iii
TACCA (1983: 72) critica em seu ensaio o modelo “realista romanesco” do século XIX: não seria ele mais
artificioso, por buscar uma objetividade inalcançável, do que se assumisse o conhecimento individual e a
apreensão subjetiva do real?
iv
GENETTE (1995:164) afirma que a diegese literária está marcada por uma relação de “máximo
informador” e “mínima informação”, estando a mimesis no pólo oposto.
v
“O ponto de vista, ainda que apresentando semelhanças com a pintura, enriquece-se na literatura porque se
carrega de ‘informação’: a perspectiva visual torna-se perspectiva psicológica” (TACCA, 1983: 67, grifo do
autor).
vi
“Novos personagens se oferecem aos ficcionistas: os técnicos, os executivos, os despachantes, os
contrabandistas de um lado; e os marginais (setor urbano) e os bóias-frias (setor agrícola) de outro lado
(LUCAS, 1985: 95).
vii
Tomo aqui o termo como caracterizado por BARROS (1994:4 – nota de rodapé), presente nas diversas
manifestações artísticas, da poesia ao cinema, “desde que a ambivalência se manifeste nas diferentes etapas da
organização desses textos”.
viii
MANGUEIRA (2002: 171) reforça a imagem da fragmentação ativada pelo recorte em O cobrador,
concentrando-se apenas em episódios da vida do protagonista. “Só é conhecido pelo leitor aquilo que de
alguma forma é importante para a história de vida e para a construção da identidade do narrador-
personagem”.
ix
TODOROV (1970: 44) propõe a visão “de dentro” e a visão “de fora”, “segundo o nível de consciência da
personagem em que se detém o narrador”.
x
Nos capítulos seguintes, outras expressões de aparente desconhecimento das situações aparecem
continuamente: “Por que fiquei?” (p.22); “Afinal, por que eu estava sofrendo tanto?” (p.26); “Mas naquele dia
eu não sabia de nada” (p.88); “Ela entrou na igreja e não me explicou que dor era aquela” (p.117); “Nem eu
sei porque eu estava falando aquilo” (p.202). Temos assim as limitações visíveis do narrador, mesmo estando
ele ‘armado’ em primeira pessoa.
xi
“O tipo clássico de paralipse, recordemos, é no código de focalização interna, a omissão de certa ação ou
pensamento importante do herói focal, que nem o herói nem o narrador podem ignorar, mas que o narrador
prefere esconder do leitor” (GENETTE, 1995: 207).
xii
“(...) a narrativa ‘na primeira pessoa’ presta-se melhor do que qualquer outra à antecipação, pelo seu
declarado caráter retrospectivo, que autoriza o narrador a alusões ao futuro e particularmente à sua situação
presente, que de certo modo fazem parte do seu papel” (GENETTE apud REIS; LOPES, 1988: 284).
xiii
“(...) movimento temporal retrospectivo destinado a relatar eventos anteriores ao presente da ação e mesmo
(...) anteriores ao seu início” (REIS; LOPES, 1988: 230).
xiv
Uma passagem cita, de modo indireto, o título do conto de Rubem Fonseca: “Paga a passagem para o cara,
ela disse. Que cara? O cobrador” (MELO, 1995: 45).