Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
SIMONE GONÇALVES VASCONCELOS
COMUNICAÇÃO ENTRE MÃE-FILHO EM ALOJAMENTO CONJUNTO À LUZ
DOS FATORES PROXÊMICOS
FORTALEZA
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
2
SIMONE GONÇALVES VASCONCELOS
COMUNICAÇÃO ENTRE MÃE-FILHO EM ALOJAMENTO CONJUNTO A LUZ
DOS FATORES PROXÊMICOS
Dissertação submetida à Coordenação do Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre em Enfermagem, Área de
Concentração Enfermagem Clínico-Cirúrgica.
Orientadora: Profa. Dra. Marli T. Gimeniz Galvão
FORTALEZA
2006
ads:
3
3
SIMONE GONÇALVES VASCONCELOS
COMUNICAÇÃO ENTRE MÃE-FILHO EM ALOJAMENTO CONJUNTO À LUZ
DOS FATORES PROXÊMICOS
Dissertação submetida à Coordenação do Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre em Enfermagem- Área de
Concentração Enfermagem Clínico-Cirúrgica.
Aprovada em: 29 de agosto de 2006
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Profa. Dra. Marli Teresinha Gimeniz Galvão (Presidente)
Universidade Federal do Ceará - UFC
______________________________________________
Dra. Namie Okino Sawada (Examinadora)
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
_____________________________________________
Dr. Paulo César de Almeida (Examinador)
Universidade Estadual do Ceará - UECE
___________________________________________
Profª Drª Maria Vera Lúcia Leitão Cardoso
Universidade Federal do Ceará - UFC (Examinadora Suplente)
4
4
Investigação inserida no Grupo de Pesquisa Auto-Ajuda para o cuidado –CNPq,
do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.
A pesquisadora contou com bolsa de apoio financeiro concedido pela FUNCAP
– Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
5
5
Dedicatória
À minha mãe Horiza, por ter-me incentivado na busca do crescimento
profissional. Graças a ela, sou uma pessoa mais realizada e feliz.
Ao meu marido, Gerson, pelo apoio em todas as decisões importantes para
alcançar este grande objetivo, sempre compreensivo nos momentos em que precisei doar-
me mais aos estudos que a ele próprio.
Aos meus filhos Luiz Gerson Neto e Luiz Gustavo, grandes fontes de incentivo
e onde eu sempre encontrei a certeza de que a caminhada valia a pena.
Em especial à minha orientadora, Profa. Dra. Marli Teresinha, que com seu
extremo compromisso com a docência e a enfermagem, conseguiu me perceber no meu
ambiente de trabalho e se empenhou decisivamente no meu crescimento, fazendo uma
enfermagem mais crítica e atuante. Sem ela este sonho não teria sequer começado.
6
6
Agradecimentos
A Deus, por me fazer capaz de alcançar a graça desta importante conquista.
Aos professores da pós-graduação em enfermagem, que dividiram comigo seu
grande arsenal de conhecimentos e contribuíram direta e indiretamente para a conclusão
desta pesquisa.
Às pacientes que concordaram em participar deste estudo, pois sem o seu aceite
estes achados não seriam alcançados e não poderiam contribuir para uma enfermagem
melhor.
Aos profissionais e estudantes que fizeram o papel de juízes nas duas fases
quando se fez necessária à presença deles com seus conhecimentos, pois tornaram o
trabalho mais rico.
Ao LabCom_Saúde, do Departamento de Enfermagem da UFC, notadamente à
coordenadora Profª Lorita Freitag Pagliuca pelo desenvolvimento da proposta até a
implantação do laboratório, a qual, este se apóia na construção das mais diversas
investigações de comunicação em saúde e, especificamente na área de enfermagem.
Ao Professor Paulo César, que sempre esteve apto a me ajudar nas analises
estatísticas de forma atenciosa.
7
7
RESUMO
Proxemia representa neologismo para designar o conjunto das observações e teorias
referentes ao uso que o homem faz do seu espaço, constituindo-se uma modalidade de
comunicação não-verbal. A comunicação proxêmica estuda o significado social do espaço,
ou seja, estuda como o homem estrutura inconscientemente o próprio espaço. Neste estudo
aborda-se a comunicação proxêmica entre mãe-filho em alojamento conjunto. Faz-se um
julgamento comparativo entre binômios com sorologia negativa e positiva para o HIV.
Como objetivo geral, menciona-se analisar as interações entre mãe-filho durante a troca de
fraldas do bebê em alojamento conjunto, à luz dos fatores proxêmicos. Desenvolveu-se um
estudo exploratório, descritivo e quantitativo entre dezembro de 2005 e fevereiro de 2006
em unidade de alojamento conjunto de uma Maternidade pública de Fortaleza-CE,
utilizando-se filmagens para avaliar a comunicação. As filmagens foram realizadas em sala
do alojamento conjunto, durante as primeiras 48 horas de vida do recém-nascido, onde se
executa a antropometria, a troca de fraldas, o banho e a vacinação dos recém-nascidos. A
população constituiu-se de uma amostra de conveniência de um grupo de binômio (G1
n=5), no qual a mãe não apresenta sorologia positiva para o HIV, e um segundo grupo (G2
n=3) em que a mãe tinha conhecimento da sorologia positiva para o HIV, antes do parto.
Pelas filmagens registraram-se as cenas do momento da troca de fraldas dos bebês. Estas
foram analisadas por juizes, obedecendo-se o referencial teórico de Hall (1986) sobre a
comunicação proxêmica. À medida que se observou repetição dos componentes da
comunicação proxêmica, elas foram finalizadas. Para análise utilizou-se um roteiro
previamente elaborado, que constava de fatores proxêmicos: tom de voz, distância,
comportamento de contato e contato visual. De acordo com os dados, encontrou-se
associação estatística nos fatores código visual e tom de voz. Houve concordância absoluta
entre os juízes no fator postura. Entretanto, dados relativos (%) permitem inferir algumas
suposições, como as seguintes: a situação de troca de fraldas não foi o momento em que as
mães demonstraram carinho com seus filhos; houve a presença de um número elevado de
interações em eixo lateral; o olhar direcionado ao interlocutor manteve margem próxima
do desviado; a maioria das interações encontradas com o eixo sociopeto pode refletir na
necessidade de a mãe ficar próxima do filho para a troca e a presença do silêncio no
procedimento. Estudos poderão ser desenvolvidos com vistas a ampliar o processo de
avaliação da comunicação nas fases iniciais da vida, pois o conhecimento do processo
comunicativo entre mãe e filho pode auxiliar no julgamento da validade da implementação
de esforços para torná-la o mais saudável possível desde as primeiras horas pós-parto,
especialmente em pacientes com HIV/aids, os quais têm uma história de vida peculiar,
marcada por episódios dolorosos diante dos infortúnios da doença e das incertezas quanto
ao seu prognóstico.
Palavras-chave: Comunicação. Comportamento Espacial. Alojamento Conjunto.
8
8
ABSTRACT
Proxemics is a neologism which designates the set of observations and theories relating
to the use man makes of his space, comprising a form of non-verbal communication.
Proxemic communication studies the social meaning of space, that is, it studies how
man unconsciously structures his own space. In this research, proxemic communication
between mother and child in shared accommodation is approached. A comparative
judgment is made between binomes with negative and positive blood test results for
HIV, the general objective being analysis of mother-child interactions during diaper-
changing of babies in shared accommodation, in the light of proxemic factors. A
descriptive and quantitative exploratory study was undertaken, between December 2005
and February 2006, in a shared accommodation unit of a public maternity hospital in
Fortaleza, Ceará, Brazil, using video footage to evaluate communication. Filming was
performed in shared accommodation rooms, during the first 48 hours of life of neonates,
in which anthropometrics, diaper-changing, bathing and vaccination of newborns take
place. The population comprised a convenient sample of a binome group (G1; n=5), in
which the mother does not test positively for HIV and a second group (G2, n=3) in
which the mother was aware of positive blood test result for HIV, prior to childbirth.
Footage filmed at time of diaper changes was analyzed by judges, in compliance with
the theoretical benchmark of Hall (1986) regarding proxemic communication and
scenes were finalized when repetition of proxemic communication components was
observed. For analysis, a previously-prepared script was used, noting proxemic factors:
tone of voice, distance, contact behavior and visual contact. According to the data, a
statistical difference was generated for visual code and tone of voice factors. There was
absolute concordance amongst judges for the posture factor. Nevertheless, relative data
(%) permit inference of certain assumptions, notably: the “diaper-change” situation was
not the moment in which mothers demonstrated affection for their children; the
presence of a high number of interactions on a lateral axis; gaze directed to interlocutor
maintained a margin close to averted; most interactions found with sociopetal axis may
reflect need for mother to remain close to child for the change and the need for silence
during procedure. Studies may be undertaken with a view to expanding the process of
evaluation of communication in initial phases of life, as knowledge of the
communicative process between mother and child may assist in judgment of validity of
implementation of efforts to make it as healthy as possible from the first hours
postpartum, especially as patients with HIV/AIDS have a particular life story, marked
by painful episodes in view of the disease’s symptoms and the uncertainty regarding
prognosis.
Key words: communication; proxemics; shared accommodation.
Key-words: Behavior. Spatial Behavior.Rooming-in Care.
9
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição do número de participantes, segundo as
características. Fortaleza-CE, janeiro a fevereiro/2006 41
Tabela 2 - Distribuição do número das características observadas entre os
grupos (G1 + G2). Fortaleza-CE, janeiro a fevereiro/2006 42
Tabela 3 - Associação entre as variáveis grupo e fatores proxêmicos.
Fortaleza-CE, janeiro a fevereiro/2006 45
Tabela 4 - Análise de concordância entre os juízes e os fatores
proxêmicos. Fortaleza-CE
46
10
1
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACTG 076- Protocol 076 of the Aids Clinical Trial Group
Aids- Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
ARV- anti-retroviral
AZT- Zidovudina
CDC- Centers for Disease Control and Prevention
CEP- Comitê de Ética em Pesquisa
FUNCAP – Fundação cearense de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico
G1- Grupo 1
G2- Grupo 2
HIV- Vírus da Imunodeficiência Humana
MS- Ministério da Saúde
RN - Recém-Nascido
SESA-CE - Secretaria da Saúde do Ceará
TV- Transmissão Vertical
UFC- Universidade Federal do Ceará
11
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
12
1.1 Aspectos gerais da comunicação 12
1.2 Proxemia como modelo de comunicação 14
1.3 A infecção pelo HIV/aids 21
1.4 Justificativa do estudo 26
2 OBJETIVOS
30
2.1 Objetivo geral 30
2.2 Objetivos específicos 30
3 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
31
3.1 Tipo de estudo
31
3.2 Ambiente da pesquisa
31
3.3 População
32
3.4 Amostra
33
3.5 Coleta de dados
34
3.5.1 Período 34
3.5.2 Operacionalização da coleta de dados 34
3.6 Instrumento de análise dos dados 35
3.7 Análise estatística 37
3.8 Análise das filmagens 38
4 Aspectos éticos
39
4 RESULTADOS
41
4.1 Apresentação dos dados
41
5 DISCUSSÃO
48
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
57
7 REFERÊNCIAS
60
APÊNDICES
ANEXOS
12
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Aspectos gerais da comunicação
Como parte da sociedade, nossos atos diários estão condicionados pelas
informações determinadas pelos membros que a compõem. A informação e as mensagens
envolvem a todos, convertendo-nos em receptores e geradores de novas mensagens. Desta
forma, o processo de comunicação é inevitável, pois diariamente nos envolvemos em
situações que requerem nossa participação consciente ou intencional (ADLER; TOWNE,
2002).
Ademais, a comunicação constitui o fundamento cultural da pessoa humana, e
mais que isso, da própria vida (HALL, 1986).
Etimologicamente, a palavra comunicar vem do latim, “communicare”, cujo
significado é pôr em comum (MENDES,1994), tornar comum, fazer saber, participar,
comunicar idéias, pensamentos, propósitos, estabelecer relação, difundir, entre outros
(FERREIRA, 1993, p. 134)
O processo de comunicação se constitui em instrumento básico da experiência
social. Assim, para haver comunicação deve haver compreensão, pois, desse modo, as
idéias, imagens, experiências serão colocadas em comum.
Segundo informa Bordenave (1997), comunicação serve para que as pessoas se
relacionem e transformem-se mutuamente, pois compartilham experiências, idéias e
sentimentos. Como elementos básicos da comunicação este autor menciona: a situação em
que esta ocorre e sobre a qual tem efeito transformador; os interlocutores que dela
participam; as mensagens compartilhadas; os signos que utiliza para representá-los e os
meios que emprega para transmiti-los.
Na opinião de Santos(2003), o ato da comunicação se compara ao ato de
respirar: o ser humano não pára de se comunicar. Este é um processo ininterrupto,
complexo e multifacetado.
Comunicar é o processo de transmitir por meio de signos, sejam eles símbolos
ou sinais, verbais ou não-verbais. A comunicação é básica no relacionamento interpessoal
e fundamental para o desenvolvimento da personalidade do homem. Por meio dela o
homem desenvolve suas relações, experiências sociais e difunde sua cultura. Comunicar
13
1
também é compartilhar mensagens, idéias, sentimentos e emoções, podendo influenciar o
comportamento das pessoas que, por sua vez, reagirão a partir de suas crenças, valores,
história de vida e cultura (SILVA; BRASIL; GUIMARÃES et al., 2000).
O ser humano emprega a comunicação para expressar idéias e sentimentos,
orientar-se, coagir, narrar histórias, persuadir, exercer controle, conectar-se ao mundo,
manipular, transmitir conhecimento, organizar pensamento e suas atitudes. Portanto a
comunicação pressupõe sempre alguma forma de interação entre os seres humanos
(SANTOS, 2003, p. 9).
Particularmente tratando-se da mãe e do bebê o estabelecimento de
relacionamento e comunicação inatos à natureza humana propiciam tanto a um quanto ao
outro condições de adaptações às mudanças ocorridas no contexto do nascimento e parto,
visto que nem sempre isso ocorre de forma instantânea, mas é fruto de um processo
contínuo.
A comunicação se estabelece em diferentes níveis simultaneamente, a variar do
plenamente consciente ao inconsciente (HALL, 1986). No caso da comunicação não-
verbal, por vezes é usada inconscientemente, e tem forte influência sobre o que se deseja
expressar, a ponto de modificar o que está sendo dito, isto é, contrapondo-se à
comunicação verbal.
14
1
1.2 Proxemia como modelo de comunicação
Desde os primeiros momentos da vida, o ser humano interage com duas
variáveis básicas: tempo e espaço. É impossível ao homem ficar indiferente a elas, mesmo
que o desejasse.
O homem não só se relaciona com o espaço, mas adota um conjunto de
posturas e atitudes harmônicas em relação a ele. Isto lhe permite inferir várias
características (FARIAS, 2005). Como afirma Sommer(2004), os espaços pessoais podem
ser vistos como um mecanismo de fronteiras interpessoais que serve basicamente a dois
conjuntos de propósitos: proteção e comunicação.
De acordo com Goffman(1971), as relações entre o ambiente e o
comportamento humano demonstram que a configuração espacial dos próprios
comportamentos tende a definir-se de um modo pormenorizado e preciso, segundo regras
próprias. Somam-se a estes elementos as informações descritas por Hall (1986), ao referir
que as diferentes culturas existentes ao redor do mundo utilizam o tempo e o espaço de
maneiras distintas. Enquanto o sentido de espaço e de distância é estático, a percepção de
espaço é dinâmica em virtude de se encontrar ligado à ação mais do que aquilo que pode
ser visto por contemplação passiva.
O exemplo de cultura e espaço pode ser mostrado por diferentes experiências,
associadas à classe social, família e indivíduo. Hall (1994), ao descrever os padrões
formais do espaço, refere que a padronização formal dos espaços pode ter diversos graus
de importância e complexidade, de acordo com as culturas. Cita o caso da América, onde
nenhuma direção tem primazia sobre outra, exceto num sentido técnico ou funcional.
Noutras culturas, certas orientações são sagradas ou preferidas. Conforme descreve este
autor, as portas das casas dos navajos são viradas para o oeste, as mesquitas dos
muçulmanos estão orientadas para Meca e a dos americanos não segue nenhuma
orientação, pois eles apenas observam um sentido técnico formal e sem qualquer
preferência.
Quanto ao modo de comunicação do espaço, como enfatizado por Hall(1994),
as mudanças de espaço dão o tom e o acento à comunicação, sobrepondo-se mesmo, por
vezes, à palavra falada.
15
1
No processo de comunicação, o fluxo de palavras e a alteração da distância
entre pessoas em interação são elementos essenciais. A distância que normalmente se
mantém ao conversar com pessoas estranhas é um exemplo da importância da dinâmica da
interação espacial. Neste exemplo, há reação instantânea de recuo, ou seja, há alteração da
distância, enquanto, diante de um indivíduo conhecido, a reação é de aproximação.
Segundo se depreende do exposto, os diversos sinais da comunicação não-
verbal, principalmente a distância e a postura, possuem uma característica em comum: são
elementos espaciais. Pesquisadores afirmam que os sinais espaciais constituem importantes
fontes de informações acerca do modo como os indivíduos entram em relação uns com os
outros e com o ambiente na sua totalidade. Assim, pode-se supor que o tipo de interação
está vinculado à comunicação utilizada no espaço (HALL, 1986; HALL, 1994; BITTI,
1977). Sob esta premissa do comportamento espacial do homem no seu ambiente, surge a
Teoria Proxêmica.
