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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA
ALTERAÇÕES NO METABOLISMO LIPÍDICO EM PACIENTES HIV
SOROPOSITIVOS
ELAINE NUNES DAMINELLI
FLORIANÓPOLIS
2007
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA
ALTERAÇÕES NO METABOLISMO LIPÍDICO EM PACIENTES HIV
SOROPOSITIVOS
Dissertação apresentada como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em Farmácia,
com ênfase em Análises Clínicas, na
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
Orientador: Prof. Dr. Celso Spada.
ELAINE NUNES DAMINELLI
FLORIANÓPOLIS
2007
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3
“Mestre é alguém que indica um caminho de
compreensão; discípulo é alguém que, tendo
compreendido, segue sua própria compreensão”.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus.
Aos meus pais pela oportunidade de chegar até aqui.
Ao Prof. Dr. Celso Spada pela oportunidade concedida, confiança depositada, amizade,
disponibilidade e empenho em orientar-me
Ao médico Raul Cavalcante Maranhão, pela parceria indispensável para a realização deste
trabalho.
Aos funcionários do Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário, pela viabilização
das análises realizadas neste trabalho.
A equipe do Laboratório de Metabolismo de Lípides do Instituto do Coração do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, pelo apoio e amizade.
Aos pacientes que consentiram em participar deste trabalho, sem os quais o mesmo não seria
possível.
Aos amigos que comigo conviveram, pelo apoio, auxílio e amizade e a todos que de alguma
forma contribuíram durante a realização deste trabalho.
OBRIGADA.
Elaine N. Daminelli
Florianópolis, 2007.
5
SUMÁRIO
RESUMO.........................................................................................................................................8
ABSTRACT....................................................................................................................................9
LISTA DE FIGURAS...................................................................................................................10
LISTA DE TABELAS..................................................................................................................11
LISTA DE ABREVIATURAS.....................................................................................................12
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................15
1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................................15
1.2 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS...............................................................................................16
1.3 AGENTE ETIOLÓGICO.........................................................................................................17
1.4 ESTRUTURA DO HIV-1........................................................................................................18
1.5 CICLO DE VIDA DO HIV......................................................................................................20
1.6 EVOLUÇÃO CLÍNICA DA INFECÇÃO PELO HIV-1.........................................................23
1.7 TERAPIA ANTIRRETROVIRAL...........................................................................................25
1.8 DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV-1.................................26
1.9 ANORMALIDADES METABÓLICAS E HIV .....................................................................28
1.10 METABOLISMO DOS LIPÍDEOS.......................................................................................30
1.10.1 TRANSPORTE DE LIPÍDEOS DE ORIGEM EXÓGENA...............................................31
1.10.2 TRANSPORTE DE LIPÍDEOS DE ORIGEM ENDÓGENA............................................32
1.10.3 TRANSPORTE REVERSO DO COLESTEROL...............................................................32
1.11 PARAOXONASE..................................................................................................................35
1.12 HIV E HIGHLY ACTIVE ANTIRETROVIRAL THERAPY (HAART)...................................36
1.13 “LIPOPROTEÍNAS ARTIFICIAIS”.....................................................................................37
6
2. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................................40
3. OBJETIVOS ............................................................................................................................41
3.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................................41
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...................................................................................................41
4. METODOLOGIA.....................................................................................................................42
4.1CASUÍSTICA............................................................................................................................42
4.2 CONTAGEM DE LINFÓCITOS T CD4 E T CD8 ...............................................................43
4.3 QUANTIFICAÇÃO DO RNA DO HIV .................................................................................44
4.4 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE GLICOSE.................................................45
4.5 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE COLESTEROL TOTAL...........................45
4.6 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE TRIGLICERÍDEOS..................................46
4.7 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE HDL-COLESTEROL...............................46
4.8 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE LDL-COLESTEROL................................46
4.9 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE VLDL-COLESTEROL.............................47
4.10 PREPARO DA LDE...............................................................................................................47
4.11 TRANSFERÊNCIA DE COLESTEROL LIVRE, COLESTEROL ÉSTER,
TRIGLICERÍDEOS E FOSFOLÍPIDES DA LDE PARA A HDL...............................................48
4.12 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DA PARAOXONASE (PON1)...............................48
4.13 ANÁLISE ESTATÍSTICA.....................................................................................................50
5 RESULTADOS.........................................................................................................................51
5.1 CONSTITUIÇÃO DOS GRUPOS ESTUDADOS..................................................................51
5.2 VERIFICAÇÃO DO PESO E ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC).............................51
5.3 CONCENTRAÇÃO SÉRICA DE GLICOSE..........................................................................51
5.4 CONCENTRAÇÃO SÉRICA DE LÍPIDES............................................................................51
5.5 ATIVIDADE SÉRICA DA ENZIMA PARAOXONASE.......................................................52
7
5.6 PERCENTAGEM DE TRANSFERÊNCIA LIPÍDICA...........................................................52
6. DISCUSSÃO.............................................................................................................................58
6.1 IMC...........................................................................................................................................58
6.2 COLESTEROL TOTAL, TG, LDL, HDL E VLDL................................................................59
6.3 PARAOXONASE....................................................................................................................61
6.4 TAXA DE TRANSFERÊNCIA DO COLESTEROL LIVRE, COLESTEROL ÉSTER,
TRIGLICÉRIDES E FOSFOLÍPIDES DA LDE PARA A HDL NOS GRUPOS HIV
SOROPOSITIVOS E CONTROLE...............................................................................................63
7. CONCLUSÕES.........................................................................................................................66
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................67
ANEXOS........................................................................................................................................79
ANEXO 1. PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA COM SERES
HUMANOS....................................................................................................................................80
ANEXO 2. TERMO DE CONSENTIMENTO..............................................................................81
ANEXO 3. TABELA COM AS MÉDIAS DE CONTAGEM DE LINFÓCITOS T CD4 E T CD8
E CARGA VIRAL DOS PACIENTES HIV SOROPOSITIVOS..................................................83
8
RESUMO
ALTERAÇÕES NO METABOLISMO LIPÍDICO EM PACIENTES HIV
SOROPOSITIVOS.
O HIV infecta e depleta os linfócitos T CD4, resultando em imunodeficiência e progressão da
doença. Os pacientes infectados pelo HIV, geralmente, apresentam dislipidemia. Este processo
pode ser decorrente de alterações no metabolismo das lipoproteínas causado pela produção de
citocinas, as quais são mediadoras da resposta imune. Durante a infecção pelo HIV ocorrem
alterações metabólicas, incluindo diminuição dos níveis séricos de HDL e como a sobrevivência
desses indivíduos está sendo prolongada pela terapia antirretroviral, estes estão expostos a
importantes fatores de risco para doenças cardiovasculares. A HDL tem propriedades
antioxidantes que podem ser mediadas pela ação da paraoxonase 1 (PON1). Esta enzima está,
predominantemente, associada com a HDL e catalisa a degradação de fosfolípides provenientes
da LDL oxidada. Outras ações antiaterogênicas da HDL são: sua propriedade antitrombótica,
antioxidante, antiinflamatória e endotelial. O objetivo do presente estudo é determinar os níveis
plasmáticos lipídicos e a habilidade da HDL em receber lipídios, como o colesterol livre (CL), o
colesterol éster (CE), os fosfolípides (FL) e triglicérides (TG), bem como a atividade da PON1
em pacientes HIV soropositivos. Participaram do estudo 48 pacientes infectados pelo HIV. As
amostras de sangue foram coletadas após 12 horas de jejum e foram determinadas as
concentrações séricas de glicose, de colesterol total, de triglicérides, de LDL-colesterol, de HDL-
colesterol, a atividade de PON1 e a transferência de lipídios marcados radioativamente de uma
nanoemulsão (LDE) para HDL. Os resultados mostram que os pacientes HIV soropositivos
apresentaram concentrações de LDL e triglicérides menores que os grupo controle, a atividade da
PON1 e a transferência de lipídios para HDL está alterada nestes pacientes. Comparado com o
grupo controle, a transferência de fosfolípides (17,5 ± 0,9% no controle e 23,4 ± 1,6% no HIV+)
para a HDL foi maior nos pacientes HIV +. A transferência de colesterol livre (6,3 ± 1,1 e 5,0 ±
1,1%) e de triglicérides (3,5 ± 0,6 e 2,7 ± 0,7%) foi menor neste grupo. A troca de lipídios das
partículas de HDL e para estas partículas é um passo crucial no transporte reverso do colesterol e
é fundamental que neste processo as subclasses de HDL sejam coordenadas. Os resultados deste
estudo indicam que este processo está alterado e contribui para o aumento do risco de doenças
cardiovasculares.
Palavras chave: Infecção pelo HIV, paraoxonase 1, lipoproteínas de transferência, lipoproteínas
de alta densidade (HDL).
9
ABSTRACT
ALTERATIONS IN THE LIPIDS METABOLISM IN HIV SEROPOSITIVE
PATIENTS.
The HIV infects and depletes CD4 lymphocytes, resulting in immunodeficiency and a slowly
progressive disease. The HIV infected patients generally present dyslipidemia. This process is
thought to be the result of alterations in lipoprotein metabolism produced by cytokines that
mediate the immune response. During HIV infection metabolic alterations, including low HDL
cholesterol levels, are often found and as the survival of those subjects is being increasingly
prolonged by treatment they are exposed to the important risk factors for coronary artery disease.
The HDL has antioxidant properties that are mediated mainly by paraoxonase 1 (PON1) action.
This enzyme is predominantly associated with the HDL fraction and catalyzes the degradation of
oxidized LDL phospholipids. Other potentially antiatherogenic actions of HDL are the
antiadhesive, antioxidant, anti-inflammatory and endothelial function. The present study aimed to
determine plasma lipid levels and the ability of HDL of receiving lipids, such as free cholesterol
(FC), cholesteryl esters (CE), phospholipids (PL), and triglycerides (TG) as well as the PON1
activity in HIV seropositive patients. 48 HIV seropositive patients participated in the study.
Blood samples were collected after a 12 hour fast and the glucose, total cholesterol, triglycerides,
LDL-cholesterol, HDL-cholesterol, PON1 activity and the transfer of the nanoemulsion
radioactive lipids to HDL were determinated. The results show that in HIV serum positive
patients the LDL cholesterol and triglyceride concentrations were smaller than those of controls;
on the other hand, PON1 activity and lipid transfer to HDL were disturbed in the patients.
Compared to controls, the transfer of PL (17.5±0.9 % in controls and 23.4±1.6 % in HIV+) to
HDL was greater in the HIV+ patients. In contrast, the FC (6.3±1.1 and 5.0±1.1%) and TG
(3.5±0.6 and 2.7±0.7%) transfer to HDL was smaller. The exchange of lipids to and from HDL
particles are a crucial part of reverse cholesterol transportation and it clearly requires coordinated
metabolic regulation of HDL subclasses. The results from study indicate that this process is
alterated and contribute to increased risk of coronary artery disease.
Keywords: HIV-infection, Paraoxonase-1, transfer lipoproteins, High-density lipoproteins.
10
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Estrutura da partícula viral do HIV-1 e eletromicrografia.......................................19
FIGURA 2 - Representação da estrutura do genoma das partículas virais do HIV-1...................19
FIGURA 3 - Representação esquemática do ciclo da replicação viral do HIV-1.........................21
FIGURA 4 - Perfil do número de linfócitos T CD4+ e dos níveis plasmáticos de RNA do HIV
durante a infecção pelo HIV...........................................................................................................24
FIGURA 5 - Taxa de transferência do colesterol livre, colesterol éster, triglicérides e
fosfolípides da LDE para a HDL nos grupos HIV soropositivos e Controle.................................56
11
LISTA DE TABELAS
TABELA I: Classificação da infecção pelo HIV, proposta pelo CDC e utilizada a partir de
1993................................................................................................................................................27
TABELA II: Distribuição dos indivíduos, nos diferentes grupos estudados, de acordo com o
sexo..
...
............................................................................................................................................54
TABELA III: Distribuição dos indivíduos de acordo com a idade, o peso, a altura e o IMC dos
grupos estudados.............................................................................................................................54
TABELA IV: Concentrações plasmáticas dos lipídios e glicose dos grupos HIV soropositivos e
Controle.
.
........................................................................................................................................55
TABELA V: Media da atividade da paraoxonase nos grupos HIV soropositivos e
Controle..........................................................................................................................................55
TABELA VI
:
Correlações entre a transferência as taxas de transferência de colesterol livre (
14
C-
CL), de fosfolípide (
14
C-PL), de colesterol éster (
3
H-CE) e de triglicérides (
3
H-TG) e as
concentrações séricas de lipídios, glicose, carga viral, contagem de células T CD4 E CD8 e
Índice De Massa Corpórea.............................................................................................................57
12
LISTA DE ABREVIATURAS
14
C-CL: Taxa de transferência do colesterol livre
14
C-PL: Taxa de transferência do fosfolípide
3
H-CE: Taxa de transferência do colesterol éster
3
H-TG: Taxa de transferência do triglicéride
ABCA1: Transportador de membrana (adenosine triphosphate (ATP)-binding cassette)
ACAT: Acetil-coenzima A: Colesterol acil transferase
AIDS: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Acquired Immunodeficiency Syndrome)
CAT: Catalase
CCR5: Receptor de quimiocinas
CD4: Grupo de diferenciação (Cluster of differentiation) de células T restritas à classe II do MHC
CD8: Grupo de diferenciação de células T restritas à classe I do MHC (linfócitos T citotóxicos)
CDC: Center for Disease Control and Prevention
CE: Colesterol éster
CETP: Proteína de transferência de colesterol éster (Cholesterol Ester Transfer Protein)
CL: Colesterol livre
CXCR4: Receptor de quimiocinas
DNA: Ácido desoxirribonucléico
EDTA: Anticoagulante – Ácido etilenodiamino tetra-acético (Ethylene Diamine Tetracetic)
EIAV: Equine Infectious Anemia Vírus
ELISA: Ensaio imunoabsorvente enzima-ligado (Enzyme-linked immunosorben assay)
EROs: Espécies Reativas de Oxigênio
G6PD: Glicose-6-fosfato desidrogenase
gp120: Glicoproteína 120
gp160: Glicoproteína 160
gp41: Glicoproteína 41
GPx: Glutationa peroxidase
GR: Glutationa redutase
HAART: Terapia antirretroviral altamente ativa (Highly Active Antiretroviral Therapy)
HDL: Lipoproteína de alta densidade (High-density Lipoprotein)
13
HIV: Vírus da Imunodeficiência Humana (Human Immunodeficiency Vírus)
HTLV:Vírus linfotrófico humano (Human T-Lymphotropic Vírus)
IDL: Lipoproteína de densidade intermediária (Intermediate Density Lipoprotein)
IL: Interleucina
IMC: Índice de massa corpórea
IP: Inibidor de protease
ITRN: Inibidor nucleosídeo da transcriptase reversa (Nucleoside Analogue Reverse Transcriptase
inhibitor)
ITRNN: Inibidor não-nucleosídeo da transcriptase reversa (Non- Nucleoside Reverse
Transcriptase inhibitor)
I-κB: Proteína inibitória κ-B (Inhibitor Protein κ-B)
LAV: Vírus associado a linfadenopatia (Limphadenopathy-Associated Vírus)
LCAT: Lecitina-Colesterol-Acil-Transferase (Lecithin Cholesterol Acyl Transferase)
LDE: Nanoemulsão rica em colesterol
LDL: Lipoproteína de baixa densidade (Low-density Lipoprotein)
LE: Lípase endotelial
LH: Lípase hepática
LLH: Lipoproteína-Lipase Hepática
LP: Lipoproteína
LTR: Repetições terminais longas (Long Terminal Repeats)
mRNA: RNA mensageiro
NASBA: Amplificação seqüencial de ácidos nucléicos (Nucleic Acid Sequence-based
Amplification)
NF-κB: Fator de trasncrição nuclear de células T ativadas (Nuclear Transcription Factor of
Activated T Cells)
OMS: Organização Mundial da Saúde
p17: Proteína 17
p24: Proteína 24
p50: Proteína 50
p65: Proteína 65
p7: Proteína 7
14
p9: Proteína 9
PCR: Reação em cadeia da polimerase (Polimerase Chain Reaction)
PL: Fosfolípide (Phospholipids)
PLTP: Proteína de transferência de fosfolipídios (Phospholipids Transfer Protein)
PON: Paraoxonase
QM: Quilomícron
rLDL: Receptor de LDL
RNA: Ácido ribonucléico
SIV: Simian Immunodeficiency Vírus
SOD: Superóxido dismutase
SR-BI: Receptores scavenger de classe B do tipo I (scavenger receptor class B type I)
TG: Triglicerídios
TNF-α: Fator de necrose tumoral α (Tumor Necrosis Factor Receptor- α)
TNF-β: Fator de necrose tumoral β (Tumor Necrosis Factor Receptor- β)
TRC: Transporte reverso do colesterol
VLDL: Lipoproteína de muito baixa densidade
15
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi descrita em 1981, nos Estados
Unidos, quando foram notificados ao Center for Disease Control and Prevention (CDC) os
primeiros casos de pneumonia por Pneumocystis carinii, atualmente denominado Pneumocystis
jirocecii e de Sarcoma de Kaposi em homossexuais masculinos previamente saudáveis de Nova
York e Los Angeles e que, também apresentavam infecções por outros microrganismos
oportunistas, entre eles a
Candida albicans (GOTTLIED et al., 1981; LEVY et al., 1985;
GOLDSBY, KINDT, OSBORNE, 2000).
