Download PDF
ads:
UNIVER
SIDAD
E ESTADUA
L DE
MARINGÁ
C
ENTRO D
E C
IÊNCIAS
H
UMAN
AS, LETR
AS E
AR
TES
PRO
GRA
MA DE P
ÓS
-GRADU
AÇÃO EM LE
T
R
AS (MESTR
AD
O
)
ADR
IANA P
A
U
LA DOS
SAN
TOS SILVA
AM
ORAS SEM ESPINHOS: A RECEPÇÃO DE
FÁBULAS
(
1922
)
, DE MO
NTE
IRO
LOBATO, POR
CRIANÇAS DO
ENSINO
FUNDAMENTAL
Maringá - PR
2008
ads:
Livros Gráti
s
http://www.livrosgrat
is.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
ADR
IANA P
A
U
LA DOS
SAN
TOS SILVA
AM
ORAS SEM ESPINHOS: A RECEPÇÃO DE
FÁBULAS
(
1922
)
, DE MO
NTE
IRO
LOBATO, POR
CRIANÇAS DO
ENSINO F
UN
DAMENTAL
Disse
rta
ç
ão apresentad
a
à Universida
de
Es
tadual
de
Maringá
,
co
m
o
requ
isito
parci
al para a
obtenção
d
o gr
au de
Me
str
e
em Letr
as
, área de co
n
c
entração: Estud
os
Literá
rios.
Orien
tador:
Profª.
Drª.
Vera
Helena
Gomes W
ielewicki.
Ma
ri
ngá
2008
ads:
2
Ca
talogação na publicação ela
bor
a
da
pela
D
i
v
isão d
e Processos Técnicos da
Bibli
oteca
Centra
l
da U
n
iver
sida
de Esta
du
al
de
Londrina.
Dad
os Internacionai
s
de
Ca
talog
aç
ão
-na-Publicação (CIP)
S586
a
S
ilv
a, Adriana Pau
l
a do
s Santos.
Amo
ra
sem espinh
o
s: a recepção de
Fábulas
(1922), de Monteiro Lobato, por
crianç
as d
o ensin
o
fundamental / Adr
i
ana Paula
dos
San
to
s Si
l
va. – Maring
á,
2008.
272f.
: i
l
.
Orientado
r: V
era Helen
a Go
mes Wielewicki.
Diss
ertação
(Me
strad
o
em Le
tras)
Un
ive
rs
i
d
ade Estadu
al de Maringá
,
2008.
Bi
bliografi
a:
f. 197-201.
1.
Lo
b
ato
, Monteiro,
1
882-1948
– Cr
íti
ca e interpretação
– Teses. 2. Li
teratu
ra
infanto
-juven
il br
asil
e
i
ra –
Teses. 3. Fábulas – Teses.
4. T
ra
dução e
i
nterpre
taçã
o
– T
ese
s. 5.
Li
teratur
a – Estética
– Teses
.
I.
Wi
elewick, V
era
Hel
e
na
Go
mes. II
.
Universidade E
sta
du
al
d
e
Maring
á. III.
Título.
CD
U 869.0(81
)-
93.09
3
ADR
IANA P
A
U
LA DOS
SAN
TOS SILVA
AM
ORAS SEM ESPINHOS: A RECEPÇÃO
DE
FÁBULAS (
1922
)
, DE MON
TE
IRO
LOBATO, POR
CRIANÇAS DO
ENSINO F
UN
DAMENTAL
Disse
rta
ç
ão
apresentada
a
o
Programa
de
Pós
-Graduação
em
Letras
(
Mestrado),
da
Univ
e
rsid
ade
Estad
ual
d
e
Maringá
,
c
om
o
req
ui
s
ito
pa
rcia
l pa
ra
obtenção
do
grau
de
Mest
re
em
L
etras
,
área
de
c
on
c
en
t
ração:
Es
tudos Literários.
Aprovad
o em
03 d
e setembro de 20
08
.
BANCA EXAMINADORA
______
_______________
_
________
____________
_
________
_______________
_
Profª Dr
ª Vera Helena G
om
es
Wielewicki
Univ
e
rsida
de Estadual de
M
ar
in
gá –
UEM
-
Pre
si
dente –
______
_______________
_
________
____________
_
________
_______________
_
Profª Drª Alic
e Áurea Pe
nt
eado
Martha
Univ
e
rsida
de Estadual de
M
ar
in
gá –
UEM
______
_______________
_
________
____________
_
________
_______________
_
Profª Dr
ª Lourdes Kami
n
ski Alv
e
s
Univ
e
rsida
de Estadual do
Oeste do Para
ná
– Unioes
te/Cascavel - Pr
4
A
GR
A
D
EC
IME
NTO
S
Aos
fam
iliares
e
am
igos
pel
o
s
upor
te
afeti
v
o
e
p
ela
com
preen
são
nas
h
o
ras
roub
ad
as p
or este estudo.
À
Professo
ra
Drª
Vera
Helen
a
Gom
es
Wielewic
k
i
pela
v
aloro
s
a
e
pacie
nt
e
orientaç
ã
o em todo o
desenvolv
im
ento d
a pesquisa.
Ao
corpo
do
c
ente
e
funcionár
io
s
d
o
Program
a
de
Pós
-Graduaçã
o,
M
estrado
em
Letr
a
s,
da Univ
ersida
d
e Estadual
de Maringá
,
pela a
m
izade e or
ientação
no dec
orrer
do curs
o.
Aos
c
olegas
do
Curso
de
Me
st
rado
e
m
Let
ras
–
tu
rm
a
2006
–
pela
soli
dariedade
brindad
a em
todos
os mom
ento
s.
Aos
professores
Drª
.
Alic
e
Áur
ea
Pente
ado
Martha
e
Dr
.
J
oão
Luís
C.
T.
Cecc
antini
pelas va
lorosa
s
s
ugestões durante a ba
n
ca de qu
alifi
c
ação.
À professora
Drª Lourdes Kam
ins
ki
Alv
es pelas
contribuições d
u
ran
te
a de
fesa.
À esco
la
– di
reç
ão, c
oorden
a
ção, profess
ore
s e a
lunos pela cordial aco
lhida
.
Às cr
ianç
as, suj
eitos e princ
ip
al razão des
ta
d
isse
rta
ç
ão...
5
“Haver
á alguma coisa n
o mundo q
ue n
ão se gestasse
por
e
ss
e
pr
o
c
es
so,
prim
e
iro o so
nho, de
p
ois a realização.”
Mo
nte
iro Loba
to.
6
SI
LVA,
Adrian
a
Paula
dos
Santos.
Amoras
sem
Espinhos:
A
Recepção
de
Fáb
ul
as
(1922),
d
e
Monteiro
Lo
ba
to,
po
r
Crianças
do
Ens
ino
Fu
ndamental.
20
08.
Disser
t
açã
o
(Mestr
ado em Letras) – Univers
idade Estadual de Marin
gá.
Resumo:
Esta
dissertação
r
elata
res
ultado
s
o
btidos
a
p
artir
da
an
álise
da
recepç
ão
de
t
e
xt
os
literári
o
s
po
r
c
rianças
p
ertencentes
ao
primeiro
ci
c
lo
do
Ensino
Fundamental,
de
um
a
es
c
ola
p
rivada
d
a
c
idade
de
Mar
ingá
–
Pa
raná.
O
s
te
x
to
s
analisados
são
vi
nte
e
du
as
fá
b
ulas
,
r
etiradas
do
livro
homôni
m
o
,
d
o
escr
itor
bras
ilei
ro
Mon
teiro
Lob
ato
(188
2
–
194
8).
Desta
f
o
rma,
a
primeira
parte
do
trabal
ho
ab
orda
os
recursos
de
adaptaç
ão
e
tr
adu
çã
o
lite
rá
ria
s
e
paródia
com
o
inst
rum
ento
s
utilizados
na
re
esc
rita
lobatiana
,
verifican
do
a
in
f
luência
destes
recursos
na c
onstituição
do
texto
na
rrati
vo.
Nest
a
pe
r
s
pectiva,
a
teoria
da
Est
ética
da
Re
cepção
é
ab
ordada
en
quanto
direciona
m
ento
teó
ri
c
o
que
i
dentifica
a
participaç
ã
o
do
leit
o
r
na
recepção
do
t
e
x
to
literári
o.
No
acompanha
m
ento
do
un
i
v
erso
de
leitura
res
gatou-se, c
om
o
s
u
s
tentação
teór
i
c
a, a
e
s
trutura e
a história do g
ên
ero
fab
ular,
como
for
m
a de enten
de
r as
leituras
ap
re
s
entadas
pel
o
s
l
eitore
s
de
Monteiro
Lobato,
na
ativida
d
e
de
le
itur
a
e
m
sa
la
d
e a
ula.
Palavras-chave:
Litera
t
ur
a e Ensino, Fábulas, Monte
iro Lobato,
Re
cepçã
o.
7
SI
LVA,
Ad
riana
Pau
la
d
os
Santos.
B
l
ac
kberries
w
ith
no
tho
rn
s:
The
Rec
e
ptio
n
of
Fáb
ul
a
s
(
1
9
22),
by
Monteiro
Lob
ato,
by
s
tudents
fro
m
Pri
m
ar
y
Sch
ool.
2008.
Disser
t
atio
n
(Master
’s
Postgr
a
duate
Program
in
L
iterature
)
–
Maringá
St
ate
Uni
v
ersity.
Abstract:
This
di
sserta
tio
n
rela
te
s
result
s
from
the
ana
ly
s
is
of
th
e
reception
of
literary
tex
t
s
by
studen
t
s
t
hat
belong
to
the
fi
rs
t
cycle
of
a
priv
at
e
primary
s
chool,
s
itua
ted
i
n
the
ci
ty
of
M
a
ring
á-Pa
r
aná.
T
h
e
a
nalyz
ed
texts
are
twenty
-t
wo
fab
les,
from
th
e
hom
ony
m
book, by the Bra
z
ilian
writer Monte
iro Loba
to
(1992-1948 ?
). T
hu
s,
the first part of
the
researc
h
dea
l
s
with
the
resou
rces
of
lite
rary
adaptat
i
on
,
translat
io
n
and
pa
rody
as
tools
use
d
in
the
lo
b
atiana
re
writing, v
erify
ing
their
infl
u
enc
e
in
th
e c
on
s
titution
of
the
narra
ti
v
e tex
t.
In
r
elation
to
the
reading
universe,
it
was
read
and
us
ed
as
theoreti
c
al
su
p
po
rt,
the
s
tructure
an
d
his
tory
o
f
fab
le
g
enre,
in
order
to
understand
the
rea
ding
s
presen
ted by
the
readers of Monteiro
Lobato, in the
reading activity in the
clas
s
roo
m
.
Keywords
:
Literature and Teaching,
Fábu
l
as
,
Monte
iro Lob
a
to,
Re
c
eption.
8
SUM
ÁRIO
CON
SIDER
AÇÕES I
N
I
CI
A
I
S............
........................
..................
...
...............
......
.......10
1
T
RAD
UÇÃO,
ADAPT
AÇÃ
O
E
P
ARÓDIA
:
O
PROCESSO
CR
I
A
T
IVO
LOBATI
A
NO...
.............
........................
...........
.......
........................
..........
..
............
....20
1.1 Lob
ato e as Traduções.........
..................
..
..........
............
.
.....
....
..
......
......
....
..
...
....2
0
1.2 Lob
ato e as Adaptações.......
...
...
........................
..............................
...............
....35
1.3 A Paró
dia: Um
a
Forma de Ada
ptar..................
............
....
..
.
.....
.......................
....42
2 O CAMINH
O D
AS FÁBUL
A
S............
......
...
.........
............
.
.....
....
........
...............
...
..
59
2.1 Es
t
é
tica d
a Re
cepç
ão..................
.
.......................
...
...............
..................
...
...
..
....59
2.1 O
Gênero Fabular: História e Estr
utura.....
...
......
....
..
......
..........
..
.....................
...
.
76
3 LEIT
ORES
E L
EI
T
URAS DE FÁB
U
LAS, D
E M
O
NTEIRO L
OBA
T
O...
.................
8
7
3.1 A Situaç
ão de Leitura: Desc
ri
ção Meto
dológica
.......
..................
..
................
...
....87
3.2 Anális
e dos Textos:
A Re
c
ep
ç
ão
d
a F
ábula Lobatiana em
S
ala de Au
la.......
....97
3.2.1 A Asse
m
bléi
a dos
Ratos..................
....................................
.........................
....98
3.2.2 A Co
ruja e a Águia.........
.
.................
....................................
..................
..
....
...104
3.2.3 A F
orm
iga Boa........
......
....
..
......
..........
..
..
..........
..................
...
...
......................
107
3.2.4 A F
orm
iga Má.............
......
...
...
..........
..
.....
.
......
..............................
...................1
11
3.2.5 A Gal
inha dos Ovos
de Ouro....
..
....
.....
.............
..................
...
...............
..........
115
3.2.6 A Garça Ve
lha.....
.
.....
............
.
.......................
........................
..........................125
3.2.7 A Gr
alha Enfeitada com
Pena
s d
e Pa
v
ã
o......
..............................
.................. 1
23
3.2.8 A Men
ina do Leite...
..
....
............
..
....
.....
.............
..........
..........................
...........127
3.2.8 A Rã
e o Boi
.
..................
..........
..
........................
...........
.
........................
.........
1
3
3
3.2.10
A Raposa e as Uvas........
..........
..
.........
...
......
...............................
.................
13
7
3.2.11
O Burro Juiz……………………………………………………………………..
..14
0
3.2.12
O Burro na Pele d
e L
e
ão……………………………………………………….
..142
3.2.13
O Cão e o Lobo………………………………………………………………….
.14
6
3.2.14
O Corvo e o Pavão……………………………………………………………...
..14
8
3.2.15
O Galo que Logrou a
Raposa
…………………………………………………
..15
1
3.2.16
O
Leão
e o Ratinho…………………………………………………………….
..15
2
3.2.17
O Ma
c
aco e o Gato……………………………………………………………..
..157
9
3.2.18
O Ratinho, o Gato
e o Galo……………
………
………………………………..
159
3.2.19
O Rato da Cidade
e
o
Rato
d
o Ca
m
po……………………………………….
.160
3.2.20
O Reformador do
M
undo……………………………………………………….
163
3.2.21
O Sabiá na Ga
iola
………………
………
………………………………………
165
3.2.22
O Velho, o Menino
e
a
Mulinha………
……………………………………….
.
168
3.3 Ilustr
ações: Esboços de Le
it
ur
a…………
……
…………………………………..
171
3.3 Reflexõ
es sobre a Leitura
de
Fábul
as
………………………………
……………
180
CON
SIDER
AÇÕES FINAIS……………………
……………………………………
…
191
BIBLIOGRAFIA……………………………………………
……………………………
194
ANEXOS
…………………………………………
……………………………
…………
199
Anex
o A: Folder…………………………………
………………………………………
200
Anex
o B: Capa da
s
produções d
a
s Crianças………………………………………
..
203
Anex
o C: Entre
v
is
ta
c
om a Docen
te…………
……………………………………….
205
Anex
o D: Fáb
ulas R
eescr
it
as: F
ábulas escolhidas……
……………………………
209
Anex
o E: Il
ustraç
ões - Esboços de Le
it
u
ra………………………………………….
220
APÊND
I
C
E………………………………………
……………………………………..
.
271
Apêndice A:
Entrevi
s
ta…………………………………………………………………
272
10
CON
SIDER
AÇÕES I
N
I
CI
A
I
S
A
obra
i
nfantil
lobati
an
a
1
é
fruto
da
insatis
fa
ç
ão
de
s
eu
autor
quanto
às
obras
literá
rias
disponí
v
eis
à
s
crianças
. Portanto
, par
a c
on
s
tituir s
ua
obra,
Lob
a
to
reto
m
a
a
l
itera
tura
u
ni
v
er
s
al,
infan
til
e
adulta,
fatos
hi
s
tórico
s
,
m
i
tológic
os
e
outro
s
que
sã
o
traduzidos,
adaptados
e
recriados,
aç
ão
em
qu
e
o
autor
har
m
oniza
elem
e
ntos
c
ulturais d
iversos c
om o
objetiv
o d
e
to
rná-los
ac
e
ss
ív
ei
s
ao
pú
blico
infantil.
Assi
m
,
para
entender
o processo
ar
tí
s
t
ico
de
Lobato
é necessár
io
o
bserv
a
r
o
processo
hi
s
tórico da própria literatura in
fantil, que m
o
tivou o escritor em
s
ua
e
sc
rita
.
A
lite
ratura
infantil
tev
e
s
ua
origem
n
a
Nov
elística
Mediev
al
e
atravesso
u
inúmeras
m
u
dan
ças
até
c
hegar
ao
pe
rfil
atua
l,
pa
ssando
por
idealis
m
os
ex
trem
ado
s,
p
ela
represen
ta
ç
ão
d
e
mu
nd
os
d
e
magia
e
de
m
a
rav
ilhas,
estr
anhas
à
vi
da
real
e até
a
produções, cujo
único i
ntu
ito e
ra
difundir conc
eito
s
m
o
ralizantes
. No
universo
d
e i
nfluên
c
ias s
ofridas,
diversas
m
a
nifestaçõ
e
s
fo
ram ident
ificadas
e
d
entr
e
elas
as
fontes
or
ientai
s,
prim
eiro
d
es
c
obertas e
m
d
ocum
e
ntos
e
gíp
c
ios
q
ue se
so
m
ara
m
,
a pos
ter
io
ri
, a outras c
ultura
s
.
No Ocid
ente Eu
ropeu, duas
fontes
l
ite
rá
rias s
e d
i
st
inguem
:
u
m
a
popula
r
e
outra
c
ulta,
se
n
do
a
pr
im
e
ira,
segundo Co
el
ho
(1987),
composta
pela
prosa
narrativa
exem
p
lar,
derivad
a
das
antigas
fontes
or
ie
n
tais
ou
gre
ga
s
,
enquanto
que
a
última,
a
de
o
ri
gem
c
ulta,
é
a
pros
a
de
av
entura
das
nove
l
as
de
c
a
v
alaria,
de
ins
pira
ç
ão
o
c
identa
l
(CO
ELHO,
1987,
p
189).
Nesse
m
o
m
ento,
as
p
roduções
popula
res e
c
lá
s
sicas s
e con
s
tit
uem
par
alela
m
en
te v
indo a
unirem
-
s
e na seqü
ên
c
i
a
.
Som
e
nte
na
seg
unda
m
et
ade
do
s
éculo
XVII,
in
ic
ia-se
uma
m
aior
preocu
pa
ç
ão
com a
liter
atu
ra
inf
a
nt
il
e
ju
v
enil.
D
es
tacam
-s
e,
então
,
As f
ábul
as
de
La
Fon
taine
e
Conto
s
da
mãe
Gansa
de
Charles
Pe
rrault,
pioneiros
nessa
l
inha.
Ess
a
literatu
ra
v
alo
riza a fantasia e a i
m
ag
inação e se constró
i
a
partir de
textos
da An
t
iguidade
Clássica
ou d
e
na
rr
ati
v
as que
vivia
m
oralme
n
te
entre
o
povo.
Tal
‘tradição’,
popularizante
ou
erudita,
redescobert
a
ou
recriada
por
escritores
c
u
l
tos,
c
ontras
t
a
viva
m
e
n
te
c
o
m
a
alta
li
ter
a
tura
c
l
ássica
produzida
n
esse
momento
(CO
E
LHO, 1987,
p 226, aspas da autor
a).
1
O ad
j
eti
vo “in
f
antil” a
qui
em
p
r
egado n
ão é cl
assi
f
i
ca
dor do s
ubstanti
vo
“li
t
erat
u
r
a”, co
ncei
t
o in
f
in
i
tamente
si
m
pli
sta med
i
an
te
tudo o que o gên
ero aba
rca. O su
bstan
tivo se
refere a u
m
a obra com todas
as cara
cterís
ticas
própri
as
d
o
gênero,
como
o
val
or
esté
ti
co,
o
trabal
ho
com
a
pal
avra,
a
emoção
,
a
pl
uri
ss
i
g
ni
f
icaç
ão.
Portan
to,
o
ad
j
eti
vo
aqui
não
quali
f
ica,
m
as
in
d
i
ca
a
q
u
e
públi
co
e
ssa
vertente
se
des
t
i
na,
ou
sej
a
,
pressup
õe
um
desti
natári
o,
um i
ndivíduo
ainda e
m
formaçã
o.
11
A
s
egu
ir,
C
harle
s
Pe
rrault
transforma-se
e
m
um
d
os
maiores
sucessos
d
a
li
teratura
p
ara
a
infâ
n
c
ia,
p
ois
prom
o
v
eu
o
in
ício
da
escrit
a
direciona
d
a
prop
riam
ente
para
o
público
infantil.
Os
Contos
d
a
M
ã
e
Gansa,
c
o
n
c
ebidos
em
um
vi
é
s
moderno
para
a
ép
o
ca,
dão
espaç
o
a
nov
a
s
produçõe
s
qu
e
assum
e
m
u
m
pe
rfil
m
a
is
agradável
para
as
c
rianças
e
tam
bé
m
par
a
os
adu
lt
os
,
pois
a
o
ab
ando
nar
o
siste
m
a
e
m
v
ersos,
passa
a
red
igir
em
pr
os
a
,
e
m u
ma
l
inguag
em
mais
dir
eta,
clara,
desembaraça
da
e
acess
í
vel.
A
esc
rita
d
e
Perrault
i
nicia
um
esti
lo
a
propriad
o
pa
ra
a
faixa
e
tária,
v
indo
a
re
fle
t
ir
na
gr
ande
acei
t
ação
q
ue
s
uas
obras
t
i
v
eram
na
époc
a
e
na per
m
anênc
ia
c
an
ônica
como obra
de referênc
ia.
Contem
po
râneo
a
Per
r
ault,
J
ean
de
La
Fo
ntaine
foi
o
res
pons
á
v
el
pela
remodelação
da
fábu
l
a,
matéria
li
terária
que
v
i
s
a
o
com
por
tam
ento
soc
i
a
l
do
hom
e
m, c
om
ves
tígios
de surgimento
na
Grécia
e e
m
Roma,
nas
lit
eraturas or
ientai
s
e na Idade
Média.
Em
sua
origem
,
a
fábula
não
foi
co
ncebida
pa
ra
o
público
i
n
fant
il,
se
n
do
e
s
tendida
a
esse
grupo
d
e
v
ido
à
car
ên
c
ia
de
m
ate
rial
espec
ífico
para
as
cri
an
ç
as.
Cons
i
s
tia
em
u
m
prod
uto
pouco
acess
í
v
el
a
os
pequenos,
c
uja
es
c
rita
em
versos po
deria agir
c
omo um
e
m
pe
ci
lho na com
pr
eens
ão
do
t
e
x
to.
A
pr
oduçã
o
de
ss
es
escri
to
res
,
L
a
Fon
tai
n
e
e
Perr
ault,
é
v
ista
co
m
o
div
i
s
or
de
ág
uas
e
marc
a
o
sé
c
ulo
XVII
como
o
per
íodo
no
qual
a
litera
t
ura
e
a
educação
da
s
c
r
ianç
as
e
jove
ns
c
om
eça
m
a
tom
ar
fo
rm
a
e
a
s
erem
div
ulg
adas
e
prestig
iadas
com
maio
r
in
tens
i
d
ade.
Segund
o
Coelho
(1987),
essa
p
ropagação
é
um
a
aç
ão
de
long
o
pr
azo
e
c
ontí
nu
a
,
q
ue
to
m
a
rá
m
a
ior
fôlego
d
uran
te
o
Rom
a
ntismo
e
o
Realism
o,
e
stende
nd
o-se
a
té
a
m
od
erni
dade,
m
o
m
ento
e
m
que
as
questõ
e
s
de
liter
atura
infa
ntil
e
formação
d
o
leitor
são
pr
eocupações
das
pes
q
uis
a
s
ac
ad
ê
m
ic
as
, m
eios educ
a
c
ionais,
s
ociai
s
, políticos
e
familiares.
Tamanha
inq
uietação,
iniciada
a
par
ti
r
do
s
éc
ulo
XVIII
,
pe
ríodo
em
que
a
c
rianç
a
deixa
de
s
er
v
ista
c
om
o
u
m
a
dulto
em
mini
atura
e
passa
a
s
er
vista
co
m
o
u
m s
er
em
es
tágio
de
desenvo
lvim
e
nto,
diferent
e
do
adu
lto,
m
a
rca
o
início
de
se
u p
roc
esso de valoriz
a
ção, disseminado por
Rous
s
eau.
Contudo,
é
o
s
éculo
s
eguinte
o
ponto
dec
i
s
i
v
o
no
qu
al
u
m
a
co
n
sc
iente
preo
c
upação
se
v
olta
para
a
p
rodução
li
te
rária
dest
inada
à
s
cr
ianças.
Assim,
es
sa
f
ase
d
a
vi
d
a
passa
a
s
er
v
ista
com
o
u
m
períod
o
que
n
ecessita
de
u
m
cu
idado espe
ci
al para a form
a
ção
da
crianç
a.
12
As
discussõ
e
s
sobr
e a
cri
ança,
em pauta
nos
ca
m
p
os
teóri
c
os,
influíra
m
diretamente
na
c
onstituição
da
l
it
er
atura
inf
an
til.
A
p
rodução
l
iterária
do
s
irmã
os
G
rimm
bus
c
a
p
rimei
ra
m
e
nte
descobr
ir
as
o
rigens
da
realidade
hi
s
tórica
“nacio
nal”
(a
lem
ã)
e
reún
e
em
seu
te
x
to
li
te
rá
rio
a
fantasi
a
,
o
f
antástico,
o
m
ític
o,
o
que
tr
az
par
a
a
Literatura
I
n
fantil
um
un
iverso
que
s
urge
para
encan
tar
crianç
a
s
do
m
u
ndo tod
o (COELHO,
1987, p 292).
Os
irm
ãos
Grimm
,
pesquisad
ores d
a
li
nha
filológica
e
fo
lclórica,
fizeram
um
longo
estudo,
n
o
qual
buscaram
levantar
e
lem
en
tos
lingüísticos
,
estudos
filológic
os
e
textos
folclóri
c
os
ale
m
ã
es,
numa
tentat
i
v
a
de
ex
pandir
o
espí
rito
germânico
, a
partir
de f
orte
liga
çã
o c
om a Tra
dição c
lássica,
que nes
te
trabalho s
erá
denominada c
ânone.
Entretanto
,
esse
reco
lhim
e
nto
a
barcou
elemen
to
s
de
outras
cultu
ras
inc
o
r
porados
à
cu
ltura
alem
ã
,
tan
to
qu
e
mu
itas
das
expressões
utili
zadas
já
haviam
apar
e
c
ido na obra de Perrault, marc
ando o caráter cíc
li
c
o pres
e
nte na liter
at
ur
a.
Me
s
m
o
fazendo
r
eferênc
ia
a
tex
to
s
retratados
p
or
Perrault,
o
s
irmã
os
Grimm rep
resenta
m
um
p
eríod
o
m
ar
ca
dam
ente
menos v
iolento,
influ
ê
nc
ia
da
m
u
danç
a
da
própria
c
on
c
epção
de
hom
em,
pr
om
ov
endo,
co
m
o
d
e
m
ons
tra
Coelho
(198
7),
um
a
c
oncepção
m
ais
hum
a
nitár
ia,
das
hi
stó
rias
r
eco
lhid
as
por
Perrault,
a
part
ir d
a qu
al
asp
e
ct
os negativos cedem l
ugar
à es
peran
ç
a e à confi
ança na
v
ida.
O
dinamarquês
Hans
Christian
Andersen,
outro
nom
e
de
des
taque
na
con
s
tituição
da
literatura
i
nf
antil,
tam
bé
m
s
e
en
trega
à
desc
oberta
de
v
alores
ancestr
ais c
om
o
objetiv
o
de
reve
la
r
o
car
áter
da ra
ça.
Em
s
ua p
rodução
se
destac
a
o
maravil
hoso dentre a
reali
dade
c
oncreta
d
o
c
otidiano, no
qual o
autor
v
ai se
revela
ndo um
a da
s v
ozes m
a
is puras d
o
espírito s
impl
es
.
Lewi
s
Carroll,
escr
it
or
inglês,
inicia o
real
i
s
m
o
maravilhos
o
dentro
da
literatu
ra
infantil
moderna
com
a
e
sc
rita
d
e
Ali
ce
n
o
paí
s
das
mar
avil
h
as,
s
ua
o
bra
m
a
is
con
hecida.
Outro
in
g
lê
s
de
de
s
taque, J
ames
M.
Ba
rrie,
ao
escr
e
v
er
Pete
r
Pan
co
n
sagra, na
literatura, o
m
ito d
a eter
n
a
infânc
ia.
No
Bras
il
a
té
o
iníc
i
o
do
século
XX,
a
gr
a
nde
m
ai
oria
d
as
obras
literári
a
s
infanti
s
er
a
escr
ita
em
franc
ês
o
u
cons
i
s
tia
e
m
trad
uções
p
ortuguesas
de
obras
francesas
ou
e
spanho
la
s
,
apr
esent
adas,
em
ger
al,
e
m
enc
ader
n
aç
ões
bonitas.
A
im
por
ta
ç
ão
d
e
c
unho
literário
pe
rd
uro
u
até
o
i
ní
c
io
d
a
produção
nac
io
n
al,
que,
tím
ida
a
princípi
o,
baseav
a
-s
e
principalm
ente
no
c
onto
folclórico,
ve
rsões
13
abrasi
leiradas
de
textos
d
e
Pe
rrault,
Grimm
e And
erse
n
e
na
dif
u
são
de
u
m
a
literatu
ra de cunho patrió
ti
c
o, os fam
o
sos c
ont
o
s pátr
ios.
Ness
e
universo,
destaca-se
,
s
egundo
Laj
olo
e
Z
ilberman
(
1991),
o
m
o
v
im
en
to
de
“
adaptaç
ão
para
a
rea
li
dade
lingüística
bra
s
ilei
ra
do
acervo
infantil
euro
pe
u
”
(p
1
8),
m
ov
im
ent
o
esse
que
re
pre
sent
ou
uma
te
ntativa
de
n
a
ci
on
a
lização
da liter
atura infantil bras
ilei
ra,
em
seus
m
o
m
e
n
to
s
iniciais.
Dess
e
m
o
do,
a
lit
era
tu
ra
i
n
fantil
passa
a
s
er
instr
um
e
nto
de
di
fu
s
ão
das
im
agens
de
g
randez
a
e
m
od
erni
dade
do
país,
pois
form
ul
adas
pela
s
c
lasses
dom
inante
s,
ti
nha
o
i
ntuito
de
passar
para
as
class
e
s
médias
e
baixa
s
no
ç
ões
de
cu
lto
cív
i
c
o e d
e patriotism
o.
Ess
a missão
patriótica
assum
e
a
exaltação d
a natureza
brasileira
,
a
un
id
a
de
e
gr
andezas
n
acio
nais,
m
o
delos
de
língua
nac
i
on
al,
vis
ões
idealizadas
de pobreza e regras d
e
c
om
p
ortam
e
nto.
Tal
posicio
n
amento
s
omente
com
eç
a
a
se
modificar
c
om
as
transfor
m
aç
ões
inic
iada
s
p
or
J
o
s
é
Bento
Monteiro
L
obato,
autor
que
proporcionou
o
resgate
da
herança
do
pass
ado
no
pr
e
s
ente,
o
rom
pi
m
en
to
com
o
ra
cionalism
o
trad
i
c
iona
l e a abertura para outras te
m
á
ticas.
Mo
n
teiro
Lobato
e
s
ua
o
bra
tê
m
s
ido
obje
to
de
e
studo
d
e
di
v
ersos
pesqu
i
s
adores
d
e
diferentes
áreas,
c
ujos
tra
balhos
,
al
g
uns
c
itad
o
s
na
p.
14,
presen
tes
no
banco
d
e
dados
da
Cape
s
e
do
Cnpq,
abra
ngem
div
ersas
áreas
do
co
n
hecimento.
Ass
im
,
d
entre
mai
s
d
e
n
ov
ec
entos
tr
a
ba
lhos,
em
n
íveis
de
es
pe
c
ialização,
mest
rad
o
e
dou
to
rad
o,
cujas
te
m
át
ica
s
alçam
de
sde
saúde,
direi
to,
trad
u
çõ
e
s
e adapta
ç
ões do
a
ut
or, história e for
m
a
ção edi
torial bras
ileira e os
e
stud
os
literári
o
s propr
iam
en
te dito
s, que ab
a
rca
m
tanto a pro
du
ç
ão
denomi
nada
adu
lta
quanto
a
infantil,
destac
am
-se
alguns
qu
e
dialogam,
es
pecificamente,
co
m
a
dissertaç
ão de
s
envolvida.
Ao
real
izar
um
re
cort
e
que
pr
i
v
ilegiass
e
a
s
pesquisas
cujo
e
nfoque
se
v
olta
par
a
o
es
tudo
d
a
obra
i
nfantil
d
e
L
oba
to,
c
onta-
s
e
c
om
um
uni
vers
o
de
aproxi
m
ad
amente du
z
en
tas
dis
s
erta
ç
ões
e vinte teses n
o b
a
nc
o de dados
da Capes.
Os
e
s
tudos
v
e
rsam
sob
re
as
se
guintes
tem
áti
cas:
a
pres
en
ç
a
do
hu
m
o
r
na
obra
lobatiana
,
estu
do
s
co
m
pa
rativ
o
s
entr
e
as
perso
nagens,
a
ap
res
entação
e/ou
discuss
ão
de
ques
tõe
s
s
o
ci
ai
s
d
entro
dos
contextos
l
iterário
s
,
c
o
nc
epçõ
e
s
educacio
nais
e
políticas
c
ont
idas
n
os
textos
,
a
presença
do
mito
e
d
a
f
ábula
na
entida
de
textual,
a
intertextu
alid
ade
presente
na
o
bra
e
possíveis
inter-rela
ç
ões
c
om
su
a
s
fonte
s
,
a
rece
p
ção
dos
text
o
s
e
sua
contr
ibui
ç
ão
pa
ra
a
form
açã
o
do
leito
r
14
infantil,
e
por
fim
,
a
i
m
po
rtân
cia
da
obra
e
de
se
u
autor
p
a
ra
a
história
literária
brasileira
.
Dentre
t
odas
essas
ab
ordagens,
alguns
tra
b
al
hos
s
e
des
ta
c
am,
e
m
es
pe
c
ial, por terem
fomentad
o
a
dis
cussão d
e
sta pesquisa, sendo eles:
Magda
Dezotti.
O
p
rofes
s
or
e a
mediação
de
lei
tur
a:
um
a
ex
peri
ên
c
i
a
c
om
Monte
iro
Lobato
,
(UEM,
20
04),
t
r
abal
ho
qu
e
anali
s
a
a
rel
a
ção
entre
o
público
infan
til
e
a
produ
ç
ão
lobatiana
,
norm
al
m
en
te
ta
ch
ada
de
escrita
d
i
fíc
il,
m
as
qu
e,
independ
ente
da
é
po
ca,
dialoga c
om o uni
v
erso das
c
rianças, p
ul
v
er
iz
ando
conceitos
, idéias e
co
nheci
m
ento,
por
m
eio d
a c
on
s
tituição da p
rópria obra.
A
p
esq
ui
s
a
d
e
C
r
istina
Aquati
Pe
rrone,
Do
mito
a
fáb
ula
:
releitur
a
s
de
Lo
bato
(USP,
1999)
despertou
inter
e
ss
e
especial,
u
m
a
v
e
z
que
ab
orda
u
m
a
preocu
pa
ç
ão
direta da
dissertação
de
s
envolvida:
a presença
do
m
ito
e d
a fá
bula nos
tex
to
s
de
M
onteiro L
obato.
O
tra
balho
d
e
Ló
ide
Nascimento
de
So
uza
(
Unes
p
–
Assis
,
2004)
O
Proc
es
s
o
Estético
de
R
eescri
tu
ra
de
Fábul
as
por
M
on
teiro
Lobato
res
g
ata
a
histór
ia
da
fá
bula,
pa
rtindo
de
seus
precurs
o
res
até
chegar
às
fábulas
lobatianas,
tra
balho
que
fornece
u
su
b
sí
dios
para
entend
e
r
o
proc
esso
es
tilístico
n
a
reesc
rita
d
os
t
extos
fabula
res por Monteiro Lobato
.
Grassielly
Lo
pes
em
Fá
bulas
(
1921)
de
M
onte
iro
Lo
bato:
um
percurs
o
fabuloso
(UNESP
–
Assis,
2
0
06
)
faz
um
lev
antam
e
nto
sobre
as
dif
er
ente
s
edições
d
a
obr
a
Fá
b
ulas
de
Mont
eiro
Lobato,
dan
do
dest
a
qu
e
para
as
m
o
dificaç
ões
e perce
pçõe
s
do
autor
s
obre
o gênero.
Outros
e
s
tudos,
c
omo
as
pesq
uisas
de
Maria
Celes
te
C
onsolin
Dezotti
A
Fábula
Es
ópica
Anônima:
u
ma
con
tribuição
a
o estud
o
dos
“a
t
o
s
de
fábu
la”
(Unesp –
Araraq
uara, 1988),
que abrangem
d
es
de discu
ssõ
es sob
re o gêner
o fábula
até
estu
do
s
sobre
a
fáb
ul
a
loba
tiana,
pr
opri
a
m
e
nte
d
ita,
foram
i
m
p
ortantes
p
a
r
a
o
direciona
m
en
to da p
esquisa realiz
ada.
Do
mes
m
o
m
odo,
a
diss
ertação
s
obre
a
recepç
ão
de
t
extos
se
le
c
ionados d
a ob
ra
Fábulas
(1922) c
on
t
ribui par
a
pesquis
a
s
pos
t
eri
ore
s
a par
tir de
duas
diretriz
es
:
o
ol
har
dado
ao
s
recur
s
os
de
construção
da
obra
infantil
lobatia
na
(ada
ptação,
tradução
e
paródia)
e
s
ua
influência
na
sit
ua
ç
ã
o
de
l
eitura
e
as
discuss
õe
s
sobre
a m
edi
aç
ão de leitura, recepção e formação d
o leit
o
r.
O
pr
im
eiro
del
es,
pautado
prin
c
ipalm
e
nte
em
r
e
v
er
os
recursos
utilizados pelo
a
ut
or
na
c
onstituição de
s
ua
o
bra
literária,
anal
i
s
a
como
o faze
r
15
literári
o
influi
na
rec
epção
te
xtual,
p
or
m
eio
do
c
ont
a
to
entre
texto
e
leitor,
dur
ante
a
recepç
ão.
J
á
no
últ
im
o
item,
analisa-se
a
situaçã
o
de
leitura
em
sa
la
de
aula
e,
dessa
forma,
com
b
ases
n
a
Te
oria
da
Estética
d
a
Rec
ep
ç
ão,
busca
prov
ocar
reflexõ
e
s
no
am
bient
e
de
formaç
ão
de
leitores,
d
e
modo
a
ref
letir
sobre
o
papel
dos
recursos
d
e
escri
t
a
literá
ria,
os
p
rotocolo
s
de
leitu
ra
e
as
i
nfluências
e
x
ternas,
co
m
o
as
s
ociais,
p
or
exem
p
lo.
Na
r
es
posta
obtida
p
or
ca
da
l
eitor,
na
s
itu
a
ção
de
leitur
a,
es
tã
o
técn
icas
qu
e
podem
ser
observadas,
d
e
s
en
v
ol
v
i
das
e
a
plicadas
pel
o
s
m
e
diadore
s d
e leitura no trabalho com a obra lite
rária
.
A
esc
olha
pe
la
o
bra
de
Monteiro
Lobato
para
o
d
esenv
ol
v
imento
da
dissertaç
ão
antecede a
o
ingre
s
so
no cu
rso
de
Pós-Graduaç
ão
e se
deve ao
trabalho
co
m
o
educ
adora realiz
ado
já a al
guns
anos
.
Sempre foi
surpr
eendente a
a
c
eitação e
encan
to que
a
obra
infantil l
obatiana
desperta
nos
pequenos
leitores
e
em todos
que
têm
a
op
ortunida
de
de
lê
-l
a,
o
que
faz
d
e
crianças
e
adu
ltos
par
ti
c
ipantes
da
Saga
do Pica
pau Am
a
relo
, a
v
entura q
ue ultrapassa ques
tões temporais
, sociais e d
e o
utra
orde
m
.
A
r
ique
z
a
da
obra
lobati
a
na
é
f
ruto
da
per
s
onalidade
ím
p
ar
de
s
eu
autor
.
J
osé
Bento
Mon
teiro
Loba
to
é
u
m
dos
nomes
qu
e
re
p
resen
tam
a
história
editori
al bras
ileir
a,
cuja c
arreira ness
e
s
egme
n
to in
i
c
iad
a
em 19
18,
com a c
ompra
da
Revista
do
Bras
i
l,
fa
z
dele
u
m
do
s
r
esp
o
ns
á
ve
i
s
pel
o
im
puls
o
s
ignifi
c
ativo
do
desenvolvi
m
en
to
editorial
do
país
,
fa
to
que
o
liga
diretamente
à
história
d
o
li
v
ro,
transfor
m
ando
o escri
tor Monteiro Lobato
em e
scri
tor-
ed
itor.
Escritor
p
reo
c
upado
c
om
a
m
ater
ialidad
e
de
t
odas
as
produções
d
e
su
a
editor
a
,
inves
tiu
n
a
qua
lidad
e
grá
fi
c
a,
m
ar
ca
da
pel
a
cons
t
a
nte
modernizaç
ão
dos
vo
lum
es
por
el
e
editados,
além
d
e
ter
bu
scado
acom
p
anhar
s
eus
l
an
çamentos
co
m
deb
ates
críticos
na
im
pre
nsa
.
Entre
a
fun
da
ç
ão
e
a
falênc
ia
de
sua
editora,
Lobato
iniciou um
a
nov
a em
pr
eita: a
p
rod
u
ção de sua obr
a infantil.
O
autor
do
c
i
c
lo
do
Sítio
do
Picapau
Amarelo
envolv
e
u
-se
e
m
div
e
rs
as
c
ausas
e
contrib
uiu
e
m
difer
entes
áreas
:
foi
tradutor,
ad
aptado
r,
con
ti
s
ta,
romancis
ta,
crítico
de
art
e,
im
p
ulsion
ou
o
de
senvolvim
e
nto
da
editor
a
brasileira
e
part
i
c
ipou
efetivamente
de
ca
m
panha
s
d
e
u
tilidade
públ
i
c
a
-
s
aneamento, v
oto
secret
o, m
elhoria
da indústr
ia
do aço
e expl
oração de petró
le
o
.
A
o
bra
lobat
iana,
destinada
ao
público
infa
nto
-juv
enil,
é
c
ons
tituída
por
t
extos
origi
nais,
t
raduções
e
adaptações,
n
a
qu
al
o
autor
mostro
u
o
m
ar
av
ilhoso
co
m
o
poss
ível
d
e
s
er v
ivido
por
qu
alquer
u
m
,
n
os
três
c
a
s
o
s
,
o
auto
r
s
e v
ol
to
u
p
ara
16
a
ne
c
essid
ad
e
de
se
levar
o
co
n
hecim
e
nto
da
ba
g
agem
c
ultur
al
para
o
s
leitores
infantis.
O
mov
im
ento
de r
eunir
ele
m
e
ntos
da
cultura
ca
n
ôn
ica
é u
m
t
raço
da
m
o
dernida
de,
in
iciado
de
s
de
o
m
ov
imento
de
rec
olhim
ento
dos
re
f
er
enciais,
que
reún
e
o
s
e
lementos
d
esejado
s
e
os
adapta
har
m
oniosa
m
e
nte.
De
ssa
m
an
eira,
os
tex
to
s
el
eitos
por
Lobato
da
cul
tu
ra
universal,
pop
ular
e
c
anôni
c
a,
p
a
ss
am
a
co
n
stituir
, junto com
a
reescri
ta do novo
texto, um mov
im
ento maior - a
totalidade.
Segundo
Nunes (1998),
s
omen
t
e um
a
pers
onalidade rica, ím
par,
co
m
t
otal do
m
ín
io s
obre a lí
ngua e
sobr
e
a a
rte lite
rária ser
ia capaz
de
fazer
refe
rên
c
ia
a
p
robl
em
as
n
a
ci
onais
e
m
u
m
am
biente
d
e
m
agia
e
entre
ten
im
ento
,
em
que
s
e
re
s
gata
a
cultura
grega,
c
onhecimentos
científi
c
os,
ex
pressõe
s
culturais
e
folclóric
a
s
div
erso
s
.
Para
a
c
rítica
literá
ria,
a
constituição
das
obras
d
o
Sítio
do
Pi
capau
Am
a
relo
c
orres
ponde
à
inauguraçã
o
da
li
teratura
infantil
b
rasileira,
na
qual
a
obra
infantil
do
autor
“
e
s
tende-
s
e
po
r
mui
t
os
títulos
s
em
pre
menc
ionando
outro
s
li
v
ros,
próp
rio
s
ou alheios,
onde uma his
tória faz refer
ência a o
utra, sublinha
ndo com
i
ss
o o
caráter circ
ular de sua obra” (L
A
JO
L
O
, 2000, p 63).
Im
p
ortante r
e
ss
altar
que a m
ençã
o de
tex
tos,
feita pelo aut
or,
é
fundamental
pa
ra
a
const
ituição
do
perfil
d
e
tod
a
sua
obra,
pois
de
s
de
o
pr
im
eiro
livr
o
infantil,
A
m
en
i
n
a
do
nari
zinho
arre
bi
t
ado
,
publ
i
c
ado
em
192
0,
inicia-se
u
m
a
série
qu
e
tem
c
omo
eixo
organizacio
nal
um
co
n
s
tante
diálogo
entr
e
as
tem
átic
as,
person
agen
s
e enredos.
O texto
Fábulas
(1922),
fo
c
o do estudo, reúne s
etenta e quatro
fábulas
a
dap
t
adas d
o c
ân
o
ne literár
io de maneira
a permiti
r
a
acessib
ilidade do
te
x
to
para
o
s
leitores
e
tam
bé
m
a
pres
enta textos criados pel
o próprio autor.
O
gê
nero
fábula
é
um
a
narra
ti
v
a
alegórica
em
que
as
per
s
on
agen
s
sã
o
ge
ralmente
an
im
ais
.
E
m
s
ua
conce
p
çã
o,
não
er
a
dir
e
c
ionada
ao
p
úbli
c
o
infant
il,
e
si
m
a
o
adulto
,
pois
s
eu
desenlace
,
que
r
e
fle
te
uma
liç
ão
moral,
tinh
a
u
m
objetiv
o
doutr
inário.
Coelho
(
1987)
re
f
orça
que
a
fá
bula
é
a
primeira
forma
na
rrativ
a
registra
da
pe
la
Históri
a,
cu
ja
temática
é
v
ariada
e
contempla
tó
pic
o
s
q
ue
têm
por
função
exp
lo
r
ar
q
ualidade
s
e
açõ
es
hum
a
nas
c
om
o
a
v
i
tó
r
ia
da
fraq
u
eza
s
obre
a
força, d
a bondade so
b
r
e a a
s
túcia e a derro
ta
d
e presunçosos.
Nas
fá
bula
s
lob
atianas,
en
c
ontra-se
o
au
tor
que,
ao
rev
isitar
o
origina
l,
resgata
o
cânone li
te
rário
e
acrescenta
va
lo
r
es m
odernos,
pro
m
ov
en
d
o,
17
co
m
ess
e
r
ecurso,
o
deb
a
te
entre
a
cultur
a
tr
adicional
e
a
possibilid
a
de
d
e
ruptura
que
promo
v
e
o
s
urgi
m
ento
do
nov
o:
uma
ob
ra
c
om
c
ara
c
ter
ística
s
m
oder
nas
,
co
m
o
o m
od
o de narr
ar adotado.
Em
bor
a
o
texto
r
enovado
s
e
assemelhe
às
fontes
,
el
e
c
ontém
u
m
diferenc
ial me
rec
edor de
destaque por seu viés
m
od
erno
,
c
omo dito a pouco
, pois as
fábulas, e
scritas em
prosa
,
têm
a narração
atr
ibuída
à
Dona
Benta,
seguida
do
co
m
en
tário
do
s
ouv
intes:
Narizinho,
Pedrinho,
E
m
íl
ia,
Visc
ond
e
de
Sabugosa
e
tia
Nast
ácia, que di
s
cu
tem
os
textos a partir das concepções
d
e sua época.
No
en
tanto, o
resga
te propi
ci
ado
pelos Antigos,
s
egundo Coel
h
o
(198
7), foi m
ar
c
ad
o pe
la
cr
iati
v
ida
de
em
t
ransformar e
sse material
em
u
m
a
pro
duç
ã
o
m
o
derna
para
sua
é
poca.
O
traslad
o
perm
iti
u
que
o
binômio
c
ânone
x
ru
p
tura
se
am
alga
mass
e, e, graças
a
ess
a junção foi poss
í
v
el q
ue o cânone se tor
na
sse
ac
es
s
ível a di
ferentes tem
po
s, c
ultura
s
,
c
la
sse
s
soc
iai
s e
grupos.
Com
a
di
scussão
apresentada,
per
pa
ss
ou-
se
um
q
uad
ro
em
q
ue
a
reun
ião
d
e
diferentes
elem
e
ntos
c
ulturais
e
recursos
de
pro
du
ção
do
tex
to
literár
io
se
fundiram
e
m
u
m
a
produç
ão,
tornando-se
f
undam
e
ntais
para
o
entendimento
do
próp
rio
t
e
xt
o
liter
á
r
io.
An
alisando
t
ais
recursos
b
us
c
a-s
e c
om
preen
der
os
elementos
de
c
on
s
trução
d
a
obr
a
qu
e
inter
ferem
na
rec
epção
do
tex
to
l
iter
á
rio
p
elo
leitor
e
m
formação.
Assim
,
a
pres
ente
dissertação
discute
a
recepção
,
po
r
c
ria
nç
as
da
se
g
un
da
s
érie
d
o
Ensino
F
undam
ental,
das
fáb
ulas
e
s
cri
ta
s
p
elo
escritor
bra
s
ileiro
José
Be
nto
Monteiro
Lobato
(1882
–
1948
),
per
tencentes
à
obra
d
e
m
e
smo
nome,
editad
a em
1922,
a partir
d
e u
m
a
si
tua
ç
ão de leitura vivenc
iada em
sal
a de aula.
Optou-s
e
por
a
nalisar
a
r
e
c
epção
d
e
alg
u
ns
tex
to
s
de
Fábulas
por
um
a
d
as
turmas
de
seg
unda s
érie, q
ue
reproduziriam
os
textos c
anônicos
em
ativ
idade
de
pr
odução
textual.
Escolha
esta
que
se
dev
e
ao
c
onhe
c
im
ento
do
fa
to,
ainda
no iníc
io do c
urso de
m
e
strado,
de que
a esc
ola e
m
questão
desenv
olveria um
trab
alho de leitura da
obra
l
o
batiana po
r um
s
em
es
tr
e.
A
i
nst
itui
çã
o
de
En
s
ino
F
und
amental,
per
te
ncente
à
r
e
d
e
particular
da
c
idade
de
Marin
gá
–
Paraná,
f
oi
esc
olhid
a,
co
m
o
dito
anter
iorm
ente,
por
rea
liz
ar,
dura
nte
o
primei
r
o
s
em
es
tre
letivo
de
2
006,
um
e
stu
do
interdisc
i
p
linar
c
om
a
o
bra,
infantil e
adulta, de
M
onteiro L
obato.
O trabal
ho com
d
uraç
ão de um trim
es
tre
, o
segund
o do ano de
2006,
abor
do
u
,
em
uma
t
ur
m
a
de
s
egunda
série,
v
inte
e
d
uas
fábulas,
previam
e
nte
18
se
le
c
ionadas
p
ela
professor
a
re
gente,
sub
m
e
tida
s
à
leitura
dos
a
l
unos
.
À
prática
de
leitura
se
s
eguiu
um
a
p
ropos
ta
de
r
ee
sc
rita
de
seis,
da
s
v
inte
e
du
as
dis
ponibiliz
ad
as
,
retirad
as
do
liv
ro
F
ábulas
de
Lobato
,
que conta
c
om
sete
nta
e
quatr
o no tot
a
l. Ao
tr
abal
ho de e
s
crita era
ac
rescido um
a ilustr
a
ç
ão feita pelos
alunos, v
indo
a c
om
pl
etar
o
co
njunto
que s
erá
,
c
om
o
dito
an
terior
m
ente
,
analisad
o à
luz da Est
éti
c
a d
a Re
c
epç
ão.
Dess
a
f
orm
a,
n
o
p
ri
m
eiro
ca
pítu
lo
da
disser
ta
ç
ão
Tradução,
Adaptação
e
Paródia:
O
Proces
ss
o
Criativo
L
obat
i
an
o
são
pontuados,
em
linh
as
gera
i
s
,
o
s
recurs
os
d
e
ada
ptação,
tra
duçã
o
e
paródia
co
m
o
fe
rramentas
u
ti
liz
ad
as
por
Mon
teiro
Lobato
na
c
on
s
tit
ui
ç
ão
d
e
sua
obra,
antecip
an
d
o
a
p
articipa
ç
ão
d
estes
ins
t
r
um
entos
na leitura da narrat
i
v
a.
O
segundo
c
apítulo
,
O
Caminho
das
Fá
b
ul
as
,
ap
resenta
o
eixo
de
sustentaç
ão
teórica
da
di
scuss
ão
em
pre
endida,
re
aliz
a
da
a
p
artir
da
apr
esen
tação
da
teoria
da Estética
da
Re
c
epção
d
e
Hans Robe
rt Jauss
(1994) e
busc
ou
a
nalis
a
r
a
permanênc
ia
do
t
exto
o
ri
ginal
na
re
escrita
re
aliz
ad
a
pela
cr
iança
e
também
a
ins
e
rç
ão
da
per
s
pectiva
do
l
eitor
na
leitu
ra
do
texto
c
an
ô
nico.
Tam
b
ém
d
e
car
áte
r
teór
i
c
o é
a a
presentação d
a histór
ia e
estrutur
a do
gênero fab
ul
ar
, dados q
ue
permi
t
em
ente
nder a manuten
ção de
e
struturas e fó
rm
ul
as
ne
ste
gênero narrativo.
Para
entende
r
in
l
o
co
a
p
articipação
da
a
daptação,
d
a
traduç
ão
e
da par
ódia
no camp
o
literário
propriam
e
nte d
ito, foi fei
ta no te
rceir
o
c
a
pítulo
,
Leitores
e
Lei
tura
s
de
Fá
bulas,
de
M
o
nteiro
Lob
ato,
u
m
a
ret
om
ada
do
gêne
ro
literári
o
em
dois
mo
v
i
m
entos
;
o
pr
im
e
iro,
pr
ocura
re
visa
r
as
fo
n
tes
,
por
meio
da
retom
a
da
d
os
precurs
ore
s
da
fábula:
Es
opo,
Fe
d
r
o
e
La
Fonta
ine,
e
outros;
e
o
ú
ltim
o
,
e
m
bus
c
a
r
as
marcas
dos
textos-fontes
no
tex
to
lobatiano,
que
r
etom
a
com
os
recursos
de
trad
u
çã
o
e
adaptação,
os
or
igin
ais,
m
a
rc
a
n
do,
essencialm
en
te,
as
diferenças
e
atualizações
a
q
ue
s
ão
subm
e
tidas
as
entidades
te
x
tuai
s
no
decorrer
do
tem
po,
atualização
que também
s
e verif
i
cará n
a l
e
itura dos alun
o
s.
O
trabalho
de
análi
s
e
p
arti
u
da
hipó
te
s
e
de
qu
e
a
histó
ria
literária,
fruto
do
conta
to
entr
e
le
ito
r
e
o
bra,
é
s
olidificada,
de
sc
onstruída
e
reconstruída
no
ex
pe
ri
en
c
ia
r
dinâm
i
co
da
e
ntidade
tex
tual.
Portan
to,
as
respost
a
s
obtidas
pe
lo
receptor r
e
s
ultam
de s
ua formação e
vivência
.
O
levan
tamento
realiz
a
do
re
v
elou
que
a
literatura
é
uma
realidade
cíclica,
qu
e,
co
n
s
tantem
ente,
ret
om
a,
readapta
e
re
c
onta
conte
x
tos
e
realidades,
19
atualizando-os d
e
form
a a
t
orná-lo
s
re
pre
sent
ati
v
os
d
o
momento
h
istórico
a
que
passam
a pertenc
er, a partir d
e
sua
rec
ri
a
ç
ão.
Nas Co
nsideraçõe
s
Fin
ai
s
faz-se u
m
a
reflexão res
pondendo a
o
s
principais
qu
e
s
tionam
entos
n
orteadores d
a
pesquisa
que c
on
fi
r
m
ara
m
a te
se
de q
ue
o q
uad
ro
esperado
se
d
e
sd
obrou, no
q
ue ins
ere
no
p
rocesso
de r
ee
scri
ta,
os
co
n
hecimentos
do lei
t
or
,
c
omo s
e
rá v
e
r
ificado na
di
s
se
rta
ç
ão.
20
1
T
RADUÇÃ
O,
ADAPT
AÇ
ÃO
E
PAR
ÓDIA
:
O
PROCESSO
CR
IAT
IVO
LOBATI
A
NO
A tradução é mi
n
h
a
pinga.
Tradu
z
o c
om
o o bêbado bebe: para esquecer, para atordoar.
Montei
r
o Lobato
A traduç
ão e
a
a
d
aptação s
ão pres
en
ç
as constantes
na
obra
lit
erá
ria
de
Mon
teiro
Lobato
,
assim
c
om
o
a
par
ódia
qu
e
s
urge,
hora
ou
o
utra,
para
pr
e
s
tigiar
tex
to
s
e
au
tores
ou
simplesmente
tr
azer
à
lu
z
ex
pr
e
ss
ões
lite
rárias
inac
e
ssíveis
por
dis
tâ
nc
ias
cr
onológicas,
lingüísticas
e
g
eo
g
ráficas.
A
retomada
de
n
arrativas
pré
-
ex
i
s
t
e
ntes
por
Lobato
ac
ont
ece
de
form
a
peculiar
,
c
omo
é
c
aracterístico
do
escri
to
r
,
ac
os
t
umado
a
polem
i
zar,
teori
z
a
r
e
a
vivenc
iar
em
s
ua
produção
as
id
é
ia
s
em
q
ue
acredi
ta
v
a,
pos
i
c
ionamentos
que
serão
discutidos
a
seguir,
pr
im
eiramente,
no
q
ue
tange a
relação e concep
ç
ão d
e
Mont
eiro
L
obato a respe
ito da
s
traduç
õe
s
.
1.1
Lobat
o e as Traduções
A
tr
adução
,
esp
e
c
ialm
e
nte
a
l
iterária,
e
stev
e
ligada
à
produçã
o
e
à
vi
da d
e Monte
iro
Lobato
como fo
rm
a
de
s
ub
s
is
tência, o
q
ue f
az do
ato
tra
dutór
io
um
ins
t
r
um
ento
importa
nte
p
ara
a
c
ons
tit
u
ição
de
sua
obra,
daí
a
n
ecessidade
de
se
rever
e
s
te ins
trum
ent
o c
om
o for
m
a de e
nten
d
er
a
sp
ecto
s
da
obra do autor.
Como
a
firma
do
n
a
introdução
d
este
trabalho,
os
recursos
de
adaptaç
ão
e
tradução
s
ã
o
ferram
entas
que
tornam
acess
ível
o
referen
c
ial
da c
ultura
universal
. Ne
ss
e cam
p
o, inc
lui-
se
a literatura, q
ue por diferenç
a
s
de idiom
as
e
normas soci
ai
s
torna-s
e, m
uitas
vezes
, inace
ss
í
v
el.
Dess
e
m
o
do,
a
diferenç
a
de
idiom
a
s
im
po
rta
par
a
diferentes
linh
a
s
de
estudo,
m
a
s
na
literatura, em es
pec
ial, levantam-se
vários
questionam
entos
, u
m
a
ve
z
q
ue
e
nvolve
m
a
própria ci
rculação d
o
p
ro
duto
literár
io. Portanto,
para ent
ender o
papel d
a
traduç
ão
no
co
ntexto
li
te
r
ár
io,
to
rn
a-
s
e
funda
m
e
ntal
e
ntender
o
próprio
co
n
ceito
que em
bas
a a
tradução dos
refe
ren
ciai
s literários.
O
de
sc
o
nhec
im
ento
d
a
lí
ngua
es
trangeira
m
otiv
a
a
busca
por
adaptaç
ões e/ou
traduções
,
mo
v
ime
nt
o
es
se que faz
co
m
que tais rec
ursos se
torn
em
nec
es
s
ário
s
p
ara
a
ci
rculação
d
os
bens
c
ulturais
da
huma
n
idade.
É
21
necessá
rio
que
haja
um
c
uidad
o
espec
ial
com
es
ses
in
s
trumentos,
c
aso
c
ontrário,
tex
to
s
e o
u
tras express
õe
s
c
ulturai
s
e
artí
s
ticas
t
orn
am
-s
e
i
nac
e
s
sív
eis.
Não
há
um
co
nceito
defi
nido e
f
e
chado
so
bre t
raduções.
A
p
rincíp
io,
a
reescri
ta
de
um
tex
to
consisti
a
em
u
ma
es
pé
c
ie
de
a
p
rop
ria
ção
do
texto-fon
t
e,
pois,
s
egundo
Nietzsche
(1962
2
),
a
tr
ans
po
s
i
ção
d
e
uma
ob
ra
pa
ra
ou
tra
lín
gua
era
um
a
prá
tic
a
ap
rop
ri
ativa,
um
a
v
e
z
q
ue,
ao
s
e
realizar
a
trad
u
çã
o,
o
tradutor
su
b
stituí
a
o
n
ome
d
o
autor
pe
lo
se
u
próprio.
Essa
prát
i
c
a
c
ontribu
ía
com
a
n
ão
preserv
ação
do
pass
ado
e,
c
on
seq
üentem
ente
,
da
próp
ria h
i
s
tória.
Isso
mos
tra
que
a
c
oncepção
d
e
tr
a
duçã
o
não
é algo
im
u
t
á
v
el.
A
mudanç
a
dessa
v
isão
p
erm
ite
a
v
aliar de m
o
do
diferente a tradução.
O
ato
de
trad
uzir
é
po
r
a
lguns c
r
iticado
e
por o
u
tros
va
lorizado.
Ju
íz
os
de
valo
r
à
p
a
rte,
é
um
rec
urso
útil,
p
or
razão
dos
ser
e
s
hum
anos
falarem
línguas
d
if
e
rentes,
po
is
p
e
rm
ite
u
m
a
maior
apr
o
x
im
a
ção
e
ntre
povos
e
a
recontex
t
uali
z
a
ção
d
e
na
r
ra
ti
v
as
.
Benja
m
in
(1923
3
),
em
se
u
ensa
io
sobre
A
Tar
ef
a
–
Renúnc
ia
do
Trad
utor
,
questi
o
na
a
ç
õe
s
do
ato
tr
ad
utór
io,
pau
ta
do,
princ
ipalm
ente
,
na
co
m
pa
ração
e
ntre
tex
to
-fo
nt
e
e
texto
tr
ad
u
zido,
e
afi
rm
a
que
a
trad
ução
n
ão
co
n
segue
of
e
recer um
ca
mpo
de
s
ignifi
c
ação perante o te
x
to original. O
c
rítico
va
lo
r
iza
os
te
x
tos
originais
e
v
ê
a
traduç
ão
c
om
o
gên
ero
m
enor
e
tem
por
ár
io,
q
ue
atende
às ne
c
essi
da
des
do
p
úbli
c
o em d
e
termi
na
do
espaço te
m
po
ral.
A
tr
adução
envolve,
s
egundo
disc
ute
Derr
ida
(1
987
4
),
em
T
orres
de
Babel
, um
a dív
id
a
e
ntre a obra origin
al e sua versão traduzida, c
ontraída pela
necessidad
e
da
últim
a
em
r
epres
entar
as
verdad
es
c
ontidas
n
a
primei
ra
.
Muitos
teór
i
c
os
afi
rm
a
m
que
a
verd
a
de
ira
traduç
ão
d
e
v
e
tr
a
nsm
i
tir
o
signi
fi
c
ado
exat
o
do
origina
l.
Contudo,
é
preciso
considerar
que
a
própr
ia
concepçã
o
de
trad
u
ç
ão
se
depar
a com
a
difíc
il tarefa de dema
rc
ação de se
u
s
próprios lim
ites
.
Cada
tra
dução
de
u
m
a
obr
a
re
p
resenta,
a
p
a
rtir
de
u
m
de
termin
a
do
perí
odo
d
a
história,
a
língua
n
ela
retr
at
a
da,
r
eceben
do
ta
m
b
ém
influ
ênc
ias
so
f
rid
a
s
pelo
tradutor
d
o
m
e
io
no
qual
e
le
está
inseri
do.
P
or
ser
fruto
do
m
o
m
en
to
de
sua
co
n
cepç
ão,
não
deve
servir
d
e
base
par
a
o
u
tras
trad
u
çõ
es,
busca
ndo
ter
s
em
pre
o
origina
l
c
omo fonte
para a realização
de no
v
as traduções.
2
A edi
ção bra
si
lei
r
a utiliz
a
d
a f
oi
pub
l
ica
da em 2001.
3
A edi
ção bra
si
lei
r
a utiliz
a
d
a f
oi
pub
l
ica
da em 2001.
4
A edi
ção bra
si
lei
r
a utiliz
a
d
a f
oi
pub
l
ica
da em 2002
.
22
Para
Benjam
in,
a
traduçã
o
não
af
eta
o
te
x
to
ori
ginal,
s
enão
p
a
ra
atribui
r-lhe prestígio. Campos
(1991)
, ao
di
sc
utir os
apontamentos
de Ben
jam
in
so
b
re
a
tradução,
ate
st
a
qu
e,
apesar
da
crít
i
ca
fei
ta
pe
lo
teórico,
a
tra
du
ção
p
ermite
o
r
eviver
do
text
o
original.
Am
o
rim
(200
5),
d
iscutindo
c
on
c
eit
os
de
t
radução
e
adaptaç
ão,
desc
reve
a
tradução
c
om
o
u
m
a
aç
ão
dinâmica,
n
a
qu
al
oco
rre
a
interaç
ão
entre
a
f
onte
e
o
texto traduzido,
o
que
perm
ite
a
inter
açã
o
e
ntr
e os
textos,
um
a
v
ez
qu
e
para
o
pes
quis
a
dor
o
a
t
o
tra
d
ut
ório
per
m
ite
a
re
const
e
xt
ualiz
aç
ão
da
narra
ti
v
a a pa
rt
ir d
a
realidade na qua
l é percebida.
Sendo
a
tradução
um
ins
trum
en
to
de
acess
o
ao
re
ferencial
literário
de outr
as línguas, tor
na
-s
e fundam
ental
vo
ltar o olhar
para o
s
ujeito
d
esse
produto
: o
trad
uto
r.
Benja
m
in,
em
s
eu
tex
to
A
Tarefa
–
R
e
nú
ncia
d
o
Tr
adutor,
de
sc
reve
o
tra
dutor
c
om
o
o
res
ponsá
v
el
e
m
libe
rar
na
líng
ua
m
ate
rna
a
pura
lín
gua
retratada
na
língua es
trangeira,
por
m
eio
d
o ato
criativo.
Assim, Benjamin d
elega
ao
tradutor a
libertação
da língua de
p
artida na d
e
c
heg
a
da.
Coulthard (
1991) descreve o tradutor como a pess
oa que tenta
tornar
a
cessíve
l
a
u
m
ce
rt
o
g
ru
p
o
de
leitores
interessados,
u
m
texto
até
então
i
nacessí
v
el
.
Desta
forma,
o
tradutor
começ
a
co
m
o
t
exto
ou,
mais
literalmente,
com a
m
e
nsage
m derivada
do
te
x
t
o
(cuja
ex
atidão
dependerá,
n
atura
l
mente,
do
g
r
au
de
p
roxim
i
dade
do
traduto
r
em
relação
ao
leito
r
ideal)
e
tenta
r
e-
e
s
crevê
-lo,
ou
melhor,
re-te
xtual
izá-lo
p
ara
um
l
eitor
ideal
(CO
ULTHARD,
1991,
p.
3
,
grifo
do autor)
Dess
e modo,
o
tr
adutor
é v
i
s
to c
omo o
m
e
diador
e
ntre
a
o
bra
es
trangei
ra
e
o le
itor.
Para Steiner
(
1998
5
), o p
a
pel do
tra
dutor
é
retra
tado
c
omo
u
ma
prát
i
c
a
difí
c
il,
mas
n
e
c
es
s
ária.
E
ss
a
f
ala
m
os
tra
a
dif
i
c
ulda
de
d
o
at
o
de
traduz
ir
,
po
r
não ter
,
cl
aram
ent
e definido
, u
m cam
i
nho a s
er segu
id
o
.
Aubert
(1993)
di
scute
a
ideologia
do
ato
trad
utório,
q
u
e
atinge
tam
bé
m
se
u
ag
ente
exec
utor, s
endo
visto,
segund
o
ele,
c
omo s
ubm
etido
a
div
ersas
serv
i
d
ões:
E
scra
v
o
do
te
x
t
o
e/ou
d
o
a
utor
do
original
e
atr
ela
do
à
s
re
striçõ
e
s
i
mpost
a
s
p
elas
divers
i
dades
lingüísti
c
a
s
e
c
u
lturais,
o
tradutor
5
A edi
ção bra
si
lei
ra utilizad
a f
oi
publica
da em
2005
.
23
deveria,
na
medida
d
o
po
s
s
ível
e
do
i
mpossív
e
l,
ab
stra
i
r
o
seu
próp
r
io
ser, to
rn
a
r-se
um mero c
a
nal
, liv
re de ‘
ruí
d
os’
ou outras
obs
tr
u
ções
à
passage
m
‘
pl
e
na’
d
o
texto
original
à
sua
nova
co
nfiguraçã
o
l
i
ngüística (AUBERT,
1993, p. 7, asp
a
s do autor
).
Para
Campos
(1
991),
a
função
do
tradutor
é
liberar
a
essên
ci
a
da
obra
es
trangeira,
rem
o
delando
s
ignif
i
c
ado
s
para
o
utro
c
o
ntexto
,
pois
torna
o
tex
to
ac
es
s
ível para
um
púb
lic
o distinto do qual foi pensado
a
p
rin
c
í
pio:
O
tra
dutor
const
r
ói
p
ar
a
lela
m
e
nt
e
(pa
r
amorfic
a
men
t
e)
a
o
original
o
tex
to de sua
‘transc
riação’,
d
epois de
‘desconstruir
’
e
sse ori
gin
al num
prim
eiro
momento
o
metal
i
ngüíst
i
co.
A tr
adução op
e
ra, por
t
anto,
graça
s
a
uma
deslocação
reconfigurado
ra
,
a
projetada
reconve
rg
ência das di
v
ergências,
a
o ‘extraditar
’ o ‘intracód
i
go’ de
uma
pa
r
a
outra
língua,
como
se
na
p
ers
eguição
ha
rmonizador
a
de
um m
esmo tel
o
s (CAMPOS, 1991, p.
1
8, aspas do autor).
Campos
a
m
plia
a
disc
ussão
ao
c
o
nce
ber
a
t
raduç
ão
c
om
o
a
recons
tru
ç
ão
paralela do
te
x
to or
iginal. Tal c
oncep
ç
ão
dialog
a parti
c
ularm
e
nte com a
prát
i
c
a tradutor
a de M
o
nte
iro Lobato, autor estudado
n
a
pe
s
quisa.
O
au
tor
de
Fábulas
(1922)
tem
uma
rela
ção
m
uito
próxima
c
om
a
trad
u
çã
o
em
seu
f
azer
literário,
pois
preocupou-
s
e
em
ate
nder
às
necess
idade
s
do
público-a
l
vo
.
Ainda
buscou,
s
egundo
a
de
finição
de
tradutor
de
Cou
lt
h
ard,
ac
e
ss
ibiliz
ar
r
eferen
c
ial
ao
s
le
itore
s
,
que
nã
o
dispunh
am
até
aquele
m
o
m
en
to,
co
m
eç
o
d
o
sécu
lo
XX,
de
o
p
çõ
es
de
tí
tu
los
e
m
u
itas
v
e
z
es
ta
m
bé
m
d
e
materiais
de
qualidade
,
ta
nto
no
que
d
iz
res
peito à
q
ualidade da t
rad
u
ção, quanto
à própria
aprese
nta
ç
ão
d
o
m
ateria
l impress
o.
Lobato c
onstru
i
u r
enom
e
c
omo ad
aptado
r e
t
radut
or
ao
disponib
iliz
ar
para
l
eitore
s
bra
si
leiros
mais
de
vinte
e
c
in
c
o
m
il
pág
inas
traduz
idas
,
por
ele,
de
tex
to
s
pe
rtencentes ao
câ
none lite
rári
o
. Com o aut
or, ro
m
p
eu-s
e o prec
o
nce
ito
ex
i
s
t
e
nte
,
até
aquele
m
o
m
ento,
d
e
que
escritores
c
on
h
e
c
idos
nã
o
traduzissem,
pois
os
qu
e
o faz
i
am escon
diam
-s
e a
trá
s
de pse
ud
ô
nimos.
Consi
d
er
ado
função
m
e
nor,
o
at
o
tra
dut
ó
rio
es
barra
v
a
ta
nto
no
preconc
eito quanto n
as baixas
rem
un
eraç
ões, o que
m
anti
nha dis
tan
t
e d
o
s
leitores
o
repe
rtório
da
c
ultu
ra
eur
opéia
canôn
i
c
a.
A
pop
ulação
da
ép
oca,
qu
e
não
con
he
c
ia
outr
o
s
idio
m
as
,
es
ta
v
a
res
trit
a
às
p
roduções
ap
ortu
guesadas
d
e
obras
franc
e
s
as
e
es
pa
n
holas, ignorando outras exp
re
ssões l
iter
á
ria
s
.
M
es
m
o
se
ndo a ú
nica fo
rm
a
de dis
ponibi
li
zar a li
teratur
a estrange
i
r
a,
24
a
traduç
ão
ainda
se
enc
ontra
envo
lta
por
opin
iões
d
ivergentes.
Pesqu
i
s
adores
afirm
am
que
o
ato
trad
utór
io
pode
optar
pela
adequaç
ã
o
do
text
o
o
riginal
a
um
a
poética
v
igente
com
o
ta
m
b
ém
se
opor
a
ela
,
introd
uz
i
ndo
elem
e
ntos
in
o
va
do
res
q
ue
lhe ser
iam
es
tr
a
nhos
ao te
x
to
prim
ei
ro. Co
m
ba
se nes
te
pens
am
ento, Amorim (2005)
ex
põ
e
a
ação
de
traduzir
c
omo
u
m
fazer
que
a
pre
s
enta
opções
d
e
escolha
, ou
se
ja,
se
u
execu
tor
pode
optar
por
a
t
ender
ou
n
ão
às
exigências
que
co
nsistem
,
mui
t
as
ve
z
es
, na escolha
entre m
anter-se
fiel ao original
ou ino
v
á-lo.
As
e
s
colhas
do
t
ra
dutor
r
efletem
direta
mente
na
respos
ta
do
leitor,
habitu
ado a reclamar a di
ta fidelida
d
e da tr
adução, embora não
tenha de
finido
cl
aram
ent
e o que
abarca realm
e
nte
a fidelidade ao original
.
A
fidelida
de
tão
re
cl
am
ada
por
teóricos,
críticos
e
leitores,
é
nada
m
a
is
do
que
uma
das
es
tratégias
d
o
a
to
tradutóri
o,
que,
em
realidad
e,
não
é
um
ca
m
inho
pr
e
c
i
so
e
ne
m
ú
nic
o
a
s
er
s
eguido
pelo
tr
adutor
durante
a
transposição
de
um
tex
to de u
m
a
língua
estrangeira para a l
ín
gua materna.
Contudo,
m
e
smo não re
presentando u
m
a
ob
rigatoriedade, ao s
e
discu
ti
r
a
questão
da
t
raduç
ão,
o
s
en
s
o-com
u
m
aponta
p
ara
a
idéia
de
fidelidade,
co
b
rad
a
p
elos
leitores que buscam no texto traduzido u
m
a r
eprodução, o m
a
is
próxima
poss
ível,
do
original.
Assim,
apes
ar
da
diferença
lin
güística
e
c
ultural
ex
i
s
t
e
nte
entre
te
x
to-fonte
e
realidade
alvo
,
para
a
qual
s
erá
t
ransp
os
t
o
o
tex
to,
os
teór
i
c
os
e
c
rít
i
cos
m
ais
c
on
s
erv
a
do
res
ac
re
d
itam
que
o
tra
dutor
deva
m
an
ter,
de
m
a
neira fi
el, a for
m
a
e o conteú
do do texto prim
e
iro.
Me
s
m
o
c
om
a
ci
rc
ulação
de
tal
ideologia,
a
possib
ilidade
de
tam
an
ha
neutral
idade
é
ques
tio
n
ável,
porque
o
tradutor
é
antes
de
tudo,
ta
m
bé
m
,
um leitor
, e
tran
spõe, i
n
v
oluntariamente
ou
não
, traç
o
s
de sua
re
cepç
ão p
ara
o tex
to
trad
uz
i
do,
fru
to
d
e
sua
própria
leitura
.
O
t
r
a
d
uto
r
é,
inevitavelmen
te
,
um
leito
r
q
ue
traz
c
onsi
go
um
repe
rtório
de
c
onhecimentos
e
v
i
vências
que
influenciam
a
trad
u
çã
o
.
Assim,
é
nec
essá
rio
de
sv
incular
a
idéia
d
e
q
ue
o
f
iel
é,
obrigat
oriam
en
te,
de
qualidade,
e
que
o
q
uesito
n
ão
deve
ser
encarado
como
u
m
tributo
a
se
r
pa
g
o
p
a
ra
que
o
texto
traduz
ido
s
eja
v
alori
z
ad
o.
Isso
porque
o
tradutor
pode
la
n
ç
ar
m
ã
o
de
o
utros
r
e
cursos
em
s
eu
tr
abalh
o,
ter
objeti
v
o
s
e
públicos
par
a
os quai
s
a
fi
deli
d
ad
e i
ncond
i
c
ional não
s
eja a
m
elhor
e
s
colha na
realização da
trad
u
çã
o
.
Benja
m
in (1
923)
a
ponta ca
m
inhos
pa
ra o texto traduzido:
25
A
tradução
deve,
ao
invés
d
e
procurar
assem
e
lhar-se
ao
sentido
orig
inal, i
r
reconfigurando e
m
sua
própria l
í
ngua
, amoro
s
a
mente,
ch
egando até
aos
mínimos detalhes,
o
modo d
e d
esignar do
orig
i
nal,
fazen
do
assim
co
m
q
u
e
a
mbos
sejam
r
e
conhecidos
como
f
ragmentos de
uma
língua
maior,
como
cacos
são
f
ragme
n
tos d
e
um
va
so (BENJ
AMIN, 2001, p.208).
Campos
(
1991),
tamb
é
m
,
v
ê
o
o
riginal
como
a
font
e
p
rimeira
e
a
trad
u
çã
o
c
omo
a
d
iss
em
inação
da
v
italidade
da
obra.
O
t
e
xt
o
traduzido
é
a
co
n
cre
tiz
aç
ão de um
a
ob
ra pelo
t
rad
utor. Nesse
p
o
nto,
o autor u
s
a
avaliações
dis
tinta
s
das
de
Benja
m
in,
destac
ando
a
diferença
ex
i
s
t
ente
e
ntr
e
a
rece
p
çã
o
de
um
a
ob
ra
ent
re
leitores
e
críticos
em
a
m
bien
te
estra
ngeiro,
por
se
trata
r
de
n
orm
as
dis
tinta
s
.
Ao
pensar
na
di
v
ers
idade
cu
ltural,
c
ai
p
or
te
rra
a
pr
ó
pri
a
cobr
a
nça
por
uma
fidelidade
i
n
c
ondiciona
l,
que
p
ode
v
ir
a
s
er
impraticável
ou
d
i
s
tanciar
o
tex
to
,
d
i
s
torcendo
o
c
ont
e
údo
r
eal
da
o
bra
l
it
erá
ria.
A
âns
ia
por
uma
fideli
dade
to
tal
pode
dificultar
o
ingre
s
so
ao
texto
e
até
tor
ná-
lo
i
n
a
c
essível.
Um
ex
em
plo
d
esse
quadr
o
é resgatado por T
ravassos (1974),
que apresenta um
a c
u
riosa fal
h
a de
trad
u
çã
o
, re
ti
ra
da de um
a v
ers
ão argentina de um
t
exto
lobatiano:
-
Hijo
mio,
h
ay
d
os
e
spécies
de
l
iteratura,
una
com
c
u
e
rn
o
s
y
outra
sin
c
u
ernos.
A
mi
me
gusta
ésta
y
de
testo
aquélla.
La
l
iteratura
s
in
cu
ernos
es
la
de
l
os
g
ra
n
d
e
s
libros;
y
la
li
ter
a
tura
c
om
cuernos
e
s
la
de
l
os
li
bros
q
ue
no
v
alen
nada.
Si
yo
digo:
‘
Era
um
a
l
inda
mañana
de
cielo
azul’
,
h
a
g
o
li
t
e
ratura
s
i
n
cuernos,
de
la
buena.
Pero
si
di
go:
‘
Er
a
uma
gloriosa
ma
ñ
ana
de
cielo
americ
a
namente
azul
’,
hago
‘li
teratura’ corn
u
peta, de la que merece palos
(TRAVASSOS,
1
974, p.
126, aspas do autor).
-
M
e
u
filho,
há
d
uas
espécies
de
literatura,
u
ma
en
tr
e
aspas
e
outra
se
m
a
s
p
as.
Eu
g
o
sto
des
t
a
e
d
etesto
a
quela.
A
literatura
sem
as
pas
é
a
d
os
g
randes
liv
ro
s;
e
a
com
aspas
é
a
dos
l
ivros
que
não
vale
m
nada.
Se
eu
dig
o
:
‘
Estava
f
a
z
e
ndo
uma
linda
manha
d
e
céu
az
ul’,
es
tou
fazendo
lite
ra
tu
ra
sem
a
s
p
as,
d
a
boa
.
Mas
se
eu
digo:
‘
estava
uma glo
riosa manhã de céu
am
ericanamente az
u
l’, eu faç
o
‘lit
er
a
tura’
da
a
spada
–
da
que
merece
pau
(LO
B
ATO,
1973
b,
p.
20,
aspa
s
do
autor).
O
li
v
r
o
Fábu
l
as
(1
9
22
)
recebeu,
n
a
tr
adução
argent
ina
6
co
n
temporâne
a
a
Lobato,
o
tí
tulo
de
Vi
ej
as
F
á
bulas.
A
c
ontaç
ã
o
da
f
ábula
A
assembléia
dos
r
atos
desenca
d
eia
uma
discussão
so
bre
o
fazer
literário,
no
qual
6
O no
m
e do
tradu
t
or n
ão é
ci
t
ado pel
o teórico,
p
ortan
to,
o
pró
pri
o
teórico s
erá co
loca
do na
referênci
a.
26
Dona
Benta
apresenta
às cri
an
ç
as dois
tipos de
literatura: u
m
a
floread
a, descr
ita
p
or
ela
co
m
o
a
que
c
ontém
as
pas
,
e
ou
t
ra
di
reta,
ou
s
eja
,
sem
as
pas,
estil
o
v
al
o
rizado
pela
personagem.
A
tra
duç
ão
hispânica
realiza
u
ma
trad
uç
ão
literal
ao
ad
otar
o
corr
e
sp
o
nd
ente
s
ugerido
p
el
o
f
al
s
o
cogn
ato,
p
oi
s
a
pa
la
v
ra
“
aspas”,
tam
b
ém
ex
i
s
t
e
nte
na
língua
espa
n
ho
la,
corresponde
ao
subs
ta
ntivo
“
chifre”
em
português
,
opção
que foge totalm
ente d
a idéi
a di
ss
em
ina
da pela
obra.
O
res
gate
dos
exc
ert
os
pr
etende
r
e
ss
altar
a
importância
da
es
colha
do tradutor.
No exe
m
p
lo apresentado
por T
rav
assos,
emb
ora
s
e dest
a
qu
e
um
a
trad
u
çã
o
ba
s
tante
literal
d
o
te
x
to
lo
batiano,
no
qual
se
pe
rc
ebe
a
m
an
utenção
da
m
e
s
m
a
es
tru
tura
textual
do
orig
inal,
o
apego
à
fidelidade
dese
n
ca
deia
a
fuga
à
m
e
nsa
gem
tex
tual.
Isso
porque
a
escolh
a
do
tradutor
em
tra
duzir
a
palavra
“as
pas”
pelo
s
inônim
o
hispâ
ni
c
o
“c
hif
r
es”
repr
e
s
enta
uma
v
e
rdadeira
a
gress
ão
ao
co
nteúdo
real
do
texto
original,
já
qu
e
“lit
eratura com asp
as”
não
cor
re
sp
onde
em
s
ignificad
o a
“literatur
a
c
om chifres”.
A
tra
dução
literal
v
ai
d
e
enc
ontro
à
s
idéias
difun
didas
por
L
obato,
que
reflete
teor
i
c
am
e
nte
sob
re
a
tradução
e
a
ssu
m
e,
de
forma
p
ráti
c
a,
pos
i
c
io
n
amento disti
nto, ao defender a difusão das i
déias por m
ei
o da trad
ução:
A
tradução
de
fi
delidade
li
tera
l,
is
to
é
,
de
fidel
idade
à
f
orma
l
iterária
dentro
da
sua
língua,
o
autor
expressou
o
seu
pensa
mento,
tr
a
i
e
mata a obra traduz
ida. O
bom tradutor d
ev
e
d
izer exatamente
a
mesma
co
i
sa
que
o
autor
diz,
mas
dentro
d
a
sua
língua,
dentro
da
su
a forma l
iterár
i
a;
só as
sim est
a
rá t
r
aduzindo o
que i
mporta: a
idéia,
o
pensamento
do
auto
r.
Quem
procura
tra
d
uzir
a
fo
rma
do
autor
não
faz
traduç
ã
o
–
faz
uma
horríve
l
coisa
chamada transliteração,
e
torna-se i
n
i
nteligível (LOBATO, 1959,
v
2, p. 147).
Por
desej
ar
uma
maior
difu
são
da
cul
tu
ra
,
por
m
eio
da
aber
tura
das
fron
teir
as
a outr
a
s
expressões
da arte
literár
i
a
à po
pulação, Loba
to vê o
processo
de
trad
u
çã
o
com
o
u
m
a
aç
ão
que
deveria
s
er
livre
de
r
ebu
sc
am
e
ntos
de
ling
uage
m
e
co
n
str
u
ç
ão, p
ara s
er mais
ac
essível.
Ao e
xa
min
ar
c
ont
os
d
e Gr
imm
, p
ublic
ados
pela
Garnie
r,
d
e
s
abafa
com
o
am
i
go
Range
l,
c
om
que
m
se
corresponde
du
rante
sua
vi
da:
“p
obres
c
rianças
br
a
s
ileiras
!
Q
ue
t
raduções
galegais!
Tem
os
que
refazer
tu
do
isso
– abrasileirar a linguagem
” (L
OBAT
O
, 1968
b, v 2
,
p. 275)
.
A
fa
la
de
Montei
ro
Lob
ato
aponta
para
um
a
p
ost
ura
divergent
e
d
a
difund
ida
no
d
iscurso
benjam
inian
o,
apegad
o
à
manutenç
ão
da
forma
orig
inal.
O
escritor
de
Taub
até
d
iscute
teoricam
ente
e
também
prat
ica
o
desapego
rigo
ros
o
ao
27
origina
l, a
liberdade
e
a
adequação da
tradução atrelados
ao obj
etivo. As
s
im
, o
a
utor
entend
e
o
a
to
tr
adutório
c
om
o
u
m
a
a
ção
que
deve
estar
de
acordo
co
m
o
púb
lico
a
quem
s
erá
direc
io
n
ado o texto, o
que para Lobato
destac
a o leitor c
om
o u
m
a
entida
de q
ue
deve se
r
levada
em c
ons
i
der
a
ção,
um
a
v
ez qu
e é
o
moti
v
o e
o des
tino
do tex
to.
A
manuten
çã
o
ou
n
ão
do
texto
o
riginal
ao
máx
im
o
apre
se
nta
opiniões
distin
ta
s
: se
Benjami
n
apreg
o
a
a
fidelidade
ao ori
ginal, Lobato
se
volta
para
o c
ampo
das
idéias
ao
invés
de p
rivilegiar ex
clusiva
m
ente
a
for
m
a.
J
á
Venuti
(199
8
7
),
pe
s
quisador
qu
e
se
dedica
a
essa
problemática
,
b
u
sca
um
e
quilíbr
io
ao
aponta
r
d
uas
p
ossibilidad
e
s
para
a
questã
o
:
primeira
m
ente,
a
pregoa
o
respe
it
o
à
forma
o
riginal
da
obra
como
maneira
de
r
esp
eitar
a
c
ult
u
ra
d
e
or
igem
e
e
m
co
n
trap
o
nt
o,
se
preocupa
c
om
a
fidelidad
e
lev
ada
ao
extrem
o,
o
que
pod
e
torn
ar
o
tex
to ina
c
essív
el ao leitor - de
v
ido à própria diversidade
c
ultu
ral.
Ao
c
ita
r
que
há
v
árias
forma
s
de
r
e
ce
pção
do
es
t
ran
geiro,
Venuti
abre
espaç
o
para
outras
f
ormas
d
e
ac
esso
ao
c
onteúdo
literári
o,
q
ue
não
se
restr
injam
apenas
à
s
reproduções “
fiéis”
dos
textos
origi
nais. Ao
apo
ntar
para
outras
possi
bilid
ades
, o autor apr
e
s
enta a idéia de
dom
e
stic
ação
p
resente no
ato
t
rad
ut
ór
io,
aç
ão
qu
e
consi
s
te
na
inserção,
no
novo
texto,
de
conceitos
,
es
truturas
e
de
m
a
is
va
lo
r
es
d
a
re
alidade
c
ultu
ral
para
a
s
quais
a
obra
ser
á
t
rans
p
osta.
Para
o
pesqu
i
s
ador,
a
“tradução
efetivamente
dec
reta
u
m
g
rau
de
subordi
n
ação
em
qualqu
er
língua-alvo
ao
cons
truir
a
re
p
resentaç
ão
do
texto
estra
ngeiro
que
é
i
nsc
rito
co
m
v
alores cu
ltur
a
is domésticos
” (VENU
T
I, 2002,
p. 182).
O
c
riador
do
Sítio
do
Pic
apau
Am
a
relo
ado
tou,
em
algu
m
a
s
de
suas
trad
u
çõ
e
s,
a
pers
p
ec
tiva
da
domestic
a
ç
ão
em
su
a
prátic
a
tradutória,
defen
de
ndo
a
idéia
d
e
apr
o
xi
m
a
r
a
ob
ra
ao
s
eu
púb
li
c
o.
A
idéia
da
adaptação
p
ode
ser
percebida
na
inclusão,
no
t
e
xto
lob
atiano,
de
ca
ra
c
terísticas
d
a
cu
ltu
ra
nacional
por
m
ei
o
da
agre
ga
ç
ão
de
v
alore
s
, c
ostu
m
e
s
e
aconteciment
o
s
p
articulares
des
s
a
realidade
.
Em
outr
a
s
s
it
u
ações,
L
oba
t
o
s
e
l
im
itou
em
re
prod
uz
i
r,
na
li
nguagem
pa
drão
da
nor
m
a
cu
lta
,
o conteúd
o d
a obr
a original.
O
di
reciona
m
ento
d
a
obra
ao
p
úblic
o
,
aç
ão
pra
ti
c
ada
por
Lobat
o,
é
cri
ti
c
a
do
por
Be
njam
in
(192
3)
em
s
eu
ens
aio
so
bre
a
traduçã
o.
O
crítico
condena
o
co
n
ceito
d
e
receptor
“ideal”
a
le
g
and
o
que
nenhuma
p
roduçã
o
artí
s
ti
c
a
é
criada
a
7
A edi
ção utiliz
ad
a foi pu
b
li
cada em 2002.
28
certo
homem
especí
fi
c
o
e
sim
,
à
exis
tê
nc
ia
humana
e
m
gera
l.
Com
es
sa
idéia,
o
teór
i
c
o
que
s
tiona
se
uma
tra
dução
pode
se
r
dirigida
a
leitores
que
não
co
m
pre
endam o tex
to-fonte
8
.
Como
já
dito
ant
erior
m
e
nte,
Monte
iro
Lobato
an
te
c
ipou,
ta
n
to
em
su
a
s
trad
u
ções
qu
a
nto
n
a
s
adaptações que
fez,
u
m
c
uidado
em
pr
epará-las
de
m
o
do
a
s
ere
m
c
ompreens
í
v
eis
a
d
eterm
in
ado
s
gru
pos
de
leitore
s
,
o
q
ue
d
im
inu
iu
a
dis
tâ
nc
ia
entre
texto
e
leitor
9
. Ta
l po
stu
ra deparou-se
co
m
duas
s
ituações
que
lev
am
a
um
mes
m
o
r
esul
tado, s
eja
por
d
escon
h
ec
i
mento
da
v
ariedade
lingüí
s
ti
c
a
utilizada,
ou
pe
la
“pretensão”
e
m
s
e
igualar
os
r
egistros
or
ai
s
às
norm
as
c
ultas
da
língua,
ignora-se
a
s
particu
laridade
s
da
c
onstruç
ã
o
literár
ia.
Tem
-s
e,
ne
ss
e
c
as
o,
a
m
o
tiv
ação
em
que
s
e
ap
ói
a
m
os
guardiões
d
a
fid
elida
de
tradutó
ri
a,
que
rejeita
m
a
trad
u
çã
o
lobati
a
na
por
não
represen
tar
,
em
al
gum
as
o
bras
traduzidas,
a
form
a
da
obra
o
rigin
al.
O
es
cri
t
or-tra
du
t
or
não
resgatav
a
expressões
co
loquiais
e
re
aliz
av
a
um
a
es
pé
cie
de
padroni
z
a
ção
da
lingua
gem
uti
lizada,
na
ten
tativa
de
torná-la
ac
es
s
ível
aos
leitores,
c
om
o
o
próprio
Loba
t
o
discute
em
s
ua
c
orrespondê
ncia
c
om
literatos.
Era
su
a
m
is
sã
o
transmitir
o
conteúdo
da
o
bra
literária,
idéia
contrária
a
apre
go
a
da
p
or
Benjami
n
(192
3),
ação
que
,
para
el
e,
não
o
brigava
a
manutenção
da
linguagem ad
otada
p
elo
original. Tanto
a
c
redita Lo
bato
nes
s
e pr
incípio, qu
e c
hega
a
co
m
pa
rtilhar
tais
conce
p
ções
co
m
o
a
m
igo
God
ofredo
Ran
gel, co
m
que
m
v
iven
ci
a
a
ex
pe
ri
ên
c
ia
do
ato
tradutório,
afirmando
q
ue
a
tradução
literal
des
t
rói
a
inteligib
ilidade do te
x
to (LOBATO
,
1968 b
,
v. 2).
8
S
e
o
leitor
n
ão
tem
domíni
o
da
língu
a
est
rangei
ra
não
irá,
conseqüen
t
emen
te,
en
t
e
nder
o
tex
to
-fonte.
Nesse
caso,
l
e
i
turas
qu
e
atual
m
ente
es
t
ão
di
sponívei
s, in
clusiv
e para
o
público
in
f
an
t
il,
com
o
a
Odisséia
e
o
utr
os
cl
áss
i
cos da Li
t
eratu
r
a
Uni
versal
seri
am
in
acessívei
s.
9
N
o
caso
da
traduçã
o
de
ob
ras
adu
ltas,
a
preo
cupa
ção
d
e
Lobato
e
sba
r
rou
e
m
críti
cas
às
su
as
traduçõ
e
s,
gerada
s
por
i
nsati
sf
ações
pro
m
ov
idas
po
r
cau
s
a
da
“infi
de
lidade”
d
o
autor
ao
tex
to
-f
o
nte.
A
car
ac
teriz
ação
da
lin
guagem, p
ri
vil
eg
ia
da po
r Loba
t
o em sua
s tradu
ções
,
é u
m
dos prin
c
i
pa
i
s f
ocos de c
rític
as,
poi
s
o
autor
-
tradu
tor
ao
r
ealiz
ar
as
escol
has,
optou
po
r
modi
f
i
car
a
lin
guagem
d
o
t
ex
t
o
origin
a
l
.
Nessa
al
te
ração
,
L
o
bato
não
inse
r
e
val
or
es
locai
s
,
com
o
descr
eve
V
en
uti
(1998)
n
o
qua
dro
da
domestic
açã
o
da
t
r
aduçã
o,
m
as
se
p
reocupa
em
al
tera
r a lin
guage
m
ad
otada por ou
tra,
co
m
o i
nt
u
ito de se ap
r
oxi
mar
d
e
u
m
a li
ngua
gem de caráter p
ad
roni
z
ado e
de aco
rdo com
a lin
g
ua
gem culta.
A
o pe
nsar por ta
l
vi
és
,
v
o
lta-se a
o
qu
estion
am
ento, se tal peri
pécia
é
real
m
ente possível
, um
a vez
que diante de
di
fere
n
tes
l
e
itores
seria
d
ifícil
chegar-s
e
a
uma
r
ep
resen
tação
da
l
in
g
uag
em
que
atende
ss
e
a
t
od
os.
C
assal
(2002
),
ao di
s
cuti
r
essa questão, reto
ma
doi
s
teóri
cos
, John
Milton
e
Irene
Hirsc
h, qu
e
apontam
pa
r
a m
oti
va
ç
ões
di
fere
n
tes para a
não recon
st
i
t
uição
do t
ex
t
o-
fon
t
e n
a íntegra. A
este respei
t
o Mil
to
n
a
testa qu
e
a não-repr
odu
çã
o
da
lingua
g
em
d
i
ale
t
al
de
a
lg
um
as
obra
s
estr
a
ngei
ras
se
dev
e,
t
radici
onalmente,
a
uma
au
s
ên
c
ia
de
regi
st
ros
orai
s
e
m
nossa
l
iteratu
ra.
Até
o
períod
o
pré-modern
ista
a
li
te
ratura
bra
si
lei
ra
n
ão
co
nhe
c
ia
o
r
egi
st
ro
oral
de
ex
pre
ssões
lin
güísticas
qu
e
f
u
giss
e
m
da norma p
a
drão
.
Já
I
ren
e
Hirsch ap
o
nta para
outro
agravan
t
e
:
a tr
a
d
i
ção,
qu
e
segundo
e
l
a,
m
an
tinha-se
“na
prá
ti
ca
tradu
t
óri
a
brasil
e
i
r
a,
de
se
ele
var
o
r
egi
stro
lin
güí
stic
o”
(HIR
SH,
apud
CAS
S
A
L,
20
02, p
.
176)
.
29
A
prá
tica
loba
tia
na antecipa questões de
m
e
rcad
o e
pú
blico. N
o
entanto
,
es
barra na e
xp
ectativa do
s
leitores q
u
e rejeitam
os
t
e
x
t
o
s
que
não
se
enquadram
no
p
erfil
ide
aliz
a
do
p
elo
senso-com
u
m
para
o
tex
to
tradu
z
id
o:
fidelida
d
e
incondicion
al ao texto-fonte.
Ao s
uge
rir uma ped
ago
gia
da
liter
atura tra
duzi
da,
Ve
nuti
(1998)
ultrapass
a
a
v
e
ri
fi
c
aç
ão
de
dif
ere
n
ças
en
tre
o
te
x
to
estrang
eiro
e
te
x
to
t
r
aduzido,
fidelidad
e ou
não
às
fonte
s
,
m
as
atinge
a
pr
ó
pr
ia tra
dução,
que,
p
a
ra o
teórico,
deve
ser r
ealizada
foc
alizando
o
resíduo,
os
efei
tos
t
extuais
que
o
p
eram
soment
e
na
l
íngua-alvo,
as
forma
s
lingüísticas
domésticas
q
ue
são
ac
resc
e
ntadas
ao
t
e
xto
e
str
angeiro
no
pr
ocesso
de
t
raduçã
o
e
que
vã
o
contra
o
esfo
rço
do
tra
d
u
t
or
pa
ra
comunicar
aquele
t
exto
(VENUTI,
2002, p. 183
).
Com
essa
preoc
up
ação
,
Venuti
am
plia
o
c
am
po
de
v
isão
pa
ra
o
s
quesitos
que
compõe
m
o
tras
lado
n
a
sua
transgr
e
ssã
o
ao
or
igin
al,
de
sc
revendo
itens
acres
c
idos
ao
t
exto, o
riundo
s
da
c
ult
ur
a p
ara
a
qual
o
tex
to
está
sen
do
transpl
antado, com
o
elem
e
ntos
necess
á
rios para a
con
c
retização da tr
adução.
Assim
,
Venuti
p
er
m
ite
que
a
d
isc
u
s
são
ultra
passe
as
m
e
ras
si
tua
ç
ões
res
trita
s
a
o
ato
tradutór
io
e
at
inja
out
ras
c
omo:
c
usto
d
a
obra,
sig
nifi
ca
do
cu
ltu
r
al,
t
anto
da
cultura
d
e or
igem quant
o
d
a
c
ultura q
ue
terá
acesso
àque
le
refe
ren
c
ial,
e
tam
bém
a
fun
ção
social
des
e
mpenhada
pelo
m
a
terial
trad
uz
ido,
q
ue
abarca
,
pr
incipalmente,
a
s
q
uestões
de
c
irculaç
ão
dos
textos
literários
e
a
s
ações
desencad
eadas
c
om
es
se
m
ov
imento,
ou
s
eja,
laz
er
,
d
i
s
seminaçã
o
de
co
n
hecimento e out
ros do gêner
o.
