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DAYANE CARLA BORILLE
CONSTRUÇÃO DE MARCO DE REFERÊNCIA PARA O CUIDADO
EM SAÚDE MENTAL COM A EQUIPE DE UM HOSPITAL
PSIQUIÁTRICO
CURITIBA
2008
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
CONSTRUÇÃO DE MARCO DE REFERÊNCIA PARA O CUIDADO EM
SAÚDE MENTAL COM A EQUIPE DE UM HOSPITAL
PSIQUIÁTRICO
CURITIBA
2008
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DAYANE CARLA BORILLE
CONSTRUÇÃO DE MARCO DE REFERÊNCIA PARA O CUIDADO EM
SAÚDE MENTAL COM A EQUIPE DE UM HOSPITAL
PSIQUIÁTRICO
Dissertação apresentada como requisito parcial
à obtenção do grau de mestre em Enfermagem,
do Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, Área de Concentração - Prática
Profissional de Enfermagem, na linha de
pesquisa Políticas e Práticas de Saúde,
Educação e Enfermagem – Setor de Ciências
da Saúde, Universidade Federal do Paraná.
Orientadora: Profª. Drª. Mariluci Alves Maftum
CURITIBA
2008
Borille, Dayane Carla
A construção de um marco de referência para o cuidado em saúde
mental com a equipe de um hospital psiquiátrico / Dayane Carla Borille. –
Curitiba, 2008.
143.f.:il.
Orientadora: Profª. Drª. Mariluci Alves Maftum
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Setor de Ciências da
Saúde, Universidade Federal do Paraná.
1. Enfermagem; 2. Cuidado; 3. Saúde mental; 4. Equipe. I Título.
TERMO DE APROVAÇÃO
DAYANE CARLA BORILLE
CONSTRUÇÃO DE MARCO DE REFERÊNCIA PARA O CUIDADO EM SAÚDE
MENTAL COM A EQUIPE DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre –
Área de Concentração – Prática Profissional de Enfermagem – Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem, Setor de Ciências da Saúde da Universidade
Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora:
Orientadora: _________________________________________
Profª. Drª. Mariluci Alves Maftum
Presidente da Banca: Universidade Federal do Paraná – UFPR
___________________________________________
Profª. Drª. Maria Conceição Bernardo de Mello Souza
Membro Suplente: Universidade de São Paulo - USP
___________________________________________
Profª. Drª. Marcia Bucchi Alencastre
Membro Titular: Universidade de São Paulo – USP
___________________________________________
Profª. Drª. Maria Ribeiro Lacerda
Membro Titular: Universidade Federal do Paraná – UFPR
___________________________________________
Profª. Drª. Verônica de Azevedo Mazza
Membro Suplente: Universidade Federal do Paraná – UFPR
___________________________________________
Profª. Doutoranda Marilene Lowen Wall
Universidade Federal do Paraná – UFPR
Curitiba, 29 de fevereiro de 2008.
Dedico esse trabalho a minha família:
Minha mãe Elisabeth e meu pai Gentil, pelos ensinamentos, valores, amor,
compreensão e apoio neste caminhar.
O amor incondicional é aquele amor que não coloca
nenhuma condição para ser vivido, ama por amar, cria relações,
gera laços, sem intenção de retorno e de cobranças.
Incondicionalmente, vocês ocupam um lugar especial em minha
vida. Ser filha de vocês é uma grande responsabilidade.
Meu irmão Anderson e minha cunhada Giovanna, pelo incentivo e apoio
incondicional.
E ao amor da minha vida, meu filho Arthur Henrique, que me dá força para alçar
vôo e vencer os desafios que a vida apresenta.
Amo vocês!
AGRADECIMENTOS
Àquele que foi fonte de luz e energia durante minha caminhada, quem
providenciou tudo que foi necessário para que este trabalho se concretizasse, as
pessoas, os recursos materiais, a minha saúde. É a ti Senhor que agradeço ter
dado mais este passo na caminhada do plano terrestre.
À Profª. Drª. Mariluci Alves Maftum que ao orientar este estudo deu exemplo
real do que é o cuidado humanizado, ao me cuidar de forma tão afetiva,
agradeço o compartilhar de seus conhecimentos, a confiança e compreensão,
respeitando os meus conflitos, os meus avanços e retrocessos e estimulando-me
no meu preparo profissional.
Às profª
s
. Drª
s
. Marcia Bucchi Alencastre, Maria Conceição B. de Mello Souza,
Maria Ribeiro Lacerda, Maria de Fátima Mantovani, Marilene Loewen Wall e
Verônica de Azevedo Mazza pelas valiosas contribuições na efetivação deste
trabalho.
Ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do
Paraná – UFPR, na pessoa da Profª. Drª. Maria Ribeiro Lacerda, e ao
Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná – UFPR, pela
oportunidade de aprendizado e evolução em minha carreira profissional.
À Profª. Drª. Maria Ribeiro Lacerda, coordenadora do Núcleo de Estudo,
Pesquisa e Extensão em Cuidado Humano de Enfermagem – NEPECHE, e aos
demais membros e pesquisadores, pelas contribuições e orientações científicas
recebidas para a realização desta pesquisa.
À instituição na qual desenvolvi o trabalho, na pessoa de seu diretor Paulo
Roberto Borges Pacheco e, em especial, à Coordenadora Técnica Elza Mayumi,
por proporcionar momentos de aprendizado problematizador com trabalhadores
da instituição.
À equipe de trabalhadores da instituição campo do estudo, pelo acolhimento,
respeito e colaboração.
À bolsista de iniciação científica Tatiana Brusamarello pela colaboração na
realização dos Encontros.
À direção da Universidade do Contestado – UnC, campus de Caçador,
agradeço a possibilidade de minha saída para o mestrado e, em especial à
coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem, Odete Deitos, pela
compreensão nos momentos de ausência das atividades do Curso.
Às colegas enfermeiras Erci Bohrer e Paula Xavier de quem sempre recebi
manifestações de carinho e apoio para buscar novas fontes de crescimento
pessoal e profissional.
A todos aqueles que, embora não citados, participaram de alguma forma
deste trabalho.
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE QUADROS
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 12
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................. 19
2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONCEPÇÃO SAÚDE – DOENÇA NO
TRATAMENTO À PESSOA COM TRANSTORNO MENTAL ........... 19
2.2 A REFORMA DEMOCRÁTICA ITALIANA E SUA INFLUÊNCIA NA
REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA ............................................. 24
2.3 O MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL E
PARANÁ E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE ............................. 27
2.4 O CUIDADO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL........................ 40
2.5 A TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS DE JOYCE
TRAVELBEE .......................................................................................... 49
3 METODOLOGIA..................................................................................... 51
3.1 CONTEXTO............................................................................................ 52
3.2 SUJEITOS DO ESTUDO........................................................................ 55
3.3 ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................. 61
3.4 DESCRIÇÃO DO PROCESSO............................................................... 61
4 TRAJETÓRIA PERCORRIDA ............................................................... 67
4.1 PRIMEIRA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: OBSERVAÇÃO DA
REALIDADE E ELABORAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA ............... 67
4.2 SEGUNDA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: DEFINIÇÃO DOS
PONTOS-CHAVE ................................................................................... 68
4.3 TERCEIRA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: TEORIZAÇÃO .............. 68
4.4 QUARTA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: PRESSUPOSTOS ........... 114
4.5 QUINTA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: APLICAÇÃO À
REALIDADE .......................................................................................... 115
4.6 AVALIAÇÃO DOS ENCONTROS ......................................................... 119
4.7 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA TRAJETÓRIA
PERCORRIDA COM A UTILIZAÇÃO DO ARCO DA
PROBLEMATIZAÇÃO............................................................................. 123
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 125
REFERÊNCIAS....................................................................................... 130
APÊNDICES........................................................................................... 138
BORILLE, D.C. A construção de um marco de referência para o cuidado em
saúde mental com a equipe de um hospital psiquiátrico. 2008. 138f. Dissertação
[Mestrado em Enfermagem] – Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
Orientadora: Profª. Drª. Mariluci Alves Maftum
A prática dos profissionais que atuam na área da saúde mental vem se modificando
concomitantemente às transformações da assistência à saúde de um modo geral,
influenciada pelas mudanças filosóficas, sociais, políticas e econômicas da
sociedade, entre elas o Movimento da Reforma Psiquiátrica brasileira. Trata-se de
um estudo qualitativo, exploratório, desenvolvido no período de novembro de 2006 a
fevereiro de 2007, em um hospital psiquiátrico de internação integral, do tipo colônia
do Estado do Paraná. O objetivo foi construir um marco de referência para o cuidado
em saúde mental com a equipe da Instituição. Os participantes deste estudo
constituíram-se em 152 funcionários dos quais 80 eram trabalhadores de
Enfermagem sendo 4 enfermeiros, 1 técnico em enfermagem e 67 auxiliares de
enfermagem; 14 eram profissionais de outras áreas da saúde; sendo 4 terapeutas
ocupacionais, 4 psicólogos, 3 assistentes sociais, 2 médicos e 1 fisioterapeuta; e 58
trabalhadores de outros serviços. Utilizou-se o referencial metodológico da
metodologia problematizadora que se compõe de cinco etapas: observação da
realidade e elaboração da situação-problema; definição dos pontos-chave;
teorização e identificação de pressupostos ou hipóteses de solução e aplicação à
realidade. Os dados foram obtidos mediante a estratégia de Encontros, os quais
foram registrados por gravação em fita K7, anotações de um observador e registros
em cartazes e papel sulfite das dinâmicas problematizadoras. Foram realizados
quatro Encontros, repetidos oito vezes cada um, nos quais foram discutidos os
conceitos eleitos pelos sujeitos, são eles: Enfermagem, Ser Humano, Saúde-
Doença, Ambiente, Equipe e Relação Interpessoal que resultou na construção do
Marco de Referência. Os participantes do estudo referiram-se a Enfermagem como
vocação, doação, abdicação, evidenciando aspectos históricos na formação da
imagem da profissão, como também uma profissão que requer habilidades
específicas que atua em nível primário, secundário e terciário da atenção à saúde.
O Ser Humano foi concebido como ser pluridimensional, dinâmico, complexo, único
e singular em seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais. O
conceito de Saúde e Doença foi explicitado como bem-estar, resultado do equilíbrio
e desequilíbrio entre o estado físico, mental, espiritual e social do ser humano.
Ambiente para os participantes foi considerado como contexto em que acontecem as
interações, em que o ser humano vive, convive e se comunica. Para os sujeitos
Equipe, representa um grupo de pessoas com diferentes formações, mas com
objetivos em comum Relação Interpessoal é aquela que se estabelece entre as
pessoas por meio da comunicação verbal e não-verbal. Os participantes
consideraram ainda, a vivência com trabalhadores de outras áreas da Instituição
importante e a existência de um espaço no local de trabalho o que lhes permitiu
discutir, estudar e repensar a sua prática em saúde mental. O estudo proporcionou
um repensar do cuidado em saúde mental realizado pela equipe da Instituição.
Palavras-chave: Enfermagem; Cuidado; Saúde mental; Equipe.
BORILLE, D.C. Building a reference landmark for mental health care with the
team of a psychiatric hospital. 2008. 138f. Dissertation [Nursing Masters Degree] –
Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
Leader: Prof. Dr. Mariluci Alves Maftum
Practice of professionals acting in the mental health area is being modified on the
whole concurrently to changes in health care, influenced by philosophical, social,
political and economical society change, among them the Brazilian Psychiatric
Reform Movement. It is a qualitative, exploratory study, developed from November
2006 to February 2007, in a psychiatric hospital of integral internment, colony type, in
Paraná State. The aim was to build a reference landmark for mental health care
together with the institution team. Participants in this study were 152 employees, of
which 80 were working in Nursing, being 4 nurses, 1 nursing technician and 67
nursing assistants; 14 were professionals from other health areas; being 4
occupational therapists, 4 psychologists, 3 social workers, 2 doctors and 1
physiotherapist; and 58 workers from other services. It was used the methodological
referential of problematization methodology composed by five stages: reality
observation and situation-problem elaboration; key points definition; theorization and
identification of solutions presuppositions or hypothesis and its application to reality.
The data were gotten through Meetings strategy, which problematization dynamics
were recorded using K7 tape, notes from an observer and register on bills and sulfite
paper. Four meeting were held, each one being repeated eight times, in which the
concepts elected by the subjects were discussed, which are: Nursing, Human
Being, Health-Disease, Environment, Team and Interpersonal relationship
resulting in the Reference Landmark building. The participants in the study referred
to Nursing as a call, endowment, abdication, substantiating historical aspects in the
profession image formation, as well as a profession requiring specific skills acting on
a primary, secondary and tertiary level of health care. The Human Being was
conceived as pluridimensional, dynamic, complex, unique and singular being in its
biological, psychological, social and spiritual aspects. Health and Disease concept
was explained as well being, resulting from balance and unbalance among physical,
mental, spiritual and social human being state. For participants, environment was
considered as context in which interactions happen, where the human being live,
coexist and communicate. Team, for the subjects, represents a group of persons
having different formation but having objectives in common; Interpersonal
Relationship is that being established among people through verbal and non-verbal
communication. The study propitiated rethinking on mental health care performed by
the institution team. Participants also considered living through with workers from
other areas in the institution and, even as the existence of a space in the working
place allowing them to discuss, study and rethink their practice in mental health.
Key words: Nursing; Care; Mental health; Team.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - CENÁRIO DO PROGRAMA DE SAÚDE MENTAL NO
ESTADO DO PARANÁ EM 2004 E 2006.............................. 40
QUADRO 2 - QUANTITATIVO DE FUNCIONÁRIOS DO HOSPITAL... 57
QUADRO 3 - CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DE ACORDO
COM A FORMAÇÃO, CATEGORIA PROFISSIONAL,
CARGO E OCUPAÇÃO........................................................ 58
QUADRO 4 - CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DE ACORDO
COM IDADE E SEXO.......................................................... 59
QUADRO 5 - CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DE ACORDO
COM O TEMPO DE FORMADO E TEMPO DE ATUAÇÃO
NA ÁREA DE SAÚDE MENTAL............................................ 59
QUADRO 6 - CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DE ACORDO
COM O TEMPO DE ATUAÇÃO NA INSTITUIÇÃO.............. 60
QUADRO 7 - DISTRIBUIÇÃO DOS ENCONTROS PARA A
CONSTRUÇÃO DO MARCO DE REFERÊNCIA PARA
SUBSIDIAR O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL.................. 64
QUADRO 8 - CONCEITOS DE ENFERMAGEM ELABORADOS PELOS
PARTICIPANTES CONFORME CATEGORIA
PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO............................. 108
QUADRO 9 - CONCEITOS DE SER HUMANO ELABORADOS PELOS
PARTICIPANTES CONFORME CATEGORIA
PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO............................ 109
QUADRO 10 - CONCEITOS DE SAÚDE E DOENÇA ELABORADOS
PELOS PARTICIPANTES CONFORME CATEGORIA
PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO............................ 110
QUADRO 11 - CONCEITOS DE AMBIENTE ELABORADOS PELOS
PARTICIPANTES CONFORME CATEGORIA
PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO............................ 111
QUADRO 12 - CONCEITOS DE EQUIPE ELABORADOS PELOS
PARTICIPANTES CONFORME CATEGORIA
PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO............................ 112
QUADRO 13 - CONCEITOS DE RELAÇÃO INTERPESSOAL
ELABORADOS PELOS PARTICIPANTES CONFORME
CATEGORIA PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO...... 113
QUADRO 14 - MARCO DE REFERÊNCIA PARA O CUIDADO EM
SAÚDE MENTAL.................................................................. 117
FIGURA 01 - MARCO DE REFERÊNCIA PARA O CUIDADO EM
SAÚDE MENTAL EM UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO 118
12
1 INTRODUÇÃO
A prática dos profissionais que atuam na área da saúde mental vem se
modificando concomitantemente às transformações da assistência à saúde de um
modo geral, influenciada pelas mudanças filosóficas, sociais, políticas e econômicas
da sociedade.
Historicamente a enfermagem psiquiátrica, assim denominada até a década
anterior, tem desempenhado um papel predominantemente voltado à visão
biologicista, cartesiana. Entretanto, mudanças nos modos de conceber a doença
mental e nos tratamentos à pessoas com transtornos mentais e suas famílias vêm
requerendo dos profissionais de enfermagem novos conhecimentos, pautados em
atitudes éticas, com vistas a um cuidado integral, humanizado e que considere a
condição de cidadão da pessoa que sofre mentalmente.
O cuidado de enfermagem e dos demais profissionais da equipe de saúde
mental ainda acontece com ênfase nos aspectos biológicos, com foco na doença ou
na parte afetada do corpo e com pouca abordagem nas dimensões psicológicas,
espirituais e sociais da pessoa e sua família. São exemplos de algumas ações que
têm feito parte da prática desses profissionais a observação do estado do paciente,
controle de sinais vitais, controle de líquidos, coleta de amostras para exames
laboratoriais, contenção física, administração de medicamentos, oxigenoterapia,
entre outras, que necessitam de prescrição para serem efetuadas; ações de
propedêutica da enfermagem como cuidados de higiene, promoção da segurança,
educação em saúde; ações de natureza administrativa, burocrática e pedagógica
que incluem formação de enfermeiros, auxiliares e técnicos em enfermagem,
capacitação e educação permanente (SOUZA, 2003).
Em seu estudo, Souza (2003) destaca que o enfermeiro, sem ter uma visão
abrangente de suas atribuições, ocupa-se de várias atividades, como do livro de
ocorrências, da roupa, do ponto (registro de entrada e saída de funcionários),
manutenção de equipamentos e estrutura física, dos pedidos de materiais.
Entretanto pouca ênfase é dada ao fundamental, que é definir o projeto terapêutico
que deve ser desenvolvido pelos profissionais de enfermagem bem como a
13
orientação e capacitação dos técnicos e auxiliares de enfermagem para um
relacionamento interpessoal efetivo com os pacientes.
Um Projeto Terapêutico de um serviço de saúde deve conter diretrizes gerais
para o atendimento como: manter sistema de registro atualizado com dados
sociodemográficos do usuário e da família ou do responsável; Ter uma programação
de atividades a serem desenvolvidas pelos usuários com a equipe; Definir o
Terapeuta de Referência para o usuário; Prever o tempo de permanência do usuário
no serviço; Incluir fatos relevantes ocorridos no período de atendimento à saúde,
bem-estar social e direitos; Possibilitar a avaliação do Projeto Terapêutico individual
para readequações das atividades e tratamento, entre outros (BRASIL, 2004c).
De maneira lenta e gradativa, o papel do enfermeiro e dos demais membros
da equipe em saúde mental e de outros trabalhadores, vem se modificando nos
últimos anos, passando a integrar de modo mais efetivo as atividades com
finalidades terapêuticas por intermédio do relacionamento terapêutico e programas
de educação permanente a equipes, pacientes e familiares (COSTA, 2005).
O estabelecimento de uma relação interpessoal efetiva, comprometida com os
princípios da reforma psiquiátrica, além de ser desenvolvida pelos membros da
equipe de saúde, entre eles, os da enfermagem, se estende à família da pessoa
com transtorno mental, equipe de trabalhadores, de apoio e manutenção.
Os enfermeiros que atuam em saúde mental vivenciam suas práticas de
forma paradoxal. De um lado diversificam seu saber, definindo suas funções
terapêuticas e de outro assumem funções exclusivamente administrativas e de
supervisão. Contudo, há a necessidade dos enfermeiros trabalharem integrados aos
demais membros da equipe com percepção das reais necessidades de cuidado da
pessoa com transtorno mental, bem como do envolvimento da família e comunidade
no tratamento e na reabilitação dessa. Isto implica em capacidade de observação
disciplinada, interesse genuíno e envolvimento para o desenvolvimento de aptidões,
como a de aplicar os conhecimentos teóricos da relação interpessoal conferindo
competência para o melhor desempenho das funções, com vistas a um cuidado que
contemple a individualidade do ser humano (CELICH, 2004).
Atualmente vivenciamos um momento de reorganização e redefinição da
atenção à saúde mental no Brasil, o qual Amarante (1998) denomina Movimento de
Reforma Psiquiátrica, porque envolve várias dimensões: teórico-conceitual, técnico-
assistencial, jurídico-político e sócio-cultural. Desta maneira, projeta-se um período
14
propício e fértil para mudanças na área de saúde mental relacionadas ao aspecto
físico, organização dos serviços, transformação das relações e reorientação no
modelo de assistência. Nesta concepção é valorizado o respeito à cidadania e há
ênfase na atenção integral, entendendo o processo de saúde e doença mental
relacionado com a qualidade de vida (SILVEIRA; BRAGA, 2005).
Neste enfoque, evidencio a necessidade de mudanças nas atitudes e prática
dos profissionais que atuam na saúde mental para uma abordagem que considere a
individualidade do ser humano; o contexto de saúde e doença em que ele está
inserido; o relacionamento interpessoal; a participação da pessoa com transtorno
mental, da família e da sociedade no processo de tratamento e na reinserção social.
Na medida em que a Reforma Psiquiátrica se processa torna-se indispensável a
adoção de novas formas de lidar com o sofrimento mental, propiciando maiores
perspectivas para promover o cuidado em saúde mental.
A Reforma Psiquiátrica no Brasil foi institucionalizada pela Lei Federal
n.10.216/2001, de 06 de abril de 2001 que dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas com transtornos mentais e redireciona a assistência em saúde mental.
Essa lei e outras legislações, resoluções, portarias, programas e manuais
operacionais que ampliam, fortalecem e redirecionam o cuidado na área da saúde
mental são resultados de um movimento de trabalhadores, familiares e sociedade
que vem acontecendo no Brasil a partir dos anos 70 (MAFTUM, 2004).
O Movimento da Reforma Psiquiátrica é pautado em princípios éticos como a
inclusão social, a solidariedade e cidadania. Trata-se de um “conjunto de iniciativas
políticas, sociais, culturais, administrativas e jurídicas que visam transformar a
relação da sociedade com o doente” (AMARANTE, 2003a, p.58). Para Kantorski e
Carvalho (2001) a Reforma Psiquiátrica se constitui em um processo potencialmente
transformador de relações, modos de pensar e fazer que dizem respeito à relação
da sociedade com as pessoas portadoras de transtornos mentais.
Avanços se observam no modo de cuidar em saúde mental, entretanto o que
desenvolvo em minha prática de docência tem contribuído para a persistência de
inquietações no que compete à prática dos profissionais de enfermagem. Tal
situação se deve à pouca existência de espaços para o cuidado de enfermagem em
saúde mental na minha cidade de origem e de incipiente inserção dos enfermeiros
nas instituições de saúde. Corroborando, Maftum (2004) ao entrevistar docentes de
enfermagem em saúde mental, a respeito de como eles percebiam a atuação do
15
enfermeiro na prática, afirma que ainda se trata de um trabalho fragmentado,
burocrático, com distanciamento do paciente e pouca resolutividade e visibilidade
perante os demais membros da equipe.
Meu interesse pela área da saúde mental teve início no período da
graduação, que concluí em 2000 pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), durante as aulas teórico-práticas e estágio da disciplina de Enfermagem
Psiquiátrica, assim denominada naquela época, atualmente Enfermagem em Saúde
Mental. Essas aulas ocorriam exclusivamente em um hospital psiquiátrico que era
referência para o Estado de Santa Catarina. Ao vivenciar o dia a dia e observar as
pessoas acometidas de sofrimento psíquico, comecei a refletir a respeito da prática
da equipe de saúde e, em especial, do enfermeiro, na área da saúde mental.
Embora haja que se fazer intensas críticas a respeito das práticas de tratamento
manicomiais, em que a ênfase é a exclusão social e desvalorização do ser humano,
foi essa vivência que despertou o meu interesse pela área, provocou inquietações e
ao mesmo tempo instigou-me a buscar novos conhecimentos.
Minha busca pelo aprimoramento tem acontecido de diversas maneiras. Em
2001 iniciei um curso de especialização em saúde mental com enfoque nas políticas
públicas ofertado pela Escola Nacional de Saúde Pública ENSP/FIOCRUZ. Ao
estudar os conteúdos do tema, ao recordar as minhas vivências acadêmicas durante
a graduação e ao mesmo tempo fazer reflexões a respeito da minha prática atual
como docente, novas inquietações surgiam.
Após a conclusão da graduação, iniciei atividades como enfermeira na área
da saúde coletiva, pois retornei à minha cidade de origem e lá não existia nenhum
serviço específico em saúde mental. Com a criação do Curso de Graduação em
Enfermagem, vislumbrei oportunidade de trabalho em docência na área, foi então
que aconteceu minha definição profissional a partir de 2002, como docente de uma
instituição privada de Ensino Superior da região do meio oeste catarinense.
Ao ministrar as disciplinas de Enfermagem em Saúde Mental e Enfermagem
Psiquiátrica, discuto com os estudantes o movimento da Reforma Psiquiátrica, o
papel do enfermeiro e da equipe de saúde mental. Diferentemente da minha
formação na graduação, tenho a oportunidade de ministrar as aulas práticas da
disciplina em outros dispositivos de atenção à saúde mental, como por exemplo, o
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), conforme preconiza a Reforma Psiquiátrica
Brasileira, consolidando algumas discussões que ocorrem em sala de aula.
16
Em 2006, ingressei no mestrado em enfermagem da Universidade Federal do
Paraná - UFPR e desenvolvi duas disciplinas: Prática Docente e Vivências da
Prática Assistencial com a orientação de docente da área em estudo. Essas
vivências ampliaram e/ou confirmaram minhas inquietações em relação à prática do
enfermeiro e demais integrantes da equipe e da qualidade do cuidado que a pessoa
com transtorno mental recebe. A primeira enseja ao mestrando vivenciar com o
docente uma disciplina do curso de graduação em enfermagem. Assim, tive a
oportunidade de desenvolver conjuntamente a disciplina Assistência de Enfermagem
II, para estudantes de graduação do sétimo período, que engloba o cuidado em
oncologia, clínica cirúrgica e saúde mental. A minha Prática Docente nessa
disciplina foi com enfoque em Saúde Mental.
Devido às mudanças na assistência que vêm acontecendo na área da saúde
mental, em decorrência do Movimento da Reforma Psiquiátrica, a disciplina acima
mencionada está organizada de modo que os estudantes de enfermagem participem
de aulas teórico-práticas em sala de aula, em grupos de auto-ajuda (Alcoólicos
Anônimos - AA, Narcóticos Anônimos – NA), associações de familiares e pacientes,
projeto de extensão em saúde mental e aulas práticas em um hospital psiquiátrico
de internação integral. Ao acompanhar essas aulas, deparei-me com outra realidade
de tratamento e prática dos profissionais, em um hospital do tipo colônia,
manicomial. Essas diferentes vivências motivaram-me a desenvolver, no mesmo
hospital, a segunda disciplina do mestrado, Vivência da Prática Assistencial, cuja
ementa prevê a aplicação, na prática, de um referencial teórico de enfermagem ou
de outras áreas do conhecimento.
A trajetória que venho realizando na área da saúde mental, ampliada com as
vivências do mestrado, somadas às observações oriundas das disciplinas que
mencionei anteriormente, levaram-me a questionar de que modo eu como
enfermeira poderia contribuir para despertar ou motivar os profissionais de
enfermagem a discutir o cuidado à pessoa com transtorno mental em uma Instituição
de internação integral, sustentado em um referencial teórico.
Ocorreu que a direção do referido hospital há algum tempo estava solicitando
ao docente da UFPR a realização de educação permanente para o pessoal da
equipe de saúde. Esta situação foi propícia para que eu e a professora da área e
orientadora deste trabalho discutíssemos a respeito da problemática, ocorrendo-nos
que se tratava de um momento oportuno para uma proposta de sensibilização da
17
equipe de enfermagem, iniciando pela discussão de conceitos inerentes ao cuidado
em saúde mental antes de tratar de assuntos específicos. Contudo, ao discutirmos a
proposta com a direção a mesma reafirmou que, em consonância à política interna
da Instituição, o trabalho deveria envolver todos os trabalhadores, incluindo a
comunidade, determinando assim, a remodelação da proposta.
Acompanhando os movimentos de mudanças na área de saúde mental, a
enfermagem nessa área também vem se transformando, substituindo
paulatinamente o cuidado custodial, asilar e de controle, para um cuidado
humanizado, privilegiando o relacionamento terapêutico e a ampliação do campo de
conhecimento, voltado para a condição cidadã da pessoa (COSTA, 2005).
A relação entre enfermeiro e pessoa em sofrimento psíquico é a base sobre a
qual se estabelece a prática da enfermagem em saúde mental, em que ambos têm
de reconhecer um ao outro como seres humanos únicos e isso possibilita um
crescimento e aprendizado mútuos. Desta maneira, o profissional utiliza o seu “eu”
como um recurso terapêutico, que consiste na capacidade de usar sua própria
personalidade conscientemente, em plena lucidez, na tentativa de estabelecer um
relacionamento de ajuda e de planejar cuidado (TRAVELBEE, 1979).
O relacionar-se tem alicerce na confiança e no respeito mútuo, o que permite
aceitar o outro tal como é e como poderá vir a ser. Assim, o cuidado em saúde
mental representa a união entre seres humanos, construída a partir de experiências
de vida, oportunidade em que elas revelam, compartilham e resgatam a humanidade
existente em cada um (KANTORSKI et al; 2005).
É por meio do cuidado que a enfermagem se revela como ciência, arte e
disciplina e, “no exercício da sua prática como ensino, assistência e pesquisa,
apodera-se de um conjunto de conceitos e teorias e os aplicam” (STEFANELLI;
CARVALHO, 2005, p.13).
Ao discorrer a respeito do cuidado de enfermagem, Lacerda e Costenaro
(1996, p.54) explicita que “a enfermagem existe quando o ser humano se aproxima
do cliente e cuida” [...] “A vinculação entre ambos provoca um acontecer, um
transformar, uma relação transpessoal, havendo um começo, meio e fim no
desenvolvimento desta relação”.
Durante algumas décadas, os enfermeiros formularam teorias para sustentar
a sua prática, estabelecendo quatro conceitos fundamentais aos modelos de
enfermagem: ser humano, ambiente, saúde-doença e enfermagem. Como
18
exemplo, tem-se a primeira teoria de enfermagem, Teoria das Relações
Interpessoais, formulada pela enfermeira Hildegard Peplau em 1952. Destacamos
que as teorias de enfermagem emergiram no contexto da saúde mental, haja vista
que Peplau era enfermeira nesta área. Outras teorias surgiram e, dentre elas, a
Teoria das Relações Interpessoais de Joyce Travelbee em 1979 que consagrou a
relação pessoa a pessoa na profissão da enfermagem (GEORGE, 2000).
Um método para construir o conhecimento de enfermagem pode ser a
identificação de conceitos relevantes, que são elementos essenciais das teorias.
Conceitos são categorias que servem como guias para realizar observações do
mundo empírico representando a realidade e facilitando nossa capacidade de
comunicação com ela. Descrevem objetos, propriedades, acontecimentos,
significados e traduzem, em idéias e definições, as impressões que recebemos
pelas sensações despertadas pelo ambiente. O seu desenvolvimento é uma
consciência crítica e reflexiva do significado de um termo e é demonstrado pela
habilidade de aplicar o conhecimento em uma nova situação (GEORGE, 2000).
Pautada na premissa de que para realizar um cuidado de enfermagem de
qualidade é essencial a consciência e clareza de alguns conceitos centrais inerentes
a todas as ações dos profissionais de enfermagem, como: ser humano, saúde e
doença, ambiente, enfermagem e que, para a área da saúde mental, em especial os
conceitos de comunicação, relação interpessoal e equipe. Ainda, respaldada pelo
que relatei anteriormente, no que concerne ao modo como esse cuidado tem
acontecido e também que reflexões das atividades profissionais podem influenciar
na qualidade do cuidado que toda equipe de saúde realiza, optei por utilizar a
metodologia problematizadora como estratégia para a reflexão do cuidado em saúde
mental com os trabalhadores da Instituição campo deste estudo.
Essas ponderações se constituíram em motivações para propor um trabalho
com a equipe de saúde mental a respeito da sua prática. Assim, emergiu a questão
norteadora: como construir um marco de referência para o cuidado em saúde mental
com a equipe de um hospital psiquiátrico de internação integral? Para tentar
responder a esta questão elaborei o seguinte objetivo: construir um marco de
referência para o cuidado em saúde mental com a equipe de um hospital psiquiátrico
de internação integral.
19
2 REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo apresento breve abordagem a respeito da temática da saúde
mental, permeando aspectos históricos dos conceitos de saúde e doença mental e
modos de tratamento, a psiquiatria democrática italiana e sua influência na Reforma
Psiquiátrica brasileira, o Movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira e
paranaense, correlacionando-as com as políticas públicas desta área e finalmente
cuidado de enfermagem em saúde mental na história e no momento atual do Brasil.
2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONCEPÇÃO SAÚDE-DOENÇA E
TRATAMENTO À PESSOA COM TRANSTORNO MENTAL
O estudo da concepção da doença mental, bem como as formas de
tratamento na trajetória histórica da psiquiatria tornam-se necessários para a
compreensão dos determinantes das práticas de cuidado à pessoa com transtorno
mental nos dias atuais. Nesta perspectiva, a história da loucura é também a história
de uma prática e saberes concebidos e construídos coletivamente, de acordo com
as épocas, culturas e sociedades dos homens, de seu cotidiano e de suas
representações (MIRANDA, 1994).
Vários autores, como, Goffman (1990), Miranda (1994) e Foucault (2002) têm
abordado a história da loucura, o nascimento da psiquiatria, a instituição psiquiátrica
e as práticas de tratamento instituídas desde as idades Clássica, Média e Moderna.
Antes do século XVIII, a loucura era concebida em um eixo “verdade-erro-
consciência”, sendo considerada como erro do pensamento ou ilusão. O tratamento
era feito em lugares considerados terapêuticos e a natureza era o melhor lugar para
corrigir esses erros; deste modo, a pessoa com transtorno mental era mantida na
própria comunidade (FOUCAULT, 2002).
Nos primórdios das eras Grega e Romana foram notáveis as considerações
humanas em relação aos doentes mentais, que circulavam livremente pelos campos
e sociedade, sobrevivendo de doações e donativos públicos. O tratamento nos
tempos antigos consistia em ritos tribais com o objetivo de alterar o seu
20
comportamento, sendo que os templos gregos eram usados para abrigar pessoas
com doenças mentais por serem locais em que havia ar livre em abundância, água
pura e luz solar. Às vezes eram tratados com delicadeza, em outras, o tratamento
era severo e bárbaro. Alguns médicos da era Romana utilizavam sangrias por
acreditar que a liberação de sangue contaminado auxiliava na melhora dos sintomas
e no tratamento, assim como purgantes que aliviavam os espíritos dos doentes
(TAYLOR, 1992).
A primeira visão organicista da doença mental surgiu com Hipócrates (460-
370 a.C.) que concebia a loucura como uma doença física, semelhante a qualquer
outra. Para isso, classificou o organismo em quatro humores básicos: sangue, bílis
negra, bílis amarela e fleuma. O desequilíbrio entre os humores e os elementos da
natureza consistia a base das doenças mentais.
Na Idade Média (395 -1453), com a queda das civilizações Grega e Romana,
o atendimento aos doentes mentais foi deixado a cargo de padres e religiosos,
propagando-se crendices, atribuindo caráter negativo à loucura, tornado-a
patológica, estigma de imperfeição e culpa. Os tratamentos eram aplicados com o
intuito de afastar os espíritos malignos e, como exemplo, tem-se a “técnica do
exorcismo” realizada pelo toque suave das mãos (TAYLOR, 1992).
O médico Johan Weyer se destacou nesse período ao lutar abertamente
contra as crenças até então corriqueiras e comuns de possessão sobrenatural como
causa dos problemas mentais e tentou demonstrar que o comportamento
manifestado pela pessoa era proveniente de uma doença (WAIDMAN, 1998).
Cabe ressaltar naquela época a evidência do parentesco da lepra com a
loucura. A primeira surgiu como um mal assombroso no início das Cruzadas no
Século XI, até o final da idade média, Século XIV, e consolidou os medos seculares,
as relações de divisão, exclusão e purificação. Posteriormente o verdadeiro
fenônemo de exclusão passou a ser a loucura. Uma representação de exclusão da
loucura e do louco daquela época é descrita na composição literária Das
Narrenschiff que aborda a Nau dos Loucos, em que se praticava na Alemanha o
recolhimento dos loucos nas aldeias, colocavam-nos em uma nau na qual eram
deixados à própria sorte deslizando pelos rios. O artista flamenco Hieronimus Bosch
(1450-1516) pintou uma tela denominada Nau dos Insensatos, retratando o que
descrevi anteriormente, a qual ficou bastante conhecida no mundo. Este quadro que
21
foi pintado entre 1490 e 1500, encontra-se atualmente no Museu do Louvre, em
Paris – França (MIRANDA, 1994).
