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MAYSA MOTTA AGOSTINI NUNES EL-KOUBA
ASPECTOS GERAIS DA FASCIOLOSE E DAS ENDOPARASITOSES EM
CAPIVARAS (Hidrochaeris hidrochaeris - LINNAEUS, 1766) E RATÓES DE
BANHADO (Myocastor coypus – MOLINA, 1782) RESIDENTES EM TRÊS
PARQUES DO ESTADO DO PARANÁ.
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre em
Ciências Veterinárias, Curso de Pós-
Graduação em Ciências Veterinárias,
Setor de Ciências Agrárias, Universidade
Federal do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Waldir Hamann.
CURITIBA
2005
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ii
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Aos meus filhos, Tarik e João Paulo,
razão maior de tudo em minha vida.
iii
AGRADECIMENTOS
Antonio Carlos Agostini Pinto Nunes (em memória), meu pai, por seu
exemplo, incentivo, amor, dedicação, por minha vida, e por estar sempre
vivo em meu coração.
Eloina Motta Pinto Nunes, minha mãe, por seu amor e dedicação.
Charbel El-Kouba, marido e amigo, pela força, apoio, cumplicidade,
compreensão, por todos os momentos de ausência, pelo seu amor.
Simone Pereira Branco, minha “norinha”, pelo apoio, cumplicidade,
amizade, amor.
Gebrael Boulos El-Kouba, meu sogro, por ser a força que move e
mantém toda a família, mas, principalmente, por ter consentido em se tornar
meu segundo pai.
Luiza El-Kouba, minha sogra, pelo carinho e compreensão.
Sumaia El-Kouba Miguel, minha cunhada, pela amizade e apoio. Por
estar sempre presente quando eu estava ausente, e pela ajuda nesta tese
de mestrado.
Simone El-Kouba Dequêch, minha cunhada, pela amizade e apoio.
Professor Doutor Waldir Hamman, meu orientador, por estar comigo
nesta etapa tão importante de minha vida.
Professor Doutor Célso Pilati, pelo exemplo, incentivo, amizade, pelo
apoio em todos os momentos.
Professor Renato Silva de Sousa, que, mesmo estando em um país
distante, sempre esteve presente com seu incentivo e amizade.
Professor Rogério Ribas Lange, pelos valiosos conhecimentos em
animais silvestres, e por ter sugerido este tema para o projeto de mestrado.
Professora Doutora Vanete Thomas Soccol, por ser a referência
segura, por ter o dom de mostrar o caminho certo, de iluminar este caminho.
Professor Doutor Ennio Luz, pela orientação e inestimável auxilio com
a fascíola e com os caramujos.
iv
Professora Daniela Pedrassani Rech, da Universidade do Contestado
campus Canoinhas, pelo auxílio nas horas de dúvida.
Professor Éderson Luiz Matos Mota, pela correção do texto.
Universidade do Contestado – campus Canoinhas, por
disponibilizarem suas instalações e equipamentos.
Éster Benda Thien, técnica do Laboratório de Parasitologia da
Universidade do Contestado – campus Canoinhas, pelo auxilio e amizade.
Centro de Diagnóstico “Marcos Enrieti” (CDME), por disponibilizarem
suas instalações e equipamentos para a realização dos exames necessários
à conclusão desta tese de mestrado.
Ana Beatriz de Oliveira, chefe do CDME, pelo auxílio na identificação
dos ovos dos parasitos.
Marielza Pipper, do laboratório de parasitologia do CDME, pela
amizade, apoio, auxílio nos exames coproparasitológicos e, principalmente,
pelo exemplo que representa em determinação, disposição para ensinar e
aprender, superar obstáculos, e pelo companheirismo.
Arlei Macedo, do CDME, pelo auxílio na medição dos ovos de
Fasciola hepatica.
Maria José Botelho Maeda, secretária do CPGCV, da UFPR, pela
presteza e carinho em atender e ajudar.
Setor de Parques e Praças da Prefeitura Municipal de Curitiba – PR,
pelas autorizações para coleta de material no Parque Barigüí.
Zoológico Municipal de Curitiba, por permitir a coleta de fezes da
capivara.
SIX – Petrobrás, São Mateus do Sul, por permitir a visitação e coleta
de fezes das capivaras.
Capivaras e ratões do banhado, por serem o motivo principal desta
tese.
v
. Agradecimento Especial:
Professora Doutora Itaíra Susko, mestra, mentora, exemplo, amiga.
Pessoa sem a qual nada disto seria possível. Obrigada por fazer a diferença,
por transformar sonhos em realidade, por enriquecer minha vida.
vi
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ................................................................................. viii
LISTA DE QUADROS ................................................................................ viii
LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................... viii
LISTA DE FIGURAS ................................................................................... ix
RESUMO ..................................................................................................... x
ABSTRACT ................................................................................................. xi
1.INTRODUÇÃO ......................................................................................... 01
2.REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 03
2.1.CARACTERÍSTICAS DOS ROEDORES ESTUDADOS ....................... 03
2.1.1.Hiydrochaeris hydrochaeris – Capivara .............................................. 03
2.1.2.Myocastor coypus – Ratão Do Banhado ............................................ 06
2.2.FASCIOLOSE ........................................................................................ 07
2.2.1.Epidemiologia ..................................................................................... 09
2.2.2.Patologia da Fasciolose Animal .......................................................... 13
2.2.3.Características do Trematoda e seu Ciclo .......................................... 14
2.2.3.1.Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758) ................................................. 14
2.2.4.Hospedeiro Invertebrado da Fasciola hepatica .................................. 16
2.2.5.Histórico da Fasciolose ....................................................................... 17
2.2.6.Fasciolose Humana ............................................................................ 19
2.2.7.Fasciolose em Animais Silvestres ...................................................... 21
2.2.8.Diagnóstico Clínico e Laboratorial da Fasciolose ............................... 24
2.2.8.1.Determinação de Enzimas no Sangue ............................................ 25
2.2.8.2.Provas Imunológicas ....................................................................... 25
2.2.8.3.Exame Coprológico ......................................................................... 25
2.2.8.4.Necropsia ......................................................................................... 26
2.2.9.Controle e Profilaxia ........................................................................... 26
3.MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................... 29
3.1.POPULAÇÕES ESTUDADAS .............................................................. 29
3.1.1.Capivaras e Ratões do Banhado do Parque Barigüí – Curitiba ..........29
3.1.2.Capivara do Zoológico Municipal de Curitiba ..................................... 30
3.1.3.Capivaras do Projeto Lago Sul ........................................................... 31
3.2.COLETA E CONSERVAÇÃO DAS FEZES ........................................... 32
3.2.1.Coleta no Parque Barigüí ................................................................... 32
3.2.2.Coleta no Projeto Lago Sul, São Mateus do Sul ................................ 32
3.2.3.Coleta no Zoológico Municipal de Curitiba ......................................... 32
3.3.EXAMES COPROPARASITOLÓGICOS ............................................... 33
3.4.DIMENSIONAMENTO DOS OVOS DE Fasciola hepatica .................... 33
3.5.COLETA DOS MOLUSCOS ...... ........................................................... 34
vii
3.6.AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DE LESÃO
HEPÁTICA PRODUZIDA POR Fasciola hepatica ................................. 35
4.RESULTADOS ......................................................................................... 36
4.1.INFECÇÃO PARASITÁRIA EM CAPIVARAS E RATÕES
DO BANHADO DO PARQUE BARIGÜÍ, CURITIBA ........................... 36
4.2.INFECÇÃO PARASITÁRIA EM CAPIVARAS DO PROJETO
LAGO SUL – SIX – PETROBRÁS –SÃO MATEUS DO SUL ................ 38
4.3.INFECÇÃO PARASITÁRIA NA CAPIVARA DO ZOOLÓGICO
MUNICIPAL DE CURITIBA ................................................................... 39
4.4.DIMENSIONAMENTO DOS OVOS ....................................................... 39
4.5.COLETA E IDENTIFICAÇÃO DOS MOLUSCOS .................................. 39
4.6.AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DE LESÃO HEPÁTICA
PROVOCADA POR Fasciola hepatica .......................................... 41
5. DISCUSSÃO ........................................................................................... 43
6.CONCLUSÕES ........................................................................................ 52
7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 53
8.APÊNDICES ............................................................................................. 59
9.ANEXOS ................................................................................................... 68
viii
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 – COLETA DE MOLUSCOS NO PARQUE BARIGÜÍ –
CURITIBA ............................................................................. 40
TABELA 02 – EFEITO DE ANTIHELMÍNTICOS (%) E ESPECTRO
DE AÇÃO CONTRA DIFERENTES FASES DA
Fasciola hepatica ................................................................. 51
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 – ESCALA MICRONOMÉTRICA – MICROSCÓPIO ZEISS .. 33
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 01 – PORCENTAGEM DE UM TOTAL DE 18 AMOSTRAS
FECAIS DE CAPIVARAS DO PARQUE BARIGÜÍ,
CURITIBA, APRESENTANDO OVOS DE Fasciola
hepatica, OOCISTOS DE EIMERIÍDAE, E OVOS DE
ASCARÍDAE ........................................................................ 36
GRÁFICO 02 – PORCENTAGEM DE UM TOTAL DE 16 AMOSTRAS
FECAIS DE RATÕES DO BANHADO DO PARQUE
BARIGÜÍ, CURITIBA, APRESENTANDO OVOS DE
CESTODA, OVOS DE Fasciola hepatica, OVOS DE
CAPILARIIDAE, OOCISTOS DE EIMERIIDAE, OVOS DE
STRONGYLIDAE, OVOS DE ÁCAROS E OVOS DE
TRICHOSTRONGYLIDAE ................................................. 37
GRÁFICO 03 – PORCENTAGEM DE UM TOTAL DE 14 AMOSTRAS
FECAIS DE CAPIVARAS DO PROJETO LAGO SUL,
SÃO MATEUS DO SUL, APRESENTANDO OOCISTOS
DE EIMERIIDAE, OVOS DE CESTODA, OVOS DE
TRICHOSTRONGYLIDAE, OVOS DE CAPILARIIDAE E
OVOS DE Fasciola hepatica .............................................. 38
ix
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 – CAPIVARA DO PARQUE BARIGÜÍ – CURITIBA – PR ....... 01
FIGURA 02 – CAPIVARA DO PARQUE BARIGÜÍ – CURITIBA – PR ....... 03
FIGURA 03 – RATÃO DO BANHADO ........................................................ 06
FIGURA 04 – CICLO BIOLÓGICO DA Fasciola hepatica .......................... 12
FIGURA 05 – Fasciola hepatica ................................................................. 14
FIGURA 06 – Lymnaea sp .......................................................................... 16
FIGURA 07 – CAPIVARA DO PARQUE BARIGÜÍ – CURITIBA – PR ....... 29
FIGURA 08 – CAPIVARA E RATÃO DO BANHADO – PARQUE
BARIGÜÍ - CURITIBA – PR.................................................. 30
FIGURA 09 – CAPIVARA DO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA
– PR ..................................................................................... 30
FIGURA 10 – CAPIVARA DO “GRUPO 1” DO PROJETO
LAGO SUL– SIX – PETROBRÁS ........................................... 31
FIGURA 11 – CAPIVARA DO “GRUPO 2” DO PROJETO LAGO –
SUL SIX – PETROBRÁS ...................................................... 31
FIGURA 12 – OVOS DE Fasciola hepatica OBSERVADOS EM
MICROSCÓPIO ZEISS, PARA TOMADA DE
MEDIDAS ............................................................................ 34
FIGURA 13 – Physa marmorata COLETADA NO PARQUE BARIGÜÍ ...... 40
FIGURA 14 – Biomphalaria tenagophyla COLETADA NO PARQUE
BARIGÜÍ .............................................................................. 41
FIGURA 15 – LESÃO DECORRENTE DA MIGRAÇÃO DA
Fasciola hepatica, EM FÍGADO DE CAPIVARA
DO PARQUE BARIGÜÍ,COM INTENSA EXSUDAÇÃO
CENTRAL, CIRCUNDADA POR TECIDO FIBROSO, ......... 42
FIGURA 16 – LESÃO EM FÍGADO DE CAPIVARA DO PARQUE
BARIGÜÍ, COM INTENSA HIPERPLASIA DE
DUCTOS BILIARES COM INFILTRADO
INFLAMATÓRIO .................................................................. 42
FIGURA 17 – CONCEITO DE CONTROLE INTEGRADO ......................... 51
x
RESUMO
A fasciolose é uma parasitose de distribuição mundial, causada pelo
trematoda Fasciola hepatica, que afeta principalmente ruminantes: bovinos e
ovinos, e tem sido encontrada acometendo diversas outras espécies,
inclusive o homem. Animais silvestres também são suscetíveis à fasciolose,
podendo, inclusive, funcionar como reservatórios e disseminadores. Foram
realizados exames coproparasitológicos em capivaras do Projeto Lago Sul –
SIX – Petrobrás, São Mateus do Sul, Paraná, e na única capivara residente
no Zoológico Municipal de Curitiba, Paraná, que resultaram negativos para
ovos de Fasciola hepatica. Nas capivaras do Parque Barigüí, Curitiba,
Paraná, entretanto, de 18 amostras coletadas, em diversas épocas do ano
de 2004, 100% resultaram positivas para ovos de Fasciola hepatica, quando
utilizado o método de Sedimentação Simples. As mesmas amostras foram
submetidas ao método dos Quatro Tamises, específico para pesquisa de
ovos de Fasciola hepatica, encontrando-se uma positividade de 83,33%. No
mesmo parque, coletaram-se fezes de ratão do banhado (Myocastor coypus)
que, examinadas pelos mesmos métodos, apresentaram uma positividade
de 56,25%. Os moluscos encontrados foram: Physa columella, Physa
marmorata e Biomphalaria sp, não tendo sido encontrados exemplares do
gênero Lymnaea, o que não descarta a possibilidade da fasciolose no
referido parque, significando, sim, que a infecção nestes animais é mais
antiga, e que, provavelmente, os filhotes da última ninhada estão livres da
fasciolose, pelo menos enquanto os Lymnaea não repovoarem a área, o que
pode ocorrer se diminuírem os níveis de poluição das águas do Parque
Barigüí, sob condições climáticas favoráveis. A releitura de lâminas de uma
capivara, fêmea, adulta, morta no Parque Barigüí em 2002, e diagnosticada
com fasciolose, encontrou lesões microscópicas semelhantes às
encontradas em bovinos e ovinos. O tratamento com fasciolicidas de última
geração, que atuam tanto sobre formas adultas como jovens do parasito, é
viável para capivaras. No caso dos ratões de banhado, requer um manejo
mais elaborado. O controle da fasciolose no Parque Barigüí, agora que os
Lymnaea não estão presentes, se resumiria a um adequado protocolo de
tratamento dos animais.
