogonia), dando
origem a merontes multinucleados do tipo 1, formando seis a oito merozoítos no seu
interior que, após liberação, infectam as lulas adjacentes desenvolvendo-se em
novos merontes. Estes merozoítos também podem dar origem a merontes do tipo 2,
que por sua vez liberam quatro merozoítos que darão início ao ciclo sexuado
(gametogonia). Após infecção de novas lulas, ocorre diferenciação destes
merozoítos em macrogametócitos e em microgametócitos; estes sofrem divisão
nuclear, dando origem a vários microgametas que são liberados do vacúolo e
fertilizam, individualmente, um macrogametócito (SMITH et al., 2005). Em casos de
infecção mista, ou seja, infecções com mais de um genótipo de Cryptosporidium
spp. simultaneamente, existe a possibilidade de um microgameta de um genótipo
fertilizar um macrogametócito de outro genótipo diferente e, conseqüentemente
haver recombinação sexual, que origina novos genótipos contendo características
provenientes das duas linhagens parentais (FENG et al., 2002).
Após a formação do zigoto, ocorre um processo de divisão celular por meiose,
que forma quatro esporozoítos no seu interior, dando origem aos oocistos
esporulados, que são liberados na luz intestinal com capacidade de causar novas
infecções. Estes oocistos podem ser de parede espessa, que são eliminados para o
meio externo juntamente com as fezes do hospedeiro reiniciando a fase exógena do
ciclo (FAYER et al., 2000), ou de parede delgada, que podem romper-se no próprio
21
intestino do hospedeiro, causando uma auto-infecção (MULLER, 1999). Dessa forma
em pacientes imunossuprimidos, nos quais o sistema imunológico não tem forças
para combater a doença, o parasitismo pode permanecer por um longo período de
tempo sem que o indivíduo precise ser exposto novamente a um oocisto (de GRAAF
et al., 1999).
2.4 CRIPTOSPORIDIOSE
A criptosporidiose pode acometer os seres humanos e diversas espécies de
animais (GUSELLE et al., 2003), nas quais os protozoários parasitam, em sua
grande maioria, as lulas epiteliais do intestino delgado, causando a enfermidade
tanto em hospedeiros imunocompetentes como nos imunodeficientes
(BRACARENSE et al., 1999; RYAN et al., 2004). Porém, pesquisas demonstram que
pacientes imunossuprimidos, jovens e idosos são mais suscetíveis à parasitose
(SUNNOTEL et al., 2006). A principal sintomatologia clínica da criptosporidiose é
uma diarréia autolimitante que, se for prolongada, pode resultar em morbidade
grave, desidratação, anorexia, perda de peso, febre e nos casos mais graves, a
morte (LAURENT et al., 1999).
Esta doença, assim como a giardíase, pode ser considerada como a causa
mais comum de diarréia causada por protozoários em todo o mundo, tanto em
países desenvolvidos quanto aqueles em desenvolvimento (CACCIO et al., 2005). A
transmissão ocorre pela ingestão de oocistos através de comidas e águas
contaminadas, contato com pessoas ou animais infectados e superfícies
contaminadas (CACCIO et al., 2005; FAYER et al., 2000). Estes oocistos mantêm
sua infectividade no ambiente externo por vários meses, principalmente em águas e
ambientes com elevado grau de umidade (SUNNOTEL et al., 2006).
Widmer (1998) comprovou, através de técnicas de biologia molecular, que
uma mesma espécie de Cryptosporidium pode acometer humanos e animais, o que
torna o estudo epidemiológico da criptosporidiose um trabalho extremamente
complexo.
22
2.4.1 Criptosporidiose suína
Até o presente momento, três espécies de Cryptosporidium foram isoladas
de suínos: C. suis, C. parvum e C. muris, além do Cryptosporidium genótipo suíno
tipo II. Destas, as mais prevalentes em suínos são C. suis e Cryptosporidium
genótipo suíno tipo II (SUÁREZ-LUENGAS et al., 2007; XIAO et al., 2006). Zintl et al.
(2007) observaram que, de 29 amostras de fezes, 14 eram positivas para C. suis; 11
positivas para o “genótipo suíno” tipo II; 1 positiva para C. muris e 2 para C. parvum,
estes possuindo filogenia 99% homóloga a outros C. parvum isolados de bovinos,
ratos e seres humanos. Foi isolado ainda, de um único animal, um outro genótipo
ainda desconhecido que, de acordo com sua filogenia, é semelhante ao C. parvum.
De acordo com Fayer et al. (2000), os suínos podem ser considerados como
potenciais fontes de infecção para pessoas e outros animais que possam vir a ter
contato com suas fezes.
Quando ocorre de forma natural, a infecção geralmente se apresenta de
forma assintomática ou com poucas alterações clínicas no animal (QUÍLEZ et al.,
1996; VITOVEC et al., 2006). Por outro lado, estas infecções podem causar redução
no ganho de peso, principalmente nos animais mais jovens (BILIC e BILKEI, 2006),
e aumentar a suscetibilidade a outras infecções, pois, segundo Enemark et al.
(2003), não há dúvidas de que Cryptosporidium atua como um patógeno secundário,
agravando os quadros patológicos de etiologia multifatorial. Sinais clínicos, tais
como diarréia aquosa e anorexia foram observadas através de infecção
experimental, 4 a 6 dias pós-infecção por C. suis, em suínos de dois dias de idade
(ENEMARK et al., 2003).
Segundo Suárez-Luengas et al. (2007), a idade parece não influenciar na
infecção em suínos, ao contrário do que ocorre nos bovinos (SANTIN et al., 2004)
pois, em sua pesquisa, os autores diagnosticaram o parasitismo em animais de
todas as idades. No entanto, a idade do animal pode ter relação com o grau de
infecção apresentado. Guselle et al. (2003) realizaram coletas de fezes semanais de
33 suínos, desde o desmame até que alcançassem o peso de abate, aos seis meses
de idade. Os oocistos foram observados nas fezes de todos os animais da nona à
décima quinta semana de vida, em média, e o número de oocistos encontrados foi
reduzindo com o avançar da idade. Outra pesquisa demonstrou o auge da
23
eliminação de oocistos em animais de 4 a 10 semanas de vida e, assim como na
pesquisa citada anteriormente, o número de oocistos foi decrescendo à medida que
o animal envelhecia (ZINTL et al., 2007).
2.4.2 Criptosporidiose humana
A principal sintomatologia da criptosporidiose humana em hospedeiros
imunocompetentes é uma diarréia autolimitante durando cerca de 10 a 14 dias e,
caso o paciente tenha uma debilidade em seu sistema imunológico, a doença pode
assumir maiores proporções, com conseqüências mais graves como diarréias
aquosas, desidratação, dor abdominal, useas, febres, gastroenterites e morte
(LAURENT et al., 1999).
