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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
UNIFOR
SIMONE FARIAS MOURA
A DINÂMICA DE GRUPOS E A GESTÃO
ORGANIZACIONAL EM ARRANJO PRODUTIVO
LOCAL: ESTUDO DE CASO
Fortaleza-CE
2006
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ii
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR
SIMONE FARIAS MOURA
A DINÂMICA DE GRUPOS E A GESTÃO
ORGANIZACIONAL EM ARRANJO PRODUTIVO
LOCAL: ESTUDO DE CASO
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
em Administração de Empresas da
Universidade de Fortaleza como requisito
parcial para obtenção do Título de Mestre em
Administração.
Orientador: Prof. Dr. Francisco Tarciso Leite
Fortaleza-CE
2006
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A DINÂMICA DE GRUPOS E A GESTÃO
ORGANIZACIONAL EM ARRANJO PRODUTIVO
LOCAL: ESTUDO DE CASO
DATA DA APROVAÇÃO: ____________
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Professor Dr. Francisco Tarciso Leite (Orientador)
___________________________________________________
Professor Dr. Alípio Ramos Veiga Neto (membro UNIFOR)
____________________________________________________
Professora Drª. Francisca Ilnar de Sousa (membro UNIFOR)
____________________________________________________
Prof. Dr. Fábio Perdigão Vasconcelos (membro UECE)
iv
DEDICATÓRIA
À graça obtida pelo Ofício de Nossa
Senhora e aos profissionais que
acreditam na força e no
despertar das relações
humanas.
v
AGRADECIMENTOS
À Nossa Senhora, por ter estado presente e por ter me iluminado sempre
nesse grande desafio, que foi realizar um curso de mestrado em outra cidade.
Uma grande graça de realização e concretização de um sonho.
Ao Eduardo, meu amor, por ter confiado na minha honestidade, estando
morando longe, por todas as longas e intermináveis conversas, ricas em
subjetividade; por todo apoio incondicional, amor, dedicação e por contribuir
para a realização de um sonho, inicialmente meu, que passou a ser nosso.
Ao Ronaldo (Painho) e Ilvanda (Mainha), meus “grandes referenciais de
vida”, pelo amor e bondade, pela compreensão diante da minha ausência nos
momentos de doença familiar; pela dedicação constante para a formação da
minha vida profissional e pessoal e por mergulharem comigo na busca pela
minha independência profissional.
À Fabiana (amiga), por toda a bondade em sempre estar disposta a me
ajudar, oferecendo sua casa e o convívio com sua família (Sr. Cleison, Srª.
Celma e Fabíola), por toda troca de experiências de vida e nas discussões
construtivas acompanhadas por artigos científicos.
À Andréia (prima), com todo o seu conhecimento na língua estrangeira,
por ter me ajudado na elaboração do abstract.
À Universidade de Fortaleza, por proporcionar a oportunidade e as
condições necessárias para a realização deste curso de mestrado.
À coordenação do CMA, pela orientação competente e ensinamentos
inestimáveis, marcados por objetiva conduta profissional.
vi
Ao meu orientador, Prof. Tarciso Leite, por todas as contribuições
teóricas e por ter confiado e acreditado em mim no momento em que o procurei
para ser o meu guia nesta caminhada científica.
Ao Prof. Esperdito (UFPB), por ter encabeçado comigo o início de tudo,
que foi o pré-projeto de mestrado.
À Profª. Zandre Vasconcelos (UFPB), mestra querida, que sempre me
iluminou nas decisões profissionais e por ter incentivado a enveredar na área do
magistério.
À Srª. Alzenir, proprietária da Pousada onde morei, como também a
Marleide e Tereza, pelas orientações de como me locomover em Fortaleza e
pelo cuidado constante comigo.
Aos professores e funcionários (Adriana, Socorro e Narciso) do CMA
que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.
Finalizando, aos produtores de redes de São Bento, por toda a
receptividade, contribuição e enriquecimento intelectual para este trabalho.
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MOURA, Simone Farias. A Dinâmica
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o. 2006. 162f. Dissertação (Mestrado em Administração de
Empresas). Universidade de Fortaleza – UNIFOR, CMA, Fortaleza, 2006.
Perfil da Autora: Graduada em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB,
2000; Especialista em Psicologia da Infância e da Adolescência pela Faculdade de Ciências
Sociais Aplicadas - FACISA, 2003.
RESUMO
Os Arranjos Produtivos Locais - Apls - têm atualmente atraído a atenção de estudiosos por
apresentar uma estrutura diferenciada que privilegia a flexibilização organizacional, o
desenvolvimento local e sustentável e a participação ativa da comunidade em busca de
objetivos comuns para a melhoria da qualidade de vida dos moradores desses locais. Sendo
assim, este trabalho trata de um Apl de Rede de Dormir, localizado no Município de São
Bento/PB, mais conhecido como a “capital mundial da rede”, que vem passando por
dificuldades para sua manutenção no mercado competitivo. O objetivo geral deste estudo foi
verificar como acontece a dinâmica de grupo dos micros, pequenos e médios empresários e a
gestão organizacional vigente no Apl de São Bento/PB. A metodologia aplicada foi de
natureza quantitativa e fenomenológica. A coleta de dados compreendeu pesquisa
fenomenológica, a observação participante e a entrevista semi-estruturada. A amostra foi
constituída por oito membros do consórcio de exportação de redes de dormir e oito membros
exógenos ao consórcio. A partir da análise dos resultados, verificou-se que, dentre os
membros do consórcio de exportação, persistiu algumas características subjetivas
relacionadas à dinâmica grupal e à gestão organizacional, como desunião e desestímulo,
bloqueios na comunicação, desconfiança, descompromisso com o grupo do Consórcio e
acomodação diante dos objetivos comuns propostos. Diante dessa realidade, constatou-se
que a existência dessas características organizacionais interferiram na manutenção da
estagnação e o insucesso do Apl de redes de dormir, objeto do tema enfocado.
PALAVRAS-CHAVE: Arranjo Produtivo Local. São Bento. Dinâmica de grupo. Gestão
organizacional. Redes de dormir. Tecelagem.
viii
ABSTRACT
In actual world, the union of small and medium companies has attracted some people's
attention, because it has a different structure, which favours a local and sustainable
development, enables the flexibility of the organization and the active participation of the
community in search of objectives that will improve the dwellers' quality of life. Thus, this
monograph deals with the union of companies, which work, together in the production of
hammocks. They are located in São Bento / PB, known as the capital of hammocks, and have
difficulty in maintaining themselves in a competitive market. The main objective of this
monograph is to analyse the group’s dynamics (the entrepreneurs’ dynamics) and the actual
management in this union. The methodology which was used in this work is of a qualitative
and quantitative nature. The collection of information comprises a research of the
phenomenon, an indirect observation and a semi-structured interview. In this work, the
sample is composed of eight individuals of the business organization. Through the
observation of the results, it was noticed that these individuals display subjective
characteristics, which are related to the group’s dynamics and the actual management, such as
disunity and lack of stimulus, problems in communication, distrust and lack of commitment to
the group and its objectives. It was observed that these characteristics are the cause of the
failure in this business organization.
Key-words: Union of companies. São Bento. Group’s dynamics. Management. Hammocks.
Textile industry.
ix
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
1 - O espaço de vida de um grupo.............................................................................................29
2 - Configuração da personalidade............................................................................................31
3 - Evolução do processo de formação de um cluster...............................................................63
4 - Fases de transformação de um aglomerado setorial............................................................64
5 - Mapa da Paraíba..................................................................................................................81
QUADROS
1 - Grau de maturidade social/comportamento.........................................................................37
2 - Fases do processo metodológico.........................................................................................96
x
TABELAS
1 - Faturamento mensal do CE...............................................................................................100
2 - Faturamento mensal do NCE............................................................................................100
3 - Escolaridade do CE............................................................................................................102
4 - Escolaridade do NCE.........................................................................................................102
5 - Tempo de produção do CE................................................................................................102
6 - Tempo de produção do NCE.............................................................................................102
7 - Porte da empresa do CE.....................................................................................................103
8 - Porte da empresa do NCE..................................................................................................103
9 - Quantidade de teares do CE...............................................................................................103
10 - Quantidade de teares do NCE..........................................................................................103
11 - Funcionários das fábricas do CE.....................................................................................105
12 - Funcionários das fábricas do NCE..................................................................................105
13 - Fábricas formalizadas do CE ..........................................................................................105
14 - Fábricas formalizadas do NCE........................................................................................105
15 - Origem das fábricas do CE..............................................................................................106
16 - Origem das fábricas do NCE...........................................................................................106
17 - Produtos fabricados no CE..............................................................................................107
18 - Produtos fabricados no NCE...........................................................................................107
19 - Produtos carro-chefe no CE.............................................................................................108
20 - Produtos carro-chefe no NCE..........................................................................................108
21 - Regiões de vendas de produtos do CE.............................................................................109
22 - Regiões de vendas de produtos do NCE..........................................................................109
xi
23 - Benefícios ao ingressar no consórcio..............................................................................109
24 - Os objetivos no CE..........................................................................................................112
25 - Os objetivo no NCE ........................................................................................................112
26 - Motivação do CE.............................................................................................................113
27 - Motivação do NCE..........................................................................................................113
28 - Comunicação do CE........................................................................................................114
29 - Comunicação dos NCE....................................................................................................115
30 - Comportamento do CE....................................................................................................116
31 - Comportamento do NCE.................................................................................................116
32 - Processo decisório do CE................................................................................................117
33 - Processo decisório do NCE ............................................................................................117
34 - Relacionamento do CE....................................................................................................119
35 - Relacionamento do NCE.................................................................................................119
36 - Participação e solidariedade social do CE.......................................................................120
37 - Participação e solidariedade social do NCE....................................................................121
38 - Confiança no CE..............................................................................................................122
39 - Confiança no NCE...........................................................................................................122
40 - Cooperação no CE...........................................................................................................123
41 - Cooperação no NCE........................................................................................................123
42 - Iniciativa e organização do CE........................................................................................124
43 - Iniciativa e organização do NCE.....................................................................................124
44 - Coesão grupal do CE.......................................................................................................126
45 - Coesão grupal do NCE....................................................................................................127
xii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................14
1. O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL (APL) COMO GRUPO DE
MICROS, PEQUENOS E MÉDIOS EMPRESÁRIOS.......................................................22
1.1 Os benefícios da interdependência no grupo empresarial...................................................24
1.2 A dinâmica dos grupos e seus respectivos teóricos............................................................26
1.2.1 Kurt Lewin e a Teoria do Campo Social..........................................................................27
1.2.2 W. C. Schutz e a Teoria das Necessidades Interpessoais.................................................34
1.2.3 A. Bavelas e a Comunicação Humana.............................................................................38
1.2.4 Jacob Moreno e o Sociodrama.........................................................................................40
1.3 Os canais de comunicação humana e os componentes sociais no grupo............................41
2. AS MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (MPMEs)
NO ATUAL CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL.....................................49
2.1 As MPMEs: uma forma criativa e promissora de estímulo ao desenvolvimento local......51
2.2 A valorização do desenvolvimento local no Mundo e no Brasil........................................53
2.3 Tipologias de aglomerações: Distritos industriais, Clusters e Arranjos Produtivos
Locais........................................................................................................................................59
2.3.1 Os Distritos Industriais (A Terceira Itália)......................................................................59
2.3.2 Os Clusters.......................................................................................................................61
2.3.3 Os Arranjos e Sistemas Produtivos Locais (ASPLs).......................................................65
3. A TECELAGEM E A FABRICAÇÃO DAS REDES DE DORMIR
EM SÃO BENTO/PB..............................................................................................................71
3.1 A utilização da tecelagem na fabricação dos produtos artesanais.......................................74
3.2 A rede de dormir como produto de referência à cultura brasileira nordestina....................78
3.3 Histórico e características da região de São Bento/PB: estudo de caso..............................80
xiii
4. PERCURSO METODOLÓGICO.....................................................................................85
4.1 Localização, natureza e ideologia tipológica......................................................................86
4.2 Delineamento empírico, identificação da população e seleção da amostra........................88
4.3 Métodos e técnicas de coletas de dados..............................................................................92
4.4 Cronograma de pesquisa.....................................................................................................96
5. APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS..........................97
5.1 Perfil dos produtores de redes no território do Apl.............................................................98
5.2 Aspectos grupais do Apl de redes de dormir de São Bento..............................................111
CONCLUSÃO.......................................................................................................................128
REFERÊNCIAS....................................................................................................................135
APÊNDICES
Apêndice I - Modelo de roteiro de entrevista aos membros do Consórcio de Exportação
Apêndice II - Modelo de roteiro de entrevista aos Membros Constitutivos Externos - MEC
Apêndice III - Modelo de roteiro de entrevista aos membros que não constituem o Consórcio
de Exportação
Apêndice IV - Entrevista a membros do Consórcio de Exportação
Apêndice V - Entrevista a membros do Consórcio de Exportação
Apêndice VI - Entrevista a membros do Consórcio de Exportação
Apêndice VII - Entrevista a membros do Consórcio de Exportação
Apêndice VIII – Entrevista a ex-proprietário de fábrica (MEC)
INTRODUÇÃO
15
INTRODUÇÃO
Os Arranjos Produtivos Locais - Apls - consistem em aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais com foco em um conjunto específico de atividades econômicas e
que estabelecem vínculos entre si, mesmo que incipientes. Autores como Cassiolato e Lastres,
Amaral Filho, Lemos, Rafael Neto e outros têm se debruçado e estudado profundamente a gestão
organizacional desse tipo de aglomeração.
Verifica-se que uma estrutura organizacional que abrange várias micro, pequenas e médias
empresas - MPMEs tem proporcionado, quando bem gerenciada, um estabelecimento de
parcerias e troca de informações e um excelente retorno financeiro para os investidores. Essa
forma de organização, baseada no retorno ao desenvolvimento local, tem propiciado sucesso em
vários países. Aqui, no Brasil, tem-se cada vez mais investido nessa forma de aglomeração,
porém têm havido entraves por parte das instituições e das políticas públicas vigentes no país
com relação a essas estruturas. Por isso a importância de se aprofundar cada vez mais nessa área
de conhecimento.
Pensar de forma coletiva deixou de ser para muitos empresários um caminho para se atingir
resultados promissores. Com uma concorrência acirrada entre as empresas, muitos chegaram a
obter retorno financeiro sozinhos e a se manterem por muitos anos em apogeu. Enquanto isso,
houve falências e fechamentos de MPMEs no mundo e no Brasil, como também muitos sonhos
pessoais e desesperanças por parte desses empresários. A produção em grande escala e do tipo
comodities tornou-se presente como realidade concreta das grandes empresas, havendo assim, um
desaparecimento no que diz respeito a produtos personalizados.
Em meio às crises que o mundo tem passado, uma mereceu destaque por marcar o
ressurgimento das MPMEs no mercado. Tal situação aconteceu na Itália, a partir do destaque que
foi dado aos distritos industriais. Estes se sobressaíam pelo grande aparato tecnológico e pela
proximidade entre as MPMEs, porém estas trabalhavam individualmente. Percebeu-se que, com a
união dos esforços, elas conseguiriam se sobressair no mercado nacional e internacional. Houve,
16
então, um aumento do número de empregos e da renda. A partir dessa situação, muitas outras
localidades seguiram o exemplo e começaram a desenvolver tais formas de organização.
Refletir sobre Apl é pensar em MPMEs e estas, conseqüentemente, em um grupo de micro,
pequenos e médios empresários engajados em um objetivo comum. Na literatura, um grupo se
constitui num conjunto de pessoas interdependentes unidas na tentativa da realização dos mesmos
objetivos e que buscam um relacionamento interpessoal satisfatório. Em meio à tentativa de
concretização desses objetivos, cria-se no grupo um processo de interação entre pessoas que se
influenciam reciprocamente. Cada um dos membros ajuda uns aos outros e se apóia entre si,
embora às vezes surjam dificuldades causadas por esse contexto, quer diretamente ou por
projeção (MINICUCCI, 1992, p. 20).
Verificam-se, na atualidade, inúmeros conflitos sociais nos grupos e muitos deles são
originados pelas dificuldades que os seres humanos têm de se comunicar e de se relacionar de
forma transparente e autêntica entre si. Às vezes acontece na própria sociedade uma deturpação
dos significados de determinados valores e o que estes poderão proporcionar a partir de sua
existência no meio em que se vive. Por exemplo, para algumas pessoas nunca foi ensinado, nem
muito menos valorizado, na família, na escola e no trabalho, o estabelecimento de relações
construtivas. Na maioria dos casos, a concorrência é incentivada em detrimento da cooperação,
da solidariedade. É comum se concluir que os mais altruístas são tidos como pessoas que pouco
se valorizam ou como aqueles que não tiveram sucesso.
Para as pessoas e para as MPMEs que cultivam uma maior cooperação, o trabalho em
equipe, a solidariedade, a confiança, a igualdade de papéis, a flexibilização na estrutura
organizacional, a autenticidade nas relações, uma maior nitidez e o entendimento na comunicação
proporcionam um crescimento em todo o grupo envolvido. Existem, por exemplo, Apls que estão
conseguindo cada vez mais prosperar, como é o caso do Apl de confecções de Frecheirinhas/CE e
o APL de Toritama/PE. Foram Apls que surgiram em ambientes inapropriados para a execução
de suas atividades. O primeiro se destaca pela confecção de jeans lavável, mas já passou por
sérios problemas com relação ao abastecimento de água, porém a situação foi resolvida pelos
próprios atores sociais do arranjo. O segundo utiliza-se dos caminhões das empresas com as quais
trabalha e as abastece de confecções de roupas íntimas femininas. Inicialmente, o conjunto era
composto por apenas duas empresas, hoje quase toda a população dessas cidades está envolvida
17
direta ou indiretamente na geração dos produtos dessas empresas. É importante salientar que
esses Apls recebem apoio de várias instituições parceiras, como Serviço de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas - Sebrae, Prefeitura, Governo do Estado, dentre outras.
A região Nordeste, como se pôde ver, aos poucos vem conseguindo realizar exportações e
manter relações comerciais satisfatórias. Na Paraíba, o Apl de Redes de Dormir, situado no
município de São Bento/PB, tem se destacado no mercado por ser esta a “capital mundial da rede
de dormir”. Nessa localidade, há uma produção em grande escala, com escoação variável,
dependendo dos meses do ano.
Muitas ações são implementadas pelas instituições parceiras no que se refere à capacitação
e à consultoria do Apl. Porém, tem-se percebido que, por mais que haja um engajamento de
várias instituições, esse Apl está atualmente em declínio, conforme dados coletados para esta
pesquisa, e tal situação tem piorado a cada ano. Além de uma forte concorrência com outras
regiões, como é o caso da centenária Jaguaruana/CE, no que se refere à produção de redes de
excelente qualidade, o Apl de São Bento/PB não tem conseguido prosperar no mercado
competitivo.
A cidade de São Bento/PB tem algumas características peculiares, como uma cultura de
MPMEs que se mantém de forma individualizada, de fortíssima concorrência dentre os
fabricantes de redes. Observa-se, também, desconfiança e descrença nos parceiros, gestão
centralizada nas mãos do proprietário, desorganização na estrutura organizacional, baixa
escolaridade dos proprietários das fábricas e alto índice de informalidade nas empresas.
Há alguns anos, foi implementado pelo Sebrae/PB um Consórcio de Exportação de
Produtores de Redes de São Bento, que foi incentivado pela implantação do Programa de Apoio à
Competitividade das Micro e Pequenas Empresas - PROCOMPI. Porém, esse benefício encontra-
se em fase de finalização e sem perspectiva de ser renovado. Verificou-se, nesses quatro anos de
projeto, um desinteresse por parte dos membros do Apl, como a ausência nas reuniões
obrigatórias do projeto, a desunião, apesar de se tratar de um aglomerado de MPMEs; a não
visualização da união do próprio grupo e a falta de crescimento dentro do mercado de redes de
dormir.
18
As razões que levaram à realização desta pesquisa foram a falta de coesão grupal e o
declínio econômico do Apl de São Bento; posto ser imprescindível entender a dinâmica do
funcionamento do grupo como um pré-requisito para a descoberta de prováveis saídas para a
manutenção e ascensão do Apl no mercado competitivo. Porém, percebeu-se a escassez de
estudos que trate dessa temática no contexto e na realidade econômica e social do Estado da
Paraíba. Dessa forma, o problema desta pesquisa é: quais as variáveis endógenas relacionadas à
dinâmica dos grupos organizacionais que precisam ser estimuladas e implementadas para o
desenvolvimento contínuo do Apl de São Bento/PB no atual mercado competitivo?
Esse questionamento foi formulado a partir dos seguintes pressupostos:
1. As capacitações implementadas pelas instituições parceiras dos Apls têm demonstrado
pouca eficácia para uma constituição e formação durável do Apl de São Bento/PB;
2. O Apl de São Bento/PB encontra-se, no momento, em fase de declínio, pois a produção e
as vendas de rede de dormir têm diminuído consideravelmente ao longo dos anos;
3. No mercado, a sobrevivência de um Apl está inteiramente relacionada à forte coesão do
grupo, com o seu processo de formação da participação e com a sua governança;
4. Um grupo de Apl unido e com laços estreitos de relacionamento proporciona um trabalho
em conjunto e um retorno financeiro uniforme para os mesmos.
Em resposta ao questionamento apresentado e tendo como base os pressupostos
estabelecidos, determinou-se como objetivo geral deste estudo discutir como acontece a dinâmica
de grupo dos micros, pequenos e médios empresários e a gestão organizacional vigente no Apl de
São Bento/PB.
Para a consecução deste objetivo geral, elaboraram-se os seguintes objetivos específicos:
1. verificar as variáveis endógenas existentes relacionadas à dinâmica de grupos percebidas
pelos micros, pequenos e médios empresários;
2. conhecer o Apl de São Bento e a respectiva cultura da região;
19
3. analisar se os atores sociais do Apl conhecem os benefícios da valorização da coesão
grupal;
4. correlacionar a união grupal como ferramenta importante para a manutenção do Apl em
um mercado de elevada concorrência.
Para atender aos objetivos propostos, utilizou-se como modelo de análise da organização
produtiva do território, a abordagem da dinâmica de grupo apresentada por Minicucci, (1982,
1992, 1997), Mailhiot (1985), Lewin (1965, 1951, 1941, 1948), Schutz (1965, 1989), Bavelas
(1948, 1950) e Moreno (1975, 1984); enquanto na análise dos arranjos e sistemas produtivos
locais, os conceitos foram trabalhados a partir da compreensão de Cassiolato e Lastres (1999,
2003), Guerra (2005) e Lemos (2005).
A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa exploratória e descritiva, de natureza
qualitativa e quantitativa. A primeira fase do trabalho foi composta por uma pesquisa qualitativa
fenomenológica; paralelamente realizou-se a observação participante e foi feito um levantamento
bibliográfico e documental. A segunda fase privilegiou a aplicação da entrevista semi-
estruturada.
No desenvolvimento das diversas etapas deste trabalho, buscou-se relacionar o
conhecimento teórico com as informações coletadas na pesquisa de campo, mediante um
processo lógico determinado, que evidencia a interpretação do fenômeno focado. Esse processo
teve início no comportamento dos indivíduos, evoluindo para a organização desses agentes. Já no
segundo momento, e, ao final, foi complementado por uma análise das características das inter-
relações resultantes do processo de organização grupal. Nesse sentido, as informações individuais
passaram para o coletivo, o grupo, como facilitador da construção do conhecimento sob uma
perspectiva processual e integradora.
Dessa forma, este estudo está estruturado nos seguintes tópicos:
Tópico I - Analisou-se o Arranjo produtivo local (Apl) como grupo de micros, pequenos e
médios empresários. Neste tópico, se correlacionará o Apl com as variáveis endógenas,
comportamentos e conflitos que acontecem na dinâmica de funcionamento de um grupo
20
organizacional; bem como o estímulo do desenvolvimento da integração e da coesão grupal como
elementos essenciais para a manutenção de Apls no mercado competitivo.
Tópico II - Evidenciou-se as micro, pequenas e médias empresas no atual contexto do
desenvolvimento local. Neste tópico será ressaltada a existência das MPMEs como uma nova
alternativa para o crescimento empresarial no mundo e no Brasil. Como também, a
implementação de uma estrutura organizacional baseada na flexibilização, na horizontalidade de
cargos e na multiplicidade de capacidades entre os micros, pequenos e médios empresários.
Tópico III - Foram focadas a tecelagem e a fabricação das redes de dormir em São
Bento/PB. Nesta, será explorada a evolução das fábricas de tecelagem, a utilização da matéria-
prima e o instrumento de fabricação da rede de dormir, que é o tear industrial. Será exposta
também a participação da mulher na complementação do orçamento familiar, por meio de
atividades manuais, conciliando e até desenvolvendo novidades em rendas, varandas e trabalhos
artesanais; bem como a influência das características culturais do sertanejo na gestão
organizacional desse Apl.
Tópico IV - Será discutido o percurso metodológico. Foram delineados o processo e os
procedimentos específicos para o andamento e concretização da pesquisa, buscando apreender o
maior número possível de informações, a partir dos instrumentos de coleta de dados escolhidos,
que foram a observação participante e a entrevista semi-estruturada. Para tanto, foi escolhida a
metodologia de natureza qualitativa e quantitativa, objetivando atender ao questionamento de
pesquisa e aos objetivos geral e específicos delineados.
Tópico V - Procedeu-se à apresentação dos dados e à análise dos resultados. Neste tópico,
serão apresentados os resultados e a análise dos dados coletados, tanto no aspecto quantitativo
quanto no qualitativo. Para os dados quantitativos, será utilizado o software SPSS 11.5 e, no
qualitativo, o método fenomenológico. À medida que forem apresentados os resultados,
concomitantemente será feita a análise dos mesmos, com o intuito de trazer fluidez, concatenação
de idéias e esclarecimento ao leitor.
Ao final deste trabalho, disponibilizar-se-á um diagnóstico analítico do comportamento do
grupo e do significado que a coesão de grupo tem para o povo sãobentense; como também a
21
contribuição que este estudo terá para a sociedade, por meio de reflexões e sugestões para as
pesquisas a serem realizadas futuramente. Este diagnóstico evidenciará os aspectos característicos
dos indivíduos, das empresas e das instituições parceiras atuantes no território, suas relações e
inter-relações com os membros da comunidade.
1. O ARRANJO PRODUTIVO
LOCAL (APL) COMO
GRUPO DE MICROS,
PEQUENOS E MÉDIOS
EMPRESÁRIOS
23
1. O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL (APL) COMO GRUPO
DE MICROS, PEQUENOS E MÉDIOS EMPRESÁRIOS
A correlação entre o tema Apl e dinâmica de grupo organizacional se dá pelo
entendimento de que um aglomerado de micro, pequenos e médios empresários constitui um
grupo de pessoas. Ou melhor, tentar visualizar cada ser individual constituindo um grupo
social possibilita conhecer fenômenos subjetivos que interferem no cumprimento dos
objetivos coletivos propostos. E esse grupo somente conseguirá funcionar adequadamente se
todos os membros estiverem compartilhando seus interesses individuais com o do contingente
grupal.
Porém, no sistema capitalista neoliberal predominam as organizações dispostas de forma
hierárquica, o poder centralizado na mão de poucos, sendo em sua maioria do tipo autoritária,
com relacionamentos “frios e hostis” entre colegas de trabalho, elevado nível de concorrência
interna e externa, despreparo dos funcionários diante das novas tecnologias e dificuldade para
sua manutenção no mercado. Entretanto, cada vez mais o envolvimento de órgãos privados e
públicos em busca do conhecimento e do trabalho em parceria com os Apls.
Várias instituições têm apoiado e contribuído para o crescimento de Apls “pobres” e em
processo de crescimento e muitos têm conseguido excelentes resultados, como exemplos, o
Apl de confecções em Toritama/PE e o Apl de roupas íntimas de Frecheirinhas/CE. Esse
crescimento e destaque no mercado financeiro regional, nacional e até no âmbito de
exportação nem sempre acontece de imediato, por ser construído em longos períodos de
amadurecimento. Uma grande dificuldade que geralmente os Apls encontram é a inexistência
de políticas públicas de incentivo e de amparo aos micros, pequenos e médios empresários,
como tem sido relatado em entrevistas pelos atores sociais do Apl de redes de dormir de São
Bento/PB, foco deste trabalho.
Na literatura científica e até mesmo na prática diária, registra-se o sucesso de uns Apls,
o fracasso de outros e a estagnação de terceiros por vários anos, indo alguns até o declínio
total. Ao estudá-los mais profundamente, observa-se que um dos fatores que leva à
imprevisibilidade e à estagnação desse tipo de aglomerações é a falta de união que o identifica
como “real” aglomerado ou grupo de pessoas ou de micros, pequenos e médios empresários.
24
Muitas ações têm sido implementadas nos Apls, a partir de parcerias com instituições. Mesmo
assim, tem-se verificado que, apesar de atender às necessidades das MPMEs, não se tem
garantido a manutenção e a sustentação do arranjo com o passar dos anos. Tem-se observado,
também, que um dos graves motivos para tal acontecimento é o bloqueio para a visualização
do Apl como um grupo de pessoas, que possuem inúmeras dificuldades de estabelecimento de
relações e de comunicação intergrupais. Para que um grupo funcione, precisa possuir
membros ou componentes que se entendam, que consigam trocar idéias e informações, que
estabeleçam e amadureçam laços de parceria.
1.1 Os benefícios da interdependência no grupo empresarial
Os benefícios oriundos do estreitamento de laços numa equipe de trabalho, quando esta
se transforma num grupo, repercutem positivamente em toda a estrutura organizacional. Para
Minicucci (1992, p. 20), grupo é um conjunto de pessoas interdependentes na tentativa da
realização de objetivos sociais, empresariais e que buscam um relacionamento interpessoal
satisfatório. Em meio à tentativa de concretização desses objetivos, cria-se no grupo; um
processo de interação entre pessoas que se influenciam reciprocamente.
Segundo Olmsted (1970, p. 20), o grupo consiste em uma pluralidade de indivíduos que
estão em contato uns com os outros, que se consideram mutuamente e que estão conscientes
de que têm algo significativamente em comum. Os grupos são classificados em primários e
secundários. Nos grupos primários, os membros têm laços afetivos íntimos e pessoais entre si;
sua solidariedade é inconsciente, face to face; são espontâneos em seu comportamento
interpessoal e têm fins mútuos e comuns, como a família e o grupo de amizade. Já, o grupo
secundário é considerado como o oposto ou o complemento do primário, pois as relações
entre os membros são frias, impessoais, contratuais e formais; nesse tipo, o grupo não é um
fim em si mesmo, mas um meio para outros fins. Verifica-se que os Apls se enquadram nos
grupos secundários, por ser composto por pessoas sem ligações familiares e afetivas íntimas.
Lapassade (1989, p. 65) complementa a definição de grupo ao afirmar que as pessoas se
unem por diversas razões como vida familiar, atividade cultural ou profissional, política ou
esportiva, amizade ou religião, dentre outros. Esses grupos costumam funcionar segundo
25
processos comuns, sem terem o costume de se observar espontaneamente. Muitos vivem em
grupos sem ter necessariamente consciência das leis de seu funcionamento interno.
Osório (2003, p. 57) assemelha a terminologia de grupo com a de sistema humano. Este
é todo conjunto de pessoas capaz de se reconhecer em sua singularidade, que estão exercendo
uma ação interativa com objetivos compartilhados. Um conjunto de pessoas que viaja em um
ônibus não constitui um grupo ou um sistema humano, apesar de terem um objetivo
compartilhado, que é de chegar ao seu destino, por não se reconhecerem em sua singularidade
e nem interagirem coletivamente (se o fazem, é cada qual com seu vizinho de poltrona). Essas
pessoas constituirão um grupo se tiverem um objetivo compartilhado, interações em busca de
um objetivo e os passageiros podem se reconhecer em sua singularidade, como no caso de um
acidente de ônibus. O acidente de ônibus irá demonstrar as peculiaridades do comportamento
de cada indivíduo em sua interação com o grupo. Nesse contexto, afirma que:
poderá surgir um corajoso altruísta, que, arriscando a própria vida, tenta salvar a
dos demais passageiros, pegando um extintor de incêndio e tentando apagar o fogo
que se inicia nas proximidades do tanque de combustível;
o covarde egoísta, que
foge para o mato com medo de que o ônibus pegue fogo;
o provedor de ajuda, que
procura atender e amparar os passageiros feridos;
o buscador de ajuda, que vai para
a estrada deter outros carros, solicitando socorro; o
pragmático providenciador, que
sai em busca de um telefone para chamar a polícia rodoviária e solicitar uma
ambulância;
o que se deixa tomar pelo pânico e fica paralisado; o histérico, que se
põe aos gritos, não ajuda ninguém e ainda demanda ajuda, e assim por diante
(OSÓRIO, 2003, p.58).
A participação em grupos, seja sindical, político, religioso, esportivo, escolar,
comunitário, de condomínio ou de outro tipo, propicia a cada membro se comprometer a ser
solidário com os outros ao participar de reuniões e no alcance dos objetivos. Isso leva os
membros constitutivos a terem uma consciência mais nítida para assumir e desempenhar os
objetivos do grupo, mesmo que estejam em desacordo parcial com os métodos ou meios de
atuação. A participação em um grupo leva o indivíduo a adotar determinadas posturas: 1)
possuir uma atitude em face de outros membros do grupo, dissimulando certos aspectos
pessoais, ou sendo protegido no anonimato; 2) desempenhar diferentes tipos de relações
sociais: as verticais (quando implica em uma superioridade de posição, status, liderança ou
chefia) e as horizontais (implicando igualdade de condições); 3) a da percepção de que cada
pessoa é particular, apesar das diferenças, quanto ao seu modo de pensar e agir; 4) perceber
26
que os grupos se estruturam em torno de lideranças, gerências ou chefias (MINICUCCI, 1992,
p. 22-23).
É importante ressaltar que famílias, grupos terapêuticos, empresas, instituições de
ensino, organizações não-governamentais e outras, apesar de serem distintas modalidades de
sistemas humanos, constituem grupo quando interagem coletivamente e reconhecem sua
singularidade. Quando não são constituídas assim, limitam-se a ser aglomerados de pessoas
em torno de determinado objetivo, sem a identidade grupal que permite abordá-los como
instrumentos epistemológicos.
Verifica-se, então, que um dos motivos da estagnação dos Apls é essa não interação
coletiva como grupo de micros, pequenos e médios empresários. Muitos cultuam a
individualidade em detrimento do coletivo e são de opinião, inclusive, que irão ganhar muito
mais dinheiro se estiverem sozinhos. Não conseguem visualizar e nem foram acostumados a
refletir nos benefícios que todos irão desfrutar se estiverem unidos em prol de um objetivo
comum. Porém, para que isso aconteça, eles precisam estar verdadeiramente entrosados e
envolvidos com a identidade grupal, ou seja, os objetivos pessoais devem condizer com os
objetivos de grupo.
1.2 A dinâmica dos grupos e seus respectivos teóricos
Inicialmente, o termo dinâmica de grupo surgiu a partir de Lewin. Era uma ciência
experimental, praticada no início em laboratório e em grupos artificiais. Porém, em um
segundo momento, o mesmo termo se referiu ao trabalho do técnico em dinâmica de grupo,
que saiu do seu laboratório e foi tentar solucionar conflitos sociais (LAPASSADE, 1989, p.
66). Verifica-se, nessa saída do profissional do ambiente fechado do consultório e do
escritório, uma nova postura e um amadurecimento diante das adversidades sociais.
Quatro profissões: Serviço Social, Psicoterapia de Grupo, Educação e Administração,
contribuíram cientificamente para o desenvolvimento da dinâmica de grupo. O Serviço Social,
com a necessidade da orientação em grupo, de forma que os participantes possam obter as
modificações desejadas. A Psicoterapia de Grupo, com o trabalho pioneiro de Freud na
27
psicanálise e depois com Moreno, quando se passou a utilizar o grupo como elemento
fundamental de modificação de comportamento humano e social. Na Educação, os estudos de
Dewey, o filósofo da democracia, enfatizam que a escola deixa de ser simplesmente um local
de transmissão de conhecimentos. Ainda na Educação, os trabalhos desenvolvidos por Piaget,
no desenvolvimento do pensamento operatório. E na Administração, as empresas perceberam
a importância do grupo no gerenciamento e na orientação de equipes e de departamentos
(MINICUCCI, 1982, p. 33-34).
Essas ciências puderem enriquecer, cada uma na sua área específica de atuação, a
formação e a constituição da dinâmica de grupos. Os fenômenos vividos no ambiente grupal
freqüentemente apresentam situações conflituosas que precisam ser resolvidas em âmbito
organizacional.