PALAVRAS-CHAVE – Capivara, Fasciola hepatica, disseminação, controle,
tratamento.
xi
ABSTRACT
Fasciolosis is a world widespread parasitosis, caused by the trematoda
Fasciola hepatica, which affects mainly ruminants: bovine and sheep, and
has been found in different species of animals, including men. Wild animals
are also fasciolosis susceptible, and could be reservoir and disseminators of
this disease. There were performed coproparasitologic tests of Projeto Lago
Sul’s capivaras, from “São Mateus do Sul”, “Paraná”, and of the only
capivara who lives in the “Zoológico Municipal de Curitiba”, “Paraná”, that
result negative for Fasciola hepatica’s eggs. However, for the capivara of
“Parque Barigüí”, “Paraná”, from the eighteen samples of faeces collected in
different seasons of 2004, 100% were positive for Fasciola hepatica’s eggs,
when tested under the “Método de Sedimentação Simples”. These samples
were also tested under the “Método dos Quatro Tamises” where 83,33% of
them were positive. In the same park, were collected ratão-do-banhado’s
faeces that, tested under the same methods, were 56,25% positive for
Fasciola hepatica’s eggs. The mollusks found in “Parque Barigüí” were:
Physa columella, Physa marmorata and Biomphalaria sp. Lymnaea
specimens were not found, what doesn’t mean that there is no fasciolosis in
the local, meaning, however, that these animals infection is older, and the
younger animals could be fasciolosis free, whereas the Lymnaea don’t
repopulate the area, what could happens if the park’s waters condition
improves and the weather be favorable. An adult, female, capivara’s
histopathological test were reviewed and the microscopic findings were
compatible with the ones that are usually find on bovine’s and sheep’s tests.
The treatment, with the newest fasciolicidas generation, which acts on young
and adult fascíolas, can be viable for capivaras. The control, while the
Lymnaea is not present, would simply be done with a fine fasciolicide
protocol.
Key words: Capivara, Fasciola hepatica, dissemination, control, treatment.
xii
xiii
1 - INTRODUÇÃO
A Parasitologia Veterinária engloba um vasto campo das ciências
biológicas, não se limitando unicamente ao estudo das doenças nos animais
domésticos, porém estendendo-se aos demais aspectos biológicos do
parasitismo, que envolvem o agente, seu ciclo e hospedeiro, bem como ao
estudo das zoonoses parasitárias, e de suas conseqüências na população
humana (HATSCHBACH, 1995).
Dentre as parasitoses consideradas zoonoses, a fasciolose encontra-
se muito bem estudada e conhecida em ruminantes (bovinos e ovinos),
porém muito pouco registrada em animais silvestres.
As capivaras e ratões do banhado são roedores silvestres de hábitos
semi- aquáticos suscetíveis a esta parasitose. Isto foi determinado após
exames parasitológicos realizados em amostras fecais colhidas em parques
de Curitiba, Paraná, as quais apresentaram-se positivas para ovos de
Fasciola hepatica.
Figura 01 – Capivara do Parque Barigüí – Curitiba – PR
A importância de estudar a fasciolose, neste grupo de animais
silvestres, vai além do interesse puramente acadêmico. Como estes animais
2
dispersam-se em diferentes grupos, por posse territorial, e viajam sempre
perto de cursos d’água, podem funcionar como disseminadores da
fasciolose em outras regiões. A importância se magnífica, caso, também,
pensarmos na fasciolose como uma zoonose em potencial.
Curitiba se orgulha de ser uma das cidades brasileiras com melhor
qualidade de vida. Seus parques, muito bem projetados e conservados, são
um grande atrativo para as pessoas que procuram um maior contato com a
natureza. Um local para relaxar, fazer caminhadas, levar seus filhos para
brincar, sentar à beira de um lago e esquecer da vida por alguns momentos.
No entanto, grupos de capivaras e ratões de banhado residem,
também, nesses parques, à margem do rio, no lago por ele formado, no
Parque Barigüí, e nas cavas do Parque Iguaçu.
Por ser esta uma comunidade de animais silvestres, que estão em
estreito convívio com seres humanos, a coleta de dados a respeito do nível
de infecção endoparasitária destes animais auxiliará na compreensão destas
parasitoses e sua dinâmica nestes animais. O controle das mesmas entre
seus indivíduos, visando sua sanidade e, conseqüentemente, a segurança
dos freqüentadores dos parques em questão será de suma importância e
exigirá metodologias de dosificação e aplicação de antiparasitários que
resultem em sua rápida descontaminação com o mínimo de stress.
3
2 - REVISÃO DE LITERATURA
2.1 – Características dos roedores estudados.
A ordem Rodentia é a mais extensa entre os mamíferos. Acima de
um terço entre todos os gêneros e mais da metade dos mamíferos a ela
pertencem (FOWLER, 1986).
Algumas espécies de roedores foram muito bem estudadas. Os
ratos (Rattus rattus), ratazanas (Rattus novergicus), camundongos (Mus
musculus), cobaios (Cavia porcellus) e os hamsters (Mesocricetus auratus)
são algumas destas, por serem espécies largamente utilizadas em
pesquisas científicas. Por razões econômicas, considerável número de
informações têm sido acumuladas sobre roedores criados para exploração
de peles, como castores (Castor canadensis), chinchilas (Chinchilla laniger),
e ratões do banhado ou nutrias (Myocastor coypus). No entanto, como
animais de exibição em zoológicos, os roedores têm recebido pouca
atenção. Geralmente, a maioria dos roedores é notívaga e,
conseqüentemente, vista com menor interesse por freqüentadores,
trabalhadores e administradores de zoológicos. Tais fatos resultam em
pouca informação publicada a respeito de certas espécies silvestres
(FOWLER, 1986).
2.1.1 - Hydrochaeris hydrochaeris (Linnaeus, 1766) Capivara
Figura 02 – Capivara do Parque Barigüí – Curitiba, Paraná.
4
Classificação Taxonômica (The Encyclopaedia of Mammals, 1993).
Reino – Animalia
Filo – Chordata
Classe – Mammalia
Ordem Rodentia
Sub-ordem – Hystricognathi
Família – Hydrochaeridae
Gênero – Hydrochaeris
Espécie – Hydrochaeris hidrochaeris
A capivara (Figura 02) é considerada o maior roedor do mundo. Com
peso variando de 30 a 70 Kg, sendo que, segundo OJASTI, 1993, os pesos
máximos observados foram de animais com 65 kg, na Venezuela; 73 kg, no
Uruguai, e 91 kg, no Brasil. Com 100 a 130 cm de comprimento e altura de
50 cm. Sendo as fêmeas maiores que os machos. Não possuem cauda, e
seu pêlo é longo, áspero e grosseiro. Apresentam coloração que vai de
marrom avermelhada à acinzentada, geralmente marrom amarelada na base
dos pêlos. Os membros são curtos, as orelhas são curtas e arredondadas, e
o focinho é pesado e forte. Os dedos são ligados por membranas natatórias,
possuindo fortes unhas. Os machos possuem uma pronunciada glândula
odorífera no topo do focinho (MONES & OJASTI, 1986).
Estes roedores gigantes são herbívoros. Selecionam forrageiras de
alto valor nutritivo, usando seus incisivos para apreensão. Aumentam a
absorção de nutrientes da alimentação, ampliando a eficiência de sua
digestão, que envolve mastigação intensiva e fermentação intestinal
(NOWAK & PARADISO, 1983).
Podem se reproduzir em qualquer época do ano, mas o fazem mais
freqüentemente na entrada da estação das chuvas. A gestação é de
aproximadamente 150 dias, e a fêmea tem, geralmente, de um a quatro
filhotes por ano. O peso médio dos filhotes ao nascer é de 1,5 Kg, e são
muito precoces – seus olhos estão abertos, são totalmente cobertos por
pêlos e têm a dentição completa. Podem seguir a mãe e se alimentar de
forrageiras pouco tempo após o nascimento. Apesar de se alimentarem de
5
forrageiras precocemente, são amamentados até aproximadamente quatro
meses de idade. A maturidade sexual se dá aos 15 meses, e a expectativa
de vida, na natureza, é de 10 anos (The Encyclopaedia of Mammals, 1993).
São animas sociais, vivendo em grupos de cinco a 14 indivíduos.
Estas unidades consistem de um macho dominante, várias fêmeas adultas
(com sua própria hierarquia de dominância), suas crias, e machos
subordinados na periferia do grupo. Os machos que não possuem seu
próprio grupo familiar podem viver solitários. Os grupos tendem a ser
maiores em áreas mais áridas, e durante estiagens centenas de indivíduos
podem se agregar em torno a água remanescente. Aparentemente se
comunicam por assobios e estalidos. São mais ativas pela manhã e ao
anoitecer. Durante as horas mais quentes do dia, espojam-se em áreas
úmidas, à sombra. Se perseguida ou assustada em terra firme, a capivara
procurará abrigo na água. Semiaquáticas, são excelentes nadadoras.
Podem nadar somente com os olhos, orelhas e narinas fora d’água (pela
conformação de sua cabeça), ou totalmente submersas. Podem, também,
esconder-se na vegetação aquática, deixando somente as narinas fora
d’água (NOWAK & PARADISO, 1983). Vivem entre a densa vegetação que
circunda lagos, rios, tanques, lagoas e pântanos. Usam a água como abrigo
do perigo, mas descansam em terra seca.
Essa espécie tem sido criada comercialmente por sua carne e couro,
e sua gordura é utilizada em farmacêutica. Grupos selvagens são, em
algumas áreas, considerados pragas, como em plantações de cana de
açúcar e milho. Podem competir por alimento com o gado e outros animais
domésticos em épocas de seca (MONES & OJASTI, 1986).
A caça indiscriminada tem causado redução na população de
capivaras em alguns países, mas, na maioria das áreas, as populações são
estáveis. Tendem a proliferar em áreas de criação de gado, onde estão
relativamente a salvo de predadores e a pastagem é periodicamente
melhorada. A criação comercial, em fazendas especializadas, apresenta
também um benefício ecológico, pois implica na preservação de áreas
alagadiças, impróprias para a criação de gado, que sempre exige sua
drenagem.
6
2.1.2 – Myocastor coypus (Molina, 1782) – Ratão do Banhado
Figura 03 – Ratão do Banhado – Fonte: www.saudeanimal.com.br
Classificação taxonômica (The Encyclopaedia of Mammals, 1993):
Reino – Animalia
Filo – Chordata
Classe – Mammalia
Ordem – Hystricognatha
Sub-ordem – Hytricognathi
Família – Echimyidae
Gênero – Myocastor
Espécie – Myocastor coypus
O Ratão–do-Banhado (Figura 03) é nativo da América do Sul,
distribuindo-se desde a Bolívia, sul do Brasil, até a Terra do Fogo. Tentativas
de criações comerciais tiveram como resultado fugas de fazendas de criação
para exploração de seus couros e peles, e, como conseqüência disso, hoje
em dia ocorrem populações desses animais em liberdade, na Europa, Ásia e
América do Norte (WOODS et al., 1992).
Habitam pântanos, margens de lagos e rios, especialmente onde se
encontra vegetação em abundância (NOWAK, 1991).
Esse roedor realmente se parece com um grande e robusto rato.
Seu corpo é arqueado e a cabeça larga e triangular. As orelhas e olhos são
pequenos e localizados na parte superior da cabeça. Os dentes incisivos são
largos, de coloração alaranjada na face anterior. Os pés são bem mais
7
longos que as mãos, e contêm cinco dígitos, sendo quatro deles conectados
por membrana e o quinto, livre. As mãos têm quatro dígitos longos, flexíveis
e livres. A cauda é longa e arredondada. Possui uma pelagem longa que
varia de marrom-amarelada à marrom-avermelhada e sob esta, uma
pelagem mais macia e densa de coloração acinzentada. As bochechas são
cobertas por pelos brancos e a cauda possui pelagem rala. Os machos são,
geralmente, maiores que as fêmeas (GOSLING, 1977; NOWAK, 1991;
WOODS et al., 1992).
O Ratão-do-Banhado é poliéstrico, apresentando uma gestação
longa, variando de 127 a 139 dias. As ninhadas variam de três a seis
filhotes, podendo, no entanto, variar de um a treze. Alcançam maturidade
sexual muito jovens, aos seis meses de idade. Os filhotes nascem
completamente cobertos de pelos e com os olhos abertos. O período de
lactação é de aproximadamente oito semanas (GOSLING, 1981; GOSLING
& BAKER, 1981; WOODS et al., 1992).
É semiaquático, podendo permanecer submersos por mais de dez
minutos. São mais ativos à noite, e utilizam este período para alimentação,
higiene e natação. Constroem abrigos, que podem ser simples túneis ou um
complexo sistema contendo passagens e câmaras, que se estende por 15
metros ou mais. São altamente gregários: os grupos consistem,
normalmente, de dois a 13 animais, composto por fêmeas adultas e suas
crias, e um macho dominante. Jovens machos adultos, ocasionalmente,
vivem solitários (NOWAK, 1991; DONCASTER & MICOL, 1989; WOODS et
al., 1992).
São herbívoros, e sua dieta consiste de vegetação aquática. Podem
utilizar pedaços de madeira ou outros objetos flutuantes como plataformas
de alimentação (WOODS et al., 1992).
2.2 – Fasciolose
A fasciolose é uma enfermidade comum de ovinos, caprinos e
bovinos em muitas partes do mundo. As taxas de morbidade e mortalidade
variam de região a região, e em áreas endêmicas não é raro encontrar taxas
8
de infecção superiores a 50%. As perdas ocasionadas pela fasciolose, assim
como devido a outras enfermidades crônicas, são difíceis de calcular.
Segundo estimativas, a eficiência produtiva dos bovinos diminui em
aproximadamente 8% em infecções leves, podendo chegar a 20% ou mais
em infecções graves. Em ovinos, as perdas na produção de lã podem variar
de 20 a 39%. As perdas, de uma maneira geral, se devem a descarte de
fígados, diminuição no desenvolvimento corporal, e redução da produção de
lã, leite e carne (ACHA & SZYFRES,1986).