Entre os grupos de pessoas com mais riscos de adquirir a doença estão
crianças, idosos, portadores da SIDA e de outras doenças infecciosas,
transplantados, aqueles em tratamento com quimioterápicos e as que têm contato
próximo com animais que estejam eliminando oocistos nas fezes (FAYER et al.,
2000; SUNNOTEL et al., 2006).
Das 17 espécies reconhecidas de Cryptosporidium, pelo menos 7 delas
foram diagnosticadas em humanos (C. hominis, C. parvum, C. suis, C. felis, C.
muris, C. canis e C. meleagridis) e, dentre estas, o C. hominis e o C. parvum são as
mais comumente associadas à criptosporidiose humana (CACCIO et al., 2005;
MEAMAR et al., 2007). Na Inglaterra, de 2.414 casos confirmados, 41,7% foram
causados pelo C. hominis e 56,1% pelo C. parvum (LEONI et al., 2006). Em outro
estudo recente, de 58 crianças que apresentavam diarréia causada por
Cryptosporidium, em 47 (81%) foram identificadas C. hominis e em 7 delas (12,1%)
C. parvum foi isolado (AJJAMPUR et al., 2007).
A transmissão zoonótica é de primordial importância no estudo da
criptosporidose em humanos, uma vez que C. parvum é encontrado em uma ampla
variedade de espécies (XIAO et al., 2004). Os ciclos de transmissão entre humanos
e animais estão representados na figura 3.
24
ANIMAIS
HUMANOS
HUMANOS
ANIMAIS
Figura 3: Ciclos de transmissão da criptosporidiose entre humanos e animais, de
acordo com CACCIO et al., 2005. A seta tracejada representa as
transmissões menos comuns.
Em uma pesquisa realizada em Porto Alegre, RS, Brasil, foram entrevistados
91 médicos de diferentes especialidades através de questionários, na qual 83
(91,2%) admitiram necessitar de maiores conhecimentos sobre a doença
(WIEBBELLING et al., 2002). Dessa forma, acredita-se que os casos diagnosticados
da doença representam apenas uma pequena fração do total que ela realmente
ocorre (FAYER et al., 2000).
2.5 EPIDEMIOLOGIA
O gênero Cryptosporidium possui importantes características que influenciam
diretamente em sua epidemiologia, das quais podem ser citados: a pequena
quantidade de oocistos necessários para causar infecção (de um a dez oocistos são
suficientes, em média); a liberação de oocistos esporulados já infectantes pelo
hospedeiro e a sua estabilidade no ambiente (CACCIO et al., 2005).
Vários insetos foram relacionados à transmissão de oocistos (FAYER et al.,
2000). Em um estudo com moscas domésticas sob condições laboratoriais, Graczyk
et al. (1999) detectaram oocistos na superfície externa destas após terem contato
com fezes bovinas que continham oocistos de C. parvum. Resultado semelhante
também foi encontrado em abelhas por outros pesquisadores (MATHISON e
DITRICH, 1999). Zerpa e Huicho (1994), por sua vez, identificaram oocistos no trato
gastrintestinal de baratas, que foram encontradas no esgoto de uma casa onde
residia uma criança com criptosporidiose.
A dispersão dos oocistos pelo ambiente pode fazer com que a água e
alimentos utilizados no consumo humano venham a ser contaminados. A
C. parvum
C. hominis
C. suis, C. felis, C. muris
C. canis, C. meleagridis
25
contaminação de águas potáveis é uma das grandes preocupações em saúde
pública, visto que os maiores surtos de criptosporidiose já registrados foram devido a
essa forma de contaminação (LAURENT et al., 1999).
A água recreacional, como piscinas, onde várias pessoas têm acesso ao
mesmo tempo, também tem importante papel na epidemiologia da doença, pois
mesmo sob ótimas condições de manutenção, não é possível prevenir com
segurança a disseminação de oocistos na água, devido à sua resistência ao cloro
(CARPENTER et al., 1999).
Os alimentos podem ser contaminados de diversas formas tais como
utilização de água de irrigação contaminada, uso de fezes de animais positivos
como adubo, mãos de trabalhadores com pouca higiene, exposição ao ar em
plantações e mercados, entre outras (SMITH et al., 2007). A presença de oocistos
em alimentos já foi demonstrada em diversas pesquisas, nas quais sempre foi
ressaltada essa fundamental forma de transmissão (BIER, 1991; MONGE e
CHINCHILLA, 1996; SILVA et al., 2005). No Brasil, Silva et al. (2005) identificaram
oocistos em alfaces comercializadas in natura no Recife, PE, onde, de 12 unidades
estudadas, 4 (33,3%) continham oocistos de Cryptosporidium spp. em suas folhas.
A criação consorciada de animais de espécies diferentes se destaca devido
aos seus vários pontos positivos. Um exemplo de criação consorciada de
comprovado sucesso é a integração da suinocultura com a piscicultura, na qual se
aproveitam as fezes dos suínos nos tanques de peixes obtendo-se resultados
positivos em ambas as criações, tais como redução do impacto ambiental que é
provocado pelas fezes dos suínos, alimentação direta para os peixes, favorecimento
do crescimento do plâncton e fertilização natural e de baixo custo para o produtor
(PALHARES, 2005). Neste sistema, os suínos são preferencialmente criados em
instalações de piso ripado e construídos sobre os tanques, dos quais as fezes caem
diretamente na água (LOPERA-BARRERO et al., 2006). Entretanto, sabe-se que os
suínos são importantes reservatórios da criptosporidiose e que a presença de
animais positivos pode contribuir para a disseminação da doença para o ambiente e
outros animais.
Estudos relacionados à resistência dos oocistos sob diferentes condições de
temperatura revelam que, a 20ºC muitos oocistos permanecem infecciosos por até 6
meses, enquanto que, de 25 a 30ºC, sua infectividade é diminuída a apenas 3
meses (ANDERSON, 1985; FAYER et al., 1998). Tanto em altas (71,7ºC) quanto
26
baixas (-70ºC) temperaturas, os oocistos o destruídos em poucos segundos
(HARP et al., 1996).
2.6 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico comumente é feito através da observação direta dos oocistos
nas fezes dos animais. São utilizadas cnicas de centrífugo-flutuação em solução
saturada de sacarose seguida de microscopia de contraste-de-fase, e técnicas
colorimétricas, tais como Giemsa e Ziehl-Neelsen, que tem como princípio a
concentração por sedimentação (BOMFIM e LOPES, 1994). Entretanto, apesar de
detectarem com eficiência a presença dos oocistos nas fezes dos animais, estas
técnicas não possibilitam a identificação da espécie envolvida (SUNNOTEL et al.,
2006).
