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Patricia Regina Zampieri
Caracterização de mulheres alcoolistas atendidas em serviço
ambulatorial
Botucatu – SP
2007
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Patricia Regina Zampieri
Caracterização de mulheres alcoolistas atendidas em serviço
ambulatorial
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva da Faculdade de
Medicina de Botucatu, UNESP
Universidade Estadual Paulista,
para obtenção do título de Mestre
em Saúde Pública.
Orientadora: Profa. Dra. Ivete Dalben
Co-orientadora: Dra. Maria Odete Simão
Botucatu – SP
2007
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Agradecimentos
Agradecimentos
À Profª Drª Ivete Dalben, pela orientação precisa, serena, paciente
e sábia; pela dedicação, uso da palavra correta, discernimento; pela ajuda
nos momentos difíceis, pelas orientações sobre como lidar com meus
problemas; pelo incentivo à coragem; pela oportunidade de vivenciar o
verdadeiro espírito de quem se dedica à saúde pública e coletiva, livre de
preconceitos e apostando no ser humano.
À Drª Maria Odete Simão, como co-orientadora, pelo ensino
preciso e firme; por me acolher; por estar presente e chamar minha
atenção para o cuidado com o outro; pelo amor ao trabalho e pela
dedicação; por me atender num momento difícil de sua vida e por ser um
exemplo para todos.
Uma referência especial ao Prof. Dr. Antônio Luiz Caldas Jr., pela
oportunidade de ingressar na pós-graduação em Saúde Coletiva, pela
chance, pelos primeiros ensinamentos.
À Profª Drª Ana Teresa de Abreu Ramos Cerqueira, pela
disponibilidade, bom senso, seriedade, pontuações e observações que
enriqueceram o trabalho.
À Profª Luana Carandina, por me atender, pelo exemplo de
dedicação e força, pela juventude.
Ao Prof. Dr. Luiz Roberto de Oliveira, pelo ensino preciso, exemplo
e sabedoria.
Agradecimentos
Às funcionárias da Enfermagem do Ambulatório de Psiquiatria da
FMB-UNESP, Maria Aparecida Alvarado Rodrigues, Maria Aparecida
Campos e Alayde Isabel dos Santos Garcia, que muito contribuíram para
facilitar o contato com as mulheres alcoolistas. À assistente social
Mariângela Baldini Levy, pelas orientações, paciência e profissionalismo.
À Denise, funcionária do SAME, pela ajuda na busca dos
prontuários. À Márcia e Patrícia, funcionárias do Registro Hospital de
Câncer do HC-UNESP, que a pedido de minha orientadora, faziam um
primeiro contato com as mulheres alcoolistas e anotavam os endereços,
pela dedicação.
Aos funcionários do Departamento de Saúde Pública da FMB-
UNESP, pelo profissionalismo e competência.
Aos meus colegas de curso, em especial Ana Paula, Mirian,
Fátima, Madalena e Rogério.
Ao amigo Marcelo Araújo, pela serenidade e contribuição.
Agradeço todas as mulheres que participaram dessa pesquisa,
pela confiança, por acreditar que algo de bom pode ser realizado com
esse trabalho.
E finalmente minha gratidão aos meus pais, meus irmãos e meu
filho Rafael, que sempre estiveram presentes, graças a eles foi possível
continuar o caminho.
Dedicatória
Dedicatória
A todos que cultivam um
sentido de acolhimento aos seres humanos.
Epígrafe
Epígrafe
“A vida, tal como a encontramos, é árdua
demais para nós; proporciona-nos muitos
sofrimentos, decepções e tarefas
impossíveis. A fim de suportá-la, não
podemos dispensar medidas paliativas”.
Sigmund Freud
Sumário
Sumário
Artigo I Mulheres alcoolistas: apresentação dos casos novos
atendidos pela Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP...................... 12
Resumo..................................................................................................14
Abstract..................................................................................................16
Apresentação ........................................................................................18
Introdução..............................................................................................22
Objetivos................................................................................................26
Método...................................................................................................27
Resultados.............................................................................................33
Discussão..............................................................................................47
Referências...........................................................................................66
Artigo II A evolução de mulheres alcoolistas, segundo a gravidade da
dependência, atendidas num serviço ambulatorial..........................................77
Resumo..................................................................................................79
Abstract..................................................................................................81
Introdução..............................................................................................83
Objetivo..................................................................................................87
Método...................................................................................................88
Resultados.............................................................................................91
Sumário
Discussão............................................................................................102
Referências..........................................................................................113
Anexos.................................................................................................120
Artigo 1
MULHERES ALCOOLISTAS: APRESENTAÇÃO DOS CASOS NOVOS
ATENDIDOS PELA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU-UNESP
Alcoholist women: presentation of new cases assisted by Botucatu School
of Medicine – UNESP
Patricia Regina Zampieri
1
Ivete Dalben
1
Maria Odete Simão
2
(1) Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva Departamento de
Saúde Pública/ Faculdade de Medicina de Botucatu Universidade
Estadual Paulista – UNESP/Brasil
(2) Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina
de Botucatu – Universidade Estadual Paulista – UNESP/Brasil
Endereço para correspondência:
Patricia Regina Zampieri
Departamento de Saúde Pública/Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP
Distrito de Rubião Júnior s/n. Botucatu, SP/Brasil
CEP: 18618-970
e-mail: p.r.zamp@hotmail.com
14
Resumo
RESUMO
OBJETIVOS: O estudo descreve as características demográficas,
econômicas e sociais das mulheres alcoolistas, identifica a história da
dependência alcoólica bem como a presença da violência familiar.
MÉTODO: O trabalho realizado no Ambulatório do Hospital de Clínicas de
Botucatu pretendeu entrevistar todos os casos novos de mulheres
alcoolistas que participaram do Grupo de Alcoolismo Feminino (GAF), de
1970 a 2005. Utilizou-se, para entrevista, formulário semi-estruturado,
composto por 72 questões. O programa para a análise estatística foi o
SPSS 11.5. RESULTADOS: Foram entrevistadas 119 mulheres, que, em
sua maioria, residiam em Botucatu (58,8%). O período de ingresso no
grupo predominante foi de 2000 a 2005 e o tempo de permanência no
grupo, de um ano ou mais. Essas mulheres estavam na faixa etária entre
40 a 49 anos (42%), sem companheiros (56,3%), eram brancas (63,9%),
com ensino fundamental (67,2%), católicas (67,2%) e praticantes (58%).
Eram prestadoras de serviços (59,7%) e o njuge (29,4%) era o
responsável pelo orçamento familiar. A renda média era de 2,2±1,3
salários mínimos. Compareceram ao grupo sozinhas (48,7%) e foram
incentivadas pelos familiares (33,6%) a procurar o serviço. O início da
ingestão alcoólica deu-se até os 20 anos (62,2%) e o tempo de instalação
da dependência foi de dois a três anos (58%). No momento da entrevista,
68,9% das mulheres declararam-se abstinentes. Informaram que
15
Resumo
começaram a beber com amigos (39,5%), que a bebida ingerida era a
pinga (49,6%) e o local de ingestão alcoólica foi a própria casa (56,3%).
Tinham história positiva de alcoolismo familiar (76,5%) e sofreram algum
tipo de acidente enquanto alcoolizadas (42%). A violência familiar esteve
presente em 85,7% dos casos antes do grupo, sendo o cônjuge o
principal agressor. Problemas com os filhos foram citados por 39,5% das
mulheres e o tempo de tratamento no GAF, ininterrupto, foi em média de 4
meses. Mais da metade apresentou ideação suicida em algum momento,
quase a metade tentou suicídio e 25% tiveram ideação homicida. Das
mulheres, 61% foram internadas e 58% consideraram, no momento da
entrevista, estarem melhor ou terem diminuído a ingestão de álcool.
DISCUSSÃO: Para as mulheres que referiram melhora ou que diminuíram
a ingestão alcoólica, houve repercussão na vida familiar e social, além de
diminuição das brigas e dos problemas com os filhos. Em algum momento
essas mulheres estiveram à margem da vida, devido à dependência,
buscando o tratamento ambulatorial.
Palavras-chave: ambulatório, alcoolismo, grupo, mulheres
alcoolistas.
16
Abstract
ABSTRACT
Objectives: The study describes the socio-economic and
demographic characteristics of alcoholist women, identifies the alcoholic
dependence history, as well as occurrence of family violence. Method:
The aim of the work held at the Ambulatory of Botucatu Clinical Hospital
was to interview all the new cases of alcoholist women who took part of
the Female Alcoholism Group (FAG) from 1970 to 2005. A semi-
structured form composed of 72 questions was used for the interview and
the SPSS 11.5 program was used for the statistics analyzes. Results: A
total of 119 women were interviewed, mostly living in Botucatu (58,8%).
The predominant admission period into the group was from 2000 to 2005,
with a permanence time of a year or over. These women were 40 to 49
years old (42%), unmated (56,3%), white (63,9%), had finished Primary
School (67,2%), catholic (67,2%) and practitioners (58%), offered
housework help (59,7%) having the mate as the responsible for the family
budget (29,4%). Their average income was 2,2±1,3 minimum salaries.
They used to attend to the group sessions alone (48,7%) and were
encouraged by family members (33,6%) to look for a job. The alcoholic
ingestion started up to 20 years of age (62,2%) and dependence was set
in two or three years (58%). At the time they were being interviewed,
68,9% mentioned to be abstinent to alcohol, and the present ingestion
pattern was abstinence for 58,8% of women. They started drinking with
17
Resumo
friends (39,5%) and aguardente was ingested by 49,6%. The place they
used to drink was their own homes (56,3%) and 76,5% had family alcohol
problems. These women had some kind of accident under alcohol effect
(42%) and family violence was present in 85,7% of cases, before joining
the group, having the mate as the main aggressor. Problems with children
were common for 39,5%. The continuous treatment period at FAG was, in
average, 4 months. More than 50% presented suicidal intention at some
time, almost 50% tried to commit suicide and 25% had a homicide
ideation. Among interviewees, 61% had been hospitalized and 58% said
to feel better or to have decreased alcohol ingestion at the time of the
interview. Discussion: Women who mentioned to feel better or to have
decreased alcohol ingestion also had a positive change in family and
social relationships, having fights and problems with children decreased as
well. At some time, these women were at life risk and got to an
ambulatorial treatment.
Key words: alcoholist women, ambulatory, alcoholism, group
18
Apresentação
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho é um estudo sobre mulheres alcoolistas.
Como enfermeira e ainda sem experiência na área, antes de iniciar
a coleta de dados, minha orientadora, juntamente com a co-orientadora,
sugeriram fazer um estágio no Grupo de Alcoolismo Feminino (GAF), da
UNESP-Botucatu e participar das entrevistas dos casos novos com os
residentes de psiquiatria.
O estágio começou em outubro de 2003 e fui a primeira enfermeira
a participar do grupo. Foi uma experiência nova e ao mesmo tempo muito
difícil, pelas histórias de vida que as mulheres traziam.
Eram mulheres difíceis de lidar, que sofriam muito, que chegaram
ao fundo do poço e que não deviam ser pressionadas, pois podiam não
voltar mais ao grupo, principalmente por causa do preconceito.
Meu primeiro caso, em 11 de fevereiro de 2004, não foi fácil, uma
vez que a mulher quase não falava.
Minha co-orientadora deu-me liberdade para falar com o grupo e
tudo o que não entendia ou não conseguia trabalhar, me explicava ou era
levado para a Drª Ivete, para as devidas orientações.
Durante esse mestrado, além de aprender a pesquisar, foi possível
tamm participar e viver a dinâmica de um grupo de alcoolismo feminino.
A principal dificuldade foi na coleta de dados, porque as mulheres
não compareciam e era necessário buscar meios para atraí-las. Um
19
Apresentação
instrumento que deu certo foi o uso do telefone, pois o atendimento
acontecia no horário melhor e elas ficavam mais à vontade para falar.
Houve colaboração de todo o pessoal da Enfermagem do
ambulatório e das funcionárias do Registro de Câncer do HC-UNESP, que
a pedido da Drª Ivete, anotavam os endereços das mulheres que ligavam
para comunicar os endereços. Além de uma funcionária do SAME, que
muito auxiliou com os prontuários.
Apesar de muitas mulheres freqüentarem o serviço, principalmente
o pronto-socorro, os endereços eram muito raros de serem renovados no
prontuário. Os profissionais não possuíam essa preocupação, o que
dificultava ainda mais encontrar as mulheres, uma necessidade para
quem faz pesquisa.
Para dependência de álcool ou transtorno de comportamento,
decorrente do uso do álcool, é válido considerar as palavras da co-
orientadora: o início do uso de bebidas ocorre sem grandes problemas e,
em alguns casos, com o passar do tempo, uma ingestão que começou
como “recreativa” passa a trazer problemas, podendo tornar-se a doença
do alcoolismo e assim é necessário analisar cada comportamento e suas
repercussões na vida global da pessoa e do grupo social que a cerca.
Como colocou a Drª. Florence Kerr-Corrêa, dependendo do ponto de vista
do interlocutor, o uso de álcool, bem como o alcoolismo, podem ser vistos
como doença, xingo, cio ou carma. Neste estudo, o álcool é analisado
como doença.
20
Apresentação
Um aspecto dessa pesquisa, ao se pensar nas mulheres, são os
vários papéis que elas assumem e o que se espera é que não se tornem
dependentes como os homens.
As mulheres sempre trabalharam, mediante ou não uma
compensação econômica. Na atual conjuntura de nossa civilização, as
mulheres, na maioria dos casos, têm que contribuir economicamente para
a manutenção da unidade familiar.
Conseguir uma remuneração ideal para as mulheres que trabalham
é difícil, especialmente nos países em desenvolvimento. Existem muitas
ambigüidades, por exemplo: onde acaba o trabalho doméstico não
remunerado e começa a atividade econômica? Freqüentemente, ao
responder questionários, as mulheres se inscrevem como “donas de
casa”, embora tamm trabalhem no mercado ou produzam comida para
seu lar. Uma das maiores diferenças entre homens e mulheres é que, em
geral, as mulheres aceitam a responsabilidade adicional de dar à luz e
criar filhos, continuando, ao mesmo tempo, com suas obrigações.
Atualmente, estima-se que em um terço dos lares do mundo, são
chefiados por mulheres. Apesar disso, será que elas querem ser
discriminadas pelos seus atos, manter um consumo velado e chegar a
situação de risco de vida para buscar ajuda?
Outro aspecto foi trabalhar em conjunto com pessoas de áreas
diferentes: Saúde Pública e Saúde Mental, o que possibilitou uma
dinâmica até transdisciplinar, com muita discussão, formação de
21
Apresentação
conhecimento, uso do bom senso, profissionalismo e, acima de tudo,
preocupação com a ética, pela vulnerabilidade da população estudada.
uma transição epidemiológica na agenda de Saúde Pública,
com novas propostas e prioridades de atenção à saúde, como o excesso
de peso, ingestão de carnes com gordura, inatividade física, tabaco e
álcool.
Portanto, ao estudar mulheres alcoolistas, tem-se um tema novo,
de interesse para diferentes áreas e profissionais e para a própria
comunidade.
22
Artigo1
INTRODUÇÃO
O alcoolismo é questão fundamental de Saúde Pública
1-5
e
apresenta características próprias ao atingir a população feminina.
Desde os anos sessenta, as mulheres brasileiras vêm processando
a ruptura com o clássico e exclusivo papel social que lhes era atribuído
pela maternidade, introduzindo-se no mercado de trabalho e ampliando
suas aspirações de cidadania
6
. À semelhança do que ocorreu com a
população masculina, essa socialização colocou-as em contato com a
bebida.
Os levantamentos domiciliares
7,8
sobre uso de drogas psicotrópicas
no Brasil, realizados em 2001 e 2005, chegaram à estimativa da
prevalência da dependência de álcool de 11,2% para 12,3%,
respectivamente. Ao relacionar o uso na vida e a dependência, mostrou-
se que de cada quatro pessoas do sexo masculino que fazem uso, na
vida, de álcool, uma delas torna-se dependente e essa proporção para o
sexo feminino foi de 10,1%
8
.
Deve-se ressaltar que o número de mulheres dependentes ainda é
subestimado, pela omissão de dados, numa cultura em que o alcoolismo
feminino não é aceito, juntamente com a limitação de estudos, que
provoca a relutância das mulheres em participar do tratamento, pelo
consumo velado ou ainda por pensar em prejudicar sua segurança e
privacidade. Além disso, estima-se que o sistema de saúde brasileiro leva
23
Artigo1
cinco anos para diagnosticar a dependência, devido ao despreparo dos
profissionais e aos dados ambulatoriais sem registro do diagnóstico de
saúde, indicando apenas o procedimento, o que limita o uso de dados
para a produção de indicadores úteis e a definição de políticas adequadas
para essa população
1,4,5,9-14
.
O envolvimento familiar no tratamento pode propiciar maior
adesão, bem como melhor qualidade de vida aos integrantes do núcleo
familiar
15
, pelo fato da família encorajar na busca de tratamento e até
ajudar no processo de recuperação ou, ao contrário, poder ser conivente
com o problema da bebida
16
.
As mulheres têm mais antecedentes familiares para o álcool, em
relação aos homens. Ao mesmo tempo, ao abordar o papel que os pais
possuem sobre o controle ou indução do beber, observa-se tendência de
aumento de até três vezes no uso de álcool ou outras drogas pelos filhos,
quando a mãe é alcoolista
17
. Mães alcoolistas podem ter filhos com
desajustamento social, baixa auto-estima, insegurança, traços de
personalidade depressivos, problemas cognitivos e também com
distúrbios decorrentes do uso de álcool na gravidez
12,18
.
