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4.3 Drive-in, motéis, hotéis e casas de prostituição: um close neles.
Entrei na “Zona”, literalmente!
Nunca consegui ficar indiferente ao que está à margem.
Sempre me questionei sobre a maneira como aquelas pessoas chegaram ali: nas
ruas, nas casas de prostituição, no tráfico, nas drogas, no crime. Um sentimento de
angústia me persegue com relação a essas questões.
Vi uma alegria, ou melhor, vi uma identidade penetrada em seu corpo quando me
dirigi àquela prostituta e conversei com ela como com uma pessoa igual a
qualquer outra.
Para poder fotografar o portão de uma casa de prostituição, tive que subir 3
andares de escadas, para pedir autorização ao “gerente” do local. Encontrei-o
sentado ao bar, bebendo ao lado de uma mulher. Apresentei-me.
Ele indagou sobre meu interesse em fotografar o portão. Disse-lhe que já havia
fotografado todos os outros da região que tinham o nome do lugar recortado na
grade.
Ele me disse que lá não tinha nada escrito.Eu insisti.
- Tem sim, é que está em branco.
Chamou em voz alta um rapaz que iria me acompanhar até lá. Enquanto esperava,
entrou uma prostituta enrolada em uma toalha vermelha e foi até o balcão do bar.
O homem começou a falar-me coisas que eu não entendia.
- Essa daí, não quer usar óculos, disse que fica feia.
Dei um “olá” para ela e lhe disse:
- Igual a mim, ainda não me acostumei com meus óculos, sempre esqueço de
trazê-los.
Seu rosto se iluminou! Sem constrangimento, continuei:
- Acho até que os óculos dão um certo charme.
Por segundos ela se alegrou. Acho que não esperava que eu fosse conversar com
ela.
E o homem continuava em tom de deboche:
- Essa aí não vai usar.
Eu disse a ela:
- Então use lentes! (um amigo meu, quando lhe contei o caso, comentou: - como
você fala para uma mulher que recebe às vezes um vale-transporte para transar
com um cliente do lugar, para ela comprar lentes de contato!?).
Enquanto continuava esperando o rapaz que me acompanharia até o portão, o
“gerente” ainda insistia no assunto:
- Essa daí prefere ficar com dor de cabeça, mas não usa os óculos.
- Ai eu disse: então ela deve ser masoquista! – IXE! Escapou! Acho que falei
demais!
O rapaz chegou, agradeci e saí dali antes que a conversa pudesse tomar outros
rumos. Fui então, escoltada pelo moço, fazer a foto do tal portão.
Tânia de Castro Araújo
Na Avenida Antônio Carlos, próximo ao Campus da UFMG, deparo-me com um
drive-in para pedestres! Nele, encontro uma espécie de mostruário de
diferentes tipos de propaganda: texto escrito na parede, faixas de tecido em