Na obra de Erasmo de Roterdam, “Elogio da Loucura” encontramos a menção
do bobo da corte em que se explicita que os loucos proporcionam aos príncipes o
que estes procuram a todo custo: divertimento, gargalhadas, prazer, riso. “Outra
qualidade que o louco possui é que são os únicos sinceros e verdadeiros, tudo o que
o louco tem na alma mostra-o no rosto e sua boca di-lo aquilo sem hesitar”
(MIRANDA, 1994, p.56).
No século XVI, os loucos foram ainda menos considerados quando a igreja e
os mosteiros deixaram de atendê-los. Naquele período, a Europa vivenciou o
advento da manufatura e a conseqüente divisão social do trabalho, inaugurando um
novo pensamento: disciplinar os trabalhadores impondo-lhes normas. Em
decorrência disso começaram a surgir instituições, os chamados hospitais gerais,
que não tinham a função de curar, mas de retirar da sociedade todos os anti-sociais,
punindo a ociosidade e reeducando para a moralidade religiosa. Os loucos eram
trancafiados em celas e masmorras (MIRANDA, 1994; FOUCAULT, 2002).
No século XVII reacende o interesse religioso no atendimento às pessoas
com a finalidade de salvar a alma humana. Entretanto, quanto ao doente mental, o
interesse da sociedade era que o mesmo fosse retirado de seu meio, não visando
seu bem-estar, devido às articulações que a loucura estabelecia com a
marginalidade social. O louco, por ter sido mantido com vagabundos, libertinos e
criminosos estabeleceu também um parentesco com as culpas morais e sociais,
contribuindo para sua estigmatização (TAYLOR, 1992 ; MIRANDA, 1994).
No século XVIII os médicos Pinel e Tuke contestaram o fato de que os loucos,
durante um século e meio, foram mantidos sob regime de internamento sem nunca
ter sido esclarecida a lógica da prática que enclausurou no mesmo espaço os
pobres, os desempregados e os insanos (MIRANDA, 1994). Assim, Philippe Pinel
(1745-1826), médico neurologista, contestou o tratamento desumano aos doentes
mentais, organizou o primeiro hospital psiquiátrico, classificou os sinais e sintomas
da loucura, escreveu o primeiro livro de psiquiatria e estabeleceu a psiquiatria como
especialidade médica e, pelos seus feitos, é considerado o “pai da psiquiatria”.
Contudo, as estratégias de organização do hospital foram o isolamento, a
organização do espaço asilar e a constituição de uma relação autoritária. Assim,
podemos afirmar que a loucura e o louco co-existem com a história da humanidade,
22
mas a doença mental e a psiquiatria nasceram a partir de Pinel, que requereu para a
medicina o tratamento do doente mental (AMARANTE, 2003a; 2006).
Com o enunciado da curabilidade da loucura, foi colocado em prática o
tratamento institucional, com a idéia de que a instituição curava e, com o passar do
tempo, constatou-se que esta favoreceu a cronificação do doente mental, sendo
mais teratogênica do que terapêutica. O isolamento do doente mental em um espaço
específico, apesar de reforçar a idéia de exclusão, teve importância para a
constituição do conhecimento científico, pois consistia em uma medida científica que
possibilitaria o contato exclusivo, específico, com o objeto a ser estudado.
Sustentado no princípio do isolamento, a loucura entendida como rompimento da
racionalidade manifestada por determinados comportamentos podia ser estudada e
classificada de acordo com aproximação e distanciamento da razão em uma
nosografia (AMARANTE, 2003a).
Pinel incluiu a loucura no rol das doenças, denominou-a de alienação mental
e definiu-a como um comprometimento da vontade ou do intelecto, como distúrbio
no equilíbrio das paixões. O alienado deixa-se dominar por paixões artificiais,
distantes da realidade objetiva. Os impulsos subjetivos determinariam a ação do
indivíduo e ele seria assediado pela fantasia, pelas ilusões, pelas idéias distorcidas;
ora agressivos e perigosos, ora indiferentes e irresponsáveis. Deste modo,
tornavam-se alheios aos que os cercavam e aos princípios e regras da ordem e da
moral (ROTELLI et al.; 2001).
Nesta concepção, curar a alienação mental significava trazer o alienado de
volta à realidade, controlar seus impulsos e afastar suas ilusões, devaneios;
desenvolver nele a vontade e desejos. Surge, então, o tratamento moral, que
consistia em um conjunto de estratégias com finalidade de reeducação da mente
alienada, nas quais a própria organização do regime hospitalar teria importante
papel. O trabalho surge como instrumento terapêutico que ajuda a organizar os
pensamentos confusos, redistribuir as energias e redirecionar a consciência para a
realidade. A terapia pelo trabalho ou laborterapia tornou-se uma tecnologia de
cuidado do corpo, usava a disciplina e a vigilância como estratégias fundamentais. A
disciplina era feita por intermédio da repressão, como por exemplo, privação de
visitas, diminuição de alimentos, reclusão solitária, colete de força ou camisa de
força, banhos com mangueiras de alta pressão e visava o efeito corretivo
(MIRANDA, 1994; AMARANTE, 2003a; 2003b).
23
Mesmo com o conceito de cidadania e as transformações políticas, sociais e
econômicas decorrentes das idéias da Revolução Francesa, permanecia a
concepção de que os alienados eram incapazes de escolher, desejar, julgar, alheios
ao mundo exterior e à ordem pública. A instituição asilar psiquiátrica mantém os
mesmos princípios de isolamento, do tratamento moral e da disciplina. Isolados do
mundo exterior, os doentes mentais poderiam ser melhor estudados e tratados.
Tutelados pelo Estado e medicina, só poderiam se tornar cidadãos quando sua
razão fosse plenamente restabelecida. Já naquela época, tem-se que alguns
profissionais mostravam-se insatisfeitos com as técnicas praticadas e procuravam
criar propostas dando origem a novas abordagens ao tratamento da pessoa com
doença mental (MIRANDA, 1994; AMARANTE, 2003a).
O período posterior à Segunda Guerra Mundial foi significativo para o
desenvolvimento dessas novas abordagens teóricas e técnicas psiquiátricas,
surgindo algumas iniciativas que passaram a ser denominadas Movimentos
Reformistas do Pós-Guerra. Nestes movimentos, o primeiro grupo abordava a
psiquiatria a partir do modelo do hospital psiquiátrico, no qual incluía-se a
Comunidade Terapêutica e a Psiquiatria Institucional. O segundo defendia a
sociedade/comunidade como ponto central para o tratamento, no qual incluía-se a
Psiquiatria de Setor e a Psiquiatria Comunitária (Preventiva). O terceiro contempla a
Antipsiquiatria, movimento que defendia a expressão do delírio e usava recursos
como o psicodrama e a regressão. Ainda neste grupo, inclui-se a Psiquiatria
Democrática que inicia questionamento aos saberes da psiquiatria, enfatiza a
desconstrução de saberes e práticas manicominais e defende que estas podem ser
realizadas em outros espaços como a comunidade, serviços e/ou dispositivos de
saúde (AMARANTE, 2003a; 2003b). Estes movimentos combatiam a exclusão, a
cronificação e a violência imposta pelos modelos psiquiátricos tradicionais.
Nesta trajetória constatam-se dois importantes paradigmas de assistência em
saúde mental, a institucionalização e a desinstitucionalização. No primeiro, a pessoa
com transtorno mental é retirada da sociedade para ser internada em grandes asilos,
perdendo contato e vínculos comunitários e familiares; no segundo, tem a
possibilidade de ser tratada em diversos espaços além de permitir a sua reinserção
em programas de reabilitação extensivos à família (LEITE, 2002).
24
2.2 A PSIQUIATRIA DEMOCRÁTICA ITALIANA E SUA INFLUÊNCIA NA
REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA
A Reforma Psiquiátrica Democrática Italiana liderada pelo médico psiquiatra
Franco Basaglia, constitui-se no mais importante referencial do movimento da
Reforma Psiquiátrica no Brasil (PITTA, 1996). Franco Basaglia, nascido em Veneza
em 1924, tornou-se a figura mais expoente na transformação do modelo psiquiátrico
em todo o mundo. Crítico da ciência psiquiátrica recusou-se a aceitar a rotulação
nosográfica à pessoa considerada doente mental. Em 1961, ao assumir a direção do
Hospital de Gorizia, província da Itália, Basaglia adotou medidas que visavam o
resgate da dignidade e dos direitos de cidadania, permitindo e produzindo uma
atitude crítica, tanto de técnicos quanto de internos, sobre as funções sociais,
políticas e ideológicas da instituição psiquiátrica (AMARANTE, 2003a).
Basaglia utilizou expressões importantes como a que se refere ao duplo da
doença mental, que diz respeito a tudo o que sobrepõe à doença, a atributos que
não são próprios da condição de estar doente, mas de estar institucionalizado,
estigmatizado. É a face institucional da doença mental, produzida a partir da
negação da subjetividade da pessoa, da identidade e principalmente de sua
objetivação extrema como objeto de saber. Nesse sentido, é difícil distinguir o que é
próprio à doença daquilo que lhe foi imposto por sua condição de institucionalizado.
Salientava a importância de colocar a doença mental entre parênteses, em não se
ocupar da doença como conceito psiquiátrico, mas do sujeito na sua existência.
Considerava que a doença mental surgia a partir da cultura, do conhecimento e da
subjetividade de quem a produziu, e que não se trata de um conceito neutro
(AMARANTE, 2003a).
Nesse modo de conceber a doença mental, em 1971, se iniciou o processo de
transformação do hospital psiquiátrico de San Giovanni em Trieste, liderado por
Basaglia, que posteriormente ficou conhecido como “desinstitucionalização”, cuja
conseqüência foi a desativação total do manicômio e a constituição de uma rede de
atenção a saúde mental territorial (AMARANTE, 2003a; 2003b).
Desintitucionalização tornou-se a palavra de ordem central na reforma
democrática italiana, empregada com o sentido de desconstrução/reconstrução
como contraponto à manutenção das instituições psiquiátricas. Esse movimento
25
procurava potencializar a capacidade terapêutica da psiquiatria com o objetivo de
livrar-se das funções de controle social, coação e segregação, extinguir instituições
psiquiátricas e reduzir leitos hospitalares propondo uma rede de serviços com
diversificadas alternativas, inclusive reinserção da pessoa com transtorno mental no
meio social (SPRICIGO, 2001). Neste sentido, o objetivo era abrir as portas da
instituição de forma que ela pudesse se difundir para além dos limites físicos e se
deparar com toda a problemática social. Ao iniciar o trabalho de desconstrução
desta prática institucionalizada e respectivo processo de socialização, começa a ser
produzido o chamado “território”
1
(AMARANTE, 2003a).
Os anos de 1975 e 1978 caracterizaram-se pela criação e organização dos
serviços territoriais, buscando-se a construção de um welfare state
2
de emergência
para a implantação de uma estrutura territorial de atenção em saúde mental. Ainda
em 1975, começaram a funcionar os primeiros Centros de Saúde Mental de base
territorial, atendendo 24 horas por dia em todos os dias da semana. Estes centros
ofereciam atividades como hospitalidade diurna (hospital-dia), visita ambulatorial,
visitas domiciliares, trabalho terapêutico individual e com a família, interconsulta,
além de cooperativas de trabalho e empresas sociais, oficinas, ateliês, entre outros
serviços inovadores no Campo da Saúde Mental. “Aos Centros de Saúde Mental
eram atribuídas a responsabilidade de prevenção, tratamento e reinserção, ou seja,
um caráter assistencial, social e terapêutico” (AMARANTE, 2003a, p.76).
A desinstitucionalização na Itália foi concretizada pela Lei nº 180, votada por
todos os partidos e aprovada pelo parlamento em 13 de maio de 1978, possibilitando
as inovações no sistema de saúde mental. As inovações ocorridas foram concretas
e operativas, permitindo um processo dinâmico e mutante, configurando o serviço de
saúde mental como ator de transformação social (ROTELLI et al; 2001).
O III Encontro da Rede Internacional de Alternativas à Psiquiatria em Trieste
serviu para divulgar as experiências italianas e como resultado surgiram Centros de
Saúde Mental em todo o mundo, chamados de serviços fortes ou serviços
substitutivos, os quais passaram a ampliar o campo de ação –técnico, social, político
____________________
1 O termo território foi utilizado no sentido de um conjunto de referências subjetivas, sociais e
políticas que formam o cotidiano de vida e a inserção dos sujeitos no meio social.
2 Welfare State refere-se a Estado de Bem Estar Social – estado de proteção social que tem por
princípio garantir o acesso de toda a população aos serviços, benefícios, por intermédio de um
conjunto de políticas sociais, habitação [...] independente da situação do indivíduo no mercado de
trabalho.
26
e teórico, considerando que todos esses elementos devem ser contemplados no
exercício profissional (AMARANTE, 2003a; 2003b).
Para Kantorski e Silva (2001) o processo italiano demonstra a importância do
trabalho coletivo no que diz respeito às questões de poder e de divergência de
interesses na reabilitação da pessoa com transtorno mental, a importância das
mobilizações populares na construção de novos serviços e trabalho educativo com a
população com o objetivo de desmistificar da loucura.
Todo o debate em torno da saúde mental e do processo de Reforma
Psiquiátrica estabelece a busca pela superação dos paradigmas clássicos, de crítica
da verdade e neutralidade das ciências, de problematização das concepções
naturalistas de subjetividade, doença e loucura e de reconstrução de sua
complexidade.
Rotelli et al (2001, p.29) afirma que mudanças ocorrem nas formas de
tratamento que as pessoas recebem
para transformar o seu sofrimento, em que a terapia é entendida como um
conjunto complexo de estratégias indiretas e mediatas que enfrentam o
problema em questão através de um percurso crítico sobre os modos de
ser do próprio tratamento.
O processo de desinstitucionalização se caracteriza por três aspectos
possíveis de eliminar a internação do conjunto de estruturas e competências
psiquiátricas: a construção de uma nova política de saúde mental, a centralização do
trabalho terapêutico com o objetivo de enriquecer a existência global, complexa e
concreta dos pacientes e de suas relações sociais e a construção de estruturas
externas que são totalmente substitutivas à internação no manicômio (ROTELLI et
al.; 2001).
A experiência italiana demonstrou que é possível tratar de forma inovadora,
responsável, digna e cidadã a pessoa com transtorno mental e contribuir para as
transformações dos modelos de atenção psiquiátrica e ressignificação do conceito
de doença mental, influenciando as reformas psiquiátricas em todo mundo,
particularmente no Brasil, como veremos posteriormente.
27
2.3 O MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL E PARANÁ E AS
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
No Brasil colônia, a assistência à saúde ficava a cargo das Santas Casas de
Misericórdia, mantida com doações de pessoas de posses, sendo que a finalidade
dessas instituições era a salvação da alma e não a cura dos males do corpo. Como
não havia assistência específica para os doentes mentais, estes também eram
mantidos nas Santas Casas onde recebiam comida e o que vestir, porém eram
tratados de forma desumana e constantemente encontrados presos em celas nos
porões insalubres (SPRICIGO, 2001).
Por volta de 1910 começam a surgir no Brasil os Hospitais Colônias que na
Europa já existiam desde o século XVIII, os quais propunham o trabalho agrícola e
em pequenas oficinas com finalidade terapêutica e econômica, visto que os
hospícios, naquela época, encontravam-se com superlotação. Seus criadores
enfatizavam a cura pelo trabalho agrícola e a diminuição dos gastos do Estado para
manter os doentes internados (MARROCA, 2007).
A assistência psiquiátrica no Brasil tem como marco inicial a inauguração do
Hospício D. Pedro II, em 05 de dezembro de 1852, na cidade do Rio de Janeiro,
então capital do império, o qual funcionava sob o comando das religiosas das
Santas Casas. A construção do Hospício e a conseqüente retirada do louco das ruas
marcaram a institucionalização da loucura no Brasil que, a exemplo do que vinha
acontecendo no mundo, passa a se constituir em doença mental e de
responsabilidade do saber médico (OGATA; FUREGATO; SAEKI, 2000; SPRICIGO,
2001). Esse Hospício concretizou um espaço próprio para o tratamento do alienado,
com características da época em que os doentes eram vigiados e sofriam medidas
repressivas como forma de mantê-los calmos e obedientes (ROCHA, 1994). Após a
Proclamação da República no Brasil, em 1889, ocorreu a separação entre Igreja e
Estado e o Hospício D. Pedro II ficou sob os cuidados do Estado, passando a ser
denominado Hospício Nacional de Alienados (MIRANDA,1994; GEOVANINI et al.;
2002; AMARANTE, 2003a).
O início da implementação de políticas de saúde pelo Estado brasileiro
ocorreu na Primeira República (1889-1930). Estas políticas foram denominadas
Campanhas Sanitárias que por meio de serviços em âmbito nacional promoveram
28
ações expressivas no saneamento básico como, por exemplo, as vacinações em
massa. Ainda neste período, na década de 1920, surgiu o sistema de Caixa e
Aposentadoria e Pensões (CAPs), o qual previa a criação, em cada empresa de
estrada de ferro, de uma caixa de aposentadoria para os empregados, sendo
posteriormente estendida aos portuários e marítimos (AMARANTE, 2003a).
As CAPs introduziram a assistência médica aos trabalhadores e trouxeram
uma tradição que veio a se tornar uma marca na maioria das políticas de saúde no
Brasil, ou seja, a subordinação do direito à assistência médica a um sistema de
previdência social. Sua administração era igualmente exercida por empregados e
empregadores e cabia ao Estado o papel normalizador e regulador. Essa iniciativa
tornou-se um bem restrito aos trabalhadores associados, pois os segmentos
populares ficaram excluídos desse modelo (AMARANTE, 2003a).
Com a Revolução de 1930, no governo de Getúlio Vargas, o sistema das
CAPs foi paulatinamente substituído pelo modelo dos Institutos de Aposentadoria e
Pensões (IAPs), no qual o Estado passou a administrar a previdência social
incorporando outras classes trabalhadoras organizadas por categoria profissional.
Como no modelo anterior, mantinha o direito à assistência médica restrito aos
trabalhadores contribuintes da previdência social (AMARANTE, 2003a). Entretanto,
em relação à saúde mental, neste período foi criado o Decreto-Lei n. 24.559, de
1934 que “dispõe sobre a proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas” e
expressava um momento em que a medicina defendia a profilaxia e a higiene
mental, fortalecendo a figura do médico psiquiatra como perito no diagnóstico da
doença mental. Contudo, os doentes mentais não tinham direito a trabalho, profissão
e cidadania (MAFTUM et al.; 2006).
Por intermédio do Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM), criado em
02 de abril de 1941, o Estado desenvolveu a política de proliferação de hospitais
denominados naquela época de hospitais-colônia
3
, modelo surgido na Alemanha,
sendo o médico Adauto Botelho o primeiro diretor do SNDM e defensor do modelo
asilar, incentivando a criação destes hospícios nos estados do Brasil. A assistência
psiquiátrica centrada na internação, estritamente hospitalocêntrica e biologicista foi a
____________________
3 A expressão “colônia” provém da noção de aglomerado de pessoas de uma mesma origem, que se
estabelece em uma terra estranha, voltadas para um mesmo objetivo.
29
prática dominante até 1980, quando questionamentos a essa modalidade
assistencial por trabalhadores, familiares e pessoas da sociedade se intensificaram
(SPRICIGO, 2001).
Em 1946, com o início da redemocratização no país e o surgimento do
período desenvolvimentista, o modelo dos IAPs foi reforçado com a construção de
hospitais de grande porte. No entanto, nessa época, ocorreu um crescimento da
atenção à saúde nas redes públicas estaduais e municipais voltada para a
população excluída da assistência previdenciária. Porém a qualidade do
atendimento era inferior em relação à prestada pelo instituto (AMARANTE, 2003a).
Com o Regime militar, em 1964, houve a fusão de todos os IAPs, dando
origem ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) responsável pelas
aposentadorias e pensões e pela assistência médica dos seus assegurados e
dependentes. Em relação à assistência médica, o governo optou pela compra de
serviços privados e financiou a construção de um grande número de hospitais,
laboratórios e outros serviços privados nos estados do Brasil. Deste modo, o
governo passou a financiar, com recursos públicos, a construção de serviços
privados e pagava pelos seus serviços para atender aos trabalhadores contribuintes
da previdência (AMARANTE, 2003a).
Em 1975 criou-se o Sistema Nacional de Saúde (SNS) definindo algumas
diretrizes, entre elas a distinção entre ações preventivas, com enfoque coletivo e de
caráter público sob a responsabilidade do Ministério da Saúde (MS) e ações
curativas, individuais e de caráter privado sob a responsabilidade do Ministério da
Previdência e Assistência Social (MPAS). Posteriormente, em 1977, criou-se o
Sistema Nacional de Previdência Social (SINPAS), composto pelo Instituto Nacional
de Previdência Social (INPS), Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA),
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), Empresa de
Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV) e o Instituto Nacional
de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), sendo que este último
reforçou a hegemonia do atendimento médico individual (AMARANTE, 2003a).
As políticas de saúde no Brasil apresentam vínculo estreito com as da área da
saúde mental até final de década de 70, quando o processo da reforma psiquiátrica
brasileira se fortaleceu, com o surgimento do Movimento dos Trabalhadores em
Saúde Mental (MTSM), constituído por trabalhadores insatisfeitos com as condições
de vida e trabalho nessa área. Pelas suas críticas e denúncias à precariedade da
30
assistência em saúde mental, este movimento foi responsável por muito tempo pela
busca da formulação de uma teoria e organização de novas práticas de cuidado
(ZERBETTO, 1997; OGATA; FUREGATO; SAEKI, 2000; SPRICIGO, 2001).
Na VI Conferência Nacional de Saúde, em 1977, foram elaboradas Diretrizes
de Saúde Mental, que originaram no Plano Integrado de Saúde Mental – PISAM, de
caráter preventivista, o qual propunha a expansão da assistência psiquiátrica no
nível primário de atenção em ambulatórios e postos de saúde (SPRICIGO, 2001).
Em 1978 realizou-se o V Congresso Brasileiro de Psiquiatria na cidade de
Camboriu, no qual integrantes do MTSM participaram manifestando-se com
denúncias em relação à precariedade da assistência em saúde mental no país.
Devido à presença de um grande número de trabalhadores, familiares e pessoas da
sociedade, esse evento ficou conhecido como “Congresso da Abertura”. O tema
loucura saía dos muros dos hospitais psiquiátricos para a comunidade e uma nova
agenda estava posta (AMARANTE, 1997; MAFTUM, 2004).
Como reflexo desse movimento, ampliaram-se as discussões da assistência
psiquiátrica em todo o território brasileiro. Assim, em 1979, aconteceu o I Congresso
Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, na cidade de São Paulo,
desvinculado das estruturas do Estado, momento em que foi discutido o modelo
asilar e as diretrizes legais e técnicas para a superação dos problemas dessa
realidade. Em novembro do mesmo ano, em Belo Horizonte, ocorreu o III Congresso
Mineiro de Psiquiatria, que contou com a presença de Franco Basaglia. Após o
Congresso, Basaglia visitou o Hospital Colônia de Barbacena e comparou-o a um
campo de concentração nazista. Sua visita teve grande repercussão nacional e
reforçou a elaboração de dois importantes documentos de denúncia ao modelo
psiquiátrico nacional: o filme Em nome da razão, de Helvécio Ratton e a série de
reportagens publicadas posteriormente no livro Nos porões da loucura, de Hiran
Firmino (AMARANTE, 2003a).
Na década de 1980 ocorreu a crise financeira da Previdência Social e houve a
intensificação dos movimentos de crítica ao modelo de saúde vigente, por parte dos
movimentos populares emergentes, dos diversos partidos políticos de esquerda e
centro-esquerda, formando o denominado Movimento Sanitário, que no documento
intitulado “A questão Democrática na Área de Saúde” menciona a constituição de um
Sistema Único de Saúde (SUS) (OGATA; FUREGATO; SAEKI, 2000, p.28).
31
Durante os anos de 1981 e 1982 buscaram-se alternativas para a crise do
modelo assistencial causada pela também crise financeira da Previdência Social.
Marca este período o convênio de Co-Gestão estabelecido entre o Ministério da
Previdência e Assistência Social (MPAS) e o Ministério da Saúde (MS) que cria
mecanismos de gerenciamento conjunto de unidades assistenciais. Como iniciativa
criou-se o Conselho Consultivo da Administração de Saúde Previdenciária
(CONASP) que trazia em seu bojo os princípios de universalidade, hierarquização e
regionalização, com objetivo de aumentar a produtividade, racionalizar o sistema,
gerar melhoria da qualidade dos serviços, extensão de cobertura e controle estatal
da assistência médica. O CONASP desdobra-se nas Ações Integradas de Saúde
(AIS) constituindo-se em importante estratégia no processo de descentralização da
saúde, representando uma priorização da rede pública em detrimento da rede
privada hospitalar (OGATA; FUREGATO; SAEKI, 2000; SPRICIGO, 2001).
Em 1985, com o fim da ditadura militar e o advento da Nova República, o
movimento sanitário foi assumido pela agenda do Estado Nacional e, em 1987, foi
criado o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), preparando terreno
para a criação do Sistema Único de Saúde. Na seqüência, em 1988, ocorreu a VIII
Conferência Nacional de Saúde (CNS), que teve importância marcante na
concepção e formulação das políticas de saúde ao propor um Sistema Único de
Saúde (SUS), definindo atribuições aos níveis federal, estadual e municipal,
administrados por meio de colegiados formados por órgãos públicos e sociedade
organizada (SPRICIGO, 2001; AMARANTE, 2003a).
A necessidade de aprofundar a discussão de algumas políticas setoriais do
SUS levou à convocação de conferências de áreas específicas. Na área de saúde
mental foram realizadas três Conferências Nacionais com ampla participação de
usuários, familiares e técnicos; a primeira em 1987, a segunda em 1992 e a terceira
em 2001. Desta forma, em junho de 1987, realizou-se em Brasília a I Conferência
Nacional de Saúde Mental (CNSM) com os temas: a) economia, sociedade e estado:
impactos sobre a saúde e doença mental; b) reforma sanitária e reorganização da
assistência à saúde mental e a cidadania e doença mental: direitos, deveres e
legislação do doente mental. Contou com a participação de técnicos, usuários,
familiares e lideranças de entidades da sociedade civil (SPRICIGO, 2001;
AMARANTE, 2003a, p.43).
32
Além de propiciar reflexões e aprofundamentos sobre as políticas de saúde
mental e a assistência psiquiátrica, a I Conferência Nacional de Saúde Mental
encaminhou importantes questões, que enfatizava que as políticas de saúde têm
excluído o doente mental da produção e do convívio social. Os temas discutidos
foram a necessidade da participação da população na elaboração, implementação e
nas decisões das políticas de saúde mental; o reconhecimento pelo Estado de
espaços não profissionais criados pelas comunidades visando a promoção da saúde
mental; a priorização de investimentos nos serviços extra-hospitalares e
multiprofissionais em oposição ao modelo centrado no hospital psiquiátrico. Esta
conferência marcou o “fim da trajetória sanitarista” da saúde mental e iniciou a
“trajetória da desinstitucionalização ou da desconstrução/invenção” (SPRICIGO,
2001; KANTORSKI; SILVA, 2001; AMARANTE, 2003a, p.43).
No II Congresso Nacional de Trabalhadores de Saúde Mental, em 1987, em
Bauru, o MTSM sofreu profunda e radical transformação, em que deixou de ser uma
entidade predominantemente de técnicos, reconstruindo-se como um movimento
social. Representou uma importante ruptura tanto epistemológica quanto estratégica,
em relação ao tratamento da pessoa com transtorno mental, ao introduzir o lema Por
uma sociedade sem manicômios, apontando para a necessidade de discutir a
loucura para além dos limites assistenciais. Neste Congresso, decidiu-se que a data
18 de maio passaria a ser comemorada anualmente como Dia Nacional de Luta
Antimanicomial, com realização de intensas atividades políticas, culturais e
científicas no Brasil (AMARANTE, 2003a; 2003b).
Em 03 de maio de 1989 o movimento de reforma psiquiátrica assumiu
repercussão nacional, a partir da intervenção da Secretaria Municipal de Saúde no
hospital psiquiátrico denominado Casa de Saúde Anchieta na cidade de Santos.
Após uma série de denúncias de mortes no hospital conveniado ao SUS, a prefeitura
decidiu intervir e desapropriá-la, iniciando um trabalho revolucionário semelhante ao
de Franco Basaglia na Itália. Em seu lugar, foram implantadas novas formas e
espaços de tratamento às pessoas com transtornos mentais, como os Núcleos de
Atenção Psicossocial (NAPS), abertos 24 horas, sete dias por semana, 365 dias no
ano, responsáveis pela demanda psiquiátrico-psicológica de uma determinada
região da cidade, denominada território. Considerados estruturas complexas, os
NAPS oferecem atendimento emergencial ou ambulatorial, como por exemplo, as
oficinas de trabalho, cooperativas e projetos de inserção social (AMARANTE, 2006).
33
Na concepção que orienta a criação de novas modalidades de atenção, surgiu
o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Professor Luiz da Rocha
Cerqueira, em São Paulo, no ano de 1987, que “propunha-se a ser um filtro de
atendimento entre o hospital e a comunidade com vistas à construção de uma rede
de prestação de serviços preferencialmente comunitários” (SPRICIGO, 2001, p. 64).
Os CAPS constituem-se em uma modalidade intermediária ou provisória de atenção
em saúde mental, como uma alternativa de transição do modelo hospitalocêntrico
para o modelo preventivo-comunitário. “[...] tentaria evitar a internação hospitalar da
pessoa com transtorno mental ou quando esse recebesse alta sem estar apto a
retornar plenamente à vida comunitária” (AMARANTE, 1997, p.172).
O Ministério da Saúde, Brasil (2002, p.1) define CAPS como
um serviço comunitário ambulatorial que toma para si a responsabilidade
de cuidar de pessoas que sofrem com transtornos mentais, em especial os
transtornos severos e persistentes, no seu território de abrangência. Deve
garantir relações entre trabalhadores e usuários centradas no acolhimento,
vínculo e na definição precisa de responsabilidade de cada membro da
equipe. A atenção deve incluir ações dirigidas aos familiares e
comprometer-se com a construção dos projetos de inserção social,
respeitando as possibilidades individuais e princípios de cidadania que
minimizem o estigma e promovam a melhor qualidade de vida e inclusão
social possíveis.
Uma importante contribuição para o Movimento de Reforma Psiquiátrica foi o
Projeto de Lei n. 3.657/89 do Deputado Paulo Delgado (PT/MG), apresentado em
outubro de 1989 ao Congresso Nacional. Este projeto propunha a regulamentação
dos direitos do doente mental em relação ao tratamento, previa extinção progressiva
dos manicômios públicos e privados e sua substituição por outros recursos
assistenciais não-manicomiais (OGATA; FUREGATO; SAEKI, 2000; SPRICIGO,
2001; AMARANTE, 2003a).
O teor do referido projeto mobilizou vários estados brasileiros promovendo
transformações no modelo de assistência bem como debates na mídia nacional e
ainda, como conseqüência, surgiram diversas associações de usuários e familiares.
Dessas associações, algumas se posicionaram contrárias outras a favor da reforma
psiquiátrica, porém o resultado foi que, de forma inédita, os temas saúde e doença
mental, assistência psiquiátrica e manicômio ocuparam boa parte da agenda
nacional (AMARANTE, 2003a).
Em dezembro de 1992, ocorreu a II Conferência Nacional de Saúde Mental
com a participação de milhares de usuários, familiares e técnicos nas suas três fases
34
(municipal, estadual e federal). Nela reafirmaram-se os princípios e as diretrizes da
reforma psiquiátrica brasileira com ênfase na desinstitucionalização e na luta
antimanicomial. Temas como rede de atenção integral, transformação e
cumprimento das leis, direito à atenção e direito à cidadania foram abordados. Ao
deliberar sobre o modelo assistencial, enfatizou a importância da construção de
novas formas de lidar com a loucura, desterritorializá-la, gerar novos atores sociais,
possibilitar que as instituições psiquiátricas, os técnicos e a administração deixem de
conceber a loucura como objeto privado e passem a concebê-la como questão de
vida (BRASIL, 1992; KANTORSKI; SILVA, 2001; AMARANTE, 2003a).
Diversas estratégias foram adotadas para envolver a sociedade nas
discussões a respeito da doença mental, como o Fórum Gaúcho de Saúde Mental,
com inscrições de frases, trechos de músicas, poesias, ditados populares em
camisetas, adesivos e faixas posteriormente adotados em âmbito nacional; o I
Encontro Nacional de Luta Antimanicomial, realizado em Salvador, em 1993, com o
lema “Brasil sem manicômios no ano 2000”; encontros de Associações de Usuários
e Familiares, dos quais resultou a elaboração da “Carta dos Direitos dos Usuários”.
Tais documentos baseiam-se em princípios de cidadania, como o direito ao ingresso
aos sistemas de saúde, direito a um atendimento livre de discriminação, que respeite
as pessoas, seus valores e suas crenças, entre outros (AMARANTE, 1997, p.175).
A Política Nacional de Saúde Mental, a partir de 1991, mediante o Programa
de Saúde Mental do Ministério da Saúde, promulgou a Portaria n. 189, de 19 de
novembro de 1991 e a Portaria n. 224, de 29 de janeiro de 1992, que definem
diretrizes e normas para a saúde mental. Essas portarias institucionalizam a reforma
psiquiátrica, pois a Lei de saúde mental que ainda era vigente no país era o Decreto
Lei n. 24.559, de julho de 1934 (MAFTUM, 2004). Essas, e outras portarias que
posteriormente surgiram, preconizam a substituição progressiva dos leitos em
hospitais psiquiátricos por leitos em hospitais gerais, criação de CAPS, serviços
residenciais terapêuticos (SRTs), centros de convivência, Hospital Dia para permitir
o processo de desospitalização e reinserção social da pessoa com transtorno
mental. Estas novas orientações têm como objetivo diminuir o número de leitos em
hospitais psiquiátricos, regionalizar os atendimentos e redistribuir a assistência ao
portador de transtorno mental conforme as suas características e necessidades
sociais (BRASIL, 2002b; 2002c; AMARANTE, 2003; AREJANO, 2005).
35
Apesar de conter alterações substanciais e tramitar durante quase doze anos
no Congresso Nacional, o projeto Lei n. 3.657/89, foi aprovado na forma de Lei
Federal n. 10.216 somente em de 06 de abril de 2001. Ressaltamos que a demora
na promulgação da lei federal de saúde mental desde a apresentação do projeto que
a gerou não impediu que o movimento da reforma fosse se consolidando tanto nos
estados do Brasil como no ideário dos profissionais dessa área e da sociedade.
Vários estados brasileiros como o Paraná, Ceará, Rio Grande do Sul e Pernambuco
tiveram suas leis estaduais de saúde mental embasadas no projeto de lei de Paulo
Delgado, promulgada bem antes da lei federal (BRASIL, 2001).
Em dezembro de 2001 aconteceu a III Conferência Nacional de Saúde Mental
com o tema “Cuidar Sim, Excluir Não – efetivando a Reforma Psiquiátrica, com
acesso, qualidade, humanização e controle social”, a qual reafirmou que as políticas
de saúde mental devem respeitar as diretrizes da reforma psiquiátrica e das leis
federais e estaduais, priorizando a construção da rede de atenção integral em saúde
mental. Tais políticas devem ter como pressupostos básicos a inclusão social e a
reabilitação psicossocial e estarem integradas com outras políticas sociais, como
educação, trabalho, lazer, cultura e esporte visando garantir o exercício pleno da
cidadania (CNS, 2002, p.136).
A reabilitação psicossocial representa mais que um conjunto de meios
(programas e serviços) que se desenvolvem para assistir e melhorar a qualidade de
vida das pessoas com transtorno mental. É uma necessidade ética, um processo de
reconstrução do exercício de cidadania e de valor social nos cenários de habitat,
rede social e trabalho. “É uma atitude estratégica, uma vontade política, uma
modalidade compreensiva, complexa e delicada de cuidados para pessoas
vulneráveis aos modos de sociabilidade que necessitam de cuidados igualmente
complexos”. Trata-se de uma maneira de minimizar a cronicidade e resgatar a
capacidade dessas pessoas viverem em comunidade (PITTA, 1996, p. 21).
O relatório da III Conferência de Saúde Mental ressalta que o modelo
assistencial deve estar sustentado numa concepção de saúde como processo e não
como ausência de doença, na perspectiva de produção de qualidade de vida,
enfatizando ações integrais e de promoção da saúde. Nesse sentido, é fundamental
desenvolver práticas de assistência e cuidado pautadas nas relações que
potencializem a subjetividade, a auto-estima, a autonomia e a cidadania, buscando
superar a reprodução da institucionalização e/ou cronificação (CNS, 2002).
