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Luiz Gustavo Rubi de Souza
Botucatu
2008
A Ressonância Magnética no estudo
da desintegração de comprimidos
marcados com açaí (Euterpe oleracea)
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
CÂMPUS DE BOTUCATU
A RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NO ESTUDO DA DESINTEGRAÇÃO DE COMPRIMIDOS MARCADOS
COM AÇAÍ (Euterpe Olerácea)
LUIZ GUSTAVO RUBI DE SOUZA
BOTUCATU - SP
2008
Dissertação apresentada ao Instituto
de Biociências, mpus de Botucatu,
UNESP, para obtenção do título de
Mestre no Programa de PG em
Biologia Geral e Aplicada
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO
DA INFORMAÇÃO
DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP
BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: Selma Maria de Jesus
Souza, Luiz Gustavo Rubi de.
A ressonância magnética no estudo da desintegração de comprimidos
marcados com Açaí (Enterpe olerácea) / Luiz Gustavo Rubi de Souza.
Botucatu : [s.n.], 2008. 48p.
Dissertação (mestrado) Universidade Estadual Paulista, Instituto de
Biociências, Botucatu, 2008
Orientador: José Ricardo de Arruda Miranda
Assunto CAPES: 40101118
1. Sistema gastrintestinal - Diagnóstico por imagem 2. Ressonância
magnética
CDD 616.3307545
Palavras-chave: Comprimidos; Contraste; Desintegração; Ressonância
magnética; Trato gastrintestinal
Agradecimentos
AGRADEÇO
A DEUS
A MINHA FAMÍLIA
MEUS PAIS: José Carlos e Wanda: pela presença constante, formação e por toda ajuda
durante este trabalho. Vocês me trouxeram até aqui, sem vocês nada disso seria possível.
A MINHA ESPOSA: Lígia Maria: que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais
difíceis, transmitindo confiança e tranqüilidade. Sem vida alguma você é uma daquelas
pessoas que engrandece quem esta a seu lado, e por isso agradeço a Deus todos os dias por
esse privilégio.
MEUS IRMÃOS - Paulo Henrique, Leandro e minha cunhada Camila: pela ajuda e
companhia.
TARCÍSIO e ENI - pela ajuda constante durante este período.
A MEUS ORIENTADORES
Prof. Dr. José Ricardo de Arruda Miranda: pela orientação objetiva e competente. Aprendi
muito durante a nossa convivência.
Prof. Dr. José Morceli: pela co-orientação.
Drª. Luciana Aparecida Cora: pela co-orientação (embora informal) e dedicação durante a
pesquisa.
AOS COLEGAS DE LABORATÓRIO
Paulo Roberto da Fonseca Filho, por toda ajuda e constante bom humor.
Giovana de Sousa Evangelista, pela colaboração com o experimento.
Aos demais integrantes do Laboratório de Biomagnetismo, com os quais tive o privilégio de
trabalhar: Uilian de Andreis, Fabiano C. Paixão, Leandro Bolognesi, Madileine F. Américo, Murilo
Stelzer, Márjorie Ietsugu, Rozemeire G. Marques.
A ANIDRO DO BRASIL Grupo Centroflora (Botucatu, SP): pelo açaí em cedido ao
experimento.
AO RESIDENTE THIAGO QUINTANILHA: pela colaboração como radiologista e
voluntário.
A FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU, em especial ao setor de Ressonância
Magnética e seus funcionários: pela parceria no experimento.
AS AGÊNCIAS DE FOMENTO: CAPES, FAPESP e CNPq\PIBIC.
A TODOS OS VOLUNTÁRIOS QUE COLABORARAM COM A PESQUISA.
Resumo
Rubi de Souza, L.G. A ressonância magnética no estudo da desintegração de
comprimidos marcados com açaí (Euterpe oleracea). 2008. 48p. Dissertação de Mestrado
Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”.
Avaliar formas farmacêuticas sólidas in vivo fornece um entendimento mais
profundo quando um efeito sistêmico ou local é desejado. Geralmente, estes estudos são
realizados por meio da cintilografia e técnicas biomagnéticas. A Ressonância Magnética
(RM) vem sendo aplicada em tecnologia farmacêutica sendo que estes estudos são realizados
com comprimidos marcados por partículas de óxido de ferro ou por gadolíneo em pó. Este
estudo propõe a utilização da RM para monitorar o processo de desintegração in vitro e in
vivo de comprimidos contendo açaí (Euterpe oleracea) como agente de contraste natural. O
açaí é uma fruta presente em abundância na região norte do Brasil com a propriedade de atuar
como agente de contraste oral em imagens obtidas por RM. Comprimidos obtidos com
diferentes desintegrantes (croscarmelose sódica, crospovidona e mistura efervescente) foram
marcados com açaí e revestidos com uma solução de polímero pH-independente. As formas
farmacêuticas foram avaliadas in vitro e in vivo em um equipamento de RM de 0,5 T. Os
resultados mostraram que o açaí é um forte agente de contraste e pode ser empregado em
estudos farmacêuticos. Foi possível definir a imagem do comprimido e quantificar o processo
de desintegração. Não foram encontradas diferenças (p>0,7) no tempo de desintegração
avaliado in vitro nas medidas empregando-se comprimidos de crospovidona (14±1 min) e
croscarmelose (15±1 min). No entanto, comparando-se com os comprimidos efervescentes
(6±1 min), o tempo de desintegração foi significantemente diferente (p<0,01). Foi possível
obter as imagens ponderadas em T1 dos comprimidos no estômago humano com qualidade
razoável. O tempo de desintegração dos comprimidos in vivo foi 14±1 min. Este estudo
mostrou que a RM é uma técnica capaz de monitorar o processo de desintegração de
comprimidos in vitro e in vivo. Sintetizando, a associação entre a RM que possui como
características alta resolução e não-invasividade, com um agente de contraste natural como o
açaí pode contribuir para estabelecer a RM como um método alternativo para a pesquisa
farmacêutica.
Palavras-chave: Ressonância Magnética, agente de contraste oral, desintegração, forma
farmacêutica sólida.
Abstract
Rubi de Souza, L.G. Magnetic resonance to study the disintegration of tablets labeled
with açaí (Euterpe oleraceae). 2008. 48p. Dissertação de Mestrado Instituto de Biociências
de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
The performance of pharmaceutical dosage forms must be fully investigated in vivo to
provide more reliable information when a local or systemic effect is desirable. Generally, in
vivo investigation on the behavior of dosage forms has been made by using gamma-
scintigraphy and biomagnetic techniques. Magnetic resonance (MR) methods have become
established tools in the drug discovery and development process. Most of MR studies have
been made with tablets labeled with iron oxide particles or dry gadolinium chelates (Gd-
DOTA) powder. The aim of this study was to evaluate the disintegration process of tablets
labeled with açai (Euterpe oleraceae) in vitro and in human stomach. Açai is a typical fruit
from Amazonia, and has been recognized for its functional properties for use as oral contrast
agent for MR. Tablets obtained from different disintegrants (croscarmellose sodium,
crospovidone and an effervescent blend) were labeled with açai and were coated by using pH-
independent polymer solution. The dosage forms have been evaluated in vitro and in vivo in a
0.5 T magnetic resonance system. The results showed that açai may be employed as a useful
contrast agent which for pharmaceutical purposes. It was able to define the image of the
tablets and to quantify the disintegration process. The disintegration time evaluated in vitro
for tablets obtained from crospovidone (14±1 min) and croscarmellose (15±1 min) it was not
significantly different (p>0.7). However, in comparison with tablets obtained with
effervescent blend (6±1 min), the disintegration time was significantly different (p<0.01). It
was possible to obtain images of the tablets in human stomach in T1 weighting with
reasonable quality. The disintegration time of tablets made from croscarmellose sodium
obtained from in vivo measurements was 14±1 min. This study showed that MR technique
was able to monitor the disintegration process of tablets through images in T1 weighting upon
in vitro and in vivo. In summary, the association between the MR technique due to its high
resolution and its noninvasiveness, and an oral contrast agent as açai may contribute to
establish the MR as an alternative method for pharmaceutical research.
