O fato é que o poder não pode ser apropriado; não por uma mesma classe,
não de forma exclusiva não de forma permanente, não por um mesmo
grupo de pessoas: “o poder não é algo que se adquira, arrebate ou
compartilhe algo que se guarde ou deixe escapar” (FOUCAULT, 2001, p.
89).
Ao contrário, o poder pode constituir-se nos efeitos imediatos e nas
condições internas desses outros processos ou relações com as quais ele se liga. O
poder é ainda não subjetivo, vale dizer, ele não é possível de titularidade: todos o
possuem ao mesmo tempo em que ninguém o detém: “onde há poder ele se exerce,
não se sabe ao certo quem o detém, mas se sabe quem não o possui” (FOUCAULT,
1979, p. 75). Porém, há o poder instituído, aquele que a pessoa é investida porque
deve responsabilizar-se por um grupo e por grupos e, neste caso, a pessoa já detém
o poder que deve ser autoridade, o que é diferente de ser autoritário.
A possibilidade de desvincular saber e poder no plano escolar reside
na criação de estruturas horizontais em que professores, alunos, equipe pedagógica
e funcionários formem uma comunidade real. É um resultado que só pode provir de
muitas lutas, consensos, vitórias, desafios. Mas, sem dívida, a autogestão da escola
pelos trabalhadores da educação, incluindo os alunos, é a condição de
democratização escolar e de possíveis relações igualitárias, em que o crescimento é
a conseqüência básica.
Um relacionamento positivo na construção de uma coletividade só se
fará pelo diálogo franco; muitas vezes temos medo deste diálogo, pois poderão
aparecer contradições com as quais não gostaríamos de lidar, por exemplo: constato
que estou dando aquelas aulas apenas por uma necessidade econômica, ou ainda,
que de fato não tenho afinidade psicoafetiva para trabalhar com tal faixa etária, que
outros problemas estão afetando minha aula, entre outras razões. Por mais difícil
que possa ser, este tipo de diálogo é muito importante, pois as contradições podem
aparecer e fica mais fácil, tanto para a classe, quanto para o professor, trabalhar
com elas. Dessa forma, possibilita-se um relacionamento menos estereotipado e
alienado, abrindo-se para a construção humana.
Para haver diálogo verdadeiro não podem haver formas agressivas de
pressão e de poder. Isto é quase impossível na escola, pois o professor detém o
poder numa série de situações (nota, colocação para fora da aula, advertência, etc.)