Lobato
pr
eo
c
upou-se
c
om
as
qu
estõe
s
de
merc
ado,
uma
v
e
z
qu
e
o
desempenho
das
funções d
e escr
itor, a
dapta
dor
e
tradutor
influen
c
iou
a c
omposição
dos
te
x
tos,
o
que
v
eio
a
resulta
r
em
apr
es
entações
agradáv
ei
s
,
tanto
n
os
asp
e
ct
os
de
ling
uagem
q
uan
to
da
pr
ó
pr
ia
mater
ialidade,
a
os
leit
ores.
A
ex
pe
r
iência
d
e
editor
permi
t
iu
u
m
o
lhar
m
erc
adológic
o
sobre
todo
o
process
o e
ditorial,
po
r
meio
da
m
o
derni
z
a
çã
o das pr
o
duçõ
e
s
e dire
c
ionam
en
to
s das obras aos leitor
e
s
da épo
ca
.
A
tr
aduç
ã
o
realiz
a
da
p
or
Lo
bato
no
decorrer
de
sua
v
ida
privilegi
ou
div
e
rs
os
a
utores,
c
onseguindo
re
c
up
e
rar
a
es
tim
a
públi
ca
p
ara
o
g
ênero,
e
s
tilo
de
prod
u
ç
ão
in
telectual
até
o
m
omento
des
pr
e
s
tigiada
e
pouc
o
praticada.
Com
iss
o,
30
recebe
u, no Brasil, atenção da crític
a
e c
i
r
cula
ç
ão entr
e
os
leitores, graç
a
s ao
cu
idado e à m
ate
rialidade c
om
qu
e eram
pr
oduzidas
a
s
traduções
l
o
bat
iana
s.
Mo
n
teiro
Lobat
o
disc
ute
m
é
tod
os
de
traduçã
o
em
s
ua
corr
e
sp
o
nd
ên
c
ia
, s
iste
m
as
esses
contr
ário
s
à
teoria
ben
jam
in
iana
da
trad
ução,
co
m
o
é
perc
eptí
v
el
no
tre
c
ho
a
s
eguir,
no
q
u
al
sugere
a
o
ami
g
o
G
odofredo
Rangel:
“Vai
t
rad
u
z
i
ndo
(...)
em li
nguage
m
b
e
m
simples
, s
em
pre
na
or
dem
di
reta
e
co
m
to
da
a
liberda
de
.
Nã
o
te
amarres
ao
original
em
m
a
téria
de
forma
–
s
ó
em
m
atér
ia
de
fundo” (L
OBA
TO, 196
8 b, 2
v
, p.
232
).
Mé
t
odos
esses
que
s
ão
repetidos
em
div
ersos
momentos
e
aprova
do
s
ou
nã
o,
garantiram
s
ucesso
ao
escritor-tradu
t
or
também
nesse
f
ilão
do
m
e
rcad
o:
Trad
uzas e
m li
nguagem bem
singela
(.
.
.).
traduzirás
un
s
três, à
es
col
ha
,
e
m
os
mandarás
co
m
o
original;
que
ro
a
prove
itar
a
s
gravu
ras.
Estilo
água
de
pote,
hein?
E
fi
c
a
s
com
liberdade
de
melho
rar o ori
gi
nal onde entender
e
s. (
LOBATO,
1968 b, 2
v
, p
.
275).
Dess
e
m
odo,
o
escritor
de
i
x
a
transpar
e
cer
suas
c
oncepções
ac
erca
do
ato
trad
u
tório,
prática
que c
ons
i
s
tia,
na
r
ealidade,
em uma r
eada
ptaç
ã
o
do
co
n
teú
do
primeiro,
transpo
rtado
para
a
lín
g
ua
do
tradutor.
Ta
l
idéia
transparece
e
m
su
a
cor
respondência
ao
a
m
igo
ta
m
bé
m
tra
dut
or,
na
qua
l
ex
prim
e
s
ua
s
atisfação
na
aç
ão
:
“G
o
s
to
d
e
traduzir
certos
autor
e
s.
(...)
Que
d
elí
c
ia
r
em
o
delar
um
a
ob
ra
d’ar
te
em
ou
tra língu
a
!
”
(L
OBA
TO, 1968
b, 2
v
, p.
2
46
).
A
r
emodelagem
de
qu
e
o
escr
itor-tradutor
f
ala
não
é
algo
descom
pr
omiss
ad
o
,
por
qu
e
exige
d
o
rea
liz
ador
conhecimento
da
língua
es
trangeira
e d
a
m
atern
a pa
ra o
ato
d
e
transposição.
Pro
ce
dim
en
to d
elicado, p
oi
s
a
tradução
de
deter
m
inad
os
estilos
pode
n
ão
repr
o
duzir
a
obr
a
original
e
retratar
m
e
dianamente
o
co
n
texto:
se
a
tradu
ç
ã
o
é
li
t
eral,
o
sen
t
ido
chega
a
desaparecer;
a
obra
torna-
se
ini
nt
e
ligível e asnática, sem pé nem cabeça (...)
.
A
tradução
te
m
q
u
e
ser
um
tra
nspla
nte.
O
trad
utor
ne
cess
i
ta
co
mpre
ender
a
fu
ndo
a
obra
e
o
autor,
e
re
-
es
cre
vê-la
em
portu
g
u
ê
s
co
mo quem ou
v
e uma histór
ia
e depo
i
s a conta com p
a
lavras suas.
Ora
is
to
exige
que
o
tradu
t
or
s
e
ja
ta
mbém
e
scr
itor
d
ecente.
M
a
s
o
s
es
critores
dec
ent
e
s,
que
re
a
lmente
são
e
s
c
ritores,
isto
é
,
que
pos
suem
o
senso
ina
to
d
as
proporções,
esse
s
pref
erem
e
têm
mais
va
ntagens
e
m
e
scr
ev
er
obras
o
riginais
d
o
q
ue
transplantar
para
o
portuguê
s
obras alheias (LOBATO
,
1
950, p. 127
-
128).
31
Portanto, a
pr
eciar
os
arredore
s
da
t
rad
ução
per
m
ite considerar
o
papel
d
esem
p
enhado
pela
obra
tradu
z
i
da
no
intercâ
m
b
io
d
e
idéia
s
qu
e
corrobo
ram
na
f
ormação
cu
ltural.
Isso
po
rqu
e
a
liter
atura t
radu
z
id
a
c
ontinua
a
s
er
um
m
e
io
par
a
a divulgaçã
o da cultura, tanto
da
s
cultu
ras de chegada quan
to
d
a
s
de par
tida.
Dess
e
m
o
do,
a
integraç
ão
cultur
al
cons
i
s
te
nu
m
ve
íc
ulo
interpr
etativo,
um
a
v
e
z
q
ue a
grega
ao
texto
as
marcas
d
e
le
itura
do
tradutor-leit
or,
o
que faz com
que tal prát
ica
s
eja
vista
c
om
res
erva
pela
crí
ti
c
a qu
e qualifica
a
trad
u
çã
o
de
acordo
c
om
a
inv
isibilidade
do
tr
adu
tor,
o
u
s
eja,
o
te
x
to
tra
d
uzido
deve
ser
m
u
ito
pr
óxim
o
ao
t
exto
origin
al.
No
entanto,
a
p
rópria
i
nv
is
i
b
ilidade
n
ã
o
pode
ser
tida
c
om
o
total,
po
is
o
tradutor,
e
nquanto
l
eitor,
está
s
empre
pro
m
o
v
endo
interve
n
ç
õe
s
, motivad
a
s
por
s
ua
própria leitur
a.
Lobato
e
s
teve
diretam
en
te
ligado
ao
m
ov
im
ento
tra
du
tór
io
n
o
país,
promov
eu
mudanç
as
na
p
rópria
c
on
c
ep
ç
ão v
igente
de
t
radução
e
dei
x
ou
n
o
s
textos
m
a
rcas
d
e
sua
leitura
e
ideolo
gia.
Ent
retanto,
o
v
olume
de
tex
to
s
traduz
idos
por
e
le
lev
anta
ques
tionamentos,
c
omo
apr
e
se
nta
Az
ev
edo
(1997).
A
v
olum
o
sa
quan
tid
a
de
de
traduç
ões
lançadas
por
L
ob
ato
pro
m
ov
e
a
d
esc
o
nfianç
a
q
uanto
à
a
utentic
idade
da
autoria
dessas
pr
oduções,
pois
muito
s
acreditavam
que
o
aut
or
s
om
e
nte
assin
asse a
s
traduçõe
s,
atribuindo-lhes o
p
res
tígio de
s
eu nome
.
A
ques
tão
é
tratada
p
elo
próprio
Lobato
c
o
m
a
s
eguin
te
respos
t
a:
“Poss
o
ensinar
m
eu
método
[
de
tra
du
ç
ão]
(...).
A
ques
tão
toda
é
i
r
para
a
m
áqui
na
de
esc
rever
logo
que
c
hega
o
leiteiro
e
n
ão
p
ara
r
até
a
ho
r
a
do
al
m
o
ço.
Ele
s
que
ex
pe
ri
m
ente
m”
(
LOBATO,
apu
d
AZEVEDO
,
1
997
,
p.
35
5
–
35
6).
Travassos
(19
7
4)
enxerg
a
ce
rta
p
ro
c
edênc
ia
na
polêm
i
ca
,
ao c
omp
a
rar
o
v
olum
e
da
c
riação
do
autor,
que
produz
iu
pouco
para
os
adultos,
m
uito
para
as
c
rianças
e
tra
d
uziu
muito
m
ais
que
os
dois
siste
m
a
s
d
e c
riação
ant
eriores.
Is
s
o
se
de
v
e,
s
egundo
Travass
os
(197
4),
ao
m
enor
gra
u
de
difi
c
uldade
que
o
ofíc
io
da
tr
adu
ç
ão
oferec
e,
além
do
prestíg
io
que s
eu renome de escr
itor agregava às tr
adu
çõ
e
s
que realiza
v
a.
Facilidades
ou
não q
ue o
ato
tradutório p
os
s
a ofer
ecer,
é perceptív
el
na
própria
v
ida
do
autor-tradutor
que
a
tra
du
ç
ão
estev
e
diretamente
li
gada
à
su
b
sistênc
ia
do
escr
it
o
r,
cuja
irregularidade
fina
nceira
f
o
i
amparada
pelos
r
e
c
ur
s
os
oriundos
de s
eu ofí
c
io como tradu
to
r.
A
des
valor
iza
ç
ão
do
tr
a
balho
como
tr
adut
or
é
disc
utida
por
Lobato,
que
en
frentou
diversos
empec
ilho
s,
crític
a
s
e a
té
a
fal
ta
de re
torno
pecu
niário
adequa
do, quadro retratado
pe
lo p
róprio autor, pois, segund
o ele:
32
Os e
ditores paga
m menos (p
ela t
r
adução)
e o
público não l
hes
reconhece
o
mérito.
Da
í
o
impasse.
(.
..).
Nos
p
aíse
s
civ
ili
z
a
dos
a
fun
ção
d
e
tradutor
es
t
á
equiparada
à
de
es
cr
itor.
Ve
mos
Baudelaire
receber
e
m
França
tantos
aplausos
pelas
suas
traduções
d
e
Edga
r
d
P
oe como pe
l
os seus
ver
sos (LO
BATO, 1950, p. 128).
Assim
,
abre-s
e
m
a
rgem
para
mai
s
u
m
impe
dimento
para
a
prática
trad
utó
ria,
qu
e
além
de
e
sb
arrar
nas
p
rob
lem
át
icas
lingü
í
sticas
ai
n
da
poss
ui
outro
agrava
nte
q
ue
desmotiva
a
pr
ática
da
tr
adução:
a
m
á
re
m
uner
aç
ão
dos
tradu
to
res.
Além
de
s
er
uma
at
ivi
dade
co
m
p
lexa
e
de
requ
erer,
d
e
se
u
e
x
ec
utor
,
um
a
v
ar
iada
gam
a
de
co
nhecimentos
,
depara-se
aind
a
com
a
falta
de
re
co
nhecimento,
a
tribuída
apenas
aos
es
c
ritores,
dev
ido à
marca
de
orig
inalidade
embutida
, que
n
ão s
e
es
ten
d
e para os que se ded
i
c
am
e
m
a
cess
ibili
zar obr
a
s
alhei
a
s
.
Me
s
m
o
ass
im
,
a
t
radução
este
v
e
vi
n
c
ulada
d
iretam
e
nte
à
v
ida
pessoal de Monteiro Lo
b
ato,
servi
ndo
de f
o
rm
a de sustento em m
eio
às
c
r
i
s
es
financeiras
por e
le enfrentadas no decor
rer de sua v
ida.
Al
ém
da
que
stã
o pecuniária,
o
a
utor
d
e
Fá
bulas
(1922)
mergulhou
no
ofíc
io
de
tr
adutor
co
m
o
recurso
de
relaxa
m
en
to
ou
e
ntorp
e
c
im
ento
.
Tal
idéia
fi
c
a
evidente
na
fala,
de
15
d
e
abril
de
1940,
ex
traída
d
e
um
est
ud
o
teór
ico
,
que
abre
o
presente
c
apítulo
n
a
qua
lidade
de
epígr
af
e,
e
a
l
ud
e
ao
ato
tr
ad
utór
io
o
poder
de
es
quecer
os
p
roblemas
10
e
nfrentados
pelo a
uto
r.
M
es
m
o
co
m
a
cr
ítica
ress
altando
a
im
po
rtânc
ia
do
p
apel
do
tradutor
Lobato
p
a
ra
a
história
da
literatura
bra
s
ileira,
p
or
m
e
io
d
a
ampliaçã
o
do
acess
o
de
cu
ltu
r
as,
até
e
n
tã
o
desconhecidas
, o
p
r
e
s
tígio d
o au
tor
pode
produzir do
is
efei
to
s
na
recepç
ão de suas
traduções. O pri
m
e
iro dele
s
, apontad
o por Trav
a
ssos (1
974), seria
o
de
em
p
resta
r,
graças
a
sua
influênci
a
literária,
mérito
à
tr
adução
r
ealizada
.
Já
o
outr
o
efe
ito,
de
c
aráter
c
ontrário,
c
o
nsiste
em
atribuir
muitas
exp
ectativa
s
qu
ant
o
ao
co
n
teú
do e
s
perado, se
m
lev
ar
e
m
consid
e
raç
ão o m
o
me
n
to históric
o
-
literário, o
próp
rio
pione
i
rismo
do
escritor-tra
d
ut
or
e
as
expecta
ti
v
a
s
do
leitor
que
podem
n
ão
co
in
c
idir com
os
obje
ti
v
o
s da
tradução da obra literár
ia
.
Ao
deixar
a
s
questões
p
e
ssoais
e
v
islumbra
r
o
to
do,
é
c
lara
m
ente
percep
tível
que
a
p
opulariz
aç
ão
d
a
traduç
ão
l
obatiana
impulsiona
a
literatur
a
brasileira
positiva
m
e
nte,
pe
rmit
indo
qu
e
impo
rtantes
influên
ci
a
s
passe
m
a
fa
z
er
10
“
Conti
nuo tr
adu
zin
do.
A tr
adu
ção
é m
i
n
h
a p
in
ga.
Traduz
o c
omo o
bêbado
bebe: para esqu
e
cer, par
a atordoar.
Enqu
an
to
tr
adu
zo,
não
pen
s
o
n
a
sabo
t
ag
em
do
petról
eo
”.
A
ZE
VEDO,
C
armem
Lúcia
,
et
al.
M
on
t
eiro
Lobato
:
Fu
ra
cão na
B
o
tocúndi
a. S
ã
o Paul
o: Senac, 1997
,
p
.
355.
33
part
e
do
re
pertório literário e
c
ultural do p
a
ís. Di
sponi
bilizar
para os leitores tal
universo
é
uma
tar
efa
necessá
ri
a,
o
qu
e
fa
z
d
o
p
apel
do
tradutor
um
a
aç
ão
benemérita. Iss
o porque:
a
l
iteratura
do
s
pov
os
c
o
n
stitue
o
maior
tesouro
d
a
humanidade,
e
povo
rico
em
tradutores f
az-se re
almente
o
pulen
to, porque
a
cre
sce
a
riqueza de
o
r
i
gem
local c
om a r
ique
z
a
i
m
portada. P
ovo que
não
pos
su
i
tradutores
torna-se
p
ovo
fechado, p
obre i
n
d
igente, visto
como
só
pode
contar
com
a
produção
literá
ria
local
(L
OBATO
,
1950,
p.
128).
Lobato
é
c
ategórico
ao
cons
tatar
que
a
de
licada
questão
da
trad
u
çã
o
tem
doi
s
ca
m
inho
s
poss
í
ve
i
s:
quando
c
on
s
tr
uída
c
om
materiais
de
qualidade
,
que
c
umpram
com
o
pro
pósito
de
divul
ga
r
a
obra
de
ar
te
literária
além
das
fron
teira
s
do
país
de
origem; ou
quan
do e
ssa
postura n
ão
é
respeitada, fa
z
en
do
ci
rcular
materiais
de
má
qu
alidad
e
qu
e
não
represen
t
am
o
tex
to-fonte
e
pu
l
ve
rizam
idéias
err
ôneas
s
obre o m
es
mo.
Com
tal
v
i
s
ão,
Lo
bato
destac
a
que
“os
tra
dutores
são
o
s
mai
or
es
beneméritos
que
e
x
istem
,
quand
o
bons;
e
os
m
aiore
s
infam
es
,
qu
ando
m
aus
.
Os
bons
se
rvem
à
c
ultura
humana,
dilatando
o
r
aio
de
alcan
c
e
das
g
ran
d
e
s
ob
ra
s
”
(LOBATO,
1950,
p.
128),
marc
and
o
c
laram
ente
a
ex
istência
dos
dois
perfis
possíveis.
Este
m
es
m
o
aut
or
c
oloca
nas
mãos
d
o
s
e
ditore
s
a
responsabil
idade
pela
qu
alidade
das
traduções
.
A
idéia
de
q
ua
lida
de,
difundida
por
Lobato,
tanto
n
o
s
discursos
teóri
c
o
s
quan
to
n
o
fi
cci
onal,
di
fe
re
do
posic
ionamento
adotado
por
o
utr
o
s
escritor
e
s
e teó
ri
co
s
.
Debus
(2004)
reto
m
a,
na
r
elaç
ão
e
n
tre
L
obato
e
o
livr
o,
a
figura
do
Lobato
–
leitor, pe
r
íodo que ante
ced
e
a
o
e
scritor e tam
bém
a
o editor Monteiro
Lobato
.
Isso
porque
,
segun
do
a
p
e
squisad
or
a,
fica
c
laro
na
própria
v
ida
do
esc
ritor
que
o
s
ofíc
io
s
assum
idos
são
reflexos
da
“
p
art
ilha
e
a
comunhão
entre
que
m
l
ê
e
o
objeto
lido, [aç
ão qu
e
m
ar
c
ou] (.
..) m
uito
do
que
ele rea
lizo
u
como ho
mem
das
letras
e em
pre
sá
rio
do l
i
v
ro” (
DEBUS, 2004, p. 27).
A
for
mação
a
l
ça
da
graç
a
s
às
con
di
ç
ões
s
ociais
fav
oráveis
e
à
ligaç
ão
co
m
a
p
roduç
ão
d
e
li
v
ros
é
i
ncompatível
c
om
a
real
idade
soc
ioeconôm
ic
a
brasileira
, qu
e possuía
altos índi
ce
s
de
analfabetis
m
o,
p
or v
olt
a
de
quase oite
nta por
ce
n
to
e
n
ão
c
ontava
c
om
u
m
públi
co
l
eitor
formado.
A
es
s
e
q
uadro
so
m
av
a-s
e
o
34
cu
lto
à
cul
tu
ra
es
t
r
angeira, p
r
incipalm
ente a
f
rancesa,
prática
que
limitav
a
ain
da
m
a
is
a cons
olid
ação
e valorização da c
ult
u
ra naci
o
nal.
O
escritor
tem
a
s
ensi
bilidade
de
tentar
acessibilizar
s
ua
produç
ã
o
aos
d
oi
s
g
rupos
que
re
p
resent
avam
o
púb
l
ic
o
leitor
da
é
poca
:
a
el
ite
e
o
po
v
o.
Dess
e
m
o
do,
Lobat
o
m
ot
iv
a
a
v
alorização
do
m
ater
ial
impress
o,
enquant
o
objeto
port
ador
de
h
i
s
tórias
de
leitura,
quadro
q
u
e
liga
as
funções
de
autor,
tradutor
e
adapta
dor
às
funções
de
editor.
Assi
m
,
para
o
escri
tor
o
referencial
escrito
transc
ende
s
eu
papel
de
promotor
da
c
irculação
d
e
um
dete
r
m
i
nado
m
ater
ial,
mas
alç
a
à
posição
d
e
agente
histór
i
c
o,
tanto
p
ar
a
a
e
ntidade
do
leitor
qu
anto
para
a
ca
ta
rs
e p
r
om
ov
ida e
m
ta
l contato.
O
es
cri
t
or
de
Taubaté
ex
t
ra
pola
as
questões
d
e
â
mbi
to
m
er
a
m
e
nte
literári
o e a
tinge q
uestões s
o
c
i
ais a
o
t
e
r se
no
t
abilizad
o
por
suas
atrações de
car
áte
r
variad
o,
mostrando
su
a
preocupação
co
m
p
roblem
as
s
ociais
qu
e
v
iriam
a
se
destacar
em
m
ea
dos
do
séc
ulo XX e in
í
c
io do XX
I.
A
pr
eocupa
ç
ão
c
om
a
qua
lidade
da
literatura
que
c
ir
cula
ria
ultrapass
a a pró
p
ria obra e
atinge também as
alheias.
Quanto à tr
adu
ç
ão,
em
Mi
s
c
el
ânea
(1
950)
,
bendiz
e
maldiz
os
e
ditor
e
s
c
o
nfor
m
e
s
uas
postur
a
s
perante
o
ato
de
traduzir,
po
is
segun
do e
le
“bendit
o
s
sejam os
edi
tore
s
intel
igentes
que
descobr
em
bons
t
radutore
s
,
e
m
al
ditos
sejam
os
q
ue
en
tregam
obra
s-primas
da
hum
anida
de
ao
m
a
ssac
re
d
o
s
infa
m
es
‘tra
dittores’”
(LO
BAT
O,
195
0,
p.
1
30,
as
pas
do autor)
.
Para
Lo
bat
o
(1950)
,
ca
bia
a
o
tradutor
a
tarefa
de
realizar
um
bo
m
trab
alho
e
,
ao
editor,
fi
sc
alizar
e
garantir
para
q
ue
a
qualidade
das
trad
u
ções
e
adaptaç
ões
fosse
m
antida
.
Co
m
iss
o,
assegurava
-se
o
cu
m
pr
im
ento
do
pap
el
da
trad
u
çã
o
: d
e ace
ss
ibilizar a
obra lit
e
rári
a
estrangei
ra ao leitor.
A nec
essidade
de
tornar dispo
ní
v
el o
referencia
l teórico, p
or
m
eio
da
trad
u
ç
ão
de
um
te
xto
par
a
outro
id
iom
a,
a
bre
m
ar
gem
para
duas
poss
ibilidades:
preserv
ar
o
e
s
trangeirismo
da
obra
ou
torná-la
ac
e
s
sív
el
ao
leitor
faz
endo
u
s
o
da
su
bm
iss
ão
do
t
exto
às
influ
ên
c
i
as
da
realidade
,
por
m
e
io
do
pr
o
cess
o
de
dom
es
tic
a
ç
ão.
Compartilhar
a
conce
pção
de
que
a
fu
ga
d
o
s
r
efere
n
c
iais
de
base
é
um
a
aç
ão
inerente
à
própria ar
te trad
utória,
q
ue
não
perm
it
e qu
e o
m
at
erial
reescr
ito
em
o
utro
i
dioma
s
eja
ac
eito
c
om
o
t
raduç
ão,
g
erou
o
utras
denomi
na
çõ
es
e
35
cl
a
ss
ificações,
o
riginando
t
erm
o
s
c
omo
a
adapt
ação,
i
tem
a
se
r
di
s
cu
tido
na
se
q
üê
n
c
ia.
Retoma
r as
questõ
es
que
en
v
ol
v
em
a
teor
ia
sobre a
tra
d
ução
e
tam
bé
m
a
c
oncepção
de
L
o
bato so
bre a
práti
c
a tradutó
ria
demonstra
que se
trata de
um
proc
edimento
c
om
plexo
,
polêmico
e
necessário.
A
retomada,
por
Loba
to,
de
tex
to
s
a
p
a
rti
r do
recurso
da
tradução
d
em
ons
tra
isso
e
atesta
também
o
utra
questã
o im
po
rtan
te: o ca
ráter cí
c
lico da l
ite
r
atura, qu
e, mesm
o
sof
rendo at
ualiz
aç
õe
s
e
m
odificaç
ões,
durante
o
a
to
tradutór
io,
c
u
mpre
a
m
i
ss
ão
de
prop
agar
o
co
nteúdo
literári
o,
a
to tam
b
é
m
perc
e
pt
í
ve
l na adapta
ção, c
om
o s
e discuti
rá na
se
qüên
c
ia.
1.2 Lobat
o e as A
da
ptações
Assim
c
o
m
o
a
t
radução
,
a
adapta
ç
ão
r
etoma
tex
to
s
p
ré-e
x
istentes
co
m
finalidade
s
e
públi
c
os
es
pecíficos.
Com
o
já
disc
utido
a
n
teriormente,
o
s
do
is
processos
,
traduç
ão
e
adaptação
,
se
c
onfundem
,
u
ma
vez
que
esse
último,
v
i
s
to
co
m
o
um
a
forma
de
tr
a
nsg
res
s
ão
ou
d
omesticação,
n
ão
p
os
sui
distinç
õ
e
s
c
lara
s
quando
se pretende distingui-l
o
do prim
ei
ro.
Me
s
m
o
tend
o
a
trans
gre
ss
ão
o
u
dom
es
ticação
como
parâm
e
tro
de
dis
tinção
ent
re
o
adaptar
e
o
traduz
ir
,
é
difícil
separar
totalm
ente
os
dois
recursos
em ca
tegor
i
as
disti
n
tas. Du
rante o deba
te aqui e
m
pree
ndido, as aç
ões
de adaptação
e
trad
u
çã
o
são
descr
itas
c
omo
rec
ursos
difer
entes,
e
m
bor
a
A
m
o
rim
(20
05)
reconh
eç
a uma marc
ante apr
o
x
im
a
ção
entre os dois conc
eit
os
.
O p
rocesso d
es
c
rito é
muito i
mp
o
rtante,
po
i
s
apr
oxim
a
as
p
roduções
do
p
úblico,
aç
ão
já
d
escrita
pelo
fi
ló
s
ofo
Michel
Fo
u
ca
ult,
que
diz
que
a
re
esc
ri
ta
de
um
tex
to
remete
à
perda
de
casualidade
dos
grandes
texto
s
transf
orm
a
dos
ao
l
ongo
do
t
empo.
O
d
esnív
e
l
entre
o
te
x
t
o
primeir
o
e
texto
s
e
gundo
repr
esenta
d
ois
pap
é
is
q
u
e
são
solidários.
D
e
um
l
ado,
e
le
perm
i
te
co
nstru
i
r
(e
indefinidamente)
discursos
novos:
o
d
esalinhame
n
to
do
tex
to prim
e
i
ro,
sua p
ermanência
, seu
s
t
atus
de
dis
curso
sempre
reatualizável,
o
sentido
múltiplo
o
u
escondido
do
q
u
a
l
passa
a
ser
detentor,
a
retic
ê
nci
a
e
a
riqueza
essenciais
que
lhe
emprestamos,
tudo
i
sso
representa
uma
possibilidade
abe
rt
a
de
fa
lar.
(.
..
)
O
novo
não
está
no
que
está
dito,
mas
no
acontec
imento
de
seu
re
tor
no
(FOUCAULT, 1
9
95, p. 12, grifo do autor).
36
Para
o
filós
ofo,
a
reescri
t
a
de
um
tex
to
é
u
ma
açã
o
importan
te,
u
m
a
ve
z
que
per
m
ite
a
r
etomada
d
e
um
r
eferenc
i
a
l
literário,
podendo
assumi
r
a
ót
ica
de
um
no
v
o
d
iscurs
o.
A
re
tom
ada
d
e
um
te
xto,
sob
o
p
ro
c
es
s
o
da
a
dapta
ç
ão,
n
ão
deve
diminuir
a
qu
alific
a
çã
o
do
refer
encial,
em
bor
a
o
a
to
de
ad
aptar
seja
m
a
rcad
o
po
r
preconc
eito
s
.
Mes
m
o
a
p
alav
ra
a
dapta
ç
ão
estando
atrelada
à
c
onsciência
d
e
qu
e
o
m
a
terial a
pres
enta m
odific
ações
, não poda a
poss
ibilidade de
fid
e
li
dade
à f
o
nte. Ta
is
co
n
si
d
erações
s
ão
vá
lidas
,
uma
v
ez
que
refo
rçam
a
hipótese
de
que
ad
a
pta
r
deter
m
inad
o re
ferencial não desqualifica a a
pre
s
en
tação do novo per
ante o original.
Partindo
d
o
posicio
nam
en
to
ad
otad
o
pe
lo
f
ilósof
o,
a
a
dapta
ç
ão
assume u
m
a
qualificaç
ão pos
itiva, po
i
s
per
m
ite qu
e a c
ultura ultra
pas
s
e as
fron
teira
s
de
língua,
cu
ltura,
fa
i
x
a
etá
ria
e
ou
tra
s
que
possam
ob
stru
ir
a
circ
ulação
d
o
s
refe
ren
c
iais
l
iterários.
Tor
na
r
p
o
ss
í
v
el
o
acesso
à
arte
literária
além
f
ronteiras
é
u
m
a
prát
i
c
a
que
p
e
rmite
a
atua
lização
do
referencial
,
ato
que
t
orna
possível
que
a
obra
possa di
alogar
c
om p
ú
blicos distintos e
em
dif
er
entes m
o
m
en
tos
históricos.
Tanto
os
rec
u
rs
o
s
d
e
ad
aptação
quanto
o
s
de
tra
du
ç
ão
s
ã
o
co
n
str
u
ç
ões
re
alizada
s
a
p
art
ir
dos
texto
s
-fontes
e
aprese
nt
am
de
sv
io
s
quanto
a
os
origina
i
s
.
Mesmo
assim,
é
n
ecess
ário
que
ten
ham
u
ma
r
elaçã
o
c
om
o texto de
part
ida.
N
ess
e
caso,
é
ne
c
essário
atentar
às
qu
es
tões
de
fidelidade
que,
segun
do
Am
o
ri
m,
influen
ciam
o
t
exto
,
já
q
ue
c
a
da
um
d
os
rec
urso
s
vê
d
e
forma
difer
ente
a
questã
o da fidelida
d
e. Na traduç
ã
o,
é cobrada a
fid
el
i
dade
tanto
à
fo
rma quanto
ao
conteúdo
,
a
o pas
so que
, na
adaptaç
ão,
ocorr
er
i
a
fidelidade
a
penas
ao
c
o
nteúdo.
Em
v
ista
disso,
adaptaç
ão
seria
mais
“criativa”
q
u
e
a
tradução,
uma
vez
que
esta
envolve
r
i
a maior proximidade ou “aderênc
i
a” e
m r
elação aos origina
i
s
(AMORI
M
,
2005, p.78-79, as
p
as do aut
o
r).
Dess
e
modo, é
perceptív
el
que
a adaptação é
m
a
is
m
a
leáv
el a
m
u
danç
as
de
acordo
com o
objeti
v
o p
retendi
d
o, f
az
e
ndo
que
redução, c
ond
e
n
s
ação
e enx
ugam
en
to
s
ejam opções
do
pro
c
esso adaptat
i
vo. A
ada
ptação ser
ia m
a
is
flexív
el para modific
a
çõ
e
s. É um
a
prática
, segundo
Am
or
im (2005),
envol
ta em
preconc
eito
s
por
es
tar
atr
ibuída
a
v
iola
ç
ão
da
inte
gridade
do
te
x
to
origin
al,
caract
erí
s
tica
não
n
ecessariam
e
nte
ligada
à
adap
tação,
m
a
s
que
difundiu
u
m
a
relaçã
o
ent
re
o
recu
rs
o
e
os
desvios
q
u
e
não
se
enquadrariam
em
uma
traduç
ão
“fiel”.
37
Definir categ
oricam
ente a
tradu
ção co
m
o
uma le
itura “
fiel” d
o original
e
a
ad
aptação
c
om
o
u
m
a
for
m
a
“desap
eg
a
d
a”
do
te
x
to-fonte
é
perigo
s
o,
já
que
se
trata
m
de termos
de
penden
t
es
de
seu c
o
n
tex
to
e
v
ariáv
ei
s
d
e
acordo com
ele.
Dess
e
modo,
é
necessário cons
iderar que os
“concei
tos de
tradução e
de a
dapta
ç
ão
sã
o c
on
c
ebidos
c
om
b
ase
em u
m
a
in
stânci
a in
sti
tu
c
ional
mais
ampla,
qu
e
in
fluencia
as
própria
s
opç
õe
s
inves
tidas num
a ree
scritura” (AMORI
M, 2005,
p. 4
4).
A
d
ivu
lgação,
co
m
u
m
e
nte
fe
ita
d
as
obras
quanto
à
term
inol
ogia
de
trad
u
çã
o
o
u adaptação, é carregada
de
v
alores
e intenç
õe
s
, que abrangem desde
o
conceito
d
e
tradução
e
ada
ptação
vigentes
em
u
m
a
de
t
erminada
época
;
a
a
rticulação
en
tre
a
fi
gura
do
tradutor
ou
adaptador
respons
áve
l
pelo
t
e
xto
e
os
parate
x
t
os
ou
prefácios
q
ue
enfocam
o
result
ado
do
seu
tra
b
alho;
o
l
ugar
q
ue
ocupa
a
obra
traduzida
entre
os
valore
s
d
a
lite
ra
t
ura
l
oca
l
;
e
o
pr
ó
prio
obje
t
ivo
mercadológico
da
edi
tora (AM
ORIM, 20
05, p. 4
7
).
Isso
mostra
que
a
quali
fi
c
açã
o
apresentada
p
elas
instituiç
ões
nã
o
é
um
a
av
aliaç
ã
o
c
íclica,
porque
os
conceitos
s
obre
ambos
sã
o
flexí
v
eis
e
v
a
ri
á
v
ei
s
de
ac
ordo
com
a
in
stâ
n
ci
a
e
o
i
nteresse
dos
res
pon
sáv
eis
pela
c
irculação.
Tal
quadro
se
deve
à própria nomenclatur
a
de
tradução ou de a
d
ap
ta
ç
ão
que pod
e
influir
diretamente
no m
ov
im
ent
o
da
obra
no
me
io
merca
dológico.
Questão
im
por
tante,
pois a so
bre
v
id
a do m
ater
ial liter
ário também depen
de de
s
ua
pro
pagaç
ão.
Dess
e
m
odo,
pe
rcebe-se
que
o
a
to
tr
adutór
io
e
o
ada
ptativo
e
a
s
relaçõ
e
s
com
o
m
erc
ado
estão
intimam
e
nte
ligadas,
e
nl
a
c
e
que
pode
tanto
,
co
m
o
m
e
nciona
do
anter
iorm
ente
,
atribui
r
v
al
o
r
ao
tex
t
o
,
c
om
o
e
m
u
m
seg
undo
m
o
m
e
nto
ca
u
sar
a
d
e
pr
eciação
do
m
ater
ial.
Iss
o
pode
oco
rrer
se
o
l
eitor
não
recon
hecer
o
m
a
terial
literári
o
como
tra
dução
ou
a
dap
t
ação,
c
onfor
m
e
sua
ex
pectativa.
Os
doi
s
recursos
,
s
egu
n
do
Am
o
rim
,
p
ro
movem
m
odif
ic
a
çõ
es
n
o
texto-fonte,
de
acor
do
c
om
objetivos
inter
pretativos e
editoriais, qu
e po
de
m
es
tar
em
desac
ordo c
om os
an
s
eios
do leitor
.
A
discuss
ão
s
ob
re
o
merca
do
e
ditorial
ab
re
caminho
para
a
qu
estão
dos
direitos
a
utorais
que,
inexistentes
na
tradução,
p
or
se
tratar
de
u
m
a
repr
oduç
ão
do or
iginal, pode o
c
orrer na a
dapta
ç
ão, pois segu
nd
o
o
a
utor em foc
o
os
a
daptadores
tend
e
ri
am
a
receber
o
s
direitos
autorais
das
obras
que
adap
t
am
s
o
b
o
argumento
de
que
te
r
ia
m
ma
ior
l
iberdade
pa
ra
efetuar
modifi
cações
em
suas
adaptações,
o
qu
e
j
ust
ifica
r
i
a
o
38
reconhecimento, pelas e
di
toras, de s
eu papel autoral
(A
M
ORIM,
2005, p. 48-49
).
O
ada
ptador
se
faria
m
a
is
v
isív
e
l
q
ue
o
tradu
t
or
por
e
s
tar
direciona
do
a
um
res
ultad
o
determinado,
já
q
ue
a
ada
ptação
opta
po
r
determ
i
nados
ca
m
inhos
,
eleitos
pelo
s
eu
realizador.
Assim
,
poderia
s
e
pautar
ness
e
argum
ento
para
o
reconh
e
c
im
e
nto
de
um
pape
l
au
toral,
atri
b
uído
de
form
a
relativ
a
ao
adapta
dor-autor de
v
ido às
tran
s
formaçõe
s
ou
modifi
cações
a
que
os
adaptadores
t
eriam
d
i
re
i
to
ou
à
permissão
de
e
mpr
e
ender
ao
adaptarem
uma
obra
estrangeira.
A
o
adaptado
r
s
er
i
a,
as
sim,
concedida
maior
“liberd
a
d
e”
p
ara
se
modific
ar,
de ac
or
d
o
com
seu
ponto de
vi
sta
e
sensibilidade
estética,
o
texto
o
ri
ginal,
le
vando
-se
em
cons
idera
ç
ã
o
o
p
úbli
c
o
re
ceptor
.
A
tradução, por sua
v
ez, p
o
r
ser ma
i
s fr
eqüentemen
t
e associada à
co
ndiç
ão
de
u
ma
prá
t
ica
que
s
e
ap
rox
imaria
do
li
t
eral,
não
tor
naria
pos
sív
el
a
in
scrição do
t
radut
o
r, d
e s
u
a
s
concepções
estéticas o
u
de
uma es
cri
t
a
“pessoa
l
”,
naquilo
que
traduz
(AMO
RI
M,
2
005,
p
.
49,
as
pas do au
t
or).
A ada
ptação
a
ssoc
iada
à
i
déia d
e l
iberda
de
a
bre caminho p
ara
possi
bilid
ades
p
ou
c
o u
sadas
n
a
t
radução
“f
i
el”.
Como
mos
tr
a
o
t
recho
citado,
o
adapta
dor
p
ode,
de
acord
o
c
om
o
objetivo,
tr
ab
alha
r
o
tex
to
o
riginal
s
em
a
necessidad
e de se prender literalm
ente a
ele.
Repensar
a
teor
ia
disc
utida
a
té
o
m
o
m
e
nto
d
e
f
orm
a
prá
tica
é
possível
ao
direc
ionar
o ol
h
ar
para
a
pró
p
ria
li
t
eratura.
Em se
u
art
ig
o
As
Ad
aptações
dos
Cl
ás
sicos
e
a
v
oz
d
o
Senhor
,
o
e
scr
itor
Ca
rlos
H
e
itor
Co
ny
(2
002)
descreve
o
escritor
M
on
teiro
Lobato
c
omo
pion
eiro
n
a
arte
e
m
adapta
r
clássicos.
Práti
ca
q
ue
torn
ou
aces
s
ível
ob
r
as
fundam
ent
ais
para
formaç
ão
humana
e
li
terár
i
a
do
ac
ad
ê
m
ic
o, textos
e
sses qu
e são, até os dias atua
i
s
, pub
li
c
a
dos e edita
do
s
.
O tra
balho de
adaptaç
ã
o de
L
o
bato fo
i in
t
enso.
Ele
re
s
gata
inúm
e
ras
refe
rên
c
ias
da
cultura
ocidental
com
s
ens
ibilidade
ao
d
ire
c
ion
á-las
a
o
pú
blico
es
pe
c
ífi
c
o,
v
al
o
rizando
a
mater
ialidade,
a
recepção
e
a
pró
p
r
ia
relaçã
o
e
n
tre
ob
ra
e
leitor.
O
escri
tor-adaptador
t
ransporta
para
a
r
ealid
ade
naci
on
a
l
os
text
o
s
por
e
le
a
da
p
tad
o
s,
pel
a
trans
lação
parcial
o
u
tot
al
do
te
x
to-fonte
para
o
un
i
v
erso
de
su
a
narr
ati
v
a.
A
adaptaç
ão
p
a
rcial
,
m
a
rca
da, e
ss
en
c
ialm
e
nte
,
pela
pró
pria
m
u
danç
a
lingüísti
ca,
de
fo
rm
a intenc
ional
ou
não, a
gr
ega
valores
domést
ico
s ao
te
x
to d
e
39
origem; enqua
nto a modific
a
çã
o intensa do t
exto original é v
i
s
ta, nesse estu
do, com
o
a inserçã
o do texto base no un
i
v
erso literário c
ria
d
o pelo autor.
Ness
e
caso
,
em
es
pec
ial,
tem-se
o
cicl
o
do
Sítio
do
P
ic
apau
Am
a
relo
,
um
con
junto
de
obras
pe
rtence
n
tes
à
literat
ura
i
nfantil,
no
qual
se
verificam,
c
om
u
m
ente,
a
adaptaçã
o
de
obras
l
iter
ár
ias
que
se
desenvo
l
v
em
co
n
com
i
tante
mente ao
te
x
to de Lobato.
Tal
oc
orrência
é
identi
fi
c
ada
em quas
e
todos o
s
livros
d
a s
é
rie,
ação
desencad
eada e
m
d
iferentes
i
n
tens
idade
s
. Des
de
o
iníc
io
da s
aga d
o Picapau
Am
a
relo
,
o
liv
ro e
s
treante
A
menina
do
N
arizi
nho Arr
ebitado
(1
920),
mais
tar
de
reba
tiza
do
co
m
o
Reinaçõe
s
de
Nariz
inho
(
19
20
)
,
já
apresentou
inú
m
ero
s
elementos
resgata
do
s
e
en
feix
ados
p
or me
io da
adapta
ç
ão.
Assim
,
elementos
do
c
inem
a
a
m
e
rica
no,
que
e
xer
c
er
am
fascí
nios
e
influências
sobre
o
au
tor,
co
m
o
o
Gato
Fé
li
x
;
pe
rs
onagens
dos
clássico
s
infantis
co
m
o
Cinde
rela,
Branca
de N
eve, o
Peq
u
en
o Polega
r,
Barba Azul,
Pinocc
hio,
d
entr
e
outr
o
s,
pa
rti
c
i
pam
da
narrativ
a
lobati
a
na.
Tam
bém
os
fabu
li
s
tas
grego
e
fr
ancês,
Eso
po
e
J
e
a
n
de
La
Font
aine, c
om s
uas
fábulas
A
cigarra
e
a
fo
rmiga
e
Os
anim
a
i
s
e
a
peste
estão
na
obra
i
n
augural.
A
re
união
dessas
p
ersonagens
e
o
re
s
gat
e
de
se
u
s
con
texto
s
s
ão,
mui
ta
s
v
ezes,
ques
tionados
no
Pi
c
apau
Am
ar
elo,
o
que
f
az
que
a
ada
ptação
u
ltra
passe
a
m
era
r
eto
m
ad
a
dos
elem
en
tos
ex
i
s
ten
te
s
,
p
or
m
e
io
do
questiona
m
e
nto
dos
v
alo
re
s
q
ue
rep
re
s
entam
.
Desse
m
o
do,
a
s
pers
onagens
cl
á
ss
icas
, históricas,
mi
t
ológic
as, fol
clóricas e
os
enredos
dos
q
uais fa
z
e
m pa
rte s
ão
descons
truídos
par
a,
em
s
egu
ida,
s
e
r
em
reorg
aniz
ad
o
s
e
co
n
s
tituírem
u
m
a
nov
a
narra
ti
v
a.
O e
studo
des
en
v
ol
v
id
o priv
ilegiou
a ad
aptação
utilizada n
a r
eesc
rita
de
Fábulas
(1
922),
li
v
ro
do
qua
l
se
re
tiraram
o
s
textos
par
a
o
trabalho
em
s
al
a
de
aula. A
s fá
b
ulas
utilizadas
por Loba
to
s
ão
reco
lhida
s
,
princ
ipal
mente,
de E
s
opo,
fabulista
grego,
que
v
iveu
no
séc
ulo
VI
a.C.
e
Jean
d
e
La
Fontain
e,
escri
t
or
francês
do
s
éculo
XVII.
Es
sas
reescritas
co
nsistem
na
ac
lim
at
açã
o
das
fábulas
t
radici
onais,
ou
seja
,
é
u
m
a
aç
ão
de
tran
s
pos
i
ç
ão
d
e
ele
m
en
tos
n
aciona
i
s
aos
tex
tos
infantis,
co
m
o
intuito
de
c
onstruir
uma
literat
ura
nac
ional
de
qual
idade
p
ara
as
crianças.
O
desejo
de
ela
bo
ra
r
te
x
tos
a
cessív
ei
s
e
agradá
v
ei
s
para
o
públ
i
c
o
infantil é
v
erifi
c
ável
no seg
uinte trecho da c
o
rrespondência de
Lobato:
40
A
s
fá
bulas
em
p
o
rtu
guê
s
q
ue
conheço,
em
ge
ral
tr
a
du
ções
d
e
La
Fon
ta
i
ne,
são
pequenas
moitas
de
amora
no
m
a
to
–
espinhentas
e
i
mpenetrá
veis.
Qu
e
é que noss
a
s c
r
ianças podem ler? Não
v
ejo
nada.
Fábulas
ass
i
m
seriam
um
começo
da
l
iter
at
ur
a
que
no
s
f
alta.
Como
t
enho
um
c
erto
jeito
p
ara
im
p
ingir
g
at
o
p
or
l
ebre,
isto
é
habilidade
por
t
a
lento,
ando
com
i
d
é
i
a
de
inicia
r
a
cois
a
.
É
de
t
al
pobreza
e
tão
b
esta
a
nossa
li
t
e
rat
u
ra
i
n
f
antil,
que
n
ada
acho
p
ara
a
i
nic
iação de meus filho
s
(
LOBATO
,
1968
b, 2 v, p.
104).
A
p
artir
de
tal
c
oncepção,
L
ob
ato
ini
c
ia
a
reformulação
d
e
fáb
ul
as,
recolh
idas
da
cultura
erud
ita
e
popular,
que
resu
lt
a
ria
n
a
su
a
ob
ra
Fábulas,
l
i
v
ro
no
qual o
autor
re
ú
ne setenta e q
uatro fáb
ulas, traduzidas
e adap
tadas e ou
tra
s
escr
itas
por
e
le
próprio.
Em
bora
o
te
x
to
lobat
iano
retom
e
os
textos
o
riginais
em
m
a
téria
de
co
n
teú
do,
há
um
dife
renc
ial
merecedor
de
des
taque
e
que
prom
o
v
e
s
eu
vi
é
s
m
o
derno.
As
fáb
ulas
,
reescr
itas
em
p
rosa,
nascer
am
de
fonte
s
constr
u
ídas
inici
alm
ent
e
em
v
ersos
.
Ou
tra
m
u
danç
a
s
ignificativa
é
a
al
teração
do
narrad
o
r
q
ue
deixa
d
e
s
er
onisc
ie
n
te
pa
ra
da
r
lug
ar
a
um
nar
rador
q
ue
parti
c
ipa
da
narrat
i
v
a,
no
caso
e
m
q
ues
tão,
a
na
rra
ç
ão
é
a
tribuída
a
Dona
Benta,
segu
ida
d
o
c
om
entár
io
d
os
ou
v
inte
s
.
Narizinho,
Pedrinho
,
Em
íl
ia,
Vi
sc
onde
de
Sabugosa
e
t
ia
Nastác
ia
discu
tem
os
textos
a
pa
rtir
das
co
n
ce
pçõe
s
de
s
ua
época,
ora
c
on
c
orda
ndo
e
ora
questiona
ndo o conteúd
o
e
a própria ideol
ogia dissemi
nada
pelas
narrativas.
A
adaptação
d
as
fábulas
lobatian
as
perm
i
te
a
re
flexão
ace
rc
a
do
próp
rio
a
to
de
reescrever,
u
m
a
v
ez
que,
a
o
m
o
difica
r
os
g
ê
neros,
de
ve
rso
p
a
r
a
a
prosa,
o
a
utor
adequou
a
l
inguagem
d
e
forma
a
torná
-la
acessív
el
ao
leitor.
Além
disso
,
Monteiro
L
oba
t
o
tam
bé
m
dire
cionou
as
di
sc
ussões
de
fo
rma
a
abran
g
er
o
universo
inf
a
ntil, encurtando as d
i
s
tân
c
ias entre
obra e leitor.
A
m
odifi
cação
de
gênero,
de
verso
p
ara
prosa,
pode
s
e
r
ac
om
p
anhada
n
o
s
egui
nte
tre
c
ho:
S
a
iu da toca aturdido
Dani
n
h
o
pequeno rato,
E
f
oi ca
i
r insensato
E
ntre as
garras de um leão (LA FONTAIN
E
,
2006, p. 65).
A
o
sa
i
r
do
buraco
viu-se
um
ratinho e
ntre
as
patas
do
leão
.
Es
t
acou,
de pêlos em pé, paralisado pelo terror (
L
OBATO
,
1973 b, p.49).
Am
ori
m
des
taca,
em
s
eu
e
studo,
uma
es
péc
ie
de
tr
an
s
posição
interlingu
al,
ou
s
eja,
transpos
ição
“
de
um
t
ext
o
es
c
rito
e
m
uma
lín
gua
p
ara
ou
tra,
41
es
ten
d
endo-
s
e
até
para
a
tra
nspo
s
içã
o
de
um
gênero
par
a
o
utros”
(AMORIM,
20
05,
p.
78),
c
omo
a
pr
o
s
a,
gê
n
ero
ado
tado
po
r
Lob
ato.
No
tr
echo
l
iterário
d
estac
ado,
nota-se
a
o
c
orrê
nci
a
d
esse
tip
o
de
t
ranspo
s
ição,
já
que
o
texto
,
esc
rito
origina
riam
ente
em lí
ngua
fran
cesa,
é
transposto
pa
ra
a
língua
portuguesa,
u
tiliz
ada
no
Brasil.
O ex
emp
lo
também
c
omporta
a
transpos
iç
ã
o d
e
gênero,
já que
a obra,
em
verso,
é
re
e
sc
rit
a em pro
sa, em sua versão adap
tada.
A
s
ub
s
tituição
da
leitura
do
l
i
v
ro
p
ela
narração
o
ral,
s
istem
a
eleito
por Dona
Benta, tam
bé
m
é
u
m
a
for
ma
de adaptar,
p
o
r
a
pro
x
imar,
por
m
e
io
da
linguagem,
o
c
onteúdo
literário.
De
s
se
m
od
o,
o
a
utor
con
ta
com
re
cu
rs
o
s
espe
c
iais
para
acessibiliz
ar
o
cân
one
literário.
Don
a
Be
nta,
a v
ov
ó
d
o
Sítio d
o
Picapau
Am
a
relo
,
é
um
dos
ins
trum
ent
os
uti
liz
ad
os,
qu
e
à
semelhança
de
L
o
bato,
desempenha
o
papel
de
f
az
e
r
o e
lo d
e
m
ediaç
ão
entre
os s
aberes
pulverizados
pelo
tex
to
liter
ário
e
seu receptor,
responsáve
l
p
elo
p
rocesso
de
compreens
ão
a
ser
co
n
cre
tiz
ado na
leitura.
A
Dona
Benta
c
ab
e
a
mi
ss
ão
de
me
diar
o
saber
par
a
a
c
r
ia
nç
a,
por
m
e
io d
e um
a
esp
écie d
e
adap
ta
ç
ão,
aç
ã
o n
ot
áv
el no seguinte trech
o:
– Meu
s fi
l
hos, disse Dona Benta, esta
obra est
á
escrita e
m
alto estilo,
ric
o
de
todas
a
s
p
erfeições
e
sutile
z
a
s
de
f
orma,
razão
pela
qual
se
tornou
c
l
ássica.
M
a
s como
voc
ês
ai
nda não
tem a
ne
cessári
a
cultu
r
a
para
compreender
as
belezas
da
forma
literária,
em
ve
z
de
l
er
vou
co
ntar a h
i
stória (L
OB
ATO, 1973
a
,
p 12).
A
p
ers
onagem
tomando
para
s
i
o
pape
l
de
mediad
ora,
to
rna
ac
es
s
ível
a
arte
literária
.
Nessa
tarefa,
conta
com
a
a
juda
da
s
dem
ais
personagens,
que
por
meio
de
i
ndagaç
ões
e
q
ue
s
tionam
entos
f
ornecem
à
interl
ocutora
o
s
ins
t
r
um
entos
ne
cessá
rio
s
para a explanação dos assun
tos abordados
.
- Que
q
u
er dizer “senão”, vo
vó?
- Aqui
n
essa
f
rase quer dizer defeito.
- E por que senão é defeito?
-
Porque
o
modo
de
botar
u
m
defe
i
to
nalguém
o
u
n
a
lguma
coisa
e
r
a
se
mpre
por
meio
de
“
s
e
não”
–
e
p
or
f
im
essa
pa
lavra
fi
cou
sinônima
de defei
to (LOBATO,
1973 b
, p.3
1
).
O
exempl
o
c
itado
r
e
pr
e
s
enta
u
m
a
p
ecu
liaridade
da
obra
lobatiana,
que
aborda
t
anto
o
literár
io
qu
anto
o
p
e
dagógico.
Por
c
onseguinte,
nã
o
s
e
deve
es
qu
ecer
que,
co
m
is
so,
Mont
eiro
Loba
to
trab
alhou
uma
de
su
as
g
rand
es
42
preocu
pa
ç
ões: p
ropiciar refer
e
ncia
i
s
a s
eu
s
leitores m
irins
, não
se lim
it
ando s
om
e
nte
em
infor
mar,
m
a
s
também
e
m
for
mar
as
crianç
as
por
meio
de
m
e
can
i
s
m
os
que
dialogassem c
om
seu
universo.
Devid
o
a
ess
a
s
c
ondições
,
o
a
m
adur
ec
im
ent
o
da
leit
ura
d
a
obra
de
Monteiro
L
obato nos c
írculos d
e
e
ducaçã
o e
de i
ni
c
iação
d
e l
eitore
s
m
er
ec
e atenç
ã
o
es
pe
c
ial
por
re
p
resen
tar,
c
omo
se
disc
utirá
nos
capítu
lo
s
su
bseqüentes,
um
a
co
n
tinuid
ade,
que
repre
s
enta
o
c
ampo
s
ig
n
ific
ativo
r
esponsável
p
el
a
fo
rmação
da
his
tó
r
ia literár
ia, com
o
atesta
a Teoria da
E
s
tétic
a
da
Recepção,
a
c
e
rca da obr
a lida
.
Portanto,
torna-se
ne
c
essár
io
ana
lisa
r
c
om
o
a
re
tomada,
por
m
eio
da
adap
ta
ç
ão
e/ou
tra
du
ç
ão,
de
el
em
entos
cultu
rai
s
p
ré-ex
ist
entes
p
ode
in
fl
u
enciar
na
açã
o
rea
l
de
leitur
a
,
questão
norteadora
da
pes
quisa
empreendida,
que
parte
da
análise,
n
este
pr
im
e
iro
c
apí
t
ulo,
dos
que
sito
s
r
e
s
ponsáve
i
s
p
ela
m
o
delação
e
refo
rm
ulaç
ão
do tex
to literário.
1.3
A Pa
r
ó
dia: um
a
F
o
rm
a d
e
Adapt
ar
Na
bu
sca
de
m
eios
pa
ra e
laborar
um
a
trad
ução
ou
adaptação,
outr
o
s
re
c
urs
os
surge
m
co
m
o
ferramentas
de
construção
do
t
ex
to
l
iterári
o.
Desse
m
o
do,
a
pa
ródia
é
u
m
i
nstru
m
e
nto
que
pode
s
er
uti
liz
ado
na
pr
ática
adap
t
ativa
,
pois
a
r
ecorrênc
ia
a
textos
c
lássicos,
fo
l
c
lóricos,
m
itológ
icos
e
histó
ri
c
os,
u
s
ada
na
co
n
stituiçã
o
da
obra
lob
atiana,
é
co
nstruída,
div
ersa
s
ve
z
es
,
p
o
r
m
e
io
d
es
se
recurso
.
Para te
nta
r entender
esse
elem
e
nto,
ado
ta-se, n
e
ss
e tr
abalho, c
om
o
perspec
tiva c
ríti
ca,
a ob
ra
t
e
óri
c
a
Uma
Te
ori
a
da
Paródia
(1
985)
de
Lind
a Hutc
h
e
on.
A
esc
olha
da
ob
ra
da
autora
j
u
stifica-s
e,
um
a
ve
z
que
se
m
os
tr
a
pr
o
v
eitosa
para
em
preg
ar
a
r
espectiva
teoria
e r
ealizar
a
anális
e,
o
bjeti
v
o
da
d
i
s
sert
aç
ã
o, a
ser
aprese
ntada no terceiro capítulo.
Alguns
teór
i
cos preferem
outr
o
recurso,
a
intert
e
x
t
u
al
idade,
teor
ia
discu
tida
p
rincipalm
ente
p
or
Julia
Kristeva
11
;
outros
tr
atam
a
paródi
a
e
a
intertex
tu
alid
ade
c
om
o
sinônim
o
s.
C
ontud
o
,
a
presente
diss
ertação
privilegi
a
a
definição
de
Hu
t
c
heon
qu
e
distin
gue
os
dois
c
onceitos
e
n
ão
conce
be
a
11
A
in
te
rtex
t
uali
dade
é
a
“
relação
d
i
scursiva
qu
e
os
vá
r
i
os
te
x
t
os
en
t
retecem
com
u
m
nov
o
texto,
atr
a
vés
d
e
ci
t
ações, alu
sões, comen
t
ários, ou
a
f
ini
dades temáti
co
-ideológi
cas e ou formais. PAZ, Ol
egário; MONIZ, A
ntonio.
Dicionár
io
Breve
de Term
o
s
Literário
s
.
Li
sboa: Edi
torial
P
res
ença, 1997, p
.
1
19.
43
intertex
tu
alid
ade com
o s
inon
ím
ia de
par
ódia, definind
o a prim
ei
ra co
m
o
um ele
m
ento
de
desco
difi
caç
ão
do
te
x
to,
e
nquant
o
a
últi
m
a
,
es
taria
ligada
ao
proc
e
ss
o
de
co
n
stituiçã
o, propriam
ente
dito, do tex
to (HU
TCHEON, 1985,
p. 35).
Seja
na
c
on
c
epção
de
u
m
a
obra
literár
ia
ou
no
c
ontato
e
ntre
te
x
to
e
leitor,
a
ten
tativa
de re
tom
ada
de
u
m
a
r
ealidade
pré-existente
é
uma prá
tic
a co
m
u
m
.
Segundo
filósofos
da
escola
francesa
,
c
omo
Foucau
lt
e
Derrida,
é
impres
cindí
v
el
observ
ar-
s
e
qu
e o
t
e
xt
o é
u
m
a
prod
uç
ão e
m
mov
im
e
nto,
que
ex
iste
relaç
ã
o
entre
as
div
e
rs
as escritas:
as
front
e
iras
d
e um
l
ivro nunca fi
c
a
m bem defi
n
idas:
p
or t
r
ás
d
o
t
í
tulo,
das
pri
m
e
iras
linhas,
d
o
ú
l
timo
ponto
fi
nal,
por
trá
s
d
e
s
u
a
co
nfiguraçã
o
inter
na
e
de
sua
f
orma
a
utônoma,
e
le
f
ica
preso
n
u
m
sis
t
e
m
a
de
referências
a
outro
s
liv
ro
s,
o
utros
textos,
outras
f
rases:
é
um
nó
dentro de u
ma
rede (FOUCAULT,
apud
H
UTCHEON
,
1991,
p.
165).
Dess
e
modo,
p
ercebe-se
que
os
te
xt
os
estão
ligad
o
s
,
po
i
s
part
i
c
ipam
de
um
proc
esso
de
c
onstrução
histórica,
u
m
a
v
ez
que
a
p
rodu
çã
o
é
fruto
da
própr
ia
c
ir
cu
la
ç
ão
dos
referen
c
iais
literários
.
Ass
im
,
os
te
xtos
são
re
tomados,
recr
iados
e
recontados
no
dec
orrer
do
tempo,
fazendo
com
que
a
literatur
a
s
eja
um
processo
d
inâm
ic
o
e
ultr
apa
s
se
fr
onteiras,
barr
eira
s
de
idade,
c
ult
u
ra
e
lí
n
gua
po
r
m
e
io d
e um
p
roc
edimento que a
dapte, tradu
z
a
e reconte.
Kristeva
també
m
a
firma
q
ue t
oda
a
n
arrativa
“se
c
on
s
trói
c
om
o
m
o
saic
o
d
e
c
itações,
t
odo
o
tex
to
é
absor
ç
ão
d
e
um
ou
tro
texto
”
(
KR
ISTEVA,
19
74,
p
64).
Portanto,
toda
a
obra
poss
ui
um
a
li
g
ação,
ao
influenc
ia
r
a
constitu
i
ç
ão
da
literatu
ra,
e
ess
a, po
r su
a
vez,
direc
iona
a
pr
odução
literár
ia,
s
eja
por
m
e
io da
prop
ag
aç
ão do câ
none literário ou da ruptura e formaçã
o do novo.
Sant’anna (
1
991), por
su
a vez, afirm
a
que o texto é:
(...)algo se
m
p
re em m
ovi
men
t
o, que h
á
um
a
c
o
rrelação entr
e
as
diversa
s
escr
itas,
e
que
a
única
manei
r
a
de
se
ap
roxim
ar
o
quanto
pos
sív
el
de
u
m
a
ce
rt
a
v
er
dade
é
estar
preparado
pa
ra
l
er
todos
o
s
artifício
s
que
o
s
t
extos
n
os pre
param (SANT’ANNA, 19
9
1, p. 7
2
).
Para
qu
e
essa
apr
o
x
im
a
ção
se
c
on
c
retiz
e,
m
u
i
tos
inst
rum
e
ntos
de
prod
u
ç
ão
te
x
tua
l
su
rgiram
no
deco
rrer
do
tem
po,
sen
do
de
i
nteresse
do
prese
nte
es
tud
o
,
c
om
o
j
á
foi
dito,
a
paródia.
Pa
ra
entender
a
oc
o
rrênc
ia
e
o
alca
nc
e
d
esse
ins
t
r
um
ento
de
apr
oxim
aç
ão
e
ao
m
es
m
o
te
m
po
d
e
c
riaç
ão
observar-se-á
co
m
o
e
la
44
ac
on
tece
na
obra
l
iterária
e
també
m
c
omo
po
de
influ
enciar
a
interaç
ã
o
do
leitor
c
om
o texto
.
Dess
e
m
odo,
o
debate
aqui
susci
tado
discute
um
a
v
ertente
dessa
tem
átic
a
ao
trazer
à
t
ona
a
ques
tão
da
paródia
pr
e
s
ente
na
o
bra
i
nfantil
do
escritor
Monteiro
Lobato
e,
ass
im
,
o
bse
rvar
com
o
o
u
so
desse
r
e
curso
pode
interferir
na
si
tua
ç
ão de
l
eitura pr
opriam
ente di
ta, no processo de recepçã
o
do
te
x
to liter
á
rio.
A
paró
dia
foi
e
é
u
tiliz
ada
p
or
esc
ritor
es,
mas
contin
ua
sendo
cri
ti
c
a
da
por u
m
gr
upo
de c
ríticos
e
es
c
ritores desde
o in
í
ci
o até
os
dias
atuai
s
,
fato
s
que
atr
ibuem
ao
rec
urso
c
o
nsta
ntes
juí
z
os
d
e
v
alor.
No
en
tanto,
é
a
s
ua
e
x
i
stência
no dec
orrer do tem
p
o e, pr
inci
palm
e
nte, s
ua utilidade
na promoção
do ressurgi
m
ento
de
t
extos
d
o
pa
ssado,
que
fom
en
ta
o
cará
ter
c
íclico
da
arte
liter
á
ria,
que
embora
s
e
renove
consta
ntem
ente,
b
usca
n
o
s
t
extos
c
onsagr
a
dos,
e
tam
bé
m
na
c
ultura
popula
r, tem
a
s e
m
otiv
os para sua
com
p
osição.
Ao
acompanhar
a
literatura s
obre
o
dese
nvolvim
e
nto
da
paród
ia
,
em
diferen
tes
é
poca
s
e
l
u
gares,
é
perceptív
el
que
o
seu
s
entido
m
u
dou,
adaptando-se
às
exi
gências
de
cad
a
m
o
m
e
nto
hi
stórico.
No
início,
o
s
entido
pr
im
iti
v
o
da
p
a
ród
ia
es
ta
v
a
ligad
o
di
retamente
a
p
oem
as
narra
ti
v
os
de
ex
tensão
m
o
dera
da,
qu
e
utilizam
m
e
tro e lin
guagem épic
o
s,
m
a
s fu
ndam
entados
em
um tema tr
ivi
al.
No
séc
ulo
XIX,
o
inte
ress
e
e
ra
por
um
a
paró
dia
e
spec
ífi
c
a
e
oc
asion
a
l
aos
poemas
e
novelas
do
Rom
a
ntis
m
o
tard
io
q
ue
fornec
eu
um
a
font
e
de
opinião
c
ontem
por
ânea
s
obre
o
referencia
l
literário
.
N
ess
e
m
o
mento,
a
união
de
elogio
e
c
en
s
ura
f
az
d
a
pa
ródia
um
a
a
ção
de
r
eav
alia
ção
e
aco
m
od
aç
ão.
A
p
aródia
abra
ngia
a
t
ip
os
va
riados
d
e
textos,
depositando
c
rédito
n
a
bagagem
cu
ltur
al
de
se
u
s leitor
e
s
.
O
c
r
íti
c
o
literári
o
Gerard
Genne
tte
(a
pud
HUTCHEON,
198
5)
ten
tou
limi
tar
a
p
aródi
a
a
tex
to
s
c
u
rt
os
como
poemas
,
p
rovérb
io
s
,
trocadilhos
e
títulos,
m
as
a par
ódia moderna
não fez caso
de
s
ta
lim
itação
, c
om
o
não o
faz da definiç
ão restrita
de
Gen
ette
da
p
aródia
como
tra
nsform
aç
ão
mínima
de
um
tex
to,
embora
s
eja
óbv
io
que
partes
de
uma
o
bra
po
dem
se
r
paródi
c
as
sem
qu
e
tod
o
s
eu
tex
t
o
se
ja
rotulado
dessa maneira.
No
s
é
c
ulo
s
eguinte,
a
c
r
edibilid
ade
na
figura
do
l
eitor
cede
lu
gar
a
um
a
des
co
nfian
ç
a
no
c
onhe
c
im
ento
dos
leitores,
ação
q
ue
os
obriga
v
a
a
tra
balhar
no
se
ntido
de
re
adquirir
a
heranç
a
literária
ocidental
,
f
az
endo
do
gên
ero
um
d
os
45
m
o
dos
de
construção
for
m
a
l
de
tex
t
os,
com
i
m
p
licaç
ões
de
c
ar
át
er
c
ultural
e
ideológica.
A
p
aródi
a
utiliza
a
iron
ia
e
o
humor
co
m
o
fo
rm
as
d
e
resg
ate
dos
tex
to
s
.
Ao se
acentuar,
por
m
eio
d
o cômic
o,
as
partic
ularidade
s
do
tex
to
-fo
nt
e
realça
m
-s
e
t
ambém
as
s
em
el
hanç
a
s
e
d
iferenças
entre
os
doi
s,
texto
primei
ro
e
versão
paródica.
Contudo, o
alcance do significado,
que pode se atingid
o a
o se
reaver
o
texto
de
parti
d
a,
de
pend
e
da
realização
de
su
a
interpretação.
Esse,
principal
m
en
te,
quando
s
e
trata
das par
ó
di
as
modernas
,
envolve elem
e
ntos
que
ultrapass
am
o tex
to
e
m
s
i (o
tex
to c
om
o en
tid
ade
s
em
ântic
a e s
in
tática) p
ara
chegar
à
descodif
i
caçã
o
da
intenção
i
rônica
do
agente
c
odificador.
Ou
s
ej
a,
é
necessário
que
o
leitor
entenda
a
iron
ia para
que e
la c
oncretize a
inte
nção
disseminada p
or s
eu
us
o,
m
uita
s
v
e
z
es
inacess
í
ve
i
s
para
o
leito
r
mais
jov
em,
part
e
do
público
l
eitor
de
Lobato
.
O
c
o
ntraste
entre
o
q
ue
é
afirmado
e
o
que
é
si
g
ni
ficado
nã
o
reside
na
única
função
da
ironia.
O
se
u
outro
pape
l
d
e
im
por
tância
m
a
ior
–
a
nível
prag
m
átic
o
–
fr
eqüentemente
v
em
s
endo
trat
ado
c
om
o
se
fos
se
dem
as
iado
ób
v
i
o
para
justif
i
c
ar
um
a d
isc
u
s
sã
o: a
ironia j
ulga,
pois s
ua fu
nção
p
ra
gm
átic
a c
onsi
s
te
em
si
naliz
a
r uma aval
ia
ç
ão
, m
uito
co
m
umente d
e natur
eza pejorativa.
Na obr
a
infantil d
e
Lobato,
pode-se
observar
a i
ronia c
om
o
pres
ença
m
a
rcan
te,
pois
é,
mui
ta
s
ve
z
e
s,
a
for
m
a
de
qu
e
s
tionar
va
lores
disseminados
pela
s
obras
o
riginais.
Já
na
ve
rsão
lobatiana
esses
v
alore
s
s
ão q
ue
s
tionados
e,
em
div
e
rs
os m
o
m
e
ntos
, tê
m
s
uas v
e
r
dades desconstruídas
e r
econsti
tuí
d
a
s
.
O
r
e
c
urso
é
um
do
s
m
e
ios
utilizados
pe
lo
parod
i
st
a
n
a
pr
op
a
gação
de
suas
intenções
e
mens
agens
,
poi
s
para
entendê-
l
a
o
leitor
te
m
q
ue
desvend
ar
a
intenção
cod
ifica
d
a no
tex
to
.
Portan
to, a
pa
ró
di
a é
igualm
ente
u
m
gênero
sof
i
s
ticado
nas
e
x
igên
c
ias
feitas
aos
s
eu
s
pratica
n
tes
e
in
térpre
te
s
.
O
c
odi
fi
c
ador
e,
de
pois,
o
receptor,
t
êm
de
efe
tuar
uma
s
obreposição
e
strutural
de
tex
t
os que
incor
po
re
o
antigo
no no
v
o,
c
onstituindo um
tex
to de difícil acesso pa
ra o leitor em
f
ormação.
A
ne
cessidade bá
s
ica
d
e
competênc
ia
lingüística
é i
ndis
pen
s
áv
el
para
a
r
e
c
ep
ç
ão
textu
al,
p
rincipalm
ente
ond
e
a
iro
nia
est
á
envolvida,
pois
c
a
be
ao
leitor
entender
o
que
e
s
tá
impl
íc
ito,
bem
c
omo
aqu
ilo
q
ue
é
r
e
alm
e
nte
afirm
ado.
Dess
a maneira
, se
nd
o
a
ironia
um
m
e
can
i
s
mo
retór
ico uti
liz
ado
pela
par
ó
d
ia, o
le
itor
necessita
ter
competênc
ia,
bem
co
m
o
con
hecimentos
d
as
nor
m
as
retóricas
e
46
literári
a
s
que
p
erm
itam
o
re
conhecimento
do
des
vio
dessas
normas
c
onsti
tuinte
s
do
câ
n
on
e -
a
he
r
anç
a
constituc
ionaliz
ada da
língua e d
a l
itera
tura.
Para Hutch
eon (1985)
a não
de
sc
odificaç
ã
o
, p
or parte do
lei
tor,
prejudica
a ace
ssi
bilidade à intenção
dos text
os
, ou
s
eja,
se
o
leitor
não
consegue
rec
o
n
h
ecer
uma
paródi
a
como
pa
ró
di
a
(já
por
si uma
c
onven
ç
ã
o e
stética
canônica)
e
como u
ma
paródia a
uma
ce
rta o
br
a
o
u
conjunto
de
normas
(no todo
ou
em
p
art
e
),
então
f
a
l
ta-
l
he
competência.
Tal
v
ez
s
e
j
a
po
r
e
sta
raz
ã
o
q
u
e
a
parodia
é
um
gênero
que,
como
vimos,
p
arece
flore
sc
er
e
ssencialmente
e
m
so
c
i
edades
democrátic
a
s
c
ul
turalme
n
te
sofisticadas
(HUTCHEO
N,
1985, p. 119
,
grifo da autora).
Por isso, constat
a
-s
e que
para
a compreens
ão da paródia e da
ironia,
es
t
a
última, d
esenc
ad
e
ada
como
mec
anismo
inter
pretativo,
faz-se
necessá
rio
um
c
onjun
to
de
v
alores
ins
titucionalizados
d
e
a
lca
n
ce
e
s
tético,
o
u
se
ja,
gené
ri
cos,
ou
s
o
c
iais
,
por
ta
nto
de
a
l
c
ance
ideológic
o
e
inadequ
ad
os
ao
leitor
ma
is
jo
v
em
q
ue
aprese
nta
difi
c
uldade
para
lidar
c
om
um
c
am
po
sign
ificativo
tã
o
complexo
.
Es
s
es
requ
i
s
itos
s
ão
n
e
cessári
o
s
para
a
compreensão
dos
recur
s
os
e
deles
ta
m
b
é
m
depend
em
s
ua
existência,
uma
v
ez
q
ue
o
domínio
dos
pr
otocolo
s
de
c
odifi
c
ação
e
co
m
pre
ensão
g
ara
nt
e
a form
aç
ão do
te
x
to e
a acessibilidade a e
le.
A
ironi
a
pode
s
er
o
pri
n
c
ipal
m
ec
anis
m
o
retórico
par
a
des
pertar
a
co
n
sc
iên
c
ia
do
leitor
p
ar
a
o
texto,
j
á
que
partici
p
a
no
discurso
paród
ico
c
om
o
u
m
a
es
tratégia
par
a
o
alcance
r
eal
do
s
ignificado
almejado
pelo
parod
i
s
ta,
sendo
u
m
a
forma s
ofisticad
a
de expr
e
ssã
o. Diante
do exposto,
pode-se,
então, r
e
ss
altar a
ironia
co
m
o u
m
rec
urso
esti
lí
s
ti
c
o de grande im
p
ortânci
a, o
q
ual o
s
es
cr
itores
pod
em
lançar
m
ã
o para e
lu
c
idar situações e, c
o
nseqüent
em
ente
, suas
narrativas.
É
d
ifíc
il
s
eparar
estratégi
a
s
pr
agm
áti
cas
de
estru
tu
ras
for
m
ais
,
quando
se
fa
la
da i
ronia o
u da p
aródia, poi
s
um
a
i
mplica
a
outra
. Por
out
ra
s
palavr
a
s,
um
a
análise
puramente
for
m
al
da
pa
ródia,
enquanto
relacio
n
amento
de
tex
to
s
,
não
fará
just
i
ç
a
à
c
omplexid
ad
e
destes
fenômenos;
o
m
es
m
o
acon
tecerá
co
m
u
m
a
aná
lise
pu
ram
e
nte
h
ermenêutic
a
que,
na
s
ua
forma
mais
ex
trem
a
,
v
ê
a
paró
dia
c
om
o
c
r
iada
por
“leitor
e
s
e
críticos,
e
não
pelos
te
x
to
s
literários
e
m
si”
(
HUTCHEON, 1985,
p. 50).
Tanto
a
i
ronia
q
u
anto
a
paródia
operam
em
dois
níveis
–
u
m
,
su
p
erfici
al ou prim
e
iro pla
no; e ou
tro, denom
i
nado pl
ano de fundo. Mas
desse últim
o,
47
em
a
mbos
o
s
casos,
deriva
o
s
eu
s
entido
do
contexto
n
o qu
al
se
enc
o
ntra
. Assim,
o
se
n
tido
final
da
i
ronia
ou
da
p
aródia
res
ide
na
s
obrepos
i
ç
ão
des
ses
níveis
e
e
s
te
caráter
du
plo,
tanto
da
form
a
c
omo
do
efeito
pr
a
g
m
á
tic
o,
faz
da
par
ó
dia,
segundo
Hutc
heon, um
modo i
m
port
ante de
m
o
dern
a a
u
to-reflexiv
i
dade
na literatura.
Um
ex
empl
o
d
iss
o
é
a
obra
Re
i
n
açõ
es
d
e
Narizi
n
ho
(
1920
)
que
f
az
refe
rên
c
ia
a
div
e
rs
os
te
x
tos
e
fi
gu
ras
c
om
o
os
clá
ss
ico
s
in
f
antis,
os
f
a
bu
li
s
tas
E
so
po
e
J
ean
de
La
Fon
tai
ne
e
a
lgum
a
s
de
suas
fábulas
entre
outros
exemplos.
Contu
d
o,
os
usos
f
eit
os
p
elo
aut
o
r
nã
o
representam
u
m
a
paró
dia
completa
das
fon
te
s
citadas,
m
a
s a
judam a constr
uir o m
os
aic
o que
s
er
á o
te
xto lo
batiano.
O
tr
echo
apresentad
o
a
se
guir
traz
tr
e
ch
o
s
paród
i
c
os
que
retoma
m
narra
ti
v
as
pré-existentes.
Ele
de
s
tac
a
a
visita
da
s
cr
iança
s,
Pedr
inho
e
Narizinho,
que
acompanhad
o
s
de
Emíl
ia
e Vi
sc
onde
e
guiados
por
Peninha,
o
m
e
nino inv
isív
el
,
observ
am
o
de
se
nrolar de
um tex
to
fa
bular,
A c
igarr
a e
a
fo
rmi
g
a
, e
c
onve
rsam
c
om
os
au
tore
s
, L
a
F
o
ntaine
e
Esopo, chega
n
do a
interferir no desenv
ol
v
i
m
e
nto da
narra
ti
v
a.
A
p
ar
ódia,
nesse
c
aso,
é
m
a
rca
da
pe
la
rec
onstruçã
o
do
text
o
prim
eiro,
a
sa
b
er,
a fábula
A
c
i
gar
ra e a formig
a
:
(...)”
–
Ca
ntou
e
nquanto
era
môça
e
sadia?
Po
is
da
n
ce
ago
r
a
que
es
tá vel
ha
e doente, sua v
a
g
abunda!”
E
– Plaft
!
Deu-lhe com a p
o
rta no nariz
.
A
triste
cigarra,
co
m
o
nariz
esbo
rrac
h
ado,
ia
pendendo
p
a
ra
trás
para morrer quando Emília a susteve.
-Não
morra,
boba!
Não
dê
esse
gosto
para
aquela
malvada.
(...)
E
m
ve
z
d
e
morrer,
f
eito
uma
idiota
,
ajude-me
a
prep
a
rar
u
m
a
boa
f
orra
co
ntr
a
a formiga. (LO
B
ATO, 1973 e, p.
1
39)
A
f
ábu
la
retr
atada
não
representa
toda
a
o
bra
Reinações
de
Narizinho
(1
920)
,
m
a
s
mo
s
tra
que
o
aut
o
r
us
a
e
lem
en
tos
,
no
c
aso
c
itado
as
person
agen
s
fabulares,
a
c
ig
ar
ra e a formiga, par
a construir, a
partir da pá
rod
ia, u
m
a
part
e
d
a
histó
ria
,
e
m
b
ora
o
ob
jetivo
não
s
eja
p
arod
i
ar
a
f
ábul
a
em
s
ua
totalida
de,
m
a
s s
im b
us
car
elem
e
ntos q
ue au
x
iliem
a c
ons
t
rução do n
ovo texto.
Outras
ob
ras
do escritor, n
o entanto, representam total
m
en
te as
fontes
a
qu
e
fazem
referênc
ia.
Fábu
l
as
(19
22
)
é
um
exe
m
p
lo
disso,
pois
retom
a
tex
to
s
que
são,
muitas
v
ezes
, r
e
c
on
struídos
e,
em
a
lguns
momentos,
parodiad
o
s
na
íntegr
a,
co
m
o
aco
ntece com
es
ta
m
es
ma fábula.
A
cigarra
e
a
for
m
iga
é
a
prim
e
ira
f
ábula
do
liv
ro c
itado.
Nessa
o
bra,
o
te
xto
é
am
pliado,
recebe
o
t
ítulo
de
A
c
igarra
e
as
fo
rmi
g
as
,
m
o
stran
do
p
o
r
meio
48
da
fl
exã
o
de
grau
a
pr
e
se
nça
de
uma
ter
ceira
person
a
gem
,
a
s
egunda
f
orm
iga
.
A
no
v
a
ve
rs
ão,
desm
e
m
bra
da
em
d
uas
parte
s
,
apresenta,
com
o
indic
a
cada
título,
desfechos
distintos.
A
pr
im
e
ira
de
las,
A
formiga
boa
,
foge
do
o
r
iginal
à
m
e
dida
que
a
caract
eriza
ç
ão
da
car
ras
c
a,
a
for
m
iga,
resp
on
s
áv
el
p
ela
morte
da
c
iga
rra,
é
co
n
str
uíd
a
de
m
a
neira hu
m
ani
zadora, p
oi
s
a mes
m
a
ac
olhe a
cigarra n
o ma
u
tempo,
aç
ão
que
d
e
se
ncadeia,
por
mei
o
da
paródia,
um
o
utro
final
para
a
narrativa
.
“A
ci
ga
r
ra
entrou,
s
arou
da
tosse
e
voltou
a
s
er
a
alegre
c
antora
d
o
s
dia
s
de
sol”
(LOBATO, 1973 b
, p. 11).
A
s
e
g
und
a
part
e,
intitulada
A
for
mi
ga
má
,
repr
oduz,
à
semelhança
do
ori
ginal,
o
en
redo
do
tex
to
primeiro.
Entret
anto,
o
a
ut
o
r
inse
re
elem
e
ntos
q
ue
part
i
c
ulari
z
a
m
a
rees
crita:
“Ma
s
a
form
ig
a
era
uma
us
ur
ária
s
em
ent
ranhas.
Alé
m
disso
, invejosa. Como n
ão
sou
be
s
se ca
ntar,
ti
nha
ó
dio à c
igarra p
or vê-la
querida
de
todos
os
ser
e
s”
(LOBATO,
1973
b
,
p.
11
).
Nessa
c
ara
c
teriz
a
ção
h
á
a
pr
e
se
nça
da
ironia
na
descr
i
ç
ão
da form
iga
: “us
urária sem
entranhas”
e “invejo
s
a”.
Me
s
m
o
serv
indo
de
auxílio
na
c
onstituição
de
novos
textos
,
com
o
dem
ons
tro
u o
exe
m
pl
o a
presenta
do, H
ut
c
heon (19
85)
d
i
s
cute a
i
déia ne
gati
va
sobre
o
gên
ero
aprese
ntada
por
parte
da
c
rítica
liter
ária
a
té
o
per
íodo
romântico
,
que
difund
ia,
c
ons
tantem
ent
e,
a
idéia
d
e
que
esse
re
curs
o
er
a
paras
itário,
de
ri
v
ati
v
o
e
prejudicav
a
a
origina
lida
d
e
e
a
c
o
nstit
ui
ç
ão
do
nov
o
texto.
No
entanto,
a
própria
autor
a
rebate
tal
afirmaç
ão,
por
ac
reditar
ser
p
rovável
que
a
r
ejeição
ro
m
ânti
ca
d
as
formas
p
aród
i
cas
,
c
om
o
par
a
s
itária,
refletis
se
uma
ética
c
api
tali
sta
e
m
e
rgente
por
fazer
da
l
iteratur
a
uma
m
e
rcad
oria
q
ue
s
e
im
ag
inav
a
propr
iedade
de
um
i
ndivíd
uo,
se
u
au
to
r
.
Ness
e
contex
to,
as
leis
de
dire
ito
d
e
au
toria
pro
m
ov
eram
pro
cessos
de
di
fam
aç
ão
contra
parodi
s
tas,
t
em
endo
p
rejuízos
e
co
nôm
ic
o
s
pro
m
ov
idos
pe
lo
tex
to
pa
ródi
c
o
em
d
etrimento
do
orig
inal.
L
obat
o
r
e
c
on
s
trói
os
textos
que
pa
rodia
e
não se
lim
ita às
fr
onteiras do tex
t
o de origem c
om
o na
reescri
ta de
Fá
bulas
.
Portanto,
é
necessário
afirm
ar
qu
e
a
par
ódia
é
um
importante
elo
de
aproxi
m
aç
ão
c
om
a
heranç
a
do pass
ado. Isso porq
ue
os
artistas
modernos
pa
re
c
em
ter
reconhecido
que
a
mudança
i
mpl
i
ca
continuidade
e
of
er
ece
m-nos
um
modelo
p
ara
o
processo
de
tran
s
ferência
e
reo
r
g
anização
d
esse
p
ass
a
d
o.
As
suas
fo
rmas
paródica
s,
cheias
de
duplic
idade
s
,
j
ogam
com
as
tensões
c
ri
a
d
a
s
pel
a
consciência
histórica.
Assinalam
menos
um
re
conhecimento
da
49
i
nsu
f
iciência
d
as
formas
definíveis
dos
seus
precursores
que
o
s
e
u
próp
r
io
des
ejo
de
pôr
a
‘re
f
ugiar’
e
ssas
f
ormas,
de
acordo
c
o
m
a
s
su
as
próprias
necess
i
dades
(M
A
RTIN,
apu
d
HUTC
HEON,
198
5
p.
14-15,
asp
a
s do autor).
Como
ass
inal
a
a
de
fi
n
ição m
oderna
d
e
paródia, a
p
resentada
por
Hutc
heon
(1985),
o
gênero
é
u
m
a
f
orma
de
re
petiçã
o
que
inclu
i
dif
erença,
im
i
taç
ão
co
m
dis
tância
c
rítica,
c
uja
i
ronia
pode
b
enefi
c
iar
e
preju
di
c
ar
a
o
m
e
s
m
o
te
m
po.
Ta
l
definição
m
os
tra
o
recu
rso
paródico
não
com
o
s
i
m
p
les
a
propriação
d
e
um
tex
to,
e
si
m
c
omo
a
c
ons
trução
de
um
nov
o,
rebaten
do
as
críticas
q
ue
a
acusam
de
parasi
tári
a.
Fábu
l
as
(1922), de L
obato, é um
e
xemplo de
reconstru
ç
ão,
pe
r
m
itido
pela
pa
ródia,
de
um
nov
o
te
xt
o
que,
e
m
bo
ra
fruto
da
heranç
a c
ultural,
r
e
c
on
strói
um
no
v
o e
nredo, a partir de elementos d
o texto-fo
n
te.
Dess
e
m
odo,
re
ssalt
a-
se
que
a
pa
ró
dia
é
um
a
impor
tante
fo
r
m
a
da
m
o
derna
aut
o-refl
e
x
i
v
idade,
por
ser
u
m
disc
u
rso
inte
rartí
s
tico
qu
e
age
c
om
o
integra
dora de diferentes
e
xpressões d
e arte e cultura
.
A
pa
r
ódia
é,
p
ois,
t
anto
um
acto
p
essoal
de
suplantação,
como
uma
i
nscrição
de
c
o
ntinuidade
hi
stór
i
c
o
–
literária.
Daí
su
rg
i
u
a
teoria
d
o
s
formal
istas
acerca
d
a
teor
i
a
da
paródia
na
ev
o
lução
ou
mu
d
a
nças
das f
ormas l
i
terárias. A paród
i
a er
a
vi
sta com
o
uma subst
i
tuição
dialé
tica
de
elementos
formais
cujas
f
unções
se
tornara
m
meca
niz
a
d
a
s
o
u
auto
mát
i
cas.
(...)
Uma
nova
forma
desenvolve-se
a
partir da
antiga,
sem
na
realidade
a
destruir;
a
penas
a
f
u
n
ção
é
alt
erada. A paródia torna-se,
pois, um prin
c
í
pio co
n
strut
ivo n
a história
lite
rária (HUTCH
EON, 1985, p. 52).
É fundamental per
ceber
q
ue a p
aródia não é apenas
aquela im
i
taç
ão
ridiculari
z
ad
ora,
m
en
ci
o
na
da
nas
defi
ni
ç
ões
do
s
dici
onário
s
populares.
Superar
esta
limi
taç
ão
d
o
seu
s
entido
original
é
u
m
d
esafio
ess
encial
par
a
q
u
e
se
descubra
um
a
teor
ia adequada à realida
de do r
ecu
rso no
c
ircuit
o
das produç
õe
s
literárias.
Assim
,
é uma
for
m
a
d
e
i
m
i
taçã
o
c
aracterizada
por
uma
inv
ersão
irônica,
nem
s
em
p
re
à
c
ust
a
do
text
o
parodi
ado,
pois
essa
é
um
a
característica
de
toda
a
pa
ródia.
Do
mes
m
o
modo,
a
c
rítica
n
ão
tem
d
e
es
tar
presente
na
forma
do
ris
o
rid
i
c
ulariz
ador
,
c
omo
na
fábula
A
formiga
boa
,
para
que
a
paródia
s
eja
aponta
da.
A
paród
ia
e
m
te
r
m
o
s
s
em
ióti
cos
pode
s
er
definida
c
omo
u
m
a
fo
r
m
a
de representaç
ão de um
a real
idade original. Geralmente, a
rep
rese
ntação é de
50
caráter
cômi
c
o e ex
põe os
m
ec
anismo
s
e c
onvençõ
e
s
do m
od
elo. A si
m
i
litude c
om o
origina
l
di
v
ide
a
crítica
no
to
c
ante
à
qual
ifi
caç
ão
do
recurso,
pois,
para
alguns,
a
paró
dia
faz
o
origin
al
perder
em
pod
er
ou
parec
er
m
e
nos
dominante
;
já
para
outros,
a par
ódia é a form
a
su
perior, porque fa
z
t
udo
o q
ue o
origin
al faz
– e
m
ais
ainda.
Para a autor
a
a p
ressuposição quer de u
ma lei,
quer da
s
u
a t
ra
n
sgressã
o
, bifur
c
a
a
pul
são
da
paródia:
el
a
p
ode
ser
normativa
e
con
s
e
rvadora,
como
pode
ser
pr
ovo
cadora e
revo
lu
cionár
i
a.
A paródia é
norm
a
t
iva
na
sua
i
dentifi
ca
ç
ã
o
com
o
outro,
mas
é
c
o
n
te
stat
ó
ria
n
a
sua
nece
ss
idade
edi
piana
d
e distinguir-se d
o
ant
erio
r
(HUTCH
EON
, 1985
, p.
98).
Esse
rec
u
rso,
d
ependendo
da
cri
a
tiv
idade do
escri
tor,
po
s
si
bilita
aponta
r
a
literariedade
no
tex
to,
pois
pod
e
origin
ar
uma
outr
a
narrativa c
ontra
a
qual
a nova
cri
ação deve
s
er, im
plíc
ita e sim
u
ltaneamente, medida e e
nten
dida.
No
c
as
o
de
Lo
bato,
pode-se
r
e
tom
ar
c
om
o
exe
m
p
lo
o
tex
to
Rei
n
açõ
es
de
Nari
z
inho
(1920
)
,
no
qual
o
enco
ntro
e
ntre
as
p
ersonagens
do
sítio
e
as
pertencentes
ao
uni
v
ers
o das
fábulas
ac
o
ntec
e
por i
ni
c
ia
ti
v
a das
c
ria
nças
, q
ue se
des
locam
at
é
o
país
das
Fábulas.
Nesse
ambiente
,
a
realid
ade
fi
c
tí
c
ia
mesc
la-
s
e
ao
universo
das
próprias
narrativas
.
Nes
s
a
nar
ração
é
pe
rce
pt
ív
el
uma
histó
ria
totalmente nov
a que surgiu
do
s textos
de base.
Para
qu
e
tal
con
s
trução
s
eja
entendida
pelo
leitor,
a
paródia
e
x
ige
que
ele
c
onstrua
um
s
egu
ndo
sentido,
fazendo
us
o
de
i
n
ferências
sobre
afirmaçõ
e
s
su
p
erfici
ai
s
e
c
om
plemente
o
pr
im
eiro
plano
(a
hi
s
t
ória
lobat
iana),
c
om
co
n
hecimento e
rec
onhecimento de
um
contexto existe
n
te
ao f
un
do
(as fábulas
cl
á
ss
icas).
Com tal manejo o a
utor buscou
levar
às
crianças
o
conhec
imento
da
Trad
i
ção,
o
c
o
n
hecimento
do
acer
v
o
herdado
e
que
lhes
cabe
r
á
transfo
rm
a
r;
e
também
q
uestionar,
co
m
ela
s,
a
s
verdades
feitas, os
valores
e
n
ã
o
valores que
o T
e
mpo
cri
st
a
li
z
o
u e
q
u
e ca
be ao P
r
e
sente redescobrir
o
u renovar
(COELHO
,
1987, p 358).
Tal
qual u
m ourives
, o au
tor do Sítio d
o Picap
au Amarelo tr
abal
ha os
mitos,
a
pa
rti
r
de
outros
tex
to
s
,
sej
a
sob
a
form
a
de
r
e
sgata
r
per
s
ona
g
ens
,
si
tua
ç
ões,
mitos
e
outros
aspec
to
s,
ta
l
fa
tor
perm
i
te
que
ele
m
en
tos
de
out
ros
es
pa
ç
os e c
ultura
s
contracen
em
em uma nov
a narra
ti
v
a.
51
A
prática clássica de citar g
randes obras do pas
s
a
do vi
sa
v
a tomar de
empré
stimo
parte
de
seu
prestígio
e
aut
orid
a
de,
ma
s,
para
que
i
sso
ac
ontecesse,
partia
igual
m
e
n
te
do
princípio
d
e
qu
e
o
lei
tor
reconhece
r
ia
modelos
literários
in
t
er
iorizados
e
colabora
r
ia
no
co
mplem
e
ntar
do circuito
da
comunicaçã
o
– d
e
uma me
m
ó
r
i
a eru
d
ita
para outra
(HUTCHEON, 19
8
5, p. 118).
Textos
c
om
o
o
c
lássico
D
om Quixote de
l
a
M
an
ch
a,
d
e Migu
el
Cervantes
,
que
conseguem
l
iberta
r-
se
do
texto
d
e
f
undo
o
s
uficiente
para
cria
rem
um
te
xto
indep
en
d
ente
–
sugerem
q
ue
a
paró
dia,
c
omo
s
íntes
e,
poderia
ser
um
prot
ótipo
do
e
s
tá
gio
de
tr
an
s
i
ç
ão
ness
e
processo
d
e
de
s
en
v
olvime
n
to
das
form
as
literári
a
s.
Assim
,
Dom
Quixote
é
o
e
x
empl
o
que
a
p
onta
,
seg
undo
Foucau
lt
(1970,
apud
HUTCHEO
N,
1
985),
a
sepa
ra
ç
ão
en
tre
o
epistema
moderno
e
o
ren
a
sce
nti
s
ta
porq
ue o rom
anc
e paro
dia as novelas de c
a
vala
ria do Ren
a
sc
im
en
to, d
ando
-
lhe u
m
a
visão
m
o
dern
a.
Esse tip
o de paródia realizado por
Cer
v
ante
s é ret
om
a
do
por Lobato,
por
m
eio
de u
ma adaptaç
ão d
a obra e
spanhola, co
m
o
é notáv
el n
a reescr
ita de
Dom
Quixote
das
c
r
i
anç
a
s
(1936).
Ao
ret
om
a
r
o
cláss
i
c
o
da
literatura
uni
v
ersa
l,
o
a
utor
reconta
,
por
m
eio
da
narração
de
D
ona
Be
nta,
as
fam
os
as
ave
n
turas
do
c
a
v
al
eiro
andant
e - Do
m
Qu
ixo
te - e d
e s
eu fiel esc
udeiro -
Sancho Pança.
Na vers
ão
lobatiana
,
Em
ília
en
tusiasm
a
da
resolve
im
i
tar
o
h
e
rói,
e
d
e
po
is
d
e
r
ealizar
ati
t
udes
inc
onvenientes
ac
a
ba
s
end
o
apri
si
onada
p
or
tia
Nas
tácia
e
m
u
ma
ga
iola,
à
se
m
elhan
ça
d
o
h
er
ói
de
Cervantes,
vi
tim
ado
pela
lou
cu
ra.
Nessa
oco
rrência
destaca-s
e
a
p
a
ródi
a
a
o
t
exto
espanhol,
que
na
v
ersão
brasileira
r
et
oma
a
louc
ura
vivenc
iada
p
ela
per
s
onagem
,
Do
m
Quix
ote,
c
ujo
result
ad
o
é
a
morte,
e
Em
ília,
que
so
fre, c
omo
ca
stigo,
o c
árcer
e.
A
rec
lusão
d
a
Marques
a
de
Rabicó
aba
ndona
o
v
iés
trág
i
c
o
ad
o
tado
por
Ce
rvantes
e
é
retratada
c
om
e
xtrem
o
h
umor,
pec
ul
ia
r
idad
e
do
tex
to paródi
c
o, pois a boneca é apr
i
s
ion
a
da em uma gaiola d
e aves.
Portanto,
desde
o
títu
lo
percebem
-
se
as
i
n
tençõ
e
s
do
escri
t
or
de
Taubaté
em
aprox
imar
o
cláss
ico
d
os
leitores
infantis,
açã
o
concre
tiza
da
p
or
m
eio
da
adap
tação
e
essa,
por
sua
v
e
z
,
fazendo
u
so
da
paródia.
As
mudanç
as
e
nt
r
e
a
s
duas
obras s
ão
percebidas
d
e
sde
o
títu
lo, que
no
câ
none
l
iterár
io unive
rsal
é
co
n
stituí
do
p
el
a
locuç
ão
a
djeti
v
a
de
la
Manc
ha
,
elem
e
nto
de
i
nformação
n
o
tex
to
de
Cervantes
,
poi
s
a
ponta
a
s
o
rigens
da
pe
rs
onagem
.
N
a
v
e
rs
ão
brasileira,
a
co
n
str
u
ç
ão é
trocada p
elo
adjunto
a
d
nom
in
al
das c
r
i
anç
a
s
,
d
ei
xan
do c
lara s
ua
52
intenção de reescrita, ade
qu
a
ndo
o conteúdo ca
nôni
c
o de form
a
que o
pu
blico
infantil ta
m
b
ém pudess
e usufruir dessa
obra.
Nas
obr
a
s
d
o
s
éculo
XX,
é
perceptível
qu
e
ne
m
s
e
m
pre
o
tex
to
d
e
origem
é
o
alv
o
da
p
aródia,
p
oi
s
c
riticá-
l
o
não
é
o
foco
d
o
exemplo
c
itado.
Muitos
tex
to
s
parodiad
o
s
p
or
Lobato
s
ão
,
d
urante
o
process
o
de
res
gate,
hom
e
nag
eados
pelo a
utor
que os r
e
ss
u
s
ci
ta para o púb
lico. Ou
tra mudanç
a no enf
oque da pa
ródi
a é
o
fa
to
de
q
ue
nem
se
mpre
ela
c
onduz
à
ironia
da
obra
parodiada.
Dom
Qui
x
ot
e
de
Cervantes
ironiz
a os
r
om
a
nc
e
s
de cavala
ria, no enta
nto
,
a narrativa
lobatiana r
et
o
m
a
a
v
isão
já
pr
opagada
pelo
au
tor
espanho
l,
não
se
ndo
a
obra
de
Cerv
antes
a
lvo
da
ironia
de
Loba
to, pelo c
o
ntr
ário, a obra é co
n
stant
em
e
nte elogia
da:
-
Este
livro
–
dis
se
ela
–
é
um
d
os
mais
famosos
do
mu
n
d
o
inteiro.
Foi es
crit
o
pelo grande M
i
guel
C
ervantes
Saav
edra... (...)
E
sta
e
dição
foi
feita
em
Portugal
há
muitos
a
nos.
Nela
a
parece
a
obra
de
Ce
r
va
nt
e
s
tradu
zi
da
pe
l
o
famoso
Vi
sc
o
nde
de
Ca
stilho
e
pel
o Visc
o
nde de Az
evedo. (.
..)
-
O
Visc
onde
de
Cast
i
lho
foi
dos
maiores
esc
ri
t
ores
da
lí
n
gua
portugue
s
a.
É
considerado
um
dos
me
l
hores
cláss
i
cos,
i
s
t
o
é,
u
m
dos
que
esc
r
ev
er
a
m
em
e
stilo
mais
pe
r
fei
to
.
Quem
qui
ser
saber
o
portuguê
s
a fundo, deve lê-lo – e também Hercu
l
ano,
C
amilo e outro
s
(L
OBA
TO, 197
3 a, p. 10).
Elogios
à
parte,
Lo
bato
m
o
stra
em
seu
discurso
q
u
e
e
m
bor
a
a
o
bra
de
Cervan
t
es
deva
ser v
alorizada,
ela
é
m
ui
tas
ve
z
es
in
acessível,
de
v
ido
à
distân
c
ia
tem
po
ral,
g
eog
ráfica
e
lingüística.
A
ss
im
,
a
a
dapta
ç
ão,
permitida
p
or
me
io
da
paró
dia, rom
pe
as
ba
rre
ira
s
do tempo, dis
tância e lín
gua.