Em ensaio realizado na Austrália, foram infectados
experimentalmente, por via oral, cordeiros, com diferentes doses de
metacercárias. Mediante procedimentos de análise de regressão, foram
avaliados os danos ocasionados pela parasitose aos seis meses da
infecção. Em todos os grupos parasitados, comprovou-se um retardo no
crescimento, redução de peso e diminuição do crescimento da lã. Também
foi observada uma redução na eficiência da conversão alimentar (HAWKINS
& MORRIS, 1978).
Segundo BIAGI, 1974, pode-se distinguir duas formas clínicas da
fasciolose: uma aguda e uma crônica.
A forma aguda se apresenta, sobretudo, em ovinos jovens e se deve
à ingestão de um grande número de metacercárias (>10.000), com a
conseqüente invasão repentina e migração de inúmeras formas jovens pelo
parênquima hepático. Os parasitos migratórios, no órgão alvo, causam
hemorragias, hematomas e rupturas teciduais, inflamação da glândula, com
necrose e destruição do tecido hepático. Os ovinos afetados podem morrer
subitamente sem manifestações clínicas, ou estas podem se manifestar um
a dois dias antes da morte, com debilidade, inapetência e dor à palpação na
região hepática. Em casos menos agudos, pode haver perda de peso e
ascite. Também são freqüentes dados hematológicos de eosinofilia, anemia,
hipoalbuminemia e um alto nível de transaminase glutâmica oxalacética. Os
bovinos raramente sofrem desta forma aguda (BIAGI, 1974).
A forma crônica é de evolução lenta, e se caracteriza por perda de
peso, emaciação, edema sub mandibular, anemia, debilidade, diarréia e
ascite. A sintomatologia depende do número de parasitos presentes no
9
fígado dos animais infectados. Os ovinos que albergam um número
moderado de fascíolas denotam, a princípio, inapetência, pouco aumento de
peso e anemia progressiva. O estado dos animais piora em épocas de
escassez de pasto e melhora, quando estes melhoram, mas os animais não
se curam e a parasitose tem efeito cumulativo através dos anos. Na
sintomatologia, se incluem: colangite, estase biliar, destruição e fibrose do
tecido hepático. A anemia e a eosinofilia são persistentes. Os bovinos são
mais resistentes que os ovinos e podem suportar uma maior carga
parasitária sem manifestações clínicas importantes. Os bovinos jovens são
mais suscetíveis que os adultos (BIAGI, 1974).
2.2.1 – Epidemiologia
A ecologia da fasciolose está estreitamente ligada à dos moluscos
que lhe servem de hospedeiros intermediários. As características
geográficas, a composição do solo e os fatores climáticos determinam o
ritmo da reprodução dos moluscos do gênero Lymnaea e, por conseguinte, a
dinâmica epidemiológica. Os Lymnaea e as formas imaturas da fascíola
podem ser encontrados em pastagens nas mais diversas partes do mundo,
desde aquelas situadas ao nível do mar até aquelas situadas em vales
andinos a mais de 3700 m de altitude. Do ponto de vista ecológico, os
habitats dos Lymnaea podem dividir-se em dois grandes grupos: os
denominados de focos primários (reservatórios) e aqueles denominados de
áreas de disseminação. Os focos primários são locais permanentemente
úmidos, como rios de pouco curso, lagos, canais, áreas de campos
alagados, onde os moluscos se reproduzem de modo constante. Nestes
locais, a população de moluscos se mantém uniforme, em nível quase
sempre baixo. As áreas de disseminação são aquelas onde se alternam
inundações e secas, e são de especial interesse epidemiológico. São
ambientes de disseminação dos focos primários originais, e contêm grandes
concentrações de Lymnaea. Os moluscos podem proceder diretamente dos
focos primários, levados pelas águas de enchentes, ou procederem da
reativação dos moluscos que ficaram em latência durante os períodos de
10
seca. As chuvas (ou a irrigação), depois de um período seco, criam
condições favoráveis nestes campos para a reprodução dos mesmos. Os
habitats temporários ou de extensão são as pastagens alagadas, e estas
constituem áreas enzoóticas onde ocorrem surtos graves de fasciolose
animal. Os surtos de fasciolose aguda são raros no inverno em climas
temperados, mas podem ocorrer depois que as chuvas de fins de verão e
outono sucedem a um período seco. Pelo efeito da umidade e temperatura,
um grande número de cercárias abandona os moluscos e se encista sobre a
superfície dos vegetais que compõe as pastagens. Nestas condições, os
animais herbívoros podem se infectar com um grande número de
metacercárias e, aproximadamente de seis a oito semanas após, sofrer a
forma aguda da parasitose. A fasciolose crônica ocorre mais tarde, a partir
de fins do outono. Em anos chuvosos, pode haver metacercárias em
grandes extensões das pastagens.(ACHA & SZYFRES, 1986).
A ecologia do molusco também não é sempre uniforme. MAURE et al.
estudaram a dinâmica populacional do molusco Limnaea columella por um
período de seis anos na pastagem em fazendas de exploração leiteira
infectadas por Fasciola hepatica. A pesquisa foi desenvolvida nos municípios
de Piquete e Redenção da Serra, São Paulo. Os resultados obtidos foram
diferentes em cada fazenda, revelando que a dinâmica da população de
moluscos está estreitamente relacionada a fatores ecológicos e climáticos.
No município de Piquete, o aumento da variação da densidade populacional
flutuou em relação inversa à temperatura e à pluviosidade, encontrando
maior número de moluscos no período seco do ano (maio-outubro). No
município de Redenção da Serra, a grande quantidade de matéria orgânica
observada no biótopo foi responsável pela captura do maior número de
moluscos no período de altas temperaturas e alta densidade pluviométrica
(janeiro-março).
O hospedeiro definitivo mais importante desta parasitose é o ovino.
Segundo estimativas, um ovino que padece de uma infecção sub-clinica leve
pode contaminar diariamente o campo com mais de meio milhão de ovos, e,
em casos de infecção moderada, com 2,5 a três milhões de ovos por dia. O
bovino segue, em importância, ao ovino, mas a produção de ovos de
11
F.hepatica declina com rapidez. Muitas outras espécies de herbívoros
domésticos e silvestres, entre eles os lagomorfos, podem servir como
hospedeiros definitivos. De acordo com estudos realizados na Austrália,
alguns destes animais se limitam a representarem o papel de hospedeiros
temporários e, por esta razão, não mantêm o ciclo por muito tempo; tal seria
o caso dos coelhos silvestres, que contaminam as pastagens de modo
insignificante (BORAY, 1969).
O homem se infecta, sobretudo, pela ingestão de saladas de agrião
(Nasturtium officinale) que contêm metacercárias aderidas à superfície da
planta. Em certas ocasiões, podem servir como fonte de infecção humana a
alface e outras plantas contaminadas quando consumidas cruas, a água de
canais de irrigação e de outros receptáculos onde existam metacercárias
(FAIGUENBAUN et al., 1962).
12
Figura 04 – Ciclo Biológico da Fasciola hepatica. Adaptado do site
www.dpd.cpc.gov
.
13
2.2.2 - Patologia da fasciolose animal
et al., 2001;
CARLTO
Na fase aguda da doença em ovinos, o fígado pode apresentar-se
dilatado, com a cápsula espessada, coberto de exsudato fibrinoso e com o
lobo ventral hemorrágico. Há líquido sanguinolento na cavidade abdominal.
Ao corte, o parênquima hepático apresenta focos hemorrágicos difusos e
presença de formas jovens de Fasciola hepatica. A migração dos
trematódeos imaturos pelo tecido hepático produz trajetos hemorrágicos
formados por parênquima hepático necrótico. Tais trajetos são
macroscopicamente visíveis e vermelho-escuros. No entanto, com o passar
do tempo, tornam-se mais pálidos que o parênquima circunjacente. A
resolução freqüentemente ocorre por fibrose tecidual reparativa. Essas
migrações podem causar várias seqüelas, incluindo peritonite aguda,
abscessos hepáticos, proliferação de esporos de Clostridium haemolyticum
ou C.novyi tipo B no tecido necrótico com subseqüente desenvolvimento de
hemoglobinúria bacilar ou hepatite infecciosa necrosante, respectivamente.
Pode ocorrer, também, morte do hospedeiro em conseqüência de necrose
hepática aguda disseminada, causada pela migração de grande número de
trematódeos imaturos, em casos de infestações massivas. Na fase crônica,
o fígado apresenta-se pálido, com o lobo ventral reduzido de tamanho.
Trematódeos adultos habitam os grandes ductos biliares e causam colangite
e colangio-hepatite. A colangite crônica e a obstrução dos ductos biliares
levam à ectasia e estenose dos ductos e à fibrose periductal que espessa as
paredes dos ductos, tornando-os progressivamente conspícuos. A bile no
interior dos ductos distendidos é marrom. A obstrução dos ductos biliares
leva à colestase extra-hepática. Animais com fasciolose crônica
freqüentemente apresentam mau estado nutricional. As lesões histológicas
caracterizam-se por hepatite hemorrágica na fase aguda e colangite
hiperplásica e fibrose na fase crônica (RIET-CORREA
N & McGAVIN, 1998).
BORDIN (1995), descreve, no parênquima hepático, lesões
migratórias agudas, que tendem a ser traumáticas, apresentando também
um componente necrótico coagulativo importante. Mais comumente,
14
observam-se áreas sinuosas migratórias, as quais macroscopicamente
aparecem na forma de focos hemorrágicos de 2-3 mm de diâmetro.
Microscopicamente, estes túneis mostram hepatócitos degenerados e
preenchidos com sangue e detritos, além de pigmentos sangüíneos e
eosinófilos. Histologicamente, a forma crônica da fasciolose corresponde à
colangite ulcerativa, com exuberância fibrosa no nível das paredes dos
ductos.
para o pulmão, formando abscessos é comum (RIET-CORREA et al., 2001).
.2.3 – Características do Trematoda e seu Ciclo.
2.2.3.1 - Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758)
Observam-se também, infiltrados mono e polimorfonucleares.
Em bovinos, a patologia é semelhante a de ovinos, porém o
engrossamento com calcificação dos ductos biliares e dilatação da vesícula
biliar são as lesões mais características. A migração errática do parasito
2
Figura 05 – Fasciola hepatica – Fonte: www.bioweb.uwlax.edu
Pertencente ao Filo Platyhelminthes, é o trematoda digenético dos
ductos biliares de herbívoros domésticos e silvestres, podendo
ocasionalmente ter como hospedeiro acidental o homem (Figura 05). É um
parasito de distribuição mundial, achatado, medindo de 2,5 a três cm de
comprimento por 1,3 cm de largura, de coloração pardacenta, de forma
15
similar a uma folha. Os parasitos adultos põem ovos não embrionados,
medindo de 130 a 145 μm de comprimento por 70 a 90 μm de largura, que
são levados pela bile ao intestino e eliminados com as fezes. Para sua
maturação, os ovos devem encontrar condições adequadas de umidade e
temperatura. No verão, a incubação é curta, e o miracídio (larva) emerge do
ovo em poucas semanas (10 a 12 dias à temperatura de 26
º
)
(NAHM, 1996),
enquanto que a baixas temperaturas, no inverno de regiões temperadas, a
eclosão pode demorar meses. Os ovos são resistentes a fatores ambientais,
e podem sobreviver em material fecal por cerca de um ano. Os miracídios,
por outro lado, são muito frágeis, e devem encontrar um hospedeiro
apropriado em aproximadamente oito horas (ACHA & SZYFRES, 1986). Os
hospedeiros intermediários são os moluscos anfíbios da família Lymnaeidae.
Na América do Sul, são encontradas as espécies L.viator (L.viatrix) e
L.diaphana. Ao penetrar no molusco, o miracídio se converte em esporocisto
e, em cerca de três semanas, produz rédias, que por sua vez podem gerar
rédias filhas (Segunda geração de rédias), ou diretamente cercárias. Se a
temperatura é favorável, as cercárias começam a emergir dos caracóis em
cerca de seis semanas. A menos de 10
º
C, os estadios larvais podem
sobreviver dentro dos caracóis por pelo menos 100 dias sem completar seu
desenvolvimento, para retomá-lo quando as condições forem mais
favoráveis (ACHA & SZYFRES, 1986).
As cercárias, ao abandonar o molusco, nadam ativamente e se
encistam sobre a superfície da vegetação, onde se transformam em
metacercárias, caracterizadas por sua ampla margem de sobrevivência em
ambientes úmidos e escassa resistência à dessecação. Já foi comprovado
que as cercárias têm preferência por encistar-se em certo tipo de plantas
para formar as metacercárias. Também podem se encistar na superfície da
água, encerrando em si pequenas bolhas de ar que lhe permitem a
flutuação. Os hospedeiros definitivos se infectam ao ingerir as plantas ou
água com metacercárias. No duodeno, as larvas se liberam de seus
envoltórios, atravessam a parede intestinal até a cavidade abdominal,
perfuram a cápsula do fígado e, através do parênquima hepático chegam
aos ductos biliares, onde ocorre a maturação. O período pré-patente (da
16
infecção até a aparição dos ovos nas fezes do hospedeiro) dura
aproximadamente dois meses, porém, nem todas as fascíolas jovens
alcançam a maturidade ao mesmo tempo, e o processo de maturação pode
se prolongar (SOULSBY, 1982). O ciclo se reinicia com a oviposição (Figura
04). A F.hepatica pode viver nos canais biliares por vários anos (ACHA &
SZYFRES, 1986).
.2.4 - Hospedeiro Invertebrado da Fasciola hepatica
2
Figura 06 – Lymnaea sp – Fonte: www.bioweb.uwlax.edu
ordem
Basomm
O hospedeiro invertebrado da Fasciola hepatica pertence ao filo
Mollusca, classe Gastropoda, ordem Pulmonata, sub
atophora, família Lymnaeidae, gênero Lymnaea (Figura 06).
Os pulmonados são hermafroditas e apresentam concha desprovida
de opérculo. Os basomorfos têm um par de tentáculos muito móveis, não
retráteis; olhos sésseis são exclusivamente aquáticos (dulcícolas) ou
anfíbios. Os indivíduos da família Lymnaeidae possuem conchas
acuminadas, porém com enrolamento dextrógiro; aberturas anogenitais do
lado direito; tentáculos curtos e triangulares e dente central da rádula com
uma só cúspide, diferindo dos Physidae que apresentam conchas
helicoidais, sinistrógiras, aberturas anal e genital esquerda, tentáculos
17
cilíndric
a, São Paulo, Rio
de Jane
ranaense, e, mais recentemente, QUEIROZ & LUZ (2000)
registraram sua ocorrência nos municípios de Bocaiúva do Sul e Tunas do
Paraná.
e hepática bovina no Peru, e Tagle, em 1943,
os e dentes da rádula com filas transversais dispostas em “V” (REY,
1973).
