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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO GEOGRAFIA E GESTÃO DO TERRITÓRIO
ASPECTOS ECOLÓGICOS E SOCIAIS DA DOENÇA DE
CHAGAS NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA, MINAS
GERAIS - BRASIL
PAULO CEZAR MENDES
UBERLÂNDIA/MG
2008
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PAULO CEZAR MENDES
ASPECTOS ECOLÓGICOS E SOCIAIS DA DOENÇA DE
CHAGAS NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA, MINAS
GERAIS - BRASIL
Tese de Doutorado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Geografia da
Universidade Federal de Uberlândia, como
requisito parcial à obtenção do título de
Doutor em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Samuel do Carmo Lima
Uberlândia/MG
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Paulo Cezar Mendes
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município
de Uberlândia, Minas Gerais - Brasil
À toda minha família e,especialmente, minha
esposa Gerusa, motivo de alegria e orgulho
de ser eu o escolhido para viver ao seu lado.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Samuel do Carmo Lima, por sua amizade, paciência, apoio, sabedoria e,
principalmente, pelas horas de valorosa orientação que permanecerão entre os momentos
marcantes de minha vida.
À Universidade Federal de Uberlândia e ao Laboratório de Geografia Médica e Vigilância
Ambiental em Saúde, espaço no qual descobri mais essa face da Geografia.
Aos professores da Faculdade Católica e, em especial, a professora Suely Del Grossi, pelo
exemplo de amor e dedicação ao ensino da Geografia.
Aos meus professores do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, da
graduação à pós-graduação pelos ensinamentos.
Aos amigos do Curso de Pós-Graduação pelo companheirismo durante as aulas.
Ao Felipe Provenzale, que mesmo atarefado, sempre encontrou tempo para ajudar na
elaboração dos materiais cartográficos, e a Amanda por compreender...
Ao Baltazar e Etiene, pela companhia nos trabalhos de campo nos Projetos de
Assentamento de Reforma Agrária.
Aos amigos Rildo, Washington, Mariane e Hugo pelas sugestões e incentivo para a
realização de mais esse passo da minha vida.
À Tânia e ao Sérgio, pelo auxílio e valiosa contribuição na revisão dos originais.
Ao Centro de Controle de Zoonoses e, em especial, aos novos amigos, Jovenil, Alessandro,
Wilson, Iran, Mauro, Daniel, Márcia, Amaral, Flávio e Elizângela, pela ajuda inestimável
nos trabalhos de campo e o provimento dos dados de captura de triatomíneos, sem os quais
não haveria possibilidade de desenvolvimento desse trabalho.
Ao Hospital de Clínicas de UFU e a Secretaria Municipal de Saúde, pelo fornecimento de
dados imprescindíveis para a realização dessa pesquisa.
Aos meus familiares, pela paciência e compreensão.
A todos sou profundamente grato.
RESUMO
Este trabalho objetivou entender o papel da dinâmica do espaço rural na destruição, criação e
recriação de nichos ecológicos que propiciam o desenvolvimento da fauna triatomínea e a endemia
da doença Chagas, no município de Uberlândia-MG, bem como discutir uma possível urbanização
da doença, a partir da presença do agente etiológico e seu vetor na cidade. Para tanto, foram
realizados levantamentos de dados relacionados às notificações de triatomíneos, por localidade, na
fase de vigilância do PCDCh de captura e pesquisa no espaço urbano e rural no período de 2004 a
2007; exame da situação epidemiológica do município; trabalhos de campo para identificação dos
ambientes de possíveis ocorrências de Triatomíneos e análise do uso do solo e cobertura vegetal. A
análise dos dados possibilitou verificar que nas áreas de relevo mais acidentado do município,
correspondente ao vale do rio Araguari, a topografia foi um fator limitante ao uso mais intensivo do
solo, o que possibilitou a permanência de remanescentes significativos de vegetação natural e,
conseqüentemente, nichos ecológicos favoráveis à sobrevivência e reprodução do triatomíneo. Isto
pode ser verificado pelo elevado número de capturas ao longo de todo o vale. Nas outras regiões do
município, de topografia mais suave, formada em grande parte por grandes propriedades voltadas
para a pecuária e a produção de grãos, o desmatamento foi intenso, destruindo os possíveis nichos
ecológicos dos triatomíneos. Por esta razão, as captura de triatomíneos foram bem reduzidas.
A
constatação da existência de corredores ecológicos propícios à ocorrência da fauna
triatomínea, ao longo dos grandes rios sugerem eixos de dispersão do vetor e do agente
etiológico da doença, que integrariam essa região aos circuitos de outras áreas endêmicas
do país. No espaço urbano, a análise dos dados sugeriu que, além do transporte passivo dos
triatomíneos, resultante do intercâmbio de pessoas e produtos entre o campo e a cidade, há nichos
ecológicos de triatomíneos, nas áreas de vegetação nativa preservada, nos parques ecológicos e nas
matas ciliares dos córregos.
Palavras-chave: Doença de Chagas, triatomíneos, espaço urbano, espaço rural.
ABSTRACT
The objective of its piece of work is to understand the dynamic of rural space in distribution,
creation and recreation of ecological spaces that provide the growing of the triatominea fauna and
the endemic disease of Chagas, in Uberlândia borough – MG, as well, discuss a possible
urbanization of that disease, beginning by the presence of the etiological agent and its spreading in
the city. In fact, studies were realized and related data about the triatomines, by locality, in the
phase of vigilance of PCDCh of capture and research in the urban and rural spaces between 2004
and 2007; epidemiological situation of the borough; visits in the field to identify the environments
of possible appearance of triatomines, and analyses of soil use and vegetal covering. The analyses
of data made possible to verify that the more accident surfaces of the borough, corresponds to the
Araguari valley, the topography was a limiting factor to more intensive use of the soil, that made
possible the permanence of reminiscent of natural vegetation and consequently, favorable
ecological niches to survival and reproduction of the triatomines. This can be verified by the high
number of captures in all the valley. In other parts of the county, the smooth topography, formed in
larger part of properties geared of the livestock and grain production, the deforestation was
intensive, destroying the possible ecological niches of triatomines. For that reason, the captures of
triatomines were very reduced. The finding the existence of the favorable ecological corridors to
the occurrence of the triatominea fauna along the major rivers, suggests dispersal axes of the vector
and of the etiological agent of the disease, that should integrate this region to the circuit of the other
endemics areas of the borough. In urban spaces, the analyses of data suggests that, beyond the
passive transport of triatomines , resulted by the people exchanges and the products between the
field and the city, there are ecological niches of triatomines, in the areas of native vegetation
preserved, in the ecological parks and forests gallery of the streams.
Keywords: Chagas disease, Triatomineos, urban spaces, rural spaces.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Lista de Figuras
1 - Vetorização das localidades.............................................................................................. 15
2 - Banco de dados das localidades........................................................................................ 15
3 - Representação quantitativa dos triatomíneos.................................................................... 15
4 - Geração das isolinhas........................................................................................................ 16
5 - Áreas de inquérito entomológico...................................................................................... 16
6 - Uso da terra e cobertura vegetal........................................................................................ 17
7 - Uberlândia: acompanhamento da equipe do PCDCh do CCZ durante visita na
localidade Fazenda Boa Mente..................................................................................
18
8 - Uberlândia (MG): cartilha produzida pela Secretaria Municipal de Saúde e CCZ,
distribuída aos moradores................................................................................................
19
9 - América: distribuição geográfica das áreas endêmicas de doença de Chagas.................. 25
10 - Sinal de Romaña: edema na pálpebra............................................................................. 27
11 - Sinal de Romaña: inflamação no olho............................................................................. 27
12 - Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi............................................................................... 36
13 - Estágios evolutivos de ninfas de triatomíneo, vetor da doença de Chagas.....................
36
14 - Picada do barbeiro seguida de defecação........................................................................ 37
15 - Xenodiagnóstico da Doença de Chagas, onde barbeiros de laboratório vão fazendo
sucção do sangue do paciente suspeito............................................................................
40
16 - Manuscrito de Carlos Chagas em que define a nova doença transmitida pelo
Trypanosoma cruzi...........................................................................................................
41
17 - Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil em Lassance, inaugurada em 26 de
fevereiro de 1908........................................................................................................
42
18 - Chagas e Belisário Penna com a equipe que trabalhava no prolongamento da Estrada
de Ferro Central do Brasil, na região do rio das Velhas, Minas Gerais. Pirapora, 1908.
Sentados, da direita para a esquerda: Carlos Chagas, Belisário Penna, Cornélio
Homem Cantarino Mota - chefe da comissão de engenheiros - e o médico Bahia da
Rocha. Foi nesta casa, situada às margens do rio Buriti Pequeno, que o engenheiro
Cantarino Mota mostrou pela primeira vez a Chagas os insetos, conhecidos como
"barbeiros", que infestavam as moradias da região, alojando-se nas frestas das paredes
de pau-a-pique..................................................................................................................
43
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
ix
19 - O primeiro caso do Mal de Chagas: Berenice................................................................. 44
20 - Decreto do Presidente Hermes R. da Fonseca, 1912....................................................... 45
21 - A penetração na Região do Triângulo Mineiro............................................................... 70
22 - Uberlândia (MG): principais propriedades do Município............................................... 72
23 - Distrito de São Pedro: localização geográfica................................................................. 73
24 – Uberlândia (MG): compartimentação geomorfológica.................................................. 90
25 – Uberlândia (MG): uso do solo e cobertura natural em 2004.......................................... 91
26 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Arlindo Dias...................................... 103
27 - Uberlândia (MG): vista parcial da propriedade e os remanescentes de vegetação no
segundo plano..................................................................................................................
104
28 - Uberlândia (MG): sede da fazenda construída de madeira............................................. 104
29 - Uberlândia (MG): criação de porcos a poucos metros da sede....................................... 105
30 - Uberlândia (MG): galinheiro improvisado num antigo galpão de guarda de
ferramentas onde foram capturados os triatomíneos da espécie T. sordida...........................
105
31 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Boa Mente......................................... 106
32 - Uberlândia (MG): vista parcial da localidade Boa Mente. Ao fundo, umas das
vertentes da vale do rio Araguari, coberto por remanescentes de vegetação natural e
pastagens..........................................................................................................................
107
33 - Uberlândia (MG): à esquerda, a sede da fazenda; à direita, vista parcial da sede da
fazenda e, ao fundo, ruptura de declive coberta por remanescentes de vegetação e
pastagem..........................................................................................................................
108
34 - Uberlândia (MG): na esquerda, o chiqueiro, onde são criados quatro porcos; ao
centro o depósito utilizado para guardar equipamentos e materiais de trabalho da
fazenda. Nesse mesmo local, algumas galinhas fazem seus ninhos. No fundo, a sede
da fazenda, onde foram capturados os triatomíneos, no quarto e na sala........................
109
35 - Uberlândia (MG): reprodução e criação de aves no anexo da casa, junto da
cozinha.............................................................................................................................
109
36 - Uberlândia (MG): preparação do inseticida.................................................................... 110
37 - Uberlândia (MG): borrifação no domicílio e peri-domicílio.......................................... 110
38 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Eurides Batista................................... 111
39 - Uberlândia (MG): sede e PIT da Fazenda Eurides Batista.............................................. 112
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
x
40 - Uberlândia (MG): vista parcial do lago e entorno da sede.............................................. 112
41 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Santa Tereza...................................... 113
42 - Uberlândia (MG): sede da fazenda.................................................................................. 114
43 - Uberlândia (MG): vista parcial do galpão de ferramentas e abrigo para carroça.
Observar-se a madeira em pé para evitar a presença de animais e insetos......................
115
44 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Pedreira.............................................. 116
45 - Uberlândia (MG): no segundo plano, vista parcial da sede da fazenda.......................... 116
46 - Uberlândia (MG): vista parcial de uma das fazendas vizinhas destinadas ao cultivo de
hortaliças..........................................................................................................................
117
47 - Uberlândia (MG): galinha chocando dentro de uma churrasqueira e numa cuba de
pia, ao lado da parede da sala...........................................................................................
118
48 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Pedreira.............................................. 118
49 - Uberlândia (MG): PIT da localidade 57, na qual funciona uma venda........................... 119
50 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Veadinho............................................ 120
51 - Uberlândia (MG): local onde os triatomíneos foram capturados no ano de 2004 e
2005.................................................................................................................................
121
52 - Uberlândia (MG): sede da fazenda cercada por vegetação............................................. 122
53 - Uberlândia (MG): peridomicílio da sede da fazenda onde são cultivadas árvores
frutíferas e criação de galinhas.........................................................................................
122
54 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Pedra.................................................. 124
55 - Uberlândia (MG): no primeiro plano, área de pastagem. No segundo plano, sede da
fazenda, rodeada por vegetação nativa e introduzida próxima a calha do Rio
Uberabinha. No terceiro plano, vista parcial do bairro Laranjeira e São Jorge...............
124
56 - Uberlândia (MG): casa sendo invadida pela vegetação.................................................. 125
57 - Uberlândia (MG): quintal repleto de lixo e entulho........................................................ 125
58 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Floresta do Lobo................................ 126
59 - Uberlândia (MG): na parte superior, à esquerda, florestamento de pinus, à direita
cultivo de milho. Na parte inferior, à esquerda, lavoura de soja e, à direita,
pastagem...........................................................................................................................
127
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
xi
60 - Uberlândia (MG): à esquerda, casa 30, onde foi feita a entrevista. À direita, sede de
fazenda Floresta do Lobo.................................................................................................
127
61 - Uberlândia (MG): vista parcial da casa 31, localizada na Fazenda Floresta do
Lobo.................................................................................................................................
128
62 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Veadinho............................................ 129
63 - Uberlândia (MG): da esquerda para direita, atividade de silvicultura ao longo da
rodovia, cultivo de soja irrigada e pecuária de corte na região........................................
129
64 - Uberlândia (MG): sede da fazenda visitada.................................................................... 130
65 - Uberlândia (MG): à esquerda, o quintal plantado com árvores frutíferas e, à direita, o
galinheiro, cujo entorno é protegido com tela..................................................................
130
66 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Santa Maria........................................ 132
67 - Uberlândia (MG): vista parcial da sede da Fazenda Água Limpa.................................. 133
68 - Uberlândia (MG): à esquerda, funcionário da fazenda, no preparo de herbicida; à
direita, galpão utilizado como sala de aula......................................................................
133
69 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Poderosa............................................ 134
70 - Uberlândia (MG): paisagem comum na região: extensas áreas de pastagens com
poucas árvores espalhadas...............................................................................................
135
71 - Uberlândia (MG): vista parcial da sede da propriedade.................................................. 135
72 - Uberlândia (MG): à esquerda, edificação de um paiol no peridomicílio para o
armazenamento de milho e; à direita vista parcial da mata semi-decídua que margeia
o Rio Panga......................................................................................................................
117
73 - Uberlândia (MG): croqui da localidade Fazenda Nazir Zacarias.................................... 137
74 - Uberlândia (MG): vegetação remanescente nas áreas próximas aos cursos d`água....... 137
75 - Uberlândia (MG): tatu-peba capturado e posteriormente solto por agente do CCZ....... 137
76 - Uberlândia (MG): sede da fazenda Nazir Zacarias em meio a vegetação e o curral.......
138
77 - Uberlândia (MG): busca ativa no peridomicílio e intradomicílio da sede da fazenda
Nazir Zacarias..................................................................................................................
139
78 - Uberlândia (MG): peridomicílio da propriedade, lavado recentemente......................... 139
79 - No primeiro plano, cerrado em regeneração, próximo ao córrego Macumbé. No
segundo plano, a sede do lote 2, em meio a área de pastagem........................................
155
80 - À esquerda, entulho de materiais, ao lado da sede do lote 9. À direita, amontoado de
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
xii
lenha e outros materiais, ao lado da sede do lote 1, capazes de atrair insetos e animais
peçonhentos......................................................................................................................
157
81 - Uberlândia (MG): à esquerda, casa de alvenaria sem reboco (Lote 13); à direita, casa
feita de madeira (Lote8)...................................................................................................
160
82 - Criação de cachorros e aves junto das casas do lote 12 e 14.......................................... 161
83 - Uberlândia (MG): exemplar de Panstrongylus diasi...................................................... 175
84 - Uberlândia (MG): vista parcial da casa 36 da localidade Fazenda Pedra construída
junto à mata ciliar do rio Uberabinha...............................................................................
177
85 - Uberlândia (MG): exemplar de Panstrongylus megistus................................................ 178
86 - Uberlândia (MG): exemplar de Rhodnius prolixus......................................................... 181
87 - Uberlândia (MG): exemplar de Rhodnius neglectus........................................................
183
88 - Uberlândia (MG): exemplar de Rhodnius sórdida..........................................................
186
89 - Uberlândia (MG): Centro de Controle de Zoonose – Exame de conteúdo intestinal dos
triatomíneos......................................................................................................................
223
Lista de Gráficos
1 - Soroprevalência ao T. cruzi por faixa etária na Venezuela, durante o período de 1958 a
2007..................................................................................................................................
31
2 - Brasil: Doença de Chagas Aguda – Casos confirmados por Estado no período de 2001
a 2006...............................................................................................................................
58
3 - Brasil: Doença de Chagas Aguda – Casos confirmados por modo de infecção e faixa
etária no período de 2001 a 2006......................................................................................
59
4 - Brasil: Doença de Chagas Aguda – Casos confirmados por zona de residência no
período de 2001 a 2006....................................................................................................
60
5 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, evolução no período de 2001 a 2006.............. 61
6 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, por faixa etária, no período de 2001 a
2006..................................................................................................................................
62
7 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, evolução dos casos, no período de 2001 a
2006..................................................................................................................................
63
8 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda diagnosticadas no período de 2001 a 2006......
65
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
xiii
9 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, modo de infecção no período de 2001 a
2006..................................................................................................................................
65
10 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, por zona de residência, no período de 2001
a 2006...............................................................................................................................
66
11 - Uberlândia (MG): participação dos setores econômicos na formação do PIB –
2004..................................................................................................................................
76
12 - Uberlândia (MG): percentual de área ocupada por lavoura, 1920 – 2004....................... 79
13 - Uberlândia (MG): percentual de área ocupada por pastagens natural e artificial, 1920
– 2004...............................................................................................................................
79
14 - Uberlândia (MG): modalidades de utilização do solo em relação a área total do
município, 1988- 2004......................................................................................................
81
15 – Uberlândia (MG): nº proprietários rurais por estrutura fundiária, 2006......................... 84
16 - Uberlândia (MG): condição de posse na área rural, 2006............................................... 84
17 - Uberlândia (MG): uso e ocupação da área rural, 2006.................................................... 85
18 - Uberlândia (MG): atividades agrícolas, 2006.................................................................. 85
19 - Uberlândia (MG): energia elétrica na área rural, 2006.................................................... 86
20 - Uberlândia (MG): destino do lixo das propriedades rurais, 2006.................................... 87
21 - Uberlândia (MG): destino do esgoto das propriedades rurais, 2006............................... 87
22 - Uberlândia (MG): mão-de-obra utilizada no campo, 2006.............................................. 88
23 - Uberlândia (MG): tempo de moradia, 2007..................................................................... 141
24 - Uberlândia (MG): renda familiar dos moradores, 2007................................................... 142
25 - Uberlândia (MG): condições das moradias, 2007........................................................... 143
26 - Uberlândia (MG): escolaridade dos moradores, 2007...................................................... 144
27 - Uberlândia (MG): atividade agrícola predominante na Área 1....................................... 144
28 - Uberlândia (MG): atividade agrícola predominante na Área 2....................................... 145
29 - Uberlândia (MG): atividade agrícola predominante, no passado, na Área 1................... 146
30 - Uberlândia (MG): atividade agrícola predominante, no passado, na Área 2...................
146
31 - Uberlândia (MG): uso de defensivos agrícolas, 2007...................................................... 147
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
xiv
32 - Uberlândia (MG): uso de defensivos agrícolas no passado............................................. 147
33 - Uberlândia (MG): tem conhecimento sobre a doença, 2007........................................... 148
34 - Uberlândia (MG): conhecimento sobre como contrai a doença, 2007............................ 149
35 - Uberlândia (MG): caso da doença na família, 2007........................................................ 149
36 - Uberlândia (MG): realização de exames para diagnosticar se é portador da doença,
2007..................................................................................................................................
150
37 - Uberlândia (MG): conhecimento sobre as conseqüências da doença, 2007....................
150
38 - Uberlândia (MG): conhecimento sobre como se proteger contra a doença,
2007..................................................................................................................................
151
39 - Uberlândia (MG): conhecimento sobre os vetores da doença, 2007............................... 152
40 - Uberlândia (MG): conhecimento sobre os locais que os vetores podem ser
encontrados, 2007.............................................................................................................
152
41 - Uberlândia (MG): encontro do barbeiro no lote, 2007.................................................... 153
42 - Uberlândia (MG): ouviu comentários sobre o encontro de barbeiro na região,
2007..................................................................................................................................
153
43 - Uberlândia (MG): conhece alguém da localidade que tem a doença, 2007....................
154
44 - Uberlândia (MG): conhecimento sobre como se prevenir da doença, 2007.................... 158
45 - Uberlândia (MG): conhecimento sobre o contágio da doença, 2007............................... 159
46 - Uberlândia (MG): conhecimento sobre o vetor da doença, 2007.................................... 159
47 - Uberlândia (MG): condições da moradia, 2007............................................................... 160
48 - Uberlândia (MG): condições da moradia, 2007............................................................... 161
49 - Uberlândia (MG): perfil econômico dos moradores, 2007.............................................. 162
50 - Uberlândia (MG): escolaridade dos moradores, 2007..................................................... 162
51 - Uberlândia (MG): faixa etária dos moradores, 2007....................................................... 163
52 - Uberlândia (MG): destinação do lixo, 2007.................................................................... 164
53 - Uberlândia (MG): índice de captura em relação as localidades positivadas pela
presença do T. Sórdida no período de 2004 a 2007.........................................................
188
54 - Uberlândia (MG): distribuição geográfica dos triatomíneos sinantrópicos capturados
no período de 2004 a 2007...............................................................................................
191
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
xv
55 - Uberlândia (MG): espécies de triatomíneos capturados no período de 2004 a 2007...... 196
56 - Uberlândia (MG): infestação intra e peridomiciliar das espécies de triatomíneos
capturados no período de 2004 a 2007.............................................................................
197
57 - Uberlândia (MG): notificações de captura de triatomíneos sinantrópicos no período de
2004 a 2007......................................................................................................................
199
58 - Uberlândia (MG): índice das notificações de captura de triatomíneos sinantrópicos em
relação as precipitações no período de 2004 a 2007........................................................
200
59 - Uberlândia (MG): notificações de captura de triatomíneos sinantrópicos por espécie
no período de 2004 a 2007...............................................................................................
202
60 - Uberlândia (MG): crescimento populacional, 1940 – 2007............................................. 204
61 - Uberlândia (MG): evolução da população urbana e rural, 1940 – 2007.......................... 204
62 - Uberlândia (MG): origem dos portadores da doença de Chagas atendidos no Pronto
Socorro da UFU - 1999 à 2007.....................................................................................
211
63 - Uberlândia (MG): década de nascimento dos pacientes chagásicos internados no
Hospital de Clínicas da UFU - 1999 à 2007.....................................................................
212
64 - Uberlândia (MG): população de jovens e adultos portadoras da doença de Chagas
atendidas no Ambulatório do Hospital de, Clinicas da UFU - 1999 a 2007....................
213
Lista de Cartogramas
1 - Uberlândia (MG): área de estudo....................................................................................... 7
2 - Uberlândia (MG): hipsometria........................................................................................... 93
3 - Uberlândia (MG): declividade........................................................................................... 94
4 - Uberlândia (MG): distribuição geográfica das localidades............................................... 101
5 - Uberlândia (MG): localidades visitadas para avaliação ambiental e sócio-econômico,
2007..................................................................................................................................
102
6 - Uberlândia (MG): Projeto de Assentamento de Reforma Agrária Zumbi dos
Palmares...........................................................................................................................
156
7 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos capturados em 2004................................ 167
8 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos capturados em 2005................................ 169
9 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos capturados em 2006................................ 171
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
xvi
10 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos capturados em 2007.............................. 174
11 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos Panstrongylus diasi capturados no
período de 2004 a 2007....................................................................................................
176
12 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos Panstrongylus megistus capturados no
período de 2004 a 2007....................................................................................................
180
13 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos Rhodnius prolixus capturados no
período de 2004 a 2007....................................................................................................
182
14 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos Rhodnius neglectus capturados no
período de 2004 a 2007....................................................................................................
185
15 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos Triatoma sordida capturados no
período de 2004 a 2007....................................................................................................
187
16 - Uberlândia (MG): Áreas de ocorrência de captura de Triatomíneos Sinantrópicos no
período de 2004 a 2007....................................................................................................
192
17 - Uberlândia (MG): Triatomíneos Sinantrópicos capturados no período de 2004 a
2007..................................................................................................................................
195
18 - Uberlândia (MG): evolução dos loteamentos década de 1940 a 2000............................. 205
19 - Mesorregião do Triângulo/Alto Paranaíba (MG): origem dos portadores da Doença de
Chagas atendidos no Ambulatório do Hospital de Clínicas da UFU, no período de
1999 a 2007......................................................................................................................
214
20 - Uberlândia (MG): distribuição espacial dos portadores da Doença de Chagas por
bairro, atendidos no Ambulatório do Hospital de Clínicas da UFU, no período de 1999
a 2007...............................................................................................................................
216
21 - Uberlândia (MG): locais de captura de triatomíneos sinantrópicos no espaço urbano
no período de 2004 a 2007...............................................................................................
220
LISTA DE TABELAS
1 - Prevalência da infecção por Trypanosoma cruzi em algumas regiões das Américas........ 22
2 - Doença de Chagas Aguda – Casos confirmados por zona de residência no período de
2001 a 2006......................................................................................................................
60
3 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, por faixa de escolaridade, no período de
2001 a 2006......................................................................................................................
61
4 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, por local de infecção, no período de 2001 a
2006..................................................................................................................................
64
5 - Uberlândia (MG): modalidades de utilização da terra em relação à área total do
município, 1950 a 2004....................................................................................................
77
6 - Uberlândia (MG): evolução da população urbana e rural, 1920-2007.............................. 77
7 - Uberlândia: estratificação rural, 2006................................................................................ 84
8 - Uberlândia: quantidade máquinas agrícolas, 2006............................................................ 88
9 - Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados nas 942 unidades
domiciliares no ano de 2004.............................................................................................
166
10 - Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados nas 1220 unidades
domiciliares no ano de 2005.............................................................................................
168
11 - Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados nas 822 unidades
domiciliares no ano de 2006.............................................................................................
170
12 - Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados nas 821 unidades
domiciliares no ano de 2007.............................................................................................
172
13 - Uberlândia (MG): Totais de capturas de triatomíneos sinantrópicos por localidade no
período de 2004 a 2007
190
14 - Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados no período de 2004 a 2007.. 194
15 - Uberlândia (MG): início e término das estações chuvosa e seca relacionadas à captura
de triatomíneos sinantrópicos, no período de 2004 a 2007..............................................
201
16 - Uberlândia (MG): unidades habitacionais construídas pelo PAIH, no período de
outubro de 1991 a junho de 1993.....................................................................................
210
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
2
LISTA DE QUADROS
1 - Brasil: resumo dos principais avanços no controle da doença de Chagas......................... 57
2 - Uberlândia: principais propriedades e atividade econômica, 1916................................... 74
xviii
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1
1.1 - Localização e caracterização da área de estudo.............................................................. 6
2 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................................. 12
3 - A DOENÇA DE CHAGAS NO CONTINENTE AMERICANO................................ 21
4 - A DOENÇA DE CHAGAS NO BRASIL....................................................................... 34
4.1 - O Trypanosoma cruzi...................................................................................................... 35
4.2 - A Descoberta da doença de Chagas................................................................................ 41
4.3 - Tripanossomíase Americana: ações de controle e situação do Brasil............................. 46
4.3.1 - O combate vetorial à doença de Chagas............................................................ 47
4.3.2 - Situação da doença de Chagas no Brasil............................................................ 56
5 - A DOENÇA DE CHAGAS NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA (MG).................. 67
5.1 - A dinâmica da ocupação e organização do espaço rural de Uberlândia-MG................. 69
5.2 - As condições sócio-econômicas-ambientais e fauna triatomínea no espaço rural de
Uberlândia (MG)...........................................................................................................
89
5.2.1 - Caracterização física e sócio-ambiental das Unidades Geomorfológicas do
Município de Uberlândia (MG)........................................................................
92
5.2.1.1 - Localidades inseridas nas áreas de relevo intensamente dissecado... 100
5.2.1.2 - Localidades inseridas na área de relevo dissecado e área de relevo
com topo plano.................................................................................
123
5.2.2 – Síntese das condições sócio-cultural e ambiental, uso do solo e a doença de
Chagas, no espaço rural do município de Uberlândia (MG)............................
140
5.2.3.1 – Perfil dos moradores.......................................................................... 141
5.2.3.2 – Conhecimento relativo a doença de Chagas e seu vetor................... 148
5.2.3 - Projeto de Assentamento de Reforma Agrária Zumbi dos Palmares:
considerações sobre a ocorrência de vetores da doença de Chagas.................
154
5.3 - Uberlândia (MG): Distribuição geográfica e indicadores entomológicos de
triatomíneos sinantrópicos capturados no período de 2004 a 2007...........................
164
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
xix
5.3.1 - Localidades averiguadas e indicadores entomológicos no período
selecionado para análise................................................................................
166
5.3.2 - Distribuição espacial das espécies de triatomíneos sinantrópicos
capturados, no período de 2004 a
2007............................................................................
175
5.3.3 - Síntese da distribuição geográfica e indicadores entomológicos do
município de Uberlândia (MG).....................................................................
189
5.4 - Urbanização, doença de Chagas e os trabalhos do PCDCh em Uberlândia................... 203
6 - CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES......................................................................... 224
7 - REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 231
8 – ANEXOS.......................................................................................................................... 244
T
riatomíne
o
1 – INTRODUÇÃO
A ocorrência de triatomíneos sinantrópicos, nas unidades domiciliares, em áreas
intensamente transformadas pelas atividades produtivas, no meio rural, constitui, ainda
hoje, um problema a ser considerado nos trabalhos de vigilância em saúde, em todo o país.
Mesmo em regiões cujas atividades de agricultura e pecuária reduziram a vegetação
nativa a diminutas áreas, persistem populações de triatomíneos silvestres, mantendo
valência ecológica suficiente para colonização das habitações humanas e anexos,
localizados próximos a essas áreas. Essa situação aumenta o risco de transmissão vetorial
da doença de Chagas, uma vez que, mesmo em nível baixo, o Trypanosoma cruzi continua
presente nesses ambientes, sob forma de enzootia silvestre (FORATTINI et al, 1979).
A história da descoberta da doença de Chagas começa quando o Dr. Carlos
Justiniano Ribeiro das Chagas, pesquisador de Manguinhos, foi indicado por Oswaldo
Cruz para liderar uma campanha contra a malária, no município de Lassence (MG), em
1907.
Além de cuidar dos pacientes, Carlos Chagas se dedicava também ao estudo das
doenças que afetavam os moradores e operários que trabalhavam na construção da Estrada
de Ferro Central do Brasil. Não tardando muito, por meio desses estudos, Carlos Chagas
verificou a relação existente entre os triatomíneos que infestavam as moradias e a moléstia
que afligia grande parte da população, desvelando, em 22 de abril de 1909, a doença de
Chagas, considerada, ainda hoje, uma das protozooses de maior gravidade em Minas
Gerais, estado de sua descoberta, no Brasil (DELAPORT, 2003).
Classificada como uma zoonose, a doença de Chagas ou tripanossomíase americana
estava, inicialmente, limitada aos mamíferos de menor porte das matas e campos do
continente Americano, da Patagônia até o sul dos Estados Unidos, adaptados à presença
dos triatomíneos (vetor da doença); entre eles circulava o protozoário Trypanosoma cruzi,
sem causar danos nocivos aos seus organismos (DIAS, 1993).
Para que passasse a ser transmitida ao homem e se tornasse uma endemia, em
grande parte do território sul-americano, ocorreu primeiro a fixação em domicílio dos
vetores da doença. Inicialmente, esse processo foi conseqüência da ação antrópica sobre o
meio ambiente e das precárias condições de vida das populações nas áreas de risco, mais
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
2
diretamente das características de habitação, o que, aliado aos atributos próprios do vetor,
basicamente do seu fototropismo, de sua hematofagia estrita e tigmotaxia, favorecia a
colonização dos triatomíneos, nos domicílios e peridomicílios (SILVEIRA, 2002).
Passado quase um século de sua descoberta, a doença de Chagas constitui, ainda
hoje, um sério problema de saúde pública, não só no Brasil, mas também na grande
maioria dos países da América do Sul e Central, sendo registrados casos recentes, inclusive
nos EUA, que podem estar relacionados às migrações, principalmente mexicanas, para a
porção sul do país (CARCAVALLO, 1999). Estima-se que 16 a 18 milhões de pessoas, no
continente americano, estejam infectadas pelo Trypanosoma cruzi. A maioria desses casos
teve origem nas áreas rurais, onde as infestações, nas unidades domiciliares pelos
triatomíneos, deslocados de seus ambientes naturais, adaptaram-se a outras fontes
alimentares, dentre elas o sangue humano e de animais domésticos.
No século XX, o maior responsável pela transmissão vetorial da doença de Chagas,
no Brasil foi o Triatoma infestans, originado nos vales intra-andinos da Bolívia.
Domiciliado e disseminado pelas migrações pré-colombianas (FORATINNI, 1980), teve
sua dispersão no Brasil, inicialmente, facilitada pelos processos de colonizações,
migrações internas e expansão da fronteira agrícola, com edificação de moradias de
péssimas condições, que facilitavam sua infestação e reprodução.
Além disso, há os vetores tidos como secundários na transmissão da doença,
triatomíneos autóctones silvestres, como Triatoma sordida, Triatoma brasiliense,
Panstrogelus megistus, Rhodnius neglectus, dentre outros, que, com o avanço da ocupação
das áreas de cerrado e os conseqüentes desequilíbrios ecológicos, passaram a infestar o
domicílio e o peridomicílio das precárias habitações dos trabalhadores rurais.
Entretanto, nas últimas décadas, as ações dos Programas de Controle da doença de
Chagas, aliadas ao êxodo rural, produziram uma queda significativa na transmissão da
doença e, por isso, o Brasil recebeu da OMS (Organização Mundial de Saúde) uma
certificação de área livre de doença de Chagas por Triatoma infestans (DRUMOND e
MARCOPITO, 2006).
Várias foram as campanhas de controle dos vetores da doença de Chagas no Brasil,
para que ele pudesse receber essa certificação. Merecem destaque os trabalhos do Serviço
Nacional de Malária, nas décadas de 1950 e 1960, e da Superintendência de Campanhas de
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
3
Saúde Pública (SUCAM), na década de 1970, sendo esta, atualmente, denominada
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), cujas ações foram centradas, principalmente, no
controle químico das populações de triatomíneos.
O combate aos triatomíneos faz-se aplicando inseticidas de efeito residual nas
paredes das casas, depósitos, galinheiro, currais e estábulos em que se verifique
a presença de insetos adultos, ninfas, ou ovos; ou de todas as construções da
localidade ou área endêmica. O efeito residual, prolongado, consegue-se quando
a droga aplicada permanece semanas ou meses nas superfícies tratadas, por não
ser volátil nem decompor-se ou perder a toxidade para insetos (REY, 2001,
p.164).
Outro modo de combate ao vetor da doença, iniciado na década de 1960, no Brasil,
e utilizado até hoje, é a melhoria da habitação, no meio rural. Todavia, observou-se que
grande parte das melhorias ocorridas esteve mais relacionada à elevação de renda da
família rural do que às campanhas da FUNASA. Em relação ao tipo de habitação, o estilo
ou padrão de moradia, de certo modo, é uma materialização cultural das pessoas que ali
habitam, em alguns casos há várias gerações. Em algumas situações, somente a melhoria
da habitação significa muito pouco, na prevenção da transmissão da doença.
A habitação diz muito mais de perto ao povo que o inseticida. A casa rural é o
reflexo do homem rural, expressando na área endêmica a pobreza, a
provisoriedade, a subagregação social do chagásico. Mexer na casa é mexer
diretamente com as pessoas e com as relações entre as pessoas. Significa
intervenção profunda, um revolver de toda a estrutura social, trazendo-se
especificamente à tona os problemas da economia grupal, da posse da terra, das
relações de posse, de poder e de trabalho (DIAS, 1986, p.34).
Reconhecidamente, o Programa Nacional de Controle da Doença de Chagas teve
um papel importante para a diminuição significativa na ocorrência de novos casos da
doença, nas últimas décadas, levando vários municípios à condição de vigilância
epidemiológica, caracterizada por uma situação de controle da transmissão vetorial.
Todavia, isso só foi possível por causa da conjugação coincidente das ações do Programa
com fatores de ordem sócio-econômica que ocorreram no meio rural, ou seja, o
esvaziamento do campo (êxodo rural), melhoria da renda e a conseqüente melhoria das
habitações, luz elétrica, acesso à educação, à saúde etc.
O município de Uberlândia, localizado no estado de Minas Gerais, está inserido
nesse contexto. A incorporação de novas tecnologias no processo produtivo, a introdução
de novas culturas, a melhoria da infra-estrutura de apoio às atividades agrícolas, baseadas
em um conjunto de políticas agrícolas, culminaram numa reestruturação do seu espaço
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
4
agrário, cujos reflexos, além da diminuição das famílias que habitavam o campo, fizeram-
se sentir na destruição, criação e manutenção de nichos ecológicos naturais e artificiais que
propiciam a ocorrência da fauna triatomínea, repercutindo no número de casos da doença
de Chagas, por ação vetorial.
No caso deste trabalho, entender como essa reestruturação do espaço rural
influenciou a destruição ou a formação de nichos ecológicos favoráveis à ocorrência de
triatomíneos é de suma relevância, pois, além de contribuir para um melhor entendimento
do comportamento do vetor, no município de Uberlândia, abre a possibilidade da tomada
de medidas mais eficazes ao seu controle, bem como a identificação de áreas de maior
risco de transmissão vetorial, justificando a pertinência deste, que busca respostas para as
seguintes questões, relacionadas aos triatomíneos e à doença de Chagas.
- A ocorrência de triatomíneos no município é fruto de um processo de ocupação ou
determinada pelas condições ambientais naturais da região?
- A sua maior incidência, na região de relevo mais movimentado do município,
mais precisamente no vale do rio Araguari, está relacionada à preservação de nichos
ecológicos ou ao fato de ser praticada nesse local, um modo produtivo com técnicas mais
rudimentares?
- A ocorrência esporádica de capturas de triatomíneos sinantrópicos, nas áreas de
relevo dissecado e topo plano do município, relaciona-se ao processo de ocupação do
espaço rural, com a destruição de seus nichos ecológicos, ou as condições físico-biológicas
desse espaço constituíram-se em fatores limitantes para a ocorrência desses triatomíneos?
- A percepção ambiental e as relações que o homem estabelece com o meio
ambiente influenciam no seu modo de agir em relação à criação de ambientes propícios à
proliferação de triatomíneos ou o processo de domiciliação dos triatomíneos é fruto de um
potencial de ocupação de novos nichos ecológicos, sujeito às características específicas de
cada espécie?
- A conjugação da presença de reservatórios humanos de T. cruzi (pacientes
chagásicos) com a captura, cada vez mais freqüente de triatomíneos no espaço urbano
representa um efetivo risco de transmissão vetorial? Isso significaria a urbanização da
doença de Chagas em Uberlândia.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
5
Atualmente, o município encontra-se sob vigilância epidemiológica; status
adquirido pelos resultados positivos da campanha de cunho vetorial, inicialmente
implantada pela SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública Ministério da
Saúde), que praticamente suprimiu a população domiciliada de T. infestans, no município.
Entretanto, a eliminação dessa espécie de triatomíneo não protegeu a população do espaço
rural da ação de outras espécies de triatomíneos silvestres, como o T. sordida, dotado de
uma valência ecológica que tem possibilitado o seu acesso aos domicílios e peridomicílios
das habitações localizadas fora do perímetro urbano, criando um novo quadro
epidemiológico (FORATTINI l, 1971).
Baseado nessas questões, este trabalho objetiva entender o papel da dinâmica do
espaço rural na destruição, criação e recriação de nichos ecológicos que propiciam o
desenvolvimento da fauna triatomínea e a endemia da doença Chagas, no município de
Uberlândia-MG, bem como discutir uma possível urbanização da doença, a partir da
presença do agente etiológico e seu vetor na cidade.
Vale salientar que as resoluções das problemáticas aqui descritas não objetivam
traçar um quadro imutável, principalmente no que se refere à distribuição dos vetores no
município; ao contrário, elas ensejam dar a elas um caráter dinâmico, baseado nas
mudanças naturais e artificiais sofridas no espaço rural. Elas objetivam, ainda, dentro de
suas limitações, auxiliar nas atividades de controle vetorial da doença de Chagas que são
realizadas pelo Centro de Controle de Zoonoses do município de Uberlândia. Assim, nesta
perspectiva, este trabalho foi estruturado em uma introdução e mais cinco capítulos:
A introdução, que procurou apresentar o trabalho, seu objeto e objetivos,
localização e caracterização da área de estudo e as razões que levaram à escolha da área e
do tema.
A metodologia, que se constitui no método empregado para o desenvolvimento
deste trabalho, bem como nas etapas para a elaboração do material cartográfico, o qual
serviu de base para as análises da distribuição espacial dos triatomíneos, no município de
Uberlândia-MG.
A doença de Chagas no Continente Americano, que buscou oferecer um quadro da
situação atual da doença no continente americano, destacando alguns países pela gravidade
da endemia e/ou pelas ações de combate à doença de Chagas.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
6
A doença de Chagas no Brasil, que apresenta, além de uma análise bibliográfica e
de dados referente ao Trypanosoma cruzi, a descoberta da doença, as ações de combate
vetorial e sua atual situação no Brasil.
A estruturação do espaço rural e a doença de Chagas no município de Uberlândia
(MG), reservado para uma exposição histórica do uso e ocupação do município; discussão
das relações sócio-econômico-ambientais e a fauna triatomínea do espaço rural; e, por
último, uma análise de distribuição espacial dos triatomíneos sinantrópicos capturados no
município e dos indicadores entomológicos.
A conclusão e considerações finais, que procura apresentar o que foi obtido e
apreendido com o trabalho, exposição abreviada da validade do método, as dificuldades
encontradas, perspectivas para futuras pesquisas, contribuições para o tema de estudo, bem
como uma avaliação pessoal sobre este.
1.1 - Localização e caracterização da área de estudo
O município de Uberlândia localiza-se entre as coordenadas geográficas de latitude
18º 30’ e 19º 30’ Sul e, 47º 50’ a 48º 50’ de longitude Oeste do meridiano de Greenwich,
na microrregião do Triângulo Mineiro, no oeste do estado de Minas Gerais (LIMA l,
1999), como mostra o Cartograma 1.
Além do distrito sede, o município conta ainda com mais quatro distritos: Cruzeiro
dos Peixotos, Martinésia, Miraporanga e Tapuirama. Sua área de 4.040 quilômetros
quadrados é ocupada, segundo estimativas do IBGE para o ano 2007, por 606.301
habitantes na área urbana e 10.044 no espaço rural, totalizando 615.345 habitantes.
Uberlândia interliga-se a outros centros pelas rodovias BR-365, BR-452, BR-050 e
BR-497. Limita-se ao Norte com os municípios de Araguari e Tupaciguara; ao Sul com
Uberaba, Veríssimo e Prata; a oeste com Monte Alegre de Minas e a leste com
Indianópolis.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
8
Em relação aos aspectos climáticos, o município é classificado, segundo Köppen,
como Aw, levando-se em consideração o comportamento pluviométrico e a variação das
temperaturas, ao longo do ano. Na classificação de Arthur Strahler, que leva em
consideração principalmente a natureza e ação das massas de ar, Uberlândia está inserida
no grupo climático Tropical Semi-úmido, caracterizado por duas estações definidas, sendo
o verão marcado por temperaturas elevadas e chuvas intensas e o inverno com
temperaturas amenas e baixos índices ou, até mesmo, inexistência de precipitação
(AYOADE, 1991).
Baseado nos registros meteorológicos provenientes do Laboratório de Climatologia
e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Uberlândia, a precipitação e a temperatura
média dos últimos 20 anos foram, respectivamente, 22,2ºC e 1.595,7mm. As temperaturas
mais elevadas foram registradas no mês de outubro, com médias de 23,8ºC, sendo as
mínimas verificadas nos meses de junho e julho, com 19,2ºC. Sobre a altura das
precipitações, os maiores índices foram totalizados no mês de dezembro, com 326,6mm
acumulados. Já o mês mais seco foi o de julho com precipitação média acumulada inferior
a 10mm.
A cobertura vegetal nativa do município, condicionada à existência de duas
estações definidas, ao tipo de solo e às características topográficas, originalmente era
composta por cerrado, apresentando características fisionômicas que englobam formações
florestais, savânicas e campestres.
As formações florestais estavam, primitivamente, associadas aos cursos d’água que
drenam o município (com destaque para o rio Araguari, rio Uberabinha, rio Tijuco, rio das
Pedras, ribeirão Douradinho, ribeirão Panga e ribeirão Estiva) e interflúvios, em algumas
manchas de solos bem drenados e de maior fertilidade, com a denominação, neste
ambiente, de Mata Seca Decídua e Semidecídua e Cerradão.
As formações savânicas cobriam a maior parte do município, com árvores e
arbustos espalhados sobre um estrato graminoso, sem a formação de um dossel contínuo.
Estando originalmente concentradas, principalmente, no interflúvio localizado entre os rios
Uberabinha e Tijuco, tiveram sua vegetação reduzida, primitivamente, a pequenos
remanescentes, em função da necessidade do aproveitamento do solo dessas áreas para as
atividades agropecuárias.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
9
A formação campestre no município, caracterizada pelo predomínio de espécies
herbáceas e algumas arbustivas, era encontrada, principalmente, sobre solos de baixa
fertilidade, localizados nas rampas coluvionadas de solos areno-argiloso avermelhados das
áreas de relevo dissecado e topo plano. No fundo de vale, essa formação estava relacionada
à ocorrência de afloramento do lençol freático e, ainda, margeando a Mata de Galeria.
O relevo da área de Uberlândia faz parte de um grande conjunto do relevo
brasileiro conhecido como Chapadões Tropicais do Brasil Central, recoberto pelo Cerrado,
conforme AB’SABER (1972), denominado também, pelo RADAMBRASIL (1983),
planaltos e chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná.
A morfologia do município apresenta extensas áreas com superfícies aplainadas,
formadas por rochas sedimentares que fazem parte dos domínios dos chapadões,
comumente limitados por vertentes erosivas de pouca declividade, resultantes dos
processos de erosões pluviais e, principalmente, fluviais, que chegam a expor derrames
basálticos no fundo dos vales, como os do Rio Uberabinha e Araguari. Suas altitudes
variam de 600 a 900m (DEL GROSSI, 1991).
Segundo Carrijo e Baccaro (2000), a geologia do município está relacionada aos
derrames basálticos da Formação Serra Geral do Grupo São Bento e rochas do Grupo
Araxá, nas proximidades do município de Araguari, recobertos pelos arenitos das
Formações Marília, Adamantina e Uberaba, do Grupo Bauru, e, ainda, arenitos da
formação Botucatu, do Grupo São Bento. Em relação aos tipos de solo, resumidamente
podem ser agrupados nas seguintes classes, de acordo com a classificação da Embrapa
(1999): Latossolo Vermelho Amarelo, Latossolo Vermelho, Gleissolo, Argissolo
Vermelho Amarelo e Cambissolo, que, em sua maioria, exige correção para o uso agrícola.
A ocupação do solo do espaço rural do município, representada pela implantação
de uma série de atividade produtivas, produziu significativas alterações na sua cobertura
vegetal original, restringido-a, comumente, a refúgios de vegetação em áreas de
preservação permanente, apresentando diferentes níveis de alterações. Imagens de satélite e
fotografias aéreas do município conseguem demonstrar a ocorrência desses remanescentes
em meio às áreas de pastagens e cultivos, servindo como indicadores da cobertura vegetal
anteriormente existente que, segundo Brito (2005), correspondia a uma área de apenas
18,2%.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
10
Quanto à história da cidade, Uberlândia foi fundada a partir do desbravamento do
Sertão da Farinha Podre, no século XIX, em terras do município de Uberaba, sendo
elevada à categoria de município em 31 de agosto de 1888. A partir da metade do século
passado, além das atividades agrícolas, a cidade voltou-se para interesses comerciais e
também industriais, consolidando-se como um centro polarizador da economia da região,
capaz de atrair pessoas e investimentos externos.
Sua economia baseia-se nas atividades agropastoris e comerciais, com destaque
para a soja, arroz, milho, gado bovino, avicultura, além do comércio atacadista, que
distribui produtos industrializados para várias regiões do país (LIMA, 1989).