Eduard Hall, após diversos estudos sob a ótica antropológica envolvendo
diferentes experimentos animais, além das observações humanas sobre a forma como os
seres se comunicam em seu território, sistematizou um conjunto de informações
relacionadas ao comportamento espacial do homem. Este conjunto tem como premissa a
cultura humana (HALL, 1986; HALL, 1994).
Desta forma surgiu o termo proxemia. Trata-se de um neologismo criado por
Hall para designar o conjunto das observações e teorias referentes ao uso que o homem faz
do seu espaço (HALL, 1986), constituindo-se uma modalidade de comunicação não-verbal
(LITTLEJOHN, 1998).
Portanto a comunicação proxêmica estuda o significado social do espaço, ou
seja, estuda como o homem estrutura inconscientemente o próprio espaço (GALVÃO,
2006; SAWADA et al., 2000; HALL, 1986).
O espaço pessoal também tem influência na comunicação. Como já descrito, a
distância que se mantem entre um indivíduo e outro pode influenciar ou mesmo definir o
tipo de relacionamento a ser mantido (STEFANELLI, 1992).
Conforme reforçado por determinados pesquisadores, um dos aspectos
fundamentais a ser levado em conta na comunicação entre as pessoas é o seu espaço
pessoal e territorial atribuído como comunicação proxêmica (STEFANELLI, 1992;
SAWADA et al., 2000).
Também na relação mãe-bebê, este aspecto é importante.
16
1
Existem na literatura estudos que buscam respostas acerca do contato íntimo
mãe-bebê, contextualizando as formas de comunicação entre ambos. De acordo com
mencionados estudos, o contato nos primeiros minutos ou horas após o parto pode alterar a
qualidade do apego no decorrer da vida, pois envolve um conjunto de habilidades,
comportamentos e sentimentos (SCHNECK; RIESCO, 2000).
As manifestações iniciais de carinho e apego de uma mãe para com seu filho
logo após o parto demonstram o desenvolvimento de uma relação saudável para ambos,
onde são expressas as primeiras formas de comunicação, como a carícia, o afago, o
sussurro, o olhar, entre outros.
Assim, as primeiras formas de comunicação que se estabelecem entre mãe-
filho ocorrem em espaço íntimo, muito próximo, pois a mãe mantém constantemente o
filho nos braços, ora para oferecer aleitamento materno ou artificial no caso de puérperas
portadoras de HIV, ora para acariciá-lo, ou para proceder às medidas de higienização.
Além disso o berço está sempre muito próximo do seu leito, facilitando a comunicação
visual e tátil. Neste momento inicia-se a relação humana.
Portanto, conhecer as características das interações mãe-bebê, nas fases iniciais
do seu desenvolvimento, desde os primeiros dias de vida, é uma importante contribuição
para o entendimento do desenvolvimento da relação humana (MOURA et al., 2004).
Entretanto as necessidades do cuidado com o bebê exigem uma relação mais
íntima entre mãe-filho e profissionais de enfermagem.
Nesta ocasião deve-se observar como ocorre o processo de comunicação deste
binômio no alojamento conjunto, em espaço previamente definido, visto que a mãe ao
desempenhar o cuidado com o RN deve estar sendo supervisionada e continuamente
orientada acerca da melhor forma de prestação da assistência ao filho. Estas ações têm por
finalidade torná-la mais segura para executar as tarefas diárias ao deixar o ambiente
hospitalar.
Cuidado especial é dispensado às mulheres soropositivas, pois o tratamento de
prevenção da transmissão vertical não se conclui no hospital e sua continuidade deve estar
bem consciente para estas mães.
No caso do binômio mãe-filho cuja puérpera é portadora do vírus da
imunodeficiência humana (HIV), o contato e a comunicação podem ficar comprometidos,
em decorrência do medo de transmissão da doença (PAIVA; GALVÃO, 2004).
17
1
Segundo se observa, a falta de experiência do cuidado com o filho nos
primeiros dias de vida, nesta situação especial como portador de uma doença transmissível
capaz de acarretar danos para a criança, traz para a mãe inseguranças passíveis de
comprometer o desempenho dos cuidados que devem ser prestados ao recém-nascido.
Diante de uma doença na qual a transmissão se dá pelo contato de sangue e
fluidos corpóreos, o alojamento conjunto é recomendado pelo Ministério da Saúde com
vistas a estimular o aprendizado dos cuidados da mãe com a criança (BRASIL, 2003).
Desta forma, uma parturiente soropositiva para HIV deve permanecer junto do
seu filho, unidos em ambiente hospitalar, pois isto favorecerá o relacionamento mãe-filho e
o desenvolvimento de programas educacionais (BRASIL, 1993; BRASIL, 2003).
Permeados entre as diferentes formas de comunicação como a verbal e a não-
verbal, compreendidas na proxemia, a enfermeira deve estar atenta para detectar indícios
que evidenciem outros significados de comunicação percebidos entre mãe-filho no
ambiente hospitalar.
A comunicação proxêmica analisa a posição corporal e relações espaciais
considerando os aspectos culturais de cada indivíduo. Esta cultura pode não só variar de
um país para outro, como também entre pessoas de diferentes regiões ou até comunidades.
Portanto, a enfermeira deve estar sensível às mudanças culturais buscando a compreensão
do desenrolar deste processo comunicativo em cada grupo específico.
Apesar de a comunicação ser reconhecida, preconizada e utilizada como
instrumento básico de enfermagem, a equipe de enfermagem deixa lacunas em virtude da
má comunicação ou comunicação insuficiente. Tais lacunas precisam ser preenchidas e
para isso seu estudo deve ser aprofundado.
O uso da comunicação pela enfermeira como instrumento de trabalho requer
aprofundamento a fim de respaldar sua prática, pois no dia-a-dia ela utiliza a comunicação
para o desempenho de suas diversas atividades.
Sua função de educadora e prestadora de cuidados, bem como o elo que exerce
entre a equipe multiprofissional e os diferentes serviços de cuidado indireto exigem maior
domínio da habilidade de comunicar-se. Assim, o uso consciente da comunicação tende a
facilitar o alcance dos objetivos da assistência de enfermagem (SILVA et al., 2000).
Considerando que a capacidade de ouvir e compreender o outro inclui não
apenas a fala, mas também as expressões e manifestações corporais como elementos
fundamentais no processo de comunicação, a cinésica, ou seja, o estudo da linguagem
18
1
corporal, assume papel importante na decodificação das mensagens recebidas durante as
interações profissionais ou pessoais (SILVA et al., 2000).
No relacionamento mãe-filho, por exemplo, o tom de voz da mãe e até a forma
de acariciar o bebê indicam se ela está disposta ou não a assumir a responsabilidade no
cuidar. De modo geral, estas mães estão fragilizadas pela experiência da maternidade que
envolve imensa trama emocional.
No caso de mães portadoras de HIV outros fatores se sobrepõem, como a
contra-indicação da amamentação e o receio constante da possibilidade de transmissão
vertical.
Conforme se acredita, o ambiente em que se encontram mãe e RN
possivelmente influi neste vínculo, favorecendo ou não o desenvolvimento desta
comunicação precoce. Ambientes tipo alojamento conjunto cujo objetivo é manter mãe e
filho próximos, onde esta se responsabiliza pelos cuidados com o RN, de forma
supervisionada e orientada por profissionais de saúde, em especial da enfermeira,
estimulam a aprendizagem do cuidar e os processos de comunicação.
Na opinião de diversos autores, a comunicação não-verbal e a paraverbal têm
sido pouco exploradas.
Como indicado por alguns estudos, 35% do significado da mensagem são
transmitidos verbalmente e 65% são é emitidos de forma não-verbal (SANTOS, 2003;
STEFANELLI, 1992). Portanto, estudar a comunicação proxêmica para melhor entender
como se dá o processo comunicativo para prestar assistência holística ao paciente com base
na mensagem comunicativa emitida é um desafio.
Para Littlejohn (1998), os signos não-verbais podem ser assim categorizados:
cinésicos, proxêmicos e paralinguísticos. A cinésica estuda os movimentos corporais,
enquanto a proxêmica estuda a posição corporal e as relações espaciais e a paralinguagem
centraliza-se no estudo do uso da voz e da vocalização.
Vários comportamentos não-verbais podem estar associados em uma mesma
mensagem, já que é difícil um movimento do corpo sozinho transmitir um significado.
Desse modo, traduz-se a complexidade da compreensão da comunicação.
No estudo da comunicação proxêmica, Hall (1986) destaca que existem quatro
distâncias interpessoais:
19
1
1. Distância íntima (zero a 50cm): nesta distância ocorre o contato
físico, a percepção dos odores, do calor humano e os encontros
pessoais mais íntimos.
2. Distância pessoal (50cm a 1,20m): neste caso nem sempre ocorre
o contato físico, e a percepção dos odores e do calor do corpo
podem não ser sentidos.
3. Distância social (1,20m a 3,60m): não há mais possibilidade de
contato físico, sendo possível apenas o contato visual entre os
interlocutores.
4. Distância pública (acima de 3,60m): este é o tipo de distância que
acontece em palestras, comícios, portanto, há uma visão coletiva
dos interlocutores, e não um contato visual individual.
Consoante refere Hall (1986), o homem estrutura inconscientemente seu
microespaço durante o processo de comunicação. Nesse sentido, o autor destaca três
aspectos: o espaço de características físicas, o espaço de características semifísicas e o
espaço informal.
Cita-se como exemplo o território pessoal ao redor do corpo do indivíduo que
ele próprio estabelece, aceita ou rejeita. Ainda conforme Hall destaca, a análise proxêmica
envolve oito fatores compostos por:
a) Postura-sexo: este fator busca identificar diferenças nos comportamentos
proxêmicos em função do sexo. Analisa especificamente o sexo dos
participantes e a posição básica estabelecida dos interlocutores como: de pé,
sentado ou deitado;
b) Eixo sociofugo-sociopeto: o eixo sociofugo compreende o desinteresse do
desenvolvimento da interação, ou seja, demonstra o desencorajamento
desta, enquanto o eixo sociopeto corresponde ao encorajamento da
interação, favorecendo o seu estabelecimento. O ângulo entre os
participantes manifesta o grau de desejo entre eles. Assim, esta dimensão
analisa o ângulo dos interlocutores, a saber: face a face, de costas um para o
outro, entre outras angulações;
c) Cinestésicos: trata-se da proximidade dos indivíduos em termos de
tocabilidade. Avalia tudo o que provoca a proximidade entre os
20
2
interlocutores, ou seja, o contato físico a curta distância, como o toque ou o
roçar da pele, e o posicionamento das partes do corpo;
d) Comportamento de contato: por meio deste código se busca estabelecer qual
é o tipo de contato entre dois corpos, podendo ir desde a ausência de contato
até o contato íntimo do outro, passando pelo toque ocasional. Neste fator,
são analisados, especificamente, os tipos de relações táteis como: acariciar,
agarrar, apalpar, apertar, tocar localizado, roçar acidental ou nenhum
contato físico;
e) Código visual: os olhos são, possivelmente, a maior fonte de informações
do homem. Uma expressão do olhar pode punir, encorajar ou estabelecer
uma dominação. Compreende o tipo de contato visual que ocorre diante das
interações, isto é, o olho no olho, olhar desviado ou ausência de contato;
f) Código térmico: a informação recebida pelos receptores à distância
desempenha um papel tão importante na nossa vida cotidiana, que muitos
poucos entre nós pensariam em conceber a pele como um órgão. A extrema
sensibilidade da pele às mudanças de temperatura e de textura deve-se a um
grupo de nervos que transmitem as sensações de calor, frio, táteis e de cor
ao sistema nervoso central. Essa estrutura traz faculdades sensoriais
suplementares e permite-nos perceber as alterações afetivas ocorridas com o
outro, bem como observar nossa dimensão existencial. Assim, este fator
abrange a percepção do calor entre os interlocutores;
g) Código olfativo: o olfato apresenta características bem distintas dos demais
sentidos. Seus mecanismos são essencialmente químicos, sendo então
conhecido como sentido químico. O olfato permite não só diferenciar os
indivíduos, mas detectar qual é o seu estado afetivo. Os cheiros têm o dom
de evocar recordações mais profundas que as imagens e os sons. De acordo
com Hall (1986), este código analisa as características e o grau de odor
percebido pelos interlocutores;
h) Volume de voz: o volume e a intensidade da fala relacionam-se diretamente
com o espaço interpessoal. O som pode variar segundo a distância em que
se encontram os sujeitos, e de acordo com a relação mantida entre eles, a
situação em que se encontram e o assunto que está sendo discutido. Desta
21
2
forma, este código analisa a percepção dos interlocutores em relação ao
volume da voz empregada pelos interlocutores.
1.3 A infecção pelo HIV/aids
A epidemia do HIV e da aids tem se configurado como um dos mais sérios
problemas de saúde pública, com alta taxa de morbidade e mortalidade, grande tendência
de crescimento e propagação em diversos territórios, tornando-se a pandemia da atualidade
(JOINT UNITED NATIONS PROGRAMMER ON HIV/AIDS, 2004).
Trata-se de doença crônica que apresenta uma das condições clínicas mais
pesquisadas em todo o mundo, e gera a cada dia novos desafios para o controle enquanto
se busca a cura.
Desde o início da epidemia, segundo se observa os padrões de disseminação do
HIV mudaram em decorrência do predomínio da forma heterossexual. Tais padrões são
decisivos para o aumento da incidência de casos de aids em mulheres (BRITO, 2006).
De acordo com o estimado por dados epidemiológicos, existem no mundo 34 a
46 milhões de pessoas vivendo com o HIV. Destas, aproximadamente metade são do sexo
feminino (46%) (BRASIL, 2004; UNAIDS, 2004). Atualmente é considerada a maior
causa mundial de mortalidade. Em termos mundiais, a América Latina ocupa a quarta
posição em número de infectados. Nesta região, o Brasil é o país mais afetado pela
epidemia em números absolutos. (DOURADO, 2006).
Entretanto, o padrão de transmissão da aids vem mudando no Brasil, pois a
categoria de exposição mais freqüente é a heterossexual e a proporção homem/mulher dos
casos de aids, no Brasil, mudou de 40:1, observada no início da epidemia, para 1,5:1 até
junho de 2004. Dos 362.364 casos notificados no país ao Ministério da Saúde (MS), de
1980 até junho de 2004, 251.050 (69,3%) foram verificados em homens e 111.314 (30,7%)
em mulheres.
Apesar do total de casos ser maior entre os homens, a epidemia cresce entre as
mulheres. Apenas em 2004, até junho, foram notificados 8.366 casos, em homens, e 5.567
em mulheres (BRASIL, 2004).
No Brasil, os primeiros casos da doença notificados em mulheres ocorreram
em 1983, sendo a transmissão heterossexual predominante entre elas.
22
2
No Ceará, o primeiro caso de aids identificado foi em 1983. Desde esta data até
o primeiro semestre de 2004, foram notificados à Secretaria da Saúde do Ceará (SESA-
CE), 7.161casos da doença. O Estado ocupa o terceiro lugar na região Nordeste com maior
número de casos (BRASIL, 2004).
No Ceará, no primeiro semestre de 2004, foram registrados 487 casos de aids.
Destes, 318 em homens e 169 em mulheres, cuja faixa etária mais freqüente no sexo
feminino foi entre 20 e 49 anos (87,6%). A cidade de Fortaleza é responsável por 88,8%
dos casos (BRASIL, 2005).
O crescimento de casos de aids entre mulheres teve, como conseqüência, o
aumento da transmissão vertical da infecção pelo HIV, com elevação do número de casos
da doença em todo o mundo (BRITO et al., 2006). No Brasil, cerca de 84% dos casos de
aids pediátrica, ou seja, em crianças menores de 13 anos de idade é decorrente da
transmissão vertical (BRASIL, 2005).
Quanto à transmissão perinatal, no Brasil, os primeiros casos notificados
ocorreram a partir de 1985 (VAZ; BARROS, 2002). No Ceará, o primeiro registro também
data de 1985. No primeiro semestre de 2004, houve oito casos de aids em crianças menores
de 13 anos, o que corresponde a 1,6 % do total de casos registrados no Estado (BRASIL,
2005).
Pela crescente observação da proporção de casos entre os sexos, as mulheres
vêm, paulatinamente, aumentando as estatísticas da epidemia.
Outros indicadores corroboram essa afirmação, como se depreende da
informação segundo a qual dos 207 municípios da Nação que já notificaram pelo menos
um caso de aids, em 89 deles, havia apenas mulheres notificadas, e nenhum homem com a
infecção (MULHERES com Aids, 2004).
Também contribui para preocupação do crescente espaço feminino na aids a
mortalidade; em algumas cidades brasileiras esta tem sido a principal causa de morte na
faixa etária entre 15 e 49 anos (XAVIER, 2003).
Em 1991, quando surgiram os primeiros casos de aids nos Estados Unidos, as
pessoas afetadas eram inicialmente homossexuais sexualmente ativos e posteriormente
prostitutas e hemofílicos. Esse fato levou os epidemiologistas a centrarem a doença em
grupos de risco. Desse modo, provavelmente, facilitou-se a disseminação do HIV em
outros segmentos sociais (CZESRENIA et al., 1995).
