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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTROS ROMBENCEFÁLICOS DE PROCESSAMENTO AUDITIVO DO
SAGÜI (Callithrix jacchus): UMA ANÁLISE CITOARQUITETÔNICA E
NEUROQUÍMICA
NATAL-RN
2008
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2
FRANCIMAR ARAÚJO DOS SANTOS
CENTROS ROMBENCEFÁLICOS DE PROCESSAMENTO AUDITIVO DO
SAGÜI (Callithrix jacchus): UMA ANÁLISE CITOARQUITETÔNICA E
NEUROQUÍMICA
Dissertação de Mestrado submetida
ao Programa de Pós-graduação em
Psicobiologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte
como pré-requisito para a obtenção
do título de Mestre.
Orientadora: Profa. Miriam Stela M. O. Costa.
NATAL-RN
2008
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Título: “Centros rombencefálicos de processamento auditivo do sagüi (Callithrix jacchus):
uma análise citoarquitetônica e neuroquímica”.
Autora: Francimar Araújo dos Santos
Data da Defesa: 26/09/2008
Banca Examinadora:
Profª Dra. Miriam Stela Maris de Oliveira Costa – UFRN - Orientadora
Prof. Dr. Ricado Luiz Smith - UNIFESP
Prof. Dr. John Fontenele Araújo - UFRN
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No olhar de um irmão
Vejo a mão do Mestre
No viver, no morrer
Vejo a mão do Mestre
Na poesia, na canção
No pulsar do coração
Vejo a mão de Deus
Sinto a mão de Deus
Na emoção que estou sentindo
Eu vejo a mão de Deus
Em saber que estão me ouvindo
Eu vejo a mão de Deus,
Vejo a mão de Deus
O sol nasceu, o sol se pôs
Fica a mão do Mestre
O ano vem, o ano vai
Fica a mão do Mestre
Sobre nós a proteger
Sobre todos posso ver
Vejo a mão de Deus
Sinto a mão de Deus
Na emoção que estou sentindo
Eu vejo a mão de Deus
Em saber que estão me ouvindo
Eu vejo a mão de Deus,
Vejo a mão de Deus
A Mão do Mestre (Josué Teodoro)
5
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, quero agradecer ao Senhor Jesus por ter me capacitado a
iniciar e a concluir esse mestrado, assim como por ter cuidado de mim e ter reservado pessoas
especiais para cooperarem com minha vida.
Aos meus pais: Norma Araújo dos Santos e Francisco dos Santos, aos meus
irmãos: Francilene Araújo dos Santos e Francisco dos Santos Júnior e a minha doce sobrinha:
Ana Luísa dos Santos Lorenzato, assim como a toda a minha família, espalhada por este
grande País, que mesmo sem compreender muito bem o valor dessa conquista cooperaram e
me incentivaram a continuar lutando para obter mais essa vitória! Essa vitória também é de
vocês. Sem vocês eu jamais teria chegado até aqui.
Aos amigos de fé, irmãos camaradas: Lígia e Carlos Quintans, Rubenita e
Robinson Lima, Mari e Luís Carlos Souza e Raquel Justino pelo amor, orações, incentivo e
carinho. Vocês são luz no meu caminho, manifestação do cuidado de Deus em minha vida.
Obrigada.
A minha querida orientadora Dra. Miriam Stela Maris de Oliveira Costa pela
incansável dedicação e paciência. Seu cuidado, amor e dedicação aos alunos me fizeram
conhecer uma verdadeira doutora na arte de ensinar. Através de seus conhecimentos e
entusiasmo me ensinou a construir e lutar pelos meus sonhos. Obrigada por acreditar e
investir na minha vida! Seu exemplo de caráter, seriedade e dedicação refletem a esperança
que tenho na educação desse país e despertou em mim o desejo pela docência.
A Márcia Albuquerque e Sebastião Franco por terem me incentivado, cada
um a seu modo, desde a graduação, a me dedicar à pesquisa e expor os meus conceitos e
ideais.
Prof. Dr. Jeferson de Sousa Cavalcante pelo interesse e cooperação
indispensáveis para confecção desse trabalho.
Aos amigos e companheiros do Labneuro: Regina Celi Oliveira, Renata
Duarte, Rovena Engelberth, Ruthnaldo Melo, Twyla Barros, Talyta Albuquerque, Expedito
Nascimento Jr, Raíssa Rodrigues, Leandro Freitas, Ana Carla Nunes, André Pontes, Rayane
Nascmento, Janaina Borda e Kátia Gouveia pela alegria, exemplo de determinação e amor a
neurociências. Com vocês aprendi que é possível o crescimento genuíno através do
compartilhamento do conhecimento de muitos.
6
A minha querida amiga Patrícia Cavalcanti Rocha e sua família por me
adotarem e terem me incentivado e apoiado nessa jornada.
A Janaina Ferreira e Dinaide Marinho por sonharem junto comigo e não me
deixarem desistir desse ideal, mesmo quando nossos caminhos se separaram.
A Rosângela Machado, Wani Gurgel e Carmem Rejane pelos conselhos e
exemplo profissional que tem me ajudado a escolher a estrada correta a trilhar.
Aos meus pacientes que me ensinaram a perseverar dia-a-dia e a sorrir diante
das mais genuínas adversidades (-a própria vida)!
Ao saudoso Iram (em memória) pelas palavras sábias, abraço sincero e amor
que dedicou a minha vida. Você realmente foi usado por Deus para reciclar (transformar)
vidas como a minha.
A todos os professores de Graduação do Curso de Fonoaudiologia da UnP e
do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da UFRN, os quais contribuíram
fundamentalmente para minha formação acadêmica.
Ao Departamento de Morfologia na pessoa de chefe, Celcimar, assim como
seus demais funcionários pelo suporte, infra-estrutura e manutenção do laboratório de
neuranatomia.
Aos funcionários do Núcleo de Primatologia da UFRN, pelo cuidado com os
animais e apoio a esse estudo.
Ao IBAMA, pela liberação da licença para realização deste trabalho.
Ao CNPq pelo apoio financeiro.
7
RESUMO
O sistema auditivo compreende uma série de estações que se estendem desde a orelha externa
até o córtex cerebral. Em mamíferos o sistema auditivo central subcortical é formado
essencialmente por núcleos cocleares, complexo olivar superior, colículo inferior e corpo
geniculado medial. Neste estudo, os centros rombencefálicos, compreendendo o complexo
nuclear coclear e o complexo olivar superior foram avaliados com relação a sua
citoarquitetura e conteúdo neuroquímico de corpos celulares e terminais axônicos, através das
técnicas de coloração de Nissl e imuno-histoquímica para proteína nuclear neurônio específica
(NeuN), glutamato (Glu), descaboxilase de ácido glutâmico (GAD), encefalina (ENK),
serotonina (5-HT), colina acetiltransferase (ChAT) e proteínas ligantes de cálcio calbindina
(CB), cal-retinina (CR) e parvalbumina (PV). Foi utilizado como animal experimental o sagüi
(Callithrix jacchus), um pequeno primata nativo da Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro.
Como resultados, foi evidenciado que o complexo nuclear coclear é composto pelos núcleos
cocleares antero-ventral, póstero-ventral e dorsal, e o complexo olivar superior pelos núcleos
olivares superiores lateral e medial e o núcleo do corpo trapezóide. Em todos os núcleos, de
ambos os complexos, foram encontrados de forma variável corpos celulares, fibras e terminais
imunorreativos a Glu, GAD, ChAT, CB, CR, PV, corpos celulares e terminais imunoreativos
a ENK, além de fibras e terminais imunorreativos a 5-HT em diferentes densidades. Os dados
obtidos são discutidos dentro de um contexto comparativo e funcional e representam uma
importante contribuição ao conhecimento das vias auditivas centrais no sagüi, e por extensão
em primatas.
Palavras chave: Callithrix jacchus, citoarquitetura, imuno-histoquímica, complexo nuclear
coclear, complexo olivar superior.
8
ABSTRACT
The auditory system is composed by a set of relays from the outer ear to the cerebral cortex.
In mammals, the central auditory system is composed by cochlear nuclei, superior olivary
complex, inferior colliculus and medial geniculate body. In this study, the auditory
rombencephalic centers, the cochlear nuclear complex and the superior olivary complex were
evaluated from the cytoarchitecture and neurochemical aspects, thorough Nissl staining and
immunohistochemical techniques to reveal specific neuron nuclear protein (NeuN), glutamate
(Glu), glutamic acid decarboxilase (GAD), enkephalin (ENK), serotonin (5-HT), choline
acetyltransferase (ChAT) and calcium-binding proteins calbindin (CB), calretinin (CR), and
parvalbumin (PV).
The common marmoset (Callithrix jacchus), a little native primate of the Brazilian atlantic
forest was used as an experimental animal. As results, it was noted that the cochlear nuclear
complex is composed by anteroventral, posteroventral and dorsal nuclei, and the superior
olivary complex is constituted by the lateral and medial superior olivary nuclei and the
trapezoid body nucleus. Glu, GAD, ENK, ChAT, CB, CR, PV- immunoreactive cells, fibers
and terminals besides besides only 5-HT terminals were found unhomogeneously in all
nuclei, of both complex. The emerging data are discussed in a comparative and functional
context, and represent an important contribution to knowledge of the central auditory
pathways in the common marmoset, and then in primates.
Key words: Callithrix jacchus, cytoarchitecture, immunohistochemistry, cochlear nuclear
complex, superior olivary complex.
9
LISTA DE ABREVIATURAS
5-HT - Serotonina
ACh - Acetilcolina
CB - Calbindina
ChAT - Colina acetiltransferase
CNVA - Núcleo coclear ventral anterior
COS - Complexo olivar superior
CR – Cal-retinina
ENK - Encefalina
GABA - Ácido gama-amino-butírico
GAD - Descarboxilase do ácido glutâmico
Glu - Glutamato
NC – Complexo Núclear coclear
NCD - Núcleo coclear dorsal
NCV - Núcleo coclear ventral
NCVP - Núcleo coclear ventral posterior
NT - Núcleo do corpo trapezóide
OSL - Núcleo olivar superior lateral
OSM - Núcleo olivar superior medial
PLC - Proteínas ligantes de cálcio
PV - Parvalbumina
10
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1 (pág. 17): Visão geral do sistema auditivo periférico.
Figura 2 (pág. 24): Via Auditiva.
Figura 3 (pág. 27): O Sagüi.
Figura 4 (pág. 31): Cérebros de sagüi.
Figura 5 (pág. 32): Fotomicrografia de secções de Nissl representando secções
aproxidamente no nível rostral (A e D), médio (B e E) e caudal (C e F) para o complexo
olivar superior (A, B e C) e núcleos cocleares (D, E e F) do sagüi.
Figura 6 (pág. 39): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do complexo
nuclear coclear do sagüi em níveis rostral, médio e caudal, mostrando a citoarquitetura pelo
método de Nissl (A, B e C) e NeuN (D, E e F). NCAV, núcleo coclear ântero-ventral; NCPV,
núcleo coclear póstero-ventral; NCD, núcleo coclear dorsal.
Figura 7 (pág. 40): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do NCD do sagüi
em níveis rostral, médio e caudal, mostrando a citoarquitetura pelo método de Nissl (A, B e
C) e NeuN (D, E e F). Observe a camada molecular na periferia do NCD.
Figura 8 (pág. 41): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do complexo
nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para Glu em corpos celulares, fibras e terminais em todos
os núcleos.
Figura 9 (pág.42): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do complexo
nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para GAD em pericários, fibras e terminais em todos os
núcleos.
Figura 10 (pág. 43): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do complexo
nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para ENK em pericários e terminais em NCAV e NCPV e
predomínio de terminais em NCD.
Figura 11 (pág. 44): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do complexo
nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para 5-HT em terminais e fibras em todos os núcleos.
Figura 12 (pág. 45): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do complexo
nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
11
distribuição de imunorreatividade para ChAT em pericários no NCAV, fibras e terminais no
NCV e corpos celulares, fibras e terminais no NCD.
Figura 13 (pág. 46): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do complexo
nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para CB em corpos celulares, fibras e terminais em todos os
núcleos.
Figura 14 (pág. 47): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do complexo
nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para CR em pericários, fibras e terminais em todos os
núcleos.
Figura 15 (pág. 48): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do complexo
nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para PV em corpos celulares, fibras e terminais em todos os
núcleos.
Figura 16 (pág. 49 e 50): Esquema ilustrando a distribuição de imunorreatividade em
pericários (pontos pretos) e neuróglia (tons de cinza de acordo com a densidade) para Glu,
GAD, ENK, 5-HT, ChAT, CB, CR e PV nos núcleos do complexo nuclear coclear em três
níveis de secção (rostral, médio e caudal).
Figura 17 (pág. 54): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do através do
complexo olivar superior do sagüi em veis rostral (A e D), médio (B e E) e caudal (C e F),
mostrando a citoarquitetura pelo método de Nissl (A, B e C) e NeuN (D, E e F).
Figura 18 (pág. 55): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS do sagüi
em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da imunorreatividade
para Glu em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos.
Figura 19 (pág. 56): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS do sagüi
em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da imunorreatividade
para GAD em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos.
Figura 20 (pág. 57): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS do sagüi
em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da imunorreatividade
para ENK em pericários e terminais no CT rostral e todo OSM e apenas terminais no OSL.
Figura 21 (pág. 58): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS do sagüi
em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da imunorreatividade
para 5-HT em terminais e fibras em todos os núcleos.
12
Figura 22 (pág. 59): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS do sagüi
em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da imunorreatividade
para ChAT em pericários, fibras e terminais no CT e OSM médio e caudal. Pericários e densa
neurópila no OSL.
Figura 23 (pág. 60): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS do sagüi
em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da imunorreatividade
para CB em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos.
Figura 24 (pág. 61): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS do sagüi
em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da imunorreatividade
para CR em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos.
Figura 25 (pág. 62): Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS do sagüi
em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da imunorreatividade
para PV em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos.
Figura 26 (pág. 63 e 64): Esquema ilustrando a distribuição de imunorreatividade em
pericários (pontos pretos) e neuróglia (tons de cinza de acordo com a densidade) para Glu,
GAD, ENK, 5-HT, ChAT, CB, CR e PV nos cleos do complexo olivar superior em três
níveis de secção (rostral, médio e caudal).
Tabela 1 (pág. 34): Número de cortes para cada núcleo auditivo rombencefálico.
Tabela 2 (pág. 35): Lista de substâncias e diluições utilizadas no experimento.
Tabela 3 (pág. 65): Resumo da caracterização neuroquímica dos centros auditivos do sagüi.