No Brasil, REZENDE et al. (1973) registraram a ocorrência de
Lymnaea columella e Lymnaea cubensis no Rio de Janeiro. PARAENSE
(1982), assinalou Lymnaea viatrix no Rio Grande do Sul e Minas Gerais,
Lymnaea columella no Rio Grande do Sul, Santa Catarin
iro, Minas Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso
do Sul e Paraná e Lymnaea rupestris em Santa Catarina.
No Paraná, a Lymnaea columella foi descrita pela primeira vez por
MORRETES (1949) nas cidades de Curitiba e São José dos Pinhais.
PARAENSE (1982) assinalou sua presença em Curitiba e Morretes. LUZ et
al. (1994) registrou esta espécie em 10 municípios do Primeiro Planalto e no
litoral pa
2.2.5 – Histórico da Fasciolose
SERRA FREIRE (1999), em sua análise retrospectiva e prospectiva
da fasciolose hepática no Brasil, relata que a primeira citação da ocorrência
de Fasciola hepatica nas Américas foi realizada no Uruguai, por Walffugel
em 1916, tendo como hospedeiro vertebrado a capivara. Os registros
seguintes das primeiras ocorrências em países do continente americano dão
uma visão aproximada do caminho seguido pela parasitose para se difundir
no Novo Mundo. Segundo o autor, no Brasil, Lutz, em 1921, foi quem fez o
primeiro registro, assinalando o bovino como hospedeiro vertebrado no Rio
de Janeiro, mas considerou provável que o parasitismo ocorresse no Rio
Grande do Sul, próximo ao Rio da Prata. Pêcego, em 1925, confirmou a
ocorrência nesse estado sulino e registrou a alta freqüência com que o
helminto era encontrado em animais de matadouro. Seis anos depois, na
Argentina, Bacigalupo, em 1932, descreveu a participação de um hospedeiro
invertebrado, um molusco do gênero Lymnaea; Stiglic, em 1940, publicou
sobre casos de fasciolos
18
assinalo
Minas G
imais de zonas enzoóticas, ou mesmo de
outras r
aram 105 fígados de búfalos, dos
quais 21 (20%) apresentaram formas jovens e adultas do trematoda
(MARQUES & SCROFERNEKER, 2003).
u o envolvimento do molusco Limnaea viatrix no ciclo do
trematódeo, no Chile.
No Brasil, novas menções sobre o parasitismo por Fasciola hepatica
foram feitas na tentativa de catalogar as espécies brasileiras de
trematódeos, apontando a distribuição dos mesmos no Rio Grande do Sul,
tendo como hospedeiros vertebrados bovinos e ovinos, ocasião em que
também se levantou a possibilidade de acontecerem casos humanos. Mello
& Mello, em 1934, apontando problemas na suinocultura em São Paulo,
registraram o suíno como hospedeiro da Fasciola hepatica no estado. Silva,
em 1936, descreveu o parasitismo de bovinos por F.hepatica como já
estabelecido em animais criados no estado do Rio de Janeiro, e Carvalho,
em 1940, descreveu um caso de fasciolose hepática em touro nativo, em
erais. Giovannoni & Kubiak, em 1947, registraram a fasciolose
hepática em bovinos no Paraná, ao estudarem a fauna parasitária do estado.
Os registros desta parasitose em bovinos, em Santa Catarina, foram
bem mais tardios, realizados por: SOUZA & RABELLO (1981) e SERRA-
FREIRE & NUERNBERG (1992) (SERRA FREIRE, 1999). Em comunicação
pessoal, PILATI (2005) relata casos de fasciolose na região de Lages, Santa
Catarina, zona esta antes considerada livre da parasitose. Segundo o autor,
na região não são admitidos an
egiões sem o devido exame comprobatório de negatividade para a
fasciolose e outras parasitoses.
Registraram-se ocorrências de fasciolose em bubalinos criados
comercialmente no Litoral Paranaense, onde, de 70 animais abatidos em
frigoríficos, 75% tiveram seus fígados descartados por estarem parasitados
por Fasciola hepatica (BUSETTI et al, 1983). Na mesma região,
FERNANDES & HAMANN encontraram, em 1985, de 340 amostras de fezes
de bubalinos, 45 (12,23%) positivas para ovos de Fasciola hepatica. Em
Maricá, Rio de Janeiro, se examinaram 120 animais, dos quais três (2,5%)
se mostraram positivos para ovos de Fasciola hepatica nas fezes (PILE et al,
2001); e no Rio Grande do Sul, se examin
19
2.2.6 - Fasciolose Humana
O efeito da parasitose sobre a saúde humana depende do número
de trematodas no fígado e da duração da infecção. A migração das fascíolas
jovens através do parênquima hepático pode produzir lesões traumáticas e
necróticas. Nos ductos biliares, a fascíola adulta produz alterações
inflamatórias, adenomatosas e fibróticas. Em infecções graves, com grande
número de parasitos, pode haver estase biliar, atrofia do fígado e cirrose
periportal. Nos casos crônicos, ocorrem com certa freqüência colecistite e
colelitíase. Na fase inicial, que corresponde à migração das fascíolas jovens
através do parênquima hepático, o quadro clínico compreende: febre, mal
estar, hepatomegalia, dor na região costal direita, eosinofilia e alterações
nas provas funcionais do fígado. Na fase crônica, a sintomatologia é
variável, com manifestações hepatobiliares, febre irregular, anemia e
eosinofilia. Em um estudo de 47 pacientes chilenos, os sintomas principais
consistiram em dor abdominal, dispepsia, perda de peso, diarréia e febre.
Dez dos
odem
ocorrer
1957, com cerca de 200 pessoas. A fonte
comum
rurais praticamente todos os anos: de 1955 a
1979 oc
47 pacientes apresentaram icterícia. A eosinofilia foi normal em
nove e elevada em 38 casos (ACHA E SZYFRES, 1986).
Durante a migração das larvas na cavidade abdominal, p
localizações erráticas em diferentes partes do organismo, cuja
sintomatologia varia com o órgão afetado (ACHA & SZYFRES, 1986).
A fasciolose humana ocorre de forma esporádica ou em surtos, e se
tem registrado em numerosos países da América, Europa, África e Ásia. As
epidemias mais extensas ocorreram na França, como a de Ain, Jura, Rhone
e Saone que, em 1956-1957, afetaram cerca de 500 pessoas agrupadas em
famílias, ou a do vale de Lot, em
de infecção era o agrião (Nasturtium officinale) contaminado com
metacercárias (MALEK, 1980).
Em algumas regiões da França, como em Haute-Vienne, ocorrem
casos de fasciolose em áreas
orreram 121 casos, 49 deles em 24 famílias e 72 casos isolados
(RONDELAUD et al., 1982).
20
Além da França, a infecção é comum na Itália, Polônia e Inglaterra.
Neste último país, o maior surto afetou 40 pessoas em 1972 (MALEK, 1980).
Tem-se subestimado a freqüência da infecção na América Latina.
Somente em Cuba, foram registrados 100 casos até 1944 (aos quais de
devem adicionar os ocorridos posteriormente) e no Chile, 82 até 1959. Além
destas, ocorreram infecções humanas na Argentina, Uruguai, Peru,
Venezuela, Costa Rica, Porto Rico, República Dominicana e México. Em
1978, f
a, foi realizada uma pesquisa coproparasitológica. Em 12 dos
110 ind
sil. Coube então a REY (1958) o primeiro registro de um
caso a
laram um caso em homem adulto no município de Cornélio Procópio,
oram diagnosticados 42 casos clínicos em Turrialba, Costa Rica
(MORA et al., 1980).
Em uma área endêmica de Sierra Central do Peru, foi efetuado um
estudo sobre o problema. Durante 1968 e 1969, em 14 comunidades da
província de Jauja, foram realizados 1557 exames coproparasitológicos em
estudantes de 7 a 14 anos, e se acharam ovos do trematoda em 15,6% dos
examinados (BENDEZÚ, 1970). Na zona de Atlixco, estado de Puebla,
México, foi detectada fasciolose em 0,6% da população (BIAGI,1974). Na
região montanhosa de Corozal, Porto Rico, onde a fasciolose bovina é
hiperepidêmic
ivíduos foram encontrados ovos de F.hepatica nas fezes (BENDEZÚ
et al., 1982).
A primeira descrição de um caso humano de fasciolose hepática no
Brasil foi de ALTINO & COELHO (1944), em Belém, Pará; o paciente era um
imigrante português que, em seu ponto de origem, já apresentava história
clínica compatível com o quadro da parasitose, posteriormente confirmado
por exame coproparasitológico. Como o caso não era autóctone, este
registro não é comumente mencionado quando se aborda a fasciolose
hepática no Bra
utóctone, acontecido em uma criança de Campo Grande, Mato
Grosso do Sul.
Só anos depois (SANTOS & VIEIRA, 1965, 1967) aconteceram
outros registros de fasciolose hepática humana autóctone, desta feita em
pacientes da região do vale do rio Paraíba do Sul, São Paulo, e dois casos
em Uruçuca, Bahia; posteriormente, CORRÊA & FLEURY (1971)
assina
21
Paraná.
pio de Caçapava, São Paulo, e destacaram a necessidade de
se refle
fasciolose hepática humana em Curitiba.
BUSET
ulo, que
faz limit
região
metropolitana de Curitiba, Paraná, adicionam seis novos casos de fasciolose
humana aos já existentes, elevando o total de casos autóctones a 50.
relações entre hospedeiros e parasitas, e
novos
, podem ocorrer
zoono
LACAZ et al. (1972) apontaram 14 casos para o Brasil até aquele
ano.
AMATO NETO & SILVA (1977) descreveram mais um caso, agora
para o municí
tir sobre o aumento da incidência da parasitose no país; mas neste
mesmo ano.
BARANSKY et al. (1977) apontaram dois casos em Curitiba,
Paraná. Ainda neste estado, AMARAL & BUSETTI (1979) somaram mais
oito casos da incidência da
TI (1985) divulgou que já eram 25 os casos desta helmintose em
humanos no estado do Paraná.
SERRA-FREIRE (1999) assinalou o primeiro caso humano
comprovado e tratado, acontecido no município de Piquete, São Pa
e com o estado de Minas Gerais. Assim, já somavam 44 os casos
autóctones, comprovados, desta helmintose em humanos no Brasil.
ANDRADE NETO et al (1999), em estudo realizado na
2.2.7 – Fasciolose em Animais Silvestres
O avanço da agricultura e da pecuária próximo às áreas naturais
proporcionou um maior contato entre as populações humanas e de seus
animais domésticos com as populações de animais silvestres nos seus
habitats. Este estreito contato facilitou a disseminação de agentes
infecciosos e parasitários para novos hospedeiros e ambientes,
estabelecendo-se assim novas
os nichos ecológicos na cadeia de transmissão das doenças
(CORRÊA e PASSOS, 2001).
Como conseqüências dessas interações negativas
ses com expansão epizoótica em animais suscetíveis, aumentando
sua disseminação geográfica (BARLETT e JUDGE, 1997).
22
A própria definição de zoonoses como “doenças ou infecções que se
transmitem naturalmente, entre os animais vertebrados e o homem, ou vice-
versa”
possuí
u terrestres, que tenham
todo o
o, ou em residências de munícipes
(criado
ncipais condicionantes
para d
possib
mésticos e/ou homem em um foco natural;
pedeiros suscetíveis;
tórios a
translo
m na modificação dos ecossistemas;
já denota a possível e importante participação dos animais silvestres
na manutenção destas doenças na natureza (ACHA & SZYFRES, 1986).
Além disso, doenças que não eram conhecidas ou que já não
am importância epidemiológica, reapareceram em surtos ou
epidemias numa população e região, sendo denominadas de “emergentes”.
O Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia
Legal, através do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, define, em sua Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de
1998 (Lei De Crimes Ambientais), Capítulo V (dos Crimes contra o Meio
Ambiente),Seção I (dos Crimes Contra a Fauna), Art.29, § 3º: “ São
espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies
nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas o
u parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território
brasileiro, ou em águas jurisdicionais brasileiras”.
Os animais silvestres da fauna brasileira estão localizados na
natureza (vida livre) ou no cativeiro, vivendo em parques zoológicos (zôos),
criadouros conservacionistas, científicos ou comerciais, institutos de
pesquisa, centros de triagem e reabilitaçã
s ilegalmente como animais de estimação), e podem servir como
reservatórios e portadores de zoonoses.
ACHA e SZYFRES (1986) descreveram os pri
ifusão dos fatores de risco existentes nos focos naturais, com
ilidades de estabelecer processos zoonóticos:
a) introdução de animais do
b) translocação de um hospedeiro infectado a um novo biótipo, donde
existam hos
c) modificação da dinâmica dos hospedeiros ou alteração do equilíbrio
ecológico;
d) falta de alimento, o que obriga os animais reserva
car-se a outras biocenoses;
e) intervenção do home
23
f) mutações positivas no processo epidêmico do agente etiológico,
facilita
, constituindo-se importantes fontes de infecção para os
anima
água e da vegetação aquática com as cercárias saídas dos
molusco
a, Portugal, foram examinadas fezes de 13 gamos, das quais dois
apresen
zes foram
examina
l (1992 - 1993) (MAIA, 2001).
ndo sua disseminação;
g) intervenção das aves migratórias e dos vetores.
Com relação ao ambiente em cativeiro, apesar dos esforços dos
profissionais na manutenção de um rigoroso manejo sanitário, este continua
sendo propício à disseminação de uma gama de doenças, muitas delas
zoonóticas (FOWLER, 1993). Isto também pode ser aplicado aos outros
estabelecimentos que possuem animais silvestres. Vale a pena salientar que
estes animais, em quase totalidade, mascaram os sinais clínicos mesmo
estando infectados
is domésticos, homens ou vice-versa (ACHA e SZYFRES, 1986;
FOWLER, 1986).
Existem inúmeras espécies silvestres que podem ser hospedeiros da
Fasciola hepatica, tornando muito difícil, senão impossível, a erradicação da
fasciolose nos animais domésticos, visto que as fezes dos animais
silvestres, contendo ovos do parasito, contaminam o ambiente.