Key words: Magnetic resonance, oral contrast agent, disintegration, solid dosage forms.
Lista de figuras
Figura 1: Frascos com diferentes diluições de açaí em pó especial (0%de gordura)
................................................................................................................................... 17
Figura 2: Disposição dos frascos no recipiente .......................................................... 17
Figura 3: Esquema representando uma medida de desintegração in vitro ................. 21
Figura 4: Esquema representando o posicionamento dos cortes em uma medida
de desintegração in vitro ............................................................................. 21
Figura 5: Utilização da ROI em uma medida feita com açaí especial e ponderada
em FSE T
2
TR 4000ms - TE 117ms ........................................................... 23
Figura 6: Quantificação das medidas de desintegração in vitro; a) área do
comprimido; b) intensidade de sinal sobre todo o béquer .......................... 24
Figura 7: Medida de contraste demonstrando as diluições de pó de açaí especial
na sequência SE T
1
com TR 650 TE 15ms .............................................. 25
Figura 8: Medida de contraste com pó de açaí especial na sequência FSE T
2
TR
4000ms TE 117ms ..................................................................................... 26
Figura 9: Intensidade de sinal (ua) em função da concentração de pó de açaí
especial diluído em água (g/10mL) na sequência SE T
1
TR 650ms TE 15ms ................................................................................... 27
Figura 10: Intensidade de sinal em função da concentração de pó de açaí
especial diluído em água (g/10mL) na sequência FSE T
2
TR
4000ms TE117 ms ................................................................................... 27
Figura 11: Intensidade de sinal em função da concentração de pó de açaí comum
diluído em água (g/10ml) na sequência SE T
1
TR 650ms TE 15ms ....... 28
Figura 12: Intensidade de sinal em função da concentração de pó de açaí comum
diluído em água (g/10ml) na sequência FSE T
2
TR 4000ms TE 117ms ............................................................................. 29
Figura 13: Imagens e representação gráfica de uma medida de desintegração
in vitro ponderada SE T
1
TR 650ms TE 15ms ....................................... 30
Figura 14: Representação gráfica da média da variação da área dos
comprimidos com croscarmelose nas medidas in vitro
(SE T
1
TR 650ms TE 15ms) ................................................................... 31
Figura 15: Representação gráfica da média de variação da intensidade de
sinal no interior dos recipientes utilizados nas medidas in vitro
(SE T
1
TR 650ms TE 15ms) utilizando comprimidos de croscarmelose.
As barras verticais demonstram o erro padrão entre a intensidade
de sinal nos diferentes instantes das medidas .......................................... 32
Figura 16: Sequência de imagens em FSE T
2
TR 4000ms TE 117ms ..................... 33
Figura 17: Média dos resultados obtidos pela área em relação ao tempo
em minutos em medidas com comprimidos de crospovidona .................. 33
Figura 18: Média dos resultados obtidos pela intensidade de sinal em relação
ao tempo em minutos em medidas com comprimidos de crospovidona . 34
Figura 19: Média dos resultados obtidos pela área em comprimidos efervescentes .. 35
Figura 20: Média dos resultados obtidos pela intensidade de sinal em
comprimidos efervescentes ...................................................................... 35
Figura 21: a) Imagens de placebo ponderadas em T
1
; b) imagens de placebo
ponderadas em T
2
. Três instantes diferentes do processo de
desintegração ............................................................................................ 37
Figura 22: Representação gráfica da média da área dos comprimidos nas
medidas in vivo (SE T
1
TR 650ms TE 15ms). As barras
verticais demonstram o erro padrão entre a área dos comprimidos nos
correspondentes instantes das medidas .................................................... 38
Figura 23: Imagens demonstrando a evolução de uma medida in vivo
(SE T
1
TR 650ms TE 15ms), onde é possível observar a
diminuição da área do comprimido (ponta das setas)
em função do tempo ................................................................................ 39
Lista de tabelas
Tabela I: Avaliação dos valores de TR e TE em sequências de pulso SE
ponderadas em T
1
. Em vermelho indica o par que apresentou
melhor contraste ......................................................................................... 18
Tabela II: Avaliação dos valores de TR e TE em sequências de pulso FSE
ponderadas em T
2
. Em vermelho indica o par que apresentou
melhor contraste ......................................................................................... 18
Tabela III: Resultado geral obtido para todos os comprimidos e quantificações....... 36
Sumário
Lista de figuras
Lista de tabelas
Resumo
Abstract
1 Introdução ................................................................................................................ 09
2 Objetivos ................................................................................................................. 13
3 Materiais e métodos ................................................................................................ 14
3.1 Ressonância Magnética ........................................................................................ 14
3.2 Medidas de contraste ............................................................................................ 16
3.3 Medidas de desintegração in vitro ........................................................................ 19
3.4 Medidas de desintegração in vivo ......................................................................... 22
3.5 Análise dos dados ................................................................................................. 23
3.5.1 Quantificação da intensidade do sinal ............................................................... 23
3.5.2 Quantificação da desintegração in vivo ............................................................. 24
4 Resultados ................................................................................................................ 25
4.1 Medidas de contraste ............................................................................................ 25
4.1.1 Açaí em pó ......................................................................................................... 25
4.2 Medidas de desintegração in vitro ........................................................................ 30
4.2.1 Quantificações dos comprimidos de croscarmelose .......................................... 30
4.2.2 Quantificações das medidas com crospovidona ................................................ 33
4.2.3 Quantificações das medidas com comprimidos efervescentes .......................... 34
4.3 Medidas de desintegração in vivo ......................................................................... 37
5 Discussão ................................................................................................................. 40
6 Conclusão ................................................................................................................ 45
7 Referências bibliográficas ....................................................................................... 46
1. Introdução
9
1. Introdução
O desenvolvimento de um novo produto farmacêutico fundamenta-se na obtenção
da máxima atividade farmacológica com o mínimo de efeitos adversos. Por isso, alguns
fatores como a forma farmacêutica e a via de administração devem ser considerados visando
uma terapia mais eficiente.
1,2
A via oral é muito comum para a administração de fármacos por ser segura,
conveniente e bem aceita pelo paciente, sendo cápsulas e comprimidos as formas
farmacêuticas sólidas mais utilizadas.
2,3
Quando um fármaco é administrado pela via oral,
sua absorção é regulada pelos fatores biofarmacêuticos, pelas condições fisiológicas, como
taxas de esvaziamento gástrico, trânsito e pH gastrintestinal, além do fluxo sanguíneo e
concentração no local da absorção.
1
No entanto, para que o princípio ativo contido em uma forma farmacêutica sólida
seja absorvido é necessário que ocorra a desintegração, ou seja, um processo tempo-
dependente que acontece sob ação de um desintegrante e promove a fragmentação da forma
farmacêutica em partículas passíveis de serem dissolvidas pelo fluido gastrintestinal e
absorvidas pela mucosa.
3
A desintegração é um processo extremamente importante, sendo influenciada por
diversos parâmetros relacionados à forma farmacêutica, como a composição, compressão e
o revestimento, e também aos fatores fisiológicos, como variações do pH e motilidade
gastrintestinal.
4-6
É importante ressaltar que o processo de desintegração é avaliado in vitro
através de metodologias propostas em Farmacopéias. Entretanto, estudos in vivo são
necessários, pois podem acrescentar outras informações sobre o comportamento das formas
farmacêuticas sólidas perante a natureza complexa do trato gastrintestinal humano.
3
Devido a essa necessidade, a Cintilografia consagrou-se como a técnica-padrão
para avaliar o comportamento in vivo de formas farmacêuticas desde as mais convencionais
até os mais sofisticados sistemas de liberação de drogas no trato gastrintestinal humano.
Porém esta técnica possui como desvantagem a exposição do voluntário e/ou paciente à
radiação ionizante por um período de tempo prolongado, além de dificuldades na obtenção e
formulação de radiofármacos específicos empregados nesses estudos.