A
par
ódia
m
o
dern
a
nos
faz
v
er
a
existên
c
ia
d
e
m
ais
moti
v
os
par
a
ci
ta
r
d
o
que
as
definiçõ
es d
o g
ênero
e
s
tão
dispostas
a
c
o
ns
iderar.
Tanto
qu
e muitos
não
acredita
m
na
paród
ia
que
n
ã
o
ridiculariz
a
o
tex
to
d
e
origem
,
idéia
que
va
i
d
e
encon
tro a toda a tradição de pa
ródia.
Theodor Ver
wey
en (1
979) aponta dois t
ipos de paródia:
a p
rime
i
ra ser
ia aquela que se define graças a su
a
natureza cômica e
a
o
utr
a
esta
r
i
a li
gada
à a
c
entuação
da f
unção c
rít
i
ca.
Nos
do
i
s
casos
se
ressalta
o
c
o
nceito
de
ridíc
u
l
o
d
efin
i
do
com
o
subgênero
do
cô
mic
o
,
a
paródia
torna
o
seu
modelo
caricato:
esta
é
u
ma
tradição.
Mas
mes
mo
co
m
o
departamento
d
e
crí
t
ica
p
u
ra
a
paró
dia
e
x
erce
uma
f
unção
conserv
a
d
o
ra,
e
fá
-lo
at
ravés
do
ridículo,
mais
uma
ve
z
.
A
pa
ró
dia
também
age
como
crítica
art
í
stica
s
éria,
embora
sua
ac
util
ân
cia
cont
i
nue
a
ser
conseguida
at
r
av
és
do
ridículo.
Rec
o
nhecidamente,
c
o
mo
forma
d
e
crítica,
a
p
ar
ó
dia
tem
a
va
ntagem d
e
ser simulta
n
e
a
m
ente uma r
ec
riação
e uma cri
ação,
53
fazen
do
da
crít
i
ca
uma
es
pécie
de
e
x
p
loração
a
ctiva
da
forma.
Ao
co
ntr
á
rio
d
a
maior
parte
d
a
crít
i
ca,
a
pa
ródia
é
mais
sintéti
ca
que
analític
a
n
a sua t
r
an
scontext
u
alização econômica do material que lhe
se
rve de
f
undo (apud HUTCHEON, 1985, p.70).
A
defin
ição
d
e
Ver
w
e
y
e
n
enquad
ra-
s
e
em
dois
ex
emp
los
retirados
da
prod
ução d
e L
obato.
Dess
a maneira,
Lo
bato
de
i
x
a
transparec
e
r
a
nature
z
a
cô
m
ic
a
presente
n
o
tex
to
,
ao
res
g
ata
r
um
a
passagem
da
o
bra
O
Pi
c
apau
Am
ar
elo
(193
9)
em
que
Do
m
Quix
ote
m
onta
o
b
urr
o
Con
s
elh
eiro
a
o
in
v
és
de
s
eu
ca
va
lo
Roci
na
n
te e
pensa q
ue
o e
n
gano
ser
ia
obra de
um
feitic
eiro.
O
a
c
ontecim
en
to,
resgata
do s
ob
a
form
a
de
m
e
m
ó
ria,
é
bas
e
para
a
exemplificaç
ão
da
moral
de
u
m
a
das fá
bulas do li
v
ro de 19
2
2.
(...)
É
o
que
ai
n
d
a
acaba
acontecendo
p
ara
Emília.
Vai
dizendo
a
s
ve
rdades
m
ais
duras
na
car
a
de
toda
a
gen
te
e
um
dia
e
s
tr
epa-se.
Lemb
ra-
se
v
o
v
ó,
do
que
el
a
d
iss
e
pa
ra
D.
Quixote,
n
aquela
ve
z
e
m
que
o
h
er
ói
montou
no
C
o
nselheiro
p
or
engano
e
ao
perceber
i
sso
pôs
-se a
ins
u
ltar
o
no
sso
burro?
E
se
D.
Quixote
a
es
p
e
t
as
se
com
a
l
ança?
-
Emília
sabe
o
que f
az
–
o
bservou
D.
Benta.
A
esp
ert
e
za
chegou
ali
e
parou.
Ela
sabia
mui
t
o be
m que
o
c
avalheiro da
Mancha e
ra
i
ncapaz
d
e
ofender uma “dama” e por
iss
o
abusou...
E
m
í
li
a
rebolou
-s
e
toda
ao ouvi
r-se
classi
f
icada de d
ama.
.
. (L
OBATO,
1973 b, p. 22, aspas do autor).
O
tex
to
ci
tado c
onsiste
em
reto
m
ar
,
à
s
em
e
lhança
do
t
exto
cl
á
ss
i
c
o,
a
pers
o
na
gem
es
panhola,
enredos
e
s
itua
ç
ões,
e
m
uma
nov
a
aventura.
Mes
m
o
se
n
do
um tex
to
escrito
no
s
éc
u
lo
XX,
encarrega-s
e de
resgatar
a c
ultura c
lássica
de
m
o
do a pre
servá-l
a e propagá-la.
No
exe
m
p
lo
c
itado,
a
pa
ró
dia
está
c
ons
truída
no
resgate
feito
ao
se
reto
m
ar
a
p
erso
nagem
Do
m
Quixo
te,
inserind
o-
a
no
t
e
xt
o
infantil.
No
c
aso
aprese
ntado,
a
re
to
m
ada
do
c
lássico
ul
t
rapass
a
a
m
er
a
ada
pt
aç
ão
do
texto,
pois
oc
orre
a
c
onstrução
de
um
nov
o,
no
qual
s
e
reto
m
a
m
fato
s
e
personagens
em
um
no
v
o e
nredo.
Constata-s
e
,
e
ntão,
que
o
resgate
do
cânon
e,
propiciad
o
por
Monteiro
Lob
ato
em
se
us
textos,
é
fu
ndam
e
ntal
p
ara
a
circulação
d
e
infor
m
aç
ões
cu
ltu
r
ais. Assim, como afir
m
a
Lajolo, a
cultura:
(...)
so
brevive,
e
não
só
n
o
s
o
bj
e
tos
e
te
xt
o
s
que
nos
legou.
S
obre
v
ive
também
na
herança
cultural que
perm
e
ia
nosso
hoje
e,
de
forma talvez
mai
s
v
iva, n
a
s
sucessivas
re
-i
n
ter
p
retações
que s
eu
54
modo
de
vida
i
nspirou,
e
p
arece
c
onti
n
uar
inspir
a
n
d
o
(LAJOLO
,
2001, p. 50).
No ent
anto, o
re
sg
ate cul
tu
ra
l é
m
arc
ad
o
pelo humor,
como
m
os
tr
a o
trecho
destacado
de
Fábu
l
as
,
q
ue apresent
a
o
tex
to
c
anônico como uma
maneira
de
aproxi
m
aç
ão
com a
herança
do p
assad
o
,
a
part
ir
de
um proc
esso
de tra
nsferência
e
reorg
aniz
a
ção
d
ess
e passado.
O outro
tipo d
e paródia, se
gundo Verweyen (
apud HUTCHEON,
1985)
,
paró
dia
e
nquanto
c
rítica
ao
texto
par
odiado,
t
ambém
pode
s
er
observada
co
m
abundâ
n
c
ia
no
l
i
v
r
o
F
ábulas
.
No
e
ntanto,
ao
rec
ontar
as
fábula
s
,
o
autor
as
adapta
à
rea
li
dade
d
o
m
o
m
en
to,
si
tuação
que
ac
aba
por
c
riticar
o
c
ont
exto
e
as
idéias
pr
opagadas
pela
n
arrati
va
,
com
o
tam
bém
criticar
a
realidade
v
ivenc
iada.
A
crítica
ao
con
te
x
to
da
fábula
pode
aco
ntecer
de
d
uas
form
as
di
s
tintas:
c
rítica
ao
co
n
teú
do propriam
ent
e dito o
u reforç
o
da
c
rítica
propagada pelo texto.
O
pr
im
e
iro
c
a
so
pode
ser
veri
fi
c
a
do
na
r
e
esc
rit
a
da
fá
bula
A
rã
e
o
boi,
histó
ria
q
ue
n
arra
a
conv
ersa
e
ntre
uma
rã
e
u
m
a
sa
racu
ra, q
ue
to
m
a
v
am s
ol
à
beira
de
um
be
bed
ouro.
Com
a
apr
o
x
im
a
çã
o
d
e
um
bo
i,
a
rã
af
irma
pa
ra
a
interlocut
ora
qu
e
po
d
e
fic
ar
do
ta
m
an
ho
do
anim
a
l
qu
e
ob
ser
v
am
.
Ela
s
e
en
che
de
ar a
té estoura
r, o que fornec
e m
oti
v
o para a
m
o
ral,
pron
un
c
ia
da p
elo bo
i que
observ
a
v
a
a
cen
a:
“
-
Q
uem
nasce
para
dez
réis
não
chega
a
vintém
(L
OBATO,
1973 b
, p. 13).
A
cr
í
tica
é
feita
após
a
narração
da fá
bula
por
Dona
Benta,
por
m
e
io
da
co
ntestação
da
bo
n
eca Em
ília:
“
- Não conco
rdo
!
– berrou
Emília. E
u nasci
bonec
a
de
p
ano,
m
uda
e
fe
ia,
e
hoje
sou
at
é
e
x-marquesa
.
Subi
m
u
ito.
Ch
egu
ei
a
m
u
ito
mais
qu
e
vi
ntém
.
Chegue
i
a
tostão...”
(LOBATO,
1
973
b,
p.
1
3).
Nesse
c
a
s
o,
se
a
fábula
p
ropaga
o
confor
m
is
m
o
ao
su
gerir,
tanto
no
e
nredo
quanto
na
m
o
ralidad
e,
a
imposs
ibilidade
de
m
udan
ça
do
ind
i
v
íduo
,
L
ob
ato,
na
discussão
q
ue
sucede
a
c
ontação
nar
rati
v
a,
descons
t
ró
i
tal
i
déia,
por
m
e
io
da
contes
ta
ç
ão
aprese
ntada por Em
ília.
Na
fábu
la
O
ve
l
ho
,
o
men
ino
e
a
muli
nh
a
en
contr
a-se
a
c
ríti
ca
fe
ita
aos
co
s
tumes
da
época,
reforçando
os
questi
on
am
entos
le
v
ant
ados
na
nar
rati
v
a,
pois
neste
texto
pai
e
filh
o
colocam
-s
e
a
caminho
da
c
idade
co
m
a
intenç
ão
de
ve
n
de
r
um
a
nimal
de
s
ua
prop
riedade.
No
c
am
inho
ac
atam
os
c
omentários
dos
transeu
ntes
e
desc
ob
re
m
se
r
im
p
oss
í
v
el
ag
radar
ao
m
undo
,
decidindo,
a
part
ir
de
55
então,
seg
ui
r
os
pr
ó
prios
des
ejos
.
A
crítica
nesse
caso
é alcança
da com a
a
ceitaç
ã
o
da m
or
al do te
x
to, ref
orçada, com
o se pode ob
s
er
v
ar, no
diá
logo
q
ue segue
a
narraç
ão:
- Isto é bem certo – disse
Dona Benta. Quem
qu
er contentar o
mundo,
não
co
nten
t
a n
ingué
m.
Sobre
todas
as
coisa
s
há
s
e
m
p
re
opi
niões
contrá
r
i
as. Um ach
a
que é assim, outro a
c
ha que é assado.
- E c
om
o
e
ntão a gente deve
f
azer? – pe
r
guntou a menina.
- Devemos faz
e
r
o que nos par
e
c
e
mais cert
o
, mais
justo,
mais
co
nveni
en
t
e.
E
para
o
s
guiar
temos
a
nos
s
a
razão
e
a
no
ssa
co
nsc
iên
c
i
a. (
...) A
pr
i
meira
p
arte
d
u
m
ve
rs
o
de
Shakespeare:
“E
isto
ac
ima de tudo: s
ê
fiel a ti mesmo.
’
Bonito, n
ã
o
?
’ (
L
OBATO
,
1973 b, p.
16, aspa
s d
o
autor).
Para q
ue
o
tex
to
acima s
eja
en
tendido
com
o
pa
ródico
existe
a
necessidad
e
de
s
e
c
ompartilhar
o
s
có
digos
da
paródia.
Nesse
exemplo,
as
refe
rên
c
ias
são
m
ú
ltiplas
, p
ois
é
f
eit
o
o
resgate
da
fábula
cl
á
s
sica,
da
qual
é
acrescid
o
u
m
v
ers
o
de Shakespeare p
ar
a
ref
orço
da
moralidade da
fábula,
q
ue
serão c
om
pree
ndidos, caso o
leitor
c
onheça as
referências cita
d
as
.
A
pres
ença
do
recurs
o
paródico n
a ob
r
a
lobatian
a
influencia
sua
recepç
ão,
q
uestão
de
inter
e
ss
e
para
os
es
tudos
m
o
dern
os.
L
obato
r
etom
a
person
agen
s
e
s
ituações
qu
e
fazem
parte
do
conhec
im
ento
d
o
univ
erso
infantil
e
quando
não,
com
o
n
o
ca
so
d
os
e
lem
en
to
s
m
itoló
gicos
e
histór
icos,
o
autor
oferece
m
e
can
ism
os
para
q
ue
a
cri
an
ç
a
co
nstrua
senti
do
em
sua
leitu
ra.
I
s
so
porque
ele
co
lo
c
a,
n
a boc
a
da
s
person
agen
s,
as
ind
agações
que
as
c
rianças
po
deriam v
ir
a
ter
dura
nte o
m
o
mento
de l
eitura e por m
ei
o dos
e
s
cla
recim
e
ntos p
restados pelas
próp
ria
s
personagens o
c
onhe
c
im
ento é c
onstru
ído.
A
par
ódia
é
um
gêne
ro
s
ofi
s
ticad
o
nas
exigênc
ia
s
que
faz
aos
seus
prat
i
c
antes e
intérpretes. O n
arrador e,
depois
,
o
rec
eptor,
têm
de
efetuar um
a
so
b
rep
o
sição
estrutura
l
de
t
extos
qu
e
incorp
ore
o
antigo
no
novo
,
c
omo
é
percep
tível no exemplo a
s
eguir:
- Bem f
eito
!
– e
xcl
amou
Emí
lia. E
ssa raposa merece um doce
.
E
com
ce
rteza o tal lobo era
aquele que comeu a avó
d
e Capinha
Vermelha.
–
Boba!
A
quele
foi
m
o
rto
a
machadadas
pel
o
l
enhador
–
disse
Narizinho.
-
Eu
sei
–
tornou
Emília
–
m
as
na
s
his
t
órias
a
matança
n
u
nca
é
co
mpleta.
Nunca
o
morto
fica
bem
matado
–
e
vol
ta
a
s
i
outra
ve
z
.
V
ocê viu
no
caso
do
Capitão
Ganc
ho.
Q
u
a
n
t
as
vezes
P
eter
Pan
deu
ca
bo
dele?
E
o
Capitão
Gancho
continua
ca
d
a
vez
mai
s
gordo
e
ganchudo
(LOBATO,
1973 b
, p. 2
9
)
56
Exemplos
c
om
o
o
trec
ho
ret
i
r
ado
de
Fá
bulas
(
1922)
exigem
que
o
leitor
c
o
ns
trua
u
m
se
gundo
s
enti
d
o
,
p
or
m
ei
o
d
e
inferências
acerca
de
afirm
aç
ões
su
p
erfici
ai
s
e
complemente
o
pr
imeiro
plano
c
om
c
onhec
im
en
to
e
rec
onhecim
ento
de um con
te
x
to em
fund
o.
Assim
,
é
i
m
po
rtan
te
que
o
leito
r
c
ompree
nda
a
i
n
s
e
rção
de
elem
e
ntos
dos
c
lá
s
sicos
i
n
fantis, c
om
o
os
u
tiliz
ados
no
livr
o,
para
entender
seu
uso.
Dess
e
m
o
do,
Capinha
Ve
rm
el
ha,
ou
Chapeuzinho
Vermelho
como
é
m
ais
co
n
hecid
a,
Capitão
G
a
ncho
e
Peter
Pa
n
perm
i
tem
dois
avanç
o
s
:
ta
nto
o
resgate
do
cl
á
ss
ico q
uanto o apri
m
o
ra
m
ento
do ins
tr
um
ento de
escrit
a m
oder
na ao r
eescrev
e
r o
passado,
dando
-lhe
novo
c
ontexto e sentid
o.
Isso
ref
or
ç
a
a
h
ipóte
s
e
leva
n
tada
anteriorm
ent
e
de
qu
e
a
o
bra
lobatiana
r
e
presente
um
des
file
de
pe
rsonagens
do
c
ânone
literár
io,
sejam
de
origem
mi
tológ
ica,
cláss
i
ca
,
hi
s
tórica
ou
fol
clóri
ca,
resgatad
a
s,
m
ui
tas
v
ez
e
s,
p
e
lo
processo
da
paródia.
A
s
obras
loba
tia
nas
,
em
es
pecial
a
obra
anali
s
ada
pe
l
a
pesqu
i
s
a
em qu
es
tão,
Fáb
ul
as
, r
etom
a
fatos
e
person
a
gens.
No
e
ntanto,
essa
reto
m
ada
é
marcada
pe
la
d
ife
r
enç
a
pr
opiciada
pela
nov
a
pro
d
ução
.
Esse
e
xe
m
p
lo
dem
ons
tra
uma via
importante para que os artistas modernos cheguem a acordo
co
m
o
passado
–
através
da
reco
difi
cação
irônica,
ou,
segundo
o
meu b
i
z
a
rro
n
eologis
m
o
descrit
i
vo, “tr
ans
c
o
ntextualizem”
.
O
s
seus
antec
edentes histór
i
c
o
s sã
o as práticas clássicas
e
re
nasce
n
tistas da
i
mitaç
ã
o
,
se
bem
que
com
maior
ênfas
e
na
d
ifer
en
ç
a
e
na
distâ
n
cia
do
texto
o
r
i
ginal ou
conjunto
de convenções. Dado
que
defini
a
paródia
como
repetição
com
d
i
ferença
(HUT
CHEON,
1
985,
p.128,
as
pas da au
t
ora
).
A obra
F
ábulas
marc
a bem
a
rep
etiç
ã
o, mas c
om diferen
ça, uma v
ez
que
ao
retomar
as
personag
en
s
clássicas
o
autor
c
ri
a
um
a
nov
a
fábul
a,
marc
ando
a
diferenç
a na r
e
petição dos clássicos.
É
e
ss
en
c
ial
te
r
em
m
en
te
qu
e
qua
ndo
s
e
c
lassi
fi
c
a
um
tex
to
c
om
o
paró
dia,
se
p
o
st
ula
a
lgum
a
intenç
ão
c
odif
i
c
adora.
Todavia,
o
tex
to
p
ode
im
p
licar
o
que
lhe
ap
rouver, e
o le
itor
pode nã
o
apanhar, mes
m
o
as
sim, a
implic
ação.
Por
esta
razão,
talv
ez
s
eja
mais
v
erdade
iro
para
a
expe
riência
de
l
eitura
da
paró
dia
fal
a
r
do
co
dificador
inferido
e
do
p
rocesso
d
e c
odif
i
c
açã
o
.
Mas
essa
manobra
d
e
de
sv
io
não
is
ent
a
ain
da
d
e
te
r
de
tra
ta
r
d
o
pr
odutor
textual
da
paró
dia,
ainda
que
infe
rido
co
m
o
leitores.
57
A
paró
d
ia
é
u
m
a
das
técnicas
d
e
auto-ref
erenc
iali
d
a
d
e
po
r
m
eio
das
quai
s
a
a
rt
e
revela
a
sua
c
o
nsc
i
ência
da
natu
rez
a
d
o
sentido
como
dependente
d
o
contexto,
d
a
importância
da
signifi
c
a
ção
das
cir
cunst
ân
ci
as
que
rode
ia
m
q
ualquer
elocução.
M
a
s
qualquer
situa
ç
ã
o
discu
rs
iva
,
e
não
apenas
uma
situação
pa
ródica
,
inclui
u
m
emi
ss
o
r
enunciador
e
codifi
c
a
dor,
bem
co
mo
u
m
receptor
do
texto.
(...)
No
meio
d
e
u
m
de
stronar
geral
da
aut
oridade
p
el
a
des
centra
l
ização
de
t
udo,
de
s
d
e
o
cogito
tr
ansce
n
dente
à
e
conomia
e
a
os instintos
, a
paródia
mostra-
n
os q
u
e
há
ne
c
e
ssidade d
e volta
r a
olh
ar
p
ar
a
os
podere
s
interactivos
e
nvo
lvi
do
s
na
prod
u
ção
e
recep
ção de text
o
s (HUTCHEON, 1985, p.10
9
).
Dess
e
m
o
do,
a
par
ódia
é
freque
ntem
ente
un
ida
a
v
ozes
narrativas
m
a
nipuladora
s,
ab
ertam
en
te
dirigidas
a
u
m
rec
eptor
inscrito
,
ou
manobran
do
dis
fa
rç
ad
am
ente
o
leitor para
um
a p
os
ição
des
ej
a
da
,
a partir
d
a qu
a
l
o
s
entido
pret
endido
po
d
e
apare
c
er.
Na
obra
lobatiana
a
reco
nstrução
tex
tual
por
m
eio
da
paró
dia
é
ma
nipul
adora
na
m
e
dida
e
m
que
c
olabo
ra
na
desconstrução
d
e
c
on
c
eitos
m
o
rali
z
a
ntes
,
d
i
ss
em
inado
pel
as
na
rrativas
fabulares.
O
inte
re
ss
an
te
nesse
processo
é
qu
e
ess
a
autoconsci
ê
ncia,
quase
did
áti
c
a,
a
ce
rca
do
a
to
to
t
al
de
enunc
ia
ç
ão
(a
produção
e
r
e
c
epção
de
u
m
te
xto)
le
v
ou
ape
na
s
,
em
gran
de
parte
da
crítica co
rrente, à valoriz
aç
ão do leitor
.
Ao parodi
ar um
tex
to,
os
pr
o
dutor
e
s
devem press
upor tan
to um
co
njunto
de
códi
go
s
cu
lt
u
ral
e
lingüí
s
tic
o c
omum
,
co
m
o
a
fa
mi
liari
dade
do
leitor
co
m
o
tex
to
p
arodiado.
Ass
im,
o
le
itor
c
om
pree
nde
a
sig
nificação
literal
(n
ão
alusiv
a
ou
não
paródica)
da
quilo
q
ue
e
la
de
s
igna
por
indica
d
or
d
a
alusão,
reconhec
e
-o
,
então,
co
m
o
um
ec
o
de
uma
fon
te
passa
da
(intrat
e
xtual
ou
inte
rte
x
tual
),
apercebe-
s
e
d
e
que é n
ecessária a cons
t
ruç
ão e reco
rda
-s
e, ass
im
, de
as
pecto
s
da
com
pre
en
s
ão do
tex
to
-fo
nte
que
possam
de
pois
ser
rel
a
c
ionados
c
om
o
texto
al
u
s
i
vo
-
ou
paró
di
co
–
de m
odo a
co
m
pl
etar o s
entido do
indi
cador.
No
cas
o
do
leitor
em
for
mação,
que
gera
lm
ent
e
nã
o
t
em
co
n
hecimentos
acerca
do
texto
de
origem
,
L
obato
for
n
ec
e
e
lem
en
tos
úteis
par
a s
ua
recepç
ão,
por
meio
d
as
i
ndaga
ç
ões
feitas
p
elas
personagens,
poss
i
bi
litando
a
co
m
pre
ensão
d
e
s
uas
narrativas
a
p
a
r
tir
da
c
on
struç
ão
c
onjunta
de
s
ent
ido.
Isso
é
reflexo
de
modos
p
ós-modernis
ta
s
particulares
que
fazem
d
a
liter
atura
um
prod
uto
m
a
is
ec
lético,
igualit
ário
e
ac
e
ss
í
v
el.
Cont
u
do,
a
paródi
a
não
de
ixa
de
exi
gir
do
paro
di
s
ta
(re
al
e
in
ferido)
per
í
ci
a, s
aber,
ente
ndimento
c
rí
ti
c
o
so
bre
o
te
x
to
p
ara
q
u
e
se
esta
bele
ç
a
um
a
s
intoni
a
entr
e
l
eitor
e
t
e
xt
o,
pa
r
a
q
ue
o
pr
im
e
iro
desv
ende
as
intenções
c
ontida
s
no úl
tim
o e
ass
im
c
ons
iga chegar até se
u leit
or.
58
A
ap
resentação
do
c
onceito
de
paródia,
ness
e
c
apítu
l
o,
teve
por
objetivo
o
fere
c
er
ferr
am
enta
s
nece
ss
ária
s
par
a
o
entendimento
d
os
c
apítulos
se
g
uintes
, c
ujo
trajeto
ten
ta
rá
r
e
cons
tituir o
caminho
seg
uido
pelas
fá
bulas
no
decorr
er
de
s
ua
s
ubmis
s
ão
ao
tem
po
e
a
o
s
p
rocessos
de
adaptação
e
tradução
e
tam
bé
m
a anális
e do
corpus
,
c
ujo
intui
to
é acom
pa
nhar
a recepç
ã
o dos textos
fabula
res por crianças do p
rim
eiro
Cicl
o
do
Ens
ino Fundam
ental.
Assim
,
pa
rtindo-se
do
pr
incípio
de
qu
e
os
ins
t
r
um
ent
os
de
co
m
po
sição
do
text
o
podem
dizer
muito
s
obre
as
própri
a
s
narrati
v
as,
na
medida
em
que
têm
s
ua
p
arcela
de
partic
ipação
em
s
ua
c
onstit
ui
ç
ão,
a
trib
uindo
si
gnificado
ao
tex
to
em
s
i,
ac
om
panh
ar-se
-á,
de
m
a
neira
suc
inta,
a
traje
t
ória
d
a
s
vi
nte
e
dua
s
fábulas s
elecionadas pela profess
ora regente, para
a
ativ
idade de leitura e reescri
ta.
59
2 O CAM
I
NHO D
AS FÁBULAS
Fábulas assim
seriam um
começo d
a lit
e
ratura que nos fa
l
ta.
Montei
r
o Lobato
O
c
apítulo
anterior
est
e
v
e
pautado
na
preocupação
em
d
iscut
ir
o
s
m
e
can
ism
os
de
resgate
do
texto
li
terário.
Dess
e
modo,
tan
to
os
recurs
os
de
trad
u
çã
o
e
adaptação
q
uan
t
o
a
paródia
são
ins
trum
ento
s
que
tornam
pos
síveis
a
reto
m
ada d
e t
e
x
tos
j
á ex
i
s
tentes
e
p
erm
it
em seu
revive
r. Com
a
trad
u
çã
o e a
adaptaç
ão,
distâncias
hi
s
tóricas,
g
eográfi
c
as
e
l
ingüísticas s
ão s
uperad
a
s
,
en
quanto
que
a
paródi
a
torna
possível
o
ressurgimento
de
um
a
o
bra,
a
presentada
com
no
va
roup
ag
e
m
.
A
p
artir
d
a
teor
ia
d
i
scut
ida
anteriormente,
o
c
apítul
o
percorre
rá
o
ca
m
inho
das
fábulas, d
e
s
de os temas
e m
otiv
os
utilizado
s
por
Monteiro Lob
a
to
, ação
que
tem p
or
intento
obse
rvar
as
influencias
dos
tem
as
e
m
o
ti
v
os
literários
no
decorr
er do tem
po.
Assim
,
este
capítulo
forne
c
e
ferra
m
en
tas
p
ara
a
aná
lise
desenvolvi
da
n
o
próxim
o,
a
pa
rtir
de
duas
frentes:
a
teori
a
da
Estética
da
Recepç
ão
e
o
his
tórico
e
as
c
oncep
ç
ões
sob
re
o
gênero
fab
ular.
Ambas
a
s
discussões
s
e
pautam
na necess
idade d
e se
entender a
o
bra
de arte l
iterár
ia
como e
lem
ento
his
tó
r
ico
e
c
om
o
for
m
a
de
inter
pret
ar
histórias
de
leitura
que,
segundo
a
Es
tética
da
Rece
pção,
define
a
obra
lit
e
r
ária
c
omo
um
a
s
uc
essão
d
e
açõ
e
s
s
obre
o
entend
im
e
nto de
um
r
ece
pt
o
r.
2.1 Estét
ica da Recepção
A teori
a da
Estética d
a R
e
c
epção
foi
e
scolhida c
omo fu
ndam
en
taç
ão
teór
i
c
a
da
a
nálise
de
s
envolv
ida
n
a
dissertação
por
s
er
um
a
c
orrente
teórica
que
pri
v
ilegia
a
figura
do
leitor,
e
n
q
uanto
elemento
cen
tral
na
recepçã
o
de
um
tex
to
literári
o.
Portanto,
a
s
fá
bu
la
s
l
obatianas,
r
ee
sc
ritas
pelos
alunos
do
En
si
no
Fun
dam
ent
al, s
erão analisadas
à luz da Esté
t
ic
a da
Recep
ç
ão.
Es
s
a corren
te teórica
é
um
a
escol
a
d
e
teoria
liter
ár
ia,
iden
tificada
na
er
a
pós-e
s
tr
u
tura
lista
,
a
parti
r
d
os
finais
da
década
de
1
96
0,
em p
rim
eiro
lugar
n
a Ale
m
anha
e,
m
a
is
tarde, nos
Esta
do
s
Unidos e p
ossui co
m
o ban
deir
a a defesa
da soberania do l
eitor na
recepção
crítica da
obra de arte literária.
60
Na
o
rigem
,
foi
p
en
s
ada
p
or
u
m
gru
po
d
e
cr
ítico
s
qu
e
com
eç
ou
a
div
ulgar
as
suas
t
e
s
es
por
meio
de
re
v
istas.
Nesse
período,
Hans
Robert
J
auss
prof
eriu
em
1967
uma
p
alestr
a
n
a
Universidade
de
C
onstan
ç
a,
n
a
Alem
anha,
com
o
objetivo
d
e
reabilita
r
a
história
da
literatu
ra. E
m
s
eu
te
x
to
c
r
ítico
,
A
Histó
ri
a
L
i
te
rária
co
mo
Prov
ocação
à
Teoria
da
L
iteratura,
proc
u
rou
ultr
a
pass
ar
os
do
gm
as
marx
ista
s
e for
m
alis
tas qu
e não pri
v
ilegiam
o lei
tor no ato interpr
etativo do texto liter
á
rio.
A
di
sc
u
s
são
tom
a
f
orm
a
graç
as
à
disc
ordância
de
J
auss
que
n
ã
o
co
m
pa
rtilha
dos
ideár
i
os
das
escolas
id
ea
li
sta
ou
po
s
itiv
i
s
ta
para
a
co
nstru
çã
o
de
um
a
históri
a
li
terária
,
pois
essas
e
s
colas
i
g
nor
am
a
c
on
v
ergên
c
ia
entre
o
as
pe
cto
his
tó
r
ico
e
o
es
t
étic
o,
propi
c
iando,
com
is
so
,
um
vazio
entr
e
a
literatura
e
a
histó
ria.
Tal pos
tura é fo
c
o gerador do
p
rob
lem
a r
ec
lam
a
do por
Jaus
s
, pois segundo
o
teór
i
c
o,
se
d
estinava
excessiva
aten
ç
ão
às
obras
e
a
seus
autor
e
s
,
em
detr
im
e
nto
do terc
ei
ro
elem
e
nto do c
ircuito literário,
o
s
leitore
s
.
Partindo de
s
sas indaga
ções,
o pe
s
quisador
resgata
pr
e
ss
upostos
teór
i
c
os
c
om
os
qu
ai
s
aponta
para
métodos
d
e
e
nsino
ul
t
rapass
ados,
des
intere
ssa
ntes
e
de
c
ad
entes
e
propõe
q
ue
a
história
e
a
teoria
d
a
literatura
s
e
reún
am
e
leve
m
e
m
c
onta a
recepção
do tex
t
o
,
já
qu
e
se
m
av
aliar a
maneira c
omo o
tex
to
literá
rio
foi
lido
nada
s
e
sa
be
s
obre
o
s
motiv
os
de
s
ua
perm
a
nên
cia
entre
os
leitores.
Jauss
cri
ti
c
a
a
pos
t
ura
adotad
a p
elo
m
a
rxismo,
p
reocupa
do
e
m
identificar
a
p
osição
soc
ial
do
leit
or,
en
q
uanto
e
lem
en
to
da
estr
atificação
da
socie
dade,
e
a
d
o
forma
lismo
rus
so
,
onde
o
s
uje
ito
é
res
pon
s
áv
el
pe
la
p
ercepção,
alc
ançada p
or
mei
o
das
i
ndicações
pr
e
s
entes
no
p
róprio
texto
literário.
Assim
,
se
g
un
do
o
c
rític
o,
ta
nto
o
m
arx
ism
o
q
uanto
o
fo
rm
alis
m
o
igno
ram
“o
l
eitor
em
s
eu
papel
ge
nuíno,
impresci
nd
ível
ta
nto
para
o
c
onhecimento
es
tético
quan
t
o
para
o
his
tó
r
ico:
o papel
do
d
esti
natário
a
quem
,
prim
ord
ial
m
ente,
a obra
literá
ria
v
isa”
(JAUSS,
19
94,
p.
23).
J
auss
reclam
a
s
empre
o
st
atus
negligenc
i
ad
o
da
entida
d
e
respons
á
v
el pela ação da
leitu
ra
propriam
en
te dita:
o leitor.
As
d
uas
t
eo
rias,
marxismo
e
fo
rm
a
lis
m
o
,
s
ão
im
port
antes par
a
o
desenvolvi
m
en
to
da
lite
ra
tu
ra
co
m
o
ele
m
ent
o
hi
s
tóric
o,
e
m
b
ora
tenha
m
ignora
do
o
leitor e
nq
uant
o elem
ento
pa
rti
c
ipante do f
az
e
r literári
o.
A te
oria
da
E
s
tétic
a da
Recepç
ã
o
muda o
f
oco c
onhecido
até
então,
qu
e
destaca
v
a
ap
en
as
o
autor
e
a
o
bra
e
co
lo
c
a
o
leitor
c
omo
parte
importante
do processo
o que faz d’
A hi
s
t
óri
a
da literatura
como provocação à
Teoria
61
Literária
u
ma
reaç
ão
c
ontra
a
limi
taç
ão
da
so
bera
nia
do
leitor
na
estética
marx
i
s
ta.
Ness
a
c
orrente,
o
leitor
está
circ
un
sc
rito
d
e
acordo
co
m
a
pos
i
ç
ão
s
ocial
q
ue
se
lhe
deter
m
ina
e
as
questões
p
olí
t
icas
que
o
en
v
olvem.
Jauss
tam
bé
m
c
ritic
a
a
tirania
formalista, qu
e a
penas necessita do
leitor c
o
mo s
ujeito da p
erc
e
p
ç
ão,
pois enfatiza o
caráter
ar
tí
st
i
co
da
l
iteratura
c
om
o
c
am
inho
de
compree
nsão,
c
omo
é
v
er
ificáve
l
no
trecho
a seguir:
A
Est
é
t
ica
da
Recepção
a
presenta-se
c
o
mo
uma
teoria
em
q
u
e
a
i
nvest
iga
ç
ã
o
muda
de
foco:
do
texto
enquanto
estrutura
imutável, el
e
pas
sa
p
ara
o
leitor,
o
“Terceiro
E
st
ado
”,
conform
e
Jauss
o
de
s
i
gna,
se
guidamen
t
e
margin
a
l
izado,
poré
m não
menos
importante,
j
á q
ue
é
co
ndiç
ão
da
v
italidade
da
l
iteratura
enquanto
institui
ção
so
cia
l
(ZIL
BERMAN,
1
989, p. 10-11, a
spas da autora).
A
te
oria
d
a
r
e
ce
p
ção
de
s
taca
a
part
icipaçã
o
do
l
eitor
c
om
o
fi
gura
importante
na
tríade
li
terária,
c
uja
mudanç
a
de
foco
e
c
onseqüen
te
v
alorizaçã
o
do
leitor
c
onsistem
e
m
uma
aç
ão
de
car
áte
r
h
i
stóric
o,
im
pulsi
onado
pe
la
mudanç
a
do
próp
rio
s
ujeito
da
histó
ria.
A
defla
gração
d
a
teo
ria
es
tética
coin
c
ide
c
om
o
es
topi
m
revolucio
ná
ri
o,
qu
e
tev
e
nos
m
eios
est
ud
a
ntis
ca
m
p
o
fec
undo
para
as
disc
ussões.
Dess
e
m
o
do,
a
palestr
a
proferida
por
J
auss,
c
ujo
intui
to
de
“provocar”
r
eflexões
so
b
re
os
métodos
t
radicio
nais
e
desinteressantes
do
e
ns
i
no
da
hi
stória
d
a
literatur
a
te
v
e, no
s
eio univer
s
itá
rio,
o c
e
nári
o
frutífero
para a
p
ulverização de
denúncias
co
n
tra
o
tradicio
nalism
o
e,
p
rinc
ipalm
ent
e,
o
po
nto
d
e
partida
para
a
di
sc
u
s
são
de
prop
o
s
tas par
a a r
ea
v
aliação das abor
dagen
s
diss
em
inad
as até
o mom
ento
.
Discussão
a
tu
al, a
proposta
lan
ç
ad
a
por Ja
us
s
par
a uma Es
tética
da
Rece
pção
da
o
bra
de
a
rte
pretend
e
ultrapa
s
sar
o
m
er
o
e
stud
o
da
s
condições
de
prod
u
ç
ão
d
e um
a
obra
literária e de
s
eu autor, poi
s
,
se
olhar
a
Hi
stória
da
lit
er
a
tur
a
no
horizonte
do
diálogo
entre
obra
e
públi
c
o
,
diá
l
ogo
responsá
v
el
pela
cons
t
rução
de
u
ma
continuidade,
dei
xará
de
existir
uma
opo
s
i
ç
ã
o
entre
a
spect
o
s h
istóricos
e
a
spect
os
es
tétic
o
s,
e
pode
rá
res
t
abelecer-se
a
l
igação
ent
r
e
as
obras
do
pas
sado
e
a
ex
p
e
r
i
ência
l
iterária
de
hoje
que
o
h
istoricism
o
rom
peu
(JAUSS
, 1994, p.
5
7-58).
Os críticos d
a
esc
ola con
c
or
dam
que,
na figura do leitor, está a
deter
m
inaç
ão
do
sen
tido de um texto, ao c
o
ntrári
o d
a organização
c
ro
nológica do
62
câ
n
on
e, que tom
a
o text
o com
o
u
m
a entid
ade que recolhe j
á na
s
ua natur
ez
a
o seu
próp
rio sentido, deixando p
ara o leitor crítico a tarefa de
identifi
c
á-lo.
Partindo
d
e
tal
p
ressu
p
o
s
i
ç
ão,
J
auss
d
efende
que
qualquer
obra
de
arte
l
ite
r
ár
ia
s
ó
será
efetiva
ou
c
oncret
iz
a
da
qu
ando
o
leitor
a
legitim
ar
com
o
tal,
relegan
do p
ara
plano s
ec
undário
o
trabalho
do
au
tor
e
o
pró
p
rio
texto cr
iado.
Assi
m
,
por
m
eio
do
pro
cesso
de l
eitura
ou
dos
mecani
smos
e
ativi
da
des
que
ela
agre
g
a,
se
desenvolve
uma im
por
tante v
eia de recepção do te
xto literário e,
conseqüente
m
en
te,
de compreens
ão da literatura e da h
i
st
ória na qual está
in
serid
a.
Para
isso
,
é
necess
á
rio
de
sc
obrir
q
ual
o
“
horiz
o
nte
de
ex
pecta
tivas”
que envol
v
e essa
obra, poi
s todos
o
s
l
eitore
s investem
certas expectativas
nos
tex
to
s
que
lêem
em
v
irtude
de
estarem
c
ondicionados
p
or
outr
a
s
l
eitura
s
já
realizadas
,
sob
retudo se pertence
rem
ao m
es
m
o
gênero
literár
io.
Isso
ocorre
porque
J
au
ss
v
ê
a
hi
s
tória
da
lite
ratura
com
o
u
m
processo
q
ue
en
v
olv
e
a
r
e
c
epção
e
a
produção
es
tética
na
a
tua
liz
aç
ão
dos
textos.
Assim, s
ão
im
p
res
c
indí
v
eis
as
fi
gu
r
as
do
leitor
, r
eceptor d
o p
roduto l
iterário,
o
escritor
, pr
odutor li
terário,
e do
crít
i
co,
encarregado
d
a ref
le
x
ão d
e
s
encadeada so
bre
o m
ate
rial esc
rito.
Para
de
fe
n
der
e
l
e
gitimar
o
pape
l
do
lei
t
or
,
Jaus
s
(
1994)
apresenta,
na
teoria d
iscutida
e
m
su
a
p
alest
ra
,
s
et
e
t
es
es,
na
s
quais
o
p
e
squisad
or
busca
fundamentar
e
reescr
e
v
er
a
hi
s
tória
da
liter
a
tura,
a
pre
s
entand
o
nas
quatro
prim
eiras
as
d
iretriz
e
s
teóricas
fu
ndam
en
tais
pa
r
a
o
desen
v
ol
v
im
en
to
m
e
todo
lógico
d
as
três
últi
m
as
.
Com
i
sso,
o
pr
o
cesso
de
fundam
e
ntaçã
o
histórica
deveria
deixar
a
mera
ex
po
s
ição de
fatos
cro
nológi
cos
e
acom
pan
har um
a estéti
c
a
que
pr
ivilegiasse
a
recepç
ão
e
o
efeito
e
assim
favorecer
a
experim
en
taç
ão,
d
e
m
anei
ra
dinâm
ica
,
do
tex
to literário pelo
s
eu leitor.
Na
primeira
tes
e,
o
auto
r
apresen
ta
a
preocu
paç
ão
com
a
rec
epç
ão
pautad
a
no
pr
incípio
de
que
a
obra
não
é
um
s
er
ate
m
p
oral,
s
endo
u
m
r
eflex
o
d
e
ca
d
a
époc
a
em
s
eus
obser
v
ador
e
s
,
pois
“ela
é,
ante
s
,
com
o
u
m
a
par
titura
volta
da
para
a
re
ss
on
ân
c
ia
s
em
pre
ren
ovada
da
leitura,
l
ibertando
o
te
x
to
da
matér
ia
das
palavr
a
s
e conferindo-lhe existênci
a a
t
ual” (J
AUSS, 1
994, p.
25).
Como
s
e
v
ê,
o
autor
pr
opõe
a
f
uga
da
m
e
ra
caracterização
de
u
m
deter
m
inad
o p
eríodo
literário
para se
buscar
a rel
a
ç
ão cons
truída entr
e leitor
e
texto,
aç
ão
que
permiti
ria
a
c
ons
titui
ç
ão
hist
ór
i
c
a
da
lite
ratura
p
o
r
meio
da
re
c
epção
e
efeito
do te
xt
o literário.
63
A
c
on
s
tan
t
e
atualiz
a
ção
da
ob
r
a,
p
ermitida
c
om
o
c
ontat
o
com
os
leitores
n
o
dec
or
rer
do
tem
po
é,
s
egundo
Zilberman,
prova
de
q
ue
ela
e
s
tá
viva.
Portanto,
a
autora
des
t
aca
qu
e,
co
m
o
“as
leituras
d
iferem
a
ca
da
época
,
a
o
bra
m
o
stra
-se
mutáve
l,
c
ontrária
à
s
ua
fi
xação
num
a
es
s
ência
se
m
p
re
igual
e
alh
eia
ao
tem
po
” (ZILBERMAN, 1989, p
.33).
O cará
ter de aco
nte
c
im
ent
o que
fund
ame
nta
a primeira tes
e de
Ja
u
ss
é
essencial
para
a
atualização
d
o
c
on
t
eúdo
lite
rári
o,
procedim
ento
realizado
pelo leito
r, entidade subje
ti
v
a e variável d
e acordo com su
a e
xpe
riênci
a
de vida.
Exemplo
diss
o
é
a
própr
i
a
obra
lobatiana,
fonte
de
an
áli
se
da
presen
te diss
ertação,
que
re
c
ebeu
d
ifer
entes
r
ecepções
n
o
decorrer
de
s
ua
histó
ria.
Textos
d
o
autor
f
o
ram,
em
s
ua
public
ação,
o
ra
adorados
e
ora
repudiados
pela
s
ins
tâ
nc
ias
de
qua
lifi
caçã
o
literária
c
om
o
crít
ic
os
e
ó
rgãos
governam
e
ntais
,
qualificaçã
o realizada tam
bé
m
por l
eitores com
u
ns.
Algumas
o
bras
c
onhec
eram
a
g
lória
ins
tantânea
,
c
he
g
an
do
a
s
e
r
adotad
as
c
omo
m
a
terial
d
idático
em
es
c
olas
pú
blicas,
c
omo
é
o
c
as
o
de
A
menina
do
na
rizi
nh
o
arrebitad
o
,
publi
c
ada
e
m
19
20,
e
qu
e
inicia
u
m
a
s
érie
de
pequenos
livr
o
s
edi
t
ados
ao
longo
da
dé
c
ada
,
enfeixados
com
u
m
a
n
o
v
a
fe
i
ç
ão,
ti
veram
,
a
início
, uma
recepçã
o mui
t
o po
sit
i
v
a, valorização
que levo
u a adoç
ão das
obra
s
co
m
o
livr
o
s
didáticos
.
Peter
Pan
(1930),
texto
a
daptad
o
do
esc
ritor
i
nglês
J
ohn
Barr
i
e
em
1930,
c
onheceu
em
s
eu
l
anç
am
ento
o
lad
o
avesso
da
g
lória,
pois
acabou
ce
n
sur
ad
o
,
recolhido
nas
instituições
de e
n
sino
e,
posteriormente,
d
e
s
truído. O
te
x
to
em
que
stã
o
é
prova
da
instabilidade
da
recepç
ã
o
literária,
um
a
v
e
z
que
a
obra
q
u
e
fora
o
utrora
c
ondenada
r
e
c
ebeu,
temp
os
dep
ois
,
avalia
çã
o
pos
itiva,
v
in
do
a
desfrut
ar do prestíg
i
o
que a
s
demais obras do aut
or pos
s
uem na atualidad
e.
Observando
a
trajetóri
a
recepcional
da
obra de
Monteir
o Lo
b
ato
, fica
e
v
idente
a
atualizaç
ão
p
erm
iti
da
pelo
t
em
po,
p
oss
ibilitada
pela
r
elação
entre
ob
ra
e
leitor,
transcendendo
aos
eve
ntos
literários
d
elim
itado
s
p
ela
ca
ra
c
ter
ização
siste
m
at
izada.
Jauss
m
uda
o fo
c
o de
análise que se
encontrav
a
estagna
d
a no
padr
ão
fech
ado
de
esquem
a
tizaçã
o
em
período
s
li
terários,
a
pontando
pa
ra
o
le
ito
r
co
m
o
ent
idade
p
e
rti
nente p
ara a
a
tualização
do
tex
to
literário. A
literatu
ra n
ão
poder
ia,
s
egundo
ele,
e
s
tar
s
ujei
ta
a
uma
qualificação
inflexí
v
el,
uma
v
ez
que
o
su
jeito
que
a
re
c
ons
trói
c
ont
in
u
amente
não
é
im
u
táv
el.
No
entanto,
m
es
m
o
co
m
64
quar
enta an
o
s
de d
i
sc
u
ss
ão,
a
literatur
a e s
ua
his
tó
r
ia
ainda
sã
o v
i
s
tas,
ens
inadas e
apre
ndida
s
c
om
o
u
m
c
irc
uit
o
cíc
li
co,
n
o
qual
o
indivíduo
re
sp
onsável
p
elo
proce
sso
de r
e
ce
p
ção,
o leitor, é tido co
m
o s
er uno
e
estável.
A
his
t
ória
da
obra
lob
atiana
é
um
exe
m
p
lo
c
l
aro
e
per
tinente
de
q
ue
a
histór
i
a
recepci
onal
depend
e
de
diversos
fatores
e
pode
s
er
mantida
ou
reescr
ita
pelos
leitores,
respons
á
ve
i
s
pela
manutenção
e
/ou
atu
aliz
aç
ão
d
o
objeto
literá
rio,
co
m
o
será disc
utido na análise a ser desenvol
v
ida.
A s
egund
a tese
busca
de
s
crev
er
a r
e
c
ep
ção
e
o
efei
to d
e
um
a
o
bra,
a
pa
rti
r
da
experiência
do
l
eitor.
Ele
parte
de
disc
us
s
ões
de
estudiosos
como
W
ell
ek
e
Ric
hards
so
bre
a
te
oria
que
apontav
a
para
a
im
pos
s
ibilida
de
de
um
a
a
nális
e
do
efeito
obter
significaçã
o
necessária
s
obre
um
a
ob
ra
literária,
a
legando
ser
impossível
re
aliz
ar
,
por
m
eio
de
m
étod
os
em
p
íric
os,
a
d
e
ter
m
inaç
ão
de
um
es
tado
de consc
iência,
s
eja
ele indi
v
idual ou coletivo.
Para
W
ellek,
o
est
ado
de
c
onsciên
c
ia
ind
i
v
idual,
d
e
car
áter
pessoal,
é
peculiarmente
m
o
m
ent
âne
o
e
ass
im
de
d
ifíc
il
registro,
um
a
vez
q
ue
aprese
nta
perf
il
instáve
l,
a
o
c
ontrário
do
c
ole
ti
v
o,
v
i
st
o
por
Mukarovs
ky
(a
pud
J
auss,
1994,
p.
27) como ideolog
ia coletiva.
Esta
úl
tim
a
func
ionaria
co
m
o
um
sis
tem
a
de
no
rm
a
s
que
existi
ri
a,
para
ca
da obra lit
erária, na qu
alidade de
langue
, e
que se
ria atua
liza
do
pelo receptor
co
m
o
p
arole
–
quadr
o
c
om
po
sto
de
m
aneira
i
m
p
erfeita
e
j
am
a
is
em
s
ua
to
talidade.
Essa
te
oria, e
m
bo
ra
li
m
ite
o
s
ubjetiv
i
s
m
o
do
efeito,
apr
e
s
enta
um co
njunto
de
normas
nas
quais
se
pode a
nali
s
ar o
sup
osto
ef
eito
que de
te
rminada o
bra
caus
a e
m
deter
m
inad
o públ
i
c
o.
Jauss
d
esta
ca
que
at
é
um
a
ob
ra
desco
nhecida
encontr
a
no
leitor
um
a
ga
m
a
de
co
nh
eci
m
entos
pr
é
vi
o
s
que
ten
dem
a
d
irec
ioná-lo,
pro
c
esso
denominado
de
s
istema
históric
o
de
referência
por
s
ua
pecul
iaridade
de
induzir
o
processo
de leitura.
Isso
a
c
ontece
porque
m
es
m
o
um
nov
o
texto
n
ão
rep
resenta
u
m
a
no
v
idade
ab
s
oluta
n
um
esp
aço
va
z
i
o,
mas
s
i
m
um
pro
duto
que
por
m
eio
de
“avisos,
si
nais
v
isíveis
e
i
n
visív
eis,
t
raços
fam
iliares
ou
indicaç
ões
im
pl
ícit
a
s
,
predisp
õ
e
s
eu
público
para
recebê-la
de
maneira
b
a
stante
def
inida”
(JAUSS,
199
4,
p.
28)
.
A
o
b
ra,
ainda que
descon
he
c
ida, le
va o l
e
it
or a resgatar,
por m
eio de lem
b
ranç
as,
s
ua
bagage
m
d
e
le
ituras
,
indu
z
indo
-o
a
alcanç
ar
a
s
ignificaç
ã
o
de
d
eterm
inado
univ
erso
65
em
oci
onal.
Tal
po
ss
ibilidad
e
p
ermi
te
a
m
a
terialização
de
um
horizonte,
d
efinido
por
Ja
u
ss como horizonte ger
al d
e
c
om
p
reensã
o.
Apontar
qu
e
o
b
ras,
d
e
sc
onhe
c
idas,
trazem
c
onsigo
u
m
p
oss
í
v
el
repe
rtório
int
e
rpretativo
ou,
com
o
d
eno
m
ina
J
auss,
s
ist
em
a
his
tórico
de
referência,
tam
bé
m
apr
esenta
exceções.
Ex
empl
o
disso,
co
m
o
mos
tra
o
próprio
teórico,
tem
-s
e
Dom
Qui
x
ote
de
Cerv
antes,
q
ue r
esu
lta
d
o
dos
c
lássicos
de
c
avalaria,
qu
ebra
com
a
ex
pe
c
tativa
do
l
eitor
ao
paro
di
a
r,
de
for
ma
irônica,
o
con
texto
d
os
popula
res
romances
.
Essa
ocorrência
é
perceptível
tam
bé
m
e
m
M
ont
eiro Lob
ato, devido
a
preocu
pa
ç
ão
c
onstante
do
autor
em
re
tomar
elem
ento
s
da
c
ul
tu
r
a
c
lá
ss
ica
e
m
s
ua
próp
ria
ob
ra.
No
e
ntanto,
assim
c
om
o
Cerv
antes
qu
ebra
as
expecta
ti
v
as
de
seu
leitor a
o renovar seu
te
x
to, o autor
do sí
tio do Picapau
Am
a
relo, ao
revisitar os t
e
xt
os
cl
á
ss
icos
,
resgata
o
c
ânone
literário
e
a
crescenta
val
o
res
m
o
derno
s,
pr
o
m
ov
endo
co
m
e
sse r
e
c
u
rso o
deb
ate entre o c
ânone e a possi
bilidade de ru
p
tura
que pro
m
ov
e
o
s
urgimento
do
novo
:
o m
o
dern
o, ta
nt
o na
s inovações ideológicas quanto nas
es
téti
c
as.
Não
s
e
pode
ig
norar
que
,
ao
inovar,
Lo
bato
quebra,
p
o
r
m
e
io
do
deb
ate
susc
ita
do com
a
s
persona
gens, a
s
expecta
tiv
as do l
ei
tor
e o
faz abandonar a
s
refe
rên
c
ias id
eológicas, estéticas e cult
urais a
que
e
s
tá pr
e
so
.
Em
L
obat
o, te
m
-s
e u
m
hor
iz
ont
e de
e
x
pectativas
que s
e apres
e
nta a
part
ir do
universo cul
tural
de
que
o au
tor
lança
mão
para
a
co
nstitu
i
ç
ão d
e
sua o
bra.
Com
o
d
es
taca
a
teoria
da
E
s
tética
da
Recepção
,
a
re
ferência
histórica
r
etom
ada
para
a
rec
e
pç
ão
do
texto
não
ate
nde
e
m
c
om
p
letude
,
po
is
a
retom
ad
a
lo
batiana
dá
um
nov
o
s
entido
às
referênc
ias
ut
il
izadas.
Entre
tanto,
o
r
esg
at
e
f
eito
pel
o
leitor
n
ão
é
um
tr
abalho
e
m
v
ão,
uma
v
e
z
que
ele
p
repara
o
processo
de
leitura,
dando-lhe
elem
e
ntos
que
agem
po
si
ti
v
am
e
nte
e
m
s
ua
rea
liz
aç
ão,
acresc
entando
inf
o
r
m
a
çõ
e
s
que
p
od
e
m
ser
d
i
sc
u
tidas
pelo
s
im
pl
es
c
ont
raste
,
de
m
o
do
a
pro
m
ov
er
poss
í
veis
diálogos
entre as referências h
i
s
tóri
c
as e o nov
o te
x
to.
Em
o
bras
em q
ue o
pe
rfil
his
tórico
aparece
de
maneira
me
n
os
e
v
idente,
tam
b
ém
é
poss
ível
a
ocorrê
n
c
ia
de
ob
jetivação
d
o
h
orizonte
de
ex
pe
c
tativas, que
acontece de
v
ido a três
fa
tores:
E
m
pri
m
eiro
lugar, a partir de norm
a
s c
o
nhecidas ou d
a
p
o
é
t
ica
i
manente
do
g
êner
o
;
em
segundo,
da
re
laç
ã
o
im
pl
íci
t
a
c
o
m
obras
co
nheci
da
s
d
o c
ontexto
hi
s
tó
rico-literário;
e
, e
m
t
erceiro
luga
r,
da
oposição
e
ntr
e
f
icção
e
realidade,
e
ntre
f
unção
p
oética
e
a
função
prátic
a
da
linguagem,
o
p
osição
es
ta
q
u
e,
para
o
leitor
q
u
e
reflete,
66
faz-se
semp
re
presente durante a
l
eitura, como
possibilidade de
co
mpar
ação.
Esse
terceiro fator
in
c
lui
ainda a
po
ss
ibilidade
de o
l
eitor perceber uma nova
obra
tanto a partir do
horizonte mai
s restr
i
to
de
sua
exp
e
ctativa
li
terári
a
,
quanto
do
horizonte
mai
s
a
mplo
de
sua
ex
periênci
a
d
e
vida (JAUSS, 1994, p. 2
9
-30).
Portanto, alé
m
do
perfi
l
h
istórico, outras car
a
ct
erí
s
ticas,
segun
do
Ja
u
ss,
p
odem
d
elinea
r
o
ho
rizonte
de
exp
ectativas
,
c
onh
e
ci
m
e
ntos
esses
que
podem es
tar n
o interior
do
saber p
ré
v
io do
indivíd
uo, resulta
do
da ex
pe
riênc
ia
literári
a e/ou
d
e v
ida
de c
ada se
r
hum
an
o, o
u
ainda
s
er
fruto
da
própria o
bra,
que s
e
encarr
ega
d
e
de
i
x
ar
pi
s
tas
para
serem
u
tiliza
da
s
n
o
processo
d
e
c
om
pr
eens
ão
e
que
ser
v
em
de
or
ienta
ção,
m
a
s
que
podem
s
er,
s
egundo
J
auss
(
1994),
alteradas,
corr
igida
s
, transform
a
das
ou apenas reprod
uz
i
das
pe
lo leit
o
r
.
A
terceira
te
s
e
é
v
oltada
pa
ra
a
reco
nstrução
do
ho
riz
o
nte
de
ex
pe
c
tativas
que
acontece
p
o
r
m
ei
o
do
confronto
entre
as
diferenças
levantadas
na
co
m
pre
ensão
passada
de
uma o
bra
liter
ária e
a
compreens
ão
pre
s
ente,
ou
se
ja,
é a
m
e
dida
ent
re
os
efeitos
prov
o
cad
o
s
pe
lo
texto
n
o
m
o
m
e
nto
de
s
ua
a
parição
e
os
efeitos
prov
ocados
depois
de
um
i
nterv
alo
de
t
em
po,
aç
ão
q
ue
c
ar
a
c
teriza
o
efeito
de uma obra em deter
minado púb
li
c
o.
Outra idéia que
s
ur
g
e a
p
a
rtir
da
conv
ergência
e
ntre
pass
ado
e
presen
te
é
a
de
di
s
tânci
a
es
téti
c
a,
situação
em
que
oc
orre
o
interm
édio
e
ntre
o
horizonte
d
e
e
x
pectativas
preex
i
s
tente
e
a
apariç
ão
de
u
m
a
n
ova
obra.
A
r
e
c
epção
dessa
obra
pode
acarre
ta
r
a
negação
dessas
ex
pe
c
tativas
constr
u
íd
a
s
ou
abrir
p
ara
a
co
nstitui
çã
o
de
n
ovas
po
s
si
bilidade
s
,
aç
ão
q
ue
pr
om
ov
e
a
m
ud
anç
a
do
horiz
o
nte
de exp
e
c
tati
v
as pri
m
e
iro.
Portanto,
a
r
elaç
ã
o
p
rimeira
d
a
obra
com
seu
púb
li
c
o
é,
segundo
Ja
u
ss, u
m
i
m
p
ortan
te determinante
de seu
v
al
or
e
s
tético.
I
ss
o porque
a dist
â
nci
a
entre
o
hori
zon
t
e
de
expectati
v
a
e
a
ob
r
a,
entre
o
já
co
nheci
do
da
estétic
a
anteri
or
e
a
‘mudança
de
horizonte’
e
x
i
gida
pel
a
a
c
olhi
da
à
n
ova
o
bra,
de
t
e
rm
i
na,
do
pont
o
de
vista
da
estética
da
rec
e
pção,
o
caráter
a
rtíst
i
c
o
de
uma
o
bra
li
ter
ária
(JAUSS,
1994,
p. 31, aspa
s
do autor).
Conforme oco
rre a diminuição
da
distância
entre
o horizonte
de
ex
pe
c
tativa
e
a
obra,
e
s
sa
última
per
de
s
e
u
v
alor
l
iterário.
Qu
a
ndo
o
te
x
to
literário
não
alcanç
a
mudanç
as
no
ho
riz
o
nte
de
ex
pectativas
de
se
u
l
e
itor
e
atende
67
si
m
ples
m
e
nte
às
questões
d
e
gos
to,
d
ei
x
a-
s
e
de
v
i
s
lum
brar
o
h
o
rizonte
de
ex
pe
c
tativas, por tra
ta
r-s
e, ne
s
se c
a
s
o, de um
a obr
a ligei
ra e sem v
alor estético.
Ao
c
ontrário,
se
é
pos
s
ível
a
v
ali
a
r
o
caráter
ar
tístico
de
um
a
o
bra
pela di
s
tância
es
tética
que
se opõe à
expectativa de
s
e
u
p
úblico
in
ic
ial
e e
s
sa
ex
pe
ri
m
entaç
ão
m
uda
r
para
públicos
pos
te
riores,
c
hega-s
e
a
um
a
obra-prima,
de
caráter
artístico indiscutív
el.
Tem-se,
n
esse
cas
o,
um
ele
m
en
to
per
ig
o
so,
pois
perante
u
m
m
a
terial literário
r
enomado
é difí
ci
l,
e
m
divers
as
situações, fugir
dos m
oldes
de
leitura
at
ri
buídos no decorrer
do
t
em
p
o e
v
oltar a vislumbrar seu
c
aráter artís
ti
c
o.
Ao
discutir
a
r
e
la
ç
ão
en
tre
li
te
ratura
e
público,
Jauss
af
irm
a
que,
para
s
olu
c
ion
ar
os
q
u
estio
nam
en
tos
q
ue
envo
l
v
em
ess
a
problemática,
n
ão
adia
nt
a
que
os
ícones
formador
e
s
,
au
to
r,
obr
a
e
p
úblico,
possuam c
aract
erística
s
f
il
o
sófi
cas,
his
tó
r
icas e
sociológicas similares
, poi
s
a ar
te literá
ria não é uma produ
ção instáve
l e
imutável
.
Mesm
o
te
xtos
qu
e, e
m
s
eu
surgi
m
e
nto
não
se
a
pro
x
im
a
m
de
s
eus
leitores
de
modo
a
dialogar
com
seus
horizontes
de
exp
e
ct
ati
v
a
s,
têm
a
formação
de
s
eu
público a
o
s
poucos constituída
.
Como
já
c
ita
do
anterior
m
ente,
Pete
r
Pan
(
19
30
)
de
L
obato
pertence
a c
lasse das
obras
que s
ofrem
modif
icação e
m
s
eu proc
e
ss
o de
rec
ep
ç
ão no
decorr
er
do
te
m
p
o.
Lo
go
em
s
eu
la
n
ça
m
e
nto
foi,
p
or
uma
parce
la
d
a
cl
a
ss
e
c
rítica,
ce
n
sur
ad
o
,
r
e
c
ebendo
en
t
re s
eus
leitores
um
tris
te
fim:
troc
ado
por
notas
esco
la
r
es,
ac
ab
o
u
alim
en
tando
fogueiras.
Pas
s
ado
o
pe
ríod
o
d
e
repressão,
o
tex
to
recebeu
um
a
nov
a
a
co
lhida
entre
a c
ríti
c
a,
t
anto
que se
u au
tor
é
figura
reconhecid
a no
Bra
s
il
e
no
e
xt
erior,
tornando-se
cânone
literário
na
lite
ratura
adu
lt
a
e
infantil.
A
s
hi
s
tó
ri
a
s
do
ciclo
do Picap
au A
m
are
lo
foram e
aind
a s
ão u
m
a
r
efer
ênc
i
a
da
litera
tura
na
c
io
n
al
e um
i
mportan
te divisor de
ág
u
as na história
d
a
literatura i
nf
an
til bras
ilei
r
a.
Com
iss
o, nota-se que a hi
stória literár
ia
e os instr
um
ento
s que
aux
iliam
sua
escritura
s
ão
elementos
que
sofre
m
inf
luênci
a
do
meio,
ou
s
eja,
do
público
leitor, seja e
le adulto ou
infantil. Voz
es
outr
ora
,
com
o pa
rte d
a
c
rítica
co
n
temporâne
a
a
Loba
to
e
i
n
s
tân
c
ias
educ
acionais,
c
ondenara
m
a
a
daptação
lobatiana
que,
na
v
oz
d
e
Dona
Benta,
tornou
a
c
essível
,
par
a
as
personagens
do
Sítio e a
s
c
rianças
e
m
gera
l,
a
história do
m
enino que
não
q
ue
r
ia
cresce
r.
No
entanto
, já em outro
s te
m
pos
, a
proposta de Loba
to
c
onseguiu
ch
egar a se
u
s
leitores
que
,
desse
modo,
pud
eram
ter
ac
esso
por
m
ei
o
de
s
eu
liv
ro
a
e
lem
en
tos
68
cu
ltu
r
ais
de
outro
p
aí
s
por
mei
o
da
s
itu
aç
ão
de
l
eitura
e
,
assim,
cu
m
p
rir
o
papel
da
arte
literária: de facilita
r a
c
irc
ulaç
ão dos
re
fer
en
ci
ai
s
literário
s
.
Com a
qua
rta
tese,
Jauss
encerra
os
pre
ss
uposto
s
teór
ic
os
e
afirma
que
a
Estétic
a da
Recepç
ão
é
um
i
mportan
te
in
s
trumento
de
inter
preta
ç
ão
da
literatu
ra d
o passado
, pois
quando
não
se
tê
m inf
ormações
s
o
br
e o
univers
o
n
o
qual
es
ta
v
am
ins
er
idos
autor,
obra
e
lei
to
r
do
te
x
to
em
q
uestão,
torna
-se
fundam
en
tal
recons
titui
r o
horizont
e de exp
e
ctat
iva
sob o qual uma
o
bra foi criada e recebida no
pas
sado
(que
)
possibi
lita,
p
or
u
m
lado,
que
se
apresentem
a
s
quest
ões
para
as
quais
o
texto
constituiu
uma
re
sposta
e
se
des
cort
i
ne,
assim,
a
maneira
pel
a
qual
o
leitor
de
ou
tr
ora
terá
encarado e compreendido a obra (JAUSS, 1
9
94, p. 35).
Tal
pos
tura
t
en
d
e
a
equilibrar
a
s
norm
as
d
e
co
m
p
reensão
,
s
ej
am
elas libe
rtas
das
análises
vol
ta
das a
linh
as
d
e
é
po
c
a,
contr
a
s
te
o ent
e
ndim
e
nto
passado
e
presente
das
obras,
an
ali
sando
a
histór
ia
de
sua
r
e
cepção
.
A
inv
e
s
tiga
ç
ão,
re
aliz
a
da
d
e
form
a
indiret
a,
te
m
o
v
i
és
filológico
na
ten
t
ativa
de
entend
ê-lo
s
ob
a
p
erspectiva
de
sua
própr
ia
époc
a,
uma
v
ez
qu
e
o
signi
fi
c
ado
se
encon
tra ace
s
sív
el ao leitor.
Assim
,
fica
c
laro
que
a
reconst
itui
ção
do
horizonte
de
e
x
pec
tativas
possi
bilita
duas
descober
ta
s
:
ap
resenta
o
s
prim
eiros
c
ontato
s
en
tre
obra
e
púb
li
c
o
e
ainda
pe
rmite a re
aliz
aç
ão
da recepção do texto li
t
er
ário.
Jauss
retoma
Gad
ame
r,
a
par
tir
d
e
se
u
tex
to
Verda
de
e
M
é
todo,
no
qual
o
auto
r
criti
c
a o
o
bjetiv
i
s
m
o
his
tóric
o e
descreve
o pri
ncípio
da
histór
ia do
efe
ito
“-
q
ue
busca
evidenciar
a
r
ealidade
da
história
no
pró
prio
ato
da
compreens
ão
”
(JAUSS, 199
4, p. 37). Tal lin
ha
de
int
e
rpr
et
ação consistiria e
m
u
m
s
iste
m
a de
perg
unta
s
e
r
esp
o
st
as
à
t
radição
his
t
órica,
na
qual
a
c
omp
ree
nsão
sobre
u
m
tex
to
de
v
eri
a a
b
ranger a
pergunta para a qua
l ele
con
stitui um
a
res
po
s
ta.
Gadamer af
irma que
“a
pergunta
reconstruída n
ão p
ode m
a
is
in
s
er
ir
-
se
em
s
eu
horiz
o
nte
original
,
pois
e
ss
e
horiz
on
te
his
tór
i
c
o
é
sem
pr
e
abarcad
o
por
aquele
de nosso pr
e
s
ente”
(ap
u
d JAUSS, 199
4,
p
. 37),
o
que faz da a
ç
ão de
co
m
pre
ensão
um
pr
ocesso de
junção
dos
ho
riz
o
ntes
de e
xp
ectativa,
passado
e
presen
te.
O autor
das tese
s
se a
p
óia tam
b
ém
nas
discussões teóri
cas
de
René
W
e
llek
,
pa
ra
qu
e
m
tal
quadro
apres
enta
uma
i
mport
ante
p
reocupaçã
o,
pois
69
restr
ingi
r
a
avaliação
de
um
a
obra
literária
s
om
ente
às
percepç
õe
s
do
passado,
poder
ia
oferecer
uma
le
itura
em
pobr
e
c
ida,
enquanto
que
a
pr
eferência
dad
a
a
penas
a
u
m
a v
isão
d
o
pr
e
sente
po
d
er
ia privilegiar textos m
od
ernos
em
detri
m
ento ao
câ
n
on
e de época.
Assim
,
ao
s
e
disc
uti
r
o
dualism
o
ent
re
a
s
obras
do
passado
e
do
presen
te
é
ess
encial
o
c
onc
eito
de
“
juízo
dos
s
é
c
ulos”
de
uma
obra
liter
ária,
qu
e
é,
em
es
sênc
ia,
um
j
uízo
acumu
l
ado
de
outros
l
eitores,
crí
ticos,
espectad
o
res
e
a
té
mesmo
profe
ss
ore
s, ele é o
desdobrame
n
to de um potencial de
se
ntido
vi
rtualmente
presente
na
ob
r
a,
hist
o
ricam
e
nte
atualizado
e
m
su
a
recepção
e
concretizado
na
h
istór
i
a
do
efeito,
potencial
este
que
se
de
scortina
ao
juízo
que
c
ompreend
e
n
a
m
e
d
i
da em
que
,
no
encon
tr
o com a tra
d
ição,
ele realize a “
f
usão
dos horizontes” de
forma
c
ontrolada
(JAU
SS, 1994, p. 37,
a
spas do autor).
Jauss
afirma
qu
e
s
ua
tentativa
de
cr
iar
uma
hi
stória
da
literatu
ra
,
a
part
ir
da
Estética
da
Recepção,
c
oncorda
com
o
pr
incípio
do
efe
ito
d
e
Gadam
e
r
até
o pont
o em
que
o t
eórico busca elev
ar
“o c
on
c
eito
d
o
clássico à con
di
ç
ão de
prot
ótipo
de
to
da
m
edi
ação
hi
s
tórica
entr
e
passado
e
presente”
(
JAUSS,
1994,
p.
38).
Gadamer,
c
ont
ra
riam
ente
à
posi
ç
ão
a
dotada
por
seu
discíp
ulo,
se
apóia
em
u
m
conc
eito
de
arte
i
n
sustentáv
el
fora
de
s
ua
époc
a
de
ori
gem,
o
Hum
a
nismo,
pau
tado
no
conceito
de
mi
mes
i
s
,
no
q
ual
a
a
rte
é
fonte
de
reconh
ecim
e
nto par
a o
s
er
hum
a
no.
Me
s
m
o
deixa
ndo
de
e
st
ar
v
inculada
à
fu
nção
c
lá
ss
ica
do
reconh
ecim
e
nto,
a
ar
te
l
iterária
não
pe
rd
eu
su
a
i
m
p
ortâ
ncia,
pois
apes
ar
de
n
ão
es
ta
r
restrita
ao
e
s
qu
em
a
platônico,
ela
trans
m
ite
con
he
c
im
ento
s
que
não
e
s
tão
presos
à
exp
eriên
ci
a possív
el
e
presente.
Nas
três
últimas
tes
e
s,
Jauss
aprese
nt
a
seu
plano
metodológi
co
,
no
qual
s
e
pr
opõe
a
n
alisar
a
his
toricidade
da
lit
eratura
a
pa
rti
r
de
três
l
inhas
de
observ
a
ç
ão:
di
a
c
rô
ni
c
o,
ana
li
san
do
a
rece
pção d
o te
x
to literário;
s
incrônico,
q
ue
relaciona
ob
ras
d
e uma
mes
m
a
époc
a
e s
ua c
onseqüente
sucess
ão; e
,
por
últim
o,
a
ligaç
ão e
ntre
a
literat
ura
e
questões
q
ue
en
volv
em
o
indiv
íduo,
a s
ociedade
e
outros
as
pe
c
tos histór
i
c
os e
s
ociais.
A
quinta
tes
e
problem
ati
z
a
a
importâ
nc
i
a
de
se
co
nhece
r
a
“
po
s
i
ç
ão
e s
ignificado hist
óri
c
o [de uma obra
literária] no c
ontexto de ex
periência d
a litera
tu
ra”
70
(JAUSS, 1994, p. 40). I
ss
o porque a t
e
ori
a da Estética da Re
c
epç
ã
o não e
s
tá
vo
lta
d
a
apenas
para
a
apreensão
do
sen
tido
e
forma
da
obra
literária
no
desdo
bram
ent
o
histór
ic
o
d
e
s
ua
c
om
pr
eensão,
uma
ve
z
q
ue
ela
de
m
anda
ta
m
b
é
m
que
se
ins
ira
a
ob
ra
is
olada
em
s
ua
“
série
l
iterár
ia”,
a
fim
d
e
se
rea
lizar
a
ex
pe
ri
m
entaç
ão
dinâm
ic
a
do
ele
m
e
nto
li
terário,
levando
em
cons
id
e
ração
o
m
eio
que a pr
opiciou.
Para
J
au
s
s
i
nter
e
ssa,
e
m
e
spe
cial,
res
gatar
a
obr
a
literária
relegada
ao
isolam
e
nto
e
pr
esa
à
seriação
c
ronológica
da
história
literár
i
a
e
c
om
pr
eender
essa exp
ressão a
rtís
tica nov
am
ente
com
o ac
ontecim
ento.
Para
ta
l,
o
teórico
retom
a
o
pr
incípio
d
a
ev
o
lução
l
iterária,
defendi
do
pela
esco
la
fo
rm
alis
ta,
n
a
qual
a
o
bra
surgi
ri
a
d
e
um
co
ntexto
fo
rm
ado
pelas
ob
ras
anter
iore
s
ou
con
temporâneas
até
a
ti
n
gir
o
auge
e
deca
ir,
suc
e
ss
ivam
ente,
perd
en
d
o
a
n
ovidade
e
s
e
estabelecen
d
o
com
o
gênero
u
ltra
pa
s
sado.
Dess
e
m
o
do,
os
textos
encaixotados
em
séries
cor
reriam
o
s
é
rio
ris
c
o
de
não
co
rresponder
ao
quadr
o histórico – literá
rio e o que ser
ia ainda pior, n
ão estabeleceriam
re
lações
c
om
outr
o
s t
ex
to
s
e
per
de
r
iam
a
inter
a
ç
ão e
v
ol
utiv
a
da
s
funções
e
das
f
orm
as e
se
restr
ingi
riam
a uma autog
eração
d
ialét
i
c
a de no
v
as
formas.
Nesta
ten
tativa d
o
form
a
lis
m
o
russ
o,
o
que
i
mp
o
rta
e
m r
ealidade
é a
m
a
nutenç
ão
da
s
v
el
ha
s
form
as
,
que
após
o
auge
se
deslocam
para
o
se
gu
n
do
plano.
Es
s
a
mudança
perdura
até
que
u
m
n
ovo
m
o
m
e
nto
d
a
evol
u
ção
v
olte
a
torná-
los
no
v
amente
em
ev
id
ência.
Desse
mod
o,
o
form
alismo
v
ê
a
história
da
litera
tura
co
m
o
e
v
olução
e reduz o c
aráter histórico de u
m
tex
to li
terário a s
eu siste
m
a
artístico.
Em
bor
a
J
auss
va
lo
r
ize
a
tentativ
a
form
a
lis
ta
de
teorização
da
“evolução
literári
a
”
destac
ando
a
def
ini
ção
de
renov
a
ç
ão
da
h
i
st
ória
da
liter
atu
r
a
por
ela
motiv
ada,
a
teoria,
presa
à
id
éia
da
ca
noni
z
a
ção
uniface
tada,
não
c
on
s
egu
iu
atende
r a questões im
por
tantes
, p
o
is, segundo o teór
i
c
o, a
va
riação
estética
n
ã
o
bastaria
para
e
xpl
i
car
o
d
esenvol
v
i
m
e
n
to
da
lite
ratur
a; a
questão
acerca d
o
sentido
tomado
te
ria
permanecido
i
rrespond
ida;
a
inovação,
por
si
só,
não
teria
,
por
sua
s
i
m
p
les
negação
, a
bolido
a
relação
entre
evolução
literária
e
mudança
so
c
i
al
(JAUSS
, 1994, p.
4
3).
Como
s
olução
par
a
os
pr
oblemas
e
lencados
a
ci
m
a,
o
auto
r
apo
nta
para
a
necessidade
de
se
levar
a
te
oria
descritiva,
da
co
rrente
fo
rmal
is
ta,
p
ara
a
71
dimensão
da
ex
periência hi
st
órica, enquant
o que a últim
a proble
m
atizaçã
o, que
discu
te as que
s
tões
s
o
c
i
ais,
é retom
a
da e disc
uti
d
a na s
é
tim
a
tes
e.
O
ter
m
o
“ev
olução
literária”
s
em
p
re
grafado
pe
lo
teór
i
c
o
e
m
destaq
ue,
é
visto
por
ele
como
a
pressu
po
s
i
ç
ão,
“no
pr
o
cess
o his
tóric
o de
recepção
e
pro
dução
estética,
como
c
ond
ição
d
a
m
e
diação
de
todas
as
op
osições
formais
ou
‘qualidad
e
s
diferencia
i
s
’” (
J
AUS
S, 199
4, p. 43, aspas d
o
autor).
Jauss
acredita
que
a
t
e
or
ia
d
a
Estética
da
Re
ce
pção
direciona
a
“evolução
li
ter
á
ria”
,
alé
m
de
pos
s
i
bilitar
a
análise
s
obre
a
dis
tâ
nci
a
temp
ora
l,
aç
ão
que
a
p
r
e
s
en
t
a
a
di
s
tância
entre
o
s
ign
ificado
atual
e
o
signific
ado
v
irtual
de
u
m
a
obra
.
Porta
nto,
d
ei
x
a-s
e
a
perspectiva
formalista
e
m
que
o
c
aráte
r
de
art
e
de
u
m
a
obra
s
ó
é
v
isto
como
inov
ação
no
m
omento
de
s
ua
publi
c
ação,
para
um
a
an
álise
que
ob
s
er
v
e
a
d
i
s
tância
entre
a
percepçã
o
atual,
do
mom
ent
o
da
publ
i
c
a
çã
o
e
a
de
outr
o
s
m
omentos
.
A
análise
d
e
ss
e
espaç
o
tem
pora
l
po
de
ser
tão
d
i
st
inta
a
ponto
de
renova
r
co
m
p
letam
e
nte a rec
epção prim
eira
,
per
m
itin
do que se encontr
e o
que
antes
não era po
ss
í
v
el ver.
Assim
,
tor
na-
se
fundamental
a
c
ompreensão
d
o n
o
vo
que,
p
a
ra
Ja
u
ss,
não
é
uma
c
a
t
e
g
or
i
a
e
s
té
tica
.
Ele
n
ã
o
se
resolve
n
os
fa
tor
es
i
novaç
ão,
s
urpresa,
s
uperação,
reagrupament
o
,
estranhamento,
fatores
estes
a
os
quai
s
(
.
..)
a
teor
ia
f
o
rm
alista
atribui
impo
rtânc
i
a.
O
novo
torn
a-s
e
categoria
h
i
stórica
quando
se
conduz
a
a
n
álise
dia
crôn
i
ca
da
li
t
e
ratura
até
a
que
s
t
ão
a
c
e
rca
de
quais
são,
efetivamente, o
s m
o
m
ent
os h
i
stóricos que fazem do
n
ovo; de
em que
medida esse nov
o
é
já p
erce
p
tível n
o
momento histór
ico
de seu
aparecimento;
de
que
d
i
stância,
caminho
ou
a
talh
o
a
c
ompreensão
tev
e
de
percorrer
para
alcançar-lhe
o
conteúdo
e,
por
fi
m,
a
q
uestão
de
se
o
momento
de
sua
a
tual
i
z
a
ção
plena
f
o
i
tão
poderoso
em
seu
efei
to
que
logrou
modif
icar
a
maneira
de
v
er
o
velho
e,
a
ssim,
a
ca
noniz
ação
do
p
a
ssa
d
o
literário
(JAUSS,
1994,
p.
45,
grifo
do
autor).
O
nov
o
m
u
itas
v
ezes
é
v
i
v
enc
iado
pelo
resgate
d
e
exp
ressões
já
es
qu
ecid
a
s
, co
m
o
ac
ontece
c
om
f
reqü
ên
c
ia
na
obra
l
obati
an
a
.
A
r
etom
ada
do
câ
n
on
e
en
c
ontrada
e
m
obras
d
e
Mon
teiro
Lobato
c
om
o
O
M
inota
uro
(1939)
e
Os
doze trabalhos de Hér
c
ules
(l944),
c
ujo e
nfoqu
e se
vo
lto
u
à m
itologia grega
, e
Fáb
ul
a
s
(19
2
2)
s
ão
algun
s
exem
plos
da
r
eto
mada
de
for
m
as
q
ue,
ora
esquecidas
e
ora
fora do ac
esso por
causa das d
istâncias cronológicas
, geográficas, cult
urais e
/o
u
lingüísti
ca
s
, r
essurgem
por meio da
atualização de f
o
rm
a
s ex
istentes
.
72
O
ans
eio
em
ac
essib
iliz
a
r
tex
tos
ina
cess
íveis
ou
esq
ue
c
idos,
prop
i
c
ian
d
o
assim
u
ma
n
ova
aprese
nta
ção
de
ref
erenciais,
é
um
dos
de
s
taque
s
do
escritor
de
T
au
baté
qu
e
resg
atou
elementos
j
á
e
x
istentes,
co
m
o
f
ontes
histó
ri
cas
,
mitológic
a
s
e folc
lóri
c
as a partir de um novo
v
ié
s
, originando com iss
o
o
novo
descrito p
or
J
au
ss
.
A
sexta tese di
sc
u
te questõ
e
s
qu
e
e
n
v
ol
v
e
m
o s
incro
ni
s
m
o e, a
part
ir
d
a
s
idéias
de
Krac
auer,
con
testa
a
contemp
laç
ão
puram
e
nte
diacr
ônica
da
his
tó
r
ia
literária,
s
ugerindo
que
s
eja
possível
r
ealizar
c
ortes
sincrônicos
na
história
literári
a
e,
c
om
iss
o,
alcançar
um
s
istem
a
de
relaç
ões
n
a
literatura
de
um
deter
m
inad
o
momento
his
tór
i
c
o.
Tal
proce
dim
ento,
re
alizado
p
or
meio
da
observ
a
ç
ão
do
pro
c
es
s
o
de
arti
c
ulaçã
o
da
s
m
u
danç
as
estru
t
ura
i
s
q
ue
ocorrem
na
literatu
ra,
principal
m
en
te
ao
an
alisar
os
momentos
de
for
mação
e
de
quebra
do
es
tilo,
m
o
stra
m
qu
e
é
important
e
destacar
que
a
a
nálise
de
tais
t
extos
promove
os
efeitos, d
evendo ser estudadas desd
e a perspectiva de s
u
a
recep
ç
ão.
Partindo
da
c
om
p
reen
são
de
hi
s
tória
de
Kracauer
que
pressupõe
“que
tudo
o
q
ue
ac
ontece
s
imu
ltane
am
e
nte
s
e
en
c
ont
raria
ta
m
b
ém
marc
ado
pe
lo
m
o
mento,
oc
ultando
ass
im
a
fac
tual
não-s
i
mul
taneidade
do
sim
ultân
eo”
(
JAUSS,
1994,
p.
47),
e
apontaria
para
a
diversidade
dos
ac
ontec
im
ento
s
de
um
m
o
mento
his
tó
r
ico.
Vi
s
to pelo
historiador co
m
o
m
o
m
en
to
uno,
é uma re
alidade c
ujas c
u
rv
a
s
se
aprese
ntam
b
ast
ant
e
divers
ifi
cadas
e
que influenc
iam
a
consti
t
uiçã
o da
história
literári
a.
Im
p
orta
para
o
pre
s
en
te
estudo
o
reflexo
de
tai
s
idéi
as
n
o
que
se
refe
re
à
esfera
literária
,
pois
Kracau
er
ao
p
erceber
a
“coexistência
do
simultâneo
e
do
n
ão-
s
im
ultâne
o”
tr
az
à
tona
a
necessidade
de
s
e
apres
ent
ar
,
por
meio
de
cort
es
si
n
c
rôni
c
os, a históri
a literária.
Esse
q
ua
dro
a
s
si
m
s
e
com
põe
po
rque
o
sis
tem
a
un
ica
m
ente
diacrô
ni
c
o
so
mente
al
canç
a
a
d
i
mensã
o
h
istór
i
ca
quand
o
ro
m
pe
o
cânone
morfol
ó
gico, quando conf
r
on
ta a obra importante
d
o ponto de vista da
hi
stória
d
as
f
ormas
c
om
os
exemplos
hi
storicame
n
te
falidos,
co
nvenc
ionais,
d
o
gênero
e
,
a
l
ém
disso,
não
deixa
de
con
s
iderar
a
relação
dess
a
obra
c
om
o
co
n
te
xto
li
terári
o
no
qual
ela,
ao
lado
de
out
ras
ob
ras
de
outros
gêneros,
t
eve
de
se
imp
or
(JAUSS,
1994,
p.
49).
73
A
h
ist
ori
c
idade
d
a
literatura
irá
se
im
po
r
n
o
s
p
ontos
de
int
ers
ecção
entr
e
diacronia
e
s
incronia,
torna
n
do
possível
v
er
ifi
car
du
a
s
s
itu
a
ç
ões:
a
pr
im
eira
co
n
sistiria
em
permiti
r que o h
orizonte liter
ár
io seja
recebido diacr
o
nic
am
ente
a p
artir
de
relaçõ
e
s
de
não
-sim
ultane
idade,
m
e
smo
s
en
do
f
orm
ada
s
por
s
istemas
si
n
c
rôni
c
os, en
quanto a
última s
e volt
a
ria
par
a
a
percepção atua
l ou
ultrapass
a
da
do
tex
to l
iterário, v
isão
que s
e
c
onstituiria
a
pa
rtir
d
e c
ontrastes
entre
as
épo
c
as
literári
a
s.
Assim
,
c
om
o
o
s
s
istem
as
s
incrônicos
po
ssu
em
pa
ss
ado
e
fut
uro,
para
a
análise d
e deter
m
inado
momento
his
tórico, o
corte s
incrôn
i
c
o nec
essita
tam
bé
m
d
e co
rtes
nas parte
s
qu
e antecedem
e sucedem a diacron
ia.
Dess
e m
odo
, a lite
ratura é definida como
uma
espécie
de
gramát
i
ca
ou
sin
taxe,
a
p
res
entando
relaçõ
e
s
m
ai
s
ou
menos f
ixas:
o
conjunto
dos
g
ê
neros,
es
t
ilos
e f
iguras t
radicionais
e
dos
não-canoniz
ad
os,
ao
qual
se
con
tr
apõe
uma
esfera
semântica
mai
s
va
r
iável
–
a
dos
temas,
mo
t
ivos
e
im
agen
s
l
iterárias
(JAU
SS,
1994, p. 48-49
).
A
mudanç
a
estrutural
na
e
v
olução
l
iterária
não
precisa
s
er
v
i
st
a
de
forma
s
ub
s
tancia
li
s
ta,
pau
tada,
de
m
a
neira
mecânica,
na
“transform
a
ção
”
d
e
formas
e
conteú
dos
literários,
mas
apr
e
se
ntar
um
perfil
funcio
n
al,
como
“reoc
upação”
de
pos
i
ç
õ
es
no
ho
riz
o
nte
d
e
perg
untas
e
respo
s
tas,
ação
esta
qu
e
pode
ser
“condicio
na
d
a
e
provocada
a
partir
t
a
nto
do
interi
or
–
isto
é,
da
lei
i
m
anen
te
de
um
desenvolvi
m
en
to d
o
gênero -,
quan
to do
e
x
te
ri
or
–
ou s
eja, por
es
tím
ulos
e
pressões
ad
v
inda
s
da
situa
ç
ão
hi
s
tórico-socia
l”
(JAUSS,
1994, p. 49
, g
ri
fo do autor).
Para
J
auss,
a
o
segui
r
tai
s
pressupos
to
s
,
poderia
ser
c
onstruído
um
siste
m
a
n
o
qua
l
se
ex
poria
a
hi
s
tóri
a
da
l
iteratura
de
fo
rm
a
a
r
ealizar
e
m
to
dos
os
tex
to
s
as
ações
de
descr
içã
o
e
art
i
cu
lação
históri
c
a,
segun
do
um
c
ânone
co
n
venc
ional da
s
ob
ras.
Para a
m
u
danç
a histórica
da produção
literária basta qu
e a lei
tura da
“m
u
danç
a diacr
ôni
c
a n
a continuida
de do
s
a
contecimentos,
a partir
do r
e
s
ultado
his
tó
r
ico
(...)
s
ej
a
descor
tin
a
da
n
o
c
orte
t
ransve
rsal
ple
nam
ente
analis
ável
do
siste
m
a
literá
rio
s
incrônico
e
s
eja
persegui
d
a
e
m
nov
os
c
orte
s
”
(
JAUSS,
199
4,
p.
49).
Para cumprir sua
miss
ão
,
tal aná
lise deve res
gatar “os po
ntos d
e inter
s
eção que
articulem
his
toricamente
o
car
áter
proce
ssu
al
d
a
‘evol
u
ç
ão
literár
ia’,
em
su
as
ce
n
sur
a
s
e
ntr
e
uma époc
a e outra” (J
AUSS, 1994, p. 49, aspas do autor).
74
A
últi
m
a
tes
e
an
alisa
a
literatu
ra
dentro
da
s
o
c
iedade
e
assim
c
ritic
a
o
marxis
m
o
por
ver
a
literatura
co
m
o
m
era
imitação,
pois
o
a
utor
defende
o
c
aráte
r
formador da
literatura.
Portanto, destac
a-se a im
p
ortâ
n
ci
a da literatura
co
mo
história
parti
cul
a
r,
em
sua
rela
ção
própria
c
o
m
a
his
t
ória
geral.
Tal
relação
não
s
e
esgota
no
f
ato
de
p
o
de
r
mos
en
contr
ar
na
lite
ratur
a
de
todas
as
é
pocas
u
m
quadro
tip
ificado,
idealizado,
sa
tír
i
co
ou
ut
ó
pico
da
vida
s
ocial.
A
f
u
n
ç
ã
o
s
ocial
somente
s
e
manif
esta
na
p
lenitu
d
e
d
e
s
u
a
s
p
ossibi
lidades
quando
a
e
xper
iência
lite
rária do
l
e
i
tor
adentra o horizonte de expec
ta
t
iva de sua vida
prátic
a,
pré-
f
o
rma
n
d
o
seu
e
n
tendi
mento
do
mundo
e,
a
ss
im,
retro
a
gindo sobre seu
comportamento social (J
AUSS, 1994,
p
.50).
Partindo
de
uma
v
isão
em
que
a
literatur
a
ser
ia
a
repr
e
se
n
tação
de
um
a
real
idade
predeterm
in
ada,
l
igada
diretam
en
te
a
uma
é
poc
a
e
s
pecífi
c
a,
passando
pelo
própr
io
estruturalism
o,
qu
e
v
i
a
essa
repr
e
s
entação
com
o
“espel
ham
ento”
ou
“t
ipifi
c
ação”,
pas
s
a
a
se
reduzir
a
ex
i
s
tência
histórica
,
ignorando
a
fu
n
çã
o
s
o
c
ial
e
a
c
arretando
um
grav
e
problem
a
ao
não
se
estabel
e
c
er
um
v
í
nculo
entr
e a hi
s
tór
ia da literatura e a soc
iologia.
De
ac
ordo
c
om
o conce
ito
de horizonte de
ex
pectativa, tam
b
é
m
utilizado
por
Popper, J
auss
b
u
sc
a
discuti
r
a
observação
com
o
bas
e
de
com
pa
raç
ão,
no
process
o
gera
l
de
co
n
struçã
o
da
experiência
e
na
delimi
ta
ção
da
contribuição
es
pe
c
ífi
c
a da literatura no pro
c
esso geral
da exper
iência, o
q
ue faz
ne
cessár
io
delimitar essa c
ontribuição c
om
r
elação a
outras formas de comportam
e
nto socia
l.
Isso
o
corre
p
orque
ante
s
d
a
leitura
sã
o
levantadas
expecta
ti
v
as
em
torn
o
d
o
pro
c
es
s
o
a
s
er
desen
v
olvid
o,
oc
orrendo
entã
o
a
frustração
das
ex
pe
c
tativas,
um
dos
m
o
m
entos
mais
im
porta
ntes,
graças
à
quebra
d
as
h
ipóte
s
e
s
lev
antadas tom
a-
se
co
ntato efetivo c
om
a re
alidade. Tal pr
áti
c
a é
perm
i
tida, se
gun
do
Ja
u
ss,
pela
im
portâ
ncia
de
s
ua
ação
,
um
a
v
ez
que
o
s
eq
u
ívocos
da
s
s
uposições
co
n
ceitu
em
e
xpe
riê
nc
ias
posi
ti
v
as
retiradas
d
a
real
idade.
Essa
s
ituação
é
descrita
no tr
e
c
ho a
se
guir:
O
ho
rizonte
de
expectativa d
a
literatur
a di
st
ingue
-se
daquel
e da
práxis
histórica
pe
l
o
fato
de
n
ão
ap
e
n
a
s
con
s
e
rvar
as
experiências
vividas,
mas
também a
nt
e
cip
a
r
possibilidades n
ão
con
cr
e
tizadas,
ex
pandir
o
e
s
p
aço
li
mitado
do
c
om
p
ort
a
mento
social
rumo
a
novos
desejos
, pretens
õ
es e
o
bjet
i
vo
s
,
a
br
i
ndo, as
s
im, n
ovos camin
h
os
para a
exp
e
riência futura (JAUSS
,
1994, p.52).
75
Assim
,
com
o
cons
tatam
as
di
sc
uss
õe
s
re
al
izadas
, a
relação que
surge “entre lite
ra
tura
e leito
r pode
a
tualizar-se
tanto na
e
s
fera
s
ensoria
l,
co
m
o
pressã
o
para
a
p
er
ce
p
ç
ão
es
tética,
quanto
tam
bé
m
na
esf
era
ética,
c
omo
des
afi
o
à
reflexã
o
m
o
ral”
(JAUSS,
1994,
p.53).
Situação
perceb
i
da
t
am
b
ém
n
o
con
tato
dos
leitores
c
om
a
ob
ra
in
fantil
d
e
Mont
ei
ro
Loba
to,
pois
o
a
utor
c
onst
an
tem
e
nte
preocu
pado
em
prop
ic
iar
ref
erenciais
a
seus
leit
ores
m
ir
ins,
não
se
lim
ito
u
so
m
e
nte
em
infor
mar,
m
a
s
tam
bém
e
m
for
mar
as
crianç
as
por
m
ei
o
de
m
ec
anism
os
que
dialogassem c
om
seu
universo.
Dess
e m
odo
, o t
e
xto liter
ário
é
re
c
ebido, ana
lisado e julgado
tanto
em
seu
contra
s
t
e
c
o
m
o
pano
d
e
fundo
o
f
erecido
por
o
utras
formas
artíst
i
cas
,
quanto contra o pano
de fundo d
a
e
xperiê
n
cia
co
tidi
ana
de
vida.
N
a
esfera
éti
c
a
,
sua
função
social
deve
ser
apreendida, do ponto de vista estético -recepcional, também segundo
as
mo
d
a
li
d
ades
d
e
pergunta
e
re
sposta,
problema
e
solu
ç
ã
o
,
modalidades
sob
c
ujo
signo
a
obra
adentr
a o
horizonte
de
seu
efeito
(JAUSS
, 1994, p.53)
.
Variaç
õ
es
a
s
sim
é
que
permitem
a
m
o
v
imenta
ç
ão
d
as
e
x
pre
ss
ões
literári
a
s
n
o d
ecorrer
do
tempo,
atu
aliz
adas
se
m
pre
por
s
eus
l
eitore
s
,
qua
d
ro
que
se
co
n
stitui
co
m
o
no
exemplo
ci
tado
pe
lo
teórico
,
no
q
ual
ele
di
s
cute
a
m
utabi
lidade
da
apreci
a
çã
o fe
ita
da
obr
a
de
Fla
ubert,
que,
c
riticado
anteriormente,
desfruta
da
co
n
sagração
que
s
ua pr
odução alcançou.
Também
a
prod
uç
ão
li
t
er
ár
i
a
do
aut
o
r
do
Sítio
do
Picapau
Am
are
lo
so
freu
m
u
danças
re
ce
p
c
ionais
no
d
ecorrer
da
histó
ria
.
Como
s
e
observ
ou
anter
iorm
en
te,
o própr
i
o
leitor é
uma entidade
em proc
esso de
m
u
danç
a e tr
ansporta
para
a
leitura
tanto
as
m
a
rcas
d
o
pe
ríodo
hi
s
tórico
v
i
vi
d
o,
ideo
logia
s
de
s
eu
m
e
io
socia
l e da sociedade em geral
qu
a
nto as próprias subje
ti
v
id
a
des.
Assim
,
o a
utor das
te
ses co
n
cl
ui que
uma
obra
literária,
p
o
de
, p
ois
media
n
te
uma
for
m
a
estética
i
nabitual,
rompe
r as
e
xpectati
v
as
de
seus l
eitores
e,
ao
mesmo
tempo,
co
l
oca-
l
os
diante
de
uma
q
u
estão
cuja
solução
a
moral
sanc
i
onada
pela
reli
gião o
u
pelo Estado ficou lhes de
v
endo (JAUS
S
, 1994, p.56).
Dess
e
m
o
do,
é
c
om
preen
sível
p
orque
os
par
e
c
eres
e
julgam
ent
os
de
Emília,
pers
onagem
f
iccio
nal
de
L
obato,
difundid
o
s
por
meio
da
real
ização
de
crítica
literár
ia, r
econsti
tui
ç
ão
de
s
ituações
hi
s
tóricas
ou
aprese
nta
ç
ão
de
c
onteúdos
76
didáticos,
falem
tão
d
iretam
e
nte
a
s
eus
leitor
e
s
.
Pr
ot
eg
idos
pe
l
o
d
isfarce
de
“asnei
rinha
s”
dialogam
c
om
proble
m
ática
s,
car
ências
e
preo
c
upações
dos
le
it
or
es,
de
forma a
deba
ter
q
ue
s
tões
po
lêm
ic
a
s
e pe
rm
i
tir a
reflex
ão
e
a c
ircula
ç
ão d
e
idéias
ac
er
c
a dos mais v
ariados assuntos.
A Teor
ia
da Es
tética
da
Re
c
ep
ç
ão
é o
eixo de
s
u
s
tenta
ç
ão da
análise
apres
entada
no
terceiro
c
apítu
l
o,
que
v
i
s
a
ident
ifi
c
a
r
a
partic
ipa
ç
ão
do
le
it
or
no
proc
esso
d
e
recepção
do
texto
e
,
c
onseque
ntem
en
te,
de
form
ad
or
da
hist
ó
ria
literári
a.
2.2 O Gênero F
abular: História e Estrutura
Para
en
tend
e
r
a
transform
aç
ão
do
gê
nero
f
abular
nas
r
e
pr
od
uçõ
es
infantis
é
nece
ssá
rio
tentar
r
ec
onsti
tuir
o
percurso
d
a
fáb
ula,
açã
o
que
se
i
n
i
c
iará
tanto n
a história quant
o no
s
eu própr
io co
nce
it
o e t
amb
é
m
em s
eus
p
r
incipa
i
s
div
ulgadore
s
.
Textos
sumeriano
s,
d
atad
o
s
do
s
éculo
XV
III
a.
C
.,
já
difu
ndia
m
narra
ti
v
a
s,
cu
ja
s
personagens,
anim
a
is
antropomo
rfi
zados
parecido
s
co
m
a
s
fábul
a
s
greg
a
s
e
in
dianas,
co
ntrariam
a
origem
da
fábula,
e
nquant
o
e
xpr
e
s
são
or
iginária
da
Grécia
ou
da
Índia,
co
m
o
é
c
om
u
m
ente
apres
entada
.
O
gênero
,
exp
o
s
to
em
u
ma
definição
ampl
a,
é
v
isto
co
m
o
“um
m
od
o
unive
rsal
de
c
onstrução
discursiva”
(DEZOTTI
, 2003
, p.
21).
No
ent
anto,
grande
parte
da
bibl
iografia
ap
on
ta
para
os
ves
tí
gios
de
surgimento
na
Gré
c
ia
e
em
Ro
m
a,
nas
lite
ratu
ras
orient
ai
s
e
na
Idade
Média.