1.2.1 Kurt Lewin e a teoria do campo social
A ênfase ao estudo do grupo e aos fenômenos grupais e de dinâmica de grupo,
aconteceu quando Lewin, um psicólogo nascido na Prússia por volta de 1890, resolveu
estudar mais profundamente os fenômenos que aconteciam dentro do grupo. Por ser judeu, foi
obrigado pelos nazistas a emigrar da Alemanha, passando a residir, então, nos Estados
Unidos. Em 1940, tornou-se professor na Universidade de Harvard e, em 1945, continuando
seu magistério nessa mesma instituição, a pedido do Massachusetts Institute of Technology
MIT – funda um centro de pesquisa em dinâmica de grupos. Para ele, foi a ocasião de criar e
de introduzir no vocabulário dos psicólogos o termo “dinâmica dos grupos”. Ele continuou
por algum tempo a se interessar por problemas de psicologia individual, tais como a
frustração, a regressão, os níveis de aspiração e a aprendizagem (LEWIN, 1965, p. 23).
Mesmo estudando problemas individuais, Lewin se preocupou e priorizou a psicologia
dos grupos, sendo esta ao mesmo tempo dinâmica e gestáltica, ou seja, articulada e definida
por referência constante ao meio social no qual se formam, integram-se, gravitam ou se
desintegram os grupos. Ele conduziu a psicologia social a um plano mais realista. A partir de
suas idéias, renunciou à utopia de edificar um saber coerente, exaustivo e definitivo do social.
O estudo dos pequenos grupos constituiu uma opção estratégica que permitiu eventualmente,
28
em um futuro ainda imprevisível, esclarecer e tornar inteligível a psicologia dos macro-
fenômenos de grupo (LEWIN, 1951, p. 13). O entendimento da realidade macro-social se dá a
partir das experiências vividas em pequenos grupos de trabalho, proporcionando segurança e
compreensão ao estudo das relações sociais.
Os motivos que levaram aos estudos dos pequenos grupos se devem a quatro razões. A
primeira é pragmática, pois é necessário compreender o que acontece nesses grupos, seja
porque as decisões têm um efeito decisivo na história das comunidades, seja porque a
dinâmica interfere na forma de viver dos indivíduos. A segunda, sócio-psicológica, é a
visualização de como as pressões sociais e as individuais se encontram no pequeno grupo.
Contexto este imprescindível à observação e experimentação acerca da interação dessas
pressões. A terceira razão é sociológica, cujas tarefas imediatas são a compreensão dos
pequenos grupos em si mesmos e a criação de teorias, fundamentadas em conhecimento
empírico. Por último, a quarta razão é a mais ambiciosa, nela os pequenos grupos constituem
um caso especial do tipo mais geral de sistema, ou seja, são o sistema social. É importante
afirmar que estes não são apenas microssistemas, mas são, também, microcosmos de
sociedades mais amplas (MILLS, 1970, p. 12-13).
Pressupõe-se, entretanto, a complexidade dos fenômenos existentes na sociedade no que
se refere aos comportamentos, hábitos e culturas de cada região. No ser humano existem as
particularidades como aspectos hereditários, características do ambiente e da personalidade
constituindo o ser individualizado. Já na sociedade, cada ser particular se encontra com a
diversidade dos outros seres constitutivos, formando o macro-sistema.
Um grupo sobrevive quando possui três elementos fundamentais: existência,
interdependência e contemporaneidade. A existência corresponde ao meio atual em que a
pessoa se encontra. A interdependência valoriza a reunião de vários elementos como família,
esposa, filhos, netos e trabalho. A contemporaneidade consiste na valorização dos eventos no
momento (tempo). Um grupo não é uma realidade estática, pois um grupo de trabalho não foi
ontem o que é hoje e amanhã será diferente. O grupo é um processo em desenvolvimento ou
um processo quase-estacionário, que para sobreviver, nunca pára de mudar e estas mudanças
dependerão do clima e da atmosfera vivida no mesmo (LEWIN, 1951, p. 51). Em grupos em
que se estimula o desenvolvimento constante da criatividade e da resolução de problemas
entre os membros constitutivos, tende-se a haver um maior crescimento e a manutenção
destes no mercado competitivo. Tais percepções têm se evidenciado com o aumento de
29
micros, pequenos e médios empresários interessados em ingressarem em estruturas
organizacionais, como os Apls, que valorizam e acreditam no coletivo.
Para Lewin, a terminologia campo seria o espaço de vida de uma pessoa; sendo este
constituído por ela mesma e pelo seu meio psicológico. O comportamento do indivíduo
dependerá das mudanças que ocorrem em seu campo, em seu espaço de vida e em
determinado momento (LEWIN, 1965, passim). Quando há algum problema sério em família,
por exemplo, há uma atenção redobrada sobre este aspecto e todo o organismo se volta
focalizando determinada situação, como pode-se observar na figura 1.
Figura 1 – O Espaço de vida de um grupo
Fonte: Miniccuci (1997, p. 28) (Adaptado pela autora)
Figura 1: O Espaço de vida de um grupo
A, B, C, D, E = elementos do grupo
Totalidade grupal
B
D
E
C
A
ESPAÇO DE VIDA
Fonte: Minicucci (1997, p. 28), adaptado pela autora
O comportamento é função do espaço de vida, e depende da pessoa e do meio em que a
mesma está inserida. Se este se instabiliza por causa de um problema, como a família, isto
também produz incertezas e altera seu inter-relacionamento, já que o meio psicológico é
considerado como parte de um campo interdependente, do qual faz parte. Sendo assim, como
o campo psicológico, o campo social é uma totalidade dinâmica, estruturada em função da
posição relativa das entidades que o compõem. O comportamento social resulta da inter-
relação dessas entidades, tais como grupos, subgrupos, membros, barreiras, canais de
comunicação e outros, ou seja, da distribuição de forças em todo o campo (MINICUCCI,
30
1997, p. 25). Compreende-se, assim, a tamanha dificuldade de se obter a totalidade grupal em
sistemas organizacionais.
Para Lewin (1941, p. 52-54), as atitudes coletivas se encontram no início e no fim do
encadeamento dos fenômenos dinâmicos que produzem os comportamentos de grupo. São
segmentos de uma situação social, na qual se fundem em uma mesma realidade dinâmica,
elementos objetivos e elementos conscientes ou subjetivos. Para que isso aconteça, existem
três conceitos básicos, tomados de empréstimo da psicologia topológica. São eles:
a) Totalidade dinâmica - conjunto de elementos interdependentes. Se os grupos são
sempre totalidades dinâmicas, estas estão longe de serem exclusivamente grupos. A
personalidade pode ser uma totalidade dinâmica na medida em que pode ser
considerada como um complexo de sistemas, de formas e de processos psíquicos;
b) Eu social - o “Eu”, que é chamado de self, revela-se em relação às realidades
sociais como um sistema de círculos concêntricos. Ao centro, revela-se um núcleo
constituído pelo “Eu íntimo” dinâmico e formado por valores fundamentais, aqueles
valores aos quais o indivíduo consagra a maior importância. Em torno desse núcleo
central, situam-se as regiões intermediárias, o “Eu social”, que engloba os sistemas
de valores que são partilhados com certos grupos, como os valores de classe e os
valores profissionais. Na periferia da personalidade encontra-se o “Eu público”, que
é a região mais superficial de uma personalidade, aquela que está engajada nos
contatos humanos ou nas tarefas em que apenas os automatismos são suficientes ou
são exigidos (Ver figura 2).
Certas personalidades são abertas ao outro a ponto de não serem senão estruturas de
acolhimento, mesmo no plano do “Eu íntimo”. Outras, ao contrário, mesmo no plano do “Eu
público”, são desdobradas sobre si mesmas e não parecem preocupadas senão em defender-se
e em fechar-se ao outro. Em pessoas introvertidas, o “Eu social” atenua-se e a personalidade
toda é absorvida pelo eu íntimo. Por razões diferentes, o eu social é quase inexistente nos
extrovertidos em que o eu público ocupa todo o espaço vital.
31
Figura 2: Configuração da personalidade
Eu
Social
Eu Íntimo
Eu Self
Eu
Público
Fonte: Minicucci (1982, p. 53), adaptado pela autora
c) O Campo social - é a coexistência de várias entidades integradas. No interior de
um mesmo campo social, grupos, sub-grupos, indivíduos são separados por barreiras
sociais ou ligados por redes de comunicações. O campo social se constitui nas
posições relativas de que se ocupam os diferentes elementos constitutivos. É uma
gestalt, isto é, um todo irredutível aos sub-grupos que nele coexistem e aos
indivíduos que ele engloba (LEWIN, 1948 apud MAILHIOT, 1985, p. 53).
Verifica-se, entretanto, que esses conceitos básicos estão presentes na dinâmica grupal.
Além de estarem no grupo, enquanto ser individualizado, estão também como gestor ou líder
de pequenos grupos de funcionários ou operários que, por sua vez, também possuem suas
realidades concretas. Desta forma, um grupo de Apl para sobreviver, necessita de
entrosamento, forte coesão grupal e dinamismo entre seus membros. A partir do entendimento
de campo social, Lewin (1948, p. 54-55) enfatizou quatro hipóteses sobre a dinâmica dos
pequenos grupos. A primeira afirma que o grupo constitui o terreno sobre o qual o indivíduo
se mantém. Este pode ser firme, frágil, móvel, fluido ou elástico. Quando uma pessoa não
define com nitidez sua participação social ou não consegue se integrar em seu grupo, seu
espaço ou sua liberdade de movimento no interior do grupo será caracterizado pela
instabilidade e pela ambigüidade.
32
A segunda hipótese evidencia que o grupo, para o indivíduo, é um instrumento. Ele
utiliza o grupo e as relações sociais que estabelece em seu grupo como instrumento para
satisfazer suas necessidades psíquicas ou suas aspirações sociais. Para a terceira, o grupo é
uma realidade da qual o indivíduo faz parte, mesmo aqueles que se sentem ignorados,
isolados ou rejeitados. Os valores, as necessidades, as aspirações, as expectativas encontram
gratificações ou frustrações no grupo. A dinâmica de um grupo tem um impacto social sobre
os indivíduos que o constituem. Já na quarta hipótese, o grupo é, para o indivíduo, um dos
elementos ou um dos determinantes de seu espaço vital. É no interior desse espaço que se
desenvolve a existência de um indivíduo.
Com a investigação e o estudo das hipóteses, Lewin enumerou três prováveis
problemas-chave na dinâmica dos agrupamentos humanos: a comunicação humana, o
aprendizado da autenticidade e o exercício da autoridade em grupo de trabalho. A
comunicação humana tornou-se evidente em uma experiência vivenciada por Lewin (1965, p.
64) e sua equipe de trabalho no Centro de Pesquisas em Dinâmica dos Grupos, no M I T. Os
projetos de pesquisas em curso eram enormes em termos de quantidade, os recursos
financeiros abundantes, o ardor e o fervor ao trabalho evidentes e havia uma aparente
motivação. Verificou-se, em momentos de auto-avaliação de seu trabalho, realizado
periodicamente, a falta de integração real da equipe, o ritmo lento e artificial do
encaminhamento de seus trabalhos, os parcos recursos inventivos e a fraca engenhosidade
manifestada na exploração dos problemas estudados. A título de sugestão, Lewin enunciou a
hipótese: “se a integração entre nós não se realiza e se, paralelamente, nossas pesquisas
progridem tão pouco, tal fato pode ocorrer em razão de bloqueios que existiriam entre nós em
nível de nossas comunicações” (LEWIN, 1965, passim).
A partir dessa constatação, Lewin e seus colaboradores tiveram consciência de que suas
relações interpessoais, aparentemente confiantes e positivas, eram inautênticas pelo fato de
não terem como base comunicações abertas. Não existiam somente neles e entre eles, fontes
insuspeitáveis de bloqueios, mas estes criavam zonas de silêncio que comprometiam as
próprias comunicações que chegavam a estabelecer. Corria-se constantemente o risco de as
comunicações serem filtradas, em virtude de não serem preparadas num clima de confiança.
Tal evidência levou Lewin a convidar seus companheiros de trabalho para participar de um
momento de reencontro fora do ambiente de trabalho, a fim de estreitar os laços existentes
naquele contexto vivido (LEWIN, 1965, passim).
33
No momento em que o grupo de trabalho conseguiu assinalar as fontes de bloqueios e de
filtragem em suas comunicações, suas relações interpessoais desenvolveram-se, tornando-se
mais autênticas, havendo a integração entre seus membros no plano de trabalho. A coesão e a
solidariedade resultantes desse trabalho em grupo mudaram profundamente a atmosfera das
sessões de trabalho. Nestas conseguiram-se ritmos crescentes de produtividade e de
criatividade. Então, a experiência vivida por Lewin e seus colaboradores mostrou-se
concludente. Descobriu-se que a produtividade de um grupo e sua eficiência estão
estreitamente relacionadas não somente à competência intelectual de seus membros, mas,
sobretudo, à solidariedade de suas relações interpessoais (LIPPIT, 1947, p. 65). Tal realidade
pode ser facilmente aplicável num contexto de Apl, pois são grupos de micros, pequenos e
médios empresários que necessitam manter e ampliar sua produtividade e estimular
continuamente sua criatividade.
Nessa situação em foco, houve disponibilidade para a resolução da problemática por
todos os membros. Verifica-se também que o grupo era constituído de professores
universitários, mais abertos e conhecedores do assunto. Na realidade vigente, os sistemas
organizacionais, em sua maioria, não valorizam nem estão atentos aos aspectos subjetivos e
de relacionamento de sua equipe de trabalho; cabendo aos profissionais que trabalham com
recursos humanos e na área de comportamento mostrar os benefícios no retorno financeiro,
para a saúde do funcionário e manutenção deste em um ambiente de trabalho que está atento
ao capital humano da sua empresa. Um Apl que estimula a solidariedade das relações
interpessoais, possivelmente passará confiança e credibilidade para seus membros e,
conseqüentemente, para parceiros e clientes.
Após essas descobertas modificadoras de toda a realidade vigente e que trouxeram uma
nova forma de se encarar os fenômenos grupais, outros estudiosos, como Schutz (1965),
Bavelas (1948) e Moreno (1984), após a morte de Lewin, deram continuidade aos estudos e
enfocaram outros pontos cruciais para um funcionamento ideal do grupo.
34
1.2.2 W. C. Schutz e a teoria das necessidades interpessoais
Schutz, professor de Harvard, elaborou a Teoria das Necessidades Interpessoais, dando
um progresso de continuidade notável ao trabalho de Lewin. Schutz acreditava que existe uma
interdependência e uma estreita correlação em grupos de trabalho no que se refere ao grau de
integração e ao nível de criatividade dos mesmos. Os membros de um grupo não consentem
em integrar-se senão a partir do momento em que certas necessidades fundamentais são
satisfeitas pelo grupo (SCHUTZ, 1965, p. 66).
O campo social de cada ser humano é composto também pelas necessidades
interpessoais. A existência e o cumprimento das necessidades básicas estimulam a motivação
e o sentido de permanecer no grupo. São necessidades interpessoais no sentido de que
somente em grupo e pelo grupo elas podem ser satisfeitas adequadamente. As necessidades
interpessoais são: a necessidade de inclusão, de controle e de atenção. Essas necessidades
poderão ser encontradas entre os membros do Apl, dificultando o estabelecimento de
comunicações e de relacionamento autêntico. A ausência na satisfação dessas necessidades
poderá causar os comportamentos mais adversos possíveis.
A necessidade de inclusão é experimentada por todo membro novo de um grupo ao se
perceber e ao se sentir aceito, integrado e valorizado totalmente por aqueles aos quais se junta.
Todo ser humano deseja possuir um status positivo e permanente no interior do grupo
(SCHUTZ, 1989, p. 105). A partir do grau de maturidade social de cada indivíduo e seu nível
de socialização é que se condicionará e determinará atitudes em grupo mais ou menos adultas
e evoluídas. Os indivíduos menos socializados procuram integrar-se ao grupo adotando
atitudes de dependência, sobretudo, em relação àqueles membros que possuem um status
privilegiado, são os chamados membros socialmente infantis. Já aqueles que não superaram a
fase da revolta típica da adolescência, tentam impor-se ao grupo através de atitudes de contra-
dependência; forçando, assim, sua inclusão no grupo. Os indivíduos melhor socializados são
os únicos que encontram em suas relações interpessoais positivas uma satisfação adequada à
sua necessidade de inclusão, adotando para com os outros membros do grupo atitudes ao
mesmo tempo de autonomia e de interdependência (SCHUTZ, 1989, p. 106).
35
A necessidade de controle consiste em cada membro poder definir para si mesmo suas
responsabilidades e também as de cada um que com ele forma o grupo. É a necessidade que
experimenta cada novo membro de se sentir totalmente responsável com suas estruturas,
atividades, objetivos, seu crescimento e seus progressos. É interessante destacar que é inerente
ao ser humano o desejo e a necessidade de que a existência da dinâmica do grupo não lhe
escape totalmente a seu controle. Os indivíduos menos socializados, aqueles que no plano da
inclusão mostravam-se dependentes, adotarão atitudes infantis ao exprimir sua necessidade de
controle. Eles tenderão a demitir-se de toda responsabilidade e a delegá-la a outros, àqueles
que percebem como dotados de poder carismático. Em conseqüência, adotam atitudes
abdicadoras (SCHUTZ, 1989, p. 107).
Aqueles que se sentem rejeitados e mantidos à margem das responsabilidades no grupo,
tenderão a cobiçar o poder e a querer, se preciso, assumir sozinhos o controle. Estes adotam
em grupo, cada vez que lhes são confiadas responsabilidades, atitudes de autocratas.
Inclusive, alguns chegam mesmo a ambicionar a responsabilidade primeira e absoluta do
grupo. Os mais socializados ou os possuidores de maior maturidade social têm tendência a se
mostrar democratas, isto é, a pensar e a querer o controle do grupo em termos de
responsabilidade partilhada (id., p. 108).
A necessidade de afeição em alguns momentos é entendida de forma ambígua e
equivocada. Ela pode ser sentida em graus diversos e segundo modalidades diferentes, por
vezes opostas, pelos indivíduos que devem ou querem viver ou trabalhar em grupo, o que
consiste em querer obter provas de serem totalmente valorizados pelo grupo. É o secreto
desejo de todo indivíduo em grupo de ser percebido como insubstituível, pois cada um
procura recolher sinais concludentes ou convergentes de que os outros membros não
poderiam imaginar o grupo sem ele. Aquele que se junta não aspira somente ser respeitado ou
estimado por sua competência ou por seus recursos, mas também a ser aceito como pessoa,
não apenas pelo que tem, mas pelo que é (id., p. 108).
A expressão dessa necessidade de afeição é fortemente condicionada e determinada pelo
grau de maturidade social do indivíduo. Os mesmos que há pouco se mostravam dependentes
no plano de inclusão e abdicadores em relação ao controle, tentam satisfazer suas
necessidades de afeto através de relações privilegiadas, exclusivas e geralmente possessivas.
Adotam atitudes infantis, esperando ser percebidos e aceitos no papel de criança mimada do
36
grupo, não desejando senão apenas receber. Mas, desejam interiormente estabelecer em grupo
relações hiperpessoais (SCHUTZ, 1989, p. 109).
Já aqueles que se sentem rejeitados ou ignorados pelo grupo cedem a mecanismos que
os psicanalistas chamariam de bom grado, que são mecanismos de formação reacional. Estes
indivíduos adotam como uma reação de defesa contra as necessidades de afeição que
experimentam, atitudes adolescentes de aparente indiferença ou frieza calculada. Eles
preconizam, quando não ficam reclamando, relações unicamente formais e estritamente
funcionais entre os membros. Geralmente, evitam a tentativa de estabelecimento da
solidariedade interpessoal sobre uma fase mais profunda de amizade, ocultando sua
necessidade de afeição e se mostrando como hipopessoais (SCHUTZ, 1965, p. 112).
Os indivíduos mais altruístas, os mais socializados, não obedecem nem aos mecanismos
de defesa, nem aos mecanismos de compensação. Eles desejam ser aceitos totalmente e
afeiçoados ao grupo pelo que são. Essa necessidade de afeição encontra plena satisfação nos
laços de solidariedade e de fraternidade que se estabelecem entre eles e os outros membros do
grupo, estabelecendo suas relações em nível autenticamente interpessoal (id., p. 110).
Verifica-se, ao longo do comportamento nas fases de cumprimento da satisfação das
necessidades, que os indivíduos menos socializados e os rejeitados apresentam dificuldade de
relacionamento nas três necessidades interpessoais. Dessa forma, esses indivíduos são
considerados entraves e bloqueios para o crescimento e para o bom funcionamento do grupo.
É importante destacar que os problemas pessoais de cada indivíduo são manifestos de forma
acentuada na convivência em grupo, confirmando, assim, o quanto o ser humano necessita do
outro para se ver. Por isso, os Apls precisam investir nos membros constitutivos do grupo, a
partir de capacitações e treinamentos que focalizem as relações humanas.
A Teoria das Necessidades Interpessoais elaborada por Schutz serviu para explicar
experimentalmente o que Lewin havia percebido de modo intuitivo, querendo saber o como e
o porquê de um grupo quando não conclui sua integração, ser incapaz de criatividade
duradoura. Porém, essa teoria não conseguiu ir além da relação interpessoal. A partir de
instrumentos validados por Schutz, conseguiu-se diagnosticar com muito acerto e não sem
mérito, que existe uma equação entre a integração de um grupo, a solidariedade interpessoal
de seus membros e a satisfação em grupo e pelo grupo das necessidades de inclusão, de
controle e de afeição de seus membros. As relações interpessoais não podem tornar-se mais
37
positivas, mais socializadas e o grupo integrar-se de modo definitivo, enquanto subsistirem
entre os membros fontes de bloqueios e de filtragens em suas comunicações (id., p. 111). Com
o intuito de entender resumidamente o comportamento apresentado pelos indivíduos no que se
refere às necessidades interpessoais, foi elaborado um quadro 1.
A gênese de um grupo e sua dinâmica são determinadas pelo grau de autenticidade das
comunicações que se iniciam e se estabelecem entre seus membros. Já é um dado de realidade
que somente em um clima de grupo em que as comunicações são abertas e autênticas, as
necessidades interpessoais podem encontrar satisfações adequadas.
GRAU DE MATURIDADE SOCIAL/COMPORTAMENTO
INDIVÍDUOS NECESSIDADE DE
INCLUSÃO
NECESSIDADE DE
CONTROLE
NECESSIDADE DE
AFEIÇÃO
Indivíduos menos
socializados
- atitudes de
dependência dos
membros com status
privilegiado
(Socialmente
infantis)
. demitem-se das
responsabilidades
delegando-as a
outros
(Abdicadores de
responsabilidades)
- busca de relações
exclusivas e
possessivas
(Criança mimada do
grupo)
Indivíduos rejeitados - atitudes de contra-
dependência
. cobiça o poder e
quer o controle
(Autocratas)
- posturas de aparente
indiferença ou frieza
calculada
(Relações
hipopessoais)
Indivíduos mais
socializados
- atitudes de
autonomia e
interdependência
. são democratas - relações de
solidariedade e de
fraternidade
(Relações
hiperpessoais)
Quadro 1 - Grau de maturidade social
Fonte: Elaborado pela autora a partir da revisão de literatura
A partir deste quadro, pode-se concluir que as necessidades interpessoais estão presentes
em todo ser humano e é na convivência em grupo que o ser humano se vê e se percebe no
outro. Tais posturas, quando exacerbadas, atrapalham e impedem o crescimento do grupo.
38
1.2.3 A. Bavelas e a importância da comunicação humana
Bavelas (1950, p. 25) foi um discípulo de Lewin que estudou detalhadamente a
comunicação humana. De acordo com este, ela só acontece quando se estabelece entre duas
ou mais pessoas um contato psicológico. Não é suficiente que as pessoas com desejo de
comunicação se falem, se escutem ou mesmo se compreendam. É preciso mais, pois a
comunicação humana existirá quando e todo o tempo em que conseguirem se reencontrar. A
comunicação humana é constituída por dois elementos básicos: o transmissor e o receptor.
Estes são elementos básicos e essenciais para o estabelecimento de uma comunicação
interpessoal. Caso não estejam presentes, a comunicação já se inicia defeituosa e sem
possibilidade de amadurecimento futuro.
De acordo com Mailhiot (1985, p. 70-73), a comunicação varia segundo os instrumentos
utilizados para estabelecer o contato com o outro, as pessoas envolvidas e os objetivos a
serem atingidos no processo de comunicação. No que se refere aos instrumentos, a
comunicação poderá ser verbal ou não-verbal. A verbal se caracteriza pela utilização da
linguagem oral ou escrita para iniciar e estabelecer o contato com o outro. Ela é a mais
freqüente e habitual, pelo menos no Ocidente. Na América Latina, sobretudo, tem tendência a
tornar-se o instrumento preferencial, senão exclusivo, de comunicação. Já a comunicação não-
verbal enfatiza os gestos, as expressões faciais, as posturas. Até mesmo o silêncio e as
ausências no interior de certos contextos podem tornar-se significativos e carregados de
mensagens para o outro e, segundo as situações, ora podem ser percebidos pelo receptor como
expressões de coragem, ora como omissões ou covardias (BAVELAS, 1948, p. 70-71).
A comunicação verbal e a não-verbal nem sempre estão sincronizadas e sintonizadas no
mesmo indivíduo. Algumas vezes o não-verbal está em dissonância com o verbal, traindo o eu
íntimo que o verbal tenta camuflar. Gestos bruscos, cortantes, acompanham muitas vezes
palavras melosas, doces, que dissimulam mal um estado de irritação interior. A partir dos
estudos de Lewin no Ocidente, a dinâmica dos grupos tem contribuído muito para revalorizar
a comunicação não-verbal e a expressão corporal do indivíduo. Uma comunicação só poderá
ser adequada quando for verbal e não-verbal simultaneamente (id., p. 71). A dinâmica de
grupo veio justamente trazer a consciência para o indivíduo de que o que é sentido nem
sempre é o mesmo do que está sendo comunicado. Costumeiramente as pessoas, grupos de
39
trabalho e organizações pregam bonitos discursos intelectualizados que não existem na
prática, havendo uma distorção no instrumento da linguagem.
No que diz respeito às pessoas, é necessário distinguir entre a comunicação a dois e a
comunicação em grupo. A comunicação a dois pode ser pessoal, quando constitui um
encontro entre dois seres que se percebem em relação de reciprocidade ou de
complementaridade, como na amizade, no amor ou na fraternidade. Esta comunicação, se
autêntica, tende a durar e aspira à permanência. A comunicação a dois chamada profissional
acontece quando a pessoa consultada e a consultante estabelecem comunicações verticais: o
profissional dá e o consultante recebe. A comunicação em grupo pode ser distinguida entre a
comunicação intra-grupo, quando se estabelecem entre os membros de um mesmo grupo, e a
comunicação inter-grupo, quando se constitui em contatos e trocas entre dois ou vários grupos
(id., p. 72).
Quanto aos objetivos da comunicação, pode-se distingui-los entre a consumatória e a
instrumental. A primeira tem por finalidade exclusiva a troca com o outro, podendo se
apresentar de forma prosaica: “o falar por falar”; ou pode adotar formas evoluídas, como o
caso do espírito criativo que, habitado por um sonho constante, sente a imperiosa necessidade
de comunicar ao outro seu universo pessoal. Portanto, sejam quais forem as modalidades
pelas quais se manifesta, a comunicação consumatória é sempre acompanhada de gratuidade e
de espontaneidade. Já a comunicação instrumental é utilitária e sempre comporta segundas
intenções. A troca com o outro é procurada, preparada e estabelecida para fins de
manipulação, mais ou menos confessáveis (BAVELAS, 1950, p. 72-73).
Na comunicação humana, quanto maiores o contato psicológico e o grau de
profundidade, mais possibilidade terá de ser autêntica. Uma comunicação que se estabelece de
pessoa para pessoa, indo além dos personagens, das máscaras, do status e das funções mais
facilmente será autêntica. Por isso, um dos fatores para o declínio nos sistemas
organizacionais, como no Apl, são as inúmeras comunicações não entendidas entre seus
membros, impossibilitando, assim, uma comunhão na forma de pensar e de agir. Ainda
objetivando entender o funcionamento da estrutura grupal, Moreno (1984, p. 12) evidenciou-o
a partir do estudo do psicodrama.
A comunicação entre micros, pequenos e médios empresários precisa ser autêntica, clara
e objetiva para que haja entendimento e se possa chegar a decisões que propiciem crescimento
40
ao Apl. A maioria dos seres humanos não consegue se comunicar de forma clara e precisa,
desencadeando maiores problemas como silêncio nas reuniões, indiferença e estranheza diante
das dificuldades do outro.
1.2.4 Jacob Moreno e o sociodrama
Moreno foi um dos iniciadores do trabalho em grupo, associando-o ao teatro através do
psicodrama e do sociodrama. Sua experiência inicial aconteceu em um teatro sem atores, sem
texto, sem peça, com um tema livre, denominado “O romance do rei”, em que trabalhou com
mil espectadores e, durante três horas, levou este enorme público a participar dessa busca de
espontaneidade. Iniciou, assim, o chamado psicodrama, através da ação terapêutica da
representação (MORENO, 1984, p. 9).
Para Moreno, a estrutura latente dos grupos não consiste somente em uma distribuição
de afetos dentro do espaço grupal. É no vivenciar de uma realidade afetiva e cognoscitiva que
se torna evidente no grupo a forma como ele vive, suas relações com seus membros, a
maneira como percebe os outros e a “distância social” que experimenta entre os membros e a
forma como cada elemento grupal é percebido pelo grupo (id., p. 10). Tal experiência vivida
traz engrandecimento pessoal para a dinâmica grupal.
Muitas vezes nos comportamentos de forma espontânea dentro do grupo, nunca se
escapa à interpretação de papéis diferentes do que realmente se é. Assumindo um papel de
intervenção no grupo, logo se é chamado de agitador, adversário do grupo e subversivo. Para
Moreno, ser capaz de mudar de papel para fazer frente às exigências de dada situação é
sinônimo de ajustamento da personalidade social, de abertura e de afirmação da própria
personalidade (MORENO, 1984, p. 72). Sendo assim, um indivíduo que assume um papel
social, diferente de sua personalidade, demonstra desenvoltura e facilidade para as habilidades
sociais. Não consiste em fraqueza ou perda de caráter, mas em flexibilização de humor,
abertura para novas tendências e personalidade amadurecida.
A sociometria consiste em relatar o feixe de interações e de comunicações de todas as
pessoas com as quais o indivíduo se relaciona, podendo mostrar objetivamente a dinâmica do
grupo no qual ele está inserido. O teste sociométrico é um meio para assinalar a estrutura
41
latente do grupo e, a partir de sua aplicação, pode-se construir um perfil para cada indivíduo.
Porém, para entendê-lo, é necessário que se coloquem as características reveladas dentro do
contexto social. Assinala-se, então, não só a posição do indivíduo dentro do grupo como o
sistema complexo de atitudes sociais para com os membros da comunidade em que ele está
inserido (MORENO, 1975, p. 75).
O psicodrama consiste em uma experiência vivida em grupo, pelo grupo e para o grupo.
O indivíduo, ao participar dessa experiência, sente que não está só, que compartilha seus
problemas com os outros e percebe que esses problemas não são apenas seus. Toda vez que o
grupo vive um momento de aprofundamento privilegiado, verifica-se uma tolerância, uma
compreensão recíproca, uma comunicação total, completa, entre os seres (tele), uma espécie
de comunhão entre os membros do grupo. Para que haja esse encontro verdadeiro, os canais
de comunicação entre os componentes precisam estar abertos e acessíveis para esse tipo de
vivência.
Em muitos grupos de trabalho, esses canais de comunicação inexistem, pois os membros
estão inacessíveis e fechados em suas questões particulares. Muitos não têm consciência nem
percebem seus movimentos, dificultando ainda mais o crescimento e a ascensão enquanto
grupo. Pressupõe-se que nos Apls os canais de comunicação não sejam tão livres porque em
geral, neste especificamente, tratam-se de produtores de redes, cujas relações estão baseadas
em retorno financeiro rápido e imediato. Porém, tem-se visto cada vez mais a importância das
empresas, qualquer que seja seu porte, investir na qualificação de seu pessoal e no trabalho de
desenvolvimento de habilidades subjetivas.
1.3 Os canais de comunicação humana e os componentes sociais no grupo
A comunicação humana não se inicia nem se estabelece enquanto existirem distâncias
psicológicas a transpor entre aqueles que querem entrar em contato. É um pré-requisito para
todos que queiram se comunicar, assinalar e identificar as vias de acesso ao outro, aceitá-las e
nelas se engajar. As vias de acesso ao outro são os canais de comunicação. Não basta
conhecer e ter acesso ao outro, mas também ser ou tornar-se receptivo às mensagens que lhes
são dirigidas. É importante perceber objetivamente os momentos psicológicos e as ocasiões de
42
receptividade do outro, pois isto é uma arte que poucos seres humanos conseguem dominar
definitivamente e que supõe capacidade de empatia excepcional (BAVELAS, 1950, p. 74).
Inicialmente não é fácil sintonizar os canais de comunicação, o que requer paciência e
disponibilidade em escutar o que o transmissor está querendo lhe passar. A aproximação
psicológica e a capacidade de estabelecimento da empatia são características sine qua non
para a comunicação entre seres humanos. Os canais de comunicação formais e oficiais são
acessíveis a partir de caminhos definidos, cujas entradas são reguladas por um processo mais
ou menos rígido. Quanto maior for a disparidade de status existente entre dois interlocutores,
mais aquele, cujo status é inferior, deverá preocupar-se em descobrir as vias formais para
aproximar-se do outro cujo status é considerado privilegiado.
Nos canais de comunicação espontâneos, as comunicações são abertas, confiantes e
acessíveis constantemente um ao outro. Bavelas (1950, p. 75-76) enumera quatro tipos
distintos de Redes de comunicação. Duas destas são definidas como horizontais, as Redes em
Círculo e as Redes em Cadeia. Elas não aparecem, nem se estabelecem senão em clima de
grupo igualitário, isto é, unicamente no interior de grupos em que cada indivíduo se percebe
como membro participante, gozando de um status de perfeita igualdade em relação aos outros
membros.
A rede em círculo constitui uma rede perfeita que não pode existir senão em grupo ou
estruturas de trabalho e de poder que sejam democráticos. Já a rede em cadeia é típica dos
grupos do tipo “laissez-faire”, em que a autoridade se exerce de modo “bonachão”. O líder é
tido como passivo, pois se recusa a assumir seu papel e sua responsabilidade. Nesse tipo, as
comunicações não se estabelecem senão em nível das afinidades ou das atrações aparentadas
entre os membros. Sendo assim, não se conclui a integração do grupo, nem existe a
solidariedade entre os membros e a comunicação não consegue se tornar funcional e está
sempre acompanhada de equívocos e ambigüidades, tornando, assim, falsas as relações
interpessoais e comprometendo a criatividade grupal (id., p. 75-76).
As redes do tipo vertical são vistas em ambientes de trabalho em que as relações
interpessoais são hierarquizadas. São de dois tipos: a Rede em Y e a Rede em Roda. Na
primeira, a comunicação no interior do grupo é aparentemente democrática ou em vias de se
tornar autocrática, pois alguns membros esforçam-se em tomar o controle do grupo. A
segunda é uma rede específica dos grupos autocráticos, no interior dos quais a autoridade está
43
concentrada nas mãos de apenas um membro, que exerce o controle de modo arbitrário e
segundo seu bel prazer. Nesse tipo, a comunicação acontece geralmente de cima para baixo
(BAVELAS, 1948, p. 76).
A partir dos canais de comunicação identificados em um grupo, facilmente se verificará
como acontecem as relações interpessoais originárias do mesmo. Ou melhor, a partir da
estrutura organizacional se delimitarão os tipos de relações existentes. Dessa forma, já se pode
concluir que existe uma previsão de que as estruturas organizacionais mais democráticas de
Apls possuem uma maior possibilidade de crescimento e de retorno financeiro, pois este, em
muitos casos, é resultado do estabelecimento de relações eqüitativas e de comunicação
transparente e autêntica dentro do grupo. Nos Apls, as redes de comunicação mais comumente
encontradas são as horizontais, mais especificamente as redes dos tipos em círculo ou em
cadeia, pois a estrutura organizacional vigente no Apl é de descentralização do poder,
flexibilidade das funções e horizontalidade da produção.
É comum verificar na rede de comunicação humana dificuldades no seu
estabelecimento, pois nem sempre acontece de forma fluida, mesmo nas redes do tipo
horizontal. Existem fenômenos psíquicos, como os bloqueios, as filtragens, os ruídos e os
preconceitos que são resultantes da falta de estabelecimento de vínculos ou da falha na
comunicação.
Quando a comunicação é completamente interrompida, acontece um bloqueio. Ao
contrário, quando não é comunicada senão uma parte do que os interlocutores sabem, pensam
ou sentem, a comunicação subsiste, mas acompanha-se de filtragem. Tanto os bloqueios como
as filtragens podem ser provisórias, sendo chamadas de pane, bruma, nebulosidade, queda de
visibilidade entre emissor e receptor, ou ainda, de ruído. Quando os bloqueios e as filtragens
tornam-se permanentes, o observador vê aparecer entre os interlocutores muros ou barreiras
psicológicas. As zonas de silêncio se estabelecem entre eles, ou quando muito, surgem zonas
de trocas superficiais que recobrem, quando não dão lugar a uma proliferação de zonas de
conflitos e de tensões (CARTWRIGHT e ZANDER, 1953, p. 79).