Alguns meses depois novos casos de AIDS foram diagnosticados em usuários de drogas
injetáveis do sexo masculino e feminino, em hemofílicos e receptores de transfusões sangüíneas
contaminados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) (WYNGAARDEN & SMITH,
1990; FAUCI et al., 1998).
Em 1983, o rus da imunodeficiência humana, foi isolado a partir de um paciente com
AIDS e de um paciente com linfadenopatia persistente, pelos grupos de Gallo e colaboradores
(1984) e Montagnier e colaboradores (BARRÉ-SINOUSSI et al., 1983). Inicialmente, o vírus foi
denominado como Human T-Lymphotropic Vírus (HTLV) (GALLO et al., 1984) e como
Limphadenopathy-Associated Vírus (LAV) (BARRÉ-SINOUSSI et al., 1993). Em 1986, recebeu
a nomenclatura oficial Human Immunodeficiency Vírus (HIV) (COFFIN et al., 1986).
O HIV já foi isolado de quase todos os fluídos corporais como sangue, sêmen, urina,
secreção vaginal, leite materno, saliva e lágrima (PEAKMAN & VERGANI, 1999; CDC, 2006).
A transmissão do HIV pode ocorrer por intercurso sexual, compartilhamento de seringas
contaminadas, inoculação de sangue contaminado ou derivados, transplante de órgãos ou tecidos,
16
inseminação artificial, materno fetal, uso de objetos contaminados, procedimentos dentários,
tatuagem e acupuntura. A transmissão não ocorre por contato casual, ar, alimentos, água, contato
com objetos inanimados ou insetos (CDC, 2005).
O uso de drogas injetáveis e o contato sexual, onde o contato com esperma e sangue
contaminados, são as principais vias de transmissão (FRIEDLAND & KLEIN, 1987). Associado
às vias de transmissão do HIV, as co-infecções virais, como sífilis e herpes genital, aumentam a
predisposição à infecção pelo HIV, bem como a progressão para a doença (CDC, 2005).
A pandemia da infecção pelo HIV vem sendo acompanhada por uma gama crescente de
informações quanto à patogenia, tratamento, profilaxia das infecções oportunistas associadas ao
HIV e pesquisa para o desenvolvimento de vacinas (FAUCI et al., 1998).
1.2 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2006, a epidemia da AIDS vem
ressurgindo em alguns países onde os índices haviam se estabilizado ou declinado. Segundo a
UNAIDS e a OMS (2006), o número de pessoas vivendo com HIV continua crescendo, assim
como o número de mortes atribuídos a AIDS. Estima-se que 39,5 milhões de pessoas estão
vivendo com AIDS no mundo. Destes 37,2 são adultos, 17,7 são mulheres, 17,2 são homens e 2,3
são crianças menores de 15 anos de idade. Foram registrados 4,3 milhões de novos casos, 3,8
milhões em adultos, 530000 em crianças, 2,9 milhões de mortes, 2,6 milhões em adultos e
380000 crianças (UNAIDS/WHO, 2006).
No Brasil, estima-se que cerca de 593 mil pessoas vivam com HIV ou AIDS. Segundo a
OMS, o Brasil mantém sua posição entre os países com epidemia com prevalência de 0,61%
entre a população de 15 a 49 anos de idade, sendo 0,42% mulheres e 0,80% homens. Dos casos
notificados até Junho de 2006, 62,3% se concentravam na região Sudeste, 17,9% na região Sul,
11% no Nordeste, 5,6% no Centro-Oeste e 3,2% na região Norte. Do total de casos notificados
67,2% foram do sexo masculino e 32,8% do sexo feminino (Boletim Epidemiológico, 2006).
De 1980 a 2005, ocorreram 183.074 óbitos por AIDS no Brasil, sendo 68,9% na região
Sudeste, 15,1% no Sul, 9,2% no Nordeste, 4,4% no Centro-Oeste e 2,4% na região Norte
(Boletim Epidemiológico, 2006).
17
Santa Catarina é o quinto colocado no ranking nacional de AIDS, com uma taxa de
incidência de 18,4 casos/100 mil habitantes. Desde 1984 a 2005 foram registrados 16960 casos,
destes 16142 eram adultos e 818 crianças. A categoria de exposição em 2005 era 73,9%
heterossexual, 7,1% homossexual e 10,2% usuário de drogas injetáveis, com faixa etária entre 20
a 49 anos de idade (SANTA CATARINA, 2007). Os municípios com maior número de casos
registrados estão no litoral. A Capital com 2864 casos, Joinvile com 1817, Itajaí com 1772,
Blumenau com 1108, São José com 1003 e Balneário Comburiu aparece na sétima posição com
651 casos (Boletim Epidemiológico, 2006).
A epidemia da AIDS completou duas décadas no ano de 2000. Caracterizada por uma
contínua transformação e segue atingindo novos segmentos populacionais, de forma crescente e
em estratos sociais menos favorecidos, além, de estar chegando a cidades onde, até então, sua
presença não havia sido registrada (CASTILHO et al., 2000).
Tem-se observado um esforço global em combater a epidemia da AIDS nos últimos anos,
incluindo maior acesso a terapia medicamentosa e programas de prevenção (UNAIDS/WHO,
2006).
1.3 AGENTE ETIOLÓGICO
O agente etiológico da imunodeficiência humana é o HIV, um retrovírus humano não-
oncogênico pertencente à família dos lentivírus (VERONESI & FOCACCIA, 1996; KUMAR;
ABBAS; FAUSTO, 2005). Outros exemplos de lentivírus incluem Simian Immunodeficiency
Vírus (SIV), Visna Vírus e Equine Infectious Anemia Vírus (EIAV) (TURNER & SUMMERS,
1999).
Os lentivírus podem infectar e se replicarem em células que não estão em divisão, incluindo
monócitos/macrófagos, células dendríticas, células de langerhans, astrócitos, células do sistema
nervoso central e, principalmente, linfócitos T CD4 que são responsáveis pela defesa
imunológica (FIGDOR; KOOYK; ADEMA; 2002; HERBEIN et al., 2002; NIELSEN;
PEDERSEN; KJEMS, 2005).
Uma vez instalada, a infecção se propaga pelo sistema linfático chegando aos tecidos que
contêm células dendríticas que podem atuar como reservatórios, permanecendo assim o vírus
latente (NIELSEN; PEDERSEN; KJEMS, 2005).
18
Existem geneticamente duas formas distintas do HIV, porém relacionadas, denominadas
HIV-1 e HIV-2. O HIV-1 é o tipo mais comum associado à AIDS no Continente Americano,
Europa e África Central, enquanto o HIV-2 causa doença semelhante, principalmente na África
Ocidental e na Índia, parece ser menos patogênico que o HIV-1 e a progressão parece ser mais
lenta. Embora distintos, o HIV-1 e o HIV-2 compartilham alguns antígenos. Atualmente, o
sangue coletado para transfusão é submetido à triagem rotineira para soropositividade tanto do
HIV-1 quanto para o HIV-2 (WHITTLE et al., 1994; KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005).
1.4 ESTRUTURA DO HIV-1
Em 1984, três anos após os primeiros relatos da infecção pelo HIV, pesquisas
demonstraram que o agente viral causador da doença era o vírus da imunodeficiência humana
tipo 1 (HIV-1) (CDC, 1999).
Semelhante à maioria dos retrovírus, o HIV-1 é um vírus esférico de aproximadamente 120
nm e contém um cerne/núcleo eletrodenso, cilíndrico, envolto por um invólucro lipídico derivado
da membrana celular do hospedeiro (KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005). Nessa camada lipídica
observam-se projeções, que são as glicoproteínas gp120 (proteína externa do envelope) e gp 41
(proteína transmembrana), responsáveis pela ligação com os receptores CD4 da célula
hospedeira. O capsídio viral é circundado por uma matriz protéica, formada pelas proteínas p17 e
p24, o núcleocapsídio é formado pela proteína p7 e p9. No interior do capsídio viral encontra-se o
genoma viral, com duas fitas simples de RNA e as principais enzimas virais (integrase,
transcriptase reversa e protease) (figura 1) (BUKRINLKY et al., 1993; SERB & YEUNG, 1994).
19
O genoma de RNA do HIV-1 contém os genes gag, pol e env, que codificam as proteínas
estruturais do vírus e são comuns a todos os retrovírus (STEFFY & WONG-STAAL, 1991). O
gene gag codifica as proteínas que formam o núcleo do vírus (incluindo o antígeno p24), o pol
codifica as enzimas responsáveis pela transcrição reversa e integração e o env codifica as
glicoproteínas do envoltório (gp120 e gp41) (FAUCI et al., 1998). O HIV-1, apresenta ainda,
outros genes (tat, rev, nef, vif, vpr e vpu), que codificam as proteínas envolvidas na regulação da
expressão gênica. Juntos a estes genes existem seqüências nucleotídicas denominadas repetições
terminais longas (LTR), que desempenham importante função na ativação do processo de
transcrição do genoma viral (figura 2) (TRONO, 1995; FAUCI et al., 1998).
FIGUR
A
1
: Estrutura da partícula viral do HIV-1 e eletromicrografia.
Fonte: BARRÉ-SINOUSSI, 1996.
FIGURA
: Representação da estrutura do genoma das partículas virais do HIV-1.
Fonte: Disponível em: http://www.aids.harvard.edu/research/discoveries.html. Acesso em: 11
de Jun. 2006.
20
Em 1986, um segundo tipo de HIV foi isolado de pacientes na África Ocidental com sinais
e sintomas semelhantes aos da AIDS. Tal vírus ao ser isolado, foi clonado molecularmente e
caracterizado, mostrando constituir-se de uma segunda classe de vírus da imunodeficiência
humana, denominado HIV-2. O HIV-2 guarda uma correlação de 40 a 50% com o HIV-1 em
termos de homologia completa da seqüência de nucleotídios. Existem duas diferenças principais
na organização genômica do HIV-1 e HIV-2. O gene vpu do HIV-1 não é encontrado no HIV-2, e
este contém um gene adicional, vpx, em uma região central que não existe no HIV-1, e pode
apresentar uma função similar relacionada ao transporte nuclear. Da mesma forma que o HIV-1,
o HIV-2 infecta seletivamente as células CD4, e as evidências sugerem que o HIV-2 seja menos
virulento que o HIV-1 e provocaria a doença mais lentamente (CDC, 1998; SANDE &
VOLBERDING, 1999; GOLDMAN & BENNETT, 2001).
1.5 CICLO DE VIDA DO HIV
O ciclo de vida do HIV (figura 3) é importante para compreender o mecanismo da infecção
e conhecer pontos estratégicos para intervenções terapêuticas contra o HIV. Uma vez o HIV no
interior do corpo humano, a glicoproteína gp160, expressa pelo vírus, permite a ligação do HIV
com receptores CD4, proteínas presentes na superfície celular de linfócitos T-helper (Th),
monócitos, macrófagos, células dendríticas e outras (DALGLEISH et al., 1984). A glicoproteína
gp160 consiste em duas subunidades, gp120 e gp41. A subunidade gp120 tem alta afinidade com
o receptor CD4, uma proteína que atua na coordenação celular e humoral da resposta imune
contra antígenos exógenos, e é responsável por iniciar a ligação do vírus com a célula CD4
(DALGLEISH et al., 1984; McCUNE, 2001).
Muitas partículas virais infectam primeiramente os linfócitos Th (linfócitos T CD4), as
partículas que não infectam monócitos ou macrófagos são chamadas T-trópicas e aquelas que
infectam monócitos ou macrófagos são chamadas M-trópicas (COCCHI et al., 1995). A região
V3 loop da gp120 parece ser a responsável por este tropismo. Uma vez iniciada a ligação, ocorre
uma associação íntima do HIV e a célula hospedeira. Somente a ligação com as células CD4 não
é suficiente, a gp120 do HIV deve também ligar-se com outras moléculas de superfície celular
(co-receptores) para ocorrer a infecção. Dois receptores de quimiocinas exercem esta função,
CCR5 e CXCR4 (FENG et al., 1996; DORANZ et al., 1996). Essa ligação provoca uma mudança
21
conformacional que resulta na formação de um novo sítio de reconhecimento na gp120 para os
co-receptores CCR5 ou CXCR4. Em seguida, ocorrem alterações conformacionais na gp41 que
resultam na fusão do vírus com a célula hospedeira (LA BRANCHE et al., 2001). Essa fusão
permite a entrada do núcleo viral na célula alvo contendo proteínas, enzimas e o RNA genômico
viral no citoplasma da célula (GOODENOW et al., 1989; COFFIN, 1995).
Uma vez no citoplasma, o RNA viral é transcrito para DNA através da enzima viral
transcriptase reversa (WEISS, 2001). A transcriptase reversa sintetiza uma seqüência
complementar do DNA usando o RNA viral como modelo. A porção RNA deste DNA híbrido é
parcialmente removida pela ribonuclease H, permitindo a síntese completa da dupla fita de DNA
pela transcriptase reversa. A fidelidade da transcriptase reversa durante a transcrição do RNA não
é eficiente e muitos erros são cometidos durante este processo (PRESTON et al., 1988). Esses
erros no produto final de DNA contribuem para a rápida mutação do vírus. Após a transcrição
reversa do RNA, o DNA sintetizado migra para o cleo e integra-se aos cromossomas das
células hospedeiras através da integrase, outra enzima exclusiva do HIV (MICHIE et al., 1992).
FIGURA
: Representação esquemática do ciclo da replicação viral do HIV-1.
Fonte: Adapatado de WEISS, 2001.
22
A integração do pró-vírus é um processo que desencadeia alterações na célula como: o HIV
pode estabelecer uma infecção crônica e persistente, principalmente nas células de memória, os
linfócitos T (MICHIE et al., 1992). A integração é aleatória, o que dificulta estabelecer um alvo
de ataque e extrair a seqüência viral integrada. Essa integração aleatória pode causar
anormalidades celulares, levando ao desenvolvimento de câncer (CHOWERS et al., 1994).