36
A luta pela reforma psiquiátrica e pelo processo de desinstitucionalização em
construção no Brasil busca alcançar novos espaços de atenção psicossocial.
Portanto, requer que todos os profissionais de saúde revejam conceitos, métodos e
formas de lidar com o sofrimento mental.
Amarante (2003a, p.49) define a Reforma Psiquiátrica como
um processo social complexo que se configura na e pela articulação de
várias dimensões que são articuladas e inter-relacionadas, que envolvem
movimentos, atores, conflitos e uma transcendência do objeto do
conhecimento que nenhum método cognitivo ou teoria podem captar e
compreender em sua complexidade e totalidade.
Nessa concepção, a doença deixa de ser reduzida à alteração biológica para
tornar-se processo de saúde/enfermidade concebida não mais como “objeto, mas
como experiência da vida de sujeitos distintos” (AMARANTE, 2003a, p.53).
Amarante (2003a; 2003b) evidencia quatro dimensões na Reforma
Psiquiátrica: teórico-conceitual ou epistemológica, técnico-assistencial, jurídico-
político e sócio-cultural. A dimensão teórico-conceitual ou epistemológica contempla
o conjunto de questões que dizem respeito à produção de conhecimentos e saberes
que irão subsidiar as práticas. É uma dimensão que contempla reflexão dos
conceitos mais fundamentais do campo das ciências até os conceitos produzidos
pela psiquiatria: alienação, doença mental, terapêutica e cura.
A dimensão político-jurídica passa pela criação e alterações na legislação
com relação aos direitos e à assistência à pessoa com transtornos mentais. A
importância de revê-la no âmbito jurídico decorre do fato de que a psiquiatria instituiu
a noção de relação entre loucura e periculosidade, incapacidade, irresponsabilidade
civil. Na dimensão política luta-se pela extinção dos manicômios e sua substituição
por instituições abertas, revisão de legislações sanitárias, civil e penal referente à
doença mental, para possibilitar o exercício dos direitos à cidadania, ao trabalho e à
inclusão social (AMARANTE, 2003a).
A dimensão técnico-assistencial inclui as inovações nas práticas assistenciais
em saúde mental, construindo uma rede de novos serviços concebidos como
espaços de sociabilidade, de trocas, em que se enfatiza a produção de saúde como
produção de subjetividades. Finalmente, a dimensão sócio-cultural se refere à
necessidade de transformar a concepção de loucura no imaginário social,
transformando as relações entre a sociedade e loucura; nisto consiste o objetivo
maior da reforma psiquiátrica (AMARANTE, 2003a).
37
A política de saúde mental no Brasil atualmente compõe-se de programas,
ações e estratégias a fim de efetivar o movimento de reforma psiquiátrica, entre eles
24 Hospitais-dia, Programa de Volta para Casa em que 2.519 pessoas recebem
auxílio-reabilitação, Programa Permanente de Formação de Recursos Humanos
para a Reforma Psiquiátrica, Estratégia de Atenção para Transtornos Associados ao
Consumo de Álcool e Drogas e Ações de Intersetorialidade. Estas últimas englobam
a saúde mental para infância e adolescência, inclusão social pelo trabalho, saúde
mental e direitos humanos, saúde mental e intervenção na cultura, saúde mental na
população negra, saúde mental e gênero, manicômios judiciários, atenção às
urgências, estratégia nacional de prevenção ao suicídio, epilepsia e atenção básica
e Brasil sem homofobia (BRASIL, 2004a; 2007).
Dados do Ministério da Saúde demonstram que, em 2006, o país dispunha de
1.011 CAPS (430 CAPSI, 320 CAPSII, 37 CAPSIII, 75 CAPSi e 138 CAPSAd), 457
Serviços Residenciais Terapêuticos, 862 Ambulatórios de Saúde Mental e 60
Centros de Convivência e Cultura distribuídos nas cidades de Belo Horizonte,
Campinas e São Paulo (BRASIL, 2006).
Assim, o Movimento da Reforma Psiquiátrica que vem acontecendo no Brasil
prioriza a reinserção da pessoa com transtorno mental na sociedade, mediante
políticas de saúde que visam diminuir o número de leitos em hospitais psiquiátricos e
o tempo de internamento, estimular o convívio da pessoa com doença mental e sua
família e criar rede de assistência (BRASIL, 2001).
2.3.1 A reforma psiquiátrica no Paraná e seus antecedentes históricos
Em relação à história de psiquiatria no Paraná, em 1909 foi inaugurado o
primeiro hospital psiquiátrico em Curitiba, denominado “Asilo Nossa Senhora da Luz”
o qual atendia a população excluída da sociedade (MAFTUM et al.; 2006). Até a
década de 1950 havia hospitais psiquiátricos somente na capital.
Conforme Mello Neto, psiquiatra na cidade de Ponta Grossa, passado meio
século da inauguração do asilo no Estado do Paraná ainda não era oferecido uma
assistência psiquiátrica de qualidade. Ele relata ao ler um artigo, sem assinatura, no
jornal curitibano “A República”, de 25 de novembro de 1891, que constava a
38
seguinte referência: “ali num pequeno espaço encerrados como animais imundos,
amontoados sem um conforto sequer, pobres loucos, abandonados, definham e
morrem!” (PONTA GROSSA, 1995, p.17).
Em 02 de maio de 1944, o médico psiquiatra Arnaldo Gilberti realizou os
primeiros atendimentos em saúde mental, inaugurando o Primeiro Ambulatório de
Saúde Mental da rede pública estadual, localizado em Curitiba. Em sua
homenagem, o dia 2 de maio foi estabelecido como “Dia Estadual da Saúde Mental”,
pela Resolução CES/PR n.15, de 13 de setembro de 2000. Somente em 1976 este
ambulatório passou a denominar-se Centro Psiquiátrico Metropolitano (CPM)
transformando-se em Serviço de Pronto-Atendimento, como primeira tentativa de
ordenar e regulamentar as internações locais e constituindo-se na porta de entrada
da assistência psiquiátrica do estado (PARANÁ, 2000; FONSECA, 2004).
A reforma psiquiátrica no Paraná foi regulamentada pela Lei Estadual n.
11.189, de 09 de novembro de 1995, de autoria do Deputado Estadual Florisvaldo
Fier, médico pediatra, conhecido como Doutor “Rosinha”. Esta Lei dispõe sobre as
condições para internações em hospitais psiquiátricos e estabelecimentos similares
de cidadãos com transtornos mentais e foi elaborada seguindo os pressupostos do
Decreto n. 3.657/89, de autoria do Deputado Paulo Delgado (PARANÁ, 1995).
Em 1997 ocorreu a I Conferência Municipal de Saúde Mental de Curitiba com
o tema “Construindo um modelo de atenção à saúde mental em Curitiba” e, em
outubro de 1992 e agosto de 2000 respectivamente a II e III Conferências Estaduais
de Saúde Mental, realizadas pelo Conselho Estadual de Saúde (MAFTUM, 2004).
Atendendo ao preconizado pela Reforma Psiquiátrica a Secretaria Municipal
de Saúde de Curitiba em conjunto com a Associação Arnaldo Gilberti, organização
não governamental, em 2002 inaugurou a primeira residência terapêutica do Paraná,
denominada pela portaria n. 106, do Ministério da Saúde, de 11 de fevereiro de
2000, de Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs). Pacientes, antes internados
com a média de 20 anos, começaram a exercer seus direitos de cidadão (BRASIL,
2000; MAFTUM, 2004). Estas residências o destinadas a pacientes de longa
permanência de internação, mais de dois anos, e que não tiveram condições de
voltar a conviver com sua família. Eles são preparados para realizar atividades
básicas do cotidiano, como higienizar-se, vestir-se, alimentar-se, fazer compras,
tomar ônibus, entre outras, que permitem o resgate da sua condição de cidadãos.
Nestas residências moram em torno de cinco a oito pessoas que são
39
supervisionadas e atendidas por um cuidador. Estes serviços integram o Programa
de Reinserção Social de acordo com a reforma psiquiátrica (BRASIL, 2000;
AMARANTE, 2003a; MAFTUM, 2004).
A Política Estadual de Saúde Mental segue os princípios e diretrizes do SUS:
universalização do acesso, integralidade da atenção, eqüidade, participação e
controle social, descentralização da gestão, hierarquização dos serviços; respeita as
diretrizes da Reforma Psiquiátrica Brasileira de inclusão social e de habilitação da
sociedade para conviver com a diferença e as Leis Federais: Lei n. 10.210, de 06 de
abril de 2001, Lei n. 10.708, de 31 de julho de 2003 e Lei Estadual n. 11.189, de 09
de novembro de 1995, que garantem os direitos de pessoas com transtornos
mentais e priorizam a construção de uma rede de atenção integral. Preconizam a
reestruturação do cuidado em saúde mental com prioridade ao atendimento
ambulatorial e promoção à saúde mental, através das ações básicas de saúde e
integração com a comunidade. Destacam-se: ações de saúde mental na
comunidade, unidades básicas de saúde, ambulatórios de saúde mental, núcleos e
centros de atenção psicossocial, hospitais-dia, leitos psiquiátricos em hospitais
gerais e hospitais psiquiátricos e serviços residenciais terapêuticos, destacando
ainda a saúde mental infanto-juvenil e ações de redução de danos no uso álcool e
drogas (PARANÁ, 2006).
Dados do Programa Estadual mostram os avanços na área de saúde mental no
Paraná, em que o cenário atual está composto por 17 hospitais psiquiátricos com
2648 leitos, sendo que destes 280 públicos, 1746 privados e 622 filantrópicos; dois
hospitais gerais com 277 leitos destinados à psiquiatria e 34 hospitais-dia. A média
de permanência nos hospitais psiquiátricos é de 32,9 dias, conforme preconiza a
política nacional de saúde mental. No Paraná, a maioria das internações é de
pessoas do sexo masculino e de faixa etária entre 35 e 44 anos (PARANÁ, 2006).
O quadro a seguir demonstra o aumento dos dispositivos de atenção à saúde
mental no Estado se comparados aos dados mencionados por Maftum (2004) em
sua tese de doutorado.
40
DISPOSITIVOS DE ATENÇÃO À SAÚDE
MENTAL
2004 2006
Hospitais Psiquiátricos 19 17
Leitos hospitalares 4.776 2.648
Hospitais Dia – HD 5 34
Centros de Atenção Psicossocial - CAPS 15 42
Serviços Residenciais Terapêuticos – STRs 2 Residências
1 Casa progressão
23
Associações de Usuários e Familiares 8 13
QUADRO 1 – CENÁRIOS DO PROGRAMA DE SAÚDE MENTAL DO ESTADO DO
PARANÁ EM 2004 E 2006
FONTE: O autor (2007)
A criação dos serviços extra-hospitalares tem aumentado gradativamente. O
Estado possui 54 ambulatórios de saúde mental, 12 CAPSI, 15 CAPSII, 01 CAPSIII,
05 CAPSi e 09 CAPSad, totalizando 42 centros de atenção psicossocial. Possui 23
serviços residenciais terapêuticos (SRTs) com 135 moradores. Embora a política de
saúde mental preconize a criação de centros de convivência e cultura, estes ainda
se encontram restritos a alguns grandes centros, sendo que o Paraná não possui
este dispositivo. Existem várias associações de usuários e familiares, sendo a mais
antiga, a Associação Arnaldo Gilberti, primeira entidade filantróprica do Paraná a
realizar um trabalho com pessoas da área de Saúde Mental. Criada em 1994, por
iniciativa de profissionais, pacientes e familiares de pacientes em tratamento, a
Associação tem como objetivo combater tanto o preconceito da sociedade em
relação às pessoas com transtornos mentais como também o preconceito que essas
pessoas têm em relação aos seus próprios problemas (BRASIL, 2006).
O processo de transformação da assistência psiquiátrica necessita ir além de
abolir muros, técnicas, rotinas inflexíveis ou espaços fechados. É importante que
cada profissional procure repensar suas concepções acerca da pessoa com doença
mental e da própria doença mental com vistas a cuidado humanizado.
2.4 O CUIDADO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL
A enfermagem em saúde mental tem, historicamente, sua prática
essencialmente pautada no modelo hospitalocêntrico, visualizado na figura do
41
manicômio e asilo como lugar de exclusão social e de estigmatização do doente,
não com vistas a atender a pessoa em seu sofrimento, mas com a finalidade de
vigiar e punir os seus atos (MIRANDA, 1994; MAFTUM, 2004).
No Brasil, a enfermagem psiquiátrica nasceu não exatamente com a
finalidade de melhorar a assistência e o cuidado à pessoa com transtorno mental,
mas para viabilizar a organização e execução da prescrição médica no hospício
(MIRANDA, 1994). O trabalho de nesta área foi realizado até há poucas décadas por
pessoas sem formação geral e/ou específica. Tratavam-se normalmente de pessoas
leigas, ex-pacientes, serventes dos hospitais e irmãs de caridade. Neste enfoque, o
cuidado psiquiátrico resumia-se à vigilância e repressão dos comportamentos
inaceitáveis, muitas vezes em uma relação de poder e subalternidade com os
doentes, impondo-lhes maus tratos, o que marcou negativamente a imagem da
enfermagem psiquiátrica (COSTA, 2002).
Como em outros países, a enfermagem no Brasil imperial foi exercida pelas
irmãs de caridade, nas Santas Casas de Misericórdia, criadas pela Coroa
Portuguesa, destinadas ao cuidado de doentes, principalmente pobres. Os doentes
mentais eram guardados nos porões insalubres das Santas Casas, recebendo
cuidado de escravos e voluntários, sendo que era concedido o título de prático em
enfermagem a qualquer pessoa com pouca experiência no tratamento a enfermos
(MIRANDA, 1994).
A partir de 1930 começaram a surgir denúncias de maus tratos e protestos
médicos com o discurso aparentemente humanitário de que, sem médicos e
profissionais de enfermagem especializados, não se poderia proporcionar ao louco
um tratamento físico e moral condizente com sua doença (MIRANDA, 1994).
Com a inauguração do Hospício D. Pedro II, em 1852, estrutura-se o poder
disciplinar baseando-se no tripé: “isolamento com vigilância constante [...]”;
“organização do espaço [...]” e “alocação e recolhimento do louco nesses espaços
classificatórios”. O “enfermeiro” ocupava um lugar entre o guarda e o médico do
hospício, cabendo-lhe o papel de estabelecer entre o médico e o doente a “corrente”
do olhar vigilante. Para trabalhar na psiquiatria, era necessário que o enfermeiro
possuísse qualidades físicas de robustez e força, para o desempenho das funções
de vigilância ao doente mental (MIRANDA, 1994, p.87-9).
O despreparo dos enfermeiros e a ausência do estímulo para o trabalho
geravam nas suas relações com os alienados violência, luta e morte. Esse
42
desempenho violento e agressivo do enfermeiro, a quem coube por herança secular
o serviço das pequenas e cotidianas atrocidades do espaço asilar, como amarrar,
conter, gritar, ofender, proibir, aplicar medidas terapêuticas prescritas em nome da
falsa ordem, era repercussão da violência e agressividade próprias da organização
do hospício (MIRANDA, 1994; COSTA, 2005).
Nas tensões políticas e sociais do Brasil República, o Hospício D. Pedro II se
transformou, em 1890, no Hospício Nacional de Alienados passando a direção ao
psiquiatra Teixeira Brandão. Devido ao confronto entre a corporação médica,
amparada pelo Estado republicano e o poder clerical, as irmãs de caridade deixaram
o hospital e para solucionar a problemática da falta de pessoal em decorrência da
saída das irmãs, Teixeira Brandão trouxe “enfermeiras leigas” da França para
capacitar mão-de-obra. A deficiência de infra-estrutura no funcionamento
administrativo e assistencial do Hospício, por pessoal não qualificado, levou à
criação da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, em 27 de setembro de
1890, anexa ao hospital (MIRANDA, 1994, p.96; ROCHA, 1994; WAIDMAN, 1998).
Em 1902 Juliano Moreira assumiu a direção do Hospital Nacional de
Alienados e outorgou à Enfermagem o direito de controlar, punir, disciplinar e
reeducar o doente mental, estabelecendo a vigilância e o confinamento como
instrumentos de assistência (MIRANDA, 1994; ROCHA, 1994; WAIDMAN, 1998).
Apesar da criação de novos hospitais públicos e privados e do surgimento dos
primeiros ambulatórios, os profissionais de enfermagem continuaram a ser treinados
para desenvolver uma prática assistencial conforme as concepções e modelos
vigentes na época, perpetuando a maneira desumana de tratar o doente mental.
Para Leite (2002) a estrutura asilar hospitalar tem contribuído para a
destruição da autonomia, auto-estima, identidade, vínculos familiares e com a
sociedade e para a desvalorização da comunicação dos doentes mentais. Ser
internado em um hospital, para alguns, significava uma entrada sem qualquer
possibilidade de volta à sociedade. A partir de um diagnóstico de doença mental
todo o conteúdo da fala da pessoa era desconsiderado ou pouco valorizado pela
equipe de enfermagem; qualquer expressão da comunicação verbal ou não-verbal,
pelas suas atitudes ou manifestações de comportamento, era interpretada como
resultado dos sintomas de sua doença.
A partir de 1930, começou a surgir a necessidade de uma enfermagem
capacitada que acompanhasse os avanços nos tratamentos psiquiátricos da época.
43
Uma das atividades era acompanhar o médico na realização de terapias somáticas
como, por exemplo, a eletroconvulsoterapia, o choque insulínico, o malário e o
induzido pelo medicamento cardiozol e as psicocirurgias (MIRANDA, 1994; ROCHA,
1994; LEITE, 2002).
O ensino de enfermagem psiquiátrica naquela época era quase
exclusivamente teórico, com estudo das patologias e síndromes psiquiátricas. A
parte prática se resumia a visitas rápidas aos hospícios, as quais provocavam no
estudante, de um modo geral, “um verdadeiro pânico”, afastando qualquer
possibilidade de opção profissional posterior nessa área (MIRANDA, 1994, p.107).
A Enfermagem moderna surgiu no Brasil em 1923 com a Escola de
Enfermeiros do Departamento Nacional de Saúde Pública, no Rio de Janeiro, que
posteriormente recebeu o nome Anna Nery. Em seu primeiro currículo contemplava
a disciplina ”Arte da enfermeira em Doenças Nervosas e Mentais”, a qual era
ministrada com enfoque clínico da doença mental (MIRANDA, 1994, p.103).
Entre os anos de 1930 e 1950, com a influência da psicanálise e das novas
linhas de psiquiatria, a assistência asilar passou a receber críticas que se
intensificaram após a II Guerra Mundial, surgindo novas alternativas de tratamento,
como por exemplo, a comunidade terapêutica, a psicoterapia institucional e outras
anteriormente citadas. Nesta perspectiva, a enfermagem psiquiátrica começou a se
desenvolver como especialidade a partir da década de 1950, quando enfermeiros
dessa área passaram a se preocupar em definir seu papel no cuidado à pessoa com
transtorno mental (PEREIRA et al.; 1998). Salienta-se a contribuição da enfermeira
psiquiátrica norte-americana Hildegard Peplau que formulou a Teoria das Relações
Interpessoais em 1952, definindo como instrumento de ação a observação
sistemática das relações enfermeiro-paciente, valorizando a singularidade,
reciprocidade e ajuda mútua (VILLELA; SCATENA, 2004).
A ênfase da Teoria das Relações Interpessoais de Peplau é o cuidado de
enfermagem baseado no relacionamento terapêutico. Esse foi o primeiro modelo
teórico sistematizado para a enfermagem e veio contribuir na busca de explicações
sobre a loucura por meio dos discursos psiquiátrico e psicológico (WAIDMAN, 2002;
VILLELA; SCATENA, 2004).
Destaca-se ainda a Teoria das Relações Interpessoais desenvolvida pela
também enfermeira psiquiátrica norte-americana Joyce Travelbee, que consagrou a
relação pessoa a pessoa na profissão da Enfermagem. A autora fundamentou sua
44
teoria nos modelos teórico-filosóficos existencialista e humanista, enfocando a
relação do homem como ser existencial, que busca significado na sua vida e sofre
com isso (TRAVELBEE, 1979; GEORGE, 2000; VILLELA; SCATENA, 2004;
LEOPARDI, 2006).
No Brasil, a enfermeira Maria Aparecida Minzoni (1936-1981) demonstrou
preocupação com a humanização da assistência ao doente mental e baseou sua
atuação e produção teórica no processo interpessoal, contribuindo para o
crescimento da enfermagem psiquiátrica no cuidado, ensino e pesquisa. Atuou como
professora titular nessa área da enfermagem em Ribeirão Preto (USP) e, em sua
tese de livre docência, defendeu o relacionamento enfermeira e paciente como
potencial de mudança na busca do cuidado humanitário (KANTORSKI et al.; 2005).
Verifica-se que, nas décadas de 1960 e 1970, o predomínio da assistência de
enfermagem era hospitalocêntrica, principalmente devido ao surgimento e expansão
dos fármacos e da rede hospitalar privada (LEITE, 2002).
Acompanhando os movimentos de transformação da psiquiatria, transforma-
se também a prática da enfermagem desta área. Os conceitos que mais
influenciaram esta prática foram os da psiquiatria social, que tem a ênfase no
relacionamento com o paciente, na criação e manutenção de ambiente terapêutico e
na ampliação do campo da enfermagem para o contato com o paciente, família e
comunidade (ROCHA, 1994).
O Movimento da Reforma Psiquiátrica suscita nos profissionais de
enfermagem uma nova forma de conceber a doença mental e seu tratamento. Esse
processo de desconstrução/reconstrução permite repensar conceitos sobre a
loucura, as formas de lidar com o sofrimento mental, os papéis dos profissionais e a
necessidade de outras práticas sociais incluindo a pessoa com transtorno mental e
familiares em busca de uma assistência integral, pautada em uma ideologia de
cidadania e ética (VILLELA; SCATENA, 2004).
As idéias de humanistas que influenciam a assistência em saúde mental vêm
contribuindo para um novo direcionamento do cuidado de enfermagem, privilegiando
outras formas de tratamento e prevenção além do hospital, objetivando o resgate da
cidadania e a inserção da saúde mental em outros programas e instituições de
saúde, enfatizando o trabalho multiprofissional e interdisciplinar (MAFTUM, 2004).
A enfermagem passa a atuar em diferentes dispositivos terapêuticos, como
por exemplo, nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Hospitais Dia (HD),
45
Unidades Básicas de Saúde (USB), Unidades de Saúde da Família/Programa Saúde
da Família. Essas mudanças vêm influenciando também o tempo de permanência/
internação da pessoa com transtorno mental que, no modelo hospitalocêntrico em
geral ultrapassava oito meses, um ano ou mais.
Quanto ao tempo de internação referido, pode-se dizer que se trata de um
cenário otimista. Isto porque encontramos referências na literatura de que,
anteriormente ao modelo atual de atenção à saúde mental, o tempo médio de
internação era de 25 anos, sendo que alguns destes pacientes não tinham nenhuma
possibilidade de alta, permanecendo na instituição até a morte. Essa situação
decorria não pela gravidade do transtorno mental, mas pela qualidade ou falta de
planejamento terapêutico, o que acontecia na maior parte das instituições
psiquiátricas. Ressaltamos que, mesmo com o processo de reinserção social que
está acontecendo, ainda existe um número elevado de pacientes moradores,
denominados crônicos, nos hospitais psiquiátricos do Brasil (AMARANTE, 2003b;
MAFTUM, 2004; PARANÁ, 2006).
Os avanços atuais nas políticas públicas de saúde mental podem ser
observados em alguns programas municipais e/ou estaduais que preconizam a
internação como último recurso e não como primeiro atendimento e/ou início de
tratamento. Esses Programas estabelecem normalmente que a internação não
ultrapasse trinta dias, sendo que para aumento do tempo torna-se necessária uma
criteriosa e consistente avaliação dessa necessidade pela equipe de saúde, a ser
apresentada ao programa, quando este avaliará a solicitação e concederá ou não a
prorrogação mediante Autorização de Internação Hospitalar (AIH) (MAFTUM, 2006).
Desta maneira, é importante que a equipe de saúde e, em especial o
enfermeiro, tenha conhecimento profundo quanto ao Movimento da Reforma
Psiquiátrica como superação do modelo de atenção à saúde mental tradicional,
rumo à construção de uma nova cultura do cuidado. Evidencia-se a necessidade de
que os profissionais atuem como elementos terapêuticos no cuidado, sustentados
em conhecimentos teóricos e práticos, associados à capacidade de relacionar-se
com as pessoas portadoras de transtorno mental contribuindo para o resgate da sua
cidadania e maior independência possível. Neste sentido, é preciso um despertar
para transformações no saber-fazer em saúde mental.
As concepções e práticas de saúde no enfoque da Reforma Psiquiátrica não
comportam mais uma concepção fragmentada do sujeito, visualizando somente a
46
doença. Antes, suscita a compreensão de sujeito-cidadão para a pessoa com
transtorno mental, sustentado em uma reflexão ética. Corroborando essas idéias
Costa (2002, p.62), ao criticar o modelo tradicional da assistência psiquiátrica, diz
faz-se necessário conjugar o verbo cuidar com a reforma psiquiátrica,
modificando qualificativamente a assistência prestada nos hospitais
psiquiátricos, incrementando novos projetos para o atendimento aos
pacientes considerados graves, conjugando no mesmo espaço o
tratamento e a reabilitação biopsicossocial e consolidando os cuidados a
partir da subjetividade, ética e humanização.
A enfermagem é uma profissão que lida e interage com o ser humano e para
oferecer um cuidado efetivo deve conhecê-lo nas suas dimensões física, psicológica
e espiritual. Portanto, a relação de cuidado envolve sentimentos, sendo necessário
que o profissional tenha disposição para conhecê-los (WALDOW, 1998).
Ao cuidar da pessoa em saúde mental, é necessário fazê-lo acolhendo e
compreendendo o seu sofrimento e o que representa para ele estar em uma
condição tão específica, bem como as conseqüências de conviver com o transtorno
mental (ROCHA, 1994; COSTA, 2005).
O enfermeiro deve procurar promover o relacionamento entre os
componentes da equipe de enfermagem para que os mesmos possam respeitar a
pessoa com transtorno mental como ser humano único (TRAVELBEE, 1979). Por
isso, o privilégio de uma relação interpessoal efetiva se estende a todos os
envolvidos, desde a pessoa com transtorno mental, sua família, enfermeiros,
técnicos e auxiliares de enfermagem e demais membros da equipe de saúde bem
como trabalhadores administrativos, de apoio e manutenção.
A enfermagem psiquiátrica se constitui em um processo interpessoal, pois
sempre se ocupa de pessoas no qual o enfermeiro planeja as interações de maneira
consciente, usando a habilidade da comunicação para o estabelecimento desta
relação (TRAVELBEE, 1979). Neste sentido, a comunicação é elemento
fundamental para o cuidado. O conteúdo da comunicação do paciente deve ser
valorizado a fim de estabelecer uma relação terapêutica e criação de vínculos, na
qual deve haver respeito recíproco e aceitação (ROCHA, 1994). O profissional de
enfermagem é o que está mais próximo do doente e família; para tanto, deve
desenvolver a competência de comunicar-se terapeuticamente, perceber e interagir
com o outro com a consciência da responsabilidade social de sua atividade
profissional (TRAVELBEE, 1979).
47
As mudanças ocorridas na história da saúde mental exigem maior percepção
das necessidades do paciente e entendimento mais profundo a respeito do que se
passa na sua vida. Deste modo, é importante procurar envolver a família e a
comunidade com o tratamento e a reabilitação dessas pessoas o que requer uma
prática de enfermagem diferenciada (WAIDMAN, 1998; MAFTUM, 2004).
Para transformar a estrutura tradicional de tratamento psiquiátrico ainda
predominante, tornam-se necessárias mudanças no modo de se relacionar com a
pessoa com transtorno mental e sua família, pois somente a organização de
programas e promulgação de legislações não garante mudanças efetivas. Faz-se
necessário, também, um trabalho com a população, no sentido de desmistificar a
loucura e mobilizá-la buscando transformar o imaginário social e a sua relação com
a pessoa com doença mental (AMARANTE, 2003a; RODRIGUES; SCÓZ, 2003).
Torna-se evidente a necessidade da inclusão de familiares como
coadjuvantes no tratamento, beneficiando não só a pessoa com transtorno mental,
mas a família como um todo. Os familiares precisam ser reconhecidos como agentes
fundamentais e serem incluídos de forma responsável no cuidado à pessoa com
transtorno mental. Assim, cabe ao enfermeiro apoiar, orientar e auxiliar os familiares
a encontrar soluções adequadas para lidar com o impacto gerado pelo transtorno
mental, que acarreta alterações na dinâmica familiar (MELLO, 2005).
Ressaltamos que a política nacional de saúde mental preconiza a participação
efetiva de familiares na assistência da pessoa com transtorno mental. Como
integrante da equipe multidisciplinar, o enfermeiro pode auxiliar na identificação e
atendimento das demandas de cuidado dos familiares, capacitando-os para exercer
suas funções. Para tanto, a família precisa sentir-se segura quanto à disponibilidade
do profissional em oferecer escuta e auxílio na resolução de seus problemas
(KANTORSKI et al.; 2000).
Portanto, é imprescindível que o enfermeiro procure, também, desenvolver
habilidades de trabalho em equipe, pois o tratamento, o cuidado, a reabilitação e a
reinserção psicossocial do paciente são responsabilidades de todos os profissionais
envolvidos indistintamente (LEITE, 2002).
O enfermeiro é, potencialmente, importante agente de mudança; entretanto
essa potencialidade estará diretamente relacionada à consciência de sua condição
pessoal, social e de seu papel de trabalhador inserido em um contexto social, como
cidadão, em um sistema político (SOUZA, 2003). Corroborando, Travelbee (1979)
48
salienta que enfermagem psiquiátrica deve ser exercida mediante a utilização
consciente da própria pessoa do enfermeiro. Entretanto, o fazer do enfermeiro
psiquiátrico ainda é vivido de forma paradoxal. De um lado procura diversificar seu
saber, definindo suas funções terapêuticas e de outro assume essencialmente
funções administrativas e de supervisão (OLIVEIRA; ALESSI, 2003).
Em seu estudo, Pitiá (1997) concluiu que as atividades do enfermeiro em
saúde mental concentram-se em afazeres burocráticos, além de constatar que este
considera o doente como intercorrência a ser resolvida. O estudo de Ribeiro (2005)
realizado com pacientes de unidade de clínica médica, cirúrgica e psiquiátrica,
corrobora o anterior, pois constatou que os profissionais de enfermagem realizavam
predominantemente atividades técnicas, evidenciando sua formação instrumental,
pois não era incluído o relacionamento interpessoal com os pacientes.
Devido à complexidade do papel terapêutico da enfermagem no cuidado à
pessoa nos serviços de saúde mental, observa-se a necessidade de o profissional
procurar desenvolver competências técnicas e relacionais, com atitudes éticas e
solidárias para com a pessoa que necessita de ajuda (LEITE, 2002).
O cuidado em saúde mental, portanto, deve ser realizado em uma perspectiva
humanista, criativa, reflexiva, considerando-o como essência da profissão e
compreendido como relação em um processo dinâmico. Neste sentido, as questões
relativas à assistência e cuidado à pessoa com transtorno mental devem se estender
à academia, à administração pública, às instituições prestadoras de serviços de
saúde, aos profissionais de saúde e educação bem como aos familiares e usuários
dos serviços de saúde mental (MAFTUM, 2004).
Concordando com as idéias anteriores destacamos o desafio do enfermeiro
em face das políticas de saúde mental, participando no planejamento de ações,
desenvolvimento de programas sociais, reformulação da assistência e construção de
referenciais teórico-metodológicos que colaborem para um cuidado efetivo em saúde
mental (KANTORSKI; MACHADO; OLIVEIRA, 2000).
A prática da enfermagem exige direcionamento, sistematização, organização
e embasamento científico (CARRARO, 1998). Neste sentido, um método para
construir o conhecimento de enfermagem é a identificação de conceitos relevantes,
que são elementos essenciais de teorias e servem como guias para fazer
observações do mundo empírico. Descrevem objetos, propriedades,
acontecimentos, significados e traduzem, em idéias e definições, as impressões que
49
apreendemos do ambiente. Ainda, são palavras que representam a realidade e
facilitam a nossa capacidade de comunicação com ela. O seu desenvolvimento é
uma consciência crítica e reflexiva do significado de um termo e é demonstrado pela
habilidade de aplicar o conhecimento em uma nova situação (GEORGE, 2000).
Compreendendo que o desenvolvimento de conceitos interligados, com seus
correspondentes e suas interrelaçoes apontam para um marco que referência a
prática, busquei instrumentalizar-me com uma base teórica procurando propiciar aos
participantes deste estudo repensar o seu cuidado em saúde mental.
2.5 A TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS DE JOYCE TRAVELBEE
A Teoria das Relações Interpessoais de Joyce Travelbee (1979; 1982), e os
conceitos eleitos pelos participantes a partir da discussão no primeiro encontro:
enfermagem, ser humano, saúde-doença, ambiente, equipe e relação interpessoal,
sustentam a discussão teórica deste estudo para a elaboração de um marco de
referência. Alguns dos conceitos são complementados com idéias de Stefanelli e
Carvalho (2005) e Peduzzi (2001). Porém, antes de discorrer a respeito dos mesmos
farei breve apresentação sobre a teórica.
Joyce Travelbee, enfermeira seguiu carreira como professora de enfermagem
psiquiátrica nos Estados Unidos, e 1969, e propôs a teoria de enfermagem Relações
Interpessoais com base em pressupostos do modelo humanista, existencialista e
interacionismo simbólico. O foco de sua teoria é a relação interpessoal entre
enfermeiro e paciente e enfatiza que, em uma relação, um dos seres humanos
necessita de ajuda e o outro a propõe. A relação enfermeira-paciente é a essência
do propósito da enfermagem e seu foco central a relação pessoa a pessoa, que tem
por objetivo ajudar o indivíduo ou família a enfrentar e compreender a experiência da
dor e sofrimento pela qual passa (TRAVELBEE, 1979; 1982).
Por ter formação em enfermagem psiquiátrica, a autora desenvolveu sua
proposição teórica, pressuspostos e conceitos voltados para essa área; entretanto,
explicita que esta teoria pode ser aplicada em diferentes contextos de cuidado.
Em sua teoria, Travelbee (1979; 1982) enfatiza os aspectos relativos à
capacidade das pessoas de enfrentar estresse por um período prolongado,
propondo a idéia de que sofrimento é uma experiência que ocorre em algum
50
momento de vida, particularmente diante da doença. Acrescenta que não se trabalha
com a pessoa doente como se manipula um objeto. O processo interpessoal requer
que a enfermeira possua conhecimento de si, humildade e coragem para identificar
e enfrentar com motivação os sentimentos pessoais na relação interpessoal.
Para Travelbee (1979; 1982) enfermeiro é a pessoa graduada que deve ser
capaz de aplicar um enfoque intelectual disciplinado para os problemas e tomar
decisões, não só deve saber como pensar, mas também, dominar os fatos,
princípios e conceitos com os quais se pensa, combinando estes elementos com a
capacidade de usar sua própria pessoa terapeuticamente para ajudar outras
pessoas, famílias e comunidade a resolver problemas de saúde.
O enfermeiro presta cuidado à pessoa com transtorno mental e sua família
com acolhimento genuíno da experiência de sofrimento, sem emitir julgamentos e
dar conselhos. Para esse cuidado são requeridos do enfermeiro conhecimentos e
habilidades desenvolvidos durante a sua formação acadêmica e qualificações
posteriores. O enfermeiro psiquiátrico possui funções e práticas para prevenir ou
conseguir um impacto corretivo/minimizador sobre a doença mental, aspirando
promover a saúde mental da pessoa, família e comunidade. Também, o enfermeiro
pode desenvolver sua prática com enfoque individual e coletivo, direta ou
indiretamente. Por possuir conhecimentos é um “facilitador capacitado para ajudar o
outro a ajudar a si mesmo e ajudar àquele que se encontra incapaz ou inábil para
ajudar a si próprio” (TRAVELBEE, 1979, p.5; 1982).
Para Travelbee (1979; 1982) a prática de enfermagem em saúde mental se
constitui em um processo que implica na observação disciplinada e aptidão para
desenvolver um cuidado com aplicação da teoria considerando o ser humano na sua
integralidade.
