Download PDF
ads:
CRISTIANE NAHÁS LARA CAMARGOS
ESTUDO DA HIDRONEFROSE FETAL ISOLADA:
regressão espontânea, variabilidade e potencial preditivo das
medidas ultra-sonográficas
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
CRISTIANE NAHÁS LARA CAMARGOS
ESTUDO DA HIDRONEFROSE FETAL ISOLADA:
regressão espontânea, variabilidade e potencial preditivo das
medidas ultra-sonográficas
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Pediatria da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais, como parte dos requisitos para
obtenção do grau de Mestre em Medicina.
Orientador: Prof. Eduardo Araújo de Oliveira
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2006
ads:
CRISTIANE NAHÁS LARA CAMARGOS
Pediatria da Faculdade de Horizonte
Camargos, Cristiane Nahás Lara
C172e Estudo da hidronefrose fetal isolada: regressão espontânea,
variabilidade e potencial preditivo das medidas ultra-sonográficas/
Cristiane Nahás Lara Camargos. Belo Horizonte, 2006.
161f.
Dissertação.(mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais.
Faculdade de Medicina.
Área de concentração: Pediatria
Orientador: Eduardo Araújo de Oliveira
1.Hidronefrose/diagnóstico 2.Diagnóstico pré-natal/estatística & dados
numéricos 3.Ultra-sonografia pré-natal 4.Pelve renal/anormalidades
5.Pelve renal/ultra-sonografia 6.Remissão espontânea 7.Curva ROC
I.Título
NLM: WS 320
CDU: 616.613-007.63
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Reitor: Ronaldo Tadêu Pena
Vice-reitora: Heloisa Maria Murgel Starling
Pró-reitor de Pós-graduação: Jaime Arturo Ramirez
FACULDADE DE MEDICINA
Diretor: Francisco José Penna
Vice-diretor: Tarcizo Afonso Nunes
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE – ÁREA DE
CONCENTRAÇÃO SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Coordenador: Prof. Joel Alves Lamounier
Subcoordenador: Prof. Eduardo Araújo de Oliveira
Colegiado:
Prof. Eduardo Araújo de Oliveira
Profª Ivani Novato Silva
Prof. Marco Antônio Duarte
Prof. Marcos Borato Viana
Profª. Regina Lunardi Rocha
Prof. Roberto Assis Ferreira
Rute Maria Velasquez Santos (Representante Discente)
iii
Àqueles que me são mais caros:
Papai e Vovó Cencinha (in memoriam);
Minha mãe, Nícia;
Flávio, Washington, Juli e Lili;
Magno.
iv
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Eduardo Araújo Oliveira, pela oportunidade que me foi dada e pelo apoio
sempre recebido.
Aos membros da banca examinadora, Profa. Dra. Alamanda Kfoury Pereira, Prof. Dr. José
Maria Penido Silva e Profa. Dra. Ana Cristina Simões e Silva, que nos dão a honra de avaliar
este trabalho.
À FHEMIG, ao Centro Geral de Pediatria, à Dra. Helena Francisca Valadares Maciel e à
Profa. Dra. Eglea Maria da Cunha Melo que apoiaram minha dedicação ao mestrado.
Ao Hospital das Clínicas da UFMG, ao Prof. Ricardo Castanheira Pimenta Figueiredo e à
Profa. Dra. Eleonora Moreira Lima que apoiaram minha dedicação ao mestrado.
Ao Prof. Dr. Magno Meirelles Ribeiro, que me apoiou e colaborou em todas as fases deste
trabalho.
Ao Prof. Dr. Marcelo Militão e ao Dr. Gilberto Lemos que colaboraram com o trabalho e
incentivaram minha dedicação ao mestrado.
Aos demais colegas da Nefrologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG, aos colegas
do Centro Geral de Pediatria, aos colegas do Hospital da Baleia, Mítico, Andréa, Eduardo e
Telmo que apoiaram este trabalho.
Ao Alexandre, secretário da Nefrologia Pediátrica, pela ajuda com os prontuários do GRIM.
À Dra. Ivana Moura Abuhid, que me ajudou a conhecer mais sobre o exame cintilográfico do
aparelho urinário.
À Profa. Dra. Maria Cândida Ferrarez Bouzada Viana.
A Magda Barbosa Roquette Pinho Taranto, que colaborou com a correção gramatical.
v
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIG. 1 Fluxograma para avaliação do trato urinário do neonato portador de
hidronefrose fetal
63
FIG. 2 Peso [kg] x idade [dias]; 3° quartil; todos os pacientes. 101
FIG. 3 Peso [kg] x idade [dias]; 1° quartil; todos os pacientes. 101
FIG. 4 Estatura [cm] x idade [dias]; 3° quartil; todos os pacientes. 101
FIG. 5 Estatura [cm] x idade [dias]; 1° quartil; todos os pacientes. 101
FIG. 6 Volume [mm3] x idade [dias]; 3° quartil; unidades sem cirurgia. 102
FIG. 7 Volume [mm3] x idade [dias]; 1° quartil; unidades sem cirurgia. 102
FIG. 8 Volume [mm3] x idade [dias]; 3° quartil; unidades com cirurgia. 102
FIG. 9 Volume [mm3] x idade [dias]; 1° quartil; unidades com cirurgia. 102
FIG. 10
DAP [mm] x idade [dias]; 3° quartil; todas as unidades. 103
FIG. 11
DAP [mm] x idade [dias]; 1° quartil; todas as unidades. 103
FIG. 12
DAP [mm] x idade [dias]; 2° quartil; todas as unidades. 103
FIG. 13
DAP [mm] x idade [dias]; escolhida perto da média. 103
FIG. 14
DAPs x OJUP
(estudo "A")
108
FIG. 15
DAPs x OJUP cirúrgica
(estudo "A")
108
FIG. 16
DAPs x Uropatias de interesse
(estudo "A")
108
FIG. 17
OJUP; ROC para Dap_Ft
(estudo "A")
111
FIG. 18
OJUP; ROC para Dap_Vi
(estudo "A")
111
FIG. 19
OJUP; ROC para Dap_Pi
(estudo "A")
111
FIG. 20
OJUP; ROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
(estudo "A")
111
FIG. 21
OJUP cirúrgica; ROC para Dap_Ft
(estudo "A")
112
FIG. 22
OJUP cirúrgica; ROC para Dap_Vi
(estudo "A")
112
FIG. 23
OJUP cirúrgica; ROC para Dap_Pi
(estudo "A")
112
FIG. 24
OJUP cirúrgica; ROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
(estudo "A")
112
FIG. 25
Uropatias de interesse; ROC para Dap_Ft
(estudo "A")
113
FIG. 26
Uropatias de interesse; ROC para Dap_Vi
(estudo "A")
113
FIG. 27
Uropatias de interesse; ROC para Dap_Pi
(estudo "A")
113
FIG. 28
Uropatias de interesse; ROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
(estudo "A")
113
FIG. 29
DAPs x OJUP
(estudo "B")
115
FIG. 30
DAPs x OJUP cirúrgica
(estudo "B")
115
FIG. 31
DAPs x Uropatias de interesse
(estudo "B")
115
FIG. 32
OJUP; ROC para Dap_Ft
(estudo "B")
118
FIG. 33
OJUP; ROC para Dap_Vi
(estudo "B")
118
FIG. 34
OJUP; ROC para Dap_Pi
(estudo "B")
118
FIG. 35
OJUP; ROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
(estudo "B")
118
FIG. 36
OJUP cirúrgica; ROC para Dap_Ft
(estudo "B")
119
FIG. 37
OJUP cirúrgica; ROC para Dap_Vi
(estudo "B")
119
FIG. 38
OJUP cirúrgica; ROC para Dap_Pi
(estudo "B")
119
FIG. 39
OJUP cirúrgica; ROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
(estudo "B")
119
FIG. 40
Uropatias de interesse; ROC para Dap_Ft
(estudo "B")
120
FIG. 41
Uropatias de interesse; ROC para Dap_Vi
(estudo "B")
120
FIG. 42
Uropatias de interesse; ROC para Dap_Pi
(estudo "B")
120
FIG. 43
Uropatias de interesse; ROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
(estudo "B")
120
vi
TAB. 1 Uropatias de pacientes e de unidades 83
TAB. 2 Dilatações 84
TAB. 3 Cirurgias 84
TAB. 4 Dilatação fetal de pacientes por uropatias 85
TAB. 5 Dilatação pós-natal de pacientes por uropatias 87
TAB. 6 Pacientes operados por uropatia 88
TAB. 7 Pacientes operados por uropatia
(unidade mais grave; exclusão de “outras uropatias” e
duplicação)
88
TAB. 8 Dilatação fetal de pacientes por uropatias
(unidade mais grave; exclusão de “outras
uropatias” e duplicação)
89
TAB. 9 Dilatação pós-natal de pacientes por uropatias
(unidade mais grave; exclusão de
“outras uropatias” e duplicação)
89
TAB. 10 Dilatação fetal das unidades
(até duas unidades por paciente; exclusão de “outras uropatias”
e duplicação)
89
TAB. 11 Dilatação pós-natal das unidades
(até duas unidades por paciente; exclusão de “outras
uropatias” e duplicação)
90
TAB. 12 Pacientes operados por uropatia
(até duas unidades por paciente; exclusão de “outras
uropatias” e duplicação)
90
TAB. 13 Dilatação fetal das unidades
(duas unidades por paciente; exclusão de “outras uropatias”)
91
TAB. 14 Dilatação pós-natal das unidades
(duas unidades por paciente; exclusão de “outras
uropatias”)
91
TAB. 15 Pacientes operados por uropatia
(duas unidades por paciente; exclusão de “outras
uropatias”)
91
TAB. 16 Dilatação fetal de pacientes por uropatias
(hidronefrose idiopática)
92
TAB. 17 Dilatação pós-natal de pacientes por uropatias
(hidronefrose idiopática)
92
TAB. 18 Dilatação fetal das unidades
(hidronefrose idiopática)
92
TAB. 19 Dilatação pós-natal das unidades
(hidronefrose idiopática)
92
TAB. 20 Transição de DAP fetal para DAP pós-natal
(pacientes)
93
TAB. 21 Transição de DAP pós-natal para DAP final
(pacientes)
94
TAB. 22 Transição de DAP fetal para DAP final
(pacientes)
94
TAB. 23 Transição de DAP fetal para DAP pós-natal
(unidades)
95
TAB. 24 Transição de DAP pós-natal para DAP final
(unidades)
95
TAB. 25 Transição de DAP fetal para DAP final
(unidades)
96
TAB. 26 Comparação de médias de DAPs por grupo de uropatias
(estudo "A")
109
TAB. 27 Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) de OJUP
(estudo "A")
110
TAB. 28 Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) de OJUP cirúrgica
(estudo "A")
110
TAB. 29 Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) das uropatias de
interesse
(estudo "A")
110
TAB. 30 Comparação de médias de DAPs por grupo de uropatias
(estudo "B")
116
TAB. 31 Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) de OJUP
(estudo "B")
117
TAB. 32 Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) de OJUP cirúrgica
(estudo "B")
117
TAB. 33 Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) das uropatias de
interesse
(estudo "B")
117
vii
QUADRO
1 DAP renal fetal utilizado para diagnosticar hidronefrose 19
QUADRO
2 Classificação da hidronefrose fetal, segundo diversos autores 22
QUADRO
3 Classificação da hidronefrose pós-natal, segundo diversos autores 26
QUADRO
4 Classificação da SFU para dilatação da pelve renal 28
QUADRO
5 Critérios para indicação de pieloplastia, segundo diversos autores 52
QUADRO
6 Testes de significância estatística para lateralidade 97
QUADRO
7 Testes de significância estatística para sexo 98
QUADRO
8 Testes de significância estatística para lateralidade 98
QUADRO
9 Testes de significância estatística para sexo 98
QUADRO
10 Associações estatisticamente significantes verificadas 104
QUADRO
11 Detalhamento de curvas ROC - OJUP
(estudo "A")
113
QUADRO
12 Detalhamento de curvas ROC - OJUP cirúrgica
(estudo "A")
114
QUADRO
13 Detalhamento de curvas ROC - Uropatias de interesse
(estudo "A")
114
QUADRO
14 Detalhamento de curvas ROC - OJUP
(estudo "B")
121
QUADRO
15 Detalhamento de curvas ROC - OJUP cirúrgica
(estudo "B")
121
QUADRO
16 Detalhamento de curvas ROC - Uropatias de interesse
(estudo "B")
121
QUADRO
17 Potenciais de discriminação (ASC) obtidos em variantes do Estudo “A” 122
QUADRO
18 Potenciais de discriminação (ASC) obtidos em variantes do Estudo “B” 123
viii
LISTA DE ABREVIATURAS
99m
Tc
-
ácido 99mtechnetium
dimercapto
-
succinic
99m
Tc
-
DTPA
ácido Technetium
-
99m diethylenetriamine pentaacetic
99m
Tc
-
EC
99mTc
-
etthykebeducysteube
99m
Tc
-
GH
99m Tc
-
glucoheptonate
99m
Tc
-
MAG
3
99mTc
-
mercaptoacetyltriglycine
ASC
área sob a curv
a (conceito ligado à análise por curvas ROC)
B
para determinada variável explicativa, coeficiente obtido em RL
BSA
área de superfície corporal
DAP
diâmetro ântero
-
posterior
DAPf
diâmetro ântero
-
posterior da pelve renal fetal
cintilografia renal e
stática
DP
desvio
-
padrão
DP/DR
razão entre o DAP e o diâmetro ântero
-
posterior do rim
DTPA
cintilografia renal dinâmica
ExpB
é a função exp(B), que na RL equivale à razão de chances
FRD
função renal diferencial
G
dilatação grave
GAD
drenagem assisti
da pela gravidade
GAP
gestações anteriores
GG
dilatação bilateral, grave
-
grave
HC
-
Hospital das Clínicas da UFMG
Hd
hidronefrose
IOH
iodine
-
123 orthoiodohippurate
IRC
insuficiência renal crônica
ITU
infecção do trato urinário
Iv
índice de va
riabilidade
L
dilatação leve
LG
dilatação bilateral, leve
-
grave
LL
dilatação bilateral, leve
-
leve
LM
dilatação bilateral, leve
-
moderada
M
dilatação moderada
MG
dilatação bilateral, moderada
-
grave
MM
dilatação bilateral, moderada
-
moderada
mmHg
milímetros de mercúrio
NAPRTCS
"North American Pediatric Renal Transplant Cooperative Study"
OJUP
obstrução da junção ureteropélvica
pac.
paciente
Qtd
quantidade
RL
regressão logística
RNM
ressonância nuclear magnética
ROC
Receiver Operator Cur
ve
RV
-
razão de verossimilhança para teste negativo
RV+
razão de verossimilhança para teste positivo
RVU
refluxo vesicoureteral
SFU
índice da "Society of Fetal Urology" para classificação de hidronefrose
Sig
probabilidade de significância, o mesmo que
"valor
-
p"
TFG
taxa de filtração glomerular
UCM
uretrocistografia miccional
UE
urografia excretora
Universidade Federal de Minas Gerais
UNP
-
HC
-
Unidade de Nefrologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG
urop.
uropatia
VUP
válvula de
uretra posterior
Wald
valor da estatística de Wald, na RL
ix
LISTA DAS VARIÁVEIS MAIS REFERIDAS
Cre creatinina sérica [mg/dl]
Dap medida do DAP (diâmetro ântero-posterior da pelve renal) [mm]
Dap_Ft valor de Dap no ultra-som fetal
Dap_Pi média dos valores de Dap no primeiro e no segundo ultra-som pós-natal
Dap_Vi
valor de Dap no primeiro ultra-som pós-natal
Dat diâmetro transverso da pelve [mm]
Dil índice de dilatação da pelve renal, varia de 0 a 3
Dil(F) dilatação da pelve renal no ultra-som fetal
Dil(P) dilatação da pelve renal no primeiro ultra-som pós-natal
Dil(U) dilatação da pelve renal no último ultra-som pós-natal
Dil_Pi média dos valores de Dil no primeiro e no segundo ultra-som pós-natal
Epr espessura do parênquima renal [mm]
Est estatura [cm]
Ka1 índice calculado por Dap/Rap ou DP/DR
Ka1_Pi média dos valores de Ka1 no primeiro e no segundo ultra-som pós-natal
Ka2 índice calculado por Dap/Rld
Ka2_Pi média dos valores de Ka2 no primeiro e no segundo ultra-som pós-natal
Ka3 índice calculado por 100 x Ka1 / Epr
Pad medida da pressão arterial diastólica [mmHg]
Pas medida da pressão arterial sistólica [mmHg]
Pes medida do diâmetro peso [kg]
Rap medida do diâmetro ântero-posterior do rim [mm]
Rld medida do comprimento longitudinal do rim, também chamado diâmetro do rim [mm]
Rlt medida do diâmetro transverso do rim no plano longitudinal [mm]
Rtd medida do diâmetro do rim no plano transverso [mm]
Sfu valor do índice SFU (da Society Fetal of Urology), varia de 0 a 4
Sfu_Pi média dos valores de Sfu relativos ao primeiro e ao segundo ultra-som pós-natal
Sfu_Vi Valor de Sfu no primeiro ultra-som pós-natal
Tfg razão entre a TFG (taxa de filtração glomerular) medida e a taxa normal para a idade
Ureia valor da dosagem de uréia sérica [mg/dl]
Vcb razão volume do rim contralateral por superfície corporal
Vcl medida do volume do rim contralateral
Vob razão ente o volume renal e a área de superfície corporal
Vol medida do volume renal
Vre para uma unidade renal, é a razão entre seu volume e o da unidade contralateral
_Vi sufixo aplicado a qualquer variável para designar o valor no primeiro exame de ultra-
som pós-natal
_Pi sufixo aplicado a qualquer variável para designar a média dos valores no primeiro e
no segundo ultra-som pós-natal
x
RESUMO
A hidronefrose fetal isolada, definida como a hidronefrose pré-natal não associada
com outras alterações morfológicas do trato urinário, é a anormalidade mais comum detectada
pelo exame ultra-sonográfico pré-natal. O cuidado a ser dispensado às crianças com
hidronefrose isolada ainda é controverso. Alguns trabalhos sugerem que hidronefrose fetal
isolada é uma condição benigna.
Neste estudo foram acompanhados prospectivamente 143 crianças com diagnóstico de
hidronefrose fetal isolada (DAP 5mm; idade gestacional média de 34,9 ± 3,3 semanas). Os
pacientes foram submetidos a acompanhamento ultra-sonográfico periódico, entre outros
cuidados que são detalhados no trabalho. As crianças com dilatação da pelve renal, sem
OJUP, sem refluxo vesicoureteral ou outra anomalia bem definida, foram classificadas como
portadoras de hidronefrose idiopática. A hidronefrose idiopática é a anomalia mais comum na
casuística considerada, acometendo 61 (42,7%) pacientes. A OJUP acometeu 40 (28%)
pacientes. A pieloplastia foi a cirurgia mais indicada, tendo sido realizada em 18 (12,6%)
pacientes e 21 unidades renais.
As medidas registradas nos prontuários dos pacientes foram transformadas em “séries
evolutivas” das quais se extraíram parâmetros de caracterização, tais como: valores e médias
iniciais e finais, valores máximos e mínimos, taxas de crescimento, variabilidade, etc.
Analisamos e comparamos a variabilidade (não repetibilidade) das séries evolutivas.
Usando medidas do DAP da pelve renal (fetal, primeira pós-natal, última pós-natal)
dos pacientes com hidronefrose idiopática, quantificamos a involução espontânea da dilatação
da pelve, avaliando sua significância estatística através de testes de simetria, homogeneidade
marginal e tendência de direção (McNemar).
Preliminarmente, avaliamos por regressão logística a capacidade preditiva de diversos
parâmetros de caracterização das séries evolutivas, relativamente ao diagnóstico de pacientes
ou unidades portadoras de OJUP, OJUP cirúrgica e “uropatias de interesse” (OJUP, refluxo
vesicoureteral e megaureter).
Para cada variável-resposta considerada, as duas variáveis explicativas com maior
potencial preditivo, conforme resultado da análise preliminar, foram comparadas,
relativamente à capacidade de discriminação (análise por curvas ROC), com o DAP fetal, o
primeiro DAP pós-natal e a média das duas primeiras medidas de DAP.
Os principais resultados deste trabalho são: a) comprovação, com significância
estatística, da regressão espontânea da dilatação da pelve renal (do ultra-som fetal para o
primeiro ultra-som pós-natal, do primeiro ultra-som pós-natal para o último ultra-som pós-
natal e do ultra-som fetal para o último ultra-som pós-natal); b) constatação de influência
estatisticamente significante da lateralidade e não constatação de influência do sexo, na
regressão espontânea da dilatação da pelve renal; c) observação de variabilidade relativamente
pequena (comparação com as demais medidas ultra-sonográficas) no comprimento e volume
renal, verificando-se, além disso, diferença estatisticamente significante, nas unidades
submetidas à cirurgia (que apresentam maior variabilidade); d) observação de acentuada
variabilidade nas séries evolutivas de DAP, independentemente de uropatia e/ou evento
cirúrgico; e) comprovação de elevado potencial para discriminação de OJUP, de OJUP
cirúrgica e de “uropatias de interesse”, nas medidas do DAP e em algumas outras variáveis
explicativas baseadas em observações ultra-sonográficas; f) demonstração de que a utilização
da média das duas primeiras medidas do DAP pós-natal aumenta, para as variáveis-resposta
de interesse, a capacidade preditiva das medidas de DAP.
xi
SUMÁRIO
Capítulo 1 - INTRODUÇÃO
1
1.1 - Contextualização da pesquisa 1
1.2 - Descrição do trabalho 2
1.3 - Objetivos 3
1.4 - Divisão em capítulos 4
Capítulo 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
5
2.1 - Introdução 5
2.2 - Desenvolvimento normal do rim 6
2.2.1 - Nefrogênese e maturação funcional 6
2.2.2 - Associação de medidas renais com idade, peso e superfície corporal 7
2.2.3 - Anatomia e função da pelve renal 9
2.3 - Detecção ultra-sonográfica de anomalias do sistema coletor renal 12
2.3.1 - Anomalias anatômicas do sistema urinário e sua importância na pediatria 12
2.3.2 - O uso da ultra-sonografia do trato urinário fetal e suas implicações 15
2.3.3 - Critérios para definição de hidronefrose fetal 17
2.3.4 - Incidência de anomalias nos rins dos fetos 23
2.3.5 - Avaliação ultra-sonográfica do rim da criança 25
2.3.6 - Variabilidade das medidas ultra-sonográficas do rim 33
2.3.6.1 - Variabilidade das principais dimensões do rim 33
2.3.6.2 - Variabilidade das medidas da pelve 35
2.4 - Diagnóstico diferencial das uropatias associadas à hidronefrose fetal 38
2.4.1 - Introdução 38
2.4.2 - Refluxo vesicoureteral 38
2.4.2.1 - Dilatação não confirmada no exame ultra-sonográfico pós-natal 40
2.4.2.2 - Dilatação confirmada no exame ultra-sonográfico pós-natal 40
2.4.2.3 - Pesquisa compulsória de refluxo vesicoureteral 41
2.4.3 - Obstrução da junção ureteropélvica 42
2.4.3.1 - Alterações ao ultra-som renal 46
2.4.3.2 - Outros achados associados à obstrução do trato urinário 47
2.4.3.3 - Critérios para indicação da pieloplastia 52
2.4.4 - Hidronefrose Idiopática 54
2.5 - Conclusões 59
Capítulo 3 - ASPECTOS METODOLÓGICOS
60
3.1 - Introdução 60
3.2 - Acompanhamento longitudinal dos pacientes 60
3.2.1 - Abordagem no pré-natal 60
3.2.1.1 - Morfologia fetal geral 61
3.2.1.2 - Morfologia do trato urinário 61
3.2.1.3 - Diagnóstico funcional 61
3.2.2 - Abordagem ao nascimento 62
3.2.3 - Abordagem propedêutica 62
3.2.3.1 - Avaliação laboratorial 62
3.2.3.2 - Avaliação de imagens 63
3.2.4 - Abordagem terapêutica 65
3.2.5 - Abordagem evolutiva 66
3.3 - Aplicativo em EXCEL 66
xii
3.4 - Constituição do banco de dados 67
3.4.1 - Critérios de inclusão e de exclusão de pacientes 67
3.4.2 - Sub-planilha “Dados_Coleta” 68
3.4.3 - Sub-planilha “Dados_Extensos” 69
3.4.3.1 - Relação TFG medido por TFG esperado (normal) 69
3.4.3.2 - Volume da unidade renal e da unidade contralateral 70
3.4.3.3 - Relação volume por volume contralateral 70
3.4.3.4 - Relação volume por superfície corporal 70
3.4.3.5 - Índice Dil 71
3.4.3.6 - Relações Ka1, Ka2 e Ka3 71
3.5 - Depuração de dados 71
3.6 - Conceituação e caracterização das séries evolutivas 72
3.6.1 - Conceituação 72
3.6.2 - Caracterização 72
3.6.2.1 - Parâmetros obtidos por leitura direta ou por cálculo matemático elementar 73
3.6.2.2 - Parâmetros obtidos por regressão linear de segunda ordem 73
3.6.2.3 - Caracterização da taxa de variação das medidas 74
3.6.2.4 - Caracterização da variabilidade das medidas 74
3.7 - Delineamento de estudos 76
3.7.1 - Casuísticas consideradas 76
3.7.2 - Variáveis-resposta 77
3.7.3 - Variáveis explicativas 78
3.8 - Testes de simetria, homogeneidade marginal, e de independência de direção 78
3.9 - Análise univariada 79
3.9.2 - Comparação de médias 79
3.9.3 - Classificação com regressão logística 80
3.9.4 - Comparação do potencial de discriminação de classificadores 80
3.9.5 - Scripts para avaliação do potencial preditivo das variáveis explicativas 82
Capítulo 4 - CASUÍSTICA
83
4.1 - Introdução 83
4.2 - Banco de dados completo 83
4.2.1 - Ocorrência de uropatias, dilatações e cirurgias 83
4.2.2 - Distribuição, por uropatias, das dilatações do ultra-som fetal 85
4.2.3 - Distribuição, por uropatias, das dilatações do primeiro ultra-som pós-natal 86
4.2.4 - Distribuição das cirurgias 88
4.3 - Exclusão de “outras uropatias” e de duplicação; unidade mais grave de cada paciente
88
4.4 - Exclusão de “outras uropatias” e de duplicação; até duas unidades por paciente 89
4.5 - Exclusão de “outras uropatias”; duas unidades por paciente 90
4.6 - Pacientes com hidronefrose idiopática 91
4.7 - Unidades com hidronefrose idiopática 92
Capítulo 5 - RESULTADOS: REGRESSÃO ESPONTÂNEA DA
HIDRONEFROSE IDIOPÁTICA
93
5.1 - Casuísticas considerada 93
5.2 - Análises por paciente 93
5.2 - Análises por unidades 95
5.3 - Resultados dos testes de simetria, homogeneidade marginal e tendência de direção 96
5.4 - Influência da lateralidade e do sexo 97
5.5 - Conclusões 99
xiii
Capítulo 6 - RESULTADOS: VARIABILIDADE E POTENCIAL PREDITIVO
DE MEDIDAS CLÍNICAS E ECOGRÁFICAS
100
6.1 - Introdução 100
6.2 - Variabilidade das séries evolutivas 100
6.3 - Possibilidades preditivas das séries evolutivas 103
6.3.1 - Principais associações verificadas 103
6.3.2 - Associações não verificadas 104
6.4 - Conclusões 105
Capítulo 7 - RESULTADOS: ACURÁCIA DIAGNÓSTICA DE MEDIDAS DA
PELVE RENAL
106
7.1 - Introdução 106
7.1.1 - Variáveis-resposta 106
7.1.2 - Variáveis explicativas selecionadas 107
7.2 - Estudo “A”: considera-se apenas a unidade mais dilatada de cada paciente 107
7.2.1 - Casuística considerada 107
7.2.2 - Distribuição das medidas de DAP 108
7.2.3 - Comparação de médias 108
7.2.4 - Significância estatística na análise univariada (regressão logística) 109
7.2.5 - Avaliação do potencial de discriminação de OJUP 110
7.2.6 - Avaliação do potencial de discriminação de OJUP cirúrgica 111
7.2.7 - Avaliação do potencial de discriminação das uropatias de interesse 112
7.2.8 - Quadros resumos com valores relativos às curvas apresentadas 113
7.3 - Estudo “B”: consideram-se até duas unidades de cada paciente 114
7.3.1 - Casuística considerada 114
7.3.2 - Distribuição das medidas de DAP 115
7.3.3 - Comparação de médias 116
7.3.4 - Significância estatística na análise univariada (regressão logística) 116
7.3.5 - Avaliação do potencial de discriminação de OJUP 117
7.3.6 - Avaliação do potencial de discriminação de OJUP cirúrgica 118
7.3.7 - Avaliação do potencial de discriminação das uropatias de interesse 120
7.3.8 - Quadros com valores relativos às curvas apresentadas 121
7.4 - Outros estudos similares 122
Capítulo 8 - DISCUSSÃO
124
8.1 - Casuística 124
8. 2 - Resultados preliminares 126
8.3 - Regressão espontânea da dilatação da pelve renal 127
8.4 - Acurácia diagnóstica de medidas do DAP 128
8.4.1 - Comparações de médias das medidas de DAP 129
8.4.2 - Acurácia diagnóstica do DAP fetal 130
8.4.3 - Comparação da acurácia entre medidas de DAP 131
8.4.4 - Comparação com outras variáveis 132
8.5 - Outros aspectos 133
Capítulo 9 - CONCLUSÃO
135
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
136
1
Capítulo 1 - INTRODUÇÃO
1.1 - Contextualização da pesquisa
A Unidade de Nefrologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Minas Gerais (UNP-HC-UFMG) presta assistência a crianças e adolescentes com doenças
nefro-urológicas mais de trinta anos. A UNP-HC-UFMG foi descrita por seu criador como
“uma unidade terciária de assistência, de ensino e de pesquisa clínica” (DINIZ et al., 2005).
Para cada paciente atendido, além do prontuário padronizado do Hospital das Clínicas, é
criado um prontuário específico dessa Unidade, conhecido como “GRIM”. O GRIM, utilizado
no acompanhamento clínico dos pacientes, constitui-se em importante fonte de consulta para
trabalhos acadêmicos desenvolvidos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Saúde, possibilitando a utilização dos registros em um grande número de dissertações de
mestrado, teses de doutorado e publicações. O projeto de informatização da Unidade foi
iniciado em 1994 e implementado em diversas etapas seqüenciais.
Em 1988, o Prof. Dr. José Silvério analisou a casuística dessa Unidade. Entre as
crianças atendidas, a infecção do trato urinário foi a uropatia mais freqüente, chegando a 44%
do total (DINIZ, 1988). Em 2005, uma nova publicação analisou os dados da UNP-HC-
UFMG. O artigo intitulado “30 anos de Experiência em Nefrologia Pediátrica: um estudo
descritivo” avaliou dados de 4804 crianças admitidas nessa Unidade entre 1969 e 2002. A
infecção do trato urinária continuava sendo o principal motivo de encaminhamento das
crianças para avaliação nefrológica, chegando a 39% do total (DINIZ et al., 2005).
Desde o início das atividades da UNP-HC-UFMG, muitas mudanças ocorreram nos
critérios diagnósticos, bem como na propedêutica e na terapêutica das crianças portadoras de
anomalias ou doenças renais. Um dos progressos mais significativos foi a possibilidade de se
diagnosticar e acompanhar a evolução das anormalidades do trato urinário fetal com a
realização de exames ultra-sonográficos. Trabalhando em conjunto com a Unidade de
Medicina Fetal do HC-UFMG, a UNP-HC-UFMG iniciou o acompanhamento sistemático das
crianças com o diagnóstico intra-útero de alterações no trato urinário. Com esse objetivo, o
Prof. Dr. Eduardo Araújo Oliveira iniciou em 1999 o projeto “Banco de dados em uropatias
fetais diagnosticadas por ultra-som: estudo prospectivo e avaliação dos fatores prognósticos”
(esse projeto é referido nesta dissertação como “Macro-Projeto”).
Desde então, o estudo das uropatias fetais constitui-se em importante linha de pesquisa
da UNP-HC-UFMG. A partir desses estudos, algumas dissertações de mestrado e teses de
doutorado foram defendidas. Nesse contexto, elaboramos em 2004, por ocasião do concurso
de admissão ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde Área de Concentração
em Saúde da Criança e do Adolescente, o projeto de pesquisa que propiciou o
desenvolvimento desta dissertação.
2
1.2 - Descrição do trabalho
Não é raro que, ao iniciar-se um trabalho de pesquisa, os rumos propostos venham ser
mudados, em função de resultados produzidos em decorrência da própria pesquisa. Nossa
proposta de trabalho, concebida no âmbito do Macro-Projeto banco de dados, era o estudo da
involução espontânea da dilatação da pelve renal. Consoante nosso projeto inicial, esse estudo
deveria ser feito através de curvas de sobrevida e de técnicas similares.
Na análise prévia e, principalmente, na representação gráfica da evolução das medidas
do DAP observamos acentuada variabilidade (no sentido de não repetibilidade) nessas
medidas, fato que motivou-nos a avaliar a confiabilidade das medidas disponíveis em nosso
banco de dados. Assim foi que nos interessamos pelo estudo da variabilidade das medidas
ultra-sonográficas renais, seja ela determinada por diferenças metodológicas na realização dos
exames, seja pela dinâmica específica do trato urinário e da micção. Este estudo preliminar
mudou os rumos do trabalho, por mostrar que a variabilidade das medidas ultra-sonográficas,
principalmente a do DAP, inviabilizava as análises de sobrevida e/ou cnicas similares, pela
impossibilidade de se determinar, com aceitável precisão, o momento específico da ocorrência
de regressão da dilatação considerada.
Uma metodologia de análise mais robusta, no que concerne à variabilidade de medidas,
foi utilizada no estudo da involução espontânea da dilatação da pelve renal, que permitiu
comprovar a significância estatística nas involuções da dilatação da pelve renal, do ultra-som
fetal para o primeiro ultra-som pós-natal, do primeiro ultra-som pós-natal para o último ultra-
som pós-natal e do ultra-som fetal para o último ultra-som pós-natal.
Por outro lado, relatos da literatura, demonstram significativa capacidade das medidas
ultra-sonográficas para diagnosticar certas uropatias (e/ou eventos cirúrgico). A variabilidade
dessas medidas não costuma ser levada em conta: a praxe é utilizarem-se as medidas de DAP
fetal e as primeiras medidas do neonato. Ocorreu-nos supor que a variabilidade das medições
ultra-sonográficas, tais como DAP, comprimento e volume renal, poderia ter efeitos negativos
na eficácia diagnóstica dessas medidas e decidimos avaliar esses efeitos.
Começamos por extrair, das inúmeras séries de medidas disponíveis, parâmetros que as
caracterizassem, filtrados da variabilidade, para usá-los como variáveis explicativas na busca
de associações com as variáveis-resposta de interesse (uropatias a serem diagnosticadas).
Utilizando regressão logística, avaliamos a capacidade preditiva desses parâmetros,
relativamente às variáveis-resposta definidas.
As duas variáveis explicativas com maior potencial preditivo (para cada variável-
resposta considerada), foram comparadas sistematicamente, às medidas de DAP fetal, do
primeiro DAP pós-natal e a média das duas primeiras medidas de DAP, obtidas nos dois
primeiros exames ultra-sonográficos realizados após o nascimento.
3
Os resultados mostraram que a utilização da média das duas primeiras medidas do DAP
aumenta, praticamente em todas as situações consideradas, a capacidade preditiva das
medidas de DAP, para as variáveis-resposta de interesse.
Esta dissertação foi produzida a partir de estudos que têm como matéria prima um
conjunto de informações armazenadas em banco de dados eletrônico. Para facilitar o
tratamento dos dados, foi elaborado um software, caracterizado como um aplicativo
específico para o manuseio das informações do banco de dados. Como resultado obteve-se
uma versátil ferramenta computacional de apoio à pesquisa. O aplicativo recebeu o nome de
“BD_Hidronefrose” e foi desenvolvido em ambiente Excel (versão 2002, Microsoft
Corporation, Redmond, EUA).
Os resultados numéricos apresentados nos capítulos de resultados desta dissertação
foram obtido no BD_Hidronefrose e/ou através de rotinas específicas executadas no SPSS e
no MATLAB. O recálculo desses valores, considerada a possibilidade de inclusão de novos
pacientes e/ou novas medidas, é tarefa simples, o que deve facilitar o trabalho futuro de
manutenção do banco de dados.
O projeto de pesquisa intitulado “Banco de Dados em Uropatias Fetais Diagnosticadas
por Ultra-som: Estudo Prospectivo e Avaliação dos Fatores Prognósticos”, do qual o presente
trabalho faz parte, foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em pesquisa da UFMG
COEP, tendo sido aprovado (parecer ETIC 078/99). Os responsáveis legais pelos pacientes
foram esclarecidos sobre o projeto de pesquisa, participando dela por opção.
1.3 - Objetivos
Podemos considerar que este trabalho teve um objetivo geral e três objetivos
preliminares, com aplicações em dois objetivos finais específicos.
Consideramos como objetivo geral desta dissertação a ampliação do nosso
conhecimento sobre a associação da hidronefrose (e de uropatias a ela relacionadas) com a
evolução no tempo de medidas (principalmente as ultra-sonográficas) que compõe os
prontuários de pacientes, constituídos segundo metodologia previamente definida.
O primeiro objetivo preliminar que nos colocamos foi o de desenvolver um aplicativo
específico, em ambiente Microsoft Excel, que permitisse o manuseio das informações de que
dispomos de uma forma amigável, sem prejuízo da capacidade de tratamento numérico e
estatístico, objetivo que, uma vez cumprido, viesse potencializar nossa capacidade de
trabalho, permitindo acentuado ganho de tempo quando do processamento dos cálculos que
estarão envolvidos em todos os demais objetivos propostos.
O segundo objetivo preliminar foi caracterizar, quantificar e analisar a ocorrência da
variabilidade nos processos de medições ultra-sonográficas do rim.
4
O terceiro objetivo preliminar foi avaliar o potencial preditivo de parâmetros de
caracterização da evolução no tempo de medidas (principalmente as ultra-sonográficas),
procurando vislumbrar estratégias que poderão minimizar, dentro do possível, efeitos
negativos da variabilidade das medidas ultra-sonográficas.
Esses três objetivos preliminares representam, nesta dissertação, etapas intermediárias
da pesquisa, com remotas possibilidades de existência autônoma, do ponto de vista de
produtividade científica, mas que tiveram, no trabalho como um todo, importância capital
para a definição dos objetivos finais específicos.
Para a consecução do primeiro dos objetivos finais, consideramos uma casuística
constituída exclusivamente de pacientes e unidades com diagnóstico de hidronefrose isolada,
procurando verificar em que proporções ocorre a regressão espontânea da dilatação da pelve
renal, avaliando-se a significância estatística da involução constatada e comparando-se os
resultados obtidos com análises similares, obtidas na literatura.
O segundo dos objetivos finais, buscado através de comparação de médias, regressão
logística e análises por curvas ROC, foi pesquisar a acurácia diagnóstica de variáveis ultra-
sonográficas fetais e perinatais na detecção de anomalias urológicas. A descrição dos
resultados é precedida de exposição pormenorizada das casuísticas consideradas em cada caso
particular.
1.4 - Divisão em capítulos
Consta, o Capítulo 1, da introdução que termina nesta seção. O Capítulo 2 é dedicado à
pesquisa bibliográfica. A metodologia utilizada no trabalho é exposta no Capítulo 3. No
Capítulo 4 descrevemos as casuísticas que serão consideradas nas análises que se seguirão. A
apresentação dos resultados obtidos está separada em três capítulos: no Capítulo 5 estão os
resultados da análise da involução espontânea da hidronefrose isolada, que é o primeiro dos
objetivos finais desta dissertação; no Capítulo 6 relatamos resultados preliminares obtidos
com a caracterização, análise da variabilidade e do potencial preditivo das séries evolutivas
que representam as medidas clínicas e ultra-sonográficas registradas nos prontuários dos
pacientes; no Capítulo 7 são apresentados resultados dos estudos sobre a acurácia diagnóstica
de variáveis ultra-sonográficas na detecção de anomalias urológicas, que constitui o segundo
dos objetivos finais desta dissertação. No capítulo 8 discutimos os resultados obtidos,
comparando-os com os similares disponíveis na literatura. O capítulo 9 é reservado às
considerações finais sobre o trabalho.
5
Capítulo 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 - Introdução
A revisão bibliográfica, iniciada quando da redação do projeto de pesquisa, continuou
durante toda a fase de coleta de dados e de redação. Tivemos especial interesse em assimilar a
evolução, ao longo dos anos, da avaliação e terapêutica das crianças com hidronefrose, e, para
tal, recorremos a artigos tão antigos quanto o de Anderson et al. (1949) e Garret et al. (1975).
Procuramos, também, acompanhar as publicações mais recentes sobre a temática abordada.
Durante a análise de dados e a redação, tivemos necessidade de obter mais informações sobre
alguns tópicos específicos, entre eles a variabilidade de medidas ultra-sonográficas.
A principal fonte de levantamento bibliográfico foi o site: www.pubmed.com, cuja
principal base de dados é o MEDLINE. Foram escolhidos principalmente os artigos na língua
inglesa. As palavras-chave usadas foram: hydronephrosis, renal dilatation, kidney dilatation,
renal pelvis variability, ROC curve, Neural Network. Cada artigo revisado teve as referências
bibliográficas avaliadas na busca de novas fontes de interesse.
Na redação deste trabalho foram adotadas, ressalvados imperativos de ordem prática,
normas preconizadas pelo “Grupo de Vancouver” (MIRANDA et al., 1997; ROTHER et al.,
2004). No que concerne ao referenciamento bibliográfico, foi adotado o sistema “autor-data”
(ECO, 1977).
Na revisão, o desenvolvimento do rim normal (nefrogênese e maturação funcional;
associação de medidas com idade, peso e superfície corporal; anatomia e função da pelve
renal) é o primeiro dos temas abordados (item 2.2). Medidas anatômicas dos rins (inclusive da
pelve renal) serão utilizadas, no decorrer do trabalho, com o intuito de diagnosticar uropatias.
É preciso conhecer a maneira como se processa o desenvolvimento de unidades renais
normais, sem o que seria impossível caracterizar e comparar situações anômalas.
Em seguida abordamos a detecção ultra-sonográfica de anomalias do sistema coletor
renal (item 2.3). Tratamos da importância dessas anomalias para a população pediátrica; do
uso da ultra-sonografia do trato urinário e suas implicações no acompanhamento do paciente;
dos critérios para definição de anomalia renal no feto; da incidência dessas anomalias. O
desenvolvimento do trabalho mostrou que não poderíamos ignorar a variabilidade das
medidas ultra-sonográficas do rim, preocupação ausente em trabalhos similares ao nosso. Um
item desse capítulo apresenta o que foi encontrado na literatura específica sobre o assunto.
É feita, finalmente, a revisão sobre o diagnóstico diferencial das uropatias associadas à
hidronefrose fetal (item 2.4). Objetivamos estudar principalmente as entidades associadas à
hidronefrose fetal isolada: o refluxo vesicoureteral, a obstrução da junção ureteropélvica e a
hidronefrose idiopática.
6
2.2 - Desenvolvimento normal do rim
O desenvolvimento desta dissertação não pressupõe a discussão completa sobre a
anatomia e fisiologia renal. Cabe-nos, entretanto, rever alguns aspectos do desenvolvimento
dos rins, diretamente relacionados com o diagnóstico, propedêutica e terapêutica da
hidronefrose fetal: nefrogênese e maturação funcional; associação de medidas com idade,
peso e superfície corporal; anatomia e função da pelve renal.
2.2.1 - Nefrogênese e maturação funcional
Em humanos, a nefrogênese inicia-se por volta da 4ª à 5ª semana de gestação, sendo
completada por volta da 32ª à 34ª (EFFMANN et al., 1977; ZERIN et al., 1994). Mais de
80% dos néfrons formados desenvolvem-se até o segundo trimestre de gestação (COPLEN,
1997). O número de néfrons formados, aproximadamente um milhão por rim, não aumenta
durante a vida extra-uterina (EFFMANN et al., 1977).
A produção de urina fetal inicia-se por volta da 8ª semana e continua durante a gestação
(THOMAS, 1990). Por volta da 20ª semana a produção de urina fetal contribui
significativamente para o volume do líquido amniótico (EFFMANN et al., 1977). Nesse
estágio, e durante toda a vida intra-uterina, a principal função do rim é contribuir para a
produção de líquido amniótico. No último trimestre da gravidez, a urina é produzida em
grande volume. O volume da bexiga fetal e a freqüência de esvaziamento vesical podem ser
observados e mensurados com o exame ultra-sonográfico do trato urinário. Um feto normal
produz entre 40 e 50ml/hora de urina (THOMAS, 1990; RABINOWITZ et al., 1989). A
presença do líquido amniótico em volume adequado é essencial para o desenvolvimento
pulmonar fetal (THOMAS, 1990; COPLEN, 1997).
Na vida fetal a função excretora e a manutenção da homeostase são realizadas pela
placenta (THOMAS, 1990). Isso possibilita aos fetos com agenesia renal bilateral
sobreviverem até o nascimento. Esses neonatos provavelmente morrerão de insuficiência
pulmonar, que normalmente ocorre antes das manifestações da insuficiência renal (THOMAS,
1990).
O rim do neonato e o do adulto diferem em diversos aspectos (EFFMANN et al., 1977).
No neonato o peso, o volume e a área de superfície glomerular correspondem a menos de 10%
do que se observa no rim do adulto. O tamanho longitudinal do rim de neonatos corresponde a
menos da metade do rim dos adultos (CRELIN, 1973 apud EFFMANN et al., 1977). Os
néfrons dos neonatos o menores e funcionalmente imaturos, quando comparados com os
rins das crianças pré-escolares, escolares e dos adultos. Após o nascimento, o aumento no
tamanho e na reserva funcional renal ocorre devido a aumento e maturação dos néfrons
(FETTERMAN et al., 1965).
7
Ao nascimento, os rins necessitam assumir rapidamente algumas funções anteriormente
realizadas pela placenta materna (GUIGNARD et al., 1975). Para isto, são submetidos a
adaptações anatômicas e fisiológicas. Algumas evidências têm sugerido que o crescimento e o
desenvolvimento renal estão associados à diminuição da resistência vascular, ao aumento do
fluxo sangüíneo e às mudanças na distribuição do fluxo intra-renal (GUIGNARD et al., 1975;
HORSTER et al., 1991 apud EFFMANN et al., 1977). Fetterman et al. (1965) observaram
aumento nas dimensões dos néfrons com a idade da criança criança, atingindo aos 18 anos o
tamanho encontrado no rim do adulto. Esse aumento ocorre em todo o néfron, porém é
proporcionalmente maior no túbulo proximal do que nos glomérulos. Os mecanismos
celulares e os fatores de crescimento envolvidos nessas mudanças não são bem conhecidos
(EFFMANN et al., 1977; VAN NECK et al., 2002).
O equilíbrio hidroeletrolítico, a excreção de produtos do metabolismo das proteínas e a
função hormonal permitirão a manutenção do meio interno e possibilitarão a vida extra-
uterina.
2.2.2 - Associação de medidas renais com idade, peso e superfície corporal
O crescimento do rim é processo secundário resultante da combinação de processos
proliferativos e hemodinâmicos. A proliferação e o aumento das células são importantes no
aumento do tamanho do glomérulo e do rim (EFFMANN et al., 1977; VAN NECK et al.,
2002). A interrupção do fluxo sangüíneo entre o feto e a placenta acarreta alterações
hemodinâmicas.
Da primeira semana de vida ao final do primeiro mês, a percentagem do débito cardíaco
para a circulação renal aumenta de 18 para 58%. O aumento no comprimento renal
(comprimento bipolar renal) é de aproximadamente 17% na primeira semana de vida e 37%
nos primeiros quatro meses (STRAUSS et al., 1965; FETTERMAN et al., 1965;
GUIGNARD et al., 1975; EFFMANN et al., 1977; ROSENBAUM et al., 1984; HAN et al.,
1985).
O rim normal apresenta alterações na taxa de crescimento durante o primeiro ano de
vida. Estudo conduzido por Mesrobian et al. (1998) relatou crescimento estimado em
3,1mm/mês ao nascimento, diminuindo gradualmente nos primeiros sete meses de vida para
0,25mm/mês. A partir do sétimo mês, o crescimento permaneceu constante até o término do
primeiro ano de vida. O tamanho renal médio, ao nascimento, foi estimado em 42,8mm (27 a
58,5mm), sendo de 60,7mm (40,1 a 81,3mm) aos sete meses de idade .
Do segundo ao cimo ano de vida, o rim cresce aproximadamente 2 a 3cm por ano.
Após o décimo ano de vida, a taxa de crescimento renal declina até cessar, na maturidade
(LEBOWITZ et al., 1975; EFFMANN et al., 1977; ROSENBAUM et al., 1984; HAN et al.,
1985).
8
O peso de cada rim varia de 125 a 170g no homem adulto e de 115 a 155g na mulher
adulta. Nos adultos o rim tem 11cm a 12cm de comprimento, 5,0 a 7,5cm de largura e 2,5 a
3,0cm de espessura (MADSEN et al., 2003). Emamian et al. (1993) estudaram as medidas
renais em voluntários adultos. O comprimento renal médio foi de 11,2cm no rim esquerdo e
10,9cm no rim direito.
Vários autores têm enfatizado a importância da determinação precisa do tamanho e do
crescimento dos rins de crianças normais (MOSKOWITZ et al., 1980; ROSENBAUM et al.,
1984; HAN et al., 1985; DINKEL et al., 1985; ZERIN et al., 2000). Muitas desordens renais
estão associadas a mudanças no tamanho dos rins (EFFMANN et al., 1977; ZERIN et al.,
1994), fato que enfatiza a necessidade de se conhecerem padrões de normalidade para as
medidas dos rins das crianças.
Rosenbaum et al. (1984), utilizando o ultra-som, mediram o comprimento renal em 203
pacientes pediátricos (406 rins). Com esses dados construiram a curva de crescimento renal
correlacionando o comprimento médio do rim normal com a idade da criança. Outros autores
(HAN et al., 1985; DINKEL et al., 1985; OSWALD et al., 2004) fizeram mensurações ultra-
sonográficas de rins normais, correlacionando-as com idade, comprimento, peso e superfície
corporal da criança.
Oswald et al. (2004), utilizando um ultra-som capaz de registrar imagens em três
dimensões e calcular o volume renal, estudaram 620 rins de 310 crianças entre 0 e 12 anos de
idade. Utilizando análise de regressão elaboraram curvas de crescimento renal associando
volume renal/peso corporal, volume renal/superfície corporal, comprimento renal/peso
corporal e comprimento renal/estatura. Foram obtidos os limites superiores e inferiores que
englobam 95% dos rins de crianças normais.
Zerin et al. (2000) mostraram que o crescimento renal, assim como o aumento do peso e
da estatura na criança, é mais acelerado nos primeiros meses de vida. Concluiram que as
curvas anteriormente citadas não eram adequadas para avaliação de crianças até um ano,
justificando-se, assim, a necessidade de se obterem padrões de crescimento renal mensal até
doze meses de idade.
O comprimento renal apresentou boa correlação com peso, estatura, superfície corporal
e idade da criança e melhor com o comprimento renal e a superfície corporal da criança. No
entanto, a necessidade de obterem-se o peso e a estatura para o cálculo da superfície corporal
dificulta o seu uso rotineiro na prática clínica. O volume renal tem boa correlação com o peso
renal.
Para estimar o volume renal, é necessário medir comprimento, diâmetro transverso e
diâmetro ântero-posterior. A necessidade de três medidas dificulta o uso do volume renal na
prática diária (MOSKOWITZ et al., 1980; EMAMIAN et al., 1993; ZERIN et al., 1994). A
relação entre comprimento renal e peso corporal parece ser menos fidedigna. Isto ocorre em
função da grande variabilidade de peso corporal, especialmente nos adolescentes (DINKEL et
9
al., 1985; ZERIN et al., 1994). Dinkel et al. (1985) e Han et al. (1985) não observaram
diferença entre os sexos em relação às medidas de comprimento e volume renal.
Na casuística de Oswald et al. (2004), as crianças do sexo masculino apresentavam
volume renal maior, tanto no rim direito como no esquerdo.
As curvas atualmente consideradas como padrão de normalidade para o crescimento do
rim foram construídas com dados obtidos em exames ultra-sonográficos. Na literatura
também se pode encontrar curvas de normalidade elaboradas com dados obtidos a partir de
tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética renal. Heuer et al. (2003)
utilizaram ressonância nuclear magnética para calcular o volume renal.
O rim esquerdo é usualmente (mas nem sempre) mais comprido e tem volume maior do
que o rim direito (LEBOWITZ et al., 1975; EFFMANN et al., 1977; DINKEL et al., 1985;
EMAMIAN et al., 1993; ZERIN et al., 2000 et al., HEUER et al., 2003). No estudo de Dinkel
et al., o rim esquerdo foi maior no comprimento e no volume em mais de 51,7% dos casos.
Zerin et al. encontraram diferença estatisticamente significante entre o comprimento do rim
direito e esquerdo nas crianças menores de um ano, o que não foi notado por Han et al.
(1985). Como a diferença é pequena e inconstante, a maioria das curvas de crescimento renal
não a considera.
2.2.3 - Anatomia e função da pelve renal
O corte frontal do rim permite reconhecer o córtex e a medula. O córtex renal é a
camada externa, mais descorada e finamente granular. A medula renal é a camada mais
interna e escura. A medula emite prolongamentos que invadem o rtex, denominados
pirâmides renais. Os espaços entre as pirâmides são preenchidos por córtex renal,
denominados coluna renal. O conjunto do córtex e da medula é conhecido como parênquima
renal. O parênquima renal é formado pelos néfrons (unidade funcional renal) e o mesênquima.
O hilo renal conduz a um recesso, o seio renal, que é revestido pela continuação da cápsula
renal e contém os vasos renais e a pelve renal. Desta última, originam-se dois ou três cálices,
chamados cálices renais maiores. Cada um deles divide-se em 7 a 14 outros menores, que
recebem o ápice das pirâmides renais denominado papila renal. Na papila renal abrem-se os
tubos coletores, através dos quais a urina escoa para a pelve renal e ureter (DANGELO et al.,
1987).
A irrigação sangüínea do rim é realizada pela artéria renal. A artéria renal origina-se
diretamente da aorta e situa-se posteriormente às veias renais. As artérias renais, enquanto se
dirigem para o córtex, se dividem-se em 5 segmentos, sendo quatro anteriores e um posterior.
Estes ramos artériais localizam-se, respectivamente, anterior e posteriormente à pelve renal e
aos cálices maiores. As artérias segmentares, quando estão localizadas entre as pirâmides, são
conhecidas como artérias interlobares e após curvarem-se abruptamente, estando localizadas
10
na junção córtico-medular, são chamadas artérias arqueadas. Das artérias arqueadas originam-
se as artérias interlobulares que penetram no córtex radialmente e vão originar a
microcirculação renal.
A drenagem venosa renal é realizada por veias arqueadas que vão se confluindo,
formando as veias interlobares e, em última análise, as veias renais. As veias renais
desembocam na veia cava (DANGELO et al., 1987).
A pelve renal e o sistema coletor do trato urinário são formados a partir dos brotos
ureterais derivados dos ductos metanéfricos. Os brotos ureterais induzem a diferenciação dos
blastemas metanefrogênicos, o que resultar na formação dos néfrons (SILVA, 1997 apud
BOUZADA, 2003).
Schmidt-Nielsen (1987) definiu a pelve renal dos mamíferos como o compartimento
entre os cálices e o ureter. Para Dangelo et al. (1987), a pelve renal nada mais é que a
expansão da extremidade superior do ureter”.
Nas paredes da pelve renal, as fibras musculares organizam-se obliquamente e os feixes
musculares são separados por tecido conjuntivo (HANNA et al. 1976a). A pressão intrapelve
normal gerada pela peristalse e exercida na papila tem aproximadamente 5mmHg
(SCHMIDT-NIELSEN, 1987).
O septo que cobre a parte externa da pelve é formado quase inteiramente por tecido
gorduroso contendo vasos, nervos e linfáticos. O epitélio que recobre a parte interna da parede
da pelve é contínuo com o ureter e bexiga. Esse epitélio é formado por células transicionais,
com baixa permeabilidade à água e à uréia. Em contraste, o epitélio que recobre a medula
interna é similar ao do ducto coletor papilar. As células localizadas próximo à extremidade
são colunares e as localizadas na base da papila são achatadas. O epitélio que recobre a
medula externa é fino e composto de células que variam de escamosas a cubóide baixo. Os
capilares são as estruturas mais abundantes abaixo do epitélio que cobre a medula externa.
A possibilidade de troca de solutos e água entre a urina pélvica e os ramos vasculares
parece ser maximizada pela extensão da pelve. Entretanto, as tentativas de correlacionar o
tamanho da pelve renal nos animais com a capacidade de concentrar urina não têm obtido
sucesso. Embora pareça claro que, nos mamíferos, o papel da pelve renal esteja associado ao
mecanismo de concentração urinária, os dados disponíveis não são suficientes para a
formação de uma hipótese para o significado funcional da pelve renal (SCHMIDT-NIELSEN,
1987). A pelve dos mamíferos possibilita o contato da urina com o tecido epitelial da medula
e as contrações peristálticas da parede da pelve renal exercem um bombeamento rítmico na
papila renal. O significado funcional desses dois aspectos da pelve renal tornou-se o foco da
atenção de alguns fisiologistas renais (SCHMIDT-NIELSEN, 1987).
A parede muscular da pelve renal exibe contrações peristálticas, que têm sido estudadas
nos mamíferos tanto "in vivo" quanto “in vitro” (SCHMIDT-NIELSEN, 1987). A peristalse é
iniciada em um marcapasso situado na parte mais superior do septo pélvico. Nos rins
11
multipapilares, como os dos mamíferos, o peristaltismo não é sincronizado e cada marcapasso
tem seu próprio ritmo. A freqüência do peristaltismo varia com o gênero, sendo descrita como
6 por minuto nos porcos, 20 a 30 por minuto nos cricetos e 40 a 50 por minuto nos ratos. A
freqüência do peristaltismo da pelve é constante e independente do fluxo urinário, mas a
atividade elétrica nas células musculares aumenta durante um abrupto aumento do fluxo
urinário. Seções da parede da pelve renal têm atividade peristáltica própria, com ritmo inferior
ao do marcapasso. A peristalse ureteral é acoplada à peristalse pélvica, porém com freqüência
mais baixa. A freqüência da peristalse ureteral depende do fluxo urinário (SCHMIDT-
NIELSEN, 1987).
Hanna et al. (1976a) estudaram as características do ureter em humanos usando a
microscopia óptica e eletrônica. Em seis ureteres estudados por microscopia eletrônica não
foram encontrados gânglios. Concluiu-se que esse órgão é aganglionar. No entanto, alguns
estudos indicam a presença de gânglios no ureter pélvico e demonstram a sua inervação
colinérgica e adrenérgica. Outras pesquisas m mostrado correlação entre a atividade
peristáltica do ureter e a ação hormonal. relatos sobre a ação da histamina, anti-histamina,
serotonina e bradicinina na atividade peristáltica do ureter. A epinefrina aumenta a taxa e a
força da contração da pelve no homem.
O estudo de fetos com hidronefrose tem mostrado variações das dimensões da pelve
renal fetal ao longo do tempo e em função de outras variáveis. O tamanho da pelve renal fetal
parece estar relacionado com a hidratação materna e a repleção vesical (ROBINSON et al.,
1998; DAMEN-ELIAS et al., 2004). Da mesma forma, as variações de tamanho da pelve da
criança parecem estar relacionadas com o estado de hidratação da criança, o uso de contrate
(LEBOWITZ et al., 1975), a repleção vesical e a dinâmica miccional (KOFF et al., 2005).
