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Segundo ela não encontra dificuldade nenhuma no dia-a-dia. Viaja sozinha, faz compras,
é independente. Quando sente alguma dificuldade de comunicação faz-se entender através da
escrita. Quando percebe manifestação ou atitude que julga preconceituosa ela ignora, não dá
importância. Julga o preconceito como atitude de quem não tem conhecimento. Futuramente,
pretende mudar para Porto Alegre, morar sozinha, depois de terminar a faculdade.
Abordado novamente sobre a inclusão do surdo, a acadêmica assim se expressa:
É muito difícil dizer o que é certo ou errado, existe muita discussão em relação à educação e
à inclusão. Uns dizem que é bom, outros dizem que não. Esta é minha opinião: desde
pequeno até o ensino médio é melhor o surdo estar numa escola própria para surdos, depois
incluir em outra escola. Quando criança ele não consegue acompanhar junto com os outros.
Quando é uma escola própria para surdos, que ensina através da língua de sinais, ele tem
mais facilidade de aprender. O surdo ou qualquer outra pessoa com alguma deficiência é
igual na sociedade, na educação, na escola, o trabalho é diferente, a escola especial é
diferente. O surdo quando estuda fora de escola própria para surdo vai aos poucos perdendo
contato com os surdos, vai perdendo a forma de sinalizar. Se comunica com o ouvinte e não
tem uma perfeita identidade surda, quando está junto com os surdos sim, há casos de amigos
estudam junto com ouvintes, mas têm amigos surdos com os quais se relacionam então não
perdem a identidade surda. (K.K, 24 anos).
Na escola própria para surdos, além da metodologia os estudantes recebem atendimento
do trabalho de profissionais como fonoaudióloga, psicóloga e assistente social. Além disso,
quando o aluno necessita ir a uma repartição pública, ou a um atendimento como médico, a
escola proporciona o acompanhamento de um professor que desempenha a função de intérprete.
Quando questionada se considera estar incluída no ensino superior a acadêmica manteve-
se em silêncio, após o qual manifestou-se:
Não tem uma faculdade própria para surdos, nos Estados Unidos tem, aqui no Brasil não
tem. Então eles têm que estar incluídos. Está melhorando. É uma experiência nova. Precisa
ter mais contato. Estamos cansados ver falar sobre educação, inclusão política, identidade,
mas na verdade o sentimento do surdo é próprio do surdo. Por isso é interessante escutar o
que o surdo tem a dizer, fazer pergunta, ouvir opinião deles. Estamos cansados, cansados,
porque falam, falam, falam, mas como imaginam diferente do que nós, a prática ocorre
diferente do que sonhamos e imaginamos. Utilizam metodologias diferentes e fazem de
acordo com a sua opinião, diferente da nossa. (K.K, 24 anos)