13
SUMÁRIO
Página
1. INTRODUÇÃO
14
A Audição e o sistema auditivo 14
O sistema auditivo periférico 15
O sistema auditivo central 17
Os núcleos cocleares – primeira estação da via auditiva central 18
O complexo olivar superior – fundamental na localização sonora 19
O colículo inferior – principal estação auditiva do tronco encefálico 20
O corpo geniculado medial – relé talâmico 21
Áreas auditivas corticais 22
Propriedades do sistema auditivo 23
Neuroquímica – aliada na delimitação anatômica e funcionalidade neuronal 25
O Sagüi (Callithrix jacchus) 26
2. JUSTIFICATIVA
28
3. OBJETIVOS
28
4. METODOLOGIA
29
5. RESULTADOS
36
6. DISCUSSÃO
66
7. CONCLUSÃO
79
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS
81
9. REFERÊNCIAS
83
14
1. INTRODUÇÃO
A audição e o Sistema Auditivo
A grande maioria dos seres vivos é capaz de interagir entre os indivíduos
e com o meio ambiente por meio de alguma forma de comunicação. A participação do som é
evidente nesse processo, quando se observa comportamentos, tais como o sofisticado canto de
acasalamento de alguns pássaros (Snowdon, 2007). Ao longo do processo seletivo, a
possibilidade de detecção à distância dos estímulos provenientes do meio externo tornou-se
uma grande vantagem adaptativa, pois permitiu aos animais localizar e identificar presas,
predadores, obstáculos, como também os animais da mesma espécie, favorecendo o processo
de reprodução. Isso foi conseguido através do desenvolvimento da capacidade auditiva,
conseqüência do desenvolvimento de órgãos auditivos sofisticados e de grande sensibilidade,
capazes de detectar as menores vibrações sonoras do meio, transmitidas através do ar ou da
água, permitindo ao animal uma maior percepção do meio ambiente ao seu redor até mesmo
durante o sono (Motta, 2005; Snowdon, 2007).
Dessa forma, a audição se destaca como uma das mais importantes
modalidades sensoriais para muitos animais e principalmente para o ser humano. Através dela
o indivíduo adquire uma maior socialização e desenvolve sua singularidade, pois ela favorece
a aquisição da linguagem e a conseqüente integração do homem ao mundo sonoro (Lent,
2004; Gazzaniga e Heatherton, 2005; Silveira e Vaucher, 2006; Snowdon, 2007). Atualmente
se tem desenvolvido equipamentos sofisticados e de alta sensibilidade e tecnologia, como
os aparelhos de amplificação sonora individual e mesmo os implantes cocleares e de tronco
cerebral, mas, nenhum destes instumentos foi suficientemente capaz de substituir o sistema
auditvo funcionalmente por completo, mesmo que associados a terapias fonoaudiológicas.
Do ponto de vista anátomo-funcional, em mamíferos o sistema auditivo
divide-se em sistema auditivo periférico e sistema auditivo central. A porção periférica
estende-se do pavilhão auricular até o nervo vestíbulo-coclear (VIII par craniano). O sistema
auditivo central compreende estruturas e vias situadas no tronco encefálico, tálamo e córtex
cerebral, onde sucessivamente os impulsos traduzidos por informações auditivas são
decodificados e transformados em informações compreensíveis ao indivíduo (Russo e Santos,
1994; Schoeny e Talbott, 1999; Hudspeth, 2000a; Santos e Branco Barreiro, 2005; Pereira,
2005; Glendnning, 2005; Tortora, 2007).
A porção periférica do sistema auditivo é responsável pela detecção e
transmissão dos estímulos sonoros até a porção central, a qual atua na transmissão dos
impulsos nervosos, discriminação, localização e reconhecimento do som, associados à
15
compreensão, atenção seletiva e memória auditiva, formando, assim, em conjunto as vias de
processamento do som (Machado 2003; Friedland, 2006).
O sistema auditivo periférico
A porção periférica do sistema auditivo é formada pela orelha, a qual
didaticamente é dividida em orelha externa, orelha média e orelha interna. A orelha tem
origem a partir dos três folhetos embrionários. A orelha interna desenvolve-se a partir de um
espessamento do ectoderma que cobre as laterais da cabeça do embrião. A orelha média
origina-se do endoderma da primeira bolsa faríngica, que forma os ossículos, e do
mesoderma, que forma os músculos neles inseridos. A orelha externa desenvolve-se à custa de
proliferação do mesênquima das regiões dorsais do primeiro e segundo arcos branquiais e do
ectoderma, que forma a pele que o reveste por fora (Northern e Downs, 2002; Tortora, 2007).
A orelha externa está parcialmente incluída no osso temporal e é
composta por pavilhão auricular, concha e meato acústico externo. O pavilhão auricular
consiste de uma prega cutânea da face lateral da cabeça, com um esqueleto de cartilagem
elástica, de forma afunilada, com saliências e depressões. É o pavilhão auricular o responsável
por coletar a energia sonora e afunilá-la em direção ao meato acústico externo, que é um tubo
curvo, medindo cerca de 2,5 cm em humanos, situado no osso temporal, estendendo-se do
pavilhão auricular até a membrana timpânica, ou tímpano. A membrana timpânica estabelece
a separação entre a orelha externa e a orelha média. É uma membrana delgada e
semitransparente, côncava, e levemente em forma de cone, cujo ápice está voltado para a
orelha média. É pela vibração dessa membrana que ocorre a passagem da energia mecânica
sonora, capaz de movimentar os ossículos da orelha média (Russo e Santos, 1994; Wright,
1995; Hudspeth, 2000a; b; Machado 2003; Lent, 2004).
A orelha média, também denominada de cavidade timpânica, é um
espaço cheio de ar, revestido por epitélio, localizado dentro da porção petrosa do osso
temporal. É separada da orelha externa pela membrana do tímpano e da orelha interna por
delgado tabique ósseo, que contém duas aberturas cobertas por membrana: a janela oval e a
janela redonda. Contém três ossículos, o martelo, a bigorna e o estribo, interconectados por
articulações sinoviais. O martelo é aderido à superfície interna da membrana do tímpano pelo
manúbrio e através da cabeça se articula com o corpo da bigorna. A bigorna se articula com a
cabeça do estribo e a base deste se ajusta à janela oval. Imediatamente abaixo da janela oval,
situa-se outra abertura, a janela redonda, que é fechada por uma membrana, chamada
membrana timpânica secundária. Além dos ligamentos, dois pequenos músculos esqueléticos
16
se prendem aos ossículos. O músculo tensor do tímpano, inervado pelo ramo mandibular do
nervo trigêmeo (V) limita o movimento e aumenta a tensão sobre a membrana do tímpano,
para impedir lesão da orelha interna por sons muito intensos. O músculo estapédio, que é
inervado pelo nervo facial (VII), amortece as grandes vibrações do estribo, produzidas por
sons de grande intensidade, protegendo a janela oval, diminuindo também a sensibilidade
auditiva. A parede anterior da orelha média contém uma abertura que tem continuidade com
um canal formado por osso e cartilagem hialina: é a tuba faringotimpânica, que conecta a
orelha média com a nasofaringe, tendo por finalidade equalizar a pressão atmosférica dos dois
lados da membrana do tímpano. Quando as pressões estão equilibradas a membrana timpânica
vibra livremente à medida que as ondas sonoras a atingem. Quando a pressão não está
equalizada podem ocorrer dores intensas, zumbido, surdez e mesmo vertigem (Wright, 1995;
Hudspeth, 2000a; b; Lent, 2004; Tortora, 2007).
A energia das ondas sonoras ao alcançar a membrana timpânica é
transmitida através dos ossículos do ouvido para a escala vestibular (janela oval) pela base do
estribo. A membrana que cobre a janela redonda na base da escala timpânica acomoda as
alterações da pressão hidrostática. A ação tipo êmbolo do estribo transmite a energia das
ondas sonoras para a perilinfa na escala vestibular. A energia transmitida para a perilinfa
produz ondas progressivas na membrana basilar, que se move da base da cóclea para o seu
ápice. O deslocamento da membrana basilar em resposta aos estímulos auditivos provoca
inclinação das células ciliadas em contato com a membrana tectória. O deslocamento máximo
da membrana basal a diferentes distâncias da janela oval pode ser correlacionado com
freqüências específicas do som. Altas freqüências são percebidas na base e baixas freqüências
no ápice. Quando a membrana basilar vibra, em conseqüência da energia mecânica provocada
pela vibração dos ossículos da orelha média, a membrana tectória não vibra no mesmo
intervalo de tempo, resultando numa deformação dos cílios a cada nova onda vibratória. Esse
deslocamento periódico provoca alteração iônica no interior dos cílios, causando alteração na
polarização da célula ciliar. Como diferença entre as alturas dos cílios, o movimento na
direção dos mais altos resulta na despolarização, e na direção dos cílios menores resulta na
hiperpolarização. A despolarização por sua vez abre os canais de cálcio e produz a liberação
do transmissor na sinapse com os prolongamentos periféricos (equivalentes a dendritos) das
células bipolares do gânglio espiral, desencadeando potenciais pós-sinápticos excitatórios. A
informação codificada será então conduzida através do nervo coclear, formado pelos
prolongamentos centrais (equivalentes a axônios) das mesmas células, para o tronco
17
encefálico para, através de estações sucessivas, chegarem ao rtex cerebral auditivo (Brugge
e Geisler, 1978; Nelly, 1989; Dallos, 1992; Hudspeth, 2000a; b; Lent, 2004).
A figura 1 ilustra o sistema auditivo periférico:
Figura 1. Visão geral do sistema auditivo periférico (modificado de
Netter, 1987).
O sistema auditivo central
As fibras do nervo coclear, o qual emerge de toda extensão da cóclea,
formando uma espécie de leque espiral convergente, emerge pelo meato acústico interno,
direcionando-se para o encéfalo, dando início ao sistema auditivo central. Este contém várias
estações sinápticas e vias em segmentos do encéfalo tais como a ponte, o mesencéfalo e o
tálamo, antes de atingir o córtex cerebral. No trajeto da via auditiva se observam vários
cruzamentos através de decussações e comissuras (Brodal, 1993; Brugge e Geisler, 1978;
Russo e Santos, 1994; Wright, 1995; Bonaldi et al., 1997; Brust, 2000; Hudspeth, 2000a;
Machado, 2003; Lent, 2004). Em cada uma das estações sinápticas ocorre a transmissão do
sinal, que é passível de ser modulado a partir de outras aferências sensoriais e influências
descendentes de níveis superiores que a elas chegam. Ao longo das vias também se formam
circuitos-base de reflexos desencadeados por estímulos sonoros, alguns dos quais com efeito
protetor (Brodal, 1993; Bonaldi et al., 1997).
18
Os núcleos cocleares – Primeira estação central da via auditiva
As fibras do nervo coclear, que têm como principal neurotransmissor o
glutamato, penetram pelo sulco bulbopontino, atingindo de cada lado os núcleos cocleares
situados na porção caudal da ponte, lateralmente às fibras do pedúnculo cerebelar inferior
(Brugge e Geisler, 1978; Baran e Musiek, 2001; Snell, 2003). Esta é a primeira estação
sináptica da via auditiva. De cada lado, os núcleos cocleares são em número de dois: o dorsal
e o ventral, este subdividido em ântero-ventral e póstero-ventral (Bellis, 1996; Parent, 1996;
Schoeny e Talbott, 1999; Snell, 2003). Ao penetrarem na ponte, as fibras do nervo coclear
bifurcam-se em seqüência ordenada e são distribuídas a ambos os núcleos cocleares, dorsal e
ventral, o ramo ascendente terminando no núcleo coclear antero-ventral e o descendente nos
núcleos cocleares póstero-ventral e dorsal. Além disso, cada um dos dois núcleos cocleares é
tonotopicamente organizado, de tal modo que em todos eles, neurônios que respondem às
freqüências mais altas (agudas) o localizados dorsalmente e os que respondem às
freqüências mais baixas (graves) progressivamente mais ventralmente (Brodal, 1993; Bellis,
1996; Martin, 1998; Hudspeth, 2000a; Machado, 2003). O núcleo coclear dorsal emite fibras
que cruzam o plano mediano pelas estrias acústicas dorsal e intermédia e ascendem pelo
lemnisco lateral até o colículo inferior contralateral. Já os neurônios de ambas as divisões do
núcleo coclear ventral projetam-se para o complexo olivar superior do mesmo lado e do lado
oposto, o cruzamento se dando pela estria acústica intermédia e estria acústica ventral (ou
corpo trapezóide), considerando-se as conexões recíprocas entre os complexos olivares
superiores entre si (Brodal, 1993; Bellis, 1996; Parent, 1996; Martin, 1998; Snell, 2003).
Em mamíferos roedores o núcleo coclear dorsal é estratificado,
apresentando uma camada molecular superficial, caracterizada pelo seu conteúdo em zinco
(Féres e Cairasco, 2003), e quatro camadas celulares mais profundas. Os principais neurônios
de projeção são as células fusiformes, orientadas radialmente, lembrando a organização das
células de Purkinje no córtex do cerebelo. Contém também as células tentaculares (Brodal,
1993; Hudspeth, 2000a; Machado, 2003). o núcleo coclear ventral contém
predominantemente as células estreladas e as células em arbusto (Hudspeth, 2000a) e a
marcação pelo íon zinco é restrita à periferia do subnúcleo (Féres e Cairasco, 2003).
É importante destacar que há evidências de correlação entre a morfologia
do neurônio e sua resposta funcional, sendo esta importante para a manutenção da tonotopia
coclear, codificação de intensidade, resolução temporal e codificação de tons complexos
(Brodal, 1993; Aquino e Araújo, 2002).
19
Os axônios dos diversos tipos celulares presentes nos núcleos cocleares
projetam-se para diversos outros núcleos em níveis mais rostrais do tronco encefálico. Do
núcleo coclear antero-ventral emerge o maior volume de fibras para o lado oposto, formando
o corpo trapezóide (ou estria acústica ventral), que se estende do nível da ponte até os três
núcleos do complexo olivar superior (lateral, medial e o núcleo do corpo trapezóide). Axônios
de neurônios do núcleo coclear dorsal ao saírem formam a estria acústica dorsal e ascendem
pelo lemnisco lateral contralateral (Hudspeth, 2000a).
O complexo olivar superior – Fundamental na localização sonora
O complexo olivar superior é constituído por três divisões anatômicas, as
quais são: núcleo olivar superior medial, núcleo olivar superior lateral e o núcleo do corpo
trapezóide (Martin, 1998). As três porções do complexo olivar superior emitem fibras
ascendentes tanto ipso quanto contralaterais, contribuindo para formar o lemnisco lateral. Este
ascende pelo tronco encefálico até atingir o mesencéfalo, terminando no colículo inferior.
Circundando o complexo olivar superior, pequenos grupamentos neuronais constituem os
núcleos periolivares (Martin, 1998; Malmierca e Merchán, 2004), de onde têm origem as
fibras eferentes que formam o fascículo olivococlear (Guinan, Jr, 2006). O fascículo
olivococlear tem dois componentes: um componente medial, de espessas fibras mielinizadas,
que termina primariamente nas células ciliadas externas, predominantemente para o lado
contralateral, e um componente lateral, de fibras amielínicas, que se projeta para as células
ciliadas internas, predominantemente ipsolaterais. Esta é uma via através da qual o sistema
nervoso central pode influenciar sua própria entrada sensorial (Parent, 1996; Breuel et al.,
2001; Aquino e Araújo, 2002; Guinan, Jr, 2006).
O lemnisco lateral, a principal via auditiva ascendente no tronco
encefálico contém fibras ipso e contralaterais e ascende na parte lateral do tegmento,
terminando no colículo inferior do mesencéfalo. Imersos entre as fibras do lemnisco lateral
estão os núcleos do lemnisco lateral, os quais recebem e contribuem com fibras para o feixe
principal (Bellis, 1996; Parent, 1996). As informações que chegam a cada núcleo do lemnisco
lateral são predominantemente contralaterais (Bellis, 1996; Aquino e Araújo, 2002; Machado,
2003).