A hidronefrose idiopática é um conceito relativamente recente, descrita por diversos
autores (HOMSY et al., 1986; HOMSY et al., 1988; ACTON et al., 2003a). Nela ocorre
dilatação da pelve renal da criança, na ausência de refluxo vesicoureteral ou obstrução do
trato urinário. Essa dilatação é atribuída à hipotonia da pelve e das vias urinárias. A melhora
ou resolução da dilatação da pelve nos primeiros meses de vida pode sugerir a ocorrência de
mudanças na dinâmica do trato urinário (KOFF et al., 1988; ULMAN et al., 2000; BAJPAI et
al., 2002).
Os rins são capazes de utilizar vários mecanismos protetores para compensar o estresse
fisiológico. A autoregulação vascular renal, as mudanças no balanço glomérulo-tubular, a
hipertrofia compensatória e a grande reserva funcional do rim podem permitir a manutenção
da função renal dentro dos padrões de normalidade, mesmo diante de condições anormais.
Após a nefrectomia unilateral, o rim remanescente é capaz de compensar a redução da massa
renal, com aumento da filtração glomerular e da reabsorção tubular. A dilatação do sistema
coletor pode estabelecer um reservatório. O aumento das dimensões da pelve pode neutralizar
a elevação da pressão que ocorre na obstrução. O significado, os limites e a duração desse
12
efeito são desconhecidos. A capacidade da pelve renal em adaptar-se pode mudar com o
tempo se alteração do tecido conjuntivo e da musculatura lisa. Essas alterações têm sido
demonstradas em trabalhos clínicos e experimentais (PETERS, 1995). Contudo a capacidade
desses mecanismos compensatórios em manter a função renal normal pode ser limitada
(PETERS, 1995). Os mecanismos compensatórios podem ser importantes na história natural
da obstrução congênita.
Concluindo, cabe reconhecer que a pelve renal pode não ser uma estrutura anatômica e
funcionalmente tão simples quanto o que se imaginava em outros tempos.
2.3 - Detecção ultra-sonográfica de anomalias do sistema coletor renal
2.3.1 - Anomalias anatômicas do sistema urinário e sua importância na pediatria
As doenças do sistema coletor renal, também chamadas de uropatias, podem ocasionar
morbidade e mortalidade na população pediátrica. Além da insuficiência renal crônica (IRC),
as anormalidades urológicas estão associadas a episódios repetidos de infecção urinária,
urosepse e hipertensão arterial (LIVERA et al., 1989; HUTTON, 2002; SILVA et al., 2005).
Segundo Foreman et al. (1988), a incidência de IRC varia entre 1,5 e 3,0 por um milhão
nas crianças menores de 16 anos. Para Miklovicova et al. (2005), a incidência anual de IRC
na Holanda foi de 5,8 pacientes por milhão de crianças menores de 16 anos e a prevalência foi
de 38,7. Estudos internacionais permitem supor que a incidência de IRC esteja entre 5 e 15
pacientes por milhão de população infantil (SOARES et al., 2003b). Contudo, essa incidência
é provavelmente subestimada, que os registros não listam crianças que não tiveram
diagnóstico correto de IRC ou que não foram tratadas por razões técnicas, por ausência de
recursos ou por políticas públicas de saúde (MOORE et al., 1986; SOARES et al., 2003b).
As anomalias congênitas, bilaterais ou acometendo rim único (refluxo vesicoureteral,
hipoplasia, displasia renal, obstrução da junção ureteropélvica) e as obstruções infravesicais
ao fluxo urinário são as principais causas de insuficiência renal crônica em crianças muito
jovens. Al-Hermi et al. (1999) descreveram a evolução de 10 pacientes entre 2 e 27 meses de
idade. Todos pesavam menos de 10kg quando foi iniciado o tratamento hemodialítico. Entre
eles, as causas de IRC foram: displasia renal (5), síndrome nefrótica congênita (3) válvula de
uretra posterior (1), desconhecida (1). Nos Estados Unidos da América, 10.434 crianças com
IRC em tratamento conservador ou dialítico foram acompanhadas pelo “North American
Pediatric Renal Transplant Cooperative Study” (NAPRTCS). As principais etiologias da IRC
foram: uropatias obstrutivas, displasia renal, nefropatia de refluxo, glomeruloesclerose focal e
segmentar e glomerulonefrite crônica (LEWY, 2001). Dados do NAPRTCS publicados em
1997 relataram as causas de IRC nos pacientes pediátricos submetidos a transplante renal,
representando, as uropatias, 41,7% delas (uropatia obstrutiva 16,5%, rins
13
hipoplásicos/displásicos 16,5%, nefropatia do refluxo 5,7%, síndrome de Prune Belly 3%)
(WARADY et al., 1997). No estudo de Miklovicova et al. (2005), as anomalias estruturais
congênitas foram responsáveis por 37,6% dos casos de IRC em crianças.
Desde 1994, o NAPRTCS registra dados de crianças portadoras de déficit de função
renal em tratamento conservador. Foram incluídas nos registros as crianças com clearance de
creatinina menor que 75ml/min/1,73m
2
. Até janeiro de 2001, 4.666 menores de 20 anos
estavam registrados. Pelo menos 40% deles eram portadoras de anormalidades urológicas
congênitas. O acompanhamento mínimo foi de três anos em 39% das crianças. Durante o
tempo de seguimento, 31% apresentaram progressão para insuficiência renal crônica terminal
(SEIKALY et al., 2003). Soares et al. (2003b) compilaram séries publicadas de crianças e
adolescentes com IRC. Do total de 15.917 pacientes tratados em diferentes países, 3.793
(23,8%) apresentavam uropatia, notadamente refluxo vesicoureteral e uropatia obstrutiva.
Entre os trabalhos consultados por Soares et al. a percentagem de uropatias divergiu bastante
entre as diversas séries publicadas, variando de 13,8 a 41,9%.
No Programa Interdisciplinar de Prevenção e Tratamento da Insuficiência Renal
Crônica nas Crianças e Adolescentes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Minas Gerais (HC-UFMG). Soares et al. (2003a) acompanharam prospectivamente, entre
1990 e 1999, sessenta e duas crianças e adolescentes portadores de IRC que estavam em
tratamento conservador. A etiologia da insuficiência renal crônica foi assim descrita: 54,8%
de uropatia, 19,4% de glomerulopatias e 25,8% outros.
Sargent (2000), revendo a literatura, encontrou prevalência média de 31,1% de refluxo
vesicoureteral em crianças com história de infecção urinária. A prevalência média de refluxo
vesicoureteral entre crianças com anomalia anorretal foi de 30,6%. O RVU foi encontrado em
4,8% das que tinham hipospádia, e em 23,7% das crianças com outras anomalias renais,
incluindo rim multicístico, obstrução da junção ureteropélvica, rim ectópico e agenesia renal.
Foi também mais comum nas crianças com duplicação do sistema pielocalicinal.
Além da preservação da função renal, o diagnóstico precoce da hidronefrose possibilita
a adoção de medidas que visem a prevenir infecção do trato urinário (TOIVIAINEN-SALO et
al., 2004).
A hidronefrose intra-uterina foi descrita pela primeira vez por Garrett et al. em 1975
(COPLEN, 1997), que descreveram dois casos de obstrução uretral, um com megaureter e
outro com hidronefrose. O uso da ultra-sonografia fetal mudou a história e a abordagem das
uropatias. Antes do exame ultra-sonográfico possibilitar o exame do feto no útero, a
hidronefrose era usualmente reconhecida em neonatos durante a avaliação de massa
abdominal ou urosepse (PERLMUTTER et al., 1980; BROWN et al., 1987; KING, 1995;
TAKLA et al., 1998; CHANDRASEKHARAM et al., 2001). A ultra-sonografia pré-natal
permitiu o reconhecimento de anormalidades urológicas que, de outro modo, não poderiam
ser identificadas senão mais tardiamente, quando ocorressem sintomas de pielonefrite, doença
14
calculosa, dor abdominal, cólica renal ou insuficiência renal (ANDERSON, 1958; ELDER,
1997a; ELDER, 1997b; HUTTON, 2002; AKSU et al., 2005). Nas crianças escolares, pré-
escolares e nos adultos a infecção do trato urinário, complicada ou não, dor abdominal e
hematúria eram outras situações que motivavam a investigação do trato urinário para a
pesquisa de obstrução ureteropélvica (ANDERSON et al., 1949; KOFF et al., 1982; KING,
1995; AMLING et al., 1996; DOWLING et al., 1988; CHANDRASEKHARAM et al., 2001).
Alguns autores relataram que dor abdominal era o sintoma mais comum de anormalidade do
trato urinário (ANDERSON, 1958; SUNDERLAND et al., 1963). Em outros artigos a
infecção urinária é que foi o mais comum associado à anormalidade do trato urinário (KING,
1995).
Em 1988, Dowling descreveu um grupo de 46 crianças com diagnóstico de obstrução da
junção ureteropélvica (OJUP). O sinal e/ou sintoma que indicou a propedêutica foi: ITU
(30%), dor no flanco (33%), massa palpável (13%), hematúria (9%), encontro ultra-
sonográfico (9%), outros (6%). Na série de Capolicchio et al. (1999) o sintoma e/ou sinal que
motivou o diagnóstico de OJUP foi: ITU (42%), dor (32%), encontro acidental aos US (16%),
massa abdominal (8%) e hematúria (1 a 3%). Alguns pacientes com OJUP apresentavam dor
abdominal apenas após ingestão de grande quantidade de líquido.
As anomalias do trato urinário são mais comuns nas crianças do sexo masculino
(HOMSY et al., 1990; SCOTT, 1993; ISMAILI et al., 2002; COHEN-OVERBEEK et al.,
2005). A dilatação leve da pelve renal também foi mais comum em meninos (COHEN-
OVERBEEK et al., 2005). A relação entre o número de crianças do sexo masculino e
feminino foi de 3:1 naquelas com hidronefrose, sem refluxo ou outra anomalia do trato
urinário (HOMSY et al., 1990); 4,25:1 em crianças com RVU (SCOTT, 1993) e 2:1 nas com
hidronefrose fetal (ISMAILI et al., 2002). Quando foram consideradas apenas as crianças com
hidronefrose e uretrocistografia miccional anormal a proporção entre meninos e meninas
também foi de 2:1 (ISMAILI et al., 2002). O rim esquerdo é acometido mais comumente. No
estudo de McAleer et al. (1999), 73% dos rins afetados estavam do lado esquerdo.
A morte fetal ou neonatal foi relatada em 5 a 26% dos fetos com dilatação renal. A
evolução desses pacientes para o óbito estava associada a anomalias renais bilaterais como
obstrução do trato urinário, atresia uretral, válvula de uretra posterior, hipoplasia ou displasia
renal, ocasionando oligoidrâmnio e hipoplasia pulmonar. Vários autores relacionaram a
presença de hidronefrose fetal com aneuploidia e outras anormalidades cromossômicas
(THOMAS, 1990; ANDERSON et al., 1995a; GUNN et al., 1995; MORIN et al., 1996;
PERSUTTE et al., 1997; OLIVEIRA et al., 1999; OLIVEIRA et al., 2002; CHITTY et al
2003).
15
2.3.2 - O uso da ultra-sonografia do trato urinário fetal e suas implicações
A avaliação do trato geniturinário deve ser parte do exame ultra-sonográfico fetal
(COPLEN et al., 1996). O rim fetal e a bexiga podem ser distinguidos, ao exame ultra-
sonográfico, aproximadamente entre a 17ª e a 19ª semanas de gestação. O rim com sistema
coletor dilatado pode ser identificado entre a 12ª e a 14ª semanas (ARGER et al., 1985;
COPLEN, 1997). Por volta da 25ª semana de idade gestacional, é possível distinguir o córtex
da medula, definir melhor os limites renais e visualizar a área central, a região do seio renal,
as secções transversas. Mesmo uma dilatação da pelve renal da ordem de 1 a 2mm pode ser
vista no útero (ARGER et al., 1985).
A dilatação da pelve renal é a principal anormalidade dos rins e vias urinárias
diagnosticada no ultra-som fetal (ISMAILI et al., 2004). Sua ocorrência no feto pode não ser
seguida de dilatação da pelve renal no neonato (MANDELL et al., 1991; DREMSEK et al.,
1997; FELDMAN et al., 2001; AKSU et al., 2005). Dremsek et al. (1997) e Cheng et al.,
(2004) observaram normalização do diâmetro ântero-posterior (DAP) da pelve renal em 25%
das crianças com diagnóstico de hidronefrose fetal. Dejter et al. (1988) confirmaram o
diagnóstico de hidronefrose neonatal em 75% a 80% dos casos de hidronefrose fetal. Por
outro lado, a dilatação leve do trato urinário superior pode não ter significado em todos os
casos (MORIN et al., 1996). Alguns autores têm associado a resolução espontânea da
hidronefrose ao grau de dilatação da pelve renal fetal (FELDMAN et al., 2001; COPLEN et
al., 2006). Para Aksu et al. (2005), há correlação negativa entre o diâmetro ântero-posterior da
pelve renal e a taxa de resolução espontânea, e positiva entre o diâmetro ântero-posterior da
pelve renal e a taxa de cirurgia (p < 0,01).
Mandell et al. (1991) estudaram 154 pacientes com diagnóstico de dilatação da pelve
fetal. Durante a gestação, a hidronefrose permaneceu estável em 66% dos pacientes, resolveu-
se em 23%, melhorou em 2% e piorou em 9%. Morin et al. (1996) investigaram fetos com
DAP < 10mm até a 24ª semana de idade gestacional. Houve progressão da hidronefrose em
9% dos fetos. Apenas 4% dos fetos apresentaram doença urológica (OJUP em 3 crianças e
RVU grave em uma). Persutte et al. (1997) acompanharam 129 fetos com dilatação leve da
pelve renal, realizando dois ou mais exames ultra-sonográficos durante a gestação. A
dilatação da pelve renal resolveu-se em 6/129 (4,7%), permaneceu inalterada em 88/129
(68,2%) e progrediu (DAP >10mm) em 35/129 (27,6%).
Feldman et al. (2001) realizaram um estudo retrospectivo com o objetivo de avaliar a
evolução dos fetos com hidronefrose fetal isolada (sem outra anormalidade no trato urinário).
A hidronefrose foi classificada segundo os critérios de Mandell et al. (1990), nos quais o valor
considerado normal para o DAP da pelve renal fetal variou de acordo com a idade
gestacional. Foram estudados 393 fetos com hidronefrose. Essa anomalia foi classificada
como leve em 347 deles (88%), tendo a dilatação se resolvido em 51% antes do nascimento.
16
Dos 49% restantes, a hidronefrose permaneceu inalterada em 39% e piorou em 10%. A
hidronefrose moderada foi notada em 40 fetos: resolveu-se em 15%, melhorou em 25%,
piorou em 12% e permaneceu inalterada em 48%. Os rins com hidronefrose grave não
apresentaram resolução intra-útero. Houve melhora parcial em dois rins e quatro
permaneceram inalterados.
Aksu et al. (2005) acompanharam 156 pacientes com diagnóstico de hidronefrose
fetal. O primeiro exame ultra-sonográfico renal realizado com 2 a 3 dias de vida foi normal
em 51 pacientes. Desses 51, 45% tiveram diagnóstico de anomalia do trato urinário durante o
acompanhamento médico. Foram realizados os exames: ultra-sonografia renal com 2 a 3 dias,
7 dias, 30 dias e 6 meses de vida; uretrocistografia miccional e renograma. Considerando-se o
grupo de 156 pacientes, 25% deles não apresentaram qualquer anormalidade urológica. Houve
relação entre o DAP da pelve fetal e a percentagem de pacientes sem anomalias urológicas. A
incidência de rins normais entre os pacientes com DAP de 5 a 9mm, DAP de 10 a 14mm e
DAP 15mm foi de 32, 22, e 0%, respectivamente.
Grigon et al. (1986) sugeriram considerar como normal o DAP fetal < 10mm. A
dilatação mínima da pelve fetal foi tida como benigna na maioria dos casos e sua etiologia
não pôde ser precisamente determinada (MORIN et al., 1996; THOMAS et al., 1994;
YLINEN et al., 2004). No entanto, alguns trabalhos com acompanhamento em longo prazo
têm identificado associação entre a dilatação leve da pelve renal com: a) aneuploidia; b)
uropatia obstrutiva; c) refluxo vesicoureteral (PERSUTTE et al., 1997; KENT et al., 2000).
Coplen et al. (2006) acompanharam 257 crianças com diagnóstico de hidronefrose fetal
(DAP > 4mm antes da 33ª semana de gestação e DAP 7mm após a 33ª semana). Foram
excluídos do estudo os casos de duplicação renal ou com rim displásico multicístico.
Observou-se correlação entre o diâmetro ântero-posterior da pelve renal no feto e obstrução
do trato urinário. O DAP > 15mm discriminou obstrução em 80% dos fetos com 73% de
sensibilidade e 82% de especificidade.
A relevância clínica do encontro da hidronefrose fetal varia de acordo com a gravidade
da dilatação e as anomalias associadas. A conduta médica pode variar de observação com
acompanhamento ultra-sonográfico pré-natal, pós-natal e propedêutica neonatal extensa à
intervenção pré-natal e/ou pós-natal (LAING et al., 1984; THOMAS, 1990).
Dados obtidos do “Malformations Surveillance Program” no Brigham e Women's
Hospital (1974 a 1994) mostraram interrupção eletiva da gravidez em 65% dos casos de
espinha bífida, 46% dos casos de válvula de uretra posterior e 31% dos casos de extrofia de
bexiga (CROMIE et al., 2001).
Na opinião de Thomas (1990), a maior mudança ocorrida com o diagnóstico pré-natal
das uropatias foi a possibilidade de identificar a criança, aparentemente normal ao
nascimento, portadora de anomalia urológica não letal. Estima-se que aproximadamente 80%
dos neonatos com diagnóstico pré-natal de uropatia não apresentem, ao nascimento, sinais e
17
sintomas relacionados a essa anomalia. A Urologia Pediátrica foi revolucionada com o
advento do diagnóstico ultra-sonográfico pré-natal. O número de neonatos assintomáticos
avaliados devido à hidronefrose fetal é alto e está aumentando (BLANE et al., 2003).
A detecção da dilatação do trato urinário fetal possibilitou, também, a realização de
intervenções no pós-natal, visando preservação da função renal. O uso do antibiótico
profilático para o trato urinário e/ou correção cirúrgica, quando indicado, pode mudar a
evolução de algumas crianças (GUNN et al., 1995; ANDERSON et al., 1995b; ISMAILI et
al., 2003; TOIVIAINEN-SALO et al., 2004). Espera-se que a possibilidade do diagnóstico
pré-natal reflita redução no número daqueles pacientes que evoluem para insuficiência renal
crônica (THOMAS, 1990).
Por outro lado, muito se tem discutido sobre os aspectos éticos de se submeterem
crianças aparentemente sadias à extensa propedêutica para o trato urinário, realizando-se
muitas vezes exames que necessitam de sondagem vesical, punção venosa e uso de radiação
(THOMAS, 1990; ISMAILI et al., 2004). Outra preocupação é a ansiedade provocada nos
pais diante do diagnóstico de anomalia renal fetal, que muitas vezes tem significado clínico
desconhecido.
2.3.3 - Critérios para definição de hidronefrose fetal
A detecção pré-natal das anomalias do trato urinário veio propiciar a oportunidade de
atuar favoravelmente na gestação e na evolução pós-natal do paciente. Na prática clínica
diária, o uso das informações provenientes da ultra-sonografia fetal exige, entretanto,
avaliação cuidadosa e crítica (THOMAS, 1990; OLIVEIRA et al., 1999).
O exame ultra-sonográfico do aparelho urinário fetal pode evidenciar alterações, como:
agenesia renal unilateral ou bilateral, rins ectópicos, alterações do tamanho renal, dilatação da
pelve renal em graus variados, megaureter, cistos, megabexiga, alterações de parênquima
renal. A dilatação da pelve renal pode estar associada a anormalidades ureterais, vesicais e
diminuição do líquido amniótico (OLIVEIRA et al., 1999). A dilatação da pelve renal não
associada a outras anomalias é conhecida como hidronefrose fetal isolada.
A dilatação da pelve renal fetal é a principal indicação para a realização de ultra-
sonografia nos neonatos (PETRIKOVSKY et al., 1995; ACTON et al., 2003a). No entanto, os
trabalhos diferem na proporção entre os rins com dilatação da pelve renal e dos rins com
outras anormalidades no sistema coletor renal fetal (PETRIKOVSKY et al., 1995; STOCKS
et al., 1996; ACTON et al., 2003a). Entre as anormalidades do sistema excretor, a incidência
de hidronefrose fetal variou de 50 a 87% em diferentes estudos (MANDELL et al., 1991;
BLYTH et al., 1993). Na pesquisa de Acton et al. (2003a) a hidronefrose leve ou moderada
representou 92% das anormalidades do trato urinário fetal. Variações da configuração do
sistema pielocalicinal podem simular dilatação da pelve. A pelve renal é intra-renal na
18
maioria dos fetos e neonatos normais. A pelve extra-renal ocorre em 10 a 15% dos casos
(TOIVIAINEN-SALO et al., 2004; KATZIR et al., 2005). Outras anormalidades
diagnosticadas no rim fetal são: rim multicístico displásico, hipoplasia renal, rins em
ferradura, alteração de ecogenicidade, dilatação ureteral, bexiga de tamanho aumentado ou de
paredes espessas (ACTON et al., 2003a).
Um estudo prospectivo acompanhou 148 crianças com DAP da pelve fetal igual ou
maior que 5mm. A probabilidade estimada de sobrevida sem insuficiência renal foi de 99% ±
1% nos pacientes com hidronefrose isolada e 67% ± 7% nos pacientes com hidronefrose
associada a outras alterações urológicas e/ou oligoidrâmnio. A diferença foi estatisticamente
significante (OLIVEIRA et al., 1999). Outros autores relataram a associação entre
oligoidrâmnio de início precoce e pior evolução (MANDELL et al., 1991; COPLEN, 1997).
controvérsias na literatura sobre os critérios diagnósticos, a classificação e o
prognóstico da dilatação da pelve renal fetal (PETRIKOVSKY et al., 1995; ISMAILI et al.,
2004). O termo “obstrução” é muitas vezes utilizado para descrever dilatação da pelve renal,
apesar da obstrução não estar presente em muitos casos ou pelo menos não ser
funcionalmente importante (YLINEN et al., 2004). Vários estudos tentaram estabelecer
correlação entre a dilatação da pelve renal fetal e a evolução do neonato (FELDMAN et al.,
2001; YLINEN et al., 2004; COPLEN et al., 2006). Entre as limitações desses estudos
podemos citar a definição inconsistente de hidronefrose, as diferenças na abordagem intra-
útero, na propedêutica realizada no pós-natal, nos protocolos de acompanhamento e na
indicação cirúrgica (FELDMAN et al., 2001; ISMAILI et al., 2004).
Nos artigos consultados, podemos observar termos como pielectasia, pielocaliectasia e
hidronefrose fetal (ARNOLD et al., 1990; CORTEVILLE et al., 1991; PETRIKOVSKY et
al., 1995; FELDMAN et al., 2001; ACTON et al., 2003a). Pielectasia é a palavra utilizada por
vários autores para referirem-se à dilatação da pelve renal. Alguns descrevem como
pielectasia a dilatação da pelve renal que se resolve espontaneamente com o tempo, sendo
considerada uma variante do normal. Outros a empregam para referirem-se à dilatação leve da
pelve renal. Na minoria dos casos, esse termo pode indicar obstrução do trato urinário, sendo
necessário acompanhamento do paciente. Muitas vezes, pielocaliectasia e hidronefrose leve a
moderada são utilizadas como sinônimo. Pielocaliectasia é usada como referência à dilatação
dos cálices renais e parece estar associada à dilatação grave da pelve renal (CORTEVILLE et
al., 1991). Sidhu et al. (2006) definiram hidronefrose como dilatação da pelve renal e/ou
cálices. Para Fernbach et al. (1993), hidronefrose significa dilatação da pelve renal,
independententemente do grau. Toiviainen-Salo et al. (2004) definiram-na como a dilatação
do sistema coletor independentemente da etiologia.
Outros autores utilizam o termo hidronefrose para dilatação da pelve renal caracterizada
pelo DAP da pelve renal > 10mm (PERSUTTE et al., 1997). Na prática, os três termos são
freqüentemente permutados e todos são usados como descrição da dilatação da pelve renal
19
(ACTON et al., 2003a). Geralmente, a obstrução do trato urinário está associada à
hidronefrose, que, porém, pode ocorrer sem uma obstrução clinicamente importante (KOFF,
1987; PETER et al., 1995). Neste trabalho usaremos o termo hidronefrose para descrever
a dilatação do sistema pielocalicinal, independentemente do grau e da etiologia
(HOMSY et al., 1988; FERNBACH et al., 1993).
Quadro 1 - DAP renal fetal utilizado para diagnosticar hidronefrose
Estudo
DAP
(mm)
Idade
gestacional Estudo
DAP
(mm)
Idade
gestacional
Arger et al. (1985) 5 25ª a 33ª Pal et al. (1998) > 5
Mandell et al. (1990) 4 15ª a 20ª Jaswon et al. (1999) 5 > 20ª
5 20ª a 30ª Oliveira et al. (1999) 5
7 > 30ª Kent et al. (2000) 4 16ª a 21ª
Corteville et al. (1991) 4 33ª Persutte et al. (2000) 4 > 14ª
7 > 33ª Ismaili et al. (2002) 4 33ª
Barker et al. (1995) 5 16ª a 24ª 7 > 33ª
Adra et al. (1995) 4 33ª Wiener et al. (2002) > 4 < 33ª
7 > 33ª > 8 > 33ª
Stocks et al. (1996) 4 33ª Langer (2003) 5 até 28ª (repetir após)
7 > 33ª Acton et al. (2003a) 4 33ª
Morin et al. (1996) > 4 < 20ª 7 > 33ª
> 5 20ª a 24ª 10 > 28ª
Anderson et al. (1997) 4 Chitty et al. (2003) > 7 > 28ª
Dremsek et al. (1997) > 5 Damen-Elias et al. (2004) 5 18ª a 20ª
Dudley et al. (1997) > 5 14ª a 18ª Bouzada et al. (2004b) 5 > 28ª
Docimo et al. (1997) 4 < 20ª Cohen-Overbeek et al. (2005) 4 < 28ª
5 20ª a 26ª Coplen et al. (2006) 10 > 28ª
6 27ª a 35ª 4 33ª
6 > 36ª 7 > 33ª
A incidência de hidronefrose fetal varia nos diversos estudos, dependendo do critério
adotado para o diagnóstico, bem como da idade do feto no momento da ultra-sonografia
(BLYTH et al., 1993; STOCKS et al., 1996). Alguns autores preocuparam-se em diferenciar a
pelve renal normal e a anormal (ARGER et al., 1985; CORTEVILLE et al., 1991). Considera-
se que DAP > 10mm é anormal em qualquer estágio da gestação. Considerar um valor normal
menor nas fases mais precoces da gestação, entretanto, pode propiciar número maior de
diagnóstico de uropatias (STOCKS et al., 1996; KENT et al., 2000; FELDMAN et al., 2001).
Ultra-sonograficamente, Corteville estudou 97 rins de 63 fetos com suspeita de hidronefrose.
O DAP 4mm até a 33ª semana de gestação ou o DAP 7mm após a 33ª semana mostrou
sensibilidade de 100% para o diagnóstico de hidronefrose pós-natal. Vários trabalhos têm
usado o chamado “critério de Corteville” para definir normalidade para o rim fetal (STOCKS
et al., 1996; DOCIMO et al., 1997; ACTON et al., 2003a).
No QUADRO 1 resumimos os critérios de normalidade do DAP fetal utilizados em
diversos trabalhos.
Outros autores mostraram interesse em diferenciar a dilatação da pelve associada ou não
a anormalidade urológica significativa (GRIGNON et al., 1986a; BOUZADA et al., 2004b).
20
Grignon et al. (1986b) encontraram anormalidade significativa do trato urinário, requerendo
cirurgia ou acompanhamento clínico em 94% dos pacientes com DAP > 20mm, 50% dos
pacientes com DAP entre 10mm e 20mm e 3% dos pacientes com DAP < 10mm. Para
Mandel et al. (1991), o DAP fetal > 5mm da 15ª à 20ª semana de idade gestacional, DAP
fetal > 8mm da 20ª à 30ª e DAP fetal > 10mm após a 30ª associaram-se a maior risco de
necessidade de intervenção urológica. Anderson et al. (1995b) observaram que a maioria dos
rins obstruídos apresentava DAP < 10mm antes 23ª semana de gestação. Durante a gravidez,
esta medida aumenta mais nos rins obstruídos do que nos rins não obstruídos. Adra et al.
(1995) utilizaram o critério de Corteville para identificar fetos com hidronefrose. Dois terços
deles com DAP 8mm após a 28 semana de idade gestacional apresentavam uropatia. Esse
ponto de corte mostrou sensibilidade de 87%, especificidade de 41%, valor preditivo positivo
de 66,7% e valor preditivo negativo de 70%.
Kent et al. (2000) estudaram crianças com diagnóstico de dilatação isolada leve da
pelve renal fetal (4 a 7mm), diagnosticada ao ultra-som obstétrico realizado entre a 16ª e a
21ª semanas de gestação. Nesse grupo, 35% das 37 crianças necessitaram de
acompanhamento médico ou intervenção cirúrgica devido a uropatia do trato urinário. Entre
as enfermidades diagnosticadas estavam: obstrução da junção ureteropélvica, rim displásico,
refluxo vesicoureteral e válvula de uretra posterior.
Bouzada et al. (2004b) conduziram um estudo prospectivo com objetivo de avaliar a
acurácia da medida do DAP renal fetal para distinguir entre uropatias significativas e
dilatação idiopática da pelve renal. Uropatia significativa foi definida como a presença de
anormalidade bem estabelecida do trato urinário, diagnosticada com o ultra-som pós-natal,
uretrocistografia ou cintilografia renal. "Receiver-operating characteristics" (curvas ROC)
foram elaboradas visando identificar o valor do DAP que melhor identificasse as unidades
renais com uropatia importante e/ou as unidades que necessitariam de intervenção cirúrgica.
Foram analisados 133 recém-nascidos (154 unidades renais) com diagnóstico ultra-
sonográfico de hidronefrose fetal (DAP 5mm). O DAP fetal 7,5mm apresentou
sensibilidade de 97,9% e especificidade de 40,6% para o diagnóstico de uropatia significativa.
O DAP 15mm foi o melhor para identificar unidades que necessitavam de intervenção
cirúrgica (ASC: 0,953; sensibilidade: 82,4%; especificidade: 87,9%). O risco relativo de
intervenção cirúrgica foi 17,8 vezes maior nas unidades com DAP 15mm.
Cohen-Overbeek et al. (2005) avaliaram retrospectivamente crianças com DAP da pelve
fetal entre 4 e 10mm, antes de 28 semanas de idade gestacional. Um segundo ultra-som fetal
foi realizado no terceiro trimestre e os fetos com DAP 10mm, sem dilatação calicinal, foram
referendados para avaliação urológica. As curvas ROC entre o primeiro ultra-som, o segundo
e a diferença entre eles resultou em área sobre a curva de 0,60, 0,87 e 0,85 respectivamente. A
sensibilidade e a especificidade do DAP
10mm foram 61% e 79%, respectivamente.
Quando foi utilizado o DAP 10mm no terceiro trimestre da gravidez, apenas os casos de
21
hidronefrose leve e de RVU não foram diagnosticados. Houve um aumento da sensibilidade
(80%) e da capacidade de diagnosticar a uropatia quando foi utilizado DAP = 8mm como
referência de normalidade, ocorrendo, no entanto, diminuição da especificidade (71%).
Quando foi utilizada a diferença entre os valores encontrados nos dois exames ultra-
sonográficos fetais, a sensibilidade e especificidade foram 90% e 93% respectivamente. Esses
resultados sugerem associação entre o aumento do DAP durante a gravidez e uropatia. Esse
autor recomenda indicar propedêutica para crianças que apresentem DAP fetal > 10mm no
terceiro trimestre da gravidez. As crianças com DAP < 10mm no terceiro trimestre
deveriam ser submetidas à propedêutica após a ocorrência de algum episódio de infecção
urinária.
Chitty et al. (2003) construiram curvas de percentis para o comprimento, diâmetro
ântero-posterior e diâmetro transverso do rim fetal (entre a 14ª e a 42ª semanas de idade
gestacional) e para o diâmetro ântero-posterior da pelve renal fetal (entre a 17ª e a 42ª). Esse
trabalho reforça os achados de outros autores, sugerindo que na fase tardia da gravidez, o
limite superior da normalidade para o DAP fetal seja 7mm (CORTEVILLE et al., 1991;
DOCIMO et al., 1997).
Sidhu et al. (2006) fizeram revisão sistemática sobre a hidronefrose fetal isolada. A
metanálise revelou estabilização da hidronefrose em 98% dos rins com hidronefrose fetal
isolada com SFU grau 1 ou 2 ou DAP < 12mm. Nos casos com hidronefrose fetal isolada com
SFU 3 ou 4 ou DAP > 12mm, a ocorrência de resolução é mais rara, havendo estabilização da
hidronefrose em 51% dos rins. Nesta pesquisa a hidronefrose grau 1 ou 2 de SFU teve cinco
vezes mais chances de se estabilizar, comparada com a hidronefrose grau 3 ou 4.
Outros estudos tentaram correlacionar o valor do DAP com a presença de RVU.
Anderson et al. (1997) sugeriram que apenas 15% dos recém-nascidos com RVU teriam sido
diagnosticados se somente as crianças com DAP fetal 10mm fossem submetidas a exames
urológicos. Baseados nessa observação, Anderson et al. recomendaram a realização de
propedêutica para fetos com DAP 4mm. Jaswon et al. (1999) encontraram 22% de RVU
primário nas crianças com DAP fetal 5mm. O ultra-som renal neonatal foi normal em 61%
dessas crianças com refluxo vesicoureteral. Não houve correlação entre a gravidade da
dilatação da pelve renal no ultra-som pós-natal e o grau do RVU. Ismaili et al. (2002)
acompanharam prospectivamente 264 crianças com diagnóstico pré-natal de dilatação da
pelve renal (critério de Corteville). O ultra-som renal neonatal foi anormal em 190 crianças
(72% do total). Entre elas, 63 (33%) tinham alteração na uretrocistografia miccional. O RVU
primário foi diagnosticado em 30 crianças. As outras uropatias encontradas foram: RVU para
o pólo inferior renal em unidade renal duplicada (14), megaureter refluxante (9), válvula de
uretra posterior (5) e ureterocele (5).
No QUADRO 2 podemos observar como alguns autores classificaram a dilatação da
pelve renal de acordo com a gravidade.
22
Quadro 2 - Classificação da hidronefrose fetal, segundo diversos autores
Estudo Classificação
DAP (mm) Observação
Estudo Classificação
DAP (mm) Observação
Leve 4 a 7 15ª a 20ª semana Normal < 5
5 a 8 20ª a 30ª semana Leve 5 a 9
7 a 9 > 30ª semana Moderada 10 a 15
Moderada > 7 15ª a 20ª semana
Barker
et al.
(1995)
Grave > 15
9 a 15 20ª a 30ª semana Grau I < 10
10 a 15 > 30ª semana Grau II 10 a 15 cálices normais
Grave 9 a 15 20ª a 30ª semana Grau III > 15 dilatação leve
> 16 > 30ª semana grau IV > 15 dilatação moderada
Mandell
et al.
(1990)
Grignon
et al.
(1986b)
grau V > 15 dilatação grave
e atrofia cortical
Outros parâmetros têm sido testados, por diversos autores, a do melhoraria da
sensibilidade e a especificidade do exame ultra-sonográfico para o diagnóstico de alteração do
rim do feto:
Medida do comprimento do fluido que preenche a pelve renal no plano
sagital - o valor considerado anormal foi > 15mm. Gunn et al. (1995) relataram ter
optado por esta mensuração por ser de cil execução e por permitir identificar
anormalidade do infundíbulo renal e/ou dos cálices renais.
Razão entre o diâmetro ântero-posterior da pelve renal / diâmetro
ântero-posterior do rim (DP/DR) - Arger et al. (1985) observaram que a combinação
de DAP renal 10mm e DP/DR > 50% pode identificar a hidronefrose fetal
significativa (valor preditivo positivo de 94%, Qui-quadrado, 23,6; p < 0,001). Blachar
et al. (1994a; 1994b) classificaram como hidronefróticos os rins com DP/DR > 0,35 em
exames realizados entre a 33ª e a 37ª semanas de idade gestacional. Para Corteville et
al. (1991), o DP/DR > 0,28 identifica anomalia renal significativa com 90% de
sensibilidade e 100% de especificidade. Uma razão > 0,30 identifica 96% a 100% dos
fetos com diagnóstico pós-natal de hidronefrose congênita (CORTEVILLE et al., 1991).
Razão do comprimento do rim e circunferência abdominal - o tamanho
dos rins aumenta progressivamente durante a gestação, mas a relação entre o
comprimento renal e a circunferência abdominal permanece relativamente estável (0,27-
0,30) (TOIVIAINEN-SALO et al., 2004). A relação entre o comprimento do rim
/circunferência abdominal > 0,28 mostrou-se pouco sensível, especialmente em fase
tardia de gravidez (CORTEVILLE et al., 1991).
Espessura do parênquima renal - Kennedy et al. (2003) estudaram 246
rins normais de fetos da 16ª à 38ª semanas de idade gestacional. Utilizando regressão
polinomial construiram curvas da área do parênquima renal do rim direito e do rim
esquerdo em função da idade gestacional. Foi considerada normal a área do parênquima
que estava dentro de dois desvios-padrão para a idade gestacional. Também foram
elaboradas curvas considerando-se a soma da área do parênquima do rim direito e do
rim esquerdo, chamada área total do parênquima renal fetal. Propõe-se o uso dos
23
padrões de normalidade da área do parênquima renal para avaliar-se o acometimento do
parênquima renal nos rins hidronefróticos ou com nefropatia de refluxo. Para Corteville
et al. (1991), a medida da espessura do parênquima renal fetal não pode ser identificada
como preditor de anomalia urológica.
Caliectasia (dilatação dos cálices renais) - parece haver relação entre
caliectasia e comprometimento renal (CORTEVILLE et al., 1991; BLACHAR et al.,
1994a; 1994b; THOMAS et al., 1994; COPLEN, 1997).
Na literatura não vidas sobre a conveniência de acompanhamento das crianças
com diagnóstico de dilatação da pelve renal. No entanto, são muitas as diferenças entre as
várias definições propostas para o diagnóstico de dilatação fetal entre os diversos estudos
(FERNBACH et al., 1993; MAIZELS et al., 1994). Tal fato impede a adoção de protocolos
únicos para a abordagem da hidronefrose fetal e dificulta a comparação entre estudos de
autores diversos (FERNBACH et al., 1993).
2.3.4 - Incidência de anomalias nos rins dos fetos
O uso rotineiro do exame ultra-sonográfico pré-natal tem ocasionado aumento do
número de fetos com anormalidades urológicas (UPSDELL et al., 1994; LIVERA et al.,
1989; AVNI et al., 1985; FELDMAN et al., 2001; AKSU et al., 2005). A incidência e a
prevalência de anormalidades urológicas detectadas no período pré-natal estão documentadas
em estudos prospectivos e retrospectivos (McKENNA et al., 2003). A incidência da
hidronefrose pré-natal variou nos diversos estudos dependendo do critério utilizado para
definir essa anormalidade e do período gestacional em que o exame ultra-sonográfico foi
realizado (BLYTH et al., 1993).
A incidência de dilatação do trato urinário, detectado intra-útero, foi relatada em 1/100
gravidezes (GRISONI et al., 1986; THOMAS, 1990). Grisoni et al. (1986) referenciaram
envolvimento do sistema geniturinário em aproximadamente 20% das anomalias fetais. A
incidência de uropatia significativa foi de 1/500 gestações (THOMAS, 1990).
Scott et al. (1988) abordaram os casos notificados ao "Northern Region Fetal
Abnormality Survey" entre 1984 e 1986. As malformações acometeram 0,93% dos recém-
nascidos e as anormalidades urinárias corresponderam a 14,3% das notificações. Entre estas,
22% não apresentaram anormalidades do trato urinário após o nascimento. Em 13,2% dos
recém-nascidos com alteração do trato urinário não houve suspeita de anormalidade ao exame
ultra-sonográfico do rim fetal.
Livera et al. (1989) conduziram estudo prospectivo para avaliação da incidência de
hidronefrose fetal. O exame ultra-sonográfico fetal foi realizado na 28
ª semana de idade
gestacional. Avaliaram-se 6.292 grávidas. Todas as anormalidades estruturais do trato urinário
24
foram reportadas, sendo considerado significativo o DAP 10mm. A incidência de
anormalidades do trato urinário foi de 0,76%. O exame ultra-sonográfico apresentou 88% de
sensibilidade e 99% de especificidade para o diagnóstico de uropatia. Gunn et al. (1995)
também estudaram a incidência de anomalias no exame ultra-sonográfico fetal realizado
depois da 28ª semana de gestação. Anormalidades significativas do trato urinário foram
identificadas com a freqüência de 1,43/100 nascimentos (obstrução da junção ureteropélvica:
0,42/100; obstrução da junção ureterovesical: 0,18/100 e refluxo vesicoureteral: 0,36/100).
Anderson et al. (1995a) realizaram, entre 1991 e 1993, estudo prospectivo para detectar
anomalias antes da 20ª semana de idade gestacional. O exame ultra-sonográfico fetal foi
realizado antes da 16ª semana em 9162 grávidas e entre a 16ª e a 20ª em 7880 grávidas. Os
autores identificaram 117 anomalias em 104 bebês. Do total de 144 anomalias identificadas
nos neonatos, 84 foram suspeitadas intra-útero. A prevalência de anomalia detectada antes da
20ª semana foi de 1,98/100 e a de bebês com anomalia foi de 1,83/100. Anomalias renais
foram diagnosticadas em 9 pacientes. Quatro deles não tiveram o diagnóstico feito antes da
20ª semana. A incidência de anomalias geniturinárias diagnosticadas entre a 16ª e a 20ª
semanas foi de 0,11/100 e a prevalência de anomalias geniturinárias diagnosticadas durante
todo o período gestacional foi de 0,19/100.
Dudley et al. (1997) avaliaram prospectivamente 18.766 mulheres grávidas, entre 1990
e 1994. O primeiro exame ultra-sonográfico fetal foi realizado entre a 14ª e a 18ª semanas de
idade gestacional. A hidronefrose fetal (DAP > 5mm) foi diagnosticada em 0,59% dos fetos.
McKenna et al. (2003), revendo a literatura, encontrou variação de 0,2 a 0,9% na
incidência de anormalidades urinárias detectadas no pré-natal. A percentagem de anomalias
estruturais (válvula de uretra posterior, obstrução da junção ureteropélvica e outras lesões
obstrutivas) foi de aproximadamente 0,04 - 0,3%.
Acton et al. (2003a), em estudo retrospectivo de 25.202 recém-nascidos, identificaram
anomalia do trato urinário em 3% dos pacientes. Alguns autores preocupam-se em estudar a
hidronefrose leve. Morin et al. (1996) encontraram 2,25% de incidência de hidronefrose fetal
leve (DAP entre 4mm e 10mm antes da 20ª semana, DAP de 5mm a 10mm da 20ª a 24ª
semana). Persutte et al. (1997) avaliaram 5.529 fetos. Desses, 306 apresentavam dilatação
leve da pelve renal (4mm < DAP 10mm) e não apresentavam outra anormalidade urológica.
Nessa população, a incidência de hidronefrose foi de 5,5% (306/5529).
Podemos observar os diferentes critérios utilizados por diversos autores para definir
anormalidade da pelve renal. A idade gestacional indicada para a realização do ultra-som fetal
também variou muito nos diversos trabalhos (ISMAILI et al., 2003). São fatores implicados
na diferença da incidência e da prevalência de anomalias urológicas no feto: os critérios
adotados para definir hidronefrose; os critérios para definir as uropatias; a idade fetal
(BLYTH et al., 1993; STOCKS et al., 1996); a diferença de incidência nas diversas
populações; e o aperfeiçoamento dos equipamentos de ultra-som nas últimas décadas.
25
2.3.5 - Avaliação ultra-sonográfica do rim da criança
Nos últimos anos, a ultra-sonografia substituiu a urografia excretora na avaliação de
várias doenças renais (ZERIN et al., 1994). Essa técnica tem sido empregada cada vez mais
freqüentemente para pesquisar os rins de crianças com suspeita de anormalidades do trato
urinário (AVNI et al., 1985; UPSDELL et al., 1994; LIVERA et al., 1989; FELDMAN et al.,
2001). Um exame do trato urinário realizado por um ultra-sonografista experiente pode
fornecer excelente investigação morfológica. A análise ultra-sonográfica do trato urinário
começa com a averiguação da presença e localização dos rins. No rim são usualmente
mensurados o comprimento renal, o diâmetro transverso e o diâmetro ântero-posterior e
calculado o volume renal, além de avaliarem-se a ecogenicidade renal e a diferenciação
córtico-medular. Na pelve são comumente medidos os diâmetros ântero-posterior, transverso
e o comprimento. Achados anormais como duplicações, dilatações, caliectasias, debris,
cálculos ou corpo estranho podem ser detectados. O parênquima renal deve ser considerado
em relação à sua espessura, ecogenicidade, presença de cistos, cicatrizes ou outras alterações.
Os ureteres devem ser avaliados quanto à posição, duplicação ou dilatação, estenoses, litíases
e presença de corpo estranho. A ultra-sonografia da bexiga permite definir sua posição,
tamanho, espessura da parede, capacidade vesical, presença de resíduo pós-miccional,
contrações não inibidas e presença de outras alterações normalmente não encontradas na
bexiga normal, como debris, divertículos, ureteroceles, massas e pólipos. O exame ultra-
sonográfico também pode detectar massas tumorais no trato urinário (BLYTH et al., 1993;
ACTON et al., 2003a).
São várias as enfermidades associadas à dilatação da pelve renal, entre elas:
hidronefrose idiopática, obstrução da junção ureteropélvica, megaureter obstrutivo,
megaureter primário, ureter ectópico, ureterocele, refluxo vesicoureteral, síndrome de Prune
Belly, válvula de uretra posterior, megacálices, cisto simples, cisto de uraco. Algumas
doenças renais e não renais podem ser confundidas com hidronefrose: rim multicístico, cisto
de ovário, hidrocolpos, teratoma sacrococcígeo, duplicação intestinal, atresia duodenal e
meningocele anterior (BLYTH et al., 1993).
A avaliação inicial de uma criança com diagnóstico pré-natal de dilatação da pelve renal
consiste na realização de ultra-sonografia de rins e vias urinárias (BLYTH et al., 1993).
Vários autores têm pesquisado a idade ideal para a realização do primeiro ultra-som
renal em neonatos com diagnóstico de hidronefrose no pré-natal. Há, na literatura, muitas
divergências sobre esse assunto. Idealmente, os rins deveriam ser avaliados precocemente
para permitir o diagnóstico das anormalidades potencialmente deletérias e a intervenção
adequada. No entanto, o estado de relativa desidratação e a baixa taxa de filtração glomerular
no neonato podem dificultar a identificação de anormalidades urológicas nos primeiros dias
26
de vida (THOMAS, 1990; FERNBACH et al., 1993; WIENER et al., 2002). Há descrições de
fetos com diagnóstico de dilatação moderada da pelve renal que apresentaram exame ultra-
sonográfico normal, falso-negativo, nos primeiros dias de vida (LAING et al., 1984). Discute-
se muito sobre a possibilidade de falso-negativo no exame ultra-sonográfico renal realizado
nos primeiros dias de vida.
Quadro 3 – Classificação da hidronefrose pós-natal, segundo diversos autores
Estudo Classificação DAP (mm) Estudo Classificação DAP (mm)
Homsy et al. (1990) Dilatação leve 15 Misra et al. (1999) faixa 1 10 a 14
Dilatação moderada 15 faixa 2 15 a 20
Dilatação grave 15 + atrofia faixa 3 20 a 40
cortical faixa 4 > 40
Ransley et al. (1990)
faixa 1 < 12 Ismaili et al. (2003) Dilatação leve < 10
faixa 2 > 12 Dilatação moderada 10 a < 15
Blachar et al. Grau 0 < 4 Dilatação grave 15
(1994a) Grau I 4 a 9 Josephson et al. faixa 1 6 a 12
Grau II 10 a 15 (1993) faixa 2 13 a 19
Grau III > 15 faixa 3 > 19
Dudley et al. (1997) Grau I 5 a 9 Cheng et al. (2004) faixa 1 0 a 4
Grau II 10 a 14 faixa 2 5 a 9
Grau III 15 a 19 faixa 3 10 a 15
Grau IV > 20 faixa 4 > 15
Dhillon (1998) Tratamento clínico < 12
Clínico ou cirúrgico 12 a 50
Cirúrgico > 50
Na revisão da literatura observamos que não há consenso entre os diversos autores sobre
a idade ideal para a realização do primeiro exame ultra-sonográfico neonatal: nas primeiras 24
horas (DUDLEY et al., 1997); 24 e 48 horas (THOMAS, 1990; BLYTH et al., 1993;
DOCIMO et al., 1997); entre 36 e 48 horas (SCOTT et al., 1988); após 48 horas (KING,
1995); entre 2 e 3 dias de vida (CHERTIN et al., 1999; AKSU et al., 2005); após o 5º dia
(COST et al., 1996; CHENG et al., 2004); durante a primeira semana de vida (RANSLEY et
al., 1990; YLINEN et al., 2004); no fim da primeira semana (LIVERA et al., 1989); ao 7º
dia (ANDERSON et al., 1995b; DREMSEK et al., 1997); entre 7 e 10 dias e entre a 4ª e a 6ª
semanas se o ultra-som pós-natal inicial for normal (DEJTER et al., 1989). Segundo Ismaili et
al. (2004) 71% dos urologistas pediátricos e nefrologistas pediátricos solicitam a realização
do primeiro exame ultra-sonográfico renal para avaliação de crianças com hidronefrose fetal
entre o terceiro e o oitavo dias de vida. Quando a criança estiver com aproximadamente um
mês, novo exame ultra-sonográfico é solicitado por 67% dos nefrologistas pediátricos e 85%
dos urologistas pediátricos.
Docimo et al. (1997), em estudo prospectivo, compararam o exame ultra-sonográfico do
rim do neonato realizado nas primeiras 48 horas e após sete dias de vida. O primeiro
apresentou um valor preditivo positivo de 63% para o diagnóstico de hidronefrose e valor
preditivo negativo de 97%. Considerando-se a necessidade de cirurgia urológica no primeiro
27
ano de vida, o valor preditivo positivo do exame ultra-sonográfico realizado nas primeiras 48
horas de vida foi de 100%.
Wiener et al. (2002) acompanharam 21 neonatos com diagnóstico de dilatação do DAP
fetal. Foi considerado alterado o DAP fetal 4mm até a 33ª semana de idade gestacional e
8mm depois da 33ª semana. Os neonatos foram submetidos a uretrocistografia miccional e
exames ultra-sonográficos nas primeiras 48 horas e entre 7 a 10 dias de vida. O grau de
dilatação foi classificado, segundo a SFU, de 0 a 4. Comparando-se dois exames, houve
mudança no grau de hidronefrose na maioria das unidades renais. Essa mudança não foi
notada nos pacientes portadores de uropatia importante. Wiener et al. (2002) recomendaram a
realização precoce do primeiro ultra-som renal de neonatos com suspeita de obstrução
bilateral do trato urinário ou outra anormalidade potencialmente grave. Se necessário, esse
exame seria repetido posteriormente. Nos neonatos com suspeita de dilatação da pelve renal
unilateral, ou dilatação bilateral leve, o ultra-som renal deveria ser realizado com 7 a 10 dias
de vida.
Para Maizels et al. (1992), a dilatação da pelve renal pode ser uma variante do normal,
porém a dilatação calicinal não. A dilatação dos cálices renais tem sido associada à uropatia
obstrutiva. Excetuam-se o refluxo vesicoureteral e condições raras de megacalices (PARKER
et al., 1981; MAIZELS et al., 1992; BLANE et al., 1993). Parker et al. (1981) estudaram 14
crianças de três meses a 16 anos que foram submetidas à pieloplastia. Todos os rins com
perda 10% da função renal diferencial (FRD) apresentavam caliectasia grave. Por outro
lado, alguns rins com esse mesmo achado não apresentavam perda de função renal.
Muitas desordens renais estão associadas a mudanças no tamanho dos rins (ZERIN et
al., 1994), que podem ocorrer no rim com anomalia e/ou no rim contralateral (MANDELL et
al., 1993; PETERS et al., 1993; KOFF et al., 1994; KOFF et al., 1995). Os gráficos de
percentis para o tamanho renal são usados com freqüência na prática clínica. Eles permitem
comparar o tamanho do rim da criança com os padrões de normalidade para a idade, peso,
estatura, superfície corporal. Além disto, possibilitam acompanhar o crescimento renal
seqüencialmente e comparar com os padrões de normalidade (ROSENBAUM et al., 1984;
HAN et al., 1985; DINKEL et al., 1985; HEUER et al., 2003).
Garcia-Pena et al. (1997) relataram diferença estatisticamente significante entre o
comprimento dos rins obstruídos (que estavam dois percentis acima da média para a idade) e
o dos não obstruídos. A comparação entre o tamanho dos rins de um mesmo paciente também
pode ser útil. Diante da assimetria entre eles (excedendo 5-10mm), deve-se suspeitar de
anormalidade, mesmo que a medida de cada um esteja dentro da faixa de normalidade.
A ultra-sonografia também tem sido preconizada como técnica de escolha no
diagnóstico e monitorização da dilatação da pelve renal, mas poucos trabalhos são dedicados
ao estudo do tamanho normal da pelve renal na criança (TSAI et al., 1989; SCOTT et al.,
2001; BLANE et al., 2003; ISMAILI et al., 2004).
28
Tsai et al. (1989) estudaram 147 crianças de 1 a 15 anos, dividindo-as em dois grupos.
O grupo um (1) foi constituído de 87 crianças em propedêutica de alteração do trato urinário
motivada por: infecção urinária, dor abdominal, febre de etiologia a esclarecer, síndrome de
Vater, massa abdominal e outras causas. O grupo dois (2) foi constituído de 60 crianças
consideradas normais e sem história clínica ou exames laboratoriais que sugerissem doença
renal. Os autores objetivaram determinar o limite superior do tamanho da pelve renal normal.
Foram realizadas medidas ultra-sonográficas da pelve renal das crianças em posição supina,
prona e/ou decúbito lateral. Tentou-se correlacionar o tamanho da pelve renal normal e a
idade da criança. Consideraram-se 10mm como limite superior da normalidade para a pelve
renal. Apenas 1,7% das pelves renais consideradas normais excedeu 10mm. A análise de
regressão não indicou relação entre a idade da criança e o tamanho da pelve renal.
Scott et al. (1991) mediram a pelve renal (DAP) nos neonatos registrando valores
4mm em 93,3% dos neonatos e 5mm em 96,3%. Blane et al. (2003) compararam os achados
de urografia excretora e as medidas ultra-sonográficas do DAP da pelve renal de 28 crianças
com idade média de 5,2 anos. O exame ultra-sonográfico renal foi realizado simultaneamente
à urografia excretora. Nas crianças assintomáticas o DAP da pelve renal < 10mm foi
considerado normal. Blane sugeriu a avaliação de crianças com DAP da pelve renal 10mm
ou dilatação calicinal. Quando o critério para diagnosticar hidronefrose e uropatia obstrutiva
foi DAP > 10mm a sensibilidade, a especificidade, o valor preditivo positivo e valor preditivo
negativo encontrados foram de 50%, 96,6%, 86,7% e 81,3% respectivamente. Contudo,
utilizando-se o DAP > 10mm para indicar avaliação do trato urinário, várias uropatias não
obstrutivas não foram diagnosticadas. Outros autores também preconizaram a realização de
avaliação urológica apenas para neonatos que durante investigação de hidronefrose fetal
apresentaram DAP > 10mm (GRIGNON et al., 1986a; LANGER, 2003).
Ismaili et al. (2004) conduziram um trabalho entre os urologistas e nefrologistas
pediátricos de língua francesa filiados à French-speaking Society of Pediatric Nephrology
(SNP) e à French-speaking Pediatric Urology Study Group (GEUP). Os nefrologistas
pediátricos consideraram anormal um DAP renal neonatal 9 ± 2,9mm, enquanto os
urologistas pediátricos consideraram anormal o DAP 11 ± 1,9mm.
Em 1993, Fernbach publicou o sistema utilizado pela “Society Fetal of Urology” (SFU)
para graduar a dilatação do trato urinário (ou hidronefrose) ao exame ultra-sonográfico. Essa
classificação foi desenvolvida como alternativa à mensuração do DAP para avaliação da
dilatação fetal (QUADRO 4).
Quadro 4 - Classificação da SFU para dilatação da pelve renal
Grau 0
sem dilatação
Grau I
somente a pelve é visualizada
Grau II
hidronefrose está presente e alguns cálices são visualizados
Grau III
hidronefrose está presente e todos os cálices são visualizados)
Grau IV
a aparência da hidronefrose pode ser similar ao grau 3, mas o parênquima renal está atrofiado
29
Esse sistema classifica o grau de hidronefrose baseado na aparência dos cálices, da
pelve renal e do parênquima. A classificação da SFU foi dividida em 5 categorias. Essa
maneira de classificar a hidronefrose tem recebido críticas, por ser muito subjetiva,
dependendo muito da avaliação do ultra-sonografista, mas vários autores a utilizam
(YAMAZAKI et al., 2001).
Na prática clínica diária o nefrologista preocupa-se muito com a descrição ultra-
sonográfica de parênquima renal com espessura reduzida e alterações da ecogenicidade renal
(HULBERT et al., 1992; DOHERTY, 1995). A diminuição da espessura do parênquima induz
a consideração de que aquele rim é propenso à evolução para perda da capacidade de realizar
as funções de um rim normal (MAIZELS et al., 1992). Entretanto, há na literatura poucas
informações sobre a espessura normal do parênquima renal no rim de crianças.
Dinkel et al. (1985) mediram ultra-sonograficamente o parênquima renal de rins
normais de crianças normais. A correlação entre largura do parênquima/comprimento do
corpo foi de 0,811. As tentativas de estabelecer correlações com as medidas do parênquima e
as anormalidades urológicas foram desapontadoras.
No estudo de Emamian et al. (1993), a medida da espessura do parênquima renal no
pólo superior mostrou variação importante em função da idade e do sexo. Cost et al. (1996)
construiram curvas de percentis correlacionando a área de parênquima renal e a idade do
paciente. A área do parênquima renal foi calculada subtraindo-se a área da pelve renal da área
do rim. O comprimento renal apresentou boa correlação com a área do parênquima renal
normal (r
2
= 0,92), cujo cálculo parece ser complexo, especialmente quando dilatação
irregular do sistema coletor (DINKEL et al., 1985; RODRIGUEZ et al., 2001). Entre os
outros fatores dificultadores para a obtenção de medidas relacionadas ao parênquima renal
estão: limitações do aparelho de ultra-sonografia para as medições com diferenças menores
que um milímetro; e a dificuldade de definir-se o limite entre o parênquima e a pelve
(EMAMIAN et al., 1993).
Vários autores, porém, acreditam que a mensuração da espessura do parênquima pode
ser útil para avaliar algumas condições patológicas (EMAMIAN et al., 1993). Maizels et al.