Conseqüentemente, o molusco hospedeiro intermediário, sofrerá a invasão
das formas imaturas da Fasciola hepatica. Por sua vez, ocorrerá a
contaminação da
s que, a serem consumidas por animais domésticos ou silvestres,
fecham o ciclo.
Dentre as espécies silvestres infectadas pela Fasciola hepatica,
tem-se como exemplo a ocorrência em ruminantes como:
Gamo (Dama dama - cervídeo) : na Espanha, de 32 gamos
necropsiados em 1997, 2 apresentavam exemplares adultos de F.hepatica
no fígado (Colégio Oficial de Veterinários de Burgos). E na Tapada Nacional
de Mafr
tavam-se positivas para ovos de F.hepatica (1992 - 1993) (MAIA,
2001).
Veado (Cervus elaphus L.): de 12 animais cujas fe
das, 4 apresentaram-se positivos para ovos de F.hepatica na
Tapada Nacional de Mafra, Portuga
24
Alpacas: o caso de fasciolose foi descrito em um criatório de 200
alpacas no Peru (PUENTE, 1997).
Ocorre, também, em Marsupiais, como Wallabies de pescoço
vermelho (Macropus rufogriseus): a fasciolose é comum nestes animais do
norte da Tasmânia, e produz colangiohepatite eosinofílica acompanhada de
anemia
cirrose hepática e morte de
um tapi
laio (FOWLER, 1993).
) foram positivos para
fasciolos
necropsiados no
municíp
que vive
no Parque Barigüí, em Curitiba, apresentou um total de 84,2% de amostras
de fezes positivas para ovos de F.hepatica (ROCCO & LUZ, 2002).
om outras doenças, tornando
necessário o diagnóstico laboratorial (ECHEVARRIA, 1985). Este pode ser
feito com a utilização de diversas técnicas.
severa (infecções massivas); e Phalangers, também infectados
(FOWLER, 1993).
Tapir: a fasciolose tem sido associada à
r na América do Sul. Trematodas em ducto biliar foram achados
acidentais em um tapir ma
Ornitorrinco: ovos de trematoda foram encontrados nas fezes deste
animal (FOWLER, 1993).
Em roedores, como coelhos silvestres: nas províncias de Curicó e
Talca, no Chile, de 1045 coelhos silvestres, 64 (6,1%
e. Verificou-se, também, que coelhos silvestres de mais idade eram
mais suscetíveis à parasitose (ALCAINO et al, 1992).
Ratões de Banhado: de 103 animais capturados e
io de Dom Pedrito, Rio Grande do Sul, cinco (4,85%) apresentaram
Fasciola hepatica no fígado (SILVA SANTOS et al, 1992).
Capivara (Hidrochaeris hidrochaeris): o grupo de animais
2.2.8 – Diagnóstico clínico e laboratorial da fasciolose.
O diagnóstico clínico é difícil, pois os sinais não são específicos da
fasciolose, que pode ser confundida c
25
2.2.8.1 – Determinação de enzimas no sangue.
Os níveis plasmáticos das enzimas Glutamato Desidrogenase
(GLDH) e Gama Glutamil Transpeptidase (GGT) apresentam-se
aumentados. GLDH sete a 14 dias pós-infecção pela destruição dos
hepatócitos, e GGT seis a oito semanas, devido à lesão das células epiteliais
dos can QUART et al., 1990).
, qualitativa e quantitativamente, antígenos de
Fasciola hepatica nas fezes, incluindo as formas jovens do trematoda
(MORIE
ções, com os de Paramphistomum sp que são incolores ou
ais biliares (ACOSTA, 1994; UR
2.2.8.2 – Provas Imunológicas.
Vários métodos foram desenvolvidos com o objetivo de diagnosticar
a fasciolose a partir da detecção de anticorpos contra componentes do
parasito. O maior problema desta metodologia é o aparecimento de reações
cruzadas. Os testes recomendados, pela especificidade, são os de ELISA,
FAST-ELISA e DOT-ELISA (RIET-CORREA et al., 2001). Um método
completamente diferente utiliza o ELISA para detectar coproantígenos de
Fasciola hepática nas fezes por meio de um anticorpo monoclonal
específico. A vantagem fundamental deste método imunoenzimático está na
capacidade de detectar
NA et al., 1999).
2.2.8.3 – Exame Coprológico.
Determina a presença de ovos nas fezes, durante a fase crônica da
doença. As técnicas mais utilizadas baseiam-se na sedimentação e
tamisação progressiva, ambas com objetivo de diagnóstico qualitativo e
quantitativo. As fezes devem, preferencialmente, ser coletadas diretamente
do reto. O material deve ser colocado em recipientes individualizados,
identificados, e mantidos sob refrigeração, em caixa de isopor com gelo,
para o transporte ao laboratório. Na identificação, deve-se ter o cuidado de
não confundir os ovos de Fasciola hepatica, que são amarelados, cheios de
granula
26
esbranq
tites agudas, levando-se em consideração os
anteced
pacientes com problemas hepáticos, devido a
que, no diagnóstico diferencial, não se levou em conta a fasciolose
(DUMEN
ctos biliares encontram-se
engrossados, salientes e com calcificações (no caso de bovinos) e as formas
adultas estão presentes (ECHEVARRIA, 1985).
tegração das
c) manejo.
uiçados, com poucas granulações graúdas (RIET-CORREA et al.,
2001).
Durante a fase aguda da fasciolose humana, não é possível efetuar
o diagnóstico laboratorial através do exame coprológico, visto que não há
eliminação fecal de ovos. Nesta fase, deve-se realizar o diagnóstico
diferencial de outras hepa
entes epidemiológicos e a presença, no hemograma, de eosinofilia
(DUMENIGO et al., 1996).
O consumo, pelo homem, de fígado bovino ou ovino pode acarretar
a presença de ovos em materiais fecais e, por conseguinte, induzir a um
resultado falso positivo ao exame coprológico. Em caso de dúvida da
ocorrência da parasitose, exclui-se o fígado da dieta do paciente por vários
dias, o que permite chegar ao diagnóstico correto. Na América Latina, já se
realizaram longas e desnecessárias internações hospitalares, assim como
intervenções cirúrgicas em
IGO et al., 1996).
2.2.8.4 – Necropsia.
É a análise mais precisa na fase aguda da doença animal,
permitindo visualizar as lesões típicas no parênquima hepático (causadas
pela migração das formas imaturas e sua presença) e demais lesões
descritas na patologia. Na fase crônica, os du
2.2.9 – Controle e Profilaxia.
A eficiência do controle da fasciolose resulta da in
seguintes medidas: a) reduzir as infecções nos hospedeiros definitivos; b)
reduzir a população de hospedeiros intermediários;
27
a) Os fasciolicidas ideais são os de fácil aplicação, baixo custo,
atóxicos e eficazes contra forma jovens e adultas.
raticamente impossível. O controle pode ser
feito atr
mpos
alagado
(Sciomyzidae), caramujos terrestres ou aquáticos e
anelídeo ster limnaei); e fungos, plantas e algas tóxicas (RIET-
CORRE
s métodos em prática visa principalmente animais de
produçã
mentos podem
requere
RREA et al. (2001),
sugerem
b) Redução da população de hospedeiros intermediários (combate
ao molusco).
Controle químico. Os moluscos apresentam alto poder biótico,
tornando a sua erradicação p
avés de molusquicidas que, infelizmente, são tóxicos e representam
perigo para o meio ambiente.
Controle físico. Realiza-se através da drenagem de ca
s, isolamento ou cerco de áreas pantanosas e limpeza de canais de
irrigação, dificultando o acesso dos animais aos locais contaminados.
Controle biológico. Podem utilizar-se: predadores como marrecos,
patos, peixes, moscas
(Chaetoga
A et al., 2001).
c) Manejo.
Um manejo bem estruturado é base para todo programa de controle.
Existem inúmeros meios para se manter a sanidade de rebanhos, mas, a
imensa maioria do
o, o que não impede a realização de adaptações, quando se trata de
animais silvestres.
O conhecimento da biologia do parasito e do molusco permite
estabelecer um tratamento estratégico do gado ovino e bovino. A época do
ano, ou mais precisamente, os meses em que se deve administrar o
tratamento preventivo variam com as condições ecológicas, em especial
climatológicas, de cada região. Além disto, estes trata
r dosificações táticas quando as condições climatológicas (umidade
e calor) favoreçam uma rápida multiplicação dos moluscos.
No que diz respeito à fasciolose, RIET-CO
, para ovinos e bovinos, a seguinte técnica de manejo, que se
baseia em evitar a coincidência hospedeiro-parasito:
É necessário identificar os potreiros potencialmente contaminados,
pela procura do molusco ou utilização de ovinos rastreadores. Estes são
28
animais que, após serem tratados com fasciolicidas, são colocados nos
diferentes potreiros. O exame do fígado, após o abate para consumo no
estabelecimento, indicará os potreiros onde ocorre a parasitose. Os potreiros
contaminados devem ser pastoreados por períodos de dois meses, com
vacas secas (bovino de leite) ou bovinos de corte com mais de dois anos.
Posteriormente, esses animais passam para campos limpos (sem
hospedeiros intermediários), fazendo com que, quando os parasitos
adquiridos cheguem à maturidade sexual, os ovos por eles produzidos não
sejam eliminados em áreas úmidas onde existe o molusco. Três meses após
a saída dos potreiros contaminados, os animais poderão ser tratados para
matar os parasitos adultos. Posteriormente, podem voltar aos potreiros
contaminados para iniciar um novo período de pastoreio. Dependendo das
condições e grau de contaminação de cada estabelecimento, os ovinos, por
serem mais suscetíveis, devem ter maior atenção com relação ao pastoreio
em área
ao
desaparecimento do parasito em dois anos. Atualmente, está sendo
mpregado em diversas propriedades de três departamentos franceses.
s contaminadas e freqüência do tratamento, devendo ser utilizados,
ocasionalmente, fasciolicidas que atuem nas formas imaturas.
XIMENES et al. (1995) descreveram métodos de controle biológico
da Limnaea truncatula que foram aplicados em áreas centrais da França,
sob o conceito de controle integrado da fasciolose. Conforme o método
utilizado, foram necessários de um a três anos para eliminar a Limnaea
truncatula de seus habitats. Este tipo de controle não está generalizado
naquele país, mas seus princípios são ainda empregados por diversos
criadores. Foi desenvolvido um programa de controle integrado que inclui
medidas contra o adulto jovem da Fasciola hepatica e seus hospedeiros
intermediários. O método aplicado em uma fazenda de Corrèze levou
e
29
3 - MATERIAL E MÉTODOS
ara do Zoológico, ambos
ituados no município de Curitiba, Paraná; e as capivaras do Projeto Lago
Sul, no
.1.1 – Capivaras e Ratões do Banhado do Parque Barigüí –
Curitib
s do
Banha tima-se a
presença de aproximadamente 20 destes animais vivendo no parque.
O Parque Barigüí localiza-se em área urbana do município.
3.1 – Populações estudadas
Foram selecionadas, para este estudo, a população de capivaras e
ratões do banhado do Parque Barigüí e a capiv
s
município de São Mateus do Sul, Paraná.
3
a
No início de 2003, o grupo de capivaras residente neste local contava
com sete amimais: um macho, duas fêmeas e quatro filhotes. No início de
2005, houve aumento populacional, passando a contar com 12 animais
(Figuras 07 e 08): os anteriores e mais cinco filhotes. São animais criados
soltos na área, não recebendo, por parte dos encarregados pela
manutenção do Parque, alimentação de qualquer espécie. Os Ratõe
do são animais esquivos, de difícil observação, porém, es
Figura 07 – Capivaras do Parque Barigüí – Curitiba – PR
30
Figura 08 – Capivara e Ratão do Banhado – Parque Barigüí – Curitiba – PR.
3.1.2 - Capivara do Zoológico Municipal de Curitiba
O Zoológico Municipal de Curitiba possui um único exemplar de
capivara (Fig.09) residindo em amplo recinto, que divide com cervos-nobres
(Cervus elaphus). Além da pastagem, ela recebe frutas e verduras da
estação.
O Zoológico Municipal de Curitiba localiza-se em área urbana do
município.
Figura 09 – Capivara do Zoológico Municipal de Curitiba – Pr
31
3.1.3 - Capivaras do Projeto Lago Sul
No Projeto Lago Sul, estima-se a presença de mais de trezentas
capivaras residentes. Foram observados dois grandes grupos (Fig. 10 e Fig.
11), com aproximadamente trinta animais cada um. Três vezes por semana,
são oferecidos alimentos aos animais: uma mistura de frutas e verduras da
estação.
O Projeto Lago Sul localiza-se em área rural do município de São
Mateus do Sul.
Figura 10 – Capivaras do “Grupo 1” do Projeto Lago Sul – Six – Petrobrás.
Figura 11 – Capivaras do “Grupo 2” do Projeto Lago Sul – Six - Petrobrás
32
3.2 - COLETA E CONSERVAÇÃO DAS FEZES
3.2.1 – Coleta no Parque Barigüí – Curitiba
As fezes de capivaras (Hidrochaeris hidrochaeris) foram coletadas do
ambiente, em quatro pontos pré-determinados, devido à grande extensão do
lago, pontos estes onde as capivaras permaneciam com maior freqüência.
As amostras coletadas foram acondicionadas em frascos plásticos contendo
formol acético (conservante), especiais para a coleta de fezes em humanos,
numerados e identificados com o local, data, horário e ponto de coleta.
As coletas foram realizadas no ano de 2003, nos meses de Abril
(quatro amostras), Julho (seis amostras), Outubro (quatro amostras) e
Dezembro (quatro amostras), correspondendo às quatro estações do ano.
As fezes de Ratão do Banhado (Myocastor coypus) foram também
coletadas, nos meses de Outubro (sete amostras) e Dezembro (nove
amostras), nos mesmos pontos de coleta já referenciados.
3.2.2 – Coleta no Projeto Lago Sul – São Mateus do Sul
As fezes foram coletadas do ambiente, de maneira semelhante à da
metodologia utilizada para coleta no Parque Barigüí, Curitiba, no mês de
Novembro de 2003, em dois pontos: ponto 01 – seis amostras, e ponto 02 –
oito amostras, correspondendo cada um ao território individual dos dois
grupos de capivaras.
3.2.3 – Coleta no Zoológico Municipal de Curitiba
As fezes foram coletadas do ambiente, em Abril de 2005, em um
único ponto, acondicionadas em saco plástico, de onde foram transferidas
para recipiente de vidro esterilizado contendo formol acético para
conservação até a realização dos exames coproparasitológicos.
33
3.3 - EXAMES COPROPARASITOLÓGICOS
Os exames coproparasitológicos foram realizados no setor de
Parasitologia do “Centro de Diagnóstico Marcos Enrietti”, utilizando as
técnicas de WILLIS-MOLLAY, Sedimentação Simples e Quatro Tamises
(Anexo 02).
3.4 - DIMENSIONAMENTO DOS OVOS DE Fasciola hepatica.
Os ovos com morfologia compatível com os ovos da espécie Fasciola
hepatica foram obtidos pelo método dos Quatro Tamises, utilizando, como
corante, o azul de metileno, e transferidos da placa de Petri para a lâmina
(sem lamínula) por meio de uma pipeta de Pasteur.
As medidas foram tomadas segundo Escala Ocular Micronométrica,
em Microscópio Zeiss, objetiva 10X (Figura 12), utilizando-se o fator de
correção, conforme quadro 01, abaixo:
Escala Ocular Micronométrica – Microscópio Zeiss
Objetiva 1 unidade ocular[I I] Fator
2,5X " 0,375
10X
"
0,1027
40X " 0,0250
Quadro 01 – Escala Micronométrica – Microscópio Zeiss
A fórmula utilizada para o cálculo das medidas foi:
Comprimento/largura X fator = medida em milímetros
Medida em milímetros / 0,001 = medida em micrômetros.
Em seguida, foi calculada a média geral das dimensões obtidas.
34
Figura 12 – Ovos de Fasciola Hepatica, observados em Microscópio Zeiss para
tomada de medidas.
3.5 - COLETA DOS MOLUSCOS
Foi realizada nos mesmos pontos delimitados para a coleta de fezes,
procedendo-se do seguinte modo, preconizado por ROCCO & LUZ, 2002:
raspou-se a vegetação aquática e as margens do lago, revolvendo-se,
também, o lodo sob a água perto das margens, com peneira modelo
SUCAM, visando coletar em seu interior os moluscos existentes no local.
Retirou-se da água plantas e objetos flutuantes (galhos, latas, recipientes
plásticos) que foram cuidadosamente observados para a verificação da
presença de moluscos aderidos a estes substratos.
Os moluscos coletados foram colocados em potes plásticos tampados
e identificados (ponto de coleta, data e horário). O material foi transportado
para o Laboratório de Parasitologia Veterinária do Departamento de
Patologia Básica da Universidade Federal do Paraná, para os procedimentos
de identificação taxonômica.
35
3.6 – AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DE LESÃO HEPÁTICA
PROVOCADA POR Fasciola hepatica.
Foi realizada uma segunda leitura de lâminas de um caso de
fasciolose em capivaras do Parque Barigüí, cuja necropsia foi realizada dia
sete de Outubro de 2002, no Laboratório de Patologia Animal da
Universidade Federal do Paraná. A segunda leitura foi realizada em
microscópio ótico, no Laboratório de Histologia da Universidade do
Contestado, campus Canoinhas.
36
4 – RESULTADOS
4.1. Infecção parasitária em capivaras e ratões do banhado do
Parque Barigüí, Curitiba.
Nos exames coproparasitológicos, realizados nas amostras fecais de
capivaras residentes no Parque Barigüí, em Curitiba (Apêndice 01), foram
encontrados ovos de Fasciola hepatica em 100% dessas amostras, quando
examinadas pelo método de Sedimentação Simples (LUTZ, 1919). Com
relação aos demais parasitos, verificou-se a presença de ovos de Ascaridae
em 22% das amostras e 28% apresentaram oocistos de Eimeriidae (Gráfico
01).
100
28
22
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Capivaras - Parque Barigüí
Ovos Fasciola
Oocistos Eimeriidae
Ovos Ascaridae
Gráfico 01 – Porcentagem de um total de 18 amostras fecais de capivaras do
Parque Barigüí, Curitiba
, apresentando de ovos de Fasciola hepatica,
oocistos de Eimeriidae e ovos de Ascaridae
37
Das 16 amostras de fezes de ratão do banhado, nove (56,25%)
apresentaram ovos de Fasciola hepatica, tanto pelo método de
Sedimentação Simles (LUTZ, 1919), quanto sob o método dos Quatro
Tamises (SANTIAGO GIRÃO). Quanto aos demais parasitos, verificou-se
nas 16 amostras fecais (Apêndice 02) a porcentagem de 88% das amostras
apresentando ovos de Cestoda; 56%, ovos de Ascaridae; 50%, oocistos de
Eimeriidae; 50%, ovos de Strongylidae; 31%, ovos de Ácaros, e, 6%, ovos
de Trichostrongylidae (Gráfico 02)
88
56 56
50 50
31
6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Ratões do Banhado - Parque Barigüí
Ovos Cestoda
Ovos Fasciola
Ovos Capilariidae
Oocistos Eimeriidae
Ovos Strongylidae
Ovos Ácaros
Ovos Trichostrongylidae
Gráfico 02 – Porcentagem de um total de 16 amostras fecais de ratões do banhado
do Parque Barigüí, Curitiba, apresentando ovos de Cestoda, ovos de
Fasciola hepatica, ovos de Capilariidae, oocistos de Eimeriidae, ovos
de Strongylidae, ovos de Ácaros e ovos de Trichostrongylidae.
38
4.2 – Infecção parasitária em capivaras do Projeto Lago Sul – SIX
– Petrobrás – São Mateus do Sul.
Nos exames coproparasitológicos, realizados nas 14 amostras fecais
de capivaras residentes na área do Projeto Lago Sul (São Mateus do Sul),
não foram encontrados ovos de Fasciola hepatica em 100% destas amostras
examinadas pelo método de Sedimentação Simples (LUTZ, 1919) e pelo
método dos Quatro Tamises (SANTIAGO GIRÃO). Com relação aos demais
parasitos (Apêndice 03), verificou-se a presença de oocistos de Eimeriidae
em 100% das amostras examinadas, em 86%, ovos de Cestoda; 71%, ovos
de Trichostrongylidae, e 36%, ovos de Capilariidae.
100
86
71
36
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Capivaras - Projeto Lago Sul
Oocistos Eimeriidae
Ovos Cestoda
Ovos Trichostrongylidae
Ovos Capilariidae
Ovos Fasciola
Gráfico 03 – Porcentagem de um total de 14 amostras fecais de capivaras do
Projeto Lago Sul, São Mateus do Sul, apresentando oocistos de
Eimeriidae, ovos de Cestoda, ovos de Trichostrongylidae, ovos de
Capilariidae e ovos de
Fasciola hepatica.
39
4.3 – Infecção parasitária na capivara do Zoológico Municipal de
Curitiba.
Os exames da amostra fecal da capivara do Zoológico Municipal de
Curitiba resultaram negativos, tanto para ovos de Fasciola hepatica, como
para ovos de outros parasitos.
4.4 – Dimensionamento dos ovos
Os ovos de Fasciola hepatica, coletados de fezes de capivaras do
Parque Barigüí, ao serem dimensionados (Apêndice 04), apresentaram uma
média de 138,567 μm de comprimento por 72,960 μm de largura.
4.5 – Coleta e Identificação dos Moluscos
As coletas de moluscos foram realizadas nos três parques, sendo que
no Zoológico Municipal de Curitiba e no Projeto Lago Sul – São Mateus do
Sul não foram encontrados exemplares de moluscos. No Parque Barigüí, por
outro lado, os moluscos foram encontrados em grande quantidade, durante
todo o período deste estudo (Tabela 01) .
Os moluscos, no Parque Barigüí, foram coletados no ano de 2003,
meses de Abril, Julho, Outubro e Dezembro; e no ano de 2004, meses de
Março, Maio, Julho, Outubro e Dezembro, sendo que, a cada mês, dez
indivíduos de conchas acuminadas foram selecionados dos diversos pontos
de coleta para identificação perfazendo um total de 110 (cento e dez)
moluscos, pertencentes às espécies: Physa cubensis (51 exemplares),
Physa marmoratta (Figura 13) (39 exemplares) e Biomphalaria tenagophila
(Figura 14) (20 exemplares).
40
Coleta de moluscos no Parque Barigüí - Curitiba
Ano Meses Espécies Coletadas
Physa cubensis Physa marmoratta Biomphalaria tenagophila
2003 Abril 10
Julho 10 2
Outubro 10 5
Dezembro 10 3
2004 Março 7 3 1
Maio 4 6 3
Julho 10 2
Outubro 10 1
Dezembro 10 3
Tabela 01 - Coleta de moluscos no Parque Barigüí – Curitiba.
Figura 13 – Physa marmorata coletada no Parque Barigüí
41
Figura 14 – Biomphalaria tenagophyla coletada no Parque Barigüí
4.6 – Avaliação Histopatologica de lesão hepática provocada por
Fasciola hepatica.
Durante o experimento (2003-2005), não houve mortes entre os
roedores examinados, optando-se, então, pela avaliação de fragmento
hepático de uma capivara, fêmea, adulta, encontrada morta no Parque
Barigüí, e enviada para necropsia e histopatologia no Laboratório de
Patologia Animal da Universidade Federal do Paraná. A necropsia foi
realizada no dia sete de Outubro de 2002, na qual foram coletados parasitos
do fígado do animal, enviados para identificação no Laboratório de
Parasitologia Veterinária da Universidade Federal do Paraná. Os parasitos
foram identificados como Fasciola hepatica (LANGE, R.R., comunicação
pessoal). As lesões observadas no fígado foram compatíveis com as da
fasciolose (SOUSA, R.S., comunicação pessoal).
Realizou-se, então, para fins deste estudo, uma segunda leitura das
lâminas, como se segue:
42
Figura 15Lesão decorrente da migração de larvas de Fasciola hepatica em
fígado de Capivara do Parque Barigüí, com intensa exsudação
central, circundada por tecido fibroso. H&E.
Objetiva 10.
Fígado apresentando focos de necrose com restos celulares,
circundados por reação inflamatória mononuclear leve a moderada e
pequena quantidade de eosinófilos. Focos com intenso infiltrado
polimorfonuclear, alguns com predominância de eosinófilos, circundados por
tecido conjuntivo. (Fig.15).
Figura 16 –Fígado de Capivara do Parque Barigüí com intensa hiperplasia de
ductos biliares com infiltrado inflamatório. H & E. Objetiva 10.
Alguns segmentos apresentam intensa hiperplasia de ductos biliares,
com inflamação predominantemente mononuclear moderada. Presença de
quantidade variável de eosinófilos. Fibrose difusa nas áreas com hiperplasia
de ductos biliares. (Fig. 16).
43
5. DISCUSSÃO
Muito se tem pesquisado, avaliado e publicado a respeito da
fasciolose em animais domésticos, em especial ruminantes. Do mesmo
modo, a Fasciola hepatica, considerada a mais importante entre os
trematodas, por ser a maior causa de descarte de fígados em abatedouros,
e pelo prejuízo econômico que causa (baixo ganho de peso, queda na
produção leiteira, prejuízos com a lã, para citar alguns), também tem sua
biologia muito bem conhecida.
Porém, quando se fala em fasciolose em silvestres, pouco se sabe.
Os dados a respeito desta parasitose para animais silvestres são poucos e,
os que existem, carecem de continuidade. Existem registros da fasciolose
em inúmeras espécies destes animais, como ratões de banhado, wallabies e
búfalos, anteriormente citados neste trabalho, entre outros. Tais dados
ficam, normalmente, restritos à comunidade acadêmica. Vale citar
novamente a primeira descrição da Fasciola hepatica na América do Sul,
Uruguai, por Walffugel em 1916, tendo como hospedeiro vertebrado a
capivara (SERRA FREIRE, 1999).
Os resultados dos exames coproparasitológicos, utilizando os
métodos de WILLIS-MOLLAY (1921); de Sedimentação Simples (LUTZ,
1919), e dos Quatro Tamises (SANTIAGO GIRÃO), para a capivara do
Zoológico Municipal de Curitiba não apresentou ovos de Fasciola hepatica
nas fezes. Os exames coproparasitológicos deste animal não apresentaram
sinais de parasitose.
Nos exames coproparasitológicos, realizados nas capivaras do grupo
residente no Parque Barigüí, em Curitiba, foram encontrados ovos de
Fasciola hepatica em 100% das amostras, quando se utilizou o método de
Sedimentação Simples (LUTZ, 1919), e em 83,33% das mesmas amostras
submetidas ao método dos Quatro Tamises (SANTIAGO GIRÃO), método
este específico para a pesquisa de ovos de Fasciola hepatica. ROCCO &
LUZ (2002) encontraram, em 38 amostras de fezes de capivaras do mesmo
parque, 36 positivas (84,2%) para ovos de Fasciola hepatica, utilizando o
método de Sedimentação Simples (LUTZ, 1919).
44
Foram, também, encontrados oocistos de Eimeriidae. Segundo
FOWLER (1986), os roedores, em geral, são conhecidos por albergarem
uma grande variedade de coccidios do gênero Eimeria. Os ovos de
Ascarídeos, bem como de diversos outros nematodas são também, segundo
FOWLER (1986), achados comuns em exames coproparasitológicos de
roedores.
Das 16 amostras de fezes de ratão do banhado coletadas, nove, ou
seja, 56,25% apresentaram ovos de Fasciola hepatica, tanto quando
examinadas sob o método de Sedimentação Simples (LUTZ, 1919), quanto
sob o método dos Quatro Tamises (SANTIAGO GIRÃO). Existem várias
referências a fasciolose em ratões de banhado (FOWLER, 1986), e
pesquisadores como SILVA SANTOS et al. (1992) atribuem a este animal o
status de reservatório silvestre da Fasciola hepatica, pois suas fezes são, via
de regra, disseminadas na água ou em ambientes alagadiços,
proporcionando assim um habitat perfeito para o desenvolvimento do ciclo
evolutivo do trematoda.
Os oocistos de Eimeriidae e ovos de nematodas são achados comuns
em exames coproparasitológicos de roedores, e ácaros são apenas um dos
muitos ectoparasitos que comumente infestam os roedores. Os ovos de
cestoda encontrados merecem maior atenção, pois as larvas de espécies
como Taenia pisiformis e Echinococcus multilocularis, já referenciados em
diversas espécies de roedores, podem destruir o tecido hepático, levando o
hospedeiro à morte (FOWLER, 1986).