Em relação a saúde, Uberlândia é referência para quem busca atendimento médico
e hospitalar, tanto na rede pública como privada, atraindo pessoas de outros municípios do
Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Noroeste de Minas e Sul Goiano. Merecendo destaque
pelo número de pacientes atendidos e serviços prestados o Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Unidades de Atendimento Integrado (UAIs),
administradas pela Prefeitura, Hospital e Maternidade Santa Clara, Hospital Santa Marta,
Hospital Santa Catarina, Hospital São Franscisco, Hospital do Triângulo, Hospital e
Maternidade Madrecor, dentre outros.
São atendidos, nessas unidades de saúde, vários tipos de enfermidades, dentre elas
a doença de Chagas que, no período de 1998 a 2006, foi responsável por 221 internações,
somente na rede pública de Uberlândia, o que correspondeu a 8,4% de um total de 2.601
registradas no estado de Minas Gerais, nesse período. Esse índice, segundo o Ministério da
Saúde, fez com que Uberlândia ocupasse o terceiro lugar no número de internações
hospitalares causadas pela doença, ficando atrás apenas de Montes Claros e Belo Horizonte
(BRASIL, 2007).
Quando se analisam os atendimentos a portadores da doença de Chagas, só no ano
de 2006 foram registrados 566, como divulgou a Secretaria Municipal de Saúde
(UBERLÂNDIA, 2007). Esses atendimentos indicam um índice de infectibilidade pelo T.
cruzi preocupante. Entretanto, vale esclarecer que parte dessas pessoas atendidas vêm dos
municípios vizinhos, sem o encaminhamento regular dado pela sua municipalidade; para
serem atendidas, utilizam endereços de parentes ou amigos, em Uberlândia.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
11
Esse quadro da doença de Chagas, na cidade de Uberlândia, possui também, em
parte, uma relação com o processo de urbanização ocorrido no município nas últimas
décadas, quando um elevado número de pessoas infectadas foram atraídas, principalmente,
para a periferia da cidade, configurando uma progressiva urbanização da doença. Dados da
Secretaria Municipal de Saúde (UBERLÂNDIA, 2007) atestam que grande parte dos
chagásicos residem, atualmente, na área urbana de Uberlândia. Todavia, os maiores riscos
de infecção continuam sendo no meio rural por ação dos triatomíneos hematófagos.
Moradia localizada no espaço rural de Uberlândia (MG)
2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Como se mencionou, o objetivo principal desse trabalho é entender como a
ocupação e organização do espaço rural, que reduziu a área de cobertura vegetal primitiva
para menos de 20%, influencia na persistência e distribuição da fauna triatomínea, no
município bem como uma possível urbanização da doença a partir do agente etiológico e
seu vetor na cidade de Uberlândia (MG).
Para tanto, inicialmente, foram examinados dados de consultas e internações de
pacientes junto à Secretaria Municipal de Saúde e Hospital de Clínicas da Universidade
Federal de Uberlândia (UFU), que servirão de base para elaboração de tabelas e
cartogramas relacionados aos portadores da doença, residentes na cidade. Também foram
usados dados sobre doença de Chagas aguda registradas no período de 2001 a 2006 no
Brasil e em Minas Gerais, pelo Ministério da Saúde.
Posteriormente, foram analisadas informações coletadas no Centro de Controle de
Zoonoses (CCZ), referentes aos inquéritos epidemiológicos realizados no município, nos
anos de 2004, 2005, 2006 e 2007, por meio das fichas de resumo de notificações de
triatomíneos por localidades, nos municípios na fase de vigilância do Programa de
Controle da Doença de Chagas - PCDCh (ANEXO 1).
Dessas fichas, foram retiradas informações como o local e a data de captura dos
triatomíneos, espécie apreendida, número de exemplares, sexo, dentre outros, que foram
agrupadas em diferentes categorias e, posteriormente, tabulados.
Esses dados serviram como base para a confecção dos cartogramas da quantidade,
distribuição espacial e temporal dos triatomíneos capturados e, também, para determinar os
indicadores entomológicos do município, calculados de acordo com a orientação já
estabelecida pela Organização Panamericana de Saúde (2003), possibilitando definir os
seguintes indicadores:
I) Índice de Infestação Municipal
a) Índice de infestação no intradomicílio = nº de casas pesquisadas positivas no intra x 100
nº de casas pesquisadas
b) Índice de infestação no peridomicílio = nº de casas pesquisadas positivas no peri x 100
nº de casas pesquisadas
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
14
c) Índice de infestação = nº de casas pesquisadas positivas x 100
nº de casas pesquisadas
II) Índice de Infecção Natural Municipal
a) Índice de infecção no intra = nº de triatomíneos contaminados no intra x 100
nº de triatomíneos examinados no intra
b) Índice de infecção no peri = nº de triatomíneos contaminados no peri x 100
nº de triatomíneos examinados no peri
c) Índice de infecção natural = nº de triatomíneos contaminados x 100
nº de triatomíneos examinados
III) Índice de Colonização Municipal
a) Índice de colonização = nº de casas positivas com ninfa no intra x 100
nº de casas positivas no intra
IV) Índice de Dispersão Municipal
a) Índice de dispersão = localidades positivas x 100
localidades pesquisadas
Inicialmente, para a elaboração dos cartogramas da distribuição espacial e temporal
de triatomíneos capturados em Uberlândia/MG, foi utilizado o mapa base das localidades
do município, criado pela SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública),
no ano de 1965, e ainda utilizado pelo CCZ. Esse mapa foi escaneado e, posteriormente,
georreferenciado no software Spring 4.3, a partir de arquivo vetorial pré-existente criado
por Nishiyama (1998), elaborado a partir das cartas topográficas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Em seguida, o arquivo foi exportado em formato
GEOTIFF. Utilizando o software ArcView 3.2a., o mesmo arquivo foi importado,
possibilitando a vetorização das localidades de visita contidas no mapa base, como pode
ser visto na Figura 1.
Transposta essa etapa, foi criado um banco de dados referente às informações
existentes sobre cada localidade visitada, dentro do software ArcView 3.2a, como mostra a
Figura 2. Esse banco de dados serviu para montar os cartogramas da representação
quantitativa de triatomíneos encontrados (por espécie, por ano, total de todas as espécies e
total de todos os anos), em cada localidade, por meio da opção Graduated Symbol do
Legend Editor (vide Figura 3).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
15
Figura 1 – Vetorização das localidades
Org. MENDES, 2007.
Figura 2 – Banco de dados das localidades
Org. MENDES, 2007.
Figura 3 – Representação quantitativa dos triatomíneos
Org. MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
16
Para montar o cartograma das áreas de inquéritos entomológicos para triatomíneos
sinantrópicos, foi feita a triangulação para a geração de isolinhas no módulo Spatial
Analyst, utilizando o método do vizinho mais próximo (Nearest Neighbors), como mostra a
Figura 4. Posteriormente, foi feita a filtragem dos dados e determinados os intervalos de
classe que iriam abranger cada isolinha e, assim, gerar o mapa das áreas (Figura 5).
Figura 4 – Geração das isolinhas
Org. MENDES, 2007.
Figura 5 – Áreas de inquérito entomológico
Org. MENDES, 2007.
Ao final, na tentativa de entendimento da distribuição espacial dos Triatomíneos
encontrados no município, foi utilizado o mapa de uso da terra e cobertura vegetal do
município de Uberlândia (MG) de 2004. Esse cartograma foi elaborado por Brito (2005), a
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
17
partir de cartas topográficas em formato digital, levantadas e editadas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e imagens de satélite do Sensor CCD do
satélite CBERS2, bandas 2, 3 e 4, órbitas/pontos 157/122 e 157/121, obtidas em 08 de
setembro de 2004 (Figura 6).
Figura 6 - Uso da terra e cobertura vegetal
Fonte: BRITO, 2005.
Quanto ao referencial teórico e metodológico para o desenvolvimento do trabalho,
foi elaborada uma revisão bibliográfica centrada na relação triatomíneos e doença de
Chagas, numa escala diminuta do Continente Americano até o município de Uberlândia
(MG), sendo apresentada, ainda, uma discussão sobre o Trypanosoma cruzi, a descoberta
da doença de Chagas, ações de controle e atual situação do Brasil. Uma segunda revisão,
voltada para o entendimento da dinâmica e histórico de ocupação do espaço rural do
município, também foi desenvolvida baseada em trabalhos de caráter regional, estimativas
do IBGE e informações colhidas junto à Secretaria de Agropecuária e Abastecimento da
Prefeitura Municipal de Uberlândia. Essa etapa do trabalho, além de nortear a pesquisa, no
que diz respeito à forma de abordagem, serviu também para dar-lhe sustentação teórica.
Para entender as condições ambientais da moradia e do entorno, traçar um esboço
de um perfil sócio-ambiental das famílias moradoras do espaço rural e identificar os
ambientes de possíveis ocorrências de triatomíneos; foram realizados trabalhos de campo
MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA
USO DO SOLO COBERTURA
VEGETAL NATURAL EM 2004
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
18
com produção de material fotográfico, entrevistas e aplicação de questionários (ANEXO
2).
Essas atividades foram executados durante os inquéritos epidemiológicos
realizados pelos agentes de saúde do Programa de Controle da Doença de Chagas
(PCDCh), nas localidades que foram definidas pela SUCAM, na década de 1960,
distribuídas na zona rural do município de Uberlândia. Por razões administrativas, não foi
possível utilizar os mesmos veículos usados pelos agentes para a realização dos inquéritos,
sendo essa atividade desenvolvida em veículo próprio, acompanhando as incursões a
campo realizadas pelos agentes de saúde do Centro de Controle de Zoonozes de
Uberlândia, entre os meses de agosto de 2007 e janeiro de 2008, no período entre 7:30h e
12:00h (Figura 7).
Figura 7 - Uberlândia: acompanhamento da equipe do PCDCh do CCZ
durante visita na localidade Fazenda Boa Mente
Autor: MENDES, 2007.
Devido ao elevado número de localidades (243), foi feita seleção de áreas para
visitas, com aplicação de questionários, entrevistas, avaliação sócio-econômica e ambiental
das unidades domiciliares. A amostragem foi feita levando-se em consideração a
localização e representatividade no contexto do espaço rural do município, tendo sido
definidos dois grupos de áreas, para o estudo. O primeiro grupo correspondeu à área de
relevo intensamente dissecado, onde foram analisadas sete localidades. O segundo grupo
correspondeu às áreas de relevo dissecado e topo plano, com seis localidades selecionadas.
Nestas localidades foram selecionadas 14 unidades domiciliares, sendo uma em cada
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
19
localidade. A exceção ocorreu na localidade 160 (Fazenda Floresta do Lobo), onde foram
visitadas duas unidades domiciliares, pelo elevado número de moradores.
Ainda, foram realizados estudos no Projeto de Assentamento de Reforma Agrária
Zumbi dos Palmares, onde foram aplicados questionários em 21 das 22 propriedades. Ao
todo foram aplicados e tabulados 35 questionários, junto às famílias localizadas no espaço
rural do município, sendo uma amostragem de 100% para o Projeto de Assentamento de
Reforma Agrária Zumbi dos Palmares e cerca de 5% para as áreas de relevo intensamente
dissecado, dissecado e topo plano.
Na eleição das propriedades a serem visitadas, em cada localidade, procuraram-se
aquelas que representassem os diferentes tipos de atividade produtiva, levando em
consideração também a ocorrência ou não de captura de triatomíneos, no período
selecionado para a análise.
Em relação ao Projeto de Assentamento de Reforma Agrária Zumbi do Palmares,
por apresentar maior densidade populacional e número de propriedades em uma área
menor, foram distribuídos, em cada propriedade, uma caixa entomológica e uma cartilha
com noções básicas da doença de Chagas (vide Figura 8), sendo feito acompanhamento
mensal para verificar a ocorrência ou não de captura, no período de 2004 a 2007.
Figura 8 – Uberlândia (MG): cartilha produzida pela Secretaria Municipal
de Saúde e CCZ, distribuída aos moradores
Autor: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
20
Quanto aos locais de capturas de triatomíneos, no espaço urbano, foi levantado
junto ao CCZ, o endereço das residências onde elas ocorreram. Posteriormente, foram
organizadas visitas nesses locais, com o objetivo de verificar as possíveis causas da
ocorrência desses insetos na cidade.
Sobre as atividades desenvolvidas pelo CCZ, foi aplicado um questionário com os
agentes de campo e técnicos do laboratório, que possibilitou um entendimento das
atividades bem como, uma descrição das dificuldades enfrentadas pela equipe durante as
atividades de captura, pesquisa e análise laboratorial.
Em relação à quantidade e espécie de triatomíneos capturados, foi observada certa
variação no ritmo de captura, relacionado ao período chuvoso e seco. Para entender essa
oscilação, foi necessário determinar o início e término da estação chuvosa nos 4 anos
selecionados para análise. Para isso, foram utilizados dados meteorológicos fornecidos
pelo Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos da UFU.
Para a determinação do início e duração das estações chuvosa, levou-se em
consideração a distribuição diária das precipitações, nos anos 2004, 2005, 2006 e 2007.
Nesta análise, foi considerado como dia chuvoso aquele em que o volume das
precipitações é superior à ETP (Evapotranspiração Potencial) diária, a qual foi calculada
em função da ETP mensal média de cada mês, dividida pelo número de dias do mês. Na
determinação do início do período chuvoso levou-se em consideração, também, a
seqüência dos dias de chuvas e os totais pluviométricos apresentados que, juntos,
demarcam o período de estiagem.
Assim, mesmo que o mês de setembro seja chuvoso e que apresente precipitações
acima da ETP mensal, isso não significa que o período chuvoso tenha início neste mês,
pois o início do período chuvoso em setembro depende, também, da distribuição e dos
totais de precipitações verificadas no mês de outubro. O mesmo acontece para o fim do
período chuvoso e início da estação seca, de tal modo que, mesmo que haja um bom índice
pluviométrico no mês de maio, não significa que o período das chuvas se estendeu até
aquele mês; deve-se, portanto, verificar a distribuição diária e os totais pluviométricos do
mês de abril (ASSUNÇÃO, 2007).
Fioc
r
u
z
3 - A DOENÇA DE CHAGAS NO CONTINENTE AMERICANO
A doença de Chagas já foi registrada na grande maioria dos paises do continente
americano. Do sul dos Estados Unidos até a Patagônia, na Argentina, estima-se que 65
milhões de pessoas vivem nas áreas de risco de infecção pelo Trypanosoma cruzi, por ação
vetorial. A Tabela 1 demonstra, de modo resumido, a prevalência da Doença de Chagas em
alguns destes países (REY, 2001).
PAÍS E REGIÃO
OU LOCALIDADE
Taxa de
Exames
Positivos
PAÍS E REGIÃO OU
LOCALIDADE
Taxa de
Exames
Positivos
PAÍS E REGIÃO OU
LOCALIDADE
Taxa de
Exames
Positivos
ARGENTINA
BOLÍVIA
HONDURA
Tierra del Fuego 3,8 Diferentes grupos 30,0 a 35,0 Pueble Nuevo (Cedros) 18,2
Santa Cruz
1,6 Santa Cruz 23,0
Chubut
1,9
MÉXICO
Rio Negro
1,1
CHILE
Motul (Yucatán) 1,8
Neuquén
2,3 Colchagua 35,0 71 localidades (Chiapas) 15,5
La Pampa
15,9
O`Higgins 22,2 60 localidades (Oaxaca) 16,3
Buenos Aires (Prov.)
3,8 Santiago 16,3 Tetitlán (Guerrero) 8,5
Entre Rios
10,9
Valparaiso 25,1 Tuxpan (Michoacán) 7,2
Cordoba
35,7
Aconcagua 36,7 Área endêmica (Zecatecas) 13,0
São Luís
31,7 Coquinho 44,2
Mendonza
18,6 Atacama 26,0
PANAMA
San Juan
25,1
Atonfagasta 14,2 Vários grupos 3,1 a 21,5
La Rioja
23,7 Tarapacá 28,3
Catamarca
15,7
PARAGUAI
Tucumán
28,8
COSTÁ RICA
Conscritos do exército 1,3 a 18,4
Santiago del Estero
42,7 Sana Rafael 11,7
Santa Fé
6,3
PERU
Correntes
14,2
EL SALVADOR
Lima 6,2
Missiones
11,3 Vários grupos 20,5 Arequipa 24,2
Chaco
25,1 Moquegua 13,9
Formosa
15,4
EQUADOR
Região Sul 9,5
Salta
20,2 21 localidades 14,2
Jujuy
13,7
URUGUAI
GUATEMALA
Artigas 25,2
BELISE
Centro, sul e Oeste do país 14,0
El Cayo
2,7
VENEZUELA
Zona rural 45,2
Tabela 1 - Prevalência da infecção por Trypanosoma cruzi em algumas regiões das Américas
Fonte: REY, 2001, p.154.
Segundo Dias (1993), dentre as mais de 100 espécies de triatomíneos, descritas nas
Américas, algumas poucas merecem maior atenção da Saúde Pública. Tais espécies são
exatamente aquelas que, efetivamente, foram capazes de colonizar os ecótopos artificiais,
tornando-se responsáveis pela grande maioria de casos humanos da transmissão doença de
Chagas, com destaque para Triatoma infestans, no Cone Sul e Peru; Triatoma brasiliensis,
na região Nordeste do Brasil; Panstrongylus megistus, no Nordeste e Centro-Sul do Brasil;
Triatoma dimidiata, na Colômbia, Equador e América Central; Rhodnius prolixus, na
Colômbia, Equador, Venezuela, América Central e México; Outras espécies, como
Triatoma sordida e Triatoma pseudomaculata (Brasil), Triatoma maculata (Venezuela),
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
23
ou Triatoma barberi e Triatoma longipenis (México), apresentam importância crescente,
devido ao seu potencial de domiciliação, em circunstâncias especiais.
Tudo indica que a presença do T. cruzi e de seus vetores, nesse continente, ocorre
desde longa data. Entretanto, a doença humana, pelo menos em sua forma endêmica,
parece relativamente recente. Casos acidentais da infecção humana devem ter ocorrido
quando o homem habitava cavernas e entrou no ciclo enzoótico. Já foram encontradas
múmias, no Chile, com datação de 4.000 anos, infectadas com T. cruzi. No Brasil,
recentemente um estudo feito pela Fiocruz (2007) conseguiu identificar, em uma múmia de
1200 anos, localizada no estado de Minas Gerais, a presença do protozoário.
No ciclo da mineração no Brasil, quando praticamente não se desmatava, não há
evidências de adaptação de triatomíneos ao domicílio. Ela passou a ocorrer nos ciclos da
agricultura e da pecuária, períodos de desmatamento intenso, como no caso dos cerrados,
onde somente foram encontrados triatomíneos adaptados ao domicílio em áreas
desmatadas. Ainda foi verificada domiciliação de triatomíneos em áreas de mata fechada,
como na Amazônia, embora ali existam dezenas de espécies desses insetos (COURA,
2003).
Depois da descoberta de Chagas (1909), os primeiros relatos da doença humana, na
América, aparecem em El Salvador (1913), na Argentina (1914), na Venezuela (1914), no
Peru (1919), segundo Dias (1998).
Particularmente na Argentina, casos humanos começam a registrar-se mais amiúde
após 1925, com relatos de Borzone, Diós e Flavio Niño, aparecendo os três primeiros
trabalhos de Mazza sobre a doença de Chagas, em 1926. Até a morte de Chagas, foram
relatados casos humanos no Uruguai (1928), no Equador (1929), no Chile (1931), no
Panamá, na Costa Rica, na Guatemala, nos EUA, dentre outros (DIAS, 1998).
Nos EUA, o parasitismo foi encontrado em muitas espécies de triatomíneos,
todavia, até a década de 1980, poucos casos foram registrados nos seres humanos. Na
atualidade, esse quadro se encontra um pouco diferente, por ser uma enfermidade
parasitária cujos sintomas podem passar despercebidos durante décadas. Os movimentos
migratórios e as doações de sangue mal controladas, feitas por pessoas que não sabem que
estão infectadas, fizeram com que a doença de Chagas chegasse aos Estados Unidos e a
vários países da Europa.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
24
Na América Central, todos os países têm sua população infectada, em maior ou
menor grau, tanto nas planícies litorâneas como nas regiões planálticas. As áreas
endêmicas conhecidas tendem a crescer na medida em que avançam os estudos
epidemiológicos (REY, 2001). No final da década de 1990, Costa Rica, El Salvador,
Guatemala, Honduras, México, Nicarágua e Panamá organizam um bloco da América
Central, com intuito de combater a transmissão vetorial e transfusional da doença de
Chagas. Os principais vetores, nesses países, são as espécies R. prolixus, T. dimidiata e R.
pallescen.
Segundo Oliveira (2006), foi verificado na América Central uma prevalência de 2,6
milhões de infectados (7,9%). Em Honduras, 1,8 milhões de pessoas habitam áreas
endêmicas, e acredita-se que 300 mil estejam infectadas com a doença.
No México, os casos diagnosticados são relativamente poucos, se comparados a
outros países da América Latina. Os primeiros foram encontrados nos estados de Guerrero
e Oaxaxa, porém a área endêmica conhecida já se estende de Zacatecas e Chiapas e
Yucatan. (REY, 2001). Em todo país, segundo levantamento feito pelo CENAVECE e
relatado por Méndez-Galvani (2006), no período de 1982 a 2005, foram levantados casos
agudos da doença em 21 estados, sendo que, em seis destes, foram anotadas mais de 20
ocorrências. Já os casos crônicos foram registrados em 16 estados, com as seguintes
complicações: cardiopatia chagásica, 96,5%, magcolon, 2,0% e magaesófago, 1,5%.
De acordo com Tartarotti (2004), no México, anualmente são descobertos mais de
44 mil novos casos da doença de Chagas. Em estudo realizado na região de Oxaca, mais de
seis espécies de triatomíneos foram encontradas em habitats domésticos e peridomicílio,
sendo T. mazzottii a espécie predominante, com alta infecção por T. cruzi. Dados de
inquéritos sorológicos sugerem que exista mais de um milhão de casos de infecção por T.
cruzi, neste país.
Na América do Sul, já foram registrados casos da doença de Chagas praticamente
em todos os países, com destaque para a Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia,
Paraguai, Uruguai e Venezuela, pelo número de casos e estudos feitos. A Figura 9 mostra
as principais áreas endêmicas da Doença de Chagas.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
25
Figura 9 - América: distribuição geográfica das áreas endêmicas de doença de Chagas
Fonte: REY, 2001, p.154.
No início da década de 1990, houve um marco no combate à doença de Chagas, na
América do Sul. Os países do Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e
Uruguai) adotaram uma resolução denominada “Ação para eliminar o T. infestans”. Foram
empregados milhões de dólares no controle do vetor e nos testes em bancos de sangue. No
Brasil, dez anos mais tarde, a transmissão da doença de Chagas, por ação do T. infestans,
havia sido praticamente controlada. A preocupação, a partir de então, passou a ser com
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
26
outras espécies, como T. sordida, T. brasiliensis e, em algumas áreas, com o P. megistus.
(TATAROTI, 2004)
Outro grupo, formado recentemente para combater a doença de Chagas na América
do Sul, foi uma iniciativa dos países Andinos, envolvendo Colômbia, Equador, Peru e
Venezuela. Estima-se que esses países possuem seis milhões de infectados e,
aproximadamente, 25 milhões de pessoas habitando em áreas de risco.
Na Argentina, segundo Auger (2002), foram encontrados registros antigos e
importantes sobre a presença de triatomíneos, nas moradias do meio rural, com destaque
especialmente a noroeste e no corredor chaquenho, possivelmente decorrentes da dispersão
passiva do Triatoma infestans, principal espécie domiciliada no país. Com epicentro nos
vales de Cochabamba, o T. infestans disseminou-se por intermédio da migração de
populações nativas e espanholas no sentido norte-sul, permeando as quebradas e
assestando-se em ranchos primitivos de Jujuy, do Sul peruano e do Norte chileno. Há
informes, ainda, de mortes súbitas de pessoas dessas populações e, ainda, registros de
múmias de dois mil anos, no Atacama, com vestígios de lesões viscerais típicas da ação do
Trypanosoma cruzi. No período pós-Independência, tudo indica que a esquisotripanose
alcançou a Argentina, tendo máxima endemicidade entre os anos 1920 e 1950.
Nesse país, os primeiros trabalhos relacionados à captura de triatomíneos foram de
Lozano, Maggio e Rosembuch que, após contatos com Carlos Chagas, conseguiram, entre
1911 e 1915, apanhar vários T. infestans, naturalmente infectados pelo Trypanosoma cruzi,
em diversas partes do país.
Todavia, os dois primeiros casos agudos descritos na Argentina foram detectados
apenas em 1924, por Mülhens, Diós, Petrocchi e Zuccarini, respectivamente em Tucumán
e Jujuy. Um terceiro caso será descrito um ano depois. Nessa época, Salvador Mazza, após
contatos com Carlos Chagas, em 1918, viajou com Charles Nicolle pelo interior do País,
para reconhecimento da patologia regional e em franca elaboração dos sonhos que viriam a
redundar na fundação da MEPRA (Misión de Estúdios de Patologia Regional Argentina),
em Jujuy, 1926. A partir de então, Mazza assume o papel de principal investigador
argentino da esquizotripanose, estudando na MEPRA vetores e reservatórios, casos
humanos agudos e crônicos, realizando necropsias, provocando infecções experimentais e
testando métodos de diagnósticos e terapêuticos. Com essas atividades, ele capacitou e
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
27
Figura 10 - Sinal de Romaña: edema na
pálpebra
Fonte: VERONESI, 1976.
Figura 11 - Sinal de Romaña: inflamação
no olho
Fonte: VERONESI, 1976.
entusiasmou inúmeros médicos para o manejo da doença, percorrendo o país em um vagão
ferroviário, em busca de novos casos, e anunciando a enfermidade (DIAS, 2007).
Outra importante contribuição em relação à doença de Chagas, proveniente da
Argentina, embora já mencionada e fotografada por Carlos Chagas, em 1916, foi a
descrição de um chagoma de inoculação, com reação inflamatória, acompanhada de
conjuntivite e edema nas pálpebras, que impede a abertura do olho correspondente (vide
Figuras 10 e 11), por Cecílio Romaña, médico e assistente de Mazza, em 1935, na IX
Reunião da MEPRA, realizada em Mendoza. A apresentação de seu discípulo gerou,
posteriormente, certo desgaste entre Mazza, Emmanuel Dias e Evandro Chagas, sobre a
originalidade da descoberta, o que culminou no afastamento de Cecílio Romaña da equipe
de pesquisa de Mazza (DIAS, 2006).
O Sinal de Romaña, como ficou conhecido o chagoma, caracteriza-se
essencialmente pelo aparecimento, em um dos olhos (considerado uma da portas de
entrada do protozoário), de um edema elástico e indolor das pálpebras, envolvendo reação
ganglionar satélite, adquirindo coloração rosada, causada pela inflamação da glândula
lacrimal acessória. O edema das pálpebras pode ser acentuado a ponto de ocasionar a
oclusão total do olho, durante algumas semanas ou meses (VERONESSI, 1976).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
28
Até sua morte, em Monterrey, México, em 1946, Mazza participou de inúmeras
encontros científicos relacionados à doença de Chagas, tendo publicado mais de 250
trabalhos sobre seus diferentes aspectos. Atualmente, Mazza ainda é considerado o maior
estudioso da doença de Chagas na Argentina e um dos maiores responsáveis pela retomada
dos estudos da doença, no continente americano.
Mazza seguiu ativo e produtivo até sua inesperada morte[...] Era um congresso
médico internacional, oportunidade em que se reconciliou de forma muito tênue
e amistosa com Emmanuel Dias. Sentindo-se mal, foi atendido prestimosamente
por este e por Francisco Laranja, infelizmente não sobrevivendo ao extenso
infarto (DIAS, 2006, p.1).
Cecílio Romaña, após a morte de Mazza, continuou seus trabalhos relacionados à
doença; todavia, ao final dos anos 50, por pressões políticas, mudou-se para a Espanha,
onde publicou, em 1963, a obra Enfermidade de Chagas. Fundou, em 1979, um Comitê
Internacional de Luta contra a doença. Romaña faleceu em fevereiro de 1997, aos 96 anos
de idade.
Assim, graças aos trabalhos iniciais desses pesquisadores e de diversos outros desse
país, a Argentina assumiu um papel de destaque na luta contra a endemia de Chagas.
Merecem destaque, ainda, as importantes contribuições vindas deste país para o
aperfeiçoamento no diagnóstico parasitológico e imunológico da doença, assim como
fundamentais aportes ao melhor conhecimento e manejo da cardiopatia crônica chagásica.
É indiscutível a liderança nacional do Instituto Fatala Chaben, na capacitação ao
diagnóstico e tratamento específico para todo o país, assim como foi de suma relevância o
Programa de Salud Humana, de Pilar Alderette, instrumentando, em toda a zona endêmica
regional, os recursos humanos e materiais para enfrentar e prevenir a doença,
principalmente nos anos de 1980 e 1990.
Deste trabalho, embasado no Comitê Internacional, criado por Romaña, em 1979, e
somado a uma impressionante unidade de pensamento e propósitos da comunidade
científica latino-americana envolvida com a tripanossomíase, originou-se, em 1991, a
valiosa Iniciativa do Cone Sul contra a Doença de Chagas, lançada em reunião dos
ministros da área e liderada pelas delegações da Argentina e do Uruguai. Extraordinária
evolução têm tido os estudos sobre a esquizotripanose, na Argentina, em todos os setores.
Pontificam as investigações bioquímicas, moleculares, genéticas e de tratamento
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
29
específico, ao lado de ingentes esforços por otimizar e consolidar a luta antivetorial (DIAS,
2006).
Atualmente, na Argentina, há uma reemergência da doença de Chagas, com taxas
elevadas de prevalência da doença em algumas regiões do país. Outro agravante, é
infestação triatomínea urbana, como ocorre na província de San Juan. Tal situação foi em
parte decorrente da diminuição dos investimentos, nas ações de controle da doença,
causadas pela crise econômica, pela qual, o país atravessou durante as décadas de 1980 e
1990.
No Chile existem casos de registro da doença de Chagas praticamente em todo o
país. Estima-se, atualmente, que cerca de 700 mil pessoas estão infectadas (DIAS, 2006),
fazendo com que o país, diante de tal quadro, investisse em ações preventivas, dentre elas o
controle nos bancos de sangue. Em 1996, os serviços de cobertura contra doença de
Chagas, em centros de hemoterapia, alcançavam 98,9% na área endêmica e 76,9% no país
como um todo.
Na década de 1990, uma análise nas doações de sangue de 166.773 pessoas indicou
uma prevalência da infecção chagásica de 1,22% nos habitantes da área endêmica,
mostrando a necessidade de manter a vigilância em todo o País, inclusive por causa da
grande mobilidade interna da população. Vale ressaltar que, durante as décadas de 1980 e
1990, era vigente a norma de se realizar sorologia prévia de doadores somente na área
endêmica, eximindo de controle praticamente todo o sul do País, que é uma região de
imigração de muitas pessoas do Norte endêmico (DIAS, 1998).
Alguns levantamentos recentes sobre a doença de Chagas, no Chile, demonstraram
que esta enfermidade está concentrada, principalmente, na Região de Tarapacá,
Antofagasta, Atacama, Coquimbo, Valparaíso e Região Metropolitana de Santiago. Essa
região é coincidente com as áreas de ocorrência, no Chile, do Triatoma infestans e o
Triatoma spinola. Recentemente, nessa mesma região, foi identificada uma nova espécie
silvestre de triatomíneo, cuja importância epidemiológica ainda não foi descrita
(TATAROTI, 2004).
Mesmo diante desse quadro, nos últimos anos, tem diminuído significativamente o
registro de novos casos da doença no Chile, principalmente pelo controle nos bancos de
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
30
sangue e pelo combate ao vetor, o que levou o país a receber, no ano 2000, a certificação,
pela OMS, de área livre de transmissão vetorial da doença de Chagas.
A pesar de la condición de endemismo de la enfermedad de Chagas en nuestro
país, tanto la presentación de casos como la seropositividad a T cruzi en
humanos, ha ido disminuyendo en los últimos años. Múltiples programas desde
principios de este siglo, se han implementado para controlar esta enfermedad. El
último de ellos, impulsado por la OMS desde 1991 en toda Latinoamérica, ha
dado buenos resultados en nuestro país. Así, al año 1995, se conocían
prevalencias de 16,7% en los sectores rurales-periurbanos y 1,9% en los
urbanos, mientras que porcentajes anteriores llegaban al 19% como promedio
nacional con cifras de 24,3% para la III región y 41,2% para la IV región.
Producto de este programa, en el año 2000 Chile entró a la categoría de libre de
la transmisión vectorial de la enfermedad de Chagas (ACUÑA, 2002, p.2).
No Paraguai, como em grande parte dos países latino-americanos, a doença de
Chagas é considerada um problema de saúde pública. No final da década de 1970, o índice
de infestação tratomínea era de quase 40%. Estimativas feitas no final da década de 1990
apontavam o surgimento de, aproximadamente, 15.000 novos casos da doença, por ano. No
início do ano 2000, a soroprevalência, em doadores de sangue, da doença de Chagas, era,
em média, de 5,3%. Segundo dados do Ministério de Saúde Pública desse país, o controle
do vetor da doença, no espaço rural, é de extrema complexidade, devido, principalmente,
às precárias condições de moradias existentes.
Em el Paraguay el 57% de la población vive en áreas rurales del país y según
datos del último censo las viviendas rurales están predominantemente
construidas de barra (42,1%), poseen techos de paja (75,5%) y piso e tierra
(80,1%). Los insectos triatominos infestan y se crían en las rendijas de las
paredes de adobe e estaqueo, entre las tablas de madera y los techos de paja […]
(ARIAS, 2002, p.272).
Em relação às áreas indígenas, um levantamento feito pelo Programa de Controle
da Doença de Chagas, no Paraguai, em 2000, encontrou 877 casas infestadas por
triatomíneos, sendo que o resultado das análises indicaram que, em 423 destas, os
triatomíneos estavam contaminados pelo Trypanosoma cruzi.
Na Colômbia, segundo Guhl (2004), existem, aproximadamente, 1,3 milhões
infectados, estando em situação de risco de infecção 3 milhões de pessoas. A
soroprevalência, a nível nacional, é de 2,1%, sendo que as regiões que apresentam maiores
taxas de endemia são: Arauca, Boyacá, Cundinamarca, Santander, Norte de Santander,
Casanare y Meta. No ano de 2004, no município de Nunchía, foram examinadas cerca de
200 crianças, sendo que, em 70 destas, foi verficada a presença do Trypanosoma cruzi.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
31
Dados históricos sobre a prevalência, nos bancos de sangue da Colômbia,
indicaram que, em 1963, a prevalência era de 2,2%, em um banco em Bogotá. Em 1979,
essa taxa era de 2,7%, em quatro bancos da mesma cidade. Em 1987, foi registrado 7,5%
de prevalência entre os doadores de um banco de sangue em Cúcuta e, em 1992,
novamente em Bogotá, foi registrado 2,5% (DIAS, 1998).
Das espécies de triatomíneos registrados na Colômbia, o Rhodnius prolixus é o
vetor biológico mais importante do T. cruzi. É abundantemente encontrado em ampla
variedade de zonas ecológicas, principalmente na região Oriental e Catatumbo, onde 60% a
100% dos ranchos estão infestados por essa espécie de triatomíneo (DIAS, 1998).
Na Venezuela, nos últimos anos, foi observada uma sensível redução da
transmissão vetorial da doença de Chagas. Dados relacionados à soroprevalência ao
Trypanosoma cruzi, por grupo de idade de pessoas, no período de 1958-2003,
demonstraram uma queda significativa nos índices de contaminação, principalmente na
faixa da população com idade inferior a 20 anos de idade (vide Gráfico 1).
Gráfico 1 – Soroprevalência ao T. cruzi por faixa etária na Venezuela,
durante o período de 1958 a 2003
Fonte: Comissão Intergovernamental de Iniciativa Andina de Controle da
Transmissão Vetorial e Transfusional da doença de Chagas, 2004.
Esse quadro, segundo Valero (2004), é fruto, principalmente, de ações do Programa
de Controle da Doença de Chagas, implantadas nesse país desde a década 1960, cujo
objetivo foi estabelecer e impulsionar estratégias dirigidas à prevenção, controle e
investigação operacional da Doença de Chagas. As ações de controle, ainda hoje, baseiam-
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
32
se na pesquisa soroepidemiológica, construção e melhoramento das moradias, vigilância
nos bancos de sangue e busca ativa e passiva nos Postos de Notificação de Triatomíneos,
unindo as ações de detetização e educação sanitária.
As principais áreas endêmicas situam-se nas zonas centro-setentrionais do país, em
regiões de vales e pré-cordilheira, onde foi extremamente abundante, no passado, o R.
prolixus, colonizando em casas rústicas, com teto de palma. Praticamente, 600 municípios
compunham a área endêmica original, registrando-se taxas de prevalência entre 5% e mais
de 40% nas zonas infestadas, com taxas de prevalência entre 4,5% e 12,8%, entre doadores
de sangue do país. A Amazônia sempre foi a região menos povoada, com baixa prevalência
de DCH na Venezuela, com áreas de T. maculata e presença de vetores silvestres como C.
pilosa, E. mucronatus, P. lignarius, P. geniculatus, R. pictipes e R. brethesi -
possivelmente também R. robustus e achados eventuais de R. prolixus (DIAS, 2002).
No ano de 2003, foi investigada a presença de vetores de 183 lugares, sendo
encontrado um índice de 28,4% de infestação e 7,8% de contaminação pelo Trypanosoma
cruzi, com destaque para o R. prolixus, T. maculata e P. geniculatus. Quando essa
informação se refere à situação das moradias, também no ano de 2003 se encontrou um
índice de infestação de triatomíneo de 6,5% e um índice de infecção pelo T. cruzi de 0,9%.
Na Bolívia, a doença de Chagas é um dos problemas de saúde pública mais
prementes do país, respondendo por 13% de todas as mortes de bolivianos, entre 15 e 75
anos (BIDAmérica, 2007). Segundo Veizaga (1999), por intermédio da Dirección Nacional
de Epidemiologia, o Ministerio de Previsión Social y Salud Pública, da Bolívia, fez um
levantamento abrangente de trabalhos sobre a doença de Chagas nesse país, publicados
entre os anos de 1977 e 1998. Todos assinalaram problemas sociais: poder aquisitivo muito
baixo da população e falta de medidas profiláticas elementares. Foram analisadas 109
localidades com diferentes características epidemiológicas. Ao todo, 4.191 casas, com
20.955 habitantes, dos quais haviam sido feitos 9.547 exames sorológicos. Destes, 3.852
resultaram positivos (40,3%). Havia também sido feitos, no período de 1977 a 1998, 7.696
eletrocardiogramas (1.008 ou 13,1% compatíveis com cardiopatia chagásica). Ao final,
concluiu-se que a doença de Chagas continua sendo, em todo o país, um grave problema de
saúde pública e, para seu controle, será necessário pleno envolvimento da população.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
33
Segundo Dias e Schofield (1998), na Bolívia, a área chagásica do país é bastante
extensa, alcançando 2/3 do território, com uma prevalência média da infecção chagásica de
aproximadamente 40%. Na década de 1990, dos 60 Serviços de Hemoterapia, apenas 16
realizavam sorologia para DCH (26,7% de cobertura). Em 1995, esse número foi elevado
para 19 (31,7%). Em 1996, a prevalência para a infecção por T. cruzi, entre 10.154
doadores de serviços públicos, foi de 14,5%, contra 11,9% entre 4.425 doadores de
serviços privados.
Carlos Cha
g
as
4 - A DOENÇA DE CHAGAS NO BRASIL
Este capítulo foi elaborado como o objetivo de dar suporte teórico ao trabalho, no
que diz respeito ao Trypanosoma e à endemia de Chagas, no território brasileiro. Para
tanto, foi confeccionado com base em dados, relatórios e obras publicados por autores
diversos e órgãos de saúde do Governo, estando estruturado, inicialmente, numa descrição
abreviada do Trypanosoma cruzi e a descoberta da doença e, posteriormente, nas medidas
de controle da endemia de Chagas e na situação do país, no contexto atual.
4.1 - O Trypanosoma cruzi
A doença de Chagas, ou tripanosomíase americana, é uma infecção de natureza
endêmica, que tem como agente etiológico o protozoário flagelado Trypanosoma cruzi.
Essa doença, classificada como uma zoonose, estava primitivamente restrita ao continente
americano.
O ciclo evolutivo desse flagelado inclui a passagem obrigatória por hospedeiros de
várias classes de mamíferos, inclusive o homem, e insetos hemípteros, hematófagos,
comumente chamados barbeiros, cujo nome científico é Ruduviidae, dos gêneros
Panstrongylus, Rhodnius e Triatoma, pertencentes à família Triatomidae. Nos vertebrados,
o T. cruzi circula no sangue e multiplica-se nos tecidos. Nos barbeiros, dissemina-se no
tubo digestivo, as formas infectantes sendo eliminadas com suas fezes e urina (Figura 12).
Em relação ao triatomíneo, o seu ciclo evolutivo compreende as fases de ovo, de
ninfa e a adulta. A fêmea copula com cerca de dois meses de vida. Sua primeira postura
ocorre com cerca de 20 a 30 dias após a cópula, sendo feita parceladamente, desde alguns
ovos de cada vez até uma dezena deles. Após a postura, tendem a migrar e formar novas
colônias. A eclosão dos ovos varia conforme a temperatura ambiente e a espécie,
ocorrendo em média num período de 25 dias, dos quais nascem as ninfas.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
36
Figura 12 - Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi
Fonte: FIOCRUZ, 2004.
Ao todo, o "barbeiro" passa por cinco estágios, evolutivos até atingir a fase adulta
(Figura 13). O tempo que vai da fase de ovo à alada é de, aproximadamente, um ano, e o
ciclo de vida dura, em média, de 1 a 2 anos, variando em função de fatores abióticos,
espécie e freqüência de alimentação. Algumas espécies de triatomíneos exercem
hematofagismo obrigatório, sem o que não se desenvolvem, iniciando-se poucos dias após
o nascimento da ninfa; resistem, entretanto, a longos períodos de jejum, até meses
(VERONESI, 1976).
Figura 13 - Estágios evolutivos de ninfas de triatomíneo, vetor da doença de Chagas
A = ninfa de primeiro estágio; B = ninfa de segundo estágio; C = ninfa de terceiro estágio;
D = ninfa de quarto estágio; E = ninfa de quinto estágio
Fonte: http//www.sucen.sp.gov.br
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
37
A sua procura de alimentos ocorre principalmente à noite, ou durante o dia, em
ambientes com pouca iluminação. Ao sugar um animal, ou até mesmo o homem parasitado
pelo Trypanosoma cruzi, o triatomíneo é infectado, tornando-se portador do protozoário e,
consequentemente, vetor da doença.
Em condições naturais, a doença de Chagas não é transmitida ao ser humano
diretamente pela picada do inseto. Ela ocorre, inicialmente, com a deposição de fezes sobre
os tecidos cutâneos e mucosas do homem (Figura 14). No caso das mucosas, estas, mesmo
íntegras, não constituem barreira à penetração do Trypanosoma cruzi, ao passo que a pele
só é atravessada quando apresenta descontinuidade, causada pela picada do inseto ou por
escarificações causada pelo indivíduo, ao coçar. Assim, a transmissão ocorre quando a
pessoa coça o local da picada e as fezes eliminadas pelo barbeiro contaminado penetram
pelo orifício aberto na pele.
Figura 14 – Picada do barbeiro seguida de defecação
Fonte: http://www.disanejercito.mil.co/SOperacional/Chagas.pdf
Participam do processo de infecção diversas outras variáveis dependentes do vetor,
como seu grau de antropofilia, tempo entre a picada e a defecação, número e quantidade de
evacuações na unidade de tempo e número de parasitos eliminados com as fezes ou urina.
Além disso, a infecção depende do percentual de formas infectantes nas fezes do barbeiro e
sua capacidade de penetração, bem como da intensidade da reação alérgica causada pela
picada, levando o paciente a coçar-se e levar o parasito ao local da picada ou às mucosas.
Considerando que a transmissão da infecção é feita pelas fezes e pela urina dos
triatomíneos, é de grande importância o tempo de defecação; aqueles triatomíneos que
defecam imediatamente após o repasto ou durante a picada, como o T. infestans e o P.
magistus, depositando as fezes no local da picada, têm grande importância na transmissão.
Por outro lado, triatomíneos que defecam minutos depois do repasto, quando já estão fora
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
38
do paciente, como o T. vitticeps, têm pouca ou nenhuma importância na transmissão
(COURA, 2003).
Além da transmissão da doença de Chagas de forma natural, pode-se citar ainda
transmissão por transfusão de sangue, caso o doador seja portador da doença; transmissão
congênita da mãe chagásica para o filho, via placenta; transmissão acidental em
laboratórios, ingestão de carnes contaminadas pelo protozoário e bebidas como o açaí e a
garapa da cana-de-açúcar.
No caso do açaí, o barbeiro faz o ninho nas folhas da palmeira ou no próprio cacho.
Assim, quando é feita a colheita, o inseto é levado junto e triturado com a fruta, na
produção da polpa. O consumo desta sem a devida pasteurização pode levar à
contaminação. Já com a cana-de-açúcar, a transmissão ocorre pela manipulação incorreta
da planta. Como o inseto costuma se alojar entre as folhas e o caule, é preciso raspar toda a
superfície da cana e retirar os brotos que saem dela antes de lançá-la no moedor, caso
contrário, corre-se o risco de prensar o inseto, lançando as fezes contaminadas na bebida e,
como não há nenhum processo de fervura antes do consumo, o parasita vai direto para o
corpo.
A contaminação do homem pelo T. cruzi desencadeia a infecção chagásica, que
pode se apresentar sob duas fases bem distintas: a fase aguda ou inicial, assintomática ou
sintomática. Na fase aguda ou inicial da infecção, tripomastigotas aparecem na corrente
sanguínea, na qual conseguem se espalhar pelo organismo do hospedeiro, acumulando-se
principalmente no fígado, baço, tecido do intestino, miocárdio, músculos esqueléticos,
dentre outros e, em conseqüência da reprodução e multiplicação do parasito nesses tecidos,
surge uma reação inflamatória e conseqüente necrose.
Na fase assintomática ou sintomática, a pessoa infectada apresenta febre,
adenomegalia (hipertrofia glandular), hepatoesplenomegalia (aumento de volume do
fígado e baço, dentre outros), conjuntive unilateral (sinal de Romaña), miocardite e
meningoencefalite (inflamação do sistema nervoso central).
Essa fase caracteriza-se pela presença do T. cruzi no exame direto do sangue.
Aproximadamente dois meses após o início da fase aguda, o T. cruzi desaparece da
corrente sanguínea, podendo ser detectado somente por exames especiais
(xenodiagnóstico, hemocultura ou PCR - Polymerase Chain Reaction). Após um período
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
39
de latência de 10 a 15 anos, chamado de forma indeterminada, as pessoas infectadas podem
evoluir para três tipos principais de doença: a) forma cardíaca, com miocardite crônica,
insuficiência cardíaca e eventualmente morte súbita, por arritmia cardíaca; b) forma
digestiva, com megaesôfago e megacólon (aumento exagerado do esôfago ou cólon por
contração dos esfíncteres correspondentes); c) forma mista, com cardiopatia e "megas",
simultaneamente. Cerca de 50% dos casos, dependendo da área endêmica, permanecem na
forma indeterminada, sem manifestações cardíacas ou digestivas (COURA, 2003).
Vale ressaltar que as manifestações da doença são condicionadas a vários fatores,
como a capacidade de defesa do organismo e a intensidade agressora do Trypanosoma, o
que leva muitas pessoas, portadoras da doença de Chagas, a passar um longo período, ou
mesmo a vida toda, sem apresentar nenhuma manifestação da doença. Todavia, em outros
casos, a doença, num curto período de tempo, pode comprometer muitos órgãos,
principalmente o coração e o aparelho digestivo.
No caso do coração, aos poucos ele vai-se dilatando e crescendo, produzindo
inchaço das pernas, sensação de fraqueza, palpitações e falta de ar. Mortes súbitas e
inesperadas entre indivíduos jovens, aparentemente sadios, não são raras. Entretanto, uma
parcela significativa dos portadores da doença não chega a desenvolver formas graves da
doença no coração, podendo ter uma vida sem muitas complicações, relacionadas à
doença. Já os comprometimentos digestivos, normalmente, levam a um aumento do
volume do esôfago e intestino, causando dificuldades crescentes relacionadas à ingestão e
digestão de alimentos, conhecido popularmente como mal de engasgo (acometimento
esofágico).