A ativação celular por antígenos, citocinas ou outros fatores induzem a célula a produzir
fator nuclear κB (NF-κB). Normalmente, NF-κB regula a expressão de genes envolvidos no
crescimento de linfócitos T, mas também podem ativar a replicação do HIV-1 (CHOWERS et al.,
1994).
A transcrição dos genes a partir do provírus (DNA do HIV integrado) é regulada pelas
LTRs dos genes da estrutura viral e essas possuem seqüências específicas que constituem sítios
de ligação para fatores de transcrição de células do hospedeiro, um desses fatores é o complexo
NF-κB (p50/p65) que liga-se predominantemente a essas regiões (WU & MARSH, 2003)
O ciclo da replicação viral é estimulado pela ação de algumas citocinas como TNF-α, TNF-
β, IL-1, IL-2, IL-6 e espécies reativas de oxigênio (EROs) que ativam o fator de transcrição
nuclear NF-κB. O NF-κB encontra-se no citoplasma e sua ativação ocorre através da fosforilação
e proteólise do I-κB, sua porção inibitória, e subseqüente translocação para o núcleo, onde se liga
às LTRs do HIV-1(HENKEL et al., 1993; BOSSIS et al., 2002).
Inicialmente, são sintetizados transcritos de RNA viral que codificam as proteínas
regulatórias Tat, Rev e Nef (TURNER & SUMMERS, 1999). A proteína viral Tat é um potente
regulador de transcrição, atua como um fator de elongação que permite a transcrição do RNA
viral (MARCELLO; ZOPPÉ; GIACCA, 2001). A proteína viral Nef está envolvida na regulação
de fatores de transcrição celulares, promovendo a replicação do HIV de maneira indireta, sendo
que a ativação dessas células é necessária para que ocorra a replicação viral (LAHTI;
MANNINEN; SAKSELA, 2003).
No núcleo da célula hospedeira, a proteína acessória Rev se liga a uma seqüência específica
do RNA e também a uma proteína de transporte núcleo-citoplasma do hospedeiro (Crm1),
ativando a via de transporte das seqüências de RNA mensageiro (mRNA), o qual é responsável
pelo transporte da informação genética do núcleo para o citoplasma, onde ocorre a síntese das
proteínas do HIV (TURNER & SUMMERS, 1999). Nesta etapa, a enzima protease cliva as
23
proteínas imaturas do HIV-1 em proteínas virais funcionais e novos vírus brotam da célula
infectada (Figura 3) (McCUNE, 2001).
O HIV-1 apresenta um alto índice de replicação, com cerca de 10 bilhões de novos vírus a
cada dia, atingindo níveis suficientemente elevados para causar a morte celular (HO et al., 1995;
McCUNE, 2001). A maior parte das células infectadas podem ser destruídas por: a) lise celular
pelo brotamento de novos vírus; b) acúmulo de DNA viral não integrado; c) interferência na
síntese de proteína; d) formação sincício ou e) apoptose. (PANTALEO; GRAZIOSI; FAUCI,
1993).
A infecção pelo HIV acarreta anormalidades na função dos linfócitos T CD4, linfócitos B,
monócitos, macrófagos, secreção de imunoglobulinas, fenômenos autoimunes e outras
manifestações (LANE et al., 1983; SMITH et al., 1984; PANTALEO; GRAZIOSI; FAUCI,
1993).
1.6 EVOLUÇÃO CLÍNICA DA INFECÇÃO PELO HIV-1
Os eventos associados à infecção primária pelo HIV-1 são fundamentais para determinar a
evolução subseqüente da doença causada pelo HIV. O vírus que entra diretamente na corrente
sangüínea, pelo sangue, ou hemoderivados contaminados, é levado para o baço e outros órgãos
linfóides, onde se replica até um nível crítico e a seguir produz um surto de viremia que
dissemina o vírus para todo o organismo. Os linfócitos T CD4+ e as células da linhagem
monocítica são os principais alvos da infecção. Algumas hipótese sugerem que as células
dendríticas sejam transportadoras e apresentadoras eficientes do HIV aos linfócitos T CD4+ e
isto é compatível com sua função como apresentadoras eficientes de antígenos durante o
processamento da resposta imune normal a um antígeno (FAUCI et al., 1998).
Aproximadamente, 50% dos casos de infecção primária pelo HIV são assintomáticos e 50%
dos pacientes desenvolvem sintomas semelhantes aos da gripe durante as primeiras quatro
semanas após a infecção. Durante a infecção primária, o número de partículas virais está
extremamente elevada no sangue periférico, aproximadamente 5 milhões de cópias RNA/mL de
RNA e o número de linfócitos T CD4+ decresce significativamente (PIATAK et al., 1993,
GANDHI & WALKER, 2002). Em seguida, ocorre uma resposta imune celular específica e
subseqüente à síntese de anticorpos contra o HIV, levando ao declínio da carga viral no plasma e
24
cronificação da infecção. No entanto, o estágio assintomático da infecção é acompanhado por
uma replicação viral persistente nos linfonodos e rápida renovação de vírus no plasma e linfócitos
T CD4+, o que é chamado de latência clínica (PANTALEO et al., 1993; HO et al., 1995; WEI et
al., 2003). Durante o curso da latência clínica, o número de linfóctos T CD4+ decresce
progressivamente em conseqüência do comprometimento do sistema imune do paciente que não é
mais capaz de controlar os patógenos oportunistas (SIERRA; KUPFER; KAISER, 2005).
Apesar das respostas imunes celular e humoral vigorosamente desencadeadas após a
infecção primária, com poucas exceções, o vírus não é totalmente eliminado do organismo. Pelo
contrário, desenvolve-se uma fase crônica que persiste com graus variáveis de replicação virótica,
que se estende em média por 10 anos, antes que o paciente desenvolva doença grave, sendo que a
característica fundamental da doença causada pelo HIV é a infecção crônica (figura 4) (FAUCI et
al., 1998).
No estágio de AIDS, período avançado da infecção pelo HIV, geralmente, a contagem de
células T CD4 está abaixo de 200 células/mm
3
, e como conseqüência a replicação viral encontra-
se elevada, fato este que, causa desequilíbrio imunológico e resulta no aparecimento de
manifestações clínicas (ROSOK et al., 1996; HAASE, 1999).
FIGURA
4
: Perfil do número de linfócitos T CD4+ e dos níveis plasmáticos de RNA do HIV
durante a infecção pelo HIV.
Fonte:
Adaptado de GOUGEON, 2003.
25
1.7 TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
Com a descoberta da relação entre altos níveis de carga viral plasmática e a progressão da
doença causada pelo HIV, tem-se desenvolvido terapias antirretrovirais para reduzir a viremia
plasmática. Praticamente todos os passos do ciclo de vida do vírus podem ser alvos para a terapia
antirretroviral (SIERRA; KUPFER; KAISER, 2005).
Os componentes fundamentais do tratamento clínico da infecção pelo HIV são os agentes
antirretrovirais. A supressão da replicação do HIV é um elemento importante para prolongar a
vida, bem como melhorar a qualidade de vida dos pacientes HIV soropositivos (FAUCI et al.,
1998).
Existem quatro classes de antirretrovirais disponíveis para o uso clínico, inibidores da
transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRN), inibidores de transcriptase reversa não
nuclosídeos (ITRNN), os quais têm o objetivo de bloquear a transcrição do RNA viral, inibidores
da protease (IP) com o objetivo de bloquear a clivagem das proteínas do HIV que garantem sua
infectividade e recentemente, uma quarta classe de medicamentos antirretrovirais que se ligam às
proteínas do envelope do HIV envolvidas na fusão do vírus às suas células alvo, tem sido
utilizada como coadjuvantes na terapia antirretroviral, os inibidores de fusão (CHAIX et al.,
2000; LALEZARI et al., 2003).
Atualmente, vem sendo utilizada uma estratégia terapêutica chamada de terapia
antirretroviral de alto impacto (Highly Active Antiretroviral Therapy HAART), a qual envolve
o uso de agentes de no mínimo duas classes distintas de antirretrovirais (HAMMER et al., 2006).
A maioria dos indivíduos infectados pelo HIV, submetidos a HAART, demonstrou aumento na
contagem de células T CD4 e redução da viremia plasmática. Essa terapia pode ser mantida por
anos, no entanto, ela pode ser limitante, tendo em vista o desenvolvimento de resistência viral,
graves efeitos adversos, interações farmacológicas ou escolha personalizada para cada paciente
(SIERRA; KUPFER; KAISER, 2005).
Segundo o Ministério da Saúde (2006), o início da terapia é recomendado para pacientes
com manifestações clínicas associadas ao HIV independente da contagem de linfócitos T CD4 e
da carga viral plasmática, e para aqueles com contagem de linfócitos T CD4 abaixo de 200
células/mm
3
, independente da presença de sintomas ou da magnitude da carga viral. Além de
terapia antirretroviral, a quimioprofilaxia para as infecções oportunistas deve ser adotada sempre
26
que a contagem de linfócitos T CD4 estiver próxima ou inferior a 200 células/mm
3
ou quando
houver condição clínica sugestiva da imunodeficiência associada ao HIV (Ministério da Saúde,
2006).
A terapia antirretroviral não é capaz de eliminar a infecção, mas pode controlar a
replicação viral, restaurar a imunidade e protelar a progressão da doença, proporcionando aos
pacientes melhores condições e prolongando a vida dos mesmos (SLEASMAN & GOODENOW,
2003).
1.8 DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV-1
O diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV-1 em adultos e adolescentes obedece
alguns critérios estabelecidos pelo Centers for Disease Control (CDC) (1999), como segue:
- Resultados positivos em dois testes sorológicos tipo ELISA com princípios metodológicos
distintos seguidos de resultado positivo em teste sorológico de caráter confirmatório, tipo
imunofluorescência indireta ou Western Blot, ou;
- Resultado positivo ou qualquer quantidade detectável em um dos seguintes testes virológicos:
. Detecção de ácido nucléico do HIV-1, DNA ou RNA, por metodologias baseadas em
PCR;
. Teste para antígeno p24;
. Isolamento do HIV-1 por cultura viral (CDC, 1999).
Estes critérios para diagnóstico foram usados no Brasil até recentemente, quando o
Ministério da Saúde em 2003, estabeleceu novos critérios para o diagnóstico da infecção pelo
HIV em indivíduos acima de dois anos de idade e estão agrupados em 3 etapas:
Etapa I – Triagem Sorológica:
- Realização de um teste de imunoensaio de qualquer amostra de soro ou plasma, no entanto, este
imunoensaio não poderá ser de avaliação rápida (teste rápido) e deverá ser capaz de detectar
anticorpos anti-HIV-1 e anti-HIV-2;
- As amostras não reagentes terão seu resultado definido como “Amostra Negativa para HIV”;
- As amostras reagentes ou inconclusivas devem ser submetidas ao segundo imunoensaio em
paralelo ao teste de Imunofluorescência Indireta (IFI) para HIV-1 ou ao teste de Imunoblot para
27
HIV. O segundo imunoensaio deverá ter princípio metodológico e/ou antígenos distintos do
primeiro imunoensaio utilizado. O teste de Western Blot pode ser realizado diretamente
substituindo a IFI.
Etapa II – Segundo Ensaio Confirmatório:
- Confirmação sorológica pela realização de um segundo imunoensaio em paralelo ao teste de
Imunofluorescência Indireta para o HIV-1 (IFI/HIV-1) ou ao teste de Imunoblot para HIV.
Etapa III – Confirmação por Método Blot:
- Confirmação sorológica pela realização do teste de Western Blot para HIV-1 (WB/HIV-1)
(Ministério da Saúde, 2003).
O CDC revisou este sistema de classificação para adolescentes e adultos infectados pelo
HIV e estabeleceu categorias levando em consideração as condições clínicas associadas com a
infecção causada pelo HIV e a contagem de linfócitos T CD4+. O sistema é baseado em três
ordens de contagens de linfócitos T CD4+ e três categorias clínicas, representado por uma matriz
constituída de nove categorias (Tabela 1) (CDC, 1992).
Contagem de linfócito CD4
Categorias Clínicas
A B C
≥ 500 células/µL A1 B1 C1
200 – 499 células/µL A2 B2 C2
< 200 células/µL A3 B3 C3
- Categoria Clínica A: Nesta categoria são enquadrados todos os pacientes soropositivos para o
HIV-1 e que atendam uma ou mais das seguintes condições:
. infecção assintomática;
. linfoadenopatia generalizada persistente;
. infecção sintomática aguda (síndrome retroviral).
TABELA I
-
Classificação da infecção pelo HIV, proposta pelo CDC e utilizada a partir de
28
- Categoria Clínica B: Nesta categoria são enquadrados todos os pacientes sintomáticos que
apresentam uma ou mais das seguintes condições:
. candidíase orofaríngea persistente;
. sintomas constitucionais como febre (> 38.5ºC) ou diarréia, por mais de 1 mês;
. púrpura trombocitopênica idiopática;
. listeriose;
. neuropatia periférica.
- Categoria Clínica C: Os pacientes uma vez classificados nesta categoria assim se manterão. As
principais condições clínicas são:
. candidíase traqueal, bronquial ou pulmonar;
. câncer cervical invasivo;
. coccidioidomicose disseminada ou extra-pulmonar;
. criptococcose extra-pulmonar;
. criptosporidiose e/ou isosporidiose intestinal crônica;
. encefalopatia relacionada ao HIV-1;
. sarcoma de Kaposi;
. tuberculose pulmonar ou extra-pulmonar;
. septicemia recorrente por Salmonella.
O diagnóstico de AIDS é definido para todos os pacientes da Categoria Clínica C, assim
como os que são enquadrados no subtipo 3 (CD4+ < 200 células/µL) (CDC, 1992).
1.9 ANORMALIDADES METABÓLICAS E HIV
A infecção, inflamação e traumas induzem mudanças nos veis plasmáticos de diversas
proteínas (resposta de fase aguda) e essas mudanças são mediadas por citocinas (FEINGOLD;
HARDARDOTTIR; GRUNFELD, 1998). Portanto, essa resposta de fase aguda alterada por
citocinas pode contribuir na defesa imunológica, pois ocorre aumento na proliferação de
leucócitos, na síntese de outras citocinas, imunoglobulinas, proteínas de fase aguda, destruição
dos agentes infecciosos pela modulação das funções dos linfócitos T e do sistema complemento,
29
reparação de tecidos danificados, proteção de tecidos saudáveis e alteração indireta do substrato
do metabolismo via indução na produção de citocinas (JAHOOR et al., 1999).
A resposta da célula hospedeira a alguma injúria, também resulta em alterações no
metabolismo lipídico e em níveis de lipoproteínas circulantes, que também são mediadas por
citocinas. As citocinas (fator de necrose tumoral, interleucinas e interferons), aumentam os níveis
séricos de triglicerídeos por aumentarem a produção de lipoproteínas de muito baixa densidade
(VLDL) pelo gado. Além disso, elas podem diminuir a atividade da lipoproteína lipase, o que
leva a diminuição da depuração dos triglicerídeos (GRUNFELD & FEINGOLD, 1996;
FEINGOLD; HARDARDOTTIR; GRUNFELD, 1998). Essas mudanças no metabolismo lipídico
podem ser entendidas como uma forma de defesa do organismo hospedeiro, pois: as lipoproteínas
competem com o agente infeccioso pelos receptores celulares; as apolipoproteínas tentam
neutralizar estes agentes; e as lipoproteínas podem se ligar aos agentes nocivos na tentativa de
neutralizarem seus efeitos prejudiciais (FEINGOLD & GRUNFELD, 1992; FEINGOLD;
HARDARDOTTIR; GRUNFELD, 1998).
