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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA RURAL
JOSIANE APARECIDA DE LIMA OLIVEIRA
ANÁLISE DA (AUTO) SUSTENTABILIDADE DO PERÍMETRO IRRIGADO BAIXO
ACARAÚ: UM ESTUDO DE CASO
FORTALEZA – CE
2008
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2
JOSIANE APARECIDA DE LIMA OLIVEIRA
ANÁLISE DA (AUTO) SUSTENTABILIDADE DO PERÍMETRO IRRIGADO BAIXO
ACARAÚ: UM ESTUDO DE CASO
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-
Graduação em Economia Rural (mestrado), da
Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Ph.D Maria Irles Oliveira Mayorga
FORTALEZA - CE
2008
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3
Margareth de Figueiredo Nogueira Mesquita – Bibliotecária/UFC
-
CRB-543
O48a Oliveira, Josiane Aparecida de Lima
Análise da (auto) sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú: Um estudo de caso. Fortaleza, 2008.
127fl. il. 21 cm.
Orientador Profª. Ph.D Maria Irles de Oliveira Mayorga.
Mestrado (Dissertação) em Economia Rural.
1.Sustentabilidade. 2.Índices. 3.Desenvolvimento local e regional.
4. Perímetro Irrigado Baixo Acaraú. I.
Título.
CDD
-
4
JOSIANE APARECIDA DE LIMA OLIVEIRA
ANÁLISE DA (AUTO) SUSTENTABILIDADE DO PERÍMETRO IRRIGADO BAIXO
ACARAÚ: UM ESTUDO DE CASO
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Economia Rural
(mestrado), da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre.
Aprovada em 30/05/2008
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Profª. Ph.D Maria Irles Oliveira Mayorga (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará – UFC
_________________________________________
Profª. Dra. Patrícia Verônica Pinheiro Sales Lima
Universidade Federal do Ceará – UFC
__________________________________
Prof. Dr. José Sydrião de Alencar Junior
Superintendente do ETENE
BNB – Banco do Nordeste do Brasil
5
DEDICO
A Deus, que me conduziu frente aos obstáculos
encontrados ao longo do caminho;
aos meus pais, pessoas fundamentais na minha formação;
ao meu marido, companheiro e incentivador;
aos meus familiares, que me apoiaram em todos os
momentos;
aos meus amigos do curso de mestrado e professores, que
contribuíram para esta conquista.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, que guia meus passos, pela saúde e força em todos os momentos da minha vida.
Aos meus pais, Nivaldo e Maria Aparecida, aos meus irmãos, Sérgio e Silvânia, e a toda a
minha família, por acreditarem na minha capacidade e por me incentivarem a concluir este
trabalho.
Ao meu marido Fabrício, pelo companheirismo, amor, paciência e compartilhamento em
todos os momentos no decorrer do curso.
À minha orientadora, Professora Drª. Maria Irles Oliveira Mayorga, pelo apoio na minha
decisão de ingressar no mestrado em Economia Rural e pela confiança e ensinamentos
importantes.
À Professora Drª. Patrícia Verônica Pinheiro Sales Lima, co-orientadora, e ao
Superintendente do Banco do Nordeste do Brasil e membro da banca, Dr. José Sydrião de
Alencar Junior, pelas contribuições na elaboração deste trabalho.
Aos Professores do Departamento de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará,
pelas oportunidades, conselhos e ensinamentos transmitidos.
Aos Funcionários do Departamento de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará,
pelo auxílio e atenção no decorrer do curso.
A todos os colegas da pós-graduação, especialmente Izabel e Rachel, pelos bons momentos de
estudo e auxílios.
Ao Diretor do Centro de Ciências Agrárias, Prof. Sebastião Medeiros Filho, e à sua esposa,
Rosa, pelo apoio em todos os momentos.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão
da bolsa de estudos e por acreditar e investir nas possibilidades de crescimento intelectual do
ser humano e do país.
Ao Banco do Nordeste do Brasil, pelo apoio financeiro oferecido para realização deste
trabalho.
Aos gerentes, técnicos e funcionários do DIBAU (Distrito Irrigado Baixo Acaraú), pelo
atendimento às solicitações a respeito das informações sobre o Perímetro.
À Universidade Federal do Ceará e ao Departamento de Economia Agrícola, pela
oportunidade de concretização desta etapa da minha vida.
A todos que, de alguma forma, colaboraram para a realização e finalização deste trabalho.
7
RESUMO
Em várias partes do território nacional pode-se perceber a preocupação com a questão
da insuficiência de recursos hídricos, que se tornam mais escassos à medida que a população,
a indústria e a agricultura se ampliam. No semi-árido brasileiro, a questão é ainda mais
delicada, pois a importante interferência de fatores climáticos, como ocorrência de secas e
irregular distribuição de chuvas, que comprometem a disponibilidade de água. A utilização da
irrigação torna-se essencial para que os indivíduos possam exercer atividades agrícolas em
regiões como esta, embora seja a atividade que mais desperdice água. É necessário que se
utilizem métodos de irrigação que permitam o maior aproveitamento desse precioso líquido.
Com o objetivo de possibilitar ao agricultor meios para produzir, de promover a melhoria de
vida do produtor rural e de gerar desenvolvimento local e regional, surgem os programas de
irrigação implantados pelo Governo através do Departamento Nacional de Obras Contra as
Secas (DNOCS), como o projeto do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú. No entanto, o
desempenho destes projetos precisa ser avaliado, que se constituem num custo de
oportunidade muito grande para a sociedade. Desta forma, conduziu-se este trabalho, com o
objetivo de analisar a (auto) sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, avaliando
questões econômico-financeiras, as dimensões social, ambiental, econômica e institucional,
por meio de um conjunto de índices de sustentabilidade capazes de possibilitar o
entendimento da realidade da região, além de observar as características dos irrigantes deste
perímetro e sua integração rumo ao desenvolvimento sustentável. O procedimento
metodológico adotado iniciou-se com a coleta dos dados primários, que foram tratados e
organizados. A seguir, foram construídos o índice de sustentabilidade e os índices individuais
de sustentabilidade para as dimensões social, ambiental, econômica e institucional. Os índices
resultantes deste estudo são apresentados e os resultados indicam que a sustentabilidade no
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú pode ser questionada, uma vez que o índice de
sustentabilidade apresenta grau médio e os índices individuais para as dimensões apresentam
índices de sustentabilidade de grau médio ou ruim, o que sinaliza que esta atividade ainda não
se traduziu em melhores condições vida e desenvolvimento para a população local.
Palavras-Chaves: Sustentabilidade, Índices, Desenvolvimento local e regional, Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú.
8
ABSTRACT
All across the national territory a preoccupation with the insufficiency of the hydric
resources can be noticed, such resources become scarcer as the population, industry and
agriculture grows. This issue is even more complicated in the Brazilian semi arid, because
there is the interference of the climate factors, such as droughts and irregular rain distribution
that compromise the water availability. The use of irrigation becomes essential for the
individuals to perform agricultural activities in such regions, although those activities are the
ones that waste water the most. Irrigation methods that allow the greatest use of this precious
liquid should be adopted. With the objective of giving the cropper ways to produce and a life
improvement and to generate both local and regional development, arise irrigation programs
implanted by the Government through the National Department of Works Against the
Drought (DNOCS), such as the Baixo Acaraú Irrigation Perimeter project. However, the
execution of those projects need to be evaluated they are a large opportunity cost for society.
This current research will analyze the (auto) sustainability of the Baixo Acaraú Irrigation
Perimeter, evaluating economical and financial matters, social, environmental, economical
and institutional dimensions through a group of sustainability indexes capable of providing an
understanding of the reality of the region, in addition to observing the characteristics of this
perimeter’s irrigators and their integration towards sustainable development. The
methodological procedure adopted started with the gathering of the primary data, which were
treated and organized. Hereinafter, were built the levels of sustainability and the individual
sustainability indexes for the social, environmental, economical and institutional dimensions.
The resulting indexes from this studies are presented and the results indicate that the
sustainability in the Baixo Acaraú Irrigation Perimeter can be questioned, once the
sustainability index shows a medium or poor degree, which indicates that this activities has
not translated itself into better life conditions and development to the local population yet.
Key-words: Sustainability, Indexes, Local and Regional Development, Baixo Acaraú
Irrigation Perimeter
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 01- Pirâmide de Informações....................................................................... 38
Figura 02- Mapa de localização do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú no
Estado do Ceará......................................................................................
54
Figura 03- Escopos e seus indicadores contextualizados para o Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú...........................................................................
65
Figura 04- Ocupação da terra de propriedade dos produtores do Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú...........................................................................
90
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 01- Valores dos índices de sustentabilidade obtidos por Rabelo (2007)......... 51
Tabela 02- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo o número de moradores no domicílio..............................
86
Tabela 03- Distribuição de freqüência dos moradores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a relação de parentesco com o produtor
entrevistado....................................................................................................
87
Tabela 04- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo o gênero..............................................................................
87
Tabela 05- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a idade................................................................................
88
Tabela 06- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a escolaridade....................................................................
88
Tabela 07- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a alfabetização...................................................................
89
Tabela 08- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo o exercício de outra ocupação no período
compreendido entre 01/01/2007 e 31/12/2007..............................................
89
Tabela 09- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo os tipos de lotes..................................................................
90
Tabela 10- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a principal moradia...........................................................
91
Tabela 11- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a fonte de água utilizada para beber...............................
93
Tabela 12- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo os métodos de controle de pragas utilizados na
unidade produtiva..........................................................................................
94
Tabela 13- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a utilização de fogo na unidade produtiva......................
94
Tabela 14- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a realização de plantio de árvores para fins de
conservação do solo........................................................................................
94
Tabela 15- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a adoção de práticas de plantio para evitar
degradação do solo..................................................................................
95
Tabela 16- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a área total irrigada na propriedade...............................
96
Tabela 17- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo a sol
icitação de crédito ou outros financiamentos para
as atividades desenvolvidas...........................................................................
97
Tabela 18- Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú segundo o tipo de assistência técnica recebido..............................
98
Tabela 19- Escolaridade dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acarcom
mais de 25 anos...............................................................................................
101
Tabela 20-
Acesso à educação pelos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú.............................................................................................................
101
11
Tabela 21- Taxa de escol
arização de pessoas entre 7 e 14 anos residentes no
domicílio dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú................
102
Tabela 22- Taxa de alfabetização de pessoas maiores de 15 anos no domicílio dos
produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.......................................
103
Tabela 23-
Tipologia da moradia referente à estrutura e piso existentes no
domicílio dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú................
103
Tabela 24- Tipologia da moradi
a referente à cobertura e número de cômodos
existentes no domicílio dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú.............................................................................................................
104
Tabela 25- Abastecimento de energia utilizado no domicílio dos produtores do
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú................................................................
104
Tabela 26-
Serviços de saúde disponíveis aos produtores do Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú..................................................................................................
105
Tabela 27- Freqüência das visitas de agentes de saúde aos produtores do
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú................................................................
105
Tabela 28-
Opções de lazer disponíveis aos produtores do Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú..................................................................................................
105
Tabela 29- Princ
ipal forma de abastecimento de água utilizada na propriedade
pelos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.............................
106
Tabela 30- Acesso a esgotamento sanitário pelos produtores do Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú..................................................................................................
107
Tabela 31- Principal destinação dada aos dejetos pelos produtores do Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú...................................................................................
107
Tabela 32-
Disponibilidade de coleta de lixo no domicílio dos produtores do
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú................................................................
107
Tabela 33- Principal dest
inação dada ao lixo do domicílio dos produtores do
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú................................................................
108
Tabela 34-
Classificação da qualidade da água destinada ao consumo humano
pelos dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.......................
108
Tabela 35-
Tratamento dado à água utilizada para consumo humano pelos
produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.......................................
108
Tabela 36- Utilização de agrotóxicos/fertilizantes químicos nas atividades agrícolas
pelos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.............................
109
Tabela 37-
Conhecimento dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
sobre a legis
lação a respeito do uso de agrotóxico/fertilizantes nas
atividades agrícolas........................................................................................
109
Tabela 38-
Renda média anual dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú proveniente de atividades no Perímetro.........................................
110
Tabela 39-
Consumo de bens duráveis pelos produtores do Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú..................................................................................................
112
Tabela 40-
Participação de organização social, política ou outra pelos produtores
do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú...........................................................
112
Tabela 41- Recebimento de assistência técnica para orientar os produtores do
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú sobre técnicas de cultivo, preços e
problemas de ciclo de oferta.........................................................................
113
Tabela 42- Freqüência
da prestação de serviço de assistência cnica aos
produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.......................................
113
Tabela 43- Acesso dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú à
informações capazes de auxi
liar em processos de tomada de decisão
a respeito de assunto de interesse da comunidade......................................
114
12
Tabela 44- Recebimento de apoio/informações a respeito de comercialização pelos
produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.......................................
114
Tabela 45-
Valores do índice de sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú.............................................................................................................
115
Tabela 46-
Valores do índice de sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú considerando somente a variável rendimento como indicador
econômico.......................................................................................................
115
Tabela 47-
Graus de sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú..............
116
Tabela 48- Graus de sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú -
considerando somente a variável rendimento como indicador
econômico.......................................................................................................
116
13
LISTA DE QUADROS
Quadro 01-
Características necessárias para a construção de sistemas de
indicadores adequados................................................................................
43
Quadro 02- Princípios de Bellagio.................................................................................. 47
Quadro 03- Indicadores de desenvolvimento sust
entável utilizados por Melo e
Lustosa (2005)..............................................................................................
50
Quadro 04- Indicadores de desenvolvimento sustentável selecionados por Rabelo
(2007)............................................................................................................
51
Quadro 05- Importância e pesos relativos dos indicadores de sustentabilidade....... 61
Quadro 06- Graus de sustentabilidade...........................................................................
64
Quadro 07- Quadro do Índice Social, indicadores utilizados e variáveis e
escores...........................................................................................................
66
Quadro 08-
Quadro do Índice Ambiental, indicadores utilizados e variáveis e
escores...........................................................................................................
71
Quadro 09- Quadro do Índice Econômico, indicadores utiliza
dos e variáveis e
escores...........................................................................................................
75
Quadro 10-
Quadro do Índice Institucional, indicadores utilizados e variáveis
e escores........................................................................................................
77
14
LISTA DE SIGLAS
APAFG - Associação de Produtores de Algas das Comunidades de Flecheiras e Guajirú
BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
BNB - Banco do Nordeste do Brasil
CAGECE - Companhia de Água e Esgoto do Ceará
CDS - Comissão de Desenvolvimento Sustentável
CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL)
CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas
CNUCED - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
COELCE - Companhia Energética do Ceará
DIBAU - Distrito de Irrigação do Baixo Acaraú
DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
ECOSOC - Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
EIA - Estudo de Impactos Ambientais
EMATERCE - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará
ETENE - Escritório Técnico de Estudos do Nordeste
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ISI - Industrialização Via Substituição de Importações
MIT - Massachusetts Institute of Technology
ONG - Organização Não-Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
PAPP - Programa de Apoio ao Pequeno Produtor
PCAV - Projeto Cultivo das Algas Vermelhas
PIB - Produto Interno Bruto
PIN - Plano de Irrigação Nacional
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PROINE - Programa de Irrigação do Nordeste
PROTERRA - Programa de Redistribuição de Terras
RIMA - Relatório de Impactos Ambientais
SEAGRI - Secretaria de Desenvolvimento Agrário
SEEBLA - Serviços de engenharia Emílio Baumgart Ltda.
SEMACE - Superintendência Estadual do Meio Ambiente
15
SIM - Serviço de Informações de Mercado
SPSS - Statistical Package for Social Sciences
SRH - Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará
SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
UFC - Universidade Federal do Ceará
UNB - Universidade de Brasília
16
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 18
1.1 O Problema e sua Importância............................................................................ 19
1.2 Hipótese.................................................................................................................. 21
1.3 Objetivos................................................................................................................ 21
1.3.1 Objetivo Geral......................................................................................................... 21
1.3.2 Objetivos Específicos.............................................................................................. 22
2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................
23
2.1 As Vulnerabilidades da Atividade Rural............................................................ 23
3
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................
29
3.1 Evolução do Conceito de Desenvolvimento Sustentável.................................... 29
3.2 Desenvolvimento do Capitalismo no Brasil e seus Elementos de Não
sustentabilidade.....................................................................................................
32
3.3 Conceito de Auto-Sustentabilidade......................................................................
34
3.4 Conceito de Sustentabilidade............................................................................... 35
3.5 Indicadores de Desenvolvimento Sustentável..................................................... 36
3.5.1 Indicadores: Principais Aspectos............................................................................ 36
3.5.2 Componentes e Características de Indicadores de Sustentabilidade....................... 39
3.5.3 Formulação e Aplicação de Indicadores de Sustentabilidade................................. 42
3.5.4 Limitações dos Indicadores de Sustentabilidade..................................................... 44
3.5.5 Aspectos Relevantes na Formulação de Sistemas de Indicadores para a
Avaliação de Sustentabilidade................................................................................
46
3.6 Sistemas de Indicadores Relacionados ao Desenvolvimento Sustentável........ 49
4
MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................
53
4.1 Área Geográfica de Estudo...................................................................................
53
4.1.1 Justificativa da Área Geográfica de Estudo............................................................ 54
4.1.2 Perímetro Irrigado Baixo Acaraú............................................................................ 55
4.2 Área Cientifica de Estudo..................................................................................... 58
4.2.1 Métodos de Análise................................................................................................. 59
4.3 Avaliação da (Auto) Sustentabilidade................................................................. 60
4.3.1 Análise Ex-Post....................................................................................................... 60
4.3.2 Análise Em Processo............................................................................................... 60
4.3.2.1 Cálculo dos Índices de Sustentabilidade para as Dimensões Social, Ambiental,
Econômica e Institucional.......................................................................................
61
4.3.2.2 Cálculo do Índice de Sustentabilidade.................................................................... 62
4.3.2.3 Identificação do Grau de Sustentabilidade.............................................................. 63
4.3.2.4 Definição e Classificação dos Indicadores de Sustentabilidade..............................
64
4.3.3 Análise Ex-Ante...................................................................................................... 79
4.4 Fontes de Dados..................................................................................................... 80
4.5 Estudo de Caso...................................................................................................... 81
5
RESULTADOS......................................................................................................
83
17
5.1 Análise Ex-Post...................................................................................................... 83
5.2 Análise Em Processo – Análise da Sustentabilidade.......................................... 86
5.2.1 Características dos Produtores de Perímetro Irrigado Baixo Acaraú...................... 86
5.2.2 Índice de Sustentabilidade para as Dimensões Social, Ambiental, Econômica e
Institucional.............................................................................................................
100
5.2.3 Índice de Sustentabilidade....................................................................................... 115
5.3 Análise Ex-Ante – Análise da Auto-Sustentabilidade........................................ 116
6
CONCLUSÃO.......................................................................................................
118
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA......................................................................................
124
18
I INTRODUÇÃO
A água, um recurso natural renovável, é um elemento indispensável à vida de todos os
seres humanos e à manutenção dos ecossistemas. Propicia diversos tipos de usos que podem
ser consuntivos e não consuntivos. No primeiro caso, ocorrem perdas ou consumo entre o que
é retirado e o que retorna ao curso natural, como o uso doméstico, industrial e irrigação. O uso
não consuntivo é aquele em que não perdas, consumo ou desperdício, como, por exemplo,
a utilização da água para geração de energia elétrica, navegação, pesca e composição
paisagística (MOTA, 1988).
Cerca de 97,5% de toda a água mundial está nos oceanos gua salgada), 2,49% está
nas regiões polares, subterrâneas ou em aqüíferos de difícil e alto custo de extração. Somente
0,007% de toda a água no planeta é potável, apropriada para uso (MENCONI, 2002).
Este recurso renovável apresenta-se de maneira irregular no planeta, ou seja,
abundante em algumas regiões e escasso em outras. Segundo Leal; Guimarães (1997) apud
Lima (1999), o Brasil, embora possua 12% dos recursos hídricos de escorrimento superficial
de todo o mundo, apresenta heterogeneidade na sua distribuição entre as regiões, estando a
maior parte desta água (72%) na bacia do rio Amazonas, região com baixo índice
populacional.
Verifica-se a importância do gerenciamento dos recursos hídricos como meio de
suavizar os impactos da distribuição das fontes de água, por meio da gestão integrada das
águas, do planejamento, regulação e controle de seu uso, bem como da conservação,
reaproveitamento e recuperação destes recursos naturais.
Em regiões onde escassez de água, ocorrência de secas, deficiências,
irregularidades e má distribuição das chuvas, a utilização da irrigação torna-se meio essencial
para que se possa produzir, pois estes fenômenos climáticos, como se observa no nordeste
brasileiro, são capazes de comprometer safras e dizimar rebanhos, atingindo a população que
depende dessas atividades e deixando-a em estado de pobreza (OLIVEIRA, 1994).
19
Embora a irrigação seja necessária, considerando as condições apresentadas, seu uso
deve ser racional, pois a agricultura é um dos setores que mais usa e consome água e a
irrigação é a atividade que apresenta maior desperdício.
A agricultura é responsável, anualmente, por 65% do uso e 87% do consumo
1
total de
água no mundo, enquanto para a indústria esses valores são de 24% e 6%, respectivamente
(ALMEIDA, 2001).
Este setor é também o que mais desperdiça água, que a irrigação deixa de aproveitar
cerca de metade da água utilizada, que não atinge as plantações, perdida pela infiltração no
solo. Além disso, sistemas de irrigação mal planejados e/ou mal operados podem provocar a
salinização e degradação dos solos. A melhoria da eficiência dos sistemas de irrigação e sua
correta utilização são condições essenciais para se atingir o desenvolvimento sustentável.
Nesse contexto, percebe-se a importância dos programas de irrigação implantados pelo
Governo, através do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), com o
objetivo, entre outras finalidades, de promover a melhoria da qualidade de vida do produtor
rural e distribuir mais equitativamente a renda. É essencial, também, se fazer avaliações e
análises acerca do desempenho destes projetos no que diz respeito à sustentabilidade em seus
escopos social, ambiental, econômico e institucional, que representam custo de
oportunidade muito grande para a sociedade.
1.1 O Problema e Sua Importância
O Estado do Ceará, situado no Nordeste do Brasil, ocupa uma área geográfica de
148.825,602 km
2
, contendo 184 municípios divididos em sete mesorregiões. O seu território
equivale a 9,4% da área do Nordeste e a 1,7% da área do Brasil. Com 93% de seu território
inserido no semi-árido, o Estado apresenta as características comuns a esse tipo de região, que
são: a baixa precipitação média anual, de cerca de 750 mm, grandes variações pluviométricas
intra e interanuais, solos cristalinos, impermeáveis, rasos e pedregosos (FIGUEROA, 1977
apud PINHEIRO, 1998).
1
Uso e consumo de água não são sinônimos. Segundo Pereira (2005), o uso da água corresponde à mobilização
de uma certa quantidade de água para determinado fim. Parte dessa água retorna ao ambiente e a parte que não
retorna corresponde ao consumo.
20
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007), sua
população estimada no ano de 2007 era de 8.185.250 habitantes.
As bacias hidrográficas do Estado, de acordo com a Secretaria de Recursos Hídricos
do Ceará (SRH, 2007) são: Coreaú, Acaraú, Litoral, Curu, Metropolitana, Parnaíba, Banabuiú,
Baixo Jaguaribe, Médio Jaguaribe, Alto Jaguaribe e Salgado.
O caráter intermitente é a característica principal dos rios do Ceará. A ocorrência
periódica de secas e a dependência da água da chuva fazem com que os rios estaduais sequem
nos períodos de estiagem.
De acordo com Lima (2002), as principais características do recurso água no Estado
são: rios intermitentes, águas subterrâneas limitadas, baixa precipitação e escoamento
superficial pequeno, altas temperaturas e altas taxas de evaporação (acarretando baixa
eficiência hidrológica dos reservatórios e um desperdício das águas das chuvas em torno de
75%). Além disso, o Estado apresenta grande parte de seu subsolo com baixa capacidade de
armazenamento de água.
Segundo Pinheiro (1998), 70% do território do Estado é composto
por rochas cristalinas e o baixo poder de retenção de água desses solos impossibilita a
formação de reservas significativas de água nos períodos de estiagem.
O fato de o Ceará não possuir rios perenes incentivou, ao longo de décadas, a
construção de reservatórios de pequeno, médio e grande porte, tanto pela iniciativa privada,
como pelo governo, visando à regularização da oferta de água nos períodos secos
(PINHEIRO, 1998).
Informações da SRH (2007) indicam que no Estado existem atualmente 8.000 açudes,
com capacidade total de acumulação de cerca de 18 bilhões de metros cúbicos de água. As
condições climáticas do Estado conferem à irrigação importância fundamental como
instrumento para viabilizar uma agricultura mais produtiva.