Para
Sos
a, a origem das fábul
a
s
remon
ta,
como
a
d
e
toda
expressão
que
tende a
transmit
i
r
u
m
co
nhecime
n
t
o,
o
u
uma
l
ição,
a
tempos
muito
antigos
e
pr
ov
êm
da
necessidade
natural
que
o
homem
sente
de
expressar
s
eus
pensa
mentos
por
meio
de
imagens,
emb
l
emas,
o
u
s
ímbolos
.
Di
z-
se
que
a
fábul
a dev
e s
er
c
o
nsiderada
c
o
mo
u
m
a
das
forma
s
sim
bólica
s
aparecidas naturalmente, conseqüência do desenvolvimento histórico
da
idéia
de ar
te,
sendo o
orie
n
te
s
e
u berço
,
como
o
foi
do
conto e
do
mi
to (SOSA,
1993, p. 144).
O s
ignifica
do d
a
palav
ra
fábula
também
a
pres
enta
divergênc
ias.
Segundo
Dez
otti
(2
003),
há
a
necessidade
de
abranger
a
diversid
a
de
de
t
extos
q
ue
77
sã
o classif
i
ca
d
os
c
om
o
fáb
ula,
o
que
a
faz
clas
sificar
o g
ênero
co
m
o
“
um ato
de
fa
la
que se
realiz
a por
m
eio de
uma
na
rrativ
a” (D
EZOTTI, 20
03, p. 22).
Dess
e modo,
a
fábula, v
ocábulo
l
atino que
pertenc
e a
o m
es
m
o
radica
l de fa
lar (fabulare), é
uma
n
arração br
eve,
de nat
u
reza s
im
ból
ica, c
ujos
person
agen
s,
geralmente,
s
ão
animais
que
pensam,
age
m
e
s
entem
c
o
mo os
se
re
s
hum
anos
.
A
fáb
ula
p
ode te
r surgido
junto
c
om
a
nece
ssidade de
vencer
a
ce
n
sur
a
e
questionar
as
injustiças.
Antes
de
s
e
r
co
n
si
d
er
ada
um
gêner
o,
pass
ou
dis
persa
na
boc
a
do
povo
até
s
er
ac
olhid
a
po
r escr
itore
s
qu
e
a
c
onsagraram
enquan
to
gêne
ro
liter
ário.
Chegou
,
no
s
éc
ulo
V
a.C.,
a
se
t
ornar
modismo,
ao
es
tar
presen
te
na
co
m
un
ic
a
çã
o
cotid
iana,
alça
ndo
com
is
so,
popularidade
e
ntre
os
greg
o
s
.
Segundo
Ca
rvalho
(
1989),
a
fá
bula
c
onsiste
em
u
m
a
peque
na
narraç
ão
d
e
acontecim
entos
fictícios.
É,
portanto,
um
a
“peq
uena
com
pos
ição
que
encerr
a s
em
p
re
gra
nd
e
filosofia
. Pod
e s
er
e
m
pros
a
e
em
v
erso,
escon
de
ndo
se
m
pre
u
m
a
v
erdade
moral,
nas
tramas
d
e
fatos
ale
góricos”
(CARVALHO,
198
9,
p.
42).
Portanto, um dos objet
i
v
os do g
ênero é a
tra
n
smiss
ão de uma liçã
o
de moral.
Para Coe
lho
(1987),
a
fáb
ula
é a
prim
eira
form
a
narr
ativa
registra
da
pela
His
tória
e
c
onsiste
em
u
m
a
na
rrativa
alegó
ri
ca
em
qu
e
as
person
ag
ens
s
ão
gera
lm
ente
animai
s
e c
ujo desenlace re
fl
e
te um
a
liç
ão m
or
al.
La Fo
nt
a
ine, em pre
fá
c
io de
s
ua
obra, afirm
a
que
as fábulas
não
sã
o
simp
lesm
ente
morais;
propo
rcio
nam
ai
nda
outros
co
nhecime
n
t
os:
as qualidades dos
a
nimais e o
s seus cara
cter
e
s
diverso
s
ali
est
ã
o
expressos;
p
or
c
on
s
e
guinte,
os
nossos
t
a
mbém,
poi
s
n
ada
mais
somos
que
o
res
umo
d
o
que
há
de
bom
e
de
mau
nas
cri
a
turas irracio
n
a
i
s (LA FONTAINE,
s
/d, p. 24).
O
fab
ulista,
ao
discu
tir
a
m
atér
ia
liter
ária
q
ue
v
isa
r
ep
resen
tar
ao
co
m
po
rtamen
t
o
s
ocial
do
homem
,
ex
pande
seu
cará
ter
moraliz
a
dor
ao
atr
ibuir
ao
s
seres
hum
a
nos
c
a
r
acterísticas
encontradas
no
s
animais
aos
se
re
s
h
umanos.
Isso
porq
ue a t
em
átic
a é
va
riada e c
ontem
p
la tópi
cos que
têm por fun
ção explor
a
r
qualidades
e
ações
humanas
c
om
o
a
v
itória
d
a
fraqueza
s
obre
a
forç
a
,
d
a
bondade
so
b
re a
a
s
túcia
e
a derro
ta de presunçosos.
Coelho
(1987)
esc
larece
que
som
en
te
a
part
ir
d
o
s
é
c
ulo
XIX
s
ão
deter
m
inad
os
os
l
im
ite
s
entre a
fábula
e
as
d
e
m
ais
f
orm
a
s
metafóric
as
e s
imbólicas
,
78
restr
ingin
do
o
gê
ne
r
o
aos
textos
que
têm
,
ex
cl
usivam
en
te,
ani
m
ais
co
m
o
person
agen
s.
Com
c
aráter
cr
ítico,
a
f
ábula
tra
ns
m
ite
c
onhecim
en
tos
,
experiências
e
lições
s
em,
n
o entanto,
determ
ina
r tem
po, es
paço e
também
pe
rso
nage
n
s
c
om
precisão.
A e
ss
e respei
t
o, Mar
tha (1999) atesta que
as
personagens, em número
re
d
uzido, caracterizam-
se s
empre como
es
tátic
a
s
ou
p
lanas,
pois
não
crescem
aos
olh
os
d
o l
ei
t
or,
não
pas
sam po
r u
m aprendizado.
São
preferenc
i
alm
ente
a
nimais
p
o
rq
u
e,
ent
re
outra
s
razões,
a
s
açõe
s
e
stab
ele
c
i
das
e
ntre
o
comportamento
humano e o
animal
são mais
f
a
ci
lmente rec
o
nhecidas como,
por
ex
emplo, a astúcia da raposa e a ingenuidade do cordeiro
(MART
HA,
1999, p. 74).
Portella
(1983)
n
ão
reconh
e
c
e
ta
l
d
i
s
tin
ç
ão
assim
c
om
o
as
co
let
â
neas d
e fá
b
ul
as, prát
i
ca
verificável, inclu
sive,
na obra lobatiana,
que r
eúne, em
su
a
sel
e
ção,
textos
nos
quais
as
per
s
on
a
g
e
ns
tam
bé
m
sã
o
p
lantas
ou
pessoas.
Isso também se c
om
prova
na
leit
ura da f
áb
u
la gr
ega que
nunca
se
li
m
i
tou
a
trabalhar
apenas
c
om
1hi
stór
i
as
de
animais
que
fal
am’,
como
v
ei
c
ula
m
nossos
manuais.
Notamo
s
que
qual
quer
ser
podia
constituir-se pe
rs
o
nagem de fábulas: ao l
a
d
o dos
anima
i
s,
encon
tr
amos
deuses,
heróis, homens, plantas, objetos
,
difere
ntes
partes
de
um
mes
m
o
corpo
e
até
e
n
tidades
a
bstra
t
a
s
(DEZO
T
TI,
2003, p. 27, aspas da autora).
O g
ênero
f
á
bula poss
ui, seg
undo Martha,
um
“esqu
ema
geral q
ue se
resume
e
m
aç
ão/reação
o
u
disc
u
rso/co
nt
ra
-di
s
cu
rso
,
ou
ainda
um
mai
s
amplo
co
m
o
situação
-aç
ão/r
ea
çã
o-re
s
ultado
”
(M
ARTH
A, 199
9, p. 74).
Ao tratar
da li
nguagem
,
Martha a
firm
a que:
No que
s
e
refere à l
i
nguagem, a
f
ábu
la
de
v
e primar pela objetividade,
o
que
exp
l
i
ca a au
sênc
ia
da d
escrição, com o
predomí
n
io do
diálogo,
se
ja direto, indire
t
o ou m
i
sto, podendo, inclusive, ocorrer o monólogo.
A
importância
do
narrador
d
eve
ser
res
sal
tada
,
uma
v
ez
que
tanto
a
situa
ç
ã
o
quanto o resultado são apresentados por
ele,
f
ic
a
ndo a ação
e
a
reação
po
r
conta
das
personagens,
por
me
io
d
o
diál
ogo
(M
A
RTHA, 1
999,
p.74
).
Quanto
a
tem
á
tica:
Os
tema
s
tradi
c
i
onais
das
Fábu
la
s
f
oram
tra
t
a
d
o
s
nas
escolas
dos
sofis
t
as
gr
e
gos
c
omo
a
ssu
n
t
o
s
de
exercícios
li
terários
d
e
r
edação;
eram
os
l
oci
comm
un
es,
ta
m
b
ém
a
d
otados
n
as
e
scolas
d
e
Roma,
cu
jos
cadernos,
achados
no
fi
m
da
Idade
Média
v
ieram
a
cons
t
ituir
79
as
Fábulas
de
Fedro,
outra e
ntidade
sem
existên
cia
real, f
orma
d
a
do
epíteto da
r
o
cha
phoedric
a
,
da
qua
l
tinha
si
d
o,
segundo
a
lenda,
precipitado Esopo
(
BRAGA, apud La Font
ai
ne,
s/d,
p
. 86).
Quanto
à
form
a,
os
text
o
s
gregos
arca
icos e
ram
esc
ritos
em
v
ersos.
Segundo
Dez
otti
(
2003),
tal
prática
p
o
deria
rem
e
ter
a
um
g
ênero
f
ormal
izad
o
em
es
qu
e
m
as
métric
o
s
. Entr
etanto, a
pe
s
quisadora
destaca
justamente o
contrá
rio,
se
n
do
a
fábul
a um gê
nero
pr
o
s
aico,
representativa
da f
ala c
otidiana,
qu
e se
aj
u
s
t
ou,
m
o
mentan
eam
ente “
às
c
a
racter
í
sticas
formais
do
gênero lit
erário que a
a
c
olhe,
co
m
o
é o caso d
a épi
c
a, da p
oesia didática, da com
édia” (
DEZOTTI, 2003, p
. 26).
A
popula
riz
a
ção
da
pro
s
a, e
nquant
o
expr
e
ssão
literár
ia,
já n
o s
éculo
VI
a.
C.,
e
stá
a
ss
o
c
iada
a
c
hegada
de
E
s
opo
na
G
récia.
Embora
já
difu
ndida
e
ntre
os
assír
io
s
e
babilônios,
foi c
om o
gr
ego
Esop
o q
ue o
gênero
f
oi c
onsagrado
. Esopo
e J
ea
n
de La Fontaine s
ão os nomes c
itados
p
or Monte
iro Lobato,
tanto em sua o
b
ra
literári
a
quanto
em
seus
te
x
tos
teóricos,
quando
o
a
ss
un
to
é
fábula.
T
anto
q
ue
o
autor
de
Taubaté
os
h
om
ena
geou,
inserindo-os
em
s
ua
obra
literária
inf
anto-ju
v
enil,
na
qual
id
a
de
d
e
personagens,
na
q
ual
os
a
u
tores
c
ontrac
enam
co
m
a
s
cri
an
ç
as
do
Sítio
do
Pica
pau
Am
a
relo,
dur
ante
a
vi
agem
d
as
p
er
s
onagens
ao
País
das
Fábulas.
Em
í
lia
é
a
p
rim
eira,
e
m
u
m
m
is
to
de
humor
e
infor
m
açã
o,
a
pro
m
ov
er
a
aprese
nta
ç
ão
d
e
Eso
p
o:
-
Quem
será
o
bicho
careta?
Com
certeza
algum
h
omem
que
estava
tomando
b
a
nho
e
perdeu
a
s
ro
u
p
as
–
b
er
ro
u
Emília.
Vem
embrul
had
o na toalha.
O senhor de La
F
ontaine explicou quem er
a
.
-
E
stás
e
n
ganada,
bonequinha.
Aquele
h
omem
é
um
f
amoso
fabulist
a
g
re
g
o.
Não
v
em
e
m
brulhado
em
nenhuma
toalha,
mas
s
i
m
ve
st
i
do
à
moda
do
s a
n
tigos
gregos.
Chama
-s
e
Esopo.
Foi
o p
rimeiro
que teve
a i
d
éia de escrev
er fábula
s (LOB
AT
O
,
1973 e, p. 141).
Também
é
a
marq
ues
a
de
Rabi
c
ó
a
res
pon
sáv
el
pela
descrição
do
fabulista
francê
s
:
E
stava
ela
[Emília]
muito
admi
rada
das
ro
upas
do
fa
b
u
lis
ta
.
Ho
m
e
m
de
g
o
la
e
punhos
de
renda,
onde
j
á
se
viu
isso?
E
aquela
cabeleira
de
cachos
fe
ito mulher! Quem sabe se o coitado não t
i
nha tesou
ra
?
–
pensou
a boneca
.
O
sen
ho
r
La
Fontaine
converso
u
com
todos
a
ma
v
elmente,
di
zendo
que e
ra aquele o lu
g
ar d
e que mais gostava. Ouvia os
anima
i
s
fal
arem,
aprendia
muita
c
o
isa
e
d
e
p
ois
p
u
n
ha
em
v
er
s
o
as
h
istórias
(LOBATO, 1973 e, p. 137).
80
As
vestim
entas
de
ambos
s
ão
a
p
rimei
ra
r
eferênc
ia
à
s
person
alidades
históricas
,
s
ervindo
de
a
p
r
e
s
ent
a
ç
ão
e
apro
xi
m
aç
ão
entre
os
autor
e
s-person
agen
s
e à
s
personagens pro
p
riam
ente d
itas.
Seguindo as
pistas dei
x
adas pelo
autor do Sít
io d
o Picapau Amarelo,
Eso
po
12
torn
a
-se
a
prim
eira
refe
rên
c
ia
.
A
s
f
ábulas
a
e
le
at
r
ibuídas
obedecem
ao
m
e
s
m
o
pa
drão,
veicu
lando
uma
n
orma
de
c
onduta
sob
a
analogia
c
lara
de
ato
s
de
anim
a
is,
hom
ens
, deus
e
s
ou coisas inanim
ad
as
.
Me
s
m
o
c
om
a
ex
is
tência
não
c
on
firm
ada,
Esopo
é
uma
person
alidade
lend
ária,
tendo
recebido
de
Platão
menção
ho
nrosa
em
s
ua
República
,
ao
c
ontrár
io
dos
d
em
ais
intel
e
c
tuais
,
que teriam
s
ido
e
x
pulsos. Para
Platão
(apud
L
A
FONTAI
NE,
2006)
é
d
e
se
já
v
el
que
as
c
r
i
anç
as
s
uguem
as
fá
bulas
co
m
o
leite;
o
fabulista
aind
a r
ecomenda
às
am
as
qu
e
as
ensin
e,
po
i
s
nunca
é
ce
do
para
se
a
c
ostumar c
om
a s
ab
edor
ia e a virtude.
A
v
irtude
c
itada
p
or
Pla
tão,
enra
iz
ada
de
s
de
a
s
o
rigens
d
o
texto,
no
qual
se
a
m
á
lga
m
a
o
p
opular
e
o
espírito
realista
e
ir
ô
ni
c
o,
geralmente,
age
com
o
refo
rço da
s
qu
alidades e liçõ
e
s a
serem
difund
idas. Iss
o porque os
te
xtos s
ão
c
urtos,
bem
h
u
m
orad
os e
suas
m
e
nsa
gens
e
ens
i
na
m
en
tos
es
tão
re
la
c
ionados
c
om
os
fatos
do
c
otidiano,
“com
c
ons
elhos
sobre
lealdade,
g
enerosidade
e
as
v
irtudes
do
trab
alho.
Em
g
eral
a
m
oral
é
acresc
entada
com
o
um
pe
nsa
m
e
nto
a
p
osteriori,
n
em
se
m
pre
dire
tam
ente
r
elacionado
à
n
a
rrat
i
va
que
o
antecede”
(ASH;
HIGTON,
19
99,
p. 6)
.
Rousseau
(1968)
criti
c
a
o
caráter
moralizante
d
a
fáb
ula
q
ue
,
se
g
un
do
ele,
pode
atin
gir
aos
hom
en
s,
m
a
s
seria
um
c
onteúdo
demasiada
m
e
nte
co
m
plex
o
pa
ra o
esp
írito
infa
n
til.
Martha
(1999) r
eforça
tal
hipótese,
p
o
is
s
egundo
a
pesqu
i
s
adora
“sua
estrutura
pec
uliar
j
u
st
ifi
c
a
a
dific
uldade
de
p
ropor,
ho
je,
a
leitura
desse tip
o de narrativa para
a
c
riança e p
ara
o
ad
olescente” (MA
RTHA, 1999, p
.74).
As
questõ
es
pedagógic
as
e
didá
ti
c
as
s
erão
re
fletidas
e
discutidas
dura
nte
a
análise
d
as
r
ee
sc
rita
s
das
fábula
s,
e
m
b
ora
d
urante
a
pesquisa
se
12
Não se sa
be
se Esopo
exi
st
iu
rea
l
m
ente
,
e
m
bo
ra vá
r
i
as lendas fal
em
de
u
m
escravo
cha
m
ado
E
sopo, fabuli
sta
grego
que
se
acredi
t
a
te
r
vivi
do
n
o
s
écul
o
VI
a
.
C.,
mai
s
ou
m
en
os
de
620
a
560.
Não
há
pro
vas
his
t
ó
ri
cas
de
qu
e e
l
e ten
ha ex
ist
id
o, embora n
in
guém
n
eg
u
e a exis
t
ên
c
ia
de mais
de 300 fábu
la
s
, com carac
terísticas
se
m
elhan
tes
,
que
p
o
dem
ter
si
do
escri
t
as
ou
ree
scritas
e
d
i
vul
gadas
po
r
el
e.
De
es
píri
t
o
engenh
oso
e
sutil
,
ho
m
em
de
muita
cul
tura
e
criativi
dade,
foi
o
mai
o
r
contado
r
de
f
áb
u
la
s
e
o
primei
r
o
compil
ador
dessas famosas
hi
stór
i
as.
Se
u
nom
e
era
f
a
m
il
iar
a
Ar
i
stófanes
e
Pla
t
ão.
Foi
escravo
em
Samos
e
m
orreu
e
m
Del
f
os,
Gr
éci
a
-
l
oca
l
o
nd
e s
u
a col
etâne
a de
tex
t
o
s recol
hi
da fora d
a Gréci
a,
n
a
s
regiões
da
Ásia
Men
or
,
f
oi
a
m
pl
am
ent
e
divul
gada
e
pre
stig
iada
pe
l
os
at
eni
enses.
Na
verda
de,
t
odo
s
os
dados
refer
entes
a
E
sopo
são
discu
tí
vei
s
e
se
trata
mais de
u
m
person
age
m
leg
endár
i
o d
o qu
e
h
istóri
co. (DEZ
O
TT
I, 2
0
03, p. 22 –
32).
81
perceb
a,
a
par
tir
da
s
respo
s
ta
s
obtidas
no
dec
o
r
re
r
de
todo
o
trabalho
desenvolvido
em
s
ala
d
e
au
l
a,
q
ue
a
criança
faz
d
escobertas
e
marca,
p
or
meio
de
s
ua
recepção,
a
compree
nsão
qu
e
alcançou
em s
eu
c
onta
t
o c
om
o
texto
,
que
var
ia
d
e
acordo
co
m
o
t
ipo de
mediaçã
o
q
u
e o leit
or em
formaç
ão tem
à di
s
posição. I
s
so porque a
recepç
ão
crí
ti
c
a
do
g
ênero
f
abular
pelo
públic
o
i
nfantil
de
pende
de
um
tra
balho
intensifi
cado
e
qu
e
conte
c
om
re
cursos
e
m
a
teriai
s
atrativos
q
u
e
atraiam
o
leitor
e
fac
ilitem
s
eu c
o
nt
ato com
o
tex
to narrativo.
Ness
e
cas
o,
a
c
rítica
de
Rousse
au
ao
fa
l
s
o
cie
ntifi
c
i
smo,
o
desap
ego
aos
c
onceitos
de
v
erdade
e
léxico
i
m
pró
prio
é
ret
om
ad
o
e
discu
tido
po
r
Sos
a
(
1993),
que
t
ambém
ac
redita
que
a
falta
de
compro
m
i
sso
com
a
v
eracida
de,
que há
na
s
fá
bula
s
, pode s
er prejudicial
pa
ra a consti
tuição do conhecim
en
to infantil
.
Sem
to
mar partid
o
nos debates, quanto ao conceit
o
d
e
verdade
presen
te
nos
tex
tos
fabul
are
s,
não
s
e
pode
neg
ar
o
v
alor
cu
ltur
a
l
e
histórico
de
ta
i
s
escritos,
que
ult
ra
pa
ss
am
o
te
m
po
e
res
gatam
v
alores
que
perm
an
ece
m
,
e
m
muit
as
si
tua
ç
ões, intactos às
ma
rc
as do tem
p
o.
Exemplo
dis
so
é
a
figura
do
p
ró
prio
Esopo,
que
r
esga
to
u
fábula
s
nasci
da
s
no
O
riente, a
d
aptando-
a
s
c
om m
a
rcas dramá
tic
a
s
e
filos
ófi
c
as
,
com
o
intuito
de
aconse
lhar
e
p
e
rsuadir.
A
ele
são
atr
ibuídos
359
t
extos
esc
ritos
em
pro
sa
e pr
esos à lín
gua fal
ada. Nos tex
to
s
de
Esopo os
animai
s
fa
lam, com
e
te
m erros
, s
ão
sá
bios
ou
to
los,
maus
ou
bons,
ex
atam
ente
c
omo
os
homens
,
pois
a
intenç
ão
em
su
a
s narra
ti
v
as
é m
ost
rar
c
om
o
os
h
o
m
ens
podem
agir.
As
fá
bulas
esó
pi
c
as
organizam
-s
e,
comumente,
e
m
dois
pará
g
r
afos,
se
n
do
o prim
e
iro
o que c
omporta a n
arrativa
propriamente d
ita, enq
uanto
o
segun
d
o,
denominado
de
epim
í
tio,
p
or
es
ta
r
a
pós
a
narrati
v
a,
d
i
v
ide-se
e
m
du
as
p
a
r
tes,
u
m
a
que
apresenta
uma interpr
etaç
ã
o d
a
narrativa e
um
a
outra
que
m
o
stra
a
ação,
que o
próp
rio enunci
ador
da f
ábu
la
,
realiz
a
e
m se
u ato
de
fala.
Essa
d
i
v
isão p
ode
ser
vista
na seg
uinte narrativa:
Um as
no c
o
b
ert
o
com
uma
pele
de l
eão
f
azia que
todo mundo
pensa
ss
e
que
e
l
e
e
ra
u
m
l
eão,
pondo
em
fuga
t
a
nto
homens
como
rebanhos.
Mas
assim
que
sopro
u
uma
ra
j
ada
de
ve
nto,
a
pele
s
e
despegou
e o
asno fi
cou nu.
Todos então ac
orreram e o
espancara
m
co
m paus e
p
orretes.
[A
fá
b
ula
mostra]
Que
v
ocê,
que
é
p
o
bre
e
gent
e
comum,
não
deve
i
mitar
a
s
ati
tudes
do
s
ricos,
p
ara
não
ser
alvo
d
e
caçoadas
n
e
m
82
co
rrer
ri
scos,
pois
o
que
é
alheio,
é
i
mpr
óp
rio
(DEZOTTI,
20
03,
p.
35)
13
.
Em
s
eus
tex
to
s
, no
ta-
se, s
eg
undo Dezotti
(2003),
a
apresentação
de
part
e
da
s
informações,
sendo
deixado
para
o
receptor
a
ta
ref
a
d
e
preencher
as
lac
una
s
p
resentes
n
o
texto.
Havia
en
tão
uma
c
onfiabilidade
no
re
pertório
c
ultural
do
leitor,
que é s
ubs
tit
u
ída, no
decorrer
do tempo, p
rincipalm
ente
s
e o leit
or em ques
tão
for
u
m
a
c
riança
,
pela
oportunização
de
c
ond
i
ç
ões
para
a
recepção
do
t
ex
to,
s
eja
na
ins
e
rç
ão
de
info
rm
a
ções
ou
uso
de
abordagens
específicas
,
com
o
a
at
ribuição
da
vo
z
narrativa
a
uma
das
personage
n
s
e
no
c
uidado
com
a
c
o
nstruç
ã
o
con
j
un
ta
d
as
informaçõ
e
s,
qu
e ate
ndam
e
aux
iliem
a
taref
a de interpre
ta
ç
ão tex
t
ual.
As
fáb
ulas
esópic
a
s
foram
co
ntadas
e
re
adaptadas
p
or
se
u
s
co
n
tinuad
ore
s
,
c
omo
Fedr
o,
La
Fon
taine
e
outros,
e
acabaram
torna
ndo-se
parte
da
linguagem diária
.
Fedro
14
(15
.a.C. 50.a.C),
r
esponsável por re
co
ntar a
s
fábula
s de
Eso
po
em
for
m
a de
poes
ia,
m
os
tra,
por
meio
de
s
uas
h
i
s
tórias, m
arc
a
das
com
sá
ti
r
a,
s
u
a
re
v
olta
contra
as
injustiças
e
o
c
rime.
A
fábula,
p
or
s
er
um
a
peque
na
narra
ti
v
a,
s
erve
par
a
ilu
s
trar
algum
víc
io
ou
algum
a
v
irtude
e
te
rm
i
na,
inv
a
r
iavelmente, com
uma li
ç
ão de m
or
al. A
g
rande m
aioria da
s fábula
s
ret
rata
person
agen
s
c
omo
an
imais
ou
c
r
iatura
s
im
aginári
as
(cria
tu
ras
fabul
o
sas),
q
ue
repres
entam
,
de
for
m
a
alegór
ica,
os
traços
d
e
caráter
(ne
gati
vos
e
po
s
itivo
s
),
de
seres
hum
anos
.
Coube a F
edro, es
cra
v
o alforr
iado do
Im
perad
or Augus
to, enr
iquecer
es
tili
stica
m
en
te m
u
itas fábul
a
s
de
E
s
opo, q
ue não haviam
s
ido e
scritas e
er
am
transmitidas
oralm
ente,
embora
s
e
rv
i
sse
m
d
e
apr
e
nd
izagem
,
f
ixação
e memorizaç
ão
dos
va
lo
res
morais
do
g
rupo
s
ocial.
Dest
e
m
odo,
Fe
dro,
c
omo
in
trodutor
da
fábu
la
na
l
iteratura
l
atina,
redig
ia
s
ua
s
produ
ções
,
normalmente
sérias
ou
satí
ricas,
trata
nd
o
das
injustiç
as,
dos
m
ale
s
soci
ai
s
e
pol
ítico
s
,
e
x
pressando
as
ati
tu
d
es
d
os
fortes e
oprim
idos
, mas
de m
aneira
brev
e
e divertida
.
As
fábulas
escrit
as, po
r Fedro,
e
m
v
erso
s
fo
ram
utilizadas
par
a
denunc
iar injus
ti
ç
as,
ato que
de
s
encadeou
conseqüênc
ia
s
pa
ra o
fabuli
s
ta.
Sua o
b
r
a
13
As
t
radu
çõe
s
da
s
fábu
las
rea
liz
adas
por
Dezo
t
ti
(2003)
di
a
l
ogam
co
m
o
debate
al
m
ejado
pela
d
iscu
ssã
o
emp
r
eendi
da, por isso a
con
st
ante rec
orrê
ncia
a elas.
14
P
o
eta,
filh
o
de
escrav
os,
n
a
sceu
num
país
d
e
língu
a
grega,
a
Tráci
a.
F
oi
o
i
ntr
odu
to
r
do
gê
nero
fáb
ul
a
na
li
tera
tu
ra
rom
ana
.
Viv
eu
n
o
séc.
I
d.C.,
provav
elmente
al
forriado
pel
o
i
m
perador
A
ugu
st
o
e
persegui
d
o
pelo
m
i
nistro de T
i
bér
io
,
Sejano (D
EZOTT
I,
20
03, p. 73
)
.
83
é
c
omposta por
m
a
is de ce
m
f
ábulas, organizadas
em
cinco
livros. O próprio
fabulista
, a exe
m
plo d
o que fa
z Lobato, f
az
refer
ênc
ia a suas fontes,
o que re
aliz
a
no
pref
á
ci
o
de
seu
primeiro
liv
ro,
no
qual
ap
resenta
a
fo
rm
a
,
Ve
rsos
Senár
io
s
,
e
a
intenção
de s
ua
produção,
m
ove
r
o c
onteúdo.
As
tran
s
criç
ões d
as
fábulas
esópicas,
se
g
un
do
F
edro,
o
bjeti
v
aram
en
treter
e
a
cons
elhar,
c
omo
demonstr
a
o
trecho
trad
uz
i
do por José Dej
alm
a De
zotti:
E
sopo, mi
nha fonte, inventou esta matér
ia
Que eu
bur
ilei
em
Versos Senár
i
os.
Dupl
o
é
o
pro
pósito deste
l
ivrinho: mo
v
er o riso
E
g
uia
r
a vida com prudentes conselh
o
s.
S
e
algué
m, por
ém, quiser criticar,
P
orque até
a
s árvores falam, e não s
ó
o
s
bic
h
o
s,
Lemb
re-
se
de
que
nos
divertimos
com
hist
ór
i
as
f
ictíci
as (FEDRO
,
apud
DEZO
TTI, 2003, p. 74).
Também
é
n
ec
es
s
ário
v
oltar
a
atenção
pa
ra
a
tradição
indi
ana
da
fábula
,
uma
v
ez
que
també
m
es
sa l
inha f
oi
ut
iliz
ad
a
na adapta
ç
ão
lobatiana
.
A
fábula
indiana com
eç
a p
o
r vol
ta
do século I, co
m
textos sânscritos da coleção
Pañc
at
a
ntra
,
que
se
desdo
brará,
no
século
VIII, na
v
ersão
ár
a
be
Calila e
D
imma,
do
qual se s
eguiram
in
úmeras
versões, ch
e
ga
ndo até La F
ontaine.
Ness
e
s
t
e
xt
os
é
evide
nte
a
intenc
ionalidade
do
e
miss
o
r
,
cuj
o
s
objetivos
s
ão,
c
la
r
am
e
nte, apresentados
a
o
leitor
/ouvinte.
Para
Dezotti
(
2
003),
a
orga
niz
aç
ão di
s
cu
rsi
v
a
das
fá
b
ulas
é
marca
e
ssenc
i
al
da
o
ra
l
idade
e
da
i
ntertextuali
d
a
de
e
c
ertame
n
te
co
nsiste
numa
das
p
rinc
i
pais
razões
da
permanência
des
sas
hi
stórias
,
alguma
s das q
uais chegam
a
M
ontei
ro Lobato, p
or mei
o de
La
Fontaine:
A
menina
do
l
e
i
te,
Os
a
ni
m
a
is
e
a
pest
e
,
A
ga
rç
a
v
elha
(DEZOTTI, 2003, p. 114).
As
fábu
l
as
ind
ianas
poss
uem
a
lgum
a
s
ca
racterí
s
ti
c
as
qu
e
as
part
i
c
ulari
z
a
m
,
co
m
o
a
marca
nte
p
resenç
a
d
a
v
i
o
lência
c
omo
punição
da
s
falhas
aponta
das
nas
p
ersonagens
e
a
inserção
de
c
om
e
ntár
io
s
em
v
ários
momentos
da
narra
ti
v
a.
Ta
is
m
ud
anç
as
d
ire
c
ionam
o
leit
or,
des
de
o
início
do
tex
t
o,
par
a
u
m
a
deter
m
inad
a interp
retação.
Os
textos
s
ão
re
tom
ados
p
oste
riorm
en
te
por
outros
escritores,
mas
co
n
forme a
ponta
a
hi
s
tóri
a da
fábula,
é no s
éc
ulo
XVI
I, n
a Fr
ança
,
qu
e nasc
e o
m
a
is
importante
fabu
li
s
ta
da
era
m
oder
na:
J
ean
de L
a
F
ontai
ne
(1621-169
5), e
scritor
q
u
e
84
imprimiu
à
fábula
gra
n
de
refinam
ento
e
ac
abou
s
endo
imortalizado
como
o
pa
i
da
fábula
m
o
derna
,
po
i
s
esteve
dire
tam
ent
e
ligado
à
c
onstitui
ç
ão
de
s
te
g
ê
ne
ro li
terário.
A
ele
cou
be
a
miss
ã
o
de
elev
ar
esse
tipo
de
escri
ta
à
c
ondição
de
re
le
v
o
liter
ário,
assumindo,
po
s
teriorm
e
nte, um des
taque
nã
o vive
nciado em seu te
m
po.
De
origem
b
urgu
esa
,
La
F
ontai
n
e
fr
eqüentav
a
a
cor
te
do
Rei
Sol
–
Luís XIV
, de onde
ex
traiu
infor
m
aç
õe
s
par
a s
ua
c
rítica s
ocia
l.
A pub
licaç
ã
o da
prim
eir
a
c
oletâne
a
de
f
ábulas
data
de
1
66
8,
em
cu
jo
pre
fá
c
io
d
eixa
be
m
c
laro
su
a
s
intenções
na c
on
st
ituição dos t
extos,
pois afirm
a s
erv
ir-se de
anim
ai
s
p
ara
instruir os
hom
ens
.
Ness
e
per
ío
do
,
as
fábulas
gan
ham
u
m
sen
tido
ma
is
moderno
,
pois,
co
m
o
par
ticipante
d
a
corte
francesa,
e
le
cr
iti
c
ava
a
sociedade
por
meio
de
suas
prod
u
ç
õe
s
. Em
s
ua
obra
-prim
a
F
ábulas
, e
l
e m
os
tra
a vaid
ade e estupi
d
ez d
as
pessoas
, atribui
ndo
tai
s
c
aracterísticas
aos
animai
s
.
A p
rincipa
l peculiar
idade do s
eu
m
o
do de e
sc
rever e
ra
m
a
s ri
m
as
, o que fac
ilit
av
a a mem
o
ri
zação das
h
istórias.
Por fim
, c
o
mo destac
a o bibliófilo
Teófilo Braga, em artigo que
abr
e
a
edição de
Fábula
s
de La Fonta
i
ne
,
a
s
fáb
ulas do a
uto
r,
nas
ci
da
s ne
s
t
e campo
comum da t
radição universal, também
tivera
m
o
mes
m
o
destino
que
as
fábula
s
esópicas
e
fédricas,
en
traram
nas
es
col
as,
e
serviram
d
e
lei
tura
e
para
transuntos
cal
igrá
fo
s.
A
grande
obra
de arte, assim vulgarizada, decaiu da
s
u
a imponente majestade,
a
que
a
crítica
a
restitui,
pondo
em
evidência
o
la
d
o
indi
v
idual,
a
forma
p
itoresca,
a
e
xclusiva
idealização
d
e
L
a
Fontaine
(TEÓFILO
B
RAGA, s/
d
,
p
.
87).
Além de co
m
por
s
ua
s
próprias
fábulas, t
a
mb
é
m reesc
reve
u
, e
m
versos
f
ran
c
eses, m
uitas
das
fábulas
an
tig
a
s d
e Esopo
e
d
e
Fedro
e
c
om
i
s
so
co
n
segui
u
elevar a fábula ao ní
v
el da alt
a poes
ia
.
Pri
v
ilegi
ou tanto a obra
dos
escritor
e
s
Anti
gos c
omo a
dos
Mode
rno
s
,
mantendo
uma es
tr
utura escr
ita
que
co
n
sisti
a
na
exposiç
ão
de
uma
s
ituação
e
e
ncerrava-se
em
u
ma
moralidade,
m
a
rcad
a pela
b
revid
ade de relatos
que
divertiam
e
ins
truíam
.
No
e
nta
nto,
esse
resgate
do
câ
no
n
e,
foi
marc
ado
pela
cria
ti
v
ida
de
em trans
form
a
r ess
e m
ater
ial e
m
u
ma produç
ão m
oder
na p
ara sua
época. O
transla
do
perm
it
iu
que
o
binômio
Trad
ição
x
ruptura
se
fun
di
s
se
,
gra
ç
as
a
essa
junção
fo
i
pos
s
í
ve
l
q
u
e
o
Clássico s
e
tornasse
a
c
es
s
ív
el
a
di
fe
r
entes
te
m
po
s,
cu
ltu
r
as, class
es
s
ociais
e grupos.
85
As fá
bulas
, r
e
c
ontada
s
e recriadas n
o decorre
r d
o
s
tempo
s
, encontra
no
Brasil,
na
segunda
déc
a
d
a do
século
XX,
u
m
p
aís
qu
e
v
i
v
e
nciava a
grande
guer
ra que
eclo
di
a
na
Europa. A
Prim
e
ira Gue
rr
a Mund
ial
(19
1
4 -1918)
trouxe i
déias
nac
ionali
s
t
a
s
ao
mundo
e, n
o
Br
asil,
Lobato,
no
in
tuito d
e
cr
iar
uma
litera
tura
brasileira
,
espec
ialm
e
nte
v
oltada
p
ara
as
criança
s
e
aos
jove
ns,
s
e
in
teres
s
ou
p
elo
gêner
o
fábu
l
a
pa
ra
dar
um
a
identid
ade cultural
ao
indivíduo
, principal
m
ente
ao
jov
em
le
itor em for
m
açã
o.
A
ret
om
a
da
do
c
âno
ne
literário,
rea
lizada
por
L
oba
to
n
a
reescr
ita
das
fábulas,
busca
te
x
to
s
qu
e são r
ecolhido
s
dos
fab
uli
stas
do
pa
ss
ado e
adaptad
os
à r
ealidade
do
m
o
m
ento
e
ta
mbém adequ
ada
s
ao
público,
ne
ss
e c
aso,
os
pequenos
leitores.
Portanto,
o
s
textos
reescrit
os
c
o
ns
i
s
tem
na
a
cli
m
ataç
ão
das
fá
bulas
trad
i
c
iona
i
s
,
ou s
eja,
ocorre
a
aç
ão
de
trans
p
os
iç
ão d
e
elementos
naci
on
ais
para
os
tex
to
s
infantis,
c
om
a
intenção
d
e
c
ons
t
ruir
u
m
a
l
iteratura
nacional
e
de
qual
idade
para
o
público
infanti
l.
Tal
ideário
aparece
em
c
arta
ao a
m
i
go
God
ofred
o
Rangel,
na
qual L
obato afirma:
A
ndo
com
v
ár
ias
idéia
s.
Um
a
:
v
estir
à
nacional
as
v
e
l
h
a
s
fábula
s
de
E
sopo
e
La
Fonta
i
n
e
,
tudo
e
m
prosa
e
mexendo
na
s
m
orali
d
a
d
e
s.
Coi
sa
p
a
ra
crianças.
Veio-me
da
atenção
cur
i
osa
com
que
me
u
s
pequenos
ouvem a
s fábulas
que
Purezinha lhe
s
conta.
Guar
d
am-
na
s
de
me
m
ó
ri
a
e
v
ão
recontá-las
a
os
amig
o
s
–
se
m,
entretanto,
pres
t
a
rem
nenhuma
atenção
à
moralidade,
como
é
nat
ural.
A
moral
idade
nos
fi
ca
no
subconsciente
p
ara
ir-se
revelando
mai
s
tarde,
à
medida
que
progredi
m
o
s
e
m
compr
ee
nsão.
Or
a,
um
fabulá
r
i
o
nosso,
c
o
m
bichos
daqui
em
vez
d
os
exóticos,
se
fo
r
feito
co
m
arte
e
tal
ento
dará
coisa
pre
c
i
osa
(LOBAT
O,
1
968
b,
p.
245
-
46).
Dess
a disc
u
ssão s
urgem as
soc
iaçõe
s
e co
m
entár
ios s
obre o
p
róp
rio
co
n
teú
do
l
iter
á
rio,
os
assuntos
das
fá
bulas
e
s
ua
atua
lização.
Ao
discutir
a
m
o
ralidad
e d
as
narrativas,
o
a
utor
br
a
s
ilei
ro
pos
sibilita
uma (
re
) lei
tura
desses
tex
to
s
,
d
e
aco
rdo
c
om
o
s costumes
de
s
eu
te
mpo,
pro
m
ov
en
do
a reflex
ã
o
e
a
atualização
da
s
te
m
át
icas e
vocábulos.
Trans
p
ar
ece
,
em
tal
cont
ato,
a
v
alorizaçã
o
do
gênero
por
L
obato.
Isso
p
orque
o
autor
do
Sítio
do
Picapau
Am
a
r
elo
ao
mesm
o
t
em
po
e
m
que
ressal
ta
o
v
alor
pedagógico
e
cul
tu
ra
l
da
fábula,
atualiza
-a,
por
mei
o
do
debate
ent
re
a
s
m
u
danç
as
de
val
o
r,
ex
i
s
tentes
entre
a
rea
lid
ade
representada
nos
tex
tos
o
riginais
e
se
u
ref
le
x
o
naquele
m
o
m
e
nto h
istór
i
c
o específic
o.
86
Ma
rt
ha (
1999)
destac
a a
im
portâ
ncia
da
interfer
ên
c
ia
de Don
a
Benta
na
adaptação
das
fábula
s
,
um
a
v
ez
qu
e
n
a
prática
de
contaç
ão
d
e
histó
ria
s
,
as
dem
ais
pers
onagens
têm
oportuni
d
a
de
de
participar
da
co
nstru
çã
o
d
o
co
n
hecimento,
q
ue
no
Sítio
do
Pic
a
p
au
Amarel
o
c
ont
a
com
a
a
u
xí
lio
d
e
to
do
s
.
Isso
porq
ue:
j
ustam
e
nte
nessa
recepç
ã
o
crítica
,
re
side
o
fa
tor
de
maior
respons
abi
l
idade pe
lo
c
a
rá
te
r
emancipador
da
narrativa
l
o
b
a
tiana.
Des
se modo, tanto a
intro
missão de Emília, de Na
rizi
n
h
o ou de
P
edri
nho
quant
o
o
ponto
d
e
vi
sta
do
narrador,
no
caso
a
avó
das
cri
anças
, podem ser c
onsiderados asp
e
ctos in
ov
adores
na fábula
l
obatiana (M
AR
THA,
1
9
99
, p. 7
7
).
A
fáb
ula
lobatiana
po
ss
ui
muitos
aspec
to
s
inov
a
d
ores.
Além
d
o
narra
dor,
outros
i
n
stru
m
e
nto
s
c
om
o
a
desc
onstrução
e
r
e
co
n
s
tru
ç
ão
das
n
arrativas,
sã
o
utilizados
n
a
reto
m
a
da
de
inf
luên
c
ias
e
na
c
onstituiç
ã
o
d
o
texto
.
Ass
im
c
omo
a
paró
dia,
disc
utida
no
c
apítulo
a
nterior,
r
ee
sc
ri
ta
tex
tual
qu
e
reto
m
a
tex
tos
e
s
aberes
pré-ex
ist
entes
,
que
ressurgem
c
om
a
finalid
ade
d
e
reapresentar
u
m
a
mensage
m
.
Ness
e
mo
v
im
ento
,
o
tex
to
é
s
u
bm
e
tido
a
u
ma
atualização
,
na
q
ual
agr
ega
a
o
texto
reescri
to m
ar
cas da
no
v
a l
eitura.
Tal
p
roce
dim
en
to
s
erá
a
nalisado
no
e
s
tudo
de
senvolvido
a
parti
r
da
pesqu
i
s
a
empírica realizada.
Os
textos
de
Monte
ir
o Loba
to,
discutidos na
seqüê
n
c
i
a,
se
le
c
ionados
pela pr
of
esso
ra regente p
a
ra a
ati
v
id
a
de
de reescrita das
fábulas
lobatianas
,
são,
em
sua
g
rande
m
a
ioria,
ret
o
m
ados
de
outr
as
fonte
s
e
adaptad
os
pelo
autor
bras
ileiro. An
alisar
o
processo
de
transpos
ição
adotado
por
Lobato
é u
m
a
m
a
neira
de
ent
ender
o
pr
o
c
es
s
o d
e
re
c
epç
ão, se
ja r
etratado
a
partir
d
a r
e
cepção
de
autor
e
s
c
onsagrados
ou
p
elo
qua
dro
c
onstituído
pelo
leito
r
com
u
m
,
c
om
o
no
c
aso
a
ser es
tud
ado
no próxim
o
ca
pítulo.
87
3 LEIT
ORES E
L
EI
T
URAS DE
FÁBULAS,
D
E M
O
NTEIRO L
OBA
T
O
A sabedoria que h
á
nas fábulas é a m
e
sm
a
sabedoria do povo,
adquirida à força de
e
xperiências .
Montei
r
o Lobato
No
m
o
v
imento
de
leitura
do
gêner
o
fabular,
di
v
ersos
le
itore
s
estarão
en
v
olv
i
d
os: des
de os divulgado
res orais das
fá
b
ulas,
os prim
e
iros
au
to
r
e
s
, que
ti
v
eram a mis
são de r
e
gis
trá
-las,
out
ros q
ue as r
ee
scr
e
v
eram
,
grupo
no qua
l
s
e inclui
o
pró
prio
Lobato,
a
prof
es
sora
regen
te
d
a
escola
obse
rvada,
le
itora
que
se
le
c
ionou
os
te
x
tos
lobatianos
para
o
traba
lh
o
de
l
eitura
e
m
s
ala
de
a
ula
e,
por
fim, o
s
alunos,
que
dentro
de
um
es
paço
literário
delim
itad
o,
real
izaram
suas
e
scol
ha
s
e
,
desse
m
o
do,
m
oldar
a
m
a
rec
ep
ç
ão
das fábulas.
Todos os
dem
a
is
já
foram disc
utido
s
ne
s
ta
dissertaç
ão,
c
abe
agor
a
a
nalisar
a
s
eleção
tex
t
ual
realizada
pe
la
professora
e
as
respos
ta
s
obtidas
dos
alunos
a
partir
dos
textos
s
elecionad
o
s,
da
do
s
que
serão
discu
tido
s
a s
e
gu
ir, a partir do quadro de
leitura realizado
no
a
m
b
iente e
sco
lar.
3.1 A Situaç
ão de Leitura
:
Descrição Met
odológica
Os
c
apítulos
a
nter
io
r
es
abordar
am
a
influ
ên
c
ia
da
tr
aduç
ã
o,
adaptaç
ão
e
pa
ró
dia
na
r
e
escr
ita
de
te
x
tos
do
c
ânone
l
iterário;
a
form
a
ção
histór
ica
do
gêne
ro
fábula
;
e
busc
a
r
am
u
m
a
v
ertente
te
órica,
a
saber
,
a
Estét
i
c
a
da
Rece
pção,
co
m
o
e
m
bas
amento
t
eórico d
e
s
ustentação
da
a
n
álise.
Este
c
apítulo
reto
m
a
u
m
a
si
tuação
real
de
leitura,
v
ivenciada
e
m
a
m
biente
es
co
lar,
no
qual
se
objetivou
identificar
as
m
a
rcas,
impingidas
pelo
leitor
infantil,
nos
textos
reescritos
a
part
ir d
os
text
o
s
l
obatia
n
os.
Ao
reesc
revê-lo
s
e,
a
ss
im
,
atualizá-los
,
o
leitor
inform
a-se
e c
heg
a
a
formar
os
textos
,
que
passam
,
a
p
artir
d
e
tal
mo
v
ime
nt
o,
a
rep
rese
n
ta
r
um
a
leitura
única.
Além
diss
o,
re
pre
s
entam
o
p
úblico
p
elo
qua
l
foi
cr
iado
ao
s
intetizar
v
a
lor
es
por
m
eio d
e s
ua interpretação ali retr
at
ada.
A
s
ituação
d
e
leitura
e
m
s
ala
d
e
aula
p
arte
d
a
aná
lise
d
a
recepção
do
tex
to
de
Monteiro
Lobat
o
por
cr
ianças,
tem
á
tica
eleita
an
tes
d
o
in
gre
s
so
,
c
om
o
aluna,
no
cu
rs
o
de
Pós-Graduaç
ão.
Isso
p
o
rque,
te
ndo
esc
olhido
de
senvolver
um
a
pesqu
i
s
a
s
obre
a
re
c
epção
do
texto
lo
b
atiano,
c
hegou
a
o
con
he
c
ime
nto
que
um
a
escol
a da c
idade
de Marin
gá dese
n
v
olv
e
r
ia
u
m ex
tens
o tr
a
balho
sobre o
autor. Ap
ó
s
88
os
c
ontatos
c
om
a
in
stituiç
ão
e
au
torização
p
or
p
arte
da
en
tidade,
que
abriu
es
paço
para
conversas
,
acompanha
m
e
nto
d
as
aulas,
v
isitas
à
bib
liote
c
a
da
escola
e
aplic
aç
ã
o
d
e
questionários,
surgiram
algumas
inquie
ta
ç
õe
s
que
r
esultara
m
n
os
questiona
m
e
ntos
norteadores da diss
e
rtação.
Assim
,
a
pesqu
i
s
a
e
m
pí
rica
p
rivi
legiou
um
g
rupo
de
a
lunos
pert
en
c
en
t
e
s
a uma tu
rm
a
de
seg
unda s
érie, do
Ensino
Fundamental, d
a fa
i
xa
etária
de
o
ito
a
nos.
Com
o
já
di
to
an
teriorm
e
nte,
n
a
s
Con
si
derações
Iniciais
de
s
ta
dissertaç
ão,
a esc
olha s
e
deu
por
concre
ti
zar-se
,
nesse meio
e
duc
a
c
iona
l,
um
projeto
cultural sob
re o autor.
O
proj
eto
,
de
abrangência
de
to
da
a escola,
foi
desenvolvi
do em
u
m
a
ins
tituição
d
e
Ensino
Fundam
ental
, s
érie
s
ini
ci
ai
s
,
pertencente
à
rede
particul
a
r
da
cidade
de
Mar
ingá,
Est
a
do
do
Paraná
.
O
trabalho,
realiz
a
do
dura
nte
o
s
egundo
trim
es
tre
l
eti
v
o
de
2006,
ac
a
bou
por
est
e
nder-se
pel
o
se
m
es
tre
se
g
uinte,
dad
o
o
i
nt
eress
e
dos
e
n
v
olvidos
,
e
cons
istiu
em
u
m
est
udo
interdi
sc
iplinar
co
m
a
obra, in
fantil e adulta, d
e
Monteiro
Lobato.
O
pr
ojet
o
cu
ltu
r
al
in
terati
v
o,
cu
jo
t
em
a
“De
Emília
a
o
Sac
i,
Monte
iro
Lobato
passou
por
a
qui”,
justificou-se,
segu
ndo
seus
i
dealizadores,
pela
pl
uralidade
tem
átic
a
que
e
n
v
olv
e
a
v
ida
e
a
o
bra
d
o
escritor
br
asileiro,
a
par
tir
da
qual
s
e
p
o
de
discu
ti
r
“aspectos
soc
iai
s
,
po
líticos
e c
ultur
ais
da
época
em
que
v
iveu
e
su
as
co
n
trib
ui
ç
ões
para
o
enriqu
e
c
im
ento
da
cultura
bras
ileira,
principalm
en
te
na
literatu
ra”
(fo
lder
A
1).
As
sim
,
a
r
ealização
do
p
rojeto
obje
ti
v
ou
d
e
st
acar
a
influência
cu
ltu
r
al
propiciada t
anto pe
la
produçã
o
literária
q
uanto p
ela própria p
ersonalidade
de
Lobato
.
Antes
,
no
e
ntanto,
de
analisar
as
a
ções
des
en
c
a
deadas
pela
prop
o
s
ta
de
trab
alho,
é
v
alid
o
aco
m
p
anhar
seu
nasc
im
ento.
A
es
co
la
realiza
anualmente
dois
pr
ojetos
cu
lturai
s
:
um
v
olt
ado
para
a
literat
ura
e
o
ou
t
ro
para
a
s
artes
em
gera
l.
A
esco
lh
a
dos
temas
é
,
s
egundo
a
eq
uipe
pe
dagógica,
um
a
opç
ão
do
gru
po,
eq
uipe
pedagógica
e
professoras,
eleita
após
a
expos
ição
de
di
v
er
s
os
tem
as
que
s
ão
v
ot
ad
o
s
e
d
a
qual
s
e
de
c
ide
por
uma
da
s
te
m
át
ica
s
ca
ndidatas.
A
tem
átic
a
d
o
pr
im
ei
ro
s
em
es
tre
é
eleita
no
térmi
no
do
ano
l
etivo
a
nterior,
ação
que
pret
ende
deixar
u
m
tempo
para
q
ue
o
s
pro
fiss
ionais
r
eflitam
so
bre
o
mes
m
o.
J
á
o
tem
a
do
seg
undo
sem
es
tre é
escolh
ido
antes
do
recesso
esco
lar
de
julho
pe
l
o
m
e
s
m
o motiv
o.
89
Dess
e
modo,
a
es
co
l
ha
de
Monteiro
Lobato
ac
onteceu
por
sug
e
s
tão
de
um
a
das
pro
fessoras
15
, q
ue
hav
ia lido
r
e
c
en
t
em
ente
algo
so
bre
o
escritor.
Com
o
tem
a
s
elec
io
nado
,
o
g
rupo
s
e
d
e
di
c
ou
a
pesquisar
como
poderi
a
s
e
des
dobrar
o
trab
alho,
c
om o autor
e suas obr
a
s, no
am
b
iente esc
olar.
A aplic
a
çã
o de u
m
ques
tionári
o (Apêndice 1) a
ess
a equi
pe de
prof
e
ss
o
r
as
pr
ocurou
i
dentificar
o
un
i
v
erso
de
s
aberes
e
ex
pectati
v
a
s
que
as
en
v
olvera
m
a
ntes
e
a
p
ós
a
realizaç
ão
d
o
proj
et
o,
um
a
v
ez
que
à
educadora
cabe
a
prep
ara
ç
ão
da
a
ula,
que
se
de
s
envolv
e
r
ia
em
to
rno
da
ação
de
leitura
e
de
m
a
is
ativ
idades
re
aliz
ad
as
a
pa
rtir
de
la
e
também
a
próp
ria
leitu
ra,
intrínsec
a
aos
trab
alhos de
c
unho l
iterário.
A
primei
ra
preoc
upação
paut
ou
-s
e
na
identificaç
ã
o
d
o c
onhe
ci
m
ento
prévio
das
n
o
v
e
professoras
env
olvida
s
.
Ao
serem
ques
tio
nadas,
a
grande
mai
o
ria
afirm
ou
já
c
onhecer
pelo
m
enos
p
a
rte
da
obra
de
Monte
i
r
o
L
obato
e
ap
enas
uma,
entr
e
as
nove
pa
rticipantes
da
pesquisa,
dis
se
c
onhecer
apen
as
o
c
onteúdo
ve
i
c
ulado
pe
la
t
elevi
s
ão
,
pautad
o
principalm
e
nte
n
a
hi
stória
t
ran
s
m
itid
a
pe
lo
s
eriado
da Tv G
lobo, Sítio do
Pi
c
apau Am
arel
o
16
.
A
prof
es
s
ora
que
afi
rm
o
u
n
ão s
er
l
eitora
de
Monteiro
Lobato
e
co
n
hecer
a
pen
a
s
o
c
onteúdo
tele
v
isivo
tev
e
a
s
p
ro
duções
tex
t
uais
d
e
seus
a
lunos
analisad
a
s
(Anexo
C 1).
Em
bor
a d
iga
des
c
on
hece
r a
obra l
ob
a
tiana, nota-se,
a par
ti
r
das
esco
lhas
r
e
alizadas
para
o
trabalh
o
em
s
ala
d
e
au
la,
q
ue
a
professora
opt
a
po
r
trab
alhar
obras
mais
co
nhecidas,
o
que
de
monstra
q
ue
o
cânon
e
literário
influencia
m
e
s
m
o
aq
ueles
q
ue
“pe
nsam
”
não
c
onhe
c
ê-l
o.
Tal
quad
ro
s
e
for
m
ará
ta
m
b
ém
nas
escol
ha
s
do
alunad
o, q
ue mes
m
o
sem,
muitas
v
ezes
, co
nh
ec
er
o
material i
m
pr
ess
o,
es
tá
ex
po
sto
a
s
eus
conteú
d
os,
se
ja
po
r
meio
de
a
d
apt
a
çõ
e
s
,
m
at
eria
is
di
dáticos,
prog
ramas televisivos e outros do gê
ne
ro
.
As
oi
to
professoras
r
e
st
ant
es
afirmaram c
onhe
cer
os
t
e
xtos
d
o a
utor
em
que
stã
o,
n
o
e
ntanto,
gera
lm
e
nte
a
s
leituras
da
s
docent
e
s
est
ão
l
igadas
a
trab
alhos
an
te
rio
res,
r
ealizados
em
s
al
a
de
aula;
a
penas
u
m
a
pro
fesso
ra
a
legou
co
n
hecer
outro
s
textos
de
Lobat
o
e,
m
esmo
a
ssim,
p
or
ter
formação
na
área
de
15
Os
su
j
ei
t
os
descri
tos
serão
desig
nados
no
fe
minin
o:
professora
,
e
d
ucadora
e
etc
,
por
se
tratar
de
um
grupo
formado,
em sua
t
o
t
ali
dade, por mul
heres.
16
A
adapt
açã
o
da
obra
l
ob
ati
ana
pelo
s
programas
t
el
evi
s
ivos
e
su
a
r
eprese
ntação
dos
tex
tos
d
o
au
tor
são
al
g
umas das
ques
t
õ
es d
iscu
t
i
das por Sérgio
Cap
a
relli
(1983)
.
90
Letr
a
s
17
.
Tal
oc
or
rência
demonstra
que
o
pr
ofessor
está
m
uito
pres
o
à
leitura
utilitária
em
su
a
prática
d
o
c
ente
e
s
e
o
trabalho
doce
nte
não
e
x
igir
um
a
gama
de
leitura
di
v
ersificad
a,
p
ode representar a l
im
ita
ç
ão
do pr
ofessor enquanto
leitor
18
.
As pr
ofe
ss
oras qu
e já conh
eciam
a
obra
, e
m
e
s
mo aquela q
ue
afirm
ou
na
da
c
onhec
er,
possuía
m
a
lgu
m
c
onhecimento
s
obr
e
o
autor,
mesm
o
aquele
adqui
rid
o
po
r
outros v
eí
c
ulos, como a
televis
ão, deve s
er considerado,
por s
e
trata
r
de
uma
es
pécie
de
a
c
esso
ao
c
onteúdo
literá
rio.
Desse
modo,
é
per
ceptível
que
s
e
partiu
de
c
onhecim
entos
p
ré-
e
x
i
s
tentes,
qu
e
f
oram
a
mpliados
e
/ou
descons
truídos
com
o
a
profu
nd
am
e
nto
de
leituras
,
pesquisas
e
o
própr
io
trabalho
em
sa
la de a
ula.
As
pesq
ui
s
as,
debates
por
parte
de
todos
os
e
nvolvidos,
disse
m
inar
am
as
seg
uintes dis
c
u
ss
ões, ap
resentad
as por
sé
rie: vida e obra de
Monteiro
Lobato
,
tem
a
abordado
por
um
a
das
tur
m
as
de
terce
ira
s
érie,
enquanto
a
outr
a
se
deteve
n
a
pro
du
ç
ão
j
ornalí
s
tica
e
literária
de
Lo
bat
o
,
r
e
s
gatando
a
histó
ri
a
de
vid
a
d
o
au
tor
e
c
ontextualizando-a
nos
d
ia
s
atuai
s
,
r
ealizada
p
or
m
eio
da
co
n
str
u
ç
ão
de
uma
linha
do
tempo, c
ujo
ob
jeti
v
o
pau
tou-se e
m
r
epres
entar
ta
m
bé
m
,
de
maneira
inte
rdi
sc
iplinar,
a
hi
s
tória
do
m
ei
o
de
com
unica
ção
–
jornal
impresso
.
O
trab
alho
c
ontou
c
om
uma
v
i
s
ita
a
um
jornal
da
cidade
e
o
ac
om
pa
nham
en
to
do
processo
de produção des
s
e veículo de
com
u
nic
a
ç
ão.
A
únic
a
q
ua
r
ta
sé
rie
d
a
esco
l
a
d
eteve-se
e
m
p
esquisar
a
relação
de
Lobato
c
om
a
s
ituaç
ão
p
olí
t
ic
a
e
econômica
d
o
Bra
s
il,
por
m
eio
da
p
olêmic
a
do
petr
óleo.
Al
ém
des
sa
problemática
,
a
turma
inv
estigou,
ainda,
na
disc
iplina
de
Ciênc
ias,
o Av
c, Acidente Vascu
la
r
Cerebra
l,
que vitim
o
u Lobat
o em
julho
de 194
8.
As
turma
s
d
e
p
r
im
eira
s
érie
detiveram
-
s
e
e
m
e
stu
dar
as
obr
as
do
Sítio
d
o
Pi
c
apau
Am
are
lo,
i
dentifican
do
e
reescrev
endo
os
elementos
cultura
i
s
a
li
pulver
iz
a
dos
,
co
m
o
cul
inária,
c
o
s
tum
es
,
pe
rso
n
agens,
dando
d
e
s
taque
àquel
a
s
que
sã
o
res
ga
t
adas,
n
a
obra,
por
m
e
io
d
os
processos
de
a
dapta
ç
ão,
p
aródia
e
relaçõ
es
intertex
tu
ais
c
omo
as
personagens dos cl
á
ss
icos
in
f
antis.
17
“
Si
m
, sou f
o
rmada em Letras e as estudei
em
Li
te
ratura
”
(Respos
t
a retirad
a
de qu
esti
onár
i
o ap
li
cado
ao gr
upo
de
docen
tes
em
19
de
j
un
h
o
de
2006,
qu
estão
respond
ida
p
el
a
pro
fesso
r
a
regen
te
de
u
m
a
d
a
s
turmas
de
pri
m
eira séri
e).
18
2
) Já con
heci
a a
obra de M
ontei
ro Lobat
o antes do
in
í
c
i
o do projeto
i
nterativ
o?
Já
conh
e
cia
e
a
alguns
anos
trabal
hei
com
a
l
guns
personag
e
n
s
(
Respost
a
retirada
d
e
qu
e
st
i
o
ná
r
i
o
ap
li
cado
ao
grup
o
de
docen
te
s em
19 de j
un
ho de
2006, ques
t
ão
res
po
n
di
da
pe
l
a
profess
ora regente de
u
ma
das
turm
as de
segu
nda série).
91
As
três
turmas
de
s
egu
n
da
série
d
edicaram
-
s
e
a
estu
dar
as
fá
bulas
lobatianas
.
Um
a
das
turmas
de
s
egunda
série,
entre
t
anto,
iniciou
seu
trabalho
a
part
ir
do
li
vr
o
de
c
ontos
Urupês
,
m
a
rc
o
na
produç
ão
do
es
crito
r,
por
s
e
r
a
p
rim
eira
obra
,
dand
o
s
eguimento
ao
e
s
tudo
de
J
eca
Tatu,
personagem
q
ue
s
im
bo
lizo
u
a
crítica
e,
p
oster
iorm
e
nte,
a
redenção
do
caboc
lo
brasileir
o,
e
enc
errou
c
om
u
ma
prop
o
s
ta de rees
c
rita de vinte e du
as
fábu
la
s
, re
tirada
s
do l
i
v
ro
F
ábulas
(1922).
Ao
ind
agar,
por
meio
dos
questionários
,
s
obre
o
motiv
o
d
e
escol
ha
do
e
i
x
o
tem
át
ico
adotado
para
o
t
rabalho
em
sal
a de
aula,
obtiver
am
-
s
e ex
pli
caç
ões
diferen
tes,
de
a
cordo
c
om
a
te
m
átic
a
abor
dada.
A
r
egente
de
qu
a
rta
s
érie
justi
fi
c
ou
que
a
biografia
do
a
utor,
seu
en
g
ajam
e
nto
enqua
nto
j
orna
li
s
ta
e
também
s
ua
obra
desdo
braram
-s
e
e
m
di
v
e
rs
o
s
assu
nt
o
s
,
por m
eio de
um
trab
alho
i
nter
di
s
ciplinar
,
assim ta
m
bé
m
c
omo
a
discuss
ão sobre o
petróleo.
A
pr
efer
ên
c
ia
p
elo
Sítio
do
Pica
pau
Am
ar
elo
f
oi
a
ss
ociada
ao
interesse
d
a
fai
xa
etár
ia,
por
volta
de
s
et
e
anos,
e
a
s
poss
íveis
associações
q
ue
podem s
er
traç
a
das
entre
text
o literár
i
o
e
o
trabalho
lúdico
,
d
esenvolvi
do na
pri
m
e
ira
série.
A
profe
ssora
da
tur
m
a
de
seg
unda
s
érie,
obs
ervada
dur
ante
a
pesqu
i
s
a,
des
ta
cou
em
s
ua
resposta
q
ue
a
ab
ordagem
de
Uru
pês
e
a
personag
em
Jeca
Tatu pau
to
u-se e
m
regis
trar
o com
eç
o da p
roduçã
o literár
ia do au
tor e uma das
person
agen
s
mais
co
n
hecidas
e
ao
mesm
o
tempo
r
epres
entativa
par
a
o
Brasil,
por
trata
r-
s
e de uma pers
onagem
t
ipo.
As
fábulas, segun
do as d
ocentes d
e segu
nd
a
série, for
am
retr
atadas
por
s
erem
u
m
v
eículo
c
apaz
de
e
ducar
e,
ao
m
e
s
m
o
tempo,
enc
antar
as
c
rian
ças
.
Já
o
t
raba
lho
de
r
ee
s
crita
de
fra
gmentos
de
tex
to
s
de
Lobato
per
m
it
iu,
s
egundo
as
educa
do
ras,
um
d
esd
ob
r
ar
si
m
ultân
eo
d
a
pro
du
ç
ão
textual
e
do
contat
o
c
om
refe
ren
c
iais lite
rários. Destac
a
-s
e que a
abordagem dos
tex
tos fa
bulare
s
, o
rganiz
a
da
pela
professora,
exclu
i
os
co
m
en
tários
apr
e
sent
ados
apó
s
as
narrativas
canônicas,
nos
quais
as
p
ersonagens
deb
atem
o
c
onteú
do
dos
textos,
representan
do
a
c
rítica
que desc
onstrói os
co
nceitos moralizantes d
i
ss
em
inado
s pelos textos f
abulares.
Com tal
atitu
de
é s
ilenciada
a voz
lobatiana no
texto
fabular, vo
z
q
ue
debate
e
m
o
tiva
a
co
n
s
trução
do
pensamento
pe
la
c
riança
,
questão
essa
q
ue
será
reto
m
ada n
o deco
rrer da análise propr
iam
ent
e dita e
n
as Cons
iderações Fina
i
s
.
Ao se
rem q
ue
stionadas en
quanto lei
tora
s s
ob
re
o que t
eria ch
am
a
do
a
atenção
na
o
bra
lite
rária
loba
ti
a
na,
as
pro
f
essoras
respo
nderam
:
a
atualidad
e
da
92
obra
;
o
re
co
n
heci
m
ento
que
as
crian
ç
as
realiz
a
m
e
m
seu
co
ntato
entre
a
obra
e
leitor;
m
und
o
de
f
antasi
a
criado;
i
ntertextualidade;
s
im
plici
dade
de
linguag
em
adotad
a
pelo
escri
t
or;
a
di
v
e
rs
idade
d
o
trab
al
ho
do
autor
e
a
d
edic
a
ção
à
liter
atura;
en
v
olv
im
en
to
com
a
s
ca
u
sas
s
o
ci
ais
e
nacionais;
luta
p
el
a
cons
olidação
da
imprens
a
;
a
i
m
a
ginaç
ão
d
e
senc
adeada
pelas
histór
ia
s
; c
riação
de
um univ
e
rso
genuin
am
ente
nac
io
n
al;
c
om
o
c
enár
io
p
a
ra
o
des
en
v
ol
v
im
ento
das
narra
ti
v
as.
Com
as
respos
ta
s
perceb
e-
s
e
que,
nesse c
aso
, a
leitora
n
ão se
desvincu
la d
e s
u
a
função
de
p
rofes
s
or
a,
u
m
a
vez
qu
e
as
r
e
spostas
refletem
,
ge
ral
m
ente,
o
t
rabalho
r
e
aliz
ado
em
sa
la de a
ula.
As
li
nhas
de
estudo
foram
div
ididas
p
or
s
érie
e
acom
panha
das
em
su
a
tota
lidade,
embora
par
a
a
diss
ertação
o
inte
resse
es
teja
direcionado,
c
omo
já
afirm
ado
anter
iormente,
para
a
ab
ordagem
rea
lizada
em
uma
das
turmas
de
se
g
un
da
s
é
rie
,
cu
ja
pre
o
c
up
ação
pautou-se
no
processo
de
r
ee
sc
ritura
das
fábulas
lobatianas
.
Dess
e
mo
d
o,
faz-s
e fundamental
v
oltar
a
a
ten
ç
ão à situaç
ão d
e
leitura
p
ropriam
ente
dita,
pa
ra
refletir
c
omo
dialo
gam
,
no
proc
esso
de
r
e
c
epção,
os
co
n
hecimentos
propiciados
pela
ada
p
tação
e/ou
trad
u
çã
o
de
textos
j
á
c
ul
tu
ralm
e
nte
co
n
hecid
o
s
e
se ess
e q
u
adro influenc
i
a a
re
c
epção
da obra literária.
Para
ent
ender
a
pretensã
o
em
a
nalisar
o
uni
v
e
rs
o
de
saberes
do
câ
n
on
e,
diluídos
n
o
conhecimento
po
pular
,
dev
e-
s
e
reto
m
a
r
o
próp
ri
o
pr
oces
s
o
de
reescri
ta das
fábu
la
s
qu
e, c
omo já
ex
planado no
ca
pítulo
anterior,
retom
a
tex
tos
que
ci
rculariam
,
oralm
e
nte,
a mais de
oito séculos.
Além
dis
so,
c
om
o
de
staca
um
a
das
pr
ofessoras
em
ques
tioná
ri
o
19
,
m
u
itas
c
rianças
possu
íam
e
m
b
ibliotec
as
familiares
a
s
obras
de
Lo
bat
o
e,
também,
outr
a
s
utilizadas
po
r
ele
em s
eu
fazer
l
iterário,
o
que
facilita
o
entend
im
ento
da
obra
em
ques
tão,
por
meio
d
o
es
tabel
e
c
im
e
nto
de
possív
ei
s
inter-
relações.
E
m
co
n
trap
o
nt
o,
outra
d
o
cente
encaro
u
,
e
m
s
eu
u
ni
v
erso
de
sa
la
de
aula,
c
om
o
prob
lem
a
a
s
eleção
do
m
ateri
al,
destaca
ndo
di
v
e
rs
os
empec
ilho
s
,
desencadeados
19
7-
a)
Disponibilidade
do
material
i
mpres
so
(
há
mat
e
ri
a
l
em
quan
t
idade
no
mercado
,
em
bibliotecas
)?
É
um
materi
a
l
f
ac
il
mente
encontrado
em
livrarias
e
sebo
s,
muit
os
alunos
tinham
a
s
obras
em
c
asa
(Res
posta
retirada
de
ques
t
ionário
aplicado
ao
grupo
de
docentes
em
19
de
junho
de
2006,
questão
res
pondi
da
pela pro
f
es
sora reg
e
n
t
e
d
e uma das turma
s
d
e primeira série).
93
pelos
entrav
e
s
jud
i
c
iai
s
tra
v
ados
en
t
re
a
família
e
a
e
ditora,
deten
tora
dos
direit
o
s
autor
ais
20
.
No
ent
anto,
não
s
e
po
de
deixar
de
ressalta
r
qu
e
essa
é
u
ma
peculiari
dade
do
m
eio
soc
ial
ao
qu
al
pertence
o
g
rupo
d
e
le
itor
es,
c
la
ss
e
média
e
m
é
dia
a
lta,
p
ois
tanto
a
aquisição
de
livro
s
qua
nto
a
disponibilidade
d
e
obra
s
em
bibliotecas
p
a
r
ti
c
ul
ares
in
dica
m
o
pe
rfil
de
um
leitor
ins
erido
e
m
um
m
e
io
l
etra
do,
peculiari
dade que influencia
o tipo
de leitura
a ser alcanç
ada a partir desta realid
ad
e
.
A
cla
sse
econôm
i
ca
não
é
u
m
deter
m
i
nante
e
xc
lu
s
i
v
am
e
nte
pos
itivo
ou
n
eg
a
tivo
quand
o s
e
trata
de
leitura,
em
b
ora
J
auss
(1994)
a
ss
ocie
a
recepção
da
obra
d
e
arte
l
iterária
ao
horiz
onte
de
expectativ
as
do
leitor,
q
ue
não
dei
xa
de
ser
co
n
stituí
do de acordo co
m
as
re
f
erê
n
ci
a
s
de que o
leito
r
é fruto.
A fim
de s
e
co
m
pre
ender
o
processo
de
pr
odução
–
recepçã
o
da
o
bra
literá
ria
i
nf
an
til
e
juv
enil,
tendo
c
omo
refe
rência
o
l
eitor,
e
c
om
bas
e
no
s
c
onc
eit
os
s
eleci
o
nad
o
s
da
Estética
da
Recepçã
o,
é
possível
de
li
near
o
hor
iz
onte
de
expectativ
a
s
das
crianças
e
adolesce
ntes de diferentes classes s
o
c
iais.
Assim
,
o
horizonte
pode
e
s
tar
m
ate
rializado
em
normas
liter
árias
e
co
n
cepç
õe
s
d
e
mundo,
p
resentes
n
as
na
rrativa
s
infanti
s
e
juvenis,
rep
roduz
i
das
no
tex
to
li
t
e
r
ário
selecionado
pelo
alunado,
uma
vez
que
uma
das
tarefas
da
teoria
recepc
ional,
de
acord
o
com
Z
ilberm
a
n
(198
9)
é
a
reconstrução
desse
ho
ri
z
on
te,
objetivan
do e
xp
li
c
ita
r a relação da
o
bra
lite
rária com
seu
público.
O
texto
lob
atiano,
co
n
s
truído
a
partir
d
e
textos
do
cân
one
literário,
é
fruto
da
leit
u
ra
e
pe
rcep
ç
ão
de
um
l
eitor,
no
c
as
o
,
o
p
róp
ri
o
Lobato,
que
real
iz
ou
a
se
le
ç
ão
de
referen
c
ial,
adaptando
textos
d
e
Es
opo,
Fed
ro
e
La
F
ontaine,
s
endo
a
prim
eir
a
se
le
ç
ão
que
im
porta
para
a
disserta
ç
ão.
Contudo,
não
se
pode
ign
o
rar
q
ue
o
gên
e
ro
passo
u,
c
om
o
v
isto
n
o
pr
e
sent
e
e
studo,
po
r
o
ut
ras
s
ele
ç
ões
,
c
omo
as
realizadas
t
a
m
bé
m pelos
autore
s
pesquisados por
Lobato.
A
p
rofe
ssora
r
e
g
ent
e
a
ss
um
iu
ta
mbém
o
pap
el
de
le
itora,
ao
se
le
c
ionar,
dos
tex
tos
pres
e
n
te
s
em
F
ábulas,
v
inte
e
dois
tex
to
s
,
se
ndo
o
s
escol
hi
d
os:
A
as
sembléi
a
d
os
ratos;
A
f
ormi
ga
boa;
A
formiga
m
á
;
A
c
or
uja
e
a
águia;
A
ga
linha
do
s
ov
os
de
o
uro;
A
gar
ç
a v
el
h
a;
A
g
ral
ha
en
fei
t
ada
com
penas
de
pavão
;
A
menina
do
l
eite;
A
rã
e
o
boi;
A
rapo
sa
e
as
uvas;
O
b
urro
juiz
;
O
burro
na
20
N
ão
há
a
qu
antidade
de
m
aterial
necessári
o
no
m
e
r
cado
e
o
pou
co
qu
e
exi
ste
é
m
ui
t
o
car
o
,
com
edi
ções
an
t
i
ga
s.
Nos
sa
escol
a
demorou
al
g
uns
m
e
ses
para
con
segu
ir
um
a
coleção
qu
e
p
u
désse
m
os
adota
r.
(Respo
st
a
retirad
a
de
questi
onário
aplica
do
ao
grupo
de
docentes
e
m
19
de
jun
ho
de
2006,
questão
respo
ndi
da
pela
profes
sora regen
te de u
m
a das
tur
m
as de
s
egu
nda séri
e
).
94
pele d
e leão;
O
c
ã
o
e
o lobo
; O
corvo
e o
pavão;
O
galo
q
u
e
l
o
grou
a rapos
a; O
l
e
ão
e o
rati
nho;
O mac
ac
o
e o
gato; O
ratinho
, o
g
alo e
o
gato;
O
rato
da
cidade
e
o
rato
do
campo;
O
r
eformador
do
mundo;
O
sabiá
na
gaiola
e
O
v
elho,
o
men
i
no
e
a
mulinha.
Quatro
d
es
sas
fábulas
foram
disp
onibilizadas
em
duas
cópias,
totalizando
v
inte
e
se
i
s
m
at
riz
es
.
Os
textos
repetidos
foram
A
for
mi
g
a
má;
A
gralha
enfeitada
c
om penas
de pavão;
O r
e
for
m
ador d
o mundo
e
O
s
abiá na g
ai
o
l
a
.
Segundo
a
p
rofe
s
so
ra,
o
ac
rés
c
im
o
buscou
aumentar
a
quantidade
de
fontes
dis
poní
v
eis,
totalizando
duas
matrize
s
p
or
aluno e
não a
tendeu
n
enhum
qu
es
ito
es
pe
c
ial na
e
scolha
do te
xt
o a ser dupli
c
ado
.
As
nar
ra
ti
v
as
foram
d
igitadas
em
fonte
Ari
al
12
e
apr
e
s
e
ntav
am
a
m
e
dida
da
folh
a
de
s
ulfite
A4,
2
9,7
c
m
p
or
21
c
m
.
Após
o
t
ér
m
ino
d
a
digitaç
ão
as
có
pias
fo
ram
a
fix
adas
e
m
folha
s
de
cartolina
c
olorida,
co
m
medidas
de
31,5
cm
por
23 c
m
. As
páginas for
am
m
o
ntad
as
de m
an
eira
a que o
papel colorido f
orm
a
sse u
m
a
m
o
ldu
ra
ao
texto d
igita
d
o. As c
ores
foram
escolhi
da
s
al
eat
or
iam
en
te, r
eaprove
itando
so
b
ras
de
material
que
a
professor
a
dispunh
a
nas
co
l
orações:
az
ul,
b
ran
c
a,
laranja,
m
a
rro
m, p
ret
a e vermelha, c
om
o indi
ca
a ta
bela a se
guir;
Fá
bula
Cor da
M
oldu
ra
1
A assembléia do
s ratos
preta
2
A co
ruj
a e a
ág
u
ia
verm
elha
3
A co
ruj
a e a
águia
laranja
4
A formi
g
a bo
a
branca
5
A formi
g
a
m
á
azul
6
A formi
g
a
m
á
azul
7
A galinha d
os ovos de ouro
laranja
8
A garça vel
ha
branca
9
A gralha
enfeitada com
penas
de
pavão
preta
10
A gra
lha enfeitada com penas
de p
avão
ver
m
elho
11
A m
e
nina do le
ite
preta
12
A rã e
o boi
verm
elha
13
A rap
o
sa
e a
s uv
as
preta
14
O bur
ro juiz
m
a
rro
m
15
O bur
ro na pele do
leão
laranja
16
O c
ã
o e o
lobo
azul
17
O c
o
rvo e
o pavão
laranja
18
O gal
o que logrou a raposa
branc
a
19
O leão
e o ratinho
m
a
rro
m
20
O m
ac
ac
o e o gato
azul
95
21
O r
atinho, o gato e o galo
laranja
22
O r
eforma
d
or do m
undo
m
a
rro
m
23
O r
ato da
c
ida
de e o rato do campo
m
a
rro
m
24
O s
a
biá n
a gaiola
preta
25
O s
a
biá n
a gaiola
m
a
rro
m
26
O v
elho, o menino e a mulin
h
a
azul
T
abela 1:
As
fábulas e as
respec
ti
vas
core
s
das molduras
.
A pos
sível
influênc
ia
das c
ores
na
escolha
dos
alu
no
s
se
rá d
iscutida
após
a
a
nálise
de
todos
os
te
xtos,
debatendo
os
dados
obtid
os.
Ap
ó
s
a
co
nfec
ç
ão,
os
textos fo
ram
ac
ond
icion
a
do
s
em
u
m
a
c
aixa, es
ta in
titula
da
de
“Caixinha de
Fáb
ulas
de
Lobato”.
Os
treze
alun
o
s
d
a
s
ala
dirigia
m
-s
e
até
a
c
ai
x
a
para
s
eleci
o
nar
um
dos
tex
tos
p
a
ra
leitura.
Term
inad
a a
leit
u
ra,
os
aluno
s
opt
a
v
am pela
m
anut
enção
ou
não
do
tex
to
lido
,
que
podiam
troc
ar
de
acordo
c
om
o
inter
e
sse
.
Eleita
a
f
ábula,
os
aluno
s
recebi
am
u
m
a
fol
ha,
c
uja
ativ
idade
propunh
a
r
e
esc
rever,
utilizando
palavr
a
s
pr
ópria
s
,
a
n
arrativa
e
sc
olhida,
finalizando
com
a
rea
liz
aç
ão
de
u
m
a
ilustraçã
o so
b
re
o
texto
narrado,
com
o
mostr
a a
transcrição
da
proposta d
e tra
balho,
aprese
ntada a seguir
:
Rees
cre
vendo fábulas de M
o
nteiro Lobato
Nes
ta
pasta
v
ocê
deverá
e
scr
ev
er
com
suas
palavras,
a
fábula
que
vo
cê escol
heu da “Caixinha de Fábulas de Lobato
”.
A
trás
d
a
página que você escolheu,
f
aça a ilustra
ção
. (ANE
XO E
3
7)
Para a
realiz
açã
o
d
a
reescrita
os a
lunos co
nt
av
am
c
om
dici
onários
e
a
interv
enção
da
p
rofes
s
or
a
para
o
es
c
lare
cim
e
nto
das
dúv
idas,
como
é
rela
tado
no
questionár
io
d
a
docente,
re
s
posta
5
(Ane
x
o
C
1)
.
Outra
pro
fessora
também
afi
r
m
a
ter
s
ana
do
d
úvidas
de
v
o
cab
ulário,
no
entanto,
tam
bé
m
n
ão
u
ltrapassa
as
b
arreira
s
do
t
exto
e
não
motiva
os
a
lunos
a
qu
e
st
ionarem
a
i
ntenç
ão
lobatiana
de
reescr
e
v
er,
a par
tir
de s
eus
c
omentários
, os valores dif
un
dido
s pela fábula
21
.
A
a
ti
v
idade,
re
aliz
ada
se
m
a
nalmente,
teve
a
duração
d
e
se
i
s
se
m
an
as
e c
ulm
in
ou c
om a
montagem de
um
liv
ro de fá
bulas co
m
as
pro
du
ç
ões
das
próp
ria
s
crianç
a
s.
Ao
térm
i
no
da
c
onf
e
cção
d
o
liv
ro,
o
s
a
lu
n
os
fi
z
er
am
uma
no
va
se
le
ç
ão, ele
ge
ndo
entre as r
e
esc
rita
s
co
ntida
s
nas
próprias produçõ
e
s
um
tex
to para
co
m
po
r um trabalho fi
nal sobre o autor.
21
5) Os
m
eus
alun
o
s most
raram ce
rt
a di
f
i
c
ul
da
d
e
n
o entendi
mento das
fá
bul
as, sendo
preci
so a
m
inh
a co
ns
t
an
t
e
in
tervençã
o
para
a
e
x
plicação
de
a
lgu
ns
termos
e
para
a
m
o
ral
em
si
.
(
Re
spo
st
a
reti
rad
a
de
q
uesti
onário
apli
cado
ao
grupo
de
docen
tes
em
1
9
de
j
un
ho
de
2006,
qu
estão
respon
d
i
da
pe
l
a
pro
fessora
reg
ente
de
u
m
a
das tu
rmas de se
gun
d
a
séri
e).
96
Destaca-se
no
trabalho
da
profes
s
ora,
re
ge
n
te
de
se
gunda
s
érie,
que
preocup
ada
em
m
otiv
ar
os
co
nhe
cim
e
ntos
prévios
das
c
rian
ç
a
s
s
empre
realizava
uma
e
s
pécie
de
s
ondagem
para
v
e
rific
ar
os
saber
e
s
p
ré
v
ios
que
poderiam
ser
acion
ad
os
d
u
ran
te a
le
itura. Tal
açã
o
a
contec
ia
por
m
e
io d
e c
onversas
, a
realizaçã
o
de
dese
nh
os,
jogos
ou
a
atividade
de
produ
ç
ão
tex
tual,
s
eguido,
a
posteri
ori
,
pelo t
rabalho da
tem
átic
a
discu
t
ida,
q
ue
desenvolvida,
de
m
aneira
a
pri
v
ilegiar
uma
ab
orda
gem
inter
disc
iplinar,
partia
p
ara
os
textos
discutid
o
s
.
Com
o
já
discu
tido,
er
a
nec
essária,
segu
nd
o
um
a
d
as
doc
ente
s
,
a
exp
lana
ç
ão
so
bre
deter
m
inad
os
vocá
b
ulos e sobre
a
s moralidade
s par
a que as cria
n
ç
as co
nse
guissem
co
n
str
uir sentido e
m
s
uas leituras
. Tal intervenção
é um diferenci
al positivo no
processo
de rec
e
p
ç
ão do tex
to.
Chamo
u a
atençã
o a
quanti
da
d
e de atividades
lúdi
cas
des
en
v
ol
v
ida
s
na
re
tom
ada
tex
tual,
na
q
u
al
s
e
in
c
luíram
f
ilmes,
cul
in
á
ria
e
jogos
d
i
v
ersos,
ins
t
r
um
entos
com
o
s
quais
as
profes
s
oras
e,
e
m
e
spec
ial,
a
reg
ent
e
da
segunda
série
observad
a,
procur
aram
provoc
ar
o
diálogo
entre
a
obra
l
iterária
e
a
r
e
c
ep
ção
realizada
pela
cria
n
ç
a.
A
r
e
c
epção
p
rimei
ra
,
realiz
ada
p
ela
c
riança
c
om
a
ree
scr
it
a
tex
tual,
s
em
a
inter
ferência
da
educadora
m
a
rca,
g
enuinam
e
nte
,
o
en
tendimento
do
leitor
e
em co
ntat
o co
m
a
leitur
a
da
própria
docente,
que
por se
tratar
de u
m
a
leitora
prof
i
c
ient
e,
apresentou
versão
distint
a
daquelas
a
presentadas
pela
s
cria
n
ças
,
promov
endo
ass
im
o
deb
ate
de idé
ias,
com
o
de
mo
ns
tra o diálogo presente na
prod
u
ç
ão
t
e
xt
ual de um
dos
alunos (Anexo D 3).
Ress
alta-
s
e,
no
e
nt
anto,
a
m
u
dança
d
e
postura
dos
alunos
dian
te
o
tex
to literário
e ta
m
bé
m
peran
te a
própr
ia
ati
v
idade
de r
eescrita
22
, uma v
ez
que
após
o
apro
fundamen
to
das
discu
ss
ões
sobre
o
autor,
seu
estilo,
suas
nar
rati
v
as
e
o
gêner
o
f
a
bu
lar
as
c
rianças
foram
s
e
a
propriando
d
as
info
rm
a
ções
e
experiên
c
ia
s
de
leitura
, quadro que se refl
etiu na rela
çã
o entre cr
i
a
nça e texto.
Com o fim da
ativ
idade su
rgem
qu
es
tionamentos
sobre a p
referênc
ia
por determi
na
dos
textos em
dec
orr
ência
de o
utros, pouco
esco
l
hi
do
s
,
f
atos
que
serão d
i
sc
utidos posterior
m
ente,
na
c
ontinuidade.
22
A
ativi
dade
de
reescrita
das
fabul
a
s
f
oi
desenvolvi
da
nos
mese
s
de
m
ai
o,
junh
o
e
j
u
lho
de
20
06,
culmin
a
ndo
co
m
a Most
r
a Inter
at
i
va
n
o
dia 07
de j
u
l
ho de 2006.
97
3.2 Anális
e dos Textos:
A
R
e
cepção da Fábula Lobat
i
ana
em
Sala de Aula
O res
g
ate h
istórico a
pre
s
entado na
dissertação o
bjeti
v
ou
demon
s
trar
que
a
litera
tura
tem
um
cará
ter
cíclico,
ao
permi
t
ir
a
c
ons
tante
re
tomada
de
elem
e
ntos
ex
i
s
tentes,
que
embora
r
e
ce
bam
nov
a
rou
pagem,
tr
ans
m
ite
m,
em
essência,
os
conte
údos
que
sã
o,
const
an
tem
ente
,
des
c
on
s
truídos
,
reco
n
st
ruídos,
adapta
dos e parodiado
s
.
Com a
c
om
pa
ra
çã
o
textual,
conc
lui-se
que
La
F
ontaine
e
Eso
po s
ão
as
grandes
fontes
d
e
Lo
bato,
co
m
o
o
próprio
a
utor
assinala,
ao
h
om
e
nageá-l
o
s
em
su
a
o
bra
infa
ntil
e
disc
uti
r
te
ori
c
amen
t
e
s
obre
o
s
autores
em
s
eus
textos
críticos
e
corr
e
sp
o
nd
ên
c
ia
.
O car
áter c
ircular das re
ferências
adotadas ap
are
c
e
ta
m
b
ém na
si
tua
ç
ão
de
l
eitura
v
i
ve
n
c
iada.
O
trab
alho
des
envo
l
v
ido
em
s
ala
de
aula,
nos
mes
es
de
mai
o,
junho
e
julho
c
ulm
i
nou
na
confecçã
o
de
um
traba
lho,
cujo
título
Reescreven
do
F
ábulas
c
om
M
onteiro
L
obato,
tra
nsmite
a
id
éia,
gr
aças
à
c
onjunção
co
m
,
de
p
arceria
en
tre
le
itor
(o
a
luno
em
q
u
estão)
e
o
a
u
tor
(
Lobato),
o
que
n
ão
deixa
de
representar
o
que
s
eria
o
quadro
ideal:
parce
ria
e
ntre
autor
e
leitor
para
a
recepç
ão
do texto
lit
erário.
Isso por
que a
leitura é
um ato
socia
l, en
t
re d
ois s
ujeito
s
–
leitor e
autor
–
que
interagem
entre
s
i, ob
e
de
c
endo
a
objetivos e
ne
c
essidades
socia
lm
ente
d
ete
rm
in
ados.
Ao
autor
ca
be
ser
infor
m
ativ
o,
c
laro
e
r
elevante.
Deve
deixar
pistas
no
te
x
to
p
a
ra
poss
ibilitar
ao
l
eitor
a
recon
s
tr
u
ç
ão
do
c
am
in
ho
percorri
do. Ao leito
r cabe a
credib
ilidade no
autor, q
uanto à relevâ
ncia do que v
ai ser
dito no
te
x
to. Ele deve tentar r
e
s
ol
v
er as obscuridad
e
s que
sur
girem
.
Na
faixa
etária
e
escola
r
em
que
se
en
c
ontram
as
c
rianças
d
o gr
upo
observ
ad
o
,
e
las
a
inda
não
d
om
ina
m
o
s
protocolos
de
leitura
necessários
para
a
realizaçã
o de um
a leit
ura pr
oficiente.
Como afirma Klei
man
(199
7), a
o an
alisar
um
a
si
tua
ção
d
e
leitura
em
um
grup
o de c
rianças, percebe-se que
o l
e
itor
em fase
de a
lf
abetização
lê vagarosament
e
, m
a
s
o que
ela está
fazen
do
é
d
ecodific
a
r,
u
m
p
rocesso
muito
diferente
da
leitura,
embo
ra
as
h
abilidades
necessárias
para
a
deco
d
ificação
(conhecimento da c
orrespon
dênc
ia entre o som e
a letra) sejam
necess
ár
i
as
p
a
ra
a leitura.
O leitor adult
o não
d
e
c
o
difica; ele percebe
as
pal
a
v
r
as
g
l
obalment
e
e
a
divinha
muitas
outras,
guiado
pelo
seu
co
nhecime
n
t
o
prévio
e
por
suas
hipótese
s de
l
eitura
(KLEIMAN,
1997, p. 36
–
37, grifo da aut
ora).
98
O
aluno
pertenc
ente
a
o
prim
eir
o
Cic
lo
do
En
s
ino
Fundame
nt
al
é
um
leitor
que,
pautado
principa
lm
ente
n
o
te
x
to
escrito
,
encontra
c
erta
d
ificuldade
em
lev
antar hipó
te
ses
e
bu
sc
ar suas
co
m
pr
o
vaç
ões ou
negações
,
e
ntretanto,
lança mão
do
c
onhe
ci
m
e
nto
de
m
un
do
que
o
r
odeia
,
i
m
p
ingind
o
ao
tex
to
particula
ri
da
des
de
su
a
ba
gagem
c
ultura
l,
c
om a
q
ual estabelece o diálo
go com a narrativa.
Kleim
an
(199
7)
ac
re
dita
s
er
di
fí
ci
l
par
a
a
c
r
iança
anali
s
ar
el
emen
t
os
formais do
te
x
to
enquanto
elementos
que
contribuem
à
s
i
gnificaç
ã
o
total
a
trav
és
da
l
eitura
amorfa,
sem
e
xpectativa
s
nem
hip
ót
e
ses
que
sugir
a
m
ca
minhos.
Pelo
contrário,
é
através
da
f
ormu
l
ação
de
pre
d
i
ç
ões
que
a
tarefa
de
a
nál
i
se
se
torna
viável,
pois
ela
é
ex
tremam
e
nte
difícil
para
quem
e
stá
acostuma
d
o
a
consi
d
er
a
r
a
s
palavras
do
texto
c
om
o
ele
mentos
d
isc
re
to
s
na
s
e
n
t
en
ça.
A
tarefa
converte-se,
m
ediante
o
engaj
amento
do
leitor,
num
a
tare
f
a
d
e v
erificação
de
hipóteses,
uma
tarefa
mais
l
imit
a
d
a,
e
portanto
mai
s
a
c
e
ssível,
retendo,
c
o
ntudo,
o
ca
rát
e
r global que perm
i
tirá a sínt
e
se posteriormente (
p
. 41).
Uma
es
pécie
de
s
íntese
s
e
v
erifi
co
u
em
gra
n
de
pa
rte
das
análises
,
que,
org
a
nizadas
p
o
r
tít
ulos,
s
e
rão
apresenta
das
após
um
brev
e
resgate
d
os
textos
inici
ai
s
.
E
st
a
breve
histór
ia
da
fábula
em
q
ues
tão,
mostra
que
o
texto
es
tá
s
ujeito
às
m
a
rcas
do
tempo,
re
gi
s
tr
a
das
p
or
se
u
s
leitor
es
,
s
eja
m
eles
esc
ritores
c
onsagr
ados,
prof
e
ss
o
r
es o
u
alunos.
À
semelhanç
a
do
q
ue
s
e
perc
e
be
u
na
anális
e
das
ad
aptações
infantis,
apresenta
d
as
a
seg
uir,
a
e
n
tidade
textual
está
s
uscet
ível
à
s
a
t
ualiz
a
çõ
e
s
tem
po
rais
,
que
i
n
c
lu
em
as
de
c
aráter
voc
abular,
estrutural
e
a
inserção
de
v
alores,
transfor
m
aç
ões n
e
cess
árias no percurso do tex
t
o no deco
rrer do tem
po
.
A
a
nálise
do
s
t
extos,
apresen
tada
na
s
eqüênc
ia,
fo
i
organizada
de
forma alfabétic
a e e
stá s
eparada em tópic
os,
co
m
o obje
tiv
o de
quantificar
as
escol
ha
s
e
buscar
entendê-l
a
s.
J
á
o
s
textos
que
sim
ples
m
ente
copiaram
o
texto-
fonte for
ão descartados,
po
r
não represen
tarem
a
recepç
ão te
x
tual.
3.2.1 A Assemb
léia dos
Ratos
O
prim
eiro
tex
to
el
e
ito
pe
la
p
r
ofessor
a
regente,
A
assemblé
i
a
dos
ratos,
é
r
egistrad
o
pela
p
rimei
ra
v
ez
po
r
L
a
Fo
ntaine
s
ob
o
nome
d
e
Cons
elho
feito
pelos
ra
tos
,
s
endo
reto
m
ado,
a
posteriori
,
por
M
on
teiro
Lobato.
O
text
o,
em
u
ma
99
trad
u
çã
o
d
e
La
Fontaine,
realizada
por
Curvo
Sem
edo,
aprese
nta
formato
em
versos. Em
bo
ra a
na
rrativa
s
e a
s
sem
e
lhe ao text
o
lobatiano,
algu
n
s dado
s
s
ão
dis
tinto
s
en
t
re os dois
te
x
to
s
:
Hav
ia um gat
o
maltês,
Honra
e flor dos
o
utros gatos;
Rodila
rd
o
era o seu no
m
e
,
S
ua a
l
c
u
nha – Esgana-ratos (LA FO
NTAINE, 2006, p. 58).
Na v
ersão
lobatiana,
um
ga
to,
cujo
no
m
e
pass
a par
a Faro-
Fi
no
,
e
s
tá
ac
ab
a
ndo com
o
s ra
tos de u
m
a
v
elha
casa,
o
q
ue motiv
a uma reuniã
o para discut
i
r
o
prob
lem
a.
Na disc
ussão s
urge
a
id
éia
de c
olocar
um
guiz
o
ao
pesc
oço d
o
gato, p
a
ra
anunc
iar
a
aproximação
do
ani
m
al.
A
idéia
a
prov
ada
por
to
dos
foi
r
ejeita
d
a
po
r
um
rato
casm
u
rro,
qu
e
na
n
ar
rati
v
a
lafonteana,
rec
e
be
a
designa
ç
ão
de
deão
23
,
person
agem
res
po
nsável
pe
lo
ques
tionamento
do
p
lano,
a
o
in
d
agar
qu
em
c
oloca
ria
o
guizo
no
p
esc
o
ç
o
do
gato.
Nas
du
as
v
er
s
ões,
a
assem
b
léia
dis
so
l
v
e
-se
por
falta
de can
didatos.
Déci
m
o
quart
o
tex
t
o
do l
i
v
ro
Fábulas
,
a
nar
rati
v
a fo
i r
eproduzida t
rês
ve
z
es
em
u
m
u
ni
v
ers
o
de
o
itenta
e
sete
tex
t
os
.
A
primeira
rees
cri
t
a,
re
aliz
a
da
pe
lo
aluno
A3,
esteve,
em
di
v
erso
s
momentos,
p
resa
ao
texto
origina
l.
Isso
é
n
o
tável
já
na
m
anu
tenção
d
o
título
e
da
m
or
al
da
fo
nte,
q
ue,
nesse
cas
o
específico,
é
a
do
próp
rio te
x
to lobatiano.
O e
nred
o é
o
m
e
smo, e
m
b
ora a
v
ers
ã
o
da
criança
seja
m
ais
e
nxuta,
pois
c
omo
aponta
Kleim
a
n
(
1997),
há
u
m
a
pr
edom
inân
cia
da
p
rática
do
res
um
o
n
as
prod
u
ç
õe
s
textua
i
s
de crianças.
É im
port
ante
observar
que o
ato
de r
e
s
um
i
r result
ou,
no
caso
anal
i
s
ado,
n
a
supressão
de
inf
ormações
que
alteraram
tanto
o
co
nteú
do
quanto
o
s
ignificad
o
d
o texto,
co
m
o
m
os
tra
o
c
ontraste entre os d
oi
s
trechos:
Um
gato
de
nom
e
Faro
-Fino
deu
de
f
azer
tal
destroço
n
a
rataria
duma
casa
velha, que os s
obreviventes,
sem ânimo de s
air das
toc
as,
e
stavam a ponto de morrer de fom
e
(LOBATO
, 1
973
b
,
p. 20).
Um
g
ato
cham
a
do
Faro
-F
ino
gostava
de
fa
z
e
r
bagunça
na
f
rente
d
a
toc
a dos ratos,
que esta
v
am mor
rendo de fome. (A3, 2006, Texto 1).
23
Se
g
u
n
do o
dici
o
n
á
rio
Auréli
o
a
palav
ra
deão
si
gnifi
c
a “di
gn
i
t
ári
o Ecle
s
iásti
co, o q
ue p
r
eside
ao
cabi
do”.
FER
REIRA,
A
uréli
o
B
u
arque
de
H
ol
and
a.
Novo
Aurélio
Sécu
lo
X
XI
:
o
di
cionári
o
da
Língua
Po
r
tugu
esa.
3
ed.
Rio
de Jan
eiro: Nova fro
ntei
r
a, 1999 p
. 219.
100
Como é
p
erceptív
el na
com
p
araç
ã
o
dos
excer
to
s
des
t
acad
o
s
, a
prod
u
ç
ão
te
x
tua
l
real
iz
ada
pela
c
ria
nça
é
mar
c
ada
por
escolha
s
,
que
n
o
e
x
em
p
lo
destacad
o,
altera
o
próprio
s
entido
d
o
texto,
um
a
v
ez
qu
e
o
s
ignifica
do
de
faze
r
destroç
o
é
di
s
tinto
do d
e bagunça
2
4
.
