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PAOLA MARCHI
BIOLOGIA DE NIDIFICAÇÃO DE ABELHAS SOLITÁRIAS EM
ÁREAS DE MATA ATLÂNTICA
Tese apresentada à Coordenação do Curso de
Pós-Graduação em Ciências Biológicas, área de
concentração em Entomologia, Universidade
Federal do Paraná, para obtenção do título de
Doutor em Ciências Biológicas.
Orientador: Prof. Dr. Gabriel Augusto Rodrigues de Melo
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AGRADECIMENTOS
Ao Gabriel Augusto Rodrigues de Melo pela oportunidade de sua orientação, pela sua
amizade, apoio e importância na minha formação.
À querida professora Danúncia Urban, por todo incentivo e carinho em todos esses anos.
Aos amigos do Laboratório de Biologia Comparada de Hymenoptera e da sala, Graziele
Weiss, Felipe Vivallo, Claudivã Matos Maia, Eduardo Carneiro, Kelli dos Santos Ramos,
Luís Roberto Faria Jr. pela parceria e ao Rodrigo Barbosa por ajudar a juntar as metades dos
ninhos-armadilha com bom humor.
Ao José Maria pelo auxílio em todo o trabalho de campo em Sete Barras, SP.
Ao Instituto Agronômico do Paraná pelo apoio logístico.
À Aline C. Martins pela amizade e dedicação no início do trabalho em Morretes, PR.
Aos estagiários que colaboraram durante o trabalho de campo, Alessandra Boos e Thomas
André.
À Daphne Spier Moreira Alves pela sua amizade, disposição contagiante e “força”.
À Emanoele Schouz pela sua colaboração, empenho e espero continue com as abelhas.
À Isabela Galarda Varassin pela amizade, interesse e discussões sempre enriquecedoras.
À Beatriz Noronha Salles Maia pela amizade, atenção e colaboração neste estudo.
À Mariana e Joel (Vila dos Pilares), cujo apoio foi importante na conclusão deste trabalho.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela concessão da bolsa
de estudo.
Aos membros da Banca Examinadora por aceitarem este convite.
E...
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Aos meus queridos Chico e Florinha, que cresceram durante o
Doutorado (e ditaram os números das tabelas);
Aos meus pais Roberto e Meibel;
Giuliano e Edilene;
Ao João que trouxe mais alegria e completou a nossa vida.
“Quero falar de uma coisa
adivinha onde ela anda
deve estar dentro do peito
ou caminha pelo ar
Pode estar aqui do lado
bem mais perto que pensamos
a folha da juventude
é o nome certo desse amor
Já podaram seus momentos
desviaram seu destino
seu sorriso de menino
quantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
nova aurora a cada dia
e há que se cuidar do broto
pra que a vida nos dê
flor e fruto
Coração de estudante
há que se cuidar da vida
há que se cuidar do mundo
tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
espalhados no caminho
verdes, planta e sentimento
folhas, coração,
juventude e fé”.
Coração de Estudante
Wagner Tiso e Milton Nascimento
SUMÁRIO
Capítulo 1 - Levantamento das abelhas solitárias que nidificam em cavidades
preexistentes em Sete Barras, São Paulo, Brasil.
Introdução.......................................................................................................................... 1
Área de estudo e metodologia........................................................................................... 2
Resultados......................................................................................................................... 4
Discussão............................................................................................................................ 14
Referências......................................................................................................................... 19
Capítulo 2 - Biologia de nidificação de Xylocopa (Neoxylocopa) frontalis (Olivier)
(Hymenoptera, Apidae, Xylocopini) em Morretes, Paraná, Brasil.
Introdução........................................................................................................................... 25
Material e Métodos............................................................................................................. 28
Resultados.......................................................................................................................... 35
Discussão............................................................................................................................ 53
Referências......................................................................................................................... 65
Anexo................................................................................................................................ 71
Capítulo 3 - Aspectos químicos do reconhecimento dos ninhos por fêmeas de Xylocopa
(Neoxylocopa) frontalis (Olivier) (Hymenoptera, Apidae).
Introdução........................................................................................................................... 72
Material e Métodos............................................................................................................. 74
Resultados.......................................................................................................................... 75
Discussão............................................................................................................................ 79
Referências......................................................................................................................... 80
Capítulo 1
Levantamento de abelhas solitárias que nidificam em
cavidades preexistentes em Sete Barras, São Paulo,
Brasil
24
Pérez-Maluf, R. M. S. 1993. Biologia de vespas e abelhas solitárias em ninhos-
armadilhas, em Viçosa, MG. Dissertação (mestrado).Viçosa: UFV. 87 pp.
Ramírez-Arriaga, E., J.I. Cuadriello-Aguilar & E.M. Hernández. 1996. Nest structure and
parasite of Euglossa atroveneta Dressler (Apidae: Bombinae: Euglossini) at Unión
Juárez, Chiapas, México. Journal of Kansas Entomological Society 69: 144-152.
Richards, K. W. & P. G. Kevan. 2002. Aspects of bee biodiversity, crop pollination and
conservation in Canada. p. 77-94. In: Pollination Bees. The conservation link
between agriculture and nature. Peter G. Kevan. (ed.); Vera L. Imperatriz-Fonseca
(ed.). Brasília. Ministério do Meio Ambiente.
Roubik, D. W.
1989. Ecology and Natural History of Tropical Bees. Cambridge
University Press. Cambridge. 514 pp.
Silveira, F. A; G. A. R. Melo. & E. A. B. Almeida.
2002. Abelhas Brasileiras:
Sistemática e Identificação. F.A. Silveira. Belo Horizonte. 253 pp.
Zucchi, R; B.L. Oliveira; J.M.F. Camargo. 1969. Notas bionômicas sôbre Euglossa
(Glossura) intersecta Latreille, 1838 e descrição de suas larvas e pupa (Euglossini,
Apidae). Boletim da Universidade Federal do Paraná (Zool.) 3: 203-224.
1
Levantamento das abelhas solitárias que nidificam em cavidades preexistentes
em Sete Barras, São Paulo, Brasil
Resumo. Para conhecer a diversidade das abelhas solitárias que nidificam em cavidades preexistentes na
região do Vale do Ribeira, São Paulo, utilizaram-se ninhos-armadilha de madeira e de bambu, com orifícios
de diferentes diâmetros (quatro, seis, oito, dez e doze milímetros) que foram instalados em ambientes distintos
(área aberta, mata secundária, borda e interior da mata). Esta técnica possibilitou a amostragem desses insetos
e forneceu dados sobre a estratificação vertical na área de mata durante o período de dezembro de 2004 a
novembro de 2005. As espécies de abelhas encontradas na área de mata foram: Megachile (Chrysosarus) sp.
nov., Megachile (Ptilosarus) sp. nov. 1e Megachile (Ptilosarus) sp. nov. 2 (Megachilini, Megachilinae). Na
área aberta: Anthodioctes megachiloides Holmberg, 1903 (Anthidiini, Megachilinae), Centris (Hemisiella)
tarsata Smith, 1874 (Centridini, Apinae) e Euglossa anodorynchi Nemesio, 2006 (Euglossina, Apinae). Os
inimigos naturais encontrados foram Melittobia australica Girault, 1912 (Eulophidae); Physocephala sp.,
Physocephala bipunctata (Macquart, 1843) (Conopidae, Diptera) e Mesocheira bicolor (Fabricius, 1804)
(Ericrocidini, Apinae).
Palavras-chave: Apidae; ninhos-armadilha; Mata Atlântica; Vale do Ribeira.
Introdução
Ainda não há um inventário completo sobre os sistemas de polinização para qualquer
comunidade de floresta tropical, presumidamente refletindo a enorme complexidade
florística e estrutural destes habitats e as abelhas estão entre os agentes polinizadores mais
importantes (Neff & Simpson 1993).
Com uma estimativa variando de 20.000 a 30.000 espécies de abelhas no mundo, cerca
de 85 % são solitárias (Michener 2000) e embora o Brasil apresente uma fauna muito rica
destas abelhas, poucas informações a respeito da sua bionomia têm sido publicadas
(Garófalo 2000).
A comunidade de abelhas tem sido estudada principalmente pela coleta dos adultos nas
flores, porém, em ambientes de florestas tropicais, este método é limitado pela dificuldade
de acesso ao dossel (Morato & Campos 2000). Da mesma forma, os ninhos naturais da
maioria das abelhas tropicais são crípticos e distribuídos de tal forma que muito pouco se
conhece sobre eles (Roubik 1989).
A técnica de amostragem por ninhos-armadilha possibilita um conhecimento mais
detalhado da história de vida, comportamento e associações das abelhas e vespas solitárias
que utilizam cavidades preexistentes (Krombein 1967) e proporciona uma grande
variabilidade de substratos e sítios de amostragem (Garófalo 2000).
2
A importância deste tipo de estudo na comunidade natural é relevante, tendo em vista
o papel das abelhas como polinizadoras, as vespas como predadoras e suas relações com
outros organismos (Krombein 1967).
Além disso, a maioria das abelhas solitárias nativas é pouco conhecida e existem
poucos programas de sucesso que utilizam polinizadores nativos (Richards & Kevan 2002).
Este estudo apresenta o levantamento das espécies de abelhas solitárias que nidificam
em cavidades preexistentes em área de Mata Atlântica no sudeste do Brasil e envolve, além
do conhecimento taxonômico, um interesse biogeográfico, uma vez que pouco material foi
coletado na região do Vale do Ribeira. Além disso, são dadas algumas características
biológicas desses insetos.
Área de estudo e metodologia.
Este estudo foi realizado na Fazenda Morro do Capim, município de Sete Barras, Vale
do Ribeira, São Paulo (24º 22' S 47º 58' W). A altitude varia de 27 a 150 m. A fazenda
possui 644 hectares. Da área total, aproximadamente 444 ha apresentam vegetação nativa
de Mata Atlântica, 200 ha de pastagem e está limitada pelo rio Etá. A estação fria/seca
(julho-setembro) apresenta temperaturas médias mensais variando de 12 a 22ºC e a
precipitação média de 400 milímetros, a estação quente/úmida (outubro-junho) varia de 20
a 32ºC e a precipitação média, 1400 milímetros.
Foram confeccionados ninhos-armadilha com dois substratos, bambu (BB) e madeira
(BL) previamente cortados longitudinalmente, com diferentes diâmetros (quatro, seis, oito,
dez e doze milímetros), ambos com 180 milímetros de comprimento. Foram utilizadas três
repetições de cada diâmetro para cada substrato, totalizando quinze blocos de madeira e
quinze bambus por ponto amostral, acomodados em um vaso de plástico perfurado para
escoar a água da chuva (Fig. 1).
Foi instalado um total de 540 ninhos-armadilha.
Na área aberta, os ninhos foram instalados a 1,5 m de altura em seis pontos amostrais
(HA, HB, PA, PB, PC, PD).
Na mata os ninhos-armadilha foram instalados aos pares (em torno de 2 m de
distância), em duas alturas (1,5 e 8 m) e em três ambientes distintos: mata secundária: BAI,
3
BBI (estrato inferior) e BAS, BBS (estrato superior); interior da mata: MAI, MBI (estrato
inferior) e MAS, MBS (estrato superior) e na borda da mata (que faz divisa com o pasto):
FAI, FBI (estrato inferior) e FAS, FBS (estrato superior) (Fig. 2).
Os ninhos concluídos, ou seja, ocupados e finalizados com o tampão, foram
registrados, abertos para observação, fotografados e colocados em recipientes de plástico
transparente em temperatura ambiente num local protegido na própria área de estudo até a
emergência dos adultos. Os mesmos eram substituídos por outros ninhos-armadilha com
substratos e diâmetros semelhantes.
As inspeções foram realizadas mensalmente no período de novembro de 2004 a
dezembro de 2005. Deste modo, não houve a possibilidade de acompanhar o
desenvolvimento dos imaturos e período de emergência dos adultos com precisão. Todo
material foi depositado na Coleção Jesus Santiago Moure (DZUP), Universidade Federal do
Paraná, Curitiba.
A classificação tradicional das abelhas considera 11 famílias, compreendendo a
superfamília Apoidea, ao passo que a classificação aqui utilizada segue Gauld & Bolton
(1988), Hanson & Gauld (1995) e Melo (1999), em que as abelhas estão colocadas em uma
única família, Apidae, separada em subfamílias. Segundo a proposta de Melo & Gonçalves
(2005) a família Megachilidae da classificação tradicional passa a ser tratada como
Megachilinae.
Figura 1 – Conjunto de ninhos-armadilha por ponto amostral.
4
Figura 2 – Foto aérea (ano de 2001) do local de estudo, no município de Sete Barras, SP. Área aberta (A),
borda da mata (B), interior da mata (C) e mata secundária (D).
Resultados
1- Ninhos fundados:
Foram coletados 30 ninhos-armadilha pertencentes a seis espécies de abelhas (Tab. 1).
Na área aberta foram fundados 22 ninhos das demais espécies: Anthodioctes
megachiloides Holmberg, 1903 (Megachilinae), Centris (Hemisiella) tarsata Smith, 1874
(Centridini,
Apinae) e Euglossa anodorhynchi Nemésio, 2006 (Euglossina, Apinae) (Fig.
3).
Oito ninhos das seguintes espécies foram encontradas na área de mata: Megachile
(Ptilosarus) sp. nov. 1, Megachile (Ptilosarus) sp. nov. 2, Megachile (Chrysosarus) sp.
nov. (Megachilinae), sendo apenas três ninhos fundados no estrato superior (Fig. 4).
.
5
Tanto na área aberta quanto na área de mata, o substrato mais utilizado foi o bambu
(Fig. 5).
Na área aberta a mortalidade ocorreu principalmente por parasitismo por Melittobia
australica Girault, 1912 (Eulophidae, Hymenoptera), Mesocheira bicolor (Fabricius, 1804)
(Ericrocidini, Apinae, Hymenoptera) e Physocephala bipunctata (Macquart, 1843)
(Conopidae, Diptera).
Tabela I – Ninhos-armadilha fundados de dezembro de 2004 a dezembro de 2005.
espécie ninho data local substrato diâmetro fêmeas machos associados
Anthodioctes megachiloides
288
set
HA BL 6 1 2
305
out
HA BL 6 2
314
nov
HA BL 6 1
315
nov
HA BL 4 2 1
Centris (Hemisiella) tarsata
17
dez
PA BL 8 1 1
23
jan
HA BL 8 2
29
jan
PB BL 12 1 1
62
jan
MB BB 8
66
fev
PA BL 8 2
68
fev
PA BB 8 1
69
fev
PA BB 10 1 1
271
nov
PB BL 8 Physocephala sp.
