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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Rodolpho Gonçalves Pires
A informação contábil e a teoria de agência: um estudo da assimetria informacional em
companhias abertas, listadas no novo mercado da bovespa
MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E FINANCEIRAS
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Rodolpho Gonçalves Pires
A informação contábil e a teoria de agência: um estudo da assimetria informacional em
companhias abertas, listadas no novo mercado da bovespa
MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E FINANCEIRAS
Dissertação apresentada, à Banca Examinadora,
como exigência parcial para a obtenção do título de
MESTRE em Ciências Contábeis e Financeiras pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob
a orientação do Prof. Doutor Sérgio de Iudícibus.
SÃO PAULO
2008
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3
BANCA EXAMINADORA
4
DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado, com muito amor e carinho, a:
Meu sobrinho, Tobias, que em 2007 mostrou a todos nós que sempre há uma esperança
quando se tem fé;
Minha amada esposa, Ludmila, que sempre esteve e está ao meu lado em tudo o que
procuro realizar;
Meus pais, Olivam Pires e Maria José, pela educação, ensinamentos e exemplo que
procuro sempre seguir na minha vida.
5
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Sérgio de Iudícibus, pela valiosa orientação e acompanhamento deste
trabalho. Agradeço a dedicação, sabedoria e apoio na realização deste estudo;
Ao Prof. Dr. Gideon Carvalho de Benedicto, pela avaliação minuciosa deste trabalho
que resultou em críticas e sugestões relevantes;
Ao Prof. Dr. José Carlos Marion, pelo conhecimento transmitido que foi muito
importante para a realização deste trabalho;
À Coordenação, aos Professores e aos Funcionários do Programa de Estudos Pós-
Graduados em Ciências Contábeis e Financeiras da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo;
Aos colegas de mestrado dessa Universidade, por toda experiência e conhecimentos
compartilhados ao longo das disciplinas do curso;
A Deus, pela luz e proteção em todas as horas;
A toda minha família, por tudo o que representam para mim. Em especial, além dos
mencionados na dedicatória, a Sâmara e a Ana Edite, minhas queridas irmãs, por todos
os momentos que vivemos na nossa infância que contribuiram para sermos as pessoas
que somos atualmente.
6
O poder da informação dentro de uma
empresa é proporcional a sua
capacidade de ser compartilhada.
Robert Buckman
7
Resumo
Este trabalho analisa como é avaliada a Contabilidade, como mecanismo de
redução de assimetria de informações entre principal e agente, pelos administradores
das empresas nacionais de capital aberto, listadas no segmento diferenciado em relação
a práticas adicionais de governança corporativa, denominado Novo Mercado da
BOVESPA.
Considerando um ambiente de ampla e crescente preocupação com a governança
das firmas, e a relevância da informação contábil nesse ambiente, este estudo parte de
algumas premissas que serviram de base para a realização da pesquisa empírica. Tais
suposições são: a) existem problemas de assimetria de informação entre principal e
agente; b) a Contabilidade, considerando seu objeto e objetivo conforme definido em
sua Teoria, funciona como redutora da assimetria informacional entre acionistas e
gestores.
Este estudo objetiva, principalmente, a análise das relações entre a Contabilidade
e a teoria de agência, em suas questões relativas à assimetria informacional entre
principal e agente, como parte dos conflitos de agência em companhias abertas
brasileiras, listadas no Novo Mercado da BOVESPA. Em específico, o trabalho busca
averiguar as relações entre a Contabilidade e a assimetria de informações, analisar o
papel da Contabilidade nas relações de agência, verificar a avaliação dos
administradores com relação à importância da Contabilidade para a redução da
assimetria informacional entre principal e agente, relacionar a Contabilidade com a
teoria de agência no ambiente brasileiro e contribuir com os avanços da abordagem
positiva na pesquisa em Contabilidade no Brasil.
Para a realização da pesquisa empírica, foi utilizado o questionário como meio
para a coleta de dados. O instrumento foi enviado para cada um dos responsáveis pelos
departamentos de Relações com Investidores de cada uma das empresas listadas no
novo mercado da Bovespa, somando um total de trinta e seis, representando a totalidade
das companhias elencadas nesse segmento de mercado até outubro de 2006. Ao término
da fase de pesquisa de campo, de acordo com o cronograma de trabalho, foram obtidas
53% de respostas.
A análise da compilação das respostas obtidas permite observar um alinhamento
com as suposições de trabalho, pois a maioria dos respondentes percebe que existem
problemas de assimetria de informação entre principal e agente. Similarmente, a maioria
dos participantes da pesquisa empírica avalia a Contabilidade como um mecanismo que
possibilita a redução dos problemas relacionados à assimetria informacional entre
principal e agente.
Palavras-chave: relevância da informação contábil, assimetria informacional, teoria de agência.
8
Abstract
This study analyzes the agent’s perception of Accounting as a mechanism for
reducing information asymmetry between the Principal and itself. The agents
considered in this study were the administrators of all thirty-six domestic public
companies listed on the special market segment with additional requirements related to
corporate governance of the Sao Paulo Stock Exchange in Brazil, called “Novo
Mercado da BOVESPA”, as of October 2006.
In view of the widespread and growing concerns around corporate governance
and the relevance of accounting information, this study’s empirical research is based on
two assumptions that (i) there are information asymmetry-related problems between
agent and principal, and (ii) accounting information, considering its major objective,
acts as an information asymmetry reduction mechanism between principal and agent.
The primary objective of this study was to analyze the relation between Agency
Theory and Accounting, on matters related to information asymmetry between agent
and principal, as part of the agency conflicts.
The secondary objectives were to (i) question this relation on domestic
companies listed on the special market segment with additional corporate governance
requirements of the Sao Paulo Stock Exchange in Brazil, (ii) analyze the role of
accounting information in the agency relations of those companies, (iii) verify the
evaluation made by the agents in relation to the importance of Accounting to the
information asymmetry reduction, (iv) relate Accounting and Agency Theory in
domestic public companies listed in this market segment, and (v) contribute to the
development of the positive approach in accounting research in Brazil.
A questionnaire was applied as means of data collection for the realization of the
empirical research. The instrument was sent to each one of the thirty-six responsible for
the investors’ relations department of these companies. It represents the total number of
companies listed in this special market segment up to October 2006. At the end of the
researching phase, according to the working chronogram, a 53% responses rate was
achieved.
Analysis of the compiled data suggests that there is an alignment with the
aforementioned assumptions. The majority of respondents perceive the existence of
information asymmetry problems between principal and agent. Similarly, the majority
of participants evaluated Accounting as a mechanism that enables the reduction of
information asymmetry problems between agent and principal.
Key words: Accounting information relevance, information asymmetry, agency theory.
9
SUMÁRIO
1 Introdução .......................................................................................14
1.1 Contextualização ................................................................................................ 14
1.2 Formulação do Problema de Pesquisa................................................................ 21
1.3 Suposições de Trabalho...................................................................................... 22
1.4 Objetivos do trabalho ......................................................................................... 22
1.4.1 Objetivo geral.....................................................................................................................22
1.4.2 Objetivos específicos..........................................................................................................22
1.5 Justificativa do tema e demonstração de sua importância.................................. 23
1.6 Metodologia da pesquisa.................................................................................... 25
1.6.1 Tipologia de Estudo............................................................................................................25
1.6.2 Delimitação do universo amostral ......................................................................................27
1.7 Instrumento de coleta de dados .......................................................................... 30
1.8 Limitações da Pesquisa....................................................................................... 31
1.9 Estrutura do Trabalho......................................................................................... 32
2 Fundamentação teórica..................................................................34
2.1 Estrutura de Propriedade: Considerações sobre a Separação entre Controle e
Propriedade das Firmas................................................................................................ 34
2.1.1 Aspectos Conceituais da Teoria de Agência.......................................................................35
2.1.2 Aspectos Conceituais dos Custos de Agência ....................................................................40
2.2 Considerações sobre a Assimetria de informações............................................. 45
2.2.1 A Contabilidade e a Compensação de Executivos..............................................................52
2.2.2 O Papel da Contabilidade na Teoria Contratual da Firma ..................................................54
2.2.3 A Informação Contábil e a Regulamentação......................................................................55
2.3 A Relevância da Informação Contábil................................................................ 59
2.3.1 O Conteúdo Informativo da Contabilidade.........................................................................61
2.4 O Regime de Competência e a Informação Contábil......................................... 67
2.4.1 Aspectos Conceituais dos ACCRUALS.............................................................................72
2.4.2 A Informação Contábil e seus Mecanismos........................................................................77
2.4.3 O Regime de Competência e a Teoria Contratual da Firma ...............................................79
2.5 A Contabilidade e A Governança Corporativa................................................... 81
2.5.1 Panoramas da Governança Corporativa..............................................................................83
3 Pesquisa Descritiva .........................................................................93
3.1 Considerações e Análises dos Resultados da Pesquisa Descritiva..................... 93
3.2 Considerações sobre os Resultados da Pesquisa.............................................. 101
4 Considerações Finais ....................................................................102
5 Referências Bibliográficas............................................................105
Apêndices .................................................................................................115
10
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 –Relação de empresas listadas no Novo Mercado em outubro de
2006.................................................................................................................... 27
11
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Valor do Patrimônio Líquido das empresas do Novo Mercado... 29
TABELA 2 – Controle de Ativo Imobilizado – Empresa XYZ......................... 57
TABELA 3 – Demonstração do Resultado do Exercício................................... 57
TABELA 4 – Controle de Ativo Imobilizado – Empresa XYZ......................... 58
TABELA 5 – Demonstração do Resultado do Exercício................................... 58
TABELA 6 – Fluxo econômico e financeiro...................................................... 70
TABELA 7 – Classificação dos indicadores contábeis...................................... 98
TABELA 8 – Distribuição de freqüência/valor - importância do relatório anual
............................................................................................................................ 99
TABELA 9 – Distribuição de freqüência/percentual - importância do relatório
anual ................................................................................................................. 100
12
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Evolução do recebimento dos questionários de pesquisa .......... 29
GRÁFICO 2 – Respostas à segunda questão – afirmação 1............................... 95
GRÁFICO 3 – Respostas à segunda questão – afirmação 2............................... 95
GRÁFICO 4 – Respostas à segunda questão – afirmação 3............................... 96
GRÁFICO 5 – Respostas à segunda questão – afirmação 4............................... 96
GRÁFICO 6 – Respostas à segunda questão – afirmação 5............................... 97
13
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Exemplos de relações de agência ................................................. 38
FIGURA 2 – Fluxos financeiro e de informações no mercado de capitais........ 50
14
1 Introdução
1.1 Contextualização
Questões relacionadas à estrutura de propriedade da firma são tratadas há muito
tempo. Alguns autores colocam que o problema central relacionado à estrutura de
propriedade e de controle das firmas foi citado inicialmente por ADAM SMITH em
1776, com o trabalho intitulado “A Riqueza das Nações”. Tal estudo aponta a idéia da
negligência e esbanjamento com que os administradores agiriam, quando estivessem
administrando o dinheiro dos outros e não de si próprios. (OKIMURA, 2003).
Aproximadamente cento e cinqüenta anos mais tarde, outros trabalhos
começaram a ser produzidos, nos quais eram tratados os aspectos da segregação entre
propriedade e controle das firmas. Entre esses trabalhos, destaca-se BERLE e MEANS
(1932), em cujo estudo se inicia, possivelmente, o delineamento do que seriam os
mecanismos de governança corporativa, assunto em ampla evidência atualmente. O
paradigma central sobre a teoria econômica das firmas é descrito nesse trabalho como
sendo a separação entre propriedade e controle nas empresas.
O risco de os recursos dos investidores não serem bem empregados, de acordo
com sua melhor previsão, decorre da existência da situação de separação entre
propriedade e controle, em que os indivíduos que fornecem o capital não participam
diretamente das decisões corporativas. (SILVEIRA, 2004).
Os proprietários dos ativos, acionistas, uma vez que são pessoas distintas dos
administradores, devido à pulverização da propriedade, sofrem perdas, estas oriundas do
aumento da força e do incentivo aos gestores para agirem em seus próprios interesses e
não mais no melhor interesse dos acionistas. Possivelmente surge, assim, o que diversos
estudos posteriores denominaram de conflitos de agência, o ponto central de estudo da
Teoria de Agência.
Pode-se considerar que entre os primeiros estudos formais sobre a Teoria de
Agência estão relacionados os de SPENCE e ZECKHAUSER (1971) e ROSS (1973).
15
Nesses trabalhos, são discutidos aspectos da estrutura de remuneração dos gestores
(agentes), objetivando o alinhamento dos seus interesses com os dos acionistas ou
proprietários (principal).
Alguns autores consideram que a Teoria de Agência, que trata dos conflitos e
custos de agência, começou a ser desenvolvida e estudada com maior ênfase depois do
trabalho de JENSEN e MECKLING, datado de 1976. (FAMÁ e KAYO, 1997).
JENSEN e MECKLING (1976, p. 308) definem a relação de agência da seguinte
maneira:
Nós definimos um relacionamento de agência como um
contrato pelo qual uma ou mais pessoas (o principal) contratam
outra pessoa (o agente) para executar algum serviço em favor
deles e que envolva delegar, ao agente, alguma autoridade para
tomada de decisão. Se ambas as partes do relacionamento são
maximizadoras de utilidade, existe boa razão para acreditar que
o agente nem sempre agirá pelos melhores interesses do
principal.
É possível observar que os interesses dos acionistas são diferentes daqueles dos
administradores da firma, bem como, possivelmente, das outras classes de participantes
nos diversos contratos que regem a empresa. Cada grupo de interessados na firma
possui uma classe distinta de aspirações de acordo com suas ligações contratuais, sendo
assim, esses grupos poderão demandar contratos distintos, com características
diferentes.
Levando-se em consideração o fato de que o agente nem sempre agirá de acordo
com o melhor interesse do principal, percebe-se a possibilidade da existência de
conflitos, que nascem da presença de interesses divergentes entre o principal e o agente,
conhecidos como conflitos de agência. O principal pode limitar as divergências dos seus
interesses por meio do estabelecimento de incentivos apropriados ao agente, incorrendo
em custos ou despesas de monitoramento, com o intuito de limitar os comportamentos
ou atividades indesejadas por parte do agente.
16
Segundo BUSHMAN e SMITH (2003), existe uma grande quantidade de forças
naturais de mercado que ajudam a disciplinar o comportamento dos administradores,
fazendo com que estes procurem agir de acordo com o interesse dos proprietários da
firma. No entanto, apesar da existência dessas poderosas forças disciplinadoras, ainda
resta uma importante demanda residual pelos mecanismos de governança, adaptados
para circunstâncias específicas de cada firma.
Segundo SUNDER (1997), os acionistas possuem interesses especiais na firma,
principalmente porque são comprometidos com a empresa antecipadamente, uma vez
que eles fornecem os recursos muito antes de existir uma perspectiva de recebimento
dos recursos. Adicionalmente, o interesse dos acionistas na empresa é residual, pois eles
são os últimos na prioridade de recebimento.
A relação e conflitos de agência tratados neste trabalho são os possivelmente
existentes entre os acionistas (principal) e os administradores profissionais (agente), no
contexto de que os acionistas decidem investir recursos em uma determinada empresa,
por meio da aquisição de suas ações, com o objetivo precípuo de obter o maior retorno
possível.
Tal empresa é gerida pelo agente, que por estar mais próximo à operação da
firma, pode deter mais informações, ou informações adicionais, sobre a entidade em
comparação com as informações conhecidas pelos acionistas. Surge, nesse momento,
uma situação de assimetria de informações entre o principal e o agente. Pelos motivos
de assimetria informacional e existência de interesses divergentes entre agente e
principal, é possível que estes tenham de incorrer em custos adicionais, conhecidos
como os custos de agência.
Nas firmas em que não se observa a segregação entre propriedade e controle, é
possível que o principal seja a mesma pessoa que o agente. Nesses casos, problemas
relativos aos conflitos de agência, incluindo-se os custos de agência e assimetria
informacional, possuem efeitos distintos sobre a empresa, que não são abordados nesse
trabalho.
17
Em conseqüência da globalização da economia, crescimento dos mercados
mundiais e internacionalização da operação de diversas empresas, a gestão cada vez
mais passa a não ser realizada por um indivíduo ou por uma família. A mudança do
perfil da gestão da empresa, com a separação entre controle e propriedade, é,
possivelmente, uma resposta da organização para a necessidade de se manter ou de se
tornar eficaz, produtiva, sólida e suficientemente ágil para enfrentar os desafios globais
atuais e consolidar ou ampliar sua posição no seu mercado de atuação.
Provavelmente, são esses aspectos que tendem a conduzir à mudança de um
formato de gestão centralizada e personalizada, baseada em um indivíduo ou em uma
família como proprietários e principais tomadores de decisão, para um outro modelo no
qual as decisões são tomadas por administradores. Esses profissionais são apenas
membros da organização, cujos vínculos com a empresa são, predominantemente,
estimulados pela remuneração paga por suas atividades.
Recentemente, verifica-se um aumento considerável na preocupação das
empresas em aderir às boas práticas de governança corporativa, fato esse que promove a
evolução natural da importância desse tema. Essa preocupação pode ter sido motivada
pelos escândalos contábil-financeiros ocorridos em 2002, como o caso da ENRON e
Worldcomm, eventos marcantes pelo volume de recursos envolvidos e pela grande
quantidade de investidores penalizados em conseqüência das fraudes contábeis
evidenciadas.
Como efeito produzido por esses acontecimentos, nos Estados Unidos ocorreu a
promulgação da lei Sarbanes-Oxley, com o objetivo de procurar evitar as possíveis
fraudes contábeis nas empresas, por meio da implementação de inúmeros controles
adicionais, sob a supervisão da SEC (Securities and Exchange Commission), a
Comissão de Valores Mobiliários Norte-americana.
Na Inglaterra, a preocupação com a governança influenciou, em 1999, a revisão
do Código Comercial Inglês, que passou a exigir que as companhias abertas daquele
país produzissem um mapeamento dos riscos em três categorias: estratégicas, táticas e
operacionais, sobre cujos riscos deveriam ser implementados controles.
18
No Brasil, ocorreu a implantação de níveis diferenciados de Governança
Corporativa pela Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA. O principal objetivo da
criação de tais segmentos especiais de listagem é o de proporcionar um ambiente
favorável de negociação de papéis que estimule, concomitantemente, não só a
valorização das companhias como também o interesse dos investidores. Os segmentos
especiais atualmente existentes são: Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. O Novo
Mercado da BOVESPA é um segmento de listagem destinado à negociação de ações
emitidas por companhias que se comprometam, voluntariamente, com a adoção de
práticas adicionais de governança corporativa em relação ao que é exigido pela
legislação. A valorização e a liquidez das ações podem ser influenciadas positivamente
pelo grau de segurança oferecido pelos direitos concedidos aos acionistas e pela
qualidade das informações prestadas pelas companhias.
A evolução do número de empresas listadas nos Níveis 1 e 2 de Governança
Corporativa e no Novo Mercado da BOVESPA demonstra a crescente preocupação das
empresas brasileiras em seguirem as boas práticas de Governança Corporativa.
Empresas listadas nesses segmentos possibilitam a ampliação dos direitos societários
dos acionistas minoritários e aumentam a transparência das companhias, por meio da
divulgação de uma maior quantidade de informações de melhor qualidade (self
disclosure), facilitando o monitoramento de seu desempenho pelos investidores.
As organizações modernas são diferentes daquelas idealizadas pela Teoria
Clássica da Firma. Os micro-economistas consideram que a firma, sob uma análise
tradicional dessa teoria, possui apenas um proprietário, sendo esse o único
administrador e, ao mesmo tempo, o principal provedor de fundos. Não existe, nessa
abordagem, segregação entre administração e controle da firma.
WILLIAMSON (1964) e LOPES e MARTINS (2005), colocam que na firma
clássica, dos primeiros estudos em economia, não existiam problemas de informação.
Todos os agentes envolvidos com a empresa tinham acesso ao mesmo conteúdo
informativo sem distinção.
Considerando a Teoria Contratual da Firma, a empresa pode ser entendida como
uma série de contratos entre as diversas partes. Cada participante tem a obrigação de
19
contribuir com algo para a organização, recebendo uma compensação em contrapartida.
Segundo COASE (1937), uma corporação pode ser entendida como um agrupamento de
contratos, concebidos para minimizar os custos contratuais.
YAMEY (1962), apud WATTS e ZIMMERMAN (1986), comenta sobre a
hipótese de que as informações contábeis desempenham um papel de monitoramento do
relacionamento entre principal e agente, estando ligadas ao próprio conceito de
administração de empresas. Tal suposição tem sido usada para explicar a existência da
Contabilidade, colocando a idéia de que a realidade empresarial opera com inúmeras
diferenças informacionais entre gestores e proprietários, e tais distinções estão no cerne
do surgimento da própria Contabilidade.
O trabalho de GEORGE ACKERLOF (2001), ganhador do prêmio Nobel de
economia daquele ano, denominado: “The Market for Lemmons: Quality Uncertainty
and the Market Machanism.”, demonstrou que a assimetria informacional pode
comprometer o volume de negócios realizado no mercado. Trata-se de algo importante
nesse contexto.
É possível que problemas relacionados com a informação possam afetar o
cumprimento dos contratos, levando, conseqüentemente, ao colapso total das atividades
da empresa. O caso recente da empresa norte-americana Enron serve para ilustrar esses
conceitos.
A assimetria de informações é inerente à própria condição de segregação entre
administração e propriedade das firmas. O problema gerado pela assimetria de
informações pode surgir, principalmente, da existência de interesses divergentes entre
investidores e administradores. ACKERLOF (1970), apud HEALY e PALEPU (2001),
coloca que esse fato pode levar a um colapso no funcionamento do mercado de capitais.
É provável que seja no mercado acionário onde o conflito de agência é
potencializado. Pode-se observar que no mercado de capitais a contabilidade
desempenha um papel fundamental no processo de alinhamento informacional entre
agente e principal.
20
Existem pelo menos duas áreas nas quais as diferenças informacionais entre os
gestores e investidores são latentes. A primeira delas está relacionada à proporção que
os administradores possuem informações, que os acionistas não têm, sobre ganhos
futuros da firma. A outra área é relativa às alternativas de fontes de informação sobre
ganhos futuros da empresa, que os acionistas possuem, além daquelas possuídas pelos
administradores, pois aqueles podem ter outras possibilidades como fontes de
informação.
Diversos autores, entre eles SILVEIRA (2004), consideram que, de uma maneira
geral, o desenvolvimento da governança corporativa, assim como de seus mecanismos,
depende do nível de evolução do mercado de capitais de um determinado país ou região
geográfica. Em economias desenvolvidas, há uma pulverização acionária, de tal sorte
que prejudica a relação entre acionistas e gestores, intensificando os conflitos de
interesses existentes entre eles, sendo necessária a existência de mecanismos rígidos de
controle e monitoramento das ações da administração.