Para diferenciação das espécies de Cryptosporidium encontradas nas fezes é
necessária a realização de uma análise molecular dos oocistos, na qual seu DNA é
extraído e em seguida analisado geneticamente pelo método da Reação em Cadeia
pela Polimerase (PCR) (ENEMARK et al., 2003).
Outras técnicas, tais como o Ensaio Imunoabsorvente de Ligação de Enzimas
(ELISA), que detecta coproantígenos em fezes, e Imunofluorescência Direta (IFD),
que utiliza anticorpos monoclonais anti-Cryptosporidium marcados, também podem
ser utilizadas para o diagnóstico. No entanto, estas técnicas são pouco comuns em
países em desenvolvimento (SUNNOTEL et al., 2006).
2.7 TRATAMENTO E CONTROLE
Até o presente momento não existem drogas de efeito consistente para o
tratamento e controle da criptosporidiose humana e animal (MEAMAR et al., 2006).
O antiparasitário nitazoxanida foi aprovado recentemente nos EUA para o
tratamento da doença em pessoas imunocompetentes (SUNNOTEL et al., 2006),
entretanto o seu efeito em imunossuprimidos ainda não está claro (CDC, 2007).
27
Em criações de animais de produção devem ser adotadas medidas visando à
prevenção da parasitose, tais como isolamento dos animais doentes, evitar super
lotação, evitar fornecimento de alimentos in natura, não permitir contato com animais
de outras espécies, limpeza das instalações, amamentação do colostro, ter um
destino adequado para as fezes, higiene dos tratadores, entre outras (SESTI et al.,
1998). Tais medidas dificilmente irão erradicar a criptosporidiose da criação, porém
certamente vão contribuir para que a doença se mantenha em um baixo nível de
prevalência (MADDOX-HYTELL et al., 2006). Além disso, cuidados na manipulação
de alimentos são medidas igualmente importantes na prevenção da criptosporidiose
(de GRAAF et al., 1999).
28
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 LOCAIS DE EXECUÇÃO
3.1.1 Coleta do material fecal
Foram selecionadas, por conveniência, 10 granjas de criação de suínos das
Regiões Norte e Noroeste Fluminense, localizadas nos municípios de Campos dos
Goytacazes e Itaperuna, respectivamente, que possuíam sistema de criação do tipo
familiar ou tecnificada. Suas coordenadas foram obtidas por um aparelho de Sistema
de Posicionamento Global (GPS)
1
. Um total de 103 amostras foi coletado
diretamente do solo, após o animal defecar (VÍTOVEC et al., 2006), tendo-se o
cuidado de coletar as partes que não estivessem diretamente em contato com o
piso. Para tanto, foram utilizados sacos plásticos individuais que, após a coleta,
foram numerados, identificados e acondicionados em caixas isotérmicas para
transporte ao laboratório a 8-10
o
C.
3.1.2 Processamento do material fecal
O material coletado foi processado no Hospital Veterinário da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Setor de Clínica Médica do Laboratório
de Sanidade Animal, do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias.
1
eTrex GARMIN
®
29
3.2 ENTREVISTAS
Os proprietários e/ou responsáveis pelas propriedades foram entrevistados
através de questionários (Apêndice), com intuito de se avaliar o tipo de produção e
criação, além de possíveis fatores de risco associados à presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. nas fezes de suínos.
3.3 DIAGNÓSTICO
Para diagnóstico da presença de oocistos nas fezes coletadas de suínos,
foram utilizadas duas técnicas: a Técnica de Ziehl-Neelsen modificada (ZN-M), que é
uma técnica colorimétrica baseada em concentração por sedimentação (RITCHIE,
1948, modificada por ALLEN e RIDLEY, 1970), e a técnica de isolamento dos
oocistos através de centrífugo-flutuação (SHEATHER, 1923), com posterior
observação dos oocistos em microscopia óptica de Contraste de Fase (CF).
3.3.1 Tecnica de Ziehl-Neelsen modificada
Foram utilizadas três gramas
2
de fezes de cada animal; essas foram
acondicionadas em tubos plásticos tipo “Falcon” cônicos com tampa rosquiavel e
identificadas individualmente. Em seguida foram adicionadas 10 ml de solução de
formol a 10% em água destilada para fixação do material para posterior coloração.
As amostras foram filtradas em camada dupla de gaze onde o filtrado, cerca
de 7 a 8 ml de cada solução, foi transferido para novos tubos cônicos de 15 ml. A
estes foram adicionados 4 ml de éter etílico e a solução de cada tubo foi
homogeneizada em agitador de tubos tipo “Vortex”
3
, onde em seguida foram
2
Balança digital GEHAKA
®
BK3000
3
PHOENIX
®
AP 56
30
centrifugadas
4
a 500g por 10 minutos. Após esta etapa foram visualizadas quatro
diferentes fases, onde todo o sobrenadante de cada tubo foi descartado.
Os esfregaços em lâminas foram feitos a partir dos sedimentos restantes,
com o auxílio da parte romba de palitos de madeira, executando-se movimentos
circulares. As lâminas foram secas em temperatura ambiente por aproximadamente
duas horas. Após este período, foram fixadas com metanol absoluto por cinco
minutos e deixadas secar, inclinadas, por 15 minutos em temperatura ambiente.
Foi então colocada por sobre todas as lâminas, solução de fucsina
5
, por cinco
minutos, e em seguida, lavadas com álcool etílico a 50% e depois em água corrente.
As lâminas foram então submersas por duas a quatro vezes em álcool ácido a 1%
5
e
posteriormente, lavadas em água corrente. Finalmente uma solução de azul de
metileno
5
foi colocada por sobre as lâminas por três minutos; e estas foram
novamente lavadas em água corrente e secas à temperatura ambiente.
As lâminas coradas e secas foram montadas com duas gotas de bálsamo-do-
Canadá sintético
6
e lamínula que, após um período de secagem completa, foram
observadas em microscópio óptico em objetiva de 100x (imersão).
Os oocistos presentes nas laminas positivas foram submetidos à análise
morfométrica.
3.3.2 Concentração dos oocistos
De cada amostra foram diluídos 15 gramas de fezes em 50 ml de água
destilada
7
. Esta solução foi filtrada em camada dupla de gaze e posteriormente em
tamis com 325 malhas de aço por polegada, e o filtrado centrifugado em seguida por
10 minutos a 250g em tubos nicos de 50 ml. Após esta etapa o sobrenadante foi
descartado, e o sedimento ressuspendido em água destilada até alcançar um
volume de 25 ml; logo após foram adicionados 25 ml de solução de sacarose
6
(1,1g/ml) e depois de realizada a homogeneização da solução os tubos foram
novamente centrifugados a 250g por 20 minutos.