(1992) valorizaram as alterações do parênquima renal quando utilizou como definição do
padrão de hidronefrose “a distensão da pelve renal e dos cálices do rim, acompanhados da
atrofia do parênquima”. Para esse autor, a alteração da espessura do parênquima renal está
associada à uropatia obstrutiva. Outros autores também tentaram utilizar as medidas de
parênquima para avaliar o acometimento renal. Garcia-Pena et al. (1997) verificaram
diferença estatisticamente significante em relação à espessura o parênquima renal em rins
obstruídos ou não: espessura do parênquima renal 5mm foi associada com obstrução do
trato urinário ipsilateral. Chetin et al. (1999) estudaram dois grupos de pacientes. O grupo um
(1), constituído de pacientes com diagnóstico pré-natal de obstrução da junção ureteropélvica,
foi submetido à pieloplastia com idade média de 11 meses. O grupo dois (2), constituído de
30
crianças sintomáticas, foi submetido à cirurgia com média de cinco anos. O diâmetro ântero-
posterior da pelve renal (> 30mm) associado à diminuição da espessura do parênquima renal
(< 8mm) foi encontrado em 82% das crianças do grupo um (1) e em 95,2% do grupo dois (2).
Cost et al. (1996) avaliaram a espessura bipolar do parênquima (soma da espessura do
parênquima no pólo superior e sua espessura no pólo inferior). Esse índice não tem boa
correlação nos rins hidronefróticos (r
2
= 0,055). A espessura bipolar do parênquima foi menor
no rim hidronefrótico do que no rim contralateral (p < 0,05).
Outra tentativa de valorizar as alterações do parênquima renal foi o uso da área do
parênquima. Em 1985, Dinkel et al. sugeriram que a medida da área do parênquima poderia
levar a melhores resultados do que a espessura do parênquima renal. Nos rins hidronefróticos,
Cost et al. (1996) encontraram correlação ruim entre área do parênquima e comprimento renal
(r
2
= 0,259). Nos pacientes que necessitaram de pieloplastia, a área do parênquima do rim
contralateral foi visivelmente maior do que a do rim hidronefrótico. No primeiro ultra-som
pós-natal, a relação área do parênquima/área da pelve menor que 1,6 mostrou 100% de
sensibilidade e 100% de especificidade para diferenciar, entre os pacientes com hidronefrose
unilateral, os que necessitaram ou não de pieloplastia.
Para Rodriguez et al. (2001), a relação área do parênquima/área da pelve menor que
1,6 no primeiro ultra-som pós-natal prediz a necessidade de pieloplastia em 96% dos casos.
Essa relação sendo menor que 1,6 e SFU grau 4 com afilamento difuso da cortical indicou
necessidade de correção cirúrgica da obstrução de junção ureteropélvica.
Sibai et al. (2001) tentaram estabelecer correlação entre as características do
parênquima nos rins hidronefróticos e a função renal diferencial. Foram avaliados pacientes
submetidos à pieloplastia entre 1996 e 1998. As indicações para pieloplastia foram: função
renal diferencial < 40%; diminuição de 10% na função renal diferencial em renogramas
seriados; atraso na excreção do radiofármaco; e progressiva dilatação da pelve em exames
ultra-sonográficos seriados. A dilatação da pelve renal foi classificada de acordo com a SFU
(FERNBACH et al., 1993). O grupo quatro foi dividido em 4a (parênquima afilado em áreas
segmentares) e 4b (parênquima difusamente afetado). Os pacientes com grau 4b de
hidronefrose apresentaram incidência maior de alteração da função renal (FRD< 40%) em
comparação aos pacientes do grupo 4a (66% contra 24%; p=0,014). O grupo 4a apresentou
características semelhantes às dos pacientes com SFU 3.
Heuer et al. (2003), utilizando a ressonância nuclear magnética, calcularam o volume
renal e o volume do parênquima renal. Com a divisão do volume do parênquima renal pelo
volume renal, o autor criou um índice chamado fração cortical (FC). Na avaliação de rins
sadios, a fração cortical foi constante, independentemente da idade e do sexo (FC = 76,73 ±
4,3%). Nesse trabalho, os pacientes com cicatrizes renais secundárias a nefropatia de refluxo
apresentaram FC menor que nos pacientes sem cicatrizes renais (FC = 63,65 ± 5,72%). Esta
diferença foi estatisticamente significante.
31
Wen et al. (1999), em trabalho experimental, avaliaram o peso do parênquima renal do
rim obstruído e do rim contralateral. Houve diminuição média de 12% do peso do parênquima
renal nos rins com obstrução leve e de 30% nos rins com obstrução grave. O peso médio do
parênquima renal do rim contralateral ao rim com obstrução leve aumentou 9% e ao rim com
obstrução grave aumentou 27%.
A diferenciação córtico-medular também tem sido alvo de estudos por diversos autores
(HAN et al., 1985; HULBERT et al., 1992; GARCIA-PENA et al., 1997). A perda da
diferenciação córtico-medular está associada à progressão para insuficiência renal crônica
(HULBERT et al., 1992). Han et al. (1985) estudaram a ecogenicidade renal, que foi similar à
do parênquima hepático em 65% dos rins dos recém-nascidos avaliados. No grupo neonatal,
foi notada proeminência das pirâmides renais, o que não aconteceu com crianças maiores.
Garcia-Pena et al. (1997) relataram diferença estatisticamente significante em relação à
ecogenicidade entre os rins obstruídos e os não obstruídos (HUBERT et al., 1992; GARCIA-
PENA et al., 1997). relato de 45% de evolução para IRC entre os pacientes portadores de
refluxo vesicoureteral, associado à válvula de uretra posterior, com ausência de diferenciação
córtico-medular, ao ultra-som renal (HUBERT et al., 1992).
Várias publicações têm demonstrado associação estatisticamente significante entre
obstrução renal e hipertrofia do rim contralateral (PETERS et al., 1993; MANDELL et al.,
1993; KOFF et al., 1994a; KOFF et al., 1995; GARCIA-PENA et al., 1997).
O aumento do tamanho e da taxa de filtração glomerular do rim contralateral foi
demonstrado em animais e humanos submetidos à nefrectomia unilateral (HAYSLETT,
1979). Esse aumento também tem sido demonstrado nos indivíduos com alterações renais
unilaterais, como agenesia e obstrução do trato urinário contralateral (PETERS et al., 1993;
MANDELL et al., 1993; KOFF et al., 1994a; KOFF et al., 1995). A obstrução renal unilateral
pode ocasionar elevação da taxa de filtração glomerular no rim contralateral não obstruído
(DICKER et al., 1972). Segundo Koff et al. (1994a). as mudanças compensatórias na
velocidade do crescimento do rim contralateral dependem primariamente da existência de
uma obstrução grave, o suficiente para causar deterioração da função renal no rim
hidronefrótico. O crescimento hipertrofiado do rim contralateral ocorre devido à hiperplasia
dos glomérulos (MCVARY et al., 1989; PETERS et al., 1993; MANDELL et al., 1993; YOO
et al., 2006). Nessas unidades renais os glomérulos são 50% maiores do que o normal
(PETERS et al., 1993; MANDELL et al., 1993). Moore et al. (1979), estudando o rim de feto
de carneiros, demonstraram aumento da quantidade de RNA e DNA cortical do rim
contralateral três dias após a realização de nefrectomia unilateral. Chung et al. (1996)
narraram os efeitos da obstrução unilateral pós-natal nos rins de ratos, distinguindo
diminuição do conteúdo de DNA do rim obstruído e aumento do DNA no rim contralateral
após 14 dias da obstrução. A hipertrofia renal compensatória tem sido atribuída à sobrecarga
32
de trabalho e à presença de fatores renotrópicos, sendo esses mecanismos ainda pouco
conhecidos (PETERS et al., 1993; MANDELL et al., 1993).
Utilizando a ultra-sonografia renal, Koff et al. (1994b) mostraram existir diferença de
comprimento entre o rim contralateral ao rim hidronefrótico - que deteriorou e necessitou de
correção cirúrgica - e o rim contralateral ao rim hidronefrótico - que melhorou. Essa alteração
do comprimento foi evidente tanto em relação à idade quanto ao peso corporal. A comparação
entre o comprimento renal médio desses grupos tornou-se estatisticamente significante entre
oito e doze meses de idade. Baseado nesse achado, propôs-se, como critério para diagnosticar
obstrução unilateral, a deterioração da função renal no rim hidronefrótico associada à
aceleração do crescimento do rim normal. Koff et al. (1995) mediram ultra-sonograficamente
o comprimento do rim contralateral de crianças com hidronefrose unilateral. Os valores
encontrados foram comparados com as curvas construídas por Rosenbaum et al. (1984). Essa
comparação permitiu avaliar o crescimento renal. O rim contralateral ao rim com hidronefrose
unilateral apresentou taxa de crescimento mais alta do que o rim normal (ROSENBAUM et
al., 1984; KOFF et al., 1995). Brandell et al. (1996) realizaram um trabalho retrospectivo com
crianças com diagnóstico provável de estenose de junção ureteropélvica. A hipertrofia renal
foi definida como uma mudança de percentil no gráfico que correlaciona comprimento renal e
idade. Nesse trabalho, a medida do comprimento do rim contralateral não apresentou boa
correlação com obstrução unilateral do trato urinário. Os resultados encontrados diferem dos
trabalhos de Koff et al. (1995). Na opinião de Brandell et al. (1996), a hipertrofia do rim
contralateral não parece ser um bom critério para diferenciar as crianças que necessitarão de
intervenção cirúrgica daquelas que não terão essa indicação.
Pesquisas experimentais com animais têm sido feitas visando melhor compreensão da
hipertrofia do rim contralateral ao rim obstruído, demonstrando, de modo geral, a presença de
hipertrofia renal compensatória do rim contralateral, correlacionada, em alguns casos, com a
gravidade e o período da gravidez no qual ocorreu a obstrução do trato urinário (PETERS et
al., 1992; McKENNA et al., 1999; WEN et al., 1999; YOO et al., 2006). Eskild-Jensen et al.
(2000), em estudo experimental com porcos, não encontraram hipertrofia do rim contralateral
ao rim obstruído.
Mandell et al. (1993) estudaram o tamanho do rim de fetos humanos com agenesia renal
unilateral. Ele encontrou comprimento médio de 3,9cm no rim normal e 4,4cm no rim único
ou rim contralateral ao rim multicístico. Garcia-Pena et al. (1997) desenvolveram um escore
para detecção de obstrução renal. O escore pontuou: aumento da ecogenicidade renal,
espessura do parênquima < 5mm; hipertrofia do rim contralateral; índice de resistência igual
ou maior que 1,10; diferença de pelo menos 7% no índice de resistência com diurético,
diâmetro ureteral 10mm, ausência de peristaltismo ureteral. Esse escore excluiu obstrução
do trato urinário com especificidade de 99% nas crianças de baixo risco e detectou obstrução
com sensibilidade de 91% nas crianças de alto risco.
33
2.3.6 - Variabilidade das medidas ultra-sonográficas do rim
2.3.6.1 - Variabilidade das principais dimensões do rim
A determinação ultra-sonográfica das dimensões do rim tem sido rotineiramente
utilizada na prática clínica, objetivando-se avaliar o tamanho e o crescimento renal
(SARGENT et al., 1993). Idealmente, as medidas assim obtidas deveriam ser precisas e
apresentar alto grau de reprodutibilidade para serem comparadas, quando necessário.
Entretanto, as medidas de comprimento renal realizadas utilizando a urografia excretora ou a
ultra-sonografia podem ser influenciadas por vários fatores, alguns inerentes aos pacientes,
outros ao examinador e outros aos equipamentos usados (SCHLESINGER et al., 1991;
BLANE et al., 1994; CARRICO et al., 1996; ZERIN et al., 2000).
Na literatura especializada, o termo “variabilidade” é usado para designar a não
reprodutibilidade de medidas, fato que decorre principalmente da impossibilidade de se
considerarem todos os fatores que interferem nos valores finais obtidos nos processos de
medição.
Os fatores que determinam a variabilidade das medidas renais podem estar associados
aos pacientes, ao examinador ou ao equipamento de ultra-som. Estão associados ao paciente:
mudanças no padrão respiratório, distensão gasosa das alças intestinais, interposição de
cicatrizes, roupas, drenos dificultando a visualização renal. Anormalidades esqueléticas e rins
ectópicos mudam a posição e inclinação dos rins, podendo alterar as medidas do comprimento
renal e reduzir sua reprodutibilidade. O tamanho renal pode ser influenciado pelo estado de
hidratação do paciente, o uso de diurético e de contraste endovenoso (ARKLESS, 1969;
HODSON, 1961). A mensuração do rim anormal pode ser complicada pela dificuldade de
definirem-se os limites renais (SARGENT et al., 1993). A mensuração dos rins também pode
ser prejudicada em pacientes não cooperativos e naqueles com excessiva movimentação
durante o exame (SCHLESINGER et al., 1991; CARRICO et al., 1996). A posição da criança
durante o exame ultra-sonográfico pode influenciar na medição do comprimento renal
(CARRICO et al., 1996). Em estudo prospectivo, dois ultra-sonografistas pediátricos
mediram o comprimento de 48 rins em três posições: supina, prona e decúbito contralateral.
Houve diferença nos valores obtidos dependendo da posição da criança. O comprimento renal
foi maior quando a criança estava na posição supina ou contralateral. A média da diferença do
comprimento entre o rim na posição supina e o decúbito contralateral foi de 3mm para um
observador e 1,6mm para outro (CARRICO et al., 1996).
São fatores associados ao examinador: experiência no exame ultra-sonográfico de
crianças, inapropriado posicionamento do cursor para a medição, inadequada inclinação do
transdutor (SCHLESINGER et al., 1991).
34
São fatores associados aos equipamentos de ultra-som: transdutores e programas
(software) utilizados. A tecnologia moderna permite melhor resolução de imagens e definição
dos limites renais (AVNI et al., 1985). Essas diferenças podem limitar a comparação com as
medidas obtidas mais de uma década (ZERIN et al., 1994). Medidas feitas nos filmes com
réguas ou calibres mecânicos são geralmente menos precisas do que medidas realizadas com
calibres eletrônicos (ZERIN et al., 1994; CARRICO et al., 1996).
Muito tem sido descrito sobre a variabilidade das medidas ultra-sonográficas
(SCHLESINGER et al., 1991; CARRICO et al., 1996; FERRER et al., 1997; SARGENT et
al., 1997). Um trabalho experimental realizado com bácoros avaliou a acurácia das medidas
ultra-sonográficas para determinação do tamanho e do crescimento renal. O ultra-som foi
utilizado para mensurar o comprimento, o diâmetro transverso e o diâmetro ântero-posterior
do rim. Posteriormente, os animais foram sacrificados e as medidas do rim foram comparadas
com as medidas obtidas com a ultra-sonografia renal. A diferença média entre o comprimento
renal obtido pelo exame ultra-sonográfico e o comprimento renal foi de 3,8mm. Ao contrário
do esperado, as medidas seriadas do comprimento e o volume renal não tiveram acurácia para
avaliar o tamanho do rim. Análises da curva de crescimento semanal revelaram variação
importante em semanas sucessivas, que pode ser igual à diferença de crescimento de um ano
ou mais em rins de crianças (FERRER et al., 1997).
Hricak et al. (1983) descreveram o uso da equação da elipsóide para cálculo do
volume renal, demonstrando existir correlação consistente entre o volume calculado e aquele
medido após a nefrectomia.
Sargent et al. (1993) encontraram boa correlação entre a função renal diferencial e o
volume do rim de crianças. A diferença entre foi de 1% (95% CI, 0,01-1,99) nos rins normais
e de 10,9% nos rins anormais.
Sargent et al. (1997) quantificaram a variabilidade interobservador na determinação
ultra-sonográfica do volume do rim de crianças. Três pares de ultra-sonografistas com
experiência em exames pediátricos mediram o comprimento e os diâmetros de 176 rins em 90
crianças. Verificou-se que, com 95% de probabilidade, o volume do rim medido por um
observador seria entre 0,69 e 1,44 vezes o volume medido pelo outro observador.
Schlesinger et al. (1991) estudaram a variação interobservador medindo o comprimento
renal em crianças. A variação média entre duas medidas renais variou de 3,87mm a 5,49mm.
A variação intra-observador também tem sido matéria de avaliação por diversos autores.
A variação média do tamanho renal medido por um mesmo observador em dois momentos
diferentes foi de 0,87mm a 3,61mm na avaliação de Schlesinger et al. (1991) e de 1,7mm a
2,9mm na de Carrico et al. (1996).
A variação da medida do comprimento e, conseqüentemente, do volume renal pode até
ser maior do que a variação esperada, em função do crescimento anual em crianças
(SCHLESINGER et al., 1991; SARGENT et al., 1997; FERRER et al., 1997).
35
Entre os critérios utilizados para indicar a pieloplastia em rins obstruídos, está a medida
do comprimento ou o crescimento do rim ao longo do tempo. Alguns autores enfatizam a
necessidade de se usarem criteriosamente essas medidas (SCHLESINGER et al., 1991; KOFF
et al., 1995; FERRER et al., 1997).
Carrico et al. (1996) chamaram a atenção para a diferença dos equipamentos e da
metodologia utilizada pelos diversos autores para a construção das curvas de crescimento
renal (ZERIN et al., 1994; CARRICO et al., 1996). Dinkel et al. (1985) utilizaram
mensurações renais realizadas com as crianças na posição prona e apoiadas em um travesseiro
para diminuir a lordose lombar. Rosenbaun et al. (1984) obtiveram as mensurações com as
crianças deitadas na posição supina (DINKEL et al., 1985; ROSENBAUM et al., 1984;
CARRICO et al., 1996).
2.3.6.2 - Variabilidade das medidas da pelve
Alguns autores têm descrito mudanças nos valores medidos no DAP fetal em exames
ultra-sonográficos seqüenciais. Essa variabilidade ou flutuação parece apontar para uma
oscilação do tamanho da pelve renal, que foi notada em exames ultra-sonográficos repetidos
ou durante uma observação mais demorada da pelve renal fetal (PETRIKOVSKY et al., 1995;
PERSUTTE et al., 1997 et al., PERSUTTE et al., 2000; ANDERSON et al., 2004 et al.,
DAMEN-ELIAS et al., 2004). Apesar das evidências continuarem a mostrar a importância da
dilatação da pelve renal fetal, pouco é conhecido sobre sua variação em curto espaço de
tempo, sua relação com a dilatação da bexiga e a dinâmica da micção (PERSUTTE et al.,
2000).
Petrikovsky et al. (1995), acompanhando fetos com hidronefrose, DAP > 5mm,
encontraram correlação positiva entre o tamanho da pelve renal e a área da bexiga. Em 53%
dos fetos com DAP 5mm a pelve renal estava aparentemente normal após a bexiga ser
esvaziada (PETRIKOVSKY et al., 1995). Para ele, essa variação da pelve renal fetal em
função da repleção vesical pode ser um grande dificultador na compreensão da história
natural, diagnóstico e prognóstico da hidronefrose fetal.
Persutte et al. (2000) consideraram 20 fetos no segundo e terceiro trimestres de
gestação, avaliando durante duas horas 38 unidades renais com graus variados de dilatação,
com medidas seriadas de diâmetro ântero-posterior e diâmetro transverso da pelve renal. As
várias medidas realizadas durante o período de observação mostraram variação média para a
soma do diâmetro ântero-posterior e do diâmetro transverso de 7,61mm e para o diâmetro
ântero-posterior de 3,80mm. A média de tempo entre a dilatação máxima e a mínima foi de 20
minutos. Durante as duas horas de observação da pelve renal, valores normais (DAP < 4mm)
e anormais (DAP
4mm) foram encontrados em 70% dos casos (14 de
20). O autor concluiu
que há grande variação do tamanho da pelve renal no intervalo de 2 horas. Não foi encontrada
36
relação entre a variabilidade da dilatação ou a magnitude da dilatação e o tamanho da bexiga
fetal. A dilatação cíclica da bexiga foi observada em todos os casos (PERSUTTE et al., 2000).
Outros autores têm observado variação do tamanho da pelve renal fetal durante o exame ultra-
sonográfico (ULMAN et al., 2000; DAMEN-ELIAS et al., 2004).
No entanto, durante uma observação de 2-3 horas, associação consistente entre a
dilatação da pelve renal fetal ou a sua variação e a repleção vesical pôde ser estabelecida em
apenas em 6/18 fetos (ROBINSON et al., 1998; DAMEN-ELIAS et al., 2004). Para Damen-
Elias et al. (2004), uma única medida do DAP fetal parece inadequada para diagnosticar
anormalidade no rim fetal.
Segundo Thomas (1990) o volume de urina produzido pelo feto pode chegar a
40ml/hora. O autor especulou sobre a possibilidade de o alto fluxo urinário através do trato
urinário superior durante o último trimestre ser um fator contribuinte para o aumento do
diâmetro da pelve renal. Isto poderia explicar a leve dilatação do trato urinário fetal, que se
reverte para o normal no primeiro ano de vida.
As mudanças do diâmetro ântero-posterior da pelve renal tem sido relacionadas à
hidratação materna. (ROBINSON et al., 1998; BABCOOK et al., 1998). No trabalho de
Robinson et al. (1998), ocorreu aumento do DAP renal nos fetos com pelve normal e naqueles
com pielectasia após hidratação materna. Allen et al. (1987) não constataram mudança no
grau de dilatação da pelve renal antes e após hidratação materna vigorosa.
A variabilidade da pelve renal está relacionada à presença de refluxo vesicoureteral.
Anderson et al. (2004) estudaram 1092 fetos com DAP 4mm. A diferença maior que 3mm
no DAP, nos exames ultra-sonográficos realizados, definiu a variação da pelve renal fetal e/ou
neonatal. O autor encontrou variação em 26 de 82 crianças com refluxo vesicoureteral, 5 de
39 com obstrução da junção ureteropélvica ou obstrução da junção ureterovesical, 7 de 15
com duplicação renal não complicada, 8 de 9 com megaureter e 2 de 6 com ureterocele, e 0 de
6 com rim multicístico displásico. Estatisticamente a variação do DAP foi associada com
refluxo vesicoureteral grave (odds ratio 11,1; p = 3.10
-7
) e com cicatriz renal (sensibilidade:
61% e valor preditivo positivo: 31%). A variação do DAP também foi associada à duplicação
renal (p < 10
-4
) e megaureter (p < 10
-8
) (ANDERSON et al., 2004). Damen-Elias et al. (2004),
observando as medidas do DAP da pelve fetal durante um período de duas horas, notou
variabilidade média de 6,7mm no DAP, porém não pôde estabelecer sua associação com
refluxo vesicoureteral.
Conforme discutido anteriormente, na literatura opiniões divergentes sobre a idade
ideal para a realização do primeiro exame ultra-sonográfico neonatal. A mensuração precoce
da pelve renal pode resultar exames falsamente normais. Nessa situação, a ocorrência de um
exame falso-negativo tem sido explicada por desidratação do neonato e baixa taxa de filtração
glomerular nos primeiros dias de vida (WIENER et al., 2002; THOMAS, 1990). A variação
da pelve renal nos primeiros dias de vida tem sido descrita. Wiener et al. (2002), usando a
37
classificação da SFU, avaliaram 32 unidades renais com diagnóstico de hidronefrose fetal.
Esses neonatos foram submetidos a exame ultra-sonográfico renal com 48 horas de vida
neonatal e com 7-10 dias. Comparando os dois exames, o autor observou aumento do grau da
SFU em 14 unidades, diminuição em 8 e inalterado em 10 unidades.
Morin et al. (1996) acompanharam crianças com diagnóstico de hidronefrose leve, que
se estabilizou ou resolveu-se na maioria dos casos. Em três, porém, o diâmetro ântero-
posterior da pelve variou de normal no pré-natal a anormal no pós-natal, não tendo sido
identificada lesão anatômica em nenhuma delas.
Dremsek et al. (1997) estudaram 54 neonatos (72 rins) com DAP > 5mm, sem
obstrução do trato urinário. Encontrou-se aumento temporário do DAP renal de até 12mm em
17 rins, que se normalizou em 74% dos rins dentro de 68 a 97 dias depois do nascimento; os
26% restantes normalizaram-se entre 308 e 412 dias.
Koff et al. (2005) estudaram 18 pacientes entre um mês de idade e 10 anos, realizando.
renograma diurético e ultra-som renal simultaneamente. Os pacientes receberam hidratação e
diurético. O autor notou variação do volume da pelve durante a diurese nos rins normais, nos
obstruídos e nos hidronefróticos não obstruídos. Nos rins normais, houve aumento médio do
volume da pelve de 85% (33 a 134%). Nos rins obstruídos, o aumento médio do volume da
pelve foi de 46% (30%-66%). Nos rins hidronefróticos, não obstruídos, o aumento médio foi
de 88% (18 a 206%).
Vários fatores podem influenciar no tamanho da pelve renal da criança. As causas de
aumento da pelve renal incluem: distensão da bexiga, aumento do fluxo urinário, alterações
no sistema coletor causadas por infecção, doença cística do rim, que mimetiza hidronefrose.
Entre as causas de diminuição da pelve renal, pode-se citar: desidratação, obstrução aguda do
trato urinário, obstrução no trato urinário distal e erro de medição (TSAI et al., 1989).
Dremsek et al. (1997) não notaram relação entre DAP em neonatos e a repleção vesical.
Wiener et al. (2002) as modificações do grau da SFU nas crianças com diagnóstico
pré-natal de hidronefrose. Ele sugeriu que talvez a aparência do rim do neonato seja variável e
possa mudar a cada hora, a cada dia ou a cada semana, dependendo da ingestão e das perdas
de líquidos. Isso poderia explicar a hidronefrose transitória encontrada em 7 de 11 unidades
renais normais no pré-natal. Para Koff et al. (2005), a pelve renal é complacente e aumenta
durante a diurese em crianças jovens com ou sem hidronefrose, parecendo ser essa resposta
mais importante em crianças menores de dois anos.
Amarante et al. (2003) estudaram neonatos com diagnóstico pré-natal de hidronefrose
e DAP pós-natal entre 15mm e 45mm. Todos apresentavam a função renal estável. Foi
valorizado, como indício de piora, o aumento de mais de nove milímetros no DAP. Esse autor
não explicou nem citou referências que justifiquem valorizar apenas aumento acima de 9mm
no DAP da pelve renal da criança.
38
Variações das medidas do parênquima renal do neonato também foram observadas. Cost
et al. (1996) encontrou variação interobservador de 6,9% na área do parênquima nos rins
hidronefróticos e de 9,9% para rins não hidronefróticos. A variabilidade foi maior para a área
da pelve e chegou a 18% (COST et al., 1996). Rodriguez et al. (2001), estudando a relação
entre área da pelve e área do parênquima em rins com hidronefrose, encontraram variação
interobservador de 20% para a área do parênquima e 12% para a área da pelve.
2.4 - Diagnóstico diferencial das uropatias associadas à hidronefrose fetal
2.4.1 - Introdução
A hidronefrose neonatal pode ser obstrutiva ou não. Entre as causas obstrutivas
podemos citar: obstrução de junção ureteropélvica (OJUP), estenose de junção ureterovesical
(JUV), ureterocele, duplicação dos rins e vias urinárias com estenose de uma ou ambas as
unidades renais, atresia uretral e válvula de uretra posterior. Entre as causas não obstrutivas
podemos citar: hidronefrose idiopática, refluxo vesicoureteral, duplicação renal não
complicada e ndrome de Prune Belly, pelve extra-renal. A hidronefrose pode ser
acompanhada de alteração da localização e/ou fusões dos rins, de anormalidades uretrais,
ureterais e/ou vesicais. A hidronefrose que não é acompanhada de outras anomalias do trato
urinário tem sido chamada de hidronefrose isolada.
Seja pela freqüência dessas doenças, seja pela relevância clínica, as principais causas
da hidronefrose fetal (ou neonatal) isolada são: o refluxo vesicoureteral, a hidronefrose
idiopática e a obstrução da junção ureteropélvica. A seguir, serão discutidas essas três
entidades abordando especialmente a indicação dos exames para estabelecer o diagnóstico.
Após exclusão do refluxo vesicoureteral, o diagnóstico diferencial está entre hidronefrose
idiopática e obstrução da junção ureteropélvica. Considerando-se as lacunas encontradas na
literatura e a importância clínica, dispensa-se especial atenção ao diagnóstico diferencial e
evolução de rins hidronefróticos, sem refluxo vesicoureteral.
2.4.2 - Refluxo vesicoureteral
Podemos encontrar na literatura opiniões divergentes sobre a indicação de um exame
específico para a pesquisa de refluxo vesicoureteral nas crianças com diagnóstico de
hidronefrose fetal ou neonatal (ZERIN et al., 1993; BLYTH et al., 1993; PAL et al., 1998;
ISMAILI et al., 2003; ISMAILI et al., 2004). O exame mais utilizado com esta finalidade é a
uretrocistografia miccional (UCM) (BARNEWOLT et al., 1998). No entanto, nas crianças do
sexo feminino a pesquisa de refluxo vesicoureteral pode ser realizada utilizando-se a
cistografia radioisotópica direta (MANDELL et al., 1997c). A cistografia radioisotópica direta
39
é mais sensível que a ureterocistografia miccional para detectar refluxo vesicoueteral. Além
disto, expõe a criança a menos radiação. Entretanto, a cistografia radioisotópica direta não
permite o estudo anatômico da bexiga e da uretra e a classificação do refluxo conforme o
“International Reflux Study Committee” (1981).
A associação entre hidronefrose e refluxo vesicoureteral não está clara. O RVU pode
estar presente em rins com aparência normal ou naqueles com hidronefrose. Em revisão da
literatura Sargent (2000) encontrou grande variação na prevalência de refluxo de acordo com
os critérios adotados para indicar o cistograma (SARGENT, 2000). Nas crianças com
diagnóstico de hidronefrose fetal a prevalência média de refluxo foi de 20,5% (SARGENT,
2000). Segundo Ismaili et al. (2002), a incidência de RVU em neonatos com dilatação da
pelve renal fetal variou de 4 a 30%. Nesse grupo houve predominância do sexo masculino. O
refluxo vesicoureteral foi bilateral em aproximadamente 2/3 dos pacientes. A maioria das
crianças apresentou refluxo de grau III a IV (ANDERSON et al., 1991; ELDER, 1992). Zerin
et al. (1993) afirmaram ser o RVU mais comum nos neonatos com exame ultra-sonográfico
renal pós-natal normal do que naqueles em que a anormalidade pré-natal persiste após o
nascimento.
As seguintes situações devem ser consideradas: a) crianças com diagnóstico fetal de
hidronefrose não confirmada no pós-natal; b) crianças com diagnóstico de hidronefrose fetal,
confirmada no pós-natal; c) pesquisa de refluxo vesicoureteral em todas as crianças com
diagnóstico pré-natal de hidronefrose, independentemente do resultado do ultra-som neonatal.
2.4.2.1 - Dilatação não confirmada no exame ultra-sonográfico pós-natal
O refluxo vesicoureteral persiste como hipótese diagnóstica nas crianças com
hidronefrose fetal não confirmada no pós-natal (Dremsek et al., 1997). No entanto, os autores
divergem sobre a necessidade de pesquisar-se a existência do refluxo vesicoureteral nessas
crianças.
Acton et al. (2003a) realizaram trabalho retrospectivo no “Mercy Hospital for
Women” usando os “critérios de Corteville” para diagnóstico de hidronefrose fetal. Foram
submetidas à UCM 49 crianças com exame ultra-sonográfico renal pós-natal normal. O RVU
foi diagnosticado em 19 dessas crianças (38,8%). Em seis o refluxo foi grau III e em duas foi
grau IV.
Ismaili et al. (2003), em estudo prospectivo, submeteram crianças com diagnóstico
ultra-sonográfico de hidronefrose fetal a dois exames ultra-sonográficos no período neonatal.
O primeiro foi realizado com cinco dias de vida e o segundo com um mês. Nas crianças com
dois exames ultra-sonográficos normais, o resultado anormal na UCM foi descrito como raro.
Todas as portadoras de hidronefrose leve (DAP < 10) ou moderada (DAP 10 e DAP <
15mm) foram submetidas à UCM. O refluxo vesicoureteral foi encontrado em 10,7% delas
40
(ISMAILI et al., 2003). A sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor
preditivo negativo em dois exames ultra-sonográficos consecutivos no período neonatal para
predizer anormalidade da uretrocistografia miccional foi de 93%, 35%, 33% e 93%,
respectivamente (ISMAILI et al., 2002).
2.4.2.2 - Dilatação confirmada no exame ultra-sonográfico pós-natal
Vários autores estudaram a incidência de refluxo vesicoureteral nesse grupo de
pacientes. O'Flynn et al. (1993) acompanharam 335 crianças nas quais a dilatação trato
urinário diagnosticada intra-útero persistiu no período neonatal. O refluxo vesicoureteral foi
encontrado em 21 (6,26%). Deve-se ressaltar que, nessa pesquisa, a realização da
uretrocistografia miccional possibilitou o diagnóstico de outras anormalidades: válvula de
uretra posterior (16 crianças) e ureterocele ectópica (11 crianças). Thomas et al. (1994)
estudaram crianças dilatação leve da pelve renal (DAP 5mm a 15mm) em 29 pacientes.
Desses, 14 foram submetidos à UCM. A incidência de RVU foi de 7%. Dudley et al. (1997)
acompanharam 64 crianças com diagnóstico de hidronefrose fetal (DAP > 5mm) persistente
no período pós-natal. Destas, 48 foram submetidas à UCM. O refluxo vesicoureteral foi
diagnosticado em 12 pacientes e 18 unidades renais. Pal et al. (1998) avaliaram ultra-
sonograficamente os rins de neonatos na primeira semana de vida. A hidronefrose foi
diagnosticada em 122 rins, sendo que 23% das unidades apresentavam refluxo vesicoureteral.
O RVU foi bilateral em 71,4% das crianças. Os pacientes foram submetidos a outro ultra-som
com 30 dias de vida. Nas que apresentaram o segundo exame ultra-sonográfico normal, a
incidência de RVU foi de 26,8%. Entre os pacientes com hidronefrose leve (DAP < 15mm), a
incidência de refluxo foi de 21,5%. O refluxo encontrado variou de grau I a V. Com base
nesses dados, os autores indicam a pesquisa de RVU para todos os neonatos com DAP da
pelve renal alterado (DAP > 5mm). Jaswon et al. (1999) realizaram UCM em todos os
neonatos com história hidronefrose fetal (DAP > 5mm). O RVU foi encontrado em 22% deles
(nenhuma unidade mostrou evidência de dano renal). Blachar et al. (1994a) estudaram 100
crianças e 136 rins com hidronefrose ao ultra-som pós-natal. O RVU foi diagnosticado em
21,2% das crianças. Feldman et al. (2001) relataram 25 casos de hidronefrose fetal: 10
crianças apresentavam hidronefrose idiopática, 6 OJUP, 5 RVU, 2 duplicação, 2 megaureter.
Acton et al. (2003b) avaliaram 120 crianças que persistiam com pielectasia no exame ultra-
sonográfico pós-natal. Destas, 115 foram submetidas à UCM, com incidência de refluxo
vesicoureteral de 13%. É interessante destacar que nesse grupo de pacientes o refluxo
vesicoureteral não estava necessariamente no mesmo lado da pielectasia. Dez pacientes
apresentavam refluxo grau III a IV. Cheng et al. (2004) avaliaram 86 crianças com
hidronefrose pré-natal, verificando a incidência de RVU de 21%.
41
2.4.2.3 - Pesquisa compulsória de refluxo vesicoureteral
Será tratada neste subitem a situação representada pela pesquisa de refluxo
vesicoureteral em todas as crianças com diagnóstico pré-natal de hidronefrose,
independentemente do resultado do exame ultra-sonográfico pós-natal. Considerando-se que o
exame ultra-sonográfico do rim não exclui a presença de refluxo vesicoureteral, vários autores
preconizam a realização de uretrocistografia ou cistografia radioisotópica em todos os casos
com diagnóstico de hidronefrose fetal. Blane et al. (1993) analisaram retrospectivamente 493
neonatos e crianças para avaliar o uso do ultra-som renal na identificação de RVU. O ultra-
som renal e a uretrocistografia miccional foram realizados com diferença de até 8 horas. O
RVU foi encontrado em 272 de 986 rins, sendo que 201 unidades refluxantes estavam
normais ao ultra-som. Em 71 unidades refluxantes, o ultra-som renal foi anormal,
evidenciando: dilatação pielocalicinal (45), duplicação renal (6) e outras anormalidades (20).
À ultra-sonografia, 74% dos rins com refluxo eram normais. Stocks et al. (1996) avaliaram 27
crianças com diagnóstico de hidronefrose fetal caracterizada por DAP fetal 4mm antes da
33ª semana e 7mm após esta. A hidronefrose foi bilateral em 18 pacientes (66,7%) e
unilateral em 9 (33,3%). Todos os casos de suspeita de obstrução vesical foram excluídos do
estudo. O diagnóstico pós-natal dos pacientes evidenciou RVU em 22,2% das crianças.
Persutte et al. (1997) investigaram 306 fetos com dilatação leve da pelve renal (DAP 4mm e
DAP < 10mm) submetendo apenas 28% à uretrocistografia miccional. A incidência de refluxo
vesicoureteral foi de 14,3% (não há descrição de exame ultra-sonográfico pós-natal).
Phan et al. (2003), em neonatos com diagnóstico de hidronefrose isolada ao ultra-som
fetal, excluiram do estudo todos que apresentaram outras anormalidades geniturinárias no
ultra-som fetal. Entre os pacientes estudados, 63% exibiam ultra-som renal pós-natal normal
(DAP < 10mm). A prevalência de RVU foi de 15%, não havendo correlação entre o grau de
dilatação da pelve renal no pós-natal e a presença ou gravidade do RVU (p = 0,567).
O refluxo vesicoureteral primário pode estar associado a uma outra anomalia do trato
urinário. Na casuística de Anderson et al., (1991), a incidência de outras anormalidades do
trato urinário associadas a RVU foi de 29%.
A uretrocistografia miccional foi solicitada sistematicamente para crianças com
diagnóstico de hidronefrose fetal por 20% dos nefrologistas pediátricos e 40% dos urologistas
pediátricos entrevistados por Ismaili et al. (2004).
A indicação da uretrocistografia miccional normalmente acarreta preocupação para os
pais da criança. No entanto, são descritas poucas complicações associadas à realização da
UCM. Na casuística de Ismaili et al. (2002) ocorreram complicações em 3,4% dos pacientes
submetidos à uretrocistografia miccional: a) pielonefrite aguda, apesar do uso de
quimioprofilaxia para o trato urinário (2 pacientes); b) falência na cateterização uretral (4
42
pacientes); c) hematúria macroscópica (2 pacientes); d) rash cutâneo causado por contraste (1
paciente).
2.4.3 - Obstrução da junção ureteropélvica
Outra anomalia causadora de hidronefrose fetal é a obstrução da junção ureteropélvica
(OJUP). Os relatos da literatura, como de Ransley et al. (1990) e Koff et al. (1992; 1994a),
sugerem que os neonatos com diagnóstico de hidronefrose unilateral, sem refluxo
vesicoureteral, podem na verdade representar dois grupos distintos (RANSLEY et al., 1990;
KOFF et al., 1992; KOFF et al., 1994a): um com obstrução da junção ureteropélvica e outro
com obstrução transitória ou hidronefrose sem obstrução (BLYTH et al., 1993; TAKLA et al.,
1998). A OJUP tem sido descrita como a anormalidade mais freqüente do trato urinário
(KOFF 1992; HANNA, 2000; WONG et al., 2000). Outros autores relataram-na como a
principal causa de hidronefrose fetal que persistiu no período neonatal (MANDELL et al.,
1991; BLACHAR et al., 1994a).
Brown et al. (1987), em estudo realizado em ambiente hospitalar, reportaram aumento
do número de crianças com diagnóstico de OJUP após o advento do ultra-som fetal. Houve
elevação de cinco vezes no número de pacientes com hidronefrose e duas vezes no de OJUP.
Após o surgimento do ultra-som fetal, outros autores também observaram aumento no número
de crianças com diagnóstico de hidronefrose e obstrução da junção ureteropélvica
(MANDELL et al., 1991; YLINEN et al., 2004). Wiener et al. (1995) conduziram um estudo
populacional na Carolina do Norte para avaliar se houve aumento no número de pacientes
submetidos à pieloplastia. Analisou-se o número de pieloplastias realizadas anualmente entre
1970 e 1992 , não se considerando o critério utilizado para a indicação da técnica. Concluiu-se
que o aumento da incidência de pieloplastia não foi maior que a taxa de crescimento
populacional da região estudada, porém elas foram realizadas em pacientes mais jovens.
Desde o início dos anos oitenta, quando a realização da ultra-sonografia fetal tornou-se
comum, o espectro das crianças com hidronefrose está mudando de sintomáticas para
assintomáticas (BROWN et al., 1987). Há na literatura muita discussão sobre a história
natural da estenose de junção ureteropélvica diagnosticada com o uso da ultra-sonografia pré-
natal (KOFF, 1982; TAKLA et al., 1989; PETERS, 1995; KOFF, 2000). Vários aspectos têm
sido discutidos em relação à OJUP: a história natural da doença, os critérios diagnósticos
(HANNA et al., 1976b; POCOCK et al., 1985; DEJTER et al., 1988; WIENER et al., 1995;
PETERS, 1995; HANNA, 2000; CAPOLICCHIO et al., 1999), a indicação e a idade ideal
para a realização do tratamento cirúrgico (DEJTER et al., 1988; KOFF et al., 1992; HANNA,
2000). Existem poucos trabalhos prospectivos e randomizados publicados sobre o assunto
(PALMER et al., 1998; HANNA , 2000). Em muitos não grupo-controle e em outros o
grupo-controle é muito pequeno (PETERS, 1995). Além disso, as séries descritas têm
43
acompanhamento relativamente curto (máximo 10 anos), quando comparado com a
expectativa atual de vida (HANNA, 2000).
As divergências nos critérios diagnósticos e condutas dificultam a comparação dos
artigos publicados (UPSDELL et al., 1994; WIENER et al., 1995; PETERS, 1995; PALMER
et al., 1998; CAPOLICCHIO et al., 1999).
Os trabalhos a seguir mostraram a percentagem de OJUP em relação às outras
anomalias do trato urinário. Deve-se ressaltar que os critérios usados para diagnosticar a
obstrução do trato urinário não foram idênticos:
Mandell et al. (1991) relataram a evolução de 130 crianças com hidronefrose fetal. O
diagnóstico pós-natal foi: OJUP (45 crianças), rins normais (35), hidronefrose idiopática (33),
refluxo (8), megaureter obstrutivo (6), duplicação (3), VUP (2), Prune Belly (1), hipospádia
(1), morte/aborto (6) e perda de seguimento (14).
O'Flynn et al. (1993) acompanharam 335 crianças com dilatação do DAP no pré-natal e
no pós-natal. O renograma e a urografia excretora foram utilizados para diferenciar obstrução
da junção ureteropélvica e hidronefrose idiopática. Para interpretação do renograma foram
seguidos os critérios de O´Reilly et al. (1978). Uma curva com padrão tipo 2 definiu
obstrução da junção ureteropélvica e uma curva tipo 3a ou 3b hidronefrose idiopática. O
diagnóstico final das crianças foi: hidronefrose idiopática (85), OJUP (73), rim multicístico
displásico (48), refluxo vesicoureteral (21), válvula de uretra posterior (16), ureterocele
ectópica (11), outros (47).
Blachar et al. (1994a) estudaram 100 crianças e 136 rins com hidronefrose no ultra-
som pós-natal e identificou obstrução da junção ureteropélvica como a causa principal de
hidronefrose (59,4%). Os outros diagnósticos foram: hidronefrose idiopática (21,2%), RVU
(15%), estenose de junção ureterovesical (3,1%) e outros (incluindo ureterocele e rim
displásico multicístico) em 1,3%. O critério renográfico utilizado para definir obstrução renal
foi o “washout” < 20%.
Outros autores encontraram uma percentagem relativamente pequena de OJUP entre
os pacientes com hidronefrose. Jaswon et al. (1999), estudando neonatos com DAP > 5mm,
encontraram obstrução da junção ureteropélvica em 3,8% dos pacientes. Dudley (1997)
registrou OJUP em três de 64 crianças com persistência da hidronefrose no pós-natal. O
critério para diagnosticar a obstrução do trato urinário foi a ausência de excreção do
radiofármaco no renograma diurético. Acton et al. (2003a) avaliaram 120 crianças com
pielectasia ao exame ultra-sonográfico pré-natal e pós-natal. Duas das sete crianças com
obstrução importante da junção ureteropélvica tinham pielectasia leve ou moderada ao ultra-
som, sendo indistinguível dos pacientes que evoluíram sem obstrução. Os autores informam
que o diagnóstico de obstrução foi confirmado com exame de medicina nuclear, porém não
descrevem detalhes.
44
A importância do diagnóstico da obstrução da junção ureteropélvica reside no fato de
que o impedimento da drenagem do fluxo urinário causa dano renal e a obstrução deve ser
aliviada (KOFF, 1987; PETERS, 1995; CAPOLICCHIO et al., 1999). A obstrução do trato
urinário também aumenta o risco de infecção urinária, urosepse, litíase, hipertensão arterial e
pode causar dor abdominal e hematúria (PETERS, 1995; CAPOLICCHIO et al., 1999;
HUTTON, 2002).
Trabalhos experimentais em animais estudam as alterações renais causadas pela OJUP.
Josephson et al. (1985) fizeram, cirurgicamente, uma obstrução parcial nos ureteres de ratos
com um ou dois dias de vida. O objetivo era estudar o efeito dessa obstrução na maturação
renal. Os rins obstruídos apresentavam aumento considerável da pelve renal. O peso do
parênquima renal foi 19% menor e a taxa de filtração glomerular foi 43% menor no rim
obstruído quando comparado ao rim contralateral (p<0,01). McVary et al. (1989) observaram
diminuição no número de glomérulos nos rins de fetos e recém-nascidos de coelhos
submetidos à obstrução experimental. Após a desobstrução do trato urinário, houve aumento
do número de néfrons. Peters et al. (1992), estudando fetos de ovelhas submetidos à obstrução
do trato urinário, não encontraram diminuição do número de néfrons nos rins hidronefróticos.
Vários autores pesquisaram os agentes causais associados à estenose de junção
ureteropélvica (ANDERSON, 1958; KOFF, 1982; HANNA, 2000). Alguns defendem que o
uso da denominação genérica de OJUP é utilizado para um grupo de doenças que são
diferentes (PETERS, 1995). Outros defendem que as duas são a mesma uropatia
diagnosticada em diferentes estágios (WIENER et al., 1995). Entre as possíveis causas de
OJUP, foram citados: estreitamento do ureter, angulação do ureter, vasos anômalos, pólipos,
cicatrizes e anormalidades múltiplas (KOFF, 1982). Na casuística de Anderson et al. (1958),
os vasos anômalos foram responsáveis por 50% dos casos de OJUP. Koff (1982) encontrou
vasos anômalos em 35% dos casos. A incidência de vasos anômalos nos pacientes com OJUP
foi mais alta que na população normal. Para Calisti et al. (2003), os vasos anômalos foram
mais freqüentes no grupo de pacientes com hidronefrose sintomática do que no grupo com
diagnóstico de hidronefrose fetal (40% contra 11%). Tem sido postulado que uma alteração
congênita ureteral resulta de incompleto desenvolvimento do ureter, secundário à compressão
por vasos fetais. A compressão vascular ocorreria durante o processo de muscularização do
ureter após a 12ª semana de idade gestacional. Analisando a junção ureteropélvica à
microscopia óptica e eletrônica, observou-se diminuição das fibras musculares e aumento do
colágeno nos casos de OJUP (HANNA, 2000).
O grau de hidronefrose é dependente da curva: pressão x volume. um grau crítico de
acomodação e distensão da pelve, acima do qual a pressão intrapélvica aumenta rapidamente.
Acredita-se que a dilatação do sistema proteja o rim do efeito do aumento da pressão. Por sua
localização, a pelve extra-renal poderia favorecer a preservação da função renal nos rins
obstruídos. No entanto, há um limite para esse processo de acomodação acima do qual
45
ocorrem mudanças na função do rim e isquemia do parênquima renal resultando em perda
temporária ou permanente da função renal (KOFF, 1985).
Os critérios para o diagnóstico da obstrução da junção ureteropélvica têm mudado muito
nos últimos anos. Atribui-se esse fato às mudanças dos métodos diagnósticos e ao
reconhecimento da existência da hidronefrose idiopática (KOFF, 1987; TAKLA et al., 1998).
Até o presente momento, não existe um exame que seja considerado padrão ouro para
diagnosticar e prognosticar a obstrução do trato urinário (PETERS, 1995; CAPOLICCHIO et
al., 1999; HUTTON, 2002; ELDER, 2002). Os testes tradicionalmente utilizados para o
diagnóstico de obstrução renal em crianças maiores e adultos são pouco precisos nos
lactentes. Além disto, eles não permitem predizer qual rim desenvolverá obstrução ou
necessitará de pieloplastia (KOFF et al., 1988; ULMAN et al., 2000).
Em 1987, Koff iniciou uma exposição com a afirmação: “Era fácil diagnosticar e tratar
a obstrução da junção ureteropélvica”. Acreditava-se que a hidronefrose era causada por
obstrução da junção ureteropélvica, produzindo invariavelmente obstrução ao fluxo urinário e
progressiva lesão renal. A obstrução renal deveria ser aliviada (KOFF, 1987). A definição
padrão de hidronefrose enfatizava que a obstrução resultava na distensão da pelve renal e dos
cálices do rim, acompanhados da atrofia do parênquima (MAIZELS et al., 1992). Atualmente,
sabe-se que hidronefrose pode ocorrer sem obstrução do trato urinário (KOFF, 1987; HOMSY
et al., 1990; PETERS, 1995). A decisão de intervir cirurgicamente nos pacientes com
hidronefrose e com padrão de obstrução no renograma diurético tornou-se mais complexa,
especialmente considerando-se a possibilidade de resolução espontânea da dilatação do trato
urinário superior (HOMSY et al., 1990).
Visando conhecer melhor a história natural da estenose de junção e da hidronefrose
idiopática, alguns parâmetros têm sido estudados: dilatação da pelve renal ao exame ultra-
sonográfico fetal e neonatal; renograma diurético e função renal diferencial (KOFF et al.,
1988; CARTWRIGHT et al., 1992; PALMER et al., 1998; TAKLA et al., 1998; KOFF 2000;
GORDON, 2001); evolução das unidades renais em tratamento conservador ou após a
pieloplastia (KOFF et al., 2000; ULMAN et al., 2000). Em 1988, um grupo de urologistas
pediátricos fundou a “Society for Fetal Urology”. Essa entidade tem como objetivo estudar a
evolução pós-natal das anomalias do trato urinário detectadas no pré-natal. especial
interesse na avaliação das crianças assintomáticas. Um dos objetivos é padronizar critérios
diagnósticos ultra-sonográficos e cintilográficos (FERNBACH et al., 1993; MAIZELS et al.,
1992).
2.4.3.1 - Alterações ao ultra-som renal
Várias publicações relataram associação entre a dimensão do DAP fetal e o diagnóstico
pós-natal de obstrução da junção ureteropélvica (STOCKS et al., 1996; BARKER et al.,
46
1995). No trabalho de Stocks et al. (1996), o DAP do rim normal foi de 7,07 ± 0,58mm e o
valor do DAP fetal associado à OJUP foi de 11,19 ± 1,24mm. Barker et al. (1995) avaliaram
fetos no segundo trimestre da gravidez, verificando que DAP > 15mm foi preditivo de
prejuízo da função renal pós-natal.
Também foi estudada a associação entre DAP neonatal e OJUP. Vários trabalhos
referenciaram associação entre o valor do DAP pós-natal e a necessidade de correção
cirúrgica (SUBRAMANIAM et al., 1999; DHILLON,1998; BOUZADA et al., 2004a).
Dudley et al. (1997) acompanharam cem (100) crianças com hidronefrose fetal. Em sessenta e
quatro o DAP da pelve renal persistiu alterado no ultra-som pós-natal. Em todas as três
crianças com diagnóstico de OJUP o diâmetro ântero-posterior da pelve foi maior que 15mm.
Subramaniam et al. (1999) relataram que rins com DAP > 20mm necessitaram, mais
comumente, de tratamento cirúrgico. Segundo esse autor, houve correlação negativa entre
DAP e função renal. Dados do “Great Ormond Street Hospital” mostraram que rins com DAP
< 12mm, sem caliectasia, não necessitaram de tratamento cirúrgico e com DAP > 50mm
invariavelmente precisaram. Esses rins apresentavam inicialmente a função renal diferencial
(FRD) alterada ou evoluíram com piora rápida (DHILLON, 1998). Bouzada et al. (2004a)
construiram curvas ROC para avaliar o valor do DAP pós-natal associado à necessidade de
pieloplastia. O DAP neonatal 15mm apresentou 100% de sensibilidade, 92,5% de
especificidade e área sob a curva de 0,976.
Outros autores, porém, não encontram associação estatisticamente significante entre a
gravidade da hidronefrose e a necessidade de tratamento cirúrgico (TAKLA et al., 1998;
ULMAN et al., 2000; FELDMAN et al., 2001).
Maizels et al. (1992) relacionaram o grau da SFU no ultra-som do neonato à presença
de obstrução do trato urinário (OJUP ou megaureter). A SFU 3 apresentou 88% de
sensibilidade e 95% de especificidade para predizer obstrução do trato urinário.
A progressão da dilatação calicinal e/ou alteração da espessura do parênquima renal tem
sido associada à uropatia obstrutiva (MAIZELS et al., 1992).
Nas crianças com hidronefrose unilateral, alguns autores tentaram avaliar a relação entre
o comprimento do rim afetado e o do não afetado (KLR). O KLR foi maior à apresentação,
nos pacientes hidronefróticos com indicação cirúrgica do que nos sem indicação cirúrgica
(OZCAN et al., 2002).
Outro índice utilizado na literatura para tentar discriminar a presença de uropatia
significativa é a razão entre o diâmetro ântero-posterior da pelve renal e o diâmetro ântero-
posterior do rim (DP/DR). Esse índice também foi utilizado para diferenciar a obstrução da
junção ureteropélvica cirúrgica da não cirúrgica. Para Blachar et al. (1994b) e Bouzada
(2003), o DP/DR maior que 0,5 seria adequado para prever grupos com desfecho grave, entre
eles a necessidade de pieloplastia.
47
2.4.3.2 - Outros achados associados à obstrução do trato urinário
Um dos problemas da nefrourologia pediátrica é a dificuldade em determinar o
significado da dilatação do trato urinário (KOFF et al., 2002). Ao longo dos anos várias
técnicas e exames de imagem foram utilizados para definir obstrução.
O “Whitaker test” foi descrito em 1973 e visa a diferenciar rins obstruídos de não
obstruídos. A técnica consiste na realização de nefrostomia e colocação de uma sonda na
pelve renal. Através dessa sonda é realizada a infusão, a um fluxo constante, de líquido na
pelve renal e a pressão na pelve é medida. Uma pressão baixa certamente indica ausência de
obstrução do trato urinário, mas os resultados não são fáceis de interpretar (WHITAKER,
1973; GILL et al., 1988). Um dos dificultadores do uso rotineiro desse método é a
necessidade de puncionar a pelve renal.
A urografia excretora é um dos exames utilizados para avaliar pacientes com suspeita de
obstrução do trato urinário. Além de não possibilitar boa avaliação da função renal, a
urografia excretora envolve quantidade maior de radiação do que o renograma. Também o
risco de reação alérgica ao contraste utilizado. A urografia excretora tem sido pouco utilizada
(HUTTON, 2002), entretanto continua sendo importante nos casos cirúrgicos e nas uropatias
complexas para complementar o estudo anatômico do trato urinário.
O renograma diurético é atualmente o exame preferido para avaliar a obstrução do
sistema excretor, pois ajuda a estabelecer corretamente e com acurácia o diagnóstico na
maioria das anomalias congênitas (SFAKIANAKIS et al., 2001). Esse exame também pode
ser utilizado para avaliar a anatomia renal, quantificar a função renal diferencial e avaliar a
drenagem do radiofármaco. Entre as outras vantagens do renograma, estão a exposição a
doses menores de radiação e o não uso do contraste iodado (TAYLOR et al., 1995).
O exame de renograma diurético tem sido empregado no seguimento de crianças com
hidronefrose, visando a diferenciar rins obstruídos e não obstruídos (KASS et al., 1985;
KING 1995; SALEM et al., 1995; MANDELL et al., 1997a; WONG et al., 2000; KOFF et
al., 2002; AMARANTE et al., 2003). Esse método propedêutico não é invasivo ou tóxico,
expõe o paciente a uma baixa dose de radiação, possibilita avaliar a função renal diferencial e
a drenagem no sistema coletor (O'REILLY et al., 1979; GORDON, 2001; SFAKIANAKIS et
al., 2001; KOFF 2002; AMARANTE et al., 2003). Nas últimas décadas, houve importantes
avanços na medicina nuclear e no desenvolvimento tecnológico dos computadores e dos
programas operacionais. Esses avanços têm resultado em melhora da técnica, permitindo mais
precisão na análise de pacientes com doenças do trato geniturinário (TAYLOR et al., 1995).
Para alguns autores, a maior parte da confusão e dos dados conflitantes obtidos com o
renograma diurético estão associados à variação na técnica e interpretação do exame (KING,
1995; ELDER, 2002; O’REILLY, 2003). O renograma diurético pode ser realizado com a
utilização do iodine-123 orthoiodohippurate (OIH), o ácido Technetium-99m
48
diethylenetriamine pentaacetic (
99m
Tc-DTPA), o
99m
Tc-mercaptoacetyltriglycine (
99m
Tc-
MAG
3
) e o
99m
Tc-etthykebeducysteube (
99m
Tc- EC). O iodine-123 orthoiodohippurate foi o
radiofármaco mais usado durante os anos oitenta. O IOH fornece imagens menos precisas.
Além disto, há necessidade do uso de altas doses na avaliação renal do paciente com déficit de
função renal (TAYLOR et al., 1995). O OIH e o
99m
Tc-MAG
3
são excretados pelos túbulos e
o
99m
Tc-DTPA é filtrado pelos glomérulos (TAYLOR et al., 1995). O
99m
Tc-MAG
3
liga-se
bem às proteínas plasmáticas e somente uma pequena quantidade é filtrada. Por isto, o
99m
Tc-
MAG
3
está indicado principalmente para pacientes com déficit importante de função renal
(TAYLOR et al., 1995; SFAKIANAKIS et al., 2001). O MAG
3
fornece imagens excelentes,
incluindo a visualização do ureter em muitos casos. O
99m
Tc-DTPA é o radiofármaco mais
largamente adotado no nosso meio. Apresenta como vantagens o custo, a produção fácil e a
capacidade de medir o ritmo de filtração glomerular. No renograma diurético, o
99m
Tc-DTPA
apresenta como resposta uma curva mais lenta e mais difícil de interpretar que o
99m
Tc-MAG
3
(O'REILLY, 2003)
.
Os autores divergem em relação à idade ideal para a realização do primeiro renograma
nos pacientes com hidronefrose fetal. Alguns preconizam que deve ser feito após um mês de
vida (UPSDELL et al., 1994; CAPOLICCHIO et al., 1999; HUTTON, 2002; BAJPAI et al.,
2002; YLINEN et al., 2004). Outros defendem que seja feito tão logo quanto possível (KOFF
et al., 1992; CHUNG et al., 1993; CAPOLICCHIO et al., 1999).
Rins hidronefróticos que apresentam ao renograma diurético déficit de drenagem no
nível da junção ureteropélvica são denominados rins portadores de anomalia ou obstrução da
junção ureteropélvica (HOMSY et al., 1990). Alguns trabalhos referem-se a eles como “rins
com aparente obstrução da junção ureteropélvica” (ULMAN et al., 2000; BAJPAI et al.,
2002).