51
3 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo do tipo exploratório. A opção pela
abordagem qualitativa é por compreender que esta se preocupa com a identificação
de aspectos importantes do fenômeno de interesse, o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, correspondendo a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização das variáveis. Essa abordagem permite flexibilidade e utilização
da observação pelo pesquisador, possibilitando a interação com os atores
envolvidos em decorrência do envolvimento intenso e da permanência no campo por
longos períodos de tempo (MINAYO, 2004; POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
No estudo qualitativo a coleta e análise sistemáticas de materiais narrativos e
subjetivos ocorre mediante quatro processos intelectuais: a compreensão do que
está acontecendo, a síntese envolvendo a triagem dos dados, a teorização que é o
desenvolvimento de explicações para o fenômeno estudado e a recontextualização,
na qual há maior desenvolvimento da teoria de forma que seja explorada sua
aplicabilidade. “A análise qualitativa é facilitada por tarefas que ajudam a organizar
e controlar o conjunto de dados narrativos” (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004, p.361).
A pesquisa exploratória visa prover o pesquisador de um maior conhecimento
sobre o problema de pesquisa. É apropriada para a investigação na qual a
familiaridade e a compreensão do fenômeno por parte do pesquisador são
geralmente insuficientes. Também se destina a investigar a natureza complexa do
fenômeno e os outros fatores com os quais ele está relacionado e, ainda, “quando
uma nova área está sendo investigada” (MINAYO, 2004; POLIT; BECK; HUNGLER,
2004, p.34). Corroborando essas idéias, os estudos exploratórios permitem ao
investigador aprofundar o estudo de uma realidade específica, buscando
antecedentes, maior conhecimento para planejar e desenvolver uma pesquisa
descritiva. Permite ainda ao investigador delimitar ou manejar com maior segurança
uma teoria cujo enunciado resulta demasiado amplo para os objetivos da pesquisa
que tem em mente realizar (TRIVIÑOS, 1987).
52
3.1 CONTEXTO
Minha aproximação e inserção no campo deste estudo ocorreu, como
mencionado anteriormente, por meio das disciplinas Prática Docente e Vivências na
Prática Assistencial do Mestrado em Enfermagem. Durante estas disciplinas pude
vivenciar e conhecer um pouco a respeito do cuidado em saúde mental, das
relações estabelecidas entre a equipe de trabalhadores e pessoas com transtornos
mentais e suas famílias, do projeto terapêutico, do cotidiano de um hospital
psiquiátrico de internação integral desde questões administrativas até aspectos
técnicos; enfim, a dinâmica da instituição.
A partir dessa experiência, apresentei a proposta de estudo à diretora do
Hospital, com esclarecimento do que pretendia investigar e as possíveis
repercussões da mesma. Com a permissão por escrito e após aprovação do projeto
no Comitê de Ética e Pesquisa do Setor de Saúde da UFPR iniciei a entrada no
campo com o intuito de realizar o presente trabalho.
Deste modo, o local em que este estudo se desenvolveu foi um hospital
especializado em Psiquiatria, do tipo colônia, de internação integral, da rede pública
estadual, localizado no município de Pinhais. O hospital foi inaugurado em 05 de
junho de 1954, com capacidade máxima para 350 pacientes. Segundo informações
obtidas em um relatório da instituição a que tive acesso, em menos de dois anos
após sua inauguração, havia em torno de um mil e oitocentas pessoas internadas.
Importada do modelo alemão, a planta física com forma similar a de um avião, era
padrão para a construção de todos os hospitais da época, preconizada pela política
de assistência à psicopatas (termo utilizado nos documentos da época para se
referir à pessoa com transtorno mental) em vigor no Brasil.
Construídos distantes das cidades, os hospitais psiquiátricos do tipo colônia
atendiam à necessidade da sociedade de manter longe do seu convívio os
psicopatas, mendigos e excluídos. Desta maneira, independentemente da região
em que o hospital era construído, sendo o clima quente ou frio, a estrutura física
continha inúmeras repartições, paredes, portas e área externa denominada pátio, a
qual era protegida por muros altos para evitar a fuga dos internos.
Em relação à equipe de enfermagem, atualmente encontram-se funcionários
que atuam na instituição há 32 anos e foi por intermédio destes que conheci um
pouco da história do cuidado e da assistência como um todo. Relatam que em
53
meados de 1960, havia falta de comida, remédios e pessoas para trabalhar no
cuidado que basicamente consistia na administração de medicamentos. Os colchões
eram de palha e, devido à superlotação havia um verdadeiro “amontoado de
pessoas” em condições de higiene precárias. Não existia significativa qualificação
profissional e a enfermagem atendia principalmente o que se denominava
“emergências”, situações em que o paciente apresentava-se agressivo ou com
alguma complicação clínica. Pelo fato de o hospital se localizar distante da cidade,
alguns funcionários que trabalharam na sua construção foram treinados pelos
médicos e passaram a atuar no cuidado aos pacientes.
Nas décadas de 1970 e 1980 foram realizados no hospital “mutirões” com o
intuito de reinserir os pacientes internados de longa permanência à família e à
sociedade. Funcionários relatam que conseguir documentos de identidade e registro
geral para os pacientes constituiu-se em um árduo trabalho, pois alguns deles não
possuíam sequer registro de nascimento. Também foi difícil a obtenção de
informações a respeito da localização de familiares, visto que muitos pacientes
permaneciam internados há mais de um ano e alguns há até trinta anos.
Ricas foram as oportunidades em que pude conhecer um pouco da história do
hospital mediante fotos e leituras de registros feitos pelos funcionários em
prontuários, livros de ocorrência e diários de profissionais sobre o dia a dia de
trabalho de décadas passadas. Nestes documentos eram registrados como
funcionavam os “cubículos”, os atendimentos aos pacientes, a sala de cirurgia. O
hospital possui um mural com fotos da primeira neurocirurgia realizada no mesmo,
que foi uma lobotomia pré-frontal, fotos da sala de esterilização de materiais, da
cozinha e farmácia.
Procurando adequar-se à política nacional de saúde no que diz respeito à
reinserção social de pacientes com internação de longa permanência, há mais de
dois anos, o hospital vem, gradativamente, preparando-os para ocuparem os
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) de modo que atualmente, dispõe
somente de 240 leitos, dos quais 51 ainda são ocupados por pacientes moradores
na sua maioria idosos e com intenso comprometimento do quadro clínico geral.
Possui oito unidades de internação em funcionamento: quatro para tratamento de
pacientes com transtornos psiquiátricos agudos (três femininas e uma masculina);
duas para pacientes moradores (uma feminina e uma masculina); uma masculina
para tratamento de alcoolistas e drogaditos, denominada Unidade de Reabilitação
54
de Adictus (URA); e uma enfermaria clínica. Possui ainda as unidades para
internação de adolescentes, uma feminina e outra masculina, as quais estão
temporariamente desativadas.
Cada unidade possui organização própria e conta com equipe
multidisciplinar composta de médico psiquiatra, psicólogo, assistente social e
enfermeiro entre outros profissionais. Algumas das atividades desenvolvidas pelos
pacientes durante a internação são: coral, jogos, baile, videoteca, passeios pela
cidade, oficinas terapêuticas, oficina de produção, reciclagem, bordado, pintura,
confecção, culinária e biscuit. É realizado atendimento a familiares, individual e
grupal, pela equipe, no sentido de oferecer suporte e informações em como lidar
com a pessoa com transtorno mental, preparação para alta, orientação e co-
responsabilização da família em relação à continuidade do tratamento extra-
hospitalar e atividades sociais com familiares no Hospital.
O hospital possui, ainda, três casas, denominadas de “casas de passagem”,
localizadas nas proximidades do mesmo, sendo uma para pacientes moradores do
sexo masculino e duas para o feminino, que têm a finalidade de prepará-los para
posteriormente viverem nos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs). Nessas
casas de passagem são preparados para o resgate da sociabilidade e para conviver
em condições extra-hospitalares. Esses serviços respondem ao art. 5 da Lei n.
10.216, de 06 de abril de 2001, que discorre à respeito da reabilitação psicossocial à
pacientes com longo tempo de hospitalização e a Portaria n. 2.077, de 31 de outubro
de 2003, que define os critérios de inclusão de beneficiários no programa “De Volta
para Casa”, o fluxo de solicitação de inclusão dos usuários, a operacionalização do
pagamento do auxílio-reabilitação e as competências federal, estaduais e municipais
no referido programa (BRASIL, 2000; 2001).
De acordo com relatório anual de atividades desenvolvidas no hospital nos
anos de 2005 e 2006, as pessoas atendidas apresentaram os seguintes
diagnósticos médicos: transtornos de ansiedade, transtornos decorrentes de uso de
substâncias psicoativas, esquizofrenia, transtornos de humor (afetivo), transtornos
pós-parto. Atualmente, o tempo médio de permanência dos pacientes com
transtorno mental agudo é de 60 dias e, para os decorrentes do uso de substâncias
psicoativas é de 15 dias, sendo que a continuidade do tratamento deve ocorrer em
CAPS, Hospitais Dia e ambulatórios. Nos casos em que o paciente necessita de
consulta ou atendimento clínico e o problema não possa ser solucionado na
55
enfermaria clínica do hospital, ele é encaminhado aos hospitais clínicos conveniados
(PARANÁ, 2006).
A porta de entrada dos pacientes neste hospital ocorre por intermédio do
Centro Psiquiátrico Metropolitano (CPM), que após triagem, solicita internamento à
Central de Vagas. O hospital atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de
Saúde provenientes de cidades do interior do estado do Paraná e também da região
metropolitana de Curitiba. São pacientes que apresentam sintomas que
caracterizam algum transtorno mental como: alteração de conduta, depressão,
agitação psicomotora, agressividade, comportamento suicida e dependência
química, que não obtiveram resposta ao tratamento extra-hospitalar e possam vir a
oferecer riscos à integridade física para si e para os outros e materiais.
Em relação ao serviço de enfermagem existe um gerente de enfermagem e
nove enfermeiros administrativo-assistenciais e, na época da coleta de dados deste
estudo, um estava em licença para tratamento de saúde. Gerente de enfermagem é
um cargo de confiança da direção geral do hospital e os demais enfermeiros são
concursados pela Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (SESA). No turno de
trabalho diurno, os enfermeiros cumprem jornada de seis horas diárias e, no
noturno, doze horas. Diferentemente de outras instituições, o turno de trabalho se
inicia às 8 horas da manhã, sendo que um dos motivos é devido à sua localização,
distante da cidade, necessitando de transporte exclusivo para funcionários.
Existe em todos os setores da instituição um protocolo e manuais de
enfermagem, nos quais constam que as unidades possuem um enfermeiro de
referência para planejamento, organização e desenvolvimento das ações de
enfermagem de forma continuada/permanente; supervisão das unidades por
enfermeiros em período integral e reunião semanal de enfermagem para todos os
turnos de trabalho.
3.2 SUJEITOS DO ESTUDO
O contingente de recursos humanos do hospital é composto de 316
funcionários, apresentados no (QUADRO 2, p.59) a seguir, de acordo com suas
formações e cargos que exercem. Como mencionado na Introdução deste estudo, a
instituição há alguns anos vinha buscando, por intermédio da Diretora Geral e da
56
Coordenadora Técnica, estreitar as relações com a Universidade Federal do Paraná
(UFPR), pela aproximação com as atividades desenvolvidas pela docente
orientadora desta pesquisa, na ampliação da utilização do campo por estudantes de
enfermagem e de outras áreas da saúde. Também vinha solicitando à UFPR,
capacitações para os seus funcionários. Entretanto, como política da Instituição,
estas capacitações deveriam ser extensivas a todos os que ocupam cargos
administrativos, técnicos e operacionais com atuação na área de saúde mental, e
ainda à comunidade.
Inicialmente essa exigência causou-me incômodo e insegurança, pois tinha a
intenção de realizar um estudo com a equipe de enfermagem. Neste sentido,
comuniquei à Coordenadora Técnica, responsável pelo encaminhamento do projeto
no âmbito da instituição, que me pairavam dúvidas quanto a conseguir envolver
todos os trabalhadores da Instituição, haja vista que se tratava de uma proposta de
construir um marco de referência para subsidiar o cuidado de enfermagem. A esse
questionamento, a Coordenadora respondeu prontamente que considerava
importante que todos os trabalhadores conhecessem o trabalho da enfermagem e,
ao mesmo tempo, acreditava que poderiam se beneficiar porque a tendência
atualmente na área da saúde mental é a ênfase na concepção de equipe de
trabalhadores. Esta compreensão extrapola a noção ainda hegemônica do fazer
dicotomizado para cada categoria e, para tanto, é essencial a articulação entre
profissionais das diversas áreas de atuação, bem como o conhecimento de outros
trabalhadores a respeito dos saberes específicos de cada profissão, convergindo
para o efetivo trabalho em equipe. Nesta concepção, respeita-se o saber específico
de cada área profissional, compartilham-se ações que são inerentes à todas as
profissões e valoriza-se o conteúdo da fala de cada profissional e o que outros
trabalhadores trazem a respeito do paciente e de seu tratamento (ROCHA, 2005).
Desta maneira, todos os funcionários foram convidados a participar do estudo
por meio de divulgação nos murais da instituição, das reuniões de coordenadores de
equipe e divulgação verbal, o que resultou nos sujeitos do estudo apresentados no
(QUADRO 3, p. 60), de acordo com a formação e cargo.
57
QUANTIDADE
CATEGORIA
PROFISSIONAL
CARGO/FUNÇÃO
QUANTIDADE
CATEGORIA
PROFISSIONAL
CARGO/FUNÇÃO
10 Enfermeiro 01 Farmacêutico
01 Técnico em Enfermagem 09 Técnico Administrativo
38 Auxiliar de Enfermagem 61 Agente Operacional
73 Auxiliar de Saúde 02 Telefonista
01 Técnico de Saúde 06 Agente de Manutenção
20 Médico 01 Diretor
04 Terapeuta Ocupacional 04 Auxiliar Administrativo
06 Psicólogo 07 Motorista
04 Assistente Social 01 Diretor Administrativo
01 Fisioterapeuta 19 Segurança
02 Odontólogo 45 Copa e serviços gerais
QUADRO 2 – QUANTITATIVO DE FUNCIONÁRIOS DO HOSPITAL
FONTE: O autor (2007)
No (QUADRO 2) evidencia-se a diversidade de categoria profissional, cargos
e funções ocupados pelos funcionários. De acordo com informação do setor de
Recursos Humanos do Hospital, existe diferenciação de nomenclatura ao se referir a
alguns cargos e funções; por exemplo, o funcionário que exerce o cargo de auxiliar
de saúde na prática exerce a função de auxiliar de enfermagem; o que ocupa o
cargo de técnico de saúde exerce a função de técnico em enfermagem. Entretanto,
em conversas informais alguns funcionários relataram que haviam cursado o técnico
de enfermagem sem que houvesse adequação de seu cargo no quadro de
funcionários estaduais. Isto pode ter relação com o fato da instituição ser pública, na
qual os concursos acontecem esporadicamente e os funcionários, entre outros
motivos, permanecem no cargo que ingressaram na instituição.
58
ENFERMAGEM OUTROS PROFISSIONAIS OUTROS SERVIÇOS
Categoria
Profissional
Número
Participante
Categoria
Profissional
Número
Participante
Categoria
Profissional
Número
Participante
Enfermeiro 04 Terapia
Ocupacional
04 Copa 08
Enfermeiro
CMP
*
01 Psicólogo 04 Auxiliar
Operacional
06
Técnico em
Enfermagem
01 Assistente
Social
03 Auxiliar
Administrativo
02
Auxiliar de
Enfermagem
67 Médico 02 Técnico
Administrativo
01
Auxiliar de
Saúde
07 Fisioterapeuta 01 Auxiliar de
Manutenção
03
Telefonista
01
Motorista
02
Agente de
Apoio
10
Serviços
Gerais
17
Costura
03
Almoxarife
01
Auxiliar de
Laboratório
01
Segurança
01
Não informou
02
Total
participante/
categoria
80
14
58
TOTAL
GERAL
152
QUADRO 3 – CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DE ACORDO COM A FORMAÇÃO,
CATEGORIA PROFISSIONAL, CARGO E OCUPAÇÃO
FONTE: O autor (2007)
* Funcionário lotado no Complexo Médico Penal.
3.2.1. Caracterização dos participantes
A caracterização das pessoas que participaram dos encontros é apresentada
de acordo com idade e sexo, categoria profissional, tempo de formação, tempo de
atuação em saúde mental, tempo de atuação na instituição, campo do estudo e
experiência na área de saúde mental, por compreender que direta ou indiretamente
são fatores condicionantes e muitas vezes determinantes no cuidado em saúde
mental prestado na instituição.
59
O (QUADRO 4) a seguir evidencia o número de participantes de acordo com
idade e sexo.
IDADE DOS
PARTICIPANTES
MASCULINO FEMININO NÚMERO DE
PARTICIPANTES
20 - 30 anos 01 14 15
31 – 40 anos 02 11 13
41 – 50 anos 14 40 54
51 – 60 anos 08 43 51
61 – 70 anos 03 14 18
Não informou idade - 01 01
TOTAL PARTICIPANTES
28 123 152
QUADRO 4 – CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DE ACORDO COM IDADE E
SEXO
FONTE: O autor (2007)
Visualizando o (QUADRO 4) destaca-se que o maior contingente dos
participantes deste estudo é do gênero feminino, com idade entre 41 e 60 anos.
Alguns funcionários relataram que convivem na Instituição há mais de 30 anos, pois
por serem filhos de funcionários que residiam no Hospital ou nas suas proximidades,
freqüentavam a creche que havia para os filhos dos funcionários. Isto corrobora
vários autores que descrevem que, desde os primórdios de sua existência, a
enfermagem psiquiátrica e saúde mental têm suas atividades realizadas por
indivíduos leigos, ex-pacientes, serventes dos hospitais e posteriormente, pelas
irmãs de caridade (VILLELA; SCATENA, 2004).
TEMPO DE
FORMADO
NUMERO DE
PARTICIPANTES
TEMPO DE ATUAÇÃO
EM SAÚDE MENTAL
NÚMERO DE
PARTICIPANTES
9* meses - 10 anos 30 5** meses – 10 anos 30
11 anos – 20 anos 23 11- anos - 20 anos 23
21 – 30 anos 34 21 – 30 anos 55
31 – 40 anos 05 31 – 40 anos 13
Não responderam 60 Não responderam 31
TOTAL DE
PARTICIPANTTES
152 TOTAL DE
PARTICIPANTES
152
QUADRO 5 – CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DE ACORDO COM O TEMPO
DE FORMADO E TEMPO DE ATUAÇÃO NA ÁREA DA SAÚDE MENTAL
FONTE: O autor (2007)
* Tempo mínimo de formação.
** Tempo mínimo de atuação na área de saúde mental.
60
Os dados do (QUADRO 5) anteriormente descritos ressaltam que o tempo de
formado e tempo de atuação em saúde mental são proporcionais e predominam de
21 a 30 anos de atuação.
TEMPO DE ATUAÇÃO NA INSTITUIÇÃO NÚMERO DE PARTICIPANTES
5 meses – 10 anos 38
11 anos – 20 anos 27
21 anos – 30 anos 51
31 anos – 40 anos 18
Não informaram 18
TOTAL 152
QUADRO 6 – CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DE ACORDO COM O TEMPO
DE ATUAÇÃO NA INSTITUIÇÃO CAMPO DE PESQUISA
FONTE: O autor (2007)
O (QUADRO 6) demonstra que 69 (45,39%) dos participantes atua na
Instituição campo de estudo há mais de 21 anos, 65 (42,76%) de 5 meses a 20
anos, e 18 (11,85%) não informaram. Essa informação torna-se importante e justifica
a necessidade de proporcionar momentos para reflexão e discussão da prática do
cuidado em saúde mental, considerando que algumas das principais mudanças nas
legislações e política nacional de atenção à saúde mental têm acontecido
especialmente nos últimos 15 anos.
Em relação à experiência em saúde mental, anteriormente ao ingresso na
Instituição pesquisada, 25 (16,45%) pessoas informaram que atuaram em hospitais
psiquiátricos de Curitiba e região metropolitana, sendo que o tempo de atuação
variou de 6 meses a 30 anos. Dos participantes pesquisados, 117 (76,97%)
informaram que não tiveram experiência em saúde mental anteriormente ao trabalho
na instituição pesquisada e 10 (6,57%) pessoas não informaram.
Ao serem questionados se exerciam paralelamente a profissão em outra
instituição de saúde mental, 13 (8,55%) participantes responderam que sim, sendo
que o tempo de atuação concomitante variou entre um ano e seis meses até 28
anos; 129 (84,86%) pessoas responderam que não exercem atividade paralela em
outra instituição de saúde mental e 10 (6,57%) pessoas não responderam.
Quanto a trabalhar em outras instituições, 28 (18,42%) têm exercido
concomitantemente serviços que variam entre hospitais gerais, saúde coletiva,
61
ensino superior, hospitais dia, vigilância epidemiológica, massoterapia, ginecologia e
obstetrícia, neurocirurgia.
Em relação à pós-graduação, dos 18 profissionais de nível superior que
participaram deste estudo, 15 (83,33%) realizaram cursos em diferentes áreas:
Saúde Coletiva, Psicopatologia e psicanálise, Administração hospitalar, Enfermagem
do trabalho, Administração e Gerência em Serviços de Saúde, Gestão em políticas
sociais, Acupuntura, Controle de infecção hospitalar, Infância e violência doméstica,
Licenciatura, Pediatria e Medicina do Trabalho, Teologia na área da educação
religiosa, Família e políticas públicas. Destaco que cinco (27,77%) profissionais
realizaram especialização na área de Saúde Mental.
3.3 ASPECTOS ÉTICOS
Os aspectos éticos foram salvaguardados por meio do Consentimento formal
da Direção do Hospital (APÊNDICE A) e do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APÊNDICE B) de acordo com a Resolução n. 196/96, que trata de
pesquisa envolvendo seres humanos. Cada participante assinou o Termo após ter
sido esclarecido a respeito da finalidade e metodologia da pesquisa. Também foram
informados de que sua participação seria voluntária e não implicaria em ônus
financeiro, nem remuneração de qualquer espécie, sendo os ganhos subjetivos. Da
mesma forma foi garantido o respeito ao sigilo e anonimato dos sujeitos e das
informações tanto documentais quanto oriundas dos Encontros (BRASIL, 1996).
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de
Ciências da Saúde (UFPR) em reunião do dia 22 de novembro de 2006, Inscrição
CEP/SD: 404 SM 096-06-11; FR: 112506; CAAE 2035.0.000.091.0.
3.4 DESCRIÇÃO DO PROCESSO
Este trabalho está sustentado pela Metodologia Problematizadora, a qual
permite a participação ativa dos sujeitos e considera o seu contexto de vida, a sua
história e experiências, e respeita o ritmo de aprendizado de cada um.
62
3.4.1 Metodologia Problematizadora
A Problematização é um recurso metodológico e tem princípios teóricos e
filosóficos fundamentados no humanismo, na fenomenologia, no existencialismo e
no marxismo. O humanismo é compreendido como uma corrente filosófica que
coloca o homem e os valores humanos acima de todos os outros valores. O
postulado básico da fenomenologia adotado na metodologia da problematização é a
noção de intencionalidade da consciência humana, ao afirmar que o objeto só existe
para o sujeito que lhe dá significado e que a consciência do objeto se desvela
progressivamente e que não acaba nunca, tornado-se uma exploração exaustiva do
mundo. Pressupostos existencialistas se aproximam da metodologia da
problematização ao utilizar a crença de que o homem se constrói e que pode ser
sujeito e, quando integrado em seu contexto, reflete a respeito dele e com ele se
compromete na busca de realização de um trabalho de conscientização, num
processo de tomada de consciência crítica de uma realidade que se desvela
progressivamente. Por fim, o princípio do marxismo utilizado na metodologia da
problematização refere-se ao conceito de práxis como uma atividade transformadora
ao tornar possível a passagem da teoria à prática, consciente entre pensamento e
ação e intencionalmente realizada (VASCONCELOS apud BERBEL, 1999).
Desta maneira, a construção do Marco de Referência foi sustentada na
metodologia problematizadora que para Berbel (1999, p.10) trata-se de uma
verdadeira metodologia entendida como conjunto de métodos, técnicas,
procedimentos ou atividades intencionalmente selecionados e organizados
para a realização do propósito maior que é preparar o [...] ser humano para
tomar consciência de seu mundo e atuar também intencionalmente para
transformá-lo, sempre para melhor, para um mundo e sociedade que
permitam uma vida mais digna para o próprio homem.
Ainda para a mesma autora, pela metodologia da problematização
os participantes são levados a olhar a realidade e começar a pensar sobre
ela, perguntar-se pelas razões do que está acontecendo ali que lhes
parece problemático e continuar a pensar refletida e criticamente através
de todo o estudo que é realizado (BERBEL, 1999, p. 13).
A problematização tem como ponto de partida a realidade em que o sujeito
está inserido, em cujo cenário vários problemas podem ser vistos, percebidos ou
deduzidos e podem ser estudados em conjunto ou em pares. A observação da
63
realidade depende da visão de mundo e das experiências de vida podendo ser
diferentes de um observador para o outro (BORDENAVE; PEREIRA, 2002).
Bordenave e Pereira (2002) utilizaram um esquema de trabalho construído
por Charles Maguerez, denominado Método do Arco, que tem sido amplamente
utilizado por profissionais da área da saúde, principalmente da enfermagem, na
capacitação e formação de profissionais e na pesquisa (BERBEL, 1999).
O Método do Arco tem como ponto de partida a observação da realidade, de
maneira ampla, atenta, em que se busca identificar o que precisa ser trabalhado,
investigado, corrigido, aperfeiçoado. A partir dos aspectos verificados são eleitos
problemas a serem estudados. A segunda etapa é a identificação dos Pontos-
Chave, quando se define o que vai ser estudado a respeito do problema. A
teorização, terceira etapa do arco, é a investigação aprofundada dos pontos-chave
definidos. É nesta etapa que se incentiva leituras de pesquisas e estudos a fim de
buscar o esclarecimento da situação-problema. Depois do aprofundamento teórico,
com análise e discussão do problema caminha-se para a elaboração de
pressupostos ou hipóteses de solução, quarta etapa, quando os participantes do
estudo utilizam-se de sua criatividade para realizar alguma mudança no contexto
observado. A quinta etapa é a aplicação à realidade, que tem por finalidade a
transformação, mesmo que pequena, naquela parcela da realidade (BERBEL, 1998;
BERBEL, 1999; BORDENAVE; PEREIRA, 2002)
Para atender os objetivos deste estudo em face das características dos
sujeitos da pesquisa, conforme (QUADRO 2, p.59), optei pela realização de reuniões
de discussões, como técnica de coleta de dados, as quais neste trabalho foram
denominadas de “Encontros”. Esta estratégia permite a participação e o compartilhar
de ideais e experiências e a sua escolha ocorreu por permitir a discussão de temas
a respeito do trabalho em saúde mental do enfermeiro, dos demais membros da
equipe de enfermagem e sua interface com toda a equipe de trabalhadores.
Foram realizados quatro Encontros com oito grupos, totalizando 32,
organizados em: GRUPOS A.1, A.2, B.1 e B.2 para os trabalhadores do período
diurno; e GRUPOS C.1, C.2, D.1 e D.2 para os do noturno. Isso foi necessário a fim
repetir duas vezes cada Encontro para cada plantão, devido à escala de trabalho de
12 por 36 horas, de modo que uma parte dos profissionais de enfermagem se
ausentasse no seu dia de plantão e na semana seguinte a outra parte e assim
sucessivamente. Todos os Encontros aconteceram nas terças e quartas-feiras, entre
64
09 e 12 horas e 30 minutos para o período diurno e entre 20 horas e 30 minutos e 24
horas para o noturno, de acordo com agendamento e cronograma prévio, em sala
pré-determinada pela direção do hospital, conforme (QUADRO 7) a seguir.
GRUPOS
TERÇA-FEIRA QUARTA - FEIRA
ENCONTROS
A
1
B
1
C
1
D
1
A
2
B
2
C
2
D
2
1º encontro – diurno
1º encontro – noturno
1º encontro – diurno
1º encontro – noturno
A
1
B
1
C
1
D
1
A
2
B
2
C
2
D
2
2º encontro – diurno
2º encontro – noturno
2º encontro – diurno
2º encontro – noturno
A
1
B
1
C
1
D
1
A
2
B
2
C
2
D
2
3º encontro – diurno
3º encontro – noturno
3º encontro – diurno
3º encontro – noturno
A
1
B
1
C
1
D
1
A
2
B
2
C
2
D
2
4º encontro – diurno
4º encontro – noturno
4º encontro – diurno
4º encontro – noturno
QUADRO 7 – DISTRIBUIÇÃO DOS ENCONTROS PARA A CONSTRUÇÃO DO MARCO
DE REFERÊNCIA PARA SUBSIDIAR O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
FONTE: O autor (2007)
Nos Encontros vivenciei com os participantes as cinco etapas do Método do
Arco de Charles Maguerez. No primeiro e no segundo foram feitas a pactuação da
metodologia, esclarecimentos e realização da primeira e segunda etapas do método:
observação da realidade, levantamento da situação-problema e definição dos
pontos-chave. No terceiro e quarto Encontros vivenciamos (pesquisadora e sujeitos
do estudo) a terceira, quarta e quinta etapas do Arco: teorização, levantamento de
pressupostos ou hipóteses de solução e aplicação à realidade.
3.4.2 Planejamento e organização dos Encontros
O início deste processo deu-se pelo planejamento, preparação dos materiais
e do ambiente para os Encontros. Os dias que antecederam o primeiro Encontro
foram de intensas expectativas, ansiedade e preocupação em conseguir despertar
interesse e motivação dos participantes para alcançar o objetivo proposto. A
65
responsabilidade de me inserir em uma Instituição e me comprometer com o
trabalho lembraram-me a afirmação de Antoine de Saint-Exupéry (1982, p.109) na
obra O Pequeno Príncipe, “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que
cativas”. Contudo, a inserção na Instituição era facilitada pela atitude colaborativa da
coordenadora técnica da mesma, que apoiou amplamente a realização deste
trabalho, compreendido pelos dirigentes como oportunidade de capacitação.
Prontamente foi providenciado pela Instituição sala, lanches, materiais de apoio,
divulgação dos Encontros nos quadros murais, nas reuniões de equipe e no convite
direto encaminhado às unidades de internação e administrativas, entre outros.
Antes de iniciar o primeiro Encontro, com o grupo A1, que foi sucedido de
outros sete (A2, B1, B2, C1, C2, D1, D2), certifiquei-me se o material a ser utilizado
estava completo: projeto de pesquisa, cópias do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, instrumento de caracterização dos participantes, pincéis atômicos,
canetas, cartolinas e papel sulfite colorido, material para gravar em fitas K7, lâminas
de transparências, arquivos gravados em CD, bloco de anotações, lanches e doces,
fitas adesivas, mensagens impressas de acolhimento e com imagens, entre outros.
O auditório, local determinado para a realização dos Encontros é amplo,
porém possui quadro branco à frente, mesa de reuniões e várias cadeiras do tipo
bancadas, unidas umas às outras, o que dificultou organizá-las em círculo e/ou em
grupos de trabalho como previa inicialmente em uma proposta sustentada em
estratégias problematizadoras. Ao chegar ao Hospital, a coordenadora técnica e um
auxiliar de enfermagem, gentilmente, ofereceram-se para auxiliar no que fosse
necessário, incluindo a instalação de retroprojetor e datashow, na organização dos
materiais e nos lanches para os próximos Encontros.
Distribuí pranchetas com papéis sulfite coloridos, Termo de Consentimento,
instrumento de caracterização e canetas a cada participante para o desenvolvimento
das atividades. Utilizei crachás porque além de facilitar a identificação dos
presentes, favorecia a valorização da sua presença ao chamá-los pelo nome.
Os participantes chegavam ao auditório e, com a colaboração da orientadora
deste estudo e da coordenadora técnica da Instituição, eram acolhidos. O número de
participantes nos grupos aconteceu de modo irregular, pois a presença estava
relacionada à sua disponibilidade em se ausentar do local de trabalho e da
coincidência de seu plantão. Isso decorreu devido ao fato de que no período
matutino há maior número de funcionários na instituição e, no noturno, este número
66
ser reduzido, bem como à dinâmica das unidades de internamento que, em
decorrência de situações imprevistas relacionadas ao paciente ou a própria equipe,
como faltas e licença para tratamento.
Pelos motivos explicitados anteriormente, não foi possível manter a
participação regular dos componentes dos grupos em quantitativo e nem com as
mesmas pessoas. Isto ocorreu por conferir-lhes a liberdade de participar conforme a
disposição de se ausentarem da unidade em que trabalham. Entretanto, ressaltei-
lhes a importância de que independentemente do horário e do dia, todos deveriam
participar dos quatro Encontros, pois se tratava de um processo de construção com
uma organização seqüencial, que resultaria na construção do marco de referência.
Pareceu-me estranho o comportamento da maioria dos funcionários que se
referiam ao pesquisador como professor, perguntavam sobre as aulas, sentavam-se
nas cadeiras aguardando o início das mesmas. A denominação Aula era dada pela
coordenação técnica e referida pelos participantes, mesmo após os esclarecimentos
de que se trataria de uma construção em equipe. Entretanto, não era isso o
esperado por mim, pois havia organizado uma proposta metodológica em que o
compartilhar idéias seria crucial para a sua concretização a partir da realidade de
trabalho e das experiências de vida pessoal e profissional.
No item seguinte descrevo a trajetória percorrida neste estudo de acordo com
as etapas do Método do Arco de Charles Maguerez.
67
4 TRAJETÓRIA PERCORRIDA
4.1 PRIMEIRA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: OBSERVAÇÃO DA REALIDADE E
ELABORAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA
No primeiro Encontro apresentei os objetivos e metodologia do trabalho,
esclareci que se tratava de uma dissertação de mestrado e que para atender às
exigências éticas seria necessário o cumprimento de alguns aspectos incluindo a
assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido. Informei que a
participação nos Encontros não estava vinculada à assinatura do Termo, mas às
questões de ordem administrativa da Instituição.
Para realizar a etapa inicial do Método do Arco, a observação da realidade,
utilizei recursos audiovisuais, busquei sensibilizar os participantes e, para tanto,
argumentei a respeito do modo como desenvolvem o cuidado prestado pela equipe,
quem recebe o cuidado, como é trabalhar em equipe. Discorri ainda a respeito de
teorias de Enfermagem, como a mesma se constitui, o que é marco de referência,
destaquei alguns conceitos inerentes à prática da Enfermagem e extensivos a todos
os trabalhadores de saúde mental que podem influenciar o cuidado desenvolvido por
eles. Dentre os conceitos, trouxe à reflexão: Enfermagem, Enfermagem psiquiátrica,
ser humano, saúde e doença, ambiente, equipe, relação interpessoal e
comunicação. Percebi que os participantes foram estimulados a realizar reflexões
concernentes à prática na Instituição, dentro do seu campo de atuação e a
expressar suas percepções pessoais. Na seqüência expus minha inquietação inicial,
que foi validada pelos participantes ao relatarem que sentiam a necessidade e
importância da discussão de conceitos que sustentassem o cuidado em saúde
mental. Neste momento identificou-se a situação-problema, qual seja a construção
do marco de referência vencendo a primeira etapa do Arco.
Esse mesmo movimento ocorreu comigo na ocasião das vivências das
disciplinas do mestrado já referidas neste estudo, em que aproximei-me da realidade
de trabalho da enfermagem e da equipe de trabalhadores do hospital, o que se
constituiu em motivação para o desenvolvimento deste trabalho. A observação da
realidade ensejou-me a identificação de uma situação problema a ser investigada, a
construção do marco de referência, a primeira etapa do método do Arco.
68
4.2 SEGUNDA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: DEFINIÇÃO DOS PONTOS-
CHAVE
A segunda etapa teve a finalidade de identificar os pontos-chave que
sustentariam a resolução da situação-problema. Deste modo os participantes
consideraram como relevantes, para sua prática, os conceitos: enfermagem, ser
humano, saúde-doença, ambiente, equipe e relação interpessoal.
Para mim como pesquisadora, a segunda etapa do Arco se constituiu na
reflexão da situação-problema identificada e passei a me questionar de que modo
eu, como enfermeira, poderia contribuir para a realização de efetivo cuidado em
saúde mental na instituição campo de estudo. Essa reflexão me direcionou à
identificação dos Pontos-Chave a serem estudados com vistas à solução da
situação problema: história da psiquiatria e modos de tratamento; transformações na
política de saúde mental; concepções e conceitos atuais de saúde, doença,
tratamento; teoria de enfermagem e conceitos que considerei importantes para o
embasamento do cuidado em saúde mental.