Em sendo a primeira estação a receber impulsos provenientes de ambas
as orelhas, o complexo olivar superior desempenha um papel na localização da fonte sonora
(Bellis, 1996; Waxman, 1996; Bonaldi et al., 1997; Brust, 2000; Northern e Downs, 2002;
Machado 2003).
20
O colículo inferior – Principal estação auditiva do tronco encefálico
O colículo inferior é um núcleo par situado na parte caudal do teto
mesencefálico. Pode ser dividido em três partes: (1) o núcleo central, uma massa celular
ovóide e de estrutura laminar, formado por duas subdivisões: uma dorsomedial, menor,
composta de células grandes, e uma ventrolateral, maior, de células pequenas a médias, com
um arranjo laminar; (2) o núcleo pericentral, uma fina camada celular dorsal; e (3) o núcleo
externo, que circunda o núcleo central, lateral e ventralmente (Brodal, 1993; Parent, 1996). O
colículo inferior funciona como o principal núcleo relé do sistema auditivo no tronco
encefálico, transmitindo sinais recebidos do lemnisco lateral para o corpo geniculado medial.
Fibras auditivas ascendentes no lemnisco lateral projetam-se para as divisões dorsomedial e
ventrolateral do núcleo central do colículo inferior. Fibras que penetram na divisão
ventrolateral cursam ao longo do comprimento de cada lâmina seguindo sua curvatura e, à
medida em que atravessam estas lâminas, estabelecem contatos sinápticos com neurônios
coliculares. A divisão dorsomedial do cleo central recebe conexões comissurais da região
correspondente do colículo inferior oposto e projeções bilaterais do córtex auditivo. O núcleo
pericentral também recebe entradas bilaterais do córtex auditivo e projeções ascendentes do
núcleo dorsal do lemnisco lateral. Células do núcleo pericentral projetam fibras para dentro do
núcleo central, as quais cursam em paralelo às suas lâminas (Parent, 1996; Okoyama et al.,
2006).
A maioria das células do colículo inferior responde à estimulação
biauricular, e muitas células codificam a localização do som com padrões de descarga espaço-
temporal (Champoux et al., 2007). Uma localização tonotópica definida está presente dentro
dos núcleos central e pericentral do colículo inferior. Neurônios no núcleo central do colículo
inferior são arranjados em um padrão laminar que representam diferentes faixas de
freqüência. A representação da freqüência no núcleo central reflete a representação
proporcional de freqüências ao longo de partes da cóclea, em que baixas freqüências são
percebidas no ápice e altas freqüências na base (Parent, 1996).
No núcleo pericentral também se evidencia uma organização tonotópica,
com altas freqüências localizadas externamente e baixas freqüências próximo às margens do
núcleo central. A maioria das células desta divisão recebe apenas uma entrada monoauricular
contralateral e provavelmente estão relacionadas à atenção auditiva direta. Já o núcleo externo
provavelmente não é um núcleo relé auditivo como o cleo central do colículo inferior,
estando relacionado primariamente com reflexos auditivos (Parent, 1996).
21
Fibras eferentes do núcleo central do colículo inferior projetam-se através
do braço do colículo inferior para a parte laminada ventral do corpo geniculado medial.
Células na divisão dorsal do núcleo central e no núcleo pericentral enviam fibras para a parte
dorsal do corpo geniculado medial. Assim, a divisão dorsal do núcleo central e o núcleo
pericentral do colículo inferior, os quais recebem fibras do córtex auditivo, finalmente enviam
sinais de volta para o córtex auditivo secundário. Células da parte ventral do corpo geniculado
medial projetam-se tonotopicamente, através da radiação auditiva, sobre o córtex auditivo
primário (Parent, 1996; Machado, 2003; Okoyama et al., 2006).
Estudos eletrofisiológicos destacam a importância do complexo olivar
superior e a via até os colículos inferiores no mecanismo de fala na presença de ruído, logo a
integridade dessas estruturas, bem como de sua via é essencial para uma comunicação
adequada (Okoyama et al., 2006; Schochat et al., 2006).
O corpo geniculado medial – Relé talâmico
O corpo, núcleo ou complexo geniculado medial no encéfalo de primata
situa-se no tálamo posterior, fazendo saliência na superfície ventral, medialmente ao corpo
geniculado lateral e dorsalmente ao pedúnculo cerebral. Esta massa nuclear laminada, o
núcleo relé talâmico auditivo, recebe fibras do colículo inferior e dá origem à radiação
auditiva. Diferentemente dos núcleos relés auditivos do tronco encefálico, não há conexões
comissurais entre os corpos geniculados mediais (Bellis, 1996; Parent, 1996).
O núcleo geniculado medial consiste de três principais subdivisões com
citoarquitetura e conexões distintas, referidas como medial, dorsal e ventral (Parent, 1996; De
la Mothe et al., 2006). O núcleo ventral, considerado o principal, estende-se através de toda
extensão rostrocaudal do corpo geniculado medial e é limitado medialmente pelo braço do
colículo inferior. Tem uma organização laminar distinta, sendo as células de tamanho e forma
relativamente constantes, com dendritos em tufo. A laminação produzida pelos dendritos de
células em tufo e fibras do braço do colículo inferior, toma a forma de espirais ou bainhas
verticais curvas. Fibras aferentes do colículo inferior, chegando pelo braço do colículo
inferior, entram em lâminas particulares e permanecem continuamente associadas com as
mesmas camadas. O mapeamento fisiológico da divisão ventral do corpo geniculado medial
revela que as lâminas celulares apresentam organização tonotópica, em que as altas
freqüências são representadas medialmente, e baixas freqüências lateralmente. Neurônios na
divisão ventral do corpo geniculado medial dão origem à radiação auditiva, que termina no
córtex auditivo primário, onde uma representação espacial de freqüências tonais. O córtex
22
auditivo primário origem a fibras córtico-talâmicas que terminam na divisão ventral do
corpo geniculado medial. Ambas as conexões genículo-corticais e córtico-geniculadas são
sempre ipsolaterais (Parent, 1996).
Os demais componentes do núcleo geniculado medial são multimodais,
recebendo entradas somatossensoriais e visuais, além das projeções auditivas. A divisão
dorsal do corpo geniculado medial contém vários núcleos, entre os quais os núcleos
suprageniculado e dorsal. O núcleo dorsal, proeminente em níveis caudais do corpo
geniculado medial, recebe projeções de uma área tegmental lateral, estendendo-se das
camadas profundas do colículo superior para a área adjacente ao lemnisco lateral. A divisão
medial, magnocelular, do corpo geniculado medial, recebe entradas do colículo inferior, do
tegmento lateral e da medula espinhal. Porções não laminadas do corpo geniculado medial
enviam fibras ipsolateralmente para uma faixa cortical que circunda a área auditiva primária
(Parent, 1996; Hudspeth, 2000a).
Áreas auditivas corticais
Em humanos, a principal projeção do corpo geniculado medial, originada
essencialmente da divisão ventral, é para o giro temporal transverso anterior (giro de Heschl,
área 41 de Brodman, A1), através da radiação auditiva ou trato genículo-temporal. Este giro
cortical está localizado no assoalho do sulco lateral e é caracterizado por ter uma
representação tonotópica, em que tons altos são processados medial e caudalmente e tons
baixos são representados lateral e anteriormente (Bellis, 1996; Parent, 1996; Hudspeth, 2000a;
b; Teixeira, 2005).
O córtex auditivo primário possui a capacidade de discriminar
freqüências e intensidades sonoras, além de possuir um padrão temporal e envolvimento na
localização sonora (Teixeira, 2005). De forma geral, as estruturas envolvidas no mecanismo
auditivo central interferem tanto nos sinais verbais, quanto nos não-verbais, logo estão
intimamente envolvidos com funções mais elevadas, como a linguagem e a aprendizagem
(Bevilaqua e Formigoni, 1997). Outras áreas corticais que contribuem para o processamento
da informação auditiva são as áreas associativas secundárias e terciárias. As áreas terciárias
incluem áreas que podem ter a capacidade de responder a estímulos auditivos, mas também a
outros estímulos sensitivos não auditivos. Isso inclui a área de Broca, o lobo da insula e a área
de Wernicke (Aquino e Araújo, 2002; Lent, 2004). Pode-se ainda relatar a existência de
conexão com o lobo frontal, porção postero-inferior, área pré-frontal e lobo parietal, porção
inferior. O corpo caloso, que conecta as duas metades do cérebro, contém fibras que conectam
23
as áreas auditivas dos dois hemisférios, permitindo dessa forma o cruzamento das
informações sonoras (Bellis, 1996; Baran e Musiek, 2001).
Propriedades do Sistema Auditivo
O processamento auditivo envolve não apenas a percepção do som, mas
também a capacidade de identificar, localizar, analisar, manter a atenção, memorizar e
recuperar esse estímulo (Katz e Wilde, 1999; Silveira et al., 2004).
Pode-se enumerar quatro características específicas do sistema auditivo:
(a) representação cortical bilateral; (b) capacidade de localização da fonte sonora; (c)
representação tonotópica e (d) controle eferente descendente para ajuste dos receptores
(Bhatnagar, 2004; Cramer, 2005).
A representação auditiva bilateral é decorrente dos cruzamentos de
informações auditivas devido às interconexões ascendentes nos níveis dos núcleos cocleares,
lemnisco lateral e colículo inferior. O córtex auditivo primário em cada hemisfério cerebral
recebe impulsos provenientes de ambas as orelhas, embora o impulso principal para o córtex
auditivo primário provém do receptor contralateral, com um menor número de projeções do
ipsolateral. Esta característica possibilita que lesões em qualquer ponto da via auditiva central
não resulte em surdez completa no ouvido oposto, mas cause apenas uma perda auditiva leve
ou mesmo nenhuma alteração. Porém, se a ablação ou lesão bilateral envolver o córtex
auditivo primário ou o córtex de associação resultará em grande perda de discriminação
auditiva e da percepção da fala (Bonaldi et al., 1997; Bhatnagar, 2004).
A localização da fonte sonora ocorre devido à diferença de tempo de
chegada do estímulo sonoro em cada orelha, que a orelha mais próxima da fonte sonora
recebe a informação primeiro. O mecanismo de localização sonora começa no nível do núcleo
olivar superior. É este o núcleo o primeiro a receber projeções cruzadas e não cruzadas dos
dois receptores auditivos e usa as diferenças de tempo e intensidade para determinar a
localização exata e a direção da fonte sonora (Brust, 2000; Bhatnagar, 2004).
A representação tonotópica, iniciada no nível coclear, é mantida em toda
a via auditiva central. Vale salientar que mesmo no nível mais elevado, ou seja, no córtex
auditivo, apenas um neurônio responde melhor a determinadas freqüências sonoras (Brugge e
Geisler, 1978; Waxman. 1996; Read et al., 2002; Bhatnagar, 2004).
Em paralelo às projeções ascendentes para o córtex auditivo, conexões
descendentes partem de diferentes camadas do córtex auditivo primário e fazem
retransmissões sinápticas para as estações imediatamente caudais situadas no tálamo, tronco
24
encefálico (colículo inferior e cleo olivar superior), até atingirem as células ciliadas
cocleares através do feixe olivococlear (Bellis, 1996; Bonaldi et al., 1997; Breuel et al., 2001).
Também foi descrita uma projeção da rafe para as células ciliadas cocleares (Kim et al.,
2003). Estas projeções não apenas tornam o sinal acústico mais definido, para melhorar a
proporção sinal-ruído, como também melhoram os indícios para a localização do som, e
contribuem para a qualidade do som percebido, por supressão dos sinais concorrentes, assim
como ajudam a proteger as células ciliadas cocleares de estímulos muito intensos (Waxman,
1996; Kim et al., 2003; Bhatnagar, 2004; Friedland, 2006).
Fig. 2. Esquema da via auditiva (modificado de Netter, 1987). Destaque
enfatizando os núcleos auditivos rombencefálicos.
25
Neuroquímica – aliada na delimitação anatômica e funcionalidade
dos centros neurais
A comunicação neuronal depende da capacidade do neurônio em
responder a uma determinada estimulação. A estimulação pode ser capaz de tornar o neurônio
eletricamente excitado e, consequentemente, apto para transmitir sinais para outros neurônios.
Dessa forma são gerados potenciais de ação, que fazem com que os neurônios liberem
neurotransmissores, os quais são substâncias químicas capazes de inibir ou estimular a ação
de um outro neurônio. Esses neurotransmissores são liberados na fenda sináptica e se unem a
um receptor específico no neurônio seguinte, chamado então, neurônio pós-sináptico. São os
neurotransmissores que ajudam a regular os mecanismos encefálicos que controlam a
cognição, a linguagem, a fala, audição, o humor, bem como a atenção, a memória, a
personalidade, a motivação e os ajustes fisiológicos do encéfalo (Kolb e Whishaw, 2002;
Bhatnagar, 2004; Von Bohlen und Halbach e Dermietzel, 2006).
Os receptores são moléculas de proteínas especializadas que quando
unidos aos respectivos neurotransmissores facilitam a abertura dos canais iônicos e,
modificando o potencial de membrana naquele ponto, afetam a probabilidade da descarga
neuronal. Quando um neurotransmissor se une com o receptor e provoca despolarização na
membrana pós-sináptica é considerado excitatório, uma vez que aumenta a probabilidade
desse receptor descarregar. No entanto, quando a união deste neurotransmissor com o receptor
provoca hiperpolarização no neurônio pós-sináptico é considerado inibitório, que torna
menos provável a descarga do neurônio receptor (Kolb e Whishaw, 2002; Gazzaniga e
Heatherton, 2005).
Até a década de 70 acreditava-se que cada neurônio utilizava um único
neurotransmissor. Atualmente acredita-se que na maioria das sinapses, um
neurotransmissor principal, que ativa diretamente um canal iônico. Outros neurotransmissores
co-localizados funcionariam, em geral, como moduladores da atividade do neurotransmissor
primário, facilitando ou inibindo sua ação (Burt 1995; Lent, 2004). Muitos
neurotransmissores têm mais de um receptor e podem ter efeitos variados em diferentes
sinapses no sistema nervoso (Kolb e Whishaw, 2002; Lent, 2004; Gazzaniga e Heatherton,
2005).
A maioria dos neurotransmissores situa-se em três categorias:
aminoácidos, aminas e peptídeos. Os neurotransmissores aminoácidos e aminas são pequenas
moléculas orgânicas com pelo menos um átomo de nitrogênio, armazenadas e liberadas em
vesículas sinápticas. Sua síntese ocorre no terminal axonal a partir de precursores metabólicos
26
ali presentes. As enzimas envolvidas na ntese de tais neurotransmissores são produzidas no
soma (corpo celular do neurônio) e transportadas até o terminal axonal e, neste local,
rapidamente dirigem a síntese desses mediadores químicos. Uma vez sintetizados, os
neurotransmissores aminoácidos e aminas são levados para as vesículas sinápticas que
liberam seus conteúdos por exocitose. Os neurotransmissores peptídeos, por sua vez,
constituem-se de grandes moléculas armazenadas e liberadas em grânulos secretores. A
síntese dos neurotransmissores peptídicos ocorre no retículo endoplasmático rugoso do soma.
Após serem sintetizados, são clivados no complexo de Golgi, transformando-se em
neurotransmissores ativos, que são secretados em grânulos secretores e transportados até o
terminal axonal (transporte anterógrado) para serem liberados na fenda sináptica (Burt, 1995).