A troca de v
ocábul
o
s
faz pa
rte da in
te
rpre
ta
ç
ão
do
discente
,
que
aparece
em
div
ersos
mom
ento
s
da
reescrita
textual,
a
partir
da
atualização
dos te
rmos
uti
li
zados
por
Lobato,
por
outros
c
omu
n
s ao
vocabulário
infantil.
T
am
bé
m,
pode
ter
s
ido
motivad
a
pelas
p
oss
ibilidades
li
ngüí
s
ticas
da c
r
ianç
a
que,
em
bora
não
s
eja
u
m
leitor
pr
oficiente,
ac
iona
e
stratégia
s
de
leitura
,
lanç
ando
m
ã
o dos
term
o
s con
hecidos para representar s
ua interpretação.
Isso por
que, independ
ente do
grau de
formação s
e o
leitor c
o
nseg
uir
formular
h
ipóteses
de
leitu
ra,
esta
leitura
p
a
ss
a
rá
a
ter
caráter
d
e
v
e
ri
fi
c
ação
de
hipóteses
,
para
c
onfirm
a
ção
o
u
re
futação
e
r
ev
isã
o
,
n
um
pro
cess
o
menos
es
truturado
q
ue
a
q
ue
le
inicialmente
m
od
ela
do
pelo a
du
lto,
mas
q
ue
e
n
v
olv
e
, tal
co
m
o
o
o
utro
pr
ocess
o,
um
a
ativ
idade
c
onsciente,
au
to
c
ontrolada
pelo
le
itor,
bem
co
m
o
um
a
sé
rie de estratég
ias nece
ss
ária
s
à compreensão.
A
seguir,
o
perigo
surgido
im
pu
ls
iona
um
a
atitud
e
e
os
ratos,
no
tex
to
l
obatiano,
“resolve
ram
re
unir-se
p
a
ra
o
es
tudo
da
que
s
tão”
(LO
BAT
O
,
197
3
b,
p.
2
0).
No
tex
to
do
aluno,
a
ação
des
c
ri
ta
nesse
mom
ento
é
dis
tinta,
pois
a
reunião
de pla
nejam
e
nto já
é um
a r
euni
ão para a exe
c
ução da idéia.
(...)
todos
o
s
ratos
fi
zeram
u
m
a
reun
i
ão
para
i
nforcar
o
Far
o
-F
ino”
(A3, 2006, Te
x
t
o 1, gri
f
o nosso
).
Nota-se
na c
om
par
a
ç
ão
de
in
form
aç
ões
que, de
posse
do
s
dados,
a
cri
an
ç
a,
c
on
sc
ient
em
ente
ou
n
ão,
s
upr
im
e
ele
m
e
ntos
,
c
om
o
oc
orreu
c
om
a
re
união,
e
m
odifica
out
ra
s,
c
om
o
a
d
ecis
ão
de
e
nforc
ar
o
gato.
I
ss
o
p
orque
no
t
e
xto-fonte
a
so
lu
ç
ão de colocar
um
guizo
25
, passa, no tex
t
o do alu
no, para o ato de en
f
orc
ar
26
.
Como
é
v
isível,
o
proc
e
ss
o
de
re
es
c
rita
do
texto
m
od
ifi
c
a
s
eu
co
n
teú
do,
um
a
v
e
z
que
a
p
reven
ç
ão
descrita
no
t
ex
to-
f
onte
a
ss
ume
u
ma
atitude
m
a
is
ra
di
c
al
.
Tal
posiciona
m
e
nto,
assum
ido
por
u
m
a
cria
nça
de
oito
anos,
p
o
de
s
er
24
Segun
do
o
dici
o
ná
r
i
o
A
uré
li
o,
de
stroça
r
si
gni
f
i
c
a
“pôr
e
m
debandad
a,
deban
dar,
dis
persar”,
en
qua
nt
o
que
bagu
nçar
“
pro
mover
bagu
nça
o
u
desordem”
FE
RRE
I
RA,
A
u
rélio
Bu
arque
de
Ho
lan
da.
N
ovo
A
u
rélio
Sécu
l
o
XXI
: o
Dici
o
nári
o da Língua
Portugu
es
a
. 3 ed.
R
i
o d
e Jane
iro: Nova fron
teira
, 1999
p
.
608
e
25
4.
25
In
strum
en
t
o metáli
co
constitu
íd
o po
r “uma
esfera
o
ca
de met
al
que, ao
ser
agi
t
ada, produz
som
” (FE
RREIRA,
1999,
p. 102
2)
26
Dar
a
morte
a
algu
ém
na
forçar
po
r
m
eio
de
“supli
ciar
n
a
f
orca,
suspe
nder
pel
o
p
e
scoço
em
l
ugar
alto,
asfix
ian
do
” (FER
REIRA, 19
9
9
,
p
.
757
)
101
fruto
da
atual situ
ação d
e insegurança
que
a
ss
ola to
do o
país,
o que
faz d
a v
iolência
um
a
to
norm
al,
dev
ido
à
banaliz
a
ção
da
violênc
i
a
em
si
.
Ta
mbém
os
des
enhos,
fil
m
es
e
a
mídia
e
m
gera
l
ex
põem
as
c
rianças
a
si
tua
ç
ões
c
onstant
e
s
d
e
v
iolênc
ia
,
quadr
o
que
in
fluencia
a
fo
rm
a
ção
do
indivíd
u
o
e
o
for
m
at
a
de
maneira
a
ac
red
ita
r
que
o
co
nstrangimento
físico
e/ou
m
o
ral
po
d
e
s
er
s
olucionado
c
om
a
dev
olução
do
m
e
s
m
o tipo d
e tratamento.
Outra
le
itu
r
a
po
s
sível
faz
referê
n
c
ia
a
u
m
a
im
por
tante
p
eculiar
idade
da
fa
ntasia
i
nfantil,
que
nã
o
v
ê
a
morte
c
omo
v
io
lência,
aborda
gem
perc
eptível
na
reto
m
ada
do
tema n
os
con
tos
d
e
fa
da
s
.
Nesta
pers
pectiva,
a
col
ocação
do
guizo
no
pescoço
pode ter sido compreend
ida pela
c
riança com
o
enforca
m
ento.
Tudo
iss
o
é
fruto
do
diá
logo
entre
text
o
e
c
ontexto,
já
que
a
co
m
pre
ensão
de
um
t
ext
o
é
um
pr
ocesso que
se
car
a
c
t
eri
z
a
pe
la
utilização do
co
n
hecimento
prév
io:
o
leitor
u
tiliza
n
a
leitu
ra
o
q
ue
ele
j
á
sa
be,
o
c
onhecim
e
nto
adquiri
do
ao
longo de su
a
v
id
a
, inclus
i
v
e
a fan
tasia e a m
or
te na liter
atura. É
m
e
diante
a
interação
de
di
v
er
s
os
níveis
de
conhecimento,
c
om
o
o
c
onhecim
ento
lingüísti
co,
o
t
e
x
t
u
al
,
o
con
he
c
im
ento
de
mund
o,
que
o
lei
tor
c
on
s
egue
co
n
st
ruir
o
se
n
tido
do
texto.
Como
o
leitor
utiliza
di
versos
nív
ei
s
de
c
o
nhecim
e
nto
q
ue
interag
em
en
tre
si,
a
leitura
é
co
nsiderada
um
p
roc
esso
interativo.
Pode-s
e
dizer
co
m
segurança que,
sem
o
en
gajamento
d
o
c
onhecim
e
nto
prév
io
do
l
eitor,
n
ão
ha
v
eri
a
c
om
p
reensã
o
dos sig
nificado
s
tex
tu
a
is.
Outro
fato
im
porta
nte,
sob
o
v
iés
s
o
c
iológico
e
cul
t
ur
al,
c
ons
i
st
e
na
recor
rência
a inser
ç
ão d
e
va
lores s
ociais n
a
fábula
.
Tal questão, ob
serva
da
na
ca
d
eia
alimentar,
e
ixo
g
erador
da
narrativa
,
é
resp
on
s
ável
pe
l
o
des
encadeam
e
nto
do
conflito,
u
m
a
v
ez qu
e os
ratos s
ão
im
pedi
dos
de
com
e
r
pela
a
m
eaç
a d
o
gato q
ue
por sua
vez
s
e a
lim
en
ta dos
rato
s
.
Em
u
ma
v
i
s
ão
antropomorfa,
em
que
os
a
nim
a
is
são
s
em
elhant
es
ao
homem
,
a
cria
nça
transpo
rta
pa
ra
o
te
xto
peculiarid
ad
es
hu
m
a
nas
co
m
o
necessidad
e
de
regi
strar
nom
inal
m
ent
e
a
per
sonag
em
.
Tal
mov
im
ento
é
possi
bilitado
po
r
m
eio
da
a
lteraç
ão
do
adjet
i
v
o
c
a
s
m
u
rro
que
a
ss
um
e
a
funç
ão
de
su
b
stantivo
própr
io,
g
ra
ç
as
a
o
emprego
de
letra
m
a
iús
cu
la.
Vê-se
a
í
a
n
ecessidade
de
identif
i
c
ar
os
s
er
e
s
por
m
e
io
d
o
n
om
e
pró
prio,
obedecen
d
o
às
normas
de
identificaçã
o,
na q
ual a
s
ocied
a
de
se organiza.
A
prática
de
resumo
tam
b
ém
é
utilizada
pel
a
reescrita
seguin
te,
q
ue
se
ocupa
em
reo
rgan
izar
c
om
p
acta
m
ente
o
enre
do
d
a
nar
rati
v
a,
r
ealizando
em
s
ua
102
reescri
ta
a
atualiza
ç
ão
v
o
cab
ular.
Nessa
re
o
rga
nização
os
d
iálogos s
ão s
ubs
tituídos
pelo
disc
urso
indireto,
c
om
o
qua
l
c
abe
ao
n
ar
ra
do
r
apresentar
o
enredo,
a
ç
ão
q
ue
realiza a par
tir da sua percepção.
A
leit
ura
é
u
m
p
rocesso
de
interaç
ão
,
q
u
e
s
egundo
Kleim
an
(
1997),
pesqu
i
s
adora
da
abor
dagem
c
ogni
ti
v
o
-
processual
da
leitu
ra
,
a
ntec
ipa
c
erta
dificu
ld
ade,
gera
lm
ente
apontada,
para
a c
om
preensão
do m
a
terial
i
m
pr
esso, p
oi
s
“o
objeto
a
ser
c
ompree
ndido
é
c
ompl
e
xo,
(.
..)
por
que
o
objeto
p
are
c
e
in
di
s
tin
to,
c
om
tantas
e
v
ar
iadas
dimensões
que
não
s
abem
o
s
por
onde
c
omeça
r
a
a
preendê-lo
”
(KLEIMAN, 1997,
p 10).
Portanto,
para a com
pre
ens
ã
o
do
texto é necess
ário, com
o d
ito
anter
iorm
en
te,
a
utiliz
aç
ão
d
e c
onhecim
entos
do
leitor,
d
en
om
inad
o
pe
la
Es
tética
da
Rece
pção
de
repertório,
fazendo
da
leitura
um
proc
esso
interativo,
no
qual
a
repro
du
ç
ão
textu
al
s
urge
dos
e
lem
entos
q
u
e
as
c
rianç
a
s
tê
m
e
m
mãos,
por
ser
o
tex
to
um
a
un
idade
semântic
a
o
nde
vários
elementos
de
sig
nificação
são
m
a
terializad
os
por
m
eio
d
e
c
ategor
ia
s
lexicais,
s
intát
i
c
as,
s
em
ântic
as
e
estruturais.
No
cenári
o
de
leitura,
o
leitor
é
g
uiado
p
or
princípios
a
pr
e
s
entado
s
po
r
a
utores
q
u
e
discu
tem
a p
sicoling
üí
s
ti
c
a
27
.
O
pr
im
e
iro
deles
,
o
p
rincípio
de
parcim
ô
nia,
é
o
pri
ncípio
de
ec
on
o
m
ia,
no
qu
al
o
le
itor
te
nde
a
r
eduzir
ao
mínimo
o
número
d
e
pers
o
nagens,
objetos,
processos,
eventos
desse
quadro
mental
q
ue
e
le
v
ai
c
onstruind
o
a
medida
que v
a
i le
nd
o
. O
princíp
io d
e
economi
a
dete
rmina v
ár
ias r
egra
s
:
a p
rimei
ra,
r
egra
de
recor
rência, co
n
s
i
ste
no
uso
de
rep
eti
ç
ões, subs
titui
ç
ões,
prono
m
inalizaçõe
s,
uso
de
dêitic
os
e
de
frases
d
efinidas.
Já
a
s
egunda,
re
gra
d
a
c
ontinuidade
temática
,
regula
os
c
omportamentos
au
tomáti
c
os,
inc
o
nsc
ientes
d
o
leitor
n
a
procura
d
e
ligaçõe
s
no
tex
to.
O
segu
ndo
p
ri
ncípio,
o
de
canonicidade,
agrupa
v
ários
princíp
io
s
sob
re
a
s
nossas
e
x
pe
c
tativas
em
r
elação
à
ordem
natu
ral
no
m
und
o,
e
s
obre
com
o
es
sa
orde
m
s
e
ref
lete
na
linguagem
.
O
terc
eiro,
p
rincípio
de
d
i
st
â
ncia
míni
m
a,
trat
a-se
de
um
a
reg
ra
perceptual
que
d
iz
q
ue
quando
há
m
a
is
d
e
um
possív
el
a
ntecedent
e
de
um
pro
nome ou d
e um
dêi
tico, a
quele
m
a
is
pró
x
imo será
int
e
rpr
etado com
o o
antece
dente.
O
prin
c
ípio
de
coerênc
ia
diz
que
quando
há
inte
rpretaçõe
s
con
flitan
tes
de
v
emos
esco
lher aquela
que
torne
o
t
exto c
oerente.
O
quinto
prin
cí
pio, o
da
27
As i
d
éias
aqui
di
s
cut
i
das estão pau
t
adas
nas ob
r
as
de
Mary
K
a
t
o (19
95) e Ânge
la Klei
m
an (1997).
103
relevâ
n
ci
a,
determ
ina
qu
e
em
ca
so
de
informações
conflitantes
deve-se
escolher
aquela
m
a
is r
elevante ao ente
n
dim
en
to d
o tem
a
.
Os
princípios
utilizados
na c
ompreensã
o da
l
e
itura
for
am
re
sga
tados
para
demonstrar
que
as
ocor
rên
c
ias
encontradas
nos
texto
s
do
grupo
analisa
do
s
ão
prát
i
c
as
c
om
uns
na
sit
ua
ç
ão
d
e
leitur
a,
princ
i
palmente,
no
caso
e
specífico,
o
princíp
io de
parcim
ô
nia,
já
que, c
om
u
m
e
nte,
as
cria
n
ç
as
reduzem
o c
onteúd
o
tex
tual
dura
nte o pro
cess
o de interpr
eta
ção
,
co
m
o
fica re
gi
s
trad
o p
o
r m
eio
das
rees
c
rita
s
.
O t
e
xt
o
pr
oduzido p
or A5,
embora
basta
nte
preso
ao
conteú
do,
promov
e alter
açõ
es em
sua
organização, perceptível d
esde o início do texto:
Uma
n
oite
um grupo
de r
atos
se
unira
m
pa
r
a
fazer
uma re
u
nião
co
ntr
a
o g
at
o
Fa
r
o-Fino
,
que
es
t
ava
destrui
n
d
o
o
c
lube
dos
ra
to
s
(...)(A
5,
2006, Texto 2
).
O
co
nt
r
aste
e
ntre
o
texto
d
a
criança
e
o
texto
de
Mo
n
teiro
Lobato
m
o
stra
que
o
parágrafo
inicial
de
Lobato,
responsáve
l
p
o
r
apresentar
as
person
agen
s,
é, na reconstruçã
o d
o
aluno
, j
á
a a
pres
e
ntaçã
o
do c
onflito.
A
op
çã
o
em
modific
ar
a
fonte
oportuniz
a,
na
i
nter
a
çã
o
entre
obra
prim
eir
a
e
v
ers
ã
o
r
ee
s
crita,
a
c
riação
de
outr
as
im
a
gens
p
or
mei
o
da
recontex
t
uali
z
a
ção
do
texto or
iginal.
Am
ori
m
(200
5) c
hama a
ate
nção em s
uas
discuss
õe
s
pa
ra
a
c
onfiguração
de
u
m
a
realidade
percebi
da
ness
e
cas
o,
pode-se
assoc
iar
a
reconfiguração
t
e
xt
ual
ao
tr
abalho
executado
p
elo
alun
o,
responsável
pela
nov
a
ela
boração
da
fá
bula.
Na
re
m
od
elagem
de
ste
tex
to,
po
de
es
tar
embutido
o p
rinc
ip
io
de
r
elevância,
que c
onsiste
na
a
presentação
dos
d
a
dos
mais
impor
tantes
para
a
consti
tui
ç
ão te
x
tual.
Pross
e
gu
indo
c
om
a
veri
fi
c
açã
o
s
obre
as
alteraç
ões,
n
o
te
xto
prod
uzi
do
pel
o
discente
ocorre
a
troca
de
dis
curso
dire
to
pelo
i
ndireto,
ação
co
n
stante
em
gra
nde par
te das reescrit
u
ras:
-
Acho
–
disse
um
dele
s
–
q
u
e
o
meio
de
n
os
defe
n
dermos
de
Fa
r
o-
Fino é
lhe atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime,
o
g
uizo
o
denuncia,
e
pomo-
nos
ao
f
r
e
sco
a
te
m
p
o
(LOBATO,
1973
b, p. 20).
Um
d
os
rat
os
fal
ou
que
o
meio
de
defende
rm
os
do
gato
e
ra
c
olocar
um guizo em s
e
u pescoço,
a
ss
i
m ouv
i
ríamos
o gato quando
ele
es
ti
v
es
se c
hegando
(A5, 2006
,
Texto 2).
104
Na
v
ersão
do
aluno,
co
m
o
e
m
gra
nde
par
te
das
produçõe
s
textua
i
s
analisad
a
s
ness
e
es
tudo,
é,
notadam
e
nte,
perceptív
el
a
ocorrênc
ia
de
u
m
a
atualização
v
o
c
abular,
qu
adro
d
i
sc
utido
n
a
regra
d
e
recorrênc
ia.
A
a
tualização
de
vocábulos,
prom
o
v
ida
pela
su
b
st
ituição
d
e
t
er
m
os
d
esconhecid
o
s
por
o
utros
m
ais
co
m
un
s,
r
epresentam
um
campo
m
ai
s
s
ign
ificativo
t
an
to
para
o
alun
o
quant
o
para
o
grup
o no qual ele está i
n
serido
.
Nos
trechos
des
t
ac
ados
acima, oc
orrem as
substituições
d
os t
erm
os
atar
m
os
por
co
l
oc
ar
, o
guiz
o
o
denun
cia
por
ouv
iríamos o
gato
quando
ele es
tives
se
ch
e
ga
ndo;
fazendo
s
onetos
à
lua
que
é
s
ub
s
tituído
por
fazendo
músic
as
à
lua.
J
á
a
ex
pre
s
sã
o
pomo-
no
s
a fr
e
sc
o
é
omi
tida n
a reescrita
.
Ao
co
ntrário
d
a
produção
tex
t
ual
ana
li
s
ada
anter
iorm
ente
,
essa
cri
an
ç
a
atual
iz
a
a
moral,
reescrev
endo-a
de
form
a
mai
s
col
o
quial
ao
s
ubs
titui
r
Di
z
er
é fácil; fa
z
er
é que s
ão elas
por
Falar é tã
o
fác
i
l... Mas fa
ze
r n
i
nguém fa
z
.
A
m
ora
l
das
fá
bulas
também
foi
preocupaç
ão
p
ara
L
a
Fontai
ne,
q
ue
em
se
u pre
fá
c
io para
su
a
s
fábulas disc
ute e
ss
a questão:
No
tempo
de
Esopo,
a
f
áb
ula
e
ra
simples
m
ente
n
a
rrada;
a
moral
es
tava
s
e
mpr
e
sepa
r
ada
e
vinha
sempre
d
e
pois.
Fedro
não
se
su
je
i
tou a
tal ordem: embelece a
na
rraç
ão
, e coloca à
s vezes a moral
no
princípio.
Só desobedeço a
e
sse preceito pa
ra observar o
utr
o
que
não
é
menos
i
mport
a
nte
(...).
Foi
o
q
ue
f
iz
com
a
lgumas
morais
de
cu
jo êx
ito duvidei (LA FONTAINE, s/d
,
p
.
2
4
-2
5
).
Os
textos
reescritos
por
La
Fo
n
taine
ro
m
pe
m
c
om
as
fontes
q
uando
o autor
opta
em
fugir do
s modelos
pr
é-e
s
tab
e
lecid
os. Tal prát
i
ca
, seguida por
Lobato
e
também
pelas
crianças
,
é
um
a
for
ma
de
reesc
re
ve
r
a
histór
ia
li
terária.
Para
a
Esté
ti
c
a
da Recepção está,
n
a
dimensão
da leitura e do
efe
ito,
o “experienciar
dinâmico
da
ob
ra
liter
ária
por
pa
rt
e
de
s
eus
leitores
”
(JAUSS,
1994,
p
.25),
s
ejam
eles F
edro, La F
ontaine, Monteiro
Lobato ou c
rian
ç
as de o
ito anos de uma c
idade
de
m
é
dio port
e, do Es
tado do Paraná.
3.2.2 A Coruja
e a Águia
À
sem
elha
nç
a
d
e
A
assembléia
dos
ratos
,
a
fáb
ula
A
co
ruja
e
a
águia
a
parece
p
ela
primeira
vez
em
La
F
ontaine,
s
endo
retom
a
da,
pos
terior
m
ente,
por
Lobato.
A
recriação
te
x
tual
per
m
itiu
o
r
esgate
de
A
c
oruja
e
a
águi
a
,
t
erceira
105
narra
ti
v
a
da
o
bra
l
o
batian
a,
que
ap
are
c
e
nas
Fábulas
de
La
F
ontai
n
e,
tr
ad
uç
ão
de
Ja
im
e Pie
tor, c
omo
A águ
ia e o moc
ho
, e
spéc
ie de co
ruja, ou
sim
p
les
m
ente,
A águ
i
a
e a co
ruja
, dependendo do tradutor
.
Um
mes
m
o
te
xto
m
u
da
s
ignific
ati
va
m
e
nte
d
e
ac
ordo
co
m
o
tr
adutor,
entida
de q
ue age
d
ir
e
tam
ente
no
texto
ori
ginal
,
i
m
pin
gindo
m
arc
as
de
sua
r
e
cepç
ão,
co
m
o
discu
tid
o
no
p
r
im
ei
ro c
apítulo desse
e
s
tudo.
De La
Fontaine pa
ra Lo
b
ato
ocorre
a inversão
de
sintagm
a
s
no
título
do
texto
,
uma
v
ez
qu
e
a
águia
que
apar
ece
primei
ro
no
te
xto
fran
c
ês
c
ede
lu
gar
à
coruja
,
na
v
er
s
ão
b
rasileira.
As
d
uas
v
e
rsões
retrata
m
a
s
du
a
s
aves
que,
c
an
s
adas
de
brigar,
resolvem
f
az
er
as
pazes.
No
tr
ata
do
de
paz
ass
entam
q
ue
não
c
om
e
rão
os
filhos um
a d
a ou
tra. Para q
ue a ág
uia re
c
onheça
o
s
fil
hotes da
c
oru
j
a, essa ú
ltim
a
descreve
os
filhos
c
om
o
an
im
ais
muito
bo
nit
o
s.
Dias
de
pois,
a
águia
enc
o
ntra
u
m
ninho
com
tr
ês
filhotes
q
u
e
ela
acha
feios.
Com
o
a
d
escrição
não
c
oincide
c
om
o
retra
to
descrito
pela
c
or
uja,
ela
os
devora.
T
a
nto
na
versã
o
fr
a
nc
e
s
a
quan
to
na
nac
ional,
os
anima
is
dev
orado
s
er
am
os
fil
hos
da
c
oruja
e
a
mãe
pro
cura
a
águia
para
reclamar
a
quebr
a
do
acordo.
Ouve,
no
entant
o,
qu
e
os
filh
otes
descr
itos
pela
m
ã
e em nada
se
pareciam
c
om os an
im
ais
que el
a havia devorado
.
O
s
e
g
undo
texto
lobat
i
an
o,
s
el
ecion
a
do
pel
a
p
rofes
so
ra,
foi
escol
hi
d
o
po
r
tr
ê
s
c
ri
anç
a
s.
Todas
mantiv
eram
o
título
d
o
ori
ginal.
A
pr
imeira
d
elas
,
A5,
mantev
e
a
mesma
e
str
utura
d
o
texto-fonte,
alt
eran
d
o
algu
ns
t
erm
os
de
forma
a
tam
bé
m
r
ealizar
uma
a
tualização
v
ocabular,
a
lém
de
lanç
ar
mão
também
do
princíp
io de parcim
ô
nia, c
om
o v
erificável
no
contras
te
de trech
os
:
-
Bas
ta
d
e
g
uerra
–
diss
e
a
coruja.
O
mundo
é
tão
grande,
e
t
olice
maior
q
ue
o
mundo
é
anda
rm
o
s
a
c
o
mer
os
filhotes
uma
da
o
utra.
(LOBATO, 1973 b, p. 12).
- Che
ga de guerra
!
Disse a c
o
ru
j
a. (A5, 2006, Texto 4).
Campos
(1991)
c
oncebe
um
tipo
de
rec
onstituição
do
texto
,
que
se
desenvolve
ria pa
ra
lelamente ao
texto o
r
iginal, por
m
eio da transcria
ç
ão
,
qu
e s
e
se
g
ue
à
desconstrução
da
o
bra
primeira.
Na
rec
onst
ru
çã
o
apresentada,
além
da
atualização
v
ocabular,
é
notável
a
r
edução
a
q
ue
o
adap
t
ado
r
sub
m
ete
o
or
iginal,
pois
em
bor
a
se
ja
fi
el
a
o
texto
base,
o
a
luno
r
eduz
s
ign
ificativam
e
nte
s
ua
ex
ten
s
ão.
Tal aç
ão
p
od
e
o
c
orrer,
m
otiv
ada
por
duas
po
s
si
bilidade
s
:
te
ntativa de
se
des
p
ren
de
r
106
da
fonte,
p
oi
s
não
reproduzi-la
na
í
nte
gr
a
p
od
e
se
r
um
a
m
ane
ira
de
n
ão
pa
ga
r
o
tributo
devido
ao
texto
de
b
a
s
e;
ou
t
ra
possibilida
de,
de
caráter
es
cola
r,
pode
ser
si
m
ples
m
e
nte a
reduçã
o
da at
ivida
d
e de reescr
it
a
, proposta pela
institui
ç
ão escolar.
A
dívi
da
pendent
e
entre
origin
al
e
adaptação,
ampla
m
en
te
disc
utida
pela
crít
i
c
a,
c
onsiste
,
s
egundo
D
errida
(
2005),
na
re
presentação,
p
el
a
v
ersão,
d
a
s
verdad
es contidas na ob
ra original.
N
o entanto,
o ato de
adaptar não s
ignifica
renu
n
c
ia
r
às verd
ades contidas no texto primei
ro.
O
s
egundo
tex
to
esc
rito,
também
pre
so
a
o
ori
ginal,
apresenta,
entr
eta
nto,
modificaç
õe
s
que,
aparen
t
emente,
e
xtrapola
m
a
v
ontad
e
do
di
s
ce
nt
e
e
m
termos de
si
gnifi
c
ação. Tal quadr
o é c
onstruído
porque
a cr
iança, em fase
de
apro
pri
açã
o
e
norm
a
tizaçã
o da
líng
ua
portuguesa
, tr
a
nsporta para
s
ua reescr
ita
si
nais
dessa
f
ase
d
e
ap
re
ndiz
a
gem
da
lingua
gem
esc
rita,
com
o
marc
a
o
pri
m
e
iro
pará
grafo do te
x
to:
-
Can
çados
de
brigar
as duas
fi
s
e
ram
as
pase
s
.
(
A11,
2006,
Texto
5,
grif
o
nos
so).
As
p
ala
vr
as
d
estacadas
no
excerto
mostram as
inco
rre
çõ
e
s
d
a
língua
pre
s
entes
n
o
texto
,
que
se
m
an
ti
v
era
m
mes
m
o
te
ndo
o
tex
t
o
b
a
se
disponí
v
el
para
o aluno.
Além
da grafi
a
das
palav
ra
s, há, nesse pará
g
rafo
,
probl
em
as de
co
e
rência
,
um
a
v
ez
que
não
foi
f
eita
a a
presentaçã
o
das
p
ersonagens
e
n
ada,
al
ém
do
t
ítulo,
mostr
a
a
qu
em
se
r
efere
o
v
erbo,
c
ansad
o
s.
Apenas
s
e
s
abe
que
se
t
rata
de m
ais
de u
m
a
pers
onagem
por
que o v
e
r
bo es
t
á flex
ionado no plural.
O
texto
co
n
siste
em
uma
reduç
ão
de
in
formações,
embora
a c
r
i
anç
a
m
a
ntenha
alg
uns
term
os
e
a
tualize
ou
tros,
c
om
o
faz
c
om
a
moral
da
f
ábula,
aprese
ntada a seguir
:
P
ara
retrato
de
filho
n
ingué
m
acredite
em
pint
o
r
pai.
Lá
diz
o
di
ta
d
o:
quem o feio a
ma,
b
onito lhe p
a
rec
e.
(LO
BATO, 19
73 b, p. 12).
Quem a
ma o feio
l
h
e
acha bonit
o
(A11, 2006, Texto 5).
Isso
acontec
e po
rque, se
gundo Ka
to (
1995)
, a
leit
ura d
e
um
a p
alav
ra
por
um
leitor
profic
iente
é
fe
it
a
d
e
m
anei
ra
i
deogr
áfica.
Já
para
um
leitor
i
nician
te,
co
m
o
os
par
ti
c
ipa
nt
e
s
do
gr
upo
a
nalisado,
cujo
v
oca
b
ulário
a
inda
é
m
uito
limitado,
(...)
o
pr
o
c
esso
de
leitura
envo
l
v
e
po
uc
o
r
e
conheci
m
en
to
v
isual
i
n
st
antâneo.
Desse
107
m
o
do,
a
leitura
p
ass
a
a
c
onstituir
ope
raç
õ
es
de
a
nálise
e
s
íntes
e
,
s
endo
a
apre
en
s
ão
d
o
s
ignifica
d
o
medi
a
da
quas
e
s
em
pre
pela
de
cod
ifi
cação
e
m
pal
a
v
r
a
s
auditivamente fa
m
iliar
es.
Para
a
E
s
tética
da
Rece
p
ç
ão,
as
altera
ç
ões
m
o
stra
m
que
a
histór
ia
de
v
i
da
do
s
er
hum
a
no
p
ode
influir
na
co
m
p
reensão
que
o
m
e
smo
faz
do
d
iscurs
o,
fato
ess
e
que
se
c
om
pr
o
v
ou
na
obtençã
o
de
res
ultados
dis
tintos
em
u
ma
mes
m
a
ativ
idade,
o
q
ue
atesta,
em
p
iric
am
ent
e,
o
f
ato
r
pessoal
n
a
interpretaçã
o
d
o
texto
literári
o d
ev
ido ao horizonte de
e
x
pectat
i
vas que m
ud
a de in
di
v
íduo p
ara indiví
d
uo.
A últi
m
a
r
eescrita,
ass
im como a
ana
lis
ada
a
n
teriorm
ente,
aprese
nta
prob
lem
as
de
grafia,
pontuação
e c
oncordânc
ia
ve
rbo
-n
om
inal,
c
om
o
mostr
a
o
excert
o:
Quan
do
a
coruja
v
outou
persebe
l
que
seu
f
ilhos
não
e
s
tavam
l
á
no
nhi
nhe
e
emtão
ela
f
icou
desesp
e
rada
e
foi
t
i
ra
r
s
ati
s
f
asão
com
a
águia
. (
A9
,
2006,
T
e
xt
o 6
).
A
moral
é
u
m
a
r
epro
du
ç
ão
exata
daquela
apr
e
s
entada
no
t
exto
de
Lobato
.
A
fid
elidade
incondic
i
o
nal
é
um
dos
caminho
s
poss
íveis,
embo
ra
não
seja
o
único,
é
um
a
d
as
o
p
çõ
es
a
s
erem
utilizada
s
na
atividade
de
re
escrita
e
pode
ser
reflexo
tanto da fidel
idade ao texto ori
ginal co
mo a nã
o-
c
om
pr
eens
ã
o
dele, levando o
leitor a
optar, nesse caso, por re
p
rod
uzir o texto canô
ni
c
o.
3.2.3 A Fo
rmiga Boa
Com ra
íz
e
s
g
regas,
A c
igarra
e
as
for
mi
ga
s
aparece
e
m
Es
op
o,
c
om
o
s
ubst
an
t
ivo
flexionado
no
plural,
já
que
a
vo
z
qu
e
c
ensu
ra
a
cigarra
é
a
voz
da
co
letividade, que
c
on
d
en
a os preguiçosos.
O p
oeta
rom
ano
Bábrio,
que
t
e
r
ia viv
ido
apro
x
im
ada
m
en
te
no
século
I
d.C.,
retoma
o
text
o
esópico
,
m
e
trific
ando–o
em
v
ersos.
Nessa
v
er
s
ão,
as
person
agen
s
são
apenas
duas,
c
omo
ates
ta
o
título
A
cigarra
e
a
for
m
iga
.
Outros
detalh
e
s
q
ue
p
arti
c
ularizam
o
te
x
to
são
incl
u
ídos,
c
omo
a
descriminação
det
a
lhada
do
t
raba
lho
da
for
m
iga:
“
N
o
in
v
erno
uma
fo
rm
iga
arra
stava
de
d
entro
da
toca
o
trigo
para
a
rejar,
que
ela
havi
a
estoc
ado
n
o
v
er
ã
o”
(BÁBRIO,
apud
DEZOTTI,
2003,
p.
98).
108
Ainda
no
sin
gular,
o
texto
é
r
etom
ad
o
por
La F
ontain
e
,
que
re
produz
o
con
teúdo
difundido
p
or
seus
a
n
te
c
e
ss
o
res.
Na
tradução,
r
e
al
izada
por
Boc
age,
co
n
str
uíd
a
em
v
ersos
,
m
an
tém-se
o
co
n
teúdo
e
pr
i
v
il
egia-
s
e
a
form
a m
étric
a.
O
co
n
teú
do
difundido
pel
os
escritores
em n
ada
se
asse
m
elha
ao
c
onteúdo d
e
A
formi
g
a boa
, cr
ia
ç
ão
de Lobato a partir da fá
b
ula b
ase.
O
trabalho
do
autor
de
Taubaté
ex
plora
am
p
lam
ente
a
fábula,
q
ue
apar
e
c
e
n
a
o
bra
Rei
n
a
çõ
es
de Na
r
izi
nho
(1920) e
tam
b
ém
em
Fá
bulas
(1922).
Dess
e
modo,
a
fábu
la
c
heg
a
até
Lobato
e
o
t
ítulo,
A
cigarr
a
e
a
f
ormiga,
e
m
u
m
a
versão
ge
nuinam
en
te
p
arod
iada,
muda
de
no
m
e
e
pas
sa
p
ara
A c
igarra
e
as
formi
g
as,
rec
ebendo,
p
elas
mãos
do
es
c
r
itor,
uma
di
v
isão
na
q
u
al
se
d
escortina,
na
prim
eir
a
part
e,
um
a
nov
a
ve
rsã
o
e,
na
s
egunda
p
arte,
a
m
an
utençã
o
da
narr
ativa
origina
l.
Em
A
form
i
ga
boa
,
p
rim
e
ira
parte
d
a
f
ábu
l
a,
ocorr
e
a
r
edenção
da
formi
g
a,
que
v
aloriza
a
a
rte
e
a
c
olhe
a
cigarra
durante
o
mau
te
m
p
o.
A
p
aród
ia,
nesse c
aso,
não
é car
acteriz
a
da
pela
ironia
e hu
m
o
r
ac
entuados, que
tran
s
parece
m
,
de
for
m
a
s
uti
l,
apenas
na
apr
e
s
e
ntaçã
o
das
persona
g
ens.
A
narr
ati
v
a
é
m
arc
ada,
essencialmente,
pela
difere
nça
entre
a
fonte
e
a
a
daptaç
ão,
u
m
a
v
ez
que
m
ant
é
m
poucos
el
em
ento
s
do
tex
to
base,
alc
an
ç
ando,
incl
usive,
desfec
ho
distinto
do
div
ulgado
pelas
prim
eira
s
v
er
s
ões
.
Segundo
Hutc
heon
(
19
8
5),
o
d
uplicar
textual
da
paró
dia
t
em
por
objetivo
m
a
rcar
a
diferença
e
ntre
os
te
x
tos.
Com
iss
o,
a
paród
i
a
permi
te
o
surg
im
ento
d
e
um
a
no
v
a
na
r
rativa,
cujo
c
ontraste
c
om
a
o
bra
prim
e
ira,
pode mediar o
entendimento desta últim
a.
Na
prim
eira
parte
da
fábul
a,
A
formiga
boa,
o
aut
or
m
u
da
os
fatos,
transfor
m
ando
o
tex
to,
p
or
mei
o
da
mudanç
a
de
atitude
da
for
m
iga,
que
ao
s
o
c
orrer
a
c
igarra,
altera
tam
bém
t
odo
o
c
ontexto
da
fábula.
Esse
texto,
e
m
e
spec
ial,
repres
enta
a
retomada
de
elementos
trad
i
c
ionais
na
litera
tu
ra,
n
o
c
aso,
a
fáb
ula
A
cigarra
e
a
fo
rmi
ga
,
q
ueb
ra
c
om
a
exp
e
c
tati
va
do
leitor,
que,
ao
esper
a
r
o
desfecho
origina
l,
s
e
depara
com
u
ma
pa
ródia,
c
om
a
qual
Lobato
ro
m
p
e
as
exp
ectativas
do
leitor e
o faz
aba
ndonar as referências
de ba
s
e.
A
ru
ptura
ci
tada
pod
e
te
r
s
ido
o
m
o
tivo
para
o
peq
ueno
núm
e
ro
de
escol
ha
s
para
e
s
sa
f
ábula,
r
eescrita
por
d
u
as
cri
an
ç
as
apenas
.
A
prim
eir
a
del
as
s
e
m
a
ntev
e pres
a
ao tex
to
-f
on
te
,
c
om
o
dem
o
nstr
am
os e
xc
ertos a seguir:
109
Houve
u
ma
jovem
cigarra
que
tinha
o
costume
d
e
chiar
ao
pé
dum
formig
u
eiro
. Só
pa
ra
va
quando
cansadinha;
e
seu d
ivert
i
mento e
ntão
era obser
v
ar
as
f
orm
igas
n
a e
t
erna
faina
d
e
abastecer
a
s
tulhas
(LOBATO, 1973 b, p. 11).
O texto da
c
rianç
a
é
e
s
crit
o da
se
guinte form
a:
Uma
jovem
c
i
garra
g
ostava
muito
de
c
a
ntar
em
f
r
e
nte
de
u
m
formig
u
eiro
que
só
pa
rava
quando
s
e
c
a
n
sava
e
o
seu
diverti
m
ento
era ve
r as
f
orm
i
gas tr
a
b
a
lharem (A5, 2006, Texto 7).
Outros
te
r
m
os
são
atualiz
ados
,
inclu
s
ive
a
onomatopéi
a
q
ue
repres
enta
a
b
atida
n
a
porta.
Em
L
obato
é
“Bateu
–
t
ique,
tiq
ue,
tique...”
(
L
OBATO
,
1973
b,
p.
11
).
J
á
na
v
ersão
da
c
riança
a
p
assagem
aparec
e
co
m
o
“Batend
o
na
port
a
–
toc,
toc,
to
c
...”
(A5
,
2006,
Text
o
7),
que
além
de
alt
erar
o
som
em
si
,
inc
lui
o
us
o d
o
v
erbo,
flexionado no gerúnd
io, u
s
o c
o
mum
na
m
odalidade
ora
l da linguagem.
Uma
prá
tica
do
aluno,
q
ue
s
tio
nada
pe
la
professora
por
m
eio
de
u
m
recado
n
a
própr
ia
produç
ã
o,
marca
a
i
mportânci
a
das
escol
h
as
feitas
pelo
respons
á
v
el pela r
eescrita.
A
professora
o
r
ienta
o
aluno a
c
ol
oc
ar
as
falas
da
person
agem
c
om
pará
grafo
,
trav
e
s
são
e
letra
maiúsc
ula, c
omo
m
o
stra
o
an
e
x
o
D
3.
Pautada
na
v
ersão
d
e
Loba
to,
a
professora
c
obra
a
form
a
contida
no
or
iginal,
que
se
g
ue
o
s
eguint
e
padr
ã
o:
-
Que
quer?
perguntou,
exami
n
ado
a
tr
i
st
e mend
iga
suja
de l
ama e
a
tos
s
i
r.
- Venho em busca de agasalho. O mau tempo nã
o
cessa e eu...
A
f
orm
i
ga olhou de alto a ba
i
xo.
-
E
o
que
fez
du
ra
n
te
o
b
om
te
mpo,
que
não
c
o
nstr
u
iu
s
ua
casa?
(LOBATO, 1973 b, p. 11).
A
v
ersão
da
c
rian
ç
a,
c
o
nstruída
na
fo
rm
a
indiret
a,
diferente
da
es
trutura
elei
ta
n
a
v
ersão
lobat
ia
n
a, é
defendida
pela
cria
nça,
que
responde
no
próp
rio
t
e
x
to
a
obs
ervação
feita
pela
pr
ofessora:
“N
ão
é
fa
la
é
o
n
arrador
faland
o”
e
m
a
ntém
a
maneira
e
scolhida
por
ela,
a
responsá
v
el
pela
reescr
ita,
qu
e
nesse
cas
o
fez
a
opç
ão
.
Segu
ndo
Am
or
i
m
(20
05),
c
a
be
ao
res
ponsável
pel
a
reo
rganiz
a
çã
o
do
tex
to
re
alizar
as
es
c
olhas
para
a
c
onstrução
do
novo
texto.
Nes
se
c
a
s
o,
e
m
es
pe
c
ífi
c
o,
mesm
o
n
ão
s
endo
um
adapta
dor,
a
crianç
a
o
p
ta
por
alterar
a
o
rdem
da
escrita
e
mantém s
ua
pr
eferên
c
ia,
c
onstruindo
s
ua
v
ersão
n
a
form
a
indi
reta,
apesar
do ques
tionam
en
to da p
rofessora, como destaca o t
recho apre
s
entado
a seguir:
110
E
ela
[a
formiga
]
fal
o
u
para
a
ciga
rr
a
o
que
queria,
e
a
cigarra
disse
que e
stava
p
recisando de agas
alh
o.
A
formi
ga
olhou
e
p
erguntou
a
ela
o
que
fe
z
n
o
tempo
bom
que
não
co
nstru
i
u
uma
casa
,
e
la
respondeu
que
c
a
n
ta
va
para
as
formigas
trabalharem (A5, 2006, texto 7).
As
opções
da
cr
iança
quanto
à
n
ova
roupage
m
c
onferida
à
es
trutura
ç
ão
d
a
f
ala
da
pe
rso
nage
m
inc
omodaram
a
p
rofe
ssora;
log
o,
os
pressu
po
s
t
os
de
que
até
mes
m
o
os
d
ocentes
estão
atrelad
o
s
à
noção
de
fi
de
lida
de
ao
orig
in
a
l,
me
s
m
o
que
a
p
roposta
de
a
ti
v
idade
consista
em
r
eescrevê
-lo,
se
co
n
firmam
(a
nex
o
D
3).
Dessa
forma,
oc
orre
uma
de
scons
idera
çã
o
em
re
lação
à
liberda
de da ati
vidade
de rees
c
r
ita ao
s
e
apr
e
s
entar um
tex
to canônico para a
interpr
eta
ç
ão
i
ndividual, já
que, a
o reorganizá-lo,
o d
i
s
cen
te
c
on
s
trói um nov
o text
o e
é cobra
do pela fuga do or
iginal.
O leito
r,
n
ess
e c
a
so
, repres
ent
a
do
pela
figura da
pr
o
fessor
a
,
sem ter
cl
aram
ent
e
def
inido
o
que
s
eja
a
fidelidade,
es
tá
ha
bituado
a
rec
lam
á-la,
aç
ão
q
ue
limi
ta as
opç
õ
es d
o aluno e as possibilida
de
s
de inovação
do te
x
to primei
r
o.
A
c
rianç
a
assina
o
t
rabalho
como
autor
a
e
ilustr
adora
e
com
esse
gesto,
assu
m
e
su
a
p
articipa
ç
ão na
co
n
s
tituiçã
o
d
e
s
eu
texto,
c
om
o
apar
ece no
anexo
E
5.
No
desenho
d
e
s
ua
autor
ia,
retr
a
ta
a
cigarra
entre
folhas.
Encerrando
o
diálogo
e
ntre
professora
e
aluno,
a
edu
cadora,
em
u
m
a
to
d
e
p
ossív
el
apazigua
m
en
to, elo
gia a ilustração ao escrever “ador
ei!”.
A
últi
m
a
a
daptaç
ão
dessa
fáb
ul
a
r
ealiza
um
co
m
p
acto
das
informaçõ
e
s,
re
unindo
as
idéias
prin
ci
pais
do
tex
to,
c
om
o
mostr
a
a
repr
odu
ç
ão
do
prim
eir
o parágr
afo:
E
xistia uma c
igarra que cantava perto de um formig
u
eiro enquanto as
formig
as tr
abalhavam (A7, 2006, Text
o
8
).
A
cr
iança s
ubstitu
i co
n
s
truçõe
s
m
a
is
c
om
plex
as
, q
ue
t
e
nd
em
a
lev
ar
o
leitor
a
cons
t
ru
ir
o
própr
io
s
ignific
a
do,
por
um
a
es
crita
que
apresenta
o
co
nteúdo
de
forma
dec
larada,
no
qu
al
estão
e
m
b
utidos
a
interp
reta
ç
ão
e
os
resultad
os
interpr
etativo
s
por ela alcançados:
-
Pois
e
ntr
e
,
amiguin
h
a
!
Nunca
poderem
os
esquecer
as
b
oas
horas
que sua canto
ri
a
nos proporcionou, aquele ch
iado nos distraia e
aliviava
do
trabalho.
Diz
ía
mos
sem
pr
e
:
que
felicidade
ter
como
111
vizinha
tão
g
e
ntil
cantora!
Entre,
a
m
i
ga,
que
a
q
u
i
te
rá
cama
e
mesa
durante todo o mau tempo.
A
cigarra
entrou,
sarou
da
tosse
e
voltou
a
ser
a
alegr
e
cantora
dos
dia
s de s
ol (
LOB
AT
O
, 1973 b, p. 11).
A
f
ormi
ga
f
o
i
boa
dei
xando
a
fi
ca
r
em
sua
casa
até
pa
ssar
o
tempo
da
chuva, a c
igarra
v
oltou a cantar (A7, 2006, T
e
xto
8
).
Como
de
m
o
nst
ra
a
c
omparação
entre
os
tr
e
c
hos,
o
diálogo
co
n
str
uíd
o
por
L
obato,
qu
e
most
ra
o
recon
he
c
im
ento
da
fo
rm
iga
pe
los
dons
artísticos
d
a
cigarra,
é
su
b
s
tituído,
no
texto
di
sc
ente,
pela
cons
tatação
d
e
que
a
formi
g
a
foi
boa
ao
perm
itir
a
per
m
a
nênc
ia
d
a
c
igarra
em
s
ua
c
asa
durante
o
mau
tem
po.
As
sim
,
o
dis
ce
n
te
deixa
d
e
lado
os
rec
urso
s
dis
cur
s
iv
o
s
e
opta
por
aprese
ntar
s
im
p
les
m
ente
as
conclusões
alcança
da
s
em
sua
leitura
que,
segundo
Orland
i,
“é
o
momento
c
ríti
c
o d
a produ
ç
ão
da
unidad
e
t
extual
da
s
ua
realidade
si
gnifi
c
ante”
(ORLANDI
,
198
8,
p.
9-10),
ou
s
eja
,
rela
ç
ão
entre
m
a
teria
lidade
e
o
resulta
do
a
l
c
an
ç
ado
na
re
lação
entr
e
texto
e
leitor.
Até
a
esc
olha
por
parte
do
aluno
é
al
go
qu
estionável,
po
i
s
,
em
a
lguns
momentos,
principa
lm
ente
por
c
ausa
da
f
ase
de amadurec
im
e
nto
e e
sc
olarização, é
o pat
am
a
r poss
ível a
se
r alca
nç
a
do
na
co
ns
t
ruçã
o
d
is
c
ursiva textu
al. Is
so p
orque
um
a crian
ç
a
recé
m
-alfabetizada depende de pistas
contextuais e
gráfic
as
de
e
stímulo.
Portanto,
a
velocidade
e
a
p
recisã
o
c
om
que
uma pal
avra é lid
a
e perceb
i
da depende de a palavra estar registrada
no
l
éxico
v
isual
e
quan
tas
ve
z
e
s
o
l
e
i
tor
f
oi
e
xposto
a
ela;
do
co
nhecime
n
t
o
de
reg
r
as
e
imposições
f
onotático-ortogr
áfica
s
,
sintá
ticas,
s
emâ
n
t
ico
-pr
agmáticas,
c
olo
cac
i
onai
s
e
estil
í
sticas
a
que
a
p
a
lav
ra
está
suj
eita
e
do
u
s
o
adequado
e
suf
iciente
dessa
s
restriçõe
s
para
p
re
d
izer
e
confirmar
sua
forma
e
c
o
n
t
e
ú
d
o;
da
ca
pac
i
dade
d
e
raciocínio
i
nferencia
l
do
leitor,
que
l
he
perm
i
te
antecipar itens
ainda não vistos (KATO, 1995, p. 39).
Tal
fala vai ao encon
tro
d
as discussões aqui em
pre
endida
s, por
co
n
firmar
qu
e
o
qu
adro
constr
uído
n
a
p
r
oduç
ão
tex
t
ual
do
alu
no
r
eflete
a
s
possi
bilid
ades
lingüí
st
i
cas
e in
t
erpretativas
da faixa etá
ria.
3.2.4 A Fo
rmiga Má
Na segun
da parte da narr
a
tiva, embor
a presa ao c
on
texto
e ao
desfecho
pre
co
nizados
pelos
f
ab
ulis
ta
s
anter
iores,
o
narrador
l
obatiano
a
dota
um
112
perf
il
de
apro
x
im
aç
ão,
no
qual
de
s
taca
as
dific
uldades
da
ci
g
arra
e
a
maldade
da
formi
g
a.
Em
s
egui
da,
ao
r
et
o
m
ar
o
texto
ca
n
ôn
i
c
o
“J
á ho
uve,
e
nt
re
tanto,
u
m
a
formi
g
a
m
á”
(LO
BAT
O,
19
73
b,
p
.11),
ação
na
qual,
situ
a
a
histór
ia
no
c
ont
inente
Europeu,
adota
um
p
erfi
l
d
e
dis
tanciam
e
nto,
m
arca
do,
pri
n
ci
palm
e
nte,
pe
la
loc
aliz
a
ção ge
og
rá
fi
c
a.
Ness
a
v
ersão, a cigarra recorre à fo
rm
iga
e, à semelhanç
a
d
o
s
tex
to
s
orig
inai
s,
n
ão
é
a
tendida.
O
t
exto
termina
com
u
m
a
metáfo
ra:
“O
s
a
rtistas
–
poetas
,
p
intore
s
,
músicos
-
s
ão
as
c
igarras da
humanidade”
(LOBATO,
19
73 b
,
p.12)
.
M
ar
tha
c
hama
a
atenç
ão
pa
ra
a
sem
e
lhanç
a
entre
te
x
to
original
e
vers
ão
adapta
da:
A
ssim,
embora
o
resultado
desta
narr
at
iva
d
e
Lobato
s
eja
se
melhante
ao da fábula de La Fonta
i
ne, uma
ve
z
que a pobre
cigarra tem o
mesmo
fi
m
trág
ico
,
há entre
essas narr
a
tivas um
a
profunda
di
f
erença
no
modo
d
e
n
arrar.
Isto
porque
a
f
ocalizaçã
o
do
narr
a
do
r, f
r
an
camente
crítica
em
relação
às ati
tudes da f
ormiga,
ac
aba
formando
a
opini
ão
do
lei
t
or,
l
eva
n
do
-o
a re
f
leti
r
sobre
a
s
relações
h
um
anas
rep
resentadas
na
n
arrat
iv
a
e
a
dotando
uma
ati
tude s
i
mpát
i
ca à cigarra (M
A
RTHA, 1999,
p. 76)
Em
Re
inaç
ões de
Narizi
n
ho
(1
920
) aparece, s
ob
forma de
p
ar
ódia, a
m
e
s
m
a
te
m
átic
a,
na
q
ual
a
ir
o
nia
e
o
hum
or
,
marcas
da
reescrita
paródica,
transpar
e
c
em
nas
s
eguintes p
as
sag
en
s
:
E
m
v
ez
de
sen
tir
piedade,
a
formiga
f
echou
ainda
mai
s
a
carran
c
a
e
di
sse:
-
Errou
de
p
orta,
minha
cara.
Isto
aqui
não
é
a
s
il
o
de
i
nválidos.
Se
es
tá doente, v
á
para a casa d
e
seu s
o
gro. (...)
A
c
igarra
sorr
iu
,
certa
de
que
a
l
embrança
das
suas
p
assadas
ca
ntorias
ti
n
ha
amolec
i
do
o
c
or
a
ção
da
f
orm
i
ga.
A
h,
ela
não
i
magin
av
a
o
que
era
o
coraçã
o
duma
fo
rm
i
ga
coroca
de
mais
de
mil
anos!
(LOBATO
, 1973 e, p. 139)
Os excert
o
s
ap
res
entados, retir
a
dos
da obr
a
Reina
ções d
e Nariz
inh
o
(192
0),
r
etom
a
m
a
fá
bula
A
c
i
ga
rr
a
e
a
form
i
g
a.
Ness
a
v
ersão,
há
a
p
resença
de
elem
e
ntos
d
e
hum
or
,
propic
iados
pela
paródia,
com
o
a
r
ec
om
e
ndação
d
e
que
a
ci
ga
r
ra
procure
a
c
a
s
a
do
s
ogro
,
que
apo
nta
ta
m
b
é
m
p
ara
uma
v
isão
mach
ista
ao
alegar
a
depend
ên
c
ia
femi
nina
.
Tam
bé
m
é
c
om
hu
mor
que
L
obato
a
lude,
co
m
o
atesta
Martha
(2001)
,
à
antiguidade
da
fá
bula
ao
destac
a
r
a
idad
e
da
formiga:
ma
i
s
de dois mil anos
.
113
Esta
s
egunda
parte
da
fábul
a
fo
i
eleita
pelo
dobro
de
crian
ç
as.
A
prim
eir
a
v
ersão
da
fábula,
das
se
is
escr
itas
no
tot
al,
f
oi
c
onstruída
na
forma
indir
eta
e
realiza
u
m
c
ompac
to
das
informações
a
presentadas
no
t
ex
to
or
igin
al.
Os
dados
sã
o
reunidos
e
m
u
m
ún
ico
parágrafo,
qu
e
usa
ab
undantemente
a
c
onju
n
çã
o
e
para
so
b
rep
o
r os
p
e
ríodos:
A
fo
rm
iga má
n
o
in
v
erno
n
ão t
inha dado comi
da
e
abrigo
pra a
cigarra
p
orque
e
la
fi
co
u
can
t
ando
o
inve
rno
intei
ro
e
chegou
a
prim
avera
e
a
cigarra tinha mor
ri
d
o
(A
4
, 2006, Texto 9, grifo nosso).
A ruptu
ra
com o
tex
to
lobatiano é
percep
tível no
de
sprendim
e
nto
e
m
relaçã
o
a
ele
e
na
for
m
a
s
in
g
ular
com
qu
e
a
c
riança
esc
reve
e,
ass
im,
parti
cu
la
r
iz
a
su
a
pro
d
ução
textual.
Como
a
firma
Auber
t
(1
993),
em
c
itação
no
pr
im
ei
ro
ca
pítulo,
ideologicamente,
o
ex
e
c
utor
da
transposição
text
ual
está
sujeito
a
inúm
e
ras
serv
i
d
ões,
s
ejam
d
e
res
pei
to
p
ara
c
om o
au
tor
ou
o
p
róprio
tex
to;
m
as
tam
bé
m
es
tá
su
jeito
a
d
iversidades
cul
t
urais
e
lingüísticas
e
ta
m
b
ém
t
em
p
orai
s,
d
evendo
m
a
nter-
se
l
i
v
re
para
pod
er
configurar
s
eu
te
x
to
e
trazê-lo
p
ara
a
r
ealidade
em
que
e
s
tá
se
n
do
lido.
Outro po
nto
a ser
retom
a
do,
nesse caso,
é o
princípio
da pa
rcim
ônia
que
co
n
siste na
redução do quadro narra
ti
v
o, consti
tuí
do no
m
o
m
e
nto da leit
ura.
Também
fa
zendo
uso
do
princípio
de
red
ução,
a
s
egunda
reescrita,
m
e
s
m
o
m
ais
presa
a
o
original,
realiza
um
e
nx
ugam
e
nto
das
in
fo
rmações
d
o
tex
to
prim
eir
o. Para U
m
b
erto
Eco (1994):
Qualquer
n
arrativa
de
fi
cção
é
ne
c
e
ssária
e
fa
talm
ente
rápida
porque,
ao
construir
um
mundo
q
ue
i
nclui
multi
p
licidades
de
ac
ontecim
en
t
os
e
d
e
p
erso
nagens,
não
pode
diz
e
r
tudo
sobre
esse
mundo (EC
O
, 1994
,
p. 9)
Se
o
tex
to
canônico
não
costuma
apr
esentar
tod
os
os
d
ados,
deixando
para o leit
or a mis
sã
o de preencher as
lac
unas durant
e a leitura, também o
tex
to
re
escrito
pe
la
c
riança
,
em
su
a
gr
ande
m
a
ioria,
nã
o
ap
resenta
tod
as
as
informaçõ
e
s
dom
inada
s
pelo
aut
or. Tal
mo
v
imento
é
cla
ro
no
s
dois t
rech
o
s
,
o
lobatiano
e sua reprodu
ç
ão te
x
tual, apres
en
tados a seg
uir
:
Já
houve, entretanto, uma f
orm
i
ga má que
não so
u
b
e
compreende
r a
cigarra
e
com
du
reza
a
repe
l
iu
de
sua
porta.
(LOBATO,
1
973
b,
p.
12).
114
Já
houve
um
a formiga má.
No inverno
uma cigarra
b
ateu à
sua
porta
mas
a
fo
rm
iga
má bateu
a
porta
na
cara
da
cigarra.
(A7, 2
006,
Texto
10).
Como
mostram
os
e
xc
e
rt
o
s,
a
crianç
a
a
nte
c
i
p
a
in
fo
rmações
que,
no
tex
to
o
riginal
só
aparecerão
a
p
o
s
teri
or
i
,
c
omo
a
i
nformação
d
a
esta
ç
ão
d
o
inverno,
por
e
xemplo,
q
ue
só
aparece
no
p
e
río
do
segui
nte.
Tal
antecipação
revel
a
que
o
aluno,
detentor
das
informações,
reorganiz
a-a
s,
c
on
fo
rme
su
a
pró
pria
per
c
epç
ã
o
do
tex
to, liberando
-s
e, em
d
i
v
ersos m
o
mentos,
de sua influê
n
c
i
a.
O
quadro
descrito
abre
m
arg
em
par
a
um
i
m
p
ortante
as
pe
cto
discu
tido
na
p
rim
eira
par
te
d
a
disse
rta
ç
ão,
que
re
toma
a
par
ticipação
do
al
uno,
na
questã
o
que
deb
a
te
a
invisibilidade
do
realizador
da
tra
nspo
s
ição
tex
tual.
A
inv
i
s
ibilidade,
co
m
o
m
o
stra
m
os
textos
produzidos
pelos
alunos
apresentados
,
difici
lm
ente
pode
ser
tida como
tota
l,
um
a
v
ez
que o
adaptado
r,
prim
eiro leitor
,
realiza interv
en
ç
ões no texto, des
e
nca
deada
s pe
la
s
ua própria leitura.
O te
x
to
s
eguinte in
s
ere na
ada
pt
ação
s
ua
s
próprias percepções,
aç
ão
q
ue ch
e
ga a m
odi
fic
ar seu contexto:
A
formiga
má
tinh
a
raiva
da
sig
arra
ela
vivia
f
eliz
de
ixa
ndo
os
outros
fel
izes
c
a
n
tando
suas
cançõe
s
n
o
i
n
v
erno
a
c
i
garr
a
n
ão
tinha
o
que
co
mer
e
a
f
ormiga
má
bateu
a
porta
nela
e
a
sigarra
morreu
(A11,
2006, Te
xt
o 11).
O
al
uno
resu
m
iu
e
m
u
m
ú
nic
o
per
íodo
t
od
a
a
narr
ativa.
A
in
s
erç
ão
de
informaç
ões
acont
ece
nas
afirm
aç
ões
“a
fo
rm
iga
má
tin
ha
r
aiva
da
c
iga
rra”
e
“a
ci
ga
r
ra
v
i
v
ia
fe
liz
deix
ando
os
outro
s
feliz
es
”
qu
e,
não
declaradas
no
t
exto
ori
ginal,
surgem da rec
epção
do leitor,
s
endo tra
n
s
plantad
a
s
para o texto
adaptado, r
e
s
ultado
que
m
a
rc
a
o
l
eitor
c
om
o
o
“i
ngre
diente
fundam
e
ntal
não
s
ó
do
pr
ocesso
de
c
ontar
um
a h
istór
ia, com
o
ta
m
bém da pr
ópria história” (
ECO, 1994, p. 7).
O
ú
ltim
o
tex
to,
re
ferente
a
ess
a
fá
bula,
f
i
co
u
p
re
so
ao
o
ri
ginal.
Realizou p
equena
s s
upressões
, q
ue,
no
ent
anto,
altera
ram
s
igni
ficativamente
o
se
n
tido d
a fábula:
Já
houve
u
m
a
formiga
má
que
não
soube
compr
e
ende
a
cigarra
que
j
á arranco
u sua po
rt
a
(A12, 2006,
Texto 12).
115
Como é
pe
rc
eptív
el, pelo exce
rto a
p
r
esen
ta
do, qu
e se
assem
e
lha
ao
tex
to
completo,
a
c
riança
,
na
tenta
ti
v
a
de
s
e
de
spr
ender
do
t
e
x
to
d
e
b
a
s
e,
e
assim
promov
er
um
diferen
cia
l
en
tre
el
es,
retirou
e
ta
m
b
ém
ins
er
iu,
no
tex
t
o,
inform
a
çõ
es
que
a
lter
ar
am
s
eu
signific
ad
o
final.
A
alt
er
aç
ão
pri
n
cipal
se
refere
ao
dado
,
não
ex
i
s
t
e
nte
na
v
ersão
loba
tiana,
de
que
a c
igarra
te
nh
a
arrancado
a
p
orta
da
for
m
iga.
Tal
ins
erção
d
e
staca
que
“ao
tentar
falar
dem
ai
s,
um
au
tor
pode
se
tornar
m
a
is
engr
a
ç
ad
o
que
s
uas
pe
rson
agens” (ECO, 1994, p.
10
).
O conh
ecimento lin
güístico
é um do
s
protocolos n
ecessários
durante
o
p
roces
s
o
de
l
eitura,
por
d
e
s
em
p
enhar
um
i
mportan
te
p
apel
n
o
qu
e
ta
nge
o
processa
m
en
to
do
texto
,
um
a
v
ez
q
ue
agru
pa
as
p
al
a
v
ras
em
uni
dades
maiores
.
São
o
s
agrupam
entos
em
unidad
es
c
on
s
tituintes
de
fr
ase
que
iniciam
a
c
ons
trução
de
s
ignificados
28
.
Dess
e
m
o
do,
a
motivaçã
o
p
ara
as
incongruênc
ias
se
deve
ao
desconhec
im
en
to, por
parte
do d
i
s
cente, da l
í
ngua esc
rita,
prin
ci
palm
e
nte, no q
ue
se
refe
re
ao
domínio
de
s
inonímias
que,
na
s
ubstituição,
reproduz
a
,
c
om
c
oerência,
o
se
n
tido d
o texto prim
ei
ro.
3.2.5 A Gali
nha dos Ovos de Ouro
À
s
emelhança
de
A
c
i
g
arra
e
a
formi
ga
,
o
te
xto
A
g
al
inha
dos
ovos
de
ouro
,
já
aparece
na
ob
ra
de
Es
opo,
Bá
brio
e
La
Fonta
i
n
e,
de
on
d
e,
possiv
elm
e
nte,
Lobato
a
rec
olheu.
Nas
t
rês
primeiras
v
er
s
ões
o
an
tagoni
s
ta,
o
do
no
da
gali
nha,
é
um
s
uje
ito
indetermi
nado
,
as
sumi
ndo
deter
m
inaç
ão
s
omente
na
adaptaç
ão
brasileira,
em qu
e o
d
ono,
Jo
ão I
m
pa
ci
ente,
é u
m
a
figu
ra
determinada
. O
co
n
teú
do var
ia
apenas
na
forma
de a
pres
entação
das
informações
, p
rosa
e v
erso
, e
no tr
ab
alho
e
s
tilístico de
ss
as inform
aç
ões.
Esop
o
c
om
umente
insere
a
d
jetivos,
r
e
c
urso
que
busc
a
intens
ifica
r
as
inform
aç
ões
apresentadas
:
um
a
bela
gali
nha,
pequeno
lu
cro,
d
esejo
ins
aciá
v
el.
Tal quadro s
e repe
t
e tam
bé
m
nas
fábulas d
e
Bábr
io.
28
S
e
gun
do
K
a
t
o
(1995
)
tr
ês
tipos
de
conh
ec
imento
são
i
nd
ispen
sáve
i
s
no
p
r
ocesso
de
leitu
ra:
c
onh
ecim
ento
lin
güíst
i
co:
conhe
c
imento
i
mplíci
t
o,
não
verbali
zado,
própri
o ao
s fala
ntes
nativ
os
da
lín
g
ua
;
conh
ec
i
m
ento prévi
o:
sabere
s que
o
l
e
itor possu
i e o co
nh
ec
i
m
en
to
parci
al:
estrutu
ras de assun
tos, situaçõ
e
s, even
t
os que
,
guardado
s
na
m
emóri
a
, forma
m
esqu
emas,
qu
e determina
m a
s
ex
pectativ
as do lei
t
or (p 13 – 30
).
116
O
texto de
La
Fontaine m
antém
o
enr
edo
diss
emi
nado por
s
eu
s
antecess
ore
s
,
no
qual
acre
sc
e c
om
en
tári
o
s
acerca
de se
u cont
eúdo, f
al
as
q
u
e
servem como introdu
ção e conclusão p
ara a narr
ati
v
a:
A
a
vare
za tud
o
perde
a
o querer t
u
d
o ganhar.
Como tes
t
emunho dis
s
o
quero
A
pena
s o daquele cuja galinha, co
nfo
rm
e
diz a Fábula, (...)
E após a ev
oluçã
o
dos acontecimentos da n
arrativa:
B
onita l
i
ç
ã
o para as pessoas a
v
aras!
Nes
ses ú
ltimos te
m
p
os, quantas t
emo
s
vi
sto
Torn
ar
e
m-se pobres da noite par
a o di
a,
P
or
d
esejare
m
e
nr
i
quecer
muito
depressa?
(LA
FONT
AINE
,
1957
b,
p. 627).
A
fábu
la
br
asileira
retrata
a
âns
ia
de
João
I
m
p
ac
iente,
pe
rsonagem
deter
m
inad
a
que,
ao
des
cobrir
no
quin
ta
l
u
m
a
g
alinha
que
bota
s
emanalmente
u
m
o
v
o
de
ou
ro,
não
c
on
s
egue
c
ontr
olar
a
ganância.
João
m
a
ta
a
gal
inha
pens
an
do
poder
te
r
o
s
ovos
d
e uma
v
ez
e,
p
or
não
esperar
,
fica,
depois
da
m
ort
e
da
ave, s
em
os
ovos d
e
ouro. Dess
e
modo, o
texto
atesta
que
“quem
não
s
abe
esperar, p
obre
há
de ficar
” (LOBAT
O, 1
973 b, p.48).
Este
t
exto
foi
um
d
os
m
ai
s
esco
lhidos
p
a
ra
o
ex
ercício
de
r
ee
scri
ta,
se
le
c
ionado
p
or
oito
crianç
a
s
,
num
u
niv
erso
de
oiten
ta
e
sete
textos
,
núme
ro
q
ue
repres
enta
u
m
to
tal
d
e
ap
roxim
a
da
m
ent
e
9,
1%.
Tal
pr
edileção
pode
es
ta
r
a
trelada
ao
us
o
que
a
m
í
dia
e
até
a
liter
atur
a
faz
do
co
nt
e
údo
d
e
s
ta
narrativa,
s
e
ja
sob
a
forma
de
des
enhos
a
nim
ad
os,
a
d
a
pta
ç
ões
em
liv
ros
e
em
m
ater
iais
d
idáticos
e
até
refe
rên
c
ias
pa
ródica
s
divulgad
as
e
m
fi
lmes
e
out
ras
expressões
artística
s
do
gêner
o:
desenhos
e
dr
am
atizaçõe
s
q
ue
mostram qu
e
a
linguagem
e
scri
ta
e
a
realida
de são instâncias que
se ligam dinamicam
e
nte
.
No tex
to d
a c
riança
é
perceptível
a
nece
ss
idade de
apre
se
ntação
da
si
tua
ç
ão,
seguindo
os
mol
des
escolares
da
produção
text
ual,
co
m
o
s
e
pode
observ
ar no contraste de passagens
:
Jo
ão
Impaciente
descobriu
n
o
qu
i
nta
l
uma
galinha
que
pun
h
a
ov
os
de ou
ro (
L
OBATO
, 1973 b, p. 48).
117
Um dia
um homem chamado João descobriu que uma ga
l
inha bota
v
a
ov
os de ouro (A
6, 2006,
T
ex
t
o
13).
A
s
im
pli
ficaç
ão
ocorre
ta
m
b
ém
p
ela
re
m
o
delage
m
da
s
fra
se
s
,
aç
ão
que pr
om
ov
e s
im
ult
anea
m
e
nte u
ma atualiz
aç
ão dos
v
ocábu
lo
s
utilizados, que
fo
ra
m
,
nessa ten
tati
va
, ora trocados e
ora
su
primi
d
os.
(...)
Mato-a
e
fic
o o
mandão
a
qui
das
redondezas
(
LOBATO
,
1973
b,
p. 48).
- Vou matá-la. Di
ss
e ele (A 6, 2006, T
e
xto 13).
Como de
monstra
a c
itaçã
o apr
e
s
entada,
a
ada
pta
ç
ão
permite
a
atualização
do
referenc
ial,
a
ção
q
u
e
tor
n
a
poss
ível
qu
e
a
obr
a
possa
di
alogar
c
om
públicos
di
s
tin
to
s
e
em
dif
erent
e
s
momentos
hist
óri
c
os
.
Iss
o
por
q
ue
o
“proc
e
sso
de
‘atualizaçã
o’
de
te
x
to
s
exige,
inicialmente,
co
nsiderar
que
suas
signific
a
ç
õe
s
s
ão
depend
ente
s
das
formas
pelas
quais
eles
são
recebidos
e
apropriados
por
seu
s
leitores”
(CHARTIER, 1999
, p. 13, aspas
do
autor)
.
A
s
egu
nda
reprodução
é
u
m
a
e
sp
é
ci
e
de
res
um
o
das
i
déias
principais
do
te
x
to-fonte
,
co
m
o
já
discutido
nas
fábulas
a
nteriores,
r
ealiza
u
m
co
m
pa
cto dos
dados
,
apresenta
d
os em
u
m
único
parágrafo,
co
m
o demons
tra
o
excert
o a seguir:
A
f
ábu
l
a
cont
a
de
u
m
homem
chamado
João
Impaciente.
El
e
não
tin
ha
p
a
ciência
para
es
pe
r
ar
as
coisas
a
conte
c
erem.
El
e
p
or
n
ã
o
es
perar
a
galinha
botar
1
ov
o
por
semana
el
e
a
-m
a
tou.
Po
r
isso
el
e
não ganhou o dinheiro e morreu pobre (A 7, 2006,
Texto 14)
29
.
A
terc
eira
produção,
tam
b
ém
bas
ta
n
te
fiel
ao te
xto
origina
l, re
produz
o
enredo
do
prim
eiro,
realizando
s
u
av
es
alt
e
raç
õe
s
,
c
om
o
intui
to
de
atu
alizar
o
co
n
teú
do
do
texto-fonte.
No
desfecho
da
narrativa,
em
que
Joã
o
m
a
ta
a
ga
li
n
ha
,
esse qua
dro fica bastante eviden
t
e:
29
A
s
d
iv
ergên
c
i
as gramati
cai
s com
a n
orma cu
lta, fr
u
t
o
s
da
não – no
r
mat
i
zação
das regras
gr
a
maticai
s,
prev
isívei
s
no
g
rup
o
e
scol
ar
dessa
faix
a
etári
a
,
não
desquali
f
i
cam
a
ap
r
esentaç
ão
do
n
ov
o
m
ate
ria
l
p
era
n
te
o
tex
to
origin
al,
fruto de deter
m
ina
do g
ru
po, tempo e situ
ação específic
a
. Essa ocorrên
cia, di
scuti
da
a
n
t
eri
ormente,
acon
t
ece co
m
fr
eq
üênci
a nas
an
á
li
ses
realiz
adas e será ape
nas citad
a
n
os tex
t
os seqüen
ciais.
118
Dent
ro dela
s
ó
havia tripas, como nas gal
i
nha
s comuns
, e João
Impaciente,
l
ogrado,
con
t
inuou
a
ma
rc
a
r
passo
a
vida
inte
i
ra,
morren
d
o
sem
v
intém (LOBATO
, 1973 b, p. 48).
Não
havia
nada
so
m
e
nte
seu
corp
o.
Saindo
deprimido
dali
sem
u
m
ce
ntavo (A 8,
2
006, Texto 15).
Além
da
reduç
ão
de
infor
m
aç
ões,
ocorre
a
atualização
de
a
lgun
s
termos
co
m
o
v
i
nté
m
que
m
uda
par
a
c
entavo,
atual
ização do
sistema m
o
netár
io
nac
ional
30
e
a
i
nserçã
o
d
e
ou
t
ros
como
o
adjet
i
v
o
d
eprim
ido
,
te
r
m
o
c
orr
iqueiro
na
atualidad
e,
em
qu
e
problemas
em
oc
ion
ai
s
e
d
e
ordem
psico
lógi
ca
s
ão
situações
debati
da
s
e presentes no coti
diano
.
A
rees
crit
a s
eguinte
realiza
u
ma s
íntese
d
o
c
onteúdo
do
t
exto-fonte,
transpl
antando
para
s
ua
escrita
o
c
onteúdo
prim
eiro.
O
d
iferenc
ial
dest
e
t
exto
é
a
m
a
rca
que
a
cria
n
ça
co
loca
no
des
fe
c
ho de
s
ua
pro
du
ç
ã
o,
no
qual
sobressai
cl
aram
ent
e
o
fin
al
d
a
fá
bula
c
om o
u
so
da
palavra
res
ul
t
ado
, c
uja
funç
ã
o
de
destaq
ue corrobora na
di
v
ulga
ç
ão das
con
s
eqüências
s
ofr
ida
s
pel
a personagem
, por
co
n
ta
de
s
ua aç
ão
:
Res
u
ltado:
João
matou
a
galinha
e
não
encontro
u
o
tes
o
u
ro, a
penas
tripas
i
g
ual as outras galinhas (A 9, 2
0
06, Texto 16).
Assim
a
p
alav
ra
resultad
o
é
uma
m
ar
ca
c
lara
par
a
a
ap
r
esen
ta
ção
do des
fe
c
ho, que a
c
riança faz ques
tão de ressaltar.
A
qu
inta
r
eestrutur
a
ç
ão
textual
ora
insere
elem
en
tos
estranhos
a
o
tex
to p
rimei
ro
or
a
s
upri
m
e
outro
s
pertencentes
à
n
arrativa.
A
ins
e
rç
ão s
e
destaca
já
na apr
esentação inicial d
o t
ex
to:
Um bel
o d
i
a um menino chamado João morava num sí
t
io, tinha
galinha
s
e
o
João
muito
impac
iente
d
e
scobriu
uma
galinha
que
botav
a ovos
de
ou
ro (A 10, 2006, T
e
xto
1
7).
O
a
utor
d
o
novo
tex
to
inse
re
da
do
s
no
tex
to
base,
aç
ã
o
q
ue
transfor
m
a
o
c
onte
údo
d
o
m
es
mo,
fato
que
pode
ser
v
i
s
to
desde
a
determ
i
naç
ão
tem
po
ral
de
Um
belo
d
ia,
e
es
pacial,
que
e
s
pec
ifica
o
local
de
m
orad
ia
de
Joã
o,
o
30
Era
a
20ª
parte
do cruz
a
d
o.
A
ntiga
m
oeda de
cobre,
de Portugal
e
B
rasil
,
eq
ui
val
e
nte
a
20 r
éi
s.
Deixou de
ter
cu
r
so l
egal
em
1942 co
m
o adv
ento do
Cruzei
ro
. FER
REI
R
A, Au
r
éli
o B
ua
r
qu
e de Hola
nda.
N
ovo
Aurél
i
o Sé
cul
o
XXI
: o
di
c
ionári
o d
a
Líng
ua P
o
rtugu
esa
. 3 ed.
R
i
o de Jan
e
i
r
o: Nov
a
fron
t
ei
r
a, 1999
p. 132
.
119
sít
i
o.
Ademais,
o
s
ubstantivo
que
era
pr
óp
rio
no
tex
to l
obatian
o, Im
pa
ci
ente,
assu
m
e
a
funç
ão
de
adjetivo
no
tex
to
do
di
s
ce
nt
e,
im
p
ac
i
en
te.
A
in
ser
ç
ão
e
reorganizaç
ão
dos
e
lem
en
tos
s
ua
v
izam
a
na
rrativa,
amenizando
ta
m
b
é
m
o
trata
m
e
nto
dado
ao
prot
agoni
s
ta,
v
i
s
to
co
m
m
aior
si
m
p
atia
pelo
nar
rador
na
n
arrativa
d
iscente
do
que
aquele
da narrati
v
a l
obatiana.
A
sex
ta
produção
inova
na
apresen
ta
ção
da
na
rrativa, c
omo s
e
n
ota
na utilizaçã
o de e
x
pressões
c
oloquiais:
Jo
ão um
cara mu
i
to
enpa
c
i
ente
en
c
o
ntrou um
a
ga
l
in
h
a
que bota
ov
os de ouro. S
ó
um ov
o por sema
n
a
(A11, 2006, Texto 18).
A cria
n
ç
a que i
ni
c
ia
o tex
t
o r
om
pendo a
s s
ervidões c
om
a font
e, c
om
o
uso
da
gíri
a
um
c
ara,
uso
pou
c
o
fr
e
qü
ente
nes
se
g
rupo,
se
liga
a
ela
logo
em
se
g
uida,
r
eproduzindo
co
m
ex
trema
fidelida
de
o
t
exto
lobatiano.
A
fide
lidade,
co
m
o
m
o
stra
a
grafia
da
palavra
im
pac
i
ente,
é
quebrada
,
de
v
ido
a
incorreções
de
ordem
orto
gráfi
ca
, que
s
e repete
m
, c
om
outr
o
s
vocábulos, no decorrer do tex
to.
A penúltim
a
pro
duç
ão faz pequenas alte
ra
ç
ões no tex
to
-fo
nte:
Jo
ão
Impaciente
descobriu
n
o
qui
nta
l
uma
galinha
que
pun
ha
ov
os
de ouro. M
as
u
m
p
or s
e
m
a
n
a
a
penas.
L
o
u
co
de a
legria disse à
mulhe
r:
-
E
stamos
ricos
!
Esta
galinha
traz
u
m
t
esouro
no
ov
ári
o
(LOBATO,
1973 b, p. 48).
Jo
ão
Imp
a
ciente
descobr
iu
u
m
a
gal
inha
que
b
otav
a
ovo
s
de
ouro.
Mas apena
s
um por semana. M
ui
to al
e
gre disse a m
u
lher:
-
Estamos
ricos!!!
Es
s
a
gali
nha
traz
ov
os
de
ouro
(A
12,
2
0
06,
T
exto
19).
O c
ontrast
e entre
os
dois
e
xc
ert
o
s
mos
tra q
u
e
ocor
rem, no
proc
e
ss
o
de
rep
rodução
textual,
pequen
a
s
al
te
rações,
c
om
o
a
inv
ersã
o
estrutura
l
de
si
nta
g
m
a
s
na
f
ra
se
e
a
atual
iz
a
ção
v
ocabular
31
.
De
ss
e
modo,
pod
e-s
e
pensar
que,
na
tentativa
de
fugir do
texto-fonte
ou apenas
na repres
e
ntaç
ão
do s
ignificado
alc
ançado
em
s
ua
r
e
c
epção,
r
egist
ra
da
a
partir
da
for
m
a
que
a
cri
an
ç
a
do
m
ina,
e
la
altera
a
ordem
d
o
te
xto
já
esc
rito,
ao
sup
rimi
r
e
i
nse
rir
po
u
cas
infor
m
aç
ões,
co
n
str
uindo
algo um
pou
co difer
e
nte. Alguns dos term
o
s suprimidos podem
ser
frutos
do
desc
onhecim
e
nto
da
crianç
a
sobre
s
eu
sig
nificado,
co
m
o
é
o
c
as
o
do
31
Casos, co
m
o
a atu
aliz
ação v
ocabul
ar,
id
entific
ados nas an
álises
a
nte
r
i
ores, serão
apen
as citados
.
120
su
b
stantivo
ovário,
om
itido
na
v
ersão
d
o
al
u
no
.
Com
o
des
t
ac
a
Am
ori
m
(20
05),
a
reescri
ta “
recontextua
liza a
obra
or
iginal,
gerando
outras
im
age
ns
–
rein
sc
revendo-a
num
a
outra
realidade na q
ual é
percebid
a
” (AMOR
I
M,
2005,
p. 2
9), trans
po
s
i
ç
ão que
agre
ga valore
s
subjeti
v
os à obra literária.
A
oitav
a
e
últ
im
a
r
epro
d
uç
ão
s
intetiza
a
idéia
ge
radora
co
ntida
na
fábula
lobatiana.
A
esc
rita
se
d
es
prende
da
fonte
no
intuito
de
transm
i
tir
a
idé
ia,
prát
i
c
a que transcorre
de forma mui
to c
lara.
E
ra
uma
v
ez
um
rapaz
chamado Joã
o
Im
paciente q
u
e
era
mu
i
to
pobre.
Ele
tinha
uma
galinha
i
m
portante
q
u
e
b
ot
av
a
ovo
s
d
e
o
ur
o
.
1
por
se
mana!
(...)
ele
n
ã
o
tinha
paciê
n
c
i
a
de
e
s
p
er
a
r
u
m
ovo
de
ouro
por
s
emana.
Jo
ão matou
a
gali
n
ha
e
não
e
ncontrou nada.
El
e fi
cou
sem
g
alinha
e
se
m ouro (A
13, 2006, Texto 2
0
).
O
tre
cho
m
os
tra
que
o
al
uno
in
s
eriu
padrões, v
alores
e
at
é
fórmulas
discursivas
aos
qu
ais
as
cr
ian
ç
as
es
tão
c
on
stan
tem
ente
exp
osta
s
.
Exe
m
plo
di
ss
o
é
a c
lássica
abertura
da n
arrativa
eleita:
Era
uma v
ez,
refe
rência
à marca
nte
pre
s
enç
a
dos
clássicos
infantis
na
c
ons
tit
u
i
çã
o
de
s
aberes
representativos
ao
conheci
m
ento
infantil,
uma
v
ez
que
é
uma
das
prim
eira
s
formas
narrativas
qu
e
a
criança
tr
ava
co
n
tat
o,
se
ja
em
s
ua
fo
rm
a
esc
rita
ou
ora
l.
A
e
sse
re
s
pei
to
Bordini
e
Aguiar
(1993)
afirm
am qu
e
a
cr
iança
entre os
5
e
9
anos de
idade
se
en
cont
ra na
fas
e
do
co
nto
de
fadas,
o que
s
ig
nifica que
de
posse d
e uma m
entalida
d
e
mágic
a
, o l
eitor v
a
i
buscar, no
s
contos
de
f
adas,
lendas
,
mitos
e
fábulas,
a
simbologia
n
ecessária
à
ela
boração d
e su
as vivên
c
i
as.
A
tr
av
és d
a fantasia,
reso
l
ve
seu
s
co
nflit
o
s
e
adapta-se
melhor
n
o
mundo
(BORDI
NI
e
AGUIAR,
1
993,
p. 19).
A adjetivação pres
ente no texto refor
ça
as
ca
racterísticas que a
cri
an
ç
a
pretende
de
s
taca
r:
m
ui
to
pobre
,
galin
ha
importante
.
Como
nã
o
d
omina
a
retó
ri
ca
e
a
s
técnicas
de
argum
e
ntaç
ão,
rec
o
rre
ao
uso
indiscrim
inad
o
do
s
adje
ti
v
o
s
na tent
ati
v
a
d
e res
s
altar a
s
idéias que prete
n
de
de
s
crev
er.
Além
diss
o,
a c
ria
nça
insere
dados
es
tranhos
a
o
tex
to
origi
nal
co
m
o
a
c
lassificação
etár
ia
do
p
rota
g
onista,
m
ar
cado
em
s
ua
deno
m
inaç
ão
por
meio
do
su
b
stantivo
rapaz
.
121
A
c
onc
lusão
da
nar
rativa
é
m
uito
clar
a,
po
i
s
a
c
riança
abandona
o
discurso
de q
ue
Lobato
lança mão
para
que o
leit
or chegu
e a s
ua
própria co
nclusão.
Ness
a
re
escrita,
a
c
riança
apresenta
a s
u
a c
onclusão
a partir
da
constatação
de q
ue
“ele ficou
sem
galinha
e sem ouro”
(A 13
, 200
6,
Texto 20).
3.2.6 A Garça Velh
a
A
fábula
A
g
arça
v
elha
,
s
urgida
na
vertente
indiana
da
fábula,
so
b
o
título
de
A
garça
e
o
caran
guejo
,
re
trata
as
m
aqui
naç
ões
de
um
anim
a
l,
a
garça,
fren
te
ao
s
p
r
oblemas
d
e
uma
iminente
falta
de
alimentaçã
o
.
O
c
ara
ng
u
ejo,
nessa
versão
, assum
e u
m papel d
e destaque, por
s
er o respo
n
s
ável
p
ela difu
s
ão da
informaçã
o,
apr
e
s
entada
p
ela
garça
e
s
er
tam
bé
m
o
r
esp
on
s
áv
el
pela
a
plicação
do
casti
go à
prota
goni
s
ta.
O
texto
indiano
foge
da
e
s
trutura
s
intéti
c
a
apresentada
pelo
s
dem
ais
autores. A
lém
dis
so, insere, no
texto,
comentári
os que
funcionam
c
om
o
lições
de
moral.
Também
o
des
fe
c
ho
é
distinto,
pois
a
protagonista,
não
s
atisfe
ita
em
s
e
alim
e
ntar
apenas
dos
pei
xes,
tenta
dar
s
em
elhant
e
de
s
tin
o
ao
carangue
jo,
que susp
eitando da
ga
rç
a, corta-lhe o pescoço, m
atand
o-a.
Nos t
ex
t
os pos
te
rior
e
s
, o
carang
uejo assu
m
e
pos
ição
d
e coadjuvante
na
narrati
v
a, s
en
do respo
n
sável
apenas
em
div
ul
ga
r a
falsa inform
aç
ão e assim, colocar
em
prátic
a o plan
o
da garça.
Na
v
ersão
francesa,
Os
peix
e
s
e
o
alcatraz
,
qu
e
e
m
algu
mas
trad
u
çõ
e
s
rece
be
a
d
enomi
n
aç
ão
de
c
orvo
m
ar
inho,
o
a
nimal
e
nfrenta
d
ificuldad
e
s
para
p
escar
por
c
aus
a
da
id
ade.
Com
o
sem
p
re
sob
revivera
às
m
ar
gens
de
um
a
lagoa
d
e
ág
ua
s
turvas,
para
co
ntinuar
v
i
v
o,
teve
a
idéia
de
esp
alhar
o
b
oato
de
q
ue
o
lago
es
tava
c
ondena
d
o.
Os
p
ei
x
es
a
terror
i
zado
s
pediram-lhe
co
nselho
e
a
ga
rça
su
g
eri
u que
todo
s
se
m
u
dasse
m
par
a u
m
poç
o. O
impasse
da
m
u
danç
a foi
resolvido
pela
própr
ia
av
e
qu
e
transportou
tod
o
s
os
peixes
em
s
eu
bic
o
.
O
poço
era
pe
queno
e de ág
uas lí
m
pidas
e
a
ss
im
a g
arça ga
rantiu alimento até o
fim
de s
ua v
ida. A moral
da fábu
la afirm
a que
não
s
e pode c
o
nfiar e
m
c
onselhos
de inim
igo.
Assim
,
c
omo
s
e
v
e
rificará
na
r
eescrita
r
ealizada
por
um
do
s
al
unos,
analisad
a
a
s
eguir,
ocorr
e
entre
o
t
e
xto
de
La
F
ontaine
e
s
ua
a
daptação,
no
c
aso,
o
tex
to
d
e
Monteiro
L
obato,
u
m
a
e
spéci
e
de
atualização
v
ocabular,
c
om
um
na
reescri
ta
d
e
textos
s
eparados
po
r
uma
dis
tânc
ia
temporal,
c
omo
a
ponta
a
s
el
e
çã
o
a
se
g
uir
:
122
E
rgue-se grande ce
l
eum
a
;
Corre
m
,
fazem reuniões;
Todos ao corvo
m
a
rinho enviam depur
ações:
“Quem vos deu, senho
r (
pe
rgun
t
am)
Tão
tr
i
stes
informações? (LA FONTAIN
E
, 2006, p.
2
4
8).
Grand
e
rebuliço.
Graúdos
e
pequeninos,
to
d
os
começaram
a
pere
r
eca
r
às
tontas,
sem
saberem
como
agir.
E
vieram
para
a
b
eira
dágua.
- Senho
ra do bic
o
longo, dê-nos um conselho, por
favor, que nos li
v
re
da grande calamidade (LOBATO, 1973 b, p 49).
A
paró
dia
tex
tu
al
entr
e
os
textos
é
m
a
rcada
por
h
u
m
or
,
co
m
o
destaca
a
troca
de
t
r
atam
en
to
pa
ra
com
a
ga
rça
que,
tratada
por
se
nhor
n
o
te
x
to
francês
, pronom
e de t
rata
mento que c
onfer
e
u
m to
m
r
esp
eito
s
o, pass
a pa
ra
senh
ora
do
b
i
co
longo.
A
preservação
d
o
pron
om
e
de
tra
tam
ento,
desta
v
ez,
flexio
na
do
no
fem
inino
, não
man
t
ém
o t
om
r
esp
eitoso, graças
ao
ac
résc
im
o d
e u
m
a
loc
ução
adjetiva,
que agrega humor, m
a
rc
a da paród
i
a,
ao texto base
.
Além
da
dis
tân
c
ia
temporal,
ta
m
b
ém
o
s
p
úblicos
a
que
as
obras s
ão
dirigidas
influenci
am
s
ua
fo
rma.
O
tex
to
f
rancês
destinava-se
ao
p
úblico
adulto,
po
is
a
pro
dução
literária
ainda
n
ão
s
e
dir
i
gi
a,
até
aq
uele
momento
his
tóric
o,
às
c
rian
ças
,
em
bora
as
fábul
a
s,
devido a
o
se
u
v
iés
m
o
ralizante,
fosse
m
uti
l
izada
s
c
om
o um
ins
t
r
um
ento
do
utrinário
na
e
du
c
ação.
J
á
a
adapt
ação
br
asileira
na
sc
eu
di
re
c
iona
da
aos
le
it
o
res
infanti
s
,
predestinação
que
lh
e
m
oldou
tan
to a
forma q
uan
to o
conteúdo,
atende
ndo ao
s
objetivos d
e
merc
ado
e
p
úblico.
A
fábula
A
g
arça
v
elha
foi
esc
olhi
da por apenas
um
aluno, que
assume
o
pap
el
de
co
ntador
d
a
histó
ria.
Tal
e
sc
olha,
segu
nd
o
a
te
oria
discutida
por
Am
o
ri
m
(2005
),
divid
e-se
entre
manter-se
fiel
ao
t
e
x
to-fonte
ou
inová-lo,
e
a
c
r
ianç
a
ac
ab
a
se
des
p
ren
de
ndo
do
original
,
com
o
m
os
tra
a
pr
im
e
ira
modificaç
ão
q
ue
co
n
siste na
pa
ss
agem do tex
to para a ordem indire
ta:
(...)
lhe oc
orreu uma idéia.
-
Caranguejo,
venha
cá!
–
disse
ela
a
um
carang
u
ejo q
ue
tomava
sol
à porta do s
e
u
buraco.
- As
or
d
ens. Que deseja?
-
A
visar
v
ocê
de
u
ma
coisa
muit
o
s
ér
i
a.
A
no
ssa
lagoa
está
co
ndenada.
O
dono
das t
erras
anda a
con
v
idar
os
v
izinho
s
pa
ra
as
s
i
stirem
ao
seu
e
s
vazi
ame
n
t
o
e
o
aj
u
d
arem
a
ap
anhar
a
pe
ixaria
toda.
Veja
que
des
gr
a
ça!
Nã
o
v
ai
e
scapar
nem
u
m
mis
erável
g
uaru
(LOBATO, 1973 b, p. 48).
123
Teve
a
idéia
d
e
avi
s
a
r
ao
s
peixe
s
que
o
dono
d
o
lago
iria
secar
o
l
ago e todos
os peixes morrer
iam (A13, 2006, texto 21).
Além
da
modi
ficaç
ão
d
a
ordem
d
o
di
sc
urso
o
di
scente
c
oncentra
as
inform
aç
ões
d
o
texto
pr
im
eiro
,
prátic
a
já
observad
a
em
outr
as
produções,
p
or
m
e
io
do pr
incipio da parcimôni
a, aç
ão
que prom
ov
e v
ersões mai
s
enxutas.
3.2.7 A Gralha
Enfeitada com
Pen
as de
Pa
vão
A fábu
la
A gralha
enfe
i
tad
a c
om
penas
d
e
p
avã
o
receb
eu tr
ê
s
títulos
diferen
tes,
na
obra
atribuí
d
a
a
Es
opo:
A
g
ralha
e
os
c
or
v
os,
A
g
ralha
e
a
s
aves,
A
gralha
e
a
s
p
ombas,
m
u
danças
que
alteram
,
em
al
guns
aspec
to
s
,
o
c
ont
eúdo,
mas
repro
duz
e
m
a
m
ens
agem.
E
m
A
gr
al
h
a
e
os
corvos
aparec
e
a
fig
ura
mitológica
de
Zeus
que
es
c
ol
her
ia
a
ra
i
nha
das
a
ves
.
D
i
s
farçada
c
om
pena
s
de
outras
a
ves
,
a
gralha,
p
restes
a s
er
eleita, é
des
ma
sc
arada, s
endo,
em
seg
uida, rec
rim
inada
. Em
A
gralha
e
a
s
aves
,
n
ovam
ente
a
gr
alha,
per
s
onagem
qu
e
rej
eita
s
eu
gru
p
o
s
ocial
,
a
o
ser
m
en
os
prezada
pela
ou
tra
es
pécie,
recebe
o
despr
ezo
de
s
eus
s
emelhantes.
Na
fábula
A
gral
ha
e
as
pombas
re
pete-se
o
c
onflito:
tentat
i
va
de
m
u
dança
de g
rupo
e o
desfecho
tam
bé
m
c
ond
uz
a rejeição
da gralha por a
m
bo
s os gr
up
os
.
Em
Bábr
io retomam
-s
e as figuras m
ito
lógicas e
um
concurso de
beleza é a
moti
v
ação para
o disfa
rc
e da
gral
h
a.
Fedr
o, em
s
ua v
ers
ão, faz refer
ên
c
ia
a
su
a
fonte,
Esop
o,
c
om
o
origem
da
narr
ati
v
a
a
s
er
descr
ita
na
s
eqüência,
n
a
q
u
al
sã
o
mantidas
,
à
s
emelhanç
a
dos
d
em
ais
aut
or
e
s
,
a
m
otiv
a
ç
ão,
tem
átic
a
e
desfec
ho
narra
ti
v
o.
Na raiz indiana
de
ss
a fábula
, a gralha cede lugar, seg
undo princípios
da
dom
e
sticação
,
por
m
eio
da
agr
ega
ç
ão
de
v
alores
da
língu
a
de
c
hegada,
a
um
ch
a
cal,
que
cai
ndo
em
uma
tina
de
tinta
a
z
ul,
julg
a-
se
superi
o
r
devido
a s
ua
diferenç
a
f
í
sica.
O
o
rgulho,
à
se
m
e
lhança
dos
demais
te
xtos,
é
a
c
aus
a
de
se
u
fin
al
trág
i
c
o que, n
o t
exto
indiano, é representado pela morte d
o animal
orgu
lhoso.
No
tex
to
francês,
tradu
z
ido
p
elo
Barão
de
Pir
atininga,
as
difere
nç
as,
de c
aráter v
ocabular,
iniciam
-s
e a
inda no
tí
tulo:
O g
ai
o
q
u
e se
rev
e
s
ti
u
das pen
a
s
do
pavão
.
A
f
ábula
lobatiana
con
t
a
que
um
a
gr
alha
teve
a
id
é
ia
de
aprove
ita
r
as
p
en
as
c
aídas
d
e
pav
ão
e
disfarçar-s
e
de
pavão.
Ap
ó
s
enfe
itar-se,
s
egue
pa
ra
o
124
terre
iro
das
gr
alhas,
s
endo
enxotada.
A
ave
procurou,
então,
o
terreiro
dos
pavões
que
t
am
bé
m
p
erc
eberam
o
en
gan
o,
o
qu
e
lhe
acarretou
n
ova
humilhaç
ão,
co
n
segui
ndo
com
iss
o
o
ód
io
d
as
p
rim
e
iras
e
o
de
spre
z
o
das
ú
ltim
as
.
A
m
ora
l
“lé
co
m
lé e
c
ré
com
c
ré”
(L
OBA
TO, 1973 b,
p.15
)
quer
d
iz
er que
c
ada um
dev
e
reconh
ec
er
se
u lugar.
A
ree
scrita do te
x
to lobatiano s
e enquadra em
um
dos
tipos de
paró
dia:
a
q
ue
ressalt
a
a
função
c
rítica
d
o
texto
literário.
I
ss
o
aco
ntece
na
ret
om
a
da
da
c
rítica
p
rop
a
gada
por
La
Fonta
ine,
por
meio
da
f
ábula,
e
na
s
c
onsideraçõ
e
s
que
se
s
eguem
a
ela
qu
e,
na
vo
z
de
Em
ília,
apr
e
s
entam
exe
m
p
los
comuns
ao
unive
rso
do Sítio
e parafraseiam o con
teú
d
o original.
A primeira rep
rodução textual d
es
s
a
nar
rati
va, rea
lizada por
um
a das
cri
an
ç
as,
n
ão
apresenta
título.
Salvo
e
ss
a
omiss
ão,
está
m
ui
to
pres
o
ao
original.
Fidelidad
e que esba
rra em barreiras
c
omo a
não conso
lida
ç
ão d
a língua por
t
ug
uesa,
na m
odali
dade e
scrita, co
m
o pod
e ser v
i
sto no exce
rto a seguir:
Como
o
s pavões
a
n
d
a
m
ssem
em é
po
c
a
d
e
muda,
uma g
ra
l
ha
teve a
i
déia de aprov
e
itar as
p
e
n
as caí
d
as.
(...)
M
a
u
cauculo
(A2, 2006, texto 23,
g
rifo nosso).
As
palavra
s
de
stac
adas
mostr
am
que,
m
es
m
o
p
resas
ao
texto
,
as
cri
an
ç
as podem se desvi
ar das fontes
32
.
A
pr
odução
a
s
egu
i
r
foi
a
pr
im
e
ira
do
grup
o
a
a
pre
s
ent
ar
in
o
vações
em
c
om
par
aç
ão
ao
tex
to-fonte.
Nela
ocorre
a
m
u
danç
a
temporal,
qu
e
pas
sa
do
pret
érit
o pa
ra o pre
s
ente, num
a
m
a
rc
ante atualização
tem
pora
l:
(...)
o
s
pavões
a
ndassem
em
época
d
e
muda
(LOBATO,
1
973
b,
p.
15)
Os pav
õ
e
s an
d
am em época de
muda (A2, 2006, texto 24).
Além da
atua
liz
aç
ão t
emporal
dos v
erbo
s,
t
a
mb
é
m os
v
ocáb
ulos são
su
bm
e
tidos à t
ran
s
pos
i
ç
ão para o pres
e
nte. O verbo
p
avoneand
o, utilizado por
Lobato
,
é
tro
c
ado
pelo v
erbo
v
oando,
alteração
que
muda
si
gnifi
cativamente
o
co
n
teú
do n
arrativo,
pois
se
o
uso
de
pavonear
tra
z
a
idéia
de
exibiçã
o, o
v
erbo
v
oar
32
Nesse
caso
,
o
desvi
o
fo
i prom
ovi
do
pela
não apropriaçã
o
da
lingu
agem
escri
t
a,
u
m
a
v
ez
que t
en
do
o
m
od
elo
em mãos
, o mes
mo não foi
s
egu
id
o
total
m
ente pel
o d
i
scen
te, ato que
oc
asio
no
u as i
ncorreções g
r
a
mati
cai
s
.