A infecção causada pelo HIV induz uma resposta de fase aguda e é marcada por mudanças
nas concentrações plasmáticas de proteínas e lipídios, pois há um decréscimo de colesterol,
aumento de triglicerídeos e redução de HDL. Essas alterações podem estar associadas à resposta
do hospedeiro e se tornam cada vez mais evidentes à medida que a contagem de linfócitos T CD4
diminuem, os quais refletem a gravidade e a progressão da doença. Alguns pacientes que fazem
uso de inibidores de protease podem desenvolver lipodistrofia com obesidade central, resistência
à insulina, intolerância à glicose e às vezes diabetes (DUCOBU & PAYEN, 2000).
Com os avanços no emprego da terapia antirretroviral, principalmente com o uso da terapia
altamente ativa para pacientes com a doença da síndrome da imunodeficiência humana, os
pacientes estão vivendo mais tempo e as doenças cardiovasculares têm se tornado mais
freqüentes nessa população. Estas alterações no metabolismo lipídico, caracterizadas pela
lipodistrofia e dislipidemia, podem contribuir para o desenvolvimento de aterosclerose
(KRISHNASWAMY et al., 2000).
30
1.10 METABOLISMO DOS LIPÍDEOS
As enfermidades do coração, sobretudo àquelas denominadas de enfermidades cardíacas
degenerativas, estão associadas à elevação dos níveis plasmáticos de lipídeos e, em geral, não têm
cura. São graves e incapacitantes na sua fase final, levando a diminuição da qualidade e do tempo
de vida (NEVES, 1997; NISHINO et al., 2000). O principal processo anatomopatológico que
conduz a doenças cardiovasculares é a aterosclerose, condição que evolve lesão arterial, a qual
pode provocar cardiopatia isquêmica, infarto do miocárdio e acidentes vasculares (LEESON et
al., 2000). Para entender o papel da hiperlipidemia nas doenças cardiovasculares, faz-se
necessário dar visibilidade aos pressupostos teóricos envolvidos no metabolismo do colesterol e
das lipoproteínas.
Os lipídeos formam um grupo de compostos que são muito importantes para a manutenção
da vida. O conjunto dos lipídeos é bastante heterogêneo, sendo de importância para os seres
humanos os ácidos graxos, os triglicerídeos, os fosfolipídios e o colesterol. O colesterol está
presente nas lipoproteínas plasmáticas e em todas as células de eucariontes, desempenhando
papel indispensável na regulação da permeabilidade da membrana plasmática das células
(SIMONS & IKONEN, 2000).
O colesterol pode ser sintetizado por todas as células do organismo humano a partir da
acetil-coenzima A (acetil-CoA) no retículo endoplasmático ou ser captado pelas células através
das lipoproteínas. Os níveis plasmáticos de colesterol são regulados através de um mecanismo
que evolve sua esterificação, controlando a transcrição gênica envolvida na sua síntese e na
expressão de receptores celulares para lipoproteínas. Assim, a enzima colesterol acil transferase
(ACAT) catalisa a conversão de colesterol em éster de colesterol no interior celular, processo
necessário para o armazenamento do colesterol e para proteção da própria célula, já que o
colesterol é tóxico (BUHMAN; ACCAD; FARESE Jr., 2000).
Os lipídeos são compostos insolúveis no meio aquoso e para o seu transporte pelo
organismo precisam estar complexados com moléculas hidrofílicas, como as lipoproteínas, que
são agregados moleculares constituídos de componentes altamente hidrofóbicos em seu interior,
como: ésteres de colesterol, triglicerídeos, além de vitaminas lipossolúveis; e moléculas
periféricas menos hidrofóbicas que as anteriores, como: fosfolipídeos e colesterol não
31
esterificado, além de proteínas (Apolipoproteínas ou Apoproteínas – Apo-LP) (SIMONS &
IKONEN, 2000; SANTOS et al., 2001).
As LP são definidas como a unidade funcional de transporte de lipídeos no plasma e têm a
função de suprir os tecidos com lipídeos provenientes da dieta ou sintetizados pelo organismo. As
Apo-LP contribuem para a regulação do metabolismo das lipoproteínas através da modulação da
atividade de enzimas, direcionando as lipoproteínas aos locais de catabolismo e interagindo com
receptores específicos e de alta afinidade (SANTOS et al., 2001).
As lipoproteínas diferem entre si, quanto à composição, ao tamanho e à mobilidade
eletroforética, porém, a densidade é a propriedade física na qual se baseia a atual classificação e o
método de ultracentrifugação preparativa é empregado para isolar seis principais classes de
lipoproteínas: quilomícrons (QM), lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL Very Low
Density Lipoprotein), lipoproteína de densidade intermediária (IDL Intermediate Density
Lipoprotein), lipoproteína de baixa densidade (LDL Low Density Lipoprotein) e lipoproteína
de alta densidade (HDL – High Density Lipoprotein) tipos 2 e 3 (SANTOS et al., 2001).
O metabolismo das lipoproteínas pode ser dividido para fins de estudo em três sistemas
principais: I transporte de lipídeos de origem dietética (transporte exógeno); II transporte de
lipídeos de origem hepática (transporte endógeno) e III – transporte reverso de colesterol.
1.10.1 TRANSPORTE DE LIPÍDEOS DE ORIGEM EXÓGENA
Inicia-se no intestino com a digestão de triglicerídeos (resultando na produção e absorção
de ácidos graxos e glicerol) e a absorção direta de colesterol (LU; LEE; PATEL, 2001). Os
triglicerídeos e o colesterol da dieta são incorporados aos quilomícrons nas células epiteliais
intestinais. Os quilomícrons alcançam os capilares periféricos, via vasos linfáticos intestinais,
para serem hidrolisados pela lipase lipoproteína endotelial, liberando ácidos graxos no tecido
adiposo e músculo. Os resquícios dos quilomícrons remanescentes, ricos em colesterol, são
captados pelo fígado por intermédio de receptores que atuam como mediadores da endocitose
(apo E e apo B-100), enquanto os ésteres de colesterol e os trigliceróis são metabolizados. Assim,
os quilomícrons transportam o colesterol exógeno para o fígado e os triglicerídeos para o tecido
adiposo. Após captação dos quilomícrons remanescentes, pelos hepatócitos, segue-se o
catabolismo intracelular das lipoproteínas plasmáticas com liberação de ácidos graxos, glicerol,
32
aminoácidos e hidrólise de éster de colesterol. O colesterol pode ser reesterificado para
armazenamento, utilizado na regulação da síntese do colesterol no hepatócito, excretado na forma
de colesterol livre ou ser metabolizado em ácidos biliares, sendo que estas duas últimas formas
podem ser reabsorvidas em porções distintas do intestino (GREEVENBROEK & BRUIN, 1998;
ST-PIERRE et al., 2001).
1.10.2 TRANSPORTE DE LIPÍDEOS DE ORIGEM ENDÓGENA
Na via endógena, a VLDL contendo triglicerídeos e três apoproteínas (E, C e B100), é
secretada pelo fígado e transportada para o tecido adiposo e músculo, onde ocorre uma seqüência
de eventos que transforma a VLDL, via formação da IDL, em LDL. O núcleo da IDL é composto
quase que exclusivamente de éster de colesterol e a camada externa de apenas uma apoproteína, a
B100 (LISCUM & MUNN, 1999). Dois terços da LDL resultantes são metabolizados pelas
células hepáticas e outras células em tecidos extra-hepáticos (células adrenais, fibroblastos,
células musculares lisas, células linfóides, células endoteliais) através de receptores da LDL. Essa
via constitui o meio pelo qual as células não-hepáticas controlam o colesterol necessário para a
síntese das membranas (GREEVENBROEK & BRUIN, 1998). Na presença de baixas
concentrações de LDL extracelulares, são elaborados mais receptores e vice-versa. O receptor da
LDL liga-se à apoproteína B e E. O terço restante da LDL é degradado por mecanismo
independente do receptor de LDL, como as células do sistema fagocitário mononuclear,
endocitose líquida e adsortiva não mediada por receptores em diversas células. O colesterol, não
esterificado, oriundo da renovação normal das membranas celulares, é transportado pela HDL
para o plasma. Através da ação da enzima plasmática lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT),
o colesterol da HDL é transferido a IDL e, eventualmente, a LDL (LISCUM & MUNN, 1999).
1.10.3 TRANSPORTE REVERSO DE COLESTEROL
O transporte reverso do colesterol (TRC) é o processo pelo qual o colesterol é transportado
dos tecidos extra-hepáticos para o fígado e intestino para ser excretado. O TRC também regula a
formação, a conversão, a transformação e a degradação da HDL. A HDL é a principal classe de
lipoproteína envolvida no mecanismo do TRC, por essa razão ela tem um papel importante na
33
prevenção da formação das placas ateroscleróticas (OHASHI et al., 2005). Além de estar
envolvida no TRC e na proteção da função endotelial, a HDL também possui a capacidade
antioxidante, antiinflamatória e antitrombótica (BARTER et al., 2003).
O fígado é o principal local de formação da HDL, onde secreta apoproteína A-1 e esta
associa-se a fosfolipídios e forma a HDL nascente (pré β-HDL) no plasma. Esta forma de HDL
remove o colesterol livre e fosfolípides de tecidos periféricos (VON ECKARDSTEIN et al.,
2001), isso ocorre via transportador adenosine triphosphate (ATP)-binding cassette A1 (ABCA1)
que transfere colesterol livre e fosfolípide. Após esse efluxo, a HDL nascente transforma-se em
partículas esféricas, remodeladas por ação da enzima LCAT (lecithin-cholesterol
acyltransferase), no plasma. A LCAT é uma enzima interfacial que participa da captação e
transferência de colesterol livre da membrana celular extra-hepática, quilomícrons e VLDL para
as partículas de HDL pequenas. A formação e o acúmulo de éster de colesterol no núcleo da HDL
não somente remove colesterol de sua superfície promovendo um fluxo de colesterol para o seu
interior, como também gera mudanças morfológicas na partícula, que aumenta de tamanho e
torna-se esférica (STEIN & STEIN, 1999; SANTOS et al., 2001).
A enzima LCAT é secretada pelos hepatócitos e liberada no plasma em associação
reversível com lipoproteínas. No sangue, a LCAT encontra-se preferencialmente ligada a HDL, é
ativada por seu maior componente protéico, a Apo A-I, catalisando a reação de trans-esterificação
que converte colesterol livre em éster de colesterol (JONAS, 2000).
Como o aumento do conteúdo de éster de colesterol, a HDL recebe a denominação de HDL
2
que transfere éster de colesterol para outras lipoproteínas (quilomícrons, IDL, LDL e
principalmente VLDL) em troca de triglicerídeos promovendo aumento da captação dessas pelo
fígado, essa transferência é mediada pela proteína de transferência de éster de colesterol (CETP
cholesterol ester transfer protein) (RADER, 1999). A CETP é sintetizada pelo fígado, baço,
intestino grosso, tecido adiposo, glândulas adrenais, rins, coração e musculatura esquelética,
podendo ser secretada por vários tipos celulares, incluindo macrófagos, linfócitos B, adipócitos e
hepatócitos (YAMASHITA et al., 2000).
A IDL e a LDL o catabolisadas via receptor hepático de LDL. Além disso, metade do
colesterol esterificado da HDL é levado seletivamente para o fígado via receptores específicos
denominados scavenger receptor class B type I (SR-BI). A HDL
2
enriquecida com triglicerídeos
é convertida em HDL
3
após hidrólise e remoção de triglicerídeos por ação da lípase lipoprotéica
34
de origem hepática (LLH) localizada no endotélio dos capilares hepáticos (YAMASHITA et al.,
2000).
A HDL liga-se aos receptores SR-BI com alta afinidade, liberando seletivamente apenas
éster de colesterol, através de um mecanismo distinto do caminho clássico dos receptores da
LDL, via endocitose (MINGPENG & ZONGLI, 1999). A HDL
3
originada pode retornar aos
tecidos extra-hepáticos, reiniciando o ciclo de captação do colesterol (HUI et al., 1981).
Outro mecanismo pelo qual a HDL recebe colesterol livre e fosfolípide de LDL, hidrólise
mediada pela lipoproteína lipase (LPL), um processo facilitado pela phospholipids transfer
protein (PLTP). A PLTP é uma glicoproteína plasmática parcialmente associada a HDL e tem a
função de mediar a transferência de fosfolípides da LDL para HDL. Portanto, a ligação entre
HDL e LDL é caracterizada pela troca de colesterol éster, fosfolípide e triglicérides mediada pela
CETP e PLTP (WANG & BRIGGS, 2004).
A apoA-1 resultante da degradação é recebida para nova formação de HDL e a
degradação
da HDL envolve a lipase hepática (LH) que hidrolisa os triglicérides nas partículas de HDL.
Outra lipase localizada na superfície endotelial é a lipase endotelial (LE), capaz de regular os
níveis e a função da HDL, por hidrolisar fosfolípides sobre a HDL (WANG & BRIGGS, 2004).
Uma vez no fígado, o colesterol proveniente dos tecidos pode participar de outras vias
metabólicas como re-empacotamento em lipoproteínas e posteriormente secretado para o plasma
ou ser excretado para a bile através dos ácidos biliares (principal via de eliminação) (SANTOS et
al., 2001).
As trocas lipídicas entre as lipoproteínas são importantes para remover o excesso de
colesterol da periferia para a disposição metabólica ou no processo de reciclagem para a
composição, tamanho e veis de HDL, regenerando a função da mesma no TRC (WANG &
BRIGGS, 2004).
Além de sua importante função no transporte reverso do colesterol, as partículas de HDL
também possuem outras propriedades como: efeito antiinflamatório, antitrombótico e
antioxidante (BARTER et al., 2003; CHOI et al., 2006). Esta última se deve pela capacidade da
HDL em inibir a oxidação das partículas de LDL por conter enzimas antioxidantes, entre elas a
paraoxonase, a qual está associada à HDL (CHOI et al., 2006).
35
1.11 PARAOXONASE
Algumas hipóteses sugerem que infecções, inflamação e as altas concentrações de
colesterol podem ser a causa central no desenvolvimento da aterosclerose. Uma dessas hipóteses
é a modificação de lipoproteínas, principalmente a LDL, principal carreadora de colesterol para o
interior da parede das artérias. Essa modificação pode se dar através do processo de oxidação por
agentes, tais como ânions superóxido, óxido nítrico e peróxido de hidrogênio, transformando-se
em LDL oxidada (oxi-LDL) (STEINER, 2000; KÁDAR & GLASZ, 2001).
As oxi-LDLs depositam-se na camada íntima arterial, sendo capazes de provocar
citotoxicidade no endotélio vascular e se acumulam na parede do vaso. Posteriormente, os
monócitos aderem ao local, migram para a camada íntima e se transformam em macrófagos e
estes fagocitam as partículas de LDL oxidadas, originando o acúmulo de vesículas citosólicas
(contendo éster de colesterol) no seu interior formando as foam cells que se acumulam na
camada íntima, liberam agentes quimiotáticos capazes de aumentar o recrutamento das LDLs
plasmáticas e fatores de crescimento, que levam a migração e proliferação das células musculares
lisas, formando a placa ateromatosa (BUHMANN et al., 2000; FILHO, 2000).
Os efeitos biológicos oxidativos dos radicais livres, espécies reativas de oxigênio (EROs),
sobre os lipídeos, proteínas e DNA são controlados pela ação de alguns antioxidantes. Os
antioxidantes podem inibir a aterogênese e preservar a função vascular por diferentes
mecanismos. Existe um sistema enzimático capaz de neutralizar os produtos das EROs, como
superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx), glutationa redutase
(GR) e a glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD). Dentre estes sistemas enzimáticos
antioxidantes encontra-se também a paraoxonase (PON1) (SERDAR et al., 2006).