4.3 TERCEIRA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: TEORIZAÇÃO
A partir desta etapa apresento os dados que emergiram dos Encontros com
os trabalhadores de saúde mental do hospital campo deste estudo. Inicialmente
descrevo o processo de discussão dos conceitos eleitos pelos participantes:
enfermagem, ser humano, saúde-doença, ambiente, equipe e relação interpessoal,
que ocorreu na terceira etapa do método do Arco – teorização. Na seqüência,
apresento o marco de referência para o cuidado em saúde mental construído pelos
participantes que se desenvolveu na quarta e quinta etapas do método do Arco,
respectivamente hipótese de solução e aplicação à realidade.
Na terceira etapa do método - teorização, devido à pluralidade da composição
dos sujeitos, para a discussão do conceito de enfermagem utilizei dois tipos de
frases afirmativas incompletas. Para os profissionais de enfermagem, a frase foi:
Enfermagem para mim é... , e para os demais participantes: percebo o trabalho de
Enfermagem... Os outros conceitos considerados pelo grupo como importantes para
69
a prática de todos os trabalhadores em saúde mental foram problematizados de uma
única maneira: ser humano para mim é..., saúde e doença para mim é..., equipe
para mim é..., ambiente para mim é..., relação interpessoal para mim é.... Para que
os participantes problematizassem os conceitos a partir das frases incompletas,
distribuí papel sulfite para cada um deles, sendo que para a equipe de enfermagem
os papéis eram de cor verde; para demais técnicos/profissionais (psicólogos,
médicos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, farmacêuticos) de cor
amarela e, para os outros funcionários (telefonista, agente de manutenção, copa e
serviços gerais, assistentes administrativos), de cor rosa.
Esta terceira etapa do Arco se desenvolveu em dois momentos, Processo de
Construção Individual e Processo de Construção Grupal, os quais descrevo a seguir:
4.3.1 O processo de construção individual
Para desenvolver as atividades desta etapa, cada participante recebeu uma
prancheta com papel sulfite nas cores descritas anteriormente. Solicitei que
refletissem a respeito da realidade que vivenciam no cotidiano do seu trabalho em
saúde mental na Instituição e complementassem a afirmativa, Enfermagem para
mim é.... e Percebo o trabalho de enfermagem... Essa estratégia se repetiu até a
discussão do último conceito. Desta maneira, cada participante expressou sua
vivência e experiência a respeito dos conceitos mediante a escrita, sendo que
alguns complementaram com desenhos.
A seguir transcrevo relatos de cada categoria profissional e cargo/ocupação
para exemplificar como aconteceu esse passo. Para garantir o anonimato dos
sujeitos a partir desta etapa do trabalho, passarei a utilizar o termo Enfermagem
para me referir aos profissionais de Enfermagem; Técnico para os demais
profissionais de nível superior e Apoio para os outros funcionários participantes.
Enfermagem
Foi possível observar nos relatos da equipe de enfermagem, dos profissionais
de nível superior e do apoio que Enfermagem para eles se refere à uma profissão
que auxilia, ajuda, acompanha o paciente nos três níveis de atenção à saúde:
70
“... é uma profissão que presta assistência ao ser humano de forma integral para
minimizar os conflitos, oportunizar melhores condições de vida, aplicando
conhecimentos e práticas de caráter preventivo, curativo e de reabilitação
respeitando a dignidade e o valor do ser humano” (Enfermagem).
“... é uma ciência porque estuda as maneiras e métodos de realizar cuidados de
enfermagem com os clientes...” (Enfermagem).
“... é a profissão ou função responsável por cuidar da saúde mental e física das
pessoas. Abrange tanto o tratamento quanto a prevenção das doenças, está ligada
diretamente ao bem-estar físico e mental das pessoas...” (Técnico).
“... a enfermagem deve se preocupar em atuar frente às necessidades das pessoas
que buscam atendimento em saúde, seja em nível básico ou especializado, sempre
numa perspectiva de integração e interação com os outros profissionais ou
disciplinas da área da saúde – na promoção à saúde, prevenção ou assistência
básica ou especializada” (Técnico).
“... uma profissão que os profissionais são capacitados em parte para atender os
pacientes com problemas psiquiátricos que precisam de ajuda do enfermeiro e do
médico e de toda a equipe. Para ajudar o paciente e família a fazer o tratamento
completo” (Apoio).
“Enfermagem é para atender e cuidar dos pacientes...” (Apoio).
“... representa uma profissão legal, importante e de muita responsabilidade” (Apoio).
A enfermagem surge como profissão a partir de Florence Nightingale (1820-
1910), conhecida como precursora da Enfermagem Moderna, que a considerou
como ciência e arte de cuidar de pessoas enfermas. Nigthingale contribuiu com
importantes legados para a Enfermagem, como livros que relatam o exercício da
enfermagem e com a criação da primeira Escola de Enfermagem anexa ao Hospital
Saint Thomas na Inglaterra, na qual preconizou o ensino teórico sistematizado. Em
seus escritos, Florence relatou que a observação e a sensibilidade cuidadosas em
relação às necessidades do paciente são princípios da Enfermagem e que os
enfermeiros devem ser ativamente envolvidos na mudança e no progresso da
profissão (GEORGE, 2000; GEOVANINI, 2002).
Ainda que naquela época os conhecimentos científicos existentes fossem
incipientes, a pioneira da Enfermagem já considerava os três níveis de intervenção à
saúde, englobando atividades de prevenção à doença, de cura e de reabilitação da
saúde (GEORGE, 2000).
71
A enfermagem em saúde mental recebeu contribuições a partir dos estudos
de Hildegard Peplau, que em 1952 elaborou uma base teórica, a Teoria das
Relações Interpessoais, cuja ênfase está no cuidado de enfermagem baseado no
relacionamento terapêutico. Esse foi o primeiro modelo teórico sistematizado para a
enfermagem e veio contribuir com a busca de explicações sobre a loucura por meio
dos discursos psiquiátrico e psicológico da época (WAIDMAN, 1998; VILLELA;
SCATENA, 2004).
Com base no referencial teórico deste trabalho, Enfermagem é um processo
interpessoal entre dois seres humanos, no qual um deles precisa de ajuda e o outro
fornece ajuda planejada. Também, é um processo interpessoal mediante o qual o
enfermeiro ajuda uma pessoa, família ou comunidade com o objetivo de promover a
saúde mental, prevenir ou enfrentar a experiência da doença e o sofrimento mental
e, se necessário, contribuir para descobrir um sentido para estas experiências, além
de ajudá-los na busca de uma filosofia de vida que o fortaleça como pessoa e alivie
o sofrimento e a tensão inerentes à condição humana. Essa concepção é
fundamental para ajudar a pessoa com transtorno mental e sua família a aceitar a
doença e a encontrar caminhos para enfrentá-la (TRAVELBEE, 1979; 1982).
A autora ressalta ainda a enfermagem como uma prática especializada,
ciência e arte. O caráter científico consiste na aplicação de teorias complexas do
comportamento humano e de outras teorias utilizadas na enfermagem e a arte se
exerce mediante a utilização consciente da própria pessoa na prática da profissão.
Um vasto campo de conhecimentos e habilidades é necessário para abordar
situações particulares que implicam na utilização de diferentes enfoques no cuidado
à cada pessoa com transtorno mental (TRAVELBEE, 1979; 1982). Nesta
perspectiva, cuidar em saúde mental é estimular as capacidades de ser e contribuir
para desenvolver o poder de existir, de ser reconhecido, de afirmar sua vida.
Considerando que uma relação com a pessoa com transtorno mental é singular e
única, o cuidado está sempre em construção (ROCHA, 2005).
Na discussão do conceito de Enfermagem, pude observar que dos grupos
compostos somente por profissionais de enfermagem emergiram informações que
não encontrei nos grupos compostos pelos técnicos e demais trabalhadores.
Destacaram que a Enfermagem atua no atendimento às necessidades humanas
básicas do paciente, externando a influência da teoria de Wanda Aguiar Horta.
72
“... visa atender às necessidades biopsicossociais” (Enfermagem).
“... enfermagem auxilia o paciente em quase tudo quando ele está impossibilitado.
Ajuda na higiene corporal, oral, administração de medicamento...” (Enfermagem).
“... para mim Enfermagem é tudo, é dar medicação, banho se for necessário,
verificar sinais vitais...” (Enfermagem).
“... Enfermagem no hospital é muito importante, pois ela presta cuidados aos
pacientes, como banho, curativos, medicamentos...” (Enfermagem).
Evidencia-se nesses relatos a ênfase aos aspectos organicistas de um
cuidado centrado no corpo da pessoa com transtorno mental mediante técnicas. As
práticas de enfermagem, historicamente, no interior das instituições asilares e
posteriormente nos hospitais psiquiátricos, constituíam-se de tarefas de vigilância e
manutenção da vida dos doentes, entre elas práticas de higiene, alimentação,
supervisão e execução de tratamentos prescritos. Até os anos 1960, a Enfermagem
psiquiátrica brasileira tinha como principal fundamento o modelo médico-biológico
que tem como objeto de trabalho a doença e o quadro clínico da pessoa com
transtorno mental (OLIVEIRA; ALESSI, 2003).
É importante que a Enfermagem atenda ao paciente em suas necessidades
humanas básicas, que esteja atenta, observando e auxiliando, quando necessário,
nos cuidados pessoais. Isto possibilita estabelecer um bom relacionamento com a
pessoa com transtorno mental, estimular o auto-cuidado, ajudando-o a desenvolver
suas habilidades e a lidar melhor com as dificuldades. Mas é importante estar atento
ao comportamento da pessoa, para compreendê-lo como expressão de suas
dificuldades e, a partir desse entendimento, procurar oferecer o melhor cuidado
possível (ROCHA, 2005). Neste sentido, torna-se fundamental que os profissionais
da enfermagem e demais membros da equipe ampliem seus conhecimentos a
respeito das especificidades do sofrimento mental, como as psicopatologias, sem
deixar de cuidar da existência da pessoa (KANTORSKI; SILVA, 2001).
Os relatos dos grupos de enfermagem e dos trabalhadores de apoio
trouxeram aspectos do cuidado integral que contemplam a subjetividade e
individualidade do ser humano que está doente com vistas à autonomia:
73
“... é prática organizada da assistência à saúde ou resgate desta, respeitando as
individualidades, culturas e a intimidade de cada ser assistido, de maneira a
estimulá-lo à conquista de sua autonomia, respeitando ao mesmo tempo os seus
limites. É minimizar o sofrimento, utilização de técnicas aliadas à humanização,
resgatar autonomia para o auto-cuidado” (Enfermagem).
“Enfermagem precisa ter e ser ouvido. Ter e ser respeitado e aprender a respeitar o
sofrimento, resgate social, aprender a falar de si, organização pessoal, consciência e
aprender a lidar com sua doença, não mentir ...” (Enfermagem).
“... Enfermagem em saúde mental é colocar limites no paciente para voltar à
realidade e ter sua autonomia ...” (Enfermagem).
“.. .Enfermagem é ter cuidado com os pacientes. Tem pacientes que internam muito
ruim e saem do hospital de cabeça erguida, cheios de esperança para dar
continuidade nas suas vidas lá fora...” (Apoio).
A enfermagem se desenvolveu sustentada pelo modelo biomédico
caracterizado pelo reducionismo e fragmentação do ser humano. Entretanto, nos
últimos anos, vem crescendo como área científica, buscando subsídios para a
prática embasada em saberes próprios, construindo seu espaço profissional, com
vistas à conjugação do saber e da prática, ou seja, do saber concretizado no ato de
cuidar (DORNELES; MAYER ; MOSTARDEIRO, 2005).
No contexto de transformações sócio-políticas, os anos 1970 foram marcados
na enfermagem em saúde mental pelo enfoque do cuidado no relacionamento
terapêutico, com o foco na relação do homem como ser existencial (VILLELA;
SCATENA, 2004). Neste sentido, houve a necessidade de construir uma nova
prática de cuidado de enfermagem psiquiátrica e saúde mental que extrapole a
ênfase na doença e nas técnicas, pois o seu fazer à pessoa com transtorno mental
está inserido em um contexto complexo que pressupõe o domínio de determinadas
habilidades e conhecimentos que, em parte, são adquiridos durante a formação
acadêmica.
Em seu estudo a respeito do ensino da enfermagem em saúde mental e
psiquiátrica no Paraná, Maftum (2004) encontrou que os conhecimentos teóricos e
práticos da enfermagem em saúde mental vêm sofrendo influências do movimento
da Reforma Psiquiátrica a partir da reorganização das disciplinas de saúde mental
em que são mais enfatizados temas relativos ao relacionamento interpessoal e
terapêutico e comunicação, também temas referentes às políticas de saúde mental
74
com enfoque em alternativas de tratamento extra-hospitalares e nos direitos da
pessoa como cidadão.
Entretanto, em seu estudo sobre o ensino do cuidado em saúde mental no
estado do Rio Grande do Sul, Kantorski e Silva (2001) encontraram uma
predominância na realização da parte prática em hospitais psiquiátricos com o
objetivo, de um modo geral, de proporcionar ao aluno identificação de sinais e
sintomas, distinção entre as psicopatologias, relação do conteúdo teórico à
intervenção com a pessoa com doença mental, desconstrução de medos e
preconceitos para formar o enfermeiro em uma concepção generalista. Encontraram
ainda, na totalidade dos cursos, a utilização do relacionamento terapêutico como
instrumento para o aluno aprender a estabelecer a relação da teoria e prática,
principalmente no que concerne as psicopatologias, foco ainda de interesse principal
por parte dos estudantes sem, contudo, haver a preocupação de um cuidado efetivo
com o ser humano (KANTORSKI; SILVA, 2001).
Para Travelbee (1979; 1982) a enfermagem em saúde mental ocorre em uma
relação interpessoal, momento em que cada pessoa percebe o outro como ser
humano único. O trabalho do enfermeiro somente é possível a partir da
comunicação, pela qual o profissional descobre a finalidade do cuidado que realiza.
Portanto uma relação interpessoal, em que se utiliza de técnicas de comunicação
terapêutica, deve ser conscientemente planejada pelo enfermeiro, que é responsável
pelo estabelecimento, manutenção e término desta relação, mediante a qual pode
desenvolver sua prática com enfoque individual e coletivo, direta ou indiretamente.
Por possuir conhecimentos científicos e habilidades, o enfermeiro é um facilitador
capacitado a ajudar o outro a ajudar a si mesmo e ajudar aquele que se encontra
incapaz ou com dificuldade para ajudar a si próprio.
Acrescenta-se, aos avanços na área da enfermagem, a construção do modelo
psicossocial a partir do final da década de 1970, em que um novo desafio surgiu
para todos os trabalhadores da saúde mental. Com formação profissional
prioritariamente curativa e individualista, esse modelo suscita aos profissionais um
contínuo repensar e reconstruir o cuidado com enfoque na pessoa que sofre levando
em consideração o seu contexto vivido.
Na vertente da psiquiatria democrática, que vem influenciando o Movimento
de Reforma Psiquiátrica brasileira, o conteúdo da comunicação da pessoa que sofre
mentalmente deve ser valorizado, nas entrevistas individuais, na psicoterapia, nos
75
grupos operativos, nas reuniões, entre outros. Neste sentido, a comunicação deve
ser considerada um elemento fundamental no tratamento, assim como o
relacionamento terapêutico e a participação da pessoa nas atividades propostas,
pois para que uma relação seja terapêutica, esta tem que ser estabelecida em
situação de reciprocidade (ROCHA, 1994; STEFANELLI; CARVALHO, 2005).
O modelo de atenção psicossocial pressupõe uma abordagem ampla de
cuidados em saúde mental que envolve diferentes disciplinas de conhecimentos e a
inclusão da pessoa com transtorno mental como sujeito em busca do resgate de sua
cidadania. Nesta perspectiva, os profissionais da saúde se deparam com uma
mudança de referenciais não somente no que diz respeito à técnica, mas na
elaboração de um novo modo de Atenção à Saúde Mental que inclui repensar seus
papéis, principalmente no que se refere ao engessamento das especialidades
profissionais cristalizadas, em que a discussão do papel do saber técnico é
prioritária (GULJOR, 2003). Nesta concepção, o cuidado de enfermagem em saúde
mental e assistência prestada pela equipe são direcionados para o estímulo de
aspectos positivos, ampliação das habilidades e enriquecimento das experiências, o
que exige dos profissionais flexibilidade e criatividade (ROCHA, 2005).
Para promover o resgate da cidadania da pessoa com transtorno mental é
necessário um cuidado individualizado, diferenciado e humanizado, mediante
relações efetivas e afetivas, para oferecer-lhes meios, subsídios que permitam
vislumbrar seu verdadeiro sentido de vida (FALLEIROS, 1996).
Ainda, na discussão do conceito de enfermagem, o grupo constituído pelos
profissionais desta profissão ressaltou um aspecto que considerei importante. Esses
participantes enfocaram que a enfermagem é uma prática que enseja o repensar de
sua condição humana. Ela promove a auto-realização e o auto-aprendizado, permite
sentirem-se úteis e aprender com o paciente. A partir do contato com o paciente e o
reconhecimento do seu sofrimento encontram respaldo para seu crescimento e
fortalecimento pessoal.
“... para mim Enfermagem é um auto-aprendizado, realização como ser humano
diante de tanto sofrimento até mesmo na alta, de atendimento adequado, situação
familiar e social de cada um” (Enfermagem).
“... Enfermagem é para mim, sempre um aprendizado novo. Nesta profissão,
aprendi a valorizar a vida e não dar tanta importância para os problemas que surgem
76
diariamente em minha vida. É trabalhando na psiquiatria que realmente me encontrei
e percebi que sou feliz” (Enfermagem).
“... Enfermagem é uma realização pessoal e profissional principalmente porque trata
de salvar vidas. É um auto-aprendizado...” (Enfermagem).
“... eu também aprendo muito com este contato com as pessoas que estão doente.
Fico mais forte para resolver meus sofrimentos do dia-a-dia ...” (Enfermagem).
As experiências diárias, profissionais e pessoais, influenciam no
desenvolvimento de cada ser humano; é um processo que acontece em toda a sua
existência. Braga (1993) em seu estudo com acadêmicas do 8º. semestre letivo do
curso de graduação em Enfermagem, encontrou forte sentimento de identificação
com a profissão, percebido como forma de realização profissional.
Outro aspecto a se considerar nesta satisfação está ligada a fatores técnicos,
como o bom planejamento e andamento do plantão e a estabilidade e melhoria das
condições da pessoa com transtorno mental como resultado das intervenções de
enfermagem (RIBEIRO, 2005).
Partindo do princípio de que o cuidado de enfermagem se estabelece por
meio de uma relação interpessoal, Travelbee (1979; 1982) salienta que nesta
relação ambos, enfermeiro e paciente, modificam comportamentos e aprendem.
Para o estabelecimento de uma relação interpessoal entre o enfermeiro e demais
trabalhadores da equipe de saúde e pessoa com transtorno mental, é necessário
que este profissional observe seu próprio comportamento, seus sentimentos, suas
ações, a fim de conhecer-se um pouco mais e aceitar-se com suas capacidades e
limitações para estabelecer um relacionamento interpessoal realmente efetivo. É
pelo auto-conhecimento que o profissional de saúde mental poderá cuidar de forma
adequada na relação com outras pessoas e com o mundo em que vive (BRAGA,
1993; MANZOLLI, 1996).
Embora o foco da discussão naquele momento fosse o conceito de
Enfermagem, observei que os participantes dos grupos de técnico e apoio
destacaram alguns aspectos do trabalho da enfermagem. Para eles é uma profissão
que envolve muita responsabilidade e se desenvolve com equipe multiprofissional.
Referiram que se trata de um profissional indispensável, pois é quem permanece
mais tempo e fica mais próximo do paciente. Isso oferece condições de observar as
77
manifestações de comportamento dos pacientes, colaborar com a equipe no
diagnóstico e estabelecimento do projeto terapêutico.
Contudo, chamou-me a atenção o fato de que nenhum dos grupos de
enfermagem, até aquele momento, houvesse feito referência do trabalho desta
profissão em equipe, mesmo tendo sido eleito por eles no início do Encontro, o
conceito de equipe a ser discutido durante o trabalho. Outro dado que aparece em
destaque foi que os participantes, de um modo geral, enfatizaram somente os
aspectos positivos da profissão.
“... Enfermagem são estes profissionais que auxiliam, executam atividades
diretamente e em tempo integral com os pacientes e também são profissionais que
integram a equipe multiprofissional” (Técnico).
“... o profissional de enfermagem seja em nível básico ou especializado, sempre
atua na perspectiva de integração e interação com os outros profissionais ou
disciplinas da área da saúde...” (Técnico).
“... Enfermagem é indispensável dentro da equipe que vai tratar do internado. É a
pessoa mais próxima durante maior tempo portanto é quem vai perceber a mudança
para melhor ou para pior do mesmo e ajudar os outros técnicos colaborando dessa
forma muito no tratamento. É um trabalho de muita responsabilidade, importante,
indispensável...” ( Apoio).
Os relatos dos participantes a respeito da importância do profissional de
enfermagem na equipe multiprofissional e de sua proximidade com a pessoa com
transtorno mental corroboram os estudos de Miranda (1994) e Rocha (1994; 2005)
os quais destacam o trabalho da enfermagem como ligação entre a pessoa com
transtorno mental e a equipe, por permanecer maior tempo com o paciente,
observando, registrando, avaliando seu comportamento e suas relações. Realizar
estes registros e comunicar-se com a equipe pode contribuir para o planejamento do
projeto terapêutico individual à pessoa com transtorno mental e/ou contribuir para a
definição do seu diagnóstico.
A necessidade do trabalho multiprofissional e interdisciplinar decorre do fato
de que o adoecer mentalmente é um fenômeno complexo e, mesmo reconhecendo
as competências disciplinares, é preciso assegurar o espaço de interconexão entre
os saberes e práticas para dar conta, ao mesmo tempo, da singularidade e da
complexidade do cuidado em saúde mental (OLIVEIRA; ALESSI, 2003). A pessoa
que adoece mentalmente, para ser cuidada na sua integralidade, necessita que isto
aconteça com uma equipe multidisciplinar e interdisciplinar, pois seus problemas
78
abragem a saúde, o trabalho, a família, a habitação, por vezes a justiça, entre outros
(ROCHA, 2005).
De acordo com as indicações aprovadas na III Conferência Nacional de
Saúde Mental, a política de recursos humanos visa o trabalho interdisciplinar e
multiprofissional, na perspectiva da construção de um novo trabalhador em saúde
mental, atento e sensível aos diversos aspectos do cuidado com olhar não
fragmentado da pessoa com doença mental (CNS, 2002).
Nos relatos dos participantes do grupo de apoio se evidencia uma concepção
de Enfermagem como uma profissão de vocação, de servir ao próximo, de dom
especial, de doação pautada no ideal de amor, dedicação, paciência e que não
mede esforços para cuidar do doente. Também se observa a compreensão de uma
profissão que auxilia o médico, mas por outro lado, houve relatos de que para
exercê-la é necessário conhecimento e contínuo processo de busca de
aprimoramento.
“... para mim o profissional da enfermagem é a pessoa mais próxima do paciente.
Também é o auxiliar indispensável do médico. Não sei muito dessa profissão, mas o
que observo, é que requer muita dedicação, contínua especialização para melhor
servir” (Apoio).
“... Enfermagem é ter conhecimento, muita dedicação para cuidar das pessoas
doentes, seja qual for a enfermidade. Dar tudo de si para aliviar o sofrimento do
paciente . Se encarrega de dar medicação aos pacientes internados, a qual deve
seguir exatamente o critério médico sempre com muita responsabilidade. É cumprir
horário, é muita dedicação, profissionalismo, amor à profissão, paciência,
determinação” (Apoio).
“... é uma grande responsabilidade, é doação, carinho, doar assistência a quem
precisa, amor, paciência” (Apoio).
“... para mim antes de uma profissão é um dom especial de manifestação de amor
ao próximo” (Apoio).
Nos relatos dos participantes do grupo de apoio ficou evidenciado que ainda
hoje perdura para eles a concepção de Enfermagem desenvolvida por religiosos
entre os séculos V e XIII. Esse período deixou como legado uma série de valores
que, com o passar dos tempos, foram aos poucos legitimados e aceitos pela
sociedade como inerentes à Enfermagem. Abnegação, espírito de serviço,
subserviência e obediência entre outros atributos que conferia à Enfermagem uma
79
conotação de sacerdócio (GEOVANINI, 2002). Pautado nesses valores de
abnegação e obediência, formavam-se enfermeiras que não exerciam a crítica
social, nem faziam reivindicações contra as longas jornadas de trabalho e baixos
salários para assistir aos médicos nos procedimentos com o paciente (MIRANDA,
1994). Esse imaginário presente no ambiente de prática da enfermagem requer
destes profissionais a responsabilidade na mudança desta visão para a de uma
profissão com base científica que possui corpo de conhecimento específico e que
integra uma equipe multiprofissional.
Os relatos dos participantes sobre a Enfermagem me reportaram ao início da
história da enfermagem em saúde mental, em que se objetivava contemplar as
exigências institucionais e colaborar com as atividades médicas com enfoque
biológico da doença mental. A enfermagem em saúde mental no Brasil não se
estabeleceu com a preocupação de atender o paciente, mas para viabilizar, dentro
do hospício, a concretização do discurso psiquiátrico como científico. Assim, surgiu
para vigiar, controlar e punir, aplicar meios de repressão determinados pelos
médicos e obter a obediência dos internos (MIRANDA, 1994; GEOVANINI, 2002;
ROCHA, 2005).
Em 1890 a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras baseava-se no
modelo religioso para sistematizar o ensino de enfermagem no Brasil (MIRANDA,
1994). Após a década de 1930 a ênfase no tratamento em saúde mental passa aos
aspectos clínicos e às terapêuticas medicamentosas centradas no hospital.
Aproximadamente neste mesmo período a enfermagem brasileira profissionaliza-se,
com a criação da primeira escola de enfermagem baseada no sistema Nightingale, a
Escola Ana Néri, que formava enfermeiras com características de abnegação e
obediência como as relacionadas pelos sujeitos (MIRANDA, 1994; ROCHA, 2005).
Estes fatos históricos tornaram-se determinantes e condicionantes na
formação da imagem e identidade da enfermagem em saúde mental pela sociedade,
em nível macro, e na instituição, em nível micro. A identidade é concebida como
algo formado ao longo do tempo, por meio de processos inconscientes e, em relação
ao enfermeiro, podemos considerar que foi e está sendo formada na interação deste
profissional com a sociedade, pois esta é construída continuamente no cotidiano do
trabalho. Imagem é uma representação mental, impressões e posições que as
pessoas apresentam em relação umas às outras. No que concerne à enfermagem
em saúde mental, a imagem pública do enfermeiro influencia sua prática, conforme
80
demonstram os relatos dos participantes do estudo que relacionaram-na à doação,
ao servir, a um dom e a seguir ordens médicas (NAUDERER; LIMA, 2005;
OLIVEIRA, 2006).
Além da vocação e dedicação, os relatos dos participantes demonstram a
compreensão da enfermagem como profissão, com necessidade de preparo formal,
científico e organizado e que atua em equipe multiprofissional de saúde, o que
corrobora com o explicitado por Miranda (1994) que enfoca a importância da
educação formal, mas no exercício da enfermagem é necessário também vocação,
dedicação, paciência, competências e habilidades interpessoais.
Avanços têm ocorrido na descoberta e utilização de novas tecnologias na
área da saúde, e os profissionais de enfermagem formados em base humanística e
científica precisam ser capazes de dominar a tecnologia, que é mutável, rápida e
inconstante para a realização de um cuidado efetivo. Entretanto, é necessário aliar
esses novos avanços tecnológicos a valores como respeito, ética e atenção que
segundo Paganini (1998) devem estar presentes em qualquer relação entre
pessoas, pois estes não são mutáveis, nem rápidos ou inconstantes. Assim,
qualidades como vocação, paciência e dedicação devem ser consideradas na
escolha da carreira profissional como inerentes às profissões que lidam com o ser
humano, não como preponderantes.
O conceito de Enfermagem foi descrito pelos participantes de maneira ampla,
abrangendo questões relativas à prática da enfermagem e, especificamente, na área
de saúde mental, como por exemplo, ao referirem a autonomia e reabilitação
psicossocial da pessoa com transtorno mental. Ressaltaram ainda que a
Enfermagem é uma profissão que requer algumas habilidades e competências
específicas para seu exercício, entre elas responsabilidade, respeito, consciência do
seu papel, dedicação e amor.
Um fato que chamou a atenção é a de que os profissionais de enfermagem e
os demais técnicos enfatizaram a enfermagem como profissão e ciência que atua na
área da saúde em nível primário, secundário e terciário da atenção. Entretanto, a
maioria dos funcionários e profissionais da rede de apoio expressaram por meio dos
cartazes, aspectos relacionados a enfermagem como vocação, como ato de
caridade, de dedicação e dom.
Finalizado as descrições a respeito do conceito de Enfermagem, na
seqüência descrevo o que foi discutido sobre Ser Humano.
81
Ser Humano
Nas discussões do conceito Ser Humano, os participantes o conceberam
como um ser pluridimensional, ressaltaram também a unicidade, singularidade,
complexidade e integralidade do ser ao considerar os aspectos biológicos,
psicológicos, espirituais e sociais. Os seres humanos são ao mesmo tempo
semelhantes e diferentes, o que lhes confere a condição de seres únicos e
complexos, e que como um ser histórico sofre influência da família e da sociedade
na aquisição de seus valores.
“Ser vivo único, ímpar, formado através de valores adquiridos da família e das
heranças genéticas...” (Enfermagem).
“... é o meu semelhante biológico, mas que apresenta algumas diferenças no sentido
psicológico, social e cultural...” (Enfermagem).
“.. é um indivíduo único que tem sua dor, suas necessidades e vivência e desse
modo que devemos tratá-lo como ser humano...” (Enfermagem).
“... é uma pessoa ímpar, exclusiva, formada através de valores herdados da família,
da sociedade e através da herança genética, o que irá resultar na personalidade
individual” (Enfermagem).
“... é a maravilhosa criação divina, única em sua espécie. Ser humano deve ser
respeitado independente de suas limitações...” (Enfermagem).
“... cada ser é individual, é complexo, restrito, único em sua plenitude, possui
diferença e semelhanças...” (Enfermagem).
“Ser humano deve ser considerado na pluridimensionalidade, ou seja, quanto aos
aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais. Todos esses aspectos e
condições o singularizam como indivíduo...” (Técnico).
“... um ser da espécie humana (homo sapiens-sapiens)portador de uma estrutura
biológica específica e de uma história pessoal e sócio-cultural [...]é um ser bio-psico-
sócio, histórico e espiritual com características influenciadas por todas essas
dimensões...” (Técnico).
”... é uma pessoa única com comportamentos e atitudes diferentes...” (Apoio).
Os relatos dos participantes corroboram os estudos de Travelbee (1979, p.11,
1982) que considera o ser humano como único e insubstituível, original, semelhante
e ao mesmo tempo, diferente em relação a outra pessoa, no presente ou no futuro.
82
O conceito do ser humano é um dos pontos mais importantes da Teoria de
Travelbee, pois é a partir da compreensão da unicidade do ser que se torna possível
valorizar e aceitar as pessoas como elas são, respeitando suas individualidades e
potencialidades (TRAVELBEE, 1979; 1982; WAIDMAN; ELSEN; MARCON, 2006).
Destarte, essa concepção é fundamental para o desenvolvimento do cuidado e deve
ser extensiva a todos os envolvidos, pois como tais, são seres humanos.
O ser humano determina a si mesmo e, sendo responsável pelos seus atos e
suas decisões, aquilo que ele se torna, dentro dos limites dos seus dons e do meio
ambiente, é ele que faz de si. A pessoa humana possui dentro de si potencialidades
positivas e negativas, as quais poderão ser utilizadas e concretizadas ou não,
dependendo das decisões que tomar (FRANKL, 2007).
Neste sentido, cada ser humano possui comportamentos específicos e
diferentes maneiras de pensar e agir; assim, os profissionais da saúde devem
compreender e acolher a singularidade e unicidade da pessoa que sofre
mentalmente, a sua trajetória de vida com vistas a planejar o cuidado de acordo com
suas necessidades (KANTORSKI et al.; 2005).
O ser humano possui necessidades físicas, psíquicas, sociais e espirituais
que são mais ou menos valorizadas, dependendo da sociedade na qual está
inserido. Essas necessidades se apresentam estreitamente interligadas desde o
início da vida, pois são determinadas pela sociedade. Ao se considerar o
crescimento e o desenvolvimento humanos como processos dinâmicos, a maneira
como o indivíduo vivencia cada etapa de sua vida influenciará em uma base mais
sólida ou mais frágil no enfrentamento dos problemas do cotidiano. O que a pessoa
pensa e sente resulta de sua experiência de vida e, assim como essas são únicas,
resultam em seres humanos únicos (ROCHA, 2005).
Cabe salientar que o profissional que atua em saúde mental e a pessoa com
transtorno mental são seres humanos e, como tais, singulares em suas
peculiaridades. Neste sentido, é necessário “estar atento às características da
pessoa com transtorno mental, percebê-las e interpretá-las da forma mais fiel
possível”, avaliando como elas influenciam o modo de ser daquela pessoa. Ao
mesmo tempo, o profissional de saúde necessita “conhecer como é a sua
singularidade como ser humano e estar consciente de como ela afeta sua
competência comunicacional e interpessoal” e, consequentemente, sua
comunicação com o outro (STEFANELLI; CARVALHO, 2005, p.36).
83
Os participantes explicitaram que o ser humano vive em constante
transformação, modificando a si próprio e o ambiente em que vive, demonstrando
capacidade de evolução, de conquistar seus objetivos, ideais e de transcender.
Destacaram vários aspectos positivos do ser humano, porém ressaltaram que ao
mesmo tempo em que é um ser com capacidades construtivas, também pode usá-
las para a sua destruição. Com todas as características apontadas devido à
dinamicidade e as constantes mudanças que o ser humano passa ele se torna um
ser de difícil compreensão.
“... o homem é como um caramujo em movimento fazendo sua transformação interior
e exterior. Faz mobilização e mostra sua capacidade evolutiva através da ação
praticada ...” (Enfermagem).
“... são todas as pessoas, não importando se têm doença e se está em hospital ou
não, que tem capacidade para alcançar seus objetivos e seus ideais...“
(Enfermagem).
“... desde que nasce busca aprender tudo que venha a fazê-lo crescer fisicamente e
espiritualmente...” (Apoio).
“... é a pessoa que sabe construir e que sabe destruir...” (Apoio).
“... ser humano é um ente complexo e de difícil compreensão em sua totalidade,
dinâmico e de constante mudanças” (Técnico).
“... é um indivíduo complexo ... que é capaz de transformar e transcender. É
resultado da evolução dos seres vivos no meio ambiente terra” (Técnico).
“... ser capaz de realizar-se...” (Técnico).
“... indivíduo que interage com o meio, modificando-o e sendo modificado
constantemente...” (Técnico).
Os relatos dos participantes corroboram com o referencial teórico deste
estudo em que o ser humano é capaz de dirigir e controlar sua própria conduta, de
aceitar as capacidades e limitações da condição humana, mas necessita de uma
direção e um propósito para viver e não existir simplesmente (TRAVELBEE, 1979;
1982).
Travelbee (1979; 1982) coloca que o ser humano possui capacidade de
enfrentar a realidade e isso o permite reconhecer a própria participação em uma
experiência de vida, de perceber correta e validamente uma situação; reconhecer os
próprios sentimentos e enfrentá-los e buscar ajuda profissional se não conseguir. A
84
fortaleza para enfrentar um conflito constitui o núcleo da condição humana. A
capacidade de enfrentar a realidade também inclui sentido de humor, atitude para rir
de si mesmo e de seu próprio comportamento.
Para enfrentar a realidade é necessário flexibilidade, sendo que a pessoa é
flexível na medida em que seu comportamento não se repete invariavelmente
qualquer que seja a situação que enfrenta. A pessoa necessita aprender a conviver
com sua decisão sem culpar os outros pela opção que fez. Inclui a capacidade de
reconhecer a própria necessidade de atuar, de decidir e intervir quando um princípio
está em jogo. Inclui, também, aceitar as capacidades e limitações da condição
humana, apreciar a capacidade transitória da vida e do ser humano e desenvolver
capacidade de viver o presente. É compreender que, como seres humanos, estamos
expostos à alegria, ao amor, à felicidade, à doença, à solidão, à culpa, à depressão
e à todas as doenças emocionais conflituosas, especialmente a ambivalência entre
amar e odiar. Para enfrentar a realidade requer-se grande coragem, pois somente
enfrentando as situações de crises de nossa condição humana teremos a
oportunidade de crescer e nos desenvolver como autênticos seres humanos
(TRAVELBEE, 1979; 1982).
