RESUMO
HARTWIG, A. M. E. A pérola negra regressa ao ventre da ostra: Wilson Simonal em
suas relações com indústria cultural (1963 a 1971). 157p. 2008. Dissertação (Mestrado
em História) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Orientadora profª Drª Sarah
Iurkiv Gomes
Este estudo tem como propósito problematizar a música que, se por um lado, embala
momentos e emoções, por outro, possibilita ao historiador se aproximar de contextos sócio-
históricos determinados ou de conjunturas específicas, tendo como base a premissa de que o
processo que perpassa a produção de um artista, ou de uma música, relaciona-se com certos
momentos históricos. Diante do exposto, explicita-se que, se esta Dissertação tem como
questão central a construção de um artista, ou seja, Wilson Simonal, não se trata de uma
biografia, ou de uma digressão determinista sobre mass media, mas, tendo com fundamento
um estudo de caso, consiste, isto sim, numa análise acerca das relações estabelecidas entre
aquela que se convencionou designar Indústria Cultural e o artista. Artista este, apreendido
enquanto sujeito, tendo em vista as várias formas pelas quais sua vivência, sua experiência,
interfere na conformação peculiar de sua imagem de consumo e nos desdobramentos de sua
carreira. Em síntese, pondera-se, neste trabalho, sobre um intérprete e sua trajetória que,
podendo ser apreendido meramente como mercadoria, instrumento de veiculação da
infalibilidade dos valores burgueses e, em consonância, naquele momento particular, de
legitimação de uma forma determinada de Estado, denota, através de atitudes aparentemente,
ou efetivamente, contraditórias, ao longo de sua vida pública, sua atuação enquanto sujeito.
Outrossim, tendo sido instrumento do sistema, também tira proveito dos ventos que sopram a
favor. A circunscrição temporal desta pesquisa remete aos anos entre 1963 a 1971,
demarcando, em linhas gerais, o golpe civil-militar de 1964 e o subseqüente recrudescimento
de um Regime de Força no país. No que tange a Simonal, torna-se, neste período, um artista
de sucesso, gozando de expressiva popularidade. Considera-se que sua proximidade com os
militares, os investimentos de multinacionais em sua carreira e a imagem construída como
sendo herói das classes trabalhadoras, expressam um projeto das classes dominantes, no
qual, através dos meios viabilizados pela indústria cultural, legitima-se o Regime e
fundamentalmente, afirma-se o capitalismo enquanto formação sócio-econômica ideal.
Passado o momento em que além de mercadorias, Simonal é capaz de vender ideologias,
outros ídolos tomam seu lugar. A indústria cultural produz efemérides. Para o artista/sujeito
ser relegado ao ostracismo assume contornos de conspiração; para setores do meio artístico e
intelectual vislumbrar em Simonal um informante do Regime, justifica o menosprezo de que o
artista passa a ser alvo. São apenas exemplos, dentre outros possíveis, de como um mesmo
episódio pode ser lembrado de maneiras diferentes, numa relação direta com o lugar de onde
se fale. Concluindo, as fontes examinadas não permitem estabelecer uma conexão direta entre
as acusações que atingem Simonal e a decadência de sua carreira, sequer é este o objetivo
deste estudo, todavia, por possibilitarem perceber que o ícone do brasileiro que deu certo cai
rapidamente no esquecimento, faz ponderar sobre a constituição das memórias ou de
estruturas de esquecimento.
Palavras chave: Wilson Simonal – Música - Indústria Cultural – Regime Militar