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os outros, os outros que ta na carteira, lá ela ensina, o cadeirante, o
deficiente, o problema mental, que seja né, ela exclui, ela acaba excluindo...
ela acaba excluindo porque estas crianças não tem a defesa própria
entendeu, não tem como discutir, debater com ela ... eu quero aprender,
vem me ensinar ... ela não vem, ela passeia a sala inteirinha ali, ela só faz a
obrigação dela quando ela vê a a mãe e o pai chegando, uma família, um
de nós aí sim ela se aproxima, ela mostra que ela é a professora naquele
momento... você virou as costas pronto ali acabou (CLEONICE – MÃE DA
ROBERTA).
A busca de Cleonice, pelo apoio do Agente de Inclusão, foi justamente para
sanar estas dificuldades na escola e também para que Roberta tivesse um local para
aprimorar suas habilidades cognitivas:
é por isso que eu queria uma escola igual eu achei aqui na instituição,
paralela a outra, pra trabalhar junto, as duas trabalha junto, porque quem
sabe unindo as forças a gente tem uma vitória (CLEONICE – MÃE DA
ROBERTA).
Cleonice, quando fala da qualidade e da postura dos professores, ela não
está exigindo que eles façam com que sua filha aprenda, mas que ao menos
possam se empenhar mais a ponto de tentar, realizar um trabalho diferenciado e
com mais dedicação.
[...] eu quero que ela puxe igual ela puxa os outros, pelo menos se a minha
filha não conseguir, mas pelo menos ela ta tentando, coisa que a gente não
vê nem nessa, nem nas outras que passaram, nas outras que ainda vem
não sei porque cada um é cada um né, mais é igual eu falei pra você, é
questão do ser humano, o ser humano quando não tem ninguém
comprometido na família ele é meio rústico mesmo, ele não liga muito pro
próximo, ele não ta nem aí se aquele ta na cadeira ou, pelo contrário,
muitas vezes ele manca da perna, ele imita, ele caçoa né, agora quando ele
tem o caso na família, quando ele convive, mesmo que é na família, vocês,
não tem o caso na família mas vocês convivem com milhares de crianças
aqui, problemáticas, que vocês já aprenderam a amar, respeitar entendeu, a
ver a necessidade dela né, a compreender ...lá na escola, lá fora não é
assim, lá fora eles passa por cima do sujeito [...] não qué tentar, porque
pensa que é inútil tentar, ah, aquela lá eu vô tentar pra que? Aquela lá não
aprende mesmo...igual da tal de Francisca a ex professora, o João, irmão
da Roberta, cansava de ouvir: “você tem que aprender no sei o que pá pá
pá.... agora aquela ali ó, ela não tem condições, você não é igual a ela. Pô,
você acha que a minha filha não entende uma coisa dessa? Lógico que ela
entende... ela chegava em casa chorando, ela não queria ir para a escola e
ela ama ir para a escola... quando ela não vem aqui na instituição ela chora,
quando ela não vai ficar na escola ela chora, mas com aquela professora
ela não queria mais ficar [...]como é que ela é indiferente dos outros, sendo
que ela também tem sentimentos né, fica difícil!! (CLEONICE – MÃE DA
ROBERTA).
É espantoso que ainda hoje, possamos encontrar práticas que desrespeitem
tanto e que agridam a moral dos alunos, sejam eles com ou sem deficiência, pois