Assume-se neste estudo uma visão diferenciada de gramática, tomando por base
teórica a perspectiva de Antunes (op.cit.) em relação à gramática. Para o autor pensar em
gramática não é pensar apenas em “falar e escrever corretamente”(p.165) (norma culta),
não é “pensar em erro”, não tem “aquele sentido negativo de apenas coibir, proibir ou
indicar que faltas cometemos e como corrigi-las”. Mas tem um sentido positivo, pois
representa um “conjunto de possibilidades que regulam o funcionamento de uma língua,
para que ela se efetive socialmente”(p.166). A gramática não deixa de ter uma função
normativa, já que regula, entretanto, ela regula para possibilitar, i.e., para tornar possível a
interação.
A gramática, como vimos, é uma condição para que aquilo que dizemos,
numa determinada situação, faça sentido e possa funcionar como
atividade de interação. Ultrapassa, portanto, os ditames da norma padrão.
Caso contrário, fora da norma-padrão, não haveria regra e aí, cada pessoa
falaria como bem quisesse e entendesse. A gramática está presente,
portanto, em qualquer atividade verbal, formal ou informal, prestigiada
ou não; tenhamos ou não consciência disso. (ANTUNES, 2005, p. 167).
Em relação à coesão, como vimos, o uso de certas categorias gramaticais promove
e sinaliza a continuidade do texto e é, por isso, uma das condições de sua coerência.
Conforme Antunes (op.cit.), pode-se ressaltar, a função articuladora e coesiva de vários
recursos da gramática, tais como: a) os diferentes pronomes (pessoais, demonstrativos,
possessivos, indefinidos, relativos); b) a elipse (de termos, de expressões e até de
segmentos maiores); c) os numerais (seja numa seqüência temporal seja na seqüência das
referências feitas); d) os artigos (a escolha na seqüência do texto, entre um artigo
indefinido ou um definido interfere bastante na identificação dos referentes textuais); e) os
diferentes tipos de conectores, incluindo aí preposições, conjunções, advérbios e
respectivas locuções. Ou seja, além de regular ou controlar o uso da norma padrão, os
recursos gramaticais cumprem outras funções.
Desse modo, procurar perceber o que, na gramática funciona como condição para
estruturação coesiva e coerente dos textos pode orientar um bom programa de estudos da
língua, além de ampliar a compreensão acerca do que sejam as regras da gramática:
Uma regulação das possibilidades de produzir, em eventos
comunicativos, um conjunto de sinais (orais e escritos), de forma a
poderem funcionar como expressão de um dizer sociocomunicativamente
relevante. (ANTUNES, op.cit., p.168).