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RESUMO
Objetivo: Caracterizar e descrever as circunstâncias associadas à ocorrência de
óbitos em crianças com doença falciforme triadas pelo Programa Estadual de
Triagem Neonatal de Minas Gerais (PETN-MG), no período de março de 1998 a
fevereiro de 2005.
Métodos: Foram incluídas todas as crianças triadas com doença falciforme, em
acompanhamento no PETN-MG, que faleceram no período do estudo. Os óbitos
foram identificados pela busca ativa das crianças que não compareceram às
consultas agendadas nos hemocentros. Os dados foram coletados através de
pesquisa no banco de dados do PETN-MG, prontuários da Fundação Hemominas,
documentos de notificação do óbito, base de dados do IBGE e DATASUS e através
de entrevista realizada com as famílias que foram localizadas, após assinatura de
termo de consentimento livre e esclarecido.
Resultados: No período estudado, 1.833.030 RN foram triados pelo PETN; 1.396
crianças tiveram perfil hemoglobínico compatível com doença falciforme e ocorreram
78 óbitos (5,6%). Os genótipos foram 63 SS (80,8%), 12 SC (15,4%) e 3 S/beta-tal
(3,8%). A mediana das idades à triagem neonatal foi de 9 dias; à primeira consulta,
de 2,1 meses e, ao óbito, de 13,7 meses. A distribuição dos óbitos por faixa etária
mostrou que 33 crianças (42,3%) morreram antes de 1 ano de idade; 23 (29,5%)
entre 1 e 2 anos; 10 (12,8%) entre 2 e 3 anos; 5 (6,4%) entre 3 e 4 anos e 7 (9%)
entre 4 e 7 anos; 52% foram do sexo masculino. Quanto ao local do óbito, 59 crianças
(77%) morreram em hospitais e 18 (23%), no domicílio ou no trânsito. 78% das
crianças residiam em área urbana e 22% em área rural. As causas dos óbitos, de
acordo com o documento de óbito foram: 30 crianças (38,5%) infecção, 16 (20,5%)
indeterminada, 13 (16,6%) seqüestro esplênico, 12 (15,4%) sem assistência médica e
7 (9%) outras causas. Em 62,5% dos casos, as crianças residiam em municípios de
pequeno porte (até 50.000 hab) e em 83,6% dos casos em municípios com IDHM
entre 0,5 e 0,8 (médio desenvolvimento humano). O total de consultas agendadas
(580) foi o recomendado de acordo com o protocolo da Fundação Hemominas e
houve 22,7% de absenteísmo. As entrevistas foram realizadas com 52 famílias. A
mediana da idade da mãe foi 25,5 anos e do pai, 29 anos. 13,5% das mães eram
não-alfabetizadas e 46% tinham, no máximo, a 4ª série fundamental; 10% dos pais
eram não-alfabetizados e 57,8% até a 4ª série. As ocupações mais freqüentes dos
pais foram operário ou lavrador (71,2%); 78,8% das mães não tinham trabalho
remunerado. 19% das famílias tinham mais de um filho com a doença falciforme. A
média do número de membros da família foi 5,6. 96% das famílias tinham renda per
capita mensal de até 200 reais. Quanto aos domicílios, 44% moravam em casa
própria, 42% em casa cedida e 10% das famílias arcavam com aluguel; 52% das
casas tinham rede de esgoto; 94%, luz elétrica e 71%, filtro para água. Apenas 58%
das crianças faziam acompanhamento médico regular na unidade básica de saúde e
as demais só procuravam os serviços de urgência e iam às consultas periódicas nos
hemocentros. 65% das crianças já haviam sido internadas, pelo menos uma vez,
antes do óbito e 19% já haviam sido internadas mais de 3 vezes. Seqüestro esplênico
anterior ao evento que determinou o óbito foi relatado por 27% das famílias e crises
álgicas, por 67,3%. Os primeiros sinais e sintomas mais freqüentes relacionados ao
óbito foram febre, dor, vômito, prostração e piora da palidez. Em 57,7% dos casos, o
atendimento médico ocorreu nas primeiras 6 horas do início dos sintomas e 71%, em
até 24 horas; 19% faleceram sem assistência médica. Em 25 casos (48%) o primeiro
serviço de saúde procurado foi o hospital e em 23%, a unidade básica de saúde.
Infecção (19 casos) e seqüestro esplênico (17 casos) predominaram como causa