Para a mulher o beber é mais complicado do que para o homem,
nas esferas social e legal. O fato de estar bebendo coloca em risco o
cuidado com a prole, sendo necessário, muitas vezes, o
acompanhamento pelo Ministério Público. Além do impacto sobre os
filhos, de uma embriaguez com agressão verbal ou física, ser muito
24
Artigo1
deletéria. Algumas mães alcoolistas podem, até mesmo, abandonar seus
filhos, o que às leva à maior chance de uso de substâncias
19
.
O beber para a mulher é diferente do beber masculino, uma vez
que, ao ingerir a mesma dose de álcool, seu corpo absorve cerca de duas
vezes mais. Tamm ajuda na absorção o fato da mulher ter maior
quantidade de tecido adiposo, menor massa muscular, menor volume de
água corpóreo, menor quantidade de enzimas metabolizadoras do álcool,
além de variações do metabolismo e flutuações hormonais próprias da
mulher. Pela dependência, pode ocorrer prejuízo de memória, de curto e
longo prazo e também de aprendizagem. Como conseqüência do
alcoolismo, a síndrome fetal aparece como a terceira causa mais
freqüente de retardo mental em recém-nascidos, além de se verificar
aumento do consumo de álcool entre grávidas solteiras do que em
casadas. A mulher tem uma progressão mais rápida do alcoolismo, com
morbidade aduas vezes maior que os homens e maior comorbidade
com transtornos depressivos e ansiosos. Em relação à atividade sexual,
pequenas doses de álcool podem inibir a resposta fisiológica aos
estímulos e tamm acarretar atividade sexual não pretendida.
Culturalmente, as mulheres alcoolizadas são consideradas mais
disponíveis, além de correrem o risco de violência, pelo seu próprio uso
de álcool, como pelo do parceiro. O risco piora quando se trata da
doença, ou seja, o hábito contínuo, ambiente propício e dependência
entre os pares. Raramente a mulher comparece ao tratamento
25
Artigo1
acompanhada do familiar, por esconder o vício ou pelo receio de
fracassar e tamm pelo preconceito familiar, no qual o beber feminino é
inadmissível. O cônjuge não se envolve com o problema da mulher e
quando ele também é dependente, geralmente se opõe ao
tratamento
3,5,9,12,13,18-20
.
Estudos específicos, sobre a ação do álcool na saúde da mulher,
começaram duas ou três décadas. Pesquisas indicam tendência de
grupos mais jovens de mulheres a se igualarem aos homens, em mero
e na proporção do beber
21
. Entretanto, há limitação de dados aliados aos
modelos de tratamento padronizados para os homens.
A mulher alcoolista rompeu com as normas e tradições
esperadas
22
, pode ser rotulada como negligente, ser mais agressiva,
tender à promiscuidade e falhar ao tentar desempenhar seu papel
10
.
Nem sempre é fácil delimitar a quantidade benéfica do álcool,
devido à procura do uso pelo prazer, lazer ou por fatores negativos, aliado
ao incentivo crescente da indústria de consumo de bebidas, voltada
tamm para o público feminino.
Este trabalho procurou caracterizar mulheres que, em algum
momento de sua vida, tiveram problemas com a bebida, vindo a
desenvolver a dependência alcoólica e necessitando submeter-se a
tratamento ambulatorial num serviço de saúde.
26
Artigo1
OBJETIVOS
Descrever as características demográficas, econômicas e sociais
das mulheres alcoolistas e identificar a história da dependência do álcool,
bem como a do relacionamento interpessoal e de violência familiar.
27
Artigo1
MÉTODO
O trabalho foi realizado no Ambulatório de Psiquiatria do Hospital
de Clínicas (HC-UNESP) da Faculdade de Medicina de Botucatu.
O grupo de tratamento de alcoolismo começou suas atividades na
década de setenta, atendendo homens e mulheres simultaneamente. Em
1989, pela baixa adesão das mulheres ao grupo de tratamento o grupo foi
separado. Diferentemente dos homens alcoolistas, que falam mais sobre
a bebida, as mulheres têm conteúdo variável e não ficam apenas na
questão do álcool. A separação dos grupos atendeu a solicitação das
mulheres, uma vez que elas não se sentiam à vontade no grupo misto.
As mulheres encaminhadas para o grupo de tratamento de
alcoolismo procediam de Botucatu e região, eram referenciadas por
serviços de saúde, autoridades legais ou procura espontânea. O
agendamento do grupo era semanal, uma manhã por semana. A
coordenação do grupo ficava a cargo da assistente social. O grupo conta
com a presença de médico psiquiatra, médicos residentes em Psiquiatria,
estagiários do Serviço Social e Enfermagem.
O caso novo constava de anamnese clínica e exame físico, para
verificar se preenchia os critérios diagnósticos para alcoolismo, segundo o
DSM-IV
23
e tamm era feita avaliação da gravidade da dependência,
pelo Short Alcohol Dependence Data (SADD)
24
.
O grupo era aberto e formado, no máximo, por quinze participantes
que tinham como objetivos a abstinência e a melhoria das relações
28
Artigo1
sociais, e constituía um espaço para discutir as pressões sociais relativas
à condição da mulher alcoolista. Eram mulheres que, em algum momento
de sua vida, tiveram um problema e um diagnóstico comum de
alcoolismo.
Ao término de cada atendimento era feita reunião de equipe para
avaliar o próprio grupo e cada pessoa e, assim, direcionar as ações para
tratamento mais adequado. Se necessário, as mulheres eram atendidas
individualmente pelo médico ou encaminhadas para outro serviço. A alta
do grupo ocorria a partir da avaliação da equipe. Em caso de três faltas
eram enviadas cartas ou feitas chamadas telefônicas para a convocação
ou para obter notícias das clientes.
Apesar de ser grupo para tratamento do alcoolismo, também havia
mulheres com outras farmacodependências, como por tranqüilizantes,
anfetaminas e drogas ilícitas.
Sujeitos
Foram sujeitos desta pesquisa todos os casos novos de mulheres
alcoolistas que participaram do grupo de tratamento, entre meados da
década de 1970 até 2005.
Contou-se com livro de registro que continha nome, RG-UNESP e
data de atendimento, desde o início do serviço, usado para verificar a
presença no grupo e também com fichário (com nome, registro e
endereço), contendo dados atualizados. Identificado o RG-UNESP foram
29
Artigo1
acessados os prontuários médicos, sendo que alguns se encontravam no
arquivo morto e outros foram destruídos pelos anos, sem a devida
renovação. Ao final do processo, foram identificadas 367 mulheres e
destas, 34 não eram do grupo de alcoolismo, dezesseis eram familiares
de alcoolistas e dezoito, cujo diagnóstico final não foi alcoolismo.
Foram localizadas 333 mulheres que freqüentaram o grupo de
alcoolismo feminino durante o período. Foram excluídas 29 mulheres,
dezesseis porque nunca freqüentaram o grupo e treze dependentes de
medicamentos Quadro 1.
Das 304 mulheres que permaneceram, trinta e nove (12,8%) foram
a óbito, quarenta e três (14,1%) recusaram-se a participar, oitenta e seis
(28,3%) não foram localizadas após inúmeras tentativas e dezessete
(5,6%) foram localizadas, mas não atenderam a convocação por carta e
não possuíam telefone. Assim, foram entrevistadas 119 (39,1%) mulheres
do grupo inicial.
Quadro 1 - Distribuição percentual de mulheres inscritas no livro de casos novos do
ambulatório de psiquiatria, segundo período de ingresso e situação
final. HC-UNESP 1976 a 2005
Períodos de
ingresso
Situação final
Total
entrevistas excluídas medicamento
não
atendeu
óbito perdas recusa
N % N % N % N % N % N % N % N %
1976 a 1984 12 26,1 1 2,2 1 2,2 2 4,3 7 15,2 19 41,3 4 8,7 46 100,0
1985 a 1989 13 26,5 - - 3 6,1 2 4,1 9 18,4 15 30,6 7 14,3
49 100,0
1990 a 1994 17 27,9 - - 1 1,6 5 8,2 11 18,0 19 31,1 8 13,1
61 100,0
1995 a 1999 32 35,6 4 4,4 2 2,2 2 2,2 10 11,1 25 27,8 15 16,7
90 100,0
2000 a 2005 45 53,6 11 13,1 4 4,8 6 7,1 1 1,2 8 9,5 9 10,7
84 100,0
Total 119 35,7 16 4,8 13 3,9 17 5,1 39 11,7 86 25,8 43 12,9
333 100,0
30
Artigo1
A percentagem de mulheres entrevistadas variou de 26,1% a
53,6%, apresentando tendência crescente no período.
Procedimentos
A coleta de dados teve início em 17 de novembro de 2004 e
terminou em 23 de novembro de 2005.
As mulheres que não participavam mais do grupo foram
convidadas por carta ou contato telefônico. As cartas foram enviadas com
quinze dias de antecedência, informando o local e o horário da entrevista
e continham um número de telefone para esclarecimento de dúvidas, para
marcar um outro dia, ou para deixar um novo endereço ou telefone.
A colaboração dos coordenadores das Unidades Básicas de Saúde
(UBS) e também dos agentes de saúde tornou possível encontrar muitas
mulheres que não freqüentavam mais o serviço e não retornaram para
renovar seus endereços no registro geral ou no prontuário do HC
UNESP.
As entrevistas foram feitas face a face e por telefone, quando
esgotadas as possibilidades de encontrar pessoalmente a mulher
alcoolista, ou seja, quando enviadas até três cartas e nenhuma resposta
era recebida; quando a carta voltava por endereço inexistente, mudança
de local, pessoa não encontrada ou qualquer outro motivo que não
permitia encontrar o endereço. Em casos que o coordenador da UBS ou
os agentes comunitários tinham apenas o telefone da cliente, ou a mesma
31
Artigo1
não podia comparecer por causa do trabalho e falta de transporte, ou não
usava mais o serviço e queria esquecer, não gostara do ambiente porque
trazia de volta o passado ou ainda devido a outro problema de saúde, a
entrevista era realizada por telefone.
Todas as mulheres, pessoalmente ou por telefone, foram
orientadas sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa.
Assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 1),
exceto as que fizeram entrevista por telefone e tiveram o consentimento
verbal obtido por ocasião desse contato.
As entrevistas foram realizadas individualmente, pelo próprio
pesquisador, numa sala separada, no próprio ambulatório onde o grupo
funcionava.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNESP, de
Botucatu (Anexo 2).
Instrumentos utilizados
Formurio semi-estruturado
22
, formado por 72 questões fechadas
e abertas, contendo dados sociodemográficos e econômicos, história de
violência familiar, história do uso de álcool, condição de saúde física e
mental e tratamentos anteriores realizados (Anexo 3).
A ocupação, como natureza do trabalho que a pessoa desenvolve,
foi agrupada pelos Grupos Profissionais e Ocupacionais, codificados pela
32
Artigo1
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), elaborado pelo Ministério
do Trabalho e Emprego, disponível no site www.mtecbo.gov.br.
Foi considerada violência familiar, neste estudo, aquela praticada
por membro de uma mesma família, por pessoas unidas por laços
naturais, afinidade ou por vontade expressa. E também aquela praticada
em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independente de coabitação, podendo ser ex-
marido, ex-companheiro, namorado, noivo e até entre pessoas do mesmo
sexo.
Os tipos de violência relatados freqüentemente são agressões
físicas (bater, morder, ferir com objetos), verbais (atentar quanto à moral
da mulher) e emocionais (desqualificação, isolamento).
Análise Estatística
O banco de dados foi analisado através do software SPSS
25
,
versão 11.5. Os dados foram apresentados em forma de tabelas com as
freqüências absolutas e relativas. O Teste do Qui-quadrado de Pearson
foi utilizado para estabelecer diferenças entre freqüências e o teste
ANOVA para análise da diferença entre médias, sendo o teste de Tukey
utilizado ad hoc, sempre que necessário. Todos os testes foram bi-
caudais com nível de significância de 5%.
33
Artigo1
RESULTADOS
Das 304 mulheres que configuravam a amostra inicial desse
estudo, foram entrevistadas 119 (39,1%). Dessas, 67,2% foram face a
face, sendo 19,3% (n=23) mulheres que se encontravam em tratamento e
47,9% (n=57) atendendo a convocação por carta. Tiveram as entrevistas
feitas por telefone, 32,8% (n=39) da clientela.
Quanto à procedência, 58,8% (n=70) residiam em Botucatu, 9,2%
(n=11) em São Manuel e as demais eram provenientes da DIR de
Botucatu (Anexo 4).
Das 17 mulheres que não atenderam a convocação e não
possuíam telefone, 82,4% (n=14) eram de Botucatu, assim como as 16
mulheres alcoolistas que nunca freqüentaram o grupo, 37,5% (n=6). Das
86 mulheres com endereço ignorado, 27,9% (n=24) permaneceram como
ignorados, 18,6% (n=16) eram de Botucatu, 9,3% (n=8) de São Manuel e
7% (n=6) de Avaré, contudo o local de moradia continuou desconhecido
apesar de toda a busca efetuada.
A Tabela 1 apresenta os períodos de ingresso no grupo. Observa-
se tendência crescente de casos novos entrevistados.
34
Artigo1
Tabela 1
:
Período de ingresso no Grupo de Alcoolismo Feminino (GAF).
HC-UNESP – 1976 a 2005.
Período N % % acumulada
2000 a 2005 45 37.8 37.8
1995 a 1999 32 26.8 64.7
1990 a 1994 17 14.3 79.0
1985 a 1989 13 10.9 89.9
1976 a 1984 12 10.1 100
Total 119 100
A Tabela 2 apresenta os dados sociodemográficos e de religião. As
mulheres, em sua maioria, eram de cor branca (63,9%), na faixa etária de
40 a 49 anos (42%), sem companheiros (56,3%), com ensino fundamental
(67,2%), católicas (67,2%) e praticantes (58%).
35
Artigo1
Tabela 2 - Características sociodemográficas e religião das mulheres
alcoolistas do GAF. HC-UNESP – 1976 a 2005.
N
%
Faixa etária 40-49 50 42,0
50-59 24 20,2
30-39 22 18,5
>=60 19 16,0
21-29 4 3,4
Estado Civil sem companheiro 67 56,3
Etnia branca 76 63,9
Escolaridade 1ª a 4ª 53 44,5
5ª a 8ª 27 22,7
ensino médio completo 17 14,3
analfabetas 9 7,6
ensino médio incompleto 6 5,0
ensino superior completo 4 3,4
ensino superior incompleto 3 2,5
Religião católicas 80 67,2
Praticantes sim 69 58,0
Quando se relacionou o estado civil com a variável com quem
mora, observou-se que das 106 mulheres (89,1%) que moravam com a
família, 17% eram solteiras, 15,1% viúvas e 18,9% separadas ou
divorciadas. Das que viviam sozinhas (n=9), 22,9% eram solteiras, 66,7%
eram viúvas e 11,1%, separadas ou divorciadas. Apenas quatro moravam
com amigos ou em pensão, sendo 25% solteiras, 50% viúvas e 25%
separadas ou divorciadas. Desta forma, 13 (10,9%) das mulheres não
contavam com suporte familiar.
Em relação à ocupação, classificaram-se como prestadoras de
serviços 59,7% (n=71), serviços agrícolas 13,4% (n=16), quadro técnico e
36
Artigo1
científico 8,4% (n=10), grupos industriais 6,7% (n=8), prendas domésticas
5% (n=6), grupos comerciais 3,4% (n=4), proprietárias e supervisoras
2,5% (n=3) e no grupo referente a transportes e comunicações, 0,8%
(n=1).
As mulheres apontaram como responsável pela manutenção do
orçamento familiar, o cônjuge, em 29,4% (n=35), ela mesma em 28,6%
(n=34) e mais do que uma pessoa em 24,4% (n=29). Tamm citaram
outros, como pensão, em 9,2% (n=11), filhos em 5% (n=6) e pais em
3,4% (n=4).
A renda familiar média foi de 2,2±1,3 salários mínimos
1
, com
mediana e moda de dois salários mínimos. Declararam ter renda familiar
de dois a três salários mínimos 46,2% (n=55), 30,3% (n=36) renda igual
ou menor a um salário mínimo, 11,8% (n=14) renda de quatro a cinco
salários, 9,2% (n=11) de seis a dez salários e 1,7% (n=2) informaram ter
renda maior ou igual a onze salários mínimos. Apenas uma entrevistada
(0,8%) não sabia a renda familiar.
A forma de encaminhamento para tratamento, em 58% das
mulheres (n=69), foi através do serviço de saúde. Compareceram
sozinhas ao grupo 48,7% (n=58), informaram ser incentivadas pela família
33,6% (n=40) e por iniciativa própria 26,9% (n=32) (Tabela 3).
1
Salário mínimo vigente durante a pesquisa: R$ 300,00
37
Artigo1
Tabela 3 - Distribuição percentual das mulheres segundo tipo de
referência ao tratamento, de acompanhante e incentivo ao
tratamento. HC-UNESP – 1976 a 2005.
