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COMPORTAMENTO DO DICOFOL E DA ATRAZINA NOS
PROCESSOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO POR LODO
ATIVADO E DE PÓS-TRATAMENTO DE LODO POR
BIODIGESTORES ANAERÓBIOS
Jaime Lopes da Mota Oliveira
Rio de Janeiro
Setembro de 2008
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Biológicas (Microbiologia),
Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes, Centro
de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção
do título de Doutor em Ciências Biológicas
(Microbiologia).
Orientadores: Tomaz Langenbach
Márcia Walquíria de Carvalho Dezotti
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ii
COMPORTAMENTO DO DICOFOL E DA ATRAZINA NOS
PROCESSOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO POR LODO
ATIVADO E DE PÓS-TRATAMENTO DO LODO POR
BIODIGESTORES ANAERÓBIOS
Jaime Lopes da Mota Oliveira
Orientadores: Tomaz Langenbach e Márcia Walquíria de Carvalho Dezotti
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Ciências
Biológicas (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes do
Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas
(Microbiologia).
Aprovada por:
_____________________________
Presidente, Professor
_________________________________
Professor
_________________________________
Professor
_________________________________
Professor
_________________________________
Professor
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iii
Oliveira, Jaime Lopes da Mota
Comportamento do dicofol e da atrazina nos processos de tratamento
de esgoto por lodo ativado e de pós-tratamento do lodo por
biodigestores anaeróbios / Jaime Lopes da Mota Oliveira. – Rio de
Janeiro:UFRJ/IMPPG, 2008.
xi, 138 f.: il.; 31 cm.
Orientadores: Tomaz Langenbach e Márcia Walquíria de Carvalho
Dezotti
Tese (doutorado) UFRJ/ Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de
Góes/ CCS/ Programa de Pós-graduação em Microbiologia, 2008.
Referências Bibliográficas: f. 92.
iv
Trabalho realizado nos Laboratórios de
Ecotoxicologia do Departamento de Microbiologia
Geral do Instituto de Microbiologia Professor Paulo
de Góes e de Poluição das Águas do Programa de
Engenharia Química, sob a orientação dos
professores Tomaz Langenbach e Márcia Walquíria
de Carvalho Dezotti.
v
Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é
uma fonte altamente negativa e perigosa de
pensar errado. De testemunhar aos alunos, às
vezes com ares de quem possui a verdade, um
rotundo desacerto. Pensar certo, pelo contrário,
demanda profundidade e não superficialidade na
compreensão e na interpretação dos fatos.
Paulo Freire
vi
A
GRADECIMENTOS
Agradeço aos órgãos de fomento CNPq, CAPES pelo apoio financeiro para a
realização deste trabalho.
Agradeço aos meus orientadores Tomaz e Márcia pela credibilidade e confiança
na realização deste e dos posteriores trabalhos.
Agradeço à minha mãe, a meu pai (in memoriam) e a meus irmãos por fazerem
parte da minha história de vida.
Agradeço a minha querida esposa Daniela por ter me ajudado a suportar os
momentos difíceis e me apoiado durante esses 6 anos de pós -graduação.
Agradeço a meus três lindos filhos, Beatriz, Caroline e Rafael, que são a fonte de
minha energia para atingir cada conquista de vida e buscar se tornar um ícone em suas
vidas.
Agradeço ao Buda Original Nitiren Daishonin por ter permitido que à
humanidade tivesse a oportunidade de conhecer a receita para a felicidade absoluta.
Agradeço aos meus companheiros diretos, Edir, Simone, Denise, Sérgio e
Daniela do departamento de microbiologia pelas brincadeiras que nos fazem relaxar e
esquecer momentaneamente os desafios que nos esperam.
Agradeço em geral a todos os companheiros do DSSA/ENSP, do IMPPG/CCS,
do IB/CCS e do PEQ/COPPE.
Agradeço a todos contribuíram de qualquer forma para a realização deste
trabalho.
vii
R
ESUMO
Oliveira, Jaime Lopes da Mota. Comportamento do dicofol e da atrazina nos
processos de tratamento de esgoto por lodo ativado e de pós-tratamento do lodo
por biodigestores anaeróbios. 2008. Tese de Doutorado em Ciências (Microbiologia)
Instituto de Microbiologia, Centro de Ciência da Saúde, UFRJ, Rio de Janeiro. 2008.
Muitas substâncias orgânicas foram desenvolvidas e utilizadas ao longo dos anos
sem um conhecimento mais aprofundado de seus efeitos negativos. Por exemplo, os
pesticidas muito usados no controle de pragas são bastante conhecidos pelo potencial
carcinogênico, sua genotoxicidade e como desregulador hormonal. Uma possível rota
para essas substâncias atingirem o meio ambiente é pelo esgotamento sanitário sendo
que pouco se sabe sobre a remoção e/ou degradação desses compostos pelo processo
convencional de tratamento de esgoto. O objetivo desse trabalho foi medir a
mineralização, a distribuição e o comportamento do acaricida dicofol e do herbicida
atrazina por um processo de tratamento aeróbio por lodo ativado em batelada e pós-
tratamento do lodo por biodigestores anaeróbios. Além disso, foi avaliado o potencial
estrogênico do dicofol pelo ensaio YES. Os tratamentos foram realizados em escala
laboratorial para que fossem usadas marcação isotópica e medido diretamente o
14
C-
CO
2
. Os ensaios foram realizados adicionando-se esgoto bruto, lodo biológico e o
poluente orgânico em reatores aeróbios. O processo biológico foi avaliado em regime de
batelada de 24 horas por 7 dias. As concentrações de dicofol e de atrazina adicionadas
ao reator aeróbio foram de 1 mg/L. Após esse período, o lodo foi estabilizado em
biodigestores anaeróbios. A eficiência dos processos foi medida pelas análises de
demanda química de oxigênio (DQO), sólido em suspensão volátil (SSV), índice
volumétrico de lodo (IVL), sólido total (ST), sólido total volátil (STV) e a produção de
gases e o lodo biológico foi monitorado microscopicamente quanto à ocorrência de
protozoários. Os resultados do teste YES mostraram que não foi possível avaliar a
atividade estrogênica do dicofol devido às limitações do teste e a alta toxicidade do
dicofol. A eficiência do processo aeróbio em relação a remoção de DQO foi afetada
pelo dicofol, mas não pela atrazina. Essas substâncias não foram mineralizada por este
processo, mas é provável que elas tenham sido parcialmente degradadas. A maior parte
da radioatividade no ensaio aeróbio com dicofol foi medida no lodo biológico, no
experimento com atrazina essa radioatividade foi arrastada com o efluente tratado. O
dicofol e a atrazina não afetaram o desempenho dos biodigestores anaeróbios. O lodo
contendo dicofol foi estabilizado com 18 dias de processo e o lodo contendo atrazina foi
estabilizado com 11 dias, provavelmente devido ao baixo teor de ST que este processo
foi iniciado. Na biodigestão do lodo com dicofol por um tempo prolongado foi
observada uma pressão negativa no biodigestor, possivelmente decorrente da inibição às
enzimas do ciclo metanogênico. Não foi medida remoção significativa da radioatividade
no lodo digerido com dicofol, mas no lodo com atrazina esta remoção foi de 50% sendo
possível sua degradação a compostos voláteis. A atrazina e o dicofol não foram
mineralizados pela biodigestão anaeróbia. Para comprovar a degradação parcial desses
dois compostos nesses processos de tratamento é necessária uma análise química para
quantificar os seus resíduos e identificar seus metabólitos. Pelos resultados obtidos, a
sugestão seria a inversão dos processos, isto é, o esgoto passaria inicialmente pelo
processo anaeróbio e em seguida pelo processo aeróbio. Dessa forma, acredita-se que a
atrazina seria metabolizada pela etapa anaeróbia, enquanto que nesta mesma etapa
ocorreria degradação inicial do dicofol que seguiria para a posterior etapa aeróbia.
viii
A
BSTRACT
Oliveira, Jaime Lopes da Mota. Behaviour of dicofol and atrazine in wastewater
treatment process by actvated sludge and sludge post-treatment by
anaerobicbiodigestors. 2008. Science Doctor Tese (Microbiology) Instituto de
Microbiologia, Centro de Ciência da Saúde, UFRJ, Rio de Janeiro. 2008.
Many organic substances have been developed and used over the years without a
deep knowledge of their negative effects. For example, frequently used pesticides are
known to have carcinogenic potential, genotoxicity and to be a hormonal disrupter. A
way for these substances to arrive in the environment is by sanitary systems, but little is
known about removal and degradation of pesticides during sewage treatment. Our
objective was to measure the mineralization, distribution and behavior of dicofol
(acaricide) and of atrazina (herbicide) during aerobic activated sludge treatment and
sludge post-treatment by anaerobic biodigestors. Also the estrogenic potential of dicofol
was evaluated by the YES essay. Radioactive marked pesticides were used and
14
C-CO
2
measured. The essays were done by mixing raw sewage, biological sludge and pollutant
in aerobic reactors for a 24 hour batch process repeated for 7 days. Dicofol and atrazine
concentrations used in aerobic reactors were 1 mg/L. The sludge was then stabilized by
anaerobic biodigestors. The efficiency of the processes was monitored by analysis of
chemical oxygen demand (COD), volatile suspension solid (VSS), sludge volume index
(SVI), total solid (TS), volatile total solid (VTS) and gases produced. The estrogenic
activity of dicofol was not possible to evaluate due high toxicity for the yeast used in the
YES test. The efficiency of the aerobic process in relation to COD removal was affected
by dicofol, but not by atrazine. These substances were not mineralized by this process,
but it is probable that they have been degraded partially. Most of the radioactivity in the
aerobic assays with dicofol was measured in the biological sludge, whereas with
atrazine the radioactivity was found in the treated effluent. Dicofol and atrazine did not
affect the efficiency of the anaerobic biodigestors. Sludge with dicofol was stabilized
within 18 days of process and sludge with atrazine was stabilized within 11 days,
probably due to the low concentration of TS at the beginning of the process. After
prolonged anaerobic biodigestion of sludge containing dicofol a negative pressure was
observed, possibly due to the inhibition to the enzymes of the methanogenic cycle.
Significant removal of radioactivity was not measured for digestion of sludge
containing dicofol, but there was 50% removal of atrazine to volatiles from sludge
containing it. Atrazine and dicofol were not mineralized by anaerobic digestion. To
confirm the partial degradation of those compounds in the two treatment processes a
chemical analysis to quantify their residues and to identify their metabolites is
necessary. Our results suggest an inversion of the processes to initially anaerobic
digestion followed by aerobic step would be more effective in degrading these
pesticides. That should allow atrazine to be metabolized by the anaerobic step that
would also initiate degradation of dicofol that could progress later in aerobic stage.
ix
L
ISTA DE
A
BREVIATURAS
DQO – Demanda Química de Oxigênio;
SST – Sólidos em Suspensão Totais;
SSV – Sólidos em Suspensão Voláteis;
ST – Sólidos Totais;
STV – Sólidos Totais Voláteis;
IVL – Índice Volumétrico de Lodo;
POP – Poluente Orgânico Persistente;
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas;
IARC – Agência Internacional de Pesquisas em Câncer;
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
ICSC – Cartas de Segurança Química Internacional;
OMS – Organização Mundial de Saúde;
OAA – Organização Agrícola Alimentar;
ETEP – Estação de Tratamento de Esgotos da Penha;
ETIG – Estação de Tratamento de Esgotos da Ilha do Governados;
x
L
ISTA DE
F
IGURAS
Figura 1. Fluxo de poluentes orgânicos nos diferentes sistemas (Bila e Dezotti, 2003
modificado)........................................................................................................................7
Figura 2. Estrutura química do dicofol (A) e alguns de seus possíveis metabólitos (B),
(C) e (D) e da molécula de DDT (E) e alguns de seus metabólitos (F), (G) e
(H)...................................................................................................................................14
Figura 3. Possível via de metabolização do dicofol em ratos (inchem, 2004)...............16
Figura 4. Estrutura química da atrazina e de seus principais metabólitos......................18
Figura 5. Via de metabolização da atrazina (fonte:
http://www.herbario.com.br/bot/toxicologia/10herb3.jpg).............................................20
Figura 6. Fluxograma típico do processo por lodos ativados. (A) processo convencional
com operação contínua; (B) processo por aeração prolongada onde (B-1) operação em
regime de batelada e (B-2) o processo contínuo (von Sperling, 2002
modificado)……………………………………………………………………………..25
Figura 7. Esquema das fases microbiológicas da digestão anaeróbia (Madigan,
Martinko e Parker, 2004).................................................................................................34
Figura 8. Reator usado no tratamento aeróbio do esgoto e as armadilhas para os gases
gerados. (A) reator, (B) os difusores de ar, (C) a tampa do reator mostrando suas duas
entradas e única saída e (D) as vidrarias usadas para a captura de
14
C-
CO
2
..................................................................................................................................44
Figura 9. Esquema geral da simulação do tratamento aeróbio de esgoto por lodo ativado
em regime de batelada de 24 horas por 7 dias.................................................................45
Figura 10. Biodigestores anaeróbios e as armadilhas para os gases gerados. (A) os 30
biodigestores fixados no agitador rotatório (shaker). (B) e (C) detalhes do biodigestor
selado e a válvula fechada; (D) o sistema de coleta e medição dos gases gerados pelo
processo mostrando os 2 tubos de ensaio com solução para captura de CO2 e os frascos
de garrafa Pet com água para medição do volume de outros gases.................................47
Figura 11. Esquema geral da biodigestão anaeróbia do lodo gerado pelo sistema de
tratamento aeróbio do esgoto. Foram retirados 1 reator de cada processo nos intervalos
de 7, 11, 14, 18, 21, 25, 28, 32, 35, e 40
dias...................................................................................................................................48
Figura 12. Esquema do sistema de expressão do estrogênio induzível na levedura
Saccharomyces cerevisiae. O gene receptor de estrogênio humano é autossômico sendo
expresso (1) na forma capaz de acoplar-se aos elementos de respostas de estrogênicos
(ERE) dentro do citoplasma (2). A ligação do receptor ao estrogênio (3) ativa a
expressão do gene receptor da LacZ (4) transcrevendo a enzima β-gal (5). Esta enzima é
secretada no meio (5) clivando o substrato cromogênico CPRG (amarelo) em vermelho
xi
de clorofenol (vermelho) (6), que pode ser medido pela absorbância a 540 nm
(Routledge e Sumpter, 1996)...........................................................................................55
Figura 13. Curva de atividade estrogênica comparando o 17β-estrodiol com o
dicofol..............................................................................................................................58
Figura 14. Eficiência percentual na remoção de DQO durante os 7 dias de experimento
de tratamento aeróbio do esgoto. (A) o desempenho percentual diário dos ensaios
controle (), com dicofol (
) e com atrazina () e (B) a comparação entre os ensaios
pelo gráfico tipo Box que representa a variação entre os valores diários, onde (
)
corresponde a 50%, (x) os menores e (+) os maiores valores.........................................61
Figura 15. Variação da concentração de SSV nos diferentes ensaios durante os 7 dias
de tratamento aeróbio do esgoto. (A) o desempenho percentual diário dos ensaios
controle (), com dicofol (
) e com atrazina () e (B) a comparação entre os ensaios
pelo gráfico tipo Box que representa a variação entre os valores diários, onde (
)
corresponde a 50%, (x) os menores e (+) os maiores valores.........................................63
Figura 16. Radioatividade no tratamento aeróbio do esgoto com dicofol. (A)
radioatividade medida no afluente (), efluente tratado (x), lodo decantado (
) e CO
2
(O); (B) a distribuição percentual da radioatividade relativo ao aplicado inicialmente no
efluente tratado (), no lodo decantado () e em forma de CO
2
() ao longo de todo o
processo...........................................................................................................................65
Figura 17. Radioatividade no tratamento aeróbio do esgoto com atrazina. (A)
radioatividade medida no afluente (), efluente tratado (x), lodo decantado (
) e CO
2
(O); (B) a distribuição percentual da radioatividade relativo ao aplicado inicialmente no
efluente tratado (), no lodo decantado () e em forma de CO
2
() ao longo de todo o
processo...........................................................................................................................67
Figura 18. Concentração de sólidos e produção de gases nos biodigestores controle (),
com dicofol () e com atrazina (). (A) teor de ST; (B) teor de STV; (C) volume de
gás carbônico e (D) volume de outros gases...................................................................70
Figura 19. Percentual de sólidos e gás carbônico nos biodigestores controle (), com
dicofol () e com atrazina (). (A) remoção de ST; (B) remoção de STV e (C)
produção percentual de gás carbônico em relação ao volume total de gases gerados pelo
biodigestor.......................................................................................................................72
Figura 20. Radioatividade percentual no lodo digerido nos biodigestores com dicofol
() e com atrazina (). (A) distribuição diária nos biodigestores com dicofol e (B) nos
biodigestores com atrazina; (C) a radioatividade medida no lodo digerido nos dois
processos e (D) o percentual relativo à porção insolúvel do lodo digerido.....................75
Figura 21. Diagrama tipo árvore mostrando a similaridade entre os diferentes
experimentos através das variáveis de DQO, DQO efluente e IVL................................81
xii
L
ISTA DE
T
ABELAS
Tabela 1. Algumas situações relatadas de desempenho de estações de tratamento
indicados pela presença de grupos dominantes da microfauna (Madoni, 1994).............32
Tabela 2. Eficiência do processo de tratamento primário nos ensaios com dicofol.......59
Tabela 3. Distribuição da radioatividade no tratamento por sedimentação do esgoto com
14
C-dicofol.......................................................................................................................59
Tabela 4. Índice volumétrico do lodo em mL/g durante os 7 dias de tratamento aeróbio
do esgoto nos diferentes ensaios......................................................................................64
Tabela 5. Radioatividade total e associada ao material particulado dos efluentes tratados
dos processos com dicofol e com atrazina.......................................................................68
Tabela 6. Relação volumétrica dos gases gerados nos biodigestores controle, com
dicofol e com atrazina e a razão entre os teores de STV e ST nos lodos digeridos........73
Tabela 7. Cálculo estatístico usando t-Student comparando os valores de a remoção
percentual de DQO, a DQO do efluente tratado e o IVL obtidos nos ensaios controle,
com dicofol e com atrazina com os valores recomendados pela literatura para este tipo
de processo......................................................................................................................81
xiii
Í
NDICE
ITEM PAG
1 I
NTRODUÇÃO
1
1.1 Poluentes Orgânicos
1
1.1.1
O Desenvolvimento dos Poluentes Orgânicos 1
1.1.2
As Principais Fontes de Poluentes Orgânicos 4
1.1.3
Poluentes Orgânicos como Disruptores Endócrinos 8
1.1.4
Degradação de um Poluente Orgânico 11
1.1.5
Poluentes Orgânicos usados neste Estudo 13
1.1.5.1 Dicofol
13
1.1.5.2 Atrazina
17
1.2 Sistema de Tratamento de Esgotos
21
1.2.1
A Realidade do Esgotamento Sanitário Brasileiro 21
1.2.2
Tratamento de Esgotos 23
1.2.3
Tratamento do Lodo 27
1.2.4
Microbiologia dos Processos Biológicos 28
1.2.4.1 Microrganismos Aeróbios
29
1.2.4.2 Microrganismos Anaeróbios
34
1.3 Objetivos
40
2 M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
41
2.1 Simulação dos Sistemas de Tratamento
41
2.1.1
Tratamento Primário do Esgoto por Sedimentação 41
2.1.2
Tratamento Secundário do Esgoto por Reatores Aeróbios
42
2.1.3
Tratamento do Lodo por Biodigestão Anaeróbia 46
2.2 Determinações Analíticas
49
2.2.1
DQO 49
2.2.2
SST e SSV 50
2.2.3
ST e STV 51
2.2.4
Gás Carbônico e outros Gases 51
2.2.5
IVL 52
2.2.6
Observações Microscópicas 52
2.2.7
Radioatividade 53
2.3 Atividade Estrogênica
54
2.3.1
Soluções usadas no Teste 55
2.3.2
Ensaio YES 56
xiv
3 R
ESULTADOS
58
3.1 Atividade Estrogênica
58
3.2 Tratamento Primário do Esgoto por Sedimentação
59
3.3 Tratamento Secundário do Esgoto por Reatores
Aeróbios
60
3.3.1
Eficiência dos Reatores 60
3.3.2
Distribuição da Radioatividade no Processo Aeróbio 64
3.3.2.1 Dicofol
64
3.3.2.2 Atrazina
66
3.4 Tratamento do Lodo por Biodigestão Anaeróbia
69
3.4.1
Eficiência dos Biodigestores Anaeróbios 69
3.4.2
Distribuição da Radioatividade no Processo Anaeróbio 74
4 D
ISCUSSÃO
76
4.1 Atividade Estrogênica
76
4.2 Tratamento Primário do Esgoto por Sedimentação
77
4.3 Tratamento Secundário do Esgoto por Reatores
Aeróbios
78
4.3.1
Eficiência dos Reatores 78
4.3.2
Distribuição da Radioatividade no Processo Aeróbio 80
4.4 Tratamento do Lodo por Biodigestão Anaeróbia
83
4.4.1
Eficiência dos Biodigestores Anaeróbios 83
4.4.2
Distribuição da Radioatividade no Processo Anaeróbio 87
4.5 Perspectivas Futuras e Conclusões
89
5 R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
92
A
NEXOS
Anexo I
Valores de Demanda Química de Oxigênio (DQO) em mg/L
ao longo do Processo Aeróbio de Tratamento de Esgoto
110
Anexo II
Valores de Sólidos em Suspensão Voláteis (SSV) em mg/L ao
longo do Processo Aeróbio de Tratamento de Esgoto
111
Anexo III
“Avaliação in vitro da desregulação estrogênica causada por
poluentes orgânicos”, artigo publicado na Saúde e Ambiente
em Revista em 2007.