4
Centrífuga RDE
®
36-88
5
Conjunto para coloração de Ziehl Neelsen NEWPROO
6
VETEC
®
7
Destilador QUIMIS
®
Q341-25
31
Foram aspirados 4 ml do sobrenadante e pipetados em tubos cônicos para
centrífuga, onde foi adicionada água destilada para que fosse obtido o volume final
de 15 ml em cada tubo; esta solução foi centrifugada a 250g por 10 minutos e o
sobrenadante descartado logo em seguida. O sedimento foi então ressuspendido em
500 µl de água destilada, do qual foi extraída uma gota que foi examinada entre
lâmina e lamínula, em CF para a análise morfométrica dos oocistos.
3.4 MORFOMETRIA
A análise morfométrica dos oocistos foi realizada utilizando-se um
microscópio óptico binocular digital
8
e software de análise de imagens
9
, onde foram
mensurados o DM e o dm dos oocistos corados pela técnica de ZN-M e por CF. O
índice morfométrico (IM) foi obtido após divisão do DM sobre o dm.
3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para verificar a associação entre as variáveis foram utilizados o teste t, além
do teste estatístico do Chi-quadrado (χ
2
) ou Teste exato de Fischer para análise dos
fatores de risco, com intervalo de confiança de 95% (PIMENTEL GOMES, 2000).
8
Marca OPTON
®
, modelo TNB-04D
®
9
Microscopy Image Processing System-DN2
®
para Windows
®
32
4. RESULTADOS
4.1 DIAGNÓSTICO
Os resultados obtidos para o diagnóstico por ZN-M e CF (Figura 4) diferiram
significativamente (Tabela 2).
Figura 4: Oocistos de Cryptosporidium spp. isolados de fezes de suínos. Em A
e B, diagnóstico pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada com
setas indicando a parede do oocisto marcado pela fucsina. Em C e
D, diagnóstico em microscopia de Contraste de Fase com setas
evidenciando os núcleos dos esporozoítas.
33
Tabela 2: Diagnóstico da presença de oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de
suínos das Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2 a
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
b
Positiva
Negativa
Ziehl
-
Neelsen
modificada
32
(31,1%)
71
(68,9%)
18,747
<0,0001 1,821 1,377-2,407
Contraste
de Fase
64
(62,1%)
39
(37,9%)
a
Com correção de Yates.
b
Com aproximação de Katz.
4.2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO
Um total de 10 granjas de criação de suínos foi visitado, do qual cinco era de
sistema de produção do tipo familiar e cinco do tipo tecnificada (Figura 5; Tabela 3).
34
Figura 5: Granjas visitadas para pesquisa de oocistos de Cryptosporidium spp. em
fezes de suínos nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense, com destaque
para parte do município de Campos dos Goytacazes-RJ. Em A, B, C, D e
E, propriedades com sistema de produção do tipo Familiar; e em F, G, H, I
e J, propriedades do tipo Tecnificada.
35
Tabela 3: Diagnóstico da presença de oocisto de Cryptosporidium spp. em fezes
de suínos em propriedades das Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
1
número de amostras examinadas
2
Técnica de Ziehl-Neelsen modificada
3
microscopia óptica de Contraste de Fase
PROPRIEDADES
Cryptosporidium spp.
Sistema de
Criação
Coordenadas
n
1
Positivos
ZN-M
2
CF
3
A Familiar
21°45'37.24"S
41°17'27.46"O
10 8 (80%) 5 (50%)
B Familiar
21°45'37.39"S
41°17'31.81"O
10 5 (50%) 4 (40%)
C Familiar
21°45'38.35"S
41°17'25.53"O
10 5 (50%) 3 (30%)
D Familiar
21°44'26.35"S
41°20'39.07"O
10 2 (20%) 10 (100%)
E Familiar
21°44'24.63"S
41°20'41.69"O
10 0 8 (80%)
F Tecnificada
21°42'40.09"S
41°20'29.10"O
10 4 (40%) 9 (90%)
G Tecnificada
21°57'39.72"S
41°07'54.98"O
16 4 (25%) 13 (81%)
H Tecnificada
21°09'24.72"S
42°07'55.86"O
16 1 (6%) 5 (31%)
I Tecnificada
21°09'54.48"S
42°05'35.63"O
7 0 4 (57%)
J Tecnificada
21°06'36.30"S
41°56'44.15"O
4 3 (75%) 3 (75%)
TOTAL
103 32 (31,1%) 64 (62,1%)
36
4.2.1 Familiar
As propriedades familiares observadas neste estudo são criações rústicas de
suínos localizadas bem próximas às residências dos donos/criadores, ou dividindo o
mesmo terreno de suas casas. Em todas estas propriedades familiares visitadas não
há qualquer forma de acompanhamento veterinário. Os animais não são vacinados e
a everminação, quando ocorre, é esporádica e sem qualquer critério de intervalos
entre aplicações, princípios-ativos ou diagnóstico prévio das espécies de
parasitismo. Na alimentação são utilizados restos de alimentos hortifrutigranjeiros
obtidos de descarte de supermercados e do chão do mercado público municipal (que
após uma mistura são chamados popularmente de “lavagem”). Algumas criações
utilizam sobras de açougue e abatedouros incluindo sebo e ossos de bovinos e
vísceras de aves. Estes são cozidos em latões e depois de misturados são
oferecidos aos animais. Ocasionalmente são incluídos farelos de trigo às misturas,
mas nunca são utilizadas rações comerciais ou de fabricação própria.
Os suínos o separados em diferentes baias por sexo a partir do desmame,
porém, não uma divisão criteriosa entre as diversas faixas-etárias. Assim, os
animais jovens são separados dos adultos de acordo com a conveniência do
tratador. O estado geral destes animais encontrava-se de bom a regular, nos quais
os principais achados clínicos observados foram lesões de pele, diarréia e tosse.
Também foram observados alguns casos de prostração e alterações no Sistema
Nervoso Central (SNC).
Os dejetos eram eliminados no rio Paraíba do Sul sem qualquer tipo de
tratamento, juntamente com a água utilizada na lavagem das instalações. Os pisos
são de alvenaria e/ou terra, onde os animais têm acesso aos dois tipos de piso
quando presentes em uma mesma propriedade.
Devido ao fato destas criações se localizarem próximas a residências, é
comum a presença de pessoas alheias à produção no entorno das instalações,
incluindo crianças e adultos. Também é constante a presença de outras espécies de
animais tais como cães, gatos e aves, além de ratos que circulam com mais
intensidade durante a noite, segundo relatos dos próprios criadores.
Os animais o vendidos para o comércio local como açougues, mercados e
supermercados próximos, quando atingem cerca de 70 kg de peso.