A PON1 é uma glicoproteína de 355 aminoácidos, a qual é sintetizada no fígado e liberada
no sangue, onde se associa com a HDL. É membro de uma família de três genes consistindo em
PON1, PON2 e PON3 localizada no cromossoma 7 humano. As paraoxonases são hidrolases com
um dos maiores substratos específicos conhecido, sendo a PON1 a primeira das proteínas a ser
identificada e tem sido amplamente estudada (DEAKIN & JAMES, 2004). A PON1 recebeu esta
denominação em decorrência do paraoxon, um metabólito tóxico do inseticida paration, que é um
dos maiores substratos estudados, pois a PON1 hidrolisa os metabólitos ativos produzidos por ele
(COSTA et al., 2005).
36
Uma função fisiológica da PON1 parece estar relacionada com o metabolismo tóxico de
lipídeos oxidados de partículas de LDL e HDL. A PON1 previne a formação de LDL oxidada,
inativa fosfolipídeos oxidados derivados da LDL oxidada e também protege fosfolipídeos da
HDL de oxidação. Estas ações sugerem que a PON1 pode contribuir para a prevenção de doenças
cardiovasculares, entre elas a aterosclerose. A atividade da PON1 pode ser modulada por alguns
fatores, como exposição a substâncias químicas, drogas, cigarro, álcool, hábitos alimentares,
idade, origem étnica e doenças prévias. Essas condições podem causar polimorfismo molecular
da PON1, proporcionando mutações e alterações na atividade da mesma (COSTA et al., 2005).
1.12 HIV E HIGHLY ACTIVE ANTIRETROVIRAL THERAPY (HAART)
Com o advento da highly active antiretroviral therapy (HAART), conhecida como
terapia antirretroviral altamente ativa, observou-se um profundo impacto na história natural da
infecção pelo HIV. Desta forma, o emprego de combinações terapêuticas contendo drogas da
classe dos Inibidores de Protease (IP), promoveu uma importante e sustentada supressão na
replicação viral, elevando a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes soropositivos. No
entanto, os benefícios do uso de IP são acompanhados por inúmeros efeitos colaterais decorrentes
destes medicamentos, principalmente alterações metabólicas. Dentre estas destacam-se
dislipidemia, resistência à insulina e distribuição anormal da gordura corporal, reconhecidos
fatores de risco para doenças cardiovasculares (YU et al., 20005; VALENTE et al., 2005; FUNK;
BRESSLER; BRISSETT, 2006).
A lipodistrofia do HIV caracteriza-se pela distribuição anormal da gordura corporal em
pacientes soropositivos, e apesar de fortemente associada ao uso de IPs, alguns inibidores de
transcriptase reversa nucleosídeos (NRTIs), também podem estar associados com sua gênese
(VALENTE et al., 2005).
A lipodistrofia pode ser classificada clinicamente em 3 categorias: (1) – lipoatrofia:
caracterizada pela redução da gordura em regiões periféricas como braços, pernas, face e
nádegas, podendo apresentar proeminência muscular e venosa relativas; (2) lipohipertrofia:
caracterizada pelo acúmulo de gordura em regiões abdominal, presença de glibosidade dorsal,
ginecomastia e aumento das mamas em mulheres; (3) forma mista: caracterizada pela
37
associação de componentes das duas formas anteriormente descritas (THIÉBAUT; DAUCOURT;
MERCIÉ, 2000; VALENTE et al., 2005).
Os distúrbios lipídicos associados à HAART aumentam os riscos para doenças
cardiovasculares, especialmente aterosclerose. O endotélio vascular é exposto constantemente a
agentes nocivos circulantes como colesterol e no caso dos pacientes soropositivos, partículas
virais. As células endoteliais geram resposta inflamatória contra esses agentes. A inflamação
causa mudanças no endotélio vascular e ocorre expressão de moléculas de adesão atraindo
leucócitos e facilitando a agregação plaquetária (SUDANO et al., 2006).
A elevação dos níveis de LDL plasmática pode aumentar a velocidade de sua adesão na
parede arterial e deposição na camada íntima arterial (KÁDAR & GLASZ, 2001). O resultado
destes eventos é a formação de uma placa ateromatosa, composta de uma cobertura fibrosa com
células musculares lisas, macrófagos, células esponjosas, linfócitos, colágeno, elastina,
proteoglicanos e de um centro necrótico composto de restos celulares, cristais de colesterol,
células esponjosas e cálcio (KUMMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005).
À medida que as placas aumentam de tamanho, progressivamente invadem a luz do vaso,
levando ao comprometimento do fluxo sangüíneo, enfraquecimento das artérias e uma variedade
de complicações como calcificação, ulceração, formação de trombos e outros distúrbios
(KÁDAR & GLASZ, 2001).
As doenças cardiovasculares, decorrentes principalmente da aterosclerose, haja vista o
espessamento da artéria e conseqüentemente o comprometimento do lúmen vascular, estão
associadas aos veis plasmáticos das lipoproteínas. Estudos in vivo e in vitro têm avaliado o
metabolismo das partículas lipoprotéicas marcadas radioativamente utilizando nanoemulsões
sintéticas (OLIVEIRA & QUINTÃO, 1996).
1.13 “LIPOPROTEÍNAS ARTIFICIAIS”
Em 1985, REDGRAVE & MARANHÃO, reproduziram o metabolismo dos quilomícrons
pelo desenvolvimento de um sistema de nanoemulsões artificiais ricas em triglicérides e em
1987, iniciaram estudos que visavam reproduzir o metabolismo da LDL através de uma
nanoemulsão rica em colesterol (LDE) (MARANHÃO et al., 1993). Nesse mesmo estudo
demonstraram que essa microemulsão lipídica com composição semelhante à fase lipídica da
38
LDL humana, constituída de aproximadamente 66% de fosfolípide, 33% de colesterol éster e 1%
de triglicérides, sem a parte protéica da lipoproteína (HIRATA, 1991), ligava-se aos receptores
de LDL (rLDL), sendo captada pelas células. O objetivo inicial deste estudo era a avaliação do
uso de LDE como ferramenta de investigação da hipercolesterolemia relacionada a aterosclerose.
Surpreendentemente, os resultados obtidos em ratos mostraram que a LDE apresentava resposta
metabólica semelhante à da LDL natural, sugerindo que estivesse sendo captada pelos mesmos
receptores que retiram a LDL da circulação.
Apesar da LDE não possuir proteína, ao ser injetada na circulação plasmática, entra em
contato com as lipoproteínas naturais, adquire a apo E, que pode ser reconhecida pelo receptor da
LDL. Assim, a apo E serve como ponte para a LDE ligar-se ao receptor, sendo captada pela
célula (MARANHÃO et al., 1993).
Foram realizados diversos experimentos com a LDE e foi demonstrado que a remoção
plasmática da LDE é maior em pacientes portadores de leucemia mielóide aguda (MARANHÃO
et al., 1994). As células leucêmicas apresentam aumento de expressão dos receptores da LDL, de
tal forma que retiram avidamente a lipoproteína da circulação. Após tratamento bem sucedido,
com a remissão da doença, ou seja, o desaparecimento das células leucêmicas, a remoção da LDE
normaliza-se, confirmando de fato que, era o maior número de receptores da LDL presentes nas
células leucêmicas, responsável pela remoção acelerada da LDE. Em trabalho subseqüente,
estudos de competição em linfócitos mostraram que a LDL natural compete com a LDE pela
captação celular e sugerem que a remoção de ambas ocorre pelo mesmo receptor específico
(MARANHÃO et al., 1997). Em outros estudos, a LDE foi injetada em indivíduos
normolipidêmicos e em portadores de hipercolesterolemia (MARANHÃO et al., 1997). Nestes
pacientes, a LDE foi removida muito lentamente da circulação, o que mostrou o potencial da
nanoemulsão como instrumento para a investigação das dislipidemias. Outro trabalho realizado
com idosos, que possuem concentrações aumentadas de LDL, a remoção da LDE foi mais lenta
neste grupo quando comparados aos jovens (PINTO et al., 2001). Na Beta-Talassemia, onde
ocorre uma diminuição da concentração de LDL, os estudos demonstram que estes pacientes
removiam a LDE da circulação mais rapidamente quando comparados com indivíduos sem a
doença (NAOUM et al., 2004). Em pacientes submetidos a transplante cardíaco, demonstraram
que a remoção da LDE da circulação ocorreu mais lentamente quando comparado com controles,
sugerindo a presença de um mecanismo deficiente de remoção da LDL, que deve ser uma das
39
causas da hipercolesterolemia, encontrada com freqüência nesses pacientes (PUK et al., 2004;
PUK, 2006).
Esses resultados mostram a utilidade desta nanoemulsão como um modelo de estudo para
explorar o metabolismo da LDL, utilizando a LDE como “doadora” de lipídios, com o intuito de
investigar a capacidade da HDL de receber lipídios (colesterol livre, colesterol éster, triglicérides
e fosfolípide) da LDL e, com isso, avaliar qualitativamente a HDL (PUK, 2006).
40
2 JUSTIFICATIVA
Os pacientes HIV soropositivos, na fase inicial da infecção podem apresentar distúrbios
metabólicos/lipídicos. Essas alterações, nos pacientes com a doença (AIDS) são freqüentes e
podem comprometer a resposta imunológica do organismo, principalmente nos pacientes que
já desenvolveram a doença.
O uso de terapia antirretroviral deve reduzir a replicação viral a veis indetectáveis
melhorando a qualidade de vida desses pacientes, bem como propiciando, aos mesmos, uma
sobrevida maior.
Os distúrbios lipídicos decorrentes da infecção pelo HIV, associados aos efeitos
colaterais da terapia antirretroviral, aumentam os riscos para doenças cardiovasculares,
especialmente aterosclerose que, caracteriza-se pela alteração no endotélio vascular que induz
ao acúmulo de lipídeos e com a persistência dos estímulos poderá levar à obstrução vascular,
impedindo a circulação sangüínea.
Uma das hipóteses para o desenvolvimento da aterosclerose é principalmente a
oxidação de partículas de LDL, as quais poderiam sofrer ação da paraoxonase que parece
estar relacionada com o metabolismo tóxico de lipídeos oxidados, pois bloquearia o acúmulo
de peróxidos de lipídeos nas LDL prevenindo a oxidação da LDL, constituindo um dos
componentes importantes na prevenção da aterosclerose.
Neste contexto, a avaliação do nível de transferência de lipídeos da LDE para a HDL e a
atividade da paraoxonase em relação à oxidação da LDL, pode ser importante para controlar
os distúrbios lipídicos e a formação de aterosclerose nos pacientes HIV soropositivos ou com
AIDS, já que estes são os principais fatores predisponentes para doenças cardiovasculares.
41
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar o processo de transferência plasmática de lipídeos da LDE para a HDL e a
atividade da enzima paraoxonase em pacientes HIV soropositivos.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Determinar nos dois grupos, pacientes HIV soropositivos e indivíduos-controle, os
seguintes parâmetros, através de estudos “in vitro”.
- Transferência do colesterol livre da LDE para a HDL;
- Transferência do colesterol éster da LDE para a HDL;
- Transferência dos triglicérides da LDE para a HDL;
- Transferência dos fosfolípides da LDE para a HDL;
- Medida da atividade da enzima paraoxonase;
- Verificar se correlação entre os parâmetros acima e os valores de lípides, glicose, carga
viral, contagem de linfócitos T CD4, CD8 e IMC determinados nos pacientes.
42
4 METODOLOGIA
4.1 CASUÍSTICA
O presente trabalho teve o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, conforme consta do processo 210/2005,
cujo parecer encontra-se em anexo (Anexo nº 1).
Participaram deste estudo 48 voluntários comprovadamente soropositivos para o HIV,
diagnosticados por dois testes sorológicos tipo ELISA, com princípios metodológicos distintos e
confirmados por imunofluorescência indireta, com indicação para o início ou não da terapia
antirretroviral, conforme orientações do Ministério da Saúde. Dos pacientes que participaram
deste estudo 23 usavam terapia antirretroviral, sendo que, destes 12 usavam NRTI e NNRTI, 9
NRTI e IP e 25 pacientes não usavam terapia antirretroviral. A comparação estatística entre esses
grupos pelo teste t Student não apresentou diferença significativa.
Neste estudo participaram ainda 45 voluntários comprovadamente soronegativos para o
HIV, encaminhados pelo Setor de Triagem de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Santa Catarina, constituindo o grupo controle.
Após terem sido devidamente esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa e de que os
resultados seriam tornados públicos, quaisquer fossem os mesmos, todos os voluntários
consentiram em participar da pesquisa. Nenhum dos voluntários, bem como quaisquer dos
membros da equipe de pesquisa tiveram benefícios financeiros decorrentes de sua realização.
Após triagem clínica realizada por médicos infectologistas do ambulatório do Hospital
Universitário, os pacientes devidamente esclarecidos e que aceitaram participar da pesquisa
mediante assinatura do termo de consentimento (Anexo 2), foram encaminhados ao
Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa
Catarina, para a coleta de material biológico para as determinações laboratoriais.
43
Dos 48 pacientes HIV soropositivos 26 eram mulheres e 22 homens. Dos 45 pacientes HIV
soronegativos 29 eram mulheres e 16 homens.(Tratados ou não tratados)
As amostras de sangue destes voluntários foram colhidas por venopunção anterocubital,
após jejum de 12 a 14 horas, utilizando-se o sistema de coleta a vácuo. Foram coletados,
aproximadamente 4 ml de sangue em tubos contendo EDTA (2mg/ml) para a realização dos
seguintes exames: contagem de linfócitos CD4 (Anexo 3), linfócitos T CD8 (Anexo 3) e
determinação de carga viral (Anexo 3). Foram coletados ainda, aproximadamente 8 ml de
sangue em tubos sem anticoagulante, para avaliação dos níveis plasmáticos de paraoxonase
sérica, glicose, colesterol total, triglicerídeos, HDL, LDL e VLDL.
As determinações de transferência lipídica e a enzima paraoxonase foram realizadas no
Laboratório de Metabolismo de Lípides do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
4.2 CONTAGEM DE LINFÓCITOS T CD4 E T CD8
A contagem de linfócitos T CD4 e T CD8 foi realizada no Laboratório de Análises Clínicas
do Hospital Universitário – Universidade Federal de Santa Catarina.
A contagem de linfócitos T CD4 e T CD8 foi realizada através de citômetro de fluxo
modelo FACSCalibur
(Becton Dickinson, USA), em amostras de sangue total, utilizando o
conjunto reativo com anticorpos monoclonais anti CD4/CD3 e anti CD8/CD3 (Becton Dickinson,
San Jose, C.A., USA).
Os valores de referência assumidos para a contagem de linfócitos CD4 e CD8 foram os
seguintes:
CD4: 500 a 1500 células/mm
3
CD8: 300 a 1000 células/mm
3
A relação CD4/CD8 foi obtida pela divisão do número de linfócitos CD4 pelo número de
linfócitos CD8. Para calibração do sistema foram utilizados os conjuntos FACSCalibur
Control
(Becton Dickinson ), que contém os controles: zero, baixo, médio e alto.
44
4.3 QUANTIFICAÇÃO DO RNA DO HIV
A quantificação do RNA viral (Carga Viral) foi realizado por metodologia NASBA
(Nucleic Acid Sequence-based Amplification) através do teste Nuclisens HIV-1 QT, Organon
Teknika BV (Boxtel, Netherland), onde o DNA é extraído, amplificado e quantificado por
eletroquimiluminescência.
As determinações foram realizadas a partir de sangue total coletado em tubo contendo
EDTA, este foi centrifugado a 378g por 10 minutos para obtenção do plasma.