112
Anexo IV
“Fate of organochlorine
14
C-dicofol in a lab-scale wastewater
treatment”, artigo publicado na Brazilian Journal of
Microbiology em 2008.
122
I
NTRODUÇÃO
1
1 I
NTRODUÇÃO
1.1
Os Poluentes Orgânicos
1.1.1
O Desenvolvimento dos Poluentes Orgânicos
O século XX marcou o grande desenvolvimento nos diversos campos
tecnológicos como na medicina, química, física, biologia, engenharia, entre outros. Isso
se deve, de certa forma, aos grandes desafios da humanidade que geraram mudanças de
pensamento e de consciência. Os benefícios de tais mudanças sempre foram muito
evidentes, porém as conseqüências negativas associadas à introdução de novos produtos
e tecnologias foram obscurecidas pela falta de conhecimento ou de pesquisas
aprofundadas sobre os seus possíveis efeitos no meio ambiente e na saúde. Muitas vezes
esses danos causados foram irreversíveis (Carpentes, 1996 e Carson, 1962)
Um exemplo desse avanço tecnológico foi a descoberta inseticida do DDT
(1,1,1-tricloro-2,2-bis(4-clorofenil)-etano) que fora inicialmente usado contra o tifo na
guerra e posteriormente no combate às pragas agrícolas e, atualmente, no controle de
vetores na saúde pública, especialmente aos transmissores de malária e leishmaniose
(D`Amato, Torres e Malm, 2002). Outras substâncias foram sucessivamente
desenvolvidas como o HCH (hexacloro-ciclohexano), o HCB (Hexaclorobenzeno), os
PCB (bifenila policlorada), os “drins” (aldrin, endrin e dieldrin). Posteriormente outra
classe de substâncias de maior biodegradabilidade, mas com alto potencial tóxico
também foi desenvolvida e usada no combate a pragas rurais e urbanas e no controle de
vetores em saúde pública, como os organofosforados e os carbamatos (Paschoal, 1979).
No Brasil, em 1943, o Instituto Biológico de São Paulo recebia as primeiras amostras de
DDT e, ainda nesta mesma época, o BHC ou “pó de broca” começava a ser fabricado
pela Eletroquímica Fluminense em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Durante as
O
S
P
OLUENTES
O
RGÂNICOS
2
décadas de 70 e 80 muitas indústrias químicas multinacionais investiram na produção e
na pesquisa de produtos organossintéticos (Bull e Hathaway, 1986).
O uso de agroquímicos prometia “acabar de vez com as pragas”, pois havia
necessidade de aumentar a produção agrícola para acabar com a fome no mundo.
Embora, atualmente a produção seja suficiente para atender a demanda da humanidade,
a fome continua existindo devido a outros fatores, como a péssima distribuição de
renda. Como conseqüência a presença dessas substâncias organossintéticas no meio
ambiente provocou uma seleção artificial, eliminando as pragas, mas também afetando
outras espécies sensíveis ao seu efeito tóxico. Tal problema só começou a ser observado
quando os organismos-alvo passaram a desenvolver resistência a essas substâncias. O
fenômeno de resistência é uma resposta natural evolutiva intrínseca das espécies, onde
os espécimes melhor adaptados a uma determinada substância, por exemplo, passam a
sobreviver e a gerar uma prole com este mesmo fenótipo. Com isso, a freqüência de
indivíduos resistentes aumenta na sua população. Na prática, o uso dos agrotóxicos
selecionou os espécimes mais resistentes de uma população e ajudou-os em sua
proliferação e, com isso, esse produto começou a perder sua eficiência. Observando
esses fatos conclui-se que, num primeiro momento, os agrotóxicos começaram a ser
aplicados em doses mais elevadas na ilusão de que a perda de sua eficiência era em
função da pouca quantidade aplicada. Isto provocou um aumento nessa seletividade
afetando negativamente as populações não adaptadas às altas doses do produto e
provocando um superpovoamento daquelas que possuíam alta resistência (Paschoal,
1979 e Bull e Hathaway, 1986).
Quando as pesquisas começaram a apontar os efeitos danosos à biota selvagem e
ao homem, o uso desses produtos começou a ser questionado. Algumas pesquisas
detectavam altas concentrações de resíduos desses produtos em espécies das áreas mais
I
NTRODUÇÃO
3
remotas da Terra, como no urso polar (Queiroz, 2005). Este fato mostrou que essas
substâncias poderiam ser transportadas a longas distâncias através da atmosfera,
justificando as altas concentrações detectadas em diferentes níveis tróficos. Em muitos
casos observou-se a bioacumulação, onde uma substância que sofre pouca ou nenhuma
transformação metabólica e baixa excreção por um indivíduo pode permanecer
inalterada no corpo desse organismo ou até ser acrescida (no caso deste organismo
voltar a ingeri-la), e de biomagnificação, onde certa quantidade de uma substância
acumulada num nível trófico é transferida para outros níveis dentro de uma cadeia
alimentar. Assim, os níveis tróficos mais altos normalmente apresentam em seu corpo
maiores quantidades de uma substância, considerando o seu potencial de bioacumulação
e de biomagnificação.
A bióloga marinha Rachel Carson em seu livro Primavera Silenciosa (1962)
alertava para tais efeitos, mas como alguns de seus comentários não tinham um
embasamento científico comprovado, ela foi ridicularizada em função dos interesses
econômicos da época (Queiroz, 2005). Sua obra tentava alertar sobre algo que ainda
perdurará por descendências. A co-autora do livro Nosso Futuro Roubado (1996), Theo
Colborn, elucidou o efeito desses compostos nos sistemas orgânicos, como o hormonal
e o nervoso, inclusive em humanos fazendo uma compilação de vários estudos de
campo e de laboratório (Santamarta, 2001). Hoje, apesar de serem conhecidos os fatores
de risco dos agrotóxicos, o uso de produtos persistentes e lesivos ao meio ambiente
continua movido por interesses econômicos. Ainda assim, as dificuldades em se obter
uma relação segura de causas e efeitos provocados pelo uso desses compostos impedem
a tomada de medidas restritivas necessárias de modo a não afetar a alta produção
agrícola. De certa forma, os fatos históricos e a literatura mostram que tais fatores
existem, porém ainda são deixados de lado, colocando em uso produtos sem um
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conhecimento profundo sobre suas conseqüências ao meio ambiente. O princípio da
precaução, adotado nos tantos encontros e convenções realizados pelo mundo afora,
também incluso na legislação brasileira (Lei 11.105, 2005), ou ainda não foi bem
entendido, ou ainda não está sendo bem aplicado.
1.1.2
As Principais Fontes de Poluentes Orgânicos
Na última década, aproximadamente 2,5 milhões de novos compostos orgânicos
foram sintetizados e cerca de metade desses foram destinados à produção em escala
industrial. Tal produção pode ter chegado a uma escala de 100 a 200 milhões de
toneladas por ano, onde se estimou que um terço pode ter sido lançado no meio
ambiente. De todos os compostos químicos produzidos nessa época, 85% eram
orgânicos e a sua grande maioria pôde ser detectada em amostras de água e
apresentando alguma atividade biológica, esses foram caracterizados como poluentes
orgânicos (Biziuk et al., 1996).
Alguns desses poluentes podem ainda ser denominados de xenobiontes por
serem estranhos ao meio ambiente, e em alguns casos, recalcitrantes, devido a sua alta
estabilidade frente à degradação química, física e/ou biológica. Por isso, alguns
protocolos adotam a nomenclatura de poluentes orgânicos persistentes (POP) quando
uma substância química está associada a estas duas características. Esses poluentes são
aplicados amplamente na agricultura e na indústria podendo ser detectados em altas
concentrações na biosfera. Sobre esse assunto, Lerche et al. (2002) mencionaram sobre
a necessidade da realização de mais pesquisas sobre a toxicidade, a persistência, a
capacidade de transporte atmosférico e o potencial de bioacumulação dos diversos
compostos orgânicos desenvolvidos e amplamente utilizados. Ainda assim somente 12
I
NTRODUÇÃO
5
substâncias químicas orgânicas são consideradas como POP segundo a Convenção de
Estocolmo (2004).
Dentre os exemplos de poluentes orgânicos mais conhecidos tem-se os
inseticidas DDT, DDE (1,1-dicloro- 2,2-bis-( 4-clorofenil)-etileno), DDD (1,1-dicloro-
2,2-bis-( 4-clorofenil)-etano), Aldrin (1,2,3,4,10,10-hexacloro- 1,4,4a,5,8,8a,-hexahidro-
4-endo- 5,5-exo-dimetano-naftaleno), Dieldrin (1,2,3,4,10,10-hexacloro- 6,7-epoxi-
1,4,4a,5,6,7,8,8a-octahidro- 1,4-endo- 5,8-exo-dimetano-naftaleno), Endrin
(1,2,3,4,10,10-hexacloro- 6,7-epoxi- 1,4,4a,5,6,7,8,8a-octaidro- 1,4-endo-dimetano-
naftaleno), lindano (γ-1,2,3,4,5,6-hexacloro-ciclohexano), HCH e HCB que foram
usados no combate a pragas e no controle de endemias; os isolantes termoelétricos
compostos de PCB (bifenilas policloradas) e seus subprodutos que foram largamente
empregados em transformadores; os derivados fenólicos e clorofenólicos que são usados
em processos industriais; os herbicidas triazínicos, atrazina (2-cloro- 4-etilamino- 6-
isopropilamino- 1,3,5-triazina), simazina (2-cloro- 4,6-bis-etilamino-S-triazina) e
terbutilazina (2-cloro- 4-tertbutilamino- 6-etilamino-S-triazina) e os derivados de uréia,
diuron (3- (3,4-diclorofenil)- 1,1-dimetil-uréia) e terbutiuron (1- (5-terbutil- 1,3,4-
tiadiazol- 2-il)- 1,3-dimetil-uréia) que são usados no controle de ervas daninhas; os
subprodutos derivados de petróleo como os HPA (hidrocarbonetos policíclicos
aromáticos); e as dioxinas e os furanos PCDD (dibenzo-dioxina policlorada) e PCDF
(dibenzo-furano policlorado) que são gerados pela queima incompleta de lixo
contaminado; todos se enquadram na classe de compostos orgânicos bioativos podendo
ser tóxicos, carcinogênicos, mutagênicos, teratogênicos, genotóxicos, embriogênicos,
entre outros (Sonnenschein e Soto, 1998, Balaguer et al., 1999, Rathore et al., 2002 e
Yoon et al., 2002). Apesar da utilização de algumas dessas substâncias químicas já ter
sido proibida por muitos países, em alguns casos, sua produção ainda é justificada para
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o controle de vetores de saúde pública, como no caso do mosquito transmissor da
malária (D`Amato, Torres e Malm, 2002, Convenção de Estocolmo, 1992).
A entrada de um poluente orgânico no meio ambiente pode ocorrer diretamente
através do controle de pragas rurais e urbanas, do controle de plantas aquáticas e ervas
daninhas, e indiretamente pela drenagem de áreas agrícolas, pelo descarte de efluentes
domésticos, industriais e hospitalares, pela disposição de lixo e pela precipitação
pluviométrica, entre outros. A Figura 1 mostra possíveis rotas de contaminação por
poluentes orgânicos no meio ambiente. Ottaviani et al. (1993) encontraram resíduos de
pesticidas e metais pesados no lodo gerado pelas estações de tratamento de efluentes
municipais e Zhou, Cheung e Wong (1999) detectaram PCB em peixes de lagos que
recebiam descarte de lodo e esgoto tratado. Rossi et al. (2004) estudaram a
contaminação do lodo e do esgoto por PCB na Suíça e sugeriram a precipitação
pluviométrica como uma possível fonte. Katsoyiannis e Samara (2004) mediram a
sorção de vários organoclorados em lodo biológico através de um sistema de tratamento
por lodos ativados na Grécia e sugeriram uma possível degradação. Estes artigos
alertam que as estações de tratamento de esgoto doméstico podem representar uma fonte
potencial de contaminação ambiental, pois o efluente dessas estações pode conter esses
compostos, ou ainda acumular, no caso do lodo excedente gerado. Dessa forma, uma
possível rota no meio ambiente dos resíduos de poluentes orgânicos é o sistema de
tratamento de esgotos.
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7
Figura 1. Fluxo de poluentes orgânicos nos diferentes sistemas (Bila e Dezotti, 2003
modificado). Onde azul mobilidade na fase líquida, verde – mobilidade na fase sólida,
vermelha – mobilidade na fase gasosa e preta resíduos nas três fases; e a caixa preta
áreas de uso e aplicação, cinza sistemas de tratamento e laranja sistemas abióticos
do ambiente.
Nota: Este fluxo de poluentes pode ser alterado em função dos componentes bióticos do sistema.
Um caminho dos poluentes orgânicos chegarem à rede de tratamento de esgoto
doméstico é através do seu descarte pelas unidades fabris. No Brasil existe uma
regulamentação restritiva quanto ao descarte de esgoto industrial nas redes de esgoto
doméstico (ABNT 9800), porém concentrações mesmo abaixo do limiar tóxico e
respeitando as normas vigentes, podem estar bioativas. Tal realidade reflete os
resultados encontrados por Turner e Collins (1985), Nigg et al. (1991) e Keyler et al.
(1994) que detectaram resíduos de poluentes orgânicos na excreção natural de
trabalhadores de áreas rurais. Este fato se agrava quando poucas instituições de
Doméstica
Agropecuária
Água Subterrânea
Aterro Sanitário
Atmosfera
Estações de Tratamento
de Esgoto Doméstico
Sistemas de Tratamento de Resíduos
Especiais (Sólidos /Líquidos /Gasosos)
Solo / Subsolo
Outras Atividades
Água Superficial (Rios, Mares, Oceanos, Lagos, etc.)
Á
REAS DE APLICAÇÃO E USO DE
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pesquisa, de ensino e hospitalares possuem um programa de recolhimento de seus
resíduos tóxicos para o seu adequado destino, e acabam lançando pequenas quantidades
de poluentes misturados com o esgoto doméstico. Não existem dados reais no país sobre
a ocorrência e a concentração desses contaminantes no sistema sanitário (von Sperling,
2002), mas trabalhos em outros países relataram que os POP podem ser encontrados em
seus sistemas de tratamento de esgotos na faixa de 1 µg/L a 1 mg/L (Byrns, 1996). É
importante conhecer o destino e o comportamento desses poluentes orgânicos nesses
sistemas e medir seu potencial de remoção e degradação pelo processo biológico
normalmente usado e assim evitar uma contaminação ambiental.
1.1.3
Poluentes Orgânicos como Disruptores Endócrinos
Nos últimos anos, muitos poluentes orgânicos estão sendo classificados como
desreguladores endócrinos, perturbadores endócrinos (perturbadores hormonais),
disruptores endócrinos, ou ainda, interferentes endócrinos, que mesmo detectados em
concentrações abaixo das consideradas tóxicas, podem provocar distúrbios no sistema
hormonal, inclusive da espécie humana. Isso pode ocorrer devido o sistema endócrino
responder a concentrações hormonais normais na ordem de picomol (Guyton e Hall,
2002). Tais efeitos vão desde a capacidade de afetar a reprodução e o desenvolvimento
da sua prole, até a atingir a própria sobrevivência da espécie, reduzindo as taxas de
fecundidade, de fertilização e de eclosão (Foster et al., 2002). Alguns autores sugerem
que essas substâncias podem estar relacionadas à epidemia de obesidade infantil,
modificações comportamentais, histopatologia, imunodepressão, redução no número de
espermatozóides, disfunções da tireóide, entre outras enfermidades (Newbold et al.,
2007 e Castro, 2002). Os mecanismos de ação desses compostos podem ser:
mimetizando os hormônios sendo capazes de se ligar aos seus receptores específicos
I
NTRODUÇÃO
9
provocando ou o bloqueio ou a amplificação dos seus efeitos, e ainda, estimulando a
produção, a destruição ou a eliminação dos hormônios quando ligados a sítios
específicos do metabolismo (Sonnenschein e Soto, 1998).
Rasthore et al. (2002) realizaram um trabalho analisando resíduos de pesticidas
organoclorados e dosando os hormônios tireoidianos (T
3
e T
4
) e o hormônio estimulante
da Tireóide (TSH) no soro sangüíneo em mulheres na Índia. Seus resultados mostraram
uma relação direta entre os altos veis de resíduos de Dieldrin, produto largamente
usado na agricultura local, e os altos níveis de TSH encontrados no soro sangüíneo,
além dos baixos níveis de T
4
. Porém, as mulheres de áreas semi-urbanas (subúrbios)
eram mais afetadas do que as de áreas rurais. Schectes et al. (1997) observaram uma
relação similar trabalhando com os pesticidas DDT e DDE nessas populações. Esses
autores justificaram seus resultados sugerindo que a fonte dos pesticidas para a
população seria através do consumo de água e alimentos contaminados com baixíssimas
concentrações do produto.
A evidência de que esses produtos possam atingir o sistema hormonal está bem
descrita no caso do dietilbestrol (DES). Em 1936, Dodds, ganhador do Prêmio Nobel,
prescrevia este organossintético em mulheres com idade acima de 30 anos para
prevenção ao aborto espontâneo. Somente na década de 70 foram obtidos seus efeitos
prejudiciais, onde as mulheres que usaram o DES tiveram sua prole feminina
comprometida com algum tipo raro de câncer vaginal (Oleas-Serrano et al., 2002).
Apesar de muitas substâncias orgânicas já terem sido descritas quanto a sua persistência
e toxicidade ambiental, é necessária a avaliação quanto a sua interferência no sistema
endócrino. Muitos compostos orgânicos desenvolvidos para uso em embalagens ou
como fármacos podem também comprometer a sobrevivência dos seres vivos. O
bisphenol-A, por exemplo, que é um ingrediente utilizado no revestimento interno de
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latas de alimentos, embalagens de remédios e complexos dentários mostrou atividade
estrogênica quanto testado com as células tipo MCF-7 retiradas de câncer de mama
(Meyer et al., 1999). Os metabólicos inertes dos hormônios estrona e estradiol, que
podem ser liberados pela urina da mulher, são transformados em compostos
biologicamente ativos pela ação enzimática bacteriana comum nos sistemas de
tratamento de esgotos (Fujii et al. 2002). Guillette et al. (1994) citados por Elango et al.
(2006) observaram a desregulação hormonal em jacarés jovens no lago Apopka na
Flórida devido a sua exposição ao dicofol, DDT e DDE originários de uma indústria
química. Vários estudos nesta região esclareceram que o derramamento desses
compostos foi o responsável por uma variedade de anomalias como a
desmasculinização dos jacarés e peixes e a má formação dos seus ovos.
A avaliação de atividade endócrina de um determinado composto pode ser feita
através de ensaios in vivo e in vitro. Na sua grande maioria, os ensaios in vivo são
realizados utilizando cobaias como peixes, sapos ou pequenos mamíferos que são
mantidas em criadouros controlados. O teste é realizado quando essas cobaias são
submetidas ao contato com a substância testada onde podem ser avaliados vários
parâmetros desde comportamentais até alterações histológicas. Por outro lado, os
ensaios in vitro requerem um modelo experimental que seja capaz de simular alguma
atividade hormonal específica. Desse modo, os mecanismos moleculares de ação
estrogênica são os métodos mais usados, tais como os que usam cultura de células de
Saccharomyce cerevisae, de câncer de mama tipo MCF7 e do tipo HeLa (Zacharewski
et al., 1997).
I
NTRODUÇÃO
11
1.1.4
Degradação de um Poluente Orgânico
Os poluentes orgânicos com característica xenobionte e recalcitrante são
considerados persistentes. Apesar da sua baixa degradabilidade frente a agentes
abióticos e bióticos, várias pesquisas têm encontrado microrganismos capazes de
transformar esses compostos (Focht e Alexander, 1970, Furukawa e Chakrabarty, 1982,
Hernandez, Arensdorf e Focht, 1995, Commandeur et al., 1996, Hay e Focht, 2000,
Bidlan e Manomani, 2002 e Llompart et al., 2002). A degradação de um poluente
orgânico xenobiótico e seus subprodutos utilizando microrganismos e suas respectivas
enzimas como agentes ativos têm se mostrado bastante eficaz e pouco onerosa o que
justifica a pesquisa nesse campo. Esses processos, denominados de biorremediação,
podem ocorrer em condições aeróbias ou anaeróbias, podendo ainda ser em condições
anóxicas (com baixa concentração de oxigênio). Na prática o que se faz é tentar isolar,
identificar e cultivar os microrganismos desses ambientes estabilizados ou extrair as
enzimas com potencial de degradação dessas substâncias. Através desse conhecimento,
é possível aplicar esses organismos ou seus produtos (enzimas) em outros ambientes
recém impactados por compostos semelhantes. Além disso, é possível realizar a
chamada biorremediação ex situ, onde o material contaminado é removido e tratado em
um outro local. Todos os processos de biorremediação requerem conhecimentos
avançados nas áreas de Microbiologia Ambiental e Biotecnologia, sobre os mecanismos
e as vias de degradação desses poluentes a fim de evitar que esses compostos sejam
transformados em outros mais tóxicos e mais perigosos que os seus precursores.