De acordo com o DNOCS (2007), existem no Ceará 14 perímetros Irrigados: Araras
Norte, Ayres de Souza, Baixo Acaraú, Curu-Paraipaba, Curu-Pentecoste, Ema, Forquilha, Icó-
Lima Campos, Jaguaribe-Apodi, Jaguaruana, Morada Nova, Quixabinha, Tabuleiros de
Russas e Várzea do Boi.
21
Estes projetos de irrigação implantados pelo Governo, pelo DNOCS, são importantes
meios para possibilitar a melhoria das condições de cultivo, da qualidade de vida do produtor,
gerar emprego e renda e, conseqüentemente, promover o crescimento e desenvolvimento
local. Porém, observa-se que, nos quatro maiores perímetros irrigados implantados pelo
governo federal no Estado (Baixo Acaraú, Tabuleiros de Russas, Jaguaribe-Apodi e Araras-
Norte), o índice de ocupação não chega a 20% (CASTRO, 2007).
A baixa utilização destas áreas compromete a consecução dos objetivos dos projetos
de irrigação. No Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, a relação entre os custos de manutenção e a
baixa arrecadação, que se deve à acanhada ocupação, sugerem que o mesmo não consiga
atingir a sustentabilidade e a auto-sustentabilidade.
Análises acerca do andamento do projeto, bem como de seus resultados, devem ser
realizadas em rao não somente da importância da alocação eficiente de recursos como a
água, que é um dos fatores determinantes do sucesso das atividades agrícolas, mas também do
fato de que um projeto público acarreta um custo de oportunidade para a sociedade, sendo
essencial, portanto, sua avaliação como objeto de políticas públicas.
Desta forma, pode-se perceber a necessidade da realização deste estudo.
1.2 Hipótese
O Perímetro lrrigado Baixo Acaraú pode apresentar sustentabilidade, porém o
apresenta auto-sustentabilidade.
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral
Analisar a (auto) sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, numa
abordagem ex-post, em processo e ex-ante.
22
1.3.2 Objetivos Específicos
Especificamente pretende-se:
a) Realizar análise ex-post do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú;
b) Realizar análise em processo do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, através de:
i. Caracterização do perfil do irrigante do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú;
ii. Cálculo dos índices de sustentabilidade para as dimensões social, ambiental,
econômica e institucional;
iii. Cálculo do índice de sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú;
c) Realizar análise ex-ante do Perímetro Irrigado Baixo Acar quanto à sua auto-
sustentabilidade econômico-financeira.
23
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 As Vulnerabilidades da Atividade Rural
De acordo com a literatura, uma das maiores fragilidades da economia brasileira é a
vulnerabilidade externa. Na década de 1940, se observava que a entrada de divisas
dependia das exportações de poucos produtos primários, caracterizando o Brasil como
tradicional exportador de produtos primários e importador de produtos industrializados, fato
que sinalizava que a região estava condenada ao subdesenvolvimento caso algo não fosse
feito para reverter essa situação (CARVALHO; SILVA, 2005).
De acordo com Carvalho; Silva (2005), o governo passou então a interferir na
economia com a adoção de práticas protecionistas e investimento em infra-estrutura para
impulsionar a industrialização, visando ao chamado desenvolvimento por substituição de
importações. Desta forma, o país se converteu de uma economia primário-exportadora para
uma sociedade urbana e industrial. No entanto, a estratégia gerou grande endividamento
externo, forçando o rompimento do modelo em direção à abertura comercial na cada de
1990.
Segundo os mesmos autores, a partir de 1995, a balança comercial brasileira começou
a registrar déficits, situação que somente foi revertida em 2001. Estes déficits agravaram o
déficit em transações correntes, que acabou sendo financiado por empréstimos,
financiamentos e investimentos estrangeiros, o que originou, como conseqüência, remessas de
lucros e pagamentos de juros, desencadeando novos déficits. Para não alimentar esse ciclo
vicioso, as exportações devem prover divisas suficientes para efetuar essas remessas, para que
o endividamento não se agrave e que novas crises no balanço de pagamentos não ocorram. A
geração de divisas não se destina somente ao pagamento das despesas com importações, mas
também a equilibrar o saldo de todas as transações correntes do balanço de pagamentos que
englobam o balanço de serviços, o balanço de rendas e as transferências, além da balança
comercial.
A partir de 2001, o país voltou a ter superávit comercial, chegando a apresentar
superávit em transações correntes de US$ 4 bilhões em 2003. O crescimento das exportações
agrícolas contribuiu significativamente para esses superávits e aumentou a importância
24
relativa do setor no Produto Interno Bruto (PIB). A taxa de crescimento do PIB agropecuário
tem sido superior à do PIB total, apresentando diferenças mais acentuadas nos últimos anos
(CARVALHO; SILVA, 2005).
Segundo Teixeira (2007), alguns números do agronegócio mostram o seu desempenho
no período recente, como a participação de mais de 30% no PIB, o aumento da produção de
grãos, entre 1995 e 2005, de 80 para 120 milhões de toneladas, o crescimento de 40% da
produtividade agrícola, entre 1990 e 2004, o aumento das exportações agrícolas, entre 2000 e
2006, de US$ 20,5 bilhões para US$ 50 bilhões, o aumento da participação do Brasil no
comércio agrícola mundial de 5,7% contra a média histórica de 3%, entre outros.
Os resultados sobre o desempenho da atividade podem ser entendidos como sucesso
para o setor. Contudo, sob o enfoque do conjunto da economia, esse progresso caracteriza
aumento da vulnerabilidade externa do país (CARVALHO; SILVA, 2005)
.
Os autores afirmam que, embora tenha contribuído significativamente para a geração
de divisas, o setor agrícola não deve assumir papel de principal fonte fornecedora, sob pena de
colocar o país numa situação de vulnerabilidade, por várias razões. A primeira é a grande
concentração das exportações agrícolas em poucos produtos, o que aumenta a variabilidade do
ingresso de divisas e, um aspecto básico da sustentabilidade do crescimento econômico de um
país é, justamente, sua garantia com relação aos ingressos de divisas para honrar os
compromissos externos. A segunda diz respeito ao crescimento da participação dos produtos
primários na composição do PIB, tornando o país dependente de produtos agrícolas como
fonte de divisas, o que é um obstáculo ao desenvolvimento. Outra razão, ainda, é que a taxa
de crescimento das importações agrícolas mundiais é menor que a dos demais produtos e os
países mais desenvolvidos apresentam tendência de redução ainda mais acentuada, enquanto
as exportações brasileiras aumentam e mais crescem para os mercados dos países em
desenvolvimento, que nem sempre têm capacidade sustentada de pagamentos.
Além destas razões, ainda citam o fato de que a demanda mundial por produtos
primários é relativamente decrescente e cresce menos que a dos produtos industrializados, de
que a variabilidade dos preços e quantidades do comércio agrícola é bem maior que a dos
produtos industrializados, de que o relativo sucesso das exportações brasileiras mais se deve
ao aumento das quantidades exportadas e de que as relações de troca das exportações
25
agrícolas têm declinado nas últimas décadas e têm sido desfavoráveis ao Brasil pelo fato de
que a evolução dos preços dos produtos manufaturados foi bem mais favorável que a dos
agrícolas, que apresentaram queda. Isso contribui para salientar a condição de vulnerabilidade
do setor.
De acordo com Teixeira (2007), a queda dos preços agrícolas vem sendo
acompanhada pelo aumento dos custos de produção. Diante deste cenário, os países ricos
recorrem à práticas protecionistas e subsídio aos seus agricultores, mas nos países em
desenvolvimento, perante as suas impossibilidades financeiras de recorrerem às mesmas
estratégias, os grandes agricultores se amparam em fatores como a “cultura” da inadimplência
no crédito rural, desonra da remuneração e condições do trabalho, exploração intensiva e
extensiva dos recursos naturais, entre outros, para a sobrevivência na atividade. Na origem do
processo de queda dos níveis de rentabilidade econômica da atividade agrícola primária,
estariam os seguintes fatores: protecionismo e os subsídios agrícolas praticados pelos países
ricos; a característica de superprodução do modelo agrícola produtivista; a concentração e a
centralização econômica dos capitais industrial, financeiro e comercial no entorno da
atividade agrícola e a estabilização relativa do consumo alimentar no mundo.
O desenvolvimento econômico tem como uma de suas conseqüências a queda da
importância relativa da agricultura na atividade econômica. No Brasil, esse processo ocorreu
entre 1950 e 1990, em razão da adoção do modelo de substituição de importações, quando a
participação do setor no PIB caiu à taxa média anual de 2,3%. Na década de 1950, a
agricultura representava 25% do PIB brasileiro e chegou ao mínimo de 7,6% em 1993. A
partir de então, o setor voltou a crescer mais que o restante da economia (CARVALHO;
SILVA, 2005).
Segundo Carvalho; Silva (2005), o crescimento econômico também tem como
resultado o aumento das importações, mas as exportações devem gerar as divisas necessárias
para pagar pelas importações, para não agravar o endividamento externo.
Os autores afirmam ainda que o aumento das quantidades exportadas de produtos
primários não significa essencialmente melhoria do bem estar da sociedade brasileira e que a
dependência das exportações agrícolas, o que é crescente, e em risco a capacidade de
26
geração de divisas do país, bem como a possibilidade de alcançar o crescimento econômico
sustentado.
Além destes aspectos macroeconômicos, outras podem ser as vulnerabilidades do
setor, como o fato de que, além de a demanda por produtos agrícolas estar diminuindo pelo
mundo, o Brasil ainda tem que se submeter à tarifas de proteção que dificultam a entrada de
produtos brasileiros em muitos países.
Outro elemento que faz com que o país permaneça na situação de vulnerabilidade é o
endividamento do setor agrícola, influenciado, em alguns casos, pelas adversidades climáticas
e planos econômicos. Segundo Stephanes (2007), o valor do endividamento do setor foi
estimado em R$ 100 bilhões em 2007.
Stephanes (2007) cita ainda a infra-estrutura e a logística como preocupações, sendo
necessários investimentos em rodovias, hidrovias, ferrovias e portos, para tornar mais viável e
competitiva a comercialização dos produtos.
Não se pode deixar de mencionar ainda os efeitos adversos do clima, que são capazes
de comprometer safras inteiras. A atividade agrícola depende intensamente de fatores
climáticos, como temperatura, umidade, pluviosidade, entre outros, que podem afetar a
produção.
Segundo Teixeira (2007), a agricultura é influenciada por fenômenos naturais, ao
mesmo tempo em que tem influência sobre os mesmos. Como exemplo, o autor cita o fato de
a agricultura ser responsável por cerca de 30% das emissões globais de CH
4,
CO
2,
CO e N
2
O e
que os gases N
2
O e CH
4
, que apesar de liberados em menor quantidade pelo solo, apresentam
um efeito em massa equivalente a cerca de 270 e 25 vezes, respectivamente, em relação ao do
CO
2
no aquecimento do planeta. A utilização de fertilizantes químicos é, então, um grande
fator de contribuição da agricultura para o aquecimento global. Porém, sem a utilização desses
recursos, a agricultura produtivista pode ser inviabilizada.
Muitos pesquisadores, em discussão sobre qual seria o modelo ideal para a atividade
agrícola no Brasil, têm sugerido o modelo agroecológico como alternativa para que a
agricultura no país seja sustentável.
27
De acordo com Barbosa (2007), a agroecologia surge como a alternativa mais viável
para um novo modelo agrícola sustentável e, por meio dela, é possível se obter
agroecossitemas que influenciam os aspectos ecológicos, ambientais, econômicos e culturais
de maneira positiva, pela redução da vulnerabilidade às pragas, menor dependência de insumo
externo, maior eficiência no uso da terra, entre outros aspectos.
Romeiro (2003) afirma que para que o modelo seja possível, deve haver mais
investimentos e pesquisas, além de assistência e crédito aos agricultores que queiram
substituir as práticas predatórias. Assegura, ainda, que a trajetória de modernização seguida
pela agricultura brasileira se deu por ser a alternativa mais produtiva e lucrativa, no entanto
outra trajetória, eficiente e menos agressiva ao meio ambiente, poderia ter sido seguida. Nesse
caso, a produtividade do trabalho teria sido menor, que a agricultura ecológica é mais
complexa e intensiva nesse recurso.
Não é possível falar em equilíbrio ecológico com a monocultura, pois a agricultura
agroecológica demanda um mínimo de biodiversidade, que deve se compatível com a
mecanização, para que não se retroceda no tempo, ou seja, o sistema deve ser complexo e
mecanizável. Para tanto, alguns artifícios existem, como a rotação de culturas, obedecendo a
regras agronômicas de complementaridade. Do ponto de vista ecológico, o ideal seria que
houvesse a associação de várias plantas complementares, todavia, esse sistema não permite a
mecanização, pois cada cultura tem um tipo de crescimento e de colheita diferente.
(ROMEIRO, 2003).
O autor ainda alega que é necessário que a pesquisa se volte para a possibilidade de
mecanização de um sistema mais complexo para que a produtividade do trabalho não caia.
Ainda assim, a produtividade do trabalho num sistema complexo não alcançaria a
produtividade do trabalho num sistema de monocultura, mas traria o benefício da proteção do
meio ambiente, da sustentabilidade do ecossistema agrícola, e também traria benefício aos
consumidores, que teriam acesso a alimentos com valor nutricional e sem resquícios de
agroquímicos.
28
A agricultura ecológica pode ser adotada em qualquer escala, porém, por exigir mais
cuidados e ser mais complexa, exige mais trabalho, sendo, então, mais adaptada à agricultura
familiar (ROMEIRO, 2003).
No entanto, segundo o autor, alguns bloqueios do lado da oferta, como a falta de
incentivo no mercado, o tempo e o custo de conversão para a agricultura agroecológica. O
solo, que anteriormente recebia agrotóxico, precisa descansar para descontaminar. Além
disso, existe a barreira causada pela falta de informação e também o problema da certificação,
já que estes produtos precisam ser certificados e poucas instituições o fazem.
Este modelo, bastante defendido por especialistas na atualidade, resolveria alguns dos
problemas que dão à agricultura condição de vulnerabilidade, no entanto um conjunto de
decisões e medidas precisam ser tomadas pelas autoridades governamentais para que o
objetivo da sustentabilidade na atividade agrícola brasileira seja alcançado.
29
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Evolução do Conceito de Desenvolvimento Sustentável
A partir da segunda metade do século XIX, a deterioração ambiental e suas
conseqüências originaram as primeiras inquietações, estudos e reações com o objetivo de se
conseguir métodos e técnicas de redução dos danos ao ambiente.
Diagnósticos mostraram que a degradação ambiental provém, sobretudo, do
crescimento populacional descontrolado e da excessiva exploração dos recursos naturais e que
é preciso haver estabilidade populacional, econômica e ecológica, para que tudo no futuro não
se acabe. Esses estudos lançaram subsídios para a idéia de desenvolvimento aliado à
conservação (UNB, 2007).
Embora essa idéia de desenvolvimento estivesse presente nas diferentes concepções
dos estudiosos das ciências econômicas, a Teoria do Desenvolvimento originou-se,
efetivamente, logo após a Segunda Guerra Mundial.
É possível identificar duas correntes diferentes de pensamento na literatura: uma que
considera o crescimento como sinônimo de desenvolvimento e outra que afirma que o
crescimento é condição necessária, porém não suficiente, para o desenvolvimento
(MORETTO; GIACCHINI, 2005).
Nesta última corrente, a idéia é a de se buscar uma combinação coerente entre a escala
de produção econômica e a capacidade de suporte do meio ambiente. Além disso, o
crescimento deve ser orientado, melhor distribuído, visando a atender as necessidades
humanas essenciais e a erradicar a pobreza (MELO; LUSTOSA, 2005).
Iniciada na década de 1950, essa distinção entre os conceitos de crescimento e de
desenvolvimento econômico foi caracterizada por questões referentes à distribuição de renda
e à qualidade de vida dos indivíduos. Na década de 1970, foram acrescentadas concepções em
que havia a preocupação com a questão ecológica. O documento publicado naquele período,
“Os limites para o crescimento”, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), alertava
30
sobre os riscos gerados por um modelo de crescimento econômico que não levava em
consideração a capacidade dos recursos naturais (MORETTO; GIACCHINI, 2005).
Com a intenção de discutir e encontrar soluções para a problemática ambiental, a
Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu a Conferência de Estocolmo, em 1972, que
teve como resultado a criação da Declaração sobre o Ambiente Humano que, entre outros
aspectos, introduziu ao mundo que tanto as gerações presentes como as futuras devem ter
reconhecido como direito fundamental a vida num ambiente saudável e não degradado (UNB,
2007).
Para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado, todas as relações do homem
com a natureza devem acontecer com o menor dano possível ao ambiente. Tudo deve existir
preservando a biodiversidade (UNB, 2007).
A ONU criou, em 1983, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, presidida por Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega. A
comissão tinha como objetivos reexaminar as questões críticas relativas ao meio ambiente e
reformular propostas para abordá-las, além de sugerir novas formas de colaboração
internacional, visando a orientar as políticas e ações no sentido das mudanças necessárias e
também possibilitar uma maior compreensão sobre estes temas, incentivando a uma atuação
mais firme (UNB, 2007).
A comissão sugeriu a elaboração de uma nova declaração universal sobre a proteção
ambiental e o desenvolvimento sustentável e, em 1987, foi criado o Relatório Brundtland, que
propôs agregar o desenvolvimento econômico à questão ambiental.
Em 1992, prevista no Relatório Brundtland, foi realizada, no Rio de Janeiro, a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUCED),
também conhecida como ECO-92. O encontro reuniu representantes de 175 países e de
organizações não-governamentais (UNB, 2007).
Os acordos realizados na ECO-92 incluem três convenções: uma sobre mudança do
clima, uma sobre biodiversidade e uma declaração sobre florestas. A Conferência também
aprovou outros documentos que defendem o conceito fundamental de desenvolvimento
31
sustentável, que combina a evolução econômica com a necessidade de uma consciência
ecológica. Estes documentos são: a Declaração do Rio e a Agenda 21 (UNB, 2007).
A Agenda 21, principal documento produzido na ECO-92, é um programa de ação que
concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica, viabilizando o
novo padrão de desenvolvimento ambientalmente racional. Foi aprovada por todos os países
presentes na ECO-92 e a aceitação do seu formato e conteúdo favoreceu a criação da
Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS), vinculada ao Conselho Econômico e
Social das Nações Unidas (ECOSOC), que tem como objetivo acompanhar e contribuir com
os países na elaboração e implementação das agendas nacionais (UNB, 2007).
Em 2002, ocorreu em Johanesburgo, na África do Sul, outro evento mundial para
discutir o meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Promovida pela ONU, a Rio +10, ou
Eco-2002, teve como objetivo discutir e avaliar os acertos e falhas nas ações referentes ao
meio ambiente nos últimos dez anos (UNB, 2007).
Entre os temas debatidos estão o acesso a energia limpa e renovável, o efeito estufa, a
conservação da biodiversidade, a proteção e uso das fontes de água, o acesso à água potável, o
saneamento e o controle de substâncias químicas nocivas. Na ocasião, foram estabelecidas
metas para os próximos dez anos, sendo o empenho dos países participantes em reduzir pela
metade a população sem acesso à água potável e saneamento básico, até 2015, a principal
delas (UNB, 2007).
É possível perceber, portanto, que o estudo sobre desenvolvimento econômico passou
por diversas fases. A primeira refere-se ao período em que não havia diferenciação entre
crescimento e desenvolvimento econômico, quando esses conceitos eram vistos como
sinônimos. A segunda fase, iniciada após a Segunda Guerra Mundial, foi marcada pela teoria
do desenvolvimento que analisou a diferença entre crescimento e desenvolvimento
econômico. Já na década de noventa, surge uma nova abordagem relacionada ao
desenvolvimento sustentável que considera o equilíbrio do ecossistema (MORETTO;
GIACCHINI, 2005).
O desenvolvimento sustentável deve ser um objetivo de toda a sociedade para que possa
ser alcançado. Desde os indivíduos, empresas, instituições, no que diz respeito à discussões
32
como: explosão demográfica, controle da natalidade, desenvolvimento industrial e
depredação, até o Estado brasileiro que, por sua vez, deve gerir programas e projetos
condizentes com as deliberações mundiais ambientais, levando as diretrizes à sociedade, que
terá assim a oportunidade de participar mais confiante de que o desenvolvimento sustentável é
possível.
3.2 Desenvolvimento do Capitalismo no Brasil e Seus Elementos de Não
Sustentabilidade
Até a II Guerra Mundial, o desenvolvimento era entendido como sinônimo de
crescimento, ou seja, do aumento da capacidade produtiva de uma economia e do volume de
bens e serviços ofertados. A partir da observação da desigualdade existente entre os países
subdesenvolvidos (não-industrializados) e os países desenvolvidos (industrializados), o
conceito de desenvolvimento passou a abordar, além do aumento da capacidade produtiva da
economia, a melhor distribuição de renda e melhoria na qualidade de vida da população.
Assim, os processos de desenvolvimento se voltaram para políticas de promoção da
industrialização e em políticas sociais assistencialistas (MELO; LUSTOSA, 2007).
O processo de industrialização, conhecido como Industrialização via Substituição de
Importações (ISI), ganha força na América Latina, estando o Brasil inserido neste padrão de
desenvolvimento.
Em 1948, o ECOSOC criou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(CEPAL), com o objetivo de “(...) monitorar as políticas direcionadas à promoção do
desenvolvimento econômico da região latino-americana, assessorar as ações encaminhadas
para sua promoção e contribuir para reforçar as relações econômicas dos países da área, tanto
entre si como com as demais nações do mundo” (CEPAL, 2008).
Em seguida, além de ampliar seu trabalho para os países do Caribe, incorporou o
objetivo de promover o desenvolvimento social e sustentável.
Segundo Melo; Lustosa (2005), a América Latina, de acordo com o esquema centro-
periferia, tese lançada por Raúl Prebisch, em 1950, funcionava como uma constelação, cujo
centro eram os países industrializados e a periferia era a América Latina. Este sistema de
33
relações econômicas internacionais beneficiava o centro, que produzia manufaturas e era
responsável pelo desenvolvimento tecnológico, enquanto a periferia fornecia matérias primas,
dada sua riqueza de recursos naturais.
A distribuição dos ganhos era desigual entre centro e periferia, ficando o primeiro com
a geração e disseminação do progresso tecnológico. O sistema se organizava de maneira a
atender aos interesses do primeiro, realimentando um ciclo vicioso, no qual a dependência da
periferia era cada vez maior. Esse padrão de desenvolvimento no Brasil reforçou uma
estrutura social heterogênea, na qual uma grande parte da população os não-exportadores -
ficou à margem do processo de desenvolvimento, aprofundando a exclusão social, que as
outras atividades não se beneficiaram do progresso tecnológico, permanecendo com a
produtividade e a capacidade de gerar renda, muito baixas (MELO; LUSTOSA, 2005).
Os ganhos econômicos dos países da periferia, como o Brasil, concentraram-se nas
mãos das elites diretamente beneficiárias – as classes exportadora e política.
Entretanto, de acordo com Furtado (1974), citado por Melo; Lustosa (2005), os
excedentes gerados com as exportações de café, no caso do Brasil, não eram empregados para
a formação de capital, mas destinados a financiar a propagação dos novos padrões de
consumo que surgiam no centro do sistema econômico mundial em constituição.
Desta maneira, o país passou por um processo de “modernização”, em que uma
pequena parte da população, que concentrava a maior parte da renda, passou a adotar padrões
de consumo sofisticados, causando uma dependência cultural do país em relação ao centro,
levando à criação e ampliação de mercados para os novos produtos gerados pelo
desenvolvimento tecnológico do centro, o que era de interesse das classes dirigentes locais e
dos grupos estrangeiros controladores da economia internacional (MELO; LUSTOSA, 2005).
Com as sucessivas crises da economia cafeeira, o Brasil inicia seu processo de ISI,
que começa com a produção de produtos consumidos pela classe mais abastada, de
acordo com os padrões de consumo do centro. Para a implantação deste tipo de
indústria, foi necessária a importação de tecnologia dos países desenvolvidos, que
eram intensivas em capital (MELO; LUSTOSA, 2005, p.5).
34
A baixa capacidade de absorção da mão-de-obra, abundante no país, desencadeou o
desemprego, ao mesmo tempo em que a periferia passou a adotar os padrões do centro e a
revelar incongruências e transformações importantes, visto que não acompanharam sua
evolução. Estes padrões de consumo adotados foram possíveis em razão do aumento da renda
gerada pela exploração de recursos naturais não renováveis e pela realocação de recursos,
tendo em vista uma especialização num sistema de divisão internacional do trabalho (Furtado,
1974, apud Melo; Lustosa, 2005). Estas formas de ampliação da renda estão inter-
relacionadas, que a inclusão brasileira no comércio internacional é baseada na exportação
de recursos naturais, energia e produtos industrializados de baixo conteúdo tecnológico e de
alto potencial poluidor (MELO; LUSTOSA, 2005).