A capacidade para enfrentar a realidade inclui o conhecimento e a orientação
do mundo em que se vive e estar adaptado em uma sociedade enferma não
constitui nenhuma virtude. Essa capacidade implica na habilidade para trabalhar
produtivamente com os outros, colaborar, comprometer-se e competir. Em nossa
cultura, é comum valorizar mais a competência do que a colaboração. O
compromisso implica na habilidade de dar e receber nas relações humanas e, não
abandonar nossos princípios básicos por conveniência para ser popular ou querido.
A habilidade para enfrentar a realidade inclui a capacidade para maravilhar-se,
divertir-se, para dar e produzir para alguém (TRAVELBEE, 1979; 1982).
Os participantes colocaram enfaticamente a capacidade que o ser humano
possui de raciocinar, pensar, fazer escolhas, tomar decisões, exercer o livre arbítrio
que lhes é inerente e tudo isto é o que o distingue dos outros animais.
“... organismo vivo capaz de raciocínio, julgamentos e ações conscientes ou não,
ou seja, capaz de fazer escolhas para satisfazer suas necessidades básicas e
também necessidades de prazer ...” (Enfermagem).
85
“... são pessoas dotadas de inteligência... e capacidade de tomar decisões
(Enfermagem).
“... é o ser vivo que se diferencia dos outros animais porque tem a capacidade de
pensar...” (Enfermagem).
“... cada um tem uma maneira de pensar e agir...” (Apoio).
“... pessoa capaz de raciocinar, distinguir o certo e o errado...” (Apoio).
“... é portador de livre arbítrio...” (Apoio).
“... tem conhecimento do bem e do mal...” (Apoio).
“Seria ou é um animal racional, por ser pensante...” (Técnico).
“... é um animal, que percebe, analisa, age, pensa. Tem consciência, memória....”
(Técnico).
A busca do ser humano por um sentido de vida é a motivação primária em
sua existência. Esse sentido é exclusivo e específico, uma vez que precisa e pode
ser cumprido somente por aquela determinada pessoa; assim, o ser humano
necessita de “algo” em função do qual viver. Viver significa ter responsabilidade de
responder adequadamente às perguntas da vida, pelo cumprimento das tarefas
colocadas à cada pessoa e pela exigência do momento. Essa exigência e, com ela,
o sentido de vida, difere de ser humano para ser humano, de um dia para outro.
Cada um tem sua própria vocação ou missão específica de vida e precisa executar
tarefas singulares que proporcionarão sua realização pessoal. Para isso, o ser
humano necessita ter consciência plena de sua própria responsabilidade, decidir se
deve interpretar a tarefa de sua vida como sendo responsável perante a sociedade
ou perante sua própria consciência. Essa responsabilidade de busca de sentido,
potencial de vida, deve ser descoberta no mundo e não dentro da pessoa humana
ou de sua psiquê (FRANKL, 2007, p.92).
Ainda para o mesmo autor, o ser humano pode encontrar o sentido de vida a
partir de três categoriais de valores: criadoras, vivenciais e de atitudes. A primeira se
realiza mediante um fazer, a segunda diz respeito à vivência do eu com o mundo e a
terceira só se realiza quando uma fatalidade tem que ser aceita como ela é,
resultando em uma mudança de atitude. É por meio deste pensamento que a vida
humana pode atingir sua plenitude não apenas no criar e gozar, mas também no
sofrimento (FRANKL, 2007).
86
O ser humano precisa ser e estar preparado para compreender a importância
do autoconhecimento, que por sua vez conduz à reflexão a respeito desta busca de
sentido de vida, da necessidade de cuidar de si, de amar-se, de enfrentar a
realidade.
Quanto mais o ser humano esquecer de si mesmo dedicando-se a servir uma
causa ou amar outra pessoa, mais humano será e mais se realizará. A auto-
realização é um efeito colateral da autotranscendência, “característica constitutiva do
ser humano ao se dirigir para algo ou alguém diferente de si mesmo, seja um
sentido, algo a realizar ou outro ser humano a encontrar” (FRANKL, 2007, p.99).
Transcender para Travelbee (1979; 1982) consiste na capacidade em
preocupar-se desinteressadamente pelos demais, simplesmente porque é um ser
humano capaz de identificar-se e compreender os outros; capacidade de perceber
os outros como seres humanos únicos. Este transcender pode ser vivenciado por
meio do relacionamento terapêutico entre o profissional e a pessoa com transtorno
mental e mediante o uso da comunicação terapêutica é possível levá-la a expressar
suas percepções, pensamentos e sentimentos, comprometendo-se verdadeiramente
com ela na busca de um sentido de vida.
De um modo geral, todos os participantes explicitaram que o ser humano é
um ser de sentimentos e emoções tanto positivos quanto negativos e esta
capacidade de possuir e expressar emoções o distingue dos demais seres vivos.
Também, que é um ser de relações, com capacidade de estabelecer vínculos
afetivos e sociais e que do mesmo modo que ajuda o outro pode se mostrar egoísta,
pensando somente em si.
“... capaz de vínculos afetivos e sociais” (Enfermagem).
“... se distingue dos outros animais pela capacidade de ter emoções....”
(Enfermagem).
“É uma pessoa que como eu tem sentimentos mesmo que esteja doente...”
(Enfermagem).
“... ser humano com emoções boas ou más, e, equilíbrio e desequilíbrio emocional
...” (Enfermagem).
“... é um ser com sentimentos, emoções, merecedor de ser feliz, ter oportunidade
para sonhar...” (Apoio).
87
“... pessoas que tem sentimentos pelo próximo. Pessoas que são egoístas só pensa
em si próprio...” (Apoio).
“... é um ser afetivo...” (Técnico).
“... sente com maior intensidade as agruras da vida. Composto de sentimento e
espiritualidade...” (Técnico).
“... ser humano é a pessoa que vive na sociedade, enfrentando todas as dificuldades
do país como a desigualdade social, começando pelo difícil acesso à saúde, o
preconceito social que ainda enfrentamos...” (Enfermagem).
“... é a pessoa que não pode viver sozinha, (...) não deve viver sozinho, isolado. Tem
capacidade de amar e ser amado” (Enfermagem).
”... é um ser social, histórico e relacional...” (Técnico).
“... é um ser social. Segue normas e regras impostas pelo seu meio ambiente...”
(Técnico).
“... formando redes maiores: família, sociedade, nação, Persona = indivíduo+ ser
social (desempenho de papéis)” (Técnico).
“... ser criado por Deus com o objetivo de relacionar-se com Ele e seus semelhantes
humanos” (Técnico).
A atitude para amar é a primeira e a mais importante das atitudes do ser
humano, pois consiste na capacidade de amar a si mesmo e de transcender-se para
amar aos outros. O amor em sentido amplo é expresso por atitudes e não por
palavras e planejamentos. É um ato de vontade e não de emoções. A fraternidade
do homem e o amor à humanidade devem ser voluntários. A capacidade de amar-se
precede a capacidade de amar aos outros e isto, não significa egoísmo, mas auto-
respeito, conhecimento, confiança nas capacidades e habilidades, aliado à
consciência das próprias limitações humanas. “Se o indivíduo não ama a si mesmo,
como pode amar aos demais?” A capacidade de amar envolve amar os outros sem
que esses nos apreciem; o amor é algo que não ocorre simplesmente, mas se
desenvolve, se nutre e se permite crescer, não se refere somente ao amor à pessoa,
mas também ao amor para com a humanidade (TRAVELBEE, 1979, p.8; 1982).
Humanidade é aqueles que conhecemos e queremos, aqueles que
conhecemos e não queremos, aqueles que não conhecemos e aqueles que
preferimos não conhecer. Ela envolve à todos e a cada um de nós individualmente.
Conhece-se realmente o ser humano por seus atos e seu comportamento e não por
88
seus pensamentos benévolos que podem não se traduzir em ajuda concreta
(TRAVELBEE, 1979).
É pelo amor que se pode compreender o outro ser humano no íntimo de sua
personalidade e ter consciência plena da essência do ser humano. Ele permite à
pessoa que ama capacitar a pessoa amada a atingir suas potencialidades e a
experimentar a bondade, a natureza e a cultura do ser humano. Amar o ser humano
incondicionalmente é uma das maneiras de encontrar sentido na vida (FRANKL,
2007).
Percebe-se novamente que o conceito de ser humano construído pelos
participantes dos grupos é amplo e extrapola os aspectos organicistas e/ou
biológicos. Eles descreveram o ser humano como único, com características
biológicas, sociais, psicológicas, culturais, espirituais. Um ser racional que possui
inteligência para fazer escolhas e tomar decisões, o que lhe permite o exercício do
livre arbítrio e o torna responsável pelos seus atos. E, ainda, um ser afetivo que está
inserido em um ambiente, que não vive sozinho e que forma redes para sua
sobrevivência.
Na seqüência apresento os dados que emergiram das discussões com os
participantes a respeito do conceito de Saúde-Doença.
Saúde - Doença
Os participantes explicitaram o conceito de Saúde como sendo o bem-estar
resultante da busca de equilíbrio nas dimensões bio-psico-social e espiritual do ser
humano e direito do cidadão, que influencia e é influenciado pelo meio. A Doença
surge quando a pessoa não possui mecanismos para o seu enfrentamento e é
explicitada como desequilíbrio das dimensões humanas, percebida pelo sofrimento,
tristeza, angústia, dor. Ressaltaram, ainda, que a doença pode ser visível ou
invisível e interfere nas interações da pessoa com a família e a sociedade, bem
como na sua qualidade de vida.
“... saúde é o bem- estar físico, mental e espiritual ...” (Enfermagem).
“Saúde é o bem-estar que a pessoa sente no meio em que vive e convive na
sociedade...” (Enfermagem).
89
“...bem-estar físico, mental e emocional do indivíduo, incluindo suas capacidades e
direito a cidadania de dignidade” (Enfermagem).
“Saúde é processo de busca de equilíbrio do organismo com o meio em que vive-
que influencia e é influenciado pelas dimensões biológicas, psicológicas, sociais,
histórica e espiritual, que constituem a vida do ser humano...” (Técnico).
“Saúde é estado de equilíbrio do corpo e da mente. Doença é o desequilíbrio que
interfere na qualidade de vida...” (Técnico).
“Saúde é o bem-estar. É a condição do corpo e da mente em seu estado perfeito de
harmonia. Doença é apresentar algum distúrbio, de falta perfeita de funcionamento,
em alguma área do nosso corpo. Pode ser visível ou invisível. Doenças do coração e
outras escondidas no meio em que vivemos. Doenças aparecem e outras são
provocadas. Quando já não gostamos de nós mesmos, não temos vontade de
viver...” (Apoio).
“Saúde é estar tudo bem com o corpo, físico, mental e espiritualmente, podendo
desfrutar das coisas como alimentação, moradia, tendo bem-estar social. O
contrário, um estado que não nos deixa desfrutar das coisas...” (Apoio).
“... doença é perturbação, alteração do equilíbrio bio-psico-social e espiritual,
interferindo na interação com outros indivíduos, a família e a sociedade. Doença se
instala quando o indivíduo não dispõe de recursos adequados para fazer frente a
essa mudança” (Enfermagem).
“... o sofrimento às vezes, não precisa ser uma dor, exatamente uma dor física, pode
ser um sofrimento emocional ou sofrimento mental. Aí a gente deve procurar
minimizar o sofrimento mental” (Enfermagem).
“... doença é sofrimento, dor, tristeza, angústia, vícios em geral, enfermidades físicas
e mentais...” (Apoio).
Para Travelbee (1979; 1982 p.7), saúde não constitui somente “algo que a
pessoa possui e sim ‘algo que a pessoa é’, como demonstra certos comportamentos
e atitudes”. Essas atitudes se constituem em: capacidade para amar, para enfrentar
a realidade e para descobrir um propósito ou sentido na vida. Em relação ao
conceito de doença, acredita que essa pode possibilitar às pessoas compreender
sua limitação e condição humana, e que a experiência da doença ajuda o ser
humano a crescer e se fortalecer, reconhecendo, assim, sua limitação e
potencialidade.
Conceituar saúde, e especialmente saúde mental, não se constitui tarefa fácil,
pois em nenhuma cultura existe um termo capaz de exprimir com exatidão e
profundidade o seu significado. No conceito de saúde mental provavelmente sempre
haverá certa carga de juízo de valor, pois sua compreensão é relativa e não estática,
90
uma vez que sofre influência da concepção que se tem sobre o homem, a natureza
e a sociedade (TRAVELBEE, 1979; 1982).
A doença mental - transtorno, enfermidade, perturbações ou desordens - não
é mais fácil de definir do que a saúde mental. O transtorno mental em si não pode
ser observado, pelas mesmas razões que resultam da impossibilidade de definir a
saúde mental, pois ambos são abstratos e subjetivos. O que se pode observar são
as várias manifestações de comportamentos que podem ou não ser classificados
como aberrantes, desviantes, incapacitantes, de emergência pelo risco a si e a
outrem (TRAVELBEE, 1979). Neste sentido, o transtorno mental não surge como
uma patologia para o ser humano, antes são alterações das funções orgânicas
existentes que estão em determinados momentos atenuadas, exacerbadas ou
distorcidas (AMARANTE, 2006).
Os transtornos mentais se dividem, geralmente, em dois grandes grupos. O
primeiro inclui aqueles que se crêem decorrentes principalmente de fatores
orgânicos como, por exemplo, síndromes cerebrais agudas e crônicas, associadas a
infecções e traumas. O segundo inclui esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e
delirantes, transtornos de humor (afetivos), específicos de personalidade,
transtornos de hábitos e impulsos, transtornos de personalidade e de
comportamento em adultos e os transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e
somatoformes (TRAVELBEE, 1979; CID-10, 1993).
Especialmente os transtornos mentais diagnosticados sem base orgânica
podem ser considerados, primordialmente, como juízos de valor formulados por um
indivíduo com base em suas crenças e valores, e que tenha sido preparado
especialmente em virtude do seu conhecimento e capacidade para emitir uma
opinião clínica de saúde mental de outro ser humano. Uma pessoa não está
mentalmente doente unicamente por ter sido diagnosticada como tal, pois se deve
considerar quem formulou o diagnóstico e quais os critérios que serviram de base
(TRAVELBEE, 1979; 1982).
Outra consideração de Travelbee (1979; 1982), em relação ao transtorno
mental, é que ele pode ser compreendido como a expressão de um estilo de vida,
uma forma de adaptar-se ou enfrentar a pressão; uma forma de relacionar-se com
os outros. Em certo sentido, o transtorno mental tem um propósito: pode
proporcionar alguns elementos de segurança e comodidade; um último recurso, uma
solução irracional para uma situação vital para a qual não possui solução.
91
A saúde e doença mental também têm sido consideradas em um contínuo,
em que a saúde encontra-se em um extremo e o transtorno em outro. O transtorno
mental constitui uma experiência vivida pelo ser humano e não simplesmente um
rótulo ou uma categoria. É o indivíduo que vivencia os sintomas de seu transtorno, e
por vezes experiencia a incomunicabilidade de sua condição, pois comunicar a dor
física ou mental a outra pessoa de forma compreensível nem sempre é possível. O
transtorno mental afeta cada aspecto da pessoa e se reflete em seus pensamentos,
sentimentos e ações, e convívio em sociedade (TRAVELBEE, 1979; 1982).
Travelbee (1979; 1982) tem o sofrimento humano como uma das suas
principais preocupações, compreendendo-o como uma sensação de mal-estar que
envolve desde o sensível e passageiro incômodo mental, físico e espiritual, até a
angústia extrema e fases além da angústia, como a desesperança, a negligência de
si mesmo, a indiferença e a apatia. O ser humano, ao se tornar vulnerável em um
universo indiferente, sofre e adoece. Adoecer, viver e morrer são processos que
fazem parte da história do ser humano.
Sofrer vai além do saber e do plano físico e se caracteriza como uma junção
de vertentes éticas, morais, religiosas, psicológicas, sociais e culturais. O sofrimento
é mais que uma simples ameaça à integridade biológica, mas também à sua
integridade como homem, como sujeito de ação e reação, que possui necessidades
próprias, específicas e que precisa de cuidado e atenção (KANTORSKI et al.; 2005).
O sofrimento de certo modo deixa de ser sofrimento no instante em que o ser
humano encontra nele um sentido. Essa é a razão pela qual o ser humano está
pronto para sofrer, quando isto é inevitável, sob a condição de que seu sofrimento
tenha um sentido. Quando um ser humano descobre que seu destino lhe reservou
um sofrimento, tem que ver nele também uma tarefa sua, única e original. A
maneira como ele próprio suporta esse sofrimento possibilita uma realização única e
singular, entretanto esse não é de modo algum necessário para encontrar um
sentido de vida (FRANKL, 2007).
A saúde mental está baseada em certo grau de tensão entre aquilo que já se
alcançou e aquilo que ainda deveria ser alcançado, ou o “hiato entre o que se é e o
que deveria vir a ser”. Essa tensão é inerente ao ser humano e, por isso,
indispensável ao bem-estar mental; porém, o que necessita não é um estado livre de
tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena (FRANKL,
2007, p.96).
92
Os conceitos de saúde e doença são influenciados por normas culturais,
regras ou formas de comportamento apropriadas à uma determinada sociedade, em
determinada época. Tais concepções são relativas e evoluem constantemente, por
isso a conduta considerada normal pode variar de uma cultura para outra e de um
período histórico para outro (TRAVELBEE, 1979; 1982).
Diante das transformações em nossa sociedade, a saúde e a doença devem
ser consideradas no contexto das políticas sociais e de participação da população
no processo das decisões e controle das condições de saúde do indivíduo e da
coletividade. Vivemos numa sociedade plural e a diversidade é sua característica
atual. Assim, os profissionais de Enfermagem têm o desafio de pensar com esforço
de ampliar o atendimento, respeitando a individualidade e singularidade de cada ser
humano no seu processo de saúde e doença. A complexidade dos problemas de
saúde exige, cada vez mais, um trabalho cooperativo e interdisciplinar que rompa
com o olhar fragmentado do ser humano (MEIRELLES; ERDMANN, 2005).
Os conceitos de saúde e doença foram construídos de modo amplo pelos
participantes, abrangendo não somente aspectos biológicos, mas incluindo aspectos
sociais; por exemplo, quando citaram que saúde é ter moradia, saneamento básico e
segurança; aspectos espirituais, ao expressarem doença como as da alma; e
aspectos psicológicos, ao descreverem saúde como capacidade do ser humano em
realizar seus planos, em estar bem consigo mesmo. Entretanto, percebe-se que o
conceito de saúde, mesmo após a teorização com o referencial teórico deste estudo,
manteve a influência de uma das primeiras concepções de saúde utilizada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) como perfeito bem-estar físico, mental e
social, principalmente pelos profissionais da Enfermagem e demais técnicos.
Ressalta-se que o conceito de saúde tem evoluído principalmente em
decorrência de reflexões e vivências que pouco a pouco vão sendo apropriadas pelo
conjunto da sociedade. Engloba hoje questões referentes ao ambiente, ao grau de
desenvolvimento sócio-cultural, à possibilidade de renda e trabalho, à redução da
violência, entre outros, superando o conceito originário de saúde. A própria
compreensão de saúde tem também alto grau de subjetividade e determinação
histórica, dependendo do momento, do referencial e dos valores que são atribuídos
a determinada situação. Assim, o conceito de saúde remete a uma construção
permanente de cada ser humano e da sociedade (TEIXEIRA, 2002).
93
O conceito discutido na seqüência pelos participantes foi o de Ambiente, o
qual apresento a seguir.
Ambiente
Os participantes explicitaram o conceito de ambiente como o local, o lugar, o
espaço em que acontecem as interações, estabelecem-se as relações no qual o ser
humano vive, convive e se comunica, sendo agradável ou não. Esse ambiente pode
ser familiar, do trabalho, escolar, religioso, de lazer entre outros.
“... local onde as interações humanas acontecem, ou seja, onde os seres humanos
se comunicam através da linguagem escrita...” (Enfermagem).
“Ambiente é o meio onde vivemos e trabalhamos. É a vivência com a família,
vizinhos amigos. Ambiente é toda relação que temos com a vida e as coisas que
rodeiam...” (Enfermagem).
“É o lugar onde se convive. Pode ser dividido em ambiente familiar: onde me
relaciono com pessoas mais próximas, filhos e esposo. Ambiente de Trabalho: onde
eu exerço minhas funções profissionais, de onde retiro meu sustento. Ambiente de
lazer onde me relaciono com objetivo de entretenimento. Ambiente religioso: onde
me relaciono com as pessoas da mesma crença e desenvolvo minha espiritualidade.
Pode ter outros tipos de ambiente: escolar, político...” (Enfermagem).
“... um lugar onde convivemos. Nosso lar, nosso local de trabalho, onde podemos
nos sentir bem, transmitir paz para outras pessoas...” (Apoio).
“... ambiente para mim é conviver com as pessoas que eu gosto...” (Apoio).
“... local de trabalho onde uma equipe desenvolve suas atividades com muita
responsabilidade...” (Apoio).
“... é o espaço onde se estabelecem as relações entre as pessoas...” (Técnico).
“... uma coisa que caracteriza o meio são as trocas, e estas podem ser físicas,
psicológicas, sociais, estruturais e espirituais...” (Técnico).
“... é o local, espaço que pode ser composto por pessoas, objetos, plantas...”
(Técnico).
Segundo Stefanelli e Carvalho (2005) o ambiente engloba não somente o
espaço físico utilizado, como também as pessoas que interagem, sua cultura,
mobiliário, iluminação, arejamento, temperatura, ruídos, condições de tempo e
espaço e, pode influenciar as condições emocionais, físicas e psicológicas das
94
pessoas envolvidas. O ambiente no qual nos comunicamos com a pessoa com
doença mental deve ser o que propicia melhores condições possíveis dentro de
cada realidade, tentando manter a segurança, o conforto e a privacidade do ser
humano.
Para prestar o cuidado em saúde mental é necessário o preparo do ambiente
para o estabelecimento da relação interpessoal, como proporcionar o máximo de
privacidade, um ambiente tranqüilo, acomodação das pessoas de forma que possam
manter contato visual e proximidade suficiente (TRAVELBEE, 1979; 1982;
STEFANELLI; CARVALHO, 2005).
No serviço de saúde mental, o ambiente também necessita ser considerado,
tanto nos aspectos físicos, como nos aspectos psicossociais. Deve ser um ambiente
que permita potencializar recursos pessoais e facilitar apoios socioafetivos. Por meio
do exercício da cidadania, do contato com homens e mulheres, da participação em
atividades, de reuniões de convivência, reuniões de grupos operativos, entre outras;
e do relacionamento com os membros da equipe, a pessoa com transtorno mental
terá oportunidade para participar de discussões, assumir responsabilidades pelo seu
próprio bem-estar (ROCHA, 2005).
Os participantes enfocaram o ambiente como dinâmico, que influencia e é
influenciado pela presença do ser humano e por suas características, tanto nos
aspectos positivos quanto negativos.
“... o meu ambiente sou eu quem faço...” (Enfermagem).
“... devemos contribuir da melhor forma possível para que ambiente seja saudável”
(Enfermagem).
“O espaço de convivência familiar, de trabalho e social... onde depende da atitude
de cada um, podendo criar um ambiente saudável ou de conflito” (Enfermagem).
“... local onde realizamos nosso serviço. É nossa casa e também somos nós quem o
fazemos, que podemos deixá-lo agradável ou insuportável conforme atitudes que
nós e outros temos ...” (Apoio).
“... se estou em contato com as pessoas, falando, interagindo, torna-se um lugar
onde eu contribuo com o ambiente...” (Apoio).
“... quem faz o ambiente sou eu mesmo...” (Apoio).
95
“O ambiente é o meio que compreende o espaço físico, com suas condições e
características. O ambiente humano é caracterizado por um conjunto de influências
do meio sobre os seres. O ambiente é uma coisa que está de toda forma
mudando...” (Técnico).
“... é tudo que nos cerca, material e humano, bom e ruim, e nos influencia...”
(Técnico).
“É o conjunto das influências do meio sobre o ser humano ou outro ser vivo. Todas
as formas de estimulação que influenciam um organismo, desde estímulos físicos
até culturais....” (Técnico).
Ambiente é entendido como o contexto no qual ocorre a relação interpessoal,
isto é, como um ambiente intrínseco e interno, social, biológico, psicológico, cultural
e físico. O enfermeiro é capaz de criar um ambiente propício às relações recíprocas,
por intermédio do qual cada um pode aprender. Entretanto, todos os trabalhadores
de saúde devem participar pela manutenção e melhoria do ambiente, sendo capazes
de criar e facilitar a identificação de condições para o estabelecimento da relação
interpessoal no cuidado (TRAVELBEE, 1979; 1982).
O ambiente pode afetar o comportamento das pessoas e estas tendem a
sentirem seguras em contexto conhecido e inseguras em face do desconhecido
(STEFANELLI; CARVALHO, 2005). Desta maneira, é importante o papel da
enfermagem, bem como dos demais membros da equipe, na manutenção de um
ambiente favorável que permita a liberdade, o acolhimento, o respeito, o estímulo às
habilidades e às capacidades emergentes para realizar um cuidado efetivo e de
qualidade à pessoa com transtorno mental e/ou familiares (ROCHA, 2005).
Percebe-se nos relatos dos participantes que o conceito de ambiente também
possui sentido amplo, externando que se trata do local em que se desenvolve o
trabalho, mora e interage, ou seja, um espaço ilimitado no qual acontece o viver
humano. Desse modo, o ambiente é onde vivemos, convivemos e nos relacionamos
com as pessoas e demais coisas à nossa volta. Para que nos sintamos bem física e
mentalmente é necessário que o ambiente seja sadio e harmônico. Os participantes
extrapolaram o conceito geográfico de ambiente, enfatizaram acentuadamente os
aspectos emocionais, e que o ser humano influencia na qualidade do ambiente e
também é influenciado por ele.
O próximo conceito discutido com os participantes dessa pesquisa foi o de
Equipe, e os dados que emergiram a partir das discussões nos Encontros, são
descritos a seguir.
96
Equipe
Os participantes conceituaram Equipe como um grupo de pessoas com
diferentes formações, atribuições e funções, que compartilham idéias, possuem
objetivo comum, ainda que não estejam reunidos em um mesmo momento.
“... um grupo de pessoas que desenvolve um projeto em comum, com objetivos
claros, onde somente com soma dos desempenhos individuais este objetivo é
alcançado...” (Enfermagem).
“... é o conjunto de pessoas que tem os mesmos objetivos, independente de
horários, mesmo que não estejam reunidos ao mesmo tempo...” (Enfermagem).
“... um grupo de pessoas que se reúnem para trabalhar ou realizar uma tarefa...”
(Enfermagem).
“... um grupo de pessoas que trabalham em conjunto. As pessoas em cada profissão
desempenham trabalho em função do paciente. Conjunto de pessoas desde
faxineiro até médico, cada um na sua função” (Enfermagem).
“... é um grupo em que pessoas participam ou fazem parte em busca de um mesmo
objetivo, compartilhando idéias para a realização de algo... (Apoio).
“Conjunto de pessoas que se reúnem para realizar diversos tipos de atividades
podendo ser de várias funções, ex: médico, enfermeiro, pessoal de limpeza,
psicólogo e terapeuta ocupacional. Isso é uma equipe hospitalar e, dentro de nossa
casa, nossa família também é uma equipe...” (Apoio).
“... conjunto de pessoas formadas para atingir determinados objetivos ou
desempenhar alguma atividade...” (Técnico).
“... grupo de pessoas com o mesmo objetivo que dividem tarefas interligadas para
atingir o objetivo desejado...” (Técnico).
Travelbee (1979; 1982) se refere à equipe como membros de diversas
disciplinas da saúde que compartilham a meta global mais importante no cuidado, a
relação terapêutica, para ajudar a pessoa a reintegrar-se na sociedade.
As transformações ocorridas nas instituições de saúde mental de Trieste,
província da Itália, as quais influenciaram outras realidades, como o Brasil, bem
como o paradigma da desinstitucionalização, conclamam os trabalhadores da área
da saúde mental para um trabalho interdisciplinar, o qual se faz a partir de uma
relação entre profissionais de diferentes disciplinas (AMARANTE, 2003a). Mas, na
minha prática profissional, tenho percebido que apesar de atualmente, no país,
97
existir regulamentações, leis e portarias que determinam a composição da equipe
multiprofissional em saúde mental, ainda persiste um trabalho em que cada
profissional está empenhado em desenvolver a sua parte, por vezes sem qualquer
conexão com o trabalho dos demais membros.
Devido à tendência atual de ampliação na composição cada vez mais da
equipe de trabalhadores da área da saúde mental nos diversos dispositivos de
tratamento, considero oportuno apresentar neste trabalho o conceito de equipe
multiprofissional de Peduzzi (2001, p.109), que consiste na “modalidade de trabalho
coletivo que se configura na relação recíproca entre múltiplas intervenções técnicas
e a interação dos agentes de diferentes áreas profissionais”.
O termo interdisciplinaridade é empregado quando o nível de interação entre
várias disciplinas conduz a interações reais, certa reciprocidade, levando a um
enriquecimento mútuo. Para que isso aconteça, é necessário que haja uma
comunicação efetiva, a qual implica em superar os termos especializados, dando
origem a uma linguagem única para expressar os conceitos e as contribuições das
várias disciplinas, a fim de facilitar a compreensão e o intercâmbio das informações
(PEDUZZI, 2001; ROCHA, 2005).
A interdisciplinaridade é enfatizada na política atual de atenção à saúde
mental brasileira. Reconhece-se que o entrelaçamento na atuação de profissionais
de diferentes áreas gera conflitos, mas também permite construir estratégias
baseadas nas pactuações do grupo, pois acredita-se que a vivência da
interdisciplinaridade pela equipe contribui para a estruturação de um ambiente
terapêutico (ROCHA, 2005).
De acordo com a Portaria GM n. 251, de 31 de janeiro de 2002, a assistência
às pessoas com transtornos mentais em hospitais psiquiátricos deve ser realizada
por equipe multiprofissional, composta no mínimo por um médico, um enfermeiro,
um assistente social, um terapeuta ocupacional, um psicólogo, um clínico geral, um
nutricionista, um farmacêutico e profissionais de nível médio da Enfermagem. Esta
equipe técnica deve estabelecer e executar um projeto terapêutico para o
atendimento individual e grupal das pessoas com transtornos mentais, e deve estar
voltado para sua recuperação desde a internação até a alta hospitalar (BRASIL,
2002a).
A atuação terapêutica dos profissionais e as ações planejadas para a prática
em saúde mental devem estar voltadas para a reabilitação e reintegração da pessoa
98
com transtorno mental na família e na comunidade em busca da sua cidadania e
dignidade. Embora exista um grande leque de ações que devem ser desenvolvidas
por todos os trabalhadores da equipe, há, porém, as ações específicas de cada
profissão que devem ser reconhecidas e respeitadas no sentido de qualificar o
cuidado em saúde mental (JORGE; MACÊDO, 2000).
Os participantes externaram também a importância de cada membro em
assumir a sua função e/ou tarefa para alcançar os objetivos propostos e que o
respeito, o companheirismo, a atenção, a responsabilidade, a criatividade, a união, a
solidariedade, a comunicação, a aceitação das diferenças e dos potenciais de cada
um são características fundamentais para o trabalho em equipe.
“... devemos nos respeitar e aceitar uns aos outros. E deve haver comunicação...”
(Enfermagem).
“... é parceria, é saber partilhar as diferenças e potenciais de cada um, é aceitar
colaboração, receber ajuda e também ajudar. Uma equipe bem entrosada tem tudo
para funcionar...” (Enfermagem).
”... deve ter companheirismo, amor pelo próximo, respeito às diferenças de opiniões.
Uma andorinha sozinha não faz verão...” (Enfermagem).
“... é dinamismo, responsabilidade, é saber ouvir, discutir e criar ações que
favoreçam a todos ...” (Apoio).
“... uma equipe boa desenvolve melhor qualquer trabalho; existe união, mais força,
idéias diferentes, divisão de tarefas etc, companheirismo.” (Apoio).
“... seus integrantes deveriam apresentar algumas características que auxiliam no
adequado andamento do grupo, como: solidariedade, senso-crítico, união, respeito e
comunicação... Para um adequado andamento do grupo, é necessário que seus
elementos funcionem de maneira coesa, íntegra, com interação e dividindo papéis.
Características como solidariedade, senso-crítico, união, respeito e comunicação
enriquecem o desenvolvimento da equipe” (Técnico).
Antes do Movimento da Reforma Psiquiátrica, os papéis dos profissionais de
saúde mental estavam definidos claramente, pois cada um atuava em sua área
específica e se caracterizava como trabalho multiprofissional. Com a proposta de
reabilitação psicossocial por meio do trabalho interdisciplinar, os papéis e funções
profissionais sobrepõem-se uns aos outros, tornando-os, em algumas situações e
ações, indistintos. Para que não aconteça a perda de identidade profissional é
preciso determinar com clareza qual será o Núcleo de Competência, atribuições
99
específicas de cada profissão, e o Núcleo de Responsabilidade, funções comuns
aos profissionais das diversas profissões que trabalham conjuntamente (MAIA;
PAVARINI, 2002).
O trabalho em equipe exige estudo, discussões e reuniões constantes com os
profissionais para estabelecer o plano terapêutico a cada pessoa com transtorno
mental, levando em consideração as informações e observações de todos os
trabalhadores envolvidos. Isso exige um grau de confiança entre as pessoas,
habilidades de comunicação e interpessoais para que o relacionamento profissional
se estabeleça e resulte em um cuidado humanizado (ROCHA, 2005).
Os enfermeiros ainda estão tentando definir e incorporar esta concepção de
atuação interdisciplinar e têm um árduo caminho a percorrer, principalmente para
conseguir perceber a importância do trabalho em equipe e efetivar o cuidado neste
enfoque (MAIA; PAVARINI, 2002). Ressalto que um trabalho interdisciplinar, quando
sustentado nos princípios de humanização, é favorável às pessoas com transtorno
mental, porém para que isso aconteça é necessário perseverança, interesse,
conhecimento científico, ética e compromisso profissional.
Sob a influência da psiquiatria democrática, é por meio da comunicação que
se dá a articulação das ações interdisciplinares e cooperação na equipe. A
comunicação é valorizada tanto no sentido profissional - pessoa com doença, quanto
entre os profissionais. Também passa a ser valorizada a participação de
personagens habitualmente secundários: a cozinheira, o porteiro, a funcionária da
limpeza e outros que também podem estabelecer comunicação com o paciente
(ROCHA, 1994).
A comunicação é fundamental no trabalho em equipe, na medida em que a
interação entre os profissionais e as ações, bem como a integração dos saberes,
ocorre mediada simbolicamente pela linguagem. É por meio dela que os membros
da equipe podem trocar informações, questionar, estabelecer consenso e
estabelecer os projetos terapêuticos com e para as pessoas com transtornos
mentais (ROCHA, 2005).
Nos conceitos de equipe percebe-se o sentido de um conjunto de pessoas
com objetivo comum, o que foi descrito independentemente da categoria
profissional, cargo/ocupação, demonstrando, assim, a unicidade desta concepção
entre os participantes. Ampliaram-no explicitando que cada pessoa desempenha um
papel e/ou função e descreveram algumas características de uma equipe, como, por
100
exemplo: responsabilidade, respeito e comunicação, que influenciam na qualidade
do atendimento prestado e na obtenção do objetivo proposto.
Em relação à equipe em saúde mental, penso que do mesmo modo que
muitos trabalhadores estiveram unidos para lutar pelo movimento de Reforma
Psiquiátrica brasileira, agora torna-se necessário um esforço para desenvolver um
trabalho de forma interdisciplinar que contemple todas as dimensões e necessidades
de cuidado à pessoa com transtorno mental.
O último conceito discutido nos Encontros com os trabalhadores do hospital
campo deste estudo foi a Relação Interpessoal, que apresento a seguir.
Relação Interpessoal
Os participantes explicitaram a Relação Interpessoal como aquela que
acontece entre as pessoas para viver em sociedade, estabelecida pela comunicação
verbal e/ou não-verbal, em que ocorre troca de idéias, conhecimentos, experiências
boas ou ruins e expressão dos sentimentos. Para que a relação seja efetiva, existe a
necessidade de respeitar mutuamente as diferenças entre as pessoas.
“... é o modo pelo qual uma ou mais pessoas trocam ou processam informações,
utilizando a linguagem verbal ou não- verbal....” (Enfermagem).
“... é a comunicação entre duas ou mais pessoas que expressam seus sentimentos
e procuram entrar em harmonia, respeitando um ao outro...” (Enfermagem).
“É a capacidade individual de trocar idéias, espaços, experiências, conhecimento
com aqueles que nos cercam em todos os ambientes...” (Enfermagem).
“... é uma relação entre as pessoas e a maneira que se comunicam uns com os
outros...” (Apoio).