Foram identificadas, ao longo dos estudos em comunicação humana, seis possíveis
fontes de bloqueios e filtragens:
a) Nas inibições interiores por parte do emissor, a mensagem transmitida evoca
lembranças penosas, traumáticas e que geralmente não foram assimiladas, nem
44
eliminadas. Quando, por exemplo, a comunicação acontece entre dois interlocutores
em que o passado foi traumatizante; este, ao ser evocado, impossibilita a comunicação
com o outro, ou se o fazem, é de forma impessoal e toda exploração desse tema soa
como indiscrição, quando não se torna intolerável;
b) As razões extrínsecas por parte do emissor são tabus exteriores, expressão mais ou
menos explícita de proibições coletivas, de censuras ou de pressões de grupo;
c) Na diferença cultural nos códigos, os símbolos utilizados têm conotações
subjetivas ou coletivas distintas ou mesmo contrárias, dependendo da cultura local;
d) O receptor não consegue captar as mensagens que lhe são transmitidas, podendo
estar tendo uma percepção seletiva, não captando senão as mensagens que possuem,
para ele, no momento em que são emitidas, ressonâncias afetivas ou implicações
pessoais. Em momentos de euforia, somente as mensagens positivas são captadas;
enquanto que nos momentos de decepção, tornam-se vulneráveis e hipersensibilizados
às mensagens negativas;
e) Excepcionalmente o receptor pode estar em estado de alienação, podendo estar
envolvido em uma alegria intensa que o cumula, ou se sentir invadido por uma forte
angústia;
f) O receptor não está sensível à comunicação não-verbal, pois, em sua socialização,
não foi ensinado a atenção à comunicação percebida pelos gestos, atitudes e
comportamentos sutis (LEWIN, 1951, p. 80-81).
Verifica-se, a partir dessas possíveis fontes de bloqueios e filtragens, que os motivos que
levam a não realização da comunicação são questões pessoais e subjetivas. Entretanto, as
organizações precisam estar constantemente atentas à expressão de cada indivíduo no grupo.
Os preconceitos que existem entre os membros que não se aceitam no grupo ajudam a
cristalizar os bloqueios e as filtragens na comunicação humana, tornando-se permanentes e
tendendo a um prejuízo nas relações interpessoais. Dessa forma, as distâncias sociais e
psicológicas entre interlocutores se acentuam e são tidas como irredutíveis. A distância
psicológica consiste em um fenômeno intra-grupo em que o outro é percebido como
incompatível. Por esta razão, ele é mantido a distância e a comunicação é considerada como
impossível de ser estabelecida. Já a distância social é um fenômeno inter-grupal caracterizado
45
pelas diferenças culturais e de classe e de afastamento, seja em nível educacional, intelectual
ou de escolarização. O outro é então percebido como situado socialmente a uma distância
inacessível (MAILHIOT, 1985, p. 84).
Para que a comunicação entre as pessoas exista, é preciso reduzir as distâncias
psicológicas dentro do grupo. Porém, isto se torna difícil, pois cada indivíduo possui facetas e
aspectos subjetivos às vezes imperceptíveis e novos na vista do indivíduo. E esses fenômenos
só são percebidos no contato com o outro, sendo desconhecido ou não.
Em estudos realizados por Lewin (1945, p. 85), a partir dos preconceitos estabelecidos
dentro de um grupo, originam-se as distâncias sociais, bloqueios, filtragens permanentes e
comunicação humana prejudicada ou rompida de modo definitivo. Os preconceitos consistem
em idéias preconcebidas sobre o outro, são idéias falsas, fixas, simplistas com relação a certos
indivíduos, a certos grupos que se fazem classificar, de antemão, em termos sempre
excessivos. Quando são favoráveis, os preconceitos chegam à enfatuação; quando são
desfavoráveis, degeneram em intolerância em relação ao outro. Os preconceitos não são
inatos, mas adquiridos. Certos seres humanos são mais predispostos que outros a adquirir
preconceitos, sendo mais vulneráveis que outros ao contágio e à contaminação social.
Verifica-se que a personalidade parece estruturada por determinismos tais que, uma vez
adquirido os preconceitos, esses indivíduos tornam-se incapazes de se liberar deles.
O preconceito é um sintoma e, como toda reação neurótica, consiste também em uma
resposta a uma frustração, no caso uma frustração social. Quando ela dá origem à ansiedade, a
frustração social desencadeia em alguns o jogo de três mecanismos de defesa, assinalados em
graus diversos, em toda expressão de preconceito, a saber: a generalização gratuita, sem
provas em apoio; o deslocamento ou a descarga agressiva sobre “bodes expiatórios”; e a
racionalização ou a autojustificação (id., p. 86). Todos os dias o indivíduo está sofrendo
frustrações e estas originam preconceitos. Pode-se, inclusive, afirmar com convicção que o
preconceito é uma das características mais comuns evidenciadas nos grupos de trabalho.
Verifica-se ainda que tal sentimento diante do outro pode ser capaz de acabar com a união
entre os membros de um grupo.
Para Lewin (1948), em pesquisas na área de psicologia social, os seres humanos com
características preconceituosas arraigadas, são diagnosticados como débeis sociais, por serem
prisioneiros do mundo da liberdade e por possuírem uma personalidade do tipo autoritária.
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Externamente, os autoritários são reconhecidos como sujeitos que buscam constantemente
pretextos para afirmar sua autoridade, para dela abusar de maneira arbitrária, tão grande é o
medo de perder seu domínio sobre aqueles que dirigem (LEWIN, 1948, p. 87).
Quando não possuem autoridade sobre quem quer que seja, atingir um status de
autoridade lhes parece, então, como o supremo bem. Assim, parecem igualmente dispostos a
recorrer a todas as intrigas e a mostrar as mais baixas servidões para satisfazer sua ambição de
poder, esperando, então, estarem em condições de controlar suas relações com o outro e poder
manipular os outros à sua maneira. Para o autoritário, ter a autoridade é a maneira mais segura
de escapar ao seu medo do outro. O autoritário é atingido pela fobia do outro, não podendo
aceitar nem tolerar que os outros sejam diferentes dele. Em pesquisas recentes foi
demonstrado o paradoxo de que o autoritário é um conformista em que a socialização não se
realizou totalmente, pois ele nunca atingiu o nível do altruísmo. Seu conformismo social trai
seu medo do outro, seu pânico dos mais fortes (id., p. 87).
Passivamente, o autoritário conforma-se com todas as pressões sociais, adotando
espontaneamente os mitos e os estereótipos desta sociedade. Em grupo, constitui um elemento
estático, favorecendo a cristalização, a petrificação e a esclerose das estruturas sociais. Seu
medo do outro é, no fundo, um medo de si mesmo. Ele se recolhe, isola-se e se recusa a todo
contato ou troca, por causa do vazio de sua vida. É incapaz de doar-se ao outro porque não
tem nada a dar, não consegue possuir-se. É para camuflar sua impotência e sua esterilidade
que lhe é necessário parecer agressivo, arrogante, intratável com o outro. O autoritário não
perderá sua arrogância e não deixará cair suas máscaras, a não ser que seja surpreendido por
uma sacudidela coletiva ou quando sofrer um trauma pessoal (ROKEACH, 1961, p. 56).
No convívio familiar e social de cada ser humano, certamente se fazem presentes
pessoas com características autoritárias e preconceituosas. Em muitos grupos de trabalho,
posturas como essa podem chegar a desestruturar e até a destruir completamente uma
convivência. Elas estão presentes em vários contextos sociais, desde uma grande empresa até
uma de micro e pequeno porte. Verifica-se, entretanto, a importância do estabelecimento de
uma comunicação humana clara, transparente e autêntica em um grupo de trabalho. Vê-se,
também, que, por mais que seja um grupo de micro, pequenos e médios empresários de um
Apl de rede de dormir, nesse caso específico, existem barreiras, distâncias psicológicas e
sociais impedindo o crescimento dessa aglomeração de empresários. Vê-se, entretanto, a
necessidade de se estar atento a esses fenômenos sutis e subjetivos que impedem o
47
funcionamento do grupo e até a realização das atividades propostas pelos órgãos
incentivadores e que apóiam as aglomerações de empresas.
Como se pode ver, um grupo é constituído por indivíduos com diferentes estruturas de
personalidade. Então, participar de um grupo é aprender a reconhecer e lidar com
comportamentos mais variados possíveis. Haimam (1965, p. 170) aponta alguns
comportamentos presentes em situações sociais de grupo, que são: compensação, retraimento,
racionalização, agressão, verborragia, perseveração, obsessividade, viscosidade e idealização.
Uma pessoa apresenta o comportamento de compensação quando se sente inferiorizada
ou lhe é negada a satisfação de uma necessidade. Entretanto, ela procura solucionar essas
deficiências com comportamentos compensatórios, podendo ser um mister puritano ou um
mister desconfiado. O primeiro é sensível e com tudo se espanta, possui uma moral rigorosa,
comportamento convencional, um olfato privilegiado para sentir as distorções de ordem
moral, uma surpreendente frieza e estreiteza de espírito. Já o segundo, desconfiado, custa a
acreditar que alguém possa ser honesto, franco e suspeita da existência de motivos ocultos
com fins egoísticos (id., p. 171-172).
O retraimento em algumas questões envolve a frustração, o indivíduo se isola e procura
evitar as pessoas e as situações que se lhe apresentam. Seu comportamento nasce do medo de
suas idéias não serem aceitas. A racionalização, que é outro tipo de comportamento em grupo,
serve para esconder de si mesmo e dos demais a verdadeira razão que lhe parece indigna ou
indesejável. A conduta agressiva pode ser manifesta de diversas formas como: crítica
maliciosa, explosão de agressão verbal, comentários crônicos, negativismo habitual e uma
postura contrária a tudo que se faça ou se discuta no grupo. A verborragia corresponde
àqueles componentes de grupo que falam demais, que tomam grande tempo das reuniões para
suas exposições, o que, na verdade, é um mero palavrório. Em muitos casos, chegam a inibir
os mais retraídos com sua torrente de palavras exageradas (HAIMAN, 1965, p. 172).
A perseveração acontece quando alguns membros do grupo apresentam uma postura de
fixação de idéias ou pensamentos, entravando o desenvolvimento do grupo. Uma postura
obsessiva se caracteriza no indivíduo que se preocupa e se angustia com detalhes de menor
importância, como horário rígido para as reuniões, posição dos componentes e técnicas de
funcionamento. A viscosidade é outro comportamento que se faz presente, quando os
indivíduos “grudam” nas suas idéias ou na pessoa do líder. Geralmente, moem e remoem as
48
palavras, alisam as suas idéias, repetem, retocam e resumem as expressões. A idealização é
uma forma de ajustamento ao grupo e se relaciona com a identificação (id., p. 173).
Verifica-se, entretanto, a existência desses comportamentos no grupo, como tamm de
outros que interferem no seu crescimento e desenvolvimento. De acordo com Penteado (1976,
p. 68-69) os obstáculos à comunicação humana estão divididos em dois grupos: obstáculos
devido à personalidade e obstáculos devido à linguagem. O primeiro nasce dos preconceitos,
da educação, hereditariedade, meio, experiências individuais, estado fisiológico e emocional
dos indivíduos, originando os seguintes comportamentos: auto-suficiência, congelamentos de
avaliações, diferença entre os aspectos objetivos e subjetivos de comportamento; o vício de
deixar-se levar mais pelos mapas do que pelos territórios e a tendência à complicação. A
linguagem, que é o segundo obstáculo para a comunicação humana, antepõe inúmeras
dificuldades, como: as confusões entre fatos e opiniões, inferências e observações, descuido
nas palavras abstratas, desencontros, indiscriminação, polarização, falsa identidade baseada
em palavras, polissemia (diversos significados de uma mesma palavra) e as barreiras verbais
(PENTEADO, 1976, p. 68).
O Apl, enquanto grupo social de micros, pequenos e médios empresários, possui
dificuldades no estabelecimento da comunicação e do preconceito entre os membros. O Apl é
constituído por empresas individualizadas, cada uma com seus respectivos proprietários, que
possuem suas relações comerciais e sua equipe de trabalho. Pode ser considerado, dessa
forma, como um “grande grupo social” que engloba comerciantes, família, parceiros e todos
os membros que têm alguma relação de interdependência, ressaltando-se, assim, uma enorme
quantidade de nuances e aspectos subjetivos envolvidos e que precisam ser considerados para
uma análise mais completa do objeto de estudo.
No tópico seguinte, serão abordados os conceitos de Apl, o desenvolvimento local das
MPMEs e a tipologia das aglomerações. A partir desses dois tópicos, serão verificados os
níveis de coesão grupais existentes, se é que existem; pois se acredita que dois dos fatores que
ocasionam o declínio do Apl de rede de dormir de São Bento/PB sejam a desunião e a não
conscientização de que um grupo de micros e pequenos empresários bem entrosados e
trabalhando em equipe trará um maior retorno financeiro para eles e para a região.
2. AS MICROS, PEQUENAS E
MÉDIAS EMPRESAS
(MPMEs) NO ATUAL
CONTEXTO DO
DESENVOLVIMENTO
LOCAL
50
2. AS MICROS, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (MPMEs)
NO ATUAL CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL
O Apl de São Bento é constituído por aglomerações de micros, pequenas e médias
empresas, que valorizam e sobrevivem do desenvolvimento local da região sertaneja, com
produção oriunda da indústria de tecelagem, que é de rede de dormir. Sendo assim, para que o
Apl prospere, é importante que as MPMEs estejam envolvidas como grupo e desenvolvendo
alternativas criativas para sua manutenção no mercado competitivo.
Com o fenômeno da globalização, as grandes indústrias se destacaram por sua produção
em elevada quantidade e atendimento de várias localidades simultaneamente. O
desenvolvimento local foi por um tempo esquecido, desacreditado e menosprezado. Porém,
com o sucesso dos distritos industriais da Itália, as MPMEs voltaram a ser respeitadas no
contexto econômico. Verifica-se que, durante quase cem anos, o valor das sinergias e das
interações foi praticamente esquecido pelas teorias econômicas hegemônicas, colocando em
segundo plano a dimensão espacial da atividade econômica. Isard (1956, p. 22) afirma que por
algum tempo, os economistas visualizaram somente a perfeição e a hegemonia dos mercados,
a análise econômica perdeu a sua essencial dimensão espacial.
A sobrevivência das MPMES não está unicamente relacionada ao seu tamanho ou à
escala de produção, mas sim, às dificuldades enfrentadas por elas em relação ao acesso ao
mercado, à tecnologia e ao financiamento. Desta forma, as MPMEs têm mais possibilidades
de alcançar e manter espaços importantes de mercado se estiverem envolvidas em duas
estratégias de sobrevivência. A primeira se refere à MPME estar sob a coordenação de uma
grande empresa, denominada empresa-âncora. A segunda estratégia que envolve a MPME
corresponde à cooperação horizontal entre diversas firmas concentradas geograficamente e
especializadas em determinadas cadeias produtivas (PEREIRA, 2000, p. 23).
Amato Neto (2000, p. 25) cita algumas características representativas da pequena
empresa: a) tendência a desempenhar atividades com baixa intensidade de capital e com alta
intensidade de mão-de-obra; b) melhoramento das atividades que requerem habilidades ou
51
serviços especializados; c) bom desempenho em mercados pequenos, isolados, despercebidos,
ou “imperfeitos”, devido à facilidade de encontrar espaços deixados pelas grandes
organizações; d) maior proximidade do mercado com chance de responder mais rápido e
inteligentemente às mudanças que nele ocorrem, e) criação de seus próprios meios para
contrabalançar as economias de escala. Cabe, então, à pequena e média empresa buscar
alternativas para minimizar esses riscos e firmar sua posição no mercado, conquistando
vantagens sobre as concorrentes.
2.1 As MPMEs: uma forma criativa e promissora de estímulo ao
desenvolvimento local
As MPMEs são uma nova alternativa para colocação ou re-colocação do trabalhador no
atual mercado de trabalho. Além de serem alvo de jovens em busca do seu primeiro emprego,
minimizam os registros históricos da saída de muitos nordestinos de suas cidades em busca de
realização profissional ou de emprego nas cidades grandes. Verifica-se que não existe
somente mais essa alternativa, porque o trabalhador hoje também pode explorar as riquezas de
sua terra natal. Ele, melhor do que ninguém, conhece os verdadeiros hábitos e desejos do seu
povo. Desta forma, estudando e se aprimorando na riqueza local do seu município com o que
há de mais atualizado, poderá obter mais possibilidade de um retorno financeiro e de obtenção
de mais sucesso e, ainda, mantendo proximidade com sua família e suas verdadeiras raízes.
As MPMEs vêm sendo alvo de atenção por parte dos construtores das políticas públicas,
pelo aumento no número dessas estruturas organizacionais na economia nacional, podendo
visualizar nelas a possibilidade de amortecer os choques que as recentes reformas estruturais
provocaram no âmbito geral de empregos das economias afetadas (TENDLER, 2002, p. 14).
Essas empresas não podem ser compreendidas como uma miniatura daquelas de maior porte.
Considerá-las assim levará fatalmente ao equívoco de equiparar o modo de organização das
MPMEs ao praticado pelas empresas maiores. Estas estão focalizadas na geração de
economias de escala, pois estão associadas a elevados volumes de produção. As MPMEs têm
52
foco de atuação específico para determinada etapa da cadeia produtiva ou para uma produção
em número mais reduzido.
A produção em menor quantidade tem atraído a atenção de muitos clientes que desejam
um produto único, exclusivo e de excelente qualidade. Geralmente, são clientes que
costumam, inclusive, pagar mais caro pela aquisição dessas peças. Os produtos artesanais,
como bordados em tecido ou em couro, sianinhas, crochês, dentre outros, são comercializados
em grande quantidade para exportação. Diante desse contexto, torna-se imprescindível
relembrar que as MPMEs deveriam constituir uma “promissora” alternativa de inserção do
jovem no mercado de trabalho.
os programas voltados para a promoção desse segmento se revestem mais de um
caráter social, em contraposição ao econômico. Em outras palavras, recorrem-se às
MPMEs como uma espécie de colchão de amortecimento dos choques
macroeconômicos, ao invés de considerá-las agentes eficientes de produção,
capazes de acelerar o crescimento e lograr ganhos de competitividade para a
economia nacional (TENDLER, 2002, p.20).
Freqüentemente se entende, equivocadamente, que as MPMEs constituem uma
estratégia de política social por serem formas ineficientes de produção, constituindo-se como
uma “opção de segunda classe”, que deverá ser apoiada pela sua contribuição em ocupar e
gerar renda para parte significativa da população, aliviar as taxas de desemprego, iniciar os
indivíduos nos negócios, enquanto melhores opções não surgem no horizonte, ou seja,
encontra-se implícito na visão da maioria que MPME é algo que apenas existe como tal,
porque não conseguiu se desenvolver. Esse entendimento constitui um sério equívoco,
podendo levar ao desperdício de forma irreparável de grandes oportunidades de crescimento.
O prejuízo daí decorrente assume um caráter ainda mais grave, se for considerado que um
modelo de crescimento baseado em MPMEs permite que uma parcela bem maior de
indivíduos, micros e pequenos empresários, participe diretamente dos resultados da produção,
conferindo a essa forma de crescimento um caráter socialmente mais justo, sem deixar de ser
eficiente (AMARAL FILHO et al., 2002, p. 4).
53
Essa forma de produção, além de possibilitar um crescimento socialmente mais justo,
torna-se estimulante e otimizador para o micro, pequeno e médio empresário, pois ele estará
praticamente em contato direto com os clientes e fornecedores, escutando as sugestões e
críticas aos produtos, em busca de um melhoramento contínuo. Um outro benefício oriundo
das MPMEs é a riqueza de trocas de informações, possibilitando maior criatividade e
inovação.
Pode-se ressaltar ainda que essas tipologias de aglomerações organizacionais produtivas
apontam para origens e formatos comuns e divergem apenas quanto ao foco dos estudos e
prevalências metodológicas. Tal afirmação complementa-se com alguns autores que afirmam
que as abordagens metodológicas que estudam as aglomerações produtivas são
“conceitualmente difusas” e apresentam diferentes taxonomias relacionadas às especificidades
dos diferentes programas de pesquisa e de seus objetivos. Por outro lado, esses estudos
evidenciam a emergência de novas estratégias de organização e de desenvolvimento de
pequenas empresas, cujas origens são as redes e os agrupamentos com base territorial
(CASSIOLATO e SZAPIRO, 2003, p. 21.).
Entretanto, essa realidade de união entre MPMEs já se faz presente no mundo, com
várias contribuições para a manutenção destas no mercado. No Brasil, a realidade é
diferenciada em comparação com outros países. Várias terminologias têm sido utilizadas na
literatura especializada para definir essa aglomeração de MPME, tais como: distritos
industriais, clusters, arranjos e sistemas produtivos locais (Aspls), cada uma com suas
peculiaridades, como será visto mais adiante.
2.2 A valorização do desenvolvimento local no Mundo e no Brasil
As palavras “espaço” e “território” possuem vantagens evidentes, pois não se restringem
ao fenômeno “local”, “regional”, “nacional” ou mesmo “continental”, podendo exprimir
simultaneamente todas essas dimensões (VEIGA, 2002, p. 10). A dimensão espacial tem sido
utilizada na tentativa de entender as razões que levaram ao surgimento de aglomerados de
54
MPMEs eficientes e competitivas em certas localidades como a Terceira Itália e o Vale do
Silício (EUA). Percebe-se que o nível de desenvolvimento depende de como as relações entre
os atores de uma região são constituídas, porque é no território em que estão presentes as
instituições, o governo, as empresas e as pessoas que estes irão se relacionar e fazer acontecer
as ações.
A literatura econômica contextualiza as organizações em termos de setores, complexos
industriais, cadeias industriais, dentre outros aspectos, minimizando, assim, o enfoque
territorial. Verifica-se, entretanto, para os estudiosos da área financeira a importância de
adentrarem seus estudos pelos aspectos que valorizem a cultura local, regional, costumes,
hábitos e comportamentos da população em análise. Esses atributos, aparentemente
desconsideráveis, são condição sine qua non para um desenvolvimento sustentável e
duradouro de MPMEs numa região (CASSIOLATO e LASTRES, 2003, p. 22).
Nos últimos 20 anos, com o fenômeno da globalização, tem se estudado o
desenvolvimento global em contrapartida com o desenvolvimento local. Observa-se,
atualmente, um retorno para a revalorização da dimensão local (FRANCO, 2003, p. 13). O
desenvolvimento local consiste em qualquer iniciativa que conte com a participação ativa e o
envolvimento da comunidade em busca de objetivos comuns para a melhoria da qualidade de
vida em bases sustentáveis, ou seja, a partir da geração de ocupação e renda. Esse tipo de
desenvolvimento é conhecido também como territorial, espacial, regional e endógeno, por
partir do pressuposto de um desenvolvimento que começa pelas iniciativas locais, ensejando
importante fator de competitividade, tornando inovador o território e estimulando o
empoderamento das populações, para que elas mesmas se emancipem (ARAÚJO, 2005, p.
16).
Ninguém melhor do que o habitante local de uma região específica para assinalar as
preferências, os pontos fortes e fracos de determinado local. E, por mais que sejam trazidas
sugestões globalizadas para serem aplicadas naquele território, elas só irão funcionar se for
adequado à situação real vivida pela população. Caso contrário, poderá ser até implementado
na região, mas não se manterá por um tempo maior, nem se consolidará.
Essa “volta ao local” tem trazido conseqüências políticas profundamente inovadoras,
pois está alterando padrões antigos de organização e modos de regulação em milhares de
55
pequenas localidades espalhadas pelo mundo, ao estimular o surgimento de redes sociais e ao
introduzir novas dinâmicas democrático-participativas, em que as pessoas possam participar
ativamente da formação, do funcionamento e das decisões grupais ou empresariais. Além de
uma revisão de postura e de estabelecimento de uma nova cultura, está acontecendo a criação
do paradigma de que antes eram os gestores que criavam as políticas em seus escritórios
fechados e as aplicavam de forma top-down, ou seja, sem consulta à população. Hoje, as
políticas mais eficazes são aquelas que têm a participação da população, podendo esta
expressar sua opinião crítica, estimulando o conhecimento da cidadania dos envolvidos, como
a valorização das associações comunitárias, das expressões artísticas e culturais (id., p. 17).
São muitos os benefícios e garantias de fortes perspectivas de crescimento a partir da
união de MPMEs, como a riqueza da troca de conhecimentos (explícitos e tácitos) entre os
produtores, fornecedores e articuladores; a valorização de ações realizadas em conjunto ou,
em grupo, em detrimento das individualizadas. E a partir das trocas constantes de
informações, possibilita-se um fluir da criatividade e da inovação na resolução das
dificuldades, como também na implementação de produtos novos no mercado.
A estratégia de organização das MPMEs com base territorial objetiva: a) o
fortalecimento das empresas perante a crescente concorrência; b) a facilidade no processo de
inovação sistemático, com a criação de novos produtos e serviços; c) a redução de custos dos
processos produtivos com economia de escala. Esses benefícios podem ser alcançados,
concomitantemente, com o respeito, a preservação e a valorização dos costumes, da
identidade e das tradições comunitárias (BARROS, 2005, p. 40). Por isso, a importância ao
retorno da valorização do desenvolvimento, da cultura e da especificidade local de cada
região. E a união de MPMEs representa uma possibilidade de desenvolvimento local real.
O desenvolvimento que ocorre a partir do local não equivale a fechar a economia local
para o mundo externo. Consiste em uma construção gradual e diferenciada de relacionamento
com o mundo externo, incluindo mercados, sistemas de conhecimento e tecnologia. A ele
cabe transformar o sistema econômico social, reagir aos desafios externos e introduzir formas
específicas de regulação social em nível local (GAROFOLI, 1999, p. 11). É sair de uma visão
de macro-ambiente para uma visão de micro-ambiente, com ferramentas de ação e de
administração voltadas para as problemáticas e para o crescimento de uma região específica.
56
Essa visão de mundo, considerada ainda revolucionária e até “absurda” pelo atual
contexto vivido de globalização, já tem mostrado resultados promissores. Muito tem se
estudado e discutido acerca da implementação do retorno, ao que se pode falar, da volta ao
local, das riquezas da terra, do estabelecimento e aprimoramento das relações interpessoais e
sociais entre os atores e parceiros locais. A partir do surgimento dos distritos industriais na
Itália, diversas pesquisas procuraram entender como uma estrutura de pequenas empresas,
com suas limitações de escala, problemas de acesso às facilidades de crédito e ao mercado
estrangeiro, poderia crescer no mercado e obter maiores lucros e desenvolvimento local,
durante um período no qual as grandes empresas estavam perdendo espaço para a
concorrência exterior (BECATTINI, 1999, p. 30).
Apesar da terminologia “local” se apresentar comumente de forma tangível ou real, o
desenvolvimento ocorre de forma imaterial por meio da ordem social, através das relações
entre as pessoas e do estabelecimento da confiança, dentre outras maneiras. É no local onde
ocorre a dialética entre cooperação e competição e, da forma como é delimitado o
relacionamento entre os seus protagonistas, a cooperação não exclui a competição. O local
está dentro do global, no entanto, são duas situações dialéticas e contraditórias (ARAÚJO,
2005, p. 20).
A atuação dos governos locais no campo da promoção do desenvolvimento é limitada
por conta do restrito poder de intervenção em fatores relacionados à economia mundial e
nacional e à falta de recursos para investimentos. As possibilidades de cada governo são
condicionadas pela estrutura social e pela organização econômica local, existindo uma
diferenciação em função do porte da cidade e da complexidade das relações sociais, não só no
sentido econômico, mas também de representação, participação e decisão (DOWBOR, 1996,
p. 35). Deve-se levar em consideração as particularidades regionais de cada território em foco,
como a gestão organizacional, a cultura, os valores e os hábitos.
No Brasil, nas décadas de 70/80 do século XX, o desenvolvimento era comumente
confundido com crescimento econômico. Este último está associado à idéia de progresso
material, valorizando o acúmulo ilimitado de riqueza que não necessariamente é distribuído e
refletido em melhoria de qualidade de vida da população. Já o desenvolvimento corresponde à
iniciativa compartilhada, à inovação, ao empreendedorismo e acontece no cenário formado
57
pela vida das suas comunidades e no ambiente do entorno (ARAÚJO, 2005, p. 17). Ainda
nessas décadas, o mundo estava passando por uma profunda recessão com elevadas taxas de
desemprego. Mesmo nesse contexto, chamava a atenção a forma como algumas regiões, no
caso da Itália e do Vale do Silício, estavam resistindo à crise evidenciando, inclusive,
crescimento. A resistência à crise acontecia porque as PMEs estavam se unindo em uma ou
algumas tarefas para as quais tinham uma competência especializada e compartilhavam umas
com as outras atividades diferenciadas ou até complementares de produção.
Em torno da década de 90, a idéia de aglomeração associou-se ao conceito de
competitividade, demonstrando, assim, um forte apelo aos formuladores de políticas públicas.
Percebeu-se, então, a necessidade de uma política de desenvolvimento alternativa ao se deixar
o processo decisório cada vez mais para o plano local. As políticas planejadas a partir de
recomendações de instituições internacionais, como também políticas sem consultas à
comunidade local, trouxeram inúmeros problemas ao desconsiderar ambientes culturais
locais.
Atualmente, tem se verificado, inclusive para o espanto de alguns estudiosos, que as
MPMEs contribuem para a reestruturação produtiva, para o desenvolvimento de regiões e
países e para o aproveitamento das sinergias coletivas originadas da participação em Apls,
fortalecendo as chances de sobrevivência e crescimento coletivo. Outra contribuição oriunda
dessa união é uma aprendizagem coletiva, com cooperação e dinâmica inovativa ajudando no
enfrentamento dos novos desafios pela sociedade da informação (LASTRES e
CASSIOLATO, 2003, p. 20).
Com o enxugamento do Estado nos níveis mais variados, através da adoção de medidas
como redução de competências “estado mínimo”, privatizações, desregulamentações e
terceirizações, criou-se uma classe de desempregados até bem pouco não comum, oriunda do
setor público ou estatal. Outra classe habitual de desempregados, aquela oriunda do setor
privado, sofreu também um inchamento provocado por medidas de reestruturação produtiva,
esta última aconteceu pelo maior grau de abertura da economia nacional nos anos 90 e pelo
esforço nacional para se inserir no processo de globalização. Como resultante dessas duas
forças, e ainda considerando as baixas taxas de crescimento da economia nacional nas duas
58
últimas décadas, o desemprego tem crescido significativamente no Brasil (AMARAL FILHO
et al., 2002, p. 3).
A partir do retorno da valorização das MPMEs, há uma necessidade de maior
aproximação e de engajamento entre os atores sociais. Por serem de menor porte e por
possuírem poucos funcionários, essas empresas tendem a proporcionar relações mais
próximas e mais freqüentes do que uma grande empresa. Por isso, necessita existir nas
relações entendimento e troca constante de informações, estabelecimento de confiança e
espírito de equipe.
Para o Nordeste do Brasil, essa nova reestruturação produtiva e o retorno ao
desenvolvimento local têm impulsionado o surgimento de inúmeros Apls. O Serviço de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae, instituição incentivadora de projetos na área de
desenvolvimento sustentável, tem atuado em 26 Estados brasileiros. Na Paraíba, existem
diversos tipos de Apls, como o de calçados em Campina Grande e Patos, o Apl de calçados e
couro em Campina Grande, Patos e grande João Pessoa; o Apl de confecções (bermudas) em
Alcantil; o Apl de confecções (modinha e algodão colorido) em Campina Grande; o Apl de
confecções (modinha) em Guarabira; e o Apl de confecções multisegmentada, em João
Pessoa.
Como se pode verificar, todo o Nordeste brasileiro tem sido beneficiado e tem investido
fortemente nessa forma de estruturação das MPMEs. Essa estrutura organizacional tem sido
utilizada para sustentar muitas famílias e também tem incentivado o desenvolvimento local e
a manutenção de nordestinos na sua terra natal.
59
2.3 Tipologias de aglomerações: distritos industriais, clusters e arranjos
produtivos locais
As aglomerações de MPMEs têm crescido de forma numericamente representativa no
mundo. Os mais conhecidos e que servem de base teórica para este trabalho são os distritos
industriais, os clusters, os arranjos e sistemas produtivos locais, Apls e Spls.
2.3.1 Os Distritos Industriais: A Terceira Itália
Para Barros (2005, p. 51), a principal característica do distrito industrial italiano é de ser
um sistema econômico de produção com fortes vínculos sociais, identificados a partir das
consistentes relações entre as esferas social, política e econômica, dentro do mesmo território.
Putnam (1993, p. 28) confirmou tal realidade ao chamar parte da Itália de “comunidade
cívica”, ou seja, à propensão das pessoas de formar organizações não baseadas em parentesco,
isto é, uma sociabilidade espontânea. Mesmo assim, Putnam encontrou uma escassez aguda
de comunidade cívica no sul da Itália, por apresentar um número pequeno de associações,
grêmios literários, clubes esportivos e de caça, imprensa local, grupos musicais, sindicatos
trabalhistas, dentre outras.
Porém, há uma dificuldade real de obtenção do retorno financeiro a partir dos distritos
industriais. Marshall, ao ser citado por Becattini (1999, p. 24), ratifica e possibilita uma nova
forma de visualizar as MPMEs, afirmando que algumas das vantagens da produção em grande
escala podem também ser obtidas por uma grande quantidade de empresas de pequeno porte
concentradas em determinado território, especializadas nas suas fases de produção e
concentradas apenas em um único mercado local. De acordo com esse autor, essas
concentrações produtivas apresentam características singulares e totalmente diferentes das
vistas nas grandes empresas, como: a) coexistência de concorrência e de solidariedade no
mesmo território; b) redução dos custos de transações no mercado local; c) efervescência
inovadora; d) grande mobilidade dos postos de trabalho; e) cooperação para alcançar os
60
objetivos econômicos. Verifica-se, entretanto, que são formas diferentes de atuação, mas que
ao longo do tempo foram mostrando resultados concretos e plausíveis.
Tais características são inicialmente contraditórias, se forem analisadas somente pela
ótica da empresa individualizada. Inicialmente, tal forma de organização causou descrença e
ironia por parte de uma sociedade tradicional, baseada em uma estrutura hierarquizada de
produção. Porém, aos poucos todos foram vendo o grande destaque que as MPMEs italianas
tiveram no mercado nacional e internacional. A união de MPMEs, inclusive, possibilita
abertura a interações sociais e a conceitos costumeiramente não utilizados no mundo
hipercompetitivo. A partir da aglomeração das empresas e conseqüentemente das pessoas,
diminui-se a cobrança dos impostos e os custos cobrados nas eventuais transações locais, bem
como em nível nacional e internacional. Por se tratar de várias empresas em prol de um
objetivo comum, a riqueza da troca de informações estimula o desabrochar da criatividade e
da inovação. Além disso, como são compostas por vários profissionais, há a possibilidade de
troca de informações, maior flexibilidade nos postos de trabalho e cooperação em busca de
resultado (BECATTINI, 1999, p. 32).
Os distritos industriais possuem ainda mais três características para complementar as
enumeradas anteriormente: a) integração vertical em um espaço geográfico definido,
conhecido como distrito; b) uma comunidade definida por ligações econômicas e
socioculturais, demonstrando um forte ethos empresarial; c) um conjunto complexo de
relacionamentos formais e informais em um meio em que os atores demonstram uma “visível
confiança” e são obrigados a respeitar as normas de comportamentos tácitos que reduzem os
custos transacionais (PROMMIER, 2002, p. 21).
No aspecto social, os distritos industriais são importantes por estimularem a cooperação
e a formação de redes. O elemento rede e o caráter sistêmico dos distritos industriais
correspondem à interação entre uma comunidade de pessoas, que são dotadas de identidade
historicamente definidas e de particulares valores, regras, instituições e uma população de
pequenas empresas, especializadas em um certo setor e organizadas em um modo, segundo
regras em parte idiossincráticas, que consente uma maior eficiência e flexibilidade do
processo produtivo, com melhorias conseqüentes na qualidade dos produtos (IPIRANGA,
2001, p. 79).
61
Para Signorini (2000, p. 21) é mais eficiente a produção realizada em pequenas unidades
organizacionais baseadas em um controle informal, de “baixo para cima” e personalizada (no
caso extremo, limitado à família nuclear), que aquelas praticadas nas economias de escala.
Supõe-se que a predominância de atitudes individualistas somadas a liames familiares mais
intensos, poderá representar um estímulo para o espírito empreendedor, seja pelas vias da
relutância dos indivíduos a aceitarem as regras do jogo das organizações burocráticas, seja
porque a família, como rede de segurança, constitui um mecanismo implícito de garantia e
confiança, podendo atenuar os riscos da atividade empreendedora.