Assim, o desenvolvimento capitalista no Brasil, aprofundado pela ISI, trouxe consigo
elementos de não-sustentabilidade que vão sendo sentidos pela sociedade (MELO;
LUSTOSA, 2005).
3.3 Conceito de Auto-Sustentabilidade
A auto-sustentabilidade é um termo mais denso em relação à sustentabilidade, pois
pressupõe a participação do indivíduo, o que pode ser percebido através do prefixo “auto”.
Trata-se de uma questão não somente semântica, mas ideológica. É uma questão que faz
referência a sustentação, conteúdo, suporte e segurança.
A auto-sustentabilidade é a condição pela qual um indivíduo, empresa ou instituição
mantém seu equilíbrio, sua existência. Do contrário, haveria a queda, o processo de morte.
Desta forma, para que uma organização possa existir e manter-se, é necessário que
esteja saudável em suas várias dimensões: econômica, financeira, social, ambiental, entre
outros aspectos.
A auto-sustentabilidade é condicionada a uma série de conquistas, de condições que a
favorecem, como a capacidade de busca; a visão estratégica, orientada pelas questões de como
fazer, como captar recursos, como motivar etc; os recursos humanos; o projeto institucional; a
infra-estrutura física e técnica; a comunicação com a sociedade; a oferta de serviços e
35
produtos. É possível perceber, então, que a sustentabilidade é pluri-dimensional (RIBEIRO,
2007).
3.4 Conceito de Sustentabilidade
Nas últimas décadas, numerosas mudanças ocorreram na compreensão das relações
entre o desenvolvimento econômico, social e a conservação dos recursos naturais, exigindo,
este assunto, atenção cada vez maior. Neste cenário, ganha espaço o conceito de
sustentabilidade, que tem seus alicerces em três dimensões básicas: a dimensão social, a
econômica e a ambiental (TAVARES, 2001).
Segundo Tavares (2001), esta maneira de ver o desenvolvimento está baseada na
percepção de que é necessário agir de forma associada, multidisciplinar e participativa. É
preciso ter consciência de que a sustentabilidade está intimamente ligada à redução das
desigualdades sociais e que o primeiro compromisso do desenvolvimento sustentável,
portanto, é o compromisso social.
Outro elemento necessário a um projeto de desenvolvimento sustentável é o processo
participativo de construção, no qual as instituições políticas, a sociedade civil e os grupos de
interesse organizados encontrem espaço para exercer o seu papel de representação política e
institucional (TAVARES, 2001).
Este autor afirma que a dimensão econômica é um aspecto essencial da
sustentabilidade e que a competitividade é a condição necessária para assegurar a
continuidade do desenvolvimento. Afirma também que, apesar da importância das dimensões
social e econômica, o aspecto mais difundido do desenvolvimento sustentável é a dimensão
ambiental, que tem como objetivo o uso mais eficiente dos recursos naturais, resguardando a
capacidade da natureza de renovar-se.
O conceito de desenvolvimento sustentável implica, portanto, num equilíbrio dessas
três dimensões. Porém, isso não é suficiente. É preciso colocar o modelo em prática. Criar os
mecanismos e instrumentos capazes de implementar políticas e programas segundo o modelo
idealizado, com ferramentas de planejamento e gestão apropriadas (TAVARES, 2001).
36
Outra condição imperiosa para a implementação de políticas e programas é a avaliação
permanente dos resultados, visando a corrigir rumos e redefinir ações. Os agentes econômicos
devem cumprir os compromissos assumidos e a sociedade precisa saber onde e como o
governo aplica os recursos públicos para poder cobrar resultados e exercer o controle social
(TAVARES, 2001).
Os atores do desenvolvimento sustentável, ou seja, as ONG’s, Estados, o Poder
Judiciário, o empresariado e a coletividade, têm, portanto, papel fundamental e somente com a
participação efetiva destes importantes atores em cooperação mútua e com os mesmos
objetivos é que se torna possível alcançar um desenvolvimento sustentável e cumprir o anseio
de preservar a qualidade de vida agora e para as gerações futuras.
3.5 Indicadores de Desenvolvimento Sustentável
De acordo com Cherchye; Kuosmanen (2002), desenvolvimento sustentável é um
conceito complexo e multidisciplinar e, embora a necessidade de quantificar o
desenvolvimento sustentável seja amplamente aceita, a definição vaga deste conceito deixa
margem para diferentes interpretações e, portanto, para diferentes índices.
O conceito de sustentabilidade está longe de possuir significado consensual. É um
conceito em permanente construção e reconstrução, cujas diferentes versões, porém, têm em
comum o fato de ter como alicerce as dimensões social, ambiental e econômica do ambiente
(BRAGA et al., 2003). Apesar de não haver consenso acerca do conceito de desenvolvimento
sustentável, a necessidade de se obter instrumentos que procurem mensurar a
sustentabilidade.
3.5.1 Indicadores: Principais Aspectos
O indicador, termo originário do Latim indicare, que significa apontar, anunciar,
estimar, pode informar sobre o progresso em direção a uma determinada meta, mas também
pode ser visto como um recurso que deixa mais perceptível algo que não seja prontamente
detectável (HAMMOND et al., 1995, apud BELLEN, 2002).
37
Embora também não haja consenso, tanto em relação à definição de indicadores, como
em relação a outros conceitos associados, como índice, meta e padrão, o indicador pode ser
definido, de maneira geral, como uma medida que resume informações sobre o estado de um
fenômeno, tendo como principal característica sua relevância para o processo de tomada de
decisão. Seu principal objetivo é o de agregar e quantificar informações de modo que sua
significância fique mais evidente (BELLEN, 2002).
Gallopin (1996), citado por Bellen (2002), afirma que os indicadores mais almejados
são os que resumam ou simplifiquem as informações relevantes, que façam com que certos
fenômenos se tornem mais perceptíveis.
Entretanto, Braga et al. (2003) afirmam que o processo de busca por um índice
sintético de desenvolvimento sustentável se torna difícil pela impossibilidade de contar com
um elenco restrito de variáveis, dada a complexidade e a diversidade das questões envolvidas,
sem comprometer o retrato do grau de sustentabilidade medido.
Mensurar a sustentabilidade requer a integração de uma série de informações
provenientes de um conjunto de disciplinas e áreas de conhecimento e comunicar essas
informações ao público não especialista se torna um grande desafio: o de produzir um sistema
de indicadores enxutos ou índices sintéticos, capazes de comunicar realidades complexas de
forma resumida (BRAGA et al., 2003).
Os indicadores, segundo Tunstall (1994), citado por Bellen (2002), têm como
principais funções: avaliação de condições e tendências; comparação entre lugares e
situações; avaliação de condições e tendências em relação às metas e aos objetivos;
provimento de informações de advertência e antecipação de futuras condições e tendências.
Os indicadores podem ser qualitativos ou quantitativos e podem ser definidos como
variáveis individuais ou uma variável que é função de outras variáveis.
A função pode ser simples como uma (a) relação, que mede a variação da variável
em relação a uma base específica, um (b) índice, um mero simples que é uma
função simples de duas ou mais variáveis, ou (c) complexa, como o resultado de um
grande modelo de simulação (BELLEN, 2002, p.30).
38
Na Figura 1 apresenta-se a relação entre dados primários e indicadores, no que é
denominada pirâmide de informações (HAMMOND et al., 1995, apud BELLEN, 2002).
Figura 1: Pirâmide de Informações
Fonte: HAMMOND et al. (1995), apud BELLEN (2002).
Os indicadores podem ter diferentes significados. São utilizados termos como norma,
padrão, meta e objetivo, entre outros. Quando se trata de indicadores de desenvolvimento
sustentável, pode-se dizer que os conceitos de padrão e norma são semelhantes e se referem
basicamente a valores estabelecidos ou desejados pelas autoridades ou pela sociedade. São
utilizados tendo um valor técnico de referência. Já as metas, representam valores específicos a
serem alcançados. São normalmente estabelecidas a partir do processo decisório, dentro de
uma expectativa de que sejam atingíveis. Os objetivos, por sua vez, são comumente
qualitativos, indicando mais uma direção do que um estado particular (BELLEN, 2002).
Os indicadores são uma maneira de apresentar a realidade, por isso, devem ser
construídos por uma metodologia coerente de mensuração.
Segundo Hardi; Barg (1997), citados por Bellen (2002), os indicadores são sinais
relativos a eventos e sistemas complexos e são utilizados para tornar mais simples e claras
informações acerca de fenômenos densos e para tornar a comunicação sobre estes fenômenos
mais acessível e quantificável.
39
3.5.2 Componentes e Características de Indicadores de Sustentabilidade
Grande parte dos sistemas de indicadores utilizados atualmente foi criada por razões
peculiares: são indicadores ambientais, econômicos e sociais e não podem ser considerados
indicadores de sustentabilidade por si só. Porém, estes indicadores possuem um potencial
representativo dentro do contexto do desenvolvimento sustentável (BELLEN, 2002).
Ainda de acordo com o autor, os problemas do desenvolvimento sustentável requerem
indicadores inter-relacionados e, até mesmo, a agregação de diferentes indicadores.
Existem poucos sistemas de indicadores que lidam especificamente com o
desenvolvimento sustentável, sendo em sua maioria em caráter experimental, e estes
sistemas foram desenvolvidos com o propósito de melhor compreender os
fenômenos relacionados à sustentabilidade (BELLEN, 2002, p.32).
Em alguns casos, admite-se que indicadores devem ser desenvolvidos a partir da
associação de dados ou variáveis de nível mais baixo, como a abordagem da pirâmide de
informações apresentada na Figura 1. Mas esta estratégia não deve ser exclusiva, que pode
rejeitar conceitos importantes sobre a potencialidade de outras metodologias e tipos de
indicadores envolvidos (GALLOPIN, 1996, apud BELLEN, 2002).
Outro aspecto referente aos indicadores relacionados ao desenvolvimento sustentável é
a dimensão tempo. Segundo Dahl (1997), apud Bellen (2002), os indicadores podem ser
escalares ou vetoriais. É denominado vetor um número de indicadores apresentados ao mesmo
tempo, mas não agregado, para mostrar um perfil das condições ambientais. De outra forma,
um índice escalar consiste num número gerado da agregação de dois ou mais valores.
Os adeptos das medidas vetoriais argumentam que a complexidade do sistema pode
ser melhor compreendida a partir de medidas vetoriais, enquanto outros estudiosos alegam
que a utilização de medidas escalares tem entre as principais vantagens a simplificação
(BELLEN, 2002).
40
Ao se discutir a sustentabilidade e seus indicadores, deve-se estar ciente de que
julgamentos de valor estão presentes nos sistemas de avaliação e podem ser implícitos, que
provêm de aspectos não facilmente observáveis e que são inconscientes e relacionados a
características pessoais e de uma determinada sociedade, ou explícitos, que são tomados
conscientemente e compreendem uma parte fundamental do processo de criação de
indicadores. É necessário ter em vista, também, que diferença entre os diversos domínios
em que se mede a sustentabilidade: esfera mundial ou global, nacional, regional, local ou
comunitária, que é resultado dos mais diversos fatores que influenciam os valores que
predominam nestes ambientes (BELLEN, 2002).
Wall et al. (1995), citado por Bellen (2002), argumentam, a respeito da questão da
agregação dos dados na formulação de indicadores, que, embora indicadores agregados sejam
úteis para aumentar o grau de consciência a respeito de certas questões, indicadores
desagregados são fundamentais para que se possa tomar iniciativas peculiares de ação, pois, a
partir de uma informação fornecida pelo indicador agregado, não é possível adotar medidas de
correção dentro de áreas específicas.
Os indicadores agregados apresentam o obscurecimento de informações, o que ameaça
a visualização da situação efetiva do sistema, disfarçando alguns setores e realçando outros.
Entretanto, a necessidade de indicadores com um certo grau de agregação para
acompanhamento da questão da sustentabilidade, porém os dados devem ser estratificados em
termos de grupos, setores ou regiões. A generalização deve, então, atender à regra de que o
indicador consiga apanhar eventuais problemas de uma maneira clara e concisa (BELLEN,
2002).
No que diz respeito às funções dos indicadores, Hardi; Barg (1997), citados por Bellen
(2002), afirmam que estes podem ser indicadores sistêmicos ou indicadores de performance.
Os primeiros descrevem um grupo de medidas individuais para diferentes questões e
comunicam as informações mais relevantes para os tomadores de decisão. Já os indicadores
de performance, incorporam indicadores sistêmicos e referências a um objetivo político
específico e são instrumentos para comparação. Eles provêem os tomadores de decisão de
informações a respeito do sucesso no cumprimento de metas.
41
Segundo Bellen (2002), no processo de desenvolvimento de um índice, os diversos
indicadores que fazem parte do mesmo devem ser ponderados, porém, quando se consideram
aspectos ambientais e sociais, esta monetarização ou ponderação não é muito simples.
(...) a crescente utilização de indicadores mostra que estes são importantes
ferramentas para a tomada de decisão e para melhor compreender e monitorar as
tendências, sendo, portanto, úteis na identificação dos dados mais relevantes e no
estabelecimento de sistemas conceituais para a compilação e análise de dados
(BELLEN, 2002, p.36).
Outro aspecto importante, atentado por Gallopin (1996), citado por Bellen (2002), é
que a grande heterogeneidade entre os países e grandes regiões se torna uma barreira para a
utilização de indicadores em escalas generalizadas. Sendo assim, os maiores empenhos, no
que diz respeito ao desenvolvimento de indicadores, têm sido concentrados em técnicas
aplicáveis nos níveis subnacional, regional e local.
O mesmo autor sugere, ainda, que sistemas de indicadores de desenvolvimento
sustentável devem seguir algumas condições: os valores dos indicadores devem ser
mensuráveis, deve existir disponibilidade dos dados, a metodologia utilizada deve ser
transparente e padronizada, os meios para construir e acompanhar os indicadores devem estar
disponíveis, os indicadores devem ser financeiramente viáveis e deve existir aceitação política
dos indicadores no nível adequado.
Bellen (2002) cita ainda Jesinghaus (1999), que levanta a questão da importância da
seleção dos indicadores, que deve seguir três estágios: o preparatório, o de estabelecimento de
objetivos e cronogramas e o que se refere a institucionalização do grupo de indicadores, de
sua atualização, revisões, alocação de recursos, entre outros aspectos. Para o autor, a seleção
pode ser feita a partir de duas abordagens: a top-down e a bottom-up. De acordo com a
primeira abordagem, o grupo de indicadores e o sistema são definidos pelos especialistas e
pesquisadores, enquanto na abordagem bottom-up a participação da sociedade envolvida
na seleção dos indicadores. Ambas possuem vantagens e desvantagens.
42
A partir desta discussão, verifica-se que os indicadores devem ser holísticos,
representando a visão do todo, devem ter embasamento científico, devem ser confiáveis e
transmitir informações claras para os tomadores de decisão e a quem mais interessar.
3.5.3 Formulação e Aplicação de Indicadores de Sustentabilidade
Segundo Braga et al. (2003), as tentativas de construção de indicadores de
sustentabilidade seguem três vertentes principais: a vertente biocêntrica, que consiste
principalmente na busca por indicadores de equilíbrio ecológico de ecossistemas, a vertente
econômica, que consiste em avaliações monetárias do capital natural e do uso de recursos
naturais e uma terceira vertente, que busca construir indicadores de sustentabilidade que
combinem aspectos do ecossistema natural, econômico e da qualidade de vida humana,
levando em consideração, também, aspectos dos sistemas político, cultural e institucional.
A CNUCED, realizada no Rio de Janeiro, criou a Comissão de Desenvolvimento
Sustentável (CSD – Comission on Sustainable Development) que tem como principal objetivo
monitorar tudo o que é feito a caminho de um futuro sustentável. Nesses encontros, levantou-
se a questão da necessidade de criar padrões, bases comuns, que sirvam como referência para
medir o grau de sustentabilidade e os avanços em direção a um futuro sustentável (BELLEN,
2002).
Um dos obstáculos, porém, como mencionado, é o de se chegar a um consenso a
respeito do conceito de sustentabilidade e de quais e como devem ser seus indicadores. A
CDS estabeleceu elementos básicos que devem ser considerados para o desenvolvimento e
emprego de indicadores de sustentabilidade no nível nacional. Já para Meadows (1998),
citada por Bellen (2002), bons indicadores devem ter as seguintes características, apresentadas
no Quadro 1.
43
1. Devem ser claros nos valores. Não são desejáveis incertezas nas direções que são consideradas corretas ou
incorretas.
2. Devem ser claros em seu conteúdo, devem ser entendíveis, com unidades que façam sentido.
3. Devem ser suficientemente elaborados para impulsionar a ação política.
4. Devem ser relevantes politicamente, para todos os atores sociais, mesmo para aqueles menos poderosos.
5. Devem ser factíveis, isto é, mensuráveis dentro de um custo razoável.
6. Devem ser suficientes, ou seja, é preciso achar um meio-termo entre o excesso de informações e as
informações insuficientes, para que se forneça um quadro adequado da situação.
7. Deve ser possível a sua compilação sem necessidade excessiva de tempo.
8. Devem estar situados dentro de uma escala apropriada, nem super nem subagregados.
9. Devem ser democráticos; as pessoas devem ter acesso à seleção e às informações resultantes da aplicação da
ferramenta.
10. Devem ser suplementares; devem incluir elementos que as pessoas não possam medir por si próprias.
11. Devem ser participativos, no sentido de se utilizar elementos que as pessoas, os atores, possam mensurar por
si próprios, além da compilação e divulgação dos resultados.
12. Devem ser hierárquicos, para que os usuários possam descer na pirâmide de informações se desejarem, mas,
ao mesmo tempo, transmitir a mensagem principal rapidamente.
13. Devem ser físicos, uma vez que a sustentabilidade está ligada em grande parte a problemas físicos, como
água, poluentes, florestas, alimentos. É desejável, na medida do possível, que se meça a sustentabilidade através
de unidades físicas (toneladas de petróleo e não seu preço, expectativa de vida e não gastos com saúde).
14. Devem ser condutores, ou seja, devem fornecer informações que conduzam a ação.
15. Devem ser provocativos, levando à discussão, ao aprendizado e à mudança.
Quadro 1- Características necessárias para a construção de sistemas de indicadores adequados
Fonte: Meadows, 1998, apud Bellen , 2002.
Para esta autora, são necessários, além dos indicadores, sistemas de informações
coesos e apropriados para informar sobre a sustentabilidade de um sistema. Os indicadores
fazem parte de um sistema de informação que deve recolher e gerenciar informações e
fornecê-las para a ferramenta de avaliação (BELLEN, 2002).
Bossel (1999) afirma que o sistema total do qual a sociedade faz parte é formado por
uma série de sistemas componentes e que o sistema somente funciona corretamente, é viável e
sustentável, se os sistemas individuais também forem. Desta forma, para que o
desenvolvimento sustentável seja atingido, é necessário identificar os sistemas componentes
essenciais e definir indicadores que podem prover informações confiáveis sobre cada sistema
individual e sobre o sistema total.
Cherchye; Kuosmanen (2002) discutem a aplicação do benchmarking a vários tipos de
projetos de desenvolvimento sustentável, principalmente no campo da administração pública,
em nível de comunidade local.
44
Benchmarking é uma ferramenta bem sucedida de mensurar e comparar o desempenho
de organizações públicas e privadas que geralmente começa com a identificação de parceiros
que exemplificam a melhor prática em alguma atividade, função ou processo. São comparadas
empresas em um mesmo setor ou outras unidades organizacionais comparáveis
(CHERCHYE; KUOSMANEN, 2002).
De acordo com estes autores, o benchmarking pode promover desenvolvimento
sustentável através da difusão de experiência e técnica de nações que estão à frente em
sustentabilidade aos países menos desenvolvidos e com performances inferiores.
A prática do benchmarking, para a construção de índices de desenvolvimento
sustentável, é tipicamente baseada em índices de desempenho que agregam várias dimensões
em uma única figura numérica. Conseqüentemente, uma literatura completa tem emergido na
construção de um índice operacional de desenvolvimento sustentável que deve ser de fácil
compreensão e uso no contexto das decisões políticas. Porém, embora se reconheça a
importância de um índice de sustentabilidade bem definido, e embora esforços tenham sido
feitos visando construir um índice ideal, ainda um longo caminho a percorrer para alcançar
consenso sobre padrões de indicadores e metodologias de benchmarking (CHERCHYE;
KUOSMANEN, 2002).
Vários outros autores argumentam sobre a importância dos indicadores a partir de
diferentes perspectivas que levam a concluir que os indicadores são importantes meios de
apoio às políticas e aos tomadores de decisão em diversos níveis.
3.5.4 Limitações dos Indicadores de Sustentabilidade
Existem várias limitações na utilização de indicadores. Bellen (2002) cita o argumento
de Bossel (1999), de que uma das limitações dos indicadores de sustentabilidade é a perda de
informação fundamental. Este autor critica a abordagem que procura agregar toda a
informação em apenas um índice e afirma que é necessário mais do que um indicador para
apanhar os aspectos mais importantes de uma situação.
45
Para Meadows (1998), citada por Bellen (2002), um dos principais problemas relativos
aos indicadores é a sua seleção e utilização. A seleção de indicadores impróprios leva a um
sistema com problemas. Outra dificuldade é a medição do que é mensurável mais do que a
medição do que é realmente importante. Uma questão importante, ainda, diz respeito ao
desvio de atenção, deslocando o foco da observação dos atores envolvidos. Os indicadores, se
mal formulados ou baseados em modelos não confiáveis, também podem induzir a sociedade
a uma percepção equivocadamente positiva da realidade.
Para Jesinghaus (1999), também citado pelo referido autor, um problema pode estar,
não na forma de mensuração, mas, em como interpretar as medidas e julgar seu significado
para o sistema como um todo. A disponibilidade de dados também pode ser um problema,
que grande parte dos dados e estatísticas foi desenvolvida antes do surgimento do conceito de
desenvolvimento sustentável. Desta maneira, as técnicas analíticas podem não ser adequadas.
Outro aspecto importante diz respeito à comparabilidade dos dados, pois, embora a maioria
das questões relativas à sustentabilidade possa ser quantificada, elas não podem ser
diretamente comparadas, por não terem dimensões compatíveis. Outra dificuldade adicional
se refere aos limites de recursos humanos, financeiros e de tempo, dentro de projetos de
avaliação de sustentabilidade.
Braga et al. (2003) acrescentam outros problemas comuns aos indicadores, como a
ausência ou fragilidade da concepção conceitual, fragilidade dos critérios de escolha das
variáveis representativas, falta de critérios claros de integração dos dados, baixa relevância
dos dados utilizados.
Cherchye; Kuosmanen (2002) mencionam a heterogeneidade observada entre os
índices de desenvolvimento sustentável propostos na literatura e argumentam que uma das
justificativas para este fato se deve à vaga definição do conceito de desenvolvimento
sustentável. Um segundo problema, refere-se à escolha dos indicadores associados às
dimensões selecionadas. Existem numerosos índices que diferem de acordo com a seleção das
dimensões e indicadores, o que faz com que resultados sejam diferentes. Estes indicadores
usualmente estabelecem proxies imperfeitas para aquilo que realmente se desejava medir.
Cherchye; Kuosmanen (2002) concluem que nenhum índice de desenvolvimento
sustentável é perfeitamente objetivo, pois a seleção de indicadores, juntamente com o peso
46
associado aos diferentes indicadores, implicitamente refletem os valores normativos daqueles
que desenvolveram o índice.
3.5.5 Aspectos Relevantes na Formulação de Sistemas de Indicadores para a Avaliação de
Sustentabilidade
Segundo Bellen (2002), a Agenda 21, resultado da Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, e o Relatório Brundtland, de 1987,
destacam a necessidade de estudar e desenvolver novos instrumentos para avaliação de
sustentabilidade. Desde então, diferentes ações vêm sendo praticadas, em diferentes níveis,
para avaliar o desempenho do desenvolvimento.
No ano de 1996, no Centro de Conferências de Bellagio, na Itália, um grupo de
especialistas e pesquisadores em avaliação se reuniu para discutir sobre as iniciativas de
avaliação de sustentabilidade. O encontro teve como resultado os Princípios de Bellagio, que
servem como orientação para a avaliação de um processo em todas as suas etapas. (BELLEN,
2002). Estes princípios são mostrados no Quadro 2.
47
1- GUIA DE VISÃO E METAS
A avaliação do progresso rumo à sustentabilidade deve:
- Ser guiada por uma visão clara do que seja desenvolvimento sustentável e das metas que definam esta visão.