23
2
Como é notório, o alto índice de mulheres sexualmente ativas acometidas pelo
vírus ocorreu justamente pelo fato de por muito tempo elas serem vistas apenas sob a ótica
da reprodução, e sua sexualidade atribuída a casos de promiscuidade. Assim, teve-se a
falsa idéia de que elas não faziam parte de grupos de risco, e, diante disso, as campanhas
de prevenção da doença não tinham como finalidade o alcance desta fração da população,
dando a impressão errônea de que estas mulheres poderiam considerar-se isentas do risco
de contrair o vírus.
Além dos aspectos sócioideológicos que influenciaram a propagação do HIV
entre as mulheres, outros fatores contribuem para a maior vulnerabilidade do risco de
contrair o vírus, como a exemplo dos aspectos biológicos, tais como: a concentração do
HIV é muito mais alta no fluido seminal do que na secreção vaginal; a imaturidade do
sistema reprodutivo feminino e maior freqüência de trauma aumentam a vulnerabilidade de
mulheres jovens e a superfície masculina vulnerável é muito menor que a parede da vagina
exposta (GRUPO DE APOIO À PREVENÇÃO DA AIDS-CE, 1997).
Na população feminina, a transmissão do vírus ocorre sobretudo por via sexual,
mas existem outras formas de menor incidência, como transfusão sanguínea, via perinatal e
uso de drogas injetáveis.
O fenômeno da feminização da aids tem sido observado, também, com
aumento paulatino do número de crianças contaminadas pelo HIV. Destas forma, amplia-
se a relevância da aids no contexto social. A transmissão vertical, também denominada
materno-infantil, é a principal via de infecção pelo HIV em crianças, sendo responsável, no
Brasil, por mais de 80% dos casos em menores de 13 anos no período de 1983 a 1999 e por
mais de 90%, se for considerado apenas o período de 1998 a agosto de 1999
(VERMELHO; SILVA; COSTA,2002).
Estimativas apontam que em 2001, no Brasil, existiam aproximadamente
18.000 gestantes infectadas pelo HIV (BRASIL, 2003a). Isso acarreta, como conseqüência,
um aumento no número de casos em crianças contaminadas, medianteatravés da
transmissão perinatal ou vertical.
A probabilidade da TV do HIV foi amplamente divulgada por diversos estudos.
Conforme divulgado, a maioria dos casos de TV para o recém-nascido ocorre em três
momentos: na gravidez, no parto ou na amamentação. Durante o trabalho de parto e no
parto, a probabilidade de transmissão materno-infantil ou vertical do HIV é cerca de 65%.
Os demais 35 % ocorrem intra-útero, principalmente nas últimas semanas de gestação.
24
2
Além disso, o aleitamento materno representa um risco adicional de 7 a 22% de contágio
(BRASIL, 2003; BRITO et al., 2006).
O HIV é excretado livre ou no interior de células no leite de mulheres
infectadas, que podem apresentar ou não sintomas da doença. Durante o aleitamento
materno, a transmissão do vírus pode ocorrer em qualquer fase, porém parece ser mais
freqüente nas primeiras semanas. Como ressaltam Lamounier, Moulin e Xavier(2004), a
infecção pelo HIV é uma das poucas situações onde há consenso de que a amamentação
deve ser contra-indicada.
Em 1994, resultados do Protocolo 076 do Aids Clinical Trial Group (ACTG
076) comprovaram a efetividade da Zidovudina (AZT) na redução da TV em 67,5% dos
casos. Com base nesta evidência, no mesmo ano, o Centers for Disease Control and
Prevention (CDC) publicou a recomendação para o uso do AZT pelas mulheres HIV
positivas durante o segundo e terceiro trimestres de gestação e durante o parto, e pelas
crianças nas primeiras semanas de vida.
Assim, considerando o estudo do CDC e o crescimento de aids em todos os
estados da Federação, em 1995 o Ministério da Saúde do Brasil publicou norma específica
sobre a prevenção da TV. No entanto, as recomendações contidas nessa publicação só
foram implementadas em 1997 (YOSHIMOTO; DINIZ; VAZ, 2005).
Atualmente, o uso de anti-retrovirais tem proporcionado uma qualidade de vida
e uma sobrevida semelhante a outras doenças crônicas. Além disso, quando este tratamento
se estende adequadamente entre as mulheres grávidas e continua sendo administrado na
criança nos primeiros meses de vida, existe uma queda acentuada da transmissão vertical.
Segundo informações o índice de proteção da TV chega a 98% (BRASIL, 2003;
GALVÃO; CERQUEIRA; MARCONDES-MACHADO, 2004).
Portanto, recomenda-se a prevenção da aids em mulheres em idade reprodutiva
a fim de diminuir a incidência da transmissão vertical, já que a infecção na criança ocorre
em maior gravidade devido à imaturidade do seu sistema imunológico.
Diante da nossa vivência como enfermeira assistencial de uma maternidade
observa-se que, em caso de gestantes portadoras de HIV, há elevada expectativa em
relação ao nascimento da criança e seu estado sorológico, sendo o período da gestação
tenso e cercado de muita ansiedade.
A expectativa inicial é que o envolvimento entre este binômio seja intenso e
que a mãe tente preservá-lo ao máximo da contaminação pelo vírus, fazendo uso de todas
25
2
as medidas possíveis de prevenção da doença desde o momento do parto até os meses
seguintes, período no qual o recém-nascido deverá fazer uso de anti-retrovirais.
Porém, segundo observado, há casos de mães que não se envolvem com o
filho e não seguem as orientações prestadas pela equipe médica e de enfermagem, como
forma de prevenir a transmissão da doença ao recém nascido(RN).
No ciclo gravídico, a mulher depara-se com uma das experiências mais
significativas da sua existência. Neste momento ocorrem profundas mudanças no seu estilo
de vida.
O relacionamento da mãe com o seu filho começa no início da gravidez e
prolonga-se durante toda a vida, com características marcantes logo após o nascimento,
quando se estabelece o primeiro contato direto com o RN.
As primeiras interações da mãe com o RN têm sido descritas como um
processo comunicativo e de apego materno ao mesmo tempo em que estimula a adaptação
mãe e filho (BONADI; SHNECK, 2003).
Nos primeiros dias de vida, a mãe passa a concretizar os primeiros cuidados ao
RN, experimentando uma nova fase de adaptação na qual o bebê passa a fazer parte do
mundo externo.
De acordo com Rocha, Simplionato e Mello(2003), manter a mãe e o bebê
juntos logo após o nascimento estimula a operação de mecanismos sensoriais, hormonais,
fisiológicos, imunológicos e comportamentais conhecidos, que provavelmente vinculam os
pais ao bebê.
Quando se trata de criança nascida de mãe soropositiva há uma privação de
contato em decorrência da não-amamentação, além de toda trama emocional vivenciada
por ela durante a gravidez, em virtude da possibilidade de contaminação do feto, no
período gestacional (PAIVA; GALVÃO, 2004).
26
2
1.4 Justificativa do estudo
Inúmeros estudos vêm sendo desenvolvidos para responder às perguntas sobre
o que favorece, perturba ou deflagra o apego entre pais e bebês, por meio de observações
tanto clínicas como estruturadas, entrevistas e estudos controlados (ROCHA;
SIMPLIONATO; MELLO, 2003).
Na nossa prática de enfermagem, segundo evidenciado, existe comunicação
entre mãe-bebê, de diferentes formas, como a expressão do olhar, o tom de voz, os gestos
executados por ambos, a forma de cuidar da mãe e até a postura que ela assume diante da
criança.
Conforme enfatizam Moura e col.(2004) a natureza existente nas interações em
um período tão precoce do desenvolvimento do recém-nascido apresenta peculiaridades
como as limitações do repertório de comportamentos do bebê e da mãe, na medida em que
ela faz uma seleção dos meios que irá usar para interagir com o filho e do contexto
especifico onde está ocorrendo esta troca.
A nosso ver, com base na nossa observação diária com puérperas portadoras de
HIV, a soropositividade é um fator dificultador deste início de comunicação, pois as mães
tendem a demonstrar que evitam uma aproximação maior com o filho, quer por medo de
transmitir a doença, quer por receio de desenvolver uma relação de apego, já que muitas
acreditam não ter uma sobrevida longa, e este apego só acarretaria mais sofrimento para
ambos.
Portanto, a equipe de enfermagem deve estar atenta aos componentes da
comunicação desta díade na unidade de alojamento conjunto, compreendendo o
relacionamento existente entre ambos, pois, só assim, poderá, se for o caso, detectar
qualquer falha na comunicação deste binômio e intervir satisfatoriamente.
O enfermeiro desempenha papel primordial, com vistas ao diagnóstico precoce
de qualquer alteração no desenrolar desta comunicação, e na forma de executar e coordenar
atividades destinadas a melhorar a qualidade da assistência entre mãe e recém-nascido.
Contudo, esta capacidade de ouvir e/ou compreender a mãe não se resume
apenas à fala; ela compreende todas as expressões manifestadas, faciais ou corporais, que
podem dar indícios da qualidade da comunicação.
27
2
Nas últimas décadas, o número de investigações acerca do modo como as
pessoas utilizam o espaço vem crescendo, inicialmente na área da antropologia e da
psicologia e hoje na área da enfermagem, entre outras (SAWADA et al., 2000).
As técnicas de comunicação terapêutica devem ser utilizadas em todo processo
comunicativo e variam desde o início do relacionamento (técnicas de expressão),
esclarecendo o que foi mencionado pelo paciente (técnicas de clarificação), até a validação
das mensagens recebidas durante o processo terapêutico por todas as pessoas envolvidas
(técnicas de validação) (STEFANELLI, 1992).
No alojamento conjunto, o enfermeiro pode usar essas técnicas desde a
admissão do binômio na unidade. Para isto, deve manter uma postura segura e acolhedora,
observar a existência de qualquer fator de risco para a integridade de ambos, esclarecendo
o funcionamento da unidade e eventuais dúvidas apresentadas pela mãe e agindo de forma
eficaz para proporcionar uma internação tranqüila e sem intercorrências para mãe e filho.
É no alojamento conjunto que se desenvolve a primeira fonte de aprendizagem,
sobre as necessidades do bebê, de forma supervisionada pela equipe de enfermagem.
De acordo com Portaria 1.116, de 26/8/1993, do Ministério da Saúde
(BRASIL, 1993) os hospitais, públicos ou privados e demais estabelecimentos de atenção à
saúde de gestantes devem manter o alojamento conjunto como uma forma de diminuir o
risco de complicações maternas e do recém-nascido e enfatizar a interação da equipe
multiprofissional de saúde, possibilitando assim a permanência do neonato junto da mãe.
Nestas unidades são feitas todas as orientações acerca dos cuidados com o RN e
esclarecidas eventuais dúvidas da mãe.
Apesar da mencionada portaria reconhecer que em algumas localidades do
território brasileiro estas condições não são atingidas, ela considera que o mais importante
é manter mãe e filho juntos logo após o nascimento, dando-se atenção especial em casos de
mães portadoras de HIV, pois esta criança terá necessidade de cuidado e acompanhamento
específicos.
Entre as inúmeras vantagens citadas pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1993)
para manutenção do binômio em alojamento conjunto, destaca-se o fortalecimento dos
laços afetivos entre mãe e filho, relacionamento precoce e a observação constante do
recém-nascido pela mãe. Isto faz com que ela o conheça melhor e detecte qualquer
anormalidade precocemente.O alojamento também possibilita à enfermagem a promoção
do treinamento materno por meio de demonstrações práticas dos cuidados indispensáveis
28
2
ao RN, e mantém o intercâmbio biopsicossocial entre a mãe, a criança e outros membros
da família bem como reduz o risco de infecção hospitalar.
Em caso de puérperas com sorologia negativa para o HIV, o alojamento ainda
traz o benefício do favorecimento do aleitamento materno com vistas a se iniciar o mais
precocemente possível, de acordo com as necessidades da criança.
Mães com sorologia positiva para o HIV fazem uso precoce na unidade de
alojamento conjunto do inibidor de lactação, porquanto a amamentação também é fonte de
transmissão do HIV para o RN.
As orientações iniciadas no alojamento conjunto ajudam a mãe no seu
desempenho ao cuidar do filho, e assim facilitam a dinâmica de cuidados a serem
desenvolvidos posteriormente no domicílio, pois ela passa a ter uma participação gradual
no cuidado com o filho, à medida em que assimila as orientações da equipe de saúde e
adquire segurança na prestação dos cuidados.
Tais orientações embasam inclusive quanto às intercorrências passíveis de
acontecer nos primeiros dias de vida, como cólica, engasgo, constipação, entre outras.
No caso de mães soropositivas, conforme evidenciado, ao chegarem à
maternidade para a cesárea eletiva, a expectativa em relação à chegada do filho e aos
cuidados a serem prestados a ele de forma diferenciada são grandes, o que acaba
comprometendo a aprendizagem das orientações feitas pela equipe de enfermagem.
Em virtude da nossa experiência assistencial junto da unidade de alojamento
conjunto de uma maternidade, nos deparamos com um número crescente nos últimos anos
de binômio mãe-filho com diagnóstico de HIV.
Segundo demonstrado por alguns estudos, esta parturiente enfrenta ainda o
estresse psicológico do medo da contaminação do filho com o vírus durante a gestação ou
no momento do parto ou pós-parto (PAIVA et al., 2004)
Isto tem sido um obstáculo na assistência quando se trata de encorajar a mãe a
cuidar do RN, excluindo a amamentação natural.
Conforme se percebe, quando a mãe acomoda o bebê nos braços, ele
espontaneamente procura pelo seio, causando angústia e ansiedade para a mãe
impossibilitada de amamentar (PAIVA et al., 2004).
Nesses casos, muitas vezes a mãe sente-se culpada por não poder dispensar aos
filhos todos os cuidados. A culpa relatada por algumas mães é um sentimento complicado
e pode levá-la ou até outros membros da família a uma proteção exagerada.
29
2
Conseqüentemente, elas poderão privar a criança de experimentar sua
autodeterminação(PEDRO; STOBAUS, 2003).
Ao longo da prática assistencial observa-se que a mãe mantém a criança por
um período mais prolongado no berço e, desse modo, evita encará-lo. Isto altera a
comunicação entre essa díade e dificulta a assistência de enfermagem prestada
(VASCONCELOS, 2006b)
O sentimento de culpa exposto por algumas mães durante o período de
internação mostrou na prática que ela é levada a uma proteção exagerada do RN.
Dentro desta contextualização foi elaborado o presente estudo com o intuito de
investigar a comunicação e comparar os diferentes binômios (portadores de HIV e não-
portadores de HIV), o qual irá nos proporcionar o desnivelamento das possíveis diferenças
de interação inicial entre mãe-bebê, de acordo com os fatores proxêmicos nos primeiros
dias de vida. Como conseqüência dos resultados fornecidos em decorrência da
investigação, esta poderá contribuir para facilitar à equipe uma assistência de enfermagem,
consciente das necessidades específicas de cada díade, a ser planejada na unidade de
alojamento conjunto.
Só a partir da detecção dos fatores que facilitam ou dificultam o
desenvolvimento desta relação de apego, observados por meio da comunicação proxêmica,
será possível traçar mudanças positivas significativas para melhoria da qualidade da
assistência prestada.
Diante da impossibilidade prática de se avaliar todas as interações ocorridas
entre mãe e recém-nascido, estabeleceu-se a avaliação quantitativa das interações desta
díade durante a troca de fraldas.
A nosso ver neste momento a mãe tem a oportunidade de fazer várias
demonstrações sobre como vem se desenrolando a comunicação entre eles. Para isto,
poderá utilizar diversos fatores proxêmicos, como eixo sociofugo ou sociopeto,
cinestésico, comportamento de contato e volume de voz, entre outros.
30
3
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Analisar as interações entre mãe-filho durante a troca de fraldas do bebê em
alojamento conjunto, à luz dos fatores proxêmicos.
2. 2 Objetivos Específicos
Avaliar a comunicação proxêmica entre o binômio mãe-filho, em mães portadoras e
não portadoras de HIV;
Verificar a existência de associação entre os fatores proxêmicos e os binômios mãe-
filho;
Testar a confiabilidade entre os juízes da análise da comunicação e os fatores
proxêmicos.
31
3
3 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
3.1 Tipo de estudo
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e quantitativo.
Como afirma Andrade(1998), a pesquisa exploratória proporciona mais
informações sobre determinado assunto, juntamente com a pesquisa descritiva, por meio da
qual os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados sem que
o pesquisador possa interferir neles.
Quanto à pesquisa quantitativa, com uso de testes estatísticos, consegue reduzir
de forma organizada as informações numéricas obtidas mediante coleta de dados (POLIT;
BECK; HUNGLER, 2004).
3.2 Ambiente da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida em uma maternidade pública, localizada na cidade
de Fortaleza-CE. Esta maternidade realiza em média 650 partos ao mês e é referência no
atendimento de gestantes portadoras do HIV oriundas da Capital ou de diversas regiões do
Estado do Ceará.
Os binômios participantes da pesquisa encontravam-se internados em unidade
de alojamento conjunto, onde a mãe é orientada quanto aos cuidados com o recém-nascido,
sendo ela mesma a responsável pela prestação destes cuidados de forma supervisionada
pela equipe de enfermagem.