Os vários centros que compõem o sistema auditivo podem ser
identificados através de técnicas imuno-histoquímicas, por uma variedade de
neurotransmissores, tais como acetilcolina (Ach), ácido gama-amino-butírico (GABA),
glutamato (Glu), serotonina (5-HT), encefalina (ENK) e outras substâncias neuroativas, como
as proteínas ligantes de cálcio, calbindina (CB), cal-retinina (CR) e parvalbumin a (PV).
O sagüi (Callithrix jacchus)
Por serem filogeneticamente as espécies mais próximas de humanos,
primatas não humanos são modelos lógicos para estudo dos processamentos cerebrais
relevantes à condição humana, por exemplo, com relação à fala e, por extensão, à audição.
Por essa razão, o modelo animal escolhido foi o sagüi (Callithrix jacchus), um pequeno
primata do Novo Mundo, nativo das florestas equatoriais do Brasil, mais encontrado em
regiões de Mata Atlântica, existindo em abundância no Rio Grande do Norte. Trata-se de um
animal de pequeno porte, medindo em média 20 cm de comprimento de corpo e cerca de 25
cm de cauda e peso corporal de menos de 500 g quando adultos. Uma marca característica da
espécie é a presença de tufos de pêlos longos e brancos ao redor das orelha e a cauda não
preênsil marcada com anéis de pêlos brancos e pretos. São animais de hábitos diurnos
(Menezes et al., 1993; 1994; 1997; Azevedo et al., 1997). No ambiente natural dispendem 25
a 30% do tempo em atividades de forrageio, alimentando-se de insetos, aranhas, pequenos
vertebrados, ovos de pássaros e exsudatos de árvores. Entretanto, são facilmente adaptáveis à
vida em cativeiro, sendo de fácil manuseio e alimentando-se de frutas, legumes, cereais e
eventualmente proteínas animais (Epple, 1970). Atingem a maturidade sexual em torno dos
14 meses. Sua alta capacidade reprodutiva 2 partos gemelares por ano – mesmo em
cativeiro, o exclui da lista de espécies em extinção. A expectativa de vida no campo é de cerca
27
de 10 anos, podendo atingir os 16 anos no cativeiro. Embora oriundo das florestas tropicais do
Nordeste Brasileiro, o sagüi é atualmente encontrado em colônias de diversas partes do
mundo para onde foi levado, sendo utilizado como modelo para estudo nas mais diversas
áreas (Rylands, 1996).
Por ser um animal de repertório vocal bem desenvolvido, o sagüi
representa um bom modelo para estudos também do sistema auditivo.
O Núcleo de Primatologia da UFRN, coordenado e mantido pelo
Departamento de Fisiologia, é responsável rios anos pela manutenção e reprodução em
cativeiro do sagüi (Registro IBAMA no. 1/24/92/0039-0). Desde a criação do Núcleo de
Primatologia, muitos trabalhos foram produzidos na UFRN, nas áreas de comportamento
social, sexual e reprodutivo, ritmos biológicos e neuranatomia, dando suporte ao Programa de
pós-graduação em Psicobiologia. Os estudos neuranatômicos iniciados a partir de 1992 com a
instalação do Laboratório de Neuranatomia foram inicialmente voltados para a elucidação das
bases circadianas dos ritmos biológicos e sistemas visuais (ver, por exemplo, Costa e Britto,
1997; Costa et al., 1998; 1999; Cavalcante et al., 2002; 2005; 2008; Pinato et al., 2007). Este
trabalho representa o início da expansão das linhas pesquisas na direção de estudar o sistema
auditivo, tendo o sagüi como modelo experimental.
Fig. 3. O Sagüi
28
2. JUSTIFICATIVA
O sistema auditivo tem muitas funções, sendo uma das mais importantes
a análise de vocalizações de co-específicos. Em humanos, a capacidade de ouvir a fala é vital
para a sobrevivência, tanto do indivíduo como da espécie. Sendo as espécies mais próximas
de humanos, primatas não humanos são modelos naturais para estudo dos processamentos
cerebrais relevantes à condição humana, particularmente com relação à fala. Assim, justifica-
se esse estudo no sagüi, um primata caracterizado por apresentar um rico repertório vocal.
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo geral
Este estudo tem como objetivo descrever, baseado na citoarquitetura, as
estações subcorticais que compõem a via auditiva do sagüi, bem como caracterizar os
principais neurotransmissores e substâncias neuroativas presentes nestes centros neurais,
iniciando-se pelas estações rombencefálicas.
3.2. Objetivos específicos
3.2.1. Caracterizar a citoarquitetura e a neuroquímica dos núcleos
cocleares;
3.2.2. Caracterizar a citoarquitetura e a neuroquímica do complexo olivar
superior.
29
4. METODOLOGIA
SUJEITOS:
Foram utilizados 2 (dois) sagüis adultos jovens (com idade variando entre
18 a 60 meses) saudáveis provenientes do Núcleo de Primatologia de Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (registro IBAMA 1/24/92/0039-00). Todos os esforços foram feitos
para minimizar o número de animais e o seu sofrimento, seguindo estritamente as normas
estabelecidas pelo National Research Council of the National Academy publicadas no livro
“Guidelines for the Care and use of Mammals in Neuroscience and Behavioral Research”.
Uma versão em formato PDF está disponível gratuitamente no site da Sociedade de
Neurociências e Comportamento (SBNEC): http://www.sbnec.gov.br/links.
Secções rombencefálicas utilizadas em outros projetos e armazenadas no
laboratório foram utilizadas para complementar nossa análise.
PROCEDIMENTOS:
Para investigar os centros rombencefálicos de processamento auditivo do
sagüi, os animais foram submetidos aos procedimentos de perfusão, remoção do encéfalo,
microtomia, colorações e reações imuno-histoquímicas da área de interesse, ou seja, o tronco
encefálico.
Perfusão
Os animais foram anestesiados com tiopental sódico (Thiopentax,
Cristália), na dose de 400 mg por quilograma de peso corporal por via intraperitonial.
Atestada a anestesia, os animais foram submetidos à perfusão transcardíaca, de acordo com o
seguinte protocolo:
O animal é colocado em decúbito dorsal, imobilizado sobre uma grade de
metal em capela de exaustão. A grade é inclinada num ângulo de aproximadamente 45 graus,
mantendo o animal com a cabeça inclinada para baixo para favorecer a fixação do sistema
nervoso central. Com o auxílio de uma pinça de Allis prende-se o processo xifóide,
tracionando-o para cima, seccionando-se a pele e partes moles, contornando as bordas
inferiores do gradil costal. A incisão é prolongada para cima, pelas paredes laterais do tórax, o
músculo diafragma é desinserido, expondo-se o coração dentro da cavidade torácica. Uma
agulha conectada a uma bomba peristáltica de perfusão (Cole Parmer) é introduzida no
ventrículo esquerdo através do ápice do coração, na direção da aorta ascendente, e em
30
seguida, é realizada uma pequena incisão no átrio direito. Logo em seguida liga-se a bomba,
promovendo-se a impulsão de 300 ml de solução salina a 0,9% em tampão fosfato 0,1M, pH
7,4 com heparina (Parinex 5000 UI/ml, Hipolabor, 2 ml/1000ml de solução salina), a um
fluxo de 100 ml por minuto, com o objetivo de lavar o sistema circulatório. Em seguida são
impulsionados 700 ml de solução fixadora (paraformaldeído a 4% em tampão fosfato 0,1M,
pH 7,4), a primeira metade à velocidade de 90 ml/min e a outra metade à velocidade de 25
ml/min aproximadamente, devendo todo o fluxo de soluções durar em torno de 30 minutos.
Remoção do Encéfalo
Passadas pelo menos duas horas após perfusão, o encéfalo foi removido
da cavidade craniana através da secção de tecidos moles e osteotomia dos ossos da calota
craniana. O encéfalo foi armazenado em solução de sacarose a 30% em tampão fosfato 0,1M,
pH 7,4, a 4°C, até a realização da microtomia com trocas de solução a cada dois dias, caso
ultrapassasse o intervalo de 48h.
Cada encéfalo foi então seccionado em três blocos, através de 2 secções,
uma imediatamente anterior ao quiasma óptico, e o outro no nível da junção ponto-
mesencefálica.
31
12
3
12
3
Fig. 4. Encéfalo de sagüi em vista lateral (A), superior (B) e inferior (C).
As marcações em vermelho indicam os locais de secção do encéfalo em
blocos. (Blocos: 1, 2 e 3).
32
Fig. 5: Fotomicrografia de secções de Nissl representando secções aproxidamente no vel
rostral (A e D), médio (B e E) e caudal (C e F) para o complexo olivar superior (A, B e C) e
núcleos cocleares (D, E e F) do sagüi. Adaptado de Stephan et al, 1980. NC (núcleo coclear),
Cb (cerebelo), CI (colículo inferior), CS (colículo superior), COS (complexo olivar superior),
H (hipocampo).
NC
NC
NC
Cb Cb
Cb
CI
CI
CI
CI CI
CI
Cb
Cb
Cb
COS
COS
COS
H
H
H
H
A
B
C
D
E
F
CS
CS
CS
CS
CS
33
Microtomia
Os blocos encefálicos foram congelados por gelo seco e seccionados em
micrótomo de deslizamento (Leica SM 2000R), obtendo-se secções coronais de 20 µm, as
quais foram coletadas seriadamente em 10 (dez) compartimentos com tampão fosfato 0,1M,
pH 7,4. Cada compartimento continha um corte de cada seqüência de 10 (dez), de modo que a
distância entre uma secção e a seguinte no mesmo compartimento era de aproximadamente
200 µm. As secções foram conservadas em solução anticongelante, a -20°C, até a realização
dos processamentos subseqüentes.
Coloração citoarquitetônica
Uma das séries de cada encéfalo foi utilizada para coloração pelo método
de Nissl, utilizando o corante thionina. Esta técnica tem como finalidade delimitar os
grupamentos neuronais.
Imuno-histoquímica
Do encéfalo de cada animal restaram 9 séries, as quais foram submetidas
para imuno-histoquímica para identificar as seguintes substâncias neuroativas: NeuN (Mullen
et al, 1992; Kumar e Buckmaster, 2007) , Glu, GAD, ENK, 5-HT, ChAT e as proteínas
ligantes de cálcio CB, CR e PV.
Os anticorpos utilizados nesse estudo são os mesmos utilizados em
outros trabalhos nesse laboratório, e por não apresentarem reações cruzadas e serem
previamente testados, dispensam a necessidade de experimento controle.
O procedimento imuno-histoquímico foi realizado com os cortes
mergulhados em solução, submetidos a seguinte seqüência de eventos, de acordo com o
protocolo descrito abaixo:
1. 4 lavagens, durante 10 minutos cada, em solução de tampão fosfato
0,1 M, pH 7,4, em agitador orbital.
2. Anticorpo primário diluído em Triton X-100 a 0,4% (ver tabela 1),
acrescido de soro normal do animal em que foi obtido o anticorpo
secundário, durante 18 a 24 horas, à temperatura ambiente, em rotor.
3. 3 três lavagens em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, de 10 minutos cada.
4. Anticorpo secundário diluído em Triton X-100 a 0,4%, durante 90
minutos, à temperatura ambiente, em rotor.
5. 3 lavagens em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, de 10 minutos cada.
34
6. Complexo avidina-biotina-peroxidade (Kit ABC elite, Vector) a uma
diluição 1:100 em Triton X-100 a 0,4% contendo NaCl. Os cortes
ficam nesta solução durante 90 minutos, à temperatura ambiente, sob
agitação lenta, em rotor.
7. 4 lavagens em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, de 10 minutos cada.
8. Na reação final os cortes são colocados em um meio contendo H
2
O
2
a
0,03% como substrato para peroxidase e a 3,3’, 4,4’-
tetrahidrocloreto-diaminobenzidina (DAB-Sigma), como cromógeno.
9. 4 lavagens em solução tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, de 10 minutos
cada.
10. Motangem dos cortes em lâminas de vidro previamente gelatinizadas
e secagem à temperatura ambiente.
11. Intensificação pelo ósmio: Após a secagem, as lâminas são
mergulhadas rapidamente em solução de tetróxido de ósmio a 0,05%
para intensificação da reação, seguindo-se a desidratação e
diafanização dos cortes seguido da montagem das lamínulas, estando
prontas para serem examinadas ao microscópio óptico.
Análise dos resultados
As secções montadas em lâminas foram analisadas através de
microscópio óptico (Olympus BX41) em campo claro. As imagens digitais foram obtidas
através de uma câmera de vídeo (Nikon DXM1200) acoplada ao microscópio.
O programa Adobe Photoshop 7.0 foi utilizado para correções mínimas de brilho e contraste.
Os cortes foram organizados em três níveis de secção, sendo
selecionados aqueles que melhor representassem o nível rostral, médio e caudal em cada área
de estudo.
Tabela 1: Número de cortes para cada núcleo auditivo rombencefálico:
Núcleos cocleares Complexo olivar superior
13 08
Tabela 2. Lista de substâncias e diluições utilizadas no experimento
.
35
Antígeno Anticorpo Primário
(diluição)
Anticorpo
Secundário
(diluição)
Soro Normal
(diluição)
NeuN
Camundongo
[1:500µl]
Jumento
[1:1000µl]
Jumento
[1:50 µl]
Glu
Camundongo
[1:1000µl]
Jumento
[1:1000µl]
Jumento
[1:50 µl]
GAD
Camundongo
[1:5000µl]
Jumento
[1:1000µl]
Jumento
[1:50µl]
ENK
Camundongo
[1:1000µl]
Coelho
[1:1000µl]
Coelho
[1:50 µl]
5-HT
Coelho
[1:5000µl]
Cabra
[1:1000µl]
Cabra
[1:50 µl]
ChAT
Camundongo
[1:500µl]
Jumento
[1:1000µl]
Jumento
[1:50 µl]
CB
Camundongo
[1:5000µl]
Jumento
[1:1000µl]
Jumento
[1:50 µl]
CR
Coelho
[1:5000µl]
Cabra
[1:1000µl]
Cabra
[1:50 µl]
PV
Camundongo
[1:5000µl]
Jumento
[1:1000µl]
Jumento
[1:50 µl]
36
5. RESULTADOS
Neste estudo foram analisadas as estações rombencefálicas da via
auditiva do sagüi: os núcleos cocleares (NC) e o complexo olivar superior (COS). Ambos os
centros foram analisados em três níveis rostral, médio e caudal. De cada um dos complexos
nucleares serão descritas em sequência a citoarquitetura (Técnica de Nissl e imuno-
histoquímica para NeuN) e a caracterização imuno-histoquímica para Glu, GAD, ENK, 5-HT,
ChAT, CB, CR e PV.