Diversas pesquisas descrevem a degradação aeróbia e anaeróbia de poluentes
orgânicos xenobióticos. Bidlan e Manomani (2002) estudaram a degradação de DDT em
solo sob condições aeróbias e Focht e Alexandre (1970) isolaram de lodo aeróbio a
bactéria Hydrogenomonas sp. que é capaz de metabolizar o diclorofenil e mostraram
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que ocorre a ruptura do anel aromático sob condições aeróbicas. Weiner e Lovley
(1998) obtiveram in situ a degradação anaeróbia do benzeno e outros derivados do
petróleo. Wilderman et al. (2002) usaram um lodo granular metanogênico na
degradação do 1,2-dicloroetano e Gavala et al. (2003) conseguiram com esse mesmo
lodo a redução da concentração de ésteres de ácido ftálico. Pfaender e Alexander (1972)
trataram anaerobiamente um solo contaminado por DDT e observaram a formação de
vários metabólitos como DDE, DDA (diclorodifenilacetato), dicofol, 2-clorobenzoato,
DBP (diclorobenzofenona) e DPM (diclorofenilmetano), resultados semelhantes aos
obtidos por Guenzi e Beard (1967).
Os mecanismos e rotas de degradação biológica são bastante diversificados,
porém alguns processos básicos foram descritos (van Pée e Unversucht, 2003). Os
compostos halogenados aromáticos são nucleofílicos, o que dificulta a ação oxidativa e
dessa forma são inicialmente dehalogenados sob condição redutora ou anaeróbia.
Dentre os tipos de reação de dehalogenação tem-se a dehalogenação hidrolítica, a
dehalogenação tiolítica, a substituição intramolecular, a dehidrohalogenação, a
dehalogenação por hidratação, a dehalogenação por metiltransfases, a dehalogenação
oxidativa, entre outros. Os mecanismos de remoção dos átomos de halogênio desses
compostos ainda são pouco conhecidos (van e, 1996), mas sabe-se que as enzimas
responsáveis por esta degradação não são específicas e podem degradar compostos
recalcitrantes semelhantes.
Em muitos casos é comum o uso de processos físicos e químicos integrados aos
processos biológicos para a remoção total de um poluente orgânico. Zaleska et al.
(2000) aplicaram ozônio por 30 minutos na remoção de DDT e conseguiram uma
redução de até 90% do pesticida. Ormad et al. (1997) detectaram vários subprodutos,
inclusive DDD e DDE, no tratamento com ozônio de efluentes contendo resíduos de
I
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13
dicofol e tetradifon. Vários estudos usam outros agentes como radiação UV, reagente de
Fenton e fotocatálise para ajudar na degradação desses poluentes orgânicos (Ormad et
al.,1991, Pirnie, Talley e Hundal, 2006, Zaleska et al., 2000 e Wang, Chen e Kang,
2001).
1.1.5
Poluentes Orgânicos usados neste Estudo
Os produtos comerciais empregados nas áreas de controle de vetores e no
combate às pragas agrícolas contem além de ingrediente ativo, outras substâncias
orgânicas usadas na sua formulação. Os agrotóxicos são classificados em função dos
organismos-alvo, como acaricidas, inseticidas, rodenticidas, herbicidas, moluscicidas,
nematicidas, fungicidas, entre outros. Segundo o SINDAG (Sindicato Nacional da
Indústria de Produtos para Defesa Agrícola), o consumo brasileiro de agrotóxicos
importados entre 2001 e 2005 aumentou em aproximadamente 70%, sendo os
inseticidas os líderes deste ranking (122%). O consumo de acaricidas reduziu em 58%,
mas os herbicidas acompanharam o aumento geral. Dessa forma, os poluentes usados
neste estudo de biodegradação são princípios ativos de agrotóxicos ainda
comercializados nacionalmente, mas com restrições de uso em determinadas culturas
conforme a lei vigente.
1.1.5.1
Dicofol
O Kelthane foi introduzido comercialmente em 1955 e sua produção é destinada
basicamente para o controle de ácaros em culturas de citrus, maçã e algodão (Rehman et
al., 1999). Seu princípio ativo, o organoclorado dicofol, possui uma estrutura molecular
análoga ao DDT. Esse organoclorado não é considerado um poluente orgânico
persistente (POP) (Lerche et al. 2002), porque sua meia vida é pequena (99 horas em
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Cl
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Cl
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Cl
Dicofol
DCBA
DCBP
DCD
DDT
DDD
DDA
DDE
pH 7, segundo dados extraídos da bula do produto Kelthane 480
®
da Empresa Dow
Química). Apesar desses dados, Morse et al. (1987) encontraram uma persistência
ambiental estável dos resíduos de dicofol de até 27 dias sendo que seu efeito acaricida
perdurou por somente 24 horas. A Figura 2 mostra a estrutura química do dicofol e do
DDT e alguns de seus metabólitos.
Figura 2. Estrutura química do dicofol (A) e alguns de seus possíveis metabólitos (B),
(C) e (D) e da molécula de DDT (E) e alguns de seus metabólitos (F), (G) e (H).
(
A
)
(B)
(C)
(D)
(E)
(G)
(F)
(H)
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15
Estudos realizados no início dos anos 90 apontam o dicofol como um agente
perturbador em sistemas orgânicos de animais, mostrando efeitos prejudiciais em aves
como falcões, corujas, gaivotas e pombos em regiões próximas às culturas de citrus e
algodão. Esses resultados apresentaram efeitos semelhantes aos estudos realizados com
o DDE, tais como feminização dessas aves, redução no número de ovos férteis, além
dos distúrbios comportamentais quanto a cópula (Bennett, Dominguez e David, 1990,
Schwarzbach, 1991 e Maclellan et al, 1996). Wiemeyer et al. (2001) citaram que esses
indicativos perturbadores são questionáveis, pois em estudos laboratoriais as doses de
dicofol usadas estavam acima das concentrações encontradas nos ambientes onde ele é
aplicado. Rehman et al. (1999) observaram que nos campos de cultura de citrus na
Flórida, o dicofol era tóxico nas primeiras horas da sua aplicação ao Aphytis holoxantus,
um inseto da classe Himenóptera que é um predador natural usado como biorregulador
da praga Chrysomphalus aonidum (L.) (Ceballos e Hernandez, 1988), mas esses efeitos
não foram observados quando em baixas doses (Bellow e Morse, 1988). Mano et al.
(1996) observaram o efeito tóxico do dicofol em concentrações superiores a 50 mg/L ao
microrganismo Azospirillum lipoferum, um microrganismo responsável pela fixação de
nitrogênio atmosférico em raízes de gramíneas provocando seu encistamento como
mecanismo de proteção. Segundo a Agência Internacional de Pesquisas em Câncer
(IARC, 1998), não existem evidências carcinogênicas ou teratogênicas ao homem e nem
efeitos deletérios associados ao dicofol. Essas observações foram confirmadas através
de experimentos com animais.
A literatura reporta poucos estudos quanto à biodegradação do dicofol no meio
ambiente e, de acordo com os dados técnicos do produto comercial Kelthane 480
®
, este
organoclorado é rapidamente hidrolisado a DBP em pH neutro. No entanto, Mano et al.
(1996) e Mano e Langenbach (1998) observaram que essa substância pode ficar
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Cl
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C
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Cl
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Cl
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N CH
2
H
Cl
C
O
N
H
CH
2
C
O
OH
Dicofol
DCD
DCBP
OH - DCBP
DCBA
DCBA - Glicina
DCBH
CBA
CBA - Glicina
OH - DCBH
protegida da degradação hidrolítica pela sua incorporação na porção lipídica do
envelope celular de Azospirillum lipoferum, podendo bioacumular e, Surendranath e
Rao Ramana (1991) evidenciaram sua lipofilicidade nas glândulas viscerais de
camarões indianos. Segundo a OMS/OAA (Organização Mundial de
Saúde/Organização Agrícola e Alimentar) o dicofol pode ficar adsorvido na gordura
corpórea, sugerindo que possui um potencial de bioacumulação que é comumente
observado entre os pesticidas organoclorados, dificultando a sua degradação. Entretanto,
Wienmeyer et al. (2001) encontraram resíduos de DCD (Diclorodicofol) em carcaças e
ovos de falcões americanos revelando a possibilidade de uma biodegradação parcial do
dicofol gerando metabólitos pouco conhecidos como mostra a Figura 3.
Figura 3. Possível via de metabolização do dicofol em ratos (inchem, 2004).
I
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17
Em um estudo anterior com dicofol radiomarcado no processo aeróbio de
tratamento de esgoto por lodo ativado mostrou uma baixíssima mineralização (menor
que 0,1%) onde a maior parte da radioatividade foi medida junto ao lodo decantado
(97%). Isso sugere que esses resíduos sejam removidos do efluente bruto evitando o seu
lançamento direto no ambiente (Oliveira, 2004). Através de um modelo desenvolvido
por Byrns (2001) é possível prever o destino de um poluente orgânico persistente (POP)
em sistemas de tratamento de esgoto sanitário por lodo ativado. Esse modelo se baseia
nas características físico-químicas do POP, tais como pressão de vapor, solubilidade em
água e coeficiente octanol-água (log K
ow
). Dessa forma, é possível que o dicofol fique
no lodo biológico mesmo tendo sido biotransformado parcialmente pelo processo,
porque ele é insolúvel em água e possui um log K
ow
alto (4,28) e um potencial de
volatilização muito baixo. No entanto, seu comportamento foi monitorado somente por
24 horas de processo sendo essencial seu estudo em maior período, uma vez que esse
modelo foi eleborado com um reuso do lodo por 5 dias.
1.1.5.2
Atrazina
O uso em grandes quantidades de herbicidas se deve, de certa forma, a não
existência de um substituto biológico para esses compostos que agem na eliminação de
plantas invasoras e indesejáveis à agricultura e no controle de ervas daninhas e capim
em áreas não agrícolas, como no espaço urbano (Smaling e Aelion, 2006 e Bicalho,
2007). Atualmente, no Brasil, seu consumo é maior no estado de Paraná sendo usado no
controle de plantas daninhas em culturas de milho, feijão e cana-de-açúcar (Bicalho,
2007).
Dentre esses compostos, o Gesaprim é um produto de amplo espectro de ação
usado em culturas de frutíferas como abacaxi, maçã e banana, além de sorgo, cacau,
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Cl
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N
N
N
N
H
H
OH
N
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H
H
Cl
N
NH
2
N
N
N
H
Cl
NH
2
N
N
N
N
H
Atrazina
Hidroxiatrazina
Desetilatrazina
Deisopropilatrazina
pinus, seringueira e citrus. Seu princípio ativo, a atrazina, é um composto orgânico com
anel triazínico característico desse grupo de substâncias e que foi introduzido no
mercado em 1957. Este poluente é incolor, de baixa solubilidade em água (33mg/L à
20ºC), muito sensível à luz natural e a temperaturas altas, baixo coeficiente de partição
de sorção no solo (3,7 L/Kg), meia-vida relativamente alta (60 – 100 dias) e um
coeficiente de partição octanol-água médio (2,34) (Smaling e Aelion, 2006, ICSC, 1994
e Bicalho, 2007). Devido a sua natureza recalcitrante, pode ser detectado em altas
concentrações na água subterrânea dos países europeus e dos Estados Unidos, locais
onde ele foi largamente utilizado (IARC, 1999). A Figura 4 apresenta as estruturas
químicas da atrazina e de seus principais metabólitos.
Figura 4. Estrutura química da atrazina e de seus principais metabólitos.
Apesar de nenhum relato direto de danos à saúde humana, a agência
internacional de pesquisas em câncer (IARC) relata que provavelmente a atrazina seja
carcinogênica. Essa suposição está baseada nas pesquisas realizadas nos Estados Unidos
e na Itália (locais onde houve maior consumo). Esses estudos relacionaram o uso de
atrazina à ocorrência de linfomas tipo não-Hodgkins e cânceres ovarianos e do colo do
I
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19
útero e, em experimentos com cobaias mostraram sua relação à incidência de tumores
mamários em ratos machos, adenocarcinoma uterino e tumores no sistema
hematopoético em ratos fêmeas e vários tipos de linfomas em camundongos. Não
existem dados quanto a sua teratogenicidade e genotoxicidade, mas esse herbicida teve
ação embriotóxica e embrioletal quando administrado em ratos e coelhos (IARC, 1999).
A taxa de degradação da atrazina é maior sob condições aeróbias do que
anaeróbias (Larsen e Aamand, 2001 e Smalling e Aelion, 2004), mas atualmente alguns
estudos têm tentado encontrar processos que favoreçam a sua biotransformação
anaeróbia, sobretudo para a aplicação em biorremediação de áreas alagadas (Ghosh e
Philip, 2004). Larsen, Sorensen e Aamand (2000) obtiveram 4,5% de mineralização da
atrazina sob condições aeróbias, enquanto que os valores foram menores que 2% sob
ação anaeróbia em sedimentos e água subterrânea em amostras de solos úmidos após 68
semanas de incubação. Outros autores relataram a persistência da atrazina em ambientes
anaeróbios, inclusive em comparação a Simazina (2- [[4-cloro- 6-(etilamino)- 1,3,5-
triazin- 2-il]amino]- 2-metil-propionitrila), um outro herbicida triazínico (Gu, Fan e Gu,
2003). A Figura 5 mostra uma possível rota de metabolização da atrazina.
O
S
P
OLUENTES
O
RGÂNICOS
20
Cl
N
N
N
N
N
H
H
Cl
NH
2
N
N
N
N
H
Cl
N
NH
2
N
N
N
H
OH
N
N
N
N
N
H
H
Cl
NH
2
NH
2
N
N
N
OH
NH
2
N
N
N
N
H
Cl
OH
NH
2
N
N
N
OH
NH
2
NH
2
N
N
N
OH
OH
NH
2
N
N
N
Cl
OH
OH
N
N
N
OH
NH
2
N
N
N
N
H
OH
OH
OH
N
N
N
Atrazina
NH
2
NH
2
C
O
N
C
O
H
NH
2
NH
2
C O
Desetilatrazina
Deisopropilatrazina
Hidroxiatrazina
Figura 5. Via de metabolização da atrazina (fonte:
http://www.herbario.com.br/bot/toxicologia/10herb3.jpg).
I
NTRODUÇÃO
21
1.2
Sistema de Tratamento de Esgoto
1.2.1
A Realidade do Esgotamento Sanitário Brasileiro
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o saneamento é definido
como sendo o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou
podem exercer efeitos nocivos sobre o seu bem estar físico, mental e social, ou seja,
fatores que possam afetar a saúde do homem. Pode-se então afirmar que, sem
saneamento básico não pode haver saúde (Cetesb, 1977 e Heller, 1998).
No início do século XIX (1815), em Londres, foi introduzido o primeiro sistema
de coleta e lançamento de efluentes domésticos nas galerias das águas pluviais, surgindo
então o sistema unitário de coleta, onde em uma única rede percorre o deságüe
pluviométrico e o esgoto gerado. O sistema separador de coleta, onde o esgoto percorre
por uma rede diferente da pluvial, foi desenvolvido em 1879 pelo Cel. George Waring e
aplicado pela primeira vez na cidade de Memphis, Tennessee, Estados Unidos. O Rio de
Janeiro foi uma das primeiras capitais do mundo a ser servida pela coleta de esgoto em
1857 (Braile e Cavalcante, 1993).
Esse avanço tecnológico levou os países americanos a firmarem um
compromisso em 1960 estabelecendo as metas prioritárias na área de saneamento
básico, como a de atingir 70% da população urbana e 50% da rural com serviços de
água e esgotos em um prazo médio de cinco anos (Cetesb, 1977). Porém, de acordo com
as pesquisas feitas pelo IBGE em 2000, o Brasil ainda está distante dessas metas e o
problema se agravou ainda mais devido ao acelerado crescimento urbano (Braile e
Cavalcante, 1993) onde somente cerca de 30% da população é atendida por redes
coletoras e 15% das cidades brasileiras possuem unidades de tratamento de esgotos
(IBGE, 2000). De acordo com o Banco Mundial, na área de coleta e tratamento de
esgoto, o Brasil tem os piores indicadores da América Latina, atrás inclusive da Bolívia,
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o país mais pobre da América do Sul. As estatísticas mostram que cerca de 80% da
população brasileira possui telefone residencial, enquanto que somente 15% é servida
por esgoto tratado (Clemente, 2006).
O sistema de coleta e transporte de esgoto urbano brasileiro é feito através do
sistema separador absoluto, porém pode ocorrer alguma contribuição pluvial nos dias de
maior incidência de chuvas, e com isso, prejudicar a rede de coleta e o seu posterior
tratamento. Além disso, devido às falhas nesses sistemas, é possível a entrada de esgoto
clandestino nas redes pluvial e de esgoto doméstico, o que pode prejudicar ainda mais o
sistema de tratamento (Tsutiya et al., 2002).
O esgoto doméstico coletado pode ou não passar por um processo de tratamento
e a definição quanto a esta necessidade deve estar definida no plano diretor de
urbanização. Por exemplo, em uma cidade com baixa densidade demográfica e
dependendo de suas atividades, o descarte dos seus esgotos diretamente em um rio pode
ser permitido, desde que sejam obedecidas as leis de proteção às bacias e a de
classificação das águas (Conama 357, 2005). Entretanto, o seu plano de urbanização
pode prever a instalação futura de uma estação de tratamento no caso de um aumento na
população. Segundo o historiador J. Stobart, “Não melhor índice de civilização e de
cultura do que o bom saneamento” (Braile e Cavalcante, 1993) e neste exemplo
hipotético, a coleta e a destinação final segura do esgoto gerado pode ser considerado
como um bom plano sanitário.
A realidade das cidades urbanas brasileiras principalmente nas grandes
metrópoles diverge ao exemplo citado acima e, nesse caso, faz-se necessária a
instalação de um sistema de coleta e de tratamento do esgoto antes do seu descarte. Tais
processos podem ser feitos em unidades individuais como ocorre nas fossas sépticas ou,
em unidades de tratamento maiores capazes de tratar os rejeitos gerados por toda uma
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23
população local. Os sistemas individualizados ocorrem em residências, condomínios,
unidades industriais e comercias, sendo que nestes últimos casos são obrigatórios, pois a
natureza dos rejeitos gerados pode ser diferente da do esgoto doméstico. De maneira
geral, o tratamento de esgoto é feito por processos biológicos que podem ser
estritamente aeróbios ou anaeróbios, ou ainda, uma combinação aeróbio-anaeróbia.
1.4.2
Tratamento do Esgoto
O sistema de tratamento de esgoto doméstico e industrial mundialmente mais
utilizado é o por lodo ativado. Esse processo se resume na remoção da matéria orgânica
do esgoto bruto (afluente) por um consórcio microbiano presente em um lodo biológico,
através de um metabolismo aeróbio ativo. As suas unidades básicas são: uma câmara de
aeração onde ocorre a mistura deste consórcio microbiano (biomassa) com o afluente, e
um tanque de sedimentação para a separação dessa biomassa do esgoto tratado
(efluente). O lodo sedimentado normalmente é reutilizado para o tratamento de uma
nova carga afluente afim de que seja mantida uma alta concentração de biomassa no
reator. O excedente desse lodo é descartado como um resíduo sólido. Os pontos
importantes desse sistema referem-se ao tempo de contato entre a biomassa e o esgoto
denominado de tempo de retenção hidráulica e o período de reuso da biomassa
denominado de idade do lodo (von Sperling, 2002).
O tratamento por lodo ativado normalmente pode ocorrer através de dois
processos distintos, o convencional e o por aeração prolongada. O método convencional
usa um tempo de retenção hidráulica entre 6 e 8 horas e adota uma idade do lodo de 4 a
10 dias sendo, nesse caso, comum a instalação de uma unidade de tratamento anterior à
câmara de aeração. Essa unidade é composta por um decantador para a remoção inicial
dos sólidos sedimentáveis. o método por aeração prolongada pode ou não dispensar
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essa unidade inicial de tratamento devido ao seu longo tempo de retenção hidráulica
(16-24 horas). O lodo excedente gerado pelo processo convencional, na maioria dos
casos, precisa ser tratado antes do seu descarte, mas nos sistemas por aeração
prolongada dispensa esse pós-tratamento, uma vez que esse resíduos já está estabilizado
em função da alta idade do lodo aplicada (15-30 dias) (von Sperling, 2002).
As unidades de reação e de sedimentação do processo por lodo ativado podem
estar integradas em um único estágio funcionando em batelada onde o reator funciona
como um misturador e aerador por um determinado tempo, e posteriormente serve como
um separador do lodo e do efluente tratado; ou por um método contínuo onde a câmara
de aeração recebe afluente o tempo todo onde é tratado e posteriormente é transferido
para o decantador secundário, onde o lodo é sedimentado e retornado para o reator
biológico. Estes dois sistemas podem operar através dos métodos convencionais ou por
aeração prolongada, gerando as variantes do processo por lodo ativado como mostra a
Figura 6. O lodo excedente desses diferentes processos vai compor o biosólido que
normalmente é tratado e descartado como será descrito no item 1.2.3 (von Sperling,
2002).
O processo de tratamento de esgoto doméstico mais usado no Estado do Rio de
Janeiro é o lodo ativado convencional através do sistema contínuo. Este processo ocorre
em 2 etapas bem definidas, o tratamento primário e o tratamento secundário. O lodo
gerado pelos tratamentos primário e secundário é concentrado através de adensadores
(decantador de lodo) e tratado por biodigestores, conforme mostra a Figura 6-A.
O tratamento primário tem a função de reduzir o material particulado de fácil
sedimentação com auxílio de decantadores com um tempo de retenção hidráulica
pequeno. Esse processo pode reduzir a concentração de matéria orgânica dissolvida em
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25
termos de demanda bioquímica de oxigênio (DBO) em até 30% e o teor de sólidos em
suspensão em até 60% (von Sperling, 2002).