Existe, atualmente, uma série de métodos para diagnosticar a doença de Chagas,
merecendo destaque os que se baseiam na detecção direta do parasito ou na detecção da
resposta do hospedeiro à invasão do parasito. No primeiro grupo, na qual está inserida a
fase aguda da doença, um dos métodos utilizados é o de xenodiagnóstico (Figura 15), ou
seja, coloca-se o paciente em contato com o inseto vetor e, após algumas semanas, busca-
se o parasito nas fezes e urina do inseto. Alternativamente, a amostra de sangue do
paciente é colocada em meio de cultura apropriado e busca-se, após algum tempo, a
detecção do parasito; essa técnica é denominada hemocultura. Neste grupo pode-se, ainda,
citar o exame microscópico de uma gota de sangue do paciente, para a eventual
identificação do Trypanosoma, ou a biopsia de um gânglio linfático.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
40
Figura 15 - Xenodiagnóstico da Doença de Chagas, onde barbeiros
de laboratório vão fazendo sucção do sangue do paciente suspeito
Fonte: www.vertentes.com.br/chagas
No segundo grupo, onde a doença de Chagas já ocorre na forma crônica, os
parasitos tornam-se raros na corrente sangüínea, devendo o diagnóstico ser feito de modo
indireto. Neste método é observado se o organismo está produzindo anticorpos contra o
Trypanosoma cruzi. Para isso faz-se uma prova imunológica com o soro sangüíneo do
doente, denominada "reação de fixação do complemento para a doença de Chagas (reação
de Guerreiro e Machado, ou de Machado Guerreiro, como foi popularizada). Outro exame
muito empregado nesta fase é a imunofluorescência/PCR (Reação em Cadeia da
Polimerase).
A doença de Chagas, apesar de muitas pesquisas e de grandes progressos
alcançados no seu controle, ainda não tem cura. Alguns medicamentos existentes são
capazes de matar e destruir o Trypanosoma cruzi no período inicial da doença, mas,
infelizmente, as lesões do coração e outros órgãos que ele ocupou não são reversíveis com
sua eliminação. Assim, a melhor maneira de enfrentá-la, ainda, é pelas formas tradicionais,
ou seja, pela prevenção e controle do vetor.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
41
4.2 - A Descoberta da doença de Chagas
Figura 16 - Manuscrito de Carlos Chagas em que define a nova doença transmitida pelo Trypanosoma cruzi
Fonte: www.fiocruz.com.br
Carlos Justiniano Ribeiro Chagas nasceu no município de Oliveira, Minas Gerais,
em 9 de julho de 1879. Estudou no Colégio São Luís, dirigido por jesuítas, em Itu, interior
de São Paulo, e no Colégio São Francisco, em São João del-Rei, Minas Gerais. Aos 18
anos, passou a cursar a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, concluindo-a em 1902.
Para elaborar sua tese de medicina, dirigiu-se ao Instituto Soroterápico Federal, na fazenda
de Manguinhos, levando uma carta de apresentação de seu professor, Miguel Couto, a
Oswaldo Cruz, diretor do Instituto. Aceito e orientado por Oswaldo Cruz, Chagas começou
a trabalhar no Instituto Soroterápico Federal que, após 1908, passou-se a chamar Instituto
Oswaldo Cruz.
A descoberta da doença de Chagas esteve relacionada à construção da Estrada de
Ferro Central do Brasil, no início do século XX. A construção dessa estrada de ferro foi
baseada numa remota idéia de Dom Pedro II, que queria integrar o País de Norte a Sul, e o
primeiro passo era ligar o porto do Rio de Janeiro a Belém do Pará. Todavia, em 1907, as
obras para a construção da ferrovia encontravam-se paralisadas em Lassance - MG (Figura
17), localizada a 80Km de Pirapora. Na época, os capatazes e operários eram assolados
pela malária e pela sífilis, entre outros distúrbios, como arritmia e insuficiência cardíaca,
que provocavam a morte súbita de forma até então inexplicável.
O início da doença de Chagas em Lassance explode epidemicamente com a
chegada da ferrovia, segundo o próprio Chagas, detectando o descobridor 29
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
42
casos agudos na área e incontáveis casos crônicos. O lugarejo foi rapidamente
infestado por triatomíneos pouco antes da descoberta da doença, resultando
grande pressão de transmissão do Trypanosoma cruzi à população já existente e
à que chegava à época, com o crescimento do lugar (DIAS, 2002, p.168).
Nesse período, o então ministro Miguel Calmom solicitou a Oswaldo Cruz, diretor
do antigo Instituto de Manguinhos, hoje Instituto Oswaldo Cruz, providências no sentido
de dar início à campanha antipalúdica no vale do Rio das Velhas - MG, onde a malária
dificultava a construção do leito da estrada de ferro. Oswaldo Cruz nomeou Carlos Chagas
para o trabalho, juntamente com Belisário Penna, com a função de auxiliá-lo em Lassance,
onde ambos ficariam instalados em um vagão da própria estrada de ferro, o que
possibilitaria a Carlos Chagas observar e estudar grande número de pacientes da região que
apresentavam manifestações clínicas dessemelhantes das até então conhecidas.
Figura 17 - Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil em Lassance, inaugurada
em 26 de fevereiro de 1908
Fonte: www.fiocruz.com.br
Por mais de um ano, apesar do grande número de barbeiros na região, Carlos
Chagas não conseguiu relacionar as enfermidades à presença desses insetos. Até que, em
1909, por meio do chefe dos engenheiros da Estrada, foi alertado da existência de um
percevejo doméstico, vulgarmente chamado de “barbeiro”, que abundava nas habitações
dos trabalhadores da ferrovia (Figura 18).
Durante uma viagem a Pirapora quando passamos a noite, o Dr Belisario Penna
e eu, em um acampamento de engenheiros encarregados do estudo da linha de
estrada de ferro, conhecemos o barbeiro, o qual nos foi mostrado pelo Dr.
Cantarino Motta, chefe da comissão dos engenheiros (CHAGAS apud
DELAPORT, 2003, p.32).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
43
Figura 18 - Chagas e Belisário Penna com a equipe que trabalhava no prolongamento da Estrada de Ferro
Central do Brasil, na região do rio das Velhas, Minas Gerais. Pirapora, 1908. Sentados, da direita para a
esquerda: Carlos Chagas, Belisário Penna, Cornélio Homem Cantarino Mota - chefe da comissão de
engenheiros - e o médico Bahia da Rocha. Foi nesta casa, situada às margens do rio Buriti Pequeno, que o
engenheiro Cantarino Mota mostrou pela primeira vez a Chagas os insetos, conhecidos como "barbeiros",
que infestavam as moradias da região, alojando-se nas frestas das paredes de pau-a-pique
Fonte: Fundação Oswaldo Cruz, 2007.
Sabendo do papel desempenhado por hematófagos, na transmissão de determinadas
moléstias, suspeitou de que o inseto pudesse ser vetor de algum parasito do homem ou de
outro animal. Ao examinar vários exemplares encontrou, no intestino posterior, numerosos
flagelados, levantando a hipótese de se o Trypanosoma neles encontrados seria capaz de
infectar mamíferos. Carlos Chagas resolveu, então, enviar certa quantidade de barbeiros a
Oswaldo Cruz, pedindo-lhe que infectasse macacos sagüis. Inicialmente, ele suspeitou que
os epimastigotos representassem fase evolutiva do Trypanosoma minasense, por ele
descrito tempos antes, e que o barbeiro fosse o agente transmissor. A experiência deu
resultado e um dos macacos adoecera.
De volta ao Rio de Janeiro, para averiguar de perto os sintomas do macaco,
encontrou no sangue deste o mesmo Trypanosoma que identificara no sangue dos outros
macacos, em Lassance. Todavia, após exame de lâminas e preparações coradas, foi
observado que o protozoário não se assemelhava ao T. minasense e a nenhuma outra
espécie até então conhecida, sendo dado a ele o nome de Trypanosoma cruzi, em
homenagem ao amigo Oswaldo Cruz.
Assim, estava comprovado que a doença acometia mamíferos, e não tardou muito
tempo a aparecer a primeira vítima, o que ocorreu após sua volta a Lassance, depois de
breve passagem por Juiz de Fora, onde verificou a presença do Trypanosoma cruzi em cães
e gatos e, logo depois, em tatus, que passou a considerar como reservatório silvestre do
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
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tripanossomo. No dia 14 de fevereiro de 1909, chega ao seu consultório Berenice (Figura
19), uma menina de nove meses, com febre alta, a face e o corpo com edema duro e ligeiro
comprometimento do sistema nervoso. Estes sintomas não reproduziam as modalidades
das infecções mais comuns. Examinado-lhe o sangue, Chagas encontrou o Trypanosoma
cruzi.
Figura 19 - O primeiro caso do Mal de Chagas: Berenice
Fonte: www.ipec.fiocruz.br
Berenice foi o primeiro caso da moléstia observado nos seres humanos que, mais
tarde, receberia o nome de doença de Chagas. Berenice veio a falecer em junho de 1981,
aos 82 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Atualmente, estudos já demonstraram a
ocorrência do T. cruzi nos organismos humanos a mais de 4.000 anos. Todavia, Berenice
foi o primeiro descrito clinicamente.
A importância da descoberta da doença está relacionada ao fato de que Carlos
Chagas foi capaz de descrever a endemia por completo, ou seja, ele descobriu uma doença
tropical (a tripanossomíase), seu parasita (o protozoário Trypanosoma cruzi), o transmissor
e, ainda, descreveu o quadro clínico e o prognóstico. A repercussão de tal fato, somado aos
problemas de saúde pública da época, levou o então governo Hermes da Fonseca a garantir
a ampliação do Instituto Oswaldo Cruz, para dar prosseguimento as pesquisas sobre a
doença (Figura 20).
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Figura 20 - Decreto do Presidente Hermes R. da Fonseca, 1912
Fonte: www.ipec.fiocruz.br
Assim, dando continuidade a seus trabalhos, Chagas focalizou os múltiplos
aspectos da doença, como a possibilidade da etiologia chagásica do megaesôfago,
transmissão congênita da doença, dentre outros. Todavia, seus trabalhos relacionados à
doença foram recebidos com reserva por alguns médicos e pesquisadores da época, que
não reconheciam a sua importância, bem como a propagação da doença, sendo necessária a
formação de uma comissão em 1923, para ponderar sobre a seriedade de seus trabalhos.
“Poderies ter achado alguns mosquitos, inventado uma doença rara e
desconhecida, doença que se falasse muito, mas quase ninguém conhecesse os
doentes, encantoada lá num viveiro sertanejo de vossa província, que
magnificamente distriuireis por alguns milhões de vossos patrícios, acusados de
cretino” – Palavras de Afrânio Peixoto em sessão da Academia Nacional de
Medicina (VERONESSI, 1976, p.588).
Mesmo com toda discussão sobre seu trabalho no Brasil, Carlos Chagas concorreu
quatro vezes ao Nobel de Medicina e Fisiologia, por ter descoberto a doença
tripanossomíase americana, não tendo, entretanto, ganhado nenhum dos prêmios
principalmente por algumas ressalvas negativas feitas por médicos brasileiros.
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Em 1910, um ano após sua descoberta, Chagas foi aclamado membro titular da
Academia Nacional de Medicina e escolhido para ocupar um cargo de chefia no Instituto
Soroterápico de Manguinhos. Após a morte de Oswaldo Cruz, em 1917, Chagas herdou a
diretoria do instituto.
Em 1920, quando foi criado o Departamento de Saúde Pública, Carlos Chagas foi
escolhido para ser o seu primeiro diretor, criando diversos serviços especializados de
saúde, como os de Higiene Infantil, Combate às Endemias Rurais, Combate à Tuberculose,
à Hanseníase, às doenças venéreas. Criou ainda escolas de enfermagem e estabeleceu a
formação de médicos sanitaristas. Em 1925, foi nomeado professor da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro. Lá, criou a cadeira de moléstias tropicais e estabeleceu as
bases do estudo de higiene, em nosso país. Além disso, Carlos Chagas representou o Brasil
em vários comitês internacionais, principalmente como membro permanente do Comitê de
Higiene da Liga das Nações. Faleceu aos 55 anos de idade, vítima de um infarto, no dia 8
de novembro de 1934, na cidade do Rio de Janeiro.
4.3 – Tripanossomíase Americana: ações de controle e situação do Brasil
Após quase um século da descoberta da doença de Chagas, o Brasil recebeu da
Organização Pan-americana de Saúde (Opas), no dia 9 de junho de 2006, em
reconhecimento às ações de combate ao vetor da doença de Chagas, Certificação
Internacional de Eliminação da Transmissão da Doença de Chagas pelo Triatoma
infestans.
Segundo informações do Ministério da Saúde, desde o ano de 2000 uma comissão
internacional, formada por especialistas em Saúde das Américas e enviada pela Opas,
visitou cada estado brasileiro, para verificar a prevalência do barbeiro nas residências,
Foram visitadas mais de um milhão de casas, sendo registrados baixíssimos casos de
infestação. Além da inspeção foram examinadas amostras de sangue de mais de 90 mil
crianças até oito anos de idade, sendo confirmados em apenas 8 a presença do T. cruzi.
Longo foi o caminho percorrido pelo Brasil até chegar nesse estágio. Assim, o
objetivo deste capítulo, de modo sucinto, é expor algumas considerações sobre as ações
brasileiras voltadas ao controle da endemia, bem com traçar um quadro sobre a atual
situação da doença de Chagas, no Brasil.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
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4.3.1 – O combate vetorial à doença de Chagas
A descoberta da doença de Chagas ocorreu em meio a um contexto de inúmeros
problemas de ordem política e de saúde, que marcaram o início do século XX, no Brasil.
Anos antes, campanhas contra cólera, peste bubônica, febre amarela, varíola, dentre outras,
apesar de garantir em, por meio de lei promulgada em 1904, medidas e vacinações
obrigatórias, geraram a controvertida Revolta da Vacina. Nesta ocasião, além das medidas
destinadas à vacinação obrigatória e vigilância sanitária em geral, o fator limitante em
relação à ação da Saúde Pública era o próprio alcance do conhecimento científico e
tecnológico voltado ao diagnóstico, prevenção e tratamento das doenças, quando
confrontados aos parâmetros utilizados atualmente.
Carlos Chagas, naquele mesmo ano, após conclusão de sua tese sobre malária, o
"Estudo Hematológico do Impaludismo", em 1903, foi trabalhar como clínico no Hospital
de Jurujuba, em Niterói (RJ). Devido à sua tese de doutorado sobre a malária, em 1905 foi
convidado por Oswaldo Cruz para trabalhar no controle da doença no município de
Itatinga (SP), que atingia os trabalhadores da Companhia Docas de Santos, dificultando o
andamento da obra. Esse feito foi considerado, por muitos estudiosos de saúde pública, a
primeira ação bem-sucedida contra a malária, no Brasil, na qual foram colocados em
prática procedimentos que mais tarde se tornariam corriqueiros, nas outras campanhas.
Em junho de 1907, Carlos Chagas foi enviado, por intermédio do Instituto Oswaldo
Cruz, à cidade de Lassance (MG), próxima ao Rio São Francisco, para combater uma
epidemia de malária. Nessa oportunidade, em 1909, Chagas descobriu a doença, que foi
levada ao conhecimento da comunidade científica em uma nota prévia, escrita por Chagas
em 15 de abril desse mesmo ano, e publicada na Revista Brasil-Médico uma semana
depois, no dia 22. No mesmo dia, Oswaldo Cruz comunicou o fato à Academia Nacional
de Medicina, que formou uma comissão para verificar o trabalho feito em Lassance. O
presidente da comissão, Miguel Couto, sugeriu o nome de doença de Chagas para a nova
moléstia, todavia Carlos Chagas achou mais conveniente denominá-la, simplesmente,
Tripanossomíase americana (DELAPORT, 2003).
No dia 26 de outubro de 1910, a Academia Nacional de Medicina reconheceu
formalmente o trabalho realizado pelo cientista e o recebeu como membro honorário.
Nessa solenidade, Chagas proferiu a primeira conferência sobre a doença. Em 1911
divulgou os resultados à Sociedade de Medicina e Cirurgia de Minas Gerais. Nesse mesmo
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
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ano ocorreu a Exposição Internacional de Higiene e Demografia, em Dresden, Alemanha,
onde foi apresentada a doença (CHAGAS FILHO, 1968).
Em 1912, foi a vez de a classe médica paulista receber infomações, pelo próprio
Carlos Chagas, sobre a moléstia. No dia 14 de fevereiro de 1917, três dias após a morte de
Oswaldo Cruz, Carlos Chagas foi nomeado para a direção do Instituto de Manguinhos, por
um decreto presidencial. Sua administração caracterizou-se pela investigação das
principais epidemias que assolavam a zona rural brasileira, na época. Em 1920, foi criado o
Departamento Nacional de Saúde Pública, também dirigido por Chagas, até 1926. Todavia,
o Isntituto Oswaldo Cruz ficou subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios
(DELAPORT, 2003).
Concomitantemente à descoberta, as campanhas contra varíola, febre amarela, peste
bubônica, bem como as medidas voltadas à promoção de higiene urbana, de modo geral
ainda se caracterizavam por ações de cunho imediatistas, na solução de problemas de saúde
pública que, direta ou indiretamente, poderiam prejudicar o desenvolvimento da
cafeicultura, visto que esta, naquele momento, se configurava como a principal atividade
econômica do país.
As primeiras intervenções estatais no campo da prevenção e controle de
doenças, desenvolvidas sob bases científicas modernas, datam do início do
século XX e foram orientadas pelo avanço da era bacteriológica e pela
descoberta dos ciclos epidemiológicos de algumas doenças infecciosas e
parasitárias. Essas intervenções consistiram na organização de grandes
campanhas sanitárias com vistas ao controle de doenças que comprometiam a
atividade econômica, a exemplo da febre amarela, peste e varíola. As
campanhas valiam-se de instrumentos precisos para o diagnóstico de casos,
combate a vetores, imunização e tratamento em massa com fármacos, dentre
outros (GVE, Ministério da Saúde, 2006, p.16).
Neste contexto, no ano de 1923, é estabelecido um convênio entre o Governo
Brasileiro e a Fundação Rockefeller, voltado para uma cooperação médico-sanitária e
educacional, para implementar programas de erradicação de endemias como a febre
amarela, a malária e a ancilostomíase. Segundo alguns estudiosos, esse acordo tinha
interesse científico e econômico, pois além de proteger as populações, essas ações
diminuiriam o risco de as doenças comprometerem a capacidade produtiva da classe
trabalhadora. Todavia, apesar de a doença de Chagas já ter sido descoberta, já havendo
alguns ensaios sobre o combate ao vetor, ela não foi incorporada a esse convênio
(DELAPORT, 2003).
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Na década de 1930, Getúlio Vargas assume o poder no Brasil, implantando de
imediato uma política urbano-industrial baseada na centralização do poder do Estado. Essa
política assume a responsabilidade de garantir um exército de mão-de-obra para as
atividades agrícolas e, principalmente, a industrial, nos grandes centros urbanos e no
interior do país. Para atingir tal meta, Getúlio acena para investimentos no sentido de
melhorar as condições de saúde da classe trabalhadora, para que esta atenda aos anseios
das atividades produtivas, urbanas e rurais.
A industrialização crescente produz seus resultados característicos – aceleração
da urbanização, ampliação da massa trabalhadora sob precárias condições de
higiene, saúde e habitação, etc., fazendo com que novas exigências pressionem
no sentido de efetivação e ampliação das políticas sociais. Desde então, pode-se,
com rigor, identificar uma Política de Saúde Nacional, organizada em dois
subsetores: o de Saúde Pública e o de Medicina Previdenciária (CBVE, 2006,
p.18).
O estado de São Paulo, com seus imensos cafezais ainda sentindo o efeito da
depressão de 1929, e Minas Gerais, com suas atividades de agricultura e pecuária em crise,
mostram-se interessados nessa política, pois além dos problemas econômicos, que
contribuíam para êxodo rural, eles enfrentavam também sérias dificuldades relacionadas a
endemias que atingiam famílias que ainda permaneciam no campo (SILVA, 1999).
No ano de 1942, Brasil e EUA assinaram, em Washington, o Acordo Básico, que
deliberava responsabilidades em relação à segurança sanitária, a fim de ampliar, na área de
extração de borracha, na Amazônia, as atividades de saneamento, profilaxia da malária e
amparo médico-sanitário aos seringueiros e funcionários das empresas que trabalhavam
com a borracha.
Nesse contexto, com apoio do Ministério da Educação e Saúde (MES) e do
Instituto Oswaldo Cruz, sob a gestão de Henrique Aragão, no sentido de ampliar as
campanhas contra as principais doenças endêmicas e epidemias do país, dentre elas a
doença de Chagas, foi criado o Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas
(CEPMC), em Bambuí (MG), no ano de 1943, dirigido por Emmanuel Dias (DELAPORT,
2003).
No ano seguinte, 1944, o dicloro-difenil-tricloretano (DDT) foi usado no combate
ao inseto do gênero Anopheles, vetor da malária em diversas regiões do Pacífico e também
na porção sul da Itália, apresentando bons resultados. Baseado nessa estratégia de
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
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utilização de inseticidas para eliminar os vetores de doenças e, assim, controlar epidemias,
o Brasil, por meio do CEPMC, testou várias substâncias, com o objetivo de eliminar os
triatomíneos que infestavam as moradias no espaço rural, dentre elas o próprio DDT, na
cidade de Bambuí. Todavia, a sua utilização não apresentou resultados satisfatórios contra
os Triatomíneos que, passados alguns dias do combate, voltam a colonizar as habitações
detetizadas (COURA, 2003).
Outra estratégia utilizada em Bambuí, pela CEPMC, mencionada por Chagas em
seus trabalhos anteriores, foi a melhoria das moradias, com o intuito de evitar que os
Triatomíneos encontrassem, nesses locais, condições de abrigo, alimentação e reprodução.
Essa linha de trabalho resultou, no ano de 1947, numa parceria com o Governo Federal,
por intermédio da Fundação Casa Popular, criada no ano anterior com o objetivo de
construção e financiamento de moradias para população de baixa renda.
Esse programa de melhoramento das habitações, com o objetivo de combater o
vetor da doença de Chagas, enfrentou uma série de problemas. Segundo Dias (1986, p.96),
[...] no Brasil, muitas vezes se tem verificado que a população não melhora suas
casas por vários fatores, entre os quais a falta de posse do terreno, o desencanto
e desestímulo face a gravíssimos problemas existenciais (subemprego,
transitoriedade, falta de recursos). Experiências antigas já demonstram que a
falta de entendimento com a população e o desconhecimento de seu universo
vivencial podem dificultar a aceitação de programas e a participação
comunitária. Relatam-se casos de rejeição a novas habitações porque se
quiseram impingir regras, padronizar comportamentos, estruturar artificialmente
a população. É imprescindível admitir-se que nem sempre as ‘verdades’ e os
padrões da gente urbana são necessariamente o que há de melhor para a
população rural. Apesar do analfabetismo, do isolamento e da aparente
ignorância em que vive o povo da roça, ele possui um agudo senso de
observação sobre o que acontece a sua volta. São pessoas que enfrentam e
resistem a imensas dificuldades. Elas pensam, conversam, dão opiniões, têm
sonhos e desejos, e não simplesmente devem executar o que os outros
decidiram.
Dias (1986) ainda critica o resultado deste programa de controle vetorial afirmando
que:
[...] pouco, de concreto, se tem feito em termos da habitação rural em programas
de Chagas, fora trabalhos experimentais. Em Minas, há experimentos isolados
nas regiões de Montes Claros e do Vale do Jequitinhonha (Prodevale), a par de
estudos sobre técnicas e materiais de construção desenvolvidos no Centro
Tecnológico de Belo Horizonte (CETEC). Um programa habitacional rural, no
Brasil, não pode ser assumido pelo Ministério da Saúde, mas deveria sê-lo por
outras instituições. A realidade dos modelos urbano-industriais e a crescente
desvalorização do homem e dos produtos rurais fazem sentir as poucas
"chances" de um programa de habitação que seja amplo e coerente. Infelizmente
não se pode ser otimista enquanto a filosofia de órgãos como os Ministérios do
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
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Interior, da Agricultura e da Fazenda, tão alheia ou distante da realidade social
de chagásicos e lavradores. Em recente simpósio sobre doença de Chagas,
diretores do BNH expressaram que a moradia é problemática e de má qualidade
no panorama rural brasileiro, e que o órgão precisaria assumir de vez uma opção
concreta pelo rurícula, o que efetivamente ainda não fizera: "seja pela
dificuldade primordial de ser obrigado a trabalhar com garantia real, em regime
de hipoteca, ou por falta de recursos, não se instrumentalizou o Plano da Casa
Rural - PLACAR, criado pelo Decreto n
o
85.876, de 03.04.81 [...] Será que
construir a casa resolve o problema? Não seria necessário continuar fazendo
dedetização?
Concomitante com o projeto de construção e reforma de moradias, de 1947, no
final desse mesmo ano, em Minas Gerais, começou a ser testado o isômero gama do hexa-
cloro-ciclohexano (BHC), na desinsetização dos domicílios. Os resultados, relacionados à
utilização desse produto químico, nas moradias, foram muito expressivos.
No ano seguinte, 1948, foi criada a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma
agência especializada em saúde subordinada à Organização das Nações Unidas, com sede
em Genebra, na Suíça. O Brasil possui uma paticipação importante na criação da OMS,
pois foram representantes das atividades de saúde brasileira que propuseram o
estabelecimento de um organismo internacional, voltado às questões de saúde pública, que
contemplasse todo o planeta. A criação da OMS contribuiu para que os problemas de saúde
pública entrassem na pauta das principais discussões políticas desse período, no Brasil
REY, 2001).
Os resultados expressivos dos trabalhos de desinsetização dos domicílios, somado à
importância dada à saúde pública, com a criação da OMS, possibilitou, no ano de 1949, a
criação de uma parceria entre o Instituto Oswaldo Cruz, por meio da CEPMC e o Sistema
Nacional de Malária (SNM), para testar, nos municípios de Uberaba e Bambuí, uma
campanha baseada no uso domiciliar de inseticidas no combate ao vetor da doença de
Chagas e outras endemias.
Passadas as fases de teste, no final do ano de 1949, o Instituto Oswaldo Cruz e o
Serviço Nacional de Malária foram encarregados, pelo Ministério de Saúde e Educação, de
implantar uma campanha de controle vetorial da doença de Chagas. Assim, em meados de
1950, em Uberaba (MG), foi iniciada campanha de saúde pública voltada, especificamente,
ao controle da tripanossomíase americana no Brasil, que abrangeu mais de 200 municípios
localizados principalmente, no Triangulo Mineiro (MG) e na porção norte do estado de São
Paulo, infestados, principalmente, pelo Triatoma infestans. Mais tarde, ainda na década de
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
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1950, essa campanha foi efetuada em outras áreas do estado de Minas Gerais e outros
estados que enfrentavam problemas com a doença. No estado de São Paulo, nessa mesma
época, o Serviço de Profilaxia de Malária do Estado de São Paulo encarregou-se de fazer a
campanha de combate vetorial, nas outras regiões do estado (DELAPORT, 2003).
Essas campanhas de combate vetorial da doença de Chagas contribuíram para que
esta fosse melhor conhecida, tanto popularmente quanto cientificamente. Como
conseqüência desse reconhecimento, pode-se citar a grande quantidade de trabalhos sobre a
doença de Chagas apresentados no Congresso Brasileiro de Higiene, em 1951, e a criação
de faculdades de medicina em Goiás, no Triangulo Mineiro e São Paulo, impulsionadas
pelos problemas de saúde pública relacionados às endemias de Chagas e malária,
principalmente.
Outro marco importante foi a criação do Ministério da Saúde, em 1953, pela Lei n.
1.920, de 25 de julho de 1953, com a função de dispor de todas as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, reduzindo as enfermidades, controlando as
doenças endêmicas e parasitárias, melhorando a vigilância à saúde (DELAPORT, 2003).
Em 1956, por meio da Lei n. 2.743, é criado o Departamento Nacional de Endemias
Rurais, dentro do Ministério da Saúde, cabendo a ele organizar e executar os serviços de
investigação e promover o combate à malária, leishmaniose, doença de Chagas, peste,
brucelose, febre amarela, esquistossomose, ancilostomose, filariose, hidatidose, bócio
endêmico, bouba, tracoma e outras endemias existentes no país.
No final da década de 1950, mais especificamente no ano de 1959, cabe enfatizar a
realização do Primeiro Congresso Internacional sobre a doença de Chagas, realizado na
cidade do Rio de Janeiro, onde puderam ser apresentados e discutidos vários trabalhos e
experiências Latino Americanas sobre a doença.
Na década de 1960, dentre as questões relacionadas à doença de Chagas, além das
campanhas de saúde pública merece destaque a criação do Centro de Pesquisas René
Rachou, da Fiocruz, em Belo Horizonte (MG), em 1962, onde atualmente funcionam
vários laboratórios, dentre eles o da Doença de Chagas e também o dos Triatomíneos e
Epidemiologia da Doença de Chagas. Também houve a realização da III Conferência
Nacional da Saúde (CNS), na qual foi proposta a reordenação dos serviços de assistência
médico-sanitária e alinhamentos gerais, para determinar uma nova divisão das atribuições e
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responsabilidades entre os níveis político-administrativos da Federação visando, sobretudo,
à municipalização, em 1963. E, por fim, foi implantado o Sistema de Notificação de
Doenças (SVE), em 1969, sendo os dados enviados para o Boletim Epidemiológico da
Fundação Serviços de Saúde Pública (FSESP), que contribuiu para a sistematização dos
dados obtidos nos inquéritos epidemiológicos obtidos em várias regiões do país
(VERONSI, 1976).
Em 1970, é criada a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM),
atual Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), como resultado da fusão do Departamento
Nacional de Endemias Rurais, da Campanha da Erradicação da Varíola e da Erradicação da
Malária. Em 1974, ela passa a ter subordinação direta ao Ministério da Saúde, para
possibilitar-lhe maior flexibilidade técnica e administrativa, sendo criadas, neste contexto,
as Coordenadorias de Saúde, para cada região brasileira (DIAS, 1986).
A partir de 1975, fundamentado nos trabalhos da SNM e CEPMC, realizados em
Minas Gerais e São Paulo, foi organizado o Programa de Controle da Doença de Chagas
(PCDCh). Esse programa, organizado pela SUCAM e baseado nos trabalhos de
desinfestação domiciliar, ocorridos, principalmente, nas décadas de 1950 e 1960,
objetivava, por meio de controle químico, a diminuição e até mesmo a eliminação da
transmissão vetorial da doença de Chagas, principalmente pelo T. infestans. Esse programa
foi formulado, inicialmente, em três fases - planejamento e reconhecimento geográfico,
ataque ao vetor domiciliado e vigilância epidemiológica.
O PCDCh realiza dois tipos de atividades: (I) vigilância ativa, pesquisa de focos de
triatomíneos, com borrifação de domicílios, realizada por agentes de saúde pública, e (II)
vigilância passiva, visita mensal aos Postos de Informação de Triatomíneos (PIT),
instalados em locais estratégicos dos municípios como escolas da rede pública e postos de
saúde da zona rural, com o objetivo de recolhimento de notificações, triatomíneos e
trabalho de divulgação dos PITs, feitos de casa em casa (MORENO e BARACHO, 2000
apud PAULA, 2007, p.2).
A partir da década de 1980, a Fundação Nacional de Saúde (SUCAM, na época)
deu início a atividades bastante intensivas no controle e prevenção, cobrindo grande parte
da área de risco e transmissão da doença de Chagas, no Brasil. O programa, que teve
abrangência nacional, implementou ações de borrifação de inseticidas nos domicílios,
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melhoria das moradias e habitações rurais e, ainda, pesquisa ativa de procura do barbeiro,
dentro das residências.
Os trabalhos executados pelo PCDCh conseguiram controlar a infestação
domiciliar pelo T. infestans em grande parte do país e ainda, baseados no Primeiro
Inquérito Nacional promovido, entre 1975 e 1980, para mapear a prevalência da infecção e
a distribuição dos transmissores da doença de Chagas no país, indicaram que 30 espécies,
das 42 identificadas de triatomíneos no Brasil, estavam presentes nas habitações.
No mês de outubro de 1981, a Divisão Nacional de Epidemiologia assume as
funções da Coordenação Nacional das Ações de Vigilância Epidemiológica e Imunizações.
Nesse mesmo ano é criada a Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde (SNABS) e a
Divisão de Epidemiologia (DNE) no Ministério da Saúde, que substitui a FSESP,
passando, a partir desse momento, a centralizar a coleta dos dados em nível nacional.
Em janeiro de 1985 ocorre uma Reunião de Secretários Municipais de Saúde, em
Montes Claros (MG). Nessa reunião é lançada a Carta de Montes Claros, chamada de
“Muda Saúde”, estabelecendo o marco referencial de um novo movimento, Gestão
Municipal dos Recursos da Saúde, difundindo as bases para ocorrer sua institucionalização
(DELAPORT, 2003).
Em 1991, pelas características comuns relacionadas à epidemiologia da doença de
Chagas no Cone Sul, o Brasil participou da criação da Comissão Intergovernamental de
Doença de Chagas, tendo a Organização Pan-americana da Saúde como Secretaria,
possibilitando a elaboração de um programa sub-regional e um plano de ação comum a
todos os países do Cone-Sul para a eliminação da infestação domiciliar por Triatoma
infestans e a interrupção da transmissão de Trypanosoma cruzi por via transfusional
(SILVEIRA, 2002)
No ano de 1999, a partir da Portaria 1.399, do Ministério da Saúde, ocorreu a
descentralização das ações de controle de endemias e, conseqüentemente, a transferência
das responsabilidades para o estado e municípios. Os programas de controle de endemias
começaram a ser conduzidos pelas prefeituras municipais sob a coordenação das Diretorias
de Ações Descentralizadas de Saúde (DADS), atualmente denominadas Gerência Regional
de Saúde (GRS). Em Minas Gerais, essas GRS pertencem à Secretaria Estadual de Saúde e
estão sediadas em municípios de maior importância política ou econômica (PAULA, 2007).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
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No ano de 2000, a Fiocruz, Instituição onde Carlos Chagas desenvolveu
praticamente todos os seus trabalhos relacionadas à doença de Chagas, completou 100
anos, e em agosto de 2006 recebeu, durante o 11º Congresso Mundial de Saúde Pública e o
8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva realizado no Riocentro (RJ), o prêmio de
melhor Instituição de Saúde Pública do Mundo. A escolha foi feita pela Federação Mundial
das Associações de Saúde Pública, uma organização não-governamental (ONG)
internacional que reúne cerca de 70 associações nacionais, de todo o mundo. Esse encontro
foi considerado o maior evento de saúde pública já realizado na América Latina
(FERREIRA, 2006).
Dois meses antes, em junho de 2006, o Brasil recebia a Certificação concedida pela
OMS como área livre de transmissão vetorial pelo Triatoma infestans. Todavia, vale
salientar que mesmo com a eliminação desse vetor, o Brasil possui ainda várias espécies de
Triatomíneos silvestres com grande potencial de transmissão da doença, o que não permite
ao país desativar ou diminuir as ações de controle à enfermidade. E apesar de ser
expressiva a diminuição no número de novos casos, nos últimos anos, a doença de Chagas
ainda é uma das doenças com maior quantidade de pacientes com comprometimento
cardíaco no país. Dados do Ministério da Saúde revelam que, atualmente, existem cerca de
cinco milhões de brasileiros chagásicos. Em 30% dos casos, a doença se manifesta com
comprometimentos importantes no coração e no sistema digestivo, podendo levar à morte,
que é estimada em 3,9 para cada 100 mil habitantes.
Torna-se importante enfatizar, no entanto, que tal certificação não representa o
controle efetivo da doença no Brasil. A certificação representa somente a
eliminação (interrupção momentânea) da transmissão da doença
especificamente pelo triatomíneo da espécie T. infestans. Diferentemente da
erradicação - que representa a interrupção definitiva da transmissão mesmo na
ausência de qualquer ação de controle - a eliminação pressupõe a manutenção
de alguma ação de controle e vigilância para que a interrupção se mantenha
(FERREIRA, 2006, p.507).
Por fim, no Brasil, pode-se afirmar que ainda persistem focos significativos da
doença, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Tocantins, Bahia, Pernambuco,
Piauí e em Minas Gerais, indicando que doença pode voltar a ocorrer de modo expressivo,
a exemplo da malária na Região Norte e os surtos de dengue, principalmente na Região
Sudeste. Infelizmente, ações de controle da doença de Chagas, bem como de outras
endemias, ainda estão condicionadas à sazonalidade político-eleitoral, que influencia
diretamente os programas de controle, principalmente por meio de mudança no quadro de
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
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funcionários e destinação de verbas. Deste modo, o número de estados mencionados pode
aumentar, pois em regiões onde a doença apresenta índices satisfatórios de controle existe,
ainda, possibilidade de surgimento de novos casos de transmissão vetorial, seja pela
sobrevivência dos barbeiros em diferentes nichos ecológicos ou pelo decréscimo dos
serviços de vigilância epidemiológica, nessas áreas.
4.3.2 - Situação da doença de Chagas no Brasil
A doença de Chagas, por sua elevada propagação, pelos danos causados ao
organismo humano, por não ter ainda um tratamento específico e pelas dificuldades
peculiares de sua profilaxia, principalmente nas zonas rurais mais distantes, representa
ainda, nos dias atuais, um sério problema sanitário, ocupando lugar de destaque entre as
endemias rurais no Brasil, ponderadas sua incidência, prevalência e sua patogenicidade.
Embora esteja ligada, de forma eminente, ao espaço rural, a doença de Chagas
representa também um problema para os centros urbanos, devido, especialmente, às
correntes migratórias que ocorreram no país em direção às cidades, principalmente a partir
da década de 1940, fazendo parte delas, muitas pessoas infectados pelo T. cruzi.
Na década de 1950, no Brasil, foi institucionalizado o controle da transmissão
vetorial da doença de Chagas pelo Serviço Nacional de Malária; todavia, sua
sistematização e estruturação, em forma de programa com alcance nacional, só ocorreu em
meados da década de 1970, baseado nos trabalhos clássicos da luta antimalárica e no
modelo inicial utilizado no município de Bambuí-MG (VINHAES e DIAS, 2000).
Comparando-se a década de 1950 e o momento atual, pode-se notar que as
estratégias implementadas de controle da doença de Chagas no Brasil alcançaram
excelentes resultados. Com destaque para: redução do risco de transmissão da doença via
vetor e transfusão sanguínea; decréscimo na prevalência da infecção, no adoecimento e na
mortalidade; além da diminuição da prevalência da infecção, em crianças de baixa idade. O
quadro comparativo (Quadro 1) resume algumas dessas melhorias, no Brasil.
Essas reduções da magnitude da doença, em grande parte, são frutos de inúmeras
ações, das quais merecem destaque: o avanço das pesquisas científicas relacionadas ao
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
57
vetor e a busca medicamentos que minimizem ou até mesmo impeçam a atuação danosa do
Trypanosoma cruzi no organismo humano, e as campanhas de saúde pública de combate e
monitoramento ao vetor, com destaque para o PCDCh, instituído pela Superintendência de
Campanhas de Saúde Pública (SUCAM), atual Fundação Nacional de Saúde (FUNASA).
A partir de 1999, com a Portaria 1.399, do Ministério da Saúde, foram criadas as
Diretorias de Ações Descentralizadas de Saúde (DADS), atualmente denominadas
Gerência Regional de Saúde (GRS).
Meados do séc. XX Ano de 2007
População rural de 75% População rural de 25%
Transmissão ativa superior a 2800 municípios Transmissão ativa inferior a 200 municípios
Infestação pelo T.Infestans em
aproximadamente 900 municípios
Infestação pelo T.Infestans em menos de 20
municípios
Programa de controle vetorial ainda incipiente Controle de vigilância descentralizada
Menos de 8% dos bancos de sangue faziam
controle da doença
Controle nos bancos de sangue superior a 97%
Incidência estimada de 100000 novos casos/ano
via vetor
Incidência inferior a 500 novos casos/ano
Incidência estimada de 10000 novos casos/ano
via transfusão de sangue
Incidência inferior a 10 novos casos/ano via
transfusão de sangue
Mortalidade anual superior a 10000 casos/ano Mortalidade anual menor que 4000 casos/ano
Idade mediana da morte 45 anos Idade mediana da morte 65 anos
Quadro 1 – Brasil: resumo dos principais avanços no controle da doença de Chagas
Fonte: Seminário Eletrônico: Inquérito sorológico da transmissão vertical em Minas Gerais, 2007.
Outro aspecto a ser considerado foi a reestruturação do espaço agrário do país,
representado pela modernização do processo produtivo, concentração fundiária, melhoria
nas condições de habitação e êxodo rural.
Já no século XXI, considerando os 2317 casos agudos de doença de Chagas,
confirmados pelo Ministério da Saúde, nos anos de 2001 a 2006 (Gráfico 2), foi observado
que a região Nordeste, em comparação com as outras quatro regiões do Brasil, anotou
maior número de casos, 1144 ao todo, correspondendo a quase metade do total de
registros. Quando se analisam os números individuais de cada estado, dos oito estados que
ultrapassaram a marca dos 100 casos, nesse período, a Região Nordeste também se destaca,
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
58
pois seis deles pertencem a ela, com ênfase para os estados da Bahia, com 447 casos,
Pernambuco, com 287, e Rio Grande do Norte, com 225. Em relação ao Brasil, eles são,
respectivamente, o primeiro, segundo e terceiro maior, em número de registros
confirmados.
Gráfico 2 - Brasil: Doença de Chagas Aguda – Casos confirmados por Estado no período de 2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
No lado oposto desses indicadores estão os estados do Acre, Roraima e Tocantins,
que não anotaram caso algum de doença de Chagas aguda, no período de 2001 a 2006.
Com exceção destes, os menores índices foram registrados nos estados do Mato Grosso,
com 0,17% dos casos, Distrito Federal, com 0,22%, e Maranhão, com 0,6%.
Neste mesmo período, a observação dos dados referentes à confirmação do modo
de infecção relacionado à faixa etária demonstrou que o maior número de ocorrências
esteve restrito à faixa etária de 20 a 39 anos, com 29,9% dos casos, e 40 a 59 anos, com
44,8 % dos casos (Gráfico 3). Quando se observa o número de ocorrências na idade adulta,
foram totalizados 2.137 casos, representando um índice de 92,2%, confirmando as
informações do Ministério da Saúde sobre diminuição da prevalência da infecção em
pessoas de idade inferior.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
notificação
RO AM PA AP MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MS MT GO DF
2001
2002
2003
2004
2005
2006
TOTAL
Estados
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
59
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Ignorado
< 1
Ano
1
-4
5
-9
10-14
1
5
-19
2
0
-39
4
0
-
5
9
6
0-6
4
6
5-6
9
70-79
faixa etária
notificações
Ign/Branco Transfusional Vetorial Transplacenria
Gráfico 3 - Brasil: Doença de Chagas Aguda – Casos confirmados por modo de infecção e faixa
Etária, no período de 2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
Sobre a zona de residência, os dados demonstram que a maior parte dos casos
confirmados, 53,8%, ocorreram na zona urbana, e somente 40,1% ocorreram na zona rural
(Tabela 2 e Gráfico 4). Isto parece estranho. Enquanto as pesquisas sobre a doença de
Chagas apontam que as áreas de maior risco estão no meio rural, pela maior proximidade
do vetor da doença, esses dados, contraditoriamente, apontam para o oposto, um maior
índice de contaminação urbana. Os dados entomológicos, fornecidos pelos Centros de
Controle de Zoonoses espalhados pelo país, indicam uma maior incidência de capturas de
triatomíneos no espaço rural, sendo as capturas na cidade esporádicas e diminutas. Os
poucos triatomíneos encontrados nas cidades, quase sempre negativos para T. cruzi, não
seriam suficientes para produzir transmissão da doença. Como poderiam, então, estar
registrados tantos casos de doença de Chagas aguda, nas cidades?
Em San Juan na Argentina, pelo elevado número de reservatórios humanos do T.
cruzi, relacionado à presença de triatomíneos na cidade, na ausência de medidas de
controle, uma elevação no número de casos de doença de Chagas aguda tem grande
possibilidade de ocorrer. Entretanto, no Brasil, onde, historicamente, os registros indicam
uma presença dos vetores da doença no espaço rural, essa situação, demonstrada pelos
indicadores do Governo, é difícil de ocorrer.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
60
Zona de
Residência
Ano
2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total
Ign/Ñ preenchido 4 18 21 18 36 21
118
Urbana 73 163 296 251 254 210
1.247
Rural 52 118 289 134 178 159
930
Urbana/Rural 1 1 3 4 7 6
22
TOTAL 130 300 609 407 475 396 2.317
Tabela 2 - Doença de Chagas Aguda – Casos confirmados por zona de residência no período de 2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
5,1%
53,8%
40,1%
0,9%
Ign preenchido Urbana Rural Urbana/Rural
Gráfico 4 - Brasil: Doença de Chagas Aguda – Casos confirmados por zona de
residência, no período de 2001 a 2007
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
No estado de Minas Gerais, no período de 2001 a 2007, foram confirmados 85
casos de doença de Chagas aguda. O ano de 2006 foi o de maior número de casos de
doença de Chagas aguda em Minas Gerais, com 23 registros, seguido pelo ano de 2005
com 21. O menor número de casos foi verificado no ano de 2001, com apenas dois. Esses
dados atestam um fato preocupante para o estado de Minas Gerais, pois sugerem um
aumento gradativo no número de doença de Chagas aguda (Gráfico 5).
Quando se correlacionam esses dados aos municípios de ocorrência, merecem
destaque os municípios de Mateus Leme, Pitangui, Pouso Alegre e Várzea Grande que,
juntos, foram responsáveis por 40% dos casos de doença de Chagas aguda, segundo os
registros do Ministério da Saúde.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
61
2
9
14
16
21
23
0
5
10
15
20
25
n. de casos confirmados
2001 2002 2003 2004 2005 2006
período
Gráfico 5 – Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, evolução no período
de 2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
Na análise da ocorrência de doença de Chagas aguda, por faixa de escolaridade,
observa-se que os índices mais elevados concentram-se nas pessoas de menor grau de
escolaridade, sobressaindo as que possuem de um a três anos de escola, com 35% dos
casos. Se somados os que possuem de zero a sete anos de escola, o índice correspondente
seria de 72,9% (vide Tabela 3). Esse dado pode estar relacionado às condições de moradia
da população afetada, uma vez que se verifica, no país, uma relação muito próxima entre o
grau de escolaridade e a renda, que repercute diretamente nas condições e local de
moradia.
Ano 1º
Sintoma(s)
Ignorado
< 1 1 a 3 4 a 7 8 a 11 12
Não se
Aplica
TOTAL
2001
1 0 0 1 0 0 0
2
2002
3 2 3 1 0 0 0
9
2003
3 2 4 2 2 1 0
14
2004
0 3 9 2 1 0 1
16
2005
6 3 7 5 0 0 0
21
2006
3 2 7 9 1 0 1
23
TOTAL 16 12 30 20 4 1 2 85
% 18,8% 14,1% 35,3% 23,5% 4,7% 1,2% 2,4% 100%
Tabela 3 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, por faixa de escolaridade, no período de 2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
62
A análise dos dados, por faixa etária, revela outro aspecto interessante do
comportamento da enfermidade, no estado. É possível observar uma nítida separação entre
a ocorrência de casos que antecedem os 19 anos (população jovem) e os que acontecem
após essa idade (população adulta). Na faixa etária jovem, foram registrados apenas quatro
casos, correspondendo apenas a 5% do total de notificações. Já na população adulta foram
anotados 80 casos, equivalendo a uma taxa de 95% (Gráfico 6).
2%
28%
42%
5%
11%
8%
1%
1%
1%
1%
Ignorado
< 1 Ano
10-14
15-19
20-39
40-59
60-64
65-69
70-79
80 anos
Gráfico 6 – Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, por faixa etária, no período de
2001a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
A faixa etária dos 20 aos 39 anos aparece com 28% dos casos, e a faixa etária dos
40 aos 59 anos, com 42%. Segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(2007), as pessoas inseridas nessa faixa etária correspondem à população economicamente
ativa, ou seja, são, em sua maioria, as responsáveis pela manutenção e sustento das
famílias. É preocupante o número de casos nessa classe, no estado de Minas Gerais (70%
do total de registros), pois é sabido que, em muitos casos, cedo ou tarde, a doença de
Chagas acaba comprometendo a capacidade produtiva do chagásico, quando não leva à
morte prematura.
Quando se observa a evolução dos 85 casos registrados em Minas Gerais, quatro
progrediram para o óbito, em 13 ocorreu a remissão da parasitemia e, em 25, a remissão
das manifestações clínicas. Infelizmente, devido ao não registro, de forma adequada, da
evolução da doença, e ao não acompanhamento dos pacientes diagnosticados, seja pelo não
retorno à unidade de saúde, ou pelo tratamento em outra localidade, 38 casos registrados
no Estado ficaram sem nota de sua evolução, o que poderia mudar, de modo significativo,
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
63
os indicadores apresentados, uma vez que esse índice correspondeu a 45% do total de
notificações (Gráfico 7).
0 5 10 15 20 25 30 35 40
n. de casos
Ign/Branco
Óbito
Remissão de Manifestações
Clínicas
Remissão de Parasitemia
Negativão das Reações
Sorogicas
evolução
Gráfico 7 – Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, evolução dos casos, no período
de 2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
Para o planejamento de ações dos serviços públicos de saúde, a ausência dessas
notações também é muito prejudicial no controle da doença, pois a implementação de
medidas futuras mais eficazes, no tratamento das pessoas recém-contaminadas, depende,
de forma direta, dos indicadores e resultados das ações que, no presente, estão sendo
efetuadas.
Sobre o local de infecção, como mostra a Tabela 4, dos 85 casos registrados de
doença de Chagas aguda, dois ocorreram em laboratório, provavelmente acidentais e dois
em unidades de hemoterapia, transfusão de sangue.
Outro fato importante é o elevado número de casos ignorados (45), que foi mais da
metade do total de registros (85). Esse quadro indica, além da dificuldade de coleta e
registro das informações, o problema de muitas pessoas não saberem onde foram
infectadas, impossibilitando a ação, de forma mais precisa, pelos órgãos de saúde, nas
áreas realmente problemáticas.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
64
Ano 1º
Sintoma(s)
Ignorado
Unidade de
Hemoterapia
Domicílio Laboratório Total
2001 1 0 1 0 2
2002 5 0 4 0 9
2003 6 0 8 0 14
2004 6 1 7 2 16
2005 9 1 11 0 21
2006 18 0 5 0 23
Total 45 2 36 2 85
Tabela 4 - Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda por local de infecção no período de 2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
O número de infecções, nas unidades de hemoterapia e laboratório, também é
preocupante, devido aos controles relacionados à qualidade do sangue que, segundo o
Governo de Minas Gerais, é feito em todo estado. Sobre os dois casos registrados no
laboratório, os dados do Ministério da Saúde não informaram em que circunstâncias eles
ocorreram. Todavia, vale ressaltar a necessidade de levantamento dessas informações, para
que esses acidentes não tornem a ocorrer.
Em relação ao tipo de diagnóstico, 67 casos foram identificados em laboratório
(vide Gráfico 8), demonstrando a importância de se fazer o teste para positividade de
presença do T. cruzi no organismo, pois existe ainda, no Brasil, uma enorme quantidade de
pessoas, contaminadas pelo protozoário, que já passaram da fase aguda da doença e ainda
não sabem que são chagásicos, tardando o tratamento e ainda correndo o risco de
contaminar outras pessoas, pela falta de um exame que é feito em todos os estados do país.
Sobre o modo de infecção, 59% dos casos ocorreram por ação vetorial e 2% por
transfusão sanguínea (vide Gráfico 9). Se esses dados forem corretos, a situação é
problemática, em dois sentidos. O primeiro, pelo elevado número de contaminação de
pessoas de forma natural, alertando a vigilância em saúde sobre a necessidade de melhorias
nas atividades de controle vetorial da doença de Chagas. O segundo, porque contradiz as
informações veiculadas nos meios de comunicação de que, nos últimos anos, o Estado não
tem registrado transmissão vetorial da doença de Chagas.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
65
0
10
20
30
40
50
60
70
confirmaçã
o
exame
Total
76735 3
Ignorado Laboratório
nculo
Epidemiológi
Clínico Imunológico
Gráfico 8 – Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, tipo de diagnóstico feito no
período de 2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
39%
2%
59%
Ignorado Transfusional Vetorial
Gráfico 9 – Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, modo de infecção, no período de
2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
Em relação à zona de residência no estado de Minas Gerais, os dados demonstram
que, em 61% dos casos confirmados, 14% são na zona rural (Gráfico 10). Esses dados
geram receio, pois estudos sobre a doença de Chagas, em Minas Gerais, sempre indicaram,
como áreas de maior risco, o espaço rural dos municípios. Esse fato é confirmado pelo
maior número de capturas de triatomíneos, nessas áreas. Outro fato que corrobora essa
suspeita são as informações divulgadas nos cursos de capacitação, relacionadas à doença,
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
66
nos quais se informa que há alguns anos, não tem ocorrido doença de Chagas aguda no
estado.
11
61
28
0
10
20
30
40
50
60
70
%
Ignorado Urbana Rural
zona
Gráfico 10 – Minas Gerais: Doença de Chagas Aguda, zona de residência no
período de 2001 a 2006
Fonte: Ministério da Saúde, 2007. Org.: MENDES, 2008.
Uma das possíveis respostas para essa questão pode estar relacionada ao fato de
que muitas das pessoas contaminadas pela doença, ao procurar atendimento médico nas
unidades de saúde, indicam endereço de parentes e amigos que moram na cidade. Isso,
normalmente, ocorre pela dificuldade de acesso e comunicação no espaço rural, ou para
facilitar o atendimento, como ocorre em Uberlândia (MG), onde, para ser atendido, de
imediato em uma das oito UAIs (Unidade de Atendimento Integrado) do município, o
paciente, obrigatoriamente, tem que residir em um dos bairros de abrangência daquela
unidade.
Professor Oswaldo Paulo Forattini
5 - A DOENÇA DE CHAGAS NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA (MG)
No estado de Minas Gerais, segundo Camargo (1984), os maiores índices de
infecção pelo Trypanosoma cruzi são observados no Triângulo Mineiro e em algumas
áreas da porção norte do estado, sendo que, no Triângulo Mineiro, o município de
Uberlândia tem apresentado as mais altas taxas de infectabilidade.
De acordo com Marçal Júnior e Macêdo (1999), nesta região, a doença de Chagas
aguda não tem sido notificada e a sorologia positiva em crianças é baixa, o que sugere que
a transmissão vetorial tenha diminuído, significativamente. Todavia, com base em
levantamentos feitos nos registros do Hospital de Clínicas, é possível verificar um quadro
no qual a notificação de casos ainda é considerável. Ainda, segundo os autores, na região
de Olhos d’Água, no município de Uberlândia, em pesquisa de campo realizada em 1999,
foram identificados cinco domicílios infestados por triatomíneos, o que resultou em um
índice de infestação de 6,1%, do total de domicílios pesquisados.
No inquérito entomológico, realizado entre 1975-1983, na microrregião de
Uberlândia, foram encontradas as seguintes espécies de triatomíneos: T. infestans, T.
sordida, P. megistus e Rhodnius neglectus. A domiciliação desses insetos pode ser
entendida a partir da colonização, que está intimamente relacionada a desequilíbrios de
sistemas naturais e problemas sócio-econômicos, gerando, por conseqüência, mudanças
comportamental, reprodutiva e alimentar desses insetos, tornando as pessoas que habitam
essas áreas, principalmente as localizadas no espaço rural, sucetíveis à aquisição da doença
(SILVEIRA l, 1984).
Em 2006, nas Unidades de Saúde de Uberlândia, foram registrados 566
atendimentos de portadores da doença de Chagas. Destes, 81,6% ou seja, 462
atendimentos, foram de pessoas com idade superior a 50 anos, segundo a Secretaria
Municipal de Saúde (UBERLÂNDIA, 2007). Nessa conjuntura, este capítulo irá abordar os
aspectos históricos da ocupação do espaço rural do município, com o intuito de verificar as
possíveis relações destes com a fauna triatomínea. Também serão abordadas as condições
sócio-econômicas e a percepção ambiental que os moradores do espaço rural têm em
relação ao ambiente, objetivando entender como essa relação favorece ou não a existência
de nichos ecológicos que propiciam a proliferação dos barbeiros. Por último, será
analisada, por meio de material cartográfico, a distribuição espacial da fauna triatomínea,
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
69
correlacionada às informações ambientais, históricas e sócio-econômicas do município,
objetivando o entendimento dos fatores que levaram à atual distribuição da fauna
triatomínea no município.
5.1 - A dinâmica da ocupação e organização do espaço rural de Uberlândia-MG
A ocupação do espaço rural de Uberlândia possui suas origens nos chamados
‘Ciclos econômicos’, principalmente no da mineração nos séculos XVII e XVIII, quando a
busca do ouro atingiu o seu auge, atraindo imigrantes de diversas regiões, repercutindo
num rápido crescimento da população mineira. Nesse período, o atual estado de São Paulo,
antiga Capitania de São Vicente, representava o centro das expedições em busca desse
mineral e também de pedras preciosas.
[...] os primeiros surtos auríferos de importância são encontrados nos últimos
anos do século XVII, mais precisamente em 1698 e 1699 no centro do que hoje
constitui Minas Gerais. Estes achados se multiplicariam sem interrupção até
meados do século XVIII, quando a mineração de ouro atinge o seu auge,
atraindo imigrantes de várias artes, provocando um rápido crescimento da
população mineira (PESSÔA, 1982, p.38).
Nas suas expedições para o interior, as ‘Bandeiras’, como era conhecido esse
movimento, foram responsáveis pelo estabelecimento dos novos núcleos de povoamentos,
favorecendo a ampliação da produção de alimentos que seriam destinados ao
abastecimento da população trabalhadora das minas e, tamm, dos moradores das cidades
que surgiram nessas áreas, em função do desenvolvimento do comércio inter-regional de
produtos agrícolas, segundo Pessôa (1982).
A intensificação da mineração em Minas Gerais também contribuiu para o
desenvolvimento de outras regiões, dentre elas Goiás e, mais tarde, a região do Triângulo
Mineiro. De acordo com Pessôa (1982), em 1692 Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido
como Anhanguera I, saiu em direção a Goiás em busca de riquezas minerais. Para atingir o
seu destino final, atravessou a região conhecida hoje como Triângulo Mineiro, que nessa
época não despertava o interesse daqueles que compunham as bandeiras, devido às
condições geográficas e à presença dos índios Caiapós.
A descoberta de ouro e diamantes no interior de Goiás e Mato Grosso provocou
a formação de alguns arraiais nas terras do chamado Sertão da Farinha Podre
(atual Triângulo Mineiro), em decorrência do afluxo de pessoas em direção ao
Brasil Central, em busca de riquezas. Assim, desde aquele momento, essa
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
70
região se constituiria em um ponto de passagem entre o litoral e o sertão
(SOARES, 1995, p.61).
Segundo Pessôa (1982), a região do Triângulo Mineiro só despertou o interesse dos
exploradores 40 anos depois, quando a bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva Júnior (o
Anhanguera II) atravessou o Rio Grande, atingindo as terras do Sertão da Farinha Podre.
Sua trajetória, nessa região, levou-os até um lugar onde, posteriormente (em 1744), o
Coronel Antônio Pires de Campos fundou a Aldeia de Santana (atual Indianópolis). A
partir daí, costearam a picada aberta por João Leite da Silva Ortiz, a qual foi denominada
“Estrada do Anhanguera”, atingindo o antigo porto hoje conhecido por Anhanguera, por
onde chegavam às terras de Goiás, como ilustra a Figura 21.
Figura 21 – A penetração na Região do Triângulo Mineiro
Fonte: ARANTES, J., 1938 apud PESSÔA, 1982, p.42.
Nesse estado, ainda no primeiro quartel do século XVIII, Bartolomeu encontrou
ouro próximo à cidade de Goiás (mesmo nome do estado). Ao retornar para São Paulo, em
1728, a notícia desse descobrimento atraiu um grande fluxo de pessoas para o Sertão da
Farinha Podre, culminando na formação de diversos núcleos de povoamento, que mais
tarde dariam origem às cidades do Prata, Campina Verde e Campo Florido, Uberaba e
Sacramento.
A descoberta de ouro e diamantes no interior de Goiás e Mato Grosso provocou
a formação de alguns arraiais nas terras do chamado Sertão da Farinha Podre
(atual Triângulo Mineiro), em decorrência do afluxo de pessoas em direção ao
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
71
Brasil Central, em busca de riquezas. Assim, desde aquele momento, essa
região se constituiria em um ponto de passagem entre o litoral e o sertão
(SOARES, 1988, p.61).
Com o passar do tempo, mesmo com a decadência do ouro, a região do Triângulo
Mineiro iniciou o seu processo de colonização. João Pereira da Rocha (1818) foi o
primeiro, após o desbravamento da região pelos bandeirantes, a fixar-se na região,
demarcando uma área próxima à Aldeia de Santana (atual Indianópolis). Com o
desbravamento da região, a atividade pecuária é a que mais se destaca, nesse momento.
[...] Foi nesta primeira metade do século XIX que o mineiro João Pereira da
Rocha deslocou-se do alto da Paraopeba com destino a esta região abandonada
pelos índios. Eram terras devolutas situadas às margens do Rio das Velhas
(atual Araguari) [...] (onde estabeleceu) sua primeira ‘arrachação’ frente à aldeia
de Santana e tomou posse das terras devolutas, denominando-as Fazenda São
Francisco. Continuando em sua ocupação [...] tomou posse de mais uma parte
de terras na confluência do Rio das Velhas com o Uberaba legítimo (atual
Uberabinha) e denominou-se Fazenda Letreiro (PESSÔA, 1982, p.41).
Continuando o seu processo de ocupação, João Pereira da Rocha, juntamente com o
seu grupo, ocupou também as margens do córrego São Pedro, que hoje compõe o
perímetro urbano de Uberlândia. Após a ocupação e demarcação das terras, pelo
Governador da Capitania da época, João Pereira da Rocha desenvolveu, em suas terras, a
criação de gado bovino, caprinos e muares, além de pequenas lavouras de milho, arroz,
feijão, fumo, cana-de-açúcar, anil e algodão.
E foram essas “roças” que deram origem à ocupação do solo, primeiramente
próximo aos cursos d’água, principalmente no vale o rio Araguari, região de afloramentos
de basalto, que originam a terra roxa, solo de alta fertilidade, que facilita o
desenvolvimento das atividades agrícolas e a formação de pastagens.
A este modelo de ocupação ocorrido na região pode estar relacionada a origem e a
grande incidência de casos da doença de Chagas, no município de Uberlândia, pois as
primeiras grandes interferências antrópicas, na região, ocorreram nas proximidades do Rio
Araguari. A partir de pesquisas de campo, realizadas no espaço rural do município,
verificou-se que uma parcela significa das pessoas entrevistadas que apresentam a doença
de Chagas moraram ou são descendentes de moradores dessa região.
Após a instalação da família de João Pereira, a partir de 1827, novas famílias
ocuparam a região, intensificando aí o uso do solo, como destaca Pessôa (1982, p.43):
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
72
Até esta data, ou seja, 1827, o povoamento da área estava praticamente restrito à
ação de João Pereira da Rocha. Porém, a partir de 1827, procedentes de Campo
Belo, Oliveira, Tapecirica e Santana de Jacarí, da região oeste de Minas Gerais,
vieram para o Sertão da Farinha Podre alguns membros da família Carrejo e
compraram de João Pereira da Rocha uma parte das terras ligadas às sesmarias
de São Francisco [...]
Assim, a partir da divisão das terras, foram formadas quatro propriedades: Olhos
d’Água, Lage, Tenda e Marimbondo (vide Figura 22), que se constituíram no bloco da
família Carrejo, que mais tarde daria origem à cidade de Uberlândia. Posteriormente,
outras famílias chegaram à região, formando sítios nas referidas fazendas, onde também
criavam gado e cultivavam os alimentos, pelo sistema de roças. As palavras de Pessôa
(1982, p.45) ilustram bem essa situação: “A partir daí, o povoamento rarefeito que havia se
iniciado nos primeiros anos do século XIX foi crescente com a vinda de uma corrente
imigratória quase contínua, na sua maior parte formada por conhecidos ou parentes
daqueles sesmeiros [...]”.
Figura 22 – Uberlândia (MG): principais propriedades do Município
Fonte: ARANTES, J., 1938 apud PESSÔA, 1982, p.44.
No ano de 1846, Felisberto Alves Carrejo passou a residir em uma outra localidade,
denominada “São Sebastião da Barra”, situada entre o córrego Cajubá e o Ribeirão São
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
73
Pedro, formando o Arraial Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra, como
ilustra a figura 23, que em 1895 originou o distrito de São Pedro de Uberabinha, ligado a
Uberaba. Posteriormente, em 1888, foi elevado à categoria de município de São Pedro de
Uberabinha, passando a comarca em 1891, segundo Pessôa (1982).
Figura 23 – Distrito de São Pedro: localização geográfica
Fonte: ARANTES, J., 1938 apud PESSÔA, 1982, p.46.
A inauguração da Estrada de Ferro Mogiana, em 1895, e a da Ponte Afonso Pena,
em 1909, sobre o rio Paranaíba, contribuíram ainda mais para o povoamento do município,
ainda denominado Uberabinha, onde a agricultura e a pecuária eram as atividades
principais, como afirma Pessôa (1982, p.47):
Neste momento já se transcorreu quase um século desde a chegada de João
Pereira da Rocha e a agricultura e a pecuária continuavam sendo a atividade
principal no município e, genericamente, os procedimentos agrícolas são os
mesmos empregados em quatro séculos de colonização no país, com
predomínio de queimadas, culturas de enxada e a rotação das terras.
Mesmo com o lento processo de tecnificação das atividades agrícolas e pecuárias,
ocorreu uma diversificação das áreas destinadas a essas atividades, que passaram a ocupar,
de maneira mais intensa, a porção sul do município, caracterizado por um relevo menos
acidentado, coberto predominantemente por vegetação de cerrado. O quadro 2 ilustra este
processo, demonstrando a principal atividade econômica empregada na época.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
74
PROPRIEDADE ÁREA ATIVIDADE ECONÔMICA
Fazenda Samambaia 500 alqueires
(2420ha)
Cana-de-açúcar (principal produção),
arroz, milho para engorda de suínos e
feijão. Industrial pastoril (“indústria” de
charque) muito desenvolvida com
predomínio do gado zebu.
Fazenda Capim Superior a 1300 alqueires,
sendo: Mais de 150 alqueires
com terras de cultivo; restante
ocupado com campos de
criação.
Gado indiano, cana-de-açúcar, cereais,
café, algodão. Nesta propriedade já se
fazia a transformação dos campos
naturais em campos de pastagens, onde
predominava o capim gordura e jaraguá.
Fazenda Soledade 180 alqueires e oitenta litros
(8271,2ha)
Pastagem, cereais e cana-de-açúcar.
Fazenda Panga 1000 alqueires (4840ha) Gado zebu, sendo quase que
exclusivamente exportado para Barretos
(SP)
Quadro 2 – Uberlândia: principais propriedades e atividade econômica, 1916
Fonte: CAPRI, 1916 apud PESSÔA, 1982, p.48.
Algumas informações sobre a população do município, em 1916, indicam que ela
era composta por aproximadamente 2500 habitantes, sendo que, destes, 76% viviam na
zona rural. Esses dados atribuem ao município o caráter eminentemente agrícola, que é
reforçado pela existência de grandes propriedades e de inúmeras chácaras nos arredores da
cidade, cuja atividade agrícola principal era e ainda é a horticultura. Nas várzeas, nos
campos e ao longo dos ribeiros, a cana-de-açúcar, o arroz, o milho e o feijão constituíam a
principal riqueza agrícola do município, nesse período (PESSÔA, 1982).
[...] a mineração, destacada anteriormente, contribuiu de forma indireta para a
ocupação da área onde surgiu Uberlândia. Esta ocupação inicial esteve
relacionada a uma estrutura caracterizada pela grande propriedade, pela
exploração direta dos estabelecimentos rurais pelos proprietários e pelos baixos
níveis de produtividade e rendimento na atividade agropecuária, tal como
ocorreu nas áreas de cerrado. A atividade agrícola estava restrita às áreas de
vegetação original de mata, sendo praticada com técnicas tradicionais. Ao lado
dessa agricultura de subsistência desenvolveu-se também a criação de gado,
inicialmente para abastecer os mercados locais, expandindo-se posteriormente
para outras áreas regionais e extra-regionais (PESSÔA, 1982, p.49).
A partir da década de 1920, a dinâmica do espaço rural de Uberlândia esteve
relacionada a três fatores principais. O primeiro refere-se às condições climáticas e
pedológicas do município, onde a sazonalidade climática, somada aos índices das
precipitações, permitiam o cultivo de uma variedade de gêneros agrícolas. Quanto ao solo,
principalmente o das chapadas, caracterizado por uma topografia mais suave, não oferecia
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
75
muitas dificuldades à formação de pastagens. Já na agricultura, as grandes transformações,
nessas áreas, ocorreram de forma mais intensa nas décadas de 1970 e 1980, devido à
utilização de maquinários mais modernos, correção e adubação do solo, que permitiu a
introdução, em maior escala, do cultivo da soja, produto de grande aceitação por parte dos
agricultores do município.
O segundo fator está relacionado ao crescimento populacional do município,
principalmente a partir da década de 1940, quando se intensificou o processo de
urbanização no Brasil, subordinando o campo às atividades urbano-industriais, onde o
primeiro passa a produzir, em maior escala, gêneros alimentícios para abastecer a
população urbana e, também, oferecer matérias-primas para as atividades industriais e
comerciais.
Transformações estruturais ocorreram no Brasil entre 1945 e 1980, quando
foram registradas altas taxas de crescimento econômico e as mudanças na
composição demográfica e social elevaram as taxas de urbanização e
industrialização, fazendo com que a sociedade deixasse de ser eminentemente
agrícola, para se transformar em uma sociedade urbano industrial (SOARES,
1988, p.76).
A atividade comercial incentivou a produção agrícola e pecuária, modernizando
a produção e criando as condições para o surgimento de um setor industrial,
cuja produção estaria destinada, por um lado a aumentar o excedente
comercializável da agricultura, e por outro lado, agregar renda ao comércio, seja
pela apropriação daquele excedente, seja pela venda dos produtos industriais do
campo (SOARES, 1988, p.40).
A infra-estrutura de transporte, condicionado a sua posição geográfica, foi o
terceiro fator, pois possibilitou ao município tornar-se um centro de irradiação comercial
da região do Triângulo Mineiro para a região Centro-Oeste.
Podemos afirmar que Uberlândia cresceu e desenvolveu-se sob o signo das
estradas de rodagem. E, nesse processo, é preciso destacar o papel exercido
pelos comerciantes locais, pelos motoristas de caminhão, conhecidos, então,
como chauffeurs, e pelas transportadoras de cargas, que diversificaram a
atividade comercial da cidade, a partir dos anos 30, devido à intensificação das
relações entre os Estados de Mato Grosso e Goiás, fundamentalmente
(SOARES, 1988, p.70).
Assim, observa-se que a cidade de Uberlândia, que teve sua base de crescimento
relacionada às atividades agrícolas, passa a ter, no comércio e na indústria, a sua base de
geração de renda, levando as atividades agrícolas a ocupar um papel secundário no
contexto atual, como pode ser observado no Gráfico 11.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
76
Gráfico 11 – Uberlândia (MG): participação dos setores econômicos na
formação do PIB - 2004
Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), 2004. Org.: MENDES, 2007.
Entretanto, mesmo com a mudança na base econômica do município de Uberlândia,
as atividades de agricultura e pecuária continuaram a se desenvolver, variando a extensão
das áreas ocupadas de acordo com as transformações da base econômica que, ao longo do
século XX, se transferiu do campo para o espaço urbano. A Tabela 5 resume bem as
modalidades de uso da terra, da década de 1950 até o ano de 2004, bem como indica
algumas tendências na utilização do solo do espaço rural de Uberlândia.
Quando se observa, ao longo do século XX e início do século XXI, a área ocupada
pelas lavouras e pastagens (atividades que ocupam maior área no espaço rural), nota-se
uma ligeira diminuição nas décadas de 1950 e 1960 (vide Tabela 5), o que pode ser
relacionado ao número de moradores (cerca de 3500 moradores) que deixaram de ocupar o
espaço rural de Uberlândia, como demonstra a Tabela 6. Em contrapartida, a população
urbana demonstrou um aumento de mais de 300%, saindo de 22.143 habitantes para 71.717
habitantes.
Contrariamente, em 1975, a área ocupada por atividades de agricultura e pastagens
atingiu o índice de 73,3%, porém com uma população residente no espaço rural
praticamente igual à do espaço urbano.
Segundo Pessôa (1982), esse fato está relacionado à ampliação das atividades
agropecuárias e ao conseqüente aumento das terras em estabelecimentos, devido a um
programa do Governo que previa, a partir da década de 1960, a ocupação e aproveitamento
de extensas áreas que ainda não eram produtivas, como as terras do cerrado mineiro,
41%
5%
54%
Indústria Agropecuári
a
Serviços
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
77
viabilizadas por políticas de crédito rural, beneficiamento e comercialização da produção,
além da expansão da rede de armazenagem. O programa previa a modernização e a
industrialização do espaço rural a partir da adoção de um pacote tecnológico composto de
máquinas agrícolas, fertilizantes e herbicidas, sementes selecionadas etc.
ÁREA 1950 1960 1970 1975 1998 2002 2004
Lavoura perene (ha)
% Área
2.152
0,5%
2.189
0,5%
1.246
0,3%
1.731
0,4%
970
0,2%
3992
1,0%
3977
1,0%
Lav. Temporária(ha)
% Área
14.690
3,6%
16.839
4,2%
19.840
4,9%
24,249
6,0%
62.782
15,5%
101.160
25%
115.031
28,5%
Pastagem Total (ha)
% Área
247.725
61,3%
251.835
62,3%
265.623
65,7%
270.183
66,9%
221.230
54,8%
188000
46,5%
166.922
41,3%
Sob-total 264.567
65,4%
270.651
67,0%
286.709
71,0%
296.163
73,3%
284.982
70,5%
293.152
72,6%
285.930
70,8%
Florestamento
% Área
- - - - 35.027
8,7
23.213
5,7%
23.940
5,9%
Cerrado
% Área
- - - - 34.340
8,5%
32.513
8,1%
31492
7,8%
Mata
% Área
- - - - 6.423
1,6%
14.356
3,6%
15.137
3,8%
Campo hidromórfico e
corpos d água - % Área
- - - - 26.987
6,7%
29.485
7,30%
31.689
7,8%
Área em desc. e produt.
não utilizada - % Área
30.482
7,6%
4.893
1,2%
18.651
4,6%
19.614
4,6%
- - -
TOTAL *76,7% *70,2% *81,9% *88,9% 96,0% 96,7% 96,1%
Tabela 5 – Uberlândia (MG): modalidades de utilização da terra em relação à área total do município, 1950 a
2004
Fonte: PESSÔA, 1982, p.56; LIMA, 1989, p.140; BRITO e PRUDENTE, 2005, p.44; p.150.
Org.: MENDES, 2007.
* Valores provavelmente sub-dimensionados pela ausência de dados.
ANO URBANA % RURAL % TOTAL
1920 - - - - 5.453
1932 - - - - 9.560
1940 22.143 52,5 20.036 47,5 42.179
1950 35.799 65,1 19.185 34,9 54.984
1960 71.717 81,2 16.565 18,8 88.282
1970 111.466 89,4 13.240 10,6 124.706
1980 231.598 96,1 9.363 3,9 240.961
1991 358.165 97,6 8.896 2,4 367.061
1996 431.744 98,4 7.242 1,6 438.986
2000 488.982 97,6 12.232 2,4 501.214
2007 605.301 98,4 10.044 1.6 615.345
Tabela 6 – Uberlândia (MG): evolução da população urbana e rural, 1920-2007
Fonte: IBGE - Censo Demográfico, 2007. Org. MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
78
[...] Uberlândia e, de modo geral, as terras do cerrado mineiro foram
incorporadas a esse novo modelo produtivo baseado em culturas de alta
produtividade e lucratividade voltadas ao complexo agro-industrial e à
exportação, tendo como resultado, entre outros, uma maior concentração da
terra e a exclusão social (RESENDE, 2004, p.58).
A implantação dessas políticas agrícolas provocou várias transformações,
principalmente no uso da terra, pois a pecuária extensiva passou a ser substituída pelo
cultivo da soja; e também, nas relações de trabalho no campo, onde houve a diminuição do
número de parceiros e agregados e o aumento do uso de mão-de-obra contratada
permanente e, principalmente, temporária. Essas mudanças resultaram na migração campo-
cidade, contribuindo para acelerar o processo de urbanização e industrialização, em
Uberlândia.
Com a expansão do capitalismo no campo, representada pela modernização
agrícola e com o intenso desenvolvimento das forças produtivas nacionais, a
tradicional dicotomia Brasil rural e Brasil urbano deve ser substituída por
outra, qual seja, a dicotomia de Brasil agrícola e Brasil urbano. Tendo em vista
que, se a população rural diminui enquanto a população urbana aumenta, a
população agrícola, formada pelas pessoas que trabalham na agricultura, mas
que moram em cidades (como bóia-frias/volantes, profissionais como
veterinários, agrônomos, técnicos em irrigação), não diminui, ao contrário
aumenta lentamente (RESENDE, 2004, p.60).
Apesar da ampliação da área aproveitada e ocupada pelas explorações
agropecuárias, ainda se podiam verificar duas situações opostas: de um lado, uma
agricultura altamente mecanizada; e, de outro, agricultores com baixo nível tecnológico,
utilizando técnicas primitivas e de baixa produtividade. E, entre esses dois extremos,
verificava-se, ainda, um nível tecnológico intermediário, segundo Pessôa (1982). No ano
de 2004, foi registrado um percentual de ocupação de 70,8%. Esse valor está relacionado à
ampliação das áreas de cultura temporária sobre as áreas de pastagens e, também, ao
crescimento, no município, das áreas de florestamento de pinus e eucaliptus.
A análise do percentual da área ocupada por lavoura demonstra um claro
predomínio das lavouras temporárias em relação à perene (Gráfico 12). As pequenas
variações ocorreram entre a década de 1940 e 1950, como conseqüência do aumento do
cultivo do café, banana e laranja, que gerou um leve acréscimo no percentual de área
ocupada por lavoura perene, em relação à temporária (vide Gráfico 13). Todavia, nas
décadas seguintes, as áreas de cultivo temporário voltaram a aumentar, principalmente a
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
79
partir da década de 1980, com o início do cultivo da soja, chegando a se registrar, no ano
de 2004, um aumento de 28,5%, que corresponde a uma área de 115.031ha.
Gráfico 12 – Uberlândia (MG): percentual de área ocupada por lavoura,
1920 - 2004
Fonte: PESSÔA, 1982, p.56; LIMA, 1989, p.140; BRITO, 2005, p.44, p.150.
Org.: MENDES, 2007.
Gráfico 13 – Uberlândia (MG): percentual de área ocupada por pastagens
natural e artificial, 1920 - 2004
Fonte: PESSÔA, 1982, p.56; LIMA, 1989, p.140; BRITO, 2005, p.44, p.150.
Org.: MENDES, 2007.
Em relação à pastagem, no período de 1920 a 2004, ficou evidenciado, e com
grande surpresa, o predomínio da utilização da área para a criação de gado. Segundo
levantamentos do IBGE (1975), até esse momento ocorria o predomínio absoluto da
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
1920 1940 1950 1960 1970 1975 1988 2002 2004
Anos
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
1920 1940 1950 1960 1970 1975 1988 2002 2004
Anos
Perene Temporária
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
80
utilização das pastagens naturais, aproximadamente 82%. Todavia, a partir de 1975, tanto a
área de pastagem natural como a artificial vieram perdendo espaço para a agricultura,
ocupando 41,3% da área do município, em 2004, como ilustrou o Gráfico 13. Vale destacar
que, ao longo de todo o período analisado, as grandes áreas destinadas a essa atividade
estavam relacionadas ao fato de ela ser praticada, em grande parte, de forma extensiva,
sem muitos investimentos na melhoria do solo, como a calagem e adubação, para um
melhor crescimento do capim natural ou introduzido.
Quanto ao uso da terra, no município de Uberlândia, até meados da década de
1970, conforme destaca Pessôa (1982), a maioria da produção de olericultura esteve
concentrada num raio de até 30 Km em relação à sede municipal e, de modo geral, situada
ao norte da cidade, em pequenas propriedades e minifúndios, coincidente com as áreas de
terras mais férteis, drenadas pelos afluentes dos rios Araguari e Uberabinha. Ao sul da sede
do município localizavam-se algumas das grandes propriedades do município, voltadas
para a atividade pecuária, lavoura de arroz, soja, café e fruticultura. Nessa porção do
município encontravam-se, também, as maiores áreas de reflorestamento.
Assim, em relação à utilização da terra, constata-se que, no município, é marcante o
predomínio das superfícies em pasto, o que permite avaliar o grande significado da
atividade pecuária, em toda a área. As áreas de pastos corresponderam até a década de
1980 e início da 1990 a maior parte da área total dos estabelecimentos. Mesmo praticada
em caráter predominantemente extensivo, a pecuária é bastante significativa, sendo
orientada, principalmente, para o corte. Os cultivos ocupam de 5% a 7% da área dos
estabelecimentos, sendo preponderantes os cultivos temporários. Destacam-se, entre eles,
os cultivos alimentares, tais como o arroz, o milho e o feijão (PESSÔA, 1982).
Comparando o uso da terra entre a década de 1970 e 2004, observam-se alterações
significativas (vide Gráfico 14), como o aumento da concentração das áreas de cultura
anual na porção sul e sudeste do município, enquanto as áreas de pastagens passaram a se
concentrar na porção oeste e noroeste. Esse fato é decorrente, principalmente, das
características topográficas mais suaves e solos férteis, o que facilita a mecanização e
amplia a área para cultivo da lavoura.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
81
Gráfico 14 – Uberlândia (MG): modalidades de utilização do solo em relação a área total do município,
1988- 2004
Fonte: BRITO, 2005. Org. MENDES, 2007.
Sintetizando a análise do desenvolvimento da agricultura no município de
Uberlândia, podem-se verificar duas etapas distintas, segundo Pessôa (1982): o período
compreendido entre os anos de 1920 e 1950 e o período de 1950 a 1975. A compreensão
das características dessas duas etapas é de suma importância para a análise da ocupação do
espaço rural do município de Uberlândia/MG.
A primeira fase (1920 a 1950), como se verificou anteriormente, caracteriza-se pelo
predomínio de uma agricultura tradicional, que praticamente não utiliza insumos modernos
(tratores, fertilizantes e adubos químicos) na sua produção. De acordo com Pessôa (1982),
nesse período, os resultados positivos da produção derivavam da agregação de novas áreas
agrícolas e não do aumento da produtividade agrícola, já que o uso de insumos modernos,
que podiam contribuir para isso, foi utilizado em pequena escala.
Nesse período, o número de propriedades de até 100ha cresce, devido à
redistribuição de terras, e a superfície destinada a pastagens também aumentou (PESSÔA,
1982). Contrariamente, a população rural começou a diminuir, com migração campo-
cidade. E, em relação à mão-de-obra empregada no campo, nesse período, verificou-se a
presença de trabalhadores temporários e a utilização mais intensa da mão-de-obra familiar
(regime de exploração direta), nos trabalhos agrícolas.
0
2
4
6
8
10
1988
2002 2004
Anos
%
Florestamento
Cerrado
Mat
a
Campo hidromórfico
e corpos dágua
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
82
A segunda fase (1950 a 1975) marca o início da modernização agrícola no
município, com a utilização dos insumos modernos. Nessa etapa, as pequenas propriedades
continuam a crescer, mas há também um destaque para as médias e grandes propriedades.
Nessas propriedades, a produção de cultivos tradicionais (arroz, milho e feijão), novos
cultivos como a soja e as áreas de pastagens continuam crescendo, assim como o
predomínio do regime de exploração direta, aliado ao uso da força mecânica/animal e o
desenvolvimento de infra-estruturas necessárias para promover o desenvolvimento
agrícola, como crédito rural, cooperativas, entre outros.
Com a modernização agrícola, iniciada na década de 1970, a grande preocupação
era transformar a agricultura tradicional do município de Uberlândia em uma agricultura
moderna, onde todos os agricultores seriam beneficiados com as inovações tecnológicas, o
que na prática não aconteceu e até hoje não acontece, pois se vive ainda um dualismo
tecnológico.
[...] essa modernização da agricultura brasileira vem sendo feita com o objetivo
de atender, principalmente, aos interesses dos grandes proprietários rurais e das
empresas comerciais e industriais que compreenderam ser de grande
importância investir em terras pela sua grande valorização e pela renda auferida
nas exportações [...] (PESSÔA, 1982, p.133).
Assim, ao estabelecer um paralelo entre as condições de modernização da
agricultura e o desenvolvimento rural do município de Uberlândia, verificou-se que as
áreas de pastagens são predominantes e é a pequena propriedade rural a responsável pelo
abastecimento do mercado interno. De acordo com Pessôa (1982), a produção dos cultivos
tradicionais (arroz, milho e soja) é realizada nas médias e grandes propriedades rurais,
onde o nível e a diversificação tecnológica variam de acordo com os interesses dos
proprietários e o tipo de cultivo.
A modernização da agricultura no município de Uberlândia se enquadra
perfeitamente bem no que se convencionou chamar de uma ‘transformação
conservadora’ da agricultura, pois sendo os insumos, máquinas e crédito rural
privilégio dos grandes proprietários só estes conseguem realmente uma renda
satisfatória das atividades agrícolas e podem melhorar cada vez mais o seu
padrão sócio-econômico. Por outro lado, os pequenos proprietários, os
trabalhadores assalariados, os arrendatários e parceiros por não terem acesso
aqueles bens, permanecem em precárias condições com relação as rendas
auferidas, levando como conseqüência o não alcance do desenvolvimento rural.
Muitos destes proprietários acabam por desistir da atividade rural, vendendo
suas propriedades, geralmente para o empresário rural (PESSÔA, 1982, p.146).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
83
A partir do ano de 1988, graças à utilização dos modernos sistemas de
sensoriamento remoto, além do levantamento e mapeamento do uso e ocupação do solo do
município, de forma mais detalhada, foi possível também incluir, nessa análise da
dinâmica da ocupação do espaço rural, as categorias de florestamento, cerrado, mata e
campo hidromórfico e corpos d’água.
As áreas de florestamento, no período de 1988 até 2004, apresentaram um
decréscimo, passando de 8,7%, em 1988, para 5,7%, em 2002, e 5,9%, em 2004 (Tabela
5). O cerrado também apresentou diminuição nesse período, reduzindo-se de 8,5%, em
1988, para 7,8%, em 2004. Essas reduções estão relacionadas, principalmente, à ampliação
das áreas de cultura de soja e milho e, também, no caso florestamentos, ao corte das
árvores para produção do carvão vegetal e fornecimento de madeira para indústria.
Em relação às áreas de mata, campo hidromórfico e corpos d’água, as três
apresentarão crescimento, sendo que as áreas de mata foram de 1,6%, em 1988, para 3,8%,
em 2004. Já o campo hidromórfico e corpos d’água passaram de 6,7%, em 1988, para
7,8%, em 2004. Segundo Brito (2005, p.44), essas alterações podem ser explicadas pela
melhor resolução da imagem de satélite, possibilitando o mapeamento de pequenas áreas
(não mapeadas em 1988), pelo aumento das áreas de vegetação em regeneração,
principalmente no vale do Rio Araguari e, ainda, pelas áreas de represas, que não foram
mapeadas em 1988, tendo sua área acrescida em, aproximadamente, 1% em relação a
1988.
Vale ressaltar, ainda, as ações do Ministério Público, no sentido de fazer com que
os proprietários respeitassem as áreas de preservação permanente e reserva legal o que,
somado a um maior rigor no cumprimento da legislação ambiental vigente e ao
condicionamento da liberação de financiamentos e créditos bancários associados ao
cumprimento desses aspectos da legislação ambiental, contribuíram para o aumento dessas
áreas.
Avaliando o Levantamento Rural de 2006, realizado pela Secretaria Municipal de
Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, pode-se caracterizar o espaço rural atual
com uma área de 389.682,2ha, sendo que, desse total, 279.596,85ha são de área
agricultável. Na área rural atual de Uberlândia há o predomínio da pequena propriedade e
do minifúndio, como ilustra a Tabela 7.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
84
Estratificação Minifúndio
(0-20ha)
Pequena
(20,1-80.0ha)
Média
(80,1-300.0ha)
Grande
(acima 300,0ha)
TOTAL
propriedades 870 1043 594 277 2784
Área /ha 11.186,5 40.332,64 93.137,29 223.322,08 367.978,5
Tabela 7 – Uberlândia (MG): estratificação rural, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
A média e grande propriedade ocupa apenas 31% da área total (vide Gráfico 15),
enquanto o minifúndio e a pequena propriedade ocupam, juntas, 69% da área total.
31%
38%
21%
10%
Minifúndio
Pequena
Média
Grande
Gráfico 15 – Uberlândia (MG): nº proprietários rurais por estrutura fundiária, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
Analisando a condição de posse, na área rural de Uberlândia, verificou-se o
predomínio dos proprietários em todas as estratificações rurais, como demonstra o Gráfico
16. A figura do arrendatário também aparece em todas as estratificações rurais, mas em
menor escala, e os assentados não se fazem presentes nas médias e grandes propriedades,
apenas no minifúndio e na pequena propriedade.
538
147
332
743
147
300
594
143
0
277
39
0
0
100
200
300
400
500
600
700
800
quantidade
Minifúndio Pequena Média Grande
Proprietários Arrendatários Assentados
Gráfico 16 – Uberlândia (MG): condição de posse na área rural, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
85
Quanto ao uso e ocupação da área rural de Uberlândia, a partir do Levantamento
Rural de 2006, verificou-se que 67,5% da área total é área utilizada, como demonstra o
Gráfico17, e 22,5% são áreas de preservação permanente e reserva legal. Apenas 8,3% da
área rural ainda não é aproveitável e o cerrado ocupa somente 1,2% da área total.
67,5
22,5
8,3
1,2
0,5
0 10203040506070
Área utilizada
APP/Reserva Legal
Área inaproveitada
Remanescente cerrado/campo
Área inaproveitável
Gráfico 17 – Uberlândia (MG): uso e ocupação da área rural, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
Do total de área rural aproveitada, 36,43% são utilizadas para culturas perenes;
33,45% para culturas anuais; 18,76% para a horticultura e 11,36% para a fruticultura,
como ilustra o Gráfico 18.
36,43
33,45
18,76
11,36
0
5
10
15
20
25
30
35
40
%
Culturas
perenes
Culturas anuais Horticultura Fruticultura
Gráfico 18 – Uberlândia (MG): atividades agrícolas, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
86
Analisando as condições de moradia atual, no espaço rural, verifica-se uma
melhoria significativa no que diz respeito à energia elétrica. A maioria das propriedades
rurais (77%) possui energia elétrica própria e apenas 18% não possui energia elétrica,
como demonstra o Gráfico 19. Esses índices são reflexos da modernização do espaço rural
do município, com a entrada de investimento financeiro, principalmente nas grandes
propriedades. Por outro lado, vale lembrar também as ações do Governo Federal como, por
exemplo, o “Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica -
Luz para Todos", iniciado em 2004, com o objetivo de levar energia elétrica para a
população do meio rural. A ligação da energia elétrica até os domicílios é gratuita, sendo o
Programa coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, com participação da Eletrobrás
e de suas empresas afiliadas.
Gráfico 19 – Uberlândia (MG): energia elétrica na área rural, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
Quanto ao destino do lixo produzido, a maioria dos proprietários (75%) queima;
23,5% enterram e uma porcentagem significativa de propriedades faz a coleta seletiva
(21%), como ilustra o Gráfico 20. Esse índice de coleta seletiva representa uma grande
melhoria nas relações com o meio ambiente. Todavia, vale ressaltar que ele poderia ser
ainda maior se não fosse a dificuldade do acondicionamento e transporte desse material
para a cidade. Outra questão que vale ser destacada é que, normalmente, somente os
materiais de maior valor agregado são reciclados, como por exemplo as embalagens de
bebidas de plástico e alumínio.
77%
5%
18%
Própria
Emprestada
Não possui
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
87
75,0
23,5
21,0
9,0
3,0
1,0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
%
Queimado Enterrado Coleta seletiva Quintal Compostagem Outros
Gráfico 20 – Uberlândia (MG): destino do lixo das propriedades rurais, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
Ao verificar o destino do esgoto, nas propriedades rurais, pode-se constatar que
63% das propriedades possuem fossa negra e apenas 21,5% possuem fossa séptica; 12%
destinam o esgoto para o quintal (vide Gráfico 21). Nessa avaliação, um ponto positivo
encontrado é que apenas 0,5% das propriedades lançam os seus esgotos em cursos d’água.
Gráfico 21 – Uberlândia (MG): destino do esgoto das propriedades rurais, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
Ao analisar a produção, primeiramente verifica-se que a quantidade de máquinas
agrícolas utilizadas é bastante significativa em todas as estratificações rurais, sendo que os
produtores são os maiores detentores desse maquinário, como ilustra a Tabela 8. Pode ser
63,0
21,5
12,0
0,5
1,0
2,5
0
10
20
30
40
50
60
70
%
Fossa negra Fossa
Séptica
Quintal Curso
d'água
Outras Sem
instalações
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
88
observado, ainda, que em números absolutos, que as médias propriedades são as que
apresentam ter o maior número de maquinários.
Estratificação Proprietário Arrendatário Produtores
Minifúndio 85 23 108
Pequena 241 33 274
Média 291 53 344
Grande 226 21 247
Tabela 8 – Uberlândia (MG): quantidade máquinas agrícolas, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
Em relação à mão-de-obra utilizada no campo, verificou-se que 65% dos
trabalhadores são permanentes e apenas 6% são mão-de-obra temporária (vide Gráfico 22).
Esse quadro é explicado pelo tipo de atividade produtiva no município (pecuária e
produção de grãos, principalmente), que necessita de mão-de-obra permanente, ao longo
do ano.
65%
29%
6%
Permanente
Familiar
Temporária
Gráfico 22 – Uberlândia (MG): mão-de-obra utilizada no campo, 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento de Uberlândia, 2006.
Toda essa dinâmica agrária, ocorrida no espaço rural de Uberlândia, favoreceu, por
um lado, a destruição de nichos ecológicos dos triatomíneos, pela substituição da cobertura
vegetal natural por cultivos e pastagens. Ao mesmo tempo, em algumas áreas, pela
dificuldade de avanço da agricultura moderna e tecnificada, por causa das condições
topográficas, ocorreu a manutenção desses nichos, em pequenos fragmentos de matas e
cerrado.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
89
Ao lado dessas áreas de refúgio dos barbeiros, ficam as pequenas propriedades que,
em sua maioria, demonstram as baixas condições sócio-econômicas dos proprietários, que
podem ser observadas no padrão simples de construção das casas e na organização do
peridomicílio, caracterizado por edificações rudimentares para abrigo de animais que, em
grande parte, acabam se tornando, pela falta de manutenção e limpeza, pontos atrativos
para a fauna triatomínea.
5.2 – As condições sócio-econômicas-ambientais e fauna triatomínea no espaço rural
de Uberlândia (MG)
Vários foram os trabalhos publicados, desde a descoberta da doença de Chagas até
o momento atual, que apresentaram, como tema principal, a problemática da domiciliação
de triatomíneos. Essa domiciliação, inicialmente, foi resultado da aproximação e destruição
dos nichos ecológicos da fauna triatomínea pela ação antrópica, que estava restrita a
ambientes de vegetação natural, variando desde pequenas linhas de mata galeria e ciliar,
relacionada aos cursos d`água, até ambientes de matas fechadas, nos interfluvios.
No processo de sua descoberta, em Lassance, no norte de Minas Gerais, no início
do século passado, as cafuas construídas nas áreas de cerrado recentemente desmatadas
eram infestadas por barbeiros que encontravam, em seu intradomicílio e peridomicílio,
possibilidades de abrigo e alimentação. Em Uberlândia, onde a vegetação primitiva que
outrora recobria a área do município era caracterizada pela predominância do cerrado e,
secundariamente, pela floresta tropical subcaducifólia (NISHIYAMA, 1988), reproduziu-
se, em menor escala, essa mesma problemática ocorrida em Lassance.
É sabido, em relação à cobertura vegetal, que ela está vinculada, diretamente, com
as caracterísiticas abióticas de cada região, principalmente as topográficas. Deste modo, no
intuito de entender a ocorrência e as condições ambientais que determinaram o atual perfil
de distribuição espacial dos triatomíneos sinantrópicos, em Uberlândia, com base nos
indicadores de inquéritos e captura do CCZ, espacialmente mapeados, procurou-se
verificar as possíveis relações entre a compartimentação geomorfológica do município
(vide Figura 24) com a formação pedológica e hidrográfica, associando-as ao uso do solo e
cobertura vegetal definidas por Brito (2005), como ilustra a Figura 25, nas áreas de relevo
dissecado, intensamente dissecado e topo plano, classificadas por Baccaro (1989).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
90
Figura 24 – Uberlândia (MG): compartimentação geomorfológica
Fonte: BACCARO, 1989.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
91
Figura 25 – Uberlândia (MG): uso do solo e cobertura natural em 2004
Fonte: BRITO, 2005.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
92
5.2.1 - Caracterização física e sócio-ambiental das Unidades Geomorfológicas do
Município de Uberlândia (MG)
Área de Relevo Dissecado
A área de relevo dissecado está localizada entre 700 e 900m de altitude, onde
predominam, nos interflúvios, formas topográficas levemente onduladas, caracterizadas
por vertentes suaves, interrompidas em algumas porções por rupturas de declive
relacionadas à formação de concreções ferruginosas, onde comumente ocorre o
afloramento do lençol freático. Nessa porção do município é marcante a presença de solos
arenosos e areno-argilosos, originados da decomposição litológica das Formações Marília
e Adamantina, como propõe Baccaro (1989). (vide CARTOGRAMAS 2 e 3).