No presente estudo foi utilizada a filmagem dos binômios como recurso para
obtenção dos dados. Com esta finalidade, utilizou-se uma sala do alojamento conjunto
onde são executados o banho e a vacinação dos recém-nascidos.
Esta sala também é destinada ao armazenamento de medicações e material de
higiene para os RNs e está localizada próxima às enfermarias de internação, mas para o
acesso as puérperas se deslocam de seus leitos e unidades para uma sala separada.
32
3
Embora a sala possua boa condição de iluminação, recebe interferência dos
ruídos advindos da dinâmica das demais enfermarias da unidade de alojamento conjunto.
A escolha do local escolhido para as filmagens decorreu dos seguintes motivos:
é nela que as mães recebem orientações quanto aos cuidados a serem prestados ao RN, e
apesar da presença dos ruídos provenientes das enfermarias, o trânsito de pessoal é mais
limitado e o barulho de intensidade menor que dentro da própria enfermaria. Este fato
diminui o número de interferências no processo de cuidar da mãe com o RN durante as
filmagens.
3.3 População
A população constituiu-se de dois tipos de binômios (mãe-filho) assim
especificados: um grupo de binômio, no qual a mãe (parturiente) não apresenta sorologia
positiva para o HIV (G1) e um grupo em que a mãe tem conhecimento prévio da sorologia
positiva para o HIV, antes do momento da internação para o parto (G2).
O primeiro tipo de binômio é identificado como Grupo 1 (G1) e o segundo,
como Grupo 2 (G2) para coleta e análise dos dados.
Para o pareamento mais homogêneo entre os binômios, foram obedecidos os
seguintes critérios:
De inclusão:
Ser puérpera submetida ao parto cesárea;
Estar nas primeiras 48 horas pós-parto;
Ter idade igual ou superior a 18 anos;
Estar internada em unidade de alojamento conjunto;
Estar ciente do diagnóstico de HIV/aids antes ou durante o pré-natal (G2);
Ter realizado teste anti-HIV durante o pré-natal, com resultado negativo
(G1);
Aceitar, voluntariamente, participar da pesquisa.
33
3
De exclusão:
Apresentar distúrbios de comportamento ou déficit cognitivo que
inviabilizem a compreensão da pesquisa e não ter condições de cuidar da
criança;
Estar sob cuidados intensivos;
Não estar com o recém-nascido em alojamento conjunto.
3.4 Amostra
A seleção dos binômios ocorreu por meio de uma amostra de conveniência, na
qual a enfermeira pesquisadora permaneceu em contato diário com a maternidade a fim de
captar puérperas portadoras do HIV.
Tal conduta foi tomada porque, como a pesquisadora era funcionária da
maternidade onde a pesquisa foi desenvolvida, estas seriam as mais difíceis de serem
selecionadas em virtude do menor número de internação, em relação ao outro grupo.
Concomitantemente à seleção das pacientes do G2, foram selecionadas as
pacientes não-portadoras do HIV.
Ao detectar as pacientes internadas que possuíam as características do binômio
a ser investigado, a pesquisadora dirigia-se a cada puérpera, explicava-lhe em linguagem
simples os propósitos da pesquisa e, como o estudo estava sendo desenvolvido, garantia à
paciente seu total anonimato na divulgação dos resultados.
Só após a anuência da participante, e assinado o termo de consentimento livre
esclarecido, a filmagem era iniciada.
Inicialmente não se estabeleceu um número mínimo ou máximo de binômios
participantes do estudo, mas o conjunto de elementos suficientes para compará-los.
As filmagens foram finalizadas à medida que a pesquisadora observou repetição
dos componentes da comunicação proxêmica necessária para a comparação entre eles.
Assim, o número de binômios pesquisados correspondeu a cinco do Grupo 1 (não-
portadores de HIV) e três do Grupo 2 (mãe com sorologia positiva para o HIV).
34
3
3.5 Coleta de dados
3.5.1 Período
A coleta de dados realizou-se durante os meses de dezembro de 2005 a
fevereiro de 2006.
3.5.2 Operacionalização da coleta de dados
Para esta operacionalização, adotou-se o uso de uma câmera filmadora que
registrou o momento da troca de fraldas do bebê. Optou-se pela filmagem neste estudo por
ela possibilitar a obtenção das imagens da forma mais fiel possível, e permitir uma análise
detalhada do que se pretende estudar.
As imagens foram captadas por uma câmera digital Sony, em cores, portátil,
com zoom de 120 velocidades, som estéreo, lux 7, foco automático digital com lente de alta
precisão e com alto poder de resolutividade. Com vistas a possibilitar posteriormente a
transferência das imagens para a televisão e computador, as cenas foram armazenadas em
fitas minicassetes.
A pesquisadora orientou a mãe a fazer a troca de fraldas do bebê o mais
naturalmente possível.
Para que a interferência da pesquisadora no local fosse a mínima possível, após
montagem da câmera ela deixou a sala da unidade de alojamento conjunto, possibilitando
maior privacidade à mãe e filho.
No intuito de garantir uma ótima qualidade das imagens obtidas, com o máximo
de distância do local destinado à troca do RN, a câmera foi posicionada em local
estratégico. Deveria, porém, permitir uma satisfatória captura das imagens da cena para
análise posterior.
Para cada binômio, foram realizadas filmagens em três momentos distintos de
troca de fraldas, pois desse modo se poderia escolher a filmagem em que a mãe estivesse
mais familiarizada com a câmera e quando houvesse o mínimo de interferência do
ambiente da pesquisa.
35
3
Em todos os binômios, a terceira e última filmagem foi a que a mãe estava mais
à vontade com a câmera e onde houve o menor número de interferências do ambiente
hospitalar.
Além da câmera, adotou-se também o diário de campo a fim de apoiar nos
registros de fatos que podem ocorrer concomitantemente à filmagem, a exemplo de
qualquer interferência dos profissionais de saúde, pois, quando se utiliza imagem
audiovisual em pesquisa, faz-se importante destacar o contexto onde ela ocorre para
pareamento posterior, de acordo com o referencial adotado (DUARTE; BARROS, 2005).
Estas anotações foram realizadas com a pesquisadora fora da sala, no corredor
ao lado, de onde era possível observar tanto a entrada ou saída de pessoal da sala onde o
procedimento ocorria, como qualquer barulho extra advindos das enfermarias.
3.6 Instrumento de análise dos dados
Para viabilizar o presente estudo foi necessária a confecção de dois
instrumentos.
O primeiro instrumento (ANEXO A) teve como base inicial roteiros
previamente divulgados que analisaram a comunicação proxêmica em diversos
seguimentos do cuidado em saúde (SAWADA et al., 2000; GALVÃO et al., 2006;
VASCONCELOS et al., 2006b).
Estudo que também serviu como base, e no qual a pesquisadora teve
participação, foi conduzido em alojamento conjunto entre binômios sadios para análise da
comunicação entre mãe e filho nas primeiras 24 horas nesta unidade. Para isto, usou-se
roteiro de observação semelhante ao aplicado para análise das filmagens.
Outro parâmetro também utilizado foram aspectos descritos na Teoria do
Apego, desenvolvida por Bowbly (1990). Os aspectos descritos na teoria foram analisados
de forma escalar, a qual apresenta situações para se avaliar itens, necessário na avaliação
proxêmica para se analisar a interação mãe-bebê. Esta escala é composta por categorias de
comportamentos observáveis da interação do binômio mãe-filho, fornecendo um registro
minucioso da inter-relação desenvolvida nos primeiros dias de vida (SCAPPATICCI;
IACOPONI; BLAY, 2004).
36
3
Nos três modelos, foram feitas adaptações acrescentando-se comportamentos
possíveis do RN diante da situação pesquisada, tais como: ativo, permanece de olhos
abertos, geme, chora, soluça e adere ao seio.
Para o roteiro utilizado no presente estudo foram descritos sete quesitos de
acordo com Hall (1986). São eles: distância, categorizada apenas como distância íntima e
pessoal, tendo em vista que na situação específica em que se desenvolve a pesquisa, ou
seja, durante a troca de fraldas, não há possibilidade de manter a distância social ou
pública; postura, composta pelas categorias de pé, sentado e deitado, sendo esta última
categoria justificada pelo fato de algumas mães preferirem fazer a troca de fraldas do filho
deitada com eles junto no seu leito; eixo, classificado como face a face, e entendido no
mesmo sentido de frente a frente, pois o RN ainda não é capaz de fixar o rosto ao encontro
do da mãe, lateral, sociofugo e sociopeto; comportamento de contato, dividido em
subcategorias entre mãe-filho. Como as categorias da mãe, considerou-se: toque, agarrar,
tocar localizado, roçar acidental, carícia. (ANEXO A)
Quanto ao recém-nascido, estabeleceram-se as seguintes categorias: ativo,
permanece de olhos abertos, geme, chora, soluça e adere ao seio. O código visual avaliou o
olhar direcionado ao interlocutor, olhar desviado do interlocutor, surpresa, alegria e
tristeza.
No quesito tom de voz, foram analisados o sussurro, baixo, normal e alto.
Durante a análise das filmagens, os juízes solicitaram para acrescentar o silêncio neste
quesito, pois em vários momentos ele esteve presente. Por último avaliou-se se havia
presença de obstáculo entre mãe e filho.
Assim, diante de um instrumento inicial, fizeram-se alterações necessárias para
possibilitar a avaliação da população a ser observada. Antes de iniciada a coleta de dados
propriamente dita, o anexo foi analisado por dois juízes, os quais eram professores
universitários com vasta experiência em trabalhos com comunicação. Um dos juízes é
doutor em enfermagem com amplo conhecimento na área de proxemia e o outro, doutor
em psicologia, com conhecimentos específicos nos processos de relacionamento mãe-filho.
Foi mantido o primeiro contato com estes juízes por telefone para inteirá-los
acerca do trabalho e somente após a concordância da avaliação do instrumento, este foi
encaminhado com o termo de aceite para ser avaliado de acordo com a teoria e o objetivo
do estudo (ANEXO B).
37
3
O instrumento foi enviado via SEDEX, acompanhado de uma cópia do trabalho
na íntegra. Após um mês as respostas dos juízes foram devolvidas com sugestões ao
instrumento inicial. Todas foram acatadas.
Para finalizar o instrumento, antes da coleta de dados, ele foi analisado sob o
ponto de vista de um estatístico. Este profissional sugeriu acrescentar códigos para serem
avaliados no processo final do julgamento das filmagens e também para facilitar a
tabulação dos dados e conseqüente análise estatística.
O segundo instrumento (ANEXO C) constitui-se de uma ficha de identificação
das puérperas e RNs, para caracterização do binômio mãe-filho.
Neste roteiro constam as seguintes informações: nome, cor, idade, situação
conjugal, renda per capita, grau de instrução, procedência, número de filhos, número de
abortos e gravidez desejada ou não. No roteiro há possibilidade de registrar informações
sobre as parturientes HIV positivas, a saber: categoria de transmissão, tempo de
conhecimento da doença e tempo de tratamento.
A segunda parte do roteiro serviu para observar, à circunstância da
comunicação proxêmica, mãe e filho: observação da interação, tempo de duração, tom de
voz, distância, comportamento de contato e contato visual.
Não foram contemplados neste estudo os fatores térmico e olfativo relacionados
à comunicação proxêmica, em virtude de se optar pela técnica de filmagem. Desse modo,
não houve a influência do pesquisador no ambiente estudado para questionar quanto a estes
fatores.
Quanto aos dados relacionados ao recém-nascido, foram obtidos pela Ficha de
Declaração de Nascidos Vivos (ANEXO D) em poder da mãe na qual constavam as
seguintes variáveis: sexo, peso, altura e apgar. Estes dados também foram anotados no
Anexo C.
Para propiciar um estudo mais completo, a autora disponibiliza como apêndices
as descrições de cada sujeito envolvido no estudo, de forma detalhada. Estes apêndices
estão subdivididos em grupos com mães não-portadoras de HIV (Grupo 1) e portadoras de
HIV (Grupo 2) e das condições em que os binômios se encontravam.Estão respectivamente
apresentados no final deste trabalho como Apêndice A e B
3.7 Análise estatística
38
3
A fim de se verificar as associações entre as diferentes variáveis do estudo,
utilizaram-se diferentes avaliações estatísticas. Entre estas, os testes de χ
2
, Fisher (para
tabelas 2 x 2 e com um número pequeno de interações) e de Fisher-Freeman-Halton. Esse
último quando não era recomendável empregar o teste χ
2
, tendo em vista que havia
freqüências esperadas inferiores a cinco, isto é, em número além do permitido.
A concordância entre os juízes foi feita utilizando-se o teste intraclasse para
concordância alfa de Cronbach.
Para todos os testes realizados fixou-se o nível de significância de 5%, e para
processamento dos dados empregou-se o software EPI-INFO.
Os dados foram dispostos em tabelas simples e cruzadas, para serem feitas às
análises das variáveis individualmente, de associações e de confiabilidade.
Conforme é provável, uma interação pode ter apresentado uma ou mais
observação entre os fatores proxêmicos. Desse modo, os valores relativos podem
apresentar somatória maior que 100%.
3.8 Análise das filmagens
A análise das filmagens ocorreu no mês de fevereiro de 2006, logo após
concluída esta etapa.
Participou desta análise um segundo grupo composto por dois juízes
convidados previamente. Estes juízes são alunos do Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), do nível de mestrado e doutorado,
e com conhecimento prévio da teoria proposta nesta investigação.
Ambos vêm desenvolvendo pesquisa na área da comunicação proxêmica,
(VASCONCELOS et al., 2006b; GALVÃO et al., 2006; PAIVA et al., 2006) e a
dissertação de mestrado de um deles avaliou a comunicação não-verbal entre enfermeira e
cego (ALMEIDA, 2005) de acordo com a teoria de Hall (1986).
O instrumento de análise foi previamente apresentado aos juízes e, nesse
momento, foram esclarecidas quaisquer dúvidas quanto ao seu preenchimento.
39
3
Após esta apresentação, iniciou-se a análise das filmagens em uma sala do
Laboratório de Comunicação em Saúde (LabCom_Saúde) no departamento de enfermagem
da UFC. Os dois juízes analisaram as filmagens ao mesmo tempo para que as cenas fossem
avaliadas no mesmo segundo por ambos, a fim de evitar ao máximo discordâncias quanto
ao tempo de análise. Cada análise correspondia a uma interação de cada díade ou binômio.
Estas filmagens foram apresentadas aos juízes através de uma televisão de 29
polegadas, onde as imagens gravadas na fita pela filmadora foram repassadas.
Cada filmagem foi interrompida a cada quinze segundos para transcrição desta
interação em pausa, no intuito de que o maior número de interações fosse registrado no
roteiro, dando tempo livre aos juízes para o seu preenchimento.
Só após a autorização dos dois juízes a filmagem era reiniciada e dava-se
seguimento ao processo de análise e preenchimento do instrumento próprio (Anexo A) e
assim sucessivamente.
O tempo de cada pausa foi cronometrado pela pesquisadora, que estava presente
no momento da análise a fim de facilitar o andamento desta etapa.
Posteriormente à análise dos juízes, os dados de avaliação das filmagens foram
enviados ao estatístico para quantificação das interações encontradas nos dois grupos de
binômios.
Por se tratar de uma pesquisa onde a subjetividade tem forte presença, alguns
critérios foram adotados como padrão. São eles: o eixo face a face pode ser entendido
como o frente a frente; o tocar localizado diferencia-se do toque por ser realizado com a
intenção de efetuar um procedimento específico, na categoria de contato do bebê; duas
opções podem ser marcadas como, por exemplo, ativo e permanece de olhos abertos.
4 Aspectos éticos
Com o avanço da ciência as normas, éticas em pesquisa com seres humanos
estão cada vez mais rigorosas.
Tratando de pesquisa com portadores do HIV, exige-se do profissional ampla
competência técnica e ética, pois os dilemas éticos relacionados ao HIV ocorrem
freqüentemente e requerem deste profissional constante atualização diante das diversas
inovações da assistência e pesquisa.
40
4
Como é notório, a aids trouxe à tona pontos éticos bastante delicados sobre os
quais os profissionais de saúde e pesquisadores necessitam balancear os direitos e as
necessidades do indivíduo e o bem público. Há preocupações com a privacidade e a
confidencialidade já que o investigador entra na vida particular e na intimidade dessas
pessoas (DURHAM; COHEN, 1989).
A questão ética também é enfatizada no Programa Nacional de DST/aids e
traduzida nas normatizações acerca do sigilo profissional e consentimento para se realizar
procedimentos, bem como na divulgação dos códigos de linguagem politicamente correta
no campo da aids (NEMES et al., 2004).
Assim, neste estudo, teve-se a preocupação de obedecer aos aspectos éticos
contidos na Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde/
Ministério da Saúde (BRASIL, 1996), que traz as Diretrizes e Normas Regulamentadoras
de Pesquisas com Seres Humanos.
Inicialmente, o estudo foi apresentado à direção da maternidade e obteve-se
autorização para encaminhamentos. A seguir, foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa do Complexo Hospitalar da UFC, para apreciação, e aprovado sob protocolo nº
41/05 (ANEXO E).
Tanto as parturientes portadoras do HIV como as não-portadoras foram
convidadas a participar do estudo, mas ficaram livres para decidir. Assegurou-se à paciente
que, em caso de recusa, não perderia quaisquer direitos, como o tratamento oferecido no
serviço.