37
4.2.2 Tecnificada
As propriedades tecnificadas estudadas nesta pesquisa são criações
empresariais ou pré-empresariais exclusivas para a criação de suínos, que
apresentam instalações adequadas para o desenvolvimento das atividades até a
terminação destes, com pisos de alvenaria predominante, presença de
acompanhamento veterinário e alimentação a base de ração comercial ou de
produção própria, mas com formulação técnica, e que durante a fase de creche são
suplementadas com coccidiostáticos. As fezes são destinadas a lagoas de
estabilização, construídas na maioria das propriedades visitadas.
Os animais são separados de acordo com sua faixa-etária da seguinte forma:
reprodutores e matrizes (utilizados em monta natural); maternidade; creche;
desmame; crescimento e terminação.
A vacinação é feita segundo a assistência veterinária e a everminação ocorre
ao desmame e quando o animal chega às baias de terminação. Os animais recebem
uma suplementação de Ferro (injetável) aos três dias de vida e no desmame, e
apresentavam-se saudáveis de uma forma geral. No entanto, alguns casos de
diarréia esporádicas em leitões foram relatados.
Apesar dos cuidados quanto à presença de outras pessoas, que não os
tratadores nas instalações, foi observada a presença de cães e gatos bem próximos
aos suínos em algumas destas propriedades.
Os animais são abatidos em frigoríficos e vendidos para açougues e
supermercados do município e cidades vizinhas ao final da fase de terminação.
4.2.3 Familiar x Tecnificada
Foi observada uma alta prevalência de Cryptosporidium spp. em fezes de
suínos em ambos os sistemas de criação, não havendo diferença significativa entre
elas nas duas técnicas de diagnóstico empregadas (Tabelas 4 e 5).
38
Tabela 4: Participação do sistema de criação na presença de Cryptosporidium spp.
em fezes de suínos localizadas nas Regiões Norte e Noroeste
Fluminense. Diagnóstico feito pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2 a
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
b
Positiva Negativa
Familiar
20
(40,0%)
30
(60,0%)
2,855
0,0911 0,7756 0,5926-1,015
Tecnificada
12
(29,3%)
41
(70,7%)
a
Com correção de Yates.
b
Com aproximação de Katz.
Tabela 5: Participação do sistema de criação na presença de Cryptosporidium spp.
em fezes de suínos localizadas nas Regiões Norte e Noroeste
Fluminense. Diagnóstico feito por centrifugo-flutuação em solução
saturada de sacarose e microscopia de Contraste de Fase.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2 a
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
b
Positiva
Negativa
Familiar
30
(60,0%)
20
(40,0%)
0,0533
0,8174 1,116 0,6801-1,831
Tecnificada
34
(64,1%)
19
(35,9%)
a
Com correção de Yates.
b
Com aproximação de Katz.
4.3 MORFOMETRIA
Foi constatado maiores dimensões dos oocistos observados em CF, quando
comparados com a Técnica de ZN-M. O índice morfométrico dos oocistos
diagnosticados por ZN-M ficou próximo de 1, diferindo estatisticamente do índice
morfométrico diagnosticado através de CF (Tabela 6).
39
Tabela 6: Medidas de oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense,
observadas através de microscópio óptico pela Técnica de Ziehl-Neelsen
modificada e por microscopia de Contraste de Fase.
a
valores entre parênteses são as medidas máximas e mínimas observadas
Teste t de student a 95% de intervalo de confiança
Foi observada uma correlação extremamente significativa entre as medidas
do DM e dm tanto para o diagnóstico por ZN-M como para CF (Figuras 6 e 7).
Técnica
n
Diâmetros (µm)
Índice Morfométrico
maior
menor
Ziehl-Neelsen
modificada
87
3,70±0,48
(5,04-3,01)
a
3,51±0,46
(4,70-2,88)
1,06±0,04
(1,17-1,00)
Contraste de
Fase
248
5,36±0,81
(7,08-3,23)
4,72±0,75
(6,92-3,03)
1,14±0,11
(1,56-1,00)
Valor de P
<0,0001
<0,0001
<0,0001
40
Figura 6: Correlação dos diâmetros maior e menor para 87 medidas de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações
localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense,
diagnosticado pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada, onde P
<0,0001, r = 0,9547 com intervalo de confiança de 95% (0,9311 a
0,9701) e R
2
= 0,9112.
Figura 7: Correlação dos diâmetros maior e menor para 248 medidas de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações
localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense,
diagnosticado por microscopia de Contraste de Fase, onde P
<0,0001, r = 0,8151 com intervalo de confiança de 95% (0,7685 a
0,8530) e R
2
= 0,6643.
DIÂMETRO MAIOR
Diâmetro menor
DIÂMETRO MAIOR
Diâmetro menor
41
Pela cnica de ZN-M, observou-se não haver diferença significativa no
tamanho dos oocistos, independentemente do sistema de criação (Tabela 7).
Tabela 7: Medidas de oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense, corados
pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada e observadas em microscópio
óptico.
Sistema de
criação
n
Diâmetros (
µm)
Índice
morfométrico
maior
menor
Familiar 54
3,66±0,50
(5,04-3,01)
a
3,45±0,46
(4,68-2,90)
1,06±0,01
(1,17-1,00)
Tecnificada 33
3,77±0,45
(4,75-3,07)
3,59±0,45
(4,70-2,88)
1,05±0,01
(1,15-1,00)
Valor de P 0,3147
0,1729
0,2543
a
valores entre parênteses são as medidas máximas e mínimas observadas
Teste t de student a 95% de intervalo de confiança
Em microscopia de CF, foi observada diferença significativa entre os
tamanhos dos oocistos nos diferentes sistemas de criações (Tabela 8).
42
Tabela 8: Medidas de oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense,
observados em microscopia de Contraste de Fase.
Sistema de
criação
n
Diâmetros (
µm)
Índice
morfométrico
maior
menor
Familiar 112
5,05±0,72
(6,66-3,23)
a
4,40±0,59
(5,79-3,03)
1,15±0,12
(1,53-1,00)
Tecnificada 136
5,61±0,79
(7,08-3,89)
4,98±0,77
(6,92-3,53)
1,13±0,11
(1,56-1,00)
Valor de P <0,0001 <0,0001 0,2041
a
Valores entre parênteses são as medidas máximas e mínimas observadas
Teste t de student a 95% de intervalo de confiança
4.4 FATORES DE RISCO
Nesta pesquisa foram avaliados levando-se em consideração a presença de
oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos criados nas regiões Norte e
Noroeste Fluminense, independente do sistema de criação.
43
4.4.1 Piso das instalações
Os pisos das instalações não representaram fatores de risco para a presença
de oocistos de Cryptosporidium spp. em ambas a técnicas utilizadas (Tabelas 9 e
10).
Tabela 9: Participação do tipo de piso das instalações na presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnostico pela Técnica de Ziehl-
Neelsen modificada.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
a
Positiva Negativa
Alvenaria 13 44
- 0,3747 1,188 0,8358-1,687
Terra
7 13
a
Com aproximação de Katz.