(A)
(B)
Figura 6. Fluxograma típico do processo por lodos ativados. (A) processo convencional
com operação contínua; (B) processo por aeração prolongada onde (B-1) operação em
regime de batelada e (B-2) o processo contínuo. (von Sperling, 2002 -modificado).
Reator
Recirculação de
Lodo
Adensador
Grade
Desarenador
Decantador
Primário
Decantador
Secundário
Desidratação
Sobrenadante
(retorna ao início do processo)
Biodigestor
Primário
Biodigestor
Secundário
Drenado
(retorna ao início do processo)
Disposição Final dos
Resíduos Sólidos
Lodo
Primário
Corpo
Receptor
Resíduo
Sólido
Resíduo
Sólido
Grade
Desarenador
Esgoto
tratado
Desidratação
Reator
Reator
Lodo Excedente
Decantador
Corpo
Receptor
Esgoto
tratado
Corpo
Receptor
Lodo Excedente
Lodo Excedente
Disposição Final dos
Resíduos Sólidos
Resíduo
Sólido
Resíduo
Sólido
(B
-
1)
(B
-
2)
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O tratamento secundário ocorre em uma câmara de aeração que recebe o efluente
do decantador primário misturando-se ao lodo biológico (biomassa) recirculado. Após o
período de reação, a mistura é transferida para um decantador secundário onde ocorre a
separação da biomassa (que retorna à câmara de aeração) e do efluente secundário que é
descartado no canal receptor. A eficiência desta etapa do processo é medida pela
redução da matéria orgânica do afluente em termos de demanda bioquímica de oxigênio
(DBO) ou demanda química de oxigênio (DQO) onde é recomendado 95% para DBO e
85% para DQO (von Sperling,2002 e Jordão e Pessoa, 1995). Essa etapa do processo
pode remover ainda o teor de nutrientes (fósforo e nitrogênio) e de bactérias
patogênicas. Os parâmetros importantes de controle operacional são o oxigênio
dissolvido (OD) e a concentração de sólidos em suspensão voláteis (SSV) na câmara de
aeração. O desempenho desse processo pode ser afetado pela presença de poluentes
tóxicos, pela alta concentração de matéria orgânica do afluente (carga orgânica), mistura
não eficiente no reator, entre outros (von Sperling, 2002).
O desempenho da decantação final é avaliado através do índice volumétrico de
lodo (IVL). Este índice corresponde ao volume de lodo biológico ocupado por 1 grama
após 30 minutos de sedimentação. Este teste é feito usando a mistura da câmara de
aeração e o valor recomendado para uma boa sedimentação é até 200 mL/g. O curto
tempo de retenção hidráulica nesses decantadores pode ser o responsável, algumas
vezes, pelo mau desempenho do processo, uma vez que o lodo pode ser carreado com o
efluente tratado aumentando a sua DQO e levando a perda de biomassa no tanque de
aeração (von Sperling, 2002).
I
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27
1.2.3
Tratamento do Lodo
O processo por lodo ativado gera como subproduto o lodo excedente que possui
uma densidade próxima a 1 (von sperling, 2002). Esse resíduo deve ser tratado e
desidratado antes de seu descarte final, pois possui um odor desagradável devido ao seu
alto teor de matéria orgânica, conseqüentemente pode atrair vetores de doenças. Para
obter um lodo apropriado para o descarte são necessários o seu adensamento,
estabilização, condicionamento, desaguamento e higienização. Algumas dessas etapas
podem ser opcionais devido às características do biossólido, porém na grande maioria
dos casos faz-se necessário a realização de todas elas. O adensamento e o deságüe do
lodo têm por objetivo remover a água presente no lodo. Essas etapas podem ser
realizadas com adição de produtos químicos, como polímeros orgânicos, ou por
intermédio de equipamentos como centrífugas, queimadores elétricos e filtros prensas
(Andreoli, von Sperling e Fernandes, 2001 e Tsutiya et al., 2002).
O tratamento deste resíduo, na maioria dos casos, é feito por um processo
anaeróbio utilizando biodigestores de lodo (Figura 6-A), mas pode ser feito por
aerobiose. No processo anaeróbio, o lodo adensado permanece em um primeiro
biodigestor em constante agitação para que ocorram todas as etapas da anaerobiose e,
em seguida, este lodo digerido é transferido para um segundo biodigestor para separar
as fases formadas. Nesta última etapa ocorre a decantação do resíduo sólido digerido, a
liberação dos gases pela parte superior e o bombeamento do líquido sobrenadante para a
câmara de aeração. A etapa mais demorada desse processo ocorre no primeiro
biodigestor, onde a maior parte de sua matéria orgânica biodegradável é transformada
em gases e em outras substâncias voláteis. Esse processo é bastante sensível a variações
de pH, temperatura, carga orgânica, poluentes tóxicos, entre outras (von Sperling, 2002
e Tsutiya et al., 2002). O seu monitoramento é feito pela redução dos sólidos voláteis e
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da alcalinidade, além da produção de biogás, onde são comuns o hidrogênio, o
carbônico e o sulfídrico, mas na estabilização do processo é maior a produção de
metano. A literatura recomenda que um biodigestor eficiente tenha a capacidade de
reduzir em até 85% dos sólidos voláteis e de produzir um biogás com uma proporção
percentual em relação a metano e a gás carbônico de 70:30 (von Sperling, 2002 e Jordão
e Pessoa, 1995). O resíduo sólido digerido e seco pode ser higienizado com cal para
eliminar os organismos patogênicos remanescentes e finalmente, descartado ou
reutilizado.
1.2.4
Microbiologia dos Processos Biológicos
Os processos biológicos usados para o tratamento de esgoto e de lodo requerem
um consórcio microbiano capaz de reduzir a concentração de matéria orgânica presente
nessas matrizes. Portanto, os estudos microbiológicos, na sua maior parte, são adaptados
a esses processos, sendo um fator muito importante o crescimento microbiano. Em
culturas puras, o crescimento microbiano ocorre em quatro etapas, a fase de adaptação
ou fase lag, a fase de crescimento exponencial ou fase log, a fase estacionária e a fase de
morte celular. Assim, estima-se que o comportamento do crescimento da biomassa
composta por um consórcio microbiano em um processo de lodo ativado ocorra do
mesmo modo (von Sperling, 2002). Em se tratando de um processo por lodo ativado
convencional é desejável que essa biomassa comece na fase log e termine na fase
estacionária, enquanto que em um sistema por aeração prolongada, termine na fase de
morte celular. Porém, as curvas de crescimento de um consórcio microbiano não
ocorrem no mesmo paralelo que as obtidas para uma cultura pura. O comportamento da
biomassa do lodo biológico é bastante variável, sobretudo em função das características
da matéria orgânica presente no esgoto a ser tratado. Além disso, a comunidade
I
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29
microbiana presente nos processos biológicos de tratamento de efluentes ainda é pouco
conhecida.
1.2.4.1 Microrganismos Aeróbios
No processo de tratamento de esgoto por lodo ativado, o lodo biológico é
constituído por microrganismos estritamente aeróbios que se desenvolvem usando os
compostos orgânicos presentes no esgoto bruto. A determinação da atividade biológica
nesses processos é muito difícil e para isso os parâmetros adotados são a taxa de
crescimento da biomassa e a taxa de consumo da matéria orgânica (Speriling, 2002).
Forney et al. (2001) encontraram diferenças na estrutura da comunidade microbiana do
lodo biológico em amostras de estações de tratamento de esgoto no Japão, Europa e
Estados Unidos e concluíram sobre a difícil definição de um perfil microbiano típico
desse tipo de lodo.
Várias metodologias podem ser usadas para se avaliar a biomassa existente em
um tanque de aeração, tais como a atividade enzimática, o teor de fosfolipídios, a
densidade ótica, entre outras. Porém, essas metodologias são pouco práticas do ponto de
vista operacional, onde se adota a quantidade de sólidos em suspensão voláteis (SSV)
como uma estimativa indireta da quantidade total de microrganismos que compõem o
lodo biológico no tanque de aeração. Embora este método seja mundialmente utilizado
nesses sistemas de tratamento, Molina-Munöz et al. (2007) mostraram não haver
relação direta entre o teor de SSV e o número de microrganismos do lodo. Esses autores
mostraram que muitos parâmetros tradicionalmente usados em análises microbiológicas
ambientais de biomassa, como a atividade enzimática, podem ser mascarados pelo alto
teor de sólidos suspensos adotados nesses sistemas.
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30
O floco de lodo ativado é formado basicamente por uma microestrutura
responsável pela adesão microbiana que permite a biofloculação, no qual polímeros
extracelulares constituídos por polissacarídeos e glicoproteínas funcionam como
polieletrólitos ajudando na aglutinação dos microrganismos (Jenkins, Richard e
Daigger, 1995). Esses polieletrólitos normalmente produzidos por bactérias
filamentosas funcionam como mecanismos de proteção aos eventos externos. A
presença moderada dos organismos filamentosos propicia a formação de flocos
volumosos, menos susceptíveis à ruptura no ambiente turbulento do reator de aeração.
No entanto, quando um excesso de filamentos, a sedimentação e a compactação do
lodo são prejudicadas devido a formação de pontes entre esses flocos impedindo a sua
coalescência. Este fenômeno denominado de “bulking filamentoso” pode ser causado
pela sobrecarga orgânica, aeração deficiente, deficiência de nutrientes, altos valores de
idade do lodo, entre outros (Jenkins, Richard e Daigger, 1995).
De acordo com Curds (1992), aproximadamente 30% da massa do lodo é
composta de bactérias, predominando as Gram-negativas. Jenkins, Richard e Daigger
(1995) afirmaram que os flocos do lodo ativado são formados por componentes
biológicos, tais como bactérias, fungos, protozoários e alguns metazoários, e não
biológicos como as partículas orgânicas e inorgânicas. As bactérias heterotróficas mais
comuns pertencem aos gêneros Pseudomonas, Achromobacter, Flavobacterium,
Alcaligenes, Arthrobacter, Citromonas e Zooglea, entre outras (Curds, 1992).
Os micrometazoários mais comuns presentes na microfauna de lodos ativados
são os rotíferos, nematódeos, anelídeos e tardígrados. De acordo com Jenkins, Richard e
Daigger (1995), os nematódeos são geralmente observados em sistemas com alta idade
do lodo, enquanto os tardígrados e anelídeos aparecem em sistemas de lodos ativados
capazes de realizar a nitrificação, provavelmente devido à sua susceptibilidade à
I
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31
toxicidade da amônia. Os rotíferos são estritamente aeróbios e muitos se fixam ao floco
do lodo através de um “pé” contráctil. Por outro lado, Curds (1992) afirma que pouco se
sabe sobre o papel desempenhado pelos micrometazoários nesse processo, pois eles
ocorrem em pequeno número e não evidências que sua presença ou ausência esteja
associada com a qualidade do efluente ou sedimentação do lodo. Porém Metcalf e Eddy
(1981) observaram que os rotíferos consomem as partículas biológicas pequenas que
não foram sedimentadas, podendo representar uma importância na depuração do
efluente tratado.
De acordo com Curds (1992), os fungos não são comuns em lodos ativados,
devido à alta taxa metabólica exigida pelo processo. No entanto, se o crescimento de
bactérias for inibido por descargas industriais tóxicas, fungos filamentosos podem
predominar e causar problemas na sedimentação do lodo. Em geral, esses fungos
proliferam-se em processos com acentuada queda nos valores de pH. Hu e Strom (1991)
relacionaram o efeito de pH baixo com o crescimento de fungos filamentosos e
bulkingem lodo ativado em escala laboratorial. Eles observaram que o crescimento
excessivo de fungos filamentosos nesses processos ocorre no pH entre 4 e 5 e
conseqüentemente aumenta os valores de IVL provocando o intumescimento do lodo.
As bactérias são os principais microrganismos que degradam a matéria orgânica
presente no esgoto, porém os outros organismos também têm importância no processo.
Güde (1982) e Macek (1991) relataram que os protozoários induzem a floculação das
bactérias no lodo ativado, pois este fenômeno funciona como uma estratégia contra a
sua predação. Eles observaram que as bactérias apresentavam um crescimento muito
disperso quando colocadas em culturas puras, livres de protozoários. Além disso, os
protozoários parecem manter a comunidade bactériana na sua “jovialidade ativa” ou na
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fase de crescimento exponencial (log), forçando o metabolismo acelerado e a
degradação da matéria orgânica (Laybourn-Parry, 1984).
Os protozoários compõem o grupo de organismos mais abundantes no lodo
biológico desses sistemas e podem ser encontrados em concentrações superiores a 5,0 x
10
4
células por mililitro, perfazendo 5% do peso seco dos sólidos em suspensão do
tanque de aeração (Curds, 1992). Diversos estudos são realizados com o objetivo de
utilizar esses organismos como bioindicadores de condições operacionais e eficiência de
estações de tratamento de esgoto. A determinação precisa de todas as espécies de
protozoários é difícil de ser realizada num trabalho de controle de uma estação, porém é
comum a realização de uma classificação em grupos como amebas, ciliados e
flagelados, de acordo com sua estrutura locomotora. Madoni (1994) recomendou o uso
de ciliados para avaliar o desempenho ou comportamento desse processo e sugeriu que
eles fossem organizados em grupos sem valor filogenético, porém de fácil identificação,
baseados em seu hábito locomotor. Os organismos ciliados seriam então classificados
em rastejantes, livre-natantes e pedunculados (sésseis) e a sua abundância possuiria uma
relação direta ao desempenho desses processos conforme mostra a Tabela 1.
Tabela 1. Algumas situações relatadas de desempenho de estações de tratamento
indicados pela presença de grupos dominantes da microfauna (Madoni, 1994)
Grupo Dominante Desempenho Causas Possíveis
Flagelado pequeno Ruim
Baixa aeração; sobrecarga de matéria orgânica; substâncias
fermentativas;
Ciliados livre-natantes pequenos
Mediano Tempo de retenção muito baixo; baixa aeração;
Ciliados livre-natantes grandes Mediano Sobrecarga; baixa aeração;
Ciliados rastejantes Bom -
Ciliados rastejantes e Ciliados
sésseis
Bom -
Ciliados sésseis Decrescente
Fenômeno de transição (carga descontínua, descarga excessiva
de lodo);
Amebas tecadas Bom -
Flagelados e Amebas nuas
pequenas
Muito ruim matéria orgânica de difícil degradação
I
NTRODUÇÃO
33
As análises estatísticas associando a ocorrência de protozoários com as variáveis
físico-químicas das estações de tratamento de esgoto por lodo ativado mostraram que o
número e a diversidade de comunidades de ciliados mudam de acordo com a qualidade
do esgoto e das condições de operação da estação (Esteban, Tellez e Bautista, 1991;
Esteban e Tellez, 1992). Poole (1984) afirmou que o uso de protozoários como
indicadores de desempenho de estações de tratamento de esgotos é questionável, pois na
identificação segura das espécies são utilizadas técnicas caras e a observação direta
pode implicar na difícil resolução de grupos muitos aparentados já que algumas espécies
de ciliados são de difícil separação taxonômica e podem gerar características ecológicas
bastante distintas.
No Brasil pouco se fez sobre a ocorrência de protozoários e outros grupos de
microrganismos nesse processo. Esse conhecimento poderia ajudar a caracterizar de
maneira rápida o desempenho de uma estação, possibilitando a realização de manobras
operacionais que possam solucionar os problemas no momento em que ocorrem. Os
parâmetros tradicionais usados no seu controle operacional como DQO e SSV não
permitem uma rápida decisão gerencial por serem análises mais demoradas. Silva e
Silva-Neto (2001) apresentaram uma contribuição local neste campo. Esses autores
encontraram e classificaram 18 espécies de protozoários no lodo biológico em um reator
experimental operando em regime contínuo com o esgoto da Estação de Tratamento de
Esgotos da Penha Rio de janeiro (ETEP). Alguns organismos como Euplotes
aediculatus, Paramecium sp., Aspidisca cicada, Vorticella sp., Epistylis sp. e Colpoda
cucullus foram descritos por esses autores.
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34
1.2.4.2
Microrganismos Anaeróbios
A digestão anaeróbia do lodo é realizada por populações distintas de
microrganismos através de processos bioquímicos dependentes entre si como mostra a
Figura 7.
Figura 7. Esquema das fases microbiológicas da digestão anaeróbia (Madigan,
Martinko e Parker, 2004).
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NTRODUÇÃO
35
Na primeira fase do processo, denominada de hidrolítica, as moléculas
complexas como lipídios, polissacarídeos e proteínas são degradadas por
microrganismos facultativos. Nessa etapa participam muitas bactérias, como
Clostridium, Peptococcus, Micrococcus e Bacillus, que produzem exoenzimas do tipo
protease, lípase, celulase, pectinase, amilase e quitinase capazes de digerir a
variabilidade de substâncias orgânicas que compõem o lodo biológico. Os produtos
gerados nessa fase servem de matéria-prima para a fase acidogênica, onde os
microorganismos fermentativos agem. Espécies bacterianas como Clostridium,
Bacteróides, Ruminococcus, Butyribacterium, Propionibacterium, Eubacterium,
Lactobacillus, Streptococcus, Pseudomonas, Desulfobacter, Micrococcus, Bacillus e
Escherichia são capazes de utilizar como substrato os monômeros gerados na hidrólise.
Além disso, os microrganismos acidogênicos facultativos consomem o oxigênio
remanescente no processo, ajudando na manutenção do ambiente anaeróbio, o que é
essencial para o crescimento dos microrganismos metanogênicos. A digestão
acidogênica gera sais de ácidos orgânicos de 2 a 4 carbonos como o butirato,
propionato, succinato, acetato, além dos gases hidrogênio e carbônico (Duncan e Nigel,
2003). Atualmente os estudos com processos anaeróbios estão concentrados na
identificação dos microrganismos hidrolíticos e suas respectivas exoenzimas, uma vez
que eles podem degradar de forma inespecífica diferentes substratos, reduzindo a
toxicidade do meio e criando condições ótimas para o crescimento das arquéas
metanogênicas (Vavilin et al., 2008).
Alguns autores juntam em uma mesma denominação a etapa acidogênica com a
acetogênica devido à produção comum de ácido acético, mas em muitas publicações
estas etapas são individualizadas em função de os grupos de microrganismos
responsáveis serem bem distintos. De fato, na fase acidogênica ainda prevalecem
T
RATAMENTO DO
E
SGOTO E DO
L
ODO
36
bactérias hidrolíticas facultativas podendo ter representantes estritamente anaeróbios,
enquanto que a acetogênica ocorre em decorrência dessa anaerobiose (Duncan e Nigel,
2003).
Na fase acetogênica observam-se dois grupos distintos, os acetogênicos não
redutores e os homoacetogênicos. O primeiro grupo utiliza como substrato sais de
ácidos orgânicos como propionato e butirato, além de álcoois e alguns ácidos graxos de
cadeia relativamente longa como o valerato, isovalerato, esterato, palmitato e meristato.
Esse grupo de bactérias é capaz de oxidar esses ácidos orgânicos a acetato usando
prótons hidrogênio como aceptores de elétrons. As poucas espécies encontradas
responsáveis por esse tipo de acetogênese são a Syntrophomonas wolfei e
Syntrophobacter wolini. Este grupo de acetogênicas apresenta relação mutualística com
algumas arquéas metanogênicas, onde as bactérias degradam os ácidos graxos de cadeia
longa que são inibidores do crescimento das arquéas e produzem gás hidrogênio que é
usado na metanogênese (Madigan, Martinko e Parker, 2004).
A alta pressão parcial do gás hidrogênio no meio pode ser inibitória para o
crescimento das bactérias acetogênicas. Isto está relacionado a ação do hidrogênio na
enzima hidrogenase responsável pela reciclagem dos cofatores reduzidos NAD e FAD
usados nos diversos processos bioquímicos celulares. Nesse caso as bactérias
homoacetogênicas podem contribuir para a redução dessa pressão parcial promovendo a
biossíntese de acetato a partir dos gases hidrogênio e carbônico. Esta cascata bioquímica
de reações primeiramente fixa os gases carbônico e hidrogênio através da enzima
tetrahidrofolato (THF semelhante estrutural ao ácido fólico), e em seguida utiliza
como catalisadores complexos enzimáticos como a monóxido de carbono desidrogenase
(CODH) e a cobalamina (vitamina B12) responsáveis pelo carreamento do grupamento
metil até a formação do acetil que é transferido à coenzima A (acetil-CoA). As bactérias
I
NTRODUÇÃO
37
homoacetogênicas são anaeróbias estritas pertencentes aos gêneros de Acetobacterium,
Acetoanaerobium, Acetogenium, Butribacterium, Clostridium e Pelobacter e promovem
um maior consumo dos ácidos graxos de cadeia longa e do hidrogênio inibitório às
acetogênicas não redutoras. O produto final preponderante da acetogênese é o acetato,
embora possa ocorrer a liberação dos gases hidrogênio e carbônico (Duncan e Nigel,
2003 e Madigan, Martinko e Parker, 2004).
A fase final denominada de metanogênica é caracterizada por grupos
específicos de microrganismos, as arquéas metanogênicas, que são capazes de produzir
metano a partir de substratos simples como o CO
2
, compostos orgânicos de um carbono
(metanol, metilamina, formiato) e acetato. Existem dois grandes grupos de arquéas
metanogênicas, as hidrogenotróficas que são as mais abundantes do processo e
produzem metano a partir do gás carbônico, e as acetotróficas que usam o acetato na
síntese de metano (Duncan e Nigel, 2003 e Madigan, Martinko e Parker, 2004).
