ruim; tudo é possível” (N.P.S., 45 anos). Por sua vez, A.S.S., 26 anos, relatou: “a
cirurgia não é tudo, depende de você também, mas para mim é tudo”; logo na
seqüência, ela revelou suas circunstâncias pessoais angustiantes subjacentes, fonte
de insegurança potencialmente influente no seu engajamento às mudanças: “Tenho
medo; depois dessa cirurgia, se não tivesse filha, iria viver minha vida só, arranjar
trabalho. A gente não pode fazer o que tem vontade, mas o que é certo”. A maioria
dos que expressaram medo ou insegurança quanto ao procedimento no discurso
estavam na lista de espera (grupo 2).
Outro aspecto psicológico observado à entrevista dos candidatos à cirurgia
bariátrica foi a presença de pendências nostálgicas, isto é, um desejo de retorno ao
passado que foi expressado com relevo por 20% dos mesmos. Naturalmente, tal
característica diz respeito sobretudo às expectativas cirúrgicas daqueles obesos que
nem sempre se viram com sobrepeso marcante ao longo de sua vida, guardando
íntima relação com mudanças na auto-imagem, como no caso de B.B.S., 40 anos:
“Quero me ver magra, como eu era.” Neste mesmo âmbito, A.M.M.S., 36 anos,
relata seu projeto: “Eu desejo muito voltar a ter a mesma disposição de vida de antes
e, quem sabe, conseguir viver algumas situações de vida que eu não pude por
causa desses tabus do sobrepeso”. Em alguns destes casos, as expectativas
pareceram tender à idealização: “Penso assim em voltar à vida que tinha antes, com
saúde, dignidade, auto-estima – uma reviravolta” (M.C.N.S., 30 anos), ou até mesmo
à franca fantasia: “Eu espero que eu volte ao normal, como era antes; minha vida
normal, de criança, nunca vou ser velha” (E.G.S., 51 anos). Este grupo de pacientes
que manifestou nostalgia à entrevista parecia apresentar escore relativamente maior
no BAI e alguma associação quanto ao estado civil (nenhum solteiro, mas sim 2/3
dos separados/divorciados e 21,7% dos casados/união estável), porém o tamanho
da amostra não permitiu definir estatisticamente tais diferenças.
Enfim, um aspecto peculiar também presente no discurso de 20% destes
pacientes foi uma tendência à “repressão da vaidade” quando discorriam a respeito
das motivações à cirurgia. Trata-se da supressão explícita das motivações estéticas,
conforme exemplificado por R.S., 36 anos: “Não é por boniteza, mas quero fazer
essa cirurgia”. Em muitos casos este fator foi preterido dos objetivos dos pacientes
em favor da primazia da melhoria de saúde, como se vê no relato de R.R.S.,
homem, 19 anos: “Eu não sei, a mudança da aparência -, mas nem tanto, é mais a
saúde mesmo”. Com um dos maiores IMC da população estudada (54,07), C.M.S.,