É relativamente fácil definir uma boa drenagem no renograma diurético, que pode ser
avaliada com a inspeção de imagens, das curvas de drenagem ou utilizando parâmetros
numéricos. A pesquisa do trato urinário com padrão obstrutivo é mais complexa (MANDELL
et al., 1997a; GORDON, 2001). Os parâmetros cintilográficos utilizados para averiguar a
permeabilidade das vias urinárias variaram nos diversos trabalhos consultados. Alguns autores
pesquisaram a forma da curva de drenagem, outros utilizaram a percentagem de radioisótopo
drenado 20 minutos após a injeção da furosemida (“washout”) e outros parâmetros, como o
tempo necessário para excretar metade do traçador presente nos túbulos quando foi injetada a
furosemida (t
1/2
) (TAYLOR et al., 1995). O´Reilly et al. (1979) analisaram a curva de
drenagem do radiofármaco para definir obstrução. No trabalho de O´Reilly et al. (1979), o
radiofármaco adotado foi o OIH. Os pacientes receberam hidratação oral, diurético parenteral
(furosemida) e foram orientados a esvaziar a bexiga durante o exame. Eles foram distribuídos,
de acordo com a curva de drenagem no renograma diurético, em quatro grupos: I) rim normal
- drenou antes da administração do diurético; II) rim obstruído - não drenou mesmo após o
49
uso do diurético; IIIa) atonia - dilatado com drenagem apenas após o uso do diurético; IIIb)
rim parcialmente obstruído - drenagem lenta após diurético (considerado indeterminado).
A curva do rim normal consiste de um pico seguido de uma rápida drenagem, com
curva descendente após o pico. No rim obstruído, a curva é ascendente. Nos trabalhos que
utilizaram o “washout”, o rim com drenagem menor que 20% foi considerado obstruído; de
20 a 40%, intermediário; maior que 40%, normal (HOMSY et al., 1990). Quando foi utilizado
o t
1/2
,
os parâmetros para interpretar o exame foram: t
1/2
do radiofármaco menor que 10
minutos, o teste foi normal; t
1/2
maior que 20 minutos, obstrução do trato urinário; t
1/2
do
radiofármaco entre 10 e 20 minutos, o teste foi considerado intermediário (KING, 1995;
SALEM et al., 1995; MANDELL et al., 1997b).
Alguns fatores podem influenciar na drenagem, levando a exame com padrão de
drenagem obstrutivo e falso diagnóstico de obstrução do trato urinário (KASS et al., 1985;
KOFF et al., 1988; GORDON et al., 1988; TAYLOR et al., 1995; GORDON, 2001). São
eles: hidratação inadequada, função renal alterada, pelve muito aumentada, posição do
paciente, injeção precoce do diurético e repleção vesical. A injeção precoce do diurético foi
um dos fatores apontados como causa de falso-positivo no renograma diurético (KOFF et al.,
1988; TAYLOR et al., 1995). Alguns trabalhos defendem o uso do diurético quando o
radiofármaco atingir a pelve renal. Outros não mostraram diferença entre o uso do diurético
simultâneo ao radiofármaco ou 15 minutos após (BOUBAKER et al., 2003; SFAKIANAKIS
et al., 2001). A bexiga deve ser esvaziada antes da injeção do diurético. quem defenda o
uso de sonda vesical para todos os pacientes (KASS et al., 1985; MANDELL et al., 1997a) e
quem a sugere apenas em pacientes não cooperativos ou que não conseguem esvaziar a bexiga
(O'REILLY et al., 1996). A “Society for Fetal Urology” e o “Pediatric Nuclear Medicine
Council” estabeleceram padronização para a realização do renograma diurético em crianças
menores de dois anos de idade. As recomendações incluem: realizar o exame após um mês de
idade, visando a reduzir as chances de a imaturidade renal prejudicar o exame; iniciar
hidratação oral duas horas antes do estudo; cateterizar a bexiga; manter o paciente na posição
supina; infundir solução glicosalina endovenosa a 10ml/hora, iniciando quinze minutos antes
da infusão do radiofármaco e manter até quinze minutos depois; infundir a furosemida 20-30
minutos após o radiofármaco, quando a pelve renal estiver cheia (CONWAY et al., 1992).
Outros parâmetros utilizados para avaliar a drenagem no renograma diurético são: a taxa
de eficiência de drenagem, eficiência da excreção pélvica após esvaziamento vesical e
atividade residual (AMARANTE et al., 2003). Wong et al. (2000) estudaram a associação de
alteração do t
1/2
e drenagem assistida pela gravidade (GAD) para o diagnóstico de obstrução
do trato urinário. Nos pacientes com t
1/2
> 20 minutos e GAD> 50% a sensibilidade, a
especificidade e acurácia foram 88,4%; 73,7% e 83,9% respectivamente. Nos pacientes com
t
1/2
> 20 minutos e GAD> 50%, a sensibilidade, a especificidade e a acurácia foram de 88,4;
73,7 e 83,9%, respectivamente. Nos pacientes com t
1/2
entre 10 e 20 minutos e GAD > 50%,
50
encontraram-se 100% de sensibilidade, 79,5% de especificidade e 82,7% de acurácia. Novos
estudos são necessários para definirem-se os critérios de normalidade e permitir a correta
interpretação desses exames nas crianças (GORDON, 2001).
Koff et al. (1985) mostraram que rins normais de recém-nascido (especialmente
prematuros) apresentavam tempo de drenagem do radiofármaco alterado. Nos neonatos, o t
1/2
foi maior que
nove minutos em 68% dos rins normais. Essa alteração do tempo de drenagem
nos recém-nascido tem sido atribuída à baixa taxa de filtração glomerular. Para Koff et al.
(2005), o aumento da pelve associado à diurese, especialmente em lactentes, leva à diluição
do radiofármaco e, desse modo, alteração do t
1/2
. Nesse caso, o renograma diurético pode
apresentar padrão semelhante ao de um rim com obstrução da junção ureteropélvica (KOFF et
al., 1985; ULMAN et al., 2000). Ransley et al. (1990) não consideraram como indicação para
pieloplastia no neonato o déficit de drenagem ao renograma diurético. Por outro lado, Ulman
et al. (2000) observaram que a meia vida do radiofármaco < 20 minutos não elimina o risco
de obstrução.
A cintilografia renal estática pode ser realizada com o uso do ácido
99m
technetium–
dimercapto-succinic (
99m
Tc-DMSA) ou
99m
Tc-glucoheptonate (
99m
Tc-GH) (TAYLOR et al.,
1995; BROOKES et al., 1997; MANDELL et al., 1997b). O GH não é o radiofármaco ideal
para investigar rins com obstrução do trato urinário, pois apresenta retenção cortical
(TAYLOR et al., 1995). O Tc-DMSA é um excelente agente cortical, permitindo uma boa
avaliação da anatomia renal e da função renal diferencial (DALY et al., 1981; TAYLOR et
al., 1995; GORDON et al., 2001). Os limites de normalidade para a função renal diferencial
estão entre 45 a 55%. O DMSA deve ser interpretado de acordo com o contexto clínico. A
função renal diferencial pode estar dentro da faixa de normalidade, quando dano renal
bilateral e/ou insuficiência renal crônica. Valores fora da faixa de normalidade podem ser
encontrados nos rins com duplicação unilateral do sistema excretor e na presença de dano
renal. O DMSA pode sugerir a presença de dilatação dos cálices renais, mas não localiza o
local da obstrução (DALY et al., 1981). Usando o
99m
Tc-DMSA, a FRD pode ser calculada
algumas horas após a injeção do radiofármaco (SFAKIANAKIS et al., 2001). No renograma
diurético, a função renal diferencial pode ser avaliada na fase inicial do exame. Quando o
99m
Tc-MAG
3
é utilizado para avaliação da função renal diferencial o resultado pode ser obtido
em minutos.
Segundo Brookes et al., (1997), nem todos os autores concordam com a utilização do
renograma diurético para mensurar a função renal diferencial. Esses autores compararam o
99m
Tc-DMSA e
99m
Tc-DTPA para avaliar FRD em neonatos com diagnóstico fetal de
hidronefrose unilateral. Para eles, as duas técnicas podem ser utilizadas para a avaliação da
função renal diferencial. Gordon et al. (2001) também comparou o
99m
Tc-DMSA com o
99m
Tc-MAG
3
para avaliação da FRD. O
99m
Tc-MAG
3
foi utilizado para cálculo da FRD com
51
grande reprodutibilidade. Na grande maioria dos trabalhos consultados para a realização dessa
revisão, a função renal diferencial foi calculada durante a realização do renograma diurético.
Comparando os artigos sobre hidronefrose neonatal, pode-se notar que o termo
“deterioração” foi utilizado com diferentes significados. Em alguns relatos, está associado à
piora da curva de drenagem do renograma diurético, em outras à piora na função renal
diferencial (RANSLEY et al., 1990). Vários trabalhos utilizam a alteração da função renal
diferencial para indicação da pieloplastia e acompanhamento pós-operatório.
Novos métodos têm sido usados no intuito de melhorar a diferenciação entre rins
obstruídos ou não (PETERS, 1995). Entre eles, o doppler de artéria renal, a ressonância
nuclear magnética (RNM) e os estudos bioquímicos.
O Doppler da artéria renal (arqueada ou cortical) tem sido usado na tentativa de
diferenciar rins obstruídos de rins não obstruídos. Platt et al. (1989a; 1989b) encontraram
diferença estatisticamente significante entre o índice de resistência nas artérias de rins
normais e de rins obstruídos. Nos rins obstruídos houve uma diminuição do índice de
resistência na artéria intra-renal após a nefrostomia. No entanto, novos estudos são
necessários para definir a sensibilidade, a especificidade, a reprodutibilidade e o valor
preditivo do Doppler de artéria renal no diagnóstico de obstrução renal (PETERS, 1995).
A ressonância nuclear magnética tem sido usada em estudos experimentais em animais
para averiguar rins com obstrução (FICHTNER et al., 1994; WEN et al., 1999). É um método
de imagem seguro, de rápida realização e não expõe o paciente à radiação. Possibilita a
avaliação do fluxo renal sangüíneo, anatomia e excreção urinária (FICHTNER et al., 1994).
Devido às características descritas, a RNM tem a possibilidade de tornar-se um importante
método de estudo de imagem no acompanhamento de pacientes com suspeita de uropatia
obstrutiva (FICHTNER et al., 1994; PETERS, 1995). Todavia, novos trabalhos são
necessários para checar a eficiência e a eficácia da RNM na avaliação do rim hidronefrótico
(FICHTNER et al., 1994).
Vários indicadores bioquímicos têm sido usados para aquilatar o dano renal em resposta
à obstrução. Entre eles, citam-se as prostaglandinas, a B- ß microglobulina e a enzima N-ß-
acetilglucosaminidase. Essas dosagens não têm tido muita utilidade na prática clinica diária
(PETERS, 1995).
Os chamados exames de imagem são essenciais para avaliação das crianças com
hidronefrose. Cabe ao médico que os solicitou interpretar de maneira crítica os resultados
encontrados.
2.4.3.3 – Critérios para indicação da pieloplastia
A indicação cirúrgica para pacientes com hidronefrose com padrão cintilográfico
obstrutivo do trato urinário tem merecido a atenção dos urologistas pediátricos (Tabela 2.5).
52
Quadro 5 - Critérios para indicação de pieloplastia, segundo diversos autores
Subramaniam et al.
(1999)
(90% com Hd fetal) DTPA (Os pacientes foram divididos em 2 grupos): Grupo 1 - Cirurgia precoce se
padrão obstrutivo, independente da FRD; Grupo 2 - Tratamento conservador: pieloplastia se FRD >
35% + sintomas ou diminuição da FRD.
Homsy et al. (1986) DTPA: “Washout”< 20%.
Dejter et al. (1988) (Hd fetal e neonatal) Unilateral: DTPA t1/2 > 10 minutos + FRD < 40%, diminuição > 10% na FDR em
exames seqüenciais; Bilateral: DTPA t1/2 > 10 minutos + FRD < 40% ou FRD assimétrica.
Ransley et al. (1990) DTPA: se FRD < 20% (nefrostomia), se FRD inicial > 40% e ocorre piora da FRD nos exames
seqüenciais; FRD > 40% + dor abdominal.
Arnold et al., (1990) OIH ou DTPA: Curva tipo II ou IIIb + FRD < 40%.
Gordon et al. (1991) DTPA: FRD < 20% no primeiro mês de vida; FRD < 40% no terceiro mês; diminuição de 10% da FRD
em exames consecutivos.
Koff et al. (1992) DTPA: piora da FRD.
Cartwright et al.
(1992)
(90% com Hd fetal) DTPA (Os pacientes foram divididos em 2 grupos): Grupo 1 - Cirurgia precoce se
padrão obstrutivo, independentemente da FRD; Grupo 2 - Tratamento conservador: pieloplastia se FRD
> 35% + sintomas ou diminuição da FRD em exames consecutivos.
O'Flynn et al. (1993) DTPA: curva com padrão tipo II + dilatação da pelve renal na urografia excretora.
Maizels et al. (1994) Hidronefrose (SFU grau 3 ou 4) + DTPA com padrão obstrutivo.
Blachar et al.
(1994a)
DTPA: washout < 20% que persiste em exames consecutivos; FRD entre 30 - 40% ou perda 10% da
FRD em exames consecutivos.
Koff et al. (1994a) DTPA: perda de 10% na FRD e/ou aumento da hidronefrose.
Tapia et al. (1995) MAG
3
: FRD 35 + renograma diurético com padrão obstrutivo; deterioração da FRD ou da drenagem
ao renograma diurético; drenagem persistentemente ruim ao renograma diurético.
Cost et al. (1996) DTPA: FRD < 35% + drenagem prolongada no renograma diurético; progressiva dilatação da pelve em
exames ultra-sonográficos consecutivos; perda > 10% na FRD em exames consecutivos.
Takla et al. (1998) DTPA: padrão obstrutivo + FRD < 35% (pieloplastia precoce); deterioração da FRD ou do “washout” em
exames consecutivos; drenagem ruim e sem melhora durante o acompanhamento.
Palmer et al. (1998) (crianças < 6 meses, a maioria com diagnóstico Hd fetal). DTPA: diminuição de 10% na FRD ou piora
da drenagem em exames consecutivos; piora da hidronefrose; infecção urinária ou rim palpável.
Chertin et al. (1999) DTPA (Combinação de pelo menos três dos critérios): FRD pobre em exames repetidos; perda de 5%
da FRD em exames consecutivos; "washout” > 20 minutos persistentemente; piora da hidronefrose;
diminuição do parênquima ao ultra-som; sintomas.
Subramaniam et al.
(1999)
DTPA com padrão obstrutivo + FRD < 40% (pieloplastia precoce); se FRD: 5 - 20% (nefrostomia
percutânea) FRD > 40%(se diminuição do FRD, aumento da hidronefrose ou sintomas).
Capolicchio et al.
(1999)
(57% das crianças com Hd fetal) DTPA ou MAG3: tempo de drenagem infinita ou piora do tempo de
drenagem; tempo de drenagem persistentemente > 20 minutos; aumento da hidronefrose ou sintomas
DMSA: deterioração > 10% (FRD inicial >40%).
Hanna (2000) DTPA: hidronefrose grave + t 1/2 > 20 minutos + FRD < 40% (Hd bilateral).
Ulman et al. (2000) DTPA ou MAG
3
: diminuição da FRD > 10% ou aumento progressivo da hidronefrose.
Rodríguez et al.
(2001)
MAG
3
: FRD < 35% + renograma diurético alterado; deterioração > 10% na FRD; aumento da SFU, em
pelo menos um grau em ultra-som seriado.
Konda et al. (2002) (76% das crianças com Hd fetal). DMSA: diminuição da FRD e/ou dano cortical no DMSA (não realiza o
renograma diurético).
Chertin et al. (2002) DTPA ou MAG
3
: padrão obstrutivo no renograma diurético + diminuição de 5% na FRD em exames
seriados.
Bajpai et al. (2002) DTPA: padrão obstrutivo no renograma diurético (t 1/2) + FRD < 35%.
Onen et al. (2002) DTPA: diminuição > 10% na FRD ou aumento da hidronefrose ao ultra-som.
Ozcan et al. (2004) DAP da pelve renal > 40mm a apresentação; aumento progressivo da pelve ao ultra-som; MAG3: FRD <
20% no renograma inicial; diminuição do DRF> 5%.
Ylinen et al. (2005) FRD < 40%; deterioração da FRD; Grau 4 de SFU ao ultra-som + FRD > 40%; Grau 2 ou 3 de SFU +
padrão obstrutivo no renograma (“washout”) + FRD > 40%; aumento da hidronefrose ao ultra-som;
sintomas.
Aksu et al. (2005) FRD < 40%; deterioração da FRD; sintomas; aumento do grau de hidronefrose com afinamento do
córtex renal.
Abreviaturas: Hd, hidronefrose; DAP, diâmetro ântero-posterior; SFU, classificação da “Society for Fetal
Urology”; FRD, função renal diferencial; OIH, cintilografia renal dinâmica, utilizando o iodine-123
orthoiodohippurate; DTPA, cintilografia renal dinâmica, utilizando o
99
tc-ácido diaminotetraetilpentacético;
MAG
3
,
cintilografia renal dinâmica, utilizando
99m
Tc-mercaptoacetyltriglycine; DMSA, cintilografia renal
estática; sintomas, infecção urinária ou dor abdominal.
53
consenso quanto aos pacientes com hidronefrose deverem ser prontamente
investigados, mas não há uniformidade nos critérios para se indicar o tratamento cirúrgico,
nem sobre a idade ideal para a realização da pieloplastia (DEJTER et al., 1988; MCALEER et
al., 1999; CALISTI et al., 2003).
A pieloplastia é indicada diante do diagnóstico de obstrução da junção ureteropélvica
(KOFF et al., 2000). A correção cirúrgica é solução relativamente simples, efetiva e de baixa
morbidade (PETERS, 1995). Porém, muitos rins parcialmente obstruídos não necessariamente
evoluirão com lesão renal e muitos vão melhorar sem tratamento cirúrgico (KOFF, 1987;
HOMSY et al., 1988).
Muitos autores advogam a realização precoce de pieloplastia ainda no período
neonatal, objetivando descompressão renal e recuperação da função renal (MAYOR et al.,
1975; DEJTER et al., 1988; KING, 1995). Mayor et al. (1975) preconizaram a correção
cirúrgica precoce para evitar dano renal. Ele observou: melhora da função renal quando a
obstrução foi corrigida antes de um ano de idade; estabilização, se a correção ocorreu entre 1
e 2 anos de idade; deterioração, se a correção ocorreu após 2 anos de idade. Porém, a maioria
dos pacientes estudados por Mayor apresentava uropatias mais complexas como obstrução
renal bilateral, secundários a válvula de uretra posterior. King (1995) demonstrou melhora de
150%, em média, na função renal quando a correção cirúrgica ocorreu em lactentes e melhora
de 18% quando a correção foi feita após os cinco anos de idade.
Dejter et al. (1988) citaram várias vantagens em se adiar a correção cirúrgica da
OJUP. A primeira foi a possibilidade de ocorrer melhora da drenagem ao renograma diurético
e melhora da função renal diferencial durante o tempo de acompanhamento. As outras
vantagens estavam relacionadas à técnica cirúrgica e aos riscos anestésico e cirúrgico. Quando
a criança foi submetida a tratamento cirúrgico após três meses de vida, a técnica cirúrgica foi
mais fácil, houve menos incidência de infecção, menos necessidade de re-operação e risco
anestésico mais baixo.
Ao longo dos anos, foram observados vários rins com padrão obstrutivo ao renograma
diurético e função renal diferencial preservada (DEJTER et al., 1988). Muitos não
apresentaram declínio da FRD durante o período de acompanhamento. Houve aumento da
FRD de alguns rins (PETERS, 1995). Para Ulman et al. (2000), hidronefrose grave, rins com
função renal diferencial alterada, drenagem lenta ou ausente ao renograma diurético não
provaram ser indicadores de obstrução e não são critérios para indicar-se o tratamento
cirúrgico no neonato. Koff (1987) definiu obstrução ao trato urinário como praticamente
qualquer restrição ao fluxo urinário, que deixada sem tratamento, causará deterioração
progressiva da função renal (KOFF, 1987; 2000). O comportamento do rim hidronefrótico no
recém-nascido parece ser diferente dos rins de crianças pré-escolares, escolares e do rim do
adulto (KOFF, 2000). A acurácia do renograma diurético em diferenciar obstrução verdadeira
e unidades renais imaturas continua a ser objeto de debate (TAKLA et al., 1998; KOFF,
54
2000). De acordo com Koff et al. (1992), os testes diagnósticos para avaliar obstrução são
imprecisos no recém-nascido com hidronefrose e não têm valor prognóstico. Para alguns
autores esses critérios e testes não deveriam ser usados para indicar o tratamento cirúrgico no
neonato (KOFF et al., 1992). A hidronefrose unilateral grave em recém-nascidos foi descrita
como uma condição surpreendentemente benigna, com grande chance de melhora ou
resolução espontânea (KOFF et al., 2000; ULMAN et al., 2000; NAJMALDIN et al., 1991;
OZCAN et al., 2004).
Alguns autores sugerem um período de observação com reavaliações antes de indicar-se
a correção cirúrgica para as doenças congênitas obstrutivas do trato urinário (HOMSY et al.,
1986; DEJTER et al., 1988; KOFF et al., 1988; KOFF, 2000; AMARANTE et al., 2003).
Ransley foi pioneiro em defender tratamento conservador para crianças com dilatação da
pelve renal (RANSLEY et al., 1985 apud DEJTER et al, 1988). Ransley recomendou que
unidades renais obstruídas e não obstruídas com função renal diferencial normal (> 40%)
deveriam ser seguidas com exames radioisótopos no primeiro ano de vida. Rins com padrão
obstrutivo unilateral e com função diferencial estável deveriam ser acompanhados, pelo
menos inicialmente, enquanto a função renal estivesse preservada. Homsy et al. (1986)
acompanharam 17 unidades renais com obstrução parcial ou dilatação não obstrutiva ao
renograma diurético e encontraram 47% de melhora espontânea em 3-6 meses.
Alguns estudos acompanharam pacientes com hidronefrose, renograma diurético com
padrão obstrutivo e função renal diferencial > 40% encontrando uma taxa de indicação
cirúrgica tardia de 27% (MADDEN et al., 1991). De acordo com Koff et al. (1988), a única
indicação cirúrgica foi a diminuição da função diferencial do rim (> 10%) ou a piora da
hidronefrose (excluindo o efeito do nascimento).
Alguns autores consideraram a função renal diferencial inicial para indicar a pieloplastia.
Nesse grupo podemos citar: FRD < 30% (KASS et al., 1985); FRD < 35% (CARTWRIGHT
et al., 1992; TAKLA et al., 1998); FRD < 40% (RANSLEY et al., 1990). Outros optaram por
manter inicialmente essas crianças em acompanhamento clínico e indicar tratamento cirúrgico
apenas quando da diminuição de 5% (CHERTIN et al., 1999; CHERTIN et al., 2002;
OZCAN et al., 2004) ou 10% da função renal diferencial (KOFF et al., 1988; COST et al.,
1996; PALMER et al., 1998; ULMAN et al., 2000) nos renogramas seqüenciais.
2.4.4 - Hidronefrose Idiopática
A hidronefrose sem dilatação ureteral e sem anormalidades do trato urinário inferior é
comum (RANSLEY et al., 1990). Os termos utilizados para denominar a dilatação da pelve
renal não associada a refluxo vesicoureteral, obstrução da junção ureteropélvica ou outra
obstrução do trato urinário são: hidronefrose idiopática (HOMSY et al., 1986; HOMSY 1998;
ACTON et al., 2003a); Hidronefrose Isolada (CHENG et al., 2004); Hidronefrose não
55
obstrutiva (MAIZELS et al., 1992) e Hidronefrose Fisiológica (BLYTH et al., 1993). A
história natural dessa condição tem sido estudada por vários autores (MAIZELS et al., 1992;
TAKLA et al., 1998; KOFF, 2000; BAJPAI et al., 2002). Na maioria desses pacientes, a
dilatação da pelve renal foi classificada como leve ou moderada (CHENG et al., 2004). Além
disto, o acompanhamento longitudinal mostrou que na hidronefrose não obstrutiva
normalmente não ocorre progressão da dilatação da pelve renal e dos cálices (MAIZELS et
al., 1992). A hidronefrose neonatal idiopática pode evoluir com resolução espontânea durante
o período de observação (PETERS, 1995). Nesses casos a dilatação da pelve renal persiste por
um tempo variável. Alguns autores relataram a resolução da hidronefrose em 12 a 15 meses
(HOMSY et al., 1986; HOMSY et al., 1988; ACTON et al., 2003a) ou 19 meses, em média
(KOFF et al., 1988; ULMAN et al., 2000). Os dados de Takla et al. (1998) não diferiram
muito dos anteriores, mostrando resolução da hidronefrose antes dos 18 meses em 83% dos
casos de hidronefrose idiopática. Para Koff et al. (1988) e Ulman et al. (2000), a hidronefrose
idiopática costuma apresentar melhora máxima em tempo médio de 30 meses. Bajpai et al.
(2002) estudaram pacientes com hidronefrose idiopática bilateral e observou melhora
espontânea na maioria dos rins por volta de dois anos a idade.
Homsy et al. (1986) estudaram 17 unidades renais com obstrução parcial ou dilatação
sem obstrução. O renograma diurético foi realizado para acompanhamento e a urografia
excretora em casos selecionados. Após acompanhamento de 3 a 6 meses, 7 unidades (41%)
evoluíram com piora, 2 (12%) permaneceram estáveis e 8 (47%) apresentaram melhora. Em
todos em que houve deterioração da função renal, esta ocorreu nos primeiros 12 meses de
vida. Para o autor, os pacientes com diagnóstico de hidronefrose secundária à estenose de
junção, sem confirmação da obstrução ao renograma diurético, devem ser acompanhados
clinicamente em intervalos de 3 a 6 meses. A definição de piora ou melhora da função renal
foi dada pela análise da curva de drenagem no renograma diurético.
Em outra publicação, Homsy et al. (1990) utilizaram o mesmo critério para
diagnosticar obstrução. O renograma diurético foi realizado em 119 crianças com diagnóstico
fetal ou neonatal de hidronefrose, sem refluxo vesicoureteral ou outra anomalia urológica. Os
pacientes com drenagem abaixo de 20% (em 20 minutos) foram submetidos a tratamento
cirúrgico. Aqueles com drenagem intermediária (20% a 40%) ou acima de 40% foram
submetidos a acompanhamento trimestral com renograma diurético. Durante o período de
acompanhamento (mínimo de 12 meses), 80% das unidades evoluíram estáveis ou com
melhora da drenagem ao renograma diurético.
Koff et al. (1992) acompanharam prospectivamente, por dois anos e meio, 45 crianças
com hidronefrose unilateral e suspeita de obstrução da junção ureteropélvica. A única
indicação cirúrgica foi a piora da FRD do rim hidronefrótico. Rins hidronefróticos foram
avaliados utilizando-se o ultra-som, o renograma diurético e a cistografia. Todas as crianças
receberam antibiótico profilático durante o primeiro ano de vida ou até a melhora da
56
hidronefrose. O renograma diurético foi realizado ainda no período neonatal, assim que
possível, e repetido periodicamente. Exames ultra-sonográficos seqüenciais foram utilizados
para acompanhar as mudanças na dilatação da pelve renal e medir o tamanho do rim
contralateral. Para determinação do grau de hidronefrose, foi usada a classificação da SFU. O
comprimento renal foi comparado com o nomograma de Rosenbaum. Os pacientes com
hidronefrose bilateral, refluxo, duplicação e disfunção vesical foram excluídos do estudo.
Foram analisados 45 pacientes com hidronefrose unilateral. Desses, 30 apresentavam
hidronefrose grau 2 ou 3 e função renal diferencial > 40%. Nenhum dos rins apresentou
deterioração. Hidronefrose grau 4 foi detectada em 15 pacientes cuja função renal diferencial
variou de 7,5 a 42% (média de 25%) e a taxa de filtração glomerular foi de 1,75 a
44,5ml/min/1,73m
2
. O acompanhamento ultra-sonográfico mostrou hidronefrose inalterada
em 8 crianças, de discreta a importante melhora em 5 e resolução completa da hidronefrose
em 2. Inicialmente, todos tinham padrão de obstrução ao renograma diurético: t
½
infinito em
dez casos, entre 30 e 40 minutos em dois, entre 20 e 30 em dois. Em todos os rins houve
melhora do tempo de drenagem, porém apenas em quatro o renograma apresentou padrão não
obstrutivo. Em todos os rins hidronefróticos a função renal diferencial aumentou com a idade,
tendo sido o maior aumento observado nas crianças mais novas. A função renal diferencial foi
maior que 50% em cinco rins. Durante o acompanhamento de dois anos e meio, quinze
pacientes evoluíram com FRD estável.
Koff et al. (1994a), publicaram novos dados, desta vez com amostra de 104 pacientes,
todos com hidronefrose unilateral, acompanhados por cinco anos. Foi seguido o mesmo
protocolo de Koff et al. (1992). A obstrução da junção ureteropélvica foi definida como uma
redução > 10% na FRD ou progressão da hidronefrose em exames seqüenciais. Dos 88
pacientes com FRD > 40%, sete unidades renais apresentaram deterioração (7,95%). Dos 16
pacientes com FRD < 40% (média inicial 26%), uma unidade renal deteriorou (6,25%). Após
a pieloplastia, houve retorno da função renal aos valores iniciais.
Em 2000, Ulman relatou a evolução de 104 crianças. O seguimento prospectivo foi de
10 anos. O intervalo proposto para as reavaliações variou com a FRD: FRD 40% (3 meses),
30 a 40% (2 meses), 20 a 30% (1 mês), < 20% (2 semanas). Submeteram-se à pieloplastia 23
pacientes (22%) e a tratamento clínico 81 (78%). A SFU foi grau 3 em 54% dos rins e grau 4
em 46%. A função renal diferencial foi maior ou igual 40% em 62% dos pacientes. Nos
pacientes em tratamento conservador, a hidronefrose diminuiu rapidamente durante os
primeiros dois anos e meio e depois mais gradualmente. A média de tempo para a resolução
completa foi de 19 meses. A dilatação resolveu-se completamente em 69% e melhorou para
grau 2 (29%) ou grau 3 (2%). Não houve hipertrofia compensatória do rim contralateral. A
média de FRD inicial foi de 44% e após 24 meses de seguimento foi de 49%. Dos rins, 78%
apresentavam FRD de 40% ou mais. A função renal diferencial final foi de 48%. No grupo
submetido à pieloplastia, esta foi realizada entre três semanas e 14 meses de idade (média 4,8
57
meses). Os critérios para indicação cirúrgica foram: diminuição da FRD (8 crianças), aumento
da hidronefrose (10), diminuição da função e piora da hidronefrose (5). A dilatação da pelve
renal resolveu-se completamente em 57% dos casos ou melhorou para grau 2 (39%) ou grau 3
(4%). A melhora máxima da hidronefrose ocorreu no primeiro ano após a pieloplastia. A
hipertrofia do rim contralateral ocorreu em 3 pacientes antes da pieloplastia. A FRD inicial
média desse grupo foi de 31% e a FRD média final foi de 40%. Não houve dano permanente
da função renal.
Cartwright et al. (1992) acompanharam 41 pacientes com aparente obstrução da
junção ureteropélvica em tratamento conservador. Todos apresentavam renograma diurético
com padrão obstrutivo e função renal diferencial > 35%. Em 85% deles a FRD permaneceu
estável ou melhorou durante a evolução. Quatro apresentaram deterioração da FRD antes dos
seis meses de vida. Após a correção cirúrgica, todos apresentaram função renal diferencial
pelo menos igual ao valor inicial.
O'Flynn et al. (1993), em trabalho anteriormente citado, considerou 85 crianças com
hidronefrose idiopática. Nenhuma delas apresentou deterioração renal. Durante o período de
um ano, houve resolução da dilatação em 87% das crianças com hidronefrose idiopática.
Maizels et al. (1994) publicaram o registro da “Society for Fetal Urology”. Foram
avaliadas crianças nas quais o diagnóstico de hidronefrose foi realizado antes de um ano de
idade. A hidronefrose não específica foi definida como a dilatação da pelve renal ou
caliectasia, nas quais os testes rotineiros (ultra-som, renograma diurético e UCM) não
identificaram uma causa específica (refluxo vesicoureteral, ureterocele, válvula de uretra
posterior e megaureter). Uma amostra de 464 crianças (582 rins hidronefróticos) foi avaliada
por 33 urologistas pediátricos de 21 cidades, que compararam o grupo submetido a tratamento
cirúrgico e o submetido a tratamento clínico. Alto grau de hidronefrose (SFU grau 3 e 4)
predominou em 80% dos rins tratados cirurgicamente. O baixo grau de hidronefrose (SFU 1 e
2) predominou em 76% dos rins tratados conservadoramente. A diferença foi estatisticamente
significante. Renograma diurético com padrão obstrutivo predominou em 68% dos pacientes
tratados cirurgicamente e em 55% dos rins tratados clinicamente. A FRD média foi de 49%
nos pacientes tratados clinicamente e de 45% nos cirúrgicos. Seis meses após a realização da
correção urológica houve redução do grau de hidronefrose de 3,4 para 1,8; a FRD ficou
estável e o renograma não evidenciou obstrução. Os dados foram pareados e compararam-se
os resultados do grupo pós-operatório com o não cirúrgico. A SFU foi 2,0 no grupo
conservador e 2,4 no grupo pós-operatório (p < 0,05). Não houve diferença estatisticamente
significante entre os dois grupos em relação a DMSA e renograma diurético.
Bajpai et al. (2002) acompanharam clinicamente 16 crianças com hidronefrose
bilateral. Dos 32 rins, 31 apresentaram hidronefrose moderada ou grave. A dilatação
apresentou resolução espontânea em 78% dos casos. Dos 25 rins acompanhados por pelo
menos dois anos, 80% demonstraram melhora. O “washout” foi maior que 20 minutos em
58
55% dos rins operados e menor que 20 minutos em 78% dos rins não operados. Entre os dez
rins com hidronefrose grave, 38% necessitaram de pieloplastia por deterioração da função
renal (FRD< 35%). Nos quatro rins submetidos à pieloplastia, a média da FRD inicial, antes e
após pieloplastia, foi, respectivamente, 37,7%, 29,7% e 36%. A taxa de filtração glomerular
permaneceu na faixa de normalidade para a idade das crianças. Não foi prescrito antibiótico
profilático. Nenhuma das crianças apresentou infecção do trato urinário.
Onen et al. (2002) avaliaram crianças com hidronefrose bilateral usando o mesmo
protocolo descrito em Koff (1992); Koff (1994a) e Ulman (2002), encontrando resolução da
hidronefrose em 65% dos rins “tipo estenose de junção”. Quando houve prejuízo importante
da função renal, a investigação renográfica foi quinzenal.
Cheng et al. (2004) estudaram a evolução da hidronefrose neonatal isolada em 63
pacientes, 40 do sexo masculino e 23 do sexo feminino. A hidronefrose foi graduada de
acordo com o DAP da pelve renal observado por ultra-som e classificada em: normal (DAP <
5mm), leve ( 5mm DAP < 10mm), moderada (10mm DAP < 15mm) e grave (DAP
15mm). O DTPA foi realizado para excluir obstrução, quando clinicamente indicado, e em
todos os pacientes com DAP da pelve renal 10mm. A uretrocistografia miccional foi
realizada em todos os pacientes e excluíram-se a obstrução do trato urinário e o RVU. Nos
pacientes com hidronefrose bilateral, foi utilizado o rim mais gravemente afetado para
definirem-se as mudanças no grau de hidronefrose. Os pacientes receberam prescrição de
antibiótico profilático pelo menos até a realização do ultra-som renal e da uretrocistografia
miccional. O primeiro ultra-som pós-natal, realizado com idade média de 18,4 dias 17,8),
revelou resolução da ANH em 16 (25%), dilatação leve em 34 (54%) e moderada ou grave em
13 (21%). Dos 47 pacientes com dilatação no ultra-som pós-natal, a dilatação foi unilateral
em 21 (33%) e bilateral em 26 (41%). O acompanhamento médio foi de 23,3 14,8) meses,
havendo perda de seguimento de seis pacientes. Na última visita, o ultra-som realizado em
idade média de 23,3 meses (± 14,8) demonstrou o DAP da pelve normal ou dilatação leve em
47 (82%). Nos pacientes com DAP normal no ultra-som pós-natal e que permaneceram
disponíveis para acompanhamento, o ultra-som foi normal até o último exame. De 13
neonatos com dilatação moderada ou grave houve diminuição da gravidade em 11 (85%). O
aumento da dilatação ocorreu em 3 (5%) de 57 pacientes. O estudo concluiu que a hipótese de
regressão espontânea é aceitável (p = 0,02). Houve predominância de crianças do sexo
masculino com hidronefrose fetal isolada (1,74: 1) que, entretanto, não foi estaticamente
significante (p = 0,19). Durante a análise ultra-sonográfica, as crianças do sexo feminino e
masculino mostraram graus similares de regressão da dilatação (p = 0,70). Houve maior
incidência de dilatação da pelve do rim esquerdo em relação ao rim direito, no entanto, não
foi evidenciada diferença entre o rim direito e o esquerdo na resolução da hidronefrose. Na
população estudada, o sexo da criança ou a lateralidade da dilatação fetal não puderam ser
considerados preditores de gravidade inicial e evolução da dilatação renal.
59
Maizels relatou ser comum o encontro, intra-útero, de hidronefrose discreta no rim
contralateral ao rim obstruído. Postula-se que a dilatação leve possa ser secundária à
reabsorção de urina no rim obstruído e excreção pelo contralateral (MAIZESL et al., 1994).
Trabalho experimental em fetos de ovelhas também demonstrou hidronefrose leve em rim
contralateral ao rim obstruído. Esses rins são macroscópica e microscopicamente normais
(PETERS et al., 1992).
na literatura vários trabalhos mostrando ser prudente tratar clinicamente os
pacientes com hidronefrose e déficit de drenagem no renograma diurético. A função renal
diferencial deve ser verificada. Ozcam et al. (2004) sugeriram acompanhamento mais
freqüente nos primeiros 18 meses de vida, podendo ser menos freqüente após esse período,
uma vez que a deterioração na função ou o aumento do tamanho da pelve torna-se menos
provável.
2.5 - Conclusões
Apesar de serem numerosas as publicações abordando a hidronefrose fetal, a maioria
dos estudos é observacional. Alguns são prospectivos, porém, a maioria das publicações trata
de retrospectivos. Em todas elas a população estudada é relativamente pequena e o tempo de
seguimento curto (SIDHU et al., 2006). Peters (2002) considera que, em relação à
hidronefrose congênita e suas implicações em longo prazo, ainda permanecemos praticamente
no escuro. Há necessidade de novos estudos randomizados, com acompanhamento mais
longo, para definição da melhor conduta (RANSLEY et al., 1990; MAIZELS et al., 1994;
CAPOLICCHIO et al., 1999). Esta revisão pode estimular futuros investigadores e permitir
focalizar algumas áreas para estudo.
60
Capítulo 3 - ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.1 - Introdução
Descreve-se, neste capítulo, a metodologia das diversas etapas do trabalho. O item 3.2
apresenta informações a respeito do protocolo para acompanhamento longitudinal dos
pacientes. A definição do protocolo citado antecedeu ao presente trabalho, tendo ele sido
estabelecido no Macro-Projeto do banco de dados (OLIVEIRA et al., 1999). Nos itens
seguintes são abordados aspectos ligados mais diretamente ao presente trabalho: em 3.3 é
feita a descrição do aplicativo em EXCEL, que constitui um dos objetivos preliminares do
trabalho; constituição do banco de dados (3.4), em que se trata da estrutura do banco de
dados que servirá de base experimental para os estudos; descrição da cnica usada para a
depuração dos dados registrados, e seus resultados (3.5); caracterização das séries
evolutivas que representam os dados numéricos dos prontuários de pacientes (3.6);
delineamento de estudos (3.7); testes de simetria, homogeneidade marginal, e de direção
(3.8), usados para se avaliar a significância estatística da regressão espontânea da
hidronefrose isolada; análise univariada (3.9), em que se procuram associações entre
variáveis explicativas e as variáveis-resposta consideradas.
3.2 - Acompanhamento longitudinal dos pacientes
A metodologia de acompanhamento dos pacientes (as diversas escolhas feitas no que
concerne à propedêutica, fluxogramas para seqüenciamento de exames, etc.) foi definida
quando da proposição do projeto, referido, denominado “Banco de Dados em Uropatias
Fetais Diagnosticadas por Ultra-som: Estudo Prospectivo e avaliação dos Fatores
Prognósticos”, em 1999. Algumas das considerações desenvolvidas podem não ter relação
direta com o trabalho aqui tratado, mas foram mantidas para que se guarde a coerência com a
metodologia definida para o Macro-Projeto.
3.2.1 - Abordagem no pré-natal
Em todas as gestantes com indicação para realização de ultra-som pré-natal, a anatomia
do trato urinário foi sistematicamente avaliada. Todos os fetos suspeitos de serem portadores
de uropatia foram acompanhados prospectivamente, por meio de estudos ecográficos seriados.
Essa avaliação foi obtida em intervalos variáveis (semanais ou quinzenais), de acordo com as
necessidades clínicas, considerando-se, entretanto, apenas o último laudo realizado antes do
parto para comparação com o diagnóstico pós-natal. Os exames foram realizados obedecendo
à dinâmica mostrada nas seções seguintes.
61
3.2.1.1 - Morfologia fetal geral
O estudo segmentar do feto foi realizado, considerando-se a seguinte sistemática: a)
visualização do crânio, face, membros superiores e inferiores, órgãos internos do tórax e
abdome, buscando malformações associadas; b) biometria fetal para identificar a idade
gestacional e o padrão de crescimento fetal; c) avaliação da placenta e do cordão umbilical; d)
avaliação do volume do líquido amniótico, através da medida do ILA, considerando-se como
normal o volume entre 8 e18 cm
3
(PHERLAN et al., 1987).
3.2.1.2 - Morfologia do trato urinário
Foram avaliados: localização anatômica; relações anatômicas; contorno; ecogenicidade;
volume e estruturas anatômicas das unidades renais; presença de cistos, seu tamanho e
distribuição. Foram obtidas as seguintes mensurações: comprimento renal (diâmetro no plano
longitudinal) e o diâmetro ântero-posterior no corte transversal.
O diagnóstico ultra-sonográfico de dilatação da pelve renal foi estabelecido sempre que
verificada uma medida transversal da pelve renal igual ou maior do que 5mm em qualquer
idade gestacional.
No que concerne ao estudo do trato urinário: ureter e uretra foram avaliados quanto à
presença de dilatações tubulares irregulares e anecóicas em suas respectivas topografias,
pesquisando-se a presença de megaureter e megauretra; a bexiga foi examinada definindo-se a
ocorrência de megabexiga nas situações em que a bexiga fetal, estrutura arredondada e
centralizada no abdome fetal, mantém persistentemente um diâmetro longitudinal maior que
5mm; espessura da parede vesical, avaliada e considerada anormal para um valor maior que
2mm.
3.2.1.3 - Diagnóstico funcional
Foram considerados os seguintes parâmetros da avaliação da função renal do feto: a)
aspecto ecográfico do parênquima renal – considerados achados sugestivos de perda ou
redução da função renal fetal à presença de hiperecogenicidade do parênquima renal em
relação às estruturas vizinhas e a presença de microcistos, isto é, cistos de até 2mm
difusamente distribuídos córtex renal; b) volume do líquido amniótico – considerada sugestiva
de dano renal fetal a presença de redução do volume do líquido amniótico; c) determinação da
osmolaridade da urina fetal nos casos suspeitos de obstrução uretral, obtida a urina fetal
através de punção da bexiga, para determinação indireta da função renal fetal, considerando-
62
se valor adequado uma osmolaridade fetal menor que 210mOsm/L, e indicação de tratamento
intra-útero nos casos de valor adequado da urina fetal.
3.2.2 - Abordagem ao nascimento
Foram registrados em protocolo próprio, dados referentes às gestantes, aos exames
ultra-sonográficos, aos recém-nascidos, à propedêutica, ao diagnóstico pós-natal, ao
tratamento inicial e às evoluções dos pacientes. Os parágrafos seguintes detalham a
metodologia.
Gestantes: idade, endereço, gestações anteriores (GPA), uso de medicamentos,
intercorrências na gestação, história familiar de doenças nefrourológicas e procedência.
Exames ultra-sonográficos: para cada avaliação realizada foram coletados dados
referentes à indicação obstétrica para o exame, a idade gestacional em que foi realizado, os
achados encontrados em relação ao líquido amniótico (normal, oligoidrâmnio, polidrâmnio),
rins fetais (hidronefrose, presença de cistos, presença de hiperecogenicidade), ureteres
(normal, dilatado, ausente), bexiga (normal, dilatada, ausente).
Recém-nascidos: dados de nascimento, idade de início no protocolo, tipo de parto, idade
gestacional em semanas, peso e estatura ao nascimento, sexo, dados clínicos de pressão
arterial, palpação abdominal (bexiga e lojas renais), genitália, observações sobre a diurese e
jato urinário.
Dados da propedêutica inicial: resultados exames de uréia, creatinina, urina rotina,
urocultura, laudo dos exames de imagem (ultra-som, urografia excretora, uretrocistografia
miccional, cintilografia renal estática e cintilografia renal dinâmica quando indicados).
Diagnóstico pós-natal, tratamento inicial, dados evolutivos: tempo de seguimento,
episódios de infecção do trato urinário, presença de insuficiência renal, presença de
complicações, óbito (se ocorreu, causa e data), outras avaliações realizadas.
3.2.3 - Abordagem propedêutica
A avaliação propedêutica feita na criança constou de exames, realizados
seqüencialmente, conforme se relata nas seções seguintes.
3.2.3.1 - Avaliação laboratorial
Exame de urina rotina, urocultura, dosagem sérica de uréia e creatinina foram realizados
no momento da inclusão da criança no protocolo. Os exames foram realizados,
respectivamente, nas sessões de urinálise, bacteriologia e bioquímica do Laboratório Central
da Faculdade de Medicina da UFMG.
63
3.2.3.2 - Avaliação de imagens
A avaliação de imagens foi realizada em todos os neonatos de acordo com o fluxograma
da FIG. 1, estando indicada para todas os recém-nascidos com a pelve renal igual ou maior
que 5mm em qualquer idade gestacional.
Figura 1 - Fluxograma para avaliação do trato urinário do neonato portador de
hidronefrose fetal (BOUZADA, 2003) -
Abreviaturas: DAP, diâmetro ântero-posterior; US, ultra-som;
UCM, uretrocistografia miccional; UE, urografia excretora; DMSA, cintilografia estática; DTPA, cintilografia
dinâmica; RVU, refluxo vesicoureteral)
Ultra-som - a primeira avaliação propedêutica, visando confirmar a alteração
encontrada intra-útero, foi um exame ecográfico, realizado entre o terceiro e quinto dia de
vida, no Berçário do Hospital das Clínicas. Se confirmada a anomalia do trato urinário, a
propedêutica foi continuada conforme se descreve mais adiante. Se não confirmada, uma
reavaliação ecográfica foi obtida aos 30 dias de vida. Foram realizados exames ecográficos
aproximadamente a cada 6 meses para os casos leves a moderados de hidronefrose até o seu
desaparecimento. A gravidade da hidronefrose foi graduada de acordo com a medida do DAP
(será detalhado oportunamente), bem como pela escala padronizada pela Society for Fetal
Urology (FERNBACH et al., 1993).
Os exames foram realizados em equipamentos Siemens (Sonoline SLC) utilizando-se o
transdutor de 5 MHz, na posição supina. A mensuração foi obtida nas seções longitudinais e
transversais de ambas as unidades renais. Foram registrados: o comprimento (diâmetro
longitudinal) renal e o diâmetro transverso no corte longitudinal, o diâmetro transverso e o
diâmetro ântero-posterior no corte transversal.
64
Uretrocistografia miccional (UCM) - a avaliação contrastada do trato urinário
baixo foi obtida na primeira semana de vida, sempre precedida de cobertura antibiótica
profilática com 50mg/Kg/dia em dose única de cefalosporina de primeira geração (cefalexina
ou cefadroxil).
Os exames são realizados no Serviço de Radiologia do Hospital das Clínicas da UFMG. O
preparo consta de: recomendação de jejum de duas horas para lactentes; recomendação para
trazer dois acompanhantes. O exame é realizado observando-se os seguintes passos: a)
radiografia simples, na posição ântero-posterior, da região pélvica para pesquisa de
malformações ósseas e cálculos; b) realização de anti-sepsia da região genital com
degermante; c) introdução de sonda vesical de alívio pela uretra (a sonda utilizada varia de
número 4, nos recém-nascidos, a número 10, nos lactentes); d) diluição de 200ml de contraste
não iônico em 50ml de soro fisiológico; e) infusão na bexiga da solução composta por
contrataste não iônico e soro fisiológico, feita por gravidade; f) acompanhamento com a
radioscopia das fases de enchimento vesical, repleção vesical e micção; g) realização de
radiografia, ântero-posterior, oblíqua direita e oblíqua esquerda com a bexiga repleta; h)
retirada da sonda vesical; i) radiografia pós-miccional em ântero-posterior (BARNEWOLT et
al., 1998).
Urografia excretora - essa avaliação é realizada após o primeiro mês de vida ou,
nos casos de maior urgência diagnóstica, tão logo a exigência clínica assim o determine. Os
exames foram realizados no Serviço de Radiologia do Hospital das Clínicas da UFMG,
também segundo técnica descrita a seguir.
Recomendações de preparo: a) observar jejum de duas horas para lactentes e de 10 a 12
horas para pré-escolares e escolares; b) comparecer acompanhado de dois adultos; c)
prescrição de laxante (dulcolax) e dimeticona para pré-escolares e escolares; d) realização de
questionário para avaliação de risco de reação ao contraste; e) nos recém-nascidos e lactentes
é utilizado contraste não iônico; f) aos pré-escolares e escolares, com história de alergia e
asma, é prescrito prednisona e cloridrato de dexclorfeniramina; g) a prednisona é utilizada na
dose de 1 a 2mg/kg/dia divididas em 4 doses: às 12 horas, 18 horas e 24 horas do dia anterior
e às 6 horas do dia do exame; h) o cloridrato de dexclorofeniramina é prescrito na dose de
0,14 a 0,3mg/kg/dia em dose única, às 6 horas da manha no dia do exame; i) em crianças com
historia de alergia grave ao contraste pode ser utilizado contraste não iônico ou, em alguns
casos, o exame pode ser contra-indicado.
O exame é realizado seguindo-se o seguinte roteiro: a) radiografia simples de abdome, na
posição ântero-posterior, para pesquisa de malformações ósseas e cálculos; b) punção de
acesso venoso; c) infusão endovenosa do contraste (dose preconizada e de 4mg/kg nos recém-
nascidos, 2mg/kg nos lactentes, contraste infundido em bolus; d) radiografia do abdome para
visualização do nefrograma, assim que a infusão do contraste esteja terminada; e) realização
de radiografia de abdome após 5 a 8 minutos; f) compressão da região abdominal acima da
65
sínfise púbica, no momento em que o contraste atingir os cálices e sistemas coletores (em
pacientes com obstrução do trato urinário, não e realizada a compressão abdominal); g)
colocação do paciente na posição de trendelenburg; h) realização de nova radiografia de
abdome; i) retirada da faixa compressiva; j) realização de radiografia de abdome após o
paciente realizar uma inspiração; k) paciente ingere água; l) realização de radiografia quando
a bexiga está cheia; m) realização de radiografia pós-miccional; n) realização de radiografias
após 2, 4, 6 e 24 horas, quando dificuldade de drenagem sugestivas de obstrução do trato
urinário (BARNEWOLT et al., 1998).
Cintilografia renal - a morfologia do parênquima renal foi estudada utilizando-se
radioisótopos:
99
tc-ácido diaminotetraetilpentacético (DTPA) para a realização do estudo
dinâmico e de fluxo renal e
99
tc-ácido dimercaptosuccínico (DMSA) para avaliação estática
do parênquima renal. Os estudos foram realizados após o primeiro mês de vida, ou antes, se a
condição clínica do paciente assim o exigiu. Os estudos cintilográficos foram realizados Setor
de Medicina Nuclear do Hospital Felício Rocho, conforme cnicas e normas padronizadas
(MANDELL et al., 1997a; 1997b). Os resultados dos estudos foram avaliados por dois
examinadores que desconheciam a evolução clínica dos pacientes em questão.
3.2.4 - Abordagem terapêutica
O tratamento foi indicado de acordo com a uropatia específica de cada criança, não
sendo definido a priori. Basicamente, dois tipos de intervenção foram realizados: para os
casos de hidronefrose (com ou sem obstrução das vias urinárias), a intervenção terapêutica
constituiu-se de quimioterapia ou antibioticoterapia profilática, com intuito de prevenir
infecção do trato urinário. Para essa profilaxia foi utilizado sulfametoxazol+trimetoprim
(2mg/kg/dia) ou nitrofurantoína (2mg/kg/dia) ou cefalexina (100mg/dia) ou cefadroxil
(100mg/ dia), variando a medicação de acordo com a tolerância das crianças, sendo evitado o
uso de sulfas e nitrofurantoína no primeiro mês de vida. A profilaxia foi mantida de acordo
com os seguintes parâmetros: casos de obstrução ureteral: até a resolução cirúrgica; casos de
dilatação sem obstrução ou RVU: até a resolução da dilatação ou até a criança alcançar 2 anos
de idade; casos de refluxo vesicoureteral primário: até a resolução do refluxo ou até a criança
alcançar 5 anos de idade; casos de derivação do trato urinário: até a reconstituição cirúrgica.
Para os casos de uropatias obstrutivas, confirmada na cintilografia renal dinâmica,
indicou-se a intervenção cirúrgica, realizada no HC-UFMG pela equipe de cirurgia pediátrica
ou urologia pediátrica da instituição. Nos casos em que a cintilografia dinâmica não
apresentou um padrão de obstrução, mas sim uma drenagem retardada, foi adotada uma
conduta conservadora, se normal a morfologia do parênquima renal, na cintilografia estática.
(DEJTER et al., 1988).
66
3.2.5 - Abordagem evolutiva
Os pacientes foram acompanhados no Ambulatório Bias Fortes, anexo do Hospital das
Clínicas (UFMG), sendo a periodicidade de 3 em 3 meses no primeiro ano de vida e de 4 em
4 meses após o primeiro ano de vida. Esse seguimento foi flexível o suficiente para se adaptar
às condições clínicas e sócio-econômicas dos pacientes. Em cada retorno foram reavaliados os
exames físicos, a evolução clínica, a pressão arterial, a aderência à profilaxia quimioterápica
ou antibiótica e a presença ou não de infecção do trato urinário (urina rotina e urocultura). A
avaliação da função renal (uréia e creatinina) foi obtida periodicamente, conforme a exigência
clínica (pelo menos uma vez a cada 6 meses). A reavaliação por imagens foi variável de
acordo com o tipo de anomalias presente. No caso de uropatias císticas, o exame ultra-
sonográfico foi obtido anualmente. No caso das uropatias hidronefróticas não obstrutivas, a
reavaliação de cintilografia renal e uretrocistografia miccional (esta no caso de refluxo
vesicoureteral) foi realizada a cada 2 anos. No caso de uropatias obstrutivas, 6 meses após a
correção cirurgia foi repetida a cintilografia renal e a ultra-sonografia. Todos esses prazos
foram subordinados as condições clínicas dos pacientes. Como avaliação final, para este
estudo prospectivo proposto, foram repetidos ultra-sons do trato urinário, estudo do
clareamento de creatinina em todos os pacientes e uma avaliação de medicina nuclear nos
pacientes com diâmetro ântero-posterior da pelve fetal maior que 10mm ou nos pacientes
portadores de refluxo vesicoureteral.
3.3 - Aplicativo em EXCEL
Neste trabalho foi desenvolvido um software, caracterizado como um aplicativo
específico, para o manuseio das informações do banco de dados mencionado. Como
resultado obteve-se uma versátil ferramenta computacional de apoio à pesquisa. O aplicativo
recebeu o nome de “BD_Hidronefrose” e foi desenvolvido em ambiente Microsoft EXCEL.
No que concerne à coleta e edição de dados, o software veio propiciar facilidades para:
inclusão e correção de dados, cálculo automático de variáveis intermediárias (elimina a coleta
redundante de informação), detecção automática de alguns tipos de erros, análise da qualidade
e confiabilidade dos dados, dentre outras.
A maior vantagem da opção por um aplicativo específico, entretanto, decorre da
flexibilidade e da facilidade com que se consegue delimitar cada estudo empreendido. O
pesquisador pode selecionar rapidamente a casuística a ser considerada, a inclusão ou não de
determinadas unidades renais e/ou pacientes, estando disponíveis caixas de seleção
automáticas para as situações de escolha mais usuais, concebidas tendo em vista as
particularidades do banco de dados considerado.
67
Além de usar os recursos disponíveis como “funções” no próprio Excel, diversas sub-
planilhas foram elaboradas para permitir análises estatísticas básicas (contagem de eventos,
cálculo de médias, variâncias, medianas, percentis, etc), facilidades de classificação e
exibição de dados, caracterização das séries evolutivas, obtenção dos parâmetros de regressão,
exibição das curvas de regressão, testes de hipóteses, análise das associações entre variáveis
explicativas e variáveis-resposta, comparação de médias, análise por curvas de ROC.
A maior parte do cálculo estatístico é, portanto, suportada pelo aplicativo, através de
cálculos em planilhas e rotinas programadas (“macros”, na nomenclatura do Excel), de forma
amigável e, quase sempre, automatizada.
Para tratamento estatístico mais potente ou especializado foi desenvolvido um módulo
de exportação de tabelas para o SPSS (versão 11.5, SPSS Inc., Chicago, EUA) e para o
MATLAB (versão 7, The MathWorks Inc., Massachusetts, EUA).
3.4 - Constituição do banco de dados
3.4.1 - Critérios de inclusão e de exclusão de pacientes
A Unidade de Nefrologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Minas Gerais (UNP-HC-UFMG) trabalha com um banco de dados que foi concebido
especificamente para o armazenamento de informações de pacientes portadores de
hidronefrose fetal isolada.
Formalmente, pode se estabelecer o seguinte critério de inclusão: o banco de dados
inclui informações de todos os pacientes procedentes do Serviço de Medicina Fetal do HC-
UFMG, encaminhados, desde agosto de 1999, ao ambulatório de atendimento terciário da
UNP-HC-UFMG, que apresentavam, ao ultra-som fetal, dilatação da pelve renal em pelo
menos um dos rins, com suspeita de que tal anomalia pudesse se caracterizar como
hidronefrose isolada.
Os dados de pacientes, incluídos pelo critério anteriormente descrito, submetem-se
ainda ao seguinte critério de exclusão: excluem-se do banco de dados as informações
pertinentes a qualquer paciente que, por ocasião do primeiro ultra-som pós-natal, tenham
confirmado diagnóstico de qualquer uropatia não condizente com o quadro de hidronefrose
isolada.
Pacientes que, ao primeiro ultra-som pós-natal, permanecem sob suspeita de
hidronefrose isolada, não têm seus dados excluídos, ainda que diagnóstico posterior afaste a
suspeita de hidronefrose isolada.
Constituído da maneira descrita, uma das particularidades desse banco de dados é que
nele não se registra nenhum caso de paciente portador de rim multicístico, posto que essa é
uma das uropatias mais facilmente identificáveis após o nascimento da criança. O estudo
68
específico dessa uropatia é objeto de estudos feitos no Grupo, utilizando-se, para tal, um outro
banco de dados (RABELO et al., 2005).
3.4.2 - Sub-planilha “Dados_Coleta”
As informações obtidas em prontuários de pacientes são digitadas em um banco de
dados que assume a forma de uma planilha eletrônica (ambiente EXCEL). O conjunto
formado pelas primeiras 5 linhas da planilha é chamado “cabeçalho” do banco de dados. As
linhas seguintes são chamadas “registros”. A cada paciente correspondem dois registros (duas
linhas, portanto), um para cada unidade renal (na ordem: rim direito, rim esquerdo). Na
planilha de coleta de dados os dois registros de cada paciente ocupam duas linhas
consecutivas, para facilitar a localização e digitação de dados. Cada registro é formado por
campos (as unidades elementares de armazenamento) que podem conter texto, números ou
datas. Os campos são organizados em conjuntos que denominamos “blocos”. A planilha
Coleta é constituída dos seguintes blocos:
a) os primeiros campos constituem o bloco “Cadastro” e são destinados a informações
tais como: nome do paciente, nome da mãe, número do prontuário, endereço, telefone, etc.
Ainda no cadastro estão os campos relativos a: data de nascimento [dd/mm/aa]; sexo; tipo de
parto (normal / cirúrgico); prematuridade (termo / não termo).
b) Bloco “Exames Ultra-sonográficos”. Os quatro primeiros campos referem-se ao
ultra-som fetal (registra-se apenas o último ultra-som pré-natal). O conteúdo desses campos é
o seguinte: idade gestacional do feto; data; diâmetro ântero-posterior da pelve (DAPf);
diâmetro transverso da pelve (DATf). Seguem-se, no mesmo bloco, até oito conjuntos de
campos, sendo que cada conjunto armazena até nove dados de um determinado evento de
exame ultra-sonográfico. Para cada evento desse tipo são armazenadas as seguintes
informações: data [dd/mm/aa]; comprimento do rim (referido também como diâmetro
longitudinal, Rld [mm]); diâmetro transverso do rim no plano longitudinal (Rlt [mm]);
diâmetro do rim no plano transverso (Rtd [mm]); diâmetro ântero-posterior do rim (Rap
[mm]); espessura do parênquima (Epr [mm]); diâmetro ântero-posterior da pelve (Dap [mm]);
diâmetro transverso da pelve (Dat [mm]); índice SFU (Sfu: 0 a 4).
c) Bloco “Exames Clínicos”. O bloco é constituído de até oito conjuntos de campos,
sendo que cada conjunto armazena até cinco dados de um determinado evento de exame
clínico. Para cada evento desse tipo são armazenadas as seguintes informações: data
[dd/mm/aa]; peso (Pes [kg]); estatura (Est [cm]); pressão arterial sistólica (Pas [mmHg]);
pressão arterial diastólica (Pad [mmHg]).
d) Bloco “Exames Laboratoriais”. O bloco é constituído de até oito conjuntos de
campos, sendo que cada conjunto armazena até três dados de um determinado evento de
exame laboratorial. Para cada evento desse tipo são armazenadas as seguintes informações:
69
data [dd/mm/aa]; dosagem de creatinina no sangue (Cre [mg/dl]); dosagem de uréia no sangue
(Ureia [mg/dl]).
e) Bloco “Cintilografias”. O bloco é constituído de até três conjuntos de campos, sendo
que cada conjunto armazena dados de um determinado evento de exame cintilográfico.
Conforme relatado, nem todos os pacientes são submetidos a esse exame. Para cada evento
desse tipo são armazenadas as seguintes informações: data [dd/mm/aa]; classificação do
DMSA (Dmsa: 1 - normal, 2 - alterado); função renal diferencial estimada pelo DMSA (Capt
[%]); classificação da imagem renal do DMSA (Konda: 1 a 4); classificação de padrão de
drenagem ao DTPA (Dtpa: 1 - normal, 2 - intermediário, 3 - obstruído, 4 - excluso) (KONDA
et al., 2002).
f) Bloco “Uretrocistografia”. O bloco é constituído de três campos, que armazenam
dados do citado exame, caso tenha sido feito. São armazenadas as seguintes informações:
uretrocistografia miccional (UCM: 0 - não realizada, 1 - realizada); refluxo vesicoureteral
(RVU: 0 - ausente, 1 - presente); grau do refluxo vesicoureteral (GrauRVU: 1 a 5).
g) Os últimos campos constituem o bloco “Diagnóstico e Evolução”. São armazenadas
as seguintes informações: realização de urografia excretora (UE: 0 - não realizada, 1-
realizada); classificação da uropatia (Pat : 0 a 21, ver 3.7.2); tipo de tratamento (TipoTrat: 1 -
clínico, 2 - cirúrgico); data da cirurgia (Dtcir); tipo de cirurgia (CirU: 22 a 29, ver 3.7.2);
infecção urinária (ITU: 0 - ausente, 1 - presente); número de episódios de infecção urinária
(Nitu); data da suspensão do antibiótico profilático (DtSusp); evolução para insuficiência
renal crônica (IRC: 0 - ausente, 1 - presente); data do óbito (DtObito); data da última
avaliação (DtFinal); data da alta (DtAlta).
3.4.3 - Sub-planilha “Dados_Extensos”
A planilha Dados_Extensos é obtida através de um processo de definição ou redefinição
de variáveis, a partir dos dados originais armazenados em Dados_Coleta.
Inicialmente, as informações sob a forma de datas são transformadas em uma variável
contínua que representa, para cada evento registrado, a idade do paciente. São ainda definidas
e calculadas as seguintes variáveis:
3.4.3.1 - Relação TFG medido por TFG esperado (normal)
A relação que se leva em conta é dada por
Tfg
=
TFG
M
/ TFG
N
, em que
TFG
M
é a taxa
estimada para um determinado paciente e
TFG
N
é a taxa que se considera normal para um
paciente sadio que apresente características (idade gestacional ao nascimento, idade, estatura)
similares às do paciente em questão. A avaliação, tanto de
TFG
M
, como de
TFG
N
, é feita através
de metodologia derivada da proposta por Schwartz et al. (1987).
70
3.4.3.2 - Volume da unidade renal e da unidade contralateral
A avaliação de volumes renais é feita com a adoção de uma aproximação elipsóide,
freqüentemente usada em cálculos dessa natureza (HRICAK et al., 1983; HAN et al., 1985;
SARGENT et al., 1993; FERRER et al., 1997). A equação é: volume
[mL]
= (π/6000) x
comprimento
[mm]
x largura
[mm]
x espessura
[mm].
Considerada determinada unidade renal,
usaremos a variável de nome “Vol” para representar seu volume, e “Vcl” para representar o
volume do respectivo rim contralateral.
Tendo em vista as medidas que constituem o padrão da biometria renal, considera-se
como comprimento, na equação dada, aquele medido no plano longitudinal, ou seja: o
diâmetro longitudinal do rim (Rld); como largura, o diâmetro no plano transverso (Rtd); como
espessura, o diâmetro ântero-posterior no plano transverso (Rap). Nos casos em que se dispõe
de uma segunda medida no plano longitudinal (diâmetro transverso no plano longitudinal), ela
pode ser usada, em média aritmética com o diâmetro ântero-posterior do plano transverso,
(Rlt + Rap)/2, substituindo a espessura, na equação dada (DINKEL et al., 1985).
3.4.3.3 - Relação volume por volume contralateral
Variável explicativa calculada por Vre = Vol/Vcl, para cada unidade renal disponível.
3.4.3.4 - Relação volume por superfície corporal
Neste caso os volumes renais, apurados pelo método descrito em 3.3.3.1, são
relativizados através da divisão pela superfície corporal do paciente (BSA). O aplicativo
permite que se escolha entre duas metodologias diferentes para avaliação do BSA
(HAYCOCK et al., 1978; HAN et al., 1985).
Na metodologia proposta por Haycock a superfície corporal é avaliada por BSA [
m
2
] =
0,024265 x peso [
kg
]
0,5378
x estatura [
cm
]
0,3964
.
No método adotado por Han, calcula-se pela
seguinte equação: BSA [
m
2
] = 0,007184 x peso [
kg
]
0,425
x estatura [
cm
]
0,725
. Qualquer que seja
a escolha, os pesos e estaturas de pacientes são avaliados na data de interesse (geralmente são
datas de exames ultra-sonográficos) pelas aproximações obtidas na regressão linear das séries
de peso e estatura (procedimento explicado em 3.5.2.2). Os volumes relativizados pelo BSA
são representados por “ Vob” e “ Vcb”.
71
3.4.3.5 – Índice Dil
O índice de dilatação da pelve renal (Dil) é: 0, para DAP menor que 5mm; 1, para DAP
maior ou igual a 5mm e menor que 10mm; 2, para DAP maior ou igual a 10mm e menor que
15mm; 3, para DAP maior que 15mm.
3.4.3.6 – Relações Ka1, Ka2 e Ka3
A relação Ka1 consiste na razão entre o diâmetro ântero-posterior da pelve renal e o
diâmetro ântero-posterior do rim (Ka1 = Dap/Rap). Corresponde ao índice DP/DR, utilizado
para discriminar a presença de uropatia significativa em diversos trabalhos (ARGER et al.,
1985; CORTEVILLE et al., 1991; BLACHAR et al., 1994b; BOUZADA, 2003).
A relação Ka2 leva em conta a razão entre o diâmetro ântero-posterior da pelve renal e o
diâmetro longitudinal do rim (Ka2 = 100 x Dap/Rld).
A relação Ka3, proposta neste trabalho, representa uma tentativa de valorizar a medida do
parênquima renal na composição de uma variável diagnóstica. É derivada da relação DP/DR,
e consiste na divisão de 100
x
DP/DR (que é a razão entre diâmetro ântero-posterior da
pelve renal e o diâmetro ântero-posterior do rim) pela espessura do parênquima renal (Ka3 =
100
x
Ka1/Epr).
3.5 - Depuração de dados
O aplicativo desenvolvido em EXCEL foi dotado de possibilidades de detecção
automática de inconsistências nas séries de medidas sucessivas de uma mesma variável. A
metodologia consistiu na implementação de formatação condicionada que destaca (por
alteração da cor) os campos que contenham dados que, comparados a valores anteriores e
posteriores da série respectiva, apresentavam variação inconsistente.
Constatada uma inconsistência numa série de registros, o prontuário do respectivo paciente
era revisto, procurando-se detectar erro ou confirmar a validade dos dados digitados. Em
muitos casos a correção foi possível: nas situações de flagrante erro de digitação; naquelas em
que a anotação manuscrita possibilitava interpretação coerente com a série; nas situações em
que havia duplicidade de anotação; nos casos em que a proximidade entre dois eventos
registrados permitia a correção da data de um deles.
Como resultado foram detectados e corrigidos inúmeros erros nas séries de registros de
peso, estatura, e exames laboratoriais dos pacientes. Muitos deles eram erros de digitação (no
processo de transcrição de dados do prontuário para o banco de dados eletrônicos), mas, em
vários casos, a anotação equivocada constava do registro manuscrito no prontuário.
72
A detecção de inconsistências feita pelo software leva em conta a regularidade das
medidas. O método funciona melhor com séries de registros que apresentam pouca
variabilidade (para os quais é possível distinguir um eventual erro de medição da
variabilidade característica da série de medidas). Nos casos das medidas de peso e de estatura
foi possível reduzir a inconsistência para menos de 1,0% e 2,2%, respectivamente.
Para medidas sujeitas a grande variabilidade somente registros muito destoantes das
respectivas séries deram motivo para serem revistos. No caso do Dap, em alguns poucos
casos, foram possíveis correções baseadas no registro fotográfico do ultra-som.
3.6 - Conceituação e caracterização das séries evolutivas
3.6.1 - Conceituação
As informações relativas a eventos periódicos (exames clínicos, por exemplo), são
armazenadas no banco de dados, evento por evento. Quando, para um determinado paciente,
se considera uma seqüência de medidas de uma mesma variável (exemplo: a estatura do
paciente) obtida sucessivamente em eventos consecutivos, tem-se uma série de observações
espaçadas no tempo. A periodicidade com que as citadas medidas são feitas geralmente não é
constante, de forma que as respectivas séries caracterizam-se por serem, no caso mais geral,
irregularmente distribuídas ao longo do tempo.
Neste trabalho chamaremos tais conjuntos de medidas de “séries evolutivas”, evitando
chamá-las de “séries temporais”, visto que essa expressão é largamente empregada na
literatura especializada (estatística, econometria, ciências agrárias e climáticas, modelagem
matemática, etc) para designar conjuntos de medidas regularmente espaçadas no tempo, ou
seja: séries de periodicidade fixa.
Essasséries evolutivas são obtidas através de uma reorganização seletiva dos valores
numéricos dos campos contidos pelos seguintes blocos: Exames Ultras-sonográficos, Exames
Clínicos, Exames Laboratoriais, Cintilografia. Desse ponto de vista, cabe constatar que a
maior parte das informações contidos no banco de dados são, na verdade, séries evolutivas de
diversas variáveis diferentes, registradas individualmente por unidade renal (na maioria das
vezes) ou por pacientes (caso de peso e estatura, por exemplo).
3.6.2 - Caracterização
Neste trabalho, serão descritos diversas análises que terão por objetivo buscar
associações da hidronefrose (e das uropatias e eventos cirúrgicos a ela relacionadas) com a
evolução no tempo de medidas (principalmente as ultra-sonográficas) que compõe os
prontuários de pacientes (constituídos segundo protocolo previamente estabelecido). Por
73
razões que foram expostas, optamos por não utilizar diretamente, como variáveis
explicativas, as medidas que constituem as séries evolutivas. Ao invés disto, desempenharão
esse papel certos parâmetros, intimamente relacionados com as medidas coletadas em série,
escolhidos para caracterizar, de forma atemporal, as séries evolutivas de que dispomos.
Ao processo de obtenção dos citados parâmetros denominamos caracterização da série
evolutiva.
3.6.2.1 - Parâmetros obtidos por leitura direta ou por cálculo matemático elementar
Considerando-se um conjunto de n pares de medidas, designados por (x
1
, y
1
), (x
2
, y
2
),
(x
3
, y
3
), ..., (x
n-1
, y
n-1
), (x
n
, y
n
), definimos os seguintes parâmetros: a) Valor inicial da série
(designado por Vi) = y
1
; b) Valor final da série (designado por Vf) = y
n
; c) Valor médio da
série (designado por Md) = média aritmética de (y
1
, y
2
, y
3
, ..., y
n
); d) Valor máximo da série
(designado por Mx) = máximo de (y
1
, y
2
, y
3
, ..., y
n
); e) Valor mínimo da série (designado por
Mi) = mínimo de (y
1
, y
2
, y
3
, ..., y
n
); f) Média das duas medidas iniciais (designado por Pi) =
(y
1
+ y
2
)/2; g) Média das duas medidas finais (designado por Pf) = (y
n-1
+ y
n
)/2.
3.6.2.2 - Parâmetros obtidos por regressão linear de segunda ordem
No âmbito deste trabalho, são consideradas medidas seriadas em espaço de tempo
relativamente pequeno, que abrange o período de crescimento da criança em seus primeiros
anos de vida. Nessascondições pode se assumir que uma função analítica polinomial de
segunda ordem seja capaz de aproximar adequadamente uma série numérica, fornecida ponto
a ponto.
A aproximação escolhida será a função y = a.x
2
+ b.x + c que melhor aproxima o
conjunto numérico de pares (x, y), no sentido da minimização do desvio quadrático dos erros
(JOHNSTON, 1972). Uma função desse tipo ajusta-se perfeitamente a qualquer curva de
crescimento (ou decrescimento) que apresente concavidade constante, incluindo-se aí os casos
particulares de crescimento linear (y = b.x + c) e de estabilização (y = c).
A variável y representará os valores de medidas da série considerada e a variável x será
sempre a idade do paciente (contada dia a dia e convertida em anos). A maior utilidade de se
caracterizarem as séries numéricas pelos parâmetros descritos será a de permitir a estimação
de valores intermediários (relativamente ao tempo) para qualquer conjunto de medidas,
possibilitando que os diversos exames possam ser avaliados em um mesmo momento no
crescimento da criança. Essa avaliação não seria possível de outra forma, porque os exames
clínicos, ultra-sonográficos e laboratoriais, não são feitos, em geral, nas mesmas datas.
Os parâmetros pertinentes à regressão linear são: h) Concavidade da curva de estimação
(valor convertido para idade em anos) = Ca; i) Coeficiente proporcional à idade (valor
74
convertido para idade em anos) = Cb; j) Valor da função na origem y(0) = Cc; k) Valor médio
avaliado pela área sob a curva de aproximação (designado por Mr), calculado pela divisão da
área sob a curva de regressão (integral da função) pelo intervalo de tempo considerado.
3.6.2.3 - Caracterização da taxa de variação das medidas
Três parâmetros foram usados na tentativa de caracterizar a taxa de variação (taxa de
crescimento ou decrescimento) das séries evolutivas: l) Taxa de variação entre valor inicial e
valor final (designada por T1), calculado pela divisão da diferença (Vf Vi) pelo intervalo de
tempo decorrido entre essasmedidas; m) Taxa de variação entre a média inicial e a média final
(designada por T2), calculado pela divisão da diferença (Pf Pi) pelo intervalo de tempo
decorrido entre a média dos tempos relativos à média inicial e à média final; n) Taxa de
variação avaliada pela curva de aproximação (designada por Tr), calculado pela divisão da
diferença das estimativas (Vf
r
Vi
r
) pelo intervalo de tempo decorrido entre essasestimativas.
Vf
r
e Vi
r
são os valores obtidos pela equação y = a.x
2
+ b.x + c nos instantes (idade = 0) e
(idade = idade da última medida registrada). Tem-se que Tr = [(a.x
f
2
+ b.x
f
+ c) c]/ x
f
que
pode ser simplificada para Tr = a.x
f
+ b sendo x
f
a idade correspondente à última medida
registrada.
3.6.2.4 - Caracterização da variabilidade das medidas
O termo “variabilidade” é usualmente empregado para designar a não repetibilidade de
observações obtidas em condições que se consideram idênticas. Em qualquer campo da
ciência, essa variabilidade decorre, principalmente, da impossibilidade prática de se
considerar, por mais que se queira, todos os fatores que realmente afetam os valores
resultantes dos processos de medição. Quantificar a variabilidade de medidas é tarefa trivial
nas situações em que se espera um valor constante para todo um conjunto de medidas, ou seja:
quando se consideram medidas, simultâneas ou sucessivas, feitas sobre uma grandeza que,
supõe-se, deveria permanecer invariável ao longo do tempo.
Entretanto, esse não é o caso quando se consideram medidas de variáveis que se supõe
passíveis de variação. Assim, por exemplo, os números apurados em uma série evolutiva de
peso (o mesmo vale para estatura e para as principais medidas do rim) o podem mesmo ser
iguais, porque, além de existir uma diversidade de fatores que não são controlados nos
momentos de medição, existe um outro, que é controlado, que está variando, e que tem
influência na medição: a idade do paciente. A caracterização da variabilidade dessasmedidas
pelos indicadores estatísticos de dispersão mais comuns (desvio padrão, por exemplo) não se
mostra adequada, pois eles não têm como acomodar a parte da diferença verificada na
sucessão de medidas que é aceitável, e mesmo esperada, em muitos casos.
75
Quando se trata da análise de medidas que estão evoluindo no tempo, a variabilidade que
nos interessa estudar pode ser entendida como uma manifestação de um ruído (terminologia
importada da eletrônica) que se considera superposto à real evolução da grandeza que se
pretende medir. Dispondo-se de adequado conhecimento da dinâmica das variáveis medidas,
técnicas de filtragem, usuais no âmbito da engenharia (RADIX, 1970), podem ser
empregadas, tanto para minimizar o efeito indesejável do ruído que corrompe a medida, como
para quantificá-lo. No caso em tela, não se afigura factível essa abordagem, exatamente por
faltar suporte teórico para uma adequada modelagem matemática das equações dinâmicas que
regem a evolução de cada uma das grandezas medidas.
A principal manifestação dessa variabilidade dinâmica, que nos interessa caracterizar,
consiste na obtenção de curvas que apresentam padrões de evolução temporal atípicos, sob o
prisma de algum critério lógico. Assim, por exemplo, ao se analisarem curvas de evolução do
peso dos pacientes, não podem ser considerada típicas aquelas curvas nas quais essa variável
sofra alterações bruscas, taxas de crescimento absurdas em determinados períodos, etc. Da
mesma forma, em curvas de evolução de estatura, não devem ser esperados períodos
alternados de crescimento e diminuição de estatura, alterações bruscas, etc.
Na caracterização da variabilidade das medidas, optamos por uma abordagem heurística
guiada pela simplificação, partindo-se, uma vez mais, da premissa de que os conjuntos
disponíveis de medidas seriadas no tempo, por mais diversos que sejam, poderiam ser
adequadamente aproximados por uma função polinomial de segunda ordem: y = a.x
2
+ b.x + c
(os argumentos que respaldam essa simplificação foram expostos em outra parte deste
trabalho). Aceita essa premissa, podemos então usar, como critério de avaliação da
variabilidade das medidas, o grau de afastamento de cada conjunto seriado de medidas da sua
respectiva curva aproximada de segunda ordem. O parâmetro escolhido para representar a
variabilidade das medidas será: o) Índice de variabilidade, Iv = 1 – r
2
, (escalonado na faixa 0 a
100%) sendo r o coeficiente de correlação entre a série medida e a série estimada pela
equação de aproximação, y = a.x
2
+ b.x + c.
Observação 1: Uma série evolutiva com pouca variabilidade apresentará Iv
próximo de 0%, aumentando-se esse índice, à medida que aumenta a variabilidade. Em uma
análise de regressão, o quadrado do coeficiente de correlação, denominado usualmente de
“coeficiente de determinação”, representa a proporção da variação de y que é explicada pela
variação de x (JOHNSTON, 1972; JEKEL et al., 1999). Assim, se r
2
representa a variação, da
medida considerada, que é explicada pela variação de idade dos pacientes, (1-r
2
) é a parte da
variação de y que sobra para ser atribuída à diversidade de fatores que não são controlados
nos momentos de medição.
Observação 2: A equação y = a.x
2
+ b.x + c só será usada se o número de medidas
da série (n) for superior a 3. Para n = 3 considerar-se-á, mutatis mutandis, o coeficiente de
correlação entre os valores medidos e os valores estimados por uma reta y = a.x + b. Nos
76
casos em que n é menor que 3 o índice não será definido. Essasexceções foram impostas com
o objetivo de se evitar distorções na avaliação da variabilidade, uma vez que, de outra forma,
sempre obteríamos Iv = 0 para as séries com um número de medidas menor que 4.
Observação 3: Das diversas possibilidades de se calcular o coeficiente de
correlação (JOHNSTON, 1972), a mais simples e elegante, aplicável aos casos aqui tratados,
consiste em avaliar a expressão r
YŶ
= (Σ ŷ
i
2
/ Σ y
i
2
)
1/2
, sendo
ŷ
i
= Ŷ
i
-
Ŷ
médio
e
y
i
= Y
i
- Y
médio
,
com Ŷi e Yi representando, respectivamente, os valores estimados e os valores medidos.
3.7 - Delineamento de estudos
Neste trabalho designamos por “estudo” cada trabalho específico de análise em que são
buscadas associações, estatisticamente significantes, entre variáveis explicativas e variáveis-
resposta pré-definidas, para uma determinada casuística. Assim, sendo, o delineamento de
cada estudo importa nas seguintes escolhas: a casuística a ser considerada; as variáveis-
resposta de interesse; as variáveis explicativas de interesse.
3.7.1 - Casuísticas consideradas
No que concerne à casuística a ser considerada, o delineamento de um estudo específico
passa pela aplicação de “filtros”, implementados no aplicativo em Excel (sub-planilha
“Seleção”), que excluem e/ou selecionam casos conforme a pertinência deles a certas
categorias de eventos e situações.
No que diz respeito a seleção de pacientes, os filtros permitem escolher entre: a)
considerar apenas pacientes do sexo masculino, ou apenas do sexo feminino, ou qualquer das
alternativas; b) apenas pacientes não cirúrgicos, ou cirúrgicos, ou ambos; c) apenas
pacientes com dilatação unilateral, ou apenas bilateral, ou ambos; d) apenas pacientes com
uropatia unilateral, ou apenas bilateral, ou ambos; e) apenas pacientes nascidos de parto
normal, ou os de parto cirúrgico, ou ambos; f) apenas paciente nascidos a termo, ou apenas
os pré-termos, ou ambos.
No que diz respeito à seleção de unidades, os filtros permitem escolher entre: a)
considerar apenas unidades do lado direito, ou apenas do lado esquerdo, ou ambas; b) apenas
as unidades mais graves, ou as menos graves, ou ambas.
Os eventos que definem as variáveis resposta (ver o item seguinte) também podem ser
usados como critérios de exclusão e/ou seleção de casos. Para isto deve ser especificado,
adicionalmente, se as variáveis, indicadas como critérios para a composição da casuística,
referem-se a pacientes ou unidades, pois diferenças importantes ocorrem, conforme se
considere uma ou outra possibilidade.
77
3.7.2 - Variáveis-resposta
As variáveis-resposta serão obtidas a partir de duas variáveis categóricas primárias,
relacionadas à evolução clínica dos pacientes, assim definidas: a) uma variável numérica,
categórica, relacionada com as uropatias consideradas, assim definida: Urop = 0 - sem
uropatia, 1 - hidronefrose transitória, 2 - hidronefrose idiopática pós-natal, 3 - hidronefrose
idiopática desde o feto, 4 - pelve extra-renal, 5 - duplicação, 6 - pelve extra-renal associado a
duplicação, 7 - obstrução da junção ureteropélvica, 8 - obstrução da junção ureteropélvica
associado a pelve extra-renal, 9 - refluxo vesicoureteral, 10 - refluxo vesicoureteral associado
a duplicação, 11 - megaureter, 12 - válvula de uretra posterior, 13 - hipoplasia, 14 - hipoplasia
associado a outra anomalia, 15 - ureterocele, 16 - ureterocele associada a outra anomalia, 17 -
rim em ferradura, 18 - agenesia renal, 19 - rim multicístico, 21- sem diagnóstico; b) uma
variável numérica, categórica, relacionada com a ocorrência de eventos cirúrgicos, assim
definida: Cir = 22 - sem cirurgia, 23 - cirurgia somente no rim contralateral, 24 - pieloplastia,
25 - reimplante ureteral, 26 - ureterocelectomia, 27 - fulguração de válvula de uretra posterior,
28 - heminefrectomia, 29 - cirurgias múltiplas).
As variáveis-resposta consideradas poderão assumir uma das seguintes formas:
variáveis binárias primárias relacionadas à ocorrência ou não de eventos ou uropatias
individualizados; variáveis binárias compostas por associações de eventos e/ou uropatias.
As variáveis binárias primarias são obtidas através de um processo de
desmembramento das possibilidades de ocorrência das variáveis categóricas primárias, ao se
considerar, especificamente, a ocorrência ou não de uma das categorias destas. Assim, por
exemplo, são variáveis binárias primárias: A ocorrência de “sem uropatia” (sim/não), a
ocorrência de OJUP (sim/não), a ocorrência da pieloplastia (sim/não), etc.
As variáveis binárias compostas são obtidas através de processos de agregação de
variáveis binárias primárias. Assim, por exemplo, são variáveis binárias compostas: A
ocorrência de uropatia de interesse (sim/não), a ocorrência de OJUP cirúrgica ou não
(sim/não), a ocorrência de qualquer uma das cirurgias (sim/não), etc.
Em cada estudo as variáveis-resposta serão sempre selecionadas ou entre as variáveis
binárias primarias, ou entre as variáveis binárias compostas. Em certas situações é necessário
especificar também se as variáveis indicadas referem-se a pacientes ou unidades.
3.7.3 - Variáveis explicativas
As variáveis, disponíveis em séries evolutivas, que, uma vez caracterizadas por
parâmetros atemporais, estarão aptas a exercer o papel de explicativas são as seguintes: peso
(Pes); estatura (Est); razão TFG medido dividido pelo TFG normal (Tfg); volume renal (Vol);
volume da unidade contralateral (Vcl); razão volume renal dividido por volume da unidade
78
contralateral (Vre); razão volume renal por superfície corporal (Vob); razão volume da
unidade contralateral por superfície corporal (Vcb); diâmetro longitudinal renal (Rld);
diâmetro ântero-posterior da pelve renal (Dap); índice de dilatação do Dap (Dil); índice da
Society Fetal of Urology (Sfu); espessura do parênquima renal (Epr); razão diâmetro ântero-
posterior da pelve renal por diâmetro ântero-posterior do rim (Ka1); razão diâmetro ântero-
posterior da pelve renal por diâmetro longitudinal do rim (Ka2); razão 100 x Ka1 por
espessura do parênquima renal (Ka3).
Cada uma das variáveis mencionadas pode ser tomada em um dos seguintes aspectos da
caracterização: Vi, Vf, Md, Mx, Mi, Pi, Pf, Ca, Cb, Cc, Mr, T1, T2, Tr, Iv (conceitos
explicados em 3.6.2).
Multiplicando-se o número de variáveis disponíveis (16) pelo número de parâmetros de
caracterização (15) e acrescentando o DAP fetal, obtemos 241 possíveis variáveis
explicativas. As variáveis explicativas serão assim referidas: Pes_Vi, Pes_Vf, Pes_Md, ...
Pes_Iv (15 caracterizações de peso); Est_Vi, Est_Vf, ... Est_Iv (15 caracterizações de
estatura); Tfg_Vi, Tfg_Vf, ... , Vol_Vi, ...; ...; Ka3_Vi, ... , Ka3_Iv (15 caracterizações de 14
outras séries evolutivas); Dap_Ft.
3.8 - Testes de simetria, homogeneidade marginal, e de independência de
direção
Tratamos aqui de testes, não paramétricos, indicados para duas amostras estatisticamente
dependentes, envolvendo variáveis categóricas. No nosso caso eles serão utilizados para
avaliar dois conjuntos de dados de uma mesma variável categórica (grau de dilatação do
DAP) tomados, em momentos diferentes, sobre uma mesma população (daí a necessidade de
se considerarem amostras pareadas). Os conjuntos de dados assim obtidos são resumidos em
tabelas de contingência que assumem a forma de uma matriz quadrada de dimensão k,
idêntica ao número de categorias da variável de interesse.
Tratando-se, como é o caso, de uma mesma variável tomada em momentos diferentes, é
praxe relacionar as linhas com as categorias no momento anterior (“antes”), enquanto as
colunas dão conta da variação dos dados no momento posterior (“depois”). No nosso caso, em
que consideraremos 4 categorias, serão tabelas de dimensão 4 x 4. Dada uma matriz de
elemento genérico m
ij
, representativa de uma tabela de contingência, nos termos explicados
no parágrafo anterior, se para qualquer linha e coluna, tivermos m
ij
= m
ji
, diz-se que ocorre
simetria. Se a soma da n-ésima linha for igual à soma da n-ésima coluna para qualquer n (no
intervalo 1 a k), diz-se que ocorre homogeneidade marginal. Diz-se que independencia de
direção se forem iguais as somas de elementos abaixo e acima da diagonal principal.
Os testes considerados são: Bowker (BISHOP et al., 1977) para rejeitar a hipótese de
simetria, Stuart-Maxwell (EVERITT, 1977; FLEISS, 1981) para rejeitar a hipótese de
79
homogeneidade marginal, e McNemar (BISHOP et al., 1977), para rejeitar a hipótese de
independência de direção. Os dois primeiros testes são generalizações do teste de McNemar
(1947), que foi concebido para ser aplicado exclusivamente no caso de variáveis dicotômicas.
O teste de Bowker representa a generalização no que concerne ao teste da simetria. O teste do
qui-quadrado de Stuart-Maxwell, desenvolvido a partir de contribuições de Stuart (1955) e
Maxwell (1970), representa a generalização, no que diz respeito ao teste da homogeneidade
marginal. No caso de variáveis dicotômicas, os teste de Stuart-Maxwell, Bowker e McNemar
são equivalentes, já que o conceito de homogeneidade marginal é equivalente ao de simetria.
Os testes são feitos no aplicativo (planilha do Excel) através de cálculos que envolvem
processamento matricial preparatório (BISHOP et al., 1977; BERGSMA, 1997), seguido de
chamada à função de distribuição qui-quadrado, embutida no Excel. Os procedimentos foram
testado, por comparação, com os programas StatsDirect (Statsdirect Ltd, Cheshire, UK) E MH
(Uebersax, 2000). O teste de Bowker é chamado de “generalized McNemar” no StatsDirect.
3.9 - Análise univariada
Na busca de associações entre as séries evolutivas, diagnósticos e cirurgias, foram
usados três métodos básicos: comparação de médias, regressão logística univariada, e análise
do potencial diagnóstico das variáveis explicativas selecionadas, por curvas ROC.
3.9.1 - Comparação de médias
Inicialmente são consideradas tabelas constituídas de duas colunas, na primeira das quais
se distribuem os valores possíveis das variáveis-resposta primárias (as uropatias e os eventos
cirúrgicos) e na segunda coluna são colocados os respectivos valores médios da variável
explicativa. Dessa forma temos que a média listada em determinada linha é calculada
exclusivamente sobre o conjunto de casos em que a respectiva variável-resposta efetivamente
ocorre. Após inspeção visual da segunda coluna, as eventuais diferenças verificadas entre
médias de variáveis-resposta diversas, deverão ser testadas para que se decida se tais
diferenças são estatisticamente significantes.
Para o teste estatístico das diferenças entre médias, as variáveis-resposta primárias podem
ser usadas como tal (sob a forma primária), ou agrupadas, sob a forma de variáveis-resposta
compostas, conforme foi explicado em outra parte deste capítulo. De qualquer forma, a
variável resposta considerada poderá assumir dois valores: valor 0, representando a não
ocorrência, e valor 1, representando a ocorrência positiva.
É feito, inicialmente, um teste para se estabelecer se as amostras podem ser consideradas
de mesma variância. Tanto se pode usar o método de Levene (LEVENE et al., 1960), como o
80
método que faz uso das medianas, denominado teste de Brown-Forsythe (BROWN AND
FORSYTH et al., 1974).
Conforme a prevalência, ou não, da hipótese de homoscedasticidade, utiliza-se
respectivamente o teste de Student clássico ou o teste de Welch-Satterthwaite para se avaliar a
significância da diferença das médias observadas (DANIEL, 1991). O nível de significância
pertinente é calculado. O teste de Welch-Satterthwaite também é usado, sem que se faça teste
preliminar, nos casos em que o tamanho das amostras é diferente (ZIMMERMAN, 2004).
3.9.2 - Classificação com regressão logística
Consideremos um certo número de observações empíricas, cada uma delas consistindo
de um conjunto de valores em que y é a variável-resposta (binária, podendo assumir os
valores 0 ou 1) e x = (x
1
, x
2
, ... x
n
) representa as variáveis explicativas (que, no caso mais
geral, são variáveis contínuas). Chama-se regressão logística (RL) ao ajustamento a tais dados
de uma equação da forma y = 1 / [1 + e
- P(x)
], sendo P(x) o polinômio P(x) = β
n
x
n
+ β
n-1
x
n-1
+
... β
1
x
1
+ β
0.
O cálculo dos coeficientes de ajustamento (β
n
,
β
n-1
, ... β
1
,
β
0
),
se faz de maneira
que y(x) corresponda à melhor estimativa, considerada, como critério, a maximização da
verossimilhança da probabilidade P(1 \ x), que é a probabilidade da variável-resposta assumir
o valor 1, desde que as variáveis explicativas tenham os valores x = (x
1
, x
2
, ... x
n
).
Na RL, y(x) assume valores no intervalo fechado [0 , 1] para uma variação de P(x) no
intervalo (- a +). Para cada coeficiente β obtido, é costume se calcular também o
respectivo intervalo de confiança e o nível de significância. Além da interpretação de y(x)
como uma probabilidade, conforme já exposto, uma outra vantagem dos modelos baseados
em RL é que os coeficientes de ajustamento estão associados ao conceito de razão de chances,
muito familiar aos bioestatísticos. Pode se demonstrar que, para cada variável explicativa
considerada, a respectiva razão de chances, para a variável-resposta em questão, pode ser
calculada por RC
n
= e
βn
.
3.9.3 - Comparação do potencial de discriminação de classificadores
A análise por curvas ROC (Receiver Operating Characteristics) é uma técnica
desenvolvida para aplicação inicial na detecção de sinais de radar, que se tornou padrão,
inclusive na pesquisa médica, para avaliar e comparar o poder de discriminação de modelos
classificadores. Chamaremos de variável-resposta à variável (binária) resultante do processo
de classificação (por exemplo: 0 = anomalias ausente; 1 = anomalias presente), e
designaremos por escore” a variável (muitas vezes contínua) da qual decorre a classificação.
Um par de observações do escore e da respectiva variável-resposta será referido como um
“caso”.
81
Para um determinado classificador, a curva ROC nada mais é que uma representação no
plano cartesiano da sensibilidade (eixo das ordenadas) em função da taxa de falso positivo (ou
seja: 1 especificidade), no eixo das ordenadas, sendo tais valores calculados para todos os
valores de escore observados nos diversos casos. A medida básica do potencial de
discriminação do classificador é a área sob a curva (ASC). Calculada pela regra de integração
dos trapézios, a ASC é equivalente à estatística de Wilcoxon (ou Mann-Whitney) e dessa
constatação decorre sua interpretação: se forem tomados aleatoriamente entre os casos a
serem classificados, um caso no qual a variável-resposta é positiva e outro caso em que a
variável-resposta é negativa, a ASC representa a probabilidade de que os valores dos
respectivos escores permitirão identificar corretamente qual dos dois casos é o positivo
(HANLEY et al., 1982).
A análise por ROC permite avaliar o potencial que cada variável explicativa tem para
separar casos positivos e casos negativos das variáveis-resposta, no universo de dados
considerados. No nosso trabalho essa metodologia foi utilizada para avaliar, dentre diversos
parâmetros de caracterização das séries evolutivas, aqueles que têm maior potencial de
discriminação.
Uma análise completa por curvas ROC deve compreender os seguintes cálculos: área sob a
curva (ASC) (DELONG et al., 1988; FAWCETT, 2004), desvio padrão da ASC (HAJIAN-
TILAKI et al., 2002; DELONG et al., 1988); intervalo de confiança do valor de ASC (nível
de 95%) (MACSKASSY et al., 2003), o ponto em que se observa a melhor separação (maior
soma de sensibilidade com especificidade); o ponto de maior acurácia (maior percentual de
acertos na previsão); razões de verossimilhança (positivo e negativo); comparação (diferença)
entre ASC de diferentes escores (HANLEY et al., 1997; DELONG et al., 1988). As curvas
podem ser traçadas (FAWCETT, 2004), mas os indicadores numéricos são suficientes para
análises e comparações.
A maioria dos pacotes de cálculo estatístico dispõe de possibilidades de análises por
curvas ROC. A área sob a curva é sempre calculada com precisão, mas os cálculos de desvio
padrão e comparação de curvas costumam se basear em métodos simplificados.
As rotinas e planilhas utilizadas nesses cálculos foram devidamente validadas, por
comparação com softwares comerciais de análise estatística - SPSS (SPSS Inc., Chicago,
EUA), StatsDirect (StatsDirect Ltd, Cheshire, UK), MedCalc (Medcalc Inc.,Mariakerke,.
Belgium), Analyse-It (Analyse-It Software Ltd, Leeds, England), AccuROC (Accumetric
Corporation, Montreal, Canada). O aplicativo permite exibição simultânea e comparação de
até 5 curvas e, no que concerne aos cálculos de desvio padrão e de comparação de curvas, a
metodologia utilizada é a mesma do AccuROC, superando às dos outros softwares
(STEPHAN et al., 2003).
82
3.9.4 – Scripts para avaliação do potencial preditivo das variáveis explicativas
A avaliação do potencial preditivo das variáveis explicativas é feita, principalmente,
através de análise da significância estatística dos coeficientes apurados em ajustamento, por
regressão logística, das variáveis-resposta consideradas, em função das variáveis explicativas
disponíveis. O processamento de regressão logística foi feito com suporte do software SPSS,
através de rotinas (“scripts”, na terminologia do SPSS) especializadas para as tarefas
almejadas. Antes de se realizar o processamento em ambiente SPSS, é necessário delimitar o
estudo através de escolhas feitas no aplicativo em Excel. Uma análise específica envolve a
seleção das unidades renais que serão consideradas e da variável-resposta cuja associação se
pretende estabelecer. Delineada a análise, no aplicativo Excel, realiza-se então a exportação
de dados para o SPSS (sob a forma de um arquivo-texto).
As rotinas compatíveis com SPSS começam por ler os dados, exportados pelo aplicativo
em Excel, sobre os quais serão feitas as análises posteriores. Após essa importação de dados,
podemos considerar que estamos trabalhando sobre uma tabela em que cada linha representa
um caso (associado a uma unidade renal), enquanto as colunas, em sua maioria, armazenam
valores (contínuos em amplitude, na maioria das vezes) das variáveis explicativas, que são
duzentas e quarenta e uma, no total.
Para cada uma das 241 variáveis explicativas disponíveis para consideração, calcula-se
o modelo de regressão logística univariada, seguida imediatamente de avaliação do respectivo
potencial de discriminação, o que se faz através do cálculo da área sob a respectiva curva
ROC. O processamento todo - cálculo da regressão, análise por ROC - é feito, variável por
variável, automaticamente, por programação (script). Os resultados são armazenados em um
arquivo-texto, que servirá como base para a analise do potencial preditivo das variáveis
explicativas. Nesse arquivo, cada linha contém resultados relativos a uma determinada
variável explicativa: coeficientes da regressão logística, estatística de cada coeficiente (DP,
Wald, valor-p, razão de chances), área sob a curva ROC. Esses arquivos texto são lidos,
posteriormente, por uma planilha em Excel que classifica as variáveis explicativas, seja pela
significância dos coeficientes de regressão, seja pela área sob a curva ROC calculada. Os
resultados obtidos são descritos no capítulo VI.
83
Capítulo 4 - CASUÍSTICA
4.1 - Introdução
Neste capítulo são descritas as casuísticas que serão objeto de atenção em estudos
empreendidos nesta dissertação (Cap. V e VI). Inicialmente abordamos em detalhes o banco
de dados completo. Em seguida, de maneira mais resumida, serão analisadas as demais
casuística consideradas nesta dissertação.
4.2 - Banco de dados completo
O banco de dados, constituído conforme definido em 3.4.1, apresentava em abril de
2006 um total de 286 registros, relativos a 143 pacientes. Desses, 104 eram do sexo masculino
(72,7%) e 39 do sexo feminino (27,3%). Os pacientes foram acompanhados por um período
médio de 29,92 meses (desvio padrão de 15,37; mínimo de 2,26 e máximo de 66,40).
4.2.1 - Ocorrência de uropatias, dilatações e cirurgias
Os dados relativos à ocorrência de uropatias no universo de pacientes e unidades
incluídos no banco de dados podem ser extraídos da TAB. 1. Os pacientes e unidades renais
foram classificados em 3 grupos, de acordo com a anormalidade diagnosticada.
Tabela 1 - Uropatias de pacientes e de unidades
de pacientes de unidades
Achados não significativos 82 (57,3%) 210 (73,4%)
Normal 57 (19,9%)
Hidronefrose transitória 11 (7,7%) 43 (15,0%)
Hidronefrose idiopática 61 (42,7%) 96 (33,6%)
Pelve extra-renal 4 (2,8%) 5 (1,7%)
Duplicação 6 ( 4,2%) 9 (3,1%)
Uropatias de interesse 48 (33,6%) 61 (21,3%)
OJUP 40 (28,0%) 49 (17,1%)
RVU 7 (4,9%) 10 (3,5%)
Megaueter 1 (0,7%) 2 (0,7%)
Outras uropatias 13 (9,1%) 15 (5,2%)
VUP 1 (0,7%) 2 (0,7%)
Hipoplasia 5 (3,5%) 5 (1,7%)
Ureterocele 6 (4,2%) 7 (2,4%)
Agenesia 1 (0,7%) 1 (0,3%)
Total Geral 143 (100%) 286 (100%)
Entre as uropatias dos pacientes, o achado mais freqüente é a hidronefrose idiopática
(42,7%), seguidos da OJUP (28%), hidronefrose transitória (7,7%) e RVU (4,9%).
Considerando-se as anomalias das unidades, podemos observar que a ocorrência mais
84
freqüente é a hidronefrose idiopática (33,6%), seguida da OJUP (17,1%), hidronefrose
transitória (15%).
As tabelas 7 e 8 são resumos que mostram a distribuição de ocorrências de dilatação da
pelve renal (fetal e pós-natal) por pacientes e por unidades renais (7), e a distribuição de
ocorrências de cirurgia, por pacientes e por unidades renais (7).
Tabela 2 - Dilatações
Tabela 3 - Cirurgias
Fetal Pós Natal
Ocorrências (%)
Pacientes Unidades Pacientes Unidades
Ocorrências (%)
Pacientes Unidades
Normal 1 (0,7)
71 (25,2)
15 (10,5)
113 (39,6)
sem cirurgia 117 (81,8)
234 (81,8)
Leve 29 (20,6)
107 (37,9)
49 (34,3)
100 (35,1)
só contralateral 0 (0,0)
21 (7,3)
Moder. 22 (15,6)
56 (19,9)
14 (9,8)
27 (9,5)
pieloplastia 18 (12,6)
21 (7,3)
Grave 18 (12,8)
48 (17,0)
21 (14,7)
45 (15,8)
ureterocelectomia 1 (0,7)
1 (0,3)
LL 27 (19,1)
0 (0,0)
17 (11,9)
0 (0,0)
fulg. de VUP 1 (0,7)
2 (0,7)
LM 19 (13,5)
0 (0,0)
6 (4,2)
0 (0,0)
heminefrectomia 4 (2,8)
4 (1,4)
LG 5 (3,5)
0 (0,0)
11 (7,7)
0 (0,0)
múltiplas 2 (1,4)
3 (1,0)
MM 4 (2,8)
0 (0,0)
1 (0,7)
0 (0,0)
SOMAS
143 (100)
286 (100)
MG 7 (5,0)
0 (0,0)
5 (3,5)
0 (0,0)
GG 9 (6,4)
0 (0,0)
4 (2,8)
0 (0,0)
SOMAS
141 (100)
282 (100)
143 (100)
285 (100)
Na TAB. 2, a primeira coluna contém os tipos de dilatação considerados, observadas as
seguintes restrições: “Normal” é aplicável tanto a pacientes como a unidades, nos casos em
que não se considera a dilatação (DAP < 5mm); os tipos “L” (leve), “M” (moderada) e “G”
(grave) são aplicáveis aos pacientes com dilatação unilateral, bem como às unidades; os tipos
“LL” (leve-leve), “LM” (leve-moderada), “LG” (leve-grave), “MM” (moderada-moderada),
“MG” (moderada-grave), e “GG” (grave-grave) são aplicáveis exclusivamente a pacientes e
só nos casos de dilatação bilateral.
Os limites de valores de DAP que determinam a classificação da dilatação em normal,
leve, moderada ou grave foram estabelecidos conforme exposto na seção 3.3.3.5 (Dap < 5; 5
Dap <10; 10 Dap < 15; Dap 15).
Nessa tabela estão distribuídos dados relativos a ultra-sons de 141 fetos (282 unidades
renais) e 143 crianças (285 unidades renais). Essa inconsistência decorre do fato de duas
crianças não terem registros fetais e outra criança ser portadora de agenesia unilateral.
Nas análises que se seguem, os valores percentuais indicados, salvo menção em
contrário, referem-se a cálculos em que a base considerada (100%) é todo o universo de
pacientes ou unidades da casuística considerada. Nos casos em que o cálculo tomou por base
apenas um grupo específico de pacientes ou unidades, uma linha (ou grupo de linhas) da
respectiva tabela, por exemplo, a informação percentual é seguida de um asterisco (%*).
No ultra-som fetal, considerando pacientes, observamos que 1 (0,7%) não apresenta
dilatação. Dos 140 (99,3%) pacientes com dilatação, ela é unilateral em 70 (49,6%), sendo:
dilatação L em 29 (42,0%*), M em 22 (31,9%*), G em 18(26,1%*) e bilateral em 71 (50,4%),
85
dos quais: LL em 27 (38,0%)*, LM em 19 (26,8%*), LG em 5 (7,0%*), MM em 4 (5,6%*),
MG em 7 (9,9%*), GG em 9 (12,7%*). Considerando as unidades, observamos que 71
(25,2%) não apresentavam dilatação. Das 211 unidades dilatadas (74,8%), ocorre dilatação L
em 107 (50,7%*), M em 56 (26,5%*), G em 48 (22,7%*).
Quanto ao primeiro ultra-som pós-natal, considerando pacientes, podemos ver,
ainda na TAB. 2, que 15 (10,5%) deles não apresentaram dilatação. Dos 128 (89,5%)
pacientes com dilatação, ela é unilateral em 99 (69,2%*), sendo: dilatação L em 49 (58,3%*),
M em 14 (16,7%*), G em 21 (25,0%*) e bilateral em 44 (30,8%*), dos quais: LL em 17
(38,6%*), LM em 6 (13,6%*), LG em 11 (25,0%*), MM em 1 (2,3%*), MG em 5 (11,4%*),
GG em 4 (9,1%*). Considerando as unidades, observamos que 113 (39,6%) delas não
apresentam dilatação. Das 172 (60,4%) unidades dilatadas temos: dilatação L em 100
(58,1%*), M em 27 (15,7%*), G em 45 (26,2%*). Observe-se que o paciente, cujo ultra-som
pós-natal constatou agenesia renal unilateral (com dilatação leve no único rim existente) teve,
no ultra-som fetal, registro de dilatação bilateral (uma moderada e outra grave).
Já na TAB. 3, podemos verificar que, dos 143 pacientes, 117 (81,8%) não foram
submetidos a procedimento cirúrgico. Dos 26 pacientes submetidos a cirurgia, o procedimento
foi unilateral em 21 (80,8%*) e bilateral em 5 (19,2%*). Das 31 unidade renais operadas, a
pieloplastia, com 21 unidades, foi a cirurgia mais freqüente (67,7%*), seguida por
heminefrectomia, com 4 (12,9%*), e cirurgias múltiplas com 3 (9,7%*). Um paciente (3,2%*)
foi submetido à fulguração de válvula de uretra posterior e outro (3,2%*) a ureterocelectomia.
4.2.2 - Distribuição, por uropatias, das dilatações do ultra-som fetal
A TAB. 4 representa um detalhamento da TAB. 2, em que pacientes e unidades são
classificados conforme a natureza da respectiva dilatação verificada no primeiro ultra-som
pós-natal (colunas N até GG) e conforme a uropatia considerada (distribuídas por linha).
Tabela 4 - Dilatação fetal de pacientes por uropatias
Unilateral Bilateral
N
L
M
G
LL
LM
LG
MM
MG
GG
Soma
Achados não significativos 1
24
12
2
22
10
1
3
3
1
79
Hidronefrose transitória ç
3
3
ç
4
1
ç
ç
ç
ç
11
Hidronefrose idiopática 1
20
7
2
17
8
1
3
ç
1
60
Pelve extra-renal ç
1
1
ç
1
1
ç
ç
ç
ç
4
Duplicação ç
ç
1
ç
ç
ç
ç
ç
3
ç
4
Uropatias de interesse ç
2
7
14
4
8
4
1
3
7
50
OJUP ç
1
4
14
2
7
3
1
2
6
40
RVU ç
1
2
ç
2
1
1
ç
1
1
9
Megaueter ç
ç
1
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
1
Outras uropatias ç
3
3
2
1
1
ç
ç
1
1
Total Geral 1
29
22
18
27
19
5
4
7
9
141
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5 ≤
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10 ≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm; LL = Leve
+ Leve;
LM = Leve + Moderada; LG = Leve + Grave; MM = Moderada + Moderada; MG = Moderada + Grave; GG = Grave + Grave
86
Analisando o grupo de achados não significativos, observa-se que há predomínio de
dilatação L e LL, que somam 46 (58,2%*), contra a soma de todos os casos mais graves (M,
G, LM, LG, MM, MG, GG) que somam 32 (40,5%*). Os casos de gravidade até moderada (L,
M, LL, LM) somam 71 (89,9%*) contra os de gravidade acima de moderada (G, LG, MG,
GG) que somam apenas 7 (8,9%*).
Para hidronefrose transitória, ocorre dilatação unilateral da pelve fetal em 11
pacientes, sendo unilateral em 6 (54,5%*), com dilatação L em 3, M em 3, e bilateral em 5
(45,5%*), sendo LL em 4, LM em 1. O DAP fetal é, portanto, sempre menor que 15mm.
Também entre os pacientes com hidronefrose idiopática predomínio (ainda mais
acentuado) de dilatação L e LL, que somam 37 (61,7%*), contra a soma de todos os casos
mais graves (M, G, LM, LG, MM, MG, GG) que somam 22 (36,7%*). Os casos de gravidade
até moderada (L, M, LL, LM) somam 55 (91,7%*) contra os de gravidade acima de moderada
(G, LG, MG, GG) que somam 4 (6,7%*). No grupo “achados não significativos” estão ainda
incluídos os pacientes com pelve extra-renal, duplicação simples e duplicação associada a
pelve extra-renal.
Analisando-se o grupo de uropatias de interesse observa-se predomínio de casos com
dilatações de gravidade acima de leve (M, G, LM, LG, MM, MG, GG) que somam 44
(88%*), contra os de dilatações mais leves (L, LL), que são apenas 6 (12%*).
Dos 40 (28,4%) casos de OJUP, a dilatação é unilateral em 19 (47,5%*), sendo:
dilatação L em 1 (5,3%*), M em 4 (21,1%*), G em 14 (73,7%*) e bilateral em 21 (52,5%*),
dos quais: LL em 2 (9,5%*), LM em 7 (33,3*), LG em 3 (14,3%*), MM em 1 (4,8%*), MG
em 2 (9,5%*), GG em 6 (28,6%*).
4.2.3 - Distribuição, por uropatias, das dilatações do primeiro ultra-som pós-natal
A TAB. 5 representa um detalhamento da TAB. 2, em que pacientes e unidades são
classificados conforme a natureza da respectiva dilatação verificada no primeiro ultra-som
pós-natal (colunas N até GG) e conforme a uropatia considerada (distribuídas por linha). A
partir deste tópico, por simplificação, não detalharemos mais o grupo chamado de “outras
uropatias”.
Comparando-se com o ultra-som pré-natal observamos que 14 pacientes deixaram de
apresentar dilatação, e que os casos de dilatação unilateral aumentaram, em detrimento das
bilaterais. A proporção era 0,97 (69 unilaterais / 71 bilaterais) e passou a ser 1,91 (84/44).
No grupo “achados não significativos”, observa-se nítido predomínio de casos de
dilatações leve (L e LL), que somam 56 (70,0%*), contra a ocorrência de casos mais graves
(M, G, LM, LG, MM, MG, GG) que somam 11 (13,8%*). A dilatação é unilateral em 46
(57,5%*), sendo: dilatação L em 39 (58,3%*), M em 7 (16,7%*), e bilateral em 23 (28,7%*),
dos quais: LL em 17 (73,9%*), LM em 3 (13,0%*), LG em 1 (4,3%*), MM em 1 (4,3%*),
87
MG em 1 (4,3%*). Todos os pacientes com hidronefrose idiopática (bem como os com pelve
extra-renal) apresentam dilatação leve ou moderada.
Tabela 5 - Dilatação pós-natal de pacientes por uropatias
Unilateral Bilateral
N
L
M
G
LL
LM
LG
MM
MG
GG
Soma
Achados não significativos 11
39
7
ç
17
3
1
1
1
ç
80
Hidronefrose transitória 11
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
11
Hidronefrose idiopática ç
37
5
ç
15
3
ç
1
ç
ç
61
Pelve extra-renal ç
2
1
ç
1
ç
ç
ç
ç
ç
4
Duplicação ç
ç
1
ç
1
ç
1
ç
1
ç
4
Uropatias de interesse 3
5
5
18
ç
3
8
ç
4
4
50
OJUP 1
2
4
18
ç
3
6
ç
3
3
40
RVU 2
3
ç
ç
ç
ç
2
ç
1
1
9
Megaueter ç
ç
1
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
1
Outras uropatias 1
5
2
3
ç
ç
2
ç
ç
ç
Total Geral 15
49
14
21
17
6
11
1
5
4
143
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5 ≤
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10 ≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm; LL = Leve
+ Leve;
LM = Leve + Moderada; LG = Leve + Grave; MM = Moderada + Moderada; MG = Moderada + Grave; GG = Grave + Grave
Analisando-se o grupo “uropatias de interesse” observa-se que são mantidas,
aproximadamente, as proporções observadas no ultra-som fetal. predomínio de casos com
dilatações de gravidade acima de leve (M, G, LM, LG, MM, MG, GG) que somam 42
(84%*), contra os de dilatações mais leves (L, LL), que são apenas 5 (10%*). Três (6,0%*)
pacientes não têm qualquer dilatação. A dilatação é unilateral em 28 (56,0%*), dos quais:
dilatação L em 5 (17,9%*), M em 5 (17,9%*), G em 18 (64,3%*) e bilateral em 19 (38,0%*),
dos quais: LM em 3 (15,8%*), LG em 8 (42,1%*), MG em 4 (21,0%*), GG em 4 (21,0%*).
Dos 40 (28,0%) casos de OJUP, a dilatação é unilateral em 24 (60,0%*), dos quais:
dilatação L em 2 (8,3%*), M em 4 (16,7%*), G em 18 (75,0%*) e bilateral em 15 (37,5%*),
dos quais: LM em 3 (20,0%*), LG em 6 (40,0%*), MG em 3 (20,0%*), GG em 3 (20,0%*).
Um (2,5%) paciente não tem qualquer dilatação, mas permanece a predominância de dilatação
grave. Os casos com dilatações de gravidade acima de leve (M, G, LM, LG, MM, MG, GG)
somam 37 (92,5%*), contra os de dilatações mais leves (L, LL), que são apenas 2 (5,0%*).
4.2.4 - Distribuição das cirurgias
A TAB. 6 representa um detalhamento da TAB. 3, em que pacientes e unidades são
classificados conforme a natureza das respectivas cirurgias (separadas por colunas) e
conforme as respectivas uropatias (separadas por linha).
Os pacientes são classificados em função da cirurgia (do paciente) e em função da
uropatia (do paciente). Todos os pacientes submetidos a cirurgia estavam no grupo de
“uropatias de interesse”. De 143 pacientes 18 foram submetidos a pieloplastia (12,6%). Dos
pacientes classificados como portadores de OJUP, 17 (57,5%*) foram submetidos a
88
pieloplastia. Um dos pacientes com RVU apresentava OJUP no rim contralateral e foi
submetido a pieloplastia. Um paciente com duplicação associada a RVU foi submetido a
heminefrectomia. Entre os 13 pacientes classificados como “outras uropatias”, 6 (46,2%*)
sofreram cirurgia (fulguração de vávula de uretera posterior, urecelocelectomia, cirurgias
múltiplas, heminefrectomia).
Tabela 6 - Pacientes operados por uropatia
Sem cirurgia
Pieloplastia
Outras
Total
Achados não significativos 80 (55,9%)
80 (55,9%)
Hidronefrose transitória 11 (7,7%)
11 (7,7%)
Hidronefrose idiopática 61 (42,7%)
61 (42,7%)
Pelve extra-renal 4 (2,8%)
4 (2,8%)
Duplicação 4 (2,8%)
4 (2,8%)
Uropatias de interesse 30 (21,0%)
18 (12,6%)
2 (1,4%)
50 (35,0%)
OJUP 23 (16,1%)
17 (11,9%)
40 (28,0%)
RVU 6 (4,2%)
1 (0,7%)
2 (1,4%)
9 (6,3%)
Megaueter 1 (0,7%)
1 (0,7%)
Outras uropatias 7 (4,9%)
6 (4,2%)
13 (9,1%)
Total Geral 117 (81,8%)
18 (12,6%)
8 (5,6%)
143 (100%)
4.3 - Exclusão de “outras uropatias” e de duplicação; unidade mais grave
de cada paciente
Esta casuística foi utilizada em um dos estudos para avaliar a acurácia diagnóstica de
medidas renais na predição de determinadas uropatias. É constituida de 124 pacientes (91 do
sexo masculino, 33 do sexo feminino) correspondendo a 124 unidades renais (54 rins direitos,
70 esquerdos). Resulta de: a) exclusão de “outras uropatias”; b) exclusão de “duplicação”; c)
exclusão da unidade de menor dilatação (no primeiro exame pós-natal) por paciente.