“... é a troca de experiências. Capacidade de viver com o outro respeitando as
diferenças específicas de cada ser humano. Viver as diferenças com igualdade de
valor e direitos...” (Apoio).
“... é o modo como nos comunicamos e agimos com outras pessoas, podendo ser
amigavelmente ou apáticamente...” (Apoio).
“... uma troca de idéias, um aprendizado de valor, sem falsidade, com harmonia e
respeito mútuo. Saber ouvir e compreender...” (Apoio).
“... é o estabelecimento de relações entre as pessoas, caracterizada pela
comunicação...” (Técnico).
101
“... é uma troca (influenciar e ser influenciado) de idéias, opiniões, sentimentos (bons
e ruins) de experiências (vivências)...” (Técnico).
“... é o contato com outras pessoas, baseada no respeito, que pode ser verbal ou
não-verbal, harmoniosos...” (Técnico).
Antes de discorrer a respeito da relação interpessoal, considero oportuno
tecer algumas considerações sobre a comunicação. O processo de comunicação
pode ser contemplado em diferentes abordagens, uma delas é como base ou
suporte para o cuidado de Enfermagem em saúde mental, sendo o meio pelo qual o
relacionamento terapêutico, entre profissional e paciente se estabelece. Para
Stefanelli e Carvalho (2005) a comunicação é uma competência interpessoal,
habilidade do profissional que possibilita atender às necessidades do paciente em
todas as suas dimensões, considerando sua cultura e o ambiente. É por meio dela
que se desenvolve e mantém um relacionamento terapêutico.
A comunicação é entendida como um processo de compreender, compartilhar
mensagens enviadas e recebidas, sendo que o modo como se dá seu intercâmbio e
as próprias mensagens exercem influência no comportamento das pessoas
envolvidas, no momento ou posteriormente; um “conjunto de fenômenos interativos
e interpretativos” entre uma ou mais pessoas ou agentes, que “se afetam de forma
mútua e semelhante”; é um processo governado por regras; ocorre em determinado
tempo; inclui “troca e processamento de comportamentos verbais e não-verbais, com
dimensões qualitativas e quantitativas”; em diferentes contextos. A comunicação é
também vista como “performance, execução e desempenho relacional” que surge
como processo de construção de modos de realidade social. (STEFANELLI;
CARVALHO, 2005, p.139, p.5).
A comunicação pode ser verbal ou lingüística, paraverbal ou paralinguística e
não-verbal ou não lingüística. A comunicação verbal refere-se às mensagens
escritas e faladas que ocorrem em forma de palavras como os elementos de
linguagem que usamos para nos comunicar. A paraverbal ocorre quando se emite
qualquer som produzido pelo aparelho fonador, usado no processo comunicativo,
que não faça parte do sistema sonoro da língua usada. Esses sons demonstram
sentimentos, características da personalidade, atitudes, tipos de relacionamento
interpessoal e autoconceito. A forma não-verbal refere-se às mensagens emitidas
pela expressão corporal, facial, gestos, presença de rubor, sudorese, tremores,
102
lacrimejamento, palidez, ou seja, é toda comunicação que acontece sem o uso da
linguagem, esta forma de comunicação merece atenção especial por parte dos
profissionais de saúde, pois não se tem controle consciente sobre ela e é por seu
intermédio que ocorre expressão de sentimentos (STEFANELLI; CARVALHO, 2005).
O profissional de saúde, ao fazer uso consciente do conhecimento sobre
comunicação humana, para ajudar a pessoa a descobrir e utilizar sua capacidade e
potencial para solucionar conflitos, reconhecer limitações pessoais, ajustar-se ao
que não pode ser mudado e a enfrentar os desafios à auto-realização, tendo como
meta encontrar um sentido para viver com autonomia, esta se transforma na
comunicação terapêutica (STEFANELLI; CARVALHO, 2005).
Nessa perspectiva, a comunicação com as pessoas portadoras de transtornos
mentais é uma das estratégias primordiais que deve ser utilizada pelos profissionais
de enfermagem para atingir suas metas específicas de cuidado. Quando o
profissional de enfermagem usa técnicas de comunicação terapêutica, ajuda a
pessoa a se expressar, ao mesmo tempo em que compreende sua experiência,
além de servir de modelo para ele (TRAVELBEE, 1979, p.60; 1982).
Assim, a comunicação terapêutica é a base para o estabelecimento do
relacionamento terapêutico que consiste em uma interação entre seres humanos, na
qual não se evidencia qualquer posição de hierarquia, de modo que ambos podem
compartilhar sentimentos, valores e significados. Travelbee (1979; 1982) explicita
que esta interação terapêutica se constitui em um encontro único e original, e é uma
meta a ser alcançada, sendo o resultado final de uma série de interações planejadas
entre o enfermeiro e pessoa com transtorno mental, e que esta possibilita a ambos o
desenvolvimento de uma capacidade crescente para continuar a estabelecer
interações. A interação que ocorre durante um período particular da vida de ambos
não pode ser repetida ou imitada e uma de suas características é que tanto o
profissional quanto o paciente experenciam o crescimento e a mudança de
comportamento e aprendem com o processo (TRAVELBEE, 1979; 1982).
Durante a interação terapêutica cada pessoa é afetada e afeta por sua vez os
pensamentos, sentimentos e comportamentos do outro. Aprender mais acerca de si
mesmo permite o desenvolvimento da habilidade de controlar e mudar seu
comportamento aumenta a habilidade para abordar e enfrentar situações reais e
para ajustar-se às próprias expectativas e às dos demais. Assim, o profissional de
103
saúde aumenta o conhecimento, progressivamente, de suas próprias possibilidades
e limitações (TRAVELBEE, 1979; 1982).
Nos relatos observa-se que os profissionais explicitaram a relação
interpessoal como qualquer relação estabelecida entre pessoas, entretanto,
Travelbee (1979; 1982) a diferencia de outras, devido à mesma ser planejada,
deliberada conscientemente pelo profissional, assim como possui uma meta e um
propósito definido. Como resultado dessa relação, a pessoa com transtorno mental
amplia sua capacidade para enfrentar a realidade e para descobrir soluções para
seus problemas e aprende a comunicar-se e a socializar-se.
Em sua tese, Ribeiro (2005) evidenciou o despreparo dos técnicos e
auxiliares de enfermagem para se comunicar e se relacionar com pessoas com
transtornos mentais. Mediante a observação de campo de pesquisa, constatou que
estes profissionais pouco dialogavam com os pacientes e quando o faziam
acontecia essencialmente em termos de brincadeiras. A autora relatou que o
relacionamento entre a equipe de enfermagem e o paciente era escasso, e que
ocorria em sua maioria nos momentos de realização de atividades, procedimentos
ou rotinas próprias do serviço.
Por outro lado, nesse mesmo estudo, ao realizar entrevistas com os
pacientes, percebeu que eles valorizavam os diálogos com os profissionais de saúde
e de Enfermagem, os quais relataram que auxiliava no seu tratamento, despertando
sentimentos positivos. Destaca, ainda, que mesmo os pacientes não conhecendo a
definição de relacionamento interpessoal, temas atribuídos a esta habilidade, como
comunicação, empatia, confiança foram registrados como importantes para seu
bem-estar (RIBEIRO, 2005).
Os participantes deste estudo expressaram que o respeito, o saber ouvir, a
comunicação, a aceitação dos limites próprios e das outras pessoas, e das
diferenças entre os seres humanos são características necessárias no
desenvolvimento de uma relação interpessoal profícua.
”... para ser boa, a relação entre as pessoas deve ser provida de equilíbrio,
sensatez, respeito, cordialidade. Num relacionamento humano sadio nos mais
diferentes ambientes, ninguém pode ser o dono da verdade. É preciso saber ouvir,
às vezes aceitar os limites dos outros e os próprios limites. Aceitar e partilhar as
diferenças.” (Enfermagem).
104
“... em primeiro lugar, é respeitar a pessoa, sendo ela da família, colega ou outras”
(Enfermagem).
“temos que entender a personalidade do outro, respeitar a maneira da outra pessoa
pensar e agir” (Apoio).
“... exige respeito, compreensão, comunicação, ética, saber ouvir e respeitar a
expressão do outro, utilizando bom senso independente de raça ou cor...”
(Enfermagem).
Para o desenvolvimento de uma relação interpessoal efetiva é necessário um
rol de saberes e práticas destinadas à compreensão do ser humano, de suas
limitações, necessidades imediatas e potencialidades. Essa relação permite o
entendimento das experiências de vida da pessoa com transtorno mental, o estímulo
à sua participação na tomada de decisões no plano terapêutico e o reconhecimento
do enfermeiro e paciente como seres humanos (KANTORSKI et al.; 2005). O
profissional de saúde deve ser autêntico, sincero, empático e demonstrar
comprometimento com a realidade da pessoa com transtorno mental, o que lhe
permitirá desvelar um profundo entendimento da vida íntima da pessoa para que
possa ajudá-lo (TRAVELBEE, 1979; 1982; STEFANELLI; CARVALHO, 2005).
São considerados aspectos essenciais para o estabelecimento de uma
relação terapêutica: a empatia, o envolvimento, a confiança e o respeito mútuo. A
empatia e o envolvimento acontecem quando, por exemplo, o profissional de saúde
tenta perceber a experiência do paciente como este a vivencia, sem perder o seu
papel de profissional. Ao perceber e compreender o mundo do outro, o profissional
de saúde pode prestar um cuidado individualizado com o respeito de suas crenças,
valores e cultura. Além disso, acreditar na dignidade e no valor da pessoa,
independentemente de seu comportamento, aceitá-la sem julgar, demonstrar
interesse genuíno e compreender as diferenças possibilita ao profissional uma
relação de respeito mútuo, necessário para o desenvolvimento de um
relacionamento terapêutico embasado na confiança (TRAVELBEE, 1979; 1982;
STEFANELLI; CARVALHO, 2005).
Atitudes como ouvir reflexivamente, usar o silêncio terapeuticamente,
verbalizar aceitação e interesse estimulam ou facilitam a expressão verbal de
pensamentos e sentimentos a respeito da experiência de vida da pessoa com
transtorno mental. Ouvir reflexivamente, apesar de parecer algo passivo, é um
processo que requer concentração, esforço voluntário para estar atento a não julgar
105
o conteúdo do pensamento que é expresso e pensar a respeito do que está sendo
dito, e ainda, é importante tentar entender o que está sendo transmitido por meio da
observação da comunicação não-verbal e paraverbal. O sucesso do relacionamento
entre profissional de saúde e paciente depende da habilidade de saber ouvir,
associado ao uso terapêutico do silêncio. O uso do silêncio requer do profissional
paciência para poder transmitir ao paciente a idéia de estar atento e pronto para
ouvi-lo. O paciente, ao sentir-se aceito, respeitado e valorizado como pessoa, tende
a experimentar segurança e confiança, e a comunicar o que sente (TRAVELBEE,
1979; 1982; STEFANELLI; CARVALHO, 2005).
O conceito de relação interpessoal foi descrito pelos participantes como
qualquer relação que se estabelece entre pessoas, sendo elas do meio familiar,
social ou de trabalho. Descrevem, ainda, que ela se estabelece a partir da
comunicação verbal e não-verbal, podendo ser de boa ou má qualidade.
Neste conceito, foi necessário diferenciar uma relação interpessoal de uma
interação terapêutica, salientando que essa deve ter objetivos definidos e ser
planejada pelo profissional de saúde, o qual se utiliza de técnicas de comunicação
terapêutica para seu estabelecimento, manutenção e término. Concordo com
Kantorski et al.; (2005, p.322) quando afirmam que o relacionamento terapêutico é
um “contrato” de envolvimento entre o profissional e a pessoa com doença
mental/família, que permite reconhecer a singularidade de cada ser humano, suas
relações sociais, perspectivas, fragilidades e potencialidades, bem como “possibilita
o resgate da autoconfiança, da autovalorização e reinserção no mundo externo”.
Durante a apresentação dos conceitos pelos grupos surgiu a partir dos
participantes a discussão se aquelas construções representavam o cotidiano do
trabalho na Instituição, ou conceitos que eles idealizavam. Entretanto, foi relembrado
o acordo realizado no início dos Encontros, de que se tratava de uma proposta de
reflexão da prática do cuidado desenvolvido naquela Instituição por seus diferentes
trabalhadores, com a finalidade da construção de um marco de referência.
Porquanto, as discussões expressam as reflexões realizadas a respeito da vivência.
Finalizado o primeiro momento, o qual denominei processo de construção
individual - em que os participantes fizeram registros a respeito dos conceitos por
eles eleitos para discutir neste estudo, passo a descrever o segundo momento,
processo de construção grupal, no qual os sujeitos realizaram discussões, reflexões
106
e registros em grupos, formados de acordo com cada categoria profissional,
cargo/ocupação.
4.3. 2 O processo de construção grupal
Momento que teve como finalidade fazer uma discussão grupal dos pontos-
chave - conceitos eleitos pelos participantes na segunda etapa do método do Arco.
Para o desenvolvimento das atividades, solicitei aos participantes que formassem
grupos de acordo com a cor do papel sulfite no qual eles tinham feito seus registros
individuais. Inicialmente, havia três grupos: os participantes que possuíam papel
verde compunham o grupo Enfermagem, os que possuíam papel amarelo
compunham o grupo de Técnicos/Demais Profissionais e os de papel rosa formavam
o grupo de Rede de Apoio/ Demais Trabalhadores. Os participantes que possuíam a
mesma cor de papel se reuniam. Entretanto, quando o grupo ultrapassava o número
de oito sugeria a divisão em dois ou mais grupos, de forma que o número não
ultrapassasse a oito.
O objetivo dessa divisão era manter grupos pequenos, de três a oito, para
uma melhor participação, valorização, compartilhamento de idéias na discussão de
cada conceito/pontos-chave. Seguindo essa dinâmica em todos os Encontros,
resultou em 14
4
grupos que discutiram cada conceito. Entretanto, a quantidade de
participantes dos grupos foi desigual, influenciada pelo número de pessoas de
acordo com cada categoria profissional e cargo ocupado, e pelo esquema de plantão
adotado na Instituição. Após terem formados os grupos, solicitei que
compartilhassem entre eles o conteúdo que haviam registrado individualmente e, na
seqüência, formulassem um conceito que representasse a idéia do coletivo. Para o
desenvolvimento da atividade, ofereci papel cartolina, e durante a realização das
mesmas, circulei pela sala esclarecendo as possíveis dúvidas metodológicas.
Após finalizarem essa atividade, cada grupo apresentou o conceito construído
para os demais grupos. Na medida em que era feita a apresentação, o grupo afixava
o cartaz em um varal de barbante que circundava as paredes da sala. Durante a
____________________
4 O número total de participantes que iniciaram nos Encontros e, que assinaram o Termo de Consentimento e
Ficha de Caracterização dos Sujeitos foi 152 pessoas. Entretanto, destes, alguns não freqüentaram os quatro
Encontros, e outros necessitaram se ausentar durante a realização do Encontro. Por isso, houve redução no
número total de grupos formados
107
apresentação, percebi que havia competição nas colocações verbais e não-verbais
expressas por alguns participantes. Aproveitei, então, para reafirmar que se tratava
de maneiras diferentes de conceber o mesmo conceito e da possibilidade de
crescimento individual e coletivo ao promovermos a reflexão. Procurei manter essa
prática durante as demais construções, relacionando cada conceito com o cuidado
em saúde mental desenvolvido pelos trabalhadores da Instituição e procurando
valorizar a experiência de cada participante.
Para garantir a obtenção dos dados e facilitar a análise dos mesmos, com o
auxílio de uma bolsista de iniciação científica, enumerei os cartazes de acordo com
a categoria profissional/cargo e ocupação dos participantes, gravei os Encontros em
fita k7 e registrei relatos e expressões não-verbais percebidas. Após cada Encontro,
retirava os cartazes e recolhia os papéis sulfite da produção individual, para serem
analisados e fazer um agrupamento das idéias centrais a serem discutidas e
validadas pelo grupo nos Encontros seguintes.
Ao término da discussão e construção dos conceitos, em função das
expressões de competitividade que havia identificado no trabalho dos grupos,
propus a realização da dinâmica “Percepção de Equipe” que tinha como objetivos
estimular a percepção do outro, a consciência grupal e demonstrar a importância de
cada membro no trabalho de equipe (MIRANDA, 2002). Assim, solicitei que os
participantes permanecessem em pé, dispostos em um círculo, abraçados, bem
próximos uns aos outros e, de olhos fechados, se movessem para o lado direito,
retornassem à posição original e, em seguida, para o lado esquerdo.
Na seqüência, incentivei a expressão da vivência da técnica relacionada com
a discussão e construção dos conceitos. Sentindo-me integrante do grupo, confesso
que foi difícil encontrar palavras para relatar as expressões dos participantes, que se
constituíram em verdadeiro compartilhar de conhecimento, experiência e valorização
do ser humano.
Os conceitos elaborados pelos grupos e redigidos nos cartazes durante os
Encontros foram agrupados em quadros e são apresentados a seguir (QUADROS 8,
9, 10, 11, 12 e 13).
108
PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM TÉCNICOS / DEMAIS
PROFISSIONAIS
TRABALHADORES DA REDE DE APOIO
Profissão que presta assistência ao ser
humano de forma integral, visando
minimizar o sofrimento, oportunizar
melhores condições de vida, aplicando
conhecimento e práticas de caráter
preventivo, curativo e de reabilitação,
respeitando a dignidade e os valores do
ser humano.
É a utilização de técnicas que,
aliadas a uma visão humanitária,
permite a minimização do
sofrimento de pessoas,
temporária ou permanentemente
limitadas por problemas de
saúde, bem como o resgate da
autonomia para o cuidado,
respeitando sua individualidade e
sem preconceitos culturais.
Dedicação, vida, amor, ética profissional,
dom, segurança, sentimento, preconceito,
auxílio, valorização, família.
É uma realização profissional e pessoal
principalmente porque se trata de
salvar vidas, procurando oferecer um
tratamento humanizado com conforto e
segurança, atendendo suas
necessidades básicas (alimentação,
higiene, medicação, cuidados em
geral).
E uma profissão que se insere na
divisão sociotécnica do trabalho,
responsável por responder pela
demanda da “questão social”
fundada na contradição saúde-
doença. É responsável por cuidar
da saúde mental e física das
pessoas. Abrange tanto o
tratamento quanto a prevenção
das doenças. Está ligada
diretamente ao bem-estar físico e
mental das pessoas. A equipe de
Enfermagem necessita de um
cuidado e de uma atenção
especial, considerando que a
dedicação aos enfermos traz um
significativo desgaste físico,
mental e emocional.
É indispensável dentro da equipe que vai
tratar do paciente. São pessoas que
dedicam horas de suas vidas dando amor e
carinho a quem precisa de atenção. Devem
fazer o trabalho por amor e não por
obrigação. Nós aprendemos com a
Enfermagem que trabalha bem. São
verdadeiros amigos dos pacientes, dando
remédio, cuidando da higiene, orientam o
paciente que sai do hospital de cabeça
erguida. A Enfermagem deve dar amor e
carinho, porém tem aqueles que só
trabalham por dinheiro. É fundamental o
respeito pelo paciente. É a pessoa mais
próxima durante a maior parte do tempo.
Portanto, é quem vai perceber a melhora
ou a piora do paciente e ajudar ou outros
técnicos, colaborando dessa forma no
tratamento do paciente.
É uma ciência que estuda as maneiras
e métodos de realizar cuidados de
enfermagem com os clientes. Visa
atender as necessidades
biopsicosociais. Ela nos traz um
aprendizado no dia a dia com os
clientes. Também esclarece que
devemos respeitar a individualidade de
cada um. É uma profissão que deve ser
exercida com muito amor.
Presta serviço na área de saúde
atendendo aos cuidados básicos
na atenção primária (prevenção),
secundário (tratamento) e
terciária (acompanhamento da
continuidade do tratamento).
Tarefas desenvolvidas: executam
atividades diretas e de tempo
integral com os pacientes;
cuidados de higiene; cuidados
com alimentação; auxilia e
executa o suporte para ações
curativas; acompanhamento,
administração e checagem de
medicação. Faz parte da equipe
de assistência multidisciplinar.
Enfermagem para nós é uma profissão
muito bonita e importante. Tem um papel
bonito, pois está o tempo todo disponível
ao paciente, cuidando de sua higiene e
bem-estar. É um trabalho que exige
paciência, amor, carinho, dedicação e
responsabilidade.
É uma arte. É amor, doação,
responsabilidade, paciência, ajuda
mútua. É dar assistência a quem
realmente necessita. Respeito para
com o próximo. Dedicação e muito
carinho.
É atendimento e conscientização da
doença e capacitação na relação do
trabalho.
Responsabilidade; afeto; psicologia;
ética; ser tolerante; conscientização do
papel de enfermagem.
É uma profissão como outra qualquer,
levando em conta suas particularidades
próprias do dever do ofício, tendo como
base a responsabilidade, a ética e a
segurança.
Respeito ao ser; carinho; dedicação;
responsabilidade; saber ouvir; fazer
com que o outro se veja; Sobreviver ao
stress mental.
QUADRO 8 – CONCEITOS DE ENFERMAGEM ELABORADOS PELOS PARTICIPANTES
CONFORME CATEGORIA PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO
FONTE: O autor (2007)
109
PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
TÉCNICOS /DEMAIS
PROFISSIONAIS
TRABALHADORES DA REDE DE
APOIO
É ter respeito com o próximo e
ajudar alguém quando necessário.
É aquela pessoa que me escuta,
que respeita independente de
raça, posição social e religião.
Ser único, ímpar, formado
através de valores adquiridos da
família, da sociedade e da
herança genética. Se distingue
pela capacidade de ter emoções
e inteligência para modificar o
meio e cujo grande objetivo é a
felicidade.
São pessoas dotas de inteligência,
sentimentos com capacidade para tomar
decisões, definindo para ele o que é certo
e o errado.
Acima de tudo é a imagem e
semelhança de Deus. É formado
por emoções, sentimentos,
desejos, sonhos e que podemos
fazer parte dos seus projeto,
amenizando seus sofrimentos. É
movido por sentimentos, pensa,
age e sente dor. É alguém que
muitas vezes não aceita a doença
e que precisa de estímulo para
aceitar o tratamento.
É um ser influenciado por
aspectos genéticos, sociais e
espirituais capaz de transformar e
transcender, formando redes
como: família, sociedade, nação.
Ser criado por Deus compõe-se
de corpo e alma (mente, vontade
e emoções) e espírito que são
interligados. A singularidade é
possibilitada dando-se lugar para
a subjetividade de cada um,
valorizando as diferentes
escolhas e desejos, bem como os
diversos papéis sociais.
Ser com sentimentos, emoções,
merecedor de ser feliz, de ter
oportunidades, poder escolher, sonhar,
aprender, realizar. Com direito de comer,
vestir, se divertir, ser livre, falar,
expressar, expor, ser ouvido no meio em
que vive. Tem conhecimento do bem e do
mau. Suas escolhas independem do
ambiente e convivência. A falta de
equilíbrio espiritual e emocional podem
determinar suas ações que podem ir a
extremos, como um ser amável, humilde e
bondoso como também extremamente
cruel. Flor de Lótus: para Deus o ser
humano é uma flor de Lótus, sai da lama
(brota) e se torna algo lindo e com aroma
agradável.
É o nosso semelhante biológico;
um organismo vivo capaz de
raciocínio, julgamento, vínculos
afetivos e sociais, apresenta
diferenças somente nos sentidos
psicológico, social e cultural.
Diferenças estas que farão com
que ele seja capaz de fazer
escolhas para a satisfação de suas
necessidades básicas e de prazer,
conduzidas por conceitos
subjetivos formado ao longo de
sua vida afetiva e social.
É um ser bio-psico-sócio-
histórico-espiritual, com
diversidade de sentimentos,
pensamentos e atitudes, e
portador de livre-arbítrio.
É uma carga de positividade e
negatividade. É uma pessoa que sabe
construir ou destruir.
É um ser cheio de defeito e de qualidade.
Pessoas que erram e acertam. O ser
humano é dotado de inteligência, amor e
muita fé, embora sendo um animal possui
sentimentos: egoísmo, emoção, tristezas,
alegrias, esperança e bom senso. O ser
humano, nas suas imperfeições, possui a
imagem e semelhança de Deus.
É um ser imprevisível em suas
ações, com surpresas. Ele tem o
poder de se desenvolver,
aprender, transformar tudo que se
propõe a fazer. O ser humano
também tem muitas qualidades e
defeitos. É um ser social (não
consegue viver só). O ser humano
se adapta a qualquer lugar,
usando sua inteligência.
Ele precisa ser ouvido; respeitar e
aprender a respeitar; respeito ao
sofrimento; resgate social;
aprender a falar de si; organização
pessoal; consciência e aprender
lidar com a doença; Não mentir;
entrar no delírio do paciente para
trazê-lo à realidade; ética e
dignidade (exercício).
O ser humano é uma pessoa única, com
pensamentos e atitudes diferenciadas, por
isso devemos tratá-los com suas
limitações. Todos têm suas qualidades e
defeitos. Respeito é importante,
independente da função, da posição
econômica, social, religião, raça etc.
É ser cidadão responsável pelos
seus atos, com suas necessidades
básicas, com seus direitos e
deveres na comunidade (na
família, no trabalho e na sociedade
como um todo).
Especial; complicado; individual; difícil;
sente ódio, amor; imprevisível é um ser
racional e inteligente.
QUADRO 9 - CONCEITOS DE SER HUMANO ELABORADOS PELOS PARTICIPANTES
CONFORME CATEGORIA PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO
FONTE: O autor (2007)
110
PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
TÉCNICOS /DEMAIS
PROFISSIONAIS
TRABALHADORES DA REDE DE
APOIO
Saúde é bem-estar físico, mental e
emocional do indivíduo, incluindo suas
capacidades e direito à cidadania e
dignidade.
Doença é o impedimento temporário ou
permanente do desenvolvimento efetivo
das capacidades ou funções orgânicas,
mentais e /ou emocionais do ser humano,
causando danos ou sofrimento e
limitando suas ações.
Saúde é a relação
individual e/ou social que
se estabelece em razão de
fatores que definem o
bem-estar bio-sócio-psico-
espiritual.
Doença é perturbação,
alteração do equilíbrio bio-
psico-sócio-espiritual,
interferindo na interação
com outros indivíduos, a
família e a sociedade. A
doença se instala quando
o indivíduo não dispõe de
recursos adequados para
fazer frente a esta
mudança.
Saúde é estar bem, condição do
corpo e mente em seu estado de
perfeita harmonia.
Doença é apresentar algum
distúrbio ou falta de perfeito
funcionamento do nosso corpo.
Pode ser visível ou invisível;
doenças do coração e da alma;
quando já não gostamos de nós
mesmos, não se tem vontade de
viver. Doenças escondidas no meio
em que vivemos fazem mal sem ser
em percebidas.
Saúde é bem estar físico, mental e
espiritual. Ânimo, feliz.
Doença é desânimo, desconforto,
sofrimento.
Saúde é o estado de
equilíbrio do corpo e da
mente.
Doença é o desequilíbrio
que interfere na qualidade
de vida.
É um conjunto de fatores que
proporcionam satisfação, tais como:
educação, emprego, saneamento
básico, moradia, alimentação e
lazer. Sem acesso a estes fatores é
impossível ter saúde.
Saúde é bem-estar emocional,
fisicamente e de bem com a vida. Saúde
é alegria, se proteger da doença, manter
o controle de tudo.
Doença é a pessoa reclamar, precisar de
ajuda, é tudo de mal, é não ter controle
de nada, é desilusão, fraqueza,
hereditariedade.
Doença é o momento em que nos
sentimos fragilizados, precisando
de carinho, atenção e muitas vezes
não temos, pois não é só de
medicação que precisamos e sim de
tolerância.
Saúde é quando estamos bem, nos
sentimos realizados, em paz
conosco.
Saúde é bem-estar físico, psíquico, social
e espiritual.
Doença é um problema de saúde que
impossibilita a pessoa de viver bem,
influenciando todos os aspectos de sua
vida, podendo ser detectado através de
sinais/sintomas e exames/laudos
médicos.
Saúde é algo precioso que todos
desejam e precisam para
sobreviver, trabalhar, estudar,
praticar esportes, passear etc.
A doença é uma enfermidade que
nos impossibilita de viver a vida
intensamente. Devemos ter alguns
cuidados para evitar as doenças.
Saúde é um completo bem-estar físico,
mental e social.
Doença é quando há um desequilíbrio
dessas condições onde os meios físicos e
externos nos atingem.
Doença é a enfermidade que não
tem cura. Aquilo que atrapalha a
vida: fraqueza, dor. É ser triste.
Saúde é ter uma boa qualidade de
vida. Saúde é estar bem consigo
mesmo, disposto para tudo. É ser
feliz. Saúde é tudo.
Doença é desarmonia do ser: mental,
psicossomática, irritabilidade, estresse.
Perda da capacidade, mal que afeta o ser
humano impossibilitando a capacidade de
agir, pensar e realizar seus planos.
Saúde é o pleno equilíbrio mental e
psicológico e físico. Para isso
necessitamos de boa alimentação,
moradia, saneamento básico, segurança,
liberdade e trabalho.
Saúde é bem-estar físico, mental, social.
Saúde é estar se sentindo bem,
animada, descontraída, orientada,
alegre, estar bem consigo mesma.
Doença é estar com dor, mal-estar,
desanimado, presença de alguma
enfermidade.
QUADRO 10 - CONCEITOS DE SAÚDE E DOENÇA ELABORADOS PELOS PARTICIPANTES
CONFORME CATEGORIA PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO
FONTE: O autor (2007)
111
PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
TÉCNICOS /DEMAIS
PROFISSIONAIS
TRABALHADORESDA REDE DE
APOIO
É onde vivemos, convivemos e
nos relacionamos com as
pessoas e as coisas à nossa
volta. É a relação com a
família, vizinhos, amigos
colegas de trabalho etc. O
ambiente preferencialmente
necessita ser coerente e sadio
para que possamos nos sentir
bem tanto físico como
mentalmente. O bom ambiente
quem faz é a gente.
É o local, contexto ou situação
que nos cerca, seja físico, social,
psicológico, cultural, religioso etc.
O ambiente tem grande influência
sobre o ser humano concorrendo
com a educação formal, sendo
ela capaz de moderar e/ou
mudar o mesmo, positiva ou
negativamente.
Local amplo onde podemos
desenvolver nosso trabalho com
harmonia, respeito e
reconhecimento. Local onde a gente
se sente bem, no trabalho, em casa,
no lazer. Onde podemos estar de
bem conosco transmitindo paz.
Espaço limitado e/ou ilimitado onde
desenvolvemos nossa vida.
É qualquer tipo de recinto em
que você está convivendo.
Existem vários tipos de
ambiente: saudável ou ruim, de
trabalho, do lar... o ambiente é
a gente que faz, é imprevisível;
pode ser leve ou pesado.
É o espaço em que vivemos e
desenvolvemos nossas atividades
de trabalho, lazer. Está inserido
em todos os locais, devendo
observar as condições deste
ambiente para fazer dele um
ambiente saudável físico e
mentalmente para a saúde e
bem-estar de todos.
Local de trabalho onde é formado
por equipe de pessoas com
adversidades diferentes, rotinas,
deveres em comum, sendo bem
distribuído e organizado. Todos
trabalhando em harmonia e
companheirismo. Assim, nosso local
de trabalho será perfeito.
É o local onde vivemos, onde
trocamos com o outro, onde
sofremos influências e
influenciamos, onde ensinamos
e aprendemos. Pode ser de
trabalho, família, cidade ou
país e grupo social.
É o meio que compreende o
espaço físico, temporal e as
condições que o caracterizam. O
ambiente é caracterizado pelo
conjunto de influências do meio
sobre os seres e suas trocas.
Essas trocas podem ser: físicas,
psicológicas, sociais, culturais e
espirituais, e estão sempre em
mudança.
Para nos é o local onde sempre
estamos, quer seja no trabalho,
familiar e social. Procurando
transmitir algo positivo com troca de
idéias com objetivo de melhorar
convívios.
É o espaço de convivência
familiar, de trabalho e social.
Harmônico, saudável, onde
depende da atitude de cada
um, podendo criar um
ambiente saudável ou de
conflito.
É um espaço que pode ser de
trabalho, lar, ou lazer onde a
gente convive e se relaciona.
Depende do indivíduo para que
se torne agradável ou não.
Local de permanência temporária e
interpessoal. Qualquer lugar onde
possamos estar por determinado
tempo. Cada um de nós contribui
individualmente, positivamente ou
negativamente, para um ambiente
em comum.
Limpo, saudável e alegre,
pesado ou negativo, onde nos
divertimos e moramos, com
companheirismo e lealdade. O
meu ambiente sou eu que faço.
É nosso local de trabalho, minha
casa, onde quer que eu esteja.
Quem faz o ambiente ser agradável
ou não é a própria pessoa. Ambiente
é onde convivemos no nosso dia-a-
dia.
É um local (espaço) que pode
ser composto por pessoas,
objetos, plantas.
QUADRO 11 - CONCEITOS DE AMBIENTE ELABORADOS PELOS PARTICIPANTES CONFORME
CATEGORIA PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO
FONTE: O autor (2007)
112
PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
TÉCNICOS/DEMAIS
PROFISSIONAIS
TRABALHADORES DA REDE
DE APOIO
É um conjunto de humanidade,
respeito para com nossos colegas
em e no ambiente de trabalho,
sem individualismo, porque a
união faz a força, tendo bom
senso e humildade para sempre
aprender mais com outras
pessoas. Saber ouvir e também
saber falar.
É o conjunto de pessoas que
estão interligadas com os mais
diversos profissionais em áreas
distintas para dar atendimento a
clientela que deles necessita,
procurando sempre um bom
relacionamento, de respeito
acima de tudo, para realizar um
trabalho com dignidade.
Conjunto de pessoas, união de
todos, mesmos objetivos,
pessoas de diversas áreas.
Cada setor é formado por uma
equipe de pessoas que buscam o
mesmo ideal. Com troca de
idéias e união, o trabalho é mais
fácil e eficiente. Isto que
determina uma equipe: união.
É o conjunto de pessoas que se
unem para trabalhar ou realizar
uma tarefa com a concordância e
ajuda de todos em prol de um
objetivo comum. É parceria, é
somar e saber partilhar os
diferentes potenciais e talentos. É
aceitar a colaboração, é receber
ajuda e também ajudar. Uma
equipe bem entrosada faz a coisa
funcionar.
É um conjunto de pessoas que
se associam para atingir
objetivos comuns. A equipe
caracteriza-se por reunir e
valorizar diversos tipos de
saberes e habilidades sem os
quais o objetivo não será atingido
e pela adesão de cada um dos
membros, o que será
manifestado pela ação efetiva
esperada. Cada um faz o seu
papel.
É um grupo de pessoas que faz
um determinado trabalho juntos;
e que quer o bem-estar naquilo
que fazem, discutem opiniões e
chegam à uma conclusão juntos.
São as pessoas que trabalham e
unidas chegam ao mesmo
objetivo.
Um grupo de pessoas que
desenvolve um projeto comum,
com objetivos claros onde
somente a soma dos empenhos
individuais consegue com que os
objetivos sejam alcançados. Ex:
família, trabalho, esporte e
governo. Porém, é necessário
sabedoria para conciliar e
respeitar as diferenças.
É um conjunto de pessoas onde
devemos viver em união. Tendo
respeito mútuo para que a
sociedade seja beneficiada e a
equipe também.
É um grupo de pessoas reunidas
em torno de objetivos comuns.
Apresentam diferentes idéias,
mas são regidas por um código
de ética e, às vezes, por um
protocolo de funcionamento.
Para um adequado andamento
do grupo é necessário que seus
elementos funcionem de maneira
coesa, com integração e
dividindo papéis. Características
como solidariedade, senso
crítico, união, respeito e
comunicação enriquecem o
desenvolvimento da equipe.
É um grupo de pessoas unidas
com dinamismo e
responsabilidade para realizar
uma atividade, cada um dando
sua opinião contribuindo para o
sucesso do trabalho proposto. É
o G3 [referindo-se ao grupo de
trabalho em questão] onde todos
são um pouco para formar o
muito, ou um pouco mais que
será somado aos outros fazendo
a diferença.
É um grupo de pessoas que
trabalha em conjunto. Várias
pessoas de cada profissão (desde
faxineiro até médico) que
desempenham um trabalho em
função do paciente. Deve haver
companheirismo, amor pelo
próximo, respeito às diferentes
opiniões, pois uma andorinha
sozinha não faz verão.
É a união de todos com o mesmo
objetivo, procurando sempre
fazer o correto para o bom
desempenho das metas a serem
alcançadas. Tendo troca de
idéias e divisão de tarefas.