O estudo da governança corporativa parte dos problemas de agência,
principalmente relacionados com os conflitos de agência e assimetria informacional
entre principal e agente. Nesse contexto, pode-se considerar que a contabilidade
desempenha um papel muito importante no processo de governança das firmas.
Percebe-se que existe o reconhecimento da importância da utilização de informações
contábeis nos diversos mecanismos de governança e controle das firmas.
É possível a idéia de que as considerações sobre governança em Contabilidade
explorem o papel da informação contábil como uma fonte crível de variáveis que
apóiam a existência de contratos executáveis, como, por exemplo, as compensações dos
executivos com vantagens vinculadas aos resultados obtidos
BUSHMAN e SMITH (2003) consideram a premissa de que sistemas contábeis
representam uma fonte primária de informações efetivas e de baixo custo, relevantes
para a governança das firmas.
Em relação aos elementos influenciadores de uma boa estrutura de governança
corporativa, existe um conjunto de funções básicas. Tais funções estão empenhadas em
21
assegurar o fornecimento de informações confiáveis, e motivar os administradores a
procurarem maximizar o valor da firma. Para que um sistema tenha valor em termos de
governança, é provável que envolva uma escolha complexa entre confiabilidade e
relevância das informações contábeis evidenciadas.
1.2 Formulação do Problema de Pesquisa
Este trabalho preocupa-se com a análise da separação entre controle e
propriedade das firmas, passando pelo aumento da complexidade de suas operações, em
decorrência do próprio desenvolvimento econômico, que acarreta situações de
assimetria de informações entre administradores e acionistas.
Considerando a Contabilidade, bem como o conteúdo informacional e a
relevância da informação contábil no mercado de capitais, e adicionalmente, a geração
de informações úteis aos diversos usuários em um contexto de conflitos de agência e
preocupação com a governança das firmas, surgem alguns questionamentos que
caracterizam o problema de pesquisa:
Os administradores das empresas nacionais de capital aberto, participantes
do Novo Mercado da BOVESPA, consideram a existência de problemas relativos à
assimetria de informações entre principal e agente?
Qual a avaliação que tais administradores fazem da Contabilidade com
relação à possibilidade de redução da assimetria informacional nessas empresas?
As questões acima descritas caracterizam a situação-problema de estudo. Por
meio da realização de uma pesquisa descritiva proposta nos procedimentos
metodológicos deste trabalho, procura-se obter evidências acerca de tais questões.
22
1.3 Suposições de Trabalho
Por meio de uma abrangente realização de leituras e de observações de campo a
respeito do tema em questão, pôde-se chegar, tentativamente, a algumas suposições de
trabalho. Tais suposições serviram mais como direcionadoras para a realização da
pesquisa, e contribuíram com a elaboração de algumas considerações a respeito do
problema ora analisado. Essas suposições de trabalho são:
- Existem problemas de assimetria de informação entre principal e
agente.
- A Contabilidade, considerando seu objeto e objetivo conforme definido
em sua Teoria, funciona como redutora da assimetria informacional
entre administrador e proprietário, nas empresas de capital aberto
brasileiras, participantes do Novo Mercado da BOVESPA.
1.4 Objetivos do trabalho
1.4.1 Objetivo geral
Este trabalho tem como objetivo geral analisar as relações entre a Contabilidade
e a teoria de agência, em suas questões relativas à assimetria informacional entre
principal e agente, nas empresas nacionais de capital aberto que formam o novo
mercado da BOVESPA.
1.4.2 Objetivos específicos
Este estudo possui os seguintes objetivos específicos:
- averiguar as relações entre a Contabilidade e a assimetria de
informações entre administradores (agentes) e proprietários
23
(acionistas) em companhias abertas brasileiras, listadas no Novo
Mercado da BOVESPA;
- analisar o papel da Contabilidade nas relações de agência em empresas
de capital aberto brasileiras, listadas no Novo Mercado da BOVESPA;
- avaliar a percepção dos administradores das empresas nacionais de
capital aberto, listadas no Novo Mercado da BOVESPA, com relação à
importância da Contabilidade para a redução da assimetria
informacional entre principal e agente em tais empresas;
- discutir a Contabilidade e a teoria de agência em empresas brasileiras
de capital aberto, listadas no Novo Mercado da BOVESPA;
- contribuir com a abordagem positiva na pesquisa em Contabilidade no
Brasil.
1.5 Justificativa do tema e demonstração de sua importância
Em 1932, com o trabalho de BERLE e MEANS intitulado: “The Modern
Corporations and Private Property” tiveram início as primeiras investigações sobre as
relações entre as diversas partes nas firmas, que mais tarde originaram a teoria de
agência. A partir de COASE (1937), uma abordagem pioneira da firma e seus diversos
contratos é realizada. Esses estudos foram desenvolvidos, anos mais tarde, por
ALCHIAN e DEMSETZ (1972).
JENSEN e MECKLING (1976), com o trabalho intitulado “Theory of the firm:
Managerial Behavior, Agency Costs and Ownership Structure”, a teoria de agência
passou a ser estudada de forma mais abrangente, pela ênfase dada à separação entre o
controle e a propriedade da firma. Desde então, podem ser encontrados vários trabalhos
internacionais sobre a teoria de agência, e suas relações com a administração, economia,
contabilidade, direito, entre outras áreas.
No Brasil pode-se considerar, baseado na observação de diversos trabalhos, que
a teoria de agência é amplamente estudada e pesquisada no campo da Administração de
Empresas e Finanças. Entre esses trabalhos, destacam-se: EID JÙNIOR (1996), FAMÀ
24
e KAYO (1997), KIMURA, LITZ e SUEN (1998), FAMÀ e GRAVA (2000), FAMÀ
BARROS e DiMICELLI (2001), SILVEIRA (2002), OKIMURA (2003) e SILVEIRA
(2004).
No entanto, pesquisas e estudos relacionando a Teoria de Agência e a
Contabilidade ainda são incipientes e, possivelmente, contam com bibliografia restrita
no Brasil.
A importância deste trabalho reside no fato de realizar uma pesquisa descritiva,
buscando a ligação entre a Contabilidade e a teoria de agência, mais especificamente na
questão da assimetria informacional e seus impactos para as empresas de capital aberto
brasileiras, que compõem o Novo Mercado da BOVESPA.
É relevante ressaltar que, adicionalmente, se busca a contribuição com o
desenvolvimento da abordagem positiva na pesquisa em Contabilidade no Brasil, algo
que tem muito a ser analisado.
Outro aspecto importante deste trabalho é a proposta para um melhor
entendimento da importância da Contabilidade nas relações entre investidores/acionistas
(principal) e administradores (agente) e seus problemas de assimetria informacional,
representando um esforço no sentido de satisfação das necessidades dos usuários
quanto às informações contábeis.
Isso também pode ser considerado relevante para a Contabilidade, pois, segundo
afirmam LOPES e MARTINS (2005) sobre a Teoria Sociológica das Profissões, para
que a contabilidade atinja um maior grau de importância, é necessário que se preocupe
verdadeiramente com os usuários de suas informações, procurando responder a
perguntas como: Quem são? Onde vivem? O que realmente necessitam?
Adicionalmente, como pode ser observado em LOPES (2002), existe um
conjunto de evidências levantadas por Beaver (1968), que indicam que a contabilidade é
relevante para investidores de mercado de capitais e que o mercado é eficiente com
respeito à informação contábil.
25
O autor complementa, ainda, que apesar de essas constatações serem muito
comuns e representarem o “mainstream” (primeira linha) da pesquisa em contabilidade
financeira, internacionalmente pouca ou nenhuma pesquisa empírica tem sido feita para
verificar tal comportamento em mercados menos desenvolvidos e emergentes.
Pode-se constatar que os trabalhos nessa área, em sua maioria, são realizados em
mercados considerados desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos e na
Inglaterra, e evidências a respeito de mercados menos desenvolvidos, especialmente a
América Latina, nela são praticamente inexistentes.
Após a análise dessas informações, é possível considerar que existe uma grande
oportunidade para o desenvolvimento de pesquisas nessa área, em mercados
considerados emergentes. No Brasil, pode ser observado que o mercado de capitais está
se desenvolvendo cada vez mais, especialmente com a criação dos níveis de listagem
diferenciados em relação às exigências complementares, ligadas à governança
corporativa e à divulgação adicional de informações.
1.6 Metodologia da pesquisa
A escolha da metodologia a ser empregada na elaboração de um trabalho
científico depende dos vários fatores relacionados com a pesquisa, uma vez que esses
elementos estão diretamente ligados com a natureza dos fenômenos, com o objeto da
pesquisa e com outros dados que possam surgir no campo da investigação.
1.6.1 Tipologia de Estudo
Os procedimentos metodológicos para a realização deste trabalho
compreenderam as seguintes fases: inicialmente foi realizada uma pesquisa
bibliográfica, que, segundo OLIVEIRA (1997; p. 122), é assim apreciada: “entende-se
por pesquisa bibliográfica o ato de fichar, relacionar, referenciar, ler, arquivar, fazer
resumos de assuntos relacionados com o campo da pesquisa em questão”.
26
Desta maneira, primeiramente, para a caracterização do problema da pesquisa e
elaboração da fundamentação teórica, realizou-se a coleta do material bibliográfico,
estando compreendido em livros, periódicos nacionais e internacionais e teses e
dissertações a respeito do tema. Em seguida, procederam-se leituras e análises de
reconhecimento do material coletado, com o intuito de criar a base teórica para a
fundamentação deste trabalho.
Adicionalmente, foi realizada uma análise das várias abordagens dos autores que
tratam do assunto, explorando os principais aspectos conceituais, com o objetivo de
estabelecer opiniões e argumentos pessoais. Neste ponto, MARTINS (1994; p. 28),
considera que a pesquisa bibliográfica “tem como objetivo recolher, selecionar, analisar
e interpretar as contribuições teóricas já existentes sobre determinado assunto”.
A pesquisa bibliográfica, pertinente a este estudo, compreendeu a leitura de
diversos textos, buscando enfatizar os elementos ligados à assimetria informacional
entre principais e agentes das empresas, bem como almejando a caracterização da
maneira pela qual a Contabilidade está inserida nesse contexto. Também foram objeto
desta pesquisa as questões relativas à teoria de agência, conflitos de agência, custos de
agência e demais assuntos relacionados a essa temática.
Como metodologia adicional, realizou-se ainda uma pesquisa de campo de
caráter descritivo que, segundo OLIVEIRA (1997; p. 124), “consiste na observação dos
fatos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados e no registro de variáveis
presumivelmente para posteriores análises”. Achou-se relevante realizar tal modalidade
de pesquisa de campo com o intuito de buscar mais subsídios para uma melhor reflexão
sobre as questões relacionadas com o problema de pesquisa, possibilitando a verificação
do que ocorre no ambiente empresarial. Outra justificativa para a escolha dessa opção
metodológica foi o interesse pelo desenvolvimento da abordagem positiva na pesquisa
em Contabilidade.
Segundo alguns autores, existem diferenças entre a abordagem normativa e a
positiva. Nas proposições que compõem a abordagem normativa, normalmente procura-
27
se o ideal em relação à norma ou regulamentação; enquanto que na abordagem positiva,
procura-se entender o que realmente ocorre com os diversos agentes econômicos.
1.6.2 Delimitação do universo amostral
O universo amostral, utilizado no processo de investigação para a realização
deste trabalho, compreendeu as empresas listadas no Novo Mercado da BOVESPA, que
em outubro de 2006 representava o total de trinta e seis companhias.
Escolheu-se, intencionalmente, as empresas listadas nesse segmento especial da
BOVESPA, por representarem companhias com nível diferenciado de governança
corporativa, na tentativa de buscar reflexões sobre a Contabilidade no contexto de
assimetria de informações, sob a ótica dos agentes nessas organizações. Na ocasião da
realização da pesquisa de campo, o universo amostral pesquisado conteve as empresas
listadas no quadro abaixo.
QUADRO 1 –Relação de empresas listadas no Novo Mercado em
outubro de 2006
Razão Social Nome de pregão
ABYARA PLANEJAMENTO IMOBILIÁRIO S.A. ABYARA
AMERICAN BANKNOTE S.A. ABNOTE
BANCO BRASIL S.A. BRASIL
BANCO NOSSA CAIXA S.A. NOSSA CAIXA
BRASILAGRO - CIA BRAS DE PROP AGRÍCOLAS BRASILAGRO
CIA CONCESSOES RODOVIÁRIAS CCR RODOVIAS
CIA SANEAMENTO BÁSICO EST SÃO PAULO SABESP
CIA SANEAMENTO DE MINAS GERAIS-COPASA MG COPASA
COMPANY S.A. COMPANY
COSAN S.A. INDÚSTRIA E COMÉRCIO COSAN
CPFL ENERGIA S.A. CPFL ENERGIA
CSU CARDSYSTEM S.A. CSU CARDSYST
CYRELA BRAZIL REALTY S.A.EMPREEND E PART CYRELA REALT
DATASUL S.A. DATASUL
DIAGNÓSTICOS DA AMÉRICA S.A. DASA
28
EDP - ENERGIAS DO BRASIL S.A. ENERGIAS BR
EMBRAER-EMPRESA BRAS DE AERONÁUTICA S.A. EMBRAER
ETERNIT S.A. ETERNIT
GAFISA S.A. GAFISA
GRENDENE S.A. GRENDENE
KLABIN SEGALL S.A. KLABINSEGALL
LIGHT S.A. LIGHT S/A
LOCALIZA RENT A CAR S.A. LOCALIZA
LOJAS RENNER S.A. LOJAS RENNER
LUPATECH S.A. LUPATECH
MEDIAL SAUDE S.A. MEDIAL SAUDE
MMX MINERACAO E METÁLICOS S.A. MMX MINER
NATURA COSMÉTICOS S.A. NATURA
OBRASCON HUARTE LAIN BRASIL S.A. OHL BRASIL
PERDIGÃO S.A. PERDIGAO S/A
PORTO SEGURO S.A. PORTO SEGURO
RENAR MACAS S.A. RENAR
ROSSI RESIDENCIAL S.A. ROSSI RESID
SUBMARINO S.A. SUBMARINO
TOTVS S.A. TOTVS
TRACTEBEL ENERGIA S.A. TRACTEBEL
Quadro das empresas listadas no Novo Mercado da BOVESPA, objeto de pesquisa. Fonte: www.bovespa.com.br – acessado em 08
de Outubro de 2006 às 12h17min horas.
Com o objetivo de apresentar uma idéia do tamanho das empresas analisadas, a
tabela a seguir contém informações da média do valor do Patrimônio Líquido de tais
entidades participantes da pesquisa descritiva, bem como das empresas que retornaram
o questionário.
A tabela evidencia que o valor médio do Patrimônio Líquido das empresas que
retornaram o questionário é superior ao valor médio do total das entidades listadas no
Novo Mercado da BOVESPA. Isso pode ser importante para o resultado da pesquisa,
uma vez que existe representatividade do total da amostra, em termos de relevância do
valor do Patrimônio Líquido.
29
TABELA 1 – Valor do Patrimônio Líquido das empresas do Novo Mercado
Em milhares de reais Março
2007
Junho
2007
Valor médio do
Patrimônio Líquido das
empresas listadas no Novo
Mercado da BOVESPA
em Outubro 2006 (total de
36)
2.132.884 2.216.688
Valor médio do
Patrimônio Líquido das
empresas que retornaram
o questionário respondido
(total de 19)
2.659.985 2.706.407
Quadro representativo do valor do Patrimônio Líquido total das empresas listadas no Novo Mercado da BOVESPA, objeto de
pesquisa. Fonte:
www.bovespa.com.br – acessado em 17 de Outubro de 2007
Foi enviado, por meio de correio eletrônico, questionário para cada uma das
empresas listadas no novo mercado da BOVESPA, em 16 de outubro de 2006.
De um total de trinta e seis questiorios remetidos, dezenove respostas foram
obtidas até 31 de dezembro de 2006, prazo final para a pesquisa de campo, de acordo
com cronograma de trabalho. Isso representa um percentual de respostas obtidas de
53%. O gráfico abaixo ilustra o processo de envio e recebimento dos instrumentos de
coleta de dados.
GRÁFICO 1 – Evolução do recebimento dos questionários de pesquisa
Gráfico da evolução do recebimento dos questionários de pesquisa de campo. Fonte: O autor.
Evolão do recebimento dos questiorios de pesquisa de campo
36
8
13
19
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Questionários enviados em
16/10/06.
Recebidos até Outubro de 2006 Recebidos até Novembro de
2006
Recebidos até Dezembro de
2006
Período
53% do total de
questionários
enviados.
30
1.7 Instrumento de coleta de dados
O instrumento de coleta de dados utilizado para a realização da pesquisa foi o
questionário. Com respeito à intensa rotina de trabalho do público-alvo para a resposta e
retorno do questionário, procurou-se desenvolver um instrumento conciso e objetivo. O
questionário utilizado possuía quatro questões: a primeira delas solicitava a resposta
“sim” ou “não”, de acordo com a opinião do respondente sobre sua percepção com
relação à existência de assimetria de informações entre a administração profissional e os
acionistas.
Na segunda questão, o participante encontrava cinco afirmações, para as quais
ele deveria responder de acordo com seu grau de concordância, seguindo o método de
escalonamento Likert, sendo 1 para o “discordo plenamente” e 4 para o “concordo
plenamente”. As afirmações contidas na segunda questão eram relacionadas ao papel da
Contabilidade na possível redução da assimetria de informações entre gestores e
acionistas.
A terceira questão procurava saber do respondente sua opinião com relação ao
grau de relevância de alguns indicadores contábeis no processo de informação do
desempenho econômico da empresa aos acionistas; para isso, era oferecida uma lista
pré-determinada com dez opções.
A quarta questão tinha o objetivo de verificar a opinião do participante sobre o
grau de importância das Demonstrações Contábeis, constantes do relatório anual, para
informação ao acionista.
Após a coleta dos dados obtidos por meio do questionário, realizou-se a sua
compilação, com o intuito de produzir informações úteis que pudessem levar a algumas
considerações sobre o papel da Contabilidade no problema de assimetria informacional
em empresas brasileiras de capital aberto, participantes do novo mercado da
BOVESPA.
31
A compilação dos dados se deu de forma simplificada, não tendo sido aplicada
nenhuma técnica sofisticada de estatística. Inicialmente, na primeira questão somou-se o
total de respostas “sim” e o total de respostas “não”, obtendo-se o percentual em relação
ao total para definir a representatividade em relação à maioria de respostas.
Na segunda questão, realizou-se a soma, em cada afirmação, das respostas
obtidas em cada escala. Em seguida calculou-se o percentual de cada nível em relação
ao total. Dessa forma, obteve-se o escalonamento do mais importante nível de
concordância com as afirmações.
O resultado da terceira questão foi obtido por meio da apuração, por contagem
simples, das vezes em que cada indicador contábil foi indicado como sendo o mais
relevante no processo de informação do desempenho econômico da empresa ao
acionista.
Foi realizada uma distribuição de freqüência simples para obter o resultado da
quarta questão, com relação à classificação das demonstrações contábeis em relação ao
grau de importância para o processo de informação aos acionistas.
1.8 Limitações da Pesquisa
Em busca de um alinhamento com a situação-problema deste trabalho, um maior
enfoque foi dado à opinião dos agentes. Inicialmente, com o propósito de averiguar qual
a avaliação dos administradores em relação à existência de problemas relativos à
assimetria de informações entre principal e agente e, em seguida, qual a percepção
desses administradores em relação à Contabilidade nesse contexto. Foi analisada neste
trabalho a visão dos representantes dos departamentos de relação com investidores (RI)
das empresas pertencentes ao novo mercado da BOVESPA, portanto representando a
visão dos agentes.
32
Para a realização de um trabalho possivelmente mais completo, seria necessária
a inclusão da análise do ponto de vista dos acionistas, como forma de verificar o outro
lado da relação de agência, ou seja, a visão do principal nesse contexto. No entanto,
entende-se que tal proposta poderia ser de difícil realização, pois não é simples a
identificação de todos os acionistas das empresas em questão.
A pesquisa também pode ter sido afetada pelo fato de que o número de empresas
listadas no novo mercado da BOVESPA aumentou de trinta e seis, em novembro de
2006, época da realização da pesquisa de campo, para noventa, em dezembro de 2007,
período da finalização deste trabalho.
O fato de o número de firmas listadas neste segmento diferenciado de
governança corporativa ter aumentado muito nesse período pode ser explicado pela
confiança de tais empresas nesse segmento de listagem, assim como a idéia de que a
adesão às práticas diferenciadas de governança corporativa pelas empresas pode levar
ao aumento da geração de valor para os acionistas, por meio de uma maior transparência
nas informações prestadas aos interessados externos.
Nesse contexto, pode-se verificar que a idéia de realização de tal estudo, nesse
segmento do mercado de capitais brasileiro, foi pertinente, porém carecedor de
atualização em futuro próximo.
Outra limitação desta pesquisa é a ausência da aplicação de técnicas sofisticadas
de estatística para o desenvolvimento de verificações ou de conclusões acerca da
situação-problema, como, por exemplo, o estudo de eventos.
1.9 Estrutura do Trabalho
Com o objetivo de buscar uma melhor organização do trabalho, este se encontra
dividido em capítulos. No primeiro capítulo estão dispostos a formulação do problema
de pesquisa, as suposições de trabalho, os objetivos, a justificativa e a metodologia de
trabalho.
33
O segundo capítulo é o da fundamentação teórica. Nele encontram-se
considerações sobre a estrutura da propriedade, com enfoque na separação entre
controle e propriedade das firmas, adicionalmente aspectos conceituais sobre a Teoria
de Agência e os custos de agência. Outras considerações sobre a assimetria de
informações, a relevância da informação contábil, enfatizando a abordagem da
informação. Na penúltima seção do capítulo dois, abordam-se o regime de competência
e a informação contábil, incluindo os aspectos conceituais dos accruals e a teoria
contratual da firma e sua relação com o regime de competência. A última seção deste
capítulo trata da contabilidade com a governança corporativa.
O terceiro capítulo discorre sobre a pesquisa descritiva realizada neste trabalho,
objetivando a apresentação e discussão dos resultados obtidos após a análise da
compilação das respostas obtidas.
O quarto capítulo contém as considerações finais do trabalho.
As referências bibliográficas estão contidas no quinto capítulo, e no sexto, os
apêndices.
34
2 Fundamentação teórica
2.1 Estrutura de Propriedade: Considerações sobre a
Separação entre Controle e Propriedade das Firmas
O problema central relacionado à estrutura de propriedade e de controle das
firmas foi citado inicialmente por ADAM SMITH em 1776, apud OKIMURA (2003),
com o trabalho intitulado “The Wealth of Nations” (A Riqueza das Nações). Esse
trabalho aponta a idéia da negligência e do esbanjamento com que os administradores
agiriam quando estivessem administrando o dinheiro dos outros, mas não o de si
próprios.