Foi explicado também o procedimento de filmagem, bem como o que vão
representar os dados ali obtidos e o processo de disseminação das informações após a
conclusão da pesquisa. Aquelas de acordo assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (ANEXO F).
Desse modo, todos os passos da presente investigação seguiram as instruções da
resolução vigente do Comitê Nacional de Pesquisas, referente a estudos que envolvem
seres humanos.
41
4
4 RESULTADOS
A apresentação dos resultados busca responder aos objetivos deste estudo. O
início da apresentação corresponde à participação dos juízes e das interações entre as
díades pesquisadas. Teve-se como intuito facilitar o entendimento inicial do estudo.
Os dados obtidos pós-análise estão expostos em diferentes tabelas no decorrer
deste capítulo, enquanto no capítulo seguinte consta a discussão desses dados.
4.1 Apresentação dos dados
Tabela 1 - Distribuição do número de participantes, segundo as características. Fortaleza-
CE. janeiro a fevereiro/2006
Variável N %
Juiz
1 62 50,0
2 62 50,0
Grupo
G1 * 76 61,3
G2 ** 48 38,7
*G1 (Grupo 1)= trata-se do binômio cuja mãe apresenta sorologia negativa para o HIV;
**G2 (Grupo 2)= trata-se do binômio cuja mãe tem sorologia positiva para o HIV.
A Tabela 1 apresenta a distribuição do número de participantes na investigação,
segundo suas características. A variável N significa o número de interações que ocorreu em
cada díade de mãe e RN. Participaram da análise das filmagens dois juízes, no total de
100%.
Cada juiz analisou 62 (50%) interações igualmente nos dois grupos (G1 e G2).
Observaram-se dois tipos de binômios: O G1, composto por mães com sorologia prévia
negativa para o HIV, no qual ocorreram 76 interações (61,3%) observadas pelos juízes; e o
G2, formado por mães com sorologia positiva para o HIV e que apresentou 48 (38,7%) das
interações investigadas.
42
4
Conforme mostram os dados, verificou-se grande variação no número de
interações ocorridas entre os binômios. Isto deve-se ao fato de que para o Grupo 1 (mãe
com sorologia negativa para o HIV) foram feitas filmagens de cinco binômios, enquanto
no Grupo 2 (mães com sorologia positiva para o HIV) filmaram-se três binômios.
Entretanto, tais diferenças não alteram o resultado final das comparações entre
os binômios tendo em vista que os testes estatísticos usados permitem analisar estas
comparações com números diferentes de dados sem interferir nas conclusões obtidas.
Tabela 2 - Distribuição do número das características observadas entre os grupos (G1 +
G2). Fortaleza-CE. janeiro a fevereiro/2006
Variável N %
Distância
Íntima 106 85,5
Pessoal 18 14,5
Postura
De pé 124 100
Sentado - -
Eixo*
Face a face 44 35,4
Lateral 80 64,5
Sociofugo 31 25,0
Sociopeto 91 73,4
Código visual*
Olhar direcionado ao interlocutor 64 51,6
Olhar desviado do interlocutor 59 47,6
Alegria 5 4,0
Tom de voz*
Sussurro 2 1,6
Baixo 1 0,8
Normal 10 8,1
Silêncio 123 99,2
Obstáculo mãe-filho
Sim
Não
1
123
0,8
99,2
* Uma interação pode ter apresentado uma ou mais observação entre os fatores proxêmicos.
43
4
A Tabela 2 retrata a comparação dos fatores proxêmicos entre os dois grupos de
binômios estudados. Tem-se como objetivo demonstrar o conjunto de observações entre as
díades, facilitando a compreensão do leitor.
Em todas as interações, a distância predominante foi a íntima, presente em 106
(85,5%) interações, seguida pela distância pessoal em 18 (14,5%) delas, tendo em vista que
na situação analisada uma distância maior seria impossível para a execução do
procedimento (Tabela 2).
Por distância íntima entende-se aquela em que os interlocutores permanecem
afastados no máximo 50cm, enquanto a pessoal varia de 50 a 1,20 cm.
Quanto à postura, as mães permaneceram de pé nas 124 (100%) interações, pois
todas estavam para a troca de fraldas nessa posição.
No fator eixo, em cada interação analisada os juízes se detiveram em dois
aspectos diferentes: se este era face a face ou lateral e se sociofugo ou sociopeto. Ao
contrário do esperado o eixo lateral foi o mais encontrado (80; 35,4%). O eixo face a face
foi observado em apenas 44 (64,5%), já que o procedimento requer atenção da mãe durante
o ato. Tal fato pode ser justificado porque a cada etapa da troca de fraldas a mãe
necessitava pegar algum material para usar, como água, fraldas ou a fita de fixação.
Isto se confirma ao se observar que durante o procedimento analisado, o eixo
sociopeto aparece em 91(73,4%) das interações. Em seguida vem o sociofugo com
31(25%). Ou seja, a mãe tem a intenção de permanecer próxima do RN e efetuar a troca de
forma eficiente.
Ao se analisar o fator código visual encontraram-se dados muito próximos entre
dois fatores: olhar direcionado ao interlocutor, em 64 (51,6%) interações, e olhar desviado
do interlocutor, em 59 (47,6%) destas.
Por terem as mães de fazer estes pequenos deslocamentos para alcançar
materiais necessários ao uso naquele momento, encontrou-se um número considerável de
eixo lateral, pois, ela precisa desviar seu ângulo de atenção.
Durante todas as análises das interações contidas nas filmagens, a expressão de
alegria apareceu em 5 interações (4,0%). Este fato, provavelmente, pode revelar que
emoções deste tipo são pouco demonstradas neste momento. Conforme se percebeu, a
expressão de alegria ocorria concomitante ao olhar direcionado da mãe para o RN, o que
justifica o somatório da percentagem neste fator ultrapassar 100%.
44
4
No fator proxêmico tom de voz houve prevalência quase absoluta do silêncio
em 123 (99,2%) interações. Conforme mencionado, o quesito “silencio” não havia sido
apontado pelos juízes que julgaram o instrumento inicial. Sobremodo, este dado foi tão
expressivo durante a análise das interações que foi incorporado por sugestão dos
avaliadores das filmagens ao instrumento.
Em segundo lugar avaliou-se o tom de voz normal (10; 8,1%) das interações
como forma de se comunicar com o RN, seguido do sussurro, em 2 (1,6%) delas, e voz
baixa, em apenas uma (0,8%) interação. Semelhante ao ocorrido no código visual, em uma
mesma interação houve momentos de silêncio acrescido de alguma manifestação verbal.
Por isso este somatório também ultrapassou os 100%.
Quanto à presença de obstáculo entre mãe e RN, em 123 (99,2%) das interações
não houve qualquer obstáculo, e em uma única interação (0,8%) foi detectada a presença
de obstáculo entre mãe e filho.
45
4
Tabela 3 - Associação entre as variáveis grupo e fatores proxêmicos, Fortaleza-CE, janeiro
a Fevereiro/2006
Grupo 1 (G1) Grupo 2 (G2)
N% N%
Teste p
Distância
2,41
1
0,120
Íntima 62 81,6 44 91,7
pessoal 14 18,4 4 8,3
Eixo
2,28
1
0,706
Face a face 26 34,2 18 37,5
Lateral 50 65,8 30 62,5
Sociofugo 16 21,1 15 31,3
sociopeto 59 77,6 30 62,5
Código visual
Direcionado ao interlocutor 34 44,7 30 62,5 (2) 0,028
Desviado do interlocutor 41 53,9 18 37,5
Alegria
1 1,3 4 8,3
Tom de voz
(2) 0,018
Sussurro 2 2,6 - -
Baixo 1 1,3 - -
Normal 10 13,2 - -
Silêncio
63 82,9 48 100,0
Obstáculo Mãe/filho
(3) 0,998
Sim 1 1,3 - -
Não 75 98,7 48 100,0
(1) Teste de χ
2
; (2) Teste de Fisher-Freeman-Halton ; (3) Teste de Fisher.
A Tabela 3 mostra a análise comparativa dos fatores proxêmicos estudados
entre os dois grupos. Onde p (p value) é menor que 0,05, indica que houve diferença
estatística significativa entre os grupos.
No fator código visual, o olhar direcionado ao interlocutor acontece em 34
(44,7%) interações e o olhar desviado do interlocutor em 41(53,9%), enquanto a alegria
apareceu em apenas 1 (1,3%) interação (p = 0,028).
No quesito tom de voz, o sussurro ocorreu em 2 (2, 6%), o tom de voz baixo,
em 1 (1,3%), e o normal em 10 (13,2%); já o silêncio, em 63 (82,9%) interações (p =
0,018).
46
4
Segundo se depreende pela Tabela 3, houve diferenças significativas apenas nos
fatores código visual e tom de voz. Nos demais fatores dos dois grupos não foram
observadas diferenças significativas.
Tabela 4 - Análise de concordância entre os juízes e os fatores proxêmicos.
Juiz
1 2
Item N % N % Coef. F p
Distância 0,229 1,297 0,075
Íntima até 0,5cm 56 90,3 50 80,6
Pessoal de 0,5 a 1,20cm 6 9,7 12 19,4
Postura
De pé 62 100,0 62 100,0 1,000 Concordância total
Eixo 0,030 1,031 0,434
Lateral - - 2 3,2
Face a face e sociofugo 1 1,6 4 6,5
Face a face e sociopeto 26 41,9 13 21,0
Lateral e sociofugo 12 19,4 14 22,6
Lateral e sociopeto 23 31,7 29 46,8
Mãe -0,079 0,927 0,663
Toque 18 29,0 19 30,6
Agarrar 6 9,7 5 8,1
Tocar localizado 23 37,1 27 43,5
Roçar acidental - - 1 1,6
Carícia 2 3,2 2 3,2
Nenhum 13 21,0 8 12,9
Bebê -0,201 0,832 0,845
Ativo 38 61,3 48 77,4
Geme 1 1,6 3 4,8
Chora 11 17,7 9 14,5
Soluça 1 1,6 1 1,6
Sonolento 1 1,6 1 1,6
Ativo e permanece de olhos
abertos 10 16,1 - -
Código visual -0,124 0,890 0,741
Olhar direcionado 31 50,0 30 48,4
Olhar desviado 26 41,9 32 51,6
Alegria 1 1,6 - -
Olhar direcionado e alegria 3 4,8 - -
Olhar desviado e alegria 1 1,6 - -
Tom de voz -0,144 0,874 0,772
Sussurro 2 3,2 - -
Baixo - - 1 1,6
Normal 2 3,2 8 12,9
Silêncio 58 93,5 53 85,5
Obstáculo mãe e filho -0,065 0,939 0,635
Sim - - 1 1,6
Não 62 100,0 61 98,4
47
4
A Tabela 4 apresenta os índices de concordância entre os dois juízes diante
dos fatores proxêmicos analisados das interações entre os binômios. De acordo com a
análise estatística, houve concordância absoluta entre os juízes apenas no fator postura.
Baixos valores de concordância entre juízes podem ser encontrados em
trabalhos deste tipo em virtude de duas possíveis fontes de erro: diferença de percepção
dos juízes e alteração das respostas do paciente em função da presença dos avaliadores
(ALMEIDA FILHO, 1989). Este último fato torna-se pouco provável neste trabalho já
que o recurso utilizado foi o vídeo e os juízes fizeram as análises simultaneamente.
48
4
5 DISCUSSÃO
Hall (1986, 1994), a partir de diversos estudos empíricos sobre a relação das
pessoas com o espaço ou a investigação de como o espaço é apropriado nas relações
sociais, sobretudo nos estudos comparados, as distâncias variam de cultura para cultura.
Associado a isso somam-se fatores pessoais, como presença de enfermidade. Neste sentido,
conforme ressalta, investigações pontuais permitiriam apontar variáveis que demonstram
as possíveis diferenças de fatos ou ações.
De acordo com o descrito por Silva et al. (2000) os fatores proxêmicos
permitem entender como ocorrem as interações pessoais, na busca de melhor compreensão
das formas de relacionamento humano, pois este processo de interação no qual se
compartilham mensagens, idéias e sentimentos podem influenciar o comportamento das
pessoas, que reagirão de acordo com suas crenças, valores e história de vida.
Conforme se supôs nesta investigação inicialmente, durante a comunicação
proxêmica entre mãe-filho com ou sem um fator interveniente - neste caso, o HIV – no
processo de troca de fraldas em ambiente programado - poderiam as intervenções maternas
manifestar-se de forma diferenciada entre eles. Nesta perspectiva, os resultados obtidos ao
longo dos diferentes aspectos proxêmicos observados entre os grupos evidenciaram
diferença estatística em dois dos cinco fatores estudados: código visual (p 0,028) e o tom
de voz (p 0,018).
Estudos apontam que a presença de doença crônica na infância pode se
constituir num importante fator de mediação da qualidade da interação mãe-criança
(PISCCININI et al., 2003). Entretanto, quando uma criança está exposta a um componente
infeccioso, neste caso, o HIV, ela deve ser considerada potencialmente contaminada, até
que o diagnóstico definitivo seja evidenciado. Este processo pode demorar até 24 meses.
Neste entendimento, como afirmam Rabkin, El-Sadr e Abrans(2004), crianças nascidas de
mães soropositivas ao HIV são consideradas com doença crônica.
Segundo referido por Bowlby (1990), existe nos bebês uma propensão inata
para o contato físico intenso com um ser humano. Há propensão para se relacionar com o
seio materno, para sugá-lo e possui-lo oralmente. Assim no devido tempo, o RN aprende a
se relacionar profundamente com a mãe. Em parte dos binômios estudados, esta proposição
49
4
não poderia ser avaliada durante este relacionamento mais íntimo em decorrência da
possibilidade da transmissão do HIV durante a amamentação natural.
Ainda conforme assinala o mesmo autor, outra maneira de a criança sentir-se
próxima da mãe ocorre durante o conforto, entre os diferentes gestos o momento da troca
de fraldas (BOWLBY, 1990) Assim, era de se esperar que em virtude da limitação do
aleitamento materno haveria maiores e mais complexos gestos, de interações íntimas e
comunicacionais no binômio cuja mãe era portadora de HIV.
Tem-se a distância como elemento proxêmico. Como é notório, os seres
humanos mantêm distâncias que impulsionam a interação humana, definidos por espaço:
íntimo, pessoal, social e público. A aproximação ou distanciamento de uma pessoa sinaliza
um desejo. Manter aproximação um do outro sugere maior abertura ou acesso à
comunicação, representando maior riqueza na comunicação (SCOTT-WEBBER, 2004;
HALL, 1986).
Consoante advertem determinados pesquisadores, há uma diversidade de
fatores que interagem nas distâncias entre os seres, sobretudo aqueles que diminuem ou
aumentam as distâncias pessoais (SOMMER, 2004; HALL, 1986). Tratando-se do cuidado
mãe-filho, o espaço íntimo é a situação esperada. Nesta ocasião o contato físico restringe-
se às mãos, e os pormenores são percebidos com precisão extraordinária. Associada a esta
proximidade, a comunicação verbal manifesta-se com a presença de murmúrio. Mas o
calor e o cheiro do outro são perfeitamente perceptíveis (HALL, 1986).
O primeiro contato materno consiste em uma das ligações da via intra-uterina,
com o fator adicional de uma relação ou contato íntimo, como o toque (FERREIRA et al.,
1998). Um momento importante para desenvolver este contato é durante a troca de fraldas,
quando a mãe promove uma relação direta com seu bebê.
Segundo Bowlby (1990), a sobrevivência das crianças, um ser que precisa do
cuidado do outro, depende da manutenção da proximidade de adultos que desempenhem
funções de proteção e fornecimento de conforto e segurança. Estes componentes básicos da
natureza humana são necessários para a criança, desde o nascimento.
Deste modo, na presente pesquisa, os resultados estão de conformidade com o
esperado para a situação.Houve predominância da proximidade (distância íntima) nas
interações entre os grupos, pois na situação estudada, a troca de fraldas exige da mãe um
cuidado mais próximo do RN, mesmo que por qualquer motivo ela tente aumentar a
distância.
50
5
Em corroboração a este achado, de acordo com o divulgado por alguns estudos,
nos primeiros dias pós-parto o maior desejo da mãe é permanecer junto do filho, o mais
próximo possível, da mesma forma quando estavam intimamente ligados no longo do
período pré-parto, quando o bebê fazia parte do corpo materno (BOWLBY, 1990;
VASCONCELOS et al., 2006a).
Embora esta investigação tenha sido realizada com o bebê nas primeiras horas
de vida, o caráter de proximidade da troca de fraldas pode ser extrapolado para outros
momentos da vida cotidiana das díades. Neste aspecto de proximidade mãe-filho, o
pesquisador é enfático ao afirmar que a criança precisa ter durante os primeiros anos de
vida uma relação afetiva e íntima com sua mãe ou mãe substituta permanente. A relação
íntima, afetiva e contínua entre mãe e filho, na qual ambos encontrem satisfação, é
imprescindível para a saúde mental do indivíduo em fases mais avançadas da vida. Várias
formas de neuroses e desordens de caráter, sobretudo psicopatias, podem ser atribuídas seja
à privação do cuidado materno, seja à descontinuidade na relação da criança com uma
figura materna durante os primeiros anos de vida (BOWLBY, 1990; SILVA et al., 2002).