312
dez
PC BL 8 1
313
dez
HA BL 12 3 Mesocheira bicolor
334
dez
PA BL 8 1 Mesocheira bicolor
335
dez
PA BL 8 3 Mesocheira bicolor
337
dez
PC BL 12 4 1 Mesocheira bicolor
341
dez
HB BL 10 6 5
Euglossa anodorhynchi
115
mar
PC BL 12
Physocephala bipunctata
168
mai
HA BL 12
Melittobia australica
181
mai
PA BB 12 1 3
228
jun
PC BB 12 1 1
Megachile (Chrysosarus) sp.
97
mar
FBS BB 12 1 1
157
abr
FBS BB 12 2 1
159
abr
FAS BL 12 2 2
Megachile (Ptilosarus) sp. 1
3
dez
MAI BL 4 3 1
4
dez
MAI BL 4 2
Megachile (Ptilosarus) sp. 2
107
mar
FBI BB 6 3
160
abr
FBI BL 6 1
208
jun
FBI BL 6 2 3
6
Área aberta
0
1
2
3
4
5
6
dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
número de ninhos fundados
A. megachiloides C. tarsata E. anodorhynchi
Figura 3 – Número de ninhos fundados por mês na área aberta entre dezembro de 2004 a dezembro de
2005.
Área de mata
0
1
2
3
dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
número de ninhos fundados
M. (Chrysosarus) sp. M. (Ptilosarus) sp.1 M. (Ptilosarus) sp.2
Figura 4 – Número de ninhos fundados por mês na área de mata entre dezembro de 2004 a dezembro de
2005.
7
Substratos utilizados para nidificão
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
área aberta área de mata
BL BB
Figura 5 – Número de ninhos-armadilha fundados pelas abelhas em cada substrato: madeira (BL) e
bambu (BB) na área aberta e na mata de dezembro de 2004 a dezembro de 2005.
2 – As espécies de Megachilinae:
2.1 - Anthidiini
As abelhas da espécie Anthodioctes megachiloides Holmberg, 1903
ocorreram em
apenas um ponto amostral na área aberta, no período entre setembro a novembro de 2005.
Os quatro ninhos foram encontrados nos blocos de madeira. Três ninhos com diâmetro de
seis milímetros e um ninho com quatro milímetros.
Os ninhos de A. megachiloides não foram abertos.Um tampão de resina vegetal
amarelo translúcido fechava a entrada dos ninhos.
Emergiram de um a três adultos por ninho (Tab. I).
No mês de novembro, o tampão de resina de um dos ninhos recém concluídos foi
parcialmente saqueado por uma operária de Trigona spinipes (Fabricius, 1793)
(Apidae,
Meliponina), que retirou um pedaço rapidamente com as mandíbulas. Logo em seguida, a
fêmea de A. megachiloides retornou ao ninho e reparou os danos causados,
homogeneizando-o novamente com auxílio do seu aparelho bucal.
8
2.2 - Megachilini
Na área de mata foram encontradas duas espécies novas pertencentes ao subgênero
Ptilosarus Mitchell, 1943.
Megachile (Ptilosarus) sp. 1 fundou dois ninhos em blocos de madeira com quatro
milímetros no interior da mata, no estrato inferior (MAI) em dezembro de 2004. Ambos
estavam fechados com um tampão feito com um pedaço redondo de folha escurecida
aparentemente colado na entrada dos ninhos (Fig. 6). Em um ninho havia oito células
lineares e em outro ninho, 10 células, sendo nove contínuas no fundo e uma delas mais
próxima à entrada, com várias camadas de folhas entre elas (Fig. 7). Cada célula era
formada por folhas bem coladas na massa de pólen e media aproximadamente 10
milímetros de comprimento. Emergiram de dois (duas fêmeas) a quatro (três fêmeas e um
macho) adultos em cada ninho (Tab. I).
Megachile (Ptilosarus) sp. 2 ocorreu de março a junho de 2005, no estrato inferior na
borda da mata (FBI). Foram utilizados três ninhos-armadilha, um de bambu e dois de
madeira, todos com seis milímetros de diâmetro. Não foi observada a presença de um
tampão. No ninho número 107 havia cinco células com cerca de 12 milímetros de
comprimento com pedaços de folhas relativamente irregulares envolvendo a massa de
pólen e emergiram três fêmeas. O ninho número 160 continha uma única célula, de onde
emergiu um macho. No ninho número 208, que não foi aberto para observação, emergiram
duas fêmeas e três machos (Figs. 8 e 9). (Tab. III).
Os adultos das duas espécies de Megachile (Ptilosarus) emergiram cerca de um mês
após a fundação dos ninhos.
Figura 6 - Tampão dos ninhos números 3 e 4 de abelhas pertencentes à Megachile (Ptilosarus) sp. 1.
9
Figura 7 – Ninho número 3 de Megachile (Ptilosarus) sp. 1.
Figura 8 – Ninho número 107 de Megachile (Ptilosarus) sp. 2.
Figura 9 – Ninho número 160 de Megachile (Ptilosarus) sp. 2.
10
Uma espécie nova de Megachile (Chrysosarus) Mitchell, 1943 fundou ninhos nos
meses de março e abril de 2005 no estrato superior, em dois pontos amostrais próximos na
borda da mata. Dois ninhos estavam em colmos de bambu e outro em um bloco de madeira,
todos com o maior diâmetro (12 milímetros). As células eram contínuas, confeccionadas
com folhas entremeadas com barro (Figs. 10 e 11). Em dois ninhos (97 e 159) havia quatro
células e no ninho157 foram observadas três células e uma fêmea adulta, com um elevado
desgaste alar, morta. Cada célula media aproximadamente 15 milímetros de comprimento.
Os adultos emergiram no mês de dezembro de 2005.
Figura 10 – Ninho número 157 de Megachile (Chrysosarus) sp.
Figura 11 – Ninho número 159 de Megachile (Chrysosarus) sp.
11
3 - Euglossina
Foram coletados quatro ninhos de Euglossa anodorhynchi Nemésio, 2006 na área
aberta, em diferentes pontos amostrais. Dois ninhos em bambu e dois em bloco de madeira,
todos com o maior diâmetro disponível (12 milímetros).
Em todos os ninhos as células e o tampão foram construídos com resina vegetal escura.
Algumas partículas de resina também foram depositadas no fundo da cavidade e na parede
do ninho-armdilha, mais concentradas na região de emenda entre as metades dos ninhos-
armadilha, possivelmente para vedá-los melhor.
O comprimento dos ninhos variou de 105 a 125 milímetros (distância entre o tampão e
o fundo). As células, de forma elipsóide, mediram aproximadamente 10 milímetros de
comprimento e foram construídas em série linear, levemente inclinadas, ocupando
aproximadamente metade do diâmetro do ninho. O número máximo de células construídas
foi sete (Fig. 12 e 13).
Não foi possível a observação da presença de mais de uma fêmea durante a construção
dos ninhos ou o reaproveitamento do ninho, uma vez que os ninhos fundados eram
retirados do campo.
O ninho número 115 foi encontrado no fim de fevereiro com o tampão, uma célula
completa no fundo e outra em construção, parcialmente aprovisionada com pólen e néctar,
ainda não operculada e uma fêmea imóvel, mas não morta, que apresentava a glossa
estendida e os tergos apicais um pouco abertos (Fig. 14). Após aproximadamente um mês
nasceu de dentro de seu metassoma o conopídeo Physocephala bipunctata (Macquart,
1843). O mesmo foi colocado em um terrário onde por algum tempo intumesceu o ptilino e
lentamente estendeu as asas.
No mês de junho de 2005, no mesmo ponto amostral foi encontrado outro ninho no
mesmo substrato de madeira, com o tampão presente e uma fêmea nas mesmas condições
da anterior, com apenas uma célula não totalmente construída, indicando ser a fêmea
fundadora que foi parasitada durante o processo de construção do ninho. O conopídeo
emergiu em setembro de 2005.
O ninho número 168 foi atacado pelas vespas Melittobia australica (Eulophidae,
Hymenoptera).
12
Figura 12 – Ninho número 168 de E. anodorhynchi.
Figura 13 – Ninho número 181 de E. anodorhynchi.
Figura 14 – Ninho número 115 de E. anodorhynchi, com a célula aprovisionada aberta, uma célula fechada, o
tampão e na figura ao lado, a abelha fundadora parasitada por P. bipunctata (Conopidae).
13
4 – Centridini
Os ninhos de Centris (Hemisiella) tarsata Smith, 1874 foram obtidos apenas na área
aberta, em vários pontos amostrais. Ocorreram com maior freqüência de novembro a
fevereiro. Dos catorze ninhos, onze foram fundados nos blocos de madeira. Os diâmetros
utilizados foram 8, 10 e 12 milímetros.
O número de células variou de quatro (ninho 312) a 15 (ninho 341). As células
estavam dispostas em série linear, com aproximadamente 12 milímetros de comprimento e
revestidas com areia na parte externa e aparentemente com óleo na parte interna (Fig. 13).
Os ninhos foram muito bem vedados, apresentando uma alta resistência para abrí-los ao
meio. O tampão de areia, com cerca de 10 milímetros de espessura era construído logo após
a última célula, não logo na entrada dos ninhos, sendo bastante resistente.
Entre os parasitas, quatro ninhos foram atacados por Mesocheira bicolor (números
313, 334, 335 e 337) e da mesma maneira em que ocorreu com E. anodorhynchi, uma
fêmea de C. tarsata foi encontrada imóvel, com a glossa estendida e tergos apicais abertos,
durante a construção da primeira célula dia 20 de agosto de 2005 (Fig. 14).
No dia 30 de dezembro nasceu um conopídeo pertencente ao gênero Physocephala,
porém de uma espécie diferente daquela encontrada parasitando E. anodorhynchi.
Figura 13 – Ninho número 17 de C. tarsata, com quatro células.
14
Figura 14 – Ninho número 271 de C. tarsata, com a abelha parasitada por Physocephala sp. (Conopidae).
Discussão
1- Ninhos fundados:
Os principais grupos de abelhas que construíram seus ninhos em cavidades
preexistentes pertenceram a Megachilinae e Apinae, assim como ocorreu em outros estudos
com ninhos-armadilha (Pérez-Maluf 1993; Campos 2000; Morato & Campos 2000;
Buschini 2006; Loyola & Martins 2006).
Em áreas de mata, a composição e abundância de espécies foram diferentes do que nas
áreas de cerrado e caatinga, onde o número de ninhos de abelhas foi maior. Contudo, da
mesma maneira, Megachilinae e Apinae foram as subfamílias mais representativas
(Camillo et al. 1995; Aguiar & Martins 2002).
15
Na Amazônia Central Morato (1993) coletou 14 espécies de abelhas, sendo também as
abelhas do gênero Centris as mais comuns.Em um remanescente de Mata Atlântica em
Viçosa, MG, Pérez-Maluf (1993) obteve 11 espécies abelhas e na cidade de São Paulo,
Alves dos Santos (2003) obteve oito espécies de abelhas. O maior número de espécies
poderia ser explicado pelo período de estudo mais longo, entretanto, Loyola & Martins
(2006) encontraram 11 espécies de abelhas em menos de um ano de estudo em um
fragmento de mata em Belo Horizonte.
Além disso, Pérez-Maluf (1993) concluiu que como as fundações foram muito mais
freqüentes nas margens da mata do que no seu interior, esta abundância poderia estar
relacionada com a distribuição vertical das espécies, sugerindo que um maior número de
espécies ocorreria no dossel, com temperatura e umidade relativa do ar mais elevadas do
que nos estratos mais baixos.
Posteriormente, Morato (2001) observou uma maior freqüência de fundações a 8 e 15
m de altura e o número de espécies aumentou com a altura constatando uma estratificação
vertical e sugeriu que tal preferência poderia ser explicada por locais adequados para
nidificação ou condições microclimáticas adequadas ao desenvolvimento da prole e além
disso, no caso das abelhas, esse padrão poderia estar ligado a maior disponibilidade de
recursos florais no dossel e estratos próximos.
Entretanto, neste estudo o número de ninhos de abelhas na área de mata foi menor no
estrato superior do que no inferior (3:5) possivelmente pelo pequeno número de ninhos
encontrados.
Talvez por se tratar de uma pequena amostragem, com exceção da espécie Centris
tarsata, as correlações não foram significativas entre o número de ninhos ocupados e as
médias mensais de temperatura, precipitação e umidade relativa (Figs. 15 e 16).
16
0
5
10
15
20
25
30
35
40
dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
temperatura (°C)
0
50
100
150
200
250
precipitação (mm) e UR (%
)
Temperatura Precipitação umidade relativa
Figura 15 – Valores médios mensais de precipitação, umidade relativa e temperatura de dezembro de 2004 a
dezembro de 2005 referentes à Estação Meteorológica de Iguape, SP.
M. (Chrysosarus) sp. M. (Ptilosarus) sp.1 M. (Ptilosarus) sp.2 A. megachiloides C. tarsata E. anodorhynchi
precipitação 0,32 -0,22 0,17 0,35
-0,15
-0,10
temperatura 0,49 0,11 0,34 -0,10
0,43
0,08
UR 0,01 -0,40 0,18 0,31
-0,64
0,29
Figura 16 – Correlações entre o número de ninhos fundados por mês para cada espécie e os valores médios
mensais de precipitação, umidade relativa e temperatura de dezembro de 2004 a dezembro de 2005.
2 – As espécies de Megachilinae:
2.1 - Anthidiini
Alguns autores separam esta tribo quanto ao material utilizado na construção dos
ninhos, resinas ou fibras vegetais, pois existem diferenças entre os gêneros em relação ao
hábito de nidificação (Michener 2000), mas a utilização de resinas vegetais na construção
do ninho é amplamente difundida entre os diversos gêneros de Anthidiini (Roubik 1989).
Os resultados obtidos neste estudo foram semelhantes aos de Alves-dos-Santos (2004)
em São Paulo e Loyola & Martins (2006), em Belo Horizonte. Apesar das diferenças de
altitude e clima, a espécie A. megachiloides nidificou durante a primavera e verão nessas
17
regiões. Os diâmetros também foram semelhantes, indicando uma preferência pelos ninhos-
armadilha de madeira com 4 a 6 milímetros de diâmetro.
Em relação à pilhagem de resina pela operária de Trigona spinipes, Alves-dos-Santos
(2004) observou que as fêmeas de Anthodioctes megachiloides visitaram seus ninhos
antigos (já fechados) em São Paulo, inspecionando com as peças bucais toda a área do
fechamento e tentou relacionar este comportamento com a verificação do estado da resina,
com a possibilidade de uma remoção de pequenas porções de resina para construção de
ninhos novos ou até com um condicionamento na direção do vôo para um ninho que durou
vários dias para estar pronto.
Desta forma, este estudo confirma a importância deste retorno para o sucesso do ninho,
uma vez que se o mesmo não fosse inspecionado poderia ser mais facilmente atacado por
parasitas e predadores.