A metanogênese é a etapa mais lenta e mais sensível de todo o processo e
sugere-se que a presença de micropoluentes tóxicos possa comprometer o seu
desempenho (Campos, 1999 e von Sperling, 2002). Piriger e Bhattacharya (1999) que
trabalharam com tratamento anaeróbio de esgoto contendo pentaclorofenol mostraram
que este poluente não afetava diretamente o crescimento das acetotróficas, mas inibia as
acetogênicas não redutoras devido a alta pressão parcial de hidrogênio. Embora seus
resultados tenham mostrado uma pequena produção de metano, os autores sugerem que
este fato foi devido a presença das hidrogenotróficas que, provavelmente, foram
eliminadas por arraste com o efluente tratado. Esse resultado mostrou que a maior parte
do metano gerado em um processo anaeróbio pode ser originada da metabolização do
acetato pelas arquéas acetotróficas e, desse modo, é possível que os poluentes orgânicos
T
RATAMENTO DO
E
SGOTO E DO
L
ODO
38
possam afetar indiretamente mecanismos importantes e distintos na produção de
metano.
A conversão de gás carbônico em metano envolve várias reações bioquímicas
inicialmente com a redução do s carbônico a formil pela coenzima metanofurano
através do grupamento amino do anel furano. Esse radical é transferido para outra
coenzima, a metanopterina que promove a redução do formil à metil mediada pelo
cofator F
420
. O metil pterina pode entrar no ciclo do ácido cítrico invertido, comum em
microrganismos anaeróbios, ou continuar a linha sintética de metano. Neste caso, o
radical metil é carreado pela coenzima M (CoM) que apesar de ser uma molécula
simples é um importante fator na transformação do metil em metano. A coenzima M se
liga ao metil através de sua porção HS auxiliada pela coenzima HS-HTP que faz parte
do complexo enzimático F
430
. O grupamento metil se desprende do complexo levando
um hidrogênio e se tornando metano e, como conseqüência, as coenzimas ficam
temporariamente inativas através de ligação bissulfeto (CoM-S-S-HTP). A restauração
desses co-fatores ocorre pela participação do gás hidrogênio, que doa seus elétrons
reduzindo-os e gerando um gradiente de prótons no qual a arquéa pode produzir ATP
(Duncan e Nigel, 2003 e Madigan, Martinko e Parker, 2004).
Na metanogênese acetotrófica, o acetato é inicialmente ligado à coenzima A
formando o acetil-CoA que pode seguir o caminho biossintético normal ou continuar na
produção de metano. Na biossíntese metanogênica, a enzima monóxido de carbono
desidrogenase se liga a porção formil do acetil enquanto a proteína corrinóide,
estruturalmente semelhante à cobalamina, remove o metil. A corrinóide carreia o metil à
CoM, enquanto que a enzima monóxido de carbono desidrogenase é restaurada
liberando o formil à CO
2
. A redução do metil a metano e a restauração dos cofatores
envolvidos nesta etapa do processo ocorrem de forma semelhante as hidrogenotróficas.
I
NTRODUÇÃO
39
As etapas de redução de carbono pelas cascatas hidrogenotróficas e acetotróficas
são específicas e qualquer inibição enzimática pode reduzir a eficiência na produção de
metano. Tanto a homoacetogênese quanto a metanogênese ocorrem devido a presença
de coenzimas importantes e que são estruturalmente semelhantes a outras proteínas
encontradas em outros organismos como a THF, CODH, cobalamina e corrinóide.
Alguns estudos citaram que a metanogênese pode ser interrompida por poluentes
orgânicos pela inibição às enzimas chave do processo (McBride e Wolfe, 1971 e Yu e
Smith, 2000). De certa forma, esses microrganismos têm a capacidade de produzir
energia e se manterem ativos por outros mecanismos alternativos que não a
metanogênese. Madigan, Martinko e Parker (2004) citaram que a metanogênese
realizada pela arquéa ruminante Methanobrevibacter ruminantium possui como
limitante a coenzima M, que pode ser considerada uma “vitamina”, uma vez que mesmo
in vivo depende da secreção desta proteína por outras bactérias do meio. Porém mesmo
na ausência desta enzima ela pode ser detectada mas não realizando a biossíntese de
metano.
Um estudo recente revelou sobre a importância dos protozoários no processo
anaeróbio (Priya, Haridas e Hanilal, 2007). Eles relacionaram a atividade de espécies de
ciliados como Prorodon, Cyclidium, Spathidium, Vorticelas e Metopus e de flagelados
como Menoidium, Trepomonas, Naeglaria, Rhyncomonas e Bodo ao consumo direto da
matéria orgânica particulada, além da produção de substratos como o acetato e os gases
hidrogênio e carbônico que podem ser usados pelas arquéas metanogênicas.
O
BJETIVOS
40
1.3
Objetivos
O objetivo principal deste trabalho foi avaliar o potencial de mineralização dos
compostos orgânicos modelo, o organoclorado dicofol e o triazínico atrazina pelos
processos de tratamento aeróbio de esgoto e pós-tratamento anaeróbio do lodo gerado.
Outras questões que estiveram relacionadas a esse objetivo principal foram:
Avaliar se o dicofol e a atrazina afetaram a eficiência desses dois processos;
Rastrear os resíduos de dicofol e da atrazina, bem como de seus respectivos
metabólitos, por esses dois processos de tratamento;
Traçar o possível destino desses compostos quando presentes nesses
sistemas;
Traçar a curva de atividade estrogênica provocada pelo dicofol através do
ensaio YES.
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
41
2 M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
2.1
Simulação dos Sistemas de Tratamento
O experimento em escala laboratorial, além de evitar a contaminação ambiental
que ocorreria no descarte dessas substâncias radiomarcadas (no caso de escala real ou
piloto), permite trabalhar com uma menor quantidade de radioatividade. Para tanto, foi
montado um sistema de tratamento de esgoto por sedimentação e por lodo ativado e um
sistema de pós-tratamento do lodo gerado pelo processo aeróbio por biodigestores
anaeróbios. A concentração dos compostos orgânicos modelo usados nesses sistemas foi
de 1 mg/L. O
14
C-dicofol foi usado em todos os processos, a
14
C-atrazina não foi
testada no processo de sedimentação devido a sua solubilidade na concentração usada
neste estudo. O esgoto bruto e o lodo biológico usados nos processo foram coletados
uma única vez em garrafões de vidro âmbar de 4 litros com tampa de rosca da Estação
de Tratamento de Esgotos Doméstico da Ilha do Governador Rio de Janeiro (ETIG) e
acondicionados na geladeira à 4ºC até o seu uso.
2.1.1
Tratamento do Esgoto por Sedimentação
O tratamento por sedimentação foi simulado em um funil de decantação de 1 L.
O esgoto bruto foi inicialmente caracterizado pelas análises de demanda química de
oxigênio (DQO) e de sólidos em suspensão totais (SST), conforme será descrito nos
itens 2.2.1 e 2.2.2.
A simulação do processo foi feita colocando 500 mL do esgoto bruto no funil e
deixando em repouso por 1 hora para a decantação dos sólidos. Após esse período,
foram analisadas a DQO e SST do efluente sedimentado.
No ensaio com a substância radioativa, foi adicionado ao esgoto bruto 500 µL de
uma solução em etanol de 1mg/mL de dicofol grau analítico (99% de pureza) com 2 x
S
ISTEMA DE
T
RATAMENTO DE
R
ESÍDUOS
L
ÍQUIDOS E
S
ÓLIDOS
42
10
5
Bc (Bequerels) de
14
C-dicofol. Após a sedimentação dos sólidos foram retiradas
amostras de lodo decantado (sedimento) e do sobrenadante (efluente sedimentado) para
medir a radioatividade.
2.1.2
Tratamento do Esgoto por Reatores Aeróbios
O sistema aeróbio de tratamento do esgoto foi simulado em um frasco de vidro
âmbar de 4 litros, como mostra a Figura 8. As duas entradas do reator foram conectadas
a uma bomba peristáltica regulada por rotâmetros a um fluxo máximo de 17L/h e a sua
saída conectada a um conjunto de armadilhas de vidro em seqüência para a captura do
CO
2
liberado. Cada armadilha continha 30 mL de uma solução de dietilenoglicol-
monobutiléter e etanolamina na proporção de 1:1 (Figura 8(D)).
Na primeira batelada, o reator foi alimentado com 2,5 L de esgoto bruto e 1,0 L
de lodo biológico. Nas simulações com os poluentes orgânicos foram adicionados ao
reator 3,5 mg da substância orgânica testada (atrazina ou dicofol) com 1 x 10
5
Bc da
molécula radiomarcada previamente dissolvidos em 2 mL de etanol. No ensaio controle
(sem o dicofol e sem a atrazina) foram adicionados ao reator somente os 2 mL de
etanol. Todos os reatores foram colocados em um agitador rotatório (Shaker) para
auxiliar na sua homogeneização e esta batelada ocorreu por 24 horas. Após esse período
o agitador e a bomba peristáltica foram desligados e o reator ficou em descanso por 30
minutos para medir o volume de lodo sedimentável (V
30
). Em seguida o sobrenadante
(efluente tratado) e as soluções de captura das armadilhas foram removidos.
A segunda batelada de todos os ensaios foi montada com a reintrodução de 2,5 L
de esgoto bruto ao lodo biológico sedimentado. Não foram adicionados nem os
poluentes orgânicos e nem o etanol ao reator. Os reatores foram fechados e recolocados
no agitador rotatório por 24 horas. Após este período, a bomba e o agitador foram
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
43
desligados para a medida de sedimentação do lodo por 30 minutos (para o cálculo de
IVL). Em seguida o sobrenadante (efluente tratado) e as soluções de captura das
armadilhas foram removidos. As cinco sucessivas bateladas foram realizadas da mesma
forma que a segunda. Ao término das sete bateladas, o lodo sedimentado foi removido e
dividido nos biodigestores anaeróbios para ser tratado como será descrito no item 2.1.3.
O desempenho de cada batelada foi calculado pela redução de DQO, o valor da DQO do
efluente e o IVL final. Todos os ensaios foram repetidos por três vezes. O esquema das
simulações está mostrado na Figura 9.
Ao longo do processo foram retiradas amostras antes e depois de cada batelada
(24 horas) para análises de DQO do esgoto bruto e do efluente tratado, SSV inicial e
final, radioatividade e observação microscópica. As soluções para captura de CO
2
foram
trocadas em cada batelada e a sua radioatividade foi medida. Antes e após cada batelada
foram retiradas ainda amostras do lodo sedimentado para a medição da radioatividade.
Algumas amostras de efluente tratado foram filtradas em uma membrana de 0,45 µm
para se medir a radioatividade associada ao material particulado coloidal.
S
ISTEMA DE
T
RATAMENTO DE
R
ESÍDUOS
L
ÍQUIDOS E
S
ÓLIDOS
44
Figura 8. Reator usado no tratamento aeróbio do esgoto e as armadilhas para os gases
gerados. (A) o reator, (B) os difusores de ar, (C) a tampa do reator mostrando suas duas
entradas e única sua saída e (D) as vidrarias usadas para a captura de
14
C-CO
2
.
(A)
(D)
(C)
Entrada
Saída
(B)
Difusores
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
45
Figura 9. Esquema geral da simulação do tratamento aeróbio de esgoto por lodo ativado
em regime de batelada de 24 horas por 7 dias.
Notas: 1 – amostra para análise de DQO; 2 – amostra para análise de SSV; 3 – amostra para a medida de
radioatividade; 4 – medição volumétrica do lodo; 5 – observação microscópica.
1,0 L de lodo
Biológico
Esgoto
Tratado
1
Lodo Sedimentado
4
2,5 L de
esgoto bruto
1
Esgoto
Tratado
1
Lodo Sedimentado
4
(as demais 5 bateladas
foram realizadas da mesma
forma que a 2ª, somente
com 2,5 L de esgoto bruto
com o lodo sedimentado)
CONTROLE (Reator 1)
Mistura
2, 5
aerada
por 24 horas
3,5 L de mistura
2, 5
aerada por 24 horas
Lodo Sedimentado
3,4
Esgoto
Tratado
1,3
Esgoto
Tratado
1,3
Lodo Sedimentado
3,4
(as demais 5 bateladas
foram realizadas da mesma
forma que a 2ª, somente
com 2,5 L de esgoto bruto
com o lodo sedimentado)
1,0 L de lodo
Biológico
DICOFOL (Reator 2)
Mistura
2, 3, 5
aerada
por 24 horas
3,5 L de mistura
2, 3, 5
aerada por 24 horas
1,0 L de lodo
Biológico
Esgoto
Tratado
1,3
Lodo Sedimentado
3,4
2,5 L de esgoto
bruto
1
Esgoto
Tratado
1,3
Lodo Sedimentado
3,4
(as demais 5 bateladas
foram realizadas da mesma
forma que a 2ª, somente
com 2,5 L de esgoto bruto
com o lodo sedimentado)
ATRAZINA (Reator 3)
Mistura
2, 3, 5
aerada
por 24 horas
3,5 L de mistura
2, 3, 5
aerada por 24 horas
2,5 L de esgoto
bruto com 2 mL
de eta
nol
1
1ª Batelada
2ª Batelada em diante
1ª Batelada
2,5 L de esgoto
bruto com 2 mL
de etanol, 3,5
mg de dicofol e
10
5
Bc de
14
C-
dicofol
1
2ª Batelada em diante
2,5 L de
esgoto bruto
1
1ª Batelada
2,5 L de esgoto
bruto com 2 mL
de etanol, 3,5 mg
de atrazina e 10
5
Bc de
14
C-
atrazina
1
2ª Batelada em diante
S
ISTEMA DE
T
RATAMENTO DE
R
ESÍDUOS
L
ÍQUIDOS E
S
ÓLIDOS
46
2.4.2
Tratamento do Lodo por Biodigestão Anaeróbia
A biodigestão do lodo foi simulada em frascos de vidro de 300 mL selados por
uma rolha de borracha e com uma única saída para os gases, que permaneceu fechada
durante o processo. A Figura 10 mostra detalhes dos biodigestores usados no tratamento
de lodo. Esses biodigestores foram pintados com tinta fosca preta para evitar a entrada
de luz, que poderia promover a fotossíntese em seu interior gerando o gás oxigênio que
seria tóxico aos microrganismos anaeróbios. A saída dos gases
O lodo usado na biodigestão foi gerado pelos reatores aeróbios (item 2.1.2) e
cada um alimentou dez biodigestores com 200 mL de lodo. Inicialmente foram retiradas
amostras desse lodo para análise de ST, STV e radioatividade. Em seguida os
biodigestores foram selados com cola de silicone e fixados em um agitador rotatório
(Shaker) para sua completa homogeneização (Figura 10(A) e (B)). O processo ocorreu
nos tempos de 7, 11, 14, 18, 21, 25, 28, 32, 35 e 40 dias e a cada tempo foram retirados
três biodigestores que não retornavam ao processo para identificar o melhor período de
biodigestão do lodo. Os biodigestores retirados do agitador rotatório tiveram suas saídas
conectadas a um sistema de captura dos gases gerados (Figura 10(D)) por sete dias. Este
sistema era composto por dois tubos de ensaio contendo 40 mL de solução 1M de
hidróxido de sódio saturada com cloreto de bário para a captura de CO
2
, seguido de um
frasco de garrafa Pet de 1 L cheio de água para medir o volume de outros gases
conforme será descrito no item 2.2.4. Após a separação das fases, os biodigestores
foram abertos para a retirada de amostras do lodo digerido para análises de ST, STV,
radioatividade e pH. O desempenho dos biodigestores foi avaliado pela queda nos teores
de ST e STV e pela geração de gases. Algumas amostras de lodo digerido foram
filtradas em uma membrana de 0,45 µm para medir a radioatividade adsorvida no lodo.
O esquema da simulação do tratamento anaeróbio de lodo é mostrado na Figura 11.
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
47
Figura 10. Biodigestores anaeróbios e as armadilhas para os gases gerados. (A) os 30
biodigestores fixados no agitador rotatório (shaker); (B) e (C) detalhes do biodigestor
selado e a sua válvula fechada; (D) o sistema de coleta e medição dos gases gerados
pelo processo mostrando os 2 tubos de ensaio com solução para captura de CO
2
e os
frascos de garrafa Pet com água para medição do volume de outros gases.
(A)
(B)
(C)
(D)
S
ISTEMA DE
T
RATAMENTO DE
R
ESÍDUOS
L
ÍQUIDOS E
S
ÓLIDOS
48
Figura 11. Esquema geral da biodigestão anaeróbia do lodo gerado pelo sistema de
tratamento aeróbio do esgoto. Foram retirados 1 reator de cada processo nos intervalos
de 7, 11, 14, 18, 21, 25, 28, 32, 35 e 40 dias.
Notas:
1
amostra para análise de ST e STV;
2
amostra para análise de CO
2
;
3
volume de líquido arrastado da
garrafa Pet;
4
– amostra para a medição da radioatividade.
Distribuição do
lodo do Reator 1
nos biodigestores
1
Retirada dos
biodigestores com
7, 11, 14, 18, 21,
25, 28, 32, 35 e 40
dias de processo
Colocação do
biodigestor retirado
no sistema de
captura de gases por
7 dias
Abertura do
biodigestor
1
Captação
de dos
gases
2,3
CONTROLE
Biodigestores de 1 a 10
DICOFOL
Biodigestores de 11 a 20
ATRAZINA
Biodigestores de 21 a 30
Distribuição do lodo
do Reator 2 nos
biodigestores
1,4
Retirada dos
biodigestores com
7, 11, 14, 18, 21,
25, 28, 32, 35 e 40
dias de processo
Colocação do
biodigestor retirado
no sistema de
captura de gases por
7 dias
Abertura do
biodigestor
1,4
Captação
de dos
gases
2,3,4
Distribuição do lodo
do Reator 3 nos
biodigestores
1,4
Retirada dos
biodigestores com
7, 11, 14, 18, 21,
25, 28, 32, 35 e 40
dias de processo
Colocação do
biodigestor retirado
no sistema de
captura de gases por
7 dias
Abertura do
biodigestor
1,4
Captação
de dos
gases
2,3,4
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
49
2.2
Determinações Analíticas
As análises de demanda química de oxigênio (DQO), sólidos em suspensão
totais (SST), sólidos em suspensão voláteis (SSV), sólidos totais (ST), sólidos totais
voláteis (STV) e índice volumétrico de lodo (IVL) foram realizados de acordo com o
Standard Methods of the Water and Wasterwater (APHA, 2000).
2.2.1
DQO
Uma solução padrão foi preparada dissolvendo-se em um balão volumétrico de
1,0 L, 0,8500 g de biftalato de potássio, previamente seco a 120 ± 1ºC por 2 horas, em
água destilada. Esta solução contém uma DQO de 1000 mg/L. A solução catalítica foi
preparada adicionando-se 20,24 g de sulfato de prata em 2,0 L de ácido sulfúrico
concentrado, onde se esperou a dissolução por 2 dias.
A solução digestora foi preparada através da dissolução de 10,216 g de
dicromato de potássio, previamente seco, em 500 mL de água destilada. Em seguida foi
adicionado vagarosamente 167mL de ácido sulfúrico concentrado e, após completa
dissolução, foram adicionados 33,3g de sulfato de mercúrio e avolumados para 1,0 L.
A Curva de Calibração para DQO foi construída a partir da transferência para
balões volumétricos de 50,00 mL, os volumes de 50, 40, 30, 25, 20, 10 e 5,0 mL da
solução padrão. Após os balões terem sido avolumados, foram retirados 2 mL de cada
balão e transferidos para tubos de DQO e em seguida foi adicionado 1,2 mL da solução
digestora e 2,8 mL da solução catalítica. Os tubos foram levados para um bloco digestor
à 140ºC e, após a digestão por 2 horas, foram lidas as suas respectivas absorbâncias no
comprimento de onda de 600 nm no Espectrofotômetro da marca HACH modelo
DR2500. Através dos valores da absorbância medidos e da concentração de cada
padrão, foi traçada uma Curva de Calibração.
D
ETERMINAÇÕES
A
NALÍTICAS
50
A análise de DQO foi feita com a transferência de 2 mL de cada amostra de
esgoto bruto e tratado homogeneizado para um tubo de DQO. Em seguida foram
adicionados 1,2 mL da solução digestora e 2,8 mL da solução catalítica e processada a
digestão no bloco digestor por 2 horas. Após esse período, foram lidas as suas
respectivas absorbâncias à 600 nm e os seus valores foram plotados na Curva de
Calibração para a determinação da concentração da DQO das amostras. A análise de
DQO de cada amostra foi realizada em triplicata.
2.2.2
SST e SSV
Um aparato de filtração tipo Millipore com Kitasato, suporte para filtro, garra e
copo foi montado e acoplado a uma bomba de vácuo. A preparação da membrana foi
feita com a sua lavagem por várias vezes com água destilada. A membrana foi colocada
sobre um cadinho de porcelana identificado e o conjunto foi levado para uma mufla à
550 ± 50ºC. Após 1 hora de secagem, o conjunto foi retirado e resfriado em dessecador
e o seu peso, em gramas, foi anotado como P
0
.
Certo volume de amostra (V, em mL) foi filtrado através da membrana
preparada. Em seguida essa membrana foi colocada sobre o seu respectivo cadinho e o
conjunto foi levado a uma estufa a 104 ± 1ºC. Após a secagem por 24 horas, o conjunto
foi resfriado em dessecador e o seu peso, em gramas, foi anotado como P
1
. O conjunto
foi posteriormente levado para uma mufla à 550 ± 50ºC para secagem por 1 hora. Após
o seu resfriamento no dessecador, o conjunto foi pesado, em gramas, e anotado como
P
2
. As determinações de SST e SSV foram feitas utilizando as Equações 01 e 02,
respectivamente sendo que essas análises foram feitas em triplicata.