Desta forma, depreende-se que o contato íntimo é um estímulo importante para
o crescimento e a percepção, estimulando, assim, instintivamente, reações emocionais na
criança. Naturalmente neste processo se incluem a higienização, o banho e todos os
pormenores do cuidado físico, como afagar, acariciar e cantarolar ou falar com o bebê.
No relacionado à distância pessoal, no presente estudo observou-se pequena
parcela das interações (14,5%) entre os grupos. Tal situação ocorria exatamente no
momento em que a mãe precisava alcançar alguns objetos necessários para o procedimento
de higienização durante a troca das fraldas. Entretanto, esta distância não se interpreta sob
ponto de vista de desdém, mas pela busca de objetos para execução do cuidado. Portanto,
não representa para a criança uma situação de risco de quedas. Apesar de acidentes nesta
situação serem raros, observar o distanciamento impróprio é um alerta para os profissionais
identificarem possíveis sinais de comunicação como forma de evitação entre mãe-filho.
Embora não tenha observado diferença estatística entre os binômios no quesito
distância vale ressaltar o fato de a distância íntima ter apresentado uma freqüência maior
entre os binômios cuja mãe é HIV positiva. Diante do exposto, pode-se inferir algumas
proposições. A primeira delas relaciona-se aos diferentes momentos de angústias
vivenciados durante o período gestacional. Tais momentos advinham da possibilidade de
perder o filho e ou gerá-lo com evidências da infecção. Toda mãe sonha com o filho
51
5
perfeito. Nascer saudável é momento de compartilhar alegrias. A segunda suposição
decorre do fato de tê-lo próximo, tocá-lo, situação que enaltece a maternidade. De acordo
com alguns relatos, em virtude de gerar um filho na vigência do HIV, a mulher passa por
diferentes períodos de estresse (PAIVA et al, 2004; PAIVA et al., 2002). Durante o pós-
parto sentem-se sobreviventes. Na presença do filho têm a esperança e o alento para se
manterem vivas.
Soma-se ao exposto o divulgado em estudos recentes, os quais indicam que
gestantes portadoras de HIV sentem-se felizes pela oportunidade da maternidade, pois
mesmo em face do estigma ainda fortemente presente nos dias de hoje sobre portadores de
HIV, elas não abrem mão do sonho de ser mãe (VASCONCELOS et al., 2006a).
Esta afirmação se baseia em outra pesquisa desenvolvida pela pesquisadora, a
qual encontra-se em processo de redação final. Nela avalia-se a comunicação mãe-filho
durante o aleitamento artificial e natural, respectivamente, em puérperas com HIV e sem a
infecção. Segundo evidenciado, mães com sorologia positiva para o HIV demonstram
especial cuidado no momento de oferecer ao bebê, mantido no colo, o leite artificial em
copos descartáveis. Manifestam gestos carinhosos e atenção ininterrupta ao bebê. Já mães
sem a infecção, ao amamentar ao seio, participam de todos os fatos ocorridos na unidade
de alojamento conjunto, mas concomitantemente ao ato de amamentação conversam,
enquanto outras mães da enfermaria lêem revista ou assistem televisão.
Provavelmente, o interesse da mãe portadora de HIV em manter-se mais
próxima do filho, comprovado pelas interações, fundamenta-se na preocupação em ofertar-
lhe o melhor diante das suas possibilidades comunicacionais. Os bebês gestados por
mulheres HIV positivas adquirem um significado vital na vida dessas mães. Muitas vezes
eles representam a única razão na luta contra o sentimento de desesperança tão freqüente
nesta clientela (PAIVA et al., 2004; VASCONCELOS et al., 2006a).
A descoberta da aids traz para o cotidiano das mulheres, sobretudo das mães,
sofrimentos como angústia e perplexidade em relação ao futuro, e elas passam a refletir
sobre o verdadeiro sentido da vida, os limites do suportável e a morte (VASCONCELOS et
al., 2006a).
De acordo com Stefanelli e Carvalho(2005), para que uma comunicação afetiva
se desenvolva adequadamente, é preciso haver motivação. As emoções e sentimentos
interferem na percepção dos sinais emitidos pelo outro, pois quando ficamos tristes
estamos mais voltados para nós mesmos, percebemos menos o outro e nos distanciamos.
52
5
No entanto se estamos felizes, ficamos mais próximos, mais receptivos às mensagens do
outro.
Tratando-se do eixo avaliado, refere-se neste estudo à angulação mãe-filho.
Neste caso, utiliza-se o termo sociofugo para uma situação que sinaliza o
desencorajamento da interação e sociopeto aponta o desejo da comunicação-interação.
Hall (1986) ressalta que o ângulo estabelecido entre os participantes da
interação é um desejo explícito da situação. No presente estudo era clara a manifestação de
desejo da interação na situação de troca de fraldas em ambos os grupos.
Ainda conforme resultados, estudo anterior também observou o encorajamento
da situação de cuidado materno em alojamento conjunto com binômios em condições
clínicas e laboratoriais normais (VASCONCELOS et al., 2006b)
A manifestação do eixo sociofugo obtida na pesquisa diante das interações
analisadas se justifica da mesma forma que o eixo lateral. Isso ocorreu em virtude de a mãe
se movimentar para procurar o material de higienização necessário na troca de fraldas.
Provavelmente esse fato surgiu por ser o local do estudo um ambiente previamente
montado para a cena da investigação, na qual a mãe ainda não estava familiarizada com o
ambiente.
Conforme se sabe, as primeiras relações, em especial a interação entre mãe-
bebê, são fundamentais, senão decisivas, em todo o processo de aquisição e
desenvolvimento da linguagem (SCHERMANN, 2001).
Tanto para o feto, quanto para o bebê, a voz constitui um estímulo pulsional,
cujo efeito se manifesta diretamente no corpo, produzindo variações dos ritmos
fisiológicos, modificações da tensão muscular, atividades motoras e de sucção, elevação do
tônus e aumento da vigilância. Nisso se vê como a voz toca diretamente o corpo
(QUEIROZ, 2003). Este autor ainda enfatiza que pela voz se distinguem o som e o sentido
e que a emissão da palavra e dos sons se acompanha, não somente de gestos da pessoa que
fala, mas também de movimentos no corpo daquele que escuta.
Medir todos os sinais da comunicação visual é um desafio. Segundo
comentado, o espaço visual nem sempre é avaliado com precisão, pois haveria necessidade
de instrumentos mais complexos e direcionados para se entender, de fato, a linguagem
presente durante a comunicação visual (HALL, 1986).
Na ora desenvolvida investigação, o local destinado à realização da troca de
fraldas pela mãe na sala de alojamento conjunto apresentava uma altura de 1,00 metro.
53
5
Assim havia uma proximidade que facilitava o contato visual e o comportamento de
contato da mãe em relação ao RN. Entretanto, embora o processo de filmagem não fosse
direcionado aos seus olhos, havia possibilidade indireta de se notar o olhar direto mãe-
filho. Como rreferido, no código visual obteve-se diferença estatística entre os binômios (p
0,028).
Os sentimentos de amor e carinho da mãe pela criança também são despertados
por meio do contato visual. Este contato é uma das formas mais comuns de comunicação
entre mãe e filho, e ocorre em grande parte das interações nos primeiros dias de vida
(QUEIROZ, 2003; VASCONCELOS et al., 2006b).
Conforme se pôde perceber, durante a troca de fraldas a mãe estava atenta ao
RN e ao material a ser usado, o qual estava disposto lateralmente ao colchão onde se
realizava a troca. Eventualmente, a mãe mudava o ângulo de atenção para buscar o
material necessário ao procedimento. Isto a obrigava a desviar o olhar do RN para alcançar
o algodão e a água para limpeza da pele do bebê, a fralda ou a fita adesiva mesmo quando
estes se encontravam ao alcance dela.
No âmbito desta pesquisa e como referido por Queiroz (2003), durante o olhar
há movimentos e expressões. Segundo descrito, em 4% das interações desta pesquisa
apareceu a expressão de alegria no rosto da mãe. Essa manifestação foi efetivada com
esboço de um largo sorriso durante a troca, demonstrando a satisfação em cuidar do filho.
Consoante expõem Silva et al. (2000), a capacidade de compreender o outro
não inclui apenas a fala, mas também suas manifestações corporais. O estudo do outro tem
um papel importante nas interações pessoais.
De acordo com os argumentos relatados anteriormente, a expressão de alegria
pode anunciar diferentes significados entre os dois grupos, pois quando se tem o
diagnóstico de uma doença grave, os familiares manifestam uma seqüência de estágios,
independente da natureza real da situação. Tais estágios conduzem a esparsos momentos
de manifestação de contentamento (PEDRO; STOBÄUS, 2003).
Nestes momentos, a mãe soropositiva pode estar experimentando uma sensação
única de ser capaz de desempenhar um cuidado especial para o filho, visto que a gestação é
cercada de incertezas quanto ao estado de saúde da criança. Portanto, se a criança pode
ficar com a mãe em unidade de alojamento conjunto, é um indício de que ela não tem risco
iminente de qualquer gravidade. Esta satisfação pode ser percebida então pelo sorriso
esboçado pela mãe no momento da troca de fraldas.
54
5
Como o rosto é o local do nosso corpo onde as expressões mais facilmente
aparecem, disfarçá-las não é fácil. Por isso valorizam-se as expressões faciais como sinal
da qualidade da interação, sendo o eixo face a face um significativo componente de
validação. Sabe-se, porém, que as interações iniciais são de curta duração entre mãe e RN e
ocorrem em contextos específicos, basicamente face a face, caracterizando-se,
principalmente, pelas atividades de tocar, olhar e mamar (MOURA et al., 2004).
Em decorrência de puérperas portadoras de HIV serem privadas de amamentar,
esta relação se torna mais restrita, e requer alternativas que compensem o déficit desta
privação.
Para Pisccinini et al. (2003), a doença crônica na criança se constitui em
importante organizador de respostas dos pais com conseqüências para suas interações com
a criança.
Mesmo com pequena possibilidade de a criança nascida sob risco de infecção
pelo HIV desenvolver a doença, tal possibilidade é fonte de estresse para a mãe. Isto altera
a comunicação desenvolvida por esta díade, evidenciando algumas vezes a superproteção.
Em contrapartida, binômios sem infecção tiveram percentualmente maior manifestação
verbal, observando-se pequenas frases pronunciadas por estas mães no momento da troca.
Estas frases demonstraram nas filmagens discretos gestos de carinho e atenção, talvez por
inibição.
Desde antes do nascimento e mesmo depois dele, a voz é de importância
fundamental na construção do sujeito. Ela é o objeto da pulsão e é incorporada da mesma
maneira que o alimento, pois também desencadeia movimentos. Na voz encontra-se a
marca particular do sujeito. Além disso, é o suporte da palavra que parte de um sujeito se
dirigindo para o outro (QUEIROZ, 2003).
No relacionado ao fator tom de voz, o silêncio prevalece (p 0,018). No
momento do cuidado que a mãe presta ao filho, permite-se que a linguagem silenciosa se
faça presente na interação mãe-filho durante o cuidado prestado. Nas palavras de
Hall(1994), o silêncio também é comunicação.
De acordo com estudo anterior que avaliou a comunicação entre mãe-filho
saudáveis, sem a presença de doenças, em unidade de alojamento conjunto, segundo se
observou, o volume e a intensidade da voz estavam relacionados com o espaço onde
ocorria a comunicação interpessoal (VASCONCELOS et al, 2006b).
55
5
Como evidenciado no presente estud, o tom de voz normal apareceu numa
freqüência pequena entre as mães sem a infecção pelo HIV. Pode-se deduzir, talvez, as
mães não consideram este momento propício para demonstrar sentimentos.
Já no quesito tom de voz, houve predomínio absoluto do silêncio entre os
binômios HIV. Tal fator foi associado ao cuidado da mãe em promover o bem-estar do
filho, evitando ruídos desnecessários que pudessem causar agitação. Estas mães
desenvolveram a técnica de forma mais prática e com menos índice de demonstração de
sentimentos, como se estivessem desempenhando uma tarefa rotineira, na qual as emoções
não precisam estar presentes.
Também se alude à situação a possibilidade de as mães terem ficado
constrangidas com a presença da filmadora, embora tenham sido realizados entre os
binômios três momentos de filmagens, ocorridos sempre diante da necessidade de troca, e
terem sido as últimas filmagens avaliadas na expectativa de que elas estivessem mais
familiarizadas com a câmera.
Quanto ao local determinado para a troca de fraldas durante as filmagens,
pareceu bastante adequado, pois em quase 100% das interações não se considerou
obstáculo entre mãe e RN. Assim, depreende-se do exposto que provavelmente determinar
um espaço planejado pode ter influenciado na condução natural da comunicação entre
mãe-filho.
56
5
Como afirmam Scappaticci, Iacoponi e Blay(2004), o registro permanente
obtido por meio da filmagem torna possível a observação da mesma interação por dois
avaliadores independentes na busca de uma maior fidedignidade. No estudo ora
desenvolvido, ao se ponderar a concordância do julgamento entre os juízes diante do
estabelecimento das avaliações das interações, houve concordância total apenas quanto à
postura. Entretanto, essa situação não invalida o estudo.
Por terem sido os juízes orientados a fazer os registros das observações no
exato momento em que a filmagem era interrompida, imaginava-se obter resultados mais
próximos. No entanto, provavelmente o milésimo de segundo de diferença entre a
observação de um juiz em comparação com a do outro pode ter causado parte da
discordância nas análises.
Outro ponto a se considerar refere-se às distâncias, as quais não podem ser
medidas com exatidão. Cada juiz fez uma média de acordo com sua visão própria e de
forma aproximada do que seria uma distância íntima ou pessoal, o que também justifica a
variação nos índices de concordância. Nos diferentes apontamentos de Hall (1994), o autor
adverte sobre as experiências individuas. Elas são únicas, mesmo dentro da própria cultura.
Somadas aos diversos fatores individuais circunstâncias de educação e de vida, posição
social, além da posição da observação, há divergências nos resultados.
O tom de voz é outro fator bastante suscetível a variações, pois como não se
aplicou um meio de realizar medição de forma exata, cada juiz interpreta da sua
maneira. Portanto, o que pode ser considerado baixo para um, pode não ser para o
outro.
Estas discordâncias não invalidam o método utilizado, porquanto os dados
obtidos são de uma riqueza única, porém deixam claro que cada pessoa, mesmo diante
de uma mesma teoria, pode ter interpretações diferenciadas de acordo com vários
fatores, como sua cultura, seu modo de pensar e agir, sua história de vida.
Esse dado reforça a necessidade de se criar estratégias pontuais para se medir
com mais segurança as informações buscadas em pesquisas quantitativas. Mesmo
utilizando-se a filmagem, com seu alto poder de resolução do registro da situação
analisada, a subjetividade que acompanha este tipo de método não permite uma
fidedignidade absoluta entre eles.
Contudo deve-se levar em conta o seguinte: não é a concordância dos juízes
que valida os dados e sim o somatório do que foi extraído destas análises.
57
5
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o que se avaliou diante da comunicação proxêmica entre mãe e
filho em unidade de alojamento conjunto e na presença de dois grupos distintos, obteve-se
diferença significativa estatisticamente em relação aos códigos visual e o tom de voz.
Poucos estudos nesta área foram observados para corroborar ou refutar os
resultados obtidos. Entretanto, os dados relativos (%) permitem inferir algumas suposições:
a) a situação de troca de fraldas não foi o momento em que as mães
demonstraram carinho ou outro sentimento em relação a seus filhos, como se
esperava;
b) verificou-se a presença de um número elevado de interações em eixo lateral.
Este dado surpreendeu, pois se esperava maior número de interações face a
face. Contudo, ele é compreendido como os momentos em que a mãe
precisava desviar o olhar para o alcance de materiais necessários à troca;
c) o olhar direcionado ao interlocutor manteve margem muito próxima do
desviado do interlocutor, corroborando o que foi observado nos eixos quanto à
necessidade da mãe em desviar sua atenção neste momento;
d) a maioria das interações encontradas com o eixo sociopeto pode refletir na
intenção da mãe permanecer próxima do filho no momento da troca de fraldas,
desempenhando de forma atenciosa à tarefa atribuída e salvaguardando o filho
de qualquer dano;
e) a presença do silêncio com uma margem significativa durante a troca de
fraldas trouxe uma nova surpresa, pois se esperava que as mães fizessem deste
momento uma oportunidade de troca de palavras ou gestos de carinho com o
filho;
f) a alegria esteve presente em algumas interações onde as mães apareceram
concomitantemente expressando esta sensação.
Como mencionado, os resultados deste estudo surpreenderam em determinados
aspectos. Todavia, as suposições recém-expostas podem servir de roteiro no caminho da
compreensão do assunto. Desta forma, outros estudos poderão ser desencadeados com
vistas a ampliar o processo de avaliação da comunicação nas fases iniciais da vida, pois o
58
5
conhecimento do processo comunicativo entre mãe e filho pode auxiliar no julgamento da
validade da implementação de esforços para torná-la o mais saudável possível desde as
primeiras horas pós-parto.
Pacientes com aids têm uma história de vida peculiar, marcada por episódios
dolorosos diante dos infortúnios da doença e das incertezas quanto ao seu prognóstico.
Além de lidar com a doença, os portadores de HIV ainda têm de lidar com a forma
preconceituosa como a doença é vista pela sociedade. Isto afeta significativamente sua
forma de se relacionar com os outros.
