Os pais, diante da crise conjugal ou vivendo ajustes pós-separações, acertos,
desacertos, mágoas, etc., muitas vezes desamparam seus filhos, envolvendo-os em
disputas, em alguns casos até provocando a descontinuidade dos cuidados básicos para
com eles (Lang, 2000). Além disso, correm o risco de não perceberem o sofrimento que
esta situação desperta também na criança. E aí se torna comum que outros profissionais,
como por exemplo, professores, acabem por detectar os sinais. Abordando o divórcio
parental, Wallerstein e Kelly (1998) comentam que os professores observam com mais
objetividade quando o comportamento da criança muda. Para muitos alunos, o aumento da
ansiedade e preocupação com a dissolução familiar traz problemas de concentração,
desempenho escolar insuficiente e mudanças de comportamento. É preciso avaliar, em
cada caso particularmente, se os sintomas estão associados à vivência do divórcio parental
ou ao menor investimento dos pais nos cuidados parentais (Wallerstein & Kelly, 1998).
Independentemente da metodologia empregada ou da linha teórica, os autores que
estudam as possíveis repercussões do divórcio sobre os filhos têm citado os desajustes no
comportamento como uma das possíveis manifestações por parte dos filhos (Almeida,
Peres, Garcia & Pellizzar, 2000; Amato, 2001; Hetherington & Stanley-Hagan,1999; Kelly
& Emery, 2003; Sourander & Helstelä, 2005), principalmente no primeiro ano após a
separação (Cohen, 2002; Harland, Reijneuveld, Brugman, Verloove-Vanhorick &
Verhulst, 2002; Lansford et al., 2006). Nesse sentido, pensamos em investigar até que
ponto estes problemas comportamentais, intensificados no início do período pós-divórcio,
são desencadeados por uma ameaça ou perda real do holding familiar, gerando o estado de
deprivação, que desencadeia a tendência anti-social, tal qual foi entendida por Winnicott.
Para Winnicott (1956/1987), há uma diferença entre a privação e a deprivação que
nos parece importante de ser destacada: a privação se refere a uma falta de algo que nunca
se teve, ocorrendo na fase de dependência absoluta, quando não há ainda consciência do