SST (mg/L) = [(P
1
– P
0
) / V] x 10
6
Equação 01
SSV (mg/L) = SST – {[(P
2
– P
0
) / V] X 10
6
} Equação 02
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
51
2.2.3
ST e STV
Um cadinho de porcelana identificado foi levado para uma mufla à 550 ± 50ºC e
após 1 hora de secagem, foi retirado e resfriado em dessecador para e o seu peso, em
gramas, foi anotado como PT
0
.
Certo volume de amostra de lodo (Vol, em mL) foi transferido para este cadinho
pesado e levado a uma estufa a 104 ± 1ºC. Após a secagem por 24 horas, o cadinho foi
resfriado em dessecador e o seu peso, em gramas, foi anotado como PT
1
. Em seguida o
cadinho foi levado para uma mufla à 550 ± 50ºC para a amostra ser calcinada por 1
hora. Após este período ele foi resfriado no dessecador e o seu peso, em gramas, foi
anotado como PT
2
. As determinações de ST e STV foram feitas utilizando as Equações
03 e 04, respectivamente. Essas análises foram feitas em triplicata.
ST (mg/L) = [(PT
1
– PT
0
) x 10
6
]/(Vol) Equação 03
STV (mg/L) = {[(PT
1
– PT
0
) - (PT
2
– PT
0
)] x 10
6
}/(Vol) Equação 04
2.2.4
Gás Carbônico e Outros Gases
O gás carbônico gerado pelo tratamento aeróbio do esgoto bruto foi captado pela
solução descrita no item 2.1.2 e posteriormente misturada com solução cintiladora
conforme descrito no item 2.2.7.
O gás carbônico gerado pelos biodigestores foi captado por tubos contendo
hidróxido de sódio e cloreto de bário, conforme mostra a Reação 1 formando um
precipitado branco (BaCO
3
). Para medir o volume de CO
2
mediu-se o peso de carbonato
de bário. Um filtro quantitativo foi levado a uma estufa a 104 ± 1ºC e após 1 hora foi
resfriado em dessecador e o seu peso, em gramas, foi registrado como PF
0
. A solução de
captura foi passada através deste filtro e em seguida levado à estufa a 104 ± 1ºC por 24
D
ETERMINAÇÕES
A
NALÍTICAS
52
horas. O filtro foi resfriado em dessecador e o seu peso foi registrado, em gramas, como
PF
1
. A quantidade de CO
2
foi calculada em função da Equação 05.
O volume dos demais gases gerados pelo biodigestor foi medido diretamente por
arraste de líquido dos frascos de garrafa Pet mostrados na Figura 10(D).
Reação 01
CO
2
+ 2 NaOH Na
2
CO
3
+ H
2
O NaCl + BaCO
3
Vol CO
2
(mL) = [(PF1 – PF2) x 22,4 x 10
3
] / 197 Equação 05
2.2.5
IVL
O volume de lodo medido após a decantação final de cada batelada do processo
de tratamento aeróbio do esgoto (V
30
), conforme descrito no item 2.1.2 e o seu
respectivo valor do SSV na mistura foram usados para o cálculo do IVL do lodo,
conforme a Equação 06.
IVL (g/mL) = [10
8
/ (V
30
x SSV)] Equação 06
2.2.6
Observações Microscópicas
Uma gota da amostra da mistura do reator aeróbio foi colocada sobre uma
lâmina de vidro e coberta por uma lamínula de 20 mm x 20 mm. O material foi
observado diretamente no microscópio óptico de contraste de fase da marca Hund-
Wetzlar modelo H-500 nos aumentos de 100x e 400x.
As amostras foram analisadas qualitativamente em relação à aparência do floco e
foi usada a classificação dos organismos observados em protozoários ciliados livre-
BaCl
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
53
natantes, protozoários ciliados rastejantes, protozoários ciliados sésseis, protozoários
flagelados, amebas tecadas conforme Madoni (1994) e rotíferos.
2.2.7
Radioatividade
A solução cintiladora usada para medir a radioatividade capturada pelas
armadilhas de
14
C-CO
2
mostradas na Figura 8(D) foi preparada misturando 667 mL de
tolueno, 4 g de PPO (2,5-difenilxazol), 0,25 g de POPOP (1,4-bis-2-(5-
fenilzolil)benzeno) e 333 mL de Triton X100. A solução aquasolv usada no Oxidyzer
foi preparada misturando 480 mL da solução cintiladora, 320 mL de metanol e 200 mL
de monoetanolamina.
Amostras de 1 mL de lodo sedimentado, esgoto tratado, da mistura dos reatores
aeróbios e de lodo não digerido e digerido dos biodigestores anaeróbios foram
queimadas em um Biological Oxidizer modelo OX500 e marca Harvey. Algumas
amostras de lodo digerido e esgoto tratado foram filtrados em uma membrana de 0,45
µm e essa membrana foi também queimada no Oxidizer. O
14
C-CO
2
gerado pela queima
das amostras foi coletado em 15 mL de solução aquasolv e em seguida a radioatividade
foi medida. Um volume de 5 mL de cada solução de captura de
14
C-CO
2
usadas nas
armadilhas do processo aeróbio (Figura 8(D)) foram misturadas com 5 mL de solução
cintiladora e, em seguida, a sua radioatividade foi lida. A radioatividade de todas as
amostras foram medidas no Cintilador Líquido da marca Packard modelo TriCarb 100.
D
ETERMINAÇÕES
A
NALÍTICAS
54
2.3
Atividade Estrogênica
O potencial estrogênico do dicofol foi testado através do método YES (Yeast
Estrogenic Screen) desenvolvido por Routledge e Sumpter (1996) que utiliza uma cepa
recombinante de Saccharomyces cerevisae, como mostra a Figura 12. Este
microrganismo possui um gene autossômico que codifica o receptor estrogênico
humano (REh) e o gene repórter plasmidial lacZ que tem um promotor de transcrição
com alta afinidade ao complexo formado pela substância estrogênica e o REh. Essa
levedura foi cultivada em meios específicos e na presença do dicofol. Para uma resposta
positiva, o dicofol deveria atravessar os envoltórios celulares da levedura e se ligar ao
receptor citosólico. O complexo formado se liga a região promotora do gene lacZ
ativando sua expressão na síntese da enzima β-galactosidase. Esta enzima é secretada
no meio e é capaz de clivar o substrato cromogênico (CPRG) presente que tem
coloração amarela passando para o vermelho característico do vermalho de β-
galactopiranosida. A intesidade da coloração vermelha foi medida em espectro de
ELISA no comprimento de onda de 540 nm. Este teste foi comparado a um controle
positivo estabelecido, o 17β-estradiol. Nishihara et al. (2000) mostraram que a afinidade
das substâncias testadas e o receptor se devido a presença do radical fenólico de sua
estrutura e desse modo é possível que o dicofol revele um resultado positivo (Figura 2-
A). A atrazina não foi testado por este ensaio devido a ausência desse radical
característico em sua estrutura demonstrando provável resultado negativo.
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
55
Figura 12. Esquema do sistema de expressão do estrogênio induzível na
Saccharomyces cerevisiae. O gene receptor de estrogênio humano é autossômico sendo
expresso (1) na forma capaz de acoplar-se aos elementos de respostas de estrogênicos
(ERE) dentro do citoplasma (2). A ligação do receptor ao estrogênio (3) ativa a
expressão do gene receptor da LacZ (4) transcrevendo a enzima β-gal (5). Esta enzima é
secretada no meio (5) clivando o substrato cromogênico CPRG (amarelo) em vermelho
de clorofenol (vermelho) (6), que pode ser medido pela absorbância a 540 nm
(Routledge e Sumpter, 1996).
2.3.1
Soluções Usadas no Teste YES
O meio mínimo foi preparado dissolvendo 13,61 g de KH
2
PO
4
, 1,98 g
(NH
4
)
2
SO
4
, 4,2 g de KOH, 0,2 g de MgSO
4
, 1 mL de solução de Fe
2
(SO
4
)
3
(0,8
mg/mL), 50 mg de L-leucina, 50 mg de L-histidina, 50 mg de adenina, 20 mg de L-
arginina-HCl, 20 mg de L-metionina, 30 mg de L-tirosina, 30 mg de L-isoleucina, 30
D
ETERMINAÇÕES
A
NALÍTICAS
56
mg de L-lisina-HCl, 25 mg de L-fenilalanina, 100 mg de L-ácido glutâmico, 150 mg de
L-valina, e 375 mg L-serina em 1 L de água.
A solução de vitamina foi preparada pela adição de 8 mg de tiamina, 8 mg de
piridoxina, 8 mg de pantetonato de cálcio, 40 mg de inositol e 20 mL de solução de
biotina 20 mg em 180 mL de água.
O meio de cultivo foi preparado misturando 5 mL de solução de glucose (20%
p/v), 1,25 mL de solução de ácido L-aspártico (4 mg/mL), 0,4 mL de solução de L-
treonina (24 mg/mL), 125 µL de solução de CuSO
4
(20 mM) e 0,5 mL de solução de
vitamina com 45 mL de meio mínimo.
O cultivo foi realizado misturando 100 µL da suspensão estoque de levedura
com 10 mL de meio de cultivo com incubação à 28°C por 24 h em um agitador orbital
Modelo N
o
G 24 da marca New Brunswick Scientific.
O meio de análise foi preparado misturando 250 µL do substrato cromogênico
CPRG (10 mg/mL) com 25 mL do meio de cultivo com a levedura incubada em um
tubo plástico com tampa. O meio de cultivo da levedura usada apresentava cerca de 4 x
10
7
células.
A solução mãe de 17β-estradiol foi preparada dissolvendo-se 5,4 mg de 17β-
estradiol em 100 mL de etanol e cada solução dos compostos em teste foi preparada
individualmente. A solução de dicofol foi reparada a partir de uma solução-mãe de
concentração de 1 g/L cada e a solução inicial de padrão no teste foi de 54,46 µg/L.
2.3.2
Ensaio YES
As diluições sucessivas foram realizadas em uma placa de Elisa de 96 poços.
Foram divididas as fileiras para amostra, para o controle negativo (ensaio branco) e para
o controle positivo (curva padrão de 17
β–estradiol). As fileiras B, D, F e H foram
M
ATERIAIS E
M
ÉTODOS
57
utilizadas para o controle negativo adicionando 100
µL de etanol absoluto nos seus 12
poços. A curva padrão foi feita nas fileiras A e C adicionando nos últimos 11 poços
100
µL de etanol absoluto. No 1
o
poço da curva foi adicionado 200 µL da solução de 17β
estradiol na concentração de 54,46 µg/L, sendo retirado 100µL e transferido para o 2
o
poço e agitando-o; em seguida, foi retirado 100 µL do 2
o
poço e transferido para o 3
o
poço, e assim sucessivamente até o 12º poço das suas fileiras. A diluição do dicofol foi
realizada nas fileiras E e G da mesma forma que no padrão, sendo iniciado com a
concentração de 1 g/L. Foi transferido 10µL de cada poço da placa de diluição para os
poços da placa do ensaio, inclusive das fileiras dos controles negativo e positivo. Após a
evaporação total do etanol, foi adicionado 200 µL do meio de análise em cada poço da
placa. Em seguida, as placas foram fechadas e seladas. Agitou-se a placa por dois
minutos e incubou-as à 30
o
C por 72 horas em estufa modelo 410 da marca Nova Ética.
Após este processo a placa foi retirada e deixada para descansar por 1 hora e, em
seguida, a absorbância foi lida no espectrofotômetro de ELISA nos comprimentos de
onda de 540 nm para a intensidade da coloração vermelha e 620 nm para a turbidez.
Os valores obtidos com as absorbâncias foram corrigidos através da Equação 7.
Foi traçada uma curva de Concentração (g/L) X Absorbância Corrigida para o dicofol, o
17β–estradiol e o controle negativo. Os valores de CE50 correspondem à concentração
apresentada no meio da curva. Foi realizada a comparação do dicofol ao padrão 17β
estradiol para medir a potência estrogênica relativa através da Equação 8.
A
Corrigida =
Abs
540 de cada poço
– (Abs
620 de cada poço
– Abs
620 do Branco
) Equação 7
PR = (CE50
17β-estradiol
/CE50
Substância testada
) Equação 8
B
IODEGRADAÇÃO NO
T
RATAMENTO DO
E
SGOTO
58
3 R
ESULTADOS
3.1
Atividade Estrogênica
A faixa de concentração de dicofol testada nesse ensaio foi de 0,7 x 10
-2
mg/L a
1 g/L e a sua atividade estrogênica foi somente observada nas concentrações de 10
mg/L, 5 mg/L e 2,5 mg/L. Os poços com menores concentrações (abaixo de 1,25 mg/L)
não revelaram atividade estrogênica e as concentrações maiores que 0,01 g/L inibiram o
crescimento da levedura, não sendo possível avaliar a atividade estrogênica. Os valores
de absorbância medidos no espectrofotômetro de ELISA foram plotados em função das
concentrações em g/L, como mostra a Figura 13. O controle positivo do ensaio foi
realizado com estradiol. Não foi possível calcular a CE50 do dicofol e nem a potência
relativa ao 17β-estradiol devido a inibição no crescimento da levedura.
1E-7 1E-6 1E-5 1E-4 1E-3 0,01
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
A
corrigida
Concentração (g/L)
dicofol24
estradiol
Figura 13. Curva de atividade estrogênica comparando o 17β-estradiol com o dicofol.
R
ESULTADOS
59
3.2
Tratamento do Esgoto por Sedimentação
A remoção média de sólidos em suspensão totais (SST) e de demanda química
de oxigênio (DQO) pelo processo de sedimentação foi em torno de 50% como mostra a
Tabela 2. O ensaio com dicofol teve o mesmo desempenho que o controle. Foi medido
88% da radioatividade no efluente tratado e 12% no lodo decantado, como mostra a
Tabela 3.
Tabela 2: Eficiência do tratamento por sedimentação do esgoto com dicofol.
Fase SST (mg/L) DQO (mg/L)
Esgoto Bruto 161
±
5 2460
±
101
Efluente Tratado 77
±
15 1300
±
52
Tabela 3. Distribuição da radioatividade no tratamento por sedimentação do esgoto com
14
C-dicofol.
Fases Radioatividade (Bc) Radioatividade (%)
Esgoto Bruto 230.000
± 10
.000 100
Efluente Tratado 200.000
±
15.000 88
±
3,0
Lodo Decantado 30.000
± 8.000
12
±
2,5
B
IODEGRADAÇÃO NO
T
RATAMENTO DO
E
SGOTO
60
3.2
Tratamento do Esgoto por Reatores Aeróbios
3.3.1
Eficiência dos Reatores
Os valores de DQO no esgoto bruto (afluente) usado no ensaio controle ficou na
faixa 800 a 1.500 mg/L, no ensaio com dicofol este intervalo ficou entre 500 e 900
mg/L e no experimento com atrazina ficou entre 300 e 900 mg/L. Na média a DQO do
efluente tratado no reator controle ao longo de todo o processo ficou abaixo de 100
mg/L, o mesmo resultado observado para o reator contendo atrazina. No entanto, no
reator contendo dicofol a DQO do efluente tratado ao longo do tempo ficou acima de
200 mg/L. Os resultados dos valores de DQO no início e no final de cada batelada são
mostrados no Anexo I.
A Figura 14(A) mostra que o reator controle teve uma eficiência diária na
remoção de matéria orgânica na faixa de 88 a 98% atingindo uma média de 95%. Os
ensaios contendo dicofol apresentaram uma menor eficiência, com uma remoção diária
entre 43 e 89% e com uma média de 73%. No experimento com atrazina foram obtidos
valores de eficiência de remoção de matéria orgânica na faixa de 79 a 95% e uma média
de 92%. A Figura 14(B) mostra que o processo com atrazina em relação a remoção de
DQO apresentou um desempenho similar ao controle, enquanto que o ensaio com
dicofol apresentou uma menor eficiência e maior variabilidade ao longo do processo.
R
ESULTADOS
61
Redução Diária de Maria Orgânica
20
40
60
80
100
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Tempo (dias)
Redução de DQO (%)
Remão Total de Maria Orgânica
30
45
60
75
90
105
Controle Dicofol Atrazina
Remoção de DQO (%)
Figura 14. Eficiência percentual na remoção de DQO durante os 7 dias de experimento
de tratamento aeróbio do esgoto. (A) o desempenho percentual diário dos ensaios
controle (), com dicofol (
) e com atrazina () e (B) a comparação entre os ensaios
pelo gráfico tipo Box que representa a variação entre os valores diários, onde (
)
corresponde a média dos valores e (x) os menores e (+) os maiores valores.
(A)
(B)
B
IODEGRADAÇÃO NO
T
RATAMENTO DO
E
SGOTO
62
As concentrações de SSV durante o tratamento aeróbio de esgoto nos reatores
controle, com dicofol e com atrazina são mostrados no Anexo II. A concentração inicial
de SSV no reator controle foi de 1.400 mg/L, no reator contendo dicofol foi 2.500 mg/L
e no reator contendo atrazina foi 1.400 mg/L. A concentração diária de SSV dentro do
reator é mostrada na Figura 15(A), na qual observa-se o comportamento oscilatório nos
diferentes ensaios. O ensaio controle apresentou uma perda total de SSV de 4% durante
todo o período de operação do reator, enquanto que os reatores contendo dicofol e
atrazina apresentaram um ganho de 8 e 9%, respectivamente. Observou-se uma maior
variação na concentração de SSV durante o processo no reator contendo dicofol, como
mostra a Figura 15(B).
A Tabela 4 mostra a decantabilidade do lodo ao final de cada batelada, onde se
destaca que os resultados obtidos para os reatores foram muito bons, uma vez que a
literatura recomenda valores de IVL de até 200 mL/g . Deve-se salientar, mais uma vez,
a maior oscilação nesses valores para os experimentos realizados com o dicofol.
A microbiota do lodo biológico ao longo das bateladas nos diferentes ensaios
não mostrou alteração visível, onde os grupos de protozoários ciliados sésseis e
rastejantes mantiveram-se ativos no início e no final de cada batelada dos ensaios, assim
como os rotíferos e alguns protozoários ciliados livre-natantes. Foi observada a
ocorrência rara de protozoários flagelados e amebas tecadas e não houve mudança
visual na aparência dos flocos de lodo.
R
ESULTADOS
63
Variação no Teor de Sólidos em Suspensão Volátil
-50,0
-25,0
0,0
25,0
50,0
75,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Tempo (dias)
Aumento de SSV (%)
Comportamento no Teor de Sólidos em Suspensão Volátil
-50
-25
0
25
50
75
Controle Dicofol Atrazina
Remoção de SSV (%)
Figura 15. Variação da concentração de SSV nos diferentes ensaios durante os 7 dias
de tratamento aeróbio do esgoto. (A) o desempenho percentual diário dos ensaios
controle (), com dicofol (
) e com atrazina () e (B) a comparação entre os ensaios
pelo gráfico tipo Box que representa a variação entre os valores diários, onde (
)
corresponde a 50%, (
x
) os menores e (+) os maiores valores.
(A)
(
B
)
B
IODEGRADAÇÃO NO
T
RATAMENTO DO
E
SGOTO
64
Tabela 4. Índice volumétrico do lodo em mL/g durante os 7 dias de tratamento aeróbio
do esgoto nos diferentes ensaios.
Tempo (dias) Controle Dicofol Atrazina
1 267 273 218
2 177 237 131
3 198 98 162
4 185 90 162
5 192 166 129
6 174 131 111
7 138 109 219
3.3.2
Distribuição da Radioatividade no Processo Aeróbio
3.3.2.1
Dicofol
A Figura 16 apresenta os valores da radioatividade percentual e numérica no
afluente, no lodo sedimentado, no efluente tratado e na forma de
14
C-CO
2
durante o
tratamento aeróbio contendo dicofol. O maior valor de radioatividade no lodo foi
medido no 1º dia com 116.000 Bc, o que corresponde a 94% do dicofol marcado
aplicado nessa batelada. Ao final de todo o processo (7 dias) restou 62.000 Bc no lodo
sedimentado, o que corresponde a 65% da radioatividade aplicada inicialmente, como
mostra a Figura 16(B). Essa perda ao longo dos experimentos em bateladas ocorreu de
forma constante, onde desorção diária da radioatividade do lodo biológico foi entre 4 e
8%. Os valores diários da radioatividade medidos no efluente tratado e na fase gasosa
foram muito pequenos. O percentual diário da radioatividade medida na forma de
14
C-
CO
2
foi de 0,02%. Ao final dos 7 dias de processo a radioatividade acumulada medida
R
ESULTADOS
65
-5
245
495
745
995
1.245
1.495
0 1 2 3 4 5 6 7
Tempo (dias)
Radioatividade
(x 102 Bc)
-5
15
35
55
75
95
1 2 3 4 5 6 7
Tempo (dias)
Radioatividade (%)
no efluente foi de 38.138 Bc o que corresponde a 39% do total aplicado e na forma de
gás carbônico foi de 184 Bc correspondendo a 0,16%.
Figura 16. Radioatividade no tratamento aeróbio do esgoto com dicofol. (A)
radioatividade medida no afluente (), efluente tratado (
x
), lodo decantado (
) e CO
2
(O); (B) a distribuição percentual da radioatividade relativo ao aplicado inicialmente no
efluente tratado (), no lodo decantado () e em forma de CO
2
() ao longo de todo o
processo.