2- PERSPECTIVA HOLÍSTICA
A avaliação do progresso rumo à sustentabilidade deve:
- Incluir uma revisão do sistema todo e de suas partes.
- Considerar o bem-estar dos subsistemas ecológico, social e econômico, seu estado atual, bem como sua direção
e sua taxa de mudança, de seus componentes, e a interação entre as suas partes.
- Considerar as conseqüências positivas e negativas da atividade humana de um modo a refletir os custos e
benefícios para os sistemas ecológico e humano, em termos monetários e não monetários.
3- ELEMENTOS ESSENCIAIS
A avaliação do progresso rumo à sustentabilidade deve:
- Considerar a eqüidade e a disparidade dentro da população atual e entre as gerações presentes e futuras, lidando
com a utilização de recursos, super consumo e pobreza, direitos humanos e acessos a serviços.
- Considerar as condições ecológicas das quais a vida depende.
- Considerar o desenvolvimento econômico e outros aspectos que não são oferecidos pelo mercado e contribuem
para o bem-estar social e humano.
4- ESCOPO ADEQUADO
A avaliação do progresso rumo à sustentabilidade deve:
- Adotar um horizonte de tempo suficientemente longo para abranger as escalas de tempo humana e dos
ecossistemas atendendo às necessidades das futuras gerações, bem como da geração presente em termos de
processo de tomada de decisão em curto prazo.
- Definir o espaço de estudo para abranger não apenas impactos locais, mas, também, impactos de longa
distância sobre pessoas e ecossistemas.
- Construir um histórico das condições presentes e passadas para antecipar futuras condições.
5- FOCO PRÁTICO
A avaliação do progresso rumo à sustentabilidade deve ser baseada em:
- Um sistema organizado que relacione as visões e metas dos indicadores e os critérios de avaliação.
- Um número limitado de questões-chave para análise.
- Um número limitado de indicadores ou combinação de indicadores para fornecer um sinal claro do progresso.
- Na padronização das medidas quando possível para permitir comparações.
- Na comparação dos valores dos indicadores com as metas, valores de referência, padrão mínimo e tendências.
6- ABERTURA / TRANSPARÊNCIA (OPENESS)
A avaliação do progresso rumo à sustentabilidade deve:
- Construir os dados e indicadores de modo que sejam acessíveis ao público.
- Tornar explícitos todos os julgamentos, suposições e incertezas nos dados e nas interpretações.
7- COMUNICAÇÃO EFETIVA
A avaliação do progresso rumo à sustentabilidade deve:
- Ser projetada para atender às necessidades do público e do grupo de usuários.
- Ser feita de uma forma que os indicadores e as ferramentas estimulem e engajem os tomadores de decisão.
- Procurar a simplicidade na estrutura do sistema e utilizar linguagem clara e simples.
8- AMPLA PARTICIPAÇÃO
A avaliação do progresso rumo à sustentabilidade deve:
- Obter ampla representação do público: profissional, técnico e comunitário, incluindo participação de jovens,
mulheres e indígenas para garantir o reconhecimento dos valores, que são diversos e dinâmicos.
- Garantir a participação dos tomadores de decisão para assegurar uma forte ligação na adoção de políticas e nos
resultados da ação.
continua
48
continuação
9- AVALIAÇÃO CONSTANTE
A avaliação do progresso rumo à sustentabilidade deve:
- Desenvolver a capacidade de repetidas medidas para determinar tendências.
- Ser interativa, adaptativa e responsiva às mudanças, porque os sistemas são complexos e se alteram
freqüentemente.
- Ajustar as metas, sistemas e indicadores com os insights decorrentes do processo.
- Promover o desenvolvimento do aprendizado coletivo e o feedback necessário para a tomada de decisão.
10- CAPACIDADE INSTITUCIONAL
A continuidade na avaliação rumo ao desenvolvimento sustentável deve ser assegurada por:
- Delegação clara de responsabilidade e provimento de suporte constante no processo de tomada de decisão.
- Provimento de capacidade institucional para a coleta de dados, sua manutenção e documentação.
- Apoio ao desenvolvimento da capacitação local de avaliação.
Quadro 2: Princípios de Bellagio
Fonte: Hardi; Zaidan, 1997, apud Bellen, 2002.
A partir da análise destes princípios, Bellen (2002), de maneira sintética, afirma que
para transformar o conceito de desenvolvimento sustentável em prática é necessário entender
os processos humanos e naturais relacionados aos problemas sociais, econômicos e
ambientais. O processo de avaliação deve, portanto, estar focado nos seguintes pontos: (a) as
atividades que interferem na vida dos indivíduos e comunidades e nos ecossistemas local e
global, além da economia local e nacional; (b) as mudanças que ocorrem no ecossistema, na
economia, na sociedade e indivíduos, reversíveis ou não e (c) as respostas do sistema político,
sua extensão e impacto.
Estes princípios, apesar de também sofrerem críticas, revelam algumas considerações
importantes que devem ser verificadas quando se utiliza uma metodologia de avaliação de
sustentabilidade, como a dimensão contemplada pela ferramenta de avaliação, o campo de
aplicação da ferramenta, os dados que uma ferramenta de avaliação utiliza, a forma e
intensidade de participação de diferentes atores sociais na elaboração do sistema e as
características do sistema como um todo, procurando verificar alguns elementos que são
considerados essenciais dentro de um sistema de avaliação. Desta forma, pode-se incrementar
a compreensão destas ferramentas e do próprio conceito de desenvolvimento sustentável
(BELLEN, 2002).
Existe no mundo, atualmente, um grande interesse em aprender sobre o
desenvolvimento por meio de indicadores e, para tanto, vários aspectos devem ser
atentamente observados e levados em consideração.
49
3.6 Sistemas de Indicadores Relacionados ao Desenvolvimento Sustentável
Para desenvolver indicadores de sustentabilidade, diversos tipos de sistemas têm sido
utilizados, porém o conceito de desenvolvimento sustentável abrange muitas questões e
dimensões e não um consenso sobre tal julgamento, o que se reflete nos sistemas de
indicadores que vêm sendo criados e empregados.
Melo; Lustosa (2005), em um de seus trabalhos, fizeram uma análise da correlação
existente entre alguns indicadores de desenvolvimento sustentável no Brasil. Para isso, foram
utilizados alguns indicadores disponíveis na base de dados Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável no Brasil, publicado pelo IBGE. Em razão da indisponibilidade de todos os 59
indicadores de maneira uniforme, utilizaram apenas 17 indicadores de desenvolvimento
sustentável, selecionados por ter informações disponíveis por Unidades da Federação, já que
as informações se apresentavam por regiões, séries temporais e períodos diferentes.
Para que a heterogeneidade entre Unidades da Federação não comprometesse a
significância dos coeficientes de correlação, em razão da não normalidade na distribuição das
observações de grande parte dos indicadores, as autoras utilizaram coeficientes de correlação
de Spearman, medida não paramétrica que “(...) se baseia na ordenação de duas variáveis sem
qualquer restrição quanto à distribuição de valores’’ (MELO; LUSTOSA, 2005). O teste de
tailed foi utilizado para verificar a significância dos coeficientes e os indicadores utilizados
foram os relacionados no Quadro 3.
50
Dimensão Ambiental
Área plantada das principais culturas
Quantidade de fertilizantes entregue ao consumidor final
Número de focos de calor
Porcentagem de domicílios com abastecimento de água por rede geral
Porcentagem de domicílios com acesso a esgoto sanitário por rede coletora
Porcentagem de domicílios com acesso a coleta de lixo
Dimensão Econômica
Rendimento médio mensal em R$
Porcentagem de famílias com rendimento mensal entre três a cinco salários mínimos
Porcentagem de famílias com rendimento mensal entre meio e um salário mínimo
Dimensão Social
Porcentagem de domicílios adequados para moradia
Média de anos de estudo de pessoas maiores de 25 anos
Taxa de alfabetização de pessoas maiores de 15 anos
Taxa de escolarização de pessoas entre 7 a 14 anos
Internações hospitalares/100.000 habitantes por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado
Número de estabelecimentos de saúde
Número de postos de trabalho médico
Taxa de mortalidade infantil (por mil nascidos vivos)
Quadro 3: Indicadores de desenvolvimento sustentável utilizados por Melo; Lustosa (2005)
Fonte: Melo; Lustosa (2005).
Os resultados obtidos mostraram que todas as 17 variáveis tomadas como indicadores
apresentam alta correlação com pelo menos duas outras variáveis, confirmando a
complexibilidade do desenvolvimento sustentável (MELO; LUSTOSA, 2005).
As autoras concluíram, por meio deste trabalho, que ações simultâneas em todas as
dimensões devem ser tomadas para que se alcance o desenvolvimento sustentável e afirmam,
portanto, que o maior desafio do desenvolvimento sustentável é o de se pensar conjuntamente
todas essas dimensões.
Rabelo (2007), avaliou o projeto Cultivo de Algas Vermelhas, localizado no litoral
oeste do Ceará, através do cálculo do seu índice de sustentabilidade. Foram aplicados
questionários às cinco famílias que participavam do projeto e da Associação de Produtores de
Algas das comunidades de Flecheiras e Guajirú (APAFG), além de entrevistas realizadas com
o ex e o atual presidente da associação.
51
Os 18 indicadores utilizados, divididos em quatro dimensões que posteriormente
formaram o índice de sustentabilidade, receberam escores pelo grau de importância da ação
efetuada. Os indicadores selecionados estão apresentados no Quadro 4.
Dimensão Social
Educação
Habitação
Saúde
Lazer
Dimensão Ambiental
Qualidade da água doce
Biodiversidade
Banco de algas
Pescado
Dunas
Legislação
Saneamento Básico
Dimensão Econômica
Energia
Trabalho e Renda
Consumo
Atividades complementares à renda
Dimensão Institucional
Participação
Tecnologia
Gênero
Quadro 4: Indicadores de desenvolvimento sustentável selecionados por Rabelo (2007)
Fonte: Rabelo (2007)
Utilizando-se da mesma metodologia que este trabalho propõe, os resultados
encontrados estão listados na Tabela 1.
Tabela 1: Valores dos índices de sustentabilidade obtidos por Rabelo (2007)
ÍNDICE VALOR CALCULADO
Índice Social 0,41
Índice Ambiental 0,357
Índice Econômico 0,253
Índice Institucional 0,74
ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE 0,44
Fonte: Rabelo (2007)
Quanto mais perto de 1, melhor o desempenho do projeto. Observando os resultados
apresentados na tabela e de acordo com a classificação do grau de sustentabilidade segundo o
52
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD/ ONU (1998), é possível
concluir que o grau de sustentabilidade do projeto em questão é ruim.
A autora conclui que, embora precise de ajustes, o projeto tem um excelente objetivo,
e que a gestão e monitoramento do mesmo, como de qualquer projeto que vise a sua
sustentabilidade, precisa atentar para o grau de cada dimensão durante a busca pelo
desenvolvimento sustentável.
53
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Área Geográfica de Estudo
A área de estudo compreende a região do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, um dos
maiores projetos públicos de irrigação no Estado do Ceará, com 14.212 ha de área bruta e
12.656 ha de área irrigável, sendo 8.335 ha de área implantada, na primeira etapa do projeto e
4.321 ha de área a implantar, na segunda etapa do projeto. Compreende os municípios de
Acaraú, Bela Cruz e Marco e está situada a cerca de 220 km de Fortaleza, no norte do Estado
do Ceará.
A região apresenta temperatura média anual de 28,1° C e tem, em geral, solos
profundos, bem drenados e muito permeáveis.
A oferta de água para o Perímetro é garantida através do Rio Acaraú, perenizado, no
trecho, pelas águas dos açudes Paulo Sarasate e Edson Queiroz. Os sistemas de irrigação
utilizados na área são micro-aspersão e gotejamento, respondendo, cada um, por 50% da área.
A principal atividade irrigada da região é a fruticultura.
Existe um convênio celebrado entre o DNOCS e o Estado do Ceará, pela da Secretaria
de Desenvolvimento Agrário (SEAGRI), que tem como objetivo a transferência ao Estado da
administração, operação e manutenção de toda a infra-estrutura de irrigação de uso comum do
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
A SEAGRI atribui competência ao DIBAU para administrar, operacionalizar e manter
toda a infra-estrutura de irrigação de uso comum do Perímetro, conforme o que foi
regulamentado em bases legais.
Na Figura 2 observa-se o mapa de localização do Perímetro no Estado do Ceará.
54
Figura 2: Mapa de localização do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú no Estado do Ceará
Fonte: Adaptação do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará IPECE (2008) e Google maps
(2008)
4.1.1 Justificativa da Área Geográfica de Estudo
O Perímetro Irrigado Baixo Acaraú constitui-se numa das mais modernas obras de
irrigação do mundo que visa a proporcionar condições aos produtores de desenvolverem a
55
atividade da agricultura irrigada de maneira eficiente e gerar emprego e renda à comunidade
local.
Em visita ao local, um fato chamou a atenção. Embora o Perímetro Irrigado apresente
a utilização de alta tecnologia de irrigação, observa-se uma baixa ocupação de sua área, o que
leva ao questionamento quanto a aspectos referentes à (auto) sustentabilidade deste projeto.
Desta forma, e visando a fazer uma verificação a respeito da eficiência da alocação de
recursos, decidiu-se pela realização deste trabalho.
4.1.2 Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
O Perímetro Irrigado Baixo Acaraú localiza-se a 160 km do porto de Pecém, na região
norte do estado do Ceará. Tem uma posição privilegiada para exportação de seus produtos,
podendo alcançar a Europa ou Estados Unidos em 7 dias de navio ou 10 horas de avião. Para
a comercialização no mercado interno, conta com a malha rodoviária nacional, com rodovias
asfaltadas.
O Perímetro foi estabelecido por iniciativa do Ministério da Integração Nacional e
contou com a parceria do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).
Teve sua implantação iniciada na década de 1980, enquanto os serviços de administração,
operação e manutenção da infra-estrutura de uso comum tiveram início no ano de 2001
(DNOCS, 2008).
O projeto foi dividido em duas etapas. A primeira tem área bruta de 9.642 ha, sendo
8.335 ha de área irrigável. 478 lotes de pequeno produtor, correspondendo a 3.872 ha; 52
lotes de técnicos em ciências agrárias, correspondendo a 910 ha; 56 lotes de empresários,
perfazendo um total de 3.248 ha, além de 199 lotes de áreas adjacentes, o que corresponde a
305 ha.
A segunda etapa tem área bruta de 4.570 ha, sendo 4.321 ha de área irrigável. 315
lotes de pequeno produtor, correspondendo a 2.520 ha; 38 lotes de técnicos em ciências
agrárias, correspondendo a 608 ha e 13 lotes de empresários, correspondendo a 1.040 ha.
56
Todos os lotes do Perímetro recebem água em baixa pressão por meio de adutoras de
ferro fundido, com tomadas individuais, o que facilita a operacionalização de todo o sistema
para o produtor e para o Perímetro.
A operacionalização do Perímetro é feita de forma automatizada, por meio de fibra
ótica, com o comando e controle feito diretamente da ala de controle localizada na estação de
bombeamento.
A infra-estrutura de uso comum do perímetro é composta por uma barragem; uma
subestação de alimentação da estação de bombeamento; uma estação de bombeamento; cinco
estações elevatórias com cinco reservatórios secundários; trinta e um transmissores de nível;
oito indicadores de vazão; treze sensores de posição de comporta; um medidor de vazão e um
medidor de pressão; dezoito drenos, totalizando 11.395m; sessenta e duas canaletas,
totalizando 31.667m e oito pontilhões. Existem 151.541 metros de estradas, entre estradas
principais, secundárias e de serviço.
O Perímetro é administrado pela organização de produtores detentores de lotes, que
recebe o nome de DIBAU, de forma colegiada, fundamentada em um convênio de
transferência de gestão, assinado entre o DNOCS e o DIBAU, que estabelece normas,
critérios, direitos e deveres de cada um. Esta organização de produtores é responsável pela
administração, operação e manutenção de toda infra-estrutura de irrigação de uso comum. É
uma organização civil de direito privado, sem fins lucrativos. Atualmente, há 501 associados.
Para sua efetividade, o Distrito realiza cobrança de tarifas, observando a legislação,
como a Lei número 9.433 que, entre outros, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos
e a Lei de Irrigação 6.662, que dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação e outras
providências.
O Perímetro possui dois tipos de tarifas a serem cobradas dos produtores: a tarifa k
1
e a
tarifa k
2.
A tarifa k
1
trata-se de um valor que se destina a pagar pelo investimento em infra-
estrutura de irrigação de uso comum feito no local e deve ser paga diretamente ao DNOCS.
Seu valor é estabelecido pelo Ministério da Integração Nacional. Sua cobrança está em fase de
implementação pelo DNOCS, em razão da carência já prevista em lei. A tarifa k
2
é a tarifa
através da qual são cobradas as despesas operacionais do Perímetro e é paga ao mesmo. Nela
57
estão incluídas todas as despesas para a operacionalização da infra-estrutura de irrigação de
uso comum para fornecer o volume de água previsto para cada lote, na vazão, hora e período
pré-estabelecido no contrato de fornecimento de água, assinado entre o Distrito e o produtor
irrigante. A tarifa k
2
é cobrada, mensalmente, sobre duas formas: parte fixa e parte variável. A
parte fixa é da ordem de R$ 19,00/ha/mês para pequenos produtores e técnicos em ciências
agrárias e de R$ 22,00/ha/mês para empresários e áreas adjacentes.
O valor diferenciado, observado na cobrança da parte fixa, entre o pequeno produtor e
empresário, se deve à diferente vazão disponibilizada a cada um, sendo a disponibilizada ao
pequeno produtor e técnico em ciências agrárias de 1,15/s/ha e a disponibilizada ao
empresário e áreas adjacentes de 1,3l/s/ha. A parte variável é da ordem de R$ 7,00/1000 m
3
para todas as categorias.
O sistema de produção e comercialização é comumente realizado por meio de
associações de produtores, formadas por iniciativa dos mesmos, tanto por afinidade quanto
por grupo de culturas, geralmente em número de 10 a 20 produtores.
O Perímetro possui estrutura de apoio, como galpões construídos nos Núcleos
Habitacionais (NH’s) que são disponibilizados aos pequenos produtores e onde são montados
os Packing House, tendo assim toda a estrutura de apoio à produção e comercialização. Além
disso, se encontra em fase de construção um conjunto de câmaras frias para armazenamento
de frutas e polpas.
Está em formação um grupo de produtores que terá o nome de “ACARAÚ EXPORT”,
com projetos específicos voltados para a comercialização e que tem como principal objetivo a
exportação de frutas tropicais para o mercado europeu e dos Estados Unidos.
De acordo com informações da administração do Perímetro, a assistência técnica aos
pequenos produtores deve ser prestada gratuitamente pela SEAGRI, enquanto os técnicos em
ciências agrárias e empresários devem contratar assistência técnica particularmente.
58
4.2 Área Científica de Estudo
A área científica de estudo refere-se à linha de pesquisa “Políticas públicas para o
desenvolvimento local e regional”, do curso de mestrado em Economia Rural, do
Departamento de Economia Agrícola, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O poder público tem como objetivo maximizar o bem-estar da sociedade no presente
sem comprometer o bem-estar da geração futura. Na sua responsabilidade de garantir os
direitos da sociedade, o governo depara-se com duas necessidades urgentes: uma é a fonte de
recursos financeiros, que consiste em carência também para outros setores sociais, que a
demanda por benefícios sociais é maior do que a oferta por benefícios sociais e a outra é a
eficiência na alocação desses recursos. Tendo em vista estas necessidades, é de suma
importância verificar a efetividade das políticas públicas para promover o desenvolvimento
(MAYORGA, 2004).
O tema desenvolvimento tem ganhado destaque em discussões, embora interpretado
sob inúmeras formas, inclusive erroneamente. O desenvolvimento envolve o crescimento
orientado, distribuído, capaz de atender às necessidades humanas, sociais e econômicas,
aumentando a qualidade de vida sem excluir a questão ambiental.
Segundo Randall (1987), nos primórdios, a exploração dos recursos, principalmente
naturais, ocorreu sem maiores problemas, que as necessidades eram poucas e a demanda
menor. Porém, com o progresso tecnológico e aumento da população, as necessidades
aumentaram, bem como a demanda por recursos naturais e melhor qualidade de vida,
enquanto a oferta de recursos não acompanhou este crescimento.
Além disso, os desajustes nos resultados dos modelos de desenvolvimento adotados
pelo Estado, muitas vezes copiados de países desenvolvidos sem as devidas adaptações,
trouxeram conseqüências, que o uso dos recursos não se deu de forma planejada (LEITE,
1983, apud Galante, 2000).
Embora muito tenha se falado sobre globalização, e apesar de parecer contraditório,
ganha destaque o processo de desenvolvimento local e regional (RAMBO; RUPPENTHAL,
2004).
59
Uma metodologia de regionalização coerente deve ser utilizada. Neste caso, considera-
se o Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, composto pelas cidades de Acaraú, Bela Cruz e Marco,
e região de entorno, administrado pelo DIBAU, que deve apoiar e promover o
desenvolvimento de sua região de abrangência. Para que haja desenvolvimento, é preciso
haver a evolução dos indivíduos e sociedade e este processo deve ocorrer de forma integrada.
O desenvolvimento local e regional precisa, ainda, ser sustentável, isto é, deve
satisfazer às necessidades presentes sem comprometer as gerações futuras, garantindo bem
estar sem esgotar os recursos existentes. Deve ser economicamente viável, ou seja, ter
condições de gerar renda e retorno; socialmente justo, por meio de uma alocação
intertemporal, em que todos os usuários tenham acesso ao serviço e deve ser ambientalmente
sustentável, por meio de uma alocação intratemporal, em que o emprego presente de recursos
não comprometa a utilização futura, em quantidade e qualidade.
A avaliação do processo de desenvolvimento deve ser feita como meio de obter
informações a respeito do processo, oferecer subsídios, suporte, orientação às políticas
públicas direcionadas a este assunto e deve levar em conta vários fatores e utilizar indicadores
confiáveis, contemplando os aspectos sociais, econômicos, ambientais, institucionais.
A discussão a respeito da formulação de modelos que tratem destas questões vem,
portanto, se ampliando e as entidades representativas da sociedade assumem importante
tarefa, visando a promover o desenvolvimento sustentável.
4.2.1 Métodos de Análise
Existem muitos instrumentos e métodos propostos para se mensurar e avaliar a (auto)
sustentabilidade de um projeto. Para analisar a sustentabilidade, será realizada a análise ex-
post, por meio do método histórico e documental e a análise em processo, empregando
seqüência metodológica adotada por Rabelo (2007). Para analisar a auto-sustentabilidade, será
realizada a análise ex-ante, feita por meio de entrevistas com a administração do Perímetro,
que levantaram dados a respeito da relação entre as receitas totais arrecadadas e custos totais
incorridos no perímetro Irrigado Baixo Acaraú, e por meio dos resultados obtidos nas análises
anteriores, já que não foi possível adquirir informações suficientemente detalhadas sobre estes
aspectos.
60
4.3 Avaliação da (Auto) Sustentabilidade
4.3.1 Análise Ex-Post
A avaliação ex-post é o primeiro passo do processo de avaliação de um
programa/projeto. É uma pesquisa exploratória que permite averiguar a cobertura de uma
gama de fenômenos, oferecendo meios para definir, resolver, não somente os problemas
conhecidos, como também explicar novas áreas onde os problemas não são bem definidos
(MAYORGA, 2004).
São avaliadas questões como: se os objetivos do projeto são apropriados, se a
tecnologia proposta era adequada, se os aspectos comerciais foram cumpridos, entre outros.
Desta avaliação podem originar-se orientações acerca de como melhorar o projeto.
Serão utilizados os métodos histórico e documental.
4.3.2 Análise Em Processo
A avaliação em processo consiste na verificação das formas de implantação dos
projetos, identificando os impactos positivos/negativos. Nesta avaliação, procura-se elaborar o
diagnóstico da atualidade quanto ao perfil dos beneficiados, infra-estrutura física, econômica
e social existentes, sistema de produção, uso de tecnologias, manejo do solo e os impactos
socioeconômicos, ambientais e políticos, isto é, o sistema de informação geográfica
(MAYORGA, 2004).
São várias as técnicas de avaliação e, neste caso, será utilizada a seqüência
metodológica adotada por Rabelo (2007), que adaptou diferentes estudos sobre
sustentabilidade e consta de duas etapas:
1. Cálculo dos índices de sustentabilidade para as dimensões social, ambiental,
econômica e institucional da sustentabilidade.