2.2 - Megachilini
Nas espécies de Megachile, folhas e pétalas são os materiais mais utilizados para
construção dos ninhos. E embora a amostragem seja pequena, neste estudo estas abelhas
mostraram uma especificidade em relação ao habitat de nidificação.
Foram observadas características únicas entre as espécies de Megachile (Ptilosarus)
em relação ao local de nidificação e a arquitetura dos ninhos, que permitiram a distinção
das duas espécies novas.
O subgênero Megachile (Chrysosarus) tem poucas espécies conhecidas e arquitetura
dos seus ninhos difere daquela da maioria das espécies de Megachile, pois reveste
internamente e externamente suas células com barro (Laroca et al. 1992).
A estrutura e os materiais utilizados nos ninhos obtidos neste estudo foram
semelhantes àqueles do ninho de Chrysosarus tapytensis Michell descrito por Laroca
(1971), encontrado em uma área de mata secundária, no Rio de Janeiro.
3 – Euglossini
18
As abelhas do gênero Euglossa utilizam como material de construção resinas de
plantas e seu local de nidificação é variável: seus ninhos já foram encontrados pendurados
em galhos e folhas (considerados aéreos) ou dentro de cavidades no solo, madeira,
termiteiros, gomos de bambu, caixas de madeira e em outras cavidades disponíveis
(Dressler 1982).
Euglossa anodorhynchi é uma espécie recém descrita com sua distribuição até então
conhecida ao sul do Brasil (Nemésio 2006). Assim, os dados biológicos e a estrutura dos
ninhos desta espécie não eram conhecidos, embora esta forma talvez represente apenas uma
variante de coloração dentro de E. townsendi, que apresenta uma distribuição mais ampla.
(Faria Jr. & Melo 2007).
A fundação solitária do ninho e a nidificação em cavidades preexistentes ocorrem na
maioria das espécies de Euglossa estudadas (Zucchi et al. 1969; Garófalo 1992; Garófalo et
al. 1993; 1998; Augusto & Garófalo 2004).
Os ninhos de E. anodorhynchi obtidos neste estudo apresentaram uma estrutura
semelhante àqueles descritos para outras espécies do grupo purpurea: Euglossa atroveneta
Dressler, 1978 (Ramírez-Arriaga et al., 1996), Euglossa pleosticta Dressler, 1982 (Garófalo
et al., 1993) e Euglossa truncata Moure & Rebêlo, 1995 (Garófalo et al., 1993), Euglossa
townsendi Cockerell, 1904 (Garófalo et al., 1993; Augusto & Garófalo, 2004).
Em relação ao parasitismo de E. anodorhynchi por Physocephala bipunctata
(Conopidae), tornou-se conhecido o ataque de conopídeos em espécies de Euglossa (Melo
et al. submetido). No segundo caso de parasitismo o tempo de emergência do conopídeo foi
mais prolongado, provavelmente devido às condições climáticas que prolongariam o
desenvolvimento do parasita.
4 – Centridini
As abelhas da tribo Centridini são especializadas na coleta de óleos florais, os quais
são utilizados na construção de partes do ninho e na alimentação das larvas (Buchmann
1987).
O gênero Centris Fabricius, 1804 é abundante nas regiões tropicais úmidas, embora
algumas espécies ocorram em regiões semi-áridas temperadas (Silveira et al. 2002). A
19
maioria das espécies constrói ninhos no solo, mas aquelas pertencentes aos subgêneros
Hemisiella Moure, 1945, Heterocentris Cockerell, 1899 e Xanthemisia Moure, 1945
nidificam em cavidades preexistentes (Coville et al. 1983, 1986; Frankie et al.1988, 1989,
1993).
Morato et al. (1999) obteve ninhos de Centris (Hemisiella) dichrootricha (Moure,
1945), Centris (Heterocentris) terminata Smith, 1874, Centris (Hemisiella) analis
(Fabricius, 1804) e Centris (Heterocentris) bicornuta Mocsary, 1899 na mata contínua e
nos fragmentos da Amazônia Central, que mostraram diferentes preferências em relação ao
tipo de ambiente utilizado para nidificação.
Embora a espécie Centris tarsata apresente uma ampla distribuição, pouco se conhece
sobre sua biologia (Aguiar & Garófalo 2004). Perez-Maluf (1993), utilizando ninhos-
armadilha em um remanescente de mata Atlântica, constatou que Centris tarsata fundou
mais ninhos em locais abertos, ocupados por vegetação secundária.
Os aspectos estruturais dos ninhos e os diâmetros utilizados neste estudo foram
semelhantes aos estudos realizados nas dunas litorâneas de Salvador, Bahia (Viana et al.
2001 e Silva et al. 2001) e em áreas de florestas semidecidual e de caatinga na Bahia, onde
os ninhos também foram parasitados por Mesocheira bicolor (Aguiar & Garófalo 2004).
Houve uma correlação significantemente negativa entre o número de ninhos ocupados
por C. tarsata e os valores de umidade relativa mensais nesta região.
A preferência por locais quentes, ensolarados, com vegetação aberta para a nidificação
corresponde ao padrão de nidificação de Centris tarsata (Frankie et al. 1993; Morato et al.
1999; Aguiar & Martins 2002; Aguiar & Garofalo 2004).
O parasitismo por Physocephala sp. (Conopidae) ocorreu com uma espécie diferente
daquela encontrada parasitando E. anodorhynchi no mesmo local de estudo, o que indica a
possibilidade de uma especificidade em relação à abelha hospedeira.
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Capítulo 2
Biologia de nidificação de Xylocopa (Neoxylocopa)
frontalis (Olivier) (Hymenoptera, Apidae, Xylocopini)
em Morretes, Paraná
Biologia de nidificação de Xylocopa (Neoxylocopa) frontalis (Olivier) (Hymenoptera,
Apidae, Xylocopini) em Morretes, Paraná, Brasil
Resumo. Este estudo acompanhou as atividades de Xylocopa (Neoxylocopa) frontalis (Olivier, 1789) em uma
agregação de ninhos no município de Morretes, Paraná, onde esta espécie é a principal agente polinizadora de
Passiflora edulis f. flavicarpa (maracujá azedo), cultivo predominante na região. Foram observados o ciclo
anual das abelhas, a seleção dos substratos e a aceitação de ninhos-armadilha feitos com quadros de madeira
ou de gomos de bambus durante o ano de 2006. Nesta região a espécie X. frontalis foi univoltina, com maior
freqüência de fundação dos ninhos entre outubro e dezembro. As atividades externas aos ninhos iniciaram-se
mais cedo no verão e se restringiram aos horários mais quentes no inverno, e quando correlacionadas
mensalmente com o clima, os valores de temperatura mínima foram os que mais influenciaram o número de
vôos. O número de fundações de ninhos foi fortemente associado às médias climáticas históricos da região de
dois meses adiante às fundações, sugerindo que as abelhas poderiam prever uma melhor época em relação á
precipitação, temperatura e fotoperíodo para o nascimento da sua próxima geração. Durante o período de
floração de P. edulis, houve sincronia entre as atividades diárias de X. frontalis com o horário de abertura das
flores, caracterizando uma interação importante. Os principais inimigos naturais foram Cissites maculata
Swederus, 1787 (Meloidae) e uma espécie do gênero Leucospis Fabricius, 1775. As relações intraespecíficas e
outros dados comportamentais também foram discutidos.
Palavras-chave. Atividades externas; mamangavas; maracujá; ninhos; polinizadores
Introdução
As espécies de Xylocopa (Neoxylocopa) são amplamente distribuídas nas Américas
e apresentam um forte dimorfismo sexual: o integumento e a pilosidade dos machos são
alaranjados e o das fêmeas, negros. No Brasil ocorrem vinte espécies (Hurd 1978) e as
seguintes têm registro para o Paraná: Xylocopa augusti Lepeletier, 1841, Xylocopa
brasilianorum (Linnaeus, 1767), Xylocopa frontalis, Xylocopa haematospila Moure, 1851,
Xylocopa hirsutissima Maidl, 1912 e Xylocopa nigrocincta Smith, 1854 (Silveira et al.
2002).
Embora algumas espécies de Xylocopa escavem seus ninhos no solo (subgênero
Proxylocopa), a maioria constrói túneis em uma grande variedade de madeiras mortas,
incluindo madeira dura, macia ou apodrecida, ramos ou em cavidades de bambu (Hurd &
26
Moure 1963; Sage 1968; Camillo & Garófalo 1982; Camillo et al. 1986; Silveira 2002;
Schlindwein et al. 2003). Algumas espécies também nidificam em tecidos de plantas vivas,
como escapos florais ou partes vivas de árvores (Hurd 1978; Viana et al. 2002; Ramalho et
al. 2004) ou em fungos secos, como Xylocopa (Notoxylocopa) illota Cockerell 1919, no
México (Janzen 1964).
O processo de fundação dos ninhos novos e sua arquitetura são comuns para as
espécies estudadas, como a fundação dos ninhos em substrato morto e seco, as entradas
escavadas de baixo para cima e sempre circulares, o ninho consistir de uma entrada com
final alargado formando uma câmara de onde saem várias laterais. As paredes lisas, sem
revestimento e as células em forma de barril. As repartições entre as células em forma de
espiral do lado de dentro e côncavas ou lisas do lado de fora (Hurd 1958; Sakagami &
Laroca 1971; Hurd & Hefetz 1981; Camillo & Garófalo1982; Camillo et al. 1986).
As atividades de nidificação das fêmeas incluem a seleção do local (substrato) e a
escavação inicial, o cuidado com o ninho (limpeza), a preparação da célula, o
aprovisionamento e a oviposição, o fechamento da célula, a escavação subseqüente e a
defesa do ninho (Gerling et al. 1989).
A seleção de um local para a nidificação pode ser influenciada pela presença de
outros ninhos ativos de Xylocopa, pois algumas espécies nunca nidificam perto de outros
ninhos, enquanto em outras espécies as agregações são freqüentes. Tal predileção pode
estar ligada à distribuição agrupada do material de construção dos ninhos, mas a natureza
dos substratos selecionados ainda é desconhecida (Gerling et al. 1989). Sakagami & Laroca
(1971) descreveram os ninhos e discutiram as características bionômicas de Xylocopa,
como a longevidade prolongada, o contato da mãe com a geração seguinte e a plasticidade
dos hábitos de nidificação. Entretanto não houve um acompanhamento do ciclo anual da
maioria das espécies neotropicais.
No Brasil, o hábito de nidificação de X. frontalis, Xylocopa (Neoxylocopa)
grisescens Lepeletier, 1841 e Xylocopa (Neoxylocopa) suspecta Moure & Camargo, 1988
foi estudado por vários autores na região de Ribeirão Preto, SP (Camillo & Garófalo 1982;
Camillo et. al.1986; Camillo & Garófalo 1989; Pereira 2002 e Camillo 2003). Também foi
descrito para Xylocopa (Monoxylocopa) abbreviata Hurd & Moure, 1963 (Ramalho et al.
27
2004), Xylocopa (Neoxylocopa) cearensis Ducke, 1910 (Silva & Viana 2002, Viana et al.
2002) e Xylocopa (Schoenherria) subcyanea Perez, 1901 (Gimenes et al. 2006).
Do ponto de vista experimental, Anzenberger (1986), seguindo um modelo proposto
por Renner (1955), construiu estruturas com cavidades feitas em madeira de balsa
(Ochroma pyramidalis). Estas foram aceitas por algumas fêmeas de Xylocopa imitator
Smith, 1854 e Xylocopa flavorufa
(DeGeer, 1778) (espécies africanas). Anzenberger (1986)
manteve 12 indivíduos durante três meses sob observação.
Freitas & Oliveira Filho (2001), visando a introdução e manutenção de Xylocopa
nos maracujazais no Rio Grande do Norte, Brasil, apresentaram um modelo de ninho
semelhante à colméia Langstroth, que permite a visualização interna do ninho. O modelo
teve boa aceitação por X. frontalis, com uma taxa de ocupação variando de 18,75 a 52,22%,
e o uso dessas caixas racionais foi eficiente para incrementar a população dessas abelhas na
área agrícola e aumentar os índices de polinização e produtividade do maracujá (Oliveira
Filho & Freitas 2003).
A introdução de ninhos-armadilha com o objetivo de coletar ninhos de Xylocopa
também foi considerada um meio alternativo eficiente para aumentar as populações em
áreas de cultivo de maracujá no Estado de São Paulo (Camillo 2003).
No município de Morretes, Paraná, onde são cultivadas duas espécies de maracujá,
Passiflora edulis f. flavicarpa (maracujá - azedo) e Passiflora alata (maracujá - doce),
cerca de 72 hectares são destinados para o cultivo do maracujá azedo (IBGE 1997). As
espécies do gênero Xylocopa são os principais agentes polinizadores de maracujá e nesta
região X. frontalis foi a mais abundante nos cultivos (Melo et al. 2005).
A regularização das colheitas é um dos principais objetivos da produção frutícola.
No caso do maracujá, a variação nas produções pode em grande parte ser explicada pela
baixa densidade populacional dessas abelhas e a falta de eficiência da polinização.
Este estudo tem por objetivo detalhar a atividade de nidificação e a variação anual
das atividades de Xylocopa frontalis para obter informações que podem influenciar ou
mesmo exercer uma ação determinante sobre a manutenção dos ninhos e a presença dessas
abelhas, conseqüentemente garantindo a polinização da cultura do maracujá.
Material e métodos
28
Área de estudo
A região de Morretes, Paraná, está situada na encosta da Serra do Mar, coberta por
Floresta Atlântica (Silva 1989). O clima é caracterizado como subtropical, do tipo Cfa de
acordo com a classificação climática de Köppen. A agregação dos ninhos estava localizada
sob um galpão na Estação Experimental do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR)
(25º30’33’’S; 48°48’30’’W; 64 m), cerca de 8 km da BR- 277, próximo ao entroncamento
para Morretes (Fig. 1). O experimento com madeiras sob tratamentos diferentes foi
realizado na propriedade do Sr. Mauro Duarte Pinto (25º33’06’’S; 48º47’41’’W),
aproximadamente 30 metros da BR-277.
Os dados médios de temperatura mínima, máxima e precipitação do ano de 2006
foram fornecidos pelo Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), referentes à Estação
Meteorológica de Antonina, PR (25º13’S; 48º48’W; 60 m) (Fig. 2, Tab. I).
Os dados climáticos históricos (de 1966 a 2006) e os valores de insolação mensal
foram fornecidos pelo IAPAR, referentes à Estação Meteorológica de Morretes, PR
(25º30’S; 48º49’W; 59 m) (Fig. 3).
A umidade relativa média local foi medida no local dos ninhos com termo-
higrômetro. Os dados de fotoperíodo foram obtidos na página do Anuário Interativo do
Observatório Nacional, na internet.
Figura 1 - Área de estudo (Instituto Agronômico do Paraná) e os cultivos de maracujá azedo mais próximos.