(A)
(B)
B
IODEGRADAÇÃO NO
T
RATAMENTO DO
E
SGOTO
66
3.3.2.2
Atrazina
Os valores da radioatividade percentual e numérica medidos no experimento
com atrazina são apresentados na Figura 17. Os resultados mostram que no dia de
processo, 42.000 Bc foi arrastado com o efluente, que corresponde a cerca de 50% da
radioatividade inicialmente aplicada provavelmente devido a sua maior solubilidade em
água da atrazina em relação ao dicofol. Ao final do processo (7 dias), 90.000 Bc foi
removida do reator, que corresponde a 91% da radioatividade inicialmente aplicada.
Somente 3.700 Bc ficaram adsorvidos no lodo sedimentado ao final do processo,
correspondendo a 5% do total aplicado, e 56 Bc (0,06%) foram medidos como
14
C-CO
2
.
O efluente tratado das primeiras bateladas com dicofol e com atrazina foi filtrado
em uma membrana de 0,45 µm a fim de se medir a radioatividade presente no material
particulado coloidal. A diferença entre a radioatividade encontrada no efluente tratado e
a radioatividade retida pela membrana corresponde a radioatividade solúvel. A Tabela 5
mostra que no caso da atrazina, praticamente toda a radioatividade medida no efluente
tratado estava na fase aquosa e não associada ao material coloidal particulado, sendo
que somente 2% ficaram retidos no filtro. No ensaio com dicofol, 40% da
radioatividade do efluente tratado da 1ª batelada foram retidos pelo filtro, ou seja, estava
associada ao material particulado. No entanto, a radioatividade medida nesse material
particulado ao longo das bateladas foi reduzido.
R
ESULTADOS
67
0
250
500
750
1000
1250
0 1 2 3 4 5 6 7
Tempo (dias)
Radioatividade
(x 102 Bc)
-5
15
35
55
75
95
1 2 3 4 5 6 7
Tempo (dias)
Radioatividade (%)
Figura 17. Radioatividade no tratamento aeróbio do esgoto com atrazina. (A)
radioatividade medida no afluente (), efluente tratado (
x
), lodo decantado (
) e CO
2
(O); (B) a distribuição percentual da radioatividade relativo ao aplicado inicialmente no
efluente tratado (), no lodo decantado () e em forma de CO
2
() ao longo de todo o
processo.
(A)
(B)
B
IODEGRADAÇÃO NO
T
RATAMENTO DO
E
SGOTO
68
Tabela 5. Radioatividade total e associada ao material particulado dos efluentes tratados
dos processos com dicofol e com atrazina.
Radioatividade (Bc)
Amostra
Total
(particulado + solúvel)
Retido na membrana
(material particulado)
Efluente tratado da 1ª batelada
do reator contendo atrazina
52993 862 (1,6%)
Efluente tratado da 1ª batelada
do reator contendo dicofol
7877 3178 (40%)
Efluente tratado da 2ª batelada
do reator contendo dicofol
5552 1334 (24%)
Efluente tratado da 4ª batelada
do reator contendo dicofol
3632 641 (18%)
R
ESULTADOS
69
3.3
Tratamento do Lodo por Biodigestão Anaeróbia
3.4.1
Eficiência dos Biodigestores Anaeróbios
A Figura 18 mostra o acompanhamento dos teores de ST, STV e da geração de
gases nos diferentes processos de biodigestão anaeróbia do lodo proveniente dos
reatores aeróbios controle, com dicofol e com atrazina. O teor inicial de ST do lodo do
biodigestor controle foi de 16,6 g/L, sendo que após os 18 dias de processo este teor foi
reduzido para 12 g/L. No biodigestor com dicofol o lodo iniciou com 25,4 g/L de ST
reduzindo para 18 g/L também no 18º dia de processo. Já o biodigestor com atrazina a
redução mais importante ocorreu com 11 dias de processo passando de 12,3 g/L no
início para 6 g/L. O teor de STV do lodo controle foi de 13,4 g/L no início do processo
de biodigestão passando para 8 g/L após o 18º dia. Na biodigestão do lodo com dicofol,
o teor de STV foi de 23,3 g/L no início do processo sendo reduzido para 12 g/L no 18º
dia. Após 11 dias de biodigestão do lodo com atrazina o teor inicial de STV que era de
10,5 g/L passou para 5 g/L. A concentração de ST e STV nos biodigestores se manteve
constante após o 21º dia de processo com algumas oscilações como mostra as Figuras
18(A) e (B).
A maior produção gasosa no biodigestor controle foi de 105 mL de gás
carbônico e 301 mL de outros gases no 18º dia de processo. No biodigestor com dicofol,
a maior geração de gases ocorreu com 11 e 18 dias de processo com 70 mL de gás
carbônico e 240 mL de outros gases. Já no biodigestor com atrazina a maior produção
de gases ocorreu com 11 dias de processo com 44 mL de gás carbônico e 300 mL de
outros gases. Após o 18º dia de processo a geração de gases ficou bastante reduzida em
todos os processos, como mostra as Figuras 18(C) e (D).
B
IODEGRADAÇÃO NO
T
RATAMENTO DO
L
ODO
70
4
8
12
16
20
24
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tempo (dias)
ST (g/L)
4
8
12
16
20
24
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tempo (dias)
STV (g/L)
0
20
40
60
80
100
120
5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo (dias)
Volume (mL)
0
75
150
225
300
375
5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo (dias)
Volume (mL)
Figura 18. Concentração de sólidos e produção de gases nos biodigestores controle (),
com dicofol () e com atrazina (). (A) teor de ST; (B) teor de STV; (C) volume de
gás carbônico e (D) volume de outros gases.
(A)
(B)
(C)
(D)
R
ESULTADOS
71
A Figura 19 mostra eficiência de remoção percentual de ST e de STV e a
produção percentual de gás carbônico em relação ao volume total de gases gerados nos
biodigestores controle, com dicofol e com atrazina. A maior remoção de ST e de STV
no biodigestor controle ocorreu com 18 dias de processo com respectivamente 30% e
40%. No biodigestor com dicofol a maior remoção dessas frações de sólidos foi no 18º
dia com 35% de ST e com 45% de STV. Já no biodigestor com atrazina a maior
remoção de ST e de STV foi de 53% e 51%, respectivamente no 11º dia do processo. O
percentual de gás carbônico gerado relativo ao volume total de gases produzidos nos
biodigestores controle e com dicofol no 18º dia de processo foi de 30%, no
biodigestor com atrazina esse percentual no 11º dia de processo foi de 15%.
B
IODEGRADAÇÃO NO
T
RATAMENTO DO
L
ODO
72
5
15
25
35
45
55
65
5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo (dias)
Remoção (%)
0
10
20
30
40
50
60
5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo (dias)
Remoção (%)
0
20
40
60
80
100
5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo (dias)
Gás Carbônico (%)
Figura 19. Percentual de sólidos e gás carbônico nos biodigestores controle (), com
dicofol () e com atrazina (). (A) remoção de ST; (B) remoção de STV e (C)
produção percentual de gás carbônico em relação ao volume total de gases gerados pelo
biodigestor.
(A)
(B)
(C)
R
ESULTADOS
73
Os resultados de produção gasosa obtidos nas Figuras 18(C) e (D) e 19(C) e (D)
foram usados para calcular a relação entre os outros gases e o gás carbônico gerados
pelo processo de biodigestão do lodo como mostra a Tabela 6. No 18º dia de processo
dos biodigestores controle e com dicofol foi obtida uma razão de 70:30, no entanto nos
biodigestores com atrazina essa relação foi de 85:15 com 11 dias de processo do lodo.
Tabela 6: Relação volumétrica dos gases gerados nos biodigestores controle, com
dicofol e com atrazina e a razão entre os teores de STV e ST nos lodos digeridos.
Biodigestor
Tempo (dias) Relação OG:CO
2
STV/ST
7 62:38 0,77
11 67:34 0,87
14 74:26 0,76
18 70:30 0,66
21 75:25 0,64
25 38:62 0,71
28 60:40 0,74
32 70:30 0,64
35 42:58 0,78
Controle
40 38:62 0,72
7 65:35 0,73
11 78:22 0,79
14 55:45 0,48
18 70:30 0,70
21 79:21 0,60
25 71:29 0,75
28 41:59 0,99
32 14:86 0,68
35 57:43 0,75
Dicofol
40 47:53 0,67
7 89:11 0,58
11 85:15 0,86
14 92:8 0,66
18 73:27 0,72
21 14:86 0,73
25 31:69 0,67
28 51:49 0,73
32 93:7 0,77
35 91:9 0,64
Atrazina
40 24:76 0,51
Nota: OG – Outros Gases.
B
IODEGRADAÇÃO NO
T
RATAMENTO DO
L
ODO
74
Os valores de pH medidos ao longo do período de digestão do lodo nos
biodigestores controle e com atrazina estiveram na faixa de 6,8 a 7,2. No entanto nos
biodigestores com dicofol, o pH se manteve nessa faixa até o 25º dia de processo, mas a
partir daí foi medido um pH alcalino (entre 11,5 e 10,5). Esse valor de pH foi devido à
sucção para dentro do biodigestor da solução de NaOH usada para captura de CO
2
,
revelando que possivelmente a pressão interna nesses biodigestores era menor que à
atmosférica.
3.4.2
Distribuição da Radioatividade no Processo Anaeróbio
Em função da baixa quantidade de radioatividade medida no lodo oriundo do
reator com atrazina (seção 3.3.2.2), foi adicionada a esse lodo, atrazina misturado com
sua molécula radiomarcado perfazendo uma concentração final de 1 mg/L.
A Figura 20 mostra a distribuição da radioatividade nos biodigestores com
dicofol e com atrazina. O menor valor de radioatividade medido no lodo digerido
contendo dicofol foi no 14º dia, o que correspondem a 80% do inicialmente aplicado.
No biodigestor contendo atrazina, o menor valor de radioatividade foi medido no lodo
digerido com 11 dias de processo, correspondendo a 50% do inicialmente aplicado com
uma redução de 7.900 Bc para 4.250 Bc.
As amostras de lodo digerido com 7, 11, 14 e 18 dias foram filtradas para medir
a quantidade de radioatividade adsorvida no lodo (Figura 20(D)). Na biodigestão com
dicofol, observou-se uma tendência de redução da radioatividade adsorvida no lodo,
iniciando com 92% com 7 dias e atingindo 65% com 14 dias. Na biodigestão com
atrazina mediu-se menor radioatividade adsorvida no lodo digerido com 7 dias (50%),
sendo que a partir do 11º dia foi observado maior adsorção da radioatividade no lodo
chegando a 85% com 18 dias de processo.
R
ESULTADOS
75
Radioatividade no Lodo Digerido com Dicofol
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
7 11 14 18 21 25 28 32 35 39
Tempo (dias)
Radioatividade (%)
Radioatividade no Lodo Digerido com Atrazina
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
7 11 14 18 21 25 28 32 35 39
Tempo (dias)
Radioatividade (%)
Radioatividade no Lodo Digerido
3000
4200
5400
6600
7800
9000
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo (dias)
Radioatividade (Bc)
Radioatividade na Porção Insolúvel do Lodo Digerido
35
45
55
65
75
85
95
105
6 8 10 12 14 16 18
Tempo (dias)
Radioatividade (%)
Figura 20. Radioatividade percentual no lodo digerido nos biodigestores com dicofol
() e com atrazina (). (A) distribuição diária nos biodigestores com dicofol e (B) nos
biodigestores com atrazina; (C) a radioatividade medida no lodo digerido nos dois
processos e (D) o percentual relativo à porção insolúvel do lodo digerido.
(A)
(B)
(C)
(D)
76
4 D
ISCUSSÃO
4.1
Atividade Estrogênica
O dicofol apresentou alguma atividade estrogênica através do método YES
somente nas concentrações 2,5, 5 e 10 mg/L. Nishihara et al. (2000) comentam em seu
trabalho que existem algumas limitações nesse tipo de teste (usando leveduras), como o
transporte dos compostos testados através dos envoltórios celulares, uma vez que é
necessário que a substância em estudo atravesse a parede e a membrana celular para se
ligar ao receptor estrogênico humano. Mano e Langenbach (1998) mostraram que o
dicofol possui alta afinidade aos lipídios neutros da membrana plasmática de
Azospirillum lipoferum. Provavelmente, essa associação com os lipídios impede que o
dicofol atravesse a membrana, pelo menos até uma determinada concentração. Como foi
observada uma resposta positiva no teste YES, pode-se supor que acima de 2,5 mg/L
parte do dicofol atravessou a membrana se ligando ao receptor. Este resultado mostrou
que nos níveis de concentração que caracterizaram o efeito estrogênico positivo foram
tóxicos à levedura (Figura 13). Nishihara et al. (2000) sugeriram ainda que para um
composto químico apresentar afinidade com receptor estrogênico humano (REh) seria
necessária a presença de um grupamento fenólico em sua estrutura química. O dicofol
não apresenta grupo fenol, porém apresenta um grupamento clorofenólico (Figura
2(A)), que provavelmente tenha afinidade de ligação ao receptor estrogênico, como
foi observado para outros compostos halogenados (Sonnenschein e Soto, 1998 e
Nishihara et al., 2000).
O teste YES é um teste específico e útil para avaliar substâncias químicas quanto
a sua capacidade de mimetizar estrogênios naturais. Porém, existem vários outros
mecanismos de interferência no sistema endócrino (Sonnenschein e Soto, 1998).
Embora tenha sido observado um resultado positivo no teste YES para o dicofol
DISCUSSÃO
77
somente em três concentrações, outros testes são necessários para avaliar o real
potencial endócrino dessa substância, principalmente os ensaios in vivo.
4.2
Tratamento do Esgoto por Sedimentação
O desempenho da sedimentação primária do esgoto bruto foi a esperada, uma
vez que a literatura relata remoções de 60% de SST e de 30% da DBO (von Sperling,
2002) e nesse trabalho obteve-se remoções de 50% de SST e 50% de DQO. A Tabela 3
mostra que, apesar do dicofol ter uma baixa solubilidade em água, a maior parte da
radioatividade (88%) foi medida no efluente sedimentado (fase aquosa). A previsão pelo
modelo elaborado por Byrns (2001) é que 55% desse composto deveria ter sido
removidos com o lodo sedimentado. Utilizando-se o dicofol radiomarcado foi possível
determinar diretamente a sua remoção pela adsorção no lodo decantado (12%). A
possível explicação para a diferença entre o resultado encontrado e o proposto por este
modelo é devida a composição do esgoto bruto. Na sua construção, Byrns (2001) adotou
um esgoto hipotético com uma composição padronizada, mas na realidade as
características de um esgoto bruto (in natura) podem variar. Morris e Lester (2004) que
trabalharam em um processo de tratamento primário de esgoto em escala piloto
obtiveram uma remoção média de 45% de alguns PCB. Eles sugeriram que a baixa
eficiência na remoção desses poluentes foi devido à presença de moléculas não-
sedimentáveis capazes de adsorver esses compostos. Provavelmente, as variações na
composição do esgoto bruto interferem na remoção desses compostos por esse processo.
Esses resultados são muito importantes, pois mostram que a remoção de compostos
organoclorados com características semelhantes ao dicofol pelo processo de
sedimentação é pouco eficaz. Outro problema está associado ao lodo sedimentado que
adsorve parte dessas substâncias e que terá que ser tratado para posterior disposição.
78
Assim, de se considerar o impacto que essas substâncias possam provocar na
biodigestão do lodo.
Apesar da atrazina ser considerada um poluente orgânico de baixa solubilidade
(33 mg/L), na concentração usada nesse estudo ela seria totalmente solúvel e dessa
forma, não foi realizado este tipo de tratamento do esgoto bruto contendo atrazina, pois
tudo indica que quase toda a radioatividade seria carreada no efluente sedimentado.
4.3
Tratamento do Esgoto por Reatores Aeróbios
4.3.1
Eficiência dos Reatores
A remoção de DQO obtida nos reatores controle e com atrazina foi alta em
relação à recomendada pela literatura que é acima de 85%. Já no reator contendo dicofol
esta remoção foi baixa (73%), além de ter apresentado uma maior variação entre as
bateladas (Figura 14(B)). Esses resultados mostram claramente que houve um impacto
no desempenho do processo biológico quando o dicofol estava presente.
Em testes realizados em escala laboratorial, com pequenos volumes e em regime
batelada, a variação da concentração de sólidos é comumente observada. No entanto, no
reator contendo atrazina houve um aumento constante da concentração de sólidos
mostrando mais uma vez que não houve um impacto negativo sobre a microbiota do
lodo. Porém no reator com dicofol, a variação da concentração de sólidos foi muito
maior, e mesmo assim ainda se observa o aumento da sua concentração com o tempo
(Figura 15(A)), mostrando que provavelmente houve um impacto inicial sobre a
microbiota do lodo com sucessiva recuperação. Caso contrário, o aumento da
concentração de sólidos não seria observado. Os resultados de concentração de SSV no
reator com dicofol estão em acordo com os resultados obtidos para o comportamento da
DISCUSSÃO
79
DQO efluente, uma vez que a remoção de DQO foi menor e também apresentou maior
variabilidade (Figura 14(B)).
O IVL foi satisfatório para todos os ensaios em bateladas, uma vez que a
literatura recomenda valores inferiores a 200 mL/g e observa-se que para os três
reatores (controle, contendo dicofol e atrazina) o IVL calculado esteve em torno desse
valor (Tabela 4). Deve-se ressaltar que não foi observado desfloculação do lodo e o
perfil dos protozoários e rotíferos nativos do lodo biológico permaneceu inalterado nos
três ensaios.
A decantabilidade do lodo está relacionada a formação dos flocos. O lodo é
formado por bactérias, protozoários, rotíferos entre outros organismos que são
responsáveis pela remoção da matéria orgânica. O papel principal das bactérias é a de
degradar a matéria orgânica, já os protozoários induzirem as bactérias a formarem
flocos mais coesos como forma de proteção. Os rotíferos podem devorar os fragmentos
de flocos soltos e leves além de bactérias em suspensão (Curds, 1992, Curds e
Cocknurd, 1970, Metcalf e Eddy, 1981, Madoni, 1994, Poole, 1984, Esteban, Tellez e
Bautista, 1991, Esteban e Tellez, 1992). Nesses ensaios não foram observadas
alterações aparentes na microbiota do lodo biológico, nem mesmo para o dicofol. De
fato, é conhecido que o dicofol pode ficar associado a lipídios neutros da membrana das
bactérias e provavelmente de outros microrganismos presentes no meio também. Assim,
é possível que os protozoários e os rotíferos tenham ficado protegidos dos efeitos do
dicofol, uma vez que os valores de IVL foram satisfatórios e a decantabilidade visual do
lodo foi boa. No entanto, o dicofol pode ter afetado a comunidade bacteriana do lodo,
uma vez que a remoção de DQO foi baixa em relação ao controle. Esses resultados
estão em perfeito acordo com os obtidos nas determinações da radioatividade, que serão
abordados no item 4.3.2.
80
Os valores da Figura 14 e da Tabela 4 bem como os da DQO do efluente de cada
batelada (Anexo I) foram usados para a construção de um gráfico tipo cluster que está
sendo mostrado na Figura 21 através do programa Statistica 7.1 (2005). Esta é uma
análise multivariada que permite fazer a associação entre os diferentes ensaios teste
(controle, com dicofol e com atrazina) utilizando as variáveis, remoção de DQO, DQO
efluente e IVL. Dessa forma é possível mostrar que houve uma maior similaridade entre
os ensaios controle e com atrazina em relação ao ensaio com dicofol.
Ainda através deste programa calculou-se pelo teste de hipótese entre dois
parâmetros (binomial) utilizando os valores de t-Student para analisar se houve
diferença significativa entre os ensaios simulados e os valores recomendados pela
literatura. Os parâmetros avaliados foram, a remoção máxima de DQO maior que 85%,
a DQO do efluente tratado menor que 100 mg/L e o valor de IVL menor que 200 mL/g,
como mostra a Tabela 7.
DISCUSSÃO
81
Diagrama de Cluster entre os Diferentes Ensaios
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Distância Euclidiana
Dicofol
Atrazina
Controle
Figura 21. Diagrama tipo árvore mostrando a similaridade entre os diferentes
experimentos através das variáveis de remoção percentual de DQO, DQO do efluente
tratado e IVL.
Tabela 7: Cálculo estatístico usando t-Student comparando os valores de a remoção
percentual de DQO, a DQO do efluente tratado e o IVL obtidos nos ensaios controle,
com dicofol e com atrazina com os valores recomendados pela literatura para este tipo
de processo.
Controle Dicofol Atrazina
Parâmetro N Meta
t
média t
0
média t
0
média t
0
Remoção de DQO 21 > 85% 1,725 95% 15
73% -8,4
92% 10,5
DQO efluente 21 < 100 mg/L 1,725 76,3 mg/L -2,917
222,9 mg/L 11,360
64,7 mg/L 10,901
IVL 21 < 200 mL/g 1,725 190,1 mL/g -1,240 157,7 mL/g -6,472 161,7 mL/g -2,736
Nota: P = 90%; N número de amostragens; t
0
t crítico; t valor de t-Student tabelado; meta valores esperados
para este tipo de processo. (Berquó et al., 1981).
82
4.3.2
Distribuição da Radioatividade no Processo Aeróbio
Em um estudo anterior, Oliveira et al. (2008) mostraram que a adsorção do
dicofol no lodo biológico foi muito grande (95%) quando o processo de lodo ativado foi
operado por 24 horas. Esse mesmo comportamento foi observado neste trabalho, no
qual 95% do dicofol radiomarcado ficou adsorvido no lodo biológico. Como neste
trabalho os experimentos foram realizados em bateladas sucessivas, pequena parte da
radioatividade (5%) foi arrastada diariamente para o efluente (Figura 16(A)). Esses
resultados mostram que existe uma forte adsorção do dicofol ao lodo biológico.
