RESUMO
A leucemia mielóide crônica (LMC) é uma doença mieloproliferativa clonal, responsável por
14% de todos os casos de leucemias. É caracterizada pela presença do cromossomo
Philadelphia (Ph) em células primordiais e suas descendentes. Este cromossomo, que é
resultante de uma translocação recíproca e equilibrada entre os braços longos dos
cromossomos 9 e 22, está presente em aproximadamente 95% dos casos de LMC. A
conseqüência molecular desta translocação é a geração de uma proteína híbrida BCR-ABL,
com atividade tirosina-quinase aumentada. O mesilato de imatinib é um potente competidor
seletivo inibidor desta proteína BCR-ABL. Os objetivos do presente estudo foram: análise das
características dos pacientes portadores de LMC, cadastrados no Centro de Pesquisas
Oncológicas de Santa Catarina (CEPON/SC) e tratados com mesilato de imatinibe, avaliação
da eficácia do referido fármaco. Esta última foi feita pela observação das sobrevidas global e
livre de progressão, da resposta hematológica e da resposta citogenética dos indivíduos e pela
análise das amostras de medula óssea (do diagnóstico e do pós-tratamento), dando enfoque
especial na celularidade, fibrose e vascularização das mesmas. Foram avaliados 22 pacientes,
os quais foram acompanhados durante 2 anos de tratamento com o imatinib. As características
da população incluída no estudo
foram compatíveis com os dados da literatura, no que diz
respeito a indivíduos portadores de LMC em fase crônica. A sobrevida dos pacientes
incluídos no estudo foi de 95,46%. A resposta hematológica completa foi alcançada em tempo
médio de 1,5 meses, sendo que 72,73% mantiveram esta resposta durante os 2 anos de
acompanhamento. A sobrevida livre de progressão da doença foi observada em 86,36% dos
pacientes. O tempo médio para obtenção da resposta citogenética maior foi de 8,78 meses e
foi alcançada por 63,64% dos pacientes. As amostras de medula óssea do diagnóstico de todos
os pacientes apresentaram-se hipercelulares. Após o tratamento, apenas 18,18% deles
mantiveram suas amostras nestas condições. A fibrose foi avaliada por meio da coloração de
Gomori, demonstrando que a maioria dos pacientes (59,09%) apresentou um grau de fibrose
elevado na primeira biópsia. Já após o tratamento, grande parte (72,73%) teve suas amostras
normais com relação à fibrose. A vascularização foi avaliada pela marcação
imunohistoquímica com anticorpo anti-CD34, sendo que 54,55% dos pacientes apresentaram
alteração importante na primeira biópsia de medula. Após o tratamento, 72,73% das amostras
apresentaram uma diminuição na contagem de vasos. A resposta citogenética apresentou um
alto grau de correlação com a fibrose (1ª BMO → r= -0,919 e p= 0,0271; 2ª BMO → r= -
0,917 e p= 0,028), demonstrando que quanto maior o grau de fibrose, menor a possibilidade
de se atingir a resposta citogenética. A vascularização também apresentou forte correlação
com a resposta citogenética (1ª BMO → r= -0,964 e p= 0,0092; 2ª BMO → r= -0,940 e p=
0,060). Assim, da mesma forma que a fibrose, quanto maior o número de vasos, menor a
possibilidade de a resposta citogenética ser alcançada. Este estudo vem fortalecer interferirem
na resposta a hipótese de que o estroma da medula óssea de pacientes portadores de leucemia
mielóide crônica apresenta alterações significativas, a ponto de terapêutica e terem relação
direta com a sobrevida dos indivíduos.