7
Novas abordagens aos estudos com formas farmacêuticas sólidas in vivo vem sendo
implementadas com o desenvolvimento de métodos cada vez menos invasivos e inócuos ao
10
indivíduo, capazes de avaliar a interação das mesmas com diferentes parâmetros
fisiológicos.
8
Nesse sentido, as técnicas biomagnéticas foram desenvolvidas para estudar
propriedades dos sistemas biológicos e se destacam por serem não invasivas e livres de
radiação ionizante. Para detectar os campos magnéticos associados com a atividade
biológica ou para monitorar formas farmacêuticas magneticamente marcadas in vivo,
geralmente emprega-se o SQUID (Superconducting Quantum Interference Device).
8,9
Porém, este equipamento possui um alto custo operacional e requer um ambiente
magneticamente blindado, o que inviabiliza sua utilização em larga escala.
A Biosusceptometria de Corrente Alternada (BAC), por sua vez, é uma técnica
biomagnética que vem sendo refinada e demonstrou acurácia para estudar motilidade do
trato gastrintestinal.
10
Além disso, despontou como uma cnica alternativa na pesquisa
farmacêutica e foi empregada em diversos estudos para avaliar comprimidos e cápsulas in
vitro e no trato gastrintestinal humano.
10-13
A BAC utiliza bobinas de indução para registrar
variações de fluxo magnético obtido a partir da resposta de um material ferromagnético
(ferrita) ingerido, através da aplicação de um campo magnético alternado no meio biológico.
Outra importante técnica de imagem já consagrada e promissora para estudos
aplicados à tecnologia farmacêutica é a Ressonância Magnética (RM), que se destaca das
demais por apresentar excelente resolução espacial e capacidade de mapear detalhes de
contraste em diferentes tecidos. Estas características favorecem estudos envolvendo formas
farmacêuticas com o trato gastrintestinal humano, proporcionando uma visualização in vivo
mais nítida não apenas da forma farmacêutica, mas também da região anatômica onde esta
se encontra, proporcionando mais detalhes entre a forma farmacêutica e a região de
absorção.
14
Entretanto, o potencial desta técnica ainda não foi amplamente explorado nesta área
e poucos estudos que, na maioria das vezes, avaliaram in vitro comprimidos constituídos
por polímeros hidrofílicos.
15-21
Em relação aos estudos in vivo, Steingoetter et. al.
16,17
avaliaram a performance intragástrica de comprimidos gastro-retentivos in vitro e in vivo
utilizando formas farmacêuticas de liberação lenta que apresentavam em sua composição
partículas de magnetita (F
3
O
4
) (atuando como meio de contraste negativo em T
1
) e gadolínio
pulverizado.
16, 17
Os agentes de contraste são utilizados para provocar realce de contraste
entre diferentes estruturas presentes nas imagens e são classificados em artificiais e naturais.
11
Em Ressonância Magnética, o meio de contraste artificial mais utilizado é o gadolínio, um
oligoelemento metálico (lantanídeo trivalente) ideal por possuir sete elétrons não pareados.
22
Tal elemento também é um íon metálico, e possui um alto tempo de retenção no
organismo. Sendo assim, é necessária a utilização de substâncias com afinidade por íons
metálicos que se liguem à molécula de gadolínio com o intuito de torná-la inócua ao
organismo humano ou minimizar seus efeitos e tempo de retenção.
22
Essas substâncias são
designadas como quelatos e fixam alguns locais disponíveis do íon metálico. Um quelato
comumente usado é o ácido triaminopentacético (DPTA). O DPTA fixa oito dos nove locais
de ligação do íon gadolínio, deixando o nono livre para a aproximação das moléculas de
água ao centro paramagnético. Pela fixação do oligoelemento metálico iônico gadolínio pelo
quelato DPTA, é formado o Gd-DPTA (gadopentano). Este é um meio de contraste
hidrossolúvel relativamente seguro para RM. A molécula de gadopentano tem duas cargas
negativas que tem de ser contrabalançadas em solução por dois íons meglumina
positivamente carregados, tornando-a iônica.
22
Outro meio de contraste é o Gd-HP-DO3A (gadoteridol), em que as cargas foram
balanceadas para produzir um meio de contraste não iônico. A estrutura do ligante HP-
DO3A difere daquela do DPTA por ser macrolítica, proporcionando maior estabilidade e
menor tendência à liberação do átomo tóxico do gadolínio. Alguns quelatos disponíveis
incluem Gd-DPTA-BMA (gadodiamida), derivado não iônico do Gd-DPTA, e Gd-DOTA,
molécula macrolítica iônica.
22
Quando utilizados na dose adequada, os efeitos colaterais dos quelatos de gadolínio
são mínimos em relação àqueles dos contrastes iodados, entretanto já houve relatos de
reações anafiláticas relacionadas à introdução de gadolínio no corpo. Além disso, em
algumas situações que incluem distúrbios hematológicos, gravidez, período de lactação,
distúrbios respiratórios, asma e história de alergia anterior, é necessário cautela na
administração deste elemento.
22
Em sentido contrário, os agentes de contraste naturais, administrados por via oral,
possuem grandes vantagens e potencial de aplicação. Dentre essas vantagens incluem-se,
principalmente, o baixo custo destes produtos em relação aos meios de contraste
comercializados e as mínimas reações adversas.
23-27
Os produtos naturais avaliados como meio de contraste em RM foram: amora-
preta (Rubus spp), blueberry (Vaccinium sp.), beterraba (Beta vulgaris), ameixa (Prunus
domestica), abacaxi (Ananas comosus), maçã (Malus domestica), uva (vitis sp.), extrato de
12
erva-mate (Ilex paraguayensis) e açaí (Euterpe olerácea).
23-27
Em relação aos primeiros,
Espinosa et al.
24
compararam as concentrações de cobre, zinco e manganês, e discutiram a
possibilidade de tais elementos atribuírem um caráter paramagnético aos mesmos,
aumentando assim o potencial destes produtos como meio de contraste oral. Neste estudo a
amora-preta obteve destaque, apresentando um importante realce positivo nas imagens in
vitro e in vivo quando ponderadas em T
1
e negativo quando ponderadas em T
2
. Entretanto
tal realce pode ser limitado de acordo com o tempo de exposição ao meio ácido, o que a
torna um meio de contraste pH-dependente.
24
O extrato de erva-mate (Ilex paraguayensis) possui alta concentração de manganês,
e provavelmente devido a isso, também demonstrou in vitro e in vivo potencial como
contraste oral em imagens do trato gastrintestinal. Como a amora-preta, o padrão do
contraste apresentado foi compatível com as características dos demais produtos naturais
previamente avaliados, ou seja, sinal hiperintenso em T
1
e hipointenso em T
2
.
25
Córdova-Fraga et al.
26
, compararam in vitro o contraste apresentado por solução de
sulfato ferroso, solução de manganês, cobre e ferro associados, água, gadolínio e açaí
(Euterpe Olerácea). Os resultados mostraram que o açaí produziu um contraste de
intensidade compatível ao apresentado pelo gadolínio, o que reforça a tese de que diversos
compostos paramagnéticos presentes em alta concentração nesta fruta confira-a um caráter
paramagnético, apesar da susceptibilidade da fruta não apresentar paramagnetismo. No
mesmo experimento in vivo, o açaí demonstrou a mesma característica no estômago
humano, sendo visualizado claramente por apresentar sinal hiperintenso nas imagens
quando ponderadas em T
1
e hipointenso em T
2
.
26
Dentre os produtos naturais avaliados e que demonstraram contraste satisfatório em
imagens do trato gastrintestinal, o açaí (Euterpe Olerácea) é o mais comumente encontrado
no Brasil, e possui alta concentração de ferro, cobre e manganês, que podem contribuir para
um maior contraste na imagem.
24-27
Neste sentido, para obter novas abordagens em estudos de formas farmacêuticas
sólidas no trato gastrintestinal humano, o presente estudo tem como objetivo explorar as
vantagens apresentadas pela RM empregando-a no estudo da desintegração de comprimidos,
utilizando o açaí como meio de contraste.