N %
Forma de encaminhamento serviços de saúde 69 58,0
familiares 17 14,3
autoridade legal 10 8,4
amigos 10 8,4
sozinhas 10 8,4
empresa 3 2,5
Total
119 100,0
Compareceram ao grupo
sozinhas 58 48,7
outros 32 26,9
cônjuge 11 9,2
filhos 11 9,2
amigos 7 5,9
Total
119 100,0
Incentivo à procura
família 40 33,6
outros 36 30,3
sozinhas 32 26,9
amigos 8 6,7
empresa 2 1,7
religião 1 0,8
Total
119 100,0
O início da ingestão de álcool até os 20 anos ocorreu em 62,2%
(n=74) das mulheres, sendo que 58% (n=69) informaram tempo de
instalação da dependência entre dois a três anos, 24,4% (n=29) entre
quatro a cinco anos e 17,6% (n=21) acima de seis anos (Tabela 4).
38
Artigo1
Tabela 4 - Idade de início da ingestão alcoólica e tempo da instalação da
dependência. HC-UNESP – 1976 a 2005.
N %
Idade do início da ingestão
<= 15
35 29,4
16 a 20
39 32,8
21 a 25
14 11,8
26 a 30
15 12,6
31 a 39
9 7,6
40 a 49
5 4,2
>= 50
2 1,7
Total
119 100,0
Tempo de instalação da
dependência em anos
2 a 3
69 58,0
4 a 5
29 24,4
a 6
21 17,6
Total
119 100,0
No momento da entrevista, observa-se, na Tabela 5, que 68,9%
(n=82) das clientes classificaram-se como abstinente. O tempo de
abstinência predominante foi maior ou igual a 12 meses em 47,9% (n=57).
Quanto ao padrão de ingestão atual, 58,8% (n=70) relataram abstinência,
já 15,1% (n=18) informaram ingestão esporádica e apenas 5,9% (n=7),
ingestão freqüente, ambos sem embriaguez e sem problemas.
39
Artigo1
Tabela 5 - Mulheres abstinentes, tempo de abstinência e padrão atual de
ingestão alcoólica entre o grupo entrevistado. HC-UNESP
1976 a 2005.
N %
Abstinentes
sim 82 68,9
não 37 31,1
Total
119
100,0
Tempo de abstinência
>= 12 meses 57 47,9
não abstinente 38 31,9
até 3 meses 14 11,8
4 a 11 meses 10 8,4
Total
119
100,0
Padrão atual de
ingestão
abstinência 70 58,8
ingestão esporádica, s/
embriaguez e s/ problemas
18 15,1
ingestão esporádica, c/
embriaguez e c/ problemas
14 11,8
ingestão freqüente, c/
embriaguez e c/ problemas
10 8,4
ingestão freqüente, s/
embriaguez e s/ problemas
7 5,9
Total
119
100,0
Segundo a Tabela 6, as mulheres começaram a beber com amigos
em 39,5% (n=47) dos casos, com o cônjuge em 22,7% (n=27), sozinhas
em 21,8% (n=26) e com familiares em 15,9% (n=19). Os motivos
alegados para consumir bebidas alcoólicas foram: incentivo de familiares
e amigos em 24,4% (n=29), incentivo do cônjuge em 16% (n=19) ou
outros em 59,7% (n=71). A bebida ingerida por 49,6% (n=59) foi pinga e
por 25,2% (n=30), cerveja. O local mais freqüente de ingestão das
bebidas foi na própria casa em 56,3% (n=67) dos casos, seguido de
outros lugares, como lanchonetes e casa de amigos, em 21,8%. Quanto a
40
Artigo1
utilizar terceiros para comprar bebidas, 63,9% (n=76) não o faziam. Das
restantes, 36,1% (n=43) recorreram a esse artifício por motivo de
vergonha em 14,3% (n=17), por facilidade em 10,1% (n=12) e para
esconder da família, 9,2% (n=11). Quem compra a bebida são as
mulheres em 62,2% (n=74), seus filhos ou outros em 9,2% (n=11).
41
Artigo1
Tabela 6 - Caracterização pessoal da ingestão alcoólica das mulheres
entrevistadas. HC-UNESP – 1976 a 2005.
N %
Pessoas com quem
começaram a beber
amigos 47
39,5
cônjuge 27
22,7
sozinhas 26
21,8
pais 16
13,4
Motivo
outros 71
59,7
incentivo familiares-amigos
29
24,4
incentivo do cônjuge 19
16,0
Bebida ingerida
pinga 59
49,6
cerveja 30
25,2
pinga e cerveja 15
12,6
outros 10
8,4
vinho/ licor 5 4,2
Local costuma beber
casa 67
56,3
outros 26
21,8
bar 13
10,9
casa e bar 13
10,9
Terceiros não 76
63,9
Quem compra
próprias mulheres 74
62,2
filhos 11
9,2
outros 11
9,2
amigos 10
8,4
cônjuge 8 6,7
Porque?
não ocorre 75
63,0
vergonha 17
14,3
facilidade 12
10,1
esconder da família 11
9,2
Quanto aos antecedentes de alcoolismo familiar, 76,5% (n=91) das
mulheres citaram dois ou mais familiares que usaram ou usam álcool.
Apenas 5% (n=6) não tinham história de alcoolismo na família.
42
Artigo1
Com relação a terem sofrido algum tipo de acidente enquanto
alcoolizadas 42% (n=50) das entrevistadas confirmaram, sendo 13,4%
(n=16) de trânsito, 6,7% (n=8) de trabalho e 27,7% (n=33) acidente
doméstico.
Na Tabela 7, quanto ao envolvimento com a polícia, 72 (60,5%)
não tinham qualquer implicação antes do tratamento e 102 (85,7%) não
relataram envolvimento com a polícia após o grupo (p=0, 00). Todavia,
dos oito homicídios relatados ao final do seguimento, seis (75%)
ocorreram entre 33 mulheres que relataram brigas como causa de
envolvimento com a polícia.
Tabela 7 - Envolvimento com a polícia antes e após tratamento no Grupo
de Alcoolismo Feminino (GAF). HC-UNESP – 1976 a 2005.
N %
Envolvimento antes do
grupo
não ocorreu
1
72 60,5
brigas
1
33 27,7
outros 6 5,0
roubo 3 2,5
tentativa de
suicídio
3 2,5
homicídio 2 1,7
Total
119 100,0
Envolvimento após o
grupo
não ocorreu
1
102 85,7
brigas
1
8 6,7
homicídio 8 6,7
tentativa de
suicídio
1 0,8
Total
119 100,0
1
p<0,05
43
Artigo1
Pela Tabela 8, a violência familiar foi mencionada por 85,7%
(n=102) das mulheres antes do tratamento, passando para 35,3% (n=42)
no momento da entrevista (p= 0,00).
Tabela 8 - Violência familiar referida pelas mulheres antes do GAF e no
momento da entrevista. HC-UNESP – 1976 a 2005.
Antes Depois
N % N %
Violência
familiar
sim 102 85,7 42 35,3
não
17 14,3 77 64,7
Total
119 100,0 119 100,0
Antes do tratamento, 37,8% (n=45) das mulheres agrediram e
sofreram agressões físicas, 29,4% (n=35) apenas receberam a agressão,
10,9% (n=13) agrediram e 21,8% (n=26) relataram que nunca ocorreu
agressão física. Em 90,8% (n=108) houve agressão verbal. Durante a
entrevista, 75,6% (n=90) manifestaram não ter vivenciado agressão física,
sendo que 11,8% (n=14) batem e apanham, 8,4% (n=10) apanham e
4,2% (n=5) batem. Referiram-se à presença de agressão verbal 50,4%
(n=60). A agressão física antes de ingressar no grupo de alcoolismo e a
manifestada no momento da entrevista foi significativa para o lado da não
ocorrência da violência. Houve diminuição da violência física (p= 0,02) e
da agressão em relação aos outros, com um aumento da não agressão
(p=0,00).
44
Artigo1
Quanto ao agressor, antes do tratamento, 37% (n=44) das
mulheres apontaram o cônjuge, 21,8% (n=26) outros, 10,1% (n=12) dois
ou mais agressores, 4,2% (n=5) os filhos e 3,4% (n=4) terceiros. Já 23,5%
(n=28) nunca sofreram agressão física. Na entrevista, 70,6% (n=84)
declararam não sofrer agressão física e quando presente, em 12,6%
(n=15) o agressor foi o cônjuge, em 6,7% (n=8) os filhos, em 5% (n=6)
outros, em 3,4% (n=4) houve dois agressores ou mais e em 1,7% (n=2) a
agressão foi por terceiros.
Quanto à própria mulher ser a agressora, 35,3% (n=42) relataram
que nunca agrediram antes do tratamento, 22,7% (n=27) revelaram
agressão contra duas ou mais pessoas, 21% (n=25) contra o njuge,
10,9% (n=13) contra outros, 5,9% (n=7) contra filhos e 4,2% (n=5) contra
terceiros. Na entrevista, 78,2% (n=93) informaram o ter agredido
ninguém, enquanto 5,9% (n=7) agrediram duas ou mais pessoas, 5%
(n=6) os filhos, 5% (n=6) o cônjuge, 4,2% (n=5) outros e 1,7% (n=2)
terceiros.
Em relação aos filhos, tanto antes como depois do tratamento,
39,5% (n=47) das mulheres tiveram algum problema, sendo que 22,7%
(n=27) afirmaram ter dois ou mais problemas, como uso de álcool, uso de
drogas, agressividade, timidez e outros. Antes do tratamento, 18,5%
(n=22) desses problemas ocorreram na família, na escola, na vida social e
outros. Das entrevistadas, 23,5% (n=28) relataram problemas na família e
13,4% (n=16) não tinham filhos. Observou-se que durante a entrevista foi
45
Artigo1
relatada diminuição de problemas com os filhos, em relação ao período
anterior ao ingresso no grupo (p=0,00).
A associação do alcoolismo com queixas e sintomas foi apontada
por 84% (n=100) das clientes: 81,5% (n=97) foram físicas, 26,1% (n=31)
sexuais, 77,3% (n=92) ansiedade, 76,5% (n=91) solidão, 43,7% (n=52)
tentativas de suicídio e 63% (n=75) ideação suicida e 24,4% (n=29)
ideação homicida. A depressão foi mencionada em 60,5% (n=72) das
entrevistas, no presente e, em 71,4% (n=85), no passado. A síndrome da
dependência do álcool apareceu em 78,2% (n=93) dos casos.
Quanto às internações hospitalares para tratamento do alcoolismo,
38,7% (n=46) das pacientes nunca foram internadas, 27,7% (n=33)
relataram uma internação, 20,9% (n=25) de duas a cinco internações e
12,6% (n=15) mais do que cinco internações.
Das mulheres, 74,8% (n=89) usavam algum tipo de medicação. Os
medicamentos mais citados foram: benzodiazepínicos 40,3% (n=48),
antidepressivos 31,1% (n=37), anti-hipertensivos 26,9% (n=32), vitaminas
20,2% (n=24), neurolépticos 7,6% (n=9) e outros 46,2% (n=55).
O tempo de tratamento ininterrupto no grupo foi em média de
4,09±2,84 meses, com mediana de 4 meses e moda de 7 meses. Período
igual ou maior um ano foi citado por 32,8% (n=39) das entrevistadas,
seguido por menor ou igual um mês, em 19, 3% (n=23). Apenas 4,2%
(n=5) referiram abandono.
46
Artigo1
Quanto aos tratamentos realizados antes do grupo, 67,2% (n=80)
não foram expostas a nenhum tratamento; 19,3% (n=23) passaram por
pronto-socorro e foram internadas e 13,4% (n=16) apenas passaram pelo
pronto-socorro.
No que se refere à evolução do tratamento, 58% (n=69)
melhoraram ou diminuíram a ingestão, 22,7% (n=27) não perceberam
mudanças, 10,9% (n=13) estavam abstinentes e 8,4% (n=10) sentiram-se
pior após o grupo.
47
Artigo1
DISCUSSÃO
As entrevistas foram feitas face a face e por telefone, com o
objetivo de diminuir a perda da amostragem.
Trata-se de estudo de seguimento, retrospectivo, que verificou o
que ocorreu com as mulheres alcoolistas que freqüentaram o Ambulatório
de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de
Botucatu (HC – UNESP).
A taxa de óbitos, 12,8% (n=39), foi menor do que o valor de 15%
(n=34) encontrado entre alcoolistas masculinos que freqüentaram o
Ambulatório de Psiquiatria e Gastroenterologia da Unifesp
26
.
As mulheres alcoolistas apresentam taxa maior de mortalidade
quando comparada à população feminina em geral e aos homens
alcoolistas
27
. Um estudo que acompanhou, durante onze anos, 103
mulheres alcoolistas, encontrou taxa de 31% (n=32)
28
, quatro vezes maior
do que a esperada com perda de quinze anos em sua expectativa de
vida. Todavia, mulheres que obtiveram ou chegaram à abstinência
apresentaram taxas de mortalidade menores que as esperadas
29
. Assim,
a taxa encontrada neste trabalho encontra-se entre os menores da
literatura. Este dado, porém, pode estar subestimado, uma vez que, entre
as pacientes perdidas em seguimento, o houve busca ativa nos
atestados de óbito.
48
Artigo1
Apesar do HC–UNESP, serviço terciário, atender a população de
vasta região, observou-se, no Grupo de Alcoolismo Feminino, que a
clientela é regionalizada, residindo até 18 km da Sede, em 68%.
Das 304 mulheres alcoolistas detectadas, 119 (39,1%) foram
entrevistadas, o que este grupo, pode ser considerado um mero alto.
Num levantamento bibliográfico sobre pesquisa de enfermagem produzida
no Brasil, na década de 1980 até 2004, houve relação ao álcool e a outras
drogas, com a subcategoria mulheres, em apenas 4 (6,7%) trabalhos
30
.
Notou-se que nos artigos pesquisados, o número de mulheres, em estudo
encontrado, variou de duas a vinte e duas
10,11,31,32
.
Recusou-se a participar do estudo 14,1% (n=43) das mulheres, o
que corrobora a literatura sobre a dificuldade de se chegar a essas
mulheres, além da relutância em participar dos estudos, por acreditarem
prejudicar sua segurança ou privacidade e tamm para esquecerem que
foram alcoolistas ou que já participaram de um grupo para alcoolismo
10
. O
preconceito, a dificuldade em aceitar a doença, a ausência de serviço
específico, passando apela própria discriminação e o desconhecimento
dos profissionais de saúde, constituíram fatores de dificuldade.
O medo de procurar tratamento parece ser fator relevante,
sobretudo para as mulheres, por pensarem que a família as
desestimularia na busca do tratamento ou que seria um transtorno para
esta, além do receio de serem estigmatizadas pelos profissionais de
saúde
33
. A implementação de programas de tratamento especializado,
49
Artigo1
relacionados ao consumo de substâncias específicas para
subpopulações, tem melhorado a fragmentação dos cuidados, já que
programas não estruturados impõem barreiras para o tratamento, como a
falta de integração com outros serviços
34
.
Quanto ao tempo de seguimento, tem sido verificado que mulheres
que atendem aos programas específicos aderem mais ao tratamento. O
tempo médio de tratamento no grupo foi de 4,09±2,84 meses,
aparecendo, como maior freqüência, os seguimentos de um ano ou mais
(32,8%) e o de um mês ou menos (19,3%). Em estudo conduzido pelo
Programa de Atendimento à Mulher Dependente Química (PROMUD),
verificou-se que 66,9% (n=113) das mulheres alcoolistas permaneciam no
grupo após 6 meses e 52,6% (n=89) após 12 meses, enquanto que em
tratamento misto, após 6 meses 34,8% (n=115) e após 12 meses apenas
19,1% (n=63) das mulheres permaneciam no grupo
5
. Os achados deste
estudo são compatíveis com aqueles cujas mulheres o expostas aos
tratamentos mistos.
Em relação ao perfil das mulheres alcoolistas atendidas no
Ambulatório (HC-UNESP), tem-se idade entre 40 a 49 anos (42%), sem
companheiros (56,3%), brancas (63,9%), escolaridade de 1ª a série
(44,5%), católicas (67,2%) e praticantes (58%). Apenas 10,9% (n=13)
delas não contavam com suporte familiar, 59,7% eram prestadoras de
serviço, tinham como responsável pelo sustento familiar o cônjuge
(29,4%) e a renda familiar média era de 2,2 salários mínimos. Num estudo
50
Artigo1
qualitativo, do qual participaram 13 mulheres, a média de idade foi de 43
anos, 84,6% eram católicas, 76,9% brancas, 46,1% tinham ocupação,
84,6% residiam com familiares e 53,8% eram casadas
11
. Em outro estudo
realizado no mesmo serviço, (Ambulatório, HC-UNESP) com 57 mulheres
atendidas de 1990 a 1994 e com seguimento de um ano, a média de
idade encontrada foi de 22,9 anos, com predominância de solteiras
(66,7%), escolaridade inferior a 8 anos (77,2%), baixo nível econômico
(85,2%) ou um salário mínimo e 51,2% das mulheres referiram ser donas
de casa
13
.
Mulheres acima dos 40 anos estariam expostas ao risco de
aumento do consumo alcoólico, associado à falta de estrutura familiar
35
.