5.1. Complexo nuclear coclear (NC)
Citoarquitetura
Em secções frontais do encéfalo do sagüi coradas pelo método de Nissl
ou imunocoradas para NeuN, os núcleos cocleares foram visualizados como uma
proeminência no contorno lateral da parte caudal da ponte, nas imediações do sulco bulbo-
pontino. Citoarquitetonicamente foi possível delimitar 3 núcleos analisando-se os níveis
rostral, médio e caudal. Rostralmente, o núcleo coclear ântero-ventral (NCAV) é o primeiro a
aparecer (Fig. 6 A e D), mas, devido a sua extensão e ângulo de secção, esse subnúcleo ainda
pode ser visualizado no nível médio, dorsalmente ao núcleo coclear póstero-ventral (NCPV),
onde também se visualiza a parte inicial do núcleo coclear dorsal (NCD), dorsalmente ao
NCAV (Fig. 6 B e E). No nível caudal, apenas o NCD é visualizado (Fig. 6 C e F). Neste
nível o NCD exibe uma camada externa pobre em células (Fig. 7).
Caracterização neuroquímica
Glutamato (Glu)
Corpos celulares, fibras e terminais imunorreativos a Glu foram
visualizados no NC do sagüi no nível rostral (NCAV, fig. 8 A e D), médio (NCAV, NCPV e
NCD, fig. 8 B e E) e caudal (NCD, fig. 8 C e F), com aparente menor densidade neste último.
Ver representação gráfica na figura 16.
Descarboxilase do ácido glutâmico GAD
O padrão de expressão imuno-histoquímica de GAD contribuiu para
delimitar as duas divisões do NCV (NCAV e NCPV) e o NCD, correlacionando-se com a
37
delimitação encontrada com a técnica de Nissl e NeuN nos três níveis de secção. No nível
rostral corpos celulares, fibras e terminais imunorreativos a GAD foram visualizadas no
NCAV (Fig. 9 A e D). No nível médio foi detectada a presença maciça de terminações
nervosas e de poucas fibras e corpos celulares imunomarcadas no NCPV (Fig. 9 B e E). No
nível caudal corpos celulares, fibras e terminações imunocoradas para GAD foram vistas no
NCD (Fig 9 C e F). Ver representação gráfica na figura 16.
Encefalina (ENK)
A imunorreatividade a ENK também foi útil para delimitar os núcleos
cocleares, tendo-se encontrado uma presença maciça de corpos celulares imunorreativos a
ENK e menor quantidade de terminais em NCAV (fig. 10 A e D) e NCPV (Fig. 10 B e E), o
inverso ocorrendo com o NCD, no qual predominam e terminações nervosas imunorreativas a
ENK (Fig. 10 C e F). Ver representação gráfica na figura 16.
Serotonina (5-HT)
Todos os núcleos do NC do sagüi apresentaram imunorreatividade a 5-
HT em fibras e terminais em todos os níveis de secção (Fig 11 A-F). Entretanto esta
distribuição não foi homogênea, verificando-se uma maior concentração no NCD e no
contorno lateral do NCAV (Fig 11 A-F). Ver representação gráfica na figura 16.
Colina acetil transferase (ChAT)
Rostralmente foram visualizadas pericários imunorreativas a ChAT no
NCAV. No nível médio, foi detectada a presença de fibras e terminais imunorreativos a ChAT
no NCAV, NCPV e corpos celulares, fibras e terminais imunomarcados no NCD. No nível
caudal, onde é visualizado apenas o NCD, verificou-se pericários, fibras e terminais
imunomarcados a ChAT (Fig. 12 A-F). Ver representação gráfica na figura 16.
Proteínas ligantes de cálcio (PLC)
Calbindina (CB)
Imunorreatividade a CB foi encontrada nos núcleos cocleares em grande
quantidade de pericários, fibras e terminais, contribuindo para delimitação dos núcleos
NCAV, NCPV, NCD, tendo sua distribuição aparentemente uniforme no sentido rostrocaudal
(Fig 13 A-F). Ver representação gráfica na figura 16.
38
Cal-retinina (CR)
Corpos celulares, fibras e terminais fortemente imunorreativos a CR
foram encontrados em todas as subdivisões do NC. O NCAV apresentou uma concentração
maior de fibras imunorreativas a CR do que o NCPV, e este apresentou uma concentração de
fibras imunorreativas maior que o NCD (Fig 14 A-F). Ver representação gráfica na figura 16.
Parvalbumina (PV)
A imunorreatividade a PV em pericários, fibras e terminais foi notada de
forma densa nos NC e com distribuição relativamente uniforme em todo os veis no sentido
rostrocaudal, contribuindo para delimitar os núcleos NCAV (Fig. 15 A-D), NCPV (Fig. 15 B
e E) e NCD (Fig. 15 C-F). A presença de fibras imunorreativas foi maior no NCAV,
decrescendo no sentido rostro-caudal, de modo que o NCD apresentou a menor concentração
(Fig. 15 C e F). Ver representação gráfica na figura 16.
39
Figura 6. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
complexo nuclear coclear do sagüi em níveis rostral, médio e caudal, mostrando a
citoarquitetura pelo método de Nissl (A, B e C) e NeuN (D, E e F). NCAV, núcleo coclear
ântero-ventral; NCPV, núcleo coclear póstero-ventral; NCD, núcleo coclear dorsal, Barra: A,
B e C: 1000 µm e D, E e F: 700µm.
NCAV
NCPV
NCD
NCD
NCAV
D
F
E
NCAV
NCAV
NCPV
NCD
NCD
NISSL NeuN
A
C
B
40
Figura 7. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do NCD
do sagüi em níveis rostral, médio e caudal, mostrando a citoarquitetura pelo método de Nissl
(A, B e C) e NeuN (D, E e F). Observe a camada molecular na periferia do NCD. Barra:
290µm.
NISSL NeuN
A
B
C
D
E
F
NCD
NCD
NCD
NCD
NCD
NCD
41
Figura 8. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
complexo nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para Glu em corpos celulares, fibras e terminais em todos
os núcleos. D: ampliação do retângulo em A, E: ampliação do retângulo em B, F: ampliação
do retângulo em C. Barra: A, B e C: 700 µm e D, E e F: 40µm.
Glu
A
B
C
E
F
D
42
Figura 9. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
complexo nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para GAD em pericários, fibras e terminais em todos os
núcleos. D: ampliação do retângulo em A, E: ampliação do retângulo em B, F: ampliação do
retângulo em C. Barra: A, B e C: 700 µm e D, E e F: 40µm.
GAD
A
B
C
D
E
F
43
Figura 10. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
complexo nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para ENK em pericários e terminais em NCAV e NCPV e
predomínio de terminais em NCD. D: ampliação do retângulo em A, E: ampliação do
retângulo em B, F: ampliação do retângulo em C. Barra: A, B e C: 700 µm e D, E e F: 40µm.
ENK
A
B
C
D
E
F
44
Figura 11. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
complexo nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para 5-HT em terminais e fibras em todos os núcleos. D:
ampliação do retângulo em A, E: ampliação do retângulo em B, F: ampliação do retângulo em
C. Barra: A, B e C: 700 µm e D, E e F: 40µm.
5
-
HT
A
B
C
D
F
E
45
Figura 12. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
complexo nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para ChAT em pericários no NCAV, fibras e terminais no
NCV e corpos celulares, fibras e terminais no NCD. D: ampliação do retângulo em A, E:
ampliação do retângulo em B, F: ampliação do retângulo em C. Barra: A, B e C: 700 µm e D,
E e F: 40µm.
CHAT
A
B
C
D
E
F
46
Figura 13. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
complexo nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para CB em corpos celulares, fibras e terminais em todos os
núcleos. D: ampliação do retângulo em A, E: ampliação do retângulo em B, F: ampliação do
retângulo em C. Barra: A, B e C: 700 µm e D, E e F: 40µm.
CB
A
B
C
D
E
F
47
Figura 14. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
complexo nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para CR em pericários, fibras e terminais em todos os
núcleos. D: ampliação do retângulo em A, E: ampliação do retângulo em B, F: ampliação do
retângulo em C. Barra: A, B e C: 700 µm e D, E e F: 40µm.
CR
A
B
C
D
E
F
48
Figura 15. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
complexo nuclear coclear do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a
distribuição de imunorreatividade para PV em corpos celulares, fibras e terminais em todos os
núcleos. D: ampliação do retângulo em A, E: ampliação do retângulo em B, F: ampliação do
retângulo em C. Barra: A, B e C: 700 µm e D, E e F: 40µm.
PV
A
C
B
D
E
F
49
Rostral Médio Caudal
ChAT
ENK
5-HT
GAD
Glu
Nissl
Cb
NCVA
Cb
N
C
D
Cb
NCD
N
C
V
P
NCVA
Rostral Médio Caudal
ChAT
ENK
5-HT
GAD
Glu
ChAT
ENK
5-HT
GAD
Glu
Nissl
Cb
NCVA
Cb
N
C
D
Cb
NCD
N
C
V
P
NCVA
Nissl
Cb
NCVA
Cb
N
C
D
Cb
NCD
N
C
V
P
NCVA
Figura 16.
50
Figura 16. Esquema ilustrando a distribuição de imunorreatividade em
pericários (pontos pretos) e neuróglia (tons de cinza de acordo com a densidade) para Glu,
GAD, ENK, 5-HT, ChAT, CB, CR e PV nos núcleos do complexo nuclear coclear em três
níveis de secção (rostral, médio e caudal). Cb, cerebelo.
CR
PV
CB
Rostral Médio Caudal
51
5.2. Complexo olivar superior (COS)
Citoarquitetura
A técnica de Nissl, em combinação com a imuno-histoquímica para
NeuN foi útil para delimitar os núcleos do complexo olivar superior (COS) do sagüi,
distinguindo-se três núcleos característicos: olivar superior lateral (OSL), olivar superior
medial (OSM) e o núcleo do corpo trapezóide (CT). Em nosso material, o OSM destaca-se
pela forte afinidade tintorial das suas células, sendo identificado como um conjunto de
neurônios densamente compactados em formato aproximado de uma fita vertical ligeiramente
curva, de concavidade lateral (Fig. 17 B, C, E e F). Nos níveis médio e caudal, o OSM é
ladeado pelo CT, medialmente, e o OSL, lateralmente. O CT pode ser reconhecido como o
menor núcleo em secção coronal, porém de maior extensão rostrocaudal, sendo o primeiro a
ser visualizado em nível pontino rostral, lateralmente à pirâmide (Fig. 17 A e D). O OSL é o
que apresenta maior área seccional em secção coronal, tendo os seus neurônios arranjados de
maneira esparsa, em comparação ao OSM. O OSL assume formato ligeiramente oval,
podendo ser dividido grosseiramente em uma porção dorsal, com os neurônios arranjados
mais compactamente e uma porção ventral, de neurônios mais esparsos (Fig 17 B, C, E e F).
Ver representação gráfica na figura 26.
Caracterização neuroquímica
Glutamato (Glu)
Pericários, fibras e terminais imunorreativos a Glu estavam presentes nos
três núcleos do COS do sagüi, contribuindo para a delimitação de todos eles (Fig 18). Ver
representação gráfica na figura 26.
Descarboxilase do ácido glutâmico (GAD)
Corpos celulares, fibras e terminais imunorreativos a GAD foram
evidenciados nos três cleos CT, OSM e OSL com aparente maior densidade nos dois
primeiros (Fig. 19). Ver representação gráfica na figura 26.
52
Encefalina (ENK)
Foi evidenciada imunorreatividade a ENK nos 3 núcleos do COS, em
pericários e terminais no nível rostral do CT e em todos os níveis do OSM. Apenas terminais
foram vistos no OSL e nos nível médio e caudal do CT (Fig. 20). Ver representação gráfica na
figura 26.
Serotonina (5-HT)
Fibras e terminais imunorreativos a 5-HT foram evidenciados nos três
núcleos (OSL, OSM e CT) nos três níveis de secção. No OSL a imunorreatividade a 5-HT
aparentava ser mais densa na porção dorsal, principalmente em vel rostral. O OSM é
discretamente mais marcado em nível rostral e o CT mostrou-se bem marcado em todos os
níveis (Fig. 21). Alguns pericários imunorreativos a 5-HT foram vistos nas vizinhanças do
CT, provalvelmente representando neurônios deslocados do grupo serotoninérgico da
formação reticular pontina (Fig 21). Ver representação gráfica na figura 26.
Colina acetil-transferase (ChAT)
Foram visualizados nos três níveis de secção a presença de corpos
celulares, fibras e terminais imunorreativos a ChAT no CT (Fig. 22 A1, B4 e C7) e nos níveis
médio e caudal no OSM (Fig. 22 B3 e C6). Presença de pericários e densa neurópila foi
observada no OSL com maior densidade na porção dorsal (Fig. 22 B2 e C5). Ver
representação gráfica na figura 26.
Proteínas Ligantes de cálcio (PLC)
Calbindina (CB)
Corpos celulares, fibras e terminais imunorreativos a CB foram
evidenciados nos três níveis de secção dos núcleos do COS, contribuindo para sua delimitação
(Fig. 23). Ver representação gráfica na figura 26.
Cal-retinina (CR)
Observou-se abundante imuno-marcação para CR em pericários, fibras e
terminais nos três níveis de secção, embora a imunorreatividade em pericários seja mais
intensa no nível caudal, tanto no CT, como no OSM, como na periferia do OSL (Fig. 24). Ver
representação gráfica na figura 26.
53
Parvalbumina (PV)
Corpos celulares, fibras e terminais densamente imunorreativos a PV
foram evidenciados nos três veis de secção dos núcleos do COS (Fig. 25). Ver
representação gráfica na figura 26.
54
Figura 17. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
através do complexo olivar superior do sagüi em níveis rostral (A e D), médio (B e E) e
caudal (C e F), mostrando a citoarquitetura pelo método de Nissl (A, B e C) e NeuN (D, E e
F). OSL, núcleo olivar superior lateral, OSM, núcleo olivar superior medial, CT, núcleo do
corpo trapezóide. Barra: A, B e C: 1000 µm; D, E, F: 700 µm).
F
D
E
A
B
C
NISSL
NeuN
CT
CT
OSM
OSL
CT
OSM
OSL
55
Figura 18. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS
do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da
imunorreatividade para Glu em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos. À direita de
cada figura, ampliações das áreas dos retângulos de acordo com a numeração correspondente.
Barra: A, B e C: 700 µm; 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7: 60 µm.
Glu
A
1
CT
1
C
OSL
OSM
CT
5
6
7
5
6
7
B
OSL
OSM
CT
2
3
4
2
3
4
56
GAD
A
1
OSL
OSM
CT
2
3
4
B
2
3
4
1
CT
C
OSL
OSM
CT
5
6
7
5
6
7
GAD
A
1
OSL
OSM
CT
2
3
4
B
2
3
4
1
CT
C
OSL
OSM
CT
5
6
7
5
6
7
GAD
A
1
OSL
OSM
CT
2
3
4
B
2
3
4
OSL
OSM
CT
2
3
4
B
2
3
4
1
CT
C
OSL
OSM
CT
5
6
7
5
6
7
C
OSL
OSM
CT
5
6
7
5
6
7
Figura 19. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS
do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da
imunorreatividade para GAD em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos. À direita
de cada figura, ampliações das áreas dos retângulos de acordo com a numeração
correspondente. Barra: A, B e C: 700 µm; 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7: 60 µm.