2. Cálculo do índice de sustentabilidade (IS).
61
Serão atribuídos escores, variando de 0 a 3, em escala crescente, a variáveis que
compõem os indicadores de sustentabilidade selecionados, divididos nas dimensões social,
ambiental, econômica e institucional, que deverão compor o
IS
. Aos indicadores serão
atribuídos pesos, que variam de 1 a 3, representando a importância para população de cada um
no que diz respeito à sustentabilidade, como é mostrado no Quadro 5.
Alta Importância 3
Média Importância 2
Baixa Importância 1
Quadro 5: Importância e pesos relativos dos indicadores de sustentabilidade
Fonte: Elaboração da autora
4.3.2.1 Cálculo dos Índices de Sustentabilidade para as Dimensões Social, Ambiental,
Econômica e Institucional .
A expressão seguinte permite realizar o cálculo dos índices de desenvolvimento
sustentável para cada dimensão considerada no estudo.
=
=
=
=
n
j
m
i
i
m
i
ij
w
E
E
n
I
1
1
max
1
1
Onde:
I
w
= índice que irá compor o índice de sustentabilidade: social, ambiental, econômico
ou institucional;
E
ij
= escore do i-ésimo indicador do I
w
obtido no j-ésimo questionário;
E
maxi
= escore máximo do i-ésimo indicador do I
w
;
i = 1,...., m, número de indicadores;
j = 1, ...., n, número de questionários aplicados;
w = 1, ...,4, número de índices que comporão o índice de sustentabilidade.
Quanto mais próximo de 1 o valor do Índice I
w,
melhor o desempenho do objeto de
estudo, no aspecto em questão.
(1)
62
Esse procedimento atribui importância igual a todos os indicadores dentro de uma
mesma dimensão. No entanto, dada a realidade do que se está estudando, é possível que um
ou outro indicador contribua de maneira diferente para o desenvolvimento sustentável.
Quando isso ocorre, a literatura sugere a adoção da seguinte expressão que atribui pesos
diferentes aos indicadores que compõem o índice mensurado:
=
=
=
n
j
m
i
w
iPiE
PijEij
n
I
1
1
max.max
.
1
Pij = peso do i-ésimo indicador alcançado pelo j-ésimo questionário
Pmax
i
= peso máximo do i-ésimo indicador
E
ij
= escore do i-ésimo indicador obtido pelo j-ésimo questionário
Emax
i
= escore máximo da i-ésimo indicador
Neste trabalho, será utilizada a expressão que atribui pesos diferentes aos indicadores,
representando a importância para população de cada um no que diz respeito à
sustentabilidade.
4.3.2.2 Cálculo do Índice de Sustentabilidade
O índice de sustentabilidade deve incorporar todas as dimensões ou escopos
considerados. Uma das formas de mensurá-lo é por meio da expressão:
=
=
k
w
w
I
k
IS
1
1
(2)
(3)
63
Sendo:
IS = Índice de Sustentabilidade;
I
w
= valor do w-ésimo índice; w = 1,...,k
A expressão acima atribui pesos iguais a cada dimensão analisada. Caso, de acordo
com a recomendação de especialista ou bibliografia consultada, se deseje a atribuição de uma
importância maior a um dado índice, utiliza-se:
=
=
=
k
w
w
k
w
ww
P
PI
IS
1
1
Sendo:
P
w
= peso atribuído ao w-ésimo índice; w = 1,...,k
No presente trabalho, será utilizada a expressão que atribui pesos iguais a cada
dimensão analisada por considerar que todas as dimensões exercem igual influência sobre o
grau de sustentabilidade do local.
4.3.2.3 Identificação do Grau de Sustentabilidade
O índice de sustentabilidade tem como principal função permitir o conhecimento do
grau de sustentabilidade no qual se encontra o objeto avaliado e analisar os demais índices
que o compõem, bem como verificar para quais indicadores ações devem ser voltadas, de
modo a melhorar ou continuar no ritmo de sustentabilidade que se deseja.
A construção de índices consiste em transformar o valor dos indicadores num quantum
que varia entre 0 e 1, sendo que o valor 1 significa a melhor condição de sustentabilidade
alcançada e o valor 0, o desempenho mais desfavorável – sustentabilidade não alcançada.
(4)
64
Neste trabalho, esse intervalo foi dividido em cinco intervalos menores, contendo
todas as cinco categorias sugeridas pelo PNUD/ ONU (1998), conforme Quadro 6.
Sustentabilidade excelente
1 IS 0,800
Sustentabilidade boa
0,799 IS 0,650
Sustentabilidade média
0,649 IS 0,500
Sustentabilidade ruim
0,499 IS 0,300
Sustentabilidade crítica
0,299 IS 0,000
Quadro 6: Graus de sustentabilidade
Fonte: Elaboração da autora, segundo PNUD/ONU (1998)
4.3.2.4 Definição e Classificação dos Indicadores de Sustentabilidade
Os indicadores foram selecionados de acordo com a literatura existente, como o estudo
de Rabelo (2007), que analisou a sustentabilidade do Projeto Cultivo de Algas Vermelhas
(PCAV), localizado no litoral oeste do Ceará, no distrito de Flecheiras, e o estudo realizado
por Melo; Lustosa (2005), que analisaram a correlação entre indicadores de desenvolvimento
sustentável no Brasil, entre outros. Foram considerados, também, os indicadores de
desenvolvimento sustentável do IBGE, objetivando considerar os quatro escopos e os tópicos
importantes a serem estudados por terem influência na sustentabilidade do projeto na busca
pelo desenvolvimento sustentável.
Como se observa na Figura 3, foram selecionados 15 indicadores, divididos entre os
escopos social, ambiental, econômico e institucional, que poderiam refletir a realidade.
65
Figura 3: Escopos e seus indicadores contextualizados para o Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Fonte: Elaboração da autora, com base em Rabelo (2007) e IBGE (2007)
a) Índice Social
O índice social surge a partir do escopo social, formado pelos indicadores Educação,
Habitação, Saúde e Lazer. Esses pontos estão ligados à satisfação das necessidades humanas.
O Quadro 7 relaciona o índice social, os indicadores utilizados, as alternativas de
resposta e escores atribuídos.
Educação
Lazer
Saúde
DIMENSÕES
ECONÔMICO
Habitação
SOCIAL
INSTITUCIONAL
AMBIENTAL
Saneamento
Qualidade da
Água
Áreas Protegidas
Uso de
Agrotóxicos/
Fertilizantes
Renda
Consumo
Comercialização
Acesso à
Informação
Participação
Tecnologia
Assistência
Técnica
66
ÍNDICE SOCIAL
Indicador
Variáveis
Escores
Escolaridade: anos de estudo completos dos produtores entrevistados
1. 17 ou mais 3
2. 15 a 16 2,5
3. 11 a 14 2
4. 8 a 10 1,5
5. 4 a 7 1
6. 1 a 3 0,5
7. 0 0
Acesso à educação: serviços disponíveis aos produtores entrevistados
1. Universidade 3
2. Escola de ensino fundamental/ médio 2
3. Escola de curso de alfabetização 1
4. Ausência de escolas públicas ou comunitárias 0
Taxa de escolarização no domicílio dos produtores entrevistados
1. 0.76 < TE < 1 3
2. 0,51 < TE < 0,75 2
3. 0,26 < TE < 0,5 1
4. 0 < TE < 0,25 0
Taxa de alfabetização no domicílio dos produtores entrevistados
1. 0.76 < TA < 1 3
2. 0,51 < TA < 0,75 2
3. 0,26 < TA < 0,5 1
4. 0 < TA < 0,25 0
Educação
Estrutura
1. Tijolo e reboco 3
2. Tijolo 2
3. Madeira 1
4. Taipa 0
Cobertura
1. Laje 3
2. Telha 2
3. Amianto 1
Habitação
4. Palha 0
continua
67
continuação
Piso
1. Piso 3
2. Cimento 2
3. Madeira 1
4. Barro 0
Número de cômodos
1. 7 ou mais 3
2. De 5 a 6 2
3. De 3 a 4 1
4. Até 2 0
Abastecimento de energia utilizado pelos produtores entrevistados
1. Elétrica. Acesso à rede geral (COELCE) 3
2. Acesso a motor 2
3. Querosene, gás, lamparina, etc. 1
4. Não tem 0
Serviços de saúde disponíveis aos produtores entrevistados
1. Hospital/plano de saúde particular 3
2. Hospital público/posto de saúde 2
3. Primeiros socorros 1
4. Nenhum 0
Freqüência de visitas de agentes de saúde aos produtores entrevistados
1. A cada 15 dias 3
2. Uma vez por mês 2
3. A cada 2 meses 1
4. Não tem 0
Saúde
Opções de lazer disponíveis aos produtores entrevistados
1. Clube ou associação desportiva 3
2. Praça 2
3. Campo de futebol 1
4. Nenhuma 0
Lazer
Quadro 7: Quadro do Índice Social, indicadores utilizados e variáveis e escores.
Fonte: Elaboração da autora, com base em Rabelo (2007) e IBGE (2007)
68
a.i) Indicador Educação
A educação é uma das prioridades para um país. É fundamental para promover o
desenvolvimento sustentável, capacitando os cidadãos e proporcionando-lhes melhores
condições de vida, através de conhecimento, aprendizado, articulação, especialização da mão-
de-obra. A educação desenvolve a consciência crítica e permite o discernimento entre o que é
direito e dever na vida coletiva e é parte imprescindível do processo para tornar as sociedades
mais prósperas, justas e igualitárias. Assim, uma nação precisa tornar acessível a toda a
população a educação básica para que se desenvolva de modo sustentável (IBGE, 2007).
A variável “Escolaridade: anos de estudo completos dos produtores entrevistados”
apresenta a média de anos de estudo da população com 25 anos ou mais de idade. Foi obtida
pela quantidade média de anos de estudo para este grupo.
A variável “Acesso à educação: serviços disponíveis aos produtores entrevistados”
representa o acesso da população à educação em seus diferentes níveis.
A variável “Taxa de escolarização no domicílio dos produtores entrevistados”
representa a proporção da população infanto-juvenil que freqüenta a escola. Foi obtida através
da relação entre os membros do domicílio que têm entre 7 e 14 anos e que freqüentam a
escola e o total de membros nessa faixa etária que vive na residência considerada.
A variável “Taxa de alfabetização no domicílio dos produtores entrevistados” mede o
grau de alfabetização da população de 15 anos ou mais de idade. Corresponde à relação entre
as pessoas com 15 anos ou mais de idade que sabem ler e escrever residentes no domicílio e o
conjunto da população nesta faixa de idade que vive na residência. A taxa de alfabetização
representa a proporção da população adulta que é alfabetizada.
O somatório das pontuações das variáveis forma o escore total do indicador.
a.ii) Indicador Habitação
A habitação está entre os itens essenciais a serem tratados nas discussões acerca do
desenvolvimento sustentável, afinal, é uma necessidade básica do ser humano. A moradia
69
adequada é uma das condições determinantes para que a população tenha qualidade de vida
(IBGE, 2007).
Este indicador espera mostrar a infra-estrutura a qual o indivíduo tem acesso. Um
domicílio é considerado satisfatório quando apresenta um nimo de aceitabilidade dos
serviços de infra-estrutura básica e tem, desta maneira, outros indicadores, como o social e o
ambiental, diretamente relacionados (IBGE, 2007).
As variáveis “Estrutura”, “Cobertura”, “Piso” e “Número de cômodos” buscam
identificar as condições de moradia, ou seja, a aceitabilidade da infra-estrutura disponível na
residência. A variável “Abastecimento de energia utilizado pelos produtores entrevistados”
representa outro aspecto importante no que se refere à infra-estrutura do domicílio.
O somatório das pontuações destas variáveis forma o escore total do indicador.
a.iii) Indicador Saúde
A disponibilidade de serviços de saúde e o acesso aos mesmos permitem ao produtor
manter o bem-estar humano e aumentar a sua expectativa de vida. Constitui-se num dos pré-
requisitos para o desenvolvimento sustentável.
Este indicador expressa a oferta de infra-estrutura básica de serviços de saúde e, por
conseguinte, o potencial de acesso aos mesmos por parte da população (IBGE, 2007).
As variáveis “Serviços de saúde disponíveis aos produtores entrevistados” e
“Freqüência de visitas de agentes de saúde aos produtores entrevistados” expressam as
condições básicas de saúde no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
O somatório das pontuações das variáveis forma o escore total do indicador.
70
a.iv) Indicador Lazer
Este indicador visa a mostrar as opções de atividades de lazer disponíveis ao produtor.
O lazer contribui para a qualidade de vida do produtor, suas relações sociais e, portanto, para
o desenvolvimento sustentável. É representado por uma única variável: “Opções de lazer
disponíveis aos produtores entrevistados” e, assim sendo, seu escore é o escore total do
indicador.
b) Índice Ambiental
O índice ambiental foi formado pelos indicadores Saneamento, Qualidade da Água,
Uso de Agrotóxicos/Fertilizantes e Áreas Protegidas. Esses pontos estão diretamente ligados à
conservação do meio-ambiente e recursos naturais, entre outros fatores.
No Quadro 8 relaciona-se o índice ambiental, os indicadores utilizados, as alternativas
de resposta e escores atribuídos.
71
ÍNDICE AMBIENTAL
Indicador Variáveis Escores
Principal forma de abastecimento de água utilizada pelos produtores entrevistados
1. Água da CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará
3
2. Água disponibilizada pelo Perímetro - Ponto de água
2
3. Poço, rio, açude, represa, torneira publica.
1
4. Não existe
0
Acesso à rede de esgotamento sanitário pelos produtores entrevistados
1. Sim 1
2. Não 0
Disponibilidade de coleta de lixo no domicílio dos produtores entrevistados
1. Sim 1
2. Não 0
Principal destino dado ao lixo pelos produtores entrevistados
1 . Recolhido pela coleta de lixo 1
2. Jogado nas ruas, superfície da terra 0
3. Enterrado/Queimado 0
4. Rios ou canais 0
Principal destino dado aos dejetos pelos produtores entrevistados
1. Esgotamento sanitário 2
2. Fossa 1
3. Superfície da terra 0
4. Enterrado/Queimado 0
Saneamento
Classificação da qualidade da água destinada a consumo humano pelos produtores
entrevistados
1. Ótima 3
2. Boa 2
3. Regular 1
4. Ruim 0
Tratamento dado à água utilizada para consumo humano pelos produtores
entrevistados
1. Com cloro 3
2. Filtrada 2
3. Fervida 1
4. Nenhum 0
Qualidade da Água
continua
72
continuação
Tratamento dado à água utilizada para outros consumos pelos produtores
entrevistados
1. Com cloro 3
2. Filtrada 2
3. Fervida 1
4. Nenhum 0
Utilização de agrotóxicos/fertilizantes químicos pelos produtores entrevistados
1. Sim 0
2. Não 1
Conhecimento da legislação a respeito do uso de agrotóxico/fertilizantes nas
atividades agrícolas pelos produtores entrevistados
1. Sim 1
2. Não 0
Uso de Agrotóxicos/
Fertilizantes
Existência de área de reserva de mata nativa na propriedade dos produtores
entrevistados
1. Sim 1
2. Não 0
Áreas Protegidas
Quadro 8: Quadro do Índice Ambiental, indicadores utilizados e variáveis e escores.
Fonte: Elaboração da autora, com base em Rabelo (2007) e IBGE (2007)
b.i) Indicador Saneamento
O acesso ao saneamento básico é fundamental para o controle e redução de doenças e,
associado a outras informações como: acesso à saúde, educação e renda, é um bom indicador
de desenvolvimento sustentável, importante tanto para a caracterização da qualidade de vida
da população quanto para o acompanhamento das políticas públicas de saneamento básico e
ambiental (IBGE, 2007).
Conceitua-se saneamento básico como um conjunto de serviços, entre eles, acesso à
água potável, coleta e tratamento de esgoto e lixo. O indicador saneamento básico está
intimamente relacionado à melhoria da saúde pública e à proteção ambiental.
As variáveis “Principal forma de abastecimento de água utilizada pelos produtores
entrevistados”, “Acesso à rede de esgotamento sanitário pelos produtores entrevistados”,
“Disponibilidade de coleta de lixo no domicílio dos produtores entrevistados”, “Principal
73
destino dado ao lixo pelos produtores entrevistados” e “Principal destino dado aos dejetos
pelos produtores entrevistados” expressam as condições predominantes no Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú.
O somatório das pontuações das variáveis forma o escore total do indicador.
b.ii) Indicador Qualidade da Água
A água é de valor inestimável para manutenção da vida. O acesso à água tratada tem
grande importância para se alcançar melhorias nas condições de saúde e higiene, porém nem
sempre a qualidade da água é assegurada à toda a população.
As variáveis “Classificação da qualidade da água destinada a consumo humano pelos
produtores entrevistados”, “Tratamento dado à água utilizada para consumo humano pelos
produtores entrevistados” e “Tratamento dado à água utilizada para outros consumos pelos
produtores entrevistados” expressam as condições básicas de qualidade da água no Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú.
O somatório das pontuações das variáveis forma o escore total do indicador.
b.iii) Indicador Uso de Agrotóxicos/Fertilizantes
O uso de agrotóxicos e fertilizantes pode trazer graves conseqüências ao meio
ambiente, como contaminação de água e solo e contribuição para o aquecimento global. Seu
uso deve ser consciente e o produtor deve estar informado sobre a legislação vigente a
respeito de sua utilização.
As variáveis Utilização de agrotóxicos/fertilizantes químicos pelos produtores
entrevistados” e “Conhecimento da legislação a respeito do uso de agrotóxico/fertilizantes nas
atividades agrícolas pelos produtores entrevistados” expressam as condições existentes no
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
O somatório das pontuações das variáveis forma o escore total do indicador.
74
b.iv) Indicador Áreas Protegidas
Para que se alcance o desenvolvimento sustentável, deve haver a conservação dos
recursos hídricos, solos, florestas e biodiversidade e, para que a conservação seja possível, a
delimitação de áreas protegidas é fundamental.
Este indicador apresenta a existência de espaços territoriais sob estatuto especial de
proteção, destinados à proteção do meio ambiente, onde a exploração dos recursos naturais é
proibida ou controlada por legislação específica (IBGE, 2007).
É representado por uma única variável: “Existência de área de reserva de mata nativa
na propriedade dos produtores entrevistados” e, assim sendo, seu escore é o escore total do
indicador.
c) Índice Econômico
O índice econômico foi formado pelos indicadores Renda e Consumo.
No Quadro 9 relaciona-se o índice econômico, os indicadores utilizados, as
alternativas de resposta e escores atribuídos.
75
ÍNDICE ECONÔMICO
Indicador Variáveis Escores
Renda média anual dos produtores entrevistados proveniente de atividades no Perímetro
1. R$ 36.481,00 ou mais
3
2. R$ 18.241,00 a R$ 36.480,00
2
3. R$ 4.561,00 a R$ 18.240,00
1
4. Até R$ 4.560,00
0
Renda
Consumo de bens duráveis pelos produtores entrevistados
1. Possui pelo menos um dos bens dos grupos 1, 2 e 3
3
2. Possui pelo menos um dos bens dos grupos 1 e 2 e não possui nenhum dos
bens do grupo 3
2
3. Possuí pelo menos um dos bens do grupo 1 e não possui nenhum dos bens
dos outros grupos
1
4. Não possui nenhum dos bens citados
0
Consumo
Quadro 9: Quadro do Índice Econômico, indicadores utilizados e variáveis e escores.
Fonte: Elaboração da autora, com base em Rabelo (2007) e IBGE (2007)
c.i) Indicador Renda
Outro importante indicador de desenvolvimento sustentável é a renda. De acordo com
Nunes; Viana (2006), citados por Rabelo (2007), o projeto deve ser a principal fonte de renda,
e não complementador, para que exista rentabilidade na produção.
Para tanto, será avaliado o valor do rendimento anual proveniente de atividades no
Perímetro, obtido subtraindo-se o custo total de produção no Perímetro da renda total obtida
com as atividades no local.
É representado por uma única variável: “Renda média anual dos produtores
entrevistados proveniente de atividades no Perímetro” e, assim sendo, seu escore é o escore
total do indicador.
76
c.ii) Indicador Consumo
Supõe-se que este indicador esteja intimamente ligado ao imediatamente anterior,
afinal, adquirindo boa renda, o produtor tem maior poder de consumo. Esse indicador busca
verificar o padrão de consumo do irrigante do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
É representado por uma única variável: “Consumo de bens duráveis pelos produtores
entrevistados” e, assim sendo, seu escore é o escore total do indicador.
d) Índice Institucional
O índice institucional surge a partir do escopo institucional, formado pelos indicadores
Participação, Tecnologia, Assistência Técnica, Acesso à Informação e Comercialização.
No Quadro 10 relaciona-se o índice institucional, os indicadores utilizados, as
alternativas de resposta e escores atribuídos.
77
DIMENSÃO INSTITUCIONAL
Indicador Variáveis Escores
Participação de organização social, política ou outra pelos produtores
entrevistados
1. Sim 1
2. Não 0
Freqüência de participação de organização social, política ou outra pelos
produtores entrevistados
1. Sempre 2
2. Ás vezes 1
3. Não participa 0
Participação
Adequação da tecnologia disponível aos produtores entrevistados
1. Sim 1
2. Não 0
Tecnologia
Recebimento de assistência técnica pelos produtores entrevistados
1. Sim 1
2. Não 0
Freqüência da prestação de serviço de assistência técnica aos produtores
entrevistados
1. A cada 15 dias 3
2. A cada mês 2
3. A cada 2 meses 1
4. Não recebe 0
Assistência Técnica
Acesso a informações pelos produtores entrevistados
1. Suficientes 2
2. Insuficientes 1
3. Não recebe 0
Acesso à Informação
Recebimento de apoio/informações a respeito de comercialização pelos
produtores entrevistados
1. Sim 1
2. Não 0
Comercialização
Quadro 10: Quadro do Índice Institucional, indicadores utilizados e variáveis e escores.
Fonte: Elaboração da autora, com base em Rabelo (2007) e IBGE (2007)
78
d.i) Indicador Participação
O indicador participação procura verificar o nível de envolvimento dos produtores
com o projeto e a sociedade. Pela participação, os produtores se mantêm informados e podem
cobrar resultados, reivindicar ações e contribuir para que melhorias sejam feitas.
As variáveis “Participação de organização social, política ou outra pelos produtores
entrevistados” e “Freqüência de participação de organização social, política ou outra pelos
produtores entrevistados” expressam as condições existentes no Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú.
O somatório das pontuações das variáveis forma o escore total do indicador.
d.ii) Indicador Tecnologia
Um dos pontos mais importantes no que diz respeito à sustentabilidade no Perímetro é
a adequação da tecnologia utilizada, pois assim será possível viabilizar a produção e gerar
uma renda média satisfatória aos produtores. O indicador tecnologia objetiva fazer essa
observação.
É representado por uma única variável: “Adequação da tecnologia disponível aos
produtores entrevistados” e, assim sendo, seu escore é o escore total do indicador.
d.iii) Indicador Assistência Técnica
Não basta ter excelente e adequada tecnologia se não houver assistência técnica para
orientar sobre seu uso e sobre as técnicas adequadas de produção. Este indicador busca
verificar o acesso à assistência técnica e a freqüência com que ocorre.
As variáveis “Recebimento de assistência técnica pelos produtores entrevistados” e
“Freqüência da prestação de serviço de assistência técnica aos produtores entrevistados”
expressam as condições existentes no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
79
O somatório das pontuações das variáveis forma o escore total do indicador.
d.iv) Indicador Acesso à Informação
A informação representa um acréscimo ao conhecimento de quem a recebe. É um
recurso primordial em qualquer setor da economia e negócios. Este indicador visa a verificar
o acesso do produtor do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú a informações relacionadas à
produção, preço de produtos, economia, política e outros assuntos capazes de auxiliar em
processos de tomada de decisão a respeito de assunto de interesse da comunidade.
É representado por uma única variável: “Acesso a informações pelos produtores
entrevistados” e, assim sendo, seu escore é o escore total do indicador.
d.v) Indicador Comercialização
Pela comercialização, torna-se possível o comércio, ou seja, a troca de mercadorias
visando ao lucro. Espera-se que essa troca beneficie ambos os lados, afinal, se um não fosse
beneficiado ele não participaria da troca.
Um canal de comercialização ou o apoio a essa atividade tem grande importância no
resultado final das atividades realizadas em um local. Por isso, esse indicador objetiva
verificar as condições de comercialização às quais os produtores têm acesso.
É representado por uma única variável: “Recebimento de apoio/informações a respeito
de comercialização pelos produtores entrevistados” e, assim sendo, seu escore é o escore total
do indicador.
4.3.3 Análise Ex-Ante
A eficiência, a eficácia e a efetividade das políticas públicas têm sido questionadas,
levando à intensificação dos debates na busca de novas políticas que permitam o
desenvolvimento sustentável (MAYORGA, 1996).