29
2006
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
precipitação (mm)
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40
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100
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140
160
180
200
temperatura (°C) / insolação (horas
de sol)
precipitação temperatura máxima insolação temperatura mínima
Figura 2 – Dados climáticos do ano de 2006 da região de Morretes, Paraná.
1966 - 2006
0
50
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200
250
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jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
precipitação (mm)
0
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40
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80
100
120
140
160
180
200
temperatura (°C) / insolação (horas
de sol)
precipitão temperatura máxima
horas de insolação temperatura mínima
Figura 3 - Dados climáticos de 1966 a 2005 da região de Morretes, Paraná.
30
Tabela I – Médias mensais dos dados climáticos do ano de 2006 da região de Morretes, PR.
mês
precipitação
(mm)
temp. min.
(°C)
temp. máx.
(°C)
Insolação
(hs de sol)
Fotoperíodo
(min/dia) UR (%)
jan 289,40 20,61 32,55 193,70 811,00 62,20
fev 304,80 20,31 31,85 154,70 777,00 75,43
mar 483,80 20,66 30,85 51,60 733,00 60,86
abr 64,20 17,08 28,62 87,30 689,00 56,48
mai 42,60 12,97 24,78 179,40 633,00 48,19
jun 33,40 14,26 24,27 137,40 634,00 53,16
jul 38,40 13,21 24,58 189,80 643,00 58,14
ago 77,60 12,88 25,27 172,70 675,00 52,40
set 185,00 13,37 23,85 111,90 717,00 47,75
out 135,20 17,13 25,78 103,20 761,00 41,30
nov 407,60 18,16 27,14 103,60 801,00 44,08
dez 314,00 20,62 30,11 105,60 822,00 65,41
Acompanhamento de ninhos nos troncos
Em estudo anterior (Melo et al. 2005) foram ofertados substratos com pedaços de
troncos de Tibouchina sp. (jacatirão), Ficus sp. (figueira) e Schizolobium parayba
(guapuruvu), com um ou dois furos rasos feitos com furadeira sugerindo um início de
escavação. Os mesmos foram instalados no dia 20 de dezembro de 2004, em locais
protegidos da chuva e do sol, amarrados com arame em quatro propriedades do município.
Este estudo iniciou-se em outubro de 2006, e o acompanhamento da fundação dos
ninhos foi restrito ao IAPAR.
Entre os meses de janeiro de 2006 e janeiro de 2007 a atividade externa das abelhas, ou
seja, os números de vôos (contados como entradas nos ninhos de X. frontalis) foram
acompanhados semanalmente, totalizando aproximadamente 260 horas de observação no
campo.
De fevereiro a novembro de 2007, o intervalo entre as observações foram maiores.
Quando possível, os indivíduos foram capturados com rede entomológica e
colocados em um tubo de plástico com um êmbolo em uma extremidade e uma tela na outra
para serem marcados no mesoscuto com tintas (látex ou automotiva) (Fig. 4). Entretanto, a
tinta não permaneceu por mais de uma semana nas abelhas.
31
Além disso, foi feita uma tentativa de colar no mesoscuto das abelhas, pedaços de
papéis laminados com cores diferentes com auxílio de cola “super bonder”, mas não houve
aderência. O mesoscuto foi levemente lixado, mas também não houve sucesso.
A temperatura e umidade relativa do ar foram registradas a cada hora.
Figura 4 – Fêmea de X. frontalis capturada para marcação com tinta.
Os dias de observação e o período do dia em que as atividades de X. frontalis foram
acompanhadas estão na Tabela II.
O número de vôos das abelhas foi considerado entre 7:00 e 17:00 horas e os dados
foram ponderados para utilizar médias mensais.
Para avaliar a influência da temperatura, precipitação, umidade relativa e
fotoperíodo na atividade externa das abelhas (número de vôos) foi utilizado o coeficiente de
correlação.
Tabela II – Dias de observação e período do dia de observação das atividades de X. frontalis, Morretes, PR:
32
Dias de observação Período do dia
11-jan-06 7:30 - 19:15
12-jan-06 8:00 - 18:00
17-jan-06 5:40 - 18:00
24-jan-06 7:00 - 18:00
31-jan-06 8:00 - 15:00
9-fev-06 8:00 - 15:00
16-fev-06 9:00 - 14:00
24-fev-06 9:00 - 15:00
3-mar-06 9:00 - 15:00
10-mar-06 9:00 - 15:00
20-mar-06 9:00 - 15:00
6-abr-06 9:00 - 15:00
12-abr-06 9:00 - 16:00
19-abr-06 9:00 - 16:00
26-abr-06 9:00 - 16:00
3-mai-06 9:00 - 16:00
10-mai-06 9:00 - 16:00
17-mai-06 9:00 - 16:00
24-mai-06 9:00 - 16:00
31-mai-06 9:00 - 16:00
7-jun-06 9:00 - 15:00
14-jun-06 9:00 - 15:00
21-jun-06 9:00 - 15:00
28-jun-06 9:00 - 15:00
4-jul-06 9:00 - 15:00
28-jul-06 9:30 - 15:50
11-ago-06 9:30 - 14:30
25-ago-06 10:50 - 14:50
15-set-06 10:50 - 15:50
21-set-06 9:20 - 16:00
28-set-06 10:00 - 15:00
10-out-06 9:30 - 16:00
26-out-06 9:30 - 15:00
9-nov-06 8:30 - 15:00
23-nov-06 8:30 - 15:00
30-nov-06 8:30 - 14:30
5-dez-06 8:30 - 15:00
6-dez-06 12:00 - 16:00
13-dez-06 8:30 - 14:30
20-dez-06 7:00 - 16: 30
27-dez-06 7:00 - 15: 30
6-jan-07 11:00 - 19:00
11-jan-07 7:00 - 19:00
17-jan-07 7:00 - 16: 30
33
Ninhos de observação
Os ninhos de observação foram instalados de modo a possibilitar o
acompanhamento da biologia dentro do ninho. Os mesmos foram confeccionados
semelhante ao modelo de Freitas & Oliveira Filho (2001) com algumas modificações.
Trata-se de uma caixa sem frente e sem fundo contendo cinco quadros. Cada quadro
composto por uma tábua de madeira macia e seca prensada entre duas placas de acrílico
transparente, presas a uma moldura de madeira resistente.
Em cada quadros foi feito um furo a 45º com uma broca de 16 milímetros, diâmetro
apropriado para X. frontalis (Melo et al. 2005).
O guapuruvu (Schizolobium parayba) foi utilizado como substrato interno devido à
sua disponibilidade, ao estado da madeira e à aceitação confirmada pelas abelhas no local.
Além deste, alguns quadros com caixeta (Tabebuia cassinoides) foram também distribuídos
de maneira arbitrária nas caixas (Fig. 5).
Um par de caixas foi instalado na propriedade do Sr. Mauro Duarte Pinto e quatro
pares no IAPAR.
Figura 5 – Ninhos de observação instalados sob o galpão no IAPAR.
34
Ninhos em bambus
No IAPAR, além dos troncos de madeira morta e dos ninhos de observação, foram
instalados posteriormente, no dia 10 de outubro de 2006, ninhos-armadilha de bambu nas
vigas do galpão, próximos aos outros ninhos de madeira, que também foram acompanhados
semanalmente (Fig. 6).
Contando-se com os dois lados do pedaço de bambu, divididos pelo nó, somaram-se
66 ninhos-armadilha com comprimentos, diâmetros e espessuras entre 10 e 20; 1,29 e 3,50
e 0,26 e 1,36 cm, respectivamente.
Posteriormente à ocupação pelas abelhas, os colmos de bambu foram abertos no
sentido longitudinal, com auxílio de formão e marreta, para observação interna.
Figura 6 - Colmos de bambu instalados no IAPAR ocupados por X. frontalis.
Oferta de substratos para nidificação com diferentes graus de apodrecimento
Dez pedaços de madeira de Ficus gomelleira Kunth & Bouche com 40, 20 e 5
centímetros de comprimento, altura e espessura foram submetidos a dois tratamentos: cinco
deles foram colocados sobre o solo na borda de uma floresta, sob influência do sol e da
chuva onde eram revirados semanalmente; os outros cinco foram mantidos em local seco
35
dentro de um galpão, ambos no IAPAR (Fig. 7). Seis meses depois, as peças de madeira do
chão encontravam-se relativamente apodrecidas atacadas por fungos, enquanto as outras
não. Os pedaços foram instalados lado a lado, aos pares, a aproximadamente dois metros de
altura na propriedade do Sr. Mauro Duarte Pinto.
Figura 7 – Pedaços de Ficus gomelleira sob dois tratamentos (solo e local seco).
Resultados
Período de fundação de ninhos novos
O período de fundação de ninhos novos está ilustrado na Figura 8, desde a instalação
dos troncos, em dezembro de 2004, incluindo os ninhos em bambus.
Na região de Morretes, embora as fêmeas procurassem por locais adequados para
nidificação durante quase todo o ano, com exceção de julho e agosto, os ninhos novos de X.
frontalis foram escavados em maior número nos meses de outubro a dezembro e em menor
freqüência em janeiro, março e abril.
36
0
1
2
3
4
5
6
7
dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan
Figura 8 – Número de ninhos fundados por X. frontalis no IAPAR entre dezembro de 2004 e janeiro de 2007.
Durante o ano de 2007 não houve fundações nos meses de março e abril e os ninhos
novos foram observados a partir da metade do mês de outubro.
Número de fundações de ninhos por ano
De janeiro a dezembro de 2005 foram escavados 11 ninhos nos troncos disponíveis sob
o galpão do IAPAR. De janeiro a dezembro de 2006, foram fundados 17 ninhos novos,
sendo oito escavados nos troncos e nove colmos de bambu ocupados.
O número de ninhos novos foi correlacionado com os dados médios históricos de
precipitação (r = 0,67), temperatura mínima (r = 0,52) e temperatura máxima (r = 0,57) de
dois meses após as fundações. Quando os mesmos dados foram correlacionados mês a mês,
tal correlação não foi significativa (r = 0,34; 0,25 e – 0,01).
37
Reuso de ninhos inativos
Além da escavação dos ninhos novos, algumas abelhas reutilizaram ninhos já existentes
nos troncos, porém inativos. Foram dois ninhos em fevereiro, quatro em março, dois em
abril e dois em setembro.
Nos meses de julho e agosto houve uma queda no número de ninhos ativos (Fig. 9).
Freqüência de atividades
As atividades externas aos ninhos ativos de X. frontalis foram mais freqüentes de
janeiro a abril e de setembro a dezembro de 2006, sendo julho e agosto os meses de menor
movimento (Fig. 24, em anexo).
Para diminuir o efeito do aumento populacional e se aproximar de uma unidade, foi
calculada uma relação da atividade das abelhas por ninho ativo (Tab. III), que foi
correlacionada com a umidade relativa média local (r=0,47), precipitação (r = 0,63),
fotoperíodo (r = 0,77), temperatura máxima (r = 0,77) e principalmente com a temperatura
mínima (r = 0,81). Não houve influência da insolação (r = - 0,28).
Quando correlacionadas com as médias históricas, os índices foram um pouco mais
elevados para a precipitação (r = 0,77), temperatura máxima (r = 0,82) e temperatura
mínima (r = 0,87) e insolação (r = 0,12).
Nos meses mais quentes do ano, o início das atividades de limpeza do ninho e os vôos
de forrageamento das fêmeas de X. frontalis ocorreram em torno das 7:00 h, sendo a
temperatura local mínima registrada em torno de 22,5 ºC. Nos meses mais frios, as
atividades se iniciavam mais tarde, com variações desses horários entre os ninhos.
38
Tabela III – Dados sobre o número médio de ninhos ativos e o número de vôos de X. frontalis /dia médios
entre os meses de janeiro de 2006 e janeiro de 2007:
mês n° vôos/dia n° ninhos ativos atividade/ninho
jan 35,75 7,5 4,76
fev 42,33 6,6 6,41
mar 35,50 10,5 3,38
abr 47,25 11 4,29
mai 16,20 8,25 1,96
jun 10,75 8,25 1,31
jul 8,00 7 1,14
ago 4,00 6 0,66
set 44,00 12,6 3,49
out 40,50 12 3,75
nov 43,00 12 3,58
dez 47,25 12 3,90
jan 72,60 13 5,58
0
2
4
6
8
10
12
14
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan
ninhos ativos atividade/ninho
Figura 9 – Número médio de ninhos ativos e atividade das abelhas/ninho ativo no IAPAR entre janeiro de
2006 e janeiro de 2007.
39
No mês de janeiro de 2006, com os valores de insolação e temperatura mais elevados, o
pico de atividades ocorreu entre 10:00 e 11:00 h (22 vôos) e entre 14:00 e 15:00 h (20 vôos)
e em janeiro de 2007, entre 9:00 e 10:00 h (27 vôos) e 14:00 e 15:00 h (35 vôos). Às 13:00
horas já havia fêmeas retornando ao ninho com pólen no mesoscuto, provavelmente de
maracujá.
Os meses de fevereiro, março e abril de 2006 apresentaram um padrão semelhante: nos
intervalos de 10:00 às 11:00 h (em torno de 20 vôos) e entre 13:00 e 14:00 h (40 vôos).
De maio a agosto houve uma queda gradativa nas atividades.
Em setembro o pico de atividades ocorreu entre 13:00 e 14:00 h (27 vôos) e em outubro
de 10:00 às 11:00 (24 vôos). A partir do mês de dezembro, os picos de atividade são
semelhantes aos de fevereiro a abril.
Tabela IV - Correlações entre as atividades de X. frontalis e os fatores atmosféricos:
precipitação temp. mín. temp. máx. insolação fotoperíodo UR %
ativ.idade das fêmeas 0,65 0,73 0,58 -0,54 0,77 0,15
atividade dos machos 0,01 0,00 -0,20 -0,30 0,29 -0,38
atividade das fêmeas/ninho ativo 0,63 0,81 0,77 -0,29 0,77 0,47
fundação de ninhos 0,34 0,25 -0,01 0,52
atividade das fêmeas/ninho ativo* 0,77 0,87 0,83 0,12
fundação de ninhos** 0,67 0,52 0,57
* Número de vôos/número de ninhos ativos correlacionados com as médias climáticas históricas.
** Número de ninhos fundados correlacionados com as médias climáticas históricas de dois meses
depois.
Observações comportamentais
No início do aprovisionamento dos ninhos fundados, os vôos para coleta de pólen
foram realizados preferencialmente de manhã (até 14:00 h). As desidratações de néctar
foram observadas principalmente no período da tarde geralmente logo após o retorno ao
ninho (Fig. 10). A limpeza dos ninhos (retirada de serragem com auxílio das pernas
40
posteriores e ápice do metassoma) foi observada ao longo do dia (9:00 às 16:00 h), embora
mais freqüentes no período da manhã. Estas observações estão resumidas na tabela V.