Nos fundo de vales, nas áreas em que ocorre o afloramento do lençol freático,
originam-se ambientes alagadiços, geralmente organizados em longas faixas, de larguras
variadas, onde se desenvolve uma vegetação típica de ambiente de veredas, composta de
um estrato graminoso contínuo e perene, que se conserva verde o ano inteiro, e também
palmeirais, principalmente da espécie Mauritia vinifera, conhecida popularmente como
buriti (NISHYAMA, 1988). Esses ambientes são considerados, ecologicamente, muito
importantes para o cerrado, devido ao fornecimento de água e alimento para os animais,
durante o período de estiagem e, também, pelo fato de várias espécies de aves, típicas do
cerrado, utilizarem essas áreas para construir seus ninhos e chocar seus ovos, em
determinadas épocas do ano.
À medida que ocorre o aumento do fluxo d`água, a vereda vai sendo substituída
pela mata galeria, geralmente localizada no fundo dos vales ou nas cabeceiras de
drenagem, onde os cursos d`água ainda não escavaram um canal definitivo. Essa
fisionomia é perenifólia, não apresentando caducidade mesmo durante o período seco, que
normalmente ocorre entre os meses de maio a outubro. Após definição do canal de
drenagem ocorre a formação da mata ciliar, sendo relativamente estreita, dificilmente
ultrapassando 100 metros de largura. Ela acompanha os cursos d`água, diferenciando-se da
mata galeria pelos diferentes graus de deciduidade e pela composição florística (RIBEIRO
e WALTER, 1998). Nos interflúvios, na área de relevo dissecado do município, merece
destaque o cerradão, o cerrado, o campo sujo e o campo limpo.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
95
O cerradão é uma formação florestal caracterizada pela presença de espécies que
ocorrem no cerrado sentido restrito e também por espécies de mata apresentando
elementos xeromórficos (ROSA, 2002). A altura média do estrato arbóreo varia de 8 a 15
metros, proporcionando condições de luminosidade que favorecem a formação de extratos
arbustivos e herbáceos diferenciados (ALMEIDA e SANO, 1998).
Em relação aos solos, em sua maioria são bem drenados e profundos, ligeiramente
ácidos, com fertilidade limitada e pertencentes às classes Latossolo Vermelho ou Latossolo
Vermelho Amarelo, ocorrendo também, em menor extensão, o Cambissolo Distrófico. Nos
horizontes superficiais, o teor de matéria orgânica é médio, sendo maior o incremento de
serrapilheira durante a estação seca (RIBEIRO e WALTER, 1998).
O cerrado sentido restrito ocorre especialmente nos interflúvios da área de relevo
dissecado, caracterizando-se pela vegetação natural de porte médio a baixo, do tipo arbóreo
e arbustivo, com árvores inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares, retorcidas e
distribuídas aleatoriamente sobre o terreno, em diferentes densidades (RIBEIRO e
WALTER, 1998). Encontra-se sobre solos do tipo latossolo distrófico, ácido, profundo e
bem drenado, em áreas de relevo plano ou suavemente ondulado (ROSA, 2002).
O campo sujo possui fisionomia herbáceo-arbustiva, com arbustos e subarbustos
espaçados entre si, cujas plantas são menos desenvolvidas que as árvores do Cerrado
sentido restrito. Esse tipo de vegetação estabelece-se sobre solos rasos, que podem
apresentar pequenos afloramentos rochosos ou solos mais profundos e de pouca fertilidade,
álicos ou distróficos (ROSA, 2002).
O campo limpo é caracterizado pela ausência de elementos lenhosos,
predominando no ambiente vegetação herbácea. Pode ser encontrado em diversas posições
topográficas, com diferentes teores de umidade, profundidade e fertilidade natural do solo.
Na região, ele ocorre mais freqüentemente em algumas áreas no topo dos interfluvios, nas
encostas mais acentuadas e nos afloramentos do lençol freático, margeando as veredas e as
matas galeria, geralmente sobre solos Litólicos, Litossolos, Cambissolos ou Plintossolos
Pétricos (RIBEIRO e WALTER, 1998).
Sobre a hidrografia, vale ressaltar o Rio Tijuco, além dos Ribeirões Douradinho,
Panga, Babilônia e Estiva, que correm sobre derrame basáltico a partir dos seus médios
cursos. Em alguns trechos do Rio Tijuco e o Ribeirão Douradinho ocorrem meandros, com
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
96
a presença de solo hidromórfico coberto por vegetação típica de vereda (BACCARO,
1989).
Em relação à cobertura vegetal e uso do solo, nas áreas de relevo dissecado,
baseada nas incursões a campo e análise dos Cartogramas 2 e 3, foi verificado que grande
parte da vegetação natural foi, de alguma forma, alterada, e que os remanescentes de
cobertura vegetal nativa ficaram restritos a pequenas manchas de cerrado, capões de mata
destinados a área de reserva e, também, às matas galeria e ciliar, ao longo dos cursos
d`água.
Sobre o uso do solo, a maior parte de sua superfície continua sendo destinada à
atividade pecuarista. Tradicionalmente desenvolvidas nessa porção do município, há mais
de um século, organizadas, normalmente, em grandes propriedades, os pecuaristas faziam
uso de pastagens naturais formadas, principalmente, pelo capim-de-vereda (Paspalum
dilatatum e Panicum densum), capim-espiga (Axonopus brasiliensis) macegão (Thrasya
pettrosa), capim-flexinha (Echinolaena inflexa), capim-arroz (Lagenocarpus rigidus
tenuifolius) e o capim-agreste (Trachypogon spicatus).
Todavia, com o crescimento do rebanho bovino e a limitação de campos naturais,
foram abertas novas áreas de pastagens, utilizando, principalmente, gramíneas africanas,
como o capim-andropogon (Andropogon gayanus), a brachiaria (Brachiaria brizantha) e o
capim-gordura (Melinis minutiflora) (KLINK, 2005).
Além das pastagens, nessa porção do município, merecem destaques as áreas
destinadas à cultura anual, principalmente de soja e milho, com a utilização maciça de
defensivos agrícolas e corretivos do solo e também as áreas destinadas ao reflorestamento
de pinus e cultura perene, em menor escala.
Área de Relevo intensamente Dissecado
A área de relevo intensamente dissecado corresponde às bordas da extensa chapada
Uberlândia-Araguari, intensamente erodida pela rede de drenagem, dando origem a
vertentes abruptas e vales encaixados, caracterizados pela presença de corredeiras e
cachoeiras. Nessa região, podem-se distinguir duas superfícies topográficas, sendo uma de
700 a 800m de altitude e outra de 640 a 700m, voltadas para o rio Araguari. Ambas
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
97
relacionadas a uma litologia de resistência diferenciada, causada por sucessivos derrames
basálticos da Formação Serra Geral, ocorridos no final do Jurássico e inicio do Cretácio.
Essas rupturas de declive são atenuadas por rampas coluviais, nas quais ocorrem solos de
fertilidade elevada, formados a partir do material detrítico de alteração do basalto (DEL
GROSSI, 1991).
Nesses ambientes de solos de alta fertilidade, ocorre a presença de floresta
estacional semidecídua (floresta tropical subcaducifolia), constituída, predominantemente,
de plantas lenhosas, com alturas que podem ultrapassar os 20 m, entremeadas pela
presença de cipós, epífitas, subosque e serrapilheira; essa floresta está condicionada a uma
estação chuvosa, com temperaturas mais elevadas, e outra seca, com temperatura amena.
Pela exposição a um tipo de clima com duas estações definidas, ocorre uma variação na
disponibilidade hídrica do solo, fazendo com que uma parte das árvores, entre 20% e 50%,
perca as folhas, durante a estação seca (GOODLAND e FERRI, 1979).
Essa vegetação ao longo do vale, juntamente com as matas ciliares, que
acompanhavam as margens do rio Araguari e seus tributários, foram profundamente
alteradas pela retirada de madeira para uso na construção de cercas e moradias e,
principalmente, pela abertura de áreas destinadas à agricultura e à pecuária. Recentemente,
com a construção das hidrelétricas de Miranda e Amador Aguiar I e II, significativos
remanescentes foram derrubados para abrigar o lago, formado a partir do represamento do
rio. Todavia, quando se comparam esses ambientes de mata com as áreas de relevo
dissecado e topo plano, nota-se que os principais remanescentes desse tipo de vegetação
ainda estão restritos ao longo do vale.
Nas áreas onde ocorre o afloramento das rochas do Grupo Araxá, a dissecação do
relevo é mais intensa, com os solos, em algumas áreas, passando a ser constituído de
fragmentos grosseiros de rocha e quartzo de até 60 cm de espessura. Apenas quando ocorre
o afloramento do lençol freático, nas proximidades dos topos planos e sobre estes,
aparecem solos hidromórficos revestidos de gramíneas e ciperáceas, sendo os cerrados
característicos das áreas mais planas (BACCARO, 1989).
Assim, nesse ambiente, a vegetação reflete o mosaico paisagístico dessa área
dissecada, ao longo vale do rio Araguari, onde cerrados, florestas e gramíneas aparecem
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
98
nas diferentes manchas, que representam condições hidrológicas e edáficas diversas, em
conseqüência da evolução geomorfológica (DEL GROSSI, 1991).
Área de Relevo com topo plano
As áreas de relevo com topo plano são marcadas pela presença de vales espaçados,
caracterizados pela escassa ramificação de drenagem e vertentes com baixa inclinação,
variando de 3º e 5º. Nessas áreas, os processos geomorfológicos de escoamento pluvial
laminar e difuso são os mais significativos na retirada de material pedológico e na
evolução dessas vertentes, sustentadas pelo arenito da Formação Marília e recobertas pelos
aluviões Holocênicos e pela cobertura detrito-laterítica do Cenozóico (BACCARO, 1989).
Nas porções de fundo de vales ou áreas de topo de chapada, onde predominam as formas
aplanadas de relevo, ocorre o solo Glei Húmico, típico de áreas mal drenadas e pouco
permeáveis (NISHYAMA, 1988).
Em relação à vegetação natural, nessa porção do município, é comum a ocorrência
do Parque de Cerrado. É uma formação savânica, caracterizada pela presença de árvores
agrupadas em pequenas elevações do terreno, algumas vezes imperceptíveis e outras com
muito destaque, que são conhecidas como murundus ou covoais, constituída por uma área
plana, inundável no período das chuvas, onde se encontram inúmeros morrotes (RIBEIRO
e WALTER, 1998).
Os murundus são elevações convexas características, que variam em média de 0,1 a
1,5 metros de altura, originando uma cobertura arbórea de 5% a 20%. Os solos,
normalmente argilosos, são melhor drenados nos murundus do que nas depressões
adjacentes. A origem desses microrrelevos ainda é controvertida. As hipóteses mais
debatidas apontam que a elevação do solo está relacionada à atividade de térmitas,
juntamente com processos erosivos diferenciais dos cupinzeiros, ao longo do tempo
(ARAÚJO et al, 1958).
Outro tipo de vegetação que ocorre na área de relevo de topo plano são as
formações campestres do tipo fisionômico Campo Sujo, caracterizadas pela presença
marcante de arbustos entremeados no estrato herbáceo e o Campo Limpo, com predomínio
de gramíneas e a presença insignificante de arbustos e subarbustos. Nos fundos de vale
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
99
ocorre a presença de mata decídua e semi-decídua, acompanhando os canais fluviais e, nas
áreas melhor drenadas, aparece o cerrado sentido restrito.
No que diz respeito à hidrografia, essas áreas são drenadas pelo Ribeirão Bom
Jardim e o Rio Uberabinha, que é o único canal fluvial a cortar todas as unidades
geomorfológicas do município.
Sobre a cobertura vegetal natural e uso do solo, nessa região de relevo de topo
plano, nota-se que a maior parte da área foi destinada a cultura anual, principalmente, de
soja e milho, que se aproveitou da topografia suave, da disponibilidade hídrica existente e
da fertilidade relativamente boa do solo. Nessa região destaca-se, ainda, a silvicultura
(incremento de povoamentos florestais), estimulada inicialmente pelo programa
POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento dos Cerrados), criado em 1975, que teve
como objetivo o desenvolvimento e a modernização das atividades agropecuárias da região
Centro-Oeste e do oeste do estado de Minas Gerais, mediante a ocupação dos cerrados,
para o seu aproveitamento em escala empresarial.
Em relação à fauna triatomínea, é sabido que seus nichos ecológicos, em ambiente
natural, estão relacionados à presença de vegetação que lhes propicie condições de abrigo e
alimentação. Ao analisar as unidades geomorfológicas do município de Uberlândia,
relacionadas com os tipos solos, hidrografia e, principalmente, cobertura vegetal, percebeu-
se que, nas áreas de relevo com topo plano e relevo dissecado, possuem características
ambientais comuns, no que se refere à cobertura vegetal natural (composta, principalmente,
por cerrado stricto sensu, gramíneas e mata ciliar) e uso do solo caracterizado por grandes
propriedades destinadas à agricultura extensiva - principalmente de soja, pecuária e a
silvicultura de pinus e Eucalyptus, enquanto na área de relevo intensamente dissecado
predomina o ambiente de floresta tropical subcadicifólia, relacionada aos derrames de
basalto. Nesta região predominam as pequenas propriedades destinadas à pecuária leiteira e
cultivos de hortaliças, mandioca e milho, principalmente.
Deste modo, levando em consideração essas características comuns, optou-se por
fazer a análise das localidades visitadas em dois grupos distintos. No primeiro grupo estão
as propriedades selecionadas para avaliação, localizadas ao longo do vale do Rio Araguari
(relevo intensamente dissecado), que, além de concentrar os maiores índices de captura de
triatomíneos, nos anos analisados, possuem ainda a maior densidade demográfica e
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
100
concentração de remanescentes de mata do município. Outro aspecto considerado é o fato
de as condições de relevo, clima, vegetação, estrutura produtiva e moradia serem
congruentes, ao longo de todo vale.
No segundo grupo, estão as propriedades localizadas na porção centro-sul do
município, com relevo dissecado e topo plano, onde as condições de topografia, cobertura
vegetal e estrutura produtiva possuem feições que se assemelham, apresentando uma
influência na criação de nichos ecológicos propícios à ocorrência da fauna triatomínea;
entretanto, salvo algumas exceções, mostrou-se extremamente limitada. Os Cartogramas 4
e 5 indicam, respectivamente, a distribuição geográfica da 243 localidades do município e
as localidades selecionadas para avaliação sócio-econômica.
5.2.1.1 - Localidades inseridas nas áreas de relevo intensamente dissecado
A localidade 3 (Fazenda Arlindo Dias) está localizada a noroeste da sede do
município de Uberlândia, aproximadamente a 35 km do centro da cidade, sendo o acesso
feito pela Estrada Municipal Neuza Rezende (Figura 26).
Esta localidade está inserida na região de relevo intensamente dissecado, nas
proximidades da calha do Rio Araguari, apresentando, ainda, muitos remanescentes de
vegetação natural, principalmente do tipo perenifólia e semi-decídua, concentrada, grosso
modo, nas áreas de encosta mais íngreme e ao longo dos cursos d`água.
Grande parte das fazendas da localidade está inserida no grupo de pequenas
propriedades, não ultrapassando os 80 ha (16,5 alqueires). A atividade econômica
predominante é a pecuária leiteira e pequenas roças de mandioca e milho, principalmente,
aproveitando a fertilidade natural do solo ocasionada pelo intemperismo, sobretudo do
basalto da formação Serra Geral.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
103
Nessa localidade, foi visitada a casa 8 (Figura 27), cercada por vegetação nativa e
árvores frutíferas. O proprietário, produtor rural, vive na propriedade há mais de 30 anos.
Sua principal atividade é a pecuária leiteira e o cultivo de gêneros alimentícios, para
subsistência.
Quando indagado sobre os vetores e as implicações da doença de Chagas, ele
informou que conhecia o barbeiro, seus hábitos e as conseqüências da doença. Como sua
fazenda está localizada em uma região endêmica, sempre ouviu comentários sobre a
existência de pessoas portadoras da enfermidade e de barbeiros na região. Sua esposa,
presente no momento da entrevista, relatou que quando tinha, aproximadamente, sete anos
de idade, foi levada ao médico devido a um inchaço no olho. No hospital, foi informada
que ela havia sido contaminada pelo Tripanossoma cruzi, iniciando de imediato o
tratamento. Hoje, com quase 70 anos, apesar de não ter feito exames para saber se é
portadora da doença, ela acredita não estar mais contaminada, por ter, pela idade, uma
saúde relativamente boa.
Figura 26 – Uberlândia (MG): croqui
da localidade Fazenda Arlindo Dias
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
104
Figura 27 – Uberlândia (MG): vista parcial da propriedade e os
remanescentes de vegetação no segundo plano
Autor: MENDES, 2007.
A sede da fazenda (Figura 28), bastante simples, é feita de madeira, possuindo no
seu interior seis cômodos, não forrados. Os móveis e utensílios domésticos são poucos,
apresentando, no dia da visita, organização e limpeza, fato este contrastante com o
peridomicílio, onde o chiqueiro (Figura 29), o galinheiro improvisado, o paiol e o curral,
além de estarem muito próximos da casa, apresentavam um elevado grau de desordem,
propiciando a proliferação de insetos e roedores. Segundo relato dos moradores, é comum
a presença destes, no interior da casa.
Figura 28 – Uberlândia (MG): sede da fazenda construída de madeira
Autor: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
105
Figura 29 – Uberlândia (MG): criação de porcos a poucos metros da sede
Autor: MENDES, 2007.
Além da criação de suínos e do rebanho bovino, o proprietário possuí ainda dois
cachorros, oito gatos e, aproximadamente 50 galinhas, que vivem soltas no quintal da casa,
fazendo seus ninhos, principalmente, no galinheiro improvisado, localizado no anexo do
domicilio, junto ao chiqueiro, como mostra Figura 30.
Figura 30 – Uberlândia (MG): galinheiro improvisado num antigo galpão de guarda de ferramentas onde
foram capturados os triatomíneos da espécie T. sordida
Autor: MENDES, 2007.
Neste ambiente, no inquérito epidemiológico realizado em 2004, pelo CCZ de
Uberlândia, capturou-se uma ninfa do T. sordida. No ano seguinte, em 2005, em outro
inquérito realizado no mês de fevereiro, capturaram-se, no mesmo local, mais sete
triatomíneos da mesma espécie, sendo três machos, duas fêmeas e duas ninfas, todos
enviados para o Laboratório de Epidemiologia, para verificar se estavam contaminados
pelo Tripanosoma cruzi.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
106
Segundo o CCZ, mesmo sendo negativo o resultado das análises, foi efetuado um
trabalho de borrifação no domicílio e peridomicílio da propriedade e, ainda, dada
orientação para que o proprietário melhorasse a organização e limpeza dos ambientes, no
entorno da moradia. Todavia, ao retornarem para executar novos inquéritos, observaram
que praticamente nada havia sido feito. Esse fato resume o que ocorre em grande parte das
localidades da zona rural do município, ou seja, uma ampla relutância à mudança de
hábitos e modos de organização do espaço de vivência.
A localidade 14 (Fazenda Boa Mente – Figura 31), como ocorre na maior parte das
localidades inseridas no vale do Rio Araguari, possui uma topografia extremamente
irregular, que dificulta o acesso às propriedades, devido às estradas sinuosas e
escorregadias. Saindo de Uberlândia, seu acesso ocorre após um percurso de 26Km de
asfalto, na Estrada Municipal Neuza Rezende, em direção ao distrito de Martinésia; mais
8km de estrada de terra em direção ao Rio Araguari, num percurso de, aproximadamente,
30 minutos, de carro.
Figura 31 – Uberlândia (MG):
croqui da localidade Fazend
a
Boa Mente
Fonte: CCZ – Uberlândia,
2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
107
A região é rica em cursos d água e cachoeiras. Os capões de cerrado e mata
mesófila semi-decídua cobrem parte das encostas íngremes e das ramificações dos canais
fluviais, formados no fundo do vale (Figura 32).
Figura 32 – Uberlândia (MG): vista parcial da localidade Boa Mente. Ao
fundo, umas das vertentes da vale do rio Araguari, coberto por
remanescentes de vegetação natural e pastagens
Autor: MENDES, 2007.
A localidade possui poucas fazendas, nove ao todo. Em sua maior parte, a atividade
econômica principal é a pecuária leiteira, seguida, em menor escala, do comércio de
queijo, mandioca, aves, dentre outros gêneros alimentícios, para completar a receita dos
moradores.
Na localidade, foi visitada a Casa 1, cujo proprietário reside na fazenda há 23 anos.
Sua propriedade está localizada próxima à base de uma ruptura de declive, originada da
erosão diferencial, nos diferentes derrames basálticos da região, recoberta, em parte, por
cerrado e mata (Figura 33).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
108
Figura 33 – Uberlândia (MG): à esquerda, a sede da fazenda; à direita, vista parcial da sede da fazenda e, ao
fundo, ruptura de declive coberta por remanescentes de vegetação e pastagem
Autor: MENDES, 2007.
Nessa propriedade foram capturados, no início do ano de 2008, sete triatomíneos,
da espécie P. megistus, no intradomicílio e, em 2006, um exemplar da espécie T. sórdida,
no peridomicílio. Nesse mesmo ano, foi realizado um trabalho de busca ativa pelo CCZ,
todavia, não foi capturado nenhum outro exemplar. Terminado o trabalho de investigação,
foi feita a borrifação da propriedade mas, após um ano, os triatomíneos voltaram a ser
encontrados, só que, desta vez, no intradomicílio, mais precisamente nas paredes dos
quartos e também da sala.
Ao observar as condições ambientais do domicílio e peridomicílio, pode-se
constatar que a propriedade agrupa um conjunto de fatores que possibilita a domiciliação e
reprodução da fauna triatomínea na fazenda, merecendo destaque a localização da sede da
propriedade no sopé de uma das vertentes do vale do rio Araguari, cuja densa cobertura
vegetal, localizada a poucos metros do quintal da casa, serve de abrigo para fauna
triatomínea.
Em relação ao peridomicílio, como pode ser observado nas Figuras 34 e 35, a
criação de suínos e aves ocorre junto à casa. Segundo a moradora, são criados, atualmente,
quatro porcos e, aproximadamente, 70 galinhas, que se reproduzem no quintal e
edificações ao lado da casa. Foi observada, ainda, a existência de palmeiras próximas à
sede, cuja copa é, comumente, utilizada pelas aves silvestres para construir seus ninhos,
abrindo possibilidade para os triatomíneos aí também habitarem. Outro fato que chamou a
atenção foi a grande quantidade de material de construção espalhada no entorno da casa,
como telhas, tijolos, madeira, dentre outros, que serve de abrigo aos barbeiros e diversos
outros insetos e animais.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
109
Figura 34 – Uberlândia (MG): na esquerda, o chiqueiro, onde são criados quatro porcos; ao centro o depósito
utilizado para guardar equipamentos e materiais de trabalho da fazenda. Nesse mesmo local,
algumas galinhas fazem seus ninhos. No fundo, a sede da fazenda, onde foram capturados os
triatomíneos, no quarto e na sala
Autor: MENDES, 2007.
Figura 35 – Uberlândia (MG): reprodução e criação de aves no anexo da casa, junto da cozinha
Autor: MENDES, 2007.
O interior da moradia, no momento da visita, apresentava uma boa organização e
limpeza. Todavia, a ausência de forro, rachaduras nas paredes, frestas entre o
madeiramento e a alvenaria criavam ótimas condições de abrigo e reprodução, para os
triatomíneos.
Nessa fazenda, no dia da visita, foi entregue aos agentes de saúde mais um
exemplar do T. sordida e, como já havia ocorrido a denúncia de captura de triatomíneo no
domicílio, a equipe de CCZ efetuou nova borrifação com inseticida Alfacipermatrina, do
grupo químico dos piretroides no intradomicílio e peridomicílio (Figuras 36 e 37).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
110
Figura 36 – Uberlândia (MG): preparação do inseticida
Autor: MENDES, 2008.
Figura 37 – Uberlândia (MG): borrifação no domicílio e peri-domicílio
Autor: MENDES, 2008.
Antes do início da aplicação, foi solicitado aos moradores que cobrissem alguns
moveis, virassem os colchões, recolhessem as roupas do varal e, ainda, mantivessem
afastados os animais domésticos, como cachorros e pássaros presos em gaiolas.
Ao término da aplicação, foi recomendado aos moradores que permanecessem, pelo
menos uma hora, sem adentrar o interior da casa e, ainda, que lavassem os utensílios
destinados à preparação de alimentos e fabricação de queijos. Outra recomendação foi de
que se fizesse a limpeza do entorno da moradia, queimassem os ninhos de galinha antigos
para evitar, além dos barbeiros, os piolhos de galinhas e, por fim, evitar que elas
reconstruam seus ninhos próximos à casa.
A localidade 15 (Fazenda Eurides Justino Batista) margeia a represa da Hidrelétrica
do Capim Branco II (Figura 38). Devido, principalmente, às facilidades de acesso à água,
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
111
bem como à fertilidade mais elevada dos solos próximos a esses locais, grande parte dos
proprietários de terra da localidade construíram suas casas próximas das margens do Rio
Araguari e do seu afluente, o Córrego dos Dourados. Com o enchimento do lago em 2005,
essas casas tiveram que ser demolidas, obrigando os proprietários a construir suas casas em
locais mais elevados ou, simplesmente mudar para outra região.
Essa localidade fica a, aproximadamente, 28Km da sede do município, sendo
acessada também, como a localidade 3 e 14, pela Estrada Municipal Neuza Rezende.
Anteriormente, nela existiam 31 casas; com o enchimento do lago, o número de casas
restantes caiu para menos da metade.
A cobertura vegetal original do local ainda é muito significativa, sendo composta,
principalmente, de cerrado e mata mesófila semi-decídua, principalmente nas
proximidades do lago e em direção à cabeceira do córrego dos Dourados, que não chegou a
ser atingido com o enchimento do lago.
Figura 38 – Uberlândia (MG): croqui
da localidade Fazenda Eurides Batista
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
112
Nessa localidade, foi visitada a casa 8 (Figura 39), recentemente construída em uma
parte mais elevada da propriedade. Atualmente, funciona como um PIT (Posto de
Informação de Triatomíneo), para onde os moradores encaminham os barbeiros
capturados.
Figura 39 – Uberlândia (MG): sede e PIT da Fazenda Eurides Batista
Autor: MENDES, 2008.
A nova sede da fazenda foi edificada com uma estrutura voltada para o turismo
(Figura 40). Segundo a proprietária, serão construídos chalés, campo de futebol,
estacionamento, dentre outras estruturas, para melhor conforto e lazer das pessoas que se
hospedarem na fazenda. Construída de alvenaria e forrada com madeira, a casa principal
difere das tantas outras visitadas, uma vez que, além de ser de construção recente, sua
arquitetura foi voltada para atendimento de um grande número de pessoas, sendo o
domicílio dotado de portas e janelas amplas. O peridomicílio é bem limpo, sem o acúmulo
de materiais velhos que possam atrair insetos, principalmente o barbeiro.
Figura 40 – Uberlândia (MG): vista parcial do lago e entorno da sede
Autor: MENDES, 2008.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
113
Atualmente, a propriedade possui uma área de 6,5 alqueires, estando localizada
próxima ao lago da represa. O relevo local é bem acidentado, merecendo destaque a
abundância de vegetação natural no entorno da sede que, segundo a proprietária, além de
ser um atrativo turístico, favorece o aparecimento de tamanduá bandeira, macacos, araras,
seriema, tatus, gambás, dentre outros animais.
É sabido que grande parte desses animais fazem parte da cadeia alimentar dos
triatomíneos, podendo ser hospedeiros do Tripanosoma cruzi. A proprietária da fazenda,
que habita na localidade há mais de 25 anos, sempre ouviu comentários sobre a captura de
barbeiros e doença de Chagas, na região. Mesmo não sendo portadora da doença, ela
mostrou-se preocupada com a enfermidade, pois apesar de a construção de sua casa ser
recente e de alvenaria, encontra-se em área de grande ocorrência de triatomíneos e
conseqüente risco de sua domiciliação.
A localidade 43 (Fazenda Santa Tereza) está situada a, aproximadamente, 12
quilômetros da sede do município de Uberlândia, sendo acessada pela BR-050, com
destino à cidade de Araguari (Figura 41).
Figura 41 – Uberlândia (MG): croqui
da localidade Fazenda Santa Tereza
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
114
Essa localidade possui 23 casas, estando, em sua grande maioria, localizadas ao
longo das margens do córrego do Buriti. Nela, em algumas áreas, pode-se observar ainda a
ocorrência de significativos remanescentes de mata, principalmente nas encostas, onde o
afloramento e posterior intemperismo do basalto originaram solos rasos, porém, de
fertilidade elevada. As áreas de pastagem, com algumas manchas de cerrado, aparecem
com mais freqüência nos ambientes de relevo menos acidentado, nas proximidades da sede
das fazendas.
Na localidade, foram observados cultivo de cana-de-açúcar, hortaliças e milho.
Todavia, grande parte da área era tomada por pastagem destinada, principalmente, à
pecuária leiteira.
Nesta localidade foi visitada a Casa 9, sede da fazenda, que é também um PIT.
Construída de alvenaria, com seis cômodos mais uma edificação lateral, onde funciona a
lavanderia; não possui forro (Figura 42). O proprietário da fazenda reside nela há 75 anos,
sendo muito cuidadoso com a organização e limpeza da moradia e entorno. A principal
atividade econômica desenvolvida na fazenda é a pecuária leiteira, possuindo, atualmente,
30 cabeças de gado. Todavia, no passado, além da criação de gado, ela já foi utilizada para
o cultivo de hortaliças, bananal e mandioca.
Figura 42 – Uberlândia (MG): sede da fazenda
Autor: MENDES, 2007.
No peridomicílio da moradia, foi verificada a presença de um galinheiro
improvisado, um galpão de ferramentas e uma cobertura para carroça. Todos esses
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
115
ambientes mostraram-se bem organizados, com materiais separados de acordo com sua
função e utilização (Figura 43).
Figura 43 – Uberlândia (MG): vista parcial do galpão de ferramentas e abrigo para carroça.
Observar-se a madeira em pé para evitar a presença de animais e insetos
Autor: MENDES, 2007.
Nessa propriedade, segundo informações do dono, nunca foram capturados
barbeiros, apesar de se terem notícias do encontro de triatomíneos nas fazendas vizinhas e
de pessoas portadoras da doença de Chagas.
Outro fato interessante, observado durante a entrevista, foi que, apesar de sua casa
ser um PIT, ele não sabe como se pega a doença, não sabe como se proteger, não conhece
suas conseqüências e, também, não sabe onde os barbeiros costumam ser encontrados.
Apenas sabe que a doença é perigosa, mas devido a seus problemas de saúde,
principalmente relacionados à visão, atualmente os barbeiros e a doença de Chagas não
são, para ele, motivo de preocupação.
Outra localidade, visitada no vale do Rio Araguari, foi a 44 (Fazenda Pedreira), que
faz limite com a localidade 43 (Faz. Santa Tereza), localizada a jusante do córrego do
Buriti. Nela também predominam as atividades de pecuária e o cultivo, em pequenas áreas,
de hortaliças, milho e cana-de-açúcar (Figura 44).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
116
Nessa localidade foi visitada a Casa 18 (Figura 45), onde foram encontrados
triatomíneos no intradomicílio e peridomicílio. Segundo o proprietário, a casa ficou alguns
anos vazia, o que possibilitou o crescimento de vegetação e a colonização de animais,
como morcegos, ratos, e até mesmo cobras. No início do ano de 2005, ele mudou-se com
sua esposa para a propriedade e, ao fazer limpeza do mato no entorno da casa, começaram
a aparecer alguns barbeiros, nas paredes internas e externas da casa.
Figura 45 – Uberlândia (MG): no segundo plano, vista
parcial da sede da fazenda
Autor: MENDES, 2007.
Figura 44 – Uberlândia (MG): croqui d
a
localidade Fazenda Pedreira
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
117
O proprietário informou que sempre morou na região e, por durante toda a vida,
ouviu comentários dos vizinhos sobre os babeiros e doença de Chagas. Nas casas onde ele
morou, por repetidas vezes encontrava barbeiros, dentro e fora do domicílio.
Atualmente, a atividade agrícola predominante na propriedade é a criação de gado e
ainda o cultivo de milho e quiabo. Antes disso, era utilizada para cultivo da cana-de-
açúcar. Outra informação relevante dada pelo proprietário é que, nas fazendas vizinhas,
inclusive algumas em que ele trabalhou, sempre fizeram uso intensivo de defensivos contra
ervas daninhas e, principalmente insetos, uma vez que cultivavam, principalmente,
hortaliças (Figura 46). Ainda hoje, segundo ele, a vizinhança toda faz uso de venenos para
proteger seus cultivos; sendo sua propriedade uma exceção, pois a criação de gado e o
cultivo de milho praticamente dispensam a aplicação de defensivos.
Figura 46 – Uberlândia (MG): vista parcial de uma das fazendas
vizinhas destinadas ao cultivo de hortaliças
Autor: MENDES, 2007.
Esse fato pode estar relacionado à ocorrência de triatomíneos na propriedade, uma
vez que encontraram, nela, ambiente seguro contra os inseticidas aplicados nas fazendas
vizinha. Outro aspecto favorável à presença dos triatomíneos é a existência de uma grande
quantidade de vegetação no entorno da moradia, e também aves criadas soltas no quintal,
que fazem seus ninhos e chocam ao lado da parede da casa, criando condições de abrigo e
alimentação ideal para os barbeiros (Figura 47).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
118
Figura 47 – Uberlândia (MG): galinha chocando dentro de uma churrasqueira
e numa cuba de pia, ao lado da parede da sala
Autor: MENDES, 2007.
A localidade 57 (Fazenda Moreno) é acessada pala estrada do “Pau Furado”, em
direção ao município de Araguari. Nesta localidade foi visitado o PIT localizado na casa
17, que também é um comércio de alimentos e bebidas (Figura 48).
Figura 48 – Uberlândia (MG):
croqui da localidade Fazend
a
Pedreira
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
119
Figura 49 – Uberlândia (MG): PIT da localidade 57, na qual funciona uma venda
Autor: MENDES, 2007.
O proprietário vive nesta localidade há 57 anos e sempre ouviu comentários sobre a
doença de Chagas na região, tendo encontrado barbeiros, inclusive em sua casa. Já fez
exames para saber se estava contaminado, mas o resultado foi negativo. Hoje, segundo ele,
a quantidade de barbeiros encontrados é menor, pois grande parte das casas foram
detetizadas, principalmente na década de 1970, pelos agentes da SUCAN.
Nessa região, devido à grande disponibilidade de água e à alta fertilidade do solo, a
atividade agrícola predominante, atualmente, é o cultivo de hortaliças e a formação de
pastagens destinadas à pecuária. De acordo com o proprietário, no passado existia uma
quantidade bem maior de moradores que também praticavam essas atividades, mas a
maioria mudou-se para a cidade, existindo hoje uma coleção de casas vazias e
abandonadas.
Outra questão interessante, observada durante a entrevista, foi que ele mostrou-se
muito bem informado sobre o vetor da doença de Chagas, bem como as conseqüências da
enfermidade. Segundo ele, isso está relacionado, principalmente, ao fato de sempre
conversar com moradores durante as compras na venda, sabendo praticamente tudo sobre o
que acontece na região.
Em relação à vegetação natural da localidade, ela já foi muito alterada. As maiores
manchas de vegetação estão concentradas ao longo do córrego do Moreno e também nas
áreas mais elevadas, onde alguns capões de cerradão foram mantidos, como área de reserva
das propriedades que desenvolvem os cultivos de hortaliças, nas áreas mais baixas do
relevo, pela possibilidade de acesso à água.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
120
Quanto ao seu comércio, local onde funciona o PIT, sendo o anexo ao fundo a
moradia do proprietário, aparentemente não apresentava, no seu entorno e interior,
condições de abrigo e alimentação para os barbeiros. A casa e o comércio foram
construídos de tijolos com reboco. O peridomicílio, apesar da presença de algumas árvores,
estava limpo, com o chão varrido recentemente. Não foi observada a presença de animais
domésticos, como aves e cachorros. Segundo o proprietário, baratas e os pernilongos são
os únicos insetos que atualmente incomodam.
A localidade 81 (Fazenda Veadinho) está localizada a 32Km de Uberlândia,
podendo ser acessada pela BR-452, que liga a cidade de Uberlândia a Araxá. Essa
localidade é de ocupação muito antiga, com registros de fazendas com mais de um século
(Figura 50).
Figura 50 – Uberlândia (MG):
croqui da localidade Fazend
a
Veadinho
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
121
O solo da localidade, em grande parte, apresenta fertilidade relativamente elevada,
principalmente nas proximidades do córrego do Veadinho, onde a exumação do basalto
possibilitou a formação de terra roxa estruturada, muito utilizada no cultivo de milho,
pequenas hortaliças para subsistências e, também, cana-de-açúcar para alimentação de
animais.
Esta localidade possui um total de 17 casas, sendo a pecuária a principal atividade
econômica dos proprietários. Em relação à vegetação, predomina no local o cerrado,
bastante alterado nas áreas de solos mais bem drenados, e mata mesófila semi-decídua,
também bastante degradada, acompanhando o leito do córrego do Veadinho. Nesta
localidade foi visitada a casa 13, cuja proprietária, de 57 anos, nasceu e cresceu na região,
morando nessa casa há 32 anos.
A proprietária é portadora da doença de Chagas que, segundo ela, veio a
manifestar-se quando tinha apenas 15 anos de idade, causando comprometimentos
cardíacos, levando-a a colocar marcapasso aos 34 anos de idade. Seus pais e dois irmãos
também são portadores da doença. Ela recorda que, quando criança, a casa onde morava,
feita de pau-a-pique, era infestada por babeiros: “[...] era só apagar a lamparina que eles
vinham picar a gente”.
Em 2004, foram encontrados oito T. sordida no galinheiro improvisado (Figura 51).
Em 2005, mais quatro T. sórdia, no mesmo galinheiro, mais um R. Neglectus, e outro T.
sordida no intradomicílio.
Figura 51 – Uberlândia (MG): local onde os triatomíneos foram capturados no ano de 2004 e
2005
Autor: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
122
A sede da propriedade onde foram encontrados os triatomíneos (Figura 52) fica
localizada em uma área próxima ao córrego do Veadinho, que guarda ainda boa parte de
sua mata ciliar. O entorno da propriedade é repleto de vegetação, composta de árvores
frutíferas introduzidas e vegetação nativa do local (Figura 53).
Figura 52 – Uberlândia (MG): sede da fazenda cercada por vegetação
Autor: MENDES, 2007.
Figura 53 – Uberlândia (MG): peridomicílio da sede da fazenda onde são cultivadas árvores frutíferas e
criação de galinhas
Autor: MENDES, 2007.
Segundo a moradora, a casa onde ela mora tem mais de 70 anos, e desde que ela
passou a residir ali, devido à proximidade da mata, teve sempre muitos problemas com
insetos, principalmente o pernilongo, e também com cobras. Os barbeiros, apesar de
encontrados nos galinheiros, não causam mais incômodo. Quando indagada sobre a
ocorrência de animais silvestres, ela respondeu que os mais comuns, vistos na propriedade,
são macacos, micos, ouriço-cacheiro, lobo e tatu.
Nota-se, a partir dessas informações, que essa propriedade possui todas as
condições de infestação natural pelos triatomíneos, pois além na grande quantidade de
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
123
vegetação e animais silvestres encontrados, existem ainda cachorros, porcos e galinhas no
peridomicílio, que servem como fonte de alimentos para os barbeiros.
Ao observar a mata próxima da moradia, podemos inferir que, possivelmente, os
triatomíneos encontrados em sua residência sejam procedentes dessa mata, e que migraram
para sua casa devido à proximidade e possibilidade de alimento, principalmente o sangue
das galinhas, que fazem seus ninhos perto da casa.
5.2.1.2 - Localidades inseridas na área de relevo dissecado e área de relevo com
topo plano
A localidade 155 (Fazenda Pedra) está situada nas proximidades do perímetro
urbano da cidade de Uberlândia, mais precisamente no setor sul da cidade. Seu acesso pode
ser feito pela Av. Adutora, a partir da UNITRI (Centro Universitário do Triângulo), num
percurso de três quilômetros até o rio Uberabinha, ou pela BR-050, saída para Uberaba,
virando à direita numa estrada, após 600 metros ao cruzar a ponte do Rio Uberabinha
(Figura 54).
Está inserida na região de relevo dissecado, caracterizado por possuir vertentes
suaves, formadas por latossolos vermelho e vermelho-amarelo, normalmente ácidos e de
fertilidade limitada, cobertos por cerrado nas porções mais elevadas e mata ciliar
acompanhado os canais fluviais.
Na localidade existem, atualmente, 36 casas, sendo habitadas, na sua maioria, por
famílias que trabalham na criação de aves destinadas à indústria granjeira do município.
Essas moradias, de construção mais recente, edificadas em alvenaria, com laje, são mais
bem estruturadas que as demais casas da redondeza. Na localidade, além da criação de
aves, ocorre ainda o cultivo, em pequena escala, de gêneros alimentícios, e a criação de
gado leiteiro, nas áreas de pastagens.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
124
Nessa localidade, foi visitada foi a Casa 36, construída em meio à mata que
acompanha o curso do rio Uberabinha (Figura 55). Nessa unidade domiciliar foram
capturados, em 2006, 12 P. megistus, no peridomicílio, e, em 2007, um exemplar dessa
mesma espécie, no intradomicílio.
Figura 55 – Uberlândia (MG): no primeiro plano, área de pastagem. No segundo plano, sede da fazenda,
rodeada por vegetação nativa e introduzida próxima a calha do Rio Uberabinha. No terceiro
plano, vista parcial do bairro Laranjeira e São Jorge
Autor: MENDES, 2007.
Figura 54 – Uberlândia (MG):
croqui da localidade Fazenda Pedra
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
125
O proprietário da fazenda é natural de Uberlândia, sempre morou na região, mas
nesse local reside há pouco mais de 20 anos. Sua irmã, também natural de Uberlândia,
morreu devido a complicações causadas pela doença de Chagas. Ele próprio foi picado
pelo barbeiro, algumas vezes. Todavia, resultados de exames feitos recentemente
indicaram que ele não é portador da enfermidade.
Em relação à sede fazenda, esta apresenta aspecto de abandono, com lixo e entulho
pelos quintais e vegetação praticamente invadindo a casa, facilitando a ocorrência de
triatomíneos (Figuras 56 e 57).
Figura 56 – Uberlândia (MG): casa sendo invadida pela vegetação
Autor: MENDES, 2007.
Figura 57 – Uberlândia (MG): quintal repleto de lixo e entulho
Autor: MENDES, 2007.
A localidade 160 (Floresta do Lobo), de propriedade da Pinusplan, está localizada
entre as BRs 452 e 050, aproximadamente a 25 Km da sede do município (Figura 58).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
126
Encontra-se inserida na compartimentação geomorfológica de área de relevo de topo plano,
com vales espaçados e vertentes com pouca declividade (BACCARO, 1989).
Esta localidade, apesar de apresentar o segundo maior número de unidades
domiciliares, 67 ao todo, está restrita a poucas propriedades, pois grande parte das
moradias são dos funcionários da Empresa Pinusplan ou das amplas fazendas voltadas às
atividades de silvicultura e agropecuária, na região.
Resumidamente, a paisagem dessa região de topografia suave está subdividida em
quatro grupos: plantio de pinus, cultivo de milho, lavoura de soja e áreas de pastagem,
como mostra a Figura 59.
Figura 58 – Uberlândia (MG): croqui
da localidade Fazenda Floresta do
Lobo
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
127
Figura 59 – Uberlândia (MG): na parte superior, à esquerda, florestamento de pinus, à direita cultivo
de milho. Na parte inferior, à esquerda, lavoura de soja e, à direita, pastagem
Autor: MENDES, 2007.
Na localidade foram visitadas duas unidades domiciliares. Ambas de funcionários
da empresa Pinusplan. Na primeira casa visitada (casa 30), ao lado da sede (Figura 60), a
moradora relatou que conhece os vetores da doença de Chagas, mas nunca encontrou
barbeiros na região e não conhece nenhum morador que seja portador da doença. Quando
indagada se possuía algum caso na família e se havia feitos exames para diagnosticar se era
portadora da doença, ambas as respostas foram negativas.
Figura 60 – Uberlândia (MG): à esquerda, casa 30, onde foi feita a entrevista. À direita, sede de fazenda
Floresta do Lobo
Autor: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
128
Sua casa, construída de alvenaria e forro de laje, apresentava o intradomicílio e
peridomicílio bem organizado. Os únicos animais domésticos criados eram apenas dois
gatos. Praticamente todo alimento para consumo é trazido da cidade. Os animais silvestres
mais comuns, vistos na propriedade, são: lobo-guará, gambá, tatu, seriema e macacos, que
chegam bem próximos às moradias, em busca de alimento.
Na casa 31, (Figura 61), também construída de alvenaria e forrada, a moradora
relatou que conhece os barbeiros e as conseqüências da doença de Chagas, porém nunca
encontrou ou ouviu falar sobre a sua ocorrência ou sobre alguém que tivesse a doença, na
localidade. Moradora da região há bastante tempo (mais de 20 anos), ela informou que, na
região, existem ainda muitos animais silvestres, que rondam as casas, principalmente à
noite, em busca de alimentos.
Figura 61 – Uberlândia (MG): vista parcial da casa 31, localizada na Fazenda
Floresta do Lobo
Autor: MENDES, 2007.
Sobre o uso de defensivos, nas áreas de florestamento de pinus, ela informou que a
empresa faz uso constante, principalmente no combate a pragas como formigas, vespa-da-
madeira, pulgões e fungos. Na revisão bibliográfica deste trabalho, não foi encontrada obra
alguma que tratasse, de forma específica, da influência de defensivos químicos na
população de triatomíneos, em áreas de florestamento. Isto significa que há uma carência
de estudos mais aprofundados nesse assunto.
Outra área visitada foi a localidade 177 (Fazenda Manoel Rocha), localizada na
porção sul do município de Uberlândia, em direção ao município do Prata. Nessa região
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
129
predominam as atividades de silvicultura, cultura de soja e a pecuária de corte, que ocupam
grande parte da paisagem (Figuras 62 e 63).
Figura 63 – Uberlândia (MG): da esquerda para direita, atividade de silvicultura ao longo da rodovia, cultivo
de soja irrigada e pecuária de corte na região
Autor: MENDES, 2007.
Figura 62 – Uberlândia (MG):
croqui da localidade Fazend
a
Manoel Rocha
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
130
A propriedade visitada é destinada à engorda de gado. A sede da fazenda (casa 1/1)
é habitada por um funcionário que nela reside há seis anos, juntamente com sua família.
Ele diz que já ouviu falar da doença de Chagas, mas desconhece completamente o vetor da
doença, as formas de contágio, bem como suas conseqüências. É natural de Iturama, mas
cresceu na região e nunca ouviu comentários sobre os barbeiros ou a doença, na redondeza
(Figura 64).
Figura 64 – Uberlândia (MG): sede da fazenda visitada
Autor: MENDES, 2007.
Em relação à propriedade, praticamente não existe mais vegetação natural, sendo
toda formada por pastagens. A casa foi construída em alvenaria, em 2001, sendo coberta
com telha de amianto. O quintal da casa é divido em dois ambientes - um cercado,
destinado à criação de aproximadamente 60 aves, e outro voltado ao plantio de árvores
frutíferas (Figura 65).
Figura 65 – Uberlândia (MG): à esquerda, o quintal plantado com frutíferas e, à direita, o galinheiro, cujo
entorno é protegido com tela
Autor: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
131
Na propriedade visitada, conforme informação do morador, é comum avistarem-se
tamanduá bandeira, tatu e lobo-guará nos pastos, pois sem a vegetação natural para
escondê-los, ficam mais expostos, principalmente durante o dia. Todavia, mesmo com a
presença desses animais, segundo informações do CCZ, nesta localidade nunca foram
encontrados triatomíneos, pois a grande maioria das casas foi construída em alvenaria e seu
entorno, geralmente, não apresenta remanescentes de vegetação, que poderiam servir de
abrigo a esses insetos.
A localidade 188 (Fazenda Santa Maria) é caracterizada pela existência de grandes
fazendas destinadas à pecuária extensiva, cultivo de grãos e também granjas de aves
(Figura 66). O relevo é caracterizado por topos aplainados e vertentes longas e suaves, que
atingem as matas de galeria e ciliar, nos fundos de vale, bem abertos.
Os remanescentes de vegetação são encontrados nos interflúvios, como o cerrado
sentido restrito, caracterizado pela presença de árvores tortuosas e baixas, rodeadas por
arbustos e subarbustos. Nos fundos de vale são encontradas as veredas, nas áreas de
afloramento do lençol freático e, ainda, matas de galeria nas cabeceiras de drenagem dos
córregos e mata ciliar acompanhando a margem do Rio Panga, onde estão localizadas parte
das sedes das fazendas da localidade.
Nessa localidade foi visitada a casa 26, na Fazenda Água Limpa. Essa propriedade
está nas mãos da mesma família há mais de 100 anos. Inicialmente, a fazenda possuía
14.000 alqueires; hoje, pela divisão de herança de seu pai aos 14 filhos, a proprietária
herdou 1000 alqueires, tamanho atual da propriedade.
No passado, segundo informações da proprietária, devido à baixa fertilidade do
solo, a propriedade era, quase que exclusivamente, destinada à pecuária, como destaca a
própria proprietária: “[...] não só minha fazenda, mas também as outras da região são
grandes, porque o solo é fraco [...]” (Pannúnzio, 2007). Atualmente, devido às melhorias
das técnicas produtivas e ao relevo pouco acidentado, além da pecuária ela é utilizada para
o cultivo de sementes irrigadas de soja e milho, para a EMATER (Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural) e a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas
Agropecuária), fazendo uso de uma enorme quantidade de adubos e defensivos agrícolas.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
132
Devido à abundância de nascentes nessa propriedade, cerca de 47% dela foi
destinada a área de preservação permanente e reserva legal. Isso possibilita o aparecimento
de muitos animais silvestres, como lobo-guará, tatu e até mesmo araras, comumente
rondando a sede da fazenda.
Apesar da grande área destinada a reserva natural, a proprietária afirmou que nunca
teve noticias de barbeiros e doença de Chagas, na região. Seu irmão mais jovem é portador
da doença mas, segundo informações, ela foi adquirida no Canal de São Simão, antes da
construção da hidrelétrica.
Atualmente a sede da fazenda é muito bem organizada. Além de várias casas de
alvenaria e outras de madeira de lei tratada, existe ainda um galpão utilizado como sala de
aula para receber alunos da rede escolar do município, onde são discutidos assuntos
relacionados, principalmente, à preservação do meio ambiente. Contraditoriamente, mesmo
ciente dos danos causados ao ambiente, ela faz uso constante de uma enorme quantidade
Figura 66 – Uberlândia (MG): croqui
da localidade Fazenda Santa Maria
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
133
de defensivos agrícolas, inclusive na própria sede, para combater ervas daninhas e insetos
(Figuras 67 e 68).
Figura 67 – Uberlândia (MG): vista parcial da sede da Fazenda Água Limpa
Autor: MENDES, 2007.
Figura 68 – Uberlândia (MG): à esquerda, funcionário da fazenda, no preparo de herbicida; à direita, galpão
utilizado como sala de aula
Autor: MENDES, 2007.
A localidade 190 (Fazenda Poderosa) está localizada na porção sul do município,
em área de relevo dissecado, que se estende da Estrada do Pescador até o Rio do Panga,
sendo delimitada, ao norte, pela BR-497, que liga Uberlândia ao Município do Prata, como
mostra Figura 69.
Na localidade predominam amplas áreas, de topografia suave, recobertas
principalmente por brachiaria destinada à pecuária (Figura 70). Em relação à vegetação
natural, os poucos remanescentes são encontrados apenas próximos aos cursos d´água,
restando, nas áreas mais elevadas, árvores esparsas utilizadas como abrigo para o gado,
durante dias de temperatura elevadas.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
134
Figura 70 – Uberlândia (MG): paisagem comum na região: extensas áreas de pastagens com poucas árvores
espalhadas
Autor: MENDES, 2007.
Figura 69 – Uberlândia (MG): croqui
da localidade Fazenda Poderosa
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
135
Nesta localidade foi visitada a Casa 27, inserida em uma propriedade de cinco
alqueires, que faz divisa com o Rio Panga. Como a grande maioria das outras propriedades
na região, esta foi dividida em uma área destinada a pastagem e outra, menor, próxima à
sede, voltada para o plantio de algumas árvores frutíferas e mandioca para subsistência.
No passado, essa propriedade era toda utilizada para a lavoura de milho, mas
atualmente, devido a problemas relacionados à produção e comercialização da safra, o solo
foi coberto por pastagem, que é arrendada a pecuaristas da redondeza.
A sede da propriedade, como mostra a Figura 71, foi construída em alvenaria,
recoberta por telhas de argila, sem forração na parte inferior. Segundo o proprietário, ele
adquiriu esta fazenda há 14 anos, não fazendo nela, desde então, benfeitorias significativas.
É utilizada principalmente para o lazer nos fins de semana, tendo como animais apenas um
cão, um gato e mais algumas poucas aves, criadas soltas no entorno da casa.
Segundo o proprietário, ele já conhecia a região antes mesmo de adquirir a
propriedade e, em todo esse período, nunca ouviu comentários sobre a doença de Chagas
ou o encontro de barbeiros na região. Em sua fazenda, ele já encontrou tamanduá-bandeira,
lobo-guará, tatu, raposa, cobras, morcegos, diversos tipos de insetos, mas nenhum que
aparentasse ser um barbeiro.
Figura 71 – Uberlândia (MG): vista parcial da sede da propriedade
Autor: MENDES, 2007.
Uma particularidade dessa propriedade, em relação às outras visitadas, na região,
foi a grande quantidade de vegetação nativa no entorno da casa, como mostra a Figura 72.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
136
Ao indagar do proprietário sobre essa questão, ele respondeu que a sede foi construída
muito próxima da margem do Ribeirão Panga, praticamente ocupando parte da área de
preservação permanente, o que possibilita o aparecimento de alguns animais silvestres da
mata semi-decídua, como micos, tucanos e alguns papagaios (Figura 72).
Figura 72 – Uberlândia (MG): à esquerda, edificação de um paiol no peridomicílio para o armazenamento de
milho e; à direita, vista parcial da mata semi-decídua que margeia o Rio Panga
Autor: MENDES, 2007.
Outra localidade pesquisada foi a 215 (Faz. Nazir Zacarias), que dentre todas as
visitadas é a que possui um maior número de moradias, setenta ao todo (Figura 73). Nessa
localidade, merecem destaque as grandes áreas de pastagens, as granjas para criação de
aves e áreas para o cultivo de milho e cana-de-açúcar destinada à formação de silos.
Morfologicamente, ela possui topografia ligeiramente ondulada, com inúmeras
nascentes e pequenos cursos d`água existentes. A cobertura vegetal original, como nas
outras localidades visitadas, foi muito alterada. Todavia, foram observados, ainda, muitos
remanescentes de cerradão e algumas áreas, de mata de folhas, perene e semi-decídua,
próximas aos cursos d`água (Figura 74).
Outra questão interessante, observada nessa localidade, foi a grande quantidade de
animais silvestres vistos durante a visitação, como um tamanduá bandeira, um lobo-guará e
até um tatu-peba, capturado por um dos agentes do Centro de Controle de Zoonoses, que
escavava na base de um cupinzeiro, ao lado da estrada de acesso à propriedade (Figura 75)
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
137
Figura 74 – Uberlândia (MG): vegetação remanescente nas áreas próximas aos cursos d`água
Autor: MENDES, 2007.
Figura 75 – Uberlândia (MG): tatu-peba capturado e posteriormente solto por agente do CCZ
Autor: MENDES, 2007.
Figura 73 – Uberlândia (MG): croqui d
a
localidade Fazenda Nazir Zacarias
Fonte: CCZ – Uberlândia, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
138
É sabido que os tatus fazem parte da cadeia alimentar dos triatomíneos, todavia,
nessa localidade, durante o período analisado, não foi registrada captura de triatomíneos,
nas diversas fazendas em que foram executadas as atividades de pesquisa e captura,
realizadas pelo CCZ.
A casa selecionada para inspeção foi a 68 (sede da fazenda Nazir Sacarias), cujo
proprietário reside na casa há quase 50 anos. Essa propriedade possui 48,4ha, destinados à
pecuária leiteira, que sempre foi a principal atividade da fazenda, desde a época do avô do
proprietário atual (Figura 76).
Figura 76 – Uberlândia (MG): sede da fazenda Nazir Zacarias em
meio a vegetação e o curral
Autor: MENDES, 2007.
A sede da fazenda foi construída há mais de meio século, toda em alvenaria, com o
teto forrado de madeira. Para acessar a casa, inicialmente, tem-se que se atravessar o
curral, todo cimentado, que faz divisa como a lateral da casa.
Nessa propriedade foram averiguados o curral, depósito e equipamentos, quartos, a
dispensa da casa, dentre outros locais, à procura de triatomíneos, mas nem vestígio destes
mesmos foram encontrados (Figura 77). O proprietário, que já fez exames para saber se é
portador da doença, nunca teve notícia sobre o achado de barbeiros na região, muito menos
da doença. Ainda de acordo com ele, toda sua família foi criada no local, e nenhum parente
teve a doença.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
139
Figura 77 – Uberlândia (MG): busca ativa no peridomicílio e intradomicílio da sede da fazenda Nazir
Zacarias
Autor: MENDES, 2007.
Quando indagado sobre a vegetação da região, o proprietário afirmou que, desde
criança, grande parte da vegetação natural já havia sido derrubada, para abertura de
pastagem. Quanto aos animais silvestres, no passado era possível avistar-se, nos brejos,
capivaras, veados e até mesmo onça. Hoje, o mais comum de ser encontrado são
tamanduás, lobos, raposas e tatus. Quanto ao uso de defensivos agrícolas, o combate fica
restrito ao rebanho, para evitar doenças, principalmente as transmitidas por carrapatos e
moscas.
Outra observação relevante sobre a propriedade, em comparação com outras
visitadas, principalmente no vale do Rio Araguari, foi a limpeza e organização do
peridomicílio (Figura 78). O curral, setor de ordenha, local de fabricação de queijo, quintal
da casa, dentre outros locais, estavam todos varridos, não apresentavam odor desagradável
nem a presença de moscas que indicasse falta de asseio, no ambiente externo da casa.
Figura 78 – Uberlândia (MG): peridomicílio da propriedade, lavado recentemente
Autor: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
140
Quanto ao intradomicílio, com mais de dez cômodos, apesar de vários deles com
poucos móveis e até mesmo vazios, estavam todos limpos, não sendo encontrados vestígios
de triatomíneos no local, nem mesmo insetos comuns em fazendas, como mosquitos e
baratas.
5.2.2 – Síntese das condições sócio-cultural e ambiental, uso do solo e a doença de
Chagas, no espaço rural do município de Uberlândia (MG)
Desde a definição de suas bases técnicas, na década de 1940, sua estruturação, a
partir de 1975, e implantação de forma sistemática, a partir de 1983, o êxito do Programa
de Controle da Doença de Chagas (PCDCh) esteve associado às políticas de Governo, ora
com maior prioridade, ora deixado em segundo plano, quase sempre quando ocorriam
epidemias de outras enfermidades, como a dengue. Também o desempenho do Programa
foi afetado pela municipalização da saúde. Mas, neste momento, quer-se avaliar não as
questões técnicas, administrativas e políticas do PCDCh, mas as questões sócio-
econômicas e culturais de cada localidade estudada, que podem afetar, de modo
significativo, o controle da doença de Chagas, na região.
Informações básicas sobre a doença e seu vetor, medidas emergenciais e
preventivas levadas a comunidades do espaço rural pelos agentes de saúde freqüentemente
são colocadas em segundo plano ou simplesmente desconsideradas, frente a tantos outros
problemas e atividades que merecem atenção na propriedade rural, cuja investigação e
enumeração, neste momento, se tornariam dispendiosas e de pouca valia no alcance dos
objetivos do trabalho.
Desde modo, as considerações dos questionários, descritas adiante, não objetivam
justificar os motivos que levam os moradores do espaço rural a menosprezar a
problemática da doença de Chagas, mas a traçar um perfil sócio-cultural e econômico
desses moradores e, ainda, averiguar o conhecimento que eles detêm sobre a doença de
Chagas e seu vetor.
Para facilitar a interpretação, o questionário foi dividido em duas partes. Uma
destinada a traçar um perfil das pessoas entrevistadas e outra voltada ao levantamento das
informações que elas possuíam, relativas à doença e seus vetores, de modo comparativo
entre os moradores da área de relevo intensamente dissecado, denominada área 1, e os
moradores da área de relevo dissecado e com topo plano, aqui denominada área 2.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
141
5.2.3.1 – Perfil dos moradores
Uma das primeiras questões abordadas com os moradores entrevistados foi relativa
ao seu tempo de moradia na localidade. Na área 1, nenhum dos entrevistados mora na
localidade há menos de 20 anos; 57%, entre 20 e 40 anos; e 43% residem nela há mais de
50 anos. Na área 2, a maioria dos entrevistados (72%) mora na localidade há menos de 20
anos, e apenas 28% moram na localidade há mais do que 20 anos (Gráfico 23).
0
72
57
14
00
0
14
43
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
< 20 20 a 30 30 a 40 40 a 50 > 50
anos
Área 1
Área 2
Gráfico 23 – Uberlândia (MG): tempo de moradia, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Pode-se observar que o tempo de habitação dos moradores da área 2 é bem menor
que os moradores da área 1. Esse percentual poderia ser ainda maior, se fosse levado em
consideração o tempo de moradia na região, pois muitos entrevistados informaram que
mudaram de localidade após o casamento ou, simplesmente, por trabalho, mas nasceram
ou se fixaram na região ainda jovens, habitando sempre no vale do rio Araguari.
Esse fato pode estar relacionado, principalmente, ao tipo de atividade produtiva
praticada nessa região do município, caracterizada por grandes fazendas inseridas no
complexo agroindustrial com a produção de grãos, gado e florestamento de pinus,
principalmente, contribuindo para a alta rotatividade dos moradores.
Em relação à renda familiar, ela refletiu a estrutura produtiva do município. Na área
1, habitada pelos moradores mais antigos do espaço rural, organizados, na sua maioria, em
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
142
pequenas propriedades, 71,4% dos moradores possui renda inferior a dois salários mínimos
(Gráfico 24). Foi observado que a manutenção dessas famílias é possível pelo fato de uma
parcela significativa dos alimentos consumidos por ela serem produzidos na propriedade.
Alem disso, as despesas com água e aluguel, praticamente não existem, enquanto gastos
com energia, também, são menores, se comparados aos da cidade.
28,6
0
42,8
28,6
14 , 2
42,8
14 , 2
28,6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
Menor 1 De 1 a 2 De 2 a 3 Mais 3
salário mínimo
Área 1
Área 2
Gráfico 24 – Uberlândia (MG): renda familiar dos moradores, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Na área 2, nenhum dos moradores entrevistados possuía renda inferior a um salário
mínimo. 42,8% ganham entre 2 e 3 salários e 28,6 % mais de 3 salários mínimos (vide
Gráfico 24). Mesmo sendo alguns dos entrevistados empregados das fazendas, nenhum
deles recebe salário mínimo. Já alguns proprietários, além da renda aferida na propriedade,
têm mais de uma fonte de recursos, como aposentadoria, comércio, dentre outras.
Sobre as condições de moradia na área 1 e 2, o padrão de construção encontrado foi
praticamente o mesmo, em ambas (Gráfico 25), com exceção das moradias construídas
com madeira, na área 1. Todavia, apesar de o padrão de construção, nas propriedades
visitadas, se repetir, a estrutura das casas, tempo de construção e número de cômodos são
bem diferenciados. As casas construídas ao longo do vale do rio Araguari, com exceção
das chácaras de lazer, localizadas nas margens das represas, e casas edificadas mais
recentemente, são construções mais rústicas, normalmente mais baixas, janelas pequenas,
algumas com mais de um século de idade, apresentando rachaduras e alguns problemas
estruturais.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
143
Gráfico 25 – Uberlândia (MG): condições das moradias, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Já as sedes das fazendas visitadas na área 2, mesmo sendo construções antigas, como
a sede da Fazenda Nazir Zacarais, salvo algumas exceções, aparentavam melhor estado de
conservação. Algumas construções eram recentes, utilizando cobertura de telha de amianto
e forradas, diminuindo muito a possibilidade de infestação no interior da moradia por
insetos, principalmente (vide Gráfico 25).
No que diz respeito ao grau de escolaridade, as áreas 1 e 2 mostraram uma
realidade bem diferente. 71,4 % dos moradores do vale do rio Araguari não chegaram a
concluir a 4ª série do ensino fundamental. 14,3% fizeram até a 8ª série e 14,3% chegaram a
fazer o ensino superior (Gráfico 26). Durante as entrevistas, quando indagados sobre isto, a
justificativa para não terem concluído os estudos era o excesso de trabalho na fazenda, pois
desde cedo tinham que ajudar os pais na “lida” diária. A grande maioria freqüentou a sala
de aula apenas o tempo suficiente para aprender a ler, escrever e fazer contas simples.
Na área 2, o quadro se inverteu; o ensino médio e superior totalizou 71,4% (vide
Gráfico 26). Esse fato está relacionado ao fato de muitas pessoas que moram nas
localidades terem sua origem nas cidades, principalmente Uberlândia, onde freqüentaram a
escola, sendo hoje donos ou trabalham nas fazendas. Os proprietários exigem certo grau de
escolaridade dos empregados para manuseio do gado, nas atividades de agricultura e no
manuseio de maquinários e defensivos agrícolas, que necessitam um mínimo de instrução.
57 57
8
43
14
0
0
20
40
60
80
100
%
A
lvenaria com
reboco e sem laje
A
lvenaria com
reboco e laje
Madeira
Área 1
Área 2
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
144
Gráfico 26 – Uberlândia (MG): escolaridade dos moradores, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Em relação à atividade econômica, nas áreas 1 e 2 predominaram a atividades de
pecuária. Todavia, essa atividade é maior na área 1, ou seja, 72% das propriedades têm, na
pecuária, principalmente a leiteira, sua principal fonte de renda (vide Gráfico 27).
Normalmente, são pequenas propriedades, onde o leite produzido é vendido para os
laticínios, e uma parte restante é utilizada na fabricação de queijo, que é comercializado na
cidade. A produção agrícola também é pequena, e grande parte destinada à subsistência.
Ainda há propriedades que se dedicam à produção de hortaliças, comercializadas, em
grande parte no CEASA - Uberlândia. Outra atividade que chamou a atenção foi o turismo
rural, que está crescendo, principalmente nas fazendas que margeiam as represas dos lagos
de Miranda e das recém construídas hidrelétricas de Amador Aguiar I e II.
72%
14%
14%
Pecuária Turismo Hortaliça
Gráfico 27 – Uberlândia (MG): atividade agrícola predominante na Área 1,2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
71,4
14,3
14,3
14,3
0
57,1
14,3 14,3
0
10
20
30
40
50
60
70
80
%
1 a 4 série 5 a 8 série Ensino Médio Ensino Superio
r
Á
rea 1
Á
rea 2
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
145
Na área 2, a pecuária é a atividade mais importante em 42% das propriedades
visitadas (Gráfico 28). A silvicultura e o cultivo de soja são as atividades mais importantes
em 29% das propriedades, sendo que a soja ocupa maior área que o Pinus e eucaliptos. O
cultivo de milho, apesar de observado seu plantio em algumas fazendas visitadas, era tido
apenas com atividade secundária, frente à criação de gado e o cultivo da soja.
42%
29%
29%
Pecuária Pinus Soja
Gráfico 28 – Uberlândia (MG): atividade agrícola predominante na Área 2, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Na área 2 também merece ser comentada a maior utilização de tecnologia, no
processo produtivo empregado pelos proprietários, que na área 1, tanto na agricultura,
representado pelos maquinários agrícolas e pivôs de irrigação, como na pecuária,
representado pelas ordenhas mecânicas e o monitoramento do gado destinado a engorda,
com a formação de silagens e cercas elétricas.
Sobre a atividade agrícola predominante praticada na propriedade, no passado, foi
verificado, tanto na área 1 quanto na 2, que a pecuária era a mais praticada, atingindo
índices de 86% e 72%. Se comparado à atual, a área 1 sofreu uma redução de 14%,
enquanto na área 2 a redução foi de 30%. A maior redução da pecuária na área 2 está
relacionada, principalmente, ao aumento das áreas destinadas à cultura de grãos e pinus na,
porção centro sul do município, aproveitando as características naturais do relevo e
melhoramento das técnicas produtivas (vide Gráficos 29 e 30).
A pecuária ainda continua tendo um papel muito importante na economia do
município, principalmente para as pequenas propriedades, constituindo-se, para algumas
delas, a principal fonte de renda da família, principalmente no vale do rio Araguari. A
pequena redução de sua participação como principal atividade da propriedade se deve ao
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
146
aumento nas áreas de lavoura e também à implantação de novas atividades, como o
turismo rural.
Gráfico 29 – Uberlândia (MG): atividade agrícola predominante, no passado,
na Área 1
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Gráfico 30 – Uberlândia (MG): atividade agrícola predominante, no passado,
na Área 2
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Quanto ao uso de defensivos agrícolas, foi verificada uma ampla utilização nas
duas áreas, independente da atividade econômica desenvolvida. No caso da pecuária, os
produtores informaram que utilizam, principalmente, pesticidas, para combater carrapatos
e moscas que atacam o rebanho; porém, a utilização de carrapaticida fica restrita à
aplicação no dorso dos animais e, quanto às moscas, a utilização de inseticidas ocorre com
a borrifação nas áreas do curral, normalmente localizado próximo à sede da fazenda. Na
área 1, foi grande o número de moradores que também utilizam rodenticidas, pois os
roedores atacam os depósitos de alimentos, como o paiol e áreas de silagem (vide Gráfico
31).
86%
14%
Pecuária Agricultura
72%
14%
14%
Pecuária
A
gricultura Pinus
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
147
Gráfico 31 – Uberlândia (MG): uso de defensivos agrícolas, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Já nas propriedades destinadas à lavoura, principalmente na área 2, a utilização de
defensivos agrícolas ocorre em maior escala. Foram muitos os enumerados pelos
produtores, como: larvicidas, inseticidas, fungicidas, herbicidas, dentre outros, aplicados
diretamente sobre a lavoura. Em 100% das propriedades visitadas, os proprietários
informaram o uso constante desses produtos (vide Gráfico 31).
Quando questionados se tinham informação da utilização de defensivos agrícolas
na região, no passado, a maioria confirmou que sim, até mesmo com relatos de caso de
intoxicação de animais e pessoas. Na área 1, apenas 14% dos proprietários afirmaram que
não utilizaram defensivos agrícolas no passado, enquanto que na área 2 todos sempre
utilizaram, independente da atividade produtiva praticada (Gráfico 32).
85,7
14,3
100
0
0
20
40
60
80
100
%
Área 1 Área 2
Sim
Não
Gráfico 32 – Uberlândia (MG): uso de defensivos agrícolas no passado
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
85,7
14,3
100
0
0
20
40
60
80
100
%
Á
rea 1
Á
rea 2
Sim
Não
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
148
5.2.3.2 – Conhecimento relativo a doença de Chagas e seu vetor
Para averiguar o nível de informações que os moradores possuíam sobre a doença
de Chagas e seus vetores, foram aplicados questionários com perguntas básicas sobre a
doença. A primeira delas foi se eles já haviam ouvido falar sobre a doença de Chagas. As
respostas, tanto na área 1 quanto na 2, foram unânimes - todos já ouviram comentários
sobre a doença, como mostra o Gráfico 33.
100
0
100
0
0
20
40
60
80
100
%
Área 1 Área 2
Sim
Não
Gráfico 33 – Uberlândia (MG): tem conhecimento sobre a doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Todavia, quando questionados sobre como se contrai doença, 28,6% dos
entrevistados da área 1 e 2, não souberam responder (Gráfico 34). Esse índice poderia ser
ainda maior, pois grande parte dos entrevistados informou que sabia apenas que a
contaminação era feita pela picada do barbeiro, mas não tinham informação de que era
necessário o barbeiro estar contaminado pelo T. cruzi e, ainda, o fato de ele ter que defecar
próximo à picadura e a pessoa coçar, levando o protozoário para dentro do orifício da pele
aberto durante a picada.
Informações sobre outra forma de contágio natural também foram repassadas aos
moradores, como a ingestão de alimento contaminado pelo T. cruzi, a exemplo da garapa
da cana-de-açúcar e do açaí; ou, ainda, pela contaminação ocular, que ocorre no ato de
coçar os olhos com o dedo contaminado. Muitos mostraram espanto, pois acreditavam que
bastava apenas o babeiro picar e a pessoa já estaria automaticamente contaminada pelo
protozoário.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
149
71,4
28,6
71,4
28,6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
Área 1 Área 2
Sim
Não
Gráfico 34 – Uberlândia (MG): conhecimento sobre como contrai a doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Sobre o registro de algum caso da doença na família, na área 1, os moradores, cerca
de 43%, informaram que tinham algum parente portador da enfermidade, sendo que alguns
já vieram a óbito, pois eram pessoas mais idosas, geralmente tios e avós. Na área 2, esse
percentual caiu para menos de 30% (vide Gráfico 35). E, em alguns dos relatos, afirmaram
que o parente nem era da região.
42,9
57,1
28,6
71,4
0
10
20
30
40
50
60
70
80
%
Área 1 Área 2
Sim
o
Gráfico 35 – Uberlândia (MG): caso da doença na família, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Sobre o fato de ter feito exames para diagnosticar se é portador da doença, os
índices registrados na área 1 e 2 foram os mesmos 71,4% (vide Gráfico 36), realizados
principalmente sob orientação médica, em exames que tentavam diagnosticar os motivos
que levavam a pessoa a passar mal e procurar auxílio médico.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
150
71,4
28,6
71,4
28,6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
%
Área 1 Área 2
Sim
o
Gráfico 36 – Uberlândia (MG): realização de exames para diagnosticar se é portador da
doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Em relação ao conhecimento sobre as conseqüências da doença, a população
residente na área 1 mostrou-se mais informada, 71,4% conseguiram informar os danos
causados ao organismo, principalmente no coração. Na área 1, apenas 42,9% dos
moradores afirmaram ter informações sobre as conseqüências da doença (vide Gráfico 37).
Essa diferença pode estar relacionada ao fato de os moradores da área 1 estarem
localizados numa área historicamente considerada a mais problemática, em relação à
doença de Chagas, o vale do rio Araguari. O maior contato com a endemia, provavelmente,
tenha permitido um maior acúmulo de informações sobre a doença.
71,4
28,6
42,9
57,1
0
10
20
30
40
50
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70
80
%
Árrea 1 Área 2
Sim
o
Gráfico 37 – Uberlândia (MG): conhecimento sobre as conseqüências da
doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
151
Na área 2, era esperado, pelo fato de possuírem melhor escolaridade, que tivessem
maior conhecimento sobre a doença, todavia a hipótese não se confirmou, indicando que o
histórico de pouca ocorrência da doença na área não permitiu que os moradores tivessem
acúmulo de informações sobre o assunto (vide Gráfico 37).
Quando questionados se sabiam como se proteger da doença de Chagas, 71,4% dos
moradores da área 1, que têm maior contato com a enfermidade, não souberam informar o
que deveriam fazer para se proteger. Na área 2, somente 28,6% não sabem (Gráfico 38).
28,6
71,4
71,4
28,6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
%
Área 1 Área 2
Sim
o
Gráfico 38 – Uberlândia (MG): conhecimento sobre como se proteger contra a doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Foi observado, durante as visitas, que os agentes de saúde do PCDCh distribuíam
uma cartilha explicativa sobre ações preventivas contra a doença, nas duas áreas.
Provavelmente, os moradores da área 2, com maior escolaridade e acesso aos meios de
comunicação, conseguiram assimilar melhor os modos de prevenção, se comparados aos
moradores da área 1, com menor escolaridade.
Em relação aos vetores, se sabiam identificar os barbeiros, todos os moradores
entrevistados, da área 1, informaram que conheciam os barbeiros, enquanto que, na área 2,
apenas 28,6% informaram saber identificar os triatomíneos (Gráfico 39).
Esse quadro reflete o que acontece nas duas áreas. Enquanto na área 1, mais
infestada, os moradores sempre tiveram maior contato com os barbeiros, tendo alguns até
relatado que, na juventude, nas casas onde moravam, à noite era difícil dormir, pela grande
quantidade de barbeiros que surgiam das frestas das paredes, na área 2, o grande número
de moradores que não sabem identificar os triatomíneos (71,4%) pode estar relacionado ao
fato de que, nessa região, a ocorrência de triatomíneos sempre foi reduzida.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
152
100
0
28,6
71,4
0
10
20
30
40
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80
90
100
%
Área 1 Área 2
Sim
o
Gráfico 39 – Uberlândia (MG): conhecimento sobre os vetores da doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Sobre os locais em que os barbeiros costumam ser encontrados, os moradores da
área 1 também demonstraram estar mais bem informados. 71,4% responderam que era nos
galinheiros, montes de lenha, cascas de pau, chiqueiro, dentro de casa, debaixo dos
colchões, dentre outros locais. Na área 2, somente 57,1% sabem onde os barbeiros são
comumente encontrados (vide Gráfico 40).
71,4
28,6
57,1
42,9
0
10
20
30
40
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%
Área 1 Área 2
Sim
o
Gráfico 40 – Uberlândia (MG): conhecimento sobre os locais que os vetores podem ser
encontrados, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Sobre o encontro de triatomíneos na localidade, na área 1, grande parte dos
moradores, 85,7%, informou que já encontrou barbeiros, enquanto que, na área 2, esse
número foi de 14,3% (Gráfico 41). Esses dados confirmam as informações do CCZ, de que
os principais focos dos vetores da doença estão concentrados na área 1, ao longo do vale
do rio Araguari, enquanto que, na área 2, a região de relevo dissecado e topo plano, a
encontro de triatomíneos sempre foi pequena.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
153
85,7
14,3
14,3
85,3
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90
100
%
Área 1 Área 2
Sim
o
Gráfico 41 – Uberlândia (MG):encontro do barbeiro na localidade, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Quando perguntados se já ouviram comentários sobre o encontro de barbeiros na
região, inclusive no passado, todos os entrevistados da área 1 responderam positivamente,
demonstrando que a convivência com esses insetos é antiga. Na área 2, apenas 28,6%
responderam que sim. Alguns afirmaram que isso foi há muito tempo e que, atualmente, é
muito raro, na região, alguém comentar sobre o encontro de barbeiros. Isso indica que,
nessa porção do município, mesmo no passado o encontro de triatomíneos era raro (vide
Gráfico 42)
100
0
28,6
71,4
0
10
20
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%
Área 1 Área 2
Sim
o
Gráfico 42 – Uberlândia (MG): ouviu comentários sobre o encontro de
barbeiro na região, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Em relação ao conhecimento de que algum morador da localidade seja portador da
doença de Chagas, na área 1, 42,9% dos entrevistados respondeu que conhecia. Na área 2,
apenas 14,3% conheciam, na localidade, algum portador de doença de Chagas. Esses dados
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
154
indicam que, na área 1, de relevo intensamente dissecado, ainda existem muitas pessoas
que são portadoras dessa enfermidade (Gráfico 43).
42,9
57,1
14,3
85,7
0
10
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30
40
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90
100
%
Área 1 Área 2
Sim
o
Gráfico 43 – Uberlândia (MG): conhece alguém da localidade que tem a doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
5.2.3 - Projeto de Assentamento de Reforma Agrária Zumbi dos Palmares:
considerações sobre a ocorrência de vetores da doença de Chagas
No Brasil, nos últimos 11 anos, foram assentadas, segundo dados do INCRA
(2006), quase 700.000 famílias, em 6.595 projetos de assentamentos, muitos em situação
precária, cuja preocupação com as questões relacionadas ao meio ambiente e à saúde foram
relegadas a segundo plano.
Vários trabalhos sobre a transmissão vetorial da doença de Chagas a relacionam às
condições de moradia e interferência nos nichos ecológicos dos triatomíneos (DIAS,
2002). Outros apontam que a infestação dos domicílios está condicionada à existência de
animais preferidos para a alimentação dos triatomíneos, com a presunção de que a
colonização de biótipos artificiais não se prende ao domicílio em si, mas sim aos seus
habitantes (ARAGÃO, 1983). Também é abordada a problemática de que a doença ocorre,
principalmente, sobre as áreas mais pobres, áreas rurais, onde persistem condições de
desnutrição, analfabetismo, falta de higiene, entre outras, indicando que a melhoria dessas
condições impediria a sua colonização pelos triatomíneos, evitando, assim, o contágio pelo
T. cruzi (SILVA et al, 2000).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
155
No Projeto de Assentamento de Reforma Agrária Zumbi dos Palmares, inserido na
localidade 243 (Fazenda Macumbé), muitas dessas condições foram observadas. Todavia,
após um monitoramento de 3 anos (2004 a 2006), apesar do relato dos moradores de que
viram barbeiros em sua propriedade, não se capturaram exemplares de triatomíneos, nesse
período. Também não foi registrada, nos anos anteriores, pelo CCZ, a ocorrência de
captura. Deste modo, a análise desse ambiente buscou, dentre outros aspectos, averiguar
quais fatores foram determinantes, nessa região do município, diferentemente de outras
localidades, para que não ocorresse captura de triatomíneos.
O PA Zumbi dos Palmares está localizado na zona rural do município de
Uberlândia-MG, na área de relevo dissecado. Seu acesso pode ser feito num percurso de
25,5 Km da sede do município, pela rodovia BR-365, no sentido da cidade de Monte
Alegre (Cartograma 6). Criado no final da década de 1990, o PA Zumbi dos Palmares
possui uma área de 547,6480 ha, dividida em 22 lotes de área aproximada de 18ha. O
assentamento era habitado, no ano de 2006, por 68 pessoas, divididas em 22 famílias
(PACTo, 2006, p.15).
Sua vegetação natural foi intensamente alterada, prevalecendo no local algumas
manchas de cerrado e cerradão. Ao longo dos córregos Macumbé e Limoeiro, verifica-se a
ocorrência de remanescentes de matas ciliares ou de galerias (Figura 79).
Figura 79 - No primeiro plano, cerrado em regeneração, próximo ao
córrego Macumbé. No segundo plano, a sede do lote 2, em
meio a área de pastagem
Autor: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
156
Cartograma - 6
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
157
As principais atividades produtivas desenvolvidas no projeto de assentamento são
os cultivos de gêneros alimentícios em pequena escala, como mandioca, arroz, feijão,
milho e, também, a criação de suínos e aves, praticamente destinados à subsistência. A
pecuária é voltada para a produção de leite, que em grande parte dos casos é a principal
fonte de renda da família, entregue aos laticínios ou utilizado para fabricação e venda de
queijo.
A relação dessas famílias com o ambiente está condicionada a dois fatores
principais. O primeiro está fundamentado na questão técnico-financeira, na qual o baixo
poder aquisitivo dos assentados, somado à utilização de implementos agrícolas simples
resulta em uma pequena produtividade agrícola, que mal garante o sustento da família. O
segundo está baseado na questão sócio-cultural, na qual a relação com o ambiente segue
ainda o modelo produtivo aprendido com seus familiares (pais, avós), ou no acúmulo de
experiências de trabalho nas fazendas, quando eram empregados.
Quando se discute com os moradores a problemática de depósitos de lenha, entulho
de materiais, criação de animais, como aves e suínos, ao lado da casa, de modo
imprudente, apelam para a questão cultural (seus pais ou avós sempre organizaram o
ambiente deste modo) ou comodidade de acesso (vide Figura 80). Desta forma, percebe-se
que a relação com o ambiente, com raras exceções, não está pautada num modelo de
organização que privilegie a questão da saúde, mas sim em modo de vida e hábitos que
muitos não conseguem, ao menos, justificar.
Figura 80 - À esquerda, entulho de materiais, ao lado da sede do lote 9. À direita, amontoado de lenha e
outros materiais, ao lado da sede do lote 1, capazes de atrair insetos e animais peçonhentos
Autor: MENDES, 2006.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
158
Para tentar compreender melhor essa questão, foram realizadas entrevistas e
aplicação de questionários com famílias assentadas, distribuição de caixa entomológica
para a coleta de barbeiros e folheto explicativo sobre o vetor e a doença de Chagas. Além
disso, foi feito um acompanhamento, com visitas mensais às unidades domiciliares, para
barbeiros, continuar as orientações e verificar se houve ou não captura de barbeiros, no
lote.
Com a análise dos questionários e entrevistas, foi possível verificar o conhecimento
dos assentados, relativo à doença de Chagas 100% dos moradores já tinham ouvido falar
da doença e 35% tinham algum caso na família. Quando questionados sobre como se
prevenir da doença, apenas 18% sabiam como deveriam agir, como demonstra o Gráfico
44. Isso demonstra que, apesar de todas as campanhas efetivadas pelo Governo, ainda
existe um número significativo de pessoas que não sabe lidar, de forma correta, com esse
problema.
18%
82%
Sim
Não
Gráfico 44 – Uberlândia (MG): conhecimento sobre como se prevenir
da doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Sobre o contágio pela doença, 55% dos moradores sabem como ocorre a
transmissão; 64% não conhecem as conseqüências da doença e apenas 50% dos
entrevistados já fizeram, pelo menos uma vez, exames para diagnosticar se estavam
contaminados, demonstrando que, praticamente, a metade das famílias assentadas não sabe
se é portadora da doença (vide Gráfico 45).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
159
55%
45%
Sim
Não
Gráfico 45 – Uberlândia (MG): conhecimento sobre o contágio da
doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
A propósito do vetor da doença de Chagas, 86% dos moradores do assentamento
conhecem o barbeiro; 64% sabem onde ele costuma ser encontrado e 35% afirmaram que
encontraram barbeiros em seus lotes, sendo que, destes, 37,5% no quintal, 12,5% no
depósito de madeira e 50% dentro de casa (vide Gráfico 46). Entretanto, vale salientar que
em nenhum dos casos houve a captura do inseto, apenas o relato de sua ocorrência,
pairando a dúvida se o triatomíneo visto era hematófago, predador ou fitófago;
características estas, pelo tamanho do inseto, difíceis de serem verificadas em campo, sem
ocorrer a sua captura.
86%
14%
Sim
Não
Gráfico 46 – Uberlândia (MG): conhecimento sobre o vetor da
doença, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Quanto às condições de moradia, 50% são de alvenaria com reboco e sem laje, 36%
sem reboco e sem laje, 9% com reboco e laje e apenas 5% de madeira (vide Gráfico 47). Se
comparadas às condições de habitações das famílias de baixa renda, em meados do século
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
160
passado, observa-se uma sensível melhoria, seja no tipo do material utilizado, seja na
qualidade das moradias (Figura 81). Mas se compararmos ao fato de que a metade dos
relatos da ocorrência dos babeiros localizados foi encontrada dentro de casa, isso
demonstra que o vetor da doença, mesmo com a melhoria das moradias, ainda continua se
alojando na casa dos assentados.
50%
36%
9%
5%
Alvenaria com reboco e sem laje
Alvenaria sem reboco e sem laje
Alvenaria com reboco e laje
Madeira
Gráfico 47 – Uberlândia (MG):condições da moradia, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Figura 81 – Uberlândia (MG): à esquerda, casa de alvenaria sem reboco (Lote 13); à direita, casa feita de
madeira (Lote8)
Autor: MENDES, 2006.
Sobre o tempo de moradia, 9,1% dos moradores vivem no assentamento há menos
de dois anos; 54,5%, de quatro a seis anos, e 36,4% há mais de seis anos, o que justifica o
fato de grande parte das casas estarem inacabadas, somado ao baixo poder aquisitivo (vide
Gráfico 48).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
161
0,0
9,1
0,0
54,5
36,4
0
10
20
30
40
50
60
%
Menos 1
ano
De 1 a 2
anos
De 2 a 4
anos
De 4 a 6
anos
Mais de
6 anos
Gráfico 48 – Uberlândia (MG):condições da moradia, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Em relação aos animais domésticos, 77,2% dos assentados possuem cachorro;
50,0% possuem gatos; 70,7% criam aves; 56,4% suínos; 68,1% cavalos e 81,8% gado
destinado a reprodução e produção de leite. Merece destaque a criação de cães, gatos e
galinhas, que vivem soltos no quintal e, em muitos casos, até mesmo dentro de casa
(Figura 82).
Figura 82 - Criação de cachorros e aves junto das casas do lote 12 e 14
Autor: MENDES, 2006.
Em relação ao perfil sócio-econômico dos moradores, 59% deles ganham menos de
um salário mínimo; 27% entre um e dois salários mínimos, enquanto apenas 4,5% mais de
três salários mínimos (vide Gráfico 49). Isto está relacionado ao fato de que a principal
fonte de renda dessas famílias é a produção para a subsistência, seguida do comércio do
excedente como o leite, o queijo, a mandioca, dentre outros.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
162
1
13
6
1
1
02468101214
%
Sem renda
Menos de 1
De 1 a 2
De 2 a 3
Mais 3
salários
Gráfico 49 – Uberlândia (MG): perfil econômico dos moradores, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Quanto ao nível de escolaridade, 77,4% não chegaram a completar a 4ª série do
Ensino Fundamental; 9% são analfabetos, enquanto apenas 4,6% concluíram o Ensino
Médio (vide Gráfico 50). Esse dado social, nesse contexto, é preocupante, pois gera
implicações sobre o meio ambiente e a saúde pública, já que representa uma parcela da
população com difícil acesso a atividades e informações sócio-culturais e até mesmo
profissionais. Tais informações são de extrema relevância para a adoção de modos
produtivos mais apropriados na área do assentamento, o que se refletiria, de forma direta,
na melhoria da saúde dos moradores e na sustentabilidade ambiental do assentamento.
77,4
9
4,6
9
0
10
20
30
40
50
60
70
80
%
1 a 4 série 5 a 8 série Ensino Médio Analfabeto
Gráfico 50 – Uberlândia (MG): escolaridade dos moradores, 2007
‘Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
163
Com relação à faixa etária e o tipo de atividade dos proprietários dos lotes, 13,7%
têm menos de 40 anos; 22,7%, entre 41 e 50 anos; 31,9%, de 51 a 60 anos; 22,7%, de 61 a
70 anos e somente 9% mais de 70 anos. Considerando os 30% dos proprietários que têm
mais de 60 anos, estes terão que contar com os filhos, para a produção no lote (vide
Gráfico 51).
13,7
22,7
31,9
22,7
9,0
0
5
10
15
20
25
30
35
%
Até 40
anos
De 41 a 50 De 51 a 60
anos
De 61 a 70
anos
Mais 71
anos
Gráfico 51 – Uberlândia (MG): faixa etária dos moradores, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
Sobre os tipos de doenças que os assentados apresentam, merece destaque a doença
de Chagas, com quatro casos; diabetes, com três casos e hipertensão, com dois casos
registrados. Quando questionados sobre a busca de tratamento, 85% dos assentados vão
para as UAIs (Unidades de Atendimento Integrado), na cidade de Uberlândia-MG.
Em relação à percepção ambiental dos moradores, relacionada ao sentimento de
pertencimento sobre o lugar, apesar da baixa renda auferida, alimentação simples e das
dificuldades de acesso aos serviços de saúde, as respostas demonstram sentimento de
prazer e segurança em serem donos de sua própria terra.
Quando indagados sobre os principais problemas do assentamento, as respostas
foram unânimes: a falta de crédito e assistência técnica, assim como os conflitos entre as
duas associações existentes. Em relação à destinação do lixo, 86% dos moradores
afirmaram que queimam, enquanto 14,5% disseram que enterram, demonstrando um lado
positivo no trato com o meio ambiente, pois em raríssimos casos foi verificada a presença
de lixo espalhado nos quintais. Tal fato se relaciona à possibilidade de ingestão do lixo
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
164
pelas criações, podendo ocasionar a sua morte. Essa preocupação com o meio ambiente
está mais relacionada a fatores econômicos do que com a sustentabilidade ambiental.
86%
14%
Queimado Enterrado
Gráfico 52 – Uberlândia (MG): destinação do lixo, 2007
Fonte: Pesquisa direta, 2007.
As questões ambientais, para os assentados, são importantes, mas são postas em
segundo plano, em razão das carências econômicas e condições precárias de sustento das
famílias. Sobre a relação ambiente-doença de Chagas, mesmo depois de alertados sobre os
depósitos de lenha, os galinheiros e a criação de porcos muito próximo das casas, não foi
observada nenhuma mudança de atitude. Deste modo, conclui-se que os problemas
apresentados tanto no assentamento como nas outras propriedades, não são decorrentes, em
sua maioria, da falta de informação. A grande parte das famílias sabe o que deve fazer para
manter um ambiente saudável que favoreça o bem-estar da família. Entretanto, não o faz
por questões de tradição e cultura. Para mudança de atitude e hábitos é necessário que as
pessoas sejam convencidas, não somente da importância, mas da urgência de agir de forma
adequada em relação ao ambiente.
5.3 – Uberlândia (MG): distribuição geográfica e indicadores entomológicos de
triatomíneos sinantrópicos capturados no período de 2004 a 2007
As atividades de combate ao vetor da doença de Chagas, no município de
Uberlândia, tiveram suas ações intensificadas, como em outras regiões do estado de Minas
Gerais, a partir da década de 1970 e 1980. Em 1988, foi criado o CCZ de Uberlândia,
subordinado à Secretaria Municipal de Saúde do município, sendo este o primeiro do
interior do Brasil.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
165
A partir de 1999, as atividades relacionadas ao controle de endemias, dentre elas a
doença de Chagas, passaram a ser de responsabilidade dos estados e municípios, por meio
da Gerência Regional de Saúde (GRS), vinculada à Secretaria Estadual de Saúde. Em
Minas Gerais, as GRS estão sediadas em mais de 20 municípios mineiros, dentre eles
Uberlândia, cujas ações relacionadas ao controle de endemias é de responsabilidade do
Centro de Controle de Zoonoses, inclusive o PCDCh (Programa de Controle da Doença de
Chagas).
Em Uberlândia, as atividades relacionadas ao PCDCh são coordenadas pelo
Laboratório de Entomologia do CCZ. Devido à melhoria da situação epidemiológica do
município, no final da década de 1990 restringiu-se a busca ativa de triatomíneos e
borrifação às áreas de notificação de captura pela população, que notificam o CCZ sobre o
achado ou encaminham os triatomíneos apreendidos para um dos 27 PITs espalhados pela
zona rural, mensalmente visitados por uma das duas equipes de campo do PCDCh que
utiliza, como base para suas atividades de vigilância e pesquisa, as localidades definidas
pela SUCAN, na década de 1970.
A avaliação dos objetivos alcançados pelo PCDCh nas áreas trabalhadas é
realizada, rotineiramente, pela análise de indicadores entomológicos. A fase de
vigilância ou de consolidação do PCDCh só é instalada nos municípios quando
são alcançados os seguintes resultados: ausência das espécies domiciliares
Triatoma infestans e Triatoma rubrofasciata, ausência de espécies não nativas
na área e ausência de colônias intradomiciliares de qualquer espécie de
triatomíneo (MS/Sucam, 1986; Moreno et al., 1992 apud Carneiro, M. &
Antunes, C. M. F., 1994, p.10)
O CCZ de Uberlândia tem, sob sua supervisão, 243 localidades, distribuídas no
espaço rural, e mais outras dezenas espalhadas no espaço urbano do município, sendo
numeradas a partir de 244. As localidades definidas pela SUCAN (atual FUNASA) são
identificadas em um mapa base, a partir do qual, para o desenvolvimento deste trabalho,
foram confeccionados cartogramas representativos do ano, local, espécie e quantidade de
triatomíneos sinantrópicos capturados no município, analisados a seguir, inicialmente em
relação às ocorrências anuais e, posteriormente, em relação à espécie encontrada.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
166
5.3.1 – Localidades averiguadas e indicadores entomológicos no período
selecionado para análise
No ano de 2004, conforme mostra o Cartograma 8, foram capturados 49
triatomíneos no município, sendo dois P. megistus, um P. diasi, um R. prolixus, seis R.
neglectus e 39 T. sordida. O maior número de captura esteve concentrado na região do vale
do rio Araguari (Área 1), classificado por Baccaro (1989), como área de relevo
intensamente dissecado.
Nessa região merece destaque a localidade 131, onde foram capturados 14 T.
sordida no mês de maio, ambos no peridomicílio, mais precisamente na varanda da casa.
Nesse mesmo ano, na área 2, foram apreendidos apenas dois triatomíneos, um T. neglectus
positivo, no bairro Liberdade, e dois da mesma espécie, na localidade Fazenda Macumbé,
no intradomicílio.
Os inquéritos entomológicos de 942 unidades domiciliares (Tabela 9), executados
em 45 localidades do município, resultaram num índice de infestação no intradomicílio de
1,5% e, no peridomicílio, de 1,1%. O índice de infestação domiciliar atingiu 2,5%,
indicando que, no ano de 2004, a situação epidemiológica do município se encontrava
numa situação confortável, se comparada a outros municípios mineiros, principalmente
localizados na porção norte do estado de Minas Gerais.
TRIATOMA
Intradomicílio Peridomicílio
Total
Capturados Positivos Capturados Positivos
Macho 7 0 7 1 14
Fêmea 9 0 6 0 15
Ninfa 1 0 19 0 20
T. GERAL 17 0 32 1 49
Tabela 9 – Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados nas 942 unidades
domiciliares no ano de 2004
Fonte: CCZ, 2007. Org.: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
168
O cálculo do índice de infecção natural municipal, nesse mesmo ano, resultou numa
taxa de infecção no intradomicílio de 5,6%; no peridomicílio, os dados apontaram que não
houve infecção, o que deu origem a um índice de infecção natural, em 2004, de 2,2%. Já o
índice de colonização, no município, atingiu 6,7%, causado pela ocorrência de ninfa no
intradomicílio, da espécie T. sordida, na Fazenda Barra, localizada no vale do rio Araguari.
Além disso, essa região do município foi a principal responsável pela elevada taxa
de dispersão municipal, que atingiu um índice de 31,1%, ou seja, 95,9% das localidades
positivas, no ano de 2004, estavam inseridas nessa região de relevo dissecado.
No ano de 2005, os agentes de saúde do CCZ averiguaram 1220 unidades
domiciliares, distribuídas em 57 localidades do município de Uberlândia (MG). As
investigações, no intradomicílio e peridomicílio, resultaram na captura de 106
triatomíneos, na região de relevo dissecado, intensamente dissecado e com topo plano
(Cartograma 8).
Foram identificadas, ao todo, 52 triatomíneos, da espécie P. megistus, sete da
espécie R. neglectus e 47 da espécie T. sordida. Comparando os indicadores de infestação
domiciliar, verificou-se que a infestação, no peridomicílio, em 2005, foi substancialmente
maior que no intradomicílio (Tabela 10). Em termos percentuais, no intradomicílio foram
capturados 14,2% dos triatomíneos, enquanto no peridomicílio o índice alcançado foi de
85,8%.
TRIATOMA
Intradomicílio Peridomicílio
Total
Capturados Positivos Capturados Positivos
Macho 9 1 15 0 24
Fêmea 5 0 37 0 42
Ninfa 1 0 39 0 41
T. GERAL 15 1 91 0 106
Tabela 10 – Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados nas 1220 unidades
domiciliares no ano de 2005
Fonte: CCZ, 2007. Org.: MENDES, 2007.
Em relação ao índice de infestação municipal, calculado pela relação entre o
número de casas pesquisadas positivas e o número de casas pesquisadas, a taxa foi de
2,2%; sendo o índice de infestação, no intradomicílio, 1,2%, e no peridomicílio, 1%,
indicando uma ligeira queda, comparado às taxas do ano 2004.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
170
O índice de infecção natural, no intradomicílio, foi de 6,7%, enquanto que, no
peridomicílio, não ocorreu infecção. A taxa de infecção natural foi de apenas 0,9%,
decorrente do fato de se ter encontrado apenas um triatomíneo, da espécie P. megistus,
contaminado pelo Tripanosoma cruzi, na localidade 233, denominada Fazenda Laje.
O cálculo da taxa de colonização municipal resultou num índice de 6,3%, repetindo
praticamente a situação ocorrida no ano anterior. O índice de dispersão municipal, que leva
em consideração a somatória das localidades positivas em relação ao total de localidades
pesquisadas, foi 29,8%, sendo esta a menor taxa de dispersão encontrada, no período
selecionado para análise. Com exceção das localidades 274, onde foi capturado um
R.neglectus, e a localidade 233, onde se capturou um P. megistus, todas as outras capturas
ocorreram ao longo do vale do rio Araguari, como pode ser observado na Cartograma 9.
Em 2006 foi executado, pelo CCZ, inquérito entomológico, em 822 unidades
domiciliares, sendo que em 28 destas foram encontrados triatomíneos (Tabela 11). Esses
indicadores foram responsáveis por uma taxa de infestação domiciliar de 3,4%. No
intradomicílio e peridomicílio foram registrados, respectivamente, 2,7% e 0,7%. As
principais localidades responsáveis pela elevação desses índices, em relação aos anos
anteriores foram a localidade (18) Fazenda Lagoa, com a captura de 11 triatomíneos, das
espécies T. sordida e R. neglectus e, também, a localidade 67 (Fazenda Lage), onde foram
capturados 67 triatomíneos da espécie P. megistus, como mostra o Cartograma 9. Além
desse fator, ocorreu uma redução de 32,6% no número de unidades domiciliares visitadas,
em relação ao ano 2005.
TRIATOMA
Intradomicílio Peridomicílio
Total
Capturados Positivos Capturados Positivos
Macho 11 0 4 0 15
Fêmea 13 0 9 0 22
Ninfa 9 0 12 0 21
T. GERAL 33 0 25 0 58
Tabela 11 – Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados nas 822 unidades
domiciliares no ano de 2006
Fonte: CCZ, 2007. Org.: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
172
A distribuição geográfica dos locais de captura, mais vez, indicou que a região mais
endêmica do município se encontra na região de relevo intensamente dissecado,
acompanhando o vale do rio Araguari, onde estão inseridas 84,2% das localidades que
registraram ocorrência de captura, no ano de 2006. Na área de relevo dissecado e topo
plano, as capturas ocorreram em apenas três localidades, correspondendo a um percentual
de apenas 15,8%.
Em relação ao índice municipal de infecção natural, no ano de 2006, os exames de
infecção por Tripanosoma cruzi, realizados no Laboratório de Entomologia do CCZ, não
capturaram barbeiros contaminados no intra e peridomicílio, sendo, portanto, a taxa de
infecção natural zero, nesse ano. Já o índice de colonização atingiu a maior taxa dos quatro
anos selecionados para análise, ou seja, 36,4%. Esse percentual é decorrente das capturas
de ninfas das espécies T. sordida e P. megistus, no intradomicílio, principalmente nas
localidades inseridas na área de relevo dissecado.
O índice de dispersão municipal, nesse ano, também foi elevado, sendo registrados
32,2% de dispersão em relação às 59 localidades pesquisadas. Observando o cartograma de
captura de triatomíneos, em 2006, pode-se verificar que apenas nas localidades 155, 187 e
244, inseridas fora do vale do rio Araguari, registrou-se a presença dos triatomíneos.
No ano de 2007, foi realizado inquérito entomológico em 821 unidades
domiciliares, distribuídas em 32 localidades, sendo que, destas, 15 demonstraram resultado
positivo (Tabela 12). Nesse ano, o número da capturas foi de apenas 23 triatomíneos,
distribuídos entre as seguintes espécies: sete P. megistus, quatro P. diasi, três R. neglectus
e nove T. sordida.
TRIATOMA
Intradomicílio Peridomicílio
Total
Capturados Positivos Capturados Positivos
Macho 11 0 0 0 11
Fêmea 7 0 2 0 9
Ninfa 1 0 3 0 4
T. GERAL 19 0 5 0 24
Tabela 12 – Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados nas 821 unidades
domiciliares no ano de 2007
Fonte: CCZ, 2007. Org.: MENDES, 2007.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
173
A região de maior incidência de captura foi a área de relevo intensamente
dissecado, que concentrou 73% das localidades positivas e 82,6% dos triatomíneos
capturados. Com destaque para a Fazenda Barra Grande com cinco triatomíneos
capturados e a Fazenda Lincoln, com quatro capturas (Cartograma 10).
Nas áreas de relevo plano e de relevo dissecado, foram capturados três
triatomíneos, no espaço rural, distribuídos nas seguintes localidades: Fazenda Pedra,
Fazenda Bebedouro e Fazenda Taperão. No espaço urbano foi capturado um triatomíneo,
da espécie R. neglectus, no bairro Guarani, na primeira quinzena de dezembro.
O índice de infestação municipal, em 2007, foi de 2,2%. No intradomicílio
registrou-se uma taxa de 1,8% e, no peri, 0,4%, demonstrando uma sensível redução em
comparação aos indicadores entomológicos do ano de 2006. Quanto ao índice de infecção
natural, devido à não ocorrência de capturas de triatomíneos positivos, o índice foi zero.
No que diz respeito à taxa de colonização municipal, o índice encontrado foi de
6,7%. Esse indicador está relacionado à captura de uma ninfa da espécie T. sórdida,
encontrada no quarto de uma propriedade da localidade Fazenda Barra. Em relação ao
índice de dispersão municipal, foi encontrada uma taxa de 46,9%, a maior registrada em
todo o período de análise. Este indicador é fruto da grande quantidade de localidades
positivas visitadas, em relação ao pequeno número de localidades visitadas, servindo de
alerta ao PCDCh. Foram capturados poucos barbeiros em relação aos anos anteriores (24),
mas os índices estão altos. Isso indica que se fossem intensificados os inquéritos,
provavelmente a captura de triatomíneos seria maior.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
175
5.3.2 – Distribuição espacial das espécies de triatomíneos sinantrópicos
capturados, no período de 2004 a 2007
A espécie de triatomíneo Panstrongylus diasi (Figura 83) pertence ao gênero
Panstrongylus, que possui ampla distribuição geográfica, sendo encontrado desde o
México até o sul da Argentina, em habitats terrestres sempre associado a mamíferos e aves.
A descrição desse gênero, assim denominado por Berg em 1879, baseado na espécie
Panstrongylus guentheri, foi publicado em Buenos Aires em 1979. No Brasil, sua principal
área de ocorrência abrange os estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Rio
Grande do Norte, São Paulo, Tocantins e Espírito Santo (CARCAVALLO et al., 1999;
GALVÃO et al., 2003, SANTOS, 2004).
Figura 83 – Uberlândia (MG): exemplar de Panstrongylus diasi
Autor: MENDES, 2007.
Em Uberlândia, no período selecionado para análise, foram capturados, ao todo,
seis exemplares dessa espécie. O primeiro no mês de outubro de 2004, no Povoado
Cruzeiro dos Peixotos, localidade 20, como mostra o Cartograma 11, situado a 24
quilômetros da sede do município. Esse exemplar era uma fêmea adulta, localizada no
intradomicílio, mais precisamente, no quarto.
O segundo exemplar do P. diasi foi capturado em 2006, na localidade 44 (Fazenda
Pedreira). Desta vez foi um macho adulto, descoberto na cozinha da residência, no mês de
maio. Os outros quatro exemplares foram todos capturados no ano de 2007. A primeira
ocorrência do ano foi no mês de janeiro, uma fêmea adulta capturada na sala da casa 36,
pertencente à localidade 155 (Fazenda Pedra). Essa localidade está inserida no vale do rio
Uberabinha, fazendo limites com o perímetro urbano da cidade.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
177
A segunda captura ocorreu no mês de maio, na casa 25 da localidade 65 (Fazenda
Cocal). Era um macho adulto, capturado na parede da sala. A terceira ocorreu no mês de
julho, uma fêmea adulta encontrada no intradomicílio da casa 07, na localidade 48
(Fazenda Paraúna). Já o último exemplar da espécie P. diasi capturado foi uma fêmea
adulta, no peridomicílio da casa 6, na localidade 60 (Fazenda Abacaxi).
Em relação à distribuição geográfica dessa espécie, como pode ser observado no
Cartograma 11, apenas um exemplar foi encontrado fora da região de relevo intensamente
dissecado, caracterizado pela existência, ainda, de significativos remanescentes de mata.
Todavia, ao se observar a região, onde esse único exemplar foi capturado, nota-se que a
propriedade está localizada junto a uma grande área de mata mesófila semi-decídua, que
faz parte da mata ciliar que acompanha o leito do rio Uberabinha (Figura 84), evidenciando
que os reservatórios desse vetor, no município, estão ainda relacionados a ambientes de
mata. O fato de ter sido encontrado no intra-domicílio indica um significativo potencial de
domiciliação dessa espécie.
Figura 84 – Uberlândia (MG): vista parcial da casa 36 da localidade Fazenda Pedra construída junto à mata
ciliar do rio Uberabinha
Autor: MENDES, 2007.
A espécie de triatomíneo Panstrongylus megistus (Figura 85) é própria do Brasil,
com os machos medindo de 26 - 34 mm e as fêmeas 29 - 38 mm. Sua cor geral é negra,
com manchas vermelhas. Originário da Mata Atlântica, associado principalmente a
gambás, no ambiente silvestre, ocupa especialmente as regiões de clima úmido, sem
grandes amplitudes térmicas. Sua importância como vetor diminui de São Paulo para o Sul,
paralelamente à diminuição de sua densidade intradomiciliar. É a espécie mais importante
na transmissão da doença da Chagas no Brasil, podendo ser domiciliado ou silvestre. O P.
megistus coloniza tanto matas densas como matas residuais. Tem potencial para colonizar
anexos e intra-domicílios, apresentando grande potencial de reinfestação, exigindo controle
e vigilância permanentes (PINTO, 2000).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
178
Figura 85 – Uberlândia (MG): exemplar de Panstrongylus megistus
Fonte: Fiocruz, 2007.
No município de Uberlândia, entre o ano de 2004 a 2007, foram capturados 79
exemplares da espécie P. megistus, sendo 2005 o ano de maior ocorrência de captura, com
destaque para a localidade 28 (Fazenda Nova), na casa 14, onde foram capturados 43 P.
megistus no peridomicílio, mais precisamente no galinheiro, sendo 13 fêmeas e 30 ninfas,
no mês de março e abril. Sobre essa espécie merecem destaque, também, as capturas
ocorridas no ano de 2006, na localidade 67 (Fazenda Laje), casa 4, onde foram apanhados
12 exemplares no paiol, consistindo em seis machos, duas fêmeas e quatro ninfas, no mês
de dezembro.
A localidade 28 está distante 15 quilômetros da sede do município, inserida na área
de relevo intensamente dissecado, com acesso pela Estrada Municipal Neuza Rezende. Na
localidade, predomina a criação de rebanho bovino, em pastagens abertas, nas vertentes
voltadas para o rio Araguari. Nela, ainda são encontrados vários capões de mata,
principalmente nas encostas mais inclinadas e ao longo dos cursos d`água que deságuam
no rio Araguari. Várias fazendas, na localidade, foram construídas ao longo desses canais
fluviais, aproveitando a fertilidade do solo e o acesso mais rápido à água corrente.
A localidade 67, por sua vez, tem seu acesso pela BR-365, sentido Patrocínio,
estando localizada a 10 quilômetros da área central da cidade. A casa 14, da Fazenda Nova,
encontra-se em uma região próxima às cabeceiras de córregos que deságuam no Rio
Araguari, sendo praticada, em uma pequena área da localidade, cultura de soja, nas partes
mais elevadas. Já na parte mais dissecada, predominam pastagens. Nessa localidade, ainda
podem ser observadas algumas manchas de cerrado e mata-mesófila semidecídua,
associadas aos cursos d`água.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
179
Nas casas onde foram capturados os barbeiros, foi executado pelo CCZ, por meio
de borrifação, o controle químico com inseticidas da classe dos piretróides, no
intradomicílio e peridomicílio. Na localidade 28, não foram verificadas novas presenças de
triatomíneos, nos anos seguintes. Já na casa 4, da localidade 67, foram capturados mais três
P. megistus, no mês de janeiro de 2007, no galinheiro, sendo uma fêmea e duas ninfas,
demonstrando o grande potencial de reinfestação dessa espécie.
Em relação à distribuição geográfica, essa espécie foi a que apresentou melhor
dispersão espacial no município, como mostra o Cartograma 12, destacando os exemplares
capturados fora da região de relevo intensamente dissecado, nas localidades 170, 179 e
187, pelo fato de essas localidades apresentarem condições ambientais semelhantes, como
proximidade de ambiente de mata, que margeia grandes cursos d´água do ribeirão Estiva,
ribeirão do Panga e rio Tijuco e, ainda, anexos com depósitos de utensílio agrícola,
galinheiro e curral, confirmando os trabalhos de Foratinni (1977) sobre essa espécie.
Quanto ao Panstrongylus megistus, sua persistência em pequenas manchas de
mata residual não lhe diminui a capacidade de adaptação aos ecótopos
artificiais. A capacidade de colonização em ambiente domiciliar parece
depender da proliferação de anexos, utilizados como abrigos de animais
domésticos e domiciliados (FORATINNI, 1977, p.7).
Na região de relevo intensamente dissecado, que acompanha o vale do rio Araguari,
ocorreram 96% das capturas. Essa região, inicialmente, era tomada principalmente por
mata semidecídua, relacionada aos solos de terra roxa e a uma rica rede de drenagem.
Ainda hoje essa região preserva significativos remanescentes de mata, que podem estar
sendo utilizados como reservatório natural, por essa espécie.
A espécie Rhodnius prolixus (Figura 86) é considerada uma das mais importantes
na transmissão vetorial da doença de Chagas no Brasil, por sua grande capacidade de
domiciliação. No Brasil já foi reportado nos estados do Amazonas, Goiás, Maranhão,
Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, além de São Paulo, onde foi
encontrado coabitando com R. neglectus, em ninhos de pássaros de casas abandonadas
(LENT & WYGODZINSKY,1979; PINHO et al., 1998; TAVARES, 1971). O R. prolixus
se adapta muito bem nos domicílios e peridomicílios humanos, sendo encontrado em
grande parte da América do Sul e Central. Sua base alimentar é ampla; além do sangue
humano, ele se alimenta também do sangue de aves, cães, gatos, gambás e roedores.
(SILVA, 2001, p.2).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
181
Figura 86 – Uberlândia (MG): exemplar de Rhodnius prolixus
Fonte: ARTICLEIMAGES, 2007.
Em Uberlândia, durante todo o período selecionado para análise, foi capturado
apenas um exemplar dessa espécie. Por apresentar vários aspectos semelhantes ao T.
neglectus, foi levantado, junto ao CCZ, a possibilidade da identificação errônea desse
exemplar. Todavia, foi confirmado que a espécie era mesmo um R. prolixus.
É sabido que não é fácil a diferenciação específica desses dois triatomíneos.
Freqüentemente, os serviços encarregados do controle da tripanossomíase
americana tem esbarrado com dificuldades no diagnóstico rotineiro. As formas
adultas são muito semelhantes, o que obriga a estudos de morfologia de genitália
para alcançar identificação satisfatória (FORATINNI, 1974, p.2).
Esse único exemplar foi capturado no mês de junho de 2004, no peridomicílio
(galinheiro) da casa 5, situada na localidade 78 (Fazenda Boa Esperança – vide Cartograma
13). Nessa fazenda, também foram encontrados mais três exemplares do T. sordida no
intradomicílio, dois no peridomicílio e um P. megistus no intradomicílio.
A localidade Fazenda Boa Esperança é acessada pela BR-452, sentido Araxá,
estando situada a uma distância de, aproximadamente, 25 quilômetros da sede do
município, na área de relevo intensamente dissecado, com o predomínio de atividade
econômica voltada para pecuária, juntamente com cultura anual do milho e outros produtos
para subsistência.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
183
Na localidade, apesar da formação do lago da Hidrelétrica de Miranda, em 1997,
conseguiu-se ainda preservar expressivas áreas, cobertas por cerrado e capões de mata
semidecídua, tidas com área de reserva das fazendas. Essa área é de ocupação muito
antiga, onde se tem notícias de vários moradores que contraíram a doença, nas fazendas da
região, em meados do século passado.
Outra espécie de triatomíneo, capturado em Uberlândia, foi o R. neglectus (Figura
87), do gênero Rhodnius, que, segundo levantamentos, é considerado o mais amplamente
distribuído no Brasil, sendo encontrado, com freqüência, em algumas espécies de
palmeiras dos gêneros Attalea, Acrocomia e Mauritia Linnaeus, ninhos de pássaros e de
mamíferos. Em relação ao seu potencial de infestação nas unidades domiciliares, apesar de
os exemplares capturados e analisados apresentarem baixos índices de infecção pelo T.
cruzi, tem sido observado, nos estados de Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e
Paraná, sua ocorrência no peridomicílio e intradomicílio das habitações no espaço rural,
fato este que pode estar relacionado a sua capacidade de dispersão, que lhe permite
atravessar distâncias consideráveis (GONÇALVES e CUBA, 2007).
Figura 87 – Uberlândia (MG): exemplar de Rhodnius neglectus
Fonte: Sucen. 2007.
Um trabalho feito por Diotaiuti e Dias (1984), na periferia de Belo Horizonte
(MG), verificou uma taxa de infestação, em um grupo de 81 macaubeiras (A. sclerocarpa),
de 60,5%, sendo o índice de infecção pelo T. cruzi de 15,9 %. Os resultados desse trabalho
apontaram que a densidade populacional do R. neglectus, no seu ecótopo natural, possa
estar relacionada com a disponibilidade de alimento e com a presença de seus predadores
como formigas, aranhas, escorpiões, dentre outros. Sua presença na região está
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
184
estreitamente associada à palmeira de macaúba, sendo o sangue das aves que as
freqüentam sua principal fonte alimento.
Em Uberlândia, no período selecionado para análise, foram capturados 21 R.
neglectus, sendo que 85,7% destes foram encontrados na região do vale do rio Araguari,
onde é comum a presença daquela palmeira, associada às áreas de ocorrência de terra-roxa,
principalmente. Apesar dos relatos dos agentes de campo do CCZ, indicando que, nas áreas
com presença de palmeiras, ocorre maior captura desse triatomínio, o que de certa forma
está coerente com a literatura, para correlacionar a ocorrência do R. neglectus às áreas com
palmeiras, no município, seria necessária a realização de estudos, o que poderá ser feito em
trabalhos futuros.
O maior ano de captura dessa espécie foi o de 2005, correspondendo a 33% do total
de ocorrências. Com exceção da captura feita na localidade 244 (bairro Liberdade), todas
as outras foram efetuadas na região de relevo intensamente dissecado. Quando se observa a
distribuição espacial das localidades positivadas pelo R. neglectus, merecem destaque as
localidades 78, 81, 85 e 91 (Cartograma 14), inseridas na região dos loteamentos de
chácaras de lazer denominadas Miranda I, Miranda II e Miranda III, pelo fato de, nessas
áreas, terem sido capturados 24% de todos o R. neglectus do período selecionado para
análise, indicando necessidade de maior acompanhamento do comportamento dessa
espécie, nessa região no município.
Por fim, o Triatoma sordida (Figura 88), a última espécie da lista daquelas
encontradas em Uberlândia, entre os anos de 2004 e 2007, caracteriza-se por ser,
predominantemente, peridomiciliar, sendo, atualmente, a mais capturada, no Brasil. Suas
atividades de disseminação e posterior formação de colônias ocorrem com maior
freqüência em áreas abertas, com notável expressão em pastagens munidas da presença de
cascas e troncos de árvores mortas. Sua aproximação das habitações humanas, construídas
no espaço rural, não é motivada, inicialmente, pela presença do homem, mas levada pela
dispersão e sobrevivência da espécie (FORATTINI, 1974).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
186
Figura 88 – Uberlândia (MG): exemplar de Triatoma sordida
Fonte: Sucen, 2007.
No peridomicílio, o T. sordida faz, principalmente das aves domésticas, sua fonte
de alimento. Todavia, uma vez instalado no interior da casa habitada, o T. sordida, nesse
novo ecótopo, inclui também o homem na base alimentar. Assim, T. sordida continua a
representar risco potencial de transmissão do T. cruzi, pela sua capacidade de infestação ou
reinfestação das habitações. O controle feito com base no uso de inseticidas apresenta bons
resultados. Entretanto, em áreas de ocorrência de nichos ecológicos, nas proximidades das
habitações, os riscos de reinfestações, principalmente no peridomicílio, são elevados
(FORATTINI, 1974).
No período analisado em Uberlândia, o T. sordida, comparado às outras espécies
encontradas no município, foi o que apresentou maior número de capturas, 130 ao todo.
Praticamente todas ocorreram ao longo do vale do rio Araguari, que mantém significativos
remanescentes de mata (Cartograma 15). A única exceção foi uma ninfa capturada no
quarto de uma casa localizada no bairro Santa Luzia, no mês de junho de 2006. Ainda
assim, observa-se uma semelhança do local de captura desse exemplar com a área do vale
do rio Araguari, pela presença, a poucos metros, de uma mata exuberante, pertencente ao
parque ecológico municipal do bairro Santa Luzia.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
188
Ao todo, no vale do rio Araguari, foram contabilizadas 24 localidades com
ocorrência de captura, sendo que em 45% delas foram apreendidos até três exemplares. O
destaque fica para as localidades 18 (Fazenda Lagoa), 81 (Fazenda Veadinho), 96 (Fazenda
Barra Grande), 99 (Fazenda Saracura) e 131 (Fazenda Raul Pereira) onde, respectivamente,
se capturaram 10, 12, 12, 13 e 19 exemplares do T. sórdida, o que corresponde a 51% do
total das ocorrências (vide Gráfico 53).
45%
21%
13%
21%
1 a 3
4 a 6
7 a 9
> 10
Gráfico 53 – Uberlândia (MG): índice de captura em relação as localidades
positivadas pela presença do T. Sórdida no período de 2004 a 2007
Fonte: CCZ, 2007. Org.: MENDES, 2007.
A localidade 131 (fazenda Raul Pereira), que apresentou a maior captura, está
localizada a 40 quilômetros da sede do município, podendo seu acesso ser feito pela
Estrada Municipal Professora Neuza Rezende. Encontra-se nas margens do rio Uberabinha,
próximo de sua foz com o rio Araguari. Apesar do desmatamento, guarda ainda muito de
suas características naturais, podendo-se citar os grandes capões de mata, nas vertentes, e a
mata ciliar, que ainda cobre grande parte das margens do rio Uberabinha até sua deságua,
no Rio Araguari. “Assim sendo, a supracitada destruição do meio natural passa a constituir
fator favorável, não apenas pelo aumento do número de ecótopos viáveis como pela
redução ou mesmo eliminação dos competidores.” (FORATTINI, 1979, p.230).
Ao analisar o Cartograma 15, da distribuição geográfica das localidades de captura
do T. sordida, verifica-se que elas estão localizadas muito próximas do leito do rio
Araguari, sendo que algumas, inclusive, tiveram parte de sua área tomada pela formação
do lago das hidrelétricas Capim Branco I e II e também Miranda.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
189
Em relação às condições ambientais, essas localidades possuem aspectos
semelhantes, como predomínio de áreas de pastagens, remanescentes principalmente de
mata mesófila, associada à presença de cursos d`água e, ainda, o cultivo, em áreas de
pequena extensão, de gêneros agrícolas, como milho e mandioca. Essas condições,
segundo os trabalhos de Forattini (1974 e 1979), contribuem, nas áreas de ocorrência do T.
sordida, para que este venha a invadir os domicílios e peridomicílios das habitações da
região: “[...] a alteração da cobertura vegetal parece, pelo menos até certo ponto, propiciar-
lhe a dispersão. E isso porque tal devastação resulta na multiplicação de alguns tipos de
ecótopos, representados por árvores secas” (FORATTINI, 1979, p. 124)
Deste modo, a continuidade das ações de vigilância, por parte dos moradores da
região, e também os trabalhos de captura, pesquisa e controle vetorial feitos pelo CCZ se
constituem de suma relevância no combate à população de triatomíneos, ao longo do vale
do rio Araguari, principalmente da espécie T. sordida, pela sua alta densidade demográfica
e rápida capacidade de reinfestação.
5.3.3 - Síntese da distribuição geográfica e indicadores entomológicos do
município de Uberlândia (MG)
Nos quatro anos de investigação, foram capturados 237 triatomíneos sintantrópicos.
A sua distribuição geográfica, vinculada ao uso e ocupação do solo no município de
Uberlândia, indicou uma grande variação no número de capturas (Tabela 13).
No período compreendido entre os anos de 2004 e 2007 (selecionados para a
análise), nas áreas de relevo dissecado e topo plano, a ocorrência de capturas foi de apenas
11 exemplares. Esse aspecto, somado ao fato de ser essa região do município fortemente
antropizada pela agricultura e pecuária, não possibilita classificá-la como uma área de atual
ocorrência da endemia chagásica, no município.
Essa porção do município foi intensamente transformada pelas atividades
produtivas, principalmente a partir da década de 1970, com a substituição de grandes áreas
de cobertura vegetal primitiva por pastagens que, frequentemente, no período de estiagem,
sofrem com as queimadas; culturas temporárias mecanizadas e com utilização de enorme
quantidade de defensivos agrícolas; florestamento com pinus e eucaliptus que empobrecem
a cadeia alimentar. Acredita-se que a conjugação desses fatores possam ter influenciado no
pequeno índice de domiciliação e ocorrência de captura de triatomíneos.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
190
Nome
Total anual por localidade
2004 2005 2006 2007 TOTAL
2
Faz. Cascavel
3
0 0 0
3
3
Faz. Orlindo Dias
1 7
0 0
8
7
Faz. Onofre Vieira 0 0
2
0
2
14
Faz. Boa Mente 0 0
1
0
1
15
Faz. Eurípedes Batista
1 1
0 0
2
16
Faz. Dourados 0 0
1
0
1
17
Faz. Barreiro 0 0
4
0
4
18
Faz. Lagoa 0 0
11 1 12
20
Pov. Cruzeiro dos Peixotos
1
0 0 0
1
21
Faz. Bela Vista 0 0
4
0
4
22
Faz. João Fernandes 0
4
0 0
4
26
Faz. Quilombo 0
1
0 0
1
28
Faz. Nova 0
45
0 0
45
30
Faz. Bebedouro 0
1
0 0
1
31
Faz. Córrego das Moças 0
1
0
1 2
33
Faz. Paraíso 0 0 0
1 1
44
Faz. Pedreira 0 0
1
0
1
48
Faz. Parauna 0 0
5 1 6
49
Faz. Lincoln
1 5 1 4 11
59
Faz. Pindaiba
1
0 0
1 2
60
Faz. Abacaxi
1 10
0
1 12
65
Faz. Cocal 0 0
1 1 2
67
Faz. Lage 0 0
14 3 17
74
Faz. Lagoa 2a 0 0
1
0
1
78
Faz. Boa Esperança
7 3 1
0
11
81
Faz. Veadinho
8 6
0 0
14
85
Faz. Palmeira
1
0
1
0
2
89
Faz. Estiva 0 0 0
1 1
91
Faz. Paciência 0
1
0 0
1
96
Faz. Barra Grande
7
0 0
5 12
99
Faz. Saracura 0
13
0 0
13
104
Faz. Tabatinga 0 0
2
0
2
107
Faz. Taquaril 0
5
0 0
5
131
Faz. Raul Pereira
14 1 5
0
20
155
Faz. Pedra 0 0 0
1 1
170
Bebedouro 0 0 0
1 1
179
Faz. Taperão 0 0 0
1 1
187
Faz. Cab. do Panga 0 0
1
0
1
233
Faz. Lage I 0
1
0 0
1
243
Faz. Macumbé
2
0 0 0
2
>244
Perímetro Urbano
1 1 2 1 5
TOTAL 49 106 58 24 237
Tabela 13 - Uberlândia (MG): Totais de capturas de triatomíneos sinantrópicos por localidade no período de
2004 a 2007
Fonte: CCZ, 2007; Org.: MENDES, 2007
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
191
Em contrapartida, as áreas de ocupação mais antiga, no vale do rio Araguari, de
relevo intensamente dissecado, onde predominam pequenas e médias propriedades, com
manchas significativas de vegetação natural, corresponderam à área de maior incidência de
capturas, 95%, ao todo (Gráfico 54; Cartograma 16).
95%
5%
Área de relevo intensamente dissecado Área de relevo dissecado e topo plano
Gráfico 54 – Uberlândia (MG): distribuição geográfica dos triatomíneos
sinantrópicos capturados no período de 2004 a 2007
Fonte: CCZ, 2007. Org.: MENDES, 2007
Tal fato é decorrente de um processo de adaptação anterior à implantação, no
espaço rural dessa região, das atividades agropecuárias, pois estudos relacionados à
dispersão de triatomíneos indicam que as espécies capturadas não possuem características
estritamente domiciliares, como o T. infestans. Isso demonstra que as atividades de
colonização das unidades domiciliares são desencadeadas, inicialmente, por alterações
ambientais que induzem os triatomíneos a dispersão, adaptação e ocupação das moradias e
anexos, tidas agora como novos nichos ecológicos, antropizados pela oferta de alimento e
abrigo.
Assim, os elementos analisados, da área de relevo intensamente dissecado,
sugeriram que o grande número de ocorrência de triatomíneos, nessa área do município,
está relacionado, além da disponibilidade de alimento provido pelos animais silvestres e
domiciliares, à existência de grandes áreas de matas, principalmente nas vertentes mais
inclinadas do vale do rio Araguari e ao longo dos cursos d`água. Outro fator está
relacionado à utilização, em menor escala, de defensivos agrícolas, se comparado às áreas
de relevo dissecado e topo plano, onde são desenvolvidas grandes extensões de cultivos de
grãos e florestamentos de pinus e eucaliptos. Nessa área, ao contrário, grande parte do solo
é utilizada como pequenas pastagens e produção de gêneros alimentícios em pequena
escala, consumindo menor quantidade de agrotóxicos.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
193
Durante a fase de revisão da literatura para o desenvolvimento deste trabalho, não
foi possível o acesso à pesquisa que relacionasse a influência do uso de defensivos
agrícolas na população de triatomíneos. Todavia, foi verificado que os inseticidas de
princípio ativo Lambda Cialotrina, Cipematrina e Deltametrina, ambos do grupo químico
Piretróide, utilizados pelo programa PCDCh, fazem parte, também, dos compostos
utilizados na desinfestação de lavouras (AZEVEDO, s/d). Isso indica a possibilidade de
que o uso desses agrotóxicos, na agricultura, pode agir sobre as populações de
triatomíneos, o que mereceria um estudo especifico.
Outro aspecto a ser observado são as características de construção e organização da
unidade domiciliar, que facilitariam a domiciliação e o desenvolvimento de colônias de
triatomíneos. A análise desses ambientes e as entrevistas com os moradores indicam que
essa problemática, além da questão financeira, está relacionada aos aspectos sócio-
culturais. As relações de produção e moradia, verificadas no vale do rio Araguari, de modo
significativo, seguem ainda um padrão de organização cultural e as experiências
acumuladas por muitas gerações.
Esse entendimento também pode ser observado nas conversas com os agentes de
saúde, que repetidas vezes, nas casas positivadas pela ocorrência de captura de
triatomíneos, alertaram os moradores sobre a disposição e a organização dos anexos no
peridomicílio e do interior das moradias, que podem apresentar risco de infestação de
triatomíneos. Todavia, durante novas inspeções nas propriedades, repetidas vezes era
verificada a mesma situação observada nos inquéritos anteriores.
Nas regiões de relevo dissecado e topo plano do município, onde a vegetação
predominante era, inicialmente, formada por cerrado, com déficit hídrico nos meses de
inverno, acentuado pela maior permeabilidade do solo, confia-se que, antes mesmo da
intensificação da atividade produtiva, nessa região, a quantidade de triatomíneos que
ocupavam essas áreas já era em número inferior à do vale do rio Araguari, restringindo-se
aos poucos nichos ecológicos naturais de ambientes de mata, próximos à rede de
drenagem.
A análise do Cartograma 17 corrobora esta suposição, pois verifica-se que a
ocorrência de capturas de triatomíneos, nessa porção do município, está sempre
relacionada aos ambientes de mata, próximos aos cursos d`água, indicando assim que os
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
194
triatomíneos estão restritos a esses ambientes, e nunca são encontrados nas partes mais
elevadas do interflúvio.
Diante desse quadro geral, delineia-se, geograficamente, uma faixa preferencial de
ocorrência dos triatomíneos no município de Uberlândia, compreendida entre os vales do
rio Uberabinha e do rio Araguari, no sentido sudeste-noroeste, onde freqüentemente tem
ocorrido infestação domiciliar de triatomíneos.
Em relação aos triatomíneos capturados no período de 2004 a 2007, pelas incursões
a campo, na fase de vigilância do PCDCh, no município de Uberlândia, foram
contabilizadas 124 exemplares de triatomíneos no intradomicílio e 118 no peridomicílio,
como mostra a Tabela 14.
Espécie
Intradomicílio
Total
Peridomicílio
Total
T.
Geral
Machos Fêmeas Ninfas Machos Fêmeas Ninfas
Panstrongylus diasi
2 3 0
5
0 1 0
1 6
Panstrongylus megistus
6 10 31
47
6 16 10
32 79
Rhodnius prolixus
1 0 0
1
0 0 0
0 1
Rhodnius neglectus
14 6 1
21
0 0 0
0 21
Triatoma sordida
16 22 12
50
18 30 32
80 130
Total 39 41 44 114 24 47 42 118 237
Tabela 14 - Uberlândia (MG): Triatomíneos sinantrópicos capturados no período de 2004 a 2007
Fonte: CCZ, 2007; Org.: MENDES, 2007
Os maiores índices de captura foram das espécies P. megistus, com 33,3% (79) e T.
sórdida (130) com 54,5%. O P. megistus, como já descrito anteriormente, tem suas
elevadas taxas de captura relacionadas à alteração da cobertura vegetal, que induz um
aumento de sua ocorrência junto às unidades domiciliares (Gráfico 55).
Nessas áreas florestais, as modificações de origem antrópica levam
invariavelmente à escassez desse revestimento vegetal onde o triatomíneo
originariamente encontra condições microclimáticas favoráveis à sua
sobrevivência (FORATTINI, 1978, p.127).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
196
2,5%
0,4%
8,9%
54,9%
33,3%
Panstrongylus diasi
Panstrongylus megistus
Rhodnius prolixus
Rbodnius neglectus
Triatoma sordida
Gráfico 55 – Uberlândia (MG): espécies de triatomíneos capturados no período de
2004 a 2007
Fonte: CCZ; Org.: Mendes, 2007.
O outro trabalho realizado por esse mesmo autor, que discute sobre a ampla base
alimentar desse triatomíneo, corrobora essa conclusão. No domicílio e no peridomicílio,
ele pode sugar o sangue humano e de quase todos os animais domésticos e alguns
silvestres. Além disso, o P. megistus possui uma grande habilidade de formação de
colônias estáveis, inclusive em galinheiros (FORATTINI, 1977, p.52).
O conjunto dessas informações coincide com os dados e observações feitas no
município, onde as principais ocorrências dessa espécie estão vinculadas às unidades
domiciliares localizadas em áreas antropizadas, com presença de remanescentes de mata.
O índice de captura do T. sordida foi maior que a somatória de todas as outras
espécies capturadas. Concentrada no município, ao longo do vale do rio Araguari, essa
espécie apresentou alta capacidade de infestação das unidades domiciliares, inclusive
aquelas construídas de alvenaria e com anexos aparentando uma boa organização e
limpeza. Freitas, na década de 1960 e Forattini, na década de 1970, também observaram
esse potencial de adaptação dessa espécie: “Em diversas ocasiões tem sido encontrado
formando grandes colônias a custa de pardais ou andorinhas, em forros e beirais de casas
de boa construção.” (FREITAS, 1960, p11; FORATTINI, 1971, p.4). E, ainda, “Em
relação ao T. sordida a destruição do meio natural passa a constituir fator favorável, não
apenas pelo aumento do número de ecótopos viáveis como pela redução ou mesmo
eliminação dos competidores.” (FORATTINI, 1979, p.230).
Assim, o processo de domiciliação desses triatomíneos está relacionado ao
oportunismo, e o desenvolvimento ou não de colônias, nas habitações humanas depende,
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
197
essencialmente, da disponibilidade de alimento e de abrigo contra predadores e intempéries
climáticas (ARAGÃO, 1978).
Observando os indicadores de infestação das unidades domiciliares de cada espécie
(Gráfico 56), verificou-se que a infestação intradomicílio do R. prolixus (1) e R. neglectus
(21) foi de 100%. Pelo fato da ocorrência de captura de apenas um exemplar R. prolixus,
tornou-se inviável uma análise comparativa sobre seu potencial de domiciliação com
outros grupos de triatomíneos capturados.
0
20
40
60
80
100
120
Panstrongylus
diasi
Panstrongylus
megis tus
Rhodnius
prolixus
Rbodnius
neglectus
Triatoma
sordida
espécies
%
Intradomicílio Peridomicílio
Gráfico 56 – Uberlândia (MG): infestação intra e peridomiciliar das espécies
de triatomíneos capturados no período de 2004 a 2007
Fonte: CCZ; 2007. Org.: Mendes, 2007.
Em relação ao R. neglectus, Aragão (1981, 1983) e Forattine (1971 e 1979)
consideraram essa espécie como tipicamente silvestre, mas que, por meio do vôo, pode
alcançar as unidades domiciliares, desenvolver colônias estáveis, dependendo da
disponibilidade de alimento. Possui hábitos predominantemente peridomiciliares,
relacionados aos ninhos de aves, com baixo índices de captura no intradomicílio.
Quanto ao Rhodnius neglectus, o aspecto é um tanto diferente. Limitando-se a
habitar a copa de palmeiras, ali encontra alimento com maior facilidade, uma
vez que, via de regra, tais ecótopos são utilizados para abrigo de aves e
mamíferos silvestres. É de se admitir pois, que tenha menor tendência para
invadir ecótopos artificiais, embora o faça, desde que as condições de
proximidade sejam favoráveis. É o que demonstra o achado desse triatomíneo,
embora esporádico, em alguns anexos (FORATTINE, 1971, p. 171).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
198
Neste trabalho, todos os exemplares de R. neglectus (21) foram capturados no
intradomicílio, não repetindo os resultados dos autores citados. Deste modo, mesmo com
uma pequena amostragem, em relação aos trabalhos de Aragão e Forattine, em Uberlândia,
essa espécie apresentou uma alta tendência à domiciliação.
Outro fato relevante observado sobre o R. neglectus foi que dentre todas as espécies
capturadas no período selecionado para analise, esta foi a única encontrada, todos os anos,
no espaço urbano, sendo no ano de 2004 e 2005 no bairro liberdade, 2006 no bairro
Morada da Colina e 2007 no bairro Guarani, entre os meses de novembro e março,
inseridos na estação chuvosa do município. Todos os exemplares capturados eram adultos,
estando, dentre eles, o capturado no ano de 2004 contaminado pelo T. cruzi.
A espécie P. diasi apresentou um discreto número de exemplares capturados no
município (6). Sua taxa de captura, no intradomicílio, foi de 83,3% (cinco), sugerindo que,
além dos anexos habitados por aves, essa espécie apresenta um grande potencial de
infestação intradomiciliar. Vale lembrar que, nas fazendas onde essa espécie foi capturada
no intradomicílio, os galinheiros estavam localizados a poucos metros da casa,
contribuindo para que, com uma pequena distância de vôo, os insetos alcançassem o
abrigo, no domicílio.
O Panstrongylus megistus foi a segunda espécie com maior incidência de captura
em Uberlândia (MG) e a maior em termos de ocorrência de captura no intradomicílio,
como mostra o Gráfico 57. Essa espécie é considerada de ampla distribuição geográfica no
Brasil, sendo encontrada em ambientes domiciliares e peridomiciliares. Segundo Barbosa
(1999, p.1), devido a sua alta susceptibilidade ao Trypanosoma cruzi, ampla distribuição
geográfica e adaptação a vários habitats e hospedeiros, ela é considerada um dos principais
vetores da doença de Chagas, indicando a necessidade, no caso do município de
Uberlândia, de um monitoramento constante dessa espécie, pelo seu potencial de
infestação, no intradomicílio.
O T. sordida, espécie com o maior número de exemplares capturados no município,
foi registrado 61,5 % das suas capturas no peridomicílio, confirmando os trabalhos de
Freitas (1960) e Fotatinni (1971), os quais indicaram que, em geral, as capturas feitas nos
anexos são mais elevadas que no intradomicílio. Todavia, vale ressaltar que, além da ninfas
(utilizada para cálculo de colonização domiciliar), foi dessa espécie o maior número de
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
199
fêmeas capturadas no intradomicílio, estando esse ambiente, na ausência de vigilância do
morador, susceptível ao desenvolvimento de colônias.
0
10
20
30
40
50
60
70
número de capturas
Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
MÉDIA
2004
2005
2006
2007
mês
MÉDIA
2004
2005
2006
2007
Gráfico 57 – Uberlândia (MG): notificações de captura de triatomíneos sinantrópicos no
período de 2004 a 2007
Fonte: CCZ, 2007. Org.: Mendes, 2007.
Sobre a variação do número de captura de triatomíneos, ao longo do ano, a
totalização das notificações mensais, no período de 2004 a 2007, indica que o maior
número de ocorrências foi registrado nos meses de março e dezembro (Gráfico 57). Essa
cifra é realçada por uma grande captura, de 39 exemplares, da espécie P. megistus, na
localidade 28 (Fazenda Nova), no mês de março de 2005 e, também, pelo registro de
ocorrência de captura, no ano de 2006, de nove T. sordida e 12 P megistus, nas localidades
17 (Fazenda Lagoa) e 67 (Fazenda Lage), respectivamente. Todavia nota-se que, mesmo
na exclusão dessas notificações de capturas, observa-se uma tendência maior de captura
entre os meses de outubro e dezembro e entre março e junho.
A variação nas notificações de captura, levando em consideração o período
chuvoso e a estiagem do município evidencia que, apesar da alteração do início e término
das estações chuvosas, o maior índice de captura, verificado ao longo período analisado,
ocorreu na época das chuvas, principalmente das espécies P. megistus e T. sordida (Tabela 15).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
200
Anos Estação Chuvosa Total Estação Seca Total
2004
2005
2006
2007
01/01 a 16/04 & 11/10 a 31/12
01/01 a 27/03 & 29/10 a 31/12
01/01 a 18/04 & 22/09 a 31/12
01/01 a 31/03 & 18/10 a 31/12
16
68
50
12
17/04 a 10/10
28/03 a 28/10
19/04 a 21/09
22/03 a 17/10
32
38
10
11
Total 62% das capturas 146 38% das capturas 91
Tabela 15 – Uberlândia (MG): início e término das estações chuvosa e seca relacionadas à captura de
triatomíneos sinantrópicos, no período de 2004 a 2007
Fonte: Dados brutos provenientes do Centro de Controle de Zoonoses – Uberlândia (MG) 2007 e Laboratório
de Climatologia da UFU, 2007. Org.: MENDES, 2008.
O clima do município é tipicamente tropical, com a maior parte das chuvas
concentradas no período compreendido entre outubro e março. O período de estiagem
restringe-se aos meses de abril a setembro, sendo o primeiro trimestre do ano considerado o
mais chuvoso. A linha média de captura, representada no Gráfico 58, demonstra que, no
terceiro trimestre (julho, agosto e setembro) do período selecionado para análise, foram
registradas as menores taxas de captura. Em contrapartida, as mais elevadas coincidiram com o
início e o término do período chuvoso. Alguns trabalhos sobre a dinâmica das populações de
triatomíneos indicam que sua dispersão, para formação de novas colônias, ocorre na época nas
chuvas, no ambiente de clima tropical, enquanto que o acasalamento e poedura são mais
concentrados durante os meses de estiagem, confirmando essa tendência na região.
Gráfico 57 – Uberlândia (MG): índice das notificações de captura de triatomíneos sinantrópicos em relação
as precipitações no período de 2004 a 2007
Fonte: CCZ, 2007. Org.: Mendes, 2007.
70
0
140
210
280
350
420
mm
58
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
201
Compreender a evolução das colônias, detectar a possível época de produção de
adultos. Caso esta vier a se realizar em determinado período, o seu prévio
conhecimento propiciaria a aplicação oportuna dos meios de controle, visando
prevenir a infestação de outras áreas ou a reinfestação das já tratadas.
(FORATTINI, 1979, p. 365).
Outros trabalhos, desse mesmo autor, sobre essas espécies, indicaram que os
primeiros meses do ano coincidem com a época infestante das colônias, revelada pela
maior produção de adultos e ninfas de primeiro estádio, ocorrendo, inclusive, dispersão
dessa forma para outros ambientes (FORATTINI, 1979).
Deste modo, estudos sobre a dinâmica populacional das espécies T. sordida e P.
megistus, que busquem o entendimento do mecanismo de dispersão ativa, são considerados
de suma importância para a orientação de medidas no combate a esses vetores, pelos
agentes de saúde. “A maior dificuldade no controle dessas espécies está provavelmente
relacionada à degradação rápida dos inseticidas expostos às condições ambientais e à
dificuldade de captura e borrifação no peridomicílio.” (OLIVEIRA-FILHO, 1984;
DIOTAIUTI, 1991).
Outra possibilidade pode estar relacionada ao fato de os triatomíneos, desalojados
de seus abrigos, pela chuva, invadirem os domicílios e seus anexos, facilitando a sua
captura. Todavia, essa hipótese carece de estudos relacionados à maior dispersão desses
insetos, durante a estação chuvosa.
Quando se analisa o gráfico da notificação de captura por espécie, ao longo do ano
(Gráfico 59), observa-se que as maiores capturas de praticamente todas as espécies
coincidiram com os primeiros e últimos meses do ano (verão chuvoso). Um prolongamento
no tempo de maior captura, pode ser observado na espécie T. sórdida, até os meses de
maio e junho.
Trabalhos relacionados aos aspectos ecológicos da dispersão dessa espécie,
realizados por Forattini (1979), discutiram a evolução global das colônias de T. sordida em
ecótopos artificiais. Resultados desses trabalhos demonstraram uma maior ocorrência de
ninfas no segundo semestre do ano; e, nos primeiros meses do ano, é verificada a maior
ocorrência de adultos, que se dispersarão, com maior potencial de infestação de outros
ecótopos, dentre eles as unidades domiciliares, repercutindo em aumento no número de
capturas, durante seus deslocamentos (FORATTINI, 1979).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
202
No Gráfico 58, merece atenção as notificações de captura da espécie R. neglectus,
citado em vários trabalhos pela incidência de achados em palmeiras; entretanto mas que
nesta pesquisa, contraditoriamente, todas as capturas ocorreram no intradomicílio. O ritmo
de capturas parece acompanhar o aumento das precipitações (vide novamente Gráfico 58).
Todavia, nos primeiros meses do ano, quando ocorrem maiores índices pluviométricos,
ocorre uma queda vertiginosa nos seus achados, indicando que, na área de estudo, sua
maior incidência de captura pode estar relacionada com o papel desalojante da água das
chuvas nos ninhos de aves por eles ocupados, na copa dos palmeirais.
Gráfico 59 – Uberlândia (MG): notificações de captura de triatomíneos sinantrópicos por espécie no período
de 2004 a 2007
Fonte: CCZ, 2007. Org.: Mendes, 2007.
Pesquisas de Diotaiuti e Dias (1984) indicaram um maior crescimento das colônias,
no verão, e menor presença de ovos, no inverno. Já os trabalhos de Gurgel-Gonçalves &
Cuba (2007) demonstraram maior abundância do R. neglectus na estação seca e fêmeas
reprodutivas em todas as estações do ano, sugerindo que esta espécie pode apresentar ciclo
reprodutivo nas diferentes estações do ano; no entanto, as maiores atividades de dispersão
ocorrem no verão
0
10
20
30
40
50
60
70
número de capturas
Jan Fev Ma
r
A
b
r
Maio Jun Jul
A
go Set Out Nov Dez
P. diasi
P. megistus
R. prolixus
R. neglectus
T. sórdida
TOTAL
mês
P. diasi
P. megistus
R. prolixus
R. neglectus
T. sórdida
TOTAL
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
203
Forattine (1979, p. 233) discute essa característica afirmando que “a capacidade de
colonização, em ambiente domiciliar parece depender da proliferação de anexos, utilizados
como abrigos de animais domésticos e domiciliados. O Rhodnius neglectus, embora ainda
em menor grau, é dotado de valência que lhe permite, no processo de dispersão, colonizar-
se em ecótopos artificiais, mesmo a distâncias apreciáveis dos focos naturais”.
5.4 – Urbanização, doença de Chagas e os trabalhos do PCDCh em Uberlândia
As cidades pequenas com relações muito intensas com o campo, de modo que
grande parte das funções urbanas está voltada para a economia rural, principalmente, em
áreas próximas aos locais de grande ocorrência de endemias rurais, constituem um sério
problema de saúde pública, pois se corre o risco, dependendo do tipo da doença, de sua
proliferação também no ambiente urbano. Em cidades médias, que passaram por um rápido
crescimento urbano, em meados do século passado, também têm ocorrido esse fato,
principalmente nas áreas periféricas. O exemplo mais típico é o das leishmanioses. A
doença de chagas pode ser a próxima endemia rural a se urbanizar no Brasil, caso o
Programa de Controle de Doença de Chagas seja relaxado, como ocorreu na Argentina.
Uberlândia, principalmente a partir da década de 1940, vem passando por um
rápido crescimento populacional causado, principalmente, pela migração de pessoas de
outros municípios da região do Triângulo Mineiro (Gráficos 60 e 61). Dentre essas
pessoas, muitas são de cidades de ocorrência significativa de chagásicos, com destaque
para Nova Ponte, Patrocínio, Iraí de Minas, Indianópolis, dentre outras, contribuindo para
aumentar o número de portadores da doença, na cidade.
O êxodo rural que ocorreu no município, de forma mais intensa, a partir da década
de 1940, também contribui para o aumento no número de chagásicos na cidade, com
destaque para os que migraram da região do vale do rio Araguari, que historicamente
demonstrou ter um elevado número de portadores da doença.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
204
42.179
54.984
88.282
124.706
240.961
367.061
438.986
501.214
615.345
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
total
1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2007
período
Gráfico 60 – Uberlândia (MG): crescimento populacional, 1940 – 2007
Fonte: IBGE, 2007.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2007
período
Urbana Rural
Gráfico 61 – Uberlândia (MG): evolução da população urbana e rural, 1940 – 2007
Fonte: IBGE, 2007.
Essa rápida urbanização teve reflexo no surgimento de loteamentos e formação de
novos bairros na cidade, principalmente na periferia, que apresentou crescimento
vertiginoso, mesmo sendo essas áreas desprovidas, em sua maioria, de infra-estrutura
básica (Cartograma 18). Porém, o menor valor agregado do terreno era um fator atrativo
para moradia, nessas áreas.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
206
Uberlândia foi experimentando um grande crescimento, mas sem um
planejamento adequado, pois bairros e vilas surgiam a todo momento, o que,
por um lado, facilitou a aquisição do bem/terreno, visto que, devido à grande
demanda, o preço dos terrenos não era alto. Entretanto, esses bairros e vilas
eram formados atabalhoadamente, sem estudos adequados, criando, assim,
bairros com terrenos irregulares e ruas estreitas, que, futuramente, dificultariam
a implantação de equipamentos e serviços públicos” (MOURA, 2003, p. 67).
Na década de 1940, o grande impulso para o processo de urbanização e
conseqüente periferização de Uberlândia esteve relacionado a alterações na atividade
produtiva, causadas, inicialmente, pela industrialização, diversificação na rede de comércio
e serviços, intensificação da capitalização e modernização do processo produtivo no
campo, além da melhoria da malha rodoviária que corta o município.
O processo de periferização intensificou-se vertiginosamente, devido ao
crescimento populacional à modernização do campo, que favoreceu a migração
para o centro urbano; ao crescimento do setor industrial; à diversificação do
setor de comércio e serviços, que gerava empregos; e à ação dos agentes
produtores e modeladores do espaço urbano, que comercializavam e vendiam
diversos loteamentos na periferia da cidade, tais como Tocantins, Taiaman,
Jardim Patrícia, Jardim das Palmeiras, Planalto, entre outros (MOURA, 2003,
p.21).
Esse crescimento repercutiu, em alguns bairros, na instalação de novos serviços e
equipamentos, como o calçamento de ruas e avenidas, construção do aeroporto, melhorias
no serviço de abastecimento de água e ampliação da rede de esgoto, dentre outros. Assim,
foram surgindo os bairros e vilas na cidade, que começaram a formar a periferia de
Uberlândia, como a Vila Operária e o bairro Patrimônio.
Na década de 1950, devido ao seu rápido crescimento, impulsionado pela
construção de Brasília, Uberlândia passou por grandes transformações no seu espaço
urbano, principalmente na área central, que foi melhorada para atender às necessidades da
sua população, sendo dotada de várias melhorias em termos de infra-estrutura, como a
pavimentação de ruas e avenidas.
A cidade conheceria uma nova fase de crescimento, provocada pela construção
de Brasília e pela construção de estradas de rodagem, que influenciariam
também no desenvolvimento do comércio local, por meio da abertura de várias
indústrias de diversos ramos (curtumes, fábricas de calçados, móveis, bebidas,
instrumentos agrícolas e veículos), ampliando a grandeza comercial da cidade,
que exportava seus produtos para as cidades do Brasil Central (MOURA, 2003
p. 75).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
207
A periferia da cidade também cresceu, nesse período; todavia, sem a preocupação
com a infra-estrutura e um planejamento adequado, o que de certa forma contribuiu para
sua expansão, devido ao menor valor agregado nos lotes comercializados. Os principais
bairros criados neste período foram: Custódio Pereira (1956), Osvaldo Rezende (1955),
Daniel Fonseca (1952). Dona Zulmira (1954), Pampulha (1953), Saraiva (1953) e Bom
Jesus (1956), segundo Soares (1988).
A partir da década de 50, assim como em todo o Brasil, a cidade passaria por
uma grande transformação, em função dopido processo de industrialização. O
desenvolvimento econômico acelerado propiciou o surgimento de novos
loteamentos e conjuntos habitacionais. A incorporação de áreas periféricas,
antigas fazendas e chácaras fez com que a cidade adquirisse uma feição que lhe
é comum até hoje, ou seja, a existência de um número muito grande de lotes
vagos ociosos. Por outro lado, com a expansão da economia, os benefícios em
termos de infra-estrutura urbana não tardariam a aparecer, mas, infelizmente, se
restringindo aos bairros mais centrais, continuando as periferias abandonadas à
eterna poeira e falta d’água (SOARES, 1988, p.45).
Na década de 1960, com a ampliação do comércio, instalação de grandes armazéns
de grãos e crescente produção agrícola, Uberlândia consolidou-se como um centro de
prestação de serviços importantes. Entretanto, apesar do crescimento, a cidade ainda era
precária, em termos de infra-estrutura de saneamento básico, bem como em energia
elétrica, que era precária também em outros municípios do Triângulo Mineiro. Esses
problemas foram solucionados com o tratamento e canalização da água. Quanto à energia,
Uberlândia interligou-se no Sistema de Furnas, melhorando sensivelmente a aquisição
desse serviço, por parte população e atividades econômicas.
Para solucionar o problema da energia elétrica, foi realizado o Congresso de
Desenvolvimento Industrial, em que se propôs a construção de uma usina
hidrelétrica em Cachoeira Dourada, em parceria com o Estado de Goiás.
Uberlândia, no entanto, não participou do acordo, pois conseguiu se interligar
com o Sistema de Furnas, melhorando sobremaneira o fornecimento de energia
elétrica na cidade por intermédio da criação da CEMIG – Companhia Elétrica
de Minas Gerais -, que ficou responsável pelo fornecimento de energia elétrica
para toda a cidade. Outro serviço básico que também sofreu melhorias foi o de
abastecimento de água, que começara a ser tratada e passara a ser canalizada,
sendo que esta foi uma das primeiras ações a ser realizada em prol do
desenvolvimento da cidade (MOURA, 2003, p.83).
A década de 1960 também foi marcada pela abertura de vários loteamentos na
periferia da cidade, para atender os grupos de menor renda, alguns financiados pelo BNH
(Banco Nacional de Habitação). Além do Estado, as imobiliárias do município também
tiveram importante papel no comércio de lotes e abertura de novos bairros, como Vila
Maria (1966), hoje conhecida como Pacaembu, Jardim Brasília (1966) e Maravilha (1966);
bairro Santa Mônica (1964), Rooselvelt (1969), Jaraguá (1964), Jardim Califórnia (1966) e
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
208
Marta Helena (1967). Todos instalados na periferia da cidade (PMU, 1996). Já os
loteamentos destinados aos grupos de maior renda foram instalados próximos da área
central, como o Lídice e o Vigilato Pereira.
Nas décadas de 1970 e 1980 ocorreram grandes transformações em Uberlândia,
(MG) que recebeu inúmeras obras que contribuíram para seu desenvolvimento, como as
rodovias BR-050, BR-365, BR-362; construção das Usinas Hidrelétricas de São Simão e
Emborcação, que permitiu a aceleração do processo de industrialização; asfaltamento da
estrada que liga Uberlândia a Araxá; instalação de várias indústrias, como a fábrica de
cigarros Souza Cruz, a fábrica de óleo Fugiwara-Hisato (hoje ABC Óleo), a fábrica de
tecidos Daiwa Têxtil, a Brasfrigo; e a modernização da fábrica de chocolates Erlan
(MOURA, 2003).
Este período, anterior à criação da Universidade Federal de Uberlândia, foi
responsável pelo desenvolvimento de dois grandes bairros: o Santa Mônica (onde se
instalou o Campus Santa Mônica) e o Umuarama (onde se instalou o Campus Umuarama).
A cidade, a partir desse momento, passou a ter um crescimento populacional de forma
vertiginosa. Esses bairros também influenciaram o crescimento de outros, que
aproveitaram os serviços e equipamentos públicos existentes neles, como os bairro Saraiva,
Cazeca e Tibery, que ficavam no entorno do Campus Santa Mônica; o bairro Custódio
Pereira, Brasil e Marta Helena, próximos ao Campus Umuarama.
Outro fator que influenciou o crescimento da cidade, nesse período, foi o êxodo
rural ocorrido no próprio município devido, principalmente, à modernização do campo.
Essas pessoas instalaram-se, principalmente, nos bairros periféricos, alguns ainda, nesse
momento, deficientes de infra-estrutura. Podem-se destacar os bairros Tibery, Santa
Mônica, Custódio Pereira, Presidente Roosevelt, São Jorge, Luizote de Freitas e Morumbi.
A partir desse momento, Uberlândia expõe, de forma mais clara, os ambientes e a
separação entre bairros habitados pela população de melhor renda (Altamira, Cidade
Jardim e Morada da Colina), bairros habitados pela classe média (Martins, Saraiva, Brasil e
Roosevelt) e bairros habitados pela classe trabalhadora (Jardim Brasília, Maravilha,
Lagoinha, Aclimação, entre outros, além das favelas). Desse modo, estruturou-se a
segregação social e espacial na cidade (MOURA, 2003, p 96).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
209
Do início da década de 1990 até 2007, Uberlândia salta de uma população urbana
de, aproximadamente, 355.000 habitantes, para mais de 605.000; isso significa um
crescimento superior a 40%. Entretanto, cabe esclarecer que o aumento populacional, a
partir desse período, está relacionado ao próprio crescimento vegetativo do município e ao
crescimento migratório oriundo de outras cidades, principalmente do Triângulo Mineiro e
porção sul do estado de Goiás. No ano de 1996 foi registrado um dos maiores decréscimos
populacionais no espaço rural do município, sendo contabilizado, apenas, 7.242 habitantes
nessa área rural. A partir de então, ocorreu um fenômeno de volta ao campo, com a
instalação de cerca de 15 assentamentos de reforma agrária no município, elevando a
população rural para 10.044 em 2007.
Neste período, Uberlândia, na tentativa de combater o déficit habitacional
instalado, faz uso do PAIH (Plano de Ação Imediata para a Habitação – 1990), criado
durante o Governo Collor para financiar a construção de moradias para a população de
baixa renda, utilizando recursos do FGTS (Tabela 16). O primeiro conjunto construído pelo
PAIH foi o Parque Granada, considerado o primeiro conjunto habitacional a ser entregue
pelo governo Fernando Collor de Melo, em todo o país. Todavia, as moradias construídas
pelo PAIH e os programas de compra de lotes e materiais de construção não conseguiram
suprir o déficit de moradia da cidade (SOARES, 1988).
[...] mesmo com a construção de vários conjuntos habitacionais e com
programas de financiamento de terrenos e materiais de construção, o déficit
habitacional é alto e continua a crescer, assim como as áreas periféricas, que
também é palco de vários assentamentos, sendo os mais significativos, o Dom
Almir, que hoje já está com parte das infra-estruturas instaladas, faltando alguns
serviços e equipamentos públicos; o Joana D’Arc e o São Francisco, localizados
em áreas sem a infra-estrutura básica, que hoje está sendo implantada a passos
lentos, devido à burocracia do poder Público (Jornal Correio de Uberlândia,
2001).
No ano de 1997, numa nova tentativa de resolver o déficit habitacional na cidade,
foi criado o Pró-Lar (Programa Municipal de Habitação Popular), pela Prefeitura, em
parceria com a Caixa Econômica Federal, para pessoas que não se enquadravam na linha de
financiamento da Caixa. Outro programa municipal criado foi o Casa Fácil, que construiu
casas no bairro Morumbi e São Jorge; implantado com recursos exclusivos do Fundo
Municipal de Habitação, destinado a atender a população com renda de até três salários
mínimos.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
210
Conjunto Nº unidades construídas Tipo
Santa Mônica II 2.550 Embrião
Parque Granada 2.220 Embrião
São Jorge 1.600 Embrião
Aurora 1.450 Embrião
Guarani 1.100 Embrião
Mansour 953 Embrião
Seringueiras 450 Embrião
Laranjeiras 426 Embrião
Paineiras 403 Embrião
TOTAL 11.152
Tabela 16 – Uberlândia (MG): unidades habitacionais construídas pelo PAIH, no período de outubro de 1991
a junho de 1993
Fonte: ARAÚJO SOBRINHO, 1995 apud MOURA, 2003.
Atualmente, a cidade de Uberlândia ainda é um grande “chamariz” de migrantes,
principalmente como pólo atacadista que, juntamente com a imagem de progresso criada
por vários símbolos (novas escolas superiores, centro de convenções, hotel cinco estrelas
etc.), atraem inúmeras pessoas de toda a região (MOURA, 2003).
Essa imagem de progresso e o êxodo rural, que contribui para o seu crescimento,
além dos problemas habitacionais desencadearam outros, como por exemplo a transferência
do T. cruzi, em reservatórios humanos, para a cidade. Esse fato, aliado ao encontro, cada
vez mais freqüente, de triatomíneos, na cidade, constitui o elo entre o vetor e o parasita,
que resulta em um risco de transmissão urbana da doença, a urbanização da doença de
Chagas. Para estudar essa possibilidade, foram desenvolvidas as seguintes análises: a
primeira foi a análise dos dados da Pesquisa Nozológica de chagásicos atendidos no Pronto
Socorro, na Internação e no Ambulatório do Hospital de Clínicas da UFU, no período de
1999 a 2007; a segunda foi a apreciação de uma amostragem de 20 prontuários de pacientes
com a doença de Chagas, classificada como crônica e aguda, pacientes estes atendidos no
ambulatório desse mesmo hospital; a terceira análise foi das capturas de triatomíneos, no
espaço urbano, feitas pelo CCZ, no período de 2004 a 2007.
Os dados da Pesquisa de chagásicos atendidos no Pronto Socorro, no período de
1999 a 2007, indicaram que foram atendidas 1150 pessoas, sendo 647 do sexo feminino
(56,3%) e 503 masculinos (43,7%). Do total de pacientes, 795 (69%) tinham idade superior
a 60 anos.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
211
No Hospital de Clínicas, nesse mesmo período (1999 a 2007), foram internadas
4.771 pessoas portadoras da doença de Chagas. Destas, 1490 vieram a óbitos (31,2%),
sendo, em sua maioria, idosas. As especialidades médicas de maior registro nas internações
foram a clínica geral e a cardiologia.
Sobre a origem desses pacientes, 83% são moradores da cidade Uberlândia, e o
restante (17%) dos municípios da região, com destaque pelo número de pacientes enviados
por Araguari, Indianópolis, Monte Carmelo e Coromandel (Gráfico 62).
83%
17%
Uberlândia Outros municípios
Gráfico 62 – Uberlândia (MG): origem dos portadores da doença de Chagas
Internadas no HC da UFU – 1999 à 2007
Fonte: UFU, 2007.
Na análise do ano de nascimento desses pacientes internados, verifica-se que a
maior parte nasceu entre as décadas de 1920 e 1950. A maior taxa de nascimento foi
alcançada na década de 1940 (29,68%). Nas décadas de 1980, 1990 e 2000, a taxa de
nascimento de pessoas, nesse período, que adquiriram a doença, foi inferior a 1% (Gráfico 63).
Quando se compara o período de nascimento com as taxas de urbanização em
Uberlândia, observa-se que o número de nascimentos de pessoas chagásicas diminui na
mesma proporção e ritmo do êxodo rural ocorrido no município (Vide gráfico 61 e 63).
Deste modo, a diminuição do número de pessoas no campo deve ser outro fator a ser
considerado, pois também influenciou na redução dos reservatórios humanos de T.cruzi, no
espaço rural.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
212
0,40
3,42
12,87
26,98
29,68
17,61
6,33
2,33
0,27
0,08
0,04
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
cadas
%
Gráfico 63 – Uberlândia (MG): década de nascimento dos pacientes chagásicos internados no
Hospital de Clínicas da UFU, no período de 1999 à 2007
Fonte: UFU, 2007.
A análise dos dados de atendimento ambulatorial também revela outro aspecto
interessante da doença de Chagas, na cidade. Dos 3.069 chagásicos que procuraram
atendimento, 99,5% tinham idade superior a 20 anos, indicando que a ocorrência de novos
casos da doença, na região, nos últimos 30 anos, foi muito pequena e também que é tardia a
manifestação da doença (Gráfico 64).
Outra questão é que, do total de pacientes atendidos nos ambulatórios do Hospital
de Clínicas da UFU, 60,6 % (1860) possuem idade superior a 60 anos, enquanto, por outro
lado, apenas 0,5% (15) ainda não atingiu a idade adulta. Esse fato indica, levando-se em
consideração o controle da ocorrência de novos casos da doença e a expectativa de média
de vida no Brasil (71,3 anos) que, no ano de 2020, o número de chagásicos, em
Uberlândia, poderia cair pela metade (IBGE, 2003).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
213
0,5%
99,5%
1 a 20 anos >20 anos
Gráfico 64 - Uberlândia (MG): população de jovens e adultos portadores da
doença de Chagas atendidos no Ambulatório do Hospital de
Clínicas da UFU - 1999 a 2007
Fonte: UFU, 2007.
Sobre a origem dos pacientes atendidos no ambulatório, 3208 (88,9%) são
moradores da cidade de Uberlândia, enquanto 401 (11,1%) são moradores dos municípios
da região, principalmente da mesoregião do Triângulo e Alto Paranaíba (Cartograma 19).
Além destes, foram atendidos moradores dos municípios mineiros de Guarda-mor,
Paracatu, Presidente Olegário, Vazante e João Pinheiro. Do estado de Goiás, vieram
pacientes de Bom Jesus, Buriti Alegre, Catalão e Itumbiara. Esse fato demonstra a grande
capacidade polarizadora que o município possui na região, não só pela possibilidade de
trabalho e estudo, mas também pelos serviços de saúde prestados pelo município.
Os municípios que mais enviaram pacientes chagásicos foram Araguari (74),
Indianópolis (41), Monte Alegre de Minas (34), Monte Carmelo (29) e Tupaciguara (24).
Com exceção de Monte Carmelo, todos os outros fazem limite com o município de
Uberlândia.
Outro dado importante, observado no Cartograma 19, foi que os municípios de
Tupaciguara, Araguari, Indianópolis e Nova Ponte, drenados pelo rio Araguari,
demonstraram ter grande quantidade de chagásicos, se levado em consideração, o número
de pacientes enviados para o município de Uberlândia, também drenado pelo rio Araguari.
Esse fato indica que o vale do Rio Araguari, região mais endêmica da doença de Chagas do
município de Uberlândia, pode ter contribuído para o elevado número de chagásicos,
também nesses municípios.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
215
Sobre os pacientes de Uberlândia (88,9%), atendidos no ambulatório, quando se
analisa seu local de residência, como mostra o Cartograma 20, percebe-se que, na sua
grande maioria, eles habitam os bairros então periféricos da cidade, como o Santa Mônica,
Tibery, Custódio Pereira, Presidente Roosevelt, dentre outros, formados na década de 1950,
1960 e 1970, período de maior êxodo rural no município. A exceção fica para o bairro
Martins, constituído na década de 1940, e os bairros formados a partir da construção de
conjuntos habitacionais na década de 1980 e 1990, como Luizote de Freitas, Tocantins, São
Jorge e Morumbi, que pelo menor preço das moradias e financiamentos atrairam também,
muitas pessoas. Isso indica que, mesmo levando-se em consideração a mobilidade espacial
do local de residência que ocorre na cidade, parte dos chagásicos que participaram do
êxodo rural do município ainda mora nesses bairros.
Outra questão, observada no Cartograma 20, é que grande parte dos bairros em que
moram pessoas chagásicas, atendidas no ambulatório do Hospital de Clínicas da UFU,
estão localizados próximos aos acessos da cidade à região do vale do rio Araguari, local de
origem do maior número de pessoas que deixaram o campo, no município, e vieram para
cidade. Vale lembrar que essa porção do município é a que apresenta maior histórico de
pessoas portadoras da doença de Chagas.
Deste modo, essa distribuição espacial de chagásicos, na cidade de Uberlândia,
sugere que a maior proximidade dos acessos que ligam a cidade ao vale do rio Araguari e o
menor valor agregado dos terrenos dos bairros formados entre as décadas de 1950 e 1980
explicam a maior concentração de pessoas portadoras da doença de Chagas, principalmente
nos bairros Santa Mônica, Tibery, Custódio Pereira e Presidente Roosevelt.
Em relação à análise dos prontuários dos pacientes atendidos no ambulatório, tidos
como chagásicos pela Pesquisa Nosológica, revelou um sério problema na notificação da
doença, no sistema. Dos 20 prontuários analisados, apenas seis indicaram que os pacientes
eram mesmo portadores da doença de Chagas. Tal conclusão foi baseada no histórico de
consultas do paciente, que em nenhum momento foi mencionada a doença, na análise dos
exames clínicos, como o “Machado Guerreiro”, e na análise de exames de sangue, como
imunofluorescência e hemaglutinação, que foram negativos para T. cruzi, na amostra de
sangue colhida.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
217
Outro problema verificado, nesses 20 prontuários, foi que seis pacientes estavam
notificados como portadores de doença de Chagas Aguda, que ocorre quando a parasitemia
é intensa, poucos dias após a contaminação. Na análise dos prontuários desses pacientes,
observou-se que apenas dois eram portadores da doença, todavia na fase crônica.
Foi levantado, junto à administração do Hospital de Clínicas, os possíveis motivos
para tal discordância de informação. A explicação dada foi que estava sendo utilizado um
código errado na classificação de alguns portadores da doença na fase aguda, e que este
estava em processo de ajuste. Quanto ao fato de grande parte dos prontuários dos pacientes
classificados como chagásicos não indicarem que o paciente era mesmo chagásico, a
administração do hospital ficou de verificar a origem do problema. Ainda, o diagnóstico de
doença de Chagas aguda, em paciente de doença de Chagas crônico, deve-se a confusão de
nomenclatura, misturando-se quadro cardíaco clínico agudo com doença de Chagas aguda.
Em relação a ocorrência de triatomíneos na cidade de Uberlândia, durante os quatro
anos selecionados para análise, foram capturados seis triatomíneos (quatro R. neglectus,
um T. sordida e um ecsúvia), sendo que um dos R. neglectus, capturado no bairro
Liberdade, estava contaminado pelo T. cruzi. Apesar de não haver registro de transmissão
vetorial da doença de Chagas, na cidade de Uberlândia, o fato da ocorrência de
triatomíneos nos domicílios urbanos, por si só, já é preocupante, por causa da grande
população de chagásicos residindo na cidade.
Em San Juan, localizado na porção oeste da Argentina, esse problema já atingiu
níveis alarmantes. Em várias moradias, localizadas tanto na porção central como na
periferia da cidade, têm sido capturados triatomíneos, que não raramente são positivos.
Estudos coordenados pelo Instituto Salvador Mazza, em San Juan, responsável por
todas as ações preventivas da doença de Chagas, na região, indicaram que a presença de
grande parte dos triatomíneos no espaço urbano de San Juan está relacionada à migração
de aves, principalmente pombos, que ao freqüentarem as áreas infestadas, no meio rural
trazem ninfas de triatomíneos para a cidade.
Apoyado en estos datos iniciales el Instituto Mazza comenzó a realizar tareas de
vigilancia en los espacios céntricos de la ciudad, antes poco tenidos en cuenta
en los planes de fumigación y control. Los resultados fueron asombrosos: Se
hallaron palomares de gran magnitud en las inmediaciones de la plaza principal
y la mayoría de ellos, asentados en construcciones sin uso, terrazas cubiertas y
bajo tanques, registraban la presencia de vinchucas (PICKENHAYN, trabalho
de prelo, s/p).
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
218
Na Argentina, conclusões de estudos sobre essa problemática apontam que, para
tomada de medidas mitigadoras, além dos trabalhos preventivos é necessária uma ação
conjunta de órgãos públicos, pesquisadores de diversas áreas do conhecimento,
participação da comunidade, além de discussões em fóruns sobre esse novo problema de
saúde pública, a urbanização da doença de Chagas.
Un fenómeno como el que se presenta, implica la necesidad de su estudio, pero
también la ejecución de acciones de control a partir de la prevención. Para
actuar en forma eficiente y rápida, es necesario recurrir a la intervención
mancomunada de profesionales médicos, bioquímicos, biólogos y geógrafos,
junto con especialistas de otras disciplinas cuya contribución sea importante en
un enfoque transdisciplinario. El proceso de desinsectación de viviendas y otros
espacios de riesgo también es clave, como lo demostró la historia, pero no
puede limitarse a una acción solipcista sin el vínculo con equipos de
investigación. Esta unión, finalmente, no será efectiva si no se proyecta
directamente hacia la comunidad. Para ello es necesario enlazar programas
nacionales y provinciales con la participación de representantes de las fuerzas
vivas de la comunidad, congregadas en foros de discusión que permitan adoptar
medidas que luego puedan llevarse al ámbito de aplicación político
institucional. (PICKENHAYN, trabalho de prelo, s/p).
Em Uberlândia, não se tem registro de estudo algum que buscasse investigar a
origem dos triatomíneos, no espaço urbano. Neste trabalho, na busca de um possível
entendimento, foi levantado, junto ao CCZ, os endereços urbanos dessas capturas dos
triatomíneos, para visitação e análise.
Pelos endereços, foi possível verificar que dois triatomíneos foram capturados no
bairro Liberdade, e o restante nos bairros Cruzeiro do Sul, Santa Luzia, Morada da Colina
e Guarani. Durante a visita aos endereços fornecidos pelo CCZ, foram encontrados os
seguintes problemas: No bairro Liberdade, o morador da residência na qual foi capturado
um R. neglectus positivo, no ano de 2004, não foi encontrado, durante a visita; no mesmo
bairro, no domicílio em que foi capturado outro R. neglectus, em 2005, o agente de saúde
não preencheu corretamente o endereço, anotando apenas o número da casa, tornando
difícil a sua localização; no bairro Cruzeiro do Sul, onde foi encontrada uma ecsúvia, foi
localizada a rua, todavia o número da casa era inexistente; no bairro Santa Luzia, onde foi
capturado um T. sordida, no ano de 2006, novamente o número da casa era inexistente.
Todavia, foi localizada uma moradora, na mesma rua, que possuía o mesmo nome descrito
na ficha de controle preenchida pelo agente de saúde, que afirmou não se recordar de ter
encontrado barbeiro em sua casa; no bairro Morada da Colina, onde foi capturado um R.
neglectus, na parede de um apartamento, o endereço estava correto, porém não foi possível
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
219
falar com o proprietário; no bairro Guarani, onde foi capturado 1 R.neglectus apesar de
localizada a casa, também não foi possível falar com o morador, pois este não se
encontrava, no dia da visita.
Um aspecto que merece ser considerado foi o relato de um agente de saúde sobre
uma captura urbana de triatomíneo, ocorrida no interior de uma casa recém-construída,
antes de 2004. Segundo ele, durante a inspeção da moradia, foi verificado que o
triatomíneo havia sido trazido dentro de um saco de milho, colhido um dia antes, numa
propriedade localizada no vale do rio Araguari, indicando a existência do transporte
passivo desses insetos para o espaço urbano da cidade.
Mesmo não conseguindo contato com nenhum dos moradores dos endereços
informados pelo CCZ, com exceção da captura de 2005, no bairro Liberdade, todos outros
locais de capturas indicados estavam localizados a poucos metros de remanescentes de
vegetação que acompanham os cursos d`água localizados no perímetro urbano, como
demonstra o Cartograma 21.
Esse fato sugere que, além do transporte passivo dos triatomíneos, resultante do
intercâmbio de pessoas e produtos, entre o campo e a cidade, existe a possibilidade da
ocorrência de triatomíneos, nesses espaços urbanos, em remanescentes de vegetação
nativa, tal como ocorre, de modo abundante, nas matas mesófilas do vale do rio Araguari.
Está criada uma situação de risco com a urbanização da doença de Chagas, com a
presença dos reservatórios humanos de T. cruzi e os triatomíneos, por enquanto em número
reduzido. Assim, essa questão não pode ser desconsiderada, sendo necessário monitorar,
com mais prudência, a presença dos triatomíneos na cidade, e entender os mecanismos que
determinam sua presença no espaço urbano.
Considerando que a transmissão vetorial da doença de Chagas, no Brasil, está sob
controle, corre-se o risco de um relaxamento do Programa de Controle da Doença de
Chagas, como ocorreu, recentemente, na Argentina, propiciando a reemergência da
doença. Nesse contexto, é esperado que as ações de vigilância epidemiológica sejam
mantidas e, ainda, sejam implementadas ações mais eficazes, de educação e prevenção.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
221
Em Uberlândia, o PCDCh tem suas ações estabelecidas a partir do Centro de
Controle de Zoonoses, do qual foi originado grande parte dos dados para desenvolvimento
deste trabalho. Para entender como o Programa funciona, foi aplicado um questionário com
os agentes de campo do programa e também uma entrevista com um dos técnicos do
laboratório, sobre o seu funcionamento (ANEXO 3).
Resumidamente, as ações do PCDCh são organizadas em uma primeira fase, tida
como preparatória, com atividades simultâneas de reconhecimento geográfico e
levantamento de triatomíneos; uma segunda fase, de ataque, caracterizada pela atividade
de borrifação de inseticidas e pesquisa anual de triatomíneos, no intradomicílio e
peridomicílio das moradias e, por fim, uma terceira fase, denominada de vigilância,
baseada na participação comunitária, incidindo no atendimento à notificação, feita pela
comunidade, sobre a ocorrência de triatomíneos, nos domicílios. As ações do PCDCh, em
Uberlândia, estão inseridas nessa terceira fase, porque o município alcançou percentuais
menores que 5% nos índices de infestação, infecção natural, colonização e dispersão.
Em relação à idade e tempo de escolaridade dos agentes, todos apresentam idade
superior a 35 anos, um agente possui o segundo grau incompleto, três terminaram o ensino
médio e um possui curso superior.
Sobre o tempo de trabalho no programa, apenas um trabalha há menos de três anos.
Quanto aos treinamentos recebidos para participar do PCDCh, dois agentes responderam
que receberam mais de cinco treinamento, antes e durante o programa; um recebeu três
treinamentos antes de iniciar no programa e; dois receberam dois treinamentos durante o
andamento do programa.
Quando questionados se consideram sua função importante, todos responderam que
sim, pelo fato de trabalharem para melhoria da saúde pública. Sobre a descrição de sua
função no CCZ, todos, de modo resumido, responderam que trabalham na captura e
controle químico do vetor da doença de Chagas. Apenas um lembrou de informar que,
além dessas atividades, também faz divulgação de informações para a prevenção da
doença. Todavia, vale ressaltar que, durante o acompanhamento nas incursões a campo,
feitas pelos agentes de saúde, foi observado que, na maioria das unidades domiciliares
visitadas, os agentes passavam e informavam aos moradores sobre medidas que devem ser
efetivadas, para evitar a presença dos barbeiros no domicílio. Outra questão respondida
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
222
pelos agentes, nesse sentido, foi se consideravam as informações transmitidas aos
moradores suficientes para o controle vetorial da doença de Chagas. Apenas um agente
respondeu que não.
Durante a fase de visita foi verificado que a maioria dos moradores da zona urbana
possuía informações muito limitadas sobre o barbeiro, transmissão e conseqüências da
doença de Chagas. Foi questionada, junto aos agentes, a explicação para tal fato. As
respostas foram as seguintes:
“modo de transmissão das informações; falta de interesse, porque não são
divulgados casos recentes da doença de Chagas; as pessoas só nos procuram se
o problema existir na sua casa, caso contrário elas não se importam; quando
começamos o programa, em 1998, as condições eram bem piores; quem viu
antes e vê agora consegue perceber bem em relação à doença de Chagas que a
situação no município melhorou muito”.
Sobre a estrutura do CCZ ser suficiente para a continuidade do programa, apenas
um agente respondeu que não. Após essa pergunta foi questionado se eles tinham alguma
sugestão para melhorar o PCDCh. As respostas, basicamente, estiveram relacionadas à
melhoria no efetivo de pessoas envolvidas no programa, aquisição de veículos novos,
elaboração de campanhas educativas nos meios de comunicação, maior divulgação do
programa, trabalhar mais com as crianças da zona rural.
Outra pergunta foi se ele considerava que a doença de Chagas, no município, estava
sob controle. Todos responderam que sim, justificando sua resposta ao baixo índice de
captura de triatomíneos no município, nos últimos anos. Por último, foi perguntado se eles
consideravam a remuneração salarial satisfatória, pela atividade exercida. De forma
unânime, todas as respostas foram não.
Para levantamento de informações sobre o PCDCh e os procedimentos do
laboratório de entomologia do CCZ, a entrevista com um dos técnicos do laboratório
informou que o PCDCh, em Uberlândia, tem sua estrutura inicial baseada nos 27 PITs
cadastrados no espaço rural, para onde são encaminhados os triatomíneos capturados pelos
moradores. Mensalmente, esses PITs são percorridos pela equipe de campo do CCZ, que
recolhe os triatomíneos capturados, enviando-os ao Laboratório de Entomologia da
Secretaria Municipal de Saúde. Posteriormente, é feita uma investigação no local de
captura e programada a borrifação no intradomicílio e peridomicílio da propriedade.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
223
No laboratório, é feita classificação dos triatomíneos quanto a espécie, sexo, estágio
de desenvolvimento (ninfa ou adulto). Posteriormente, caso não esteja seco, é feito o
exame do conteúdo intestinal, com o objetivo de verificar se está contaminado ou não pelo
T. cruzi. O exame é feito utilizando duas lâminas coradas, com duas gotas de guimsa para
uma gota de água tamponada. Após 15 minutos, as lâminas são examinadas no
microscópio, com ampliação de 100 vezes para o material corado e 40 vezes para o
material a fresco (vide Figura 89).
Figura 89 – Uberlândia (MG): Centro de Controle de Zoonose – Exame de
conteúdo intestinal dos triatomíneos
Autor: MENDES, 2008.
Além do programa de Chagas, o laboratório também trabalha com vetores da
esquistossomose, leishmaniose e dengue. Atualmente, ele conta com dez funcionários,
sendo um coordenador, três técnicos de laboratório e seis agentes de campo, que realizam
inquéritos entomológicos no meio rural e urbano.
Esta estrutura do PCDCh, em Uberlândia, nesses últimos anos, produziu
resultados positivos para o controle vetorial da doença. Não é demais ressaltar a
necessidade de sua manutenção, sob o risco de reemergência da doença.
Cecílio Romaña,, Emmanuel Dias e João
Carlos Pinto Dias
6 – CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES
Como fruto das ações do controle da doença de Chagas no Brasil, a transmissão
vetorial do T. cruzi está controlada em quase todo o país, restando ainda, em focos
residuais, o risco de transmissão. Todavia, tal situação, alcançada à custa de muito esforço,
desde a sua descoberta por Carlos Chagas até que o Brasil foi reconhecido pela OMS como
área livre de transmissão de doença de Chagas por T. Infestans, em 2006, não deve indicar
uma diminuição das ações de controle da doença no país, principalmente da vigilância
epidemiológica, pelas ações de controle vetorial e, também, detecção de surtos da doença
por transmissão oral.
Quando se discute a diminuição da ocorrência de novos casos da doença de Chagas,
no país, comumente é apresentada como principal motivo dessa diminuição as ações de
combate vetorial, a melhoria das condições de habitações e o maior controle das
transfusões de sangue. Todavia, é sabido que tudo isto não significa que a transmissão da
doença de Chagas é um problema definitivamente resolvido. Ainda há riscos potenciais,
principalmente relacionados à presença de portadores da doença que habitam próximo aos
ambientes de ocorrência de triatomíneos hematófagos e à infestação pelos vetores, até
agora considerados secundários, que estão substituindo o T. infestans na domiciliação.
Sobre a espacialização dos vetores no Município de Uberlândia, as áreas de relevo
intensamente dissecado, ao longo do vale do rio Araguari, foram as de maior ocorrência de
triatomíneos. Esse fato é decorrente da presença de nichos ecológicos da fauna triatomínea,
instalados nos remanescentes de mata nativa, que cobrem os vales encaixados e as
vertentes inclinadas, ao longo do rio, cuja preservação esteve relacionada às dificuldades
do aproveitamento dessas áreas pelas pela agricultura moderna de exortação.
Podem-se acrescentar, ainda, o modo de produção, as condições de moradia e a
proximidade dos ambientes de vegetação preservada, que se constituem em nichos
ecológicos dos triatomíneos como principais fatores da ocorrência do grande número de
capturas, no intra e peridomicílio das habitações. Nesta área, algumas moradias datam da
primeira metade do século passado, feitas de pau-a-pique, taipas e, em alguns casos, de
tijolos assentados com barro, sem acabamento de reboco. Essas estruturas, juntamente com
os currais antigos e os galinheiros improvisados, alguns feitos em casas abandonadas,
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
226
constituem-se em ambientes propícios para abrigo e desenvolvimento de colônias de
triatomíneos.
Nas áreas de relevo dissecado e topo plano, ocupada, em grande parte, por grandes
propriedades, a ocorrência de capturas foi baixa, se comparadas à área de relevo
intensamente dissecado. Os dados e as observações de campos sugerem que a presença dos
triatomíneos, nessa região, não era amplamente distribuída nas áreas de vegetação
campestres das chapadas, mas sempre foi restrita aos ambientes de mata que acompanham
os cursos d`água.
Outro elemento importante, que certamente influenciou a presença reduzida de
triatomíneos nessas áreas, foi a substituição da cobertura vegetal original por grandes áreas
de pastagens, cultivo de grãos e florestamento de pinus e eucaliptos, nos quais, além do
desmatamento, ocorreu grande e constante uso de inseticida.
Deste modo, conclui-se que, nas as áreas de relevo dissecado e topo plano do
município, a pouca ocorrência de capturas de triatomíneos está relacionada, inicialmente,
às condições ambientais dessas áreas e, em segundo lugar, à destruição de seus nichos
ecológicos relacionados à vegetação nativa, e ainda a melhor infra-estrutura de moradia
das grandes propriedades inseridas no sistema agroindustrial.
Outra questão que merece destaque é a estreita relação entre a maior ocorrência de
capturas de triatomíneos e a origem das pessoas chagásicas com o vale do Rio Araguari.
Nota-se, ainda, que nos municípios drenados por este rio também ocorre situação
semelhante, configurando-se um corredor ecológico propício a ocorrência da fauna
triatomínea. Nos vales dos grandes rios das bacias hidrográficas, que possuem situação
ambiental semelhante pode ocorrer o mesmo, permitindo a existência eixos de dispersão do
vetor e do agente etiológico da doença. Estes corredores ecológicos possibilitariam a
integração de circuitos de áreas endêmicas do norte, nordeste e centro-sul do país e mesmo
de outros países da América do Sul.
Sobre a espacialização da doença de Chagas, em Uberlândia, com exceção do
número de chagásicos urbanos, a região do vale do rio Araguari é a que apresenta um
maior número de portadores da doença de Chagas. Fato este verificado nas entrevistas com
os moradores do espaço rural e na análise dos prontuários dos portadores da doença de
Chagas residentes em Uberlândia.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
227
A espécie de triatomíneos de maior incidência de captura no município de
Uberlândia foi o T. sordida, que apresentou ampla capacidade de colonização no peri e
intradomicílio. O P. megistus e o R. neglectus foram, respectivamente, a segunda e terceira
espécie mais capturadas, sendo que a grande maioria ocorreu no intradomicílio. Essas duas
espécies também foram as únicas que apresentaram exemplares positivos para o T. cruzi.
Deste modo, conclui-se que o T. sordida, o P. megistus e o R. neglectus são as espécies de
maior risco de transmissão vetorial, no município.
Sobre a influência da percepção ambiental e das relações do produtor rural com o
meio ambiente, que podem produzir locais propícios à ocorrência de triatomíneos (nichos
artificiais), conclui-se que, apesar de anos de campanha pública informando sobre os riscos
da transmissão e os locais que facilitam a infestação de triatomíneos, a maior parte dos
moradores do espaço rural não imprimiu mudanças na sua relação como o meio ambiente,
por não considerar os triatomíneos uma ameaça a sua saúde, priorizando os hábitos e os
tipos de organização, do peridomicílio, que facilitam o seu trabalho.
Isso indica que a produção de ambientes que favorecem a colonização dos
triatomíneos, nas unidades domiciliares do espaço rural não são decorrentes, em sua
maioria, da falta de informação. Grande parte das famílias que habitam o espaço rural sabe
o que deve fazer para manter um ambiente saudável. Entretanto, não o faz por questões de
tradição e cultura, indicando que, para mudança de atitudes e hábitos é necessário que as
pessoas sejam convencidas, não somente da importância, mas da urgência de agir de forma
adequada.
Uma das estratégias que podem ser implantadas para amenizar essa situação seria a
realização de convencimento por meio de pessoas e entidades nas quais os moradores do
espaço rural confiam, como o Sindicato Rural, a Emater, dentre outros. Outra possibilidade
de promoção de mudanças de atitude é pela escola dos filhos, no contexto da educação
ambiental.
Mudanças de atitudes são realizadas a médio e longo prazo, portanto, é necessário o
desenvolvimento de ações continuadas, não somente assistencialistas, mas também que
criam autonomia. Outra questão que merece destaque é que se faz necessário que os
moradores do espaço rural aprendam a reconhecer os insetos vetores para contribuir,
efetivamente, na vigilância epidemiológica da doença de Chagas.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
228
Em grande parte, o sucesso das campanhas de controle da doença de Chagas em
Uberlândia, como em quase todo o país, se deu pelo processo de êxodo rural, com a
urbanização do T. cruzi, com a vinda da maioria dos chagásicos para a cidade. Isto separou
o agente etiológico do vetor, o que pode ser verificado pela pouca ocorrência de
triatomíneos contaminados com T. cruzi no espaço rural.
Apesar de já se encontrar o vetor na cidade, pela baixa densidade de sua ocorrência,
isso ainda não se configura como um problema. Entretanto, a conjuntura da presença de
reservatórios humanos do T. cruzi (pacientes chagásicos), com a captura cada vez mais
freqüente de triatomíneos, no espaço urbano, pode representar um efetivo risco de
transmissão vetorial, o que significaria a urbanização da doença.
Dos seis triatomíneos capturados na cidade, no período analisado, somente em um
caso, os moradores tinham relação efetiva com o meio rural, tendo-se constatado o
transporte passivo dos triatomíneos do meio rural para o urbano, em um saco de milho.
Nos outros casos, provavelmente, os triatomíneos podem ter sido originados de nichos
ecológicos urbanos, em áreas de vegetação nativa preservada, nos parques ecológicos e nas
matas ciliares dos córregos.
O fato de todos esses domicílios se encontrarem próximos a
essas áreas corrobora para essa possibilidade.
Em Uberlândia, as ações do PCDCh coordenadas pelo CCZ têm apresentado
resultados significativos sobre o controle vetorial, repercutindo no fato de que há vários
anos não se registram novos casos da doença, por ação de triatomíneos hematófagos.
Entretanto, a sua capacidade de domiciliação, mesmo nas casas urbanas mais bem
construídas, indica que é necessária a continuidade dos trabalhos de controle vetorial,
incluindo também o espaço urbano.
Nesse contexto, é esperado que as ações de vigilância epidemiológica sejam
mantidas e, ainda, sejam implementadas outras mais eficazes de educação ambiental para a
saúde, para que as pessoas realizem as modificações necessárias nas unidades domiciliares,
objetivando a não ocorrência de triatomíneos, reduzindo o risco de novos casos humanos
da doença de Chagas.
Por fim, espera-se que esta pesquisa tenha avançado um pouco no conhecimento da
Geografia da Saúde e que tenha, ainda, contribuído, de algum modo para a compreensão da
dinâmica rural e urbana da doença de Chagas, pois se acredita que esta compreensão pode
minimizar os problemas relacionados à endemia.
Aspectos ecológicos e sociais da doença de Chagas no município de Uberlândia, Minas Gerais – Brasil
229
Perspectivas para futuras pesquisas, após o término deste trabalho, existem
algumas, como por exemplo, investigar, de forma mais detalhada, as ocorrências de nichos
ecológicos urbanos de triatomíneos; a origem, a história de vida e as condições de trabalho
dos portadores da doença de Chagas do município; o perfil dos doadores de sangue
diagnosticados como portadores da doença de Chagas pelo Hemocentro do HC da UFU; a
história da introdução da doença de Chagas na região do Triângulo Mineiro.
.
Equipe de Campo
do CCZ
7 - REFERÊNCIAS
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Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.16, p.7-12, 2000.
Equipe de Campo do
CCZ
Questionário CCZ do PCDCh – Uberlândia – MG
1) Quando e como foi criado o CCZ e quais atividades ele desenvolve?
2) Como é organizado o PCDCh no município de Uberlândia?
3) Desde quando ela existe?
4) Quantos funcionários?
5) Cargos?
6) Tempo de serviço?
7) Quem são as pessoas do laboratório?
8) Procedimentos do laboratório?
9) Qual o tipo de exame é feito e como é feito?
10) Equipe de campo?
11) Quantas equipes de campo?
12) Quem são?
13) Onde são feitas as investigações?
14) Que procedimentos são tomados quando são capturados triatomíneos?
Questionário CCZ do PCDCh – Uberlândia - MG
1) Idade? ________________________
2) Grau de escolaridade? _________________________
3) Há quanto tempo trabalha no programa? ________________________
4) Treinamento
( ) a- Recebeu treinamento antes de iniciar o programa?
( ) b- Recebeu treinamento durante o programa?
( ) c- Recebeu treinamento apenas recentemente?
5) Quantos treinamentos voltados ao programa você já participou? _________________
6) Considera sua função importante? Por quê?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
7) Descreva de modo resumido sua função no CCZ?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
8) Você considera sua remuneração satisfatória pela atividade que você exerce?
( ) Sim ( ) Não
9) Você considera as informações transmitidas ao morador são suficientes para o
controle vetorial da doença de chagas?
( ) Sim ( ) Não
10) Durante a fase de visita foi verificado que um percentual significativo de moradores
do espaço rural possuía informações muito limitadas sobre o babeiro, aquisição e
conseqüências da doença de Chagas. Qual explicação você daria para este fato?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
11) Você considera a estrutura do CCZ suficiente para a atividade?
( ) Sim ( ) Não
12) Você tem alguma sugestão para melhorar o PCDCh?
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______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
12) Você considera que a doença de Chagas no município está sob controle. Por quê?
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