É clara a preocupação de ADAM SMITH com a separação entre controle e
propriedade das firmas já naquela época, porém, em seu trabalho, não são apresentadas
evidências empíricas sobre o grau de veracidade da sua proposição. É possível que a
razão dessa ausência de evidências seja o fato de que, antes da Revolução Industrial, as
empresas, em sua maioria, eram de pequeno porte, tendo sua propriedade e controle
concentrados nas mãos de indivíduos ou famílias (Teoria Clássica). A Companhia das
Índias Orientais, nessa época, constituía uma exceção por caracterizar uma firma de
grande porte, com propriedade dispersa.
Cerca de um século e meio depois, novos estudos foram realizados, em que eram
tratados os aspectos da segregação entre propriedade e controle das firmas. Entre esses
trabalhos, destaca-se o de BERLE e MEANS (1932), no qual se inicia, possivelmente, o
delineamento do que seriam os mecanismos de governança corporativa, em evidência
atualmente. O paradigma central sobre a teoria econômica das firmas é descrito nesse
trabalho como sendo a separação entre propriedade e controle nas empresas. Segundo
BERLE e MEANS (1932, p. 6), apud OKIMURA, (2003, p. 11):
The separation of ownership from control produces a condition
where the interests of owner and of ultimate manager may, and
35
often do, diverge, and where many of the checks which formerly
operated to limit the usage of power disappear…
In creating these new relationships, the quasi-public
corporation may fairly be said to work a revolution. It… has
divided ownership into nominal ownership and the power
formerly joined to it. Thereby the corporation has changed the
nature of profit-seeking enterprise.
1
Os acionistas, proprietários dos ativos das firmas, possivelmente, sofrem perdas
de controle sobre a utilização dos seus recursos devido, principalmente, à dispersão da
propriedade da empresa. O nível tecnológico, desde aquela época, é apontado por
BERLE e MEANS (1932) como o que fazia com que as firmas fossem tão grandes, a
ponto de não poderem se manter nas mãos de apenas um único proprietário e, dessa
forma, serem controladas por uma única família ou indivíduo.
Conseqüentemente, devido à riqueza escassa e limitada, a propriedade das
firmas encontrava-se pulverizada, o que, possivelmente, gerava um aumento da força e
do incentivo aos administradores para agir em seus próprios interesses, não mais no
melhor dos interesses dos acionistas. (OKIMURA, 2003).
É possível que se concebesse, então, o que estudos posteriores denominaram de
conflitos de agência, sendo o ponto central de estudo da Teoria de Agência.
2.1.1 Aspectos Conceituais da Teoria de Agência
Os pensamentos contemporâneos sobre a separação entre propriedade e controle
nas corporações tiveram seu início em 1932, com o trabalho de ADOLF BERLE e
GARDINER MEANS.
1
Tradução livre: A separação entre propriedade e controle cria uma condição em que os interesses do
proprietário e do administrador podem, com freqüência, divergir, e dessa forma os mecanismos que
anteriormente existiam para limitar o abuso de poder desaparecem... Com a criação dessa nova relação,
pode-se dizer que a empresa aberta passa por uma revolução... a divisão da propriedade em propriedade
formal e poder associado à ela. Dessa maneira, a natureza do objetivo corporativo de busca da
maximização do lucro é alterada.
36
Segundo BERLE (1965, p. 25):
Em 1932 uma tese foi apresentada por mim e GARDINER C.
MEANS, que o crescimento e funcionamento das grandes
corporações introduziram certos elementos não considerados
adequadamente pela teoria econômica clássica. Um dos
elementos foi a mudança da função administrativa, saindo das
mãos dos empreendedores capitalistas para as mãos de
administradores profissionais. Um outro elemento importante
era a inevitável alteração na posição dos acionistas
(shareholders), mudando a lógica tradicional do patrimônio em
relação a propriedade dessas corporações. Como a tendência era
continuar, essa mudança da função administrativa teria cada vez
mais um maior efeito nas organizações. Essa crescente
mudança na estrutura de propriedade provavelmente originou
os pensamentos iniciais sobre as relações de agência.
Observa-se que entre os primeiros estudos formais sobre a Teoria de Agência
estão os de SPENCE e ZECKHAUSER (1971) e ROSS (1973). Nesses trabalhos, são
discutidos aspectos da estrutura de remuneração dos gestores (agentes), objetivando o
alinhamento dos seus interesses com os dos acionistas ou proprietários (principal).
Pode-se considerar que a Teoria de Agência, que trata dos conflitos e custos de
agência, começou a ser desenvolvida e estudada com maior ênfase depois do trabalho de
JENSEN e MECKLING, datado de 1976.
JENSEN e MECKLING (1976, p. 308) definem a relação de agência da seguinte
maneira:
Nós definimos um relacionamento de agência como um
contrato pelo qual uma ou mais pessoas (o principal) contratam
outra pessoa (o agente) para executar algum serviço em favor
deles e que envolva delegar, ao agente, alguma autoridade para
tomada de decisão. Se ambas as partes do relacionamento são
37
maximizadoras de utilidade, existe boa razão para acreditar que
o agente nem sempre agirá pelos melhores interesses do
principal.
Dessa forma, a relação de agência tem como início a delegação de poderes por
parte do principal para o agente, esperando que este venha sempre a agir de acordo com
o melhor interesse do principal. Levando-se em consideração a última frase da definição
citada, pode-se perceber que é possível haver conflitos nessa relação de agência,
problema que nasce da presença de interesses divergentes entre o principal e o agente.
De acordo com JENSEN e MECKLING (1994), a natureza humana não permite
que o indivíduo seja um agente perfeito, o que quer dizer que o comportamento humano
está condicionado a um conjunto de preferências individuais, chamadas de unicidade
humana, e que, dessa forma, sempre haverá divergências entre a ação do agente e o
desejo inicial do principal. As funções de utilidade do agente e principal são diferentes,
mas inter-relacionadas, dado que o principal pode limitar as divergências dos seus
interesses por meio do estabelecimento de incentivos apropriados ao agente, incorrendo
em custos ou despesas de monitoramento, com o intuito de limitar os comportamentos
ou atividades indesejadas por parte do agente.
FAMÁ e KAYO (1997) tentam dar uma nova abordagem aos trabalhos até então
existentes sobre relacionamentos de agência. Eles acrescentaram alguns aspectos
comportamentais, relativos à administração, e introduziram uma nova visão sobre a
estrutura de capital, que chamaram de teoria de estrutura da propriedade (ownership
structure). De acordo com essa teoria, as decisões de financiamento são afetadas pela
porção de propriedade nas mãos da administração (insiders) e investidores que não
participam da administração da empresa (outsiders). Dessa forma, os custos de agência
nasceriam da separação entre administração e propriedade.
De uma maneira geral, pode-se observar que as relações de agência estão
presentes em diversas situações do cotidiano, conforme demonstra a figura a seguir.
38
FIGURA 1 – Exemplos de relações de agência
PRINCIPAL AGENTE
delega poderes
assume poderes, tomada de decisão e
ações
DONO DO IMÓVEL CORRETOR DE IMÓVEL
EMPREGADOR EMPREGADO
MEMBRO DO GRUPO MEMBRO DO GRUPO
INVESTIDOR EM FUNDO ADMINISTRADOR DE FUNDO
delega poder para gerenciar recursos
delega poder para desempenhar atividades
delega poder para desempenhar atividades
RELAÇÕES DE AGÊNCIA
delega poder de busca de comprador
Adaptado de: KIMURA, Herbert; LINTZ, Alexandre Carlos e SUEN, Alberto Sanyuan. Uma
contribuição da teoria de opções para a avaliação dos custos máximos de agência. Caderno de
Pesquisas em Administração – USP, São Paulo, V.1, n. 6, p. 20-31, jan/mar, 1998.
Baseado na figura fica demonstrado que quando o proprietário de um imóvel
contrata um corretor, com o objetivo de que este execute a venda de sua propriedade,
inicia-se uma relação de agência. O principal, neste caso o proprietário, delega poderes
para que o agente, o corretor de imóveis, realize a venda do seu bem.
Muitas podem ser as razões que levaram o dono (principal) a procurar um
corretor (agente) para que agisse em seu poder: entre elas, em princípio, uma relação de
agência pode exprimir uma busca de eficiência, na qual o principal, por não dispor de
tempo, capacitação ou competência, entre outros, delega a tarefa ao agente, visando a
que este gerencie os recursos e execute a atividade da melhor maneira possível.
Porém, segundo a idéia de JENSEN e MECKLING (1976), se tanto o principal
quanto o agente tem como objetivo a maximização da sua própria utilidade, existe boa
razão para se acreditar que o agente nem sempre estará disposto a agir de acordo com os
melhores interesses do principal. Surgem, então, os chamados conflitos de agência, os
quais podem fazer com que o principal tenha de incorrer em custos adicionais, na
tentativa de minimizar seus efeitos sobre sua propriedade.
Segundo BUSHMAN e SMITH (2003), existe uma grande quantidade de forças
naturais de mercado que ajuda a disciplinar os administradores para agirem de acordo
com o interesse dos proprietários da firma. Eles complementam que tais forças incluem
39
a competição no mercado (ALCHIAN, 1950 e STIGLER, 1958), o controle corporativo
(MANNE, 1965) e as pressões do mercado de trabalho (FAMA, 1980).
No entanto, apesar da existência dessas poderosas forças disciplinadoras, ainda
resta uma importante demanda residual pelos mecanismos de governança, adaptados às
circunstâncias específicas de cada firma. Adicionalmente, é possível que o principal não
consiga se livrar totalmente de eventuais incrementos nos custos de agência.
De acordo com IUDÍCIBUS e LOPES (2004), verifica-se que os interesses dos
acionistas são bem diferentes daqueles dos administradores da firma e das outras classes
de participantes nos diversos contratos que regem a empresa. Cada grupo de
interessados na firma possui uma classe distinta de aspirações, razão por que esses
grupos demandarão contratos distintos e com características diversas.
Segundo SUNDER (1997), as principais características dos interesses do grupo
dos acionistas são as seguintes:
- os acionistas são comprometidos com a empresa antecipadamente, uma
vez que eles fornecem os recursos muito antes de existir uma
perspectiva de recebimento dos recursos;
- o interesse dos acionistas na empresa é residual, ou seja, eles são os
últimos na prioridade de recebimento;
- seus direitos são transferíveis em um mercado líquido para os títulos
que possuem;
- os acionistas podem escolher os administradores e os auditores e, em
última instância, dissolver a organização.
A relação e conflitos de agência tratados neste trabalho são os existentes entre os
acionistas (principal) e os administradores profissionais (agente), no contexto de que os
acionistas decidem investir recursos em uma determinada empresa, por meio da
aquisição de suas ações, com o objetivo precípuo de obter o maior retorno possível. Tal
empresa é gerida pelo agente, que por estar mais próximo à operação da firma, pode
deter mais informações, ou informações adicionais, sobre a entidade em comparação
com as informações conhecidas pelos acionistas. Surge, nesse momento, uma situação
40
de assimetria de informações entre o principal e o agente. Pelos motivos de assimetria
informacional e existência de interesses divergentes entre agente e principal, é possível
que estes tenham de incorrer em custos adicionais, conhecidos como os custos de
agência.
2.1.2 Aspectos Conceituais dos Custos de Agência
Existem várias situações em que o principal terá de incorrer em gastos
(pecuniários ou não-pecuniários) com o agente, com o intuito de tentar garantir que este
não venha a agir de forma a prejudicá-lo, ou procurar assegurar uma compensação caso
o agente tome certas ações maléficas ao principal. De uma maneira geral, esses gastos
ou, em alguns casos, essa diminuição de ganho, podem ser entendidos como custos de
agência.
JENSEN e MECKLING (1976) colocam que é praticamente impossível, a custo
zero, o principal garantir que o agente tome sempre as melhores decisões, de acordo
com seus melhores interesses. Nesse sentido, os autores complementam e definem os
custos de agência como sendo a soma de: 1) custos de monitoramento incorridos pelo
principal; 2) custos de certificação de comprometimento incorridos pelo agente; 3)
perda residual.
Pode-se considerar que a realização de auditoria representa uma ação geradora
de custos de agência, possivelmente na modalidade de custos de monitoramento.
FRANCO e MARRA (2000) procuram demonstrar a importância da auditoria contábil,
e esses autores comentam que a Contabilidade, por meio de técnicas próprias, estuda e
controla o patrimônio, com a finalidade de demonstrar e fornecer informações sobre sua
estrutura e sua composição, bem como sobre suas variações quantitativas e qualitativas.
Eles afirmam que a auditoria contábil é a técnica utilizada para avaliar essas
informações, constituindo, assim, complemento indispensável para que a Contabilidade
atinja plenamente sua finalidade. Esses autores afirmam, ainda, que a auditoria contábil
pode ser externa, quando realizada por profissional liberal, auditor independente, sem
vínculo de emprego com a entidade auditada, ou interna, quando exercida por
41
funcionário da própria empresa, em caráter permanente. Apesar de seu vínculo à
empresa, o auditor interno deve exercer sua função com absoluta independência
profissional. (FRANCO e MARRA, 2000).
KIMURA, LINTZ e SUEN (1998, p. 23) complementam as idéias citadas,
afirmando que:
i. Custos de monitoramento significam que, o principal, visando
evitar atitudes que comprometam sua utilidade, pode realizar
auditorias, exigir relatórios internos, realizar visitas periódicas,
entre outras, mecanismos esses de controle que representam
custos ao principal.
ii. Custos de certificação de comprometimento significam que o
agente pode contratar uma empresa de avaliação externa ou uma
auditoria, ou aceita restrições contratuais, com o objetivo de
mostrar que suas ações e intenções não são prejudiciais ao
principal.
iii. Perdas residuais significam que, mesmo que sejam realizados
gastos otimizados de recursos para monitoramento e certificação
de comprometimento, ainda existem divergências entre as
decisões do agente e as decisões que maximizariam a utilidade do
principal. A perda de valor incorrida pelo principal, devido a
essas divergências, denomina-se perda residual.
Retornando ao exemplo da contratação do corretor pelo dono do imóvel, do
quadro adaptado de KIMURA, LINTZ e SUEN (1998), caso queira este tentar garantir
que o agente (nessa relação de agência, o corretor) se esforce para efetuar a venda pelo
valor mais alto possível, o proprietário terá de pagar comissão sobre o valor de venda do
imóvel. Quanto maior a comissão, maior o custo de agência, caso em que a
possibilidade de custo de certificação de comprometimento está enquadrada.
Caso o proprietário opte por não pagar comissão, é possível que o corretor não
se empenhe como poderia para maximizar o valor da venda. Nesse caso, menor valor de
42
venda do que poderia ser obtido gera custo de agência, que é possível ser considerado
como perdas residuais.
Em se tratando de uma empresa, por exemplo, os acionistas contratam
administradores e a eles delegam a tarefa de maximização do valor do seu investimento.
Acontece, entretanto, que os administradores profissionais não assumem essa missão
simplesmente para defender os interesses de terceiros, mas sim para atender aos seus
próprios.
Embora essa contratação busque uma identidade entre esses interesses, em
alguns casos divergentes, remunerando os administradores de acordo com seu sucesso
em preservar os interesses dos acionistas, essa contratação nunca é perfeita. Assim,
certamente poderão surgir decisões que não atendam aos melhores interesses dos
acionistas, podendo provocar eventuais reduções no valor do investimento, diminuição
essa, para o acionista, que também pode ser entendida como custo de agência. (FAMÁ e
GRAVA, 2000). Assim sendo, levando em consideração os custos das relações de
agência, pode-se dizer que ao principal destina-se o maior lucro possível, e não o lucro
máximo.
JENSEN e MECKLING (1976) colocam a idéia de custos de agência do capital
próprio. Segundo os autores, supõe-se que o administrador-proprietário, sendo ele o
único acionista, procure sempre maximizar sua utilidade, nesse caso a riqueza da
empresa, ou seja, a sua própria. Dessa maneira, ele consegue cumprir o principal
objetivo do administrador, que é o de maximizar o valor para o acionista, nesse caso, o
dele mesmo. De acordo com ROSS, WESTERFIELD e JAFFE (2002, p. 353):
Um indivíduo trabalhará mais arduamente para uma empresa se
ele for um de seus proprietários, do que se for apenas um
empregado. Além disso, o indivíduo trabalhará mais
arduamente se possuir uma participação elevada na empresa, do
que se essa participação for pequena.
Suponha-se, agora, que o administrador-proprietário resolva vender parte de sua
empresa para acionistas externos, de maneira que estes tenham os mesmos direitos que
43
o sócio, ou seja, que os lucros sejam proporcionais e que as responsabilidades sejam
limitadas. JENSEN e MECKLING (1976) deixam claro que, como os lucros são
limitados à sua participação na empresa, o administrador-proprietário sofre tentação de
buscar outras formas de aumentar sua riqueza pessoal. Isso se dá por meio do consumo
de mordomias, como, por exemplo, motoristas particulares, salas amplas, entre outras
regalias. À medida que a participação do administrador-proprietário diminui, maior a
tendência a esse comportamento, aumentando o conflito de interesses entre as partes.
(FAMÁ e KAYO, 1997).
No entanto, os custos de agência do capital próprio, relativos ao conflito entre
acionistas e administradores, não se limitam ao consumo de mordomias, pois ainda
existe a questão da negligência na administração. Segundo ROSS, WESTERFIELD e
JAFFE (2002), com a diminuição substancial da sua participação no capital próprio,
será possível uma forte redução da intensidade de dedicação do administrador-
proprietário para com a empresa. JENSEN e MECKLING (1976), tamm colocam que
o fato mais relevante diz respeito à falta de incentivo em devotar significativos esforços
para atividades criativas, sendo estas as geradoras ou garantidoras de lucratividade.
Segundo JENSEN (1986, p. 323):
Os custos de agência do capital próprio guardam estreita
relação com o fluxo de caixa livre. Fluxo de caixa livre é o
fluxo de caixa excedente após o financiamento de todos os
projetos que apresentam valor presente líquido (VPL) positivo.
Quanto maior for o fluxo de caixa livre, maiores serão os riscos de
comportamentos negligentes e de consumo excessivo de mordomias praticado pelos
administradores. Surge, então, a alternativa de redução do fluxo de caixa livre, como
tentativa de diminuição dos custos de agência do capital próprio. Uma possibilidade,
defendida por JENSEN (1986), seria o uso de dívidas para reduzir o fluxo de caixa
livre, fazendo com que os desperdícios por parte dos administradores diminuíssem.
Esses desperdícios podem ser entendidos como negligências, mordomias e maus
investimentos.
44
É importante ponderar que o aumento do nível de endividamento, ou o uso de
dívidas para reduzir os custos de agência do capital próprio, pode levar a empresa a ter
de enfrentar outro tipo de custo de agência, o chamado custo de agência das dívidas.
Esses custos representam um limitador do endividamento e estão relacionados às
estratégias egoístas adotadas pelos acionistas, que podem reduzir o valor de mercado da
firma. (FAMÁ e KAYO, 1997).
Em relação aos custos de agência das dívidas, ROSS, WESTERFIELD e JAFFE
(2002, p. 347), colocam que:
Quando uma empresa usa capital de terceiros, surgem conflitos
de interesse entre os acionistas e credores. Por causa disso, os
acionistas são tentados a adotar estratégias egoístas. Tais
conflitos de interesse, que são acentuados quando a situação é
de dificuldade financeira, impõem custos de agência à empresa.
Descrevemos três tipos de estratégias egoístas que os acionistas
utilizam para prejudicar os credores e beneficiar a si próprios.
Essas estratégias acarretam custos porque reduzem o valor de
mercado da empresa como um todo.
De acordo com esses autores citados, as três estratégias egoístas são: a)
incentivo a assumir riscos elevados; b) incentivo ao sub-investimento; c) esvaziamento
da propriedade.
A estratégia egoísta de incentivo a assumir riscos elevados traz a idéia de que o
administrador leva em consideração apenas o retorno nas situações de decisão de
projetos de investimentos, sem considerar os riscos, mesmo que esses sejam maiores do
que os aceitáveis. A idéia que leva a essa estratégia é que se o projeto der certo, os
administradores levam a maior parte dos ganhos, mas se não vingar, os credores
assumem a maior parte dos custos.
A segunda estratégia egoísta de incentivo ao sub-investimento parte do princípio
de que os acionistas, prevendo uma situação de falência, reduzem seus investimentos na
45
empresa. Isso se deve ao fato de acreditarem que novos investimentos beneficiam os
credores, pois valorizam os bens que seriam tomados na hipótese de falência.
A estratégia de esvaziamento de propriedade está ligada ao pagamento de
dividendos além do necessário, fazendo com que sobrem menos ativos para os credores,
no caso de falência. Essas estratégias egoístas podem levar a uma diminuição do valor
da empresa, ou da riqueza dos acionistas, representando, assim, custos de agência.
(ROSS, WESTERFIELD e JAFFE, 2002)
2.2 Considerações sobre a Assimetria de informações
É possível verificar que as organizações modernas são bem diferentes daquelas
idealizadas pela Teoria Clássica da Firma. Os micro-economistas consideram que a
firma, sob uma análise tradicional dessa teoria, possui apenas um proprietário, sendo
esse o único administrador e, ao mesmo tempo, o principal provedor de fundos. Não
existe, nessa abordagem, segregação entre administração e controle da firma, e é
possível que esse tipo de empresa não sofra dos mesmos problemas que as organizações
reais.
WILLIAMSON (1964) e LOPES e MARTINS (2005) comentam que, na firma
clássica dos primeiros estudos em economia, não existiam problemas de informação.
Todos os agentes envolvidos com a empresa tinham acesso ao mesmo conteúdo
informativo sem distinção. Nessa visão idealizada da firma, a obtenção de informação
ocorre sem custos adicionais.
Em 1932, o trabalho desenvolvido por ADOLPH BERLE e GARDINER
MEANS intitulado: “The Modern Corporation and Private Property” (A Corporação
Moderna e a Propriedade Privada) apresentou a tese de que o crescimento e
funcionamento das grandes corporações introduziram certos elementos que não eram
adequadamente levados em consideração pela Teoria Econômica Clássica. Parte desses
elementos pode ser considerada como a idéia da segregação entre administração e
controle da firma.
46
Considerando a Teoria Contratual da Firma, a empresa pode ser entendida como
uma série de contratos entre as diversas partes. Cada participante tem a obrigação de
contribuir com algo para a organização, recebendo uma compensação em contrapartida.
Por exemplo, os empregados fornecem sua força de trabalho e recebem salário em troca,
os acionistas provêem capital e por isso recebem dividendos ou ganhos de capital.
Segundo COASE (1937), uma corporação pode ser entendida como um agrupamento de
contratos, concebidos para minimizar os custos contratuais.