Um estudo transversal para indicar a prevalência de abuso e dependência
de álcool na área urbana de Rio Grande (RS), com amostra de 1044
pessoas de ambos os sexos, encontrou predominância de brancos, que
moravam com companheiro, do sexo feminino, da classe social C. Dessas
pessoas um terço superaram o grau e 20,4% estavam
desempregados
36
. Em um grupo de pacientes psiquiátricos ambulatoriais,
não alcoolistas, com oito mulheres, encontraram-se características
semelhantes: idade entre 29 a 65 anos, a maioria casada, 1º grau
completo e que trabalhava em serviços domésticos
37
. Num estudo sobre
os efeitos do consumo de bebida alcoólica sobre o feto, 150 mulheres
foram entrevistadas, tinham idade entre 15 a 41 anos, com média de 23
anos e seis meses, das quais 50,7% (n=76) eram casadas ou com união
51
Artigo1
consensual. Contudo, entre as 74 mulheres solteiras, o consumo de
bebida alcoólica foi significantemente maior do que entre as casadas
18
.
Existem poucos trabalhos caracterizando as mulheres alcoolistas e
geralmente são amostras pequenas, sem estudos populacionais. Não se
pode afirmar que o perfil da mulher alcoolista na população é igual ao das
que freqüentam o serviço do HC-UNESP, provavelmente porque a
população estudada é de maior gravidade, com dependência severa e
com mais complicações.
Neste estudo, as mulheres foram encaminhadas principalmente por
serviços de saúde (58%), tiveram ligação com outros serviços por terem
um atendimento específico e fazerem parte do Sistema Único de Saúde
(SUS). Em relação ao comparecimento ao grupo, 48,7% (n=58) vieram
sozinhas, confirmando outro estudo feito no próprio serviço, o qual 45,5%
das mulheres compareciam sozinhas
13
. O principal incentivador a
procurar tratamento foi a família (33,6%), um mero um pouco diferente,
se comparado com o mesmo estudo citado acima, em que a família foi o
principal incentivador com 63,2%
13
. Os familiares podem se apresentar
como rede de apoio, como colocado num outro estudo, em que as
mulheres podem contar com o incentivo de pais e filhos na busca de
ajuda, mas estes o fazem o seguimento familiar, atendem apenas
quando solicitados
9
.
Na América Latina, o início do uso da bebida alcoólica ocorre por
volta dos 15 anos de idade, enquanto nos EUA, a partir dos 21 anos
38
.
52
Artigo1
Dados americanos, fornecidos pelo SAMHSA (Substance Abuse and
Mental Health Services Administration, 2000), dividindo as mulheres por
idade, encontraram que 71,5% das mulheres entre 26 e 34 anos e 59,7%
acima de 34 anos usavam álcool
21
. Num estudo sobre antecedentes
familiares com ambos os sexos, a idade predominante de início à bebida
foi de 12 a 20 anos
39
. Em outro estudo, avaliando apenas homens, 57,2%
iniciaram a ingestão entre 16 e 20 anos e 56,20% com tempo de
alcoolismo problemático, entre 2 a 5 anos
40
. No estudo sobre drogas e
gênero, do mesmo serviço (GAF), o início da ingestão alcoólica em
mulheres foi a partir dos 20 anos e a instalação da dependência deu-se
em dois anos
12
. Neste estudo, 62,2% (n=74) das mulheres iniciaram a
ingestão até os 20 anos e 58% (n=69) citaram tempo de instalação da
dependência entre dois a três anos. dificuldade em se encontrar
estudos que especifiquem o início da ingestão e o tempo de instalação da
dependência apenas na população feminina, pois os estudos são em
ambos os sexos ou em população masculina. Entretanto, em estudo
epidemiológico,
verificou-se que os achados desta pesquisa estão de
acordo com os da América Latina
38
.
Neste estudo, 68,9% referiram abstinência, no momento da
entrevista, com tempo predominante de 12 meses (48%). Todavia, quanto
ao padrão de ingestão atual, em 58,8% houve abstinência, em 15,1%
ingestão esporádica e em 5,9% ingestão freqüente, ambos sem
embriaguez e sem problemas. Essa divergência entre as respostas
53
Artigo1
obtidas nas questões sobre abstinência e padrão de ingestão pode
significar que algumas clientes não estão prontas para assumir a
abstinência como meta no início do tratamento. Para algumas diminuir a
quantidade de bebidas pode ser entendido como estar abstinente.
Alguns autores consideram que apenas a abstinência, como ponto
final de estudos de avaliação de serviços ou tratamentos, pode
subestimar a efetividade dos tratamentos
41
. Outros desfechos, como a
diminuição da freqüência e o número de dias abstinentes podem ser
usados como indicadores de melhorias devidas ao tratamento.
Artigos disponíveis na literatura nacional indicam taxas de
abstinência que variam de 12% a 25%, em seis meses de seguimento
42
.
Em relação à diminuição da ingestão, um estudo avaliando o quão efetivo
é o tratamento do alcoolismo nos Estados Unidos, encontrou que 75%
dos pacientes continuavam a beber esporadicamente, 87% apresentaram
diminuição da ingestão e 60% tinham problemas relacionados ao álcool
43
.
Assim, embora a maioria dos pacientes não tenha atingido a abstinência,
os não abstinentes experimentaram redução significativa dos problemas
relacionados ao álcool. A redução do beber embriagando-se pode ser
considerada significante clinicamente e relevante para os participantes
dos programas.
O padrão de consumo encontrado neste estudo, como começar a
beber com amigos ou cônjuge, incentivo a beber por familiares e amigos,
beber em casa e consumir bebida barata, como a pinga, está de acordo
54
Artigo1
com o padrão feminino de ingestão, já descrito em diversos trabalhos
5,9,11-
13,20,21,35
. Trata-se de donas de casas e mulheres empregadas, mas com
pouca qualificação profissional, baixa renda familiar e pouca escolaridade.
Como o orçamento doméstico é limitado, a compra de bebidas baratas,
com alto teor alcoólico, acarreta danos a diversos órgãos e sistemas,
principalmente gástrico e neurológico. Bebendo em casa e recebendo o
apoio de familiares e amigos, o vício é escondido por longos períodos,
favorecendo a dependência e dificultando o início do tratamento, até da
percepção do problema, pois se trata de ingestão escondida, sem
monitoramento.
Além disso, a alta prevalência encontrada para história familiar de
alcoolismo (76,5%) predispõe ao aparecimento de quadros de
dependência mais graves, de evolução mais rápida e com primeiros
sintomas em idade mais precoce
17,39
.
Das mulheres entrevistadas, 42% sofreram algum tipo de acidente
enquanto alcoolizadas, sendo o doméstico o mais citado (27,7%), seguido
do de trânsito (13,4%) e do de trabalho (6,7%).
Não são raros os acidentes domésticos, mas muitas vezes eles
podem ser disfarces das agressões conjugais
44
. Neste trabalho não houve
estudo mais profundo para saber o que realmente aconteceu.
O uso de álcool está associado ao aumento de acidentes de forma
geral, em especial de trânsito. Pesquisa realizada pela Associação
Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET), em 2006, em quatro
55
Artigo1
grandes capitais brasileiras (Curitiba, Brasília, Salvador e Recife), apontou
que 61% dos acidentados haviam ingerido bebida alcoólica antes do
acidente
45
.
No presente estudo, 13,4% das mulheres foram timas de
acidentes de trânsito, enquanto alcoolizadas, por atropelamento ou como
passageiras. Considerando-se que pertenciam à classe social de até dois
salários mínimos (2,20±1,3) e que provavelmente não possuíam
automóvel, o número pode ser considerado expressivo.
No Brasil, a concentração de álcool no sangue (CAS), permitida
pelo Código Nacional de Trânsito, está estabelecida em 0,06% ou 0,6 g/l
e, segundo o Detran-SP, 50% dos acidentes automobilísticos fatais estão
relacionados ao consumo de álcool
46
. Estudos sobre mulheres relatam
risco maior para as que bebem e dirigem, podendo ser, em parte, por
metabolizarem o álcool diferentemente dos homens e apresentarem CAS
mais alta para dado volume consumido de álcool e tamm por serem
mais sensíveis aos efeitos do álcool, o que influencia o desempenho ao
dirigir
20
.
O alcoolismo é a terceira causa mais freqüente de absenteísmo ao
trabalho no Brasil e a oitava causa de requerimento para concessão de
auxílio-doença. Além disso, está em primeiro lugar na ordem dos
problemas sociais previstos pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
que abrangem desempenho no trabalho (assiduidade e produtividade) e
acidentes de trabalho
47
. Neste estudo, a relação é com os acidentes.
56
Artigo1
Entre as orientações dadas pela assistente social do grupo de alcoolismo
está a permanência no trabalho, evitando que a pessoa fique desocupada
e tenha mais tempo para beber. após rigorosa avaliação de equipe é
que se pode pedir afastamento, o que condiz com a política do governo
brasileiro, que incentiva a inclusão social através do trabalho
48
.
Quanto ao envolvimento com a polícia, 60,5% das mulheres
negaram, antes de chegarem ao tratamento e 85,7% não tinham se
envolvido ao momento da entrevista. Chama a atenção, entretanto, as
33 mulheres que se envolveram com a polícia por causa de brigas, pelo
número de seis (75%) dos oito homicídios relatados no final do
seguimento.
Este é um indicador que deve ser discriminado tanto pelo
envolvimento com a polícia, por embriaguez em via pública, ou por
agressões físicas, como por problemas causados por dirigir embriagado e
por problemas jurídicos
47
. A partir da década de 1980, observou-se
aumento da criminalidade, do mero de delitos relacionados com drogas
e crimes violentos, como roubos, seqüestro e homicídio. O número de
homicídios é considerado o melhor indicador para dimensionar a violência
em qualquer parte do planeta. Em 2000, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os assassinatos
representaram 38,3% dos óbitos por causas externas
49
. Num estudo
colombiano, 35,9% dos homicidas estavam sob efeito do álcool
50
. Outro
estudo sobre prevalência de doença mental em homicidas, na Inglaterra e
57
Artigo1
País de Gales, mostrou que o abuso de álcool é comum em homicidas de
todas as idades, mas mais provável na população acima de 50 anos
51
.
Num outro estudo sobre dependentes de álcool que procuram
tratamento em diferentes ambulatórios, no setor especializado em
alcoolismo, apesar do índice de mortalidade ter sido inferior, foi um dado
preocupante, devido aos óbitos por acidentes e assassinatos, pois
indivíduos alcoolizados têm maior chance de se envolver em brigas ou
situações violentas
23
. Também se explica o mero de homicídios pelo
aumento da violência urbana, que pode estar envolvida com o tráfico de
drogas, miséria, violência e álcool
52
.
O Brasil é dos poucos países que trata o tema Violência no âmbito
do setor Saúde. Os acidentes e as situações de violência ocupam o
segundo lugar em causa de mortalidade geral e o primeiro lugar em
causas de óbitos entre 10 a 49 anos
53
.
As mulheres alcoolistas têm quatro vezes mais história de abuso
sexual na infância do que os homens alcoolistas
54
. A freqüência de
histórias de abuso na infância entre mulheres em tratamento para
dependência de álcool foi maior que a relatada pelos homens com o
mesmo diagnóstico
55
.
Um estudo americano apontou que 4% a 24% das mulheres que
cometeram violência contra seus parceiros estavam alcoolizadas no
momento da ocorrência
55
. Em estudos feitos com homens ingressando no
tratamento, tanto de violência doméstica como de alcoolismo, a chance de
58
Artigo1
violência por parte do parceiro era de 8 a 11 vezes mais alta nos dias em
que bebiam, em comparação aos dias em que permaneciam
abstinentes
19
.
Neste estudo, a violência familiar apresentou redução de 50,4%
após o tratamento e diminuição da agressão física em 53,8% e tamm
no bater e apanhar (26%) e em relação à agressão verbal (40,4).
Em estudo realizado na UNIFESP, em 2005, comparando três
grupos de pacientes dependentes de álcool, drogas, deprimidos e
controle, que não se encontravam em tratamento psiquiátrico, verificou-se
que no relacionamento familiar de mulheres alcoolistas predominaram
relações insatisfatórias, conflituosas e de emoções hostis
56
. A agressão
verbal no contexto familiar pode ser comprometimento social decorrente
do consumo de álcool
11
.
Num trabalho do HC-UNESP, sobre homens e mulheres
alcoolistas, a maioria relatou agressão física e verbal anterior ao
tratamento. Não houve redução da violência familiar após o tratamento
entre as mulheres, sendo que 71,9% destas citaram como agressor, antes
do tratamento, o cônjuge. Tamm foi colocado que para o grupo de
mulheres alcoolistas foi mais difícil deixar um relacionamento violento
devido à dependência econômica e responsabilidade com os filhos
22
.
Tanto antes como depois do tratamento, 39,5% das mulheres
entrevistadas apontaram problemas com os filhos e destas, 22,7% tinham
dois ou mais problemas, como uso de álcool e outras drogas,
59
Artigo1
agressividade e timidez. Os problemas se manifestavam na família,
escola e vida social antes do tratamento (18,5%) e apenas na família, no
momento da entrevista (23,5%). Mães alcoolistas, provenientes de lares
desajustados, podem apresentar filhos com desajustamento social, baixa
auto-estima, insegurança e traços de personalidade depressivos
22
.
A extensão dos danos nos filhos depende da própria
personalidade, do apoio emocional oferecido pela mãe ou pelo pai, de
outros apoios sociais e emocionais existentes e da idade da criança,
quando o progenitor desenvolveu o problema. O impacto é muito mais
adverso quando associado à agressão verbal ou física. Não se sabe ao
certo se o impacto é maior quando o alcoolista é o pai ou a mãe e
tamm há diferenças entre meninos e meninas. Nos filhos, aumento
geral da ansiedade, em meninas pode ocorrer depressão e em ambos os
sexos a auto-estima tende a ser baixa. No ambiente escolar, pode-se ter
desempenho acadêmico ruim e entre os meninos comportamento anti-
social. O conflito emocional em casa pode tornar-se risco latente para um
alcoolismo posterior. A ausência de ligação emocional e um lar perturbado
pode deixar os filhos vulneráveis a grupos ligados ao consumo de drogas
e delinqüência, ao risco de agressão e também ao abuso sexual. Na vida
adulta, os filhos tendem a apresentar baixa auto-estima, depressão,
ansiedade, comportamento anti-social e maneiras inadequadas de lidar
com a vida
20
. Por outro lado, pode acontecer um filho muito envolvido com
a casa e preocupado em proteger o progenitor que não bebe.
60
Artigo1
No presente estudo houve associação entre problemas clínicos,
psicológicos e mentais, em relação ao alcoolismo, pois 84% das
entrevistadas tinham algum tipo de queixa, sendo na ordem crescente:
físicas, presença da ndrome de dependência alcoólica, ansiedade,
solidão, depressão, ideação suicida e homicida, tentativa de suicídio e
queixas sexuais. Os profissionais da saúde podem não reconhecer essa
associação, acabando por tratar apenas as complicações orgânicas, sem
perceber o real problema causador: o álcool.
Quanto aos critérios diagnósticos da síndrome da dependência do
álcool, a interação de fatores biológicos e culturais, como se o uso do
álcool fosse um aprendizado
57
. As mulheres entrevistadas reconheceram
essa síndrome, principalmente em função da presença dos sintomas de
abstinência que funcionam como alimentador do uso do álcool para
conseguir seu alívio.
Os sintomas depressivos são prevalentes entre mulheres
alcoolistas, assim como a associações entre tentativa de suicídio e álcool.
Assim, cerca de 23% das mulheres usaram álcool antes do uso de
venenos e o suicídio; nesta população, a associação é 50 vezes mais
comum do que na população geral
58
. Outro estudo verificou que das
mulheres dependentes de álcool e outras substâncias, 19% tiveram
depressão em algum momento da vida, enquanto na população feminina
essa prevalência é de 7%
59
.
61
Artigo1
Em relação aos problemas sexuais, sabe-se que pequenas doses
de álcool inibem a resposta fisiológica da mulher dependente a estímulos
sexuais
5
. O álcool gera a falsa ilusão de se estabelecer um
relacionamento com outras pessoas e de sentir mais confiança no trato
com estas, mas na verdade o uso crônico torna as pessoas mais
retraídas, com menos autoconfiança e até mais deprimidas e ansiosas
30
.
Sobre as internações hospitalares para tratamento do alcoolismo,
38,7% das entrevistadas negaram internação, 27,7% mencionaram uma
internação e 20,9%, de duas a cinco internações. Num estudo
que avaliou
99 pacientes masculinos internados, 45% apresentaram de uma a cinco
re-internações, 36,3%, apenas uma internação e 8,7%, mais de dez
internações
60
. Esse tópico, em relação à internação feminina, ainda é
pouco estudado.
Das mulheres entrevistadas, 74,8% disseram usar algum tipo de
medicação, sendo outros (analgésicos e antiinflamatórios) citados em
46,2%, benzodiazepínicos em 40,3% e antidepressivos em 31,1%. Sabe-
se que entre mulheres ocorre o abuso freqüente de mais de uma
substância psicoativa, principalmente analgésicos e tranqüilizantes
61
.
Apenas 4,2% das mulheres citaram abandono ao tratamento.
Homens e mulheres têm igual probabilidade de completar o
tratamento, mas as mulheres que o fazem, apresentam nove vezes mais
chances de se tornarem abstinentes que as demais. Já, os homens que
62
Artigo1
terminam o tratamento m apenas três vezes mais chance de se
manterem abstinentes do que os que abandonam
62
.