As abelhas retornavam aos ninhos com pólen amarelo vivo no mesoscuto durante o
período diurno da antese das flores de P. edulis e realizavam a limpeza desse pólen:
limpavam-se vigorosamente no interior do ninho acumulando o pólen próximo à entrada, o
qual era arrastado com auxílio das cerdas do ápice do metassoma para fora do ninho.
Os vôos de reconhecimento, em que as abelhas sobrevoavam em frente dos ninhos ou
realizavam vôos curtos e logo entravam repetidas vezes, foram feitos pelas abelhas jovens
(mais lentas, sem desgaste alar) ou quando ocupavam um ninho novo e ocorreram de
janeiro a abril e em novembro. Além disso, neste período, tanto os machos como as fêmeas
esfregavam o ápice do metassoma em várias direções próximo à entrada dos seus ninhos.
Em dias de chuva as abelhas que saíam dos seus ninhos também realizavam um vôo
curto e breve, retornando em segundos. Esses eventos ocorreram nos meses de março e
dezembro.
Em dezembro, ao sinal de tempestade, em todos os ninhos as abelhas se posicionaram
com o metassoma fechando a entrada. Este hábito também se repetiu nos dias 10 (13:00
14:00 h) e 31 de maio (9:00-11:00 e 13:00-14:00 h) e 21 de junho (10:00-11:00 h) (Fig.
11).
Entre as interações intraespecíficas, foi observada uma pilhagem no início de janeiro,
em que um dos ninhos foi pilhado por uma fêmea de um ninho próximo bastante ativo, com
mais de uma fêmea e macho. A fêmea primeiro tentou entrar devagar no ninho a ser
pilhado e como não encontrou resistência, entrou. Ao sair havia uma quantidade grande de
pólen na parte ventral do seu metassoma, nas escopas, além de carregar uma grande massa
de pólen claro nas mandíbulas. Foi capturada e marcada com tinta, para observar se este
comportamento se repetiria. Depois de solta, a mesma retornou para o próprio ninho.
Em fevereiro, em torno de 11:00 h, durante a limpeza do ninho em que foram retiradas
exúvias e fezes de larvas junto com a serragem, uma fêmea expulsou uma pupa viva, ainda
não melanizada (Fig. 12). Neste mesmo mês foi encontrada uma larva no chão, com cerca
de três centímetros e meio de comprimento. Em um outro ninho, no início de abril, na parte
da manhã foi expulsa uma larva viva (de aproximadamente um centímetro e meio de
comprimento) durante a limpeza do ninho.
41
Figura 10 – Fêmea de X. frontalis desidratando néctar na entrada do ninho.
Figura. 11 - Fêmea de X. frontalis bloqueando a entrada do ninho com seu metassoma.
Figura. 12 – Fêmea de X. frontalis realizando a limpeza do ninho e uma pupa expulsa ainda viva.
42
Presença de machos
Os machos de X. frontalis foram observados durante todo o ano de 2006, em pelo
menos um dia de observação de cada mês, com exceção de novembro. Foram vistos
freqüentemente na entrada dos seus ninhos e muitas vezes sendo expulsos dos ninhos em
que nasceram. Sua atividade (número de vôos) não apresentou correlação significativa com
nenhuma variável ambiental (Tab. IV), sendo associada apenas com a quantidade de ninhos
ativos (r=0,58).
O maior número de vôos ocorreu entre setembro e outubro de 2006, período que
antecedeu o início da fundação de novos ninhos (Fig. 13).
No mês de janeiro, os machos apareceram na entrada dos ninhos entre 7:00 e 8:00 h,
mas saíram dos ninhos somente após as 9:00 h.
Em fevereiro e março, os machos ocuparam ninhos inativos e suas atividades ocorreram
entre 10:00 e 14:00 h, em torno de 10 minutos por viagem (nas tentativas de retorno ao
ninho materno) e de 4 minutos (vôos de reconhecimento).
No início de abril, embora não tenha sido observado nenhum vôo, um macho foi visto
na entrada de um ninho inativo a partir das 10:30 h, e de meia em meia hora reapareceu, até
que às 14:00 h saiu caminhando, tocando o tronco com o ápice do seu metassoma em várias
direções e entrou. O mesmo comportamento foi repetido em torno das 15:00 h. Nas
observações posteriores até o mês de maio, os machos apenas apareceram na entrada dos
ninhos, em torno das 13:00 e 14:00 h (Fig. 14).
Em junho e julho, assim como para as fêmeas, não houve atividade externa, com
exceção de um macho que saiu de um ninho e entrou em outro, em torno das 14:00 h, no
final de julho. Entretanto, nesta época muitos machos mortos foram encontrados no chão,
próximos aos ninhos.
No início de agosto foi observado, aproximadamente às 13:00 h, o macho de um ninho
“empurrando” uma fêmea para fora do ninho, e quando esta retornou da viagem de
forrageamento, os alimentou por trofalaxia (Fig. 15).
Em setembro os machos desidrataram néctar entre 9:00 e 10:00 e entre 13:00 e 14:00 h.
Foram muito ativos entre 9:00 e 14:00 h, sendo a maioria dessas atividades relacionada aos
vôos de reconhecimento (com duração de 30 segundos a 3 minutos). No fim deste mês, às
43
13:28 h, dois machos se revezavam na entrada de um ninho quando uma fêmea chegou e os
alimentou por trofalaxia na galeria. Às 13:44 h a fêmea chegou novamente e os alimentou,
com seu metassoma ainda para fora do ninho. Oito minutos depois, um dos machos
apareceu na entrada do ninho limpando seu aparelho bucal com as pernas anteriores, logo
em seguida este comportamento foi repetido pela fêmea, que não pôde entrar no ninho
devido ao bloqueio, seguido de um som vibrante de um dos machos e a mesma saiu. Trinta
minutos depois a fêmea chegou e os alimentou novamente.
No mês de outubro, assim como em setembro, os vôos ocorreram entre 9:00 e 14:00 h,
sendo a maioria aparentemente em busca de novos ninhos. Em novembro os machos não
foram vistos. Em dezembro a maioria dos vôos foi rápida, para reconhecimento dos ninhos.
Em janeiro de 2007 as atividades dos machos ocorreram ao longo do dia, entre 9:00 e
17:00 h, assim como em janeiro de 2006.
0
2
4
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jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan
machos
Figura 13 – Médias mensais do número de vôos/dia realizados pelos machos X. frontalis durante o ano de
2006 e janeiro de 2007.
44
Figura 14 – Macho de X. frontalis marcado no mesoscuto com tinta branca.
Figura 15 – Macho de X. frontalis “empurrando” uma fêmea para o forrageamento na entrada de um dos
ninhos.
45
Presença de inimigos naturais
Vespas pertencentes ao gênero Leucospis Fabricius, 1775 (Leucospidae, Chalcidoidea)
foram observadas no final de janeiro até março de 2006 e fevereiro e março de 2007,
sobrevoando próximo aos ninhos de X. frontalis, geralmente entre 11:00 e 12:30 h. Em um
dos troncos, a vespa foi vista perfurando a parede lateral com seu ovipositor.
Os adultos do coleóptero Cissites maculata Swederus, 1787 (Meloidae) foram vistos a
partir da metade de setembro, no período da tarde, entrando e saindo lentamente e
livremente dos ninhos ativos de X. frontalis, onde raramente houve conflito com as abelhas
(Fig. 16). Entretanto, até o mês de dezembro, muitos meloídeos foram encontrados mortos
no chão.
No final do mês de outubro e em novembro de 2006, quatro ninhos de um tronco de
guapuruvu foram ocupados por formigas do gênero Camponotus Mayr, 1861 (Formicidae),
fechados com fragmentos de galhos e folhas.
No ano seguinte, em outubro de 2007, outro tronco com cinco ninhos ativos de X.
frontalis foi igualmente ocupado pelas mesmas formigas.
Figura 16 – Meloídeo Cissites maculata caminhando entre os ninhos de X. frontalis.
46
Tabela V - Ciclo de vida de X. frontalis durante o ano de 2006:
Defesa do ninho
Em janeiro de 2006, em torno das 12:00 h, uma formiga do gênero Camponotus se
aproximou da entrada de um ninho localizado na parte inferior do tronco de guapuruvu.
Neste momento, uma fêmea de X. frontalis desceu pela galeria e acompanhava os
movimentos da formiga com a cabeça. A fêmea subiu pela galeria e assim que a formiga
entrou, a fêmea desceu rapidamente, como um êmbolo até a entrada do ninho e a formiga
foi atirada ao chão.
Um comportamento agressivo entre as abelhas foi observado em dois casos em um
mesmo dia, no mês de março de 2006: no primeiro caso, ao entrar no ninho uma fêmea foi
mordida por outra que estava de guarda, quando esta saiu, a fêmea mordida entrou, mas
outra fêmea que estava dentro do ninho a expulsou. Mais tarde, no mesmo ninho uma
fêmea chegou com pólen no mesoscuto, houve conflito e duas fêmeas se morderam, caíram
janeiro fevereiro março abril maio junho julho agosto setembro outubro novembro dezembro janeiro
flores de P. edulis em Morretes
procura por ninho
escavação (ninhos novos) 1 1 1 5 6 3 1
reutilização ninhos inativos 2 4 2 2
presença macho
expulsão machos
expulsão fêmeas
desidratação néctar
aprovisiona/pólen nas escopas
pólen no mesoscuto
limpeza de serragem
limpeza de exúvias
vôo reconhecimento
marcação do ninho
perseguição
pilhagem
Leucospis sp.
Cissites maculata mortos mortos
Camponotus sp. sp. 1 sp. 2 sp. 2
metassoma na entrada 3 3 10
machos mortos
fêmeas mortas
47
no chão, a que estava dentro entrou, a que chegou com pólen tentou entrar novamente por
duas vezes, seguido de novos conflitos (Fig. 18).
No segundo caso, duas fêmeas de tamanhos diferentes retornaram à agregação de
ninhos com pólen no mesoscuto e a fêmea maior perseguiu durante o vôo a fêmea menor,
tentando morder o seu metassoma até que a menor entrou em um ninho e a maior em outro.
A manipulação excessiva de uma fêmea (para retirada de pólen ou marcação com tinta),
tornava-a agressiva por várias semanas.
Em outra ocasião em que o observador bateu no ninho, foi surpreendido com vôos
rasantes e batidas contra seu corpo.
Um tipo de defesa comum foi a ejeção de fezes nos intrusos, incluindo em
coespecíficos, quando se aproximavam dos ninhos.
Figura 18 - Fêmea guarda de X. frontalis expulsa uma coespecífica que chega ao ninho.
Xylocopa (Neoxylocopa) brasilianorum (Linnaeus, 1767)
No final de junho de 2006, uma fêmea de X. brasilianorum foi observada próxima à
agregação de ninhos de X. frontalis, visitando flores de Centrosema virginianum
(Fabaceae), em torno de dez horas da manhã, e permaneceu cerca de duas horas em uma
mesma flor (Fig. 19).
No dia 21 de dezembro, uma fêmea de X. brasilianorum fundou um ninho na parte
inferior de um pedaço de um único ramo de araucária instalado no galpão junto à agregação
48
em dezembro de 2004, como oferta de substratos para nidificação, assim como os outros
pedaços de madeira.
Durante a escavação do ninho realizou cerca de cinco vôos, provavelmente para se
alimentar, retornado sem pólen no corpo.
Duas semanas depois, estava aprovisionando o ninho com pólen nas escopas e
desidratando néctar. Durante a desidratação, o néctar observado no aparelho bucal desta
espécie era mais denso, esbranquiçado e conspícuo em relação ao de X. frontalis.
Figura 19 – Xylocopa brasilianorum na flor de Centrosema virginianum (Fabaceae).
Recursos florais utilizados
As espécies visitadas por X. frontalis durante este estudo, que puderam ser observadas
próximas à agregação dos ninhos foram Tibouchina pulchra (Melastomastaceae)
(novembro a janeiro), Senna multijuga e Senna sp. (Caesalpiniaceae) (janeiro, fevereiro),
Caesalpinia peltophoroides (Fabaceae) (outubro), Centrosema virginianum (Fabaceae)
(abril a junho), Bixa orellana (Bixaceae), além dos maracujás P. edulis (novembro a maio)
e P. alata (ano todo) (Passifloraceae) para coleta de néctar.
49
Ninhos de observação:
Neste estudo, os ninhos de observação modificados das caixas racionais propostas por
Oliveira-Filho & Freitas (2003), em que os quadros limitados por placas de acrílico
permitiriam o acompanhamento do desenvolvimento das galerias dos ninhos, não foram
aceitos pelas abelhas.
Com o intuito de atrair as abelhas, foram colados pedaços de bambu na entrada dos
quadros. Porém, as entradas com e sem os pedaços de bambu freqüentemente foram
inspecionadas pelas abelhas, inclusive um pouco da serragem foi retirada. Em um dos
quadros, foi escavado um túnel de aproximadamente 25 centímetros, posteriormente
abandonado sem razão aparente.
Numa tentativa de estabelecer alguns ninhos de observação, no dia 27 de fevereiro de
2006, um tronco de guapuruvu com seis ninhos aparentemente ativos, da propriedade do Sr.
Mauro foi transportado ao IAPAR e aberto para a obtenção de larvas ou pupas (Fig. 20).
Deste tronco foram retiradas quatro larvas que foram distribuídas nos quadros de maneira
arbitrária em células artificiais: duas ainda se alimentando, com parte da massa de pólen e
duas sem alimento. Um pequeno túnel nos quadros foi escavado para recebê-las e um
tampão de madeira macia foi utilizado para protegê-las de possíveis predadores.
Quatro dias depois, durante as inspeções semanais, foram observadas apenas duas
larvas vivas, as mesmas que não tinham massa de pólen.
No dia 10 de março de 2006, as duas larvas empuparam, porém uma delas foi atacada
por formigas pequenas. A outra pupa estava viva e se mexendo (Fig. 21). A entrada deste
quadro foi tapada com fita crepe para uma melhor proteção. Cinco dias depois, esta pupa
estava viva, mexia o ápice do abdome e seus olhos começaram a escurecer (melanizar). Dia
24 de março, além dos olhos, o corpo também se encontrava pigmentado e com o ápice do
metassoma mexendo. No dia 31 de março, a pupa estava bem escura e mexia as pernas
lentamente. No início de abril, a pupa estava ativa, retirando restos de exúvia das pernas, da
cabeça e do mesossoma. No dia 12 de abril só havia uma fina camada de exúvia na
extremidade de uma das antenas. Na semana seguinte estava morta e ressecada, sem chegar
a distender as asas.
50
Figura 20 – Ninho de X. frontalis em tronco de guapuruvu transportado ao IAPAR: célula com o ovo na
massa de pólen (a) e células com larvas (b).