125
nada
tem
a
v
er
com
tal
s
enti
do.
A
es
c
olha
d
a
c
r
ia
nç
a
dev
e
estar
ligada
às
assoc
iações
s
o
no
ra
s
que
pode
m
e
star
e
m
b
utid
as
nas
duas
pa
la
v
r
a
s
,
uma
v
e
z
q
ue,
ao
desc
onhecer
o
si
gnificado
da
palavra,
o al
uno
se
at
eve
apenas em
leva
ntar
assoc
iaçõe
s c
om
s
eu s
ignifi
c
ante
.
Ocorrên
c
ia sim
i
lar,
m
ais
aju
stada, entretan
to,
quanto
às relações de sig
nific
ado e
signifi
c
ante, é
perceptíve
l no
s
egui
n
te
período
:
A
s
g
ra
l
has
pe
rceber
a
m
o
embust
e
,
ri
ram-se
dela
e
enxota
r
am-na
à
força de bi
c
a
das (LOBATO, 1973 b, p
.
15).
A
s gr
alha
s
acharam ela horrí
v
el
(A
2
, 200
6
, texto 24).
A
cons
trução
lobati
ana
reorganiza
o
c
ontexto
de
forma
a
lev
a
r
o
leitor
a
induzir
a
n
ão
ac
eita
ç
ão
da
g
ral
ha,
na
narra
ti
v
a,
p
elas o
utras
aves
.
A
cri
a
nç
a,
por
m
eio
do
us
o do
adjetivo
horrível
,
dec
lara o
c
onteúdo
ab
ertam
e
nte,
não
deix
ando
es
pa
ç
o
para
as
constr
u
ções
int
e
rpre
tati
vas
d
e s
eu
re
ce
ptor.
O
quadro
desc
rito
fa
v
orec
e,
s
egundo
os
pr
in
c
ípios
disc
utido
s
p
or
Jauss
na
cor
re
n
te
da
E
s
tética
da
Rece
pção, a e
x
pe
rim
e
ntação
do te
x
to p
el
o
lei
tor.
Assim
,
o
al
uno
m
arc
a
o
t
e
x
to
com
s
ua
p
rópria
rec
ep
ç
ão,
agregan
do
a
ele
si
gnificados
de
s
ua
leitura
p
a
rticul
ar.
Exem
p
lo
diss
o
é
a
m
ora
l
qu
e
t
raz,
alé
m
do
trecho
original
“lé
co
m
l
é
,
cré
c
om
c
ré”,
um
a
fras
e
s
im
i
lar,
s
inônimo
ideológic
o
presen
te
no
s
enso
c
om
u
m
:
c
ada
u
m
no
seu
lugar,
fala
que
apr
e
s
enta
a
idéia
q
ue
pode
ser
assoc
iada
às
segreg
açõe
s
,
se
jam
elas
soc
iai
s,
racia
is
o
u
de
outra
ordem
.
Faz fal
ta u
m
a
dis
cus
s
ão
por p
arte da
do
ce
nte, tan
to nesta
quanto em outr
a
s
f
ábulas,
so
b
re
o ca
ráter
m
ora
lizante d
o
texto
fabular, objetivan
do com tal
de
bate
uma rev
i
são
crítica
das
i
déias
a
í
difundidas,
à
se
m
e
lhança
do
que
fez
L
oba
t
o
ao
final
de
ca
da
fábula
. Tais
d
i
sc
u
s
sõ
es,
retiradas
da
abordagem
em
sal
a de
aula, i
m
p
ede
a r
eflex
ão
so
b
re
idéias
e
c
onceitos
m
ora
liz
antes
e
dout
rinário
s
,
q
ue
pe
rt
inente,
p
od
er
ia
corr
oborar para um
a
possív
el de
s
co
n
s
tru
ç
ão de j
uízos preconceituosos
.
Na
úl
tima
pr
oduç
ão
o
corre
a
inserção
de
elem
entos
es
tranhos
à
narra
ti
v
a original, que se inicia já n
a l
oca
liz
ação t
em
p
oral:
Um
d
ia
os
pavões
e
sta
v
am
em
é
p
oca
de
mudas,
pa
ssou
por
ali
uma
gralha
e e
l
a teve a i
d
é
i
a de (...) (A10,
2
006, texto
2
5, gri
f
o nosso).
Além
da
deter
minação
de
tem
p
o,
ou
tro
s
e
le
mentos
s
ão
a
gregados,
dura
nte
a
c
onstituição
te
xtua
l,
à
fábu
la.
O
trech
o
d
es
ta
c
ado,
passou
por
ali
u
m
a
126
gralha,
s
ub
s
tit
ui
uma
g
ral
ha
,
alt
era
ç
ão
que
mo
s
tra
a
necessidad
e
d
a
crianç
a
em
forn
e
cer
explicações
co
m
p
letas,
san
ando,
c
om
i
ss
o,
di
fi
c
uldades
interpr
etativas
que
ela po
de ter enfren
t
ado em se
u
c
ontato com
o
m
at
eria
l
impres
so.
Outra
moti
v
ação
p
ara
essa oco
rrên
c
ia se
de
ve
a
o
fa
to dos a
lunos
do
Ens
ino
F
undamental,
em
s
ituaç
ões
de
ava
liação,
c
om
o
é
o
c
aso
d
e
um
a
pr
odução
de
tex
to
escol
ar,
procurarem
for
necer
t
odas
as
informaç
õe
s
po
ss
íveis,
n
a
tentativa
de tr
an
s
m
itir o
senti
do ne
c
es
s
ário para seu
leitor, no ca
so es
pecífi
c
o, o pr
ofessor.
Em
out
ros
mom
e
ntos
,
o
di
sce
nte
troca
a
inserção
de
inform
a
çõ
e
s
pela supress
ão de dados:
(...)
di
rigiu-se
ao
terreiro
dos
pavões
pensando
lá
consigo
(L
OBATO,
1973 b, p. 15).
A
gra
l
ha
correu
para
o
t
erreiro
d
os
pavões
e
pensou
(A
10,
2
006,
tex
to 25).
A const
ruç
ã
o
pensando
l
á
c
onsigo
foi
trocada
si
m
p
lesm
ente
por
penso
u.
A
forma
s
int
éti
c
a
é
m
ais
a
c
essível
nas
pr
áticas
de
recepç
ã
o,
o
que
m
os
tra
tanto
a
p
ossível
preoc
upa
çã
o
do
discente
em
fac
ilitar
a
acessibilid
ade
ao
no
v
o
tex
to
quanto
s
imp
les
m
ente
um
re
flex
o
das
di
fi
culdades
de
i
n
ter
pretação
p
or
e
le
enfr
ent
adas
, que
s
ão e
v
itadas durante a c
o
n
stit
uição da s
u
a ve
rsã
o
para o
texto.
Em
outr
as
s
ituações, a cr
iança
apena
s
su
pri
me par
tes
da frase:
E
a
pobre
tola,
bic
a
d
a
e
esfo
l
ada,
f
icou
soz
i
nha
no
mundo.
(LOBATO, 1973 b, p. 15).
A
p
o
bre t
o
la ficou sozi
n
h
a no mundo
(
A10, 2006
, t
e
xto 25)
Nos
t
rechos
apr
e
sent
ad
os,
a
criança
retirou
da
car
a
ct
erização
da
gralha
o
s
adje
ti
v
os
que
definiam
s
ua
condição,
eli
m
inand
o
o
apo
sto
ex
i
s
te
nte
na
frase.
A
t
r
anspo
s
ição
textua
l,
d
efe
ndida
te
or
icamente
por
Mon
teiro
L
obato,
co
m
o
um
a
a
ção
d
e
re
escrita
q
ue de
v
eria
s
er
l
i
v
re
de rebuscam
e
ntos
d
e
ling
uagem
e
co
n
str
u
ç
ão,
encont
ra
re
flexo
também
na produç
ão
infa
ntil,
q
ue
s
e
co
ncretiza
na
retir
ada
ou
tro
c
a
de
e
x
pressões
q
ue
n
ã
o
cons
truíram
sen
tido
ou
e
s
ta
v
am
fo
ra
do
ca
m
po
signi
fi
c
ativo da cria
n
ç
a.
127
3.2.8 A Menin
a do Leite
A
próx
ima
na
rrativ
a,
um
dos
tex
tos
mais
co
nhecidos
dentr
e
a
s
fábulas
lo
batianas,
A
menina
d
o
leite
,
p
oss
ui
r
aízes
na
cul
tura
indi
ana,
s
ob
o
título
origina
l
de
O
brâmane
e
o
po
t
e
de
farinha,
pertenc
e
nte
a
o
v
olume
A
aç
ão
i
n
con
siderada.
Ness
e texto,
a
personagem g
anha,
de
esmola,
um
po
te
de
fari
nha
de
arroz.
Pens
a
e
m
v
ender
as
sobras
e
começa
a
idea
lizar
a
multipl
icaçã
o
do
recurso
oriundo
c
om
a ve
nda. Os devaneios são i
nt
errom
pido
s c
om a quebra do
pote.
Dez
o
tti
(20
03)
re
ss
alta
que
na
tran
sc
rição
de
La
Fontaine
ocorre
m
algumas
s
ubstitui
ç
ões
nas
quais
o
b
r
âm
ane
c
ed
e
lugar
a
uma
m
ulh
er,
Perr
ete,
q
ue
se
g
ue
para
v
en
d
er
le
ite
carregan
do
e
m
u
m
a
v
asilha
so
bre
a
cab
eç
a
.
C
om
a
queda
do r
e
ci
piente, a personagem teme ser c
astiga
da
pelo marido.
O
enr
e
do
dessa
fá
bu
la
aparece
também
em
ou
tras
e
xpressões
literári
a
s,
em
text
os
educativos
e
a
té
n
a
ob
ra
de
Gil
Vic
ent
e
e
n
os
contos
de
Gr
imm
(DEZOTTI
,
200
3).
B
aseand
o
-se
e
m
La
Fontaine, Lo
b
ato
cri
a
sua
v
ersão pa
ra
a
Fáb
ula,
na qua
l a
mu
lher
c
ede
lu
gar a
uma
menina,
Laurinha
, que
se
dir
ige
à c
idade
para
vender
o
primeiro
leite
de
s
ua
vaquinha.
A
protagonista
f
az
pl
an
os pa
ra
o
dinheir
o
que
v
ai
conseguir
e
,
em
m
eio
a
s
uas
di
v
agaç
õe
s,
trope
ç
a
e
vê
o
leite,
juntamente c
om
seus s
onho
s
, serem
e
m
beb
ido
s pela
te
rra
seca.
A
se
gunda
f
ábula
mais
escolh
ida
entre
as
c
rianças
fo
i,
em
u
m
universo
de
oitenta
e s
ete reproduç
õe
s
, rees
cr
ita set
e vezes,
totalizando
m
ais
de
8%
do
total
de
textos.
O
el
eva
do
índic
e
de
escolhas
rompeu
c
om
u
m
a
d
as
h
ipóte
s
es
inici
ai
s
,
de
q
ue
tex
tos
m
a
is
ex
ten
s
os
s
eriam
po
uc
o
escolhidos,
por
repr
e
s
ent
ar
um
m
a
ior
tra
balho,
uma v
e
z
que
um
a
propo
sta
de
re
e
sc
rita
d
everi
a s
er
desenvo
l
v
ida.
O
fato
de
s
er
um
te
xto
c
on
he
c
id
o
e
c
onstantem
e
nte
p
arodi
ado,
ree
sc
rito
e
r
etom
a
do
pelos
m
ais
di
feren
t
e
s
veíc
ulos
de
c
om
u
nicação
e
info
rm
aç
ão,
cons
titui
o
m
otiv
o
do
núm
ero
de
escolhas que
conqu
i
s
tou, interesse
que driblou,
inclus
i
v
e, a
falta de
m
a
trizes
à disp
o
siçã
o.
A
pr
imeira
adap
ta
ç
ão
d
e
ss
a
fábu
la
apresenta
o
for
m
ato
de
r
esumo,
recor
rência identifi
c
ada já
em
out
ros
te
x
tos:
E
ssa
h
istória
conta
s
obre
uma
menina
que
se
arrumou
toda
para
ir
no
m
e
rcado vender leite (A3, 2006, Text
o
26).
128
Me
s
m
o
a
lter
ando
signif
i
c
ativamente
a
for
ma
e
si
m
plific
ando
o
co
n
teú
do do texto, o aluno s
e prende a alg
uns itens
da
fon
te
, como no c
aso do
título,
que r
eproduz o ostentado
pelo tex
t
o
ori
ginal.
Um
fa
to
c
ur
ioso
diz
r
es
peito
às
pa
rte
s
da
fáb
ula,
pois
o
tex
to
aprese
ntado pela
p
rof
e
ssora
não possuía u
m
a
m
o
ral,
m
a
rca registrada n
es
s
e tipo
de
tex
to. Som
ente
no comentário que se segue ao texto, no li
v
r
o
Fá
b
ulas
(19
22
),
desenvolvi
do
p
elas
personagens
do
Sítio
a
pós
a
si
tuação
de
c
ontaç
ão,
é
qu
e
Dona
Benta
apresenta
uma possíve
l moral,
por m
e
io
de u
m
a
c
onversa peda
gógica c
om
as
dem
ais
p
ersonag
ens:
n
ão
d
e
v
emos
con
tar
c
om
uma
c
oi
s
a
a
ntes
de
a
ter
mo
s
co
n
seguido.
Pr
e
s
as
ao m
olde d
e que a
m
o
ral dev
e
s
uceder o tex
to narrado,
to
d
as as
cri
an
ç
as
q
ue
rep
ro
du
z
i
ram
ess
a
fábula,
a
apresen
taram
na
í
ntegr
a
ou
em
v
ersões
co
m
v
ariantes d
esta idéia norteadora.
A
presenç
a/ausência
da
mora
li
d
ade
nos
textos
fa
bulare
s
já
era
discu
tida
por
La
Fo
nt
a
ine.
Segundo
ele,
ne
m
Es
opo
nem
Fe
dro,
s
eus
antec
e
ss
o
r
es,
a
dispens
a
v
am
,
send
o
que,
enquanto
o
primeiro
a
m
a
ntinha
s
eparada
do
cor
po
do
tex
to, sempre
ao f
inal
da
narrativa,
o
últim
o
nã
o se
su
jeitou
a
tal ord
em, co
lo
c
an
d
o-a
no iníc
io do t
exto em algu
m
as
oc
a
s
iões. Já La Fo
ntaine afirma o
m
iti-la
quand
o não a
co
n
si
d
era
necessária.
Como
j
á
dis
cu
tido
no
c
apítulo
anterior,
cujo
intuito
se
pautou
em
discu
tir
o
g
ênero
fábula,
La
Font
ai
n
e
afi
rm
a
prete
rir
a
moralida
de,
deixando,
em
alguns
texto
s,
ao
l
eitor
a
tarefa
de
deduzi-la.
Par
a
o
f
a
bu
li
s
ta,
a
omi
s
são
é
um
a
forma de c
onstrução
te
x
tual, que ele defen
d
e, afirm
ando
que
“se o fiz algu
m
a
s vezes
só
foi
em
l
ugares
onde
el
a nã
o c
aber
ia com
graça,
e
ond
e
é
fácil
ao
leitor
deduzi-la”
(LA FONTAINE
, s
/d, p. 2
4).
Isso
também
acontece
no
texto
loba
tiano,
que
s
e
não
de
c
la
ra,
no
caso
dessa
nar
rati
v
a es
pecificamente,
s
ua
m
ora
lidade,
fa
z
d
o
de
ba
t
e
entre
as
person
agen
s
d
o
Sítio
do
Picapau
Amarelo
a
m
ot
ivaç
ão
para
um
a
ampl
a
disc
ussão,
que
u
ltrapa
s
sa
a
m
era
ap
re
s
entaç
ã
o
d
a
m
o
ral
e
alça
reflexã
o
m
inuc
iosa
sobr
e
o
co
n
teú
do da m
es
m
a
.
In
c
lus
i
v
e nas q
ue
s
tões de fo
rm
a,
co
m
o
na ins
erçã
o e/ou exc
lu
s
ão da
m
o
ralidad
e,
a
r
ecepção
da
obra
d
e
arte
literári
a
depend
e
do
leitor.
Qua
ndo
se
tr
ata
de
u
m
l
eitor
pro
fi
c
ien
te
33
,
leito
r
denominado
p
el
a
nomenc
latura
d
e
desc
e
nd
ente
34
o
u
33
Aqu
e
l
e
que
faz
m
ais
uso
de
seu
co
nh
ecimento
p
révi
o
do
que
da
informação
efetiv
am
ente
dada
pe
l
o
te
x
t
o.
KAT
O
, Ma
r
y
.
O
a
prendizado
da le
itura
.
4. ed
.
São
P
au
lo: Marti
ns Fontes,
1
995
.
p
51
.
34
A
bordagem
não
lin
ear,
(
top
down
) que
faz uso
inten
s
iv
o
e
de
d
utiv
o
de
infor
m
ações
n
ão
visu
a
is
e
cuj
a
di
reç
ão
é da
m
acro pa
r
a
a mi
croes
tr
u
t
ura
e da fu
nção pa
ra a forma
.
K
A
TO,
op ci
t, p 50.
129
top-
down
,
a
s
ituação
não
de
v
e
ap
re
se
ntar
maiores
p
robl
em
as
,
poi
s
é
con
si
derado
ca
p
az de fazer infer
ênc
ia
s
e u
tiliz
a
r di
scernimento crítico e
conhecim
ento p
rév
io para
a
de
c
od
ifi
c
aç
ã
o
e
c
om
pr
eensã
o
do
material
a
s
er
lido
.
Já
o
leito
r
que
utiliz
a
um
a
m
e
todolog
ia
de
leitu
ra
ascend
ente
35
ou
botton-
up,
c
omo
as
c
rianças
do
p
rimeiro
Ciclo
do
En
s
ino
Fundamental,
que
tem
no
mate
rial
impresso
o
princ
ip
a
l
elemento
de
co
m
pre
ensão
e
nã
o
tiram
c
onc
l
us
ões
apressadas
,
o
que
at
ribui
ce
rta
v
agarosida
de
,
pouca
flu
ê
n
c
ia e
dificuldade
de
s
intetiza
r
as
idéias
(KATO,
1995,
p 5
1),
n
e
c
ess
it
a
de
cl
arez
a p
ara q
ue a
co
nteça a relação de
i
nteração entre autor –
obra e leitor, po
rque o autor se p
ropõe a fazer
alg
o,
e
quando
essa
intenção
está
material
m
ente
presente
no
t
exto,
atravé
s
de
marcas
f
ormais,
o
leitor
s
e
p
ropõe
a
e
s
cutar,
mome
ntan
eamente,
o
autor,
pa
r
a
depois
a
cei
ta
r,
julgar,
re
j
eitar
(KLEI
M
A
N, 1997, p19).
No
cas
o
apresentado,
a
criança
imprime
ao
r
eferen
c
ial
escr
ito
sua
leitura
, m
a
rca
da pelas i
nfluências do in
di
v
íduo. Par
a Orlandi
(1999), cada
indivíduo é
fruto
das
influências
ideológicas
a
s
qua
i
s
está
expos
to
e
dessa
form
a
ção
depend
e
o
pos
i
c
io
n
amento dele p
era
n
te o m
a
teri
al de leitura.
O
s
egundo
texto,
bastante
p
reso
ao
orig
i
na
l,
a
presenta
po
ucas
diferenc
iaçõe
s,
que
se
devem,
m
uitas
v
ezes,
às
práti
cas
de
escr
ita
que
a
c
riança
dom
ina, c
omo rec
orrente
em
outros
c
aso
s
já citados, o que
a leva a supr
im
ir e
inserir
informaçõ
e
s
ao te
xt
o base:
Laurin
h
a,
no
se
u
ves
ti
d
o
novo
de
p
in
tinhas
vermelh
as,
c
hinelos
de
bezerro
,
tr
eque
,
treque, treque
, lá ia para o mercado c
o
m uma lata de
l
eite
à
cabeça
–
o
pri
m
e
ir
o
l
eite
de
sua
vaquinh
a
moc
h
a
(L
OBATO
,
1973 b, p. 22).
Laurin
h
a
no
seu
v
est
ido
q
ue
ti
nha
pintinhas
ve
r
melhas
e
ela
e
sta
va
de
chinelo
de
b
ezerr
o
e
ela
estava
indo
para
o
mercado
com
uma
l
ata de le
i
te na cabeça (A4, 2006, Text
o
27).
O
contraste
entre
os
excertos
mostra
q
ue
a
crianç
a
ora
insere
e
ora
su
p
rime
ele
m
en
tos
textu
ai
s
n
a
transposição,
para a
s
próprias
palavras,
do
tex
t
o
ca
n
ôn
i
c
o.
N
es
t
a
espéc
ie
de
atu
alização
da
obra
l
iter
á
ria,
Z
ilberm
a
n
(198
9)
ate
s
ta
que,
por
m
e
io
das
co
n
stantes
l
eitura
s
a
que é
sub
m
e
tida a
e
ntidade
te
x
t
ual,
ocorr
em
35
É
u
m
proce
ssa
mento
li
nea
r
(
bottom
-
up
)
[qu
e]
faz
uso
lin
ear
e
indu
t
ivo
das
informações
visu
a
i
s,
lingüística
s,
e
su
a
abord
a
gem
é
composi
cional
,
(..
.)
i
s
to é
,
con
strói o
s
i
g
ni
f
icado
com
base
n
os
dados
d
o
te
x
to,
f
azendo
pou
ca
l
e
itura nas
en
t
reli
nhas. KAT
O,
op.
cit., p 51
.
130
m
o
difica
ções n
os nov
o
s
r
egistros text
uais,
p
ro
v
a de
que
o texto é,
em ess
ência, al
go
m
u
táv
el,
q
ue se
subm
ete a
diferen
tes leituras, no d
e
c
orrer do te
m
po.
Dess
e
m
od
o,
a
su
pre
s
sã
o
de
el
e
m
e
ntos
,
a
s
sim
c
om
o
a
inserç
ão
,
sã
o
m
odific
a
ç
ões
im
pin
gidas
aos
r
eferenciais,
pautadas
no
ní
v
el
d
a
s
dificuld
ad
es
,
inerent
es
ao proce
s
so
de
s
íntes
e
e leitura.
O
cor
te d
e ele
m
entos
é
notáv
el
na
retir
ada
de
adjetivos com
o no
caso de
novo,
das onom
at
opéias
tre
que
e até
a
omissão
de i
nform
a
çõe
s, como a
procedência d
o l
eite.
Além
diss
o,
a crianç
a muda
a
co
n
str
u
ç
ão
dos
per
í
odos
,
alter
a
ndo
term
o
s,
que
a
princípio
estar
iam
su
bentendidos,
ins
e
r
indo
-o
s
no
t
e
x
to:
que
t
i
nh
a;
e
e
l
a
esta
va;
e
e
l
a
es
ta
v
a
i
nd
o
para
o
,
além
de
outr
o
s
q
ue
a
p
arece
m
no
dec
orre
r
da
n
ar
r
ativa.
Tais
inter
v
enções
nos
textos,
realizadas
pelos a
lunos
,
es
tão pa
utada
s
no
ní
v
el das
d
ificu
ldad
es iner
e
nt
e
s
ao
processo
de dom
ínio da
síntese e da
leitura.
Som
a
m
-s
e à
s in
formações
de construçã
o nar
rativa
a
s
conclusões
do
leitor,
a
çã
o que extrapola a imparc
ialidade do
r
esp
on
s
ável pela escrita:
(...)
e
la
sonhou
c
o
m
coisas
muito
d
ifíc
il
de
ac
o
n
t
e
cer
se
ela
ti
n
ha
só
uma l
ata de
l
eite para
v
ender (A4, 2006, Texto 27)
.
Parte
da
c
rítica,
co
m
o
Be
nja
m
in
(192
3),
c
ondena
quando
s
e
tratam
de
reescritas
prof
i
ss
ionai
s
(tradução
e/ou
ad
a
ptação),
vol
ta
d
a
s
para
o
m
e
rcad
o,
a
ins
e
rç
ão
de
v
alores
es
tranhos
ao
te
x
to
o
riginal,
como
ac
ont
e
c
e
com
a
inc
lusão
de
juízo
s
de v
alor.
Outro
s
, a
exempl
o
do
própr
io
M
on
teiro
Lobato,
reconhec
em
a
part
i
c
ipação do au
to
r, que
é, em realid
ad
e, o
prim
eir
o leitor
,
cuj
o r
e
pert
ó
rio
de
co
n
hecimentos
p
rév
ios pode, voluntá
ria
ou invol
untariam
en
te, infl
uenciar o tex
to
final,
p
rática
q
ue
acontec
e
na
transposição
do
te
xto
c
anônico
pel
a
cr
iança,
t
anto
no
ní
v
el est
rutural quanto no ideológico
.
O
tex
to
se
guinte
altera
um
ite
m
q
uas
e
sa
grado
p
ara
o
adaptador
mirim:
o
títu
lo.
Po
u
cas
reesc
ritas
al
tera
ra
m
o
n
ome
da
fá
bula.
A
s
produções
d
e
s
se
grup
o
tiveram
du
as
ocorrências.
N
o
c
a
so
e
m
que
stão,
o
título
o
riginal
re
cebeu
um
acréscimo,
o que
alterou
A
m
enina
do
leite
p
ara
A
menina d
o pote
de l
eite.
O
acréscimo
do
s
ub
s
tanti
v
o
sim
pl
es,
q
ue
assum
e
a
fu
nç
ão
de
núcleo
do
predicado,
antecipa
o motiv
o
do
conflito,
um
a
v
ez
que
a
q
ueda d
o p
ote é
o
gera
dor
do
prob
lem
a,
respons
á
v
el pela não concretização das i
lu
s
ões da personagem
.
A
rep
rodução textual é m
uito parec
ida
c
om
a obra
origin
al, p
o
is
co
m
o
oc
orre
c
om
o
utras
pro
du
ç
ões,
acon
te
ce
uma
e
spécie
de
m
ed
iaç
ão
lingüística,
131
na
qual
a
criança
re
gi
s
tra
a
linguagem
q
ue
do
m
ina,
c
om
o
m
os
tr
a
o
c
onfronto
dos
trechos
a
pr
e
s
entado
s
a seguir:
- Ven
do o lei
t
e
– dizia –
e compro uma dúzia de
ov
os.
Ch
o
co os ovos
e a
ntes de um
mês já tenho u
ma dúzia de pi
ntos. M
or
rem... do
is, que
se
jam,
e
c
rescem
dez
–
cinc
o
f
r
a
n
g
as
e
cinco
frangos
(LOB
ATO,
1973b, p. 22).
E
la vende
o
leite
e
dizia que
c
om
o
dinheiro
que
r
e
ceber ir
ia
comprar
uma
d
úzi
a
de
ov
os,
com
ess
e
s
ovos
i
ria
choc
a
r
e
ant
e
s
de
u
m
mês
i
ria
nascer
seus
pint
i
nhos,
mes
mo
morrendo
dois
t
eria
cinco
f
rangos
e cin
c
o
frangas
(
A5
, 2006, Text
o
28).
A r
eescri
ta s
e
gu
inte
tam
bé
m
altera
o tí
tulo
orig
inal pa
ra
A
men
ininha
do
l
e
ite.
A
flex
ão
d
o
s
ubstantivo
para
o
g
rau
di
m
inuti
v
o
pode
ter
sido
esco
lhida,
co
n
sc
iente ou
inconscie
n
te
m
e
nte,
de
for
m
a
a
direc
ionar a
interpret
a
ç
ão, p
or
mei
o
de
um
a
an
tec
ipação
dos
fatos
a
s
erem
desenv
olvidos
na
se
qüência.
Tal
f
ato
s
e
co
m
prov
a
se
f
or
adotada
a
perspec
ti
v
a
que
a
p
erda
do
l
eite
pod
e
s
er
c
on
s
eqüên
c
ia
da
in
aptidão
p
a
ra
o
tran
s
porte,
r
ealizado
por
um
a
c
rianç
a
ainda
pequena,
co
m
o
aponta
a fle
x
ão de grau do s
u
b
s
tan
ti
v
o m
eni
na.
A
quin
ta
re
escrita
s
intetiz
a,
a
ex
emplo
d
e
ou
tr
o
s
t
e
xt
os,
o
c
onteúdo
prim
eir
o. Os
de
v
aneio
s
de La
urinha são substituídos por
:
P
e
lo
cam
inho
ela i
a f
azendo va
r
i
as
contas em
trocas
de
anima
i
s
(A8,
2006, Te
xt
o 29).
Me
s
m
o
reduzindo
o
cont
eúdo
do
tex
to
original,
o
d
isc
ente
in
s
ere
no
v
as
informaçõ
e
s,
adjetivos,
em
s
ua
gra
n
de
m
a
ioria,
qu
e
po
dem ag
ir
c
om
o
r
eforço
dos da
do
s
apresentados:
(...)
ia
feli
z
até o
mercado com uma
l
ata de leite n
a
cabeç
a
(A8, 2006,
Texto 29).
A
penúltim
a
produ
ção
s
intetiza
as
id
éias
do
texto
original,
che
ga
n
do
a alterar
o
s
ignificado pr
im
eiro
:
-
V
e
n
d
o
o
l
eite
e
eu
co
mpr
o
muit
o
s
ovos,
choc
o
at
é
v
irarem
g
alinha,
ve
ndo e compro p
o
rcos para c
o
mer! (A12, 2006, Texto 31).
132
Na fáb
ula lob
atiana os
por
c
os
, que La
uri
n
ha deseja
adquiri
r, não s
ão
para
alim
e
ntaç
ão, mas s
im
pa
ra r
eproduçã
o e
cr
iação, com
o ates
ta o t
recho, não
é o
que o
aluno
faz. A rees
crit
a do conteúdo prim
e
iro, c
onfor
m
e defe
nde Monte
iro
Lobato
,
é
u
m
a
aç
ão
del
ica
da
,
u
m
a
v
ez
qu
e
pode
altera
r
o
significado,
ao
retratar
m
e
diana
m
en
te
o
c
ontexto
d
a
obra
literári
a
.
O
dis
cente
não
realiz
a
u
m
pr
oc
e
ss
o
co
n
sistente
de criação textual, m
as
s
im
u
m
a
tarefa de esc
rita.
Outra
al
teração
qu
e
modific
a
o
sentido
cons
i
s
te
na
alt
ernân
ci
a
de
si
gnifi
c
ado
s,
u
m
a
vez
que
no
tex
to l
obatia
n
o, após
a
queda, L
aurinha
e
s
fola
o j
oelho
e no tex
to do aluno o jo
el
h
o receb
e outra
função:
Chorouse
de
j
oelhos,
agora
não
vai
m
ais
comp
r
ar
a
s
galinhas
e
o
s
porco
s apenas
na ima
g
inaçã
o
(A12, 2006, Texto
3
1).
O
excer
t
o
apres
e
n
tado
m
o
str
a
a
alteração
de
s
entido,
que
passa
de
joelho mac
hucado
(
parte
do cor
po fe
ri
da
) para
chorar d
e
joel
hos
(forma d
e la
m
e
ntar-
se).
Já
no
c
am
po
d
a
idéias
tamb
é
m
o
corre
um
a
mudan
ça
s
ig
nific
ativa
de
sentid
o,
a
part
ir da
afirm
a
ção, po
r parte
do
narrador,
que as
pret
en
s
ões
da
protagoni
s
ta
fic
a
rão
restr
itas
à
i
m
agin
ação
de
Laurinha,
fala
qu
e
di
funde
uma
idéi
a
li
m
it
ador
a
acer
ca
da
person
agem
.
A
inse
rçã
o
d
e
elementos
es
t
ran
ho
s
ao
texto,
definid
o
por
Venutti
(199
8)
co
m
o
trans
gressão,
c
ons
i
s
te,
c
om
o
obs
er
v
ado
no
tex
to
anal
i
s
ado,
na
ins
e
rç
ão
d
e
iten
s
não-pre
s
ent
es
no
c
onteúdo
p
rimeiro,
mas
q
ue,
no
en
t
anto,
repres
enta
mec
anismos
que
pod
em
signi
fi
c
ar
a
recepçã
o
do
autor/leitor
c
om
o
tam
bé
m
s
er important
e para a
r
e
c
epção do leitor.
A
a
ltera
ção
de
palavr
a
s
e
até
a
pontuaç
ão
po
dem
modificar
totalmente
o
sen
ti
do
da
escr
ita.
E
ss
e
fa
to
é
perceptív
el
também
na
r
eproduç
ão
da
m
o
ral, que
de
v
ido à supressão
de um conec
ti
v
o, assume outro campo sig
nificativo:
Não
devemos
contar
[
c
om
]
as
coisas
antes
de
termos
conse
guido
(A12
, 2006, Text
o
31, gri
f
o nosso
).
Com
a
ausência
da
con
ju
nç
ão
com,
o
verbo
co
ntar
ass
ume
o
si
gnifi
c
ado
de
determi
n
ar
o
número,
enquanto
que,
com
a
ins
e
rção
do
c
onectivo
passa a s
ignificar a relação de con
tato,
s
ituação di
fundida pelo texto
o
r
iginal.
133
A
úl
tima
adaptaç
ão
s
intetiza
o
c
onteúdo
pr
i
meiro,
p
rática
bastante
corr
iquei
ra
na análi
s
e textual
de
s
t
e grupo, c
o
mo des
taca
o trecho seguinte:
E
nqua
n
t
o
a
n
d
ava
Laurinha
planejava
o
que
fa
z
i
a
com
o
di
nheir
o
d
o
l
eite
ve
n
dido.
Fazia
c
ontas
e
sem
quer
e
r
trope
s
sou
e
derr
am
ou
todo
o l
eite (A13, 2
0
06, Texto 32)
36
.
Como
g
rande
par
te
das
pr
oduções
r
ealizadas,
tam
bém
es
ta
rec
o
r
re
a
prin
cípio
s
de
re
dução,
s
int
etizando
o
c
onteúdo
literário.
Em
t
al
práti
ca
o
leitor
imprime
na
obra
lite
rária
s
eu
olha
r
e,
c
onsequentem
ente
,
todo
o
ca
m
p
o
de
informaçõ
e
s
de
q
ue é fruto.
3.2.9 A Rã e o
Boi
O
n
ono
texto
s
elecionado,
A
rã
e
o
boi
,
em
Esop
o
traz
u
ma
aprese
nta
ç
ão
dif
e
rente,
na
qual
ou
tra
s
protagonistas
dã
o
nome
ao
texto,
que
p
assa
para
A
r
ap
osa
e
a
se
rpente
.
A
fá
bula
trata
de
u
m
a
rapo
sa
que
q
uer
s
e
assem
elhar
em
ta
m
anho a
o de uma ser
pente e, a
o
te
ntar, o animal arreb
enta.
Bábrio,
à
s
em
e
lhanç
a
de
Es
opo,
t
raz
à
c
ena
anim
a
is
es
tran
ho
s
ao
tex
to
lobat
iano,
um
lag
arto
e
u
m
a
cob
ra,
sendo
o
prim
ei
ro
o
que
as
pira
al
c
ançar
o
tam
an
ho do ou
tro, no text
o
intitu
lado
O
l
a
garto e
a cobra.
Fedro,
em
s
eu
tex
to
A
rã
a
rrebentada
e
o
boi
,
ap
resenta
as
person
agen
s dif
undidas
por
Lobato, a rã e
o boi,
e
se
gue a tem
áti
ca de seus
antecess
ore
s
.
La Fo
ntaine, em
A rã
que quis f
icar tão
grande quanto o bo
i
,
re
pete o
enre
do
dos
dem
ais
a
utores.
Monteiro
Lobato, à
m
oda
do
fab
ulista francês,
traz
e
m
A
rã
e
o
b
oi
uma
s
aracura
e
um
a
rã
q
ue
tom
av
am
s
ol
à
beira
d
e
um
brejo
quando
ch
e
ga
um
boi
ao
b
ebedou
ro.
A
rã
diz
pod
er
ficar
do
tam
anh
o
do
boi,
afirm
aç
ão
co
n
testad
a
pela
interlocutora.
A
rã
com
e
ça
a
estufar-se
até
explodi
r.
O
boi,
que
ac
om
p
anha
a
cena,
afirm
a
qu
e
“q
uem
nasce
para
dez
réi
s
não
c
hega
a
v
int
ém
”
(LOBATO, 1973 b
, p.13),
m
ora
l da fá
b
ula.
36
A
criança
apresenta
u
m
a
ver
são
resu
m
ida
,
na
qu
a
l
os
fatos
pri
nc
i
pais
são
des
c
r
i
t
os com
palav
ra
s
própri
as,
o
qu
e inc
lui
err
os or
tog
r
áfico
s, comun
s na fase de
aq
u
isi
çã
o da li
ng
u
agem
esc
r
i
t
a
.
134
Adaptada
p
or
seis cri
ança
s
, a pri
m
e
ira versão de
A
rã
e
o
b
oi
,
em
bora
bas
tante
ligada
ao
texto
lobatian
o,
realiza
a
lgu
m
a
s
al
te
raç
ões
s
ignificativas.
A
prim
eira
d
elas
é
a
reo
rganização
da
orde
m
dos
s
intagmas
dentr
o
da
frase,
q
ue
deixa
a
form
a
indireta,
a
dotada
por
Lobato,
e
ass
ume,
na
v
er
sã
o
infanti
l,
a
fo
rm
a
direta,
reco
rrên
c
ia
bastante
com
u
m
na
s
reescr
itas
infantis.
Tal
mov
imento
de
reorg
aniz
a
ção
da
n
arrativa
s
e
dev
e
à
s
implific
ação
que
i
ss
o
prom
ove
,
ação
que
influencia
dire
tam
ent
e
o
pr
ocesso
de
rec
epçã
o
pr
op
riamente
dito,
um
a
v
ez
que
a
orde
m
d
ireta
é
ma
is
si
m
p
les
par
a
a
leitura,
pr
incipalm
e
nte
para
as
cria
n
ças
,
fac
ilitando, conseqüe
n
teme
n
te, a in
terp
re
tação textual
.
Tomavam
sol a
bei
ra
dum
brejo
uma
rã
e uma
sa
racura.
Nisto
ch
egou
um
b
oi,
que
vinha
para
o
bebedouro
(LOBATO
,
1973
b,
p.
13).
Uma
rã
e
uma
saracura
estavam
t
o
mando
sol
n
a
beira
da
l
a
g
o
a
,
as
s
i
m apareceu um boi (A3, 2006, T
e
xt
o
33).
Segundo
Fouca
ult
(1995),
a
prá
ti
c
a
de
reesc
rever
permite
a
recons
tru
ç
ão
de
novos
di
sc
ursos
,
como
foi
feito
pel
a
cria
n
ç
a
n
a
reescrita
d
e
ss
a
fábula
,
por
meio
da
atua
lizaç
ão
do
referencia
l,
ação
q
ue
perm
i
te
o
diál
ogo
c
o
m
públicos e momentos
históricos disti
ntos.
A
s
egu
nda
ree
sc
rita,
ba
s
tante
fiel
ao
o
r
igin
a
l,
difere
deste
a
penas
por
supressões
de
algumas
infor
m
açõ
e
s,
possive
lm
ente
na
t
entativa d
e
diferenciar o
tex
to pela alteração da
o
rde
m
de es
crita:
Uma
rã
e
u
m
a
saracur
a
tomavam
s
o
l
.
Depo
i
s
chegou
um
boi
para
beber água
(
A6, 2006, Texto 34).
Nota-se
que,
e
m
gran
de
part
e
d
a
s
produções
ana
li
s
adas,
a
si
m
plific
ação
faz
parte do
proce
s
so
de
transp
o
si
ç
ão da
leit
ura p
a
r
a a
e
scri
ta do
te
x
to
literári
o,
send
o con
s
tan
temente utilizada:
O
b
oi,
que
ti
nha
acabado
d
e
bebe
r,
lançou
u
m
olhar
f
ilósofo
sobre
a
rã moribunda e di
ss
e
: (LOBATO, 1973 b, p. 13)
O boi di
ss
e
a rã (A6, 2006, T
exto 34).
135
No
caso
ap
resentado,
a
simples
com
paraç
ão
da
ex
tensão
entre
os
trechos
já
cha
m
a
a
ate
n
ção,
u
m
a
v
ez
qu
e
o
tex
t
o
do
a
luno
é
menor,
por
ele
s
e
a
t
er
às
o
c
orrências c
entrai
s
.
A
terc
eira
pr
odu
ç
ão
modifica,
a
seu
m
odo,
o
conteú
do
textual
, c
om
o
m
o
stra
o trecho a s
e
g
uir:
A
beira
de um
lago
duas
rãs
conversavam e
de
repente
u
m
b
o
i
ch
egou para
b
eber água (A7, 2006, Texto 35).
Aqui
ocorre
a
m
u
danç
a
de
uma
das
pers
ona
ge
n
s
,
p
ois
a
sa
racura,
a
v
e
qu
e
h
abita
lo
c
ais
alagad
i
ç
os
e
m
arge
ns
de
lagos,
sendo
um
a
es
pécie
pouco
co
n
hecid
a,
c
ede
lugar
a
outra
r
ã,
ani
m
al
c
om
u
m
tan
to
no
s
meios
rura
i
s
q
u
an
to
nos
m
e
io
u
rban
o
s.
Com
o
já
c
itado
durant
e
a
ex
planação
sobre
a
E
stética
da
Rec
e
pção,
a
langu
e,
v
i
sta
c
omo
co
njunto
de
norm
as
de
c
ada
obra
liter
ária,
é
transcrita
c
om
o
paro
l
e,
s
is
tem
a
de
dom
ín
io
de
c
ada
leitor,
particularidade
que
pr
om
ov
e
as
peculiari
dade
s
d
e
cada
r
eprodução
textua
l.
Ness
e
c
aso,
e
m
e
spec
ial,
o
s
ignifica
nte
desconhec
ido
c
ede lugar
a
outro
cujo
s
i
gnifica
do
é
c
o
nhe
c
ido
para
o leitor.
Na
reescri
ta desta fábul
a por Eso
p
o,
Bábrio, F
ed
ro
e La F
ontai
n
e é pe
rceptível ess
e tipo
de
a
tualização,
na
qu
al
o
autor
traz
à
c
ena
a
nimais
com
u
ns
a
se
u
tem
po
e
es
paç
o,
oc
orrênci
a
que
s
e
re
pe
t
iu
tam
b
é
m
nas
reescritas
infan
ti
s
,
principal
m
e
nte
n
as
reescri
ta
s
deste grupo.
Um
diferen
cia
l
desse
t
e
x
to
é
a
c
lara
inser
ç
ão
da
opinião
do
narra
dor
37
:
E
la (a
rã) nun
c
a
seria
d
o tam
anho
d
o
boi
(A7,
2
0
06, Texto 35).
À
s
em
elhanç
a
da
anterior,
a
próxim
a
n
arrativ
a
a
lt
e
ra
al
gumas
informaçõ
e
s,
possivel
m
e
nte c
om
o r
esu
ltado da busc
a de
termos s
ignificativos
par
a
a
cri
an
ç
a.
De
s
se
m
odo,
o
di
sc
ent
e
tro
ca
a
per
s
onage
m
sa
racura
po
r
u
m
pa
ss
arinho
indete
rm
in
ado.
Lobato,
ao ad
aptar
o
s
textos
à re
alidade
brasileira, tev
e
o cuid
ado de
su
b
stituir
si
tua
ç
ões
e
p
ersonagens
que
fo
ss
em
mai
s
c
onhecidos
para
o
público.
Tal
m
o
v
im
en
to
se
r
epete
nas
alterações
r
eali
zadas
pe
la
s
crianças,
q
ue
tam
b
ém
repres
entam
re
alidades
de
se
u
momento
.
Outra
amostr
a
da
m
u
dan
ça
de
informaçõ
e
s
e
st
á na m
o
ral, que
foi transcr
it
a
da seguin
te
f
orm
a:
37
Ex
em
plo de o
corrên
cia si
m
il
a
r fo
i
apresen
tado
n
a análi
se da
fábu
la
A
men
i
na
do
leit
e
(p.
132
).
136
Quem nasse
p
ar
a
dez
réis não ch
e
ga a vinte (A11, 2006, T
e
xto 36).
Possivelmente,
po
r
desconhecimento
do
s
istem
a
m
o
netár
io
38
já
e
m
desuso,
a
cria
n
ç
a
altera
os
valores,
igualando
v
intém
e
v
inte,
alter
a
ç
ão
na
qual
su
b
stitui
a
moeda,
pro
priam
e
nte
di
ta,
po
r
u
m
v
alor.
Ao
ten
tar
fornecer
a
s
informaçõ
e
s
necessárias,
o
autor
provoca
um
quadro
de
humor,
pr
om
ov
ido
pela
inc
oerên
c
ia do
s
dado
s
fornecidos.
A
troca
a
c
ontece
pela
necessidad
e
de
const
rução
de
sentid
o
par
a
o
leitor.
Para
Jauss
(
1994),
i
núm
e
ras
c
a
racter
í
s
ti
c
as
s
e
rvem
d
e
orie
ntação
e
podem
influenciar
a
leitur
a
,
por
mei
o
da
alte
r
a
ç
ão,
c
orreção
,
transform
aç
ão
ou
si
m
ples
m
e
nte
rep
rodução
d
as
in
formações
.
O
c
aso
em
d
est
a
que
alterou
a
informaçã
o, s
itua
ç
ão
que pode
t
er s
ido des
e
nca
de
a
da
p
ela não c
ontem
p
laç
ão desse
tipo de
inform
açã
o pelo saber prév
io
d
a criança.
A penúlti
m
a
narra
ti
v
a é uma c
ópia fiel d
a fonte,
açã
o que c
um
pre,
na
m
a
nutenç
ão
até
d
a
s
as
pas,
o
retra
to
do
tex
to,
s
alvo
uma
ún
ica
exc
e
ç
ão,
m
e
rece
dora
de
de
s
taqu
e
.
O
texto
todo
é
um
a
rep
rodução
do
t
exto
p
rim
eiro.
No
entanto
, l
ogo a
p
ós a o
no
m
a
topéia, que
repr
e
s
enta
a e
x
plosão
d
a
rã
,
a
c
riança
interr
om
pe
o
te
x
to,
d
ei
x
ando-o
sem
fina
l.
Não
se
s
abe,
entreta
nt
o,
se
a
r
ep
ro
du
ção
do
te
xto-base
con
s
i
st
e
na
não-ru
ptu
ra
com
o
orig
inal
ou
s
e
resume
e
m
u
ma
mera
có
pia
d
a
fá
b
ula
l
obatiana.
A
interrupção,
sofrida
p
ela
v
er
s
ão,
ignora
a
fala
do
boi,
que
r
e
presenta
a
m
ora
l
da
fábu
la.
Não
se
sabe
s
e
o
c
or
te
n
a
nar
rati
va
o
bede
ce
u
a
questõ
e
s
de
ex
tensão
o
u
se
o
a
luno
en
tendeu
e
esco
lheu
a
explosão
co
m
o
desfecho
pa
ra
su
a fábul
a. Eco
(1994)
mostra q
ue
as
opções
a q
ue
está su
bm
e
tido
o
leitor
“
existe[
m
]
a
té
mesmo
n
o
ní
v
el
da
frase
indivi
dual”
(p
.
12),
regu
lando
aceitaç
ão
e/ou omiss
ão de dados textua
i
s
.
A
última
produção
apresenta
um
a
v
er
s
ão
sinte
tiza
da
do
conteúdo,
escrita c
om
as
palavr
as d
a
c
riança
:
A
rã fez
tant
o
e
s
f
orço engo
l
indo ar e estufando que ex
pl
od
iu
.
O boi di
ss
e
:
- Que
m
nasce para 10 réis não chega a
v
in
t
ém (A13, 200
6
, Text
o
3
8).
38
Ou
tr
o
s
tex
tos
qu
e
retratam
questões
pecu
niár
i
as
são
ap
r
e
sentados
nas
anál
is
e
s
referen
tes
às
f
ábu
l
as
A
galinha
dos
o
vos de ou
ro
(p. 119)
e
na
s il
u
st
raçõe
s des
t
a
fáb
ul
a e
d’
A men
i
na
do
lei
t
e
(An
exos E 9 e E
1
5
).
137
Desta
reproduç
ã
o
dest
a
cam
-
s
e
peculiaridades
tex
tuais
da
faixa
etár
ia,
c
omo
o
uso
de
nu
m
e
rais
no
texto
escr
it
o
,
p
rática
que
repres
ent
a
a
falta
de
dom
ín
io
da modalidad
e
escrita
da
lingu
agem
padrão e
uso
dos recursos
que
o
disce
nte dom
ina.
3.2.10
A
Raposa e a
s Uv
a
s
A fábula seg
uinte, sob o título de
A ra
p
o
s
a e
as
uv
as
,
é adapt
ad
a por
Eso
po,
Bá
brio,
F
edro
e
La
F
onta
ine
a
té
c
hegar
a
Lobato
.
Sal
v
o
po
ucas
diferenças
de
c
onstrução
de
form
a
,
en
tre
as
qu
ai
s
se
nota
inserção
de
ad
jeti
v
os,
os
tex
tos
s
ão
m
u
ito
par
ecidos
.
Retratam
u
m
a
r
apos
a
com
fo
m
e
q
ue
enc
ontrou
u
m
a
parr
eira
carr
egada de cac
h
os de
u
vas
m
aduros
. Como não c
onseg
ui
u
alcançá-
l
os
, m
ur
murou
que
esta
v
am
v
erdes
e só s
erviria
m
para c
a
c
horros. Ao
afastar-se
do local,
um
a
folha
ca
iu
e
a
ra
po
s
a,
ouvindo
o
ba
ru
lho,
v
oltou
d
ep
r
essa
fa
rejando.
A
mo
ral
idade,
bastan
te
c
onhecida
,
atesta
q
ue,
“quem
de
sde
nha
quer
co
m
pra
r”
(LOBATO,
197
3
b,
p. 47)
.
A
n
arrativa,
reescrita
por
s
eis
alunos,
re
c
ebeu,
na
primeira
v
ersão,
escrita
i
dêntica
ao
orig
inal,
m
a
nten
do
o
m
e
s
m
o
c
onteúdo
e
c
ons
tru
ç
ão.
A
única
div
e
r
gênc
ia
foi
a
sup
ressão,
n
o
texto
infan
til,
da
m
or
alidade
da
fáb
ul
a,
quest
ã
o
já
discu
tida anteriorm
e
nte
, a partir das discussões
de L
a Fontaine a esse r
e
s
peito
.
A
seg
unda
produção
realiz
a
u
m
a
atu
alização
v
ocab
ular
s
ignifi
c
ativa,
ao
alter
ar
palavra
s
do
te
x
to
lobatiano
por
ou
tras
c
om
uns
ao
universo
da
cr
ian
ç
a,
vocábulos
e
ss
es
tam
bé
m
familiares
ao
gr
up
o
s
oc
ial
e
etário,
quadro
re
tratado
n
o
s
excert
o
s
a seguir:
Certa
raposa e
s
f
aimada encontrou u
ma parreira carre
g
a
d
inha d
e
lindo
s cachos
maduros, coisa de f
azer
vir
água à
boca.
M
as
tão a
ltos
que nem pulando.
O matre
ir
o
b
i
cho torceu o focinho (LO
B
ATO,
1
9
7
3
b, p. 47).
Um
di
a,
u
ma
raposa
f
a
min
t
a
vi
u
u
m
pé
de
u
ma
uva
mas
não
co
nsegu
i
u pegar nenhuma uv
a
p
ulando (A3, 2006, Texto 40).
Além
de
ins
erir
a
determi
naç
ão
tem
pora
l,
p
or
mei
o
do
a
djunto
ad
v
erb
ial
u
m
dia,
o
a
dap
tador
sel
e
c
io
n
a,
pa
ra
seu
texto,
p
alavras
utilizada
s
co
m
u
m
ente
na
atual
idade.
Ess
a
troca
ac
on
t
e
c
e
n
a
substi
tuição
d
o
adj
etivo
138
es
fai
mada
por
faminta
,
d
o
subs
tantivo
parreira
por
p
é
d
e
uva,
e
s
se
m
es
m
o
te
r
m
o
apar
e
c
e
em
out
ro
m
o
mento
d
o
tex
to
com
o
á
rvore
de
uva
,
também
o
v
erbo
farejar
é
su
b
stituí
do
po
r
ch
ei
r
ando
.
Outras t
erminologias
s
ã
o
s
im
p
les
m
ente su
prim
id
as ou
tem
se
u c
onteúdo diluído no c
onte
x
to.
Algumas
ocorrências,
não
prese
nt
es
no
t
exto
or
igin
al,
aparec
em
na
reescri
ta.
E
x
em
p
lo
diss
o
é
a
passagem
“
E
foi-se”
(LOBATO,
1973
b,
p.
47),
que
recebe
,
na
v
ersão
da
c
riança
,
um
co
m
ple
m
e
nto
q
ue
fa
z
,
em
s
eu
desenv
olvim
en
to,
alusão à
m
ora
dia da
raposa:
(...)
d
epois ela voltou a sua toca (A3
,
2
006, Texto 40).
Se
o
texto
lobatia
no
n
ão
faz
r
eferência
à
m
or
adia
da
pr
o
ta
gon
i
s
ta
e
nem ates
ta um longo des
locamento d
o animal, que
retorna à
cena a
o o
u
v
ir o b
arulho
da
q
ueda
de
uma
fol
ha,
na
v
ersão
da
criança,
a
p
ers
onagem
iria
até
s
ua
toc
a,
s
em
atentar
q
ue
ser
ia
difíc
il
ouvir
o
ruído
a
longa
d
i
s
tância.
Mesm
o
não
fazendo
refe
rên
c
ia
à
poss
ível
distância
da
toca,
p
a
ra
a
crianç
a
ta
i
s
que
stõ
es n
ão
i
n
fl
uenci
am
a
v
erossi
m
ilha
nça do tex
to literário
.
O
tex
to
a
s
eguir,
à
s
em
e
lhanç
a
d
o
anterior
,
tr
az
para
o
pre
sente
co
n
str
u
ç
ões e express
õe
s
,
como mostr
am
os
ter
m
os
de
s
tacados:
Um
a
ra
posa
com
m
u
ita
fom
e
viu um
pé d
e
uv
a
carr
e
gadinho, a
rapo
sa
f
i
cou com água n
a
b
o
ca
(
A6, 2006, Texto 41, grifo nosso).
As
palavr
a
s
destacadas
s
ub
s
tituíram
,
na
seqüê
n
c
ia,
as
p
alav
ras
certa,
es
faim
a
da,
p
arreira,
fa
z
er
v
i
r
ág
ua
à
boc
a,
movi
m
e
nto
q
ue
p
erm
i
te
a
transfor
m
aç
ão, a q
ual e
s
tão
s
u
jeita
s
as pala
v
ras no dec
o
r
rer do tem
p
o.
Na
prod
ução
a
nalis
ada
ocorr
e
uma
fa
lha
de
c
oerênc
ia,
poi
s
a
cri
an
ç
a
nã
o
apresenta
a
tentativa
fru
s
tr
ad
a
da
ra
posa
de
ten
ta
r
alca
n
çar
as
uvas.
A
omissão
d
eixa
a
trama
s
em
s
entido,
j
á
que
se
a
pe
rsonagem
s
oub
e
s
se
que
a
f
ruta
se
encontra
v
a im
pr
ópria para o
c
o
nsumo não
teria m
otiv
os pa
ra
ret
o
rnar até a
parre
i
ra,
at
ra
ída pelo barulh
o.
A
q
uarta
a
daptação
é,
em
pa
rte,
inov
adora,
por
alterar
si
gnifi
c
ati
v
am
ente
o
c
onteúdo
do
tex
t
o
original.
Modi
ficaçã
o
que
já
a
parece
e
m
s
ua
aber
tu
ra
presente,
tam
b
ém
n
o
iníc
io
de
se
u
texto,
por
meio
da
ins
erção
d
e
fórmulas
es
truturai
s
co
m
uns
às
hi
s
tórias infantis:
139
E
ra u
ma vez
uma
rap
osa
q
u
e viu
uma
p
a
rre
i
ra que
tinha
mu
i
tas
uvas
(A6, 2006, Te
x
t
o 41, grifo nosso).
A
c
rianç
a
tam
b
é
m
p
ass
a,
pa
ra
a
ordem
in
dire
ta,
a
fa
la
da
ra
p
osa,
us
ad
a
c
omo
conso
lo
, na não c
oncretizaçã
o
do des
ejo d
e
alcanç
a
r as fru
ta
s
:
O matre
ir
o
b
i
cho torceu o nariz.
-
Estão
v
erdes
–
murmurou.
–
Uvas
verd
es,
só
p
ara
cacho
rro
(LOBATO, 1973 b, p. 47).
A
rap
osa
torceu
o
f
o
ci
nho
e
di
sse
que
uva
verde
e
r
a
só
pa
ra
ca
chorr
o (A7, 2006, Texto 42).
O
de
sfecho
da
narrativa
altera
o
di
v
ulgado
pelo
tex
to
origin
al,
um
a
ve
z
qu
e
s
ubstit
ui
a
busca
fru
s
trada
da
rapos
a,
ocasionada
pela
queda
da
folha
,
pe
lo
reto
rno
do
a
nim
al
,
que
,
s
e
g
undo
o
disc
ente
“vol
tou
p
a
ra
m
ata
r
a
fome”
(
A7,
20
06,
Texto 4
2), a
lu
s
ão que
contraria a
idéia
da fábula loba
tiana. Por um lado,
tal ruptu
ra é
um
a
ação
perm
itida,
po
rque
confor
m
e
discute
Amorim
(2005
),
a
r
eescrita
de
um
tex
to
rec
onte
x
tualiza
a
o
bra
or
iginal,
a
p
a
rtir
d
a
real
idade
na
qu
al
é
percebida
e
por
outr
o,
po
de
re
pre
s
entar,
segun
do
Kato
(
1995),
na
di
fi
c
uldade
da
c
riança
em
apre
en
d
er
a
i
déia
c
entral
da
narra
ti
v
a,
s
ituaç
ão
que
parece
ter
ev
i
d
ência
ap
e
na
s
no
ní
v
el m
etac
ogni
ti
v
o
39
.
Essa
afirm
a
ção
revela
que
a
crianç
a
te
m
e
stra
té
gi
as
co
g
nitivas
tex
tuai
s
,
mas
gr
ande
p
arte
d
o
pú
blico
i
nfantil
não
c
onsegue
a
inda
fazer
af
irm
a
çõ
e
s
ou des
em
penhar
ativ
idades que
exija
m
del
a c
apac
i
d
ade metac
ognitiva
no nív
el
tex
tual.
Um
t
rabalho
q
ue
a
f
a
ç
a
perceber
o
s
m
o
tiv
os
qu
e
a
levaram
a
deixar
cert
os
trechos
de
u
m
te
xto
e
m
s
ua
rememoraç
ão
p
ode
rá
dar-lhe
gradativam
e
nte
a
noç
ão
co
n
sc
iente de que algum
a
s i
déias sã
o m
ais
im
po
rtante
s d
o
q
ue outras
.
A
na
rrativa
se
guinte
sintet
iz
a
o
c
onteúdo
origin
al,
r
eduzindo-o
às
idéias
p
r
incipais.
Ness
e mov
im
e
nto,
o
aluno
reesc
re
ve
o material
de
for
m
a
a
re
alizar
a a
tualizaçã
o
do c
onteúdo
prim
eiro,
a
partir
do pr
incípio d
a parcim
ô
nia,
co
m
o
mostr
a
o trech
o seguinte:
E
la disse:
- Ah!
Est
ão verde eu não quero – e foi em
b
ora (A7, 2006, Texto 42).
39
Estratégi
as
cogn
it
iva
s
e
m
lei
tura
são
o
s
princ
í
pi
os
q
u
e
regem
o
comporta
m
ento
au
t
omáti
co
e
in
consci
e
nte
do
l
e
itor,
enqu
a
n
to
que
estr
atégia
s
m
etacogni
tiv
as
em
lei
t
u
r
a
d
esi
g
na
r
ão
os
prin
cíp
io
s
que
regul
am
a
desau
tomatiz
ação con
scien
te das estra
t
égia
s
cogni
tiv
as (K
A
TO,
19
9
5,
p
.
109
).
140
A
última
produç
ão
insere
o
u
alt
era
alguns
ele
m
e
ntos
na
nar
rati
v
a,
se
m
m
udá-
la sig
nific
a
tivamente:
Um
b
elo
dia
p
arec
eu
u
ma
ra
p
osa
que
estava
com
muita
fome
e
viu
uma
parreira
ca
rre
g
a
d
a
de
cachos
d
e
uva
bem
m
ad
uros
(A7,
2
006,
Texto 42
,
grifo
n
osso).
Além
do
a
c
r
é
s
cimo
de
Um
belo
di
a
,
os
term
os
em
d
est
aque
es
tão
su
b
stituindo
e
s
fai
mad
a
e
l
i
ndos
cac
h
os
de
uva
.
A
inserção
de
advérb
io
s
e
adjetivos
é
a
form
a
de
a
tualizar
e
reesc
rever
o
t
exto
de
m
aneira
diferente
,
tran
s
formando
a
retó
ri
ca
loba
tiana
do
sécul
o
XX,
em
linguag
em
acess
ível
ao universo
infantil
no
sécul
o X
XI.
3.2.11
O B
urro J
uiz
A
fábu
la
O
bu
rro
juiz
não
enc
ontra
da
em
o
utros
escri
tore
s
é,
possiv
elm
e
nte,
um
a
c
ria
ção
do
pr
ó
p
rio
L
oba
to,
qu
e
afirm
a
te
r
cr
ia
d
o
algumas
d
as
fábulas q
ue reuniu em
s
eu livr
o.
O te
xto
conta
as
peripécias
de
uma gra
lha
e um
s
abiá
que
discutia
m
quem
er
a
m
elhor
c
antor.
Dia
n
te
do
i
m
p
asse
a
gralha
afirm
a
q
ue
um
burro
,
que
se
encon
trava
nas
p
ro
x
im
idad
es
,
deveria
s
er
o
juiz
,
d
ev
ido
ao
t
am
anho
de
s
uas
orelhas
.
O
burro
aceita
o
enc
argo
e
se
põ
e
a
e
sc
utar
os
c
ompetidores.
Ao
final
d
as
aprese
nta
ç
ões
afirm
a
se
r
a
gralha
melhor
ca
ntora
que
o
sabiá
.
A
m
oralidad
e
do
tex
to
afirm
a
“que
m
b
urro
nas
ce,
toga
do
ou
não,
bu
rro
m
orre
”
(LOBATO,
1973
b,
p.19)
.
A
fábu
la,
escolhida
por
três
aluno
s
,
recebeu,
e
m
s
ua
p
rimei
ra
versão
,
uma
apre
sentaç
ão
c
ompa
c
ta.
No
p
rocesso
de
re
estruturação
das
idéias,
o
disce
nte
organizou um
a es
pécie de
resumo,
n
o
qual diluiu a
s fala
s diretas do
s
diálogos
,
no
corpo
do
texto,
por
m
e
io
do
disc
ur
s
o
indireto,
prática
c
o
rriq
u
eir
a
em
gran
de parte dos textos, como m
os
tra o
e
x
emplo a s
eguir:
- (...
) Topam?
-
Top
amos
!
–
piara
m
as
aves.
Mas
quem
servirá
de
jui
z?
(L
OBATO,
1973 b, p. 18).
141
A
gralha p
erguntou
se ele
s topavam e
eles
toparam (A4
, 2006, T
exto
45).
A
c
riança,
desde
m
u
ito
ce
do,
c
ome
ça
a
monitora
r
s
eu
co
m
po
rtamen
t
o
c
om
o
leitor.
A
diferença
e
ntre
cr
ia
nç
as
m
enos
exp
erientes
e
m
ais
ex
pe
ri
ent
es
res
ide
no
nív
el
lingüí
s
ti
c
o.
Com
o
no
e
xemplo
ap
resentado
acima,
cri
an
ç
as
menos
e
x
pe
rie
n
tes
c
om
eça
m
monitoran
do
a
níve
l
da
p
a
la
v
r
a,
reorg
aniz
a
ndo
as
es
truturas
apresentadas
na
l
eitura,
para
p
rogress
i
v
am
e
nte
passar
em
a
mo
nitor
ar
a
ní
v
e
l
de
sintagm
a
s,
orações
e
u
nidades
m
a
iores
que
o
perí
odo.
Isso
tam
bé
m
é
perc
eptív
el
n
a
segun
da
produç
ão,
qu
e
m
u
da
algu
ns
termos,
mov
im
e
nto
qu
e
promo
v
e
o
d
iferencial
en
t
re
o
s
do
i
s
textos,
como
dem
ons
tra
m
o
s exc
erto
s
:
A
gr
alha
começou
a
dis
putar
com
o
s
a
biá
a
f
irmando
q
ue
sua
vo
z
va
li
a
ma
i
s que a dele
.
Com
o a
s outras aves
se
rissem daquela
preten
s
ão,
a
barulhenta
matrac
a
de
penas g
ralhou f
ur
i
osa
(LOBATO,
1973 b, p. 1
8).
A
dona gralha
começou a
briga com o
sabiá, di
z
e
ndo
qu
e
sua vo
z
no
ca
nto, era m
elhor, que a do sabiá
.
Com
o
todas as a
v
es que estavam
ali
riam, a gral
h
a gritou (A8, 2006, Texto
46).
A
cr
iança
inse
re
um
pron
om
e
de
tratamento
pa
ra
s
e
referir
à
gralha,
o
q
ue
confe
re
c
erta austeridade na
c
aracterização da anta
gonis
ta
40
. O di
sc
ente
repro
duz
a
m
or
al
da
fábula,
ac
rescendo
ao
seu
f
inal
um
a
conc
lus
ã
o
que
s
intetiz
a
su
a
idéia
“Um
bu
rro
é
bur
ro”,
fras
e
que
pode
ex
plorar
o
d
uplo
se
ntido
da
palavra
burro
,
pr
im
e
iro
n
a
p
osição
de
s
ubstantivo
e,
d
epo
i
s
,
assumi
ndo
a
posição
de
adjetivo.
A últim
a es
crit
a realiza um
c
ompacto
da
s
inform
açõ
es
, ao apresentá
-
las
s
ob
fo
rma
de
r
es
um
o,
n
o
qual
ta
mbém
oc
orre
a
transp
o
s
i
ção
das
fal
as
p
ara
a
forma indireta:
A
gralha es
t
ava
disputando com o
sabiá, quem ca
ntava
melhor.
Chama
ram
um
b
urro
pa
ra
ser
o
j
uiz
pelo
t
ama
n
h
o
das
orelh
a
s.
O
burr
o
a
ceit
ou
e começou a disputa (A9, 2006, T
e
xto
4
7).
40
Alé
m
do que
f
oi
el
e
ncad
o
sobre a
f
á
bul
a,
a cria
nça realiz
a, no de
c
orre
r
do tex
to,
a atu
aliz
ação vocabul
ar,
co
m
o
a troca do verbo
d
i
sputa
r
por
briga
r
e
gralhou
por
grito
u
.
T
amb
é
m modi
f
i
ca
a apresen
t
ação da
s fal
as sob a
forma
di
reta
para o
d
i
scu
r
so in
d
i
r
eto,
c
omo
em
gr
an
de parte
das
r
e
prod
u
ções
realizad
as
pel
os alunos
.
142
Para
Jauss
(1
99
4
),
analisar
a
form
a
c
omo
o
texto
fo
i
l
ido
é
um
a
m
a
neira
de
ent
ender s
ua p
ermanência.
No cas
o d
a pes
quisa, e
nte
n
der a
esco
lha
d
e
deter
m
inad
os
te
x
tos
e
m
d
etrim
en
to
de
outros
e
c
om
o
o
texto
s
elecionad
o
é
interpr
etado
é
u
m
a
f
orm
a
d
e
c
om
pre
ender
su
a
recepção.
No
ato
de
interpr
e
tar,
o
retra
to
do
quadro
d
e
c
om
p
etição
ent
re
as
personagens
p
ode
ter
motiv
ado
a
pred
ileção por esse texto.
3.2.12
O B
urro n
a Pele de Leão
A
fábula
O
burr
o
na
pele
de
l
eão
é
priv
ilegi
ada
p
o
r
Esopo,
Bábrio,
a
vertent
e
in
diana
d
a
fáb
ula
e
La
Fontain
e
.
Esopo
trabalha
a
te
m
á
tica
em
doi
s
textos:
O
as
n
o
que
se
julgava
leão
e
O
asno
ves
ti
d
o
c
om
pele
de
l
eão
e
a
rapo
sa
.
No
prim
eir
o
text
o,
o
asno
,
disfarçado
com
a
pel
e
de
leão,
é
de
s
m
a
sc
arado
por
um
elem
e
nto
da
nature
z
a
,
um
a
ra
jada
de
vento
que
lhe
ti
ra
a
pele,
e
n
tregando-o
ao
casti
go,
a
pli
cad
o
p
or
u
m
c
açador.
Na
segunda
fábula
,
o
as
n
o
cont
inua
a
ssustan
do
os
anim
ais
,
de
nomi
nado
s
de
irrac
i
on
ai
s
,
ape
na
s
um
a
r
apos
a
perc
ebe
o
engan
o
ao
ou
v
i
r
seu
zurro.
A
con
traposição
dos
dois
te
xtos
mostr
a
qu
e
o
pro
pagado
na
se
q
üê
n
c
ia é
, em
rea
lidade
, a m
es
cl
a dos doi
s
enr
edos.
Em
Báb
rio,
o
a
sno
assu
s
ta,
g
raça
s
a
s
ua
pele,
pessoas
e
ani
m
ais
.
Ness
a adap
t
ação
também é
o
v
e
n
to
o r
e
s
ponsável
pelo
reconhec
im
ent
o do
di
s
farce.
O
castigo,
aplicado
por
uma p
essoa
que
presencia
a i
dentificação
do a
nim
al,
divul
ga
a m
oral
idade que
afirm
a que
não
se deve i
m
itar
o que não é.
Na
tradiçã
o
indiana,
O
burro
na
p
el
e
de
tigre
re
trata
u
m
b
urro,
que,
prestes
a
morrer,
é
ab
andonado
p
o
r
seu
don
o
à
beira
do
c
am
inho,
c
oberto
p
or
u
m
a
pele
de
tigr
e.
O
bu
rro
se
recuper
a
e
passa
a
assustar
as
pesso
as,
até
ser
descober
to,
dev
ido
ao
s
eu
zurro,
e
ser
m
orto
.
C
om
o
já
di
sc
uti
do
an
teriorm
e
nte
,
as
fábulas
india
na
s
, ge
ralmente,
a
presentam
fina
is
trágicos,
n
os
q
u
ais
a
v
ida
é
o
preç
o
a ser p
ago pelo erro de condu
ta.
La
Fontaine,
ad
aptando
o
e
nredo
à
r
ea
l
idade
pol
íti
c
a
v
ivida,
aprese
nta
o
c
onteúdo
n
o
qual
o
burro
v
e
s
te
-se
com
a
pele
e
pass
a
a
a
ssus
ta
r
a
todos.
Um
lav
rador
,
que
de
sc
obre
a
farsa,
ganh
a
fam
a
por
en
frentar
o
fa
lso
le
ão.
A
co
n
textua
liz
aç
ão
a
parece
n
a
c
omparaç
ã
o
entre
os
fatos
narrados
e
a
v
ida
s
o
c
ial
na
corte,
co
m
o
f
ica
c
l
a
ro
na
m
oralida
de
do
texto,
traduzi
do
p
or
Maria
Letícia
G
ue
d
es
Alcoforado:
143
Muita
s pesso
a
s adqu
i
rem
f
ama na França;
P
or el
a
s est
e
conto torn
o
u-se familiar.
Um equip
amento nobr
e
Faz
os
três
quartos
d
e
sua
b
ra
v
ura
(LA
FONT
AINE,
apud
DEZOTTI,
2003, p. 140
)
O
texto
che
ga
a
té
o
auto
r
do
Sí
tio
do
Pi
c
apau
Amarelo
e
re
trata
um
burro
que
,
ca
n
s
ado
de s
er
bu
rro,
d
e
ci
diu
se
r
leã
o.
Para
tal,
vestiu
um
a
pe
le
de
leão
e r
esolveu
a
ssusta
r o d
ono. O ani
m
a
l so
lta um
z
ur
ro.
O
d
o
no,
de
sc
onfiado, obs
ervou
co
m
ate
nçã
o,
viu
as
ore
lhas
do
burro
e
percebe
u
que
s
e
tratava
de
seu
animal.
Agarro
u-o,
retirou-lhe
a
p
ele
de
l
eão
e
o
c
as
t
igou
no
c
am
i
nho
d
e
retorno
para
cas
a.
A moral lobatia
na diz qu
e “qu
em v
estir pele de
leão, n
em zurr
e nem deix
e as
orelhas
de for
a
”
(LOBATO
,
1973 b, p.27).
O
bur
ro
na
pe
le d
o
leão,
privilegiada
e
m
quat
ro
produções,
rec
ebeu,
em
s
ua
pri
m
eira
vers
ão,
u
m
a
c
oncepç
ã
o
diferente
da
d
ifundida
no
te
x
to
o
r
iginal,
percep
tível desde o início da reescrita:
Certo
bu
rro
de
i
déias,
cansado
de
se
r
burro,
del
ibe
ro
u
fazer-se
l
eão
(LOBATO, 1973 b, p. 27).
Um di
a o
burro est
a
va cans
a
d
o
de
ser bu
rro
e
teve a
idéia de
co
l
ocar
uma pel
e de le
ã
o (A3, 2006, T
e
xto 48)
.
A c
rian
ç
a s
egue
os
mol
des
da
s
produções
te
x
tuais
e
scol
are
s
e
abre
o
t
e
xt
o
c
om
a m
ar
cação tem
p
oral
um
dia
.
Além
d
iss
o,
oc
o
rre a
a
tualização
de
vocábulos,
realizada,
c
omo
no
exe
m
p
lo,
d
es
t
ac
a
do
pela
troca
de
deli
b
erou
p
or
tev
e
a idéia
.
Outro
fat
o
c
urioso,
observa
do
em
g
rand
e
par
te
d
a
s
produções
infantis,
é
a
antec
i
paç
ão
dos
fatos
d
ent
ro
da
própr
ia
na
rrati
v
a.
N
otável
no
trec
ho
se
le
c
ionado
,
qu
e en
qu
a
nto
o texto
lobatiano aprese
nta
ap
e
nas a
reso
lu
ç
ão d
o burro,
o
texto
disce
nt
e
já
a
nte
c
ipa
o
meio
a
s
e
r
ut
iliz
a
do
p
ara s
e
c
olocar
e
m
p
rátic
a
a
idéia
prim
eir
a,
ou
se
ja,
u
ltrapa
s
sa
a
id
éia
de
s
e
r
leão
e
atinge
o
recurso
utilizado:
c
olocar
a pele
. Aqui ta
m
bé
m
as f
alas
são
diluídas no discurso i
ndireto.
A
se
gunda
p
rodução
textual
i
nsere,
à
s
e
melhanç
a
de
ou
tra
s
,
a
aber
tu
ra
tradicion
al das
na
rrati
v
as
clássicas
in
fa
n
ti
s
, c
om
o
m
o
stra
o
tre
c
ho
em
destaq
ue:
144
E
ra
um
a
ve
z
um
bu
rro
que
pensava
que
t
i
nha
grandes
idéias
(
A7,
2006, Te
xt
o 49).
Era
uma
v
ez
,
aber
tura
de
praxe
d
a
s
narrativa
s
infantis,
é
um
dos
recursos
de
que
a
cria
n
ça
lança
mã
o
pa
ra
escrever
s
eu
texto
,
mov
imento
no
qu
al
traz
pa
ra
a
n
o
v
a
narrativa
el
emen
t
os
c
onhec
idos,
pr
e
s
entes
n
o
c
onhecim
e
nto
popula
r.
Ness
e
texto,
o
narra
do
r
n
ão
é
im
par
cial,
u
m
a
v
ez
que
deix
a
transpar
e
c
er
em
s
eu
discurso
seu
parecer
perante
as
ações
da
per
s
onagem.
Tal
oc
orrênci
a
é
p
ercebida
na
c
on
s
trução
:
que
pe
n
s
ava
que
tinha
g
rand
e
s
i
déias
.
Ao
aprese
ntar
seu
pré-
julgam
en
to,
o
narrador
m
os
tra
posic
ionamentos
de
sua
própria
interpr
eta
ç
ão
e
aind
a
oferece
elementos
que
podem
direc
ionar
o
leitor
para
a
um
entend
im
e
nto pré-dete
rm
in
ado.
Este
texto
ta
m
bé
m
fo
ge
ao
origin
al
em
o
utras
si
tuações,
principal
m
en
te,
a
o
co
nstruir
u
m
a
nov
a
narrativa
por
meio
da
s
upressão
e
/ou
ins
e
rç
ão
d
e fatos
e persona
gens.
Uma
das
i
déias
foi
se
passar
de
leão.
P
ara
isto
,
ele
vestiu
uma
pele
de
leão,
pensando
que
p
oderia
enganar
o
s
o
utros
animais
da
flo
resta. Mas não consegue
p
o
rque tin
h
a ca
r
ac
t
e
rísticas de u
m
burro
:
su
as orel
h
as e o som do z
urro
(A
7,
2006, Texto 49).
O
excer
to
dest
a
cado
mos
tra
qu
e
a
c
riança
n
ão
só
r
etirou
do
te
x
to
a
person
agem
qu
e
rep
re
s
entav
a
o
casti
go,
o
dono
d
o
an
im
al,
c
omo
o
s
ubstit
uiu
pelos
anim
a
is
da
f
lo
res
ta
que,
mais
brandos,
não
c
a
s
tigam
o
i
m
pos
tor.
A
r
eescr
ita
abre
es
pa
ç
o
para
a
rem
odel
agem
tex
tual,
que
sua
v
iza
o
s
a
c
ontecim
e
ntos
liter
á
r
ios
e
o
próp
rio
desfec
h
o
do
texto.
Isso
acontece
porque p
roc
e
ss
os
mentais
s
ub
ja
c
entes
permi
t
em
v
er
a leit
ura com
o u
m
pr
oc
esso
de reconstruçã
o
d
o
p
lanejam
ento do
discurso
po
r
pa
rte
do e
sc
ritor (Kato, 1995).
Graças
à
reproduç
ão,
a
f
ábu
la,
mais
amena,
não
tr
az
ne
m
a
co
n
spiraç
ão
da
p
rim
e
ira,
assus
tar
o
don
o,
c
o
mo
é
s
uavizada,
e
pass
a
a
s
er
a
penas
um
a
bri
nca
d
ei
ra
en
tre
animais.
As
sim
,
c
omo
abr
anda
o
c
ontexto,
por
c
onseqüênc
i
a,
o d
esfech
o da
narra
ti
v
a, a
cr
iança ta
m
b
ém
o
faz
co
m
a
m
o
ral,
que
é
s
ubs
tituída
por:
devemos
s
er
e
go
s
tar
mo
s
do
que
s
omos,
fala
do
utri
nár
ia
e
u
m
pouco
lim
itad
ora,
um
a v
ez
que prega,
v
eladam
en
te, o
c
onfo
rmismo. A m
anu
tenç
ão dos
preceitos
doutr
inários
das
fábulas,
presentes
em
p
arte
das
reescritas
realizadas
pel
o
gru
po,
145
pode
te
r
s
ido
motiva
da
pela
aus
ê
n
c
ia
dos
c
om
entá
rios
de
Monteiro
Lobat
o
que
se
se
g
uiam
aos
tex
to
s
fa
bu
lares,
om
it
idos,
pela
doc
ente,
na
situ
ação
de
leitura.
I
s
so
porq
ue
o
autor,
p
or
m
e
io
do
deb
ate
s
uscita
d
o
p
elas
personage
n
s
,
revisava
cri
ti
c
am
e
nte
os textos
e
desconstruia
as idéi
as
de
r
e
si
g
naçã
o
n
eles p
resentes,
pos
i
c
io
n
amento
que
poderia
t
e
r
m
o
tiv
ad
o
a
reflexão
dos
disc
entes
s
obr
e
a
qu
e
s
tão
e, quiçá,
in
c
enti
va
r uma po
st
ura
c
r
ítica perant
e o tex
to lit
e
r
ário.
Na
p
rod
uçã
o
seguin
te
tam
bé
m
oc
orre,
na
t
ransposição
d
o
e
nr
edo,
um
a
a
me
n
iz
aç
ão
das
co
nseqüências
desencadea
das
pela
aç
ão
do
protagonista
–
o
burro
, que ao invés de ser dur
am
ente
castigado, é
apenas recon
duzi
d
o para
c
a
s
a:
O
dono
agarrou o
burro
tirou a
pele
de
leão
e
montou
nele l
e
vando
-
o
para a
casa (
A
9
, 2006, Texto 50).
Tanto
o
abrandam
e
nto
quanto
o
agr
a
v
amento
das s
ituações
de
vi
olência podem s
er
reflexo
da
atual
situaç
ã
o q
ue
env
ol
v
e
a
questão, u
m
a
v
ez qu
e a
su
a
vi
z
a
ção
dos
a
tos vi
olentos p
ode
repr
e
senta
r
um
rep
údio
à v
i
olência
e
m
s
i,
enquan
to
q
ue
,
p
o
r
s
ua
v
ez,
a
exaltação
de
ta
i
s
fatores
p
od
e
se
r
r
eflex
o
da
ca
lam
ida
de socia
l a qual todos, inclusive as
crianç
a
s
,
vive
m
e
xpos
t
os
.
Outra
s
ub
st
ituição
é
a
m
udanç
a
da
mora
li
d
ade
fi
nal,
alter
a
da
para
“que
m
n
ão
gos
ta
de
s
er
o
que
é
não
pode
ser
o
q
ue
não
é”.
A
tr
oca
m
o
str
a
que
as
cri
an
ç
as
dessa
faixa
e
tá
r
ia,
constan
tem
ent
e
ex
po
s
tas
a
liç
ões
de
m
ora
l, a
cabam por
repro
duz
ir
id
éias
de
s
se
te
or.
I
ss
o
é
ente
n
di
do
por
Jauss
(1994)
qu
e
destac
a
,
na
relaçã
o e
ntr
e leitor e
literatura, a atualização que pode
s
e estende
r à reflexão m
o
ral.
A
última
reprod
ução
desta
narrativa
se
desprend
e
do
texto
base.
Entretant
o,
o
des
prendim
e
nto
r
es
ulta,
em
algumas
oc
a
s
iões,
e
m
incor
reçõ
es
orto
gráfi
c
as,
c
omo
a
gra
fia
d
as
p
alavras
ves
til
,
fo
res
ta
e
d
es
c
onf
i
o
e
até
mudanç
as
de
c
onteúdo
,
co
m
o
m
os
tra
a
ci
ta
ç
ão
a
s
egui
r,
qu
e
m
a
rca
o
m
omento
pos
terior
ao
reconh
ecim
e
nto do a
nim
al pelo d
ono
:
O burro ti
rou
a
pele de
l
eão (
A
11, 2006, Texto 51).
No
orig
inal
não
é
o
b
urr
o
e
s
im
s
eu
propr
iet
á
rio
q
uem
reti
ra
a
pe
le.
Também
nes
se
te
x
to,
ocorre
u
m
a
a
m
e
nizaçã
o
do
d
e
s
fe
ch
o
original,
s
ubs
titui
n
do
o
casti
go
c
rue
l
pelo
m
ero
reconhec
im
ento
do
em
bus
te.
146
3.2.13
O Cão e
o
Lobo
O
tex
to,
O
c
ão
e
o
lobo
,
é
retratado
por
Eso
p
o,
Bábr
io,
Fedro
e
La
Fon
taine como
O l
o
bo e o c
ão.
O primeiro de
les
,
E
so
po,
m
os
tra
o
c
ão preso e
m
u
m
a
co
leira
e
c
om
farta
comida
à
disp
o
s
i
çã
o.
O
l
obo
q
uestio
na
a
condição
e
rejeit
a
a
si
tua
ç
ão de c
l
a
usur
a
d
o canino.
Bábrio
e
ste
nde
a
narrat
i
v
a,
ampliaçã
o
obs
ervada
e
m
grande
p
arte
das
fábulas
q
ue
tê
m
,
c
om
o
p
ass
ar
do
tempo,
a
incl
usão
de
nov
a
s
inf
orm
a
çõ
e
s.
Tal
oc
orrênci
a també
m
é
perc
ep
tí
ve
l no texto de F
edro, que apresenta um maior
número
de
d
ados
q
ue
auxiliam
n
a
c
o
m
p
os
i
ç
ão
do
quadro,
além
d
e
dir
ecionar
a
r
e
c
ep
ção
do
leitor,
um
a
v
ez que
e
xp
õe
,
cl
arame
nt
e, as opiniões do nar
rador sobre a questão.
La
Fontaine
altera
a
fal
a
ind
ireta,
subst
ituindo-a
pela
form
a
di
re
ta,
intensifi
cando
a
presença
d
o
diálog
o,
o
e
s
m
iuç
ar
das
info
rm
aç
ões,
com
o
ta
m
bé
m
ins
e
r
e
traços
d
e
humor,
p
res
en
ç
a
m
arcante
na
fá
bula
lo
b
atiana,
c
om
o
d
emonstr
a
o
desfecho
de sua narrati
v
a:
Lôbo
“Ta
nt
o
val’que dos
v
ossos banquetes
Nada aceito, nem quero saber,
P
or ta
l
preço não quero um tesouro”.
Di
sse –
e corre; e inda vai a correr (LA FONT
AINE, 1957 a, p. 33).
A
t
raduç
ã
o
d
e
s
ta
passagem
recebe
versão
m
a
is
atual
n
a
reescrita,
realizada por Maria Letí
c
ia Guede
s
Alcoforado, retirada da ob
r
a organiz
ada por
Dezotti (200
3):
- Amarra
d
o! Di
ss
e o Lobo. Então v
ocê
não c
o
rre
P
or onde qu
e
r? – N
e
m sempre! Mas
q
ue imp
o
rta?
- Impo
rt
a
t
an
t
o que todas as suas re
f
eições
Não quero
de mane
i
ra nenhuma.
E
n
ã
o
desejaria, a esse preço, um t
e
sour
o
.
Di
t
o
isso, o senhor Lobo fugiu, e
e
stá corre
ndo até hoje (p. 162)
Em
Lo
bato,
um
lobo,
magr
o
e
fa
m
into,
enc
on
t
ra
um
c
ão
fo
rte
e
b
em
trata
do.
Os
dois
c
onv
e
rsam
e
o
lo
bo
p
erce
b
e
v
an
tagen
s
na
v
ida
do
c
a
c
horro,
co
m
o
ali
m
entaç
ão
e
carinhos,
e
desvan
tagens,
como
a
falta
de
liberda
de,
op
tand
o
,
ao
final, em con
tinuar a viver
em
liberda
de.
147
A
p
ri
m
eira
fá
bula
reesc
rit
a
in
icia-
s
e,
tr
ocan
d
o
o
s
adjetivos
m
a
gro
e
fam
into
po
r
t
riste
,
ação
que
rea
liza
u
m
a
leitura
da
c
ondição
do
animal,
ass
ociando
penúr
ia fí
s
ica ao
estado de espírito.
Em
algu
ns momentos s
intetiza as inf
orm
açõ
es oferecidas:
E
spicaça
d
o
pela fo
m
e
, o
lobo t
e
ve
ímpeto
de atira
r-s
e
a
e
le. A
prudên
cia,
e
ntretanto,
c
o
chichou-lhe
ao
o
uv
ido:
-
“Cuidado!
Quem
se
mete
a lutar c
om
um cã
o dess
e
s sai perdendo.” (
L
OBATO
,
1973 b, p.
30).
O
l
obo
q
uis av
ançar
no
cão,
m
a
s
f
oi
cauteloso.
O
l
obo
se
aproximou
do
cachorr
o
e
conversou com ele (A9, 2006,
Texto 52).
Aqui,
t
am
b
é
m
o
s
diálog
o
s
são
reconstr
uídos
fazendo
uso
do
discurso
indireto:
-
(...)
Mas,
a
m
igo
lo
b
o
,
suponho
que
você
p
o
de
leva
r
a
mesma
vida
boa que levo (LOB
ATO,
1
973 b, p. 30)
.
O
cão dis
se que
e
le
podia
ter
os
mesmos
cuidados se quis
esse,
mas
em tro
c
a deveria favorecer ao seu dono (A
9
,
2
0
0
6, Texto 52).
A
últi
m
a
pr
odução
se
despren
d
e
d
o
texto
o
riginal,
qua
n
to
à
forma
e
em alg
uns
mom
e
ntos
tam
bé
m q
uanto
a
o c
on
te
údo
, aç
ão q
ue
se
inic
ia
já n
o título
da
narra
ti
v
a
41
,
subs
tituído
por
A
magr
esa
e
a
li
ber
dade
,
grafada
com
a
l
etra
s
ao
i
n
v
és
da
z
,
c
o
m
o
ser
ia
orto
graficam
e
nte
c
orret
o
.
Tal
aç
ão,
entendid
a
a
p
a
r
tir
da
visão
de
que
quem
rees
creve
t
em
dire
ito
de
e
fetuar
modific
ações,
de
acordo
co
m
s
ua
se
n
si
bilid
a
de,
grafando,
co
m
s
uas
co
ncepç
õe
s
,
aq
uilo
que
e
s
tá
reco
n
st
ruindo,
inc
lusi
v
e
o
t
ítulo,
apesar
dos
erros
ort
og
rá
fi
c
os,
que
são
reflexos
das
p
o
ss
ib
il
idades
lingüísti
ca
s
da
c
r
iança.
O a
luno subs
titui informaç
õe
s
por m
eio,
c
om
o
re
petidam
en
te d
ito,
da
realizaçã
o
da
a
tualiz
aç
ão
v
ocabular,
ao
trocar
o
s
adjetivos
magro
e
fa
m
i
nto
po
r
só
pele e
o
ssos,
atualizando a
construçã
o
n
arrativa lobatiana,
por
um
a c
on
str
u
ç
ão
co
loquial.
J
á
o
di
scurso
m
e
tafóric
o
de
Lobato
s
obre
a
li
berdade,
ques
tão
recorrente
em
t
oda
s
u
a
obra,
rec
e
be,
na
s
mãos
do
d
is
c
ente,
uma
ve
rsão
sim
plific
ada,
co
m
o
dem
ons
tra
o
c
ontraste dos excertos:
41
N
a
r
eescri
ta
da
f
ábul
a
A
menina
do
l
ei
te
estão
ou
t
ras
du
as
ocorrên
cias
de
tr
oca
do
tít
u
l
o
origin
a
l
(p.
13
0
e
131)
.
148
-
S
abe
do
que
mais?
Até
logo!
Prefiro
viv
er
magro
e
fa
m
into,
poré
m
liv
re
e
d
ono
do
meu
focinho,
a
viver
g
ordo e
liso
como
v
ocê,
mas
de
co
le
i
ra
ao
p
esc
o
ço.
Fique-se
l
á
com
a
sua
gordur
a
de
es
cra
vo
que
eu
me
contento
com
a
minha
magreza
de
l
obo
liv
re
(LOBATO,
1973
b, p. 30 -31)
.
O
l
obo
d
esistiu
e
p
re
fe
riu
viver
liv
re
e
s
er
dono
de
s
eu
nariz
(A5,
2006, Te
xt
o 53).
Presa
ao
s
mol
des
da
fá
bula,
a
c
rian
ç
a
in
s
ere
uma
moralidad
e
ao
final
d
o
texto:
“é
mel
hor
v
iver
so
lto d
o
que
v
iver
po
r
um
prato
de
c
omi
d
a”,
que,
b
em
-
hum
ora
da, r
eflete a opini
ão
d
a cr
ia
nç
a so
b
r
e
a
leitura efetua
da
.
3.2.14
O C
orvo e o
Pav
ã
o
A
fábula
O
c
o
rvo
e
o
pa
v
ão
aparece
c
om
o
O
abeto
42
e
o
c
ardo
43
e
m
Eso
po
e
Báb
ri
o.
Embora
haj
a
a
mudança
das
p
ersonagens,
p
oi
s
os
ani
m
a
is
retra
tados
por
Lobato
são
ant
ecedido
s
,
nas
fábulas
d
e
Esopo
e
Bábrio,
p
or
pl
antas,
co
m
o
demonstr
a
o
s
ign
ifi
c
ado
do
s
v
erbetes,
a
troca
d
a
s
p
e
rsona
gens
não
altera
o
se
n
tido o
riginal da narr
ativa
, que
cr
iti
ca
o orgul
ho. Tais m
ud
anç
as, mostr
a
s da
atualização
a que
os
text
o
s
s
ão
s
ub
m
et
idos
no de
c
orrer do
tempo,
pe
rm
i
tem
o
m
o
v
im
en
to q
ue torna
po
ss
ível
o
diálogo
entre texto e l
eitor em
difere
ntes mom
e
nto
s.
Lobato
p
riv
ilegia,
e
m
su
a
narrativ
a,
um
pav
ã
o
e
um
c
orv
o
,
anim
a
is
co
m
un
s
ao
p
úbli
co
leito
r br
a
s
ileiro,
o
primeiro
de
le
s
,
o
pav
ã
o,
s
e
en
g
ran
de
c
ia
dizendo que
era
a m
a
is
form
os
a e
perfei
ta
das
aves. O
c
orvo, q
ue o
uve
tudo,
discorda,
di
z
e
ndo
que
em
bor
a
o
pavão
seja
um
a
bela
av
e,
p
oss
ui
pés
f
eios.
Ao
co
n
templar
os
próprios
p
és
o
pav
ã
o
s
ai
sem
replica
r.
O
texto
é
fechado
com
a
m
o
ralidad
e que a
firm
a que “
não há b
eleza
sem s
enão” (LOBAT
O
, 1973
b, p. 31).
Nos
antecessores,
Esopo
e
Bábrio,
a
motivaç
ão
para
o
reconh
ecim
e
nto
po
r
par
te
do
abeto
não
está
ligad
a
à
ques
tão
estét
i
ca
,
e
s
im
à
próp
ria
s
obrevivência,
pois
o
c
a
rd
o
lem
bra
o
abeto
que
e
s
se
úl
tim
o
não
v
i
v
e
em
se
g
ura
n
ça, por se
r deva
s
tado fac
ilm
ente pel
o hom
e
m
.
42
D
esi
gnação
com
u
m
às
espéci
es
d
o
gên
ero
Abies
da
famíli
a
das
p
in
áceas,
pla
ntas
p
eren
es,
da
A
m
é
r
i
ca
do
Norte e
da Europa,
algu
m
as d
a
s
quai
s
são
cultiva
das
no
Brasi
l,
n
as
r
egi
ões
m
ais
tempe
r
adas
,
e
cuja
madei
r
a
é
i
m
portante
na
f
ab
ricação
de
pap
e
l
.
FERREI
R
A,
Au
réli
o
Bu
arqu
e
d
e
H
ol
anda.
Novo
Aur
é
l
io
Sécu
l
o
XXI
:
o
di
c
i
o
nário da L
íngu
a Portugu
es
a
.
3 ed
. R
i
o de Jane
iro: Nova frontei
ra, 1999
p
.
87.
43
P
l
anta
da
famíli
a
das
compo
s
tas
(
Ce
n
taurea
Melitens
i
s
),
consi
der
a
da
pr
ag
a
da
la
vo
u
ra,
de
flo
r
es
amarel
as,
fol
has com espi
nhos, acinz
e
n
t
a
das e caul
e ereto, reve
st
i
do de pêl
os. (
F
ERREIRA
,
ob
. cit, p. 408
)
.
149
Reescrita
ci
n
co
vezes
,
O
c
orv
o
e
o
p
a
v
ã
o
,
em
s
ua
p
rim
e
ira
v
er
s
ão,
foi
m
antid
a
ex
ata
m
ente
igua
l
ao
tex
to
lobatia
no,
t
endo
apenas
d
uas
pal
a
v
ra
s
diferenc
iada
s
:
Tinha
razão o
co
r
v
o: n
ão
há bele
z
a
sem
senão
(LOBATO
,
19
73
b,
p.
31).
Tinha razão
o corvo: não a beleza sem
d
e
fei
to (A
1
,
2
0
06, Texto
54
).
A
pri
m
eira
palav
ra
subs
tituída
é
a
troca
do
verbo
haver
p
ela
ar
tigo
a
que po
de tanto
s
er uma a
ss
ociação son
or
a,
desenv
olvida durante a leit
u
ra, ou
si
m
ples
m
e
nte ignorânc
ia
do
s
ignificado
d
o
ve
r
bo
ha
v
er
.
Já o
v
ocábulo
senão
é
trocado
pelo
adjetivo
defei
to,
s
ignifi
c
ado
alternativo,
ap
rese
ntado
pe
la
perso
n
agem
Dona
Benta
ao
término
da
c
o
n
tação,
du
ra
nte
os
c
om
entár
ios
s
obre
a
f
á
bula,
aprese
ntado
s
na s
eqüência
do
texto.
O
dom
ín
io
d
esse
t
ipo
de
i
nf
ormação
comprova
o ac
e
sso
do leitor
ao livro
, já que o material ofe
rtad
o pela docente
continha apenas a
fábula
e não o debate
que s
e
segu
ia a ela.
A
s
egunda
v
ersão
se
d
es
pr
en
de
da
f
ábula
o
ri
ginal,
r
eescreven
do
o
co
n
teú
do
primeiro,
c
om
as
pala
v
ras
c
omuns
ao
v
ocabulário
da
fai
x
a
etária
do
autor
mirim:
Um pavão
,
com a cauda aberta dizia ao cor
v
o:
-
Olhe
como
sou
boni
t
o,
olhe
a
minha
cauda,
sou
a
ave
mais
bonita,
em? (A6, 2006, Texto 55).
No
de
s
prendim
ento
do
t
e
xt
o,
a
criança
faz
mudanç
as
s
ignificativas,
que
che
g
a
m
a
a
lterar
o
si
gnificado.
Exem
p
lo
disso
é
a
m
u
dança
d
a
interje
i
ç
ão
he
i
n
pela
c
onj
un
ç
ão
e
m,
prática
e
m
q
ue
a
leitura
liberta
o
tex
to
e
l
h
e
c
onfere,
segundo
a
teor
ia da
E
s
tética
da
Recepção, ex
istência atual,
situaç
ão constr
uída com
mudanç
as
co
m
o essa,
q
u
e
a
tualizam
o co
nteúdo li
t
er
ári
o, m
as
que in
c
orrem
, co
ntudo, em
inc
oerên
c
ia
s
gram
a
tic
ai
s
.
Nas
diferenças
que
se
s
eguem
,
o
al
uno
s
u
prim
e
a
fala
em
que
o
corvo
c
onte
s
ta
a
perfe
i
ç
ão
d
o
pavão,
ação
que
deixa
o
texto
sem
se
ntido.
O
fi
n
al
da
his
tó
r
ia
não
c
ontem
p
la
o
r
econheci
m
e
nto
p
or
par
te
do
pavão
de
sua
próp
ria
imperfeiç
ão e term
i
na com
a
fala do corvo sob
re as
patas
do outro animal. O
processa
m
en
to
d
o
texto
pelo
leitor
resulta
na
converg
ên
c
ia
do s
e
ntido
que
,
segun
d
o
150
Coss
on
(
2006),
é
alçado
pelo
que
está
no
tex
t
o
e
aquilo
que
um
a
c
omunidade
de
leitores j
ulga com
o pró
prio da
leitura (p. 41).
Também
nes
se
texto
ocorre
a
atu
aliz
aç
ão
da
p
alavra
senão
,
que
se
apro
pri
a
da
expl
i
c
ação
da
p
e
rsona
gem
Dona
Benta
s
obre
o
v
erbet
e
,
s
ubstituindo-o
por
def
e
ito
.
A
r
epr
odução
tex
t
ual
se
guinte
reescrev
e,
à
s
ua
maneira,
o
te
x
to,
o
que pr
om
ov
e o r
e
s
g
ate de
term
os
c
om
u
ns
à f
aixa
etária com
o o ad
jetiv
o
em
burrado.
O
pav
ão
olhou
p
ar
a
seus
p
és
e
seguiu
s
eu
caminho
em
b
u
rrado
(A8,
2006, Te
xt
o 56).
No
t
ext
o
seguinte,
como
faz
e
m
outr
as
r
eescritas
suas
,
o
di
sce
nte
co
m
pa
cta
todas
a
s
inform
a
ções
textuais
em
um
a
es
péc
i
e
de
re
s
um
o
(pr
incípio
da
parcimônia), pas
sando o discurso pa
ra a orde
m indireta
:
O
p
avão
conversav
a
com
o
corvo
se
achando
a
mais
bela
e
perfeita
das
aves
.
O corvo di
ss
e
que suas patas eram feias.
O
p
avão
nunca
ti
nha
reparado
q
ue
suas
patas
era
m
me
smo
horr
oros
a
s (A9, 200
6
, T
ext
o 57)
.
No
últim
o
tex
to
ocorre
a
inserção
de
gíria,
us
o
pouc
o
freq
ü
en
te
nos
tex
to
s
an
a
lisados,
e
m
bor
a
a
gíria
s
irva
como
m
eio
de
co
m
unic
ação
e
i
dent
ifi
c
aç
ã
o
que gr
upo
s
, es
p
ecia
lm
ente
entr
e os mai
s
jovens
44
:
O pavão, de ra
bo aberto e formato de leque,
dizia
a
o corv
o
se
ac
hando (
A
12, 2006, Texto 58).