80
O conceito de eficiência está relacionado à otimização da utilização dos recursos, ou
seja, é realizar as atividades que são o meio para se chegar ao resultado, sem que haja
desperdícios, com o menor custo e maior benefício possíveis. a eficácia, diz respeito à
capacidade de obter resultados, de atingir objetivos e metas estabelecidos, é fazer a coisa
certa, para se atingir o objetivo proposto. A efetividade, por sua vez, é a capacidade que o
projeto tem de causar impactos reais, significativos e duradouros no público beneficiário.
A análise ex-ante consiste na formulação de cenários e enquadra-se na avaliação da
efetividade das políticas públicas (MAYORGA, 2004).
A análise ex-ante, neste trabalho, será realizada por meio da avaliação da relação entre
as receitas e despesas ocorridas no perímetro Irrigado Baixo Acaraú, além dos resultados
obtidos nas análises anteriores, devido à impossibilidade de obtenção de dados mais
detalhados sobre os aspectos mencionados.
4.4 Fontes de Dados
Foram utilizadas para o estudo a pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e
pesquisa empírica.
A pesquisa bibliográfica consiste na leitura, análise e interpretação de textos, livros, a
fim de se conhecer as contribuições científicas existentes sobre determinado tema
.
Já o
método da pesquisa documental vale-se de documentos originais, ainda não analisados por
nenhum autor (LAKATOS; MARCONI, 1991).
Na pesquisa empírica, as variáveis do objeto serão investigadas e explicadas,
utilizando-se de métodos como questionários, entrevistas e estudo de caso.
Foram, portanto, utilizados para o trabalho, dados secundários e primários.
Foi realizada uma primeira visita ao Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, ocasião em que
houve grande troca de informações que auxiliaram na elaboração dos instrumentos de coleta
de dados, visando a cumprir os objetivos da proposta metodológica.
81
Os dados primários foram coletados por meio de questionários aplicados a produtores
do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, no município de Marco – CE, além de entrevistas
realizadas com os funcionários e técnicos do Perímetro Irrigado.
A amostra utilizada foi do tipo aleatória simples, sendo composta por 21 produtores do
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú. Os questionários foram aplicados a 20 proprietários de lotes
de pequeno produtor e a 1 proprietário de lote de técnico em ciências agrárias. Além disso,
foram realizadas entrevistas com o atual gerente administrativo do DIBAU, com um professor
e pesquisador da área de ciências agrárias e dois engenheiros agrônomos, todos proprietários
de lotes de pequeno produtor no local.
As informações secundárias foram obtidas junto a órgãos governamentais, como
IBGE, SEAGRI-CE, DNOCS, Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE) e a
documentos e bibliografia publicados. A análise documental foi possível por meio da
disponibilização de documentos pela SEMACE e DNOCS sobre o histórico do Perímetro.
As informações fornecidas pelos irrigantes precisam ser complementadas, por isso, o
uso de dados primários e secundários. Os dados primários levantados foram confrontados
com informações colhidas por meio de dados secundários e com outros resultados existentes.
4.5 Estudo de Caso
Segundo Fidel (1992), citado por Dias (2000), o método de estudo de caso é um
método específico de pesquisa de campo. Estudos de campo são investigações de fenômenos
à medida que ocorrem, sem qualquer interferência significativa do pesquisador. Seu objetivo é
compreender o evento em estudo e ao mesmo tempo desenvolver teorias mais genéricas a
respeito dos aspectos característicos do fenômeno observado.
Entre as características desse método, pode-se citar que o fenômeno é observado em
seu ambiente natural; a complexidade da unidade é estudada intensamente e não são utilizados
controles experimentais ou manipulações.
82
Para realizar o presente estudo de caso, como dito anteriormente, foram empregadas
entrevistas e obtidas informações com funcionários, produtores e técnicos, além de
questionários aplicados a irrigantes no local.
83
5 RESULTADOS
A apresentação dos resultados será feita na seguinte ordem: análise ex-post, análise em
processo, por meio de caracterização geral do produtor e Perímetro, índices de
sustentabilidade individuais para as dimensões social, ambiental, econômica e institucional e
índice de sustentabilidade e avaliação ex-ante.
As análises estatísticas foram efetuadas por meio dos softwares SPSS (Statistical
Package for Social Sciences) e Excel.
5.1 Análise Ex-Post
Ao analisar documentos técnicos diversos, como plano diretor, análise da viabilidade,
projetos básico e executivo, disponibilizados pelo DNOCS e SEMACE, observou-se que a
área do projeto, situada no polígono das secas do Nordeste, é foco de ação do Estado há várias
décadas e vem se beneficiando das obras implantadas pelo DNOCS desde 1906.
Na década de 1950, com a criação da Superintendência de Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE), estratégias de desenvolvimento voltadas à região se intensificaram e,
em meados de 1970, o poder central retomou os instrumentos de intervenção na região que
estavam, até então, sob controle de órgãos regionais enfraquecidos.
O Plano Nacional de Desenvolvimento, do governo Médici, estabeleceu o Plano de
Irrigação Nacional, fazendo com que a irrigação passasse a ser foco de uma política que
buscava promover projetos de assentamento e agricultura familiar e também a instalação de
empresas no campo. O Plano propunha irrigar 130.000 hectares, entre 1975 e 1979,
aproveitando as águas dos açudes existentes e as águas do Vale do São Francisco.
Em 1975, quando vigoravam o Plano de Irrigação Nacional (PIN) e o Programa de
Redistribuição de Terras (PROTERRA), foi criado o POLONORDESTE, que buscava criar
pólos rurais de desenvolvimento no Nordeste, visando a conter o êxodo rural e assegurar o
fornecimento de alimentos aos centros urbanos. Este projeto atingiu o Vale do Acaraú por
meio de ações como: indicação de sistemas de produção, complementação de infra-estrutura,
84
crédito rural, assistência técnica, entre outras ações que fizeram com que o resultado fosse
superior ao esperado, deixando um saldo em infra-estrutura, como construção de estradas e
eletrificação rural.
Em 1976, foi criado o Projeto Sertanejo, pelo governo federal, visando a aumentar a
resistência dos estabelecimentos agrícolas contras os efeitos das secas, estendendo, para tanto,
os efeitos dos Perímetros Irrigados e do POLONORDESTE a um raio de 30 km e construindo
barragens e preparando infra-estrutura para irrigação.
O Vale do Acaraú foi também beneficiado por este e por outros programas que foram
desativados em 1985, com a criação, por decreto, do Programa de Desenvolvimento do
Nordeste PROJETO NORDESTE. Na mesma ocasião, foi baixado decreto que norteava a
implementação e indicava a discriminação de vários projetos como o Programa de Irrigação
do Nordeste (PROINE) que integrou a estratégia de desenvolvimento rural do Projeto
Nordeste que indicou como prioridade a execução de ações que visavam a beneficiar os
pequenos produtores e suas famílias, através do Programa de Apoio ao Pequeno Produtor
(PAPP). Estes dois programas constituíram-se objeto de articulação em nível de planejamento
e execução.
A partir da década de 1970, estudos foram realizados na bacia do Baixo Acaraú. O
Plano Diretor da Bacia do Rio Acaraú, formulado em 1978, pelo DNOCS e SEEBLA
Serviços de Engenharia Emílio Baumgart Ltda., destinou-se ao aproveitamento hidroagrícola
do vale. O estudo de viabilidade técnico-econômica, desenvolvido em 1987, pelo consórcio
TECNOSOLO/EPTISA, teve como objetivo o estudo de uma área de 40.000 hectares para
viabilização de aproximadamente 28.000 hectares. O projeto básico, realizado em 1989, pelo
mesmo consórcio, destinou-se à irrigação de aproximadamente 12.000 hectares no Baixo
Acaraú e o projeto executivo, concluído em 1991, tinha como finalidade a implantação de
uma área de 8.000 hectares e previa beneficiar diretamente 1.300 famílias e, indiretamente,
3.500 famílias. Planejou-se a instalação de 674 lotes de irrigantes, com a seguinte distribuição
de superfície: 50% para pequenos irrigantes, com lotes de 8 ha, 10% para técnicos em ciências
agrárias, com lotes de 16 ha e 40% para empresários, com lotes de cerca de 80 ha, onde seria
permitida a utilização agrícola de 80% das áreas, destinando-se o restante à preservação ou
reflorestamento.
85
O rio Acaraú foi indicado como a fonte hídrica do Projeto, perenizado no trecho pelos
açudes hoje denominados Paulo Sarasate e Edson Queiroz.
A infra-estrutura hidráulica do Projeto Baixo Acaraú compreende todo o sistema de
captação e adução de água, formada pela barragem Santa Rosa, pela estação de bombeamento
principal, pelas adutoras principais e pela rede principal do perímetro.
Foram também elaborados instrumentos de controle e fiscalização do meio ambiente:
o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que estuda os possíveis impactos ambientais do
desenvolvimento de uma atividade sobre o seu entorno e o Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA), que reúne os dados do EIA.
Foram elaborados planos culturais e estimados a produção, o valor da produção dos
lotes de colonos, técnicos em ciências agrárias e empresários e os respectivos rendimentos.
No caso dos colonos, o plano cultural, composto, por exemplo, por algodão, amendoim,
cenoura e melão, conforme EIA/RIMA, geraria uma renda média líquida anual de US$
2.200,00 por hectare, embora o saldo entre receitas e despesas tenha sido estimado como
negativo nos quatro primeiros anos.
Conforme se verá adiante, os resultados obtidos atualmente diferem do que foi
planejado. Estimou-se que o projeto geraria 3.300 empregos diretos e indiretos durante a
construção e 17.700 empregos diretos e indiretos na irrigação e que a população beneficiada
seria de 35.500 habitantes.
Verifica-se, atualmente, que a geração de empregos estimada na irrigação não está
sendo atingida, uma vez que não a devida ocupação da área, somando então mais uma
conseqüência da baixa ocupação. Verifica-se, contudo, que a população do entorno do
Perímetro se desenvolveu, beneficiando-se do projeto.
86
5.2 Análise Em Processo – Análise da Sustentabilidade
5.2.1 Características dos Produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
De acordo com as informações obtidas, dos 21 produtores entrevistados, 9,5% vivem
com mais seis pessoas, 4,8% vivem com mais cinco pessoas, 14,3% vivem com mais quatro
pessoas, 28,6%, com mais três, 19%, com mais duas, 19%, com mais uma e 4,8% vivem
sozinhos, totalizando 80 pessoas residentes, conforme se verifica na Tabela 2.
Tabela 2: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo o número de moradores no domicílio.
Número de moradores no domicílio
(1)
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
Número total de
moradores
1 1 4,8 4,8 1
2 4 19 23,8 8
3 4 19 42,8 12
4 6 28,6 71,4 24
5 3 14,3 85,7 15
6 1 4,8 90,5 6
7 2 9,5 100 14
Total 21 100 80
(1)
Inclusive os entrevistados.
Fonte: Dados da pesquisa
Destas 80 pessoas, 21 são os próprios entrevistados (ou 26,2%), 17,5%, cônjuges e
35%, filhos ou enteados. O restante se divide entre pais, irmãos, outros parentes, agregados e
empregados, como mostrado na Tabela 3. Observa-se a predominância de famílias, porém não
excessivamente numerosas.
87
Tabela 3: Distribuição de freqüência dos moradores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a relação de parentesco com o produtor entrevistado.
Relação de parentesco dos moradores com o produtor
entrevistado
Freqüência Percentual
Entrevistado 21 26,2
Outro 1 1,2
Cônjuge 14 17,5
Filho/Enteado 28 35
Pai/Mãe/Sogro/Sogra 4 5
Irmão/Irmã 6 7,5
Outro parente 1 1,2
Agregado 1 1,2
Empregado(a) 4 5
Total 80 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maior parte dos produtores, 90,5 %, é do sexo masculino e 9,5%, do sexo feminino,
de acordo com a Tabela 4. Ao considerar os moradores como um todo, estes percentuais
passam a ser de 61,2% e 38,8%, respectivamente.
Tabela 4: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo o gênero.
Gênero dos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Masculino 19 90,5
Feminino 2 9,5
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Observando a Tabela 5, percebe-se que a maioria dos proprietários de lotes, 47,6%,
está compreendida na faixa etária entre 46 e 60 anos de idade, ou seja, são pessoas mais
experientes e maduras. Considerando os moradores como um todo, observa-se que a maior
parte, 32,5%, tem entre 15 e 29 anos, o que mostra a predominância da população jovem no
local.
88
Tabela 5: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a idade.
Faixa etária dos produtores entrevistados Freqüência Percentual Percentual Acumulado
Entre 0 e 7 anos 0 0 0
Entre 7 e 14 anos 0 0 0
Entre 15 e 29 anos 4 19 19
Entre 30 e 45 anos 6 28,6 47,6
Entre 46 e 60anos 10 47,6 95,2
Mais de 60 anos 1 4,8 100
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação à formação, 14,3% dos produtores possuem curso superior completo,
4,8%, superior incompleto, 28,6%, ensino médio completo, 4,8%, médio incompleto, 23,8%
concluíram o ensino fundamental, 23,8% não terminaram o ensino fundamental e nenhum não
tem instrução. Estas informações estão contidas na Tabela 6. Ao considerar os domiciliados
como um todo, estes números passam a ser 10%, 5%, 21,2%, 3,8%, 10%, 36,2% e 13,8%,
respectivamente.
Tabela 6: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a escolaridade.
Escolaridade dos produtores entrevistados Freqüência Percentual Percentual Acumulado
Superior completo 3 14,3 14,3
Superior incompleto 1 4,8 19
Médio completo 6 28,6 47,6
Médio incompleto 1 4,8 52,4
Fundamental completo 5 23,8 76,2
Fundamental incompleto 5 23,8 100
Sem instrução 0 0
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A média de anos de estudo entre os proprietários de lotes, todos com mais de 25 anos,
é de 9,9 anos de estudo, maior que a média brasileira que é de 6,1 anos, de acordo com o
IBGE (2002), e que a média cearense que é ainda mais baixa: 4,1 anos de estudo.
Conforme Tabela 7, observa-se que 95,2% dos produtores são alfabetizados. Já entre
os moradores como um todo, o percentual é de 78,8%.
89
Tabela 7: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a alfabetização.
Alfabetização dos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Alfabetizado 20 95,2
Não alfabetizado 1 4,8
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Verifica-se que, como mostrado na Tabela 8, 38,1% dos produtores tiveram outra
ocupação além da atividade em sua propriedade. Entre esses, 87,5% estiveram ocupados em
atividades predominantemente agrícolas. Considerando os domiciliados em geral, 18,8%
tiveram outra ocupação, dentre os quais, 66,6% se ocuparam com atividades agrícolas. O
período considerado para tal levantamento foi o período entre 01/01/2007 e 31/12/2007. É
relevante comentar que alguns dos produtores ainda recebem bolsas de complementação de
renda provenientes de programas do governo. Há casos, também, em que a situação se
inverte: a atividade no Perímetro é o complemento de renda do produtor, que tem como
principal ocupação e fonte de rendimentos outra atividade.
Tabela 8: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo o exercício de outra ocupação no período compreendido entre 01/01/2007 e
31/12/2007.
Exercício de outra ocupação pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Houve exercício de outra ocupação 8 38,1
Não houve exercício de outra ocupação 13 61,9
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
É essencial a propriedade da terra para exercer atividades agrícolas, condição que
ao produtor autonomia para tomar decisões e, em relação à posse dos lotes, todos os
entrevistados são os proprietários dos mesmos, sendo que, 90,5% afirmaram possuir apenas
um lote de pequeno produtor, 4,8% afirmaram possuir dois lotes de pequeno produtor, com
área de até 8 hectares cada lote e 4,8% afirmaram possuir um lote de técnico em ciências
agrárias, com área entre 16 e 32 hectares, conforme Tabela 9.
90
Tabela 9: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo os tipos de lotes.
Tipo de lote em posse dos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Lote de colono (1 lote) 19 90,5
Lote de colono (2 lotes) 1 4,8
Lote de técnico em ciências agrárias 1 4,8
Lote de empresário 0 0
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maioria dos produtores (62%) tem sua propriedade cerca de dois ou três anos e,
ao se comparar o período atual com a data de ingresso no Perímetro, 57,1% deles afirmaram
que a área sob sua posse permaneceu a mesma, não havendo acréscimos ou diminuição.
Dos 184 hectares, aproximadamente, em posse dos produtores entrevistados no
período entre 01/01/2007 e 31/12/2007, cerca de 78 ha compreendiam culturas permanentes,
46,75 ha, culturas temporárias, 0,5 ha, matas, florestas ou áreas de proteção e 58,75 ha, terras
em descanso ou não utilizadas, como constata-se na Figura 4, em valores absolutos e
percentuais. Os produtores afirmaram cultivar cerca de 68% de sua terra. Ao analisar dados de
um levantamento realizado pelos funcionários do Perímetro, em agosto de 2007, que levou em
conta todos os lotes licitados, ocupados ou não, verificou-se que apenas cerca de 20% da área
total do Perímetro está sendo cultivada.
Figura 4: Ocupação da terra de propriedade dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú.
Fonte: Dados da pesquisa
As culturas que tiveram maiores áreas colhidas no período mencionado foram: a
melancia, com 38 hectares e mais de um milhão de kg colhidos, o mamão, com 16 hectares e
91
22.460 caixas produzidas, abóbora, com 13,75 hectares e 78.000 kg colhidos e maracujá, com
10 hectares e 2.410 caixas obtidas. Os preços médios unitários de venda foram de R$0,19,
R$2,58, R$0,31 e R$14,28, respectivamente. Também foram cultivados feijão, milho, banana,
coco e melão. Parte das culturas foi consumida pelas famílias, havendo casos em que a
pequena produção foi totalmente consumida pela família do entrevistado, o que caracteriza
agricultura de subsistência.
Em relação ao rebanho, os números são pouco expressivos. 28,6% dos entrevistados
declararam possuir em média dois ou três bovinos, 23,8% declararam possuir suínos (em
média sete cabeças), 14,3%, caprinos ou ovinos (em média 18 cabeças), 42,9% afirmaram
possuir aves (cerca de trinta), 9,5% afirmaram possuir um eqüino e 28,5%, um asinino.
Ao observar a Tabela 10, verifica-se que 85,7% dos produtores têm como principal
moradia sua residência no Perímetro, 9,5% moram no centro urbano e 4,8%, em outro local.
Entre as justificativas dos que não moram no local, estão a idade avançada dos pais, o fato de
os filhos estudarem na capital e a afirmação de que o lote não tem condições de moradia,
argumentos que sugeririam a fragilidade do Perímetro no que diz respeito à oferta de serviços
essenciais, como saúde, educação e habitação.
Tabela 10: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a principal moradia.
Principal moradia dos produtores entrevistados Freqüência Percentual
No Perímetro 18 85,7
Outra propriedade rural 0 0,0
Centro urbano 2 9,5
Outro 1 4,8
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Quando perguntados sobre o que os levou a comprar seu lote e a produzir no
Perímetro, várias foram as respostas, sucintamente, as seguintes: interesse pela agricultura,
interesse pela irrigação, possibilidade de ter um emprego, oportunidade de ter seu próprio
negócio, possibilidade de melhorar de renda e qualidade de vida, proposta tentadora do
projeto e formação acadêmica na área.
92
A maioria dos entrevistados, 71,4%, não pretende deixar o local, enquanto os 23,8%
que afirmaram desejar deixar o local têm entre seus motivos estudar e melhorar sua renda.
Ao serem questionados quanto ao fato de terem outras áreas agrícolas fora do
Perímetro, 85,7% dos entrevistados afirmaram não possuir outras áreas agrícolas. O restante
(14,3%) possui áreas de até 50 ha, estando a maior parte delas, ocupada.
Em relação a arrendamento, apenas um produtor afirmou ter cedido terra em
arrendamento em área agrícola fora do Perímetro. No Perímetro, nenhum entrevistado tomou
ou cedeu terras em arrendamento. Afinal, esta não é uma operação legalmente permitida no
local.
Os produtores foram perguntados também sobre a distância entre o local onde moram
e escolas, centro de saúde e local de trabalho. A maior parte (52,4%) respondeu que o local
está entre 1 e 5 km de creche/jardim, sendo a moto (33,3%) o principal meio de transporte.
Para 57,1% dos entrevistados, a distância até escolas de ensino fundamental é a mesma, ou
seja, entre 1 e 5 km, sendo o principal meio de transporte o ônibus (33,3%). as escolas de
ensino médio aparentemente ficam mais distantes, pois, de acordo com 52,4% dos
entrevistados, ficam entre 11 e 20 km do local. O ônibus (47,6%) é o principal meio de
transporte. Se o morador quiser freqüentar uma instituição de ensino superior, terá que se
deslocar entre 21 e 50 km, pelo menos, de acordo com 54,2% dos produtores. O ônibus é o
principal meio de transporte para 61,9% dos entrevistados nestes casos.
Quando se trata da distância para um centro de saúde ou hospital mais próximo, 38,1%
dos entrevistados afirmaram ter que se deslocar entre 1 e 5 km, sendo a moto (52,4%) o
principal meio de transporte.
em relação ao local de trabalho, 85,7% dos produtores se deslocam a até 1 km do
local onde moram, e o fazem a pé. Esse número coincide com o percentual de pessoas que
mora no local, afinal residem e trabalham na mesma área, não sendo necessário grande
deslocamento.
A cidade mais próxima está entre 11 e 20 km, segundo 47,6% dos entrevistados, e o
deslocamento é feito por meio de motos por 42,9% dos produtores.
93
Com base nessas informações, verifica-se que os moradores do Perímetro têm que se
deslocar até o distrito ou cidade mais próxima e até mesmo a centros mais distantes para ter
acesso aos serviços mencionados.
O acesso ao estabelecimento é considerado bom pela maior parte dos entrevistados
(52,4%).
No que diz respeito à saúde, higiene e lazer, 51,7% dos entrevistados afirmaram que
utilizam água de rio, açude, represa ou cisterna para beber, conforme Tabela 11. O uso destas
fontes de água para outros consumo é realizado por 52,4%, enquanto 42,9% afirmaram
utilizar a água disponibilizada pelo Perímetro para este fim.
Tabela 11: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a fonte de água utilizada para beber.
Fonte de água utilizada pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Água da CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará 0 0,0
Água disponibilizada pelo Perímetro - Ponto de água 1 4,8
Água de açude, cisterna, rio, represa, etc. 12 57,1
Outro 8 38,1
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Todos os entrevistados possuem banheiros em sua residência e 95,2% possuem fossa,
lugar de destino de dejetos. Os que não a possuem, enterram/queimam os dejetos.
Nenhum dos entrevistados ou membros da família declarou ter sofrido de doenças
como: diarréia, febre entérica, hepatite A, dengue, febre amarela, leishmaniose, doença de
chagas, malária, esquistossomose, leptospirose, conjuntivite, doenças de pele, micoses ou
verminoses.
Porém, 28,6% afirmaram que foram acometidos por outras doenças, sendo que 81%
dos entrevistados afirmaram que a ocorrência de doenças antes e depois de morar no
Perímetro permaneceu a mesma.
94
Os entrevistados não têm opções de lazer disponíveis no Perímetro, sendo que 42,9%
deles disseram assistir à televisão nas horas vagas.
Em relação aos aspectos ambientais, 95,2% dos entrevistados afirmaram utilizar
agrotóxicos como método de controle de pragas, conforme se observa na Tabela 12.
Tabela 12: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo os métodos de controle de pragas utilizados na unidade produtiva.
Métodos de controle de pragas utilizados pelos
produtores entrevistados na unidade produtiva
Freqüência Percentual
Nenhum método 1 4,8
Biológico 0 0,0
Agrotóxico 20 95,2
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A Tabela 13 mostra que 33,3% dos produtores afirmaram utilizar fogo nas atividades
agropecuárias.
Tabela 13: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a utilização de fogo na unidade produtiva.
Utilização de fogo pelos produtores
entrevistados na unidade produtiva
Freqüência Percentual
Sim 7 33,3
Não 14 66,7
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maior parte dos entrevistados, 76,2%, não faz plantio de árvores para fins de
conservação do solo, como se verifica na Tabela 14.
Tabela 14: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a realização de plantio de árvores para fins de conservação do solo.
Realização de plantio de árvores para fins de conservação do solo pelos produtores
entrevistados
Freqüência
Percentual
Sim 5 23,8
Não 16 76,2
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
95
Observa-se ainda, considerando os aspectos ambientais, que 28,6% dos entrevistados
não utilizam nenhum tipo de prática de plantio para evitar a degradação do solo, como mostra
a Tabela 15.
Tabela 15: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a adoção de práticas de plantio para evitar degradação do solo.