6. Conclusão
2. Objetivos
13
2. Objetivos
Este trabalho teve como objetivo principal empregar a Ressonância Magnética (RM)
para avaliar o processo de desintegração de comprimidos, associando uma técnica de
imagem não invasiva e livre de radiação ionizante à utilização de um produto natural de
baixo custo, visando:
Avaliar e quantificar in vitro, o processo de desintegração em três classes diferentes
de comprimidos contendo açaí como agente de contraste por meio das imagens
obtidas por RM;
Avaliar e quantificar o processo de desintegração no estômago humano de
comprimidos confeccionados a base do superdesintegrante croscarmelose e açaí
como agente de contraste natural;
No intuito de otimizar a qualidade da imagem, objetivou-se:
Estabelecer a quantidade de açaí que otimize o contraste e quais os melhores
parâmetros para seqüências de pulsos que proporcionem qualidade de imagens
razoáveis e seguras para avaliar a desintegração em um equipamento de RM com
campo de 0,5 Tesla.
3. Materiais e Métodos
14
3. Materiais e métodos
3.1 Ressonância Magnética
A RMN está baseada na medida da magnetização resultante devido a núcleos que
possuem momento de dipolo magnético (momento angular ou rotação - spin) não nulo.
Esses se caracterizam por sua tendência de alinhar-se a um campo magnético externo
aplicado. Apesar de outros núcleos (F
19
, P
13
e C) apresentarem essa propriedade, o
hidrogênio é o núcleo ativo mais usado em RM devido a sua alta abundância isotrópica e
alta concentração no tecido biológico, além de seu próton solitário lhe proporcionar um
momento magnético relativamente grande.
28
A aplicação do campo magnético externo () em uma substância contendo núcleos
de hidrogênio, como a água, induz nos spins um movimento denominado precessão. Este
movimento tem seu eixo alinhado de acordo com a orientação de B, e no caso do
hidrogênio, existem duas configurações possíveis: spins paralelos ao campo (configuração
paralela) ou spins antiparalelos ao campo (configuração antiparalela).
29
Em termos de
energia, o campo externo provoca a “abertura dos estados degenerados”, isto é, a separação
em dois distintos níveis de energia (paralelo - menos energético ou fundamental e
antiparalelo - excitado).
29
Em termos clássicos, na presença do campo externo B, os spins precessionam na
frequência de Larmor, ω=
B. A razão giromagnética, γ, é característica de cada núcleo. A
aplicação de um pulso de radiofrequência (RF), geralmente perpendicular à direção de
magnetização, provoca uma forte absorção de energia pelos spins como fruto da
ressonância. Em termos energéticos, a RF produz uma transição entre o nível paralelo e
antiparalelo, com consequente absorção de energia pelo tecido.
28
Após o pulso de RF, o sistema retorna para a configuração inicial (transição ou
volta entre estados antiparalelos para paralelo). Esse processo envolve a troca de energia
entre o sistema de prótons e o meio através da emissão de fótons de RF, detectados pelas
bobinas externas e processados para a caracterização da imagem. Esse processo de volta ao
estado de menor energia (redirecionamento ao campo externo) recebe o nome de relaxação e
possui dois tempos característicos:
1
e
2
.
29
1
é o tempo de relaxação spin-rede ou tempo de relaxação longitudinal e envolve
as interações entre o sistema de spin e a rede associada a ele.
1
é o tempo necessário para
15
recuperar aproximadamente 63% da magnetização original
0
. o tempo de relaxação
2
reflete a troca de energia entre os próprios spins, sendo denominado tempo de relaxação
spin-spin ou transversal.
2
é definido como o período necessário para que a magnetização
no plano x-y seja igual a 37% de
0
após a absorção ressonante. É dependente da
homogeneidade do campo externo e do campo local.
28
Imperfeições na homogeneidade do
campo resultam no aparecimento de pequenas perturbações locais, contribuindo para a
diminuição de
2
. Por esta razão, define-se o tempo de relaxação
*
2
, que reflete as
variações de dois processos independentes da não-homogeneidade do campo e flutuações
locais devido à vizinhança.
28
Cada tecido apresenta tempos de relaxação (
1
e
2
) bem característicos,
propriedade que é explorada para se obter maior contraste nas imagens de RM. Desta forma,
na geração de imagens são medidas as propriedades físicas características
21
e
dos
diferentes tecidos, além da densidade de prótons de hidrogênio. Desse modo,
imediatamente após a indução por um pulso de rádio - frequência, a amplitude do sinal
decai segundo o processo de relaxação transversal. Esse padrão de decaimento da
magnetização na bobina receptora é conhecido como FID (free induction decay) composto,
sendo o sinal medido no plano transversal x-y proveniente de toda a amostra. É através do
FID que a imagem é processada.
29
Porém, para que o FID contenha todas as informações necessárias para a formação
da imagem, é necessário que seja codificado, isto é, criar uma relação entre intensidade de
cada pixel, I
n
(FID individual), e sua respectiva posição, (I
n
(x,y)). Isto é realizado através da
aplicação de sequências de pulsos específicas associadas a gradientes de campo magnético
empregados para a codificação da posição espacial de cada elemento de volume e da seleção
da secção transversal a ser imageada. Dentre as sequências existentes, as que são conhecidas
como eco de spins (Spin Echo) ou sequências de Hahn, consistem na aplicação de dois
pulsos: um de π/2 e outro de π, que propiciam a separação dos tempos de relaxação
*
22
e
.
A rotação induzida no vetor magnetização depende, então, da intensidade do campo e do
tempo
't
de aplicação do campo de RF.
28
Os principais componentes de uma sequência de pulso são os tempos de repetição
(TR) e de eco (TE). O TR é o tempo existente entre a aplicação de dois pulsos de RF. É
medido em milissegundos (ms) e determina o grau de relaxamento que pode ocorrer entre o
término da aplicação de um pulso de RF e a aplicação do pulso seguinte. o TE é o tempo
16
que vai da aplicação do pulso de RF ao pico máximo de sinal induzido na bobina receptora,
e determina o grau de declínio da magnetização transversa. Os TR e TE influem fortemente
na qualidade da imagem e são explorados no sentido de produzir contraste entre elementos
distintos.
29
Neste trabalho todas as medidas foram realizadas no setor de Ressonância
Magnética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu FMB, UNESP,
que dispõe de um equipamento de Ressonância Magnética Nuclear de 0,5 T (Signa Contour,
GE).
3.2 Medidas de Contraste
Estas medidas foram realizadas com dois objetivos distintos. O primeiro foi definir
qual tipo de açaí (Euterpe olerácea) em seria utilizado na obtenção dos comprimidos, pois
o estudo dispunha de dois produtos diferentes, o especial (0% de gordura) e o comum (com
gordura), ambos cedidos pela Anidro do Brasil Grupo Centroflora (Botucatu, SP).
Foram utilizados frascos de vidro numerados (figura 1) e um recipiente retangular
também de vidro com capacidade para 5 litros, dividido em quatro compartimentos iguais
(figura 2).
As seguintes concentrações com os dois tipos de açaí em pó foram avaliadas:
0.05g/10ml, 0.1 g/10ml, 0.15 g/10ml, 0.2 g/10ml, 0.3 g/10ml, 0.4 g/10ml, 0.5 g/10ml, 0.6
g/10ml, 0.7 g/10ml, 0.8 g/10ml, 0.9 g/10ml, 1.0 g/10ml, 1.5 g/10ml e 2,0 g/10ml.
Além das diluições de açaí, foram avaliados dois frascos como controle, um com
água e outro com ácido gadotérico.
17
Figura 1 Frascos com diferentes diluições de açaí em pó especial (0%de gordura).