Os ovos de Fasciola hepatica coletados de fezes de capivaras do
Parque Barigüí, Curitiba, ao serem medidos, apresentaram uma dimensão
média de 138,567 μm de comprimento por 72,960 μm de largura, ou seja,
dentro dos parâmetros de normalidade para ovos deste trematoda que,
segundo TATCHER (1993), são de 130 a 145 μm de comprimento por 70 a
90 μm de largura.
As amostras de fezes de capivaras e ratões do banhado, coletadas no
Parque Barigüí, demonstraram que a fasciolose é uma realidade naquele
local.
45
Tanto os ratões do banhado como as capivaras atuam, também,
como disseminadores desta parasitose no parque em questão e a outros,
pois existe a política de permuta de animais entre os diversos parques de
Curitiba, e também a outros territórios, sendo ambos animais de hábitos
migratórios, pelo fato de suas fezes distribuírem-se ao longo de cursos
d’água.
Diferente das capivaras, que foram introduzidas no Parque pela
Secretaria do Meio Ambiente, em 1990 (ONGARO, 2000), se desconhece de
onde vieram os ratões do banhado, podendo alguns desses animais terem
migrado para o Parque Barigüí, provenientes de áreas enzoóticas para a
fasciolose. Existe também o fato de que, em 1988, um grupo de ovinos foi
introduzido no Parque, com o objetivo de “manter a grama permanentemente
aparada e adubada” (NAKAMURA, 1989). Os ovinos são considerados os
mais importantes hospedeiros vertebrados da fasciolose, e não se sabe se
este grupo era ou não portador da parasitose. Independente disto, esta se
apresenta como a hipótese mais provável de contaminação ambiental por
ovos de Fasciola hepatica.
Assim sendo, é importante o potencial zoonótico da fasciolose no
Parque Barigüí, pois os freqüentadores têm acesso às margens do lago,
onde deitam para relaxar, brincam, se alimentam, podendo, assim, levar à
boca alguma vegetação, ingerindo metacercárias. Existem ainda pessoas
que se alimentam do agrião silvestre que ali cresce, além de indivíduos que
se banham no lago.
As fezes das capivaras do grande grupo residente no Projeto Lago
Sul da SIX – Petrobrás, em São Mateus do Sul, Paraná, também foram
examinadas, porém, com resultado negativo para fasciolose. Estes animais
foram examinados, pois, havia a probabilidade da ocorrência de fasciolose
neste grupo, devido às características hidrográficas da área: o rio Iguaçu
corta as duas cidades (Anexo 03), e seus afluentes banham tanto o Parque
Barigüí como o Projeto Lago Sul, formando, em ambos, lagos à beira dos
quais as capivaras vivem. Como os grupos, quando se tornam muito
numerosos, tendem a se dividir, e uma destas divisões, o novo grupo, vai
procurar um território para si, viajando sempre próximo aos rios, havia a
46
possibilidade de: ou o grupo do Parque Barigüí, que se dividiu em meados
de 2002, ter enviado animais na direção do Projeto Lago Sul, ou vice-versa.
Como no caso das capivaras e ratões do banhado do Parque Barigüí,
os ovos de nematodas e cestodas e os oocistos de Eimeriidae, encontrados
nos exames coproparasitológicos destes animais, são achados comuns para
roedores (FOWLER, 1986).
Os exames coproparasitológicos pelo método dos Quatro Tamises,
para as capivaras do Projeto Lago Sul, foram todos negativos para ovos de
Fasciola hepatica.
Os achados histopatológicos da fasciolose em capivaras coincidem as
descrições de lesões de fasciolose em ovinos e bovinos de BORDIN (1995),
RIET-CORREA et al (2001) e CARLTON & McGAVIN (1998), já citadas
neste trabalho.
A coleta dos moluscos, no Parque Barigüí, durante todo o período em
que o presente estudo foi realizado, se deu em locais escolhidos
aleatoriamente ao redor do lago e não só nos pontos de coleta pré-
determinados. Não foi encontrado nenhum exemplar de molusco Limnaea.
ROCCO & LUZ (2002) já haviam reportado uma diminuição na população
dos Limnaea no Parque Barigüí. Os níveis de poluição das águas do lago
possivelmente tenham contribuído para a diminuição e desaparecimento
desta espécie no local. A carga de poluentes no rio e lago do Parque
Barigüí, em 2001/2002, era muito alta. Em 2001, houve uma significativa
mortandade de carpas (estimada em sete toneladas), devida, segundo
RIBAS (2001), ao acúmulo de matéria orgânica, composta basicamente de
lixo e esgotos residenciais e industriais clandestinos, que são despejados no
rio Barigüí, que alimenta o lago, o que contribuiu, junto com a pouca
circulação de água e a superpopulação de carpas, para uma drástica queda
de oxigênio. Não se tem, hoje em dia, uma estimativa do nível de qualidade
da água do parque. O último relatório de monitoramento do IAP – Instituto
Ambiental do Paraná é de 2002, e classifica as águas do Parque Barigüí
como “classe IV – criticamente degradado a poluído”, que caracteriza corpos
de água com entrada de matéria orgânica, capaz de produzir uma depleção
crítica nos teores de oxigênio dissolvido da coluna d’água, aporte de
47
consideráveis cargas de nutrientes, alta tendência a eutrofização,
ocasionalmente com desenvolvimento maciço de populações de algas e/ou
cianobactérias, ocorrência de reciclagem de nutrientes, baixa transparência
das águas associada principalmente à alta turbidez biogênica. A partir desta
classe é possível a ocorrência de mortandade de peixes em determinados
períodos de acentuado déficit de oxigênio dissolvido (IAP, 2002).
As espécies de moluscos, encontradas no Parque Barigüí, no período
deste estudo, foram: Physa cubensis, Physa marmorata e Biomphalaria
tenagophyla.
A população de Physa cubensis, encontrada em 2003, diminuiu, vindo
a desaparecer, e dando lugar a uma população de Physa marmorata
(espécie esta considerada indicativo de poluição por muitos autores), a partir
de Junho de 2004. A população de Biomphalaria tenagophyla se manteve
baixa, mas constante em todo o período de coletas (Tabela 01).
A ausência de exemplares do gênero Limnaea não exclui a
possibilidade da ocorrência da fasciolose, pois foram coletadas no local
grande número de amostras fecais de capivaras e ratões do banhado
positivas para ovos de Fasciola hepatica. É, sim, um indicativo de que a
parasitose que acomete estes animais é mais antiga e que os filhotes da
última ninhada possivelmente estarão livres da fasciolose, se os Limnaea
não repovoarem a área.
Os moluscos do gênero Limnaea já foram descritos em diversas
cidades do Paraná, inclusive em Curitiba. São suscetíveis a mudanças
climáticas e a altos níveis de poluição. Quando o nível de poluentes das
águas do Parque Barigüí diminuir, e as condições climáticas favorecerem, é
alta a probabilidade de repovoamento do rio e lago do parque pelos
Limnaea.
Para diagnosticar a fasciolose em animais são utilizados métodos de
coprologia quantitativa, ou seja, o método de Sedimentação Simples (LUTZ,
1919) e o método dos Quatro Tamises (SANTIAGO GIRÃO). Ambos os
exames detectam ovos nas fezes, o que ocorre quando existem parasitos
adultos nos ductos biliares do hospedeiro vertebrado. Protocolos têm sido
48
padronizados para a utilização do método de ELISA para coproantígenos em
bovinos e ovinos.
O diagnóstico da fasciolose em capivaras e ratões do banhado é
viável pelos exames coproparasitológicos. As provas imunológicas
sorológicas são de difícil realização, pois, além de reações cruzadas, a
licenças para manipulação de animais silvestres em nossa região leva, por
vezes, até mais de um ano para ser expedida, o que prejudica tanto os
exames, como o tratamento, como o controle desta ou qualquer outra
parasitose. Desenvolver um protocolo para ELISA, coproantígenos, seria de
grande utilidade. A determinação de enzimas sangüíneas apresenta os
mesmos entraves, além da falta de especificidade. A necropsia também
seria de utilidade, se os animais que morressem fossem enviados a
laboratórios de Patologia para o exame, pois, no Parque Barigüí, eles são
enterrados no local onde são encontrados.
A profilaxia da fasciolose deve levar em conta que o objetivo maior do
tratamento estratégico é o de prevenir que o hospedeiro final dissemine ovos
do trematoda nas pastagens. Para tanto, o primeiro requisito seria que a
droga que será utilizada em programa de controle da fasciolose ter o poder
de eliminar todos os trematodas adultos (ovipositores). Entretanto, a
utilização de um fasciolicida efetivo contra o parasito na forma adulta
determinará a repetição de tratamentos a intervalos muito curtos, à medida
em que as formas jovens amadureçam e comecem a oviposição. Drogas
que também são efetivas contra formas jovens da Fasciola hepatica
apresentam o benefício de poder estender o intervalo de tratamento sem o
risco de contaminação dos pastos neste intervalo ampliado. Quanto mais
jovem for o parasito eliminado pela droga, maior o intervalo entre
tratamentos. Por exemplo, considerando que uma droga mostre-se efetiva
contra trematodas de seis semanas de idade, o tratamento terá de se repetir
a cada duas semanas de modo a prevenir que qualquer jovem se torne
adulto. Por outro lado, utilizando uma droga efetiva contra todos os estágios
da Fasciola hepatica, o intervalo de tratamento pode ser o mesmo do
período pré-patente do parasito, isto é, oito semanas. Neste caso,
relativamente poucos tratamentos serão necessários anualmente para
49
prevenir a contaminação das pastagens. Hoje em dia, o triclabendazole é o
único fasciolicida que oferece este potencial (WEHRLE & RICHARDS,
1989).
A Tabela 01 relaciona o efeito de anti-helmínticos, em percentagem,
e espectro de ação contra diferentes fases da Fasciola hepatica (RIET-
CORREA et al, 2001).
Fascíolas (idade em semanas)
Fasciolicidas jovens
adultas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Bithionol
90 a 99%
Niclofolan
Albendazole
95 a 100%
Ivermectin +
98 a 100%
Clorsulon
Nitroxinil
50 a 90% 91 a 99%
Closantel
Clorsulon
50 a 90% 91 a 99%
Rafoxanide
Triclabendazole٭ 90 a 99% 99 a 100%
Tabela 02Efeito de Anti-Helmínticos (%) e Espectro de ação contra diferentes fases da
Fasciola Hepatica.Adaptado de RIET-COREA et al., 2001.
O tratamento da fasciolose nas capivaras seria viável, respeitando-se
as regras de extrapolação alométrica para medicamentos (Anexo 01), pois
os animais são relativamente dóceis, acostumados à presença humana, o
que facilitaria seu manejo. O problema são os ratões de banhado, que são
esquivos e de difícil aproximação. Não se tem nem uma estimativa do
número destes animais no parque. A implantação de uma ceva, especial
para os ratões (que impedisse a entrada de capivaras) onde se administraria
o antihelmíntico junto aos alimentos seria uma alternativa para o problema,
já que os níveis tóxicos desta substância, para roedores, são altos, o que
amenizaria a superdosagem, que certamente ocorreria em alguns
indivíduos.
O controle dos moluscos por meios químicos já provou ser inviável,
por representar perigo para o ambiente por seus níveis tóxicos. O controle
físico, no tocante ao Parque Barigüí, também é de difícil implantação: a
50
drenagem, o isolamento de áreas e a limitação do acesso dos animais a
certas partes do parque é impraticável, devido à sua extensão e política de
funcionamento; porém, a limpeza regular das margens auxilia no controle. O
controle biológico, utilizando gansos, pode ser de alguma valia, se não
esquecermos que estes animais também são suscetíveis à fasciolose. O
látex da “coroa-de-cristo” seria uma alternativa como molusquicida, não
fosse a grande extensão do lago e rio que o forma.
Face à bibliografia consultada, torna-se essencial na implementação
um programa de controle da fasciolose, projetos com duração de no mínimo
dois anos.
O controle integrado, proposto por XIMENES et al (1995),
devidamente adaptado para a realidade do Parque Barigüí (Figura 17),
apresenta alta probabilidade de sucesso se implantado na área em questão.
São procedimentos simples, muitos dos quais já são executados no referido
parque, como a limpeza das margens do lago (devendo apenas esta limpeza
se estender às margens do rio, onde porventura se encontrarem os
moluscos) e a utilização de gansos como controle biológico. Os exames
coproparasitológicos nas amostras fecais das capivaras e ratões do banhado
residentes são de fácil execução, para o monitoramento do nível de infecção
dos animais. O tratamento se torna viável com fasciolicidas que atuam tanto
em formas jovens como adultas do parasito, respeitando-se as regras de
extrapolação alométrica (Anexo 01), e a implantação de um sistema de
cevas, que devem ser diferenciadas para capivaras e ratões do banhado.
51
Figura 17 – Conceito de Controle Integrado. Adaptado de XIMENES et al, 1995.
52
6 – CONCLUSÕES
Os exames das fezes coletadas no Parque Barigüí resultaram
positivos para ovos de Fasciola hepatica em 100% das amostras de
capivaras e 56,25% de ratões do banhado.
A provável origem da contaminação da área do Parque Barigüí foram
os ovinos trazidos para o local.
Foram encontrados, no Parque Barigüí, moluscos das espécies:
Physa cubensis, Physa marmorata e Biomphalaria tenagophyla. Não foram
encontrados moluscos do gênero Lymnaea no referido parque.
As lesões hepáticas produzidas pela Fasciola hepatica em capivaras
são semelhantes às observadas em ovinos e bovinos.
O método de maior viabilidade para o diagnóstico da fasciolose em
capivaras e ratões do banhado ainda é a coproparasitologia.
O tratamento dos animais infectados é viável e necessário.
O papel disseminador da fasciolose à população humana,
freqüentadora do Parque Barigüí, deve ser levado em consideração.
53
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SERRA-FREIRE, N.M. & NUERNBERG, S. Dispersão geopolítica da
ocorrência de Fasciola hepatica no Estado de Santa Catarina, Brasil.
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.87, suplemento especial. 1992.
58
SILVA SANTOS, I.C.; SCAINI, J.C.; RODRIGUES, L.F. Myocastor coypus
(Rodentia - Capromyidae) como reservatório silvestre de Fasciola hepatica
(Lineu, 1758). Revista Brasileira de Parasitologia, v.1, n.1. 1992.