Nesse sentido, as organizações reais, ou as firmas contemporâneas, são
marcadas pela separação entre a administração e a estrutura de propriedade. Por esse
motivo, os administradores são pessoas totalmente distintas dos fornecedores de capital,
ou acionistas, constituindo uma relação de agência, sendo possível que cada uma das
partes tenha interesses divergentes, procurando maximizar sua própria utilidade
(JENSEN e MECKLING, 1976).
Tais firmas contemporâneas, caracterizadas por essa separação entre
administração e propriedade, segundo IUDÍCIBUS e LOPES (2004), possuem conflitos
de agência e assimetria informacional. Os conflitos de agência são aqueles que surgem
devido à existência de interesses divergentes entre principal e agente na relação de
agência. Dentro dessa visão, o acionista deve-se cercar do maior número possível de
instrumentos para evitar que seja expropriado pelo administrador, expropriação essa que
se pode dar pelo roubo dos ativos da firma ou por formas mais rebuscadas.
Como pode ser observado em NOSSA, et al. (2000), diversas são as maneiras
sofisticadas, por meio das quais se pode dar a expropriação. Entre elas, a situação em
que o executivo tem a oportunidade de realizar investimentos cuja rentabilidade seja
duvidosa, com o intuito de aumentar o seu poder, e, conseqüentemente, não distribuir
dividendos aos acionistas, o que seria recomendado na falta de investimentos atraentes.
Esse tipo de problema, devido à possível existência de interesses conflitantes entre
principal e agente, pode aumentar a necessidade de alinhamento das intenções dos
executivos em relação aos interesses dos acionistas.
47
YAMEY (1962) comenta que a hipótese de que as informações contábeis
desempenham um papel de monitoramento do relacionamento entre principal e agente,
estando ligadas ao próprio conceito de administração empresarial, remonta ao final do
século XIX e início do século XX. Tal hipótese tem sido usada por relevantes autores
para explicar a existência da Contabilidade, colocando a idéia de que a realidade
empresarial opera com inúmeras diferenças informacionais entre gestores e
proprietários, sendo assim tais inequações podem ser consideradas como importantes e
pertencentes ao cerne do surgimento da própria Contabilidade. Segundo YAMEY
(1962), apud WATTS e ZIMMERMAN (1986, p. 197):
As origens da Contabilidade e certamente dos registros escritos
são provavelmente fundamentados na necessidade de um
executivo “contábil” fazer uma declaração do dinheiro e outros
ativos recebidos em seu cargo, em nome de seu empregador ou
desembolsados em seu nome. Havia uma necessidade de
verificar a honestidade e a confiabilidade dos subordinados.
Nesse sentido, nas empresas contemporâneas, com seus vários níveis
hierárquicos e milhares de empregados, a assimetria informacional pode ser observada.
É possível que os acionistas estejam em desvantagem no tocante à informação
em relação aos altos executivos da empresa que, por sua vez, não possuem o mesmo
nível informacional dos seus subordinados hierárquicos. Assim sendo, é possível que a
assimetria exista não somente entre os acionistas e os executivos, mas também entre os
próprios funcionários da empresa.
O recente caso da empresa norte-americana ENRON é um exemplo desse
problema informacional. Nesse exemplo, os funcionários de menor escalão da empresa
foram induzidos a comprar ações da companhia, sem saber qual sua real situação
financeira. Apenas alguns altos executivos foram beneficiados, enquanto todos outros
funcionários perderam, juntamente com os acionistas. (BUSHMAN e SMITH, 2003).
IUDÍCIBUS e LOPES (2004) e LOPES e MARTINS (2005), com relação ao
problema de diferenças informacionais, complementam que o prêmio Nobel de
48
economia de 2001, GEORGE ACKERLOF em seu trabalho denominado: “The Market
for Lemmons: Quality Uncertainty and the Market Machanism.”, demonstrou como a
assimetria informacional pode comprometer o volume de negócios realizados no
mercado.
Nesse trabalho, ACKERLOF coloca que é importante que sejam caracterizadas
duas situações no contexto de assimetria de informações. A primeira é a informação
imperfeita, que está ligada à circunstância na qual as regras do jogo são claras e todos as
conhecem. No entanto, uma parte não sabe quais serão as intenções e ações da outra
parte. A segunda é a informação incompleta, que se refere à situação na qual nem
mesmo as regras do jogo estão totalmente claras para as partes envolvidas.
Pode-se observar que as diferenças entre elas são pequenas, porém, ambas as
situações servem para caracterizar os problemas que a imposição dos contratos pode
enfrentar na prática. Os autores complementam ainda que problemas relacionados com a
informação podem afetar o cumprimento dos contratos, levando, conseqüentemente, ao
colapso total das atividades da empresa.
O caso recente da empresa norte-americana Enron serve para ilustrar esses
conceitos. Segundo os autores, essa empresa conseguiu, durante muito tempo, esconder
do mercado e, principalmente, de seus acionistas, sua real situação financeira. Nesse
caso, observa-se uma quebra de contratos entre acionistas e os executivos da empresa.
Por outro lado, os auditores que deveriam contribuir para reduzir o conflito, também
não cumpriram com suas obrigações contratuais. (IUDÍCIBUS e LOPES, 2004).
A assimetria de informações é inerente à própria condição de segregação entre
administração e propriedade das firmas. Nesse contexto, a informação detida pelo
acionista pode, em muitos casos, ser distinta daquela possuída pelo administrador, pelo
nível de envolvimento e proximidade que cada parte se encontra em relação à operação
da empresa.
O problema de informação surge da existência de diferenças informacionais e
incentivos conflitantes entre investidores e administradores. ACKERLOF (1970), apud
HEALY e PALEPU (2001), coloca que esse fato pode levar a um colapso no
49
funcionamento do mercado de capitais. No entanto, podem existir soluções viáveis para
esse problema.
Contratos ideais entre acionistas e administradores podem prover incentivos para
uma completa evidenciação de informações, deste modo atenuando os impactos da
assimetria informacional no funcionamento do mercado de capitais (HEALY e
PALEPU, 2001). Na própria administração, há a possibilidade da existência da
assimetria informacional, dependendo do nível hierárquico em que se encontra o
colaborador da entidade.
HEALY e PALEPU (2001) argumentam que a demanda por report (relatórios) e
evidenciação financeira surgem do problema de assimetria de informações e conflitos
de agência entre administradores e investidores externos. O esforço da administração
em fornecer informações de maneira voluntária, pode ser importante no sentido de
redução dessa assimetria informacional.
No entanto, pode-se questionar a credibilidade dessas informações. Os autores
complementam que a regulamentação contábil, os órgãos normativos, auditores internos
e externos e outros intermediários de mercado se encarregam de atestar a credibilidade
das informações prestadas pela administração. Contudo, ainda é possível haver algum
conteúdo informativo que não é normalmente divulgado pela administração.
Tais informações devem estar relacionadas a fatores estratégicos do negócio da
firma e que não podem ser conhecidos pela concorrência, portanto, não publicados. Essa
falta de publicação é importante para a própria continuidade da empresa. Portanto,
pode-se obter um entendimento de que a assimetria de informações é algo que pode
existir, até certo limite estratégico, para contribuir com a própria manutenção das
atividades da empresa em longo prazo.
A figura abaixo fornece um esquema de evidenciação de informações e
intermediários financeiros no funcionamento do mercado de capitais.
50
FIGURA 2 – Fluxos financeiro e de informações no mercado de capitais
Adaptado de: HEALY, Paul M. e PALEPU, Krishna G. Information Asymmetry, Corporate
Disclosure, and the Capital Markets: A Review of the Empirical Disclosure Literature. Journal of
Accounting and Economics, v. 31, p. 405-440, 2001.
A figura apresenta o fluxo de capital dos investidores para as empresas. O lado
esquerdo da figura mostra que o capital pode fluir para as empresas de duas maneiras:
em primeiro lugar, diretamente dos investidores para as empresas, como, por exemplo,
os fundos privados; Em segundo, por meio de um intermediário financeiro, como, por
exemplo, instituições financeiras, companhias de seguros, entre outros. Essa segunda
maneira também é a mais comum nos Estados Unidos.
O lado direito da figura apresenta o fluxo de informações das empresas para os
investidores e intermediários. As firmas podem se comunicar tanto diretamente com os
investidores, como exemplo por meio dos relatórios financeiros e matéria publicada
(press releases), quanto por meio dos intermediários de informação, os analistas de
mercado, por exemplo (HEALY e PALEPU, 2001).
Diversos autores, entre eles BALL e BROWN (1968) e BEAVER (1968),
consideram que, no mercado de capitais, a contabilidade desempenha um papel
fundamental. Provavelmente, é no mercado acionário que o conflito de agência é
potencializado, principalmente pela grande possibilidade de existência do problema da
assimetria informacional.
Investidores
Intermadiários
financeiros
Intermadiários
de informação
Empresas
Fluxo de
capital
Fluxo de
informações
Reguladores do mercado
de capitais e instituições
financeiras
Auditores e
reguladores contábeis
51
Como pode ser observado em McNICHOLS (1989), os administradores
possuem informações distintas das possuídas pelos acionistas sobre o desempenho da
firma. Ele complementa que existem pelo menos duas grandes áreas de diferenças entre
o conteúdo informativo possuído pelos gestores e investidores, sobre o resultado da
empresa.
A primeira delas, que tem sido estudada amplamente em diversas pesquisas, é
relativa à proporção que os administradores possuem informações, que os acionistas não
têm, sobre ganhos futuros da firma.
A segunda diferença, que tem recebido consideravelmente menos atenção na
literatura contábil segundo ele, refere-se à amplitude que os acionistas possuem
informações sobre ganhos futuros da empresa, além daquelas possuídas pelos
administradores. Ao acessarem outras fontes de informação, que não apenas as
emanadas pela administração, os acionistas têm uma base melhor para poderem avaliar
a credibilidade das informações prestadas pelos gestores.
O conteúdo informativo superior dos administradores pode gerar prejuízos para
os investidores, à medida que existe uma diferença relativa de tempo até a informação
alcançá-los, e ainda dependendo de alguns julgamentos dos administradores. Os
administradores podem utilizar os recursos da empresa em benefício próprio, causando
perdas para os acionistas durante longos períodos.
Os administradores têm essa facilitação devido, principalmente, à complexidade
das atividades de muitas empresas, principalmente as listadas em mercados de capitais.
Os investidores recebem informações, que servirão de base para suas análises,
processadas pelos administradores. É possível que essas informações possuam uma
forte carga de viés. O problema ora encontrado passa pela consideração de quais os
incentivos econômicos para que os administradores adotem determinado
comportamento. Possivelmente, um adequado sistema de governança alinhe os
incentivos dos administradores com os interesses dos acionistas. (AJINKYA e GIFT,
1984; ALFORD et al., 1993).
52
É provável que a contabilidade possua um papel deveras importante na definição
e mensuração dos incentivos e compensações aos agentes e, conseqüentemente, no
processo de busca do alinhamento de interesses entre principal e agente.
2.2.1 A Contabilidade e a Compensação de Executivos
No contexto de diferentes funções de coordenação assumidas pela
Contabilidade, pode-se considerar seu importante papel na definição da remuneração
dos administradores. Com o intuito de reduzir os impactos do conflito de agência, tem
sido cada vez mais usada a remuneração variável, baseada no resultado econômico da
empresa ao final do período. Tal idéia é a de que os administradores da firma tenham
parte de sua remuneração atrelada ao sucesso da empresa, assim sendo, é possível que
eles passem a se sentir como acionistas e venham a pensar e a agir como os
proprietários.
Além disso, considerando possíveis decisões por parte dos administradores que
afetem o curto prazo versus as expectativas de longo prazo dos acionistas, as formas de
remuneração variáveis podem incorporar as opções de ações na sua composição, que
devem ser exercidas ou não em alguns anos, com o intuito de alinhar os objetivos de
curto e longo prazo dos administradores e acionistas. (RAPPAPORT, 1999).
Pagamento de salários diferidos, planos de seguros, opções de ações não-
qualificadas, ações restritas, direitos sobre a valorização de ações, planos de
desempenho e planos de bônus são algumas formas populares de compensação de
executivos, como pode ser observado em HEALY (1985).
Ele complementa que pelo menos dois desses dependem das informações
contábeis de lucro. São eles: planos de bônus e planos de desempenho. Uma grande
quantidade de companhias opera com planos de bônus e atuação (performance)
simultaneamente. Diferenças na definição dos ganhos e no horizonte de cobertura
dificultam a identificação do efeito combinado dos dois planos nas decisões dos
gestores relativas a números contábeis.
53
DOW e RAPOSO (2005) colocam que nas condições inerentes à Teoria de
Agência pode ser normal a existência de problemas relativos à definição da
compensação, ou remuneração do agente. Normalmente, existe um contrato entre o
principal e o agente, pelo qual este trabalha para maximizar o resultado da firma e,
conseqüentemente, do principal, devendo ser premiado pelo seu esforço.
Ocorre que o agente, dependendo do seu nível de remuneração, pode ser tentado
a realizar o que os autores chamam de mudanças dramáticas, como, por exemplo, fusões
e aquisições, que podem ser maléficas para a firma no período de longo prazo.
Uma das conclusões desses autores é a de que a remuneração variável do agente,
nesse caso o CEO, pode conter fortes componentes estratégicos e não apenas
compensação direta pelo esforço, tornando-a difícil de ser definida. Existem diversos
trabalhos que analisam a complexidade de definição da remuneração do agente, no
contexto de crescente preocupação com a governança corporativa e desempenho
econômico das firmas. Entre eles, destacam-se: BANKER e DATAR (1989),
MERCHANT e MANZONI (1989), LAMBERT, et al. (1991), CORE et al. (1999),
CONYON e MURPHY (2000), CORE e LARCKER (2002), e CORE, et al. (2003).
A incorporação do lucro na base para a remuneração do agente pode mostrar-se
problemática, pois o resultado da firma é função de diversas variáveis, internas e
externas, e não apenas do trabalho e do esforço do agente. É possível que a
Contabilidade exerça um papel fundamental na definição de medidas de desempenho e
remuneração dos agentes. Adicionalmente, a estrutura de controles internos, incluindo
os sistemas de informação, deve contribuir para que o contrato entre principal e agente
seja o mais harmônico possível.
De uma forma geral e pela maneira que são normalmente definidos, os esquemas
de bônus e compensação a executivos criam incentivos para que esses selecionem os
procedimentos contábeis e accruals que maximizem o valor da sua recompensa. Essas
conclusões foram obtidas pelos trabalhos de WATTS (1977), WATTS e
ZIMMERMAN (1978) e HEALY (1985).
54
2.2.2 O Papel da Contabilidade na Teoria Contratual da Firma
As questões relativas à informação estão ligadas ao papel da Contabilidade na
Teoria Contratual da Firma. Como pode ser observado em IUDÍCIBUS (2006), o
objetivo básico da Contabilidade pode ser definido como o fornecimento de
informações econômicas relevantes para os vários usuários, de forma que estes possam
tomar decisões racionais. Como exemplo, pode-se considerar os diversos participantes
da firma por meio de relações contratuais.
De acordo com IUDÍCIBUS e LOPES (2004), o papel da contabilidade é
resolver problemas econômicos que não foram adequadamente contemplados pela teoria
tradicional da firma.
Levando-se em consideração a contabilidade financeira, a publicação de
demonstrações contábeis auditadas pode ser um exemplo de que a informação contábil
funciona como redutora da assimetria informacional.
O report (relatório) e a evidenciação contábil e financeira são meios
potencialmente importantes para a administração comunicar o desempenho e
governança das firmas aos investidores externos (acionistas). Pode-se perceber que a
Contabilidade funciona como um agente de redução de problemas de informação nas
firmas. (HEALY e PALEPU, 2001).
O papel da Contabilidade dentro da Teoria Contratual da Firma, segundo
SUNDER (1997), possui cinco funções na coordenação dos vários contratos existentes
entre os agentes da empresa. São elas:
- mensurar a contribuição de cada um dos participantes nos contratos;
- mensurar a fatia a que cada um dos participantes tem direito do
resultado da empresa;
- informar os participantes a respeito do grau de sucesso no cumprimento
dos contratos;
55
- distribuir informação para todos os potenciais participantes em
contratos com a empresa, para manter a liquidez de seus fatores de
produção;
- distribuir algumas informações como conhecimento comum, para
reduzir o custo da negociação dos contratos.
2.2.3 A Informação Contábil e a Regulamentação
É possível que a regulamentação contábil seja muito importante para que as
empresas possam informar aos interessados, usuários internos e externos da informação
contábil, a verdadeira situação patrimonial e a condição de continuidade da organização.
No Brasil, a regulamentação da informação contábil, segundo TUKAMOTO
(2004), pode ser considerada como sendo um processo fragmentado em que diferentes
organizações profissionais, o Estado e o mercado, atuam na elaboração de normas a
serem aplicadas. Em outros países, existem diferenças na forma pela qual a
contabilidade é regulamentada. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, os princípios
e normas não são impostos pelo Estado, mas surgem de reflexões do meio profissional.
No contexto de mercado de capitais, em que os usuários externos nem sempre
estão próximos à operação da empresa, a regulamentação contábil é ainda mais
importante e necessária no processo de comunicação da informação contábil a tais
usuários.
Segundo BUSHMAN, et al. (2000, p. 2):
Números e informações contábeis produzidos sob a luz de
princípios geralmente aceitos ou fundamentais de
contabilidade, constituem provavelmente a representação
quantitativa primordial da firma, indispensável para a existência
e bom funcionamento do mercado de capitais.
56
BLACK (2000), apud BUSHMAN, et al. (2000), argumenta que há dois pré-
requisitos essenciais para a existência de um forte mercado de capitais. Ele coloca,
ainda, que as leis e instituições relacionadas de um país devem garantir aos acionistas
minoritários: a) informação de qualidade sobre o valor da empresa e seu negócio; b)
confiança de que os gestores das empresas terão possibilidades limitadas de enganar os
investidores, fazendo-os perder o valor do seu investimento. O autor complementa,
ainda, que as instâncias necessárias para a existência bem sucedida de um mercado de
capitais forte, incluem:
1. ampla evidenciação contábil, incluindo auditoria independente das
demonstrações contábeis das empresas nele listadas;
2. regulamentação contábil que se dedique à necessidade do investidor por
informações confiáveis;
3. instituição com competência e independência suficiente para elaborar
boas regras contábeis, e que tenham incentivos para mantê-las
atualizadas;
4. profissão contábil sofisticada, com habilidade e experiência para detectar
ocasiões de evidenciação falsa ou fraudulenta;
5. leis que imponham aos contadores sansões graves em caso de preparação
e assinatura de demonstrações contábeis fraudulentas, fazendo com que
procurem resistir à pressão dos clientes com relação a evidenciações
mais favoráveis.
A aplicação de regras fundamentalmente fiscais nos registros das operações
pode representar uma possibilidade das demonstrações contábeis não corresponderem à
evidenciação justa da real situação patrimonial e do resultado da empresa. Um exemplo
disso pode ser a questão da depreciação das máquinas de produção. Pelas regras fiscais,
tais ativos deveriam ser depreciados a certa taxa anual, mas pelo real desgaste do bem,
em virtude da própria utilização no processo industrial da empresa, as taxas de
depreciação poderiam ser distintas, alterando assim o resultado final da firma.
O exemplo teórico a seguir evidencia os impactos que as diferentes taxas de
depreciação podem ter no resultado da empresa, a ser divulgado aos acionistas e demais
interessados.
57
Primeiramente, considerando as taxas fiscais de depreciação, que no exemplo
teórico seriam de 10% ao ano, verifica-se que a empresa apresentaria um resultado
líquido antes do imposto de renda e contribuição social de R$ 60.000,00, com margem
líquida de 20%, conforme se pode observar na tabela seguinte.
TABELA 2 – Controle de Ativo Imobilizado – Empresa XYZ
Controle de Ativo Imobilizado – Empresa XYZ
Data
Entrada Valor
Taxa
Fiscal
anual
Data
Fechamento
Despesa de
Depreciação
em 20X1
Depreciação
Acumulada
desde a data
de entrada
Ativo A
30/08/20X0 100.000,00 10% 31/12/20X1 10.000,00 13.333,33
Ativo B
30/09/20X0 150.000,00 10% 31/12/20X1 15.000,00 18.750,00
Total
250.000,00 31/12/20X1 25.000,00 32.083,33
Fonte: O autor.
Pelo controle de ativo fixo da Empresa XYZ, a depreciação anual seria de R$
25.000,00, valor que deveria ser considerado na Demonstração de Resultado do
Exercício, como mostra a tabela a seguir:
TABELA 3 – Demonstração do Resultado do Exercício
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DO
EXERCÍCIO - 31/12/20X1
Receita de Vendas 300.000
Custo dos Produtos Vendidos 200.000
Lucro Bruto 100.000
Despesas Comerciais e
Administrativas
15.000
Despesas de Depreciação 25.000
Resultado do Exercício 60.000
Margem Líquida 20%
Fonte: O autor.
58
Ao considerar que as máquinas têm um desgaste maior do que o proposto pelas
taxas fiscais, a empresa deveria realizar uma avaliação com o objetivo de definir qual a
taxa de depreciação a ser utilizada para evidenciar o correto desgaste do ativo utilizado.
No exemplo teórico, após a avaliação, a empresa definiu uma taxa anual de
12,5%. Realizando-se os novos cálculos, observa-se que a nova despesa de depreciação
anual é de R$ 31.250,00.
TABELA 4 – Controle de Ativo Imobilizado – Empresa XYZ
Controle de Ativo Imobilizado – Empresa XYZ
Data
Entrada Valor
Taxa
Real
anual
Data
Fechamento
Despesa de
Depreciação
em 20X1
Depreciação
Acumulada
desde a data
de entrada
Ativo A
30/08/20X0 100.000,00 12,5% 31/12/20X1 12.500,00 16.666,67
Ativo B
30/09/20X0 150.000,00 12,5% 31/12/20X1 18.750,00 23.437,50
Total
250.000,00 31/12/20X1 31.250,00 40.104,17
Fonte: O autor.
Considerando o novo valor de depreciação dos ativos permanentes na
Demonstração de Resultado do Exercício, a empresa XYZ apresentaria um resultado do
exercício, antes do imposto de renda e da contribuição social, de R$ 53.750,00, com
margem líquida de 18%, conforme mostra a tabela abaixo:
TABELA 5 – Demonstração do Resultado do Exercício
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DO
EXERCÍCIO - 31/12/20X1
Receita de Vendas 300.000
Custo dos Produtos Vendidos 200.000
Lucro Bruto 100.000
Despesas Comerciais e
Administrativas
15.000
Despesas de Depreciação 31.250
Resultado do Exercício 53.750
Margem Líquida 18%
Fonte: O autor.
59
Considerando as variações no resultado líquido do exercício, de R$ 60.000,00
para R$ 53.750,00, obtém-se uma variação de 10,4%. Esse impacto poderia afetar os
valores distribuídos aos acionistas, bem como o valor da empresa no mercado. No
entanto, a Contabilidade, possivelmente, não estaria atingindo seu objetivo de informar
a real situação do patrimônio da empresa aos diversos usuários interessados.