57
ENK
OSL
OSM
CT
2
B
3
4
2
3
4
OSL
OSM
CT
5
C
6
7
5
6
7
A
1
1
CT
ENK
OSL
OSM
CT
2
B
3
4
2
3
4
OSL
OSM
CT
5
C
6
7
5
6
7
A
1
1
CT
ENK
OSL
OSM
CT
2
B
3
4
2
3
4
OSL
OSM
CT
2
B
3
4
2
3
4
OSL
OSM
CT
5
C
6
7
5
6
7
OSL
OSM
CT
5
C
6
7
5
6
7
A
1
1
CT
A
1
A
1
1
CT
1
CT
Figura 20. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do
COS do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da
imunorreatividade para ENK em pericários e terminais no CT rostral e todo OSM e apenas
terminais no OSL. À direita de cada figura, ampliações das áreas dos retângulos de acordo
com a numeração correspondente. Barra: A, B e C: 700 µm; 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7: 60 µm.
58
5-HT
1
1
A
CT
OSL
OSM
CT
2
3
4
B
2
3
4
C
OSL
OSM
CT
5
6
7
5
6
7
5-HT
1
1
A
CT
OSL
OSM
CT
2
3
4
B
2
3
4
C
OSL
OSM
CT
5
6
7
5
6
7
Figura 21. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS
do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da
imunorreatividade para 5-HT em terminais e fibras em todos os núcleos. À direita de cada
figura, ampliações das áreas dos retângulos de acordo com a numeração correspondente.
Barra: A, B e C: 700 µm; 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7: 60 µm.
59
CHAT
1
CT
A
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
2
3
4
5
OSL
6
OSM
7
CT
C
5
6
7
CHAT
1
CT
A
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
2
3
4
5
OSL
6
OSM
7
CT
C
5
6
7
CHAT
1
CT
1
CT
A
1
A
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
2
3
4
OSL
2
OSM
3
CT
4
OSL
2
OSL
2
OSM
3
OSM
3
CT
4
CT
4
B
2
3
4
B
2
3
4
5
OSL
6
OSM
7
CT
C
5
6
7
5
OSL
6
OSM
7
CT
5
OSL
5
OSL
6
OSM
6
OSM
7
CT
7
CT
C
5
6
7
CCC
5
6
7
Figura 22. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS
do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da
imunorreatividade para ChAT em pericários, fibras e terminais no CT e OSM médio e caudal.
Pericários e densa neurópila no OSL. À direita de cada figura, ampliações das áreas dos
retângulos de acordo com a numeração correspondente. Barra: A, B e C: 700 µm; 1, 2, 3, 4, 5,
6 e 7: 60 µm.
60
CB
A
CT
1
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
2
3
4
OSL
5
OSM
6
CT
7
C
5
6
7
CB
A
CT
1
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
2
3
4
OSL
5
OSM
6
CT
7
C
5
6
7
CB
A
CT
1
CT
1
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
2
3
4
OSL
2
OSM
3
CT
4
OSL
2
OSL
2
OSM
3
OSM
3
CT
4
CT
4
B
2
3
4
B
2
3
4
OSL
5
OSM
6
CT
7
C
5
6
7
OSL
5
OSL
5
OSM
6
OSM
6
CT
7
CT
7
C
5
6
7
C
5
6
7
Figura 23. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS do sagüi
em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da imunorreatividade
para CB em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos. À direita de cada figura,
ampliações das áreas dos retângulos de acordo com a numeração correspondente. Barra: A, B
e C: 700 µm; 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7: 60 µm.
61
CR
A
CT
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
4
2
3
OSL
5
OSM
6
CT
7
C
7
5
6
1
CR
A
CT
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
4
2
3
OSL
5
OSM
6
CT
7
C
7
5
6
1
CR
A
CT
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
4
2
3
OSL
2
OSM
3
CT
4
OSL
2
OSL
2
OSM
3
OSM
3
CT
4
CT
4
B
4
2
3
B
4
2
3
OSL
5
OSM
6
CT
7
C
7
5
6
OSL
5
OSM
6
CT
7
OSL
5
OSL
5
OSM
6
OSM
6
CT
7
CT
7
C
7
5
6
C
7
5
6
1
Figura 24. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS
do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da
imunorreatividade para CR em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos. À direita de
cada figura, ampliações das áreas dos retângulos de acordo com a numeração correspondente.
Barra: A, B e C: 700 µm; 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7: 60 µm.
62
PV
OSL
5
OSM
6
CT
7
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
2
3
4
C
5
6
7
A
1
CT
PV
OSL
5
OSM
6
CT
7
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
2
3
4
C
5
6
7
A
1
CT
PV
OSL
5
OSM
6
CT
7
OSL
5
OSL
5
OSM
6
OSM
6
CT
7
CT
7
1
OSL
2
OSM
3
CT
4
B
2
3
4
OSL
2
OSM
3
CT
4
OSL
2
OSL
2
OSM
3
OSM
3
CT
4
CT
4
B
2
3
4
B
2
3
4
C
5
6
7
C
5
6
7
A
1
CT
1
CT
Figura 25. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais do COS
do sagüi em níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C), mostrando a distribuição da
imunorreatividade para PV em pericários, fibras e terminais em todos os núcleos. À direita de
cada figura, ampliações das áreas dos retângulos de acordo com a numeração correspondente.
Barra: A, B e C: 700 µm; 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7: 60 µm.
63
Nissl
ENK
5-HT
ChAT
p
p
p
R
R R
Rostral Médio Caudal
GAD
Glu
CT
CT CT
OSL
OSL
OSM
OSM
Nissl
ENK
5-HT
ChAT
p
p
p
R
R R
Rostral Médio Caudal
GAD
Glu
CT
CT CT
OSL
OSL
OSM
OSM
Figura 26.
64
Figura 26. Esquema ilustrando a distribuição de imunorreatividade em
pericários (pontos pretos) e neuróglia (tons de cinza de acordo com a densidade) para Glu,
GAD, ENK, 5-HT, ChAT, CB, CR e PV nos cleos do complexo olivar superior em três
níveis de secção (rostral, médio e caudal). p, pirâmide; R, núcleos da rafe.
Rostral Médio Caudal
PV
CR
CB
65
Tabela 3. Resumo da caracterização neuroquímica dos centros auditivos
do sagüi:
Substância NC COS
GLU C/F/T C/F/T
GAD C/F/T C/F/T
ENK C/T C/T
5-HT F/T F/T
ChAT C/F/T C/F/T
CB C/F/T C/F/T
CR C/F/T C/F/T
PV C/F/T C/F/T
C, Corpo celular; F, Fibras; T, Terminais.
66
6. DISCUSSÃO
Neste trabalho analisamos os centros auditivos rombencefálicos do sagüi
(Callithrix jacchus)
, em bases citoarquitetônica e neuroquímica. Discutiremos nossos
resultados, à luz de dados da literatura, dentro de uma perspectiva funcional.
Um estudo citoarquitetônico nessa espécie foi realizado por Aitkin e
Park (1993) e Stephan et al. (1980), com técnica de Nissl, mas além disso, nós introduzimos a
imuno-histoquímica para uma proteína nuclear neurônio-específica, denominada NeuN. Esta
técnica tem-se revelado um excelente marcador para a maioria dos neurônios maduros e
diferenciados, oferecendo um melhor contraste para delimitação dos grupamentos nucleares,
uma vez que não marca células da glia (Mullen et al, 1992; Kumar e Buckmaster, 2007).
Citoarquitetura
A técnica de Nissl e a imuno-histoquímica para NeuN forneceram uma
excelente ferramenta para delimitar os núcleos do complexo nuclear coclear e do complexo
olivar superior no sagüi.
Em nosso estudo, o NC foi evidenciado como um aglomerado de núcleos
formando uma saliência lateral nas proximidades do sulco bulbo-pontino, subdividindo-se em
dois núcleos: o NCV, com suas subdivisões NCAV e NCPV, e o NCD. Estes resultados estão
de acordo com descrições citoarquitetônicas prévias, baseadas em técnica de Nissl nessa
espécie (Aitkin e Park, 1993; Stephan et al, 1980) e corresponde ao padrão geral de
mamíferos. As três principais subdivisões acima descritas são baseadas nas características
citoarquitetônicas e ramificações da porção coclear do nervo vestíbulo-coclear, em que um
ramo ascendente projeta-se para o NCAV e o ramo descendente bifurca-se terminando no
NCPV e NCD, conforme descrito em estudos pioneiros no gato (Osen, 1969; Brawer et al,
1974; Cant e Morest, 1979; Tolbert e Morest, 1982; Rouiller et al, 1986; Ryugo e Rouiller,
1988; Leake e Snyder, 1989). Entre os mamíferos encontra-se pequenas variações
interespecíficas na localização e orientação espacial, presumivelmente secundárias a
diferenças na forma do tronco encefálico (ver Malmierca e Merchán, 2004).
O NCD é descrito como um aglomerado celular estratificado em 3
camadas molecular, piramidal ou de células fusiformes e de células polimórficas em
mamíferos não primatas como o gato (Osen, 1969; Brawer et al, 1974; Brodal, 1993), rato
(Féres e Cairasco, 2003; Malmierca e Merchán, 2004; Paxinos e Watson, 2007), camundongo
(Browner e Baruch, 1982;
Webster e Trune, 1982; Franklin e Paxinos, 2008), e em marsupiais
67
(Aitkin, 1995; 1996). Entretanto, relatos de que o NCD e as regiões de células granulares
associadas sofrem alterações filogenéticas pronunciadas, perdendo o característico padrão
laminar em primatas não humanos e humanos (Moore e Osen, 1979; Moore, 1980; Heiman-
Patterson e Strominger, 1985). Num estudo citoarquitetônico, ultra-estrutural e imuno-
histoquímico para CB e receptores de Glu foi evidenciada a persistência de uma camada
molecular no NCD de macaco Rhesus (Rubio et al, 2008). Nossos dados no sagüi mostram a
presença de um padrão similar no vel caudal do NCD, sugerindo que os primatas mantêm
um resquício da organização básica de mamíferos.
O NC é a primeira estação obrigatória para as fibras da porção coclear do
nervo vestíbulo-coclear e inicia todas as vias auditivas ascendentes no encéfalo. Além disso, o
NCD recebe também informações não auditivas, incluindo entradas somatossensoriais dos
núcleos do funículo dorsal (Itoh et al, 1987; Wright e Ryugo, 1996; Kanold e Young, 2001) e
núcleos trigeminais (Itoh et al, 1987). O quadro de conexões do NCD sugere que ele
desempenha um papel na orientação da cabeça em direção à fonte sonora de interesse a partir
da integração da informação auditiva e multissensorial (May, 2000; Ryugo et al, 2003; Shore,
2005).
No COS do sagüi identificamos 3 núcleos: OSL, OSM e CT, com o OSM
no formato de uma fita vertical ligeiramente curva, de concavidade lateral, destacando-se pela
forte afinidade tintorial das suas células, ladeado nos níveis médio e caudal, pelo CT,
medialmente, e o OSL, lateralmente. Estes resultados estão de acordo com descrições
citoarquitetônicas prévias, baseadas em técnica de Nissl, nessa espécie (Aitkin e Park, 1993;
Stephan et al, 1980).
A anatomia topográfica do COS mostra uma grande variabilidade entre
as espécies, mas em mamíferos não primatas compreende três núcleos mais consistentemente
identificados: olivar superior lateral, olivar superior medial e do corpo trapezóide, além de
vários menores grupamentos neuronais, que os circundam, os núcleos periolivares (Malmierca
e Merchán, 2004; Paxinos e Watson, 2007). Além da variabilidade anatômica, a nomenclatura
para os núcleos desse complexo também não é constante. Por exemplo, o núcleo do corpo
trapezóide, como é chamado no presente estudo, é assim identificado em sagüi (Stephan et al,
1980), humano (Brodal, 1993; Martin, 1998), gato (Brodal, 1993) rato (Paxinos e Watson,
2007) e camundongo (Franklin e Paxinos, 2008), mas outras vezes é denominado núcleo
medial do corpo trapezóide em sagüi (Aitkin e Park, 1993), humano (Bazwinsky et al, 2003),
rato (Kuleska et al, 2002; Malmierca e Merchán, 2004) e marsupiais australianos (Aitkin,
1996), para citar exemplos.
68
Neste trabalho no sagüi, concordando com Aitkin e Park (1993) e
Stephan et al (1980), identificamos os três núcleos que formam o complexo, e optamos por
denominar o núcleo medial do corpo trapezóide como núcleo do corpo trapezóide (CT),
seguindo Stephan et al (1980). As cnicas utilizadas neste trabalho não permitiram distinguir
os núcleos periolivares.
Em mamíferos não primatas, é relativamente constante a descrição do
COS como sendo constituído pelos OSL, OSM e CT, sendo o OSL o de maior área seccional
com o característico formato de S, como em rato (Kuleska et al, 2002; Malmierca e Merchán,
2004; Paxinos e Watson, 2007), camundongo (Franklin e Paxinos, 2008). Entretanto, os dados
disponíveis para o COS de primatas não humanos e humanos são controversos.
Com relação a primatas não humanos, num estudo pioneiro, comparativo
entre 10 espécies, foi mostrado que o COS como um todo mantém seu tamanho relativo,
variando o tamanho dos seus componentes OSL, OSM e CT (Moore e Moore, 1971). De
acordo com este estudo o CT de pró-símios e macacos exibe a citologia típica de mamíferos,
enquanto em gibão e chimpanzé as células do CT, em vez de formarem um núcleo compacto,
são esparsas entre as fibras do corpo trapezóide (Moore e Moore, 1971). Os resultados em
sagüi (Stephan et al, 1980; Aitkin e Park, 1993; presente estudo) estão de acordo com esse
padrão.
Embora o núcleo do corpo trapezóide (ou medial do corpo trapezóide)
seja considerado como estando presente no tronco encefálico de humanos (Richter et al, 1983;
Brodal, 1993; Martin, 1998), isto está em desacordo com vários outros estudos (Strominger e
Hurwitz, 1976; Moore e Moore, 1987; Paxinos e Wang, 1995; Moore et al, 1999; Moore,
2000; Bazwinsky et al, 2003; Kuleska, 2007; 2008). Estes autores descrevem no tronco
encefálico de humanos o MSO, o LSO e vários grupos celulares periolivares.
Estudos experimentais e clínicos fornecem evidência de que o COS
desempenha um papel essencial no processamento da informação auditiva no plano
horizontal, integrando a informação proveniente das duas orelhas, a qual é conduzida até ele a
partir de projeções originadas de ambos os núcleos cocleares. O COS transforma informação
mono-auricular em informação de intensidade e tempo bi-auricular. Além de estar envolvido
na localização espacial dos sons, o COS também participa da decodificação das características
temporais de sons complexos, reflexos acústicos, da composição da via ascendente e da
modulação dos núcleos cocleares e cóclea através da origem do sistema eferente olivo-coclear
(Oliver, 2000; Thompson e Schofield 2000; Tolin, 2003; Guinan, Jr, 2006).
69
Caracterização Neuroquímica
Glutamato (Glu)
Em nosso estudo, corpos celulares, fibras e terminais contendo Glu foram
visualizados em todos os núcleos do NC, com aparente menor densidade no NCD, e também
nos três núcleos do COS do sagüi, contribuindo para a delimitação de todos eles.