Figura 21 – Ninho de observação com X. frontalis nos dias 3 de março (a), 15 de março (b), 24 de março (c),
31 de março (d), 6 de abril (e) e 19 de abril (e) do ano de 2006.
Ninhos em bambus:
Apenas duas semanas após sua instalação, quatro colmos de bambu já estavam
ocupados e sendo aprovisionados por fêmeas de X. frontalis. Nas semanas seguintes outros
quatro colmos foram ocupados pelas abelhas. Suas paredes internas foram escavadas e as
fêmeas freqüentemente foram vistas retirando serragem (as fibras mais longas) durante a
limpeza. Além destes, três colmos de bambu chegaram a apresentar suas paredes internas
51
escavadas, mas foram abandonados. Os bambus virados para o lado interno do galpão
foram os mais utilizados, sendo apenas um ocupado do lado externo.
Os comprimentos utilizados foram aqueles em torno de 20 cm, com exceção de um
colmo com aproximadamente 10 cm. Os diâmetros internos utilizados foram aqueles
entre 1,29 e 2,33 e as espessuras entre 0,77 e 1,0 cm. (embora a maioria disponível
estivesse entre 0,26 e 0,61 cm). A figura 22 mostra claramente esta preferência.
Em junho de 2007 os colmos de bambu ocupados foram abertos. Nas paredes internas,
havia uma ou duas reentrâncias profundas (de até 0,64 cm) que se localizavam desde o final
das células ou até dois centímetros da entrada. As paredes das células também foram
superficialmente desgastadas (Fig. 23). O número de células e de imaturos variou de 1 a 4 e
a razão sexual foi de 1: 0,28 (Tab.VI).
Após as observações, os colmos de bambu foram fechados com fita, mas devido à esta
manipulação, a maioria ficou com frestas no local do nó.
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80 1,00 1,20 1,40 1,60
Figura 22 - Relação entre o diâmetro e a espessura (em centímetros) dos ninhos-armadilha de bambu. Ninhos
ocupados (vermelho) e não utilizados (azul).
52
Figura 23 – Colmo de bambu aberto longitudinalmente mostrando duas reentrâncias nas paredes internas,
próximas à entrada, cujo material foi retirado pela fêmea de X. frontalis.
Tabela VI – Número de células, machos e fêmeas de X. frontalis encontrados nos colmos de bambu abertos:
Número do ninho células fêmeas machos
1
4 2 2
15
4 3 0
31
3 2 0
32
1 0 0
35
3 3 0
36
3 2 1
38
3 2 1
Oferta de substratos com diferentes graus de apodrecimento.
Os pedaços de madeira que estavam no solo estavam visivelmente mais escuros em
relação àqueles que foram armazenados no galpão. Apenas as madeiras mais escurecidas,
que foram tratadas no chão, foram escavadas pelas abelhas.
No dia 6 de dezembro de 2006, uma fêmea de
X. brasilianorum foi observada
escavando um ninho na parte inferior da madeira nº 6 (com sua cabeça e parte do
mesoscuto para dentro da cavidade). Além deste ninho, na mesma madeira havia um início
de outra escavação de
X. frontalis. Dia 13 de dezembro de 2006, a fêmea de X.
brasilianorum
escavava o mesmo ninho (agora com quase todo corpo dentro da cavidade).
No dia 9 de janeiro de 2007, na mesma madeira nº 6 havia duas fêmeas de
X. frontalis onde
a fêmea de
X. brasilianorum estava escavando seu ninho.
53
No dia 2 de fevereiro de 2007 a madeira nº 6 continha um ninho de
X. frontalis e duas
escavações inacabadas, sendo uma de
X. frontalis e outra de X. brasilianorum (na parte de
baixo) e na madeira nº 3 havia um ninho escavado por
X. brasilianorum.
No dia 6 de março, a madeira nº 3 continha 1 ninho de
X. frontalis (antes de X.
brasilianorum
), um ninho de X. brasilianorum (embaixo) e uma escavação inacabada
(frente).
Em agosto de 2007 a madeira nº 6 continha um ninho de
X. frontalis e duas escavações
inacabadas e a madeira nº 3, um ninho com duas fêmeas de
X. frontalis e um ninho com
duas fêmeas de
X. brasilianorum.
Observou-se, assim, que a espécie
X. frontalis utilizou duas vezes o início de escavação
(ou o ninho) de
X. brasilianorum, sendo que em um desses ninhos havia duas fêmeas de X.
frontalis
em uma das observações em que o ninho ainda era recente.
Discussão
Período de fundação de ninhos novos
Como a maior freqüência de fundação de ninhos novos ocorreu nos meses de outubro a
dezembro e a época de fundações é diretamente relacionada com o número de gerações,
nesta região ocorreu apenas uma geração por ano.
Algumas abelhas que emergiram neste período se dispersaram e fundaram ninhos novos
ou reutilizaram ninhos inativos, mas não se reproduziram imediatamente, pois os ninhos
não foram aprovisionados.
No interior do Estado de São Paulo o período reprodutivo foi diferente, a espécie X.
frontalis
nidificou durante todo o ano, com duas estações de maior freqüência: dezembro a
março e junho a setembro, onde ocorrem duas ou mais gerações por ano (Camillo &
Garófalo1982, 1986; Camillo et al. 1986).
Sakagami & Laroca (1971) sugeriram que espécies de
Xylocopa de clima temperado
eram univoltinas, enquanto espécies tropicais e subtropicais seriam bivoltinas. Entretanto,
este estudo mostrou que
X. frontalis é univoltina na região de estudo.
Comparativamente, também houve diferença no ciclo reprodutivo de populações da
espécie
Xylocopa (Neoxylocopa) fimbriata Fabricius, 1804. No México, durante a estação
54
chuvosa, essas abelhas estavam ativas, escavando e aprovisionando ninhos (Janzen 1966) e
na Costa Rica estavam num período de relativa inatividade (Sage 1968).
Roubik (1989) relatou que a variação entre univoltinismo e multivoltinismo ocorre no
mesmo gênero ou na mesma família, podendo ocorrer em uma única espécie dependendo
de diferenças regionais e que pouco se conhece sobre os fatores físicos que encerram a
diapausa dos adultos.
O número de ninhos novos está correlacionado com os dados históricos de precipitação,
temperatura mínima e temperatura máxima de dois meses após as fundações, o que pode
ser explicado pela duração dos estágios imaturos, que varia de 45 a 65 dias. Esta correlação
foi significativamente maior daquela que correlacionou os mesmos dados mês a mês. Esta
correlação, principalmente relacionada à precipitação, a qual foi mais acentuada, sugere que
as abelhas poderiam prever a melhor época, garantindo certa abundância de recursos
alimentares para a próxima geração. A variação anual da umidade do solo pode regular a
quantidade de néctar na flor (Camillo 2003).
Por outro lado, o aprovisionamento dos ninhos também depende dos recursos florais no
ambiente. Essas abelhas utilizam uma grande variedade de espécies de plantas, exibindo um
comportamento generalista em relação às fontes de néctar e pólen. Como são abelhas
longevas, ao longo do ano, as fêmeas forrageiam em um grande número de plantas,
mudando de fonte de alimento à medida que novas espécies entram em floração (Melo
et
al
. 2005).
Entretanto, uma das principais fontes de pólen para o aprovisionamento dos ninhos
nesta região foi Tibouchina pulchra, que floresce de novembro a fevereiro. Silva (2006)
observou que, nesta espécie,
X. frontalis foi o visitante floral mais abundante,
principalmente no período da manhã.
Reuso de ninhos inativos
Os ninhos reutilizados observados de fevereiro a abril foram ocupados pelas abelhas
jovens numa fase de dispersão dos seus ninhos maternos, enquanto aqueles ocupados em
setembro poderiam estar associados à mesma situação, porém após o período inativo das
abelhas durante os meses mais frios.
55
A queda do número de ninhos ativos em julho e agosto pode estar associada a uma
grande mortalidade de machos e fêmeas, observada em julho.
Influência dos fatores atmosféricos nas atividades de X. frontalis
Os fatores físicos do ambiente obviamente influenciam o comportamento das abelhas,
contudo, a atividade das abelhas por ninho ativo foi mais correlacionada com as médias
climáticas históricas quando correlacionada com os valores atuais. Porém em ambos os
casos, a temperatura mínima foi o principal fator abiótico que influenciou o número de
vôos das abelhas.
Como os valores de temperatura são altamente correlacionados com os do fotoperíodo,
seria impossível determinar qual desses dois fatores seria o mais importante. E como ambos
são relativamente estáveis ao longo do ano, podem ser também mais previsíveis que outros
fatores, como a precipitação (Marques
et al.2004).
Em Morretes, a espécie
X. frontalis foi abundante nos cultivos de maracujá nos
períodos mais quentes do dia, enquanto outras abelhas menores não foram vistas (Melo
et
al.
2005).
Neste estudo, a temperatura máxima teve uma influência menor do que a temperatura
mínima, provavelmente devido à habilidade de termorregulação, uma característica
biológica das abelhas grandes. Em ambientes de temperaturas elevadas, seu tórax é
resfriado por condução, desviando seu calor para o metassoma, o qual providencia uma
dispersão eficiente (Gerling
et al. 1989). Por outro lado, esta perda de calor por convecção
também poderia restringir o vôo em temperaturas mais baixas (Baird 1986).
Neste sentido, a temperatura mínima foi importante para determinar o início das
atividades das abelhas e, apesar da variação entre as situações em que os ninhos se
encontravam, as atividades iniciaram-se mais cedo nos meses mais quentes.
Em regiões mais quentes, outros estudos demonstraram que as atividades de
Xylocopa
spp. iniciaram mais cedo. Varassin & Silva (1999) observaram em Guarapari, ES, que as
visitas às flores de
Passiflora alata pelas espécies X. brasilianorum, X. frontalis e Xylocopa
ordinaria
Smith, 1874 iniciaram-se uma hora após sua abertura, em torno das 5:30 h. Na
Bahia, o início das atividades de fêmeas e machos de
X. subcyanea foi sincronizado com os
56
horários do nascer e pôr-do-sol (5:30 às 17:00 h), mas com a temperatura acima de 20°C
(Gimenes
et al.2006). Da mesma maneira, Pereira (2003) observou em Ribeirão Preto, SP,
que a temperatura influenciou no horário de início de atividade das espécies
X. frontalis e
X. grisescens, que só voaram quando a temperatura excedeu 20°C.
Em um estudo mais refinado sobre a termorregulação de
Xylocopa virginica (Linnaeus,
1771) em Nova Jersey, EUA, a temperatura mínima do tórax necessária para iniciar e
sustentar o vôo foi de aproximadamente 30ºC, e as abelhas ainda se aqueceram mais 5ºC
antes do vôo, o que envolve também um gasto de energia considerável (Baird 1986). Baird
(1986) e Gimenes
et al. (2006) indicaram que a temperatura do ninho também poderia ser
elevada pela insolação e antecipar as atividades das abelhas, mas esse fato não foi evidente
no presente estudo, pois as abelhas dos ninhos que receberam os primeiros raios de sol não
foram as primeiras a sair dos ninhos pela manhã.
Entre os outros fatores, a chuva também abreviou os vôos de
X. virginica (Baird 1986).
A influência da umidade relativa não foi importante, possivelmente devido à perda de calor
do corpo das abelhas não depender exclusivamente da evaporação.
A insolação não teve influência significativa, o que pode ser explicado pela perda de
calor pelo metassoma dessas abelhas.
Provavelmente este fator seria mais importante em abelhas de tamanho corporal menor,
como as espécies do grupo
Xylocopa tabaniformis (Smith, 1854) estudadas por Janzen
(1964), que retardaram suas atividades em até quatro horas após o pôr-do-sol em dias
quentes e claros. Em dias nublados, anteciparam uma hora suas visitas às flores.
Influência da fenologia de P. edulis nas atividades de X. frontalis
O número de vôos do período da tarde foi influenciado pelo número de flores de
maracujá ao longo do ano. Em Morretes, a florada de
P. edulis inicia no final de novembro
e se estende até o final de maio, com um pico de formação de estruturas reprodutivas entre
fevereiro e abril. As flores abrem a partir das 13:00 h e a taxa de visitação pelas fêmeas de
X. frontalis ocorre em maior freqüência entre 13:00 e 14:00 h, caindo gradativamente
durante o período da antese. A polinização natural, quando acontece de 14:30 às 16:30 h
tem maior probabilidade de ser eficiente, mesmo com apenas uma visita, visto que é o
57
período no qual os estiletes já estão curvados e os estigmas, fáceis de serem tocados por
visitantes de grande porte (Melo
et al. 2005).
Como o período de início da antese coincidiu com o pico de atividades das abelhas nos
ninhos, houve uma sincronia entre as atividades diárias de
X. frontalis com o horário de
abertura das flores de
P. edulis.Do mesmo modo, foi constatado que a atividade diária de
Xylocopa fenestrata (Fabricius 1798) foi sincronizada com o horário de abertura das flores
de Cucurbitaceae em uma região subtropical da Índia (Sihag 1993).
Observações comportamentais
As fêmeas guardam seus ninhos contra as coespecíficas que querem roubar seu estoque
de pólen durante o período de nidificação (Gerling
et al. 1981) e de acordo com Camillo et
al.
(1986), além de o néctar ser transferido por trofalaxia pela mãe, o pólen é depositado
numa região distal na galeria.
Hogendoorn & Leys (1993) viram que machos e fêmeas jovens recém emergidos de
Xylocopa pubescens, que permaneceram nos ninhos por alguns dias, também comiam pólen
das células em construção. Deste modo, como o ninho da fêmea pilhadora estava bastante
ativo, com muitos jovens ainda sendo alimentados, a pilhagem poderia ser explicada pela
grande demanda de alimento naquele ninho.
Semelhante ao que ocorreu com outras espécies
, o macho de X. frontalis permaneceu
nos ninhos após a emergência e ao terminar o estágio teneral. Este período também está
relacionado à maturação sexual e os mesmos puderam ser observados realizando atividades
semelhantes às das fêmeas guardas. Quando capazes de voar e se alimentar, realizam os
vôos de reconhecimento e ocupam ninhos abandonados (Pereira 2002).
A guarda da entrada do ninho é vantajosa, uma vez que seria o primeiro indivíduo a
encontrar a fêmea que está retornando do forrageamento, e geralmente é feita por uma
mesma fêmea, a qual raramente é substituída por outro habitante do ninho (Gerling
et
al
.1981).
Michener (1972) mencionou que os jovens de
Xylocopa spp. também transportariam
néctar e pólen, que são depositados nas paredes do ninho e comidos mais tarde pelos
mesmos ou por outros indivíduos.