Os fatores que podem determinar o desfecho do tratamento para o
alcoolismo foram: maior renda, nível educacional, ter emprego,
concentração de álcool nas bebidas, não ser portador de sintomas e/ou
desordens psiquiátricos, ser casada, ter auto-estima, não ter história de
abuso sexual e ter filhos
62
.
Em grupos mistos, cerca de 50% das pacientes abandonaram o
tratamento nos três primeiros meses de seguimento, enquanto no grupo
de mulheres com um ano de tratamento cerca de 65% continuaram
freqüentando a psicoterapia
63
.
As mulheres alcoolistas procuram tratamento quando bastante
comprometidas, necessitando de seguimento ampliado para dar conta
das questões, pois elas perderam suas referências. Em algumas
situações, a mulher fica sozinha e não possui ou não consegue manter o
vínculo, o que torna a sua perspectiva de reabilitação social limitada. Em
alguns casos, a manutenção do problema acaba se tornando seu arrimo,
pois o grupo pode ser um substituto de sua família e o único local em que
recebe apoio. que se considerar tamm as recidivas, pelo alcoolismo
ser doença crônica, o que pode acarretar o aumento do seguimento.
Portanto, não se pode associar à recaída a falha irreversível, mesmo se o
proposto no grupo seja a abstinência.
63
Artigo1
Programas de tratamento para dependentes de álcool apresentam
sucesso modesto, com baixos índices de abstinência e altos indicadores
de abandono do tratamento. A principal razão para o abandono é a
recaída logo após as primeiras consultas
26
.
De acordo com o preconizado, a abstinência é o não uso de bebida
alcoólica. Entretanto, pode-se considerar a diminuição do beber,
resultando numa melhora da qualidade de vida, com retorno às atividades
diárias, melhora do relacionamento familiar e convívio social. Uma das
características da dependência é a presença da abstinência e seus
sintomas mais comuns os tremores, irritabilidade, náusea e vômitos. No
Brasil, são raros os serviços de saúde que fazem testes de rotina para
monitorar se a pessoa está abstinente ou não
12
, assim como é raro o
diagnóstico da dependência alcoólica, cuja avaliação e reconhecimento
são complexos, devido aos sinais e sintomas muitas vezes insidiosos e
pouco específicos
15,16
. O tratamento, que propõe como meta a
abstinência do álcool, enfrenta dificuldades, pois a motivação do beber
pode se relacionar com o alívio dos sintomas de abstinência
11
. Além
disso, outras características do alcoolismo consistem em alternar períodos
de abstinência e consumo pesado, ou períodos em que se pode
permanecer por vários anos usando baixas quantidades de etílicos,
dificultando o diagnóstico e influenciando negativamente no tratamento
17
.
Nesse estudo, 67,2% das mulheres o foram expostas a
tratamento anterior para alcoolismo. O pronto-socorro serviu como porta
64
Artigo1
de entrada para outros encaminhamentos ou para tratamento emergencial
suficiente apenas para as mulheres poderem retornar para suas casas. O
problema é que a maioria dos alcoolistas procura o serviço hospitalar em
períodos de crise, retornando ao serviço apenas para novas
internações
38
.
Observou-se, pela análise dos prontuários, que elas buscaram
várias vezes o pronto-socorro do HC-UNESP para aliviar os sinais e
sintomas da dependência. Dessa forma, o alcoolismo pode passar
despercebido e as mulheres não serem encaminhadas para tratamento,
mesmo havendo anotações anteriores sobre a dependência.
Essa realidade confirma a necessidade de profissionais
qualificados e a presença de serviços interligados, desde a rede primária
até o setor terciário, que não promova tratamentos apenas focados em
sintomas.
Mesmo sem treinamento, os profissionais da saúde atendem
número considerável de pessoas dependentes ou com problemas ligados
ao uso do álcool e nesse contexto, a cliente é a maior prejudicada. Se o
tratamento não oferece o necessário a adesão e a aderência são baixas e
o resultado, ruim. A reeducação dos profissionais é que pode acarretar
mudanças a longo prazo
64
.
Num estudo sobre pessoas alcoolizadas, atendidas na emergência,
as principais barreiras colocadas pelos profissionais para fazerem a
triagem e uma intervenção breve foram: falta de tempo, formação
65
Artigo1
acadêmica insuficiente, medo de incomodar a pessoa e o fato do álcool
não ser assunto a ser abordado nesse tipo de serviço
65
.
Quanto à evolução do tratamento, 58% das entrevistadas
referiram-se melhor ou diminuíram a ingestão alcoólica, 22,7% não
perceberam mudanças, 10,9% consideraram-se apenas abstinentes e
8,4% sentiram-se pior após o grupo. Avaliações de como “o paciente ficou
melhor”, “pior” ou está do mesmo jeito necessitam cuidados de
segurança quanto às suas definições e por isso lança-se mão da
avaliação como um procedimento a ser alcançado num serviço,
juntamente com objetivos predeterminados
40
.
Em relação à evolução, não se pretende colocar um valor de “bom
ou mau” sobre o grupo, mas sim levar em consideração outras questões
que podem levar as mulheres alcoolistas a desfecho mais favorável
É agravante para a dependência o ter casa, trabalho, estrutura
social ou até mesmo cidadania. A ausência de Políticas Públicas atuantes
pode ser o fator mantenedor do alcoolismo, principalmente quando se
trata de um grupo tão vulnerável como a população feminina.
66
Artigo1
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Epígrafe
“É exatamente na água lamacenta
que a flor de lótus brota e floresce”
Thich Nhat Hanh
Artigo 2
A EVOLUÇÃO DE MULHERES ALCOOLISTAS, SEGUNDO A
GRAVIDADE DA DEPENDÊNCIA, ATENDIDAS NUM SERVIÇO
AMBULATORIAL
The evolution of alcoholist women, according to dependence severity,
assisted by an ambulatorial service.
Patricia Regina Zampieri
1
Ivete Dalben
1
Maria Odete Simão
2
(1) Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva Departamento de
Saúde Pública/ Faculdade de Medicina de Botucatu Universidade
Estadual Paulista – UNESP/Brasil
(2) Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina
de Botucatu – Universidade Estadual Paulista – UNESP/Brasil
Endereço para correspondência:
Patricia Regina Zampieri
Departamento de Saúde Pública/Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP
Distrito de Rubião Júnior s/n., Botucatu, SP/Brasil
CEP: 18618-970
e-mail: p.r.zamp@hotmail.com
79
Resumo
RESUMO
OBJETIVO: Descrever a evolução de mulheres alcoolistas em
relação à gravidade da dependência. TODO: O trabalho foi realizado
com o Grupo de Alcoolismo Feminino (GAF), que freqüentou o
Ambulatório de Psiquiatria do HC-UNESP desde a década de setenta até
2005. Foi aplicada a escala Short Alcohol Dependence Data (SADD) para
as 119 mulheres entrevistadas. Foram considerados o SADD do caso
novo caso novo e o dia da entrevista. Também foi perguntado sobre a
utilização de outras drogas e o principal motivo do uso do álcool pela
primeira vez. RESULTADOS: Houve predominância da dependência
grave entre os casos novos (90%), de mulheres que permaneceram no
grupo menos de seis meses (53%) e mais que um ano (34,5%). Na
entrevista, a maioria tinha dependência leve (59,7%) e freqüentou o grupo
durante cinco meses (46,5%) e um ano ou mais (36,6%). Das mulheres
que disseram estar melhor ou ter diminuído a ingestão, 53,8% tinham
SADD grave no caso novo e 41,8%, SADD final leve. A substância lícita
mais usada no mês anterior à entrevista foi o tabaco (43,7%) e a maioria
afirmou não ter usado álcool (56,3%). Entre as mulheres, 74,8% faziam
uso de alguma medicação e o principal motivo de terem usado álcool pela
primeira vez foi enfrentamento de situação desagradável (53,8%).
DISCUSSÃO: Entre os casos novos, o grau de severidade predominante
foi o grave, enquanto a escala aplicada durante a entrevista mostrou
80
Resumo
dependência leve. O tempo de permanência no grupo foi independente do
SADD. Observou-se relação positiva com SADD inicial e final e as
repostas sobre a evolução do tratamento. Trata-se de um grupo no qual o
problema está diretamente relacionado com o álcool, excluindo o tabaco.
No qual a abstinência pode ser entendida como uso moderado ou
diminuição da bebida. Verificou-se que as mulheres bebem sozinhas e um
fator estressante foi desencadeante para o problema do beber.
Palavras-chave: caso novo, entrevista, evolução, gravidade da
dependência, mulheres alcoolistas, SADD.
81
Abstract
ABSTRACT
Objective: The aim of this study was to describe the evolution of
alcoholist women in relation to dependence severity. Method: The work
was held with the Female Alcoholism Group (FAG), which was assisted by
the Psychiatry Ambulatory of Botucatu Clinical Hospital UNESP, from
the seventies to 2005. The Short Alcohol Dependence scale (SADD) was
used for the 119 women interviewed. The initial, new case and final SADD
were considered. Questions about the use of other drugs and the main
reason for the first alcohol consumption were asked. Results: Severe
dependence was predominant among new cases (90%), attending to the
group for less than six months (53%) and more than a year (34,5%). Most
of interviewees had low dependence (59,7%), attending to the group for
five months (46,5%) and a year or more (36,6%). Among women who said
to feel better or had decreased alcohol ingestion, 53,8% presented severe
SADD at new case and 41,8% showed low final SADD. One month before
the interview, tobacco was the most used licit drug (43,7%) and 56,3%
referred not to have ingested alcohol. Among the interviewees, 74,8% was
using some kind of medication. The main reason for having ingested
alcohol for the first time was facing an unpleasant situation (53,8%).
Discussion: Among new cases, the predominant severity level was
severe, while the scale used during the interview showed low
dependence. The permanence time at the group was independent on the
82
Abstract
SADD. It was possible to observe the positive relationship between initial
and final SADD and the answers about the treatment evolution. That was
a group in which the problem is directly related to alcohol, except tobacco.
Abstinence may be taken as moderate use or drinking decrease. It was
also clear that women drink alone and are led to drinking by stressing
factors.
Key words: alcoholist women, dependence severity, evolution,
SADD, new case, interview.
83
Artigo 2
INTRODUÇÃO
Não praticamente nenhum grupo humano contemporâneo que
desconheça o álcool ou etanol”
1
.
Na atualidade, o consumo de álcool é dos mais graves problemas
de Saúde Pública, determinando mais de 10% de toda morbidade e
mortalidade no Brasil
2-4
.
A estimativa da prevalência da dependência alcoólica para o país
foi de 12,3%, em 2005, sendo de 19,5% para homens e 6,9% para
mulheres
5
.
As mulheres alcoolistas formam um grupo vulnerável em
crescimento
6-8
, apesar da identificação do alcoolismo ser subestimada,
por esbarrar na falta de treinamento das equipes de saúde, na falta de
centros especializados e no próprio estigma dos profissionais, que
preferem fazer outros diagnósticos. Além do preconceito social que as
mulheres enfrentam impedindo-as de procurar tratamento, aliado à
culpabilidade, perante o costume de beber
8-12
. Até o alcoolismo na
gravidez é subdiagnosticado
9
.
Particularmente, no alcoolismo feminino, é importante considerar o
que levou ao uso do álcool, que podem ser fatores adversos, prazer e
lazer. Daí a importância da participação e diálogo com o público alvo nos
serviços de saúde, procurando o conhecimento mais amplo da realidade
em que se pretende intervir
13
.
84
Artigo 2
Na década de noventa, 23% dos municípios existentes no Brasil
passaram a oferecer os serviços de atenção básica e ambulatorial, e
houve aumento do número de profissionais com vel superior atuando
nesses setores
14
. Concomitante ocorreu queda das internações por
alcoolismo, provavelmente pela ênfase dada ao tratamento ambulatorial
6
.
Contudo, na prática cotidiana desses serviços de saúde, a
avaliação não é feita rotineiramente e enfrenta dificuldades metodológicas
e operacionais, como insuficiente qualificação dos profissionais e poucos
estudos epidemiológicos para avaliação do impacto das intervenções
15,16
.
Os estudos epidemiológicos podem ser utilizados para avaliações
na área da saúde, devendo levar em consideração os objetivos do
serviço, tipo de serviço, a população-alvo, bem como as características
sociodemográficas
15, 17
.
Existem poucos estudos sobre a real eficiência terapêutica dos
programas voltados para mulheres
9
. Num trabalho de pesquisa foi
verificada a melhora da adesão ao tratamento por ser um serviço
específico para o grupo, com resultados semelhantes aos dos homens e
com tendência a melhor evolução. Os fatores relacionados ao melhor
prognóstico foram: renda maior, não ser negra, não estar empregada, ser
casada e ter problemas psiquiátricos menos graves. Como fatores de
adesão ao tratamento, estão a gravidade da dependência e os problemas
a ela associados, ou seja, em casos de dependência leve e moderada,
chance de evoluir melhor
11,18
.
85
Artigo 2
Entre os Alcoólicos Anônimos (AA) tem-se como meta taxa de
sobriedade de 75%, contudo, estima-se que 50% dos participantes
abandonem o tratamento nos três primeiros meses, ou que apenas 25%
das pessoas encaminhadas ao AA freqüentem a reunião regularmente
19
.
A quantificação do grau de severidade da dependência do álcool
tornou-se possível pela evolução do conceito de alcoolismo,
fundamentado nos elementos que compõem a síndrome da dependência
alcoólica. Para chegar na da gravidade do uso, pesquisa-se o padrão de
consumo do álcool, que varia conforme a cultura, o país, o gênero, a faixa
etária e as normas sociais. Fatores até mais importantes que a própria
substância, para causar a dependência, seriam: uso, quantidade,
freqüência, conseqüências negativas, tempo entre um episódio e outro, o
contexto em que se bebe e a bebida utilizada
2,4,11,20-22
.
As mulheres possuem particularidades, em seu padrão de ingestão
alcoólica, muitas vezes velada. Sofrem as influências socioculturais, como
menor pressão para começar a beber e maior para parar. Quando dona
de casa, consome mais em casa do que no bar e se preocupa com a
ausência do companheiro e dos filhos e quando profissional, pode ter
padrão próximo do masculino. O início da ingestão é mais tardio por
incentivo de familiares e amigos, havendo aumento do consumo após o
casamento, por influência do cônjuge alcoolista. Mulheres acima dos
quarenta anos m maior chance de aumentar o consumo, associado à
falta de estrutura familiar e utilizam outras pessoas para comprar a
86
Artigo 2
bebida, em geral amigos e filhos. Recorrem ao álcool para enfrentar as
adversidades, podendo ser percebidas como tendo abandonado os
papéis de esposa e mãe e até estarem mais disponíveis
sexualmente
8,9,10,22,23
. Estar abstinente ou sóbria, para a mulher, pode
significar estar livre do consumo em um determinado momento
7
.
A mulher traz sua psicobiologia e sua posição socioeconômica para
a dependência, não devendo ser transformada num fetiche, pois as
conseqüências de seu alcoolismo repercutem nas pessoas mais próximas
e principalmente na própria mulher
24
.
A presença de profissionais preparados para recebê-las e a
integração com outros serviços, amenizando as barreiras para chegarem
ao tratamento, o algumas ações propostas por estudiosos do
alcoolismo feminino.
Portanto, pelos poucos trabalhos, sobretudo àqueles direcionados
às mulheres, que são raros, foi proposto esse estudo, que os achados
masculinos não podem ser aplicados a esse grupo específico.
87
Artigo 2
OBJETIVO
Descrever a evolução de mulheres alcoolistas, em relação à
gravidade da dependência.
88
Artigo 2
MÉTODO
O trabalho foi realizado no Ambulatório de Psiquiatria do Hospital
de Clínicas (HC-UNESP) da Faculdade de Medicina de Botucatu.
A metodologia encontra-se descrita no artigo 1, páginas 27 a 28.
Sujeitos
Foram sujeitos desta pesquisa todos os 119 casos novos de
mulheres alcoolistas que participaram do grupo, entre meados da década
de 1970 até 2005. O método de captação, os critérios de inclusão e
exclusão são os mesmos do artigo 1, descritos nas páginas 28 a 30.
Procedimentos
A coleta de dados teve início em 17 de novembro de 2004 e
terminou em 23 de novembro de 2005. Os procedimentos encontram-se
descritos no artigo 1, páginas 30 a 31.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNESP, de
Botucatu (Anexo 2).
89
Artigo 2
Instrumentos utilizados
Foi utilizada a escala de avaliação, Short Alcohol Dependence Data
(SADD) desenvolvida por Raistrick e colaboradores (1983), na Inglaterra e
traduzida e validada para o Brasil por Jorge e Masur (1986)
25,26
(Anexo 5).
Trata-se de instrumento que quantifica a dependência naquele momento
e serve de subsídio no acompanhamento da evolução do alcoolismo
26
,
possui 15 itens que investigam o grau da gravidade da dependência
alcoólica, classificando-a em leve, moderada e grave. Apresenta escala
de zero a três, definida como: nunca 0 ponto; poucas vezes 1 ponto;
muitas vezes 2 pontos e sempre 3 pontos. A soma do total de pontos
pode classificar a cliente: 1 a 9 pontos, dependência leve; 10 a 19 pontos,
dependência moderada e 20 a 45 pontos, dependência grave.
O SADD foi considerado em dois momentos: o inicial aplicado na
rotina do caso novo e o final aplicado, neste estudo, no momento da
entrevista.