A regulamentação e a normalização, em si próprias, possivelmente não
aumentam a qualidade da contabilidade. Pode-se considerar que o poder discricionário e
a capacidade gerencial de julgamento dos gestores também devem ser utilizados, porém
de maneira conservadora.
A normalização pode não ser, unicamente, um centro de conservadorismo para a
contabilidade, pois há a possibilidade de ocorrer o oposto, ou seja, situações em que os
gestores, com o intuito de manipular os resultados, procurem oportunidades na
legislação que justifiquem os tratamentos contábeis duvidosos.
O caso da empresa norte-americana ENRON pode ser um bom exemplo desse
tipo de problema com os critérios de consolidação das demonstrações. Nesse caso, é
fundamental revisitar o conceito com base teórica mais ampla, ou seja, o regime de
governança corporativa. (LOPES e MARTINS, 2005).
2.3 A Relevância da Informação Contábil
LOPES (2002) coloca que diversos autores consideram que desde a evolução
teórica ocorrida na década de 50, quando se iniciou a base para a “moderna teoria
financeira”, o papel da informação nos mercados de capitais tem-se mostrado como uma
das áreas mais estudadas em finanças. Certos conceitos como risco, retorno, otimização,
imunização, precificação de ativos, precificação de opções e outros derivativos,
passaram a ser formalizados e a fazer parte da teoria econômica moderna.
60
Os trabalhos realizados na área de contabilidade financeira da segunda metade
da década de 60, BALL e BROWN (1968) e BEAVER(1968), começaram a incorporar
tais desenvolvimentos, e a pesquisa em mercado de capitais (financial accounting
capital market research) tornou-se uma das áreas mais profícuas na academia contábil
internacional. WATTS e ZIMMERMAN (1986).
Ratificando o fato de que o final da década de 60 foi muito importante para a
pesquisa contábil sobre mercado de capitais, pode ser observado em KOTHARI (2001)
que os principais pesquisadores da época foram FAMA (1965), BALL e BROWN
(1968) e BEAVER (1968).
Considerando-se todos os trabalhos desenvolvidos nessa época, os de BALL e
BROWN (1968) são apontados por diversos autores como os precursores. O cerne da
pesquisa desses autores era a relação entre a informação contábil e o mercado de
capitais, buscando estudar o impacto da divulgação de informações contábeis no
comportamento dos ativos em mercados financeiros.
Uma das suas conclusões foi a de que o anúncio do lucro agrega valor
informativo para o mercado de capitais, e que os retornos anormais se ajustam
gradualmente durante o ano analisado. Esses autores constataram, ainda, que nem toda
informação é completamente antecipada pelo mercado e existe também a tendência de
movimento que persiste após os anúncios realizados pela contabilidade. (REZENDE,
2005).
Considerando-se a contabilidade financeira como um sistema de informações
para os investidores de mercado de capitais, sua relevância e utilidade para tais usuários
podem ser observadas. Nesse sentido, observa-se que a informação contábil deixa de
possuir valor intrínseco e passa a depender do tipo de decisão a ser tomada, da atitude
do investidor em relação ao risco e de outras características do processo de decisão em
relação ao mercado de capitais. Considera-se que essa observação seja natural no
escopo da teoria de finanças, mas representa um ponto de ruptura com a teoria contábil
normativa tradicional.
61
Nesse sentido, a questão central sobre a relevância da informação contábil passa
a priorizar a utilidade esperada dos usuários externos, deixando em segundo plano o
foco das características ideais da informação por intermédio da comparação com
conceitos preestabelecidos. No âmbito do mercado de capitais, no qual a assimetria de
informações entre acionistas e gestores é possível de ser observada, pode-se verificar
que a utilidade do sistema de informações contábeis reside em fornecer sinais relevantes
que possuam valor para alterar as crenças dos usuários interessados, entre eles os
investidores. (LOPES e MARTINS, 2005).
2.3.1 O Conteúdo Informativo da Contabilidade
As grandes evoluções e os eventos ocorridos a partir da década de 60
representam uma grande mudança no paradigma de pesquisa, existente na primeira
metade do século XX na academia contábil mundial. A pesquisa existente até então, de
caráter extremamente normativo, preocupava-se principalmente com a avaliação de
práticas contábeis, de acordo com padrões teóricos do que se considerava ideal,
normalmente baseado em conceitos econômicos de lucro e riqueza.
Em 1940, PATON e LITTLETON, em seu trabalho clássico (An Introduction to
Corporate Accounting Standards), ajudaram a difundir e a consolidar a idéia de que a
contabilidade realizada dentro do princípio da competência e respeitando a confrontação
da receita com a despesa seria o método mais adequado para se atingir um modelo de
informação mais próximo do “ideal” econômico. (LOPES, 2002).
A tradição normativa começou a ser substituída pela abordagem da informação
(information approach) que representou uma verdadeira “revolução” na pesquisa em
ciências contábeis BEAVER (1998).
O autor complementa, ainda, que a abordagem da informação (information
approach) foi fortemente influenciada por dois modelos desenvolvidos pela economia
financeira (financial economics), a saber: a) o modelo de precificação de ativos
financeiros (Capital Asset Pricing Model – CAPM); b) a hipótese dos mercados
eficientes (Eficient Market Hypothesis – EMH). Esses dois conceitos forneceram a base
62
para que pesquisadores pudessem verificar como o mercado reage à informação
emanada pela contabilidade e também para verificar quão eficiente é o mercado em
termos de informação contábil. (FOSTER, 1986).
Pode ser observado em FAMA (1970) que a hipótese de mercados eficientes
(EMH) considera que os preços dos títulos sempre refletem integralmente, e sem viés,
todas as informações disponíveis. Nenhuma informação relevante seria ignorada em um
mercado eficiente.
O mercado eficiente pode se apresentar de três formas diferentes. A primeira é a
forma fraca, em que as informações disponíveis dizem respeito a preços históricos dos
títulos. A segunda forma é a semi-forte, na qual a preocupação é em como os preços se
ajustam em relação à informação publicamente disponível. A terceira é a forma forte,
que se preocupa com o efeito da posse de informações privilegiadas por um investidor
ou um grupo de investidores. (FAMA, 1970).
Segundo ROSS, WESTERFIELD e JAFFE (2002), a hipótese de mercados
eficientes (EMH) possui implicações para os investidores e para as empresas, e podem
ser assim especificadas: a) como a informação se reflete imediatamente nos preços, os
investidores só devem esperar obter uma taxa normal de retorno. No momento em que é
divulgada, seu conhecimento não traz nenhuma vantagem para o investidor, visto que o
preço se ajusta antes que este tenha tido oportunidade de comprar ou vender a ação; b)
as empresas devem esperar receber o valor justo pelos títulos vendidos, considerando
justo porque o preço recebido por tais títulos representa o valor respectivo a cada um
deles.
Essas idéias e a nova perspectiva da informação dominaram rapidamente os
rumos da pesquisa acadêmica em contabilidade no mundo anglo-saxônico.
BROWN (1994), apud LOPES (2002, p. 14), atribui esse avanço ao FASB
(Financial Accounting Standards Board), em 1978 com o pronunciamento (Statement of
Financial Accounting Concepts) nº 1, em que é afirmado o seguinte:
63
Os relatórios financeiros devem fornecer informações que
sejam úteis para os investidores atuais e futuros, credores e
outros usuários na verificação dos montantes, periodicidade e
incerteza, relacionados aos seus recebimentos futuros de
caixa... Uma vez que os fluxos de caixa dos investidores e dos
credores estão relacionados com os fluxos de caixa da
instituição, os relatórios financeiros devem fornecer
informações para ajudar os investidores, credores e outros
usuários a verificar os montantes, a periodicidade e a incerteza,
relativos aos fluxos futuros de caixa da entidade relacionada.
Conforme afirma LOPES (2002), com esse pronunciamento, é possível
considerar que a ênfase das demonstrações financeiras tenha mudado de um modelo
endógeno, baseado em definições e inferências a partir dessas definições, para outro,
fundamentado na utilidade da informação para uma determinada finalidade, levando em
consideração um tipo de usuário. Essa mudança de modelo e de enfoque informativo
está alinhada com a própria definição do objetivo principal da Contabilidade, que é
fornecer informações úteis sobre a firma e seu patrimônio para os diversos usuários
interessados. (HENDRIKSEN e BREDA, 1999 – IUDÍCIBUS, 2006 – SCHMIDT e
SANTOS, 2006).
É possível que a abordagem positiva na pesquisa em Contabilidade tenha como
ponto central a perspectiva da informação (information approach). Segundo WATTS e
ZIMMERMAN (1986), o objetivo da teoria da contabilidade é explicar e prognosticar a
prática contábil. Explicar, para os autores, quer dizer prover meios e razões para a
prática observada.
Por exemplo, uma teoria contábil deve ter a capacidade de explicar por que
certas firmas usam o método UEPS (último que entra, primeiro que sai) para avaliação
de estoques, ao invés do PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai). Prognosticar,
segundo eles, significa que a teoria prevê fenômenos contábeis não observados, que não
são necessariamente futuros, pois eles podem incluir fatos que já aconteceram, mas
sobre os quais evidências sistemáticas não foram ainda colhidas.
64
Uma teoria contábil pode definir hipóteses sobre atributos das firmas que usam o
UEPS, comparados com os das entidades que usam o PEPS. Tais previsões podem ser
testadas, usando dados e informações históricas em relação às firmas que utilizam os
dois métodos. O autor complementa que na abordagem positiva o valor justo (fair
value), por exemplo, não é bom ou ruim, desejável ou indesejável. A preocupação está
centrada no por que da utilização do método pelas empresas.
Como se pode observar em FOSTER (1986), basicamente duas direções gerais
foram utilizadas dentro do paradigma da informação:
a) a primeira procura verificar a relevância da informação, fornecida pela
contabilidade para investidores e outros usuários, dentro do conceito de que a
contabilidade compete com outras fontes de informação, tendo de ser avaliada para que
se possa verificar a sua real utilidade para a sociedade. De acordo com essa perspectiva,
padrões contábeis e outros aspectos da regulamentação podem ser avaliados
empiricamente.
b) pela segunda abordagem, procura-se investigar a eficiência relativa dos
mercados em termos do conjunto de informações contábeis. De acordo com alguns
autores, essas duas direções são extremamente correlacionadas e se complementam.
LOPES (2002) comenta que existe um conjunto de evidências levantadas por
BEAVER (1968), que indicam que a contabilidade é relevante para investidores de
mercado de capitais e que o mercado é eficiente com respeito à informação contábil. O
autor complementa, ainda, que apesar de essas constatações serem muito comuns e
representarem o mainstream (primeira linha) da pesquisa em contabilidade financeira,
pouca ou nenhuma pesquisa empírica tem sido feita para verificar tal comportamento
em mercados menos desenvolvidos e emergentes.
Vale ressaltar que os trabalhos nessa área, em sua maioria, são realizados em
mercados considerados desenvolvidos, principalmente Estados Unidos e Inglaterra, e
evidências a respeito de mercados menos desenvolvidos, especialmente América Latina,
são praticamente inexistentes (LOPES, 2002). É possível considerar que existe uma
grande oportunidade para o desenvolvimento de pesquisas nessa área, em mercados
considerados emergentes.
65
No Brasil, pode ser observado que o mercado de capitais está se desenvolvendo
cada vez mais, especialmente com a criação dos níveis de listagem diferenciados em
relação às exigências complementares, ligadas à governança corporativa e à divulgação
de informações aos acionistas, sendo eles: o Nível I e Nível II e o Novo Mercado da
BOVESPA.
Nesse sentido, pode-se considerar que a informação contábil ganha cada vez
mais relevância no sentido de procurar diminuir ou atenuar os problemas relacionados à
assimetria de informação entre acionistas e administradores. A abordagem da
informação (information approach) concebe a contabilidade no seu papel de fornecedora
de informações para os diversos usuários interessados.
Uma questão relevante é a resposta do mercado em relação à divulgação de
informações, sendo tais evidenciações de caráter obrigatório ou voluntário. Nesse
sentido, BAGNOLI e WATTS (2006) realizaram um trabalho que analisa as interações
entre divulgações de informação voluntária e obrigatória.
Segundo esses autores, sua pesquisa complementa os estudos anteriores
realizados por GIGLER e HEMMER (1998 e 2001), KWON, NEWMAN e SUH (2001)
e VENUGOPALAN (2001), todos na mesma linha. Eles comentam que todos esses
trabalhos, assim como o seu, utilizam o modelo de relação entre principal e agente, para
examinar a maneira pela qual o contrato, que motiva as evidenciações voluntárias de
informações relevantes para o principal, é afetado pelos regimes alternativos de
divulgação obrigatória.
As conclusões desses estudos mostram que os custos incorridos pelo principal
com o objetivo de motivar o agente a evidenciar informações (custos de agência
inerentes ao problema de delegação de poderes) são afetados pelos diferentes regimes
de divulgação de informações obrigatórias.
BAGNOLI e WATTS (2006) alegam ainda a possibilidade de outra análise após
seu trabalho, pois existem fatores importantes que afetam o conteúdo da informação
divulgada, fatores esses que podem ser entendidos como as alterações na
66
regulamentação das divulgações obrigatórias, que afetam a disponibilidade do agente de
voluntariamente prover informações suplementares, podendo, em alguns casos, reduzir
a probabilidade de ocorrência de evidenciação adicional de informações, além do
requerido pela regulamentação.
Ainda com relação à evidenciação adicional ou suplementar, BAGNOLI e
WATTS (2006) consideram que seu trabalho complementa os trabalhos realizados por
VERRECCHIA (1983 e 1990), DYE (1985 e 1988), JUNG e KWON (1988), FISCHER
e STOCKEN (2001), DUTTA e TRUEMAN (2002), KORN e SCHILLER (2003) e
KORN (2004).
O modelo estudado por aqueles autores propõe que os sistemas de relatório
(reporting) financeiros são provedores de informações correlacionadas com o
desconhecido valor terminal, ou final, de mercado da firma. Nesse modelo,
complementam eles, os relatórios financeiros da firma fornecem múltiplas partes de
informação que o mercado utiliza para estimar o valor da firma, e que os
administradores procuram sempre maximizá-lo.
Tal modelo inicialmente sugere que evidenciações suplementares, em relação ao
requerido pela regulamentação, são mais presentes nos casos de notícias ou
acontecimentos extremos nos relatórios ou nas demonstrações financeiras da firma.
Além disso, em relação a agentes que não provêem divulgações suplementares, aqueles
que o fazem aumentam a resposta do mercado em relação a surpresas positivas,
respectivas a ganhos, e reduzem os efeitos e as respostas do mercado em situações de
surpresas negativas relativas a perdas.
Adicionalmente, o modelo sugere que uma análise do conteúdo das divulgações
voluntárias adicionais provavelmente mostrará que, se a firma divulgar boas ou más
notícias, as evidenciações suplementares do agente servirão para mitigar os impactos
das notícias no valor da entidade, por indicar que a desempenho da firma é
relativamente permanente e não transitória, no caso de boas notícias, e vice-versa no
caso de más.
67
De uma maneira geral, pode-se considerar que evidenciações ou divulgações
adicionais ou suplementares servem para aumentar o nível de confiança do mercado em
relação ao desempenho da firma, pois denotam uma abordagem de transparência em
relação à divulgação de informações ao principal, contribuindo para a redução da
assimetria de informações entre os investidores e os gestores. (BAGNOLI e WATTS,
2006).
2.4 O Regime de Competência e a Informação Contábil
O lucro é considerado, dentro do conjunto que compõe o sistema de informações
contábeis, como uma importante métrica de avaliação da eficiência e do desempenho de
uma determinada firma, assim como de sua administração. Um dos objetivos da
divulgação do lucro é auxiliar os diversos usuários no processo de tomada de decisões
em relação à empresa. No caso dos acionistas, é possível que as informações do lucro
apóiem no processo de tomada de decisão de investimento. (COLAUTO e BEUREN,
2006).
O FASB (Financial Accounting Standard Board), junta de princípios contábeis
norte-americanos, publicou o pronunciamento SFAC nº 1 - Normas conceituais de
contabilidade (Statement of Financial Accounting Concepts) em 1978, no qual há a
afirmação de que os investidores e os credores continuamente recorrem ao lucro para
analisar e avaliar a capacidade de geração de resultados, realizar previsões de resultados
futuros e mitigar os possíveis riscos do investimento. (HENDRIKSEN e BREDA,
1999).
A aceitação de distintas medidas do lucro pode ser útil para finalidades diversas,
porém alguns autores defendem a idéia de um conceito abrangente do lucro para efeito
de divulgação externa. Como pode ser observado em HENDRIKSEN e BREDA (1999),
o lucro pode ser abordado em três enfoques distintos, quais sejam, pragmático,
semântico e sintático.
68
Os autores complementam que, no enfoque pragmático, o lucro está associado
aos processos decisórios de investidores e credores, às reações dos preços de títulos
divulgados em mercados organizados, às decisões de investimento dos administradores
e às reações de feedback na gestão das empresas por meio de seus contadores e
administradores.
Os autores comentam, ainda, que no enfoque semântico, os lucros representam o
funcionamento eficiente da empresa, considerando as relações com realidades
econômicas subjacentes. Tal idéia supõe que o funcionamento eficiente de uma firma
afeta tanto uma série de dividendos correntes, quanto o uso do capital aplicado para a
geração de fluxos futuros de dividendos.
Em relação ao enfoque sintático, os autores complementam que o lucro se baseia
em princípios, regras e premissas, que podem não ter relação com fenômenos reais ou
efeitos comportamentais. Eles colocam, ainda, que nessa abordagem sintática do lucro,
existe certa dificuldade de aceitação pelo fato deste não se ajustar perfeitamente às
noções de lucro econômico e estar parametrizado nos Princípios Fundamentais de
Contabilidade, ou Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos. (HENDRIKSEN e
BREDA, 1999).
LOPES e MARTINS (2005) enfatizam que são realizados alguns
questionamentos pelos autores com relação ao regime de competência e sua importância
para a qualidade da informação contábil, em comparação com o fluxo de caixa. Entre as
indagações propostas pelos autores, destacam-se: Qual a utilidade do regime de
competência? Por que ele é tão central dentro da estrutura da contabilidade? O regime
de competência faz com que a empresa claramente incorra em custos adicionais em
relação à mensuração baseada simplesmente no caixa? Depreciações, amortizações e
PDDs precisam ser estimados, acompanhados e controlados? Por que incorrer nesses
custos e controles adicionais?
A questão central é a de que o regime de competência pode adicionar uma gama
maior de qualidade à informação contábil prestada aos usuários interessados, pois pode
contemplar uma maior previsibilidade de caixa futura. LOPES e MARTINS (2005)
complementam, ainda, que a fundamentação do regime de competência encontra-se
69
principalmente na idéia de relevância, isto é, a capacidade de previsão de fluxos futuros
de caixa. Eles afirmam que é real a idéia de que o regime de competência afasta a
contabilidade do caixa, regime esse que diverge do caixa do período, mas pode ser
extremamente importante para a previsão do caixa dos próximos períodos.
Com o objetivo de ilustrar a idéia ora proposta, os autores citam o exemplo da
provisão para devedores duvidosos. Seguem exemplificando que no momento em que
um empréstimo é realizado, é necessário que a PDD seja constituída. A contrapartida
desse lançamento é uma conta de despesa, segundo eles. É possível verificar que não há
nenhum impacto no caixa, mas, pelo regime de competência, deve-se reconhecer a
despesa relativa ao empréstimo feito quando de sua realização, de acordo com os
autores.
Nesse caso considera-se que o evento econômico gerador da possível
inadimplência já se passou, afirmam os autores. Alternativamente, poder-se-ia adotar o
regime de caixa e apenas reconhecer a despesa no momento em que os clientes
efetivamente não pagarem as suas obrigações. Questionam os autores: Qual a alternativa
melhor? Eles propõem uma análise das duas opções com base no critério de relevância
previamente adotado – capacidade de previsão de fluxos futuros de caixa. Os autores
sugerem o seguinte exemplo:
Suponha-se que a empresa tenha realizado uma série de empréstimos,
totalizando R$ 100.000,00 e que todos eles vençam em três meses. A área de crédito
estimou que a probabilidade de não-recebimento estava em torno de 5%. Quando a
despesa deve ser reconhecida nesse caso, no momento do empréstimo ou após os três
meses e quando verificada realmente a inadimplência? Os autores completam que,
pensando em qual das duas opções está mais relacionada com o fluxo de caixa futuro,
pode-se ver claramente que o provisionamento é a opção mais adequada, pois tal
procedimento antecipa o fluxo de caixa que somente irá ocorrer no momento seguinte.
Os autores seguem afirmando que a analogia realizada pode ser facilmente
estendida para o caso da depreciação, pois consideram ser um engano achar que a
depreciação nada tem a ver com o caixa. Ao contrário, a depreciação reflete a alocação
do caixa consumido inicialmente na aquisição do bem por sua vida útil estimada,
70
segundo os autores. É possível verificar que, caso a depreciação não fosse considerada
e, portanto, imediatamente contabilizada, a despesa na compra do ativo teria uma
retratação viesada da realidade econômica e conseqüente previsão do fluxo de caixa.
Os autores apresentam o seguinte exemplo com o objetivo de esclarecer a
questão e seguem com a seguinte proposta:
Suponha-se que a empresa A tenha adquirido uma máquina por R$ 100.000,00 e
que esse equipamento tenha vida útil estimada de cinco anos. A máquina será reposta no
final do quinto ano, após a geração de fluxos de caixa líquidos mensais de R$
50.000,00. Ignorando outros custos, receitas e despesas da companhia, observa-se como
se poderia representar o fluxo econômico e financeiro da empresa.
TABELA 6 – Fluxo econômico e financeiro
Variáveis
Período
0
Período
1
Período
2
Período
3
Período
4
Período
5
Período
6
Receita -
50,000
50,000
50,000
50,000
50,000
50,000
Saída de Caixa 100,000
100,000
Depreciação -
20,000
20,000
20,000
20,000
20,000
20,000
Fluxo de Caixa
Líquido
(100,000)
50,000
50,000
50,000
50,000
50,000
(50,000)
Lucro -
30,000
30,000
30,000
30,000
30,000
30,000
Adaptado de: LOPES, Alexsandro Broedel e MARTINS, Eliseu. Teoria da Contabilidade:
uma nova abordagem. São Paulo, Editora Atlas, 2005. Pág. 68.
Observa-se como, nesse exemplo dos autores, o lucro apresenta maior correlação
com a realidade econômica da empresa, seguindo-se a mecânica de reconhecimento de
depreciação. Dentro das características do exemplo, não ocorreram grandes alterações
na realidade econômica da empresa, mantendo-se o lucro, dessa forma, estável. O fluxo
de caixa, por sua vez, apresenta “saltos” característicos dos desembolsos da empresa,
completam os autores.