O NucliSens HIV-1 QT compreende quatro conjuntos reativos distintos, sendo um para
cada fase de execução do teste:
1. NucliSens Lysis Buffer, utilizando para a liberação dos ácidos nucléicos;
2. NucliSens HIV QT, para isolamento dos ácidos nucléicos;
3. NucliSens HIV QT, para amplificação dos ácidos nucléicos;
4. NucliSens HIV QT, para detecção dos ácidos nucléicos.
O teste NucliSens HIV-1 QT consiste das seguintes etapas:
- Liberação dos ácidos nucléicos: 1 ml do plasma obtido foi adicionado ao tampão de lise
(Tiocianato de guanidina) para liberação dos ácidos nucléicos e posterior determinação. Esta
etapa tem por finalidade a desintegração das partículas virais e células, bem como a inativação
das RNAses e DNAses presentes na amostra.
- Isolamento dos ácidos nucléicos: aos ácidos nucléicos liberados no tampão de lise, são
adicionados três RNAs sintéticos de concentração conhecida (Qa, Qb e Qc), alta, média e baixa,
respectivamente, que servem como calibradores internos. Cada um desses RNAs difere do RNA
do HIV presente na amostra em apenas uma seqüência de pares de bases. Em meio de elevada
concentração salina os ácidos nucléicos presentes no tampão, incluindo-se os calibradores, ligam-
se às partículas de dióxido de silício que funcionam como base sólida. Em seguida os ácidos
nucléicos são eluídos da fase sólida utilizando-se tampão de eluição.
- Amplificação: o RNA do HIV-1 presente no eluído é amplificado juntamente com os
calibradores internos. Cada cópia formada entra em um novo ciclo de amplificação, sendo que
esta metodologia não requer a separação das cadeias, tornando o processo isotérmico e contínuo.
45
- Detecção: a detecção e quantificação do RNA do HIV-1 presente na amostra se baseia no
princípio de eletroquimiluminescência, utilizando o leitor NucliSens Reader. Alíquotas da
amostra são adicionadas a quatro soluções de hibridização específicas (WT, Qa, Qb e Qc). Os
RNAs são hibridizados com esferas-oligo (um oligo ligado a esferas revestidas com
estreptavidina) e uma sonda marcada com rutênio. As esferas paramagnéticas ligadas ao
complexo RNA/sonda são capturadas à superfície de um eletrodo por meio de um campo
magnético. A voltagem aplicada ao eletrodo desencadeia a reação de eletroquimiluminescência,
sendo que a luz emitida pelas sondas marcadas com rutênio é proporcional à quantidade de RNA
viral amplificado.
4.4 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE GLICOSE
Os níveis séricos de glicose foram determinados por espectrofotometria, utilizando
conjuntos reativos Dimension
®
clinical chemistry system (Dade Behring Inc., Newark, USA.), no
Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário – UFSC.
Os valores de referência para este analito são:
70 – 110 mg/dl.
4.5 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE COLESTEROL TOTAL
Os níveis séricos de colesterol total foram determinados por espectrofotometria, utilizando
conjuntos reativos Dimension
®
clinical chemistry system (Dade Behring Inc., Newark, USA.), no
Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário – UFSC.
Os valores de referência para este analito são:
< 200 mg/dl [5.2 mmol/l] - Desejável
200 – 240 mg/dl [5.2 – 6.2 mmol/l] - Limítrofes
> 240 mg/dl [6.2 mmol/l] - Alto risco
46
4.6 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE TRIGLICERÍDEOS
Os níveis séricos de colesterol total foram determinados por espectrofotometria, utilizando
conjuntos reativos Dimension
®
clinical chemistry system (Dade Behring Inc., Newark, USA.), no
Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário – UFSC.
Os valores de referência para este analito são:
< 150 mg/dl [1.70 mmol/l] - Normal
150 – 199 mg/dl [1.70 – 2.25 mmol/l] - Acima da média
200 – 499 mg/dl [2.26 – 5.64 mmol/l] - Alto
≥ 500 mg/dl [≥ 5.65 mmol/l] - Muito alto.
4.7 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE HDL-COLESTEROL
Os níveis séricos de HDL-colesterol
foram determinados por espectrofotometria, utilizando
conjuntos reativos Dimension
®
clinical chemistry system (Dade Behring Inc., Newark, USA.), no
Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário – UFSC.
Os valores de referência para este analito são:
< 40 mg/dl [1.04 mmol/l] - Baixo
≥ 60 mgl/dl [1.55 mmol/l] - Alto
4.8 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE LDL-COLESTEROL
Os níveis séricos de LDL-colesterol foram calculados pela fórmula de Friedewald: LDL =
Colesterol Total – (HDL + VLDL) (FRIEDEWALD, 1972).
Os valores de referência para este analito são:
47
< 100 mg/dl - ótimo
100 – 129 - próximo de ótimo
130 – 159 - levemente alto
160 – 189 - alto
> 190 - muito alto.
4.9 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE VLDL-COLESTEROL
Os níveis séricos de LDL-colesterol foram determinados através de cálculos a partir das
determinações anteriores conforme a fórmula de Friedewald: VLDL = Triglicérides/5
(FRIEDEWALD, LEVY, FREDICKSON, 1972).
O valor de referência para este analito é:
> 40 mg/dl - Desejável
4.10 PREPARO DA LDE
A LDE foi preparada segundo a técnica descrita por Ginsburg et al. (1982) e modificada por
Maranhão et al. (1993). Em um frasco, foram pipetados 40 mg de fosfatidilcolina, 20 mg de éster
de colesterol, 1,0 mg de trioleína e 0,5 mg de colesterol, diluídos em clorofórmio/metanol (2:1).
Posteriormente, foram adicionados 70 kBq de
3
H-colesterol éster e 70 kBq de
14
C-fosfatidilcolina
ou 70 kBq de
3
H-triglicérides e 70 kBq de
14
C-colesterol. Em seguida, a mistura foi secada sob
fluxo de nitrogênio, em banho-maria 37ºC e mantida em dessecador a vácuo, por 16 horas, a 4ºC,
para remoção dos solventes residuais. A mistura de lipídios ressuspendida com tampão-tris HCl
foi emulsificada por irradiação ultrasônica de 125 watts de potência durante 3 horas, sob uma
atmosfera de nitrogênio, com temperatura variando de 51 a 55ºC. Em seguida, a nanoemulsão foi
purificada por duas etapas de ultracentrifugação e esterilizada através de passagem em filtro
Millipore
®
0,22 µm de diâmetro.
O processo de preparo das nanoemulsões foi realizado em capela de fluxo laminar. Todo o
material utilizado foi esterilizado em autoclave, 120ºC e despirogenizado em estufa 180ºC
durante 90 minutos.
48
4.11 TRANSFERÊNCIA DE COLESTEROL LIVRE, COLESTEROL ÉSTER,
TRIGLICÉRIDES E FOSFOLÍPIDES DA LDE PARA A HDL.
Amostras dos pacientes foram coletadas, após jejum de 12 horas, em EDTA (1,5 g/L) e o
plasma foi obtido após 10 minutos de centrifugação, a 3.000 rpm, em centrífuga Solval RT7. Foi
incubado 50 µL da LDE marcada radiativamente com
3
H-colesterol éster (
3
H-CE) e
14
C-
fosfatidilcolina (
14
C- PL) ou
3
H-triglicérides (
3
H-TG) e
14
C-colesterol livre (
14
C-CL) com 200 µL
de plasma por 60 minutos, a 37ºC, em agitador orbital Gyromax 706R, sob agitação de 40 rpm.
Após incubação, foram adicionados à mistura 250 µL de reagente de precipitação de
lipoproteínas contendo apo B (sulfato de dextran 0,2%/MgCl
2
3M, v/v). A mistura foi agitada em
vortex por 30 segundos e posteriormente centrifugada por 10 minutos a 3.000 rpm. A fração HDL
foi obtida após precipitação da nanoemulsão juntamente com as lipoproteínas contendo apo B,
com 250 µL de dextran/ MgCl
2
(0,2% Destran e 0,3 mol/L MgCl
2
). Alíquotas de 250 µL do
sobrenadante, contendo a HDL foram pipetadas em frascos de cintilação. Foram acrescentados a
esses frascos, 5,0 mL de solução cintiladora Ultima Gold (PerdinElmer, Boston, USA) e,
finalmente, a radioatividade presente nas amostras foi quantificada em contador Beta (Liquid
Scintillation Analyzer, Packard 1600 TR, Palo Alto, CA) com a utilização do software Plus Vers.
5.01 da Diamond Computers, para determinação das contagens de
14
C e
3
H das amostras. O
branco para este experimento consiste da mistura de 200 µL de solução tampão TRIS-HCl e 50
µL de LDE, incubada e precipitada nas mesmas condições descritas acima. O valor de
radioatividade total presente na amostra foi determinada pela incubação de 200 µL de plasma
com 50 µL de LDE, seguida de incubação, porém sem adição de reagente de precipitação. A
quantificação dos lipídios transferidos da LDE para HDL plasmática foi expressa como
percentagem (%) em relação à radioatividade total incubada.
4.12 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DA PARAOXONASE (PON1)
Amostras dos pacientes foram coletadas, após jejum de 12 horas, em tudo seco e o soro foi
obtido após 10 minutos de centrifugação, à 3.000 rpm, em centrífuga Sorval RT7. A atividade da
PON1 foi medida pela adição de 500 µL de tampão Tris-HCl 0.1M e pH 8.05, contendo 2
mmol/L de CaCl
2
e 1.1 mmol/L de paraoxon (Sigma Chemical Co.) a 25 µL de soro. A amostra
49
foi, então, distribuída em placa de 96 poços fundo chato, 200 µL por poço (em duplicata). A
leitura foi feita em “Leitor de Microplascas” (Microplate Reader, Benchmark, Bio-RAD) com
comprimento de onda de 405 nm e temperatura de 37ºC. Para o cálculo da atividade, foram feitas
6 leituras em intervalos de um minuto cada. O resultado foi obtido multiplicando-se a média da
variação das absorbâncias pelo fator descrito abaixo:
Cálculo do Fator:
(
)
( ) ( )
cmEmLVA
mLVTR
FATOR
××
=
405
ε
onde,
VTR (Volume Total da Reação) = 525 µL (500 µL solução + 25 µL soro)
ε
405
= 18050 L M
-1
cm
-1
(Senti et al. J Clin Endocrinol Metab 88:5422-26, 2003;
Agachan et al. Cell Biochem Funct 22:163-8, 2004).
VTR (volume total da reação) = 500 µL solução + 25 µL da amostra = 525 µL
VA (volume da amostra) = 25 µL
E (espessura da ‘cubeta’) = 1 cm
Substituindo-se os valores e ajustando-os para as unidades internacionais temos:
Fator = 1163,43 nMol mL
-1
Cálculo da Atividade:
Atividade da Paraoxonase = Fator x abs/min = 1163,43 x abs nMol min
-1
mL
-1
,
onde,
abs = é média da variação das absorbâncias medidas a cada 1 minuto.
50
4.13 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A idade, a altura, o peso e o IMC do grupo HIV soropositivo foram analisados
estatisticamente com os dados encontrados no grupo controle. O mesmo foi feito com as
concentrações de glicose, de colesterol total, de triglicérides, de HDL-colesterol, de LDL-
colesterol, de VLDL-colesterol, com a atividade da PON1 e com as transferências dos lipídeos da
LDE para a HDL. Para isso, foi utilizado o teste “t” de Student, quando os dados se apresentavam
de forma Gauseana (paramétricos).
Foi feita também análise de correlação entre as taxas de transferência dos lipídios para a
HDL com os veis séricos dos lipídios, da glicose, com a atividade da PON1, carga viral,
contagem de linfócitos T CD4, CD8 e com o IMC no grupo HIV soropositivo através do teste de
Pearson ou de Sperman dependendo da distribuição da amostra.
Em todas as comparações efetuadas, foram consideradas significantes as diferenças que
apresentaram p < 0,05.
51
5 RESULTADOS
5.1 CONSTITUIÇÃO DOS GRUPOS ESTUDADOS
Os grupos estudados foram constituídos de forma semelhante em relação ao sexo, à idade e
à altura (Tabelas II e III).
5.2 VERIFICAÇÃO DO PESO E ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC)
O peso do grupo HIV soropositivo (63.6 ± 10.3) apresentou média inferior àquela
verificada no grupo controle (70,4 ± 14,8; p = 0,031) (Tabela III).
O IMC do grupo HIV soropositivo (22,7 ± 3,0) apresentou média inferior àquela verificada
no grupo controle (25,8 ± 3,7; p < 0,0001) (Tabela III).
5.3 CONCENTRAÇÃO SÉRICA DE GLICOSE
Não foram constatadas diferenças entre os níveis séricos de glicose do grupo HIV
soropositivo (88 ± 20.6 mg/dl) quando comparados ao grupo controle (92 ± 18 mg/dl; p = 0,320)
(Tabela IV).
5.4 CONCENTRAÇÃO SÉRICA DE LIPÍDEOS
As concentrações séricas de colesterol total, triglicerídeos, LDL e VLDL apresentaram
médias mais baixas no grupo de indivíduos infectados pelo HIV (164 ± 30), (99 ± 32 mg/dl),
(101 ± 21 mg/dl) e (20 ± 8 mg/dl), em relação ao grupo controle (191 ± 33 mg/dl; p < 0,001),
52
(116 ± 39 mg/dl; p = 0,0352), (127 ± 30 mg/dl; p < 0,0001) e (23 ± 8 mg/dl; p = 0,0352),
respectivamente. (Tabela IV).
Não foram constatadas diferenças entre os níveis séricos de HDL-colesterol do grupo HIV
soropositivo (43 ± 13 mg/dl) quando comparados ao grupo controle (41 ± 10 mg/dl; p) (Tabela
IV).
5.5 ATIVIDADE SÉRICA DA ENZIMA PARAOXONASE
A atividade sérica da paraoxonase apresentou média significativamente menor, no grupo de
indivíduos HIV soropositivos (44,3 ± 38,6 nmol.min
-1
.ml
-1
), que àquela, verificada no grupo
controle (71,8 ± 37,4 nmol.min
-1
.ml
-1
; p = 0,0003) (Tabela V).
5.6 PERCENTAGEM DE TRANSFERÊNCIA LIPÍDICA
A Figura 5 mostra os valores das taxas de transferência do colesterol livre, colesterol éster,
triglicérides e fosfolípides da LDE para a HDL dos pacientes do grupo HIV soropositivo e dos
indivíduos do grupo controle.
Na Figura 5, verifica-se que a taxa de transferência do
14
C-colesterol livre do grupo HIV
soropositivo foi menor que a do grupo controle (5,0 ± 1,1% e 6,3 ± 1,1% respectivamente; p <
0,0001). O mesmo ocorreu com a taxa de transferência do
3
H-triglicérides do grupo HIV
soropositivo quando comparados ao grupo controle (2,7 ± 0,7% e 3,5 ± 0,6% respectivamente; p
< 0,0001).
A taxa de transferência de
14
C-fosfolípide no grupo HIV soropositivo foi maior quando
comparado ao grupo controle (23,4 ±1,6% e 17,5 ± 0,9% respectivamente; p < 0,0001). No
entanto, a taxa de transferência de
3
H-colesterol éster quando comparado ao grupo controle (3,0 ±
0,7% e 2,8 ± 1,3% respectivamente; p = 0,5369) não apresentou diferença estatisticamente
significativa.
Como demonstrado na Tabela VI, a taxa de transferência do
14
C-colesterol livre do grupo
HIV soropositivo se correlacionou positivamente com as concentrações séricas de colesterol total
(r = 0,4995; p = 0,0003), de triglicérides (r = 0,2864; p = 0,0484), de HDL-colesterol (r = 0,5204;
53
p = 0,0001), de LDL-colesterol (r = 0,3072; p = 0,0337) e de glicose (r = 0,3470; p = 0,0157).
