diminuí-las, a negá-las, os homens também são prisioneiros e vítimas dessa
representação dominante. Assim, ser homem implica em ter coragem, em ter uma
postura, uma atitude, um comportamento que “salve sua honra”, que afirme sua
superioridade. Todo um trabalho de socialização e de inculcação também é
realizado com os meninos, a fim de que ele possa “agir como homem”, defendendo
a sua honra e a de sua família. Em Bourdieu (2002) encontramos o seguinte
fragmento:
Em oposição à mulher, cuja honra, essencialmente negativa, só pode ser
defendida ou perdida, sua virtude sendo sucessivamente a virgindade e a
fidelidade, o homem “verdadeiramente homem” é aquele que se sente
obrigado a estar à altura da possibilidade que lhe é oferecida de fazer
crescer sua honra buscando a glória e a distinção na esfera pública. A
exaltação dos valores masculinos tem sua contrapartida tenebrosa nos
medos e nas angústias que a feminilidade suscita: fracas e princípios de
fraqueza enquanto encarnações da vulnerabilidade de honra, da h”urma(o
sagrado esquerdo feminino, oposto ao sagrado direito, masculino), sempre
expostas à ofensa , as mulheres são também fortes em tudo que representa
as armas da fraqueza, como a astúcia diabólica, thah”raymith e a magia.
Tudo concorre, assim para fazer do ideal impossível de virilidade o princípio
de uma enorme vulnerabilidade. É esta que leva, paradoxalmente, ao
investimento, obrigatório por vezes, em todos os jogos de violência
masculinos, tais como em nossas sociedades os esportes, e mais
especialmente os que são mais adequados a produzir os signos visíveis da
masculinidade e para manifestar, bem como testar, as qualidades ditas viris,
como os esportes de luta. (2002:65)
Se transportarmos esse fragmento de Bourdieu para o trânsito, somos
levados a pensar que o trânsito pode ser entendido como uma “guerra urbana”, em
que os gladiadores modernos lutam com suas ferramentas atuais – no caso, com os
automóveis. Já falamos que o automóvel é um objeto masculino que significa
potência, força, poder. Quando dirigimos o automóvel, é como se ele fosse uma
extensão de nós mesmos. Para os homens em especial, o automóvel se transforma
na possibilidade concreta de demonstrar sua força, virilidade e potência. Mas, para
essa masculinidade ser legitimada, ela precisa ser validada pelos outros, “em sua
verdade de violência real ou potencial, e atestada pelo reconhecimento de fazer