58
Hogendoorn & Leys (1993), acompanhando as saídas de forrageamento das fêmeas
guardas de
Xylocopa pubescens, concluíram que a maioria não trouxe pólen ao ninho, e se
isso ocorreu, foram atacadas pela fêmea dominante assim que chegaram na parte central do
ninho, sendo que algumas delas se limparam e descartaram o pólen na galeria ou para fora
dos ninhos e então a fêmea dominante o transportou para a célula em construção.
Estudando o comportamento de guarda de
X. pubescens, esses autores observaram que
com seis dias ou mais, as fêmeas jovens foram vistas na entrada dos ninhos (provavelmente
competindo com outras pelo alimento trazido pela mãe), comportamento interpretado como
“guarda”. Aos 16 dias, ou as fêmeas jovens saíram do ninho para fundar um ninho novo ou
tentam tirar a dominância reprodutiva no ninho maternal, destruindo toda ou parte da cria e
despejando outros adultos e tenerais presentes no ninho. A reprodutora anterior poderia
partir ou tornar-se uma guarda, dependendo da disponibilidade dos substratos para
nidificação, grau de parentesco com a fêmea atual, presença da cria ou jovens que ainda
continuam no ninho ou de sua idade (estado dos dentes e mandíbulas). Assim existem dois
tipos de fêmeas guardas: as pré-reprodutoras jovens e as mais velhas, reprodutoras
dominantes.
Além do mais, a tomada de decisão de uma fêmea afastada da dominância reprodutiva
de um ninho por outra fêmea, de continuar no mesmo ninho como guarda levaria em conta
seu grau de parentesco com a nova reprodutiva dominante (aparentada ou intrusa).
Embora as fêmeas tenham habilidade de distinguir uma fêmea do mesmo ninho de uma
intrusa, Hogendoorn & Leys (1993) descobriram que, as fêmeas dominantes intrusas de
Xylocopa pubescens não discriminaram parente de não-parente e quando não destruíram
todas as células de cria, aceitaram fêmeas jovens não-parentes que emergiram nos ninhos.
Deste modo, as atividades intraespecíficas que envolveram luta entre as abelhas podem
ser explicadas pelo término do período de inatividade das fêmeas jovens, que se tornam
capazes de reativar seus ninhos de origem.
A agressividade das fêmeas desta espécie foi relatada por Hurd (1958), quando as
fêmeas que escaparam de um ninho destruído, retornaram voando agressivamente em
direção aos observadores, Dr. C. D. Michener e Padre J. S. Moure, em Caiobá, PR. Hurd
(1958) também mencionou a impressão de Bertoni e Schrottky (1909), os quais acharam a
espécie extremamente irritável, de caráter agressivo, que defende bravamente seus ninhos.
59
Inimigos naturais
O comportamento de armazenar alimento em alta concentração protéica e energética
torna as espécies de
Xylocopa atrativas para os inimigos naturais.
As vespas
Leucospiso conhecidas como parasitas, pois atacam as larvas. As formigas
são incluídas entre os predadores e se alimentam dos imaturos presentes no ninho. Os
meloídeos do gênero
Cissites são considerados cleptoparasitas obrigatórios, pois sua
associação com
Xylocopa foi registrada para várias espécies (Gerling 1989).
Genaro (1996) estudou as espécies de meloídeos de Cuba e encontrou
Cissites maculata
em ninhos de
Xylocopa (Neoxylocopa) cubaeola Lucas, 1857.
Hurd (1958) relatou que os triangulins dos meloídeos ficam presos aos pêlos do corpo
de adultos de
Xylocopa e desta forma entram nos ninhos, destroem o ovo e se desenvolvem
na massa de alimento.
Já no Rio Grande do Norte, o parasitismo por meloídeos não foi observado, mas as
formigas do gênero
Camponotus também causaram danos nos ninhos de X. frontalis
presentes nas caixas racionais de criação (Oliveira & Filho 2003).
O parasitismo por
Leucospis cayanensis Westwood, 1838 em ninhos de Centris
(Heterocentris) analis
(Fabricius, 1804) foi monitorado por Gazola & Garofalo (2003) e
ocorreu cerca de um mês após a construção dos ninhos, atingindo as células com pupas ou
pré-pupas. E de maneira semelhante, os autores observaram as fêmeas ovipositando através
das paredes do ninho. Além de
Centris Fabricius, 1804, e Xylocopa estas vespas também
parasitam ninhos de
Megachile Latreille, 1802 e Ctenoceratina Daly & Moure, 1988
(Roubik 1989).
Em relação ao comportamento de defesa aos parasitas e predadores, Ramalho
et al.
(2004) observaram que
X. abbreviata bloqueou a entrada do ninho de maneira efetiva com
seu próprio corpo, permanecendo horas nesta posição.
Neste estudo, este comportamento não pôde ser associado à presença de um parasita.
No mês de dezembro, as abelhas de todos os ninhos ocupados bloquearam a entrada dos
seus ninhos devido à chegada de uma tempestade. Em maio e junho, os adultos estariam
recém emergidos e este comportamento poderia estar relacionado com uma proteção às
baixas temperaturas.
60
Xylocopa brasilianorum
Esta espécie fundou ninhos, tanto na propriedade do Sr. Mauro, quanto no IAPAR, de
dezembro de 2006 a fevereiro de 2007. A maioria dos ninhos se encontrava na parte
inferior do substrato, o que indica que poderia se tratar de um padrão para esta espécie.
Varassin & Silva (1999) comentaram que esta espécie, além de coletar o néctar de
P.
alata
, coleta também o pólen através da vibração da musculatura das asas. Neste sentido, a
turgidez do néctar observada durante sua desidratação poderia estar relacionada com a
presença de pólen.
Ninhos de observação
Entre os principais fatores limitantes para o sucesso de um novo ninho estão a
disponibilidade dos substratos para nidificação, de alimento, a idade das fêmeas (o estado
dos dentes e mandíbulas), a ação de parasitas e predadores e o clima (Watmough 1983;
Hogendoorn & Leys 1993).
Deste modo, as hipóteses para a não aceitação dos ninhos de observação, ao contrário
do que ocorreu no Rio Grande do Norte, poderiam ter sido a abundância de outros
substratos nesta região, a ocupação de ninhos inativos e a preferência pelos colmos de
bambu.
A tentativa de estabelecer os ninhos de observação não foi bem sucedida. Além da
predação das larvas por formigas, que provavelmente ocorreu pela ineficiência do tampão
substituído por um pedaço de madeira, várias causas podem ter sido relacionadas à
mortalidade do imaturo que se desenvolvia em um dos ninhos de observação.
Oliveira & Filho (2003) já haviam relacionado a mortalidade de imaturos de
X. frontalis
nas caixas racionais com os danos causados no tampão durante a manipulação dos quadros.
Além disso, Gerling
et al. (1989) consideraram que as paredes internas dos ninhos de
Xylocopa, revestidas com secreções glandulares, protegem as células contra a penetração de
umidade excessiva ou o ressecamento. Assim, uma das causas da morte da fêmea no ninho
61
de observação poderia estar relacionada com a falta dessas secreções ou, numa outra
hipótese, a falta de umidade que a fêmea incluiu no material para a confecção do tampão.
Embora algumas fêmeas órfãs tenham sido observadas saindo lenta e desastradamente
dos ninhos nos troncos em busca de alimento, também seria possível que a falta da fêmea
mãe esteja relacionada à morte da fêmea teneral, pois em condições normais de
desenvolvimento a estaria alimentando.
Ninhos em bambus
Ainda que os substratos mais comuns sejam os troncos mortos, existe certa
especialização quanto ao substrato de nidificação como
Xylocopa (Nanoxylocopa) ciliata
Burmeister, 1876, que nidifica em inflorescências de
Eryngyum (Apiaceae), Xylocopa
(
Monoxylocopa) abbreviata Hurd & Moure, 1963 em inflorescências de Encholirium
spectabile
(Bromeliaceae), além das espécies do subgênero Gnathoxylocopa, em escapos
florais de
Aloe (Hurd & Moure 1978; Schlindwein et al. 2003).
As espécies pertencentes aos subgêneros
Biluna, Stenoxylocopa e Xylocospila
regularmente nidificam em colmos de bambus mortos (Hurd & Moure 1978; Schlindwein
et al. 2003).
Maeta
et al. (1985) analisaram uma agregação de cinco ninhos de Xylocopa (Biluna)
tranquebarorum
(Swederus, 1787) no mesmo colmo de bambu. Nesta espécie oriental, a
cavidade não foi elaborada para a construção dos ninhos, com exceção dos tampões e de
uma reentrância formada nas paredes internas, pela remoção de fragmentos utilizados na
construção dos mesmos. Assim como foi observado com
X. frontalis em Morretes, estas
reentrâncias foram localizadas em pontos específicos, próximas à entrada dos ninhos, sendo
que em alguns ninhos duas reentrâncias foram formadas. Esses autores também apontaram
que no caso de uma sucessão dos ninhos, as mesmas reentrâncias foram reutilizadas e,
conseqüentemente, aumentadas.
Em relação aos ninhos-armadilha, o uso de colmos de bambu foi testado com sucesso
por Pereira (2002), em Ribeirão Preto, SP, em que foram ocupados por
X. frontalis e X.
grisescens
. Os diâmetros e espessuras disponíveis estavam entre 1,20 a 2,60 cm e 0,20 a
0,60 cm e os bambus ocupados por
X. frontalis foram aqueles com comprimento entre 16,1
62
a 30,6 cm, diâmetro e espessura entre 1,60 e 2,20 cm e entre 0,30 a 0,50 cm. Do mesmo
modo, também foi observado um desgaste das paredes internas nos locais das células.
Camillo (2003) obteve uma aceitação de 25,9 % por fêmeas de
X. frontalis nos colmos
de bambu em nove meses de estudo. O comprimento dos ninhos-armadilha utilizados
variou de 15,6 a 27,4 cm, com maiores freqüências entre 17,1 e 25,0 cm, diâmetros internos
entre 1,6 a 2,2 cm, com maiores freqüências entre 1,81 e 2,0 cm e espessuras 0,26 e 0,47
cm, com maiores freqüências entre 0,31 e 0,40 cm. O número de células por colmo de
bambu variou de um a seis, com as maiores freqüências entre duas e quatro células.
Em Uberlândia, MG os ninhos de bambu foram utilizados por
X. frontalis, X. suspecta e
X. grisescens.
Utilizando ninhos-armadilha de bambu na Bahia,
X. frontalis nidificou naqueles com
diâmetros maiores que 1,80 cm e também foi observado que suas paredes internas foram
escavadas
(Aguiar et al. 2005).
Neste estudo, o número de células e a preferência por diâmetros entre 1,29 a 2,30 cm e
espessuras entre 0,77 a 1,0 cm diferiu um pouco do trabalho de Aguiar
et al. (2005), Pereira
(2002) e Camillo (2003), principalmente em relação às espessuras.
Além do mais, como estes ninhos são simples, de fácil transporte e baixo custo, tornam-
se ideais para a atração de fêmeas e manipulação dos mesmos. Embora Pereira (2002) e
Camillo (2003) indicarem que este tipo de substrato não permitiria a sua reutilização como
ocorre nos troncos de madeira, Maeta et al. (1985), através do volume das reentrâncias
formadas para a retirada de material para a confecção dos tampões, estimaram que um
mesmo internó foi utilizado por até quatro sucessivas gerações de X. tranquebarorum.
De qualquer maneira, estes ninhos teriam que ser acompanhados em estudos posteriores
para a verificação do reuso dos mesmos pelas próximas gerações e do período estimado
para sua substituição, no caso de um manejo dessas abelhas. Contudo, todos os bambus
utilizados pelas abelhas foram abertos no sentido longitudinal para observação interna, mas
infelizmente ficaram frestas no local do nó e a partir desta interferência os ninhos foram
abandonados pelos adultos que lá estavam.
63
Oferta de substratos com diferentes graus de apodrecimento
Diferentemente dos colmos de bambu, a nidificação em um substrato de madeira
confere certa perenidade aos ninhos de
Xylocopa, representando um grande investimento no
sentido que pode ser
reutilizado por muitos anos. Por isso, a disponibilidade de pedaços de
madeira morta é uma das melhores maneiras de aumentar as populações de espécies de
Xylocopa (Camillo 2003).
As características necessárias para sua utilização estão mais relacionadas (além da sua
maciez e a ausência de fibras fortes) à sua disponibilidade do que à existência de certa
especificidade em relação a alguma espécie botânica. Mas a natureza dos substratos
selecionados ainda é desconhecida para a maioria das espécies de
Xylocopa (Anzenberger
1977).
Este experimento foi feito com uma espécie de
Ficus, por haver uma certa preferência
pela nidificação nessas madeiras na região de Morretes (Melo
et al. 2005).
Em um outro estudo sobre distribuição espacial e preferência de substratos para
nidificação realizado em Uberlândia, MG, também verificou que as espécies de
Ficus
foram as que mais atraíram ninhos de
Xylocopa (Chaves-Alves & Augusto 2005).
Camillo & Garófalo (1982) e Camillo (2003) indicaram que, somente após iniciar a
escavação, a fêmea reconhece se o substrato é adequado ou não para a nidificação. Este
estudo verificou que somente os pedaços de madeira que estavam no solo, visivelmente
mais escuros, foram escavados e não houve nenhum início de escavação naqueles
armazenados no galpão. Portanto, provavelmente exista uma seleção prévia visual e/ou
olfativa aos substratos mais apodrecidos.
A reutilização do ninho de uma espécie por outra foi relatada por Hurd & Moure
(1960):
X. artifex reutilizou ninhos de bambu de
Xylocopa (Stenoxylocopa) nogueirai Hurd
& Moure, 1960 e na Serra da Calçada, MG,
X. artifex também ocupou ninhos de
Xylocopa
(Diaxylocopa) truxali
Hurd & Moure, 1963 (Silveira 2002).
Além da substituição dos ninhos de
X. brasilianorum por X. frontalis, um dos ninhos
continha duas fêmeas de
X. frontalis quando o mesmo ainda era recente. Assim, há um
indício de que o mesmo poderia ter sido fundado por duas fêmeas, o que poderia se tratar
de um exemplo extremo de competição reprodutiva.
64
Estudando os tipos de reativação de ninhos, Hogendoorn & Leys (1993) mostraram que
duas fêmeas poderiam escavar e aprovisionar o ninho durante um certo período até que uma
delas ou as duas o abandonassem. E
quando duas fêmeas de Xylocopa sulcatipes reativaram
ou permaneceram nos seus ninhos de origem, foi comum a ocorrência de canibalismo do
ovo ou oofagia (Stark 1990).