Houve correlação negativa entre a taxa de transferência do
14
C-colesterol livre e a carga viral (r =
0,2952; p = 0,0416) do grupo HIV soropositivo. Não houve correlação neste grupo entre a taxa
de transferência de
14
C-colesterol livre e a contagem de células T CD4 (p = 0,5919) e de células T
CD8 (p = 0,9125). A atividade da PON1 (p = 0,8372) e o IMC (p = 0,3228) também não se
correlacionaram com a taxa de transferência do
14
C-colesterol livre do grupo HIV soropositivo.
Também demonstrado na Tabela VI, a taxa de transferência de
14
C-fosfolípide do grupo
HIV soropositivo se correlacionou positivamente com os níveis séricos de triglicérides (r =
0,3938; p = 0,0056) deste grupo. A taxa de transferência do
14
C-fosfolípide não se correlacionou
com a taxa transferência com os valores de colesterol total (p = 0,0789), de HDL-colesterol (p =
0,8068), de LDL-colesterol (p = 0,1371), glicose (p = 0,1036), de carga viral (p = 0,3434), de
células T CD4 (p = 0,1347), de células T CD8 (p = 0,2937). A atividade da PON 1 (p = 0,8662) e
o IMC (p = 0,9452) também não se correlacionaram com a taxa de transferência de
14
C-
fosfolípide.
Ainda, na Tabela VI, a taxa de transferência de
3
H-colesterol éster do grupo HIV
soropositivo se correlacionou positivamente com os valores de colesterol total (r = 0,5235; p =
0,0001), de LDL-colesterol (r = 0,4273; p = 0,0025), de triglicérides (r = 0,4816; p = 0,0005).
Não foi encontrada correlação entre a taxa de transferência do
3
H-colesterol éster e os valores de
HDL-colesterol (p = 0,0626), de glicose (p = 0,0670), de carga viral (p = 0,1887), de células T
CD4 (p = 0,2315), de células T CD8 (p = 0,5868). A atividade da PON1 (p = 0,9561) e o IMC (p
= 0,5835) também não se correlacionaram com a taxa de transferência do
14
C-colesterol éster do
grupo HIV soropositivo.
Conforme Tabela VI, a taxa de transferência do
3
H-triglicérides do grupo HIV soropositivo
se correlacionou positivamente com os valores de colesterol total (r = 0,4997; p = 0,0003), de
triglicérides (r = 0,4304; p = 0,0023), de células T CD8 (r = 0,3594; p = 0,0121). Não houve
correlação entre a taxa de
3
H-triglicérides e os valores de HDL-colesterol (p = 0,1671), de LDL–
colesterol (p = 0,0014), de glicose (p = 0,1233), de carga viral (p = 0,5509) e de células T CD4 (r
54
= 0,3775). A atividade da PON1 (p = 0,8014) e o IMC (p = 0,5442) também não se
correlacionaram com a taxa de transferência de
3
H-triglicérides do grupo HIV soropositivo.
TABELA II: Distribuição dos indivíduos, nos diferentes grupos estudados, de acordo com o
sexo.
Grupo Feminino
n %
Masculino
n %
Total
Grupo Controle
HIV soropositivo
29 64,4
26 54,17
16 35,6
22 45,83
45
48
Total
55 38 93
Dados expressos em percentage, teste “t” de Student.
Abreviaturas: n = número de indivíduos estudados.
TABELA III: Distribuição dos indivíduos de acordo com a idade, o peso, a altura e o IMC dos
grupos estudados.
Parâmetros
Controle
(n=45)
HIV (+)
(n=48)
p
Idade
38 ± 9,2 37,5 ± 7,9 NS
Altura (m)
1,6 ± 0,1 1,7 ± 1,1 NS
Peso (Kg)
70,4 ± 14,8 63,6 ± 10,3 0,031
IMC
25,8 ± 3,7 22,7 ± 3,0 <0,0001
Dados expressos em média ± desvio padrão, teste “t” de Student.
Abreviaturas: n = número de indivíduos estudados; NS = Não Significativo.
55
TABELA IV: Concentrações plasmáticas dos lipídios e glicose dos grupos HIV soropositivos e
Controle.
Determinações
Bioquímicas
Controle
(n=45)
HIV (+)
(n=48)
p
Colesterol (mg/dl)
Total
191 ± 33 164 ± 30 0,0002
HDL-colesterol
41 ± 10 43 ± 13 NS
LDL-colesterol
127 ± 30 101 ± 21 <0,0001
VLDL-colesterol
23 ± 8 20 ± 8 0,0352
Triglicérides
116 ± 39 99 ± 32 0,0352
Glicose (mg/dl)
92 ± 18 88 ± 21 NS
Dados expressos em média ± desvio padrão, teste “t” de Student.
Abreviaturas: n = número de indivíduos estudados; NS = Não Significativo.
TABELA V: Media da atividade da paraoxonase nos grupos HIV soropositivos e Controle.
Parâmetro Controle
(n=45)
HIV (+)
(n=48)
p
PON1 (nmol.min
-
1
.ml
-
1
)
71,8 ± 37,4 44,3 ±38,6 0,0003
Dados expressos em média ± desvio padrão, teste “t” de Student.
Abreviaturas: n = número de indivíduos estudados; PON1 = Paraoxonase 1.
56
FIGURA 5
-
Taxa de transferência do colesterol livre, colesterol éster, triglicérides e
fosfolípides da LDE para a HDL nos grupos HIV soropositivos e Controle. Comparação
entre os grupos HIV soropositivo e controle: * p < 0,0001, teste “t” de Student.
Abreviaturas: CL = colesterol livre, PL = fosfolípide, CE = colesterol éster, TG =
triglicérides.
0,0
3,0
6,0
9,0
12,0
15,0
18,0
21,0
24,0
27,0
CL PL CE TG
Transferência (%)
Grupo Controle
HIV soropositivo
*
*
*
57
Tabela VI: Correlações estatísticas através do teste de Pearson entre a transferência as taxas
de transferência de colesterol livre (
14
C-CL), de fosfolípide (
14
C-PL), de colesterol éster (
3
H-
CE) e de triglicérides (
3
H-TG) e as concentrações séricas de lipídios, glicose, carga viral,
contagem de células T CD4 E CD8 e Índice De Massa Corpórea.
Parâmetros
14
C-CL
(%)
14
C-PL
(%)
3
H-CE
(%)
3
H-TG
(%)
Colesterol Total
0,4995
0,2561
0,5235 0,4997
0,0003
0,0789
0,0001 0,0003
HDL-colesterol 0,5204
0,0362 0,2709 0,2027
0,0001
0,8068 0,0626 0,1671
LDL-colesterol 0,3072
0,2177
0,4273
0,4484
0,0337
0,1371
0,0025
0,0014
Triglicérides 0,2864 0,3938 0,4816 0,4304
0,0484 0,0056 0,0005 0,0023
Glicose 0,3470
0,2378 0,2666 0,2255
0,0157
0,1036 0,0670 0,1233
PON1
- 0,0304 - 0,0249 0,0081 0,0372
0,8372 0,8662 0,9561 0,8014
Carga Viral - 0,2952
0,1398 - 0,1930 - 0,0882
0,0416
0,3434 0,1887 0,5509
CD4
0,0794 0,2190 0,1760 0,1303
0,5916 0,1347 0,2315 0,3775
CD8
- 0,0162 0,1547 - 0,0804
0,3594
0,9125 0,2937 0,5868
0,0121
IMC
0,1458 0,0101 0,0811 0,0897
0,3228 0,9452 0,5835 0,5442
58
6 DISCUSSÃO
6.1 IMC
No presente estudo observamos que os indivíduos infectados pelo HIV apresentaram peso
corporal menor que o grupo controle (Tabela 3). Estudos anteriores mostram que os indivíduos
infectados pelo HIV apresentam diminuição do peso corporal, que pode estar relacionada a
alterações metabólicas, deficiência na absorção nutricional, anorexia, uso de medicamentos ou
desordens gastrintestinais (KOTLER, 2000; MORLEY; THOMAS; WILXON, 2006), o que
possivelmente, poderia explicar a perda do peso corporal dos pacientes deste estudo.
As conseqüências clínicas da perda de peso nestes pacientes está associada ao aumento de
risco de infecções oportunistas e ao aumento da mortalidade (WHEELER, 1999).
As citocinas ativam o fator nuclear de transcrição κB (NF- κB), o que resulta na diminuição
da síntese de proteínas no músculo. Além disso, elas também estimulam a liberação de cortisol,
catecolaminas das glândulas adrenais e hormônios da tireóide, resultando no aumento do
metabolismo nestes pacientes (MELCHIOR, 1997; MORLEY; THOMAS; WILSON, 2006).
A perda de massa corporal verificada nos indivíduos infectados pelo HIV (Tabela 3), pode
ser em conseqüência do aumento do catabolismo, maior gasto energético em repouso e da
anorexia decorrente da produção aumentada de citocinas como IL-1, IL-2, IL-6, TNF e IFN-γ
(MELCHIOR, 1997).
TREITINGER et al. (2001), correlacionaram os níveis lipídicos e alterações de proteínas de
fase aguda em indivíduos infectados pelo HIV nos estágios iniciais da infecção. Neste estudo,
59
verificaram mudanças no metabolismo de proteínas, lipídeos e lipoproteínas, concluindo que
essas alterações podem estar associadas à resposta imune do hospedeiro durante a infecção, sendo
mediada por diversas citocinas como TNF, interleucinas e interferons, as quais influenciam nos
níveis de triglicerídeos e HDL. Sendo que, a INF-α encontra-se elevada na AIDS e em indivíduos
HIV soropositivos e é positivamente correlacionada com concentrações alteradas de
triglicerídeos.
Possivelmente, isso poderia explicar a perda da massa corporal apresentada nos
pacientes deste estudo.
6.2 COLESTEROL TOTAL, TG, LDL, HDL E VLDL
Estudos realizados anteriormente sobre o comportamento dos veis séricos dos
triglicerídeos, em indivíduos soropositivos (Tabelas 4), respectivamente, apresentaram resultados
conflitantes. DOERRLER; FEINGOLD; GRUNFELD (1994), verificaram aumento nos níveis
séricos de triglicerídeos e VLDL em pacientes HIV soropositivos, sugerindo que essa tendência
pode ser atribuída a um aumento na síntese de ácidos graxos no fígado e conseqüentemente,
aumento na secreção de VLDL, ou a um aumento da lipólise no tecido adiposo o que levaria a
reesterificação dos ácidos graxos mobilizados e formação de triglicerídeos no fígado, ou ainda, a
uma menor atividade da lipase lipoprotéica endotelial ou a diminuição da depuração de
triglicerídeos, em resposta a ação de citocinas mediadoras da resposta imune como IL-1 e IFN-α.
MIRANDA-FERNANDEZ et al. (1998), relataram que níveis elevados de triglicerídeos são
observados em estágios iniciais da infecção, onde o sistema imunológico encontra-se menos
debilitado. No grupo de pesquisa de TREITINGER et al. (2001), verificaram alterações lipídicas
em indivíduos infectados pelo HIV nos estágios iniciais da doença, demonstrando
hipertrigliceridemia nestes pacientes com alterações na resposta imune celular e decréscimo nos
níveis de colesterol total e colesterol da fração lipoprotéica HDL. Segundo MIRANDA-
FERNANDEZ et al. (1998), esse decréscimo tem sido observado nos estágios iniciais da
infecção, sendo mais evidente quando se observa decréscimo na contagem de linfócitos T CD4.
Neste trabalho verificou-se que os níveis de triglicerídeos e a fração lipoprotéica VLDL
apresentaram valores diminuídos no grupo HIV soropositivo em relação ao grupo controle e os
níveis de colesterol apresentaram valores aumentados no grupo de indivíduos infectados pelo
HIV. Os níveis da fração lipoprotéica HDL dos indivíduos HIV soropositivos não apresentaram
60
diferença significativa quando comparados ao grupo controle. Estes resultados são discordantes
de CONSTANS et al.(1994) e ZANGERLE et al.(1994) que verificaram uma diminuição dos
níveis séricos da fração lipoprotéica de HDL e um aumento dos níveis séricos de triglicérides em
pacientes infectados pelo HIV. SPOSITO et al. (1997), verificaram diminuição dos níveis séricos
de HDL e um aumento dos níveis séricos de triglicérides e de LDL. Estes resultados discordantes
de estudos relatados na literatura, podem ser decorrentes das variações individuais dos
componentes do grupo, em relação ao estadiamento da infecção pelo HIV, no qual estes
indivíduos se encontravam, ou decorrente de complicações metabólicas do curso da infecção.
Os níveis séricos de colesterol total e da fração lipoprotéica LDL (Tabela 4),
respectivamente, demonstraram diminuição nos indivíduos infectados pelo HIV. Estes resultados
confirmam as observações de COODLEY & COODLEY (1991) e TREITINGER et al. (2001),
que verificaram níveis menores de colesterol total em pacientes HIV soropositivos. O
comportamento dos níveis séricos do colesterol total e da fração lipoprotéica LDL, são
concordantes com os resultados obtidos por GRUNFELD & FEINGOLD (1992), os quais
compararam indivíduos classificados como assintomáticos e como portadores do HIV com
indivíduos não infectados pelo HIV. A diminuição dos níveis séricos de colesterol total e da
fração lipoprotéica LDL pode ser atribuído como um marcador da progressão da infecção pelo
HIV para AIDS (SHOR-POSNER et al., 1993). ZANGERLE et al. (1994), concluíram que a
diminuição progressiva dos níveis séricos de colesterol total e da fração lipoprotéica LDL, com a
progressão da infecção, indica que os distúrbios do metabolismo lipídico estão associados com a
ativação imunológica decorrente da infecção pelo HIV. A redução progressiva dos níveis séricos
do colesterol total e do colesterol da fração lipoprotéica LDL, observada em pacientes infectados
pelo HIV, pode ser decorrente do aumento da síntese de receptores de LDL pelos hepatócitos, em
conseqüência da ação de citocinas como IL-1 e TNF (STOPECK et al., 1993). Portanto, os
resultados deste estudo, corroboram os achados anteriores do grupo de pesquisa de
TREITINGER et al. (2001), em que foi evidenciada correlação positiva entre níveis aumentados
de proteínas de fase aguda e alterações metabólicas dos níveis lipídicos em indivíduos infectados
pelo HIV.
Diversas anormalidades metabólicas e morfológicas estão associadas à infecção pelo HIV,
como mencionado anteriormente, e à terapia antirretroviral, as quais incluem hipertrigliceridemia,
diminuição da fração lipoprotéica de HDL-colesterol, aumento da fração lipoprotéica de LDL-
61
colesterol, hipercolesterolemia, resistência à insulina, perda de gordura periférica, acúmulo de
gordura central, acúmulo de gordura no dorso entre outras. Essas complicações metabólicas
representam fatores de risco para o desenvolvimento de Diabetes Mellitus tipo 2 e doenças
cardiovasculares. De 10 a 50% dos pacientes infectados pelo HIV podem desenvolver uma ou
mais destas características, dificultando a escolha de uma terapia eficaz capaz de suprimir a
replicação viral sem propiciar o desenvolvimento secundário de condições crônicas (SHERER,
2003; VALENTE et al., 2005).
Neste estudo não foram encontradas anormalidades metabólicas nos pacientes HIV
soropositivos decorrentes da terapia antirretroviral, pois os parâmetros bioquímicos avaliados não
apresentaram valores concordantes com estas características, embora, alguns destes pacientes
estivessem fazendo uso de terapia antirretroviral.
6.3 PARAOXONASE
A replicação viral e algumas manifestações clínicas da infecção pelo HIV envolvem um
desequilíbrio nas reações de redução-oxidação e produção de radicais livres, e neste estudo
verificou-se uma diminuição da atividade sérica da enzima paraoxonase em pacientes HIV
soropositivos. Segundo AVIRAM et al. (1999), isso se deve, possivelmente, à oxidação induzida
pelo HIV que poderia acarretar um aumento de radicais livres que se ligam na paraoxonase,
resultando em uma menor atividade da mesma na circulação, mecanismo semelhante ao que
ocorre na reação de lipídeos oxidados com o grupamento–SH livre que se liga a cisteína-284
(sítio de ligação) na paraoxonase, levando a inativação da enzima.
Alguns estudos têm sugerido que a paraoxonase é um fator importante, responsável pela
atividade antioxidante da HDL (YAMANE et al., 2006). SARKAR; SHIVAPRAKASH;
MADHUSUDHAM (2006),
avaliando a associação entre a atividade da paraoxonase e os níveis
lipídicos em pacientes com doença prematura na artéria coronária, verificaram um
comprometimento da função da HDL em proteger a LDL da oxidação em pacientes com doença
na artéria coronária, possivelmente pela diminuição da atividade sérica da paraoxonase, contudo,
com concentrações de HDL normais. A diminuição da atividade sérica da paraoxonase foi
verificada quando as concentrações de HDL estavam diminuídas, porém, MACKNESS et al.
(1991), concluíram que a diminuição na atividade da paraoxonase é independente das mudanças
62
da HDL. ABBOTT et al. (1995), avaliaram a relação entre stress oxidativo de lipoproteínas e a
atividade da paraoxonase associada a HDL em indivíduos obesos. No estudo verificaram uma
diminuição na atividade sérica da paraoxonase em pacientes diabéticos e esta atividade diminuída
foi independente das concentrações séricas de lipídeos e lipoproteínas, pois as concentrações
séricas de HDL estavam significativamente maiores nos indivíduos diabéticos e com a atividade
da paraoxonase diminuída. Portanto, concluíram que esses resultados podem decorrer da presença
de inibidores endógenos nesses pacientes ou são decorrentes de distúrbios na interação entre a
paraoxonase e a HDL (FERRETTI et al., 2006).
FERRETTI et al. (2003) verificaram em seus estudos modificações nos níveis plasmáticos
de lipoproteínas isoladas de indivíduos obesos e alterações na atividade enzimática de proteínas
envolvidas no metabolismo de lipoproteínas. Porém, nos estudos do mesmo grupo (FERRETTI et
al. 2005), foi demonstrada uma diminuição na atividade da paraoxonase em indivíduos obesos
mesmo na ausência de mudanças da HDL, sendo, portanto, observado que a diminuição da
atividade da paraoxonase é independente de modificações na HDL. Sendo assim, ABBOTT et al.
(1995) e FERRETTI et al. (2005), concluem que a diminuição na atividade da paraoxonase pode
aumentar a susceptibilidade ao desenvolvimento de doenças relacionadas à peroxidação lipídica,
como aterosclerose.
A HDL exerce efeito protetor contra a aterosclerose, que resulta de várias ações, as quais
incluem: efeito antioxidante, antiinflamatório, antitrombótico e atua, principalmente, no
transporte reverso do colesterol (BATER et al., 2003). Neste estudo foi avaliado o efeito
antioxidante da HDL pela medida da atividade da enzima paraoxonase e os resultados
demonstraram que a atividade sérica da enzima paraoxonase foi menor no grupo de indivíduos
HIV soropositivos (Tabela 5), resultados estes que confirmam as observações de PARRA et al.
(2006), que avaliaram a influência da infecção pelo HIV sobre a atividade sérica da paraoxonase
e a relação com as concentrações séricas de LDL e colesterol total. Neste estudo observaram que
os indivíduos infectados pelo HIV apresentaram diminuição significativa na atividade da
paraoxonase, dos veis séricos de LDL e colesterol total. Contudo, concluem que a atividade da
paraoxonase pode sofrer influência da infecção pelo HIV e das alterações lipídicas decorrentes da
mesma, e estes resultados sugerem ainda que a paraoxonase pode ser importante para retificar os
transtornos relacionados à infecção. Possivelmente isso poderia explicar a diminuição sérica da
63
atividade da paraoxonase, das concentrações séricas de LDL e colesterol total, observados neste
trabalho.
6.4 TAXA DE TRANSFERÊNCIA DO COLESTEROL LIVRE, COLESTEROL ÉSTER,
TRIGLICÉRIDES E FOSFOLÍPIDES DA LDE PARA A HDL NOS GRUPOS HIV
SOROPOSITIVOS E CONTROLE
A infecção e a inflamação são acompanhadas por alterações nas proteínas de fase aguda, as
quais são produzidas no intuito de neutralizar o microrganismo e minimizar o dano tecidual. A
síntese dessas proteínas é mediada por citocinas em resposta a estímulos celulares, incluindo
macrófagos, monócitos, linfócitos T e células endoteliais. Dentre as citocinas responsáveis pela
resposta imune incluem-se fator de necrose tumoral (TNF-α), interleucinas (Ils) e interferons
(IFN). Durante o processo infeccioso e inflamatório, essas citocinas induzem alterações no
metabolismo dos lipídios e das lipoproteínas (KHOVIDHUNKIT et al., 2004). Estudos relatam
que essas alterações são claramente evidenciadas na infecção causada pelo vírus HIV,
caracterizada pelo aumento da proliferação de leucócitos, da síntese de citocinas, de
imunoglobulinas e de proteínas de fase aguda (JAHOOR et al., 1999).
A essas alterações está associado o “stress” oxidativo, uma das características da infecção e
inflamação, e este causa um desequilíbrio entre os fatores pró-oxidantes e antioxidantes,
causando uma disfunção endotelial, processo central na patofisiologia da aterosclerose
(KONTUSH & CHAPMAN, 2006). Esta é uma doença inflamatória crônica que aumenta a
permeabilidade endotelial levando a lesões. Essa dano endotelial provocado pela produção
excessiva de pró-oxidantes (espécies reativas de oxigênio – EROs) e a ativação celular, envolve a
penetração e a retenção de partículas de LDL oxidadas (KONTUSH & CHAPMAN, 2006;
HARLAN; CHAN; BENEDICT, 2006). Esse processo provoca o acúmulo dessas partículas que
estimulam a produção de moléculas pró-inflamatórias, incluindo moléculas de adesão e fator de
crescimento. Com isso ocorre o acúmulo subendotelial de colesterol englobado pelos macrófagos
neste local, os quais não são capazes de degradá-lo, formando as
foam cells
” (LUSIS, 2000).
Durante a infecção causada pelo vírus HIV, ocorre um aumento na produção de EROs.
Característica observada por SPADA et al. (2002), os quais realizaram um estudo com pacientes
HIV soropositivos onde os mesmos foram suplementados com antioxidante (α-tocoferol). Neste,
64
concluíram que houve uma associação positiva entre a suplementação com antioxidante e a
reconstituição imune nos pacientes suplementados com α-tocoferol.
Um dos pontos principais da “hipótese lipídica” da aterogênese é a concentração da HDL
correlacionar-se negativamente com a incidência da doença cardiovascular (JOHNSEN et al.,
2005). Este efeito protetor resulta de diversas ões da HDL, que incluem: efeito antioxidante,
antiinflamatório, antitrombótico e com papel maior no transporte reverso do colesterol (BARTER
et al., 2002). Estudos têm relatado uma ligação entre HDL e aterosclerose, evidenciando que a
oxidação da LDL é o maior fator para o desenvolvimento desta patologia e a HDL é capaz de
proteger as células endoteliais contra os efeitos citotóxicos desse processo através de enzimas
antioxidantes como a paraoxonase (NAVAB et al., 2001; KONTUSH & CHAPMAN, 2006).
Esta enzima está associada a HDL e é capaz de prevenir a oxidação da LDL e inativar os
fosfolipídios oxidados provenientes da mesma (COSTA et al., 2005). Em 2005 ESTEVE;
RICART; FERNANDEZ-REAL, relataram que durante o processo infeccioso ocorre uma
diminuição na atividade da PON 1 e em 2006 PARRA et al., demonstraram que pacientes
infectados pelo HIV apresentavam diminuição na atividade desta mesma enzima, o que vai ao
encontro dos resultados obtidos neste trabalho, como mencionado anteriormente. Com isso,
podemos observar que a propriedade antioxidante da HDL está alterada.
Alguns estudos realizados por CONSTANS et al. (1994), ZANGERLE et al. (1994),
SPOSITO et al. (1997) e DUCOBU & PAYEN (2000), demonstraram que pacientes HIV
soropositivos apresentavam diminuição dos níveis séricos de HDL. Porém, os pacientes deste
estudo não apresentaram diferença nos níveis séricos de HDL quando comparados ao grupo
controle. No entanto, em associação com alterações metabólicas as partículas de HDL perdem
suas atividades biológicas normais e adquirem novas propriedades, tornando-se partículas
disfuncionais (KONTUSH & CHAPMAN, 2006) e NAVAB et al. (2001) e GOU et al. (2005),
sugerem que mesmo em pacientes com concentrações de HDL normais, mas com alterações
metabólicas, podem ter HDL com funções anormais, sendo susceptível ao desenvolvimento de
aterosclerose e doença cardiovascular.
Como mencionado anteriormente, a HDL tem um papel maior no transporte reverso do
colesterol, evitando o acúmulo de colesterol nas células, o que poderia comprometer gravemente
a homeostase e essa função envolve trocas de lipídios entre as lipoproteínas.
65
O colesterol na sua forma esterificada e os triglicérides localizam-se no núcleo da
lipoproteína, enquanto que o colesterol livre se posiciona na superfície, entre moléculas de
fosfolípides que constituem a monocamada que envolve a partícula (VOET &VOET, 1995).
Diferenças de polaridade molecular, sendo a forma esterificada mais apolar do que a livre,
determinam essas localizações na partícula da lipoproteína, assim como das partículas da LDE. A
forma esterificada não tende a sair espontaneamente da lipoproteína. Proteínas especializadas,
chamadas de proteínas de transferência, promovem a movimentação de lípides como éster de
colesterol, triglicérides e fosfolípides, retirando essas moléculas de uma classe de lipoproteínas e
reposicionando-as em outra classe. Entre elas, a CETP é muito ativa no sentido de transferir tanto
éster de colesterol quanto triglicérides e a PLTP é muito ativa no sentido de transferir fosfolípides
e colesterol livre de uma partícula para outra (WANG & BRIGGS, 2004).
No presente trabalho, os pacientes HIV soropositivos apresentaram uma diminuição na
transferência de colesterol livre e de triglicérides da LDE para a HDL, no mesmo grupo, houve
um aumento da transferência de fosfolípide, monitorada pela taxa de transferência do
14
C-
colesterol livre,
3
H-triglicérides, e
14
C-fosfolípide. Ainda neste estudo, pôde-se observar uma
correlação positiva entre a taxa de transferência do
14
C-colesterol livre com os níveis séricos de
colesterol total (r = 0,4995), de HDL-colesterol (r = 0,5204), de LDL-colesterol (r = 0,3072), de
triglicerídeos (r = 0,2864), de glicose (r = 0,3470) e uma correlação negativa com a carga viral (r
= -0,2952). Houve correlação positiva entre
14
C-fosfolípide com os níveis séricos de triglicérides
(r = 0,3938), entre
3
H-colesterol éster com os níveis séricos de colesterol total (r = 0,5235), LDL-
colesterol (r = 0,4273) e triglicérides (r = 0,4816) e entre
3
H-triglicérides com os níveis séricos de
colesterol total (r = 0,4997), de
triglicérides (r = 0,4304) e contagem de células T CD8 (r =
0,3594).
Levando em consideração que a capacidade em receber lipídios de outras lipoproteínas seja
a característica fundamental da HDL, podemos dizer que os resultados do presente estudo
mostram que os pacientes infectados pelo HIV apresentam alterações nesta habilidade e,
conseqüentemente, uma alteração no circuito do transporte reverso do colesterol. Por se tratar de
uma lipoproteína com função anti-aterogênica, essa alteração pode ser importante na gênese da
doença cardiovascular.
A fim de esclarecer os circuitos envolvidos no transporte de lipídios, neste trabalho olhamos
para a HDL sob um aspecto qualitativo. O conjunto de alterações no metabolismo lipídico deve
66
contribuir para o desenvolvimento da doença cardiovascular e a contribuição destas alterações
precisa ser melhor elucidada.
A etiologia da doença cardiovascular é de caráter multifatorial e todos os esforços no
sentido de controlar os fatores envolvidos na sua formação podem contribuir para um sobrevida
maior e melhor qualidade de vida desses pacientes.
7 CONCLUSÕES
Os resultados obtidos no presente estudo permitem concluir que:
- A transferência de colesterol livre e de triglicérides da LDE para HDL foram maiores no grupo
HIV soropositivo e a transferência de fosfolípides e foi menor neste grupo, medidas pela taxa de
transferência de
14
C-CL, de
3
H-TG e de
14
C-PL. Com isso, pode-se sugerir que os pacientes
infectados pelo HIV apresentam alterações na habilidade da HDL em receber lipídios de outras
lipoproteínas, alterando o circuito do transporte reverso do colesterol. Essa alteração pode ser
importante na gênese de doenças cardiovasculares, por se tratar de uma lipoproteína anti-
aterogênica.
- A atividade sérica da paraoxonase 1 apresentou diminuição nos pacientes HIV soropositivos,
demonstrando possivelmente,
uma alteração funcional (antioxidante) da fração lipoprotéica HDL;
67
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79
ANEXOS
80
ANEXO 1. Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
81
ANEXO 2. Termo de Consentimento
82
TERMO DE CONSENTIMENTO
Eu, __________________________________________________________________________,
após ser esclarecido verbalmente sobre a presente pesquisa “Alterações no Metabolismo Lipídico
em Pacientes HIV soropositivos”, aceitei espontaneamente participar da mesma, concordando em
fornecer amostras de meu sangue a fim de que sejam realizados os testes laboratoriais prescritos
para avaliar o metabolismo lipídico e o sistema imune na infecção pelo HIV, os quais serão
realizados no Laboratório do Hospital Universitário, sito no Campus da Universidade Federal de
Santa Catarina, na cidade de Florianópolis e no Hospital das Clínicas INCOR, na cidade de São
Paulo. Embora os procedimentos de coleta de sangue sejam idênticos àqueles aplicados
rotineiramente e que a medicação tenha sido prescrita pelos médicos, fui detalhadamente
esclarecido a respeito dos procedimentos laboratoriais e clínicos a serem realizados. Estou ciente
que, embora a terapia antirretroviral apresente efeitos colaterais, terei toda a atenção médica
devida, desde que manifeste minha intenção de voltar a ser atendido. Sei também, que esta
pesquisa é feita sem fins lucrativos para mim e para os pesquisadores, e que ela é confidencial,
não sendo o meu nome objeto em qualquer de suas fases. Caso seja do meu interesse, poderei
desistir de participar desta pesquisa, em qualquer etapa, precisando informar apenas aos médicos
e pesquisadores a minha intenção neste sentido. Concordo com a publicação dos resultados
obtidos na pesquisa e que, caso algum resultado seja de interesse clínico, eu tenha ao meu dispor
todo o atendimento médico para a melhoria de minha saúde.
Estou consciente da importância desta pesquisa e de que receberei os resultados com explicação
detalhada dos seus significados.
Florianópolis,............/............../...............
Telefone (s) para contato:
Endereço:
_________________________________________________________
Assinatura
83
ANEXO 3. Tabela com as Médias de Contagem de Linfócitos T CD4 e T CD8 e Carga Viral
dos Pacientes HIV Soropositivos
84
Tabela com a contagem de linfócitos T CD4, linfócitos T CD8 e Carga Viral dos pacientes
HIV soropositivos.
Grupo HIV + n Média Desvio Padrão Mínimo Mediana Máximo
CD4
48 438 243 13 399 1301
CD8
48 1005 697 256 866 4753
Carga Viral
48 18312 51303 80 470 270000
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