Em face desta situação, o enfermeiro pode atuar precocemente quando
detectadas alterações, prevenindo qualquer dano neste processo e salvaguardando a
importante aprendizagem da mãe com os cuidados do RN na unidade de alojamento
conjunto.
A compreensão do enfermeiro sobre as diversas possibilidades de comunicação
entre esta díade dá a ele significativa ferramenta de trabalho no sentido de atuar
eficazmente, reconhecendo o momento no qual se faz necessária uma intervenção de
enfermagem com o intuito de promover uma melhor interação entre esta díade.
Quanto ao índice de concordância entre os juízes, só houve concordância
absoluta no fator postura. Essa discordância é interessante, pois induz à reflexão sob a ótica
de como cada indivíduo tem julgamentos e percepções próprias. Todos os fatores
analisados são interpretados de forma subjetiva pelos juízes, os quais sofrem influências de
sua história de vida, crenças, valores e outros conhecimentos adquiridos por parte deles
individualmente.
Mencionados julgamentos precisam e devem ser constantemente aprimorados
como forma de melhorar a assistência prestada, pois quanto maior a proximidade de um
julgamento fidedigno, maior capacidade se obtém para aperfeiçoar e corrigir deficiências
da comunicação, julgada quantitativamente. Assim, se pôr à disposição e desenvolver
estudo nesta linha de interpretação e avaliação tornaram-se um desafio agradável, pois nem
tudo o que se esperava se obteve.
Entretanto, este aprimoramento só é possível quando se investe em pesquisa
como esta para se conhecer determinadas realidades e, posteriormente, traçar metas de
melhoria para ela.
Foi válido detectar que em realidades supostamente tão diferentes como a
comunicação entre díades mãe e RN portadores de HIV e não-portadores, se evidenciam
59
5
resultados em que estas diferenças não são significativas a ponto de afetarem gravemente o
desenrolar desta nova interação que se inicia.
Sabe-se, que o período analisado foi restrito. Além disso, parear sujeitos é
complexo. No entanto, novas pesquisas com intervalos de tempo maior podem ser
desenvolvidas a fim de validar os resultados ora demonstrados.
Estudar é desafiar o conhecimento. Portanto torna-se algo instigante e tem sido
marcado como um fato em nossas vidas. Pesquisar situações do cotidiano em ambiente de
trabalho pode trazer resultados inesperados. Tais resultados confirmam a afirmação:
Pesquisar o desconhecido é desbravar fronteiras.
60
6
7 REFERÊNCIAS
ADLER, B.A.; TOWNE, N. Comunicação interpessoal. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002.
ALMEIDA FILHO, N. Desenvolvimento de instrumentos na pesquisa epidemiológica. In:
ALMEIDA FILHO, N. (Org.). Epidemiologia sem números: uma introdução crítica à
ciência epidemiológica. Rio de Janeiro: Campus, 1989. p. 39-54.
ALMEIDA, C. B. Características da comunicação não-verbal entre o enfermeiro e o
cego. 2005. 97 f. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Enfermagem, Universidade
Federal do Ceará, Fortaleza, 2005.
ANDRADE, M. M. Introdução à metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas,
1998.
BITTI, P. R.; ZANI, B. A comunicação como processo social. 2. ed. Lisboa: Estampa,
1997.
BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DA AIDS. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2003a.
BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DA AIDS. Brasília, DF: Ministério da Saúde, ano 1, n. 1,
jan./jun. 2004.
BONADI, I. C.; SHNECK, C. A. Identificação do sentimento de apego materno-fetal
no atendimento pré-natal. 2003.
BORDENAVE, J. D. O papel dos meios de multissensoriais no ensino-aprendizagem. In:
BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 25. ed.
Petrópolis: Vozes, 2005. cap. 9, p. 203-211.
BOWLBY, J. Apego. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética
em Pesquisa (CONEP). Resolução nº 196/96, de 03/07/1996. Sobre pesquisa envolvendo
seres humanos. Brasília, 1996. 24 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Dados e pesquisas em DST e aids. Disponível em:
<http//www.aids.gov.br/final/dados/aids.htm>. Acesso em: 20 maio 2005.
61
6
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 1016, de 26 de agosto de 1993.
Normas básicas para alojamento conjunto. Brasília, 1993.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.016, de 26 de agosto de 1993. Normas básicas
para alojamento conjunto. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder
Executivo, Brasília, DF, 1 de set. 1993. n. 167.
BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto nascer maternidades. Brasília, 2003. Versão
preliminar.
BRITO, A. M.; SOUSA, J. L.; LUNA, C. F.; DOURADO, I. Tendência da transmissão
vertical de aids após a terapia anti-retroviral no Brasil. Rev. Saúde Pública, v. 40, supl., p.
18-22, 2006.
CEARÁ. Secretaria Estadual da Saúde. Dados de AIDS no Ceará. Fortaleza, 2003.
CZESRENIA, D.; SANTOS, E.M.; BARBOSA, R.H.S.; MONTEIRO, H. Aids: pesquisa
social e educação. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: ABRASCO, 1995.
DOURADO, I.; VERAS, M. A. S. M.; BARREIRA, D.; BRITO, A. M. Tendências da
epidemia da aids no Brasil após a terapia anti-retroviral. Rev. Saúde Pública, v. 40, supl,
p. 9-17, 2006.
DUARTE, J.; BARROS, A. (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação.
São Paulo:Atlas, 2005.
DURHAM, J. D.; COHEN, F. L. A enfermagem e o aidético. São Paulo: Manole, 1989.
FARIAS, L. M. Comunicação proxêmica entre mãe e recém-nascido de risco na
unidade neonatal. 2005. 109 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceará,
Departamento de Enfermagem, Fortaleza, 2005.
FERREIRA, E. A.; VARGAS, I. M. Á.; ROCHA, S. M. M. Um estudo bibliográfico sobre
o apego mãe e filho: bases para a assistência de enfermagem pediátrica e neonatal. Rev.
Latinoam. Enfermagem, v. 6, n. 4, p.111-116, out. 1998.
GALVÃO, M. T. G.; CERAUEIRA, A. T. A. R.; MARCONDES-MACHADO, J.
Avaliação da qualidade de vida de mulheres com HIV/AIDS através do HAT–QOL. Cad.
Saúde Pública, v. 20, n. 2, p. 430–437, 2004.
62
6
GALVÃO, M. T. G.; PAIVA, S. S.; SAWADA, N. O.; PAGLIUCA, L. M. F. Analysis of
proxemic communication with patients with HIV/AIDS. Rev. Latinoam. Enfermagem, v.
14, n. 2, prelo, 2006.
GOFFMAN, E. Relations in public. New York: Basic Books, 1971.
GRUPO DE APOIO À PREVENÇÃO DA AIDS-CE. Em debate: Aids. Fortaleza, ano 3,
n. 2, 1997.
HALL, E. T. A dimensão oculta. Lisboa: Relógio Dágua, 1986.
HALL, E. T. A linguagem silenciosa. Lisboa: Relógio Dágua, 1994.
LAMOUNIER, A. J.; MOULIN, Z. S.; XAVIER, C. C. Recomendações quanto à
amamentação na vigência de infecção materna. J. Pediatr. (Rio de J.), v. 80, n. 5 supl., p.
s181-s188, nov. 2004.
LITTLEJOHN, S. W. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1998.
MATHEUS, M. C. C.; FUGITA, R. M. I.; SÁ, A. C. Observação em enfermagem. In:
CIANCIARULLO, T. I. Instrumentos básicos para o cuidar: um desafio para a
qualidade da assistência. São Paulo: Atheneu, 2003. cap. 2, p. 5–24.
MENDES, I. A. C. Enfoque humanístico à comunicação em enfermagem. São Paulo:
Savier, 1994.
MOURA, M. L. S.; RIBAS, A. F. P.; SEABRA, K. da C.; PESSÔA, L. F.; RIBAS
JUNIOR, R. de C.; NOGUEIRA, S. E. Interações iniciais mãe-bebê. Psicologia: reflexão e
crítica, v. 17, n. 3, p. 295-302, 2004.
MULHERES com Aids são a maioria em 207 municípios. Rev. Saúde Reprodutiva,
Disponível em: <http://www.aids.gov.br>. Acesso em: 20 jul. 2004.
NEMES, M. I. B.; CASTANHEIRA, E. R. L.; MELCHIOR, R.; ALVES, M. T. S. S. de B.
e; BASSO, C. R. Avaliação da qualidade da assistência no programa de aids: questões para
a investigação em serviços de saúde no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20,
supl. 2, p. S310-S321, 2004.
63
6
OLIVEIRA, J. P.; MARQUES, S. L. Análise da comunicação verbal e não-verbal de
crianças com deficiencia visual durante interação com a mãe. Rev. Bras. Educ. Espec., v.
11, n. 3, p. 409-428, set./dez. 2005.
OLIVEIRA, V. T.; CASSIANI, S. H. B. O processo de comunicação na administração de
medicações injetáveis em crianças sob a perspectiva da interação entre mãe-criança e
auxiliares de enfermagem. Rev. Latinoam. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 5, n. 4, p. 61-
67, out. 1997.
PAIVA, S. S.; GALVÃO, M. T. G. Sentimentos diante da não amamentação de gestantes e
puérperas soropositivas para HIV. Texto & Contexto Enfermagem, v. 13, n. 3, p. 414-
419, 2004.
PAIVA, V.; LIMA, T. N.; SANTOS, N.; VENTURA-FILIPE, E.; SEGURADO, A. Sem
direito de amar?: a vontade de ter filhos entre homens (e mulheres) vivendo com o HIV.
Psicol. USP, v. 13, n. 2, p.105-133, 2002.
PEDRO, E. N. R.; STOBAUS, C. D. Vivências e (com)vivências de crianças portadoras do
HIV/AIDS e seus familiares: implicações educacionais. Rev. Paul. Enf., v. 22, n. 1, p. 62-
71, jan./abr. 2003.
PISCCININI, C. A.; CASTRO, E. K.; ALVARENGA, P.; VARGAS, S.; OLIVEIRA, V.
Z. A doença crônica orgânica na infância e as práticas educativas maternas. Estud. Psicol.,
v. 8, n. 1, p. 75-83, 2003.
POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos da pesquisa em
enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
QUEIROZ, T. C. N. Entrando na linguagem. Estilos Clin., v. 8, n.15, p. 12-33, jun. 2003.
RABKIN, M.; EL-SADR, W.; ABRANS, E. O manual clínico pediátrico. New York:
The internacional center for AIDS programs, 2004.
ROCHA, S. M. M.; SIMPLIONATO, E.; MELLO, D. F. Apego mãe-filho: estudo
comparativo entre mães de parto normal e cesárea. Rev. Bras. Enf., v. 56, n. 2, p. 125-129,
2003.
SANTOS, R. E. As teorias da comunicação: da fala à internet. São Paulo: Paulinas, 2003.
64
6
SAWADA, N. O.; ZAGO, M. M.; GALVÃO, C. M.; FERREIRA, E.; BARICHELLO, E.
Análise dos fatores proxêmicos com o paciente laringectomizado. Rev. Latinoam.
Enfermagem, v. 8, n. 4, p. 72–80, 2000.
SCAPPATICCI, A. L. S. S.; IACOPONI, E.; BLAY, S. L. Estudo da fidedignidade inter-
avaliadores de uma escala para a avaliação da interação mãe-bebê. Rev. Psiquiatr. Rio
Gd. Sul, v. 26, n. 1, p. 39-46, jan./abr. 2004.
SCHERMANN, L. Considerações sobre a interação mãe-criança e o nascimento pré-termo,
Temas em Psicologia da SBP, v. 9, n. 1, p. 55-61, 2001.
SCHNECK, C. A.; RIESCO, M. L. G. Apego mãe-bebê: análise da produção científica da
enfermagem na década de 90. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE COMUNICAÇÃO EM
ENFERMAGEM, 7., 2000, Ribeirão Preto. Anais... 2000. p. 143-147.
SCOCHI, C. G. S.; KOKUDAY, M. L. P.; RIUL, M. J. S.; ROSSANEZ, L. S. S.;
FONSECA, L. M. M.; LEITE, A. M. Incentivando o vínculo mãe-filho em situação de
prematuridade: as intervenções de enfermagem no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
Rev. Latinoam. Enfermagem, v. 11, n. 4, p. 539-543, jul./ago. 2003.
SCOTT-WEBER, L. Environment behavior basics. [S.l.]: Society for College and
University Planning, 2004. Disponível em: <http://www.scup.org/pubs/books/> Acesso em
: 20 Jan. 2006.
SILVA, L. M. G.; BRASIL, V. V.; GUIMARÃES, H. C. Q. C. P.; SAVONITTI, B. H. R.
A.; SILVA, M. J. P. Comunicação não-verbal: reflexões acerca da linguagem corporal.
Rev. Latinoam. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 4, p. 52-58, 2000.
SILVA, S. S. C.; LE PENDU, Y.; PONTES, F. A. R.; DUBOIS, M. Sensibilidade materna
durante o banho. Psic.: Teor. e Pesq., v. 18, n. 3, p. 345-352, set./dez. 2002.
SOMMER, R. From personal space to cyberspace. Brasília, DF: UNB, Laboratório de
Psicologia Ambiental, 2004. (Série 1).
STEFANELLI, M. C. Comunicação com paciente: teoria e ensino. São Paulo: USP, 1992.
STEFANELLI, M. C.; CARVALHO, E. C. A comunicação nos diferentes contextos da
enfermagem. Barueri,SP: Manole, 2005.
65
6
JOINT UNITED NATIONS PROGRAMMER ON HIV/AIDS (UNAIDS). Disponível em:
<http://www.unaids.org/en/Resourses/Publications/Corporat+publications/AIDS+epidemic
+up+date+December+2003.asp>. Acesso em: 4 Dez. 2004.
VASCONCELO, S. G.; GALVÃO, M. T. G.; PAIVA, S. S. Comunicação proxêmica entre
mãe e filho em alojamento conjunto. Rev. Enferm. UERJ, v. 14, n. 1, p. 37-42, jan./mar.
2006.
VASCONCELOS, S. G.; GALVÃO, M. T. G.; MARIA, I.; BRAGA, V. A. A percepção da
gestantes ao lidar com a infecção pelo HIV: estudo exploratório. Online Braz. J. Nursing,
v. 5, n. 1, abr. 2006. Disponível em: <
http://www.uff.br/objnursing/viewarticle.php?id=109>. Acesso em: 10/06/2006
VAZ, M. J. R.; BARROS, S. M. O. Gestantes infectadas pelo HIV: caracterização e
diagnósticos de enfermagem. Acta Paul. Enf., v. 15, n. 2, p. 9-17, abr./jun. 2002.
VERMELHO, L. L.; COSTA, A. J. L. Epidemiologia da transmissão vertical do HIV no
Brasil. Brasília: Coordenação Nacional de DST/aids, 2002. Disponível em:
<http://www.aids.gov.br>. Acesso em: 15 mar. 2004.
XAVIER, I. M. Cidadania, gênero e saúde: a mulher e o enfrentamento da aids. Rev. Enf
UERJ, p. 89-100, 2003. Extra.
YOSHIMOTO, C. E.; DINIZ, E. M. A.; VAZ, F. A. C. Evolução clínica e laboratorial de
recém-nascidos de mães HIV positivas. Rev. Assoc. Méd. Brás., São Paulo, v. 51, n. 2, p.
100-105, mar./abr. 2005.
66
6
APÊNDICES
67
6
APÊNDICE A – Descrição das filmagens
1. Descrição das filmagens
GRUPO 1 – Não-portadoras de HIV
Primeiro binômio
A filmagem do binômio1 foi realizada no dia 15/1/2006 e durou três minutos. A
puérpera M.AT.A., cor branca, 33 anos, procedente de Fortaleza, 1º grau incompleto,
solteira, renda per capita de um salário mínimo, gesta dois, um aborto, gravidez
desejada, com sorologia negativa para o HIV durante o pré-natal, realizou parto cesárea
às 15:00h do dia 14/1/2006. Deu à luz a um RN do sexo masculino, peso de 4.275g,
altura de 53cm e apgar oito no primeiro minuto. Após duas filmagens anteriores, a
paciente mostrou-se tranqüila diante da presença da câmera. Foi orientada a realizar a
troca de fraldas o mais naturalmente possível. Apresentou boa destreza no manuseio do
material usado na troca e no posicionamento do bebê na cama. O RN estava bastante
ativo e inclusive chorou, o que não alterou a conduta da mãe. Ela teve bastante cuidado
quando precisou afastar-se um pouco dele para alcançar um item que julgou necessário
para a troca. Apesar do barulho advindo dos profissionais e pacientes também
presentes no andar, ela não demonstrou alteração no seu comportamento,
desempenhando a função que lhe tinha sido atribuída com domínio. Concluída a cena,
a mãe colocou-o no colo.
Segundo binômio
A filmagem do binômio 2 foi realizada no dia 14/1/2006 e durou dois minutos e
trinta segundos. A puérpera S.N.L., cor branca, 24 anos, procedente de Fortaleza, 2º
grau completo, solteira, renda per capita de dois salários mínimos, gesta dois, sem
nenhum aborto anterior, gravidez desejada, com sorologia negativa para o HIV durante
o pré-natal, submeteu-se ao parto cesárea às 5:25min. do dia 12/1/2006. Pariu RN do
sexo masculino, peso de 2.600g, altura de 46cm e apgar oito no primeiro minuto.
