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contra a ordem vigente de profunda exclusão social, evidenciando a existência no cenário
político de grupos sociais ligados, então, ao início do processo de industrialização do país.
Nesse contexto, a educação movimentou-se em torno de determinações
governamentais que se preocupavam com a escola como instrumento de moldagem dos
indivíduos e, por isso, merecedora de atenções e intervenções, mas, ao mesmo tempo,
entendendo o processo de instrução como objeto de interesse individual, eximindo, assim, o
Estado, da responsabilidade de garantir o acesso de todos à escolarização. A partir da
Constituição de 1891, com o fim do voto censitário
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, acenou-se para a possibilidade de
participação política a um maior número de homens, mas esta ampliação dos direitos
políticos estaria vinculada a exigência do saber ler e escrever, pois desta maneira
“pressupunha-se que as primeira letras seriam uma espécie de motor atrativo a fim de que o
indivíduo se esforçasse por conquistar a sua individualidade” (Idem,ibidem, p.75).
Nas décadas de 1930 e 1940, durante a vigência do governo de Getúlio Vargas, cuja
culminância ocorreu no período do Estado Novo, a educação configurou-se como um dos
principais interesses do Estado. Através do estabelecimento de diretrizes políticas que
foram determinadas a partir das mudanças desencadeadas nos anos decorrentes da
Revolução de 1930, o governo definiu estratégias de manutenção da ordem vigente. A
tomada do poder realizada graças à liderança de Vargas, encerrava o predomínio dos
grandes produtores de café, estabelecendo a presença de outros grupos na condução política
do país, reordenando as estruturas econômicas, políticas e sociais na busca da construção
do consenso, a fim de se evitar mudanças na estrutura social. A preocupação com a
educação pautou-se no entendimento de que era necessário implementar esforços
governamentais específicos, direcionados, sobretudo, à classe trabalhadora, já que se fazia
imperativo consolidar o processo de modernização nacional, no “reconhecimento de que a
civilização e o progresso do país eram um produto do trabalho e da educação” (GOMES,
2003, p.446). A escolarização se constituiria a partir do ditame da manutenção do
ordenamento jurídico do país, garantindo, assim, uma condução pacífica para a
implementação do regime que se instalava no poder. Urgia basicamente formar para o
trabalho, segundo a ideologia de reconstrução social, pela educação e, por isso, a escola
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1 – Este modelo de voto foi incluído na Constituição brasileira de 1824, definindo que o eleitor deveria
possuir uma renda líquida anual superior a 100 mil réis.