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[...] a gente não percebe confiança entre os representantes do grupo gestor, talvez
eu esteja sendo um pouco dura até, mas em diversos momentos eu percebi que as
informações elas não são abertas para todos (E6).
[...] eu acho que não existe confiança, não existe transparência em muitas coisas,
chega dar medo, chega lá e pensa como é que eu vou dizer [...] confiança ou existe
ou não existe, eu acho que não existe um meio-termo de confiança, acho que a
gente tá construindo isso (E7).
[...] nós estamos melhorando muito nisso, estamos crescendo muito nesse aspecto,
nos desenvolvendo. Mas ainda sinto que é preciso trabalhar essa questão da
confiança (E8).
[...] na prática a gente vai construindo uma confiança [...] Então também as
pessoas têm se dado a oportunidade de perceber de que eu querer me beneficiar
sozinho pode não ser bom pra mim e isso já aconteceu no grupo (E10).
Percebo confiança sim e percebo também desconfianças. Percebo as duas coisas.
Em determinadas matérias, confiança; em determinadas matérias, desconfiança.
Percebo política saudável, política política, e percebo individualismos e percebo
excelentes gaps e oportunidades de aproximação, em todas as entidades, por
problemas internos relativos a cada uma delas, por questões culturais e por
questões de poder também existem diferenças, de ser o ‘pai da criança’, de estar à
frente, lógico umas dependem mais do voto, de ter voto, e não ter voto, ou da sua
sucessão, ou da sua permanência, e tudo mais, e tudo isso tá misturado nas
reuniões e no ritmo (E11).
[...] eu acho que as pessoas estão começando a confiar um no outro, estão
começando a fazer um trabalho de equipe, estão começando a se abrir um pouco
mais, coisa que no começo era um pouco difícil, cada um trabalhava um pouco
mais na sua redoma, trabalhava muita mais de uma forma individual, agora as
coisas estão sendo muito mais socializadas, muito mais compartilhadas, os
problemas de uma liderança ela é dividida com outros e esses outros podem ajudar
e ajudam, independente se é ou não do seu setor (E12).
Aqui talvez esteja o ponto importante da pesquisa, na medida em que existe um grupo
que está pensando todo um setor, para não dizer uma região, e esse grupo não está coeso,
existindo elementos de desconfiança. O porquê disso, por se tratar de questões subjetivas e
individuais, pois não se tem nenhum fato coletivo que possa justificar tal situação, não é
possível concluir nesta pesquisa. Todavia, algumas suposições são possíveis de se fazer, com
base em algumas evidências presentes nas entrevistas, na base documental, no referencial
teórico e na observação simples.
Com base nos outros elementos de pesquisa, percebe-se que há no grupo algumas
entidades nas quais a intervenção política é grande, dependente de apoio de tempos em
tempos, como prefeitura municipal, governo estadual, a própria Universidade, o sindicato,
enfim, em todas essas entidades sistematicamente existem eleições para a escolha de seus
dirigentes, fazendo com que todas as manifestações sejam sempre positivas para não
desapontar os demais. As repostas podem estar contaminadas desses elementos; porém,
acredita-se que isso possa ocorrer em todas as investigações, mesmo nas mais objetivas.
Outra possível causa seria a baixa presença de capital social na região, apesar de ser
uma região próspera em termos econômicos. Por que disso? Para Putnam (2002), o capital
social é a inter-relação entre três fatores: a) confiança; b) normas e cadeias de reciprocidade; e