Não relato em sagüi, mas a presença de receptores de Glu foi
identificada no NC de macaco Rhesus (Rubio et al, 2008). Além disso, a presença de
terminais glutamatérgicos no NC foi detectada por imuno-histoquímica e outras técnicas in
vivo e in vitro, em várias outras espécies, principalmente roedores. Ao mesmo tempo, esses
estudos apontam que o Glu atua como o neurotransmissor principal das fibras do nervo
coclear, sendo daí provenientes os terminais glutamatérgicos evidenciados no NC (Klinke e
Oertel, 1977; Bobbin e Thompson, 1978). Um estudo em cobaias revelou que após ablação
coclear ocorre diminuição na concentração de Glu em ambas as porções do NCV, a principal
área receptora das terminações nervosas do VIII par craniano -porção coclear, não ocorrendo
nas porções mais superficiais do NCD (Wenthold e Gulley, 1977), o qual recebe menor
inervação das fibras do gânglio espiral (Brodal, 1993). Vários outros estudos, utilizando
técnicas anatômicas, eletrofisiológicas ou farmacológicas, se seguiram corroborando esse
dado, em rato (Godfrey et al, 1978; 2000), gato (Čanžek e Reubi, 1980), cobaia (Altschuler et
al, 1981; Hackney et al, 1996; Suneja et al, 2000), camundongo (Wickesberg e Oertel, 1989) e
chinchila (Morest et al 1997; Godfrey et al, 2005; 2008). Glu pode também atuar como
neurotransmissor excitatório de células granulares em cobaia (Manis, 1989; Osen et al, 1995;
Manis e Molitor, 1996) e rato (Waller et al, 1996; Manis e Molitor, 1996; Rubio e Juiz, 1998)
e de aferências sensoriais gerais para o núcleo coclear em rato (Wright e Riugo, 1996; Rubio e
Juiz, 1998). Glu também foi identificado como neurotransmissor de neurônios de projeção
dos núcleos cocleares para o COS em cobaia (Helfert et al, 1992; Suneja et al, 1995; Schwartz
e Eager 1999).
O Glu, juntamente com o aspartato, é o neurotransmissor excitatório mais
abundante no sistema nervoso central, para o qual se reconhece um papel durante o
desenvolvimento, atuando na migração e maturação dos neurônios, além de atuar na
eliminação, estabelecimento e refinamento de conexões sinápticas (Von Bohlen und Halbach
e Dermietzel, 2006; Nakamichi e Yoneda, 2002). Particularmente nos centros auditivos do
tronco encefálico isso ocorre por ativação programada de receptores glutamatérgicos (Caicedo
e Eybalin, 1999).
70
A teoria de que o Glu seria o neutrotransmissor excitatório predominante
na vida auditiva central é aceita por inúmeros autores, bem como a teoria de que a homeostase
é dependente do equilíbrio entre os neurônios glutamatérgicos e GABAérgicos (Azevedo e
Figueredo, 2005). Essa pode ser a base da fisiopatologia das doenças do ouvido, como por
exemplo, o zumbido, para o qual a teoria mais aceita é da excitotoxicidade pelo Glu. De
acordo com essa teoria, a liberação excessiva de Glu nas vias auditivas centrais e periféricas
gera uma excessiva excitação do sistema. Essa excitabilidade geraria a ruptura dos neurônios
auditivos primários devido à entrada excessiva de cálcio nas células (Azevedo e Figueredo,
2005; Von Bohlen und Halbach e Dermietzel, 2006). que se levar em conta a
interatividade entre os neurotransmissores Glu, GABA e as proteínas ligantes de cálcio na via
auditiva, uma vez que existe um nível ótimo de estimulação para a homeostasia auditiva. A
ocorrência de excitotoxidade no NC acabaria por interferir em toda via auditiva ascendente,
prejudicando a função auditiva, que a informação auditiva já chegaria alterada nos demais
níveis ascendentes, que por sua vez também a processariam inadequadamente.
GABA
O ácido gama-amino-butírico (GABA) é formado a partir do glutamato
pela ação da enzima descarboxilase do ácido glutâmico (GAD) (Von Bohlen und Halbach e
Dermietzel, 2006). Neste trabalho, usamos a imunorreatividade a GAD como marcador para a
presença de GABA nos centros auditivos rombencefálicos.
De acordo com nossos resultados, GABA está presente em corpos
celulares, fibras e terminais de todas as três divisões do NC e em todas as três divisões do
COS, contribuindo com as técnicas citoarquitetônicas utilizadas para delimitar os núcleos
desses complexos auditivos no sagüi.
Não relato de estudos de GABA nos centros auditivos do sagüi, mas a
distribuição deste aminoácido também foi investigada com imuno-histoquímica para GABA
ou GAD em outras espécies, inclusive outra espécie primata, o babuíno (Papio anubis), no
qual os resultados são similares. Concordando também com os nossos resultados, pericários
imunorreativos a GAD foram detectados apenas nas camadas superficiais granular e
molecular, enquanto terminais foram encontrados em todas as subdivisões do NC de cobaia
(Kolston et al, 1992; Juiz et al, 1996) e rato (Moore e Moore, 1987; Godfrey et al, 2000). Em
gerbil encontra-se no NC um padrão em que tanto terminais como pericários positivos para
GAD apresentam maior densidade nas camadas superficiais do NCD e em menor densidade e
quantidade no NCV, onde são esparsos em todo núcleo (Roberts e Ribak, 2004). Um padrão
71
diferente foi descrito em duas espécies de morcegos (Rhinolophus rouxi e Pteronotus
parnellii), nos quais corpos celulares imunomarcadas para GAD foram visualizadas nos NC,
com exceção da porção dorsal, não laminada do NCD (Vater et al, 1992). Isto indica a
existência de diferenças locais na entrada inibitória relacionada com a conectividade e com a
organização tonotópica da via auditiva em mamíferos.
No COS de cobaia, imunorreatividade a GABA foi descrita como se
expressando em terminais em todos os núcleos e na maioria dos neurônios do OSL e dos
núcleos ventral e lateral do corpo trapezóide (Helfert et al, 1989; 1992). De forma similar, no
gerbil a mais alta concentração de pericários e terminais imunorreativos foi encontrada no CT
(ventral e lateral), havendo no OSL grande número de somas imunorreativos numa neurópila
escassa (Roberts e Ribak, 2004).
Um estudo em rato conta de que a imunorreatividade a GAD reduz
com o progredir da idade nos centros auditivos do tronco encefálico, com exceção dos NC,
onde a densidade é relativamente constante em todas as faixas de idade estudadas (Raza et al,
1994). Pesquisas recentes indicam que os circuitos inibitórios desempenham um importante
papel na percepção de intensidade, discriminação auditiva, zumbido e hiperacusia (Knobel e
Sanchez, 2005). Dessa forma, a presença de GABA nos centros auditivos é essencial para o
seu bom funcionamento, uma vez que esse é o principal neurotransmissor inibitório do
sistema nervoso (Von Bohlen und Halbach e Dermietzel, 2006). Uma série de estudos em
animais sugere que um decréscimo relacionado com a idade da inibição glicinérgica e
GABAérgica ao longo de todo sistema nervoso auditivo central, que pode contribuir para o
aparecimento dos defeitos auditivos decorrentes do envelhecimento (Caspary et al 2008).
Encefalina (ENK)
Em nosso estudo no sagüi, ENK foi detectada no NC predominando em
pericários nos NCAV e NCPV e em terminações no NCD. Também foi encontrada
imunorreatividade a ENK nos 3 núcleos do COS, em pericários e terminais no nível rostral do
CT e em todos os níveis do OSM. Apenas terminais foram vistos no OSL e nos nível médio e
caudal do CT.
Não relatos da distribuição de ENK nos núcleos auditivos nesta
espécie. Num estudo imuno-histoquímico no macaco (Macaca fuscata), também não há
referência à presença de ENK nos núcleos auditivos do tronco encefálaico (Ibuki et al, 1989).
No gato foram descritas apenas esparsas fibras no OSM (Belda et al, 2003).
72
No rato vários estudos. Num estudo pioneiro nessa espécie, corpos
celulares associados com baixas densidades de terminais foram descritos no NCD (Uhl et al,
1979). Posteriormente, um estudo com hibridização in situ mostrou pericários expressando
RNAm para pré-pró-encefalina em neurônios pontinos, especificamente no núcleo ventral do
corpo trapezóide (Hoffman et al, 1993). Num estudo imuno-histoquímico também em ratos,
pré-tratados com colchicina, foram evidenciados corpos celulares marcados nas camadas
profundas do NCD e pequenos pericários na região marginal do NCV, além de um campo
terminal moderado no NCD e de baixa densidade no NCV. No COS corpos celulares e
terminais foram vistos no núcleo ventral do corpo trapezóide e no centro e no contorno lateral
do OSL (Aguilar et al, 2004).
O potencial envolvimento da ENK na modulação do processamento
auditivo ao nível do receptor coclear foi destacado num estudo pioneiro em cobaia e gato, no
qual foram evidenciadas terminações encefalinérgicas nas células ciliadas internas (Fex e
Altschuler, 1981). Estes autores sugeriram que a ENK poderia estar envolvida no sistema
olivo-coclear. Desde então, outros estudos implicaram a ENK no sistema olivococlear, como
um modulador da atividade coclear (Robertson e Mulders, 2000). Esta idéia é fortalecida pelo
fato de se encontrar pericários marcados para ENK no núcleo do corpo trapezóide no rato
(Aguilar et al, 2004) e no sagüi (presente estudo). Além disso, a injeção intra-cérebro-
ventricular em coelhos provoca encurtamento do tempo de latência entre os picos de
potenciais evocados nos centros auditivos, enquanto naloxane, um antagonista, tem efeito
contrário (Gregorowicz et al, 1990).
Num estudo de desenvolvimento no rato, foi mostrado que corpos
celulares imunorreativos a ENK são encontrados apenas no 12º. dia pós-natal, aumentando
progressivamente com a idade até o 21º. dia, quando os níveis adultos são alcançados,
sugerindo um papel da ENK no processo de maturação neuronal (Kungel e Friauf, 1995).
Serotonina (5-HT)
Em nosso estudo no sagüi evidenciamos a presença de fibras e terminais
serotoninérgicos, embora com densidades variáveis, em todos os núcleos do CN e todos do
COS, em todos os veis de secção. A presença de pericários imunorreativos a 5-HT nas
vizinhanças do CT no sagüi, como visto no presente estudo, pode significar neurônios
deslocados do grupo serotoninérgico da formação reticular pontina (Cavalcante, 2001),
embora seja relatada a presença de neurônios 5-HT no OSL de camundongo neonatal
(Thompson, 2006). A distribuição de terminais serotoninérgicos é também encontrada no
73
complexo nuclear coclear e complexo olivar superior do rato, por imuno-histoquímica
(Thompson et al, 1994; Klepper e Herbert, 1991) e por cromatografia líquida (HPLC)
(Cransac et al, 1995). Um estudo de dupla marcação imuno-histoquímica para 5-HT e
peroxidase da raiz forte conjugada a aglutinina do germe do trigo/ (WGA-HRP) em cobaia
revelou a presença de terminais imunorreativos a 5-HT em todos os núcleos do NC, mais
proeminente nas camadas superficiais do NCD e área anterior do NCAV. De acordo com esse
estudo, a origem dessa inervação provém na maior parte do núcleo dorsal da rafe, mas
também do mediano e de toda extensão dos núcleos da rafe (Thompson et al, 1995).
Resultados semelhantes foram também encontrados no pró-símio galago (Otolemur garnettii)
(Thompson e Thompson, 1995). O padrão de projeção da inervação serotoninérgica no NC e
sua origem foi também estudado no gato oferecendo resultados semelhantes (Thompson e
Thompson, 2001). Também concordando com nossos resultados, no camundongo, no NC o
NCD é o mais densamente inervado por terminais serotoninérgicos e no COS todos os
núcleos são ricamente inervados por 5-HT, mas o núcleo medial do corpo trapezóide recebe
fibras esparsas (Thompson e Hurley, 2004). No morcego mexicano, fibras 5-HT são
encontradas mais densamente nas regiões periolivares, além do que a porção lateral do OSL e
dorsal do OSM contêm mais fibras 5-HT, em comparação a outras partes dos mesmos
núcleos, sugerindo que qualquer efeito modulatório de 5-HT no morcego pode ser freqüência-
específico, considerando que a porção lateral de OSL e dorsal do OSM contêm os corpos
celulares de neurônios que têm relativamente baixas freqüências (Guinan et al, 1972). É
possível que essa mesma relação seja encontrada no sagüi.
Nossos resultados em conjunto com os obtidos da literatura suportam
achados comportamentais e neurofisiológicos que indicam que o sistema serotoninérgico
modula a atividade de neurônios das estações auditivas rombencefálicas. Um estudo de dupla
marcação em rato mostrou a aposição de terminais serotoninérgicos em neurônios do OSL
que se projetam para a cóclea, constituindo o fascículo olivo-coclear (Woods e Azeredo
1999). Outros alvos potenciais desta modulação podem incluir os neurônios de projeção para
o colículo inferior e interneurônios, porém estudos adicionais são necessários para identificar
quais tipos celulares dentro do COS são alvos pós-sinápticos da 5-HT. É provável que a
atividade das entradas 5-HT esteja correlacionada com o nível de atenção e alerta (Jacobs e
Azmitia 1992). Por exemplo, estudos em humanos com técnicas de eletroencefalografia e
magnetoencefalografia, mostraram que deficiência dietética aguda de triptófano, um precursor
da 5-HT, compromete a atenção involuntária auditiva (Ahveninen et al, 2002; 2003). A
presença de inervação serotoninérgica nos centros auditivos subcorticais indicam que esse
74
processo pode começar a esse nível. Uma ligação da modulação serotoninérgica ao
desenvolvimento das sinapses no OSL, foi evidenciada num estudo em gerbil, indicando um
papel importante na plasticidade desenvolvimental e função auditiva, particularmente no
ajuste da localização sonora (Fitzgerald e Sanes, 1999).
Acetilcolina (ACh)
Nós buscamos caracterizar o NC e o COS do sagüi pela presença de
ACh, indiretamente pela identificação imuno-histoquímica da sua enzima de síntese, a colina
acetiltransferase (ChAT). No NC a expressão dessa enzima foi encontrada em pericários,
fibras e terminais no NCAV e NCD e apenas em fibras e terminais no NCPV e no COS, em
corpos celulares, fibras e terminais no CT e OSM. Presença de pericários e densa neurópila
foi observada no OSL com maior densidade na porção dorsal.
Este é o único estudo dessa natureza no sagüi. Estudos realizados em
outras espécies de primatas não humanos não trazem relato da presença colinérgica nos
núcleos auditivos (Mesulam et al, 1984; Satoh e Fibiger 1985). Em humanos foi descrita
imunorreatividade para Ach em OSL e OSM (Mizukawa et al, 1986). Presença de pericários
colinérgicos é descrita no NCD no rato (Tago et al, 1989), no NCD, NCV e OSL no rato
(Osen et al 1984; Henderson e Sherrif, 1991) e furão (Henderson e Sherrif, 1991) e no NCD e
NCV na cobaia (Motts et al, 2008). Um estudo combinado de fluorescência para o traçador
retrógrado fluorogold e a acetilcolinesterase confirmou em camundongo a presença de corpos
neuronais colinérgicos no núcleo ventral do corpo trapezóide e núcleo periolivar dorsal,
representando a origem do fascículo olivococlear medial (Brown e Levine, 2008).
A presença de inervação colinérgica em todo NC do rato é também
confirmada pela identificação imuno-histoquímica de receptores colinérgicos tanto
muscarínicos (Yao e Godfrey, 1995) como nicotínicos (Happe e Morley, 1998; Yao e
Godfrey, 1999a), bem como do transportador vesicular de Ach (VAChT) (Yao e Godfrey,
1999b).