Tabela 10: Participação do tipo de piso das instalações na presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnostico por centrífugo-
flutuação em solução saturada de sacarose e microscopia de Contraste
de Fase.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
a
Positiva Negativa
Alvenaria 33 24
- 0,6089 1,203 0,6153-2,352
Terra
13 7
a
Com aproximação de Katz.
44
4.4.2 Número de animais na propriedade
A quantidade de animais presente nas criações, levando-se em consideração
propriedades com menos de 100 e mais de 100 animais, não foi considerada como
fator de risco em ambas as técnicas utilizadas para o diagnóstico (Tabelas 11 e 12).
Tabela 11: Participação do número de animais nas propriedades relacionado à
presença de oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico pela Técnica de Ziehl-Neelsen modificada.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
a
Positiva Negativa
Até 100 21 35
- 0,3845 0,8705 0,6562-1,155
Acima de
100
11 28
a
Com aproximação de Katz.
Tabela 12: Participação do número de animais nas propriedades relacionado à
presença de oocistos de Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de
criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Diagnostico por centrífugo-flutuação em solução saturada de sacarose e
microscopia de Contraste de Fase.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2 a
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
b
Positiva Negativa
Até 100 38 18
1,216
0,2701 0,7194 0,4380-1,181
Acima de
100
26 21
a
Com correção de Yates.
b
Com aproximação de Katz.
45
4.4.3 Presença de outros animais
Das 103 amostras de fezes examinadas pela Técnica de ZN-M, 32 foram
consideradas positivas e destas, apenas em uma não havia presença de outros
animais no entorno das instalações, o que determinou risco extremamente
significativo à presença de outros animais (Tabela 13).
Tabela 13: Participação de outras espécies de animais na presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnostico pela Técnica de
Ziehl-Neelsen modificada.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
a
Positiva Negativa
Sim 31 39
- <0,0001 0,5746 0,4623-0,7141
Não
1 32
a
Com aproximação de Katz.
Para as mesmas 103 amostras de fezes examinadas pela microscopia de CF,
a presença de outros animais perto das criações não foi considerada como fator de
risco (Tabela 14).
Tabela 14: Participação de outras espécies de animais na presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnostico por centrífugo-
flutuação em solução saturada de sacarose e microscopia de Contraste
de Fase.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2 a
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
b
Positiva Negativa
Sim 47 23
1,711
0,1908 0,6777 0,4169-1,101
Não
17 16
a
Com correção de Yates.
b
Com aproximação de Katz.
46
4.4.4 Presença de outras pessoas na criação
Quando se determinou o diagnóstico da presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. em fezes dos suínos pela Técnica de ZN-M, a presença de
pessoas alheias à criação foi determinante como fator de risco e quando o
diagnóstico foi feito em microscopia de CF para os mesmo critério, este não foi
considerado como fator de risco (Tabelas 15 e 16).
Tabela 15: Participação de pessoas alheias às criações na presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnostico pela Técnica de
Ziehl-Neelsen modificada.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
a
Positiva Negativa
Sim 24 32
- 0,0056 0,6886 0,5303-0,8942
Não
8 39
a
Com aproximação de Katz.
Tabela 16: Participação de pessoas alheias às criações na presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnostico por centrífugo-
flutuação em solução saturada de sacarose e microscopia de Contraste
de Fase.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2 a
Valor
de P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
b
Positiva Negativa
Sim 35 21
0,00691 0,9337
0,9792 0,5962-1,608
Não
29 18
a
Com correção de Yates.
b
Com aproximação de Katz.
47
4.4.5 Destino das fezes
O despejo das fezes no meio ambiente foi considerado como fator de risco
para a presença de Cryptosporidium spp. nas fezes dos suínos independentemente
dos métodos de diagnóstico utilizados (tabelas 17 e 18).
Tabela 17: Participação do destino dado às fezes na presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnostico pela Técnica de
Ziehl-Neelsen modificada.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2
Valor de
P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
a
Positiva Negativa
Lagoa de
estabilização
4 23
- 0,0141 1,407 1,132-1,749
Ambiente
28 48
a
Com aproximação de Katz.
Tabela 18: Participação do destino dado às fezes na presença de oocistos de
Cryptosporidium spp. em fezes de suínos de criações localizadas nas
Regiões Norte e Noroeste Fluminense. Diagnostico por centrífugo-
flutuação em solução saturada de sacarose e microscopia de Contraste
de Fase.
Variáveis
Criação
χ
χχ
χ
2
Valor
de P
Risco
relativo
(Rr)
Intervalo de
confiança
(95%)
a
Positiva Negativa
Lagoa de
estabilização
12 15
- 0,0376
1,759 1,097-2,822
Ambiente
52 24
a
Com aproximação de Katz.
48
5 DISCUSSÃO
5.1 DIAGNÓSTICO
A maior prevalência observada no diagnóstico por CF, 62,1%, contra 31,1%
pela cnica de ZN-M em suínos desta pesquisa (Tabelas 2 e 3)
independentemente do tipo de criação, provavelmente ocorreu devido a uma maior
concentração de oocistos quando as fezes são processadas por cnica de
centrífugo-flutuação em solução de sacarose, quando comparadas com técnicas de
concentração por sedimentação, que é utilizada na cnica de ZN-M. Esta tem
como desvantagem a grande quantidade de detritos fecais presentes no sedimento,
tornando a identificação muito mais difícil do que pelos procedimentos de flutuação
(De Carli, 1994), o que explica este menor percentual de diagnóstico de oocistos de
Cryptosporidium spp. encontrados por ZN-M, nas mesmas fezes examinadas em
CF. Garcia et al. (1983), ao compararem 15 técnicas de diagnóstico de
Cryptosporidium spp. em fezes humanas, inclusive ZN-M e CF, concluíram que o
ZN-M é a técnica recomendada para a realização do diagnóstico dos oocistos em
seres humanos. Entretanto, ficou demonstrada no presente estudo que há uma
maior dificuldade de observação dos oocistos em fezes de suínos por ZN-M,
provavelmente devido à diferente composição de suas fezes quando comparadas
com as dos seres humanos.
Pela Técnica de ZN-M, Suárez-Luengas et al. (2007) encontraram 22,5% de
suínos eliminando oocistos de Cryptosporidium spp. em suas fezes, de 15
propriedades diferentes. Outro estudo diagnosticou o protozoário em fezes de 21,9%
de 136 suínos estudados (QUÍLEZ et al. 1996). Estes resultados foram similares aos
encontrados nesta pesquisa, não somente pela percentagem de animais
parasitados, mas também pelo fato de que os autores não observaram casos
expressivos de diarréia nos plantéis, nem qualquer outro sintoma clínico que
pudesse ser associado à presença do parasita.