Tabela 7 - Pacientes operados por uropatia
Sem cirurgia
Pieloplastia
Outras
Total
Achados não significativos 80 (61,5%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
80 (61,5%)
Hidronefrose transitória
11 (8,5%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
11 (8,5%)
Hidronefrose idiopática
61 (46,9%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
61 (46,9%)
Pelve extra-renal
4 (3,1%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
4 (3,1%)
Duplicação
4 (3,1%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
4 (3,1%)
Achados significativos 30 (23,1%)
18 (13,8%)
2 (1,5%)
50 (38,5%)
OJUP
23 (17,7%)
17 (13,1%)
0 (0,0%)
40 (30,8%)
RVU
6 (4,6%)
1 (0,8%)
2 (1,5%)
9 (6,9%)
Megaueter
1 (0,8%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
1 (0,8%)
Total Geral 110 (84,6%)
18 (13,8%)
2 (1,5%)
130 (100%)
89
Tabela 8 - Dilatação fetal de pacientes por uropatias
Unilateral Bilateral
N
L
M
G
LL
LM
LG
MM
MG
GG
Soma
Achados não significativos 1
24
11
2
22
10
1
3
ç
1
75
Hidronefrose transitória ç
3
3
ç
4
1
ç
ç
ç
ç
11
Hidronefrose idiopática 1
20
7
2
17
8
1
3
ç
1
60
Pelve extra-renal ç
1
1
ç
1
1
ç
ç
ç
ç
4
Uropatias de interesse ç
2
7
14
4
7
4
1
3
6
48
OJUP ç
1
4
14
2
7
3
1
2
6
40
RVU ç
1
2
ç
2
ç
1
ç
1
ç
7
Megaueter ç
ç
1
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
1
Total Geral 1
26
18
16
26
17
5
4
3
7
123
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5 ≤
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10 ≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm; LL = Leve
+ Leve;
LM = Leve + Moderada; LG = Leve + Grave; MM = Moderada + Moderada; MG = Moderada + Grave; GG = Grave + Grave
Tabela 9 - Dilatação pós-natal de pacientes por uropatias
Unilateral Bilateral
N
L
M
G
LL
LM
LG
MM
MG
GG
Soma
Achados não significativos 11
39
6
ç
16
3
ç
1
ç
ç
76
Hidronefrose transitória 11
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
11
Hidronefrose idiopática ç
37
5
ç
15
3
ç
1
ç
ç
61
Pelve extra-renal ç
2
1
ç
1
ç
ç
ç
ç
ç
4
Uropatias de interesse 3
5
5
18
ç
3
7
ç
4
3
48
OJUP 1
2
4
18
ç
3
6
ç
3
3
40
RVU 2
3
ç
ç
ç
ç
1
ç
1
ç
7
Megaueter ç
ç
1
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
1
Total Geral 14
44
11
18
16
6
7
1
4
3
124
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5 ≤
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10 ≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm; LL = Leve
+ Leve;
LM = Leve + Moderada; LG = Leve + Grave; MM = Moderada + Moderada; MG = Moderada + Grave; GG = Grave + Grave
4.4 - Exclusão de “outras uropatias” e de duplicação; até duas unidades por
paciente
A casuística aqui descrita também foi utilizada na avaliação da acurácia diagnóstica de
medidas renais.
Tabela 10 - Dilatação fetal das unidades
p/ urop. de paciente p/ urop. de unidade
N
L
M
G
Soma
N
L
M
G
Soma
Achados não significativos 8
79
27
5
119
9
88
32
5
134
Hidronefrose transitória
12
4
16
34
5
1
40
Hidronefrose idiopática 8
63
21
5
97
9
51
25
4
89
Pelve extra-renal
4
2
6
3
2
5
Duplicação
Achados significativos 2
21
19
33
75
1
12
14
33
60
OJUP 1
15
15
31
62
7
10
32
49
RVU 1
6
3
2
12
1
5
3
1
10
Megaueter
1
1
1
Total Geral 10
100
46
38
194
10
100
46
38
194
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10
≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm.
90
É constituída de 124 pacientes (91 do sexo masculino, 33 do sexo feminino)
correspondendo a 196 unidades renais (94 rins direitos, 102 esquerdos) e resulta de: a)
exclusão dos portadores de “outras uropatias”; b) exclusão de “duplicação”; c) exclusão das
unidades sem uropatia (no sentido amplo: inclui hidronefrose transitória e idiopática).
Tabela 11 - Dilatação pós-natal das unidades
p/ urop. de paciente p/ urop. de unidade
N
L
M
G
Soma
N
L
M
G
Soma
Achados não significativos 36
74
11
121
42
83
11
136
Hidronefrose transitória 16
16
41
41
Hidronefrose idiopática 19
70
10
99
80
10
90
Pelve extra-renal 1
4
1
6
1
3
1
5
Duplicação
Achados significativos 13
15
12
35
75
7
6
12
35
60
OJUP 8
11
10
33
62
3
2
10
34
49
RVU 5
4
1
2
12
4
4
1
1
10
Megaueter
1
1
1
1
Total Geral 49
89
23
35
196
49
89
23
35
196
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10
≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm.
Tabela 12 - Pacientes operados por uropatia
Sem cirurgia
Pieloplastia
Outras
Total
Achados não significativos 76 (61,3%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
76 (61,3%)
Hidronefrose transitória 11 (8,9%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
11 (8,9%)
Hidronefrose idiopática 6 (49,2%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
61 (49,2%)
Pelve extra-renal 4 (3,2%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
4 (3,2%)
Duplicação 0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
Uropatias de interesse 30 (24,2%)
18 (14,5%)
0 (0,0%)
48 (38,7%)
OJUP 23 (18,5%)
17 (13,7%)
0 (0,0%)
40 (32,3%)
RVU 6 (4,8%)
1 (0,8%)
0 (0,0%)
7 (5,6%)
Megaueter 1 (0,8%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
1 (0,8%)
Outras uropatias 106 (85,5%)
18 (14,5%)
0 (0,0%)
124 (100%)
Total Geral 76 (61,3%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
76 (61,3%)
4.5 - Exclusão de “outras uropatias”; duas unidades por paciente
A casuística aqui descrita foi utilizada no Cap. 6, em análise na qual foram buscadas,
através de regressão logística, associações estatisticamente significantes dos diversos
parâmetros de caracterização das séries evolutivas com a ocorrência de uropatias e/ou eventos
cirúrgicos que caracterizam as variáveis-resposta consideradas.
É constituída de 130 pacientes (95 do sexo masculino, 35 do sexo feminino)
correspondendo a 260 unidades renais (130 rins direitos, 102 esquerdos) e resulta da exclusão
dos portadores de “outras uropatias”.
91
Tabela 13 - Dilatação fetal das unidades
p/ urop. de paciente p/ urop. de unidade
N
L
M
G
Soma
N
L
M
G
Soma
Achados não significativos 40
79
31
8
158
62
89
36
8
195
Hidronefrose transitória 6
12
4
ç
22
53
34
5
1
93
Hidronefrose idiopática 31
63
21
5
120
9
52
26
4
91
Pelve extra-renal 2
4
2
ç
8
ç
3
2
ç
5
Duplicação 1
ç
4
3
8
ç
ç
3
3
6
Achados significativos 23
22
20
35
10ç
1
12
15
35
63
OJUP 19
15
15
31
80
ç
7
10
32
49
RVU 3
7
4
4
18
1
5
4
3
13
Megaueter 1
ç
1
ç
2
ç
ç
1
ç
1
Total Geral 63
101
51
43
258
63
101
51
43
258
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10
≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm..
Tabela14 - Dilatação pós-natal das unidades
p/ urop. de paciente p/ urop. de unidade
N
L
M
G
Soma
N
L
M
G
Soma
Achados não significativos 68
77
13
2
160
95
87
13
2
197
Hidronefrose transitória
22
ç
ç
ç
22
94
ç
ç
ç
94
Hidronefrose idiopática
42
70
10
ç
122
ç
81
11
ç
92
Pelve extra-renal
3
4
1
ç
8
1
3
1
ç
5
Duplicação
1
3
2
2
8
ç
3
1
2
6
Achados significativos
34
16
12
38
10ç
7
6
12
38
63
OJUP
26
11
10
33
80
3
2
10
34
49
RVU
7
5
1
5
18
4
4
1
4
13
Megaueter
1
ç
1
ç
2
ç
ç
1
ç
1
Total Geral 102
93
25
40
260
102
93
25
40
260
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10
≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm.
Tabela 15 - Pacientes operados por uropatia
Sem cirurgia
Pieloplastia
Outras
Total
Achados não significativos 80 (61,5%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
80 (61,5%)
Hidronefrose transitória 11 (8,5%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
11 (8,5%)
Hidronefrose idiopática 61 (46,9%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
61 (46,9%)
Pelve extra-renal 4 (3,1%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
4 (3,1%)
Duplicação 4 (3,1%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
4 (3,1%)
Uropatias de interesse 30 (23,1%)
18 (13,8%)
2 (1,5%)
50 (38,5%)
OJUP 23 (17,7%)
17 (13,1%)
0 (0,0%)
40 (30,8%)
RVU 6 (4,6%)
1 (0,8%)
2 (1,5%)
9 (6,9%)
Megaueter 1 (0,8%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
1 (0,8%)
Outras uropatias 110 (84,6%)
18 (13,8%)
2 (1,5%)
130 (100%)
Total Geral 80 (61,5%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
80 (61,5%)
4.6 - Pacientes com hidronefrose idiopática
Casuística utilizada no Cap. 5, em análise da regressão espontânea da dilatação da pelve
renal. Resulta da exclusão dos pacientes com uropatias outras que não hidronefrose idiopática
(sentido amplo: inclui a transitória).
92
É constituída de 72 pacientes (56 do sexo masculino, 16 do sexo feminino), igual
número de unidades renais (33 rins direitos, 39 esquerdos).
Tabela 16 - Dilatação fetal de pacientes por uropatias
Unilateral Bilateral
N
L
M
G
LL
LM
LG
MM
MG
GG
Soma
Achados não significativos
Hidronefrose transitória ç
3
3
ç
4
1
ç
ç
ç
ç
11
Hidronefrose idiopática 1
20
7
2
17
8
1
3
ç
1
60
Total Geral 1
23
10
2
21
9
1
3
ç
1
71
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5 ≤
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10 ≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm; LL = Leve
+ Leve;
LM = Leve + Moderada; LG = Leve + Grave; MM = Moderada + Moderada; MG = Moderada + Grave; GG = Grave + Grave
Tabela 17 - Dilatação pós-natal de pacientes por uropatias
Unilateral Bilateral
N
L
M
G
LL
LM
LG
MM
MG
GG
Soma
Achados não significativos
Hidronefrose transitória 11
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
ç
11
Hidronefrose idiopática ç
37
5
ç
15
3
ç
1
ç
ç
61
Total Geral 11
37
5
ç
15
3
ç
1
ç
ç
72
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5 ≤
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10 ≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm; LL = Leve
+ Leve;
LM = Leve + Moderada; LG = Leve + Grave; MM = Moderada + Moderada; MG = Moderada + Grave; GG = Grave + Grave
4.7 - Unidades com hidronefrose idiopática
Usada também no Cap. 5, esta casuística só inclui pacientes com hidronefrose idiopática
(sentido amplo: inclui a transitória). São consideradas até duas unidades renais por paciente
(excluídas as normais). É constituída de 72 pacientes (56 do sexo masculino, 16 do sexo
feminino) correspondendo a 115 unidades renais (57 rins direitos, 58 esquerdos).
Tabela 18 - Dilatação fetal das unidades
p/ urop. de paciente p/ urop. de unidade
N
L
M
G
Soma
N
L
M
G
Soma
Achados não significativos
Hidronefrose transitória
12
4
16
28
5
1
34
Hidronefrose idiopática 8
63
21
5
97
8
47
20
4
79
Total Geral 8
75
25
5
113
8
75
25
5
113
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10
≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm.
Tabela 19 - Dilatação pós-natal das unidades
p/ urop. de paciente p/ urop. de unidade
N
L
M
G
Soma
N
L
M
G
Soma
Achados não significativos
Hidronefrose transitória 16
16
35
35
Hidronefrose idiopática 19
70
10
99
70
10
80
Total Geral 35
70
10
115
35
70
10
115
N = Normal: DAP < 5mm; L = Leve: 5
≤ DAP < 10mm; M = Moderada: 10
≤ DAP < 15mm; G = Grave: DAP > 15mm.
93
Capítulo 5 RESULTADOS: REGRESSÃO ESPONTÂNEA DA
HIDRONEFROSE IDIOPÁTICA
5.1 – Casuísticas considerada
As duas casuísticas consideradas neste capítulo foram descritas, com mais detalhes, em
4.6, e 4.7. São consideradas exclusivamente unidades renais diagnosticadas com hidronefrose
idiopática (inclusive a transitória). No primeiro caso considera-se apenas uma unidade por
paciente (a de maior dilatação no primeiro exame pós-natal). No segundo caso, são
consideradas até duas unidades por paciente, desde que ambas apresentem hidronefrose
isolada.
5.2 – Análises por paciente
As tabelas de contingências mostradas a seguir retratam a evolução de índices de
dilatação da pelve, para unidades renais de pacientes com diagnóstico de hidronefrose isolada,
não submetidos a cirurgia. São consideradas apenas as unidades mais graves de cada paciente.
A idade gestacional média relativa aos ultra-sons fetais é 34,9 semanas (DP = 3,3;
mínimo = 25,4; máximo = 39), a relativa ao primeiro ultra-som pós-natal é 25,2 dias (DP =
25,6; mínimo = 5; máximo = 186), a relativa ao último ultra-som pós-natal é 24,3 meses (DP
= 13,8; mínimo = 1,0; máximo = 66,3).
As tabelas comparam a classificação da dilatação da pelve renal em sucessivos estágios
do acompanhamento dos pacientes. Nas tabelas que envolvem dilatação fetal 72 pacientes são
considerados, uma vez que faltam as medidas fetais de um paciente.
Tabela 20 - Transição de DAP fetal para DAP pós-natal
pós-natal Normal (%) Leve(%) Moderada (%) Grave(%) Total (%)
fetal
DAP < 5mm 5 DAP < 10 10 DAP < 15 DAP > 15
Normal 1 (1,4) 4 (5,6) 0 (0,0) 0 (0,0) 5 (7,0)
Leve 6 (8,5) 33 (46,5) 2 (2,8) 0 (0,0) 41 (57,7)
Moderada 4 (5,6) 11 (15,5) 5 (7,0) 1 (1,4) 21 (29,6)
Grave 0 (0,0) 3 (4,2) 1 (1,4) 0 (0,0) 4 (5,6)
Total (%) 11 (15,5) 51 (71,8) 8 (11,3) 1 (1,4) 71
Na TAB. 20 (ultra-som fetal x primeiro ultra-som pós-natal), a dilatação permanece
constante em 54,9% dos 71 pacientes envolvidos no estudo. A regressão do grau de dilatação
ocorre em 35,2% dos pacientes, sendo de 1 grau em 72%* dos casos e de 2 graus em 28%*
deles. A progressão ocorreu em apenas 9,9% dos pacientes e nunca chegou a 2 graus. A
94
relação entre casos de regressão e casos de progressão é de 3,6:1, sugerindo a hipótese de
regressão espontânea da dilatação.
Tabela 21 - Transição de DAP pós-natal para DAP final
final Normal (%) Leve(%) Moderada (%) Grave(%) Total (%)
pós-natal
DAP < 5mm 5 DAP < 10 10 DAP < 15 DAP > 15
Normal 6 (8,5) 4 (5,6) 1 (1,4) 0 (0,0) 11 (15,5)
Leve 27 (38,0) 23 (32,4) 2 (2,8) 0 (0,0) 52 (73,2)
Moderada 3 (4,2) 3 (4,2) 2 (2,8) 0 (0,0) 8 (11,3)
Grave 0 (0,0) 1 (1,4) 0 (0,0) 0 (0,0) 1 (1,4)
Total 36 (50,7) 31 (43,7) 5 (7,0) 0 (0,0) 72
Na TAB. 21 (primeiro ultra-som pós-natal x último ultra-som pós-natal) a dilatação
permanece constante em 43,1% dos 72 pacientes envolvidos no estudo. A regressão do grau
de dilatação ocorre em 47,2% dos pacientes, sendo de 1 grau em 88,2%* dos casos e de 2
graus em 11,7%* deles. A progressão ocorreu em 9,7% dos pacientes, sendo que em 1
(14,3%*) desses foi de 2 graus. A relação entre casos de regressão e casos de progressão é de
4,9:1, sugerindo a hipótese de regressão espontânea da dilatação.
Tabela 22– Transição de DAP fetal para DAP final
final
Normal (%) Leve(%) Moderada (%) Grave(%) Total (%)
fetal
DAP < 5mm 5 DAP < 10 10 DAP < 15 DAP > 15
Normal 3 (4,2) 2 (2,8) 0 (0,0) 0 (0,0) 5 (7,0)
Leve 23 (32,4) 17 (23,9) 1 (1,4) 0 (0,0) 41 (57,7)
Moderada 8 (11,3) 10 (14,1) 3 (4,2) 0 (0,0) 21 (29,6)
Grave 2 (2,8) 1 (1,4) 1 (1,4) 0 (0,0) 4 (5,6)
Total 36 (50,7) 30 (42,3) 5 (7,0) 0 (0,0) 71
Na TAB. 22 (ultra-som fetal x último ultra-som pós-natal), a dilatação permanece
constante em 32,4% dos 71 pacientes envolvidos no estudo. A regressão do grau de dilatação
ocorre em 63,4% dos pacientes, sendo de 1 grau em 75,5%* dos casos, de 2 graus em 20%*, e
de 3 graus em 4,4%* deles. A progressão ocorreu em apenas 4,2% dos pacientes e nunca
chegou a 2 graus. A relação entre casos de regressão e casos de progressão é de 15:1,
sugerindo, mais uma vez, a hipótese de regressão espontânea da dilatação.
95
5.3 – Análises por unidades
Neste caso, até duas unidades de cada paciente são consideradas, desde que apresentem
dilatação no ultra-som fetal ou no primeiro ultra-som pós-natal. A idade gestacional média
relativa aos ultra-sons fetais é 34,9 semanas (DP = 3,3; mínimo = 25,4; máximo = 39), a
relativa ao primeiro ultra-som pós-natal é 25,2 dias (DP = 25,6; mínimo = 5; máximo = 186),
a relativa ao último ultra-som pós-natal é 24,3 meses (DP = 13,8; mínimo = 1,0; máximo =
66,3). Nas tabelas que envolvem dilatação fetal 113 unidades são consideradas, uma vez que
faltam as medidas fetais de um paciente.
Tabela 23 - Transição de DAP fetal para DAP pós-natal
pós-natal Normal (%) Leve(%) Moderada (%) Grave(%) Total (%)
fetal
DAP < 5mm 5 DAP < 10 10 DAP < 15 DAP > 15
Normal 0 (0,0) 8 (7,1) 0 (0,0) 0 (0,0) 8 (7,1)
Leve 28 (24,8) 44 (38,9) 3 (2,7) 0 (0,0) 75 (66,4)
Moderada 5 (4,4) 14 (12,4) 5 (4,4) 1 (0,9) 25 (22,1)
Grave 1 (0,9) 3 (2,7) 1 (0,9) 0 (0,0) 5 (4,4)
Total 34 (30,1) 69 (61,1) 9 (8,0) 1 (0,9) 113
Na TAB. 23 (ultra-som fetal x primeiro ultra-som pós-natal), a dilatação permanece
constante em 43,4% das 113 unidades envolvidos no estudo. A regressão do grau de dilatação
ocorre em 46,0% das unidades, sendo de 1 grau em 82,7%* dos casos, de 2 graus em 15,4%*
deles, e de 3 graus em 1,9%*. A progressão ocorreu em apenas 10,6% das unidades, sempre
de 1 grau. A relação entre casos de regressão e casos de progressão é de 4,3:1, sugerindo a
hipótese de regressão espontânea da dilatação.
Tabela 24 - Transição de DAP pós-natal para DAP final
final Normal (%) Leve(%) Moderada (%) Grave(%) Total (%)
pós-natal
DAP < 5mm 5 DAP < 10 10 DAP < 15 DAP > 15
Normal 29 (25,7) 5 (4,4) 1 (0,9) 0 (0,0) 35 (31,0)
Leve 34 (30,1) 32 (28,3) 2 (1,8) 2 (1,8) 70 (61,9)
Moderada 3 (2,7) 4 (3,5) 2 (1,8) 0 (0,0) 9 (8,0)
Grave 0 (0,0) 1 (0,9) 0 (0,0) 0 (0,0) 1 (0,9)
Total 66 (58,4) 42 (37,2) 5 (4,4) 2 (1,8) 115
Na TAB. 24 (primeiro ultra-som pós-natal x último ultra-som pós-natal) a dilatação
permanece constante em 54,8% das 115 unidades envolvidos no estudo. A regressão do grau
de dilatação ocorre em 36,5% das unidades, sendo de 1 grau em 90,5%* dos casos, e de 2
96
graus em 9,5%* deles. A progressão ocorreu em apenas 8,7% das unidades, sendo de 1 grau
em 70%* dos casos, e de 2 graus em 30%* deles. A relação entre casos de regressão e casos
de progressão é de 4,2:1, sugerindo a hipótese de regressão espontânea da dilatação.
Tabela 25 - Transição de DAP fetal para DAP final
final
Normal (%) Leve(%) Moderada (%) Grave(%) Total (%)
fetal
DAP < 5mm 5 DAP < 10 10 DAP < 15 DAP > 15
Normal 4 (3,5) 3 (2,7) 0 (0,0) 1 (0,9) 8 (7,1)
Leve 47 (41,6) 27 (23,9) 1 (0,9) 0 (0,0) 75 (66,4)
Moderada 11 (9,7) 10 (8,8) 3 (2,7) 1 (0,9) 25 (22,1)
Grave 3 (2,7) 1 (0,9) 1 (0,9) 0 (0,0) 5 (4,4)
Total 65 (57,5) 41 (36,3) 5 (4,4) 2 (1,8) 113
Na TAB. 25 (ultra-som fetal x último ultra-som pós-natal), a dilatação permanece
constante em 30,1% das 113 unidades envolvidos no estudo. A regressão do grau de dilatação
ocorre em 64,6% das unidades, sendo de 1 grau em 79,5%* desses casos, de 2 graus em
16,4%* deles, e de 3 graus em 4,1%*. A progressão ocorreu em apenas 5,3% das unidades
(em 1 paciente foi de 3 graus). A relação entre casos de regressão e casos de progressão é de
12:1, sugerindo a hipótese de regressão espontânea da dilatação.
5.4 - Resultados dos testes de simetria, homogeneidade marginal e tendência
de direção
As tendências verificadas nas tabelas de contingência devem ser avaliadas para que se
decida sobre sua significância estatística (metodologia exposta em 3.8). Os resultados obtidos
afastam as hipóteses de simetria e homogeneidade marginal e permitem concluir que a
tendência de diminuição das medidas de DAP, retratada nas tabelas de contingência, não pode
ser atribuída à aleatoriedade da dispersão dos dados considerados.
No caso das 73 unidades afetadas por hidronefrose isolada (só a mais dilatada por
paciente): Para a TAB. 20: simetria (Bowker) χ2 = 30,5 e p < 3,12E-05 com gl = 6;
homogeneidade marginal (Stuart-Maxwell) χ2 = 28,7 e p < 2,56E-06 com gl = 3; tendência de
direção (McNemar): χ2 = 28,9 e p < 7,62E-08 com gl = 1. Para a TAB. 21: simetria χ2 = 12,1
e p < 0,06 com gl = 6; homogeneidade marginal χ2 = 10,2 e p < 0,017 com gl = 3; tendência
de direção: χ2 = 10,9 e p < 0,001 com gl = 1. Para a TAB. 22: simetria χ2 = 44,5 e p < 5,77E-
08, com gl = 6; homogeneidade marginal χ2 = 40,9 e p < 6,74E-09, com gl = 3; tendência de
direção χ2 = 40,7 e p < 1,78E-10, com gl = 1.
No caso das 117 unidades afetadas por hidronefrose isolada (até duas por paciente):
Para a TAB. 23: simetria (Bowker)
χ2 = 27,2, p < 0,0002 com gl = 6; homogeneidade
97
marginal (Stuart-Maxwell) χ2 = 26,8, p < 6,6E-6, com gl = 3; tendência de direção
(McNemar): χ2 = 25, p < 5,8E-7 com gl = 1. Para a TAB. 24: simetria χ2 = 23,56, p < 0,0007
com gl = 6; homogeneidade marginal χ2 = 22,8, p < 4,5E-5 com gl = 3; tendência de direção:
χ2 = 19,7, p < 9,21E-6 com gl = 1. Para a TAB. 25: simetria χ2 = 59,1, p < 7,0E-11 com gl =
6; homogeneidade marginal χ2 = 54,50, p < 8,76E-12, com gl = 3; tendência de direção χ2 =
56,82, p < 4,77E-14, com gl = 1.
5.5 - Influência da lateralidade e do sexo
A influência da lateralidade e do sexo na involução espontânea da hidronefrose
idiopática também foi pesquisada. Os resultados são apresentados através de quadros que
exibem os testes estatísticos pertinentes às análises. Cada quadro é constituído de 3 tabelas de
contingência, cada uma delas contendo ainda o respectivo valor do qui-quadrado e o nível de
significância correspondente.
Em cada quadro, as tabelas de contingência da esquerda retratam transições ocorridas
entre o ultra-som fetal e o primeiro ultra-som pós-natal, Dil(F) Dil(P). As do centro
retratam transições ocorridas entre o primeiro e o último ultra-som pós-natal, Dil(P)
Dil(U). As da direita retratam transições ocorridas entre o ultra-som fetal e o último ultra-som
pós-natal, Dil(F) Dil(U).
Nas tabelas de contingência, uma primeira coluna, encabeçada por “Sim”, mostra o
número de ocorrências em que houve regressão. A segunda coluna, encabeçada por “Não”,
mostra o número de ocorrências em que não houve regressão. A terceira coluna, encabeçada
por “S/N” mostra a proporção entre unidades que regrediram e unidades que não regrediram.
Uma célula da tabela mostra o valor do χ2 para o teste da hipótese de independência (da
lateralidade ou do sexo, conforme o caso) e outra célula mostra a probabilidade de
significância para o teste realizado.
O QUADRO 6 refere-se à casuística descrita em 4.1.6 (somente a unidade mais grave
de cada portador de hidronefrose isolada). A tabela de contingência da esquerda retrata
transições ocorridas entre o ultra-som fetal e o primeiro ultra-som pós-natal. A do centro
retrata aquelas ocorridas entre o primeiro e o último ultra-som pós-natal. A da direita as entre
o ultra-som fetal e o primeiro ultra-som pós-natal. Observa-se que a influência da lateralidade,
considerada a transição entre a dilatação fetal e a primeira pós-natal, é estatisticamente
significante (p = 0,03).
Quadro 6 - Testes de significância estatística para lateralidade
a) fetal
pós-natal
b) pós-natal
final
c) fetal
final
Regressão
χ2
Regressão
χ2
Regressão
χ2
Lateralidade
Sim Não S/N
4,76
Sim Não
0,04
Sim Não S/N
1,06
Direita
16 17 0,94
p
16 17 0,94
p
23 10 2,30
p
Esquerda
9 29 0,31 0,03 18 21 0,86 0,84 22 16 1,38 0,30
S/N = relação entre casos com regressão e casos sem regressão
98
O QUADRO 7 refere-se ainda à casuística descrita em 4.1.6 (somente a unidade mais
grave de cada portador de hidronefrose isolada). A tabela de contingência da esquerda retrata
transições ocorridas entre o ultra-som fetal e o primeiro ultra-som pós-natal. A do centro
retrata transições ocorridas entre o primeiro e o último ultra-som pós-natal. A da direita retrata
transições ocorridas entre o ultra-som fetal e o primeiro ultra-som pós-natal. Observa-se que a
influência do sexo não é estatisticamente significante.
Quadro 7 - Testes de significância estatística para sexo
a) fetal
pós-natal
b) pós-natal
final
c) fetal
final
Regressão
χ2
Regressão
χ2
Regressão
χ2
Sexo
Sim Não S/N
1,93
Sim Não
0,78
Sim Não S/N
0,09
masculino
22 34 0,65
P
28 28 1,00
P
36 20 1,80
p
feminino
3 12 0,25 0,16 6 10 0,60 0,38 9 6 1,50 0,76
S/N = relação entre casos com regressão e casos sem regressão
O QUADRO 8 refere-se à casuística descrita em 4.1.7 (até duas unidades por paciente,
desde que ambas com hidronefrose isolada). A tabela de contingência da esquerda retrata
transições ocorridas entre o ultra-som fetal e o primeiro ultra-som pós-natal. A do centro
retrata transições ocorridas entre o primeiro e o último ultra-som pós-natal. A da direita retrata
transições ocorridas entre o ultra-som fetal e o primeiro ultra-som pós-natal. Observa-se que a
influência da lateralidade é estatisticamente significante tanto para a transição da dilatação
fetal para a primeira pós-natal, como para a transição entre dilatação fetal e última pós-natal.
Quadro 8 - Testes de significância estatística para lateralidade
a) fetal
pós-natal
b) pós-natal
final
c) fetal
final
Regressão
χ2
Regressão
χ2
Regressão
χ2
Lateralidade
Sim Não S/N
9,65
Sim Não
0,01
Sim Não S/N
7,21
Direita
34 22 1,55
p
21 36 0,58
p
43 13 3,31
p
Esquerda
18 39 0,46 0,00 21 37 0,57 0,94 30 27 1,11 0,01
S/N = relação entre casos com regressão e casos sem regressão
O QUADRO 9 refere-se ainda à casuística descrita em 4.1.7 (até duas unidades por
paciente, desde que ambas com hidronefrose isolada). A tabela de contingência da esquerda
retrata transições ocorridas entre o ultra-som fetal e o primeiro ultra-som pós-natal. A do
centro retrata transições ocorridas entre o primeiro e o último ultra-som pós-natal. A da direita
retrata transições ocorridas entre o ultra-som fetal e o primeiro ultra-som pós-natal. Observa-
se que a influência do sexo não é estatisticamente significante.
Quadro 9 - Testes de significância estatística para sexo
a) fetal
pós-natal
b) pós-natal
final
c) fetal
final
Regressão
χ2
Regressão
χ2
Regressão
χ2
Sexo
Sim Não S/N
0,00
Sim Não
0,71
Sim Não S/N
0,15
masculino
42 49 0,86
P
28 28 1,00
P
58 33 1,76
p
feminino
10 12 0,83 0,95 6 10 0,60 0,40 15 7 2,14 0,70
S/N = relação entre casos com regressão e casos sem regressão
99
5.6 - Conclusões
Os resultados expostos permitem a conclusão de que a regressão da dilatação ocorre em
proporção significantemente mais acentuada nas unidades de lateralidade direita, quando se
comparam ultra-sons fetais com os primeiros após o nascimento. Quanto a uma possível
influência do sexo, não constatamos nenhuma associação estatisticamente significante.
100
Capítulo 6 RESULTADOS: VARIABILIDADE E POTENCIAL
PREDITIVO DE MEDIDAS CLÍNICAS E ECOGRÁFICAS
6.1 - Introdução
Neste capítulo são apresentados resultados de duas análises preliminares, que não
constituem o foco principal desta dissertação, mas que contribuíram muito para o
delineamento dos estudos que serão feitos no próximo capítulo, que trata da acurácia
diagnóstica das medidas da pelve renal.
Inicialmente são mostrados resultados comparativos das variabilidade das medidas que
constituem as séries evolutivas, com ênfase nas medidas ultra-sonográficas. Essa análise
permitiu-nos comprovar, quantificar e comparar a variabilidade das medidas de DAP,
permitindo-nos propor alternativas analíticas para minimização dos efeitos negativos dessa
variabilidade.
Em seguida são mostrados resultados relativos à capacidade preditiva dos parâmetros de
caracterização das séries evolutivas consideradas. Foram buscadas, através de regressão
logística e análise por ROC, associações estatisticamente significantes das diversas variáveis
explicativas com a ocorrência de uropatias e/ou eventos cirúrgicos que caracterizam as
variáveis-resposta consideradas. Essa extensa análise preliminar ampliou nosso conhecimento
sobre as associações entre as diversas variáveis envolvidas, capacitando-nos a escolher com
mais critério e eficiência as variáveis explicativas que estarão presentes nos estudos
delineados no capítulo que trata da acurácia diagnóstica de medidas do DAP.
Salvo referência diversa, a casuística considerada neste capítulo é a descrita em 4.5,
constituída de 260 unidades renais resultantes da exclusão (no banco de dados completo) de
pacientes portadores de “outras uropatias”.
6.2 – Variabilidade das séries evolutivas
Entre as séries evolutivas, observa-se que as medidas de peso e estatura são as que
apresentam evoluções no tempo mais adequadas à caracterização como funções polinomiais
(de segunda ordem) em relação à idade do paciente, apresentando Iv próximo de 0%. A média
dos índices de variabilidade é 1,38 para as séries de estatura, correspondendo à menor média
desse índice, para todas as medidas caracterizadas como séries evolutivas. O valor médio
desse mesmo índice é 1,78 para as séries de peso. As figuras 2 a 5 mostram curvas típicas do
ajustamento de séries evolutivas de peso e estatura. As curvas da esquerda foram selecionadas
entre as de maior variabilidade (3º quartil na série crescente de Iv), enquanto as curvas da
direita foram tomadas entre as que apresentam pouca variabilidade (1º quartil na série
crescente de Iv). Observa-se que o ajustamento é adequado em qualquer das duas situações.
101
0
5
10
15
20
25
0 500 1000 1500 2000
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
0 500 1000 1500
Figura 2 - Peso [kg] x idade [dias]
7645_D
Figura 3 - Peso [kg] x idade [dias]
8998_E
Iv = 2,65; 3° quartil; todos os pacientes.
Iv = 0,47; 1° quartil; todos os pacientes.
0
20
40
60
80
100
120
0 500 1000 1500
0
20
40
60
80
100
120
0 500 1000 1500
Figura 4 - Estatura [cm] x idade [dias]
9015_D
Figura 5 - Estatura [cm] x idade [dias]
8925_D
Iv = 1,81; 3° quartil; todos os pacientes.
Iv = 0,53; 1° quartil; todos os pacientes.
Os comprimentos renais (Rld), dentre as séries evolutivas relacionadas a ultra-
sonografia, exibem, relativamente, pouca variabilidade. A média do índice é 16,4 para todas
as unidades, subindo para 39,07 nas unidades operadas, e caindo para 13,88 nas não operadas.
A comparação das médias desses dois grupos mostrou que a diferença é estatisticamente
significante e correlacionada fortemente com a ocorrência do evento cirúrgico (p < 1,3E-05)
.
Os volumes renais (Vol) exibem também pouca variabilidade, desde que sejam
excluídas as unidades submetidas a cirurgia. A média do índice é 17,3 para todas as unidades,
subindo para 50,17 nas unidades operadas, e caindo para 13,46 nas não operadas. A diferença
dessas médias é estatisticamente significante e fortemente correlacionada com a ocorrência do
evento cirúrgico (p < 1,18E-05).
As figuras 6 a 9 mostram curvas de ajustamento de séries evolutivas dos volumes
renais. As duas primeiras figuras correspondem a unidades não submetidas a cirurgia,
enquanto as duas seguintes referem-se a unidades submetidas a cirurgia.
102
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 200 400 600 800 1000
0
10
20
30
40
50
60
0 500 1000 1500
Figura 6 - Volume
[mm
3
]
x idade [dias]
6484_D
Figura 7 - Volume
[mm
3
]
x idade [dias]
3794_E
Iv = 13,04; 3° quartil; unidades sem cirurgia.
Iv = 0,04; 1° quartil; unidades sem cirurgia.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0 500 1000 1500 2000
0
10
20
30
40
50
60
70
0 500 1000 1500
Figura 8 - Volume
[mm
3
]
x idade [dias]
0845_E
Figura 9 - Volume
[mm
3
]
x idade [dias]
5315_D
Iv = 84,27; 3° quartil; unidades com cirurgia.
Iv = 19,64; 1° quartil; unidades com cirurgia.
As curvas da esquerda foram selecionadas entre as de maior variabilidade (3º quartil na
série crescente de Iv), enquanto as curvas da direita foram tomadas entre as que apresentam
pouca variabilidade (1º quartil na série crescente de Iv). Observa-se claramente que obtem-se
melhor ajustamento para as curvas retiradas entre as das unidades sem cirurgia.
Para as séries evolutivas de DAP, a média do índice Iv, consideradas todas as unidades,
é 39,4. A variabilidade é grande e não parece estar correlacionada com o evento cirúrgico e/ou
com uropatias. As figuras 10 a 13 mostram curvas obtidas com resultado da regressão das
séries de Dap (por acaso, nenhuma delas refere-se a unidade submetida a cirurgia). A curva da
FIG. 10 foi selecionada entre as de maior variabilidade (3º quartil na série crescente de Iv),
enquanto a da FIG. 11 foi tomada entre as que apresentam pouca variabilidade (1º quartil na
série crescente de Iv). A curva da FIG. 12 corresponde à mediana (2º quartil na série de Iv). A
FIG. 13 mostra o ajuste obtido para uma série evolutiva cujo Iv está próximo da média de
todas as unidades. Observa-se que as medidas de Dap apresentam variabilidade acentuada, em
praticamente qualquer situação.
103
0
5
10
15
20
25
0 500 1000 1500
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0 200 400 600 800 1000
Figura 10 - DAP [mm] x idade [dias]
2105_E
Figura 11 - DAP [mm] x idade [dias]
4494_E
Iv = 69,03; 3° quartil; todas as unidades.
Iv = 8,97; 1° quartil; todas as unidades.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0 500 1000 1500 2000
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
0 200 400 600 800
Figura 12 - DAP [mm] x idade [dias]
4025_E
Figura 13 - DAP [mm] x idade [dias]
7484_D
Iv = 32,03; 2° quartil; todas as unidades.
Iv = 44,80; escolhida perto da média.
Variáveis derivadas da medida do Dap, (tais como Ka1, Ka2 e Ka3) sofrem,
aproximadamente, a mesma variabilidade do DAP.
6.3 - Possibilidades preditivas das séries evolutivas
6.3.1 - Principais associações verificadas
A QUADRO 10 mostra que um número muito grande de associações estatisticamente
significantes existe entre as variáveis-resposta consideradas e os 241 parâmetros de
caracterização das diversas séries evolutivas consideradas.
No que concerne à OJUP, os melhores resultados correspondem a medidas de Dap e às
variáveis diretamente ligadas ao DAP. (Dil e variáveis compostas com base em Dap: Ka1,
Ka2 e Ka3). Nas compostas, Ka1 e Ka2 têm desempenho parecido e são melhores que Ka3.
Caracterizações da rie Sfu também apresentam desempenho muito bom. Caracterizações de
Vol e Rld têm desempenho discreto. As caracterizações em termos de médias são as de
melhor desempenho, seguidas pelas de valores máximos e médias iniciais. Via de regra, a
caracterização por Pi é sempre melhor que a por Vi.
104
Quadro 10 - Associações estatisticamente significantes verificadas
Casuística Variável-resposta Variáveis explicativas
Pacientes Unidades pesquisada: com p < 0,05
com ASC < 0,8
precoces
duas por paciente OJUP cirúrgica 145
78
18
duas por paciente OJUP cirúrgica 142
96
21
(4.5) Exclusão de
pacientes com
“outras uropatias” duas por paciente uropatias de interesse 158
65
16
maior dilatação fetal OJUP cirúrgica 149
77
18
maior dilatação fetal OJUP cirúrgica 145
95
21
(4.3) Exclusão de
“outras uropatias”
e de “duplicação” maior dilatação fetal urpatias de interesse 147
67
15
Para a ocorrência de OJUP com desfecho cirúrgico, os resultados mostraram grande
potencial diagnóstico nas medidas de DAP. Observa-se, uma vez mais, que as medidas
filtradas (médias), além do valor máximo, superam a caracterização na forma do valor inicial
(Vi). Entre as variáveis compostas, Ka2 supera Ka1, e esse supera Ka3. Observa-se que
Dap_Pi, sobre ser a melhor entre as variáveis com possibilidades diagnósticas
(disponibilidade em tempo oportuno), é também a melhor entre todos os parâmetros
considerados.
Relativamente à predição de uropatias de interesse os melhores resultados foram
obtidos com as caracterizações da série de Dil e Sfu, seguidas pelas caracterizações de DAP e
de variáveis compostas com base no DAP. Entre as compostas, Ka1 é melhor que Ka2 e
ambas melhor que Ka3. As caracterizações em termos de médias e valores máximos são as
com maior capacidade de discriminação, seguidas de Pi e de Vi. Aqui também a
caracterização Pi é sempre melhor que a Vi.
Nas associações com RVU, obtivemos significância estatística em 44 das variáveis
explicativas, mas, na análise por ROC, os valores de ASC são sempre inferiores a 0,73. Os
melhores desempenhos são de variáveis relacionadas a Rld (comprimento do rim). Dap_Ft
tem o 6º melhor desempenho, com coeficiente negativo na regressão logística e ASC = 0,66.
6.3.2 – Associações não verificadas
Dos parâmetros analisados, cabe mencionar que não foram encontradas associações
importantes com as seguintes variáveis: taxa de crescimento da unidade renal contralateral;
espessura do parênquima renal (exceto para OJUP cirúrgica); variabilidade do DAP (avaliada,
inclusive, quanto à associação com RVU), relação TFG medido por TFG esperado (normal).
105
6.4 – Conclusões
O DAP da pelve renal é uma medida muito utilizada na prática clínica, e suas alterações de
medida costumam respaldar indicação de novos exames e, em alguns casos, procedimentos
cirúrgicos.
Os resultados de nossos estudos sugerem a necessidade de se adotar procedimentos que
visem diminuir os efeitos da variabilidade, bem como a necessidade de se aprofundar estudos
sobre as possíveis causas fisiológicas, em curto e médio prazo, de alteração das dimensões do
DAP da pelve renal.
Levando em conta a variabilidade do DAP e o bom desempenho dos parâmetros de
caracterização envolvendo médias das séries evolutivas, consideramos oportuno comparar, em
estudo mais detalhado, os valores tradicionalmente usados no diagnóstico diferencial da
hidronefrose idiopática (DAP fetal, e primeiro DAP) com o parâmetro Dap_Pi que é a média
das duas primeiras medidas do DAP, tomadas após o nascimento do paciente.
106
Capítulo 7 – RESULTADOS: ACURÁCIA DIAGNÓSTICA DE MEDIDAS
DA PELVE RENAL
7.1 – Introdução
Neste capítulo são apresentados resultados de análises cujo objetivo final é verificar a
acurácia diagnóstica de medidas da pelve renal no diagnóstico de algumas uropatias.
Para organizar a apresentação dos resultados, este capítulo está dividido da seguinte
forma: Estudo “A” (item 7.2): diagnóstico baseado em medidas do DAP das unidades mais
dilatadas de pacientes, com casuística excluída de “duplicação” e das uropatias do grupo
“uropatias de interesse”; Estudo “B” (item 7.3): Diagnóstico baseado em medidas do DAP de
até duas unidades renais por paciente, com casuística excluída de duplicação e das uropatias
do grupo “uropatias de interesse”. Na escolha desses estudos procuramos nos aproximar das
condições em que foram delineados os trabalhos de Bouzada et al. (2004b, 2004a) e Coplen et
al. (2006), tendo em vista a expectativa de comparar nossos resultados com as mais recentes
publicações desses autores.
7.1.1 – Variáveis-resposta
Neste estudo são consideradas variáveis-resposta as seguintes ocorrências: diagnóstico
de OJUP; diagnóstico de OJUP com tratamento cirúrgico; diagnóstico de qualquer das
uropatias incluídas no grupo “uropatias de interesse” (OJUP, RVU e megaureter). Essas três
ocorrências são as que mais freqüentemente se associam com medidas da pelve renal, tendo
sido objeto de pesquisa de diversos autores, como se viu na revisão bibliográfica. Cabe
observar que, no primeiro estudo, as variáveis-resposta estão relacionados com a uropatia dos
pacientes considerados, enquanto no segundo estudo relacionam-se com as uropatias das
unidades consideradas.
7.1.2 – Variáveis explicativas selecionadas
Resultados de exploração preliminar (regressão logística univariada, classificação da
significância estatística, análise por ROC) mostraram que um grande mero de variáveis,
entre aquelas descritas em 3.7.3, apresentavam associação estatisticamente significante com
as variáveis-resposta de interesse. A título de exemplo, associações estatisticamente
significantes com OJUP foram encontradas em 149 variáveis (significância do coeficiente de
regressão menor que 0,05), sendo que, dessas, 77 apresentam ASC (análise por ROC) superior
a 0,8.
107
Entretanto, nas análises que se seguem, serão consideradas entre 3 e 5 variáveis
explicativas, escolhidas de maneira que se observem, cumulativamente, os seguintes critérios
de seleção: significância estatística na regressão logística univariada (verificada em estudo
preliminar); tempestividade diagnóstica, ou seja: possibilidade de que possam contribuir no
diagnóstico do paciente em tempo hábil para tratamento.
Entre as variáveis explicativas selecionadas, três foram escolhidas por satisfazerem,
além dos critérios enunciados, à conveniência de comparação: Dap_Ft que é a medida do
diâmetro antero-posterior da pelve renal obtida em ultra-som fetal; Dap_Vi, que é a primeira
medida dessa mesma variável obtida após o nascimento do paciente; Dap_Pi que é a média
das duas primeiras medidas de DAP após o nascimento. Duas outras variáveis explicativas
(que não são medidas da pelve renal) serão incluídas em algumas etapas do estudo (regressão
logística e análise por curvas ROC), com o objetivo de ampliar-se a comparação.
7.2 - Estudo “A”: considera apenas a unidade mais dilatada de cada
paciente
7.2.1 - Casuística considerada
A casuística deste estudo é descrita detalhadamente no item 4.3 deste trabalho. Foram
excluídos os pacientes que apresentavam diagnóstico pertinente ao bloco denominado “outras
uropatias”, assim como os portadores de duplicação. No que diz respeito às unidades, foram
levadas em conta, exclusivamente, as de maior dilatação, observado o primeiro ultra-som pós-
natal, para cada paciente considerado.
Restaram, dessa maneira, 124 pacientes (o mesmo número de unidades renais), sendo
91 do sexo masculino e 33 do sexo feminino. Das unidades renais, 60 são rins direitos, e 64
esquerdos. A idade gestacional nas medidas de Dap_Ft tem média de 35,1 semana (DP = 3,4).
A média de idade dos pacientes na medida de Dap_Vi é 22 dias (DP = 22,9); para Dap_Pi a
média (do tempo médio das duas primeiras medidas) é 112 dias (DP = 52,3).
7.2.2 – Distribuição das medidas de DAP
Nas figuras 14 a 16 comparam-se as distribuições das medidas de DAP, em diversas
situações. Cada uma das três figuras refere-se a uma variável resposta diferente. Em cada
figura separam-se os valores medidos das três variáveis diagnósticas em dois grupos
diferentes, de acordo com a ocorrência ou não da variável resposta que se pretende predizer.
Assim, por exemplo, na FIG. 14, os casos “0” correspondem aos pacientes com
hidronefrose transitória, hidronefrose idiopática e pelve extra-renal, enquanto casos “1
referem-se a pacientes com “uropatias de interesse”, ou seja: OJUP, RVU e megaureter.
108
4083 4083 4083N =
1
0
70
60
50
40
30
20
10
0
-10
DAP_FT
DAP_VI
DAP_PI
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
17106 17106 17106N =
1
0
70
60
50
40
30
20
10
0
-10
DAP_FT
DAP_V I
DAP_PI
..
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
...
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Figura 14 - DAPs x OJUP Figura 15 - DAPs x OJUP cirúrgica
Esquerda: casos “0”. Direita: casos “1”. Esquerda: casos “0”. Direita: casos “1”.
4875 4875 4875N =
1
0
70
60
50
40
30
20
10
0
-10
DAP_FT
DAP_VI
DAP_PI
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Figura 16 - DAPs x Uropatias de interesse
Esquerda: casos “0”. Direita: casos “1”.
Em cada uma das figuras estão representadas as distribuições das medidas de Dap_Ft,
Dap_Vi, e Dap_Pi separadas em seis grupos distintos. As distribuições de Dap_Ft são as da
esquerda (em vermelho), as de Dap_Vi são as do meio (em verde), as de Dap_Pi são as da
direita (em azul). O potencial dessas três variáveis explicativas no diagnóstico da OJUP pode
ser avaliado, analisando-se a separação que existe entre o boxplot que representa casos “0” e o
boxplot que representa casos “1”.
Observando as três figuras, verificamos que a distribuição dos valores de DAPs nos
casos “0” ocorre em torno de medianas que são sempre menores que aquelas das distribuições
de DAPs nos pacientes com diagnóstico positivo para a ocorrência considerada, seja ela
OJUP, OJUP seguida de tratamento cirúrgico ou o conjunto de uropatias incluídas no grupo
“uropatias de interesse” (OJUP, RVU e megaureter). A separação das distribuições de DAPs
parece ser mais acentuada nos casos de OJUP cirúrgica.
7.2.3 – Comparação de médias
A TAB. 26 mostra resultados de comparações de médias, realizadas conforme
metodologia exposta (item 3.9.2). O valor p mostrado em cada caso representa a
significância estatística obtida com a aplicação do teste de Welch-Satterthwaite.
109
Tabela 26 - Comparação de médias de DAPs por grupo de uropatias
Média de DAP_Ft Média de DAP_Vi Média de DAP_Pi
N
no
grupo
fora
do
grupo
valor
p N
no
grupo
fora
do
grupo
valor
p N
no
grupo
fora
do
grupo
valor
p
Achados não significativos 77
8,85
21,32
6E-08
78
6,88
23,38
6E-10
78
6,40
22,50
5E-11
Hidronefrose transitória 12
7,68
14,14
3E-05
12
3,28
14,04
2E-15
12
3,71
13,30
7E-14
Hidronefrose idiopática 61
9,09
17,86
2E-06
62
7,50
18,50
2E-07
62
6,87
17,88
2E-08
Variantes do normal 4
8,68
13,68
4E-03
4
8,05
13,17
6E-04
4
7,25
12,55
4E-03
Achados significativos 46
21,32
8,85
6E-08
46
23,38
6,88
6E-10
46
22,50
6,40
5E-11
OJUP 40
22,03
9,41
7E-08
40
25,53
7,03
3E-10
40
24,67
6,52
1E-11
RVU 5
17,70
13,34
3E-01
5
8,80
13,18
2E-01
5
7,63
12,57
7E-02
Megaueter 1
11,00
13,53
N.D.
1
10,30
13,02
N.D.
1
10,35
12,39
N.D.
Total Geral
123
13,51
124
13,00
124
12,38
A diferença de médias é estaticamente significante em todas as comparações efetuadas,
exceto nas que envolvem megaureter, que não puderam ser calculadas (apenas uma unidade).
Esse resultado indica que as variáveis explicativas escolhidas poderão apresentar bom
potencial de discriminação no diagnóstico das uropatias consideradas.
Observa-se que, para Dap_Ft, a média para “achados não significativos” foi 9,52mm,
enquanto para “achados significativos” foi 22,12mm (p = 3,5E-08). Para o Dap_Vi a média
no grupo foi 6,22mm contra 22,57mm fora do grupo (p = 1,2E-10). Para Dap_Pi a média em
“achados não significativos” foi 5,96mm, contra 21,79mm em “achados significativos” (P =
1,1E-10).
No grupo de “achados não significativos” observamos ainda uma tendência de
diminuição da média de Dap_Ft comparada com a média de Dap_Vi, e de Dap_Vi comparada
com Dap_Pi. no grupo com “achados significativos” a média dos DAPs foi maior que
20mm, com pouca diferença nas médias de Dap_Ft, Dap_Vi, Dap_Pi.
7.2.4 - Significância estatística na análise univariada (regressão logística)
Nas TAB. 27 a 29 mostram-se os resultados obtidos em regressões logísticas nas quais
as variáveis respostas são calculadas como uma função de cada uma das variáveis explicativas
consideradas. Cada uma das tabelas refere-se a uma variável-resposta específica, dentre as
escolhidas no delineamento desse estudo, enquanto cada linha da tabela trata de uma das
variáveis explicativas considerada.
A TAB. 27 mostra os resultados obtidos na aproximação da variável dicotômica (1 ou
0) que representa a ocorrência, ou não, de OJUP. A TAB. 28 mostra os resultados da
aproximação da variável que representa a ocorrência de OJUP seguida de tratamento
cirúrgico. A TAB. 29 mostra os resultados da aproximação da variável que representa a
ocorrência das uropatias do grupo “uropatias de interesse”.
110
Tabela 27 - Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) de OJUP
Variável B SE Wald Sig ExpB B SE Wald Sig ExpB
DIL_PI
3,078
0,520
35,042
3,23E-09
2,17E+01
Constant
-5,830
0,936
38,768
4,77E-10
2,94E-03
DAP_PI
0,369
0,072
26,439
2,72E-07
1,45E+00
Constant
-4,933
0,808
37,261
1,03E-09
7,20E-03
KA2_PI
0,253
0,051
25,000
5,73E-07
1,29E+00
Constant
-5,428
0,927
34,272
4,79E-09
4,39E-03
DAP_VI
0,354
0,071
25,119
5,39E-07
1,42E+00
Constant
-4,939
0,820
36,268
1,72E-09
7,16E-03
DAP_FT
0,175
0,038
21,428
3,67E-06
1,19E+00
Constant
-3,089
0,531
33,821
6,04E-09
4,55E-02
Tabela 28 - Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) de OJUP cirúrgica
Variavel B SE Wald Sig ExpB B SE Wald Sig ExpB
SFU_PI
2,709
0,688
15,504
8,23E-05
1,50E+01
Constant
-9,069
2,329
15,158
9,89E-05
1,15E-04
SFU_VI
2,710
0,657
17,002
3,73E-05
1,50E+01
Constant
-9,126
2,232
16,712
4,35E-05
1,09E-04
DAP_PI
0,222
0,045
23,884
1,02E-06
1,25E+00
Constant
-6,078
1,109
30,058
4,19E-08
2,29E-03
DAP_VI
0,198
0,041
23,658
1,15E-06
1,22E+00
Constant
-5,647
1,000
31,882
1,64E-08
3,53E-03
DAP_FT
0,175
0,037
22,132
2,55E-06
1,19E+00
Constant
-4,971
0,817
37,021
1,17E-09
6,93E-03
Tabela 29 - Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) das uropatias de interesse
Variavel B SE Wald Sig ExpB B SE Wald Sig ExpB
SFU_PI
2,431
0,462
27,666
1,44E-07
1,14E+01
Constant
-3,772
0,644
34,273
4,79E-09
2,30E-02
DIL_PI
2,697
0,463
33,934
5,70E-09
1,48E+01
Constant
-4,449
0,703
40,062
2,46E-10
1,17E-02
DAP_PI
0,401
0,082
24,147
8,93E-07
1,49E+00
Constant
-4,514
0,773
34,099
5,24E-09
1,10E-02
DAP_VI
0,320
0,066
23,306
1,38E-06
1,38E+00
Constant
-3,934
0,679
33,596
6,78E-09
1,96E-02
DAP_FT
0,214
0,047
21,083
4,40E-06
1,24E+00
Constant
-3,109
0,576
29,192
6,56E-08
4,46E-02
Todos os coeficientes obtidos apresentam importante significância estatística. Observa-
se ainda que todos os coeficientes (B) são positivos, indicando que variações positivas dos
valores das variáveis explicativas, devem corresponder a aumentos da incidência da uropatia
considerada.
7.2.5 – Avaliação do potencial de discriminação de OJUP
As figuras seguintes são as curvas ROC obtidas. As 3 primeiras (FIG. 17 a 19) mostram
o potencial de discriminação de cada variável explicativa. A quarta curva (FIG. 20) permite a
comparação das curvas. O QUADRO 11 (pág. 113) contém dados de interesse dessas curvas.
Entre as 3 primeiras variáveis explicativas, observa-se que Dap_Pi apresenta a maior área sob
a curva, com ASC = 0,956 (SE = 0,019; IC95% 0,919–0,994), e o melhor ponto de separação,
Dap_Pi 10,7mm, que tem 87,5% de sensibilidade e 95,2% de especificidade. A superação
desse limite confere 18,4 vezes mais chances para a ocorrência de OJUP. Na comparação das
3 primeiras curvas vemos que a probabilidade de que as diferenças de ASC sejam devidas à
aleatoriedade da dispersão dos dados coletados é pequena (0,006 e 0,093). Levando-se em
conta todas as 5 variáveis, Dil_Pi apresenta o maior valor de ASC (0,957: SE = 0,018; IC95%
0,923–0,992), mas Ka2_Pi 18 é o ponto de corte que permite a melhor separação com
sensibilidade de 90,0% e especificidade de 92,9%.
111
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 17 - OJUP xxFigura 18 - OJUP
xxROC para Dap_Ft xxROC para Dap_Vi
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 19 - OJUP xxFigura 20 - OJUP
xxROC para Dap_Pi xxROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
7.2.6 - Avaliação do potencial de discriminação de OJUP cirúrgica
As figuras seguintes são as curvas ROC obtidas. As três primeiras figuras mostram o
potencial de discriminação das variáveis explicativas selecionadas. A FIG. 24 permite, dentro
dos limites da resolução da figura, a comparação visual das curvas.
O QUADRO 12 (pág. 114) contém os principais dados de interesse dessas curvas.
Todas as variáveis explicativas relacionadas apresentam boa capacidade de identificar OJUP
cirúrgica, sendo menor que 10
-5
a probabilidade de que as respectivas ASC sejam menor que
0,5. Entre as três primeiras variáveis, Dap_Pi apresenta a maior área sob a curva, com ASC =
0,974 (SE = 0,013; IC95% 0,948-1,000) e o melhor ponto de separação, Dap_Pi 15,8mm,
que tem 100% de sensibilidade e 87,9% de especificidade. Dap_Vi 16 tem quase a mesma
capacidade de separação. Considerando todas as 5 variáveis, a maior área sob a curva é a de
Sfu_Pi, ASC = 0,977 (SE = 0,012; IC95% 0,953-1,000), mas Sfu_Vi
2 é o melhor
discriminador com 100% de sensibilidade e 90,7% de especificidade.
112
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 21 - OJUP cirúrgica xxFigura 22 - OJUP cirúrgica
xxROC para Dap_Ft xxROC para Dap_Vi
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 23 - OJUP cirúrgica xxFigura 24 - OJUP cirúrgica
xxROC para Dap_Pi xxROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
7.2.7 – Avaliação do potencial de discriminação das uropatias de interesse
As figuras seguintes são as curvas ROC obtidas. As três primeiras curvas mostram o
potencial de discriminação das variáveis explicativas selecionadas (FIG. 25 para Dap_Ft, FIG.
26 para Dap_Vi, e FIG. 27 para Dap_Pi. A quarta curva, FIG. 28, permite a comparação
visual das curvas.
O QUADRO 13 (página 114) contém os principais dados de interesse dessas curvas.
Entre as 3 primeiras variáveis explicativas, observa-se que Dap_Pi apresenta a maior área sob
a curva (ASC = 0,895: SE = 0,037; IC95% 0,823-0,967) e o melhor ponto de separação.
Levando-se em conta todas as 5 variáveis, Sfu_Pi apresenta o maior valor de ASC (0,925: SE
= 0,028; IC95% 0,871-0,979), mas Dap_Pi 10,7 continua sendo o ponto de corte que
permite a melhor separação (sensibilidade de 77,1% e especificidade de 97,4%). A superação
desse limite confere 29,3 vezes mais chances para a ocorrência de OJUP.