O segundo objetivo foi escolher as sequências de pulso mais apropriadas para o
estudo. Em relação as sequências de pulso, após uma análise visual prévia frente as várias
sequências empregadas (Gradiente echo T
1
, spin echo T
1
e T
2
, fast spin echo T
2
), dois tipos
foram selecionadas para avaliação devido ao tempo mais curto de execução e a melhor
relação sinal ruído (parâmetro diretamente relacionado à qualidade das imagens): SE (spin
echo) T
1
e FSE ( fast spin echo ) T
2
. Em ambas as sequências foram realizadas 11 medidas
com diferentes valores de TR (tempo de repetição) e TE (tempo de eco), para encontrar o par
adequado ao experimento (Tabela 1 e Tabela 2), ou seja, os melhores parâmetros que
Figura 2 Disposição dos frascos no recipiente.
18
forneçam o melhor contraste proporcionado pelo açaí. Os valores de campo de visão (21 cm),
NEX (2) e matriz (192 x 160) foram mantidos por não interferirem no padrão do contraste.
Tabela I Avaliação dos valores de TR e TE em sequências de pulso SE ponderadas em T
1
.
Em vermelho indica o par que apresentou melhor contraste.
Tabela II Avaliação dos valores de TR e TE em sequências de pulso FSE ponderadas em
T
2
. Em vermelho indica o par que apresentou melhor contraste.
Outro “parâmetro” analisado frente a qualidade da imagem foi em relação as bobinas
de radiofrequência. Empregaram-se dois tipos: HEAD - bobina de volume do tipo “gaiola”
comumente utilizada na aquisição de imagens intracranianas e QD BODY-FLEX II bobina
de superfície do tipo flexível utilizada em exames onde a anatomia examinada possua um
diâmetro superior a 30 centímetros, como tórax e abdome.
O recipiente contendo os frascos com as diluições de açaí foi preenchido por água e
posicionado dentro das bobinas de radiofrequência avaliadas, sendo em seguida levado ao
isocentro do magneto onde as imagens foram obtidas.
Medida
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
TR MS
100
200
200
300
400
400
400
550
650
700
800
TE ms
15
15
10
15
15
20
40
15
15
15
15
Medida
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
TR MS
2000
2000
2000
2500
3000
3000
3500
4000
4000
4500
5000
TE MS
90
100
110
115
115
117
117
117
120
120
110
19
Dentre as bobinas de radiofrequência avaliadas, a HEAD foi superior a QD BODY
FLEX II em todas as avaliações in vitro, o que se justiça devido a HEAD ser uma bobina de
volume do tipo “gaiola”, o que confere as imagens um de sinal menos intenso, no entanto,
mais homogêneo quando comparada as bobinas de superfície como a QD BODY FLEX II.
Essa homogeneidade é importante, pois permite que sejam efetuadas imagens com fatias mais
finas e CDV menor.
Por isso, as medidas de contraste e de desintegração in vitro foram realizadas na
bobina HEAD. Entretanto devido as limitações de espaço, não foi possível posicionar a região
abdominal dos voluntários no interior da mesma, sendo necessária a utilização da QD BODY
FLEX II nas medidas in vivo. Isso explica as alterações de CDV e espessura das fatias nestas
medidas.
3.3 Medidas de desintegração in vitro
Nesta etapa as medidas foram efetuadas de acordo com os parâmetros obtidos nas
medidas de contraste. Foram avaliadas três classes de comprimido, cada lote contendo dez
comprimidos obtidos por compressão direta em matriz oblonga de 20 mm de comprimento e
prensa manual, aplicando-se força de compressão de 5 kN. Esses comprimidos foram
revestidos por uma solução de polímero pH - independente (Opadry TM, Colorcon do Brasil
Ltda.).
A diferença entre as três classes está no tipo de desintegrante empregado:
croscarmelose, crospovidona, e efervescente. Os comprimidos eram compostos de:
0.50 g de açaí especial a 0% de gordura
0.30 g croscarmelose sódica ou crospovidona ou efervescente
15 g celulose microcristalina (aglutinante)
0,05 g estearato de magnésio
20
Um comprimido (placebo) foi utilizado como controle, sendo elaborado sem açaí em
pó de acordo com a formulação a seguir:
0.70 g croscarmelose sódica (desintegrante)
0.15 g celulose microcristalina (aglutinante)
0,05 g estearato de magnésio
Nestas medidas foi utilizado um recipiente de vidro semelhante ao das medidas de
contraste, diferindo-se apenas pela ausência das divisões internas, a fim de viabilizar a
introdução de béquer com capacidade para 200 ml em seu interior, onde foram introduzidos
os comprimidos para avaliação da desintegração. Em cada medida foi avaliado um
comprimido de acordo com o procedimento descrito abaixo e demonstrado na figura 3:
Ao recipiente de medida foram adicionados 3 litros de água aquecida (37º C) e um
suporte para o béquer com 200 ml de água (37º C), para viabilizar a dissolução da
camada de revestimento, onde os comprimidos foram introduzidos (um por vez) para
a realização das medidas.
Foram adquiridas imagens empregando a sequência escolhida a partir dos resultados
obtidos pelo procedimento descrito no item 3.2 (medida de contraste). A sequência
de pulso foi a SE T1 (TR 650ms TE 15 ms). Para cada comprimido foram
realizadas 8 medidas com 12 cortes de 5 mm de espessura, a fim de avaliar o
processo de desintegração (figura 4).
21
comprimido
cortes
Figura 4 Esquema representando o posicionamento dos cortes em uma
medida desintegração in vitro.
Figura 3 Esquema representando uma medida de desintegração in vitro
béquer
comprimido
22
3.4 - Medidas de desintegração in vivo.
Estas medidas foram realizadas com a colaboração de oito voluntários saudáveis de
ambos os sexos, com idade entre 18 e 30 anos que estavam e jejum prévio de 4 h. O estudo foi
aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu e
realizado mediante assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que
continha todas as informações a respeito do estudo.
Para tais medidas foi realizado um delineamento experimental detalhado a seguir:
30 minutos antes do início das medidas foi ministrada nos voluntários uma
dose 10mg (1 comprimido) de Buscopan
®
(butilbrometo de escopolamina). Em seguida, os
voluntários que estavam em jejum prévio de 4 h, ingeriram 400 ml de água com o objetivo de
distender o estômago e facilitar a visualização dos comprimidos em seu interior.
Depois disso, os voluntários foram posicionados no equipamento de RM no
interior da bobina de superfície BODY FLEX II (que os envolveu na região abdominal
superior).
posicionados no equipamento, os voluntários ingeriram os comprimidos e
uma série de sequências foi aplicada.
Assim como nas medidas in vitro, estas também foram efetuadas em sequências de
pulso SE T1 (TR 650ms TE 15 ms), entretanto como a bobina de radiofrequência utilizada
não foi a mesma, o tempo gasto em cada medida foi de 4 minutos, pois alguns parâmetros
foram alterados no intuito de manter uma relação sinal ruído satisfatória. Para cada
comprimido foram realizadas 8 aquisições de 4 minutos de duração. Cada sequência continha
10 cortes. Por inspeção visual foram selecionados os cortes que continham imagem do
comprimido para análise do processo de desintegração.
23
3.5 - Análise dos Dados
3.5.1 Quantificação da intensidade do sinal
A intensidade de sinal apresentada pelas diluições nas diferentes medidas foi
quantificada com o auxílio de uma ferramenta denominada ROI (Region of interest região
de interesse) presente no software do equipamento de RM utilizado e que confere valores
numéricos de intensidade do sinal nas áreas selecionadas (figura 5).
2.2.1 Quantificação da desintegração in vitro
O processo de desintegração dos comprimidos in vitro foi quantificado de duas
maneiras. A primeira, de acordo com a diminuição da área dos comprimidos, aferida por uma
ROI sobre a imagem do comprimido (Figura 6a).
O tempo de desintegração foi obtido pelo T
1/2
, que consiste na diminuição de 50% da
área da primeira quantificação dos comprimidos. A análise estatística foi realizada pela
média e erro padrão dos valores obtidos.