No questionário utilizado para o álcool, perguntou-se sobre
substâncias citas e ilícitas usadas no último mês, antes da entrevista e
tamm o motivo principal de ter usado álcool pela primeira vez.
90
Artigo 2
Análise estatística
O banco de dados foi analisado através do software SPSS
27
,
versão 11.5. Os dados foram apresentados em forma de tabelas com as
freqüências absolutas e relativas. O Teste do Qui-quadrado de Pearson
foi utilizado para estabelecer diferenças entre freqüências e o teste
ANOVA para análise da diferença entre médias, sendo o teste de Tukey
utilizado ad hoc, sempre que necessário. Todos os testes foram bi-caudal
com nível de significância de 5%.
91
Artigo 2
Resultados
Entre os casos novos estudados, observou-se a predominância da
dependência grave em 90% (n=107) (Tabela 1).
Tabela 1 - Distribuição percentual do SADD do caso novo. HC-UNESP,
1976 a 2005
.
N % % acumulada
Grave 107 90,0 90,0
Moderado 9 7,6 97,6
Leve 3 2,4 100,0
Total 119 100,0
Durante o período de estudo, houve predomínio de dependência
grave. Observaram-se, nas primeiras décadas (1976 a 1989) de
funcionamento, apenas casos graves, enquanto nos anos intermediários,
entre 1990 a 1999 e nos últimos 5 anos (2000 a 2005), houve a presença
de casos novos leves e moderados (Tabela 2).
Tabela 2 - Aplicação do SADD caso novo e o ano de ingresso no grupo.
HC-UNESP, 1976 a 2005.
Período de ingresso
no grupo
SADD caso novo
Leve
Moderado
Grave
Total
N
%
N
%
N
%
N
%
1976 a 1984 _ _ _ _ 12 10,1 12 10,1
1985 a 1989 _ _ _ _ 13 10,9 13 10,9
1990 a 1994 1 0,8 1 0,8 15 14,3 17 14,3
1995 a 1999 1 0,8 1 0,8 28 25,2 30 25,2
2000 a 2005 1 0,8 7 5,9 39 39,5 47 39,5
Total 3 2,5 9 7,6 107 90,0 119 100,0
92
Artigo 2
Na Tabela 3, a idade na inscrição do caso novo variou de 22 a 77
anos, com idade média de 48 anos, sem diferença entre as classificações
do SADD (p=0,37).
Tabela 3 Variação da idade segundo o Grau de Severidade da
Dependência nos casos novos. HC – UNESP, 1976 a 2005.
SADD
caso
novo
N Média DP
95% IC
Mínimo Máximo
Lim Inf Lim Sup
leve 3 54 12,49 22,97 85,02 44,00 68,00
moderado
9 43,88 6,54 38,85 48,92 35,00 56,00
grave 107 47,93 11,63 45,70 50,16 22,00 77,00
Total 119 47,78 11,37 45,71 49,84 22,00 77,00
Enquanto que, no momento da entrevista, Tabela 4, não houve
diferença de idade entre as dependências moderada e grave e as
mulheres com dependência leve eram as mais idosas (p=0,00).
Tabela 4 Variação da idade segundo o Grau de Severidade da
Dependência no momento da entrevista. HC UNESP,
1976 a 2005.
SADD na
entrevista
N Média DP
95% IC
Mínimo Máximo
Lim Inf Lim Sup
leve 71 51,2 11,3 48,5 53,9 26,00 77,00
moderado 18 42,8 10,7 37,5 48,2 22,00 68,00
grave 30 42,6 9,0 39,3 46,0 24,00 69,00
Total 119 47,8 11,3 45,7 49,8 22,00 77,00
A Tabela 5 mostra que 53% das clientes permaneceram no grupo
menos de seis meses e 34,5%, mais de um ano. Destas, a maior
93
Artigo 2
freqüência encontrada 32,9% (n=39) eram portadoras de dependência
grave e permaneceram mais do que um ano em tratamento no grupo.
Tabela 5 - Tempo no grupo, em relação ao SADD no caso novo. HC-
UNESP, 1976 a 2005
Tempo de
Tratamento
SADD caso novo
Leve Moderado
Grave
Total
N
%
N
%
N
%
N
%
<= 1 mês 2 1,7 3 2,5 29 24,4 34 28,6
2 a 5 meses - - 3 2,5 26 21,9 29 24,4
6 a 11 meses - - 2 1,7 13 10,9 15 12,6
>=12 meses 1 0,8 1 0,8 39 32,9 41 34,5
Total 3 2,5 9 7,6 107 89,9 119 100,0
Em relação ao tempo de permanência no grupo e o SADD aplicado
durante a entrevista (Tabela 6), observou-se que das 119 clientes, 71
(59,7%) classificaram sua dependência como leve. Neste momento de,
observa-se que 27,7 % (n=33) freqüentaram o GAF durante menos do
que seis meses e 22% (n=26) durante mais do que um ano e pontuaram
como portadoras de dependência leve neste ponto avaliativo.
Tabela 6 - Tempo no grupo e a relação com SADD aplicado na
entrevista. HC-UNESP, 1976 a 2005
Tempo de
Tratamento no grupo
SADD caso novo
Leve Moderado Grave Total
N % N % N % N %
<= 1 mês 19 16,0 8 6,7 7 5,9 34 28,6
2 a 5 meses 14 11,8 3 2,5 12 10,1 29 24,4
6 a 11 meses 12 10,1 3 2,5 - - 15 12,6
>=12 meses 26 21,9 4 3,4 11 9,3 41 34,5
Total 71 59,7 18 15,1 30 25,2 119 100,0
94
Artigo 2
Na Tabela 7, das 119 clientes 58% (n=69) informaram melhora com
o tratamento, 53,8% (n=64) apresentavam dependência grave no caso
novo e apenas 9,2% (n=11) mantiveram tal pontuação no momento da
entrevista. Nota-se que houve migração para as formas menos graves em
todas as categorias de evolução do tratamento.
Tabela 7 - Evolução do tratamento e relação com o SADD no caso novo
e no momento da entrevista. HC – UNESP, 1976 a 2005
Evolução do
Tratamento
SADD caso novo SADD Atual
Total
leve moderado
grave Total leve moderado
grave
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
melhorou/diminuiu
1
0,8
4
3,4
64
53,8
69
58,0
49
41,2
9
7,6
11
9,2
69
58,0
igual -
-
4
3,4
23
19,3
27
22,7
9
7,6
5
4,2
13
10,9
27
22,7
pior 2
1,7
1
0,8
7
5,9
10
8,4
4
3,4
2
1,7
4
3,4
10
8,4
abstinente -
-
-
-
13
10,9
13
10,9
9
7,6
2
1,7
2
1,7
13
10,9
Total 3
2,5
9
7,6
107
89,9
119
100,0
71
59,7
18
15,1
30
25,2
119
100,0
Segundo a Tabela 8, das 107 mulheres com dependência grave no
caso novo 59,8% (n=64) melhoraram ou diminuíram a ingestão e 12,2%
(n=13) estavam abstinentes. Permaneceram durante 12 meses ou meses
28% (n=30). Neste grupo 6,5% (n=7) declararam que tinham piorado da
doença.
95
Artigo 2
Tabela 8 - Tempo de tratamento no grupo e evolução segundo SADD
caso novo. HC-UNESP, 1976 a 2005.
SADD caso novo
Tempo de Tratamento no Grupo
<= 1 mês 2 a 5 meses
6 a 11
meses
>=12
meses
Total
N % N % N % N % N %
Leve
melhorou/diminuiu 1 33,3 - - - - - - 1 33,3
pior 1 33,3 - - - - 1 33,3 2 66,7
Total 2 66,7 - - - - 1 33,3 3 100,0
Moderado
melhorou/diminuiu 2 22,2 2 22,2 - - - - 4 44,4
igual 1 11,1 1 11,1 2 22,2 - - 4 44,4
pior - - - - - - 1 11,1 1 11,1
Total 3 33,3 3 33,3 2 22,2 1 11,1 9 100,0
Grave
melhorou/diminuiu 9 8,4 15 14,0 10 9,4 30 28,0 64 59,8
igual 9 8,4 7 6,5 3 2,8 4 3,8 23 21,5
pior 4 3,8 2 1,9 - - 1 0,9 7 6,5
abstinente 7 6,5 2 1,9 - - 4 3,8 13 12,2
Total 29 27,1 26 24,3 13 12,2 39 36,5 107 100,0
Na Tabela 9, pela aplicação do SADD, no momento da entrevista,
das 71 mulheres com dependência leve, quarenta e nove (69%)
diminuíram a ingestão ou estavam melhores, sendo que vinte (28,2%)
freqüentaram o grupo um ano ou mais. Nove (12,7%) afirmaram
abstinência. Das 18 mulheres com dependência moderada, nove (50,0%)
tinham diminuído a ingestão, sendo que três (16,7%) freqüentaram o
grupo por um mês ou menos e três (16,7%), por um ano ou mais. Trinta
mulheres alcoolistas apresentaram dependência grave e das treze
(43,3%) que disseram estar igual, sete (23,3%) freqüentaram o GAF de
dois a cinco meses. Onze mulheres (36,7%) disseram que melhoraram,
sendo que 23,3% ficaram um ano ou mais no grupo e das quatro (13,3%)
que manifestaram piora, a metade freqüentou o grupo um mês ou menos.
96
Artigo 2
Observa-se que o número de clientes que informaram melhora é
aproximadamente cinco vezes maior dos que declaram abstincia, para
todas as pontuações do SADD na entrevista.
Tabela 9 - Tempo de tratamento no grupo e evolução das mulheres
alcoolistas segundo o tempo de permanência no GAF na
aplicação do SADD atual.
SADD Atual
Tempo de Tratamento no Grupo
<= 1 mês 2 a 5 meses 6 a 11 meses >=12 meses Total
N % N % N % N % N %
Leve
melhorou/diminuiu 9 12,7 11 15,5 9 12,7 20 28,2 49 69,0
igual 4 5,6 1 1,4 3 4,2 1 1,4 9 12,7
pior 2 2,8 - - - - 2 2,8 4 5,6
abstinente 4 5,6 2 2,8 - - 3 4,2 9 12,7
Total 19 26,8 14 19,7 12 16,9 26 36,6 71 100,0
moderado
melhorou/diminuiu 3 16,7 2 11,1 1 5,6 3 16,7 9 50,0
igual 2 11,1 - - 2 11,1 1 5,6 5 27,8
pior 1 5,6 1 5,6 - - - - 2 11,1
abstinente 2 11,1 - - - - - - 2 11,1
Total 8 44,4 3 16,7 3 16,7 4 22,2 18 100,0
Grave
melhorou/diminuiu - - 4 13,3 - - 7 23,3 11 36,7
igual 4 13,3 7 23,3 - - 2 6,7 13 43,3
pior 2 6,7 1 3,3 - - 1 3,3 4 13,3
abstinente 1 3,3 - - - - 1 3,3 2 6,7
Total
7 23,3 12 40,0 - - 11 36,7 30 100,0
A Tabela 10 mostra a associação entre os dois SADD, o do caso
novo e o da entrevista. Das 107 (89,9%) mulheres dependentes graves
no caso novo, passaram a: 66 (55,5%) dependentes leves, 14 (11,8%)
moderadas e 27 (22,7%) mantiveram-se graves, na avaliação da
entrevista.
97
Artigo 2
Tabela 10 Relação SADD caso novo e atual. HC UNESP, 1976 a
2005.
SADD caso novo SADD entrevista N % N%
Leve
leve
2 1,7 66,7
moderado
1 0,8 33,3
Total
3 2,5 100,0
Moderado
leve
3 2,5 33,3
moderado
3 2,5 33,3
grave
3 2,5 33,3
Total
9 7,6 100,0
Grave
leve
66 55,5 61,7
moderado
14 11,8 13,1
grave
27 22,7 25,2
Total
107 89,9 100,0
A Tabela 11 mostra a evolução das mulheres em relação ao ano de
entrada no serviço de alcoolismo. Observa-se que a maioria informa
melhora da doença, com exceção ao período de 2000 a 2005 (p=0,01).
Tabela 11 Período de ingresso no grupo em relação à evolução do
tratamento. HC – UNESP, 1976 a 2005.
Período de ingresso
no grupo
Evolução
Total
igual piorou melhorou
N % N % N % N %
1976 a 1984 2 16,7 - - 10 83,3 12 100,0
1985 a 1989 - - - - 13 100,0
13 100,0
1990 a 1994 2 11,8 1 5,9 14 82,4 17 100,0
1995 a 1999 4 13,3 - - 26 86,7 30 100,0
2000 a 2005 23 48,9 3 6,4 21 44,7 47 100,0
Total 31 26,1 4 3,4 84 70,6 119 100,0
A Tabela 12 apresenta a comparação entre o SADD aplicado no
caso novo e o número de internações. Das 119 mulheres, 44 (37%)
98
Artigo 2
tinham SADD grave no caso novo e nenhuma internação e 13 (10,9%)
cinco ou mais internações. Das 3 classificadas como leves, todas tiveram
cinco ou mais internações. Dependência leve tiveram cinco ou mais
internações.
Tabela 12 Comparação entre SADD caso novo e número de
internações. HC – UNESP, 1976 a 2005.
SADD
caso novo
Internações
nenhuma
uma duas três quatro cinco Total
N % N % N % N % N % N % N %
leve - - - - - - - - - - 3 2,5 3 2,5
moderado 2 1,7 5 4,2 - - - - - - 2 1,7 9 7,6
grave 44 37,0
28 23,5
11 9,2 5 4,2 6 5,0 13 10,9
107
89,9
Total 46 38,7
33 27,7
11 9,2 5 4,2 6 5,0 18 15,1
119
100,0
Correlacionando, na Tabela 13, o número de internações com o
SADD aplicado durante a entrevista, das 119 clientes, 38,7% (n=46) não
passaram por internação. Neste momento de avaliação as observa-se que
23,5% (n=28) das clientes pontuavam para dependência leve e o
sofreram nenhuma internação e 11% (n=13) tinham sido internadas mais
do que cinco vezes.
Tabela 13 Comparação do SADD na entrevista e número de
internações. HC – UNESP, 1976 a 2005.
SADD
Atual
Internações
nenhuma uma duas três quatro cinco Total
N % N % N % N % N % N % N %
leve 28 23,5
13 10,9 8 6,7 3 2,5 6 5,0 13 10,9
71 59,7
moderado 8 6,7 9 7,6 - - - - - - 1 0,8 18 15,1
grave 10 8,4 11 9,3 3 2,5 2 1,7 - - 4 3,7 30 25,2
Total 46 38,7
33 27,7 11 9,3 5 4,2 6 5,0 18 12,6
119 100,0
99
Artigo 2
Ao serem indagadas sobre o uso de outras substâncias no mês
anterior à entrevista, 43,7% (n=52) das mulheres relataram usar tabaco
mais que 20 vezes, 16% (n=19) disseram ser o tabaco a droga predileta e
27% (n=32) declararam não usar. O álcool não foi usado por 56,3%
(n=67) das mulheres, porém 16% (n=19) usaram de uma a duas vezes,
10,9% (n=13), de três a nove vezes, 2,5% (n=3), de 10 a 20 vezes e 6,7%
(n=8), mais que 20 vezes, sendo que, nesse item, apenas 7,6% (n=9) não
souberam responder. Quanto aos analgésicos sem prescrição, 17,6%
(n=21) utilizaram-nos de três a nove vezes, 15,1% (n=18), de uma a duas
vezes, 6,7% (n=8), de 10 a 20 vezes e 6% (n=7), mais que 20 vezes.
Quatro (3,4%) mulheres disseram ter usado tranqüilizantes mais que 20
vezes e 2,5% (n=3) apontaram esses medicamentos como as drogas
prediletas. A respeito de outras drogas, como antiinflamatórios, 5% (n=6)
das mulheres usaram de uma a nove vezes. Enquanto que a maconha foi
usada por três (2,5%) mulheres mais de 20 vezes. Anfetaminas e
estimulantes foram utilizados, no mês anterior à entrevista, por 3,4% (n=4)
das entrevistadas, sendo que uma usou de uma a duas vezes, outra de
três a nove vezes, uma referiu-se a problemas pelo uso e outra os citou
como suas drogas prediletas. Cocaína e crack foram citados por 2,5%
(n=3) das mulheres, que os usaram de uma a duas vezes, 0,8% (n=1)
citou uso de 10 a 20 vezes e uma (0,8%) revelou que eram suas drogas
prediletas. Êxtase e anabolizantes foram citados, cada um, por 0,8%
(n=1) das entrevistadas e foram usados de uma a duas vezes. Nenhuma
100
Artigo 2
entrevistada usou inalantes, solventes, opiáceos, alucinógenos ou
fenilciclidina (Tabela 14).