65
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71
Capítulo 3
Aspectos químicos do reconhecimento dos ninhos por
fêmeas de Xylocopa (Neoxylocopa) frontalis (Olivier)
(Hymenoptera, Apidae)
72
Aspectos químicos do reconhecimento dos ninhos por fêmeas de Xylocopa
(Neoxylocopa) frontalis (Olivier) (Hymenoptera, Apidae)
Resumo. Acompanhando o comportamento de nidificação em uma agregação de ninhos de Xylocopa
(Neoxylocopa) frontalis (Olivier, 1789) em Morretes, PR, observou-se o hábito de machos e fêmeas
esfregarem o ápice do metassoma ao redor dos seus ninhos na ocasião dos primeiros vôos ou quando
ocupavam um novo ninho. Essas abelhas estariam utilizando odores individuais para marcar a localização dos
seus ninhos. Para conhecer os componentes envolvidos neste reconhecimento, tentou-se identificar os
compostos orgânicos voláteis através da técnica de cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de
massas, associada ao cálculo dos índices de retenção. Foram aerados ninhos e abelhas separadamente. Os
compostos encontrados nas aerações foram: álcool de artemísia,isovalerato de isopentila, estemona, trans-
hidropineno, isopulegol, tetra-hidro-lavandulol e espatulenol. Entretanto, houve pouca variação em relação
aos perfis químicos nas aerações sugerindo que os sinais olfativos poderiam ser provenientes de moléculas
não voláteis.
Palavras-chave. Abelhas, mamangavas, odores, voláteis, Xylocopini.
Introdução.
Os adultos de muitas espécies de Xylocopa são longevos e exibem um comportamento
parassocial, com duas ou mais fêmeas compartilhando o mesmo ninho, onde é marcante o
cuidado parental. Desta maneira, essas abelhas precisam localizar e reencontrar seus ninhos
durante muito tempo (Gerling et al. 1986; Silveira et al. 2002).
Os vôos de aprendizagem em abelhas e vespas permitem a esses insetos registrarem
uma paisagem em várias posições. Entretanto, os cenários naturais são imprevisíveis e os
sítios de nidificação podem sofrer modificações durante a ausência da abelha no ninho (Zeil
et al.1996).
As espécies de Xylocopa voam grandes distâncias, e adquirem informações visuais
através dos vôos de aprendizagem ou reconhecimento, mas pouco se sabe sobre a
localização dos seus ninhos a curta distância, uma vez que podem ser muito próximos uns
dos outros e, dependendo do tipo de substrato (madeira seca ou galhos), estariam sujeitos a
se quebrarem e mudarem de posição.
Anzenberger (1986) testou a orientação das fêmeas de Xylocopa imitator Smith, 1854
e Xylocopa flavorufa
(DeGeer, 1778) (espécies africanas) na entrada dos seus ninhos e
tentou relacionar o reconhecimento dos ninhos à textura da superfície da entrada, ao sentido
visual ou à ressonância acústica da entrada com relação ao vôo. O mesmo concluiu que as
73
abelhas reconheceram seus ninhos através do olfato, não somente pelo odor da madeira ou
do alimento (que são semelhantes numa agregação), e sim a um odor individual.
Hefetz (1992) conduziu experimentos semelhantes em uma agregação mista de
Xylocopa pubescens Spinola, 1838 e Xylocopa sulcatipes Maa, 1970 em ninhos-armadilha
em Israel, e numa tentativa de descobrir quais os sentidos que estariam envolvidos na
localização dos ninhos, sugeriu que as secreções da glândula de Dufour e/ou o material
fecal, freqüentemente encontrado na entrada dos ninhos, poderiam contribuir ao
reconhecimento dos mesmos.
A análise das secreções da glândula de Dufour de X. sulcatipes realmente varia entre
os indivíduos. Foram observadas diferenças morfológicas e na composição química da
secreção da glândula de Dufour entre espécies, na mesma espécie, entre castas nos
himenópteros sociais e entre indivíduos da mesma casta que desempenham diferentes
funções ou pertencem a ninhos diferentes (Abdalla & Cruz-Landim 2001).
Gerling (1989) sugeriu que tais secreções poderiam se tratar de feromônios para o
reconhecimento individual do ninho. Além disso, Anzenberger (1986) supôs que estas
marcas olfativas individuais também poderiam servir como repelentes contra predadores.
Neste estudo, ao retirar um tronco com um ninho de seu lugar, uma fêmea de Xylocopa
frontalis que retornava ao ninho sobrevoou o local por várias horas até o anoitecer, sem
encontrá-lo. Dias depois a mesma foi vista no seu ninho, que estava a aproximadamente em
um metro e meio de altura, um metro afastado e invertido em relação á posição original.
Também foi observado que as abelhas mais jovens (machos e fêmeas) se confundem,
ou seja, erram a entrada de seus ninhos, caem no chão ao saírem e até mesmo batem em
obstáculos na ocasião dos primeiros vôos ou quando se instalam em um novo ninho, o que
indica a existência de um aprendizado para a localização e reconhecimento dos ninhos.
Em outra observação, uma pupa foi experimentalmente colocada em um dos quadros
dos ninhos de observação e somente este quadro, entre outros 40 disponíveis, foi visitado
por uma fêmea que estava à procura de um novo ninho.
Além disso, algumas abelhas, incluindo os machos, foram vistas esfregando o ápice do
metassoma ao redor dos ninhos: em fevereiro de 2006, por volta de 12:00 horas, uma fêmea
jovem de um ninho bastante ativo retornou, pousou logo embaixo da entrada e movimentou
o metassoma para cima e para baixo, depois caminhou e entrou no ninho. Em março de
74
2006, um macho jovem que ocupou um ninho abandonado também apresentou este
comportamento: saiu do ninho por volta de 10:45 horas, caminhou no tronco em direção
superior à entrada, parou e tocou várias vezes o substrato com o ápice do metassoma, em
seguida voou ao redor do tronco e entrou no ninho. Três horas depois, ao sair, novamente
caminhou para baixo da entrada e repetiu o mesmo comportamento.
Este comportamento foi observado outras vezes, de maneira semelhante, indicando que
essas abelhas utilizariam secreções para marcar a localização do ninho.
Pereira (2002) observou que fêmeas de X. frontalis e Xylocopa grisescens Lepeletier,
1841, ao inspecionarem um colmo de bambu para iniciarem um novo ninho, também
raspavam o ápice do metassoma nas suas paredes internas, cujas secreções eram visíveis.
Como os sinais químicos têm papel relevante na transmissão das informações
biologicamente importantes, a comunicação química entre indivíduos se faz com auxílio de
substâncias biossintetizadas pelo organismo e excretadas para o ambiente (Paiva &
Pedrosa-Macedo 1985).
Na tentativa de conhecer a natureza química dos componentes envolvidos no
reconhecimento dos ninhos de X. frontalis, foi realizada a aeração dos ninhos e abelhas e a
identificação dos principais componentes presentes nesses extratos através da técnica de
cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas CG/EM.
Materiais e métodos
A agregação dos ninhos de X. frontalis estava sob um local coberto, no Instituto
Agronômico do Paraná (IAPAR) (25º30’33’’S; 48°48’30’’W; 64 m)
no município de
Morretes, Paraná.
Para o estudo dos compostos voláteis que podem estar envolvidos no reconhecimento
dos ninhos, foi empregada a técnica de aeração dinâmica. Foram colocados separadamente
em câmeras de aeração: (a) ninho de bambu que fora abandonado, sem células ou abelhas,
mas com suas paredes laterais raspadas pela abelha (substrato), (b) ninho de bambu número
9 (com células e abelhas), (c) o ninho de bambu número 12 (com células e abelhas), (d)
fêmea dominante e fêmea jovem do ninho de bambu número 9, (e) fêmea e macho de um
ninho de guapuruvu.
75
Os componentes voláteis da câmara de aeração a vácuo foram retidos em resinas.
Em cada aeração foram utilizados 150 mg de cada resina (Super Q e Tenax), com um
fluxo de ar de 500 mL/min durante 4 horas. Os voláteis foram dessorvidos das resinas,
utilizando 1ml de hexano e de éter etílico. Os extratos foram mantidos em freezer até
análise por CG/EM. Estas extrações foram realizadas em triplicata.
As análises por CG/EM foram realizadas utilizando uma coluna VA-5 (5% fenil-
metilpolisiloxano) (30 x 0,25 x 0,25 μm), nas seguintes condições: rampa de aquecimento:
60°C, 3°C/min até 240°C, temperatura de injeção 250°C, gás hélio como gás de arraste,
num fluxo de 1 ml/min. Os constituintes foram identificados pelos índices de retenção
calculados através da co-injeção de uma mistura de n-alcanos (Van den Dol & Kratz 1964)
e pela comparação dos seus espectros de massas com a literatura (Adams 2001) e com as
bibliotecas Wiley 138 e Nist 98.
Resultados:
Nos resultados preliminares obtidos das aerações dos ninhos e abelhas houve pouca
variação em relação aos seus perfis químicos. Com exceção do isopulegol e do tetra-hidro-
lavandulol, encontrados na fêmea e no macho provenientes do ninho de guapuruvu (Fig. 3),
e o álcool de Artemísia ausente apenas no ninho 12 (Fig. 1), os outros compostos se
repetiram em todas as aerações dos ninhos de bambu e das abelhas que neles estavam.
Quando se compararam apenas os machos e fêmeas do ninho de guapuruvu, detectou-se um
composto presente apenas nos macho, determinado como o espatulenol (Fig. 3).
A Tabela I mostra os compostos referentes às aerações nos ninhos e abelhas identificados
nos cromatogramas CG/MS e a Tabela II mostra comparações desses compostos.
76
Figura 1. Avaliação preliminar dos voláteis do substrato, ninho 9 com células e fêmeas de Xylocopa frontalis
e ninho 12 com células e fêmeas de Xylocopa frontalis em um CG/EM.
Figura 2. Avaliação preliminar dos voláteis de uma fêmea de Xylocopa frontalis jovem e de uma fêmea de
Xylocopa frontalis ativa do ninho 9 em um CG/EM.
77
Figura 3. Avaliação preliminar dos voláteis da fêmea e do macho de Xylocopa frontalis do ninho de
guapuruvu em um CG/EM.
Tabela 1. Resultados da análise cromatográfica e espectrometria de massas das aerações dos ninhos e das
fêmeas e macho de Xylocopa frontalis em Morretes, Paraná:
Fórmula
estrutural
OH
O
O
NOH
Nomenclatura
(1) Álcool de artemísia
(2) Isovalerato de isopentila
(3) Estemona
Índice de
retenção
calculado
1090
1111 1125
Índice de
retenção da
literatura
1083 1103 1126
78
Fórmula
estrutural
OH
OH
OH
Nomenclatura
(4) Trans-hidropineno
(5) Isopulegol
(6) Tetrahidro-lavandulol
Índice de
retenção
calculado
1129
1142
1150
Índice de
retenção da
literatura
1140 1146 1159
Fórmula
estrutural
OH
H
Nomenclatura
(7) Espatulenol
Índice de
retenção
calculado
1585
Índice de
retenção da
literatura
1576
79
Tabela II. Comparações dos compostos nos ninhos e abelhas:
Compostos
Álcool de
artemísia
Isovalerato
de Isopentila
Estemona
Trans-
hidropineno
Isopulegol
Tetrahidro-
lavandulol
Espatulenol
bambu
X X X X - - -
ninho 9
X X X X - - -
ninho 12
- X X X - - -
filha (9)
X X X X - - -
mãe (9)
X X X X - - -
fêmea (tronco)
X X X X X X
macho (tronco)
X X X X X X X
Discussão
Alguns autores apontaram que as sustâncias de reconhecimento seriam aplicadas
durante a construção do ninho. Anzenberger (1986) assumiu que as mesmas seriam
produzidas pelas glândulas mandibulares, Gerling et al. (1981) concluíram que as mesmas
poderiam obter secreções das glândulas abdominais, que seriam depositadas nas paredes
das células, tanto para impregná-las quanto para formar uma camada.
Por outro lado, Hefetz (1992) associou o fluido retal aos odores de reconhecimento.
Neste estudo não havia material fecal na entrada de todos os ninhos, e os mesmos eram
reconhecidos pelas abelhas.
Em relação às secreções da glândula de Dufour, Frankie & Vinson (1977) testaram se
as secreções dessa glândula em Xylocopa virginica texana Cresson estavam relacionadas à
marcação das flores de Passiflora incarnata Linnaeus, mas houve certa controvérsia em
relação aos resultados obtidos.
80
Embora a natureza química e as funções dos componentes glandulares não estejam
bem esclarecidas para a maioria das espécies, as glândulas responsáveis pela produção
desses compostos estariam associadas aos componentes de outras glândulas abdominais, e
não à glândula de Dufour, pois a mesma é ausente nos machos.
Os estudos relacionados ao reconhecimento parental entre indivíduos coespecíficos
também partem da existência de diferentes odores individuais no seu reconhecimento, e da
mesma maneira, a existência de uma “discriminação aprendida” está envolvida nesta
distinção (Barrows et al.1975).
Mais recentemente, estes estudos estão se baseando nos sinais olfativos contidos na
camada lipídica que cobre a cutícula destes insetos, uma mistura de dezenas de compostos,
a maioria hidrocarbonetos, que são moléculas pesadas e, portanto não voláteis.
Assim, no caso do reconhecimento dos ninhos, a marcação individual poderia estar
relacionada a essas moléculas que não poderiam ser isoladas através da técnica de extração
por aeração, pois devido ao comportamento observado, muitas vezes as abelhas precisam
pousar e tocar no substrato para o seu posterior reconhecimento. Embora não seja
conclusivo, este estudo indica que a sinalização para o reconhecimento dos ninhos não seja
volátil.
Referências:
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wasps. The Journal of Experimental Biology 199: 245–252.
Apresentação:
A Mata Atlântica, formação florestal distribuída ao longo da costa brasileira, formava
originalmente uma faixa de mata contínua desde o estado do Rio Grande do Norte até o norte
do Rio Grande do Sul. Atualmente os poucos remanescentes que restaram, e continuam
sofrendo impactos, abrigam uma das maiores diversidades de espécies do Brasil e do mundo.
Neste contexto, este estudo teve como objetivo conhecer a fauna de abelhas solitárias na
região do Vale do Ribeira, região que abriga os maiores remanescentes florestais contínuos de
Mata Atlântica.
A partir do segundo ano de estudo, houve a oportunidade de estudar a estudo biologia de
nidificação de Xylocopa (Neoxylocopa) frontalis (Olivier, 1789) em Morretes, Paraná,
seguindo a linha de estudos de uma série de editais de pesquisas nacionais na área de
polinização de culturas agrícolas para a conservação e uso sustentável dos polinizadores.
O acompanhamento do comportamento de nidificação de Xylocopa frontalis permitiu a
realização de um estudo mais detalhado sobre os odores individuais dessas abelhas utilizados
para a localização dos seus ninhos.
Desta maneira, este trabalho foi organizado em capítulos separados, dada a diversidade
dos assuntos envolvidos.
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