Concordou em participar da filmagem, porém só na terceira troca pareceu mais
tranqüila com a presença do equipamento. Não demonstrou dificuldade em realizar a
troca de fraldas do RN, executando-a de forma ágil, porém sem maiores expressões de
carinho. Não houve qualquer interrupção da equipe de plantão durante o procedimento.
68
6
O RN permaneceu acordado e ativo, não esboçando sinal de choro. Ao término da
troca, a mãe colocou-o imediatamente no braço.
Terceiro binômio
A filmagem do binômio 3 foi realizada no dia 14/1/2006 e durou três minutos.
M.L.A., cor parda, 29 anos, procedente de Fortaleza, 1º grau completo, casada, renda
per capita de três salários mínimos, gesta três, sem histórico de aborto anterior,
gravidez não desejada, com sorologia negativa para o HIV no pré-natal, foi submetida
ao parto cesárea às 14:50min. do dia 13/1/2006. Pariu RN do sexo feminino, com peso
de 3.630g, altura de 48cm e apgar nove no primeiro minuto. Apesar de algumas
interferências durante a filmagem, tanto da acompanhante da paciente como de uma
auxiliar de enfermagem do serviço, a terceira filmagem foi a que melhor retratou a
troca de fraldas, pois a mãe estava mais familiarizada com a câmera. Durante a
interferência da acompanhante, a própria paciente pediu que ela se retirasse. A
puérpera acomodou o RN com bastante cuidado na cama antes de iniciar a troca de
fraldas e demonstrou tranqüilidade e segurança ao executar o procedimento, não se
deixando alterar pelas interferências ocorridas. O RN permaneceu ativo e chorou por
alguns segundos. Isto também não alterou a conduta da mãe, que durante todo o tempo
mostrou-se bastante cuidadosa com ele. Ao término da troca, a mãe colocou-o no
braço.
Quarto binômio HIV
A filmagem do binômio 4 foi realizada no dia 20/1/2006 e durou dois minutos e
trinta segundos. G.F.S., cor parda, 25 anos, 1º grau incompleto, procedente do
município de Eusébio, casada, renda per capita de um salário mínimo, gesta dois, sem
aborto anterior, gravidez não desejada, com sorologia negativa para o HIV no pré-
natal, foi submetida à cesárea às 10:47min. do dia 18/1/2006. Deu à luz um RN do sexo
masculino, com peso de 3.520g, altura de 49cm e apgar oito no primeiro minuto.
Durante a filmagem aparentou tranqüilidade e cuidado ao acomodar o RN na cama,
porém ao término da cena esboçou sorriso de alívio. Não houve qualquer interferência
durante o procedimento. O RN permaneceu ativo durante a troca e não chorou. A mãe
também apresentou boa destreza manual ao efetuar o procedimento. Ao término da
troca, o bebê permaneceu na cama enquanto ela me comunicava que havia encerrado.
69
6
Quinto binômio HIV
A filmagem do binômio 5 foi realizada no dia 30/1/2006 e teve duração de dois
minutos e quinze segundos. A.G.O.S., cor branca, 25 anos, procedente de Fortaleza, 1º
grau completo, casada, renda per capita de dois salários mínimos, gesta dois, nega
abortos, gravidez desejada e sorologia negativa para o HIV no pré-natal. Submetida a
cesárea às 14:55min. do dia 29/01/206, nasceu RN do sexo masculino, peso de 3.325g,
altura de 50cm e apgar oito no primeiro minuto. Ela concordou voluntariamente em
participar da pesquisa, porém mesmo na terceira filmagem ainda mostrava-se um
pouco ansiosa com a câmera. Não houve interrupção de qualquer natureza durante o
procedimento e a mãe parecia ter bastante habilidade com o ato de trocar fraldas.
Demonstrou paciência em cuidar do RN. Ao terminar a troca de fraldas, deixou-o na
cama enquanto me comunicava ter concluido a tarefa.
70
7
APÊNDICE B – Descrição das filmagens
Descrição das filmagens
GRUPO 2 – Portadoras de HIV
Primeiro binômio HIV
A filmagem do binômio 1 foi realizada no dia 20/1/2006 e teve duração de três
minutos e vinte e cinco segundos. L.M.P.F., negra, 30 anos, procedente de Beberibe, 1º
grau incompleto, casada, renda per capita de um salário mínimo, gesta três, nega
aborto anterior, gravidez não desejada, com sorologia positiva para o HIV no pré-natal,
através do teste Elisa há três meses. Refere que a categoria de transmissão foi a sexual
e vem fazendo uso de medicação específica desde o diagnóstico, inclusive para
prevenir a transmissão vertical. Submetida ao parto cesárea no dia 19/1/2006 às
10:27min., deu a luz a um RN do sexo feminino, pesando 3.145g, altura de 50cm e
apgar nove no primeiro minuto. Concordou facilmente em participar da pesquisa e
demonstrou bastante cuidado com o RN, porém foi possível notar certo grau de
ansiedade por estar sendo filmada, constatado por um sorriso nervoso próximo ao
término do procedimento. Em nenhum momento observou-se qualquer sinal de
impaciência ou raiva em estar prestando um cuidado ao filho. Antes mesmo do início
do procedimento teve especial atenção em posicionar a cabeça do RN no leito. Não
houve interferência durante a filmagem. O RN permaneceu ativo e sem sinais de choro
durante a troca. A mãe aconchegou-o no braço ao terminar a cena.
Segundo binômio HIV
A filmagem do binômio 2 foi realizada no dia 30/1/2006 e durou dois minutos e
vinte e cinco segundos.A.C.S.C., negra, 35 anos, procedente de São Gonçalo, 1º grau
completo, casada, renda per capita de um salário mínimo, gesta dois, nega abortos,
gravidez desejada, com sorologia positiva para o HIV através do teste Elisa há dois
meses. Afirma que a categoria de transmissão foi a sexual e desde o diagnóstico vem
fazendo uso de anti-retrovirais, incluindo as medidas de profilaxia da transmissão
vertical. Realizou cesárea às 23:10min do dia 28/1/2006. Deu à luz um RN do sexo
masculino, pesando 3.420g, medindo 51,5cm e apgar oito no primeiro minuto. Não
colocou obstáculo em participar da pesquisa e mostrou-se bastante atenciosa com o RN
71
7
durante o momento da troca de fraldas. Esboçou um sorriso durante o procedimento
devido os movimentos ativos da criança. O RN não chorou. Não houve qualquer
interferência durante as filmagens e a mãe realizou a troca com aparente tranqüilidade.
Terceiro binômio HIV
A filmagem do binômio 3 foi realizada no dia 5/2/2006 e durou dois minutos.
L.J.M., cor parda, 25 anos, procedente de Caucaia, 2º grau completo, casada, renda per
capita de dois salários mínimos, gesta três, com um filho vivo e um aborto. Gravidez
desejada, com sorologia positiva para o HIV há cinco anos. Afirma que a categoria de
transmissão foi a sexual e que faz uso de anti-retrovirais, incluindo as medidas de
profilaxia para prevenir a transmissão vertical. Submetida a cesárea no dia 3/2/2006 às
10:30min., pariu um RN do sexo feminino, pesando 3.190, medindo 48cm e apgar nove
no primeiro minuto. Apresentava comportamento rebelde e até um pouco agressivo
com a equipe de enfermagem desde o dia anterior, com várias queixas quanto à
prestação de cuidados. Mesmo tendo recebido o inibidor de lactação, insistia em
afirmar que não o havia tomado e sempre exigia que a alimentação do RN fosse dada
antes do horário previsto, pois dizia que ele chorava muito com fome. Mantive contato
com ela por dois dias seguidos, para conseguir sua participação na pesquisa. Tentei
mostrar-lhe que os cuidados realmente estavam sendo prestados de maneira adequada.
Após nossa segunda conversa, ela se acalmou um pouco mais. Mesmo com todos estes
problemas, em nenhum momento demonstrou sinal de raiva ou rejeição com o RN. Ao
contrário, sua preocupação era que ele ficasse sem receber o leite de forma adequada.
Mesmo depois de concordar em participar da filmagem, insistentemente permanecia
com o cabelo, que é bastante longo, encobrindo boa parte da face. Em todas as três
filmagens seu comportamento foi mantido, mesmo eu lhe pedindo que prendesse o
cabelo para facilitar a visualização do rosto. Durante a troca de fraldas, mostrou-se
cuidadosa com o RN e com habilidade satisfatória para o procedimento. Teve cuidado
ao acomodá-lo na cama e logo após o término, colocou-o no braço. Não houve
nenhuma interrupção de terceiros durante a cena.
72
7
ANEXOS
73
7
ANEXO A - Roteiro de observação: comunicação proxêmica entre mãe -filho durante
o processo de troca de fraldas em alojamento conjunto de acordo com pressupostos de
Hall.
JUIZ ________
GRUPO ________ Binômio nº __________
FATORES PROXÊMICOS:
1. Distância 1( )Íntima – até 0,5cm
2( )Pessoal – de 0,5 até1,20cm 1______
2. Postura 1( ) de pé
2( ) sentado
3( ) deitado 2_____
3. Eixo 1( )face a face
2( )lateral
3( )sociofugo
4( )sociopeto 3_____
4. Contato
Mãe 1( )toque
2( ) agarrar
3( ) tocar localizado
4( ) roçar acidental
5( )carícia 4_____
Bebê 1( )ativo
2( ) permanece de olhos abertos
3( )geme
4( )chora
5( )soluça
6( )adere ao seio 5_____
5. Código visual 1( )olhar direcionado ao interlocutor
2( )olhar desviado do interlocutor
3( )surpresa
4( )alegria
5( ) tristeza 6____
6. Tom de voz 1( )sussurro
2( )baixo
3( )normal
4( )alto 7_____
7. Presença de obstáculo entre mãe- filho
1( ) sim
2( ) não 8_____
74
7
ANEXO B - Carta de apresentação aos juízes para avaliação do instrumento a ser
utilizado para coleta de dados
Fortaleza, 6/12/2005
Prezado(a) Senhor(a) Professor(a),
Gostaria de solicitar a colaboração de Vossa Senhoria para viabilizar a
realização de parte de minha pesquisa de mestrado junto ao programa de Pós-Graduação
em enfermagem da Universidade Federal do Ceará.
O objetivo desta fase da pesquisa é concluir o roteiro que será usado pelos
juízes para a análise dos dados, de acordo com a comunicação proxêmica.
Assim, solicito de Vossa Senhoria a colaboração para ser juiz na análise do
instrumento elaborado inicialmente, avaliando criteriosamente e levando em conta os
aspectos arrolados a seguir e os que achar conveniente:
1. Os termos utilizados estão de acordo com a teoria proxêmica?
2. O instrumento está adequado à população que se destina estudar?
3. Deve ser acrescentado mais algum ponto de observação ao instrumento?
4. Existem termos que podem gerar dificuldade de interpretação?
5. O instrumento possibilita o alcance dos objetivos propostos?
6. Qual sua impressão sobre o conteúdo do instrumento e sua forma de
elaboração?
7. Os tópicos do instrumento permitem que os juízes possam realmente avaliar
a situação de comunicação existente no binômio mãe-filho?
Além dos aspectos acima relacionados, Vossa Senhoria tem total liberdade para
formular quaisquer alterações que julgar necessárias.
Informo-lhe antecipadamente que sua identidade será mantida em sigilo
absoluto quando da divulgação da pesquisa.
Agradeço antecipadamente e coloco-me à disposição, bem como minha
orientadora, para esclarecimentos adicionais.
Cordialmente,
Enfermeira Simone Gonçalves Vasconcelos
Mestranda
Doutora Marli Teresinha Gimeniz Galvão
Orientadora
75
7
ANEXO C - Ficha de identificação
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO:
GRUPO_________
Binômio nº....................
Data............./......../........... Hora..............
1.Dados de identificação da puérpera
Nome/Iniciais..................................... Procedência...........................................
Cor1( )branca 2( ) parda 3( )negra 1________
Idade___________________ 2________
Grau de instrução1( )analfabeta 2( )1º grau 3( )2º grau 3________
Situação conjugal 1( )casada 2( )solteira 3( )junta 4________
Renda per capita ...................................... 5________
Número de gestações............................. 6________
Abortos........................... 7________
Gravidez desejada 1( )sim 2( )não 8________
Data do parto:........................................... Horário: ..............................................
2. Dados específicos da portadora de HIV
Categoria de transmissão1( )sexual; 2( )sanguínea;( ) 3( )drogas;
4( )desconhece 1______
Tempo de conhecimento do diagnóstico....................... 2______
Uso de anti-retrovirais 1( )sim; 2( )não 3______
3. Identificação da criança:
Sexo1( )F 2( )M 1_______
Apgar.............. 2_______
Peso ............ 3_______
Altura ............... 4_______
76
7
ANEXO D - Autorização do CEP
77
7
ANEXO E - Termo de consentimento livre e esclarecido
Prezada Senhora,
Sou enfermeira da Maternidade Escola Assis Chateaubriand, e estou desenvolvendo
neste Hospital uma pesquisa que pretende observar a comunicação entre mãe e filho na
unidade de alojamento conjunto.
Para ser mais clara e para que você possa compreender melhor o que quero estudar,
primeiro vou dizer o que dizem que significa comunicação. Comunicação é um processo
que se compara ao ato de respirar, e nenhum de nós consegue viver sem ela, pois em todos
os momentos fazemos uso da comunicação. Tudo à nossa volta significa comunicação.
Como exemplo, temos uma pessoa muda que se comunica por meio de gestos, por
mímica. Uma pessoa surda também se comunica por gestos e presta muita atenção nos
nossos gestos e nos nossos lábios para nos entender. Veja só, até quando tocamos ou
fazemos carinho em uma pessoa, estamos desenvolvendo um tipo de comunicação, que é
realizada pelo toque. Outro exemplo de comunicação acontece quando ouvimos uma
música e dançamos sentindo o ritmo que ela nos oferece. Quando sentimos qualquer tipo
de cheiro, também é uma forma de comunicação; se sentimos o cheiro de queimado, isso
significa sinal de alerta e perigo, e assim olhamos ao nosso redor para ver o que está
acontecendo.
Quando estamos em nossa casa, tudo é muito comum ao nosso dia-a-dia, nossos
objetos, nossos familiares e vivenciamos várias formas de comunicação, seja por gestos,
carinho, falando, olhando, gesticulando, entre outras coisas. No caso do ambiente
hospitalar, parida e com um recém-nascido, fica tudo mais difícil, diferente, desde a cama e
o quarto que você está, até as manifestações do bebê que agora são novidade para você. E é
isso que quero estudar; que tipo de comunicação ocorre entre você e o seu bebê nos
primeiros dias após o parto. Quero ver como acontecem as diferentes formas de
comunicação, como gestos, palavras, olhar, tom de voz. Se as manifestações do bebê
parecem incomodar você, o grau de apego em relação a ele e a intimidade no cuidar, se há
o medo do toque. É isso que chamamos de comunicação proxêmica.
Para isso preciso de sua colaboração permitindo e autorizando-me filmá-la aqui no
seu quarto junto do seu bebê.
78
7
Caso você autorize, virei todos os dias em horários diferentes para observar o que
está acontecendo dentro do seu quarto. Serão em média duas horas por dia durante toda a
sua internação. Não vou falar com você no momento das observações para não interferir
nos dados. Apenas vou olhar, observar e anotar tudo o que achar importante. E gostaria que
a senhora me informasse o peso, o sexo e a nota que a criança recebeu ao nascer, que está
marcado no documento (folha amarela) que lhe entregaram logo após o parto.
Dou-lhe a garantia de que as observações feitas serão apenas para a realização do
meu trabalho e asseguro-lhe, ainda, que a qualquer momento poderá ter acesso a elas.
Acredito que nossa permanência aqui no quarto não lhe trará riscos nem prejuízos no seu
acompanhamento.
A senhora tem a liberdade de retirar sua autorização ou consentimento a qualquer
momento, sem nenhum prejuízo à continuidade da sua assistência neste Hospital.
Finalmente, informo-lhe que quando concluir o meu trabalho, não usarei seu nome e nem
darei nenhuma informação que possa identificá-la.
Caso precise entrar em contato comigo, informo-lhe meu nome e endereço: Simone
Gonçalves Vasconcelos; Maternidade Escola Assis Chateaubriand; Telefone: 3366.85.47.
E ainda, caso queira fazer alguma reclamação sobre mim ou minha pesquisa, pode
solicitar, conversar ou dirigir-se, diretamente, à Ouvidoria desta Instituição ou ainda ao
Comitê de Ética em Pesquisa.
____________________________
Pesquisadora
Tendo sido satisfatoriamente informada sobre a pesquisa “Estudo comparativo da
comunicação proxêmica entre mãe-filho portadores do HIV ou não em alojamento
conjunto”, realizada sob a responsabilidade da enfermeira Simone Gonçalves Vasconcelos,
concordo em participar da mesma. Estou ciente de que meu nome não será divulgado e que
a enfermeira estará disponível no endereço anteriormente citado. Também estou ciente de
que posso retirar este meu consentimento a qualquer tempo.
Fortaleza,.......de....................de..........
____________________________________
Assinatura do paciente
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo