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A narrativa “é uma experiência coletiva”, assim afirma Benjamim (1987, p. 215), por isso ela
pede voz, presença, ouvidos, platéia, troca de impressões, partilha, enfim, a narrativa pede
uma coletividade.
Para Pennac (1998), a leitura é sempre um ato de comunicação, que, se não de maneira
imediata através da vocalização ou da própria leitura individual, é também um objeto de
partilhamento. Um leitor sempre indica a outro um bom livro, um leitor sempre lê ou compra
livros influenciado por comentários de outros leitores. Não há como negar, a leitura é uma
prática que pressupõe socialização, coletividade. Esses elementos são bem marcantes nas
práticas de leitura da BLR.
Nossas reflexões suscitadas no decorrer deste trabalho nos levam a crer que está na
voz/presença, o segredo do sucesso do trabalho da BLR, enquanto instituição que se propõe a
“incentivar e promover a leitura”. Em meio a uma “inflação do impresso”, a voz, instrumento
milenar de interação, se solidifica, apontando caminhos e leituras a leitores iniciantes,
evitando que se percam em meio a tanta oferta do escrito.
Na inflação do escrito, a função deste perde toda a evidência, enquanto a
voz encontra a sua, de maneira selvagem, na busca aleatória de sua
plenitude biológica. [...] Assim é chegado o tempo para nós de bricolar ao
sopro de nossas vozes, na energia de nossos corpos, a imensa e incoerente
herança de alguns séculos de escrita. (ZUMTHOR, 1997, p. 297; 299)
A BLR soube comungar sua prática com as reivindicações de seus leitores exigentes,
astuciosos, seletivos e, sobretudo, heterogêneos. No âmbito do trabalho da BLR, não há uma
imposição aos leitores quanto ao o que ler e como ler, pois o desejo e o gosto destes são
sempre respeitados, a exemplo da leitura/contação da PL que adequa seu repertório e
performance ao público leitor, como também do acervo de livros que a BLR se propõe a
oferecer segundo a procura do leitor, a exemplo dos livros religiosos.
Por ser a leitura uma prática social (CHARTIER, 2001, 1999, 1998, 1996, 1990),
requer um espaço (temporal, geográfico, político, ideológico) para ser e sujeitos para fazê-la.
Por ser uma prática cultural precisa ser socializada, transmitida, constituindo-se herança
cultural e social. Ora, a prática leitora não pressupõe só o domínio da tecnologia de
decodificar signos lingüísticos, ela requer a competência de “visualizar” além do escrito.
Requer a destreza para ler as entrelinhas, bem como requer a reflexão ao buscar outras
leituras; a sensibilidade na percepção do belo, da ironia, das imagens, da arte presentes na
escrita. Nessa lógica, para ser sujeito dessa prática cultural, necessita-se de outros sujeitos que
sirvam de mediadores, de socializadores. A PL é esse socializador, esse mediador que insere