Tornou-se uma regularidade nos distritos industriais italianos o crescimento profissional
de um trabalhador. Este, em um processo de aprendizagem, transforma-se em um técnico,
depois em um colaborador do empreendedor e, enfim, transforma-se em um empreendedor, a
partir da valorização dos próprios conhecimentos e desenvolvendo uma nova atividade,
muitas vezes de elevado conteúdo inovador. O distrito da região de Mantova – Castel
Goffredo soube introduzir processos produtivos extremamente avançados, sendo hoje líder
mundial no setor de meias femininas, nascendo da falência de uma grande empresa, cujos
operários, após se juntarem, decidiram “tocar para frente” a produção e hoje são os
proprietários da empresa líder (IPIRANGA, 2001, p. 81).
Os distritos industriais, os clusters e os Apls, são formas diferenciadas de estruturas
organizacionais, se comparadas com a estrutura tradicional. É uma forma horizontalizada de
se administrar e a empresa, se bem administrada, tende a beneficiar a todos os envolvidos. Os
clusters possuem algumas diferenças particulares, como se verá a seguir. Porém, é um sistema
organizacional que proporcionou muito sucesso e desenvolvimento regional.
2.3.2 Os clusters
A palavra cluster vem do inglês e é traduzida como “aglomerar-se, agrupar-se”. No
aspecto econômico, cluster traduz-se de uma forma um pouco mais ampla do que um
agrupamento de empresas do mesmo setor. Um agrupamento baseado em cluster tem
62
predominantemente origem anglo-saxônica e é mais abrangente do que o conceito de distrito
industrial, pois engloba PMEs (ARAÚJO, 2005, p. 36).
Segundo a mesma autora (2005, p. 36), um cluster consiste em um grupo de empresas
que compartilham de encadeamentos horizontais e verticais. Os primeiros referem-se a
empresas de setores diferentes e os segundos a empresas de um mesmo setor. O cluster é uma
área industrial, onde várias empresas produzem de forma verticalizada produtos do mesmo
segmento industrial. Porém, há compartilhamento, segmentação e comprometimento da
produção, desencadeada por meio de parcerias formais, com o intuito do desenvolvimento
mútuo. Pode-se, inclusive, acrescentar que se trata de uma rede de apoio à produção
empresarial para fortalecer as regiões nas quais são estabelecidas.
Autores como Schmitz e Nadvi (1999, p. 1510) estudaram os processos de clustering de
MPEs, em áreas periféricas ou em desenvolvimento, como um processo de industrialização de
“baixo para cima”, a partir da emergência das potencialidades sócio-econômicas e culturais
originais de uma região específica.
Para Bispo e Schlemm (2000, p. 7), os clusters podem ser observados a partir de duas
perspectivas distintas: (i) quanto à sua formação e (ii) quanto à sua configuração. No que se
refere à formação, os clusters podem ser deliberados ou endógenos. Quanto à configuração,
podem apresentar-se vertical ou horizontalmente. Pereira (1998, p. 19) afirma que os clusters
endógenos são aglomerações de empresas que são originadas pela tradição/vocação de
determinada região. As próprias competências de uma localidade acabam ensejando o
surgimento de empresas do mesmo ramo ou áreas complementares. Os clusters deliberados
são constituídos de forma racional e planejada; podendo ser produto de ações da iniciativa
privada, como também, serem resultantes de políticas públicas que intentam promover
crescimento e/ou desenvolvimento regional, as quais predominantemente envolvem empresas
de porte reduzido.
O cluster, apresentando uma configuração vertical, mantém uma interdependência no
decorrer da cadeia produtiva, podendo abranger dois ou mais elos. Destaca-se, como exemplo,
o estabelecimento de uma empresa de grande porte que é cercada de empresas menores que a
alimentam. Este tipo de configuração permite o estabelecimento de processos produtivos mais
eficientes, principalmente pela utilização de técnicas just-in-time. Os clusters horizontais são
63
aglomerações de empresas que pertencem ao mesmo elo da cadeia produtiva. Portanto, são
constituídos por empresas concorrentes, mas que acabam extraindo vantagens dessa
perspectiva coletiva, conscientemente ou não (BISPO e SCHLEMM, 2000, p. 7). Autores
como Bispo e Schlemm (2000, p. 7), tentam diferenciar o distrito industrial do cluster. Para
eles, o distrito industrial consiste em uma formal interdependência entre empresas. Já o
cluster tem mais relação com o aspecto geográfico, envolvendo uma aglomeração de
empresas, sem uma limitação claramente definida.
Amorim (1998, p. 50) tentou se aprofundar em cada estrutura organizacional do cluster.
O processo evolutivo de formação de um cluster pode ser representado de acordo com a
Figura 3 abaixo:
Pré-cluster Cluster emergente Cluster em expansão Cluster independente
Empresas e indústrias
independentes
Agrupamento
interempresas e
concentração da
indústria
Intensificam-se as
interligações
interempresas
Alto nível de
interligações
interempresas
Massa Crítica
Figura 3 - Evolução do processo de formação de um cluster
Fonte: Amorim (1998, p. 50)
Gurisatti (1999, p. 85) considera válidas as quatro fases dispostas por Amorim (1998).
No entanto, ele sugere como sobreposição entre as fronteiras, as três fases seguintes: a) Entre
as fases de “pré-cluster” e “cluster-emergente” está a fase de “contaminação”, na qual o
território, já dotado de uma matriz produtiva e institucional, passa a estabelecer uma relação
de troca com o ambiente externo existente; b) A fase de “incubação” (que se coloca nos
limites entre a fase de “cluster emergente” e a de “cluster em expansão”) privilegiando a
formação de grupos de atores que se tornarão massa crítica; e c) O “Big-bang da rede” se situa
64
entre as fases de “cluster em expansão” e “cluster independente”, caracterizando-se como um
processo consistente e dinâmico (“caótico”) no qual acentua-se a competição no interior do
território.
De acordo com Amorin (1998, p. 52), existem princípios subjacentes a essa forma de
organização produtiva e entre seus processos. São os seguintes princípios: a) o sistema, em
que se expressam a unidade complexa e o caráter fenomenal do todo, como também a relação
das partes com o todo; b) a
interação, que exprime as relações, ações e retroações que se
efetuam no sistema; c) a
organização, que forma mantém, protege, regula, rege, regenera-se e
que dá a idéia de sistema à sua coluna vertebral. Verifica-se, entretanto, existir uma sintonia
entre esses princípios para que a organização produtiva possa funcionar satisfatoriamente.
Figura 4: Fases de transformação de um aglomerado setorial
Cluster
Emergente
contamina
ç
ão
Cluster
em
Expansão
Cluster
Independente
incuba
ç
ão
big-bang da rede
Pré
Cluster
Fonte: Amorim (1998, p. 85), adaptado pela autora
Tanto os distritos industriais quanto os clusters e os arranjos produtivos locais
constituem-se como uma forma de reunião de MPMEs em um mesmo espaço territorial. Essas
empresas, por estarem próximas, tendem a trocar informações, a aprenderem com a
experiência, a participarem de eventos juntas e a desenvolver tecnologias apropriadas ao ramo
específico de atividade. No Brasil, os Apls têm sido implementados, porque sua configuração
65
se assemelha à realidade das MPMEs e têm sido um grande efetivador da sustentabilidade
econômica, como se verá a seguir.
2.3.3 Os Arranjos e sistemas produtivos locais (ASPLs)
A partir de novos fatos da economia mundial, o interesse pelas MPMEs aumentou
consideravelmente. Verifica-se, nas universidades, que o interesse e as linhas de pesquisas
voltadas para esse segmento econômico não ficaram restritos a alguns economistas solitários,
como Steindil na década de 40 do século passado. No setor público e nas organizações não
governamentais, os seminários e discussões estão sendo realizados e os instrumentos de
políticas de apoio a esse tipo de empresa se renovam constantemente (AMARAL FILHO,
2002, p. 14).
Em meio a esse contexto de busca na identificação de fatores de competitividade não
tradicionais para uma efetiva sustentabilidade econômica, vem sendo realizada e fomentada
uma série de pesquisas e estudos que derivam para novos modelos e conceitos metodológicos,
auxiliando a orientação didática para um entendimento do processo de identificação,
verificação e validação do que se pode, em âmbito científico, assegurar como fatores
competitivos de alavancagem da produção econômica. A aglomeração de MPMES tem se
destacado como um grande efetivador da sustentabilidade econômica.
No Brasil, os termos “arranjos” e “sistemas produtivos e inovativos locais” foram
desenvolvidos no âmbito da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais –
Redesist – com uma abordagem conceitual convergente como as demais terminologias,
contudo mais próxima das especificidades do País e útil à formulação de políticas para sua
promoção (LEMOS, 2005, p. 8). Nos Apls há um esforço individual da empresa
potencializado pelo trabalho em grupo e vice-versa. É um tipo de relacionamento catalisador
de energia e potencializador de resultados, como no ciclismo em equipe (GUERRA, 2005, p.
12).
66
A terminologia “Arranjo Produtivo Local – APL” parte do conceito de aglomerado de
empresas, ou seja, como a própria expressão indica, é um conjunto, uma junção, a reunião de
partes. Nessa linha de raciocínio, os termos “aglomeração produtiva, científica, tecnológica
e/ou inovativa” têm como aspecto central a proximidade territorial dos agentes econômicos,
políticos e sociais (CASSIOLATO e LASTRES, 1999, p. 45). Paralelamente à
territorialidade, o termo “especialização” é um aspecto recorrente nas discussões sobre Apl,
seja porque os arranjos são identificados pelo seu principal produto de “exportação”, seja
porque a noção de Apl está associada a uma visão economicista de processo produtivo. É
importante destacar que o Apl não pode ser confundido com uma cadeia produtiva, pois
assume uma perspectiva mais horizontalizada da produção, diferentemente da perspectiva
vertical da categoria de análise de cadeia produtiva (LIMA e LOPES, 2003, p. 27-28).
Os atuais estudos e pesquisas realizados pela Redesist confirmam que a aglomeração de
empresas e o aproveitamento das sinergias geradas por suas interações fortalecem suas
possibilidades de permanência no mercado e no desenvolvimento institucional. Como também
auxilia na superação de barreiras ao conhecimento, na produção eficiente e na
comercialização de seus produtos em mercados nacionais e internacionais, efetivando-se
como foco estratégico para a garantia da competitividade (RAFAEL NETO, 2003, p. 26).
A Redesist define os Apls como aglomerações territoriais de agentes econômicos,
políticos e sociais com foco em um conjunto específico de atividades econômicas e que
apresentam vínculos mesmo que incipientes. Nesse contexto, envolvem-se empresas que
podem ser produtoras de bens e serviços finais, como também fornecedoras de insumos e
equipamentos. Incluem desde organizações públicas a privadas, todas voltadas para a
formação e capacitação de recursos humanos (escolas técnicas e universidades), pesquisa,
desenvolvimento, política, promoção e financiamento (LASTRES e CASSIOLATO, 2003, p.
4).
Os Sistemas Produtivos e Inovativos Locais são arranjos produtivos em que
interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e
aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da
competitividade e do desenvolvimento local (id., 2003, p. 4). O Sebrae (2003, p. 17) define os
Apls como aglomerações de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam
67
especialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação e
aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associações
empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.
Verifica-se, pois, uma similaridade nas definições dessas instituições no que se refere
aos Apls. Todas focalizam a questão do território, da vinculação, da articulação, da interação
entre os parceiros ou atores locais e da especialização produtiva. São nomenclaturas atuais,
que são utilizadas freqüentemente em estudos e que, ao longo dos anos, vem desmistificando
e apresentando à sociedade novas formas de obtenção de lucro.
De acordo com a Redesist (2003, apud CASSIOLATO e LASTRES, 2003, p. 30), as
principais vantagens do foco em Arranjos Produtivos e Inovativos Locais são: a) a
representação de uma unidade prática de análise e investigação que vai além da ênfase da
organização individual, superando as restrições da abordagem setorial e permitindo o
estabelecimento de uma ponte entre o território e as atividades econômicas; b) a objetivação
de absorver o grupo de diferentes agentes (firmas e organizações responsáveis por educação,
treinamento, P&D, promoção, financiamento, etc.) e atividades econômicas correlatas que
usualmente caracterizam qualquer sistema produtivo e inovativo local; c) a abrangência de
todo o espaço real onde o aprendizado acontece, a criação das capacitações produtivas e
inovativas e o fluir do conhecimento tácito; d) a representação do lócus onde as políticas para
a promoção do aprendizado, inovação e criação de competências podem ser mais efetivas,
pois permitem a implementação de políticas e instrumentos específicos.
A inserção desses modelos de organização produtiva possibilita a abertura de novos
caminhos para o desenvolvimento, havendo um reposicionamento do Brasil no cenário
crescentemente competitivo e globalizado. Além de uma reconstrução da estrutura produtiva
brasileira em novas bases, possibilitando o atendimento de prioridades nacionais, regionais e
locais, como também a garantia de condições de sobrevivência, dinamismo, competitividade e
inovatividade das empresas de pequeno porte. É uma oportunidade também de no Brasil,
equacionar-se o aproveitamento, a mobilização e a irradiação de potencialidades e sinergias
locais, contribuindo para a diminuição das desigualdades sociais e regionais (CASSIOLATO
e LASTRES, 2003, p. 24).
68
O que caracteriza os Apls são: a) a dimensão territorial (definição do espaço onde os
processos produtivos, inovativos e cooperativos têm lugar); b) a diversificação de atividades e
atores econômicos, políticos e sociais (envolvendo prestadoras de serviços,
comercializadoras, clientes e órgãos de formação e capacitação de recursos humanos,
pesquisa, política, promoção e financiamento); c) o conhecimento tácito (conhecimentos que
estão implícitos e incorporados em indivíduos, organizações e até regiões); d) a inovação e
aprendizado inovativo (introdução de novos produtos, processos, métodos e formatos
organizacionais); e) a governança (abrange diferentes formas de coordenação entre os agentes
e atividades), f) o grau de enraizamento (envolve o nível de agregação de valor, a origem e o
controle das organizações e o destino da produção, se vai ser local, nacional ou estrangeiro)
(LASTRES e CASSIOLATO, 2003, p. 4-5).
No Brasil, com o surgimento e a emergência desses novos modelos organizacionais de
empresas, têm acontecido uma evolução no desenvolvimento e um crescimento das MPMEs.
Nessas três décadas de estudo e pesquisa sobre os benefícios alcançados pelas aglomerações
de firmas, tem se constatado um salto do Brasil diante dos concorrentes em competitividade,
como também, a orientação para essas empresas continua sendo predominantemente voltada
para o mercado interno. A comercialização dos produtos para esse mercado acontece pelos
canais de distribuição, principalmente, o varejo independente, seguido de lojas especializadas
e de vendas no atacado. No mercado externo a forma de distribuição é a exportação direta. Na
economia informal, a comercialização se dá por meio das sacoleiras e camelôs (RAFAEL
NETO, 2003, p. 31).
Como forma de incentivar a formação de Apls, os governos latinos procuram não apenas
conceder empréstimo em condições vantajosas, mas, também, facilitar o acesso das empresas
ao sistema financeiro; conceder assistência técnica antes e depois do início das atividades das
empresas e incentivar a cooperação entre elas (id., p. 30-31). Apesar de vários casos de
sucessos, Altenburg e Meyer-Stamer (1999, apud RAFAEL NETO, 2003, p. 30) afirmam que
os arranjos produtivos da América Latina têm três deficiências em comum, com caminhos
diferenciados para superá-las: a) a heterogeneidade no nível de desenvolvimento e falta de
competitividade das MPMEs; b) a falta de capacidade inovativa; e c) o baixo grau de
especialização e cooperação entre as empresas.
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No que se refere à heterogeneidade dos níveis de desenvolvimento, verifica-se os Apls
improvisando diversas formas de administração, de gestão e de articulação. E um dos motivos
que possibilita tais posturas é a falta de capital e de conhecimento explícito. A partir dessa
forma de visualização do mercado, terminam ficando aquém das necessidades impostas pelo
mercado competitivo. Verifica-se, entretanto, que, sem estimulação da aprendizagem e da
busca de conhecimento, os Apls ficam sem capacidade inovativa e sem variedade de produtos,
como também, sem poder oferecer um produto de qualidade superior, impossibilitando, o seu
lançamento no mercado internacional, que é caracterizado por ser mais exigente.
Os arranjos produtivos não são iguais, porque as realidades não são uniformes e a
organização da produção é muito diversa. Portanto, cada arranjo conceberá um modelo
próprio de desenvolvimento, não obstante seja imprescindível considerar: as redes de atores
locais, as potencialidades, vocações e oportunidades; as vantagens comparativas e
competitivas; os recursos naturais renováveis ou não-renováveis; a infra-estrutura existente; o
capital humano (conhecimentos, habilidades e competências das pessoas); o capital social (os
níveis de confiança, cooperação, organização e participação social); a cultura empreendedora
(níveis de auto-estima, autoconfiança, capacidade de iniciativa); a cultura local (os costumes,
valores e crenças locais, as tradições); a poupança local; a capacidade de atrair investimentos;
dentre vários outros fatores (SEBRAE, 2003, p. 11-12).
É notório destacar que os atores dos Apls que estão mais atentos e tentando praticar e
perpassar a valorização do capital humano, os níveis de capital social e a cultura local com
seus valores e crenças, têm conseguido maior retorno financeiro, maior destaque no mercado
nacional e internacional e a cooperação entre os membros articuladores.
Verifica-se, assim, uma elevada quantidade de nomenclaturas diferenciadas do que já foi
visto. Fala-se em flexibilidade, redes, caráter sistêmico, aprendizagem coletiva,
conhecimentos tácitos, empreendedorismo, cooperação, capital social, solidariedade e troca de
informações. E envolve profissionais como sociólogos, psicólogos, administradores e outros,
interessados, buscando conhecer essas novas formas de estruturação e de trocas de relações
entre os atores locais envolvidos. Estes correspondem às pessoas envolvidas nessas
aglomerações, como moradores locais da região, instituições parceiras e de apoio
governamental, dentre outros elementos.
70
Torna-se imprescindível, entretanto, conhecer a estrutura organizacional e a dinâmica
grupal desses Apls, por tamanho significado que as aglomerações possuem para a economia
brasileira, como também para se poder alcançar os objetivos “audaciosos” propostos pelos
micros, pequenos e médios empresários. O Apl de São Bento, município conhecido como “a
capital mundial da rede de dormir”, necessita cada vez mais ser um referencial de destaque
para o sertão nordestino, e uma das formas para manutenção desse status é o investimento no
capital humano e no grupo constitutivo desse arranjo.
3. A TECELAGEM E A
FABRICAÇÃO DAS REDES DE
DORMIR EM SÃO BENTO/PB
72
Numa Rede
Bem sei por que me sinto criança,
quando uma rede me embalança!
- é que há na rede um ritmo igual
ao da canção lenta e macia,
com que eu, em criança, adormecia
no fofo seio maternal.
A minha rede é mansa, mansa
de me agradar nunca se cansa,
é a minha amiga mais perfeita;
como ao meu gosto se conforma,
e do meu corpo toma a forma,
e toda a mim se torna afeita!
A minha rede no ar se lança,
como num mar todo bonança;
nele navego em ondas de ar;
para um país que é o da Quimera,
de onde me acena alguém e espera
alguém que eu vivo a desejar.
A rede tem gesto e nuança
da hesitação: recua... avança...
e ao seu balanço leve e lento,
por mais que nela o corpo encolha,
sinto-me frágil como a folha,
julgo-me toda entregue ao vento.
Qual uma larga e basta frança,
a rede vai e vem, balança...
e adormecendo ao seu vaivém,
sobre o seu corpo quase fluído,
sonho-me posta, com descuido,
nos braços langues desse alguém...
Na rede o corpo, a rir, descansa,
como num sonho uma esperança.
Dos meus pesares esquecida,
muito ao meu gosto posta, vede:
ao mole embalo de uma rede,
fico oscilando para a vida...
(Gilka Machado – Rio de Janeiro, 1917)
73
3. A TECELAGEM E A FABRICAÇÃO DAS REDES DE
DORMIR EM SÃO BENTO/PB
As MPMEs constituem o Apl de redes de dormir de São Bento especializado em produtos
de tecelagem, como redes e mantas. Esses produtos são produzidos nas fábricas e na casa dos
próprios artesãos, principalmente nas partes em que se utilizam os trabalhos manuais, como as
varandas, carel, mamucaba e outros. Em cada produto fabricado há um cuidado na combinação
das cores e na diversificação de tipos e modelos. Todas as peças expressam a cultura do
sãobentense e a força do desenvolvimento local dessa região do sertão paraibano.
A produção de tecelagem artesanal assume organizações mais elaboradas formando um
verdadeiro sistema empresarial, como no caso das fábricas domésticas, como as de controle e de
ação familiar, bem como as verdadeiras fábricas semi-industrializadas. O fiar e o tecer se
encontram na intimidade da moradia e o artesão divide o seu tempo com essas atividades e os
cuidados da casa, dos filhos e do trabalho da roça de subsistência.
Em meio a todos os avanços tecnológicos, a rede de dormir ainda faz parte de muitas noites
de sono e de cochilos rápidos depois do almoço. É raro um habitante das regiões Norte e
Nordeste não possuir uma rede em seu alpendre ou área de descanso. Ela faz parte do cotidiano
do brasileiro e vem conseguindo se adequar às mudanças que o processo de tecelagem vem
sofrendo.
Pode-se, inclusive, estabelecer uma correlação simbólica, mas significativa, entre as partes
constitutivas de uma rede de dormir e a junção dos aglomerados de MPMEs. Uma rede para ser
vendida, precisa estar com suas partes devidamente encaixadas; caso isso não aconteça, a
qualidade irá ser afetada e, conseqüentemente, o preço baixará. Assim mesmo, deverá acontecer
74
num aglomerado de arranjos produtivos, ele precisará estar sintonizado nos mesmos objetivos,
estar motivado, solidário e coeso, porquanto grupo que é.
3.1 A utilização da tecelagem na fabricação dos produtos artesanais
Em meio às inovações tecnológicas como o surgimento do computador, internet,
teleconferências, educação a distância e outros instrumentos tecnológicos de comunicação,
existem, ainda, formas de trabalho tradicionais que têm se mantido no mercado e até
acompanhado a concorrência da era moderna. No caso da tecelagem, por exemplo, em que os
trabalhos são feitos a partir de um instrumento chamado tear, ainda manual, atualmente este foi
substituído, em sua maioria, pelos teares industriais. E, dependendo do ritmo de produção, o
tecelão tem deixado de trabalhar somente em casa, ou no fundo das suas casas, para investir em
indústrias de produção em grande escala, buscando conquistar os mercados internacionais.
Em São Bento, município do sertão paraibano, conhecido como “a capital mundial das
redes de dormir”, muitos teares manuais foram substituídos pelos teares elétricos, por serem mais
rápidos, para se poder dar conta do elevado número de pedidos e encomendas de produtos. Em
meses de maior saída das redes de dormir, entre setembro e janeiro, os teares elétricos
praticamente não param. As novidades tecnológicas já trouxeram ao mercado, não o de São
Bento, teares de pinça e outros computadorizados. Porém, os produtores de redes, mesmo os
pequenos e médios empresários, não investiram na aquisição dessas novidades, por serem caras
para a realidade que eles vivem.
A tecelagem é o trabalho de entrelaçar fios nos teares, tendo como matéria-prima os fios e
como instrumento de fabricação o tear. Ela se caracteriza pelo uso de estruturas, que são os teares
horizontal e vertical, ou o quadro. Nestes, os fios são dispostos de maneira vertical e horizontal,
resultando no pano, que é fruto dos processos técnicos do tecer. Nas regiões interioranas, a
75
tecelagem doméstica é uma continuidade dos diversos fazeres da casa, unindo-se aos trabalhos do
campo, em que a mulher assume os cuidados da família, da cozinha e do artesanato de
subsistência. Um exemplo expressivo existente ainda hoje é a fabricação de redes de dormir,
cobertas, xergões, mantas, tecidos para roupa, entre outros produtos (GEISEL e LODY, 1983, p.
21).
Enquanto faz parte da cultura regional das mulheres artesãs conciliarem a casa com o
trabalho de tecelagem, a geração mais jovem quase sempre busca fora da sua comunidade outras
opções de trabalho, que não a tecelagem, por considerá-la uma atividade que requer muito
desempenho, mas que dá pouca rentabilidade. Realmente, não é fácil trabalhar na fabricação de
redes de dormir. Porém, por que não se conciliar a riqueza de um trabalho artesanal com as novas
tecnologias oferecidas pelo mercado? Por que o jovem não procura formas de modificar tal
realidade, já que o interior possui suas riquezas, muitas delas ainda inexploradas no mundo
acadêmico, no campo das pesquisas e pelos próprios moradores? Atualmente, as capitais dos
Estados não estão mais conseguindo ser os centros concentradores de capital e de fontes de
trabalho, embora muitos jovens ainda busquem se profissionalizar nas grandes capitais e aplicar o
conhecimento nas suas cidades de origem, beneficiando, inclusive, sua região e a sociedade como
um todo.
A necessidade de uma maior atenção da população a atividades regionais tem sido expressa
pelo aumento do número de Apls no Brasil. Esses arranjos consistem na aglomeração de MPMEs
em um mesmo território ou região, baseada na produção de um ramo de atividade específico. A
partir dessa aglomeração, acontecem parcerias entre essas empresas e o poder público,
instituições como bancos, o Sebrae, em busca de ganhos que beneficiem todo o grupo de
arranjos. Em São Bento, existe o Apl de redes de dormir, mas a maioria das empresas que
constituem o arranjo produtivo está na informalidade por não ter condições de pagar a elevada
carga tributária decorrente desse tipo de atividade. Muitas funcionam de forma precária,
rudimentar, no fundo de quintais e sem registro nos órgãos competentes. Diante desse panorama,
verifica-se a necessidade de crianças e jovens dessas localidades se interessarem pelas empresas
de fabricação de redes de dormir.
76
Percebe-se, assim, a necessidade de se discutir e trazer a reflexão aos jovens, filhos de
tecelãs e tecelões, para a conscientização de que eles podem estudar nas cidades e aplicar o
conhecimento na fabricação de produtos de tecelagem ou em outras atividades locais, e até
sobreviver por meio da aplicação da teoria na prática. Ressaltando, principalmente, que o
artesanato brasileiro é uma representação do Brasil para o exterior; como exemplo, vêem-se a
rede de dormir e a manta, produtos que existem em praticamente toda moradia brasileira, seja nas
grandes metrópoles ou nas pequenas cidades. Muitas pessoas já se deliciaram ao deitar em uma
rede, nem que seja por poucos minutos; e já se cobriram ou enfeitaram sofás e camas com as
mantas. Verifica-se, assim, a necessidade da implementação de uma gestão ativa, inclusive uma
gestão de continuidade, nas fábricas de redes de dormir, sendo o habitante natural a pessoa mais
indicada para o cumprimento dessa responsabilidade.
Tradicionalmente, a rede acompanha o homem desde seus primeiros momentos, desde a
rede-berço até a rede de embalar. É usada cotidianamente como cama e, em algumas culturas, é
nela que se conduz o morto até o jazigo. Grande parte delas é feita com fios de algodão, em
variados tipos, cores, sendo batizada com diversos nomes.
Para se tornar uma rede, o pano tecido em tear manual ou elétrico passa por um processo de
acabamento, que envolve tarefas artesanais como empunhar a rede (que consiste em colocar
mamucabas, cabristilhos, trancelins, cabeça de punho) e colocar a varanda ou apenas a franja,
finalizando o produto. A rede é a cama do cotidiano, porque muitas pessoas a preferem à cama
para dormir, apresentando as seguintes justificativas: morar em uma região tropical, de muito
calor; aliviar problemas de saúde (dores reumáticas) e dores de coluna (na rede, a coluna relaxa
mais); proporcionar maior relaxamento; ocupar menos espaço, dentre outros atributos
compensatórios (GEISEL e LODY, 1983, p. 132).
A comercialização de produtos de tecelagem artesanal está condicionada às necessidades de
uso doméstico ou pela tradição do produto em representação de ordem sócio-cultural para a
família e/ou comunidade. Esse tipo de produto proporciona grande motivação a quem o realiza,
por fornecer aumento na renda familiar, transformando-se, muitas vezes, na atividade principal
77
econômica da família, que até é substituída pela dedicação aos trabalhos artesanais. A rede é
oferecida ao consumidor através de cartazes promocionais, letreiros e ofertas especiais que
funcionam com o objetivo de vender e motivar um maior consumo (GEISEL e LODY, 1983, p.
157).
A artesã geralmente comercializa o produto diretamente em sua casa, trabalhando por
encomendas que são feitas por pessoas da comunidade ou não. A intermediação é o caminho
mais comum para o escoamento do que é produzido, principalmente em localidades rurais em que
o acesso é difícil para o consumidor, para os turistas em geral, havendo a vinculação do produtor
com seu intermediário.
Uma queixa comum, dentre os artesãos, com relação ao comprometimento da saúde é
quanto ao pó que solta dos fios de algodão, pois provoca reações alérgicas e dificuldades
respiratórias; e também o excesso de movimento sobre os membros superiores e inferiores, que
causa males e dores na coluna vertebral (LIMA, 1992, p. 30).
Além dos mecanismos convencionais de venda da rede em lojas, especialmente em capitais
como Fortaleza, João Pessoa, Teresina, entre outras, constatam-se ruas inteiras dedicadas ao
comércio ambulante de redes de dormir, juntamente com outros produtos. A tradição imprime às
feiras e aos mercados populares a marca de canais de comércio e distribuição de alimentos e
produtos artesanais, determinando grande ocorrência entre lavradores, artesãos, comerciantes e
outros produtores, que vão a estes locais de consumo para oferecer o resultado do seu trabalho
(GEISEL e LODY, 1983, p. 158).
Os trabalhos artesanais vêm, a cada ano, conquistando mais o mercado, por mostrar mais
pessoalidade e unicidade em seus produtos. Por mais que estejam sendo industrializados, são
produtos ricos em aspectos culturais, com histórias de vida refletindo os costumes e hábitos de
uma sociedade. A população, de um modo geral, está cansada da repetição, da robotização e da
frieza, buscando cada vez mais produtos simples e utilitários, porém não esquecendo a
sofisticação do mercado exigente. O requinte das peças tem sido considerado um diferencial na
hora da compra: detalhes como cores, desenhos, tamanho das varandas, maciez do pano,
78
tamanhos que se adequam à realidade do cliente, o modelo cadeira e outras novidades vêm
instigando novos mercados (id., p. 170).
3.2 A rede de dormir como produto de referência à cultura nordestina
brasileira
A rede de dormir não é apenas um utensílio destinado ao sono, nem apenas a cama de uso
habitual do nortista e do nordestino em especial; nela se pode descansar e amar. Antigamente
servia para conduzir o morto em funerais, uso este que vem se tornando cada dia mais raro. Vê-
se, por outro lado, que muitas pessoas têm trocado a cama por uma macia rede; que, também, é
indicada em tratamentos médicos, psicoterápicos e de fisioterapia.
A rede é uma peça doméstica integrante da vida cotidiana das gentes do Norte e Nordeste
brasileiros, que a têm como um leito e enaltecem as vantagens: a cama obriga-nos a tomar seu
costume, ajeitando-nos nela, procurando o repouso em uma sucessão de posições. Já a rede toma
o nosso feitio, contamina-se com os nossos hábitos, repete, dócil e macia, a forma do nosso
corpo. A cama é parada e definitiva, a rede é acolhedora, compreensiva, colante, acompanha,
tépida, brandamente, todos os caprichos da nossa fadiga e as novidades imprevistas do sossego
(CASCUDO, 2003, p. 36).
Nos dias de hoje, a rede vem ocupando seu espaço de uso, de consumo, tendo sua produção
ampliada com a introdução da indústria, que se utiliza dos teares elétricos em lugar dos
artesanais. Ela é um importante testemunho da tecelagem artesanal, ocupando significativo
espaço na etnografia brasileira, pois vem, no decorrer da sua história, mantendo os compradores,
como também, vem conquistando novos usuários dentro e fora do Brasil. Suas funções
tradicionais foram ampliadas e, pela moda, assumiram cada vez mais seus lugares na arquiteturas
de interior de projetos urbanos, principalmente no Centro-Sul, onde a rede de dormir não tinha
presença habitual (LIMA e AZEVEDO, 1992, p. 29).
79
A grande e diversificada ocorrência da rede de dormir comporta desde o tipo mais simples e
de tecido comum, que é a rede tanga, até a lavrada e com varandas elaboradas feitas em filé ou
mesmo em crochê. O trabalho original da tecelagem da rede de dormir encontra-se pautado no
tear indígena. Porém, o tear introduzido pelo europeu, horizontal, legou à produção local certas
modificações de motivos, desenhos, influindo objetivamente nos temas dos tecidos, para a
fabricação da rede, que originalmente tinham grandes malhas, assemelhando-se à de pesca.
A rede é utilizada nos lugares mais simples como também nos mais requintados, como
hotéis do Norte e Nordeste. Por mais que as capitais dessas regiões tenham evoluído
dinamicamente, mantêm-se em muitos dos seus prédios os armadores de rede, servindo para o
uso, ou melhor, para o hábito de dormir em rede, tão próprio e comum dos habitantes dessas
regiões. Em casas freqüentemente são observados, nos quartos, além das camas, os armadores de
redes, e muitos destes estão com redes devidamente dobradas, seguindo uma técnica própria de
guardar a peça (LIMA e AZEVEDO, 1992, p. 30).
É comum e freqüente uma pessoa que tenha o hábito de dormir em rede passar essa boa
sensação e conforto para os outros, chegando a despertar nesses, no mínimo, a curiosidade em
experimentá-la. Ao longo dos anos, a rede foi sendo substituída pela cama de vento, de palha, de
sola ou de arame; ela tem sofrido menos contradição nas cidades, sobretudo depois que a
Medicina passou a cuidar dos desvios da coluna vertebral ou pela doença comumente chamada de
“baixo papagaio”. Nas regiões interioranas, a rede costuma servir de cadeira e de cama, sem
produzir espondilartrose (RABELLO, 1967, p. 84). O médico e escritor Silva Melo é defensor do
uso da rede, mesmo em substituição à cama. Para ele, a posição que o corpo toma dentro dela está
longe de ser viciosa, sendo perfeitamente anatômica (CASCUDO, 1959, p. 27).
O costume de ter rede em casa não é exclusividade das populações mais pobres, a rede
transcende o status. É evidente que os tipos de rede, suas varandas e padronagens, possuem
formas distintas em função do poder aquisitivo de quem a utiliza. A expansão do uso da rede de
dormir no Brasil e suas ocorrências e variações evidenciam o franco desempenho social de um
produto que, além de assumir tipicidade nacional, mantém, em sua própria trajetória, marcas dos
80
contatos aculturativos interetécnicos, além de ser produção de significativa referência da cultura
do povo brasileiro (LIMA e AZEVEDO, 1992, p. 31).
As fábricas de redes de dormir no Nordeste oferecem quantidade e variedade de tipos de
padronagens e de acabamentos. Um exemplo típico é a Indústria São Francisco, em Jaguaruana,
no Ceará, em que a rede Tapete é a mais cara, a rede Marajoara é a mais barata, a rede São
Francisco é a mais tradicional e a rede Veraneio a mais vendida. A rede de fio cru é consumida
pela própria comunidade, por ser mais simples, mais barata e por possuir a tonalidade da cor
original do algodão. Muitas redes são fabricadas por fios crus tingidos nas mais variadas cores
pelos próprios operários das fábricas. Porém, caso não seja feito um bom trabalho de tingimento,
pode acontecer o desbotamento da cor. Já existem fios tingidos industrialmente, que não sofre
modificação de cor ao ser lavado (GEISEIL e LODY, 1983, p. 160).
No que se refere ao padrão de qualidade, ao acabamento, ao tipo de fios e ao tingimento do
produto, são condições essenciais para a manutenção do Apl de São Bento no mercado
competitivo. É comum entre os possuidores de produtos de tecelagem o não retorno a fabricantes
que não mantêm um excelente padrão de produção. Por isso, é necessário passar credibilidade e
confiança ao se disponibilizar um artigo de tecelagem para os consumidores.
3.3 Histórico e características da região de São Bento/PB: estudo de caso
O município de São Bento foi originado no final do século XIX, surgindo a partir de uma
fazenda denominada Cascavel em que foram construídas as primeiras habitações. Segundo a
história, o lugar continuou sendo chamado de Fazenda Cascavel, até que, passando por lá um
padre, sugeriu que, ao invés do nome cascavel, chamassem São Bento, nome que lembrava o de
um santo que era protetor das pessoas que viessem a ser picadas por cobras venenosas
(FERNANDES, 2005, p.1).
81
São Bento cresceu e se desenvolveu sob o domínio de Brejo do Cruz até sua emancipação
política, ocorrida em 29 de abril de 1959. A cidade está situada na Mesoregião do sertão
paraibano e na Microregião de Catolé do Rocha. O município de São Bento possui uma área de
275 quilômetros quadrados, limitando-se ao Norte com Brejo do Cruz e Jardim das Piranhas
(RN); ao Sul, com Paulista e Serra Negra do Norte (RN); a Leste com Serra Negra do Norte (RN)
e a Oeste com Riacho dos Cavalos e Catolé do Rocha (MAPA DA PARAÍBA, 2005, p.1). (Ver
figura 5).