Pode-se observar que o fluxo de caixa futuro é mais estável do que o fluxo de
caixa passado. O lucro fornece uma base mais adequada para uma possível melhor
71
previsão dos fluxos de caixa futuros e operacionais da empresa do que o próprio fluxo
de caixa passado. Dessa forma, percebe-se que fica mais fácil fazer a previsão do fluxo
futuro, quando o regime de competência é utilizado, do que no caso da utilização
simples do fluxo de caixa. (LOPES e MARTINS, 2005).
O aspecto da utilização do regime de competência, que facilita a previsão do
fluxo futuro, também foi demonstrado empiricamente pelo trabalho de BARTH et al.
(1999), em que os autores mostram que os accruals possuem alto poder preditivo.
Com o propósito de analisar a relação existente entre o Princípio de
Competência, Convenção do Conservadorismo e a informação contábil de lucro no
Brasil, COELHO e LIMA (2007) realizaram uma pesquisa com o objetivo de verificar
se as sociedades por ações brasileiras praticam o conservadorismo condicional na
apuração dos lucros reportados nas demonstrações contábeis publicadas. Eles
consideram o conservadorismo condicional como o reconhecimento oportuno
assimétrico de perdas econômicas.
Foi concluído pelos autores que os resultados empíricos do estudo sugerem que
o atributo do conservadorismo condicional não é observável nos resultados contábeis
pesquisados por eles no Brasil. Em decorrência, eles complementam que se infere que
os interessados na informação, denominados por eles como agentes econômicos, não
demandam tal atributo nas informações contábeis produzidas pelas firmas brasileiras em
seu total.
Eles sugerem que a oferta de informação contábil, caracterizada essencialmente
pela propriedade dos ajustes em função da competência contábil, não se preocupa em
informar aos usuários sobre a existência de prováveis perdas econômicas de maneira
tempestiva. Segundo eles, tais resultados encontrados podem ser atribuídos ao caráter
contraditório das normas contábeis brasileiras sobre o assunto. (COELHO e LIMA,
2007).
O conhecimento acerca da sintaxe contábil pode ajudar no entendimento das
operações utilizadas na evidenciação do lucro contábil de determinada entidade em um
72
dado período. Essa necessidade de conhecimento pode mostrar-se aumentada com a
existência da possibilidade da Contabilidade utilizar os accruals (provisões ou reservas).
2.4.1 Aspectos Conceituais dos ACCRUALS
O termo accruals tem sido utilizado no sentido de definir as provisões ou as
estimativas contábeis. Genericamente, pode-se considerar que representam os elementos
do resultado que, embora efetivados ou não pelo regime de caixa, ainda não se atribuem
ao período de apuração ou regime de competência, necessitando de seu reconhecimento
pelo uso de tal mecanismo. (COLAUTO e BEUREN, 2006).
Segundo STICKNEY e WEIL (2001), a expressão accruals está relacionada ao
reconhecimento de despesa ou de receita, assim como do ativo ou do passivo
correspondente, em decorrência de um evento contábil. Os autores complementam,
ainda, que a ocorrência do evento em questão não se relaciona com a entrada ou com a
saída de caixa, como por exemplo: ao final de um determinado período, reconhece-se a
receita ou a despesa de juros, independentemente de terem sido pagos ou recebidos.
De acordo com GLAUTIER e UNDERDOWN (1976), o conceito de accruals
pode ser entendido fazendo-se a distinção entre o recebimento de caixa e o direito de
recebimento de caixa, e o pagamento de caixa e a obrigação legal de pagamento. Os
autores afirmam, ainda, que não há coincidência entre o direito e a obrigação legal e a
transferência de caixa.
Ocorre, no entanto, que a Contabilidade deve apurar a receita e a despesa
contábil e, com o objetivo de apurar o montante de obrigações a pagar, realiza
provisões. Similarmente, em situações em que há pagamentos antecipados, estes devem
ser excluídos e transferidos para o próximo período contábil, efetuando-se ajustes entre
as contas relacionadas.
SLOAN, DECHOW e HUTTON (2001), baseiam sua definição de accruals na
classificação de fluxos de caixa, segundo proposto pelo pronunciamento SFAS
73
(Pronunciamento de Normas de Contabilidade Financeira) n. 95 do FASB (Junta de
Princípios de Contabilidade Financeira).
Segundo eles, nesse pronunciamento, o FASB classifica os fluxos de caixa em
atividades operacionais, de financiamento e de investimento. As atividades de
investimentos, definidas por tal norma, referem-se às relacionadas à aquisição de ativos
produtivos; as atividades de financiamento são relacionadas à captação e ao reembolso
de fontes de capitais; as atividades operacionais referem-se às demais não relacionadas
às anteriores e que tenham ligação com a operação da empresa.
Os autores explicam que os fluxos de caixa destas atividades operacionais
representam dinheiro de transações e outros eventos que fazem parte da determinação
do resultado líquido. Nesse sentido, SLOAN et al. (2001) definem, então, os accruals
como a diferença entre resultado líquido e dinheiro vivo do fluxo das atividades
operacionais.
Pode ser observado em CHAN et al. (2001) que os accruals podem representar a
diferença entre o lucro contábil de uma empresa e o seu fluxo de caixa subjacente. Neste
sentido, complementam os autores, quanto maior o valor dos accruals, maior será a
diferença entre o lucro contábil e o caixa gerado no período.
Para eles, estimativas positivas de accruals indicam maiores lucros que os fluxos
de caixa gerados pela empresa em um determinado período e complementam que esta
não correlação entre lucros e fluxo de caixa deve-se, em um primeiro momento, aos
Princípios Contábeis, de maneira mais estrita ao Princípio da Realização da Receita e da
Confrontação da Despesa, também definido como Princípio da Competência de
exercícios, por seguir o regime da competência. Ainda considerando o trabalho de
CHAN et al. (2001), foram considerados aspectos da informação de desempenho
operacional da firma e reações do mercado em relação a estas informações, em um
contexto de accruals.
COSTA, TEIXEIRA e NOSSA (2002), apud COLAUTO e BEUREN (2006),
realizaram uma avaliação da pesquisa de CHAN et al. (2001), considerando outros
aspectos que podem influenciar os níveis de accruals, sendo eles previsões de
74
crescimento de vendas e conseqüente aumento nos valores de estoques para apoiar tais
movimentos nas receitas.
MARTINEZ (2001) explica que o registro dos accruals na Contabilidade busca
mensurar o lucro no sentido econômico, representando o efetivo acréscimo na riqueza
patrimonial da unidade econômica, independentemente da movimentação financeira. O
problema parece estar na intenção do gestor de aumentar ou reduzir,
discricionariamente, o nível de accruals, com o objetivo de influenciar o lucro
divulgado.
Observa-se que os accruals têm sido discutidos por diversos autores como um
importante sinalizador da qualidade da informação contábil e do lucro líquido, bem
como sido útil para a estimativa do resultado das empresas. Entre tais autores,
destacam-se CHAN et al. (2001), SLOAN et al. (2001), ALMEIDA (2001),
MARTINEZ (2001), LOPES (2002), COSTA et al. (2002), OLIVEIRA, GUERREIRO
e SECURATO (2002) e SANTOS e GUERREIRO (2003).
Segundo LOPES (2002), alguns autores, como BALL e BROWN (1972),
WILSON (1986, 1987), BERNARD e STOBER (1989), e SLOAN (1996), exploraram
em seus estudos a reação do preço das ações das empresas aos componentes do fluxo de
caixa e dos accruals do resultado.
BALL e BROWN (1972) mostraram que o fluxo de caixa não é tão bem
sucedido quanto o resultado residual para prever alterações nos preços das ações.
WILSON (1986, 1987) identificou que a evidenciação subseqüente de fluxo de caixa
tem valor incremental sobre a evidenciação do resultado residual. BERNARD e
STOBER (1989) afirmam que os conteúdos informativos do fluxo de caixa e do
resultado residual variam de acordo com as condições gerais da economia.
SLOAN (1996) aponta resultados contraditórios, indicando que o mercado não
diferencia os componentes dos accruals do resultado. É possível que tais modalidades
de estudos sejam importantes, tanto teórica quanto praticamente, para o campo da
interação entre a Contabilidade e mercado de capitais, no sentido de avaliar a utilidade
75
da Contabilidade para a redução da assimetria informacional entre acionistas e
administradores.
Segundo LOPES (2002), há uma expectativa que os accruals forneçam
informações adicionais ao fluxo de caixa e que sua presença, como no método de
depreciação e de reconhecimento de receitas e despesas, seja entendida como um
mecanismo para que os administradores disponibilizem informações privadas sobre a
empresa para os acionistas e o mercado de uma maneira geral.
O autor complementa, ainda, que não se pode esperar que a evidenciação
adicional do fluxo de caixa forneça informações mais relevantes do que aquelas
prestadas pelo resultado líquido. Ele considera que, sendo os accruals vistos como uma
das características mais relevantes do modelo contábil, a consideração de sua
irrelevância coloca em dúvida a própria utilidade da Contabilidade.
Segundo LOPES e MARTINS (2005), a discussão sobre o conteúdo informativo
da contabilidade direciona a um ponto bastante relevante, relacionado ao papel dos
accruals. Eles comentam a idéia de que, se o regime de competência fornece números
mais próximos dos fluxos futuros de caixa do que o próprio fluxo de caixa passado,
pode-se concluir que a relevância da informação contábil reside no regime de
competência. Mais especificamente, pode-se considerar que o conteúdo informativo da
contabilidade reside na essência do próprio regime de competência.
Eles consideram como sendo o conceito de conteúdo informativo a capacidade
da contabilidade de fornecer informações que possuam relevância econômica ao
usuário, importância essa que se refere à capacidade da informação de alterar as crenças
e as percepções dos observadores. Nesse sentido, pode-se considerar como observadores
os acionistas. Os vários estados possíveis da natureza possuem probabilidades de
ocorrência na visão dos agentes. Para que a informação possa ter relevância econômica,
ela precisa alterar essa percepção da realidade. Assim sendo, reduzir as assimetrias
informacionais entre usuários externos e internos, ou seja, acionistas e gestores da
firma.
76
É possível que essa questão seja ainda mais relevante no contexto do mercado de
capitais, percebendo a Contabilidade como uma ferramenta de redução de assimetria de
informações entre usuários externos e internos.
Os accruals fornecem alguns sinais com o intuito de reduzir a assimetria
informacional entre gestores e o mercado. Possivelmente, dessa maneira, agregam valor
para os usuários das informações contábeis. Alguns autores afirmam que é nos accruals
que reside o conteúdo informativo da contabilidade, à medida que fornecem
informações úteis ao mercado. Ao decidirem utilizar determinada taxa de depreciação,
os gestores informam, de maneira dedutiva, a situação dos ativos da empresa, momento
em que a assimetria informacional sobre esse determinado item é possivelmente
neutralizada.
Chega-se a um ponto crucial da teoria da contabilidade. Tendo os accruals a
capacidade de fornecer informações adicionais sobre a empresa, seria esperado que eles
fossem discricionários. Nesse ponto de vista, cada firma deveria ser capaz de escolher
as taxas de depreciação mais adequadas à sua realidade econômica. Como ficariam,
então, a comparabilidade e a consistência, importantes características qualitativas da
informação contábil? Seria possível analisar as demonstrações contábeis, com sua
comparabilidade prejudicada?
Essa diferenciação aumentaria a relevância da contabilidade, pois essa teria a
capacidade de informar sobre as diferenças intrínsecas entre as empresas. Em
contrapartida, se a informação contábil for totalmente normatizada, é possível que as
empresas percam a capacidade de fornecer informações relevantes ao mercado.
Encontra-se aí, de acordo com IUDÍCIBUS e LOPES (2004), o principal argumento
para a não-normalização da contabilidade enquanto fornecedora de informações ao
mercado.
No entanto, é possível que existam perigos referentes à não-normalização
contábil, em que as decisões de realização de accruals discricionários estejam ligadas
aos efeitos no esquema de remuneração do agente. HEALY (1985) coloca que os
gestores verificam e selecionam accruals e procedimentos contábeis discricionários que
maximizem o retorno esperado da sua premiação de bônus anual.
77
Ele complementa que a escolha de accruals discricionários impacta a
compensação do agente e o fluxo de caixa da empresa, sendo esses efeitos no caixa
financiados por novas emissões de ações ou recompras, portanto, não afetando as
decisões de produção e investimento da firma.
Pode-se argumentar que, se a contabilidade for administrada dessa forma, abre-
se uma gama de possibilidades para manipulações e informações contraditórias. Essa
linha de pensamento, provavelmente, tenha ganhado força com os recentes escândalos
em empresas como ENRON, Worldcomm e Parmalat.
2.4.2 A Informação Contábil e seus Mecanismos
Os diversos mecanismos contábeis, sob as restrições da Convenção do
Conservadorismo, podem levantar indagações sobre a qualidade da informação gerada
do lucro contábil, enquanto medida de desempenho da eficiência da firma e de sua
administração. (COSTA, TEIXEIRA e NOSSA, 2002).
O apropriado grau de abstração e refinamento dos procedimentos contábeis
adotados, de acordo com SANTOS e SILVA (2001), depende do objetivo de
mensuração. Na preparação das informações contábeis, é preciso determinar quais
procedimentos serão utilizados para o cálculo dos números que comporão as
demonstrações contábeis, pois tais números devem ser evidenciados e declarados com o
objetivo de que os diferentes usuários das informações possam utilizá-los em seus
diversos processos decisórios, em especial no contexto desse trabalho, e os acionistas
nas suas decisões no curso do acompanhamento do seu investimento.
Nesse caso, entre outras possibilidades de se realizar estimativas e provisões,
objetivando a confecção das demonstrações contábeis, os usuários deveriam ponderar as
implicações dos diferentes procedimentos contábeis adotados, como, por exemplo, o
método de depreciação dos diversos ativos da firma, avaliação dos estoques, provisão
para devedores duvidosos, provisões contingenciais, entre outras.
78
Possivelmente, o trabalho de determinar a relação entre as informações contábeis
e as variáveis que afetam o processo de tomada de decisão por parte de cada usuário não
é de fácil realização. Como, por exemplo, a relação entre os procedimentos contábeis
adotados e o valor de mercado das ações não pode ser determinada apenas por meio da
observação da variação dos preços em função de mudanças nos procedimentos
contábeis. (SANTOS e SILVA, 2001).
COLAUTO e BEUREN (2006) declaram que a estrutura conceitual básica da
Contabilidade, conforme definida em IUDÍCIBUS e MARION (2002), da qual fazem
parte os postulados e princípios, incluindo-se os conceitos de depreciação e provisões
para a determinação do lucro, tem como um de seus objetivos explicar a abordagem
prática da Contabilidade. Por conseguinte, tal estrutura conceitual se desenvolveu por
meio do objetivo de prescrever a maneira pela qual a firma deveria proceder no registro
e mensuração de suas transações.
O lucro como indicador de desempenho de uma determinada firma sendo
utilizado para balizar o processo de tomada de decisão por parte dos diversos agentes
econômicos, pode ser considerado como uma das principais preocupações dentro do
conjunto que forma as informações contábeis divulgadas aos usuários. No contexto
deste trabalho, em tais partes interessadas, estariam os acionistas com o intuito de
procurar reduzir a assimetria de informações existente em relação aos gestores, ou seja,
os administradores.
A origem do conceito de lucro está na teoria econômica, mas pode-se considerar
que compete à Contabilidade registrá-lo e mensurá-lo com o objetivo final de procurar
melhor informar o desempenho econômico da firma ao acionista. O processo contábil
dispõe de alternativas para determinados registros que, em princípio, não afetam o
caixa, como as provisões, por exemplo.
Nesse sentido, ao se analisar a eficiência da empresa por meio das informações
de lucro, torna-se mais prudente conhecer a sintaxe utilizada na geração das
informações contábeis, a fim de que se possa aumentar a credibilidade das decisões
tomadas a partir de tais demonstrações. (COLAUTO e BEUREN, 2006).
79
Segundo HENDRIKSEN e BREDA (1999), os lucros fundamentam-se em
convenções e regras que devem ser lógicas e coerentes, muito embora possam não se
ajustar perfeitamente às noções de lucro dos economistas. As convenções e regras
tornam-se lógicas e coerentes porque se alicerçam em premissas e em conceitos
desenvolvidos a partir da prática existente.
Entretanto, conceitos como realização, vinculação, regime de competência e
alocação de custos só podem ser definidos em termos de regras precisas, porque não
possuem contrapartidas no mundo real. É importante verificar que o regime de
competência, possivelmente, exerce uma influência sobre o lucro a ser divulgado aos
usuários interessados no desempenho da firma. Entretanto, pode-se considerar que os
accruals, em todos os seus gêneros, como provisões, depreciações, amortizações, entre
outros, representam uma diferença temporal entre as informações produzidas seguindo o
regime de competência e aquelas geradas pelo regime de caixa.
Segundo HEALY (1985), os accruals alteram a tempestividade do resultado
comunicado aos acionistas. Os accruals discricionários permitem que os
administradores transfiram impactos no resultado de um período para outro.
Questões relacionadas ao conhecimento do funcionamento dos diversos
mecanismos contábeis, entre eles os participantes na determinação do lucro, são
possivelmente ainda mais relevantes em um contexto de assimetria de informações entre
acionistas e administradores.
2.4.3 O Regime de Competência e a Teoria Contratual da Firma
Ao se conceber a firma como um emaranhado de contratos que precisam ser
cumpridos, incluindo-se aqueles existentes entre os acionistas e os administradores, com
relação ao desempenho contábil-financeiro da firma, bem como a informação
80
apropriada do seu desempenho, pode-se verificar a idéia de que os princípios contábeis
desempenham um papel importante nesse ambiente contratual.
Segundo IUDÍCIBUS e LOPES (2004, p. 179):
O regime de competência, e outros princípios, normas e
convenções contábeis, podem ser analisados sob a ótica
contratual. Os contratos possuem cláusulas explícitas que,
normalmente, estão definidas formalmente. No entanto, é
interessante que sejam definidos alguns parâmetros e condições
gerais que não demandem uma análise específica para cada
contrato. Assim, algumas linhas gerais são interessantes para
que os contratos possam ser desenvolvidos com o menor custo
possível. Os princípios contábeis podem ser vistos como bases
contratuais amplas, que devem ser observados em quaisquer
contratos que envolvam a Contabilidade. Por exemplo, quando
os administradores levam ao público o lucro da empresa em
determinado período, assume-se que esse número é
conservador. Dessa forma, não haverá o risco de que
dividendos sejam pagos sobre um lucro ilusório, levando à
descapitalização e à possível descontinuidade da empresa.
Considerando-se o exposto, observa-se que no ambiente contratual da firma,
com a existência e utilização dos Princípios Contábeis, as informações produzidas pela
Contabilidade, em especial o lucro de uma determinada empresa, podem ser
comparadas com o de outra empresa, e isso pode viabilizar e facilitar as decisões de
investimentos por partes dos capitalistas.
Essa visão alternativa do papel dos princípios e normas contábeis pode ajudar
em muito os pesquisadores no momento de desenvolver hipóteses empiricamente
testáveis. A relevância dos Princípios Contábeis muda de acordo com o contexto
organizacional e com os mecanismos de governança de cada firma. (IUDÍCIBUS e
LOPES, 2004).
81
2.5 A Contabilidade e A Governança Corporativa
De uma maneira geral, o desenvolvimento da governança corporativa, assim
como de seus mecanismos, depende do nível de evolução do mercado de capitais de um
determinado país ou região geográfica. Em países de economia desenvolvida, ou seja,
em que o mercado de capitais é consolidado e amadurecido, evidências indicam que há
uma pulverização acionária, de tal sorte que prejudica a relação entre acionistas e
gestores, intensificando os conflitos de interesses existentes entre eles.
Faz-se, assim, necessária a criação de mecanismos rígidos de controle e
monitoramento das ações da administração, com o objetivo de procurar assegurar que
suas decisões sejam sempre direcionadas à maximização do retorno e das riquezas dos
acionistas (CARVALHO e MELO 2003, IBGC 2004, SILVEIRA 2004, ANDRADE e
ROSSETTI 2004).
Segundo SHLEIFER e VISHNY (1997, p. 737):
A governança corporativa trata das formas pelas quais os
fornecedores de financiamento para as empresas asseguram um
retorno em seu investimento. Como os fornecedores de
financiamento fazem com que os administradores devolvam
parte do lucro para eles? Como ter certeza de que os
administradores não roubem o capital ou invistam-no em
projetos de valor presente líquido negativo? Como os
fornecedores de capital podem controlar os administradores?
Conforme pode ser observado em SILVEIRA (2004), a governança corporativa
é entendida como o conjunto de mecanismos que procuram aumentar a probabilidade de
que os fornecedores de capital garantam um retorno sobre seu investimento.
O estudo da governança corporativa parte dos problemas de agência,
principalmente relacionados com os conflitos de agência e assimetria informacional
entre principal e agente. A afirmação apresentada acima tem um enfoque no conflito
82
entre fornecedores de capital e os gestores da firma. Nesse contexto, pode-se considerar
que a contabilidade desempenha um papel muito importante no processo de governança
das firmas.
Segundo BUSHMAN e SMITH (2001, p. 238):
Nós definimos como papel da informação contábil nos
mecanismos de governança como a utilização de informações
contábeis preparadas para usuários externos em mecanismos de
controle que promovem a governança eficiente das
corporações.
A informação contábil, financeira ou societária, é produto da
contabilidade da empresa e de sistemas de informação para
usuários externos que mensuram e evidenciam publicamente
informações quantitativas auditadas relacionadas à posição
financeira e desempenho de empresas abertas. Os sistemas de
contabilidade financeira fornecem inputs diretos para os
mecanismos de controle corporativos, da mesma forma que
fornecem inputs indiretos para os mecanismos de controle
corporativos por intermédio da contribuição para a informação
contida nos preços das ações.
É relevante o reconhecimento da importância da utilização de informações
contábeis nos diversos mecanismos de governança e controle das firmas, organismos
esses que surgem da necessidade de medidas adicionais ao sistema de preços para
incentivar e coordenar as diversas atividades. Como é possível que as forças de mercado
relativas aos preços não sejam integralmente rígidas, mecanismos de governança
alternativos devem ser adotados para procurar impedir que os acionistas, fornecedores
de capital, sejam expropriados de seus recursos pelos administradores.
Porém, é provável que esse conflito entre acionistas e gestores não seja o único
existente na administração das firmas. A contabilidade se apresenta, nessa concepção
teórica, para contribuir com os mecanismos de governança, com o objetivo de
minimizar o impacto dos conflitos de agência. Como exemplo, os mecanismos de
controle gerencial podem servir para que uma determinada empresa, formada por
83
diversas pessoas com interesses divergentes, tenha a capacidade de obter sucesso por
meio da coordenação desses diversos interesses divergentes. (IUDÍCIBUS e LOPES,
2004).
