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Barbara Gomes
CEFALÉIAS PRIMÁRIAS E SÍNDROME METABÓLICA
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES OBESOS
Mestranda: Barbara Guiomar Sales Gomes da Silva
Recife 2008
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Colegiado do Curso de Mestrado em
Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento
da Universidade Federal de Pernambuco,
orientada pelo Prof. Dr. Marcelo Moraes
Valença, para obtenção do grau de mestre em
Neuropsiquiaria, com área de atuação em
Neurociências.
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Silva, Bárbara Guiomar Sales Gomes da
Cefaléias primárias e síndrome metabólica em
crianças e adolescentes obesos / Bárbara Guiomar
Sales Gomes da Silva . – Recife: O Autor, 2008.
129 folhas. il: quadros.
Dissertação (mestrado)
Universidade Federal
de Pernambuco. CCS.
Neuropsiquiatria e Ciências do
Comportamento, 2008.
Inclui bibliografia, anexos e apêndices.
1. Cefaléia – Obesidade – Crianças e Adolescentes.
I.Título.
616.831-009.7 CDU (2.ed.) UFPE
616.849 1 CDD (22.ed.) CCS2008-115
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4
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins
VICE-REITOR
Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva
PRÓ-REITOR DA PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Dr. Celso Pinto de Melo
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DIRETOR
Prof. Dr. José Thadeu Pinheiro
CURSO DE MESTRADO EM NEUROPSIQUIATRIA E CIÊNCIAS DO COMPORTAMENTO
Prof. Dr. Everton Botelho Sougey
MESTRADO EM NEUROPSIQUIATRIA
Corpo Docente
Prof. Dr. Marcelo Moraes Valença
Prof. Dr. Everton Botelho Sougey
Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves Silva
Prof. Dr. Hildo Rocha Cisne de Azevedo Filho
Prof. Dr. Luis Ataíde Junior
Profa. Dra. Maria Lúcia Bustamente Simas
Prof. Dr. Murilo Duarte da Costa Lima
Prof. Dr. Othon Coelho Bastos Filho
Prof. Dr. Raul M. de Castro
Profa. Dra. Sheva Maria da Nóbrega
Prof. Dr. Wilson Farias da Silva
Profa. Dra. Belmira Lara da Silveira Andrade da Costa
Prof. Dr. João Ricardo Mendes de Oliveira
Profa. Dra. Maria Carolina Martins de Lima
5
Dedicatória e agradecimentos
Dedico a meu filho, Caio, que me traz tanta alegria e me faz muito
feliz. Para você, meu bebê, que mesmo antes de nascer já teve que
conviver com esta dissertação.
Agradeço ao meu marido, Leonardo, pelo apoio e dedicação, carinho,
amor e tranqüilidade que me passa todos os dias. Obrigada por sempre
achar que tudo vai dar certo.
Aos meus pais, Roberto e Paz, sempre tão companheiros, me
ajudando em cada passo da minha vida.
A Dr. Marcelo Valença, meu orientador, pelo apoio, incentivo,
entusiasmo e dedicação. Obrigada por fazer de mim uma pesquisadora e
não me deixar desistir.
À Prof
a
Maria Cristina Raposo, minha professora de Bioestatística,
por ter me ajudado com a análise estatística ensinando-me em cada ponto.
Muito obrigada pela sua disponibilidade tão amiga.
À minha amiga, mentora e incentivadora, Dra Jacqueline Araújo, por
se interessar e dar valor ao meu trabalho. Obrigada, minha amiga, por
tudo.
Aos meus pacientes e seus pais, que responderam ao questionário
com tanta paciência.
A todos os amigos da pós-graduação em Neuropsiquiatria pela
companhia e ajuda nesta aventura.
6
RESUMO
Cefaléias Primárias e síndrome metabólica em crianças e adolescentes obesos.
Autora: Barbara Guiomar Sales Gomes da Silva
Objetivo: Migrânea e obesidade são distúrbios altamente prevalentes na população geral, mas pouco se
sabe sobre sua associação. A obesidade e a migrânea, particularmente a migrânea com aura, são
fatores de risco para acidente vascular cerebral e doenças cardiovasculares, como angina e infarto do
miocárdio e a obesidade parece interferir na história natural da migrânea. O objetivo deste estudo é
avaliar a associação entre obesidade e cefaléias primárias em crianças e adolescentes, estimando a
influência da síndrome metabólica nesta associação.
Métodos: Foram realizados dois estudos. O primeiro foi um artigo de revisão por pesquisa de dados do
Pubmed onde foram utilizadas as palavras “headache” e obesity”. O segundo foi um estudo caso-
controle em que foram avaliados os pacientes com obesidade ou sobrepeso com idade entre 4 e 16 anos
que se apresentaram nos ambulatórios de Endocrinologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFPE e
da Policlínica Santa Clara no Recife, durante o período de maio a dezembro de 2007. Foram feitas
medidas de peso, altura, pressão arterial, cálculo do índice de massa corpórea (IMC), medida de cintura
abdominal e dosagem dos níveis séricos de glicose e lípides em jejum, além de entrevista sobre cefaléia
de acordo com os critérios da International Headache Society.
Resultados: Na pesquisa de dados do Pubmed foram encontrados 269 artigos, porém apenas 9 estudos
avaliaram a associação entre obesidade e cefaléia. No segundo estudo, cento e quarenta e sete
pacientes foram avaliados. Entre estes, 63 (42,9%) eram meninos e 84 (57,1%) eram meninas. A idade
média dos participantes foi de 9,9 anos (variando de 4 a 16 anos). Trinta e sete pacientes (25,2%) tinham
o IMC normal, 33 (22,4%) foram considerados com sobrepeso e 77 (52,4%) eram obesos. A cefaléia
esteve presente em 65 pacientes (44,2%) e houve uma tendência de aumento da prevalência de cefaléia
com o aumento do nível do IMC, sendo de OR = 1,0 nos pacientes com peso normal, OR = 1,35 nos
pacientes com sobrepeso e OR= 2,25 nos obesos (p=0,04156) utilizando o teste do chi-quadrado para
tendências. O diagnóstico de ndrome Metabólica foi estabelecido em 25 pacientes (24,8%) e esta teve
presença significativa nos pacientes obesos (p < 0,0001). Pacientes com síndrome metabólica não
apresentaram prevalência mais alta de cefaléia quando comparados àqueles sem este diagnóstico e não
foi encontrada correlação entre a presença de cefaléia e cada componente desta síndrome quando
avaliados separadamente.
Conclusão: A prevalência de cefaléia aumenta de acordo com o IMC em crianças e adolescentes e o
influência da síndrome metabólica ou de suas características, quando avaliadas separadamente, na
associação entre obesidade e cefaléia nesta faixa etária.
Palavras-chave: obesidade. Cefaléia. “Síndrome metabólica”. Crianças e adolescentes. IMC.
7
ABSTRACT
Primary headaches and metabolic syndrome in obese children and adolescents
Author: Barbara Guiomar Sales Gomes da Silva
Objective: Migraine and obesity are highly prevalent disturbs in general population, but little is known
about their association. Obesity and migraine, especially migraine with aura, are risk factors for stroke and
cardiovascular diseases, like angina and myocardial infarct, and obesity appears to interfere in the natural
history of migraine. The objective of the present study is to assess the association between obesity and
primary headaches in children and adolescents as well as to evaluate the influence of the metabolic
syndrome in this association.
Methods: This paper contains two studies. The first one was a review article realized based on Pubmed
search using the keywords “headache” and “obesity”. The second was a case-control study was done
evaluating normal weight, overweight and obese patients with ages ranging from 4 to 16 years old who
present in the Pediatric Endocrinology clinic of Hospital das Clínicas and Policlínica Santa Clara, both in
Pernambuco, Brazil, between May and December of 2007. Measures of body weight, height, arterial
tension and abdominal circumference were done, calculation of body mass index (BMI), and dosages of
fasting serum glucose and lipids, together with an interview about headache fulfilling the International
Headache Society criteria.
Results: In the Pubmed search, 269 articles were found, but only nine studies focused in the association
between headache and obesity. In the second study, one hundred and forty seven children and
adolescents (57,1% females), mean age 9.9 years old, were assessed. Thirty seven (25.2%) subjects
were of normal weight, 33 (22.4%) were overweight (BMI >85
th
and < 95
th
percentile for age and gender )
and 77 (52.4%) were obese (BMI > 95
th
percentile). Headache was reported in 65 (44.2%) subjects and
there was a tendency of higher prevalence with higher BMI. Comparing with the normal weight group, the
prevalence was higher in overweight children (OR = 1.3) and even higher in the obese group (OR= 2.25)
using Chi-square for tendencies (p=0.046). Metabolic syndrome was found in 25 patients (24.8%) with
statistical significance in obese (p<0.0001). Patients with metabolic syndrome did not have higher
prevalence of headache comparing with subjects without this diagnosis and was not found correlation
between the presence of headache and each of the features of the syndrome when evaluated separately.
Conclusion: The prevalence of headache increases with higher BMI in children and adolescents and
there is no influence of any feature of the metabolic syndrome in the association between obesity and
headache at this age.
Keywords: Obesity. Headache. “Metabolic Syndrome”. Children and adolescents. BMI
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................9
Referências bibliográficas.......................................................................................12
2. ARTIGO 1...............................................................................................................13
Cefaléias primárias em pacientes obesos
Resumo......................................................................................................................13
Abstract.....................................................................................................................14
Introdução.................................................................................................................15
A obesidade e a síndrome metabólica...................................................................15
Cefaléias primárias...................................................................................................17
Cronificação da cefaléia ..........................................................................................21
Associação entre obesidade e cefaléia ..................................................................22
Obesidade e cefaléia em crianças...........................................................................34
Mecanismos de associação entre cefaléia e obesidade .......................................36
Associação entre cefaléia e doenças cardiovasculares .......................................43
Intervenção................................................................................................................49
Referências bibliográficas.......................................................................................53
3. ARTIGO 2...............................................................................................................72
Cefaléias primárias e síndrome metabólica em crianças e adolescentes obesos
Resumo......................................................................................................................72
Abstract.....................................................................................................................73
Introdução.................................................................................................................74
9
Material e métodos ...................................................................................................77
Resultados ................................................................................................................80
Discussão..................................................................................................................88
Referências ...............................................................................................................98
6. APÊNDICE............................................................................................................106
Projeto .....................................................................................................................107
Questionário............................................................................................................119
Termo de consentimento livre e esclarecido.......................................................121
Quadro 1: dados antropométricos e bioquímicos dos pacientes estudados....123
Quadro 2: características das cefaléias dos pacientes
estudados......................126
6. ANEXO...............................................................................................................128
Carta de aprovação do comitê de ética ................................................................128
Regras para referências bibliográficas da revista Cephalalgia...........................129
10
Introdução
A obesidade modifica a história natural da migrânea (Scher et al, 2003). Em um
estudo de 2003, Scher e colaboradores (Scher et al, 2003) evidenciaram que indivíduos
com cefaléia episódica e obesidade desenvolvem cefaléia crônica diária em uma taxa
de mais de 5 vezes em relação a indivíduos com peso normal. Um grande estudo cross-
seccional, populacional, confirmou a associação entre obesidade e cefaléia crônica
diária, e sugeriu que essa associação foi relativamente específica para migrânea
crônica, mas não para cefaléia do tipo tensional crônica (Bigal et al, 2006b). Entre
indivíduos com migrânea episódica, a prevalência de migrânea episódica não variou
significativamente com o índice de massa corporal (IMC), sugerindo que a obesidade
não está associada à migrânea em si (Bigal et al, 2006a), no entanto, migranosos com
elevado IMC tiveram episódios mais freqüentes de cefaléia e maiores níveis de
incapacidade relacionada à cefaléia.
Juntos, esses estudos (Scher et al, 2003; Bigal et al, 2006a; Bigal et al, 2006b)
sugerem o seguinte: 1) migrânea e obesidade não são co-mórbidas, pois prevalência
de migrânea na população não varia, significativamente, em função do IMC; 2)
Obesidade está, significativamente, associada com o número de dias com cefaléia por
mês entre migranosos, particularmente para cefaléia muito freqüente (10 a 14 dias por
mês), mesmo após ajuste de co-variáveis; 3) O IMC também foi associado com a
intensidade das crises, a percepção de que pioram com a atividade física e com a
incapacidade relacionada à migrânea; 4) Finalmente, o IMC influencia alguns sintomas
associados, como foto e fonofobia, mas não náusea, e não parece ter influência sobre a
presença ou não de aura. Concluindo, apesar de não ser co-mórbida com migrânea, é
demonstrado que obesidade está associada com a freqüência e intensidade da dor e
com algumas características clínicas da migrânea (Bigal et al, 2006a).
Scher e colaboradores (Scher et al, 2005) demonstraram ainda que adultos
migranosos, particularmente aqueles com aura, têm um perfil para doença
cardiovascular de maior risco do que adultos sem migrânea. O mecanismo preciso pelo
11
qual a migrânea com aura pode levar a eventos vasculares isquêmicos é atualmente
desconhecido e provavelmente complexo (Kurth, 2007).
Obesidade é caracterizada atualmente como um estado de inflamação sistêmica,
crônica, de baixo grau (Weyer et al, 2002). Biomarcadores de inflamação, como a
contagem de leucócitos, fator de necrose tumoral-α (TNF-α), interleucina-6 (IL-6) e
proteína-C reativa, estão aumentados na obesidade e são associados com a resistência
insulínica, predizendo o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 e doença
cardiovascular (4). O adipócito é um participante ativo na geração do estado
inflamatório da obesidade. Adipócitos secretam uma variedade de citocinas que
promovem inflamação. Ainda, estudos recentes sugerem que obesidade está associada
com um aumento de macrófagos do tecido adiposo, que também participam do
processo inflamatório através da elaboração de citocinas. Tem sido sugerido
recentemente que um melhor entendimento do papel do tecido adiposo na ativação das
vias da inflamação pode sugerir novos tratamentos e estratégias preventivas que
objetivam reduzir a morbidade e mortalidade associada à obesidade. Isto pode ser
particularmente importante para a migrânea, que está associada com inflamação
neurovascular (Stang et al, 2005; Beda et al, 2005).
Apenas um estudo avaliou a associação entre obesidade e cefaléia em crianças
e adolescentes. Pinhas-Hamiel e colaboradores (Pinhas-Hamiel et al, 2008)
evidenciaram que meninas obesas tiveram quase quatro vezes mais risco de sofrer de
cefaléias quando comparadas com meninas de peso normal, após ajustadas para a
idade e presença de PA elevada.
Ainda não foi avaliada a presença de cefaléia em relação aos fatores de risco
cardiovasculares da síndrome metabólica em crianças e adolescentes.
Nesta dissertação foram incluídos dois artigos: o primeiro, um artigo de revisão,
intitulado “Cefaléias primárias em pacientes obesos” compreende uma revisão da
literatura mostrando a associação entre obesidade e cefaléia nos diversos estudos
publicados, mostrando que a obesidade modifica a história natural da migrânea. O
segundo, um artigo original, sob o título “Cefaléias primárias e Síndrome Metabólica em
Crianças e Adolescentes Obesos”, consiste de um estudo caso-controle, com o objetivo
de avaliar a associação entre cefaléia e obesidade em crianças e adolescentes e
12
estudar a influência da síndrome metabólica nesta associação. Com os resultados
espera-se levar o endocrinologista a valorizar a presença de cefaléia no
acompanhamento de rotina do paciente obeso, e ao neurologista a valorizar a
obesidade no acompanhamento de rotina das crianças com cefaléia.
13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS*
Beda RD, Gill EA Jr. Patent foramen ovale: does it play a role in the pathophysiology
of migraine headache? Cardiol Clin 2005; 23:91-96.
Bigal ME, Lieberman JN, Lipton RB. Obesity and migraine. A population study.
Neurology 2006a; 66: 545-550.
Bigal ME, Lipton RB. Obesity is a risk factor for transformed migraine but not chronic-
tension type headache. Neurology 2006b; 67:252-257.
Kurth T. Migraine and ischemic vascular events. Cephalalgia 2007; 27: 967-975.
Pinhas-Hamiel O, Frumin K, Gabis L, Mazor-Aronovich K, Modan-Moses D,
Reichman B e Lerner-Geva L. Headaches in overweight children and adolescents
referred to a tertiary-care center in Israel. Obesity (Silver Spring) 2008; 16 (3):659-
663.
Stang PE, Carson AP, Rose KM, Mo J, Ephross SA, Shahar E, Szklo M. Headache,
cerebrovascular symptoms, and stroke. The Atherosclerosis Risk in Communities
Study. Neurology 2005; 64:1573-7.
Scher AI, Stewart WF, Ricci JA, Lipton RB. Factors associated with the onset and
remission of chronic daily headache in a populational-based study. Pain 2003;
106:81-9.
Scher AI, Terwindt GM, Picavet HSJ, Verschure WMM, Ferrari MD, Launer LJ.
Cardiovascular risk factors and migraine. The GEM population-based study.
Neurology 2005; 64: 614-620.
Weyer C, Yudkin JS, Stehouwer CD, Schalkwijk CG, Pratley RE, Tataranni PA.
Humoral markers of inflammation and endothelial dysfunction in relation to adiposity
and in vivo insulin action in Pima Indians. Atherosclerosis 2002; 161: 223-242.
* as referências estão citadas no texto de acordo com o sistema Harvard, e listadas pela norma
Vancouver, similar à revista Cephalalgia
14
Artigo 1
Cefaléias primárias em pacientes obesos
RESUMO
Migrânea e obesidade são distúrbios altamente prevalentes na população geral, mas
pouco se sabe sobre sua associação. A obesidade e a migrânea, particularmente a migrânea
com aura, são fatores de risco para o acidente vascular cerebral e para as doenças
cardiovasculares, como angina e infarto do miocárdio, e a obesidade parece interferir na história
natural da migrânea.
O objetivo deste estudo foi revisar a literatura referente à associação entre cefaléia e
obesidade em adultos e crianças, comparando com nossa experiência recente na avaliação de
pacientes obesos.
Este artigo de revisão foi realizado por uma pesquisa de dados do Pubmed onde foram
utilizadas as palavras-chave “headache” e “obesity” sendo encontrados 269 artigos, porém
apenas 9 estudos avaliaram a associação entre obesidade e cefaléia e são analisados nesta
revisão.
Obesidade tem um papel importante na resistência insulínica ou “síndrome metabólica”,
que inclui hiperinsulinemia, hipertensão arterial, hiperlipidemia, risco aumentado para diabetes
mellitus tipo 2 e aumento do risco para doença cardiovascular aterosclerótica. A síndrome
metabólica é um estado pró-inflamatório e pró-trombótico que pode contribuir para o
desenvolvimento e progressão da cefaléia. Pouco se sabe sobre a prevalência de obesidade e
síndrome metabólica na infância.
Apesar de evidências sugerirem que obesidade é um fator de risco modificável para a
progressão da migrânea, ainda não é conhecido se a perda de peso está relacionada com a
redução da freqüência de cefaléia.
Palavras-chave: Obesidade, cefaléia.
15
ABSTRACT
Migraine and obesity are highly prevalent disturbs in general population, but little
is known about their association. Obesity and migraine, especially migraine with aura,
are risk factors for stroke and cardiovascular diseases (i.e. angina and myocardium
infarct), and obesity seems to interfere in the natural history of migraine. Migraine is a
chronic disease with episodic manifestations, but might be progressive in some
individuals.
This review article was realized based on a Pubmed search using the key words
“headache” and “obesity”. Two-hundred and sixty nine articles were found, but only 9
studies focused in the association between headache and obesity as the primary
outcome and are described in this review.
Obesity has an important place on insulin resistance or “metabolic syndrome”,
which includes hiperinsulinemia, hypertension, hiperlipidemia, elevated risk for diabetes
mellitus type 2 and increased risk for atherosclerotic cardiovascular disease. The
metabolic syndrome is a pro-inflammatory and pro-thrombotic state that can contribute
to the development and progression of headache. Little is known about the prevalence
of obesity and metabolic syndrome in childhood because of the limited number of
studies, the many definitions used and the different ages studied, which makes difficult
to make comparisons between then.
Although evidences suggest that obesity is a modifiable risk factor for migraine
progression, it is still not known if losing weight is related to reduction in the frequency of
headache.
Keywords: Obesity, headache.
16
INTRODUÇÃO
Migrânea e obesidade são distúrbios altamente prevalentes na população geral
(Bigal et al, 2006a; Bigal et al, 2006b), mas pouco se sabe sobre sua associação
(Mattson, 2007; Peres et al, 2005). Migrânea afeta 12% dos adultos nos Estados
Unidos (EUA) (Lipton et al, 2001), enquanto resultados do National Health and Nutrition
Examination Survey indicam que, estimadamente, 64% dos adultos nos EUA estão com
sobrepeso ou são obesos (National Center for Chronic Disease Prevention, 2008).
Migrânea e obesidade são doenças incapacitantes, em que a predisposição
biológica é marcante, mas a influência ambiental é igualmente importante (Goadsby et
al, 2002b; Bigal et al, 2007a; Bigal et al, 2007b).
As inter-relações entre a cefaléia e a obesidade são complexas e podem, ainda,
ser só especulativas (Bigal et al, 2006c) A interligação potencial entre estas duas
doenças tem sido objeto de recente interesse por diversas razões (Nieri e Bigal, 2007).
Primeiramente, a obesidade e a migrânea, particularmente a migrânea com aura, são
fatores de risco para o acidente vascular cerebral (AVC) e para as doenças
cardiovasculares, como angina e infarto do miocárdio (Kruit et al, 2004; Kurth et al,
2006). Segundo, drogas frequentemente usadas para o tratamento da migrânea têm
ação sobre o índice de massa corpórea (IMC); entre os efeitos colaterais mais comuns
dos medicamentos preventivos para a migrânea encontra-se o ganho ou a perda de
peso. Terceiro, e talvez mais importante, a obesidade parece interferir na história
natural da migrânea (Scher et al, 2003).
Observações clínicas e empíricas de pacientes com cefaléia levaram alguns a
propor uma relação entre o aumento do IMC e o aumento da freqüência de cefaléia
(Nicholson e Bigal, 2008).
A obesidade e a síndrome metabólica
Obesidade é definida como um IMC (peso, em quilos, dividido pelo quadrado da
altura, em metros) maior ou igual a 30 kg/m2 em adultos, ou acima do percentil 95 para
idade e gênero em crianças (Peres et al, 2005).