Figura 5 - Mapa da Paraíba
Fonte:
http://www.guianet.com.br/pb/mapapb (adaptado pela autora)
O Rio Piranhas, perene, é quem corta boa parte do município. O clima é quente e seco, com
temperaturas que variam entre 18 e 38ºC, sujeito a secas ou estiagens prolongadas. A vegetação
predominantemente é típica de regiões pertencentes ao semi-árido nordestino, destacando-se
campos, caatinga, prados e matas. As espécies mais encontradas são: angico, cumaru,
82
marmeleiro, jurema, mufumbo, pueiro, catingueira, jatobá, pereiro, entre outras (FERNANDES,
2005, p. 2).
Alguns donos de fábricas de redes de dormir não comercializam através de redeiros, por
conta da instabilidade das vendas, do retorno financeiro e do provável extravio de mercadoria.
Por conta desses contratempos, outros proprietários das fábricas preferem possuir clientes certos
e lojas em outros estados, onde trabalham sãobentenses que moram nessas cidades.
Cada fabricante de redes e de mantas possui a sua forma de escoamento de mercadoria, não
havendo uma regra estabelecida para esse processo. De acordo com dados do Centro
Internacional de Negócios, o setor de redes no Brasil, em 2003, exportou mais de 73 bilhões de
dólares e a Paraíba U$$ 168 milhões 437 mil (SANTOS, 2005, p. 9).
Em São Bento existem 54 empresas formais, mas o setor informal é o preponderante, com
300 pequenas fábricas instaladas em casa ou em fundo de quintal. De acordo com dados do IBGE
de 2001, São Bento possui 26.748 habitantes. No município, cerca de 80% da população
economicamente ativa vivem diretamente da produção, comercialização e distribuição desse
produto. As fábricas de redes Santa Luzia e São Rafael, por exemplo, contabilizam um bom
volume de exportações. A primeira exportou mais de 130 mil dólares em redes no ano de 2003
para países como França, Suíça, Espanha e Canadá. A empresa Santa Luzia produz também
manta, jogo americano e distribui fios de algodão (SILVA, 2005, p. 9).
Por mais que São Bento tenha a maior produção de redes de dormir do país, tem se tornado
corriqueira a discussão sobre as dificuldades no setor industrial no tocante à gestão, finanças,
acesso a mercados, tecnologia e design. Por conta dessa realidade, doze empresários locais estão
ligados ao Consórcio de Produtores de Redes de São Bento, em que foi implementado o
Programa de Apoio à Competitividade das Micros e Pequenas Empresas - PROCOMPI. Esse
consórcio de Produtores de Redes surgiu em 2001 com o objetivo de revitalizar o setor têxtil,
com foco nos aspectos organizacionais das empresas e no escoamento dos produtos para os
mercados interno e externo. Os técnicos das entidades envolvidas com o consórcio vêm
realizando diagnóstico em cada empresa, norteando importantes ações como a criação da marca
83
“Consórcio de São Bento” e o lançamento de um catálogo informativo sobre o setor e os tipos de
redes confeccionadas pelas empresas locais (SILVA, 2005, p.10).
A cidade de São Bento tem sido considerada a “cidade das redes e dos panos”, devido à
produção de redes de dormir, mantas, cobertores e estandartes. Uma das características marcantes
da região de São Bento para a comercialização das redes é a figura dos redeiros. São homens que
saem em caminhões carregados de redes de dormir e de mantas para comercializar fora de São
Bento. Eles passam de três a quatro meses fora de casa, tentando vender redes pelo Brasil inteiro.
Quando chegam às cidades, procuram os lugares mais populosos e colocam as redes nos ombros
e saem vendendo de forma ambulante. São conhecidos como nômades, por objetivarem apenas a
venda de redes e a obtenção mais rápida de lucro. Esta postura desbravadora tem sido o grande
diferencial dos sãobentenses com relação a seus concorrentes.
Ainda existem fábricas de redes de dormir que trabalham com os redeiros. Por conta do
desvio de dinheiro e da concorrência entre os próprios redeiros, muitos proprietários estão,
atualmente, vendendo por encomenda ou estruturando lojas fora de São Bento. Pode-se afirmar
que o comércio de rede de São Bento está passando por um processo de transição. No início dos
tempos, o mercado de redes do município era dominado por um reduzido número de grandes e
ricos empresários. Com o passar dos anos e por conta do desenvolvimento da população, muitos
antigos empregados se transformaram em pequenos produtores de redes, tendo em casa ou no
fundo de quintal sua pequena fábrica de redes, contando com o trabalho de sua esposa e filhos.
Essa nova forma de estruturação de MPMEs, de cunho familiar, está constituindo um dos Apls do
Nordeste brasileiro especializado na produção de redes de dormir e de mantas.
São marcantes, em São Bento, a força e a garra da população que, apesar de viver em um
lugar pobre, desprovido de um maior conhecimento acadêmico, destacam-se, atualmente, como o
maior produtor de redes de dormir do mundo. Mesmo assim, por mais que o mercado de redes de
dormir seja considerado promissor, precisa-se estar atento às novas formas de administração das
organizações e às influências culturais da região. Porém, constatou-se estarem as organizações de
São Bento muito aquém dos ideais modernos de administração e consciência cultural,
84
circunstância que denota a necessidade de uma mudança imediata no prisma administrativo,
sobretudo quando levado em consideração o fato de o mercado de redes local estar apontando um
franco declive em relação a passados próximos.
4. PERCURSO
METODOLÓGICO
86
4. PERCURSO METODOLÓGICO
A metodologia de um projeto de pesquisa deve compor as seguintes subdivisões:
localização, natureza e tipo de pesquisa; população e amostra; métodos e técnicas e outros
procedimentos (LEITE, 2004, p. 152).
A orientação metodológica deste trabalho observou as orientações de Leite (2004),
Triviños (1992), Malhotra (2001), Vergara (1997 e 2005), Minayo (1998), Cherques-Thiry
(2004), Yin (2001) e Forte (2006), com seus aspectos específicos e aplicáveis a cada fase do
processo de pesquisa. Todo o percurso metodológico e suas características estão dispostos nos
tópicos seguintes.
4.1 Localização, natureza e ideologia topológica
A pesquisa de campo referente a este trabalho foi realizada no município de São Bento,
localizado a 450 quilômetros da capital, João Pessoa/PB. Esse município cresceu e se
desenvolveu sob o domínio de Brejo do Cruz até sua emancipação política, ocorrida em 29 de
abril de 1959. A seleção do estudo de caso se deu porque São Bento é conhecida
mundialmente como “a capital da rede de dormir”, em que cerca de 80% da população
economicamente ativa vivem diretamente da produção, comercialização e distribuição desse
produto. Nesse município está situado o Apl de Rede de Dormir, um Consórcio de Exportação
de redes de dormir e mantas patrocinado pelo Programa de Apoio à Competitividade de
Micros e Pequenas Empresas - PROCOMPI - e uma associação composta por doze micros,
pequenos e médios empresários que estão associados e envolvidos diretamente no projeto.
Considerou-se, também, nesta pesquisa, uma amostra de oito micros e pequenos
empresários que não fazem parte da associação, com o intuito de se conhecer em mais
profundidade as características dos produtores de redes de dormir no que se refere a aspectos
voltados à coesão grupal, mesmo sem estarem inclusos num grupo. Portanto, acredita-se que,
antes de fazer parte do coletivo, o ser humano tem características individualizadas de caráter,
87
personalidade, com suas respectivas particularidades, e que estas interferem no
funcionamento do grupo. Atualmente, a associação é composta por doze associados, mas já
alcançou, recentemente, vinte membros que, aos poucos, se desligaram do Consórcio de
Exportação, durante o ano de 2005, o que é um dado a ser considerado na pesquisa e que pode
ser investigado posteriormente. Dos doze membros associados, fizeram parte da amostra oito.
Sendo assim, a amostra total deste trabalho de pesquisa é constituída por dezesseis fabricantes
de redes de dormir, tendo a contribuição de conversas informais realizadas com artesãos nas
calçadas da cidade e ex-proprietários de fábricas.
Na operacionalização deste estudo exploratório-descritivo e de natureza qualitativa,
quantitativa e fenomenológica, realizado no período de abril de 2005 a maio de 2006,
utilizou-se o escopo metodológico do estudo de caso. Como unidade de análise, considerou-se
a região de São Bento/PB, composta pelos diversos agentes econômicos, político-
institucionais e comunitários, presentes no território do arranjo produtivo de rede de dormir.
A pesquisa exploratória consiste na etapa de escolha do tópico de investigação, de
delimitação do problema, de definição do objeto e dos objetivos, de elaboração do marco
teórico conceitual e dos instrumentos de coleta de dados que vão ser utilizados e da
exploração do campo (MINAYO, 1998, p. 89). O estudo descritivo costuma expor
características de determinada população ou fenômeno, não tendo compromisso de explicar
fenômenos que descreve, apesar de servir de base para sua explicação (VERGARA, 1997, p.
45).
A pesquisa qualitativa, originária na década de 70 do século XX, nos países da América
Latina, consistiu inicialmente em uma postura quantificadora dos processos educativos que se
apresentavam livres. Como não estivesse sujeita à nenhuma expressão teórica determinada,
estava dando resposta, consciente ou não, a uma dimensão positivista da explicação dos
fenômenos sociais (TRIVIÑOS, 1992, p. 116).
Toda pesquisa pode ser, concomitantemente, quantitativa e qualitativa. Na situação
prática, ocorre que toda investigação baseada na estatística, que tem a finalidade de obter
resultados objetivos, fica exclusivamente no dado estatístico. Dificilmente o pesquisador
aproveita essa informação para avançar em uma interpretação mais ampla das informações.
Os pesquisadores menos experientes, que transformam a estatística em um instrumento
fundamental de sua busca, quando ela realmente deveria ser um elemento auxiliar do
88
pesquisador, desperdiçam um material hipoteticamente importante. E muitos terminam seu
estudo no lugar onde deveriam começar (TRIVIÑOS, 1992, p.118). O estudo de caso é um
exemplo de pesquisa utilizado na metodologia qualitativa e que obtém um aprofundamento do
aspecto a ser analisado.
O estudo de caso é uma “investigação empírica que analisa um fenômeno
contemporâneo dentro de seu contexto real, quando suas fronteiras não são claramente
evidentes, e na qual múltiplas fontes são utilizadas” (YIN, 2001, p. 15). Existem vários tipos
de estudo de caso: o histórico-organizacional, o observacional e o estudo de caso denominado
história de vida (TRIVIÑOS, 1992, p. 134-135). No caso deste trabalho, o caso histórico-
organizacional é o que mais se enquadra nos referenciais desse estudo, por ser o Apl de São
Bento/PB uma unidade organizacional específica.
Ainda segundo esse autor, os estudos qualitativos objetivam analisar e compreender,
com a ajuda de referenciais teóricos, o sentido e o significado dos fenômenos pesquisados. É
um tipo de estudo que tem sido muito utilizado na área social, da qual a administração faz
parte, uma vez que possuem profundidade ao definir detalhes e identificar sutilezas (p. 120).
4.2 Delineamento empírico, identificação da população e seleção da amostra
O campo empírico foi composto por três fases: exploratória, trabalho de campo e a
análise do material. Tais etapas visam a responder ao objetivo geral proposto neste trabalho,
que é verificar a existência e a disposição das variáveis endógenas no Apl de redes de dormir
de São Bento, que se relacionam com o estabelecimento de vínculos mais consistentes no
âmbito de grupo entre os atores sociais.
Os pressupostos a seguir surgiram a partir do questionamento central de pesquisa, que
foi o de identificar quais variáveis endógenas relacionadas à dinâmica dos grupos
organizacionais precisam ser estimuladas e desenvolvidas para o desenvolvimento contínuo
do Apl de São Bento/PB no atual mercado competitivo. A partir desse questionamento,
existem os seguintes pressupostos:
89
1. As capacitações implementadas pelas instituições parceiras dos Apls têm
demonstrado pouca eficácia para a constituição e formação duráveis do Apl de São
Bento/PB;
2. O Apl de São Bento/PB encontra-se, no momento, em fase de declínio, pois a
produção e as vendas de rede de dormir têm diminuído consideravelmente ao longo dos
anos;
3. A sobrevivência de um Apl no mercado está inteiramente relacionada à forte coesão
do grupo;
4. Um grupo de Apl unido e com laços estreitos de relacionamento proporciona o
trabalho em conjunto e um retorno financeiro uniforme para os mesmos.
Portanto, para tentar responder aos objetivos propostos e se atingir um maior
esclarecimento dessa problemática, foram delineadas algumas etapas a serem seguidas.
A primeira etapa, exploratória, correspondeu ao início do trabalho, a partir de uma visita
com duração de três dias ao município de São Bento e dos contatos iniciais com os moradores
locais, redeiros, artesãs sentadas nas calçadas, realizando os trabalhos artesanais, proprietários
e até ex-proprietários das fábricas de redes, empresários do ramo de fios (matéria-prima das
redes) e profissionais diversos. As conversas se caracterizaram como de cunho informal,
porém são ricas em informações e acompanhadas pela observação participante, que consiste
na observação do comportamento do ambiente de interações (MALHOTRA, 2001, p. 193).
Nessa visita, foi realizado o pré-teste, com o instrumento de pesquisa escolhido, a entrevista
semi-estruturada. Foram feitas duas entrevistas e, logo em seguida, reavaliado o roteiro de
entrevista semi-estruturado. O pré-teste, segundo Malhotra (2001, p.290) é uma pequena
amostra dos entrevistados, com a finalidade de identificar e eliminar problemas potenciais,
pois a entrevista pode ser aperfeiçoada pelos erros constatados nela. A observação
participante aconteceu desde o início da pesquisa de campo, fase exploratória, e esteve
presente durante todos os retornos da pesquisadora ao campo para aplicação da entrevista
semi-estruturada.
Segundo Triviños (1992, p. 122), a aproximação com o ambiente a ser estudado e com
todos os seus valores, hábitos e costumes faz parte de um tipo de pesquisa que ressalta a idéia
de que o comportamento humano muitas vezes tem mais significados do que os fatos pelos
90
quais ele se apresenta e esta é denominada de pesquisa de natureza qualitativa
fenomenológica. A partir dela se descobrem as características culturais que envolvem a
existência das pessoas que participam da pesquisa, não somente porque por elas se pode
chegar a precisar os significados dos aspectos do meio, mas também porque, do ponto de vista
estudado, há considerações importantes a serem observadas.
Na fenomenologia, o fenômeno é, pois, o aspecto do objeto patente imediatamente na
consciência, logo, na sua consciência. São os aspectos não presentes à consciência que
integram o objeto. O fenômeno é o aparente, é a aparência. E o objeto não é tido como
sinônimo de coisa, mas o objeto é definido como a coisa, enquanto está presente à
consciência. Existem três momentos da aplicação do método fenomenológico: intuição;
redução e ideação (RIBEIRO JÚNIOR, 1991, p. 23). Essas subdivisões do método de
natureza ideológica e fenomenológica serão detalhadas mais adiante, quando forem
explicadas as técnicas utilizadas na pesquisa.
A abordagem fenomenológica não se preocupa em estudar objetos e atores sociais
isolados, pois a tarefa do pesquisador é buscar compreender como a realidade se constrói por
meio da experiência das pessoas envolvidas em determinada situação ou com um dado
fenômeno (CARVALHO e VERGARA, 2002, p. 81). Para Sampaio (2001, p. 32), ao fazer
uma releitura do trabalho de Spigelberg, o método fenomenológico acontece em sete
“passos”: investigação de fenômenos particulares, investigação das essências gerais,
apreensão das relações entre as essências, observação dos modos de aparecimento, observação
da constituição dos fenômenos na consciência, suspensão da crença na existência do
fenômeno e interpretação do significado do fenômeno.
A fenomenologia é uma ciência teórica e rigorosa repleta de significações, que é
preenchida pela imaginação, pela percepção sensível (matéria) e categorial (forma); é
intuitiva, porque tenta apreender a essência das coisas; é não-objetiva, diferente das outras
ciências dos fatos ou das realidades (físicas ou psíquicas), pois ela se preocupa apenas com os
objetos ideais (essências); é uma ciência das origens e dos primeiros princípios; é uma ciência
da subjetividade, já que a análise da consciência se dirige para o eu, que é o sujeito de todas as
intencionalidades constitutivas, não partindo do próprio eu e sim das próprias coisas; e é uma
ciência impessoal porque os seus colaboradores não têm necessidade de prudência, mas de
conhecimentos teóricos (RIBEIRO JÚNIOR, 1991, p. 39-40). Na reflexão fenomenológica,
nenhuma análise é definitiva, pois o real contém uma infinidade de “essências” que é
91
necessário trazer à luz, e os esquemas de inteligibilidade possíveis estão em constante
transformação (BRUYNE, HERMAN, SCHOUTHEETE, 1991, p. 79).
A partir dos dados secundários coletados, que é a pesquisa bibliográfica e documental,
juntamente com as conversas e entrevistas que aconteceram no local de estudo, verificou-se
que o Apl de redes de dormir era constituído por uma associação composta por doze
associados. Esses micros e pequenos empresários, apesar de fazerem parte de um consórcio de
exportação, não estão tendo resultados financeiros nem de destaque no cenário mundial. Eles
têm ganhos financeiros como empresas individualizadas, mas, quando se trata de trabalho em
grupo ou em parceria, não conseguem prosperar, não freqüentando as reuniões e não se
unindo como grupo.
A segunda etapa desse trabalho foi composta pela aplicação de entrevista semi-
estruturada. Desta forma, o universo foi constituído por oito micros e pequenos empresários
que formam a associação juntamente com oito micros e pequenos empresários que não são
associados, sendo em sua totalidade composta por dezesseis micros, pequenos e médios
empresários. Ao longo do texto, essas entrevistas serão identificadas a partir de “R”, que
significa “respondente”. Fará parte também do corpo do trabalho a abreviatura “MEC”, que se
refere aos Membros Externos Constitutivos do Apl. E a terceira etapa do trabalho foi a análise
do material coletado, tanto da forma exploratória, como os resultados apreendidos na
aplicação da entrevista semi-estruturada.
Segundo Triviños (1992, p. 132), a pesquisa qualitativa fenomenológica pode utilizar
recursos aleatórios para fixar a amostra. Isto é, procura uma representatividade do grupo
maior dos sujeitos que participarão no estudo. Em geral, não é uma preocupação dela a
quantificação da amostragem. Poderá ser, inclusive, intencional na escolha da amostra,
considerando: sujeitos essenciais, segundo o ponto de vista do pesquisador, para o
esclarecimento do assunto em foco; facilidade para se encontrar com as pessoas; e tempo dos
indivíduos para a entrevista, acesso.
92
4.3 Métodos e técnicas de coleta de dados da pesquisa
No método de natureza fenomenológica, a primeira fase da coleta de dados foi composta
por três fases: a intuição, a redução fenomenológica e a ideação. De acordo com Ribeiro
Júnior (1991, p. 45), a intuição só acontece no imediatamente dado em que evidência e
verdade coincidem. Os objetos ideais constituem o término de uma experiência (intuição)
peculiar chamada intuição-categórica, que implica na intuição dos elementos sensíveis.
De acordo com Dartigues (1992, p. 20), a redução fenomenológica é a colocação entre
parênteses da realidade tal como a concebe o senso comum. Possibilita ao pesquisador um
conhecimento do mundo a partir da sua origem, compreendendo dois momentos principais:
um momento negativo, quando se isola o objeto (fenômeno) de tudo aquilo que não lhe é
próprio; e um segundo momento positivo, em que a visão da inteligência dirige-se para a
própria coisa, nela imerge e deixa que se manifeste. A ideação é a contemplação da essência
universal ou eidos. Consiste na verdadeira intuição eidética, que surge após a redução
fenomenológica, em que afastou a consciência dos objetos e colocou-a em posição de referir-
se aos atos intencionais (RIBEIRO JÚNIOR, 1991, p. 49-50).
A intuição está interligada à redução fenomenológica. Esta será composta do que foi
percebido inicialmente, como: rendeiras sentadas nas calçadas, disposição de cordas de
algodão para fazer a alça da rede, a utilização por parte dos produtores de rede dos recursos
naturais para secar os produtos, o barulho constante do tear, a movimentação dos caminhões,
moças jovens dirigindo motocicletas, famílias inteiras produzindo redes; fábricas de produção
de redes constituídas no quintal das casas, como também, o trabalho cansativo de produção,
causando dores reumáticas nos produtores, conforme foi observado no trabalho de campo.
No método de pesquisa fenomenológico, todas as características superficiais e
aparentes, a intuição propriamente dita, precisam ser consideradas, pois, a partir do que for
apreendido inicialmente, irá aos poucos se verificar em profundidade a realidade,
constituindo, assim, a redução fenomenológica. Esta consiste em uma operação intelectual
que permite que se passe do objeto à essência desse objeto. Consiste, também, em uma
reflexão interna sobre o objeto, é o voltar sobre os atos mesmos (retonar-às-coisas-mesmas),
como eles são realmente, em si mesmos. O campo de interesse primário da fenomenologia é o
da percepção e da interpretação espontânea e intelectual das coisas do mundo, das várias
93
maneiras como experimentamos, como tomamos consciência do mundo em que vivemos e
agimos (CHERQUES-THIRY, 2004, p. 97-98).
Essas são algumas características que retratam a realidade concreta da capital mundial
da rede de dormir. São fenômenos retirados do contexto histórico ainda sem nenhuma
interpretação, compondo a redução fenomenológica. Fazem parte também da redução
fenomenológica as informações obtidas nas conversas informais com moradores locais.
A partir de aspectos apreendidos na redução fenomenológica, passa-se para outra fase,
que é a ideação. Consiste no afastamento da consciência dos objetos para se colocar em
posição de referir-se aos atos intencionais. É a contemplação da essência universal e o
conhecimento mais completo do que realmente acontece em São Bento, ou seja, consiste em
uma reflexão sobre todos os dados obtidos. É importante ressaltar que a metodologia
qualitativa fenomenológica acompanhou todo o processo da pesquisa em São Bento/PB,
mesmo na realização das entrevistas semi-estruturadas aos membros do Consórcio de
Exportação. Por isso, os dados apreendidos nas entrevistas semi-estruturadas ajudaram a
formar a terceira etapa da metodologia qualitativa, que é a ideação.
O roteiro de entrevista foi baseado no questionário do Banco Mundial e nos textos de
Moscovici. Segundo Malhotra (2001, p. 193), a observação consiste no registro sistemático de
padrões de comportamento das pessoas, objetos e eventos, com a finalidade de se obter
informações sobre o fenômeno de interesse. A observação participante aconteceu durante todo
o período de realização das entrevistas, porque observar participando exige uma maior
integração do pesquisador e principalmente, a aceitação e confiança extrema dos
colaboradores.
A segunda fase da coleta de dados foi a entrevista semi-estruturada, baseada num roteiro
de entrevista que serviu de orientação ao pesquisador, proporcionando também flexibilidade
para o surgimento de novos questionamentos. As entrevistas foram gravadas e posteriormente
transcritas, a fim de não se perder informações valiosas acerca da realidade do grupo do Apl
de São Bento/PB.
O roteiro de entrevista semi-estruturado foi subdividido em duas partes. A primeira
abordou a qualificação pessoal do proprietário e o processo de surgimento da fábrica. A
segunda tratou dos aspectos grupais relacionados ao Apl de redes de dormir de São Bento/PB.
As questões relativas à primeira parte foram em número de treze, são do tipo fechado e
94
continham proposições alternativas, a fim de que fosse marcada apenas uma destas. As
questões abordam aspectos como escolaridade do proprietário da fábrica, tempo que produz
da rede de dormir, estrutura física da fábrica (como tamanho, quantidade de teares ativos e
ociosos, faturamento mensal, número de funcionários que trabalham); quanto à formalização
da empresa, os tipos de produtos fabricados, o escoamento dos produtos e os benefícios que
tiveram esses produtores por fazerem parte do Consórcio de Exportação.
Na segunda parte do roteiro de entrevista semi-estruturado foram dispostas cinqüenta e
nove proposições ligadas a aspectos de relação e estabelecimento de vínculos entre os
membros do Apl. Nessas proposições, o entrevistando teria que responder de acordo com
uma escala crescente de 1 a 4, em que o número “1” corresponde ao estabelecimento de
baixos vínculos de relacionamento e o número “4” à existência de vínculos de relações fortes
entre os membros. É importante salientar que a escala crescente de força será considerada
como “1” menor que “2”, que é menor que “3” e este menor que “4”.
Dois diferentes grupos foram pesquisados. O primeiro composto pelos associados do
Consórcio de Exportação e o segundo grupo, pelos não-associados. Existe uma pequena
diferença nos objetivos a serem atingidos nos respectivos grupos. Aos primeiros, na escala de
existência, o número “1” corresponde ao estabelecimento de baixos vínculos e o número “4” à
existência de vínculos de relações fortes. No caso, dos outros oito entrevistados que não
fazem parte do Consórcio de Exportação, foi solicitado que dessem notas de 1 a 4 referentes à
importância de quais aspectos grupais precisam existir para que um grupo de produtores de
redes tenha coesão e prospere enquanto grupo. O objetivo de fazer essa diferenciação na
segunda parte do roteiro de entrevista deu-se pela necessidade de se conhecer mais
detalhadamente as características culturais e individuais da população sãobentense, já que se
acredita que as características do grupo são oriundas de como o indivíduo vive e até do que
ele valoriza para o seu funcionamento dele enquanto ser humano. A escala de crescimento de
1 a 4 será devidamente considerada na análise.
Foram considerados treze aspectos grupais na entrevista semi-estruturada em
profundidade: objetivos no Apl, motivação, comunicação, comportamento, processo
decisório, relacionamento, confiança, participação e solidariedade social, cooperação,
iniciativa e organização, coesão grupal. Dentro de cada aspecto grupal existiram as
subdivisões relativas ao contexto abordado. O objetivo de se verificar esses aspectos grupais
de forma minuciosa é entender e analisar o contexto em que vivem os fabricantes de redes de
95
dormir desse Apl em estudo. Pode-se verificar ainda que, dentre cada aspecto grupal do
roteiro de entrevista semi-estruturado, uns possuíam maior número de proposições do que
outros, como é o caso da motivação, do comportamento, do relacionamento e da confiança.
Isso aconteceu para ressaltar que esses aspectos precisavam ser mais esmiuçados por estarem
mais relacionados com os objetivos propostos neste trabalho.
Outros aspectos grupais poderiam ter sido considerados, como um aprofundamento
maior quanto às fábricas de redes de dormir estudadas. Porém, como se trata de um público
em sua maioria de baixa escolaridade, teve-se o cuidado de elaborar uma entrevista semi-
estruturada com uma terminologia de fácil assimilação para o público, que não se prolongasse
em demasia e que não lhes sugerisse estarem perdendo tempo, ao invés de estarem
produzindo em suas fábricas.
Na pesquisa qualitativa fenomenológica foi utilizada a técnica de análise de conteúdo.
Esta é uma técnica que visa não só a apreender como uma mensagem é transmitida, mas
também a explorar o seu sentido. Analisar o discurso consiste em considerar tanto o emissor
quanto o destinatário da mensagem, bem como o contexto no qual o discurso está inserido
(VERGARA, 2005, p. 25). A análise qualitativa foi complementada pelos resultados da
tabulação estatística do software SPSS 11.5 dos dados coletados por meio da aplicação das
proposições fechadas da entrevista semi-estruturada em profundidade. Assim, configura-se
uma combinação entre três fontes de coleta de informações: a) observação participante; b)
entrevista semi-estruturada; c) questionário; e d) documentos. E os métodos de análise das
informações foram em número de quatro: a) fenomenologia; b) análise do conteúdo; c) análise
de discurso; d) estudo de caso.
As etapas do cronograma observadas abaixo fazem parte do processo de execução
elaborado para se obter os dados e as informações imprescindíveis à análise do resultado.
96
4.4 Cronograma de pesquisa
Análise do material
Fontes de evidência utilizadas na análise, análise documental,
entrevista semi-estruturada em profundidade, análise da observação
participante do tipo natural, análise quantitativa das questões
fechadas da entrevista utilizando o sistema SPSS 11.5, análise
qualitativa das narrativas resultantes das entrevistas, utilizando
análise de conteúdo.
Pesquisa de campo
Identificação do total da população, seleção da amostragem, realização
da pesquisa fenomenológica, observação participante do tipo natural,
realização das entrevistas semi-estruturadas em profundidade aos
membros do Consórcio de Exportação e aos não-associados, visita à sede
da associação e entrevista com os diretores responsáveis.
Pesquisa exploratória
Pesquisa bibliográfica e documental, delimitação do campo empírico e
definição dos objetivos, leitura sobre as técnicas a serem utilizadas no
trabalho e elaboração dos instrumentos de pesquisa.
Fase exploratória inicial
Elaboração do Pré-projeto de Pesquisa, participação em encontros
setoriais, observação direta da região, conversas com os moradores,
levantamento de bibliografia e documentação, delineamento do objeto de
estudo e início das leituras para construção do marco teórico.
Abril
2005
até
Set.
2005
Out.
2005
até
Nov.
2005
Dez.
2005
até
Fev.
2006
Março
2006
até
Maio
2006
Quadro 2 - Fases do percurso metodológico
Fonte: Elaborado pela autora a partir da elaboração do pré-projeto de pesquisa, 2005.
5. APRESENTAÇÃO DOS
DADOS E ANÁLISE DOS
RESULTADOS
98
5. APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS
RESULTADOS
Na busca de ressonância na literatura articulada na primeira etapa deste estudo, expõe-se
o resultado das informações coletadas na pesquisa de campo, com base nos objetivos
específicos da pesquisa. Dessa forma, os resultados são apresentados conforme a seqüência
dos objetivos, na perspectiva do alinhamento com a proposta do trabalho.
Inicialmente será apresentado o perfil do produtor de rede de dormir do Apl de São
Bento, as características relativas à origem das fábricas e estilos de produção e a constituição
e formação do grupo do Apl, com suas relações e vínculos estabelecidos. Os dados
qualitativos foram apreendidos e dispostos em quadros correspondentes ao Consórcio de
Exportação - CE - e Não Consórcio de Exportação - NCE.
5.1 Perfil dos produtores de redes no território do Apl
Para identificar as características dos dezesseis componentes da amostra do Apl de São
Bento, fez-se necessário dividir as informações em duas categorias distintas: qualificação
pessoal dos produtores de redes e histórico do surgimento da fábrica.
Os componentes do Consórcio de Exportação são os mais bem-sucedidos no ramo de
produção e fabricação de redes de dormir de São Bento. Em entrevistas realizadas com alguns
membros constitutivos do Apl de São Bento, como secretária do Consórcio de Exportação,
membros do Sebrae/PB, ex-proprietários de fábricas falidas e ex-proprietários que obtiveram
êxito com a fabricação de redes de dormir nos tempos áureos de São Bento, agregaram-se
informações complementares aos dados, o que possibilitou o enriquecimento das entrevistas.
Para essas entrevistas não serem confundidas durante a pesquisa com as realizadas com os
componentes do Consórcio de Exportação, utilizou-se a abreviatura MEC - Membros
99
Externos Constitutivos do Apl -, pois foram consideradas relevantes as falas destes
participantes durante a análise da descrição dos resultados.
Dois dos maiores produtores de redes de São Bento fazem parte do Consórcio. Eles
têm lojas em várias regiões do Nordeste do Brasil, como: João Pessoa/PB,
Natal/RN, Fortaleza/CE, Salvador/BA e há anos exportam regularmente para outros
países (Entrevista realizada com MEC 1, São Bento/PB, 22/02/2005).
Desses dois maiores produtores de redes de dormir, apenas um fez parte desta amostra,
pois o outro não foi encontrado durante a realização das entrevistas por estar em viagens de
negócio. Mesmo assim, o produtor entrevistado omitiu dados fidedignos acerca de seu
faturamento mensal, pois, ao falar da quantidade de teares que utiliza na produção, os
números não corresponderam ao faturamento mensal obtido, nem à quantidade de
funcionários existentes nas fábricas. A estrutura física das fábricas, observada nas entrevistas,
não diferiu por uns serem membros constitutivos do Consórcio e outros não. Em alguns
estabelecimentos cujo proprietário faz parte do Consórcio, a estrutura organizacional era
precária e desorganizada. Tal observação causou surpresa, pois se acreditava que as micros,
pequenas e médias empresas constitutivas do Consórcio teriam uma estrutura mais bem
apresentável por conta do grau de exigência nas exportações.
Um dado a ser considerado é que muitos produtores de redes de dormir não estão
devidamente regulares com o Fisco, nem com suas declarações de imposto de renda. Por isso,
em entrevistas, omitem e têm receio de assumir que recebem quantidades elevadas de
faturamento. Apesar de todos os entrevistados serem já inicialmente informados de que esta
se tratava de uma pesquisa científica destinada ao cumprimento do Curso do Mestrado em
Administração de Empresas, esse cuidado não foi suficiente para amenizar tamanho receio de
serem pegos em suas irregularidades fiscais. Verifica-se esta situação em ambos grupos.
100
Tabela 1- Faturamento mensal CE Tabela 2 - Faturamento mensal NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
1%
4%
1%
2%
Até 1 sal. mín.
5 a 7 sal. mín.
8 a 10 sal. mín.
Acima 11 sal. mín.
2%
3%
2%
1%
Até 1 sal. mín.
2 a 4 sal. mín.
5 a 7 sal. mín.
Não quis revelar
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Órgãos, como a Receita Federal e Polícia Federal, têm autuado com mais
regularidade os empresários, como também a apreensão de carretas sem nota fiscal
tem sido mais comum (Entrevista realizada com MEC 2, São Bento, 22/02/2005).
Dos membros do Consórcio de Exportação, 4% afirmaram faturar mensalmente de 5 a 7
salários mínimos e, das fábricas não-consorciadas, 3% faturam de 2 a 4 salários mínimos.
Percebeu-se que há um faturamento mensal maior entre os membros associados no Consórcio.
Apenas um entrevistado não associado não quis revelar seu lucro, pois, durante a entrevista,
desviou-se por várias vezes do assunto e tentou mostrar cálculos particulares somente de
entendimento para profissionais da produção de redes. Verifica-se, com esses dados, também
uma irregularidade do setor de tecelagem em São Bento e uma desorganização das fábricas no
tocante à estrutura e ao planejamento administrativo. Observou-se, nas entrevistas, que o
faturamento mensal obtido com a fabricação de redes de dormir é relativamente baixo para
uma cidade que se denomina “capital da rede de dormir”. Tal afirmativa se explica pelo
acentuado número da população voltado para esse mercado, baixa rotatividade de vendas e
acirrada concorrência do mercado interno.
Aqui, em São Bento, todo mundo fabrica rede. Em toda casa, alguém faz rede e
vende em pequena quantidade. A cidade vive da produção de rede (Entrevista
realizada com R15, Não membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB,
11/05/2006).
Nas entrevistas com os associados do Consórcio de Exportação, foi visto que o nível de
escolaridade dos produtores de redes de dormir varia do ensino fundamental incompleto até o
101
ensino médio completo, com poucas oscilações. Nenhum deles possui curso de graduação. Já
nos membros que não constituem o Consórcio de Exportação, mas que compõem o Apl,
verificou-se que o nível de escolaridade em 4% dos entrevistados é do ensino fundamental
completo. O que representa uma faixa considerada muito baixa para a realidade de micros,
pequenos e médios empresários que precisam se manter no atual mercado competitivo,
dificultando a apreensão de informações que auxiliem no melhoramento e no
desenvolvimento de seus estabelecimentos. Entre os fabricantes de redes, 2% possuem o
ensino fundamental incompleto e um é analfabeto, só sabe assinar o nome, demonstrando,
assim, a garra, a determinação, a obstinação e a ousadia dos proprietários das fábricas.
Esse baixo índice de escolaridade do sãobentense é refletido ao longo dos maus hábitos e
costumes da região, como
a prática do canibalismo comercial, estigmatizando os produtores e
comerciantes de rede como pessoas de baixo nível ético e moral. Como também, o alto índice
de delinqüência existente em São Bento, a promiscuidade, alcoolismo, tráfego de drogas e
contrabando de objetos em geral.
Sou analfabeto! Eu não estudei, porque tinha que ajudar meus pais na agricultura.
Hoje, por conta das dores na coluna, não consigo sobreviver da agricultura, por isso
a fabricação de redes de dormir me ajuda a viver (Entrevista realizada com R14,
São Bento, 10/05/2006).
Quando os redeiros chegam a cidade depois de dois a seis meses fora, muita riqueza
é trazida. Como também, drogas e um aumento exagerado no consumo de álcool
(Entrevista realizada com R11, São Bento, 10/05/2006).
Nesta fala, pode-se imaginar as dificuldades que esse cidadão são-bentense enfrentou ao
longo da vida, retratando a realidade do sertanejo nordestino, muitas vezes desprovida das
necessidades básicas, como alimentação, formação educacional, profissional, saúde e
habitação. O baixo grau de escolaridade ainda é uma realidade entre empresários nordestinos,
o que dificulta o crescimento, a profissionalização e o desenvolvimento local das regiões
interioranas.
102
Tabela 3 - Nível de Escolaridade do CE Tabela 4 - Nível de Escolaridade dos NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
2%
1%
1%
2%
1%
1%
Ens. fund. incom.
Ens. fund. comp.
Ens. méd. incom.
Ens. méd. comp.
Ens. sup. incom
Ens. sup. comp.
2%
4%
1%
1%
Ens. fund. incom.
Ens. fund. comp.
Ens. méd. comp.
Ens. sup. incom.
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Verifica-se que muitos produtores já têm certo tempo de experiência na produção e
comercialização de redes, chegando alguns há mais de 18 anos dentre os consorciados. Nos
fabricantes que não fazem parte do consórcio, a produção de tecelagem é considerada antiga
também. Com esses dados, pode-se concluir que muitos filhos foram criados vendo os pais
fabricando redes e que esses ensinamentos passaram de geração para geração. Por isso, torna-
se difícil encontrar alguém em São Bento que não saiba fabricar produtos de tecelagem.
Eu fabrico rede há 40 anos, é através dela que sobrevivo (Entrevista realizada com
R10, São Bento, 09/05/2006).
Tabela 5 - Tempo de produção CE Tabela 6 - Tempo de produção NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
1%
3%
4%
6 a 11 anos
12 a 17 anos
Acima 18 anos
2%
3%
3%
6 a 11 anos
12 a 17 anos
Acima 18 anos
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
As empresas, em sua maioria, são do tamanho micro, por possuírem menos de dezenove
funcionários ocupados (Legislação básica da micro e pequena empresa, 1999). É um número
de 6% para as micros empresas pertencentes ao Consórcio e 8% para as não associadas.
Verifica-se que muitas fábricas de tecelagem possuem serviços terceirizados, como a
103
fabricação das varandas, mamucabas, trancelim, desobrigando, assim, o empresário de ter um
alto número de funcionários fixos em suas fábricas.
Tabela 7 - Porte da empresa do CE Tabela 8 - Porte da empresa dos NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
6%
2%
Micros
Pequenas
8% Micros
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
A quantidade de teares ativos nas fábricas depende da época do ano, pois, nos meses de
setembro a fevereiro do outro ano, o escoamento de mercadorias é grande; porém, nos demais
meses, acontece uma baixa na produção, chegando, inclusive, algumas fábricas a parar a
produção. Nos meses acima mencionados, a produção chega, às vezes, a vinte quatro horas
ininterruptas para corresponder à demanda dos pedidos, pois é uma época quente em várias
regiões do mundo. Normalmente, os operários dos teares não trabalham aos sábados à tarde,
aos domingos e segundas-feiras, dia este da conhecida “Feira da Pedra”. Mas, quando
necessário, estendem o trabalho por algumas horas; porém, esses dias são considerados de
descanso oficial para eles. Em épocas de baixa produção, é notório evidenciar que grande
parte da população de São Bento vive da fabricação de produtos de tecelagem, pois é elevado
o número de pessoas pedindo ajuda na Prefeitura local e aos empresários mais bem sucedidos,
o que demonstra a dificuldade de obtenção de sustento dessa gente em outro ramo de
atividade.
Tabela 9: Quantidade de teares do CE Tabela 10: Quantidade de teares dos NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
4%
2%
2%
1 a 6 teares
7 a 11 teares
12 a 17 teares
4%
4%
1 a 6 teares
7 a 11 teares
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
104
Nos meses de setembro de um ano até fevereiro do outro ano é o período de maior
venda. É uma época em que todos estão empregados, comendo e sustentando suas
famílias. Quando chega março, e os pedidos por produtos diminuem, começa a
quebradeira, muitos funcionários são demitidos e passam a sobreviver de um ou
outro trabalho, quando não fazem filas na Prefeitura em busca da sobrevivência
(Entrevista realizada com R1, Membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB,
05/01/2006).
Eu já passei muita necessidade financeira nesses meses de baixa estação, cheguei
até a parar a maior parte dos teares que possuo (Entrevista realizada com R2,
Membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB, 05/01/2006).
Se o número de teares diminui, o de funcionários também é reduzido. O momento em
que ocorreu a primeira etapa das entrevistas, foi a época do ano de maior saída de produtos e
de funcionamento quase que de vinte quatro horas dos teares, tanto que a maioria das fábricas
visitadas possuía acima de seis funcionários, conforme apresentada nas tabelas 11 e 12.
Atualmente, cerca de 80% da população de São Bento vivem da fabricação da rede. Esta é
uma percentagem alta no que se refere a um só ramo de atividade de sobrevivência. É comum
se visualizar nas calçadas homens e mulheres fabricando varandas, empunhando rede, o carel.
Vale salientar que, enquanto estão envolvidos no trabalho manual, estão conversando, rindo e
se divertindo. Ressalta-se que, na prática desse trabalho um comprometimento físico
considerável, pois os trabalhos manuais são realizados com o artesão sentado em tamboretes,
sem nenhum encosto para descansar a coluna, alguns utilizam as pernas para apoiar o material
de trabalho; também passam horas em pé, monitorando os teares; o som forte do tear por todo
o dia compromete a audição, e o pêlo oriundo do algodão causa alergia, asma e outras
doenças respiratórias. Mesmo assim, o sãobentese realiza esse trabalho com desprendimento,
mesmo com a ausência de normas rígidas, que caracterizam o trabalho dentro de fábricas ou
empresas.
105
Tabela 11- Funcionários das fábricas do CE Tabela 12 - Funcionários das fábricas dos NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
4%
4%
6 a 10 func.
Acima de 11 func.
1%
6%
1%
Até 5 func.
6 a 10 func.
Acim 11 func.
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Dentre as empresas entrevistadas, cinco são formalizadas e três não são formalizadas, ou
seja, não possuem a documentação exigida para a regulamentação de funcionamento, como se
observa nas tabelas 13 e 14. Tal realidade ressalta a desorganização das fábricas e os altos
encargos contratuais, o que , muitas vezes, impossibilita de o proprietário regularizar sua
empresa. O índice de informalidade ainda é maior entre as fábricas que não fazem parte do
Consórcio e o único que é proprietário de uma fábrica formalizada se tornou formal por
realizar uma exportação. Já nos membros do Consórcio de Exportação, a regularização é
maior por almejarem exportar ou por já realizarem exportações.
Tabela 13 - Fábricas formalizadas do CE Tabela 14 - Fábricas formalizadas dos NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência CE Resultados obtidos
Freqüência NCE Resultados obtidos
5%
3%
Sim
Não
1%
7%
Sim
Não
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Eu já fiz parte do consórcio em outro momento e saí por não estar me beneficiando.
Formalizei minha empresa porque precisei exportar e depois percebi como é
importante a presença da marca de identificação da empresa no produto, pois já
realizei encomendas somente pela identificação da etiqueta da minha empresa
(Entrevista realizada com R16, Não é membro do Consórcio de Exportação, São
Bento/PB, 25/03/2006).
A região em que está inserido o município de São Bento, o sertão paraibano, passa por
dificuldades de diversas naturezas, como: falta de recursos e de incentivos do governo federal,
106
distância da capital do estado, o que aumenta os custos de encomenda de produtos, baixa
escolaridade dos moradores e desorganização no que se refere à estrutura administrativa das
fábricas. É uma região caracterizada pela rica cultura nordestina, que é a do gosto pelo forró,
pelas festas dos padroeiros e pelas comidas típicas. Até nos candidatos a cargos políticos a
cultura regional se expressa, a partir de apelidos como “bacurau”, que corresponde aos
membros do partido do PMDB; e os “bicudos”, aos membros do PSDB. Em época de
campanha política, toda a população participa ativamente, chegando, inclusive, a fazer
protestos aos gestores públicos e a exigir posturas que beneficiem a população. A bipartição
política de São Bento se estende também ao mercado de fabricação de rede, pois todos os
membros do Consórcio de Exportação votam no PSDB, são bicudos. Fala-se que um dos
motivos dos fabricantes de redes, bacuraus, não entrarem no Consórcio é a acirrada disputa
política existente na cidade, mesmo em momentos de baixa produtividade.
Os dados coletados nas entrevistas semi-estruturadas com os membros do Consórcio e
com os membros não associados enriqueceram o entendimento acerca dos hábitos e costumes
do sãobentense. Em quase todas as entrevistas com os proprietários das fábricas de produção
de redes de dormir, o ingresso nessa atividade aconteceu sem um planejamento prévio, pois
iam adquirindo a matéria-prima (fios), depois pedindo emprestado um tear, para só depois o
proprietário comprar as suas máquinas. Essas fabriquetas geralmente começaram nos quintais
das casas e aos poucos foram se configurando em fábricas. Apesar da herança familiar ser
forte, porque muitos donos de fábricas viam seus pais, avós e familiares fabricarem redes em
antigos teares manuais, os motivos principais que levaram à abertura e ao ingresso na
produção de redes foi a iniciativa própria, como também, a mudança para um outro ramo de
atividade rentável e que proporcionasse melhor qualidade de vida que a agricultura (Tabelas
15 e 16).
Tabela 15 - Origem das fábricas do CE Tabela 16 - Origem das fábricas dos NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
1%
6%
1%
Herança familiar
Iniciativa própria
Outros motivos
1%
6%
1%
Herança familiar
Iniciativa própria
Gostar da área
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
107
Eu era agricultor durante o dia e, à noite, comecei a aprender a fazer rede, com um
tear emprestado do meu avô. Aos poucos fui vendo que levantaria mais dinheiro
fazendo as redes. Coloquei minha mulher para me ajudar e daí a pouco, estavam me
ajudando minha cunhada, irmã e até meu filho (Entrevista realizada com R3,
Membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB, 05/01/2006).
Tinha um bar e comecei a produzir rede devagarzinho, sem saber se ia dar certo.
Com um tempo, troquei o negócio do bar pela venda de rede de dormir (Entrevista
realizada com R4, Membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB,
15/02/2006).
Quanto à produção, tanto nas fábricas associadas ao Consórcio como nas não
consorciadas, 5% fabricam redes e mantas. É unânime no discurso dos entrevistados que a
venda de rede é maior para as regiões com temperatura quente e as mantas para os tempos
frios. Segundo dados da entrevista, as mantas são mais simples de serem produzidas do que as
redes, pois envolvem acabamentos e difíceis trabalhos manuais. Verifica-se, hoje, em São
Bento, que, além da produção de mantas e redes, acontece também a produção de tapetes,
jogos de banheiro, cozinha, dentre outros produtos aceitos no mercado de tecelagem.
Tabela 17 - Produtos fabricados no CE Tabela 18 - Produtos fabricados nos NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
2%
1%
5%
Redes
Mantas
Redes e mantas
2%
1%
5%
Redes
Mantas
Redes e mantas
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
As mantas servem para enfeitar sofás e camas em casas e em grandes hotéis. No
tempo de frio, servem para esquentar as pessoas (Entrevista realizada com R15,
Não membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB, 25/03/2006).
Porém, na fabricação de redes e mantas durante todo o ano, 6% possuem a rede como
carro-chefe da produção nas empresas do Consórcio de Exportação; e 4% a rede também
108
como carro-chefe nas empresas que não fazem parte do Consórcio de Exportação. Tal
realidade evidencia a predominância da produção da rede em São Bento.
Tabela 19 - Produtos carro-chefe no CE Tabela 20 - Produtos carro-chefe no NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
6%
1%
1%
Redes
Mantas
Redes e mantas
4%
3%
1%
Redes
Mantas
Redes e mantas
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Dentre os entrevistados, alguns comercializam seus produtos somente para outras
fábricas dentro de São Bento. Para muitos associados, a proposta do Consórcio, que é de
exportar, seria uma abertura de mercado, uma nova fonte de renda, uma possibilidade de
estabilidade maior nesse meio. Segundo os dados da entrevista, muitos associados, cerca de
5%, se beneficiaram apenas com os cursos de capacitação oferecidos pelas instituições
parceiras do Apl (Ver tabela 23).
Nos dados obtidos quanto às regiões de escoamento e venda de mercadorias, a região
Nordeste está à frente, com números entre 3% e 2%, conforme apresentaram as tabelas 21 e
22. Verifica-se, também, a realização de vendas de redes em todas as regiões do Brasil e
exterior, demonstrando-a como um produto de referência mundial. Salienta-se, entretanto, que
as combinações de cores, padrões e estilos de desenhos são particulares de cada região, como
também a espessura e o tipo de matéria-prima utilizado.
A partir da realidade da insatisfação diante dos cursos oferecidos pelas instituições
parceiras, questiona-se a metodologia utilizada nos cursos pelos instrutores, juntamente com a
influência da cultura local do sãobentense, que é achar desconfortável e longe da realidade
deles, estar sentado em salas de aulas. Alguns aspectos a serem considerados que interferem
para a insatisfação são a forte cultura regional de que não precisam estudar, a busca pelo
resultado imediato, distância da teoria e da prática no dia-a-dia, a descrença real de que
poderiam melhorar de vida e o não investimento financeiro nas ações que envolvem o
109
consórcio. Dados estes, identificados no momento de realização das entrevistas semi-
estruturadas.
Tabela 21 - Regiões de vendas no CE Tabela 22: Regiões de vendas nos NCE
Consórcio de Exportação Não Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
Freqüência Resultados obtidos
1%
3%
1%
1%
1%
1%
Norte
Nordeste
Sudeste
Norte/Ne/Sul/Exterior
Norte/Ne
Centro-oeste/Sul
2%
1%
1%
1%
1%
1%
1%
N
ordeste
Sudeste
Sul
N
orte/ Ne
N
ort/ Sudeste/ Sul
Norte/Ne/Centro -
oeste/Sudeste/ Sul
Sul/Exterior (Austrália,
Noruega/Portugal)
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006 Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Tabela 23: Benefícios ao ingressar no CE
Consórcio de Exportação
Freqüência Resultados obtidos
1%
5%
2%
Não houve benefício
Até o moment. só a capacitação
Vendas nas feiras
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Através dos cursos, aprendi a organizar a minha empresa, novas técnicas de
produção e pude mostrar minha mercadoria nas feiras (Entrevista realizada com R6,
Membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB, 15/02/2006).
Eu comercializo somente para aqui, dentro de São Bento, pois o mercado lá fora
exige um produto mais caprichado. Quando o Consórcio vai participar de uma feira,
aí faço questão de fazer um produto de excelente qualidade (Entrevista realizada
com R5, Membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB, 15/02/2006).
Dentre os entrevistados, cinco evidenciaram o que conseguiram aprender nos cursos,
como a organização da empresa e a exigência do mercado por um produto de qualidade
110
superior. Ressalta-se, nesse discurso um beneficiamento proveniente das capacitações, mas
ainda, uma irregularidade na produção no que se refere ao investimento na qualidade do
produto, o que é prejudicial para o estabelecimento e manutenção de uma clientela fixa. Além
de se constatar que a manutenção da qualidade não é uma condição primordial comum ao dia-
a-dia; evidencia-se, também, a falta de visão de futuro dos proprietários que estão
preocupados apenas com o retorno financeiro imediato, demonstrando ansiedade pelo não
alcance dos objetivos propostos pelo Consórcio, que é de exportar, quando, na verdade,
deveriam se preocupar com a baixa qualidade do produto, as irregularidades na produção, o
fortalecimento dos produtos para o mercado interno, para, só assim, pensar em um produto
preparado para o mercado exterior.
A partir das instituições parceiras do Apl, como Sebrae, Senai, Federação das Indústrias,
dentre outras, foram trazidos profissionais especializados na área da tecelagem, na área fiscal
e contábil, de preservação ambiental, de venda, de comércio e de gestão, com o intuito de
trazer inovação e melhor qualidade aos produtos desse Apl. A aplicação desses cursos já
aconteceu, agora, os associados querem um consultor de vendas que possa orientá-los para
ingressar no mercado exportador. Assim, a não-realização desse pedido tem gerado nos
associados muita insatisfação.
Elaboramos, sob a orientação dos instrutores, uma logomarca e um catálogo para os
produtos do Consórcio de Exportação, mas não tivemos ainda nenhuma
encomenda. Já estou há quatro anos neste Consórcio e nada melhorou para mim
financeiramente (Entrevista realizada com R7, Membro do Consórcio de
Exportação, São Bento/PB, 15/02/2006).
No último ano, tal realidade tem provocado a desistência de, pelo menos, oito
associados. De acordo com os entrevistados que permanecem na associação, o motivo de
saída é a estagnação do Consórcio, o desestímulo em participar das reuniões, a falta de
iniciativa dos membros diante das ações decididas nas reuniões e a não procura por parte dos
países estrangeiros e regiões nacionais pelos produtos do Consórcio. Para que se possa
compreender os fenômenos encontrados entre os membros do Consórcio e os não associados,
a segunda etapa da entrevista semi-estruturada vem justamente verificar a convivência e o
comportamento no Apl.
111
5.2 Aspectos grupais do Apl de redes de dormir de São Bento
A partir das características grupais abordadas nesta segunda etapa da entrevista semi-
estruturada, buscou-se conhecer os laços, vínculos, barreiras e entraves que acontecem como
fatores que impedem o crescimento do Consórcio no mercado competitivo.
Como foi dito anteriormente, o objetivo geral deste trabalho foi de estudar o
funcionamento desse grupo do Consórcio de Exportação e dos fabricantes de redes que não
fazem parte do Consórcio, a fim de esclarecer e de se verificar que aspectos precisam ser
amadurecidos e melhorados dentro do grupo. Como já foi mencionado, o Consórcio conta
com apoio de instituições parceiras. O município é conhecido como “a capital mundial de
fabricação de redes”, os associados já freqüentaram e expuseram seus produtos em feiras e
divulgaram na mídia escrita e falada a rede de dormir de São Bento, dentre outras ações.
Porém, precisa-se identificar os principais entraves para que se possa compreender as
dificuldades encontradas nesses grupos. Sendo assim, serão analisados, nesta etapa do
trabalho, aspectos grupais relacionados ao seu funcionamento.
Os principais componentes estudados do grupo foram: os objetivos, a motivação, a
comunicação, o comportamento, o processo decisório, o relacionamento, a confiança, a
participação e a solidariedade social, a cooperação, a iniciativa e a organização, a coesão
grupal. Tentou-se, a partir das idéias de Lewin, Schutz, Bavelas, Moreno, explicitadas no
marco teórico do trabalho e através da consulta do questionário do Banco Mundial e da obra
de Moscovici, discutir e verificar se existem nos grupos estudados as características grupais
desses treze aspectos. Na entrevista, os sujeitos atribuíram uma nota que varia de “1” a “4” a
cada elemento grupal considerado; sendo “1” um nível baixo de existência de determinada
característica, indo em ordem crescente até o numero “4”, que corresponde ao nível forte de
existência de tal componente.
Verificou-se um percentual alto, 5 e 6, com relação ao objetivo comum a todos os
associados, à clareza do objetivo, à compatibilidade dos objetivos pessoais com o dos outros
membros e até à existência de planos conjuntos para o futuro, conforme apresenta a tabela 24,
demonstrando, assim, consciência e entendimento no significado dos objetivos do Consórcio
de Exportação. Nos membros não constitutivos do Consórcio, se evidenciou a não clareza nos
112
objetivos em 10 dos consultados. Uma incompatibilidade dos objetivos individuais com os
coletivos, com 8, e a inexistência de planos conjuntos para o futuro em 6 (Tabela 25).
Verifica-se, portanto, que os objetivos são mais coesos entre os membros do Consórcio.
Porém, durante as entrevistas, como se verá mais adiante, esses objetivos, que aparentemente
estão claros, não são colocados em prática.
Tabela 24 - Os objetivos no CE
Nível Freqüência
14. Objetivo comum a todos os associados alto 4 5
15. O objetivo claro e aceito por todos alto 3 5
16. Compatibilidade dos objetivos individuais com os coletivos alto 3
6
17. Existência de planos conjuntos p/ o futuro baixo 1
alto 4
2
4
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Portanto, de que adianta haver um percentual maior de conhecimento dos objetivos
propostos se não são colocadas em ação? Apesar de a associação não apresentar forte coesão
grupal entre os membros, mesmo assim, ainda há maior entrosamento e certa confiança,
mesmo que na teoria, do que entre os membros que não constituem o Consórcio. Fazer parte
de um grupo, seja ele de que ordem for, ao que parece, dá mais estrutura, passando-se a idéia
mais de apoio, segurança e confiança paras as pessoas.
Tabela 25 - Os objetivos do NCE
Nível Freqüência
14. Objetivo comum a todos os micros, pequenos e médios
empresários do Apl
baixo 1
baixo 2
2
4 = 6
15. O objetivo claro e aceito por todos do Apl baixo 1
baixo 2
3
7 = 10
16. Compatibilidade dos objetivos individuais com os coletivos baixo 1
baixo 2
5
3 = 8
17. Existência de planos conjuntos p/ o futuro, enquanto micro,
pequeno e médio empresário, canalizada para o grupo de Apl
baixo 1
baixo 2
5
1 = 6
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
113
Quanto à motivação no Consórcio de Exportação, conforme tabela 26, percebe-se que 6
dos entrevistados possuem um baixo entusiasmo pelas atividades relacionadas ao grupo e 7
não dedicam tempo para planejar as atividades do grupo e 5 não se envolvem nos problemas e
preocupações da instituição. Nos membros não constitutivos do Consórcio de Exportação, o
entusiasmo e o interesse são considerados baixos em 8 dos entrevistados, o envolvimento nos
reais problemas do Apl de São Bento, a participação e a dedicação espontânea também estão
em baixa, sendo respectivamente 8 e 5 na tabela 27. Nas entrevistas semi-estruturadas, tem
sido apontada a desmotivação como um dos principais motivos para a estagnação do Apl no
mercado competitivo. Vale salientar que o Apl compreende o Consórcio de Exportação e os
micros, pequenos e médios empresários não vinculados à associação.
Tabela 26 - Motivação do CE
Nível Freqüência
18. Existência de entusiasmo e interesse pelas atividades no
grupo
baixo 1 6
19. Canalização da energia individual para o grupo baixo 2
alto 3
3
3
20. Tempo reservado p/ atividades do grupo baixo 1
baixo 2
5
2 = 7
21. Envolvimento real nos problemas e preocupações do grupo baixo 1
baixo 2
alto 3
2
3 = 5
2
22. Participação e dedicação espontânea nas atividades do
grupo
baixo 1
baixo 2
3
3 = 6
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
114
Tabela 27 - Motivação dos NCE
Nível Freqüência
18. Existência de entusiasmo e interesse pelas atividades
destinadas ao Apl
baixo 1
baixo 2
4
4 = 8
19. A energia individual de cada micro, pequeno e médio
empresário é canalizada para o grupo de Apl
baixo 1
baixo 2
4
3 = 7
20. Tempo reservado para atividades informais baixo 1
baixo 2
5
1
21. Envolvimento real nos problemas e preocupações do Apl baixo 1
baixo 2
4
1
22. A participação e a dedicação espontânea nas atividades
destinadas ao Apl
baixo 1
baixo 2
6
2 = 8
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Com relação à comunicação, elemento essencial para o desenvolvimento grupal,
demonstrou ser espontânea (5), com liberdade para dizer o que se pensa do outro, mesmo que
seja algo negativo (6). Porém, existem bloqueios, filtragens, mal-entendidos, preconceitos e
receios de falar, evidenciados em muitas reuniões, a partir do silêncio e do descumprimento
das decisões tomadas, como pode se ver na tabela 28. Entre os micros, pequenos e médios
empresários que não fazem parte do Consórcio, a comunicação é espontânea como registrou 6
deles. Quanto à comunicação marcada por bloqueios, receios de falar e mal-entendidos, há
uma dubiedade de respostas. Porém, em muitas falas foi comentado que não existem tais
comportamentos, porque ninguém discute verbal ou fisicamente. Apesar de que, por trás um
dos outros, barganham clientes, oferecendo produtos mais baratos (tabela 29). Verifica-se,
entretanto, uma contradição de informações faladas com a aplicação na realidade prática.
Entre os membros não constitutivos do Consórcio, a comunicação ainda é pior, pois
quase não existe comunicação intragrupal, aquela que acontece entre os grupos ou
concorrentes locais. Às vezes, acontece um “ouvi dizer”, que são os comentários que
perpassam de boca em boca sobre a situação de cada um, mas cada um vive isoladamente. Por
mais que se fale que a comunicação deva ser harmoniosa, o que se observou foram conflitos e
ruídos. Será que a comunicação é aberta e clara como foi realmente dito? Os associados
entrevistados não costumam se reunir para conversar, beber ou fazer atividades que estimulem
a aproximação, causando mais distanciamento entre os membros do grupo. Não são sugeridas
idéias novas para serem abordadas no grupo, os assuntos são sempre os mesmos, chegando a
gerar desinteresse e apatia, aumentando a evasão, por não haver praticidade no que é decidido.
115
Tabela 28 - Comunicação no CE
Nível Freqüência
23. Comunicação livre e espontânea no grupo alto 3
alto 4
3
2 = 5
24. Comunicação em grupo com bloqueios, receios de falar e
mal-entendidos
baixo 1
baixo 2
4
3 = 7
25. Abertura para dizer o que se a do outro, mesmo que seja de
forma negativa
alto 3
alto 4
4
2 = 6
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Tabela 29 - Comunicação no NCE
Nível Freqüência
23. Comunicação entre os membros do Apl acontece de forma
livre e espontânea
alto 3 6
24. Comunicação do Apl é marcada por bloqueios, receios de
falar e mal-entendidos
baixo 2
alto 3
4
4
25. Abertura para dizer o que se a do outro, mesmo que seja de
forma negativa
baixo 1
baixo 2
4
2 = 6
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Às reuniões não são trazidas idéias novas, são aqueles mesmos assuntos que, no
final, não dão em nada. Há quatro anos estamos nesse Consórcio e nada que foi
planejado em reuniões foi colocado em prática (Entrevista realizada com R8,
Membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB, 15/02/2006).
Os membros do Consórcio, quando freqüentam as reuniões, costumam participar dando
opinião nas decisões, havendo, assim, uma postura democrática, pelo que afirmou 5
entrevistados nas reuniões. Foi considerado baixo o percentual das atitudes preconceituosas
dentro do grupo e posturas infantis “de birra”, respectivamente, 7 e 6. Porém, verifica-se, nos
discursos, postura de indiferença entre os membros constitutivos do Consórcio, pois, para
muitos, fazer parte desse grupo é um meio para o mercado de exportação, mas a maioria não
está investindo, por meio de força e união para a obtenção de resultados, conforme tabela 30.
Já dentre os membros não constitutivos do Consórcio, a interferência nas decisões do Apl (7),
é considerada baixa, como também o é o percentual de assumir sozinho o controle do grupo
(6). Os percentuais se elevaram em questões relacionadas à indiferença (8), posturas infantis
(7) e atitudes preconceituosas (5). Verificam-se, portanto, dificuldade para se ter habilidade
116
social, respeito ao outro e insatisfação perante as necessidades básicas do ser humano, que são
a necessidade de inclusão, de controle e de afeição (Tabela 31).
Tabela 30 - Comportamento do CE
Nível Freqüência
26. Participação dos membros nas decisões do grupo alto 3
alto 4
3
2
27. Membros querendo assumir sozinhos o controle do grupo baixo 1
baixo 1
5
3 = 8
28. Indiferença de alguns membros ao grupo baixo 1
baixo 2
3
2
29. Um ou outro adota posturas infantis baixo 1
baixo 2
5
2 = 7
30. Atitudes preconceituosas com relação aos membros do
grupo
baixo 1
6 = 6
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006.
Muitas vezes as reuniões não acontecem no horário marcado. Além de não
comparecerem, os membros não trazem assuntos novos para o enriquecimento dos
encontros (Entrevista realizada com R7, Membro do Consórcio de Exportação, São
Bento/PB, 15/02/2006).
Tabela 31- Comportamento dos NCE
Nível Freqüência
26. Os membros do Apl interferem nas decisões relacionadas
com o Apl
baixo 1
baixo 2
5
2 = 7
27. Existem membros que querem assumir sozinhos o controle
do grupo
baixo 1
baixo 2
5
1 = 6
28. Alguns membros se apresentam indiferentes aos membros
constitutivos do Apl
alto 3
alto 4
5
3 = 8
29. Um ou outro adota posturas infantis alto 3 7
30. Atitudes preconceituosas com relação aos membros do Apl alto 3 5
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
As decisões no grupo do Consórcio de Exportação acontecem de forma democrática,
conforme apontam seis entrevistados apesar de as responsabilidades serem delegadas à
diretoria da associação (6), havendo uma cobrança por resultados (tabela 32). Tem acontecido
117
com freqüência uma insatisfação dos associados porque há um entrave na resolução dos
objetivos propostos, causando desconfiança e descrença na diretoria. Já nas micros, pequenas
e médias empresas não constitutivas do consórcio, as atitudes não são democráticas (6). Há
um nível considerado alto com relação às atitudes unilaterais e por quem detém o poder (7).
Diferentemente do que acontece entre os membros do Consórcio de Exportação, há uma
maior separação entre os donos das fábricas de redes. A realidade é que eles não sabem o que
acontece nas outras empresas porque são individualistas e, para eles, no mercado de rede de
São Bento é cada um por si.
Eu passo muito tempo sem me comunicar com outros donos de fábricas. Aqui é
cada um por si (Entrevista realizada com R15, Não membro do Consórcio de
Exportação, São Bento/PB, 25/03/2006).
Tabela 32 - Processo decisório do CE
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Nível Freqüência
31. Decisões democráticas no grupo alto 3
alto 4
3
3
32. As decisões, com certa freqüência, são unilaterais baixo 1 6
33. As decisões são impostas por quem detém o poder baixo 1 5
Tabela 33 - Processo decisório nos NCE
Nível Freqüência
31. Decisões do Apl são tomadas democraticamente baixo 1 6
32. Com freqüência, as decisões são unilaterais alto 3
alto 4
2
5 = 7
33. As decisões são impostas por quem detém o poder alto 3 5
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Os dados obtidos nas entrevistas demonstraram que o relacionamento interno do grupo é
harmonioso (6), não enfatizando a competição entre os membros constitutivos do Consórcio.
Porém, tal harmonia revelada na entrevista foi acompanhada pelas seguintes falas:
118
A regularidade na participação das reuniões é considerada baixa, pois, de 12
associados, costumam freqüentar um mínimo de 4 e o máximo de 6. Nas reuniões
com as instituições parceiras acontece do mesmo jeito. Algumas vezes, fica até
difícil de contabilizar os votos nas decisões, porque nem a metade do grupo está
presente. (Entrevista realizada com R7, Membro do Consórcio de Exportação, São
Bento/PB, 15/02/2006).
Foi combinado nas reuniões de se colocar estantes de preços accessíveis na sede do
Consórcio, com o objetivo de expor os produtos. Na hora “H”, ninguém fez nada.
Parece que eles não dão o preço aos produtos por medo de concorrência interna
(Entrevista realizada com R5, Membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB,
15/02/2006).
Verifica-se, entretanto, que eles podem até querer que haja harmonia, pois o nível de
agressão verbal e física foi irrelevante (tabela 40). E, na medida que acontecia a entrevista, ao
ser questionado se havia agressão, imediatamente eles respondiam que não ocorria e que se
davam bem. Percebe-se que há uma “aparente” harmonia nas idéias propostas, existe uma
ansiedade para que elas sejam aplicadas, raiva, insatisfação e desesperança pelo futuro do
Consórcio. A harmonia imposta pela ausência e pelo silêncio não é uma característica comum
no convívio entre os membros; pode ser compreendida como recusa, resistência e fechamento
à diferença do outro. Evidenciou-se um nível considerado (6) de relações harmoniosas que
acontecem de forma superficial, com aparente cordialidade. As relações conflitivas que
indicam competição apresentaram baixo nível de existência (7) e quanto aos conflitos no Apl
poderem gerar a desintegração do mesmo (4) houveram opiniões divididas, conforme tabela
34. A metodologia do tipo observação participante contribui para evidenciar tais sentimentos,
como: risos ao falar de harmonia, expressões de insatisfação constante, posturas de descrença,
tentativa de colocar a culpa no Presidente e omissões de informações, ao se perceber falando
demais do grupo.
Já entre os membros não constitutivos do Consórcio de Exportação, a relação é
harmoniosa, aparente e cordial (7 e 3), não havendo desentendimentos graves. Há uma divisão
de opiniões no que se refere às relações que permitem a integração de esforços e a afetividade,
que levam à coesão do Apl (4 e 4), e foram quase 8, apenas 1 não concordando de que a
competição poderá levar à desintegração desse Apl de redes de dormir (Tabela 35).
119
Tabela 34 - O relacionamento no CE
Nível Freqüência
34. Relações entre os grupos é harmoniosa alto 3
alto 4
2
4 = 6
35. Relações harmoniosas superficiais, de aparente
cordialidade
baixo 1
baixo 2
3
3
36. Relações que permitem a integração de esforços e
afetividade levam à coesão grupal
alto 3
5
37. Relações conflitivas que indicam competição baixo 1
baixo 2
4
3 = 7
38. Os conflitos no Apl poderão levar à desintegração do
mesmo
baixo 1
baixo 2
alto 4
2
2 = 4
3
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Tabela 35 - O relacionamento nos NCE
Nível Freqüência
34. Relações entre os membros do Apl é em geral harmoniosa alto 3 7
35. Relações harmoniosas superficiais, de aparente
cordialidade
alto 3
alto 4
3
4 = 7
36. Relações que permitem a integração de esforços e
afetividade levam à coesão do Apl
baixo 1
baixo 2
alto 3
alto 4
3
1 = 4
3
1 = 4
37. Relações conflitivas que indicam competição alto 3
alto 4
6
1 = 7
38. Os conflitos no Apl poderão levar à desintegração do
mesmo
alto 3
alto 4
3
3 = 6
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
A participação e a solidariedade social entre os membros do Consórcio é considerada
dividida (4 e 4) (ver tabela 36). Nos micros, pequenos e médios empresários não
consorciados, as ações voltadas para a população carente (6) é considerada quase inexistente
(ver tabela 37). Com relação a ajudar os outros componentes do Consórcio, quando
necessitem, o nível foi alto, segundo 5 entrevistados. Sete (7) dos componentes do Consórcio
afirmaram não ter costume de se reunir para atividades de estímulo ao lazer e de aproximação
entre os membros fora do Consórcio. De acordo com as entrevistas, eles podem até se
encontrar, mas não se comprometem com atividades informais. Entre os membros não
participantes do Consórcio, a solidariedade demonstrou ser consideravelmente menor, pois
seis (6) respondentes assim o afirmaram. As respostas dos entrevistados foram quase que
120
unânimes em não serem solidários a todos os colegas, apenas a quem já conheciam ou por
quem tinham referência positiva (ver Tabelas 36 e 37).
Às vezes, ajudamos quando uma pessoa precisa, principalmente no período de
“quebradeira” das fábricas, que é nos meses de baixa venda de produtos de
tecelagem, mas, fora isso, não prestamos serviços que beneficiem a comunidade
carente (Entrevista realizada com R15, o membro do Consórcio de Exportação,
São Bento/PB, 15/02/2006).
Verifica-se, diante dessa realidade dos micros, pequenos e médios empresários, que se
eles não atentarem para o cultivo do capital social e estreitamento das relações interpessoais,
haverá um aumento progressivo no distanciamento e na desunião entre os fabricantes de redes
de dormir, podendo provocar, futuramente, até o desaparecimento de fabricantes de produtos
de tecelagem.
Tabela 36 - Participação e solidariedade social no CE
Nível Freqüência
45. Atividade que beneficie a comunidade baixo 1 7
46. Solidariedade no grupo, quando alguém está precisando de
ajuda
alto 3 5
47. Em que grau existe solidariedade no grupo baixo 1
baixo 2
alto 3
2
2 = 4
4 = 4
48. Os membros do grupo se encontram para lazer (conversar,
beber, comer ou jogar)
baixo 1
7
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
121
Tabela 37 - Participação e solidariedade social entre os NCE
Nível Freqüência
45. O Apl possui atividade que beneficie a comunidade baixo 1
baixo 2
5
1 = 6
46. Existe solidariedade no Apl, quando alguém precisa de
ajuda
baixo 1
baixo 2
3
3 = 6
47. Em que grau existe solidariedade no Apl baixo 1
baixo 2
5
1 = 6
48. Os membros do Apl se encontram para lazer (conversar,
beber, comer ou jogar)
baixo 1
baixo 2
4
3 = 7
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Com relação à confiança entre os membros do Consórcio de exportação, é positiva entre
a maioria dos componentes do grupo (7), ver tabela 38. Porém, eles têm consciência de que
precisam ter cuidado nas relações (6), como também sabem que os outros tentam tirar
vantagem uns sobre os outros (6). Quanto a emprestar dinheiro, o nível de confiança sofre
uma queda (5), demonstrando não confiarem. Alguns afirmaram ter facilidade de dar
empréstimo a certos membros, mas outros alegaram a dificuldade de empréstimo devido à
instabilidade econômica da moeda e ao ramo de atividade, em que ora se está em ascensão,
ora em declínio financeiro. Quanto à posição de confiança no último ano apresentou-se alto
nível (5) destoando da realidade vivida pelo grupo, que foi à saída de oito membros. Se
houvesse confiança em níveis suficientes, talvez não fosse tão alto o número de desligamento
de pessoas insatisfeitas, como também haveria a prática das decisões tomadas nas reuniões e
menor evasão na participação. Verifica-se, também, que a confiança é estabelecida apenas em
nível da aparência (Tabela 38).