113
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 25 - Uropatias de interesse xxFigura 26 - Uropatias de interesse
xxROC para Dap_Ft xxROC para Dap_Vi
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 27 - Uropatias de interesse xxFigura 28 - Uropatias de interesse
xxROC para Dap_Pi xxROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
7.2.8 – Quadros resumos com valores relativos às curvas apresentadas
Quadro 11 - Detalhamento de curvas ROC - OJUP
(comentado na pág. 110)
Análise por ROC Casos: Melhor Separador Estatística das curvas ROC
Curva Escore = 0 = 1 Corte
Sen. Esp. ASC SE IC 95% p(<.5) RV+ RV-
Curva 1 DAPf
83
40
15
0,625
0,94
0,868
0,035
0,799
0,938
0,000
10,38
0,10
Curva 2 Dap_Vi 84
40
10,3
0,9
0,893
0,925
0,033
0,860
0,991
0,000
8,40
0,12
Curva 3 Dap_Pi
84
40
10,7
0,875
0,952
0,956
0,019
0,919
0,994
0,000
18,38
0,05
Curva 4 Dil_Pi
84
40
1
0,95
0,845
0,957
0,018
0,923
0,992
0,000
6,14
0,16
Curva 5 Ka2_Pi
84
40
17,96
0,9
0,929
0,951
0,021
0,910
0,992
0,000
12,60
0,08
Comparação ASC SE p(<0) ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
Curva 1 c/ as demais -0,057
0,043
0,093
-0,088
0,035
0,006
-0,089
0,035
0,006
-0,083
0,036
0,010
Curva 2 c/ as demais compara c/ C2 -0,031
0,023
0,093
-0,032
0,023
0,080
-0,026
0,023
0,131
Curva 3 c/ as demais
compara c/ C3 -0,001
0,006
0,445
0,006
0,004
0,103
Curva 4 c/ as demais
compara c/ C4 0,006
0,008
0,233
compara c/ C5
114
Quadro 12 - Detalhamento de curvas ROC - OJUP cirúrgica
(comentado na pág. 111)
Análise por ROC Casos: Melhor Separador Estatística das curvas ROC
Curva Escore = 0 = 1 Corte
Sen. Esp. ASC SE IC 95% p(<.5) RV+ RV-
Curva 1 DAPf
106
17
18,2
0,882
0,934
0,956
0,019
0,919
0,993
0,000
13,36
0,07
Curva 2 Dap_Vi 107
17
16
1
0,879
0,97
0,015
0,941
0,998
0,000
8,23
0,12
Curva 3 Dap_Pi
107
17
15,8
1
0,879
0,974
0,013
0,948
1,000
0,000
8,23
0,12
Curva 4 Sfu_Pi
107
17
2
1
0,888
0,977
0,012
0,953
1,000
0,000
8,92
0,11
Curva 5 Sfu_Vi
107
17
2
1
0,907
0,975
0,012
0,952
0,998
0,000
10,70
0,09
Comparação ASC SE p(<0) ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
Curva 1 c/ as demais -0,014
0,019
0,239
-0,018
0,019
0,173
-0,020
0,019
0,142
-0,019
0,018
0,150
Curva 2 c/ as demais compara c/ C2 -0,004
0,010
0,331
-0,007
0,010
0,242
-0,005
0,011
0,321
Curva 3 c/ as demais
compara c/ C3 -0,002
0,010
0,399
0,002
0,012
0,472
Curva 4 c/ as demais
compara c/ C4 0,002
0,006
0,399
compara c/ C5
Quadro 13 - Detalhamento de curvas ROC - uropatias de interesse
(comentado na pág. 112)
Análise por ROC Casos: Melhor Separador Estatística das curvas ROC
Curva Escore = 0 = 1 Corte
Sen. Esp. ASC SE IC 95% p(<.5) RV+ RV-
Curva 1 DAPf
75
48
12,7
0,646
0,88
0,828
0,042
0,747
0,910
0,000
5,38
0,19
Curva 2 Dap_Vi 76
48
10
0,813
0,908
0,863
0,043
0,779
0,948
0,000
8,82
0,11
Curva 3 Dap_Pi
76
48
10,7
0,771
0,974
0,895
0,037
0,823
0,967
0,000
29,29
0,03
Curva 4 Sfu_Pi
76
48
1
0,833
0,908
0,925
0,028
0,871
0,979
0,000
9,05
0,11
Curva 5 Dil_Pi
76
48
1,5
0,771
0,961
0,911
0,032
0,848
0,975
0,000
19,53
0,05
Comparação ASC SE p(<0) ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
Curva 1 c/ as demais -0,035
0,039
0,186
-0,067
0,033
0,022
-0,097
0,033
0,001
-0,083
0,032
0,005
Curva 2 c/ as demais compara c/ C2 -0,032
0,020
0,055
-0,062
0,027
0,012
-0,048
0,021
0,011
Curva 3 c/ as demais
compara c/ C3 -0,030
0,019
0,056
0,014
0,010
0,049
Curva 4 c/ as demais
compara c/ C4 0,014
0,013
0,139
compara c/ C5
7.3 - Estudo “B”: considera até duas unidades de cada paciente
7.3.1 - Casuística considerada
A casuística deste estudo é descrita no item 4.4 deste trabalho. Foram excluídos os
pacientes que apresentavam diagnóstico pertinente ao bloco denominado “outras uropatias”,
assim como os portadores de duplicação. Foram consideradas até duas unidades por paciente,
desde que portadoras de uropatia (sentido amplo: inclui hidronefrose transitória, hidronefrose
idiopática e pelve extra-renal).
Restaram, dessa maneira, 124 pacientes (o mesmo número de unidades renais), sendo
91 do sexo masculino e 33 do sexo feminino. Das unidades renais, 94 são rins direitos, e 102
esquerdos. A idade gestacional nas medidas de Dap_Ft tem média de 35,1 semanas (DP =
3,4). A média de idade dos pacientes na medida de Dap_Vi é 22,1 dias (DP = 24,1); para
Dap_Pi a média (do tempo médio das duas primeiras medidas) é 115 dias (DP = 55,3).
115
7.3.2 – Distribuição das medidas de DAP
Nas FIG. 29 a 31 comparam-se as distribuições das medidas de DAP, em diversas
situações. Cada uma das três figuras refere-se a uma variável resposta diferente. Em cada
figura separam-se os valores medidos das três variáveis diagnósticas em dois grupos
diferentes, de acordo com a ocorrência ou não da variável resposta que se pretende predizer.
49145 49145 49145N =
1
0
70
60
50
40
30
20
10
0
-10
DAP_FT
DAP_V I
DAP_PI
.
.
.
.
.
..
.
.
.
.
.
.
.
..
.
.
.
.
21173 21173 21173N =
1
0
70
60
50
40
30
20
10
0
-10
DAP_FT
DAP_V I
DAP_PI
.
.
.
.
.
.
..
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
...
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Figura 29 - DAPs x OJUP Figura 30 - DAPs x OJUP cirúrgica
Esquerda: casos “0”. Direita: casos “1”. Esquerda: casos “0”. Direita: casos “1”.
60134 60134 60134N =
1
0
70
60
50
40
30
20
10
0
-10
DAP_FT
DAP_VI
DAP_PI
.
.
.
.
..
.
.
.
.
.
.
.
..
.
.
.
Figura 31 - DAPs x Uropatias de interesse
Esquerda: casos “0”. Direita: casos “1”.
Em cada figura estão representadas as distribuições das medidas de Dap_Ft, Dap_Vi, e
Dap_Pi separadas em seis grupos distintos. As distribuições de Dap_Ft são as da esquerda
(em vermelho), as de Dap_Vi são as do meio (em verde), as de Dap_Pi são as da direita (em
azul). O potencial dessas três variáveis explicativas no diagnóstico da OJUP pode ser
avaliado, analisando-se a separação que existe entre o boxplot que representa casos “0” e o
que representa casos “1”.
Observando as três figuras, verificamos que a distribuição dos valores de DAPs nos
casos “0” ocorre em torno de medianas que são sempre menores que aquelas das distribuições
de DAPs nos pacientes com diagnóstico positivo para a ocorrência considerada, seja ela
OJUP, OJUP seguida de tratamento cirúrgico ou o conjunto de uropatias incluídas no grupo
“uropatias de interesse” (OJUP, RVU e megaureter). A separação das distribuições de DAPs é
mais acentuada nos casos de OJUP cirúrgica.
116
7.3.3 – Comparação de médias
As TAB. 30 mostra resultados de comparações de médias, realizadas conforme
metodologia exposta (item 3.9.2). O valor p mostrado em cada caso representa a
significância estatística obtida com a aplicação do teste de Welch-Satterthwaite.
Tabela 30 - Comparação de médias de DAPs por grupo de uropatias
Média de DAP_Ft Média de DAP_Vi Média de DAP_Pi
N
no
grupo
fora
do
grupo
valor
p N
no
grupo
fora
do
grupo
valor
p N
no
grupo
fora
do
grupo
valor
p
Achados não significativos 134
8,55
20,03
4E-09
136
5,95
20,74
2E-10
136
5,73
19,79
8E-12
Hidronefrose transitória 40
8,15
13,12
9E-08
41
3,02
12,45
6E-19
41
3,57
11,74
1E-17
Hidronefrose idiopática 89
8,72
14,96
4E-07
90
7,22
13,23
2E-05
90
6,68
12,88
1E-06
Variantes do normal 5
8,74
12,19
5E-03
5
6,94
10,57
2E-02
5
6,30
10,13
2E-02
Achados significativos 60
20,03
8,55
4E-09
60
20,74
5,95
2E-10
60
19,79
5,73
8E-12
OJUP 49
21,46
8,93
3E-09
49
23,78
6,04
4E-11
49
22,69
5,81
8E-13
RVU 10
13,89
12,00
4E-01
10
6,88
10,67
5E-02
10
6,51
10,22
3E-02
Megaueter 1
11,00
12,10
N.D.
1
10,30
10,47
N.D.
1
10,35
10,03
N.D.
Total Geral
194
12,10
196
10,47
196
10,03
A diferença de médias é estaticamente significante em todas as comparações efetuadas,
exceto nas que envolvem megaureter, que não puderam ser calculadas (apenas uma unidade).
Esse resultado indica que as variáveis explicativas escolhidas poderão apresentar bom
potencial de discriminação no diagnóstico das uropatias consideradas.
Observa-se que, para Dap_Ft, a média para “achados não significativos” foi 8,99mm,
enquanto para “achados significativos” foi 21,69mm (p = 2,3E-08). Para o Dap_Vi a média
no grupo foi 6,66mm contra 23,30mm fora do grupo (p = 6,1E-10). Para Dap_Pi a média em
“achados não significativos” foi 6,23mm, contra 22,52mm em “achados significativos” (p =
4,03E-11).
No grupo de “achados não significativos” observamos ainda uma tendência de
diminuição da média de Dap_Ft comparada com a média de Dap_Vi, e de Dap_Vi comparada
com Dap_Pi. no grupo com “achados significativos” a média dos DAPs aproxima-se de
20mm, com pouca diferença nas médias de Dap_Ft, Dap_Vi, Dap_Pi.
7.3.4 - Significância estatística na análise univariada (regressão logística)
Nas TAB. 31 a 33 mostram-se os resultados obtidos em regressões logísticas nas quais
as variáveis respostas são calculadas como uma função de cada uma das variáveis explicativas
consideradas. Cada uma das tabelas refere-se a uma variável-resposta específica, dentre as
escolhidas no delineamento deste estudo, enquanto cada linha da tabela trata de uma das
variáveis explicativas considerada.
117
A TAB. 31 mostra os resultados obtidos na aproximação da variável dicotômica (1 ou
0) que representa a ocorrência, ou não, de OJUP. A TAB. 32 mostra os resultados da
aproximação da variável que representa a ocorrência de OJUP seguida de tratamento
cirúrgico. A TAB. 33 mostra os resultados da aproximação da variável que representa a
ocorrência de uropatia do grupo “uropatias de interesse
Tabela 31 - Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) de OJUP
Variável B SE Wald Sig ExpB B SE Wald Sig ExpB
DAP_PI
0,506
0,085
35,380
2,71E-09
1,66E+00
Constant
-6,143
0,855
51,652
6,63E-13
2,15E-03
DIL_PI
3,137
0,457
47,078
6,82E-12
2,30E+01
Constant
-5,792
0,775
55,800
8,03E-14
3,05E-03
KA1_PI
17,101
2,790
37,561
8,86E-10
2,67E+07
Constant
-6,656
0,943
49,839
1,67E-12
1,29E-03
DAP_VI
0,382
0,065
34,318
4,68E-09
1,47E+00
Constant
-5,063
0,683
54,947
1,24E-13
6,33E-03
DAP_FT
0,216
0,038
31,745
1,76E-08
1,24E+00
Constant
-3,799
0,505
56,696
5,09E-14
2,24E-02
Tabela 32 - Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) de OJUP cirúrgica
Variavel B SE Wald Sig ExpB B SE Wald Sig ExpB
DAP_PI
0,258
0,048
29,416
5,84E-08
1,29E+00
Constant
-6,369
0,991
41,313
1,30E-10
1,71E-03
KA2_PI
0,197
0,035
32,098
1,47E-08
1,22E+00
Constant
-7,037
1,110
40,226
2,26E-10
8,78E-04
DAP_VI
0,208
0,037
31,972
1,56E-08
1,23E+00
Constant
-5,590
0,808
47,896
4,49E-12
3,74E-03
KA2_VI
0,151
0,027
31,111
2,44E-08
1,16E+00
Constant
-6,189
0,925
44,731
2,26E-11
2,05E-03
DAP_FT
0,203
0,037
29,766
4,88E-08
1,23E+00
Constant
-5,476
0,755
52,551
4,19E-13
4,18E-03
Tabela 33 - Resultados de RL para ausência (0) ou presença (1) das uropatias de interesse
Variavel B SE Wald Sig ExpB B SE Wald Sig ExpB
DIL_PI
2,367
0,332
50,951
9,47E-13
1,07E+01
Constant
-3,953
0,491
64,709
8,68E-16
1,92E-02
SFU_PI
2,014
0,310
42,184
8,31E-11
7,49E+00
Constant
-3,206
0,412
60,493
7,39E-15
4,05E-02
DAP_PI
0,393
0,066
35,797
2,19E-09
1,48E+00
Constant
-4,397
0,585
56,465
5,72E-14
1,23E-02
DAP_FT
0,257
0,046
31,937
1,59E-08
1,29E+00
Constant
-3,822
0,537
50,612
1,13E-12
2,19E-02
DAP_VI
0,312
0,054
33,294
7,92E-09
1,37E+00
Constant
-3,795
0,509
55,617
8,81E-14
2,25E-02
Todos os coeficientes obtidos apresentam importante significância estatística.
Variações positivas (crescentes) dos valores das variáveis explicativas, devem corresponder a
aumentos da incidência da uropatia considerada.
7.3.5 – Avaliação do potencial de discriminação de OJUP
As figuras seguintes são as curvas ROC obtidas. As três primeiras curvas mostram o
potencial de discriminação das variáveis explicativas selecionadas (FIG. 32 para Dap_Ft, FIG.
33 para Dap_Vi, e FIG. 34 para Dap_Pi. A FIG. 35 permite a comparação das curvas.
O QUADRO 14 (pág. 121) contém os dados de interesse dessas curvas. Todas as
variáveis explicativas relacionadas apresentam boa capacidade de identificar OJUP, sendo
menor que 10
-5
a probabilidade de que as respectivas ASC sejam menor que 0,5. Entre elas,
observa-se que Dap_Pi tem a maior área sob a curva (ASC = 0,959; SE = 0,019; IC95%
0,922-0,995) e o melhor ponto de separação, Dap_Pi
8,6mm, que tem 91,8% de
118
sensibilidade e 88,4% de especificidade. A superação desse limite confere 8 vezes mais
chances para a ocorrência de OJUP. Dil_Pi 1 apresenta também 91,8% de sensibilidade e
88,4% de especificidade. DAP_Vi 9,8mm apresenta 89,9% de sensibilidade e 90,5% de
especificidade, e tem poder de separação igual aos separadores citados, mas com maior
especificidade (90,5%), em detrimento da sensibilidade (89,8%). A comparação da terceira
curva (Dap_Pi) com as duas primeiras (Dap_Ft e Dap_Vi) mostra que a superioridade da ASC
de Dap_Pi em relação às demais é estatisticamente significante (p = 0,004 e p = 0,023).
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 32 - OJUP xxFigura 33 - OJUP
xxROC para Dap_Ft xxROC para Dap_Vi
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 34 - OJUP xxFigura 35 - OJUP
xxROC para Dap_Pi xxROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
7.3.6 - Avaliação do potencial de discriminação de OJUP cirúrgica
As figuras seguintes são as curvas ROC obtidas. As três primeiras curvas mostram o
potencial de discriminação das variáveis explicativas selecionadas (FIG. 36 para Dap_Ft, FIG.
37 para Dap_Vi, e FIG. 38 para Dap_Pi. A FIG. 39 permite comparação das curvas.
119
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 36 - OJUP cirúrgica xxFigura 37 - OJUP cirúrgica
xxROC para Dap_Ft xxROC para Dap_Vi
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 38 - OJUP cirúrgica xxFigura 39 - OJUP cirúrgica
xxROC para Dap_Pi xxROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
O QUADRO 15 (pág. 121) contém os principais dados de interesse dessas curvas.
Todas as variáveis explicativas relacionadas apresentam boa capacidade de identificar OJUP
cirúrgica, sendo menor que 10
-5
a probabilidade de que as respectivas ASC sejam menor que
0,5. Entre todas as variáveis, Dap_Pi apresenta a maior área sob a curva (ASC = 0,984; SE =
0,007; IC95% 0,970-0,999). As demais variáveis explicativas relacionadas também
apresentam boa capacidade para identificar a variável-resposta considerada, na seguinte
ordem: Ka2_Pi (ASC = 0,981), Dap_Vi (ASC = 0,977), Ka2_Vi (ASC = 0,975), Dap_Ft
(ASC = 0,968). Todos os melhores separadores de cada curva têm sensibilidade de 100%,
mas o melhor deles é Dap_Pi 16,4mm, que tem 93,1% de especificidade. A superação desse
limite confere 15 vezes mais chances para a ocorrência de OJUP cirúrgica.
120
7.3.7 – Avaliação do potencial de discriminação das uropatias de interesse
As figuras seguintes são as curvas ROC obtidas. As três primeiras curvas mostram o
potencial de discriminação das variáveis explicativas selecionadas (FIG. 40 para Dap_Ft, FIG.
41 para Dap_Vi, e FIG. 42 para Dap_Pi). A FIG. 43 permite a comparação das curvas.
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 40 - Uropatias de interesse xxFigura 41 - Uropatias de interesse
xxROC para Dap_Ft xxROC para Dap_Vi
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
,0
,1
,2
,3
,4
,5
,6
,7
,8
,9
1,0
,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9 1,0
1 - Especificidade
Sensibilidade
xxFigura 42 - Uropatias de interesse xxFigura 43 - Uropatias de interesse
xxROC para Dap_Pi xxROC para Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi
O QUADRO 16 (página seguinte) contém os principais dados de interesse dessas curvas.
Entre as 3 primeiras variáveis explicativas, observa-se que Dap_Pi apresenta a maior área sob
a curva (ASC = 0,874; SE = 0,036; IC95% 0,804-0,944). Dap_Pi 9,75 é o ponto de corte
que permite a melhor separação (sensibilidade de 76,6% e especificidade de 94,1%). A
superação desse limite confere 13 vezes mais chances para a ocorrência das uropatias de
interesse. Dap_Vi 10 discrimina tão bem quanto Dap_Pi 9,75. Levando-se em conta todas
as 5 variáveis, Dil_Pi apresenta o maior valor de área sob a curva (ASC = 0,882; SE = 0,033;
IC95% 0,817-0,948), mas os melhores separadores continuam sendo os já citados, envolvendo
Dap_Pi e Dap_Vi.
121
7.3.8 – Quadros com valores relativos às curvas apresentadas
Os quadros desta página mostram os dados numéricos principais relativos às curvas
ROC mostradas nas 3 páginas anteriores. Cada quadro se refere a uma das variáveis-resposta.
Quadro 14 - Detalhamento de curvas ROC - OJUP
(comentado na pág. 117)
Análise por ROC Casos: Melhor Separador Estatística das curvas ROC
Curva Escore = 0 = 1 Corte
Sen. Esp. ASC SE IC 95% p(<.5) RV+ RV-
Curva 1 DAPf
145
49
14,4
0,653
0,959
0,881
0,030
0,821
0,940
0,000
15,78
0,06
Curva 2 Dap_Vi 147
49
9,8
0,898
0,905
0,913
0,034
0,847
0,980
0,000
9,43
0,11
Curva 3 Dap_Pi
147
49
8,55
0,918
0,884
0,959
0,019
0,922
0,995
0,000
7,94
0,13
Curva 4 Dil_Pi
147
49
1
0,918
0,884
0,955
0,017
0,921
0,989
0,000
7,94
0,13
Curva 5 Ka1_Pi
147
49
0,367
0,837
0,959
0,951
0,020
0,912
0,989
0,000
20,50
0,05
Comparação ASC SE p(<0) ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
Curva 1 c/ as demais -0,032
0,039
0,202
-0,078
0,029
0,004
-0,074
0,029
0,006
-0,070
0,030
0,009
Curva 2 c/ as demais compara c/ C2 -0,045
0,023
0,023
-0,042
0,021
0,023
-0,037
0,023
0,055
Curva 3 c/ as demais
compara c/ C3 0,004
0,005
0,255
0,004
0,005
0,049
Curva 4 c/ as demais
compara c/ C4 0,004
0,007
0,265
compara c/ C5
Quadro 15 - Detalhamento de curvas ROC - OJUP cirúrgica
(comentado na pág. 119)
Análise por ROC Casos: Melhor Separador Estatística das curvas ROC
Curva Escore = 0 = 1 Corte
Sen. Esp. ASC SE IC 95% p(<.5) RV+ RV-
Curva 1 DAPf
173
21
13,3
1
0,85
0,968
0,013
0,943
0,993
0,000
6,65
0,15
Curva 2 Dap_Vi 175
21
15,3
1
0,926
0,977
0,010
0,958
0,996
0,000
13,46
0,07
Curva 3 Dap_Pi
175
21
16,4
1
0,931
0,984
0,007
0,970
0,999
0,000
14,58
0,07
Curva 4 Ka2_Pi
175
21
18,83
1
0,88
0,981
0,009
0,963
0,999
0,000
8,33
0,12
Curva 5 Ka2_Vi
175
21
22,17
1
0,886
0,975
0,010
0,954
0,995
0,000
8,75
0,11
Comparação ASC SE p(<0) ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
Curva 1 c/ as demais -0,009
0,012
0,217
-0,016
0,012
0,091
-0,013
0,014
0,178
-0,007
0,013
0,306
Curva 2 c/ as demais compara c/ C2 -0,007
0,007
0,141
-0,004
0,009
0,341
0,002
0,005
0,300
Curva 3 c/ as demais
compara c/ C3 0,004
0,004
0,195
0,006
0,006
0,070
Curva 4 c/ as demais
compara c/ C4 0,006
0,007
0,197
compara c/ C5
Quadro 16 - Detalhamento de curvas ROC - uropatias de interesse
(comentado na pág. 120)
Análise por ROC Casos: Melhor Separador Estatística das curvas ROC
Curva Escore = 0 = 1 Corte
Sen. Esp. ASC SE IC 95% p(<.5) RV+ RV-
Curva 1 DAPf
134
60
12,7
0,633
0,91
0,843
0,033
0,779
0,908
0,000
7,07
0,14
Curva 2 Dap_Vi 136
60
10
0,767
0,941
0,84
0,040
0,761
0,919
0,000
13,03
0,08
Curva 3 Dap_Pi
136
60
9,75
0,767
0,941
0,874
0,036
0,804
0,944
0,000
13,03
0,08
Curva 4 Dil_Pi
136
60
1
0,8
0,897
0,882
0,033
0,817
0,948
0,000
7,77
0,13
Curva 5 Sfu_Pi
135
60
1
0,717
0,919
0,879
0,031
0,819
0,940
0,000
8,80
0,11
Comparação ASC SE p(<0) ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
ASC SE p(<0)
Curva 1 c/ as demais 0,003
0,038
0,467
-0,030
0,034
0,186
-0,039
0,034
0,123
-0,036
0,033
0,139
Curva 2 c/ as demais compara c/ C2 -0,034
0,020
0,046
-0,042
0,019
0,012
-0,039
0,023
0,046
Curva 3 c/ as demais
compara c/ C3 -0,009
0,007
0,109
0,003
0,015
0,358
Curva 4 c/ as demais
compara c/ C4 0,003
0,012
0,397
compara c/ C5
122
7.4 – Outros estudos similares
Alem dos estudos que são apresentados em detalhe neste capítulo, outros similares
foram realizados, diferindo dos descritos, ora pela casuística escolhida, ora por alguma
variante metodológica implementada. Vamos expor aqui, resumidamente, algumas das
observações feitas, escolhidas como as mais relevantes.
No QUADRO 17 mostram-se resultados obtidos para variantes do estudo “A”. Na
primeira linha, que é a referência para comparação com as demais, são resumidos os
resultados do estudo “A”, detalhadamente comentados neste capítulo, consistindo das ASC
obtidas pelas variáveis explicativas Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi na discriminação de OJUP,
OJUP cirúrgica e uropatias de interesse. Nas linhas seguintes são resumidos resultados
obtidos em variantes do estudo “A”. Na segunda linha considera-se a mesma casuística de
pacientes do estudo tomado como referência, mas o critério de seleção da unidade renal mais
dilatada leva em conta o DAP fetal (e não DAP pós-natal, que é usado no estudo “A”). Na
terceira linha as variáveis-resposta consideram as ocorrências de uropatias por unidade,
diferentemente da referência, em que se consideram as uropatias de paciente. Na quarta linha,
a casuística é similar à da referência, mas foi excluída a unidade com diagnóstico de
megaurer. Na última linha a casuística foi ampliada, em relação à referência, não se excluindo
os pacientes com duplicação.
Quadro 17 - Potenciais de discriminação (ASC) obtidos em variantes do Estudo “A”
Variáveis-resposta discriminadas
Variantes do EstudoA
OJUP OJUP cirúrgica Uropatias
Unidades
DapFt DapVi DapPi DapFt DapVi
DapPi DapFt DapVi DapPi
Estudo “A” 124
0,8684
0,9254
0,9564
0,9562
0,9698
0,9742
0,8282
0,8633
0,8953
DAP fetal define mais grave 124
0,8679
0,8997
0,9207
0,9595
0,9742
0,9747
0,8546
0,8510
0,8739
Uropatia por unidade 124
0,8738
0,9452
0,9786
0,9513
0,9644
0,9780
0,8464
0,8953
0,9254
Exclusão de megaureter 123
0,8692
0,9258
0,9574
0,9557
0,9695
0,9739
0,8298
0,8624
0,8940
Sem excluir duplicação 130
0,8381
0,9010
0,9358
0,9401
0,9610
0,9688
0,8084
0,8564
0,8920
Os resultados sugerem que ocorre piora na capacidade de Dap_Vi e Dap_Pi para
predizer OJUP e “uropatias de interesse”, quando se usa o DAP fetal na escolha da unidade
mais dilatada. Também ocorre piora na capacidade das variáveis explicativas relativamente às
três variáveis-resposta, se não forem excluídos os pacientes com duplicação renal. Melhora a
capacidade das três variáveis explicativas para identificar OJUP, OJUP cirúrgica e “uropatias
de interesse”, na situação em que as variáveis-resposta consideram uropatias por unidade,
comparativamente ao estudo de referência, em que se consideram as uropatias de paciente.
Excluindo-se da análise o paciente portador de megaureter, a capacidade das variáveis
explicativas para discriminar OJUP, OJUP cirúrgica e “uropatia de interesse” não se altera
muito em relação ao resultado do estudo “A”.
123
No QUADRO 18 comparam-se resultados obtidos em variantes do estudo “B”. Na
primeira linha, que servirá de referência, são resumidos resultados do estudo “B”. Na segunda
linha considera-se a casuística descrita em 4.2, que corresponde ao banco de dados completo.
Na terceira linha, estuda-se a casuística descrita em 4.5, que é a mesma da linha anterior
(banco de dados completo) excluída dos pacientes com uropatias do grupo “outras uropatias”.
Na quarta linha a casuística anterior (banco de dados, sem outras uropatias) é excluída
também das unidade não dilatadas. A quinta linha é o estudo “B” excluída de “megaureter”.
Na última linha retoma-se a casuística 4.5 (banco de dados, sem outras uropatias), mas as
variáveis-resposta consideram uropatias de pacientes (e não de unidades, como no estudo “B”.
Quadro 18 – Potenciais de discriminação (ASC) obtidos em variantes do Estudo “B”
Variáveis-resposta discriminadas
Variantes do Estudo “B”
OJUP OJUP cirúrgica Uropatias
Unidades
DapFt DapVi DapPi DapFt DapVi DapPi DapFt DapVi DapPi
Estudo “B” 196
0,8809
0,9134
0,9586
0,9679
0,9771
0,9842
0,8435
0,8403
0,8739
Todas as unidades 286
0,8836
0,9063
0,9469
0,9621
0,9762
0,9828
0,8662
0,8610
0,8879
Anterior, sem outras uropatias 260
0,8936
0,9124
0,9544
0,9665
0,9763
0,9833
0,8743
0,8648
0,8941
Anterior, sem as não dilatadas 207
0,8574
0,8944
0,9416
0,9569
0,9695
0,9785
0,8310
0,8377
0,8737
"B" sem megaureter 195
0,8817
0,9138
0,9596
0,9677
0,9770
0,9841
0,8439
0,8384
0,8722
Uropatia por paciente 260
0,6650
0,6736
0,7151
0,6868
0,6918
0,7094
0,6728
0,6623
0,6879
Observa-se que ao utilizarmos o banco de dados completo ou ao excluirmos também as
unidades portadoras de megaureter, a capacidade das três variáveis explicativas identificar
OJUP, OJUP cirúrgica e “uropatias de interesse” não se altera muito em relação àquela
obtidas no estudo “B”. Ocorre melhora na capacidade das três variáveis explicativas para
identificar “uropatias de interesse”, se excluírmos da análise apenas as unidades portadoras de
‘outras uropatias,” (permanecendo na análise as unidades consideradas sem dilatação). Ocorre
piora na capacidade das três variáveis explicativas para identificar as variáveis-resposta se,
além de “outras uropatias”, excluirmos da análise as unidades não dilatadas. Ocorre piora
importante na capacidade das três variáveis explicativas para identificar a OJUP, OJUP
cirúrgica e “uropatia de interesse” se utilizarmos a casuística da terceira linha (banco de
dados, sem outras uropatias), mas com as variáveis-resposta considerando uropatias de
pacientes (e não de unidades, como no estudo “B”).
124
Capítulo 8 - DISCUSSÃO
8.1 – Casuística
Neste estudo, acompanhamos prospectivamente 143 crianças com diagnóstico de
dilatação isolada da pelve renal (DAP 5mm), com idade gestacional média de 34,9 semanas
(DP 3,3). O primeiro exame ultra-sonográfico pós-natal foi realizado após o quinto dia de
vida (média 25,2 dias; DP = 25,6), evitando-se o efeito da desidratação relativa e da baixa
taxa de filtração glomerular, que são características dos primeiros dias de vida do neonato.
Segundo Ismaili et al. (2004), 71% dos urologistas pediátricos e nefrologistas pediátricos
solicitam a realização do primeiro exame ultra-sonográfico renal para avaliação de crianças
com hidronefrose fetal entre o terceiro e o oitavo dia de vida.
Das 143 crianças 104 (73%) eram do sexo masculino e 39 (27%) do sexo feminino. A
preponderância da incidência de anomalias renais em crianças do sexo masculino é fato
conhecido, descrito por vários autores (HOMSY et al., 1990; SCOTT, 1993; ADRA et al.,
1995; ISMAILI et al., 2002; BOUZADA et al., 2004b; COHEN-OVERBEEK et al., 2005).
Neste estudo, a anomalia mais encontrada foi a hidronefrose idiopática, que ocorreu em
42,7% dos pacientes. A seguir, a obstrução da junção ureteropélvica que ocorreu em 28% dos
pacientes.
Nas casuísticas de O'Flynn et al. (1993) e Bouzada et al. (2004b) a hidronefrose
idiopática também foi a principal causa de hidronefrose fetal, seguida da OJUP. Para Mandell
et al. (1991) e Blachar et al. (1994a) a principal causa de hidronefrose fetal foi a OJUP,
seguida da hidronefrose idiopática. Outros autores relataram uma baixa prevalência de OJUP
(3,8% a 6%) entre os pacientes com dilatação da pelve do rim no ultra-som fetal (Dudley et
al., 1997; Jaswon et al.,1999; Acton et al., 2003a). A diferença, verificada entre diversos
trabalhos, na prevalência de obstrução da junção ureteropélvica e de hidronefrose idiopática
pode estar relacionada à variedade de critérios adotados para definir OJUP. Neste trabalho,
assim como O'Flynn et al. (1993) e Bouzada et al. (2004a) o padrão da curva de drenagem do
radiofármaco no renograma diurético (DTPA) foi o critério utilizado para definir obstrução da
junção ureteropélvica. No estudo de Blachar et al. (1994a; 1994b) o critério renográfico
utilizado para definir obstrução foi o “washout” < 20% (DTPA). No acompanhamento da
criança com hidronefrose fetal, uma recente tendência de considerar como portadoras de
OJUP apenas as unidades com déficit de drenagem no renograma diurético e função renal
diferencial < 40%, ou aquelas que apresentem, durante o acompanhamento, perda maior que
10% na FRD. Konda et al. (2002) sequer utilizaram o renograma diurético na avaliação de
hidronefrose fetal, baseando sua conduta clínica ou cirúrgica na diminuição da FRD (DMSA)
em exames consecutivos. Alguns autores, como Coplen et al. (2006) definiram como
portadoras de OJUP apenas as unidades renais que necessitaram de correção cirúrgica, ou
125
seja, as que apresentaram perda da função renal diferencial ou aumento da dilatação em
exames consecutivos.
O protocolo adotado no presente trabalho determina a pesquisa de refluxo vesicoureteral
em todos os pacientes. O refluxo vesicoureteral ocorreu em apenas 4,9% das crianças,
contando-se, inclusive, os pacientes portadores de RVU associada a duplicação renal. A
uretrocistografia miccional contribuiu para o diagnóstico de outras anomaliass como válvula
de uretra posterior (0,7% dos 143 pacientes), ureterocele (4,2%). Sargent (2000) encontrou
RVU em 20,5% das crianças com hidronefrose fetal. Outros autores relatam variações na
incidência de RVU, em neonatos com dilatação da pelve renal fetal, de 4% a 30%
(PERSUTTE et al., 1997).
A incidência de pelve extra-renal não associada a outras anomalias foi de 2,8%. Para
Toiviainen-Salo et al. (2004) a prevalência de pelve extra-renal pode variar de 10-15% dos
casos. Na casuística considerada não crianças com rim multicístico, uma vez que essa
anomalia, por ser identificada no ultra-som fetal ou no primeiro ultra-som pós-natal, não está
incluída no estudo.
Na nossa casuística 26 pacientes (de 143) foram submetidos a tratamento cirúrgico
(18,2%). A pieloplastia foi a intervenção cirúrgica mais freqüente tendo sido realizada em 18
pacientes. Um dos pacientes com RVU apresentava OJUP no rim contralateral e foi
submetido a pieloplastia. Excluídos os pacientes portadores de “outras uropatias” 18 (de 124)
pacientes foram submetidos a pieloplatia (14,5%). De todos os pacientes classificados como
portadores de OJUP (padrão obstrutivo ou intermediário ao renograma diurético) 57,5%
foram submetidos a tratamento cirúrgico. Os demais pacientes permanecem em tratamento
clínico, pois mantiveram função renal diferencial 40%.
Na casuística de Adra et al. (1995), 13% de todas as crianças avaliadas necessitaram de
tratamento cirúrgico. Na casuística de Bouzada et al. (2004b), entre os pacientes com
hidronefrose fetal isolada, 18,4% dos pacientes necessitaram de pieloplatia. Em 1994, Koff et
al. relataram a evolução de 104 crianças com hidronefrose unilateral isolada (incluídos
hidronefrose idiopática e obstrução da junção ureteropélvica, e excluídos refluxo
vesicoureteral e outras anomalias). Durante os cinco anos de acompanhamento dos 88
pacientes com FRD > 40%, sete necessitaram de pieloplastia por deterioração da FRD ou
progressão da hidronefrose. Dos 16 pacientes com FRD < 40% uma unidade evoluiu
insatisfatoriamente e necessitou de pieloplastia. Então, das 104 crianças, 8 foram submetidas a
pieloplastia (7,6%). Em 2000, Ulman et al. relataram a evolução dessas 104 crianças, após um
acompanhamento prospectivo de 10 anos. Em 104 crianças, 23 foram submetidas a
pieloplastia (22%).
126
8.2 - Variabilidade e potencial preditivo das séries evolutivas
No decorrer do trabalho que propiciou esta dissertação, observamos que os valores dos
DAPs da pelve renal dos pacientes variavam em exames consecutivos, ora aumentando e
depois diminuindo, ou vice-versa. Essa constatação aponta para a possibilidade de uma
natural e ainda imprevisível variação do DAP da pelve da criança em exames consecutivos.
Na tentativa de quantificar essa variação criamos o índice de variabilidade. Comparando,
quanto à variabilidade, as variáveis peso, estatura da criança, comprimento e volume do rim e
DAP da pelve, verificamos que o DAP apresenta a maior variabilidade. Não foi possível
correlacionar a variabilidade do DAP com a ocorrência de cirurgia na unidade renal
(associação estatisticamente significante desse evento foi obtida para a variabilidade de
volume e comprimento renal). Especulamos que essa variabilidade da pelve pode estar
associada: 1) as características fisiológicas da pelve renal; 2) as medidas ultra-sonográficas; 3)
alguma uropatia específica ou 4) associação de fatores. Em relação as características da pelve
alguns autores relataram ocorrência de variabilidade da DAP da pelve renal fetal e neonatal
(Petrikovsky et al., 1995; Persutte, et al. 1997, Persutte et al., 2000; Anderson, et al. 2004,
Damen-Elias et al., 2004). As mudanças do diâmetro ântero-posterior da pelve renal têm sido
relacionadas à hidratação materna, ao refluxo vesicoureteral, à duplicação renal, distensão da
bexiga e ao aumento do fluxo urinário (Robinson et al., 1998; Babcook et al., 1998; Anderson
et al., 2004). Nesse estudo não conseguimos correlacionar a variabilidade do DAP com
nenhuma das uropatias (inclusive refluxo vesicoureteral). Wiener et al. (2002) estudaram as
modificações do grau da SFU nas crianças com diagnóstico pré-natal de hidronefrose.
Sugeriu-se que talvez a aparência do rim do neonato seja variável, e possa mudar a cada hora,
a cada dia, ou a cada semana dependendo da ingestão de líquidos e das perdas. Para Koff et
al. (2005), a pelve renal é complacente e aumenta durante a diurese em crianças jovens com
ou sem hidronefrose, sendo que essa resposta parece ser mais importante em crianças menores
de dois anos. Em relação às medidas ultra-sonográficas alguns autores citaram que causas
relativas ao paciente, a técnica do exame (inclusive posição do paciente) e ao observador
podem influir nas medidas do rim da criança. o descritas variações interobservador e intra-
observador (Schlesinger et al., 1991; Carrico et al., 1996; Sargent et al, 1997).
Em estudo preliminar do potencial preditivo de possíveis variáveis explicativas,
verificamos que, para três variáveis-resposta consideradas (OJUP, OJUP cirúrgica e
“uropatias de interesse”), entre 65 e 96 parâmetros de caracterização das séries evolutivas dos
pacientes apresentavam significância estatística em suas associações. Dessas, entre 16 e 21
variáveis poderiam ser obtidas em tempo hábil para influenciar o tratamento dos pacientes,
sendo, assim, candidatas a variáveis diagnósticas. Entre as variáveis obtidas, encontram-se as
mais usualmente relacionadas na literatura: DAP (fetal e pós-natal), volume do rim,
comprimento do rim, índice DP/DR, etc.
127
8.3 – Regressão espontânea da dilatação da pelve renal
É sabido que a dilatação da pelve renal fetal pode estar associada com uma anomalia
significativa do trato urinário, mas também pode regredir espontaneamente intra-útero ou nos
primeiros meses de vida. Esse comportamento tem sido estudado por vários autores
(MAIZELS et al., 1992; TAKLA et al., 1998; KOFF, 2000; BAJPAI et al., 2002). Com
acompanhamento ultra-sonográfico, alguns autores documentaram a ocorrência de resolução
da dilatação da pelve renal durante a gestação (MANDELL et al., 1991; PERSUTTE et al.,
1997).
Nossos dados não permitem acompanhar a evolução ultra-sonográfica da dilatação da
pelve renal durante a gestação, uma vez que dispomos de uma medida fetal. Analisamos a
evolução da dilatação da pelve renal do ultra-som fetal para o primeiro e para o último ultra-
som pós-natal. Observamos hidronefrose transitória em 7,7% dos pacientes com hidronefrose
fetal. Das unidades incluídas no banco de dados, encontramos 43 com DAP fetal 5mm que
evoluíram para normalização no primeiro ultra-som pós-natal. Essas 43 unidades
correspondem a 21,7% de todas as unidades fetais dilatadas.
Nessa casuística a incidência de hidronefrose transitória parece ser menor que a da
literatura. Dejter et al. (1988) confirmaram o diagnóstico de hidronefrose neonatal em 75-
80% dos casos de hidronefrose fetal. Na casuística de Cheng et al. (2004) 25% dos pacientes
apresentaram hidronefrose transitória. Adra et al. (1995), relataram 31% de hidronefrose
transitória, mas nesse caso foram avaliados apenas os fetos com DAP < 10mm (dilatação
leve).
Estudamos a evolução ultra-sonográfica de 72 pacientes com dilatação da pelve renal.
Nessa análise estão incluídos os pacientes com hidronefrose transitória e hidronefrose
idiopática (51% dos 143 pacientes). Conseqüentemente, estão excluídos todos os pacientes
portadores de uropatias. Houve um predomínio de crianças do sexo masculino (76,7%).
Homsy et al. (1990), avaliando crianças com hidronefrose, sem refluxo vesicoureteral ou
outra anomalia, encontraram uma proporção de 3:1 entre crianças do sexo masculino e
feminino. Cheng et al. (2004) observaram predominância de crianças do sexo masculino com
hidronefrose fetal isolada na proporção 1,74: 1.
Assim como em Cheng et al. (2004), as unidades renais foram classificadas em graus de
acordo com o DAP: normal (0mm a 4mm), dilatação leve (5mm a 9mm), moderada (10mm a
15mm) e grave (> 15mm). A primeira análise trata da evolução das unidades com maior DAP
(no primeiro ultra-som pós-natal). A segunda análise considera a evolução de até duas
unidades por paciente (desde que portadoras de hidronefrose idiopática ou transitória).
Na primeira das análises, observamos que do primeiro ultra-som pós-natal para o último
houve regressão da dilatação em 47,2% (contra 52% de Cheng et al.), e progressão em 9,7%
128
(contra 5% de Cheng et al.). A relação entre casos de regressão e casos de progressão foi de
4,9:1, com significância estatística na involução (p < 0,001). Houve, também, regressão da
dilatação, quando comparamos a dilatação do ultra-som fetal para o primeiro ultra-som pós-
natal (p < 0,001), e do ultra-som fetal para o último ultra-som pós-natal (p < 0,001).
Na segunda análise são consideradas 113 unidades. Observamos que, do primeiro ultra-
som pós-natal para o último, a dilatação permaneceu constante em 43,4% unidades. A
regressão do grau de dilatação ocorreu em 46,0% das unidades, e a progressão ocorreu em
apenas 10,6%. A relação entre casos de regressão e casos de progressão é de 4,3:1 (p <
0,001). Ocorreu, ainda, regressão da dilatação quando comparamos a dilatação do ultra-som
fetal para o primeiro ultra-som pós-natal (p < 0,001), e do ultra-som fetal para o último ultra-
som pós-natal (p < 0,001). Ulman et al. (2000) acompanharam pacientes com hidronefrose
unilateral SFU 3 e 4, independente do renograma diurético e da função renal diferencial, e
observaram que a dilatação resolveu em 69% das unidades (SFU grau 0 ou 1).
Avaliamos a influência da lateralidade e do sexo na regressão da dilatação. Os
resultados expostos permitem a conclusão de que a regressão da dilatação ocorre em
proporção significantemente mais acentuada nas unidades de lateralidade direita, quando se
comparam ultra-sons fetais com os primeiros após o nascimento (p < 0,03 ). Quanto a uma
possível influência do sexo, não constatamos nenhuma associação estatisticamente
significante. Em estudo similar ao que fazemos nesta dissertação Hiraoka et al. (1995 apud
CHENG et al., 2004), sugere que as unidades renais esquerdas, bem como as unidades de
pacientes do sexo masculino, estariam sujeitas a pior prognóstico, considerada a regressão
espontânea da dilatação da pelve renal. Cheng, em estudo já comentado, não conseguiu
comprovar essas hipóteses, na casuística por ele considerada. Adra et al. (1995) não
observaram diferença relativamente ao sexo, na resolução intra-útero (27% sexo masculino
contra 40% no feminino (p = 0,31).
8.4 – Acurácia diagstica de medidas do DAP
Diversos autores confirmam que a mensuração do DAP é uma maneira simples e
eficiente para avaliar a presença de uropatia significativa em fetos (STOCKS et al., 1996;
BOUZADA et al., 2004b). Para Aksu et al. (2005) uma correlação negativa entre o DAP e
a taxa de resolução espontânea, e uma correlação positiva com a taxa de cirurgia (p< 0,01).
Muitos autores tentaram correlacionar o valor do DAP com a presença ou não de uropatia,
bem como identificação de OJUP, OJUP cirúrgica e RVU (GRIGNON et al., 1986b:
COPLEN et al., 2006).
Os resultados do presente trabalho confirmam que o DAP, assim como algumas das
variáveis dele derivadas, têm um bom poder para identificar pacientes portadores de uropatia,
principalmente OJUP cirúrgica. Além disto, verificamos que, em qualquer situação, o uso da
129
média das duas primeiras medidas (pós-natal) do DAP sempre conduz a melhor discriminação
do que o uso exclusivo da primeira medida.
8.4.1 – Comparações de médias das medidas de DAP
Em nossos estudos observamos que a média do DAP apresenta diferença
estatisticamente significante entre o grupo com “achados não significativos” e o grupo com
“uropatias de interesse”. Essa diferença foi observada tanto para o Dap_Ft, Dap_Vi e Dap_Pi.
Quando consideramos apenas a unidade mais grave de cada paciente, a média do
DAP fetal associada com “achados não significativos” foi 8,9mm (hidronefrose transitória:
7,7mm; hidronefrose idiopática: 9,1mm; pelve extra-renal: 8,68mm) e a média associada com
“achados significativos” foi 21,3mm (OJUP: 22,03mm; RVU: 17,7mm; megaureter: 11mm).
Coplen et al. (2006) relataram que a média dos DAP fetal nos rins não obstruídos foi de
11,8mm e dos obstruídos foi de 22,3mm. Observa-se que a média do DAP no primeiro ultra-
som pós-natal associada com “achados não significativos” foi 6,9mm (hidronefrose
transitória: 3,3mm; hidronefrose idiopática: 7,5mm; pelve extra-renal: 8,1mm) e a média
associada com achados significativos” foi 23,4mm (OJUP: 25,5mm; RVU: 8,8mm;
megaureter: 10,3mm).
Quando consideramos até duas unidades por paciente, a média do DAP fetal
associada com “achados não significativos” foi 8,6mm (hidronefrose transitória: 8,2mm;
hidronefrose idiopática: 8,7mm; pelve extra-renal: 8,7mm) e a média associada com “achados
significativos” foi 20,3mm (OJUP: 21,5mm; RVU: 13,9mm; megaureter: 11mm).
Na casuística de Stocks et al. (1996) a média do DAP renal fetal foi 15,28mm (DP
1,45), nos pacientes com OJUP; 9,6mm (DP 1,35), nos com RVU; e 10,33mm (DP 1,60), nos
com pelve extra-renal. Subramaniam et al. (1999) relataram que rins com DAP > 20mm
necessitaram, mais comumente, de tratamento cirúrgico. Subramaniam et al. (1999)
observaram correlação negativa entre DAP e função renal. A média do DAP no primeiro
ultra-som pós-natal associada com “achados não significativos” foi 6,0mm (hidronefrose
transitória: 3,0mm; hidronefrose idiopática: 7,2mm; pelve extra-renal: 6,9mm) e a média
associada com achados significativos” foi 20,7mm (OJUP: 23,8mm; RVU: 6,9mm;
megaureter: 10,3mm). Para Bouzada et al. (2004a) o DAP pós-natal médio associado com
“uropatia significativa” foi 23,6mm e o DAP associado com tratamento conservador foi
7,6mm. Dados do “Great Ormond Street Hospitalmostraram que rins com DAP < 12mm,
sem caliectasia, não necessitaram de tratamento cirúrgico (Dhillon, 1998).
Nos dois estudos realizados, a média do DAP_Pi apresenta-se discretamente superior ao
DAP_Vi, para hidronefrose idiopática e megaureter, e discretamente inferior para todas as
outras variáveis-resposta.
130
Pesquisa entre os urologistas e nefrologistas pediátricos de língua francesa filiados a
French-speaking Society of Pediatric Nephrology (SNP) e a French-speaking Pediatric
Urology Study Group (GEUP) (Ismaili et al., 2004), dão conta de que, durante o
acompanhamento de crianças com dilatação da pelve renal fetal, 67% dos nefrologistas
pediátricos e 85% dos urologistas pediátricos, solicitam a realização de um segundo exame
ultra-sonográfico renal com aproximadamente um mês de vida. Os nefrologistas pediátricos
consideraram anormal um DAP renal neonatal 9mm (DP 2,9), enquanto os urologistas
pediátricos consideraram anormal um DAP 11mm (DP 1,9).
8.4.2 – Acurácia diagnóstica do DAP fetal
Neste trabalho, avaliamos a acurácia do DAP fetal para discriminar OJUP, OJUP
cirúrgica e “uropatias de interesse”.
Considerando a uropatia da unidade mais dilatada, observamos que, para o
diagnóstico de OJUP DAP fetal 15mm apresentou 62,5% de sensibilidade e 94% de
especificidade. A ASC é 0,868 (DP: 0,035; IC 95% 0,799-0,938). Para o diagnóstico de
OJUP cirúrgica verificamos que DAP fetal 18,2mm tem 88,2% de sensibilidade e 93,4%
de especificidade. A ASC é 0,956 (DP: 0,019; IC 95% 0,919 - 0,993). Para o diagnóstico de
“uropatias de interesse” o DAP fetal verificamos que DAP fetal 12,7mm tem 64,6% de
sensibilidade e 88% de especificidade. A ASC é 0,828 (DP: 0,042; IC 95% 0,747 - 0,910).
Coplen et al. (2006) relatam que DAP fetal 15mm separa os fetos com obstrução do
trato urinário (área sob a curva: 0,80; sensibilidade: 0,73; especificidade: 0,82). No estudo de
Coplen et al. 27 pacientes com megaureter e os autores relataram que a exclusão desses
pacientes não mudou os resultados. Nossa casuística tem apenas um paciente com megaureter
e exclui-lo ou não da análise não acarretou alterações importantes. Ao comparar nossos
resultados com os de Coplen et al., cabe ressaltar que a definição de OJUP não foi igual nos
dois trabalhos. Coplen et al. Definiram como obstruídas as unidades que apresentaram
diminuição > 10% na função renal diferencial, em exames seqüenciais, ou as que
apresentaram aumento da dilatação em exames ultra-sonográficos seriados (todas submetidas
a cirurgia). Adicionalmente, algumas crianças foram submetidas a cirurgia por sintomas
clínicos (dor abdominal intermitente). Em nosso trabalho foram classificadas como obstruídas
as unidades comficit de drenagem no renograma diurético. Para unidades renais com
padrão de drenagem intermediária e FRD > 40%, foi indicado acompanhamento com
avaliações periódicas. O tratamento cirúrgico foi indicado quando ocorreu diminuição de 10%
da FRD em exames seqüenciais.
Considerando até duas unidades por paciente, observamos que, para o diagnóstico de
OJUP DAP fetal
14,4mm tem 65,3% de sensibilidade e 95,9% de especificidade. A ASC é
0,881 (DP: 0,030; IC 95% 0,821 - 0,940). Para o diagnóstico de OJUP cirúrgica DAP fetal
131
13,3mm tem 100% de sensibilidade e 85,1% de especificidade. A ASC é 0,968 (DP: 0,013; IC
95% 0,943 - 0,993). Para o diagnóstico de “uropatias de interesse”, DAP fetal 12,7mm
tem 63,3% de sensibilidade e 91,2% de especificidade. A ASC é 0,843 (DP: 0,033; IC 95%
0,779 - 0,908).
Bouzada et al. (2004b), estudaram 103 crianças e 154 unidades renais. Observa-se que
as unidades com DAP 7,5mm apresentavam maior risco para uropatia de interesse
(sensibilidade: 0,979; especificidade: 0,406; área sob a curva: 0,900; IC 95%: 0,841 0,942).
DAP 15mm foi o melhor valor para separar as unidades renais com OJUP cirúrgica
(sensibilidade: 0,824; especificidade: 0,879; área sob a curva: 0,953; IC 95%: 0,908 0,980).
Comparando nossos dados com o de Bouzada et al., observamos que, para as uropatias de
interesse, a definição de DAP fetal 12,7mm como melhor separador acarretou perda de
sensibilidade (63,3% contra 97,9%), porém aumentou a especificidade (91,2% contra 40,6%)
e com piora na ASC (0,843 e 0,900). Por outro lado, encontramos um ponto de corte (DAP
13,3mm) inferior ao de Bouzada et al. (DAP 15mm) para identificar as unidades que
necessitarão de tratamento cirúrgico. A utilização do DAP 13,3mm para discriminar as
unidades portadoras de OJUP cirúrgica acarretou aumento de sensibilidade (100% contra
82,4%), pequena diminuição da especificidade (85,1% contra 87,9%) e uma melhora na ASC
(0,968 e 0,908). Cohen-Overbeek et al. (2005) também estudaram a relação entre o valor do
DAP fetal e a capacidade de diagnosticar uropatia. O aumento do valor do DAP fetal levou a
diminuição da sensibilidade e aumento da especificidade (DAP 8mm, 80% de sensibilidade
e 79% de especificidade; DAP 9mm, 71% de sensibilidade e 90% de especificidade; DAP
10mm, 61% de sensibilidade e 93% de especificidade). Defende-se que ao utilizar o DAP
10mm apenas os casos de hidronefrose leve e de RVU não seriam diagnosticados. No estudo
envolvendo duas unidades renais encontramos que DAP 12,7mm foi o melhor separador
para identificar OJUP e uropatias de interesse. Talvez isto seja decorrência da característica
da nossa amostra que tem apenas seis pacientes com RVU primário e um paciente com
megaureter.
8.4.3 – Comparação da acurácia entre medidas de DAP
Quando consideramos a unidade mais dilatada por paciente, entre Dap_Ft, Dap_Vi e
Dap_Pi, essa última foi a variável que apresentou maior capacidade de discriminar os
pacientes portadores de OJUP, OJUP cirúrgica ou “uropatias de interesse”. Para o diagnóstico
de OJUP, Dap_Pi apresentou a maior área sob a curva, com ASC = 0,956 (SE = 0,019;
IC95% 0,919–0,994), e o melhor ponto de separação, Dap_Pi 10,7mm, que tem 87,5% de
sensibilidade e 95,2% de especificidade. A superação desse limite confere 18,4 vezes mais
chances para a ocorrência de OJUP. Para o diagnóstico de OJUP cirúrgica, Dap_Pi
apresentou a maior área sob a curva, com ASC = 0,974 (SE = 0,013; IC95% 0,948–1,000), e o
132
melhor ponto de separação, Dap_Pi 15,8mm, que tem 100% de sensibilidade e 87,9% de
especificidade (Dap_Vi 16 tem a mesma sensibilidade e a mesma especificidade). Para o
diagnóstico de “uropatias de interesse”, Dap_Pi apresentou a maior área sob a curva (ASC =
0,895: SE = 0,037; IC95% 0,823–0,967), e o melhor ponto de separação, DAP_ Pi 10,7mm
que apresentou 77,1% de sensibilidade e 97,4% de especificidade.
Quando consideramos até duas unidades por paciente, entre Dap_Ft, Dap_Vi e
Dap_Pi, essa última também foi a variável que apresentou maior capacidade de discriminar os
pacientes portadores de OJUP, OJUP cirúrgica ou “uropatias de interesse”. Para o diagnóstico
de OJUP, Dap_Pi apresentou ASC = 0,959 (SE = 0,019; IC95% 0,922–0,995) e o melhor
ponto de separação, Dap_Pi 8,6mm, com 91,8% de sensibilidade e 88,4% de especificidade.
Para o diagnóstico de OJUP cirúrgica, Dap_Pi apresentou ASC = 0,984 (SE = 0,007; IC95%
0,970-0,999) e o melhor ponto de separação, Dap_Pi 16,4mm, com 100% de sensibilidade e
93,1% de especificidade. Para o diagnóstico de “uropatias de interesse” Dap_Pi apresentou
ASC = 0,874 (SE = 0,036; IC 95% 0,804–0,944) e o melhor ponto de separação, Dap_Pi
9,75 com 76,7% de sensibilidade e 94,1% de especificidade. DAP_Vi 10 mm separa tão
bem quanto o Dap_Pi já mencionado, mas a ASC dessa variável é menor.
Em Bouzada et al. (2004a) o DAP_Vi 10mm apresentou área sob a curva igual a
0,921; 90,4% de sensibilidade e 91% de especificidade para identificar uropatias. Nosso
estudo mostra que, na casuística estudada, o DAP renal fetal foi pior que o DAP pós-natal
para discriminar OJUP, OJUP cirúrgica e uropatias de interesse”. Esse achado foi
semelhante ao de Bouzada (2003). Além disto, verificamos que o uso da média das duas
primeiras medidas (pós-natal) do DAP sempre conduziu a melhor discriminação do que o uso
exclusivo da primeira medida.
8.4.4 – Comparação com outras variáveis
Além das medidas de DAP, outras variáveis, algumas derivadas do próprio DAP,
apresentam acurácia para identificar os pacientes portadores de OJUP, OJUP cirúrgica ou
“uropatias de interesse”.
Quando consideramos a unidade renal mais dilatada, observa-se que, para o
diagnóstico de OJUP, Dil_Pi apresentou o maior valor de ASC (0,957: SE = 0,018; IC95%
0,923-0,992), mas Ka2_Pi 18 é o ponto de corte que permite a melhor separação com
sensibilidade de 90,0% e especificidade de 92,9%. Para o diangnóstico de OJUP cirúrgica, a
maior ASC é a de Sfu_Pi (ASC = 0,977; SE = 0,012; IC95% 0,953-1,000), enquanto Sfu_Vi
2 é o melhor discriminador com 100% de sensibilidade e 90,7% de especificidade. Para o
diagnóstico de “uropatias de interesse” Sfu_Pi apresentou o maior valor de ASC (0,925: SE
= 0,028; IC95% 0,871-0,979), embora Dap_Pi
10,7mm continue sendo melhor
(sensibilidade de 77,1% e especificidade de 97,4%).
133
Quando consideramos até duas unidades por paciente, observamos que, para o
diagnóstico de OJUP, Dil_Pi 1 apresenta 91,8% de sensibilidade e 88,4% de especificidade.
Para o diagnóstico de OJUP cirúrgica, além das medidas de DAP, as demais variáveis
explicativas relacionadas apresentam boa capacidade para identificar a variável-resposta
considerada: Ka2_Pi (ASC = 0,981), Ka2_Vi (ASC = 0,975). Os melhores separadores de
cada curva têm sensibilidade de 100%. Para o diagnóstico de “uropatias de interesse” Dil_Pi
apresentou o maior valor de ASC (0,882: SE = 0,033; IC95% 0,817-0,948), mas Dap_Pi
9,75 é o ponto de corte que permite a melhor separação.
