74
por sua vez, estão intimamente ligados à criticidade, nota fundamental da mentalidade
democrática”
72
.
Para que haja uma educação problematizadora e libertadora é necessário um
educador que se identifique com o educando e pense na humanização de ambos. Diferente
da educação bancária, que só pensa em um sujeito no mundo, a educação libertadora pensa
em um sujeito no mundo, com o mundo e com os outros, afirma Paulo Freire
73
, e esta
educação “afirma a dialogicidade e se faz dialógica”
74
. O educador, então, precisa ter
humildade frente ao educando, reconhecendo que este também tem um saber. Além de
reconhecer-se, da mesma forma que o educando, como um ser inconcluso. Esta
consciência é responsável pela humanização que Paulo Freire acredita ser a vocação dos
homens. Assim, a educação nunca está pronta, conclusa, mas em constante processo de
mudança. Citando Paulo Freire, “para ser tem que estar sendo”
75
.
É difícil para o educador reconhecer-se inconcluso, pois a formação dos educadores
brasileiros ainda é bancária. Nos projetos citados anteriormente fez-se a tentativa de ouvir
72
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 2005, p.104.
73
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p.68.
74
Gadotti, no texto A voz do Biógrafo Brasileiro – A prática a altura do sonho. Disponível em:
www.paulofreire.org.br em abril/2005 cita o filósofo alemão Wolfrdietrich Schmied-Koowarzik, que faz a
seguinte reflexão sobre o ser dialógico em Paulo Freire: “Paulo Freire, entrelaçando temas cristãos e marxistas
e referindo-se a Buber, Hegel e Marx, retoma a ligação originária entre dialética e diálogo e define a educação
como a experiência basicamente dialética da libertação humana do homem, que pode ser realizada apenas em
comum, no diálogo crítico entre educador e educando. Desta forma, ele vincula de um modo fecundo à própria
dialética de Litt, referida à respectiva situação educacional concreta com a determinação dialética da educação
em Kant, como experiência histórica da totalidade da sociedade. Ao mesmo tempo, na medida em que para ele
a teoria e a prática da educação somente são determináveis uma em relação a outra, escapa inteiramente de
abordagens unilaterais, em que a educação é concebida linearmente como processo evolutivo ou processo
produtivo. Neste sentido, a educação se torna um momento de experiência dialética total da humanização dos
homens, com igual participação dialógica de educador e educando. Aqui se manifesta por inteiro o caráter
absolutamente dialético da determinação da atividade educativa. A dialética não reside apenas – como em
Schleiermacher – no desvelamento heurístico e aporético da situação educacional, que exige do educador uma
‘ação criadora’ própria, mas simultaneamente na inclusão prática da atividade educativa na experiência
continuada do trabalho educacional com os educandos; experiência sendo entendida por Freire não somente
como refinamento dos meios educacionais – como em Makaremko – mas, como em Kant, embora sem se
restringir a ele, enquanto o trabalho basicamente dialógico e necessariamente comum de educador e educando
na libertação humana do homem.”
75
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p.73.