Em outras palavras, os conceitos de paráfrase e polissemia podem ser
observados da seguinte maneira: “os processos parafrásticos são aqueles pelos quais em
todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a memória” (ORLANDI,
1999, p.36). Portanto, devemos pensar que a “paráfrase é a matriz do sentido, pois não
há sentido sem repetição, sem sustentação no saber discursivo” (ORLANDI, 1999,
p.38); já no processo polissêmico “o que temos é deslocamento, ruptura de processos de
significação” (ORLANDI, 1999, p.36), ou seja, uma variante de sentido, traços
múltiplos de sentidos contidos num objeto simbólico. Concordamos, então, que a
“polissemia é justamente a simultaneidade de movimentos distintos de sentido no
mesmo objeto simbólico” (ORLANDI, 1999, p.38).
Em paralelo à discussão proferida, Michel Foucault (2004) apresenta a noção de
comentário, a qual envolve em seu interior a existência de um texto primeiro e toda
produção discursiva que deriva a partir de tal texto.
Criado o texto primeiro funda-se a possibilidade de construir e reconstruir novos
discursos a partir do que foi dito neste primeiro momento. “Mas, por outro lado, o
comentário não tem outro papel, sejam quais forem as técnicas empregadas, senão o de
dizer enfim o que estava articulado silenciosamente no texto primeiro” (FOUCAULT,
2004, p.25). O comentário expressa, assim, outros sentidos contidos no já dito,
silenciados até então, ao tempo em que se fala algo sobre o que havia sido dito. Assim,
há nesse processo tanto a conservação quando a novidade no discurso.
Segundo Foucault, a repetição, desse modo, representa a necessidade de
sustentação do texto primeiro para a inserção de um novo discurso sobre o que já havia
sido dito, porém não equivale ao que seria o mesmo do discurso. Como explica o autor,
nesse jogo do comentário deve-se “(...) dizer pela primeira vez aquilo que, entretanto, já
havia sido dito (o mesmo) e repetir incansavelmente aquilo que, no entanto, não havia
jamais sido dito” (2004, p.25). Ou seja, nessa concepção, o mesmo está para o já dito
assim como a repetição está pra o que há de novo
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De modo geral, comentar, para nós, seria realizar um discurso em referência a
algo já existente (o texto primeiro), sobre o qual passamos a ter um conhecimento após
um contato. Assim, de alguma maneira, discorremos sobre o já dito.
Dessa maneira, Foucault explica que o comentário “permite-lhe dizer algo além
do texto mesmo, mas com a condição de que o texto mesmo seja dito e de certo modo
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Para nós essa noção parece contrária ao usual, porém a idéia repetição em Foucault como elemento do
comentário excita realmente a novidade no discurso.