Em
bor
a
m
a
ntenha
a
mes
m
a
cons
t
rução
da
u
tiliz
ada
po
r
L
ob
ato,
o
em
preg
o d
a
gír
ia
“se
achar”,
que
si
gnifi
ca s
e
auto-val
o
rizar,
em s
ubsti
tuição a
despre
z
o
p
ara
co
m
o
o
utro,
alte
ra
o
si
g
nificado,
pois
há
um
a
div
ergênc
ia
en
tr
e
o
s
dois
v
ocá
b
ulos.
T
ais
rupturas
p
romo
v
em
o
di
fere
n
ci
al
entre
os
textos,
m
a
rc
ando
a
influência
do
leit
or
na
recepçã
o
do
texto
prim
e
iro,
tra
nsposta
para
o
processo
de
reescri
ta.
44
A
o
utra
gíria
utiliz
ad
a,
a
construçã
o
um
cara
,
foi
u
sa
da
n
a
r
eescri
ta
da
fábu
la
A
galinh
a
d
os
ovos
de
ouro
,
p.
119.
151
A
c
onstat
ação
do
pavã
o,
que
em
Loba
to
é
m
a
is
v
elada,
ao
deixa
r
para
o
leitor a
ta
refa de
interpretar, é
, no tex
to
i
n
fantil,
dire
ta, pois a
ponta as
co
n
cl
u
sões alc
ançada
s
, com
o mostra
o exc
e
rto a segu
i
r:
O
pav
ã
o
q
ue
nunca
ti
n
h
a
r
eparado
nos
própr
ios
pé
s,
abaixou-se
e
co
ntempl
o
u-o
s
longamente.
E,
desapon
t
ado,
foi
andando
o
seu
ca
minho s
em replicar coisa nenhuma (LOBATO
, 1973 b, p. 31).
O
pavão
olhou pa
ra
baixo
e vi
u que
seu pé
era horrível
mesm
o
(A12,
2006, Te
xt
o 58).
Como
de
mo
n
stra
o
exc
erto,
as
r
eduções,
atu
aliz
aç
ões
e
out
ras
aç
õe
s
sim
ilare
s
estã
o
pr
esente
s
na
gra
nd
e
m
a
ioria
dos
t
e
xtos
ree
s
cri
tos,
pois
repres
entam
as
ferramentas
q
ue
o
grupo
possu
i
par
a
ex
e
c
ução
da
tarefa
pro
po
s
ta,
de
reescr
e
v
er
as
fábu
la
s
lobati
an
as
.
Kato
(1995)
ap
ont
a
par
a
u
m
a
falha
no
ens
ino
de
leitura,
geralm
e
nte
dese
nvolvido
na
escola:
a
fa
lta
de
o
bjetivos
cl
aros
para
a
leitura
.
Se
a
cr
i
a
nça
enfrenta
o
texto
sem
nenhum
objetiv
o
prévio
,
ela
dificilm
e
nte
poder
á
mo
n
itorar
sua
c
om
p
reens
ão
tendo
e
m
v
ista
esse
o
bjetiv
o.
Sua
m
onito
raç
ão,
quando
m
u
ito,
pod
erá s
e
d
ar
apenas
a
n
ível de
uma
c
om
pr
eens
ão
va
ga
e
geral.
Ou
ainda,
ela
poderá
ler
o
texto,
ten
do
em
m
e
nte
apenas
o
tipo
de
pe
rgu
n
ta
s
que
a
escol
a
está
acostu
m
a
da
a
lhe
f
az
er
.
Su
a
compre
en
s
ão,
n
es
s
e
caso,
s
erá
m
o
nitorada
apenas
para atender à ex
p
ectat
i
va
da escol
a
e não
dela m
es
m
a
.
Ness
e
âm
b
ito
do
debate,
cabe
de
s
tacar
a
n
e
cess
idade
do
desenvolvi
m
en
to
de
estr
atégias
metac
ognit
i
va
s
n
a
esc
ola,
um
a
v
ez
q
ue
a
c
riança
que
e
s
tá
fazendo
uma
leitura
s
em
u
m
o
bjetivo
es
pecífico
e
pod
e
vi
r
a
t
e
r
falhas
em
su
a
compreens
ão,
m
as
não
detec
tá-la
s
co
mo
problemas,
situ
a
ção
essa
que
não
ativ
a
suas
estratégias
m
e
tac
ognitivas.
No
c
a
s
o
d
a
reescr
ita
da
s
fábul
a
s
pelo
s
alunos,
u
m
a
m
a
ior
motiv
ação
para
a
de
sc
ontru
ç
ão
do
caráter
moralizante
d
as
fábulas p
oderia ser um
obje
ti
v
o que g
ui
a
ria
a i
n
terp
reta
ç
ão tex
tual.
3.2.15
O Galo que Logrou a Rapo
sa
O
déc
im
o
q
uinto
te
xto,
O
c
ão,
o
ga
l
o
e
a
rapos
a,
e
sc
rito
por
Eso
p
o,
inc
lui,
co
m
o
demons
tra
o
título,
um
ter
c
eiro
pers
on
a
gem
,
q
ue
mer
o
c
oadjuvante
na
narra
ti
v
a
lobatiana,
tem
u
m
pa
pel
m
ais
partic
ipativo
na
narrativa
e
só
pi
c
a.
Nesse
152
tex
to,
o
c
ão
serve
de
d
i
str
a
ç
ão
pa
ra
a
r
apo
sa
q
ue
é
punida
fis
i
c
am
e
nte
p
elo
próprio
galo.
Em
La
F
ontaine,
o
enr
edo
s
e
ass
em
elha
ao
c
onteúd
o
reo
rganizado
por
Monteir
o
Lo
bato.
Ambos
os
textos
mostram
u
m
g
alo,
que
ao
pe
rceb
er
a
aproxi
m
aç
ão
da
rap
o
s
a,
s
obe
e
m
u
ma
á
rvore.
Para
e
ng
a
ná-l
o
a
raposa
fa
la
pa
ra
o
galo
que
foi
dec
larado
o
fim
da
g
uerra
entre
o
s
anim
a
is
e
p
ede
q
ue
o
galo
d
esç
a
para
se
c
on
fr
aternizarem. O
ga
lo
antec
ipa
n
do
as
inte
n
ções
da
rap
o
sa
di
z
q
ue
es
pe
ra
rá
a
c
hegada
de
três
cães
que
est
ã
o
nas
pro
x
imidades
para
comp
leta
r
a
co
n
frat
erniz
aç
ão. Ao
ou
v
ir i
ss
o a raposa des
i
s
te do plano e di
z
q
ue não po
de
es
pe
ra
r a
c
hegada
d
os d
em
a
is ani
m
a
is. A moral
diz
que na
da vence
a
es
per
t
eza.
Escolhida
por
apen
as
uma
cr
iança,
a
fábula
O
g
al
o
que
l
ogr
ou
a
raposa
recebeu,
no
proc
e
s
so
de
reescrit
a,
um
a
re
produçã
o
fide
lí
s
sim
a d
o te
x
to-
fonte,
s
e
não
foss
em
alguns
erros
ort
ográfi
c
o
s.
A
criança
rep
et
e,
co
m
total
exatid
ão
,
o
te
xto
loba
tiano,
n
ão
re
pre
s
entand
o
cam
po
si
gnific
ativo
p
a
r
a
observação
do
processo
de rec
e
p
ç
ão.
3.2.16
O
L
eão e o Ra
tinh
o
A
fábu
la
O
leão
e
o
rat
inho
a
parece
com
o
O
l
eão
e
o
rato
agra
de
c
i
d
o,
na
pro
dução
esó
pi
c
a,
versã
o
n
a
qu
al
o
rato
pr
o
v
o
c
a
o
confli
t
o
com
o
leão, a
o passear
sobre s
eu corpo. Ao
pedir clemência
, o r
ato antecip
a o des
fe
c
ho
da
narra
ti
v
a, alegando p
oder ajudar ao re
i dos animais em
a
puros
futuros. Já e
m
O
leão
e
o
ra
tinho
de
Bábr
io
o
leão
se
ocupa
e
m
c
açar
o
rato
q
u
e
s
uplica
m
is
ericórdia
e,
à
se
m
elhan
ça do
texto anterior, o roedor o salva a posterior
i.
O leão e o r
ato
de
La Fontaine
apare
c
e justapos
t
a
a ou
tra fábula q
ue
trata
do
mesm
o
ass
unto,
A
p
omba
e
a
formi
g
a
,
texto
q
ue
t
am
b
ém
retrat
a
o
v
alor
da
grat
idão.
Tanto
no
s
quesi
to
s
de
form
a
quant
o
de
con
teúdo
a
na
rrativa
frances
a
e
ta
m
b
ém
a
br
as
ileira
descr
e
v
em
u
m
rat
inho,
prisionei
ro
de
u
m
leão,
que
dec
ide
não
lhe
fazer
mal.
Dias
d
epois
o
leão
ca
i
em
uma
armadilha,
o
rat
inho
ou
ve
os
urro
s
do leã
o, ró
i as
c
ordas e o l
iberta d
a arm
ad
ilha. A a
çã
o atesta
que “mais v
ale
pac
iên
c
ia p
eq
ueni
na do que os arranc
o
s
de leão” (LOBAT
O, 1
973 b, p
. 49).
153
Seguindo
um
fato
re
corre
n
te
,
as
e
s
colhas
das
di
f
ere
n
tes
c
rianç
a
s
recaír
am
,
em
s
ua
grand
e
m
a
ioria,
em
textos
m
ai
s
pop
ulare
s
c
omo
é
o
caso
d
e
O
ratinho
e
o
l
eão
.
O c
onteúdo
da fábu
la é
fami
l
iar às
c
ria
nças
, por
estar
presentes
em
div
e
rs
os
m
ate
riais
didáti
c
os
e
fa
z
er
pa
rte
do
c
onhecim
ento
pop
ular,
por
m
e
io
da
div
ulga
ç
ão
d
a
moral
nel
a
conti
da.
E
ss
e
m
o
v
i
mento
é
p
romo
v
ido
pela
c
ircul
a
ç
ã
o
d
o
s
refe
ren
c
iais
c
ulturais.
Tal
idéia
pod
e s
er
en
tendida
a
luz
da
s
o
ci
ologia
da
l
eitura
que
busca
“es
tu
d
ar
o
públi
c
o
e
nquanto
fator
ati
v
o
d
o
proc
e
sso
literário,
já
que
as
m
u
danç
as
de
go
s
to
e
pr
eferên
c
ias
in
te
r
ferem
n
ão
a
pe
nas
na
c
ir
c
ulação
,
e,
p
o
rta
nto
na fama, dos
textos, m
a
s t
am
b
ém em su
a produção
” (ZI
LBERMAN, 19
89, p. 17).
Ma
s
esse
não
fo
i
o
ú
ni
c
o
fator
que
influe
n
c
iou
a
escolha
dos
t
extos
na
s
ituação
de
leitura
obs
e
rv
ada,
po
i
s
é
p
o
ssív
el
q
ue
que
s
tões
c
om
o
ex
tensã
o
da
narra
ti
v
a tam
b
ém tenha
m
s
ido l
e
v
adas
e
m
c
ons
ideraç
ão pelos alun
o
s
. Com
o s
abiam
que teriam
de realizar um
a ativ
idade de p
r
odução te
x
tual, alg
uns preferiram
os
tex
to
s
m
e
nores
, c
ogitando
assim u
m
menor
e
sforço.
Isso
pode
explicar
porque e
ntre
um
univers
o
de
oitenta
e
se
te
produçõe
s
textuais,
textos
t
e
nham
s
ido
m
a
is
escol
hi
d
os
d
o
que
outro
s
,
em
bor
a
tal
pressuposto
não
tenh
a
se
co
ncretizado
e
m
narra
ti
v
as e
x
tens
a
s
, com
o é o
cas
o de
A menina do
lei
te
, que
rec
ebeu um alto índi
ce
de
escolha.
Iss
o
dem
ons
tra
qu
e
a
escolha
e
stá
ligada
ao
repertório
de
ca
da
indiv
íduo.
A narr
ativa
O
leão
e
o ra
ti
nh
o
trata de
acontecim
e
nto
s
que e
nvol
v
e
m
dois
a
nim
ai
s.
Es
sa
narrati
v
a,
mesm
o
p
oss
uindo
um
único
exe
m
plar
à
disposiç
ão,
foi
escol
hi
d
a
p
or
oi
to
crianças
,
fato
que
dri
blou
a
e
s
cassez
do
texto
e
bu
s
cou
outra
s
alterna
ti
v
as, c
om
o
a
le
itura
da
fábu
la n
o
próprio
livr
o.
Cabe
evidenciar
qu
e a
f
alta
de
recurso
não
fo
i,
em
nenhum
mo
m
ento,
empec
ilho
para
o des
en
v
ol
v
imento
das
ativ
idades,
pois
pertencentes
a
um
m
e
io
s
oc
ial
a
bastad
o,
as
crianças
adquirir
am
os
livr
o
s
,
quando n
ão já os possuíam
e
m
c
as
a. Portan
to, a
anál
ise
da
experiência
literária
do
l
e
it
or
e
scapa
ao
psicologismo
q
ue
a
amea
ça
quando
descre
ve
a
recepção
e
o
efeito
de
uma
obra
a
partir
do sistema de r
ef
erênc
ias que se pode co
n
str
uir em funç
ã
o das
ex
pectat
iv
as
que,
no
m
o
mento
h
i
stórico
do
apareci
mento
de
cada
obra,
result
a
m
do
conhecimento
prévio
d
o
gênero,
da
forma
e
da
temáti
ca
d
e obras já conhec
idas (JAUSS, 1994, p. 27)
.
Na
rele
itura
e
re
e
s
crita
d
a
nova
fábula,
percebeu
-se
que
as
cr
ian
ç
as
se
prendera
m
ao
t
exto
origin
al,
sen
d
o
fié
is
à
r
eprodução
da
m
e
s
m
a
e
str
utura
154
ex
i
s
t
e
nte
nele
.
Contudo,
a
fide
lidade
é
rompi
d
a
com
a
ins
erção
d
e
dados
que
não
faziam parte d
o texto prim
ei
ro, iss
o ocorreu porqu
e:
o
te
xto
g
ui
a
e
co
nstra
n
ge,
mas
é
também
aberto
,
exigindo
a
co
ntr
i
buição
do
leitor.
Este
deve
re
c
o
rrer
sel
etivame
n
t
e
à
sua
ex
periênci
a
e
sensibil
i
dade
para
obt
er
os
s
í
mbolos
ve
rbais
a
p
a
rt
i
r
dos
s
inais
do
texto
e
dar
substância
a
e
sses
símbolos,
o
rganiz
a
ndo-
os
num
sentido
que
é
vi
sto
como
c
orres
pondendo
ao
t
exto
(RO
S
ENBLA
T
apud ZILBERM
AN,
1989
,
p
.
26).
Como
afi
rma
Rosen
blat
(ap
ud
ZILB
ERMAN,
19
89),
o
tex
to
aprese
nta um
modelo
que
c
onstrange
um
a v
ez qu
e ten
de
a
guiar a
com
pr
eens
ão do
leitor,
no
entanto,
el
e
pos
s
ui
um
v
i
és
libertador,
ao
pr
o
piciar
lacunas
qu
e s
ão
pree
n
c
hida
s
de aco
rdo com
as
exper
iên
c
ias de le
itura daquele que
ef
e
tua a leitura.
Conseqüe
nt
e
m
e
nte,
na
recons
tituição
da
fábu
la,
obs
e
rva-se,
no
prim
eir
o tex
to, a f
id
e
lidade
à f
á
bula de Lobato, de
sde a cons
t
ruçã
o das fr
a
s
es que se
assemelham
ao
origina
l, s
alvo
as
incorreçõ
e
s
ortogr
áfica
s
,
próprias
das
cria
n
ç
as
em
fase d
e a
quisiç
ão da linguag
em
escrit
a,
c
omo most
ram
os
tre
c
hos a
s
eg
uir:
A
o
sa
i
r
do
buraco
viu-se
um
ratinho e
ntre
as
patas
do
leão
.
Estacou,
de
pêlos
e
m
pé,
paral
i
sado
p
elo
terror.
O
l
eão,
p
orém
,
não
lhe
f
ez
mal
nenhum (LOB
AT
O, 197
3
b, p. 49).
A
o sa
i
r do buraco viu-se um rat
inho entr
e
a
s
pátas do leão.
E
stacou,
de
pêlos
e
m
p
é,
paralisado
pelo
te
rror.
O
leão,
porem,
não
l
he fez
mal nenhum (A1, 2
0
0
6, Tex
t
o
62).
O aluno desmem
bro
u em
doi
s o
prim
eiro
pará
grafo da narrativa
lobatiana
,
guiado
pos
s
i
v
elmente
pe
la
s
ua
ex
ten
s
ão,
pois,
n
a
matriz
,
e
m
fo
nte
digitada,
a
prim
eira
p
arte
ocup
a
duas
linhas.
O
restante
d
a
produção
m
anté
m
a
fidelidad
e ao
original, re
petindo, com exc
e
ç
ão
do
s
erros o
rtográficos,
até as
m
e
smas
palavr
a
s.
A
s
egunda
fá
b
ula
r
eescr
ita,
pau
tada
n
o
texto
base,
de
s
prende
-se
dele n
a
s
alternâncias de vocábu
lo
s
:
- Segue em
pás
, não tenha medo de teu rei (A2, 2
0
06, Texto 61)
A
c
rianç
a
insere,
ainda,
n
o
texto
c
onclusões
e
i
nterpretações
part
i
c
ulares, como no e
xem
pl
o des
taca
d
o:
155
(...)
o
ratinho
roeu
a
re
d
e
e
os
dois
fica
ram
amigos
(A2,
2
006,
T
exto
61).
Como
de
mon
s
tra
a
fábula
l
obatia
n
a
,
n
ão
é
c
la
ra
a
idé
ia
de
que
os
anim
a
is
t
enham
se
to
rnad
o
ami
gos
.
O
dado
inserid
o
na
reescrita
é
fruto
da
interpr
eta
ç
ão,
qu
e
ocorre
c
om
o
pr
ee
nc
him
e
nto
d
o
s
v
az
i
os
textuais,
co
m
o
co
n
hecimento
do
l
eitor.
A
nível
tex
tual,
(KAT
O
,
199
5),
algumas
c
r
ianças
com
et
e
m
erros
tentando
pre
en
c
her
la
c
un
as
c
om
iten
s
que
oc
o
rrera
m
e
m
ou
tro
lu
gar
no
tex
to
(ant
e
s
e
depoi
s
da
l
a
c
una),
o
que
já
evid
en
c
ia
u
m
a
busc
a
de
c
oe
rê
n
ci
a
tem
áti
ca
bastan
te
consc
iente.
A
te
rceira
pr
odu
ç
ão
ret
rata,
d
e
m
a
neir
a
fiel,
o
tex
to
origin
al,
realizando pe
quenas alterações
lexic
a
is em
se
u dese
n
vo
l
vi
m
ento
.
Di
as
depois
o
leão
caiu
n
um
a
re
d
e.
Urrou
de
s
e
sper
ada
me
nte,
debateu-
s
e,
mas
quant
o
m
ais
s
e
agitava
mais
preso
no
l
aço
fica
v
a
(LOBATO, 1973 b, p. 49).
V
ár
i
os
d
i
as depois o
leão
cai
u
numa re
d
e
. Gritou de
s
e
speradamente,
bateu
-s
e
no
c
h
ão,
mas
quando
m
ai
s
s
e
debatia
mai
s
pre
s
o
fic
a
va
(A6, 2006, Te
x
t
o 62).
Dess
e
modo,
pal
a
v
ras
c
omo
d
ias
depo
i
s
,
urr
ou
,
de
bateu-se
,
e
agitava
dão
lugar
a
vár
io
s
dias
depois
,
gritou
,
ba
teu-se
,
debatia.
A
alteraç
ão
m
os
tra
que o a
luno opta,
no processo de trans
po
s
i
ç
ão, por p
alavras que
d
ialogu
em
co
m
s
eu
universo.
O p
róxi
m
o
tex
to
a
pre
s
ent
a o
e
n
r
edo
de
forma b
ast
ante r
e
s
umi
da,
no
qual
s
e r
etratam
os
a
c
ontecim
e
ntos
principais
descr
itos c
om es
tr
uturas s
emelhantes
aos
do
texto
original.
Uma
i
mportante
inserção
nessa
produção
se
refere
à
m
oral
que é retomada e a
cresc
ida de um
a
outra, produ
z
i
da pelo al
uno:
Mais
v
ale
a
paciência
pequenina
do
q
ue
os
a
rr
an
c
o
s
de
l
eão.
Ser
bom não custa nada (A8, 2006, Texto 63).
A
prod
ução
segu
inte,
e
m
b
ora
mantenh
a
o
eixo
d
a
n
arrativa
de
origem,
co
nstrói
u
m
a
v
ersão
m
a
is
re
s
um
i
da
(
prin
c
ípi
o
de
parcim
ôn
ia),
n
ão
se
pren
de
n
do
a
detal
hes dis
c
ursivos.
156
Um
dia um
r
a
tinho
ficou
de
pêlos
em
pé
porque
o
l
eão
prendeu
debai
xo
d
e
sua
pata
mais
o
leão
d
e
ixou
que
o
rati
nh
o
s
a
ísse
sem
mach
ucá-
l
o (A9, 2006, T
e
xto 64)
Na
libertaç
ão
da
fábu
l
a
orig
inal,
o
leitor
c
onsegue
reproduzir
a
narra
ti
v
a
com
es
tilo
e
linguagem
próp
ria,
m
os
tra
n
do,
e
m
es
s
ência,
o
que
co
m
pre
endeu
da
l
eitura
efetuada
.
As
únicas
ocorrê
n
c
ia
s
id
ênticas
ao
texto
de
Lobato
são o título e a moral qu
e
s
e reproduz
à
sem
elha
nça
da fonte.
Na
prod
uç
ã
o
s
eg
uinte
,
a
r
ee
s
crita
atribui
ao
texto
su
a
pró
pria
leitura
desde
o
princípio,
q
ue
se
inicia
c
om
a
m
a
rcaç
ão
temp
o
ral
-
“Um
dia”
-
tendo
e
m
s
eu
desenvolvi
m
en
to o
utra
parecid
a: “
num
belo
di
a”.
Da
primei
ra
m
a
rc
ação
se
segue
um
possível
diálogo
entr
e
o
ratinho
e
o
leã
o,
con
v
er
s
a
essa
trans
m
itida
p
elo
narrador,
aç
ão
q
ue
pa
s
sa
pa
ra
as
mãos
dessa
e
nti
dade
dis
c
ur
s
iva
,
a
interpretação
d
os
ac
on
teci
m
entos
.
(...) o
l
eão
ia
c
o
me-lo
mas
o
ratinho
p
ediu
que
se
o
leão
não
o
co
mec
e
,
e
l
e
iria
recompensál
o
quando
o
leão
estivesse
em
apuros
(A10
, 2006, Text
o
65).
Assim
,
nes
sa
c
onver
s
a
inter
m
ediada
pelo
narr
ador,
entende-se
q
ue
o
leoni
no
t
inha
intenção
de
d
e
v
o
rar
o
rato
e
ess
e,
por
s
ua
vez,
i
m
pl
ora
miseric
órdia,
prometendo
s
alvá-lo
de
apuros
fu
turos;
portanto,
o
ac
réscim
o
ins
erido
pela
c
r
ianç
a
antecipa
os
ac
onte
c
im
entos
,
u
m
a
v
ez
qu
e
na
narr
açã
o
de
Lob
ato
não
s
e c
ogita
q
ue
o
r
ato
pudesse
ser
,
no
futuro
,
o
salvador
d
o
l
eão.
Tendo
o
c
onhecim
e
nto
do
desfecho
,
a
c
riança
j
á
apresenta,
no
início
da
narrativa
,
elem
entos
i
n
dicativos
do
térmi
n
o da trama.
Dess
a
f
orma,
o
lei
tor
a
c
res
c
ent
a
a
inda
a
caracte
riza
çã
o
do
m
o
do
co
m
o
o
r
oedor
libertou
o
rei
dos a
nimais: “
ro
en
d
o
a
corda
com
s
eus
d
ente
s”
,
detalh
e
s
que não a
parecem
na f
ábula o
riginal. Outra
inserção interessante
, diz
respei
to
à
cit
ação da
p
ro
m
e
ssa,
mencio
na
d
a pe
lo n
a
rrador n
o
início da
narrativa q
ue
é
ret
om
a
da
ao
final
,
ser
vindo
tam
bé
m
c
omo
mais
uma
m
o
ral
p
ara
o
tex
to:
“
E
assim
os
d
o
i
s
aprende
ram
qu
e não
s
e de
v
e q
uebrar a prom
e
ss
a” A m
o
ral original
é
m
a
ntida à s
em
elhan
ça
do te
x
to lobatiano.
A s
étima pro
dução
é
bastante
fiel
ao
texto or
iginal,
reproduzindo
seu
enre
do.
Algun
s
erro
s
ortográficos e
a s
u
pressão
da
moral
sã
o a
s
difere
n
ças
e
ntre
o
s
dois text
o
s,
re
c
orrênc
ia com
u
m
e
m
div
ersas
reprod
u
çõ
e
s
:
157
A
o sai
r do bura
co viu
um rato
entre o
s pés
do l
eão. E
s
ta
co
l,
de
pêlos
em
pé,
pa
ra
d
o
d
e
medo.
O
l
eão
f
e
z
mal
nenhum
(A1
1,
2006,
T
exto
66).
A
ree
scrita
segui
nte
tam
bé
m
s
e
pr
ende
ao
texto
l
obatiano,
repro
duz
in
do c
om
pr
ecisão
os fa
t
o
s
ne
le descritos. No
entanto, o
aluno
te
m o
cu
idado
de
acrescentar,
à n
ar
rati
v
a,
elem
en
tos
discursivos,
c
om
o
:
um
di
a
.
Além
disso
,
tam
bé
m
g
rafa
algu
ns
term
os
incor
retam
ente:
nen
hum
m
a
u,
mec
hi
a
,
istant
e,
o
que pr
om
ov
e a di
ferenciação entre a narrativa c
a
n
ônica
e
o tex
to
re
escrito.
A
últi
m
a
produç
ão
de
s
ta
fábula
tam
b
ém
aprese
nta
a
estrut
u
r
a
da
narra
ti
v
a
lobatian
a
em
u
ma
v
e
rs
ão
resum
ida
(
princ
ípio
de
parc
im
ôni
a),
ins
erindo
no
início
a
m
arcaç
ão
temporal
“U
m
dia”.
O
clímax
e
o
des
fe
c
ho s
eguem
a
mparados
no
m
o
delo
ori
ginal.
No
ent
anto,
uma
s
urpresa
dess
a
produçã
o
fo
i
a
a
lteração
da
m
or
al,
su
b
stituí
da
po
r
uma
das
falas
do
tex
to
origina
l:
“
Am
or
co
m
a
m
or
s
e
pa
ga”,
transfor
m
ada e
m
m
oralida
de.
Assim
,
com
a
de
sc
rição
dos
re
s
ul
tados
alcançados
c
om
a
ativ
ida
de
prop
o
s
ta perc
ebeu
-se que:
ca
da leitor
pode
reag
i
r
individualmente a
um
texto
,
mas a
r
ecepção
é
um
f
ato
social
–
uma
me
d
ida
com
um
localizada
e
ntr
e
as
re
ações
partic
ulares, est
e
é o horizo
n
te
q
ue ma
rc
a
os limites dentro dos quai
s
uma
o
bra
é
compreendida
em
seu
te
m
p
o
e
q
ue,
sendo
‘t
rans-
su
bjet
i
vo’,
‘
condiciona
a
a
ç
ã
o
d
o
texto’
(ZILBER
MAN,
1989
,
p.
34,
as
pas da au
t
ora
).
Pautado
em
tal
af
irm
aç
ão,
entende-se
p
orque
a
r
ecepção
de
u
m
a
obra
ob
t
ém
re
su
lt
ados
tão
d
i
s
ti
ntos,
entre
indiv
íduos
s
ubm
etidos
à
mesm
a
a
ti
v
ida
d
e
educacio
nal,
c
aso
observado
nos
textos
produz
idos
pelos
alunos
desta
escola
.
Isso
oc
orre m
es
m
o
co
m
l
eitores
pertenc
entes a
u
m nív
el s
ocial parecido
, ma
s q
ue
trazem
co
n
si
g
o
u
m
rep
ertório
d
i
s
t
into,
ocorrência
que
r
ef
o
rça
a
hi
pótes
e
d
e
que
ca
da
s
er
é
uno,
portant
o
,
a
r
ea
ç
ão
à
ativ
idade
proposta
tam
b
ém
só
pode
se
r
única,
embora
e
m
div
e
rs
os m
o
m
e
ntos
elas
te
nham pontos
com
u
ns
.
3.2.17
O Macaco e o Gato
O
texto
O
macac
o
e
o
gato,
de
Montei
ro
Lobato,
aparece
em
Eso
po
co
m
o
O
l
e
ão,
o
urso
e
a
r
aposa,
histó
ria
na
qual
os
dois
p
rim
eiro
s
b
rigam
por
u
m
a
158
presa,
um
filhote
de
v
eado.
Após
br
igarem
a
té
a
exa
ustão,
ambos
c
aem
desfalec
idos e um
a rap
osa, q
ue
passav
a
pelas pr
o
x
im
idad
es
, apropria-
se
da pre
s
a.
Lobato
retrata,
no
e
nredo,
anim
a
is
comuns
d
o
co
tidian
o
br
a
s
ilei
ro,
relatan
do
a
hi
s
tó
ria
do
m
ac
aco
Sim
ão
e
do
ga
to
Bi
c
han
o,
m
o
rado
res
da
mes
m
a
casa,
lo
ca
l
em
que
apr
ontam
muitas
e
s
tripulias.
Em
bora
ajam
jun
tos,
s
em
pre
é
o
m
a
cac
o
quem
sa
i g
anh
ando. Certo
dia, a
cozinheir
a co
loco
u
casta
nhas p
ara ass
ar
e
enquan
to
s
e
au
s
en
to
u
o
mac
ac
o
pe
diu
q
ue
o
g
ato
as
ret
ira
sse
do
fog
o.
O
ga
to
as
retir
a
va
,
m
a
s
era
o
macac
o
que
m
as
engolia.
C
om
o
r
etorn
o
da
c
ozinheira
a
m
b
os
sã
o
expulsos
da
c
oz
inha
,
e
o
gato
co
ns
t
ata
que,
embora
ele
t
enha
fi
cado
c
om
os
riscos,
somente
o
macac
o
desfrutou
das
castanh
as.
A
m
or
alidade
afirma
que
“o
bom
-bo
cad
o não é para quem o faz
, é pa
ra quem o come” (L
OBATO
, 1973b, p
. 33).
A fábu
la foi
escolhida po
r duas cr
ianç
as.
A pri
m
e
ira
delas
fez
po
ucas
alteraç
õe
s
n
o
texto
prim
e
iro,
m
o
difico
u
c
onstruç
ões
e
atualizou
v
ocábulos,
imprimindo
na
re
escrit
a
m
ar
cas
de
s
ua
rec
epçã
o,
ap
resentando
u
m
a
v
er
s
ão
co
m
pa
cta
:
S
imão,
o
macaco,
e
Bichano,
o
gato,
moram
j
untos
na
mesm
a
casa.
E
pin
t
a
m
o
s
ete.
Um
f
u
rt
a
c
o
i
sa
s,
remexe
g
avetas
,
esconde
tes
ourinhas, atormenta
o papagaio
; outro
arranha
os
tapetes, e
s
f
iapa
as
alm
of
adas e bebe o leit
e das
cria
n
ças (LOBATO
, 1
973
b
,
p. 33).
O
S
imão
que
era
o
macaco
e
o
B
ichano
era
o
ga
to
,
o
s d
o
i
s
roubava
as
coisas,
f
aziam muit
a
s mal
a
n
d
ragens (A4, 206, Texto 6
9
).
O
c
ontraste
entre
o
s
trec
ho
s
m
os
tr
a
que,
a
o
rea
lizar
a
transposição
tex
tual, a
cri
an
ç
a r
eduz s
ignificat
i
v
am
ente
o
c
onteúdo,
trocando
des
c
ri
çõ
es
por
palavr
a
s
que
si
ntetiz
am seu
significado
.
A
reescrit
a
segui
nte
m
o
difica
o
tex
t
o
b
a
s
e,
moldando
-o
aos
p
adrõe
s
de pr
odu
ç
ão textu
al desen
v
olvida pela
faixa e
tár
ia:
Numa
casa
mo
ravam
2
anima
i
s
o
gato
que s
e
chamav
a Bi
chano
e
o
maca
c
o
que
se cham
ava
Sim
ã
o, e
l
es faz
e
m
bagu
nç
a
45
(...)(A1
0
, 206,
Texto 70).
45
Como apon
ta o ex
certo apresen
tad
o
, a n
ão sol
idi
f
i
c
ação das no
rm
as gra
m
atic
ais da lin
g
uag
em
-pa
d
rão
ocasi
on
a
in
congruên
c
i
a
s
q
ue
e
ntram e
m
ch
oque co
m
as n
orm
as e
,
em
alg
uns momentos,
até
c
om o
con
t
e
údo da
própri
a narrati
va
.
159
No
pr
o
c
e
ss
o
de
readequaçã
o
tex
tual,
a
c
riança
insere
inform
a
çõ
es
es
tranhas
ao
texto
original,
fruto,
poss
i
v
elmente,
de
s
eu
conhecimento
de
mu
n
do
e
do
e
ntorno
s
oc
ial
que
a
r
odeia.
Vi
v
endo
em
m
e
ios
que
c
ondenam
prát
icas
ilíc
ita
s
,
a
cri
an
ç
a reproduz as
re
c
rim
inaç
ões
que lhe sensatas:
E
o gato
f
oi p
e
g
a
r
as casta
n
has ma
s bem
na hor
a a coz
inheira
ch
egou
e
deu
u
m
puxão
de
or
e
lha
no
g
ato
e
no
maca
c
o
.
E
ele
s
aprendera
m
a
n
unca + robar (A10, 2006, Text
o
70)
Aparecem,
no
s
dois
trech
o
s
c
ita
do
s
e
t
ambém
em
outra
s
partes
da
narra
ti
v
a, n
úmeros
e
símbolos,
com
o
no
c
a
s
o
do
núm
er
o
2
e
d
o
s
inal
de
+
,
repres
entando
a
l
inguagem
e
scr
ita.
Isso
a
c
ontece
p
orque
a
crianç
a
ainda
não
tem
so
lidifi
c
ada
as
normas
da
linguage
m
es
cri
ta
e
c
om
iss
o
mi
s
tura
l
inguagem
v
erbal
e
não-ve
rbal.
3.2.18
O Ratinho, o Galo e
o
Gato
O
t
e
xt
o
O
r
atinho,
o
gat
o
e
o g
al
o
é,
po
ss
ivelm
ente
,
um
a
d
as
cri
aç
õ
es
de
Lobato.
Tal
hipótese
s
e
ancora
no
fato
de
te
x
to
s
similares
n
ão
te
rem
si
do
e
ncontrados
entr
e
os p
rincipai
s
div
ulgadore
s
do
gêne
ro
fábular.
O
texto
c
onta
as
p
eripécias
d
e
um
rat
inho
em
s
ua
prim
eir
a
s
aída
do
buraco
onde
mora
v
a,
p
ara
conhecer
o
mun
do.
Encontra
um
ga
to
dorm
ind
o
e
s
e
encan
ta c
om
sua
apa
rência,
pensando
que
se
tr
ata
v
a
do
galo,
a
m
igo
dos
ra
tos.
Em
se
g
uida,
d
epara-se c
om
u
m
g
alo.
O
anim
al
c
anta
e o
ra
tinho s
e
assusta
im
agi
nando
que
ele
seja
o
g
ato
q
ue
ta
nto
mal
fa
z
a
s
ua
gen
te.
F
oge
par
a
c
asa
e
ao
descrev
er
su
a
s
av
enturas
à
su
a
m
ãe
d
escobre
que
e
stava
equi
vocad
o
e
que
a
s
aparências
engana
m
.
A
m
or
al
at
esta
que
“quem
vê
cara
nã
o
vê
c
oração”
(LOBATO,
1973
b,
p.36)
.
O
tex
to
foi
ret
omado
por
apenas
uma
cr
iança,
que
alte
rou
o
título
adotad
o
por Lob
ato
para
O rato,
o
gato e
o
gal
o
46
.
A
cria
n
ç
a muda,
supr
im
e
e
ins
ere
termos, o q
ue ma
rc
a
s
uas
escolhas:
46
O
u
t
ras ocorrên
cias
de m
udan
ça
de tít
u
lo foram iden
t
ificad
as na reescri
t
a
de
A
men
i
na do leite
(p. 130
e
1
31) e
O
cão
e o
l
obo
(
p.149
).
160
Certa
manhã
um
rat
i
nho
sa
iu
do
buraco
pela
primeira
v
ez.
Queria
co
nhecer
o
mundo
e
travar
rela
ç
õ
es
c
o
m
t
anta
coi
sa
bonita
de
que
fal
avam se
u
s
a
migos (LOBATO,
1
973 b, p. 33).
Um
di
a,
u
m
ra
ti
n
ho
saiu
de
casa
pela
pr
imei
ra
vez,
fi
cou
surpreso
co
m tudo e
v
iu 2 an
i
mais (
A
3, 2006, Text
o
71).
Ao
transcrev
er
o
t
exto,
o
di
scente
também
op
ta
por
altera
r
os
diálogos
,
e
x
istentes
na
fábu
la
p
rim
e
ira
p
elo
disc
urso
indireto,
ocorr
ên
c
ia
s
im
ilar
e
m
div
e
rs
as repro
du
ç
ões, c
om
o já c
itado anteriorm
ent
e:
Lá
contou à su
a
mamãe as a
ven
tur
a
s d
o
passeio.
-
Observei
muita
coisa
i
nteressante
–
disse
ele
–
mas
nada
me
i
mpressi
o
n
o
u
tanto
c
o
mo
dois
animais
que
v
i
no
terreiro
(
L
OBATO,
1973 b, p. 33).
O
r
ato
se
as
s
u
stou
e
contou
toda
a
avent
ur
a
para
a
mãe
(A
3,
2
006,
Texto 71).
Ao c
on
c
ent
rar a v
oz n
arrat
i
v
a nas
mãos
do
n
arrador, a
criança
realiza
a
mediaç
ão
entr
e
a
fábu
la
e
leitor
e
m
arc
a,
po
r
meio
d
o
p
os
i
c
iona
m
e
nto
adotad
o
pelo
narrador,
seus
ponto
s
de
v
i
s
ta.
Lobato,
crítico,
acredi
ta
num
a
transpos
içã
o
textual qu
e
m
ar
que a i
déia,
sem
pr
eoc
upações extrem
a
das
c
om
a
forma.
3.2.19
O Rato da Cidade e o
R
a
to do Campo
O
texto
O
ra
to
da
cidad
e
e
o
rato
do
c
ampo,
p
rivi
le
g
iado
por
E
so
po
,
Bábrio
e
La
F
o
n
taine
q
ue r
etr
a
ta
m
,
em
sín
tese,
c
onteúd
o
s
im
ilar
ao
c
onteúdo
lobatiano
.
A
fábula
narra
as
p
eripécias
de
um
ra
tinho
q
ue
c
onv
ida
se
u c
om
p
adre
da
roça
pa
ra visitá-l
o. O r
ato
da
roça
fi
c
a a
dmirado
com
o
lux
o d
o
local
em
que
o
amigo
vive.
Entretanto,
dur
ante
a
farta
refeição
, ouvem
u
m
baru
lho
e
o
r
ato d
o c
ampo
foge
imediatamente, d
eix
a
ndo o
visit
a
nte
e
s
pantado. Como não
era nada
, o ra
to re
t
orn
ou
,
fugind
o
logo
e
m
s
eguida
ao
ouv
i
r
novo
ba
ru
l
ho
.
O
r
ato
do
c
am
po
res
olve v
oltar
p
a
ra
a roça
e não degustar a refeição
, m
as
fugir dos
s
o
bress
altos.
Com quatro r
eproduções, o tex
to
O r
at
o da c
idade
e o rato
do campo
tem
,
na
pr
im
eira
esc
rita,
uma
v
ersã
o
que
foge
dos
m
oldes
d
a
fonte.
O
aluno
in
s
ere
termos
c
omu
ns
da
p
ro
du
ç
ão
textual
e
s
colar,
reg
i
s
tra,
freqüentemente,
i
ncorreçõ
es
161
orto
gráfi
cas,
c
omo
ta
mb
é
m
uti
liza
te
r
m
o
s
us
uais
da
linguagem
or
al,
c
om
o
mos
tra
o
trecho
a seguir:
Um
di
a
um
belo
rat
i
nho
d
a
cidade
re
so
lv
eu
chamar
seu
cumpadre
para
jant
a
r
(...)
d
errepente
um
baru
linho
na
p
o
rt
a
o
rato
da
cidade
co
rreu
se
e
sc
onder
um
tempo
depois
outro
ba
ru
linho
na
porta
denovo
o r
a
to da cidade
f
oi se
esconder (A10, 20
0
6, Texto 74).
Esse trecho
, em
Lo
bato, pos
s
ui o s
e
guinte
f
orm
at
o:
Certo
ratinho
da
cidade
re
s
olv
eu
banqu
e
t
e
ar
um
compadre
que
morav
a no
ma
t
o.
E
convidou-o
para o
fe
stim, marcando l
ugar
e
hora.
(...)
no
melho
r
da
fe
s
ta
,
porém,
ouviu-se
um
rumor
na
porta.
Inc
ontine
n
ti o rato da cidade fug
i
u para o seu buraco (1973 b, p. 15).
A atualização voca
bular tam
b
ém
é
percebida,
co
m
o
m
os
tra
m
as
falas a s
eguir:
- Até
l
o
g
o! (LOBATO, 1973 b, p. 15).
- Tchau!!
(
A10, 2006, Te
x
t
o 74).
O
tex
to,
que
não
poss
ui
moralida
de,
rec
e
be,
na
escrita
d
a
cr
ian
ç
a,
um
a,
na tentativ
a
de
inserir
esse
d
e
sf
echo
específico
na
fábula
47
.
A
moralidad
e
ins
e
r
ida
p
e
lo
d
i
sc
e
nte
é
resultado
de
discu
s
sões
das
pe
rsonagens
do
Sítio
após
a
leitura
, r
ealizada
por
dona
Benta,
da
fábula
A
gra
l
ha
enfei
ta
da
c
om
pen
a
s
de
pav
ão
,
tex
to
que
na
ob
ra
Fábu
l
as
(1922)
an
tec
ede
o
texto
O
ra
to
da
c
idade
e
o
rato
do
ca
mp
o
,
a
n
alisado no momento
:
A
verdadeira
riqueza
não
é
a
d
o
bolso
mas
s
i
m
é
a
da
cabeça
(A10,
2006, Te
xt
o 74).
A m
o
ralidad
e ao
final do te
xto parece
ser parte obr
igatória dess
e tipo
de
na
rrativa
pois,
n
e
ss
a
fábula
em
es
pec
ial,
todas
as
c
r
ianças
inserira
m
u
m
a
ao
final,
c
ontr
a
riando
o
próprio
enredo.
Tal
ação
m
os
tr
a
que
o
modelo
na
rrativo
pode
ser
m
a
is
i
nfluent
e,
par
a
o
leitor,
d
o
qu
e
o
tex
t
o
prop
riam
en
te
dito.
Com
o
já
d
isc
uti
do
no
início
de
s
ta
análi
s
e,
a
m
or
alidade,
segundo
La
Fontaine
(s/
d)
é
um
a
qu
es
tão
importante
.
O
fabulista
,
ent
retanto,
ad
m
i
te
us
á
-
la
apen
as
q
uando
s
ua
p
rese
nça
s
e
47
Con
for
m
e
di
s
cus
sões
pau
tadas
em
La Fo
ntai
ne
(s/
d)
a
morali
dade é
part
e do
tex
t
o
fabul
ar,
n
ão sen
do
obri
g
atóri
a.
N
o
en
t
an
t
o
,
algun
s
f
abuli
stas,
c
omo
ta
m
bé
m
al
g
u
ns
alun
os
,
nã
o
abre
m
mão deste
desf
ec
h
o
na
r
rati
vo. A
presen
ça/au
sênci
a de m
o
rali
d
a
de é disc
ut
i
da na
an
á
li
se
da fábu
la
A meni
na do
leite
(p.12
8).
162
faz
real
m
ente
nec
essária.
As
crianç
a
s
parecem
ter
absor
v
i
d
o
o
m
o
delo
por
ins
e
r
irem
,
m
e
s
mo à
rev
el
ia
do
texto,
a
moralida
de
a
o
final.
Outro
po
nt
o
inter
e
s
sante
co
m
prov
a
o
acess
o
das
crianças
a
o
livro
F
ábulas
p
or
rec
o
rrer,
n
a
n
ec
e
ss
idad
e
de
pree
n
c
he
r
a
la
c
una
d
ei
x
ada
pela
ausência
da
m
o
ralidad
e,
na
s
d
i
sc
ussões
disse
m
inad
as pel
o texto anterior
.
A
p
roduç
ã
o
seguin
te
r
eorganiza
as
idéia
s
apresen
tad
as
p
o
r
Lobato
desde
o início da narrativa:
O
ra
to
da
cid
ade
chamou
o
rato
do
cam
po
p
ara
jantar
(A7,
2006,
Texto 75).
Todo
o
tex
to
r
ealiza
u
m
c
ompacto
das
idéias
princ
ipais
48
,
n
o
qu
al
a
cri
an
ç
a s
e
desprende
da
fon
te
.
Co
m
tal
des
prendim
e
nto
e
dev
ido
a
não-solid
ifi
c
ação
das
norm
a
s
gra
m
a
ticais, pr
óprio do
ciclo de
alfabetizaçã
o,
o aluno
apresen
ta
e
m
s
ua
escrita
incorreções
o
rtogr
áfic
a
s
,
como
a
tes
ta
a
g
rafia
do
s
voc
ábulos:
impres
ionado
,
as
us
t
ava
e
s
i
n
pl
es
e também
falha
s d
e
c
oncordânc
ia aparecem:
A
verd
a
d
e
ir
a ri
qu
e
za não é
[a] do bol
so [mas a] da cabeça (A7
,
2
0
0
6
,
Texto 75).
Os
t
erm
os
entre
ch
aves
s
ão
s
ugestões
q
ue
po
de
r
iam
n
ormal
i
z
ar
a
co
e
rência
da
fr
a
s
e
cit
ada,
q
ue,
a
exemplo
do
text
o
anterior,
é
i
nserida
para
s
uprir
a
ausência
da m
or
al do texto.
A terc
ei
r
a
ree
s
cri
ta re
produz
,
co
m
ex
ceção
de peq
uenas
supressões
e a alt
era
ç
ão
de pou
c
os vocábulos, uma cópia do
te
x
to lob
atiano:
O compadre da
r
oça franziu o nar
i
z.
-
Sab
e
do
q
u
e
mai
s
?
Vou-me
embora.
Isto
p
or
aqui
é
muito
bom
e
bonito
m
as não
me
serve.
Muito
m
elhor
roe
r
o
meu
grão
de
milho
no
so
sse
g
o
da minha toca do que fartar de gul
odi
ces caras com o
co
ração aos
pinotes. Até
l
ogo.
E
f
oi-se (
L
OBATO
,
1973 b, p. 1
5
).
O compadre do
c
a
mpo muito ner
voso di
ss
e:
- Vou
-me e
m
bora, prefiro comer meu g
rã
o
de milho na
min
h
a
roça do
que me farta
r
d
e
d
oces e salgados car
o
s e o meu coração
a pon
to de
me dar enfa
rt
e
.
Até logo (A5, 2006, Text
o
76).
48
O
pri
ncípio de parci
môni
a, disc
ut
i
do pe
l
a Psicolin
güística, consi
ste,
co
m
o dito an
terio
r
men
t
e, em u
m
a forma
de
econ
om
i
a,
no
q
ual
o l
e
itor tende a
re
duzi
r
ao mín
i
m
o
o
qu
adro narra
tivo
(KLE
I
MA
N, 1997)
(K
A
T
O
, 19
95
)
.
163
Termos
são
atua
lizados
na
su
b
s
tit
u
i
ç
ão
de
fr
an
zi
u
por
n
ervoso
;
roer
por
comer
;
gulodices
por
doces e s
algados c
a
ros
;
coração aos p
i
notes
por
c
o
raç
ão a
ponto
d
e
me
d
a
r
enfarte
.
Os
term
o
s
adotados
pela
cria
n
ç
a
sã
o
p
al
a
v
ras
fam
iliar
es
no
voca
bulário
a
t
ual.
Tam
b
ém
ne
ss
a
v
er
s
ão
é
acrescentada
u
m
a
moralidade
ao
tex
to
pri
m
eiro,
que
si
ntetiz
a
a
v
alorização
l
obati
ana
do
c
onhecim
ento
“m
a
s
va
le
a
riqueza espi
ritual do qu
e
u
m
g
rand
e baú de tes
ouro”.
Na
últi
m
a
reesc
rita
ocorre
u
m
d
esa
pego
das
b
ases,
p
oi
s
a
na
rrativa
é elab
orada
c
om
as
pala
v
ras da c
riança:
Um
ra
to
da
cidade
queria
chamar
o
r
a
to
que
m
orava
no
mato
para
fes
ta
e
o
rato
da
roç
a
v
eio
e
el
e
a
chou
um
luxo
o
l
ugar
onde
era
a
fes
ta (A
4,
2006, Texto 77
).
O
al
uno
ins
ere
e
lem
ent
os
es
tranhos
à
narrativa
p
rim
e
ira,
c
omo
é
o
caso
d
a fes
t
a
c
itada. J
á ou
tros
termo
s
são
trocados,
com
o
a
su
bst
ituição da
loc
ução
adjetiva
do
c
ampo
po
r
da
roça
.
Além
dis
so,
o
autor
também
apres
enta
c
lara
m
e
nte
co
n
cl
u
sões pró
prias, in
s
eridas na f
al
a
do
a
ni
m
a
l:
O
r
ato
da
roça
f
oi
e
mbora,
alé
m
de
ser
muit
o
luxuoso,
ele
pre
f
e
r
ia
a
roça porque ele tinha sos
s
ego
(A4, 200
6
, Texto 77).
A
moralidade
aqui
,
inspirada
na
s
disc
ussões
en
tre
a
s
pers
onagens
do Sítio
, é tran
sc
rita
c
omo “a v
erdade
i
r
a r
iq
u
ez
a nã
o é
a do bolso é a
da ca
be
ça”.
3.2.20
O Reformador do Mundo
Sob o
título
de
A
bol
o
ta
e
a abóbora,
L
a Fo
n
taine
na
rra
a
f
aça
nha de
um
c
am
ponê
s
que
p
en
s
ava
q
ue
as
coisas
es
ta
v
am
e
m
lug
ares
errados
e
,
para
co
m
prov
ar tal
hi
p
ótese,
anali
s
a a
d
isposição
das abóboras
e
das
bolotas.
Lobato
determi
n
a
a
pe
rso
na
g
em
e
,
em
sua
fábula
é
Am
é
rico
Pisca-
Pisca
quem
ac
ha
o
m
u
ndo
errado.
O
protagonis
ta
ti
nha
a
pretensão
de
q
u
e
poder
ia
m
e
lho
rar
a
organização
d
a
na
tu
reza.
Assi
m
,
p
ensa
que
a
ja
buticabeira
e
a
aboboreira
deveriam
estar
em
lugar
e
s
tr
ocados,
j
á
que
a
p
r
im
ei
ra
era
uma
árv
ore
gran
de
e
produzia
fru
tas
p
e
qu
enas,
e
nquanto
a
úl
tima,
mes
m
o
tend
o
ra
mos
pequen
os,
p
rod
u
z
ia
fru
tos
m
aiores
d
o
qu
e
a
jabut
i
c
abeira. Apó
s
a
divagação,
a
person
agem
vai
descan
s
ar
emb
aix
o
d
a
árv
ore
e
acab
a,
à
s
em
elhança
do
text
o
La
164
Fon
taine,
despertando
c
om
u
m
a
jabuticab
a
que
lhe
c
ai
no
n
ariz.
Perc
ebe
s
eu
erro,
um
a
ve
z
q
ue,
s
e
o
mundo
tiv
esse
so
frido
as
alteraç
õe
s
imaginadas,
e
le
t
eria
sid
o
a
prim
eir
a
v
ítima.
A fábu
la
foi esc
olhida
por
duas c
rianças. A
pr
i
meira
delas
i
ni
ciou s
ua
reestr
u
t
uraç
ã
o
text
u
al,
inserind
o
a
abertura
padr
ão
dos
c
lás
s
icos
infa
ntis
Era
uma
ve
z
, molde q
ue atin
ge toda a a
p
r
e
s
entação i
ni
c
ial do tex
to.
A
m
é
rico
Pisc
a
-Pisca
tinha
o
hábito
de
pô
r
defeito
e
m
todas
a
s
co
isas.
O
mu
ndo para
ele
estava
errado
e
a
n
atureza
só
fa
zia
as
neiras (LOB
ATO, 1973 b, p. 14).
E
ra
uma
vez,
um
h
ome
m
cham
a
do
Américo
e
q
u
e
a
cha
v
a
que
o
mundo deveria ser diferente (A8, 2006, Texto
7
2).
A
c
ria
nça
s
eg
ue
pre
s
a
ao
texto,
embora
realiz
e,
à
s
em
elhanç
a
de
outr
o
s
texto
s
, peque
nas
s
im
p
lifica
ções
e
m
s
eu
conteú
do:
(...)
A
q
u
i
m
e
smo,
neste
po
mar,
v
ocê
te
m
uma
prova
disso.
A
li
es
t
á
uma
j
abuticabe
i
ra
e
norme
sustendo
f
rutas
pequeninas,
e
lá
adiante
ve
jo
colossal
abóbo
ra
p
resa
ao
caul
e
d
u
m
a
planta
ra
ste
i
ra.
Não
e
ra
l
ógico
que
fo
sse justamente o c
on
tr
á
rio? (LOBAT
O,
1973 b, p. 14).
-
A
qui
tem
os
a
p
ro
v
a.
A
li
es
tá
u
ma
enorme
j
abut
i
cabeira
que
est
á
su
stentando
linda
s
e
pequeninas
jabuticabas
e
ao
lado
uma
enorme
abóbora
no
chão.
Devia
ser
o
contrár
i
o –
d
i
sse
ele
–
Não
t
enho
razão? (A8, 2006, Texto 72).
A
re
e
sc
rita
s
eguinte
é
bastante
presa
às
fontes,
c
om
o
é
pe
rceptív
el
no tr
e
c
ho a
se
guir,
c
uja m
u
dança
m
ai
s s
ignificativa é a troca da or
d
em
do
disc
urso:
-
Mas o
melhor
–
concluiu
–
é n
ã
o
pensar ni
sto
e
t
ira
r uma
soneca
à
so
mbra de
sta
s
árvores, não ach
a
?
(LOBATO, 197
3
b
,
p. 14).
E
Américo
estava
p
e
nsando
em
modi
fi
car
todo
o
mundo.
Amé
rico f
oi
dormi
r
e
sonhou
que
o
mundo
estava
modifica
d
o
por
ele
(...)
(A4,
2006, Te
xt
o 73).
A
cria
n
ç
a,
no
en
tanto,
red
uz
as
inform
a
çõe
s
c
ontidas
no
texto
lobatiano
,
p
oi
s
e
m
su
a
re
escrita
e
n
c
erra
a
nar
ra
ti
v
a
logo
a
pó
s
a
c
onstatação
do
engano
por
parte
de
Am
éric
o,
e
dei
x
a
de
apr
e
s
entar
as
divagações
a
que
Lob
ato
165
su
bm
e
te
su
a
personage
m
,
em
s
uas
refl
exõ
es
sob
re
os
e
ngano
s
e
c
onseq
ü
ênci
a
s
das troc
a
s
i
deal
izadas por ela.
3.2.21
O Sabiá na Gaiola
O texto
O
s
ab
i
á na gaiol
a
aparec
e
somente e
m
Esopo c
om
o
A
nov
i
lha
e
o
bo
i
,
que
narra
a
histó
ria
de
um
a
n
ovi
lha
que
lastim
a
o
exaus
ti
v
o
trabal
ho
ex
ec
u
tad
o
por
um
boi.
O
rev
erso
acontece
co
m
a
c
hegada
de
uma
fe
sta
re
ligiosa,
quando
o
boi
é
liber
t
ado
e
a
novilha,
s
acrificada
pa
ra
as
comemoraç
ões,
da
ndo
m
o
tiv
ação par
a
a
moralidade q
ue afirm
a que o
pe
rigo ronda o desocupa
d
o.
Lobato
retrata
um
s
abiá
que
se
lam
e
nta
em
v
iver
em
c
ativ
ei
ro
e
relem
br
a os
tempos
de
liberd
ade.
A la
m
en
tação
c
essa qua
ndo
a
ave
depara-se c
om
o c
açador que chega em cas
a com páss
a
r
os m
or
tos
e perc
eb
e qu
e “antes penar
que
m
o
rrer”
(LOBATO, 1973
b, p.29), m
o
ral da fá
bula.
O s
abiá n
a
gaiol
a
, r
eescr
ito
oito v
ez
es,
tr
az, em su
a
prim
e
ira v
er
s
ão,
um
rec
ado
d
a
professor
a
que
elogia
a
r
eescri
ta
da
cr
iança,
int
e
ração
c
om
o
pú
blico
que
funciona
como
re
forç
o
posit
i
v
o
p
ara
o
a
l
un
o.
Além
d
is
so,
o
t
exto
apresen
ta
u
m
a
m
a
rca interessante
:
traços
da
oralidade,
c
om
o
é notado
no
uso do
ve
rbo
tinha
,
ins
t
r
um
ento q
ue p
romo
v
e
a
marc
ant
e p
r
ese
n
ça de
hi
s
tó
ria or
al:
Tinha
um
sabiá
velho
que
vivi
a
reclamando
porq
u
e
estava
preso
e
m
uma gai
ola (A
3
, 2006, Texto 79, grifo
n
osso).
O
m
o
nólogo
c
om
q
ue
o
pássar
o
apresenta
s
eu
drama
é
aprese
ntado pelo narrador,
figura que as
s
ume
a
vo
z
n
a na
rrativa:
Lemb
ra
v
a
quando
ele
e
ra
livre,
até
q
ue
um
dia,
o
caçador
prend
e
u
ele
em uma ga
i
ola (A3,
2006, Te
xt
o
79).
A
c
riança
reorgani
z
a
a
idéia,
c
ompac
tando-a
de
fo
rm
a
a
aprese
ntar
apenas
o
s
con
c
eit
o
s cen
trais da narrativa:
Ni
sto
ab
r
e
-se
a
porta
da
sal
a
e
e
ntra
o
caçador,
de
e
s
p
ingarda
a
o
ombro
e uma
f
ieira de p
á
ssaros n
a
mão.
166
A
nt
e
o
esp
e
tácu
l
o
das
míseras
avezinhas
e
s
t
raçalhadas
a
ti
ro,
gotejant
es
de
sangue,
algumas
a
inda,
e
m
ag
onia
,
o
sabiá
es
tremeceu (
L
OBATO
, 1973 b, p. 29).
Um di
a o ca
ç
a
dor trouxe vá
r
i
os pássaros mo
rt
os
depois de um di
a de
ca
ça.
Os p
ássa
ros
esta
v
am
cheios de
sangue
e
ao ver
i
sso, o
sabiá
perceber
não s
er tão infeliz (...) (A3, 2006, Texto
79)
.
Norm
a
lmente
,
c
omo
ver
ificado
no
decorrer
d
este
trabalho,
o
aluno
opta
po
r
reduz
i
r
o
cont
eú
do
te
x
tual
e
em
pou
cas
situações
amplia
o
con
te
x
to
da
narra
ti
v
a pr
im
e
ira.
A
reescri
ta em
an
álise
não
fugiu
a
regra,
co
m
o
é
no
tá
v
el
a
té
pe
la
ex
ten
s
ão
d
o tex
to,
já q
ue
são
ap
rese
ntadas som
e
nte as i
nfor
m
aç
ões nucleares.
Tai
s
da
do
s
t
ambém
re
ceb
em
u
m
a n
ova
roupagem
,
por
me
io da
aç
ão
de atua
lização vo
c
ab
ul
a
r:
Refl
et
iu
sobre o
caso e
murmurou
co
nsi
go:
(LOB
ATO,
1973
b,
p.
2
9,
grif
o
nos
so).
(...)
chegou a c
onclusão
que: (A3, 2006, T
e
xto 79,
grifo nosso).
As
palavras
destacadas
m
os
tr
am
a
s
ubs
tituiç
ão
ut
iliz
ada,
pa
rte
do
próp
rio pro
c
esso de recepçã
o. O verbo
refletiu
é s
u
bsti
tuído por
chegou a
co
nclusão
,
prát
i
c
a qu
e levan
t
a
a segui
nte co
n
statação
: em
bora
o d
isc
ente reduza a
ex
t
ensão
do
tex
to dur
ante a
r
ee
s
cri
ta,
ele
am
p
lia
o
nú
m
er
o de
v
ocáb
ulos
utilizado
s
na
exp
li
c
ação
de
d
eterm
inada
s
pa
la
v
r
a
s
.
A
escolha
do
alu
no
m
ost
ra,
n
o
e
ntanto,
que
e
le
co
n
segui
u
apreender
o
si
gnifi
c
ado
e
transform
ar
em
v
o
cabul
ário
mais
s
igni
fi
c
ativo
para
su
a
compreens
ão.
A
seg
un
d
a
ad
aptação
recons
trói
com
pal
avras
pr
ó
pri
a
s
o
texto
lobatiano
:
Um dia
, tra
i
çoeiro visgo me ligou os pés. Es
v
oac
ei, debati-me em vão
e
v
im
ac
abar
nesta
g
aiola
horrí
v
el,
o
nde
s
a
udoso
choro
o
te
m
po
da
liberd
ade.
Que
tri
ste
d
est
i
no
o
meu!
Haverá
no
mundo
maior
desgraç
a? (
LOBATO, 1973 b,
p
.
2
9).
A passagem destac
ada é transcr
ita da seguinte form
a
:
Um d
ia
eu fu
i p
reso numa
gaiola.
Ha
v
erá
no mundo
ma
ior
desgraça?
(A4, 2006, Te
x
t
o 80).
167
O pró
x
im
o
te
xto
reesc
rito inse
re
dive
rs
os elem
entos
es
t
ranhos à
narra
ti
v
a
ori
ginal:
v
erbos,
c
hora
m
ingava
;
advérbios
de
int
e
n
s
idade,
mu
ito
,
l
ocuções
ad
v
erb
ai
s
,
certo
dia
,
ne
ste
momento
;
e
,
também,
al
gumas
inc
orre
ç
ões
ortográficas,
co
m
o
é
o
c
aso
d
e
co
n
vida
(com
v
ida).
Oc
o
r
re,
nesse
tex
to
,
a
p
rime
ira
modific
aç
ão
da
moralidade
de
s
te
g
r
upo,
que
passa
a
ser
“
antes
presa
que
morrer
”,
fala
q
ue
m
u
da o
s
entid
o da
fra
s
e,
um
a
v
e
z
qu
e o
adjetiv
o
p
re
s
a
nã
o ex
prim
e o
si
gnifi
c
ado
do
verbo
p
enar
.
A próx
im
a a
dapt
ação tam
b
ém ins
ere e
lem
en
tos
textuais c
om
un
s n
as
prod
u
ç
õe
s
tex
t
uais
infantis,
c
om
o
:
um
dia,
até
q
ue
um
di
a,
de
repen
te
,
e
nt
r
e
outros,
que de
lineiam
o per
fil da reescrita:
De
repente,
o
caçador
entrou
em
cas
a
co
m
vários
passar
inho
na
mão e uma
espingarda no ombro (A9, 2006, T
e
xto 82).
Outra
inov
a
ção
é
a
inserção do
con
teúdo d
a moralidade n
o
c
o
rpo
da
narra
ti
v
a:
V
endo
aquilo
o
sab
i
á
ac
h
o
u
que
era
m
elhor
estar
preso
na
gai
o
la
co
m v
i
da do que lá fora morto (A9, 20
0
6, Te
x
t
o 82
).
A ree
sc
rita s
e
guint
e assum
e
um vi
és explicativo desde seu início:
Um dia um caçador
pegou um
passarinho, m
a
s não o mat
o
u, o
co
loc
ou
dentro de uma gaiola (A10, 2006, Text
o
83).
Como
de
m
o
nstra
o
exce
rto
apresentado,
a
produção
tex
tual
orga
niz
a
as
idé
ia
s
de
for
m
a
b
ast
ante
didáti
ca,
esm
iuç
ando
o
s
dados
prese
nte
s
na
narra
ti
v
a.
O
sabi
á
se
c
o
mp
a
rou
c
o
m
os
p
ássaros
que
h
avia
m
m
o
rrido,
e
persebeu
que
sua
vida
não
era
a
mais
tr
i
ste
ma
s
sim
as
do
s
pás
saros (A1
0
, 2006, Texto 83).
A
mora
li
d
ade
é
m
odific
ada
c
om
a
inse
rçã
o
de
u
m
a
pr
epos
i
ç
ão
q
ue
alterou
s
ign
ifi
c
ativa
m
en
te
seu
cont
eúdo:
“Antes
de
penar,
m
or
rer”.
Se
na
v
er
s
ão
origina
l
a
moralidade coloca o
sofrim
e
nto co
m
o algo m
elhor do
que
a m
orte,
a
cri
an
ç
a
c
oloca
o
penar
como
o
r
es
ultado
da
própria
m
orte
,
cons
truindo
uma
afirm
aç
ão incoe
rente.
168
A
penúltim
a
produ
ção
aprese
nt
a
pr
o
blemas
de
c
onc
o
r
dânc
ia
v
e
rb
al,
nom
inal,
c
oer
ência
e
c
oe
s
ão,
oco
rrên
c
ias
que
m
otiv
aram
u
m
co
m
entár
io
da
prof
e
ss
o
r
a,
orientando
o
aluno
a
ler
s
empre
s
eu
tex
to
an
t
es
de
e
nt
reg
á
-lo
(anexo
D
7),
m
o
tiv
ando
o
di
sc
ente
a
refletir
s
obre
a
escr
ita.
No
entanto,
as
orientaç
õ
es
se
refe
rem
à
forma,
já que
não
a
c
ontecem
inte
rvençõ
e
s
rela
ci
onadas
a
o
conteúdo,
aprese
ntado pelos discen
t
es:
A
nt
e
s
o
e
spetác
ulo
das
mizerias
estraç
alh
ada
ao
t
i
ro,
pingando
de
sa
ngue, a s
a
biá tremeu (A12, 2006, T
e
x
t
o 84).
Tai
s
m
ud
anç
as
são
sig
nificativas
n
o
que
t
an
g
e
ao
res
ultado
obtido
pela re
escr
ita,
pois, a
o
alterar
o
sentid
o,
t
ambém
o
c
onteúdo
da
n
arrativa
p
ode
ac
om
p
anhar as a
lterações e obter resultados opostos a
o esperado.
A últ
ima fábul
a r
e
s
ume o
en
redo, s
intetiz
ando s
eu
conteú
do ao
repres
entar a
s
ocorrências pr
in
c
ipa
i
s
:
O velho s
abiá rec
l
ama
v
a p
o
rq
u
e
esta
v
a preso
na ga
iola
.
(
.
..) D
e
repente viu
o ca
çador, seu dono e
ntr
a
r com a es
p
i
ngar
d
a no
ombro
e
um
c
ordão
de
páss
aros
sangran
d
o
e
e
m
agonia
(A1
3,
2006,
Texto
85).
A
moral
é
integr
ada
ao
te
x
to
e
a
ss
um
e
o
pensamento
da
av
e
da
se
g
uinte
form
a “
que e
ra mel
h
or e
s
tar preso mais
v
i
vo
do qu
e
m
or
to e
m
a
gonia”.
3.2.22
O Velho, o Menino
e
a
Mulinha
A
últi
m
a
fáb
ula
selecionada,
O
v
el
h
o,
o
menino
e
a
mu
li
nh
a
é
encon
trada
c
omo
O
mo
leiro,
o
filho
e
o
burro
em
La
F
ontaine.
Monteiro
Lobato
descreve
um
v
elho
que
pede
p
ara
o
filho
q
u
e
b
u
sq
ue
a
égu
a
e
a
prepare
par
a
irem
até
a
cidade
par
a
ve
ndê-la.
O
m
enino
a
t
raz
e
os
dois
se
coloc
am
a
c
ami
n
ho
a
pé,
lev
ando
o
anim
a
l.
No
p
erc
urso,
u
m
v
iajante
s
ugere
que
o
v
elho
monte
o
a
nimal
de
v
ido
a
sua
idade.
Aca
t
am
a
suges
tão
e
o
m
e
nino
pux
a
a
s
rédeas,
enquanto
o
ve
lho segue m
o
ntad
o. Em segui
da, encontram um
gru
po de lav
adeiras que r
e
c
rim
ina
o
hom
e
m
por
deixar
o
fil
h
o
a
pé.
O
v
elho
pede
q
ue
o
m
enino
ta
m
bé
m
m
o
nte
o
anim
a
l
e
seguem.
Depa
ra
m
-s
e
com
u
m
fun
c
ionário
d
o
corr
eio
que
afirm
ou
que
o
excesso de
peso
c
an
s
ar
ia
o ani
m
al e dificultaria
a venda,
o que faz
o
h
om
em
169
des
m
o
ntar
e
puxar
as
rédea
s,
l
e
v
and
o
apena
s
o
filho
no
anim
a
l.
Nov
o
encontro,
e
um
s
ujeito
c
hama
o
menino
de
p
rín
c
ipe,
e
o
velho,
d
e
la
c
aio,
po
r
es
t
ar
a
c
ria
nça
m
o
ntada
e
o
v
elho,
pux
ando
a
s
réd
eas
d
o
animal.
Pass
am
a
c
arregar
o
an
im
al
n
as
costas
e
sã
o
no
v
am
ent
e
critica
d
os
p
or
um
g
rupo
de
rapazes.
O
v
elh
o
constata
a
impossibil
idade de agradar a
tod
os
.
O t
exto
O v
elho, o
menino e
a
mulinha
f
oi e
sc
ol
h
ido
por
du
a
s
cri
an
ç
as
apenas.
A
prim
e
ira
delas
modific
ou
o
tex
to
original,
a
o
in
s
erir
e
lem
entos
tex
tuai
s
diversos:
Um
d
ia
o
p
ai chamou o
f
ilho (...)
(A4, 2006, Texto 73, gr
if
o nosso).
A
marc
ação
te
m
po
ral
em
de
staque
n
ão
aparece
n
o
texto
lobatia
n
o,
que
difere
da
reproduç
ã
o
da
c
riança
pel
a
apresentação
da
s
fal
a
s
d
as
per
s
ona
gens,
que sã
o pa
ss
ad
as para a form
a ind
ireta:
(...)
c
hamou
o
fi
lho
e
falou
para
i
r
ao
p
asto
pegar
a
mul
a
(A
4
,
2
006,
Texto 73).
No texto o
ri
ginal
, essa passage
m
é
construída da se
guinte fo
rma:
O velho
cham
o
u o filho e disse:
-
V
á
ao
pasto,
pegue
a
b
e
stinha
ruana
e
a
pr
o
nte-se
para
irmo
s
à
cidade,
q
u
e quero vendê-la (LOBATO, 1973 b, p.
16
).
Algumas
falas
,
en
t
reta
nt
o,
são
m
anti
das
na
form
a d
ireta
, aq
uela
s
em
que
há
a
participação
d
e
p
er
so
nagen
s
pass
ageiras
na
na
rrativa,
ou
sej
a,
q
ue
part
i
c
ipam apenas p
ara m
ot
iv
ar o de
s
enrolar do conf
lito.
Logo passou um grupo de meninos e os vaiou
dizendo:
- Qua
l dos três
é mais burro
?
(A4, 2006, Texto 73).
A
moral
é
ress
altada
p
el
a
c
riança,
d
e
stacando
a
im
por
tânc
ia
que
a
s
part
e
s
do
t
e
xt
o têm
p
ara as cr
ianças.
A
s
egu
nd
a
re
escrita
não
s
e
liberta
da
in
fluência
da
fábula
origi
nal,
aç
ão
perce
ptí
v
el
na
s
em
el
hança
entr
e
os
textos,
s
al
v
o
as
incorreções
ortográf
i
cas,
que ap
are
c
em na prod
ução:
170
O velho
cham
o
u o filho e disse:
-
Vá
ao pasto,
pegue a
best
i
nha
r
u
ana e
prepare
para i
rmos a
cidade
ve
ndela
(A2, 20
0
6, Texto 73, gri
f
o nosso).
O
ter
m
o
des
tacado
m
os
tr
a
que,
mes
m
o
pag
and
o
a
dív
ida
pa
ra
c
om
o
tex
t
o
or
iginal,
a
fidelidade
esbarra,
em
a
lgu
ns
momen
t
os,
na
não
apro
priação
da
linguagem
esc
rita
com
o,
n
o
caso,
do
u
s
o
de
pr
onom
e,
ainda
não
d
om
inado
por
alunos do
prim
eir
o c
i
c
lo d
o Ensino Fundam
e
ntal.
Em
ou
tros
m
o
m
entos
o
d
i
sc
e
nte
grafa
filio
(filho)
,
po
ç
a
(boca)
, pas
a
r
(passa
r)
, grasa
(
gra
ça)
,
d
i
s
em
(dizem),
prosizamos
(p
ro
ss
igamos)
,
amostras
de q
ue,
m
e
s
m
o pa
uta
do n
o texto
lo
b
atiano,
a c
ria
nça
encont
ra dificuld
ad
e
em reg
istrar o
que
lê
e
entende.
Isso
porque
a
com
p
reens
ão
de
textos
e
n
vo
l
v
e
proc
e
s
sos
co
gnitivos
m
ú
ltiplos
,
que
reúne
o
co
njunto
de
processos,
at
i
v
idad
e
s
,
rec
urso
s
e
estratégi
as
m
e
ntais p
rópri
os do ato de compreender.
Para
tanto,
o
domínio
b
ásico
de
c
ompetênci
a
lingüí
st
i
c
a
é
indis
pensá
v
el
para
a
leitura
e
en
te
nd
im
ento
do
t
exto
narra
ti
v
o,
já
que
ca
be
ao
le
itor
entend
er o que
e
st
á im
pl
íci
to, bem co
m
o
aqu
il
o
que é re
alm
ente a
fir
ma
do
. De
v
ido
às
div
e
r
gênc
ia
s
ent
re
o
e
sc
rito
e
o
r
eproduzido,
poster
iorm
e
nte,
p
elo
aluno,
fica
d
if
ícil
quanti
fi
c
ar e
at
é q
ualificar o
entendi
m
ento do te
x
to
, um
a
v
ez que
a
mensage
m
recons
tituída pode apresent
a
r conteúdo
distin
to do t
exto original.
A teori
a d
isc
utida sob
re
a
d
aptação, tr
adu
ç
ão, paró
dia,
assim
c
om
o
a
trajetór
ia
das
fábu
la
s
lobati
a
nas
n
o
tem
po,
a
poiadas
na
teor
ia
da
Es
té
tica
da
Rece
pção, consistiu no eixo
organizaciona
l no qual se
apoiou
a anál
i
s
e des
e
nvo
l
vi
da
neste
capítulo
.
O
intuito
principal
c
onsi
s
tiu
em
an
alisa
r
as
marcas
d
a
recepçã
o
do
tex
to
literári
o
em
u
m
grup
o
es
pecífi
c
o,
c
rianças
perte
n
c
entes
ao
p
rim
e
iro
ciclo
do
Ens
ino Fundam
ent
al.
Com
o
tra
balho
percebeu-se
que,
c
onform
e
s
e
disc
utirá
m
a
is
prof
undam
ente
nas
refl
e
x
ões sobre
a leitur
a e
nas
Consideraç
õe
s
Finais, a r
e
c
epção
da
ob
ra
literária
é
fr
uto
do
tem
p
o
e
do
m
e
io
no
qual
s
eu
leito
r
es
tá
inserido.
No
entanto
,
m
e
smo
te
ndo
o
te
m
po
co
mo
c
ara
c
ter
ística
marc
ant
e,
no
ta
-s
e
qu
e
o
processo
de
re
escrita
c
on
s
iste
em
uma
c
on
stante
tentativa,
por
pa
rte
d
e
s
eu
realizador
, de tornar acessível
a entidade textual.
171
3.3 Ilu
str
a
ções
:
Esboços de L
ei
tu
ra
Me
s
m
o
a
anális
e das
i
l
ustra
ç
ões não sendo o
f
oco
do p
res
ente
es
tud
o
,
algu
m
a
s
s
ituações
cham
a
m
a
aten
ção
e
c
orroboram
na
int
erpretação
da
si
tua
ç
ão
de
leitura
r
e
a
li
zada
pe
la
cr
iança.
Isso
por
que
é
na
ilustração
que
a
c
riança
atualiza
inform
aç
ões,
resgata val
ores e
libera s
eu
po
n
to de vis
ta, al
ém
de
des
ta
c
ar o
que
m
a
is
lhe
c
ham
ou
a
ate
n
ç
ão
n
a
na
rrati
v
a.
Algu
m
as
reco
rrên
c
ias
observad
a
s
se
repe
tem
,
c
om
o
a
h
umanização
dos
animai
s
e
a
atu
alização
dos
quad
ros
descr
itos
por
Lob
ato,
no
qual
as c
r
ianças, a
p
artir
de
s
uas
re
leituras,
ins
erem
dados
e
si
tua
ç
ões comuns
de sua realidade
.
O antrop
omorfismo é u
m
a
co
nst
a
nte
em grande
parte
dos desenhos.
Neles
,
os
a
n
im
ais
s
ão
retratados
como
b
ípedes
e c
om
e
xpressões
facia
i
s
humanas,
si
tua
ç
ão
q
ue
po
de
ter
raízes
na
his
t
ória
da
fá
bula,
cuja
fu
nção
e
s
te
v
e
pautad
a
na
doutr
inaç
ão d
o ser hum
a
no por meio do
u
s
o d
e an
im
a
is.
O
desenhis
ta
e
c
ari
c
aturi
s
ta
J
ean
Ignace
Isidore
Gerar
d
Grandville
(180
3 –
1847), res
ponsá
ve
l pe
la ilustraç
ã
o
das
fábulas
de L
a Fo
nt
ai
ne,
já r
ep
ro
duzia
os
anim
ais
descr
itos
nos
tex
t
os
c
om
tra
ços
e
v
estimentas
hu
m
a
nas
,
c
aracterizaç
ã
o
que
pode
s
er
o
bs
e
rvada
na
r
eproduç
ã
o
de
um
a
de
su
as
g
ravuras.
Ao
desenhar
a
ci
ga
r
ra
e
a
fo
rm
i
ga,
d
e
tex
to
h
om
ônimo,
as
re
prod
uz
c
om
v
estimentas
femininas
da
época
, c
om
o
pode
ser
o
b
serva
do
no
anex
o
E
49.
Edições
poste
riores
t
razem
ilustraçõ
e
s
d
e
Gu
s
t
a
v
o
Doré,
pintor
do
s
éculo
XI
X,
que
h
um
ani
z
a
a
s
fábulas
de
La
Fon
taine,
ao
reproduzir
não
s
ó
as
v
estimentas
c
omo
ta
mbém
s
ere
s
hum
an
os
n
as
ce
n
as em que o
poeta des
c
rev
e
a
nimai
s
(an
e
x
o E 50
).
Dess
e
modo,
a
a
tribu
i
ç
ão de
tra
ç
os
,
ves
ti
mentas
e
a
té
de sere
s
hum
anos
q
uan
do
o
quadro
de
sc
rito
faz
r
eferê
ncia
a
an
im
ais
é
um
a
pr
ática
a
ntiga,
que
se
r
epet
e
,
nas
ilustrações
r
ealiz
a
das
pelo
gru
po
infan
til,
como
é
perc
eptível
na
análise
que
se
s
egue.
Na
prim
eira
ilus
traç
ã
o
analisada,
efetuada
pela
criança
A3
para
retratar
a
fábula
A
As
se
m
b
léi
a
do
s
Rat
os,
o
discente
c
aracteriza
os
an
im
ais
da
fábula
com
pe
rfil
hu
m
a
nizado,
o
q
ue
a
co
ntece
po
r
meio
do
pr
oc
e
ss
o
de
antr
opom
or
fismo.
No
retra
to dos
a
nim
ais
, u
m felino
e
doi
s
roedores,
os
m
es
m
o
s
s
ão
bípedes
e
a
distinç
ão
en
tre
os
dois
grupos
é
possível
pela
diferença
de
tam
a
nho,
já
que o g
ato é ma
ior
do que
os roedor
es (anexo E 1).
Na
s
egunda
ilu
s
traç
ã
o
d
e
s
ta
fá
bula,
os
r
a
t
o
s
também
sã
o
retra
tados
co
m
o
bíped
es.
A
i
lust
ração
m
o
str
a
u
m
di
álogo
entre
os
roe
dores,
no
qual
ninguém
172
quer
a
ssu
m
ir
a
m
iss
ão de col
o
c
ar o g
uiz
o
em
F
aro-Fino.
O de
s
enho p
os
s
ui um título:
Clube
d
os
Ratos,
atu
aliz
aç
ão
do
título
d
a
narr
ativa
A
ss
embléi
a
do
s
ratos,
com
o
dem
ons
tra
o anex
o E 2. Nesta ilustr
a
ção
há um
d
iálogo en
tre a
professora
e o alu
n
o,
no
qual
o
últi
m
o
indaga
s
e
o
desen
h
o
está
bonito
,
rec
e
bendo
da
do
c
ente
a
co
n
firmação.
Tal
inquieta
ç
ão
m
os
tra
q
ue
o
alu
no
se
preocupa
em
direci
onar
sua
prod
u
ç
ão
p
ara
s
eu
leito
r,
no
caso
e
m
ques
tão,
a
própria
p
rofes
s
ora.
Amori
m
(20
05)
resgata
a
importânc
ia
das
in
s
tânc
ias
de
av
aliaçã
o
,
que
p
ara
e
sc
ritores
e
adapta
dores
tr
adicionai
s
têm
n
as
e
ditor
a
s,
m
e
rcad
o,
crí
tica,
en
tre
outros,
o
s
respons
á
v
eis
pela
regulam
e
ntaç
ã
o
d
o
ato
criativ
o.
Nes
se
c
as
o,
em
es
pe
c
ial,
longe
dos
objetivos
de
publ
i
c
ação,
o
a
lu
n
o
b
usca
a
ap
rovação
da
e
nti
d
ade
a
va
liadora
ao
qual está
subm
etido – a pr
ofessora.
A
ilus
traç
ã
o
seg
uinte
retrata
os
rat
os
de
forma
pró
xi
m
a
à
realida
de,
quanto
a
s
ua
form
a
de
locomoção,
som
ente
o
ga
to
e
s
tá
retra
t
ado
como
b
ípede,
caract
erí
s
tica
que
po
d
e
s
er
e
nte
ndid
a c
om
o
t
raços
do
antropomorfis
m
o.
Ass
em
el
har
o felino a
o ho
m
e
m pode
ser
um
a
maneira d
e ap
roxim
á-lo
também em ca
ract
erísticas
ps
i
c
ológicas,
des
tacando-o
como
o
v
ilão
d
a
na
rrativa.
No
enta
nto,
ainda
que
de
m
a
neira
m
ais
d
is
c
reta,
é
inserido
um
traç
o
hu
m
ani
zador
n
o
retrato
no
s
ratos,
u
m
a
ve
z
q
ue h
á
um
a
f
ala
a el
es
atr
ibuída,
por
m
ei
o d
e
um
b
alão,
s
em
e
lhante
ao
util
iz
a
do
nas
história
s
em
qu
adri
n
hos:
-
Vamos!!,
c
om
o
apo
nt
a
a ilus
tração presente
no
anexo
E 3.
Na
f
ábu
la
A
águi
a
e
a
c
or
uja
novamente
aco
ntece
o
d
iálogo
entre
docen
te e
discente
, pois
no
trabalho
a
rtíst
ic
o
ocorre
um reg
istr
o
,
p
or p
arte da
docen
te,
direcio
na
d
o ao
aluno. A
pri
m
e
ira escreve um
el
ogio
p
or
mei
o
de um
a
palavr
a
em
ingl
ês,
Beauti
f
ul
,
seg
uida
pela
sua
tradução
entre
parêntes
i
s
maravil
h
oso
,
aç
ão
q
ue
t
raz
n
o
v
am
ente
a
qu
alificação
da
instân
ci
a
avaliadora,
repres
entada p
ela professora
regente.
Além
di
sso, a
gravura
do a
ne
x
o
E
4 regist
ra
o
m
o
mento
e
m q
ue a
águia
c
hega
ao
ninho
da c
o
ru
ja, que
resulta
no
clímax
nar
rati
v
o:
a m
orte
dos
filhos da coruja.
A
nar
rat
i
v
a
A
c
i
gar
ra
e
a
formigas
,
e
m
s
ua
primeira
p
arte
A
for
m
iga
boa,
pos
s
ui d
ois desenhos, a
m
b
os
curi
oso
s
. No
pri
m
eir
o, a
criança ass
ina
o trabalho
co
m
o
a
utora
e
i
lu
s
tr
a
dor
a
e
c
om
e
ss
e
gesto,
assu
m
e
s
ua
par
ti
c
ipaçã
o
na
co
n
stituiçã
o
de
seu
t
exto
(
anexo
E
5).
No
dese
nho
d
e
s
ua
au
toria,
retrata
a
c
igarra
entr
e
f
olha
s.
O
d
iálogo
entre
professora
e
al
uno,
inic
iado,
co
m
o
d
is
c
utido
anter
iorm
en
te,
c
om
a
sugestão
da
educadora
em
dire
cionar
a
atividade
de
reescrita,
173
não
aceito
p
ela
c
r
iança,
é
su
b
stituí
do,
e
m
u
m
ato
de
poss
ível
a
paziguamento,
por
um
elogio
n
a
il
ustração,
na
qua
l
aparece
o
v
erbo
“adorei!”.
J
á
a
ilustraçã
o
se
guinte
so
b
re
a
fáb
ul
a
,
anexo
E
6, mos
tra a
m
o
tivação
para
a
narra
ti
v
a,
u
m
a
v
ez qu
e ret
rata
a c
ig
a
rr
a
c
antando em um galho e a
formiga tra
balhando próxim
a
ao for
m
igueiro
.
O
pr
im
eiro
des
enho
so
bre
a
fáb
ula
A
formi
ga
má
m
os
tra
o
m
o
m
ento
em
que
a
cig
a
r
ra
bate
à
p
orta
d
a
fo
rmiga,
co
m
o
é
perc
ept
ível
no
anex
o
E
7.
Além
das
personagens
da
nar
rati
v
a,
faz
pa
rte
do
desenho
u
m
bonec
o
d
e
neve,
r
ef
er
ên
c
ia
à
e
s
tação
c
lim
át
ica.
Tal
i
n
s
erção
m
os
tra
também
o
co
nhecim
ento
de
m
u
ndo
d
esse
leitor,
que
assoc
ia
à
palavr
a
inv
e
rno
s
ím
bolos
d
e
ss
a
esta
ç
ão
do
ano,
que
mes
m
o
es
tranhas
à
real
idade
t
ropical
bra
s
ileira
,
faze
m
parte
do
u
ni
v
ers
o
de
conhecimentos
desse le
itor. O ho
rizonte de
e
x
pectativas, apr
esen
t
ado p
or Jauss, co
n
s
i
st
e nas
ex
pe
c
tativas
investid
a
s
durante
a
leitura,
por
meio
d
a
bag
agem
de
co
nhec
im
ent
os
prévios,
frut
o
tan
t
o
de
l
eitura
s
re
aliz
adas
a
nteriormente
c
om
o
d
o
c
onhe
c
im
ent
o
de
m
u
ndo
do
indivíduo
. O
utra
ilu
straçã
o d
esta
fá
bula,
anexo
E
8,
r
etrata
os
dois
ins
et
os
,a cigarra
c
a
nta
nd
o e a
form
iga
trab
alhando, moti
v
ação
p
a
ra o
con
flito.
O
tex
to
A
galinha
do
s
o
vos
de
ouro,
e
m
su
a
primei
ra
ilus
tração,
m
o
stra
a
person
a
ge
m
pr
inc
ipal,
J
oão,
segurando
o
ovo
d
e
o
u
r
o
nas
mãos
.
De
s
ua
ca
b
eça
s
ai
um
b
alão
o
nde
e
stão
desen
h
adas
nota
s
d
e
din
heiro,
um
c
ar
ro
e
u
m
a
casa,
representaçõe
s
dos
po
s
sív
eis
s
onho
s
d
a
pe
rsonagem
,
materiali
zados
a
p
artir
do
im
a
ginário
infan
til.
Na
narra
ti
v
a
lobatiana,
as
aspira
ç
ões
de
Joã
o
se
resum
e
m
a
fic
a
r
rico
r
a
pida
m
e
nte,
enq
uanto
qu
e
a
leitura
da
cria
n
ç
a
insere
v
alores
e
a
m
bi
çõ
e
s
co
m
un
s
de
seu
tempo,
representa
ç
ão
qu
e
destaca
símbolos
do
c
onsumism
o do
sécul
o X
XI, co
m
o
m
o
str
a o an
e
xo E 9
.
A ilus
tração
seguinte,
anexo
E 10,
m
o
str
a J
o
ão
q
ue, a
pontando p
ara
a galinha
, gri
ta, inform
an
do
a mulher, qu
e tem a fun
ção
de int
e
rlocut
ora, que
o
s
o
v
os
sã
o de
ou
ro.
O
d
iálog
o
, c
uja
representação
se
desenvolv
e
à s
emelhanç
a
da
s
his
tó
r
ias
em
qua
drinhos
49
,
u
m
a
v
ez
qu
e
a
fala
ap
are
c
e
r
ep
r
esa
da
em
u
m
balão,
aponta
para
a
rec
e
pção
do
texto,
c
uja
m
es
cla
de
lingua
gem v
er
bal
e
ling
ua
g
em
não
verbal
é
u
m
elemento
que
c
orrobora
o
process
o
de
in
terpretação
textual.
O
te
x
to,
então,
utiliza-se de
outra influê
n
c
ia
escrita,
ne
ss
e caso
, das
hist
ó
ria
s
em qu
adri
nhos,
ins
t
r
um
ento
q
ue c
o
op
era
na expr
e
ss
ão do p
rocesso d
e escr
it
ura
e rec
epção do
texto
49
Nota-se
t
anto
na
a
n
á
li
se
da
s
pr
o
duçõe
s
tex
t
ua
i
s
quan
t
o
na
das
ilu
str
ações
a
in
f
lu
ência
das
hi
stó
ri
as
em
qu
adr
in
hos, m
a
rca do
acesso
do
grupo
a
es
se
ti
po
de
li
tera
t
ura. No
caso
da
s
il
ustrações, em
espe
cia
l,
a
fal
a
e
m
bal
ões
é a
for
ma de in
serir co
m
entári
os, opi
ni
õe
s e até re
ssal
t
a
r detal
hes das na
rr
ati
vas nas ilu
stra
ções.
174
origina
l
e
de
s
ua
re
es
crita
.
A
l
eitura
é
um
pr
o
c
esso
de
es
c
olha,
no
qual
o
leitor
é
obrigad
o
a
esc
olh
e
r
o
te
m
p
o
todo
e,
em
s
ua
s
escolhas,
tra
z
p
ara
o
universo
textual
os
elementos
e
instrumentos
ut
iliz
ad
os
ness
a
a
ç
ão,
ness
e
c
a
s
o,
a
s
histórias
em
quadr
inho
s
.
A ilus
tração
seguinte,
an
exo
E
11,
m
o
str
a
a
interpretaç
ão
do a
luno e
aprese
nta a
ga
linh
a
e
m
s
eu
n
inho, que
c
ontém
dois
ovos
de
our
o.
Tal
quadro
vai
de
encon
tro
à
s
inf
or
m
aç
ões
divu
lgada
s
na
história
or
iginal,
já
que
apenas
um
ov
o
era
co
lo
c
ado por
s
em
an
a e, logo após, e
ra recolh
ido pe
lo propr
iet
á
rio
d
a av
e.
O
últi
m
o
d
ese
nho
desta
narrativa,
por
m
ei
o
da
re
presentaç
ão
da
part
e
pelo
todo,
m
os
tr
a
uma
m
ã
o
retir
a
nd
o
um
ov
o
do
ninh
o
da
galinha,
indete
rm
in
ando a pers
o
nagem
qu
e realiza a
ação. Tam
bé
m
nes
ta ilu
s
tração há
co
m
en
tários da pr
ofessora (anexo E
1
2).
A única
ilustraçã
o a priv
ilegiar a fá
bula
A garç
a v
el
h
a
re
trata a
prot
agoni
s
ta,
a
garça,
c
om
o
b
ic
o
c
heio
de
peix
es,
p
ró
x
im
o
ao
poç
o,
quadro
q
ue
si
m
boliza a
aç
ão
cen
tral da narrativa (anexo E 13).
No
traba
lh
o
realizado
c
omo
doce
nte
h
á
al
gu
n
s
an
os
é
fato
o
pra
z
er
co
m
que
a
c
riança
ne
sta
faixa
etária c
ostum
a e
nca
rar
as
ativ
i
dades
ar
tí
s
t
i
c
as,
relaciona
da
s
ao
d
esenh
o,
o
q
ue
cha
m
o
u
a
atenç
ão
a
omi
s
são
da
ilustraç
ã
o
de
u
ma
das
pro
d
u
ç
ões.
A exc
lusão
o
co
rreu
em
um
a
únic
a pr
odu
ç
ão que
tr
a
ta
da
narrativa
O
pavão
enfeitad
o
com
pen
as
de
pavão
.
Tal
o
m
is
sã
o
pode
ind
i
c
ar
o
n
ão-
co
n
hecimento
do
co
nteúdo
t
extual
ou
d
e
s
eus
elem
en
tos
,
no
caso
em
es
pecia
l,
dos
anim
a
is
descritos
na narrati
v
a, pou
c
o comuns às
crianç
a
s
do m
eio u
rban
o.
A
fábu
la
A
menina
d
o
l
e
ite
r
eúne
i
lus
tra
ç
ões
cu
riosa
s
,
nas
qu
ai
s
se
destaca,
princ
ip
a
lme
nte
,
a
atu
aliz
aç
ão
d
e
s
ignificados
da
nar
rati
va
,
que
s
ão
reescri
ta
s
com
dados
comuns
ao
c
amp
o
significa
ti
v
o
do
aluno.
O
prim
eir
o
de
sen
ho
retra
ta
a
menina
c
aída
no
c
hão
e
m
frente
a
o
“m
erc
ad
o
”.
No
en
tanto,
ressa
lta
-se
a
diferenç
a
e
x
i
s
tente
ent
re
a
idéia
de
m
erc
ado,
repres
entado
na
ép
oca
da
narr
ativa
lobatiana
,
local s
em
e
lhante
a
u
m
ar
m
a
zém, onde
hav
ia
a
expos
i
ç
ão d
o
s
m
a
is
diferen
tes
gêneros,
e
o
m
er
cado
do
séc
ulo
XXI,
apres
entado
no
de
s
en
ho
d
a
criança
co
m
o
u
m
rec
into
fechado,
que
em
b
ora
mante
nha
sua
t
radição
d
e
co
m
e
rcia
liz
aç
ão
de
produtos
var
iados,
apr
e
s
enta,
nos
dia
s
atuais,
d
isposição
e
o
rganização
distinta
da
represen
tad
a
na
fábu
la
c
a
n
ônica.
Isso
p
orqu
e
o
merc
ado
desenhado
pe
la
cri
an
ç
a, cuj
a fachada ostenta
o nome do es
ta
b
elec
im
en
to comercial, é uma das
m
a
is
importantes
re
d
es do
s
egmento na cidade
,
c
omo
d
e
m
ons
tr
a
o ane
x
o E
14. Ao
175
repres
entar
o
mercado
da
narra
ti
v
a c
om
o
s
logan
de
uma
co
nheci
d
a
r
ede
de
su
p
ermerc
ados, a
c
r
ianç
a
m
ar
ca sua l
eitur
a c
om
as
influências a que ela está
ex
po
s
ta.
Jauss
(1994)
ch
am
a
a
ate
nção
pa
ra
a
im
po
rtân
c
ia
d
o
di
álogo
e
ntre
obra
e
público,
m
ov
im
en
to
qu
e
pro
m
ov
e,
segund
o
o
t
eórico,
um
deb
ate
q
ue
impulsiona
a
construção
de
s
ignifi
c
ados
so
br
e
a
obra
literár
ia.
As
s
im
,
de
saparece
a
“oposição
entre as
pectos hi
stóricos
e
aspectos
estét
i
c
os,
e po
derá
restabelecer-se
a
ligaç
ão
en
tre
as
obras
do
pass
ado
e
a
exper
iência
literária
de
h
oje”
(J
AUSS,
19
94,
p.
57-
58
),
s
ituação
que
per
m
ite
a
incl
usão
de
e
lementos
d
a
atua
lidad
e
no
s
text
o
s
escritos
e
m
époc
a
distinta
a
d
a
leitura,
c
om
o
é
o
c
a
s
o
do
sup
erme
rc
ado,
r
etratado
na r
e
ce
p
ção d
a criança.
Outro
dese
nh
o
m
o
stra
Laur
i
nh
a
em
meio
a
s
eus
devaneios.
A
cri
an
ç
a
cam
inha
c
om
o
pote
de
le
ite
n
a
c
abeç
a
e
ao
l
ado
d
ela
está
u
m
b
alão,
no
qual estão representados todo
s
o
s
s
onhos da
m
e
nina: ovos
,
pintin
ho
s
,
fr
angos,
su
ín
os
e
cédulas
de
d
inheiro.
E
s
se
ú
ltim
o
it
em
apres
enta
a
a
tualização
de
form
a
bastan
te
clara,
po
i
s
se
n
a
história
o
au
tor
faz
r
efer
ência
a
o
c
ruzeiro,
moeda
de
ci
rcula
ç
ão
na
época,
a
criança
dese
nha
c
édulas
de
real,
atual
moeda
br
a
s
ileira,
ins
e
r
indo
inclusive deta
lhe
s
das no
tas como o
no
m
e do Ba
nc
o do Bras
il e
os
símbolos
de cada exe
m
plar
, como dem
o
ns
tra o anex
o E 15,
dando de
s
taque para
o
s
anim
a
is que
s
im
bol
izam
a
s
c
édulas.
Aq
ui,
o
conteúdo l
iterário
é
a
tualizado
pelo
próp
rio
l
eitor,
en
tidade,
s
egund
o
Ja
u
ss
,
v
ariável
de
acord
o
com
s
ua
ex
periência
de
vi
da.
Nesse
c
a
so,
talvez
c
rianças
de
meios
econô
m
ic
os
de
s
favorecidos
n
ão
repres
enta
s
se
m
,
com tanta r
iquez
a
de detalhes,
a materialização do
dinheiro.
A
terce
ira
ilustr
a
ç
ão
s
obre
a
fábula
m
os
tra
a
protagon
i
s
ta
La
urinha,
que c
o
ntem
pla o pote de leite caído.
Ne
s
sa figura, tam
bé
m
h
á a
av
aliação da
prof
e
ss
o
r
a
q
ue
escreve
“m
arav
ilhoso”,
marcand
o
o
di
álogo
existente
entre
o
respons
á
v
el pela rees
c
rita e seu
leitor, a professora (anex
o E 16).
O d
e
se
nho se
guinte
m
os
t
ra
La
rinha
,
a
p
ó
s
a
q
u
eda, co
nstatando,
por
m
e
io
d
e
u
m
a
fala
r
epres
ada
em
u
m
b
alão,
a
p
erda
:
“-
Perdi
tudo!”,
novamente
c
o
m
cl
ara referência ao universo dos quadr
inhos,
c
om
o
aponta
o
anex
o E 17.
A
ú
ltima
ilus
tr
a
ç
ão
desta
fábul
a
,
em
u
ma
v
isão
atualizada
e
m
o
derna,
most
ra,
c
om
o
é
po
ssível
ve
r
no
anex
o
E
18,
uma
c
ai
x
a
de
leite,
possiv
elm
e
nte
longa-v
ida,
sendo
derra
m
ada.
O
in
teress
ante
é
a
infl
uê
ncia
da
atualidad
e
na
leitura
da
cria
n
ç
a,
pois
na
da
no
tex
to
fa
z
refe
rên
c
i
a
ao
rec
ipiente
de
176
co
m
erc
ia
liz
aç
ã
o
do
produto,
s
om
ente
a
o
pot
e
,
m
eio
de
tr
ansp
o
r
te
até
o
m
e
rc
ado.
Ness
a
c
on
v
ivênc
ia
entre
o
co
ntexto
canônico
do
i
níc
i
o
d
o
séc
ulo
XIX
e
u
m
produ
to,
leite
longa-vida,
s
ur
gi
d
o
em
meados
deste
m
es
mo
século,
a
c
ri
an
ç
a
reflete
e
t
raz
para
a
narrativa,
e
lem
en
tos
que
pe
rm
it
em
a
c
omparação
co
ntextual,
açã
o q
ue
corr
obora
para
a
con
s
tituição
do
horizonte
de
ex
pe
c
tati
vas
e
também
d
e
co
m
o
a
narra
ti
v
a
é
r
e
c
ebida
pelo
leitor
em
for
m
a
çã
o.
Tal
c
itação
demonstra
a
participa
ç
ão
do
h
orizonte
de
ex
pectativas
da
cr
iança
em
s
eu
pr
o
cess
o
de
r
e
c
ep
ç
ão
e
divul
ga
ç
ão
da
própria
int
erp
re
tação.
Compõe
m
o
qua
dro
ainda
,
na
parte
s
uperior
do
de
s
enho,
lágrimas e a
represen
ta
ç
ão da lamentação
da protagonista p
or m
eio da
onom
a
topéia
“- Buá!
