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Em outras palavras, os processos de desenvolvimento profissional dos
professores são motivados ou alienados por uma multiplicidade de
fatores, tais como: as políticas educativas; a estrutura organizacional das
instituições de formação; o modelo curricular; a cultura organizacional dos
centros educativos; os próprios professores que acumulam, ao longo dos
anos, experiência docente, teorias implícitas e concepções pedagógicas
enraizadas no pensamento de cada um, podendo levá-los ou não a se
desenvolver; e os professores organizados em grupos, através do contato
com outros professores, com sindicatos, com associações, com pais, etc. (p.
4,5)
E os professores “deixam de ser vistos como meros receptáculos de
formação, passando a ser vistos como profissionais autônomos e
responsáveis com múltiplas facetas e potencialidades” (PONTE, 1995,
p.195)
129
; como produtores de saberes, agentes e sujeitos de seu
próprio crescimento e formação. (p. 4)
Para complementar, Cláudio [o sujeito do estudo de caso] também
comentou sobre alguns problemas enfrentados durante o curso, como por
exemplo, a forma como o sistema de aulas foi organizado, ou seja, todos os
sábados, cinco aulas no período da manhã com um mesmo professor e
mais cinco aulas no período da tarde com outro professor, para ficarem
depois, quase um mês sem ter aulas, novamente, com esses professores.
(...) Outro problema destacado por Cláudio refere-se ao fato de que a
maioria dos professores-alunos tinha uma carga horária muito extensa
e, portanto, sobrava pouco tempo para os estudos extra-classe, (...) (p. 12
e 13)
Este estudo revelou que o curso de LPP
130
em Matemática, embora, no
papel, tivesse boas intenções e fosse bem estruturado, representando uma
tentativa positiva de habilitar, em licenciatura plena específica, os
professores leigos que atuam no Ensino Médio e em 5a à 8a série do
Ensino Fundamental, na prática, o curso não proporcionou uma formação
qualificada e realmente promotora do desenvolvimento profissional dos
professores-alunos, deixando, assim, de contribuir para a transformação
qualitativa de seus saberes e de suas práticas.
De fato, com o intuito de atender pragmaticamente às políticas
públicas, sobretudo as exigências da LDB de titular os professores e
as recomendações do Banco Mundial, de priorizar a formação em
serviço, a LPP em Matemática de Jataí
131
não viabilizou as condições e
os recursos necessários para que os professores pudessem ter tempo para
estudar e refletir sobre suas práticas a partir do que aprendiam. Com mais
de 40 horas-aula semanais, em média, e deslocando-se de lugares
distantes, os professores não dispunham de tempo e condições
psicológicas e físicas para acompanhar com proveito as aulas de final de
semana ou durante os períodos de férias escolares. Além disso, do ponto
de vista didático-pedagógico, o currículo desenvolvido pela licenciatura não
tomou como ponto de partida as experiências e os saberes que os
professores construíram e desenvolveram ao longo de seus anos de
docência. (REIS et al, 30a Reunião, 2007, p. 15, grifos meus)
De fato, neste trabalho as questões da organização da vida e do trabalho do
professor foram consideradas como pano de fundo para análise de uma forma de
habilitação profissional, entretanto alguns elementos são questionáveis. A defesa de
129
PONTE, J. P. Perspectivas de Desenvolvimento Profissional de Professores de Matemática. In PONTE, J. P.
et al. (Eds.), Desenvolvimento profissional de professores de Matemática: Que formação? Lisboa: SEM-
SPCE, 1995. p. 193-211.
130
Licenciatura Plena Parcelada é o curso de formação estudado pela pesquisa.
131
Cidade localizada em Goiás.