Pela técnica de observação em CF, uma pesquisa recente diagnosticou 12%
de suínos positivos para criptosporidiose, identificando a espécie C. parvum como a
mais prevalente entre estes animais (CHEN e HUANG, 2007).
49
Através de outras técnicas de diagnóstico, a criptosporidiose suína é relatada
com diversas taxas de prevalência em diversos países ao redor do mundo, com
positividade variando de 1,4% a 100% (ATWILL et al, 1997; GUSELLE et al. 2003;
RYAN et al. 2003; WIELER et al. 2001; YU e SEO, 2004; ZINTL et al. 2007). No
Brasil, entretanto, os dados ainda são muito escassos e os resultados até então
obtidos diferem dos encontrados no presente trabalho. Nishi et al. (2000) realizaram
um trabalho de identificação de parasitos intestinais de suínos nos estados de MG e
de SP, no qual foram identificados oocistos de Cryptosporidium spp. em apenas 2
(1,7%) amostras de MG e 32 (7,6%) de SP. Em outra pesquisa realizada em SP, de
174 leitões lactentes que apresentavam casos de diarréia, apenas 2 (1,2%)
amostras foram positivas para criptosporidiose. Como outros agentes patogênicos
também foram encontrados nestas fezes, a diarréia não pôde ser atribuída à
criptosporidiose (CALDERARO et al., 2001). Martins et al. (1993), apud Nishi et al.
(2000) analisaram somente fezes diarréicas de leitões, e encontraram 2,1% de
positividade. O baixo percentual observado por estes autores pode ter sido
decorrência de subdiagnóstico, pois em nenhuma destas pesquisas foram realizadas
técnicas de diagnóstico específicas para Cryptosporidium spp., e sim técnicas
genéricas com finalidade de descobrir quais eram os principais parasitas presentes
nestas criações. Outro estudo analisou 750 amostras de fezes de leitões, também
de SP, das quais 77 (10,27%) foram positivas, contendo oocistos de
Cryptosporidium spp. (COUTINHO et al., 2003).
5.2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO
Apesar das grandes diferenças quanto às instalações e manejo nos dois tipos
de propriedade, foi observada uma alta prevalência de oocistos em fezes dos suínos
em ambos os sistemas, que foram consideradas estatisticamente semelhantes
(Tabelas 4 e 5), independentes das técnicas de diagnóstico.
Resultado semelhante foi observado em pesquisa realizada por Coutinho et
al. (2003), na qual os suínos foram estudados em separado de acordo com o grau
de limpeza das granjas em bom, regular ou ruim, observando respectivamente
66,7%, 50,0% e 75,0% de positividade. Os autores concluíram que a
50
criptosporidiose ocorreu, independentemente do seu grau de limpeza. Os resultados
encontrados diferem, entretanto, de um estudo realizado por Xiao et al. (1994).
Neste, foram comparados dois diferentes sistemas de criação, dos quais um possuía
elevados padrões de higiene e o outro possuía padrões mais modestos. O resultado
obtido foi de que houve maior eliminação de oocistos no sistema em que havia
menores condições de higiene.
Tendo em vista estes resultados, a alta prevalência nestes sistemas
provavelmente está ocorrendo devido a uma ausência de diagnóstico prévio para
Cryptosporidium spp., que é inexistente em todas as criações visitadas nesta
pesquisa. Como não ocorre esta precaução, não isolamento dos animais que
estão eliminando oocistos nas suas fezes e assim, por mais cuidados que se tenha
quanto à higienização das instalações e administração de medicamentos, deve estar
havendo transmissão de oocistos entre os animais, que convenientemente estão
trocando de baias e se juntando a outros não-parasitados. Convém ressaltar que o
produtor não percebe que o animal está parasitado pelo protozoário, visto que a
criptosporidiose suína geralmente ocorre de maneira assintomática (VITOVEC et al.,
2006). Como não há medicação específica disponível, é imprescindível a descoberta
das baias onde se encontram animais positivos para isolamento de todos estes
animais, em virtude da impraticabilidade do diagnóstico individual dos suínos de uma
criação.
5.3 MORFOMETRIA
Foi verificada alteração no tamanho e forma dos oocistos de Cryptosporidium
spp. em relação ao método de diagnóstico, dados pela extrema diferença estatística
das medidas do DM, dm e IM (Tabela 6). Em pesquisa desenvolvida por Cardozo et
al. (2005) com oocistos de C. baileyi isolados em fezes de frangos de corte, os
oocistos tiveram alteração no tamanho, e não na forma, em cnica colorimétrica
(ZN-M) e centrífugo-flutuação em observação em campo brilhante. No entanto, os
oocistos corados tiveram tamanhos maiores que os concentrados em solução
saturada de açúcar diferentemente dos resultados da presente pesquisa, onde os
oocistos concentrados em solução de sacarose foram maiores que os corados.
51
Importante realçar que nas técnicas colorimétricas o material fecal é fixado em
formol a 10%, o que provavelmente diminuiu o tamanho dos oocistos da presente
pesquisa. Esta hipótese, no entanto, ainda precisa de confirmação.
A forma dos oocistos observados após coloração (ZN-M) teve aspectos mais
esferoidais, que foram confirmados pelo IM = 1,06 e r = 0,9547 e, quando
observados diretamente em CF, os oocistos foram mais elipsóides (IM= 1,15 e r =
0,8151), o que determinou a diferença estatística do IM. No entanto, dentro da
mesma técnica, a correlação positiva (Figuras 6 e 7) entre o DM e dm dos oocistos
permite inferir que mesmo de tamanhos diferentes, estes mantêm a
proporcionalidade de suas formas reforçando a hipótese de infecção mista. Segundo
Oliveira (2002), o valor de “r” e a distribuição espacial da relação do DM sobre o dm
(Figuras 6 e 7) é o melhor parâmetro para se avaliar a forma dos oocistos,
diferenças em uma mesma espécie e em espécies de um mesmo gênero.
Os tamanhos dos oocistos observados nesta pesquisa (Tabela 6) são
semelhantes aos encontrados por Bomfim e Lopes (1994), que observaram medidas
do DM: 3,20±0,01
µm
e dm: 3,10±0,10
µm
quando corados pela Técnica de ZN-M.
Não foi observada diferença no DM e dm mensurados após coloração em
relação aos sistemas de criação (Tabela 7), no entanto, ocorreram diferenças
observadas entre o DM e dm mensurados quando em CF (Tabela 8). Isto
provavelmente se deu devido à presença de espécies de Cryptosporidium em um
sistema e que não em outro, do qual o suíno seja o portador (XIAO et al., 2006). Os
resultados obtidos por CF sugerem que estes oocistos o menores quando
comparados com os encontrados por Bomfim e Lopes (1994), que observaram
medidas de 6,39±0,56
µ
m para o DM e 6,22±0,56
µ
m para o dm. Porém, são
semelhantes às mensurações de oocistos de espécies relatadas por outros
autores em suínos, tais como o C. suis (5,1 µm de DM e 4,6 µm de dm) e o C.
parvum (5,0 µm de DM e 4,5 µm de dm) (SUNNOTEL, et al., 2006).