Adoção de práticas de plantio para evitar a degradação do solo Freqüência Percentual
Sim 15 71,4
Não 6 28,6
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Além disso, 85,7% fazem rotação de culturas, 81% fazem calagem, se necessário for,
61,9% admitiram não utilizar o solo de acordo com sua vocação e 61,9% dos entrevistados
afirmaram que a qualidade do solo é regular.
No que diz respeito às práticas na produção vegetal, a principal força de trabalho
utilizada no preparo da terra é a mecânica (52,4%). Para o plantio, a principal força de
trabalho utilizada é a manual, em 95,2% dos casos. A colheita é realizada manualmente em
90,5% dos casos e a capina é feita manualmente pelo mesmo percentual de produtores. 61,9%
dos entrevistados adquirem sementes e mudas certificadas e 90,5% dos entrevistados
afirmaram usar agroquímicos como defensivos agrícolas. A principal adubação utilizada
(57,1%) é também química.
A maior parte dos entrevistados (61,9%) afirmou ter irrigada a totalidade de suas
propriedades, como mostra a Tabela 16.
96
Tabela 16: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a área total irrigada na propriedade.
Área irrigada (hectares) na
propriedade
Freqüência Percentual Percentual Acumulado
0 1 4,8 4,8
1 0 0,0 4,8
2 2 9,5 14,3
3 0 0,0 14,3
4 1 4,8 19
5 1 4,8 23,8
6 3 14,3 38,1
7 0 0,0 38,1
8 13 61,9 100
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Quando o assunto é renda, 66,7% dos entrevistados afirmaram retirar maior parte de
sua renda anual de atividades no Perímetro, 4,8%, de aposentadoria, 4,8%, de outras fontes e
23,8% preferiram não responder. Observou-se a resistência em se falar sobre renda.
Entre os que responderam, quando questionados sobre os auxílios recebidos pela
família, 12,5% afirmaram receber a bolsa família, com valor médio de pouco mais de R$
100,00, evidenciando que há diferentes tipos de complementação de renda.
Na maioria dos casos, 42,9%, a renda mensal total da família se encaixa na faixa entre
R$380,00 e R$1.140,00. 61,9% atribuem ao Perímetro responsabilidade por melhorias no
total de sua renda.
As maiores despesas médias anuais são referentes aos insumos, que custam ao
produtor cerca de R$16.000,00 ao ano.
Os gastos médios com diaristas (R$ 3.773,00) são maiores que os com empregados
permanentes (R$2.250,00). O trabalho é feito pelos próprios membros da família, semelhante
ao que foi visto por Freitas (2005), ao concluir que a geração de emprego no Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú é quase na sua totalidade de mão-de-obra familiar e, relativamente,
pouca mão-de-obra contratada.
97
Quando o assunto é crédito, 76,2% dos entrevistados afirmaram ter recebido
aprovação de pelo menos um tipo de financiamento para as atividades desenvolvidas, de
acordo com a Tabela 17. Entre eles, 81% receberam crédito para financiar investimentos,
sendo R$ 94.000,00 a média de valor financiado e 68,8% receberam crédito para custeio,
sendo a média aproximada de R$ 13.400,00. Nenhum dos produtores recebeu crédito para
comercialização ou outras atividades. Boa parte dos financiamentos foi cedida pelo Banco do
Nordeste do Brasil – BNB.
Tabela 17: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo a solicitação de crédito ou outros financiamentos para as atividades desenvolvidas.
Solicitação e aprovação de crédito ou financiamento pelos
produtores entrevistados
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
Sim, e conseguiu aprovação de pelo menos um 16 76,2 76,2
Sim, mas não conseguiu aprovação 3 14,3 90,5
Não 2 9,5 100
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Na maior parte dos casos entre os que receberam financiamento, o que corresponde a
29,4%, o número de parcelas do acordo foi de 20, e o prazo para pagamento, em 52,9% dos
casos, de 10 anos. 70,6% dos entrevistados acordaram carência de dois anos. 52,9% dos
entrevistados não pagaram nenhuma parcela e 64,7% afirmaram estar em dia com o
pagamento. A principal atividade financiada em todos os casos foi a fruticultura. Para 58,8%
dos que receberam financiamento, as condições não estão sendo adequadas. 52,9% dos
entrevistados afirmaram conhecer bem as obrigações referentes ao pagamento do
financiamento obtido.
Entretanto, 64,7% dos entrevistados que receberam financiamento estão tendo
dificuldades para pagamento.
A grande maioria dos entrevistados, 94,1%, afirmou ter enfrentado dificuldades ao
solicitar o financiamento, sendo a mais citada, por 70,6%, a burocracia excessiva. Além disso,
conforme apurado em entrevista gravada com proprietários, para liberar o financiamento,
garantias são requeridas, porém o produtor não as tem.
98
Cursos de capacitação foram disponibilizados a 52,9% dos produtores que receberam
financiamento, sendo que 47,1% receberam curso de capacitação técnica para produção.
52,9% dos entrevistados que receberam financiamento disseram que o recurso não foi
liberado no tempo certo e 88,2% afirmaram que sua produção aumentou depois de receber o
recurso, sendo que 82,4% atribuem ao financiamento a mudança na quantidade produzida.
Além disso, 64,7% dos que receberam financiamento afirmaram que a renda aumentou depois
da obtenção do recurso.
Quando questionados sobre o tipo de assistência técnica que recebiam, entre
alternativas como Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATERCE),
cooperativas, ONG’s, sindicatos, BNB, entre outros, 61,9% dos entrevistados responderam
que recebem assistência técnica de outras fontes que não as citadas, como assistência
particular ou oferecida pelo governo do Estado, através da SEAGRI, conforme Tabela 18.
4,8% afirmaram receber assistência do BNB e o restante, 33,3%, disseram não receber este
serviço.
Tabela 18: Distribuição de freqüência dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
segundo o tipo de assistência técnica recebido.
Tipo de assistência técnica recebido pelos produtores entrevistados
Freqüência
Percentual
EMATERCE 0 0,0
Cooperativas 0 0,0
Instituição Privada 0 0,0
ONG 0 0,0
Sindicatos 0 0,0
SRH - Secretaria de Recursos Hídricos 0 0,0
Não sabe 0 0,0
Não recebe 7 33,3
BNB 1 4,8
Outro 13 61,9
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Fato observado em entrevista é que a assistência oferecida seria insuficiente, que o
número de técnicos disponibilizados não seria capaz de cobrir toda a área do Perímetro. Além
disso, existem muitas culturas de ciclo curto e de alto valor de investimentos, o que
demandaria uma assistência freqüente à produção.
99
Ainda assim, 47,6% dos entrevistados afirmaram que o desempenho da propriedade
tem melhorado com a prestação de assistência técnica.
Para 28,6% dos entrevistados, a qualidade da assistência prestada é boa, porém 38,1%
disseram que a freqüência, entre as alternativas boa, regular, insatisfatória e não recebe/não
sabe, é regular.
Ao se buscar informações a respeito do grau de organização dos entrevistados, foram
obtidas as seguintes: 85,7% dos entrevistados participam de algum tipo de associação, sendo
que destes, 88,8% participam de associação ou cooperativa de produtores.
A maioria dos entrevistados (66,7%) afirmou nunca ter feito solicitações a órgãos
públicos para resolver problemas. Entre os que fazem ou fizeram, 57,1% afirmaram que a
maioria delas foi atendida.
A principal fonte de informação sobre preço dos produtos (33,3%) é o Serviço de
Informações de Mercado (SIM). Questionados quanto ao período em que recebem
informações sobre os preços dos produtos, 38,1% dos entrevistados disseram receber
informações durante a colheita.
Questionados acerca dos parâmetros que definem a quantidade a ser plantada, 28,6%
dos produtores disseram que depende da quantidade prevista após colheita para
comercialização.
Para se manter informados, 31,8% dos produtores disseram utilizar não apenas um,
mas vários meios, principalmente rádio e televisão.
Os produtores também foram perguntados sobre os entraves por eles enfrentados.
33,3% acreditam que o maior obstáculo à agricultura é o crédito. Ou melhor, a falta dele e a
dificuldade em se conseguir. Foram muito citados, também, o preço para venda, mercado,
assistência técnica, agroindústrias e comercialização dos produtos. 66,7% dos produtores
acreditam que esforços estão sendo feitos para superá-los e 57,1%, que estes problemas são
específicos do setor.
100
O crédito é também citado por 47,6% dos entrevistados como a principal carência que
têm hoje.
A maior parte dos produtores, 71,4%, o futuro com otimismo, porém 40% dos
entrevistados que têm filhos não sabem se eles pretendem continuar com a atividade rural.
Para 76,2% dos produtores, a construção do Perímetro Irrigado evitou que moradores e
familiares seus deixassem a área rural.
Por fim, os entrevistados foram solicitados a opinar sobre o que precisa ser feito no
Perímetro. Eles foram solicitados a escolher qual seria a principal ação e também a sugerir
outras ações em ordem de importância. 38,1% afirmaram que a ação mais importante seria a
construção de escolas primárias, 28,6%, que seria investimentos em saúde e assistência
médica, 28,6%, que seria construção de escolas secundárias. Como ações secundárias
sugeridas, estão, entre as mais citadas, a melhoria da assistência médica (15 vezes citada) e a
criação de escolas secundárias (12 vezes citada).
Freitas (2005) fez pergunta semelhante a moradores do Perímetro e obteve os
seguintes pontos citados: incentivos à produção, apoio à comercialização, infra-estrutura
social, infra-estrutura física, administração do Perímetro, assistência técnica (considerada
insuficiente), organização comunitária e informações fitossanitárias.
5.2.2 Índice de Sustentabilidade para as Dimensões Social, Ambiental, Econômica e
Institucional
Foi utilizada a equação 2, do item 4.3.2.1, para o cálculo de cada índice (social,
ambiental, econômico e institucional), sendo que essa opção atribui pesos a cada indicador
dentro da mesma dimensão. A escolha ocorreu por considerar a importância atribuída a cada
indicador pelos entrevistados. Foram então, pontuados na fórmula, todos os escores obtidos,
conforme mencionado anteriormente, e pesos atribuídos pelos entrevistados (abordagem
bottom up).
As análises estatísticas foram efetuadas por meio dos softwares SPSS (Statistical
Package for Social Sciences) e Excel.
101
a) Índice Social
Ao analisar as informações obtidas pelas variáveis e indicadores estabelecidos no item
4.3.2.4 deste trabalho, que tornariam possíveis o cálculo do índice social, foram obtidos
alguns resultados estatísticos, em seqüência apresentados.
A variável referente à escolaridade, definida pela da média de anos de estudo dos
moradores com 25 anos ou mais de idade, conforme utilizado por Melo; Lustosa (2005),
baseadas nos indicadores do IBGE, mostrou que a maior parte deles (38,1%) possui entre 11 e
14 anos de estudo, conforme Tabela 19. De acordo com dados do IBGE (2002), a média de
anos de estudo para este grupo de pessoas é de 6,1 anos no Brasil e de 4,6 no Ceará.
Tabela 19: Escolaridade dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú com mais de 25
anos.
Escolaridade: anos de
estudo completos dos
produtores entrevistados
Freqüência Percentual Percentual Acumulado
17 ou mais 0 0,0 0,0
15 a 16 1 4,8 4,8
11 a 14 8 38,1 42,9
8 a 10 5 23,8 66,7
4 a 7 4 19 85,7
1 a 3 3 14,3 100
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maior parte dos entrevistados, 52,4%, afirmou ter acesso a escolas de ensino
fundamental e médio, conforme Tabela 20.
Tabela 20: Acesso à educação pelos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Acesso à educação: serviços disponíveis aos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Universidade 0 0,0
Escola de ensino fundamental/médio 11 52,4
Escolas de curso de alfabetização 2 9,5
Ausência de escolas publicas ou comunitárias 8 38,1
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
102
Aqui devem ser consideradas as percepções do que é ter acesso, como distância e
viabilidade de deslocamento, pois sabe-se que no local não existem escolas, sendo necessário
que os moradores se desloquem a municípios próximos. Conforme apresentado no item 5.2.1,
pouco mais da metade dos entrevistados afirmou que a distância até escolas de ensino médio é
entre 1 e 5 km, enquanto que a de escolas de ensino fundamental é de 11 a 20 km, sendo o
deslocamento feito de ônibus. 38,1% dos produtores afirmaram não ter escolas públicas ou
comunitárias à sua disposição. Além disso, afirmaram que uma das necessidades do local
seria, justamente, a implantação dessas escolas.
A taxa de escolarização no domicílio entre crianças com idade entre 7 e 14 anos, entre
as famílias dos entrevistados que possuem filhos nesta faixa etária, obtida por meio da relação
entre o número de crianças nesta faixa etária que freqüentam a escola e o número total de
crianças dessa idade, residentes no domicílio, se situa na faixa entre 0,76 e 1, conforme
Tabela 21. A média brasileira, de acordo com o IBGE (2002), em 2002, era de 96,9%,
enquanto a cearense era de 96,5%, o que se situaria também nesta faixa.
Tabela 21: Taxa de escolarização de pessoas entre 7 e 14 anos residentes no domicílio dos
produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Taxa de escolarização no domicílio dos produtores
entrevistados
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
0,76 < TE < 1 8 38,1 38,1
0,51 < TE < 0,75 0 0,0 38,1
0,26 < TE < 0,50 0 0,0 38,1
0 < TE < 0,25 0 0,0 38,1
Não há crianças nesta faixa 13 61,9 100
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A taxa de alfabetização de pessoas com mais de 15 anos no domicílio, obtida por meio
da relação entre o número de pessoas com esta idade que sabem ler e escrever e o número
total de pessoas com esta idade, residentes no domicílio, está entre 0,76 e 1 em 85,7% dos
casos. O restante, entre 0,51 e 0,75, como mostra a Tabela 22. A média brasileira, de acordo
com o IBGE (2002), é de 88,2%, sendo a cearense de 77,3%.
103
Tabela 22: Taxa de alfabetização de pessoas maiores de 15 anos no domicílio dos produtores
do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Taxa de alfabetização no domicílio dos produtores
entrevistados
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
0,76 < TE < 1 18 85,7 85,7
0,51 < TE < 0,75 3 14,3 100
0,26 < TE < 0,50 0 0,0
0 < TE < 0,25 0 0,0
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maior parte dos entrevistados, 57,1%, revelou média satisfação em relação ao
acesso à educação. 38,1% estão insatisfeitos e apenas 4,8% se declararam satisfeitos com as
atuais condições de educação no Perímetro. Para todos os entrevistados, a educação tem alta
importância no que diz respeito à sustentabilidade do Perímetro.
Questionados a respeito de habitação, 71,4% dos entrevistados afirmaram ter
domicílio com estrutura de tijolo e reboco e 66,7% afirmaram possuir moradias com piso de
cimento, como se verifica na Tabela 23.
Tabela 23: Tipologia da moradia referente à estrutura e piso existentes no domicílio dos
produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Estrutura Freqüência Percentual Piso Freqüência Percentual
Tijolo e reboco 15 71,4 Piso 6 28,6
Tijolo 5 23,8 Cimento 14 66,7
Madeira 1 4,8 Madeira 0 0,0
Taipa 0 0,0 Barro 1 4,8
Total 21 100 Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Todos os entrevistados disseram possuir residências com cobertura de telha e 52,4%
afirmaram possuir residências com 5 ou 6 cômodos, de acordo com a Tabela 24.
104
Tabela 24: Tipologia da moradia referente à cobertura e número de cômodos existentes no
domicílio dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Cobertura Freqüência Percentual
Número de
cômodos
Freqüência Percentual
Laje 0 0 7 ou mais 3 14,3
Telha 21 100 De 5 a 6 11 52,4
Amianto 0 0 De 3 a 4 5 23,8
Palha 0 0 Até 2 2 9,5
Total 21 100 Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Todos os entrevistados têm acesso à energia elétrica por meio da Companhia
Energética do Ceará (COELCE), como mostra a Tabela 25.
Tabela 25: Abastecimento de energia utilizado no domicílio dos produtores do Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú.
Abastecimento de energia utilizado pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Energia elétrica. Acesso a rede geral (COELCE) 21 100
Com acesso a motor 0 0
Querosene, gás, lamparina, etc. 0 0
Não tem 0 0
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maior parte dos entrevistados, 42,9%, está insatisfeita com as condições de
habitação. Alguns moradores reclamaram durante as entrevistas, afirmando que esperavam, ao
adquirir o lote, ter à sua disposição a estrutura do domicílio montada. 90,5 % atribuíram
alta importância à habitação no que se refere à sustentabilidade do Perímetro.
O indicador saúde objetivou apurar as condições de saúde às quais estavam expostos
os moradores. 61,9% afirmaram ter acesso a hospital ou posto de saúde públicos, como se
verifica na Tabela 26. Porém, mais uma vez, devem ser observados os conceitos de acesso,
pois, como apresentado no item anterior, precisam se deslocar alguns quilômetros até o
município mais próximo para ter este tipo de atendimento. Além disso, a necessidade de
investimentos em saúde e assistência médica foi expressivamente citada, quando perguntados
sobre as melhorias que desejam para o local.
105
Tabela 26: Serviços de saúde disponíveis aos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Serviços de saúde disponíveis aos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Plano de saúde/hospital particular 1 4,8
Hospital da rede pública/Posto de Saúde 13 61,9
Atendimento de primeiros socorros 1 4,8
Nenhum (Ausência de atendimento médico e ambulatorial) 6 28,6
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme Tabela 27, 81% dos produtores afirmaram não existir visitas de agente de
saúde ao local.
Tabela 27: Freqüência das visitas de agentes de saúde aos produtores do Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú.
Freqüência de visitas de agentes de saúde aos produtores entrevistados
Freqüência Percentual
A cada 15 dias 0 0,0
Uma vez por mês 1 4,8
A cada 2 meses 3 14,3
Não existe 17 81
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Entre os entrevistados, 90,5% se declararam insatisfeitos com as condições de saúde
existentes no Perímetro e todos os entrevistados afirmaram que é de alta importância a saúde
para a sustentabilidade do Perímetro.
Em relação ao lazer, 90,5% dos produtores disseram não haver nenhuma opção de
lazer no local, como mostra a Tabela 28.
Tabela 28: Opções de lazer disponíveis aos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Opções de lazer disponíveis aos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Clube ou associação desportiva 1 4,8
Campo de futebol 1 4,8
Nenhuma opção de lazer 19 90,5
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
106
A maioria dos entrevistados, 71,4%, está insatisfeita com as condições atuais e 47,6%
dos produtores disseram que é alta a importância do lazer para a sustentabilidade do
Perímetro.
De posse dos dados recolhidos por meio das variáveis que compuseram os indicadores
e da importância atribuída ao indicador pelos entrevistados, foi calculado o índice social,
utilizando a metodologia disposta no item 4.3.2.1.
Para este cálculo, resolveu-se retirar dos indicadores, mais precisamente do indicador
educação, a variável escolarização. Isso porque nem todos os entrevistados tinham filhos na
faixa etária contemplada pela variável e, portanto, era impossível atribuir escores às respostas
do tipo “não se aplica”, sem criar um viés.
O resultado obtido foi um índice social de valor 0,559, ou seja, a dimensão social da
sustentabilidade atingiu grau médio, conforme o PNUD/ ONU (1998), citado no item 4.3.2.3.
b) Índice Ambiental
Ao analisar as informações obtidas através das variáveis e indicadores estabelecidos
no item 4.3.2.4 deste trabalho, foram obtidos alguns resultados estatísticos, em seqüência
apresentados.
A maior parte dos entrevistados, 57,1%, afirmou que a principal forma de
abastecimento de água no domicílio é através de poço, rio, represa ou açude. 23,8%, que é
através do ponto de água disponibilizada pelo Perímetro, conforme Tabela 29.
Tabela 29: Principal forma de abastecimento de água utilizada na propriedade pelos
produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Principal forma de abastecimento de água utilizada pelos produtores entrevistados Freqüência
Percentual
Água da CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará 1 4,8
Água disponibilizada pelo Perímetro - Ponto de água 5 23,8
Poço, rio, açude, represa, torneira publica. 12 57,1
Não existe 3 14,3
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
107
É importante expressar que em 100,00% dos lotes existe um ponto de água com
hidrômetro, ou seja, pode ser que o irrigante não tenha acesso a esta água diretamente em seus
domicílios, ou mesmo que não a utilize para determinados tipos de consumo, mas, dentro dos
lotes, existe pelo menos um ponto com água encanada.
Nenhum dos entrevistados possui acesso a esgotamento sanitário e o destino dos
dejetos, em 95,2% dos casos, é a fossa, conforme as Tabelas 30 e 31, a seguir.
Tabela 30: Acesso a esgotamento sanitário pelos produtores do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú.
Acesso à rede de esgotamento sanitário pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Sim 0 0
Não 21 100
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 31: Principal destinação dada aos dejetos pelos produtores do Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú.
Principal destino dado aos dejetos pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Esgotamento Sanitário 0 0,0
Fossa 20 95,2
Superfície da terra 0 0,0
Enterrado/ Queimado 1 4,8
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
coleta de lixo no local, sendo o lixo recolhido, de acordo com afirmação de 95,2%
dos produtores, como mostram as Tabelas 32 e 33.
Tabela 32: Disponibilidade de coleta de lixo no domicílio dos produtores do Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú.
Disponibilidade de coleta de lixo no domicílio dos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Sim 20 95,2
Não 1 4,8
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
108
Tabela 33: Principal destinação dada ao lixo do domicílio dos produtores do Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú.
Principal destino dado ao lixo pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Recolhido pela coleta de lixo 20 95,2
Jogado nas ruas, superfície da terra 1 4,8
Enterrado/Queimado 0 0,0
Jogado nos rios ou canais 0 0,0
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maior parte dos entrevistados, 52,4%, declarou média satisfação em relação às
condições de saneamento predominantes e 71,4% afirmaram ser de alta importância a questão
para a sustentabilidade do Perímetro.
A água para consumo é considerada ruim por 38,1% dos produtores, sendo assim,
76,2% dos entrevistados a tratam para beber através da filtração ou então compram água
mineral para consumo humano, como mostram as Tabelas 34 e 35.
Tabela 34: Classificação da qualidade da água destinada ao consumo humano pelos dos
produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Classificação da qualidade da água destinada a consumo
humano pelos produtores entrevistados
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
Ótima 1 4,8 4,8
Boa 7 33,3 38,1
Regular 5 23,8 61,9
Ruim 8 38,1 100
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 35: Tratamento dado à água utilizada para consumo humano pelos produtores do
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Tratamento dado à água utilizada para consumo humano pelos produtores
entrevistados
Freqüência Percentual
Com cloro 1 4,8
Filtrada/Mineral 16 76,2
Fervida 0 0,0
Nenhum 4 19
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
109
Quando a água é utilizada para outros consumos, nenhum tipo de tratamento é dado
pela maioria dos produtores (76,2%).
A maior parte dos produtores, 47,6%, se mostrou insatisfeita quanto à qualidade da
água e 95,2% afirmaram ser de alta importância este aspecto no que se refere à
sustentabilidade do Perímetro.
A maior parte dos entrevistados (90,5%) afirmou, ainda, fazer uso de agrotóxicos e
fertilizantes químicos, embora 61,9% deles tenham dito não conhecer a legislação sobre seu
uso, conforme Tabelas 36 e 37.
Tabela 36: Utilização de agrotóxicos/fertilizantes químicos nas atividades agrícolas pelos
produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Utilização de agrotóxicos/fertilizantes químicos pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Sim 19 90,5
Não 2 9,5
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 37: Conhecimento dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú sobre a
legislação a respeito do uso de agrotóxico/fertilizantes nas atividades agrícolas.
Conhecimento da legislação a respeito do uso de agrotóxico/fertilizantes nas atividades
agrícolas pelos produtores entrevistados.
Freqüência
Percentual
Sim 8 38,1
Não 13 61,9
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maior parte, 47,6%, declarou média satisfação quanto a esta situação e 66,7%
disseram que este aspecto tem alta importância para a sustentabilidade do local.
Questionados sobre a existência de áreas de reserva de mata nativa na propriedade,
61,9% dos produtores afirmaram haver reservas. 76,2% declararam média satisfação quanto a
esta situação e 61,9% disseram que este aspecto tem alta importância para a sustentabilidade
do local.
110
No entanto, em entrevistas realizadas previamente com gestores do local, constatou-se
que a administração do Perímetro cercou uma área com este objetivo, sendo assim, fica claro
que área de reserva de mata nativa, porém não em cada lote individualmente, mas no
Perímetro de uma forma geral. Aqueles produtores que não possuem parte dessas terras
vizinhas a seu lote, o ocupam totalmente com a produção e não têm informações claras a
respeito da existência dessas áreas, provavelmente foram os que responderam não haver
reserva. Enxergando, neste caso, um possível viés, e sem poder modificar as respostas dos
produtores, sob pena de mascarar a pesquisa, foi decidido excluir este indicador do cálculo do
índice ambiental de sustentabilidade.