2.5.1 Panoramas da Governança Corporativa
É possível que a preocupação com a governança corporativa tenha sido
aumentada após os recentes escândalos contábeis, envolvendo grandes grupos
econômicos nos Estados Unidos. Os impactos causados pelos efeitos de tais
acontecimentos foram tão relevantes, que, possivelmente, tenham influenciado
diretamente na criação da Lei norte-americana, conhecida como a Lei Sarbanes-Oxley.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), entidade criada em
1995, possivelmente ganhou mais relevância após tais importantes eventos.
Outro movimento de grande importância para o mercado de capitais no Brasil,
foi a criação de níveis diferenciados de governança corporativa na BOVESPA. Entre os
níveis diferenciados de listagem está o Novo Mercado.
Segundo a BOVESPA (site da internet www.bovespa.com.br, acessado em 8 de
outubro de 2006, às 12h17min horas), o Novo Mercado é um segmento de listagem
destinado à negociação de ações emitidas por companhias que se comprometam,
voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa adicionais em
relação ao que é exigido pela legislação.
A valorização e a liquidez das ações são influenciadas positivamente pelo grau
de segurança oferecido pelos direitos concedidos aos acionistas e pela qualidade das
informações prestadas pelas companhias. Essa é a premissa básica do Novo Mercado. A
entrada de uma companhia no Novo Mercado ocorre por meio da assinatura de um
contrato e implica a adesão a um conjunto de regras societárias, genericamente
84
chamadas de "boas práticas de governança corporativa", mais exigentes do que as
presentes na legislação brasileira.
Essas regras, consolidadas no Regulamento de Listagem do Novo Mercado,
ampliam os direitos dos acionistas, melhoram a qualidade das informações usualmente
prestadas pelas companhias, bem como a dispersão acionária e, ao determinar a
resolução dos conflitos societários por meio de uma Câmara de Arbitragem, oferecem
aos investidores a segurança de uma alternativa mais ágil e especializada.
A principal inovação do Novo Mercado, em relação à legislação, é a exigência
de que o capital social da companhia seja composto somente por ações ordinárias.
Porém, esta não é a única. Por exemplo, a companhia aberta participante do Novo
Mercado tem como obrigações adicionais:
Extensão para todos os acionistas das mesmas condições obtidas pelos
controladores, quando da venda do controle da companhia (tag along).
Realização de uma oferta pública de aquisição de todas as ações em circulação,
no mínimo, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do capital ou
cancelamento do registro de negociação no Novo Mercado.
Conselho de Administração com mínimo de 5 (cinco) membros e mandato
unificado de até 2 (dois) anos, permitida a reeleição. No mínimo, 20% (vinte por cento)
dos membros deverão ser conselheiros independentes.
Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações Trimestrais
(ITRs) – documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA,
disponibilizado ao público, contendo demonstrações financeiras trimestrais – entre
outras: demonstrações financeiras consolidadas e a demonstração dos fluxos de caixa.
85
Melhoria nas informações relativas a cada exercício social, adicionando às
Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFPs) – documento que é enviado pelas
companhias listadas à CVM e à BOVESPA, disponibilizado ao público, contendo
demonstrações financeiras anuais – entre outras, a demonstração dos fluxos de caixa.
Divulgação de demonstrações financeiras de acordo com padrões internacionais
IFRS ou US GAAP.
Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações Anuais (IANs)
– documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA,
disponibilizado ao público, contendo informações corporativas – entre outras: a
quantidade e características dos valores mobiliários de emissão da companhia detidos
pelos grupos de acionistas controladores, membros do Conselho de Administração,
diretores e membros do Conselho Fiscal, bem como a evolução dessas posições.
Realização de reuniões públicas com analistas e investidores, ao menos uma vez
por ano.
Apresentação de um calendário anual, do qual conste a programação dos eventos
corporativos, tais como assembléias, divulgação de resultados etc.
Divulgação dos termos dos contratos firmados entre a companhia e partes
relacionadas.
Divulgação, em bases mensais, das negociações de valores mobiliários e
derivativos de emissão da companhia pelos acionistas controladores.
Manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações, representando 25%
(vinte e cinco por cento) do capital social da companhia.
Quando da realização de distribuições públicas de ações, adoção de mecanismos
que favoreçam a dispersão do capital.
Adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado para resolução de conflitos
societários.
86
Além de presentes no Regulamento de Listagem, alguns desses compromissos
deverão ser aprovados em Assembléias Gerais e incluídos no Estatuto Social da
companhia.
Apesar da recente notoriedade adquirida internacionalmente pelo tema,
BUSHMAN e SMITH (2003) afirmam que as raízes da pesquisa em governança
corporativa podem ter tido início com, pelo menos, o trabalho de BERLE e MEANS
(1932).
Continuam os autores dizendo que desde essa época, eles argumentavam que o
controle efetivo das empresas com ações em bolsa não era exercido pelos proprietários
legais do patrimônio, os acionistas, mas por administradores profissionais contratos para
tal finalidade.
Os autores afirmam, ainda, a idéia de que, devido à existência de grande
quantidade de firmas caracterizadas por essa segregação entre controle e propriedade do
capital, a pesquisa em governança corporativa geralmente procura entender e explicar os
mecanismos elaborados com o objetivo de mitigar os problemas de agência,
possibilitando a continuação da existência desse tipo de organização econômica,
caracterizada pela segregação da estrutura de propriedade.
É possível a idéia de que as considerações sobre governança em Contabilidade
explorem o papel da informação contábil como uma fonte crível de variáveis que
apóiam a existência de contratos executáveis, como, por exemplo, as compensações dos
executivos com vantagens vinculadas aos resultados obtidos, o monitoramento dos
administradores pelos conselhos de administração, investidores e reguladores, e o
exercício dos direitos legais dos acionistas.
LOPES (2002), procurando fazer uma ligação entre a Contabilidade e a
governança corporativa, afirma que a relevância da informação emanada pela
Contabilidade não pode ser avaliada completamente sem a consideração dos
mecanismos de governança corporativa. Ainda com relação a essa ligação, BUSHMAN
e SMITH (2003) consideram a premissa de que sistemas contábeis representam uma
87
fonte primária de informações efetivas e de baixo custo, relevantes para a governança
das firmas.
Com base em evidências empíricas e na literatura existente, LOPES (2002)
coloca que pode ser considerado que a Contabilidade funciona como um mecanismo de
redução de assimetria de informações e de conflitos relacionados.
Nesse sentido, BUSHMAN, et al. (2000) comenta que em firmas nas quais os
números contábeis desempenham um papel fraco no sentido de capturar as informações
relevantes em seu real valor, o sistema de informações contábeis é menos efetivo no
sentido de satisfazer as demandas de governança corporativa dos gestores e acionistas.
Esses autores complementam, ainda, que seja provável que tais firmas possam procurar
mecanismos de governança alternativos, freqüentemente mais caros, com o objetivo
final de compensar algumas inadequações e problemas nas informações contábeis.
Com relação aos aspectos qualitativos da informação emanada pela
Contabilidade, no contexto de problemas de assimetria de informações, BUSHMAN, et
al. (2000) comentam que são essencialmente relevantes também os argumentos que os
participantes do mercado de capitais substituirão em relação a formas mais caras de
busca e agrupamento de informação, quando a qualidade da evidenciação contábil se
deteriora. Complementam que representações contábeis de baixa qualidade podem
aumentar a demanda por mecanismos alternativos de informação, como, por exemplo, a
busca de informação por intermediários financeiros e gestores, evidenciação voluntária
e/ou sinalização.
Tais mecanismos alternativos poderão comunicar parte das informações privadas
dos gestores, contribuindo com o aumento na composição do total de informações
disponíveis aos usuários externos, gestores e acionistas, de empresas cuja contabilidade
seja menos informativa. Entretanto, é relevante observar que esses mecanismos
alternativos poderão não compensar qualquer limitação na contabilidade, sob os
princípios contábeis e sua informação. Isso possibilita a criação de uma demanda
residual para serem compensadas por outros mecanismos.
88
Os autores complementam, ainda, que no primeiro momento os gestores
provavelmente não revelarão as informações consideradas privadas em sua totalidade,
principalmente aquelas relacionadas com a estratégia desenvolvida para a criação de
valor para os acionistas. Algumas razões para isso poderiam ser os possíveis efeitos
dessas divulgações, criando potencial desvantagem competitiva, falta de credibilidade e
prováveis passivos legais associados a tais evidenciações.
De acordo com os fatores mencionados, é possível considerar que o problema de
assimetria informacional não possa ser solucionado em sua totalidade, para o bem da
própria continuidade da entidade. Adicionalmente, é provável que as informações de
natureza privada sejam disponibilizadas para terceiros apenas pelo seu impacto no preço
da ação. No entanto, a natureza de tais informações pode representar um fator limitante
no seu valor em monitorar as decisões e atividades dos gestores.
A forma pela qual o executivo é remunerado pode ter um impacto direto no
desempenho da firma, pois este pode estar mais ou menos interessado em maximizar o
valor para o acionista, dependendo da maneira que isso influencie os seus próprios
ganhos (RAPPAPORT, 1999).
Segundo BUSHMAN, et al. (2000), a posse de ações pelos gestores liga
diretamente seus incentivos financeiros com o dos acionistas externos. Buscando uma
conexão entre o desempenho da firma e a qualidade informativa da Contabilidade, os
autores complementam que é provável que a oferta de ações da empresa para os
administradores seja relativamente grande em firmas cujas informações contábeis,
principalmente relativas aos resultados econômicos, são de pouca ajuda para o alívio da
assimetria informacional entre administradores e acionistas.
Ainda segundo esses autores, isso ocorre devido ao grande benefício encontrado
em oferecer aos administradores incentivos baseados no desempenho da empresa, na
tentativa de fazer com que esses venham a agir de acordo com o interesse dos acionistas
na execução das suas tarefas de responsabilidade administrativa. É provável que a oferta
de ações para os diretores externos também seja grande, com o objetivo de municiá-los
de poderosos incentivos financeiros que os estimulem a incorrer em custos adicionais de
monitoramento das ações dos gestores, para o benefício dos acionistas.
89
A tempestividade, ou timeliness, da informação contábil, que é um importante
aspecto qualitativo da Contabilidade, pode exercer influências sobre a concentração da
propriedade de ações por parte dos acionistas. Conforme afirmam BUSHMAN, et al.
(2000), quanto mais baixo o tempo de evidenciação das informações contábeis,
incluindo os resultados, maior a concentração da propriedade de ações pelos acionistas
externos, em resposta aos benefícios de redução marginal dos altos custos de
monitoramento.
Os autores complementam essa informação, afirmando que tal presunção é
baseada nos argumentos de DEMSETZ e LEHN (1985), que propõem que a alta
concentração de propriedade de ações é determinada, pelo menos parcialmente, pelos
potenciais benefícios de redução do alto custo de monitoramento. A razão que norteia
essa afirmação é apontada pela teoria básica de DEMSETZ e LEHN (1985), que
preconiza o fato de que acionistas com pequena quantidade de ações da empresa,
considerados minoritários, têm relativamente poucos incentivos para se engajar em altos
custos de monitoramento.
Empresas com atividades específicas, que podem aumentar consideravelmente o
tempo necessário para que o resultado atual reflita as conseqüências das ações atuais
dos gestores, podem influenciar o uso das informações contábeis para a redução da
assimetria informacional entre acionistas e administradores.
Com respeito a esse assunto, BUSHMAN, et al. (2000), afirmam que em
empresas caracterizadas por inovação e longos ciclos de desenvolvimento de produtos
são firmas que poderão ter ganhos atuais que efetivamente não capturam os efeitos
correntes dos esforços dos administradores para a geração de valor ao acionista.
Os autores complementam que os efeitos nessas empresas são consistentes com
a idéia de que em firmas com sistemas de contabilidade fracos, existe a tendência de se
abandonar as informações contábeis dos planos de incentivos anuais e substituí-las por
indicadores não-financeiros de mensuração de desempenho. Eles admitem que, ao passo
que o tempo de realização dos ganhos contábeis diminui, a compensação dos executivos
incluirá maior proporção de incentivos baseados na situação patrimonial da empresa,
90
além de maior participação de incentivos de longo prazo em relação ao total que
compõe o pacote de compensação.
Ainda para esses autores, o argumento principal para a mudança em direção a
pacotes baseados na situação patrimonial é o de que ganhos prematuros levam a uma
maior ênfase nos preços de ações para alinhar os incentivos. Além disso, planos de
incentivo de longo prazo dependem de ganhos medidos em um período de três a cinco
anos. Quanto mais esse período cresce, mais as informações e os números contábeis
devem refletir mudanças nos valores do patrimônio líquido da firma (EASTON,
HARRIS e OHLSON, 1992).
Baseado no exposto anteriormente, é possível considerar a idéia de que a
utilidade das informações contábeis, em um modelo razoável de governança
corporativa, depende do nível em que os resultados correntes refletem os efeitos das
atividades e iniciativas correntes, bem como os seus impactos no valor para o acionista.
BUSHMAN, et al. (2000) afirmam que os sistemas de governança de firmas
cujos resultados são relativamente inoportunos, poderão ser caracterizados por
conselhos de administração e estruturas de propriedade que facilitem atividades de
monitoramento de alto custo pelos acionistas, com o objetivo de compensar pelas
deficiências de evidenciação apresentadas pelo resultado.
Tais autores colocam, ainda, que suas observações confirmam as seguintes
hipóteses por eles levantadas: 1) A demanda dos acionistas por sistemas de coleta e
processamento caro de informações é uma função inversa da utilidade das informações
do sistema de Contabilidade; 2) Um importante fator determinante da qualidade das
informações do sistema de Contabilidade é a capacidade de explicar mudanças correntes
no valor para o acionista; 3) Estruturas de governança específicas, caracterizadas por
atividades de monitoramento de alto custo, representam uma resposta para a forte
demanda por caros sistemas de coleta e processamento de informações pelos acionistas
e diretores não-executivos dos conselhos de administração.
Com relação aos elementos influenciadores de uma boa estrutura de governança
corporativa, é perceptível a idéia da existência de algumas funções definidas. Segundo
91
BUSHMAN e SMITH (2003), as funções básicas de uma estrutura de governança
corporativa, em um mercado de capitais consolidado, são: 1) assegurar que os acionistas
minoritários recebam informações confiáveis sobre o valor da firma e que os gestores da
empresa, juntamente com os acionistas majoritários, não lhes trapaceiem com relação ao
valor do seu investimento na firma; 2) motivar os administradores a maximizarem o
valor da firma, ao invés de se dedicarem aos seus objetivos pessoais.
Para desenvolver um sistema que tenha valor em termos de governança, é
provável que envolva uma escolha complexa entre confiabilidade e relevância das
informações contábeis evidenciadas. Por um lado, os julgamentos e expectativas dos
administradores são parte inseparável de qualquer modelo sério de reporting (relatório);
por outro, o valor da governança das informações contábeis e financeiras provém, em
grande parte, da ênfase nos objetivos de reporting (relatório) e nos resultados
comprovados das firmas.
Em relação ao assunto, BUSHMAN e SMITH (2003) colocam que a ênfase nos
resultados comprovados produz um rico conjunto de variáveis que podem apoiar a
aplicação de uma grande quantidade de responsabilidades contratuais que formam a
base para que os outsiders (acionistas) possam monitorar e disciplinar as ações dos
insiders (administradores).
É possível a existência de uma estrutura de monitoramento das ações dos
agentes, por meio do entendimento do funcionamento das informações contábeis em um
mercado caracterizado pela segregação entre propriedade e controle. Essa estrutura
determina a existência de três canais pelos quais as informações contábeis e financeiras
podem afetar os investimentos, produtividade e valor adicionado das firmas.
Tais canais envolvem o uso das informações contábeis para: 1) identificar
oportunidades promissoras de investimento; 2) disciplinar os gestores a direcionar
recursos para projetos identificados como viáveis e evitar os projetos que beneficiam
primeiramente a si próprios, em detrimento dos proprietários do capital (acionistas),
adicionalmente prevenindo desvios; 3) reduzir a assimetria de informações entre os
investidores.
92
Além disso, BUSHMAN e SMITH (2003) afirmam que a informação contábil
também favorece o ambiente informativo, de uma maneira geral, disciplinando as
evidenciações das atividades executadas pelos gestores e provendo inputs para as
atividades de processamento da informação pelos usuários externos.
Os sistemas de informação contábil fornecem, provavelmente, informações
diretas sobre oportunidades de investimento. Por exemplo, os gestores ou potenciais
compradores conseguem identificar novas e promissoras oportunidades de investimento,
aquisições ou inovações estratégicas, baseadas nas informações de resultado e
publicadas por outras firmas.
Adicionalmente, é possível observar que os sistemas de informação contábil
também apóiam o papel informativo exercido pelos efeitos das atividades dos gestores,
evidenciados nos valores das ações. Segundo argumentado por BLACK (2000) e BALL
(2001), apud BUSHMAN e SMITH (2003), um regime contábil forte e com um enfoque
na credibilidade e responsabilidade são pré-requisitos básicos para a existência de um
mercado acionário confiável.
Os autores comentam, ainda, que informações contábeis objetivas e confiáveis
facilitam o monitoramento por parte dos acionistas e o efetivo exercício dos seus
direitos, propiciam ao conselho de administração a otimização do valor para o acionista,
pois o capacita a aconselhar, ratificar e policiar as decisões e atividades dos
administradores, e promovem uma ampla gama de variáveis para determinar as
recompensas financeiras dos planos de incentivos desenhados, para alinhar os interesses
financeiros dos investidores com o dos executivos.
Com relação ao conservadorismo, BALL (2001), apud BUSHMAN e SMITH
(2003), argumenta que a tempestiva incorporação das perdas aos resultados publicados
nas demonstrações contábeis, ou seja, conservadorismo, aumenta a eficácia da
governança corporativa e dos sistemas de compensação dos executivos, bem como de
monitoramento de duas ações por parte dos investidores.
93
3 Pesquisa Descritiva
Após a obtenção das respostas dos questionários enviados aos responsáveis
pelos departamentos de Relação com Investidores, das empresas que fazem parte do
universo amostral deste estudo, realizou-se a compilação simples dos dados, conforme
descrito no capítulo que trata da metodologia de trabalho.
O objetivo foi o de obter informações importantes, a fim de realizar algumas
considerações sobre as suposições de trabalho. Um aspecto importante, ora levantado na
seção que trata das limitações desta pesquisa, é a ausência do emprego de métodos
estatísticos sofisticados para a compilação dos dados.
O questionário de pesquisa era composto por quatro questões, com o objetivo de
analisar a situação-problema sob a ótica dos administradores das empresas listadas no
Novo Mercado da BOVESPA, até dezesseis de outubro de 2006, data da verificação
final do site da Bolsa de Valores de São Paulo, na internet. Tais gestores representam os
agentes nas suas relações de agência.
3.1 Considerações e Análises dos Resultados da Pesquisa
Descritiva
Considerando as observações dos questionários analisados, bem como a
compilação das respostas recebidas, podem ser feitos os seguintes comentários.
A primeira questão procurava saber dos gestores, de uma maneira geral, como é
percebida a possibilidade da existência de assimetria de informações entre principais e
agentes, apresentando o seguinte enunciado: “Considerando que a Administração
Profissional executa a gestão da empresa próxima a sua operação e que os acionistas se
encontram operacionalmente distantes, você acha que existem informações detidas
apenas pela Administração que os acionistas não conhecem, caracterizando uma
94
situação de assimetria de informações?” Após a compilação das respostas recebidas,
chegou-se ao resultado de que 47% responderam que sim e 53% acreditam que não.
Observando o resultado obtido com as respostas a essa questão, pode-se
considerar que esse tema é percebido de forma eqüitativa entre os administradores das
empresas participantes da amostra. É importante mencionar que em duas oportunidades
foi realizada a triangulação, que consiste em aplicar o questionário e, ao mesmo tempo,
realizar uma entrevista com o participante da pesquisa.
Nessas duas ocasiões, foi ponderado pelos entrevistados que eles supõem que
não existe assimetria de informações entre eles, os agentes e os principais, acionistas,
pois segundo eles “os acionistas da nossa empresa são oportunamente informados sobre
o que realmente precisam saber para auxiliá-los a entender como anda a posição do seu
investimento”. Algumas questões importantes surgem após essas respostas. Quem
define “o que realmente precisam saber”? Será que os acionistas realmente possuem as
mesmas informações que os administradores?
Para efeito de comparação, foram reclassificadas as duas respostas em que
ocorreu a triangulação com os participantes, do “não” para o “sim”. Após esse ajuste,
verificou-se, então, que 42% consideram que não e 58% que há assimetria de
informações entre a administração e os acionistas.
A segunda questão utiliza o método de escalonamento de Likert, com uma
escala de um a quatro, sendo 1 – discordo plenamente; 2 – discordo em parte; 3 –
concordo em parte e 4 – concordo plenamente. Foram apresentadas cinco afirmações,
sobre as quais os participantes responderam conforme a escala pré-determinada,
conforme seu grau de concordância. Os gráficos abaixo ilustram a compilação das
respostas recebidas.
95
GRÁFICO 2 – Respostas à segunda questão – afirmação 1
A Contabilidade produz informações úteis sobre o patrimônio da empresa.
Concordo em
parte
21%
Concordo
plenamente
79%
Observando o agrupamento das respostas recebidas, pode-se verificar que para a
primeira afirmação “A Contabilidade produz informações úteis sobre o patrimônio da
empresa”, 21% concordam em parte e 79% concordam plenamente. Isso mostra que, na
visão dos administradores, a Contabilidade cumpre seu papel de produzir informações
úteis sobre o patrimônio da entidade.
GRÁFICO 3 – Respostas à segunda questão – afirmação 2
As informações Contábeiso relevantes para o acionista.
Concordo
plenamente
74%
Concordo em
parte
21%
Discordo em parte
5%
A segunda sentença afirmativa é: “As informações Contábeis são relevantes para
o Acionista”. 5% dos respondentes discordam em parte, 21% concordam em parte e
74% concordam plenamente. Com a observação das respostas, verifica-se que a maioria
dos participantes concorda com a relevância para os acionistas das informações
produzidas pela Contabilidade.
96
GRÁFICO 4 – Respostas à segunda questão – afirmação 3
A Contabilidade possibilita a redução da assimetria informacional entre
Administração e Acionistas.
Concordo
plenamente
63%
Concordo em
parte
37%
“A Contabilidade possibilita a redução da assimetria informacional entre
Administração e Acionistas” constitui a terceira afirmação da segunda questão. Pela
verificação das respostas, observa-se que 37% dos participantes concordam em parte e
63% concordam plenamente. Isso indica que, na visão dos administradores, a redução
da assimetria de informações entre principais e agentes pode ser possibilitada pela
Contabilidade.
GRÁFICO 5 – Respostas à segunda questão – afirmação 4
O conjunto de Demonstrações Contábeis, do Relatório Anual, é suficiente
para um bom processo de informação ao acionista.
Discordo
plenamente
5%
Discordo em parte
26%
Concordo em
parte
48%
Concordo
plenamente
21%
A penúltima frase afirma que: “O conjunto de Demonstrações Contábeis, do
Relatório Anual, é suficiente para um bom processo de informação ao Acionista”. A
compilação das respostas obtidas permite verificar que 5% discordam plenamente, 26%
discordam em parte, 47% concordam em parte e 21% concordam plenamente.
Apesar de a maioria concordar com a afirmação, é preciso observar que um
percentual relativamente alto, 32% dos participantes, discorda de alguma maneira com a
frase. Isso sugere que é possível que o conjunto de Demonstrações Contábeis do
relatório anual não seja suficiente para um bom processo de informação ao acionista, e
provavelmente tenha de ser complementado com informações adicionais.
97
GRÁFICO 6 – Respostas à segunda questão – afirmação 5
O acionista sente-se bem informado sobre o desempenho da empresa ao
analisar as Demonstrações Contábeis.
Discordo
plenamente
5%
Discordo em parte
11%
Concordo em
parte
32%
Concordo
plenamente
52%
A quinta afirmação é: “O Acionista sente-se bem informado sobre o
desempenho da empresa ao analisar as Demonstrações Contábeis”. Agrupando-se as
respostas obtidas, tem-se que 5% discordam plenamente, 11% discordam em parte, 32%
concordam em parte e 53% concordam plenamente. Observa-se que pela ótica dos
administradores é possível que os acionistas sintam-se bem informados ao analisarem as
Demonstrações Contábeis e as informações obtidas por meio delas.
A terceira questão teve como objetivo verificar quais indicadores contábeis, que
podem ser obtidos por meio das informações contábeis, são mais relevantes na opinião
dos administradores. Ela possui o seguinte enunciado: “Assinale abaixo qual(is)
indicador(es) Contábil(eis) você acha mais relevante(s) no processo de informação do
desempenho econômico da empresa ao acionista”. Os respondentes tinham a liberdade
de assinalar qualquer quantidade de indicadores, incluindo nenhum deles ou todos eles.
A lista fornecida no corpo do questionário continha os seguintes indicadores:
EBITDA; lucro por ação; lucro líquido; margem das vendas; retorno sobre o capital
próprio; índices de liquidez; índices de endividamento; lucro operacional; giro do ativo
e giro de estoques. Após a análise dos dados obtidos, chegou-se ao seguinte resultado.
98
TABELA 7 – Classificação dos indicadores contábeis
Indicadores Percentual
EBITDA 84%
Lucro por Ação 79%
Índices de Endividamento 63%
Retorno sobre o Capital Próprio 58%
Lucro Líquido 53%
Margem das Vendas 47%
Lucro Operacional 47%
Índices de Liquidez 11%
Giro de Estoques 11%
Giro do Ativo 0%
A respectiva tabela mostra, em ordem decrescente, os indicadores mais
assinalados pelos respondentes do questionário. Como se pode observar na tabela, o
indicador mais escolhido como relevante no processo de informação do desempenho
econômico ao acionista, na visão dos administradores, foi o EBITDA.
Esse indicador representa o lucro gerado antes dos juros, impostos, depreciação
e amortização e pode ser considerado como a geração de caixa da empresa no período.
O segundo foi o lucro por ação, seguido pelos índices de endividamento, retorno sobre o
capital próprio e lucro líquido.
Os cinco mais assinalados obtiveram, em todos os casos, mais de 50% de
escolha por parte dos respondentes. Como se pode considerar que tais indicadores
tratam de fornecer informações mais diretas sobre o investimento dos acionistas, por
exemplo, o lucro por ação e o retorno sobre o capital próprio (patrimônio líquido), é
possível que essa seja a razão da escolha dos administradores por esses itens.
A quarta questão buscou verificar a opinião dos respondentes em relação à
classificação das Demonstrações Contábeis de acordo com o grau de importância para a
informação ao acionista. Ela possui o seguinte enunciado: “Enumere as opções abaixo,
de 1 (um) a 6 (seis), classificando os componentes do Relatório Anual (Demonstrações
99
Contábeis) de acordo com o grau de importância para informação ao
Acionista/Investidor, segundo sua opinião”.
Uma lista com seis opções foi fornecida no corpo do questionário, contendo os
seguintes componentes: Balanço patrimonial; Demonstração das mutações do
patrimônio líquido; Demonstrações de origens e aplicações de recursos; Demonstração
do resultado do exercício; Notas explicativas e Demonstração do fluxo de caixa. As
tabelas a seguir evidenciam os resultados que foram obtidos, após a realização de uma
distribuição de freqüência, análise e compilação dos dados.
Inicialmente, o resultado em valor absoluto é apresentado na tabela seguinte:
TABELA 8 – Distribuição de freqüência/valor - importância do relatório anual
Distribuição de freqüência / valor
Componentes do relatório anual
1 2 3 4 5 6
Balanço Patrimonial 5 3 4 6 1 0
Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido 0 1 0 2 6 10
Demonstração das Origens e Aplicações de
Recursos 0 2 1 0 10 6
Demonstração do Resultado do Exercício 10 5 3 0 1 0
Notas Explicativas 0 57 3 13
Demonstração do Fluxo de Caixa 4 3 4 8 0 0
Total 19 19 19 19 19 19
O resultado em termos percentuais da distribuição de freqüência é apresentado
na tabela a seguir.
100
TABELA 9 – Distribuição de freqüência/percentual - importância do relatório
anual
Distribuição de freqüência / percentual
Componentes do relatório anual
1 2 3 4 5 6
Balanço Patrimonial 26% 16% 21% 32% 5% 0%
Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido 0% 5% 0% 11% 32% 53%
Demonstração das Origens e Aplicações de
Recursos 0% 11% 5% 0%
53% 32%
Demonstração do Resultado do Exercício 53% 26% 16% 0% 5% 0%
Notas Explicativas 0% 26% 37% 16% 5% 16%
Demonstração do Fluxo de Caixa 21% 16% 21% 42% 0% 0%
Total 100% 100% 100% 100% 100% 100%
De acordo com as tabelas apresentadas, observa-se que a Demonstração do
resultado do exercício é considerada a mais importante para a geração de informação
aos acionistas, na visão dos participantes. Em segundo lugar, estão as Notas
explicativas, seguidas pelo Balanço patrimonial, Demonstração do fluxo de caixa,
Demonstração das origens e aplicações de recursos, e, por último, a Demonstração das
mutações do patrimônio líquido.
A maior importância dada à Demonstração de Resultado do Exercício, pelos
participantes, em relação aos demais demonstrativos, pode ser devido ao conteúdo
informativo com relação ao resultado gerado no período proporcionado ao investidor
interessado.
Adicionalmente, as informações contidas nesse demonstrativo servirão de base
para diversos eventos importantes na relação entre investidores e gestores, como por
exemplo a distribuição de dividendos aos acionistas, e o pagamento dos incentivos aos
administradores.
101
3.2 Considerações sobre os Resultados da Pesquisa
Após uma análise em conjunto da compilação das respostas obtidas nos
questionários recebidos, pode-se considerar que existe um alinhamento com a primeira
suposição de trabalho. Tal suposição, apresentada no capítulo que trata dos
procedimentos metodológicos, sugere que: Existem problemas de assimetria de
informação entre principal e agente. As respostas obtidas na primeira questão,
principalmente, contribuem com a observação desse alinhamento com a primeira
suposição de trabalho.
A segunda suposição de trabalho, igualmente definida no capítulo que trata da
metodologia da pesquisa, é a seguinte: A Contabilidade, considerando seu objeto e
objetivo, funciona como redutora da assimetria informacional entre administrador e
proprietário, nas empresas de capital aberto brasileiras, participantes do novo mercado
da BOVESPA.
É possível observar, principalmente pelas respostas obtidas na afirmação três da
segunda questão, a existência de um alinhamento com essa suposição de trabalho. Pela
análise em conjunto da compilação dos resultados obtidos, considera-se que as demais
respostas recebidas igualmente colaboram com a observação do alinhamento em relação
às suposições de trabalho propostas neste estudo.
102
4 Considerações Finais
Desde a primeira metade do século XX, trabalhos relevantes foram produzidos,
nos quais foram analisadas questões relativas à separação entre propriedade e controle
das firmas. Com o crescimento econômico mundial ao longo das décadas seguintes, a
globalização da economia e o desenvolvimento dos mercados de capitais, a separação
entre o controle e a propriedade ficou ainda mais evidente.
Nas firmas em que há a separação entre controle e propriedade, os
administradores são pessoas distintas dos acionistas. É possível que cada parte procure
maximizar sua própria utilidade. Assim, evidenciam-se os conflitos de agência, dos
quais a assimetria de informações entre principal e agente é um exemplo.
A Governança corporativa é um assunto que teve sua importância aumentada
recentemente, principalmente após os escândalos contábeis envolvendo grandes
empresas norte-americanas, como o caso da Enron e Worldcomm. Nesse sentido, o
enfoque dado para a solução de possíveis problemas entre os administradores e
acionistas torna-se ainda mais importante.
Nesse contexto, a busca da redução de problemas de assimetria informacional
entre acionistas e gestores se faz necessária. Assim, a Contabilidade, que tem como um
de seus objetivos fornecer informações úteis aos diversos usuários interessados sobre a
situação do patrimônio da entidade, pode ser considerada como um mecanismo que
possibilita a redução da assimetria informacional.
A Contabilidade parte do registro dos fatos contábeis, à luz dos postulados,
princípios e convenções. Em seguida, realiza a elaboração dos demonstrativos
contábeis, que podem ser considerados como os produtos informativos da contabilidade.
A aplicação consistente de tais postulados, princípios e convenções aumenta a qualidade
da informação contábil ao usuário interessado.
Podem existir situações em que o julgamento se faz necessário no processo
contábil. A decisão sobre a realização de registros adicionais, conhecidos como
103
accruals, deve ter como base uma expectativa real de um acontecimento futuro que
possa vir a causar impactos no resultado esperado. No entanto, a prudência é
recomendada nesse processo a fim de que se evitem efeitos adversos na informação
divulgada aos interessados.
De uma maneira pragmática, o principal confia suas necessidades informativas à
contabilidade. Por estar distante da administração diária da entidade, necessita de um
mecanismo que lhe possa fornecer informações importantes sobre os efeitos das
decisões tomadas pelos agentes, a quem foi delegada autoridade para tal.
Ao realizar a satisfação destas necessidades do principal, a Contabilidade
encontra-se plena em sua existência, pois estará realizando a função de estabelecer uma
conexão entre a informação e a necessidade de sua obtenção.
Dessa forma, o papel da Contabilidade na redução dos problemas de assimetria
de informações entre principal e agente torna-se evidente. A busca da minimização dos
efeitos de tais problemas de informação, leva a Contabilidade a um patamar
diferenciado em relação a seu propósito existencial. Ela possibilita o aprimoramento das
relações de agência, entre principal e agente, pois faz com que o ambiente da relação
apresente tendência a ausência de diferenças informacionais.
No entanto, é importante considerar que nem sempre os agentes concordam com
a existência de assimetria de informações. Eles consideram que os acionistas são sempre
informados sobre o que é relevante e o que eles realmente precisam saber para
acompanhar o desenvolvimento do seu investimento.
A existência de uma assimetria residual de informações pode se dá por que
existem informações importantes, que não podem ser divulgadas aos acionistas, por se
tratarem de projetos e estratégias que devem ser protegidos, inclusive da concorrência.
Observando tal situação, surge uma questão que pode se apresentar como
relevante para novos estudos, sendo ela: A existência de assimetria de informações entre
acionistas e gestores é condição favorável à própria continuidade da firma?
104
Este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas instigar novas
pesquisas e estudos coerentes com o escopo mais abrangente dessa literatura. O tema,
principalmente no tocante à abordagem da informação em Contabilidade, ainda conta
com bibliografia restrita no Brasil.
A contestação ou corroboração dos resultados obtidos neste trabalho, por meio
de outras pesquisas e estudos, servirá para aprimorar as análises e considerações aqui
efetuadas sobre a relevância da Contabilidade para a redução da assimetria de
informações entre o principal e o agente, contribuindo para que essa possa cumprir o
seu mais nobre papel, que é o de bem informar aos diversos usuários interessados sobre
a real situação patrimonial da firma.
Como sugestões de aprimoramento e outras possibilidades de estudo, pode-se
considerar:
A aplicação de técnicas mais sofisticadas de estatística para avaliar o
efeito da publicação de informações contábeis pelas empresas listadas no
Novo Mercado da BOVESPA no valor de suas ações;
A análise das alterações do valor das empresas, em uma linha do tempo
relevante antes e após sua entrada no segmento de listagem diferenciado,
para se procurar estabelecer se houve e qual foi o benefício para a
empresa em termos de aumento de seu valor;
Comparar os aumentos ou diminuições de valor, em uma linha do tempo
relevante, das empresas listadas no Novo Mercado com o de outras
empresas listadas em outros segmentos da BOVESPA;
Realizar novo estudo, contemplando o novo universo amostral de
empresas, devido ao aumento crescente de empresas listadas no Novo
Mercado da BOVESPA;
Analisar os efeitos dos accruals no valor das empresas listadas no Novo
Mercado da BOVESPA;
Verificar se a existência de accruals pode sugerir uma diminuição na
assimetria de informações entre acionistas e gestores das empresas
listadas no Novo Mercado da BOVESPA.
105
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115
Apêndices
116
APÊNDICE A: Modelo do Questionário utilizado na Pesquisa de Campo
Empresa: inserir nome
Responsável: inserir nome
Instruções: Este instrumento possui 4 questões objetivas. Para responder às questões de 1(um) a 3(três), basta clicar no quadrado
de sua escolha e pintá-lo na cor preta, utilizando o botão “preenchimento” na barra de ferramentas de desenho. Para responder à
questão 4(quatro), basta clicar no lado esquerdo de cada linha preta e colocar o número de sua escolha de 1(um) a 6(seis). Antes de
começar a responder, recomenda-se ler as informações relevantes.
Informações Relevantes:
A fim de que se possa obter um melhor entendimento contextual deste instrumento, é necessária a
apresentação de alguns conceitos. Inicialmente, a Teoria de Agência
define a relação de agência. Tal relação tem início quando o
principal delega poderes para um agente, esperando que este venha a agir em seu favor para a maximização de sua utilidade. Como
cada parte tem interesses divergentes, começam a surgir os conflitos e custos de agência. Os estudos sobre a Teoria de Agência
passaram a ter maior ênfase após o trabalho de JENSEN e MECKLING (1976). Um exemplo de Teoria de Agência ocorre quando
o Acionista (principal) delega poderes para que o administrador profissional (agente) execute o gerenciamento da empresa, com o
objetivo de maximizar sua riqueza. Nesse contexto, como há a segregação entre administração e controle da empresa, surgem
problemas de informação, pois a informação detida pelo Acionista pode ser distinta daquela possuída pelo Administrador. Essa é a
definição clássica de Assimetria de Informação
, segundo conceito necessário para um melhor entendimento deste questionário.
1º Questão
Considerando que a Administração Profissional executa a gestão da empresa, próxima à
sua operação, e que os acionistas se encontram operacionalmente distantes, você acha
que existem informações detidas apenas pela Administração, os acionistas não
conhecem, caracterizando uma situação de assimetria de informações?
Sim Não
2º Questão
Leia as afirmações abaixo e responda de acordo com seu grau de concordância:
1 – Discordo plenamente; 2 – Discordo em parte; 3 – Concordo em parte; 4 – Concordo
plenamente.
Afirmação
1234
A Contabilidade produz informações úteis sobre o patrimônio da empresa.
As informações Contábeis são relevantes para o Aconista.
A Contabilidade possibilita a redução da assimetria informacional entre
Administração e Acionistas.
O conjunto de Demonstrações Contábeis, do Relatório Anual, é suficiente para
uma bom processo de informação ao Acionista.
O Acionista sente-se bem informado sobre o desempenho da empresa ao analisar
as Demonstrações Contábeis.
117
3º Questão
Assinale abaixo qual(is) indicador(es) Contábil(eis) você acha mais relevante(s) no
processo de informação do desempenho econômico da empresa ao acionista.
EBITDA Índices de Liquidez
Lucro por Ação Índices de Endividamento
Lucro Líquido Lucro Operacional
Margem das Vendas Giro do Ativo
Retorno sobre o Capital Próprio Giro de Estoques
4º Questão
Enumere as opções abaixo, de 1(um) a 6(seis), classificando os componentes do
Relatório Anual (Demonstrações Contábeis) de acordo com o grau de importância para
informação ao Acionista/Investidor, de acordo com sua opinião.
Balanço Patrimonial
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos
Demonstração do Resultado do Exercício
Notas Explicativas
Demonstração do Fluxo de Caixa
118
APÊNDICE B: Empresas listadas no Novo Mercado da Bovespa em 2008
Razão Social Nome de Pregão
ABYARA PLANEJAMENTO IMOBILIARIO S.A. ABYARA
ACUCAR GUARANI S.A. GUARANI
AGRA EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS S.A. AGRA INCORP
AMERICAN BANKNOTE S.A. ABNOTE
AMIL PARTICIPACOES S.A. AMIL
B2W - COMPANHIA GLOBAL DO VAREJO B2W VAREJO
BCO BRASIL S.A. BRASIL
BCO NOSSA CAIXA S.A. NOSSA CAIXA
BEMATECH IND E COM EQUIP. ELETRONIC S.A. BEMATECH
BOLSA DE MERCADORIAS E FUTUROS-BMF S.A. BMF
BOVESPA HOLDING S.A. BOVESPA HLD
BR MALLS PARTICIPACOES S.A. BR MALLS PAR
BRASCAN RESIDENTIAL PROPERTIES S.A. BRASCAN RES
BRASIL BROKERS PARTICIPACOES S.A. BR BROKERS
BRASIL ECODIESEL IND COM BIO.OL.VEG.S.A. ECODIESEL
BRASILAGRO - CIA BRAS DE PROP AGRICOLAS BRASILAGRO
CAMARGO CORREA DESENV. IMOBILIARIO S.A. CC DES IMOB
CIA BRAS DESENV IMOBILIARIO TURISTICO INVEST TUR
CIA CONCESSOES RODOVIARIAS CCR RODOVIAS
CIA HERING CIA HERING
CIA PROVIDENCIA INDUSTRIA E COMERCIO PROVIDENCIA
CIA SANEAMENTO BASICO EST SAO PAULO SABESP
CIA SANEAMENTO DE MINAS GERAIS-COPASA
MG
COPASA
COMPANY S.A. COMPANY
CONSTRUTORA TENDA S.A. TENDA
COSAN S.A. INDUSTRIA E COMERCIO COSAN
CPFL ENERGIA S.A. CPFL ENERGIA
CR2 EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS S.A. CR2
CREMER S.A. CREMER
CSU CARDSYSTEM S.A. CSU CARDSYST
CYRELA BRAZIL REALTY S.A.EMPREEND E PART CYRELA REALT
CYRELA COMMERCIAL PROPERT S.A. EMPR PART CYRE COM-CCP
DATASUL S.A. DATASUL
DIAGNOSTICOS DA AMERICA S.A. DASA
DROGASIL S.A. DROGASIL
EDP - ENERGIAS DO BRASIL S.A. ENERGIAS BR
EMBRAER-EMPRESA BRAS DE AERONAUTICA
S.A.
EMBRAER
ETERNIT S.A. ETERNIT
119
EVEN CONSTRUTORA E INCORPORADORA S.A. EVEN
EZ TEC EMPREEND. E PARTICIPACOES S.A. EZTEC
FERTILIZANTES HERINGER S.A. FER HERINGER
GAFISA S.A. GAFISA
GENERAL SHOPPING BRASIL S.A. GENERALSHOPP
GRENDENE S.A. GRENDENE
GVT (HOLDING) S.A. GVT HOLDING
HELBOR EMPREENDIMENTOS S.A. HELBOR
IDEIASNET S.A. IDEIASNET
IGUATEMI EMPRESA DE SHOPPING CENTERS S.A IGUATEMI
INDUSTRIAS ROMI S.A. INDS ROMI
INPAR S.A. INPAR S/A
JBS S.A. JBS
JHSF PARTICIPACOES S.A. JHSF PART
KLABIN SEGALL S.A. KLABINSEGALL
LIGHT S.A. LIGHT S/A
LOCALIZA RENT A CAR S.A. LOCALIZA
LOG-IN LOGISTICA INTERMODAL S.A. LOG-IN
LOJAS RENNER S.A. LOJAS RENNER
LPS BRASIL - CONSULTORIA DE IMOVEIS S.A. LOPES BRASIL
LUPATECH S.A. LUPATECH
M.DIAS BRANCO S.A. IND COM DE ALIMENTOS M.DIASBRANCO
MARFRIG FRIGORIFICOS E COM DE ALIM S.A. MARFRIG
MARISA S.A. MARISA
MEDIAL SAUDE S.A. MEDIAL SAUDE
METALFRIO SOLUTIONS S.A. METALFRIO
MINERVA S.A. MINERVA
MMX MINERACAO E METALICOS S.A. MMX MINER
MPX ENERGIA S.A. MPX ENERGIA
MRV ENGENHARIA E PARTICIPACOES S.A. MRV
NATURA COSMETICOS S.A. NATURA
OBRASCON HUARTE LAIN BRASIL S.A. OHL BRASIL
ODONTOPREV S.A. ODONTOPREV
PDG REALTY S.A. EMPREEND E PARTICIPACOES PDG REALT
PERDIGAO S.A. PERDIGAO S/A
PORTO SEGURO S.A. PORTO SEGURO
POSITIVO INFORMATICA S.A. POSITIVO INF
PROFARMA DISTRIB PROD FARMACEUTICOS S.A. PROFARMA
REDECARD S.A. REDECARD
RENAR MACAS S.A. RENAR
RODOBENS NEGOCIOS IMOBILIARIOS S.A. RODOBENSIMOB
ROSSI RESIDENCIAL S.A. ROSSI RESID
SAO CARLOS EMPREEND E PARTICIPACOES S.A. SAO CARLOS
120
SAO MARTINHO S.A. SAO MARTINHO
SATIPEL INDUSTRIAL S.A. SATIPEL
SLC AGRICOLA S.A. SLC AGRICOLA
SPRINGS GLOBAL PARTICIPACOES S.A. SPRINGS
TECNISA S.A. TECNISA
TEGMA GESTAO LOGISTICA S.A. TEGMA
TEMPO PARTICIPACOES S.A. TEMPO PART
TOTVS S.A. TOTVS
TPI - TRIUNFO PARTICIP. E INVEST. S.A. TRIUNFO PART
TRACTEBEL ENERGIA S.A. TRACTEBEL
TRISUL S.A. TRISUL
WEG S.A.
WEG
Fonte: www.bovespa.com.br, acessado em 02 de Março de 2008, as 21:00 horas.
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