17
Nas últimas décadas, a prevalência de obesidade e sobrepeso tem crescido a
proporções epidêmicas, variando de 7% na França para 32,8% no Brasil (Filozof et al,
2001). Um total de 65% dos adultos e 16% de adolescentes nos EUA está acima do
peso (Ogden et al, 2002; National Center for Chronic Disease Prevention, 2008; Filozof
et al, 2001). Ainda, nos últimos 20 anos tem ocorrido um aumento dramático na
prevalência de obesidade nos EUA. Em 1991, apenas quatro estados americanos
tinham prevalência de obesidade de 15 a 19%. em 2003, 15 estados tinham
prevalência entre 15-19%, 31 com taxas de 20-24% e quatro com taxas maiores que
25% (National Center for Chronic Disease Prevention, 2008).
Em crianças e adolescentes, a prevalência de obesidade continua a crescer
(Pinhas-Hamiel et al, 2008). Em 2004, 17,1% das crianças e adolescentes americanos
tinham sobrepeso (Ogden et al, 2006) A obesidade na infância é associada ao
desenvolvimento de várias complicações sérias incluindo o diabetes mellitus tipo 2,
hipertensão, dislipidemia, esteato-hepatite não-alcoólica, problemas ortopédicos, apnéia
do sono e pseudotumor cerebral (Barlow et al, 2006).
Como tendência secular, sobrepeso e obesidade deixaram de ser sinal de saúde
e prosperidade para serem considerados doença grave e multifacetada, de genética
complexa e elevada morbi-mortalidade, além de fator de risco para outras doenças
(Nieri e Bigal, 2007).
Obesidade é um grande problema de saúde pública, contribuindo para aumentar
a morbidade e mortalidade e é agora tão comum na população mundial que está
começando a ocupar o lugar da desnutrição e doenças infecciosas como o maior
contribuidor para problemas de saúde (Peres et al, 2005).
A obesidade atingiu proporções epidêmicas globalmente (World Health
Organization, 2008) e, juntamente com os problemas de saúde que a acompanham,
traz impacto econômico significativo no sistema de saúde, contando por 9,1% do total
de gastos americanos em 1998 e atingindo 92,6 bilhões de dólares em 2002
(Finkelstein et al, 2003).
Obesidade e sobrepeso são associados com aumento da mortalidade geral,
assim como várias condições crônicas, incluindo diabetes mellitus, doença
cardiovascular, câncer, osteoartrite, doença do refluxo gastro-esofágico, lombalgia e
18
distúrbios respiratórios do sono (Kopelman, 2000). Obesidade é co-mórbida com várias
síndromes dolorosas crônicas e está relacionada com maior gravidade da dor e
refratariedade ao seu tratamento (Barofsky et al, 1997; Lean et al, 1999; Marcus, 2004;
Fontaine et al, 1996). Do ponto de vista preventivo é importante afirmar que a perda de
peso é seguida de melhora no funcionamento físico.
A epidemia global de obesidade resulta de uma combinação de susceptibilidade
genética, maior disponibilidade de alimentos calóricos e menor atividade física na
sociedade moderna. Obesidade não deve ser considerada apenas um problema
cosmético afetando alguns indivíduos, mas como uma epidemia que ameaça o bem
estar global (Peres et al, 2005).
Obesidade têm um papel importante na resistência insulínica ou “síndrome
metabólica”, que inclui hiperinsulinemia, hipertensão, hiperlipidemia, risco aumentado
para diabetes mellitus tipo 2 e aumento do risco para doença cardiovascular
aterosclerótica (Kelishadi, 2007; Kurth et al, 2005a; Rexrode et al, 1997). Pouco se
sabe sobre a prevalência de obesidade e síndrome metabólica na infância pelo numero
limitado de estudos, pelas várias definições utilizadas e pelas diferentes idades
estudadas, o que torna difícil a comparação entre os estudos (Kelishadi, 2007).
Cefaléias primárias
A cefaléia na infância é um sintoma de elevada prevalência, amplo espectro de
causas e dificuldades diagnósticas específicas (Arruda e Guidetti, 2007).
Em um estudo clássico conduzido por Bille (Bille,1962) na cidade de Uppsala na
Suécia foram entrevistados 8993 escolares de idades entre 7 e 15 anos de idade. O
relato de ao menos um episódio de cefaléia em 40% das crianças aos 7 anos e em 75%
dos adolescentes aos 15 anos foi documentado. Sillanpää (Sillanpää, 1976) estudou
4825 crianças com 7 anos de idade e obteve resultados semelhantes: 37,7% delas
haviam se queixado de cefaléia ao menos uma vez e 2,7% tinham o diagnóstico de
migrânea. Ao reavaliar estas crianças aos 14 anos, encontrou uma prevalência de
cefaléia em 69% e de migrânea em 10,6%. No grupo abaixo dos 8 anos, migrânea era
19
mais comum em meninos do que em meninas e a prevalência muda de gênero no
grupo com mais de 8 anos.
No Brasil, Barea e colaboradores (Barea,1996), estudando 538 estudantes com
idades entre 10 e 18 anos em Porto Alegre encontrou taxas de prevalência de cefaléia
de 82,9% no último ano, 31,4% na última semana e 8,9% nas últimas 24 horas. De
acordo com a IHS-I, o diagnóstico de cefaléia do tipo tensional foi estabelecido em
72,8% e de migrânea em 9,9% dos estudantes com cefaléia.
A cefaléia do tipo tensional e a migrânea, protótipos das cefaléias primárias, são
as causas mais freqüentes de cefaléia crônica na infância e adolescência (Aromaa et al,
1998). Na literatura encontram-se também descritas outras cefaléias primárias de rara
observação na infância como a cefaléia em salvas (Maytal et al,1992), a hemicrania
paroxística crônica (Gladstein et al, 1994) e a cefaléia primária em facadas (Soriane et
al, 1996).
As cefaléias secundárias são causas raras de cefaléia crônica na infância (Gallai
et al, 1995). Gallai e colaboradores (Gallai et al ,1995) em um estudo multicêntrico de
1995 com 719 crianças reportaram diagnóstico de cefaléia secundária em apenas 1,9%
dos casos. Entre as principais causas de cefaléia secundária descritas em crianças e
adolescentes, temos traumatismos cranianos, distúrbios vasculares intracranianos, as
neoplasias intracranianas, a hipotensão liquórica, as infecções intracranianas e as
infecções não-cefálicas (Arruda e Guidetti, 2007). Arruda, em sua tese de doutorado,
identificou o tumor cerebral como causa da cefaléia em 0,7% dos casos em uma
amostra de crianças atendidas em um ambulatório especializado (Arruda, 1999).
A relação causal entre cefaléia e erros de refração na infância é citada na
literatura como um mito da oftalmologia pediátrica (Romano, 1975). Observa-se na
literatura um consenso de que os erros de refração representam uma causa rara de
cefaléia na infância (Meloff, 1973; International Headache Society, 1988).
Cefaléias primárias recorrentes representam uma afecção com prevalência alta e
em ascensão na infância (Battistella et al, 2006). Cefaléias recorrentes estão tornando-
se um foco na pediatria, mas um completo entendimento sobre elas ainda não foi
atingido (Elser e Woody, 1990; Silanpää et al, 1991).
20
Cefaléias recorrentes na idade pré-escolar não são raras: o início da cefaléia
ocorre antes dos 5 anos em aproximadamente 40% dos pacientes (Abu-Arafeh e
Russel, 1994), e 25% dos migranosos têm sua primeira crise no período pré-escolar
(Hernandez-Latorre e Roig, 2000).
Os critérios diagnósticos disponíveis anteriormente (International Headache
Society, 1988) para distinguir as síndromes de cefaléia primária na infância podiam não
ser apropriados em termos de sensibilidade e especificidade (Winner et al, 1995, Gallai
et al 1995, Raieli et al, 1996), e uma nova classificação foi proposta com alguns ajustes
para esta faixa etária (International Headache Society, 2004).
A sensibilidade do critério da International Headache Society de 1988 (IHS-1988)
aumenta com a idade (Battistella et al, 2006, Rasmussen et al l,1991), presumivelmente
porque esta classificação é mais especifica do que sensível para migranosos (Battistella
et al, 2006). Alguns dos parâmetros, como, por exemplo, duração das crises, era muito
restrito, tanto que na versão mais recente a duração das crises foi diminuída
(International Headache Society, 2004).
Várias formas de cefaléia (ex. cefaléia crônica diária, cefaléia do tipo tensional,
migrânea) são condições incapacitantes (Scher et al ,1998; Stewart et al , 2003) que,
comparadas com outras formas comuns de dor, produzem grande perda de tempo
produtivo na população economicamente ativa (Stewart et al, 2003). Por causa da
prevalência das diferentes formas de cefaléia variar amplamente nos diversos estudos
(ex.: 1,3 - 86% para cefaléia tipo tensional), é difícil acessar se esta prevalência de
cefaléia mudou com o tempo (Rasmussen et al ,1991b).
Migrânea é um distúrbio comum, crônico, que se apresenta com episódios de
cefaléia incapacitante recorrentes (Petelin et al, 2007). O American Migraine Study II
(Lipton et al, 2001), conduzido em 1999, estimou que uma em cada quatro residências
americanas tivesse um membro com migrânea, e que 28 milhões de residentes dos
EUA (12% dos adultos americanos) tinham migrânea grave naquele ano (Lipton et al,
2001).
A migrânea é uma doença crônica com manifestações episódicas, progressiva
apenas em indivíduos de risco, não em todos os migranosos (Nieri e Bigal, 2007). A
fisiopatologia da migrânea é complexa. Resumidamente, a migrânea é considerada
21
doença primária do sistema nervoso central (Goadsby et al, 2002b; Welch, 2003), com
conseqüências periféricas e vasculares (Afra et al, 1998). É uma doença familial, de
base genética (Moskowitz e Macfarlane, 1993). “Genes candidatos” codificariam um
estado de hiper-excitabilidade cerebral e desmodulação a estímulos endógenos e
exógenos (Ophoff et al, 1997). Durante a crise migranosa, a disfunção encefálica
deflagra eventos neuro-vasculares periféricos, com conseqüente ativação do sistema
trigêmino-vascular (Goadsby et al, 2002b; Afra et al, 1998; Ophoff et al, 1997,
Moskowitz, 1993).
O primeiro evento neurológico da migrânea ainda é ponto de controvérsia (se
cortical ou subcortical). Marcelo Bigal (Nieri e Bigal, 2007) considera a migrânea como
resultante de disfunção de uma área do tronco encefálico que está envolvida na
modulação da dor, no processamento sensorial, e que emite aferências crânio-
vasculares. A ativação do tronco encefálico também pode levar a modificações na
função moduladora de vias ascendentes e descendentes, as quais controlam impulsos
nociceptivos trigemino-cervicais (Welch et al, 2001; Bahra et al ,2001). A dor migranosa
é assim considerada como uma combinação entre percepção alterada (devido à
sensibilização periférica ou central) de um estímulo que usualmente não provoca dor,
assim como ativação de um mecanismo neurovascular dilatador periférico (Goadsby et
al, 2002b). Isso ocasiona subseqüente sensibilização secundária do núcleo caudal do
trigêmeo, com mecanismo retro-alimentador da dor. A depressão cortical alastrante
(para muitos o primeiro evento neurológico a acontecer nos migranosos) é
presumidamente o substrato da aura (Goadsby et al, 2002b). Na opinião de Bigal (Nieri
e Bigal, 2007), a depressão alastrante segue-se à ativação da região geradora da
migrânea, no tronco cerebral. De qualquer maneira, a depressão alastrante é, sem
dúvida alguma, algógena, diretamente podendo causar inflamação vascular meníngea e
indiretamente estimulando o núcleo caudal do trigêmeo (Welch, 2003).
A fisiopatologia da progressão da migrânea é menos compreendida. Um estudo
utilizando ressonância magnética identificou deposição de ferro na substancia cinzenta
periaquedutal em indivíduos com migrânea episódica e crônica (Welch et al, 2001). A
substância cinzenta periaquedutal é parte fundamental na modulação de vias inibitórias
descendentes e é importante no controle da dor e na analgesia endógena. Essa área
22
está intimamente relacionada ao núcleo caudal trigeminal e à área possivelmente
geradora da migrânea (Bahra et al, 2001; Mantyh, 1982). Alodinia, a percepção da dor
quando estímulo usualmente não-doloroso é aplicado, é relatada em cerca de 2/3 dos
indivíduos com migrânea, durante a crise (Burstein et al, 2000). Alodinia é o marcador
clínico de sensibilização no corno posterior da medula ou em núcleos sensitivos de
nervos cranianos (como o trigêmeo). Uma possibilidade é a de que, em alguns
indivíduos, episódios repetidos de sensibilização central estejam associados a dano
neuronal permanente no nível da substancia cinzenta periaquedutal, ou próximo a ela,
em uma área intimamente relacionada à geração da migrânea e à modulação da
mesma. Isso causaria redução no limiar de deflagração das crises, prejuízo da
modulação da dor, refratariedade ao tratamento agudo e progressão da doença
(Moskowitz,1993; Burstein et al, 2000; Welch, 2004).
Cronificação da cefaléia
Aproximadamente 4% da população adulta apresentam cefaléia durante 15 dias
ou mais por mês (cefaléia crônica diária) (Scher et al; 1998; Castillo et al, 1999; Hagen
et al, 2000, Lu et al, 2001). Com tratamento agressivo, incluindo internamento do
paciente para desmame de medicações e outras intervenções, cerca de metade dos
pacientes com cefaléia crônica diária remitem para menos de 15 dias com cefaléia por
mês (Scher et al, 2003).
As cefaléias crônicas diárias (CCDs) primárias, nas quais não se pôde identificar
a causa de base, são subdivididas em CCDs de longa duração (>4h por dia) ou de curta
duração (Silberstein et al, 1996). As CCDs de longa duração afetam 4% dos adultos
dos EUA (Scher et al, 1998). Os dois tipos mais freqüentes de CCD são migrânea
transformada e cefaléia do tipo tensional crônica (CTTC) (Scher et al, 1998; Spierings et
al, 2000; Castillo et al, 1999; Lu et al, 2001). A migrânea transformada (MT) se
desenvolve em migranosos cujas crises aumentam em freqüência, enquanto a CTTC
evolui da cefaléia do tipo tensional episódica (Katsarava et al, 2004).
A classificação de CCD é controversa (Bigal et al, 2006). O critério mais
amplamente aceito para CCD (Silberstein and Lipton criteria S4) divide em 4 grupos:
23
migrânea transformada, CTTC, nova cefaléia persistente diária , e hemicrania contínua
(Silberstein et al, 1996). A segunda edição do International Classification of Headache
Disorders (ICHD-2) define um distúrbio análogo à MT, migrânea crônica, e apresenta
critérios para as outras CCDs (International Headache Society, 2004). Alguns autores
referem que os critérios para migrânea crônica são problemáticos e que a definição de
migrânea transformada deve ser usada (Bigal et al, 2004).
Associação entre obesidade e cefaléia
A obesidade enquanto fator de risco para CCD (Nieri e Bigal, 2007), foi
primeiramente identificada por Scher e colaboradores (Scher et al, 2003).
Em 2003, Scher e colaboradores (Scher et al, 2003) publicaram um estudo com
o objetivo de identificar fatores de risco para prevalência, incidência e remissão da CCD
na população adulta americana. Os participantes eram entrevistados duas vezes com
uma média de 11 meses de intervalo. Este estudo mostrou que, em análise univariada,
a prevalência de CCD diminuiu discretamente com a idade (p = 0,05), foi mais comum
em mulheres (OR=1,65 [1,3-2,0]) e em indivíduos previamente casados (viúvos,
divorciados, separados OR= 1,50 [1,2-1,9]), e foi inversamente proporcional ao nível
de instrução (OR=3,56 [2,3-5,6]).
No momento da entrevista de seguimento, 91% dos controles (pacientes com
cefaléia entre duas e 104 vezes por ano) continuaram a preencher critérios de
controles, 6% progrediram para uma freqüência de cefaléia intermediária (105-179
cefaléias por ano) e 3% preencheram o critério para CCD. Em comparações
univariadas, a incidência de CCD foi significativamente associada com obesidade (OR=
5,53 [1,4-21,8]) e relato de diagnóstico de artrite (OR= 3,29 [1,03-10,5]). A obesidade foi
proeminente entre os fatores de risco para progressão. Indivíduos obesos tiveram cinco
vezes mais chance de desenvolver CCD em relação àqueles com peso normal,
enquanto pacientes com sobrepeso (índice de massa corpórea entre 25 e 30 kg/m
2
)
tiveram três vezes mais chance de desenvolver CCD em relação àqueles com peso
normal (Scher et al, 2003). Essa observação chamou atenção para uma possível
ligação entre obesidade e cefaléia (Horev et al, 2005). Nesse estudo longitudinal
24
epidemiológico, Scher e colaboradores mostraram que, no curso de um ano, 3% de
indivíduos com cefaléia episódica na população geral progrediam para CCD (Scher et
al, 2003). Os autores concluíram que a incidência de CCD em pacientes com cefaléia
episódica é de 3% ao ano (Scher et al, 1998; Scher et al, 2002; Scher et al, 2003).
Dos casos de CCD contatados no seguimento, 44% ainda relatavam 180 ou mais
cefaléias por ano, 43% relataram uma freqüência intermediária (52-179 cefaléias por
ano), e 13% relataram menos de 52 cefaléias por ano. Remissão foi positivamente
associada com maior nível educacional e era mais provável de ocorrer em mulheres
com idade mais avançada, mas não em homens (p<0,005).
Foi encontrado que controles com maior freqüência de cefaléia eram mais
predispostos a ter incidência de CCD no seguimento. A freqüência das crises
apresentou-se, por si só, como um fator de risco para cronificação (Scher et al, 2003).
Em outro estudo de Scher e colaboradores (Scher et al, 1998), também foi
demonstrado que um dos mais importantes fatores de risco para progressão da
migrânea foi a freqüência de crises de cefaléia na linha de base.
Em resumo, o estudo de Scher e colaboradores de 2003 (Scher et al, 2003)
encontrou que CCD é mais prevalente em mulheres, indivíduos com menor nível de
instrução, brancos, e naqueles que foram previamente casados. A prevalência de CCD
foi associada à obesidade e a duas condições relacionadas à obesidade, artrite e
diabetes.
Em um segundo estudo, Katsarava e colaboradores (Katsarava et al, 2004)
seguiram 532 pacientes com migrânea episódica (<15 dias/mês). Sessenta e quatro
pacientes (14%) desenvolveram CCD em um ano de seguimento (Katsarava et al,
2004).
Subsequentemente, dois grandes estudos populacionais confirmaram a
associação entre migrânea e obesidade (Bigal et al, 2006b; Bigal et al, 2006c).
O primeiro reafirmou a obesidade como fator de risco para CCD, e sugeriu que
essa associação ocorre primariamente com a migrânea crônica e não com a cefaléia do
tipo tensional crônica (CTTC) (Bigal et al, 2006c). Neste estudo, Bigal e colaboradores
(Bigal et al, 2006c) realizaram entrevistas pelo telefone de 1997 a 2000 em três áreas
25
metropolitanas dos EUA. Perguntas sobre cefaléia, peso e altura, intensidade da
cefaléia e incapacidade relacionada à cefaléia foram realizadas.
Os participantes foram divididos em 2 grupos:
1. Pessoas com CCD, que tinham em média 15 ou mais dias de cefaléia
por mês, com média de duração de mais de 4 horas. Os participantes
com CCD foram divididos naqueles com crises de migrânea (migrânea
transformada) e sem crises de migrânea (CTTC).
2. Controles que não tinham cefaléia ou tinham menos de 108 dias de
cefaléia no ano e não preenchiam critérios para migrânea.
História completa da cefaléia, peso e altura foram obtidos de 30.849 indivíduos,
predominantemente mulheres (61,8%) e caucasianos (64,8%). A idade variou de 18 a
89 anos (média de 38,7 anos). A maioria tinha o IMC normal (50,9%), 31,1% tinham
sobrepeso, 10,4% eram obesos e 4,4% eram obesos mórbidos. Uma pequena
proporção estava abaixo do peso (3,1%).
Cefaléia crônica diária foi diagnosticada em 1.243 indivíduos, com a prevalência
em um período de um ano de 4,1%. A prevalência de CCD foi maior em mulheres que
em homens (5,0% versus 2,1%, OR= 1,7; 95% CI=1,5 a 2,0). A prevalência não foi
diferente entre caucasianos (4,1%) e afro-americanos (3,7%) e aumentou com a idade
(3,2% naqueles com idades entre 18 e 29 anos e 4,6% nos com 60 anos ou mais).
Comparando com o grupo com peso normal (3,9%), a prevalência de CCD foi
significativamente maior em obesos [5,0% (OR=1,3; 95% CI=1,1 a 1,6)] e obesos
mórbidos [6,8% (OR=1,8; 95% CI = 1,4 a 2,2)]. Pacientes abaixo do peso (4%) e com
sobrepeso (3,8%) não foram significativamente diferentes do grupo com peso normal.
A prevalência de migrânea transformada foi de 1,3%, com forte influência do
IMC. A prevalência de migrânea transformada no grupo com peso normal foi 0,9% e
aumentou para 1,2% nos pacientes com sobrepeso [OR = 1,4 (1,1 a 1,8)], 1,6% nos
obesos [OR = 1,7 (1,2 a 2,43)], e 2,5% nos obesos mórbidos [OR = 2,2 (1,5 a 3,2)]. Os
grupos com baixo peso e com peso normal não diferiram entre si.
Cefaléia do tipo tensional crônica teve uma prevalência de 2,8%. Os efeitos do
IMC na prevalência de CTTC foram bem menos robustos. Comparando com o grupo
normal (3%), a prevalência de CTTC não foi significativamente diferente daqueles com
26
baixo peso (2,9%), sobrepeso (2,6%), e obesidade (3,3%). A prevalência de CTTC foi
significativamente maior nos obesos mórbidos [4,3% (OR = 1,4; 95% CI = 1,1 a 1,9)].
Em relação aos efeitos do IMC na freqüência de cefaléia e na incapacitação
devido às crises, foram avaliados os pacientes com CCD em função do IMC.
Comparados com o grupo de peso normal (36% tinham cefaléias diárias), uma
proporção significativamente alta de obesos [48,7% (OR = 1,5; 95% CI 1,1 a 2,1)] e
obesos mórbidos [51% (OR = 1,7; 95% CI 1,1 a 2,6)] tinham cefaléia diariamente. A
proporção de participantes que relataram faltar pelo menos três dias de atividades
profissionais ou acadêmicas devido à cefaléia em três meses foi significativamente
maior nos pacientes com sobrepeso, obesidade e obesidade mórbida comparados com
o grupo de peso normal.