De posse dos dados recolhidos por meio das variáveis que compuseram os indicadores
e da importância atribuída ao indicador pelos entrevistados, foi calculado o índice ambiental,
utilizando a metodologia disposta no item 4.3.2.1. O resultado obtido foi um índice de valor
0,385, ou seja, a dimensão ambiental da sustentabilidade atingiu grau ruim, conforme o
PNUD/ ONU (1998), citado no item 4.3.2.3.
c) Índice Econômico
Ao analisar as informações obtidas por meio das variáveis e indicadores estabelecidos
no item 4.3.2.4 deste trabalho, que tornariam possíveis o cálculo do índice econômico, foram
obtidos alguns resultados estatísticos, em seqüência apresentados.
Quando questionados sobre o rendimento anual proveniente de atividades no
Perímetro, 61,9% responderam que este é de até R$ 4.560,00, o que corresponde a até um
salário mínimo por mês, como mostra a Tabela 38.
Tabela 38: Renda média anual dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú
proveniente de atividades no Perímetro.
Renda média anual dos produtores entrevistados proveniente de
atividades no Perímetro
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
R$ 36.481,00 ou mais 1 4,8 4,8
R$ 18.241,00 a R$ 36.480,00 3 14,3 19
R$ 4.561,00 a R$ 18.240,00 4 19 38,1
Até R$ 4.560,00 13 61,9 100
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
111
A maior parte, 52,4%, declarou média satisfação com a situação e todos afirmaram ser
de alta importância a questão renda no que diz respeito à sustentabilidade do Perímetro.
Em relação ao consumo, 95,2% dos produtores afirmaram possuir pelo menos um bem
do grupo 1, composto por fogão a gás, máquina de costura, aparelho de som e similares, do
grupo 2, composto por geladeira, televisor, antena parabólica e similares e do grupo 3,
composto por carro, motocicleta, máquinas agrícolas e similares, de acordo com a Tabela 39.
47,6% declararam estar satisfeitos com seu nível de consumo e 76,2% disseram ser de alta
importância a questão para a sustentabilidade do Perímetro.
Tabela 39: Consumo de bens duráveis pelos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Consumo de bens duráveis pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Possui pelo menos um dos bens dos grupos 1, 2 e 3 20 95,2
Possui pelo menos um dos bens dos grupos 1 e 2 e não possui nenhum dos
bens do grupo 3
0 0,0
Possuí pelo menos um dos bens do grupo 1 e não possui nenhum dos bens dos
outros grupos
0 0,0
Não possui nenhum dos bens citados 1 4,8
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
De posse dos dados recolhidos por meio das variáveis que compuseram os indicadores
e da importância atribuída ao indicador pelos entrevistados, foi calculado o índice econômico,
utilizando a metodologia disposta no item 4.3.2.1. O resultado obtido foi um índice de valor
0,539, ou seja, a dimensão econômica da sustentabilidade atingiu grau médio, conforme o
PNUD/ ONU (1998), citado no item 4.3.2.3.
Considerando a possibilidade de que o consumo seja financiado por outras fontes de
renda e que pode, portanto, constituir num viés para o índice, foi simulado um novo cálculo,
que considera somente o rendimento obtido com atividades no Perímetro como variável do
indicador. O resultado obtido foi de 0,103, mudando o enquadramento do índice econômico
da sustentabilidade para grau crítico, o que parece ser coerente, conforme a observação e
entrevistas realizadas. Este resultado mudaria o enquadramento do índice final da
sustentabilidade para ruim, conforme se verá adiante.
112
d) Índice Institucional
Ao analisar as informações obtidas através das variáveis e indicadores estabelecidos
no item 4.3.2.4 deste trabalho, foram obtidos alguns resultados estatísticos, em seqüência
apresentados.
A maior parte dos entrevistados e famílias, 85,7%, participa de algum tipo de
organização social, religiosa, política ou outra, conforme Tabela 40.
Tabela 40: Participação de organização social, política ou outra pelos produtores do Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú.
Participação de organização social, política ou outra pelos produtores entrevistados Freqüência
Percentual
Sim 18 85,7
Não 3 14,3
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação à freqüência, 52,4% dos entrevistados afirmaram participar sempre das
reuniões. 38,1% disseram estar satisfeitos com a situação e 95,2% atribuem alta importância a
este aspecto no que se refere à sustentabilidade do Perímetro.
Ao perguntar sobre a tecnologia utilizada no Perímetro, todos os entrevistados
afirmaram ser adequada. 81% estão satisfeitos com as condições e todos atribuem alta
importância a este aspecto no que se refere à sustentabilidade do Perímetro.
Embora a tecnologia utilizada no local esteja entre as mais modernas do mundo, as
técnicas de irrigação usadas no Perímetro atualmente não são economizadoras de água. Ainda
desperdício e ineficiência do sistema, conforme afirmado por um pesquisador da área, em
entrevista. O problema seria a falta de orientação.
Como se verifica na Tabela 41, 66,7% dos entrevistados disseram receber algum tipo
de assistência cnica para orientá-los sobre técnicas de cultivo, preços e problemas de ciclo
de oferta.
113
Tabela 41: Recebimento de assistência técnica para orientar os produtores do Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú sobre técnicas de cultivo, preços e problemas de ciclo de oferta.
Recebimento de assistência técnica pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Sim 14 66,7
Não 7 33,3
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maioria dos entrevistados (38,1%) disse receber assistência freqüentemente, de 15
em 15 dias, porém 33,3% afirmaram não existir a prestação do serviço, como mostra a Tabela
42.
Tabela 42: Freqüência da prestação de serviço de assistência técnica aos produtores do
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Freqüência da prestação de serviço de assistência técnica aos produtores entrevistados Freqüência
Percentual
A cada 15 dias 8 38,1
Uma vez por mês 5 23,8
A cada 2 meses 1 4,8
Não existe 7 33,3
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com o gerente administrativo do Perímetro, a assistência técnica era
fornecida gratuitamente para o produtor, pela SEAGRI, até o ano de 2007, pois, de acordo
com a lei de irrigação, o governo seria obrigado a oferecer assistência gratuita ao pequeno
irrigante pelos primeiros 5 anos de atividade. Porém, desde o segundo semestre do referido
anos, este serviço não estaria sendo prestado.
A maioria dos entrevistados, 61,9%, está insatisfeita e todos atribuem alta importância
a este aspecto no que se refere à sustentabilidade do Perímetro.
De acordo com a Tabela 43, 61,9% dos produtores recebem informações insuficientes
quando têm que tomar algum tipo de decisão a respeito de assuntos de interesses da
comunidade e declararam média satisfação quanto a este aspecto. 90,5% atribuem alta
importância a este aspecto no que se refere à sustentabilidade do Perímetro.
114
Tabela 43: Acesso dos produtores do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú à informações capazes
de auxiliar em processos de tomada de decisão a respeito de assunto de interesse da
comunidade.
Acesso a informações pelos produtores entrevistados Freqüência Percentual
Informações suficientes 8 38,1
Informações insuficientes 13 61,9
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
A respeito da comercialização, 71,4% dos entrevistados afirmaram não receber
nenhum tipo de apoio ou informação a respeito, como mostra a Tabela 44, estando 57,1%
insatisfeitos com a situação. 95,2% atribuem alta importância a este aspecto no que se refere à
sustentabilidade do Perímetro.
Tabela 44: Recebimento de apoio/informações a respeito de comercialização pelos produtores
do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Recebimento de apoio/informações a respeito de comercialização pelos produtores
entrevistados
Freqüência
Percentual
Sim 6 28,6
Não 15 71,4
Total 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme apurado em entrevistas, a comercialização é feita pelo próprio produtor e os
irrigantes acabam competindo entre si, principalmente, em relação à formação de preços. A
produção é vendida no entorno do Perímetro, afinal, a maioria dos produtores não dispõe de
transporte para o produto.
Alguns produtores se organizam em pequenas associações, visando a obter vantagens,
facilidades e maior competitividade no que diz respeito à comercialização. Discutem sobre
assuntos pertinentes ao negócio, como a melhor época de plantio, visando a evitar excesso de
oferta.
De posse dos dados recolhidos por meio das variáveis que compuseram os indicadores
e da importância atribuída ao indicador pelos entrevistados, foi calculado o índice
institucional, utilizando a metodologia disposta no item 4.3.2.1. O resultado obtido foi um
115
índice de valor 0,649, ou seja, a dimensão institucional da sustentabilidade atingiu grau
médio, conforme o PNUD/ ONU (1998), citado no item 4.3.2.3.
5.2.3 Índice de Sustentabilidade
De posse dos dados dos valores encontrados no cálculo dos índices individuais para as
dimensões e utilizando a metodologia disposta no item 4.3.2.2, foi calculado o índice de
sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú. O resultado obtido foi um índice de
valor 0,535, ou seja, a sustentabilidade atingiu grau médio, conforme o PNUD/ ONU (1998),
citado no item 4.3.2.3. Este resultado pode ser verificado na Tabela 45.
Se fosse considerada somente a variável rendimento como indicador econômico,
conforme discutido no item anterior, o índice de sustentabilidade passaria a ser de 0,426,
indicando sustentabilidade ruim, como mostra a Tabela 46.
Tabela 45: Valores do índice de sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
ÍNDICE VALOR CALCULADO
Índice Social 0,559
Índice Ambiental 0,385
Índice Econômico 0,539
Índice Institucional 0,649
ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE
0,535
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 46: Valores do índice de sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú –
considerando somente a variável rendimento como indicador econômico.
ÍNDICE VALOR CALCULADO
Índice Social 0,559
Índice Ambiental 0,385
Índice Econômico 0,103
Índice Institucional 0,649
ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE
0,426
Fonte: Dados da pesquisa
Dado que o grau de sustentabilidade, como visto, é considerado excelente quando se
situa entre 1 e 0,8, bom, quando se situa entre 0,799 e 0,650, médio, quando está entre 0,649 e
0,500, ruim, quando se situa entre 0,499 e 0,300 e crítico quando se situa entre 0,299 e 0,000,
116
pode-se notar, por meio das Tabelas 47 e 48, que a sustentabilidade do Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú é média e, se for considerada somente a variável rendimento como indicador
econômico, o grau de sustentabilidade passa a ser ruim.
Tabela 47: Graus de sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
ÍNDICE VALOR CALCULADO GRAU DE SUSTENTABILIDADE
Índice Social 0,559
Médio
Índice Ambiental 0,385
Ruim
Índice Econômico 0,539
Médio
Índice Institucional 0,649
Médio
ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE
0,535
Médio
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 48: Graus de sustentabilidade do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú - considerando
somente a variável rendimento como indicador econômico
ÍNDICE VALOR CALCULADO GRAU DE SUSTENTABILIDADE
Índice Social 0,559
Médio
Índice Ambiental 0,385
Ruim
Índice Econômico 0,103
Crítico
Índice Institucional 0,649
Médio
ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE
0,426
Ruim
Fonte: Dados da pesquisa
5.3 Análise Ex-Ante - Análise da Auto-Sustentabilidade
De acordo com entrevista realizada com o gerente executivo do Distrito Irrigado Baixo
Acaraú, o projeto do Perímetro Irrigado foi planejado para ser auto-sustentável, ou seja, para
ser independente financeiramente. Porém, isso somente será possível quando a ocupação
alcançar patamares maiores, cerca de, pelo menos, 70 a 80% de ocupação. Os principais
responsáveis pela baixa ocupação seriam os empresários, que detêm cerca de metade de toda a
área do Perímetro. Acredita-se que a especulação por parte de alguns empresários e também a
dificuldade em conseguir financiamentos, sejam justificativas plausíveis para esta situação.
Este fato faz com que o Distrito esteja também inadimplente com seus credores e seja
impedido de realizar obras e melhorias em razão da falta de verba.
117
Segundo o gerente do Distrito, a inadimplência é maior entre os proprietários que não
ocupam seu lote, pois medidas punitivas, como cortar o fornecimento de água, conforme é
feito com os irrigantes inadimplentes que ocupam suas terras, não surtem efeito, que não
produzem no local. Neste caso, o Distrito fica à mercê da morosidade da justiça. A
inadimplência entre os que não ocupam chega a 95%, enquanto entre os que ocupam este
índice é de cerca de 3%.
A impossibilidade de acesso a documentos que pudessem apresentar a situação real do
Perímetro, foi de certo modo compensada por entrevistas onde pôde-se levantar a situação
geral do Perímetro em relação à sua auto-sustentabilidade.
Foi constatado que hoje o Perímetro arrecada cerca de 50 a 60% de sua necessidade. A
principal fonte de receita vem da tarifa k
2
, referente às despesas operacionais do Distrito.
Outras receitas, como aluguel de máquinas, existem, porém o valor é irrisório perante o valor
das despesas totais.
A complementação à receita, necessária para o funcionamento do Perímetro, é feita
pelo DNOCS, por meio de repasse via convênio, que tem validade até 2008 e deve ser
renovado. Este valor repassado ora cobre as despesas, ora não, o que faz com que o Perímetro
fique com saldo devedor perante seus credores e tenha que deixar de realizar obras, melhorias
e outras atividades.
A tarifa k
1
, conforme comentado, ainda não está implementada e não será um
incremento na receita total do Distrito, pois seu valor será repassado diretamente ao DNOCS e
vai para a conta do Tesouro Nacional.
118
6 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos pelo estudo levam à aceitação da hipótese de que o Perímetro
lrrigado Baixo Acaraú poderia apresentar sustentabilidade, porém não apresentaria auto-
sustentabilidade.
Conforme verificado no item anterior, o índice de sustentabilidade observado no
Perímetro atinge grau médio, segundo o PNUD/ ONU (1998). Isso mostra que o projeto
precisa de ajustes, como os citados adiante - e principalmente monitoramento - para se buscar
o desenvolvimento sustentável. Esses ajustes precisam ser vistos de forma sistêmica, já que
todas as dimensões e indicadores influenciam e são influenciados pelos mesmos.
Em relação aos índices individuais da sustentabilidade, mais especificamente ao índice
social, verifica-se que, embora o mesmo tenha atingido nível médio de sustentabilidade,
mostra-se como uma dimensão que demanda atenção especial, pois a grande maioria dos
entrevistados declarou-se insatisfeita com as condições sociais em todos os indicadores.
Alguns aspectos específicos relacionados a este índice devem ser salientados, como os
seguintes:
- A maior parte dos entrevistados com mais de 25 anos possui entre 11 e 14 anos de
estudo. Idealmente as pessoas com 25 anos ou mais de idade deveriam ter no mínimo 11 anos
de estudo, que corresponde ao ensino médio completo.
- A taxa de escolaridade dos moradores, com 25 anos ou mais de idade, mostrou que a
maior parte deles possui entre 11 e 14 anos de estudo e a taxa de alfabetização de pessoas com
mais de 15 anos do domicílio está entre 0,76 e 1 em 85,7% dos casos. Convém ressaltar,
contudo, que educação formal, geralmente medida pelos anos de freqüência à escola, não é
condição suficiente para afirmar que uma pessoa seja ou não alfabetizada, pois indivíduos que
não freqüentaram escolas podem não ser analfabetos, enquanto aqueles que freqüentaram,
podem, ainda assim, não saber sequer ler e escrever.
- A respeito da habitação, embora os resultados pareçam mostrar boas condições de
moradia, a maior parte dos entrevistados mostrou-se insatisfeita com as condições de
119
habitação, justificada pelo fato de que alguns moradores esperavam, ao adquirir o lote, já ter à
sua disposição a estrutura do domicílio montada.
- Em relação à saúde, 81% dos produtores afirmaram não existir visitas de agente de
saúde ao local, o que é um ponto preocupante, pois mostra que as condições dos serviços de
saúde oferecidos aos cidadãos são precárias. Uma vez que houve um grande investimento
para a implantação do Perímetro, serviços básicos como saúde e educação deveriam receber
maior atenção e investimentos que pudessem suprir necessidades dos irrigantes e de seus
familiares. Entre os entrevistados, 90,5% se declararam insatisfeitos com as condições de
saúde existentes no Perímetro, o que indica que ações precisam ser tomadas neste aspecto.
Desta forma, esforços precisam ser direcionados, principalmente, às áreas de saúde,
educação e lazer. Conforme verificado pelas informações apresentadas em tópicos anteriores,
há grande descontentamento em relação às condições existentes. Além disso, melhorias nesses
aspectos foram maciçamente citadas como ações que precisam ser tomadas para tornar mais
satisfatórias as condições de vida e trabalho no local. Investimentos devem ser realizados para
que se possa oferecer ao produtor serviços básicos e condições de manter-se e a sua família no
local.
O índice ambiental é o que apresenta maior fragilidade, se enquadrando no grau ruim.
Ao analisar os indicadores e variáveis que o compuseram, observou-se pontos
preocupantes como a inexistência de acesso a esgotamento sanitário, a qualidade da água
para consumo, o que faz com que o produtor tenha que adquirir água mineral para beber,
tentando evitar possíveis problemas de saúde e o uso de agrotóxicos e fertilizantes, em muitos
casos, desconhecendo a legislação sobre a utilização. Questões abordadas no item 5.2.1, sobre
as características predominantes no local, como informações sobre uso de fogo nas atividades
agropecuárias, o fato de não fazerem plantio de árvores para fins de conservação do solo, de
não utilizar nenhum tipo de prática de plantio para evitar a degradação do solo, entre outros,
fornecem mais subsídios para afirmar que os recursos naturais são usados pelos entrevistados
com pouca orientação. Seria necessária a criação de programas de capacitação para os
irrigantes, visando a incentivar o uso e manejo adequado dos recursos naturais,
principalmente solo e água, para obter melhoria da qualidade ambiental no Perímetro Irrigado
Baixo Acaraú, além de um programa de análise e monitoramento da qualidade da água
120
disponibilizada, o que é essencial para a sustentabilidade e também para atingir resultados
econômicos desejados.
O índice econômico merece atenção especial. Conforme já discutido, quando
consideradas as variáveis rendimento e consumo como integrantes do índice econômico, o
grau de sustentabilidade atingido foi o médio, porém, quando considerada a possibilidade de
viés e considerada somente a variável rendimento para a composição do índice, como
mencionado anteriormente, este grau passa a ser crítico, levando o índice de sustentabilidade
para ruim. Analisando entrevistas e outras informações obtidas com o questionário, percebeu-
se, embora os entrevistados tenham relutado em responder questões a esse respeito, que,
aparentemente, a renda obtida pelos irrigantes com suas atividades no Perímetro é insuficiente
para lhes permitir ter melhores condições financeiras. Além disso, muitos dos entrevistados
recebem complementação à esta renda, seja vinda de outras atividades, agrícolas ou não, seja
de bolsas oferecidas pelo governo.
Outro ponto importante ainda referente a este índice é que, aparentemente, o nível de
renda não condiz com o consumo, o que poderia ser explicado pelo fato de que parte dos
entrevistados possui outras fontes de renda que não as atividades no Perímetro.
ainda a ocorrência de dois pontos extremamente importantes. O primeiro, é que
muitos agricultores receberam crédito para financiar a produção, mas ainda estão no período
de carência. Se os resultados da produção não melhorarem e, conseqüentemente, a renda,
conclui-se que o nível de inadimplência será muito grande, o que já se pode notar atualmente.
O segundo é que a tarifa k
1
, que se trata do valor que se destina a pagar pelo investimento em
infra-estrutura de irrigação de uso comum feito no local, ainda não começou a ser cobrada, o
que deve acontecer em breve e, quando isso acontecer, consistirá em mais um ônus ao
produtor.
Sendo assim, ações devem ser tomadas no sentido de possibilitar ao produtor
condições de melhorar sua renda, por meio de cursos de capacitação, assessoria, educação
financeira e outros esforços conjuntos, pois, para o sucesso de qualquer atividade produtiva, é
importante o amplo conhecimento de todas as etapas da atividade, desde a provisão de
informações, treinamento sobre produção, assistência técnica, acompanhamento de todas as
etapas da produção, até a comercialização. É preciso planejamento prévio para alcançar o
121
objetivo inicial e, um projeto bem executado gera, entre suas conseqüências, o aumento da
renda do produtor.
Na dimensão institucional, que obteve melhor grau de sustentabilidade, ainda que
enquadrada no nível médio, ênfase, no sentido de atenção, para os indicadores assistência
técnica e comercialização. Os entrevistados afirmaram estar insatisfeitos com a situação
predominante no Perímetro, afinal, em relação à assistência técnica, observa-se que para obter
este serviço, os produtores precisam pagar por ele. A maioria dos entrevistados disse receber
assistência freqüentemente, porém 33,3% afirmaram não existir a prestação do serviço, fato
confirmado pelo gerente administrativo, em entrevista, o que indica que aqueles que recebem
assistência técnica regularmente são os que podem pagar por este serviço e não recebê-lo
gratuitamente, como se esperava.
A assistência técnica é fator fundamental para que se possa produzir da melhor
maneira possível, respeitando o meio ambiente e alcançando boa produtividade. no que diz
respeito à comercialização, não nenhum tipo de apoio ou informação a respeito. Falta
orientação, organização e união dos produtores e administração do Perímetro para criar um
canal de comercialização, ter volume e maior poder de negociação e barganha.
Vale tecer alguns comentários, também, em relação às limitações dos indicadores
utilizados.
O resultado do índice se deve à seleção das dimensões e indicadores, podendo variar
de acordo com os critérios adotados. Outra limitação se refere a como interpretar as medidas e
julgar seu significado para o sistema como um todo. No trabalho, foram considerados os
intervalos sugeridos pelo PNUD, o que levou a classificar o grau de sustentabilidade como
médio ou ruim, conforme mencionado. A adoção de outras formas de divisão de intervalos
pode levar à classificações diferentes.
Além disso, a questão referente à fragilidade do conceito de sustentabilidade e o
fato de que a seleção de indicadores, implicitamente, reflete os valores normativos daqueles
que desenvolveram o índice, assim como o peso associado aos diferentes indicadores reflete
os valores daqueles que foram entrevistados.
122
Além das observações feitas acerca dos indicadores analisados, outros pontos
importantes devem ser mencionados.
O Distrito de Irrigação Baixo Acaraú não é auto-sustentável. Conforme discutido no
item 5.3, o Distrito não á capaz de cobrir suas despesas, sendo a relação receita X despesa, de
cerca de 0,6, ou seja, somente 60% das despesas do local são cobertas pelas receitas
recebidas, o que se deve, especialmente, à baixa arrecadação.
Conclui-se que este fato se deve, sobretudo, à baixa ocupação do local que, por sua
vez, aparenta ser explicada pela especulação por parte de alguns compradores de lotes, que
permanecem inadimplentes, e também pela falta de crédito, que foi citado como um dos
principais entraves à agricultura.
Se, portanto, as tarifas forem pagas devidamente, as despesas do Perímetro podem ser
cobertas, por isso a fiscalização precisa ser exercida de forma mais eficaz.
A ociosidade gera custos operacionais e de oportunidade também, que a construção
do Perímetro se constitui em custo de oportunidade para a sociedade, que poderia ter sido
beneficiada de outra forma com os recursos destinados à construção. É responsável pela
inadimplência e baixa arrecadação e pela não auto-sustentabilidade do Perímetro, que
depende de transferência sob forma de convênio do DNOCS para cobrir seus gastos. Os
principais responsáveis pela baixa ocupação, de acordo com entrevistas, são os empresários,
que detêm grandes áreas e não as ocupam. Os pequenos produtores, que têm uma área total de
cerca de 4.000 ha, ocupam 70% de sua área, enquanto os empresários, com área de cerca de
3.200 ha, ocupam cerca de 5%.
Foram realizados volumosos investimentos no local, provendo o agricultor de água, na
quantidade e tempo necessários, porém o resultado da atividade está aquém do esperado e
medidas precisam ser tomadas para mudar este quadro.
Desta forma, percebe-se que o Distrito somente será auto-sustentável quando atingir
maior nível de ocupação e adimplência, por isso, ações devem ser tomadas para que isso
aconteça, como retomada de áreas não ocupadas pelo DNOCS e nova licitação.
123
Outro ponto importante se refere à implementação da segunda etapa do projeto. A
primeira ainda se encontra pouco ocupada e a população se preocupa com a implementação
da segunda, que certamente vai gerar ainda mais custos. Além disso, vai deslocar funcionários
das lavouras, que trabalham como diaristas, para trabalhar nas obras, contratados
formalmente, regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT. Acredita-se que atenção
deve ser dispensada ao desenvolvimento da primeira etapa antes de se dar novos passos.
Enfim, vale ressaltar que a gestão e monitoramento de qualquer projeto que vise a sua
sustentabilidade precisa estar atenta ao grau de cada escopo e a todos os aspectos relevantes
durante a busca pelo desenvolvimento sustentável.
124
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