Tabela 14 Uso de álcool e de outras sustâncias pelas mulheres, no
último mês antes da entrevista. HC – UNESP, 1976 a 2005.
tabaco
álcool
Analgésicos
Tranqüilizante
outras
maconha
Anfetaminas
estimulantes
Cocaína crack
êxtase
anabolizante
Nenhuma vez
N 32 67 65 109 110 112 115 114 118 118
% 27 56,3 54,6 91,6 92,4 94,1 96,6 95,8 99,2 99,2
1-2 x
N 1 19 18 2 3 2 1 3 1 1
% 0,8 16 15,1 1,7 2,5 1,7 0,8 2,5 0,8 0,8
3-9 x
N 1 13 21 - 3 1 1 - - -
% 0,8 10,9 17,6 - 2,5 0,8 0,8 - - -
10-20 x
N 6 3 8 - 1 1 - 1 - -
% 5,0 2,5 6,7 - 0,8 0,8 - 0,8 - -
Mais que 20 x
N 52 8 7 4 1 3 - - - -
% 43,7 6,7 6,0 3,4 0,8 2,5 - - - -
Problema pelo uso
N 8 - - 1 - - 1 - - -
% 6,7 - - 0,8 - - 0,8 - - -
Droga predileta
N 19 - - 3 1 - 1 1 - -
% 16 - - 2,5 0,8 - 0,8 0,8 - -
Ignorado
N - 9 - - - - - -
% - 7,6 - - - - - -
Total
N 119 119 119 119 119 119 119 119 119 119
% 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Entre as entrevistadas, 74,8% faziam uso de alguma medicação.
As mais citadas foram outras, como 46,2%,como analgésicos e
antiinflamatórios, 40,3% usaram benzodiazepínicos e 31,1%
antidepressivos. Os anti-hipertensivos foram citados por 26,9% das
mulheres (Tabela 15).
101
Artigo 2
Tabela 15 Medicações utilizadas pelas mulheres alcoolistas. HC
UNESP, 1976 a 2005.
N %
Medicações em uso 89 74,8
Outros 55 46,2
BZD 48 40,3
Antidepressivos 37 31,1
Anti-hipertensivos 32 26,9
Vitaminas 24 20,2
Neurolépticos 9 7,6
Total 119 100,0
De acordo com a Tabela 16, ao serem interrogadas sobre o
principal motivo de terem usado o álcool pela primeira vez, 53,8% das
mulheres responderam enfrentamento de situação desagradável, 52,1%
solidão, 39,5% procura de prazer, 38,7% curiosidade e 37,8% influência
de amigos. Apenas 4,2% das entrevistadas não sabiam o motivo.
Tabela 16 Motivo de ter usado álcool pela primeira vez. HC Unesp,
1976 a 2005.
N %
Enfrentamento de situação desagradável
64 53,8
Solidão 62 52,1
Procura de prazer 47 39,5
Curiosidade 46 38,7
Influência de amigos 45 37,8
Conflitos familiares 44 37,0
Outros 41 34,5
Influência do cônjuge 35 29,4
Pressão ambiental 26 21,8
Não sabe 5 4,2
Total 119 100,0
102
Artigo 2
Discussão
Observou-se que houve padrão aumento progressivo da demanda
de mulheres alcoolistas no serviço. Nos casos novos, o grau da
severidade predominante foi o grave.
Ao chegarem para o tratamento ambulatorial, as mulheres estavam
num grau de dependência severa (SADD acima de 19 pontos), em que a
dependência geralmente colocou suas vidas em risco. Um estudo
realizado na década de noventa, no mesmo local, mostrou que, ao
ingressarem no tratamento, 94,2% das mulheres apresentavam
dependência grave
28
.
Importante colocar que a dependente grave, ao entrar para o
tratamento, acha que nunca irá melhorar, porém ela tem um incentivo a
mais, que é dado pelo grupo.
Os casos novos tinham idade média de 48 anos e o SADD grave,
mas sem significância estatística. Pela escala aplicada durante a
entrevista, após seguimento médio de 15 meses, obteve-se mais
dependência leve para as mulheres mais velhas, com 51 anos ou mais.
Num programa de tratamento para alcoolismo, 56,1% das mulheres
tinham, ao entrar no programa, entre 30 e 44 anos e 93% possuíam
dependência grave. pelo SADD final, após seguimento médio de um
ano, 56,1% das mulheres continuaram com dependência grave, 12,3%
moderada e 26,3% dependência leve
28
.
103
Artigo 2
Quanto à adesão ao grupo, perceberam-se dois extremos: as
mulheres que ficaram menos do que seis meses e as que ficaram um ano
ou mais. Esse padrão manteve-se tanto para os casos novos como para
as mulheres entrevistadas, ao relacioná-lo com a severidade da
dependência. O tempo de permanência independe do SADD.
Num estudo sobre estágios motivacionais em dependentes de
álcool, verificou-se que dois terços dos alcoolistas abandonam o
tratamento antes da décima sessão e que o número médio é de quatro
sessões ou um mês
29
.
Outro estudo sobre avaliação de tratamento de alcoolistas
considerou a dificuldade em manter esses pacientes em tratamento, a
pouca aderência aos programas oferecidos, constatando que em países
avançados e com serviços especializados, o número de clientes perdidos
chega a 50% e que esse abandono não implica em melhora ou piora na
evolução
30
.
Em geral, para avaliar o tratamento de alcoolistas, considera-se a
lei do terço: 1/3 se recupera, 1/3 não apresenta alteração e 1/3 segue
piorando
31
.
relação positiva entre o SADD, tanto do caso novo como com o
aplicado durante a entrevista e as respostas sobre a evolução do
tratamento. A maioria das mulheres melhorou ou diminuiu a ingestão e a
dependência mudou de grave para leve. As entrevistadas que não
notaram mudanças com o tratamento mantiveram-se no grau de
104
Artigo 2
severidade grave. As que manifestaram piora, em sua maioria,
continuaram com dependência grave. As mulheres que se consideraram
abstinentes tinham SADD grave ou leve. Com relação aos casos graves,
a maioria afirmou ter melhorado ou diminuído a ingestão.
O sistema de avaliação aplicado serve para melhor visualizar o
custo-benefício do tratamento, assim como a reestruturação de um
programa montado. Foi colocado que as avaliações que fazem uso de “o
paciente ficou melhor”, “pior” ou “está do mesmo jeito”, devem ser
abordadas com maior cuidado quanto às definições, dado que o uso de
parâmetros objetivos é viável
32
.
O SADD pode ser importante adjuvante no processo de avaliação,
de realimentação e para delinear estratégias a serem definidas ao longo
do tratamento
30
. Por isso, as respostas dadas sobre a evolução do
tratamento não foram consideradas separadamente.
Ao se relacionar o SADD inicial com o tempo de permanência no
grupo e a evolução, verificou-se que entre as mulheres dependentes
leves, mais da metade declarou estar pior e o tempo no grupo foi de um
mês ou menos. As mulheres com dependência moderada, em sua
maioria, afirmaram ter melhorado ou estarem igual e o tempo no grupo
não chegou a um ano. Já as 107 mulheres que tinham dependência
grave, em sua maioria, melhoraram ou diminuíram a ingestão e o tempo
de permanência no grupo foi de um ano ou mais. As mulheres que se
105
Artigo 2
nomearam como abstinentes, eram dependentes graves, sendo o tempo
no grupo de um mês ou menos.
A literatura demonstra que o o reconhecimento da co-morbidade
psiquiátrica, presente nos alcoolistas, parece se associar à menor adesão
e ao pior resultado no tratamento. Portanto, a identificação da co-
morbidade psiquiátrica contribui para estratégia mais objetiva e adequada,
para melhor adesão e prognóstico dos mesmos
33
.
Quanto às alcoolistas com SADD grave, por terem maiores
prejuízos, podem apresentar maior prontidão às mudanças, indo contra os
preconceitos de certos profissionais que as consideram mais difíceis de
tratar e com pior prognóstico.
Na relação do SADD, no momento da entrevista, com a evolução e
tempo de tratamento no grupo, das 71 mulheres com dependência leve, a
maioria sentiu que melhorou e o tempo foi de um mês ou menos e um ano
ou mais. As mulheres com dependência moderada, em sua maioria,
disseram ter melhorado e o tempo mais citado foi de um mês ou menos.
Com SADD grave, a maioria considerou estar igual e o tempo de
permanência foi de dois a cinco meses e de um ano ou mais. Em todos os
tipos de dependências houve mulheres que se manifestaram abstinentes,
com tempo predominante de um mês ou menos.
Num estudo anterior, o SADD final já apontou que as mulheres que
iniciaram o tratamento com dependência leve e moderada tiveram 5,59
vezes mais chances de melhorar do que quem iniciou com dependência
106
Artigo 2
grave. Os clientes que melhoraram tinham menor tempo de seguimento,
pois a melhora dependeu mais da gravidade do quadro do que de outros
fatores. Cerca de 48,2% das mulheres tiveram a possibilidade de evoluir
bem
28
.
Alguns autores propõem alternativas para a abstinência, como a
redução do beber pesado e sua efetividade nos comportamentos
saudáveis, por ser uma medida insuficiente, imposta como resultado de
melhora para alcoolistas, podendo levar à perda do progresso do padrão
de ingestão ou deteriorar o tratamento. O padrão de ingestão (freqüência
e intensidade do beber) pode ser mais importante do que a abstinência
em si. Beber após a abstinência é considerado recaída e pode obscurecer
o fato de alguns beberem menos após o tratamento e terem melhora
clínica. Vários estudos têm relatado a redução das taxas do beber como
efeito do tratamento, indicando ser um resultado esquecido no método
tradicional de abstinência
34
.
Numa análise sobre o padrão de ingestão alcoólica, 75% dos
participantes mantiveram os episódios do beber de risco, enquanto o
consumo de álcool foi reduzido em 87% entre aqueles que continuaram a
beber, com uma diminuição correspondente a 60% nos problemas
relacionados ao álcool
35
.
Desmistificando o fato das mulheres evoluírem pior do que os
homens, um estudo relatou que as alcoolistas que chegaram ao
tratamento e encontraram facilidades (condução, disponibilidade de
107
Artigo 2
horários, com quem deixar os filhos, etc.) tiveram possibilidade de
melhora até maior do que a dos homens
36
.
Sobre gênero e serviços de tratamento, as mulheres são
igualmente prováveis a completar o tratamento e as que o fazem
apresentam nove vezes mais chances de se abster do que as demais.
Também foi sugerido que os resultados são tão bons ou até melhores que
os dos homens
37
.
Sobre a gravidade da dependência, esta ser preditiva para a
obtenção da moderação do beber e da abstinência
38
.
Outra questão foi a confiabilidade do relato favorecida pelo
respondente não estar sob efeito de álcool ou outras drogas por ocasião
da entrevista
39
. Também o sigilo da resposta, ambiente adequado
(algumas recusas do estudo foram pelo fato de voltar ao local de
tratamento), clareza das questões, além da memória (mais anos
passados, menos lembranças) dos fatos que influenciam na coleta dos
dados
40
.
O estudo sobre avaliação em saúde relatou a satisfação do
usuário, relacionando-a à percepção subjetiva que o indivíduo tem com o
cuidado que recebe, o que tamm pode decorrer das relações pessoais
entre o profissional e o paciente, com os aspectos da infra-estrutura, com
as amenidades (ventilação, conforto) e com as representações do usuário
com o processo saúde-doença. Assim, a avaliação do usuário vem como
um dos componentes da qualidade dos serviços
15
.
108
Artigo 2
No estudo sobre gerenciamento de caso, em dependentes de
álcool, colocou-se que mais do que coletar informações, necessidade
de estar com o cliente, escutá-lo e buscar a compreensão, sem
julgamentos ou emissão de juízos de valor, visando a continuidade de
tratamento futuro
17
.
Ao comparar o SADD do caso novo com o número de internações,
observaram-se várias internações relatadas pelas mulheres dependentes
leves, o que pode estar relacionado com a co-morbidade psiquiátrica,
como a depressão que seria secundária ao álcool. Homens e mulheres
alcoolistas diferem em seu padrão de co-morbidade, as mulheres tendo
taxas mais altas de ansiedade e desordens afetivas e os homens com o
abuso de outras drogas, desordem de conduta e personalidade anti-
social
41
. O SADD atual não mostrou correlação com o mero de
internações.
Apesar de o tratamento ambulatorial ser incentivado pelo sistema
público de saúde, a internação hospitalar pode ser uma escolha para a
desintoxicação
42
. Num estudo com 95 mulheres tratadas entre 1978 e
1982, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, para verificar o
surgimento de doenças orgânicas associadas ao alcoolismo, o tempo
entre o início da ingestão e o tratamento foi de 14,1±8,5 anos e as
principais complicações foram hemorragia digestiva, desnutrição,
esteatose hepática, anemia e hipertensão arterial. Mesmo não tendo
109
Artigo 2
consumido álcool em grandes quantidades, a gravidade da hepatite
alcoólica foi maior entre as mulheres
43
.
A principal razão para o alcoolista buscar ajuda é a complicação
física. Existe, porém, a dificuldade em associar os problemas clínicos ao
alcoolismo e apenas 1% dos casos é registrado nos prontuários, ou seja,
falta de registro, associada à não identificação do uso do álcool
44
. A
maioria dos profissionais não recebeu nenhum treinamento durante a
graduação e nem depois de formados na área de dependência química, o
que é agravado pela falta de suporte de serviços especializados
45
.
Embora existam políticas públicas em relação aos dependentes, ainda
percebe-se a falta de conexão entre os serviços de saúde.
Foi relatada a necessidade de treinamento dos profissionais de
saúde no diagnóstico da dependência, pois as mulheres com
dependência geralmente buscam ajuda em serviços primários e de saúde
mental em geral, para depois seguirem um tratamento mais
especializado
38
.
No mês anterior à entrevista, as mulheres fizeram uso de algumas
substâncias e as mais citadas foram tabaco, álcool e analgésicos. Em
menor quantidade, aparece os tranqüilizantes, entre outros
(antiinflamatórios), maconha, anfetaminas e estimulantes, cocaína e
crack, êxtase e anabolizantes. Notou-se que era um grupo no qual o
problema estava diretamente relacionado com o álcool e não a outras
110
Artigo 2
drogas, com exceção do tabaco. Novamente o significado da abstinência
pode ser entendido como uso moderado ou diminuição da bebida.
Os achados da Pesquisa Nacional de Morbidade Psiquiátrica
(2000)
46
, na Inglaterra, mostraram que a nicotina é a droga mais comum
de dependência, usada pela população em geral, seguida do álcool. Os
fumantes m duas vezes mais chance de usar drogas, quando
comparados a não fumantes. uma tendência de aumento do uso do
cigarro entre as mulheres mais jovens. Em relação ao beber, quase
metade da população (48%) bebeu mais que duas vezes na semana e
21% de homens e 12% de mulheres beberam quatro ou mais vezes na
semana. Os casos classificados como dependência severa eram de
pessoas entre 30 e 65 anos. Um entre 4 respondentes (25%) relatou usar
maconha. A outra droga mais comum foi anfetamina, usada por 7% da
população em algum momento. A prevalência na vida de êxtase, cocaína
ou LSD foi de 4%. Crack, heroína e metadona foram usados por pelo
menos 1% da população. Os homens apresentam as maiores chances de
usar ou a se tornarem dependentes de todos os tipos de drogas, com
exceção dos tranqüilizantes
46
.
Outro estudo apontou o aumento do uso de tranqüilizantes pelas
mulheres com a idade e devido aos problemas causados pelo álcool,
como depressão, ansiedade e saúde sica, verificando-se uma relação
mediada, mesmo que modesta, por esses fatores e um aumento na
111
Artigo 2
proporção do uso. Tamm houve um aumento do uso de 4,2% (1981)
para 10,1% (1991), sugerindo-se precaução na prescrição dessa droga
47
.
A maioria das mulheres (74,8%) fazia uso de alguma medicação
prescrita, no momento da entrevista, sendo os analgésicos,
antiinflamatórios, benzodiazepínicos, antidepressivos e antihipertensivos
os mais citados.
Outro estudo ressaltou as características que são freqüentes em
mulheres alcoolistas como depressão, baixa auto-estima, raiva,
problemas de controle de impulso, insônia e nervosismo. Sendo que
apresentam a maior chance de desenvolver esses tipos de problemas as
pobres, as mais jovens, as chefas do lar e aquelas com filhos pequenos.
Em relação aos problemas físicos, as mulheres que chegam ao
tratamento acima dos 35 anos, geralmente desenvolveram alterações
hepáticas
36
.
Foram identificados fatores que interferem no tratamento, como
sintomas e desordens psiquiátricas (ansiedade e depressão), que tendem
a ser mais prevalentes e severos entre as mulheres, podendo evitar que
elas procurem ajuda
38
. É importante ressaltar que uma das
conseqüências do álcool é a depressão tanto em homens como em
mulheres.
Finalizando com a questão sobre a causa principal do uso de
álcool, as entrevistadas colocaram o enfrentamento de situação
112
Artigo 2
desagradável, seguido de solidão, busca pelo prazer, curiosidade e
influência de amigos.
As mulheres, mais freqüentemente que os homens, bebem
sozinhas e mais do que eles, citam um evento estressante como
precipitante para o problema do beber, em especial o grupo de
divorciadas ou separadas, acima de 35 anos. Se não bebem sozinhas, o
fazem com grupos primários (família, companheiro). O uso do álcool pode
ser uma forma de quebrar as tensões ou encontrar uma saída para os
conflitos, minimizando certos desconfortos impostos pela sociedade,
como as relações de trabalho, de gênero, com os parentes e de cidadã.
As donas de casa constituem o primeiro grupo de alcoólicas
36
. As
mulheres podem usar o álcool como uma forma de medicar sintomas de
depressão, irritabilidade e ansiedade. No estresse, como um meio de
enfrentamento, o álcool pode se tornar uma fonte de alívio
48
.
Compreender os caminhos que levam ao alcoolismo e as
conseqüências da dependência feminina em sua vida e em relação às
outras pessoas é preocupação de muitos autores
7-11,18,19,22-
23,28,36,37,41,43,47,48
e este trabalho pode ser uma contribuição para o estudo
de grupo tão específico como as mulheres alcoolistas.
113
Artigo 2
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Anexos
FMB UNESP
Departamento de Saúde Pública
Caixa Postal 549 CEP 18618-970 Botucatu SP Brasil
Fone: (14) 3811-6552
http://www.saudepublica.fmb.unesp.br
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNESP Universidade Estadual Paulista
Faculdade de Medicina
Departamento de Saúde Pública
Departamento de Neurologia e Psiquiatria
PROJETO DE PESQUISA “ESTUDO SOBRE MULHERES ALCOOLISTAS
NUMA UNIDADE DE ENSINO EM BOTUCATU”
RESPONSÁVEL – PATRICIA REGINA ZAMPIERI
TERMO DE CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO
EU, ________________________________________________________,
abaixo assinado, paciente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de
Botucatu-UNESP, tendo sido satisfatoriamente informada a respeito, concordo em
participar de livre e espontânea vontade, da pesquisa “E
STUDO SOBRE MULHERES
ALCOOLISTAS NUMA UNIDADE DE
E
NSINO EM
B
OTUCATU
”, realizada pela Enfermeira
Patricia Regina Zampieri, que é composta de entrevista e aplicação de escalas.
Estando com a Saúde Mental comprometida, o termo de Consentimento
será assinado pelo meu responsável.
Caso julgue necessário e sem quaisquer prejuízos de minha parte, poderei
cancelar o presente termo de Consentimento.
Botucatu, ____ de ________________________ de 200___.
__________________________ __________________________
P
ACIENTE OU
R
ESPONSÁVEL
P
ESQUISADOR
(
A
)
PESQUISADORA: PATRÍCIA REGINA ZAMPIERI O
RIENTADORA
:
IVETE
DALBEN
Rua 29 de outubro, 5-60 Rua Manoel R. Antunes, 365
17044-050 – Bauru-SP Tel.: (14) 3882-3360 – Botucatu
Tel.: (0xx14) 3234-5793 e-mail: p.r.zamp@bol.com.br e-mail: idalben@fmb.unesp.br
DEPENDÊNCIA DO PADRÃO DE USO DE ÁLCOOL EM RELAÇÃO AO SEXO
PROGRAMA DE ALCOOLISMO - AMBULATÓRIO DE PSIQUIATRIA – UNESP
SEGUNDO: Assistente Social MARIA ODETE SIMÃO
Entrevistador____________________________________________
Data ___/___/___
Data de ingresso no Programa ____/_____/____ Protocolo
_____________________
Nome______________________________________ RG.H.C. _____________________
Endereço _______________________________________________________________
Cidade ____________________ Telefone para contato _________________________
Paciente compareceu através de:
[___]
1. convocação 2. convocação + visita domiciliar 3. tratamento 4. visita domiciliar 5. telefone
A - DADOS DEMOGFICOS
1. TEMPO DE SEGUIMENTO NO SERVIÇO
EM ANOS ____________
2. IDADE(em anos) [___]
1. 20 4. 40 a 49
2. 21 a 29 5. 50 a 59
3. 30 a 39 6. 60
3. SEXO [___]
1. Masculino 2. Feminino
4. ESTADO CIVIL [___]
1. Solteiro 3. Viúvo
2. Casado/Amasiado 4. Separado/Divorciado
5. PROCEDÊNCIA [___]
1. Botucatu 3. Outros Dirs
2. Dir XI
6. COR [___]
1. Branco 2. Não branco
7. RELIGIÃO [___]
1. Católico 2. Não católico
8. PRATICANTE [___]
1. Sim 2. Não
9. ESCOLARIDADE [___]
1.Analfabeto
2.1ª a 4ª Série 3. 5ª a 8ª Série
4. Ensino médio completo 5. Ensino médio Incompleto
6. Superior completo 7. Superior Incompleto
10. COM QUEM MORA ATUALMENTE? [___]
1. Vive Sozinho 2. Com a Família
3. Outros (Amigos, Pensão)_______________
11. RELACIONAMENTO FAMILIAR [___] atual
0. Óbito
1. Bons Vínculos
2. Vínculos Familiares Perturbados
3. Dificuldade para prover subsistência
4. Ausência de vínculos familiares
5. Sem residência fixa
12. RELACIONAMENTO FAMILIAR [___] antes
13. PROFISSÃO
______________________________________
9. sem informação
* mais que uma alternativa
Usar
14. TRABALHA ATUALMENTE? [___]
1. Sim, exercendo atividade regular com direitos trabalhistas
2. Sim, sem direitos trabalhistas(bicos)
3. Sim, afastado há mais de 15 dias
4. Sim, com ameaças de perda de emprego
5. Aposentado
6. Desempregado, com direitos previdenciários
7. Desempregado, sem direitos previdenciários
8. Dona de casa
15. QUEM É O RESPONSÁVEL PELO ORÇAMENTO FAMILIAR
(Arrimo familiar) [___]
1. Cônjuge 5. Dois ou mais acima
2. Filhos 6. Outros
3. Paciente 7. Sem rendimentos
4. Pais 8. Recebe doação
16. RENDA FAMILIAR [___] (salário mínimo)
1. 1 5. 6 a 10
2. 2 a 3 6. 11
3. 4 a 5 7. Não sabe
4. Não tem (caridade pública)
17. PROCUROU O SERVIÇO [___] ENCAMINHADO POR
1. Serviços de Saúde 4. Amigos
2. Empresa 5. Familiares
3. Autoridade Legal 6. Sozinho(a)
18. COMPARECEU AO GRUPO [___] ACOMPANHADO POR
1. Cônjuge 4. Sozinho(a)
2. Filhos 5. Outros
3. Amigos
19. O QUE INCENTIVOU PROCURAR [___] TRATAMENTO
1. Família 4. Empresa
2. Amigos 5. Outros
3. Religião 6. Sozinho
B - HISTÓRIA DE USO DE ÁLCOOL
20. ATUALMENTE ENCONTRA-SE [___] ABSTINENTE
1. Sim 2. Não 3. Óbito
21. HÁ QUANTO TEMPO ABSTINENTE [___]
1. até 3 meses 2. 4 a 11 meses
3. 12 meses 4. Não abstinente
22. PADRÃO DE INGESTÃO [___]
1. Abstinência
2. Ingestão esporádica (1x/mês) s/ embriagues e sem problemas
3. Ingestão esporádica c/ embriagues ou c/ problemas
4. Ingestão freqüente, s/ embriagues e s/ problemas
5. Ingestão freqüente c/ embriagues e c/ problemas
6. Óbito
23. IDADE INÍCIO DA INGESTÃO (em anos) [__]
1. 15 5. 31 a 39
2. 16 a 20 6. 40 a 49
3. 21 a 25 7. 50
4. 26 a 30
24. TEMPO DE INSTALAÇÂO DA DEPENDÊNCIA SINTOMAS [__]
1. 2 a 3 anos 2. 4 a 5 anos
3. acima de 6 anos
25. PESSOA COM QUEM COMEÇOU A BEBER [___]
1.Pais 5. Tios
2. Cônjuge 6. Primos
3. Amigos 7. Sozinho
4. Irmãos
26. MOTIVO [___]
1. Incentivo do cônjuge
2. Incentivo de familiares/amigos
3. Outros (solidão, desespero, vontade, curiosidade, fazer amigos, etc)
27. BEBIDA INGERIDA [___]
1. Pinga 3. Vinho/Licor
2. Cerveja 4. Pinga + Cerveja
5. Outros_______________________
28. LOCAL QUE COSTUMA BEBER [___]
1. Casa 3. Casa + Bar
2. Bar
4. Outros_______________
29. UTILIZA TERCEIROS PARA COMPRAR BEBIDA? [___]
1. Sim 2. Não
30. QUEM COMPRA A BEBIDA [___]
1. Vizinhos 4. Cônjuge
2. Filhos 5. Outros_______________
3. Amigos 6. Não ocorre
31. POR QUE? (seguindo a resp. 30) [___]
1. Vergonha 3. Esconde da família
2. Facilidade 5. Outros_______________
3. Não ocorre
32. HISTÓRIA DE ALCOOLISMO FAMILIAR [___]
1. Não 5. Cônjuge
2. Pais 6. Irmãos
3. Tios 7. 2 ou mais acima
4. Filhos 8. Outros____________
C- Problemas Sociais E Familiares Associados
33. Já Sofreu Algum Tipo De Acidente Quando Alcoolizado [__]
1. Sim 2.Não
34. TRÂNSITO [__]
35. TRABALHO [__]
36. DOMÉSTICO [__]
37. JÁ SE ENVOLVEU COM A POLÍCIA [__]
1. Sim 2.Não
38. TIPO DE ENVOLVIMENTO
[__] antes [__] atual
1. Brigas 4. Tentativa de Suicídio
2. Homicídio 5. Outros____________
3. Roubo 6. Não ocorreu
39. OCORRÊNCIA DE VIOLÊNCIA FAMILIAR
[___] atual 0. Óbito 1. Sim 2. Não
40. OCORRÊNCIA DE VIOLÊNCIA FAMILIAR
[___] antes 0. Óbito 1. Sim 2. Não
41. AGRESSÕES FÍSICAS [___] atual
1. Bate 3. Bate e apanha
2. Apanha 4. Não ocorre
42. AGRESSÕES FÍSICAS [___] antes
43. AGRESSÕES VERBAIS [___] atual
1. Sim 2. Não
44. AGRESSÕES VERBAIS [___] antes
1. Sim 2. Não
45. AGRESSÕES SOFRIDAS POR [___] atual
0. Óbito 4. Terceiros
1. Filhos 5. 2 ou mais acima
2. Cônjuge 6. Outros________________
3. Não ocorre
46. AGRESSÕES SOFRIDAS POR [___] antes
0. Óbito 4. Terceiros
1. Filhos 5. 2 ou mais acima
2. Cônjuge 6. Outros_______
3. Não ocorre
47. AGRESSÕES CONTRA [___] atual
0. Óbito 4. Terceiros
1. Filhos 5. 2 ou mais acima
2. Cônjuge 6. Outros_______
3. Não ocorre
48. AGRESSÕES CONTRA [___] antes
0. Óbito 3. Não ocorre
1. Filhos 4. Terceiros
2. Cônjuge 5. 2 ou mais 6. Outros________
49. TEM POBLEMAS DE COMPORTAMENTO DOS FILHOS [__] atual
1. Sim 2. Não 3. Não se aplica
50. TEM POBLEMAS DE COMPORTAMENTO DOS FILHOS [__] antes
1. Sim 2. Não 3. Não se aplica
51. TIPO DE PROBLEMA APRESENTADO [__] atual
1. Agressividade 5. Não ocorre/não se aplica
2. Uso de álcool 6. Sem filhos
3. Uso de drogas 7. Outros_____________
4. Timidez 8. 2 ou mais acima
52. TIPO DE PROBLEMA APRESENTADO [___] antes
1. Agressividade 5. Não ocorre/não se aplica
2. Uso de álcool 6. Sem filhos
3. Uso de drogas 7. Outros_____________
4. Timidez 8. 2 ou mais acima
53. CASO TENHA PROBLEMAS, ONDE SE MANIFESTA [___] atual
1. Família 4. Não ocorre
2. Escola 5. Outros
3. Social 6. 2 ou mais acima
54- CASO TENHA PROBLEMAS, ONDE SE MANIFESTA*
[___] antes (igual a anterior)
D - PROBLEMAS FÍSICOS/PSÍQUICOS ASSOCIADOS
1. Sim 2. não [___]
55. QUEIXAS ASSOCIADAS [___]
56. FÍSICAS [___]
57. SEXUAIS [___]
58. DEPRESSÃO NO PASSADO [___]
59. DEPRESSÃO NO PRESENTE [___]
60. ANSIEDADE [___]
61. SOLIDÃO [___]
62. TENTATIVA DE SUICÍDIO [___]
63. PENSAMENTO SUICÍDA [___]
64. PENSAMENTO HOMICIDA [___]
65. SÍNDROME DE DEP. ALCOOL. [___]
AVALIAÇÃO DO GRAU DE SEVERIDADE DA SADD
66. SADD - ANTERIOR [___]
1. Leve 2. Moderado 3. Grave
67. SADD - ATUAL [ ]
1. Leve 2. Moderado 3. Grave.
68. QUANTAS INTERNAÇÕES [ ]
69. MEDICAÇÕES EM USO* [___]
1. Vitaminas 5. Antiparkinsoniano
2. BZD 6. Anti-Hipertensivos
3. Neurolépticos 7. Outros_______
4. Antidepressivos 8. Não utiliza
70. TEMPO DE TRATAMENTO NO GRUPO [___]
0. 1 mês 5. 6 meses
1. 1 mês 6. 7 a 11 meses
2. 2 meses 7. 12 meses
3. 3 meses 8. Abandono
4. 4 a 5 meses
71. TRATAMENTOS ANTERIORES REALIZADOS [___]
1. Nenhum 2. Ambulatorial
3. Ambulatório + internação
72. EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO [___]
1. Melhorou/diminuiu a ingestão 4. Abstinente
2. Igual
3. Pior
Município de procedência das participantes da pesquisa.
Município N Porcentagem % acumulada
Botucatu 133 43,8 43,8
Ignorado 25 8,2 52,0
São Manuel 25 8,2 60,2
Itatinga 14 4,6 64,8
Avaré 12 3,9 68,8
Taquarituba 11 3,6 72,4
Areiópolis 11 3,6 76,0
Conchas 8 2,6 78,6
Porangaba 6 2,0 80,6
Cerqueira César 6 2,0 82,6
Pardinho 5 1,6 84,2
Piraju 5 1,6 85,9
Anhembi 5 1,6 87,5
Bofete 3 1,0 88,5
Agudos 3 1,0 89,5
Pereiras 3 1,0 90,5
Águas de Santa Bárbara 2 ,7 91,1
Paranapanema 2 ,7 91,8
Lençóis Paulista 2 ,7 92,4
Laranjal Paulista 2 ,7 93,1
Barra Bonita 2 ,7 93,8
Itaí 2 ,7 94,4
Osasco 1 ,3 94,7
Sta Cruz Rio Pardo 1 ,3 95,1
Itaporanga 1 ,3 95,4
Avaí 1 ,3 95,7
Dois Córregos 1 ,3 96,1
Pederneiras 1 ,3 96,4
Brotas 1 ,3 96,7
Santos 1 ,3 97,0
Cerquilho 1 ,3 97,4
Manduri 1 ,3 97,7
Capivari 1 ,3 98,0
Torre de Pedra 1 ,3 98,4
Riversul 1 ,3 98,7
Coronel Macedo 1 ,3 99,0
São Paulo 1 ,3 99,3
Taguaí 1 ,3 99,7
Barão de Antonina 1 ,3 100,0
Total 304 100,0
UNESP – HOSPITAL DAS CLÍNICAS – FACULDADE DE MEDICINA DE
BOTUCATU
PSIQUIATRIA – AMBULATÓRIO DE DEPENDENTES DE ÁLCOOL E
DROGAS
Nome: __________________________________RG HC _____________
ESCALA DE AVALIAÇÃO
1 – SADD (Short Alcohol Dependence Data)
Atenção Aplicar esta escala na 1ª consulta e de 6 em 6 meses até 24
meses.
1)
Você acha difícil tirar o pensamento
de usar drogas e álcool da cabeça:
6) Acontece de você beber ou usar
drogas sem levar em conta os
compromissos que tenha depois:
2)
Acontece de vo deixar de comer
por causa do álcool ou drogas:
7) Voacha que o quanto você bebe
ou usa drogas chega a lhe
prejudicar:
3)
Você
planeja seu dia em função da
bebida ou drogas:
8) No momento em que você começa a
usar álcool e]ou drogas é difícil de
parar:
4)
Você bebe ou usa droga em
qualquer horário (manhã, tarde e/ou
noite):
9) Você tenta se controlar (tenta deixar
de usar drogas ou álcool) e não
consegue:
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
(
) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
5)
Na falta de sua bebida ou droga
preferida, usa qualquer outra:
10) Na manhã seguinte à uma noite em
que você tenha usado muito, você
precisa de uma dose de drogas e
ou de álcool para se sentir melhor:
11. Vo acorda c
om tremores nas
maõs, na man seguinte a uma
noite em que tenha usado muito
droga ou álcool:
14. Depois de ter usado muito droga e
álcool, você coisas que mais
tarde percebe que eram imaginação
sua:
12. Depois de ter usado muita droga e
ou álcool, você levanta com náuseas
ou vômitos e/ou fissura:
15. Você se esquece do que aconteceu
enquanto esteve bebendo ou
usando drogas:
13. Na manhã seguinte a uma noite em
que tenha usado muita droga ou
álcool, você levanta não querendo
ver ninguém:
Dorme o
u come demais, sente
-
se pesado (“tipo ressaca”) ou outros sintomas
(como muita fissura) que já não tenha mencionado? Anotar.
Diagnóstico: SADD inicial /___/___/ Data ___/___/___
6 m /___/___/ Data ___/___/___
12 m /___/___/ Data ___/___/___
18 m /___/___/ Data ___/___/___
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S.I.
( ) 24
0. Nunca ( )
1. Poucas vezes ( ) 6
2. Muitas vezes ( ) 12
3. Sempre ( ) 18
9. S
.I.
( ) 24
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