Após ajustar pelo uso de medicação, idade, raça, nível sócio-econômico e estado
civil, evidenciou-se que CCD foi mais prevalente em obesos (OR=1,5; 95% CI 1,2 a 1,8)
e obesos mórbidos (OR =2,0; 95% CI =1,4 a 2,4).
O IMC estava associado com o diagnóstico de CCD (p< 0,001) e de migrânea
transformada (p<0,001), mas não com o diagnóstico de CTTC. Os resultados então
mostraram que obesidade era um fator de risco forte para migrânea crônica, mas não
para cefaléia do tipo tensional crônica (Nicholson e Bigal, 2008). Entre aqueles com
cefaléia do tipo tensional, o IMC influenciou a prevalência de CTTC relativa ao grupo
com peso normal entre obesos graves (Nicholson e Bigal, 2008).
O segundo estudo (Bigal et al, 2006b) mostrou que, embora a obesidade não
seja fator de risco para migrânea (não aumente a incidência da migrânea episódica),
migranosos obesos têm crises mais freqüentes de cefaléia. Esse estudo (Bigal et al,
2006b), cross-seccional, populacional, foi conduzido para investigar a influência do IMC
na prevalência e atributos clínicos da migrânea. Foram realizadas entrevistas pelo
telefone, assistidas por computador (CATI), no período de 1997 a 2000 em três grandes
áreas metropolitanas dos EUA. A validade do CATI para o diagnóstico de migrânea foi
previamente acessada comparando o diagnóstico por telefone com um diagnóstico
independente feito por um cefaliatra. Para o diagnóstico de migrânea, o CATI tinha alta
sensibilidade (91%) e especificidade (98%) (Stewart et al, 1999; Stewart et al, 1996).
27
Na entrevista, era primeiro perguntado se o participante teve, pelo menos, uma
cefaléia que não fosse devido a traumatismo craniano, gripe ou ingestão de bebida
alcoólica. Depois era perguntado se eles tiveram, pelo menos, cinco cefaléias no ano
anterior. Para aqueles que responderam positivamente, eram perguntados sobre
quantos tipos de cefaléia eles tiveram e eram feitas questões sobre a cefaléia mais
intensa.
As questões incluíram todas as características diagnosticas da migrânea com ou
sem aura, como especificado pela primeira edição da International Classification of
Headache Disorders (ICHD-I) (International Headache Society, 1988). O critério para
migrânea em adultos permaneceu inalterado na segunda edição da ICHD-II
(International Headache Society, 2004). Os participantes relataram peso e altura
durante a entrevista.
A amostra consistiu em 30.215 participantes com historia completa da cefaléia e
com peso e altura. Indivíduos eram predominantemente caucasianos (65,7%) e do sexo
feminino (65%). As idades variaram entre 18 e 89 anos (média de 38,7 anos). A maioria
da amostra tinha o IMC normal (51,3%). Um total de 30,6% tinha sobrepeso, 10,4%
eram obesos e 4,6%, obesos mórbidos. A minoria dos participantes (3,1%) estava
abaixo do peso.
Pacientes com migrânea tinham uma média de 33 cefaléias por ano. Um total de
1.246 participantes que tinham 15 ou mais dias de cefaléia por mês foi excluído.
Migrânea foi diagnosticada em 3.791 indivíduos (prevalência em um ano de
12,5%). A prevalência de migrânea foi maior nos pacientes com baixo peso (15,8%) do
que nos com peso normal (13,1%; p<0,05). Em relação aos indivíduos com peso
normal, a prevalência de migrânea não foi significativamente diferente para pacientes
com sobrepeso (11,8%), obesidade (11,9%), ou obesidade mórbida (14%). Esse padrão
continuou verdadeiro após estratificação por gênero.
Apesar da prevalência de migrânea não ter aumentado em função do peso
corporal, este esteve associado a uma alta freqüência de crises. Em relação aos
pacientes com peso normal (4,4%), 5,8% dos pacientes com sobrepeso (OR=1,3; 95%
CI 1,1 a 1,9), 13,6% dos obesos (OR=2,9; 1,9 a 4,4), e 20,7% dos obesos mórbidos
(OR= 5,7; 3,6 a 8,8) tinham 10 a 15 dias de cefaléia por mês. o foram observadas
28
diferenças na proporção daqueles com freqüência intermediária de crises (3 a 9 dias
por mês) em relação ao IMC.
O IMC também influenciou várias características da cefaléia. A proporção de
pacientes relatando crises intensas de migrânea aumentou com o grupo do IMC, de
53% no grupo normal para 57% no grupo com sobrepeso (OR=1,25 versus peso
normal; 95% CI 1,1 a 1,5), 59% nos obesos (OR= 1,31; 1,03 a 1,66), e 65% nos obesos
mórbidos (OR=1,9; 1,2 a 2,4). O grupo com baixo peso não diferiu, significativamente,
do grupo com peso normal.
Similarmente, obesos (OR = 1,5; 1,2 a 1,9) e obesos mórbidos (OR=2; 1,5 a 2,8)
relataram mais frequentemente faltar, pelo menos, um dia de trabalho em três meses
devido à cefaléia, comparados com o grupo com peso normal. A piora com atividade
física também foi mais comum nos obesos mórbidos do que nos com peso normal (OR
= 1,7; 1,2 a 2,2). A duração da dor não variou com o IMC.
O IMC esteve, significativamente, associado com a proporção de pacientes
migranosos que relataram fotofobia ou fonofobia em mais de 50% das crises. Com o
uso do grupo com peso normal como referência, fotofobia em 50% ou mais das crises
foi relatada por 78% dos pacientes com peso normal versus 88 % dos obesos mórbidos
(OR=2,0; 1,3 a 3,2). Fonofobia foi relatada por 75% daqueles com peso normal, 80%
dos pacientes com sobrepeso (OR= 1,4; 1,2 a 1,7), 82% dos obesos (OR= 1,5; 1,3 a
2,1) e 85% dos obesos mórbidos (OR=1,8; 1,5 a 2,1). A proporção de pacientes
relatando náuseas ou sintomas visuais sugestivos de aura não variou significativamente
pelo IMC.
No modelo de regressão logística, após ajuste de co-variáveis (gênero, idade,
uso de medicação para cefaléia, distúrbios do sono, nível educacional e depressão), a
freqüência das crises de migrânea variou em função do IMC (p < 0,001). O IMC maior
que 30 kg/m
2
foi, significativamente, associado à intensidade da dor, à incapacidade e à
proporção de crises acompanhadas por fotofobia e fonofobia (Bigal et al, 2006b).
Os achados deste estudo (Bigal et al, 2006b) sugerem o seguinte: 1) migrânea e
obesidade não são co-mórbidas, pois prevalência de migrânea na população não varia,
significativamente, em função do IMC. 2) Obesidade está, significativamente, associada
com o número de dias com cefaléia por mês entre migranosos, particularmente para
29
cefaléia muito freqüente (10 a 14 dias por mês), mesmo após ajuste de co-variáveis. 3)
O IMC também foi associado com a intensidade das crises, a percepção de que pioram
com a atividade física e com a incapacidade relacionada à migrânea. 4) Finalmente, o
IMC influencia alguns sintomas associados, como foto e fonofobia, mas não náusea.
Não parece ter influência sobre a aura. Concluindo, apesar de não ser co-mórbida com
migrânea, demonstrou-se que obesidade está associada com a freqüência, intensidade
e com algumas características clínicas da migrânea.
Em um outro estudo, Horev e colaboradores (Horev et al, 2005) avaliaram a
incidência de cefaléia em uma amostra de mulheres com obesidade mórbida. A
população estudada incluiu mulheres com obesidade mórbida atendidas em uma clínica
cirúrgica pré-operatória para cirurgia de banda gástrica laparoscópica com o objetivo de
redução de peso durante outubro e novembro de 2004. Vinte e sete mulheres com
obesidade mórbida com idade média de 39,5 anos (variando de 21 a 61), com IMC
médio de 41,07 foram entrevistadas.
Dezessete pacientes (63%) relataram sofrer de cefaléias episódicas. Treze
pacientes (48%) preencheram critérios do IHS para migrânea, e destes, 10 relataram
aura. Quatro (14,8%) sofriam de cefaléia episódica do tipo tensional. Todos os 13
migranosos relataram cefaléias incapacitantes. Eles apresentavam migrânea mais
de um ano, e 76,9% deles por mais de cinco anos (Horev et al, 2005).
Essa modesta série demonstrou uma alta incidência de migrânea, e
especialmente migrânea com aura, entre mulheres com obesidade mórbida,
comparando com a população geral de mulheres. De acordo com o American Migraine
Study II (Lipton et al, 2001), a incidência de migrânea é de 18,5%, e 36% dos pacientes
têm aura. Nessa série de mulheres obesas, 48% apresentavam migrânea e 77% relatou
aura (Horev et al, 2005). A incidência de co-morbidades (HAS, hipotiroidismo, diabetes,
dislipidemia e apnéia obstrutiva do sono) não teve diferença estatística entre
migranosos e não-migranosos, sugerindo que a alta incidência de migrânea nesta
população não é resultado destas condições.
No estudo brasileiro de Peres e colaboradores (Peres et al, 2005) foram
avaliados 74 pacientes obesos do serviço de cirurgia bariátrica do Hospital de
Beneficência Portuguesa. Foi obtido gênero, idade, raça e IMC de cada paciente e
30
aplicada a escala de sono Epworth a todos os participantes. Características da cefaléia
como freqüência, intensidade, duração do ataque e outras variáveis necessárias para o
diagnóstico de cefaléia primária baseada no critério da International Headache Society
de 2004 foram obtidas. História clínica e exame clínico e neurológico foram feitos por
um cefaliatra.
Pacientes foram divididos em cinco categorias de acordo com o IMC: normal,
sobrepeso (IMC entre 25 e 29 kg/m
2
) e obesidade graus I, II e III (IMC entre 30 e 34,
entre 35 e 40 e maior que 40 kg/m
2
, respectivamente).
Foi encontrado que 56 (75%) pacientes tinham diagnóstico de cefaléia primária,
comparados com 30 controles (42%). Trinta e seis (48%) pacientes tinham cefaléias
incapacitantes. Apenas 10 tinham cefaléias matinais. Quarenta e nove (66%) foram
diagnosticados como migrânea, sete (9%, 2, crônica e 5, episódica) com cefaléia do
tipo tensional. Trinta e cinco tinham migrânea sem aura (47%), cinco com aura, sete
tinham migrânea crônica, uma com migrânea menstrual e uma, desordem migranosa.
Mattson (Mattson, 2007) avaliou mulheres de uma comunidade sueca e não
achou qualquer associação entre cefaléia e obesidade. Todas as mulheres entre 40 e
74 anos residentes de uma pequena comunidade na Suécia, Östhammar, são
convidadas a cada dois anos para um programa de screening com mamografia. A fonte
de estudo foram mulheres entre 40 e 74 anos, residentes em Östhammar durante o
período de estudo de novembro 1997 a outubro de 1998 que foram à unidade de
mamografia local, onde foi perguntado se queriam participar do estudo e 684 mulheres
concordaram em participar.
Participantes foram entrevistadas por um neurologista. Foram feitos exame físico
e neurológico. A estrutura da entrevista foi baseada nos critérios de cefaléia propostos
pela IHS (international Headache Society, 1988). Migrânea ativa foi definida como uma
ou mais crises de cefaléia no último ano, e inativa quando houve crises de migrânea no
passado, mas não no ano anterior (Mattson, 2007).
Todas as mulheres com migrânea apresentavam inibição (incapacidade
moderada) ou proibição (incapacidade grave) das atividades diárias durante as crises
de migrânea. A intensidade da dor foi medida em escala verbal de 0 a 10. O teste de
Kruskal-Wallis foi usado para acessar se as médias de peso corporal, altura e IMC
31
diferiram entre as mulheres com migrânea ativa, inativa ou mulheres que nunca tiveram
migrânea (Mattson, 2007).
A prevalência de migrânea ativa e inativa foi de 19% (95% CI, 16,1-21,9) e
13,9% (95% CI, 16,3-22,2), respectivamente. Migrânea ativa ou inativa não foram
associadas à obesidade, controlando para a idade e nível educacional (P=0,96) ou não
(P=0,71). A média de IMC de mulheres que apresentavam inibição das atividades
diárias durante as crises de migrânea foi de 26,6 kg/m2, e a média de IMC de mulheres
com proibição das atividades diárias durante as crises de migrânea foi de 26,9 kg/m2.
Nem o IMC, nem a obesidade foram associados com a intensidade da cefaléia após
ajustes para a idade e nível educacional. Não houve diferença estatística entre
freqüência (P=0,26 e 0,11), intensidade (P=1,00 e 0,83) e duração (P=0,60 e 0,56) das
crises de migrânea e o IMC e obesidade, respectivamente (Mattson, 2007).
Concluindo, não houve evidências, nesse estudo, que a obesidade afeta a
prevalência de migrânea entre mulheres entre 40 e 74 anos. As características das
crises de migrânea não se correlacionaram com o IMC e não diferiram entre mulheres
obesas e não-obesas com migrânea ativa. Os autores relatam que se associação
verdadeira entre obesidade e características da migrânea como freqüência, esta deve
ser pequena e não pode ser estudada em comunidades de pequeno tamanho (Mattson,
2007).
Brown (Brown et al, 2000) estabeleceu, em um estudo de base populacional
entre mulheres jovens entre 18-23 anos, um risco de 1,5 vezes de cefaléia para
mulheres com um IMC mais alto (>30 kg/m2) quando comparadas com mulheres de
peso normal.
Estudos caso-controle (Scher et al, 2003, Peres et al, 2005) e observacionais
(Bigal et al, 2006b; Brown et al, 2000) sugerem que IMC aumentado possa ser um fator
de risco para cefaléia. Neste sentido, Keith e colaboradores (Keith et al, 2008)
realizaram um estudo em que foi estimada a associação entre IMC e cefaléia entre
mulheres adultas usando dados de 11 grandes estudos epidemiológicos. A análise
incluiu dados do National Health Interview Survey (NHIS): 1997–2003, The First
National Health Examination and Nutrition Survey (NHANES I), Alameda County Health
Study (ACHS), Tecumseh Community Health Study (TCHS), and Women's Health
32
Initiative (WHI). A análise foi restrita a mulheres porque tem sido estabelecido que a
prevalência da cefaléia seja bem maior em mulheres (Scher et al, 1998) e dados
preliminares não publicados sugerem que a associação entre obesidade e cefaléia varia
substancialmente com o gênero.
Foi demonstrado por Keith (Keith et al, 2008) que o IMC aumentado foi
associado com maior risco de cefaléia ou cefaléia grave entre mulheres. Resultados do
NHIS 1997, 1999, 2003 e ACHS localizaram pontos de corte de IMC sugerindo que um
IMC de aproximadamente 20 kg/m
2
foi associado com o menor risco para cefaléia grave
e freqüente. Nesta análise de 11 grandes bancos de dados contendo mais de 200.000
mulheres americanas, foi achado que um IMC aumentado foi, em geral, associado com
aumento significativo de cefaléia, mas não de migrânea diagnosticada. Os resultados,
por todos os bancos de dados, com exceção do WHI e NHANES I, sugeriram que,
quando comparados com um IMC de 20, obesidade leve (IMC de 30) foi associada com
um aumento de aproximadamente 35% (31 a 65%) nas chances de relato de cefaléia,
enquanto obesidade grave (IMC de 40) foi associada com um aumento de
aproximadamente 80% (49 a 118%) nas chances. Estes resultados não são alterados
quando consumo de álcool, variáveis socioeconômicas, e hipertensão são incluídas no
modelo.
Em relação à migrânea, os resultados do modelo primário com dados do WHI,
único banco de dados que acessou o diagnóstico de migrânea explicitamente,
sugeriram que IMC não está associado com migrânea e do modelo estendido mostrou
relação discretamente negativa. Concluiu-se então que a análise dos dados do NHIS,
do ACHS e do TCHS sugeriu que IMC está associado com cefaléias não-migranosas e,
possivelmente, migrânea não-diagnosticada (Keith et al, 2008).
Até 2007, a especificidade da associação entre obesidade e freqüência de
cefaléia não havia sido examinada acessando outros tipos de cefaléia além da
migrânea, como provável migrânea, um subtipo da migrânea com apenas uma
característica para migrânea ausente, e cefaléia do tipo tensional episódica. O estudo
American Prevalence and Prevention (AMPP) forneceu uma excelente oportunidade
para investigação dessas relações (Silberstein et al, 2007). O AMPP é um estudo
longitudinal, populacional, objetivando avaliar a prevalência, ônus e uso dos serviços de
33
saúde para a migrânea, assim como acessar a história natural da migrânea e fatores de
risco para CCD (Lipton et al, 2007; Silberstein et al, 2007; Diamond et al, 2007).
Bigal e colaboradores (Bigal et al, 2007b) utilizaram os dados do AMPP para
acessar a relação entre IMC e cefaléias episódicas, separadamente, explorando a
influência do IMC na freqüência e intensidade da migrânea, da provável migrânea e da
cefaléia episódica do tipo tensional grave.
Como parte do estudo AMPP, um questionário sobre cefaléia foi enviado pelo
correio para 120.000 residências americanas. O diagnóstico de cefaléia foi baseado nos
critérios propostos pela segunda edição do International Classification of Headache
Disorders (ICHD-2) (International Headache Society, 2004). Foi questionado também o
peso e a altura do participante. Pacientes com migrânea e provável migrânea foram
argüidos sobre seu padrão de tratamento agudo ou preventivo.
Um total de 120.000 residências foi contatado, totalizando 257399 membros.
Entrevistas foram retornadas de 77.879 (65% de resposta) residências obtendo dados
de 162.576 participantes de 12 anos de idade ou mais. Um total de 30.703 (18,8%)
indivíduos foi positivo para o screening de cefaléias episódicas no ano anterior. Destes,
18968 tiveram critérios para migrânea, com prevalência estimada de um ano de 11,7%.
Um total de 7564 (4,6%) atingiu critério para provável migrânea e 2051 (1,2%) tinham
cefaléia episódica do tipo tensional grave. Finalmente, havia 2120 indivíduos (1,3%)
com outros tipos de cefaléia episódica (Bigal et al, 2007b).
Foi examinada a distribuição de cefaléias de alta freqüência (10 a 14 dias por
mês) pela categoria de IMC. Para migrânea, o percentual de cefaléias freqüentes
aumentou em função do IMC. Comparando com o percentual de pacientes com peso
normal com migrânea episódica (6,5% tinham cefaléia muito freqüente), o percentual de
pacientes com migrânea muito freqüente foi maior na categoria com sobrepeso (7,4%;
OR, 1,15; 95% CI, 0,98-1,13; P=0,06) e ainda maior nos obesos (8,2%; OR, 1,3; 95%
CI, 1,1-1,5; P<0,001) e nos obesos mórbidos (10,4%; OR, 1,7; 95% CI, 1,4-1,9;
P<0,001). Para provável migrânea, as diferenças foram significativas no grupo dos
obesos mórbidos (9,3% versus 6,7%% no grupo com peso normal; OR, 1,5; 95% CI,
1,1-1,9; P=0,02). Para a cefaléia episódica do tipo tensional grave, o percentual de
34
participantes com 10 a 14 dias de cefaléia por mês o variou em função do IMC (Bigal
et al, 2007b).
Foi também avaliado o percentual de indivíduos com algum nível de
incapacidade de acordo com o IMC e o tipo de cefaléia. Entre migranosos, 32%
daqueles com peso normal tinham algum nível de incapacidade relacionada à cefaléia,
comparados com 37,2% dos com sobrepeso (OR, 1,3; 95% CI, 1,2-1,4; P<0,01), 38,4%
dos obesos (OR, 1,3; 95% CI, 1,2-1,5; P<0,001), e 40,9% dos obesos mórbidos (OR,
1,5; 95% CI, 1,3-1,6; P<0,001). Para provável migrânea, 19,7% dos pacientes com peso
normal tinham alguma incapacidade, comparados com 17,5% dos com baixo peso (OR,
0,8; 95% CI, 0,5-1,3), 18,6% dos pacientes com sobrepeso (OR, 0,9; 95% CI, 0,8-1,1),
19,6% dos obesos (OR, 1,0; 95% CI, 0,8-1,2), e 23% dos obesos mórbidos (OR, 1,2;
95% CI, 1,0-1,5; P<0,05). Finalmente, para cefaléia episódica do tipo tensional, a
relação não foi vista (Bigal et al, 2007b).
O uso de tratamento agudo não variou significativamente com o IMC no grupo
dos migranosos ou naqueles com provável migrânea. Em relação ao tratamento
preventivo, 51% dos pacientes com peso normal haviam usado medicação,
comparando 57% dos com sobrepeso (OR, 1,3; 95% CI, 1,2-1,4), 62% dos obesos (OR,
1,6; 95% CI, 1,4-1,8), e 72% dos obesos mórbidos (OR, 2,5; 95% CI, 2,3-2,8). Padrão
similar foi visto nos pacientes com provável migrânea (Bigal et al, 2007b).
Os achados mostram que, entre migranosos, 62,3% dos pacientes são
sobrepeso ou obesos, e entre indivíduos com provável migrânea e cefaléia episódica do
tipo tensional o percentual foi 62,1%. Foi achado que, entre migranosos, obesidade
estava associada com cefaléias muito freqüentes, assim como com graus mais
avançados de incapacidade, associações que são consistentes com achados prévios
(Bigal et al, 2006b; Bigal et al, 2006c). Finalmente, o IMC não foi associado com
freqüência ou incapacidade em pacientes com cefaléia episódica do tipo tensional
grave. Esses achados apóiam o conceito de que a obesidade está associada com
migrânea em particular, mas não com outras cefaléias em geral (Bigal et al, 2007b).
Apesar da freqüência das crises tender a ser maior entre os migranosos obesos,
o uso de tratamento agudo ocorreu em taxas similares nos grupos de IMC. Padrões
foram similares para provável migrânea. A relação entre obesidade e o uso de
35
medicação preventiva para migrânea e provável migrânea tem várias explicações
possíveis. Primeiro, que obesidade está associada com crises mais freqüentes e
incapacitantes entre pacientes com migrânea (Bigal et al 2006b, Bigal et al 2006c), a
gravidade da doença pode motivar a consulta e o tratamento adequado. Esse estudo
sugere que a obesidade está relacionada à migrânea e, em menor grau, à provável
migrânea, mas não à cefaléia episódica do tipo tensional grave (Bigal et al, 2007b).
Obesidade e cefaléia em crianças
Crianças com sobrepeso podem ter risco aumentado de cefaléia por várias
razões (Pinhas-Hamiel et al, 2008). Primeiro, eles têm prevalência de hipertensão três
vezes maior comparando com adolescentes não-obesos e, aproximadamente, 11 - 17%
das crianças acima do peso sofrem de hipertensão (Sorof et al, 2004). Segundo, a dieta
das crianças com sobrepeso é caracterizada por jejum ou horário inadequado para
refeições, ricas em queijo, chocolate, cachorro-quente, glutamato monossódico,
aspartame, alimentos gordurosos, sorvetes todos conhecidos desencadeadores de
migrânea (Millichap e Yee, 2003). Terceiro, foi relatada uma relação positiva entre
assistir televisão e obesidade (Crespo et al, 2001), e cefaléia é mais prevalente entre
crianças que assistem TV por mais tempo (Toyran et al, 2002). Ainda, uma associação
entre depressão e cefaléia tem sido documentada em adultos, e como crianças com
sobrepeso têm maior prevalência de depressão (Breslau et al, 2003), isto pode ser um
fator adicional. Finalmente, ambos, a apnéia do sono e o pseudotumor cerebral, que
são causas bem conhecidas de cefaléia crônica, são mais prevalentes entre crianças e
adolescentes obesos (Speiser et al, 2005).
apenas um estudo publicado avaliando a associação entre cefaléia e
obesidade infantil. O recente estudo israelense de Pinhas-Hamiel e colaboradores
(Pinhas-Hamiel et al, 2008) foi baseado em questionários em crianças e adolescentes
em idades entre nove e 17 anos recrutadas de uma clínica de obesidade para crianças.
Brevemente, o questionário consistia de questões acessando as características da
cefaléia como: número de crises por mês, duração das cefaléias, caracterização
(localização, pulsatilidade, intensidade), existência de náuseas e/ou vômitos, fotofobia
36
e/ou fonofobia, e fatores precipitantes, incluindo jejum, ciclo menstrual, astenia, hábitos
de sono.
A população estudada foi de 273 crianças a adolescentes: 166(61%) meninas e
107 (39%) meninos. Cefaléias foram relatadas por 39 (14,3%) dos pacientes, com taxa
similar entre meninas (14,5%) e meninos (14%). A ocorrência de cefaléia aumentou de
10,6% entre crianças com idade entre 9 -11 anos para 21,8% no grupo entre 15 -18
anos (p<0,05). Esta tendência esteve presente em meninos e meninas, mas o atingiu
diferença estatística.
Com base no questionário de cefaléias, 15 crianças (38%) tinham migrânea
episódica, 13 (33%) tinham cefaléia do tipo tensional episódicas, freqüentes ou
infrequentes, dois tinham cefaléia crônica e dois tinham migrânea sintomática devido a
pseudotumor cerebral. Das 15 crianças com migrânea episódica, 12 tinham sobrepeso
ou eram obesas (Pinhas-Hamiel et al, 2008).
Dos 273 pacientes, 116 (42,5%) tinham peso normal, 45 tinham sobrepeso
(16,5%) e 112 (41%) eram obesos. A idade média das crianças nos três grupos de peso
foi similar: 13,4 ± 2,2 anos, 13,2 ± 2,2 anos, e 13,2 ±2,2 anos no grupo com peso
normal, sobrepeso e obeso, respectivamente. O excesso de meninas no grupo de
obesos (44 versus 36%) não foi significante. Cefaléias foram documentadas em 20 das
112 crianças obesas (17,9%), sete entre as 45 com sobrepeso (15,6%) e 12 das 116
com peso normal (10,3%). Pacientes com cefaléia tinham peso corporal mais alto
quando comparados com crianças sem cefaléia (p = 0,03). Entre meninas, 7,7% das
com peso normal tinham cefaléia, comparadas com 14,8% das com sobrepeso e 20,3%
do grupo obeso (p para tendência = 0,04). Entre meninos, a ocorrência de cefaléia foi
similar entre os três grupos (p=0,96) (Pinhas-Hamiel et al, 2008).
Participantes obesos tinham alteração significativa da pressão arterial
comparados com o grupo de peso normal. Entre as crianças com obesidade, 16
(14,3%) tinham pré-hipertensão e 24 (21,4%) tinham hipertensão, comparados com 8,9
e 8,9% dos com sobrepeso e 3,5 e 4,3% dos com peso normal, respectivamente. Não
houve, no entanto, diferença entre a ocorrência de cefaléia entre pacientes com
pressão arterial (PA) alterada comparados àqueles com pressão arterial normal. Nesse
estudo, duas crianças obesas tiveram o diagnóstico de pseudotumor cerebral, ambas
37
relatavam cefaléias graves pela manhã e ambas tinham papiledema, aumento da
pressão intracraniana e tomografia computadorizada de crânio normal.
O estudo mostra que meninas obesas tiveram quase quatro vezes mais risco de
sofrer de cefaléias quando comparadas com meninas de peso normal após ajuste para
idade e presença de pressão arterial elevada (Pinhas-Hamiel et al, 2008).
Mecanismos de associação entre cefaléia e obesidade
Obesidade e migrânea podem estar associadas de rias maneiras (Bigal et al,
2007b). Em primeiro lugar, ambas são influenciadas por fatores de risco genéticos e
ambientais (Bigal et al, 2007a). Segundo, migrânea, assim como obesidade, tem sido
relatada como um fator de risco para AVC e doenças cardiovasculares (Kurth et al,
2006). Vários dos mediadores inflamatórios que são aumentados em obesos são
importantes na patogênese da migrânea, e eles podem aumentar a freqüência,
gravidade e duração das crises de migrânea (Bigal et al, 2007a; Zelissen et al, 1991).
Finalmente, condições que são co-mórbidas das duas doenças (p.ex.: depressão)
também pode fazer esta relação mais complexa.
Apesar do nosso entendimento sobre a fisiopatologia da migrânea ter melhorado
dramaticamente nos últimos 15 anos, ainda não está tudo delineado (Goadsby, 2005).
Os mecanismos das inter-relações de freqüência de cefaléia e obesidade são
complexos e ainda não entendidos (Bigal et al, 2006d; Bigal et al, 2006c).
Alguns potenciais mecanismos que justifiquem a associação entre migrânea e
obesidade são (Nieri e Bigal, 2007):
1. Um dos potenciais mecanismos de associação seria a associação espúria,
definida quando a aparente associação entre doença e exposição (ou entre duas ou
mais doenças) se por efeito de erro sistemático. Por exemplo, se indivíduos com
obesidade e migrânea crônica tendem a freqüentar mais os serviços de saúde, ambos
podem estar super-representados em amostras de base clínica, e estudos clínicos
podem detectar a associação como conseqüência de um viés de seleção. Outra fonte
potencial de associação espúria é o fato de ambas migrânea e obesidade serem
38
doenças comuns, potencialmente levando a uma associação estatisticamente, mas não
fisiopatologicamente, significativa (Nieri e Bigal, 2007).
Considerando-se que a associação foi confirmada por três grandes estudos
populacionais ajustados por gênero, idade e condição sócio-demográfica, a hipótese de
associação espúria é altamente improvável (Scher et al, 2003; Bigal et al, 2006b; Bigal
et al, 2006c).
2. Outro potencial mecanismo de associação seria a relação causal unidirecional
(Nieri e Bigal, 2007). De acordo com esta hipótese, uma doença levaria a outra (p.ex.
diabetes leva a neuropatia diabética). Por exemplo, migrânea crônica (MC) pode ser
fator de risco para obesidade, uma vez que indivíduos com dor diária tendem a ser mais
sedentários e podem usar medicamentos preventivos que tenham como efeito colateral
o aumento de peso. Inversamente, obesidade pode aumentar o risco de migrânea
crônica se os mediadores pró-inflamatórios que se encontram aumentados em
indivíduos obesos contribuírem para a progressão da cefaléia. No único estudo
longitudinal disponível (Scher et al, 2003), obesidade foi considerada fator de risco para
migrânea crônica. Migrânea crônica não foi estudada como fator de risco para
obesidade.
Uma relação causal unidirecional pode explicar algumas das relações entre
ambas as desordens (por exemplo, mediadores inflamatórios que estão aumentados na
obesidade são de importância fisiopatológica na migrânea).
3. Fatores ambientais compartilhados é outro potencial fator de associação.
Relações de co-morbidade podem ser explicadas por fatores de risco ambientais
comuns entre ambas as condições. O sedentarismo e a atividade estressante podem,
por exemplo, contribuir para a co-ocorrência de ambas as doenças. Não evidência
direta que apóie esta hipótese (Nieri e Bigal, 2007).
4. Também há a possibilidade de fatores de risco genéticos compartilhados.
Migrânea e obesidade podem ter base genética em comum. Fatores de risco genéticos
compartilhados podem explicar várias co-morbidades da migrânea (Ottman e Lipton,
1996; Merikangas et al, 1993), e algumas das correlações entre migrânea e obesidade
podem ser explicadas por este modelo. Algumas substâncias neuroquímicas, incluindo
as orexinas, são responsáveis pela modulação de processos metabólicos e
39
nociceptivos. Fatores de risco genéticos que levam à alteração da modulação nas vias
da orexina poderiam levar à dor refratária e também à obesidade (Nieri e Bigal, 2007).
5. Alguns possíveis mecanismos que justifiquem a associação entre migrânea e
obesidade são mediadores inflamatórios e vasculares e substâncias e vias importantes
na regulação da ingestão de alimentos e controle de peso.
A migrânea como um estado pró-inflamatório e pró-trombótico: A dor migranosa
pode ter origem no extravasamento neurogênico de plasma, e conseqüente inflamação
vascular meníngea (Moskowitz e Cutrer, 1993). Modificações estruturais na dura-máter,
que se seguem à estimulação do gânglio trigeminal, foram demonstradas em animais,
especificamente a degranulação de mastócitos e alterações nas vênulas pós-capilares,
incluindo agregação plaquetária (Dimitriadol et al, 1992). A estimulação elétrica do
gânglio trigeminal leva a um aumento do fluxo sangüíneo extracerebral e liberação local
de peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) e de substância P (Goadsby e
Edvinsson, 1993). A liberação de substância P é pró-inflamatória (Grant et al, 2005). A
estimulação do gânglio trigeminal também causa liberação de um potente peptídeo
vasodilatador, o peptídeo intestinal vasoativo (VIP), através de uma ativação reflexa
parassimpática craniana (Goadsby e Macdonald, 1985).
Outros agentes inflamatórios também estão alterados nos migranosos, incluindo
diversas citocinas, e alguns desses marcadores o normalizados após sumatriptano
(Munno et al, 2001; Sarchielli et al, 2006). Aumentos transitórios da molécula de adesão
intercelular-1 (ICAM-1), interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral-α (TNF-α)
podem ser induzidos por neuropeptídeos de terminais sensitivos liberados pelas
terminações trigeminais ativadas, o que ocorre durante crises de migrânea (Munno et
al, 2001, Sarchielli et al, 2006).
Migrânea, especialmente a migrânea com aura, também é fator de risco para
doenças vasculares, incluindo acidentes vasculares cerebrais e doenças coronarianas,
conforme demonstrado por Kurth e Kruit, entre outros (Kruit et al, 2004; Kurth et al,
2006). Foi demonstrado que a depressão cortical alastrante altera a permeabilidade da
barreira hematoencefálica, por ativação de metaloproteinases de matriz (MMPs),
especialmente a MMP-9 (Gursoy-Ozdemir et al, 2004). A MMP-9 regula o transporte de
substâncias pela barreira hemato-encefálica. A depressão cortical alastrante induz a
40
uma up regulation da MMP-9, a qual, por sua vez, interfere com a barreira hemato-
encefálica e promove extravasamento de proteínas séricas. Essa ruptura da barreira
pode contribuir para as alterações na permeabilidade cerebral durante a crise de
migrânea, assim como para a morte neuronal e aumento do volume do infarto em
cérebro já comprometido (Gursoy-Ozdemir et al, 2004).
Estudos também investigam a presença de alterações genéticas no sistema da
proteína C em indivíduos com migrânea, em comparação com controles. Em um
estudo, migranosos tiveram freqüência aumentada de resistência à proteína C ativada
devido à mutação Arg506GIn do fator V e deficiência da proteína S (DÁmico et al, 1998;
Welch et al, 2006).
A obesidade como estado pró-inflamatório e pró-trombótico: Obesidade é
reconhecida como um estado pró-inflamatório e pró-trombótico (Alessi et al, 2003).
Adipócitos secretam uma variedade de citocinas, incluindo IL-6 e TNF-α, que
promovem inflamação. Marcadores de inflamação, incluindo contagem de leucócitos,
TNF-α, IL-6, e proteína-C reativa, também estão aumentados na obesidade (Lee e
Pratey, 2005). Ainda, obesidade está associada com um aumento dos macrófagos do
tecido adiposo, que também participam do processo inflamatório através de elaboração
de citocinas (Alessi et al, 2003). Isto pode ser particularmente importante na migrânea,
que é associada com inflamação neurovascular (Goadsby, 2005, Welch, 2003) e provê
uma base que ajuda a explicar a relação entre obesidade e migrânea transformada,
resultado da progressão da migrânea.
Níveis plasmáticos do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP)
também estão elevados em obesos, particularmente em mulheres, e a ingestão de
gordura pode estar associada com aumento da secreção de CGRP (Zelissen et al,
1991). Após a perda de peso, os níveis de CGRP não alteram. Talvez os níveis séricos
aumentados de CGRP possam constituir um fenômeno primário em mulheres obesas e
a ingestão de gordura possa estar associada a um aumento de sua secreção (Zelissen
et al, 1991). Isso pode ser importante na migrânea, onde se sabe que o CGRP é um
importante mediador pós-sináptico da inflamação trigemino-vascular (Storer et al, 2004),
e inibidores experimentais de CGRP parecem ser efetivos no tratamento agudo da
migrânea (Petersen et al, 2005).
41
Amilina e adrenomodulina são dois peptídeos que têm em comum entre 25% e
50% de seqüências homólogas ao CGRP (van Russum et al, 1997, Reda et al, 2002).
Os níveis de amilina encontram-se elevados em indivíduos obesos, provavelmente
levando à retro-alimentação negativa dos receptores de amilina, os quais, por sua vez,
reduziriam o impacto da secreção de amilina pós-prandial na saciedade e esvaziamento
gástrico (Gebre-Medhin et al, 1998).
A amilina é um peptídeo vasoativo potente e de longa duração. Há evidências de
uma série de mecanismos autócrinos, parácrinos e endócrinos de ação da amilina,
incluindo mecanismos vasodilatadores, antiapoptóticos, angiogênicos, antifibróticos,
natriuréticos, diuréticos e inotrópico positivo (Yanagawa e Nagaya, 2007). O tecido
adiposo, especialmente adipócitos maduros, é fonte importante de amilina, e a amilina
deve ter participação na fisiopatologia da obesidade (Yanagawa e Nagaya, 2007).
Assim como o CGRP, a adrenomodulina é um poderoso vasodilatador arterial em
humanos. A vasodilatação induzida pela adrenomodulina é mediada através de um
receptor CGRP1, indicando a presença de receptores funcionais da adrenomodulina
nos astrócitos humanos (Chu et al, 2001). Esse fato também pode ser de importância
na fisiopatologia da migrânea.
Orexinas modulam o controle do apetite, metabolismo e dor, e disfunção das
suas vias parece predispor a obesidade e a dor crônica. Dados recentes sugerem que
os neuropeptídeos hipotalâmicos orexina A e orexina B têm um papel na nocicepção e
estimulam a liberação pré-juncional de CGRP dos neurônios trigeminais (Holland et al,
2005; Bartsch et al, 2004). Isto também demonstra que a orexina A é importante na
regulação do metabolismo energético em humanos, e que na obesidade a atividade
destes peptídeos é deturpada (Baranowska et al, 2005). Pode ser especulado que a
desmodulação nas vias da orexina pode estar associada com um aumento na
susceptibilidade à inflamação neurogênica e, consequentemente, crises migranosas.
Os adipócitos também atuam como células endócrinas, secretando substâncias
chamadas adipocitocinas. Algumas das adipocitocinas têm propriedades hormonais,
incluindo a adiponectina, a resistina e a leptina. Tais adipocitocinas são exclusivamente
produzidas nas células adiposas e na placenta (Matsuzawa, 2006). A mais bem
estudada das adipocitocinas é a adiponectina, substância com efeitos endócrinos no
42
fígado, musculatura e no sistema vascular. A adiponectina modula uma série de
processos metabólicos, importantes no controle da glicemia, assim como catabolismo
de ácidos graxos. Os níveis do hormônio são inversamente correlacionados ao IMC
(Ronti et al, 2006). As concentrações plasmáticas são maiores no sexo feminino (Ronti
et al, 2006). Uma redução de peso aumenta significativamente seus níveis circulantes.
Em níveis normais, as ões antiinflamatórias da adiponectina incluem inibição da IL-6
e formação de IL-8 induzida por TNF, assim como indução de citocinas
antiinflamatórias, IL-10 e IL-1. Os níveis de adiponectina o inversamente
correlacionados com os níveis de proteína-C reativa, TNF-α e IL-6. Em baixos níveis
(como na obesidade), a adiponectina induz a um estado pró-inflamatório (Moskowitz e
Macfarlane, 1993; Ronti et al, 2006).
A adiponectina é uma adipocitocina que tem um papel na homeostase
energética, tem papel protetor contra o desenvolvimento da resistência insulínica e
aterosclerose e exibe propriedades antiinflamatórias (Touys, 2005; Trujillo e Scherer,
2005; Kadowaki e Yamauchi, 2005). É especulado que um nível sustentado de
adiponectina é um componente potencialmente protetor na cascata inflamatória que
resulta em migrânea ou outros tipos de cefaléia que a sensibilidade à insulina é
alterada na migrânea, que a resistência insulínica é ligada à obesidade e que
obesidade é um fator de risco para transformação da migrânea em episódica para
crônica, a adiponectina poderia manifestar um efeito preventivo na patologia da
progressão da migrânea (Petelin et al, 2007).
Além dos efeitos nas funções metabólicas centrais, a leptina, resistina e
adiponectina têm efeitos marcantes em uma série de outros processos fisiológicos,
incluindo a inflamação (Bastard et al, 2006). Foi demonstrado que a leptina e a
adiponectina ativam a liberação de citocinas pró-inflamatórias e o metabolismo
fosfolipídico no tecido adiposo, e que agentes antiinflamatórios podem agir contra essa
inflamação induzida (Lappas et al, 2005).
A maioria dos dados apóia que níveis persistentemente elevados de
adiponectina sejam protetores, e que níveis baixos seguidos de aumento significativo
nos níveis séricos da adiponectina podem se correlacionar com o desenvolvimento da
cefaléia (Petelin et al, 2007).
43
Pode ser especulado que a influência da obesidade na migrânea está ligada por
uma perspectiva bioquímica através da adiponectina. É possível que, que a
obesidade está associada com menores níveis de adiponectina, pacientes obesos
tenham maior susceptibilidade a estímulos que podem resultar em maiores alterações
nos níveis de adiponectina, o que pode causar cefaléia (Petelin et al, 2007).
A obesidade pode ser considerada como um distúrbio do balanço energético.
Como o sistema nervoso autônomo tem participação na regulação de ambas estas
variáveis, ele tem se tornado alvo de investigação na área de patogênese da obesidade
(Carnethon et al, 2003).
Um estudo prospectivo em oito mil pacientes obesos e não obesos revelou
elevado risco relativo de desenvolvimento de diabetes tipo 2 se estiver presente
disfunção autonômica (Liatis et al, 2004).
Sugere-se que um desequilíbrio autonômico se desenvolva em obesos, com
aumento da atividade parassimpática no compartimento visceral e aumento do tônus
simpático no compartimento torácico e músculos. Por fim, também é possível que o
aumento do tônus simpático, que ocorre durante períodos de jejum nos indivíduos
obesos, possa estar associado à elevada morbidade cardiovascular e mortalidade. E,
ao menos parcialmente, essa desregulação é feita pela leptina, molécula pró-
inflamatória (Nieri e Bigal, 2007).
Disfunção autonômica também tem sido sugerida na migrânea (Peroutka, 2004).
É possível que a obesidade leve a uma ativação do sistema nervoso simpático (um
“estado hipersimpático”), assim como a modificações na responsividade serotoninérgica
central (redução do tônus serotoninérgico central), o que, por sua vez, aumentaria a
probabilidade de transformação da migrânea.
Concluindo, Nieri e Bigal (2007) propuseram que a causalidade unidirecional,
assim como mecanismos biológicos em comum, são importantes fatores na associação
entre cefaléia e obesidade. A obesidade aumenta os níveis de diversos marcadores que
participam da fisiopatologia da migrânea, incluindo as interleucinas e o CGRP. Tais
mediadores podem elevar a freqüência, intensidade e duração da migrânea per se. O
aumento da freqüência da migrânea está associado à sensibilização central, a qual
contribuiria para perpetuar o processo. Algumas das adiponectinas estão reduzidas na
44
obesidade, e em baixos níveis o nociceptivas (Petelin et al, 2007). Elas também
aumentam os níveis de muitos dos marcadores inflamatórios da obesidade. Finalmente,
uma predisposição biológica em comum deve ter importância significativa. As orexinas
são importantes na modulação das vias metabólicas e de dor. A disfunção nas vias da
orexina parece ser fator de risco para ambas as condições.
Associação entre cefaléia e doenças cardiovasculares
Migrânea, assim como obesidade, é co-mórbida com vários distúrbios
cardiovasculares e se apresenta como um fator de risco para acidente vascular
cerebral, especialmente em mulheres com migrânea com aura (Kurth et al, 2005a; Kurth
et al, 2005b).
Migrânea é uma doença neurovascular muito comum (Goadsby, 2002a). Um
terço dos migranosos apresentam sintomas neurológicos de aura antes do inicio da
cefaléia (migrânea com aura), usualmente consistindo de distúrbios visuais transitórios,
mas também podem ser sensitivos, afásicos ou motores (Ferrari, 1998). Nas últimas
décadas, muitas publicações têm ligado a migrânea, especificamente a migrânea com
aura, ao AVC isquêmico (Henrich e Horwitz, 1989; Tzourio et al, 1993; Carolei et al,
1996; Tzourio et al, 1995; Chang et al, 1999; Donaghy et al, 2002; MacClellan et al,
2007; Stang et al, 2005; Buring et al, 1995; Kurth et al, 2005b; Merikangas et al, 1997).
Indivíduos migranosos têm um risco aumentado de AVC isquêmico de início precoce,
particularmente as mulheres jovens (Chang et al, 1999; Tzourio et al, 1993; Schwaag et
al, 2003), e ainda mais se estas fumavam ou usavam anticoncepcionais orais (Chang et
al, 1999).