”, repre
s
entação gráfica do choro
.
A
atualiz
a
ção
d
a
narr
ativa,
p
e
rc
ebida
tanto
nas
reescritas
quanto
nas
ilust
raç
ões
,
não
é
ex
plorada
em
sa
la
d
e
au
la,
c
om
o
uma
fo
r
m
a
de
re
al
re
leitura
dos
textos
c
lássicos,
co
m
o
afir
ma
a
prof
e
ssora
regen
te
ser
a
i
déia
norteado
ra
do
trab
alho
(anex
o
C
1
5
0
).
Isso
porque
n
ão
há
debate
dos
resultados
obt
idos
pelos
alunos e
nem discussão
sobre o porquê
de
tais r
e
sult
ados, a
t
ua
lização que começ
ou
a
s
er
ignorada
c
om
a
exc
lusão
d
a v
oz
crítica
loba
tiana,
que
a
p
resen
ta
a
atualizaç
ã
o
dos
cl
á
s
sicos
por
m
e
io d
os
comentários
p
onderados
de
Dona
Ben
t
a
e
dos
di
scursos
bem
-hu
m
or
ados
de Em
ília.
A
fáb
ula
A
rã
e
o
boi
traz
três
ilustrações
q
ue
inte
re
s
sam. N
a
prim
eir
a,
ane
xo
E
20,
à
s
em
el
hanç
a
d
a
c
onc
lusão
te
x
tual
,
é
des
en
hada
a
r
ã
q
ue
almeja
ficar
do
tamanho
do
b
oi,
motivação
para
a
evolução
d
o
c
onfl
ito
.
J
á
as
du
a
s
outr
a
s
re
presentam
a
ex
plosão,
pos
s
iv
elm
ent
e
a
qu
e
v
itim
ou
a
rã.
No
anexo
E
2
1
a
onom
atopé
ia
que
represe
nta
o
esto
u
r
o
é
Plaft
!
,
a
mesma
d
ifundi
da
p
elo
te
x
t
o
lobatiano
,
que
també
m
f
a
z
uso
faz
us
o
des
te
recurso.
J
á
n
o
anexo
E
22
,
a
onom
atopé
ia
é
atua
liz
ad
a
pa
ra
P
l
of
t
,
v
a
riante
ut
iliz
ad
a
na
transcr
ição
da
ling
uagem
não-ve
rbal.
A
fábu
la
A
rap
osa
e
a
s
uvas
apresenta,
na
s
difer
entes
rees
c
ritas
e
ilustraçõ
e
s,
det
alhes
que
s
e
repetem,
r
eflex
os
do
c
o
n
he
c
imento
de
m
u
ndo
da
50
Montei
ro
Lobato
faz
uso
de
di
versos
recu
r
so
s
em
sua
co
m
posi
ção
co
m
o
adap
t
ação
de
textos
j
á
exi
stent
es,
utili
zação
d
e
el
eme
n
tos
i
ntert
ex
tuais
e
outros
.
Como
tai
s
recu
rso
s
i
nflue
ncia
m
a
recepção
do
texto
lobati
a
no?
(Con
he
ce
r
person
agens
dos
clá
s
si
cos
co
m
o
Chape
uzinh
o
Ver
m
el
h
o e
outros
fa
v
orece
a
co
m
preen
são do
s
tex
tos
do au
to
r?)
“A
idéia
de
reesc
r
ev
er
clássi
cos
f
oi
m
ui
to
posi
t
i
va,
pois
perce
bemos
em
Lobato
u
m
a
escrita
l
i
gada
as
carac
t
e
r
ísti
cas
do povo b
ras
ileiro que
se
recon
hece nelas”.
(Resp
osta retirad
a
de
ques
t
i
o
n
ári
o
ap
li
cado ao
grupo
de
d
ocen
t
es
em
19
de
j
u
nh
o
de
2006,
qu
e
st
ão
respon
di
da
pel
a
professora
r
egen
te
da
tur
m
a
de
segu
nda
s
érie
observ
ada).
177
cri
an
ç
a,
c
omo
é
o
cas
o
d
o
retrato
da
parre
ir
a,
p
lanta
q
ue
s
e
des
e
nvo
l
v
e
em
ra
m
a
s,
repro
duz
id
a
em
for
ma
de
árvore,
c
om
c
opa
e
tro
n
co
em
parte
dos
desenhos
,
co
m
o
dem
ons
tra
m
os
anex
os
E
23
e
E
24.
Tal
i
n
terpr
eta
ç
ão
apare
c
e
também
no
texto
escrito,
por
m
eio
da
lo
c
ução
no
m
inal
:
árvo
re
de
u
v
a.
J
á
os
ane
xos
E
25
e
E
26
trazem des
enh
os que
rep
re
senta
m
as
pa
rreiras
em
ra
m
a
s,
demons
trand
o que
esses
leitores c
on
h
e
c
em
a disp
osição deste tipo d
e
plant
a.
Ainda
a
ilu
s
tração
d
o
anex
o
E
26
traz
outro
traço
in
teressant
e,
já
discu
tido
anteriormente,
a
humaniz
a
ção
da
rap
osa,
des
enhada,
nesta
repres
enta
ç
ão,
c
om
t
raços
hum
an
os
e
os
te
ntand
o
vestimentas
m
as
c
ulinas.
É
u
m
retra
to
que a
c
om
panha a
própria
hi
s
tóri
a
da
f
ábu
la,
com
o
já
dito anteriorm
en
te,
prát
i
c
a
d
e
il
ustra
dores
com
o
Gr
andev
ille
e
Doré.
Tal
uso
pode
e
s
tar
associa
d
o
à
caract
eriza
ç
ão,
rea
liz
ad
a
no
texto
liter
á
rio,
da
co
m
p
osição
do
s
ani
m
a
is
c
om
peculiari
dade
s
hum
anas
, na
c
omposição
psic
ológ
ica das personagens.
O
quadro
também
se
repe
te
n
a
ilustr
a
çã
o
da
fáb
ula
O
burro
juiz
,
no
qual
o
b
urro
é
retra
tado
c
omo
bípede.
A
form
a
d
e
loc
omoção
do
ani
m
al
é
um
a
m
a
neira
de
humaniz
á-
lo
e,
de
sse
mo
do,
aproximá-lo,
p
or
ca
racterísticas
físicas,
aos
seres
hum
a
nos
.
O
s
om
e
mitido
pela
s
a
v
es
é
r
epresentad
o
por
s
ím
bolo
s
m
us
ic
ais,
repres
ado
s
por
m
eio
de
balões.
A
professora
co
loca
no
de
senh
o
um
a
qualific
aç
ã
o:
“ado
rei
!”
,
m
a
rc
ando,
como
dito
anter
iorm
ente,
a
aceitação
do
leit
or, q
ue
n
o
caso
é
a
próp
ria
d
o
c
ent
e
(anexo
E
27).
Se
m
elha
nte
é
a
ilus
tração
s
eguinte,
c
om
o
demons
tra
o anex
o E 28.
A
ilus
traç
ão
s
eguinte,
a
ne
x
o
E
29,
m
os
tra
a
gralh
a
c
om
o
trofé
u
no
qual
s
e
lê
pr
i
me
i
ro
l
ugar
.
O
objeto
,
símbolo
d
e
uma
co
nqu
ista
e
c
omum
e
m
j
ogos
e
em
s
ituaç
ões
de
competiç
ão,
é
uma
in
serção
de
el
em
entos
q
u
e,
estranhos
a
o
texto
prim
eir
o,
c
onstit
uem
o
u
niv
erso
de
saberes,
p
ul
v
erizados
nos
mei
os
s
ociais
e
cu
ltu
r
ais nos
quais a cria
n
ç
a e
s
tá
in
s
e
rida.
A
narra
ti
v
a
O
burro
na
p
el
e
do
leão
tra
z,
e
m
sua
prim
ei
ra
ilus
tr
a
ç
ão,
anexo
E
30
,
a
apresentaç
ão
do
r
esultado
d
o
disfarce
do
ani
m
al,
que
cas
tig
a
do
é
recond
uz
ido
p
elo
dono
e
c
hicoteado
du
rante
o
tra
jeto.
J
á
a
fi
gura
s
egui
nt
e,
anexo
E
31,
des
enhada
pel
a
criança,
m
os
tra
po
r
m
e
io
d
e
u
ma
v
isão
aére
a,
o
b
urro
observ
an
do
a
pele
d
o
leão,
que
s
e
e
ncontra
e
stendida
no
c
hão
,
e
m
m
e
io
a
u
m
ce
n
ári
o
de
m
a
to, s
itu
aç
ã
o
um
ta
nto
i
n
v
erossím
il.
Em
torno
do
burro
são
des
enhados
vários pontos de interrog
açã
o
q
u
e
sug
erem
a poss
ível
d
i
v
agação
do
a
nim
al ao
arqu
itetar
o
plano
.
O
cenár
i
o
faz
ju
s
à
descrição
narrati
v
a
da
c
riança:
c
oq
u
eiros,
178
árvor
e
s
e
um
rio
orn
am
enta
m
a
flores
ta
c
itada
pe
lo
a
utor
n
o
te
x
to,
o
que
a
pon
ta
o
despre
ndim
ento
da
cria
nça
com
as
r
ealidad
es
possíve
i
s
,
pois
ela
não
s
e
restringe
apenas
ao que é veross
ím
il n
a exposição
d
os fatos.
Em
O
cã
o
e
o
lobo
,
a
p
rim
e
ira
ilust
raçã
o
des
ta
c
a
apenas
o
c
ão,
figura
na
qual
é
r
e
s
saltada
a
c
oleira,
m
o
tivo
de
disc
ussão
nesse
te
x
to,
p
or
e
s
tar
assoc
iada
à
idéia
de
cerceamento
da
l
iber
dade,
c
omo
mostra
o
anexo
E
32
.
Na
ilustraçã
o
se
guinte,
anexo
E
33,
a
c
r
iança
retr
ata
o
cã
o,
qua
d
rúp
ed
e
e
de
c
oleira,
enquan
to
o
l
obo
s
ofre
o
proce
sso
de
humaniz
a
ção
,
pois
é
r
etratado
c
om
o
b
ípe
de,
possiv
elm
e
nte,
g
raças
ao
st
atu
s
oste
ntado
por
esse
último
,
de
repres
entante
de
va
lo
r
es h
um
anos
, no c
a
so em quest
ão, da liberdad
e.
A
ilust
raçã
o
da fábula
O
co
rvo
e
o pa
vão
ch
ama
a
atenç
ão p
or
aponta
r,
na
prim
e
ira
ilus
tração,
an
e
x
o
E
36
,
o
d
e
s
conhecimento
do
autor
sobre
a
s
a
v
es
participantes
d
a
na
rrativa,
o
c
orvo
e
o
pavão
.
No
des
enho,
o
di
scente
retratou
apenas
um
ani
m
a
l,
e
ss
e
po
r
s
u
a
v
ez,
s
em
p
enas,
bico,
a
sa
s
ou
outro
ele
m
e
nto
q
ue
caract
erize
u
m
a
ave
.
O
anim
a
l,
d
ese
nh
ado
à
se
m
e
lhanç
a
de
um
ins
eto
,
teve
ressaltad
o
o
pa
r
de
antenas
,
retrato
qu
e,
s
egundo
a
Estética
d
a
Recepç
ão
,
é
m
u
ito
si
gnifi
c
ati
v
o
,
um
a
v
ez
qu
e
represe
nta
o
alc
ance
d
a
obra
e
o
univers
o
s
igni
fi
c
ativo
alç
ado
por
m
e
io
da
l
eitura.
Outras
duas
ilust
rações
,
ane
x
os
E
34
e
E
35,
trazem
duas
av
e
s
,
a
pr
im
eira
,
o
pav
ão,
ap
are
c
e
no
centr
o
da
cena,
enquanto
a
g
ralha
está
loc
aliz
a
da
à
s
margens
d
a
ilus
tra
ç
ão,
l
ugar
que
reforç
a
a
p
o
s
i
çã
o
marginaliz
ada
que
a ave
o
cu
pa na tem
átic
a descrita
na na
rra
ti
v
a.
Em
O
l
eã
o
e
o
r
atinho
a
le
itura
da
p
rime
ira
il
u
stração
c
onfecciona
da
pela cr
ian
ç
a retrata a
c
ena entre a
s
personagens da narrativa,
esboçada entre
cortinas, possive
lm
ente sem
e
lhante
s às de
um
teatr
o, o
q
ue m
o
stra
a idé
ia de
repres
enta
ç
ão
q
ue
a
c
riança
pode
ter
d
es
e
nvo
l
vi
do
d
urante
a
leitura,
co
m
o
dem
ons
tra
o
anexo
E
37.
Tal
pecul
iaridade,
pr
ópria
do
meio
s
oc
ial
do
i
ndivíd
u
o,
retra
ta seu univer
s
o, pois pessoas
que não t
ê
m acess
o a
o teatro não ligar
iam
o
tex
to
impresso
a
uma
repre
sen
ta
ç
ão
tea
tral.
Outra
leitu
ra
possível
é
a
re
produção
da
vi
nheta, exibida pe
lo c
a
n
al pago
Discovery Kids
,
q
ue t
em
,
inc
lusi
v
e, u
m
e
pis
ódio q
u
e
reto
m
a
o
enre
do
d’
O
leão
e
o
rat
i
nho
.
Cas
o
se
ja
essa
a
fonte
d
e
inspiraç
ão
par
a
a
repres
enta
ç
ão
realiz
ada
p
elo
discente
tam
bé
m
e
la
r
epr
e
s
enta
um
grup
o
econôm
i
co
es
tá
v
el,
u
m
a
v
ez
q
ue
o
acesso
aos
c
a
n
ai
s
pag
o
s
de
tele
v
isão
é
m
a
is
c
om
um
n
os
m
e
ios
sociais
estáv
eis. O
utras
duas
i
lust
rações
re
tratam
par
tes
d
a
n
arrativa,
a
179
prim
eir
a,
c
onf
or
m
e
mos
tra
o
a
nexo
E
3
8,
o
momento
pós-liber
tação
do
l
eonino,
e
a
últi
m
a, a
inter
a
ç
ão entre as per
s
onagens (anexo
E 39).
A ilustraç
ã
o do
texto
O r
ati
nh
o, o
gato e
o gal
o
apresen
t
a o mom
ent
o
de
c
onsta
ta
ç
ão
d
o
en
gano
da
protagon
i
st
a, marc
ado
p
elo
diálogo
entre
mãe
e
filho,
no
qual
o
ratinho
afir
m
a
es
tar
e
rrado.
A
m
ã
e
c
on
corda
com
ele
,
con
firmando
-“
É
m
e
s
m
o!”
.
O
diá
logo
entre
os
dois
acon
t
ec
e
à
semelhanç
a
das
histór
ia
s
em
quadr
inho
s
, ver
ificá
v
el no
a
n
e
x
o E 40
.
Na pr
im
ei
ra
ilus
tração d
a
fábula
O
rato
da c
idade
e
o
rato d
o c
ampo,
o
de
s
en
ho
do
discen
te
aprese
nta
os
dois
ratinhos
c
onv
e
rsando
s
obre
um
bolo.
A
co
n
versa
, tamb
é
m
a
pres
entada
em balões
, traz ono
m
ato
péias
, c
om
un
s n
a
s
hi
s
tórias
em
qua
drinhos,
co
m
o
re
pre
s
en
tantes
de
co
n
v
er
s
a
:
-
Blá,
blá,
blá
...
O
balão
d
a
fala,
co
m
o
a
present
a
o
an
e
x
o
E
41,
está
direcionado
par
a
o
ra
to
do
campo,
identif
icado
co
m
u
m
ch
apéu,
n
o
qual
está
escri
to
a
p
alavra
c
aipi
r
a
,
enq
uan
to
o
interl
ocutor
usa
um no qua
l s
e lê a p
alavra
cawtri
, pala
v
r
a em
ingl
ês
q
ue
é utiliz
ada e
m
um
a pr
ov
á
v
el
tentativa
de
reproduzir
a
p
alavra
c
ou
ntr
y
,
qu
e
si
gnifi
ca
c
am
po,
i
déia
c
ontrár
ia
daquel
a esperada
. A caracterização
das personagens
e o us
o de pa
la
v
ra
s
de or
igem
inglesa, que
c
orroboram
c
o
m
a indi
v
idu
aliz
a
ção
das i
lus
t
rações
,
m
o
stra
m
que
a
relaçã
o
entre
literat
ura
e
rece
pto
r
s
ão,
co
m
o
de
monstr
a
J
auss,
passív
ei
s
de
atualização
,
“tanto
na
es
f
er
a
sensor
ial,
como
pre
ss
ão
para
a
percepção
e
s
tética,
quanto
na
e
s
fera é
ti
c
a” (J
AUS
S, 199
4, p
. 53) e tam
bé
m so
cia
l,
c
omo de
m
o
nst
ram
as
relaçõ
e
s tr
açadas
co
m
a
c
ultura e
strangeira,
por
meio
d
o
uso
dos
verb
etes em
inglês
.
As
ilustraç
õ
es
E
42
e
E
4
3,
à
se
m
elhan
ça
da
a
nterior,
trazem
os
anim
a
is
hu
m
ani
zados,
que
s
e
locomo
v
em
,
s
e
v
estem
e
ainda
a
present
am
ex
pre
s
sõ
e
s
facia
i
s
s
emel
hant
es
à
s
d
os
humanos
,
r
e
corr
ê
ncia
ao
an
tropom
o
rfis
m
o
utilizado
em ou
tras
na
rrat
ivas
.
Já
o
último des
enho
analisado
desta
fábula
m
o
str
a
as
duas
personagens
em
u
m
poss
ível
diálo
go
.
O
qu
e
particulariza
o
s
r
atos
,
como
n
os
dois
c
a
sos
an
te
ri
ores,
s
ão
suas
v
estimentas,
c
ara
c
terí
s
tic
a
s
de
sua
origem
,
poi
s
o
rato
d
a
cidade
v
este
terno
e
gravata,
enquanto
o
do
campo
us
a
ca
m
i
sa
listra
da,
ins
e
rç
ão
que
m
ar
ca
a
pr
esença
da
s
ex
pe
riênc
ias
c
otidianas
da
vida,
c
omo
a
vesti
m
en
ta
ostentada
tan
to
n
os
m
e
ios
urbanos
quanto
n
o
s
rurais,
na
recepç
ã
o
tex
tual (a
nex
o E 44).
Em
O re
formado
r do mundo
,
Américo
Pisca -
Pi
sc
a é re
tratado
em
baix
o da
jabuticabeira. Em um
balã
o apar
ece a repre
s
entação do sonho
d
e
180
Am
é
rico
,
no
q
ua
l
o
pr
otagonista
s
ofre
as
c
onseqü
ên
c
ias
d
as
troc
a
s
por
e
le
idealizadas
,
c
omo
apr
e
s
enta o
anex
o
E 4
5.
A
i
lustr
a
ção segui
n
te, anexo E
46,
retra
ta o m
o
m
ento d
e d
e
sc
ans
o de Am
éri
co
e
mbaixo da á
rvore.
Em
O
sab
i
á
na
ga
iola
há
a
c
ontra
p
osição
d
e
du
as
s
ituaç
õe
s
:
a
r
eal,
na
qual
a
ave
v
ive
s
itua
çã
o
de
c
lausura,
e
a
desejada,
n
a
qual
o
páss
a
ro
está
e
m
liberda
de.
(anexo
E
4
7
).
J
á
a
últim
a
ilustr
ação
apres
entada,
representante
da
fábula
O
v
elho,
o
meni
no
e
a
mu
li
n
ha
,
t
raz
de
n
ovo
a
in
serção
de
e
lem
entos
da
a
tualidade
co
m
o
a
v
est
im
enta
d
o
m
en
ino
q
ue
os
ten
ta
uma
cami
s
a
com
a
numeraç
ão
10
na
part
e
fron
t
al,
numa
p
ossível
r
eferência
ao
universo
esportivo
que
f
az
uso
de
num
era
ções n
as
ves
tim
en
tas
para identificar os
es
por
ti
s
ta
s
(anexo E 4
8).
Outros
d
e
s
enho
s
c
ompõem
a
s
eleç
ão
d
e
te
xtos
an
ali
sa
dos
no
corpus
d
e
s
ta
dissertação,
no
entanto,
o
objeti
v
o
de
s
ta
disc
u
ss
ão
fo
i
re
ss
altar
as
principais recor
rên
c
ias na apre
s
ent
ação do
s
eleme
nto
s textuais na re
c
ep
ç
ão do
tex
to,
n
a
s
qual
s
e
inclui
a
ilustraç
ã
o,
p
elas
crianças
.
Ne
ss
e
c
a
s
o,
o
dese
nho
é
um
dos
cam
p
os
de anál
i
s
e q
u
e pode
se
r en
c
ar
ad
o na rec
epçã
o dos uni
v
ersos
de leitura,
um
a v
ez
que, ao desenhar, o
d
i
s
cen
te
m
arc
a a
pr
o
duç
ão
c
om
o ente
ndim
e
nto
alç
ado em
s
ua rece
pção do texto liter
á
r
io.
3.4 Ref
le
xõ
es sobre a Leitura de
Fábulas
Para entender
as
respos
tas obtid
as no pro
c
esso de
reescrita do
tex
to c
anônico,
vários
cam
pos
do
c
o
nhec
i
mento
fi
z
era
m
p
arte
do
eix
o
te
óri
c
o,
resgata
do
n
a
presen
te
disser
tação,
co
m
o
a
s
discussões
s
obre
a
trad
u
ção
e
adaptaç
ão literárias
e
ta
m
bé
m
a pa
ródia, ins
trumentos d
e ret
om
a
da do t
e
xt
o literário;
a
es
trutura
e
histór
ia
do
g
ênero
fab
ular,
co
m
o
e
m
b
as
am
ento
s
qu
e
perm
ite
m
entend
er
a
c
irc
ulação
do
r
eferencial
literário
e
a
Es
t
ética
da
Re
c
epção,
c
orrente
teór
i
c
a
q
ue
anali
s
a o
papel do
l
eitor n
a f
orm
aç
ão
da
histó
ria
liter
á
ria
.
Todas
as
vertent
es
a
bo
rd
adas
apon
tam
par
a
a
im
por
tânc
ia
do
leit
or,
tanto
no
q
ue ta
nge
a
s
ua
part
i
c
ipação
propria
m
e
nte
di
ta,
qu
anto
à
fu
nç
ão
de
elemento
motivad
or
de
prop
ag
aç
ão e ela
boração da ent
idade textual.
Na
rec
ep
ç
ã
o
d
o
texto
liter
á
rio,
o
bj
e
to
de
an
álise
des
te
estu
do,
div
e
rs
as
s
ituaç
õe
s
entram
e
m
c
ena
p
ara
com
p
or
o
c
enário
de
rec
e
pção,
dentre
os
quais
se de
s
taca o un
i
v
erso socia
l do leitor. Como afir
m
ado
por Stier
le (19
79) o m
e
io
181
socia
l
do
qual
o
leitor
faz
p
arte
é
m
uito
i
mportan
t
e,
pois
o
te
x
to,
en
tão
,
t
o
rna-se
ac
on
teci
m
ento
literá
rio,
quando
o
le
itor
promo
v
e
o
diálogo
entr
e
as
ob
ras
anteriores,
que
deb
atem
co
m
a
atual,
pulv
eri
z
a
ndo
,
em
s
eu
meio,
co
nhecimentos
q
ue
s
ervem
de par
âm
et
ro para a
re
c
epç
ão
do t
ex
t
o.
Por
isso,
a
Es
tética
da
Rece
pç
ã
o
tornou-se
o
em
b
as
am
e
nto
teór
ico
adequa
do pa
ra
fundam
en
tar,
a partir
dos conceitos
de recepção, horizontes
de
ex
pe
c
tativas
e
distância
e
s
téti
ca
a
an
áli
se
d
a
s
narra
ti
v
as
infantis,
que
c
on
stit
uíram
o
corpus
do
es
tu
d
o aq
ui
empreendido,
a
fim
de
s
e c
om
pre
ender
o
pro
c
esso
de
prod
u
ç
ão
/rec
ep
ç
ão
das f
ábu
la
s
trabalhadas em s
ala
de
au
la,
te
nd
o
, co
m
o
refer
ên
c
ia
principal
,
a re
c
epção
por parte do
leitor. As
s
im
sendo
,
com
ba
se em
conceitos
se
le
c
ionados
da
Estética
da
Recepção,
foi
p
os
s
ível
delinear
o
h
orizonte
de
ex
pe
c
tativas
de
cria
n
ças
per
t
ence
nte
s
à
mesm
a
c
lasse
s
oc
ial
em
c
o
nt
e
x
t
o
esco
lar,
m
a
terializad
o
em
no
rm
a
s
liter
árias
e
conc
e
pções
de
mundo,
presen
tes
nas
narra
ti
v
as infantis reproduzidas
a
partir das
fábulas de
Monteiro Lobato.
O
tra
balho
buscou
investigar
com
o
se
for
m
a,
no
ambi
ente
esc
olar,
a
recepç
ão
d
o
o
bjeto
literário,
obs
ervação
que
im
pu
ls
ionou
dive
rso
s
que
s
tionamentos,
um
a
v
e
z
qu
e
uma
da
s
ta
refa
s
da
teori
a
rec
ep
c
ional,
em
c
onformi
dade
c
om
Zilberman (1989), é
a reco
nstruç
ão
d
e
ss
e
horizonte, cujo o
bjetivo é e
x
pli
c
itar a
relaçã
o d
a ob
ra literária com o seu
públi
c
o.
O
pr
im
eir
o
deles
c
hama
a
atenç
ão
par
a
a
i
mportânci
a
do
material
ofer
e
ci
do
a
o
l
e
itor
que
,
nesse
caso
e
m
e
special,
n
ecessita
s
er
pensado
e
p
lanejado
e
é,
c
omumente,
influen
cia
do
pela
m
at
erial
idade
textua
l.
Tal
a
fir
m
aç
ão
pa
rte
do
princíp
io
qu
e
a
m
ater
ialidade
da
obr
a
li
te
rária
e
s
tá
li
g
ada
,
d
ire
tamente,
à
l
eitura
e
aos res
ultados que pod
e
rão
ser obt
i
dos d
urante o proce
ss
o.
Portanto,
analisar
co
m
o
que
stões
materiais
influencia
m
a
s
s
it
uaçõ
e
s
de
leit
ura
é
u
m
p
robl
em
a
que
tem
atra
ído
d
i
s
cussões
no
âmbito
atual
da
educ
a
ção.
Isso
abran
ge
tam
b
é
m
o
propósito
da
dissertação
que,
além
de
observar
o
papel
do
m
a
terial
no
ato
da
leitura,
buscou,
aind
a
, c
ham
ar
a
ate
nçã
o para u
m
a
outra
qu
e
st
ão:
a nec
essidade
de des
per
tar uma posi
ção crítica no
leitor e nos
m
ed
iador
es
de leitu
ra
quanto
à es
c
olha do m
a
terial a
ser priv
ilegiad
o
nas ativ
idade
s
de
leitura.
A
s
ituação
d
e
leitu
r
a
é
única
para
ca
da
indi
v
íd
uo
e,
p
or
s
er
u
m
a
aç
ão
s
ubj
e
tiv
a,
depend
e
,
dir
e
tam
e
nte,
do
c
onhec
im
ento
prév
io
d
e
c
ada
leitor.
Também a
esc
olha
do
material a
ser
utilizado po
de v
ariar
de
acordo
com o i
ndiv
íduo
ao qua
l o m
ater
ial
s
erá expost
o
.
182
No
c
aso
a
nalisado,
o
refer
en
c
ial
l
ite
r
ário
e
nc
ontrou
uma
sit
ua
ç
ão
si
ngular,
isso
porque
não
enfre
ntou
a
es
cassez
de
r
e
c
u
rsos
q
u
e
a
obra
l
ob
ati
a
na
enfr
ent
a,
com
umente,
nos
m
eios
e
d
uc
acionais
,
principalmente
quando
se
trata
de
escol
as
púb
li
c
as, c
omo
é
o
c
aso
de
instituições
q
ue
con
t
am c
om
u
m
nú
mero
redu
z
i
do
d
e
ex
emp
lar
es
de
c
ada
tít
ul
o
da
col
e
çã
o
i
nfantil
de
L
ob
ato.
A
ess
a
dificu
ld
ade
é
acresc
ida
a
fal
ta
de
recursos
dos
alunos,
que
não
c
onta
m
c
om
meios
financeiros adequados para a
dq
uirir
um
e
xem
plar e, assim,
te
r a
c
esso ao
tex
to
literári
o n
a
íntegra.
A
e
sc
ol
a
o
b
serva
d
a
c
onta
va
com
três
c
ole
ç
ões
completas
da
obra,
orga
niz
ad
a
s
es
pecialmente
na
bibliotec
a,
d
e
forma
a
melhorar
o
ace
s
so
d
os
l
i
v
r
o
s
aos
leitores.
Os
ex
em
p
lares,
qu
e
se
riam
in
s
ufic
ientes
para
a
tender
toda
a
es
co
la,
não
fora
m
m
uito
r
equisi
tado
s,
u
m
a
v
ez
que
os
alunos
a
dq
uiriram
o
s
pr
óprios
l
i
v
ros,
quando
já não os possuíam em c
a
s
a.
Tal
p
ecu
liaridade,
presente
em
m
eios
l
etrado
s
,
in
fl
ui
diretam
ent
e
na
si
tua
ç
ão
d
e
l
eitura,
ao
a
presentar
um
leito
r
que,
ao
con
v
i
v
er
em
u
m
univ
erso
de
ex
po
s
ição
e fácil acesso
à
literatura, a
dquire uma baga
gem diferen
ciada. Essa
si
tua
ç
ão
pode
a
gir,
dire
tam
ent
e,
na
r
elação
e
ntre
leito
r
e
sua
rec
ep
ç
ão
d
a
obra
de
arte
literária.
Entretanto
, mesm
o
est
and
o
inse
ridos e
m
m
ei
os
soc
ial
e
c
ultural
fa
v
oráv
eis, o grupo anal
i
s
ado
nã
o
e
s
cap
ou
a
o re
gistro de exe
m
p
los de
recepção que
surpr
eenderam
c
om o r
es
ultado
obtido. U
m
ex
em
p
lo
disso
pode s
er most
rado com o
retra
to,
feito
pelos
alunos
,
da
p
e
rs
onagem
Jec
a
T
at
u,
pe
rso
n
age
m
-tipo
do
ca
boclo
brasileiro
,
em
son
dagem
feita
pela
pr
ofesso
ra
r
egente.
Antes
de
di
s
cu
tir
a
temáti
c
a,
a
prof
es
s
o
ra
s
olicitou
que
o
s
al
unos
desenhassem
que
m
i
maginav
am
s
er
o
Jeca
Tatu.
O
s
de
s
enhos
represe
ntam
o
quadr
o
c
lás
s
i
c
o
d
o
c
onhe
ci
m
e
nto
prév
io
do
alunad
o,
que
,
em
su
a
grand
e
m
aioria
,
retr
atou
o
caip
ira,
im
ag
em
difund
ida
pe
la
figura
c
riad
a
por
M
o
nteiro
Lo
bat
o
.
Trê
s
c
a
sos
interessam
para
c
onst
itui
ção
da
idé
ia:
o
primei
ro
d
esenhou
u
m
m
e
nino
comum,
o
se
gundo
um
j
ogador
de f
ute
bol
e
o
últi
m
o,
o
próprio
animal,
o tatu.
As
ilustrações m
ostr
am
u
m
ato
na
tural:
q
ua
n
do
desconhec
e o conteúdo,
o leitor traça
associações
e i
nte
rp
retações
a par
tir da
palavr
a.
Desse
modo,
ass
ociar
a
pe
rsonagem
a
u
m
m
enin
o
ou
joga
do
r
de
futeb
ol
sã
o
leituras c
ontem
por
âneas
que rel
a
c
ionam
fig
uras
atuais p
ara o
nom
e
a s
er
interpr
etado.
J
á
o
an
im
al
de
senhado
por
uma
das
crianças
apo
nt
a,
na
n
ecessidade
183
de cri
ar
s
ent
ido para o question
am
e
nto, para a
i
n
terpretaç
ã
o li
teral da pala
v
ra,
resulta
nd
o no
retrato do mam
í
fero
propriament
e dito.
A
re
cepção
d
a
o
b
ra
l
obatiana
n
ess
e
universo
específico
d
e
leit
ur
a
aponta
p
a
ra
u
m
a
oc
orrência:
a
d
isponibilidade
de
referencia
i
s
lite
rários
in
fluen
c
ia
a
recepç
ão
des
t
e
s
materiais lite
rário
s.
Isso porque o a
cesso
ao
livro perm
itiu
u
m
resulta
do
diferente
do
que
se
ria
alcanç
a
do
em
s
ituaçã
o
adversa,
u
m
a
v
ez
q
ue
n
ão
co
n
segui
ndo o
texto
de s
ua prefer
ê
nci
a, d
i
s
ponibilizado
pela
pro
f
esso
ra, o
aluno,
em
div
e
rs
os
m
o
mentos,
driblo
u
a
escassez
do
re
ferencial,
con
s
ultando
o
pr
ó
pr
io
livro
para
ter
ac
e
ss
o
à
f
ábula
desejada.
Ne
sse
c
aso
,
o
s
ocial
está
diretamente
ligado
ao
resulta
do
obtido
com
a
práti
ca
da
leitura,
já
que
tal
po
ss
ibilidade
p
ôde
a
m
pl
iar
o
leque
de po
ssib
ilidades
e
c
ami
nhos
a s
e
rem pe
rcorridos durant
e
a
leitura.
Isso
porque
o
trabalho
p
en
s
ado
p
el
a
r
egente
previa,
já
que
ca
da
cri
an
ç
a
teria
du
as
m
atr
izes
d
isponíveis
a
c
ada
r
odada
de
le
it
ur
a,
a
obtençã
o
de
um
resulta
do
e
q
uilibrado
quanto
às
e
sc
olha
s
das
fábulas.
No
entanto,
não
fo
i
o
que
ac
on
tece
u. A
consulta
ao
próprio
livro,
o
pção
a
do
t
ada
por
parte
das
c
rianças,
permi
t
iu
a
co
nst
ru
çã
o
de
um
nov
o
quadro,
rom
pe
ndo
o
e
quilíbrio
que
a
a
ti
v
idade
prop
o
s
ta
pod
e
ria
alcançar.
Ter
acess
o
a
to
dos
os
textos,
p
o
r
meio
d
a
c
oletânea
lobatiana
,
perm
itiu
o
alc
ance
de
o
utro
result
ad
o,
c
om
fá
bulas
eleit
a
s
c
om
mais
de
10%
d
os
leitores,
e
m
de
trimento
de
o
utras
q
u
e
ob
tiveram
ape
nas
um
a
esc
olha,
e
m
um
un
iverso
de
oite
nta e
s
ete reescri
t
as
.
Como
dis
cutido
no
terceiro
c
a
pítulo,
m
es
m
o
disp
ondo
de
r
e
c
ursos
próp
rio
s
, o
m
at
erial
dis
ponibilizado p
ela
prof
es
s
o
ra
r
egente,
na
s
cartolinas
c
oloridas,
pode
ter
influenciado
na
esc
olha
r
e
alizada
pe
la
s
crianç
a
s
,
com
o
dis
cutido
n
o
co
m
eç
o
d
o
ca
pítulo
3
,
embora
a
p
rofi
ss
iona
l
não
tenha
refletido
so
bre
ess
a
ques
tão
no
ato
d
a
elaboraç
ão
,
um
a
v
e
z
que
a
determ
i
naç
ão
das
cor
e
s
d
as
m
a
trizes
obedec
eu,
s
egundo
el
a,
apenas
a
um
reaprov
eitam
ento
de
s
obras
de
mater
ial.
Em
si
tua
ç
ão
de
leitura
adversa,
na
qual
o
m
ater
ial l
iterário
fo
s
se
escasso,
t
a
nto
o
resulta
do
d
e
escolha
poderia
ser
distinto,
por
falta
de
o
p
çõ
es,
qua
nto
t
e
r
esbarra
d
o
ainda
na falta de
atra
ti
v
idade d
o
mater
ial literári
o.
Tal
quadr
o,
o
bservado
infor
m
al
m
e
nte
em
outras
i
nstituições
escol
are
s
,
mostra
que
o
ato
de
ler
ultrapassa
a
mera
d
eco
dificação
do
texto
literário
e
esbarra
em
q
ues
tões
fís
i
c
as
,
fin
a
nceiras
e
hum
a
nas
,
rac
io
c
ínio
que
co
rrobora
na
afirm
aç
ão so
bre densidade e diversi
dade de itens que
e
nv
olve
m
o ato
de
ler.
184
O
p
apel
d
a
m
aterialidad
e
no
ato
da
le
itura
en
contra
reflexo
na
abor
da
g
em
sóc
io-política
da
leit
ura
que
Silva
(
1993),
ao
d
i
sc
u
tir
o
des
e
nv
olvim
e
nto
de
i
nteres
s
es
de
leitu
r
a,
a
presenta,
s
ob
form
a
de
suges
tõ
es
de
tr
a
ba
lho,
m
a
neiras
que
m
ot
i
v
a
m
e
t
rans
formam
o
c
ontato
c
om
o
m
ater
ial
i
mpresso
,
em
u
m
a
ativ
idade
prazero
sa para a criança.
Tal
preoc
upa
çã
o se p
au
ta na
necessid
a
de de per
m
itir qu
e os le
itores
se
sin
tam
m
a
is
à
von
tade
em
s
eu
co
ntato
com
o
v
eículo
de
comu
n
icaçã
o,
podendo
co
n
str
uir
c
onhec
im
ento
, fo
rm
ar-s
e e in
fo
rmar-se
. A
s
sim, o pes
qui
s
ador conc
lui que:
a
li
t
e
rat
u
ra,
enquan
to
expr
e
ss
ão
d
a
vida,
tem
a
capacidade
d
e
redimensionar
as
percepções
que
o
s
ujei
to
p
oss
ui
d
e
suas
ex
periênci
as e
de
seu
m
u
n
do.
Por is
s
o
m
esmo, a lei
tura da li
ter
atura,
pel
a
s
u
a
natur
eza
e
p
e
l
a
s
ua
fo
rç
a
es
tética,
c
o
labora
significa
t
ivamente para com
a
formação da p
essoa, influindo nas
su
as formas
de pensar e enc
arar a vida (SILVA, 199
3, p 89).
Dess
e
m
odo,
a
cor
do
pa
pel,
n
o
qu
al
s
e
en
c
ontrava
fixado
o
texto,
pode
ter
levado a
cr
i
a
nça
a sel
e
ci
oná-lo,
em
bora
tal
item
nã
o s
eja
a garant
ia de
q
u
e,
após a
leitu
ra
, a criança mantivess
e a es
c
olha.
Entretanto
,
taxar
a
s
questões
referen
te
s
à
m
a
terialidad
e
co
m
o
ferra
m
en
tas
de
pe
rdi
ç
ão
o
u
salvaçã
o
torna-se
irrelevante
n
es
s
e
âm
bi
to
de
deba
te,
pois
o
e
ss
encial
nesse s
entido
é d
espertar
um olhar
c
ríti
c
o do
p
ro
fi
s
sio
nal
e
nv
olvido,
a
po
nto
de
q
ue
o
m
e
smo
co
ns
iga
di
r
ecionar
o
proc
e
ss
o
de
leitura
de
m
o
do
a
refl
etir
essas
questões
e
ul
trapassá-las,
perm
iti
ndo
que
não
aja
m
c
o
mo aç
ões
li
m
ítro
fes
no
ato de
le
r.
Assim
,
torna-s
e
funda
m
e
ntal
c
ham
ar a ate
n
ção para
dois pontos
importantes
:
o
p
apel
do
mediador
de
leitu
ra
e
a
c
ond
uç
ã
o
do
d
iscente
ao
lugar
de
su
jeito
d
a
le
itura.
O
m
ediad
or
é
fundamental,
uma
v
ez
q
ue
ele
p
ode
provocar
o
aluno
a
e
x
trapolar
as
b
arreira
s
da
obra,
promo
v
endo
le
it
u
ras
e
atualiz
aç
ões
no
texto
lido. Ne
sse ponto
,
qu
e
s
tiona-se a exc
lusão, por parte da
do
c
ente, da a
tualização da
s
fábulas,
realiz
adas
p
o
r
Lobato
e
apre
se
ntad
as
após
a
c
on
t
ação
de
Dona
Be
nta,
na
qual
o
autor
at
ualiz
a
os
te
x
tos
canô
ni
c
os,
po
stura
c
om
que
a
p
rofe
ssora
não
co
n
trib
ui
c
om
o
mediador
a,
pa
ra
a
‘
atualização
crítica’
das
fábulas
pe
la
s
c
rianças.
Outro p
onto crucial
é a atribuição
ao alun
o de
s
ua pos
i
ç
ão de ag
ente do pr
o
cesso
de
leitura
,
que
não
d
e
v
e s
e
base
ar, u
nicamente,
n
a
reproduç
ão
de
fórm
ulas
pré
-
es
tab
e
le
c
id
a
s de inter
pretação textual.
185
A
a
nálise
a
pre
s
enta,
co
nden
s
ando
o
que
j
á
se
des
ta
c
a
em
to
do
o
trab
alho, a
de
di
c
aç
ã
o da instit
ui
ç
ão, de seu corpo d
o
cente
,
e, em
es
peci
al,
da
prof
e
ss
o
r
a
regen
te
em
m
ot
iv
a
r
e
exp
lorar
o
c
ontato
d
o
alu
no
c
om
a
o
bra
literá
ria,
aç
ão
que
re
v
ela
à
expectativa
da
do
c
ente
de
que
os
alunos
representem
,
e
m
s
ua
recepç
ão,
c
ertas
fórm
u
las
.
Para
ilus
trar,
resg
ate-
s
e
a
c
obr
an
ç
a
da
profes
s
ora,
que
recomenda
à
al
una
a
disposição
te
x
tual
s
emelhan
te
à
ostenta
da
po
r
Lobato
(anexo
D 3). A
aluna defen
de sua
opção, arg
umentando r
a
c
ionalm
ente a
sua
visão, tanto
no
que
diz
r
e
sp
eito
à
form
a
quan
to
ao
conteú
d
o,
marc
ando
se
u
posicion
am
ent
o
c
om
o
su
jeito do p
rocess
o de leitura.
Tal
prob
lema
é
v
ista po
r Or
la
n
di (
1999) como u
m
a
ques
tão q
ue
reflete
a
formaçã
o
de
cada
in
di
v
íduo,
uma
v
ez
q
ue
c
ada
ser
é
fruto
d
a
s
influências
ideológicas
às
quais
e
stá
expos
to
e,
d
e
ss
a
formação,
de
pen
d
e
s
eu
p
osicionam
e
nto
pera
nte
o
material
de
l
eitura
.
O
grupo,
for
m
ado
por
elem
en
tos
críticos
,
co
n
s
eguiu,
em su
a m
aioria,
ultrapas
sar as
barreiras impo
stas pe
lo texto e ins
erir nel
e as marc
a
s
socia
i
s
, c
u
ltur
ai
s
e ideo
lógi
cas
de que, en
q
ua
n
to leit
or,é fruto.
De
aco
rdo
c
om
a
auto
ra,
a
his
tória
de
vid
a
do
s
er
hu
m
a
no
in
flui
na
co
m
pre
ensão
que
f
az
d
o
disc
ur
s
o,
fat
o
que
se
c
om
prov
ou
na
r
ealização
do
es
tudo.
Mesmo e
m u
m gru
po p
equeno
, co
m
o
o
ob
servado,
um
ú
nico
texto
al
c
anç
o
u
as
m
a
is
dis
tinta
s
l
eitura
s
,
m
ov
ime
n
to
que
atesta,
emp
ir
icam
ente,
a
s
ing
ularização
da
interpr
eta
ç
ão
do tex
to literário n
a
s
itu
aç
ão real de leitu
ra.
A
indiv
idualidade
de
c
ada
alu
n
o
ta
m
bé
m
é
v
erificáv
el
na
divers
id
a
de
de
p
referências.
No
e
ntanto,
ressal
ta
-s
e
a i
mportância
da
m
a
teria
lidade
na
s
opç
õ
es,
um
a
v
e
z
que
as
cor
e
s
fortes
a
p
resent
am
maior
ín
dic
e
de
escol
ha
s
.
Isso
se
co
m
prov
a
no
alto
índice
de
pr
e
di
le
ç
ão
pe
lo
s
te
x
to
s
c
uja
m
ol
dura
osten
tava
c
ores
vi
brante
s
c
omo
pre
ta,
ve
rm
e
lha,
laranja
e
marro
m
,
enqua
nto
q
ue
a
c
or
branca
,
de
tonalidad
e
n
eutra,
a
carr
e
tou
apen
a
s
uma
escol
ha
em
d
uas
d
as
três
fábulas
que
em
oldurou
.
Também
se
question
o
u,
p
or
s
e
tratar
d
e
um
a
si
t
uação
de
produç
ão
tex
tual,
os
te
x
tos
m
a
is
extensos
s
eriam
rejeitad
os.
A
esse
respeito
conclui-s
e
que
o
co
n
hecimento
prévio
do
alu
nado
influiu
nesse
quesito,
uma
v
ez
que
te
x
tos
menos
co
n
hecid
o
s
, c
om
o
O
re
formador
do
mundo,
foram
pouc
o
es
c
olhidos,
ao
c
ontrário
de
outr
o
s,
que
a
exemplo da
fáb
ula
A menina do
l
e
ite,
alç
ou u
m
d
os
m
a
iore
s
índi
c
es
de
escol
ha.
186
O
co
nhecim
ento
do
c
ânone,
pr
e
sente
já
nas
hipóteses
n
orteadoras
da
pesqu
i
s
a
em
píric
a,
questionava
s
e
tex
t
os
mais
con
hecidos
s
er
iam
m
a
is
escol
hi
d
os
em
detr
imento
do
s
qu
e
a
p
resentassem
c
onte
údos
i
néditos,
p
ara
as
cri
an
ç
as.
Tal
quadro
s
e
c
omprova
no
f
ato
que
tex
tos
mai
s
comum
ente
con
hecidos
obter
em
m
a
ior
índice de
aceita
ção
, refle
x
o do núm
e
ro de rep
roduções.
Possivelmente
até
a
primeira
le
itora,
ness
e
c
aso,
a
profes
s
ora
rege
nte,
também
s
el
eci
o
no
u
os
textos
a
s
erem
di
spo
nibiliz
a
dos
a
seus
a
lunos
apoiad
a
em
se
u
co
nhecim
en
to
prévio.
Isso
s
e
co
m
p
rova
pela
predileçã
o
por
t
exto
s
m
a
is c
onhecidos
,
qu
e dei
x
ou de for
a
algu
ns tex
to
s
m
uito c
onhecidos
c
omo
Os
anim
a
i
s
e
a
pes
te
,
O
r
ato
e
a
r
ã
e
Liga
d
as
n
açõe
s
.
Tal
pec
uliaridade
m
ostr
a
a
indiv
idualidade
do
leit
o
r,
c
ujo
re
p
ert
ó
rio
de
c
onhecim
e
nto
s
p
ode
excluir o
qu
e
é
co
n
hecid
o
pa
ra
outr
o
indivíduo
ou
a
té
pa
ra
o
g
rupo
d
o
qu
al
fa
z
p
arte.
Segui
ndo
tal
pis
ta
,
nota-se
que
,
inco
n
sc
ientem
en
te,
a
prof
e
ss
o
ra
,
res
ponsável
pela
primei
ra
se
le
ç
ão
do
m
ater
ial,
o
ptou,
na
n
e
cessid
ade
de
au
m
e
ntar
o
s
r
e
f
erenci
ais
l
iterários
a
serem
dis
ponibil
iz
a
dos
na
atividade
de
leitura
,
por
s
elecionar
enredos
m
a
is
co
n
hecid
o
s
,
c
om
o
A
c
or
uja
e
a
águi
a
,
A
fo
rmi
ga
má
,
A
gra
lha
enfeitada
c
om
penas
de pav
ão
e
O
sa
bi
á na
gaiol
a
.
Pri
v
ileg
iando
,
geral
m
e
nte,
tex
to
s
m
a
is
conhec
idos,
a
s
eleção
da
docen
te
se
repetiu
n
a
escolha
r
ealiz
a
da
pelos
al
u
nos
q
ue,
gui
ados
pelos
co
n
hecimentos
pulveriz
a
dos
no
ideár
io pop
ul
a
r,
elegeram, e
m su
a maioria,
os
t
extos
m
a
is
expe
rim
ent
ados.
Ana
lisando
as
fá
b
ulas
A
for
mi
g
a
bo
a
e
A
fo
rmiga
má
não
s
e
pode
dei
x
ar
d
e
observ
a
r
a
predileção
pel
a
últi
m
a
,
que
r
epr
i
s
a
o
co
nteúdo
li
t
er
ár
i
o
trad
i
c
iona
l. Entr
e
tanto,
nã
o
se
pode
ignorar
o f
ato
que
des
ta v
ersão
ter
sido o
fertada
em
duas
m
a
trizes,
d
uplicida
d
e
qu
e
pode
ser
um
d
os
m
otiv
os
que
a
fez
alcançar
o
dobr
o de e
s
co
lhas
d
o que a prim
eir
a.
Os
diálogos
textuais
sã
o
responsáveis
pe
la
c
irculação
de
c
onteúdos
literári
o
s
qu
e
por
m
e
io
de
ad
aptaçõ
e
s
,
trad
uç
ões
e/ou
p
aródia
s
s
ão
di
luído
s
nos
co
n
hecimentos
p
révios
e,
ge
ralm
en
te,
r
eprisados
em
materiais
di
dático
s
e
v
eícul
o
s
co
m
un
icativos
,
fa
z
en
do-os mais c
onhe
c
idos.
Conhecer
pr
e
v
iam
ente
o
c
ontexto
pode
s
er
um
a
s
itu
ação
c
onfor
tá
v
el
na
reescrita
tex
tu
al
,
podendo
representar
,
pa
ra
o
lei
tor
em
for
mação,
o
dom
íni
o
de
um
a
maior
gama
de
co
nh
ecimentos
,
perm
itid
as
pe
la
relação
entr
e
texto e
a
ação
do
tem
po
s
obre
a
entidade
text
u
al,
por
meio
das
sucess
i
v
as
le
itura
s
a
que
o
m
es
m
o
é
ex
po
s
to e
que o
leitor pode di
s
por para formar sua
própria leitura.
187
Na
ação de
adaptação, o
cont
eúdo
das fá
b
ulas foi
atuali
z
a
do n
a
versão
lo
b
atiana
, ação
que
promoveu,
p
o
r
meio d
o de
bate pe
rsonificado
pelas
person
agen
s
d
o
Sítio,
especi
alm
ente
de
Em
ília,
a
m
a
nutenç
ão,
i
n
serçã
o
e
/ou
m
o
difica
ção
dos valores
difundidos p
elos
textos pr
im
eiro
s.
A ex
em
p
lo d
o
ato
realizado po
r
Monteiro L
obato,
tam
b
é
m
as
cria
n
ç
as
ins
e
r
iram
e
m su
as
reproduç
ões
ma
rc
as de
s
eu
tem
p
o c
om
o
a
banalização
ou
va
lo
r
iza
ç
ão
d
a violênci
a e in
s
erç
ão ou personificação de
elem
ento
s d
a m
ode
rnid
ade.
O
prim
ei
ro,
a
ba
nalização
da
v
iolê
n
c
ia,
como
apontado
no
decorrer
do
capítulo
de
a
náli
s
e,
co
nsiste
n
o
reforço
ou
am
e
nizaç
ão
dos
atos
de
v
iolênc
ia,
frutos,
poss
i
v
elmente,
do
m
o
m
en
to
de
ins
e
g
urança
vivenciado
.
Tanto
o
aum
ento
quanto
a diminuiç
ão podem
se
r a tenta
ti
v
a de re
produzir o qu
adro atual com
o
tam
bé
m s
ervir, no caso
de sua
su
aviz
a
ção
, com
o fuga d
e u
m
a s
ituaç
ã
o que assus
ta,
co
n
str
ange
o
u
in
c
omoda
a
cri
an
ç
a.
Tal
r
epertór
io
de
l
e
it
u
ra
também
é
influ
enc
ia
e
v
idente dos
co
ntos de fa
d
as qu
e
ap
re
sentam ess
as situações n
a
s narra
ti
v
as.
Por
outr
o
lado,
a
ins
erção
d
e
el
em
ento
s
a
tuais
,
c
om
o
o
re
trato,
por
m
e
io
da
ilustr
a
ç
ão, de u
m
a
c
onhec
ida rede
de su
permercados
da c
idade de
Marin
g
á
(anexo
E 14), apo
nta para
uma oc
orrên
ci
a c
o
mum
e
m
grande
p
arte das
reescritas:
o
m
o
v
im
en
to
d
e
atu
aliz
aç
ão
a
qu
e
é
s
ubm
et
ido
o
tex
to
literár
io
dura
nte
o
proce
ss
o
de
reescri
ta.
Tal
prá
tica,
co
m
u
m
desde
o
s
primórdios
do
g
ênero
fabular,
é
uma
necessidad
e,
uma
v
ez
que
o
te
mpo
e
as
m
u
danç
as
lingü
ísticas
q
ue
o
acom
panh
a
m
sã
o
em
pec
ilhos
de
relaci
onam
e
nto
entre
a
literatura
e
o
público.
De
sde
Esopo
até
se
u
s
s
ucessores,
grupo
n
o
qual
s
e
in
c
lui
o
próprio
Lobato,
oc
orre,
na
retomada
de
um
tex
to,
a
i
n
s
erção,
d
om
esticaç
ão,
ou
simplesmente
a
a
tualizaçã
o,
s
eja
lin
gü
ís
tica
ou
estrutu
ral
,
do
texto
original
.
A
s
a
tualizações
d
ei
x
am
de
s
er
uma
a
ltern
a
tiv
a
e
assumem
o
v
iés
de
necessidade
a
p
a
rtir
d
o
m
o
mento
e
m
que
a
distâ
ncia
temporal
se
to
rn
a u
ma barrei
ra para o leitor.
Exemplos
c
omo
os
ap
resentados
durante
o
C
apítulo
3
mostr
am
q
ue
a recepç
ão textual é
um
a aç
ão singular e
,
ao m
es
mo tem
po, c
omplexa.
Exi
ge de seu
leitor
um
a
sér
ie
de
s
aber
e
s
e
v
aria
d
e
ac
o
rdo
c
om
as
rea
ç
ões
en
c
ontradas
nele.
Ness
e
caso
s
e
e
nq
uadr
a
a
paródia,
gê
nero
s
o
fisticad
o
na
s
ex
igências
feit
as
a
os
se
u
s
pr
a
tican
te
s
e
intérpretes
c
om
o
discutidos
n
o
p
ri
m
eiro
c
apítulo.
Ao
le
it
o
r
cabe
a
miss
ão d
e
desvendar
a
s
obreposição
e
s
trutural
de
textos
e
o
diálogo
existente
entre
o antig
o e o novo.
188
O
leitor
em
for
mação,
não
deten
tor
dos
p
rot
oc
ol
o
s
de
leitura
e
c
om
um
r
eper
tório
que
n
ão
s
u
s
ten
t
a
as
i
nf
e
rênc
ias
q
ue
seri
am
nec
essárias
para
a
recepç
ão
da
pa
r
ódia
, não
d
á c
onta,
em d
ive
rsas s
ituações,
de
atenta
r
para
o
si
gnifi
c
ado em
butido
no text
o
.
Dess
e
modo,
a
paródia
é,
para
o
leitor
infant
il,
um
m
e
can
is
m
o
inacessíve
l
no
que
tange
à
i
nterpretação
textual,
p
ois
co
m
o
dis
cutido
ant
e
rior
m
en
te,
o l
eitor
nece
ss
ita
ter co
m
p
etênc
ia, bem c
om
o
c
onhecim
e
nto
s
das n
orm
as
retóricas
e
literári
a
s
que pe
rmitam
o rec
onhec
im
ento
.
Hutcheon
(1985)
afi
rm
a
q
ue
quando
o
leitor
nã
o
entende
a
p
aródia,
o
gên
ero
pe
rde
a
ac
e
ss
ibilida
d
e
e
a
funç
ão
.
Tal
afirmaç
ão
po
de
ser
a
nalisada
a
part
ir
da
r
e
ce
pção
da
fábula
A
formi
ga
bo
a
, te
x
to
paródi
c
o
que,
baseado
em
A
cigarra
e
a
formiga,
r
ee
sc
reve
o
t
e
x
to
or
igin
al.
Não
ente
nder
a
inte
n
c
io
nalidad
e
do
autor
,
codifica
da
na
nova
pr
od
ução
,
pod
e
ser
o
moti
v
o
de
sua
r
ejeição,
c
omo
se
co
m
prov
a
c
om
o
ba
ixo
í
ndice
de
escolhas
do
tex
to
por
p
arte
d
os
alunos.
Desse
m
o
do, a nã
o dec
odificação
do
có
digo paródico pod
e rep
re
s
entar o n
ão entendi
m
e
nto
do
texto
pa
rodiado
e
das
i
nt
ençõ
e
s
exi
s
tente
s
por
trás
dele,
fazendo
do
gên
e
r
o
narra
ti
v
o algo inacessível.
Dez
o
tti
(
2003)
cham
a
a
atenç
ão
para
o
diálogo
e
x
i
st
ente
entre
o
tex
to
l
o
batiano
e
as
produções
dos
Antigos.
Para
a
pe
squ
i
sado
ra,
a
reescri
ta
do
tex
to se c
lassificaria c
om
o
paráfr
a
s
e, e
m
bor
a, c
om o
dese
n
v
ol
v
im
ento
do
tr
ab
a
lho,
e
pautad
o,
principa
lm
ente
,
nos
c
onceitos
d
ifundidos
por
Hutch
eon
(1985),
transp
a
reça
traços
da par
ódia que
, se nã
o
acon
t
ece na í
ntegra,
como e
m
outr
a
s
o
b
ras
do
m
e
s
m
o
au
tor,
auxi
liam
na
construçã
o
do
t
exto,
pr
incipa
lm
ente
n
o
s
traços
d
e
hum
or
aprese
ntado
s
na versão de
L
obato.
Sabendo
dos o
b
stáculos q
ue
po
d
em
s
ur
gir
entr
e le
itor e f
á
bula,
indaga
-se
a
c
onveniência
de
se
p
ropor
a
leit
ura
d
as
fábulas
par
a
c
rianç
a
s
e
adolesce
ntes.
Martha
(1
999)
levanta
e
sse
questionamento
em
ar
tigo
que
tra
ta
do
assunto,
no
qual
r
essalta
a
d
ific
uldad
e que
o
leito
r,
ainda
em fo
rm
a
ção
,
po
de
encon
trar
na
leit
u
ra
dess
e
tipo
de
te
x
t
o,
env
o
lto
e
m
uma
“
es
trutura
peculiar
51
[que]
jus
tifi
ca
a d
ifi
c
ul
dade de
pr
opor, h
oje,
a
leitura
dess
e
tipo
de
narrativa
pa
ra
a
c
riança
e par
a
o ad
olescente” (MART
H
A, 1999, p
. 74).
51
Esta observ
ação
pau
t
a-se
,
sobretu
do
n
as fábul
as t
radi
c
i
onais, em r
azão
das mo
r
a
lid
ades.
189
Em
c
onfo
rm
i
dade
co
m
Mar
tha,
a
fábula
é
um
gên
ero
que
apresenta,
co
m
u
m
ente,
um
gr
au
de
di
fi
c
uldade
par
a
o
leitor,
co
m
o
s
e
c
ompro
v
ou
no
de
c
orrer
da
a
nálise.
Ent
retan
t
o,
n
ão
s
e
pode
deixar
de
o
bservar
q
ue,
na
re
alidade
an
alisada,
dificu
ld
ades
espe
rad
as
foram, e
m
div
er
s
os
m
o
m
entos
,
amenizadas
e
até s
uperadas.
Mesmo
con
statan
do-
s
e
extrema
dificu
ldade
no
tra
to
co
m
o
tex
to,
fo
ram
b
usc
adas
alterna
ti
v
as que
procurar
am
dr
iblar
as
di
fi
c
uldades
eventua
i
s,
tais c
om
o
o
us
o,
principal
m
en
te, de rec
urso
s
lúdicos,
c
omo film
a
gens
, culiná
ria e jogos diversos.
A
dinâm
ic
a
ado
tada
e
m
sal
a
de
aula
partia
do
le
v
antam
ento
d
os
co
n
hecimentos
pré
v
ios
do
aluno,
por
meio
de
s
o
n
dag
em
,
a
par
ti
r
d
a qu
al
se
iniciava
o
tra
b
alho
c
om
o
tex
to
l
iterário.
As
te
m
á
ticas
s
e
desd
ob
ravam
em
trab
alhos
intertex
tu
ais
e
interdis
c
ip
linare
s
,
que
envo
l
v
iam
toda
a
institui
ç
ão.
A
o
br
a
de
ar
te
literári
a
abriu
margem
par
a
v
isitas
a
um
jornal
d
a
cid
ad
e
,
r
ealiz
a
ção
da
c
ulinária
prestig
iada
na
obra,
a
pre
c
ia
ç
ão
de
f
ilm
es
,
rea
liz
aç
ão
d
e
tra
balho
s
artístic
o
s
e
cu
ltu
r
ais, pesqu
i
s
as
e t
ra
balho
s
in
te
rdisc
iplinare
s
.
O u
so
de tais
rec
u
rsos
c
om
prova
a
ex
i
s
tên
c
ia
de c
ertos
m
ec
anismos
que
lev
am
à
co
m
p
reensão
plena
d
e
um
dete
rm
i
nado
tex
to
e,
par
a
entendê-lo,
há
a
necessidad
e
de
s
e
de
s
pren
der
d
a
s
palavras
e
fr
a
s
es
,
e
c
onsiderar
a
entidade
em
su
a
tot
alidade
.
As
pala
v
r
a
s
em
s
i
só
não
p
ossue
m
u
m
signi
fi
c
ado
r
eal,
mas
estão,
intrinsec
am
e
nte,
ligada
s
a
u
m
to
do
s
ignific
ativo,
cu
jo
c
on
te
x
to
si
tu
aci
onal
imprime
a
elas s
entido
ex
ato e
m
dete
rm
i
nado
m
o
mento
enunc
iati
v
o. Iss
o
porque
a
leitura
é
um
jogo
p
sicoli
n
g
üístico
de
adivinhação,
nã
o
e
n
vo
l
v
e
ap
enas
o
im
put
v
isual,
mas
tam
bé
m
infor
m
aç
ões
não-
visu
ai
s
,
do
univers
o
c
ognitivo
d
o
l
eitor.
É
es
ta
in
teração
das
pistas
v
i
s
ua
i
s
c
om
o
c
onh
ecimento
a
rmazenado
na
m
e
m
ó
ria
do
l
eitor
qu
e
l
he
possi
bilita antever, ou predizer, o qu
e ele irá encontr
a
r
no te
xt
o (KATO, 1995).
A
descr
i
ç
ão
s
uscitada
ob
jetivou
m
o
stra
r
que
o
recebi
m
e
nto
do
tex
to
literári
o,
na
realidade
de
s
ala
de
aula,
e
s
tá
lig
ado
ao
trabalho
desen
vo
l
v
ido,
que
pode
tanto
a
trair
q
uanto
r
e
peli
r
o
leitor.
N
o
cas
o
em
ques
tão,
f
oi
p
o
ss
í
v
el
i
d
entificar
um
a
rec
epção
positiva
do
texto
loba
ti
a
no
que,
apesa
r
da
distâ
n
ci
a
temporal
e
d
a
s
dificu
ld
ades
lingüís
ti
c
as
qu
e
ap
re
se
nta
para
o
púb
li
c
o
infantil,
alçou,
graças
ao
trab
alho desenvolvido, uma acei
ta
ção
fa
v
orá
v
el e, a
o m
esmo te
m
p
o, agrad
ável.
Como
ates
ta
M
a
rtha,
a
leitura
do
gê
ne
r
o
fab
ular,
do
qual
se
po
de
agre
ga
r
também
a p
roduç
ão
de Mon
teiro
Lo
b
ato,
cons
i
s
te
no
co
ntato c
om
e
ntidad
es
tex
tuai
s
c
om
plexas
pa
ra
o
leitor
em
for
maç
ã
o.
No
e
ntanto,
ta
l
di
fic
ul
d
ade
pode
ser
driblad
a
c
om uma
mediaçã
o que a
ntecipe as di
ficuldades e
sirva
de elo de m
ed
iação
190
entr
e
o
leito
r
e
o
s
saber
e
s
di
fundidos
pela
ob
ra
literária
e
n
ão
se
re
st
rinja,
c
om
o
ac
on
tece
u
em
s
ala
de
aul
a,
a
uma
in
tervenç
ão
lingüística,
sa
na
ndo
pro
blem
a
s
de
vocabulá
rio, e
direcionador
a dos
fato
s
,
motivan
do u
m
a
int
erpretação d
eterminada
ao
inv
é
s
de m
o
tivar
a reflexão sobre a l
eitura.
Pode-se
c
oncluir,
c
om
o
de
senv
olvim
e
nto
da
pes
quis
a,
n
e
s
se
am
biente
es
co
lar,
c
omo
ta
mbém
nas
observa
ç
ões
inform
ais
,
obtid
as
p
or
m
eio
do
trab
alho
co
m
o
p
rofesso
ra,
e
m
insti
tui
ç
ões
de
características
disti
ntas
da
o
b
s
ervada
nessa
escola,
q
ue as
f
ábulas
de
Lobato
re
p
resentam, in
depend
ente
da
c
l
ass
e
social
do
recep
tor
e
nvolvido,
um
m
ater
ial
riquíss
imo
para
a
co
n
str
u
ç
ão
co
letiva
do
co
n
hecimento.
Em
bor
a
s
eja
evidente
q
ue
a
recepção
d
o
texto
liter
ário,
co
m
o
ates
ta
Ja
u
ss
(1994),
re
trata
o
leitor
que,
por
sua
v
ez
,
esp
elha
se
u
un
i
v
erso,
a
obr
a
infant
il
lobatiana
r
e
f
lete,
d
epoi
s
d
e
mai
s
de
oi
tenta
anos, o
s
co
nceitos
que
perm
i
tem
a
presenç
a
d
o
le
it
or
,
e
nv
ol
v
en
do-o,
instigand
o
-o
a
participar
do
m
u
ndo
f
i
c
cional
.
C
om
tal
comunhão,
é
es
tabelecida
u
m
a
inter
a
ç
ão
c
om
unic
ativa
com
o
tex
to,
consti
tuindo
-
se
na
“ex
periência
estética”,
res
ultado
do
pr
o
cesso
dialógico
e
d
o
c
aráter
em
anc
ipador
dos te
x
tos literár
io
s
pro
d
uzidos por ess
e e
x
ce
p
c
ion
al
esc
ritor.
191
CON
SIDER
AÇÕES FINAIS
A aná
lise da
re
c
epç
ão das
fábulas
lobatiana
s
por cr
ianças
do
En
si
no
Fun
dam
ent
al,
no
universo
de
sa
la de au
la,
pa
rt
iu d
e um ei
xo
ger
ador, a
rec
ep
ç
ão
do
tex
to literário e é,
segund
o ate
s
ta a
te
oria da E
s
tética da Recepção, fruto das
ex
pe
ri
ên
c
ia
s
do
leitor.
A
a
firmação
se
com
pr
o
v
a,
não
só
nas
leituras
das
r
eescritas,
co
m
o
t
am
b
ém
nas
adapta
ç
ões
rea
liz
adas
n
o
decorre
r
do
tem
p
o,
prá
tica
que
tornou
possível
o
re
sgate
das
produções
e
as
marc
ou
c
om
traç
o
s
histó
ri
c
os,
es
tético
s
e
es
truturai
s
, qu
e repre
s
entam o momento
de se
u
ressur
gim
en
to.
Como
d
iscut
ido
em
toda
a
di
ss
er
ta
ç
ão
e
s
intetizado
n
as
co
n
si
d
erações
fi
nais,
a
hipótese
de
que
a
histór
ia
literária
depende
de
seu
leitor,
para
s
er
construída,
corro
bo
ra
c
om
a
te
se
de
que
o
processo
de
leitu
r
a
em
si
é
m
a
rcad
o
pelos
c
onhecim
entos
prév
ios
do
le
itor,
que
dete
rm
inar
á,
a
posteriori,
a
his
tó
r
ia literár
ia.
O
eixo
d
e
s
u
sten
tação
do
trabalho
de
s
dobrou-se
em
três
primícias
inv
e
s
tigati
v
as durante a
realização e a
n
ál
ise da pesq
ui
s
a e
m
p
írica: t
e
xtos m
a
is
difund
idos
pelo
câ
n
on
e
lite
rári
o
sã
o,
c
on
s
eqüentem
ente
,
m
ais
esco
lhidos
e
m
oposição
aos
que n
ão per
ten
ce
m
a
ess
e gr
upo; textos
mais
longos s
eriam
re
jeitados
na
si
tuação de
repr
odução te
xtual e, po
r fi
m, a influência
do
material
so
bre a
s
escol
ha
s
da
c
r
ianç
a
p
or
determinados
te
xt
os,
l
e
v
ando
em
cons
idera
ç
ão
a
s
ituação
desenvolvi
da no am
bient
e de le
itur
a
e
s
co
la
r
.
O p
rim
eiro
que
stio
n
a
m
en
to a
barc
a, e
m
div
ersas s
itua
ç
ões
, os
outros
dois,
p
oi
s
não
há
dúvida
de
q
ue
conh
ecer
o
c
ontext
o
narrati
v
o
fo
i
um
do
s
princ
ipais
atra
ti
v
os
para
a
s
cria
nças
nas
esco
lhas
das
fáb
ulas,
ta
nt
o
q
u
e
text
os
m
ais
longos
alç
a
r
am
altos
índic
es
de
pred
ileç
ão
,
graças
ao
rec
onhecim
en
to
de
seus
conte
úd
os,
que ag
iram
c
om
o
atra
ti
v
o
s
para os leitores. Do m
e
s
mo modo, tex
tos mais ex
te
ns
os e
tam
bé
m
pou
co
conhec
idos
por
a
quele
gr
u
po
for
am
,
c
o
m
o
imag
inado
a
princ
í
pio,
rejeita
do
s
na sele
ç
ão infanti
l.
Ao
r
es
ponder
o
s
questi
on
a
m
e
nto
s
n
orteadores
d
a
pesq
ui
s
a,
observ
a-se a
co
nstata
ç
ão
da tes
e d
e que
o
qu
adro
es
perado
se des
dobrou
e
co
n
firmou
a
im
p
ortâ
nci
a
do
m
eio
no
qual
o
l
eito
r
está
in
s
erido
na
s
itu
a
ç
ão
r
eal
de
leitura
,
em
d
ois
m
ov
im
entos
.
O
p
rimei
ro
está
pau
tad
o
na
influência
que
a
bagage
m
de
leitu
ra
e
de
c
onhecim
e
ntos
prévios
n
a
seleç
ão
da
s
crianças,
um
a
v
ez
que
é
o
sa
b
er
delas
que
d
ire
c
iona,
co
n
sc
iente
ou
inc
onscien
tem
ente
,
suas
e
sco
lhas.
192
Geralmente,
no
ta-
s
e
que
o
d
iscente
é
at
raíd
o
pelo
enre
do
m
ais
c
onhe
c
ido,
opção
que
pod
e
estar
a
trelado
a
um
con
forto
m
a
ior
na
ativ
idade
de
r
eescrita,
por
repres
entar um
domínio
m
aior
de infor
m
a
ções.
O
s
egundo,
ap
resentado
por
mei
o
dos
ex
emp
los
discutidos
no
terceiro
ca
p
ítulo,
m
o
str
a,
com
o
já
des
tacava
a
Teoria
da
Es
tética
da
Recepção,
a
part
i
c
ipação
de
elem
e
ntos
reai
s
e
atu
ais
da
v
i
da
do
leitor
no
texto,
inserçõ
es
que
ac
ab
a
m
serv
indo
de
i
nstrumento
d
e
rece
p
ç
ão
e
c
onstrução
de
s
entido.
Al
ém
dos
fator
e
s
elencados
,
o
diálogo
e
ntre
tex
to
e
reali
dade
atual
serve
d
e
fe
rr
am
enta
de
atualização
, que perm
i
te ao te
xto uma nova
r
oupage
m
.
Co
m
o s
ugerido na
i
nt
rodução do trabal
h
o e
c
onf
irm
ado
após as
discuss
õe
s
teórica
s
e
análise
empíric
a,
não
existe nenhuma
v
erdade fechada
e
inflex
ível
quand
o s
e
trata
da
recepção
d
o
texto
literário
.
Tam
bé
m
,
v
al
e
ressaltar
que
nenhuma
d
eterminante
é
inflexí
v
el
no
que
diz
res
pei
t
o
à
rec
ep
çã
o
do
te
x
to
literár
io,
pois
b
a
r
reiras
s
ociais,
e
tárias,
lingüís
ti
c
a
s
podem
s
er
u
ltrapassadas,
com
o
mos
tra
a
discuss
ão
leva
ntada
pelo
t
rabalho,
pela
mediaç
ão
r
ealizada
entre
obra
e
leitor,
q
ue
pode
es
t
ar
p
rese
n
te
em
diversas
fre
nte
s
:
educado
res
e
no
própr
io
m
a
teria
l
liter
ár
io.
No
p
rim
eiro ca
so, a
docen
te r
e
alizou
u
m
a
m
e
diação
que
a
t
endeu
a
s
c
a
rênci
as
lingüísti
ca
s
e
d
e
orienta
ç
ão
da
a
ti
v
idade
proposta,
s
em
,
no
e
ntan
to,
m
edia
r
u
m
a
recepç
ão
q
ue
realizasse
uma
atualização
c
rítica
das
fá
bulas.
No
s
egundo
c
a
s
o,
a
m
e
diação
s
e
m
ater
ializa
a
par
tir
dos
recursos
es
tilísticos
de
que
lança
m
ã
o
o
autor
,
co
m
o
a
m
ediaç
ão
e
xecutada
p
o
r
Don
a
Bent
a;
do
m
at
erial
i
m
press
o;
da
s
in
s
tânc
ias
regu
ladora
s
;
da
institu
i
ç
ão
escolar;
f
amíl
ia;
gr
upo
s
oci
al
e
,
princip
alm
en
te,
d
o
leitor,
por
m
eio d
os
re
c
ursos q
ue utiliz
a
na busca
de constr
uir
sen
tido para o texto.
Tal
a
firmaçã
o
s
e
pauta
n
a
idéia
de
que
as
poss
íveis
dificulda
de
s
de
leitura
p
odem
s
er
a
m
eni
zadas,
e
até
re
s
ol
v
i
das,
p
or
m
e
io
da
m
ediaç
ão
de
leitur
a
,
que
ac
o
ntece
,
princi
palm
en
te,
d
e
du
a
s
man
eiras:
d
i
sp
onibilizada
por
meio
do
prof
i
ss
ional
envolvi
do
n
o p
roce
ss
o
de ens
i
no
,
na s
ituação de
leitura esc
olar e,
tam
bé
m
,
c
om
o
no
c
aso
singular
de
Montei
ro
Lo
bato,
na
mediaç
ão
te
xtual,
u
tiliz
a
da
pelo
aut
o
r,
que
s
e
preocupou
em
pre
para
r
seu
te
x
to
pa
ra
o
leit
o
r
em
for
m
aç
ão,
formando-o
e
in
fo
rmando-o
ao
m
es
m
o
tempo.
O
leitor,
n
a
s
ituação
an
alisada,
aprove
ito
u
as
duas
m
edia
ções
oferec
idas,
d
ando
v
ida
ao
t
exto
escrito
por
meio
de
ins
e
rç
ões
e
diálogos
prom
ov
id
os
entre
a
o
b
ra
literária
e
o
m
u
ndo
que
a
rode
ia,
si
tua
ç
ão
que
desencadeou
,
na
ação
do
leitor,
n
a
fu
são
entre
os
te
x
tos
reproduzidos
e re
adaptados.
193
Ness
e
c
aso, a
inten
ç
ão d
e Jo
s
é Ben
to Monteiro Lo
bato, em
1922,
de
retir
ar
os
espinhos
do
te
x
to
e
ac
e
ss
ibiliz
á-lo
a
quem
é
de
direito,
co
n
cre
tizou-se
e
repe
tiu-se
p
o
r
outras
m
ão
z
i
nhas
,
uma
v
ez
que
as
crianças
,
p
or
questões
tem
pora
i
s
e
de
outr
as
o
r
dens,
repetem
o
s
passos
d
o
m
e
stre
e
s
eguem,
a
ca
da
nova
leit
ura,
retir
ando
os e
s
pinhos d
as
am
or
as do
mato e
deg
ustando-as.
De tal
ap
reciação
brot
am
n
o
v
as
leituras,
que
r
epresenta
m
os
olhos
do
leitor
em
f
ormaçã
o
do
s
é
cu
lo
XXI,
qu
e
de
smi
st
ifica
a
s
dificuldades
atri
b
uí
d
as
ao
s
texto
s
lobatia
no
s
,
q
ue
seguem
,
despe
rtando en
ca
nto, deleite, conhec
im
ento
e pr
azer.
194
BIBLIOGRAFIA
AGUIAR, Vera Teix
eira; BO
RD
INI, Maria da Gló
ria.
Literatura
: a Forma
ç
ão d
o
Leitor:
Alternativa
s
Metod
ológi
c
as. Port
o A
legre: Mercad
o Abe
rto,
1988.
AM
OR
IM, Laur
o Maia.
Tradução e Adaptação
: Encr
uzilhadas da Text
ualid
a
de em
Alice n
o País
d
a
s
M
a
ra
vi
lhas, de Lewis C
a
r
roll, e Kim, de Rudyard
Kipling.
S
ão
Paulo: Ed. da
UNESP, 2005.
ASH, Russel
l; HI
G
TON, Bernard.
Fáb
u
las de Esopo
. Trad.
H
.
J
ahn. São Pa
ulo:
Com
p
anhia das
Letrinhas
,
19
99.
AUBERT, Francis Hen
rik.
As (In)F
i
del
i
dades da T
ra
d
ução
:
Ser
v
id
õ
es e Aut
o
no
m
ia
do Tradu
to
r.
Cam
p
inas: Ed
. da UNICAM
P, 1993
.
AZEVEDO, Car
m
em
Lúc
ia, et a
l.
M
on
teiro
Lobato
:
Furacão na Botocúndi
a. São
Paulo: Senac
, 1997.
BASS
N
ETT, Susan
.
Estudos de Tradução
: Fundamentos
de um
a
Discip
lina.
Lis
boa: F
u
ndação Calouste Gulbernkian, 2003.
BENJAMIN,
W
alter.
A
T
arefa
–
Re
núncia
do
Traduto
r.
IN:
HEIDERMANN,
W
e
rner
(org.)
Clás
si
co
s
d
a
T
eoria
da
Tradução
.
V.1. Florianópolis:
UFSC,
Núcleo d
e
Tradução, 2
001. pp. 187-215.
BRAGA
, Teó
filo. Proc
esso Artíst
i
sc
o de La Fontai
ne. In:
En
ciclopédia Universal
da
Fábula
. T
rad. N
.
A. Della. São Paulo
: Ed. da
s A
méricas, s/
d.
CALVINO, Ítalo.
Por Que Ler os Clássicos
. Trad. J.
C. Barreiros. Lisboa: Teorem
a,
1991.
CAM
PO
S, Haroldo
de.
Tradução e Reconfiguraçã
o do Im
agi
nário: o
Tradutor com
o
Trans
fingidor. IN: COULTHAR
D,
M
.;
CALDA
S – COULTHARD, C. R. (o
rg).
Tradução
:
Teoria e Prática. Flo
ri
an
ópo
li
s
: Ed. da UF
SC
,
1991, p. 17-
31.
CAPARELLI
,
Sérgio. L
obato na TV. In: ZI
LBERMA
N, Regina (o
rg).
Atualidade de
M
o
nteiro L
o
bato
:
Uma Rev
i
s
ã
o C
ríti
c
a
.
Por
t
o Alegre
: Mercado Aberto
, 1
9
83.
CARVALHO, Bárbar
a Vasconcelos.
A Lit
erat
ura
I
nfan
til
: Visão Histórica e Cr
íti
c
a.
6. ed. Sã
o Paulo: Global,
1
989.
CASSAL
, Sueli
Tomazini Barros
.
Amigos Escritos
: Co
rres
pondência Literária
ent
r
e
Monteiro L
obato e Godof
redo Rangel.
São Paulo: Imprens
a Of
i
c
ial de São Pa
ulo,
2002.
CAVALHEIRO, Edgard.
M
ont
eiro Lo
bato
: Vida e O
bra. 3.
ed. Sã
o Paulo:
Bras
ilien
s
e, 1962.
CHARTIER, Roge
r.
A ordem dos
l
ivros
: Leitores, Auto
re
s
e Biblio
te
c
a
s
na Europa
195
entr
e o
s
sé
c
ulos XIV e XVIII.
Trad. M. Del Pri
ori. Bras
íli
a
: Ed. da UnB, 1999
.
COELHO, Nelly Nov
ae
s
.
A Literatura inf
a
ntil
: História – Teor
ia – Análi
se
. 4. ed. São
Paulo: Quí
on, 1987.
CONY
,
Carlos
Heit
or.
As
Ad
aptações dos
Clás
s
icos e a Voz do Senhor.
São
Paulo: Sc
ipione, 2002. Dispon
ível em
http://
www
.s
ci
pione.
c
om.br/sci
pioneeducação
Acess
o em
9 de j
unho de 2007
à
s
14:23
COSSON, Rildo.
Let
ramento L
i
terá
rio
: Teo
ri
a e
Prática
. São Paulo: Contex
t
o,
2006.
COULTHARD, M.; CALDAS – COULTH
ARD, C. R. (
org).
Tradução
: Teo
ria
e
Prátic
a
.
Florian
ópoli
s
: Ed. da UFSC, 1991.
DEBUS, Eliane.
M
o
nteiro Lo
bato e o Leitor, esse Conhecido
.
Flo
ri
anópoli
s
: Ed.
UFSC, 20
04.
DERRIDA
,
Jacqu
es.
Torre
s
de
Ba
be
l
.
Trad.
J
. Barr
e
to. Bel
o
Horiz
on
te: Ed. da
UFMG, 2002
.
DEZOTTI,
M
agda
.
O
Professor
e
a
M
edi
ação
de
L
eitura
:
um
a
Experi
ência
c
om
Monteiro L
obato
.
2004
.
(Dissertação de Mes
trad
o
), UEM
.
DEZOTTI,
Maria
Ce
leste
Consolin.
A
F
ábula
Esópic
a
Anônima
:
uma
Con
trib
uição
ao
Estudo
d
o
s
“
Atos
de
Fá
bula”.
1
9
88
.
(Dissertação
de
Mestrado),
UNESP
-
Araraq
ua
ra
.
DEZOTTI,
M
a
ria
Celes
t
e
Consolin
(org).
A
Tradição
da
Fábula
:
de
Esopo
a
La
Fon
taine.
B
rasíl
ia: Ed. da UnB:
São Paulo: Impr
ensa Of
i
ci
al do E
s
tado de São
Paulo,
2003.
ECO, Umberto.
Seis Pa
sseios pelo
B
o
sque da F
icç
ã
o.
Trad. H. F
ei
s
t. Sã
o Paulo:
Com
p
anhia das
Letras, 1994.
ESCARPIT, Robert.
Trad. A.
Monteiro; C. A. Nunes.
Soc
i
ologi
a
da
Literatura
.
Lis
boa: Ar
c
ádi
a, 1958.
FERREI
R
A, Aurélio Buarq
ue
de
Ho
landa.
Novo Aurél
i
o Sécu
l
o XXI
: o Dicio
nário da
Língua
Portuguesa. 3. ed. Rio de
Janei
ro: Nova fronteira, 1999.
FOUCALT, Michel.
A Ordem do Discurso. In: SOUZA, Adalberto
de Oliveira.
A
orde
m
do Dis
cu
rso de Mi
che
l Fou
ca
ult: Roteiro de L
eitura.
A
po
ntamentos
:
Re
v
ista
da Universi
da
d
e Estadual
de Maringá
, Maring
á, n. 2
9, jul. 199
5
.
FREIRE
,
Pau
lo.
A
i
mpo
rtâ
n
cia d
o
Ato d
e
Ler
:
em
Três
Artigos
que
se
Com
pleta
m
.
47. ed.
São Paulo: Cortez
,
2006.
HUTCH
EON, L
inda.
Uma Teo
ria da
Paró
dia
:
Ens
inam
e
ntos
das Form
a
s d
e Arte do
Séc
ulo XX.
T
ra
d. T. L. Pérez. Rio de Jan
eir
o
:
Edições
70, 1985.
196
______
_____.
Poética do Pós-M
o
dernis
mo
: Histó
ria
,
Teoria e Fi
cçã
o. Tr
a
d.
R.
Cruz. Rio de J
aneiro: Imago, 1991.
JAUSS, H. R.
A Hist
ória da Literatura co
mo Pr
ovoc
ação à Teoria
Literária
.
T
ra
d.
S. Tellaroli. São
Paulo: Ática, 19
94
.
______
____... et al.
A
L
iteratura e o leitor
: Tex
to
s
da
E
sté
ti
c
a
da R
e
c
ep
ção
.
Trad.
L. C. Lima. Rio de J
aneiro: Pa
z
e
Terra
,
19
79.
KAT
O,
Mary
.
O Aprendiz
ado da Leitura
.
4
.
ed. São Paulo:
Martin
s
Fontes, 1995.
KLEIMAN,
Âng
ela.
Text
o
e
l
e
itor:
Aspectos
Cogni
ti
v
os
da
Leitu
ra. 5
.
ed.
Cam
pina
s:
Pontes, 199
7.
KRISTEVA, Julia.
Int
rodução à Semanális
e
.
Trad. L. H. F. F
e
rra
z
.
São Paulo:
Pers
pe
c
tiva, 1
9
74.
LA FONTAI
N
E, J
ea
n d
e.
F
ábulas
: Antologia.
São Paulo: Martin Cla
ret, 200
6
.
______
________.
Fábulas de La Fontain
e
.
São Paulo: Edigra
f, 1957a, Tom
o
I.
______
________.
Fábulas de La Fontain
e
.
São Paulo: Edigra
f, 1957b, Tom
o
III.
______
________. Vida de Esopo,
o Frígi
o. In:
Encic
lopédia Universal da
Fábula
.
Trad. N. A. De
lla São Paulo: Ed
ito
r
a das
Am
ér
icas, s/d.
LAJ
OLO, Maris
a.
M
o
n
teiro
Lobato
:
um
Bra
si
leiro s
ob
Medida.
São
Paulo:
Moderna,
2000.
_______________.
Literatura
: Leitores
& Leitu
ra. São Pau
lo: Moderna, 20
0
1.
_______________
;
ZILBERM
AN,
Regi
na.
A
Leitu
ra
Rarefeita
:
L
i
v
ro
e
Literatu
ra
no
Bras
il. São Paulo: Brasiliense,
19
9
1.
______
_______; _______
_
________
_.
A
L
iteratura
I
nfant
il Brasileira
: História &
Hist
óri
as. 2
. e
d
. São Paulo:
Áti
c
a, 1985.
LOBATO, José
Bento Monte
i
r
o.
A Barca de Gleyre
. São Pau
lo: Brasiliense, 1
96
8
a.
1
v
.
______
________.
A Barca de Gleyre
. São Pau
lo: Brasiliens
e,
1
968 b. 2 v
.
______
________.
Cartas
Es
co
lhidas
.
São Paulo: Brasiliens
e,
1
959. 2
v
.
______
________.
D. Quixote das Crianças
. 4. e
d. São Paulo: Bras
ilien
s
e, 1973 a.
______
________ .
Fábulas; Histórias d
e Tia Nastác
ia
, Histórias
Diversas
.
4. e
d.
São Paulo: Bras
iliense, 1973 b
.
______
________.
M
un
d
o da Lua, M
is
celânea
.
São Paulo: Bras
iliense, 1950.
197
______
________.
O Picapau Amarelo; Pe
ter
Pan
. 4.
ed. São Pa
ul
o
: Brasiliens
e,
1973 c
.
______
________.
Os Doze T
ra
ba
lhos de Hércules
. 3. ed. São Paulo: Bra
s
iliense,
1973 d
.
______
________.
Reinações de Narizinho
.
4. ed
. São Paulo: Brasi
li
e
n
s
e, 1973
e.
LOPES, Grass
ielly.
Fábulas (1921) de Mon
te
i
r
o
Lobato
:
um P
e
rcurs
o
Fa
bu
los
o.
2006. (D
is
s
erta
ç
ão de
Me
s
trado)
, UNESP
– Ass
i
s
MA
R
THA
,
Ali
c
e Áurea Pe
nteado. Monteiro Lobato e
a
F
ábula Vestida à
Nacional.
M
i
mesis
, Ba
uru, v. 2
0, n.2, 71-81, 1999.
NIETZSCHE.
Fr
iedrich.
So
bre
o
problema
da
Traduç
ão.
IN:
HE
IDERMANN,
W
e
rner
(org.)
Clás
si
co
s
d
a
T
eoria
da
Tradução
.
V.1. Florianópolis:
UFSC,
Núcl
eo
d
e
Tradução, 2
001. pp. 187-215.
NUNES
, C
ass
ia
no.
Nov
os Estudos sobre
M
on
teiro Lobato
.
Br
asília: Ed.
da U
nB,
1998.
OLHER,
R. M.; W
I
ELEW
ICKI
,
V.
H. G
. Tr
aduç
ão em Aulas
d
e Li
teratura
E
strange
ira:
Prátic
a
Ilíc
it
a
ou
Prá
ti
c
a
Pedagógica?
Re
vist
a
Claritas
,
São
Paulo,
n
.
12(1)
,
p.
1
39-
150, 20
06.
ORLANDI, Eni P.
Análise d
e Discurso
:
Prin
c
ípios e Proc
edim
e
ntos
. Cam
pinas
:
Pontes, 199
9.
______
_______.
Discurso e Leitura
.
C
am
p
ina
s: Ed. da UNICAM
P, 1
988.
PAZ, Olegári
o; MONI
Z
, Antonio.
Dicionário
B
reve d
e Termos L
iterários.
Lisboa:
Editoria
l Pre
s
enç
a, 1997.
PERRONE,
Cris
tina
Aquati.
Do
M
ito
a
Fábu
la
:
R
eleitura
s
de
Lobato.
1999.
(Diss
e
rtaçã
o de Mestrado), USP.
PORTELLA, Oswaldo de
Oli
v
ei
r
a. A Fábul
a. I
n
:
Revista d
e
Le
tras
.
C
ur
itiba, 1983, nº
32, p. 1
19 - 138.
REIS, Carlos;
LOPES, A
na Cr
is
tin
a
M.
Dicionário de
Teoria Narrativa
.
São Paulo:
Ática, 1
988.
RODRI
GUE
S, Cris
tina Carneiro
. Tradução e
D
iferen
ça
. São
Paulo
: Ed. da
UNE
SP,
2000.
ROUSSE
AU, J
ean-Jacques.
Emílio ou
da E
ducaç
ã
o.
Tr
ad. S. Mill
iet.
3. ed. São
Paulo: Difus
ão Européia do Livr
o,
1968
.
SALEM, Nazira.
História
da Lit
erat
ura Nacional
. 2
.
ed. São
Paulo: Mestre Jou
,
1970.
198
SANT
’ANNA, Affons
o R
om
ano
de.
Paródi
a, Par
áf
rase e Cia
. 4. ed. São Paulo
:
Ática, 1
991.
SI
LVA,
Ezequiel T.
Elemento
s de Pedago
gi
a d
a Leitura
. São Paulo
: M
a
rtins
Fon
te
s
, 1993.
SOSA, Jesua
ldo.
A Literatura Infantil
.
Tra
d
. J. Am
a
do. São
Paulo: Cultr
i
x
, 1993.
SOUZA, Lóide
Nas
c
im
ento de
.
O Proces
s
o
Estét
ico de Reesc
rit
ura de Fábu
la
s
por
M
ont
eiro Lobato
2
00
4.
(
Dissertaç
ã
o
de M
es
tr
ado), UNESP - Assis.
STEI
N
ER, Georg
e.
Depois de Babel:
Questões
de Ling
u
ag
em e T
r
aduç
ão
.
Trad. C.
A. Far
a
co
. Curitiba: Ed. da UF
PR
, 2005.
STIE
RLE, Karlh
ein
z
. A
Literatu
ra e o Le
it
o
r. In: JAUSS, H. R.
A L
iter
a
tura e o
Leitor:
Tex
to
s
da
E
sté
ti
c
a da Recepção
.
Trad. L. C. Lima. Rio de J
aneiro: Pa
z
e
Terra, 19
79.
TRAVASSOS, Nels
on Palma.
M
in
ha
s M
em
órias do
s M
ont
eiros Lobatos
.
São
Paulo: Clube
do Li
v
ro, 1974.
VENUTI, Lawrenc
e.
Escândalos da Traduç
ã
o
. Trad.
L. P
eleg
rin et al. Bauru: Ed. da
USC, 2002
ZILBERMAN, Regina (
org).
A
tu
alidade de
M
onteiro Lobato
:
Um
a
Revisã
o Crítica
.
Porto Aleg
re: Mercado Abe
rto, 198
3.
______
___________.
Estética da Rec
epção
e Hist
ória da L
i
teratura
.
São Paulo:
Ática, 1
989.
______
___________; LAJOL
O, Marisa.
Um
Bras
il pa
r
a
Crianç
as
: para
Conhecer a
Literatur
a I
n
fan
til Brasileira: Histórias
, Autore
s
e Text
os
.
São Paulo: Global, 19
86.
199
ANEXOS
200
AN
EXO A:
Folde
r
201
ANEXO A1:
FOLDER 1
202
ANEXO A2:
FOLDER 2
203
AN
EXO B:
C
apa da
s
Pro
duçõe
s
da
s
C
rian
ças
204
ANEXO B1:
CA
P
A DAS PRODUÇÕES DAS
CRIAN
Ç
AS
205
ANEXO
C
:
Entre
vista com
a
D
ocen
t
e
206
ANEXO C 1:
ENTREVISTA COM A
PRO
FESSORA
207
208
209
ANEXO
D
:
Fábu
las Ree
scritas
-
Fábu
las Escolhid
as
210
ANEXO D1:
A
3
, 2006,
TEXTO 26
211
ANEXO D2:
A
4
, 2006:
TEX
T
O
72
212
ANEXO D3,
A5, 2006
ANEXO D 3, A 5, 2006:
TEX
T
O 7
212
ANEXO D 3, A 5, 2006:
TEX
T
O 7
213
ANEXO D4:
A
8
, 2006,
TEXTO 46
214
ANEXO D 5:
A 2, 2006, TEX
T
O 6
1
215
ANEXO D 6:
A 5, 2006, TEX
T
O 2
8
216
ANEXO D 7:
A 12, 2006,
T
EXTO
84
217
ANEXO D 8:
A6, 2006, T
EX
TO
25
218
ANEXO D 9:
A3, 2006, T
EX
TO
71
219
ANEXO D 10:
A4, 2006,
T
EXTO 73
220
AN
EXO E:
I
l
ustra
ções -
Esbo
ços de Leitura
221
ANEXO E
1:
A
3, 200
6, ILU
ST
RAÇÃO 1
222
ANEXO E
2: A 3, 200
6, ILU
ST
RAÇÃO 2
223
ANEXO E
3: A 9, 200
6, ILU
ST
RA
ÇÃO 3
224
ANEXO E
4: A 5, 200
6, ILU
ST
RA
ÇÃO 4
225
ANEXO E
5:
A
3, 2006
, ILU
ST
RAÇÃO
7
226
ANEXO E
6:
A
7, 200
6, ILU
ST
RAÇÃO 8
227
ANEXO E
7:
A
7, 200
6, ILU
ST
RAÇÃO 10
228
ANEXO E
8:
A
7, 206,
ILUSTRAÇÃO 14
229
ANEXO E
9:
A
12, 20
06,
I
LUSTRAÇÃO 12
230
ANEXO E
10: A 8
, 006, ILU
ST
RA
Ç
ÃO 15
231
ANEXO E
11: A 1
0, 2006
,
ILUSTRAÇÃO 17
232
ANEXO E
12, A
12, 2006
, ILUSTRAÇÃO 19
233
ANEXO E
13: A 1
3, 2006
,
ILUSTRAÇÃO 20
234
ANEXO E
14: A 3
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 26
235
ANEXO E
15: A 5
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 28
236
ANEXO E
16: A 8
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 29
237
ANEXO E
17: A 1
1, 2006
,
ILUSTRAÇÃO 30
238
ANEXO E
18: A 1
2, 2006
,
ILUSTRAÇÃO 31
239
ANEXO E
19: A 4
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 27
240
ANEXO E
20: A 7
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 35
241
ANEXO E
21: A 3
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 33
242
ANEXO E
22: A 1
1, 2006
,
ILUSTRAÇÃO 36
243
ANEXO E
2
3: A 3
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 40
244
ANEXO E
24: A 1
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 46
245
ANEXO E
25: A 6
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 25
246
ANEXO E
26: A 7
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 42
247
ANEXO E
27: A 8
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 46
248
ANEXO E
28: A10, 20
06,
ILUSTRAÇÃO 47
249
ANEXO 29:
A 9, 2006, ILUSTRAÇÃO 48
250
ANEXO E
30: A 7
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 49
251
ANEXO E
31: A 3
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 48
252
ANEXO E
32: A 9
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 52
253
ANEXO E
33: A 5
, 2006,ILUSTRAÇÃO 32
254
ANEXO E
34: A 6
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 55
255
ANEXO E
35: A 8
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 56
256
ANEXO E
36: A 12, 2
006
,
ILUSTRAÇÃO 58
257
ANEXO E
37: A 5
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 61
258
ANEXO 38:
A 12, 2006, ILUST
RAÇÃ
O
67
259
ANEXO E
39: A 6
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 62
260
ANEXO E
40: A 3
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 71
261
ANEXO E
41: A 1
0, 2006
,
ILUSTRAÇÃO 74
262
ANEXO E
42: A 5
, 2006,
I
LUSTRAÇ
ÃO 41
263
ANEXO E
43: A 7
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 40
264
ANEXO E
44: A 4
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 72
265
ANEXO E
45: A 8
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 72
266
ANEXO E
46: A 4
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 73
267
Aaa,,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
,,,
,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,, ,,,,,,,,,,,,,,,
268
ANEXO E
48: A 4
, 2006,
I
LUSTRAÇÃO 85
269
ANEXO 49:
I
LUSTRAÇÂO -
A
CIGARRA E AS FOR
MIGAS - ILUST
R
AÇÃO DE
JEAN
IG
NACE I. GERARD GR
AN
DIRL
LE
270
ANEXO 50:
I
LUSTRAÇÃO -
A
CIGARRA E AS FOR
MIGAS - ILUST
R
AÇÃO DE
GU
STAVO DORÉ
271
APÊNDIC
E
272
APÊND
I
C
E 1:
ENTREVIST
A
Question
ári
o:
1)
Identific
ação
(opcio
n
al).
2)
J
á conhecia a oba de Monte
iro Lobato antes do iníc
io do projeto interativo?
3)
Qu
al o enf
o
qu
e privi
le
g
iado por
v
ocê
em
se
u t
r
abal
ho em
s
ala de aula?
Q
u
al
o m
otiv
o de ta
l escolha?
4)
O q
ue lhe cham
o
u a
atenção na ob
ra lobatiana?
5)
A
s
eu
ve
r
os
text
o
s
foram
de
fácil
leitur
a
ou
apresen
taram
d
ificuldades
p
a
ra
o leitor
em
formação?
6)
Co
m
o
v
oc
ê
desc
re
ve
ria a relaç
ão
e
n
tre a
c
rian
ça
e
a ob
ra
literária em
questão
?
7)
Qu
anto à materialida
de
do tex
t
o
literário:
a)
Dispo
nibilidade
do
mater
ial
impresso
(h
á
m
a
terial
em
quanti
dade
no
m
erc
ad
o, em bibliotec
as)
b)
Qu
alidade
de
ss
e
produto
(
é
um
material
ade
quado
pa
ra
cr
ianças,
atrativo
, d
e fác
il m
a
nus
eio).
c)
Relaç
ã
o
c
riança
e
li
v
r
o
(como
ac
onteceu
a
i
n
teração
entre
l
eitor
e
o
própri
o li
vro)
.
d)
Algumas
coleçõ
e
s
,
cons
iderando
questões
de
ex
tensão,
reorganizaram
a
ordenaç
ão
dos
textos
de
n
tro
da
obra
c
ompleta,
alterando
a
ordem
da
n
arrativ
a.
Pa
r
a
o
leit
or
isso
pode
ser
um
obstáculo
na
sit
ua
ç
ão
de l
eitura?
8)
Montei
ro
Loba
to
faz
u
so
de
diversos
recursos
em
s
ua
c
om
pos
ição
com
o
adaptaç
ão
de
textos
já
existen
tes,
util
iza
ção
de
elem
ento
s
intertextuais
e
outros.
Com
o
tai
s
re
cursos
in
fluenciam a
rec
ep
ç
ão
do
t
e
x
t
o l
obatiano?
(Conhecer
p
ersonagens
dos
c
lá
ss
icos
com
o
Chap
euzinho
Vermelho
e
outros fav
orece a com
pre
en
s
ão d
o
s
textos do autor?)
9)
Co
m
o
v
ocê
a
v
aliaria
o
trab
alho
c
om
a
o
bra
i
nfan
til
lobatiana,
c
onsideran
d
o
ace
it
ab
ilidade, possív
eis g
ra
u
s
de dificuldade e outr
o
s
el
em
e
ntos.
10)
Co
m
o v
ocê enqu
an
t
o leitor av
alia a obra
em questã
o?
Livros Grátis
(
http://www.livrosgratis.com.br
)
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo