XI
RESUMO
Os mamíferos apresentam uma representação completa da superfície do
corpo no córtex somestésico primário. Em alguns roedores, como os ratos, a
região relacionada à representação do focinho é composta por uma distribuição
dos axônios tálamo-corticais e células na camada IV, formando módulos que
correspondem à distribuição espacial das vibrissas da face contralateral (a região
do campo de barris). A formação dos barris inicia-se durante o período
embrionário e se prolonga por idades pós-natal, sendo moldado pela atividade
elétrica. Durante as primeiras semanas pós-natal, os barris são estruturas muito
plásticas, modificáveis pelo ambiente externo. O término da plasticidade do
campo dos barris corresponde a maturação da matriz extracelular (MEC) e suas
especializações, como as redes perineuronais (RPNs), encontradas na superfície
de corpos celulares e dendritos proximais de neurônios. As RPNs são compostas
por um grupo diversificado de macromoléculas, muitas das quais proteoglicanos
de condroitim sulfato (PGCS), que inibem o crescimento axonal e a plasticidade.
Para verificarmos se a degradação do condroitim sulfato pela enzima
condroitinase ABC prolongaria a plasticidade do córtex somestésico primário,
ratos neonatos tiveram todas as vibrissas retiradas durante o período de P0 a
P10. A retirada das vibrissas leva a uma desorganização do padrão dos barris.
Nas idades de P20, P40 ou P70 esses animais foram submetidos à cirurgia para
implante de fatia do polímero Elvax® saturado com a enzima condroitinase ABC
(50 U/ml) ou com tampão fosfato salina (PBS) (controle). Três ou dez dias após o
implante, os córtices foram aplanados e cortados em criostato e submetidos a
diferentes reaçõe histoquímicas. As análises para determinar a eficácia da
enzima e a distribuição do condroitim sulfato foram feitas através de
imunofluorescências para o anticorpo que reconhece o glicosaminoglicano (GAG)
de condroitim sulfato (CS56, SIGMA) e anticorpo que reconhece um epítopo
exposto no núcleo protéico após a digestão do GAG do PGCS. A histoquímica
para a atividade da enzima citocromo oxidase revelou o padrão de barris após o
tratamento, e para a glicoproteína Vicia villosa, marcou o PGCS presente nas
redes perineuronais. O uso do Elvax® como veículo para a difusão lenta da
droga, mostrou-se eficaz para um tratamento crônico, pois houve liberação da
enzima durante os cinco primeiros dias. Todos os animais sacrificados após dez
dias apresentaram a recuperação morfológica dos barris. Após três dias de
implante somente os animais que sofreram implante precocemente (P20) tiveram
uma resposta relevante. A alteração das RPNs através da digestão do condroitim
sulfato promove a plasticidade no córtex somestésico, já que foi possível
recuperar o padrão normal os barris que havia sido alterado pela retirada das
vibrissas. Essa manipulação da MEC pode ser usada para promover a
plasticidade do córtex adulto.