Uma coorte prospectiva usando dados do Women’s Health Study (Kurth et al,
2005b), que incluiu mais de 39.000 mulheres aparentemente sadias de 45 anos ou mais
que foram seguidas por uma média de nove anos. Este estudo achou um aumento de
1,7 vezes no risco de AVC isquêmico (RR, 1,71; 95% CI, 1,11-2,66) para mulheres que
relataram migrânea com aura quando comparadas com mulheres sem migrânea. O
risco foi maior naquelas entre 45-55 anos (RR 2,25; 95% CI, 1,30-3,91) e não foi visto
45
em mulheres com idade mais avançada. Migrânea sem aura não foi associada com
risco aumentado de AVC isquêmico (RR 1,01; 95% CI, 0,63-1,62) (Kurth et al, 2005b).
Outro estudo prospectivo utilizou dados do Atherosclerosis Risk in Communities
(Stang et al, 2005) e incluiu mais de 12000 homens e mulheres acima de 55 anos.
Comparados com participantes sem migrânea ou outra cefaléia, migranosos tiveram um
risco 1,8 vezes maior de AVC isquêmico (RR 1,84; 95% CI, 0,89-3,82) porém, não
atingiu significância estatística.
O Stroke Prevention in Young Women Study (MacClellan et al, 20075) comparou
386 mulheres com idade entre 15 e 49 anos com o primeiro AVC isquêmico com 614
mulheres de mesma idade e etnia como controles. Comparadas com mulheres sem
cefaléia, aquelas que relataram provável migrânea com sintomas visuais tiveram um
risco 1,5 vezes maior de AVC isquêmico (OR, 1,5; 95% CI, 1,1-2,0), que atenuou
discretamente após controle de fatores de risco. Esse risco aumentou para mulheres
que relataram uma freqüência de provável migrânea de, pelo menos, 12 por ano (OR
2,3; 95% CI, 1,5-3,5) e para aquelas que começaram a ter migrânea durante o ano
anterior (OR 6,7; 95% CI, 2,3-19,2). Mulheres com provável migrânea sem sintomas
visuais não estiveram em risco aumentado para AVC isquêmico.
Por que migrânea com aura aumentaria o risco de AVC isquêmico de início
precoce ainda não se sabe até o momento (Scher et al, 2005). Mecanismos possíveis
incluem hiperhomocisteinemia, forâmen oval patente, prolapso da valva mitral,
vasoespasmo, fatores pró-trombóticos e disfunção endotelial (Tzourio et al, 2000).
É possível que migrânea com aura também possa aumentar o risco para doença
arterial coronariana, mas esta questão ainda não foi definitivamente respondida (Kurth,
2007a).
Alguns estudos têm sugerido um link entre migrânea e doença cardíaca
coronariana (Garcia-Albea e Abarca, 1993; Hall et al, 2004; Scher et al, 2005; Mitchell
et al, 1998; Sternfeld et al, 1995). Em um estudo de caso-controle espanhol de 40
pacientes com IAM e controles, pacientes com infarto do miocárdio tinham prevalência
mais alta de migrânea (25% versus 18,5%) (Garcia-Albea e Abarca, 1993). Dois
grandes estudos acharam associações entre migrânea e doença cardiovascular
(Mitchell et al, 1998; Scher et al, 2005). O primeiro, de 3654 homens e mulheres da
46
Austrália com idade de 49 anos ou mais, que mostrou um risco de aproximadamente
duas vezes de infarto do miocárdio, AVC e angina entre migranosos (Mitchell et al,
1998).
No segundo estudo, Scher e colaboradores (Scher et al, 2005) compararam a
prevalência de fatores de risco clássicos para doença cardiovascular em migranosos
(com e sem aura) com a de não-migranosos.
Foram selecionados aleatoriamente adultos entre 20 a 65 anos e foi mandado
pelo correio questionário sobre aspectos sócio-demográficos, história médica e cefaléia.
Pacientes com cefaléia mais grave ou aura completavam o questionário no centro de
saúde. O diagnostico final foi feito por dois cefaliatras de acordo com os critérios da
International Headache Society para migrânea com ou sem aura (International
Headache Society, 1988).
Foram identificados 620 pacientes com migrânea e 5135 controles sem
migrânea. A idade média dos participantes em estudo foi de 42 anos e 53% eram
mulheres. Pacientes com migrânea com aura tinham colesterol total maior, HDL menor,
maior relação colesterol total:HDL, e maior pressão arterial diastólica do que controles.
Não houve diferença entre IMC ou razão cintura-quadril entre casos e controles.
Mulheres com migrânea com aura tinham maior probabilidade de ter colesterol alto
comparando com controles femininos (Scher et al, 2005).
Aqueles com migrânea com aura com 45 anos ou menos estavam em risco
aumentado para apresentar história de doença arterial coronariana (DAC) ou AVC [OR
= 3,96 (1,1 a 14,3)] comparados com controles. A associação entre migrânea com aura
e AVC foi similar, mas não atingiu significância estatística (OR=3,86 [0,8-18,5], P=0,09).
Não foi visto aumento de risco (para DAC ou AVC) após a idade de 45 anos para
aqueles com migrânea com ou sem aura, comparados com controles (Scher et al,
2005).
Aproximadamente um terço dos participantes tinham um risco de 10 anos na
escala de Framingham menor que 1%. As chances de cada nível elevado no risco de
Framingham eram, aproximadamente, duas vezes maiores no grupo de migrânea com
aura do que no grupo controle sem migrânea. A elevação do risco era mais forte para
mulheres do que para homens com migrânea com aura.
47
Foi demonstrado, então, que adultos migranosos, particularmente aqueles com
aura, têm um perfil para doença cardiovascular de maior risco do que adultos sem
migrânea. No geral, aqueles com migrânea com aura tinham duas vezes ou mais
chance de ter um risco na escala de Framingham clinicamente relevante em
comparação ao grupo não-migranoso (Scher et al, 2005).
Recentemente, duas grandes coortes prospectivas acharam associações entre
migrânea e doença isquêmica cardíaca. Dados do Women’s Health Study indicaram
uma associação entre migrânea e doença cardiovascular isquêmica, incluindo doença
arterial coronariana, após uma média de 10 anos de seguimento (Kurth et al, 2006), que
não foi aparente com seguimento mais curto (Cook et al, 2002). Nesse estudo
prospectivo (Kurth et al, 2006) de 27.840 mulheres aparentemente sadias, migrânea foi
associada com aumento de risco significativo para doença cardiovascular isquêmica
(infarto do miocárdio não-fatal, AVC isquêmico não-fatal, morte por doença cardíaca
isquêmica), infarto do miocárdio, revascularizações coronarianas, angina e morte
cardiovascular, quando comparadas com mulheres sem história de migrânea. Mais
especificamente, os resultados do Women’s Health Study indicam que o risco
aumentado para qualquer evento vascular isquêmico é aparente para mulheres com
migrânea com aura. Mulheres que relataram migrânea sem aura não tiveram qualquer
aumento no risco para eventos vasculares isquêmicos.
Em relação aos homens, dados recentes do Physicians’ Health Study indicam
uma associação entre migrânea e doença cardiovascular, com um aumento de risco de
IM de 42% (Kurth et al, 2007b). Nesse estudo, 20.084 médicos do sexo masculino,
aparentemente sadios, foram seguidos por uma média de 15,7 anos, período em que
um total de 1449 eventos cardiovasculares ocorreu. Comparados com não-migranosos,
homens que relataram migrânea tiveram um risco relativo (RR) de 1,24 (95% CI, 1,06-
1,46; P=0,008) para doença cardiovascular, 1,12 (0,84-1,50; P=0,45) para AVC
isquêmico, 1,42 (1,15-1,77; P<0,001) para infarto do miocárdio, 1,05 (0,89-1,24;
P=0,54) para revascularização coronariana, 1,15 (0,99-1,33; P=0,068) para angina e
1,07 (0,80-1,43; P=0,65) para morte cardiovascular isquêmica. Em relação ao AVC,
houve uma modificação importante com a idade, indicando que homens com menos de
48
55 anos tinham um aumento de risco para AVC (RR 1,74; 95% CI, 1,10-3,08), que não
foi aparente com a idade mais avançada.
Os mecanismos precisos pelos quais a migrânea pode levar a eventos
vasculares isquêmicos são atualmente desconhecidos e provavelmente complexos
(Kurth, 2007). Várias hipóteses podem ser feitas: (i) migrânea pode diretamente causar
um evento isquêmico (por exemplo, infarto migranoso); (ii) a fisiopatologia da migrânea
pode afetar a função endotelial e por si só, ou em combinação com patologias
vasculares locais existentes, aumentar o risco de AVC fora de um ataque migranoso;
(iii) migrânea está associada com uma maior prevalência de fatores de risco para
eventos isquêmicos vasculares; (iv) a ligação pode ser causada por drogas específicas
para migrânea; e (v) migrânea e eventos vasculares podem ser ligados por um
componente genético.
Um infarto migranoso é um evento raro, com critérios restritos da International
Headache Society em 1988 e 2004. A definição inclui um ou mais sintomas de aura
associados com lesões cerebrais isquêmicas em um território apropriado demonstrado
por neuroimagem. A lesão cerebral isquêmica deve ocorrer em conjunção com uma
crise migranosa em paciente com migrânea com aura. Outras causas de isquemia têm
que ser excluídas (International Headache Society, 2004). A maioria dos AVC
isquêmicos entre pacientes migranosos ocorre entre crises e não durante ou logo após
uma crise com aura (Tzourio et al, 1993; Tzourio et al, 1995), então um infarto
migranoso é improvável explicar a associação migrânea - AVC.
evidência crescente que migrânea afeta o sistema vascular, não só
intracerebral, mas também periférico (Vanmolkot et al, 2007; Tietjen, 2007; Rose et al,
2007). Por exemplo, em um estudo cross-seccional de 50 pacientes com migrânea e
um número igual de controles pareados sem migrânea, o diâmetro da artéria braquial e
a complacência das artérias braquial e femoral estavam diminuídas em pacientes com
migrânea (Vanmolkot et al, 2007). Resultados recentes do Atherosclerosis Risk in
Communities Study indicam que pessoas de meia-idade com migrânea e outras
cefaléias têm maior probabilidade de ter sinais de retinopatia (Rose et al, 2007). Neste
ponto, no entanto, ainda não está claro se a disfunção endotelial é causa ou
conseqüência da migrânea, ou se eles coexistem por outras razões.
49
Contudo, na maioria dos estudos que avaliaram a associação migrânea evento
isquêmico vascular, os riscos relativos estimados não eram atenuados após controle de
fatores de risco cardiovasculares tradicionais (Tzourio et al, 1995; Kurth et al, 2005b;
Stang et al, 2005; Merikangas et al, 2007; Kurth et al, 2006; Kurth et al, 2007b). Ainda,
vários estudos indicam que a associação migrânea AVC foi particularmente presente
na ausência de fatores de risco cardiovasculares tradicionais (Henrich e Horwitz, 1989;
MacClellan et al, 2007; Kurth et al, 2005b). Outros fatores de risco para AVC isquêmico,
como hipertensão e diabetes, adquirem maior importância com a idade ou interagem
com o mecanismo pelo qual a migrânea pode levar ao AVC. Isto poderia resultar em
uma menor influência relativa da migrânea como fator de risco para AVC isquêmico no
idoso. Ainda, esses dados podem sugerir que migrânea pode aumentar o risco de AVC
isquêmico apenas entre aqueles com vasculatura intacta (Kurth, 2007a).
Tem sido questionado sobre a segurança cardiovascular do uso de medicações
para migrânea, especialmente os antidepressivos tricíclicos, devido à sua habilidade
vasoconstrictora e à ocorrência de sensações que incluem dor e aperto torácicos após
seu uso (Kruit et al, 2004). No entanto, revisões recentes da segurança clínica e
farmacológica dos antidepressivos tricíclicos não apóiam a associação direta dessas
drogas com eventos vasculares isquêmicos (Hall et al, 2004; Dodick et al, 2004).
Em resumo, boa evidência epidemiológica que migrânea com aura está
associada com aumento de risco de AVC isquêmico, que parece ser mais forte entre os
mais jovens, mas pode persistir nos idosos. evidência recente que migrânea, e
ainda, migrânea com aura, estejam associadas com aumento do risco para qualquer
evento vascular isquêmico, incluindo doença arterial coronariana. Isto pode levar à
hipótese que migrânea com aura está associada a distúrbio vascular sistêmico. No
entanto, o mecanismo preciso pelo qual a migrânea com aura pode levar a eventos
vasculares isquêmicos é atualmente desconhecido e provavelmente complexo. Por
dados prospectivos, não evidência de que migrânea sem aura esteja associada com
maior risco de qualquer evento isquêmico vascular. Até que haja evidência revelando a
associação entre migrânea e eventos vasculares isquêmicos, deve ser feita uma
triagem para fatores de risco cardiovasculares tradicionais e tentar modificá-los (Kurth,
2007a).
50
Intervenção
Apesar de migrânea ser progressiva em alguns indivíduos, ela não progride na
maioria (Bigal et al, 2006d; Fanciullacci e De Cesaris, 2005). Migrânea é entendida
como um distúrbio crônico com manifestações episódicas, progressiva em alguns
indivíduos. Identificar fatores de risco para sua progressão é uma prioridade importante
para a saúde blica. Se fatores de risco podem ser identificados, teremos fundamento
para intervenção preventiva mais agressiva (Bigal et al, 2006d; Fanciullacci e De
Cesaris, 2005). Fatores de risco modificáveis são alvos potenciais para intervenções
com o objetivo de modificar a história natural da migrânea, prevenindo a cronificação.
Não evidências, porém, para apoiar o conceito de que interferir nos fatores de risco
realmente evite a progressão da doença (Bigal et al, 2006d). Estratégias de tratamento
incluem modificação de fatores de risco, e possivelmente o uso de medicações
preventivas o mais cedo possível no curso da migrânea episódica. Os benefícios de
estratégias preventivas ainda necessitam de estudos (Fanciullacci e De Cesaris, 2005).
Pesquisas neste campo ainda são muito limitadas e as hipóteses, especulativas (Bigal
et al, 2006a).
Apesar de evidências sugerirem que obesidade é um fator de risco modificável
para a progressão da migrânea como discutido, ainda não é conhecido se a perda de
peso está relacionada com a redução da freqüência de cefaléia (Nicholson e bigal,
2008; Horev et al, 2005). Estudos prospectivos devem investigar se a redução do peso
está associada com uma melhora na migrânea (Bigal et al, 2006b; Keith et al, 2008).
A terapia para perda de peso envolve uma combinação de educação nutricional,
intervenção dietética e exercícios físicos como primeira linha de intervenção (Katzel et
al, 1995). Evidências sugerem que o melhor prognóstico no manejo do peso ocorre
quando os pacientes estão em contato regular com profissionais que promovem perda
e manutenção do peso (Wadden et al, 2001). A maioria dos especialistas encoraja a
intervenção farmacológica só como segunda linha de tratamento, e sempre
acompanhada de mudanças no estilo de vida (National Institute of Health, 1996; Pate et
al, 1995). O orlistat e a sibutramina, aprovados para perda de peso pelo Food and Drug
Administration (FDA), podem produzir perda de peso modesta (Wadden et al, 2005).
51
Contudo, é importante notar que estas medicações, assim como outras utilizadas para
redução de peso (estimulantes do sistema nervoso central), frequentemente têm
cefaléia como efeito adverso (Wilfley et al, 2008; Garcia-Morales et al, 2006; Kaya et al,
2004). Assim é vital considerar se o uso dessas medicações é apropriado para
pacientes com migrânea, dado ao potencial de cefaléias mais freqüentes.
Similarmente, em pacientes com migrânea utilizando farmacoterapia preventiva
para migrânea, é importante notar os efeitos da medicação no peso corporal, que as
medicações mais frequentemente usadas têm efeito sobre o peso. Entre as medicações
aprovadas pelo FDA para migrânea, o topiramato mostrou promover perda de peso
(Silberstein, 2005 ). Revisão de medicações profiláticas para migrânea sugere que a
maioria destas promove ganho de peso como, por exemplo, a amitriptilina e o ácido
valpróico, e algumas são neutras, como o verapamil e a lamotrigina (Young e Rozen,
2005). É importante, então, notar alterações de peso nestes pacientes, especialmente
nos com sobrepeso ou obesidade. Recentemente, no estudo brasileiro de Medeiros e
colaboradores (Medeiros et al, 2007), foi demonstrado que a sinvastatina é efetiva no
tratamento preventivo da migrânea. A sinvastatina é, aparentemente, neutra em relação
ao peso corporal, ou pode até causar perda de peso, e reduz o colesterol total e o LDL-
colesterol (Antonicelli et al, 1990; Becker et al, 2008), que podem estar aumentados na
migrânea (Monastero et al, 2008; Maciejek et al, 1984, Scher et al, 2005).
A alta prevalência de cefaléia em obesos, previamente não reconhecida, implica
em mudanças importantes no manejo da obesidade (Peres et al, 2005). A qualidade de
vida dos obesos com cefaléias primárias incapacitantes pode ser afetada
substancialmente, então as cefaléias devem ser adequadamente diagnosticadas e
tratadas (Peres et al, 2005).
Apesar de evidência limitada sugerir que obesidade é um fator de risco para
progressão da migrânea, e que uma maior proporção de indivíduos com cefaléias
freqüentes é obesa em comparação àqueles com cefaléias episódicas (Scher et al,
2003; Scher et al, 2002), pouco se sabe sobre a influência do peso de base na
gravidade e incapacidade da ndrome de cefaléia, assim como sobre a resposta ao
tratamento preventivo (Bigal et al, 2006a; Nicholson e Bigal, 2008).
52
Um estudo (Bigal et al, 2006a) acessou prospectivamente a influência do IMC de
base na resposta ao tratamento preventivo da cefaléia. Foram avaliados pacientes
entre 18 e 65 anos, com cefaléia episódica ou crônica, que procuraram tratamento
médico em uma clínica de cefaléia durante os anos de 2003-2004. Após um mês de
acesso a informações de base, participantes receberam uma das varias medicações
preventivas. Pacientes em que foram prescritas medicações para que causem perda de
peso não foram incluídos no estudo. A amostra consistiu de 176 participantes, dos
quais 139 (78,9%) eram mulheres (idade média de 44,4 anos), e 37 (21,1%) eram
homens (idade média de 36,2 anos). Quase metade (48,8%) dos participantes tinha
migrânea, enquanto 51,2% tinham migrânea transformada. Não houve diferença
estatística entre as proporções de homens e mulheres obesos ou com sobrepeso. Um
total de 54,7% das mulheres e 62,2% dos homens era obeso ou tinha sobrepeso na
primeira visita.
Não houve diferenças significativas em relação à freqüência de cefaléias entre os
três grupos de peso, comparando com o número de dias com cefaléia por mês na linha
de base (normal=19,3; sobrepeso = 22,2; e obesos=21,2) ou no seguimento (14 vs.
14,5 vs. 16,2) (Bigal et al, 2006a). Nos três grupos, o tratamento preventivo foi
associado com redução na freqüência de cefaléia. A redução média na freqüência após
tratamento não foi significativamente diferente nos grupos. No modelo de regressão
logística, IMC não teve relação com as alterações na incapacidade, freqüência de
cefaléia ou no número de dias com cefaléia grave por mês, após ajuste de co-variáveis
(Bigal et al, 2006a).
Os achados indicaram que o IMC basal foi preditivo no número de dias de
cefaléia grave, com aqueles que tinham sobrepeso ou obesidade mostrando maior
redução. No entanto, quando usado regressão logística como modelo e ajustado para
co-variáveis, o IMC não influenciou mudanças na incapacidade, na freqüência da
cefaléia, ou no número de dias de cefaléia por mês. Assim, neste estudo, obesidade na
linha de base não foi preditivo de refratariedade ao tratamento preventivo. Contudo,
pesquisas futuras são necessárias não para acessar se a resposta individual ao
tratamento (incapacidade e dias de cefaléia) é moderada pelo IMC de base, mas
também pela mudança no IMC com o tempo (Bigal et al, 2006a).
53
Apesar de evidências sugerirem que obesidade é um fator de risco modificável
para a progressão, o se sabe se a perda de peso está relacionada com a diminuição
da freqüência de cefaléia (Bigal et al, 2006d). Baseados nos dados, migranosos devem
ser motivados a manter o peso (se normal) ou diminuí-lo (se sobrepeso ou obeso). Já
que obesidade e a freqüência de cefaléia estão relacionadas, o uso de medicações
preventivas para migrânea que são neutras em relação ao peso (verapamil,
sinvastatina) ou associadas à perda de peso (topiramato) naqueles com sobrepeso ou
obesidade podem ser recomendados, além do controle das dislipidemias.
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73
Artigo 2
Cefaléias primárias e síndrome metabólica em crianças e
adolescentes obesos
RESUMO
Objetivo: Migrânea e obesidade são distúrbios altamente prevalentes na população geral, mas pouco se
sabe sobre sua associação. A obesidade e a migrânea, particularmente a migrânea com aura, são
fatores de risco para acidente vascular cerebral e doenças cardiovasculares, como angina e infarto do
miocárdio e a obesidade parece interferir na história natural da migrânea. O objetivo deste estudo é
avaliar a associação entre obesidade e cefaléias primárias em crianças e adolescentes, estimando a
influência da síndrome metabólica nesta associação.
Métodos: Foi realizado um estudo caso-controle em que foram avaliados os pacientes com obesidade ou
sobrepeso com idade entre 4 e 16 anos que se apresentaram nos ambulatórios de Endocrinologia
Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFPE e da Policlínica Santa Clara no Recife, durante o período de
maio a dezembro de 2007. Foram feitas medidas de peso, altura, pressão arterial, cálculo do índice de
massa corpórea (IMC), medida de cintura abdominal e dosagem dos níveis séricos de glicose e lípides
em jejum, além de entrevista sobre cefaléia de acordo com os critérios da International Headache
Society.
Resultados: Cento e quarenta e sete pacientes foram avaliados. Entre estes, 63 (42,9%) eram meninos
e 84 (57,1%) eram meninas. A idade média dos participantes foi de 9,9 anos (variando de 4 a 16 anos).
Trinta e sete pacientes (25,2%) tinham o IMC normal, 33 (22,4%) foram considerados com sobrepeso e
77 (52,4%) eram obesos. A cefaléia esteve presente em 65 pacientes (44,2%) e houve uma tendência de
aumento da prevalência de cefaléia com o aumento do nível do IMC, sendo de OR = 1,0 nos pacientes
com peso normal, OR = 1,35 nos pacientes com sobrepeso e OR= 2,25 nos obesos (p=0,04156)
utilizando o teste do chi-quadrado para tendências. O diagnóstico de ndrome Metabólica foi
estabelecido em 25 pacientes (24,8%) e esta teve presença significativa nos pacientes obesos (p <
0,0001). Pacientes com syndrome metabólica não apresentaram prevalência mais alta de cefaléia
quando comparados àqueles sem este diagnóstico e não foi encontrada correlação entre a presença de
cefaléia e cada componente desta síndrome quando avaliados separadamente.
Conclusão: A prevalência de cefaléia aumenta de acordo com o IMC em crianças e adolescentes e o
influência da síndrome metabólica ou de suas características, quando avaliadas separadamente, na
associação entre obesidade e cefaléia nesta faixa etária.
Palavras-chave: obesidade. Cefaléia. “Síndrome metabólica”. Crianças e adolescentes. IMC
74
ABSTRACT
Objective: Migraine and obesity are highly prevalent disturbs in general population, but little is known
about their association. Obesity and migraine, especially migraine with aura, are risk factors for stroke and
cardiovascular diseases, like angina and myocardial infarct, and obesity appears to interfere in the natural
history of migraine. The objective of the present study is to assess the association between obesity and
primary headaches in children and adolescents as well as to evaluate the influence of the metabolic
syndrome in this association.
Methods: A case-control study was done evaluating normal weight, overweight and obese patients with
ages ranging from 4 to 16 years old who present in the Pediatric Endocrinology clinic of Hospital das
Clínicas and Policlínica Santa Clara, both in Pernambuco, Brazil, between May and December of 2007.
Measures of body weight, height, arterial tension and abdominal circumference were done, calculation of
body mass index (BMI), and dosages of fasting serum glucose and lipids, together with an interview about
headache fulfilling the International Headache Society criteria.
Results: One hundred and forty seven children and adolescents (57,1% females), mean age 9.9 years
old, were assessed. Thirty seven (25.2%) subjects were of normal weight, 33 (22.4%) were overweight
(BMI >85
th
and < 95
th
percentile for age and gender ) and 77 (52.4%) were obese (BMI > 95
th
percentile).
Headache was reported in 65 (44.2%) subjects and there was a tendency of higher prevalence with higher
BMI. Comparing with the normal weight group, the prevalence was higher in overweight children (OR =
1.3) and even higher in the obese group (OR= 2.25) using Chi-square for tendencies (p=0.046). Metabolic
syndrome was found in 25 patients (24.8%) with statistical significance in obese (p<0.0001). Patients with
metabolic syndrome did not have higher prevalence of headache comparing with subjects without this
diagnosis and was not found correlation between the presence of headache and each of the features of
the syndrome when evaluated separately.
Conclusion: The prevalence of headache increases with higher BMI in children and adolescents and
there is no influence of any feature of the metabolic syndrome in the association between obesity and
headache at this age.
Keywords: Obesity. Headache. “Metabolic Syndrome”. Children and adolescents. BMI
75
INTRODUÇÃO
Migrânea e obesidade são distúrbios altamente prevalentes na população geral
(Bigal et al, 2006a; Bigal et al, 2006b), mas pouco se sabe sobre sua associação
(Mattson, 2007; Peres et al, 2005). Migrânea afeta 12% dos adultos nos EUA (Lipton et
al, 2001), enquanto resultados do National Health and Nutrition Examination Survey
indicam que, estimadamente, 64% dos adultos nos EUA estão com sobrepeso ou são
obesos (National Institute of Health, 2008).
O sobrepeso triplicou em crianças americanas entre 1970 e 2000, e 15%
daquelas entre 6 e 19 anos estão acima do peso de acordo com as estimativas mais
recentes (Ogden et al, 2002; Battistella et al, 2006). Cefaléias primárias recorrentes
representam uma das afecções com prevalência alta e em ascensão na infância
(Battistella et al, 2006).
As inter-relações entre a cefaléia e a obesidade são complexas e podem, ainda,
ser só especulativas (Bigal et al, 2006c). A interligação potencial entre essas duas
doenças tem sido objeto de recente interesse por diversas razões (Nieri e Bigal, 2007).
Primeiramente, a obesidade e a migrânea, particularmente a migrânea com aura, são
fatores de risco para o acidente vascular cerebral (AVC) e para as doenças
cardiovasculares (DCV), como angina e infarto do miocárdio (Kruit et al, 2004; Kurth et
al, 2006). Segundo, drogas frequentemente usadas para o tratamento da migrânea têm
ação sobre o índice de massa corpórea (IMC); entre os efeitos colaterais mais comuns
dos medicamentos preventivos para a migrânea encontra-se o ganho ou a perda de
peso. Terceiro, e talvez mais importante, a obesidade parece interferir na história
natural da migrânea (Scher et al, 2003).
Obesidade e migrânea podem estar associadas de rias maneiras (Bigal et al,
2007b, Peres et al, 2005). Ambas são influenciadas por fatores de risco genéticos e
ambientais (Bigal et al, 2007a). Vários dos mediadores inflamatórios que são
aumentados em obesos são importantes na patogênese da migrânea, e eles podem
aumentar a freqüência, gravidade e duração das crises de migrânea (Bigal et al, 2007a,
Zelissen et al, 1991). Condições que são co-mórbidas das duas doenças (p.ex.:
depressão) também podem fazer esta relação mais complexa. Distúrbios que
76
ocasionam cefaléia como hipertensão intracraniana idiopática (Wang et al, 1998) e
cefaléia secundária à síndrome da apnéia do sono (Dodick et al, 2003) são altamente
relacionadas à obesidade. Medicações para o tratamento da obesidade (i.e.
sibutramina) podem causar cefaléia e, por outro lado, medicações preventivas para
migrânea podem causar ganho ou perda de peso (Loewinger et al, 2002).
Crianças com sobrepeso podem ter risco aumentado de cefaléia por várias
razões (Pinhas-Hamiel et al, 2008). Primeiro, eles têm prevalência de hipertensão três
vezes maior comparando com adolescentes não-obesos e aproximadamente 11-17%
das crianças acima do peso sofrem de hipertensão (Sorof et al, 2004). Segundo, a dieta
das crianças com sobrepeso é caracterizada por jejum ou horário inadequado para
refeições, ricas em queijo, chocolate, cachorro-quente, glutamato monossódico,
aspartame, alimentos gordurosos, sorvetes todos conhecidos desencadeadores de
migrânea (Millichap e Yee, 2003). Terceiro, foi relatada uma relação positiva entre
assistir televisão e obesidade (Crespo et al, 2001), e cefaléia é mais prevalente entre
crianças que assistem TV por mais tempo (Toyran et al, 2002). Ainda, uma associação
entre depressão e cefaléia tem sido documentada em adultos, e como crianças com
sobrepeso têm maior prevalência de depressão (Breslau et al, 2003); isto pode ser um
fator adicional. Finalmente, ambos, a apnéia do sono e o pseudotumor cerebral, que
são causas bem conhecidas de cefaléia crônica, são mais prevalentes entre crianças e
adolescentes obesos (Speiser et al, 2005).
Obesidade têm um papel importante na resistência insulínica ou “síndrome
metabólica”, que inclui hiperinsulinemia, hipertensão, hiperlipidemia, risco aumentado
para diabetes mellitus tipo 2 e aumento do risco para doença cardiovascular
aterosclerótica (Kelishadi, 2007). A ndrome metabólica é um estado pró-inflamatório e
pró-trombótico que pode contribuir para o desenvolvimento e progressão da cefaléia
(Alessi et al, 2003; Lee e Pratey, 2005; Hansen, 1999). Pouco se sabe sobre a
prevalência de obesidade e síndrome metabólica na infância pelo numero limitado de
estudos, pelas várias definições utilizadas e pelas diferentes idades estudadas, o que
torna difícil a comparação entre os estudos (Kelishadi, 2007). Dubose e colaboradores
(Dubose et al, 2006) acharam uma prevalência de 5% de síndrome metabólica em uma
amostra de crianças em idade escolar.
77
Tem havido literatura substancial confirmando uma associação entre migrânea
com aura e AVC isquêmico antes da idade de 45 anos. A questão se uma
associação similar com doença cardiovascular antes dos 45 anos não foi
definitivamente respondida (Scher et al, 2005).
Como migrânea é uma doença progressiva em alguns casos, um melhor
entendimento sobre sua história natural (de episódica para crônica) é de grande
interesse e pode levar à elucidação de fatores preventivos efetivos (Bigal et al, 2006a).
Conduzimos um estudo caso-controle para avaliar se crianças e adolescentes
com sobrepeso ou obesidade têm maior chance de apresentar cefaléia do que os com
peso normal e se a presença de síndrome metabólica tem alguma influência na
presença de cefaléia nesses indivíduos.
78
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado nos ambulatórios de Endocrinologia Pediátrica do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, pertencente à rede
pública de assistência à saúde em Recife-PE, e da Policlínica Santa Clara, pertencente
à rede privada de assistência à saúde, também em Recife-PE, no período de maio a
dezembro do ano de 2007.
O cálculo da amostra foi realizado após um estudo piloto com 58 pacientes, no
qual foi calculado que a prevalência esperada de cefaléia nas crianças e adolescentes
obesos era de aproximadamente 50% contra 25% nas crianças com peso na faixa
normal. O tamanho amostral estimado, de acordo com o estudo piloto, foi de 100
pacientes obesos ou com sobrepeso (doentes) e 50 pacientes dentro da faixa normal
de peso (não-doentes).
Foram avaliados os pacientes com obesidade ou sobrepeso, com idade de 4 a
16 anos, que se apresentaram nos ambulatórios de Endocrinologia Pediátrica descritos
acima durante o período do estudo.
A coorte de controles foram pacientes dos mesmos ambulatórios citados
anteriormente, com peso na faixa normal, encaminhados para a endocrinologia por
suspeita de distúrbios endócrinos do crescimento e da puberdade nos quais foram
diagnosticados variações normais, e que já tinham exames laboratoriais (glicemia de
jejum e lipídeos) quando chegaram ao nosso ambulatório.
Dados antropométricos:
A altura (em cm) foi aferida utilizando um estadiômetro de parede (Tonelli) com
resolução em milímetros. O peso (em kg) foi medido em balança mecânica com
divisões de 100g. Ambos, peso e altura, foram aferidos duplamente, com os pacientes
sem sapatos e com roupas leves. O índice de massa corpórea (IMC) foi calculado com
a fórmula IMC = peso/altura
2
(Kg/m
2
) e plotado no gráfico de percentis de IMC para
idade e gênero do CDC (Centers of Disease Control, 2008). Os participantes foram
agrupados em uma das três categorias de IMC: 1) normal (menor que o percentil 85); 2)
sobrepeso (percentil 85 a 95); ou 3) obeso (percentil de IMC > 95).
A circunferência abdominal foi obtida com fita métrica flexível, duas vezes, no
ponto médio entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior. Os pontos de corte
79
adotados foram os calculados por Fernández e colaboradores, de acordo com idade e
gênero (Fernandèz et al, 2004).
A pressão arterial foi medida de acordo com métodos padrão, usando
esfignomanômetro com braçadeira apropriada para o tamanho do braço da criança, a
mesma em repouso por 10 min antes da medida. O primeiro e quinto sons de Korotkoff
foram relatados como pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD),
respectivamente. Elevação da pressão arterial foi definida como valores de PAS e/ou
PAD maiores ou iguais ao percentil 90, ajustado para idade, gênero e altura (National
High Blood Pressure Education Program Working Group on High Blood Pressure in
Children and Adolescents, 2004).
Dados laboratoriais:
Coletas de sangue para medidas de glicemia, colesterol total, HDL, LDL e
triglicérides foram coletadas após 12 horas de jejum, nos laboratórios dos centros
participantes do projeto.
Anormalidades nos níveis de triglicérides e colesterol foram diagnosticadas de
acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (Giuliano et al, 2005), em que são
considerados alterados níveis de triglicérides maiores ou iguais a 130 mg/dL, colesterol
total maior ou igual a 170 mg/dL, níveis de LDL maiores ou iguais a 130 mg/dL, e de
HDL menores de 45mg/dL.
Glicemia acima de 100mg/dl foi considerada como glicemia de jejum alterada, de
acordo com a recomendação atual da American Diabetes Association (Genuth et al,
2003).
Como não critérios para síndrome metabólica em crianças e adolescentes
aceitos universalmente, neste estudo o diagnóstico da síndrome metabólica foi feito
utilizando definição de acordo com Cook e cols (Cook et al, 2003), adaptada da
definição especificada pelo NCEP (National Cholesterol Education Program) do
National Institute of Health (NIH) para adultos (National Institute of Health, 2001). A
presença de três ou mais destes parâmetros diagnosticam síndrome metabólica no
paciente: pressão arterial percentil 90 para idade e gênero, HDL 45mg/dL,
triglicerídeos 130 mg/dL, glicemia 100mg/dL e circunferência abdominal percentil
90 para idade e gênero.
80
Diagnóstico da cefaléia:
Uma entrevista estruturada foi feita com detalhada documentação da cefaléia,
tentando classificá-la em um dos fenótipos da classificação de cefaléia pela
International Headache Society de 2004. As questões incluíram todas as características
diagnosticas da migrânea com ou sem aura, como especificado pela segunda edição da
International Classification of Headache Disorders (ICHD-I: 2004).
As características da cefaléia coletadas foram lateralidade, localização,
intensidade, qualidade da dor, freqüência, duração das crises, tempo de cefaléia,
sintomas associados, fatores agravantes ou atenuantes, e história familiar de cefaléia.
As mães de todos os participantes assinaram termo de consentimento livre e
esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo
Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de
Pernambuco.
Análise estatística:
Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando o SPSS 11.5 para
Windows.
Foi utilizado o teste qui-quadrado de independência de Pearson para as
avaliações em relação ao gênero, idade dividida entre maior e menor que 10 anos,
presença de síndrome metabólica em relação à classificação nutricional e à presença
de cefaléia e para as características da síndrome metabólica em relação à presença de
cefaléia. O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para comparar as médias de idade. O
teste t de independência foi usado para comparar médias dos lípides e glicemia. O teste
do chi-quadrado para tendências comparou os três níveis da classificação nutricional
com a presença de cefaléia. O p < 0,05 foi considerado como estatisticamente
significativo.
81
RESULTADOS
Cento e quarenta e sete pacientes foram avaliados. Entre estes, 63 (42,9%)
eram meninos e 84 (57,1%) eram meninas. A média de idade dos participantes foi de
9,9 anos (variando de 4 a 16 anos). Trinta e sete pacientes (25,2%) tinham o IMC
(índice de massa corpórea) normal (abaixo do percentil 85 para idade e gênero), 33
(22,4%) foram considerados com sobrepeso (IMC entre os percentis 85 e 95) e 77
(52,4%) eram obesos (IMC acima do percentil 95).
Não houve diferença estatística entre o gênero e os níveis de IMC, como
avaliado pelo teste qui-quadrado de independência de Pearson com p=0,905.
Tabela 1: Classificação nutricional por gênero
Classificação de IMC Percentual de sexo feminino
Normal 20/37 (54,1%)
Sobrepeso 19/33 (57,6%)
Obesidade 45/77 (58,4%)
As médias de idade em relação ao grau de IMC não apresentaram diferença
estatística (p=0,993 com o teste de Kruskal - Wallis).
Tabela 2: Classificação nutricional por idade
Classificação de IMC Idade média em anos e desvio-padrão
Normal
9,8 ± 2,0
Sobrepeso
9,8 ± 2,6
Obesidade
10,1 ± 3,1
A cefaléia esteve presente em 65 pacientes (44,2%), a síndrome periódica da
infância em apenas cinco (3,4%). Houve uma tendência de aumento da prevalência de
cefaléia com o aumento do nível do IMC, sendo de OR = 1,0 nos pacientes com peso
normal, OR = 1,35 nos pacientes com sobrepeso e OR= 2,25 nos obesos (p=0,041)
com o teste do qui-quadrado para tendências.
82
Tabela 3: Classificação nutricional pela presença de cefaléia
Presença de cefaléia
Classificação do IMC Sim Não OR
Normal 12 25 1,0
Sobrepeso 13 20 1,35
Obesidade 40 37 2,25
Todos os pacientes com síndrome periódica da infância apresentavam os
vômitos cíclicos como diagnóstico desta síndrome e todos apresentavam cefaléia,
sendo que três tinham migrânea sem aura, um tinha migrânea crônica e em um
paciente a cefaléia não preencheu critérios para classificação. Esse último fazia parte
do grupo dos obesos, enquanto os outros quatro tinham peso normal.
Em relação ao gênero e à idade, quando dividimos os pacientes em dois grupos
etários (<10 anos e 10 anos), não houve diferença de prevalência de cefaléia.
Tabela 4: Presença de cefaléia por gênero
Presença de
cefaléia
Sexo feminino Valor do p
Sim 39/65 (60%) p = 0,533
Não 45/82 (54,9%)
Tabela 5: Presença de cefaléia por faixa etária
Idade
Presença de cefaléia < 10 anos
10 anos
Valor do p
Sim 31/65 (47,7%) 34/65 (52,3%) 0,108
Não 50/82 (61%) 32/82 (39%)
Não houve diferença estatística entre a presença de cefaléia e o índice de massa
corpórea em relação ao gênero. Entre os meninos, 5 (29,4%) dos com peso normal
tinham queixa de cefaléia, comparados com 5 (35,7%) dos com sobrepeso e 16 (50%)
dos obesos. Entre as meninas, 7 (35%) das com peso normal, 8 (42,1%) das com
sobrepeso e 24 (53,3%) das obesas queixavam-se de cefaléia.
83
Tabela 6: Presença de cefaléia por classificação nutricional e gênero
Classificação nutricional
Todos Peso normal Sobrepeso Obesidade p
Meninas com
cefaléia
7/20 (35%) 8/19 (42,1%) 24/45(53,3%) p = 0,338
Meninos com
cefaléia
5/17 (29,4%) 5/14 (35,7%) 16/32(50%) p = 0,358
O diagnóstico de ndrome Metabólica foi estabelecido em 25 pacientes (24,8%)
e esta teve presença significativa nos pacientes obesos (p < 0,0001).
Tabela 7: Presença de síndrome metabólica por classificação nutricional e gênero
Classificação do IMC Síndrome metabólica p
Normal 0/22 (0%)
Sobrepeso 1/24 (4,2%)
Obesidade 24/ 55(43,6%)
p < 0,0001
Os pacientes com Síndrome Metabólica não apresentaram prevalência de
cefaléia maior do que os que não foram diagnosticados com esta síndrome.
Tabela 8: Presença de cefaléia por presença de síndrome metabólica
Síndrome
metabólica
Presença de
cefaléia
p
Sim 13/25 (52%) p = 0,689
Não 34 /76(44,7%)
Não foi encontrada correlação entre a presença de cefaléia e cada componente
da Síndrome Metabólica quando avaliados separadamente.
Não houve também associação entre as várias características da síndrome
metabólica, quando avaliadas separadamente, e a presença de cefaléia.
A presença de alteração na pressão arterial não teve influência sobre a
prevalência de cefaléia.
84
Tabela 9: Presença de cefaléia por alteração da pressão arterial
Presença de
cefaléia
Pressão arterial
alterada
(PAS e/ou PAD)
p
Sim 18/63(28,6%) p = 0,248
Não 16/79(20,3%)
Pacientes com níveis séricos alterados de triglicerídeos, HDL-colesterol e
glicemia não apresentaram mais cefaléia quando comparados àqueles com níveis
normais destas características.
Tabela 10: Presença de cefaléia por alteração nos níveis séricos de triglicerídeos
Presença de
cefaléia
Nível sérico de
Triglicerídeos
alterado
(>130mg/dl)
p
Sim 21/62 (33,9%) p = 0,310
Não 20/77 (26,0%)
Tabela 11: Presença de cefaléia por alteração nos níveis séricos de HDL-
colesterol
Presença de
cefaléia
Nível sérico de
HDL-c baixo
(<45mg/dl)
p
Sim 36/55 (65,5%) p = 0,087
Não 33/66 (50%)
Tabela 12: Presença de cefaléia por alteração dos níveis séricos de glicose
Presença de
cefaléia
Glicemia de
jejum alterada
(>100mg/dl)
p
Sim 7/58 (12,1%) p = 0,202
Não 4/70 (5,7%)
Por fim, a medida da circunferência abdominal acima do percentil 90 não diferiu
entre os grupos com ou sem cefaléia.
85
Tabela 13: Presença de cefaléia por alteração da medida da circunferência
abdominal
Presença de
cefaléia
Medida da
circunferência
abdominal
alterada (> P90)
p
Sim 41/60(68,3%) p = 0,151
Não 41/73(56,2%)
Como são fatores de risco para doença cardiovascular, foram avaliados os níveis
séricos de colesterol total e LDL-colesterol, apesar de não fazerem parte dos critérios
para o diagnóstico de Síndrome Metabólica. Dos pacientes com cefaléia, 37% tinham o
colesterol total elevado e 53,2% dos indivíduos sem cefaléia apresentavam níveis altos
de colesterol total, porém a diferença entre estes dois grupos não foi significativa (p =
0,058).
Tabela 14: Presença de cefaléia por alteração dos níveis séricos de colesterol
total
Presença de
cefaléia
Nível sérico de
colesterol total
alterado
(>175mg/dl)
p
Sim 23/62(37,1%) p = 0,058
Não 41/77(53,2%)
Tabela 15: Presença de cefaléia por alteração dos níveis séricos de LDL-
colesterol
Presença de
cefaléia
Nível sérico de
LDL-c alterado
(>115mg/dl)
p
Sim 10/58(17,2%) p = 0,110
Não 20/68(29,4%)
Quando comparamos as médias dos níveis séricos dos lípides, temos:
O nível sérico médio dos triglicerídeos foi de 118,9 mg/dL e 103,2 mg/dL nos
pacientes com e sem cefaléia, respectivamente (p=0,161). A média dos níveis séricos
86
de colesterol total foi de 168,9 mg/dL nos pacientes com cefaléia e 173,5 mg/dL nos
pacientes sem cefaléia (p=0,423). Indivíduos com relato de cefaléia tiveram níveis
séricos médios de HDL-colesterol de 43,1 mg/dL e aqueles sem relato de cefaléia
apresentaram HDL-colesterol com média de 43,7 mg/dL (p=0,741). Os níveis séricos de
LDL-colesterol também não diferiram estatisticamente entre esses dois grupos,
medindo, em média, 104 mg/dL nos indivíduos com cefaléia e 109,6 mg/dL naqueles
sem cefaléia (p=0,283).
Os níveis glicêmicos também não apresentaram diferença estatística entre os
grupos com ou sem cefaléia, com médias de 85,3 mg/dL e 86,7 mg/dL, respectivamente
(p = 0,346).
Avaliamos ainda as características da cefaléia e o foi achado diferença
estatística em relação à duração média das crises, intensidade, presença de fotofobia,
náuseas ou aura, quando comparados os grupos de obesos e não-obesos (indivíduos
com peso normal e indivíduos com sobrepeso).
Tabela 16: Classificação nutricional por duração média das crises de cefaléia em
minutos
Classificação
nutricional
Duração
média das
crises em
minutos
Desvio-
padrão
Erro-
padrão
p
Não-obesos
com cefaléia
n = 24
228,62 312,52 63,79 p = 0,704
Obesos com
cefaléia
n = 38
197,23 317,96 51,58
87
Tabela 17: Classificação nutricional pela presença de náuseas
Classificação
nutricional
Náuseas p
Não-obesos com
cefaléia
8/23 (34,8%) p = 0,544
Obesos com
cefaléia
11/40(27,5%)
Tabela 18: Classificação nutricional pela presença de fotofobia
Classificação
nutricional
Fotofobia p
Não-obesos com
cefaléia
8/23 (34,8%) p = 0,829
Obesos com
cefaléia
15/40 (37,5%)
Tabela 19: Classificação nutricional pela presença de aura
Classificação
nutricional
Presença de
aura
p
Não-obesos com
cefaléia
0/23 (0%) p = 0,276
Obesos com
cefaléia
2/40(5,0%)
Tabela 20: Classificação nutricional pela intensidade da cefaléia
Intensidade da cefaléia Classificação
nutricional
Leve Moderada Forte
p
Não-obesos
com cefaléia
3/23(13%) 17/23 (73,9%) 3/23 (13%) 0,074
Obesos com
cefaléia
14/40(35%) 18/40(45%) 8/40(20%)
A migrânea sem aura, a provável migrânea sem aura e a cefaléia episódica do
tipo tensional foram os tipos de cefaléia primária mais diagnosticadas. Não houve
nenhum caso de cefaléia em salvas, hemicrania continua ou cefaléia idiopática em
facadas.
88
Tabela 21: Subtipos de cefaléia pela classificação nutricional
Classificação nutricional
Tipos de
cefaléia
Todos Peso normal
(n = 12; %)
Sobrepeso
(n = 13; %)
Obesidade
(n = 40; %)
migrânea sem
aura
15 4 (26,7) 4 (26,7) 7 (46,7)
migrânea com
aura
2 0 (0) 1 (50) 1 (50)
migrânea
crônica
4 3 (75) 0 (0) 1 (25)
provável
migrânea sem
aura
13 3 (23,1) 1 (7,7) 9 (69,2)
provável
migrânea com
aura
1 0 (0) 0 (0) 1 (100)
provável
migrânea
crônica
1 0 0 (0) 1 (100)
cefaléia tipo
tensional
episódica
12 1 (7,7) 1 (7,7) 11 (84,6)
cefaléia tipo
tensional
crônica
2 0 2 (100) 0
provável
cefaléia tipo
tensional
episódica
9 1(12,5) 3 (37,5) 5 (62,5)
provável
cefaléia tipo
tensional
crônica
0 0 (0) 0 (0) 0 (0)
não
classificável
5 0 (0) 1(20) 4 (80)
Quando dividimos os pacientes entre obesos e não-obesos e os tipos de cefaléia
entre migranosa e não-migranosa temos:
89
Tabela 22: Classificação nutricional por cefaléia migranosa
Classificação
nutricional
Cefaléia
migranosa
p
Não-obesos com
cefaléia
16/25 (64%) p = 0,269
Obesos com
cefaléia
20/40 (50%)
Tabela 23: Classificação nutricional por cefaléia não-migranosa
Classificação
nutricional
Cefaléia não-
migranosa
p
Não-obesos 16/70 (23%) p < 0,05
Obesos 20/77 (26%)
90
DISCUSSÃO
Este estudo mostrou uma maior prevalência de cefaléia correlacionada com um
aumento no índice de massa corpórea (IMC) em crianças e adolescentes com idades
entre 4 e 16 anos. Demonstrou-se ainda não haver maior prevalência de cefaléia em
pacientes com síndrome metabólica comparados àqueles não diagnosticados com esta
síndrome.
Não houve associação entre as várias características da síndrome metabólica,
quando avaliadas separadamente, e a presença de cefaléia. Os pacientes com pressão
arterial alterada, níveis séricos alterados de lípides e glicemia e medida da
circunferência abdominal acima do percentil 90 não apresentaram mais cefaléia quando
comparados àqueles com níveis normais desses parâmetros.
Vários subtipos de cefaléia migranosa e cefaléia do tipo tensional foram
diagnosticados, não havendo diferença estatística entre a classificação nutricional e as
cefaléias migranosas ou não-migranosas. Não houve casos de cefaléia em salvas,
hemicrania contínua ou cefaléia idiopática em facadas.
Cefaléias são comuns durante a infância e tornam-se mais freqüentes durante a
adolescência (Lewis, 2002). Um estudo epidemiológico de 9.000 crianças achou que
um terço das crianças com até 7 anos de idade, e metade daquelas com, ao menos, 15
anos de idade, tinham cefaléia (Bille, 1962). Cefaléias freqüentes foram relatadas em
2,5% das crianças com, ao menos, 7 anos de idade e 15% daquelas com, ao menos,
15 anos de idade. A prevalência de cefaléia variou de 37-51% no primeiro grupo e
gradualmente aumentou para 57-82% na idade de 15 anos (Bille, 1962). Antes da
puberdade, meninos são mais frequentemente afetados que meninas, mas após o início
da puberdade, cefaléias ocorrem mais frequentemente em meninas (Deubner, 1977;
Sillapää, 1983; Dalsgaard-Nielsen, 1970).
Nosso estudo não mostrou diferenças na prevalência de cefaléia entre os
gêneros e entre as crianças abaixo e acima dos 10 anos de idade.
Nos parágrafos seguintes serão discutidas as relações entre cefaléia e
obesidade, cefaléia e síndrome metabólica e entre cefaléia e os componentes da
síndrome metabólica separadamente.
91
Cefaléia e obesidade
Em um estudo de base populacional entre mulheres jovens com idade entre 18 e
23 anos, uma prevalência 1,5 vezes maior de cefaléia estava presente na categoria do
IMC mais alto (>30 kg/m
2
) quando comparado com mulheres de peso normal (Brown et
al, 2000).
A correlação entre obesidade e cefaléia crônica diária (CCD) foi primeiramente
demonstrada por Scher e colaboradores (Scher et al, 2003). Em estudo populacional
longitudinal, 3% dos indivíduos com cefaléia episódica progrediram para CCD após um
ano. Entre os fatores de risco para progressão, a obesidade foi marcante, e o risco
relativo da CCD foi cinco vezes maior em indivíduos com IMC maior que 30 kg/m2, em
comparação com os de peso normal. Indivíduos com sobrepeso (IMC entre 25 a 29)
tiveram um aumento intermediário no risco de desenvolver CCD e a obesidade
confirmou-se como fator de risco após ajuste para co-morbidades e fatores
demográficos.
Subsequentemente, um grande estudo populacional confirmou que a obesidade
era um fator de risco para CCD e sugeriu que esta associação ocorre primariamente
com migrânea crônica e não com cefaléia do tipo tensional crônica (CTTC) (Bigal et al,
2006c). Para migrânea transformada, a prevalência variou de 0,9% no grupo com peso
normal, para 1,2% nos pacientes com sobrepeso (OR=1,4 [1,1-1,8]), 1,6% nos obesos
(OR=1,7 [1,2-2,43]), e 2,5% nos obesos graves (OR=2,2 [1,5-3,2]). Os efeitos do IMC
na CTTC não foram significativos, exceto no grupo dos obesos graves (Bigal et al,
2006c).
Ainda, em um estudo de base populacional, Bigal e colaboradores (Bigal et al,
2006b) entrevistaram 30.215 pacientes e identificaram migranosos. Foi avaliada a
influência do IMC na prevalência, freqüência de crises e características clínicas da
migrânea. Apesar do IMC não ser associado à prevalência da migrânea, foi associado
com a freqüência de crises de migrânea. No grupo com peso normal 4,4% tinham 10 a
14 dias de cefaléia por mês e isto aumentou para 5,8% nos pacientes com sobrepeso
(OR = 1,3), 13,6% dos obesos (OR = 2,9) e 20,7% dos obesos mórbidos (OR = 5,7). A
proporção de pacientes com cefaléia grave aumentou com o IMC, dobrando nos obesos
92
mórbidos em relação aos com peso normal. Ainda, uma associação similar foi
demonstrada entre o IMC e a incapacidade, fotofobia e fonofobia (Bigal et al, 2006b).
Em um outro estudo, Horev e colaboradores (Horev et al, 2005) avaliaram a
incidência de cefaléia em uma amostra de mulheres com obesidade mórbida e
demonstrou uma alta incidência de migrânea, e especialmente migrânea com aura,
entre estas mulheres (63%), comparando com a população geral de mulheres (18,5%)
de acordo com o American Migraine Study II (Lipton et al, 2001).
No estudo brasileiro de Peres e colaboradores (Peres et al, 2005) foram
avaliados 74 pacientes obesos de um serviço de cirurgia bariátrica e foi encontrado que
56 (75%) pacientes tinham diagnóstico de cefaléia primária, comparados com 30
controles (42%).
Mattson e colaboradores (Mattson, 2007) realizou estudo com mulheres de 40 a
74 anos e não achou associação entre migrânea e obesidade. Nem o IMC, nem a
obesidade foram associados com a prevalência ou intensidade da cefaléia após ajustes
para a idade e nível educacional. As características das crises de migrânea não se
correlacionaram com o IMC e não diferiram entre mulheres obesas e não-obesas com
migrânea ativa.
Estudos caso-controle (Scher et al, 2003; Peres et al, 2005) e observacionais
(Bigal et al, 2006b, Brown et al, 2000) sugerem que IMC aumentado possa ser um fator
de risco para cefaléia. Keith e colaboradores (Keith et al, 2008) realizaram um estudo
em que foi estimada a associação entre IMC e cefaléia entre mulheres adultas usando
dados de 11 grandes estudos epidemiológicos. A análise incluiu dados do National
Health Interview Survey (NHIS): 1997–2003, the First National Health Examination and
Nutrition Survey, Alameda County Health Study (ACHS), Tecumseh Community Health
Study (TCHS), and Women's Health Initiative (WHI). A análise foi restrita a mulheres
pelo fato da prevalência da cefaléia ser maior em mulheres (Scher et al, 1998) bem
como também porque a associação da obesidade com a cefaléia varia
substancialmente com o gênero. Os resultados, por todos os bancos de dados, com
exceção do WHI e NHANES I, sugeriram que, quando comparados com um IMC de 20,
obesidade leve (IMC de 30) foi associada com um aumento de aproximadamente 35%
93
(31 a 65%) nas chances de relato de cefaléia, enquanto obesidade grave (IMC de 40)
foi associada com um aumento de aproximadamente 80% (49 a 118%) nestas chances.
Estas relações não tinham sido previamente estabelecidas em crianças (Pinhas-
Hamiel et al, 2008). apenas um estudo publicado avaliando a associação entre
cefaléia e obesidade infantil. O estudo israelense de Pinhas-Hamiel e colaboradores
(Pinhas-Hamiel et al, 2008) foi baseado em questionários em crianças e adolescentes
com idades entre nove e 17 anos recrutadas de uma clínica de obesidade para
crianças. Dos 273 pacientes estudados, cefaléias foram documentadas em 20 das 112
crianças obesas (17,9%), sete entre as 45 com sobrepeso (15,6%) e 12 das 116 com
peso normal (10,3%). Pacientes com cefaléia tinham peso corporal mais alto quando
comparados com crianças sem cefaléia (p = 0,03). Este estudo concluiu que meninas
com obesidade tiveram um risco quatro vezes maior de apresentar cefaléias quando
comparadas com meninas de peso normal após ajuste para idade e presença de
pressão arterial elevada.
No presente estudo, encontramos uma maior prevalência de cefaléia em
crianças e adolescentes de ambos os sexos (grupos de IMC não diferiram,
estatisticamente, entre si em relação ao gênero) com sobrepeso e obesos quando
comparados com o grupo com peso normal. Não houve diferença em relação à
freqüência, duração, intensidade ou presença de fotofobia, fonofobia e/ou náuseas e os
diferentes níveis de IMC. Essa piora das características da cefaléia, presente em
adultos (Bigal et al, 2006b) e ausente na nossa avaliação, pode se dever ao fato de
que, em crianças e adolescentes, ainda não houve tempo para a progressão da
doença.
Cefaléia e síndrome metabólica
Não há, na literatura, nenhum estudo avaliando especificamente a presença de
cefaléia em relação à ndrome metabólica. Um estudo de 2005, porém, mostrou que a
migrânea foi associada a um perfil cardiovascular mais desfavorável.
O estudo Genetic Epidemiology of Migraine (GEM) mostrou que, comparados
com controles, migranosos fumam mais e têm história familiar de IM com maior
freqüência (Scher et al, 2005). Pacientes com migrânea com aura tinham perfil de
94
colesterol mais desfavorável: colesterol total maior, HDL menor, maior relação
colesterol total:HDL, e maior pressão arterial diastólica do que controles.O estudo
também evidenciou que migranosos com aura têm maior probabilidade de ter pressão
arterial elevada, história de doença arterial coronariana ou AVC de início precoce, e ter
duas vezes maior risco de apresentar escore de Framingham alto (Scher et al, 2005;
Wadden et al, 2005).
Uma série de estudos avaliou a relação entre lípides e migrânea. Em 2008, um
estudo com 1.809 pacientes com 50 anos ou mais, sendo 151 migranosos, mostrou que
os níveis séricos de colesterol total (p < 0,003) e LDL-colesterol (p<0,004) foram
maiores em migranosos do que em não-migranosos, principalmente em homens com
idade mais avançada (Monastero et al, 2008). Glueck e Bates (Glueck e Bates, 1986)
estudaram lípides em 39 crianças (26 meninos e 13 meninas) com migrânea grave para
avaliar a hipótese de que anormalidades das lipoproteínas, primárias ou familiares,
possam estar associadas à migrânea ou predispor crianças a ter migrânea. Dos 26
meninos, 9 (34,6%) apresentava níveis elevados de LDL-colesterol (p < 0,01) e 6 (23%)
tinham níveis baixos de HDL-colesterol (p<0,05). Das 13 meninas, 2 tinham níveis
elevados de LDL-colesterol e 2 tinham níveis baixos de HDL-colesterol. A concentração
de colesterol esterificado e lipídeos totais foi mais alta em todos os pacientes com
cefaléia, principalmente em migranosos, quando comparados com controles no estudo
de Maciejek e colaboradores (Maciekek et al, 1984).
No presente estudo não foi demonstrado diferença estatística entre os níveis de
colesterol total, LDL-colesterol, HDL-colesterol ou triglicerídeos e a presença de
cefaléia, mesmo após avaliar a cefaléia migranosa separadamente.
Dois estudos avaliaram a associação entre resistência insulínica e migrânea
(Rainero et al, 2005; Cavestro et al, 2007). Em um estudo de 2005 foi avaliada a
sensibilidade à insulina em 30 migranosos jovens, não-obesos, não-diabéticos,
normotensos e em 15 controles saudáveis. Durante o teste oral de tolerância à glicose,
as concentrações de glicose foram significativamente maiores em migranosos dos que
em controles (Rainero et al, 2005).
No segundo estudo, Cavestro e colaboradores (Cavestro et al, 2007), com o
objetivo de verificar se migranosos têm anormalidades no metabolismo da glicose e da
95
insulina, recrutaram 84 migranosos (73 mulheres e 11 homens), 25 pacientes com
cefaléia não-migranosa e 26 controles saudáveis. Em análise multivariada foi
confirmada uma diferença significativa entre os grupos para os níveis glicêmicos (p<
0,0001) entre migranosos e controles saudáveis (p<0,0001) e entre os pacientes com
cefaléia não-migranosa e controles (p<0,05). Houve também diferença nos níveis de
insulina entre os grupos (p<0,0001).
No nosso estudo com crianças não foi identificado diferença estatística nos
níveis glicêmicos entre os grupos com e sem cefaléia.
A associação entre cefaléia e hipertensão ainda é controversa, apesar de
cefaléia ainda ser considerada como um sintoma de hipertensão. Vários estudos foram
desenhados com o objetivo de avaliar esta associação.
Prudezano e colaboradores (Prudenzano et al, 2005) desenharam um estudo
para avaliar a distribuição de hipertensos em uma amostra de migranosos em
comparação com um grupo com cefaléia do tipo tensional. Foi evidenciado que a
prevalência de hipertensão é mais alta em pacientes com cefaléia do que na população
geral, principalmente naqueles com cefaléia do tipo tensional.
Outro estudo avaliou a prevalência de hipertensão em 1.486 pacientes com
cefaléia em um centro para o tratamento de cefaléia (Pietrini et al, 2005). Hipertensão
arterial estava presente em 28% dos casos, sendo mais comum nos casos de migrânea
sem aura associada a cefaléia do tipo tensional (60,6%), seguidos pelos casos de
cefaléia do tipo tensional crônica (55,3%), cefaléia em salvas (35%) e cefaléia do tipo
tensional episódica (31,4%). A hipertensão arterial apresentou-se menos comumente
nos casos de migrânea com aura (16,9%) e migrânea sem aura (23%). Em todos os
grupos de cefaléia, a presença de hipertensão arterial foi maior do que na população
geral.
Cirillo e colaboradores (Cirillo et al, 1999) analisaram a prevalência de fatores de
risco cardiovasculares em 1.343 pacientes com cefaléia grave (399 homens e 944
mulheres). Comparando com dados de uma amostra populacional usada como
controle, pacientes com cefaléia tiveram maior prevalência de hipertensão em ambos os
sexos, independentemente da idade (OR = 1,51; 95% CI, 1,28-1,80).
96
Um estudo brasileiro (Fuchs et al, 2003) com 1.763 hipertensos não evidenciou
associação entre o relato de cefaléia e o diagnóstico de hipertensão arterial moderada a
grave (OR = 1,02; 95% CI, 0,79-1,3). O mesmo grupo brasileiro em um estudo com
1.174 habitantes maiores de 17 anos da cidade de Porto Alegre demonstrou que
indivíduos com pressão arterial normal relataram mais o diagnóstico de migrânea do
que participantes com pressão arterial alterada (Wiehe et al, 2002).
Dois estudos realizaram a monitorização da pressão arterial ambulatorialmente
por 24 horas e avaliaram a associação com cefaléia (Muiesan et al, 2006; Gus et al,
2001). A pressão arterial não diferiu entre os pacientes com e sem cefaléia em ambos
os estudos.
No estudo atual, não foi encontrada diferença estatística em relação à presença
de cefaléia e a pressão arterial alterada.
Não há na literatura nenhum estudo avaliando a circunferência abdominal em
relação à presença de cefaléia. O nosso estudo não encontrou diferença significativa da
medida da circunferência abdominal em pacientes com ou sem cefaléia.
Mecanismos de associação entre obesidade e cefaléia
Nieri e Bigal (Nieri e Bigal, 2007) propuseram que a causalidade unidirecional e
mecanismos biológicos em comum são importantes fatores na associação entre
cefaléia e obesidade. A obesidade aumenta os níveis de diversos marcadores que
participam da fisiopatologia da migrânea, incluindo as interleucinas e o CGRP. Tais
mediadores podem elevar a freqüência, intensidade e duração da migrânea per se. O
aumento da freqüência da migrânea está associado à sensibilização central, a qual
contribuiria para perpetuar o processo. Obesidade também é um estado de ativação
simpática, o que pode contribuir para elevar a freqüência da cefaléia. Algumas das
adiponectinas estão reduzidas na obesidade, e em baixos níveis são nociceptivas
(Petelin et al, 2008). Elas também aumentam os níveis de muitos dos marcadores
inflamatórios da obesidade. Finalmente, uma predisposição biológica em comum deve
ter importância significativa. As orexinas são importantes na modulação das vias
97
metabólicas e de dor. A disfunção nas vias da orexina parece ser fator de risco para
ambas as condições.
Os mecanismos precisos pelos quais a migrânea pode levar a eventos
vasculares isquêmicos são atualmente desconhecidos e provavelmente complexos
(Kurth, 2007). Várias hipóteses podem ser feitas: (i) migrânea pode diretamente causar
um evento isquêmico (por exemplo, infarto migranoso); (ii) a fisiopatologia da migrânea
pode afetar a função endotelial e por si só, ou em combinação com eventos vasculares
locais existentes, aumentar o risco de AVC fora de um ataque migranoso; (iii) migrânea
está associada com uma maior prevalência de fatores de risco para eventos isquêmicos
vasculares; (iv) a ligação pode ser causada por drogas específicas para migrânea; e (v)
migrânea e eventos vasculares podem ser ligados por um componente genético.
Cuidados são necessários ao avaliar os resultados do presente estudo. A
possibilidade de viés de participação deve ser considerada porque pacientes que são
encaminhados ao ambulatório de endocrinologia pediátrica podem ter mais problemas
associados do que obesos que não buscam tratamento.
Um diagnóstico diferencial de cefaléias em pacientes menores de 7 anos de
idade pode ser difícil devido aos limites da criança em descrever a dor precisamente.
Um possível viés do nosso estudo é que não excluímos (por motivos éticos)
aqueles indivíduos com hipertensão intracraniana idiopática e apnéia obstrutiva do
sono. Hipertensão intracraniana benigna pode cursar sem papiledema e não seria ético
a solicitação de punção liquórica em pacientes sem refratariedade ao tratamento
medicamentoso da cefaléia. Pseudotumor cerebral e apnéia obstrutiva do sono (Paiva
et al, 1997) estão associadas com obesidade. Estas condições são tipicamente
associadas com uma cefaléia mais crônica, diária (Sand et al, 2003), e não episódica,
mas é possível que formas mais leves, subclínicas, desses distúrbios possam causar
cefaléias do tipo episódico (Horev et al, 2005). No estudo de Peres e colaboradores
(Peres et al, 2005) não foi demonstrada correlação entre sonolência excessiva diurna e
cefaléia. As cefaléias matinais, característica mais importante atribuída à síndrome de
apnéia do sono, raramente ocorreu nos pacientes do estudo. O autor não considera
provável que apnéia do sono tenha papel importante na cefaléia em obesos (Peres et
al, 2005). Bigal, em resposta a um comentário sobre seu estudo Obesity and migraine;
98
a population study (Bigal et al, 2006c) comenta (Iwasaki, 2007) que obesidade e roncos
são fatores de risco independentes para CCD (Scher et al, 2003) e que a influência na
freqüência de migrânea parece ser independente da apnéia do sono. Esta é uma
excelente área para mais pesquisas.