É um conjunto de pessoas que se
reúne para elaborar um trabalho
ou executar um projeto. Cada um
assumindo seu papel, podendo
ser temporário ou transitório.
É um grupo de pessoas que
participa ou faze parte, em busca
de um mesmo objetivo,
compartilhando idéias para a
realização de algo.
É uma união de todos, é trabalhar
em grupo e respeitar o limite do
outro. Devemos nos respeitar no
mesmo setor, e nos aceitarmos
uns aos outros. É um conjunto de
pessoas que trabalham por um
objetivo em comum.
QUADRO 12 - CONCEITOS DE EQUIPE ELABORADOS PELOS PARTICIPANTES CONFORME CATEGORIA
PROFISSIONAL/CARGO E OCUPAÇÃO. PINHAIS, 2007
FONTE: O autor (2007)
113
PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
TÉCNICOS/DEMAIS
PROFISSIONAIS
TRABALHADORES DA REDE DE
APOIO
É a capacidade individual de trocas
de idéias, experiências,
conhecimentos, espaço com
aqueles que nos cercam em todos
os ambiente. É o que nos permite
viver em sociedade e é um dos
pilares do bem-estar no ambiente. É
o bom ou mau relacionamento entre
as pessoais. Esse relacionamento
pode trazer alegria ou tristeza,
somar ou subtrair. Um bom
relacionamento começa na família e
termina na sociedade.
É uma forma de viver em sociedade.
São todos os estímulos positivos ou
negativos que se estabelecem entre
os indivíduos sociais. Destas
relações são geradas situações de
dependência, dominação, pressão ou
liberdade. Relações harmoniosas e
positivas criam ambiente social,
descontraído e saudável; e relações
de dominação criam ambiente social
tenso, desconfortável e doentio.
É saber viver as diferenças,
entendendo, respeitando a maneira do
outro pensar e agir, em casa, com os
vizinhos e colegas, sendo amigos nas
horas boas e ruins. Essa interação
enriquece as pessoas. É também saber
lidar com os conflitos, os quais bem
trabalhados contribuem muito para o
relacionamento.
É uma situação em que nos
relacionamos com as pessoas que
fazem parte do nosso convívio mais
direto, que fazem parte do nosso
relacionamento, incluindo familiares,
colegas e meio social.
É a possibilidade do sujeito de
estabelecer ligações com seus
semelhantes, trocando
conhecimentos, percepções, afetos e
experiências.
Em primeiro lugar, vem de uma grande
amizade. Uma convivência agradável,
como por exemplo marido e mulher,
filhos, família, amigos... Ouvir as
pessoas e pedir opinião, ajuda, ou pedir
ajuda quando necessário.
É um conjunto onde predomina
respeito, amor, amizade,
comunicação, compreensão, ser
alegre, cordial, tranqüilidade,
convivência, união, ajuda mútua
para um mesmo fim como aqui, o
centro é o paciente.
É o estabelecimento de vínculos ou
comunhão de idéias, pensamentos e
sentimentos entre as pessoas. É a
necessidade de um convívio para
formar uma sociedade comum,
respeitando as diferenças.
É o relacionamento entre as pessoas
no dia-a-dia, onde abrange aspectos do
trabalho, familiar, amizades, amoroso
etc. Procuramos demonstrar nossas
qualidades e caráter; independe da
raça, cor, religião e posição social.
As relações são uma busca de
diálogo entre as pessoas e
depende de cada uma delas, do
momento, da cultura. Exige respeito,
compreensão, saber ouvir, respeitar
a expressão do outro, ter
comunicação e ética, utilizando bom
senso. Independe da raça ou cor,
são situações que caracteriza o
referencial do ser humano.
União de pensamentos, amizade,
respeito mútuo, sentimento fraterno,
confiança. É buscar o respeito, é a
compreensão na sociedade em que
vivemos, respeitando a individualidade
e as limitações de cada um, não
observando cor, raça, religião e posição
social. Relacionando de maneira
adequada.
É a troca entre as pessoas, é a
convivência. Para ser boa, a relação
interpessoal deve ser provida de
equilíbrio, sensatez, respeito e
cordialidade. Num relacionamento
humano sadio, nos mais diferentes
ambientes, ninguém pode ser o
dono da verdade. É preciso saber
ouvir e aceitar os limites dos outros
e os seus próprios, aceitando e
partilhando as diferenças para que
ela seja agradável a todos.
É a convivência temporária ou
permanente de pessoas de diferentes
personalidades, onde algumas se
relacionam bem, outras não.
Compartilham as mesmas idéias, mas
devem, mesmo assim, respeitar-se
para uma convivência harmoniosa e
saudável.
É o contato com outras pessoas que
pode ser verbal ou não verbal,
harmonioso, baseado no respeito,
onde, a partir dessa relação, poderá
haver troca de idéias e valores.
Acontece em casa, na família, no
trabalho. Relação entre pessoas em
que há respeito mútuo, carinho,
humildade, paciência, amizade,
valorização do ser humano.
QUADRO 13 - CONCEITOS DE RELAÇÃO INTERPESSOAL ELABORADOS PELOS
PARTICIPANTES CONFORME CATEGORIA PROFISSIONAL/CARGO E
OCUPAÇÃO
FONTE: O autor (2007)
114
Para finalizar a terceira etapa do método do Arco, que culminou com as
construções grupais dos conceitos escolhidos para serem discutidos neste estudo,
projetei em data show uma mensagem denominada “Bambu Chinês”, de autor
desconhecido, que comenta a respeito da necessidade das pessoas nutrirem com
paciência, persistência e flexibilidade os objetivos propostos para vida pessoal e
profissional, mesmo que os resultados não apareçam imediatamente. Com esta
mensagem objetivei manter o estímulo aos participantes para a reflexão e discussão
dos conceitos, assim procurei relacionar a mesma com a vivência que ocorreu nos
Encontros, enfatizando que cada passo percorrido depende do esforço e
determinação de cada um na condução à obtenção de um objetivo maior pelo grupo.
Após a construção grupal, procedi a teorização dos conceitos à Luz da Teoria
das Relações Interpessoais de Joyce Travelbee, complementando com outros
autores. Também exibi um filme de curta duração, intitulado “Uma Equipe de
Primeira” (TEAMWORK, sd) o qual relata uma reportagem realizada por uma
jornalista a respeito do trabalho de uma equipe em uma instituição hospitalar.
Naquele momento, os participantes associaram cenas do filme ao dia-a-dia da
equipe da Instituição campo deste estudo, reforçaram aspectos por eles
considerados positivos e/ou facilidades e discutiram os negativos e/ou dificuldades.
Ao finalizar a terceira etapa do método do Arco com os participantes fiz as
reflexões, que para mim como pesquisadora esta etapa constitui-se no estudo
teórico, que resultou na elaboração do item de revisão de literatura e do referencial
teórico deste estudo, os quais me sustentaram nas discussões para a construção
dos conceitos com os participantes o que resultou no Marco de Referência para o
cuidado em saúde mental na instituição que apresento no (QUADRO 14, p. 121).
4.4 QUARTA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: ELABORAÇÃO DE
PRESSUPOSTOS
Partindo da situação problema deste estudo, elaborada na Primeira Etapa do
Arco pelos participantes: como construir o marco de referência para o cuidado em
saúde mental, nesta etapa foi elaborado o pressuposto de solução, qual seja a
proposta de construção do marco de referência para sustentar o cuidado em saúde
mental da equipe.
115
Para mim, como pesquisadora, esta etapa constituiu na busca de possíveis
soluções para a situação problema; ou seja, o cuidado de saúde mental realizado
sem sustentação teórica, sem reflexão-ação-reflexão, o que resultou na elaboração
do pressuposto de que um marco de referência para a equipe de saúde poderá
contribuir para a qualidade do cuidado em saúde mental. Respeitando a realidade e
as condições da Instituição, buscando a viabilidade do pressuposto de solução,
escolhi problematizar a prática dos trabalhadores da instituição à luz do Referencial
de Joyce Travelbee, complementado com outros autores.
Percebo neste momento que na quarta etapa do método do Arco acontece a
mesma atividade para pesquisadora e participantes do estudo; ou seja, a proposta
de construção do marco de referência.
4. 5 QUINTA ETAPA DO MÉTODO DO ARCO: APLICAÇÃO Ã REALIDADE
Para desenvolver as atividades da quinta e última etapa do método do Arco, a
aplicação à realidade, afixei no varal todos os cartazes que continham os conceitos
construídos pelos grupos nos Encontros anteriores. Cuidei para manter uma ordem,
como por exemplo, todos os conceitos de enfermagem próximos e, assim
sucessivamente procedi com os demais. Quando os participantes chegaram,
observei que expressavam imensa surpresa em relação à quantidade de material
produzido por eles bem como a satisfação em ler o que os colegas de outros grupos
e turnos haviam produzido.
Após a acomodação dos participantes e da pactuação com eles de como
aconteceriam as atividades deste último Encontro, solicitei que circulassem pela sala
para fazer a leitura dos conceitos expressos nos cartazes e que deviam iniciar pelos
de enfermagem, dando continuidade na ordem na qual os mesmos foram discutidos
e construídos durante o processo.
Na seqüência, apresentei o conceito pré-elaborado por mim a partir das
idéias centrais de todos os cartazes dos quatorze grupos e solicitei que lessem e
validassem se eu havia conseguido captar o conteúdo expresso pelo conjunto dos
conceitos contidos nos cartazes. Houve intensa participação, foram sugeridas
inclusões, substituições e exclusões de termos de modo que ao final da etapa,
obtivemos um conceito que expressava a concepção daquele grupo.
116
Devido ao fato de que esse processo se repetiria com os outros sete grupos
conforme (QUADRO 7, p. 69), mantinha as modificações nos conceitos destacadas
em cores diferentes para serem validadas pelos grupos subseqüentes. A cada grupo
repetia o processo descrito anteriormente e apresentava primeiro o conceito prévio
por mim elaborado, acatava as colaborações do grupo e no andamento,
reapresentava o conceito com as alterações sugeridas pelo grupo que antecedeu,
de modo que ao final do Encontro tínhamos o conceito daquele grupo, considerando
as contribuições do grupo anterior até culminar no conceito final, após os oito grupos
terem vivenciado o mesmo processo.
Ressalto que a atividade desenvolvida anteriormente seguia-se em cada
grupo, novamente da teorização à Luz do Referencial de Joyce Travelbee e outros
autores, o que gerava novas discussões, sugestão de inclusões, substituições e
exclusões a respeito dos conceitos e ainda reflexões da prática do cuidado em
saúde mental, culminando neste momento no conceito final do grupo. Esse processo
repetiu-se com os conceitos de Enfermagem, Ser humano, Saúde-Doença,
Ambiente, Equipe e Relação Interpessoal resultando no MARCO DE REFERÊNCIA,
o qual apresento no (QUADRO 14, p.123) a seguir.
Essa etapa da trajetória percorrida por mim como pesquisadora se configurou
na prática da construção dos conceitos com os profissionais da instituição, quando
apliquei o conhecimento adquirido durante os estudos individuais que realizei, na
idealização desta pesquisa, e os advindos dos Encontros, para a discussão com os
participantes.
Ressalto que para a construção de um marco de referência há necessidade
de haver postura dialética, que se constitui em movimento de ir e vir entre a literatura
e a prática executada, para que se possa validar a construção e entrelaçamento dos
conceitos com o grupo de participantes. Neste processo de construção, a inter-
relação entre os conceitos elaborados e a sua aplicação à realidade é que permitem
a cientificidade do cuidado em saúde mental.
117
PONTOS-CHAVE CONCEITOS ELABORADOS PELOS PARTICIPANTES
Enfermagem
É arte, ciência e profissão pautada em princípios éticos e legais que
visa prevenir doenças, minimizar o sofrimento do ser humano, resgatar
a sua autonomia e promover a reabilitação social por meio do cuidado
humanizado.
Para exercê-la é necessário responsabilidade, observação, amor,
respeito à individualidade do ser humano e trabalho em equipe.
Ser humano
É um ser biológico, psicológico, social, histórico, espiritual, cultural,
racional, singular (único e imprevisível). Cidadão, capaz de sentir,
pensar, agir, aprender, transformar e modificar o meio. Possui livre-
arbítrio, o que lhe permite fazer escolhas para a satisfação de suas
necessidades e desejos.
Seu grande objetivo é a felicidade.
Saúde e doença
Saúde é o bem-estar resultante do equilíbrio entre o estado físico,
mental (psíquico) espiritual e social. Para se ter saúde são necessárias
algumas condições como trabalho, moradia, segurança, educação,
alimentação, saneamento básico, direito à cidadania e liberdade.
Doença é desequilíbrio que causa ao ser humano mal-estar,
sofrimento, alteração na capacidade de agir, sentir, pensar e realizar
seus planos. Manifesta-se por sinais, sintomas e comportamentos.
Ambiente
É o contexto histórico, físico, social, psicológico, cultural, religioso onde
se vive, convive e se relaciona. O ambiente sofre influência e é
influenciado pelas pessoas e está sempre em transformação. Pode ser
ambiente de trabalho, familiar, de lazer, social.
Equipe
Conjunto de pessoas em que cada uma possui um papel e desenvolve
funções, com objetivo comum. Uma equipe deve saber compartilhar
idéias, valorizar diversos tipos de saberes, talentos, habilidades e
potenciais de seus integrantes. As características de uma equipe são
respeito, comunicação, bom relacionamento, responsabilidade,
solidariedade e união.
Relação
interpessoal
É a relação entre pessoas, que se estabelece pela comunicação verbal
e não-verbal em que se compartilha idéias, conhecimentos, afetos,
percepções. Ela pode ter boa ou má qualidade. Uma boa relação é
enriquecedora e exige respeito mútuo, confiança, saber ouvir e aceitar
as diferenças, humildade, paciência, sentimento fraterno. Por outro
lado, na relação interpessoal pode acontecer situações de
dependência, dominação, pressão.
QUADRO 14 – CONCEITOS QUE COMPÕE O MARCO DE REFERÊNCIA PARA O
CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
FONTE: o autor (2007)
118
119
A (FIGURA 1) demonstra, por meio de círculos concêntricos, a inter-relação
dos conceitos construídos para o Marco de Referência para o cuidado em Saúde
Mental da Instituição: Enfermagem, Ser humano, Saúde-Doença, Ambiente, Equipe
e Relação Interpessoal.
A partir do círculo mais interno (A), busca-se representar a inter-relação dos
conceitos iniciando-se pelo de Equipe e de Enfermagem. O conceito de equipe
engloba uma concepção ampliada, que inclui todos os profissionais e trabalhadores
da Instituição e nela se insere a equipe de enfermagem.
O cuidado em saúde mental é desenvolvido por esta equipe, cujo foco de
atenção é o ser humano, o paciente internado e sua família, representado no
segundo círculo (B) e permeando todos os círculos ocorre à relação interpessoal
(C). Esse campo interacional é influenciado pela cultura, crenças, valores, mitos,
preconceitos, visão de mundo de cada sujeito.
No último círculo (D) está representado o conceito de Ambiente com
compreensão de contexto no qual todas as interações entre os sujeitos acontecem e
neste, Saúde e Doença é concebido de modo singular para cada um dos envolvidos.
Os sujeitos influenciam e são influenciados o tempo todo pelo contexto em que se
encontram.
As linhas interrompidas dos círculos internos indicam a permeabilidade entre
os conceitos e os sujeitos do campo interacional. O círculo em branco (E) com as
setas em ambos os sentidos indicam a circularidade e a dinamicidade do processo
relacional que ocorre durante o desenvolvimento do cuidado.
4. 6 AVALIAÇÃO DOS ENCONTROS
Após a construção dos conceitos do Marco de Referência procedi à avaliação
da vivência dos Encontros que compartilhamos nos dois meses em que pudemos
refletir com os trabalhadores acerca da prática do cuidado em saúde mental na
Instituição. Para realizar esta avaliação, utilizei a seguinte questão: “comente como
foi para você vivenciar estes Encontros” e, livremente, os participantes expressaram
suas opiniões, as quais foram registradas em fita K7 e, posteriormente, transcritas
para permitir a análise.
120
Cabe salientar que durante o desenvolvimento dos Encontros os participantes
expressavam suas opiniões a respeito destes e esses relatos também foram
anotados, gravados e transcritos na íntegra.
Eles consideraram importante a existência deste espaço que lhes permitiu
discutir, estudar e repensar a sua prática, pois contribuiu para seu crescimento
profissional e também pessoal. Os participantes da Enfermagem e da rede de apoio
expressaram que a vivência dos encontros com os trabalhadores de outras áreas e
setores de trabalho na Instituição foi significativa e contribui para a elaboração dos
conceitos e melhor interação entre eles. Também foi explicitado pelos participantes
que compuseram o grupo do apoio que se sentiram motivados ao terem sido
elogiados pelos colegas de trabalho durante alguns Encontros, e que isto repercutiu
como uma terapia ao ouvirem que os demais trabalhadores conheciam e
reconheciam seu trabalho e que não eram anônimos na Instituição. Observa-se que
os participantes ressaltaram a importância de se sentir como equipe e conhecer o
trabalho que é feito como equipe.
“... todos nós temos mais de 20 anos de trabalho e precisamos passar por
reciclagem, até porque nós não vamos voltar para um banco de escola, pelo menos
não todos (...) Mas é importante...” (Enfermagem).
“Foi bom, fez a gente sonhar. No dia-a-dia a gente vai lembrar do que foi dito aqui,
na unidade, a equipe...” (Enfermagem).
“... isso é um aprendizado que nunca fica só aqui, a gente leva para fora, para nossa
família” (Enfermagem).
“... nós ficamos muito sós com a Enfermagem e participar com os outros
funcionários, de outros setores foi muito bom essa interação” (Enfermagem).
“... todos os conceitos foram bem elaborados porque houve a contribuição de
diferentes áreas” (Enfermagem).
“... quando comecei a trabalhar aqui, tinha muita gente que [eu] nem conversava...
nas aulas até conheci gente de outra área (Apoio).
“Vocês mostraram para nós que o nosso trabalho é importante (...) você elogiou (...)
eu senti isso” (Apoio).
“... as pessoas precisam ser elogiadas. Mas algumas não gostam de ajudar, só
vêem defeitos, cada um que se vire com seus problemas. Mas isso é pobreza de
espírito” (Apoio).
121
“... para mim, ajudou até como terapia. A opinião dos outros setores, ouvir o que eles
achavam de nós, pensava que ninguém ligava, ninguém via e foi muito bom ver o
que eles achavam do nosso serviço” (Apoio).
“... eu não havia pensado que era um objetivo comum e que cada um tinha o seu
papel...” (Apoio).
“... esse trabalho me faz lembrar que todos aqui fazem parte do hospital e que cada
um tem uma visão de trabalho” (Enfermagem).
“... não importa área. Cada um faz um pouquinho, cada um é importante” (Apoio).
Os relatos apontam para a necessidade de constante atualização frente às
transformações tecnológicas e sócio-políticas pode ser viabilizada entre outras
formas, por meio da educação permanente ou educação continuada em serviço.
Esta tem como objetivo a transformação do processo de trabalho orientado para a
melhoria da qualidade do serviço, por meio da reflexão do que está acontecendo e a
respeito do que precisa ser transformado (ROCHA, 2005).
O profissional que atua em saúde mental, muitas vezes, vai trabalhar em
hospital psiquiátrico ou em outros dispositivos de assistência em saúde mental e se
surpreende com o pouco conhecimento específico que possui, vivendo uma situação
que dificulta seu ajustamento e, em especial os enfermeiros, que devem ainda
concentrar-se nas ações de âmbito burocrático. Além disso, na área da saúde
mental a estratégia de educação permanente deve permear os conteúdos do
movimento de Reforma Psiquiátrica. Assim, os profissionais necessitam manter-se
atualizados em diferentes campos, como por exemplo, genética, neurofisiologia,
psicofarmacologia, comunicação e relações humanas, legislações em saúde mental,
entre outros (GIRADE; CRUZ; STEFANELLI, 2006).
Importante salientar também que Travelbee (1979; 1982) já referia que um
dos fatores que pode interferir no relacionamento interpessoal seria justamente a
falta de competência e habilidade dessa temática. Por isso ela sugere que os
conhecimentos referentes à área de saúde mental deveriam ser ministrados mais
para o final do curso, porque nessa etapa o acadêmico apresenta maior maturidade
para apreensão de um conhecimento tão específico.
Para o desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores em saúde
mental, a educação permanente propiciada pelas instituições apresenta-se como
uma alternativa viável para o aprendizado do cuidado em saúde mental. Essa deve
122
refletir a filosofia da instituição que procura a qualidade do serviço vinculado ao
conhecimento especializado do profissional. Para tanto, aprofundar-se no
conhecimento a respeito de comunicação humana, comunicação terapêutica para
desenvolver a relação interpessoal efetiva é imprescindível à qualidade do cuidar em
saúde mental (GIRADE; CRUZ; STEFANELLI, 2006).
Educação permanente é entendida como “aprendizagem no trabalho, em que
o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho.
Baseia-se na aprendizagem significativa e na possibilidade de transformar as
práticas profissionais”. É feita a partir dos problemas enfrentados na realidade e leva
em consideração os conhecimentos e as experiências que os trabalhadores
possuem. É imprescindível que os processos de educação dos trabalhadores da
saúde se façam a partir da problematização do processo de trabalho, que considera
as necessidades de formação e desenvolvimento dos mesmos, buscando atender às
necessidades das pessoas e populações (BRASIL, 2004b, p.10).
Em sua tese, Ribeiro (2005) sugere que para elevar a motivação dos
trabalhadores em saúde mental, o relacionamento interpessoal foi relatado como um
aspecto do trabalho que pode ser transformado por meio de investimentos na área
de recursos humanos e de mudanças na política organizacional. O desejo dos
profissionais quanto às mudanças merece atenção, pois proporciona oportunidade
para que a motivação do profissional seja refletida no alcance dos objetivos da
instituição.
A seguir, demonstro a trajetória percorrida pelos participantes e por mim no
desenvolvimento deste estudo, com a utilização do Arco da Problematização.
123
4.7 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA TRAJETÓRIA PERCORRIDA COM UTILIZAÇÀO DO ARCO DA
PROBLEMATIZAÇÀO
124
A (FIGURA 2) demonstra a trajetória percorrida na construção dos conceitos
utilizando as etapas do Arco da Problematização: observação da realidade e
elaboração da situação problema; definição dos pontos chave; teorização;
elaboração de pressupostos e aplicação à realidade.
Os conceitos foram construídos de modo dialético e permitiram iniciar
transformações no modo de conceber e operacionalizar o cuidado em saúde mental.
Ressalto que o pesquisador avançou fazendo a inter-relação dos conceitos,
conforme demonstra a (FIGURA 1) resultando na construção de um marco de
referência para o cuidado em saúde mental. Entretanto este processo de mudança
somente se consolidará com o retorno à Instituição para discutir com os sujeitos
deste estudo a operacionalização dos conceitos de modo a efetivar na prática do
cuidado o Marco de Referência.
Refletir a respeito da experiência vivida implica em voltar a atenção à
metodologia que instruiu o processo de construção. Acredito que a metodologia
problematizadora permitiu o pensar a prática, conduzindo para uma reflexão–ação-
reflexão a partir das experiências do cotidiano de trabalho contribuindo para a
humanização do cuidado prestado.
125
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste momento final, pretendo mostrar as descobertas que fiz em busca de
alcançar o objetivo proposto e destacar as principais reflexões realizadas a respeito
dos resultados da pesquisa e literatura que deram sustentação e consistência à
dissertação. No entanto, não apresento essas reflexões como considerações
“finalizadas”, mas “temporárias”, pois, ao rever os resultados, eles podem ser
pensados e analisados de outro modo.
Explicitei na introdução deste trabalho as motivações que despertaram em
mim o interesse em ampliar os conhecimentos na área de saúde mental e somado a
eles, a vivência nas disciplinas do mestrado, o que resultou em inquietações e na
elaboração de um objetivo. Em busca da realização desse objetivo, tornou-se
imprescindível ampliar o conhecimento da história da psiquiatria e da saúde mental e
do cuidado de enfermagem, o que permitiu compreender e estabelecer consciência
crítica das práticas em saúde nesta área na atualidade.
Foram necessárias também leituras, escolha e estudo de um referencial
teórico o qual permitiu nortear e sustentar as ações e trajetória deste trabalho,
fundamentar e orientar as experiências que os participantes e eu vivenciamos nos
Encontros, considerando que os mesmos e a prática do cuidado em saúde mental
são dinâmicos. Conforme afirma Kantorski et al. (2006, p.365), “toda proposta de
atendimento deve ser embasada em referenciais teórico-metodológicos que
subsidiem o cuidado humanizado”.
A construção deste trabalho constitui-se em um aprendizado pessoal e
profissional, pois além de pesquisa, de coletar dados, de estudá-los e descrever os
resultados, tornou-se uma maneira de olhar o mundo e de viver. Houve a
“incorporação” do referencial teórico e metodológico no meu modo de viver e
conviver, no estabelecimento de relações, na tomada de consciência da
comunicação como elemento fundamental das relações humanas e como resultado
disso, da maneira como me comunico, o que permitiu o auto-conhecimento, a auto-
aprendizagem, consciente das ações que desenvolvo em minha trajetória de vida
pessoal e profissional.
126
Destaco, também, a convivência com os participantes do estudo, o que
permitiu a formação de vínculos afetivos de respeito e confiança, e favoreceu um
ambiente harmônico, encorajador, criativo e cooperativo.
Durante os Encontros, percebi a necessidade que a grande maioria dos
participantes teve em expressar seus sentimentos, situações cotidianas específicas
da prática na Instituição, seus enfrentamentos de conflitos, realizações, alegrias,
entre outros. Ficou evidente a percepção quanto à necessidade de educação
permanente, de se promover encontros para reflexões e discussões das ações
diárias dos profissionais que venham subsidiar o fazer, o pensar e o ser no cuidado
em saúde mental.
Penso que os profissionais que atuam em saúde mental necessitam adquirir
conhecimentos e habilidades não somente nos contextos/ambientes escolares a
respeito de suas práticas profissionais, mas também oportunizar momentos para
repensar seu fazer junto aos trabalhadores/profissionais que estão inseridos no
mundo de trabalho e, mais precisamente, os que ainda atuam nos hospitais
psiquiátricos. Em consonância com as diretrizes da política de atenção em saúde
mental, estimulá-los à realização do cuidado efetivo e comprometido com a profissão
e com a sociedade.
Compreendo que as transformações na forma de atendimento ao portador de
transtorno mental, diante dos princípios da Reforma Psiquiátrica, abrange não
somente alterações na estrutura física e na equipe profissional, como também uma
transformação no pensamento dessa equipe e na sua forma de agir nesse novo
paradigma; ou seja, requer um trabalho interdisciplinar e não a presença de
profissional de diferentes disciplinas trabalhando isoladamente. Penso que este
trabalho contribuiu neste sentido ao iniciar essa mudança de pensamento a partir da
reflexão dos conceitos que resultaram no Marco de Referência. Acredito, ainda, que
quando as habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal são
desenvolvidas em equipe, permitem percepção da individualidade de cada um de
seus membros e, ao mesmo tempo, a formação de um sentimento de coletividade,
compreensão e união da equipe.
Compreendo que a participação de trabalhadores de diferentes áreas de
conhecimento nos Encontros, tornou-se importante por dois aspectos: primeiro, pela
oportunidade dos funcionários conhecerem o trabalho do colega de instituição, e
segundo, por estar em consonância com os princípios da Reforma Psiquiátrica,
127
construção de novos fazeres em saúde mental baseados em uma proposta de
trabalho interdisciplinar. Também oportunizou aprender a olhar o outro como uma
pessoa com diferenças a serem respeitadas, a trabalhar com as divergências e a
repensar as relações de poder entre seus membros. Um exemplo que pode ser
citado aconteceu na discussão do conceito de saúde-doença. Um grupo apontou
que a doença é sempre detectada por exames e laudos médicos. Por meio de
expressões de pensamentos, da discussão, das divergências, houve a ampliação do
conceito de doença para o enfoque do sofrimento da existência humana.
Em relação à Enfermagem, a área de saúde mental tem exigido maior
percepção das necessidades da pessoa com transtorno mental e o enfermeiro deve
desenvolver habilidades que lhe possam conferir maior competência para melhor
desempenho de suas funções. Neste sentido, insere-se a educação permanente,
oportunizando o desenvolvimento de habilidades para o trabalho interdisciplinar,
com o foco no cuidado visando o atendimento ao ser humano em todas as suas
dimensões (GIRADE; CRUZ; STEFANELLI, 2006).
A responsabilidade do enfermeiro pelo seu processo de atualização constante
e da equipe de enfermagem com quem trabalha necessita ser estimulada e
valorizada. O ideal seria uma responsabilidade compartilhada entre o enfermeiro e a
instituição. Saraceno (1999) comenta que torna-se imprescindível ações contínuas
de educação permanente para profissionais da área da saúde mental, família,
comunidade, estendendo cada vez mais a noção de responsabilidade, envolvimento
e participação social.
É preciso que se construa, no dia-a-dia dos serviços, espaços potenciais de
renovação, discussão, reflexão do fazer em saúde mental, o que fornecerá a
possibilidade de compartilhar informações entre os trabalhadores, o uso da
criatividade, espontaneidade, a construção/desconstrução de novas/velhas utopias
no fazer dos trabalhadores para o avanço e consolidação desse novo modelo de
atenção em saúde mental.
Na construção dos conceitos que compõem o marco de referência, emergiu
durante as discussões a visão que alguns trabalhadores possuem da imagem e da
identidade dos profissionais de enfermagem. Neste sentido, considero que este
trabalho constituiu-se oportunidade para refletir e discutir com a equipe a respeito da
concepção que eles possuem se estendendo ao imaginário da sociedade a respeito
da profissão, em especial na área de saúde mental.
128
Em relação à metodologia problematizadora, acredito que permitiu a
construção de um processo educativo-reflexivo que pode contribuir para a
humanização do cuidado, a partir da vivência de experiências significativas dos
participantes no cotidiano da instituição.
O diálogo estabelecido nos Encontros evidenciou um pensar da equipe a
respeito do contexto em que ela está inserida, da relação com a pessoa com
transtorno mental, com a instituição, com os colegas e consigo próprio. Possibilitou
também que ambos, pesquisadora e participantes se mobilizassem para uma
aprendizagem significativa da realidade que é dinâmica e complexa.
O processo de construção do marco de referência propiciou momentos de
reflexão da prática do cuidado em saúde mental e de integração entre os
participantes que me parecia desgastada naquela Instituição. Foi durante a
construção e análise que percebi a inter-relação entre os conceitos, o que sugere
que o marco de referência não pode ser visto de forma fragmentada, e tampouco
desconectado da realidade, de forma que possa contemplar a complexidade desta.
Sugiro que se dê continuidade aos estudos críticos da aplicação da
metodologia problematizadora que possibilitou encontrar uma solução à situação
problema elaborada, buscando alternativas para melhorar a qualidade do cuidado
efetuado e aproximando os participantes do processo na busca da responsabilidade.
Ressalto que outra contribuição desse processo foi confirmada pela
solicitação pela direção geral do Hospital, de continuidade do trabalho, por meio de
discussões de temas específicos da área de saúde mental, em forma de educação
permanente, que a Instituição denomina de capacitações.
Com esta experiência considero imprescindível a realização de pesquisas na
área de saúde mental, tanto nos novos dispositivos de atenção como nos hospitais
psiquiátricos, em busca de contribuir para cuidado de enfermagem embasado na
cientificidade e no trabalho em equipe interdisciplinar. Acredito que é pelo diálogo,
pela educação mútua que emergem constructos de um cuidar humanizado e de uma
enfermagem qualificada. Assim, sugiro a continuidade deste trabalho mediante o
retorno à Instituição campo de prática para discutir os conceitos e efetivar a
construção do marco de referência mantendo-se o enfoque dialético.
Além disso, penso que este estudo inspira reflexões a respeito do ensino dos
profissionais da enfermagem, auxiliares, técnicos e enfermeiros, e equipe de saúde,
para um enfoque humanista, com atividades de autoconhecimento e conhecimento
129
do outro associadas a aspectos técnicos, em consonância ao novo paradigma das
políticas atuais de saúde mental no país.
Compreendo que este trabalho não se encerra por aqui, pois além de apontar
caminhos para outras pesquisas, possibilita intervenções na realidade estudada,
dependendo da perspectiva de ações dos trabalhadores da instituição face à pessoa
com doença mental e ao conjunto de seu trabalho; mais especificamente na
manutenção do diálogo constante entre a instituição e a Universidade, com enfoque
na qualidade do serviço em saúde mental.
130
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dispositivos de atenção em saúde mental. 186f. (Dissertação de
Mestrado). Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão
Preto. Ribeirão Preto, 1997.
138
APÊNDICES
139
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO PARA REALIZAÇÃO DO
ESTUDO PELA DIREÇÃO DO HOSPITAL
Curitiba, 20 de julho de 2006.
Prezado(a) Senhor(a),
Venho solicitar a Vossa Senhoria permissão para coletar dados com o
objetivo de realizar um trabalho de pesquisa sobre a prática dos profissionais de
saúde mental e psiquiátrica. Meu nome é Dayane Carla Borille, enfermeira, aluna do
curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Os dados irão compreender a caracterização da instituição e aspectos
relacionados à prática dos profissionais que serão obtidos mediante encontros de
educação permanente a serem realizados com a equipe deste hospital após os
esclarecimentos necessários e consentimento por escrito no documento próprio.
Para o registro das informações fornecidas pelos profissionais e que serão utilizadas
na análise dos dados, pedirei a permissão para gravar em fitas magnéticas das
quais resguardarei o sigilo e anonimato.
Concluída a dissertação, proponho-me a disponibilizar cópias na biblioteca da
UFPR e também enviar um exemplar a Vossa Senhoria.
Gostaria de poder contar com sua participação e cooperação, pois o êxito deste
trabalho dependerá sobremaneira da sua anuência.
Atenciosamente,
Dayane Carla Borille
COREN-SC 086248
Ciente e de acordo com a solicitação.
Pinhais-PR, _____/ ________________/______
______________________________________
Ao Sr. .......
D.D. Diretor do Hospital........
140
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
RES.196/96
Você está sendo convidado a participar de um estudo a respeito da Prática
dos profissionais em saúde mental e psiquiátrica, que está sendo desenvolvido
por Dayane Carla Borille, aluna do curso de Mestrado em Enfermagem da
Universidade Federal do Paraná – UFPR. É através das pesquisas que ocorrem
avanços na área da saúde, em especial, na área da enfermagem, e sua participação
é de fundamental importância.
O objetivo desta pesquisa é conhecer como acontece a prática da equipe de
enfermagem em saúde mental de uma instituição de internação integral em face da
reforma psiquiátrica.
Para tanto, será necessário que você responda algumas perguntas que serão
gravadas em fita cassete em encontro para entrevista previamente agendado, e
participe nas discussões em grupo, nos quais você relatará informações a respeito
da sua prática.
Os benefícios esperados não serão financeiros, mas pessoais. Pela sua
participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro.
O estudo não envolve riscos, por se tratar de uma pesquisa em que a coleta
de informações acontece por meio de entrevista e encontros para discussão em
grupo; você poderá recusar-se em participar da pesquisa a qualquer momento caso
sinta-se afetado.
A sua participação neste estudo é voluntária. Você tem a liberdade de
se recusar a participar do estudo, ou, se aceitar, retirar seu consentimento a
qualquer momento, sem que isso afete seu trabalho.
As informações relacionadas ao estudo poderão ser inspecionadas
pelas autoridades legais, no entanto, se qualquer informação for divulgada em
relatório ou publicação, isto será feito sob forma codificada, para que a
confidencialidade seja mantida. Quando os resultados forem publicados, não
aparecerá seu nome, e sim um código.
Todas as despesas necessárias para a realização da pesquisa não são
de responsabilidade do participante.
Estão garantidas as informações que você queira, antes, durante e depois do
estudo.
A pesquisadora Dayane Carla Borille, RG 10/R 2.972.405, enfermeira,
COREN-SC No. 086248, poderá ser encontrada na cidade de Curitiba, de quarta-
feira a sexta-feira, pelo telefone (49) 9981 2283.
Eu, ________________________________________ li o texto acima e
compreendi a natureza e objetivo do estudo do qual fui convidado a participar. A
explicação que recebi menciona os riscos e benefícios do estudo. Eu entendi que
sou livre para interromper minha participação no estudo a qualquer momento sem
justificar minha decisão e sem que esta decisão afete meu trabalho. Eu concordo
voluntariamente em participar deste estudo.
Data: _________/__________/ ___________
Assinatura do participante: ________________________________________
Data: ________/ __________/____________
Assinatura do(a) Pesquisador(a): ___________________________________
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