SOULSBY, E.J.L. Helminths, Arthropods and Protozoa of domesticated
animals. 7
ª
ed. Lea and Febiger, Filadelfia, 1982.
SOUSA, R.S. Comunicação pessoal. 2003.
SOUZA, R.M. & RABELO, C.A. Ocorrência de parasitos em bovinos na
região do baixo Vale do Itajaí, Santa Catarina. Comunicado Técnico da
EMPASC. 1981.
TATCHER, V.E. Trematódeos Neotropicais. Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia ed. Manaus – AM. 1993.
The Encyclopedia of Mammals. Ed por David Macdonald, Andromeda
Oxford Limited, 1993.
URQUART, G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L.; DUNN, A.M.; JENNINGS,
F.W. Parasitologia Veterinária. Guanabara-Kogan ed. Rio de Janeiro.
1990.
WEHRLE, R.D. & RICHARDS, R.J. Fascioliasis – a strategic approach. In:
Triclabendazole Publications. Ciba-Geigy Animal Health. 1985.
WOODS, C.A.; CONTRERAS, L.; WILLNER-CHAPMAN, G.; WHIDDEN,
H.P. Myocastor coypus. In: Mammalian species, n. 398. 1992.
XIMENES, T.; Rondelaud, D.; MAGE, C.; CHERMETTE, R. A eliminação da
Lymnaea truncatula das pastagens: controle biológico integrado contra a
fasciolose. A Hora Veterinária, ed extra (1). 1995.
59
8. APÊNDICES
APÊNDICE 01
Tabelas de resultados de exames coproparasitológicos de capivaras
do Parque Barigüí – Curitiba.
Parque Barigüí – Capivara
Método de WILLIS-MOLLAY (1921)
Amostra n. oocistos Eimeriidae
1 (-)
2 N
3 N
4 N
5 N
6 (-)
7 (+)
8 (-)
9 (-)
10 (+)
11 (-)
12 (-)
13 (+)
14 (+)
15 (-)
16 (+)
17 (-)
18 (-)
Positivos 28%
60
Parque Barigüí – Capivara
Método de SEDIMENTAÇÃO SIMPLES
Amostra n. ovos Fasciola ovos Ascarídeos
1 (+) (-)
2 (+) (-)
3 (+) (-)
4 (+) (+)
5 (+) (+)
6 (+) (-)
7 (+) (-)
8 (+) (-)
9 (+) (-)
10 (+) (-)
11 (+) (+)
12 (+) (-)
13 (+) (-)
14 (+) (-)
15 (+) (-)
16 (+) (+)
17 (+) (-)
18 (+) (-)
Positivos 100% 22%
61
Parque Barigüí – Capivara
Método dos QUATRO TAMISES
Amostra n.
Fasciola hepatica
1 (-)
2 (-)
3 (-)
4 (+)
5 (+)
6 (+)
7 (+)
8 (+)
9 (+)
10 (+)
11 (+)
12 (+)
13 (+)
14 (+)
15 (+)
16 (+)
17 (+)
18 (+)
Positivos 83%
62
APÊNDICE 02
Tabelas de resultados dos exames coproparasitológicos de ratões do
banhado do Parque Barigüí – Curitiba.
Parque Barigüí - Ratão do Banhado
Método de WILLIS-MOLLAY (1921)
Amostra n. oocistos Eimeriidae ovos Cestoda ovos Strongylídeos
1 (-) (-) (-)
2 (-) (+) (-)
3 (-) (+) (-)
4 (-) (+) (-)
5 (-) (+) (+)
6 (-) (+) (+)
7 (-) (+) (-)
8 (-) (+) (-)
9 (-) (+) (-)
10 (+) (+) (-)
11 (+) (+) (-)
12 (+) (+) (+)
13 (+) (-) (-)
14 (-) (+) (-)
15 (-) (+) (-)
16 (+) (+) (-)
Positivos 31% 88% 19%
63
Parque Barigüí - Ratão do Banhado
Método de SEDIMENTAÇÃO SIMPLES
Amostra n. ovos ovos oocistos Ovos ovos ovos ovos
Fasciola
Cestoda Eimeriídae Strongylídeos Strongyloides
Capillaria sp Ácaros
1 (-) (-) (-) (+) (-) (+) (-)
2 (+) (-) (-) (-) (-) (-) (-)
3 (+) (-) (+) (-) (-) (+) (-)
4 (+) (-) (-) (-) (-) (-) (+)
5 (-) (-) (+) (+) (-) (+) (-)
6 (-) (-) (+) (+) (-) (+) (-)
7 (-) (-) (+) (+) (-) (+) (-)
8 (-) (-) (+) (+) (-) (+) (-)
9 (-) (-) (+) (+) (+) (+) (-)
10 (+) (+) (+) (+) (-) (-) (+)
11 (+) (+) (-) (-) (-) (-) (-)
12 (+) (+) (-) (-) (-) (-) (-)
13 (-) (-) (+) (-) (-) (-) (+)
14 (+) (-) (-) (-) (-) (-) (-)
15 (+) (+) (-) (-) (-) (+) (+)
16 (+) (+) (-) (+) (-) (+) (+)
Positivos 56% 31% 50% 50% 6% 56%
31%
64
Parque Barigüí - Ratão do Banhado
Método dos QUATRO TAMISES
Amostra n.
Fasciola hepatica
1 (-)
2 (+)
3 (+)
4 (+)
5 (-)
6 (-)
7 (-)
8 (-)
9 (-)
10 (+)
11 (+)
12 (+)
13 (-)
14 (+)
15 (+)
16 (+)
Positivos 56%
65
APÊNDICE 03
Tabelas de resultados dos exames coproparasitológicos em capivaras
do Projeto Lago Sul – São Mateus do Sul.
Projeto Lago Sul – Capivara
Método de WILLIS-MOLLAY (1921)
Amostra n. oocistos Eimeriidae ovos Cestoda ovos Strongylídeos
Grupo 1
1 (+) (-) (-)
2 (+) (+) (+)
3 (+) (+) (-)
4 (+) (+) (-)
5 (+) (+) (-)
6 (+) (+) (-)
Grupo 2
7 (+) (+) (-)
8 (+) (+) (-)
9 (+) (+) (+)
10 (+) (+) (+)
11 (+) (+) (+)
12 (+) (+) (+)
13 (+) (-) (+)
14 (+) (+) (+)
Positivos 100% 86% 50%
66
Projeto Lago Sul - Capivara
Método de SEDIMENTAÇÃO SIMPLES
Amostra n. ovos Strongylídeos ovos Capillaria oocistos Eimeriídae
Bando 1
1 (-) (-) (+)
2 (+) (+) (-)
3 (-) (+) (-)
4 (+) (-) (-)
5 (-) (-) (+)
6 (+) (-) (+)
Bando 2
7 (+) (+) (-)
8 (-) (+) (-)
9 (+) (-) (-)
10 (+) (-) (+)
11 (+) (+) (+)
12 (+) (-) (-)
13 (+) (-) (-)
14 (+) (-) (-)
Positivos 71% 36% 36%
67
APÊNDICE 04
Tabela de medidas dos ovos de Fasciola hepatica obtidos de fezes de
capivaras do Parque Barigüí – Curitiba.
Medidas dos ovos de Fasciola hepatica
Ovo n. medida (μm)
Comprimento Largura
1 123,24 77,025
2 154,05 82,16
3 133,51 71,89
4 131,645 71,89
5 133,51 71,89
6 133,51 77,025
7 143,78 71,89
8 143,78 71,89
9 133,51 71,89
10 138,645 71,89
11 143,78 71,89
12 143,78 71,89
13 143,78 77,025
14 133,51 71,89
15 133,51 77,025
15 154,05 71,89
16 138,645 71,89
17 138,645 71,89
18 128,375 71,89
19 143,78 71,89
20 133,51 77,025
21 133,51 71,89
22 143,78 71,89
23 143,78 61,62
68
9. ANEXOS
ANEXO 01
*Extrapolação alométrica – convencionalmente, as doses de
medicamentos são calculadas e expressas como quantidade por unidade de
peso corporal (mg/kg). O método de extrapolação alométrica, entretanto,
calcula e expressa doses utilizando a quantidade do medicamento (mg) por
energia (kcal) consumida por um determinado animal em situação de
metabolismo basal (mg/kcal). Uma vez que a absorção, a distribuição e a
eliminação de todos os medicamentos ocorrem em função da taxa
metabólica basal, uma dose em mg/kg só poderá ser usada para animais
que absorvam, metabolizem e distribuam o medicamento da mesma
maneira. A Taxa Metabólica Basal (TMB) pode, portanto, ser utilizada para
calcular a dose de determinado medicamento para um determinado animal,
com base na dose estabelecida para outro, considerando e ajustando as
diferenças metabólicas entre os dois animais.
Os princípios de extrapolação alométrica pressupõem que a
variação dos parâmetros fisiológicos observados entre diferentes animais
apresente a mesma proporcionalidade da variação dos parâmetros
farmacocinéticos. Partindo dessa premissa e utilizando dados disponíveis de
uma determinada espécie em que tenham sido efetuados estudos
farmacocinéticos e farmacodinâmicos, ou em que existem doses
medicamentosas estabelecidas empiricamente, e compatibilizando-se as
diferenças através de fórmulas matemáticas, pode-se determinar doses para
o “animal alvo” a partir de doses utilizadas em “animais modelo”.
A extrapolação alométrica de doses farmacológicas utiliza como
base a tabela abaixo, de valores constantes:
69
Grupo
Animal Constante
Temperatura
corporal
(K) média
Aves passeriformes 129 42 C
não passeriformes 78 40 C
Mamíferos placentados 70 37 C
marsupiais* 49 35 C
Répteis 10 37 C
*Também para Xenarthra (edentata=tatus, tamanduás, preguiças) e
Monotrêmata (ornitorrinco/equidna).
Tabela de valores constantes para cálculo de extrapolação
alométrica.
Com base em inúmeras investigações, em diferentes espécies
animais, comparando a massa corporal com a taxa metabólica (curva “do
rato ao elefante”), observou-se que o valor 0,75 se repetia como inclinação
da equação da reta em diferentes taxons.
O método de cálculo para extrapolação alométrica interespecífica de
doses de medicamentos é:
1. Calcula-se a TMB para o animal modelo e para o animal
alvo (TMB
modelo
e TMB
alvo
).
2. Divide-se a dose total indicada para o modelo por sua
TMB.
3. Multiplica-se o resultado pela TMB do animal alvo.
O resultado assim obtido é a dose total para o animal alvo.
O método para o cálculo da freqüência de aplicações é:
1. Calcula-se a TME (TME = K.M
0,75
/M, onde M = massa
corporal) para o animal modelo e para o animal alvo
(TME
modelo
e TME
alvo
).
2. Multiplica-se a TME do animal modelo pelo intervalo de
administração do medicamento no animal modelo (em
horas).
3. Divide-se o resultado pela TME do animal alvo.
O resultado obtido será o intervalo de administração (horas) para o
animal alvo (LANGE, 2004).
70
ANEXO 02
TÉCNICAS DE EXAMES COPROPARASITOLÓGICOS
WILLIS-MOLLAY (1921)
. Princípio – flutuação.
. Material:
2g fezes
Solução Saturada de NaCl (sal grosso)
Peneira
Copo
Bastão de Vidro
Lâmina
. Técnica:
Homogeneizar a amostra de fezes
Misturar as fezes com 20 ml da Solução Saturada de NaCl com
auxílio do bastão
Filtrar a suspensão de fezes através da peneira recoberta com gaze
Colocar a suspensão filtrada em copo até formar um menisco
convexo
Colocar a lâmina sobre o copo, procurando que a lâmina entre em
contato com o menisco convexo. Não deverá haver bolhas de ar entre a
lâmina e o líquido
Deixar em repouso pelo tempo de 15 minutos
Remover a lâmina, que trará em sua face inferior uma gota pendente,
invertendo rapidamente sua posição, para evitar a queda da gota
Examinar ao microscópio toda a lâmina em ziguezague.
SEDIMENTAÇÃO SIMPLES
HOFFMANN, PONS E JANER, 1934
LUTZ, 1919
. Princípio – sedimentação de ovos.
. Material:
71
5g de fezes
400 ml de água
Lâmina e lamínula
Bastão de Vidro
Peneira
Becker com capacidade de 500 ml
Cálice de Sedimentação (500 ml)
Pipeta de Pasteur
. Técnica:
Diluir as fezes em 200 ml de água
Peneirar a suspensão diretamente no cálice de sedimentação
Deixar em repouso por 20 minutos
Decantar o líquido sobrenadante e adicionar ao sedimento 200 ml de
água
Agitar a mistura, deixando descansar por 20 minutos
Decantar o sobrenadante
Coletar com pipeta algumas gotas do sedimento
Colocar entre lâmina e lamínula
Observar ao microscópio.
TÉCNICA DOS QUATRO TAMISES
SANTIAGO GIRÃO
. Objetivo – pesquisa de ovos de Fasciola hepática em fezes.
. Princípio – lavagem e sedimentação.
. Material:
5g de fezes
Tamises com telas 100, 180, 200, 250 malhas/polegada, com
abertura de 174, 96, 87 e 65 μm, respectivamente
Bastão de vidro
Cálice de sedimentação
Placa de Petri
Pipeta de Pasteur
Corante (verde de metila a 0,5%, ou azul de metileno)
72
. Técnica:
Utilizar a mesma diluição do Método de Sedimentação Simples, até o
último repouso
Homogeneizar o conteúdo, agitando bem por 1 a 2 minutos
Passar a mistura lentamente no conjunto de tamises dispostos uns
sobre os outros (de cima para baixo: 100, 180, 200 e 250)
Lavar em água corrente lentamente, descartando-se, um por um, os
três primeiros tamises, recolhendo-se o material retido no último tamis (250
malhas/polegada) em uma placa de Petri, utilizando-se um fino jato de água
no sentido inverso deste tamis
Repousar por 2 minutos
Retirar, sem agitar o sedimento, o excesso de água da placa com
uma pipeta de Pasteur
Adicionar 1 a 2 gotas de corante
Examinar em estereomicroscópio.
73
ANEXO 03
Mapas: político e hidrográfico do Estado do Paraná, evidenciando os
municípios de Curitiba e São Mateus do Sul.
Mapa do Estado do Paraná
Mapa Hidrográfico do Estado do Paraná, evidenciando as Cidades de Curitiba e
São Mateus Do Sul, e o Rio Iguaçú
74
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