A segunda quantificação foi realizada pela média da intensidade de sinal apresentada
nas medidas realizadas com uma ROI sobre a imagem referente ao béquer inteiro em cada um
dos 12 cortes presentes nas medidas (figura 6b). Em cada medida, as imagens com sinal mais
intenso foram selecionadas, para que por meio destas fossem obtidos os valores de média,
erro padrão e T
50
.
Figura 5 Utilização da ROI em uma medida feita com açaí especial e ponderada em FSE T
2
TR
4000ms - TE 117ms.
24
3.5.2 Quantificação da desintegração in vivo
O processo de desintegração dos comprimidos in vivo foi quantificado apenas pela
diminuição da área dos mesmos, conforme realizado nas medidas in vitro. O tempo de
desintegração foi dado pelo T
1/2
, e a análise estatística também foi realizada pela média e erro
padrão.
a
b
Figura 6 Quantificação das medidas de desintegração in vitro; a) área do comprimido, b) intensidade
de sinal sobre todo o béquer.
4. Resultados
25
4. Resultados
4.1 Medidas de Contraste
4.1.1 - Açaí em pó
A figura 7 ilustra uma imagem na seqüência T1 dos fantomas com diferentes
concentrações de açaí especial sem gordura. Observa-se que o contraste aumenta com o
aumento da concentração. Um fantoma de água e outro de gadolíneo também estão ilustrados
para efeito de comparação.
Figura 7 Medida de contraste demonstrando as diluições de de açaí especial na seqüência SE T
1
com TR 650ms TE 15ms.
água
GDL
2,0 g/10 ml
0,05 g/10 ml
26
A figura 8 ilustra imagens dos mesmos fantomas obtidos na seqüência T2. Nota-se
que com o aumento da concentração de açaí provoca uma diminuição da intensidade do sinal
de RM.
Figura 8 Medida de contraste com pó de açaí especial na seqüência FSE T
2
TR 4000ms TE 117ms.
A partir das figuras 7 e 8, a intensidade dos sinais devido a cada fantoma foi
quantificada (ROI no centro de cada fantoma) frente à concentração do açaí. As figuras 9 e 10
ilustram este comportamento para T
1
e T
2
, respectivamente.
27
Figura 9 Intensidade de sinal (ua) em função da concentração de de açaí especial diluído em
água (g/10mL) na seqüência SE T
1
TR 650ms TE 15ms.
Figura 10 Intensidade de sinal em função da concentração de de açaí especial diluído em água
(g/10mL) na seqüência FSE T
2
TR 4000msTE 117ms.
28
O mesmo procedimento de quantificação foi realizado sobre as imagens em T1 e T2
obtidas para fantomas com açaí comum com gordura e são ilustradas nas figuras 11 e 12,
respectivamente.
Figura 11 - Intensidade de sinal em função da concentração de de açaí comum diluído em água
(g/10ml) na seqüência SE T
1
TR 650 ms TE 15ms.
29
Figura 12 - Intensidade de sinal em função da concentração de pó de açaí comum diluído em
água (g/10ml) na seqüência FSE T
2
TR 4000ms TE 117ms.
Os dados representados nas figuras acima mostram um comportamento semelhante
para os dois tipos de açaí avaliados. Porém, principalmente T1, a amplitude do contraste é
maior para o açaí sem gordura, especialmente para baixas concentrações e em T2 esse
comportamento se inverte, isto é, existe uma queda mais forte no sinal com o aumento da
concentração, determinando um maior contraste.
Outro ponto importante que esses resultados fornecem é quanto a quantidade de açaí
que deve ser empregada na confecção dos comprimidos. Considerando que numa preparação
da forma farmacêutica, a massa do agente de contraste deve ser a mais baixa possível, e que
ao mesmo tempo forneça um contraste que melhore a relação sinal/ruído, a comparação entre
as figuras 9 e 11 e 10 e 12 fornecem importante informação para a tomada de decisão. Desta
forma, escolheu-se confeccionar comprimidos com 0,5 g de açaí, aceitável para os padrões
farmacotécnicos e em termos de qualidade da imagem. Diante desses resultados, o açaí sem
gordura foi empregado em todas as medidas com comprimido.
30
4.2 Medidas de desintegração in vitro
4.2.1 Quantificações dos comprimidos de croscarmelose:
A figura 13 ilustra um exemplo de quantificação pela área em uma imagem
ponderada em T
1
, onde se observa que com o processo de desintegração o comprimido
diminui de tamanho e conseqüentemente a medida da área representa este processo. Nota-se
também o reforço no contraste fornecido pelo açaí em contato com a água. O gráfico
representa o valor da área nos três instantes distintos correspondentes.
Figura 13: Imagens e representação gráfica de uma medida de desintegração in vitro ponderada SE T
1
TR 650ms TE 15ms.
31
A quantificação geral para cada comprimido do tempo de desintegração (T
1/2
)
obtidos através da quantificação pela área sobre as imagens em T
1
foi 15±0.3 minutos. A
figura 14 ilustra o comportamento médio para todos os comprimidos. Observa-se que o erro
aumenta para pequenas áreas, indicando uma maior variabilidade do processo de
quantificação e da própria desintegração.
Figura 14 Representação gráfica da média da variação da área dos comprimidos com croscarmelose
nas medidas in vitro (SE T
1
TR 650ms TE 15ms). As barras verticais demonstram o erro padrão
entre a área dos comprimidos nos mesmos instantes das medidas.
A figura 15 ilustra os valores médios (com respectivos erros padrão) obtidos para
todos os comprimidos quantificados pelo contraste medido sobre cada imagem, tomando a
intensidade do sinal de RM em todo o recipiente.
32
Figura 15 Representação gráfica da média de variação da intensidade de sinal no interior dos
recipientes utilizados nas medidas in vitro (SE T
1
TR 650ms TE 15ms) utilizando comprimidos de
croscarmelose. As barras verticais demonstram o erro padrão entre a intensidade de sinal nos
diferentes instantes das medidas.
A quantificação pelo contraste foi realizada em termos do tempo de aumento de 50%
na variação do contraste T
50
. O valor médio para os comprimidos de croscarmelose foi de
9±0.3 minutos.
Foram realizadas medidas com comprimidos em seqüência ponderadas em T
2
. A
figura 16 ilustra um exemplo de seqüência de imagens onde se observa que nesta seqüência
também é possível visualizar o processo de desintegração através da diminuição do tamanho
da forma farmacêutica e do reforço negativo do açaí sobre a água. Porém, quando comparado
as medidas em T
1
existe um menor contraste e resolução do comprimido, principalmente em
torno da borda. Isto pode ser melhor avaliado na comparação com a figura 13 (modo T
1
).
Desta forma, as imagens ponderadas em T
2
apresentam qualidade inferior às obtidas por T
1
.
Por este motivo, todas as quantificações foram realizadas apenas em T
1
.
33
Figura 16 - Sequência de imagens em FSE T
2
TR 4000ms TE 117ms.
4.2.2 - Quantificações das medidas com crospovidona
Para este tipo de comprimido foram realizadas medidas sobre seqüência de
imagens ponderadas em T
1
e quantificado a área e a intensidade (contraste) do sinal de RM. A
figura 17 mostra a média dos resultados obtidos pela área. O tempo de desintegração médio
(T
1/2
) para os comprimidos de crospovidona foi de 13.5±1.1minutos.
Figura 17: Média dos resultados obtidos pela área em relação ao tempo em minutos em medidas
com comprimidos de crospovidona.
a b c d
34
A figura 18 ilustra o resultado médio para a quantificação pela intensidade. O
tempo médio para o T
50
foi de 9±0.3 minutos.
Figura 18 Média dos resultados obtidos pela intensidade de sinal em relação ao tempo em minutos
em medidas com comprimidos de crospovidona.
4.2.3- Quantificação das medidas com comprimidos efervescentes
Para este tipo de comprimido foram realizadas medidas sobre as seqüências de
imagens ponderadas em T
1
e quantificado a área e a intensidade (contraste) do sinal de RM. A
figura 19 mostra a média dos resultados obtidos pela área. O tempo de desintegração médio
(T
1/2
) para os comprimidos efervescentes foi de 5.7±0.17 minutos.
35
Figura 19 - Média dos resultados obtidos pela área em comprimidos efervescentes.
A figura 20 ilustra o resultado médio para a quantificação pela intensidade. O tempo
médio para o T
50
foi de 5.25±11 minutos.
Figura 20 Média dos resultados obtidos pela intensidade de sinal em comprimidos efervescentes.
36
A tabela III ilustra o resultado geral obtido para todos os comprimidos e
quantificações. Observa-se que houve uma diferença significante entre os tempos de
desintegração T
1/2
para os comprimidos de mistura efervescente e croscarmelose ou
crospovidona (p<0,01). Porém não existe diferença significativa entre os dois
superdesintegrantes croscarmelose e crospovidona (p>0,7). Nota-se uma maior regularidade
para os comprimidos de croscarmelose (menor erro padrão).
Tabela III - Resultado geral obtido para todos os comprimidos e quantificações.
No intuito de eliminar qualquer sinal proveniente do açaí, foram realizadas medidas
“placebo”, isto é, medidas de controle em comprimidos sem açaí. As figuras 21-a e 21-b
ilustram exemplos de imagem na ponderação T
1
e T
2
, respectivamente.
Comprimido
T
1/2
Crospovidona
min.
T
50
Crospovidona
min.
T
1/2
Croscarmelose
min.
T
50
Croscarmelose
min.
T
1/2
Efervescente
min.
T
50
Efervescente
min.
1
9.5
12
10.5
9
6
5.5
2
15
9
16
10
6
5
3
13
11
14
9
6
5
4
12
8
16
9
6
5.5
5
15
8
15
7.5
5.5
5
6
17
8
15
9
5
5.25
Média
13.5
9
15
9
5.7
5.25
Erro Padrão
1.1
0.7
0.3
0.3
0.17
0.11
37
Figura 21 - a) Imagens de placebo ponderadas em T
1
; b) imagens de placebo ponderadas em T
2
. Três
instantes diferentes do processo de desintegração.
4.3 Medidas de desintegração in vivo
Nas medidas in vivo, a quantificação foi realizada pela área, pois em termos de
intensidade os resultados não são significativos, isto é, não houve mudança nos valores da
intensidade (contraste). A figura 22 ilustra a curva de desintegração média para todos os
voluntários.
a
b
38
Figura 22 Representação gráfica da média da área dos comprimidos nas medidas in vivo (SE T
1
TR
650 TE 15). As barras verticais demonstram o erro padrão entre a área dos comprimidos nos
correspondentes instantes das medidas.
O resultado geral para o tempo de desintegração T
1/2
obtido para todos os voluntários
foi de 14 ±1 minuto. A figura 23 apresenta um exemplo de sequência de imagem onde nota-se
o comprimido em diferentes etapas do processo de desintegração.
39
Figura 23 - Imagens demonstrando a evolução de uma medida in vivo (SE T
1
TR 650ms TE 15ms),
onde é possível observar a diminuição da área do comprimido (ponta das setas) em função do tempo.
4 minutos
10 minutos
16 minutos
5. Discussão
40
5. Discussão
Atualmente diversos produtos naturais são estudados como meio de contraste em
Ressonância Magnética (RM). Espinosa et al.
24
estudaram os seguintes produtos: amora-
preta (Rubus spp), blueberry (Vaccinium sp.), beterraba (Beta vulgaris), ameixa (Prunus
domestica), abacaxi (Ananas comosus), maçã (Malus domestica), uva (vitis sp.) e relataram
que as concentrações de metais (ferro, cobre e manganês) estão relacionadas com a
eficiência dos mesmos como meio de contraste, conferindo as amostras características
paramagnéticas, apesar de serem diamagnéticas. Destaque para a amora-preta, que
apresentou um importante realce positivo nas imagens in vitro e in vivo quando ponderadas
em T1 e negativo quando ponderadas em T2 e ao mesmo tempo, apresentou maior conteúdo
em ferro quando comparada as demais amostras.
24
Da mesma forma, Nestle et al.
25
demonstraram in vitro e in vivo o potencial do
extrato de erva mate (Ilex paraguayensis) como agente de contraste oral para RM,
atribuindo este potencial a presença de manganês.
25
Os meios de contrastes sintéticos produzidos a partir de soluções contendo íons
metálicos como gadolínio, manganês, cobre e ferro geralmente levam a efeitos colaterais
quando administrados por via oral.
27
As maiores vantagens dos produtos naturais utilizados
como contraste oral quando comparados aos contrastes artificiais referem-se à baixa
toxicidade, melhor palatabilidade e baixo custo.
25, 27
Possuindo todas essas vantagens, o açaí (Euterpe olerácea) uma fruta tropical
típica da Amazônia, também foi relatado como um importante meio de contraste. Para isso,
Córdova-Fraga et al.
26
estudaram a polpa de açaí (que possui grande quantidade de cobre,
ferro, manganês e aproximadamente 60% de água), sugerindo que o suco de açaí possui, in
vitro, intensidade de sinal compatível a uma solução com gadolínio e a uma solução
composta por ferro, manganês e cobre. Neste estudo, os autores discutem que a polpa desta
fruta, como a maioria dos compostos orgânicos e inorgânicos, é diamagnética,
principalmente pelo seu percentual em água. Comparando com a susceptibilidade da água,
que é χ = -9.90 x 10
-3
, o açaí apresenta valores em torno de χ = -4,85 x 10
-6
.
26
Isso confere
uma característica menos diamagnética (em tendência para o paramagnetismo). Existe uma
necessidade mais profunda de investigação sobre quais parâmetros são os responsáveis por
esta característica, no entanto, alguns autores
24-27
indicam que a presença de grande
concentração de íons metálicos na amostra possa ser a principal responsável por esta
41
propriedade. Deste modo, quando empregado como agente de contraste em RM o açaí
fornece, em contato com a água, um sinal hiperintenso em T
1
e hipointenso em T
2
.
Por outro lado, aplicação da RM em estudos com formas farmacêuticas sólidas
(FFS) é recente e apresenta grande potencial para análise de diferentes parâmetros das FFS
tanto in vivo quanto in vitro. Para a melhor visualização da FFS emprega-se o gadolínio em
como agente de contraste artificial. Do ponto de vista farmacotécnico, como a
biodisponibilidade do princípio ativo depende do local e do processo de desintegração
1-6
, a
RM pode contribuir fortemente para um melhor entendimento desses processos. Salienta-se
que a localização da FFS frente a anatomia do TGI e simultânea visualização temporal
contribuem para o grande potencial desta técnica de imagem.
Nesse sentido, alguns estudos demonstram apenas a viabilidade da visualização de
formas farmacêuticas sólidas por RM,
16,17
enquanto que outros avaliaram o processo de
intumescimento de matrizes (polímeros hidrofílicos).
15,18-21
Kremser et al.
30
avaliaram em
ratos o tempo e local de liberação do princípio ativo de comprimidos e cápsulas muco-
adesivo também constituídos por polímeros. Neste estudo o autor utilizou como agente de
contraste gadolínio em pó (dry Gd-DTPA) nas formulações avaliadas.
30
O processo de desintegração de comprimidos é pouco estudado por RM. Nesse
sentido, a associação com agente de contraste natural e FFS avaliadas por RM torna-se um
estudo inovador, com grande potencial para diferentes aplicações.
No presente estudo, os resultados das medidas de contraste com açaí em pó comum
e açaí em pó especial (0% de gordura) mostraram que ambos possuem características
semelhantes. Entretanto, o açaí em especial apresentou um contraste mais evidente em
todas as ponderações avaliadas, sendo mais intenso o sinal nas aquisições ponderadas em T
1
e menos intenso nas aquisições ponderadas em T
2
.
Os parâmetros técnicos avaliados no experimento exploraram não somente a
qualidade nas imagens, mas também o tempo de execução visando obter uma boa relação
custo benefício entre os dois fatores. Por isso, foram selecionadas sequências ponderadas
em SE (spin echo) e FSE (fast spin echo), pois estas apresentam a melhor relação sinal
ruído, resultando em imagens com boa resolução espacial, em se tratando de um
equipamento de 0,5 T. As variáveis diretamente relacionadas à resolução das imagens
foram mantidas em valores intermediários (matriz 192x160, CDV 21 in vitro/ 30 in vivo,
NEX 2 e espessura das fatias 5mm in vitro/6 mm in vivo), pois se estes fossem ajustados
42
próximos aos limites máximos, as limitações do equipamento utilizado elevariam o tempo
das medidas, inviabilizando o experimento.
Em relação aos tempos de repetição e eco em T
1
(TR 650 e TE 15) e T
2
(TR 4000 e
TE 117), os valores foram selecionados apenas de acordo com a intensidade de sinal
quantificada nas medidas de contraste. A diferença entre os tempos de execução dos demais
valores avaliados para estes dois parâmetros não afetam o tempo de execução da sequência.
A escolha da quantidade de açaí utilizada nas formulações também foi definida de
acordo com os resultados das medidas de contraste, que demonstraram que este diminui sua
razão de crescimento a partir de 500 mg. A força de compressão aplicada foi relativamente
baixa (5 kN) para que quando inseridos em meio líquido os mesmos flutuassem, facilitando
sua visualização in vitro e in vivo.
Neste estudo se propôs utilizar a RM para avaliar o tempo de desintegração de três
diferentes formulações de comprimidos marcados com açaí. Sendo que destas três, uma foi
elaborada com uma mistura efervescente atuando como desintegrante. As outras duas foram
elaboradas com superdesintegrantes mais comumente utilizados (croscarmelose e
crospovidona). Esses produtos auxiliaram o processo de desintegração tornando-o mais
eficiente, o que os torna importantes excipientes na obtenção de comprimidos. Atuam por
diferentes mecanismos, incluindo a expansão das partículas e efeitos de capilaridade
(croscarmelose e crospovidona), interações partícula-partícula e desintegração por camadas.
4,5,6
Os resultados das medidas de desintegração in vitro permitiram uma visualização
nítida dos comprimidos caracterizada pela presença de um halo de sinal hiperintenso ao
redor dos mesmos nas seqüências SE T
1
(figuras 6 e 13) e um núcleo sem sinal tanto em T
1
quanto em T
2
. Isso ocorreu devido ao contato do açaí com a água de açaí. Nas medidas de
controle (placebo figura 21), este reforço não aparece, demonstrando que o açaí trabalha
como agente de contraste. Esta característica também foi observada nas medidas em
ponderação FSE T
2
, entretanto nesta sequência
o açaí promove contraste negativo nas
imagens, caracterizado por áreas de hiposinal, porém de qualidade e intensidade relativa
menor que a apresentada em T
1
.
Em todas as formulações avaliadas na ponderação SE T
1
, o padrão apresentado foi
muito semelhante. Nota-se no início do processo de desintegração um aumento de
intensidade ao redor do comprimido em função do acoplamento açaí e água. Com o
processo de desintegração ocorrendo, o açaí se difunde na água e também deposita no fundo
43
do recipiente. Isto promove um aumento do contraste em todo o recipiente e com simultâneo
sinal hiperintenso no fundo do recipiente.
Para avaliar o processo de desintegração o principal parâmetro escolhido foi a área
sobre a FFS. Com uma imagem bem delimitada em decorrência do reforço no contraste
promovido pelo açaí, a quantificação segura pela área fornece uma avaliação direta deste
processo, pois a desintegração coloca em disponibilidade os excipientes em contato com a
água e com isso a área é modificada. Desta forma, em semelhança a outros trabalhos
empregando cintilografia e técnicas biomagnéticas,
7-13
o tempo de desintegração, T
1/2
, foi
definido em função da curva de decaimento da área no tempo. Por outro lado, a
quantificação por intensidade, mais fortemente dependente do açaí como agente de
contraste, depende não apenas do processo de desintegração como também da difusão do
açaí na água.
Desta forma, optou-se por definir outro parâmetro, T
50
, que fornece informação da
desintegração, mas não é unicamente dependente deste processo. A quantificação pela
intensidade mostra que, em todas as três FFS avaliadas, existe um período inicial em que o
contraste aumenta fortemente com consequente diminuição da taxa de crescimento,
tendendo a atingir um valor de saturação. Este comportamento e uma simples escolha de T
50
(tempo para atingir a metade do aumento em contraste) favorecem a uma diminuição média
deste parâmetro quando comparado ao T
1/2
dentro de cada classe de comprimido. Um
tratamento destes sinais através da modelagem por função exponencial pode fornecer
melhores resultados e aumentar a correlação entre estes dados.
Comparando o tempo de desintegração T
1/2
e o T
50
obtidos para os três diferentes
comprimidos, observa-se que não existe diferença significativa entre os comprimidos com
croscarmelose e crospovidona (p=0,94, p=0,76 para T
1/2
e o T
50
, respectivamente). Porém,
na comparação de ambos com o comprimido efervescente, foi observado uma forte
diferença nos parâmetros T
1/2
(p<0,01) e o T
50
(p<0,05), indicando que para este tipo de
comprimido a desintegração ocorre de forma mais rápida. Dados semelhantes em
experimentação em animais, utilizando Gd-DTPA como agente de contraste, foram obtidos
por Kremser et al.
30
Para a quantificação das medidas in vivo foi empregado o método da variação da
área. A quantificação pela intensidade (contraste) não forneceu uma relação sinal/ruído
satisfatória, isto é, não foi observado aumento significativo de contraste provocado pelo açaí
em todo o conteúdo gástrico. O tempo de desintegração obtido nessas medidas foi em média
44
5 minutos menor que para os mesmos tipos de comprimidos nas medidas in vitro. Esta
diferença reforça a idéia de que o processo de desintegração é afetado pela motilidade do
órgão, pH e temperatura, mesmo com o emprego de butilbrometo de escopolamina
(Buscopan
®
), utilizado para minimizar artefato de movimento.
6. Conclusão
45
6. Conclusão
Este estudo foi realizado em um equipamento de 0,5 T, o qual possui fortes
limitações principalmente em relação ao tempo de aquisição das imagens, importante para
o estudo de processo dependente do tempo, como a desintegração. Considerando que
existe uma relação inversa entre resolução temporal e espacial, o emprego de sequência
mais rápida compromete a qualidade da imagem e com isso a avaliação da desintegração.
No entanto, os resultados obtidos demonstram que o emprego do açaí como agente de
contraste natural em FFS é uma alternativa viável, de baixo custo, apresenta fácil
manipulação e sem prejuízo a saúde, podendo ser utilizado em medidas in vitro e in vivo.
Desta forma, este estudo possibilitou:
Escolher o melhor produto (açaí desidratado com e sem gordura) para
emprego como agente de contraste em RM;
Demonstrar que nestas condições, o açaí proporcionou melhores imagens
ponderadas em T
1
do que em T2;
Caracterizar o processo de desintegração in vitro, principalmente através da
medida do T
1/2
, em comprimidos contendo três diferentes desintegrantes:
croscarmelose, crospovidona e mistura efervescente;
Visualizar e quantificar o processo de desintegração de comprimidos
contendo o desintegrante croscarmelose e açaí sem gordura;
Assim, a associação de açaí como agente de contraste natural em RM (técnica de
imagem não-invasiva e desprovida de radiação ionizante) para analisar comprimidos é uma
alternativa original e segura. Como consequência deste estudo, novas abordagens podem ser
realizadas utilizando diferentes FFS ou comparações entre diferentes formulações sólidas.
Além disto, o emprego de equipamento com alto campo pode proporcionar melhor
resolução temporal e espacial, fornecendo melhores condições e precisão para analisar FFS
de liberação controlada associando a região anatômica com a absorção do princípio ativo.
7. Referências bibliográficas
46
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