De acordo com o modelo de Byrns (2001), uma molécula persistente com
características semelhantes ao dicofol teria uma adsorção de 95% no lodo biológico para
uma idade do lodo de 5 dias. No presente estudo foi adotado um reciclo de lodo de 7
dias, sendo que o percentual total de radioatividade medido no lodo após esse período
de operação foi de 65%. No 5º dia de operação do reator, o que equivale a idade do lodo
apontada no modelo Byrns (2001), foi medido 70% da radioatividade no lodo biológico,
portanto inferior a proposta por Byrns (2001). Essa diferença entre os resultados obtidos
neste trabalho e o modelo pode ser devido a diferentes composições do esgoto bruto
que, de certo modo, pode influir nas características do lodo biológico e inclusive ter
uma ação no arraste dessas substâncias. Portanto, de se considerar a composição do
esgoto, como por exemplo, a presença de surfactantes, na predição de um modelo.
Apesar do resultado elevado de DQO no efluente tratado nesse ensaio, a maior
parte da radioatividade não foi medida no material coloidal particulado. Ainda que a
quantidade de radioatividade medida na fase aquosa do efluente tratado tenha sido
pequena com 4,1% da radioatividade inicialmente aplicada no reator após 4 bateladas
(Tabela 5), isto pode ser um indicativo de que o dicofol possa estar sendo metabolizado,
formando substâncias mais solúveis em água. No entanto, a Figura 16 mostra que o
DISCUSSÃO
83
dicofol não foi mineralizado por esse processo durante esses 7 dias, pois a quantidade
de
14
C-CO
2
medida foi muito pequena (<0,2%).
A Figura 17 mostra que a atrazina também não foi mineralizada por esse
processo nas condições usadas nos ensaios. Apesar de 45% da radioatividade total
aplicada no reator biológico ter sido medida no efluente tratado logo após a batelada,
é possível que a atrazina tenha sido metabolizada. No efluente tratado, a maior parte da
radioatividade foi medida na fase solúvel e não no material coloidal particulado. Esse
resultado era esperado, uma vez que a solubilidade da atrazina em água é alta para a
concentração usada neste estudo. Assim, deve-se considerar que é extremamente
importante quantificar a atrazina no efluente tratado para se certificar que ela não está
sendo lançada para o meio ambiente. Obviamente que esse cuidado deve ser aplicado
também para moléculas semelhantes a atrazina.
4.4
Tratamento do Lodo por Biodigestão Anaeróbia
4.4.1
Eficiência dos Biodigestores Anaeróbios
As melhores remoções de ST e STV no biodigestor controle ocorreram com 18
dias que foram de 30% e 40%, respectivamente, além da baixa proporção obtida de
STV/ST (65%). A produção gasosa neste biodigestor com 18 dias foi de 406 mL de
gases, sendo que 30% corresponde a gás carbônico. Cruzando os resultados de produção
gasosa com o teor de STV removido obteve-se a relação de 0,4 mL de gás produzido
por mg de STV destruído nos 18 dias de processo. Estes resultados sugerem que a
estabilização deste lodo gerado pelo biodigestor controle foi atingida com 18 dias de
processo e estão em acordo aos valores sugeridos pela literatura que são (Andreoli, von
Sperling e Fernades, 2001):
84
Tempo de processo: entre 18 e 25 dias
Eficiência na remoção de ST: entre 30 e 35%;
Eficiência na remoção de SVT: entre 40 e 55%;
Produção gasosa: entre 0,8 a 1,1 m
3
/Kg de SV destruído;
Proporção de CO
2
: de 30 a 38% de todos os gases.
Dessa forma, o único resultado que ficou abaixo do valor recomendado foi a
produção gasosa provavelmente pelo baixo teor inicial de ST do lodo a ser estabilizado
(16 g/L), onde o recomendado é de no mínimo 30 g/L.
Os resultados obtidos na digestão do lodo contendo dicofol foram dentro da
faixa recomendada pela literatura. Com 18 dias de biodigestão foi obtida uma remoção
de 35% de ST, 45% de STV e uma produção gasosa total de 313 mL, sendo que 30%
corresponde a gás carbônico. Além disso, a relação de gás produzido por STV destruído
foi de 0,2 mL/mg o que pode ter ocorrido em fuinção do baixo teor de ST admitido no
início do processo. Portanto, pode-se concluir que o dicofol não apresentou um efeito
negativo na digestão do lodo. Esses resultados não eram esperados, uma vez que o
dicofol adsorvido no lodo impactou negativamente o tratamento aeróbio do esgoto.
Embora a literatuta reforçe que a presença desses micropoluentes possam afetar a
digestão do lodo, isso não foi observado neste trabalho.
Na biodigetão do lodo contendo atrazina com 11 dias de processo foi obtida uma
remoção de 53% de ST e 51% de STV e uma produção gasosa de 365 mL, sendo que
15% corresponde a gás carbônico. A produção gasosa relativa à destruição de STV foi
de 0,3 mL/mg. Esses resultados não estão na faixa recomendada pela literatura,
provavelmente devido ao baixo teor de ST do lodo no início do processo (12 g/L). Pelos
resultados obtidos, não foi observado qualquer efeito negativo da atrazina na digestão
do lodo.
DISCUSSÃO
85
Na digestão do lodo com dicofol acima de 28 dias de processo foi observada
uma pressão negativa nos biodigestores provocando a sucção da solução alcalina usada
para captura de s carbônico. É importante ressaltar que esse fato ocorreu em um
período maior do que o recomendado para esse tipo de tratamento que é entre 18 e 25
dias.
No processo anaeróbio, o grupo de arquéas metanogênicas normalmente utiliza
compostos simples como metanol, formiato, metilamina, acetato, gás hidrogênio e gás
carbônico para o seu desenvolvimento. Dentre as arquéas metanogênicas, o grupo de
acetotróficas usa diretamente o acetato no seu metabolismo, enquanto que as
hidrogenotróficas produzem metano a partir do gás carbônico. As acetotróficas parecem
ser as principais produtoras de metano nesses sistemas, porém as hidrogenotróficas são
as mais abundantes no início do processo (Piriger e Bhattacharya, 1999). As
acetotróficas primeiramente formam o acetil-CoA a partir do acetato que é carreado por
um grupo de proténas tipo corrinóides, semelhantes estruturalmente à vitamina B12 que
fazem parte de um complexo enzimático de proteínas integrais de membrana (Thauer et
al., 2008). as hidrogenotróficas utilizam uma enzima tetrahidrofalato que tem
semelhança estrutural ao ácido fólico. O mecanismo final da redução de metil a metano
a partir da coenzima M é semelhante para ambos os grupos. Akarsubasi et al. (2005)
estudando o tratamento anaeróbio de esgoto encontraram a dominância da
hidrogenotrófica Methanococcales no início do processo e observaram sua redução ao
longo de 104 dias com o concomitante aparecimento abundante da acetotrófica
Methanosaeta concilii.
Outro fato importante é a biossíntese de acetato pelas bactérias acetogênicas, que
ocorre via formação do acetil-CoA. Inicialmente ocorre a fixação de CO
2
pela enzima
tetraidrofolato. Posteriormente, o grupamento metil é transferido para a enzima
86
monóxido de carbono desidrogenase através da vitamina B12. Dessa forma, esta cascata
de reações bioquímicas é mediada por enzimas chave como a tetrahidrofalato, a
corrinóide, a monóxido de carbono desidrogenase e a coenzima M, além de outros co-
fatores como a F
420
e F
430
que são usados no monitoramento da atividade enzimática
metanogênica.
McBride e Wolfe (1971) citaram que compostos clorados simples como o
clorofórmio, tetracloreto de carbono e diclorometano e até mesmo o DDT podem inibir
a atividade metanogênica devido a sua afinidade com a proteína corrinóide. Yu e Smith
(2000) estudaram a inibição da metanogênese em um reator anaeróbio para tratamento
de esgoto provocada por hidrocarbonetos halogenados de 1 a 2 carbonos, como o
clorofórmio. Esses autores sugeriram que essa inibição pode ocorrer devido a uma
ligação direta ao complexo enzima corrinóide-Acetil-CoA ou indiretamente ligando-se à
enzima corrinóide livre. Provavelmente neste trabalho pode ter ocorrido um efeito
inibitório indireto na metanogênese sendo observado somente a longo prazo (após 25
dias de processo).
Uma possível seqüência cronológica do que ocorre em um biodigestor na fase
metanogênica seria o consumo inicial dos gases H
2
e CO
2
pelas hidrogenotróficas que é
compensado pela geração de gás metano, mantendo a pressão dentro do biodigestor.
Com o crescimento das bactérias homoacetogênicas passa a haver uma escassez de H
2
e
CO
2
, pois elas os utilizam produzindo acetato. Com isso, uma maior manifestação
das metanogênicas acetotróficas, que podem utilizar esse acetato gerado e assim
dominando esse microecossistema e assumindo a produção de metano. A quantidade de
espécies acetotróficas descrita é pequena frente a todas encontradas em sistemas
anaeróbios (Madigan, Martinko e Parker, 2004), sendo que o gênero mais comum no
tratamento anaeróbio de esgotos é a Methanosaeta (Akarsubasi et al., 2005).
DISCUSSÃO
87
De acordo com os resultados obtidos neste estudo, a maior produção de gases em
todos os biodigestores ocorreu antes dos 21 dias, porém, no reator controle foi
observado um outro pico de produção gasosa com 32 dias de processo (Figura 18).
Após o período de 25 dias no biodigestor com dicofol foram medidas uma remoção
inicialmente negativa de ST e STV com certa progressão até os 40 dias de processo
atingindo 37 e 53%, respectivamente. A hipótese proposta para os resultados de pressão
negativa obtidas nesses biodigestores com dicofol que funcionaram por mais que 25
dias de processo é a inibição enzimática. Como o CO
2
é normalmente consumido na
biossíntese tanto pelas arquéas metanogênicas hidrogenotróficas, como pelas bactérias
acetogênicas, é provável que a inibição de enzimas chave na biossíntese do metano
possa impedir a produção final deste gás o que reduziria a pressão interna do reator.
Para a confirmação de tal hipótese seria necessário um estudo mais aprofundado e assim
obter um melhor conhecimento sobre a inibição provocada por micropoluentes
orgânicos nesse processo.
4.4.2
Distribuição da Radioatividade no Processo Anaeróbio
A radioatividade medida no lodo digerido com dicofol apresentou uma pequena
oscilação durantes todo o processo, variando de 80 a 95 % do total inicialmente
aplicado. Essa variação era esperada, uma vez que cada medida corresponde a 3
biodigestores independentes, ou seja, a radioatividade não foi medida como em um
experimento contínuo, como ocorreu no tratamento aeróbio. A quantidade de
14
C-CO
2
liberado foi muito pequena (praticamente linha de base na cintilação líquida), portanto,
a perda dessa radioatividade no lodo digerido pode ter sido devida à sorção pelos
materiais usados nos experimentos, ou pela geração de outros gases voláteis.
88
A Figura 20(D) sugere que o dicofol tenha sido degradado pois ele passou
inicialmente pelo tratamento aeróbio onde a radioatividade estava solúvel e, após ter
passado pelo processo anaeróbio, tenha sido observado um aumento na radioatividade
solúvel, princiapalmente por que neste estudo somente foi rastreado a radioatividade e
não a sua concentração. No entanto, deve-se ressaltar que essa possível biodegradação
ocorre lentamente. van Pée e Unversucht (2003) citaram a existência de uma
dehalogenação hidrolítica onde complexos enzimáticos isolados de Moraxella sp.,
Pseudomonas sp. e Xanthobacter autotrophicus são capazes de substituir halogênio de
haloácidos e de haletos aromáticos pelo grupamento hidroxila da água, podendo ocorrer
independente do ambiente ser aeróbio ou não. Por outro lado, também foi citada nessa
revisão a ocorrência do processo de dehidrohalogenação na degradação de lindano por
Pseudomonas paucimobilis que requer um ambiente redutor característico de ambientes
anaeróbios para a formação de uma dupla ligação para remoção do halogênio.
O dicofol normalmente é hidrolisado a diclorobenzofenona (DCBP), o que
justifica sua baixa persistência ambiental (Lerche et al., 2002). É possível que parte do
dicofol tenha sido transformado na etapa aeróbia de tratamento do esgoto e nas etapas
iniciais da anaerobiose no biodigestor em outros compostos mais solúveis e menos
inibitórios à metanogênese. De fato alguns estudos levantam a hipótese da fase
hidrolítica reduzir a toxicidade de certos compostos criando condições para o
crescimento das arquéas metanogênicas (Vavilin et al., 2008).
No biodigestor com atrazina foi obtida uma redução da radioatividade no lodo
digerido de 50% com 11 dias de processo. Neste mesmo período a remoção do teor de
ST foi de 50% e a produção gasosa foi de 365 mL, onde 15% correspondeu ao CO
2
.
Ghosh e Philip (2004) encontraram uma redução média de 43% da atrazina pelo
processo anaeróbio de tratamento de esgoto, tendo uma outra fonte de carbono para o
DISCUSSÃO
89
co-metabolismo. Eles quantificaram os resíduos de atrazina e alguns de seus metabólitos
como deisopropilatrazina, desetilatrazina e hidroxiatrazina e propuseram uma possível
mineralização da atrazina. Ao contrário do que eles sugerem, neste presente estudo foi
medida uma baixa quantidade de
14
C-CO
2
(linha de base na cintilação líquida) referente
a
14
C-atrazina, portanto é provável que a maior parte da atrazina tenha sido removida na
formação de compostos orgânicos voláteis. As Figuras 20(B) e (C) mostram que após os
11 dias de processo (dia 14 em diante) foi detectada uma grande quantidade de
radioatividade no lodo tratado. Provavelmente, esses compostos voláteis que deveriam
ter sido liberados para fase gasosa foram utilizados na anaerobiose. Deve-se ressaltar
que esses resultados foram observados para os 3 biodigestores que foram abertos no 11º
dia, o que suporta essa interpretação. Quando os reatores foram abertos, os compostos
voláteis foram liberados com a fase gasosa, o que está de acordo com a alta produção de
gases e remoção de ST obtida nesse dia. Os outros biodigestores permaneceram
fechados para as medidas posteriores, portanto, possibilitanto a utilização desses
compostos voláteis na síntese celular.
A atrazina muito provavelmente foi degradada, uma vez que a maior parte da
radioatividade medida no lodo digerido filtrado (Figura 20(D)) estava presente no lodo e
é sabido que ela é solúvel (33 mg/L) na concentração usada nesse trabalho.
4.5
Perspectivas Futuras e Conclusões
O experimento utilizando substâncias radiomarcadas pode ser muito útil para se
rastrear o destino e a partição preferencial de micropoluentes que são reconhecidamente
nocivos ao meio ambiente.
Os resultados obtidos neste estudo mostram que tanto o dicofol quanto a atrazina
não foram mineralizados pelos processos de tratamento, sendo provável que essas
90
substâncias tenham sido parcialmente degradadas. Para que essa hipótese seja
comprovada, o próximo desafio será a quantificação dos resíduos de atrazina e de
dicofol e a identificação de alguns de seus metabólitos nas diferentes fases dos
processos.
Um outro trabalho futuro desta linha de pesquisa será a inversão dos processos,
sendo que o esgoto contendo a substância testada seria inicialmente tratado por
anaerobiose e em seguida passaria pelo processo aeróbio. Espera-se que o tratamento
anaeróbio possa degradar inicialmente a atrazina e o dicofol criando melhores condições
para a mineralização desses compostos através da etapa aeróbia. Apesar dessas duas
moléculas apresentarem características bem diferentes e se comportarem de forma
distinta no processo convencional de tratamento de esgoto, essa mudança tecnológica
(inversão dos processos) pode representar uma solução de amplo espectro para a
destruição definitiva desses compostos organossintéticos evitando assim a contaminação
ambiental.
Atualmente muitos pesquisadores defendem a associação desses dois processos
(Brown e Casida, 1987). Armenante et al. (1999) observaram a declorinação inicial do
2,4,6-TCP (2,4,6-triclorofenol) na etapa anaeróbia e com o posterior tratamento aeróbio
foi possível a completa degradação dos seus subprodutos. Essa combinação mostrou-se
mais efetiva que o uso de sistemas unicamente anaeróbios na biorremediação de
ambientes contaminados por PCB (Tartakovsky et al., 2001), pois os congêneres com
poucos átomos de cloro são melhor metabolizados na etapa aeróbia (Furukawa e
Chakrabarty, 1982 e Kim e Picardal, 2000). Além disso, esses estudos futuros serão
muito importantes, uma vez que está havendo um grande crescimento na implantação
do processo anaeróbio para tratamento de esgotos no Brasil.
DISCUSSÃO
91
Com este estudo foi possível chegar as seguintes conclusões:
O ensaio YES não foi adequado para medir a atividade estrogênica do
dicofol;
O dicofol e a atrazina não foram mineralizados nem pelo tratamento aeróbio
de esgoto e nem pelo pós-tratamento anaeróbio do lodo;
Foi observada uma queda na eficiência do tratamento aeróbio de esgoto nos
ensaios usando 1mg/L de dicofol e na biodigestão anaeróbio do lodo quando
o processo foi operado por um período maior que 25 dias;
Os sistemas de tratamento aeróbio de esgoto e de pós-tratamento do lodo
não foram afetados pela adição de 1 mg/L de atrazina no processo;
A maior parte da radioatividade medida no ensaio com dicofol foi medida no
lodo sedimentado do tratamento aeróbio de esgoto mostrando a formação de
compostos com capacidade de adsorção;
A maior parte da radioatividade medida no ensaio com atrazina foi medida
no efluente tratado pelo processo aeróbio mostrando a presença de
compostos com maior afinidade a porção solúvel do processo;
No melhor desempenho do tratamento anaeróbio do lodo com atrazina
ocorreu a maior redução da radioatividade aplicada.
92
5 R
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Fonte: http://www.herbario.com.br/bot/toxicologia/10herb3.jpg
---- Defensivos agrícolas: expectativa de aumento de demanda em 2007. 2007. Análise e
Indicadores do Agronegócio 2(7).
Fonte:
http://www.sindag.com.br/upload/compimp0105.xls
A
NEXOS
110
A
NEXO
I
Valores de Demanda Química de Oxigênio (DQO) em mg/L ao longo do Processo Aeróbio de Tratamento de Esgoto
CONTROLE DICOFOL ATRAZINA
BATELADA
Afluente Efluente Afluente
Efluente Afluente
Efluente
822,4 (± 587,1) 161,4 (± 208,1) 624,8 71,3 (± 3,5) 846,8 47,2 (± 15,1)
1497,3 (± 240,5) 36,5 (± 17,5) 898,7 265,1 (± 29,7) 520,4 35,6 (± 5,0)
1457,6 (± 35,6) 38,8 (± 22,5) 898,7 364,5 (± 18,1) 306,6 59,9 (± 17,2)
1445,9 (± 175,5) 85,4 (± 101,3) 898,7 205,7 (± 53,9) 619,0 39,5 (± 6,4)
1152,6 (± 292,0) 66,8 (± 17,5) 899,1 252,2 (± 191,9) 584,2 113,2 (± 43,4)
1314,0 (± 392,7) 68,5 (± 23,4) 594,2 145,5 (± 26,8) 898,2 54,7 (± 18,3)
914,1 (± 636,7) 76,5 (± 42,0) 524,5 255,8 (± 87,9) 918,9 102,5 (± 15,4)
† - Amostras sem desvio padrão
A
NEXOS
111
A
NEXO
II
Valores de Sólidos em Suspensão Voláteies (SSV) em mg/L ao longo do Processo Aeróbio de Tratamento de Esgoto
CONTROLE DICOFOL ATRAZINA
BATELADA
Afluente Efluente Afluente Efluente Afluente Efluente
1425,0 (± 249,7) 1220,0 (± 144,9) 2522,5 (± 137,4) 1960,0 (± 76,3) 1405,0 (± 63,8) 1743,8 (± 313,8)
1526,7 (± 208,6) 1941,7 (± 440,2) 1838,3 (± 75,9) 2492,5 (± 618,7) 2127,8 (± 322,7) 3315,0 (± 909,5)
1808,4 (± 156,6) 1581,9 (± 178,6) 2951,7 (± 88,8) 3403,8 (± 451,4) 2609,2 (± 732,9) 2822,2 (± 135,9)
1968,4 (± 290,8) 1521,1 (± 860,0) 3172,5 (± 485,45) 3811,3 (± 451,1) 2852,0 (± 324,4 2707,0 (± 749,2)
1324,8 (± 805,6) 1110,4 (± 142,3) 3972,5 (± 100,8) 2603,7 (± 547,1) 3142,7 (± 62,7) 3648,8 (± 380,4)
1323,7 (± 516,9) 1456,4 (± 365,1) 1843,8 (± 390,5) 2926,7 (± 275,0) 3751,3 (± 107,8) 3925,0 (± 194,9)
1101,0 (± 319,3) 1089,5 (± 217,5) 3288,8 (±361,3) 2848,8 (± 407,5) 3569,3 (± 91,2) 2100,0 (± 477,3)
A
NEXOS
112
A
NEXO
III
Artigo Publicado na Saúde e Ambiente em Revista (2007)
A
NEXOS
113
A
NEXOS
114
A
NEXOS
115
A
NEXOS
116
A
NEXOS
117
A
NEXOS
118
A
NEXOS
119
A
NEXOS
120
A
NEXOS
121
A
NEXOS
122
A
NEXO
IV
Artigo Publicado na Brazilian Journal of Microbiology (2008)
A
NEXOS
123
A
NEXOS
124
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