Este estudo sugere uma associação independente entre obesidade e cefaléia em
crianças e adolescentes. É necessário determinar se é uma relação casual, se algum
fator associado com o desenvolvimento da obesidade possa, concomitantemente
promover cefaléia, ou se o estilo de vida e comportamento das crianças obesas podem
agir como desencadeadores da cefaléia, antecipando o início das cefaléias em
indivíduos geneticamente susceptíveis.
Concluindo, a prevalência de cefaléia aumenta de acordo com o IMC em
crianças e adolescentes e não há influência da síndrome metabólica ou de suas
características (i.e. hipertensão arterial, aumento da circunferência abdominal, níveis
séricos elevados de LDL-colesterol, triglicerídeos e glicose e níveis baixos de HDL-
colesterol), quando avaliadas separadamente, na associação entre obesidade e
cefaléia nesta faixa etária.
Apesar das evidências sugerirem que obesidade é um fator de risco modificável
para a progressão da migrânea, como discutido, ainda não é conhecido se a perda de
peso está relacionada com a redução da freqüência de cefaléia em anos futuros. Este é
um excelente campo para pesquisas futuras.
99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS*
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107
Apêndice
1. Projeto da dissertação de mestrado
2. Questionário
3. Termo de consentimento livre e esclarecido
4. Quadro 1: Dados antropométricos e bioquímicos dos
pacientes estudados
5. Quadro 2: Características das cefaléias dos pacientes
estudados
108
Projeto
CEFALÉIAS PRIMÁRIAS E SÍNDROME METABÓLICA
EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES OBESOS EM
SERVIÇOS DE ENDOCRINOLOGIA PEDIÁTRICA
Projeto da Dissertação de Mestrado de Barbara Guiomar Sales
Gomes da Silva, que apresenta ao Colegiado do Mestrado em
Neuropsiquiatria, sob a orientação do Professor Marcelo
Moraes Valença.
Barbara Gomes
Recife 2006
109
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. HIPÓTESE E OBJETIVO
3. MATERIAL E MÉTODOS
4. CRONOGRAMA
5. ORÇAMENTO
6. ASPECTOS ÉTICOS
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
110
1. INTRODUÇÃO
A cefaléia é um problema comum na prática clínica. A etiopatogenia é incerta em
muitos casos e a sintomatologia varia de formas leves a graves
1
. E nas últimas
décadas, a prevalência mundial de obesidade e sobrepeso tem aumentado para
proporções epidêmicas, variando de 7% na França a 32% no Brasil. Um total de 16%
dos adolescentes nos EUA tem agora sobrepeso. A obesidade contribui para o
aumento da mortalidade e morbidade
2
.
Migrânea e obesidade são distúrbios prevalentes na população geral, mas
pouco conhecimento sobre sua associação
3
. Dado a alta prevalência de obesidade e de
migrânea na população americana, um maior interesse na relação entre essas duas
condições
4
.
Um estudo brasileiro
2
mostrou que cefaléias primárias são muito comuns e
incapacitantes em obesos. Foi evidenciada cefaléia crônica diária em 12,2% dos
obesos, enquanto que a prevalência em estudos populacionais não é maior que 6%.
Em um estudo populacional foram entrevistados 30215 participantes e
identificados os migranosos. O IMC não foi associado com a prevalência de migrânea,
mas foi associado com a freqüência das crises. No grupo com peso normal, 4,4%
apresentavam dor de 10-15 dias por mês. Este percentual aumentou para 5,8% no
grupo com sobrepeso, 13,6% nos obesos e 20,7% no grupo dos obesos mórbidos. A
proporção dos pacientes com dor intensa também aumentou significativamente com o
IMC
5
.
Em outro estudo, foi mostrado que obesidade é um fator de risco mais forte para
migrânea crônica do que para cefaléia do tipo tensional crônica. Para migrânea crônica,
a prevalência variou de 0,9% no grupo com peso normal, para 1,2% no grupo com
sobrepeso, 1,6% nos obesos e 2,5% nos obesos mórbidos
6
.
Mattson P
3
, porém, realizou um estudo populacional com mulheres entre 40 e 74
anos com o objetivo de estudar a associação entre migrânea e obesidade e não achou
esta relação. As características dos ataques migranosos não estavam correlacionadas
111
com o índice de massa corpórea (IMC) e o diferiram entre pacientes obesas e não
obesas com migrânea ativa.
Migrânea tem sido associada a distúrbios psiquiátricos, mais frequentemente a
depressão e ansiedade e distúrbios do humor e ansiedade são fortemente associados à
obesidade. Tietjen
4
evidenciou que na população à procura de atendimento dico
para cefaléia, tanto depressão quanto ansiedade era mais comum em obesos. Neste
estudo, a maior freqüência da cefaléia e a piora da incapacidade produzida pela dor
foram associadas com o aumento do IMC mais significativamente nos pacientes com
depressão. evidências crescentes que existem monoaminas e peptídeos (incluindo
serotonina, dopamina, norepinefrina, neuropeptídeo Y e CRH) influenciando depressão,
ansiedade, migrânea e regulação de peso corporal, que podem servir como ligação
neurobiológica.
Os mecanismos das inter-relações da freqüência da cefaléia e da obesidade são
complexos e ainda não completamente explicados. A obesidade é reconhecida como
um estado pró-inflamatório e pró-trombótico. Adipócitos secretam uma variedade de
citocinas, incluindo interleucina 6 (IL-6) e fator de necrose tumoral α (TNFα).
Marcadores de inflamação, incluindo leucócitos, IL-6, TNFα e proteína C reativa são
aumentados na obesidade. Ainda, a obesidade está associada com um aumento nos
macrófagos do tecido adiposo, que também participam do processo inflamatório através
da elaboração de citocinas. Níveis do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina
(CGRP) também são elevados em obesos, particularmente em mulheres, e a ingestão
de gordura pode estar associada com um aumento da secreção de CGRP. Isto pode
ser importante na migrânea já que o CGRP é um importante mediador pós-sinaptico da
inflamação na migrânea trigeminovascular
5
.
Dois fatores de confusão podem ser Pseudotumor cerebral e Síndrome da
Apnéia do Sono, que são associadas com obesidade e cefaléia, porém essas
condições são tipicamente associadas com uma cefaléia mais crônica do que
episódica
7
. Em estudo recente
2
sobre cefaléia primária em obesos não houve relação
da cefaléia com a Escala de Sono Epworth a cefaléia matinal, característica mais
importante da cefaléia da síndrome da apnéia do sono, raramente ocorreu nestes
112
pacientes. Não é provável que os distúrbios da apnéia do sono tenham papel
importante na cefaléia dos pacientes obesos.
Aproximadamente 4% da população adulta apresenta 15 dias ou mais por mês
de cefaléia (cefaléia crônica diária). Os dois tipos mais prevalentes são a migrânea
crônica e a cefaléia tipo tensional crônica. Em um estudo populacional para identificar
fatores de risco para incidência, prevalência e remissão de cefaléia crônica diária, a
obesidade tendeu a associar-se com a cefaléia crônica diária e foi preditor de sua
incidência no seguimento. A obesidade foi um fator de risco para o desenvolvimento da
cefaléia crônica diária. Não há estudos na população pediátrica
8
.
Outro estudo mostrou que obesidade foi a variável de mais forte associação com a
cronificação de pacientes com cefaléia episódica. Neste estudo, pacientes obesos
desenvolveram cefaléia crônica diária em uma freqüência 5,53 vezes maior quando
comparados com pacientes não obesos com cefaléia
9
.
Apesar de a migrânea progredir em alguns indivíduos, não progride na maioria.
Migrânea é mais bem entendida como um distúrbio crônico com manifestações
episódicas, progressiva em alguns indivíduos. Portanto, identificar fatores de risco para
sua progressão tem sido uma prioridade muito importante na saúde pública. Se
pacientes de risco podem ser identificados, podem ser estudadas intervenções
preventivas
10
.
A obesidade é um fator modificável, e a diminuição do peso deve ser explorada como
modalidade terapêutica potencial no cuidado da cefaléia
7
. São necessários, porém,
estudos para saber se a perda de peso em obesos diminuiria a velocidade de
progressão da cefaléia
8
.
Quase dois terços dos adultos nos EUA e um percentual crescente da população
mundial tem sobrepeso ou obesidade como definida pela Organização Mundial de
Saúde. A obesidade tem sido reconhecida como um importante fator de risco para
Diabetes Mellitus tipo 2, hipertensão e dislipidemia. Os efeitos metabólicos adversos do
excesso de gordura corporal aceleram a aterogênese e aumentam o risco de doença
arterial coronariana, acidente vascular cerebral e morte precoce
7
.
113
A possível associação da cefaléia com distúrbios cardiovasculares é uma
questão antiga. Em 1913, T.C. Janeway relatou que hipertensão e cefaléia estavam
associadas
11
.
Alguns estudos evidenciam que migrânea com aura em mulheres pode estar
associada com maior risco de doença arterial coronariana
12
. Liew
12
mostrou que na
população australiana de idade mais avançada uma história de migrânea com aura
(mas não sem aura) em mulheres foi possivelmente associada com um risco duas
vezes maior, não-significativo (p=0,11), de morte coronariana.
evidência substancial que migrânea pode aumentar o risco relativo de
acidente vascular cerebral
13
, mas a relação entre migrânea e doença arterial
coronariana é menos clara. O Women’s Health Study, um grande estudo prospectivo,
relatou que migrânea com aura estava associada com um aumento do risco relativo de
eventos coronarianos
14
.
A obesidade têm tornado-se um problema comum para os profissionais que
cuidam da população pediátrica
15
.
Em adultos é bem estabelecido que a adiposidade abdominal medida pela
circunferência abdominal é associada com maior risco cardiovascular, dislipidemia e
Diabetes Mellitus tipo 2, independente da adiposidade geral, e que a circunferência
abdominal é um melhor preditor de doença arterial coronariana, hipertensão,
dislipidemia e resistência insulínica do que o IMC (índice de massa corpórea)
16
.
Não existem estudos em crianças e adolescentes que relacionem obesidade e
cefaléia.
2. HIPÓTESE E OBJETIVO:
Crianças e adolescentes obesos têm cefaléia mais frequentemente que crianças
e adolescentes com peso normal.
O objetivo do estudo é avaliar a presença de cefaléia em crianças e
adolescentes obesos e compara-los com crianças e adolescentes na faixa de peso
normal. Também será feita correlação de fatores de risco cardiovasculares e cefaléia
nestes pacientes.
114
3. MÉTODOS:
Será realizado um estudo de caso-controle para analisar se a prevalência de
cefaléia em crianças e adolescentes obesos é maior do que em crianças e
adolescentes de peso na faixa normal.
Serão avaliados os pacientes com obesidade ou sobrepeso, com idade de 4 a 15
anos, que se apresentarem no Ambulatório de Endocrinologia Pediátrica do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco e no Ambulatório de
Endocrinologia Pediátrica da Policlínica Santa Clara em Recife-PE, no período de 01 de
outubro de 2007 a 31 de dezembro de 2007.
Avaliação física:
Serão avaliados peso, altura, medida da circunferência abdominal e pressão
arterial e calculado o índice de massa corporal (peso em kg/altura
2
em metros).
Serão categorizados com tendo obesidade (percentil de IMC > 95), sobrepeso
(percentil de IMC entre 85 e 95) e peso normal (IMC < P
85
).
Serão categorizados com hipertensos os pacientes com pressão arterial sistólica
ou diastólica acima do percentil 95 para idade de acordo com “The Fourth Report on the
diagnosis, evaluation and treatment of high blood pressure in children and adolescents
(National Institute of Health, 2005)”.
Uma entrevista estruturada será feita utilizando com detalhada documentação da
cefaléia, tentando classificá-la em um dos fenótipos da classificação de cefaléia pela
International Headache Society
17,18
. As características da cefaléia coletadas serão
lateralidade, localização, intensidade, qualidade da dor, duração das crises, tempo de
cefaléia, sintomas associados, fatores agravantes ou atenuantes, e história familiar de
cefaléia. Para cada paciente com história de cefaléia será fornecido um diário para
coleta de informações sobre a cefaléia por um mês.
Serão realizadas dosagens séricas de colesterol total, LDL, HDL, triglicérides e
glicemia após jejum de 12 horas.
Hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia serão diagnosticadas quando as
medidas séricas de colesterol total, LDL, HDL e triglicérides estiverem acima dos
115
valores desejáveis para crianças e adolescente recomendados pela Sociedade
Brasileira de Cardiologia – Departamento de Aterosclerose.
Glicemia acima de 100mg/dl é considerada glicemia de jejum alterada.
A coorte de controles serão pacientes dos mesmos ambulatórios citados
anteriormente com peso na faixa normal, encaminhados para a endocrinologia por
suspeita de distúrbios endócrinos do crescimento e da puberdade nos quais foram
diagnosticados variações normais, e que já tinham exames laboratoriais (glicemia de
jejum e lípides) quando chegaram ao nosso ambulatório.
Após um estudo piloto com 58 pacientes, foi calculada que prevalência esperada
de cefaléia nas crianças e adolescentes obesos era de aproximadamente 50% contra
25% nas crianças com peso na faixa normal. Feito cálculo do tamanho da amostra de
acordo com o estudo piloto que evidenciou que, em um caso-controle 2:1, o n” deve
ser de 100 pacientes obesos (doentes) e 50 pacientes dentro da faixa normal de peso
(não-doentes).
116
4. CRONOGRAMA
Revisão
bibliográfica
Coleta de
dados
Desenvolvimento
da dissertação
Defesa da
tese
Março 2006 X
Abril 2006 X
Maio 2006 X
Junho 2006 X
Julho 2006 X
Agosto 2006 X
Setembro 2006 X
Outubro 2006 X
Novembro 2006 X
Dezembro 2006 X
Janeiro 2007 X X
Fevereiro 2007 X X
Março 2007 X X
Abril 2007 X X
Maio 2007 X
Junho 2007 X
Julho 2007 X
Agosto 2007 X X
Setembro 2007 X X
Outubro 2007 X
Novembro 2007 X
Dezembro 2007 X
Janeiro 2008 X
Fevereiro 2008 X
117
5. ORÇAMENTO:
Papel ofício – R$ 50,00
Tinta para impressão – R$150,00
Xérox – R$ 50,00
Internet – R$ 90,00/ mês
Total com Internet: R$ 2410,00
Obs
1:
as despesas descritas serão pagas pelo pesquisador
Obs
2
: os exames laboratoriais serão financiados pelo Hospital das Clínicas e pela
Policlínica Santa Clara, porém serão coletados dados de pacientes com exames ou
que os exames tenham sido solicitados para avaliação clínica independente do projeto.
Nenhum exame laboratorial será solicitado apenas para o projeto.
6. ASPECTOS ÉTICOS:
A pesquisa terá início após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa
envolvendo Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal
de Pernambuco. Será solicitado o consentimento do responsável pela criança, após
leitura e esclarecimento verbal pelo pesquisador de possíveis dúvidas sobre a natureza
do estudo. Nos casos em que o responsável seja analfabeto será realizada a leitura do
termo de consentimento com a presença de uma testemunha que também assinará o
termo.
Riscos:
118
Não haverá qualquer risco adicional para o paciente, pois o exame físico e os
exames laboratoriais que serão feitos já fazem parte da rotina clínica da endocrinologia
pediátrica para qualquer paciente acima do peso, fazendo ou não parte do projeto.
Benefícios:
Os pacientes terão o benefício de ter o diagnóstico de sua cefaléia e
encaminhados para um especialista para que sejam tomadas medidas preventivas
quanto à progressão para cronicidade.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Cardiovascular Risk Factors: Positive Association With Hypertension. Headache
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Obese Patients. Arq Neuropsiquiatr 2005; 63(4):931-933
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population-based study. Cephalalgia 2007; 27:877-880.
4. Tietjen GE, Peterlin BL, Brandes JL, Hafeez F e cols. Depression and anxiety:
Effect on the Migraine-Obesity Relationship. Headache 2007; 47:866-875
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Neurology 2006; 66:545-550.
6. Bigal ME, Lipton RB. Obesity is a risk factor for transformed migraine but not
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10. Bigal ME, Lipton RB. Modifiable Risk Factors for Migraine Progression. Headache
2006; 46: 1334-1343
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prospective cohort study. Cephalalgia 2007; 27(4): 368-71
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64:1496-7
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and risk of cardiovascular disease in women. JAMA 2006; 296:283-91
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and facial pain. Cephalalgia 1988; 8: 1-96
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Classification and diagnostic criteria for headache disorders (second edition).
Cephalalgia 2004; 24: 1-160.
120
Questionário
PROTOCOLO DE INVESTIGAÇÃO
CEFALÉIA E SÍNDROME METABÓLICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
NÚMERO REGISTRO
NOME
TELEFONE CONTATO
DATA DE
NASCIMENTO
IDADE
SEXO PROCEDÊNCIA H
ALTURA PERCENTIL
PESO PERCENTIL
IMC PERCENTIL
CINTURA
ABDOMINAL
PERCENTIL
P. ARTERIAL
SISTÓLICA
PERCENTIL
P. ARTERIAL
DIASTÓLICA
PERCENTIL
TRIGLICERÍDEOS PERCENTIL
COLESTEROL TOTAL PERCENTIL
LDL PERCENTIL
HDL PERCENTIL
GLICEMIA JEJUM
CEFALÉIA SIM NÃO
SÍNDROME
PERIÓDICA
SIM
NÃO
121
CEFALÉIA:
Número de crises: < 5; 5 a 10; > 10
Quantas crises por mês:
Duração:
Uni ou bilateral:
Pulsátil ou não:
Intensidade da dor: leve, moderada, grave
Piora com o esforço: sim ou não
Náuseas e/ou vômitos: sim ou não
Fotofobia:
Fonofobia:
122
Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA DE MESTRADO
PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROPSIQUIATRIA E CIÊNCIAS DO COMPORTAMENTO
MESTRANDA: DRA BARBARA GUIOMAR SALES GOMES DA SILVA
ORIENTADOR: PROF. MARCELO MORAES VALENÇA
LOCAL: HOSPITAL DAS CLÍNICAS - UFPE e POLICLÍNICA SANTA CLARA
PROJETO: CEFALÉIA E SÍNDROME METABÓLICA EM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
Seu filho (ou filha) está sendo convidado para participar do meu projeto de pesquisa de
mestrado.
Objetivo: Será feito uma pesquisa para analisar se a presença de dor de cabeça em
crianças com peso acima do normal é maior do que nas crianças com peso dentro da
faixa normal.
Descrição do estudo: O pesquisador avaliará peso, altura, medida da cintura, medida
da pressão arterial, glicose de jejum, colesterol total, LDL, HDL (que são os tipos de
colesterol) e triglicerídeos do sangue em jejum para estudar se essas medidas têm
relação com a presença de dor de cabeça. Vai ser perguntado se a criança tem dor de
cabeça e como esta dor de cabeça se apresenta: quantas vezes no mês, se é forte ou
fraca, se é de um ou dois lados da cabeça, se ela sente alguma outra coisa junto com a
dor. Se a criança ou adolescente tiver dor de cabeça, será dado um diário para que ela
(junto com a mãe) faça um “x” nos dias em que tiver dor e será encaminhada para um
especialista em dor de cabeça para avaliação.
123
Riscos: Não haverá qualquer risco adicional para o paciente, pois o exame físico e os
exames de sangue que serão feitos fazem parte da rotina clínica da endocrinologia
pediátrica para qualquer paciente acima do peso, fazendo ou não parte do projeto.
Benefícios: Os pacientes terão o benefício de ser investigado o que esta causando a
sua dor de cabeça e encaminhados para um especialista para que seja tratada, se
necessário, e conhecer o que pode ser feito para não ter muitas crises de dor.
Confidencialidade: não será usado o nome da criança no trabalho ou na sua
publicação. Todos os dados são confidenciais.
Participação voluntária: o paciente não é obrigado a participar do estudo e não
receberá qualquer pagamento pela sua participação
Despesas: não haverá qualquer despesa para o paciente, o trabalho será realizado
durante a consulta médica no Ambulatório de Endocrinologia Pediátrica.
NOME:_________________________________________________________
IDADE:
NÚMERO NO PROJETO:
ASSINATURA DA MÃE OU RESPONSÁVEL: __________________________
PESQUISADOR:__________________________________________________
TESTEMUNHAS : 1 –______________________________________________
2 - ______________________________________________
124
125
126
127
128
129
Anexo 1:
Carta de aprovação do comitê de ética
130
Anexo 2:
Regras para referências bibliográficas da revista Cephalalgia
Cephalalgia- References
should be included in the file for upload or, for postal submission, be typed double-spaced on a
separate sheet(s), numbered consecutively in the order in which they appear in the text (Vancouver
style). Accuracy of the reference list must be verified before submission of the manuscript. Identify
references in the text, tables and legends by arabic numerals in parentheses. For papers with up to
seven authors, the names of all authors should be listed. For papers with eight or more authors, the
first six names should be listed, followed by et al. The titles of journals should be abbreviated in
accordance with the style of the Index Medicus. Use the following format for journal articles and book
references.
Book Chapter
1. Kaada B. Neurophysiology and acupuncture: a review. In: Bonica JJ, Albe-Fessard D, editors.
Advances in pain research and therapy. Vol 1. New York: Raven Press, 1976:733-41.
Journal Article (less than seven authors)
2. Dahlof CGH, Dimenas E. Migraine patients experience poorer subjective well being/quality of life
even between attacks. Cephalalgia 1995; 15:31-6
Journal Article (more than seven authors)
3. Trillat AC, Malagie I, Scearce K, Pons D, Anmella MC, Jacquot C, et al. Regulation of serotonin
release in the frontal cortex and ventricular hippocampus of homozygous mice lacking 5-HT1B
receptors: in vivo microdialysis studies. J Neurochem 1997;69:2019-25
Journal Supplement Article
4. Headache Classification Committee of the International Headache Society. Classification and
diagnostic criteria for headache disorders, cranial neuralgia, and facial pain. Cephalalgia 1988;8 Suppl
7:1-96
References to material available on the World Wide Web can be given, but only if the information is
available without charge to readers on an official site. Authors will be asked to provide electronic
copies of the cited material for inclusion on the Cephalalgia web page at the discretion of the Editor.
The format for citations is as follows.
Beckleheimer, J. (1994). How do you cite URLs in bibliography? [WWW document]. URL
http://www.nrlssc.navy.mil/meta/bibliography.html
References in Articles
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