Bouzada (2003) relatou que o DAP pós-natal apresentou a melhor área sob a curva para
o diagnóstico de OJUP, seguido pelo índice DP/DR (equivale a Ka1_Vi; ASC = 0,962;
IC95% 0,923-0,985; melhor separador: 0,46), seguido pelo SFU (equivale a Sfu_Vi; ASC =
0,933; IC95% 0,886-0,965; melhor separador: 2). Para OJUP cirúrgica, o DAP pós-natal
apresentou a melhor área sob a curva, sendo o DAP fetal o segundo melhor. A terceira melhor
ASC é do índice DP/DR (equivale a Ka1_Vi; ASC = 0,970; IC95% 0,934-0,989; melhor
separador: 0,51), seguido pelo SFU (equivale a Sfu_Vi; ASC = 0,941; IC95% 0,896-0,970;
melhor separador: 2). Para “uropatias de interesse” (chamadas pela autora “uropatias
significativas”) o DAP pós-natal apresentou a melhor área sob a curva. A segunda melhor
ASC é do índice DP/DR (equivale a Ka1_Vi; ASC = 0,901; IC95% 0,848-0,940; melhor
separador: 0,30), seguido pelo DAP fetal e pelo SFU (equivale a Sfu_Vi; ASC = 0,875; IC
95% 0,817- 0,919: melhor separador: 1). Em todas as análises o comprimento renal
(equivale a Rlg_Vi) e o volume renal (equivale a Vol_Vi) também foram avaliados e
apresentaram bom potencial de separação das unidades com OJUP, similares aos observados
na análise preliminar que fizemos no capítulo 6.
8.5 – Outros aspectos
Entre as limitações deste estudo estão as naturais dificuldades relacionadas à pesquisa
clínica. Apesar de toda a atenção que foi dedicada ao planejamento da coleta de informações,
quando da concepção e projeto do banco de dados, muitos foram os erros (detectados e
corrigidos) e muitas as inconsistências (que não puderam ser corrigidas) observadas nas séries
evolutivas. É certo que, em muitos casos, os dados de interesse são coletados em
circunstâncias que não oferecem oportunidades de refazer exames, confirmar leituras, esperar
situações mais propícias para realizar medidas, anotar fatores que possam acarretar confusão,
etc.
Sempre se pode, todavia, aumentar o esforço de padronização do processo de coleta de
dados, preferivelmente valendo-se de formulários que reduzam as possibilidades de
equívocos, tanto na anotação primária de cada dado como nas transcrições (para o banco de
dados eletrônico).
134
No caso de trabalho coletivo, em que a responsabilidade de coleta e transcrição de
dados é distribuída entre várias pessoas, rotinas periódicas de verificação da confiabilidade
dos registros devem ser planejadas. Os resultados de depuração mostram que não se pode
considerar como tarefa menor ou simplesmente acessória o planejamento da coleta de dados
de pacientes.
A realização rotineira do ultra-som fetal resultou em um aumento dos diagnósticos pré-
natais de anormalidades urológicas. A constatação dessas anomalias faculta ao pediatra
indicar avaliação do trato urinário. O diagnóstico pós-natal definitivo permite a indicação de
tratamento clínico ou cirúrgico quando necessários.
Neste trabalho avaliamos a regressão espontânea da dilatação da pelve renal e
utilizamos medidas do DAP na tentativa de obter prognósticos da hidronefrose. As
divergências nos critérios diagnósticos, e nas condutas, dificultam a comparação dos artigos
publicados. Muitas vezes, a literatura é confusa ao referir a hidronefrose idiopática e OJUP.
Em 1987, Koff iniciou uma exposição com a afirmação: “Era fácil diagnosticar e tratar a
obstrução da junção ureteropélvica”. Acreditava-se que a hidronefrose era causada por
obstrução da junção ureteropélvica, e invariavelmente produziria obstrução e progressiva
lesão renal devendo ser aliviada” (KOFF, 1987). Atualmente considera-se bem estabelecido
que hidronefrose pode ocorrer sem obstrução. A decisão de intervir cirurgicamente nos
pacientes com hidronefrose e com padrão de obstrução no renograma diurético tornou-se mais
complexa, especialmente considerando possibilidade de resolução espontânea da dilatação
moderada ou severa do trato urinário superior (HOMSY et al., 1990).
135
Capítulo 9 - CONCLUSÃO
Este trabalho procurou atender ao objetivo geral de aumentar nosso conhecimento sobre
as associações de hidronefrose (e de uropatias a ela relacionadas) com a evolução no tempo de
medidas (principalmente as ultra-sonográficas) que compõe os prontuários de pacientes,
constituídos segundo metodologia previamente definida. As medidas disponíveis para cada
paciente foram consideradas, não apenas pelo seu valor inicial, mas através de parâmetros que
procuram caracterizar a evolução temporal dessas medidas.
A casuística considerada é descrita extensivamente, com o intuito de possibilitar a
comparação com trabalhos similares que venham a ser feitos futuramente.
Os dados disponíveis em banco de dados eletrônico foram depurados e sugestões foram
apresentadas para aumentar a confiabilidade do sistema de coleta e registro de medidas.
Uma análise da regressão espontânea da dilatação da pelve renal de pacientes e
unidades sujeitos exclusivamente à hidronefrose idiopática foi apresentada, mostrando as
proporções em que a involução ocorre.
A variabilidade de medidas ultra-sonográficas renais foi quantificada e analisada. Os
resultados mostraram que as medidas de DAP apresentam grande variabilidade, comparadas
às outras séries evolutivas, inclusive às demais medições ultra-sonográficas renais.
O potencial preditivo das séries evolutivas que representam os dados de prontuários dos
pacientes foi avaliado, obtendo-se extensa relação de variáveis explicativas associadas
significantemente às uropatias e/ou evento cirúrgico considerados.
Relativamente ao diagnóstico e prognóstico de portadores de hidronefrose, o trabalho
apresenta duas contribuições importantes. A primeira é a demonstração de que análises
envolvendo parâmetros de caracterização das ries evolutivas podem aumentar a capacidade
preditiva das variáveis diagnósticas, comparativamente àquelas restritas aos valores iniciais
das séries. A segunda foi mostrar que a variabilidade das medições renais, a do DAP em
particular, deve ser considerada quando se trata de utilizar tais medidas como critério para
qualquer conduta médica. Sem subestimar a capacidade diagnóstica dessas medidas,
evidenciou-se que pode ser vantajoso minimizar a variabilidade, com a coleta repetida de
medidas e com estratégias analíticas tais como o cálculo de médias.
Considerados os aspectos metodológicos, desenvolveram-se, para cada uma das etapas
de busca do objetivo geral almejado, soluções que nos pareceram as mais adequadas para cada
problema abordado. A metodologia proposta para caracterização das séries evolutivas é
passível de aplicação em situações similares da pesquisa médica.
Das possibilidades de prosseguimento da linha de trabalho empreendida, a mais
desafiadora talvez seja o estudo aprofundado da variabilidade das medidas renais, focalizado
na busca de conhecimento sobre os principais fatores que influenciam os valores finais
obtidos nos processos de medição.
136
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-
Acton C, Pahuja M, Opie G, Woodward A. A 5-year audit of 778 neonatal renal scans (Part
1): perplexing pyelectasis and suggested protocol for investigation. Australas Radiol 2003
Dec;47(4):349-53.
-
Acton C, Pahuja M, Opie G, Woodward A. A 5-year audit of 778 neonatal renal scans (Part
2): Miscellaneous anomalies in 59 infants: A pictorial presentation. Australas Radiol 2003
Dec;47(4):354-362.
-
Adra AM, Mejides AA, Dennaoui MS, Beydoun SN. Fetal pyelectasis: is it always
"physiologic"? Am J Obstet Gynecol 1995 Oct;173(4):1263-6.
-
Aksu N, Yavascan O, Kangin M, Kara OD, Aydin Y, Erdogan H, Tuncel TC, Cetinkaya E,
Ozbay E, Sandikcioglu TG. Postnatal management of infants with antenatally detected
hydronephrosis. Pediatr Nephrol 2005 Sep;20(9):1253-9.
-
Al-Hermi BE, Al-Saran K, Secker D, Geary DF. Hemodialysis for end-stage renal disease
in children weighing less than 10 kg. Pediatr Nephrol 1999 Jun;13(5):401-3.
-
Allen KS, Arger PH, Mennuti M, Coleman BG, Mintz MC, Fishman M. Effects of
maternal hydration on fetal renal pyelectasis. Radiology 1987 Jun;163(3):807-9.
-
Amarante J, Anderson PJ, Gordon I. Impaired drainage on diuretic renography using half-
time or pelvic excretion efficiency is not a sign of obstruction in children with a prenatal
diagnosis of unilateral renal pelvic dilatation. J Urol 2003 May;169(5):1828-31.
-
Amling CL, O'Hara SM, Wiener JS, Schaeffer CS, King LR. Renal ultrasound changes
after pyeloplasty in children with ureteropelvic junction obstruction: long-term outcome in
47 renal units. J Urol 1996 Dec;156(6):2020-4.
-
Anderson JC, Hynes W. Retrocaval Ureter. Br J Urol 1949: 209-214.
-
Anderson JC. The treatment of hydronephrosis. Br J Clin Pract 1958 Jan;12(1):20-30.
-
Anderson PAM, Rickwood AMK. Features of primary vesicoureteric reflux detected by
prenatal sonography. Br J Urol 1991 Mar;67(3):267-71.
-
Anderson N, Boswell O, Duff G. Prenatal sonography for the detection of fetal anomalies:
results of a prospective study and comparison with prior séries. AJR Am J Roentgenol 1995
Oct;165(4):943-50.
-
Anderson N, Clautice-Engle T, Allan R, Abbott G, Wells JE. Detection of obstructive
uropathy in the fetus: predictive value of sonographic measurements of renal pelvic
diameter at various gestational ages. AJR Am J Roentgenol 1995 Mar;164(3):719-23.
-
Anderson NG, Abbott GD, Mogridge N, Allan RB, Maling TM, Wells JE. Vesicoureteric
reflux in the newborn: relationship to fetal renal pelvic diameter. Pediatr Nephrol 1997
Oct;11(5):610-6.
-
Anderson NG, Allan RB, Abbott GD. Fluctuating fetal or neonatal renal pelvis: marker of
high-grade vesicoureteral reflux. Pediatr Nephrol 2004 Jul;19(7):749-53.
-
Arger PH, Coleman BG, Mintz MC, Snyder HP,Camardese T, Arenson RL, Gabbe SG,
Aquino L. Routine fetal genitourinary tract screening. Radiology 1985 Aug;156(2):485-9.
-
Arkless R. The normal kidney's reaction to intravenous pyelography. Am J Roentgenol
Radium Ther Nucl Med 1969 Dec;107(4):746-9.
-
Arnold AJ, Rickwood AMK. Natural history of pelviureteric obstruction detected by
prenatal sonography. Br J Urol 1990 Jan;65(1):91-6.
-
Avni EF, RodeschF, Schulman CC. Fetal uropathies: diagnostic pitfalls and management. J
Urol 1985 Nov;134(5):921-5.
-
Babcook CJ, Silvera M, Drake C, Levine D. Effect of maternal hydration on mild fetal
pyelectasis. J Ultrasound Med 1998 Sep;17(9):539-44.
137
-
Bajpai M, Chandrasekharam VVSS. Nonoperative management of neonatal moderate to
severe bilateral hydronephrosis. J Urol 2002 Feb;167(2 Pt 1):662-5
-
Barker AP, Cave MM, Thomas DFM, Lilford RJ, Irving HC, Arthur RJ, Smith SEW. Fetal
pelvi-ureteric junction obstruction: predictors of outcome. Br J Urol 1995 Nov;76(5):649-
52.
-
Barnewolt CE, Paltiel HJ, Lebowitz RL, Kirts DR. In: Kirts DR, Griscom NT. Pratical
Pediatric Imaging: Diagnostic Radiology of Infants and Children. 3nd ed.
Philadelphia:Lippincott- Raven Publischers; 1988.
-
Bergsma WP. Marginal Models for Categorical Data. Tilburg, The Netherlands:Tilburg
University Press, 1997.
-
Bishop YMM, Fienberg SE, Holland PW. Discrete Multivariate Analysis: Theory and
Practice. 3nd ed. Cambridge, Massachstts: The MIT press, 1977.
-
Blachar A, Blachar Y, Livne PM, Zurkowski L, Pelet D, Mogilner B. Clinical outcome and
follow-up of prenatal hydronephrosis. Pediatr Nephrol 1994 Feb;8(1):30-5.
-
Blachar A, Schachter M, Blachar Y, Mogilner B, Zurkowski L, Livne PM, Pelet D,
Appleman Z, Caspi B. Evaluation of prenatally diagnosed hydronephrosis by morphometric
measurements of the kidney. Pediatr Radiol 1994;24(2):131-4.
-
Blane CE, DiPietro MA, Zerin JM, Sedman AB, Bloom DA. Renal sonography is not a
reliable screening examination for vesicoureteral reflux. J Urol 1993 Aug;150(2 Pt 2):752-
5.
-
Blane CE, DiPietro MA, Strouse PJ, Koo HP, Bloom DA. Pediatric renal pelvic fullness: an
ultrasonographic dilemma. J Urol 2003 Jul;170(1):201-3.
-
Blyth B, Snyder HM, Duckett JW. Antenatal diagnosis and subsequent management of
hydronephrosis. J Urol 1993 Apr;149(4):693-8.
-
Boubaker A, Meyrat B, Frey P, Delaloye AB. Unilateral urinary flow impairment at the
pelviureteral junction: outcome of renal function with respect to therapeutic strategy.
Urology 2003 Jun;61(6):1224-8.
-
Bouzada MCF. Estudo Prospectivo de Crianças com Dilatação Isolada da Pelve Renal:
Curso Clínico e Evolução Ultra-sonográfica - tese de doutorado. Belo Horizonte:
Universidade Federal de Minas Gerais; 2003.
-
Bouzada MCF, Oliveira EA, Pereira AK, Leite HV, Rodrigues AM, Fagundes LA,
Goncalves RP, Parreiras R. Diagnostic accuracy of postnatal renal pelvic diameter as a
predictor of uropathy: a prospective study. Pediatr Radiol 2004 Oct;34(10):798-804.
-
Bouzada MCF, Oliveira EA, Pereira AK, Leite HV, Rodrigues AM, Fagundes LA,
Goncalves RP, Parreiras RL. Diagnostic accuracy of fetal renal pelvis anteroposterior
diameter as a predictor of uropathy:a prospective study. Ultrasound Obstet Gynecol 2004
Dec;24(7):745-9.
-
Brandell RA, Brock JWIII, Hamilton BD, Cartwright PC, Snow BW. Unilateral
hydronephrosis in infants: are measurements of contralateral renal length useful? J Urol
1996 Jul;156(1):188-9.
-
Brookes JAS, Gordon I. Estimation of differential renal function in children with a prenatal
diagnosis of unilateral pelvicdilatation. J Urol 1997 Apr;157(4):1390-3.
-
Brown MB, Forsyth AB. Robust Tests for equality of variances. J of the american statistics
association, 69 pp 364-367;1974
-
Brown T, Mandell J, Lebovitz RL. Neonatal hydronephrosis in the sonographic era. AJR
1987;(148):959-936.
-
Calisti A, Perrotta ML, Oriolo L, Patti G, Marrocco G, Miele V. Functional outcome after
pyeloplasty in children: impact of the cause of obstruction and of themo de of presentation.
Eur Urol 2003 Jun;43(6):706-10.
138
-
Capolicchio G, Leonard MP, Wong C, Jednak R, Brzezinski A, Salle JL. Prenatal diagnosis
of hydronephrosis: impact on renal function and its recovery after pyeloplasty. J Urol 1999
Sep;162(3 Pt 2):1029-32.
-
Carrico CWT, Zerin JM. Sonographic measurement of renal length in children: does the
position of the patient matter? Pediatr Radiol 1996;26(8):553-5.
-
Cartwright PC, Duckett JW, Keating MA, Snyder HMIII, Escala J, Blyth B, Heyman S.
Managing apparent ureteropelvic junction obstruction in the newborn. J Urol 1992
Oct;148(4):1224-8.
-
Chandrasekharam VVSS, Srinivas M, Bal CS, Gupta AK, Agarwala S, Mitra DK,
Bhatnagar V. Functional outcome after pyeloplasty for unilateral symptomatic
hydronephrosis. Pediatr Surg Int 2001 Sep;17(7):524-7.
-
Cheng AM, Phan V, Geary DF, Rosenblum ND. Outcome of isolated antenatal
hydronephrosis. Arch Pediatr Adolesc Med 2004 Jan;158(1):38-40.
-
Chertin B, Fridmans A, Knizhnik M, Hadas-Halperin I, Hain D, Farkas A. Does early
detection of ureteropelvic junction obstruction improve surgical outcome in terms of renal
function? J Urol 1999 Sep;162(3 Pt 2):1037-40.
-
Chertin B, Rolle U, Farkas A, Puri P. Does delaying pyeloplasty affect renal function in
children with a prenatal diagnosis of pelvi-ureteric junction obstruction? BJU Int 2002
July;90(1):72-75.
-
Chevalier RL, Thornhill BA, Wolstenholme JT, Kim A. Unilateral ureteral obstruction in
early development alters renal growth: dependence on the duration of obstruction. J Urol
1999 Jan;161(1):309-13.
-
Chitty LS, Altman DG. Charts of fetal size: kidney and renal pelvis measurements. Prenat
Diagn 2003 Nov;23(11):891-7.
-
Chung S, Majd M, Rushton HG, Belman AB. Diuretic renography in the evaluation of
neonatal hydronephrosis: is it reliable? J Urol 1993 Aug;150(2 Pt 2):765-8.
-
Chung KH, Chevalier RL. Arrested development of the neonatal kidney following chronic
ureteral obstruction. J Urol 1996 Mar;155(3):1139-44.
-
Cohen-Overbeek TE, Wijngaard-Boom P, Ursem NTC, Hop WCJ, Wladimiroff JW,
Wolffenbuttel KP. Mild renal pyelectasis in the second trimester: determination of cut-off
levels for postnatal referral. Ultrasound Obstet Gynecol 2005 Apr;25(4):378-83.
-
Conway JJ, Maizels M. The "well tempered" diuretic renogram: a standard method to
examine the asymptomatic neonate with hydronephrosis or hydroureteronephrosis. J Nucl
Med 1992 Nov;33(11):2047-51.
-
Coplen DE, Hare JY, Zderic SA, Canning DA, Snyder HMIII, Duckett JW. 10-year
experience with prenatal intervention for hydronephrosis. J Urol 1996 Sep;156(3):1142-5.
-
Coplen DE. Prenatal intervention for hydronephrosis. J Urol 1997 Jun;157(6):2270-7.
-
Coplen DE, Austin PF, Yan Y, Blanco VM, Dicke JM. The Magnitude of Fetal Renal
Pelvic Dilatation can Identify Obstructive Postnatal Hydronephrosis, and Direct Postnatal
Evaluation and Management. J Urol 2006 Aug;176:724-727.
-
Corteville JE, Gray DL, Crane JP. Congenital hydronephrosis: correlation of fetal
ultrasonographic findings with infant outcome. Am J Obstet Gynecol 1991
Aug;165(2):384-8.
-
Cost GA, Merguerian PA, Cheerasarn SP, Shortliffe LMD. Sonographic renal parenchymal
and pelvicaliceal areas: new quantitative parameters for renal sonographic followup. J Urol
1996 Aug;156(2 Pt 2):725-9.
-
Crelin ES. Functional anatomy of the newborn. New Haven, Connecticut, Yale University
Press, 1973.
-
Cromie WJ, Lee K, Houde K, Holmes L. Implications of prenatal ultrasound screening in
the incidence of major genitourinary malformations. J Urol 2001 May;165(5):1677-80.
139
-
Daly MJ, Henry RE. Defining renal anatomy and function with 99mtechnetium
dimercaptosuccinic acid: clinical and renographic correlation. J Urol 1981 Jul;126(1):5-9.
-
Damen-Elias HAM, Stigter RH, De Jong TPVM, Visser GHA. Variability in dilatation of
the fetal renal pelvis during a bladder filling cycle. Ultrasound Obstet Gynecol 2004
Dec;24(7):750-5.
-
Dangelo JG, Fattini CA. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2ª ed.Rio de Janeiro:
Livraria Atheneu; 1987. p. 545- 617.
-
Daniel WW. Biostatistics, a foundation for analysis in the health sciences. 5th ed. New
York:John Wiley & Sons, Inc; 1991.
-
Dejter SWJr, Eggli DF, Gibbons MD. Delayed management of neonatal hydronephrosis. J
Urol 1988 Nov;140(5 Pt 2):1305-9.
-
Dejter SWJr, Gibbons MD. The fate of infant kidneys with fetal hydronephrosis but
initially normal postnatal sonography. J Urol 1989 Aug;142(2 Pt 2):661-2.
-
DeLong ER, DeLong DM, Clarke-Pearson DL. Comparing the areas under two or more
correlated receiver operating characteristic curves: A nonparametric approach. Biometrics
1988 Sep;44:837-845
-
Dhillon HK. Prenatally diagnosed hydronephrosis: the Great Ormond Street experience. Br
J Urol 1998 Apr; 81Suppl 2:39-44.
-
Dicker SE, Shirley DG. Compensatory hypertrophy of the contralateral kidney after
unilateral ureteral ligation. J Physiol 1972 Jan;220(1):199-210.
-
Diniz JS. Aspects of Brazilian paediatric nephrology. Pediatr Nephrol 1988 Apr;2(2):271-6.
-
Diniz JC, Silva JMP, Lima EM, Cardoso LSB, Moreira MLS, Silva ACS, Monteiro JL,
Guimarães MGP, Machado VM, Silva RP, Martins T, Fiorini JS, Marciano RC, Dias CS,
Campos MC, Pinho GO, Oliveira EA. 30 anos de experiência em nefrologia pediátrica: um
estudo descritivo. JBN 2005;27(4):201-206.
-
Dinkel E, Ertel M, Dittrich M, Peters H, Berres M, Schulte-Wissermann H. Kidney size in
childhood Sonographical growth charts for kidney length and volume. Pediatr Radiol
1985;15(1):38-43.
-
Docimo SG, Silver RI. Renal ultrasonography in newborns with prenatally detected
hydronephrosis: why wait? J Urol 1997 Apr;157(4):1387-9.
-
Doherty F J. Ultrasound of the kidney. In: Jacobson H, Striker G, klahr S, editors. The
principies and Practice of Nephrology. 2nd ed. Missouri: Mosby,1995. p. 13-22.
-
Dowling KJ, Harmon EP, Ortenberg J, Polanco E, Evans BB. Ureteropelvic junction
obstruction: the effect of pyeloplasty on renal function. J Urol 1988 Nov;140(5 Pt 2):1227-
30.
-
Dremsek PA, Gindl K, Voitl P, Strobl R, Hafner E, Geissler W, Hruby W, Sacher M. Renal
pyelectasis in fetuses and neonates: diagnostic value of renal pelvis diameter in pre- and
postnatal sonographic screening. AJR Am J Roentgenol 1997 Apr;168(4):1017-9.
-
Dudley JA, Haworth JM, McGraw ME, Frank JD, Tizard EJ. Clinical relevance and
implications of antenatal hydronephrosis. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 1997
Jan;76(1):F31-4.
-
Eco U. Como se faz uma tese. 14 ed São Paulo: Editora Perspectiva S.A,1998
-
Effmann EL, Ablow RC, Siegel NJ. Renal growth. Radiol Clin North Am 1977
Apr;15(1):3-17.
-
Elder JS. Commentary: importance of antenatal diagnosis of vesicoureteral reflux. J Urol
1992 Nov;148(5Pt 2):1750-4.
-
Elder JS. Antenatal Hydronephrosis Fetal and Neonatal Management. Pediatric Clinics of
North America 1997 Oct; 44( 5):1299-1321.
-
Elder JS. Hidronefrose pré-natal - Controle fetal e neonatal. Pediatr Clin North Am 1997
Oct;44(5):1133-69.
140
-
Elder JS. Editorial Coment - Vol 44, número 5, oct 1997. J Urol 2002 Feb;167:1048.
-
Emamian AS, Nielsen MB, Pedersen JF, Ytte L. Kidney dimensions at sonography:
correlation with age, sex, and habitus in 665 adult volunteers. AJR Am J Roentgenol 1993
Jan;160(1):83-6.
-
Eskild-Jensen A, Christensen H, Lindvig M, Frokiaer J, Rehling M, Jorgensen HS,
Djurhuus JC, Jorgensen TM. Renal functional outcome in unilateral hydronephrosis in
newborn pigs. J Urol 2000 Jun;163(6):1896-900.
-
Everitt BS. The analysis of contingency tables. London: Chapman & Hall, 1977.
-
Fawcett T. ROC Graphs: Notes and Practical Considerations for Researchers. Kluwer
Academic Publishers ROC 101, tex: 16/03/2004; p1-38; 2004
-
Feldman DM, DeCambre M, Kong E, Borgida A, Jamil M, McKenna P, Egan JFX.
Evaluation and follow-up of fetal hydronephrosis. J Ultrasound Med 2001
Oct;20(10):1065-9.
-
Fernbach SK, Maizels M, Conway JJ. Ultrasound grading of hydronephrosis: introduction
to the system used by the Society for Fetal Urology. Pediatr Radiol 1993;23(6):478-80.
-
Ferrer FA, McKenna PH, Bauer MB, Miller SF. Accuracy of renal ultrasound
measurements for predicting actual kidney size. J Urol 1997 Jun;157(6):2278-81.
-
Fetterman GH, Shuplock NA, Philipp FJ, Gregg HS. The growth and maturation of human
glomeruli and proximal convolutinons from term to adulthood:studies by microdissection.
Pediatrics 1965 Apr;35:601-19.
-
Fichtner J, Spielman D, Herfkens R, Boineau FG, Lewy JE, Shortliffe LMD. Ultrafast
contrast enhanced magnetic resonance imaging of congenital hydronephrosis in a rat
model. J Urol 1994 Aug;152(2 Pt 2):682-7.
-
Fleiss JL. Estatistical methods for rates and proportions. 2nd ed. New York: Wiley, 1981.
-
Foreman JW, Chan JC. Chronic renal failure in infants and children. J Pediatr 1988
Nov;113(5):793-800.
-
Garcia-Pena BM, Keller MS, Schwartz DS, Korsvik HE, Weiss RM. The ultrasonographic
differentiation of obstructive versus nonobstructive hydronephrosis in children: a
multivariate scoring system. J Urol 1997 Aug;158(2):560-5.
-
Garrett WJ, Kossoff G, Osborn RA. The diagnosis of fetal hydronephrosis, megaureter and
urethral obstruction by ultrasonic echography. Brit J Obstet Gynaecol 1975; 82:115-120.
-
Gill B, Levitt S, Kogan S, Reda E, Weiner S, Donner K. The dilated Urinary tract in
Children. Br J Urol 1988; 61:413-419.
-
Gordon I, Mialdea-Fernandez RM, Peters AM. Pelviureteric junction obstruction The value
of a post-micturition view in 99mTc DTPA diureticrenography. Br J Urol 1988
May;61(5):409-12.
-
Gordon I, Dhillon HK, Gatanash H, Peters AM. Antenatal diagnosis of pelvic
hydronephrosis: assessment of renal function and drainage as a guide to management. J
Nucl Med 1991 Sep;32(9):1649-54.
-
Gordon I, Colarinha P, Fettich J, Fischer S, Frökier J, Hahn K, Kabasakal L, Mitjavila M,
Olivier P, Piepsz A, Porn U, Sixt R, Velzen JV. Guidelines for standard and diuretic
renography in children. Eur J Nucl Med 2001 Mar;28(3): 21-30.
-
Grignon A, Filiatrault D, Homsy Y, Robitaille P, Filion R, Boutin H, Leblond R.
Ureteropelvic junction stenosis: antenatal ultrasonographic diagnosis, postnatal
investigation, and follow-up. Radiology 1986 Sep;160(3):649-51.
-
Grignon A, Filion R, Filiatrault D, Robitaille P, Homsy Y, Boutin H, Leblond R. Urinary
tract dilatation in utero: classification and clinical applications. Radiology 1986
Sep;160(3):645-7.
-
Grisoni ER, Gauderer MW, Wolfson RN, Izant RJJr. Antenatal ultrasonography: the
experience in a high risk perinatal center. J Pediatr Surg 1986 Apr;21(4):358-61.
141
-
Guignard JP, Torrado A, Da Cunha O, Gautier E. Glomerular filtration rate in the first three
weeks of life. J Pediatr 1975 Aug;87(2):268-72.
-
Gunn TR, Mora JD, Pease P. Antenatal diagnosis of urinary tract abnormalities by
ultrasonography after 28 weeks' gestation: incidence and outcome. Am J Obstet Gynecol
1995 Feb;172(2 Pt 1):479-86.
-
Hajian-Tilaki KO, Hanley JA. Comparison of three methods for estimating the standard
error of the area under the curve in ROC Analysis of quantitative data. Acad Radiol 2002;
9:1278-1285.
-
Han BK, Babcock DS. Sonographic measurements and appearance of normal kidneys in
children. AJR Am J Roentgenol 1985 Sep;145(3):611-6.
-
Hanley JA, McNeil BJ. The meaning and use of the area under a Receiver Operating
Characteristic (ROC) curve. Radiology 1982 Apr,143:29-36.
-
Hanley JA, Hajian-Tilaki KO. In: Statistics in Radiology Harold LKundel. Sampling
variability of nonparametric estimates of the areas under receiver operating characteristic
curves: an update. Acad Radiol 1997;4:49-58.
-
Hanna MK, Jeffs RD, Sturgess JM, Barkin M. Ureteral structure and ultrastructure Part I
The normal human ureter. J Urol 1976 Dec;116(6):718-24.
-
Hanna MK, Jeffs RD, Sturgess JM, Barkin M. Ureteral structure and ultrastructure Part II
Congenital ureteropelvic junction obstruction and primary obstructive megaureter. J Urol
1976 Dec;116(6):725-30.
-
Hanna MK. Antenatal hydronephrosis and ureteropelvic junction obstruction: the case for
early intervention. Urology 2000 May;55(5):612-5.
-
Haycock GB, Schwartz GJ, Wisotsky DH. Geometric method for measuring body surface
area: A height-weight formula validaded in infants, children, and adults. The Journal of
Pediatrics 1978 Jul;93(1): 62-66.
-
Hayslett JP. Functional adaptation to reduction in renal mass. Physiol Rev 1979
Jan;59(1):137-64.
-
Heuer R, Sommer G, Shortliffe LD. Evaluation of renal growth by magnetic resonance
imaging and computerized tomography volumes. J Urol. 2003 Oct;170(4 Pt 2):1659-63.
-
Hiraoka M, Morikawa K, Hori C, et al. Left renal pelvis of male neonates is predisposed to
dilatation. Acta Paediatr Jpn, 1995;37:352-354.
-
Hodson CJ. Hypertension in childhood Radiological changes in the kidney. Proc R Soc
Med 1961 Dec;54:1094-6.
-
Homsy YL, Williot P, Danais S. Transitional neonatal hydronephrosis: fact or fantasy? J
Urol 1986 Jul;136(1 Pt 2):339-41.
-
Homsy YL, Mehta PH, Huot D, Danais S. Intermittent hydronephrosis: a diagnostic
challenge. J Urol 1988 Nov;140(5 Pt 2):1222-6.
-
Homsy YL, Saad F, Laberge I, Williot P, Pison C. Transitional hydronephrosis of the
newborn and infant. J Urol 1990 Aug;144(2 Pt 2):579-83.
-
Horster M, Valtin H. Postnatal development of renal function: Micropuncture clearance
studies in the dog. J Clin Invest, 50:779, 1971.
-
Hricak H, Lieto RP. Sonographic determination of renal volume. Radiology 1983
Jul;148(1):311-2.
-
Hutton KAR. Neonatal surgical problems of the renal tract. Current Paediatrics 2002
Feb;12(1):29-35.
-
International Reflux Study Committee. Medical versus surgical treatment of primary
vesicoureteral reflux. Pediatrics 1981;67:392-400.
-
Ismaili K, Avni FE, Hall M. Results of systematic voiding cystourethrography in infants
with antenatally diagnosed renal pelvis dilation. J Pediatr 2002 Jul;141(1):21-4.
142
-
Ismaili K, Hall M, Donner C, Thomas D, Vermeylen D, Avni FE. Results of systematic
screening for minor degrees of fetal renal pelvis dilatation in an un selected population. Am
J Obstet Gynecol 2003 Jan;188(1):242-6.
-
Ismaili K, Avni FE, Piepsz A, Wissing KM, Cochat P, Aubert D, Hall M. Current
management of infants with fetal renal pelvis dilation: a survey by French-speaking
pediatric nephrologists and urologists. Pediatr Nephrol 2004 Sep;19(9):966-71.
-
Jaswon MS, Dibble L, Puri S, Davis J, Young J, Dave R, Morgan H. Prospective study of
outcome in antenatally diagnosed renal pelvis dilatation. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed
1999 Mar;80(2):F135-8.
-
Jekel JF, Elmore JG, Katz DL. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina Preventiva. Porto
Alegre: Artmed, 1999.
-
Johnston J. Econometric methods. 2nd ed. Tokyo: McGraw-Hill Kogakusha Ltd, 1972.
-
Josephson S, Ericson AC, Sjöquist M. Experimental obstructive hydronephrosis in newborn
rats VI Long-term effects on glomerular filtration and distribution. J Urol 1985
Aug;134(2):391-5.
-
Josephson S, Dhillon HK, Ransley PG. Post-natal management of antenatally detected,
bilateral hydronephrosis. Urol Int 1993; 51:79–84.
-
Kass EJ, Majd M. Evaluation and management of upper urinary tract obstruction in infancy
and childhood. Urol Clin North Am 1985 Feb;12(1):133-41.
-
Katzir Z, Witzling M, Nikolov G, Gvirtz G, Arbel E, Kohelet D, Boaz M, Smetana S,
Lorberboym M. Neonates with extra-renal pelvis: the first 2 years. Pediatr Nephrol. 2005
Jun;20(6):763-7.
-
Kennedy WA 2nd, Chitkara U, Abidari JM, Shortliffe LM. Fetal renal growth as assessed
through renal parenchymal area derived from prenatal and perinatal ultrasonography. J
Urol. 2003 Jan;169(1):298-302.
-
Kent A, Cox D, Downey P, James SL. A study of mild fetal pyelectasia - outcome and
proposed strategy of management. Prenat Diagn 2000 Mar;20(3):206-9.
-
King LR. Hydronephrosis- When is obstruction not obstruction? Urol Clin North Am
1995;22:31.
-
Koff SA. Ureteropelvic junction obstruction: role of newer diagnostic methods. J Urol 1982
May;127(5):898-901.
-
Koff SA. Pressure volume relationships in human hydronephrosis. Urology 1985
Mar;25(3):256-8.
-
Koff SA. Problematic ureteropelvic junction obstruction. J Urol 1987 Aug;138(2):390.
-
Koff SA, McDowell GC, Byard M. Diuretic radionuclide assessment of obstruction in the
infant: guidelines for successful interpretation. J Urol 1988 Nov;140(5 Pt 2):1167-8.
-
Koff SA, Campbell K. Nonoperative management of unilateral neonatal hydronephrosis. J
Urol 1992 Aug;148(2 Pt 2):525-31.
-
Koff SA, Campbell KD. The nonoperative management of unilateral neonatal
hydronephrosis: natural history of poorly functioning kidneys. J Urol 1994 Aug;152(2 Pt
2):593-5.
-
Koff SA, Peller PA Young DC Pollifrone DL. The assessment of obstruction in the
newborn with unilateral hydronephrosis by measuring the size of the opposite kidney. J
Urol 1994 Aug;152(2 Pt 2):596-9.
-
Koff SA, Peller PA. Diagnostic criteria for assessing obstruction in the newborn with
unilateral hydronephrosis using the renal growth-renal function chart. J Urol 1995
Aug;154(2 Pt 2):662-6.
-
Koff SA. Postnatal management of antenatal hydronephrosis using an observational
approach. Urology 2000 May;55(5):609-11.
143
-
Koff SA, Thrall JH, Keyes JWJr. Diuretic radionuclide urography: a non-invasive method
for evaluating nephroureteral dilatation. J Urol 2002 Feb;167(2 Pt 2):1044-7.
-
Koff SA, Binkovitz L, Coley B, Jayanthi VR. Renal pelvis volume during diuresis in
children with hydronephrosis: implications for diagnosing obstruction with diuretic
renography. J Urol 2005 Jul;174(1):303-7.
-
Konda R, Sakai K, Ota S, Abe Y, Hatakeyama T, Orikasa S. Ultrasound grade of
hydronephrosis and severity of renal cortical damage on 99m technetium
dimercaptosuccinic acidrenal scan in infants with unilateral hydronephrosis during
followup and after pyeloplasty. J Urol 2002 May;167(5):2159-63.
-
Laing FC, Burke VD, Wing VW, Jeffrey RBJr, Hashimoto B. Postpartum evaluation of
fetal hydronephrosis: optimal timing for follow-up sonography. Radiology 1984
Aug;152(2):423-4.
-
Langer B. Pyelectasy. J Gynecol Obstet Biol Reprod 2003 Jun;32(4):293-9.
-
Lebowitz RL, Hopkins T, Colodny AH. Measuring the kidneys-practical applications using
a growth and hypertrophy chart. Pediatr Radiol 1975 Nov 24;4(1):37-42.
-
Levene H. Contributions to probability and statistics. Stanford University Press- CA; 1960
pp 278-292
-
Lewy JE. Treatment of children in the US with end-stage renal disease (ESRD). Med Arh
2001;55(4):201-2.
-
Livera LN, Brookfield DSK, Egginton JA, Hawnaur JM. Antenatal ultrasonography to
detect fetal renal abnormalities: a prospective screening programme. BMJ 1989 May
27;298(6685):1421-3.
-
Macskassy SA, Provost FJ, Littman ML. Confidence Bands for ROC curves. CeDER
Working Paper IS-03-04, Stern Scholl of Business, New York University, NY, NY 10012
Jan 2003
-
Madden NP, Thomas DFM, Gordon AC, Arthur RJ, Irving HC, Smith SEW. Antenatally
detected pelviureteric junction obstruction - Is non-operation safe? Br J Urol 1991
Sep;68(3):305-10.
-
Madsen KM, Tisher CC. Anatomy of the kidney. In Benner & Rector's the Kidney 7th
edition 2003
-
Maizels M, Reisman ME, Flom LS, Nelson J, Fernbach S, Firlit CF, Conway JJ. Grading
nephroureteral dilatation detected in the first year of life: correlation with obstruction. J
Urol 1992 Aug;148(2 Pt 2):609-14.
-
Maizels M, Mitchell B, Kass E, Fernbach SK, Conway JJ. Outcome of nonspecific
hydronephrosis in the infant: a report from the Registry of the Society for Fetal Urology. J
Urol 1994 Dec;152(6 Pt 2):2324-7.
-
Mandell J, Peters CA, Retik AB. Current concepts in the perinatal diagnosis and
management of hydronephrosis. Urol Clin North Am 1990 May;17(2):247-62.
-
Mandell J, Blyth BR, Peters CA, Retik AB, Estroff JA, Benacerraf BR. Structural
genitourinary defects detected in utero. Radiology 1991 Jan;178(1):193-6.
-
Mandell J, Peters CA, Estroff JA, Allred EM, Benacerraf BR. Human fetal compensatory
renal growth. J Urol 1993 Aug;150(2 Pt 2):790-2.
-
Mandell GA, Cooper JA, Leonard JC, Majd M, Miller JH, Parisi MT, Sfakianakis GN.
Procedure Guideline for Diuretic Renography in Children. J Nucl Med 1997; 38:1647-
1650.
-
Mandell GA, Eggli DF, Gilday DL, Heyman S, Leonard JC, Miller JH, Nadel HR, Treves
ST. Procedure Guideline for Renal Cortical Scintigraphy in Children. J Nucl Med 1997;
38;1644-1646.
144
-
Mandell GA, Eggli DF, Gilday DL, Heyman S,Leonard JC, Miller JH, Nadel HR, Treves
ST. Procedure Guideline for Radionuclide Cystography in Children. J Nucl Med 1997
October; 38 (10):1650-1653.
-
Maxwell AE. Comparing the classification of subjects by two independent judges. Br J
Psychiatry 1970 Jun;116(535):651-5.
-
Mayor G, Genton N, Torrado A, Guignard JP. Renal function in obstructive nephropathy:
long-term effect of reconstructive surgery. Pediatrics 1975;56:740,
-
McAleer IM, Kaplan GW. Renal function before and after pyeloplasty: does it improve? J
Urol 1999 Sep;162(3 Pt 2):1041-4.
-
McKenna P. In: Chevalier RL, Peters CA. Congenital urinary tract obstruction:
Proceedings of the State-Of-The-Art Strategic Planning Workshop-National Institutes of
Health, Bethesda, Maryland, USA, 11-12 March 2002. Pediatr Nephrol 2003
Jun;18(6):576-606.
-
McNemar Q. Note on the sampling error of the difference between correlated proportions
of percentages. Psychometrika,1947;12:153 -157.
-
McVary KT, Maizels M. Urinary obstruction reduces glomerulogenesis in the developing
kidney: a model in the rabbit. J Urol 1989 Aug;142(2 Pt 2):646-51.
-
Mesrobian HG, Laud PW, Todd E, Gregg DC. The normal kidney growth rate during year
1 of life is variable and age dependent. J Urol 1998 Sep;160(3 Pt 2):989-93.
-
Miklovicova D, Cornelissen M, Cransberg K, Groothoff JW, Dedik L, Schroder CH.
Etiology and epidemiology of end-stage renal disease in Dutch children 1987-2001. Pediatr
Nephrol 2005 Aug;20(8):1136-42.
-
Miranda JA, Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas. Normas para
apresentação de artigos propostos para publicação em revistas médicas. Rev Port Clin Geral
1997;14:159-74.
-
Misra D, Kempley ST, Hird MF. Are patients with antenatallydiagnosed hydronephrosis
being over-investigated and overtreated? Eur J Pediatr Surg 1999; 9:303–306.
-
Moore ES, deLeon LB, Weiss LS, McMann BJ, Ocampo M. Compensatory renal
hypertrophy in fetal lambs. Pediatr Res. 1979 Oct;13(10):1125-8.
-
Moore E, Aronson A, NorthurpT. The assessment of renal function. In; RJ P, editor.
Pediatric Nephrology. 5th Bristol: Wright; 1986. p.404-11.
-
Morin L, Cendron M, Crombleholme TM, Garmel SH, Klauber GT, D'Alto ME. Minimal
hydronephrosis in the fetus: clinical significance and implications for management. MEJ
Urol 1996 Jun;155(6):2047-9.
-
Moskowitz PS, Carroll BA, McCoy JM. Ultrasonic renal volumetry in children: accuracy
and simplicity of the method. Radiology 1980 Jan;134(1):61-4
-
Najmaldin AS, Burge DM, Atwell JD. Outcome of antenatally diagnosed pelviureteric
junction hydronephrosis. Br J Urol 1991 Jan;67(1):96-9.
-
O'Flynn KJ, Gough DCS, Gupta S, Lewis MA, Postlethwaite RJ. Prediction of recovery in
antenatally diagnosed hydronephrosis. Br J Urol 1993 Apr;71(4):478-80.
-
Oliveira EA, Diniz JSS, Cabral ACV, Leite HV, Colosimo EA, Oliveira RBB, Vilasboas
AS. Prognostic factors in fetal hydronephrosis: a multivariate analysis. Pediatr Nephrol
1999 Nov;13(9):859-64.
-
Onen A, Jayanthi VR, Koff SA. Long-term followup of prenatally detected severe bilateral
newborn hydronephrosis initially managed nonoperatively. J Urol 2002 Sep;168(3):1118-
20.
-
O'Reilly PH, Lawson RS, Shields RA, Testa HJ. Idiopathic hydronephrosis - the diuresis
renogram: a new non-invasive method of assessing equivocalpelvioureteraljunction
obstruction. J Urol 1979 Feb;121(2):153-5.
145
-
O'Reilly P, Aurell M, Britton K, Kletter K, Rosenthal L, Testa T. Consensus on diuresis
renography for investigating the dilated upper urinary tract Radionuclides in
Nephrourology Group Consensus Committee on Diuresis Renography. J Nucl Med 1996
Nov;37(11):1872-6.
-
O'Reilly PH. Standardization of the renogram technique for investigating the dilated upper
urinary tract and assessing the results of surgery. BJU Int 2003 Feb;91(3):239-43.
-
Oswald J, Schwentner C, Lunacek A, Deibl M, Bartsch G, Radmayr C. Age and lean body
weight related growth curves of kidneys using real-time 3-dimensional ultrasound in
pediatric urology. J Urol. 2004 Nov;172(5 Pt 1):1991-4.
-
Ozcan Z, Anderson PJ, Gordon I. Assessment of regional kidney function may provide new
clinical understanding and assist in treatment of children with prenatal hydronephrosis. J
Urol 2002 Nov;168(5):2153-7.
-
Ozcan Z, Anderson PJ, Gordon I. Prenatally diagnosed unilateral renal pelvic dilatation: a
dynamic condition on ultrasound anddiuretic renography. J Urol 2004 Oct;172(4 Pt
1):1456-9.
-
Pal CR, Tuson JRD, Lindsell DR, McHugh K, Hope PL, Ives K. The role of micturating
cystourethrography in antenatally detected mild hydronephrosis. Pediatr Radiol 1998
Mar;28(3):152-5.
-
Palmer LS, Maizels M, Cartwright PC, Fernbach SK, Conway JJ. Surgery versus
observation for managing obstructive grade 3 to 4 unilateral hydronephrosis: a report from
the Society for Fetal Urology. J Urol 1998 Jan;159(1):222-8.
-
Parker RM, Rudd TG, Wonderly RK, Ansell JS. Ureteropelvic junction obstruction in
infants and children: functional evaluation of the obstructed kidney preoperatively and
postoperatively. J Urol 1981 Oct;126(4):509-12.
-
Perlmutter AD, Kroovand RL, Lai YW. Management of ureteropelvic obstruction in the
first year of life. J Urol 1980 Apr;123(4):535-7.
-
Persutte WH, Koyle M, Lenke RR, Klas J, Ryan C, Hobbins JC. Mild pyelectasis
ascertained with prenatal ultrasonography is pediatrically significant. Ultrasound Obstet
Gynecol 1997 Jul;10(1):12-8.
-
Persutte WH, Hussey M, Chyu J, Hobbins JC. Striking findings concerning the variability
in the measurement of the fetal renal collecting system. Ultrasound Obstet Gynecol 2000
Mar;15(3):186-90.
-
Peters CA, Carr MC, Lais A, Retik AB, Mandell J. The response of the fetal kidney to
obstruction. J Urol 1992 Aug;148(2 Pt 2):503-9.
-
Peters CA, Gaertner RC, Carr MC, Mandell J. Fetal compensatory renal growth due to
unilateral ureteral obstruction. J Urol 1993 Aug;150(2 Pt 2):597-600.
-
Peters CA. Urinary tract obstruction in children. J Urol 1995 Nov;154(5):1874-83;
discussion 1883-4.
-
Peters CA. Editorial: The long-term followup of prenatally detected severe bilateral
newborn hydronephrosis initially managed nonoperatively. J Urol 2002 Sep;168(3):1121-2.
-
Petrikovsky BM, Cuomo MI, Schneider EP, Wyse LJ, Cohen HL, Lesser M. Isolated fetal
hydronephrosis: beware the effect of bladder filling. Prenat Diagn 1995 Sep;15(9):827-9.
-
Phan V, Traubici J, Hershenfield B, Stephens D, Rosenblum ND, Geary DF. Vesicoureteral
reflux in infants with isolated antenatal hydronephrosis. Pediatr Nephrol 2003
Dec;18(12):1224-8.
-
Pherlan JP, Ahn MO, Smith CV, Rutherford SE, Anderson E. Amniotic fluid index
measurements during pregnancy. J Reprod Med 1987; 32(8):601-604.
-
Platt JF, Rubin JM, Ellis JH, DiPietro MA. Duplex Doppler US of the kidney:
differentiation of obstructive from nonobstructive dilatation. Radiology 1989
May;171(2):515-7.
146
-
Platt JF, Rubin JM, Ellis JH. Distinction between obstructive and nonobstructive
pyelocaliectasis with duplex Doppler sonography. AJR Am J Roentgenol 1989
Nov;153(5):997-1000.
-
Pocock RD, Witcombe JB, Andrews HS, Berry PJ, Frank JD. The outcome of antenatally
diagnosed urological abnormalities. Br J Urol 1985 Dec;57(6):788-92.
-
Rabelo EA, Oliveira EA, Silva GS, Pezzuti IL, Tatsuo ES. Predictive factors of
ultrasonographic involution of prenatally detected multicystic dysplastic kidney. BJU Int
2005 Apr;95(6):868-71.
-
Rabinowitz R, Peters MT, Vyas S, Campbell S, Nicolaides KH. Measurement of fetal urine
production in normal pregnancy by real-time ultrasonography. Am J Obstet Gynecol 1989
Nov;161(5):1264-6.
-
Radix JC. Introdultion au Filtrage Numerique. Eyrolles, Paris, 1970
-
Ransley PG, Manzoni GA. "Extend" role of DTPA scan in assessing function and UPJ
obstruction in neonate. Dial Ped Urol 1985 Mar;8:6.
-
Ransley PG, Dhillon HK, Gordon I, Duffy PG, Dillon MJ, Barratt TM. The postnatal
management of hydronephrosis diagnosed by prenatal ultrasound. J Urol 1990 Aug;144(2
Pt 2):584-7.
-
Robinson JN, Tice K, Kolm P, Abuhamad AZ. Effect of maternal hydration on fetal renal
pyelectasis. Obstet Gynecol 1998 Jul;92(1):137-41.
-
Rodriguez LV, Lock J, Kennedy WA, Shortliffe LMD. Evaluation of sonographic renal
parenchymal area in the management of hydronephrosis. J Urol 2001 Feb;165(2):548-51.
-
Rosenbaum DM, Korngold E, Teele RL. Sonographic assessment of renal length in normal
children. AJR Am J Roentgenol 1984 Mar;142(3):467-9.
-
Rother ET, Braga MER. O novo estilo de Vancouver: o que mudou nas referências. Arq
Bras Oltalmol 2004;67(4):692-4.
-
Salem YH, Majd M, Rushton HG, Belman AB. Outcome analysis of pediatric pyeloplasty
as a function of patient age, presentation and differential renal function. J Urol 1995
Nov;154(5):1889-93.
-
Sargent MA, Gupta SC. Sonographic measurement of relative renal volume in children:
comparison with scintigraphic determination of relative renal function. AJR Am J
Roentgenol 1993 Jul;161(1):157-60.
-
Sargent MA, Long G, Karmali M, Cheng SM. Interobserver variation in the sonographic
estimation of renal volume in children. Pediatr Radiol 1997 Aug;27(8):663-6.
-
Sargent MA. What is the normal prevalence of vesicoureteral reflux? Pediatr Radiol 2000
Sep;30(9):587-93.
-
Schlesinger AE, Hernandez RJ, Zerin JM, Marks TI, Kelsch RC. Interobserver and
intraobserver variations in sonographic renal length measurements in children. AJR Am J
Roentgenol 1991 May;156(5):1029-32
-
Schmidt-Nielsen B. The renal pelvis. Kidney Int 1987 Feb;31(2):621-8.
-
Schwartz GJ, Brion LP, Spitzer A. The use of plasma creatinine concentration for
estimating glomerular filtration rate in infants, children, and adolescents. Pediatr Clin North
Am 1987 Jun;34(3):571-90.
-
Scott JES, Renwick M. Antenatal diagnosis of congenital abnormalities in the urinary tract
Results from the Northern Region Fetal Abnormality Survey. Br J Urol 1988
Oct;62(4):295-300.
-
Scott JES, Lee REJ, Hunter EW, Coulthard MG, Matthews JNS. Ultrasound screening of
newborn urinary tract. Lancet 1991 Dec;338:21-28.
-
Scott JES. Fetal ureteric reflux: a follow-up study. Br J Urol 1993 Apr;71(4):481-3.
-
Scott JE, Renwick M. Antenatal renal pelvic measurements: what do they mean? BJU Int
2001 Mar;87(4):376-80.
147
-
Seikaly MG, Ho PL, Emmett L, Fine RN, Tejani A. Chronic renal insufficiency in children:
the 2001 Annual Report of the NAPRTCS. Pediatr Nephrol 2003 Aug;18(8):796-804.
-
Sfakianakis GN, Sfakianaki E. Renal scintigraphy in infants and children. Urology 2001
Jun;57(6):1167-77.
-
Sibai H, Salle JLP, Houle AM, Lambert R. Hydronephrosis with diffuse or segmental
cortical thinning: impact on renal function. J Urol 2001 Jun;165(6 Pt 2):2293-5.
-
Sidhu G, Beyene J, Rosenblum ND. Outcome of isolated antenatal hydronephrosis: a
systematic review and meta-analysis. Pediatr Nephrol. 2006 Feb;21(2):218-24.
-
Silva FAQ. Organogênese do trato urinário. In: Embriologia urogenital: organogênese
normal e patológica. São Paulo: Sarvier 1977.
-
Silva JMP, Oliveira EA, Diniz JSS, Vasconcelos MA, Vergara RM, Silveira F, Santo DE,
Almeida PEC. Estudo prospectivo de Coorte de 739 crianças com Refluxo Vesicoureteral
Primário. J Brasileiro de Nefrologia 2005 Set; XXVII (3):110-115
-
Soares CMB, Oliveira EA, Diniz JSS, Lima E M, Vasconcelos MM, Oliveira GR.
Predictive factors of progression of chronic renal insufficiency: a multivariate analysis.
Pediatr Nephrol 2003 Apr;18(4):371-7.
-
Soares CMBM, Diniz JSS, Lima EM, Oliveira EA, Vasconcelos MMA, Oliveira GMR,
Canhestro MR. Aspectos atuais da abordagem da insuficiência renal crônica em pediatria.
Rev Med Minas Gerais 2003; 13(3):183-93.
-
Stephan C, Wesseling S, Schink T, Jung Klaus. Comparison of Eight Computer Programs
for Receiver-Operating Characteristic Analysis. Clinical Chemistry 2003 49(3):433-439.
-
Stocks A, Richards D, Frentzen B, Richard G. Correlation of prenatal renal pelvic
anteroposterior diameter with outcome in infancy. J Urol 1996 Mar;155(3):1050-2.
-
Strauss J, Adamsons KJr, James LS. Renal function of normal full term infants in the first
hours of extrauterine lifeInfants delivered naturally e given a placental transfusion. Am J
Obstet Gynecol 1965 Jan 15;91:286-90.
-
Stuart A. A test for homogeneity of the marginal distributions in a two-way classification.
Biometrika 1955; 52:412-416.
-
Subramaniam R, Kouriefs C, Dickson AP. Antenatally detected pelvi-ureteric junction
obstruction: concerns about conservative management. BJU Int 1999 Aug;84(3):335-8.
-
Sunderland H, Chir M. A Review of experiences with the Anderson-Hynes plastic
operation for hydronephrosis. British Journal of Urology 1963;35:1-10.
-
Takla NV, Hamilton BD, Cartwright PC, Snow BW. Apparent unilateral ureteropelvic
junction obstruction in the newborn: expectations for resolution. J Urol 1998 Dec;160(6 Pt
1):2175-8.
-
Tapia J, Gonzalez R. Pyeloplasty improves renal function and somatic growth in children
with ureteropelvic junctionobstruction. J Urol 1995 Jul;154(1):218-22.
-
Taylor AJr, Nally JV. Clinical applications of renal scintigraphy. AJR Am J Roentgenol
1995 Jan;164(1):31-41.
-
Thomas DF. Fetal uropathy. Br J Urol 1990 Sep;66(3):225-31.
-
Thomas DFM, Madden NP, Irving HC, Arthur RJ, Smith SEW. Mild dilatation of the fetal
kidney: a follow-up study. Br J Urol 1994 Aug;74(2):236-9.
-
Toiviainen-Salo S, Garel L, Grignon A, Dubois J, Rypens F, Boisvert J, Perreault D,
Decarie JC, Filiatrault D, Lapierre C, Miron M, Bechard N. Fetal hydronephrosis: is there
hope for consensus? Pediatr Radiol 2004; 34:519-529.
-
Tsai TC, Lee HC, Huang FY. The size of the renal pelvis on ultrasonography in children. J
Clin Ultrasound 1989 Nov-Dec;17(9):647-51.
-
Ulman I, Jayanthi VR, Koff SA. The long-term followup of newborns with severe
unilateral hydronephrosis initially treated nonoperatively. J Urol 2000 Sep;164(3 Pt
2):1101-5.
148
-
Upsdell SM, Gupta S, Gough DCS. The radionuclide assessment of pre-natally diagnosed
hydronephrosis. Br J Urol 1994 Jul;74(1):31-4.
-
Van Neck J, Cingel V, Van Vliet AK, Drop SLS, Flyvbjerg A. High-protein induced renal
enlargement is growth hormone independent. Kidney International 2002 Vol 62; 1187-
1195.
-
Warady BA, Hébert D, Sullivan EK, Alexander SR, Tejani A. Renal transplantation,
chronic dialysis, and chronic renal insufficiency in children and adolescents. The 1995
Annual Report of the North American Pediatric Renal Transplant Cooperative Study.
Pediatr Nephrol 1997 Feb;11(1):49-64.
-
Wen JG, Ringgaard S, Frokiaer J, Jorgensen TM, Stodkilde-Jorgensen H, Djurhuus JC.
Contralateral compensatory kidney growth in rats with partial unilateral ureteral obstruction
monitored by magnetic resonance imaging. J Urol 1999 Sep;162(3 Pt 2):1084-9.
-
Whitaker RH. Diagnosis of obstruction in dilated ureters. Ann R Coll Surg Engl 1973
Sep;53(3):153-66.
-
Wiener JS, Emmert GK, Mesrobian HG, Whitehurst AW, Smith LR, King LR. Are modern
imaging techniques over diagnosing ureteropelvic junction obstruction? J Urol 1995
Aug;154(2 Pt 2):659-61.
-
Wiener JS, O'Hara SM. Optimal timing of initial postnatal ultrasonography in newborns
with prenatal hydronephrosis. J Urol 2002 Oct;168(4 Pt 2):1826-9.
-
Wong DC, Rossleigh MA, Farnsworth RH. Diuretic renography with the addition of
quantitative gravity-assisted drainage in infants andchildren. J Nucl Med 2000
Jun;41(6):1030-6.
-
Yamazaki Y, Yago R, Toma H. Sonographic characteristics of the urinary tract in healthy
neonates. J Urol 2001 Sep;166(3):1054-1057.
-
Ylinen E, Ala-Houhala M, Wikstrom S. Outcome of patients with antenatally detected
pelviureteric junction obstruction. Pediatr Nephrol 2004 Aug;19(8):880-7.
-
Yoo KH, Thornhill BA, Forbes MS, Chevalier RL. Compensatory renal growth due to
neonatal ureteral obstruction: implications for clinical studies. Pediatr Nephrol 2006
Mar;21(3):368-75.
-
Zerin JM, Ritchey ML, Chang ACH. Incidental vesicoureteral reflux in neonates with
antenatally detected hydronephrosis and other renal abnormalities. Radiology 1993
Apr;187(1):157-60.
-
Zerin JM, Blane CE. Sonographic assessment of renal length in children: a reappraisal.
Pediatr Radiol 1994;24(2):101-6.
-
Zerin JM, Meyer RD. Sonographic assessment of renal length in the first year of life: the
problem of "spurious nephromegaly". Pediatr Radiol 2000 Jan;30(1):52-7.
-
Zimmerman DW. A note on preliminary tests of equality of variances. British Journal of
Mathematical and Statistical Phychology 2004; 57:173-181.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo