de faculdade pitoresca do cérebro, cem mil imagens saltando ao mesmo tempo, como fogos de
artifício. Havia um arrancamento da alma do corpo, atroz (eu tenho a sensação de ter morrido
vária vezes). Mas o que constitui a personalidade, ser-razão, ia até o fim; sem isso o
sofrimento teria sido nulo, pois eu teria sido puramente e passivo e sempre tinha consciência,
mesmo quando não podia falar [...]” Analisando este discurso do escritor, pode-se deduzir que
é uma descrição de crise sensitiva, seguida de perda de fala e posteriormente da consciência.
Flaubert sofria de várias crises convulsivas semanais e inúmeras crises sensitivas
diariamente, mas não o suficiente para embotá-lo e o impedir escrever sua obra literária.
Dostoiéviski, o atormentado escritor russo, sofreu com a epilepsia desde a
juventude. Sob a sua pena, deixou marcas e registros em seus romances das aflições psíquicas,
dos conflitos sociais, religiosos, e um traço perturbador e tênue entre a sanidade e a loucura.
Sua vida foi conturbada, tanto política, social ou pessoal, passou por prisões, perdeu amores,
filhos, viciou-se e, muito cedo, lançou-se no “subsolo da humanidade.” Foi uma vida densa.
No romance “O Idiota,” descreveu uma detalhada crise epiléptica do lobo temporal que só
viria ser descrita no meio médico 20 anos depois (YACUBIAN, 2003).
A crise narrada pelo príncipe Michkín, personagem principal do romance, tinha
um curto estado de êxtase, de felicidade absoluta logo seguida por uma profunda tristeza,
melancolia e profundo sentimento de culpa. Pelo curto estado de êxtase, descreveu: “[...] por
este só momento se daria a vida!”, então esse momento, sem dúvida, valia realmente por toda
a vida.
Apesar de todo o sofrimento, Dostoiévski confessou: “Sim, tenho a doença das
quedas, a qual não é causa de vergonha para ninguém. E a doença das quedas não impede a
vida.” (SOUZA, 2004). Ele deixou fluir para a escrita o possível estigma de “ser epiléptico.”
Uma catarse. Catarse que revelou o gênio? Ou o gênio em catarse?
Para encerrar esta pequena mostra da capacidade inconteste dos pacientes
portadores de epilepsia, dos comuns aos geniais, é imprescindível se lembrar de Van Gogh e
sua história de vida não menos sofrida dos que acabamos de descrever. Nascido na Holanda,
viveu uma infância melancólica em uma região de “céu constantemente nublado”, somado a
isso, cresceu em uma família cheia de sofrimentos, sem viço pela vida, entre doentes mentais.
Cresceu com baixa auto-estima, consciência vívida de morte, pois desde cedo, visitava com a
família semanalmente o túmulo do irmão primogênito. Era preterido pelos pais, tinha em seu
irmão, Théo, então, o esteio para suas angústia e um incentivador para sua pintura.
Aos 33 anos foi para a Cidade Luz, Paris, onde se envolveria com os
impressionistas e daria fluência a sua arte. Mais tarde, mudou–se para Arles, fase de intenso