A Ach é considerada um dos neurotransmissores no NC. Evidência
proveniente dos estudos anteriormente comentados indicam que o NC é primariamente uma
área de recepção, mais do que de projeção colinérgica. Estudos não confirmaram as hipóteses
iniciais que atribuíam à ACh o papel de neurotransmissor das fibras aferentes dos neurônios
do gânglio espiral (ver Guth e Melamed, 1982). Evidências experimentais indicam que as
terminações colinérgicas no NC resultam de colaterais do fascículo olivo-coclear, originado
em células do complexo olivar superior, cujo destino final é a cóclea, onde agem modificando
75
as sinapses entre as células ciliadas e as fibras aferentes, modificando o processamento do
sinal auditivo na cóclea. Assim, embora ainda não seja plenamente compreendida, a inervação
colinérgica do NC ao que tudo indica é parte das vias descendentes do sistema auditivo, que
caminham em paralelo às vias ascendentes, permitindo a retroalimentação a cada vel do
sistema (Fujino e Oertel, 2001; Mulders et al, 2003; Guinan Jr., 2006).
Proteínas ligantes de cálcio
No rombencéfalo do sagüi encontramos de forma variável a expressão
das três proteínas ligantes de cálcio tamponantes CB, CR e PV em grande quantidade de
pericários, fibras e terminais, contribuindo para delimitação dos núcleos do NC NCAV,
NCPV, NCD e do COS – OSL, OSM e CT.
Não relato de estudos dessas proteínas no NC do sagüi, embora elas
tenham sido investigadas nas células bipolares do gânglio espiral (Spatz e Löhle, 1995). A
presença de CB e PV foi investigada imuno-histoquimicamente no rato (Celio, 1990). De
acordo com este trabalho, poucos terminais contendo CB no NCD e NCV e raros corpos
celulares no NCV, alguns perifericamente e outros formando uma ilha no NCPV. fibras e
terminais positivos para PV nos NCAV e NCPV, bem como pericários no NCPV. O NCD
contém numerosas fibras e terminais e raros pericários expressando PV (Celio, 1990). Em
outros trabalhos no rato, CB é também referida em pericários no NCD (Rogers e Résibois,
1992; Spatz, 1997; Föster e Illing, 2000). CB em corpos celulares e terminais está presente
também no NCD de cobaia (Spatz 1997). O NC do rato também exibe CR, em pericários,
fibras e terminais no NCD e no NCPV e apenas fibras e terminais no NCAV (Résibois e
Rogers, 1992). A presença de CB foi documentada em corpos neuronais, fibras e terminais no
NC, predominantemente no NCD de chinchila (Frisina et al 1995). CB também foi relatada
em fibras, terminais e pericários de tamanho pequeno a médio no NCD do musaranho
arborícola (Tupaia glis) (Spatz, 2003). Num estudo recente (Bazwinsky et al, 2008), os tipos
celulares de duas espécies, um eutério (gerbil, Meriones unguiculatus) e um marsupial
(gambá da cauda curta cinzenta, Monodephis domestica) foram caracterizados pelo seu
conteúdo em CB, CR ou PV e embora se trate de duas espécies taxonomicamente distantes,
mostram muitas semelhanças nas características morfológicas e imuno-histoquímicas quanto a
estas proteínas. Assim, PV é encontrada em praticamente todas as células do NC, enquanto
CB e CR são mais restritas a tipos celulares específicos, mostrando um padrão grosseiramente
complementar nos três núcleos do NC (Bazwinsky et al, 2008).
76
Em ratos, CB é expressada em muitos pericários no núcleo medial do
corpo trapezóide e em poucos corpos celulares numa densa neurópila no OSL (Förster e
Illing, 2000). CB e CR também foi descrita em porções diferenciais dos núcleos do COS em
cobaia (Caicedo et al, 1996). Imuno-histoquímica para CB, CR e PV, juntamente com
neurofilamento H foi utiizada para caracterizar o COS de humano, evidenciando-se terminais
imunomarcados para as três proteínas no OSL e OSM, estando ausente um núcleo (medial) do
corpo trapezóide, confirmando o padrão humano para o COS (Bazwinsky et al, 2003).
As proteínas ligantes de cálcio, particularmente CB e PV, devido a sua
grande solubilidade, preenchem o soma e os processos neuronais, facilitando estudos da
forma neuronal e conectividade. Por isso, são comumente usadas como marcadores neuronais
(Celio, 1990; Baimbridge et al, 1992; Andressen et al, 1993). Estas proteínas estão também
envolvidas numa variedade de atividades celulares, incluindo tamponamento e transporte do
cálcio (Baimbridge et al, 1992; Andressen et al, 1993). Consequentemente, níveis alterados de
proteínas ligantes de cálcio comprometem a homeostase do cálcio, podendo resultar no
surgimento de patologias (Baimbridge et al, 1992; Heizmann e Braun, 1992).
Devido ao seu papel na regulação da homeostasia do cálcio intracelular,
as proteínas ligantes de cálcio estão ligadas a fenômenos de plasticidade no sistema nervoso,
podendo ter sua expressão modificada durante o desenvolvimento, envelhecimento, atividade,
formação de memória, entre outros. Estudos no sistema auditivo fornecem evidências de que
as proteínas ligantes de cálcio desempenham um papel importante no processamento auditivo
central. Por exemplo, a ativação aferente induzida por estimulação sonora apresentada em
níveis supraliminares de sensibilidade acarreta aumento da expressão de CB e PV em corpos
celulares e neurópila do NCD e NCPV, indicando um possível papel protetor exercido pelas
proteínas ligantes de cálcio nos neurônios destes núcleos à exposição ao ruído (Idrizbegovic et
al 1998).
A interrupção transitória da atividade aferente do órgão auditivo
periférico acarreta modificações na expressão de proteínas ligantes de cálcio na via auditiva
central, em que CR é reduzida em pericários dos núcleos cocleares e seus axônios no
complexo olivar superior e CB exibe níveis mais altos nos pericários do corpo trapezóide e
seus axônios no núcleo olivar superior lateral. PV também se eleva com menor intensidade
(Caicedo et al, 1997). A desaferentação permanente por cocleotomia unilateral promove um
aumento substancial no número de fibras e botões terminais no NCAV e NCPV contralaterais
e em corpos celulares em todos os núcleos do NC ipsolateral, em muitos pericários no cleo
medial do corpo trapezóide e em poucos corpos neuronais numa densa neurópila no OSL, os
77
quais aumentam contralateralmente após lesão coclear, além do surgimento de astrócitos
contendo CB no NCD e NCV (Föster e Illing, 2000). O efeito da ablação coclear unilateral
sobre a expressão de CR foi investigada em furão, resultando em decréscimo no nível total de
imunocoloração para CR dentro do OSL ipsolateralmente e dentro do MSO bilateralmente,
sem alterar o número de corpos celulares (Alvarado et al, 2004).
Alterações na expressão das proteínas ligantes de cálcio nas vias
auditivas centrais também acompanham o envelhecimento, como mostram vários estudos
realizados usando diferentes cepas de camundongos. O camundongo CBA/CaJ é uma cepa
que se caracteriza por apresentar deficiência neurossensorial em fase tardia da vida. Foi
observado um aumento percentual de pericários PV e CB, mas não de CR no NCD de animais
velhos (30-39 meses), comparado aos jovens (1 mês) e aumento percentual de PV no NCPV
do animal velho comparado ao jovem, sem alteração de CB ou CR (Idrizbegovic et al, 2001).
Num outro estudo, animais da mesma linhagem CBA/CaJ tiveram excisão bilateral da cóclea
aos 3 meses e sacrificados aos 24 meses (velhos surdos) para exame da expressão de CR no
NCD, comparado a um grupo controle de camundongos intactos da mesma linhagem (velhos
com audição residual) e a um grupo de camundongos intactos C57, que é uma linhagem
caracterizada por sofrer deficiência auditiva precoce. Como resultado foi encontrado um
decréscimo significativo de CR no NCD dos camundongos CBA velhos precocemente
desaferentados em relação ao grupo CBA intacto e apenas uma redução não significativa da
expressão de CR no grupo de camudongos C57, sugerindo que a audição residual de C57 aos
15 meses de idade pode garantir entrada auditiva para manter CR em níveis mais altos que os
camundongos CBA tornados completamente surdos aos 3 meses de idade, vivendo com maior
tempo (21 meses) de surdez (Zettel et al, 2003). Na mesma linha, foi mostrado que a
imunorreatividade a CB e PV é mais densa no NC (NCD e NCPV) do camundongo C57BL/6J
de 30 meses de idade em comparação com o de 1 mês, correlacionado com o nível de
degeneração coclear (Idrizbegovic et al 2003). Um outro estudo comparou o número de
corpos celulares expressando proteínas ligantes de cálcio no NC de camundongo C57 durante
o envelhecimento, tendo sido observado com a idade um decréscimo no número total de
corpos celulares no NCD e NCPV. A imunorreatividade no NCD, para PV, CB e CR, e no
NCPV, para PV e CB, exibiram aumentos percentuais relativos, indicando que aquelas
populações neuronais contendo essas proteínas são preservadas (Idrizbegovic et al, 2004).
Resultados semelhantes foram encontrados no camundongo BALB/c, outra linhagem modelo
de perda auditiva neurossensorial (Idrizbegovic et al 2006), indicando que esta resposta
78
plástica nesses camundongos com severo comprometimento auditivo, possa significar uma
estratégia de sobrevivência para os neurônios dos núcleos cocleares.
79
7. CONCLUSÕES
Os resultados do presente trabalho, discutidos com resultados de
trabalhos prévios, nos permitem chegar às seguintes conclusões sobre os núcleos auditivos
rombencefálicos do sagüi:
1º. O complexo nuclear coclear é composto de núcleo coclear dorsal,
núcleo coclear antero-ventral e núcleo coclear póstero-ventral;
2º. O núcleo coclear dorsal exibe características citoarquitetônicas que
lembra o padrão laminar de mamíferos;
3º. Todos os núcleos cocleares contêm corpos celulares, fibras e
terminais glutamatérgicos;
4º. Todos os núcleos cocleares contêm pericários, fibras e terminais
GABA-érgicos;
5º. Encefalina está presente predominantemente em corpos celulares nos
núcleos cocleares antero-ventral e póstero-ventral e em terminações no núcleo coclear dorsal;
6º. Todos os núcleos cocleares recebem considerável inervação
serotoninérgica;
7º. Todos os núcleos cocleares recebem inervação colinérgica, sendo que
os núcleos cocleares antero-ventral e dorsal também contêm corpos neuronais produtores de
acetilcolina;
8º. Os cleos cocleares contêm uma distribuição diferencial de
calbindina, cal-retinina e parvalbumina em corpos celulares, fibras e terminais;
9º. O complexo olivar superior é composto de núcleo olivar superior
lateral, núcleo olivar superior medial e núcleo do corpo trapezóide;
10º. Todos os cleos do complexo olivar superior contêm células, fibras
e terminais glutamatérgicos;
11º. Todos os núcleos do complexo olivar superior contêm corpos
celulares, fibras e terminais GABA-érgicos;
12º. Encefalina está presente em pericários e terminais no núcleo do
corpo trapezóide e olivar superior medial e apenas em terminais no cleo olivar superior
lateral;
13º. Todos os núcleos do complexo olivar superior recebem abundante
inervação serotoninérgica;
80
14º. Acetilcolina está presente em pericários, fibras e terminais nos
núcleos olivar superior medial e do corpo trapezóide e na porção dorsal do núcleo olivar
superior lateral;
15º. Os núcleos do complexo olivar superior contêm uma distribuição
diferencial de calbindina, cal-retinina e parvalbumina em corpos de neurônios, fibras e
terminais.
81
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS
O sagüi (Callithrix jacchus) é utilizado como modelo experimental em
pesquisas no Programa de pós-graduação em Psicobiologia da UFRN, desde a sua
implantação em 1985 e no Laboratório de Neuranatomia desde 1993, quando tiveram início as
pesquisas sobre as bases neurais da ritmicidade circadiana.
Nos últimos dois anos, desenvolveram-se três trabalhos de pós–
graduação no nível de mestrado no Laboratório de Neuranatomia da UFRN utilizando o sagüi
como sujeito experimental. Um deles trata da caracterização neuroquímica e expressão de fos
no núcleo pré-geniculado. Outro trabalho é focado na citoarquitetura e caracterização
neuroquímica da zona incerta e, por último, a nossa dissertação, que tem como objetivo
caracterizar a citoarquitetura e neuroquímica das estações rombencefálicas da via auditiva.
Deve ser destacado que este é o primeiro trabalho a estudar os centros auditivos nesse modelo
experimental neste laboratório, buscando reconhecer diversos neurotransmissores e
substâncias neuroativas como as proteínas ligantes de cálcio e a proteína nuclear neurônio-
específica (NeuN), dando inicio aos estudos envolvendo o sistema auditivo nessa base de
pesquisa. A partir da análise dos resultados, uma aparente relação foi encontrada entre as
estações auditivas rombemcefálicas e outras espécies previamente estudadas, registrando-se
variações quanto a citoarquitetura e organização neuroquímica. Em paralelo foi desenvolvido
um trabalho caracterizando os centros de vocalização corticais no sagüi nessa mesma pós-
graduação, em outro laboratório.
Este trabalho representa um instrumento essencial para estabelecer o
sagüi como modelo experimental para pesquisas envolvendo o sistema auditivo. Além disso,
os resultados discutidos aqui oferecem uma possibilidade de compreender os aspectos
funcionais e permitem inferências quanto a etiologia de patologias auditivas como
decorrências de alterações no mecanismo funcional das substâncias estudadas entre diversas
espécies de mamíferos, sejam eles roedores, marsupiais ou primatas não-humanos e humanos.
Assim, observamos claramente que existe uma relação direta entre estrutura e função auditiva
e que estudos funcionais podem e devem ser posteriormente realizados, visando confirmar as
possibilidades propostas nesse estudo e esclarecer um pouco mais sobre esse tão complexo
sistema que é responsável por possibilitar a comunicação entre seves vivos através da onda
sonora.
82
Este trabalho representa o início de uma linha de pesquisa voltada para o
estudo dos centros auditivos no sagüi e outras espécies, no sentido de contribuir para melhorar
a compreesão dos mecanismos auditivos. Sendo assim, a continuidade deste estudo pode
ocorrer a partir de um leque de possibilidades:
8.1. Estudo anatômico dos centros auditivos subcorticais do sagüi,
incluindo os núcleos do colículo inferior (mesencéfalo) e geniculado medial (tálamo);
8.2. Estudo funcional das estações auditivas subcorticais do sagüi,
observando a expressão de c-fos após estímulo de vocalização de co-específico;
8.3. Estudo do órgão coclear do sagüi;
8.4. Estudo hodológico dos centros auditivos subcorticais do sagüi;
8.5. Estudos comparativos, incluindo um roedor regional crepuscular, o
mocó (Kerodon rupestris);
8.6. Estudo de desenvolvimento das estações auditivas subcorticais do
sagüi, utilizando animais de diferentes idades;
8.7. Contribuir com o “Projeto Atlas” do sagüi através do mapeamento de
sua via auditiva central.
83
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