A modificação no tamanho e não na forma dos oocistos mensurados após
coloração em ZN-M, provavelmente mascararam uma possível observação de
oocistos morfologicamente diferentes entre os diferentes sistemas de produção.
Com isso, pelos motivos apresentados, acredita-se que em suínos o diagnóstico por
microscopia em CF é uma técnica mais confiável que a Técnica de ZN-M. No
entanto, esta hipótese deve ser confirmada com a utilização de técnicas moleculares
de diagnóstico.
52
5.4 FATORES DE RISCO
O tipo de construção das baias (piso de alvenaria ou de terra) além do
número de animais por criações parece não exercer influência sobre a presença de
Cryptosporidium spp. nas fezes dos suínos, visto pela não observação de risco
relativo para estes parâmetros nesta pesquisa em ambas as técnicas de diagnóstico
(Tabelas 9 e 10). Estes resultados assemelham-se aos observados por Almeida
(2006) para alojamentos de bezerros, onde o tipo de construção não ofereceu risco
para a presença do parasita nas fezes dos animais. O número de animais da criação
também não pareceu ter influência sobre o diagnóstico do parasita nas fezes
(Tabelas 11 e 12), ao contrário do que tem sido observado em bovinos (GARBER et
al., 1994). Segundo Atwill et al. (1997), a maior densidade populacional em uma
criação tem uma relação direta na presença da criptosporidiose suína.
A presença de outros animais e de pessoas alheias à criação foi considerada
como fator de risco quando o diagnóstico foi feito em esfregaços de fezes coradas
pelo ZN-M (Tabelas 13 e 15), no entanto, quando o diagnóstico foi feito por exame
por microscopia em CF os resultados foram contrários, não havendo risco para estes
parâmetros em relação à presença de Cryptosporidium spp. nas fezes dos suínos
desta pesquisa (Tabelas 14 e 16). Como visto anteriormente, a pesquisa de oocistos
por microscopia em CF parece ser mais confiável e por isso, os resultados do risco
relativo em lâminas coradas, embora corroborando com os de Mohammed (1999)
para criações de bezerros, não podem ser confirmados nesta pesquisa.
Logo, o que realmente parece influenciar no diagnóstico de Cryptosporidium
spp. em fezes de suínos é o destino das fezes após a limpeza das instalações, uma
vez que este parâmetro foi considerado como de risco em ambas as técnicas de
diagnóstico (Tabelas 17 e 18). Os suínos possuem fezes altamente concentradas,
tendo na sua composição altos valores de matéria orgânica e nutrientes, além de
grande produção média diária de dejetos líquidos, da ordem de 8,6 litros/suíno nas
diferentes fases produtivas (MEDRI, 1997). Quando lançados no ambiente, estes
dejetos podem ser bastante prejudiciais. Hooda et al. (2000) alertam que o despejo
em rios acarreta rápida diminuição do oxigênio dissolvido, causando eutrofização e
conseqüente morte de diversas espécies aquáticas que são incapazes de sobreviver
neste ambiente. Segundo este mesmo autor, o principal responsável pela
53
contaminação poluente dos dejetos suínos não é a carga orgânica, e sim os
nutrientes presentes, tais como fósforo e nitrogênio. Além destes graves prejuízos
ambientais, é importante destacar os problemas relacionados à saúde pública, na
questão de disseminação de doenças (MEDRI e MEDRI, 2004), dentre elas a
criptosporidiose, como ficou demonstrado nos resultados do presente estudo,
relacionado ao fator de risco associado a esta prática. As principais conseqüências
são disseminação dos oocistos para outras localidades, possível disseminação para
outras espécies e maiores dificuldades de controle da parasitose. Portanto, é de
fundamental importância o tratamento adequado das fezes destes animais,
recomendando-se para isso, as lagoas de estabilização.
54
6 CONCLUSÕES
Após análise dos resultados da presença de Cryptosporidium spp. em fezes
de suínos de criações localizadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense, pelas
técnicas de ZN-M e microscopia de CF, pode-se concluir que:
1. Cryptosporidium spp. ocorrem de maneira enzoótica independente
do sistema de criação;
2. A cnica de ZN-M acarretou modificações no tamanho e não na
forma dos oocistos;
3. O diagnóstico de oocistos de Cryptosporidium spp. em microscopia
de CF após centrífugo-flutuação em solução de sacarose foi mais
efetivo que a técnica de ZN-M;
4. A deposição das fezes no ambiente, após limpeza das instalações,
foi o principal fator de risco da ocorrência de Cryptosporidium spp.
55
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64
APÊNDICE
Nº____
QUESTIONÁRIO EPIDEMIOLÓGICO PARA
CRIPTOSPORIDIOSE EM SUÍNOS
Data:___/___/___
Nome:__________________________ Raças:_______________________________
Local:__________________________________________________________________
Nº de animais:__________ Nº de amostras coletadas:__________________________
1. INSTALAÇÕES
Água: ( ) Torneira
( ) Filtrada
( ) ___________
Tipo de piso:_______________________________________________________
Banheiros: ( ) Fossa
( ) Céu aberto
Além dos tratadores, há acesso de outras pessoas? ( ) Sim
( ) Não
Outros animais? ( ) Cães
( ) Gatos
( ) _______________________
Histórico de ratos? ( ) Sim Qual frequência? _________
( ) Não
2. MANEJO
Sistema de produção: ( ) Empresarial
( ) Pré-empresarial
( ) Familiar
Sistema de manejo: ( ) Intensivo
( ) Semi-intensivo
( ) Extensivo
65
Dias de desmame: _________
Idade de abate: _________
Peso de abate:________
Alimentação: ( ) Ração
( ) Comida caseira
( ) Ambos
Destino dos dejetos:_________________________________________________
3. SANIDADE
Vacinação: ( ) Sim Quais:________________________________________
( ) Não
Everminação: ( ) Sim Quais:_______________________________________
( ) Não
Outros medicamentos administrados:_____________________________________
Quadros esporádicos de: ( ) Diarréia
( ) Vômito
Presença de ectoparasitos? ( ) Sim Quais:_____________________________
( ) Não
Estado geral: ( ) Saudáveis
( ) Bom
( ) Regular
Achados clínicos gerais:
( ) Febre ( ) Anorexia ( ) Diarréia
( ) Vômito ( ) Lesões de pele ( ) Alterações no SNC
( ) Prostração ( ) Desidratação ( ) Outros
____________________________________
Autorizo a utilização das fezes destes animais para fins de estudos científicos,
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