Dentre os membros não Consorciados, o nível de confiança é mais baixo ainda, pois em
6 das respostas verificou-se a necessidade de se ter cuidado nas relações estabelecidas.
Quanto aos outros parceiros tirar vantagem uns dos outros, o nível foi considerado muito alto
(7). Quanto a disponibilizar ajuda caso um ou outro precise, houve dubiedade de respostas,
demonstrando-se instabilidade na confiança e na solidariedade entre os membros. O
empréstimo de dinheiro foi considerado difícil, apenas em se conhecendo bem o outro (7) e o
nível de confiança percebido foi baixo (6). Verifica-se que a desconfiança foi ainda maior
entre os membros não constitutivos do Consórcio. Portanto, pode-se entender que, por mais
que seja difícil estar em grupo, seja qual for, o estabelecimento da confiança ainda está mais
122
presente do que naqueles que não possuem estreitamento de vínculo. Falou-se abertamente em
desconfiança entre os não consorciados, demonstrando, assim, objetivação e real consciência
da situação local (Tabela 39).
Tabela 38 - Confiança no CE
Nível Freqüência
39. Confia-se na maioria dos membros dos grupos alto 3
alto 4
4
3 = 7
40. Cuidado na relação com os membros dos grupos alto 3 6
41. Os outros parceiros dos grupos tiram vantagem sobre você alto 3 6
42. A maioria dos membros dos grupos ajudaria, caso você
precisasse
alto 3
alto 4
4
2 = 6
43. Os membros dos grupos confiam uns nos outros a ponto de
emprestar dinheiro
baixo 1
baixo 2
3
2
44. No último ano, como foi o grau de confiança alto 3
alto 4
4
1
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Tabela 39 - Confiança nos NCE
Nível Freqüência
39. Confia-se na maioria dos membros do Apl baixo 1
baixo 2
alto 3
4
1 = 5
3
40. Cuidado na relação com os membros do Apl alto 3
alto 4
5
1 = 6
41. Os outros parceiros do Apl tiram vantagem sobre você alto 3
alto 4
6
1 = 7
42. A maioria dos membros do Apl ajudaria, caso você
precisasse
baixo 1
baixo 2
alto 3
3
1 = 4
4 = 4
43. Os membros do Apl confiam uns nos outros a ponto de
emprestar dinheiro
baixo 1
7
44. No último ano, como foi o grau de confiança no Apl baixo 1 6
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
A cooperação entre os membros do Consórcio de Exportação é considerada alta (6) e,
quanto aos impasses de opiniões e às discussões verbais e agressões físicas, o nível é
considerado baixo (5). É importante ressaltar que, diante desses questionamentos sobre
agressão verbal ou física, no momento da entrevista, eles respondiam veementemente que tal
123
problema não acontecia entre eles. Verifica-se que, para eles, é melhor viver uma falsa
realidade a conviver harmonicamente, pois, na prática, eles não demonstram cooperação entre
os associados, por exemplo, através da não participação nas reuniões e na resolução das
decisões propostas nas reuniões.
Nos membros não participantes do Consórcio de Exportação, a cooperação foi
considerada baixíssima (8). Já com relação aos impasses de opinião causarem violência verbal
e agressão física, houve uma unanimidade de respostas. Nas entrevistas realizadas, verificou-
se que eles têm consciência de quanto a separação dos membros poderá prejudicar a
continuidade do Apl, mas, mesmo assim, não realizam ações positivas para solucionar os
problemas. Verifica-se, portanto, que existe conceitualmente cooperação entre os membros do
Consórcio, porque, na prática, há desunião, como acontece entre os membros não
consorciados (Tabelas 40 e 41).
Tabela 40: Cooperação no CE
Nível Freqüência
49. Há cooperação entre membros diferentes no grupo alto 3 6
50. Impasses de opinião causam violência verbal baixo 1 5
51. As discussões causam agressão física baixo 1
6
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Tabela 41: Cooperação entre os NCE
Nível Freqüência
49. Há cooperação dentro do Apl entre os membros diferentes baixo 1
baixo 2
6
2 = 8
50. Impasses de opinião causam violência verbal baixo 1 8
51. As discussões causam agressão física baixo 1 8
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
A verdade é que não há cooperação entre nós! Somos cada um por si. (Entrevista
realizada com R14, Não membro do Consórcio de Exportação, São Bento/PB,
14/02/2006).
124
Verifica-se, também, desorganização na estrutura administrativa do Consórcio de
Exportação, pois sua sede foi encontrada fechada e um dos motivos alegados é que as
atividades externas e internas são resolvidas por apenas um único funcionário. As iniciativas e
a organização diante dos órgãos públicos causaram dubiedade de respostas. A criatividade do
grupo é baixa, o que é demonstrado pela falta de participação e de troca de sugestões para as
reuniões. Nem todos os membros participam da divisão de papéis e de tarefas, concentrando-
as no presidente e na diretoria. Houve dubiedade no quesito “organização da associação”,
pois, para alguns, está “muito bom”, mas, para outros, é considerada de lenta produtividade.
Ressalta-se uma discrepância nos resultados quanto à associação funcionar de forma efetiva,
pois existe insatisfação por parte dos associados (Tabela 42).
Tabela 42 - Iniciativa e organização no CE
Nível Freqüência
52. Iniciativa frente a órgãos públicos e privados baixo 1
baixo 2
alto 3
2
2 = 4
4 = 4
53. Trazerem idéias novas para o grupo baixo 1
baixo 2
3
3 = 6
54. Divisão de responsabilidades dentro do grupo baixo 1 5
55. A organização da associação funciona de forma efetiva baixo 1
baixo 2
alto 3
1
3 = 4
4 = 4
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Tabela 43 - Iniciativa e organização entre os NCE
Nível Freqüência
52. Iniciativa frente a órgãos públicos e privados baixo 1
baixo 2
7
1 = 8
53. Trazerem idéias novas para o Apl baixo 1 8
54. Divisão de responsabilidades dentro do Apl baixo 1 8
55. A organização do Apl funciona de forma efetiva baixo 1 1
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Dentre os membros não pertencentes ao Consórcio, a iniciativa frente aos órgãos
públicos e privados foi considerada baixa em sua totalidade. Quanto a trazerem idéias novas,
125
divisão de responsabilidades e efetivação organizacional, houve unanimidade com relação à
evasão de participação dos micros, pequenos e médios empresários constituintes do Apl de
São Bento. Verifica-se que eles possuem posturas empreendedoras quando se tratam de suas
empresas individualizadas, mas, para resolver questões que os beneficiem enquanto ramo de
atividade forte na região, eles não se interessam, querem sempre que alguém assuma as
responsabilidades. E, com essa postura, o Apl de São Bento vai ficando em desvantagem e
permanece estagnado no mercado de fabricação de redes de dormir (Tabela 43).
As pessoas não tomam iniciativa diante do grupo e a organização da associação
acontece de forma lenta (Entrevista realizada com R6, Membro do Consórcio de
Exportação, São Bento/PB, 15/02/2006).
A associação, às vezes, se encontra fechada porque só há um profissional para
conciliar as atividades externas e internas. Além do mais, não ha muito o que se
fazer em uma associação que não possui encomenda e da qual o desestímulo está
tomando conta (Entrevista realizada com MEC 3, São Bento/PB, 22/02/2005).
Em pesquisas realizadas no âmbito da Psicologia, verifica-se quanto a perseverança e o
bom humor contribuem para o estado de satisfação e felicidade, mas não há como saber até
que ponto uma pessoa dotada de otimismo, extroversão e bom humor pode dimensionar uma
qualidade de vida repleta de bem-estar subjetivo. Além de ser dotada de um conjunto
complexo de características determinantes de sua personalidade, cada pessoa faz parte de um
processo permanente de transformação individual pela inserção social. Cada uma constrói
uma leitura tendo dos fatos como referência de sua vivência. As características genéticas, as
relações sociais e a constituição psicológica fundamentam como o ser humano se expressará
diante do mundo. Sendo assim, a realidade é impressa em cada um de forma diferente
(RIBEIRO, 2003, p. 2-3). Entretanto, cada ser humano se apresenta com sua forma particular
no grupo, com os hábitos e costumes peculiares a cada cultura, traço genético e relação com o
meio em que vive, o que explica o universo de características encontradas.
A consciência da necessidade da coesão grupal para a manutenção do Apl de redes de
dormir se fez presente durante todas as proposições relativas a esse tema. Porém, a união entre
os MPMEs está na teoria, mas, na prática, não está acontecendo. As idéias sugeridas no início
126
da formação do Consórcio pelos associados foram: abrir lojas de representação dos produtos
em cidades como Natal/RN e/ou Salvador/BA, abertura de um stand de exposição dos
produtos na sede da Associação em São Bento/PB, a construção (ou aquisição) de um clube
de lazer para os membros do Consórcio, uma escola para os filhos, a capacitação de
funcionários e um aumento considerável na renda a partir das exportações. Essa consciência
grupal não é evidenciada na realidade vivida pelos membros do Consórcio. Percebe-se,
entretanto, um desejo de coesão grupal que, na verdade, não acontece.
Dentre os membros não consorciados houve demonstração de consciência dos
benefícios da coesão grupal. Só que na realidade, não se movimentam, nem se unem enquanto
Apl de redes de dormir. Sete dos entrevistados demonstraram acentuada insatisfação com
relação às ações institucionais. E mais uma vez, quando questionados sobre a possibilidade de
haver uma queda e até uma extinção na produção de redes de dormir por conta da desunião e
acirrada competição dentro de São Bento/PB, os entrevistados demonstram preocupação, mas
nada fazem para mudar tal realidade. Ao serem questionados sobre as prováveis soluções, eles
culpam uns aos outros, não assumindo sua responsabilidade, enquanto constituintes do Apl.
Tabela 44 - Coesão grupal no CE
Nível Freqüência
56. Consciência dos associados dos benefícios acerca da
coesão para o funcionamento do grupo
alto 3
alto 4
6
2 = 8
57. Consciência de que os associados, trabalhando juntos,
terão mais retorno financeiro
alto 3
alto 4
5
2 = 7
58. A coesão grupal como ferramenta para manutenção no
mercado competitivo
alto 3
alto 4
6
2 = 8
59. As ações institucionais são insuficientes para a
manutenção da associação
alto 3
alto 4
5
1
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
Verifica-se, ainda, que essa coesão grupal inexiste por causa de problemas de
relacionamento, dificuldades de comunicação e de entendimento real entre os associados e
não associados. Dessa forma, precisa-se entender em profundidade o campo social e cultural
desse tipo de população. Além de as necessidades interpessoais, que são a necessidade de
inclusão, de controle e de atenção, precisarem ser supridas dentro do grupo. Sem essas
127
necessidades satisfeitas, torna-se difícil estabelecer um grupo de trabalho coeso e integrado.
Como também, a gênese de um grupo e sua dinâmica são determinantes para o grau de
autenticidade das comunicações que se iniciam e se estabelecem entre seus membros.
Tabela 45 - Coesão grupal nos NCE
Nível Freqüência
56. Consciência dos membros do Apl acerca dos benefícios da
coesão para o funcionamento do grupo
alto 3
alto 4
5
1
57. Os membros do Apl sabem que, trabalhando juntos, terão
mais retorno financeiro
alto 3
alto 4
5
3 = 8
58. A coesão grupal como ferramenta para manutenção no
mercado competitivo
alto 3
alto 4
4
4 = 8
59. As ações institucionais são insuficientes para a
manutenção do Apl
baixo 1
baixo 2
4
1
Fonte: Pesquisa direta, São Bento/PB, 2006
As características peculiares ao sãobentense são a desconfiança, a independência entre
os MPMEs, por conta da concorrência; serem imediatistas quanto à obtenção de resultados e
seguros financeiramente. Sentem necessidade de inclusão no grupo, como também de suas
idéias serem valorizados e aceitas, também necessidade de controle, pois não confiam delegar
atividades para serem resolvidas por outros colegas de empresa. E, quanto a investirem
financeiramente em conjunto, indisponibilizam-se e desacreditam que possam ter resultados
positivos juntos.
A partir da análise dos treze componentes escolhidos para a coesão grupal, que foram:
objetivos, motivação, comunicação, comportamento, processo decisório, relacionamento,
confiança, participação e solidariedade social, cooperação, iniciativa e organização e coesão
grupal, pôde-se conhecer em maior profundidade os fenômenos que costumeiramente
acontecem em convívio com grupos de trabalho, sejam quais forem. As relações em grupo
não são fáceis de serem vividas e sintonizadas, pois são constantes os altos e baixos de
entendimento, insatisfação de sentimentos não vividos, comunicações bloqueadas, barreiras
psicológicas provenientes de questões sociais e de personalidade.
CONCLUSÃO
129
CONCLUSÃO
O destaque que têm recebido os Apls propicia seu estudo nas mais variadas áreas do
conhecimento. E não poderiam faltar pesquisas que envolvessem a Psicologia Social, com autores
como Lewin, Shutz, Bavelas e Moreno; e a Administração de Empresas, com estudiosos dos Apls,
a exemplo de Cassiolato e Lastres, Amaral Neto, Lemos e Rafael Neto. Enquanto aquela ciência
se funda nos assuntos que tratam da dinâmica grupal e do comportamento humano, esta se
desenvolve sobre um tipo de Administração horizontalizada, com uma estrutura organizacional
flexível e composta de MPMEs, os Apls.
A união dessas duas ciências trouxe um notável enriquecimento a este trabalho, por tratar-se
de um enfoque inovador acerca da problemática dos Apls, pois é a partir do comportamento
individual de cada membro que o coletivo do aglomerado irá se estruturando. Portanto, a união de
temas subjetivos da Psicologia com a objetividade da Administração configura um novo despertar
para uma investigação aprofundada dos fenômenos subjetivos e do comportamento humano.
Assim, para que uma gestão organizacional funcione no atual contexto competitivo, é preciso
trabalhar com o enriquecimento do capital humano, qualificando-o com cursos de
aperfeiçoamento, proporcionando benefícios no ambiente de trabalho e desenvolvimento de
habilidades, bem como criatividade no grupo de trabalho e vivências subjetivas em que se possam
trabalhar sentimentos pessoais que interferem no dia-a-dia do profissional.
Na coleta de dados, vista anteriormente, ficaram evidenciados comportamentos e aspectos
culturais tidos como imprescindíveis para uma análise profunda dos resultados. Foi importante
visualizar a população sãobentense nos seus mais variados aspectos, desde os dispostos na
literatura como na vivência do produtor de rede e a relação deste com sua família, seus
funcionários, seus colegas de Consórcio e nos aspectos sociais. O método qualitativo
fenomenológico veio contribuir e enriquecer os dados coletados na pesquisa, com a fluidez e a
perspicácia próprias desse método, contribuindo na apreensão dos aspectos subjetivos, como
também, na compreensão e no entendimento dos comportamentos humanos de agressividade,
frieza, indiferença, motivação, desunião, entusiasmo, dentre outros. A metodologia de pesquisa
fenomenológica trouxe um evidente enriquecimento que partiu de um olhar mais atento dos
fenômenos intersubjetivos que poderiam interferir no funcionamento da gestão organizacional e
na dinâmica de grupo dos Apls.
130
O Apl de rede de dormir de São Bento desde certo tempo vem passando por dificuldades de
manutenção e estabelecimento no mercado competitivo; em contraste com a década de 70 e início
da de 80 do século passado, quando viveu o apogeu das vendas de redes de dormir, caracterizado
por uma enorme quantidade de pedidos, amplitude de mercado e por, naquela época, não
existirem tantos produtores de redes como hoje. A partir desse apogeu, vêem-se conseqüências
como o enriquecimento de muitos donos de fábricas; como também a desestruturação
administrativa desses empresários, que levou muitos à falência e/ou mudança do ramo de
atividade. Por outro lado, observa-se que, encantados com o vertiginoso aumento da quantidade
de vendas, vários ex-funcionários deixaram as grandes fábricas e resolveram investir em seus
próprios negócios. A partir dessa realidade, a história industrial de São Bento mudou, com a
produção das redes expandindo-se para a zona rural e aos poucos se espalhando por toda a cidade,
a qual, há décadas, sobrevive dessa atividade, que exige dedicação quase que exclusiva do
fabricante de rede, dificultando, assim, o seu ingresso em cursos que possibilitem o aumento da
escolaridade, considerada baixa dentre os produtores.
Com o fechamento das grandes fábricas, surgiu uma quantidade considerável de micros e
pequenos produtores como fortes concorrentes. Isso originou vários problemas como diminuição
da qualidade dos produtos vendidos, redução da qualidade dos fios, pois os novos produtores não
tinham condições de comprar bons fios; insatisfação por parte dos clientes pela baixa qualidade
das redes; aumento do número de fábricas informalizadas; o não pagamento dos tributos ao Fisco;
aumento dos acidentes de trabalho, em razão do envolvimento de familiares que estavam
aprendendo a fabricar rede e o fechamento das grandes fábricas de São Bento. A partir dessa nova
realidade, a cidade começou a entrar em declínio e continua perdendo espaço no mercado para
seus concorrentes, como os produtores do Ceará e Pernambuco. Com o intuito de tentar ajudar a
reverter esse cenário, várias instituições parceiras têm contribuído para a inserção de São Bento
em projetos no âmbito federal, como é o caso da implementação do Consórcio de Exportação.
A gestão organizacional e a dinâmica grupal presentes no Consórcio de Exportação e no
Apl, como um todo, não têm contribuído suficientemente para sua ascensão no mercado
competitivo. Em verdade, ao se analisar as variáveis endógenas e subjetivas (objetivos,
motivação, comunicação, comportamento, processo decisório, relacionamento, confiança,
participação e solidariedade social, cooperação, iniciativa e organização, coesão grupal) que
interferem no funcionamento integrado dos micros, pequenos e médios empresários, percebeu-se
como as características do Consórcio e do Apl não mantêm simetria com o conceito científico de
grupo ou de equipe coesa em prol de um objetivo comum. Essa situação leva a refletir sobre como
a definição de
grupo está destoante no Apl de São Bento, pois, na realidade, grupo se constitui
131
num conjunto de pessoas interdependentes agindo na tentativa da realização dos mesmos
objetivos e que buscam um relacionamento interpessoal satisfatório.Tal realidade tem sido
considerada neste trabalho como um aspecto crucial e decisivo para o crescimento do Apl de rede
de dormir. Nos discursos dos associados, foi dito que o único benefício alcançado com o ingresso
no Consórcio foi a participação nos cursos ministrados pelas instituições, isso porque nada tem
melhorado financeiramente, havendo desestímulo no grupo e a evasão de vários consorciados.
Quando questionados sobre a coesão grupal, reconheceram sua importância para o crescimento e
manutenção dos Apls. Porém, o que se mostrou apenas como um discurso retórico, que tem ficado
sem possibilidades de ações reais concretas.
Durante a aplicação da entrevista semi-estruturada, foi dito por vários entrevistados que o
Apl era coeso, unido e harmônico. Mas, à medida que as entrevistas aconteceram e outras
perguntas mais avaliadoras foram feitas, a realidade veio à tona, desvendando uma situação bem
distinta da preconizada pelos entrevistados, caracterizada, por exemplo, pela ocorrência de faltas
regulares às reuniões, pela não divisão de responsabilidades entre os membros constitutivos do
consórcio, pela falta de realização das ações combinadas nas reuniões, pelo desestímulo ao
desenvolvimento do capital social, como participação em atividades de lazer e de
confraternização; pelo individualismo empresarial, evidenciado pela presença nas feiras nacionais
e internacionais através de produtos etiquetados com as marcas individuais das empresas; por
nunca ter sido feito um produto destinado à venda, com a logomarca do Consórcio de exportação;
e a saída recente de oito fabricantes de redes do Consórcio. Estas são apenas algumas
características observadas na realização do trabalho de campo, que mostraram a incoerência nos
dados inicialmente apresentados. A partir da análise e verificação das variáveis endógenas, pôde-
se traçar um perfil dos produtores de redes de São Bento e correlacioná-los com os traços da
cultura local do sertanejo.
O estudo desse Apl pôde refletir acomodação e descrença quanto à perspectiva promissora
do mercado de redes de dormir. Muitos micros, pequenos e médios empresários mudaram de ramo
de atividade por não terem sustentação financeiramente; já outros saíram da área de produção de
rede de dormir e passaram a comercializar fios, combustível ou praticar os mais variados tipos de
atividade comercial. Geralmente, os mais bem sucedidos começaram como redeiros, que são
comerciantes que saem de São Bento para vender redes em todo o Brasil e exterior, assimilaram
todas as etapas da cadeia de produção, tornando-se empresários do ramo; mas há outros que já
saíram da área. Um dos motivos para essa fuga do mercado de fabricação de redes de dormir é a
instabilidade e a concorrência interna em São Bento, pois praticamente toda a população fabrica
132
rede e manta. Entretanto, alguns produtores de redes estão no ramo da tecelagem por falta de
opção de sobrevivência.
Entre os membros do Consórcio de Exportação e os membros não associados, não há
um retorno à comunidade carente, não se investe em marketing e as iniciativas tomadas são
insignificantes em comparação com o objetivo central. Um aumento no nível de capital social
e de estreitamento das relações certamente desenvolveria a coesão grupal, pois se verificou
que os entrevistados de ambos os lados têm consciência da importância da união grupal,
porém estão muito longe de pregarem o que falam. Outra dificuldade que enfrentam enquanto
grupo é a falta de governança, de apoio das instituições públicas e privadas, de capital social e
de apoio financeiro. Atualmente, confirma-se a relevância dos Apls, mas no caso de São
Bento, o incentivo deve ir além do aparato financeiro de bancos, deve-se investir também no
capital humano inserido no contexto cultural e em inovações tecnológicas.
Observa-se, ademais, que no Apl não existe força coletiva de grupo, ressaltando-se a
individualidade entre os membros, que se interessam apenas em atingir seus objetivos
particulares. Eles se caracterizam como individualistas, imediatistas, competitivos e avessos à
tecnologia. Tais características se refletem no desinteresse dos filhos continuarem a carreira
dos pais. Muitos dos filhos dos proprietários estão buscando a formação em cursos superiores
e tentando ingressar em outra atividade. A questão do coletivo, da união e da coesão grupal é
condição sine qua non para que haja prosperidade em um grupo de trabalho, seja de que área
for. No caso dos Apls, o desenvolvimento das interações grupais precisa estar afinado e
consolidado entre os membros, pois se trata de união em prol de um objetivo comum.
Nas entrevistas semi-estruturadas ficou muito evidente o desestímulo dos empresários, a
apatia e a desunião do APL. E essa realidade de forte comprometimento grupal impede que o
grupo cresça de forma construtiva e sob a ótica do desenvolvimento pessoal e empresarial.
Verificou-se, também, no trabalho de campo, baixa auto-estima e complexo de inferioridade por
parte dos donos das fábricas, como também desânimo e descrença no potencial da região. Sabe-se
que a baixa auto-estima interfere em vários aspectos do ser humano, tanto no âmbito pessoal
como empresarial. O complexo de inferioridade explica um comportamento típico do
sãobentense, que é gastar exageradamente até acabar o dinheiro adquirido, pois eles tentam sanar
o vazio existencial e intelectual por meio da satisfação de prazeres imediatos. Muitos
sãobentenses deixam a escola ainda criança e enveredam como redeiros, viajando e conhecendo
lugares para eles antes impossíveis, como o sul do Brasil e o exterior, entrando em contato com
133
diferentes línguas, hábitos e culturas. Muitos são de origem pobre e não sofrem influência alguma
para o estudo e pela construção de uma profissão solidificada, que propicie uma renda segura e
com qualidade de vida futura. Infelizmente, essa realidade preocupa parte da sociedade
sãobentense.
Outro fator que causa preocupação aos proprietários das fábricas e por parte da sociedade
sãobentense é a prática do canibalismo comercial, estigmatizando os produtores e comerciantes de
rede como pessoas de baixo nível ético e moral. É uma prática que até hoje não conseguiu ser
controlada e uma das razões é a acirrada concorrência interna, o que causa desestímulo entre os
fabricantes de redes. Outro motivo é o alto índice de delinqüência existente em São Bento, que é a
prática de ilícitos civis, como promiscuidade, alto índice de alcoolismo; e ilícitos criminais, que
são o tráfego de drogas e contrabando de objetos em geral.
Em meio a essa difícil situação, a inserção do tema da responsabilidade social propicia
uma nova perspectiva de futuro e de enfrentamento das dificuldades, pois tem sido utilizado
com o intuito de estimular o capital social entre funcionários, clientes, fornecedor, como
também é uma forma de demonstrar o reconhecimento do papel da sociedade como
colaboradora para o engrandecimento das MPMEs; além de proporcionar uma união maior
por parte do poder público, revitalizando áreas de lazer, implementando cursos técnicos e de
nível superior, como a inserção de programas de saúde mental, estimulando maior atuação do
setor jurídico diante da coação do banditismo e o surgimento de uma cooperativa que pudesse
abarcar o maior número possível de fabricantes de redes de dormir, com uma proposta de
trabalho voltada para a conscientização do grupo a partir da aplicação e observação constante
da dinâmica dos grupos.
O Apl, enquanto grupo, é caracterizado pelo descompromisso, desestímulo entre os
membros da associação e uma frustração quanto ao não atingimento dos objetivos inicialmente
propostos pelo Consórcio de Exportação. Para que as instituições parceiras continuem à frente
desse Apl precisarão modificar a metodologia aplicada e tentar se adequar o máximo próximo
possível aos hábitos culturais dos produtores de redes de dormir. Uma sugestão, a título de
enriquecimento, é que nos próximos trabalhos se tente investir em estratégias que estimulem o
estreitamento das relações interpessoais, o desenvolvimento do capital social, um maior incentivo
das autoridades locais e apoio financeiro por parte dos bancos. Assim como, incentivar a
realização de cursos que estimulem o estreitamento das relações entre os produtores de redes de
dormir, fazendo oficinas em que se trabalhe a comunicação autêntica, a cooperação, a confiança, a
134
solidariedade, a criatividade, a iniciativa, a organização e a importância da coesão grupal; já que
as pessoas possuem uma cultura tão distante e carente de desenvolvimento dessas habilidades.
Há necessidade mundial de investimento nessa área tão importante no âmbito
organizacional, que é o capital humano. Os proprietários e os produtores de rede são acometidos
de enfermidades psíquicas e físicas oriundas da extensa carga horária de trabalho. Portanto,
necessitam ter uma visão mais futurística, investindo na saúde do trabalhador e no incentivo à
criação de políticas públicas voltadas para essa área de atuação. Conclui-se, entretanto, a urgência
da implantação de um trabalho composto por uma equipe multidisciplinar na tentativa de abarcar
toda a completude do ser humano, neste caso, o produtor de rede de dormir.
Os conflitos sociais
nos grupos são originados pelas dificuldades que os seres humanos têm de se comunicarem e
de se relacionarem de forma transparente e autêntica entre si. Às vezes acontece na própria
sociedade uma deturpação dos significados de determinados valores e do que estes poderão
proporcionar a partir de sua implantação no meio do processo.
Neste trabalho de dissertação, verificou-se um estudo mais detalhado sobre “a capital
mundial da rede de dormir” e um entendimento mais aprofundado dos motivos que levam à
estagnação do Apl de rede de dormir. Verificou-se que a desunião no grupo de micros, pequenos e
médios empresários tem contribuído demasiadamente para tal realidade, pois o coletivo se faz
pelo individual de cada empresa. Conclui-se, também, que tal realidade está presente nos mais
variados contextos sociais de grupo, pois, em se tratando de ser humano, não é fácil conviver e
crescer com o outro, muitas vezes tão diferente. Entretanto, este trabalho é uma tentativa de
discutir, a título de conhecimento e de reflexão, outras formas de se encarar problemas subjetivos,
trazendo-os e trabalhando com eles na prática e no dia-a-dia com o outro.
Acredita-se que este trabalho irá contribuir também para os numerosos Apls que se
encontram estagnados ou em processo de declínio, porque um dos motivos determinantes para
tal situação é a inexistência das variáveis endógenas no grupo.
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SIGNORINI, F. L’effetti distretto: motivazione e visultati di um progetto di ricerca. In:
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TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em
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VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas,
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______. Métodos de pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2005.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001.
APÊNDICES
144
APÊNDICE I: Modelo de roteiro de entrevista aos membros do
Consórcio de Exportação
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Curso de Mestrado em Administração
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADO DESTINADO AOS
PROPRIETÁRIOS DAS MPMEs E/OU PRODUTORES DE REDES DE DORMIR DO
APL DE SÃO BENTO/PB
Fonte: Questionário do Banco Mundial (2003), Moscovici (1985) (Adaptação da
autora para este trabalho)
Destinado aos Membros do Consórcio de Exportação
1ª Parte: QUALIFICAÇÃO PESSOAL DO ENTREVISTADO E HISTÓRICO DO
SURGIMENTO DA FÁBRICA
I – Qualificação Pessoal do(A) Entrevistado(A)
1.Iniciais: _______________
Gostaria que o Sr. (Srª.) respondesse marcando com um X uma única proposição que
represente a sua realidade, enquanto empresa individual e membro da associação.
2.Escolaridade/formação:
2.1 ( ) ensino fundamental incompleto 2.2 ( ) ensino fundamental completo
2.3 ( ) ensino médio incompleto 2.4 ( ) ensino médio completo
2.5 ( ) ensino superior incompleto 2.6 ( ) ensino superior completo
2.7 ( ) pós-graduação
3.Há quanto tempo é produtor de rede de dormir:
3.1 ( ) até 5 anos 3.2 ( ) de 6 a 11 anos 3.3 ( ) de 12 a 17 anos
3.4 ( ) acima de 18 anos
4.Sua empresa é:
4.1 ( ) micro 4.2 ( ) pequena 4.3 ( ) média 4.4 ( ) grande
5.Quantos teares possui sua empresa:
5.1 ( ) ativos 5.2 ( ) ociosos
6.Qual seu faturamento mensal:
6.1 ( ) até 1 salário mínimo 6.2 ( ) de 2 a 4 salários mínimos
6.3 ( ) de 5 a 7 salários mínimos 6.4 ( ) de 8 a 10 salários mínimos
6.5 ( ) acima de 11 salários mínimos
145
7.Quantas pessoas compõem a fábrica de rede:
7.1 ( ) até 5 funcionários 7.2( ) de 6 a 10 funcionários
7.3 ( ) acima de 11 funcionários
8.É uma fábrica formalizada: 8.1 ( ) sim 8.2 ( ) não
II – HISTÓRIA DO SURGIMENTO DA FÁBRICA
9. Como surgiu a fábrica?
9.1 ( ) herança familiar 9.2 ( ) iniciativa própria
9.3 ( ) única forma de sobrevivência 9.4 ( ) por gostar de trabalhar nesta área
9.5 ( )outros
10. Quais os tipos de produtos fabricados:
10.1 ( ) redes 10.2 ( ) mantas 10.3 ( ) outros
11. Qual o carro-chefe da sua fábrica:
11.1 ( ) redes 11.2 ( ) mantas 11.3 ( ) outros
12. Os produtos são vendidos para quais lugares:
12.1 ( ) região Norte 12.2 ( )região Nordeste 12.3( ) região Centro-oeste
12.4 ( ) região Sudeste 12.5 ( ) região Sul
12.6 ( ) exterior. Qual (is)?___________________________
13.Como membro da Associação dos Fabricantes de Redes, que benefícios aconteceram:
13.1 ( ) passou a ter uma renda maior
13.2 ( ) não houve benefício
13.3 ( ) adquiriu mais amigos
13.4 ( ) passou a vender mais enquanto associação do que como empresa individual
2ª Parte: ASPECTOS GRUPAIS
III - Aspectos Grupais
Gostaria, agora, que o Sr. (Srª.) respondesse marcando com um X as proposições abaixo
que irão tratar das relações e vínculos estabelecidos dentro desse Apl de Redes de
Dormir. O número “1” corresponde ao valor mais baixo e o número “4” ao mais alto.
Componentes principais do grupo (objetivos no Apl; motivação; comunicação;
comportamento; processo decisório; relacionamento; confiança; participação e solidariedade
social; cooperação; iniciativa e organização; coesão grupal)
Objetivos no Apl
Objetivos
1 2 3 4
14 Há um objetivo comum a todos os associados
15 O objetivo está claro, compreendido e aceito por todos
16 Os objetivos individuais são compatíveis com o coletivo e entre si
17 Existem planos conjuntos enquanto associação para o futuro
146
Motivação
Motivação
1 2 3 4
18 Existe interesse e entusiasmo pelas atividades no grupo de associados
19 A energia individual de cada associado é canalizada para o grupo
20 Existe um tempo reservado para atividades voltadas para o grupo
21 Há um envolvimento real nos problemas e preocupações de grupo
22 Há participação e dedicação espontânea nas atividades de grupo
Comunicação
Comunicação
1 2 3 4
23 A comunicação em grupo acontece de forma livre e espontânea
24 A comunicação em grupo é marcada por bloqueios, receios de falar e mal-entendidos
25 Há abertura para dizer o que se acha do outro, mesmo que seja de forma negativa
Comportamento
Comportamento
1 2 3 4
26 Os membros do grupo participam das decisões da associação
27 Existem membros que querem assumir sozinhos o controle do grupo
28 Alguns membros se apresentam indiferentes ao grupo
29 Um ou outro membro adota posturas infantis, desejando que tudo aconteça mediante sua
vontade pessoal
30 Existem atitudes preconceituosas com relação aos membros no próprio grupo
Processo decisório
Processo decisório
1 2 3 4
31 As decisões no grupo são tomadas democraticamente
32 Com freqüência, as decisões são unilaterais
33 As decisões são impostas por quem detém o poder
Relacionamento
Relacionamento
1 2 3 4
34 As relações entre os membros do grupo são harmoniosas
35 As relações harmoniosas são apenas superficiais, de aparente cordialidade
36 As relações permitem integração de esforços e afetividade, levando à coesão grupal
37 As relações são conflitivas e indicam competição
38 Conflitos no Apl poderão levar à desintegração do mesmo
Confiança
Confiança
1 2 3 4
39 Pode-se confiar na maioria dos membros do grupo
147
40 Precisa-se ter cuidado na relação com os membros do grupo
41 Os outros parceiros de grupo costumam tirar vantagem sobre você
42 A maioria dos membros do grupo está disposta a ajudar, caso você precise
43 Os membros do grupo confiam uns nos outros quanto a tomar e emprestar dinheiro
44 No último ano, como foi o grau de confiança no grupo
Participação e solidariedade social
Participação e solidariedade social
1 2 3 4
45 A associação desempenha alguma atividade para beneficiar a comunidade (solidariedade
social)
46 Existe solidariedade entre os membros do grupo quando alguém está precisando de ajuda
47 Em que grau existe solidariedade no grupo
48 Os membros do grupo se encontram para lazer (jogar, conversar, beber ou comer)
Cooperação
Cooperação
1 2 3 4
49 Há cooperação dentro do grupo, mesmo com os membros com características diferentes
50 Alguns impasses de opinião causam violência verbal
51 As discussões causam agressão física entre os cooperados
Iniciativa e organização
Iniciativa e organização
1 2 3 4
52 Toma-se iniciativa frente a órgãos públicos e privados visando à associação
53 Busca-se trazer idéias novas para o grupo
54 Há uma divisão de responsabilidades dentro do grupo
55 A organização da associação funciona de forma efetiva
Coesão grupal
Coesão grupal
1 2 3 4
56 Os associados estão conscientes dos benefícios da coesão para o funcionamento do grupo
57 Os associados sabem que os membros trabalhando juntos, haverá mais retorno financeiro
para todos
58 A coesão grupal é uma importante ferramenta para a manutenção da associação no
mercado competitivo
59 As ações implementadas pelas instituições não estão sendo suficientes para a
manutenção da associação
Muito obrigada por sua contribuição!
Simone Moura
148
APÊNDICE II: Modelo de Roteiro de entrevista aos MEC
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Curso de Mestrado em Administração
ROTEIRO DE ENTREVISTA DESTINADO AOS MEMBROS
EXTERNOS CONSTITUTIVOS DO APL - MEC
1.Qual a natureza da atividade do Apl de São Bento (redes/fios)?
2. Qual a idade do arranjo? Um pouco da história do surgimento de São Bento.
3. Como está o arranjo atualmente em comparação com períodos anteriores?
4. Quais as principais atividades produtivas existentes na localidade? A
atividade produtiva acontece toda nas fábricas de redes ou parte é terceirizada
pelas artesãs?
5. Como é a competitividade entre os produtores?
6. Como é a Feira da Pedra em São Bento?
7. Qual a estratégia para sobreviver nesse mercado hipercompetitivo?
8. Em média, qual o nível de instrução dos proprietários e dos operários das
fábricas/ e dos produtores em geral?
9. Qual o número atual de MPMEs formalizadas em São Bento e quantas estão
na informalidade?
10. Qual o número total, em média, de produtores na comunidade?
11. De que forma os produtos de redes são distribuídos no mercado?
12. Como acontece o escoamento das mercadorias?
13. Existe na fábrica alguma gestão administrativa, um controle contábil?
14. Em sua maioria, como são as estruturas físicas das fábricas?
15. Qual a principal matéria-prima utilizada e de onde ela vem?
16. Como acontece a divisão do trabalho dentro das fábricas e fora dela?
17. Quantas redes são produzidas em média no Município de São Bento por
ano?
18. Quais os principais problemas que São Bento enfrenta hoje no que se refere
ao mercado de redes?
19. Existe algum financiamento/crédito aos produtores de redes?
149
APÊNDICE III: Roteiro de entrevista aos membros que não
pertencem ao Consórcio de Exportação
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Curso de Mestrado em Administração
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADO DESTINADO AOS
PROPRIETÁRIOS DAS MPMEs E/OU PRODUTORES DE REDES DE DORMIR DO
APL DE SÃO BENTO/PB
(Fonte: Questionário do Banco Mundial (2003), Moscovici (1985) (Adaptação da
autora para este trabalho)
Entrevista destinada aos membros que não constituem o Consórcio de
Exportação
1ª Parte: QUALIFICAÇÃO PESSOAL E HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA FÁBRICA
I – Qualificação Pessoal do(A) Entrevistado(A)
1.Iniciais: _______________
Gostaria que o Sr. (Srª.) respondesse marcando com um X uma única proposição que
represente a sua realidade, enquanto empresa individual.
2.Escolaridade/formação:
2.1 ( ) ensino fundamental incompleto 2.2 ( ) ensino fundamental completo
2.3 ( ) ensino médio incompleto 2.4 ( ) ensino médio completo
2.5 ( ) ensino superior incompleto 2.6 ( ) ensino superior completo
2.7 ( ) pós-graduação
3.Há quanto tempo é produtor de rede de dormir:
3.1 ( ) até 5 anos 3.2 ( ) de 6 a 11 anos 3.3 ( ) de 12 a 17 anos
3.4 ( ) acima de 18 anos
4.Sua empresa é:
4.1 ( ) micro 4.2 ( ) pequena 4.3 ( ) média 4.4 ( ) grande
5.Quantos teares possui sua empresa:
5.1 ( ) ativos 5.2 ( ) ociosos
6.Qual seu faturamento mensal:
6.1 ( ) até 1 salário mínimo 6.2 ( ) de 2 a 4 salários mínimos
6.3 ( ) de 5 a 7 salários mínimos 6.4 ( ) de 8 a 10 salários mínimos
6.5 ( ) acima de 11 salários mínimos
7.Quantas pessoas compõem a fábrica de rede:
7.1 ( ) até 5 funcionários 7.2 ( ) de 6 a 10 funcionários
7.3 ( ) acima de 11 funcionários
8.É uma fábrica formalizada: 8.1 ( ) sim 8.2 ( ) não
150
II - História do surgimento da fábrica
9.Como surgiu a fábrica?
9.1 ( ) herança familiar 9.2 ( ) iniciativa própria
9.3 ( ) única forma de sobrevivência 9.4( )por gostar de trabalhar nesta área
9.5( )outros
10. Quais os tipos de produtos fabricados:
10.1 ( ) redes 10.2 ( ) mantas 10.3 ( ) outros
11. Qual o carro-chefe da sua fábrica:
11.1 ( ) redes 11.2 ( )mantas 11.3 ( )outros
12. Os produtos são vendidos para quais lugares:
12.1 ( ) região Norte 12.2 ( ) região Nordeste 12.3 ( ) região Centro-oeste
12.4 ( ) região Sudeste 12.5 ( ) região Sul
12.6 ( ) exterior. Qual(is)?___________________________
2ª Parte: ASPECTOS GRUPAIS
I – Aspectos Grupais
Gostaria, agora, que o Sr. (Srª.) respondesse marcando com um X as proposições abaixo, que
irão tratar das relações e vínculos estabelecidos dentro desse Apl de Redes de Dormir. O
número “1” corresponde ao valor mais baixo e o número “4” ao mais alto. Caso não saiba
responder com relação ao Apl estudado, poderá responder com relação aos fabricantes de
redes de São Bento/PB:
Componentes principais do grupo (objetivos no Apl; motivação; comunicação;
comportamento; processo decisório; relacionamento; confiança; participação e
solidariedade social; cooperação; iniciativa e organização; coesão grupal)
Objetivos no Apl
Objetivos
1 2 3 4
14 Há um objetivo comum a todos os micros, pequenos e médios empresários do Apl
15 O objetivo está claro, compreendido e aceito por todos do Apl
16 Os objetivos individuais são compatíveis com o coletivo e entre si
17 Existem planos conjuntos enquanto micros, pequenos e médios produtores de rede para o
futuro
Motivação
Motivação
1 2 3 4
18 Existem interesse e entusiasmo pelas atividades destinadas ao Apl
19 A energia individual de cada micro, pequeno e médio empresário é canalizada para o
grupo de Apl
20 Existe um tempo reservado para atividades informais
21 Há um envolvimento real nos problemas e preocupações do Apl
22 Há participação e dedicação espontânea nas atividades destinadas ao Apl
151
Comunicação
Comunicação
1 2 3 4
23 A comunicação entre os membros do Apl acontece de forma livre e
espontânea
24 A comunicação no Apl é marcada por bloqueios, receios de falar e mal-
entendidos
25 Há abertura para dizer o que se acha do outro, mesmo que seja de forma
negativa
Comportamento
Comportamento
1 2 3 4
26 Os membros do Apl interferem nas decisões relacionadas ao Apl
27 Existem membros que querem assumir sozinhos o controle do Apl
28 Alguns membros se apresentam indiferentes aos membros constitutivos
do Apl
29 Um ou outro membro adota posturas infantis, desejando que tudo
aconteça mediante sua vontade
30 Existem atitudes preconceituosas com relação aos membros do Apl
Processo decisório
Processo decisório
1 2 3 4
31 As decisões do Apl são tomadas democraticamente
32 Com freqüência, as decisões são unilaterais
33 As decisões são impostas por quem detém o poder (órgãos públicos,
privados, detentores do poder)
Relacionamento
Relacionamento
1 2 3 4
34 As relações entre os membros do Apl é, em geral, harmoniosa
35 As relações harmoniosas são apenas superficiais, de aparente cordialidade
36 As relações permitem integração de esforços e afetividade, levando à
coesão do Apl
37 As relações são conflitivas e indicam competição
38 Conflitos no Apl poderão levar à desintegração do mesmo
Confiança
Confiança
1 2 3 4
39 Pode-se confiar na maioria dos membros do Apl
40 Precisa-se ter cuidado na relação com os membros do Apl
41 Os outros parceiros do Apl costumam tirar vantagem sobre você
42 A maioria dos membros do Apl está disposta a ajudar caso você precise
43 Os membros do Apl costumam confiar uns nos outros quanto a tomar e
emprestar dinheiro
44 No último ano, como foi o grau de confiança no Apl
152
Participação e solidariedade social
Participação e solidariedade social
1 2 3 4
45 O Apl desempenha alguma atividade para beneficiar a comunidade
(solidariedade social)
46 Existe solidariedade entre os membros do Apl quando alguém precisa de
ajuda
47 Em que grau existe solidariedade no Apl
48 Os membros do Apl se encontram para lazer (jogar, conversar, beber ou
comer)
Cooperação
Cooperação
1 2 3 4
49 Há cooperação dentro do Apl, mesmo com os membros com
características diferentes
50 Alguns impasses de opinião causam violência verbal
51 As discussões causam agressão física entre os cooperados
Iniciativa e organização
Iniciativa e organização
1 2 3 4
52 Toma-se iniciativa frente órgãos públicos e privados visando ao Apl
53 Busca-se trazer idéias novas para o Apl
54 Há uma divisão de responsabilidades dentro do Apl
55 A organização do Apl funciona de forma efetiva
Coesão grupal
Coesão grupal
1 2 3 4
56 Os membros do Apl estão conscientes dos benefícios da coesão para o
funcionamento do Apl
57 Os membros do Apl sabem que, trabalhando juntos, haverá mais retorno
financeiro para todos
58 A coesão grupal é uma importante ferramenta para a manutenção do Apl
no mercado competitivo
59 As ações implementadas pelas instituições não estão sendo suficientes
para a manutenção do Apl
Muito obrigada por sua contribuição!
Simone Moura
153
APÊNDICE IV: Entrevista a membros do Consórcio de
Exportação: Realização: 02/02/2006
O entrevistado é produtor de rede há cerca de 20 anos. É um micro empresário, que
dispõe de seis teares ativos. O seu faturamento mensal é de cinco a sete salários, ele conta
com oito funcionários na fábrica. O surgimento da fábrica é encarado por ele quase como um
sonho, pois começou com duas máquinas emprestadas e muito trabalho da própria família. A
empresa é pequena e ele, hoje, trabalha mais com o método de terceirização e o com trabalho
de compra e venda. Ele fabrica rede e manta e as vendas dependem dos pedidos das regiões.
A demanda do produto carro-chefe da fábrica depende da época do ano nos estados do Rio de
Janeiro e São Paulo; suas vendas são de rede e têm maior volume para as regiões sul e centro-
oeste.
Ele respondeu que até o momento, não teve nenhum benefício em entrar no Consórcio
de Exportação; em seguida, reformou a colocação, colocando entre aspas “nenhum”, porque,
em termos de consórcio, afirma que o Sebrae tem dado muito apoio no sentido de capacitação,
de ministrar cursos, mas em benefícios rentáveis, a assistência tem sido precária, apesar de já
estar no Consórcio há mais de três anos. Os membros da associação, enquanto consórcio, têm
pedido ao Sebrae um consultor de venda. Antes, o grupo era composto por vinte associados,
atualmente estão com dezesseis. O Sebrae tem investido em curso e mais cursos, mas isso eles
sabem fazer; do que precisam mesmo é de uma consultoria de vendas para o exterior. O
Banco do Brasil tem dado algum apoio, mas quando eles falam em direcionar as vendas de
redes para o exterior, mostram que existem muitas exigências, como a situação do
esgotamento sanitário da cidade ou tipo de tinta que está sendo usada no tingimento das redes.
Então, eles ficam de mãos atadas por não poderem cumprir com essas exigências. Mas,
existem profissionais na região que já vendem para o exterior de forma individual. O próprio
entrevistado exporta parte da sua produção para países latino-americanos de uma a duas vezes
ao ano. Mas, para países mais desenvolvidos, existem empresários amigos dele que exportam
para esses países e, para isso, não há tanta exigência. Ele ressalta que, quando se fala em
Consórcio, o nível de exigência é altíssimo. O próprio Governo não os tem ajudado a
solucionar, por exemplo, o problema do esgotamento sanitário.
O entrevistado continuou dizendo que todos na região sabem fazer rede, basta só se
mandar, que eles fazem. Ele disse, posteriormente, que a verba (Simone, que “renda”? Não há
nehuma referência a isso) voltou porque não pôde ser aplicada, segundo o Consultor de
Vendas, para o exterior, mas para os cursos de capacitação. De acordo com o entrevistado, a
verba voltou porque os produtores não a quiseram. Pois, como poderiam aceitar, se não iria
atender à necessidade deles, perguntou. Afirmou que já participaram de feiras, montaram
stands, mas isso ainda não tinha dado resultado. Em conseqüência, uns se afastaram, outros
que ainda acreditam, continuam, como ele, que ainda continua. Porém, afirmou que, dessa
forma, as pessoas se desestimulam, porque falta apoio e elas não têm como avançar por conta
própria nesse mercado.
Continuando a entrevista, disse que eles passam por um grande problema em São Bento.
O momento atual é um período “de vacas gordas”, pois todo mundo está trabalhando,
vendendo seu produto, ganhando dinheiro, estão todos empregados. Mas, a partir de fevereiro,
começam as dificuldades, pois se gasta bastante com o ingresso dos filhos na escola, com a
compra de material escolar. É um período de início de decadência. Também falou que a
economia do País terá que ser considerada, porque tudo irá depender da fase que a economia
está passando. Nessa fase, a única fonte de renda que têm é da Prefeitura, pois é de onde
154
obtêm comida e medicamento. Com o Consórcio de Exportação, eles pensavam que teriam
um futuro melhor, pois, mesmo que faltassem as mercadorias, iriam providenciar entre eles
mesmos, com outras tecelagens. Portanto, o que ele acha é que está faltando apoio para que
possam se lançar no mercado externo.
Continuando a entrevista, perguntei se eles usavam nas mercadorias que fabricavam a
marca do consórcio, eles disseram que não, que usam as marcas das empresas individuais; e
que só vão fabricar as redes com o nome do consórcio se receberem uma encomenda para o
consórcio. Disse que nunca saíram redes com o nome do consórcio, pois o que é vendido nas
feiras tem sido em poucas quantidades e para dentro do País. Nunca houve um pedido para
fora do Brasil em nível de consórcio.
Instituições como o Banco do Brasil, a Sudema e outros órgãos querem solucionar a
questão do esgotamento, pois os planos para o futuro do Consórcio são ampliar as vendas e as
fábricas, para que possam crescer. Quando foi perguntando se existem interesse e entusiasmo
com relação à continuidade do Consórcio, ele respondeu que sim, mas que não podem deixar
de lado o negócio particular e se dedicar exclusivamente ao Consórcio. Afirmou que estão
trabalhando individualmente no comércio com o sonho de melhoramento; mas, persiste o
entusiasmo diante do Consórcio. Observei, também, que, apesar de existirem conversas e
diálogos entre os membros do Consórcio, não são fáceis. Não existe tempo reservado próprio
para os membros do Consórcio, a não ser nas reuniões formais para as quais são convocados.
Ele disse que todos sabem que o entusiasmo depende deles, mas já estão cansados de
conversas. Também sabem que sozinhos não conseguirão, existem órgãos, como o Sebrae,
que têm ajudado, mas apenas com cursos, e o que é oferecido nos cursos eles já sabem fazer.
Disse que ninguém agüenta mais reunião para aprender a fazer rede. Ninguém agüenta mais.
Afirmou que trabalhar com tecelagem de rede é diferente, que o Sebrae é muito organizado,
mas de, certa forma, os ministrantes dos cursos são leigos para lidar com os tecelões, porque,
em se tratando de tecelões de redes, tudo é diferente, pois estas são pessoas que não gostam de
estar sentadas em cadeiras, fazendo parte de reuniões. Disse que todos estão cientes de que
têm que aprender a entendê-los. Por exemplo, a chave para abrir a fábrica fica com os
tecelões. No sábado, eles não trabalham, nem no domingo, nem na segunda, porque é o dia da
Feira da Pedra. Em compensação, eles trabalham às vezes à noite para compensar esses
períodos que não estão nas fábricas. Diante disso, os donos das fábricas precisam ter esse
entendimento. E esse sistema tem dado certo, porque, se não fosse a rede, que é a mola-mestra
da economia de São Bento, tudo seria muito mais difícil.
O entrevistado afirmou que a relação entre os membros do grupo do consórcio é boa,
apesar de não haver outro convívio fora das reuniões. Mas, eles precisam que alguém tome a
frente para facilitar o seu ingresso no mercado de exportação; para isso, necessitam de pessoas
que lhes dêem informações necessárias. Ele enfatizou que a maior dificuldade que têm é essa,
inclusive, já fizeram essa reinvidicação várias vezes ao Sebrae, pois o pensamento de todos
gira em torno desse objetivo.
Continuando a entrevista, ele disse que muitos querem ir para um País mais
desenvolvido, para ver se conseguem vender os produtos e ter um retorno maior. Defendeu
que, atualmente, têm produto de qualidade, uma rede que desbota, outra que não desbota. Eles
sabem que no mercado externo há uma exigência maior, mas que não vão fazer um produto de
excelente qualidade sem saber, por exemplo, se esse produto vai vender pelo Consórcio. Para
eles, é melhor fazer uma rede mais simples e que sabem que vai vender. Portanto, afirmou, só
precisam mesmo é de um ponto de partida, que seria o consultor de vendas.
Sabemos que tanto a cachaça quanto o sapato já conseguiu atingir o mercado externo,
mas a rede ainda não conseguiu. Perguntei-lhe se existe alguém querendo assumir a frente das
decisões do grupo, ele disse que não tinha conhecimento sobre esse assunto, mas que percebe
que algumas pessoas não querem tomar a frente e que geralmente o presidente é quem assume
155
as responsabilidades. Disse que há algumas pessoas que são mais interessadas e que gostam
mais de participar das atividades, têm mais força de vontade, outros são mais reservadas.
Cada um com suas preferências. Já outros preferem estar em casa. Há pessoas que só assistem
às reuniões, mas que não dão opiniões. De acordo com ele, o clima é harmonioso, é ótimo
dentro do grupo. Quando se pensa em Consórcio, acredita-se em vendas em grandes
quantidades. Disse, também, que no início do Consórcio havia mais individualismo. Mostrou
que já foram feitos catálogos expositivos das redes e entregues a várias pessoas, mas até agora
isso não tem dado em nada. Disse que não existe concorrência, nem rivalidade entre os
associados. Defendeu que é difícil emprestar dinheiro hoje, porque o mercado de rede é de
certa forma instável, porque algumas pessoas já quebraram no comércio de rede. Por isso, é
complicado emprestar dinheiro, porque a pessoa pode se complicar. Às vezes o fato de não
emprestar nem é por maldade, mas acontece que fica difícil confiar. Por estes e vários fatores,
de acordo com ele, o Consórcio não começou a funcionar ainda de fato. Também afirmou que
eles não costumam se encontrar informalmente, somente nas reuniões do Consórcio.
Inicialmente, com a inserção do Consórcio, se pensou em clube de lazer, escola para os filhos,
capacitação para os funcionários, mas, como o objetivo central não foi alcançado, não vêem
sentido em se reunir, a não ser se for determinado.
A situação é difícil, por mais que saibam que depende deles. Está acontecendo um
desestímulo e, de acordo com ele, atualmente, necessitam de alguém que lhes dê inspiração,
que mostre o caminho, que faça com que se sintam como um órgão, porque, sozinhos, não
têm como conseguir fazer nada. Quando se pensou no consórcio, pensou-se em vender mais e
em todo tempo, buscando a estabilidade, porque é comum haver períodos bons e períodos
ruins no comércio de redes.
156
APÊNDICE V: Entrevista a membros do Consórcio de
Exportação. Realização: 03/02/2006
O entrevistado é produtor de rede há vinte anos, sua fábrica possui nove teares
funcionando. O faturamento mensal está acima de onze salários mínimos. A fábrica é
composta de vinte pessoas. A fábrica surgiu devagarzinho, com um, dois teares, sem saber se
iria dar certo. Sua produção direciona-se à região Norte. Até agora o Consórcio não evoluiu.
O objetivo do Consórcio é exportar e vender para o mercado externo. Para futuramente, eles
têm idéias, por exemplo, de colocar uma loja em Salvador.
Quando perguntado se existia entusiasmo entre o pessoal do grupo, ele sorriu e disse que
estava difícil, pois estão desestimulados. Quando acontece um desentendimento dentro do
grupo, não é comum se chegar ao outro e dizer o que está incomodando, o mais comum é
existirem fofocas. Nem todas as pessoas participam das decisões do grupo. De acordo com
ele, não existem pessoas querendo tomar o comando do grupo. Existe solidariedade no grupo,
mas até determinado ponto.
** Tornou-se perceptível um cuidado com o grupo do Consórcio, talvez não consciente, mas
por muitos foi dito que o grupo é democrático, harmonioso e que todos se entendem muito
bem. Quando perguntei a este entrevistado se algumas pessoas se apresentavam indiferentes
ao grupo, ele sorriu e percebi que se tolheu ao responder. Aprofundei-me e perguntei se havia
algumas pessoas que eram “Maria-vai-com-as-outras”, ele disse que não. Percebi que ele se
tolheu e, a partir daí, só falou de forma positiva do grupo. Percebi, também, um certo receio
seu em revelar particularidades do grupo.
157
APÊNDICE VI: Entrevista membros do Consórcio de Exportação
Realização: 08/02/2006
Durante toda a entrevista, percebi esse consorciado bastante desconfiado, sem querer
revelar os dados de forma mais concreta. Tanto que não houve correlação entre a quantidade
de teares, seis; o número de funcionários, catorze; e o seu rendimento mensal. Ele já exporta
para a Austrália e a Hungria. Portanto, como ele já é exportador, como é que o seu rendimento
mensal com rede é de apenas um salário mínimo? Esse entrevistado mostrou estar mentindo
descaradamente e também medo que alguma informação vaze para que órgãos o fiscalizem.
Vimos que as características dos produtos para exportação são diferentes, para a
Austrália, a rede é menor, mais estreita e sem varanda. Já para a Hungria é um pouco
diferente, a preferência é pela rede que se assemelha ao estilo do brasileiro. O entrevistado
disse que o benefício que teve ao ingressar no Consórcio foram as idas às feiras das quais
participou, através do Consórcio, por ter efetuado algumas vendas. Com relação às redes a
serem vendidas nas Feiras, os consorciados as fabricam e colocam a logomarca do Consórcio.
Porém, nessa conversa, percebi que nem todos os produtos que vão para as feiras têm a marca
do Consórcio, alguns têm a marca individual da empresa. Então, eu chamei a atenção para a
falta de compartilhamento de alguns membros do grupo, pois uns não colocam a marca do
Consórcio de Exportação, que é um objetivo essencial para o estímulo das vendas; pois, se
observa que, a partir desta não comunhão de etiquetas, há dificuldade na identificação das
mercadorias até para se fazer os próximos pedidos. Pois, o objetivo principal do Consórcio de
Rede é o aumento das vendas. Quando eu perguntei se todos têm consciência desse objetivo,
ele me falou que é preciso que todos estejam envolvidos com o objetivo comum, para que as
coisas possam caminhar. Disse que eles procuram fazer planos, mas nenhum foi realizado
ainda. Pensar, se pensa, mas não se conseguiu ainda a realização do que planejam. Citou
como exemplo o caso da criação de uma loja em Salvador, com que todos pensam, mas
ninguém executa nada. Ele afirmou que, quando foi questionado sobre a existência ou não de
despesas para a colocação da loja, imediatamente falara quais seriam as despesas, mas os
outros membros do grupo acharam que ele estava querendo confusão e não a loja. Disse,
também, que o grupo só se encontra para as reuniões nas terças à noite e nada mais. A
freqüência nas reuniões não é regular. As idéias desenvolvidas não são estimuladas e as que
existem não são colocadas em prática. Pelo menos, até agora, não foram cumpridas. Quando
perguntei o que é que ele achava que estava faltando, disse que era mais interesse por parte
das pessoas e do Presidente. Alguns saíram do Consórcio porque ficaram chateados, tanto que
antes eram vinte e, agora, são doze associados. O que está chateando, agora, por exemplo, é a
criação dessa loja, pois uns aceitam e outros não. Em caso de desentendimento nas reuniões,
ele disse que já aconteceu ocasião de um procurar o outro para se redimir e se entender. De
acordo com ele, as reuniões existem para se discutir os assuntos, mas o que há é silêncio. As
decisões do grupo não são tomadas em conjunto e mesmo essas decisões não são fáceis de
tomar porque os membros faltam muito às reuniões, às vezes menos da metade as freqüenta.
Assim, fica difícil tomar as decisões corretamente. Disse que existem sub-grupos dentro do
grupão e que têm opiniões diferentes. Quando perguntei se existia no grupo um clima de
harmonia e de certa paz, ele disse que existia, só que começou a rir. Quando eu perguntei se
havia concorrência entre eles fora do Consórcio, disse que não havia. Foi dito, em entrevistas
anteriores, que há muita individualidade entre os consorciados. Leva-se a entender, dessa
forma, que não há concorrência por ele ser um fabricante de rede bem sucedido, que não
vende, inclusive, para o mercado de São Bento, por isso não sente a concorrência. Ou que ele
omitiu tal informação porque tem sido freqüentemente comentando entre eles a forte
158
concorrência que existe mesmo em São Bento entre os comerciantes regionais. Quando
perguntei se confiava nos membros do grupo, ele respondeu que não totalmente. Disse que
emprestaria dinheiro dependendo de quem fosse a pessoa, não a todos do Consórcio. Disse,
também, que não há divisão das responsabilidades do grupo, ela é concentrada entre o
Presidente e o Vice-presidente. Mostrou que há um rodízio nas idas às feiras e que das
atividades que acontecem envolvendo o Consórcio nem todos participam. As pessoas não
tomam iniciativa frente ao grupo. De acordo com ele, a organização da associação acontece
de forma lenta. As ações implementadas pelas instituições parceiras estão em parte sendo
suficientes para satisfazer às necessidades do Consórcio.
159
APÊNDICE VII: Entrevista a membros do Consórcio de
Exportação. Realização: 08/02/2006
Esse entrevistado tem uma fábrica com sete teares e alugou outra fábrica com mais seis,
o que totaliza treze teares em funcionamento. A renda das redes é de cinco a sete salários.
Atualmente, conta com dezesseis funcionários, mas tem época que não fica nenhum, que
fecha tudo. A quantidade de funcionário depende das vendas. Ele começou a fabricar rede
depois que vendeu um bar e, com o dinheiro, comprou uns panos de rede e começou a vendê-
las. Com a venda, comprou uma máquina e depois outra, hoje, vive da fabricação e da venda
de rede. O foco de suas vendas é São Bento mesmo. Ele só produz o pano de rede e capricha a
produção para amostra nas feiras das quais participa. Os benefícios que teve com o Consórcio
foram os cursos que incentivaram a melhoria da qualidade na fabricação da rede. Outro curso
muito bom foi sobre como aprender a gerenciar a própria empresa. Para ele, foi muito rico.
Disse que o mercado interno não está mais abrangendo as redes fabricadas na região, é
necessário ampliar o mercado para o mercado externo. Afirmou que as atividades do
Consórcio acontecem dentro das reuniões mesmo, apesar da baixa freqüência, pois, são as
reuniões são marcadas, mas o pessoal não vai. Ele disse que, se não fosse o Sebrae, o
Consórcio já teria acabado. Quando perguntei porque o pessoal não freqüentava as reuniões,
ele disse não saber informar o motivo. Mas disse que eles comentam que há muitas reuniões,
mas não acontece nada. Eles não conseguem vender, a maioria não vai às reuniões e as
conversas que nelas acontecem não são aplicadas na realidade. Às reuniões não são trazidas
idéias novas, são os mesmos assuntos e, no final, não dão em nada. Só fazem falar, mas, na
prática, não dá em nada. Citou como exemplo a sugestão que foi dada de se colocar uma loja
em Natal para experiência e, depois, se desse certo, colocariam em Salvador, mas nada foi
feito até agora. Disse que a idéia de cada um colocar seu produto no Consórcio, apenas para
ser exposto, não dera em nada, porque ele comprou a estante, mas ninguém comprou mais
nada. De acordo com ele, é tudo desorganizado. Quando perguntei se participava das
reuniões, disse que participava, mas que ficava mais tempo calado porque sempre está
disponível para todas as idéias. Ele quer que esse negócio dê certo. Quando foi perguntado se
o grupo é unido, ele disse que achava que era unido, mas que não sabia explicar direito essa
união, porque das reuniões as pessoas não participam, mas se dão bem umas com as outras.
Ele acha que muitas pessoas esperam a coisa acontecer, pois, se der certo, entram, mas se não
der certo, saem. Disse, também, que as decisões são tomadas pelos que participam das
reuniões. Para a Feira da Pedra, por exemplo, já pediram apoio, mas nada tem sido feito para
melhorar. Das recentes feiras que aconteceram em João Pessoa, não houve participação do
Consórcio, porque alguns ficaram de ir, mas, na hora, dão primazia aos seus compromissos e
terminaram não indo. Ele acha que não existem sub-grupos dentro do grupão, porque, na hora
da reunião, todo mundo concorda com o que é decidido. Acha que o relacionamento no grupo
é melhor quando estão participando do que quando saem. Ele acha que existe concorrência
forte fora do grupo, cerca de 60%. De acordo com ele, a tendência do grupo é se acabar,
porque ás reuniões marcadas quase ninguém vai, combinam de fazer algo, mas ninguém faz e
isso vai desmotivando as pessoas. Com relação a empréstimos, ele nunca pediu. Disse que a
maioria dos associados é como ele financeiramente, por isso não sabe de mais informações.
Afirmou que as responsabilidades são concentradas somente na diretoria e, de acordo com ele,
as responsabilidades deveriam ser divididas, por se tratar de um grupo. Ele acha que o
Presidente é muito ocupado com outras atividades, que é sobrecarregado. Deveriam ser
divididas as responsabilidades e até se fazer um cronograma das atividades, pois aquelas que
160
envolvem o Consórcio, as tarefas não são divididas entre os membros, concentrando-se na
diretoria. De acordo com esse membro, o grupo não faz nada, mas pelo menos é da paz, não
acontece violência verbal, nem agressão física. Tanto o entrevistado quanto a esposa que
estava presente à entrevista estão dispostos a abrir uma loja do Consórcio e acreditam que vai
dar certo, que no início vai dar trabalho e não vai ter retorno, mas que, depois, o retorno virá.
Inclusive, foi sugerida a colocação de estantes onde seriam disponibilizados os produtos do
Consórcio, para as pessoas que fossem visitar, mas, que, mesmo assim, os associados não
colocaram os produtos, não se interessaram. O entrevistado acha que eles têm medo da
concorrência dentro do próprio grupo, têm medo de dar preço, por causa da concorrência
interna. Ele acredita que a união das pessoas é que trará progresso e acredita também que
quem participa das reuniões também concorda com tal idéia. Ele acha que, se não fosse o
Sebrae, o Consórcio já teria fechado. Disse que o Sebrae participa das Feiras, ajudando-os.
161
APÊNDICE VIII: Entrevista a ex-proprietário de fábrica (MEC)
Realização: 16/02/2005
Esse entrevistado disse que a fabricação de redes começou com dois teares na zona
rural; depois, os teares foram transferidos para a cidade por ser necessário trabalhar com
operários, com a matéria-prima (fios). Então, a fábrica começou a crescer dia após dia, até que
teve que fechar com cerca de quinze anos de funcionamento. Dos dois teares iniciais, passou a
vinte, trabalhava com trinta operários diretos e vinte indiretos (pessoas que trabalhavam nas
próprias casas com o acabamento do produto e torcendo o cordão para fazer o punho),
totalizando cinqüenta envolvidos. A fábrica cresceu bastante, foram construídos novos
galpões, mas, que por conta da concorrência, tudo terminou. Inicialmente, a fábrica
funcionava na zona rural, depois na cidade e ainda teve de se mudar mais uma vez, por conta
da fiscalização. Houve uma época em que se fazia o trabalho todo da rede dentro da fábrica.
As redes eram vendidas para Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo, Paraná e nesses
lugares apareciam concorrentes de São Bento mesmo, que vendiam em valores mais baixos.
Ele possuía seis carros para a venda, e em cada vinte homens, que faziam a revenda das redes,
e sempre voltavam com o carro seco. Noutras vezes, o dono da fábrica mandava mais redes
para reabastecê-los. O caminhão de venda de produtos passava em torno de quatro meses fora
de São Bento, vendendo na Argentina, Paraguai e Uruguai. A época de 1995 a 2000 marcou,
foi depois do plano real. Mas, de 2000 a 2003 houve muita concorrência, muitas redes por
eles produzidas eram imitadas e vendidas por um preço inferior, com uma qualidade também
inferior. Perguntei se não teve, na época, como se mostrar que o produto dele tinha mais
qualidade, por isso era mais caro, em comparação com os dos outros produtores. Ele disse que
faltou a divulgação do produto, por exemplo, com a colocação da etiqueta. Disse também que
os donos das redes foram várias vezes traídos pelos vendedores ambulantes, porque muitas
vezes lhes passavam a rede por um preço e esses vendiam por outro preço e não tinha como o
proprietário controlar. Disse que a produção de rede podia acontecer toda na fábrica ou
através da divisão das partes da rede, uma parte ficava com um tecelão (que trabalha puxando
o fio para fazer o pano da rede), outra com a costureira, com a gerente, com a diarista.
Quando a rede estava pronta, passava pelo processo de prensa, que servia para diminuir o seu
volume. Em torno de uma hora se fabricava uma rede para a venda. Por semana, fazia-se em
torno de duas mil e quinhentas redes, trabalhando-se cinco dias. Em um caminhão pequeno
cabiam treze mil redes e numa carreta, de vinte e cinco a vinte e seis mil. Mandavam rede e
manta, esta vendia mais. Cada caminhão possuía um gerente, que ficava controlando os
pedidos feitos pelos carros, e um gerente, que ficava controlando os pedidos feitos pelos
carros, e um gerente, que saía com vinte homens. Os nomes das redes eram Bege, Maria
Bonita (composta de várias cores), Tieta (xadrêz de cores), Cianinha e a Cravo e a Rosa
(manta). Os redeiros de São Bento eram conhecidos como desbravadores, pois chegavam às
cidades, às feiras e, nos carros, iam vendendo as redes. O objetivo deles era voltar para São
Bento com o carro vazio. Sendo assim, faziam qualquer negócio. Os carros de redes que
saíam de São Bento com destino a vários Estados levavam as notas de saída de fábrica com a
quantidade de redes que ia ficar naquela região. Por exemplo, duzentas redes para Fortaleza,
quinhentas redes para o Paraná e assim mesmo já iam passando pela fiscalização. A matéria-
prima da rede, que são os fios, não é produzida em São Bento, ela vem de Natal, Fortaleza,
Recife, uma parte daqui mesmo, Paraíba, e outra de Santa Catarina. Os redeiros, inicialmente,
vendiam-nas carregando nas costas. Atualmente, há mais ou menos dois anos, eles andam
com uns carrinhos parecidos com carrinhos-de-mão, carregando, além da rede, outros
produtos: carteira, cinto, pulseira, óculos, como se fosse uma loja ambulante. De acordo com
162
o entrevistado, para os redeiros, as vendas melhoraram, mas, para os fabricantes, os redeiros
perdem tempo com outros produtos que não são deles. Por mais que a venda tenha ficado
diversificada, eles continuam sendo chamados de redeiros. Eles percorrem todo o território
nacional, tendo mercado do Pará ao Maranhão. De acordo com o entrevistado, o município de
Jaguaruana, Ce, vende muita rede também, mas não tem o costume das pessoas de São Bento
como VENDEDOR AMBULANTE, eles vendem somente em lojas. A cidade de São Bento
cresceu e se desenvolveu muito por conta dos vendedores ambulantes, gerando mais
concorrência interna. Muitas das grandes fábricas de São Bento estão parando por conta da
concorrência de mercado. Perguntei se já haviam pensado em todos de São Bento se juntarem
para fazer frente ao mercado de Pernambuco e do Ceará. Ele respondeu que a maior
concorrência está dentro de São Bento mesmo, provocada pela desunião. Segundo ele, isso
acontece porque o tear tem o preço baixo. Muitos operários de fábrica, ao conseguirem um
dinheirinho a mais como funcionário, compravam a máquina (o tear) e levavam para produzir
rede no fundo de quintal, envolvendo no trabalho esposa e filhos. Isso favorecia a diminuição
do trabalho formal da fábrica, pois passava a surgir uma produção que tinha um custo menor,
que não exigia registro de empresa, diferente dos custos que um empresário tem com sua
empresa constituída. O fenômeno do CANIBALISMO, que consiste na baixa cada vez maior
do valor da rede para vender mais, acontece entre os próprios redeiros,. O objetivo de um
redeiro, quando chega a uma feira, por exemplo, é sair como seu carro de rede vazio. Para
isso, muitas vezes barateia o produto, em busca somente da venda. Uma característica dos
redeiros de São Bento é o IMEDIATISMO DA VENDA. Quando um redeiro vai a um lugar
para vender e começa a estabelecer vínculos, segundo ele, está na hora de ir embora. Ele não
pensa na manutenção do cliente. Outra característica marcante do redeiro de São Bento é que
ele sai em busca de cliente, não ficando esperando. Por isso, a circulação de dinheiro é
enorme, muitas vezes ele está em um lugar e, imediatamente, tem que se deslocar para outro,
então pede mais rede à fábrica e vai mandando o dinheiro que recebe; assim
consecutivamente, gerando um grande fluxo de dinheiro. A indústria de rede, atualmente, está
na mão dos pequenos e médios proprietários. Os grandes proprietários não existem mais em
São Bento. Houve um grande retrocesso no processo de fábricas de redes de São Bento, pois
elas cresceram muito e hoje não existem mais. A FEIRA DA PEDRA é uma feira em que se
vende todo tipo de rede. Ela acontece nas segundas-feiras. Quando começou, o cliente ia lá,
comprava a rede mais barata e à vista; os clientes que não podiam comprar à vista, iam às
fábricas para comprar parcelado. Só que, com o tempo, chegou-se a vender redes fiado (para
pagar depois); assim, o cliente, ao invés de ir à fábrica, comprava ali mesmo e só pagava
depois; o que reforçou a decadência das fábricas de São Bento.
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